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Sob a lei e Obras da lei

Por Chenoch Dvar Oz

INTRODUÇÃO

Quando muitos lêem os livros dos Ketuvim Netsarim(Escritos Nazarenos), comumente chamado “Novo
Testamento”, principalmente as cartas do rav. Sha'ul(Apóstolo Paulo), o entendimento geral que passam a
ter da Torah(Pentateuco), que significa Instruções acerca da Lei, é o pior possível, pois baseia-se na
tradução e no entendimento incorreto de duas expressões gregas traduzidas para as versões
portuguesas(JFA) das nossas bíblias.

CORRIGINDO AS VERSÕES PORTUGUESAS

A primeira das expressões gregas é upo nomos, que aparece 10 vezes em Romanos,
1Coríntios e Gálatas é em geral traduzida nas versões inglesas (baseadas na bíblia inglesa do
Rei Tiago V) e nas versões portuguesas de João Ferreira de Almeida, Bíblia de Genebra, etc, como “sob a
lei”.

A outra expressão é erga nomou, encontrada, com pequenas variações, 10 vezes em Romanos e Gálatas
e traduzida como “obras da lei”.

Está evidente que estas expressões tem o significado negativo, ou seja, estar “sob a lei” é mau, e as
“obras da lei” são coisas más. Isto é aceito por todos.

Porém, começa a complicar quando tradutores e estudiosos, sejam clássicos, modernos ou


contemporâneos, entendem e ensinam que a primeira expressão, upo nomon, significa “dentro da
estrutura de observância da Torah” e a segunda, erga nomou , “atos de obediência à Torah”.

Estes entendimentos e ensinos são advindos de uma tradução incompleta das expressões gregas e ainda
de uma tendência anti-nomiana que se consolidou após os concílios papais e determinações dos pais
eclesiásticos cristãos já em início do 2º século.

Este modo de interpretação choca com outros textos e afirmações paulinas e dos demais apóstolos que
nunca consideravam mau o viver de acordo com a estrutura da Torah, nem que era mau obedecer a ela.

Contrariamente, quando Sha'ul escreve em sua carta que a Torah é “santa, justa e boa” (Romanos 7:12),
além de ter baseado esta afirmação no Tanach(Torah/Neviim/Ketuvim), comumente chamado “Velho
Testamento”, confirma a veracidade e validade de todo o Tanach para o período que iniciou após a
ressurreição do Messias/início da Congregação de crentes.

Considerando, inédito para a época, o artícife tradutor conseguiu, através da compreensão dos originais
semíticos e criação das novas expressões para língua grega, o que realmente rav.Sha'ul estava falando
em suas cartas.

Assim, podemos hoje, em vital diferenciação, entender os conceitos de “Lei(de Elohim)”, “Torah”, ”lei”,
“obras da lei”, “debaixo da lei”, “legalismo”, “legalista”, etc" como distinção vital que irão agora harmonizar
textos das epístolas do Rav.Sha'ul com os demais textos inspirados, em atenção aos textos do Tanach,
sem mais aquela ginástica para impor crença anti- nominiana e até a proibição destes para aqueles que
buscam a Torah como legalistas.
Diante disto, deveríamos estar sempre abertos a enfrentar a possibilidade de que as declarações paulinas,
que a princípio parecem depreciar a Lei(Torah), voltavam-se na verdade, não contra a própria Lei(Torah),
e sim contra aquela mácompreensão e mau uso da Lei, para

os quais dispomos agora de terminologia adequada e entendimento convicto.

Assim, o escritor grego buscou ao máximo conservar o entendimento e fé com que o Apostolo
Paulo estava transmitindo.

Assim, com este entendimento, deveríamos entender que erga nomou é “obras da lei”, ou seja
“observância legalista de determinados mandamentos da Torah”. De igual modo, deveríamos entender
que upo nomon, “sob a lei”, ou seja, “em sujeição ao sistema que resulta de perverter a Torah em
legalismo”.

É assim que estas expressões são traduzidas no Jewish New Testament. David H. Stern, no
Manifesto Judeu Messiânico – Págs. 117-119.

A expressão “em sujeição” é importante porque o contexto de upo nomon que transmite sempre um
elemento opressivo.

Sha’ul é bem claro a respeito, conforme se verifica em 1Coríntios 9:20 onde, para os que não tinham a
Torah, ele se tornara como alguém sem a Torah, sublinhou que ele próprio que não era sem Torah e sim
ennomos Christou, “na Lei”, ou “na Torah do Messias”.

Ele usou um termo diferente, ennomos em lugar de upo nomon, para distinguir seu relacionamento livre de
opressão com seu relacionamento completo com a Torah, em contraste aos legalismos rabínicos na
época.

