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Formação MAABE Sessão 3/Tarefa 3

Implementação do Modelo de Auto-Avaliação das


Bibliotecas Escolares: aspectos essenciais para uma
liderança forte do Professor Bibliotecário e para uma
mudança de atitudes e de práticas na escola.

Feita uma análise dos textos recomendados no guia da sessão


para a realização desta tarefa e tendo por base a realidade do
agrupamento de escolas onde exerço funções, abordarei os aspectos que
considero essenciais no processo de implementação do Modelo de Auto-
Avaliação da Bibliotecas Escolar (MAABE), tendo em vista o alcance dos
objectivos que lhe estão subjacentes.

Parece não haver dúvida (esta é também a minha visão) de que o


êxito de todo este processo será determinado por dois grandes vectores:
a acção de liderança (forte, interventiva, colaborativa, estratégica,
visionária, …) do professor bibliotecário (PB) e a mudança de atitudes e
de práticas a ocorrer, quer por parte de cada um dos docentes
individualmente, quer por parte da própria escola, enquanto
organização.
Antes de mais é necessário haver o reconhecimento, por todos os
elementos da comunidade educativa, de que “a biblioteca escolar (BE)
constitui um contributo essencial para o sucesso educativo, sendo um
recurso fundamental para o ensino e para a aprendizagem” 1, tal como
está explícito nos pressupostos de apresentação do MAABE. E que o
sucesso desta missão, segundo comprovam estudos apresentados por
vários organismos internacionais, como a IFLA e a UNESCO, depende
de alguns factores decisivos tais como: “os níveis de colaboração entre o
PB e os restantes docentes na identificação dos recursos e no
desenvolvimento de actividades conjuntas orientadas para o sucesso do
aluno; a acessibilidade e a qualidade dos serviços prestados; a
adequação da colecção e dos recursos tecnológicos.” 2

1
- Modelo de Auto-Avaliação da Biblioteca Escolar, RBE, 2010, (p.4)
2
- Idem

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Estes factores exigem, portanto, que o PB assuma um papel


educativo central, “na colaboração proactiva com o currículo e com os
objectivos de aprendizagem da escola, (…) formativo, bem como
informativo, intervencionista e integrador, solidário e orientado para os
serviços, orientado tanto para os resultados como para o processo.” 3

Ora é precisamente nestes aspectos que a mudança deverá


ocorrer. Urge sensibilizar órgãos de gestão e estruturas educativas do
agrupamento para que a BE passe a ser encarada não como um ‘sítio
onde se guardam os livros’, mas como um espaço de suporte ao
desenvolvimento curricular, catalisador da aprendizagem e da
construção do conhecimento, uma ‘parte integrante e não periférica’ da
escola. Importa conseguir “o reconhecimento de que a biblioteca escolar é
usada enquanto espaço equipado com um conjunto significativo de
recursos e de equipamentos (as condições externas, as condições físicas
e as qualidades da colecção são fundamentais) e como espaço formativo
e de aprendizagem, intrinsecamente relacionado com a escola, com o
processo de ensino/aprendizagem, com a leitura e com as diferentes
Literacias.” 4

E aqui entra a importância da aplicação do MAABE e do que este


modelo poderá vir a representar no processo de melhoria da
aprendizagem dos alunos e na consequente melhoria dos seus
resultados. Contudo, para que o mesmo possa vir a obter a eficácia
desejada na sua implementação, será necessária a implicação de todos
os elementos da comunidade educativa, assente no reconhecimento
comum de que o MAABE se apresenta como um instrumento de
melhoria das práticas e dos resultados educativos, um instrumento
regulador da acção pedagógica e organizacional da BE e da própria
escola.
Nesta dinâmica de sensibilização e interacção constante, mais
uma vez o PB se deverá assumir com um papel forte em termos de
liderança. Neste contexto, ele terá de conseguir mobilizar todos os

3
- Ross, J. Todd (2002) – Professores Bibliotecários Escolares: resultados da aprendizagem e prática
baseada em evidências, em [http://archive.ifla.org/IV/ifla68/papers/084-119e.pdf]
4
- Texto da sessão (p.6)

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intervenientes do processo educativo e promover acções capazes de


modificar atitudes e práticas, quer individuais, quer colectivas.
A aplicação do MAABE implica também acções de reconhecimento
do contexto escolar/educativo, de forma a que se possa proceder a uma
adequação do modelo à realidade em análise. O que importa
verdadeiramente é conseguir um questionamento constante sobre as
práticas e os resultados apresentados, é “avaliar o trabalho da biblioteca
escolar e o impacto desse trabalho no funcionamento global da escola e
nas aprendizagens dos alunos e identificar as áreas de sucesso e
aquelas que, por apresentarem resultados menores, requerem maior
investimento, determinando, nalguns casos, uma inflexão das práticas.” 5

