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A VISÃO DE MUNDO DE UM POLICIAL

Em um dia agitado cheguei a atender trinta ocorrências. A maioria


delas são de menor potencial ofensivo: pequenas brigas, discussões,
usuários de drogas e pessoas embriagadas principalmente. Porém já me
deparei com assaltos em andamento, já cruzei com veículos que acabaram
de ser usados em crimes, suicídios, acidentes de trânsito com vítimas
dilaceradas, já vi companheiros mortos, serem presos e excluídos. Sempre
tentei encontrar em todas essas coisas um denominador comum, um
princípio que causasse todas elas. E encontrei: “Procurar nunca depender
da sorte”. Quem espera demais da vida, sem fazer por onde só tem
decepções. Por exemplo, quem bebe acha que nunca vai acontecer nada,
não vai ter cirrose, não vai se envolver em brigas, etc. Quem acelera
demais o veículo acha que nunca vai se envolver em acidentes. Quem
acha que a vida lhe deve muito, pode ficar desiludido. Achei por vários
anos esta teoria estar certa. Porém comecei a notar eventos trágicos que
aconteciam com pessoas que “faziam a sua parte”, diferente dos casos
acima, onde as pessoas assumiam o risco. E o que pensar então? Se fizer
errado as coisas acontecem, se fizer certo também? Correto. O erro está
em “bater no peito” e dizer “eu cuido, por isso não vai me acontecer
nada”. A confiança anula a percepção de outras coisas ruins que podem
acontecer. Por isso acredito que o melhor então é “procurar nunca
depender da sorte, dizendo que mesmo cuidando as coisas ruins podem
acontecer”. Até hoje essa teoria parece ser a melhor.

São inúmeros os tipos de ocorrências que podem haver, muitos


catalogados e modalidades novas de crime. Os delitos podem ser de ação
ou omissão, infrações, contravenções ou crimes. Podem ser consumados
ou tentados, dolosos ou culposos, simples ou qualificados. E também
tentei procurar um denominador comum entre eles. Cheguei a conclusão
de que “o respeito” faz a diferença entre sucesso e fracasso, progresso e
crime. Respeito a si próprio, não indo “na onda dos outros”. Respeito aos
outros, seus sentimentos, suas fraquezas, sua inteligência. Respeito às
forças da natureza, não construindo casas em beiras de rio e morros, não
exceder a velocidade, trafegar com veículo revisado, com pneus em bom
estado. Respeito às leis, que servem para suprimir interesses individuais
pelo do coletivo, visando harmonizar às relações interpessoais e propiciar
estabilidade à nação. Continua valendo aqui a máxima do primeiro
parágrafo: Fazer a sua parte sem esperar algo em troca, das pessoas e das
coisas.

Acredito que a base do respeito é a educação ou a religião. Prefiro a


religião porque ela é um tipo de educação mais abrangente. Por isso
tenho uma fé praticante, pois se Deus existe, como acredito, terei ao meu
favor muito mais do que só o “visível”, mas se estiver errado, não estarei
perdendo nada.

Ao lerem este artigo, alguns podem dizer que ele é muito defensivo,
mesmo a vida sendo inconstante e imprevisível. Concordo. A vida não
oferece estabilidade nem segurança, e o ser humano é inconstante. Mas a
estabilidade da vida advém do “controle visando o resultado”. Pois se
focarmos o resultados, procurando “controlar” o “inconstante”( não
muda-lo) para chegarmos ao objetivo, chegaremos a ele. Ilustrando isso,
não podemos obrigar ninguém a gostar de nós, mas poderemos dar bons
motivos para isso, e por aí vai.

Muitos culpam seus fracassos aos famosos “cinco minutos de bobeira”.


Muitos fazem coisas e depois se perguntam “por que eu fiz isso?”. Porém
a mente só pode dar aquela “dica” ou aquele “aviso” se tiver
conhecimento sobre um assunto, ou para aqueles que usam a fé, quando
dizem “Se Deus quiser não vou fazer nenhuma besteira”.

O ser humano na verdade é muito simples, mas não simplório, e deve


ser respeitado muito. E no meu ponto de vista vale a pena conhece-lo,
para não fazer só uma visita de viatura ao solicitante, mas para dar um
atendimento eficiente e satisfatório, e não apenas como um policial, mas
como um cidadão que presa o bem-estar do seu próximo.

Até uma próxima oportunidade.

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