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Módulo 6
A civilizaÇão indusürial
- economia e sociedade;
nacionalismos e choques
imperialistas
1 , As transformaÇões económicas na Europa
e no Mundo
2, A sociedade industrial e urbana
3. Evolução democrática, nacionalismo
e imperialismo
4. Portuga!, uma sociedade capitalista
dependente
5. Or caminhos da cultura
ffi M6, n civilização industrial
Sistematizar conhecimentos
- economia e sociedade; nacionalismos e choques imperialistas
A partir de 1880, o aÇo, mais moldável e resistente, substituio ferro na construção de máqui-
nas para a indústria, de meios e vias de transporte e na construção civil, conferindo à siderur-
gia o papel de sector de ponta da segunda revolução industrial.
2. Criaram-se novos medicamentos, por exemplo, a aspirina, criada pela empresa Bayer, em
1 899.
3. Os insecticidas e os fertillzantes foram produtos de sucesso deste ramo da indústria.
4. O processo de vulcanização da borracha (Goodyear, 1884) deu origem à indústria de pneus
para automóveis e bicicletas.
A indústria petroquímica (relativa aos derivados do petróleo) beneficiou dos seguintes pro-
gressos técnicos:
1. 1859: exploração do primeiro poço de petróleo (Pensilvânia, EUA).
2. 1886: invenção do motor de explosão (por Daimler) que funcionava a petróleo.
3. 1897: invenção do motor movido a óleo pesado (gas oit1.
Na mesma época, a energia eléctrica foi aplicada a uma série de progressos técnicos que
deslumbraram os seus contemporâneos:
1. A lâmpada eléctrica (grande invento de Edison) substituiu a iluminação a gás nas ruas e
casas, com franca vantagem: ao contrário do sistema anterior, a lâmpada não libertava
calor, não sofria explosões nem intermitências e o consumo era de fácil contagem;
2. A electrrcidade, aplicada aos mais diversos maquinismos, revolucionou a vida do cidadão
comum. Surgiram, nomeadamente:
- o comboio eléctrico (criado por Siemens em 1879, embora continuassem plenamente acti-
vos os comboios a vapor);
.1876);
- o telefone (invenção de Bell, em
- o cinema (com origem no cinematógrafo de Lumiàre, em 1895);
- a radiofonia (fruto da aplicação da teoria das ondas hertzianas, em 1887);
- os metropolitanos e os carros eléctricos.
Nos transportes, registaram-se os seguintes progressos:
1. A aplicação da energia a vapor ao comboio (por Stephenson que, em 1830, inaugurou a
linha Liverpool-Manchester) e ao navio (a partir de 1860) ditou uma nova era nos transpor-
tes, facilitando a circulação das matérias-primas, dos produtos industriais e das pessoas.
2. A utilização do motor de explosão nos automoveis e aviões alterou, para sempre, as noçoes
de distância.
3. A bicicleta tornou-se, não só, um meio de transporte bem acolhido por todas as classes
sociais, mas também uma modalidade desportiva de grande êxito.
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H@ M6, A civilizaçâo industrial - economia e sociedadei nacionalismos e choques imperialistas
Embora efrcaz do ponto de vista do patrão, o fordismo for considerado desumano para os ope-
rários: o capitalismo industrial transformou o antigo artesão, orgulhoso do seu trabalho criativo,
que desenvolvia do início ao Íim, num proletário, elemento substituível de uma cadeia de mon-
tagem que, de seu, apenas tinha um salário e a sua prole (os seus filhos). Estava, assim, consu-
mada a divisão entre o capital (patrão) e o trabalho (operário).
A lnglaterra apenas perdeu a posição de comando no final do século XlX, quando Íoi ultrapas-
sada pelos Estados Unidos da América por não ter acompanhado a modernização tecnológica.
EUA - a abundâncra de materias-primas (algodão, lã, carvão, petroleo, entre outras), junta-
mente com a concentraÇão empresarial (por exemplo, de empresas siderúrgicas, dando origem
à United States Steel Corporation - U.S.S) e a energia eléctrica fornecida pelas quedas d'água
deram um forte impulso à industrializaÇão dos EUA, país que, arrancando industrialmente cerca
de 1830, veio destronar a hegemonia inglesa a partir de Íinais do século XlX. Basta lembrar, por
exemplo, o sucesso na indústria automóvel, com a marca Ford.
