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UNIVERSIDADE DE SOROCABA

PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA

Carla Karoline Moraes Oliveira


A arte de escrever

Sorocaba/SP
2010
Carla Karoline Moraes Oliveira

A arte de escrever

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado como exigência parcial para
obtenção do Diploma de Graduação em
Pedagogia, da Universidade de Sorocaba.
Orientadora: Profª Drª Vânia Regina
Boschetti
Sorocaba/SP
2010
Carla Karoline Moraes Oliveira

A arte de escrever

Trabalho de Conclusão de Curso


aprovado como requisito parcial para
obtenção do Diploma de Graduação em
Pedagogia, da Universidade de Sorocaba.
Aprovado em:

Sorocaba/SP
2010
Dedicatória
A meus pais: Ozenil e Graça.
Com amor e carinho!
Agradecimentos

Sou o que sou e estou onde estou pelas pessoas que e cercam; e é a elas
que agradeço pelo carinho e proteção quando precisei e quando sem precisar, tive a
minha disposição! Revelo isso mais detalhadamente em apêndice desse trabalho.
Agradeço em primeiro lugar a Deus, pelas bênçãos diárias que Ele tem me
concebido;

A meus pais Ozenil e Graça, por toda dedicação durante esses vinte e dois
anos, e mesmo por não terem concluído seus estudos e serem analfabetos
funcionais, acreditam nos estudos e fizeram de tudo para eu concluir os meus, me
apoiando oralmente, financeiramente e de todas as formas imagináveis;

Às minhas irmãs: Laura e Karen, que sempre estiveram ao meu lado


incondicionalmente;
Às minhas colegas de faculdade: Albanete, Ana Carolina e Graziela que
sempre me deram uma palavra de conforto e incentivo nos momentos que tive
dificuldade, até mesmo chegando a pensar em desistir dos estudos; juntas, acredito
que demos força uma as outras, para chegarmos até aqui, concluindo mais uma
etapa de nossas vidas e abrindo portas para uma amizade bonita e duradoura;
Aos meus familiares e amigos, aos quais não cabe citar nome, pois são tantos
que de uma forma geral, acreditaram em mim e me ajudaram, mesmo sem saber
que tal ajuda estava sendo oferecida;
A todos aqueles que não acreditaram em mim; a todos aqueles que se
alegram com o tropeço e a derrota do seu próximo; pois são essas pessoas que
“também” nos dão o incentivo de não desistir nunca;
Agradeço à minha querida Orientadora, Professora Drª Vânia por ter me
acompanhado neste processo, corrigindo e aprimorando meu trabalho, sempre com
atenção e carinho por todas suas alunas!
Sou eu que vou seguir você
Do primeiro rabisco
Até o be-a-bá.
Em todos os desenhos
Coloridos vou estar
A casa, a montanha
Duas nuvens no céu
E um sol a sorrir no papel...
Sou eu que vou ser seu colega
Seus problemas ajudar a resolver
Te acompanhar nas provas
Bimestrais, você vai ver
Serei, de você, confidente fiel
Se seu pranto molhar meu papel...
Sou eu que vou ser seu amigo
Vou lhe dar abrigo
Se você quiser
Quando surgirem
Seus primeiros raios de mulher
A vida se abrirá
Num feroz carrossel
E você vai rasgar meu papel...
O que está escrito em mim
Comigo ficará guardado
Se lhe dá prazer
A vida segue sempre em frente
O que se há de fazer...
Só peço, à você
Um favor, se puder
Não me esqueça
Num canto qualquer.

O Caderno;Composição:
Toquinho / Mutinho
Resumo

A escrita, independente da forma como se expresse, é a principal forma


utilizada de registro. Produção cultural do homem, desde os seus primeiros
movimentos sobre a terra, a comunicação foi, um recurso usado para sobrevivência
dos primeiros humanos. Com o tempo, essa comunicação foi sendo codificada, até
se transformar em sistemas lingüísticos, com regras e dispositivos. Entretanto, hoje,
é perceptível sua utilização escolar acontecendo como uma mera rotina de cópia,
sem contar também com as poucas situações que permitem ao aluno registrar, em
texto, aquilo que pensa. Esta pesquisa tem por objetivo buscar compreender o
porquê da escrita ser usada apenas mecanicamente por professores e alunos, o que
é muito limitado se considerada a capacidade intelectual do ser humano para
registrar sua memória e de criar e transmitir conhecimentos. Teoricamente, utiliza
das idéias de Vigotysky, Soares, Ferreiro e Andaló. Na prática, reflete sobre a
metodologia de diferentes professores, observados no cotidiano escolar: as práticas
mecânicas de transcrição e outras, mais significativas, que permitem ao aluno
produzir seus próprios textos, elaborar graficamente suas idéias e registrar sua
memória.

Palavras-chaves: escrever; aluno; professor.


Sumário

Introdução .................................................................................................................9
1-Capítulo: O cérebro humano................................................................................10
1.1 O que é o cérebro?...............................................................................................10
1.2 As funções do cérebro.........................................................................................11
1.2.1 A mente humana.............................................................................................11
1.2.2 A memória......................................................................................................12
1.2.3 A capacidade de aprender...............................................................................12
1.3 Linguagem............................................................................................................13
2- Capítulo: Do pensar para a linguagem...............................................................15
2.1 Primeiro passo: A fala humana............................................................................15
2.2 A história da escrita..............................................................................................15
2.3 O aprender a escrever..........................................................................................16
2.4 Copiar ou não?.....................................................................................................18
3- Capítulo: Uma nova perspectiva para o uso da
escrita....................................21
3.1 Algumas mudanças no ensino.............................................................................21
3.2 Algumas formas para criar o gosto pelo escrever................................................22
Conclusão.................................................................................................................25
Pesquisa de campo..................................................................................................26
Referências ..............................................................................................................31
Apêndice...................................................................................................................32
9

Introdução

Esta pesquisa procurará responder duas perguntas básicas: Porque existe a


linguagem? Como utilizamos a escrita, que é uma forma de linguagem, para
comunicação, ou meramente como cópia?
Depois de passarmos da fase de compreender que letras são signos e que
juntas “formam algum” significado, escrever deveria ser um ato comum entre a raça
humana. Isso porque escrever é uma forma de linguagem de transmissão criada
pelo/para o homem.
Infelizmente ao analisarmos a história da escrita e sua finalidade, vemos que
muita coisa esta se perdendo e se perdeu com o tempo.
Vemos que hoje, a escrita se tornou meramente cópia! Com base nessa
realidade se desenvolve a pesquisa! Procurando despertar nos educadores/ alunos
o prazer “pelo” escrever! Cultivando novos escritores! Cuja palavra torna-se plural
nos sentidos, escrever para a vida; da vida; escrever como um ato comum; escrever
para o mundo; escrever do mundo; escrever confidências; escrever declarações
públicas; publicá-las; ou guarda-las para si.
Analisaremos por que ensinamos os alunos a escrever e porque a escrita foi
criada. Ao fazermos este estudo mais aprofundado, poderemos buscar um sentido
mais amplo, tentando recuperar o que está se perdendo, que é a essência do
escrever.
Iremos buscar essa essência, que é a memória transferida e convertida em
palavras escritas.
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1-Capítulo: O cérebro humano.


