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SEMIOLOGIA

> Introdução

Semiologia = discurso sobre o real (sinais que o ser humano utiliza para comunicar).

A semiologia é a teoria geral dos signos e da significação. Não há nada que não possa
ser estudado semiologicamente, não é possível não significar (tudo é interpretável).
Para Umberto Eco e Roland Barthes todo o comportamento é signo de si próprio.
Barthes afirma que tudo aquilo que “serve para” também “diz que” (tem uma faceta
de expressividade). Mesmo os comportamentos utilitários têm uma componente de
expressividade (ex. o vestuário expressa qualquer coisa sobre quem o veste). Todos
os objectos têm uma funcionalidade, mas não são exclusivamente funcionais, têm
uma componente expressiva; as coisas servem para alguma coisa mas também
significam alguma coisa (Valor funcional e valor expressivo).

> 4 Lógicas de Significação

Baudrillard defende que quando nos relacionamos com os objectos podemos


encontrar quatro lógicas de significações. Independentemente da qualidade e do
valor dos objectos, estas lógicas podem ser sempre aplicadas. Podem verificar-se as
relações com os objectos utilizando as várias lógicas em simultâneo:

1. Lógica funcional (ou de valor de uso): também designada lógica das operações
práticas ou lógica da utilidade, em que o objecto ganha estatuto de utensílio. O uso
funcional do objecto passa pela sua estrutura técnica e pela sua manipulação
prática.
Encaramos os objectos de acordo com a sua utilidade/finalidade (objecto enquanto
utensílio – servem para...); Ex: nome comum (um carro)

2. Lógica económica do valor de troca (ou de valor de mercado): perspectiva de


equivalência e de mercado (objecto enquanto mercadoria que possui um valor no
mercado); O factor dinheiro é tido em conta; Ex: nome comum (um carro)

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3. Lógica de troca simbólica: o objecto tem um valor simbólico (sentimental), deixa
de ter valor de mercado ou de utilidade (objecto como símbolo, dom ou dádiva); Ex:
nome próprio (o meu carro)

4. Lógica valor/signo (ou de consumo): também designada lógica de diferença, em


que o objecto ganha o estatuto de signo. Somente esta última define o campo
específico do consumo, fomentando a diferença e a gratificação individual. O objecto
do “consumo” passa pela sua marca que é uma espécie de nome de baptismo.
Determina que o objecto funciona em torno do seu valor significativo (única e
exclusivamente). Daqui resulta a importância das marcas, que vão representar tudo o
que o produto significa para nós. A sociedade funciona actualmente segundo esta
lógica. (Signos que dizem que...); Ex: marca (um BMW)

> Fronteiras da Semiologia

Fronteira entre comunicação e significação: permite-nos distinguir o campo da


comunicação do campo da semiologia. Para o campo da comunicação interessa o
processo de comunicação em si; o campo da semiologia estuda a pluralidade de
códigos em que as mensagens se realizam (o que está no interior do código e que
permite a construção de significações tão diversas). O campo da comunicação, em
termos de correntes artísticas, está mais próxima da filologia romântica do
simbolismo. A semiologia está mais próxima das correntes futuristas ou formalistas
( noção de obra aberta a um devir contínuo entre o espectador e os produtos, não há
separação entre a produção e a contemplação).

“Podemos olhar para esta relação de duas formas: pode-se tentar saber quem é o
sujeito (porque fez o quadro, quem visava atingir...) – quando se está a pensar assim,
estamos no domínio da teoria da comunicação (modelo de Lasswell –
emissor/mensagem/receptor), mas também se pode olhar para a acção e mesmo sem
saber nada do sujeito, ela existe. Aqui, podemos tentar saber as cores e formas
privilegiadas, ou seja, olha-se para o quadro enquanto obra. Aqui não se está no
âmbito da teoria da comunicação, mas sim na perspectiva da Semiologia (fosse quem
fosse que fez, tem determinada significação que está lá - aqui é só importante a
mensagem simbólica)”.

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Problemática do referente: o referente não tem nenhuma importância para a
significação, uma vez que a semiologia não se estrutura em função do referente. É a
sociedade que lhe atribui o seu próprio significado. O referente é, portanto, do
campo da cultura. Do ponto de vista da Semiologia da Significação o referente não
interessa porque para estudar a significação não é necessário um juízo de valor, nem
a existência das coisas do ponto de vista ético e estético ( a significação ganha o
significado que o ser lhe atribui). Aquilo que estrutura o signo é a configuração das
formas que o integram. Para a semiologia a significação esgota-se na relação entre
significado e significante. Por exemplo, temos signos sem referente, como é o caso
das figuras mitológicas (que não existem), mas significam (sereias, ninfas). Por outro
lado, existem signos com vários referentes (banco, vela). Para a semiologia interessa
que, pela mudança de um único elemento, possamos encontrar significações
diferentes (ex. GATO, RATO, PATO).

“Enquanto que na teoria da comunicação, existe uma preocupação com as condições


de produção, no caso da Semiologia existe uma preocupação com a obra,
independentemente das condições de produção. Por exemplo, o facto de um animal
se extinguir, como o dinaussauro, não extingue o signo”.

Referente: aquilo a que o signo se refere – é a própria coisa.

Fronteira metodológica: a pansemiótica é uma espécie de visão totalitária da


semiologia (“é impossível não significar”, “o Homem é um ser simbólico” – Umberto
Eco). O primeiro axioma da Escola de Palo Alto, afirma que é impossível não
comunicar. Só somos indivíduos inseridos numa sociedade a partir do momento em
que nos abstraímos e somos capazes de comunicar por signos/símbolos. Tudo o que
nos rodeia tem um carácter de significação. Para que haja relações entre os homens,
têm que haver signos que signifiquem. Esta capacidade de abstracção permite
relacionarmo-nos com os outros.

Existem 2 perspectivas:

> uma pansemiótica ontológica, na qual tudo deve ser estudado semiologicamente.
(só há fenómenos de significação - toda a experiência humana deve ser objecto da
semiótica);

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> uma pansemiótica metodológica, em que tudo pode ser estudado
semiologicamente. (mesmo que haja fenómenos que visem outros sentidos que não a
significação, estes podem ser estudados pela semiologia).

Fronteira regional: estabelece patamares de significação ou sem significação


(existem patamares de significação em zonas assignificantes, sendo que a única zona
não significante é a comunicação entre máquinas).

ideologia limiar superior ou supra-semiótico


signo campo semiótico
sinal limiar inferior ou infra-semiótico

Estas frontreiras são estanques, mas há situações da realidade em que o mesmo


fenómeno pode estar um pouco em cada zona. No entanto, ao nível do Signo/Sinal, a
fronteira não é tão clara.

Sinal: Região assignificante, nível dos comportamentos institivos e da comunicação


entre máquinas. É emitido por uma fonte de estímulo pré-codificado cujo efeito se
esgota completamente e linearmente na resposta ou reacção estritamente codificada
de um destinatário dentro de um sistema mecânico. Pode-se dizer, que a fonte já
tem as mensagens que vai emitir e o destinatário as respostas que vai dar (relação
estímulo-resposta). É informação quantitativa e calcula-se com base no logaritmo
binário. A probabilidade de um acontecimento acontecer é inversamente
proporcional à quantidade de informação.

Segundo Umberto Eco, temos 4 estruturas no campo do sinal:

1. Estamos ao nível do sinal sempre que existe uma fonte física de


acontecimentos possíveis. Onde um código seleccionou para nos comunicar
certos acontecimentos julgados pertinentes;

2. Estamos ao nível do sinal sempre que estamos diante de um aparelho


destinatário (máquina) que responde de forma inequívoca às mensagens
recebidas, como por exemplo, um computador;

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3. Sempre que estamos numa situação entre emissor e receptor existe um
código comum de signos (onde ABC, apenas significa ABC);

4. Sempre que as máquinas, quer emissora quer receptora, não podem pôr
em causa o código.

Campo Semiótico: é o campo que se situa entre os dois limiares. O campo da


semiótica tem como objecto de estudo as componentes expressivas ou significantes
das manifestações culturais. É o domínio do signo. Uma casa, um automóvel ou um
fato são autênticos objectos semióticos pelo facto de, a par das funções que
asseguram (habitação, locomoção, protecção do corpo), significarem nomeadamente
um determinado estatuto social, uma determinada concepção económica e estética.

São necessárias 4 modificações para passar do sinal para o nível do signo:

1. Sempre que a fonte passa a ser uma ser humano que associa em si a
qualidade de fonte e de emissor;

2. Sempre que o destinatário passa a ser um ser humano e não uma máquina;

3. Desde que exista uma pluralidade de códigos e desde que esses códigos
possam não ser totalmente comuns entre emissor e receptor;

4. Haja a possibilidade de o receptor e emissor ponham em causa o código.


Mas, mesmo que não o façam, tem a consciência que o podem fazer.

CAMPO DO SINAL CAMPO DO SIGNO

Comunicação linear Comunicação humana

Funcionamento mecânico (estímulo/resposta) Multiplicidade de códigos

Não existe interpretação Processo de interpretação

Campo infra-insignificante Discussão de códigos


(está aquém da significação) (campo da significação)

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Patamar ideológico: os signos possuem significação que pode não ser uma
significação literal, podendo assumir um sentido segundo uma determinada ideologia
ao atribuirmos ao signo um conteúdo diferente. O mito/ideologia está situado no
universo do saber do destinatário. Estamos também ao nível da linguagem
conotativa, ou seja, somos capazes de abandonar o sentido denotativo das palavras e
passamos para o nível da conotação. Por exemplo: através do signo leão, faço uma
determinada associação, todavia, o leão da Peugeot, tem uma outra forma, um
significado para além do significado “leão” real.

“Na zona supra-semiótica, qualquer signo pode ser “cheio” em qualquer altura com
outro significado – é o que a Publicidade faz muitas vezes, tentando através de uma
estratégia, com um determinado signo impor uma determinada marca”.

> O Mito para Rolland Barthes

O mito é um modo de significação. O mito define-se pela maneira como se enuncia.


Os mitos constroem-se com intenções, as ideologias criam-se tendo em vista um
efeito no destinatário. Não existem mitos eternos porque é a história humana que faz
passar o real à forma ao estado de fala, é ela que regula a vida e a morte do mito.
Há no mito dois sistemas semiológicos: um sistema linguístico, a língua (linguagem
objecto), a qual é apropriada pelo mito para se constituir e o mito ele mesmo (meta
linguagem).
Significante = SENTIDO + FORMA
O sentido é a face cheia, sendo o
termo final do sentido linguístico
– postula já um sentido. Por outro
lado, a forma processa-se através
do esvaziamento do termo
linguístico “face vazia”, e por
Mito é constituído por conseguinte através do sistema
inicial do sistema mitológico.

Significado (pode ter vários significantes), ou


seja, podem formar-se, alterar-se, desaparecer
(instabilidade)

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Significante Significado
SENTIDO CONCEITO

Face de expressão Face de conteúdo

(ste) (sdo)
Sentido Conceito

Signo
(Ste) (sdo)
FORMA CONCEITO
SIGNIFICAÇÃO

 O significante pode ser encontrado no mito sob dois pontos de vista: como
termo final do sistema linguístico e como termo inicial no sistema mítico. No
plano da língua, o significante chama-se sentido, no plano do mito chama-se
forma. O significado será sempre conceito. o terceiro termo é a correlação
dos dois primeiros: na língua é o signo, no mito é a significação.
 O significante do mito apresenta-se de forma ambígua é simultaneamente
sentido e forma, cheio de uma lado, vazio de outro. O sentido postula um
saber, um passado, uma memória, ideias; ao tornar-se forma, o sentido
esvazia-se, empobrece, a história evapora-se, nada mais resta do que a letra.
“O mito é uma fala roubada e restituída.”

Características do mito:

> Naturalização: a ideologia é naturalizada na medida em que o signo esconde que é


fabricado, assumindo as características do seu primeiro sentido;

> Generalização: aplicável a todo o real onde se naturalizou;

> Metaforização: processo de deslocação constante dos signos, passagem do sentido


literal para o segundo sentido;

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> Esvaziamento e deformação do signo: esvaziamento do primeiro sentido do signo,
ou seja, apesar de haver sempre uma ligação ao 1º sentido da palavra à um
esvaziamento do conceito. o signo é deformado no sentido em que a ideologia lhe
confere um sentido para além do 1º;

> Circularidade: a forma vazia circula e presta-se a ser preenchida por vários
conceitos que remetem sempre para a ideia original.

O mito baseia-se na linguagem corrente, na maneira a fazer passar por


“natural”, por “óbvio” valores “segundos” e “parasitários”.

“Um mito é um sistema de comunicação, uma mensagem. Tudo poderá ser mito?
Claro que sim. Qualquer objecto do mundo pode passar de uma existência fechada,
muda, a um estado oral, aberto à apropriação da sociedade, dado que nenhuma lei,
natural ou não, proíbe de falar das coisas. Uma árvore é uma árvore. Sem dúvida.
Mas uma árvore dita por Microu Drouet não é já, de todo uma árvore: é uma árvore
decorada, adaptada a um determinado consumo, investida de complascências
literárias, de um uso social que se acrescenta à pura matéria.

Nem tudo é dito ao mesmo tempo: certos objectos tornam-se momentaneamente


presos da fala mítica, desaparecendo depois, e outros tomam o seu lugar, acedendo
ao mito. O mito é uma fala escolhida pela história, não poderia surgir pela simples
natureza das coisas. Eis um exemplo: na capa da Paris-Match, vejo um jovem negro
vestido com uniforme francês a fazer uma saudação militar, com os olhos erguidos na
bandeira tricolor. Esse é o sentido da imagem. Mas, quer eu seja ingénuo ou não,
vejo bem o que ele me significa: que a França é um vasto império, a que todos os
seus filhos, sem distinção de cor, a servem fielmente sob a sua bandeira.

Sabemos agora que o significante pode ser encarado no mito sob 2 pontos de vista:
como termo final do sistema linguístico ou como termo inicial do sistema mítico.
Importa, pois, utilizar aqui dois nomes: no plano da língua, isto é, como termo final
do primeiro sistema, chamarei ao significante SENTIDO, e no plano do mito chamar-
lhe-ei FORMA. Quanto ao significado não há ambiguidade possível: manter-lhe-emos o
nome de conceito. O terceiro termo é a correlação dos dois primeiros: no sistema da
língua, é o signo, mas não é possível retomar esta palavra sem ambiguidade, dado
que, no mito (e essa é a sua principal particulariedade); o significante é já

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constituído pelo signos da língua. Chamarei ao terceiro termo do mito, a
SIGNIFICAÇÃO: a palavra é aqui tanto mais justificada quanto o mito tem,
efectivamente, uma dupla função: designa e notifica (faz compreender e impõe).