Japão - caso único no continente asiático, o Japão industrializou-se na segunda metade do
século XIX devido à intervenção do imperador Mutsu-Hito, o qual apoiou a produção industrial
(construção naval, seda, siderurgia) seguindo os modelos ocidentais e abriu o país ao comércio
com o exterior. Na mesma época, o Japão beneficiou de um crescimento demográÍico intenso,
o qual forneceu mão-de-obra e consumidores à indústria.
As ideras de Adam Smith foram desenvolvidas, ainda no século XVlll, por Thomas Malthus,
David Ricardo e Jean Baptiste Say e foram aplicadas no século XlX, um pouco por toda a Europa
industrial que se revia no exemplo da lnglaterra e do seu primeiro-ministro Robert Peel. Este abo-
liu as chamadas Corn Lauzs, leis que protegiam a produção de pão nacional através de taxas
aplicadas sobre a importação de trigo.
Estas crises que se distinguem das crises de Antigo Regime por serem crises de superpro-
-
dução industrial e não crises de escassez devido a maus anos agrícolas - eram inerentes ao
próprio sistema capitalista, em que o Estado não intervinha na economia; porém, os elevados
custos, não só económicos mas também (e sobretudo) sociais, levaram os governos a admitrr,
no Íinal do século XlX, medidas de retorno ao proteccionismo.
No século XX, devido à Grande Depressão dos anos 30, despoletada pela crise de 1929 nos
EUA, tornou-se evidente que o liberalismo económico puro tinha de ser refreado pela interven-
ção do Estado.
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Flelaxar tazendo História
Tal como acontece ainda nos nossos dias, no século XIX as empresas recorriam a "mascotes"
para Íazer publicidade aos seus produtos e cativar os potenciais consumidores. É o caso da
mascote Bibendum. Provavelmente, este nome latino não lhe diz nada, mas é a designação ofi-
cial de um famoso boneco feito de pneus. Sabia que, aquando da sua criação, em 1898, esta
personagem era representada a fumar charuto e ostentava um anel de brasão?
Agora pesquise: quais as mascotes comerciais mais antigas que consegue encontrar?
Esquema
1 850- 1 91 4:
CapitaLismo industriaL
expansão da Revotução lndustriaI
. Livre-cambismo
. Racionalização do
trabaIho - Fordismo
Revotução técnica + . Crises cícticas de
pesquisa [aboratoriaI superprodução
. Concentração empresariaI
- VerticaI
. Comboio a vapor - HorizontaI
. lndústria do aço / e[éctrico
.lndústria química . MetropoLitano
. Energia eLéctrica . Carro etéctrico
. lndústria petroquímica . Automóvel
. Motor de explosào . Avião
. Bicicteta
Desfasamentos
cronotógicos / geográficos
. Hegemonia inglesa
. Competição da França, A[emanha, Bétgica,
EUA, Japão
. Atraso da Europa meridional e oriental
. Exptoração do mundo cotonizado
. Persistência da manufactura nos países
industriaIizados
. Sécuto XX: supremacia dos EUA
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2. A sociedade indusrial e unbana
ísl m
Sisüematizar conhecimentos
No século XVlll, Thomas Malthus havia alertado, no seu Ensaio sobre o Princípio da Popu-
lação, para a necessidade de "um controlo forte e constantemente activo da população, em vir-
tude da dificuldade de subsistência". Por isso, no século XIX e inÍcios do século XX, face à explo-
são populacional, os neo-malthusianos lutaram pela contenção da natalidade, em especial junto
dos proletários. Porém, foi nos meios mais abastados, onde a satisfação das necessidades bási-
cas permitia o surgimento do sentimento de paternidade, que comeÇou a difundir-se a limitação
voluntária dos nascimentos.