1.1 O que é o cérebro?

Uma das coisas mais intrigantes e misteriosas que existe é o cérebro


humano. É a parte menos conhecida do corpo humano.
Del Nero (1997) conta-nos que ao longo de milhares de anos, a natureza se
encarregou de selecionar um determinado tipo de estrutura capaz de controlar uma
série de funções internas e externas de um organismo, o que chamamos de sistema
nervoso.
Muitos seres vivos possuem esse sistema, porém, seu grau de
complexidade aumenta de acordo com a escala animal; o sistema nervoso do
homem é o mais complexo, um dos aspectos é a encefalização, que é o crescimento
do cérebro em relação ao corpo, ou seja, o homem apresenta uma proporção muito
maior de massa encefálica (cérebro) do que qualquer outro animal. Mostrando que
em alguns casos, quantidade também é qualidade.
Ainda no útero, com três semanas da concepção do espermatozóide,
começam a formar as células cerebrais, o que com o tempo constituirá um órgão do
corpo humano localizado na cabeça: O cérebro pesa 1,3 quilos; este faz com que
possamos, falar, pensar, sentir, recordar...

Para Del Nero (1997) o cérebro é mais do que um órgão cinzento e mole;
podendo ser dividido basicamente por dois conjuntos de células: o que manipula e
processa a informação, como se fosse um computador.
Podemos fazer essa comparação com a citação que Vygotski (1997,p.39)
traz para nós com a ilustração de Marx:

(...) A aranha executa operações que lembram de um tecelão, e as


caixas que as abelhas constroem no céu poderiam envergonhar o trabalho
de muito arquiteto. Mas mesmo o pior arquiteto difere da mais hábil abelha
desde o principio, pois antes dele construir uma caixa de tábuas, já a
construiu em sua mente.

É sobre o cérebro humano que iremos detalhar um pouco mais e


conhecendo suas funções e suas capacidades.
11

1.2 As funções do cérebro

Ainda na visão de Del Nero (1997), dentre as muitas funções do cérebro


podemos mencionar que estão a consciência, a vontade, a emoção, a memória, o
aprendizado, a imagem, a criatividade, o pensamento e a inteligência que é o
principal atributo da mente humana, esta está em construção contínua, é onde não
podemos delimitar a capacidade que temos de aprender coisas novas independente
da idade; assim tudo que fazemos indicamos o nível e os resultados da
aprendizagem que tivemos, e isso acontece durante séculos, onde por meio da
aprendizagem, somos e fomos capazes de aproveitar das experiências e
descobertas das gerações anteriores e o mesmo acontecerá com as gerações
posteriores; ou seja, as leis, a religião , a linguagem, tudo é um resultado da
capacidade do homem em aprender e de se comunicar.
Além disso, como diz Vigotsky (1998,p.9):

(...) O cérebro, é também um órgão combinador, criador, capaz de


reelaborar e criar com elementos de experiências passadas novas normas e
posições. Se a atividade do homem se reduzisse a repetir o passado, o
homem seria um ser voltado exclusivamente para o fazer e incapaz de se
adaptar ao amanhã diferente. É precisamente a atividade criadora do
homem a que faz dele um ser projetado para o futuro, um ser que contribui
para criar e que modifica seu presente.

Dentre tais funções destacaremos três delas: a mente, a memória e a


capacidade de aprender que estão interligadas entre si.

1.2.1 A mente humana

De acordo com Del Nero (1997) a mente lida basicamente com situações
novas que exigem o aprendizado, sendo capaz de dar soluções novas e criativas ao
ainda desconhecido.
A mente humana, conforme estudos feitos por Del Nero (1997), dispõe de
uma pré-programação que nos habilita a formular conceitos do que vemos, ouvimos
e idéias a base de nossas próprias experiências, (criarmos, tirarmos conclusões).
12

1.2.2 A memória

A memória é a capacidade que temos onde podemos guardar (registrar),


contar e criar fatos e pensamentos. Conforme Del Nero (1997), somos habilitados a
construir o intelecto humano e temos o livre-arbítrio para programarmos como
quisermos em nosso próprio conhecimento, valores, oportunidades e ideais.
Para Vigotsky (1998),a consciência é sempre significativa e subjetiva, sendo
a habilidade de avaliar informações, respondendo-as e retendo as mais importantes
na memória, de forma que tais informações ou ações possam ser usadas
futuramente. Além disso, a consciência pode recodificar informações; tal atividade é
complexa, incluindo a codificação e decodificação de informação, podendo assim
definir o comportamento humano.
Muitos pesquisadores como: Bernstein (1935,19479; Anokhin, 1935;
Leontiev, 1959; Golanter e Pribram,1960), trazem para nós um pouco mais sobre a
atividade consciente humana, mostrando que no primeiro momento há a recepção e
o processamento da informação na memória, para que assim haja a preservação da
informação da experiência obtida. Além disso, a memória colabora para o exercício
do raciocínio e da generalização de certas informações, que essas sejam
assimiladas, retidas para depois serem lembradas.

1.2.3 A capacidade de aprender

De acordo com Luria (1994), a consciência surge em suas relações com o


meio que a cerca, assumindo assim formas de reflexo, com amadurecimento. Tais
reflexos são vistos nas relações diretas à realidade. Luria define ainda a estrutura de
consciência em alguns estágios, sendo a primeira formada pelas expressões
emocionais diretas, a segunda é pela percepção e pela manipulação com objetos, e
por último, é formada por um sistema de códigos abstratos, o que chamamos de
linguagem.
Dessa forma com a capacidade de aprendizagem que nosso cérebro possui,
podemos ter a formação dinâmica de objetos, relações entre símbolos e ações, e
consciência. Nascendo assim a capacidade inata para a comunicação e produção
da linguagem.
13

