You are on page 1of 13

DEUS E HOMEM – O Mistério de Cristo 

 
 
  

“Quem é este homem? […] Não é ele o filho do Carpinteiro?” 
História de Jesus de Nazaré 
 
Os  cristãos  e  a  teologia  vivem  uma  tensão  permanente  entre  a  afirmação  da  divindade  e  a  da 
humanidade  de  Jesus  Cristo.  Ora  se  sublinha  uma  ora  outra.  Por  vezes  separam‐se  uma  da  outra. 
Aceitar  com  fé  a  divindade  de  Cristo  não  nos  dispensa  de  conhecer  e  aceitar  a  sua  história,  a  sua 
realidade de homem. É preciso, por isso, voltar sempre à história.  
 
 
1. Jesus e a história 
 
1.1. A importância da referência histórica 

Porquê este interesse em identificar os elementos históricos de Jesus de Nazaré? 
Porque  é  convicção  das  Igrejas  cristãs  que  existe  uma  ligação  entre  aquilo  que  os  primeiros 
cristãos pregaram e o que aconteceu com Jesus de Nazaré. 
A  nossa  fé  é  baseada  em  acontecimentos  históricos.  Não  é  resultado  de  conclusões  racionais, 
nem se trata de filosofias de vida, nem tem origem em mitos. Toda a doutrina da fé cristã tem que ser 
confrontada  sempre  com  a  história  daquilo  que  Deus  fez.  Não  há  arbitrariedade  quando  queremos 
apresentar o conteúdo da nossa fé. 
H. Küng afirma:“Qualquer manipulação, ideologização e mitificação de Cristo tem o seu limite na 
história.  O  Cristo  do  Cristianismo  não  é  simplesmente  uma  ideia  fora  do  tempo,  um  princípio  de 
validade  eterna,  um  mito  de  significado  profundo.  O  Cristo  dos  cristãos  é,  com  efeito,  uma  pessoa 
totalmente concreta, humana, histórica: o Cristo dos cristãos não é outro senão Jesus de Nazaré. Neste 
sentido,  o  Cristianismo  funda‐se  essencialmente  na  história,  a  fé  cristã  é  essencialmente  uma  fé 
histórica. Só com base no seu carácter de fé histórica, o Cristianismo pôde impor‐se desde o início a 
todas as mitologias, a todas as filosofias, a todos os cultos mistéricos.” 
 
1.2. A historicidade de Jesus 

Duvidar  actualmente  que  Jesus  tenha  existido  é,  do  ponto  de  vista  histórico,  um  autêntico 
disparate. Já em 1926 R. Bultmann afirmava que: “a dúvida sobre a existência de Jesus é infundada e 
não  merece  ser  rebatida.  É  absolutamente  evidente  que  Ele  está  na  origem  daquele  movimento 
histórico  do  qual  o  primeiro  estádio  tangível  é  representado  pela  comunidade  cristã  primitiva 
palestinense.” É, portanto, na história de um homem concreto que se baseia e fundamenta o acto de fé 

– 16 – 
DEUS E HOMEM – O Mistério de Cristo 

cristã. Considerando que, para além das críticas que foram feitas na época moderna, os Evangelhos são 
testemunhos históricos credíveis, podemos recorrer a eles para reconstruir historicamente a figura de 
Jesus. 
 
1.3. Perspectiva da aproximação histórica 

Vamos  sublinhar  especialmente  aqueles  elementos  da  história  de  Jesus  em  que  estamos 
suficientemente de acordo, não só os crentes mas também o conjunto de estudiosos que se ocuparam 
da  sua  “biografia”.  O  que  aqui  dizemos  não  exige  assentimento,  como  se  se  tratasse  de  um  dogma; 
muitas  das  afirmações  são  simplesmente  opções  ou  posições  discutidas  e  discutíveis.  Cremos  que  o 
conjunto do que expomos é algo que a teologia actual e a Igreja admitem pacificamente. 
  Na reconstituição histórica da figura de Jesus centramo‐nos em dois núcleos: 
– os actos e as palavras de Jesus, 
– o contexto histórico em que vive. 
Trata‐se  de  uma  pessoa  concreta,  Jesus  de  Nazaré.  Ele  tem  acções  concretas,  são  os  «actos  de 
Jesus», e ensina, são as «palavras de Jesus». 
 
 
2. Contexto histórico da vida de Jesus 
 
O conhecimento do contexto sócio‐cultural e religioso permite reconstruir de maneira plausível 
alguns  aspectos  relacionados  com  a  sua  vida,  o  seu  trabalho  de  artesão,  a  sua  educação  familiar,  a 
relação com o seu povo. 
 