- a emigraÇão: a população europeia foi responsável por diversas vagas de partida para as
colónias dos continentes africano, americano e oceânico, destacando-se, em especial, o
crescimento urbano nos EUA (em consonância com a sua supremacia económica, Nova
lorque tornou-se a segunda cidade mundial, em 1900);
- o crescimento dos sectores secundário e terciário: a indústria, o comércio, as profissões libe-
rais concentram-se nas cidades e requerem cada vez mais efectivos; é o caso, por exem-
plo, da cidade de Essen, onde estava sediada atábrica Krupp e que passou de 2000 habi-
tantes, em'l 800, para443 mil habitantes, em'1900. Simultaneamente, a população activa
dedicada ao sector primário (agricultura, pesca, silvicultura) diminui acentuadamente (por
exemplo, na Alemanha passou de 42,5"/" em 1882 paa28,6% em 1907).
2. Classes médias
As classes médias constituem o grupo mais heterogéneo e socialmente flutuante da socieda-
de industrial. Englobam o conjunto das profissôes que não dependem do trabalho ÍÍsico, isto é,
o chamado sector dos serviços. A sua composição integrava:
a) Pequenos empresários da indústria - embora vulneráveis às crises e aos consequentes fenó-
menos de concentração empresarial, foram-se expandindo em número ao longo do século XlX.
b) Empregados comerciais - a expansão da revolução industrial criou novos empregos para
Íazer chegar o produto ao consumidor do mercado interno (por exemplo, os empregados
de grandes armazéns ou os transportadores).
c) ProÍissionais liberais- eram todos aqueles que, em vez de terem um patrão, trabalhavam
por conta propria. Estavam ligados a jdeia de promoção social: tornaÊse médico, advoga-
do, empregado de escritório (colarinho branco) ou professor primário era uma maneira
segura de perspectivar um futuro desafogado, longe da dureza do trabalho manual e da
imprevisibilidade do mundo dos pequenos negócios. O seu estatuto valorizou-se na medi-
da em que serviam as necessidades (de cuidados médicos, de conhecimentos .jurídicos,
de instrução) da sociedade industrial.
As classes médias eram acérrimas defensoras dos valores da burguesia, no intuito de perma-
necerem (e, se possÍvel, promoverem-se) dentro dessa classe social. Tornaram-se, assim, as
classes mais conservadoras.
- ausência de medidas de apoio social (não existia o direito a Íérias ou a descanso semanal,
o horário de trabalho rondava as 16 horas por dia, não se contemplava o direito a subsídios
por desemprego, velhice ou doença);
- proibição e repressão de todo o tipo de reivindicação social (pois as leis e as instituições de
autoridade defendiam a classe dominante);
- contratação de mão-de-obra infantil, por ser mais barata (cerca de um terço do salário de um
adulto), menos reivindicativa e mais ágil (por exemplo, nos espaÇos exíguos das minas); daqui
resultava uma elevada taxa de mortalidade infantil entre os filhos da população operária,
- espaÇos de trabalho pouco saudáveis (ruído, calor ou Írio extremos, iluminação deficiente,
ausência de cantinas e de vestuário apropriado);
- espaÇos de habitação sobrelotados e insalubres;
- pobreza extrema e todos os problemas a esta associados (desnutrição, doenças, crimes,
prostituição, consumo elevado de bebidas alcoólicas, mendicidade).
Foi na Grã-Bretanha que o movimento operário se revelou mais precoce, com a aulorizaçáo
dos sindicatos (trade unions) e das greves em 1824-25.
Os progressos da legislação social (por exemplo, a regulamentação do horário de trabalho, o
repouso semanal, a criação de pensÕes para as situaçÕes de acidente, doença, velhice) torna-
ram-se mais notórios, na Europa industrializada, no terceiro quartel do século XlX, por eÍeito da
pressão dos sindicatos, entretanto legalizados, e pela difusão das ideias socialistas.
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2. A sociedade industrial e urbana
O autor Roald Dahl escreveu a história Charlie e a Fábrica de Chocolate no ano de 1964. Pode
ler esta história e ver a magnífica adaptação para cinema pelo realizador Tim Burton.