1.3 Linguagem

Segundo Piaget (1996), o pensamento aparece primeiro que a linguagem,


esta é apenas uma das suas formas de expressão. A formação do pensamento
depende, basicamente, da coordenação dos esquemas senrorimotores e não da
linguagem. Piaget, estabeleceu uma separação entre as informações que podem ser
passadas por meio da linguagem e as que não parecem sofrer qualquer influência
dela.
Já para Vigotsky (1998), pensamento e linguagem são processos
interdependentes, desde o início da vida.: ela dá uma forma definida ao
pensamento, possibilitando o aparecimento da imaginação, o uso da memória e o
planejamento da ação. Assim, a linguagem, contrariando aquilo que Piaget defende,
sistematiza a experiência direta na vida das crianças (do homem) e por isso adquire
uma função central no desenvolvimento cognitivo, reorganizando os processos que
nele estão sempre em andamento.
Dessa forma podemos compreender um pouco do que é linguagem, que
pode ser resumida simplificadamente como: forma de comunicação que os humanos
criaram para transmitir idéias, valores, crenças, comunicar-se com outros, lembrar-
se de algo e até para ser lembrado por suas características ou realizações feitas em
vida, estas incluem: dança, gestos, sinais... e a escrita!
Leontiev (1994) defende que a linguagem é indispensável ao ser humano,
existem diversos meios de comunicação: dança, pintura, gestos, sinais, os símbolos
entre outros...De modo em geral, dá-se o nome de linguagem a todos meios de
comunicação; é considerada como a capacidade humana de articular significados e
experiências da vida em sociedade.
Whitaker (1964) associa linguagem com pensamento, assim toda expressão
de linguagem tende a obter o reconhecimento do outro, não havendo sentido na
comunicação sem expressão ou vice versa.
Nós, seres humanos, temos conexões já fixadas com grande flexibilidade
para o desenvolvimento da linguagem, onde esta pode somente ser explicada a
base de uma capacidade de processamento inato.
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As origens da linguagem continuam sendo um dos maiores mistérios do


cérebro humano. Outro aspecto que nos surpreende é a capacidade que temos de
reter informações que poderiam preencher cerca de vinte milhões de livros, embora
ainda não foi aprendido e nem nos ensinaram a utilizar tal órgão de forma plena!
Dessa forma, ao analisarmos brevemente o cérebro humano vemos a
capacidade que o ser humano podei: reter informações, criar o pensamento
abstrato, enxergar a beleza nos detalhes do mundo, gostar de musica, arte...
Ainda na visão de Whitaker (1964) o código de comunicação é utilizado
pelos neurônios para representar o mundo externo, interno, real e hipotético: estes
são instrumentos convencionais e arbitrários que usamos para trocar informação
real por outra que modificamos ou acrescentamos algo; essa é outra função dada
aos neurônios.
À medida que adquirimos mente, linguagem e comunicação, podemos
amplificar pelo treinamento o aprendizado, o conhecimento e o poder de captar e
entender sinais ambientais e decifrar códigos e signos.
Para Luria (1994), a linguagem carrega a fonte do conhecimento humano;
pois são instrumentos culturais, que tornam a sabedoria do passado analisável no
presente e possível de aperfeiçoamento no futuro. A seguir iremos analisar algumas
formas de se fazer isso.
15

2 Cap.: Do pensar para a linguagem


2.1 Primeiro passo: A fala humana

De acordo com Vigotsky (1998), a fala e o pensamento não têm o mesmo


progresso: Podemos notar com o balbucio e o choro de uma criança que nada tem
haver com a evolução do pensamento; porém logo no primeiro ano da vida de uma
criança, isto é, na fase pré-intelectual começa o desenvolvimento da fala, e por volta
dos dois anos de idade, as curvas de tal evolução entre pensamento e fala se unem
para formar um novo comportamento. Com o tempo a criança começa a entender a
função simbólica das palavras. Assim, o pensamento verbal não surge de forma
natural e inata, antes é determinado por um processo histórico-cultural; ou seja, o
pensamento tem que passar pelos significados e tal significado são um fenômeno de
pensamento verbal. Dessa forma, o homem sentiu a necessidade de expressar o
que pensa, primeiramente pela fala, e da fala, o homem quis registrá-la de alguma
forma, criando assim a escrita.

2.2 A história da escrita

O autor Whitaker (1964) afirma que a comunicação (linguagem) nasceu por


uma necessidade humana; nos mais primitivos estágios da civilização. Isso porque,
por sua própria natureza, o homem é um ser social. Cada palavra, cada gesto é
linguagem. Podemos citar alguns exemplos de comunicação dos tempos primitivos
como: o caçador africano de longe reconhecia os significados dos tambores; na
colonização norte-americana, a fumaça servia como símbolo de tribo para tribo e até
mesmo os cortes mais simples feitos em troncos de árvores eram utilizados para
representar algo. A habilidade do desenho foi a primeira fase da escrita, a pictórica,
dos desenhos nas cavernas, das tábuas e dos rolos como meio de transmitir,
registrar e aprender sua cultura. Assim o desenho era um símbolo que representava
um objeto ou uma idéia; surgiu no período entre 30.000 a 25.000 a.C., quando a
cultura da Antiga Idade da Pedra passou para o estágio do Paleolítico Superior. Os
desenhos, eram feitos com os dedos na argila úmida, depois passaram para formas
mais elaboradas, com a utilização de cores para representar grupos, bem como
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artifícios que davam a ilusão de movimento. Representavam, em sua maioria,


animais correndo, saltando, pastando, ruminando ou enfrentando caçadores. Era a
escrita do cotidiano.
Segundo o site http://www.miniweb.com.br/literatura/artigos/escrita.html
algumas outras formas de registro, como a escrita cuneiforme, sistema de escrita da
Babilônia, por volta do quarto milênio a.C. Era baseada na gravação de caracteres,
em tabletes de argila úmida posteriormente cozidos ao forno, resultando em incisões
em forma de cunha, razão pela qual foi denominada de escrita
cuneiforme.Inicialmente era um sistema pictográfico que foi se transformando em um
conjunto de sinais silábicos e fonéticos. Porém, desse sistema de escrita, não se
derivou nenhum alfabeto. Após isso, novos sistemas, bem mais elaborados como o
hieróglifo, que eram imagens para representar objetos concretos e abstratos, foram
surgindo. Porém foi somente após todas essas transformações que chegamos na
escrita ideográfica e no sistema alfabético atualmente utilizado, que foi gradualmente
conduzido para o fonetismo, onde as palavras passaram a ser decompostas em
unidades sonoras.
No entanto, segundo o autor Whitaker (1964), a escrita nem sempre foi bem
comum de todos. Na Idade Média a escrita era considerada como origem divina,
somente os sacerdotes ou os líderes da época poderiam decifrar ou representar tais
símbolos; este tempo foi considerado como período secreto da escrita. Assim,
durante muito tempo a escrita foi privilégio de poucos. Foi somente no século XVI
que a escrita pode ser aprendida e revelada ao povo comum; foi a época da
invenção da imprensa, gerando assim grandes conflitos e violentas guerras
religiosas. Dessa forma, assim com a fala precisa do pensamento e facilita a
memória, a escrita ganha espaço entre o povo, facilita, fixa e conserva a linguagem.

