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Tribunal de Justiça do Piauí

PJe - Processo Judicial Eletrônico

03/08/2020

Número: 0800190-95.2020.8.18.0051
Classe: PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL
Órgão julgador: Vara Única da Comarca de Fronteiras
Última distribuição : 05/06/2020
Valor da causa: R$ 2.057.882,54
Assuntos: Fornecimento de Energia Elétrica, Energia Elétrica
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Procurador/Terceiro vinculado
MUNICIPIO DE FRONTEIRAS (AUTOR) WELSON DE ALMEIDA OLIVEIRA SOUSA (ADVOGADO)
FELLIPE RONEY DE CARVALHO ALENCAR (ADVOGADO)
JOAO EVANGELISTA DE SENA JUNIOR (ADVOGADO)
EQUATORIAL PIAUÍ (REU)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
11095 03/08/2020 11:39 Decisão Decisão
798
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PIAUÍ
Vara Única da Comarca de Fronteiras DA COMARCA DE
FRONTEIRAS
Avenida José Aquiles de Sousa, 665, Centro, FRONTEIRAS - PI - CEP: 64690-000

PROCESSO Nº: 0800190-95.2020.8.18.0051


CLASSE: PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL (7)
ASSUNTO(S): [Fornecimento de Energia Elétrica, Energia Elétrica]
AUTOR: MUNICIPIO DE FRONTEIRAS
REU: EQUATORIAL PIAUÍ

DECISÃO

Trata-se de ação ordinária para declaração de nulidade e cobrança


de obrigação de fazer e não fazer cumulada com pedido de tutela de urgência
inaudita altera pars aforada pelo Município de Fronteiras em face da Equatorial
Piauí Distribuidora de Energia S/A.
Aduz o autor, basicamente, que, no ano 2017, de firmou junto ao réu
termo de parcelamento de débito, originado por gestões passadas, no importe R$
2.057.882,54 ( dois milhões cinquenta e sete mil oitocentos e oitenta e dois reais e
cinquenta e quatro centavos), sendo que deste valor, R$ 849.966,28 (oitocentos e
quarenta e nove mil novecentos e sessenta e seis reais e vinte oito centavos) são
apenas de juros; que por não possuir conhecimento acerca da legalidade dos
valores cobrados, solicitou ao requerido demonstrativo analítico com a relação de
todos os débitos, bem como toda a documentação referente aos parcelamentos em
vigor, com o fim de ser realizada uma auditoria interna, mas que, até a data da
propositura da presente demanda, não havia tido resposta; que o réu começou a
debitar o valor do parcelamento na conta do autor antes que tivesse ocorrido a
aprovação legislativa, tendo em vista sua necessidade em decorrência do alto valor
cobrado.
Aduz, ainda, que o réu, na condição de distribuidora de energia
elétrica atuante no Estado do Piauí, procedeu à suspensão do serviço prestado ao
Sede da Prefeitura, a qual alberga diversas Secretarias Municipais, ou seja, no
núcleo administrativo financeiro da municipalidade, em razão da existência de
faturas mensais de fornecimento inadimplidas.
Sustenta que a postura do réu configura ilegalidade, pois o serviço
prestado pelo órgão atingido é essencial, especialmente diante da calamidade
decorrente da pandemia de COVID-19, que nos assola a todos, inclusive os
pequenos municípios, de já limitada arrecadação nos momentos de normalidade.

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Requer, com base nessas circunstâncias, a concessão liminar de
provimento jurisdicional que determine ao réu a suspensão dos débitos parcelados
nos Termos de Parcelamento de n° de n° 2017/09614, 2017/09608 e 2017/09610;
a apresentação de demonstrativo analítico com a relação de todos os débitos, bem
como todos os demais documentos necessários para a realização da auditoria; que
o réu se abstenha de inscrever a requerente nos cadastros de inadimplentes em
decorrência dos débitos aqui discutidos e o restabelecimento do fornecimento de
energia elétrica na Prefeitura de Fronteiras, Secretaria de Educação, quadra de
esportes situada na Rua Ezequiel Batista, Estádio Pinheirão, Ginásio Poliesportivo
Municipal, bem como em todos os locais vinculados à administração que estejam
com o fornecimento de energia suspenso, ao fim, que seja reconhecida e imposta,
em definitivo, as aludidas obrigações de não fazer e não fazer. Juntou documentos.
Vieram os autos conclusos para apreciação do pedido de urgência.
É o relatório.
As tutelas provisórias podem ser de urgência (satisfativas ou
cautelares) ou de evidência (sempre satisfativas), nos termos do art. 294 do CPC.
Na primeira hipótese, é necessário demonstrar a probabilidade do direito e o perigo
de dano ou risco ao resultado útil do processo (art. 300 do CPC); na segunda,
exige-se a demonstração de que as afirmações de fato estejam comprovadas (art.
311 do CPC). Presentes esses requisitos, é dever do juiz conceder a tutela
provisória.
No que diz respeito à tutela provisória de urgência - que foi requerida
neste caso -, é possível a sua concessão liminar (§ 2º do art. 300 do CPC) quando
absolutamente demonstrados o risco ao resultado útil do processo (ou o perigo de
dano) e a probabilidade do direito desde o início da demanda. Trata-se do
conhecido binômio fumus boni iuris e periculum in mora. Caso contrário, a
prudência recomenda que se aguarde o exercício efetivo do contraditório para que
se decida o caso, ainda que eventualmente se conceda a tutela provisória na
própria sentença, autorizando-lhe o cumprimento imediato.
Existe, ainda, um pressuposto específico das tutelas de urgência de
natureza antecipada: a sua reversibilidade, nos termos do art. 300, § 3º, do CPC,
segundo o qual “a tutela de urgência de natureza antecipada não será concedida
quando houver perigo de irreversibilidade dos efeitos da decisão”. Isso ocorre
porque esse tipo de tutela se dá mediante cognição sumária, de natureza precária,
fundada em análise de verossimilhança, de maneira que se exige a possibilidade
de retorno ao status quo ante para que se preservem os direitos da parte