Aqui estão algumas pistas de análise para poder comparar esta fábrica fantástica com a rea-
lidade industrial do século XIX:
- Quem são os operários da fábrica de chocolate? Que tipo de relação têm com o seu patrão,
Willie Wonka?
Esquema
SÉCULO XIX
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ffi ME a civilização indusirial
Sisüematizar conhecimentos
- economia e sociedade; nacionalismos e choques imperialistas
Estes impérios tinham características comuns: eram Estados autocráticos (o imperador deti-
nha o poder absoluto ainda que, por vezes, camuflado pela existência de ConstituiçÕes e do
sufrágio), conservadores (mantinham intocados os privilegios da nobreza e do clero) e repressi-
vos (reprimiam a oposição polÍtica e as revoltas nacionalistas que ocorriam dentro do território).
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3. EvoluÇâo democr'ática, nacionalismo e imperialismo @ffi
Objectivo /.. Conctuir aspiracões de tiberdade nos referidos Estados
Por várias razões - de ordem linguÍstica, historica, religiosa - vários povos não se sentiam inte-
grados no Estado imperial a que pertenciam e, como tal, desencadearam movimentos de liber-
tação. Umas vezes vitoriosas (independência da Grécia, em 1830), outras vezes Íracassadas
(rebelião polaca de 1830-31), as lutas pela emancipação prosseguiram ao longo do século XlX.
No início do século XX, a repressão do princÍpio das nacionalidades e a luta por áreas de inÍluên-
cia por parte dos imperios acabaria por gerar focos de tensão que conduziriam à 1." Guerra
Mundial.
UniÍicação alemã (1871) - em 1850, o território alemão era composto por 39 Estados autóno-
mos, embora ligados pela Confederação Germânica, criada pelo Congresso de Viena (1815).
A uniÍicação foi impulsronada pela Prússia (o Estado mars industrializado) que já havia derru-
bado as barreiras alfandegárias entre alguns dos Estados em '1 828 (aliança que tomou o nome
de Zollverein).
Os principais obreiros da unificação Íoram o rei Guilherme I da Prússia e o chanceler do rei
Otto von Bismark. A unidade alemã foi conseguida pelas armas, primeiramente contra a Áustria,
na Guerra dos Ducados, para integrar os territórios do Norte e Centro, e depois contra a França
de Napoleão lll, em 1870-71, para dominar os Estados do Sul.
Aunificação,sobaformadeumlmpériocom25Estados-oll Reich-consumou-se 187'1 ,
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H@ MG a civilizacâo industrial - economia e sociedadei nacionalismos e choques imperialistas
Objectivo ó. Distinguir as zonas de expansão europeia entre fins do sécuto XIX / início do
sécuto XX
Grã-Bretanha - acalentava o projecto de dominar o território africano do Cairo ao Cabo; ocu-
pava os territórios da Índia, da Austrália, do Canadá; exercia inÍluência sobre a China e recebe-
ra, como concessão, Hong-Kong, em 1842.
França - ocupou territórios no Norte e Centro africanos (por exemplo, Marrocos, a Argelia, a
TunÍsia), na Asia (lndochina) e na América (Antilhas francesas, nomeadamente).
lmpério Alemão - possuía territórios em África (por exemplo, SE e SO alemão) e exercia
influência na Ásia Menor e na Península Arábica.
Rússia - o lmpério Russo expandiu-se por provÍncias como a Geórgia, e o Azerbeijão e pro-
curou estender a sua inÍluência ao Extremo Oriente.
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Flelax ar fazendo HistÓria
O filme O Leopardo, do realizador italiano Luchrno Visconti, é um clássico do cinema e uma
lição de História do século XlX. Através do seu visionamento, acompanhe a expedição de
Garibaldi na luta pela unificação italiana.
Esquema
Nacionatismo
. Absotutismo
. Extensão do direito de voto . Sociedade de ordens Emanci pação
.
