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UNI-BH

Resenha do filme “Abril Despedaçado”

Engenharia Civil
Disciplina: Ética
Carlos Armando Bento
Matrícula 11022138

Novembro
2010
O filme Abril despedaçado instiga o espectador a pensar a ética sob múltiplos
pontos de vista. O retrato cru da vida no sertão nos convida a inaugurar um
novo olhar. O filme, que aborda a trajetória de vida de Tonho, usa como pano
de fundo a guerra secular entre duas famílias na disputa por terra. Ao
pensarmos a ética como código de condutas considerados corretos,
discordamos da ordem instaurada no filme, que prega a lei de Talião. A morte
de um membro da família Breves deve ser vingada com a morte de um
membro da família Ferreira. Se consideramos o olhar da educação cristã e do
contrato social, o assassinato é um ato condenado pois as leis de Deus ditam,
no 5º mandamento que “Não matarás” e o Estado garante aos cidadãos o
direito à vida, sendo portanto, dever do estado o julgamento e condenação dos
sujeitos.

É importante considerar, porém, que os costumes daqueles sujeitos que


residem no sertão nordestino. O trabalho infantil, o analfabetismo, a falta de
identidade e a certeza de que um dia terão de cumprir o dever do assassinato
como missão de honra são fatos corriqueiros, homologados pelo destino e
tradição. Um fato curioso do filme é o código de ética desenvolvido dentro do
círculo social vivido por Tonho. O irmão, que atende pelo nome de “minino”, é
criticado pelo pai, quando se apega à imaginação proporcionada pela leitura,
ainda que através de figuras. A ordem vigente retratada no filme zela pela
continuidade cíclica, assim como os bois que tocam o engenho constantemente
e a tradicional sucessão de assassinatos.

O código de ética das famílias retratadas em abril despedaçado designa o


tempo de luto, através da mudança de cor do sangue das camisas dos
familiares assassinados. Quando a cor do sangue se torna amarela, o período
de trégua acaba e o parente do familiar assassinado é autorizado a executar
sua vingança. Este fato nos chama a atenção e aos sob nosso ponto de vista,
de sujeitos inseridos na cultura do respeito às leis religiosas e constitucionais,
questionamo-nos por que essa trégua não pode ser estendida e por que ela é
respeitada segundo os valores daquelas famílias. Quais são os valores das
famílias envolvidas? Por que aqueles sujeitos são não somente autorizados,
mas também obrigados a matar?

A constância e previsibilidade dos acontecimentos é atropelada por uma nova


ordem: a passagem do circo pela cidade. Antes da chegada do circo, espera-se
que a vingança de Tonho pela morte do irmão mais velho seja compensada por
sua própria morte. Mas o conhecimento trazido pelos artistas circences, em
especial, Clara. Ao “Minino”, batizado agora sob o nome Pacu, são entregues
os sonhos de criança através de histórias e figuras de livros. A Tonho, é
entregue o amor. A ruptura com os preceitos éticos da tradição familiar de
Tonho acontece quando o mesmo se depara com o assassinato de seu irmão
mais novo, que morre em seu lugar. A esperança trazida pelo novo, através de
Clara, junto à dor de ver mais um ente assassinado faz com que Tonho se
recuse a matar mais um membro da família Ferreira. Como resultado de sua
escolha, Tonho sabe que o que lhe resta é o exílio. Esse é o ponto de
convergência entre o código de conduta ética retratado no filme e o código
ético vivenciamos em nossa sociedade democrático-cristã. Aos desertores o
exílio. Mas o fato crucial tratado pelo filme é a inversão de valores. O exílio de
Tonho, ao contrário do senso de exílio de um sujeito condenado pelas leis dos
homens ou as leis de Deus, é a representação da liberdade e do encontro com
a felicidade.

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