2.1. A vida na Galileia 

A sociedade da Galileia era agrária. Os contemporâneos de Jesus viviam no campo como todos os 
povos do século I pertencentes ao Império. Praticamente, toda a população vivia do trabalho da terra, 
excepto  a  elite  das  cidades  que  se  ocupava  das  tarefas  governativas,  administrativas,  de  recolha  de 
impostos ou de vigilância militar. Era um trabalho duro, pois só se podia contar com a ajuda de alguns 
bois, burros e camelos. Os camponeses das aldeias dispendiam as suas energias a lavrar, a vindimar e a 
segar  com  a  foice  as  searas.  Na  região  do  lago,  onde  tanto  se  movimentou  Jesus,  a  pesca  tinha  uma 
grande importância. As famílias de Cafarnaúm, Magdala e Betsaida viviam do lago. As artes de pesca 
eram  rudimentares:  pescava‐se  com  diversos  tipos  de  redes,  armadilhas  ou  tridentes.  Havia  muitos 
que utilizavam barcas, mas os mais pobres pescavam desde as margens. Normalmente, os pescadores 
das  aldeias  viviam  uma  vida  mais  tranquila  que  os  camponeses.  O  trabalho  deles  estava  controlado 
pelos  fiscais  de  Antipas  que  cobravam  taxas  pelos  direitos  da  pesca  e  pela  utilização  dos 
embarcadouros. 

– 17 – 
DEUS E HOMEM – O Mistério de Cristo 

Numa  sociedade  agrária  como  aquela,  a  propriedade  da  terra  adquiria  uma  importância  vital. 
Uma pequena elite, que vivia nas cidades, era proprietária da maior parte das terras. Arrendavam as 
suas terras a agricultores das aldeias. O proprietário exigia metade da produção. 
Havia agricultores que tinham terras próprias: pequenos terrenos junto das localidades. Outros 
eram  simples  jornaleiros,  que  por  qualquer  razão  tinham  ficado  sem  terras.  Andavam  de  aldeia  em 
aldeia à procura de trabalho. Recebiam o seu salário ao fim do dia. Estes constituíam uma boa parte da 
população, que vivia de trabalho ocasional e da mendicidade. Numa das suas parábolas, Jesus fala de 
um  latifundiário  que  arrendeu  a  sua  vinha  a  uns  agricultores  (Mc  12,1‐9),  e  noutra  fala  de  uns 
jornaleiros sentados na praça à espera de serem contratados (Mc 20,1‐6). 
A população era obrigada a pagar elevados tributos. 
Aos  Romanos  pagavam  o  tributum  soli  (um  quarto  da  produção)  e  o  tributum  capitis  (cada 
pessoa  pagava  um  denário  por  ano).  Além  destes  impostos,  deviam  ainda  pagar  elevados  tributos  a 
Herodes,  que  tinha  o  seu  próprio  sistema  de  impostos.  As  taxas  eram  muito  altas.  É  provável  que 
também  o  Templo  de  Jerusalém  exigisse  taxas:  os  dízimos  e  os  primeiros  frutos.  Alguns  autores 
calculam que este contributo atingiu cerca de 20% da colheita anual.  A  carga  fiscal  era,  concerteza, 
esmagadora. Muitas famílias viam ir em tributos e impostos a terça parte, e até metade, daquilo que 
produziam. Jesus conhecia bem estas aflições dos pobres lavradores que, procurando tirar o máximo 
partido das suas modestas terras, semeavam até em terreno pedregoso, entre cardos e até em zonas 
que as pessoas usavam como veredas. 
  O fantasma da dívida era temido por toda a gente. Os membros do grupo familiar ajudavam‐se 
uns aos outros para se defenderem das pressões e chantagens dos cobradores mas, mais tarde ou mais 
cedo,  desembocavam  no  endividamento.  Jesus  conheceu  a  Galileia  enredada  em  dívidas.  A  maior 
ameaça para a grande maioria era ficar sem terras e sem recursos para viver. Quando, forçada pelas 
dívidas, a família perdia as suas terras, começava a desagragar‐se. Alguns tornavam‐se jornaleiros, ou 
vendiam‐se como escravos, outros refugiavam‐se na mendicidade. 
A desigualdade do nível de vida entre as cidades e as aldeias era notória. Nas aldeias, as pessoas 
viviam em casas muito modestas feitas de barro ou de pedra por trabalhar, e com tecto de colmo. As 
ruas eram de terra batida e sem pavimento. 
Jesus  presenciou  o  crescimento  de  uma  desigualdade  que  fazia  aumentar  o  número  de 
mendigos, de jornaleiros, de prostitutas, de famintos. Neste contexto percebem‐se melhor algumas das 
parábolas de Jesus, bem como a imagem do banquete. 
 
2.2. Os Judeus da Galileia 

Quem eram estes galileus, contemporâneos de Jesus? 
Viviam  longe  de  Jerusalém,  que  era  o  centro  religioso  e  cultural  do  seu  povo.  Conservavam  as 
grandes tradições do Êxodo: a Aliança, a Lei de Moisés, a celebração do Sábado. Não tendo um centro 
de  culto  importante,  nem  uma  aristocracia  sacerdotal,  é  normal  que  desenvolvessem  tradições 

– 18 – 
DEUS E HOMEM – O Mistério de Cristo 

diferentes  das  da  Judeia.  Provavelmente  os  galileus  estavam  habituados  a  uma  interpretação  mais 
liberal da Lei e eram menos rigorosos quanto ao cumprimento das normais de pureza ritual. 
 
