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Faz algum tempo venho tendo ímpetos de revisitar alguns momentos de meu passado.

Não
que eu tenha 98 anos e esteja buscando reconstruir algo na linha da São Paulo da década de
20, diga-se de passagem. Falo aqui de coisas mais recentes, de minha infância e adolescência
nas décadas de 70 e 80. Música, literatura e cinema são, em geral, meu alvo principal, pelo
gigantesco papel que tiveram em minha formação. Neste contexto, deu-me vontade de ouvir
novamente uma música que marcou minha primeira infância, um sucesso dos Originais do
Samba intitulado “A Dona do Primeiro Andar”. Não vou entrar em detalhes: se você está
beirando ou já passou dos quarenta, sabe do que estou falando; caso contrário, não
adiantaria explicar.
O caso é: onde encontrar uma gravação original dos caras? O disco onde esta música foi
inicialmente gravada chama-se “Alegria de Sambar”, e é um vinil de 1975 que não saiu em
CD. Que loja em sã consciência carregaria um encalhe desses em seu estoque? Pois não é que
o disco é comumente encontrável em sites tais como o MercadoLivre, e bem baratinho?
Pois é, em linhas gerais é exatamente sobre esse tipo de fenômeno que fala A Cauda Longa -
Do Mercado De Massa Para O Mercado De Nicho, de Chris Anderson, ex-jornalista do The
Economist e editor da revista Wired.
A premissa básica do livro é de que a economia está mudando seu foco de atenção dos
blockbusters, isso é, dos mega-sucessos de massa, para os nichos de consumo. Dentro deste
conceito, a economia tradicional - mencionada pelo autor como “economia de escassez” -
começa a dar lugar para uma nova economia - a “economia da abundância”. No modelo
antigo, isto é, na economia da escassez, a produção e a distribuição de produtos custa caro, e
portanto, concentram-se os esforços em produzir e distribuir produtos com forte apelo
popular. Essa é a tal da economia de massa a que somos submetidos desde a Revolução
Industrial. Já que custa muito caro produzir e distribuir, produtos sem apelo popular custam
preço prêmio ou, no mais das vezes, simplesmente não são encontrados.
Já na economia da abundância, com custos reduzidos de produção e de distribuição, há
espaço para que os produtos afastados da “cabeça” da curva, isto é, os produtos que não são
mega-sucessos, tenham também o seu mercado. Como isso é possível? Anderson fornece um
mecanismo baseado em três pontos para este fenômeno:
1. A tecnologia faz com que vários tipos de produtos sejam mais fáceis e mais baratos de se
produzir (abundância na produção);
2. A tecnologia (a Web, no caso) faz com que o consumidor tenha acesso mais fácil a todos os
tipos de produto, e não mais apenas aos mega-sucessos;
3. A facilidade de busca e principalmente as recomendações fazem com que a demanda se
espalhe pela cauda da curva, não estando mais limitada à meia dúzia de sucessos estrondosos
que antes estavam disponíveis.
O conceito é facilmente aplicável a produtos da era digital, tais como músicas e filmes. Tanto
que as gravadoras e produtoras independentes - que há apenas uma década passavam por
dificuldades imensas para sobreviver - ressurgem com forças renovadas, impulsionadas por
consumidores dispostos a ultrapassar a escumalha dos sucessos do momento. Para tanto, há
hoje muito mais facilidade para se gravar uma música ou para se produzir um filme, uma vez
que a disponibilidade é muito maior de equipamento de gravação, filmagem e pós-produção.
O computador pessoal em seu estágio atual de desenvolvimento já possibilita que um usuário
qualquer se meta a gravar sua própria música e o resultado fica com qualidade muito próxima
a uma gravação de estúdio profissional.
Por outro lado, sites de comércio eletrônico disponibilizam o produto acabado de forma
ubíqua. É muito fácil encontrar músicas de todo o mundo para comprar na Internet, e o preço
é baixo, uma vez que podemos comprar músicas individuais (e não mais os CDs inteiros,
recheados de músicas menos interessantes que aquela que queremos escutar) e que o custo
de distribuição é zero, dado o fato de não haver circulação de mercadorias físicas: basta
apertar o botão de download e alguns minutos depois a música está em seu disco rígido.
O terceiro ponto é o sistema de recomendações que fatalmente se instala, uma vez que
temos uma vasta gama de opções e uma loja virtual com um gigantesco catálogo para
consultar. Todos gostamos de dar palpite e achamos que temos opiniões inteligentes e
importantes sobre os produtos que consumimos (e essa resenha é mais uma prova disso). O
fenômeno que podemos observar é a criação de uma rede de recomendações e
ranqueamentos que nos dá idéias sobre quão bom ou adequado ao nosso gosto é um
determinado produto. Listas de “os 10 mais [qualquer categorização que se queira criar]”
surgem para ranquear produtos, e recomendações tipo “leitores que compraram este livro
também compraram [título de um livro qualquer]”. Desta forma, vamos entrando em contato
com produtos antes desconhecidos. Novos gêneros musicais, novos autores literários, filmes
estrangeiros ou antigos que não tenham entrado no circuito comercial vão entrando em nosso
campo de visão, e mesmo que nunca venham a virar bestsellers, certamente gerarão lucro
para seus autores, uma vez que são centenas de milhões de consumidores potenciais no
mundo todo.
E é só para produtos digitais, tipo músicas e filmes? Não. Anderson cita, por exemplo, o caso
de um grupo de colecionadores de cartuchos de Atari, uma console do tempo de “A Dona do
Primeiro Andar”, citado no início desta resenha. Fora de circulação há uns 20 anos, o Atari
ainda tem um séqüito fiel, que consome cartuchos de jogos antigos e - pasmem - novos
também. Isso mesmo: a demanda por jogos fez com que um grupo de programadores passasse
a produzir jogos novos e a distribuir os mesmos em cartuchos que eles mesmos fabricam.
Neste mesmo contexto, produtos de nicho antes virtualmente impossíveis de serem
encontrados, hoje estão mais disponíveis graças à Web e aos vários sistemas de
recomendação. Quanto a esses sistemas, os blogs especializados são citados por Anderson
como tendo um papel primordial na disseminação de recomendações confiáveis.