2.3 O aprender a escrever

Piaget (1996) mostra-nos que o aprender a escrever ou a capacidade de


representar algo através de um signo ou uma imagem são resultados da função
semiótica, ou seja, de acordo com a teoria Piagetina, que se baseia em um sujeito
em constante desenvolvimento. Após a construção da função semiótica, que é a
capacidade de diferenciar o significado do significante, torna-se possível a aquisição
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da linguagem; só após isso a “criança” consegue representar suas experiências


através do desenho e da escrita. Assim, após o estado de “maturidade” (se é dessa
maneira que pode ser definida) a escrita passa a ser uma representação da
linguagem.
Ferreiro (1995) afirma que a invenção da escrita foi um processo histórico, e
até que uma pessoa entenda e aprenda tal sistema, é como se ela tivesse que
reinventá-la e passar por todo processo de construção. Como no caso das primeiras
escritas infantis, onde estas parecem linhas onduladas ou quebradas, conhecidas
como garatujas, depois aparece nos registros das “crianças” a variação nas letras,
até mesmo repetindo-as várias vezes. Com o tempo, o que pode variar também, as
letras começam a ganhar valores sonoros, ou seja, passam a ser silábicos,
ganhando assim valor qualitativo, o que antes não passava de uma tentativa da
própria escrita, sem valor, sem significado, sendo somente quantitativa na visão do
sujeito já alfabetizado. Podemos analisar melhor com os níveis classificados pela
autora:
Nível 1- A criança reproduz traços típicos da escrita como grafismos
separados, linhas curvas, retas e círculos. Todas as escritas são consideradas
semelhantes pelo adulto, porém para as crianças, estas se diferem uma da outra;
mostrando que cada um pode interpretar sua escrita e não a dos outros. Por isso o
educador deve sempre indagar seu aluno sobre suas “produções”, pedindo que diga
o que é e o que significa, para que o professor não tire suas próprias conclusões.
Nível 2- Aqui o progresso gráfico se aproxima das letras. Segue-se com a
hipótese de que falta uma quantidade de letras para completar ou formar algo.
Nível 3- Neste nível, se dá pela tentativa de dar valor sonoro a cada letra,
onde cada uma vale por uma sílaba, onde chamaremos de hipótese silábica.
Nível 4- É a passagem da hipótese silábica para a alfabética. A criança
descobre a necessidade de fazer uma análise que vai além da formação das silabas.
Nível 5- Aqui é o final da evolução, que acontece com a escrita alfabética.
No entanto não finaliza as dificuldades, pois surgem ainda os problemas com a
ortografia, onde nem sempre o som da letra corresponde a escrita, porém aqui a
criança já entendeu a construção da escrita no sentido estrito.
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Dessa forma, deixemos a criança escrever, pois a escrita não se dá somente


no estágio alfabético, porque antes de chegar até lá, a criança percorreu um longo
caminho e explorou várias hipóteses do que é escrita.
Como diz Ferreiro (1995,p.61):
(...) Enquanto a criança ‘sabe’ que a escrita é significativa, o
adulto as esconde atrás do traçado de formas gráficas ou da repetição de
fonemas isolados, ambos sem sentido.
Isso porque a escrita começa a ser compreendida bem antes de ser
ensinada por alguém.
Ferreiro (1995,p.16 e 17) ainda diz:

(...) Os indicadores mais claros das explorações que as crianças


realizam para compreender a natureza da escrita são suas produções
espontâneas. As que não são resultado de uma cópia...Essas escritas
infantis têm sido consideradas displicentemente, como garatujas, puro jogo,
o resultado de fazer “como se” soubesse a escrever.

Mas a verdade é que assim que nasce, a criança começa a construir seu
conhecimento. Também é produtora de textos, ainda mais quando cresce num
mundo propício à escrita, e tem um lápis e uma folha sempre a sua disposição.Mas
antes, ela passa pelos erros construtivos, ou seja, as inúmeras tentativas de acertar,
de poder criar e recriar, (a ordem natural do que vem primeiro se é ler ou escrever
pode variar de uma criança para outra, porém aqui daremos ênfase a escrita),
porque o que é fácil e difícil não pode ser definido pela visão do adulto ou da pessoa
já alfabetizada. No entanto, o papel do educador é criar condições para que o sujeito
descubra e aperfeiçoe por si mesmo. Tais meios podem ajudar ou dificultar a
aprendizagem, mas não criar a própria aprendizagem; assim uma intervenção
adequada pode ser e é significativa.

2.4 Copiar ou não?

Conforme Ferreiro e Teberosky (1985) no começo da interpretação da


escrita, a criança usa como suporte seu próprio nome após aprendê-lo.
Conforme uma pesquisa realizada pelas autoras acima, quando foi
pedido a algumas crianças que escrevesse simplesmente, podia ser seu nome, o
nome de alguém querido, palavras que estavam habitualmente a pronunciar como
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mamãe, papai; não foi imposta nenhuma separação ou crítica entre o que é escrita e
desenho. Dessa forma, as crianças se sentirão “livres” para poder mostrar o que
sabem e como sabem. Embora poucas crianças negassem a fazê-lo porque não
sabiam escrever, quando incentivadas com palavras gentis, eram motivadas a
escrever e liam o que escreviam. Mostrando assim que tal liberdade e motivação
são essenciais para o desenvolvimento da escrita; porém tais características não
devem ser retiradas do ensino a partir do momento que o aluno já sabe ler e
escrever. Este ainda deve ser elogiado, incentivado e ter a liberdade de expressão
na sua escrita. Porém educadores que se preocupam e buscam tal liberdade na fase
alfabética, ao passar tal fase esquecem de tudo isso, onde o ensino passa a ser
guiado por moldes já fixados que devem ser seguidos sempre; é onde termina a fase
do desenvolvimento porque os educadores criam uma barreira entre o aluno e a
escrita, deixando de ser uma “arte” para ser puramente uma técnica, marcada por
ortografia, fonemas e caligrafia.
É isso o que acontece nas escolas como podemos notar com estudos
feitos por Ferreiro e Teberosky (1985), a seqüência clássica no ensino é a
exercitação na cópia gráfica, onde a rotina baseia-se em ditado, cópia. É como
completa a autora Andaló (2000, p.35):

(...) entrar em contato com material escrito, ouvir


histórias lidas pelo professor...Fazer cópias de palavras e frases
não devem ser consideradas como exercícios independentes,
mas como atividades de linguagem que dependem uma da outra,
que se entrelaçam e por isso fazem parte de qualquer
metodologia.

