Escrevo estas linhas para o “Laicado Dominicano” dade de Maria e de José e o caminho de aprendizagem
na festa da Apresentação do Senhor, 40 dias depois – um caminho que os pais devem necessariamente
do Natal. A designação popular de “Senhora das Can- fazer – para aceitar que os filhos têm a sua vida e que
deias” ou “Candelária”, vem do séc. VII e do Papa dessa vida fazem parte integrante as suas escolhas. Di-
Sérgio I, quando este determinou que a missa própria to de outra maneira, aceitar que os pais não são do-
desta festa fosse precedida por uma procissão em que nos dos filhos, que os filhos não são propriedade sua,
todos levassem um círio (cf. Missal Quotidiano). chegar a compreender que o Amor – o Amor com
Mas vale a pena determo-nos na narrativa de S. “A” grande – é libertador, não é possessivo. Aceitar
Lucas (2:22-40): está lá uma criança, ainda bebé, os que temos o dever de preparar os nossos filhos, netos
seus pais, e dois anciãos – três gerações, portanto. e outros educandos para se fazerem à vida, mas isso
Ana, com 84 anos, é viúva “e não se afastava do tem- não nos dá o direito de determinar o seu rumo ou
plo, servindo a Deus noite e dia”. Simeão é também hipotecar o seu futuro.
idoso, homem “justo e piedoso que esperava a conso- Depois de “cumpridas todas as prescrições da Lei
lação de Israel”. Ambos eram habitados pelo Espírito do Senhor, voltaram para a Galileia, para a sua cidade
Santo que os impeliu a ir ao templo e há muito ali- de Nazaré (…) e o Menino crescia e tornava-se robus-
mentava neles a esperança que não morreriam sem to, enchendo-se de sabedoria, e a graça de Deus estava
que vissem “a salvação que o Senhor pôs ao alcance com ele”. Isto é, amparado pela família, desenvolvia-se
de todos os povos” – o Messias. Temos depois os pais integralmente, no plano físico, cognitivo e sócio-
de Jesus, Maria e José, judeus piedosos, a cumprirem afectivo, bem como no plano da sua relação com
um preceito da Lei de Moisés: consagrar o filho pri- Deus.
mogénito varão ao Senhor “e oferecerem em sacrifício
um par de rolas ou duas pombinhas”. E temos o Me- José Carlos Gomes da Costa,o.p.
nino Jesus, levado ao colo pelos seus pais. Podemos
ver aqui o núcleo central da família – Jesus, Maria e
José – a Sagrada Família (todas as famílias são sagra-
das), mas também a família alargada, pois não é difícil
imaginarmos Simeão e Ana no papel de avós daquela
criança. Temos aqui, como nos dias de hoje, os princi-
pais responsáveis não só pela transmissão da fé, mas
também pelos valores e prioridades, bem como regras
e imposição de limites que devem nortear toda a edu-
cação. Se esta missão, que cabe primariamente à famí-
lia – e só depois à escola – falha, então adivinha-se a
derrocada pelos anos fora.
Diz ainda o evangelista S. Lucas que os pais do Me-
nino Jesus “estavam admirados com o que d’Ele se
dizia”, e a alegria daquele momento contrasta com o
que Simeão e Ana afirmavam. Imaginamos a perplexi-
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Laicado Dominicano Dezembro 2019/Janeiro 2020
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ORDENAÇÃO DIACONAL
No final da eucaristia teve lugar no centro paroqui-
al um agradável almoço de confraternização onde
muitos presentes tiveram ocasião de saudar D. Tolen-
tino—muitos livros foram autografados e muitas foto-
grafias foram tiradas, para grande satisfação dos admi-
radores do Cardeal-Poeta.
