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Setor de alimentos avança em Rondônia

Desde a febre migratória gerada pela condição de nova Rondônia (Fiero), Euzébio Guareschi. "E vamos ganhar
fronteira agrícola, entre 1975 e 1985, o campo de Rondônia ainda mais competitividade com a intensificação do uso de
não vivia um período tão evidente de transformação de seu tecnologia". A chance para as outrora poderosas madeireiras
perfil econômico. Pouco a pouco, a geração de exportações, deve ser, segundo ele, a reestruturação do nível tecnológico e
empregos e impostos criados pelo segmento madeireiro está a verticalização da produção. O reflorestamento deve avançar
sendo substituída pela forte expansão da indústria de sobre o modelo lastreado no corte por manejo.
alimentos.
No segmento agrícola, a bonança também é visível. Mesmo
O esgotamento do modelo extrativista vegetal tem com uma área de 360 mil hectares, ou 7% inferior à safra
favorecido o avanço das indústrias de processamento da passada, o Estado produziu 767,5 mil toneladas de grãos
produção de leite, carnes, soja, milho, arroz e feijão. Entre (+2,2%) no ano-safra 2006/2007. Mais importante foi o
2001 e 2004, o PIB agropecuário teve crescimento médio de crescimento de 9,9% na produtividade das lavouras. Os
8,8%, chegando a R$ 1,5 bilhão. Os principais pólos são o avanços vêm de longe. Nas últimas seis safras, a produção de
eixo Ariquemes-Machadinho D'Oeste e Jaru-Ji-Paraná. O soja cresceu 655%, chegando a 277,5 mil toneladas no ciclo
setor responde por 15,3% do PIB estadual de R$ 9,74 2006/2007. Terceiro item da pauta exportadora do Estado, o
bilhões - apenas Tocantins (22,8%) supera essa grão rendeu US$ 55 milhões em exportações no ano passado.
participação no Norte.
Graças ao dinamismo das commodities, Rondônia registrou,
A indústria de transformação, sobretudo de alimentos e em 2006, a quarta maior variação nas vendas externas (52%)
bebidas, já responde por 23,7% do PIB do setor industrial do Brasil. No Norte do país, o Estado é hoje o maior produtor
rondoniense. O segmento cresceu, em média, 10,32% nos de café e o segundo maior de soja, milho, feijão e cacau.
quatro anos até 2004, segundo o IBGE. As madeireiras
Um diferencial de Rondônia está na sua privilegiada situação
ainda respondem por 25,2% da riqueza industrial. E a
sanitária, reconhecida internacionalmente como área livre de
produção moveleira, por outros 7,7%.
febre aftosa com vacinação. Atentos às oportunidades, os
Nos últimos cinco anos, entretanto, o número de madeireiras pecuaristas tiraram proveito das restrições sanitárias
minguou. O governo federal, que obrigava os posseiros a impostas a tradicionais Estados exportadores. Quando se
desmatar 50% das fazendas para conceder o título da terra compara os nove primeiros meses deste ano com o mesmo
na década de 70, passou a limitar a derrubada da floresta período de 2005, constata-se um consistente avanço de
aos 20% da área total de cada propriedade. O cerco legal e Rondônia no mercado externo.
as pressões ambientais resultaram na redução das
As vendas de carne bovina aumentaram três vezes e meia - ou
operações e na decadência da exploração desenfreada das
US$ 100 milhões. Em 2005, quando um foco de aftosa em
florestas do Estado. Das duas mil sociedades registradas,
Mato Grosso do Sul fechou mercados ao produto brasileiro, a
que chegaram a gerar 40% do PIB industrial e 90% das
participação do Estado nos embarques externos era de 1,5%.
exportações, sobraram apenas 600 empresas.
Neste ano, a fatia saltou para 5%, passando do oitavo ao
Para compensar a brusca mudança de padrões e exigências, quinto lugar no ranking nacional. Os pecuaristas ocuparam o
o Estado passou a viver um "boom" na indústria de espaço dos tradicionais Rio Grande do Sul, Mato Grosso do
alimentos. Entraram em operação 14 frigoríficos e 55 Sul e Pará.
laticínios na última década. Atraídas por incentivos fiscais e
Em meio à euforia do novo ciclo de efervescência econômica,
matéria-prima abundante, grandes indústrias como Bertin,
há quem veja limites para uma intensificação na exploração
Friboi, Minerva e Marfrig instalaram-se no Estado.
da terra. Arcebispo de Porto Velho, dom Moacir Grechi
E não deve parar por aí. Hoje, há quatro novos frigoríficos, reclama do legado do 2º Plano Nacional de Desenvolvimento,
dois laticínios e um curtume em construção no Estado. "O lançado em 1974 pelo então presidente Ernesto Geisel, que
nosso futuro está na indústria de alimentos, e não em outros transformou Rondônia numa fronteira agrícola
segmentos industriais", aposta o secretário estadual de incandescente. "A soja foi uma desgraça, a pecuária e a
Planejamento, João Carlos Ribeiro. "Seremos grandes extração de madeira também são ruins, uma praga", afirma
produtores de proteína e podemos dobrar a produção em ele, que desde 1998 comanda 11 paróquias e 600 igrejas do
cinco ou seis anos". Os produtores locais utilizam, segundo Estado. "A mudança [de padrões de exploração] vai levar
ele, apenas 40% das propriedades. "Está havendo uma tempo. Aqui, as forças da sociedade são menos críticas",
mudança no perfil do produtor com a agregação de mais compara dom Moacir, que, como bispo em Rio Branco (AC),
tecnologia, o que é uma demanda dos frigoríficos, por compartilhou os ideais dos seringueiros liderados pelo
exemplo", diz Ribeiro. sindicalista Chico Mendes.
Dona de um rebanho de 12 milhões de cabeças de gado, O consolo para os críticos do agronegócio ainda é o perfil
Rondônia produz 366 mil toneladas de carne. Em 2006, o fundiário do Estado, baseado em pequenas propriedades.
produto rendeu US$ 140 milhões em divisas ao Estado - ou Legado do modelo de colonização incentivado pelo Incra,
quase metade de todas as exportações. Maior produtor de 80% das 105 mil fazendas têm até 100 hectares. O presidente
leite do Norte e nono do país, o Estado registrou o recorde da Fiero afirma que 85% da pecuária é desenvolvida em
de 673 milhões de litros de leite no ano passado - 68% da áreas já desmatadas. Para Euzébio Guareschi, a falta de
produção foi exportada. apoio ao setor agrícola impulsionou os pecuaristas. Parece
que o novo modelo de desenvolvimento, mais marcado pelas
"A pecuária está mudando com o sistema de integração com
necessidades do mercado, tem levado a uma intervenção
a lavoura e o uso de subprodutos para alimentar o gado",
estatal mais próxima da realidade da região.
avalia o presidente da Federação das Indústrias de
Fonte: Valor Online - Mauro Zanatta em agosto-2008
http://www.sbcta.org.br/index.php?pag=300&id=2008-08-05%2008:56:20.892796&mes=08

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