O significante do mito apresenta-se de modo ambíguo: é simultaneamente sentido e


forma, cheio de um lado, vazio do outro. Como sentido, o significante postula já uma
leitura, eu apreendo-o com os olhos (a denominação de leão, a saudação do negro).
No sentido encontra-se já construída uma significação, que poderia muito bem
bastar-se a si mesma, se o mito não a apreendesse e não fizesse dela, de um só
golpe, uma forma vazia, parasita. O sentido está já completo, postula um saber, um
passado, uma memória...
Ao tornar-se forma, o sentido afasta a sua contigência : esvazia-se, empobrece-se, a
história evapora-se, nada mais resta que a letra. O sentido controla todo um sistema
de valores: uma história, uma geografia, uma moral... A forma afastou toda essa
riqueza; a sua nova pobreza requer uma significação que a preeencha. Todavia, a
forma não suprime o sentido, não fazendo mais do que empobrecê-lo, afastá-lo,
mantendo-o à sua disposição. Julga-se que o sentido vai morrer, mas é uma morte
suspensa: o sentido perde o seu valor, mas conserva a vida, de que a forma do mito
se vai nutrir. É este interessante jogo de esconde-esconde (entre o sentido e a
forma) que se define o mito.

Um significado pode ter vários significantes. É o caso do conceito mítico: ele tem à
sua disposição uma massa ilimitada de significantes. Isto quer dizer que,
quantitativamente, o conceito (significado) é bem mais pobre que o significante.

Por mais paradoxal que isso possa parecer, o mito não esconde nada: a sua função é
a de deformar, não a de fazer desaparecer. Literalmente, o significado (conceito)
deforma mas não leva à abolição do sentido: uma palavra dará conta dessa
contradição: ele alinea-o. É que importa lembrarmo-nos de que o mito é um sistema
duplo, produzindo-se nele uma espécie de ubiquidade: o ponto de partida do mito é
construído pelo ponto de chegada de um sentido”.
Mitologias de Rollland Barthes

Três tipos de leitura/decifração do mito:

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1º Leitura do produtor de mitos (visão cínica): Se o significante estiver vazio, deixo
o significado (conceito) preencher a forma do mito sem ambiguidade, e volto a
encontrar-me perante um sistema simples; EX: Os publicitários  criam 2os sentidos
para significar algo, deixa o conceito preencher a forma sem qualquer ambiguidade.

2º Leitura do mitólogo (visão céptica/desmistificante): Se o significante estiver


cheio, e no qual distinga claramente sentido e forma (e por conseguinte, a
deformação que um faz no outro é visível para nós), destruo a significação do mito e
recebo o mito como uma impostura  visão cínica;

3º Leitor do mito (permite que o mito funcione): Enfim, se o significante do mito


for um todo inextricável de sentido e forma, recebo uma significação ambígua
(leitura ambígua que vivemos sem a preocupação de distinguir): respondo ao
mecanismo constitutivo do mito, tornando-me leitor do mito.

As duas primeiras leituras são da ordem estática, analítica, destruindo o mito. A terceira
leitura é dinâmica, consome o mito segundo os próprios fins da sua estrutura: o leitor vive
o mito à maneira de uma história (ao mesmo tempo) verdadeira e real. Naturalizando o
conceito, o mito transforma a história em natureza. O mito é uma fala inocente pois as
suas intenções estão naturalizadas

> O quadrado semiótico de Greimas

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Oposição de significações lógicas e como se articulam  relações de oposição e de
implicação. Aplicação a Revistas de Televisão (4 posições dos textos). Objectivo:
identificar abordagens diferentes do leitor; que leituras fazem as revistas da TV; qual
a relação com os leitores.

Distância Imersão
contradição
complementariedade

Recuo contrariedade Contacto

Distância:
- dar conta de tudo o que se passa na TV de uma forma abreviada; a revista não quer
que o leitor se esqueça de que não faz parte do universo da TV;
- afastamento dos actores da TV e o universo em que o leitor se movimenta >
preocupação das revistas em afastar os universos; convite a que o leitor tenha uma
panorâmica alargada, por meio de fornecer informação muito diversificada (saber
enciclopédico); muito televisivo segmentado, diversificado, povoado por pessoas de
diferentes áreas; dissecar o universo televisivo > confere ao leitor a visão de analista
laboratorial (distante, crítico); favorece ao leitor a análise e a compreensão do
universo televisivo; enquadra o leitor numa realidade múltipla (para lá do que se vê
no ecrã); prespectiva de um guia;

Imersão:
- fazer o leitor entrar no universo mítico, dos sonhos, da ficção; a revista convida o
leitor a participar na magia da TV; inserção no universo da crença e não da
racionalidade e da crítica; atitude da revista > trazer para o leitor um discurso que
transforma os actores de TV em seres superiores, objectos de culto/mito,
transportando o leitor para a utopia de existir uma personagem heróica (para quem
transferimos desejos e necessidades); revistas cujo objectivo não é a TV em si mas
que faz dos actores da TV o seu assunto principal;

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Recuo:
- pode ser observada em duas vertentes: 1. discurso icónico (quando o discurso
icónico da revista é de caracterização desmistificante das figuras televisivas; quando
há rubricas catalogadas em torno de diferentes assuntos); 2. redução da ilusão (do
mundo televisivo, colocando-o no universo dos valores sociais reais, partilhados e
pondo-a à luz das preocupações familiares

Contacto:
- anulação completa da fronteira entre o universo do leitor e o televisivo; procura
fazer o leitor sentir todas as vibrações do universo da TV; muitas vezes os jornais
também colocam-se no papel de mediador, para facilitar o contacto entre o leitor e
o universo TV.

> Afinal... o que é um signo?

“Quando Paulo, que olha para Ana, levanta a mão com o indicador apontado para
cima, e depois volta a mão para si dobrando o indicador, diz-se no uso normal (senso
comum) que Paulo está a chamar Ana. O signo descrito significa que Paulo deseja que
Ana se desloque até ele. Um signo é, portanto algo de perceptível que revela outra
coisa que, de outro modo, não seria revelada”.
Chaves para a Semiologia

Um signo é a unidade mínima de significação.

Um signo é algo que está por algo (por exemplo, o Sr. Silva encontrou a palavra que
está pelas dores que sente).

Na nossa vida utilizamos signos sempre em lugar de outra coisa. Logo, um signo é
aquilo que substitui qualquer coisa para alguém.

“O signo é usado para transmitir uma informação, para indicar a alguém alguma coisa
que um conhece e quer que outros também conheçam. Resta ainda acrescentar que
(por exemplo) o meu amigo só compreende o signo “espera um minuto” se falar
português; se por acaso, não conhecer a minha língua, receberá uma entidade sonora
indiferenciada, e assim não compreenderá o seu significado. Terá, pois de haver um

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código em comum e, por isso, uma série de regras que atribui ao signo um
significado. Um processo de comunicação em que não exista código, e em que não
exista portanto significação, reduz-se a um processo de estímulo-resposta. Os
estímulos não satisfazem uma das mais elementares definições de signos, a de que
ele está em lugar de outra coisa. O estímulo não está por outra coisa, mas provoca
directamente essa coisa. Uma luz muito forte que me obriga a fechar imediatamente
os ollhos é diversa de uma ordem verbal que me mande fechar os olhos. No primeiro
caso fecho os olhos sem reflectir, no segundo sou levado antes de mais a
compreender a ordem e por isso a descodificar a mensagem (processo sígnico) e
depois a decidir se hei-de obedecer (processo volitivo)”.

O Signo de Umberto Eco

> Tipos de Signos

Naturais: remetem para algo que existe naturalmente. Não têm emissor intencional
e são provenientes de uma fonte natural e são produzidos de forma espontânea. São
signos que geralmente interpretamos como sintomas (ex. grito de susto);

Artificiais: produzidos intencionalmente, ou seja, o representante é fabricado. São


produzidos com base em convenções precisas e existe sempre um emissor disposto a
criá-lo (ex. sinais de trânsito, palavras);

• Sinais linguísticos: representam a maior parte das componentes das mensagens


da semiologia linguística. São sinais de fala e sinais de escrita

• Sinais não linguísticos:

Olfactivos: possibilidade natural do Homem para sentir, codificar e identificar os


diferentes odores, atribuindo-lhes uma significação. Fundamentais para que os seres

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se relacionem. Houve a necessidade de socializar cheiros (o perfume é um odor
socializado);

Tácteis: as representações tácteis são das mais importantes para a construção do


indivíduo na sociedade (é através deste sentido que as crianças tem as primeiras
sensações). Permitem a diferenciação do contacto pelo toque, pela sensação. São, no
entanto, os menos utilizados culturalmente (os leteriros nas lojas com indicação
“Não mexer”;

Gustativos: são muito importantes nas redes de comunicação humana, pois,


enquanto come, o Homem racionaliza e culturaliza as suas impressões. Barthes
considerou as chamadas “unidades de gosto”, os gostemas;

Auditivos: é o sentido mais utilizado na hierarquia sensorial humana, a seguir à


visão. Existem 3 tipos de comunicação auditiva: fenómenos selvagens (não querem
dizer nada mas têm uma significação própria) sons naturais (constituem uma rede de
comunicação auditiva e fornecem informação na vida de todos os dias, são ruídos que
nos rodeiam e que podemos gravar e, portatnto, culturalizar) e sonoridades culturais
(são produzidos pelo Homem com diversas finalidades de comunicação). Também ao
nível do som houve uma socialização (ex. música)

Gestuais: a linguagem gestual encontra-se na esfera da linguagem verbal e os gestos


são uma importante fonte de signos. Gestualidade funciona sobretudo em
substituição de certas palavras.

> Fenómeno Natural: as dores do Sr. Silva.

> Fenómeno Cultural: dar o nome às dores.

Segundo Umberto Eco, as palavras que o Sr. Silva usa não são a dor, mas estão no
lugar dela, da mesma forma que “as dores estão por aquilo que ele sente”.
Denominando a dor que sente, ele culturiza-as, torna-as naquilo que é comum a
todos (a dor passa a ser socialmente entendida).

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> O signo em Saussure

Conceito: significado

Signo: é como uma folha de papel, tem


frente e verso. Um não existe sem o outro.
Imagem Acústica: significante
(cujo sentido é dado por oposição a outros)

Saussure observa que seria ilusório acreditar que o signo linguístico associa uma coisa
e um nome (tal como era concebido pela concepção tradicional da linguagem); a
ligação que o signo estabelece é entre um conceito e uma imagem acústica. A
imagem acústica não é o som em si mesmo, mas “a marca psíquica desse som, a
representação que dele nos é dada pelo testemunho dos nossos sentidos”. Em
relação ao significado é importante esclarecer que este não é uma “coisa”, mas sim
uma representação psíquica da “coisa”, ele é um conceito. O signo é arbitrário. Quer
dizer que não há nenhuma relação necessária entre o significante e o significado: o
mesmo significado “pedra” tem vários significantes, consoante a língua que estamos
a falar. Isto não quer dizer que os significantes sejam escolhidos arbitrariamente por
um acto involuntário individual e por conseguinte possam ser alterados de um modo
igualmente arbitrário. Pelo contrário, o arbitrário do signo é por assim dizer,
normativo, absoluto, válido e obrigatório por todos os sujeitos que falam a mesma
língua. A palavra arbitrário, sigifica imotivado, que quer dizer que não há nenhuma
necessidade real que ligue o significante e o significado.

Características do Signo:

Arbitrariedade: característica mais importante. Não existe uma motivação natural


entre o significante e o significado (convenção imposta pela comunidade linguística);

Linearidade do significante: segue uma ordem temporal, os signos ordenam-se com


um determinado linearidade. É através do encadeamento sucessivo das palavras que
se produz o sentido, ou seja, o sentido do signo diz respeito à forma material.

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Mutabilidade e Imutabilidade do signo: mutabilidade porque a língua vai evoluindo
mas lentamente. Todavia, o signo linguístico é imutável devido, principalmente à
quantidade ilimitada de signos (pode construir-se uma quantidade ilimitada de
palavras), à complexidade de articulação dos signos (regras gramaticais), bem como
na resistência da comunidade linguística à mutabilidade.

“O signo para Saussure é uma entidade de duas faces. O signo é arbitrário, daí
resulta que o elo do significado “árvore” com a própria fonia, também é arbitrário,
isto é, não é motivado por qualquer razão natural ou lógica. É por isso que Saussure
rejeita, o termo símbolo dentro da sua teoria de signo. Para ele, o símbolo nunca é
completamente arbitrário, ele não é vazio. O símbolo da justiça, a balança, não
podia ser substituído por qualquer outro, por exemplo por um carro. Para o autor, o
signo é arbitrário e imotivado.

Suponhamos o signo boi (“bouef”), uma vez que é o exemplo escolhido por Saussure.
Um boi que vejo no campo a pastar, ou a carne de boi que pretendo comprar. O
termo boi impõe-se (a todos os sujeitos falantes) pelo facto de a comunidade ter
estabelecido através do português, que oferece aos seus utentes o significado –boi-
para se referir a estas 2 realidades relatadas. Neste âmbito, o locutor não pode
escolher dizer outra coisa se pretende fazer-se compreender. Do ponto de vista dos
indivíduos da língua portuguesa, o signo boi (significado e significante em bloco), é-
lhes imposto de certa maneira institucionalmente, tal como a circulação no lado
direito da estrada. Ora, esta instituição é arbitrária, no sentido de que não é a
natureza das coisas que o impõe, mas certas convenções: haveria também boas
razões para se circular pela metade esquerda da estrada (e é o que se faz,
institucionalmente em outros países). Mas o que não se pode fazer é infrigir a regra
própria da comunidade, onde nos inserimos. Assim, na comunicação o indivíduo, deve
(quer queira ou não) submeter-se a este arbitrío, a esta convenção”.

Chaves para a Semiologia

“O signo linguístico une não uma coisa e um nome, mas um conceito e uma imagem
acústica. Esta última não é o som material, puramente físico, mas a marca psíquica
desse som, a sua representação fornecida pelo testemunho dos sentidos. É sensorial,
e se por vezes, lhe chamamos material é neste sentido, e por oposição ao outro
termo da associação (o conceito) geralmente mais abstracto.

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O carácter psíquico das nossas imagens acústicas surge bem claro quando observamos
a nossa própria linguagem. Sem movermos os lábios nem a língua, podemos falar
conosco ou recitar mentalmente um poema.

O signo linguístico é, pois uma entidade psíquica de duas faces – conceito/imagem


acústica -. Esta definição levanta um importante problema de terminologia.
Chamamos signo à combinação do conceito e da imagem acústica; mas, no uso
corrente este termo do signo geralmente só é imagem acústica. A ambiguidade
desapareceria se designássemos o conceito (por significado) e a imagem acústica (por
significante): estes novos dois termos tem a vantagem de marcar a oposição que os
separa entre si e que os distingue do total de que fazem parte.

O signo linguístico, assim definido possui duas características primordiais:

- arbitrariedade do signo, a ideia de “pé” não está ligada por nenhuma relação à
cadeia de sons [p] + [e] que lhe serve de significante. Podia ser tão bem
representada por qualquer outra. Provam-no as diferenças entre as línguas (“foot”
em inglês, “pied” em francês e“pie” em espanhol). A palavra arbitrário exige
também uma precisão. Ela não deve dar a ideia de que o significante depende da
livre escolha do sujeito falante (não está no poder do indivíduo alterar o signo, desde
que este tenha sido aceite por um grupo ou comunidade linguística).

