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PROFETA ELIAS: fome e sede de estrada

“Cristo se fez Caminho para nossa peregrinação, a fim de que caminhemos


n’Ele”

A caminhada marca a vida do profeta Elias. Na Bíblia, a intervenção constante


da Palavra de Deus obriga
o profeta a sair do lugar onde se encontra para o lugar onde Deus
o quer (1Rs. 17,2;
17,5.9; 18,1.12.66; 19,7.11.15; 21,18; 2Rs. 1,3-15; 2,2-4; 5,6-11).
Elias deve caminhar. E invariavelmente a resposta é esta: “E Elias partiu e fez
como Javé tinha mandado!”.
Com efeito, desde o momento em que Elias se abriu à ação da Palavra, sua vida
é só movimento. Já não pode parar. Deve andar sempre. Sair de um lugar para
outro. Ele já não se pertence.
A Bíblia nos apresenta a imagem de um homem cuja vida se resume numa despedida contínua.
Um peregrinar constante em busca do que Deus queria dele. Elias viveu em estado de permanente êxodo.
Tudo isso fez com que ele acabasse sendo conhecido pelo povo como alguém totalmente disponível, que
a qualquer momento podia ser arrebatado pelo Espírito para realizar a obra de Deus (1Rs. 18,12).

De um lado, a Palavra que atinge Elias em todos os momentos da sua vida,


tanto nos momentos de clareza, de coragem e decisão, como nos momentos de
confusão, de desânimo e de desencontro.
De outro lado, o próprio Elias que parte e se abre, para que a Palavra tomasse
conta dele e o levasse por caminhos dos quais ele mesmo nem sempre
conhecia o trajeto e nem percebia o alcance.
A Palavra que o chama e convoca inicia nele e por meio dele um processo de
mudança e de transformação que atinge todos as dimensões de sua vida.
No seu caminho para a montanha de Deus, o Horeb (1Rs. 19,8), Elias se
encontra numa situação de der-
rota e de morte: é exatamente este o momento e o lugar onde Deus o atinge,
revelando-se na brisa leve.
A expressão “brisa leve” vem do hebraico “demanáh”, cuja raiz DMH, significa parar, ficar imóvel,
emudecer. A brisa leve indica algo, um fato, que, de repente, faz emudecer, faz a pessoa ficar calada, cria
nela um vazio e, assim, a dispõe para escutar; provoca nela uma expectativa.
A “brisa leve” não deve ser entendida no sentido romântico de uma brisa suave no fim da tarde mas sim no
sentido de algo que, de repente, fez desintegrar tudo que Elias tinha pensado e vivido até aquele momento.
Ela indica o impacto de algum fato que o obrigou a uma mudança radical e o levou a uma visão totalmente
nova das coisas.

Qual foi a “brisa leve” que de repente, provocou tudo isto na vida de Elias?
A voz de calmaria suave era o silêncio de todas as vozes!
Silêncio sonoro, música calada, solidão povoada!
Elias descobriu que a “brisa leve” é a noite escura da experiência
mística. É o sair de si para se encontrar. Ela derrubou tudo e
abriu espaço para uma nova experiência de Deus
que, aos poucos, foi penetrando na vida de Elias e o levou a redescobrir
sua missão como profeta.

S.Inácio também teve sua experiência de “brisa leve”.


A Autobiografia recorda este momento de “iluminação” dizendo que
“neste tempo Deus lhe tratava
da mesma maneira que um mestre trata a um menino, ensinando-o” (Aut. 27).
Isto é, a pequenez se apresen-
ta como o umbral do “conhecimento interno” dos mistérios da fé e do
encontro com o Deus peregrino.
A simplicidade, a pequenez expressam um estado interior que é a atitude do
coração em estado de receptividade e não de dominação. Extenuada a pulsão de
conquista, desde o profundo do ser vai-se abrindo a capacidade de acolhida.
Essa é a “pureza de coração” que permite ver a Deus.
Eis aqui uma das características desse “conhecer a partir do coração”: as
diferentes dimensões da pessoa ficam afetadas e unificadas. A ressonância e os
efeito que esse “ver com os olhos interiores” deixam em toda a pessoa
provocam alegria, intensa satisfação, paz profunda, consolação...
Este modo de viver é o que torna transparente a realidade e faz Inácio descobrir
a “presença de Deus em todas as coisas e todas as coisas em Deus”. Tudo é
“diafania” de Deus. “Esta diafania, essa transparência de Deus em todas as coisas criadas é
a que deslumbrou e desconcertou Inácio” (P. Kolvenbach).
A experiência do Cardoner está na base do carisma inaciano de ser
“contemplativos na ação”.
Na oração: Fazer memória das experiências de “brisa leve” já sentidas e saboreadas na vida.
“Quem pouco determina, pouco entende e menos ajuda” (S. Inácio): recordar
situações,
vivências, obstáculos... que lhe dificultam caminhar para a montanha de Deus.

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