2.3. A vida em Nazaré 

Jesus viveu a maior parte da sua vida em Nazaré, que era uma pequena povoação situada numa 
encosta  da  zona  montanhosa  da  Galileia,  longe  das  grande  rotas  comerciais.  Nazaré  era  uma  aldeia 
pequena e desconhecida. Teria entre 200 e 400 habitantes. As casas situavam‐se numa colina, virada 
para o sol. 
Alguns dos seus habitantes viviam em grutas escavadas nas encostas. As casas eram feitas com 
paredes de adobe ou de pedra escura, os telhados eram com ramos e barro, o chão com terra batida. 
Geralmente  as  casas  só  tinham  uma  divisão,  na  qual  dormia  toda  a  família  e  até  mesmo  os  animais. 
Normalmente as casas davam para um pátio, que era partilhado por 3 ou 4 famílias do mesmo grupo. 
Tinham em comum algumas coisas: um pequeno moinho em que as mulheres moíam o grão, o forno 
em que elas coziam o pão. Era neste pátio que as crianças brincavam e os adultos descansavam após o 
trabalho. 
Foi numa casa assim que Jesus terá vivido. 
Num ambiente assim captou até os mais ínfimos pormenores da vida de cada dia. Sabia qual era 
o  melhor  lugar  para  colocar  a  candeia  para  que  o  interior  da  casa,  de  paredes  escuras,  ficasse  bem 
iluminado  e  se  pudesse  ver.  Via  como  as  mulheres  varriam  o  chão  pedregoso  com  uma  folha  de 
palmeira à procura de alguma moeda perdida num canto qualquer. Sabia como era fácil penetrar em 
algumas destas casas fazendo um buraco para subtrair as poucas coisas de valor que se guardavam no 
seu interior. 
Teria passado muitas horas no pátio da sua casa e conhecia bem a vida das famílias. Não havia 
segredos para ninguém. Via como sua mãe e as vizinhas saíam ao pátio para fazer a massa do pão, e 
como a levedavam com um pouco de fermento. Observava‐as enquanto remendavam a roupa, e notava 
que não se podia deitar um remendo novo em tecido velho. Ouvia como as crianças pediam aos seus 
pais um ovo, sabendo que sempre receberiam deles coisas boas. Conhecia também os favores que se 
costumavam fazer entre os vizinhos. Em alguma ocasião, pôde sentir que alguém se levantava de noite, 
estando já fechada a porta de casa, para atender o pedido de algum amigo'. 
  Quando,  mais  tarde,  percorrer  a  Galileia  convidando  a  uma  nova  experiência  de  Deus,  Jesus 
não  fará  grandes  discursos  teológicos  nem  citará  os  livros  sagrados  que  se  liam  nas  reuniões  dos 
Sábados  numa  língua  que  nem  todos  conheciam  bem.  Para  perceber  Jesus,  não  era  preciso  ter 
conhecimentos  especiais.  Não  fazia  falta  ter  lido  livros.  Jesus  falava‐lhes  a  partir  da  vida.  Todos 
poderiam  captar  a  sua  mensagem:  as  mulheres  que  punham  fermento  na  massa  e  os  homens  que 
acabavam  de  chegar  de  semear  o  trigo.  Bastava  viver  intensamente  a  vida  de  cada  dia,  e  escutar  de 
coração simples as audazes conclusões que Jesus extraía cicia, para se poder acolher a um Deus que é 
Pai. 

– 19 – 
DEUS E HOMEM – O Mistério de Cristo 

  Viver  em  Nazaré  era  viver  no  campo.  Jesus  cresceu  no  meio  da  natureza.  Nos  seus 
ensinamentos encontramos uma abundância de imagens tomadas da natureza. 
Jesus fala a partir da vida. 
 
2.4. Os grupos sociais do tempo de Jesus 

No  tempo  de  Jesus,  o  povo  judeu  povo  vivia  dominado  pelos  romanos.  Mas  mesmo  dominado 
politicamente, mantinha a sua identidade religiosa e a sua organização social. Havia diversas correntes 
religiosas e diversos estilos de comportamento que davam origem a grupos diferentes. É interessante 
descrever por alto estes grupos e ver como Jesus se situou em relação a eles. Podemos neste sentido 
apontar quatro correntes religiosas que identificavam outros tantos grupos. 
 
A.) Classe dominante 
O poder central estava entregue ao conselho do sinédrio, presidido pelo sumo sacerdote, e em 
que  estavam  representadas  as  classes  dominantes  através  de  setenta  elementos:  sumos  sacerdotes, 
anciãos  e  escribas.  Jesus  não  procura  o  acordo  com  este  grupo.  Ele  não  era  sacerdote,  nem  teólogo, 
nem pertencia às classes dominantes: Era um membro do povo simples. Narrador popular, que falava 
a  linguagem  entendida  pelo  povo.  A  pregação  de  Jesus  anunciava  um  novo  sistema  que  punha  em 
causa a ordem estabelecida. A sua mensagem sobre o Reino de Deus era uma Boa Nova de libertação 
para os pobres e oprimidos e para os pecadores. Era um anúncio de perdão, de fraternidade e amor 
que  abalava  a  posição  das  classes  dominantes.  Jesus  aparecia  portanto  a  esta  classe  como  pessoa 
incómoda e indesejável e daí o desejo de se desfazerem d'Ele. 
 