- linearidade do significante, o significante, porque é de natureza auditiva,


desenvolve-se no tempo e ao mesmo tempo vai buscar as suas características: i)
representa uma extensão; ii) essa extensão é mensurável numa só dimensão; é uma
linha”.
Curso de Linguística Geral de Ferdiand Saussure

> O signo em Peirce

Pierce concebe como teoria geral do signo, a semiótica que considera uma doutrina
quase necessária ou formal. Saussure enfatiza a função social do signo enquanto que
Pierce enfatiza a função lógica.

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O signo, diz Peirce, é aquilo que substitui qualquer coisa para alguém. O signo dirige-
se a alguém e evoca para ele um objecto ou um facto na ausência destes. Por isso,
dizemos que o signo significa “in absentia”, isto é, em relação ao objecto presente
que ele representa, o signo parece estabelecer uma relação de convenção ou de
contrato entre o objecto material representado e a forma fónica representante. O
signo, inserido num processo vasto, é aquilo que utilizamos sempre que queremos
transmitir a alguém, algo que conhecemos e queremos que os outros conheçam.

O real é “tudo o que se nos apresenta directamente ao espírito sobre o qual


formulamos pensamentos e ideias e que se mantém inalterado, independentemente
desses pensamentos.” O real representado nunca é todo o real porque o topos é
sempre maior que o logos: qualquer signo é sempre uma representação
contextual/parcial do real.

A teoria dos signos de Peirce é essencialmente lógica. Segundo Peirce, o signo é o


resultado da acção entre 3 elementos que correspondem à primeidade
(representamen), à segundeidade (objecto) e à terceidade (interpretante). Segue
então um raciocínio triádico:
Objecto

Geração contínua de novos


signos (é teoricamente infinito)

Representamen Semiosis
Interpretante
ilimitada

Representamen, é um “aliquis”, ou seja, está em lugar de qualquer coisa, que é o


objecto (não é só o som, sendo algo mais alargado). Funciona sempre em ausência e
dirige-se a alguém (corresponde à ideia de significante em Saussure); Face expressiva
do signo: potencialidade de ser signo; qualidade mais visível do signo; O
representamen é uma ideia de primeidade.

Objecto, é aquilo que o signo representa – é a componente expressiva do signo. É


aquilo que o signo contém. Domínio conceptual e imaterial. O objecto é uma ideia de
segundeidade.

18
Interpretante, estabelece a relação entre objecto e representamen. Signo
equivalente ou mais desenvolvido criado na mente da pessoa que recebe o signo. O
interpretante é uma ideia de terceidade.

Signo e representamen são a mesma coisa?

O representamen acaba por funcionar como sub signo, visto que pode vir a tornar-se
um signo, mas que é independente da sua materialização como signo. É o que é pura
qualidade, é o que está por alguma coisa. Ganha significação a partir da interacção
com o objecto pelo qual está. O representamen é a face de expressão do signo.

> Teoria de Peirce

Universais: termo filosófico utilizado para designar conceitos ou ideias abstractas


que se aplicam a todos os indivíduos ou coisas de uma mesma classe. Na idade média
surgiu um conflito em torno da origem dos universais. Daí, surgiram as correntes
Nominalista e Realista. Peirce é realista, uma vez que defende que “Tudo é real”,
considerando que os universais são reais. Ex: Brancura – inclui tudo o que é branco.

- Moderado
Diferentes teorias Realismo
- Exagerado
das concepções dos
indivíduos
Nominalismo

Realismo Exagerado:
- posição de tradição platónica (v. alegoria da caverna);
- tudo é real;
- as nossas concepções da realidade são “ante rem”, ou seja, existem antes das
coisas, independentemente da nossa ligação directa e posterior com as coisas;

19
- os conceitos/concepções correspondem a uma realidade extra-mental. As
formulações surgem independentemente da experimentação;
- os universais existem antes das coisas; existem em si mesmos, separados dos
objectos;
- Esta posição pressupõe uma correspondência exacta entre realidade (mundo
sensível) e pensamento (mundo das ideias).

Realismo Moderado:
- os universais são “in rem”, os conceitos existem nas próprias coisas, concebemos as
coisas na medida em que a realidade nos permite conceber; as coisas não têm uma
existência separada da concepção;
- a noção de “imediatamente presente ao espírito”. Consciência das coisas: mesmo
aquilo que para nós é desconhecido já existe no nosso espírito como um elemento
real a ser conhecido;
- o desconhecido já é um conhecimento;
- os objectos não dependem da mente: “o real é aquilo que não é e que
eventualmente pensamos dele mas não é afectado por aquilo que possamos pensar
dele”
- os nossos pensamentos são constrangidos para algo que não depende dos nossos
pensamentos sobre isso;
- os pensamentos são influenciados por algo exterior à mente, que compele as
sensações, ou seja, pelo real (existem nas coisas e continuam a existir fora da
mente)
-o que está na mente só existe porque é afectado pelo que está exterior à mente;
- tudo o que concebemos na mente é real, mas a mente não influencia a realidade;
- “ a opinião humana tende universalmente a longo prazo para uma forma definida,
que é a verdade”  funcionamos por meio de crenças;

Nominalismo:
- os universais são apenas nomes que se aplicam às coisas, não são “ante rem” mas
“pos rem”;
- os conceitos são ideias que formulamos para conseguir denominar as coisas que já
existem;
- os conceitos são palavras vazias, meros nomes que servem para designar;

20
- Relativamente a realidades externas à mente, a solução nominalista menciona que
estas produzem sensações que podem ser incluídas sob uma concepção, contudo,
essas realidades externas não têm em si mesmas significados.

Teorias sobre o conhecimento:

Monismo:
- filósofos da natureza;
- uma única natureza como origem e causa de todas as manifestações;
- unidade básica primeira  átomos. Que se agregam para construir coisas diferentes
porque existem leis imutáveis que nos dizem como as coisas nascem, crescem e
morrem;
- visão una e unificada da evolução e criação;

Dualismo:
- devemos separar sujeito de conhecimento e objecto de conhecimento. Realidade
diferente de pensamento.

Continuismo:
- realidade e pensamento são indissociáveis  processo dialéctico;
- as coisas têm naturezas diferentes; o conhecimento é contextualista, dialéctico e
criativo;

A teoria de Peirce, caracteriza-se por ser continuista, realista e pragmatista:

• É uma filosofia continuista porque considera a realidade como um processo


criativo, dialéctico e contextualista. Considera que o pensamento não é uma
faculdade fora do objecto, coisa ou natureza a conhecer, mas sim um
processo criativo dentro do contexto das coisas e em continuidade com elas.
Não é o sujeito que possui o pensamento, o sujeito é que está no pensamento.

• É uma filosofia realista defende (ao contrário dos nominalistas) que a


realidade é tudo aquilo que nos é presente ao conhecimento, é tudo aquilo
que pertence ao espírito. Segundo Peirce, os objectos estão divididos entre
ficção de um lado e realidade do outro. A primeira só existe na medida em

21
que alguém a imagina, a segunda possui uma existência que é independente
da mente do sujeito, ou seja, o real não é afectado por aquilo que possamos
pensar dele, é exterior ao pensamento individual. Não há separação entre
“coisa pensamento” (ser na mente) e “coisa real” (ser fora da mente). Tão
real é a palavra “árvore”, como o seu desenho –ambos são vertentes do
mesmo real. O sonho é real, porque nós pensamos nele.

 É uma filosofia pragmatista porque considera necessário considerar os efeitos


prácticos das nossas concepções, já que o consenso (a verdade) passa pela
partilha de concepções. As verdades são apenas provisórias, passíveis de
serem destronadas por outras verdades. As verdades são, portanto para o
pragmaticista, crenças, convicções provisórias, que funcionam enquanto uma
validação posterior não as vier destronar. A teoria pragmática é uma teoria
racionalista da significação e não de validação da verdade (apenas procura o
caminho racional para chegar à verdade). O pragmatismo caracteriza-se por
ser um modo específico de pensar, sendo o concretamente observável
indispensável para a apreensão de significados e para testar crenças e ideias.
Pode também caracterizar-se por ser uma interpretação da vida em termos
evolucionistas, sendo a continuidade e o desenvolvimento postulados básicos
desta corrente

> Categorias Faneroscópicas ou Ceno-Pitagóricas (ceno = novo)

A noção de fenómeno será central em toda a sua reflexão. Todo o nosso


conhecimento provêm da percepção dos fenómenos. Todavia, para se demarcar da
proposta de fenomenologia de Kant, Peirce propõe o termo grego “phaneron”, sendo
assim a teoria dos phanerons a phaneroscopia. Por phaneron, Peirce entende a
totalidade colectiva de tudo aquilo que, de qualquer maneira e em qualquer sentido
que seja, está presente ao espírito. Tudo o que está presente no espírito é real.
Logo, o phaneron é real.

DIFERENÇA entre fenómeno e phaneron: no fenómeno há sujeito e tempo,


enquanto que o phaneron não implica tempo nem sujeito.

22
A teoria de Peirce é uma teoria de racionalidade e não de validação de verdade. É
uma teoria racionalista da significação e que importa é como se constrói uma
significação e não se essa significação é verdadeira ou falsa. Segundo Peirce, estamos
constantemente a construir valores verdadeiros, apesar da verdade ser algo que se
vai alterando com o tempo. O que importa é ver como funcionamos por signos, como
se constroem significações e como é que as verdades são construídas e revalidadas.

A ideia de 3 = ideia fundamental para percebermos a natureza da relação; o 3 é o


número máximo e mínimo para podermos dar conta da relação entre os fenómenos;
todas as nossa ideias podem ser reduzidas a 3 formas/modos: o 3 é o único número
apto a dar conta da relação entre os fenómenos.

Existem 3 modos de ser das formas do mundo:

- Ser da possibilidade (qualidade positiva)............................... PRIMEIDADE


- Ser da actualidade (facto actual).........................................SEGUNDEIDADE
- Ser da lei (que governará os factos do futuro)........................ TERCEIDADE

> PRIMEIDADE (firtsness)

É o modo de ser daquilo que é tal como é, positivamente e sem referência a qualquer
outra coisa. È a realidade antes da coisa (ANTES-RES). É a categoria da qualidade
pura, do que é imediato, não permitindo o uso do pensamento ou da percepção. Se
eu começo a pensar sobre ela, eu começo a fazer actualizações, ou seja, coloco as
coisas em relação, e assim as coisas deixam de ser puras. Logo, é a categoria do
sentir ou do sentimento, ou mais exactamente do pré-sentimento, do vivido não
reflectido nem mesmo sentido como vivido. O modo de ser vermelho, antes que
qualquer coisa fosse vermelho, era uma possibilidade qualitativa positiva. È uma
categoria abstracta da qual só temos ideia que existe quando se manifesta na
segundeidade.

> SEGUNDEIDADE (secondness)

Se a primeidade é a realidade antes da coisa, a segundeidade é a realidade na coisa (IN-


RES), aqui e agora (HIC ET NUNC). A segundeidade é a categoria da acção no estado

23
bruto, não reflectida mas vivida como tal. É a categoria da experiência, da luta e do
facto. Se a primeidade não precisa da segundeidade para existir, esta já requer a
existência da primeira. A ideia típica de segundeidade é a experiência de esforço
privado da ideia de objectivo. A experiência de esforço não pode existir sem a da
resistência, pois o esforço só é esforço em relação a algo que se lhe opõe, não
havendo terceiro elemento em causa. Esta precedência tem a ver com a natureza
puramente lógica da hierarquia entre as categorias faneroscópicas. É algo espontâneo e
resulta da experiência, que é construída através do “choque” (o confronto entre aquilo
que as coisas são e as suas próprias manifestações físicas). Pressupõe uma acção ou
reacção porque entra em confronto com a nossa consciência (também não existe razão).
Um tribunal pode pronunciar decisões e sentenças contra mim e eu posso estar-me nas
tintas, posso pensar que não passam de palavras ocas, mas quando sentir a mão do
polícia no meu ombro, começarei a ter o sentido da sua actualidade.

> TERCEIDADE (thirdness)

Categoria da lei, da síntese, das regras e da explicação. Não se trata apenas de


descrever os factos da experiência, trata-se de construir leis. Esta baseia-se na
racionalidade – é aquilo que é determinado por uma concepção prévia da sua
ocorrência (lei ou regra geral). A terceidade nunca é absoluta, é por natureza
relativa (e somente válida até ao aparecimento de outra mais consistente). Já a
primeidade e a segundeidade são absolutas. É a realidade depois das coisas (POS-
RES). É ao nível da terceidade que conseguimos o sentido das relações entre os
fenómenos (domínio da explicação). É aquilo que me leva a prever e a raciocinar
sobre as consequências de um determinado acontecimento. Hábito em relação ao
sujeito conhecedor , pressupondo a sempre a existência de um primeiro e um
segundo de cuja relação formula a lei ou hábito. Dá conta da relação entre uma
possibilidade de ser e um modo de ser actualmente existente, entre uma qualidade
pura e uma relação actual. Ou seja, a terceidade remete para o enquadramento de
algo, corresponde ao ser da lei que governará os factos futuros, isto porque após
experienciarmos muitas vezes dada situação passamos a prever o futuro, a
generalizar, por exemplo, eu sei que se tiver uma caneta na mão e se abrir a mão a
caneta cai, elaborei portanto uma teoria geral (lei).

24
Primeidade e a Terceidade são ambas categorias da generalidade, contudo enquanto
que a generalidade da primeidade é negativa porque ainda não se materializou num
segundo, a generalidade da terceidade é positiva permite-nos agir com base num
raciocínio formulado por experiências anteriores.

PRIMEIDADE SEGUNDEIDADE TERCEIDADE

Qualidade do sentimento Actualidade Nível de previsão

Não admite pensamento Experiência Categoria do futuro


Acontecimentos futuros
Consciência imediata Actualização das qualidades
governados por uma lei
Dimensão sintáctica Dimensão semântica Dimensão pragmática

s ã o c a t e g o r i a s l ó g i c a s e m a t e m á t i c a s

“Consideremos o amarelo.

Na primeidade, temos a noção de amarelo, como possibilidade, pois o amarelo existe


enquanto qualidade que podemos atribuir aos objectos, mas só quando manifestada.

Esta manifestação do amarelo já é a segundeidade, sendo a acção desta qualidade


sobre um objecto, ou seja, procede-se à actualização dessa qualidade – camisola
amarela. No entanto a noção de amarelo não sofre alteração depois de ser
materializada num objecto, continua a ser uma possibilidade.

Ao nível da terceidade, é já criada uma relação, ou seja, uma constatação do que é o


amarelo aplicado na camisola. Assim, toda a relação triádica autêntica implica
significação (nunca podem ser constituídas relações autênticas sem os três
elementos”.

Semiótica e Filosofia de Charles Peirce

“A primeidade é o que é primeiro: presente, imediato, fresco, novo, inicial,


espontâneo, livre, vivo, evanescente (assim que se pensa nele, deixa de existir,
desfaz-se) que toda a descrição que dele possamos fazer é falsa.

