You are on page 1of 9

METODOLOGIAS DE ANÁLISE DO DIREITO

António Manuel Hespanha

Quod non est in actis non est in mundo


(provérbio jurídico medieval)

1 Análises do direito.
Existem, naturalmente, muitas metodologias de análise do direito. Algumas são internas ou
meramente descritivas (i.e., postulando uma vinculação às normas do direito positivo 1), outras são
externas (ou meta-discursivas (i.e, desvinculadas dos sentidos do discurso jurídico e tomando este
como objecto de uma reconstrução que obedece a uma metodologia externa à do direito). A análise
interna do direito é normalmente designada por dogmática jurídica. As externas podem assumir muitas
perspectivas de análise, na medida em que podem submeter o objecto “direito” – o que quer que isto
seja; e isto é coisa diferente segundo seja sujeito a uma ou outra análise externa (um conjunto de
valores, um conjunto de normas formuladas de modo mais ou menos explícito, um conjunto de
comportamentos, um discurso [ou um conjunto de discursos])…. – aos conceitos e métodos de
diferentes saberes 2.
Neste ano, aproveitando a experiência muito positiva que se colheu da leccionação, em 2007-
2008, de um módulo da disciplina Análise do Discurso Jurídico, por uma equipa de professores do
Departamento de Filosofia do Direito da Universidade de Alicante – dos quais se destaca, pela sua
notoriedade internacional, Manuel Atienza -, decidi centrar esta disciplina do III Ciclo em temas de
metodologias de análise do direito enquanto linguagem. O que parece, além do mais, muito pertinente
num modelo de formação de juristas que toma o direito sobretudo como um texto – um conjunto de
proposições normativas, de natureza legal, jurisprudencial ou doutrinal. Esta perspectiva do direito não
é provavelmente a mais inclusiva e complexa, mas é, sem dúvida, a mais tradicional e a mais seguida.

Paradoxalmente, os juristas não recebem, nas faculdades, qualquer formação sobre a


natureza dos textos, sobre as suas relações com “as ideias”, com “as coisas”, com a “autoria”, com a
“leitura”, com os “suportes” (língua, suporte material [oral, escrito; manuscrito, impresso, digital,
audiovisual; livro e layout; etc.), com os seus usos sociais. Sendo que todas estas dimensões (intra-
textuais, intertextuais, contextuais) contribuem para os sentidos (também vários) dos textos. Não
admira, por isso, que muitos juristas tenham compreensões ingénuas, míticas, redutoras, do mundo
textual com que lidam quotidianamente. Isto porque os seus défices teóricos os privam das aquisições
decisivas da teoria do texto 3

1 Luigi Ferrajoli, José Juan Moreso, Manuel Atienza, La teoria del derecho en el paradigma constitucional, Madrid,
Fundación Coloquio Jurídico-Europeo, 2008, 27; R. von Jhering (= Construção sistemática do conjunto dos conceitos jurídicos).
2 Análise económica do direito (law and economics), sociologia do direito, lógica jurídica, teoria do direito, antropologia
jurídica, política do direito, história do direito, análise do discurso jurídico.
3 A própria análise do discurso, ao encarar este como um acto de interacção social e política, susceptível de ser utilizado
em estratégias grupais de poder, pode também lançar uma outra luz sobre o facto de os juristas estreitamente especializados
ignorarem e frequentemente recusarem abordagens transdisciplinares. Nesta perspectiva, o fechamento no discurso dogmático
faria parte de uma estratégia de defesa contra a perda de prestígio que resultaria do reconhecimento da pertinência de universos
literários desconhecidos.
C:\…\50065506.doc\1/22/11
1
Neste texto, quero apontar e sistematizar algumas linhas principais da análise textual, bem
como indicar algumas pistas de estudo. A final, pedirei alguns trabalhos a realizar por cada um.

2 Um roteiro de métodos de análise do discurso 4.

2.1 Filosofia analítica.


Orientada pela crença na possibilidade de formular as condições para uma linguagem natural
lógica e verdadeira, liberta de vícios (como os sofismas ou outros enunciados inconsistentes ou
logicamente inválidos). A verdade da linguagem dependeria da identificação de enunciados puramente
“constatativos” (descrevendo algo fora do discurso e, por isso, podendo ser classificados de
verdadeiros ou de falsos). Porém esta hipótese ficou prejudicada pela verificação de que existe um
outro tipo de proposições (performativas), que não são verdadeiras nem falsas, mas que produzem um
particular efeito social, apenas pelo facto de serem proferidas em certas condições [felicity conditions]
(“Está aberta a sessão”, “Considero-vos marido e mulher”, “Endosso este cheque a”, “Voto a favor”) 5.
Mais tarde, esta natureza performativa será estendida a todas as proposições que, por isso, acabam
por ser geralmente consideradas como uma espécie particular de actos sociais – speech acts -, com os
quais se produzem efeitos sociais (How to do things with words é o título de uma obra [1955; editada
em 1962] de John Langshaw Austin [1911-1960]).