O frei José Manuel Silva iniciou o Postulantado na
Ordem em 2013, tendo iniciado o seu Noviciado no
ano seguinte, em Sevilha. A 16 de Setembro de 2018
fez votos solenes e em Outubro de 2019 concluiu o
No passado dia 1 de Fevereiro teve lugar na igreja seu mestrado em Teologia, na Universidade Católica
de Cristo-Rei, no Porto, a ordenação diaconal do frei de Lisboa. Actualmente está assignado ao Convento
José Manuel Silva. Presidiu à celebração o Cardeal D. de Cristo-Rei no Porto.
José Tolentino de Mendonça, ex-professor do novo
diácono e grande amigo dos dominicanos. Os cânti-
cos estiveram a cargo do Coro da Tuna Musical de
Perosinho (terra natal do frei José Manuel) e a Cristo-
Rei acorreram dezenas de familiares, amigos e conter-
râneos do frei José Manuel, dentre os quais represen-
tantes de várias autoridades e organizações locais. Du-
rante a homilia, D. Tolentino dirigiu palavras muito
cordiais ao novo diácono, congratulando-se com a sua
vocação. No final da eucaristia o prior provincial, frei
José Nunes, dirigiu à assembleia umas breves palavras
de agradecimento pela sua presença e congratulou-se
pelo ambiente de família Dominicana alargada a to-
dos os presentes. Cristina Busto,o.p.
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Fr. Gil nasceu em 23 de Janeiro de 1936, no Tro- onde vive os seguintes 37 anos até ao fim da sua vida.
viscal (Oliveira do Bairro, Aveiro), numa família pro- Na Paróquia-missão do Waku-Kungo, a sua permanen-
fundamente cristã, e recebeu o nome de MANUEL te presença solidária com o povo, mesmo nos difíceis
DA CONCEIÇÃO FILIPE. Entrou para os dominica- tempos de guerra, com ameaças inclusive à sua vida,
nos bem cedo, estudando no Seminário de Aldeia No- representa um testemunho evangélico que permanece
va e, depois, realizando o noviciado juntamente com o na mente de muitos cristãos como motivo de edifica-
fr. João Domingos, fr. Bernardo e fr. Miguel dos San- ção. Além disso, a sua incansável dedicação à vida cris-
tos, em S.Pedro de Sintra. A primeira profissão fê-la tã das comunidades, em particular nas aldeias mais
em 12 de Outubro de 1952 e foi ordenado presbítero distantes, mesmo quando o paludismo ou a falta de
em 16 de Agosto de 1959. transportes pareciam impedi-lo, faz dele um missioná-
Os seus estudos filosóficos foram realizados em rio exemplar. Foi também pároco da Paróquia-Missão
Fátima, no Centro de Estudos dominicano Sedes Sapi- de Nª Sª da Assunção do Waku-Kungo, mostrando
entiae. Os estudos teológicos foram realizados no con- um enorme respeito pelos catequistas das comunida-
vento dominicano de Saint-Maximin (Província de des cristãs, com quem sempre trabalhou em corres-
Toulouse, sul de França), durante dois anos, e concluí- ponsabilidade, e mantendo fielmente ao longo de dé-
dos posteriormente em Fátima. cadas a publicação mensal da «Folha de Ligação» da-
Em Portugal, passando por várias comunidades, quela paróquia – meio de imprescindível formação e
como Fátima, Porto ou Aldeia Nova, desempenhou informação – e fazendo-o, por vezes, milagrosamente
vários cargos e viveu diversos apostolados, podendo ao stencil.
talvez mencionar-se o seu trabalho no Colégio Clenar- Fr. Gil, com a sua notável propensão para a escrita,
do e a sua grande ligação ao Rosário e também à Obra redigia quase diariamente os acontecimentos da vida
da Criança, fundada pelo seu tio fr. Gil Alferes, op da missão local e do Vicariato de Angola, tendo mes-
(que certamente o influenciou em todo o seu processo mo elaborado a crónica do Vicariato desde a fundação
vocacional). Sempre revelou, também, uma belíssima da missão dominicana em Angola até 2010. No seu
capacidade de pregação através da escrita. trabalho em prol da Família Dominicana em Angola,
Em 1982, porém, dá-se uma mudança radical na destacou-se como Promotor das Fraternidades Leigas.
sua vida: oferece-se para missionário em Angola, nu- Faleceu na madrugada de 3 de Janeiro de 2020, em
ma missão que os dominicanos portugueses decidiram Luanda, na Clínica Multiperfil, na sequência de um
lá iniciar. A 31 de Outubro, juntamente com fr.João AVC, ocorrido, dias antes, no Waku-Kungo. RIP.