Esta auto-avaliação deverá conduzir-nos à colocação de questões


importantes e sistemáticas. Por exemplo:
- como vemos a nossa BE e que papel lhe atribuímos dentro da
escola?
- como classificamos os serviços que presta aos seus utilizadores?
- que impacto tem o nosso trabalho na BE nas aprendizagens dos
alunos?
- como contribui a BE para o desenvolvimento das várias
literacias?
- de que forma ajudamos os nossos alunos a tornarem-se
cidadãos competentes, activos e responsáveis?
- será que temos consciência daquilo que fazemos ‘menos bem’ e
do que poderíamos fazer para melhorar as nossas práticas?
- (…)
Ter consciência do que está ‘menos bem’ para, a partir daí,
conseguir-se elaborar um plano de melhoria, exige um diálogo
constante e concertado, um trabalho colaborativo e uma união de
vontades que, por vezes, é difícil de conseguir no seio da organização
escolar. Mais uma tarefa árdua para o PB! – conseguir implicar todos os
parceiros neste processo de mudança, conseguir fazer evidenciar o
papel importante da BE nas acções de melhoria e, muito importante,

5
- Texto da sessão (p.1)

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conseguir implementar novas práticas de avaliação baseadas em


evidências. No final, conseguir ‘medir’ e avaliar o impacto da BE nas
aprendizagens dos alunos - eis o que se pretende.
Esta mudança, como é natural no seio das organizações, não será
rápida; certamente irá ocorrer de forma gradual e estará sujeita a várias
rejeições e constrangimentos. Todos temos consciência disso e o PB terá
que ser hábil na gestão desses obstáculos e na relação que terá de
estabelecer com os docentes, órgãos de gestão e estruturas educativas.
Até porque vive-se, hoje, um processo de aprendizagem no que toca a
este novo conceito de avaliação, decorrente da prática baseada em
evidências – “a prática baseada em evidências é um paradigma
emergente da prática de muitas profissões.” 6

As práticas tradicionais de avaliação da BE mostram-nos que elas


se limitavam quase exclusivamente a efectuar um levantamento
estatístico de recursos, frequência de utilização e gastos envolvidos. No
entanto, pouco ou nada se aferia relativamente aos benefícios que os
utilizadores retiravam do uso dos serviços da BE. É precisamente neste
aspecto que deve colocar-se o enfoque; “hoje, a avaliação centra-se,
essencialmente, no impacto qualitativo da biblioteca, isto é, na aferição
das modificações positivas que o seu funcionamento tem nas atitudes,
valores e conhecimento dos utilizadores.” 7

O que importa verdadeiramente é avaliar ‘o que os alunos sabem


fazer e no que eles se tornaram’ e, para isso, haverá necessidade dos PB
participarem activamente em estratégias cuidadosamente planeadas,
através das quais se obtenham evidências sobre o impacto do seu papel
educativo. “Essencialmente, a prática baseada em evidências tem a ver
com o facto de ter evidências ricas, diversas e convincentes que
demonstrem que a biblioteca é uma parte vital da estrutura de
aprendizagem da escola – que é integrante e não periférica.” 8

6
- Ross, J. Todd (2002) – Professores Bibliotecários Escolares: resultados da aprendizagem e prática
baseada em evidências, em [http://archive.ifla.org/IV/ifla68/papers/084-119e.pdf]
7
- Texto da sessão (p.5)
8
- Ross, J. Todd (2002) – Professores Bibliotecários Escolares: resultados da aprendizagem e prática
baseada em evidências, em [http://archive.ifla.org/IV/ifla68/papers/084-119e.pdf]

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A BE, ao colocar-se desta forma no centro da acção estratégica


para a melhoria, deve aproveitar as informações (evidências) recolhidas
durante todo o processo de implementação do MAABE, promover uma
análise conjunta desses dados para aprofundar o conhecimento da
realidade onde foi aplicado e usar essas informações numa planificação
futura, tendo em vista a melhoria dos níveis alcançados.
Este processo de melhoria, que pretende envolver toda a escola,
pode enfrentar algumas barreiras por parte dos elementos mais
directamente implicados, já que, à primeira vista, acarretará mais um
conjunto de tarefas a incluir no dia-a-dia dos docentes já, por si,
bastante sobrecarregado de trabalhos burocráticos. Ora, aqui, o PB
terá, de novo, um papel muito importante no que toca ao atenuar de
tais barreiras, esclarecendo que “pretende-se que a aplicação do modelo
de auto-avaliação seja exequível e facilmente integrável nas práticas de
gestão da equipa da biblioteca. Não deve, portanto, representar uma
excessiva sobrecarga de trabalho, na qual se consome grande parte das
energias da equipa. Isto implica, por exemplo, que alguns procedimentos
deverão ser formalizados e implementados de forma a criar algumas
rotinas de funcionamento, tornando-se práticas habituais e não apenas
com vista à avaliação.” 9