2.2 As limitações da teoria analítica (mesmo com os desenvolvimentos trazidos, pela


teoria dos actos de fala).

1.1.1 A crítica do logicismo (universalismo, normativismo).


A filosofia analítica não pondera suficientemente a acção do discurso sobre o mundo. Apesar
da ulterior insistência no carácter performativo (criativo, não puramente descritivo) da maior parte dos
enunciados, não foram suficientemente teorizados pela escola analítica as questões relativas às
relações entre o discurso e o seu ambiente, entre o discurso e os seus efeitos.
Foi a semiótica 6 (Ch. Sanders Pierce, 1839-1914 7; Charles W. Morris, 1903-1979; Umberto
Eco, 1932-…, Julia Kristeva, 1941-… 8) que construiu uma teoria linguística atenta à pluralidade dos
níveis de relações de que depende o sentido. Ou seja, ao facto de o discurso manter:
(1) relações não apenas internas ao texto – analisáveis no plano das relações das
palavras (signos) que o constituem: relações sintácticas -, mas também
(2) relações entre os locutores, mediadas pelo texto: relações pragmáticas e ainda
(3) relações bi-unívocas com o mundo extra-discursivo (se há tal coisa), com os
objectos referidos no discurso: relações semânticas. É este triplo nível das relações que dá um
sentido pleno aos textos (discursos).
Por outro lado, mesmo ao nível puramente sintáctico, a consistência não é absoluta:
frequentemente os princípios de que o raciocínio parte são problemáticos ou este começa em níveis
que careceriam ainda de comprovação, as cadeias de inferência são incompletas, os argumentos são
estendidos ou reforçados por manipulação afectiva, estética, do auditório (retórica).
Várias correntes da análise linguística – para além da semiótica, que se apresenta como uma
teoria geral do sentido – procuram afrontar estas insuficiências.

4 Embora orientado para a análise de textos literários, v. Carlos Reis, Técnicas de análise textual, Coimbra, Almedina,
1981.
5 Speech act theory (J. L. Austin, John Searle).
6 http://en.wikipedia.org/wiki/Semiotics.; Kristeva, Eco, Bachtin u. a., Textsemiotik als Ideologiekritik, Frankfurt, Suhrkamp,
1977.
7 http://en.wikipedia.org/wiki/Charles_Peirce.
8 http://www.kristeva.fr/; http://en.wikipedia.org/wiki/Julia_Kristeva.
C:\…\50065506.doc\1/22/11
2
A linguística antropológica (Edward Sapir, 1884-1939, - Benjamin Lee Whorf, 1897-1941 “
insiste no carácter “local”, “culturalmente determinado” das categorias linguísticas: “… the Hopi
language is seen to contain no words, grammatical forms, construction or expressions that refer directly
to what we call «time», or to past, present, or future…”, Language Thought and Reality: Selected
Writings of Benjamin Lee Whorf, ed. por John B. Carroll, MIT Press, Boston, Massachusetts, 1956 9. A
análise antropológica dos discursos tem uma importância fundamental aquando da transferência de
tecnologia jurídicas entre sociedades culturalmente diferentes, em que as mesmas expressões ou
formulações podem evocar ou conter sentidos totalmente diferentes 10
Se a sociologia dos discursos os encara, em si mesmos, como factos sociais e aplica à sua
explicação e à sua interpretação as regras e modelos do método sociológico, já o realismo sociológico
– com particular destaque para o realismo jurídico norte-americano – adopta pontos de vista
sociológicos mais clássicos: parte, não ods textos, mas dos seus autores e receptores, estudando a
influência da caracterização sociológica dos juristas, dos juízes, e do seu público, sobre a forma,
conteúdo, destinatários e consumidores. Todavia, recentemente, a sociological jurisprudence norte-
americana renovou bastante as antigas técnicas de análise sociológico-política do discurso, a ponto de
se falar de um neo-realismo jurídico, simbolizado pela obra de Cass Sunstein 11 ou Richard Sherwin 12.
Estes autores aproximam-se claramente da sociologia do discurso. A dimensão textual-discursiva – e
não a dos seus produtores e consumidores vem para o primeiro plano. O objecto das análises são os
discursos em si mesmos (os seus temas, os seus modelos narrativos, os seus destinatários, o estatuto
que atribuem aos seus autores, o consumo social a que convidam). Os autores, as instituições
jurídicas em que eles circulam, as funções sócio-políticas dos juristas produtores de textos, o seu
auditório, aparecem, assim, como entidades derivadas, construídas pelos textos (mais do que
construtoras destes).
Por sua vez, a teoria da argumentação (Chaïm Perelman, 1912-1984 13; Robert Alexy, 1945-
… ; Stephen Toulmim 1922-… 15, Neil McCormick, 1938-… 16) - e o neo-realismo jurídico americano de
14