Sha'ul veio a mostrar que estava unido ao Messias e compreendia o sentimento de opressão que notava
nas pessoas (prosélitos provavelmente) que, em vez de se relacionarem alegremente com a Torah santa,
justa e boa de Elohim, submetiam-se a uma perversão dos perushim(fariseus), com ordenanças humanas
e legalistas sem o teor de Vida constante na Torah.

Assim, do modo como Gálatas, Romanos e as cartas aos Coríntios estão traduzidas hoje, sem o perfeito
entendimento das expressões advindas do grego, fica evidenciado a grande dificuldade de compreensão a
respeito da Torah. Passa a ser notório a contradição dentro do próprio texto de romanos 7, gálatas 2, etc.

Vejam como muda a compreensão de 1Co 9:20,21: [ aos judeus]


Fiz-me como judeu para os judeus, para ganhar os judeus; para os que estão no legalismo, como se
estivesse eu no legalismo (embora debaixo deste não esteja), para ganhar os que estão debaixo do
legalismo;

[aos não-judeus]

para os que estão sem a Torah, como se estivesse sem Torah (não estando sem Torah para com Elohim,
mas apoiado pela ennomos Christou), para ganhar os que estão sem Torah.

Assim, o que diz em Rom 2:13: Pois não são justos diante de Elohim os que só ouvem a Torah;
mas serão justificados os que praticam a Torah.
Pergunto, finalizando esta explicação, se observássemos a descrição comum que fazem da “lei”, pergunto
que lei é esta que ora tem uma conotação ruim, ora é boa, justa e agradável diante de Adonai?

Certamente Rav.Sha’ul fala de DUAS coisas em extremo diferentes: A Torah x legalismo.

Esta diferença está quase “apagada” nas traduções contemporâneas.

Esta era a pregação de Sha’ul(Paulo), que a Lei viria julgar os legalistas, que viviam sob uma aparência de
Torah, mas não a cumpriam, eram ouvintes, mas não praticantes.

Vejam que não precisamos olhar o texto das cartas de rav. Sha’ul no original semítico, basta vermos o
compêndio das traduções gregas chamado Textus Receptus.

Infelizmente, nossas traduções portuguesas e as traduções inglesas, têm esta tendência de desconsiderar
a Torah, não devido as dificuldades de tradução, mas pela imposição de que o entendimento que queriam
passar encaixaria nos moldes e credos sendo estabelecidos desde segundo e terceiro século.

Se houvesse distanciamento destes moldes e credos, bastando simplesmente observar o que o Textus
Receptus diz, já compreenderíamos claramente o que Sha’ul queria dizer em suas cartas, os obstinados
esforços dos teólogos e estudiosos hoje para tentar validar uma doutrina anti-nomiana não existiriam.

Se os tradutores portugueses/ingleses entendessem os conceitos de upo nomon e erga nomou usadas


nas 20 passagens onde tais frases ocorrem, creio que isto modificaria para melhor o entendimento da
Torah por muitos hoje.

Desde o início que vemos HaSatan inserindo e meias-verdades, desde o evento da árvore no no Jardim
do Éden, até hoje, se possível para confundir os eleitos.
Assim, observe que tradução maligna que ocorreu do grego para o português de Romanos
10:6 :

"Ora Moisés descreve a justiça que é pela lei, dizendo: O homem que fizer estas coisas viverá por elas.
Mas a justiça que é pela fé diz assim: Não digas em teu coração: Quem subirá ao céu? (isto é, a trazer do
alto a Cristo.)" (Romanos 10:5-6)

Reparem na palavra "mas". Segundo o dicionário Houaiss, a conjunção "mas" é definida como: conjunção
adversativa - com variações de sentido, introduz o segmento que denota basicamente uma oposição ou
restrição ao que já foi dito;

Ou seja, a palavra "mas" é usada em sutil tentativa de forçar oposição entre "Torah" e "graça." Contudo, a
palavra "mas" NÃO é encontrada!!!!!!!
Nem no Texto Recebido (grego) nem na Peshitta (aramaico)!

Foi uma inserção desde as primeiras traduções de João Ferreira de Almeida!


Vejam como fica a tradução mais fiel de acordo com o Textus Receptus de Romanos 10:5-6: "Porque
Moisés escreve que o homem que pratica a justiça que vem da Lei(Torah) viverá por
ela, e é a justiça que vem pela fé. Assim [Moisés] diz: Não digas em teu coração: Quem subirá ao céu e
trará do alto ao Mashiach?"

Vejam que basta uma palavra acrescentada, uma palavrinha inocente, um "mas", e dá-se margem a todo o
sistema teológico, anti-Torah, anti-nomiana, uma teologia de desobediência, em fim, uma teologia anti-
messias.
O Rav. Sha'ul (Paulo) não antagoniza "Torah" e "graça", mas sim complementa a questão do

viver a Torah, mostrando que o viver a Torah é pela fé.