E a Lei De Pareto Nesse Contexto?


A Lei de Pareto, ou lei 80/20 estabelece que 80% dos resultados vêm de 20% dos esforços
(sim, somos ineficientes desse tanto...). No fenômeno da cauda longa esta lei, um dos
alicerces do culto à eficiência do século XX, está finalmente sendo revogada. Aliás, esta
descoberta foi a inspiração do autor para seu artigo seminal na revista Wired em Outubro de
2004, que quase dois anos depois o levaria a publicar o livro A Cauda Longa. Em uma visita à
Ecast, empresa de venda de músicas pela Internet, Anderson descobriu que, contrariando suas
expectativas, não eram os 20% “mais” que geravam a maior parte dos lucros. Em função dos
desprezíveis custos de armazenamento (disco rígido) e distribuição (Web) das músicas,
impressionantes 98% das músicas geravam lucros consideráveis para a empresa. Pelo simples
fato de as músicas - por mais desconhecidas e direcionadas que pudessem parecer - estarem
disponíveis, pelo menos uma ou duas eram vendidas todos os meses. Multiplique-se este
baixíssimo volume de vendas (impensável nas prateleiras de uma loja convencional de discos,
aliás) pelas dezenas de milhares de consumidores que visitam a loja virtual todos os dias, e
eis aí um excelente negócio. Contudo, dizer que 98% dos produtos disponíveis em um catálogo
são vendidos uma vez ou outra não revoga Pareto de imediato, revoga? Não, mas o resultado
desta combinação de disponibilidade ubíqua com baixos custos de armazenamento levou a
Amazon a afirmar que algo entre 25% e 33% de suas vendas (um número revisado após a
publicação do livro de Anderson, que na edição disponível de A Cauda Longa inicialmente
oferece a impressionante marca de 57%) vem de livros “ranqueados” além dos 100.000
títulos. Para se ter uma idéia do que isso significa, 100.000 é a quantidade de títulos
tipicamente disponível em uma grande livraria (no Brasil, a Siciliano e outras de porte
semelhante vêm à mente). Pela Lei de Pareto, 80% do lucro de uma livraria deste porte
deveria vir da venda dos primeiros 20.000 títulos, Contudo, em uma livraria digital (onde
colocar um livro na “prateleira” significa inserir seu título, autor, editora e foto da capa em
um banco de dados), mais de um quarto do lucro vem de livros que numa livraria não
estariam disponíveis nem por encomendas.
Outro exemplo dado é o da Netflix, um serviço norte-americano de aluguel de filmes pelo
correio que bem que poderia ser iniciado no Brasil por alguma alma empreendedora. Quando
observamos o negócio das videolocadoras, é fácil constatar que 90% do faturamento advêm do
aluguel de lançamentos. Os associados da Blockbuster, da 100% Vídeo ou da Mega Mil (para
citar também exemplos brasileiros) estão sempre ávidos pelos próximos vídeos a serem
lançados, e menos de dois meses depois destes lançamentos, os filmes são imediatamente
relegados a segundo plano. Nada mais comum que a banquinha de oportunidades numa destas
mega-locadoras, onde as cópias em excesso dos sucessos passados são vendidas a preços