autores como Cass Sunstein (1954-…) 17 – estudam os momentos do raciocínio jurídico em que este
foge aos padrões da lógica e se transforma num encadeado de proposições formalmente
9 V. ainda Benjamin Lee Whorf (1943). Loan-words in Ancient Mexico. New Orleans: Tulane University of Louisiana:
Clifford Geertz [1916-2006], Local Knowledge: Further Essays in Interpretive Anthropology (1983), Basic Books 2000)
10 Foi o caso verificado com a tradução para o chinês de expressões da dogmática civil europeia (v.g., “direito
subjectivo”) quando o governo de Nanjing resolveu, em 1927, empreender a codificação do direito chinês, como um passo decisivo
para a modernização social da China, à semelhança do que tinha sido feito no Japão, durante as últimas décadas do séc. XIX.
Sobre o tema: John H. Barton and al.¸ Law in radically different cultures, St. Paul, Minn., West Publishing Co..,1983; Masaji Chiba,
Legal Pluralism: Toward a General Theory through Japanese Legal Culture, 1989; Alison Dundes Renteln & Alan Dundes, Folk Law:
Essays in the Theory and Practice of Lex Non Scripta, 2 vols., 1994; Jill Norgren, Serena Nanda Sherene, American Cultural
Pluralism and Law, 1996; Catherine Lane West-Newman, “Feeling for Justice? Rights, Laws, and Cultural Contexts”, Law & Social
Inquiry, 30.2 (2006), 305-335; António Manuel Hespanha, Feelings of justice in the Chinese community of Macao : an enquiry,
Lisboa, Imprensa de Ciências Sociais, 2003; H. Razack, Casting Out: The Eviction of Muslims from Western Law and Politics, 2008.
Sobre a necessidade de desenvolver curricula jurídicos interculturais, Anthony O’Donnell and Richard Johnstone, Developing a
Cross-Cultural Law Curriculum, Cavendish, London,1997. V. outras referências em http://www.nanzan-
u.ac.jp/SHUBUNKEN/publications/afs/pdf/a1077.pdf.
11 V., como exemplo, Cass R. Sunstein, Political Conflict and Legal Agreement
(http://www.tannerlectures.utah.edu/lectures/documents/Sunstein96.pdf); v. nota 17.
12 Webpage: http://www.nyls.edu/faculty/faculty_profiles/richard_k_sherwin, Bibl.: Richard K. Sherwin, When Law Goes
Pop: The Vanishing Line Between Law and Popular Culture, 2000; Popular Culture And Law, 2006 (Tema: “What are the
consequences when law's stories and images migrate from the courtroom to the court of public opinion and from movie, television
and computer screens back to electronic monitors inside the courtroom itself? What happens when lawyers and public relations
experts market notorious legal cases and controversial policy issues as if they were just another commodity? What is the appropriate
relationship between law and digital culture in virtual worlds on the Internet? In addressing these cutting edge issues, the essays in
this volume shed new light on the current status and future fate of law, truth and justice in our time”); Shulamit Almog and Richard K.
Sherwin, How Digital Technologies are Changing the Practice of Law, 2007; entrevista interessante:
http://www.ibiblio.org/pub/electronic-publications/stay-free/archives/18/sherwin.html. Artigo: Richard K. Sherwin, “Law, Metaphysics,
and the New Iconoclasm”, Law Text Culture, University of Wollongong, Vol. 11, 2007 (http://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?
abstract_id=1004361)
13 Cf. http://en.wikipedia.org/wiki/Cha%C3%AFm_Perelman;
http://www.jacweb.org/Archived_volumes/Text_articles/V4_Long.htm. Obras mais relevantes para o propósito deste curso: Chaïm
Perelman e Lucie Olbrechts-Tyteca, Traité de l’argumentation. La nouvelle rhétorique, 5ª edição, Éditions de l’Université de
Bruxelles, 1988 ; La Motivation des Décisions de Justice. Chaim Perelman e Paul Foriers (eds.). Bruxelles, Établissements Emile
Bruylant. 1978.
14 Theorie der juristischen Argumentation. Die Theorie des rationalen Diskurses als Theorie der juristischen Begründung
(1983). Trad. ingl. (Neil MacCormick): A Theory of Legal Argumentation: The Theory of Rational Discourse as Theory of Legal
Justification, Oxfrod, Clarendon, 1989. Página pessoal: http://www.uni-kiel.de/alexy/ .
15 Cf. http://en.wikipedia.org/wiki/Stephen_Toulmin;
http://web.archive.org/web/20060215164905/http://www.neh.fed.us/news/humanities/1997-03/wartofsk.html .
16 Webpage: http://www.law.ed.ac.uk/staff/neilmaccormick_51.aspx
C:\…\50065506.doc\1/22/11
3
inconsistentes, numa lógica nebulosa (fuzzy), em pontos de partida irreflectidos ou fruto de adesões
emocionais. No entanto, algumas destas correntes (ou suas sub-correntes) não deixam de ter um tom
normativo, semelhante ao da lógica, na medida em que não procuram apenas identificar regularidades
empíricas dos discursos 18, mas prescrever normas – eventualmente diferentes daquelas das lógicas
clássicas. Outras correntes da teoria da argumentação são apenas descritivas; é o caso da “nova
retórica” de Ch. Perelman, apenas preocupada em listar os argumentos considerados como válidos por
um certo auditório (partícula) 19.

