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O que é Comunicação

“ Um dos pioneiros do estudo desta área, Charles Cooley, observou, em 1909, que a
comunicação é "o mecanismo através do qual existem e se desenvolvem as relações
humanas". A definição de Cooley é de uma lucidez espantosa, porque remete para a
noção de que o acto de comunicar é uma das formas fundamentais da existência. Tudo o
que é vida é comunicação, porque implica necessariamente o transporte de ideias e
objectos de um ponto para o outro. O sangue transporta oxigénio para as células, e, ao
fazê-lo, está a comunicar. Mas a definição de comunicação foi, ao longo dos anos,
registando uma crescente precisão. Se no tempo de Burke se entendia que comunicar era
um processo técnico, hoje esse conceito evoluiu num sentido diferente. É certo que a
palavra comunicação está ainda associada ao transporte de objectos físicos, mas, em
geral, ela já é entendida sobretudo como sendo o transporte de ideias e emoções
expressas através de um código. Ou seja, comunicar significa essencialmente transmitir
sentidos, casuais ou intencionais, de um ponto para o outro.(...) Não é possível localizar a
origem da comunicação enquanto transmissão intencional de sentidos por parte de seres
humanos. Os primeiros actos comunicativos foram, sem dúvida, gestos e expressões, e só
mais tarde, de uma forma misteriosa apareceu a língua. Há quem sugira que tudo
começou quando os antepassados do Homo Sapiens criaram as primeiras palavras ao
imitar sons naturais como o ladrar de cães ou o ribombar dos trovões. Mas uma outra
teoria admite que as palavras nasceram dos sons que os primitivos emitiam para
acompanhar cânticos ou celebra acontecimentos. Na verdade, ninguém sabe ao certo o
que aconteceu. Talvez todas estas circunstâncias, e outras ainda, tenham actuado em
conjunto para criar a língua, que acabou por se transformar na pedra basilar da
comunicação humana. Comunicar é sobretudo significar, através de qualquer meio.
Durante milénios isso quis dizer que o acto de comunicação se limitou aos sinais sonoros,
visuais e sensoriais emitidos pelo corpo humano. Mas houve uma altura em que o homem
entendeu que este era um meio demasiado limitado para comunicar e precisou de
alternativa. Ele quis ir mais longe e, para ultrapassar barreiras da distância inventou
aquilo a que mais tarde Marshall McLuhan designaria por "extensões dos sentidos". O
tambor transformou-se numa extensão da fala, e os sinais de fumo numa extensão dos
gestos. Nasceu assim a comunicação de massas(...) Com a evolução técnica, essas
extensões transformaram-se numa panóplia de meios de difusão de comunicação maciça,
que culminou com a invenção da televisão. À medida que os novos meios iam emergindo,
o homem foi ficando cada vez mais fascinado e aterrado. Cada "extensão" trazia em si um
mundo de promessas e um inferno de ameaças. Os meios de comunicação de massas
nasceram para libertar, mas continham o gérmen da opressão, e esta sua ambivalência
assustou os que pararam para pensar no assunto. O receio cresceu paralelamente ao
aumento do poder de cada meio, e parece ter-se transformado numa obsessão
incontrolada.(…) “

In: SANTOS, José Rodrigues dos - O que é Comunicação. Lisboa, Difusão Cultural, 1992 - pp 9-11.

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