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adversária.
Quanto a este último pressuposto, a doutrina e a jurisprudência
entendem que deve ser apreciado com temperamento, pois, se levada às últimas
consequências, pode conduzir à inutilização da tutela provisória satisfativa
(antecipada). Nesse aspecto, o Superior Tribunal de Justiça tem reiterado o
posicionamento segundo o qual a alegada irreversibilidade da tutela alimentar (por
exemplo) não configura óbice ao seu deferimento, pois se trata de bem jurídico de
maior dimensão a ser tutelado (por todos, Agravo em Recurso Especial nº
1.339.815/SP (2018/0195686-0), Rel. Marco Aurélio Bellizze. DJe 08.10.2018).
Pois bem, na situação dos autos, quanto à probabilidade do direito
da parte autora, apesar de não haver comprovação documental da alegada
suspensão do serviço de fornecimento de energia elétrica pelo réu, a inicial está
acompanhada de faturas que comprovam a existência de débitos a ser adimplidos,
na qual são listados outros inúmeros débitos. Nessas circunstâncias, é realmente
provável que o réu tenha efetuado o corte de energia elétrica nas unidades
indicadas na inicial ou esteja prestes a fazê-lo.
Além disso, é de conhecimento público que enfrentamos uma
absolutamente preocupante pandemia de COVID-19, que repercute em todas as
esferas da sociedade, inclusive sobre o papel do poder público e a
responsabilidade dos entes privados diante dessa calamidade. Prova disso é que a
própria Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) editou a Resolução
Normativa nº 878/2020, que, entre outras medidas, veda temporariamente a
suspensão do fornecimento por inadimplência de consumidores residenciais, tanto
rurais como urbanos, e de serviços essenciais, entre eles as atividades de
assistência social e atendimento à população em estado de vulnerabilidade
(Decreto nº 10.282/2020, art. 3º, II).
Mesmo a Resolução nº 414/2010 daquela agência reguladora,
editada fora do contexto de calamidade, estabelece exemplificativamente serviços
essenciais, cuja interrupção coloca em perigo a sobrevivência, a saúde ou a
segurança da população (art. 11), em relação aos quais não se pode exigir
garantia por inadimplemento (art. 127, § 1º) nem efetivar a suspensão do
fornecimento, mesmo em estabelecimentos privados, uma vez que a interrupção
do fornecimento de energia elétrica deve considerar o interesse da coletividade
(art. 6º, § 3º, II, Lei nº 8.987/95), devendo a distribuidora adotar outros meios para
a satisfação do débito.
Esse é o entendimento perfilhado pelo Superior Tribunal de Justiça,

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consolidado no acórdão proferido quando do julgamento do REsp 1359634/SP, no
qual o tribunal entendeu que “o corte de energia nas repartições públicas
municipais (prefeitura municipal, escolas, secretaria de saúde e de obras) e nos
logradouros públicos atinge serviços públicos essenciais, gerando expressiva
situação de periclitação para o direito dos munícipes”, o que vai ao encontro do
princípio da continuidade do serviço público. Nesse mesmo sentido, a decisão
proferida no REsp. 721.119/RS.
Diante desses fundamentos, defiro a parcialmente a tutela
provisória de urgência para determinar ao réu que restabeleça, no prazo de 12
horas, o fornecimento de energia elétrica nas unidades descritas na inicial, sob
pena de multa horária no importe de R$ 1.000,00 (mil reais), bem como que se
abstenha de suspender o serviço prestado àquele órgão até ulterior deliberação.
Quanto aos demais pedidos, a prudência, assim, recomenda a manutenção da
situação fática narrada nos autos até o julgamento dos pedidos em sede de
cognição exauriente, atendido o contraditório.
Intime-se urgentemente o réu para que dê cumprimento à presente
decisão no prazo fixado, podendo ser utilizado para esse fim qualquer meio de
comunicação idôneo, inclusive e-mail e aplicativo de mensagens eletrônicas, de
acordo com o disposto no art. 188 do CPC, especialmente diante da limitação
imposta sobre a circulação de pessoas em razão da pandemia de COVID-19.
Cite-se o réu para que ofereça contestação, por petição, no prazo de
15 (quinze) dias. Dispenso, nesta oportunidade, a realização de audiência de
conciliação, também em razão da calamidade enfrentada no momento e de suas
repercussões sobre o serviço judiciário presencial.
Fronteiras, data indicada pelo sistema informatizado.
Thiago Coutinho de Oliveira
Juiz de Direito

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