1.1.2 A crítica do realismo (construtivismo linguístico ou discursivo).

A ideia de que o discurso é muito mais do que narrativo ou denotativo abre um campo de
pesquisa sobre as dimensões poiéticas (= criativas) do texto. Sobre o modo como ele constrói o mundo
(também o mundo social) à sua volta. O ponto de partida é a constatação, quer do carácter arbitrário
dos signos (F. de Saussure) - os quais não são representações internas de coisas externas, o que
levaraia a que o seu sentido fosse a “adequação do intelecto à coisa” -, quer da função performativa da
linguagem (J. L. Austin). Há várias correntes que seguem esta orientação. As mais radicais são,
porém, ou aquelas que vêem na linguagem e no discurso um prius em relação ao mundo não
discursivo (às coisas), como sugere a hipótese de Sapir-Whorf, segundo a qual as categorias da
linguagem pré-formam a percepção do mundo e o comportamento das pessoas nele 20. A partir desta
hipótese forte, algumas mais fracas não têm cessado de aparecer, todas elas insistindo na
determinação do conteúdo pela forma, incluindo a forma do suporte das mensagens (o oral 21, o
escrito 22, o impresso 23, o audiovisual 24, o digital, o layout da página 25).

A crítica do intencionalismo.

A crítica do intencionalismo remete para teorias do discurso em que o factor decisivo da