B.) Zelotas (revolucionários) 
Havia  na  Palestina  um  grupo  religioso  revolucionário  que  provocava  a  guerrilha  contra  a 
dominação  romana:  era  o  grupo  dos  Zelotas.  Tinham  um  ódio  mortal  aos  romanos  e  aos  que 
colaboravam com eles (publicanos). Fomentavam a recusa de pagar o tributo aos ocupantes romanos. 
Tinham uma concepção de Reino de Deus político‐religiosa. 
A  mensagem  de  Jesus  sobre  a  instauração  do  Reino  de  Deus  interessava  profundamente  aos 
Zelotas.  É  natural  que  este  movimento  revolucionário  tivesse  até  visto  em  Jesus  um  possível  chefe 
capaz de galvanizar o povo e uni‐lo na luta contra a dominação romana. Jesus por seu lado tinha entre 
os seus discípulos pelo menos um zelota (Simão) ou talvez mais (Judas Iscariotes?). É muito provável 
que os zelotas estivessem na base de alguns movimentos do povo em ordem a proclamar Jesus como 
Rei (cfr. Jo 6,15). 
Mas Jesus não se apresenta como revolucionário político‐social. A sua mensagem sobre o Reino 
de Deus de modo nenhum se identifica com um programa de acção político‐social. Na verdade o Reino 
de  Deus  anunciado  por  Jesus,  não  se  atinge  pela  violência  ou  pela  guerrilha  mas  é  antes  de  mais  a 
acção de Deus que exige conversão do homem. 
 

– 20 – 
DEUS E HOMEM – O Mistério de Cristo 

C.) Essénios 
Um outro grupo eram os Essénios, que se afastavam do mundo para preparar o Reino de Deus 
no desapego e na pureza. Viviam austeramente nas grutas de Qumran. Tinham uma concepção própria 
de Reino de Deus, como destruição dos filhos das trevas e prémio dos filhos da luz. Apresentavam‐se 
como convencidos que possuíam o exclusivo da verdade e da salvação. 
Mas Jesus é diferente. Não se afastava dos homens para ser perfeito. Pelo contrário aproxima‐se 
dos  pecadores,  vive  em  contacto  com  as  mulheres,  frequenta  os  banquetes.  O  Seu  primeiro  milagre 
realiza‐se nas bodas de um casamento Acusavam‐nO de "glutão e bebedor" (Mt. 11, 18‐19). 
Jesus não se dirige apenas aos “puros” como os de Qumran, mas a toda a gente. O seu modo de 
viver,  vestir  e  comer  eram  os  de  uma  pessoa  normal.  Anunciava  a  misericórdia  de  Deus  para  os 
pecadores, sem insistir apenas do castigo. 
 
D.) Fariseus 
Outra linha diferente era proposta pelos fariseus. No evangelho estes são apresentados sob um 
aspecto meramente negativo (hipócritas). Os fariseus tinham porém também aspectos positivos: eram 
cumpridores  rigorosos  de  todas  as  prescrições  da  Lei,  pensando  assim  merecer  a  salvação. 
Consideravam‐se  como  devotos  e  praticantes  o  que  os  levava  ao  desprezo  pelos  ignorantes  e  à 
arrogância. 
Jesus  entra  em  conflito  com  os  fariseus  por  causa  desta  vaidade  e  arrogância.  Muitas  das  suas 
parábolas são de crítica à mentalidade farisaica: o irmão do Filho Pródigo (Lc. 15, 25‐32); o fariseu e o 
publicano (Lc. 18,9‐14), etc. Contesta as suas ideias de pureza ritual (Mc. 7,14‐22); de jejum (Mc. 2,18‐
22); de absolutização do sábado (Mc. 2,27), etc. O Reino de Deus é dom gratuito, sem fronteiras, que 
exige  do  homem  o  reconhecimento  da  sua  pobreza,  e  não  é  devido  aos  méritos  das  obras,  como 
opinavam os fariseus. 
 
Conclusão 
Jesus não se situa em nenhuma destas correntes dominantes do seu tempo, não se enquadra em 
nenhum  grupo  determinado,  não  adopta  nenhuma  das  interpretações  usuais  do  Reino  de  Deus. 
Ultrapassa  assim  todos  os  esquemas  estabelecidos.  É  mais  original  e  mais  livre,  e  também  mais 
revolucionário e mais próximo de Deus que qualquer destas orientações. 
 
 
3. Elementos históricos da vida de Jesus 
 
Jesus de Nazaré nasce no ano 6 antes de Cristo, e morre, como data mais provável (embora não 
seja  segura),  a  7  de  Abril  do  ano  30  d.C.  Dedica  um  ano  (29‐30)  ou  no  máximo  dois  (28  a  30)  à 
pregação da sua mensagem. 
 