25
Dellede diz que a segundeidade é a categoria da acção no estado bruto (força e
resistência não reflectida, mas vivida como tal – aqui o indivíduo sente que está a
viver a situação, mas não reflecte como tal

A terceidade é aquilo que nos permite estabelecer regimes, organização. Em termos


psicológicos, é a categoria da consciência reflectida, que acontece quando o
indivíduo faz algo, tem consciência do que fez e reflecte sobre isso.”.

Semiótica de Charles Peirce

1 2 3

1 1.1- Qualidade potencial original 1.2 – Qualidade individualizada 1.3 – Ideia de Possibilidade
possitiva/possível ou actualizada monádica espírito capaz de pensar

2.1 – Qualidade relativa, 2.2 – Facto individual, 2.3 – Realidade ou actualidade


2
Qualidade veiculada pela dupla existente, diádico; pensada, experiência e
resistência/esforço Acção/reacção directa informação

3.1 – Hipótese possível de


3.2 – Processos triádicos; 3.3 – Pensamento mediador, lei,
3 explicação; Qualidade de
Raciocínio factual; execução continuidade, necessidade
pensamento ou
de uma intenção; condicional
representação, mentalidade

As categorias podem ser:

- Categorias autênticas (1.1 / 2.2 / 3.3)


categorias no seu sentido mais puro. Porque tanto a ideia como a natureza são iguais;
são aquilo que são (por exemplo, quando tiramos uma fotografia, aquilo que fica
gravado no papel, em princípio será uma fotografia que está parecida com o real:
logo, esta será uma categoria autêntica). Não necessitam de uma segunda ou
terceira.

- Categorias acrétivas ou acidentais (1.2 / 1.3 / 2.3)


a junção dos três acontece por acidente ou por acaso.
(1.2): corresponde à qualidade individualizada, à qualidade actualizada
(1.3): Corresponde à ideia de pensamento enquanto possibilidade.

26
Nestas duas primeiras categorias acidentais pensa-se na primeidade como parte da
segundeidade ou terceidade.
(2.3) Remete para a combinação de qualidade e informação, resultando o
pensamento enquanto segundo

- Categorias degeneradas (2.1 / 3.1 / 3.2)


a sua natureza devia ser uma, mas alterou-se. A junção não é por acaso, e o que
devia ser uma secundariedade, transformou-se numa qualidade.
Uma relação degenerada é um facto concernente a um conjunto de objectos que
consiste meramente num aspecto parcial do facto de cada um dos relatos ter a sua
qualidade, é uma relação de qualidades. (2.1) : qualidade essencialmente relativa,
dualidade veiculada na dupla esforço- resistência. Corresponde à categoria da
existência. (3.1) : forma mais degenerada da terceidade, é a categoria da
mentalidade. Corresponde à qualidade que consiste na forma como se pensa ou
representa algo, tal qual a qualidade de ser manifesta. É aquela em que somos
internamente compelidos a sintetizar ou separar sentimentos. (3.2): primeiro grau de
degeneração da terceidade. Remete para a intencionalidade e para a mediação do
processo triádico (relação existente entre R-O-I)

> Tricotomia de signos (como o signo é Triádico, tem de ter qualquer coisa das três dimensões)

1.1 – Qualisigno 1.2 – Sinsigno 1.3 – Legisigno 1ª tricotomia


R
(signo em si, qualidade) (existente/concreto) (lei geral) (dimensão
sintáctica)
O
2.1 – Ícone 2.2 – Índice 2.3 – Símbolo 2ª tricotomia
(signo em relação com o (relação existencial com o (relação existencial (dimensão

27
objecto, tem carácter em si objecto) com o interpretante) semântica)
mesmo)

3.1 – Rema 3.2 – Dicent 3.3 - Argumento 3º tricotomia


I
(interpretante, representa-o (representa-o como signo (representa-o como (dimensão
como signo da possibilidade) de facto) signo da razão) pragmática)

> 1ª tricotomia <signo em si>

Dimensão sintáctica: é a relação do signo consigo próprio. Nesta dimensão temos


todas as possibilidades de articulação e actualização da língua. São todas as
possibilidades do signo ser signo; é o signo como capacidade representação. Os
signos não são ainda completos, são fragmentos em relação ao Representamen.
Possibilidade de actualização em qualquer coisa (1.1), capacidade de ser em si
mesma qualidade (1.2), um existente concreto ou lei geral (1.3).

1.1 Qualisigno: é uma qualidade que é um signo. Não pode actuar como um signo
enquanto não se corporificar, ou seja, não pode funcionar como signo enquanto não
se actualizar num sinsigno. É um signo ao nível da possibilidade mas não funciona
como tal verdadeiramente. É a expressão pura da primeidade. Algo que se
presenciarmos num dia e num lugar será signo, potencialidade de representar (Ex:
qualidade de ser verde).

1.2 Sinsigno: coisa existente ou acontecimento real que é um signo. Só pode sê-lo
através das suas qualidades, são qualisignos materializados. Trata-se de um
acontecimento ou objecto individual (como uma palavra escrita nesta página). Torna
a qualidade visível; qualidades de representação dadas a algo, que ainda não sei o
que é (Ex: a qualidade circular; qualidade de ser verde numa nota de dólar).

1.3 Legisigno: é uma lei que é um signo. Todas as convenções são legisignos, mas o
contrário não é verdadeiro. Não é um objecto singular mas um tipo geral que será
significante. Todo o legisigno ganha significado por meio de um caso de sua
aplicação, que pode ser denominada de réplica. Cada ocorrência singular é uma
réplica, e esta é um legisigno. Desta forma, todo o legisigno requer sinsignos (mas
não sinsignos ordinários, uma vez que são ocorrências peculiares encaradas como
revestidas de significação). É a lei que confere significação à réplica.
Lei que é um signo; ganha significado por meio de um caso particular que é a réplica
(ocorrência singular da lei geral = sinsigno); a representação tem uma qualidade

28
geral; a qualidade pode ser estendida a outras realizações  possibilidade de
representar não apenas uma ideia num momento mas uma ideia em vários
momentos, desde que o signo seja igual àquele (Ex: qualidade de poder ser verde em
todas as notas de dólar).

> 2ª tricotomia <signo em relação com o objecto>

Dimensão semântica: consiste na dependência da relação do signo para com o seu


objecto. Corresponde à criação de sentidos – dimensão semântica. O signo é dado
pela relação com seu o objecto. O signo já não é uma qualidade mas sim uma
qualidade actual.

2.1 Ícone: signo que se refere ao objecto que denota, simplesmente por causa de
caracteres próprios que ele possuiria, caso existisse ou não efectivamente. É um
signo que se assemelha àquilo que significa (da mesma forma que a fotografia se
assemelha ao objecto fotografado). Todo o ícone contém sinsignos, porque
estabelece uma relação de semelhança. A única maneira de comunicar directamente
uma ideia, é por meio de um ícone. Um signo é icónico, na medida em que possui a
propriedade do seu denotado (um desenho, um diagrama e sobretudo, uma imagem
mental). O ícone não tem todas as propriedades do objecto denotado, senão
confundir-se-ía com ele. Trata-se portanto de estabelecer escalas de iconicidade.
(em Semiótica, este ano demos os 11 níveis de iconidade para uma imagem de J.
Aumont).
Remete para o Objecto em função de uma qualidade; parte do signo que se relaciona
com o Representamen em função de qualidades que o Representamen tem que
atribuo ao Objecto dessa representação; parcela de qualidade que está no Objecto; o
signo que se refere ao Objecto que denota características que possuiria quer existisse
ou não o Objecto que denota.

2.2 Índice: são signos que mantém com o seu objecto uma relação directa, contínua
e contígua (segundo Peirce). É um signo que se refere ao objecto que denota em
razão de ver-se realmente afectado por aquele objecto. Na medida em que o índice
é afectado pelo objecto, tem necessariamente alguma qualidade em comum com
este e é com respeito a essas qualidades que se refere aos objectos (o índice é único,
pois reenvia a um objecto no que ele tem de mais individual). Por exemplo, o fumo é
indíce de fogo, mas uma seta só é indice caso indique (verdadeiramente) o caminho.

29
Remete para o Objecto em função de uma presença; mais que manifestações de
qualidades, o signo possui essas qualidades, directamente afectadas pelo Objecto;
remete para o Objecto em função de uma relação de contiguidade física (remete
para algo concreto e não geral); natureza individual/particular  remete para
alguém, para alguma coisa.

2.3 Símbolo: signo que se refere ao objecto que denota por força de uma lei,
geralmente uma associação de ideias gerais que opera no sentido de levar o signo a
ser interpretado como referindo-se àquele objecto. É assim, ele próprio, um tipo ou
lei geral (legisigno). Assim sendo, actua através de uma réplica. O objecto a que se
refere também é de natureza geral. É então , um signo arbitrário, cuja ligação com o
objecto é definida por um lei/regra. O exemplo mais apropriado é o signo linguístico,
ou seja, toda a palavra, todo o signo convencional é um símbolo.
É motivado, imotivado e arbitrário; remete para o Objecto em função de uma ideia
ou lei geral; convenção que se estabelece e que faz com que um conjunto de ideias
gerais sejam despertas para essa mesma convenção: é por meio do símbolo que se
instituem ideias gerais; o seu Representamen é um legisigno  terceidade em termos
de Representamen e de Objecto; Experiência por referencia a uma lei previamente
definida. “Um símbolo é um signo que se refere ao Objecto que denota em virtude
de uma lei, não apenas é geral como o Objecto a que se refere é geral”.

“Quase todos os autores são unânimes em apresentar, como exemplo típico de


índice, o fumo –perceptível- que manifesta a presença ou a existência de um fogo
não perceptível, e toda a gente sabe que não há fumo sem fogo. Alguns poderão
argumentar que fumo e fogo são muitas vezes captados ao mesmo tempo. Observar-
se-á simplesmente que nesse caso, não se trata de um índice. O fumo só se torna
índice, a partir do momento em que o fogo ainda não se vê. Mas há realidades que
parecem manter-se sempre ocultas e que nós apenas conhecemos através de índices
que manifestam a sua existência, até ao dia em que o progresso científico e técnico
nos permitem atingir algumas delas. Um outro exemplo, de índice é o movimento em
que consiste em aproximar dois dedos aos lábios, como se segurassem um cigarro.

A maneira mais directa de fazer conhecer um objecto a outrem, consiste em


apresentar-lhe o próprio objecto, de modo que ele possa perceber pela vista,
ouvido, cheiro, gosto ou mesmo pelo tacto, tudo o que constitui a natureza desse
objecto. Á falta dele, podemos apresentar-lhe uma “imagem”, isto é, outro objecto

30
que se pareça tanto quanto possível com o primeiro e que atinja os sentidos da
mesma maneira. A este segundo objecto, chamar-lhe-emos em ícone. A mensagem
tipo icónica pode parecer a maneira mais verídica, e ao mesmo tempo mais directa
de comunicar uma experiência. Ele faz, de certo modo, participar nesta experiência;
mas evidentemente, a fotografia, por exemplo, só dá do objecto aquilo que pode ser
captado visualmente (faltando, os seus sons, os odores, os gostos...)

Qualquer palavra comum, como “dar”, “pássaro” ou “casamento” é exemplo de


símbolo. O símbolo é aplicável a tudo que possa concretizar a ideia ligada à palavra:
em si mesmo, não identifica essas coisas. Não nos mostra um pássaro, nem realiza
diante dos nossos olhos uma doação ou um casamento, mas supõe que somos capazes
de imaginar essas coisas e a elas associar a palavra

O ícone não tem conexão dinâmica alguma com o objecto que representa;
simplesmente acontece que as suas qualidades se assemelham às do objecto e
excitam sensações análogas na mente para a qual é uma semelhança. O índice está
fisicamente conectado com o seu objecto: formam ambos um par orgânico, porém a
mente interpretante nada tem a ver com essa conexão, excepto o facto de registá-la
depois de estabelecida. O símbolo está conectado a seu objecto, por força de uma
lei, sem a qual essa conexão não existiria”.
Chaves para a Semiologia

> 3ª tricotomia <signo em relação com o seu interpretante>

Dimensão pragmática: consiste na dependência do seu interpretante representá-lo


como signo de possibilidade, signo de facto ou signo de razão. Dá a relação do
interpretante relativamente à forma de significação. Corresponde à dimensão
lógica, pragmática que estabelece a relação 3ª do signo com o seu interpretante.

3.1 Rema: é um signo que, para o seu interpretante, é um signo de possibilidade de


interpretação. É um signo que, para o seu interpretante, é um signo de possibilidade
qualitativa, entendido como representando tal espécie de objecto possível. É um
signo que indica qualquer coisa, sem indicar o quê. Não é função do rema veicular
informação, mas pode vir a fazê-lo. Por exemplo, quando olhamos uma pegada na
areia sabemos que é sinal de que algo passou por lá, embora não saibamos identificar
quem foi. “Pura possibilidade de interpretar”.

31
3.2 Dicente: signo que, para o seu interpretante, é signo de existência
concreta/real. Não pode ser um ícone porque este não fornece base para a sua
interpretação como referindo-se a uma existência concreta. É aquilo que actualiza
uma hipótese, que pode vir a ser considerado verdadeiro ou falso (seria o olhar para
as pegadas na areia e saber se aquilo representava os pés de uma pessoa). Implica,
pois, necessariamente um rema para descrever o facto que ele indica. Interpretação
factual/concreta; o representamen está para aquele Objecto desta maneira;
associações que se podem afirmar ou negar;

3.3 Argumento: é um signo que, para o seu interpretante, é um signo de lei.


Tenderá sempre para a verdade. É real, na medida em que se apresenta ao espírito.
O argumento é o que permite “confirmar” o dicente – a interpretação feita do signo
(mesmo que não se confirme, continua a ser um argumento, podendo apenas ser ou
não válido). Por exemplo, vamos considerar uma seta. A seta é algo possível de
interpretação (logo um rema); se estiver um letreiro debaixo a dizer “saída”, existe
já uma interpretação desse signo (que passa a dicente ou dicisigno). O argumento
será a confirmação desse facto, a noção de que nessa direcção existe realmente uma
saída.
Lei; possibilidade de representar as coisas da mesma natureza; todas as vezes em
que o Objecto aparecer no Representamen desta forma/ em que um determinado
Representamen explica um determinado Objecto, gerando ideias; quando as
afirmações são válidas para a generalidade das pessoas; encarar o signo como signo,
com capacidade de auto-explicação; o signo terá sempre carácter de signo
independentemente do contexto; permite sob o mesmo signo gerar novas
interpretações; permite ter uma interpretação, cada vez mais próxima da verdade,
desencadeia o processo de interpretação de um modo infinito.

Réplica, é uma lei de carácter geral. Ela implica que todos os seus casos tenham que ter
um conjunto de características. Sempre que digo uma palavra, ela é uma réplica de um
legisigno. Uma nota de €5 é uma réplica de um legisigno, contudo, uma nota falsa de €5 é
uma actualização de um qualisigno.