modelização do discurso (da escolha dos temas, das figuras do discurso, das estratégias de
argumentação, do estilo, da atribuição de sentido) não é o autor, mas uma gramática (ordem)
17 Cf. Cass R. Sunstein, Legal Reasoning and Political Conflict, Oxford, Oxford University Press US, 1998. Web+age:
http://home.uchicago.edu/~csunstei/; http://home.uchicago.edu/~csunstei/; http://en.wikipedia.org/wiki/Cass_Sunstein#External_links
.
18 Por exemplo, os argumentos usados num certo discurso (v.g., o jurídico), a sua força e as suas regras de uso.
19 A validade perante um auditório geral equivale a um atitude normativa.
20 "My analysis was directed toward purely physical conditions, such as defective wiring, presence or lack of air spaces
between metal flues and woodwork, etc., and the results were presented in these terms. ... But in due course it became evident that
not only a physical situation qua physics, but the meaning of that situation to people, was sometimes a factor, through the behavior of
people, in the start of a fire. And this factor of meaning was clearest when it was a LINGUISTIC MEANING [Whorf's emphasis],
residing in the name or the linguistic description commonly applied to this situation. Thus, around a storage of what are called
'gasoline drums,' behavior will tend to a certain type, that is, great care will be exercised; while around a storage of what are called
'empty gasoline drums,' it will tend to be different -- careless, with little repression of smoking or of tossing cigarette stubs about. Yet
the 'empty' drums are perhaps the more dangerous, since they contain explosive vapor. Physically, the situation is hazardous, but
the linguistic analysis according to regular analogy must employ the word 'empty,' which inevitably suggests a lack of hazard. The
word 'empty' is used in two linguistic patterns: (1) as a virtual synonym for 'null and void, negative, inert,' (2) applied in analysis of
physical situations without regard to, e.g., vapor, liquid vestiges, or stray rubbish, in the container.", The Relation of Habitual Thought
and Behavior to Language,", Benjamin Whorf, 1956, 1997. Cf., em suma, http://en.wikipedia.org/wiki/Sapir
%E2%80%93Whorf_hypothesis; http://www.aber.ac.uk/media/Documents/short/whorf.html .
21 Cf. Jack Goody, The domestication of savage mind; Cambridge, 1977; The interface between the written and the Oral,
Cambrige, Cambridge UP, 1987-
22 Cf. Roger Chartier, L’Ordre des livres. Lecteurs, auteurs, bibliothèques en Europe entre XIVe et XVIIIe siècle, Aix-en-
Provence, Alinea, 1992; Pratiques de la lecture (direction), Paris, Payot, 1993; Le Livre en révolutions, entretiens avec Jean Lebrun,
Paris, Textuel, 1997 ; Pratiques de la lecture (direction), Paris, Payot, 1993.
23 Cf. Walter Ong, S,J,, Orality and Literacy: The Technologizing of the Word (2nd ed. New York: Routledge, 2002; An
Ong Reader: Challenges for Further Inquiry. Ed. Thomas J. Farrell and Paul A. Soukup, Cresskill, NJ, Hampton P, 2002; Interfaces
of the Word, Ithaca, Cornell UP, 1977; Ramus, Method, and the Decay of Dialogue. From the Art of Discourse to the Art of Reason,
Cambridge, MA, Harvard UP, 1958.
24 Cf. M. McLuhan, The Gutenberg Galaxy: The Making of Typographic Man. London, Routledge & Kegan Paul, 1962.
25 Cf. Donald Francis McKenzie, Bibliography and the Sociology of Texts, Cambridge, Cambridge UP, 1985: a forma dos
livros e da apresentação gráfica como veiculadores de sentido. Cf. António Manuel Hespanha, “Form and content in early modern
legal books: Bridging material bibliography with history of legal thought”, Portuguese Journal of Social Science, volume 6.1(2007), p.
33 ss..
C:\…\50065506.doc\1/22/11
4
autónoma dos textos, a recepção do discurso, as tradições de leitura que envolvem o texto, os
suportes da comunicação, as condições institucionais ou sociais da relação comunicativa. Produz-se,
então, aquilo a que se tem chamado o descentramento do sujeito, que caracteriza uma boa parte dos
estudos linguísticos actuais.
Realmente, a centralidade do sujeito permanece em algumas correntes da hermenêutica 26
mais ligadas a uma concepção “humanista” do sentido e à pretensão de que o sentido do autor
(intentio auctoris) é acessível ao auditório ou, pelo menos, que este sentido permanece como uma
referência estratégica da interpretação.
Uma forma diferente de intencionalismo – muito diferente das anteriores – é a da teoria do
discurso como instrumento de lutas simbólicas (lutas pelo reconhecimento, num determinado campo
discursivo – o direito, a literatura, o jornalismo, etc.). A figura de proa desta corrente foi o famosíssimo
sociólogo francês Pierre Bourdieu, 1930-2002 27) o qual, embora desvalorizando o papel do autor
individual na conformação do discurso 28, relaciona os discursos (nas suas formas, conteúdos e
participantes interpelados) com estratégias de maximização de prestígio ou de desqualificação dos
concorrentes.
Destacamos algumas das mais interessantes formas de des-subjectivação do sentido, a
acrescentar a outras já referidas.
Uma delas é a teoria da recepção (Hans Robert Jauss, 1921 – 1997; Wolfgang Iser (1926–
2007; Umberto Eco, 1932-…), para a qual o sentido decisivo de um discurso é o que lhe é dado pelo
leitor (intentio lectoris), pelo auditório e não o sentido querido pelo autor (intentio auctoris). 29 30
Outro modelo de análise do discurso que descentra o sujeito é a teoria da intertextualidade,
que concentra a sua atenção no modo como os textos, autonomamente das intenções dos autores,
criam redes de referência, importam e exportam temas, objectos, argumentos e outras figuras
discursivas, seleccionam leitores, etc.. Embora esta ideia da combinação de sentidos de vários
discursos num comum campo textual já estivesse presente na importância que a hermenêutica dava à
tradição interpretativa, foi o russo Mikhail Bakhtin, 1895 - 1975 31) quem lançou e teorizou a ideia de
intertextualidade 32. Um outro contributo específico para uma abordagem da análise discursiva liberta
da ideia de sujeito e centrada na prática discursiva, em si mesma, é a importantíssima obra de Michel
Foucault, nomeadamente a sua arqueologia dos saberes (Michel Foucault, 1926-1984 33), que destaca
a dependência do discurso em relação às condições da prática discursiva, nomeadamente em relação
aos arranjos institucionais, comunicacionais, textuais, que ela mesma engendra e nos quais decorre.
26 V., para uma primeira aproximação, http://en.wikipedia.org/wiki/Hermeneutics .
27 http://fr.wikipedia.org/wiki/Pierre_Bourdieu. Bibl.: La distinction. Critique sociale du jugement, 1979 ; Ce que parler veut
dire. L'économie des échanges linguistiques, 1982 ; Homo academicus, 1984. Aplicações ao direito: BOURDIEU, Pierre, « La force
du droit. Eléments pour une sociologie du champ juridique », Actes de la recherche en sciences sociales, nº 64, septembre 1986, pp.
3-19 ; trad. port. em Pierre Bourdieu, O Poder Simbólico, Lisboa, Difel, 1989, pp. 209-254. Dossier : La place du droit dans l’oeuvre
de Pierre Bourdieu (http://www.reds.msh-paris.fr/publications/revue/pdf/ds56-57/ds056057-01.pdf ); J. Caillosse, « Pierre Bourdieu,
lector juris » (http://www.cairn.info/revue-droit-et-societe-2004-1-page-17.htm, avaliação e crítica). Já agora, pequenos textos seus
actuais e notáveis, Acts of resistance. Against the tiranny of the market, ted. Ingl., New York, The new press, 1998.
28 O autor estaria pré-formatado por uma série de disposições mentais e comportamentais geradas pelo contexto
comunicacional naquele campo simbólico.
29 Bibliografia: Robert C, Holub, Teoria della ricezione. Torino, Einaudi, 1989; Umberto Eco, Opera aperta (1962, rev.
1976); Lector in fabula (1979); The Role of the Reader: Explorations in the Semiotics of Texts (1979 – selecção de textos de Opera
aperta, Apocalittici e integrati, Forme del contenuto (1971), Il Superuomo di massa, Lector in Fabula). Ivan Illich, Nella vigna del
testo. Per una etologia della lettura, Milano, Raffaello Cortina Edittore, 1994.
30 Cf. “Escola do direito livre”. Correntes objectivistas da interpretação ? Teoria da recepção na dogmática da
interpretação das declarações negociais.
31 O sentido de um texto é dado pela cadeia de textos (arquivo textual) para que ele remete, explicita ou implicitamente;
ou, numa versão mais psicologista, pela cadeia de textos que integram o horizonte de leitura do autor ou do leitor; bibl. Kristeva,
Eco, Bachtin u. a., Textsemiotik als Ideologiekritik, Frankfurt, Suhrkamp, 1977; Mikhail Bakhtin, (Michael Holquist (ed.), Caryl
Emerson e Michael Holquist (trad..)), The Dialogic Imagination: Four Essays, Austin: University of Texas Pressm 198; Dialog der
Texte. Hamburger Kolloquium zur Intertextualität. Hg. von Wolf Schmid und Wolf-Dieter Stempel (= Wiener Slawistischer Almanach.
Sonderband 11), Wien 1983 (onde aparecem artigos relacionando a ideia de “intertextualidade” com a de “Intermedialidade”, aberta
ao cruzamento de discursos outros que os espedcificamente textuais (iconográficos, musicais, etc.). Interpretação sistemática”,
interpretação objectivista, “Interpretação confirme à constituição” ou “ao Direito comunitário”. Equidade (de direito) [aequitas civilis] ?
32 Cf., para uma primeira aproximação, http://en.wikipedia.org/wiki/Intertextuality.
33 O sentido é produto da estrutura das práticas discursivas (contextos práticos do discurso – que definem os objectos
do discurso, que atribuem competências discursivas, que desenham estratégias discursivas (os sujeitos não falam, são falados).
Para uma síntese ordenada e fiável: http://fr.wikipedia.org/wiki/Michel_Foucault., Bibl.: L'Archéologie du savoir, Gallimard,
coll. « Bibliothèque des Sciences humaines », Paris, 1969; L'ordre du discours, Gallimard, Paris, 1971. Foucault tratou em especial
dos saberes e práticas institucionais relativos à “criminalidadde” (prisão), “loucura” (asilo) e sexualidade… Mas tem coisas
especificamente sobre o direito e o seu discurso: La verdad y las formas jurídicas, Barcelona, Gedisa, 1980 (a 1ª ed. é brasileira,
Rio de Janeiro, PUC, 1978).
C:\…\50065506.doc\1/22/11
5
Finalmente, também a sócio-linguística e a sociologia dos textos podem também contribuir
para a ideia de descentramento do sujeito-autor 34.