Mas ao invés disso ensinamos aos alunos como se fosse algo estranho o
mundo da escrita, de forma mecânica, ao invés de mostrar que pode se transformar
num objeto de seu interesse, quando usada de forma inteligente. Para isso, é
necessário levar as crianças a uma compreensão interna da escrita, como uma
forma constante e plena do seu desenvolvimento. Porém o conceito que temos da
escrita inibe o seu verdadeiro sentido. Algumas das conseqüências são de que a
escola não contribui para o número de “escritores”, mas contribui para o número de
alfabetos ( podemos retomar a idéia que é considerado uma pessoa alfabetizada
em nosso país quando esta sabe escrever um bilhete simples sem ser necessário
saber explicá-lo).
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Não podemos cair ainda em um outro erro como educadores, como


mostram as autoras acima. Isso porque, muitas vezes entramos em contradição
quando dizemos e exigimos que nossos alunos inventem, que sejam criativos,
quando na verdade já temos algo em mente e esperamos que nossos alunos sigam
tal modelo, mantido por regras e normas que devem ser seguidos e esperamos que
estes copiem tal modelo. Podemos explicar melhor através de um exemplo: um
educador para enriquecer o vocabulário de seus alunos decide trabalhar o contexto
de”casa”. Retrata “casa’ como um lugar para se viver, com dois quartos, cozinha,
sala e banheiro, no entanto a realidade de seus alunos pode ser totalmente outra, as
vezes um cômodo pode ser sua casa inteira. Tornando-se assim para criança um
conflito tal objeto de estudo, pois com tal objeto, o objetivo esperado não é
alcançado. Isso se dá com a escrita mecânica na escola; lousas repletas de textos
para serem copiados e professores crentes que dessa forma estão ensinando a
escrita e dando moldes para desenvolver o melhor intelecto, mas a realidade é
outra; o material, muitas vezes, nada tem a ver com o aluno, não significando nada
para ele, a não ser cópias. Impedimos que as crianças explorem sua escrita, não
em sentido gráfico, mas no sentido intelectual.
Soares (2001) acredita que deve haver uma apropriação do
conhecimento e não da aprendizagem de uma técnica. Assim, ao definirmos a
escrita num sentindo mais amplo, todos os sujeitos começam a escrever. Porém
ainda é necessária uma série de reflexões sobre tal prática da linguagem que é a
escrita, para que possamos fazer dela um objeto cultural de uso comum.
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3 Cap.:Uma nova perspectiva para o uso da escrita


3.1 Algumas mudanças no ensino

Andaló (2000), mostra-nos que no início dos anos 60, começou uma crítica
ainda maior sobre as aulas de “português”. Tal crítica sobre o ensino da língua
contribuiu para o aumento do número de aulas de redação no currículo escolar.
Nos anos 80, a questão da “redação” no currículo escolar passa a ser
tratada como “produções de textos”, assim o aluno era colocado como produtor de
textos. Dessa forma houve uma procura em redefinir os textos estudados, para que
estes dessem motivação no “escritor” pelo contexto social e histórico. O objetivo era
inserir os estudantes no mundo da escrita, tornando-os competentes na
interpretação e produções desta mesma. Não podemos encarar que a produção de
um texto seja difícil para uma criança, principalmente no espaço escolar, onde deve
haver muita leitura e reflexão. É com a vivência com a língua que nos tornamos
íntimos dela.
Escrever é uma costura de idéias, o que chamamos de coerência, tal coesão
é o que fazemos com as palavras e frases, dando um sentido lógico a elas.
Para aprender a escrever a criança precisa ter motivos (culturais e sociais)
como mostra Andaló (2000), isso se torna ainda mais difícil quando se trata de
substituir palavras orais e fazê-las se tornarem escritos; a criança escreve porque o
professor manda, não porque tem uma motivo para fazê-lo. Isso porque todos temos
a necessidade de uma resposta do “para quê?”.
Dessa forma, vemos a necessidade de que educadores trabalhem com
textos reais do próprio meio cultural e histórico de seus alunos desde cedo, isso
inclui cantigas, poemas, literatura infantil e os meios de mídia como cartaz, outdoors,
placas, jornais, revistas, televisão, internet...Tudo isso segundo a necessidade de
aprendizagem das crianças. Outra necessidade em sala de aula seria trazer para o
aluno o exercício de escrever, onde suas tentativas de escrita e reescrita, fossem
consideradas como uma forma de aprendizado, não um produto que deve ter um fim
e ter uma nota. Tal objetivo é que os alunos possam ir além a memorização e da
mera reprodução de conhecimentos obtidos e medidos.
Conforme a autora já citada, grande parte da população tem medo de
escrever porque na escola, escrever sempre foi uma atividade “estressante”, voltada
22

para avaliação, para nota, daí temos a resposta pelo medo e trauma que muitos tem
quando lhe pedem para escrever algo, vem aquele branco e nada sai. A escola
precisa rever seus conceitos, um deles é perceber que a ortografia é um fim, não um
começo no processo de aprendizagem de escrita, e que tudo tem seu tempo e o seu
lugar. Reescrita não é simplesmente cópia! Devemos permitir que as crianças se
apropriem da escrita, e o meio escolar é uma forma rica de construção de tal
processo; onde devemos criar várias oportunidades para que isso aconteça, pois a
língua escrita é muito mais que um conjunto de formas gráficas, é um objeto social
que deve pertencer a todos. Como concorda Ferreiro (1995,p.43):

(...) A escrita não é produto escolar, mas sim um objeto


cultural, resultado do esforço coletivo da humanidade. Como objeto cultural,
a escrita cumpre diversas funções sociais.

3.2 Algumas formas para criar o gosto pelo escrever

Andaló (2000), traz para nós muitas sugestões, uma delas é a narração que
faz parte do social e cultural das pessoas, o que prova isso é existir tantos
contadores de histórias que nunca freqüentaram uma escola. Assim podemos
trabalhar com nossos alunos, além disso, o texto dissertativo já esta presente nos
textos de história, geografia e ciências.
Uma sugestão é o trabalho feito com as histórias em quadrinhos, onde a
criança faz a junção do desenho com a escrita. O texto coletivo é uma outra forma
para se alcançar a participação de todos na sala.
Outra sugestão da autora seria trabalhar com a literatura infantil, como
contos tradicionais “Cinderela”, “o lobo mal”, “chapeuzinho vermelho...” A partir da
leitura pode ser trabalhado os seguintes passos:
1º Leitura do conto escolhido feito pelo professor para os alunos.
2ºOs alunos recontarem a história oralmente.
3º Dramatização de algumas cenas do conto.
4º Reescrita do conto, elaborado por cada criança individualmente.
5º Avaliação diagnóstica feita pelo professor.
6º Atividades criadas pelo professor a partir das reescritas.
23