32
> As 10 classes de signos

As 3 tricotomias de signos levam, no seu conjunto, a dividir os signos em 10 classes,


nas quais importará considerar numerosas subdivisões. Estas classes de signos devem-
se ao princípio da hierarquia das categorias. Existem 4 regras básicas:

- Todo o segundo pressupõe um primeiro;


- Todo o terceiro pressupõe um primeiro e um segundo;
- Um primeiro não pode, por si só, dar origem a um segundo e à posteriori, um
terceiro;
- Um segundo, por si só, não pode dar origem a um terceiro.

As classes de signos correspondem à primeidade, à segundeidade e à terceidade.

> Primeidade

I – Qualisigno icónico remático (1.1, 2.1, 3.1): é um qualisigno, uma qualidade, na


medida em que é um signo. Uma vez que é uma qualidade, não pode denotar um
objecto senão em função de um elemento comum. Assim, um qualisigno é
necessariamente um ícone. Uma vez que a qualidade é um simples possibilidade
lógica, ela não pode ser interpretada senão como signo de essência, ou seja, como
rema. O vermelho independentemente de como o vemos; domínio hipotético; o
Representamen remete para o Objecto em função de uma qualidade que o
Representamen tem e que o Objecto também pode ter. “Pura sensação de vermelho”
 só pode denotar um objecto em função de uma qualidade que seja a mesma. (só
existe ao nível teórico)

> Segundeidade

II – Sinsigno icónico remático (1.2, 2.1, 3.1): um sinsigno icónico remático é todo o
objecto da experiência, em que uma qualidade que este possui faz determinar a
ideia de um objecto. (som – uma qualidade presente que poderá vir a ser
interpretada) É um ícone de tudo aquilo a que se pode assemelhar. Só se pode
interpretar como um rema. É a materialização, possibilidade de actualização de um

33
qualisigno icónico remático. (ex. fotografia de uma pessoa que não se sabe quem é
ou um diagrama sem legenda, objecto de experiência na medida em que nos remete
para a ideia de um objecto, em função de qualidades que o objecto tem e que o
diagrama também tem.)

III – Sinsigno indicial remático (1.2, 2.2, 3.1): é todo o objecto da experiência
directa, na medida em que a atenção para um objecto é causa da sua presença (as
qualidades estão presentes). Remete directamente para o objecto que o afecta.
Implica um sinsigno icónico remático. Exemplo um grito espontâneo não foi pensado
(sinsigno), remete para a pessoa que gritou (índice) e remático porque há a
possibilidade de estabelecer relação entre alguém e o grito e interpretá-lo (pode ser
de medo, dor).

IV – Sinsigno indicial dicent (1.2, 2.2, 3.2): é todo o objecto da experiência directa
na medida em que é um signo que comunica enquanto tal a respeito do objecto.
Qualidades objectivas materializadas, manifestas num momento e lugar que o
afectam, dá uma informação concreta. É afectado pelo objecto, só dá informação
concreta, factual. Remete para um sinsigno indicial remático (ex. um cata vento, dá
sempre informação sobre o objecto – vento – mesmo quando está parado).

> Terceidade

V – Legisigno icónico remático (1.3, 2.1, 3.1): é qualquer lei ou tipo geral, na
medida em que exige que cada um dos seus casos incorpore uma qualidade definida
que o torne apto a despertar, no espírito, a ideia de um objecto semelhante. Sendo
um ícone deve ser um rema. (ex. negativo de uma fotografia, um negativo é
legisigno porque contém qualidades em função de uma lei geral que diz que qualquer
negativo pode dar origem a fotografias iguais  possibilidade de manifestar igual;
não é uma qualidade abstrata, o negativo lembra algo, é um ícone e sendo um ícone
é necessariamente rema).
Réplica: 1.2, 2.1, 3.1 (sinsigno icónico remático)

34
VI – Legisigno indicial remático (1.3, 2.2, 3.1): é qualquer tipo ou lei geral que exige
que cada um dos casos seja efectivamente afectado pelo seu objecto de maneira tal
a simplesmente atrair a atenção para aquele objecto, independentemente de como
tenha sido estabelecido.. O interpretante de um legisigno indicial remático
representa-o como um legisigno icónico. (ex. pronome demonstrativo ESTE. É
legisigno porque há uma lei geral – gramatical – que me diz quando é que devo
utilizar este pronome, é indicial porque é directamente afectado pelo objecto que
representa, remático porque permite várias hipóteses de interpretação, não sendo
exclusivo a um só objecto).
Réplica: 1.2, 2.2, 3.1 (sinsigno indicial remático)

VII – Legisigno indicial dicent (1.3, 2.2, 3.2): é qualquer tipo ou lei geral que exige
que cada um dos seus casos seja realmente afectado pelo seu objecto de maneira tal
que forneça informação relativamente àquele objecto. Deve envolver um legisigno
icónico para veicular a informação, e um legisigno indicial remático para denotar a
matéria daquela informação. (ex. um grito propositado ou a sirene de uma
ambulância) . É dicente porque é intencional, é legisigno porque há uma lei geral
que me diz que quando uma ambulância toca a sirene está em emergência, é indicial
porque remete para aquela ambulância específica).
Réplica: 1.2, 2.2, 3.2 (sinsigno indicial dicente)

VIII – Legisigno simbólico remático (1.3, 2.3, 3.1): é um signo relacionado com o seu
objecto por uma associação de ideias gerais e a sua réplica desperta uma imagem no
espírito, imagem esta que tende a produzir um conceito geral. A sua réplica é um
sinsigno indicial remático de tipo especial, já que a imagem actua, no espírito, sobre
um conceito já existente para dar surgimento a um conceito geral (ex. um nome
comum, legisigno porque é suficiente para poder incluir objectos de natureza
diferentes; simbólico porque o tipo de coisas que pode representar remete para o
objecto da concepção que faz com que se possa designar todo o tipo de coisas nesse
conceito; e remático pela hipótese de que a palavra se possa interpretar de qualquer
forma.) É simbólico porque estabelece uma relação com o objecto e com a palavra
em si. Pode ser utilizado em contextos diversos.
Réplica: 1.2, 2.2, 3.1 (sinsigno indicial remático, mas de tipo especial)

IX – Legisigno simbólico dicent (1.3, 2.3, 3.2): é um signo que se relaciona com o seu
objecto por uma associação de ideias gerais. É um símbolo dicente na medida em que

35
é realmente afectado pelo seu objecto. Assim, o interpretante contempla o símbolo
dicente como legisigno indicial dicente. (ex. um emblema do sporting – legisigno –
encerra uma ideia geral que dá a diferentes coisas a possibilidade de serem
representadas para um mesmo símbolo (leão); simbólico – tem um ideia
suficientemente genérica para encerrar diferentes coisas; discente – ideias para
representar o leão).
Réplica: 1.2, 2.3, 3.2

X – Legisigno simbólico argumental (1.3, 2.3, 3.3): o argumento deve ser um


símbolo, sendo símbolo deve ser um legisigno. (ex. Um qualquer jogo – legisigno –
representação de algo por meio de regras e associações; símbolo – atribuímos um
valor convencional a cada símbolo (regras/cartas); argumento – lei geral de
interpretação.)
Réplica: 1.2, 2.2, 3.2

NOTA: a última classe (dez) – Legisigno Simbólico Argumental, é também conhecida


de Argumento, porque se é terceiro na 3ª dimensão, tem de ser 3ª em todas as
dimensões.

> Interpretantes
O

R ii

Id1 Id2
Eixo experiencial Eixo experiancial
abdutivo indutivo
If1 If2
If3

Interpretante Imediato: é a parcela que já está no signo - própria possibilidade que


o signo tem de gerar interpretações (aquilo que podemos retirar a partir do momento
em que o signo surge num determinado contexto): é pura possibilidade. É algo

36
meramente perceptivo (percepção imediata e não informativo), ou seja, ainda não
consegue descodificar plenamente as palavras. É a face do signo que já lá está e que
permite o aparecimento de outros interpretantes. Cada signo deve ter a sua própria
interpretabilidade particular antes de ter um interpretante. O interpretante
imediato é aquele que nos dá um efeito sensação, não exige esforço de
interpretação, apenas necessitamos de possuir uma certa familiaridade com o signo.
É a percepção da realidade, tal e qual como ela se apresenta ao espírito.
O primeiro significado de um signo é o sentido que o signo produz. Este efeito é o
que o Interpretante imediato consegue dar acerca do Objecto Imediato. O
Interpretante imediato detecta o Objecto imediato e nos dá como ele é
representado. Só vê o Objecto Imediato e não pode dizer mais do que a análise
permite.
(Possibilidade (1ª percepção) ; Sem raciocínio, ou seja, um intérprete afectivo)

Interpretante Dinâmico: parte do objecto que está fora do signo. Aquele que
permite dizer de que forma é que o objecto está no signo, partindo da recolha de
índices (esforço mental) do próprio objecto. O interpretante dinâmico é aquele que
nos dá mais informação acerca do interpretante imediato e do objecto imediato.
Permite descobrir o objecto dinâmico a partir da recolha de índices do real que vai,
por sua vez, descobrir que real é aquele que ali está expresso. Significa um esforço
“secundário” no sentido de entender e procurar, indo mais além da percepção (a
percepção vai dar origem a um novo interpretante que faz um esforço para reenviar
o objecto).. O real é objecto dinâmico, e não imediato. É o efeito concreto que o
signo realmente determina.
(Esforço de interpretação, para compreender o signo através da obtenção de
informação necessãria, ou seja, um intérprete energético; interpretante factual)

Interpretante Final: é um efeito mental, um pensamento que se traduz no hábito de


classificar o signo. Remete para o interpretante imediato. Ajuda-nos a descortinar as
razões pelas quais atribuímos determinadas significações a um objecto (é um
conceito), ou seja, reenvia o signo ao seu objecto. É um conceito definido por
Peirce, como um habitus (senso comum + saber especializado) que permite uma
acção, uma condução legitimada. Significação última (teoricamente, dado que nunca
é encerra); classificação encontrada segundo o que conseguimos saber num momento
 o processo de geração de interpretantes é infinito, mas acaba por ser

37
interrompido por constrangimentos contextuais. Quando se interrompe o processo de
semiose, isso acontece porque se configurou uma certa crença.
(Classificação do signo, ou seja, um intérprete lógico)

Id1 – Interpretante dinâmico abdutivo (é o mesmo do senso comum – vai buscar


dados ao que nós já sabemos).

Id2 – Interpretante dinâmico indutivo (é um tipo de saber especializado, o que


implica uma recolha de índices). Faz apelo à experiência colateral.

O Id1 e o Id2 recolhem índices, centram-se no objecto mas esta recolha não nos
permite dizer quem está no quadro. Apenas recolhem informação e encaminham-na
para o interpretante final.

If1 – Interpretante final abdutivo (é um tipo de interpretante que não recorre a uma
experiência. Procede essencialmente, pela criação de hipóteses sem a verificação
destas mesmas. Essa mesma hipótese gerará o resultado. Utilizado pelos detectives,
tornando um hábito particular numa experiência colectiva – assumimos uma regra
como universal). Os preconceitos advéem, igualmente deste tipo de raciocínio.

If2 – Interpretante final indutivo (há um recurso a um raciocíonio constante – vai-se


verificando, experimentando e depois, sim, tira-se a teoria com base naquilo que
verificámos. Implica processos de validação. Classifica a partir de um saber
especializado (habitus), assentando numa explicação lógico-racional. Apela a uma
experiência colateral, a um saber especializado e exterior do próprio intérprete. É
um hábito generalizado.

If3 – Interpretante final dedutivo (classifica um signo directamente, não


necessitando de qualquer recolha de índices. Classifica a informação sem recorrer
dos Interpretantes dinâmicos, quando o Interpretante Imediato detecta
imediatamente o Objecto sem recorrer à experiência; já possui todo o saber
suficientes para classificar. É o tipo de interpretante que me permite aplicar
directamente uma regra a um caso particular).

38
> Objectos

Do ponto de vista da manifestação, da análise, temos um acesso primeiro e mais


directo à face expressiva/material do signo – o representamen. É a componente,
perceptível, imediata. O Representamen permite ao Interpretante fazer reenviar
esse Representamen ao Objecto: é necessário existir uma face expressiva para
remeter para um Objecto. O Objecto é do domínio mental, da concepção: a ideia
presente quando somos confrontados com um Representamen e os Interpretantes
desenvolvem um raciocínio sobre eles. Não compete ao signo dar a conhecer um
objecto; não há nada de natureza incogníscível. Um signo só é verdadeiramente signo
se remeter para um objecto, nem que seja Objecto de desconhecimento. O Objecto
que está no signo não é todo o Objecto. Qualquer que seja a parcela de realidade,
remete para uma realidade (logos) necessariamente maior que o signo. Qualquer
signo tem necessariamente dois objectos: imediato e dinâmico.

Objecto Imediato: é a parcela do objecto que já está no signo. É o nosso


conhecimento adquirido acerca do objecto e varia de pessoa para pessoa (ex. cão,
cada pessoa apesar de ter em vista o mesmo conceito tem uma representação mental
imediata diferente). O conhecimento adquirido por cada um (objecto imediato) pode
ser motivado por experiências colaterais. O objecto imediato é aquilo que nos vem
imediatamente presente ao espírito, independentemente das interpretações que
possamos fazer. É o objecto imediato que deve sugerir o objecto dinâmico (quando
não há o 1º não há o 2º). È, por isso, um objecto incompleto.

Objecto Dinâmico: é tudo aquilo que está fora do signo. Tudo aquilo que podemos
acrescentar ao Objecto Imediato e que ajuda a completá-lo, o Objecto Dinâmico é
sugerido pelo Objecto Imediato e vai sendo construído, melhorado através da busca
realizada pelos Interpretantes. É aquilo para que o signo reenvia pelo facto de, tanto
o signo como o objecto, estarem em continuidade. É tudo aquilo que nos permite um
conhecimento aperfeiçoado sobre o objecto. Peirce, diz que o objecto dinâmico é o
que não está no signo, mas que está ligado a ele. È (segundo ele) o real. O signo não
consegue exprimir, apenas indicar, deixando ao intérprete a tarefa de descobri-lo
por experiência colateral. Por exemplo, aponto o meu dedo na direcção daquilo que
quero dizer, mas não posso fazer o meu companheiro entender aquilo que quero
dizer se ele não o puder ver ou se, vendo-o, ele não o separa, em sua mente, dos
objectos circunsantes em seu campo de visão.

39
É função do objecto imediato (incompleto) sugerir o objecto dinâmico (completo).

EXPERIÊNCIA COLATERAL, é o conjunto de conhecimentos que se vai buscar (fora de um


sistema) para poder classificar. Pressupõe uma familiaridade prévia com aquilo que o
signo denota.
A experiência colateral é algo fora do signo, a que podemos apelar e que constitui o pré-
requisito para constituir uma interpretação: não significa intimidade com o sistema de
signos, mas familiaridade prévia com o que o signo denota  permite saber mais sobre o
Objecto Imediato, caminhando para o Objecto Dinâmico, em função da experiência que já
tivemos ou que possamos vir a ter.

> Três tipos de raciocínio

Indução: infere uma regra a partir de casos e dados particulares. É a validação


constante de hipóteses, é um raciocínio experimental que exige verificação. É
utilizado pelos interpretantes dinâmicos, essencialmente pelo ID2. É a base do
raciocício científico (conhecimento individual e especializado).