– 21 – 
DEUS E HOMEM – O Mistério de Cristo 

3.1. Dados pessoais 

O  nome  próprio  era  Yeshúa.  Habitualmente  os  nomes  tinham  um  significado.  Yeshúa  significa 
“Javé  salva”.  O  nome  foi‐lhe  dado  por  seu  pai  no  dia  da  circuncisão.  Era  um  nome  comum  na  época. 
Para  ser  identificado  na  sua  terra  chamavam‐lhe  Yeshúa  bar  Yosef  (Jesus,  filho  de  José).  Fora  da  sua 
terra era conhecido por “Jesus de Nazaré”. 
Na  Galileia  daquele  tempo  a  primeira  coisa  que  interessava  saber  de  uma  pessoa  era  a  sua 
origem, de que terra vinha e qual a sua família. A identidade de uma pessoa tem por base o seu grupo. 
Para as pessoas que se encontravam com ele, Jesus era “galileu”. A Galileia era uma região semi‐
pagã desprezada pelos israelitas puritanos. Não provinha da Judeia, nem de nenhuma colónia judaica 
espalhada  pelo  Império.  Não  era  originário  de  Jerusalém,  nem  de  nenhuma  cidade  significativa  do 
ponto de vista religioso ou social. Não era de Tiberíades nem de outra grande cidade da Galileia. Vinha 
de Nazaré, uma pequena aldeia desconhecida. 
Fazia parte de uma família hebreia. Os seus pais chamavam‐se Maria e José. O seu pai era um 
“artesão”,  não  um  cobrador  de  impostos,  nem  um  escriba.  A  família  de  Jesus  era  gente  simples  e 
trabalhadora.  Jesus  não  viveu  no  seio  de  uma  pequena  célula  familiar,  à  roda  dos  seus  pais,  mas 
integrado  numa  família  mais  alargada.  O  clã  familiar  agrupava  todos  os  que  estavam  vinculados  por 
algum  grau  de  parentesco.  Como  todas  as  crianças  de  Nazaré,  Jesus  viveu  até  aos  7  ou  8  anos  ao 
cuidado da sua mãe e das mulheres do seu grupo familiar.  
Como era habitual, herda a profissão do seu pai. A maneira como falava de diversos trabalhos 
manifesta,  não  apenas  um  observador  atento  do  trabalho  dos  outros,  mas  um  trabalhador 
experimentado. 
A língua materna de Jesus foi o aramaico. Jesus foi um galileu de ambiente rural, que ensinava 
as  pessoas  na  sua  língua  materna,  isto  é,  em  aramaico.  Provavelmente  conhecia  o  hebraico  bíblico, 
para compreender as Escrituras. Talvez se defendesse em grego, mas desconhecia o latim. 
O  nível  cultural  de  Jesus  devia  ser  o  normal  das  pessoas  do  seu  meio.  Apesar  de  não  ter 
frequentado escolas superiores estava à vontade em discussões sobre as Escrituras. Não sabemos se 
Jesus sabia ler e escrever. 
 
3.2. O tempo vivido em Nazaré 

Jesus viveu a sua infância, a sua juventude e os primeiros anos da sua vida adulta em Nazaré. 
Jesus era um homem de mentalidade mais rural que urbana. 
Desempenhou o ofício de artesão. É possível que tenha trabalhado na reconstrução de Séforis, 
que, por essa altura, estava a ser restaurada por Herodes Antipas. 
 
3.3. Sem esposa e sem filhos 

O facto de Jesus não se ter casado, algo estranho e desusado, provavelmente não foi muito bem 
visto pelos vizinhos e familiares. 

– 22 – 
DEUS E HOMEM – O Mistério de Cristo 

O  que  terá  levado  Jesus  a  essa  opção?  Jesus  dedicou‐se  totalmente  a  uma  realidade  que  se  foi 
apoderando do seu coração cada vez com mais força — o Reino de Deus. Foi a paixão da sua vida, à 
qual se entregou de alma e corpo. 
Se  Jesus  não  conviveu  com  nenhuma  mulher  não  foi  porque  desprezasse  o  sexo  ou 
desvalorizasse  a  família.  Não  se  quis  casar  com  nada  nem  com  ninguém  para  não  se  distrair  da  sua 
missão ao serviço do reino. Não abraçou uma esposa, para se deixar abraçar pelas prostitutas que iam 
entrando  na  dinâmica  do  reino,  depois  de  recuperarem,  ao  pé  dele,  a  sua  dignidade.  Não  quis  beijar 
filhos  que  fossem  dele,  mas  abraçou  e  abençoou  as  crianças  que  vinham  a  ele,  pois  via‐os  como 
"parábola viva" de como se devia acolher a Deus. Não criou uma família própria, mas esforçou‐se por 
suscitar uma família mais universal, composta por homens e  por mulheres que fizessem a vontade de 
Deus. 
 
3.4. «Ruptura» com a família 

Na  sociedade  em  que  Jesus  vivia  a  família  era  tudo:  lugar  de  nascimento,  escola  de  vida  e 
garantia de trabalho. Fora da família o indivíduo ficava sem protecção e sem segurança. Só na família 
encontrava  a  sua  verdadeira  identidade.  Abandonar  a  família  era  um  acto  muito  grave.  Significava 
perder a vinculação ao grupo protector e à aldeia. Era uma decisão estranha e arriscada. 
Jesus foi criando novos relacionamentos à volta dele até formar um grupo de seguidores. O seu 
grupo familiar era pouco para ele. A certa altura,  Jesus deixa a sua família. Procurava uma família que 
incluísse  todos  os  homens  e  mulheres  dispostos  a  fazerem  a  vontade  de  Deus.  Considerando  que  os 
laços  de  sangue  eram  um  obstáculo  à  sua  missão,  deixou  definitivamente  a  sua  casa  de  Nazaré  e  foi 
para Cafarnaúm. 
Jesus não teve o apoio familiar, embora, segundo parece, alguns familiares se tenham juntado ao 
seu  movimento.  A  sua  família  mais  próxima  não  o  apoiou  na  sua  actividade  de  profeta  itinerante. 
Chegaram a pensar que tinha perdido a cabeça e consideravam que assim desonrava toda a família. A 
honra da família era algo decisivo. Jesus pôs em perigo a honra da sua família, ao deixá‐la. Assume uma 
vida  de  vagabundo,  longe  do  lar,  sem  profisão  fixa,  realizando  curas  estranhas  e  anunciando  uma 
doutrina estranha. Era uma vergonha para a família. 
 