Domingos e fr.José Nunes, voa a partir de Lisboa e
chega a Luanda a 1 de Novembro. Em 22 de Novem- Fr.José Nunes,o.p./fr.Mário Rui,o.p.
bro, dá-se a chegada ao Waku-Kungo, comunidade (texto retirado da revista “Rosário de Maria”)
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DA MISÉRIA À MISERICÓRDIA
nos e albigenses), os quais, em traços muito gerais,
defendiam acerrimamente o regresso à vivência da-
quilo o que consideravam ser o verdadeiro cristianis-
mo e, por certo, o mais radical.
Sucede que a misericórdia de Domingos superou
quer uma, quer outra forma de miséria. No primeiro
caso, optando por criar uma Ordem mendicante, que
estivesse unida à Sé Apostólica, ressalvando a sua au-
tonomia em relação à mesma. No segundo caso, per-
suadindo, pela via do diálogo e da escuta, os hereges,
afim de estes regressarem à fé da Igreja.
E hoje? Penso que poderá ser, pela medida da com-
Domingos, nosso Pai, relativamente cedo se aper- paixão, que poderemos, de coração aberto beneficiar
cebeu de dois tipos ou formas de miséria, presentes da misericórdia de Deus, que, sendo fiel a Si mesmo,
no seu tempo. Se, por um lado, era visível a miséria está disposto a conceder-nos o seu perdão, ajudando-
material (e veja-se aqui a venda dos escritos do pró- nos a recomeçar, uma e outra vez, a caminhada da
prio São Domingos, em favor dos mais pobres), por vida.
outro lado coexistia a miséria relacionada com a per-
sistência dos hereges do Século XIII ( cátaros, cuma- José Alberto Oliveira, op
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ORAÇÃO
Deus Todo-Poderoso e eterno,
Venho ter Contigo como um homem doente
Que precisa de um remédio que dê vida;
Como um inútil para me banhar na Tua fonte de misericór-
dia;
Como um cego procurando a Tua luz eterna;
Como um pedinte, suplicando pelo Teu tesouro espiritual.
Imploro-Te que, na Tua infinita vontade,
Cures a minha doença, removas a minha impureza,
Ilumines a minha cegueira e enriqueças a minha pobreza.
Que este pão e este vinho não sejam apenas símbolos da
Tua graça,
Mas também a verdadeira fonte da graça.
Permite que, ao receber o corpo do Teu filho,
Me torne membro do Teu corpo místico.
E permite que, enquanto permanecer neste mundo,
Eu O veja através do véu da comida e da bebida
E que no céu, possa Vê-lo frente-a-frente.
S.Tomás de Aquino
F i c h a T é c n i c a
Jornal bimensal Rua Comendador Oliveira e Carmo, 26 2º Dtº
Publicação Periódica nº 119112 / ISSN: 1645-443X 2800– 476 Cova da Piedade
ISSN: 1645-443X
Propriedade: Fraternidade Leigas de São Domingos Endereço: Praça D. Afonso V, nº 86,
Contribuinte: 502 294 833 4150-024 PORTO
Depósito legal: 86929/95 E-mail: laicado@gmail.com
Direcção e Redacção Tiragem: 350 exemplares
Cristina Busto (933286355)
Maria do Carmo Silva Ramos (966403075) Os artigos publicados expressam apenas
Colaboração: Maria da Paz Ramos a o p i n i ã o d o s s e u s a u t o r e s .
Administração: Maria do Céu Silva (919506161)
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