Por exemplo, um navio carregado de café entra num porto. Subo a bordo e colho uma
amostra de café. Talvez não chegue a examinar mais de 100 grãos, mas estes foram
tirados da parte superior, central e inferior do porão. Concluo, por indução que a carga
toda têm o mesmo valor.

Abdução (ou retrodução na sua forma original por Aristóteles): processo de formação de
uma hipótese explicativa relativa ao senso comum, facilmente aceitável sem
verificação. É a única operação lógica que apresenta uma ideia nova. A abdução
serve para os casos em que não existe certeza para aquilo que aconteceu. É a
explicação do que é inexplicável. Raciocínio não especializado, ou por outras
palavras, raciocício geral e colectivo. Trabalha com base em evidências, contenta-se
com uma explicação aparente.

Os botões dentro da caixa são todos brancos. Se saírmos e quando voltarmos a entrar
estiverem mais botões brancos ao pé da caixa, ficamos com uma dúvida? Os botões fora
da caixa viram de dentro da caixa? Não sabemos, mas dizemos que sim.

40
Dedução: não necessita de experimentação para ser aplicado, aplicamo-lo
directamente às representações sem recorrermos a nenhuma experiência. É a
aplicação de uma regra geral a um caso particular. Raciocício automático e directo
(conhecimento prévio).

Todos os feijões deste saco são brancos,


Estes feijões provêm deste saco
Então são brancos!

A dedução prova que algo deve ser; a indução mostra que alguma coisa é
realmente operativa, a abdução simplesmente sugere que alguma coisa pode ser.

> História e Evolução da Linguagem de Julia Kristeva

Época clássica: linguagem interessa como objecto científico de conhecimento e a


preocupação central era “porque chamamos as coisa por estes nomes?”.

Época cristã: perspectiva teológica da linguagem. Preocupação central é a origem da


língua, ou seja, “quem é que se lembrou de nomear as coisas?” e a explicação era
que o princípio era o verbo (“palavra divina”, Deus como origem de todas as coisas).
Deus é o centro dos estudos sobre a linguagem. Estudos sobre a língua fora do
alcance de uma ciência específica da língua. Não há uma definição de linguística no
seu sentido mais estrito, tentativa de descoberta da origem de todas as línguas.

Época renascentista: valorização do intelecto humano (iluminismo). A linguagem é


vista como o meio através do qual podemos afirmarmo-nos enquanto sujeitos
pensantes (“até que ponto é que posso utilizar a linguagem para me emancipar
racionalmente?”). A linguagem tornou-se um objecto de ensino como realidade
efectiva (democratização da língua). O estudo da linguagem era muito virado para o
estudo das regras e da sua evolução. O Homem torna-se o centro, como ser racional.
Estudo orientado para as línguas modernas e campo autónomo de estruturação:
código divino  lugar onde o Homem se exercita enquanto ser racional, com
capacidades autónomas de comunicação, capacidades de se tornar através da língua

41
 é através da linguagem que evolui, aprende, se afirma, se autonomiza, centrada
na autonomia da razão.

Século XVIII: época do empirismo. Procura das especificidades da língua e as


características comuns entre as várias línguas. Diferentes línguas com uma origem
comum  tentativa de procura dos universais comuns, é a partir das particularidades
comuns que se pode descobrir o que está na origem de todas as línguas. Sânscrito era
considerado a língua mãe de todas as línguas indo-europeias. Perspectiva baseada
numa tentativa de sistematização de todas as línguas inseridas no espaço linguístico
da europa.

Século XIX: evolução das línguas através da comparação. Não basta formular as
regras de funcionamento das diferentes línguas, é preciso abranger essas regras de
funcionamento e entendê-las à luz da evolução social e humana. É o século da
linguística histórica (Franz Bopp) com a questão da evolução histórica das línguas e a
forma como essa evolução traduz a evolução histórica no espaço geográfico em que é
falada, ou da linguística/gramática comparada (Ramus Rask) que tem como ponto de
partida a comparação das línguas indo-europeias entre si..

Século XX: preocupação central: regras que determinam a evolução dos sentidos. É o
século da linguística enquanto ciência autónoma, coloca no centro dos estudos sobre
a linguagem não Deus, o Homem, a sociedade mas a própria língua. Só há ciência
linguística a partir do momento em que ela se pensa desligada de todas as
determinantes socio-psicológicas. O sujeito constitui-se na linguagem enquanto
sujeito simbólico. O estudo dos sistemas da linguagem dos seus mecanismos
(patrocinados por uma visão positivista da linguagem). Positivismo e método das
ciências natas, métodos estes desligados do conhecimento humano, de
subjectividade; surgem enquanto ajudantes da língua. Entender a língua como aquilo
que constitui o Homem, como capaz de funcionar em ausência de tudo. Interessa
saber as regras de funcionamento da língua independentemente de quem, como e
onde ela é falada, independentemente do contexto sociopsicológico.

Com a linguística, a linguagem deixa de


ser encarada apenas como um
instrumento, que o Homem usa no seu dia
a dia, mas sim como um “objecto” de
reflexão (objecto de estudo científico).

O objecto da linguística, é definido por


42
Saussure: o objecto é a língua (conjunto
de regras que a regem enquanto sistema).
> Epistemes

Epistemes – Michel Focault

Episteme pré-clássica (até meados do séc. XVI)

• saber que se constrói a partir da noção de semelhança


• conhecer é encontrar as semelhanças invisíveis que existem no mundo;
consegui-mos encontrá-las através das marcas que existem no próprio mundo;
• cabe ao homem decifrar aquilo que já está escrito no próprio mundo ( o
mundo já contém em si próprio a sua explicação)
• não há explicação entre palavras e coisas; não há distinção entre o signo e o
sentido; tudo se explica a partir das semelhanças entre as coisas
• o que está escrito no mundo está escrito através da palavra divina; Deus
deixou marcas no mundo ( visão teológica)
o a semelhança articula-se entre 4 figuras:

conveniência
- coisas são semelhantes por conveniência quando têm entre si 1 real de
continuidade espacial, associada à realidade de proximidade

emulação
- dá conta das semelhanças entre 2 coisas pelo facto de se reflectirem uma na outra
- ideia de elementos concêntricos
- não necessariamente físico, espectral
- o reflexo do homem é aquilo que Deus passou para ele – o homem à imagem de
Deus

43
Analogia
- Figura que permite dar conta da semelhança entre coisas a partir da realidade que
mantêm com um 3º. Ex.- Pai e mãe têm em comum o filho

Simpatia
- Exacerbação, levar ao extremo de todas as características das figuras anteriores
- O central no semelhante é tão grande que faz com que em termos conceptuais eles
sejam o mesmo
- Tudo no mundo com 1 mesmo principio , para fazerem parte de um todo indistinto
- A palavra divina enquanto única e que forma 1 mundo homogéneo ex. Grandes
discursos
- A partir da mão de Deus tudo se criou e transformou

As marcas são a face visível e é através dela que se chega à face aparentemente
invisível das semelhanças estruturais, como o Mundo nos pode ser dado a conhecer.
Só se chega à parte aparentemente invisível através da leitura das marcas, como sons
ou palavras.

Não podemos saber nada sobre o Mundo que não esteja já nele inscrito. Mas lê-lo não
é separar a leitura do Mundo, aquilo que é representado daquilo que representa; há
uma continuidade física, espacial e intelectual entre aquilo que lemos e aquilo que
existe. Não há ausência; a leitura é já uma relação de semelhança com tudo aquilo
que designa – a linguagem não é autónoma daquilo que designa, é apenas uma das
coisas que se lhe assemelham.
A semelhança é o fim condutor para tudo.

Consequências da visão do Mundo através do principio da semelhança.

- Conseguimos estabelecê-las de uma forma quase ilimitada entre tudo, pelo que o
Saber é pobre, redutor, superficial na conexão e explicação entre tudo o que existe.
- O Saber é sempre um Saber sobre o mesmo; todos os saberes remetem uns para os
outros, jamais atingimos um patamar diferente do primeiro; a natureza encerra-se
em si mesmo, auto explica-se; encara-se o universo como o texto do Mundo; a
linguagem é uma de várias marcas à disposição para serem lidas.
- O Saber pré-clássico não permite ordenar, classificar, sistematizar.

44
Episteme Clássica (séculos XVII – XVIII)

- Como pode o signo estar ligado ao que representa?


- Conhecer deixa de ser aproximar por semelhança e sim discernir, saber distinguir e
classificar.
- Abandono do Universo da semelhança para entrar no da representação: opera uma
separação entre as palavras e as coisas.
- Uma coisa é o signo, outra é aquilo que representa.
- Uma coisa é o reflexo, outra é aquilo que está na origem desse reflexo.
- O Homem clássico precisa de uma linguagem que represente o M; a linguagem não é
uma das muitas similitudes do Mundo, mas sim o que permite ao Homem traduzir o
Universo num Mathesis (cria uma matemática do Mundo  representação autónoma)
Linguagem como representação autónoma do Mundo
- Saber Clássico recorre a dois elementos fundamentais:
1 – Criação de uma taxinomia (sistema de classificação), principio linguístico de
classificação, preocupação de tentar classificar as coisas básicas/simples e nelas
integrar outras, distinguindo semelhanças e diferenças.
2 – Criação de um principio matemático de ordenamento da natureza  o Homem
cria a sua própria matemática do Mundo, uma lógica de relacionamento entre as
coisas do Mundo, o discurso (linguagem) fala sobre o Mundo, mas não faz parte do
Mundo, existindo para o representar. É uma construção.
- O Homem está excluído da representação do Mundo, o seu papel nessa
representação é omitido; há uma separação entre palavras e coisas, sem intervenção
humana, como se o Homem não tivesse qualquer influência naquilo que diz com as
palavras; o Homem não se pensa a si próprio, é o grande ausente; a subjectividade
não é pensada.

Episteme Moderna (A partir do século XVIII)

- Papel do próprio Homem na procura de conhecimento


- Lançadas as condições para as ciências humanas, quando o Homem se torna objecto
do estudo cientifico.
- Introdução do Homem no discurso  um saber sobre o Homem  uma ruptura
entre sujeito de conhecimento e objecto de conhecimento. Este objecto de
conhecimento, na medida em que passa a ser o próprio Homem  que esse objecto

45
só pode existir enquanto objecto construído do ponto de vista teórico, o Homem no
Universo social, na evolução histórico – social, na sua natureza física e mental  há
vários homens em cada homem.

> Linguagem: língua vs fala

Linguagem: vasto conjunto de elementos que temos à nossa disposição para


comunicar. Tem valor de troca simbólica (troca de ideias entre comunicadores) e
constitui o sujeito enquanto sujeito falante, integrando-o socialmente. O problema
da linguagem é sempre a representação das coisas ausentes, visto que, muitas vezes
se questiona como é que podemos tornar presentes coisas que não podemos mostrar.

“Tomada no seu todo, a linguagem é multiforme e heteróclita, abrangendo vários


domínios, simultaneamente física, fisiológica e psíquica, pertence ainda ao domínio
individual e social, não se deixa classificar em nenhuma categoria de factos
humanos porque não sabemos como destacar a sua unidade”.
Saussure

Língua: a língua é necessária para que a fala seja intelegível e produza todos os seus
efeitos. É a parte social da linguagem, anterior e exterior ao indivíduo, e este, por si
só, não pode criá-la nem modificá-la, ela só existe em virtude de um contrato
firmado entre os membros de uma comunidade. A língua não é exequível, na medida
em que a partir do momento em que passa a ser executada, deixa de ser língua e
passa a ser fala. A língua é institucional, relacional, linear e arbitrária, implicando
passividade ao nível da recepção. A língua não está completa em nenhum ser
individual, só está completa em massa. A língua é aquilo que existe simultaneamente
na mente de todos as capacidades de todos os falantes constitui o sistema da língua
(conjunto de todas as individualidades, sendo que essas individualidades não
dependem da escolha individual mas do conhecimento da convenção social). Para
Saussure, o único mecanismo psicológico necessário para adquirir a língua é a
memória. Rolland Barthes afirma que “(...) a língua é fascista e totalitária, na
medida em que se impõe a todos os elementos de uma sociedade”.

46
A língua é enquanto sistemas do dotado de relações entre os seus termos, pode ser
comparada a um jogo de xadrez, porque há que conhecer regras, o valor das peças e
o modo como se movimentam (lugar que podem ocupar).
Na língua acontece o mesmo, cada termo tem um valor e um lugar que pode ocupar.
As nossas escolhas é que vai determinar o valor e o sentido daquilo que queremos
dizer. Não é preciso assistir do jogo desde o início para saber quem está em
vantagem; também não precisamos de conhecer a evolução da língua para perceber o
seu sentido num dado momento.

A língua é o sistema dos elementos e das regras que permite a articulação dos
signos linguísticos.

Fala: é individual (o indivíduo é “senhor dela”), sendo dependente da vontade do


indíviduo. È, portanto, um acto individual de vontade e de inteligência. Mecanismo
psico-físico que permite exteriorizar as combinações da língua. A fala é, necessária
para que a língua se estabeleça.

A fala é o acto concreto, no qual o sujeito falante utiliza as leis da língua. A


língua, consequentemente é uma abstração, que não existe senão como
resultante dos usos linguísticos colectivos.

É através da fala, que a língua evolui (a fala é o vector de transformação da língua). A fala
precede à língua. Há portanto, interdependência da língua e da fala. Mas isto não as
impede de serem duas coisas absolutamente distintas. Não há língua em abstracto, sem o
exercício da fala (latim). Um Homem privado do uso da fala, conserva a língua desde que
commpreenda os signos vocais que ouve.

LÍNGUA FALA

Homogénea Heterogénea

Carácter social (exterior ao indivíduo) Carácter individual

Sistema de signos (institucional e imutável) Execução do sistema

Implica passividade ao nível da recepção Activa

47
Pura forma Substância

A Língua distingue-se da fala porque:


• A língua é pura forma, a fala é substância; a língua permite dizer que tal “i”
corresponde a tal “c” língua determina como esta associação é feita; a fala
dá corpo à língua, substantifica-a;
• A língua é social e a fala é individual; a língua é produto de uma convenção
social estabelecida, acordada como um sistema; a fala depende das escolhas
individuais do sujeito falante
• A língua é homogénea e a fala heterogénea; a língua é um sistema de signos
em que o essencial é a união de um determinado “c” a um determinado “i”; a
fala dá uma possibilidade combinatória de uso com ironia, diferentes
significados e intenções individuais
• A língua é passiva/receptiva, a fala é activa/executiva.

A fala é a degradação, porque a introdução do sujeito na língua degrada-a, estraga


aquilo que é puro: a língua.

Saussure privilegia a língua em detrimento da fala. Para ele, a língua é:

- Institucional: impõe-se aos falantes de uma mesma língua;

- Arbitrária: não tem correspondência com a realidade, é uma convenção;

- Linear: desenrola-se no tempo dando origem à significação;

- Função integradora: é através da língua que nos inserimos no espaço simbólico.