[sufrágio universaL] . Desrespeito pe[o princípio das
Difusão do repubIicanismo nacionalidades . Grécia
. Bétgica
lmperialismo
o Subordinação
económica, política e
cu[turaI de vastas
regiôes ao continente
europeu
. Conferência de BerLim
[1884-1885) - parti[ha
de Africa
. Choque de interesses -
potítica de atianças -
paz armada
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4. Portugal, uma sociedade capitalista dependente @m
Sisüematizar conhecimentos
Porém, como alertava, entâo, Oliveira Martins, embora o caminho-de-ferro fosse um meio de
desenvolvimento económico - o "silvo agudo da locomotiva" que nos despertou "do nosso sono
histórico" -, também criou "condiçÕes de concorrência para que não estávamos preparados".
geiro como, por exemplo, os vinhos e a cortiÇa. A aplicação do capitalismo ao sector agrí-
cola passou por uma série de inovações, nomeadamente:
- o desbravamento de terras (arroteamentos);
- a redução do pousio;
- a aboliÇão dos pastos comuns;
- a introdução de maquinaria nos trabalhos agrícolas (sobretudo no Centro e Sul do país,
pois no Norte a terra é mais fragmentada e irregular);
- o uso de adubos químicos (produzidos nacionalmente, devido ao desenvolvimento da
indústria química).
4. Arranque industrial -
apesar do atraso económico de Portugal em relação aos países
desenvolvidos da Europa, registaram-se alguns progressos a nível industrial:
- difusão da máquina a vapor;
- desenvolvimento de diversos sectores da indústria (nomeadamente cortiças, conservas
de peixe e tabacos);
- criação de unidades industriais e concentração empresarial em alguns sectores (por
exemplo, no têxtil);
- aumento da população operária, sobretudo no Norte do país (apesar de se tratar maiori-
tariamente de mão-de-obra não qualiÍicada);
- criação de sociedades anónimas;
- aplrcação da energia eléctrica à indústria (já no seculo XX).
Empréstimos - o défice das finanças públicas agravou-se ao longo do século XIX (chegando
aos 10 000 contos de reis entre 1885 e 1889). Os recursos utilizados para aumentar as receitas
passavam, geralmente, pelas remessas dos emigrantes (que diminuÍram devido à conjuntura polí-
tica brasileira) pelo aumento dos impostos (medida anti-popular) e por pedidos de empréstimo ao
estrangeiro, em particular ao banco inglês Baring & Brothers (empréstimos que eram utilizados,
muitas das vezes, para pagar os juros de empréstimos anteriores). Por isso, quando o banco lon-
drino abriu falência, em 1890, Portugal deixou de ter meios de lidar com a dívida. O culminar da
crise ocorreu em 1892, quando o Estado português declarou a bancarrota (ruína Íinanceira).
Hans Christian Andersen (sim, o mesmo que escreveu as imortais histórias que todos lemos
em criança, como O Soldadinho de Chumbo) visitou Portugal em 1866. As suas impressÕes de
viagem podem dar-nos uma visão "de fora" sobre o nosso país no século XIX:
"Pouco faltava à linha de caminho-de-Íerro entre Madrid e a Íronteira portuguesa para ficar
completa. O Rei de Portugal havia-a utilizado recentemente mas ainda não estava aberta ao
público e diÍicilmente seria, antes da Exposição de Paris, na próxima Primavera."
"Por todas as descriçÕes de Lisboa com que deparei, formara para mim próprio uma imagem
desta cidade mas a realidade foi bem outra, mais luminosa e bela. Fui obrigado a exclamar:
- Onde estão as ruas sujas que vira descritas, as carcaÇas abandonadas, os cães ferozes e as
figuras de miseráveis das possessÕes aÍricanas que, de barbas brancas e pele tisnada, com
nauseantes doenças, por aqui se deviam arrastar? Nada disso vi (. .)"
"Um dos mais importantes escritores vivos é Antonio Feliciano de Castilho (...)"
"Em Aveiro está-se perfeitamente numa Holanda portuguesa, alagada e plana, com canais
abertos (...)"
"A mais bela e encantada parte de Portugal é a inigualável Sintra."