3 Um método de análise do discurso: a análise do conteúdo (content analysis).

A análise de conteúdo é um método largamente usado de tratamento – hoje frequentemente


automatizado – da informação. O seu objectivo é o de, por meios tendencialmente objectivos, captar os
sentidos dos textos (ou do ambiente cultural em que são produzidos) utilizando elementos do próprio
texto.
Pode revestir várias modalidades, desde as mais simples (contagem das ocorrências – ou co-
ocorrências - de certas palavras) a análises mais complicadas, como a da descoberta de estruturas de
argumentação ou organização textual.

3.1 Referências.

The Content Analysis Guidebook on-line


(http://academic.csuohio.edu/kneuendorf/content/index.htm) → Computer Content Analysis Software
(http://academic.csuohio.edu/kneuendorf/content/cpuca/cca.htm) [noções básicas, instrumentos e
ferramentas de análise do discurso)
E-journal: Discourse Analysis On-Line (http://extra.shu.ac.uk/daol/about/ ) 35;
Assessment and Development of New Methods for the Analysis of Media Content
(Loughborough University, Department of Social Sciences)
(http://www.lboro.ac.uk/research/mmethods/index.html) 36 [inclui uma comparação de software para
análise de conteúdo].
Philipp Mayring, “Qualitative Inhaltsanalyse”, Forum. Qualitative Sozialforschung, Volume 1,
No. 2, Art. 20 – Juni 2000 (http://www.qualitative-research.net/index.php/fqs/article/view/1089/2383)
[informação básica]
C. N. Ball, “Automated Text Analysis: Cautionary Tales”, Literary and Linguistic Computing, pp.
295-302 (http://llc.oxfordjournals.org/cgi/reprint/9/4/295) [possibilidades abertas pela análise
automatizada de textos; cautelas e riscos].

4 Aplicações ao direito.

Que aplicações pode ter a análise do discurso jurídico ?


Análises “normativas”. Agrupamos sob esta designação as análises que visam estabelecer
regras para o discurso, no sentido de o tornar: ou mais rigoroso (ontologicamente, logicamente, do
ponto de vista da sua consistência interna ou sistemática), ou mais explícito nos seus pressupostos