O rav.Sha'ul ao escrever este trecho faz uma alusão a Devarim (Deuteronômio 30:11-14), veja que
interessante: “Porque este mandamento, que hoje te ordeno, não te é encoberto, e tampouco está longe
de ti. Não está nos céus, para dizeres: Quem subirá por nós aos céus, que no-lo traga, e no-lo faça ouvir,
para que o cumpramos? Nem tampouco está além do mar, para dizeres: Quem passará por nós além do
mar, para que no-lo traga, e no-lo faça ouvir, para que o cumpramos? Porque esta palavra está mui perto
de ti, na tua boca, e no teu coração, para a cumprires. “ (Devarim/Deuteronômio 30:11-14).

Ou seja, Rav. Sha'ul (Paulo) faz aqui um belíssimo Remez1. Ao citar, falando do Messias, um texto que
fala da Torah, ele está nos mostrando que o Messias e a Torah são UM – não há como dividí-los.

As implicações disso são fantásticas, pois podem ser encontradas em ambos os lados da equação do
Remez de Rav.
Sha'ul (Paulo): não há como viver a Torah sem a fé no Messias, e não há como viver a fé do
Messias sem viver a Torah.

Antes de finalizarmos a comparação do grego com as versões portuguesas, um dos trechos mais
interessantes e mal compreendidos do Ketuvim Netsarim é o trecho de Gálatas 3:24-25:

"Assim, a lei foi o nosso tutor até Cristo, para que fôssemos justificados pela fé. Agora, porém, tendo
chegado a fé, já não estamos mais sob o controle do tutor." (Gálatas 3:24-25 – NVI)

Na versão portuguesa acerta em traduzir o trecho a partir do grego, temos a impressão pelo texto de que a
Torah serviu apenas como um instrutor, e que não mais estamos "debaixo da Lei de Elohim".

Entretanto, se observássemos o contexto e outros manuscritos, preferencialmente, os manuscritos


semíticos, veremos que o grego do trecho não consegue transmitir o teor exato das palavras de Sha'ul.

Com um pensamento hebreu, não encontramos problemas quanto ao grego, porém, quando a
interpretação foge ao contexto judaico, passa a ser talvez um dos maiores e mais incorretas
interpretações/traduções das palavras de rav. Sha'ul, o mais enfatizado por aqueles que insistem em viver
em desobediência à Palavra de Elohim.

O problema é que no grego, temos a expressão "upo paidagogos", que literalmente poderia ser traduzida
como "sob tutor". Contudo, no aramaico, que percebemos ser a língua mais próxima do original, senão a
língua que o próprio Shaul utilizou, o que encontramos é a expressão plural "t'cheit t'araea", isto é, "sob
tutores".

Ora, Rav. Sha'ul (Paulo) usa aqui uma típica estrutura poética rabínica, fazendo um jogo de palavras entre
"O TUTOR" que conduz ao Mashiach, isto é, a Torah, e "os mestres/tutores", isto é, os rabinos.

Se comparássemos outros escritos, em especial o livro de Atos, e as traduções portuguesas de gálatas,


identificaríamos grande contradição a respeito de Rav. Sha'ul, ou seja, o que ele é realmente ou a
roupagem que em geral o Cristianismo o veste, senão observe alguns fatos:

1 Os Rabinos estabeleceram quatro categorias de interpretação da Torah chamadas PDRS ou PaRDeS


=paraíso. Pshat, o significado literal e simples do texto. Drash, o significado homilético, Remez, o
significado escondido, e Sod, o oculto, misterioso.
1) Ano 48-49 DC – Rav. Sha'ul(Paulo) escreve o livro de Gálatas;
2) Ano 50 DC – Ocorre o Concílio de Jerusalém (Atos 15) e Rav.Sha'ul(Paulo) se declara cumpridor da
Torah;
3) Atos 15:1-2, mostra o real objetivo da carta de Gálatas, e o que estava acontecendo na
época: "Alguns homens desceram da Judéia para Antioquia e passaram a ensinar aos irmãos: "Se vocês
não forem circuncidados conforme o costume ensinado por Moisés, não poderão ser salvos'. Isto levou
Paulo e Barnabé a uma grande contenda e discussão com eles. Assim, Paulo e Barnabé foram
designados, juntamente com outros, para irem a Jerusalém tratar dessa questão com os apóstolos e os
presbíteros."
A grande questão do texto de Atos 15 e do texto da Carta aos Gálatas NÃO era cumprir ou não a Torah,
mas sim exigi-la para fins de salvação.