Andersen, Hans Christian, Uma uisita em Portugal em 1866
Esquema
PORTUGAL - REGENE
[1851-19101
Sistematizar conhecimentos
5. 0s caminhos da cuttura
5.1. A confiança no progresso científ ico
Objectivo 1. Retacionar o cientismo com os progressos da ciência e da técnica na segunda
metade de 0itocentos
Na segunda metade do século XlX, os extraordinários avanÇos da técnica e da ciência (pro-
porcionados, por um lado, pela expansão da Revolução lndustrial e, por outro, pela difusão dos
laboratórios de pesquisa)Íoram responsáveis pela propagação da crenÇa no poder da ciência.
O Racionalismo parecia ser o único meio para explicar todos os fenómenos e a principal via para
atingir a felicidade e o progresso.
A esta Íe nas verdades transmitidas pelo conhecimento cientÍfico dá-se o nome de cientismo.
As ciências sociais, à imitação das ciências exactas, procuraram estabelecer leis gerais e
definir métodos rigorosos de pesquisa:
- Augusto Comte foi a figura fundamental na definição do pensamento cientÍfico da segunda
metade de Oitocentos. Criou o Positivismo, sistema Íilosófico que leva o cientismo ao seu
expoente máximo, ao estabelecer que a Humanidade alcançará o estado positivo quando o
conhecimento se basear apenas em factos comprovados pela ciência,
- Emile Durkheim sistematizou as regras da nova disciplina das Ciências Sociais: a sociologia;
- Karl Marx analisou os modos de produção ao longo da História, transformando o socialismo num
sistema cientÍfico de análise da sociedade (o materialismo histórico ou socialismo científico).
- as classes médias, ligadas à vrda urbana, procuraram cursos que promovessem a sua ascen-
são social, nomeadamente aqueles que os preparassem para exercer proÍissÕes liberais.
Realismo - esta corrente afirma uma reacção clara aos pressupostos românticos: em vez do
culto do eu, propÕe a análise da sociedade; contrariando a nostalgia do passado, analisa criti-
camente a contemporaneidade; por oposição às paisagens dramáticas, representa cenas
banais, e as suas personagens não são herois, mas pessoas simples.
O desejo de objectividade na arte reflecte a aceitação da corrente filosófica positivista. O
gosto pelo concreto levou a que, na pintura, os artistas Courbet, Millet e Manet representassem
cenas do quotidiano; porém, a tentativa de representar exclusivamente o real chocou a socieda-
de burguesa de então.
lmpressionismo - Íoi da tela de Monet lmpressão: Sol Nascente que nasceu o termo impres-
sionistas, utilizado por um crítico, desdenhosamente, para designar o grupo de pintores (de que
se salientam Monet, Renoir, Degas e Cezanne) que desafiaram as convençÕes artÍsticas da
época. O lmpressionismo procurava captar, em tela, a fugacidade do real. Aproximava-se da
pintura realista no tratamento de temas vulgares e urbanos, mas aceitava a subjectividade do
olhar, transmitida pelos efeitos de luz e pelas cores inesperadas. Graças à expansão das vias
férreas e à novldade dos tubos de estanho com as cores 1á preparadas, os pintores impressio-
nistas puderam trocar os ateliers pelo ar livre.
Arte Nova - assumindo-se, sobretudo, como um estilo decorativo, a Arte Nova resulta da von-
tade de imprimir colorido e graciosidade a uma Europa descaracterizada pela industrialização.
Os artistas da Arte Nova elaboravam jóias refrnadas (Lalique), adornavam a entrada para o
metropolitano parisiense, ilustravam painéis publicitários com gravuras de mulheres idealizadas
entre flores e folhagens (Mucha). O requinte e a elegância permitem identificar, rapidamente,
todas as facetas da Arte Nova.
Enquanto corrente arquitectónica, a forma ondulada, a aplicação do ferro e a valorização da
estrutura como decoração marcaram as obras de Arte Nova, salientando-se as do arquitecto
Gaudí, em Barcelona.
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GUEHAl 1 -07
H@ MB A civilização industrial - economia e sociedade; nacionalismos e choques imperialistas
Realismo - a tela Os Britadores de Pedra, de Gustave Courbet (1851), considerada "o mani-
festo do Realismo".
lmpressionismo - a pintura lmpressão: SolNascente, de Claude Monet (1872), cujo tÍtulo aca-
baria por dar origem à corrente pictórica.