menores que DVDs novos. Pois bem, no caso da Netflix, 70% dos aluguéis dos mais de 60.000
títulos (um número absolutamente impensável para uma locadora de tijolo e concreto) advêm
dos filmes mais antigos, já fora da categoria dos lançamentos há anos, ou mesmo décadas.

Apoiando-Se Nos Ombros De Gigantes


As idéias contidas no livro, se são bastante instigantes e muito bem argumentadas, não são
exatamente originais. De fato, em seu bestseller de 1980 A Terceira Onda, Alvin Toffler já
previa que a cultura de massa - essa que privilegia o blockbuster e ignora os nichos de
consumo - estava com seus dias contados. Toffler inclusive citava - quinze anos antes da
difusão da Web - que a informação é o recurso básico da nova economia. Eis aí a genialidade
de Chris Anderson e de seu A Cauda Longa: à moda de Isaac Newton, o autor se apóia nos
ombros de gigantes como Toffler, para enxergar mais longe e mais precisamente o mundo que
hoje nos cerca.

Como Entro Nessa?


A pergunta básica para quem lê o livro seria: muito bem, como faço para ganhar dinheiro com
essa tendência? O livro fornece uma resposta em duas partes que lembra muito o slogan de
“O Campo dos Sonhos”, filme de 1989 estrelado por Kevin Costner: “ifyou build it, theywill
come”. Segundo Anderson, as regras básicas para aproveitar a Cauda Longa são:
1. Torne seu produto disponível;
2. Avise os consumidores.
Isto é, produza, coloque à venda em alguma loja virtual e dê ciência aos consumidores -
através da própria loja ou de um dos vários sistemas de recomendação disponíveis - da
existência destes produtos. Com milhões de internautas mundo afora, seu produto pode não
se tornar o mais novo mega-sucesso mundial, mas certamente vai atrair a atenção de gente
suficiente para te trazer algum lucro.
Críticas ao livro
Alguns críticos levantaram suas vozes para desafiar os dados apresentados por Chris Anderson.
Alguns destes dados foram revistos (como no caso do número da Amazon mencionado acima).
Penso que se houve certo exagero na hora de falar sobre os benefícios proporcionados pela
cauda longa, isto não invalida o fato de que o livro fala sobre um fenômeno com potencial de
melhorar - e muito - o cenário da economia de pequena escala mundo afora. Não há como
negar que hoje há muito mais espaço para produtos de nicho que há poucos anos.
Outros dizem que apesar de falar em nicho, os exemplos dados de empresas que “balançam a
cauda longa” continuam sendo de mega-empresas tais como a Amazon, a eBay, a Netflix, a
iTunes, o Google e por aí vai. De fato, o potencial dos produtos de nicho continua nas mãos
de empresas grandes e de alcance mundial. Contudo, o livro aponta para a possibilidade de
indivíduos ou pequenas empresas locais aproveitarem ferramentas proporcionadas pela
tecnologia pra se inserirem no mercado mundial. É uma notícia fantástica a de que existem
consumidores não restritos pela geografia para produtos de uma pequena loja de artesanato
no interior do Tocantins. Para nós, brasileiros, tomar parte nesta economia já será um avanço
enorme.