3.5. O encontro com João Baptista 

Num determinado momento, Jesus ouviu falar de João Baptista que dera início a um movimento 
de conversão na zona desértica junto ao rio Jordão. 
O  facto  de  João  baptizar  Jesus,  dá‐nos  a  entender  que  este  foi  seu  discípulo,  porque  o  mestre 
baptiza os discípulos. 
João  Baptista  pregava:  “a  ira  de  Deus  está  próxima”  (cf.  Mt  3,  1‐12).  Jesus  separa‐se  de  João, 
torna‐se independente e prega algo diferente: “O Reino de Deus está a chegar”. 
 
 

– 23 – 
DEUS E HOMEM – O Mistério de Cristo 

3.6. A experiência do deserto 

Jesus  retira‐se  para  o  deserto.  A  descrição  deste  episódio  pelos  evangelhos  é  simbólica, 
interpretando este período como a retomada do caminho de Israel pelo deserto ao longo de 40 anos: 
Jesus também é tentado como o Antigo Israel, mas vence a tentação. Por detrás da narração simbólica, 
está um facto real: Jesus vai amadurecer a sua vocação e definir o rumo da sua vida num período longo 
de contacto íntimo com Deus, na oração e no jejum. 
 
3.7. Actividade itinerante de Jesus 

Por  volta  dos  anos  27  ou  28,  com  cerca  de  30  anos  de  idade,  Jesus  começou  um  actividade 
itinerante, que o levou da Galileia a Jerusalém, onde seria executado provavelmente no dia 7 de Abril 
do ano 30. Trata‐se, portanto, de uma actividade intensa, embora breve, já que não chegou a durar três 
anos.  Não  sabemos  com  certeza  a  duração  da  sua  pregação:  João  fala  de  três  páscoas,  enquanto  os 
Sinópticos referem apenas o espaço de um ano. 
Jesus ia dum lado para o outro acompanhado de um grupo de discípulos e discípulas. 
A  vida  itinerante  de  Jesus  não  deve  ter  sido  fácil.  Provavelmente  experimentaram  a  fome  por 
diversas vezes. 
A sua actividade centrava‐se em duas coisas: curar os doentes dos diversos males e anunciar a 
mensagem sobre o "reino de Deus". 
A sua fama aumentou rapidamente e as pessoas movimentavam‐se para ir ao seu encontro. 
Jesus costumava ir de noite para lugares retirados a fim de rezar. 
 
3.8. Rodeado de discípulos 

Formou‐se  à  volta  de  Jesus  um  grupo  reduzido  de  seguidores  itinerantes,  entre  os  quais  havia 
também um certo número de mulheres. Além deste número reduzido, existia um sector mais amplo de 
simpatizantes que continuavam a viver nas suas casas, mas que se identificavam com a sua mensagem, 
e acolhiam Jesus e o seu grupo quando passavam pelas respectivas aldeias. 
Jesus  rodeou‐se  de  um  grupo  mais  próximo  de  "Doze",  que  simbolizava  o  seu  desejo  de 
conseguir  a  restauração  de  Israel.  Os  “Doze”  são  sinal  da  comunidade  do  novo  Israel  que,  com  a 
chegada iminente do Reino, se ia iniciar. Por isso o grupo íntimo dos discípulos são doze, tantos como 
as doze tribos de Israel. 
Não  obstante,  dois  dados,  pelo  menos,  há  que  reter  do  ponto  de  vista  histórico.  De  entre  os 
seguidores de Jesus, este escolheu um grupo de doze discípulos como sinal do novo Israel que surgira 
da vinda do Reino de Deus. Este grupo, liderado por Pedro, foi o grupo que, após a sua morte, recolheu 
a  herança  de  Jesus  nos  primeiros  momentos  com  a  consciência  de  serem  as  testemunhas  do 
acontecimento escatológico de Deus que n’Ele tivera lugar. 
 
 
 

– 24 – 
DEUS E HOMEM – O Mistério de Cristo 

3.9. Profeta do reino de Deus 

Jesus  usava  uma  linguagem  característica  e  sugestiva.  Quase  nunca  falava  de  si  mesmo.  A  sua 
pregação concentrava‐se no que ele designava de "reino de Deus”. 
Na sua pregação ocupava um lugar de destaque a experiência de um Deus Pai "que faz com o sol 
se levante sobre os bons e os maus", e acolhe e procura os filhos perdidos. 
Era essencial a sua exortação a "entrar" no reino de Deus e o seu convite a ser "misericordioso" 
como era o seu Pai do céu. O perdão aos inimigos constituía o cume desse convite. 
 
