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O presente artigo tem por objetivo examinar e refletir o surgimento de uma visão
antropocêntrica e laica do ser humano e o mundo ao seu redor, bem como a metodologia de
trabalho dos historiadores Jean Delumeau, Nicolau Sevcenko e Regis de Castro Andrade,
fazendo-nos compreender que somos criaturas curiosas por natureza e não conseguimos deixar
de fazer perguntas sobre o mundo em que vivemos. Fomos formados a buscar significados para
as coisas e atribuir sentido para raciocinar sobre o que temos à nossa frente e à nossa volta.
Destacando uma visão histórica do período que mostra como estava a o Ocidente
europeu no fim da Baixa Idade Média, o crescimento econômico o surgimento das grandes
cidades (burgos) e dos domínios do mar mediterrâneo, deixando em evidência o período entre
os séculos XI e XV foi o século do comércio.
Segue demostrando que na vida cotidiana, tinha se vindo tratar Deus com uma
familiaridade contra a qual o protestantismo reagirá veementemente. Um provérbio afirmava:
“Deixai Deus agir, que é homem de idade”. Os frades medicantes também contribuíram para o
descrédito do clero secular. Foi verificado no fim do século XV que n a França e na Alemanha
o baixo clero vivia numa situação material miserável e por esta razão representantes da igreja
tinham no seu modo de vida traços mundanos.
Os padres que vivem no vicio, seja de que espécie for, maculam o poder
sacerdotal, e como filhos infiéis pensam falsamente a respeito dos sete
sacramentos da Igreja, das chaves, das funções, das censuras, dos costumes,
das cerimônias, das coisas santas da Igreja, do culto das relíquias, das
indulgencias, das ordens...
Ninguém é representante de Cristo ou de Pedro, se não imitar igualmente seus
costumes... (DELUMEAU, 1989, p. 72).
Diante disto enumeram-se nesta época pelo menos dezesseis edições da Vulgata em
Paris, entre 1475 e 1517. Na Espanha, a célebre Bíblia poliglota de Alcalá (texto latino grego e
hebraico) estava pronta para publicação em 1514. Dois anos mais tarde, Erasmo publicava seu
Nouun Testamentum. Em geral, “da invenção da imprensa até 1520, não se conhecem menos
de 156 edições latinas completas dos livros santos” (DELUMEAU, 1989, p.77). Para aqueles
que sabiam ler, porém ignoravam o latim, as Escrituras, traduzidas em língua vulga e, se
tornaram mais acessíveis que antes. Vinte e duas versões alemãs da Bíblia apareceram entre
1466 e 1520. No entanto a mensagem divina podia ser deformada devido a comunicação das
palavras inadequadas.
O humanismo pretendeu purificar a linguagem pela qual é transmitida a palavra eterna,
desembaraçar as Escrituras de suas imperfeições e apresentá-la sob uma nova luz, assim, veio
contribuir para a reforma pondo em dúvida a autoridade da vulgata e colocando a ciência
filosófica acima de qualquer magistério.
Na certeza de que humanistas não negavam o pecado original, mas em geral não
insistiam nele. Não iam para Deus pelo caminho do desespero, o qual foi o de Lutero.
Reencontraram as Escrituras, tirando todas as impurezas que a obscureciam, os humanistas
aspiravam a uma religião simples, vivida, evangélica, cujos dogmas deveriam ser pouco
numerosos e na qual deveria se procurar e achar a paz de espírito na imitação de Jesus.
Além disso em respeito à individualidade com base em diversas correntes do
humanismo como o Platonismo onde todo e belo como manifestação divina; o Aristotelismo ao
qual o foco e na observação da natureza; Humanismo Cristão é vivenciar a religião com
simplicidade e reflexão interior; sendo que os Utopistas são a concepção de uma comunidade
ideal onde todos viveriam felizes mediante um poder racional.
Em razão disso, o humanismo preparou a reforma de dois modos: contribuiu para aquele
regresso à Bíblia que era uma das aspirações de época; chamou a atenção para a religião interior,
reduzindo a importância da hierarquia, do culto dos santos e de cerimônias, ao mesmo tempo.
Somente o abalo da cisma protestante conduziu Roma a repensar sua teologia e a clarificar sua
doutrina.