Carlos Sena
Tecnologia, cozinha e cultura
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Sena
11/mai/07 23:08
A Cauda Longa
“A Cauda Longa” (Campus, 2006, 240 páginas), do editor-chefe da revista Wired,
Chris Anderson, é um livro essencial para quem quer entender o impacto nos negócios
causado pelas novas tecnologias, como os sites Web 2.0, as comunidades e os novos
dispositivos. O livro trata da transformação do mercado de massa, dominado por poucos
hits, para um mercado de inúmeros nichos e de micro-hits. O assunto foi abordado pela
primeira vez em um artigo do autor na revista Wired, em 2004, e é constantemente
expandido no blog The Long Tail. O livro é indispensável na estante de todos
envolvidos em negócios em geral e negócios na Web em particular, e pode ser
encontrado no original (Amazon) ou na excelente tradução em Português (Submarino,
Cultura, Fnac).
O livro começa mostrando como o mercado de hits está sendo destruído. Por várias
decadas o consumidor norte-americano, e por extensão o consumidor mundial, foi
induzido a direcionar seu consumo por “listas” de sucesso, por exemplo os Top 40 hits
do rádio. A introdução de novas tecnologias, como o iPod para o áudio, o TiVo para o
vídeo e as redes P2P para a troca de arquivos geralmente ilegal, contribuiram para a
decadência deste modelo. Como prova, apresenta as vendagens de discos e filmes, que
comprovam que os maiores hits de todos os tempos datam dos anos 70, 80 e no máximo
do começo dos anos 90.
No entanto, o autor ressalta que apesar da indústria colocar a culpa apenas na
“pirataria”, as novas tecnologias na verdade liberaram o usuário para embrenhar-se
pelos nichos e libertar-se da tirania dos hits. Ao se deparar com a infinidade de músicas
disponíveis no iTunes ou nas redes ilegais P2P, em lugar de consumir apenas os hits
ditados pelos produtores executivos das grandes gravadoras, os consumidores agora
podem aventurar-se por ritmos inusitados, bandas de garagem, trocar suas próprias
músicas. Os poucos mega-stars dão lugar a um sem fim de micro-stars, cada um com
sua pequena quantidade de “fãs”, e essas comunidades são impulsionadas pelos blogs
pessoais.
O nome do livro é tirado da curva de Zipf, de Pareto, 1/x, ou ainda conhecida como
Cauda Longa por sua forma. Esta curva representa a distribuição, ou as leis de força, de
vários fenômenos econômicos e em outros ramos da ciência, como a concentração
aproximada de 80% da renda de uma nação em 20% de sua população.

