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COTIDIANO: “sonhar” e “fazer”, intimidade com o sublime

“Eles não sabem que o sonho é uma constante da vida, tão concreta e definida
como outra coisa qualquer. Eles não sabem nem sonham que o sonho comanda
a vida,
que sempre que um homem sonha o mundo pula e avança como bola colorida
entre as mãos de uma criança” (Antonio Gedeão – Pedra Filosofal)

Nosso cotidiano, lugar onde se gesta a esperança, é um espaço de contradição.


Nele, o “fazer” e o “sonhar” se unem intimamente.
A plenitude da ação cotidiana não pode ser limitada por um fazer mecânico. O
significado de uma ação transformadora deve estar plenificado pelo sonho que
remove a apatia petrificante do cotidiano.
Nenhum projeto pode ser realizado se antes não for sonhado, desejado...
O fazer sem sonho conduz a uma realidade vazia de significação humana.
O sonho que deve ser sonhado no dia-a-dia é aquele que nos livra da domesticação imposta pela rotina.
É preciso quebrar a rotina que domestica.

Portanto, a vida autêntica não acontece fora do cotidiano, mas só a


cotidianidade poderá revelá-la.
O cotidiano não é uma decisão nossa, mas é uma marca natural de nosso modo
de ser no mundo; isto é, o cotidiano faz parte da estrutura de nossa natureza;
por isso, viver é ser impulsionado pelo cotidiano para o cotidiano.
Mas é a partir do cotidiano que irrompe-
mos rumo ao novo e ao revolucionário. É
nas entranhas do cotidiano que brotam as
grandes intuições, as experiências místicas,
a criatividade artística, os sonhos ousados....
Diante do nosso cotidiano podemos ter duas atitudes:
A 1ª atitude é determinada por um olhar imediato, próximo, de curto alcance. Esta atitude permite que,
nos desafios do dia-a-dia, sejam resolvidos aqueles problemas urgentes e não nos permitem
levantar os olhos para ampliar os horizontes.
A expressão mais forte deste olhar se enquadra na categoria intitulada rotina: de tanto ver
já não vemos. Perdemos, por força do fazer, a intimidade com o sublime; pela rotina nos
desvinculamos da vida que corre no mundo.
A 2ª atitude, movida por um olhar amplo e profundo, nos coloca no caminho do sonho. O cotidiano de-
volve-nos a intimidade com o sonho.
Rotina e sonho são, portanto, elementos diários do nosso cotidiano. Pela
rotina, a vida se fixa;
pelo sonho, ela projeta o seu ser-existir.
A rotina se completa no mero fazer, enquanto que o sonho movimenta-se na
linha do ser.
Os sonhos tem força de profecia; eles são o motor profundo da história, o meio
ambiente ideal para a criatividade. A história da humanidade seria diferente se
não tivessem existido os grandes sonhadores em vigília. Todas as grandes
iniciativas geniais foram longamente sonhadas por seus protagonistas.
“Nada é fixo para aquele que alternadamente pensa e sonha” (G. Bachelard).
Depois de conceber o sonho, acariciá-lo e dar-lhe vida na imaginação, é
necessário empenhar-se para levar o sonho à realidade. Certamente muitos
sonhos geniais foram ficando estéreis pelo caminho dos séculos, porque seus
protagonistas não se decidiram colocá-los em prática.
A vitalidade dos novos projetos, construídos a partir de um olhar profundo,
devem romper a domestica-ção imposta pelo cotidiano.
O fazer e o sonhar no ritmo do cotidiano precisam integrar-se na direção de
uma ação continuamente fecundada por uma inspiração criativa. Com isso o
“fazer” diário descobre a magia que motiva e dá sentido à nossa existência; ela
desperta em nós a paixão por uma causa, nos faz reconhecer a força do
“magis” que exalta a capacidade criativa em propor respostas ousadas diante
dos velhos dilemas, nos faz recuperar a fecundidade do mistério na vida,
abrindo-nos à transcendência...
Texto bíblico: Gen. 41,14-56

Na oração: Diante de Deus, deixar rédea solta aos sonhos, mesmo que possam parecer absurdos; quem sabe
se neles se esconde seu futuro, se em sua entranha há algum caminho novo ou uma resposta inédita.

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