- A impossibilidade de aprofundar a análise estetica de várias obras de arte num livro que se quer de resumo
levou-nos a optar por não responder ao presente objectivo.
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5. os caminhos da cuttura @ Hll
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Relaxar fazendo História
Uma viagem que mudou a História
Darwin hesitava entre ser médico e padre. O pai e os professores inquietavam-se pelo seu
futuro, pois na sua juventude a actividade que mais o realizava era apanhar escaravelhos. Com
dezanove anos embarcou num navio - o Beagle. Na sua autobiografia, ele considera essa via-
gem o acontecimento mais importante da sua vida. Para alem de recolher espécies e de se
divertir passeando montado em tartarugas, Darwin ficou perplexo com as observaçÕes que fez:
"Durante a viagem do Beagle ficara muito impressionado com a descoberta na formação fós-
sil dos Pampas de grandes animais fossilizados cobertos com uma armadura semelhante à dos
tatus actuais (...) Era evidente que factos como estes, assim como muitos outros, podiam ser
explicados sob a suposição de que as espécies são gradualmente modificadas; e o assunto
obcecava-me."
"Em Outubro de 1838, quinze meses depois de ter começado a minha pesquisa sistemática,
li por entretenimento 'Malthus, Ensaio sobre o Princípio da População', e (...) fiquei imediatamen-
te consciente de que nestas circunstâncias as variaçÕes favoráveis tenderiam a ser preservadas
e as desfavoráveis a ser destruídas. O resultado disto seria a Íormação de novas espécies."
Charles Darwin, Autobk;grafia,Relógio d' Água
Esquema
CULTURA NA SEGUNDA
METADE DO SECULO XIX
Cientismo
Novas correntes
confiança na ciência /
- Arte em Portugal
estéticas europeias
investimento na instrucão
'100
Têste de AvaliaÇão
CONJUNTO 1 - ECONOMIA E SOCIEDADE NA EUROPA INDUSTRIAL
Documento 1:
Comentário do primeiro-ministro Sir Robert Pee[ ao preço do trigo em lngtaterra [18/.ól
"Eu, garantir-lhes um preço? Não compete ao Governo garantir-_lhes os lucros que hão-de
t..,,.J"1n os senhores os próprios a garanti-lo, pondo-se em igualdade com os seus compe-
tidores pela actividade e pela inteligência. Pretendo, na minha qualidade de ministro, ter
âpenas à obrigação de consultar o interesse público e de prover à segurança do Estado."
Robert Peel, 1846
Documento 2: Documento 3:
A condição operária A classe burguesa
Documento 4:
"A história de toda a sociedade até aos nossos dias não é mais do que a história da luta de
classes. (...)
À medida que a burguesia, isto é, o capital, cresce, desenvolve-se também o proletariado, a
classe dos óperários modernos, que apenas vivem sob condição de encontrarem trabalho e
que apenas o encontram desde que o seu trabalho aumente o capital. (...)
O proletariado servir-se-á da supremacia política para retirâr a pouco e pouco todo o capi-
tal à burguesia, para centralizar todos os instrumentos de produção nas mãos do Estado,
quer dizer, no proletariado organizado em classe dominante. (...)
Proletários de todos os países, uni-vos."
Karl Marx e Friedrich F.ngels, Manifesto do Partido Comunista, 1848
Documento 1:
"É mesmo muito provável que a parte do nosso trabalh o do Zambeze para o oriente apre-
sente alguma coisa de importante, por ser feito em um novo caminho (o mais curto e
melhor talvez), por onde a civilização e o comércio da costa ocidental podem facilmente
atingir a região dos lagos. (...)
Hoje já ninguém vê na África senão um dos vastos quarteirões do mundo, tão próprio à
vida como qualquer dos outros conhecidos, (...) amplo campo de afã comercial, cuja pri-
meira base de segura civilização cumpre ou antes é dever do Europeu explorar, não só no
interesse dos seus habitantes, como em proveito do tráfego comum; enfim, de esquecido e
oculto que foi, tornar-se-á dentro em pouco opulento, cobiçável e assaz visitado, transfor-
mando-se num grande centro de consumo para todo o excesso da nossa produção. (...)