Qualquer língua está em perpétuo processo de mudança. Qualquer sistema


semiológico vivo está submetido às mesmas necessidades de adaptação:

> qualquer necessidade nova pode determinar a adjunção, a um sistema, de novos


semas constiuídos a partir das unidades existentes, ou ainda através do puro
aparecimento de novas entidades;

48
> a evolução, pode também significar a obsolência e o desaparecimento de unidades,
o que pode ter como efeito a reorganização gradual dos sectores do sistema.

“O conceito (dicotómico) de Língua/Fala é central em Saussure e constitui


certamente uma grande novidade em relação à linguística anterior, ocupada com a
procura das causas da mudança histórica, nas alterações de pronúncia, nas
associações espontâneas e na acção da analogia, e que era, por conseguinte, uma
linguística individual.

Para elaborar esta dicotomia célebre, Saussure partiu da natureza “multiforme e


heteróclita” da linguagem, que se revela à primeira vista como uma realidade
inclasssificável (cuja unidade não podemos isolar, visto que participa
simultaneamente do físico, do fisiológico, do individual e do social).

Portanto a língua é, se quisermos, a linguagem menos a fala: é simultaneamente


uma instituição social e um sistema de valores. É a parte social da linguagem, onde o
indivíduo, por si só, não pode nem criá-la nem modificá-la; é essencialmente um
contrato colectivo, ao qual nos teremos de submenter em bloco, se quisermos
comunicar. Além disso, este produto social é autónomo, à maneira de um jogo que
tem as suas regras, pois só o podemos manejar depois de uma aprendizagem.

Face à língua, instituição e sistema, a fala é essencialmente um acto individual de


selecção e de actualização; é constituída em primeiro lugar pelas combinações
graças às quais o sujeito falante pode utilizar o código da língua para exprimir o seu
pensamento pessoal, e em seguida pelos mecanismos psicofísicos que lhe permitem
exteriorizar essas combinações. A fala corresponde a um acto individual e não a uma
criação pura.

Língua e fala: é evidente que cada um destes dois termos só tira a sua definição
plena do processo dialéctico que os une: não há língua sem fala, nem fala fora da
língua. A língua só existe perfeitamente na massa falante; não podemos manejar uma
fala se não partirmos de uma língua; mas, por outro lado, a língua só é possível a
partir da fala. Historicamente, os factos da fala precedem os factos da língua (é a
fala que faz a língua evoluir)e, geneticamente, a língua constitui-se através da
aprendizagem da fala que o rodeia (não ensinamos aos bebés a gramática e o
vocabulário, isto é, a língua)”. Efeitos de Semiologia de Rolland Barthes

49
> Dupla articulação
- Dicotomia língua/fala  conceito operativo
- língua: objecto social puro, sistema virtual que configura uma convenção
- fala: puramente individual, selecção, apropriação individual do sistema
linguístico, condicionada pela cultura e circunstâncias, etc. ; na fala, o
aspecto combinatório é fundamental, os termos sucedem-se.
- é à custa de repetidamente ouvirmos a fala concretizar a língua que
interiorizamos o sistema da língua; a língua opera um duplo recorte, ao nível
do som e ideias e é este eixo duplo que dá forma à fala.
- O signo linguístico é um signo de dupla face e é a base do sistema linguístico

- O signo linguístico articula-se duplamente, devemos considerar dois


aspectos:
unidade significativa  cada signo é dotado de um sentido em si
mesmo, embora o seu valor varie consoante os termos vizinhos.
Unidade distintiva  cada signo é composto por diferentes unidades
distintivas, que participam na forma mas não são dotadas de sentido em si
mesmo, como por exemplo os fonemas (o sentido é resultado da agregação de
diferentes fonemas produtores de uma palavra).
- o princípio da dupla articulação é fundamental para compreender a
economia da língua: com poucas unidades distintivas produzem-se numerosas
unidades significativas. Qualquer letra do alfabeto é já um fonema.

- a língua é simultaneamente o produto e o instrumento da fala: por um lado


a língua existe porque se fala e se interioriza o sistema, e por outro, esse
sistema só é falado porque o sistema existe.
- Enquanto que as regras de qualquer código são explicitas, as da língua são
implícitas.
- Fala é diferente de sintagma porque a noção de fala é global e abrangente,
vai para além do acto, enquanto que o sintagma é uma apropriação num dado
momento e luar. Sintagmas congelados são frases feitas, que são usadas de

50
igual modo em diferentes línguas. Sintagmas são produzidos pela fala de um
indivíduo.

> Curso de Linguística Geral

- Eixo Sincrónico:
Saussure adopta preferencialmente esta perspectiva

- Eixo das simultaneidades;

- fenómenos num determinado momento independentemente do passado e do futuro;

- Uma linguística sincrónica vai estabelecer os princípios fundamentais de qualquer


sistema ideo-sincrónico (qualquer estrutura da língua, evolutivo e ideológico). Esta
visão vai ocupar-se das relações lógicas e psicológicas entre os termos coexistentes.

- Opera-se um corte no tempo que é um “artificialismo técnico” que impede a


evolução. É um artificialismo porque só por artifício é que podemos considerar os
aspectos invariantes a língua, abstraindo-nos da sua evolução. Toma, então, a
palavra como uma realidade independente da sua evolução (linguagem estática);

- A linguagem sincrónica é, segundo Saussure, aquela que opera apenas sobre um


estado de língua – toma a palavra como uma realidade independente da sua
evolução;

- A sincronia processa-se num intervalo de tempo contínuo e fechado.

É a perspectiva sincrónica, é este corte no tempo que vai permitir compreender os


elementos de uma língua e as relações entre eles... é a visão sincrónica que permite
apurar o estado da língua.

- Eixo Diacrónico:

- Eixo das sucessividades;

51
- Estudo dos fenómenos ao longo do tempo, tendo em conta o que aconteceu e o que
está a acontecer.

- Uma linguística diacrónica vai estudar a relação entre os termos sucessivos ao longo
do tempo; a imobilidade da língua não existe mas todas as modificações introduzidas
surgem primeiro na fala; debruça-se essencialmente sobre a fala, as questões da
fonética.

- Qualquer estado da língua recuperado no eixo da fala obedece sempre a um


carácter fortuito. Encara a língua na sua evolução histórica (a fala é o gerne de todas
as mudanças na língua);

- Um facto diacrónico é um fenómeno que tem a sua razão de ser em si mesmo (as
consequências sincrónicas que podem ocorrer são indiferentes);

- Estudo de diferentes objectos e suas singulariedades.

Quando as línguas evoluem, ou seja, na perspectiva diacrónica, nem o sistema nem as


relações mudam, o que muda são os elementos das relações.

Saussure procede a uma ruptura com as perspectivas tradicionais, as quais


estudavam a língua de um ponto de vista diacrónico (eixo das sucessividades).
Este deixa de se preocupar com a origem e o nascimento da língua, ou seja, com
a sua evolução, para passar a centrar a sua atenção na língua, mas sob uma
perspectiva sincrónica (eixo das simultaneidades).

E Saussure adopta a perspectiva sincrónica, com que razões/vantagens:

> a realidade é mais complexa que o eixo das sucessividades;

> em virtude, de o sistema se manter imutável (em termos sincrónicos), permite ao


investigador descodificá-lo – logo, permite apurar o estado da língua;

> caso, o linguísta se coloque numa perspectiva diacrónica, não é a língua que se lhe
depara, mas uma série de acontecimentos que a modificam;

52
> só a partir da perspectiva sincrónica, é possível definir um signo, mas defini-lo não
como algo isolado, mas verificando as relações que os signos estabelecem entre eles;

> ora, nenhum sistema é mais complexo nem mais organizado do que a língua. A
multiplicidade dos signos, impede-nos de estudar ao mesmo tempo as relações
temporais e as relações horizontais.

EIXO SINCRÓNICO EIXO DIACRÓNICO

Abordagem estática da língua Abordagem evolutiva da língua

Ocupa-se das relações lógicas e psicológicas Ocupa-se das relações entre termos, não
entre termos que coexistem e que formam percebidos por uma mesma consciência
um sistema colectiva, sem formar sistema entre si

Corte / Morte Evolução / Vida

PREOCUPAÇÃO CENTRAL PREOCUPAÇÂO CENTRAL

Como é que os fenómenos se apresentam num Como é que a língua evolui???


determinado momento do tempo??? Como é que ela era antiguamente???

“Há uma necessidade de Saussure de justificar a base do seu modelo. Qualquer


ciência pode ser perspectivada de um ponto de vista que não tenha em conta a sua
evolução. Quer a Física, quer a Química são um exemplo, porque quando estudam os
seus objectos ou elementos não têm em conta a sua evolução histórica.

Há duas vias para encarar a realidade dos factos:

Uma via evolutiva, que procura explicar a evolução da língua (diacrónica). É o eixo
das sucessividades (do passado ao futuro) que é atravessado pelo eixo das
simultaneadades (é a sincronia, corte no tempo, que se abstrai da evolução da
língua). A língua está sempre a evoluir e a acaminhar no eixo das sucessividades.
Para perceber a língua é necessário fazer um corte, que é o corte das
simultaneadades: só com o corte no tempo é que se pode perspectivar as várias
línguas ao mesmo tempo, fazendo a comparação de umas com as outras.

53
Qual a importância do corte no tempo?

Vai perspectivar o objecto de uma outra forma, ou seja, vai perspectivar o objecto
língua nas relações que os elementos mantém uns com os outros, enquanto que a
outra perspectiva mostrava-a na evolução entre eles. A perspectiva sincrónica abstrai
a evolução, vendo quais são as relações entre os elementos. Se a língua está
paralisada, não há evolução, daí que seja possível ver que relações se estabeleceram
entre esses elementos (possibilidade de comparação). A sucessividade faz-se por
transformação. As transformações ocorrem sem parar”.
Curso de Linguística Geral de Ferdinand Saussure

Linguística interna ou imanente (Sincrónica)  a língua tem a capacidade de


internamente descrever os seus sistemas, a sua própria natureza, aspectos
linguísticos. Abstrai qualquer influência exterior; relações intrínsecas; é uma
metalinguagem.

Linguística externa ou pseudolinguística (Diacrónica)  Pseudolinguística porque se


centra em aspectos gerais e não particulares, não estuda a língua como objecto puro
mas como influenciado por características exteriores.

> A perspectiva sincrónica vai permitir determinar o valor de cada elemento num
conjunto da totalidade do sistema, uma vez que os compara simultaneamente;

> Os fenómenos diacrónicos não são da mesma ordem dos fenómenos sincrónicos. As
modificações produzem-se fora de qualquer intenção (sem formar sistema entre si),
daí o seu carácter casual e fortuito.

> Valor Linguístico

Saussure não viu logo a importânca desta noção, mas a partir do segundo Curso de
Linguística Geral, dedicou-lhe uma reflexão cada vez mais profunda. A noção de
valor em Saussure, pode ser explicada (em parte) através da teoria dos contrários de

54
Platão, a qual enunciava que uma palavra apenas tinha valor na medida em que
existia uma contrária (por exemplo, o bem só existe porque existe o mal).

Os valores são constituídos por:

- Um elemento dissemelhante “a sua mais exacta característica é serem o que os


outros não são”(ou seja, as palavras antónimas, ex. quando utilizo o termo “feio”
sei que é o contrário de “bonito”);

- Por elementos semelhantes “o valor de qualquer termo é determinado pelos que


dele se aproximam” (ou seja, as palavras sinónimas, isto é, todos os termos que
poderia ter usado e não sei, são todas as escolhas que ficaram em aberto).

> é a comunidade que utiliza uma língua que estabelece o valor da língua. Um
indivíduo, por si só, é incapaz de fixar esse valor;

> o valor dos termos é atribuído pela relação negativa (diferencial) que mantém
com os outros termos do sistema (...) o valor do termo linguístico é ser
exactamente aquilo que os outros não são. Logo, não é através das suas próprias
qualidades positivas que os elementos da língua têm o seu valor;

“A língua é um sistema de puros valores”, ou seja, baseia-se num conjunto de


relações entre elementos (ideias e sons), distintos entre si e distintos em relação
aos outros, sendo que é na medida dessa diferença que reside o seu valor
intrínseco (o valor está na diferenciação entre eles). A língua faz o corte duplo e
simultâneo entre ideia e o som. A língua é um sistema de valores em que se
inscreve o caminho que os signos têm de percorrer para obter um determinado
valor. É na relação que os termos da língua estabelecem uns com os outros, que
estes adquirem diferentes valores.

Assim, para determinarmos o que vale uma moeda de cinco escudos temos que saber:
1º, que a podemos trocar por uma determinada quantidade de uma coisa diferente,
por exemplo, pão; 2º, que a podemos comparar com um valor similar no mesmo
sistema, por exemplo, uma moeda de um escudo, ou com uma unidade monetária de
um outro sistema (um franco, por exemplo).

55
Noção de valor linguístico a 3 níveis
Ponto de vista conceptual
- O valor do ponto de vista conceptual é diferente da significação
- É o reverso da imagem auditiva
- A língua é um sistema em que todos os termos são solidários, o valor de um
desses termos depende do valor dos outros
- Uma coisa é a significação, outra é o valor que um termo significante possui.
- Todos os valores parecem regidos por um paradoxo  constituídos por um
elemento semelhante e um outro dissemelhante
- Qualquer valor é constituído por um elemento dissemelhante  pode ser
trocado por uma ideia e um elemento semelhante  troca de uma palavra por
outra.
- É preciso comparar uma palavra com outros e com outras ideias para
conhecer o seu valor.

Ponto de vista material


- As palavras distinguem-se pelo som.
- Qualquer fragmento a língua é arbitrário e diferencial (não coincidência com
os outros).
- Significante é incorporal, constituído pelas diferenças.
- A imagem acústica é o conjunto das diferenças fónicas que tornam um som
adequado a uma ideia.
- Na língua não há se não diferenças.

Ponto de vista do signo na sua totalidade


- O valor de um signo pode ser alterado sem se tocar no som ou no conceito,
apenas porque os termos próximos se alteram  a mesma palavra associada à
mesma ideia pode ter valores diferentes.
- O sistema da língua é um conjunto de sons diferentes combinados com ideias
diferentes: isto geram um sistema de valores.

56
> Paradigma e Sintagma (SAUSSURE)

- Sintagma  noção ligada à de encadeamento.


- Operações de combinação e de associação  Paradigmáticas

Operações Paradigmáticas (de associação)


- Estabelecem-se ente signos em ausência
- Associação por semelhança e dissemelhança
- O sistema da língua prevê um conjunto de relações de natureza associativa
que permite realizar escolhas
- Relações que existem potencialmente e que podem ser actualizadas
- Paradigma  cada um dos eixos de associação entre os termos em ausência
(termos semelhantes/opostos)

Operações Sintagmáticas
- As escolhas é que vão determinar o encadeamento sintagmático
- Relações sintagmáticas  relações entre os elemento ausentes e os
elementos presentes.