Conforme Delumeau, (1989, p.62) o que tornou a morte grande tema da iconografia
da idade média, repercutindo então o memento Mori. Havia os que queriam continuar com
funções e prazeres horríveis a rainha que não podiam desobedecer, obtendo assim a igualdade
e sucesso diante da morte. E com o fim da idade média chega-se a preocupação com a salvação
pessoal, onde se acentuava a salvação coletiva, sendo que cada fiel fazia seus questionamentos
de como escaparia dos tormentos eternos. Lutero por volta de 1505 a 1515 nos demonstra este
tipo de preocupação pessoal quando se preocupava com sua própria salvação e não com a
reforma da Igreja. As leituras de Lutero preocupadas com salvação, ao redor de uma teologia
bíblica oposta ao occamismo. Com a separação da natureza aberta e a ação do homem e o do
Deus exceto pela revelação o occamismo chega a conclusões contrarias; no qual a utilização da
razão pode ser instrumento útil ao mundo da natureza e não ao espiritual. Portanto a fé do
indivíduo elemento importante para chegar a esfera do divino.
O homem é justificado pela fé independente das obras da lei David da mesma
maneira celebra a felicidade daquele a quem Deus confere a justiça
independentemente das obras. Felizes aqueles cujas transgressões são
perdoadas e cujos pecados são cobertos. Feliz o homem a quem Deus não
imputa pecado. (DELUMEAU, 1989, p.88).
2- Renascimento: movimento cultural que marcou a fase de transição dos valores e das tradições
medievais. Sevcenko
Em destaque outro fator seria importante, os principais elementos que levariam força
ideológica para o surgimento do Capitalismo e o fim do Feudalismo na Europa. Os movimentos
renascentistas também impulsionaram os elementos para que tivessem a amplitude que teve
como por exemplo a Peste Negra, uma doença que está ligada a pouca higiene e falta de
saneamento básico que ocasionou a morte de milhões de pessoas, atingiria de modo
demográfico as cidades e regiões da Europa.
Segundo o autor Sevcenko intensificou-se desta forma uma crise no século XIV que
desarticulou a economia feudal e intensificou a pratica do trabalho. Fazendo com que os
Senhores feudais cobrassem mais taxas dos camponeses e que a falta de dinheiro eclodisse em
várias revoltas nesse período, por fim, o sistema assalariado e de arredamento fez com que se
criasse o sistema do dinheiro, dando início assim ao capitalismo.
Essa crise do século XIV tem sido denominada também ‘crise do feudalismo’,
pois acarretou transformações tão drásticas na sociedade, economia e vida
política da Europa, que praticamente diluiu as últimas estruturas feudais ainda
predominantes e reforçou de forma invisível o desenvolvimento do comercio
e da burguesia. (SEVCENKO, 1986, p.7)
Observe que na citação acima nosso autor Sevcenko cita que a crise do feudalismo
advém do século XIV e teria causado muitas mudanças na sociedade medieval e conclui que
tais transformações teriam feito surgir o comercio e a burguesia, mas que sobretudo colocou
fim ao chamado feudalismo.
Em razão do acima exposto quem saiu fortalecido neste período foi a Monarquia
mesmo tendo problema para organizar um Estado com força e único, onde antes só havia o
poder pulverizado dos feudos. Ao qual criado um corpo burocrático para a nova ordem política
social e econômica, a partir dos escalões da burguesia, tendo como referência as casas
financeiras e os grandes traficantes, essas casas comerciais possuíam a burocracia necessária e
já obtinham certas influências nacionais e internacionais. Verificou-se, portanto, uma
unificação política significava padronização local e jurídica, e a formação do mercado
demandava prelos, salários. Ritmo de produção entre outros. O tempo propício para empresas
novas, recrutamento de pessoas para assistemática da produção, tudo em acordo com a
condições destas concorrências internacionais. (SEVCENKO, 1986)
Diz nosso autor acima mencionado Sevcenko que somente valendo-se do mínimo de
consenso entre os indivíduos é possível que haja uma sociedade com novas relações individuais
de empregados e empresários e que estas categorias sociais estejam isoladas do restante do
corpo social. Desse modo acima exposto os empregados e os patrões passam ser regidos pela
Lei do Mercado, por conseguinte, nota-se uma transformação nas técnicas das áreas de
agricultura, metalurgia e outras formas de trabalho. No entanto com a invenção do relógio o
tempo começa a ser vendido, não muito diferente dos tempos atuais ao qual cada minuto tem
valor, assim diz Sevcenko.