Ainda a autora traz uma outra sugestão, o texto espontâneo, que para o
pedagogo Francês Freinet da década de 40, poderia ser um desenho,um poema ou
uma pintura. Já para nós atualmente, o texto espontâneo ou livre, pode ser
considerado aquelas primeiras escritas das crianças, vindo da vontade de comunicar
os fatos vividos por elas, onde esta, esta acostumada a contar oralmente. Porém
para tal ação esta criando uma barreira, dificultando também a originalidade,
imaginação e criatividade. No entanto ao inverso disso, o professor pode criar
situações de aprendizagem, contextualizando o ato de escrever, motivando assim a
escrita, fazendo de uma forma fácil e satisfatória. Essa deve ser a primeira tarefa da
escola, criar situações de pensar antes de escrever, selecionar, pesquisar,
questionar, elaborar com a ajuda do professor, de colegas e sozinho. Para tudo isso
trazemos a idéia do rascunho ou esboço, onde mostramos aos alunos que uma obra
tem o direito de ser escrita e reescrita várias vezes como o próprio livro “Sagarana”
que levou quase dez anos para ser concluído! O professor deve trazer suporte a
seus alunos, mas melhor que isso é mostrar que as palavras escritas trazem um
poder incrível.
Este é o objetivo central, de tornar nossos alunos em escritores, isso faz
retomarmos em dizer que a linguagem é um instrumento humanos, é como se
déssemos uma ferramenta na mão de uma pessoa que precisa mas não sabe como
utilizar, de que serviria? De nada adiantaria. Agora quando esta mesma ferramenta
é dada a quem sabe fazer o seu uso, esse faz a diferença. Assim com a escrita,
ensinamos e aprendemos a escrever com o intuito de sair da mediocridade! Vemos
isso nas palavras de Ferreiro (1995, p. 40 e 41)
(...) Temos uma imagem empobrecida da língua
escrita: é preciso reintroduzir, quando consideramos a
alfabetização, a escrita como sistema de representação da
linguagem. Temos uma imagem empobrecida da
linguagem.Temos uma visão empobrecida da criança que
aprende, a reduzimos a um par de olhos a um par de ouvidos,
uma mão que pega um instrumento para marcar e um aparelho
fonador que emite sons. Atrás disso há um sujeito cognoscente,
alguém que pensa, que cria, que constrói interpretações, que
age para faze-lo seu.

Dessa forma, se queremos ter alunos criativos e que escrevem, devemos dar
a eles, um caderno, um lápis e asas para eles voarem! Não devemos nos esquecer
também que todo aquele que escreve, é escritor, e que todo artista quer ser
reconhecido pela sua arte. Escrever é uma arte! Ainda que em um livro, em um texto
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escolar, ou uma agenda onde não temos a menor idéia de que alguém possa ler um
dia. Mesmo assim, tendo a certeza de que com a tinta e o papel podemos mudar
uma nação, ser quem quisermos, e viajar a lugares incríveis.
25

Conclusão

Ao dar início a esta pesquisa não sabia ao certo o caminho que ela
seguiria, porém ao chegar nessa ultima etapa, dou-me por satisfeita com o
resultado geral do trabalho, onde pudemos percorrer e conhecer brevemente o
órgão que nos permite estar sempre aprendendo: o cérebro. Após isso, houve o
desenrolar e as etapas da escrita, mostrando que esta dever ser um bem cultural
de todos e como a escrita pode ser trabalhada em sala de aula por alunos e
professores, indo além de cópias dominadas por técnicas e regras!

Além disso, houve as entrevistas com duas professoras que trouxeram para o
trabalho suas realidades vividas em sala de aula, ressaltando a importância de
deixar seus alunos terem também uma “escrita livre”, para expressarem o que
pensam, o que sentem...
Dessa forma, acredito que tive meus objetivos alcançados ao chegar até aqui;
mostrando com base teórica que o ser humano é “dotado” de uma inteligência
incrível e que podemos dar um significado ainda maior para a escrita em sala de
aula!
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Pesquisa de campo

A pesquisa de campo foi dividida em dois momentos. O primeiro deles é


formado por entrevistas com profissionais da área da educação; teríamos um
questionário respondido por uma Orientadora Pedagógica de uma escola municipal
de Sorocaba que se comprometeu a contribuir com a pesquisa, porém não
respondeu até o dia de hoje; como queria a visão de uma Orientadora, sobre como
professores “devem” trabalhar com seus alunos a questão da cópia e da escrita livre
em sala de aula, procurei outra profissional que novamente se comprometeu a
colaborar, no entanto sempre dizia “que estava muito ocupada”.
Logo abaixo seguem as perguntas direcionadas ao Orientador Pedagógico
que infelizmente não foram respondidas.
1-Identificação, qualificação e profissão do entrevistado.
2- A senhora na posição de Orientadora Pedagógica acredita que os professores
estão trabalhando com seus alunos, indo além da função do ler e escrever?
3- Muitos professores criam e adotam projetos para trabalharem com a escrita em
sala de aula. Em sua opinião, qual é a melhor maneira de se fazer isso?
4- A senhora acredita que de uma forma geral, que os professores estão fazendo
isso?
5- Qual a diferença entre produzir e copiar textos? Com o método citado por você
acima, os alunos vão para qual caminho?
6- No nosso país há muitas pessoas que não sabem escrever além de copiar, ou
seja, além da dificuldade de escreverem não sabem criar um texto ou mesmo formar
uma frase com sentido. Em sua opinião, qual seria a causa e o que seria necessário
para reverter isso?

Após isso direcionei um questionário a duas professoras de uma escola da


rede municipal de Sorocaba; as duas professoras fazem parte de um projeto que
acontece aos fins de semana “O Clube da Escola”, atuando como coordenadoras;
como sou estagiária desse projeto, tenho um contato mais próximo com as duas
educadoras, por isso a aceitação em participar da minha pesquisa foi aceita sem
problema nenhum e as perguntas foram respondidas em forma de questionário.
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1º Professora
Formada em Pedagogia com pós em psicopedagogia. Atua como educadora a
quase vinte e dois anos, tendo já trabalhado em colégio particular, estadual e no
momento atua como PEBI numa escola da rede municipal em Sorocaba, 3º série.
Além disso, esse ano conforme já citado, ela é coordenadora do projeto “O clube da
escola” que funciona aos fins de semana na mesma escola que atua durante a
semana.

1- Hoje em dia, você acredita que é necessário o professor ir além do


alfabetizar? Explique.
Resposta: Sim, porque os educandos atualmente vivem em um mundo
globalizado e quanto maior a sua interação, mais facilidade terá em sua
aprendizagem e alfabetização.

2- Muitos professores se auxiliam de textos e cópias para ensinar seus alunos, e


em sua opinião qual é o melhor método?
Resposta: Em minha opinião não existe um único método perfeito, mas
devemos fazer a fusão do que há de melhor entre todos e após esta seleção
e análise e assim portanto vc terá a sua melhor maneira de ensinar e a sua
avaliação sobre estes deve ser constante.

3- Você tem um projeto em sala de aula para trabalhar a escrita com seus
alunos? Caso tenha, qual? Como ele é desenvolvido em sala de aula?
Resposta: Sim tenho. Trabalhamos com os mais variados gêneros de leitura,
dando oportunidade ao aluno de desenvolver melhor o seu aprendizado de
maneira satisfatória. Por exe.: Histórias em quadrinhos, poemas, poesias,
contos, crônicas, artigos de opinião etc.