> Duas escolas na Linguística

1º Círculo Linguístico de Praga (Escola fonológica de Praga)

Inspirada em Saussure, propõe-se estudar a língua como sistema funcional. Para tal:

- Debruça-se sobre a componente “fala” (fenómeno executivo). “O melhor modo de


conhecer a essência e o carácter de uma língua é a análise sincrónica dos factos
actuais, que são os únicos que oferecem materiais completos”;

57
- Considera fundamental o aspecto fónico da língua (o som é considerado como facto
físico objectivo, como representação e como elemento do sistema funcional);

Jakobson: Partindo da definição de fonemas de Saussure (unidades opositivas,


relativas e negativas), afirma que “chamamos sistemas fonológicos de uma língua ao
reportório das oposições às quais pode estar ligada, numa determinada língua, uma
diferenciação das significações”.

2º Círculo de Copenhaga

Célebre pelos trabalhos de Hjelmslev, este formaliza a língua a partir do sistema


estrutural de Saussure, criando uma concepção linguística designada por
glossemática. Para Hjelmslev, a língua não é um conglomerado de fenómenos não
linguísticos como Saussure afirmava (ex. físicos, sociais) mas sim uma totalidade que
se basta a si mesma. Hjelmslev considera que a linguística é uma metalinguagem.

- A linguística deve estudar a língua como sistema;


- Carácter mais abstracto e formal;
- Parte da descrição dos sistemas da língua, para encontrar os universais
linguísticos;
- Procurar as invariantes estruturais: o que faz com que um sistema linguístico seja
semelhante a outro;

- Signo é definido como uma função entre duas grandezas: um conteúdo e uma
expressão: “o signo é uma expressão que designa um conteúdo exterior ao próprio
signo.”.

- Linguagem: qualquer estrutura significante que seja interpretável nos 2 planos do


conteúdo e da forma. Neste sentido, os sistemas de símbolos matemáticos ou lógicos,
como a música, não são provavelmente linguagens de sentido de Hjelmslev. Este
propõe que se chamam sistemas de símbolos.

58
> Teoria de Hjelmslev

Glossemática: formalização lógica e matemática da língua. É uma disciplina formal,


regida por um princípio de empirismo dedutivo (deviam-se trabalhar os textos, ou
seja, as manifestações da linguagem).

Hjelmslev não subverteu a concepção saussuriana de Língua/Fala, mas redistribui os


seus termos de um modo mais formal. Na língua em si própria (que continua a estar
sempre oposta ao acto da fala).

Hjelmslev distingue três planos ao nível da língua:

1. Esquema: é a língua como forma pura. É a língua saussuriana no sentido rigoroso


do termo. É por exemplo, o “r” português, definido fonologicamente pelo seu
lugar numa série de oposições. È uma entidade opositiva, relativa e negativa (por
si própria não tem nenhum valor – define-se pela diferença face às outras
entidades); Apenas a língua enquanto esquema pode servir para compreender a
ideia de Saussure de a comparar a um jogo de xadrez. Só a língua enquanto
esquema desliga a língua do seu caractér material e permite separar aquilo que é
essencial daquilo que é acessório, sendo essencial para Hjelmslev.

2. Norma: Quando dizemos que o sistema linguístico é aquilo que interiorizamos de


forma convencionada enquanto crianças; língua como convenção estabelecida
tacitamente entre os membros de uma comunidade; língua como forma material,
determinada já por uma certa realização social mas ainda independente do
pormenor dessa manifestação; o “R” investido de uma certa materialidade,
qualquer que seja a sua pronúncia e quem o pronuncia; “a norma é uma ficção
teórica” – é postulada a posteriori; o “R” enquanto norma é uma entidade
positiva, relativa mas já munida de uma certa qualidade positiva (mas não
depende das manifestações concretas)
Língua como forma material com uma certa realização social mas independente
das manifestações concretas. Ainda não é o som concreto mas já é a forma desse
som. È uma entidade abstracta, relativa e com carácter positivo (som). Aqui,
estamos a ligar a pura forma da língua com algo material – o som. Por exemplo, o
português oral como algo abstracto é independente da manifestação concreta, das
pronúncias em que este mesmo português (oral) se vai actualizar.

59
3. Uso: O uso é uma “fala congelada”, ainda não é a execução da língua. É a língua
enquanto conjunto de hábitos de uma determinada sociedade (usos colectivos),
definidos pelas manifestações concretas. A língua varia com a mudança cultural,
é uma marca da sociedade; a definição de uso compreende todas as formas que
podemos encontrar de pronunciar o “R”, que não deixa de ser entidade da língua
mas é investido pela sua ____________. A pronúncia de cada região de Portugal.
Não é negativa, nem opositiva, nem relativa surge sempre de uma forma positiva.

Hjelmslev nomeia a fala de Saussure por Acto:

4. Acto: é a fala, a execução individual. Actualização pura, individual, livre e


arbitrária. Já não estamos no plano da língua.

Para Saussure a Imagem acústica é a tradução psíquica de um facto material (som)


mas para Hjelmslev quando isto se pensa já se está ao nível da norma, há uma certa
substantificação e portanto não se está apenas numa ideia formal.
Quando Saussure afirma que a língua é um conjunto de hábitos, já está a pensar a
língua como uso, como dotada de uma certa manifestação; JÁ ESTAMOS AQUI
PRÓXIMOS DA EXECUÇÃO, ELA É JÁ PRESSUPOSTA.

“A norma pressupõe o uso e o acto e não inversamente”. O acto e o uso precedem


logicamente a norma; a norma varia segundo aquilo que o acto e o uso determinam.
O esquema pressupõe a norma, o uso e o acto. Podemos formalizar e propor para
substituir o binómio língua-fala de Saussure para um outro binómio esquema-uso e
não esquema-acto porque o acto é um doc individual da execução colectiva (uso).

> Louis Hjelmslev

Hjelmslev consagra uma parte importante do seu trabalho à descrição dos processos
metodológicos da linguística, que, antes de mais, deve elaborar o seu objecto: a
língua como sistema. “A descrição deve ser não contraditória, exaustiva e tão
simples quanto possível”. Para tal, utiliza o método empírico-dedutivo.

Linguagens restritas ou específicas: (matemática, código morse...):


Linguagens não restritas ou gerais: (português, filandês...).

60
O autor desenvolveu os conceitos de expressão e conteúdo, estes relacionados com a
ideia saussuriana de significante e significado. Segundo Hjelmslev o signo contempla
em si, uma expressão (imagem) e um conteúdo. Podemos pois, afirmar que não
podemos ter expressão sem conteúdo, nem conteúdo sem expressão, pois são estes
dois elementos que formam o todo, a que damos o nome de signo.

“Louis Hjelmslev afirma que Saussure teve o mérito de ser o primeiro a descobrir e a
circunscrever o verdadeiro objecto do estudo da linguística, mas que, contudo, não
constitui mais do que uma primeira aproximação, historicamente importante mas
teoricamente imperfeita”.

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Expressão (significante)- cada língua vai encontrar diferentes formas. A fonética é o


sentido/substância de expressão, vai ganhar formas diferentes nas mais diversas
línguas (ideia ligada à materialidade do som).

Conteúdo (significado)- o sentido é comum a todas as línguas, a forma é diferente.


Cada uma das línguas vai recrutar uma forma que se manifesta tanto ao nível do
processo como ao nível do sistema.

Estes dois planos são duas subfunções da língua que, no seu conjunto formam a
função semiótica. Conteúdo e expressão são duas grandezas da mesma ordem,
iguais em todos os signos.

Por exemplo: I don´t Know / Je ne sais pas / Eu não sei


todas estas expressões têm um factor comum, que é o conteúdo, ou seja,
contemplam o mesmo sentido - embora a expressão (o modo) seja completamente
diferente de língua para língua.

Hjelmslev, considera o signo enquanto:

> Expressão (ste), é o seu modo exterior (representa algo para alguém)

61
> Conteúdo (sdo), é o seu modo interior (representa alguma coisa)

Logo, o signo é uma unidade constituída por uma forma de conteúdo e forma de
expressão, sendo que só assim, o signo produz algum sentido.

FORMA – regras de articulação; nela podem ser integradas outras grandezas.


Uma forma pode ter duas substâncias diferentes, uma f ónica e outra gráfica
Expressão
SUBSTÂNCIA – substância fónica articulatória (fonética); sequência de
sons pronunciados aqui e agora. Pomos em prática algo para produzir um
determinado sentido; aquilo que aparece quando projectamos a forma sobre
um sentido

FORMA – Organização e formação dos significados entre si. Diz-nos como


é que as ideias se podem dizer para que correspondam a determinado som.
Conteúdo
SUBSTÂNCIA – é o “algo” de que um signo é signo; aspectos emotivos,
ideológicos, do significado. Aquilo que acontece quando usamos
determinada palavra e não outra, para passar um determinado sentido.

Hjelmslev propôs-se a analisar as diferentes línguas, a fim de procurar o que nelas


pode ser comum. Chegou à conclusão, de que aquilo que é comum em todas elas é
a questão do sentido. Todavia, cada língua estabelece as suas fronteiras na massa
amorfa do pensamento, assim sendo – embora comum – o sentido ganha formas
diferentes em diferentes linhas. Isto é, o sentido é comum em todas as línguas mas
cria nelas diferentes formas para se expressar.

Estamos perante uma função sígnica, sempre que um código associa os elementos de
um sistema veiculante (expressão) aos elementos de um sistema veiculado
(conteúdo). Importa saber que esta correlação entre estes elementos, é
perfeitamente arbitrária e convencional.

Há 5 traços comuns a todas as linguagens:

1- Expressão e conteúdo;
2- Processo e sistema;
3- Comutação (ligação do plano da expressão com o plano do conteúdo);

62
4- Existência de relações bem definidas entre unidades linguísticas;
5- Não conformidade entre expressão e conteúdo. Se tal acontecer não estamos
na presença de uma linguagem: é o caso dos semáforos em que a expressão
coincide, em termos de substância, com o conteúdo pelo que não é uma
inguagem (quase-relação de estímulo-resposta)).

> Sistema da Moda para Rolland Barthes

Barthes considera o sistema da moda como um sistema de significação. No vestuário


podemos conceber 3 sistemas distintos:

Vestuário escrito: são os artigos sobre a moda que, com a ajuda da linguagem
articulada descrevem o próprio sistema. A este nível a moda nunca é executada no
sentido individual (como a fala na teoria saussuriana; é a língua tal como é definida,
no seu estudo puro).

De acordo com Barthes é possível língua sem fala uma vez que o sistema da moda não
emana da massa falante (homens) mas sim de um grupo de decisão que evoca
voluntariamente o código da moda. É este grupo de decisão que decide o que é a
moda e não cada um de nós individualidade.

Vestuário fotografado (fala congelada): estado semi-sistemático da linguagem, uma


vez que aquilo que seria língua, continua a ser encarado de um fashion group mas,
neste caso, não no sentido geralmente abstracto, mas sim no sentido em que há
materialização na mulher/homem fotografado.

É um indivíduo normativo que encarna em si os padrões definidos pelas normas do


grupo de decisão, não no sentido individual, mas sim no sentido em que cada pessoa
pode utilizar aquela roupa. É uma “fala congelada” porque a manequim tem
capacidade/liberdade combinatória, o criador é que decide. Neste sentido é pura
fala.

Vestuário usado / real: fala, no sentido Sausssuriano. Ao nível da língua temos todas
as regras de associações de roupa a que temos de obedecer. (umas calças e não 3

63
pares). O sistema da moda altera-se facilmente devido às tendências. A fala está
relacionada com as nossas escolhas individuais.

> 4 Postulados Críticos

É a partir dos postulados da linguística que a ciência linguística se estrutura. Têm


sido alvo de críticas, destacam-se os autores Deleuze e Guattari.

1. A ideia de que a linguagem é informacional e comunicacional.


Crítica:
- A função da linguagem consiste em efectuar (através da palavra de ordem) actos de
linguagem e não em comunicar ou informar.
- A linguagem tem um efeito pragmático, existe uma relação entre o discurso e
aquilo que ele produz (acções).

2. Existe um sistema abstracto da linguagem que dispensa qualquer factor


extrínseco
Crítica:
- A linguagem funda o social e está intrinsecamente ligada ao exterior.
- A natureza extrínseca das coisas vai influenciar o discurso
- Não se pode explicar a língua sem explicar o sujeito (porque é ele que a utiliza e
que a faz evoluir).

3. Existem constantes universais da língua que nos permitem defini-la enquanto


sistema homogéneo
Crítica:
- A noção de linguagem é heterógenea. Nós utilizamos ao longo do dia, diferentes
tipos de linguagem (casa, amigos, trabalho...) Estes diferentes registos da linguagem,
marcam diferentes registos da própria linguagem.
- o que os linguistas faziam era partir da heterogeneidade para encontrar os aspectos
homogéneos, quando o que a língua tem de mais visível é a hetrogeneidade
- Qualquer tipo de linguagem permite-nos diferentes relações e não podemos dizer
que existe apenas uma estrutura rígida. Pelo contrário, há um princípio de variação
interna à linguagem.

64
4. A língua só pode ser cientificamente estudada sobre a égide de uma língua
maior
Crítica:
- Os autores criticam que a tendência de que a língua maior é um modelo e que tudo
deva ser estudado segundo esse mesmo modelo. Eles, propõem que se defina um
estudo específico para a análise de cada linguagem menor.

> Formalismo e Futurismo

Futurismo: Rejeição completa do passado através da procura de formas modernas.


Privilegia a máquina e o movimento. Ruptura com o teórico e estético. Impõe um
conceito de forma e não de conteúdo. Há uma desvalorização da linguagem, porque a
mensagem tende a esbater-se, visto o conteúdo ser irrelevante (interessa é a forma,
a sua materialidade).

Quatro princípios fundamentais do futurismo:


- Simultaneidade de elementos a vários níveis: Implica uma participação activa na
busca das formas;
- Compenetração: espectador enquanto participante activo;
- Dinamismo: noção de movimento;
- Síntese: relação funcional entre forma e fundo (indissociáveis).

O futurismo é um movimento artístico do ínicio do séc. XX, iniciado em Itália mas com um
desenvolvimento ímpar na Rússia. Dá grande ênfase às questões que emergem no séc. XX:
importância da máquina, velocidade, mudança e dinamismo. A disciplina científica mais
aproximada do futurismo, é a linguística contemporânea.

Formalismo: Corrente literária originária do futurismo. Preocupava-se com a


identificação da forma literária. Este círculo linguístico de Moscovo deu origem ao
círculo linguístico de Praga, no qual Jakbson foi um dos membros mais importantes.

Princípios gerais do formalismo (Todorov)


- Necessidade de deformação das formas originais (ir para além da aparência, da
percepção imediata. “A informação fornecida por uma mensagem diminui, na

65
medida em que a sua probabilidade aumenta”). O hábito impede a visão do
objecto, sendo necessário deformá-lo para que a nossa atenção se volte a fixar
nele;
- A obra de arte está no centro das atenções (e não a época ou o autor);
- A obra de arte é um processo (o que interessa é o seu processo de produção e não
o resultado final);
- O método é imanente ao objecto (não existe à priori);

O formalismo teve um grande desenvolvimento por volta de 1916/1918. È um movimento


que se fechou muito em torno da questão da forma.

66

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