Então o autor Sevcenko começa a destacar o papel dos intelectuais nesse processo ao
perceber o estimulo a capacidade criativa humana a matematização do espaço e do tempo. “As
pessoas não se movem mais pelo ritmo do sol, pelo canto do galo ou pelo repicar dos sinos, mas
pelo tique taque continuo, regular e exato dos relógios. ” (SEVCENKO, 1986, p.13).
Realçando que humanistas têm grande importância em todo esse crescimento e
mudança de comportamento do período, esses são os homens que “ desde o século XIV vinham
se esforçando para transformar e renovar o padrão de estudos ministrado nas universidades
medievais” que nesse contexto são controlados basicamente pela Igreja. Eles queriam sair de
uma perspectiva da alma que era ligado à Igreja, para os estudos dos humanos, e esse
movimento deu origens as diversas areias de estudos. Os humanistas consideravam perfeita a
cultura antiga que do paganismo, e de certa forma eram ligados direta ou diretamente a igreja,
não podem, portanto, ser considerados ateus. (SEVCENKO, 1986, p.15).
O renascimento durou 300 anos se iniciando na Itália no século XIV, passando pelo XV e
terminado no século XVI. Podemos ver claramente em nossa tabela que durante o primeiro
século XIV. O primeiro período treccento foi de transição da cultura medieval para a
renascentista; uma mistura de sentimentos, características físicas, comportamentos com
religiosidade. Presença do Humanismo e destaque em suas obras renascentistas, colocando
individualidade e um aspecto mais humano para elas. E em segundo quatroccento com suas
características que na qual a influência greco-romana, ressurgi com as línguas clássicas e o
paganismo. Utilização das técnicas de pintura a óleo nas artes plásticas. Foi também o auge da
Arquitetura, Literatura e Artes Plásticas do Renascimento. Uma eterna busca da perfeição
estética nas esculturas e pinturas e uso de elementos culturais, uma mistura do moderno com o
clássico. E por fim o terceiro e último período cinqueccento, neste período o uso do idioma
italiano foi bem sistematizado. Suas principais características foram que a escrita ganhou
importância e Maquiavel foi o inovador do campo político. Também houve a fusão de temas
profanos com religiosos, forte presença do humanismo na literatura, pintura e escultura,
enfraquecimento do movimento renascentista no final do século XVI, na Itália. Devido a
descobertas marítimas, do movimento de Contrarreforma e atuação da Inquisição.
Sevcenko (1986) observa que Renascimento flamengo expressaria o mundo burguês devido
grande desenvolvimento do tempo do trabalho tornando desde os séculos XIV e XV uma das
regiões mais rica da Europa, sendo reconhecido e consolidado o primeiro centro econômico e
cultural da Europa. Também que na Alemanha a penetração do Renascimento se deu por volta
dos séculos XV e XVI com a influência do mundo burguês enriquecendo e desabrochando essa
nova cultura e pelas reformas religiosas, ao qual foram envolvidos pelos patronos desta reforma
na Alemanha como exemplo temos: Willibard Pirkheimer, Philipp Melanchton e Martinho
Lutero. Já em Portugal a introdução dos elementos da cultura renascentista se dá com o
otimismo das conquistas marítimas no oriente e na América no século XV. Aderindo ao estilo
manuelino significando consagração deste esforço e o rompimento com o comercio ítalo-turco,
o que corresponderia ao mudéjar castelhano, caracterizara-se pela profusão decorativa e arrojo
das concepções. E em destaque desse movimento humanista está a figura do português
Francisco Sá de Miranda, que trouxe a sua realidade as preocupações dos eruditos italianos e
as novas formas do estilo novo desenvolvidas pelos poetas, literato e dramaturgos do
Renascimento italiano.
1
Estadista, orador e filósofo romano, Marco Túlio Cícero nasceu a 13 de janeiro do ano 106 a.C. em
Arpino, Itália, e morreu em 7 de dezembro de 43 a.C. em Formia, Itália. Recebeu aprimorada educação,
com os maiores oradores e jurisconsultos de sua época. Fonte
http://educacao.uol.com.br/biografias/marco-tulio-cicero.htm. Acesso em 11/02/2016.
A citação acima nos remete a pensar um ideal de justiça no Renascimento que tem
suas raízes na Roma Clássica de Cícero e assim justificando o ideal desse período e seu
humanismo.