34 Cf. Peter V. Zima, Textsoziologie, Eine kritische Einführung, 1980; especificamente para a literatura jurídica, com
muitas referências: Filippo Ranieri „Juristische Literatur aus dem Ancien Regime und historische Literatursoziologie, Einige
methodische Vorberlegungen“, Aspekte europäischer Rechtsgeschichte. Festgabe für Helmut Coing zum 70. Geburtstag, Frankfurt
am Main 1982, 293-322. Clássico: Roger escarpit, Le litteraire et le social. Éléments pour une sociologie de la littérature, Paris,
Flammarion, 1970.
35 “Discourse Analysis On-Line was launched in the autumn of 2002. Its aims are: To foster an intellectually rigorous
multi- and inter-disciplinary debate on the practical and theoretical aspects of discourse analytic research; To provide an innovative
forum to support the development of interdisciplinary interaction and collaboration in the area of discourse analysis; To publish
leading international research on theories, practices and experiences in the field; To enable discussion of the theoretical, practical
and methodological issues faced by discourse analysts; To use digital media to provide new opportunities for the publication of data,
interpretations and research outcomes; To be an action research project that explores the changing nature of journals, and more
broadly, scholarly practice in the age of digital publishing and Communications”.
36 “This ESRC project evaluates and develop methods for the analysis of media content, in particular news. The
substantive concern is with the portrayal of policy, politics and politicians, but this will also enable the application and methodological
assessment of innovative approaches to media content analysis”.
C:\…\50065506.doc\1/22/11
6
(v.g., inventariando os argumentos utilizados (utilizáveis) e as suas regras de uso) ou mais claro
(legível; v.g., ), ou mais neutro (v.g., distinguindo enunciados descritivos de enunciados prescritivos):
• Análise lógica, nas suas diversas variantes – analisa a consistência lógica dos enunciados;
• Análise de legibilidade – analise o vocabulário usado, a dimensão e estrutura das frases, as
ambiguidades, para reduzir o grau de equivocidade do discurso 37 e tornar este mais acessível
aos destinatários;
• Análise da consistência interna de textos (nomeadamente legislativos) 38;
• Análise da argumentação jurídica – análise e estabelecimento de regras de argumentação
(este tipo de análises pode ser predominantemente descritivo ou também normativo) 39;
Análises “descritivas”. Este grupo de objectivos analíticos visa apenas a descrição, a
explicitação 8e, eventualmente, a avaliação crítica de esta sugira) dos discursos jurídicos.
• construir sistema computacionais de simulação do raciocínio jurídico (= sistemas periciais na
área do direito) 40;
• analisar e explicitar os níveis de condicionamento / normação dos discursos jurídicos e,
portanto, as múltiplas formas que reveste o condicionamento pelo direito 41;
• Enriquecer a análise do sentido (interpretação) do sentido do discurso jurídico com as suas
dimensões não puramente textuais de sentido (nomeadamente, mediante a análise das
interacções pragmáticas entre comunicantes: rituais (vestuário, arquitectura e disposição
espacial dos actos, forma dos suportes discursivos [livros, processos, formas e fórmulas
linguísticas]), comportamentos (e seus efeitos persuasivos de natureza emocional, político-
social, estética);
• Análise da relação comunicacional entre o discurso jurídico formal e a sua percepção pelo
senso comum 42;

4.1 Materiais.

Exemplo de análise discursiva de um texto jurídico: Elena de Miguel, El texto jurídico-


administrativo: Análisis de una orden ministerial, Círculo nº 4 (noviembre del 2000), Universidad
Complutense Madrid (http://www.ucm.es/info/circulo/no4/demiguel.htm) (para evitar alguns problemas da

37 Teste um pequeno programa de análise automatizada da leginbilidade de textos em inglês:


http://www.interventioncentral.org/htmdocs/tools/okapi/okapi.php
38 Cf. Biagioli Carlo, Mariani Paola, Tiscornia Daniela, “ESPLEX: un sistema esperto per la consultazione e l'analisi di
testi legislativi”, Rivista Informatica e Diritto,1988, fasc. 3.; v. outros exemplos de projectos em
http://www.ittig.cnr.it/Ricerca/Index.php .
39 Cf. Mochales Palau, Raquel and Moens, Marie-Francine “ACILA - Automatic Detection of Arguments in Legal Cases.
In Proceedings of Workshop on Semantic Web Technology for Law”. Palo Alto, CA: Stanford University; (=Proceedings of the
Eleventh International Conference on Artificial Intelligence and Law (pp. 225-230). New York: ACM); M.-F. Moens (Ed.) , Digitale
wetgeving. Digital Legislation. Brugge, Die Keure, 2003;, Marie-Francine Moens. Summarizing Court Decisions. Information
Processing & Management (in press, 2007). V. Mais exemplos: http://www.law.kuleuven.ac.be/icri/all_pubs.php?
action=pubs_staff&staffid=13&where=
40 «The importance of “reasoning” in law is pointed out. Law and jurisprudence belong to the “reasoning-conscious”
disciplines. Accordingly, there is a long tradition of logic in law. The specific methods of professional work in law are to be seen in
close connection with legal reasoning. The advent of computers at first did not touch upon legal reasoning (or the professional work
in law). At first computers could be used only for general auxiliary functions (e.g., numerical calculations in tax law). Gradually, the
use of computers for auxiliary functions in law has become more specific and more sophisticated (e.g., legal information retrieval),
touching more closely upon professional legal work. Moreover, renewed interest in Artificial Intelligence has also fostered interest in
AI in law, especially for legal expert systems. AI techniques can be used in support of legal reasoning. Yet until now legal expert
systems have remained in the research and development stage and have hardly succeeded in becoming a profitable tool for the
profession. Therefore it is hoped that the two lines of computer support, for auxiliary functions in law and for immediate support of
legal reasoning, may unite in the future», Herbert Fiedler, “Computers and legal reasoning: Developments in Germany”. Language
Resources and Evaluation, 25, ns.2-3 / April, 1991, 141-147.
41 Por exemplo, o uso de formas impessoais ou de verbos no indicativo sugere a neutralidade e a inevitabilidade; o uso
do plural majestático, a autoridade do emissor; o uso da expressão “ciência jurídica” sugere uma referência à verdade, reprimindo a
ideia de mera probabilidade, de opinabilidade ou de um lastro político-ideológico no discurso..
42 Incompreensão (barreiras linguísticas e lexicais), incapacidade de expressão, necessidade de recurso à mediação de
técnicos; equívocos (recíprocos) na compreensão das mensagens; apropriação popular da linguagem técnica com sentidos
diferentes (“arguido”, “propriedade”, “contrato”, “filiação”, “casamento”, “corrupção”).
C:\…\50065506.doc\1/22/11
7
edição electrónica que prejudicam a leitura, seleccionar todo o texto, e, com copy e paste, transferi-lo para
um documento de Word).