Outro exemplo é a venda de CDs de música, onde um determinado número de hits


concentra a maior parte das vendas. Até aí, nada além do senso comum. A constatação
de Chris Anderson, reforçada pelos depoimentos de executivos de empresas como
Netflix (filmes), Rhapsody (música) e Amazon (varejo), é que apesar da venda diminuir
drasticamente à medida que se avança no eixo, este valor raramente chega a zero. Como
o número de “não-hits” é enorme, a soma acumulada das suas vendas pode ser próxima
ou até mesmo superior à venda dos hits. Segundo o executivo da Netflix, 98% dos
filmes é alugado pelo menos uma vez por trimestre. Essa lógica é particularmente
interessante nos mercados de produtos totalmente digitais, como música, vídeos e
conteúdos em geral, pois o custo de armazenamento e reprodução chega a ser
desprezível.
O principal fator para a criação de mercados de Cauda Longa é a redução dos custos
para alcançar os nichos. Geralmente a redução dos custos se deve a três forças: a
democratização das ferramentas de produção (o que alonga a cauda), a democratização
das ferramentas de distribuição (o que horizontaliza a curva, pois aumenta a demanda
pelos nichos) e a ligação entre a oferta e a demanda (o que desloca os negócios dos hits
para os nichos).
As câmeras de vídeo, os softwares de blog, ou o acesso a telescópios potentes para
astrônomos amadores são exemplos da democratização das ferramentas de produção. O
talento não é algo abundante, mas a chance de se encontrar o talento aumenta ao se
aumentar o acesso às ferramentas. Outro fantástico exemplo é a Wikipedia, que apesar
de não ter a precisão da Enciclopédia Britannica, muitas vezes a supera pelo simples
fato de não parar de crescer e de se auto-corrigir. Muitos destes produtores não estão
preocupados com benefícios econômicos, criando-se uma economia da reputação, onde
o que importa é fazer algo grande e reconhecido, mesmo que seja em um nicho.
Pesquisadores da Universidade de Berkeley criaram um diagrama que mostra a nova
arquitetura de participação da Web. Podemos contrastar esse diagrama com o clássico
diagrama emissor-receptor, da arquitetura de broadcast.
A força da ligação entre a oferta e a demanda está nos filtros da cauda longa, que
assumem a forma das buscas do Google, das recomendações de outros consumidores da
Amazon ou as listas de best-sellers. Os filtros são uma forma da própria comunidade
separar o que é bom do que é ruim. Segundo a consultoria Frog Design, “estamos
saindo da Era da Informação e entrando na Era da Recomendação. Hoje, é
ridiculamente fácil obter informações[...] A coleta de informação não é mais a questão –
a chave agora é tomar decisões inteligentes com base nas informações… As
recomendações servem como atalhos no emaranhado de informações, da mesma
maneira como o dono de minha loja de vinhos me orienta entre as prateleiras de
obscuros vinhos franceses para que eu desfrute do melhor com as minhas massas”. As
listas “Top 10” não tem o mesmo valor, pois misturam conceitos e geram mais sucesso
para os hits. Por outro lado, as recomendações nos ajudam a tomar coragem de nos
aventurar por produtos desconhecidos.
Uma pré-concepção comum é que a Cauda Longa está cheia de lixo. Nos mercados
tradicionais, existem pré-filtros – como os produtores das gravadoras, os críticos de
música, as listas Top 10 – que limitam a quantidade de ofertas. Por exemplo, as
prateleiras das lojas de discos ou dos varejistas contém apenas uma parte dos títulos de
discos existentes. Nos mercados de Cauda Longa, o que vale são os pós-filtros – como
as recomendações, votações dos usuários, blogs – e a oferta é virtualmente ilimitada.
Dentro desta grande oferta podem ser encontradas verdadeiras pérolas, assim como
vários artigos da Wikipedia são brilhantes apesar de outros artigos serem pífios. No
entanto, o autor cita exemplos, como o da MP3.com, onde a baixa qualidade dos
conteúdos acabaram por destruir o conceito (o que realmente fechou a MP3.com foram