3.10. As parábolas 

É  um  facto  que  Jesus  anunciou  a  sua  mensagem  em  parábolas.  A  maior  parte  das  parábolas 
reflecte de tal maneira o ambiente palestino contemporâneo de Jesus que não se pode duvidar da sua 
autenticidade. As parábolas foram, pois, contadas por Jesus.   As  parábolas  constituem  a  maneira 
própria de Jesus falar e ensinar. Graças a elas podemos conhecer muito da personalidade de Jesus, da 
sua  cultura  e  da  sua  sensibilidade.  Jesus  fala‐nos  de  sementeira  e  de  pesca,  de  vinhateiros  e  de 
pastores, de mulheres que amassam o pão e de negociantes de pérolas, de banquetes, de bodas e de 
filhos  que  saem  de  casa...  O  mundo  agrícola,  pastoril  e  piscatório  da  Galileia  está  presente  nas  suas 
histórias.  Que  diferença  do  mundo  urbano  de  Paulo,  cujos  escassos  exemplos  se  referem  aos  que 
correm no estádio (1 Cor 9, 24), a recibos (Col 2, 14) e contabilidades (2 Cor 3, 5), a adopções (Rom 8, 
15) ou a cortejos de triunfo dos imperadores (Col 2, 15)! 
 
3.11. Actividade curadora 

Apesar de ser difícil precisar o grau de historicidade de cada relato transmitido pelas tradições 
evangélicas, não há dúvida que Jesus realizou curas de vários tipos de doentes. Do mesmo modo, fez 
exorcismos libertando do mal pessoas consideradas, naquela cultura, possessas de espíritos malignos. 
Apresentava essas cura esses exorcismos como sinais da chegada do reino de Deus aos sectores mais 
afundados no sofrimento e na alienação. 
 
3.12. Comportamento «marginal» 

Jesus adoptou um comportamento estranho e provocador. Violava constantemente os códigos de 
conduta  vigentes  naquela  sociedade.  Não  praticava  as  normas  da  pureza  ritual.  Não  se  preocupava 
com o rito de lavar as mãos antes de comer. Não jejuava. Em certos momentos, não cumpria o preceito 
sabático. Vivia reodeado de gente indesejável, como os cobradores de impostos e as prostitutas. Via‐se 
acompanhado  de  mendigos,  de  famintos  e  de  gente  marginalizada.  Confraternizava  e  comia  com 
"pecadores  e  publicanos".  Contra  o  socialmente  estabelecido,  falava  em  público  com  mulheres  e 
admitia‐as  como  discípulas.  Por  exemplo,  Maria  de  Magdala  ocupava  um  lugar  importante  no 
movimento  de  Jesus.  Segundo  tudo  indica,  Jesus  tinha  uma  atitude  particularmente  acolhedora  para 
com  as  crianças.  Assumira  essa  atitude  não  arbitrariamente,  mas  com  a  nítida  intenção  de  mostrar, 
graficamente, que o reino de Deus estava aberto a todos, sem excluir e sem pôr de lado ninguém. 
– 25 – 
DEUS E HOMEM – O Mistério de Cristo 

 
3.13. As refeições de Jesus  

Um tema importante na vida de Jesus foram as suas refeições. Jesus comia habitualmente com 
publicanos, pecadores e prostitutas. As refeições de Jesus com estes marginalizados são também sinal 
do  Reino  dos  Céus.  Podemos  dizer  que  estas  refeições  de  Jesus  são  uma  parábola  em  acto,  uma 
parábola  viva,  em  lugar  de  uma  parábola  narrada.  As  refeições  de  Jesus  são  a  imagem  do  banquete 
celestial e, portanto, anúncio da chegada iminente do Reino de Deus. Para esse Reino de Deus todos 
estão  chamados,  preferencialmente  os  pobres,  os  marginalizados,  as  prostitutas,  os  publicanos,  etc. 
Assim, pois, Jesus torna já presente esse Reino, que prega como iminente, quando come com todos os 
desamparados  pela  mão  de  Deus.  Comendo  com  os  marginalizados,  Jesus  mostra  o  amor 
incondicionado  de  Deus,  a  ponto  de  eles  serem  os  preferidos  de  Deus,  pois  “os  publicanos  e  as 
prostitutas preceder‐vos‐ão no Reino dos Céus.” (cf. Mt 21, 31). 
 
3.14. Reacções sobre Jesus 

Fora  do  pequeno  grupo  dos  discípulos  e  do  círculo  de  simpatizantes,  Jesus  atingiu  uma 
notoriedade  bastante  grande  na  Galileia  e  nas  regiões  vizinhas.  Não  parece  que  este  eco  popular 
tivesse diminuído durante o breve tempo da sua actividade itinerante. 
De  facto,  movimentava  massas  relativamente  importantes,  e  isso  levava‐o  a  ser  considerado 
como um personagem perigoso pelas autoridades. Jesus provocou a rejeição em sectores que tentaram 
difamá‐lo e desacreditá‐lo a fim de impedirem a sua influência. 
De facto, Jesus não foi bem recebido pelos seus conterrâneos, e despertou oposição de escribas e 
dirigentes religiosos, tanto na Galileia como em Jerusalém. Foi criticado por comer com os pecadores e 
acusado  de  estar  possuído  pelo  demónio.  Mas  ele  conseguiu  defender‐se  com  firmeza  dessas  duas 
acusações. 
 