É justamente a mensagem de Rav. Sha'ul (Paulo), pois doutra forma seria que um judeu herético se
escrevesse qualquer coisa que contradisse tudo aquilo que YHWH falou no Sinai, mas sim a de que o
legalismo rabínico era um jugo que desviava o foco da salvação pela fé e, conseqüentemente, do
Mashiach.

CORRIGINDO O GREGO

Outra grande diferença é que as traduções romanizadas trazem o texto do versículo 24 no passado, veja :

"Assim, a lei foi o nosso tutor até Cristo, para que fôssemos justificados pela fé." (Gálatas
3:24 - NVI)

Equanto que claramente a expressão aramaica "namosa hakil t'araa haoyan" dentro desse contexto não é
passado, isso mostra o real objetivo da Torah, isto é, conduzir-nos ao Messias - ou seja, Rav. Sha'ul
(Paulo) não está dizendo que a Torah é obsoleta, mas o próprio Yeshua disse que a Torah não passaria,
não deixaria de vigorar. A mensagem de Rav.

Sha'ul (Paulo) é clara: Não se prenda ao legalismo rabínico, pois a Torah sim é o que leva ao Mashiach.
Deste modo, a tradução mais fiel ao original para o trecho fica:

"De modo que a Torah se torna nosso tutor, para nos conduzir ao Mashiach, a fim de que pela fé sejamos
justificados. Mas, quando vem a confiança, já não estamos sob a autoridade de tutores [rabínicos]."
(Galutyah 3:24-25 – Teshuvá v2:5 - A partir da Peshitta)

Ou, de uma maneira mais interpretativa, poderíamos traduzir:

"De modo que a Torah nos leva a sermos justificados pela fé no Mashiach, e desta forma não mais
tentamos ser justificados através do legalismo farisaico".

Recordando, é HaSatan, e não os escritos de Sha'ul quem desde o princípio se coloca em antagonismo às
Leis de YHWH.

Aprofundando nos manuscritos, entramos agora na questão da primazia lingüística dos


Ketuvim Netsarim, ou seja o originalidade das escrituras. Em Romanos 7, Paulo diz que a Torah

é justa. Porém, em Romanos 3:21, nas traduções portuguesas romanizadas , encontramos a seguinte
contradição:

"Mas agora se manifestou sem a lei a justiça de Deus, tendo o testemunho da lei e dos profetas" (Rm 3:21
Almeida)
Verificando o aramaico para a expressão que é traduzida como "sem a lei", ainda vemos que a Lei é
colocada em letra minúscula o que evidencia ainda mais o desprezo do tradutor, encontra-se a seguinte
expressão:

alet-Lamed-Alef (1a. palavra)

-Mem-Vav-Samech-Alef (2a. palavra)

Essa expressão poderia ser lida de duas formas, uma vez que na época não existiam os sinais vocálicos:

d'loa namusa ("de não" lei) OU dalea namusa (a partir da lei)


d'loa namusa não tem sentido. "dalea namusa" sim faz sentido.

O tradutor grego confundiu e leu d'loa ao invés de dalea do texto aramaico. Estes e outras confusões
enganos , tal qual a questão do "camelo na agulha" ao invés de "corda na agulha", evidenciam a primazia
dos manuscritos semíticos e colocam no devido lugar a importância do texto grego, que deve ser agora
entendido como uma tradução , não mais como um texto da língua original das escrituras dos Ketuvim
Netsarim.

Assim, a leitura correta de Romanos 3:21 seria:

"Mas agora, a partir da Torah, tem-se manifestado a justiça de Elohim, que é atestada pela
Torah e pelos profetas;"

Como muda o entendimento e passa a concordar com os textos sagrados anteriores!!! É uma notória
diferença da tradução comum que vemos.

CONCLUSÁO

Rav. Sha'ul(Apóstolo Paulo) não foi um judeu que se converteu a uma nova religião, que surgiu
contradizendo as revelações anteriores dadas por Elohim, que disse que estamos livres de algo que nem o
Filho de Elohim ousou dizer, contradizendo Próprias Palavras, muito menos Sha'ul usou de "artifícios" para
tapear os judeus.

Infelizmente, é deste modo Sha'ul é visto, seja intencionalmente ou não.

Rav. Sha'ul(Paulo) foi sim um rabino, formado segundo a escola de Gamaliel (neto de Hillel), que nunca
negou o chamado de Israel, nem a Torah, que foi apenas contra o legalismo, ou seja, contra a deturpação
da Torah.

Este Paulo sim, é o Paulo não contradiz nenhuma escritura anterior.

BIBLIOGRAFIA

1) "O Livro de Gálatas: Contra a Torah?" - Sha'ul ben Tsion


2) "Como estudar a Torah" - Edward L. Nydle (Traduzido por: Shlomo Ben Avraham)
3) "Manifesto Judaico Messiânico" - D.Stern

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