Dossier : Le discours juridique: langage, signification et valeurs (= Droit et société, 8/1988 -


http://www.reds.msh-paris.fr/publications/revue/html/ds008/ds008-00.htm) (sublinhados os textos mais
interessantes como elementos introdutórios).
Présentation. Dossier : Le discours juridique : langage, signification et valeurs : Eric Landowski,
Introduction ; Jerzy Wroblewski, Les langages juridiques : une typologie 43 ; Peter Stockinger,
Possibilités d'une représentation conceptuelle de la situation normative ; Eric Landowski, Vérité et
véridiction en droit ; Bernard S. Jackson, Sémiotique et études critiques du droit 44 ; Herman Parret, Au-
delà de la rhétorique du juridique : justifier par l'éthique, légitimer par l'esthétique ; Annexe :
Complément au dossier. Le discours juridique : langage, signification et valeurs.

5 Métodos da análise linguística e discursiva (quadro sintético, com links) 45.

1. Analytical philosophy
2. Linguistics
2.1. Structuralist linguistics
2.2. Register studies and stylistics
2.3. Text Linguistics
2.4. Pragmatics
2.4.1. Presuppositions
2.4.2. Face and politeness
2.4.3. Reference
3. Linguistic Anthropology
3.1. Ethnography of speaking
3.2. Ethnopoetics
3.3. Indexicality
3.4. Interactional Sociolinguistics
3.5. Natural Histories of Discourse
4. New Literacy Studies
5. Post-structuralist theory
5.1. M.M. Bakhtin
6. Semiotics and cultural studies
6.1. Semiotics and communication studies
6.2. Cultural studies
7. Social Theory
7.1. Pierre Bourdieu
7.2. Michel Foucault
7.3. Jürgen Habermas
8. The sociology of order in interaction

43 “The author deals with the languages of legal discourse. He analyses the legal language in which one
formulates the statutes, and three juridical languages in which one speaks about law. There are three types of juridical
languages: juridical jurisprudential language, in which the decisions of the application of law are formulated; juridical
scientific language proper to the legal sciences discourse in general, and to legal dogmatic and legal theory in particular;
juridical common language used in other discourses about law, e.g. in the specialized language of advocates and in no
specialized audience of men-of-the-street. Each of the languages in question is presented in a semantical and pragmatical
dimension, and its relations with other languages of legal discourse are discussed.
44 Responding to critics of his Semiot)cs and Legal Theory, the author argues that legal semiotics, because it adopts a
necessarily skeptical stance towards the truth-claims made in the discourse it studies, has more in common with legal realism and
critical legal studies than with legal positivism. He relates this debate to the marxist-structuralist controversy, and identifies the
underlying epistemological issues. He then identifies a number of areas of empirical work, where the approaches of semiotics and
critical legal studies may be viewed as complementary. Semiotics may assist : in specifying the claims of ideology, in understanding
the communication and processing of legal messages with the different types of organization (including different types of legal
practice), in analyzing the form of law and the content of legal consciousness, and in comparing legal phenomena in different
societies. Unlike critical legal studies, semiotics is not an overtly political or transformative discipline, but constitutes a necessary part
of the effort of any such discipline.
45 Prof. S. Slembrouck, English Department, Ghent University, Rozier 44, 9000 Ghent (Belgium). “What is meant by
"discourse analysis"? (http://bank.rug.ac.be/da/da.htm)

C:\…\50065506.doc\1/22/11
8
8.1. Erving Goffman
8.1.1.Interaction order
8.1.2.Frame analysis
8.1.3.Footing
8.1.4.Face
8.2. Conversation analysis
8.3. Ethnomethodology
9. Acknowledgements

C:\…\50065506.doc\1/22/11
9

You might also like