3.15. Conflito e condenação 

Jesus,  inicialmente,  tem  êxito;  é  seguido  em  virtude  dos  seus  sinais,  pela  pregação  da  chegada 
iminente do Reino de Deus, com a qual se tornará realidade a felicidade que todos desejam. Porém, a 
pregação de Jesus começa a provocar conflito.  
Jesus  assume  o  conflito  quando  decide  subir  a  Jerusalém,  porque  todo  o  profeta  se  há‐de 
manifestar em Jerusalém. Manifestar‐se em Jerusalém inclui enfrentar o conflito com as autoridades. 
Assume  a  morte;  mas  prevê  que  irá  sobreviver:  “a  minha  vida  ninguém  ma  tira;  sou  eu  que  a  dou 
voluntariamente” (Jo 10, 17‐18). Há neste texto uma teologização de que a vida de Jesus está entregue, 
mas podemos dizer, também a partir da história, que Jesus assume a sua morte e oferece a sua vida 
pelo Reino de Deus. 
Jesus teve um gesto hostil contra o templo, que lhe valeu a sua detenção. Não parece que tenha 
havido um julgamento propriamente dito por parte das autoridades judaicas. O mais provável é que, 
tendo  em  conta  o  acontecido  no  templo,  a  aristocracia  sacerdotal  se  tenha  certificado  do  perigo  que 

– 26 – 
DEUS E HOMEM – O Mistério de Cristo 

Jesus  representava  e  se  tenha  unido  para  o  fazer  desaparecer.  Segundo  tudo  leva  a  crer,  Jesus  já 
contava  com  a  hipótese  da  sua  morte  violenta  e  celebrou  uma  ceia  de  despedida  com  os  seus 
discípulos, na qual realizou um gesto simbólico com o pão e com o vinho. 
No momento da sua detenção, foi abandonado pelos seus seguidores mais próximos. 
Jesus morreu crucificado, provavelmente no dia 7 de Abril do ano 30, sendo o prefeito romano, 
Pôncio Pilatos, quem ditou a sentença da sua morte. 
 
3.16. Fé em Jesus ressuscitado 

É possível verificar historicamente que, entre os anos 35 e 40, os cristãos da primeira geração 
professavam  através  de  diversas  fórmulas  uma  convicção  partilhada  por  todos  e  que  rapidamente 
divulgaram por todo o Império: "Deus tinha ressuscitado a Jesus de entre os mortos". 
 
3.17. A figura de Jesus de Nazaré 

Além  destes  elementos  históricos  relativamente  seguros,  poderemos  encontrar  nos  textos 
evangélicos os traços característicos da figura e da pregação de Jesus. 
  Ficou na recordação do povo como alguém que passou fazendo o bem (Act 10,38). Os próprios 
relatos dos milagres revelam a atenção que prestava ao povo simples e humilde da Galileia. 
  Parece também claro o conteúdo central da sua pregação e o estilo dela: Jesus anunciou, com 
uma autoridade inédita, o Reino de Deus como iminente. 
  A “causa” do Nazareno está estreitamente ligada à sua pessoa. Jesus apresenta‐se como aquele 
no qual o Reino de Deus vem e que, por isso, exige uma decisão por parte do Homem. Nele apresenta‐
se a hora da inaudita oferta de salvação e, por isso, também a hora da decisão por alguém, aquele em 
quem os tempos se completaram. 
 
 
4. Conclusão 
A história de Jesus parece, então, semelhante a tantas outras e ao mesmo tempo singular.  
Como  qualquer  história  humana,  desenvolveu‐se  num  lugar  e  tempo  determinados, 
condicionado pelas mesmas circunstâncias de tantos outros homens, com os limites da sociedade em 
que  se  inseriu.  é  uma  história  verdadeiramente  humana,  carregada  de  alegrias  e  dores,  de  fadigas  e 
lágrimas, de vida e de morte. 
Mas, ao mesmo tempo, a história do Nazareno foi de uma singularidade desconcertante, que se 
resume na sua pretensão, no seu anunciar em palavras e obras a vinda do Reino na Sua pessoa. Não é 
só  a  singularidade  de  um  amor  que  chega  a  dar  a  vida  pelos  amigos.  É  um  mistério  de  um  apelo  à 
decisão,  a  ansiedade  por  encontrar‐se  diante  de  uma  exigência  absoluta,  de  uma  oferta  inaudita. 
Conscientes desta dupla avaliação na vida de Jesus, compreendemos o ódio e o amor que suscitou. Ele 
foi, de facto, “sinal de contradição”. São, portanto, duas faces igualmente reais da história de Jesus de 
Nazaré: a humanidade que a caracterizou e o mistério que ela encerra. 

– 27 – 
DEUS E HOMEM – O Mistério de Cristo 

   
É  esta  história  de  Jesus  Cristo,  simultaneamente  comum  e  inédita,  que  constitui  o  primeiro 
núcleo de qualquer anúncio cristológico. O anúncio cristão deve fundar‐se, confrontar‐se e referir‐se 
continuamente à história de Jesus. A história de Jesus é o polo originário e insubstituível de qualquer 
compreensão cristológica. Ela constitui o primeiro critério de validade cristológica. 
 
 
 
 
 

– 28 – 

You might also like