os processos sofridos quando o site começou a permitir o armazenamento de discos
comerciais por parte dos usuários. A MP3.com foi comprada pela CNET Networks e
relançada em 2003).
Alguns gargalos podem mascarar a Cauda Longa, como é o caso da distribuição. Por
exemplo, são produzidos cerca de 13.000 filmes por ano, no entanto no máximo 100
filmes tem viabilidade econômica no mercado americano para compensar os custos de
distribuição. Outros filmes, entre o número 100 e o número 500, conseguem alguma
projeção por causa dos festivais alternativos. Apesar da esmagadora maioria não
conseguir entrar nas salas de exibição, não quer dizer que todos eles são lixo, e talvez
encontrem eco em nichos se encontrarem meios de distribuição adequados. Outro
exemplo interessante vem da Barnes &Nobles, onde os 1,2 milhão de livros menos
vendidos representam 1,7% das vendas nas lojas físicas, mas representam 10% na loja
online.
O efeito básico da cauda longa é deslocar nossa preferência para os nichos, mas, à
medida que ficamos mais satifsfeitos om o que descobrimos é provável que
aumentemos nosso consumo, o que pode aumentar o tamanho do mercado total. Por
outro lado, a variação nos preços depende se a compra do produto é fruto do desejo ou
da necessidade. Por exemplo, livros menos procurados tem menos desconto na Amazon,
enquanto que os serviços de música online tendem a dar descontos maiores para albuns
antigos ou novidades obscuras. O iTunes, por outro lado acredita na simplicidade do
preço único.
É interessante notar que dentro da Cauda Longa podem surgir outras Caudas Longas
locais. Este efeito aplica-se dentro de sub-categorias, criando micro-hits, mas não tem o
efeito de tornar um micro-hit em um mega-hit. Por exemplo, uma música pode ser a
mais bem sucedida dentro do nicho de jazz afro-cubano, mas isso não é suficiente para
que ela seja considerada um mega-hit.
Outro fator interessante da Cauda Longa é o tempo. Um dos mecanismos usados pelo
Google para priorizar os resultados é a quantidade de links que remetem a uma
determinada página, ou seja, quanto mais popular e referenciada for uma página, maior
será seu peso na ordem dos resultados. As páginas perdem o efeito de novidade
rapidamente, mas por outro lado aumentam suas chances de serem referenciadas por ao
terem mais tempo de vida. Este conceito ajuda a encontrar a melhor página, que não
obrigatoriamente é a mais nova.
Apesar dos apelos da Cauda Longa, os hits continuam e continuarão a exercer uma
grande influência. Uma aposta radical na Cauda Longa pode resultar em fracasso, pois
os usuários não saberão por onde começar; ao aposta apenas na Cabeça, pode-se frustrar
a expectativa dos usuários de obter cada vez mais. O paradoxo do Wal-Mart é a fartura
e a escolha de suas opções, ao se considerar a média de 30.000 itens em uma loja, e por
outro lado a escassez nos nichos, ao dispor de cerca de 4.500 títulos de discos, enquanto
são lançados cerca de 30.000 novos álbuns por ano.
Os mercados de Cauda Longa prosperam excepcionalmente bem nos produtos virtuais.
Os bens físicos possuem limitações em sua classificação. Por exemplo, todos
hipermercados possuem suas prateleiras organizadas em uma determinada lógica; os
livros em uma biblioteca estão organizados segundo alguma taxonomia. Caso alguém
troque um produto de prateleira, ou guarde um livro em uma prateleira errada, aquele
item estará eventualmente perdido. Um bem físico não pode ser armazenado em
múltiplas categorias. Ao contrário, um bem virtual pode ser classificado em várias
categorias, ou mesmo em nenhuma categoria, esperando que os pós-filtros o
classifiquem. Outra diferença básica entre bens físicos e virtuais é a geografia, ou seja,
os bens físicos precisam encontrar consumidores locais.
Não só nos produtos virtuais, estamos experimentando uma explosão de variedade. O
autor cita, por exemplo, que em 2003 foram lançados mais de 26.000 novos produtos
alimentícios e domésticos. A abundância de variedades é interessante até um certo