Toda esta mudança de entendimento, de rotinas, de atitudes e de


práticas em relação à missão da BE e à importância da aplicação do
MAABE pressupõe, sem dúvida alguma, a liderança e a acção
competente do PB junto dos demais elementos da escola, funcionando
este como o elo entre o trabalho da BE e o de todas as restantes
estruturas educativas.
Daí a necessidade de o PB se afirmar como:
“a. an effective communicator within the institution
b. proactive with colleagues in the organisation
c. politically skilful in order to develop and maintain relationships

9
- Modelo de Auto-Avaliação da Biblioteca Escolar, RBE, 2010, (p.5)

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with individuals and take account of differing power bases that


exist within each institution.” 10

Para além de todas as competências já aqui salientadas e que o


PB deve possuir, não podemos esquecer que o exercício da sua função e
a mudança esperada com a aplicação do MAABE, exigem muitas outras
que são essenciais no que diz respeito ao desenvolvimento das literacias
(da informação, tecnológica e digital) nos alunos – aspecto fulcral da
melhoria esperada.
Partindo do conceito de biblioteca escolar que está subjacente ao
Modelo, cuja missão deverá incidir essencialmente nas aprendizagens,
no desenvolvimento curricular e no sucesso educativo, todo o trabalho
deverá ser orientado no sentido de colocar o aluno como agente activo,
como construtor do próprio conhecimento, tendo por base a pesquisa e
o uso de diversas fontes de informação (impresso, digital e da Web).
O PB deverá ser capaz de “gerir a mudança, adaptando as práticas
que tradicionalmente foram desenvolvidas aos novos desafios e mudança
de paradigma. [pois] A Biblioteca escolar deixa de ser um espaço que
disponibiliza recursos para passar a ser um espaço que interage com a
escola através da participação em projectos e actividades em
desenvolvimento na escola, e do trabalho articulado com os docentes.” 11

Salienta-se, neste contexto, a importância do PB deter uma


formação acrescida em TIC que, não sendo necessariamente no domínio
técnico, é essencial, sobretudo, no domínio do conhecimento e da
utilização pedagógica dos recursos, de modo a poder prestar um apoio
efectivo aos colegas e aos alunos. Saber aceder às várias fontes de
informação, saber seleccionar o que é pertinente, saber avaliar essas
mesmas fontes em termos científicos e pedagógicos, saber usar as
diversas ferramentas (incluindo as da Web 2.0), saber orientar a
pesquisa dos utilizadores, são algumas das competências
imprescindíveis ao PB.

10
- Tilke, Anthony (1999) - The role of the school librarian in providing conditions for discovery and
personal growth in the school library. How will the school library fulfil this purpose in the next century?,
em [http://archive.ifla.org/IV/ifla65/papers/077-119e.htm#1]
11
- Texto da sessão (p. 2)

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No entanto, e uma vez que o que se pretende é que os alunos


adquiram as matrizes intelectuais para se envolverem com múltiplas
perspectivas, fontes e formatos de informação, de modo a serem
capazes de construir o seu próprio entendimento, “o papel do
bibliotecário escolar vai além do desenvolvimento de um conjunto de
competências de literacia de informação, ao contrário, é a grande
responsabilidade de tornar todas as informações e conhecimentos que a
sua escola possui ou pode aceder accionáveis, para que os alunos
possam construir sua própria compreensão e desenvolver as suas ideias
de forma significativa.” 12

Em suma, J. Todd Ross, no seu artigo “Professores Bibliotecários


Escolares: resultados da aprendizagem e prática baseada em
evidências”, estrutura muito bem e claramente as várias dimensões
inerentes ao papel de liderança educativa do Professor Bibliotecário.
Esquematicamente, poderão apresentar-se desta forma:

Liderança
Informada
Liderança
Liderança
Determinada
Estratégica

Dimensões de
liderança do PB Liderança
Liderança
Criativa
Colaborativa

Liderança Liderança
Renovável Sustentável

Estas dimensões constituirão a ‘base para um futuro desejável


dos bibliotecários escolares’. Acredito que a mudança desejada com a
implementação do MAABE nas escolas, será determinada, em grande
parte, pela forma como o PB se vier a assumir em termos de liderança
educativa.

12
- Ross, J. Todd (2002) – Professores Bibliotecários Escolares: resultados da aprendizagem e prática
baseada em evidências, em [http://archive.ifla.org/IV/ifla68/papers/084-119e.pdf]

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