4- No meio de suas aulas, existe um tempo em que os alunos possam, escrever


sendo autores de seus próprios textos? Caso tenha, como isso acontece?

Resposta: Sim, temos durante a semana momentos de leitura e escrita


espontânea, ao quais as crianças podem expressar suas opiniões e
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sentimentos livremente. O registro pode ser através de desenhos,


quadrinhos, poesias, relatos etc.

5- Você acredita que esta ajudando seus alunos a serem “escritores” ou apenas
reprodutores da escrita?
Resposta: Sim, com certeza futuros escritores, porque eles têm a liberdade de
expressar-se livremente, através de suas opiniões, sentimentos em seus
mais variados registros e não preocupo-me só com a reescrita.

2º Professora

Professora e leciona a 19 anos no ensino fundamental da Rede Municipal de


Sorocaba, este ano atua junto a uma turma do 5º ano, antiga 4ª série. É Bacharel
em Comunicação Social na área de Publicidade e Propaganda desde 2000,
especializou-se em Administração de Marketing, ambas realizadas na UNISO e
atualmente esta cursando Pedagogia pela UNICID e no último ano de
especialização em Mídia na Educação pelo I-PROINFO pela USP.
O questionário foi o mesmo entregue as duas professoras, porém, a ultima
professora respondeu em forma de texto.
1- Hoje em dia, você acredita que é necessário o professor ir além do
alfabetizar? Explique.

2- Muitos professores se auxiliam de textos e cópias para ensinar seus alunos, e


em sua opinião qual é o melhor método?

3- Você tem um projeto em sala de aula para trabalhar a escrita com seus
alunos? Caso tenha, qual? Como ele é desenvolvido em sala de aula?

4- No meio de suas aulas, existe um tempo em que os alunos possam, escrever


sendo autores de seus próprios textos? Caso tenha, como isso acontece?

5- Você acredita que esta ajudando seus alunos a serem “escritores” ou apenas
reprodutores da escrita?
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No ano de 1990, quando iniciei no Projeto de alfabetização de adultos Alfa-Vida,


tive a felicidade de poder participar do processo de implantação da prática
construtivista.
Em vinte anos de trabalho pude vivenciar grandes mudanças significativas que
buscaram melhorar a qualidade da prática do professor junto aos seus alunos
(Temas geradores. Trabalhos com Projetos, a defesa da Educação Inclusiva, o
direito às cotas na educação e defesa de temas voltamos para o multiculturalismo,
enfim já tive a possibilidade de ir de um extremo a outro, hora sendo radical e
defendendo o fim das cópias das tabuadas, dos exercícios de memorização, hora
defendendo a chamada oral e as provas padronizadas. Enfim, hoje entendo que
dentro do processo de alfabetização, de letramento, do desenvolvimento integral e
global do indivíduo “aprendiz”, o que importa é a busca. Busca essa que tem que ser
uma constante da melhor forma de aprender, ou seja, o jeito que o aluno aprende é
o melhor jeito! O melhor método pra mim é o eficaz, aquele método que atinge os
objetivos idealizados no processo do ensino.
O que é muito complexo e fascinante, principalmente se a gente levar em conta a
teoria das inteligências múltiplas.
A minha prática é planejada dentro dos parâmetros do Currículo da Rede
Municipal, aplicada dentro de seqüências quinzenais de trabalho, voltada para as
áreas de conhecimento, buscando o desenvolvimento das habilidades e
competências do aluno.
Trabalhos fundamentados na questão dos gêneros literários onde a diversidade
da leitura se faz fundamental.
Esta seqüência procura garantir momentos de leituras livres, e de gêneros
específicos, estudando cada um deles na sua estrutura, garante também o contato
das crianças com obras literárias variadas dentro do gênero e culmina na produção
escrita das crianças e na refracção das suas produções.
No momento não tenho um projeto específico para trabalhar com a leitura, mas
sim, práticas diferenciadas que valorizam, instigam e incentivam os alunos a
gostarem de ler.
Em sala utilizamos o “PALANQUE” da leitura onde uma criança por vez vem até
a frente da sala e faz a leitura de uma texto escolhido por ele, onde é trabalhado a
30

entonação da voz e postura correta, os ouvintes tem a possibilidade de criticar e


dar sugestões ao colega leitor.
Todos os dias temos também a leitura livre de livros que são retirados da
biblioteca que ficam em sala por uma semana. Os alunos leem, trocam de livros e
vão à biblioteca semanalmente se assim o quiserem.
Procuro divulgar o trabalho das crianças, dando significado e finalidade para as
suas produções, alguns já foram enviados para vereadores, a diretora da escola, e
campanhas educativas, como para o Cruzeirinho para a educação ambiental com a
prevenção de doenças.
Acredito que a cada dia que passa, meus alunos conquistam sim a competência
da leitura e da escrita.
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Referências

-MARTINS, Dinah de Souza. Psicologia da aprendizagem. São Paulo:


Vozes limitada,1972.
-DEL NERO, Henrique Schutzer. O sítio da mente: pensamento, emoção
e vontade. São Paulo: Collegium Cognitio, 1997.
-VIGOTSKI, Lev Semenorich. Pensamento e linguagem. São Paulo:
MARTINS Fontes,1998.
-WHITAKER, José Roberto Penteado. A técnica da comunicação humana.
São Paulo: Livraria Pioneira Editora, 1964.
-VIGOTSKI, Lev Semenovich; Luria, Alexander Romanovich; Leontiev, Alex
N. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. 5ª. Ed. São Paulo: Ícone,1994.
-http://www.anped.org.br/reunioes/29ra/trabalho/gt20-1742int.pdf.
Acesso em 28/05/2010. Shima,Sonia Maria; Calvo,Silvana.
VIGOTSKI , Lev Semenovich. O homem cultural e seus processos
criativos. Araraquara .
-http://www.miniweb.com.br/literatura/artigos/escrita.html. Acesso em
07/06/2010.
-SOARES, Magda. Letramento: Um tema de três gêneros. 2ª.Ed. Belo
Horizonte: Autêntica,2001.
-FERREIRO, Emília. Reflexões sobre alfabetização. 24ª. Ed.São Paulo:
Cortez,1995.
-FERREIRO, Emília. Psicogênese da língua escrita Emília Ferreiro e Ana
Teberosky. 4ª. Ed. Porto Alegre: Artes médicas,1991.
-Andaló, Adriane. Didática de língua Portuguesa par ao ensino
fundamental: Alfabetização, letramento, produção de texto. Em busca da
palavra-mundo. São Paulo: Editora FTD S.A,2000.
32

Apêndice

Após essa pesquisa, procurei encontrar outro caminho para trabalhar a escrita
em sala de aula, que se baseia no roteiro do filme: Escritores da liberdade”
(Freedom Writers) do diretor Richard Lagravense.