ponto, quando passa a ser sufocante. Citando um artigo da Forbes, “ofereça aos clientes
abundância de escolhas, mas também ajude-os a pesquisar”. A tecnologia permite criar
pós-filtros eficientes para ajudar os clientes nesta pesquisa.
As mudanças da cultura de massa para a cultura de nichos é percebida de forma mais
drástica nos meios de comunicação. Enquanto os jornais foram o meio de notícias
proeminente até a década de 80, e as empresas de comunicação invadiram a Internet na
década seguinte, hoje qualquer pessoa dotada de um computador pode escrever e ser
lida por qualquer outra pessoa no mundo. E por estas pessoas participarem efetivamente
dos nichos, muitas vezes elas possuem informações melhores do que os jornalistas.
Segundo Richard Posner, juiz e jurista, em uma resenha no New York Times, “o que
realmente incomoda os jornalistas tradicionais é que, embora os blogs isoladamente não
ofereçam garantia de exatidão, a blogosfera como um todo dispõe de melhor máquina
de correção de erros do que a mídia convencional”. O mesmo pode se afirmar na
comparação da Enciclopédia Britannica e a Wikipedia.
O extremo da personalização é o Daily Me, como imaginado por Nicholas Negroponte,
do Media Lab do MIT, um jornal pessoal totalmente alinhado com os gostos e
afinidades do leitor. A personalização extrema da informação pode levar à exacerbação
das diferenças entre os grupos, o radicalismo e à intolerância. Por outro lado, um mundo
de escolhas abundantes com filtros adequados leva a mais exploração, expandindo
horizontes. O autor crê que antigamente todos nós assistiamos passivamente à mesma
programação em massa da televisão, enquanto que hoje, cada vez mais, lemos o que
outras pessoas escrevem, interagimos on-line, expressamos nossas opiniões. Ou seja, se
perdemos em cultura comum, ganhamos em convivência, ainda segundo a lógica do
autor. A cultura de massa pode desaparecer, mas não a cultura compartilhada; nossa
cultura continuará tendo algo em comum com a de outras pessoas, mas não com a de
todo mundo.
Depois de analisar o impacto dos mercados de nicho no rádio e na mídia impressa, o
autor passa para a discutir o impacto na TV a partir do Google Video. Quando o livro
foi publicado, o YouTube ainda não havia alcançado a popularidade que tem hoje. A
grande quantidade de canais a cabo, principalmente nos Estados Unidos, ainda gera a
falsa impressão de que existe uma grande variedade disponível. Dispositivos como o
TiVo, que permitem gravar a programação, eliminaram a barreira do tempo e portanto
prolongam a prevalência da TV. No entanto, vários programas de televisão pela Internet
já atingem audiências semelhantes à da TV tradicional. A TV também pode se
beneficiar das novas tecnologias e encontrar nichos para a grande diversidade de
produção amadora ou com menor sucesso comercial. A questão dos direitos autorais é
um impecilho a esta evolução e precisa ser resolvida.
O autor também reflete sobre a duração do conteúdo para a TV, padronizado em
múltiplos de meia-hora, ou 22 minutos quando descontados os comerciais. A despeito
do padrão, os conteúdos existentes variam dos 3 minutos de um videoclipe a 3 horas de
um concerto, e com todas as durações intermediárias. Os esportes podem ser fatiados
em melhores momentos, últimos dois minutos, comentários, e assim por diante. Em
resumo, a padronização deixa de ser importante quando não se tem a ineficiência nos
canais de distribuição. O cinema sofreu uma mudança radical de consumo com o
lançamento do videocassete, quando passou de mídia empurrada (os filmes oferecidos
na TV ou no cinema local) para mídia puxada (o consumidor pode escolher o que quer
ver e quando quer ver). O que foi recebido com relutância a princípio, pois as pessoas
deixavam de pagar US$ 10 para ver um filme para pagar US$ 3 para alugá-lo, fez a
renda dos filmes disparar, pois se tornou acessível para milhões de consumidores.
O autor passa então a analisar empresas fora dos segmentos de mídia e entretenimento,