Anteriormente ainda na Idade Média A “Civitas Dei”, idealizado por Agostinho como
cidade mística e atemporal, sob forma de Igreja traz para uma reflexão uma organização política
e espiritual com mando dessa ordem espiritual. Reconhece a existência, no homem, uma alma
racional que possibilita o pensamento deliberado e ordenação de sua vida de acordo com as
experiências adquiridas. Segundo Agostinho o cidadão não deve se preocupar com a cidade dos
homens, mas o bom cristão deve se preocupar com a Cidade de Deus (Civitas dei), desta forma
a religião vem em primeiro lugar. No entanto Tomás de Aquino diferente de Agostinho racional
por influência de Aristóteles diz que a fé não pode estar junto com a razão deve ser colocada
em segundo plano. (ANDRADE, 2002, p.39)
Os cidadãos renascentistas, indivíduos envolvidos na tomada de suas decisões
coletivas, dispondo de intelectualidade e percepção de hierarquia e tradição. E se os indivíduos
acreditassem na tradição, com prudência e aceitação confiariam no poder monárquico, vendo
seus valores não uniriam se ao corpo de decisões. (ANDRADE, 2002, p. 41).
É Andrade (2002, p. 42) que nos informa que Marsílio de Pádua ao definir a visão
aristotélica da comunidade que cria seus próprios direitos, são elas, portanto que concebe a
relação entre duas ordens: o poder espiritual não tem superioridade sobre o humano, o que
requer a verdadeira separação entre razão e revelação.
A lei humana não se vincula a lei eterna por mediação da lei natural; em
Marsílio” a lei é um mandamento direto de Deus, sem deliberação humana;
(...) a lei humana é um mandamento de todo o corpo de cidadãos, ou de sua
parte de mais valor (valentiorem partem), que surge diretamente da
deliberação dos que estão autorizados para elabora-la. ” A distinção é levada
às últimas consequências. (ANDRADE, 2002, p.42).
Conclusão
A reforma na visão do autor Delumeau foi de muito importante para a história da igreja
católica e profunda no renascimento, foi um fenômeno que caracterizou a transição da
mentalidade medieval para a moderna, teve seu processo de mudança acelerado. Este espírito
renascentista foi tão forte que provocou mudanças na Igreja Católica, e por seus erros foi
severamente criticada. As tantas insatisfações com a Igreja levaram a um movimento de ruptura
da Igreja conhecido como reforma protestante, tendo como seu principal autor Martin Lutero.
Já o autor Sevcenko nos aproxima da compreensão de que esse conhecimento é
importante para nos explicar o processo de construção cultural do homem moderno e da
sociedade atual. O renascimento responsável pelo individualismo como marcador nesse
processo de queda do feudalismo e inicio do capitalismo, diante da pobreza e miséria o capital
surge forte e resistente.
Por tudo já explanado, e conforme citado pelo autor Andrade a política em sua definição
é uma forma de reflexão e ação da comunidade sobre si própria enquanto unidade. Política é o
fazer e pensar sobre si mesmo, conviver com as diferenças, buscando reger o modo de vida da
sociedade.
Reconhecendo o caráter evolutivo de cada sociedade, dependendo da época e da
sociedade na qual é estudada, contendo cada qual seus traços particulares. Portanto é na polis
que o indivíduo encontra a felicidade, sendo que viver fora desta Polis é viver na barbárie. A
atividade política decisiva a respeito da moral o que envolve o estabelecimento de normas de
conduta na constituição. As leis promovem o bem comum e essencial para a educação moral e
social, mas, no entanto, a constituição é feita pelos homens que agiam de acordo com seus
interesses.
Nesses termos, ao fim do trabalho nota-se que durante a Idade Média, a sociedade se
mostra muito combalida, para não dizer inexistente. Só podemos ver melhor o que aconteceu
com a sociedade medieval quando o feudalismo se vê em decadência e há a formação dos
burgos; e na Idade Moderna, a sociedade encontra ares mais saudáveis e liberais.
No mais, destacamos que o estudo da religiosidade e da sociedade política, nos mais
diversos momentos históricos, efetivado neste artigo, viabilizou a sua compreensão como um
aspecto de mudanças e comportamento renovando o processo de evolução.
Por fim está síntese propõe um esclarecimento dos conceitos de liberdade do indivíduo
da época moderna, que em meio a um mundo conturbado recebeu uma formação cheia de regras
e disciplina. Por esta razão a especulação em torno do homem e de suas capacidades físicas e
espirituais definidora de um antropocentrismo.
REFERÊNCIAS
ANDRADE, Regis de Castro. O Indivíduo e o Cidadão na História das Ideias (com ensaio
sobre Maquiavel). In: Lua Nova. São Paulo, nº 57, jul. / dez. 2002, p.33-72.