A história é baseada com uma professora que assume uma turma


desinteressada, que vai a escola apenas para “cumprir tabela”, é formada por jovens
de diferentes etnias, e demonstram intolerância e resistência á interação, preferindo
isolar-se em guetos dentro da própria sala de aula. Apesar de todos os esforços da
professora, é vista como representante do domínio dos brancos. Suas iniciativas
para conseguir quebrar tais barreiras ao relacionamento dentro da sala de aula
terminam em frustrações. Além de tudo isso a professora não tem o apoio da
direção da escola e dos demais professores; então ela decidi não desistir e cria um
projeto de leitura e escrita, iniciado com o livro “ O diário de Anne Frank”, onde os
alunos poderão registrar em cadernos personalizados o que quiserem sobre suas
vidas, relações, interações, idéias de mundo, leituras...Assim, a professora fornece
aos alunos um elemento real de comunicação com o mundo que permite liberta-los
de seus medos e frustrações, dessa forma, ela consegue mostrar aos alunos que os
impedimentos e situações de exclusão e preconceito podem afetar a todos,
independente da cor de pele, da origem étnica...Ela oferece mais, vai além do que
ensinar a escrever, ela oferece o que eles mais precisam: uma voz própria, lutando
para que a escola faça a diferença na vida dos estudantes.
Este filme tornou-se especial para mim, aliás, a pesquisa em geral. Isso porque
desde os oito anos de idade eu tenho por confidente um caderno e uma caneta. No
começo parecia coisa de criança, riminhas que se encontravam por acaso,
sentimentos e relatos depositados no papel por acaso; cheguei a enviar muitas
cartas a Editoras quando eu morava em SP, mas nunca me levaram a sério e
raramente eu tinha um retorno, que era a devolução dos meus escritos.
Aos doze anos de idade eu escrevi meu primeiro romance, usei um caderno, são
cento e dezesseis páginas. Foi assim durante um bom tempo, eu me dedicava no
mínimo duas horas por dia a escrever; inventando histórias, colocando meus
sentimentos na vida de algum personagem... Meus pais nunca me levaram a sério
33

também e sempre falavam “larga o papel e vai procurar o que fazer”, e poucos
professores souberam ou tentaram me ajudar de alguma forma.
Lembro-me de uma professora que sempre me pedia poesias e fazia eu ler para
a sala de aula, isso era muito gratificante para mim. Teve um dia que ela me avisou
de um concurso literário, eu me dediquei tanto para fazer o conto, trabalhei nele
dias, quando ficou pronto fiquei tão feliz e confiante; alguns dias depois fui perguntar
ao coordenador da escola, ele disse - ‘ Não enviamos seu conto, pois só você da
escola se interessou em participar’. Aquilo foi um golpe para mim.
Alguns meses depois em um concurso Estadual de poesias, eu tirei o segundo
lugar. No mesmo ano fui convidada para participar em um concurso de redação da
Aramar eu concordei em participar, desde que fosse colocar minha visão, que ia de
encontro com a guerra, armamento... A redação ficou em terceiro lugar na região.
Minha vida foi escrever durante a adolescência, tinha quem apoiava e aqueles
que davam um banho de água fria, mas não me lembro da escrita ser trabalhada
como um objeto de todos e para todos. “Alguns” apenas aproveitavam minha paixão
pela escrita e diziam para eu não desistir.
Aos quatorze anos de idade entrei em contato com um grupo que estudava
literatura por conta própria, entrei para o grupo até os vinte anos, depois na correria
acabei me afastando aos poucos, e hoje já estou fora desse grupo, mas pretendo
retornar ano que vem.
O tempo foi passando, e decidi que não podia largar meu sonho. Fiz um “livro”
com algumas poesias e levei a uma Professora da faculdade, ela apenas me disse
“Leia mais grandes poetas”. Novamente fui golpeada, já perdi as contas... Tão
revoltada escrevi tal poesia.
“E de pensar que todos querem esquadrinhar, um molde perfeito para se
proliferar, não a mim não... Presa no molde do século passado, não me compare
com Pessoa, com Rosa, pois sou outra pessoa e carrego minhas próprias rosas e
espinhos...”.
Vire e mexe a catarse acontecia, não mais como antigamente. Até minhas
colegas de classe brincavam que eu psicografava no meio da aula: não importava a
bagunça que estivesse acontecendo, eu escrevia da mesma forma, mas o tempo
não parou e quanto menos escrevemos menos temos vontade de escrever,
principalmente quando escrevemos somente com moldes e padrões, se não nos
permitem serem livres para pensar e escrever o que pensamos...
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Este trabalho como um todo, por exemplo, foi quase uma dor de parto “, difícil
de nascer! Isso porque dizer por ”outros”, escrever com regras, foge do que estou e
como estou acostumada a escrever, imagina o inverso para muitos, é , mas no
momento é isso que nos é oferecido. Quem escreve eles tentam podar e quem não
escrever eles procuram cobrar. Vai entender!
Dessa forma, acredito na proposta apresentada pelo filme: O professor pode
trabalhar em sala de aula, sem deixar de ensinar a forma correta e a norma culta da
língua, porém fazendo isso uma ligação com a realidade do aluno para que esta
possa ter um real significado para ele. Umas das formas é incentivar o aluno a
relatar, descrever seu dia a dia, seus sentimentos em um diário ou até mesmo a
trabalhar isso fazendo uma ligação com a arte, ou seja, trabalhar com seus
sentimentos (do aluno) para serem transformados em arte, ou seja, a catarse,
convertendo emoções em uma crônica, um conto... Outro aspecto importante
apresentado no filme é do professor encorajar seus alunos, isso não significa
apenas a não poda-los, mas sim acreditar neles.
Dessa forma, em um diário, por exemplo, como mostrado no filme, o aluno irá
perceber que a escrita é sua também, que ele não precisa ter seu nome em algum
livro para ser reconhecido, e mais tarde, quando pedirem a ele para escrever algo,
ele não se sentirá temeroso, pois escrever para ele é tão normal quanto tomar
banho, pentear os cabelos...Quisera eu que o mundo fosse simples como uma
poesia!
Hoje em dia tenho duas crônicas publicadas em um livro, duas reportagens
anunciando tal livro, uma entrevista no jornal Cruzeiro do sul, e esse ano foi
publicada uma poesia no livro: “Um olhar sobre Sorocaba”. Além disso, tenho
premiações na categoria poesia, conto e redação. Tenho nove romances e diversas
poesias, crônicas e contos que no momento não foram avaliados por nenhum
profissional; porém tenho uma proposta para publicação da Editora Ática e com uma
escola particular da cidade de Sorocaba!

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