onde as vantagens da Cauda Longa parecem ser óbvias:
• O eBay, um site de leilões de produtos usados e de vendas para pequenos
comerciantes, explora praticamente todos os conceitos da Cauda Longa. O eBay
construiu um negócio que fatura US$ 5 milhões por funcionário, pois é um
modelo de auto-serviço, tanto para os vendedores como para os compradores.
Mais de 700 mil americanos declaram que o eBay é a sua principal fonte de
renda, enquanto que mais de 68 mil pequenas empresas dependem do eBay no
Reino Unido. Ou seja, o eBay é um agregador de pequenas empresas, tal como o
Wikipedia é um agregador de informações e a Netflix é um agregador de
conteúdo de entretenimento;
• A KitchenAid é um fabricante de eletrodomésticos e eletroportáteis conhecido
pela qualidade dos produtos, e também pela variedade de cores disponíveis.
Cada varejista expõe suas batedeiras em branco, preto e uma outra cor exclusiva
da sua rede, cores que podem ser azul-cobalto, tangerina e outras. Os
consumidores são atraídos pelas prateleiras coloridas, e no final acabam
comprando mais do tradicional branco, mas eventualmente também se
aventuram pelas cores. E apesar de conseguir encontrar seis ou sete cores nas
lojas físicas dos varejistas, podem encontrar cerca de 50 cores na loja on-line;
• A Lego possui duas faces bem distintas, a das lojas de brinquedos e a on-line. A
Lego fornece peças para adultos entusiastas, prototipistas e ferramentas. Cerca
de 90% dos seus produtos são encontrados exclusivamente na loja on-line, na
qual o modelo de estoques e distribuição é mais favorável para explorar os
nichos. Apesar de representarem entre 10% e 15% das vendas totais, as margens
de lucro são muito maiores pela eliminação dos intermediários. A Lego também
aposta na interatividade e customização, como no Lego Factory, um software
que permite montar virtualmente qualquer projeto e submetê-lo à fábrica. Depois
de algum tempo o cliente recebe em casa o kit com todas as peças necessárias
para montá-lo. É possível inclusive ver os modelos que outras pessoas criaram e
encomendá-los, e o autor receberá um pequeno royalty. Nas palavras de um
diretor da Lego, o que o iTunes faz com a música (ao permitir baixar faixas e
montar suas próprias listas), o Lego Factory faz para as pessoas que gostam de
construir;
• A Salesforce.com inaugurou o mercado de Cauda Longa de software. Depois de
lançar com sucesso sua solução de gestão de pessoal de vendas como um serviço
hospedado em seus servidores, em lugar de software a ser instalado nos
servidores do cliente, a Salesforce.com lançou uma plataforma de software como
serviços, para que pequenos produtores de software possam lançar seus produtos
em escala mundial;
• O Google inovou no modelo de propaganda. Em primeiro lugar, porque se
baseia em palavras-chave pesquisadas, e não em mostrar imagens em banners.
Depois, porque a maior parte da propaganda focaria na cabeça da curva, ou seja
nas palavras mais pesquisadas, enquanto o Google enxergou um mercado para
cada palavra possível. Os anunciantes são então vinculados às palavras para
terem seus links exibidos junto aos resultados, e num modelo de auto-serviço,
podem ajustar constantemente as palavras-chave e anúncios.
O autor então conclui com nove regras praticadas pelos agregadores de Cauda Longa
bem-sucedidos e com a Cauda Longa das Coisas de amanhã

Armadilhas Mentais

Todos querem ser estrelas

Todos estão em busca de dinheiro

Se não for sucesso é fracasso

O único sucesso é o sucesso de massa

Direto para o vídeo ruim

Autopublicação = ruim
“independente” não consegue fazer negócio

Amador = amadorismo

Baixas vendas = baixa qualidade

Se fosse bom seria popular

BLOGSFERA – empreendimento coletivo como se a REUTERStivesse 12


milhoes de repórteres, articulista e editorialistas, todos trabalhando sem
receber salário, para jornais gratuitos que não vendem propaganda, a custo
quase zero.

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