Concluídas estas considerações, benévolo leitor, resta-nos a tarefa pouco fácil, embora
menos escabrosa que uma travessia, de pegar-vos pela mão e conduzir-vos passo a passo
nessa tortuosa vereda por nós trilhada, desde Angola até Moçambique (...)".
Hermenegildo Brito Capelo e Roberto Ivens, prefácio de 1886 à edição de: De AngoLt à Coiltrdcosta, Publicações Europa-
América, p.27-29
Documento 1: Documento 2:
As crises do capitatismo Poputação de atgumas cidades industriais
ingtesas
Documento 3:
Posição retativa das potências industriais entre 1810 e 1910
1.o [ugar R. Unido!'r R. UnidoL'' R. Unido|r R. UnidoL'r Est. Unidos Est. Unidos
3.o [ugar Est. Unidos Est. Unidos Est. Unidos Est. Unidos Bétgica Bétgica
9.o lugar Itátia Itátia Itá lia Itá Lia Itá [ia Itátia
103
CONJUNTO 2 - PORTUGAL: ONDE ESTÁ A OFICINA?
Documento 1:
"Que se pode ser ao mesmo tempo rico e incapaz, demonstra-o (Portugal) a qualquer obser-
vação do próximo. As nações são neste ponto como os homens. De 1851-52 para 1878-79,
o valor do nosso comércio e o rendimento das nossas alfândegas triplicaram; mas para pre-
venir os optimistas convém dizer que, ainda triplo, não vai além dos 13500 rs. A capitação
do nosso comércio externo: quase o mesmo que em 1818, já depois dos franceses, e sem
contar com a subida do valor dos géneros, proveniente do da diminuição do valor da
moeda. Não exageremos, pois, a nossa fortuna. E menos o devemos fazer ainda quando
observarmos que, sem uma crise, sem uma guerrâ, apenas com estradas e caminhos-de-
-ferro; sem justificação cabal, a não ser a do nosso desgoverno, nos temos endividado de
modo que, se em 1854 cada português pagava 600 rs., cada português paga por um ano,
em 1879-80, 3077 rs. de juros da dívida nacional. (...)
A nós sucede-nos que, além de nos faltar o carvão, matéria-prima industrial, nos faltam
matérias-primas incomparavelmente mais graves ainda: juízo, saber, educação adquirida,
tradição ganha, firmeza do Governo e inteligência no capital. Todas estas faltas essenciais,
e o avanço ganho pelos outros povos da Europa, afigura-se-nos condenarem-nos a ficar
decididamente ocupados em lavrar terras e emigrar para o Brasil. Os lucros agrícolas e o
dinheiro dos repatriados são o mais líquido das economias nacionais. (...)
Estava na natureza da Regeneração o ser livre-cambista. (...)
Regenerada à solta lei da Natureza, a Nação vê que, em parte considerável, a riqueza cria-
da sobre ela não lhe aproveita. Os caminhos-de-ferro, que não são do Estado, pertencem a
estrangeiros; a estrangeiros o melhor das nossas minas; estrangeiros levam e trazem o que
mandamos receber por mar. Só o solo nos pertence, só o líquido do rendimento agrícola
nos enriquece? Não. À factura de uma população rural ignorante junta-se a opulência das
classes capitalistas de Lisboa e das cidades do Norte, não mais culta, porém mais videira.
Uma granja e um Banco: eis o Portugal português. Onde está a oficina? E sem esra função
eminente do organismo económico não há nações. (...)
Assim, as populações rurais e urbanas, a propriedade e o capital, sem o anexo da indústria,
isoladas, não se penetrâm. Se o capitalistâ compra terras, é para as arrendar, vivendo sem-
pre do juro. E capitalista e proprietário, provinciano um, cosmopolita o outro, nenhum
sente palpitar em si a alma da Nação. Um olha para os milhos, o outro parâ os papéis,
absorvidos ambos no seu interesse egoísta, indiferentes a tudo o mais."
J. P. Oliveira Martins, Portugal Contunporâneo, tol. ll
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