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Tratamento de dados qualitativos

Entrevistas (individuais/grupo/histórias de vida) – observações /


conversas informais (registadas em diários)

Material em papel, impresso, transcrito (caso das entrevistas). É


importante deixar margens largas à esquerda e à direita do papel;
procede-se depois a uma leitura cuidadosa da informação recolhida.

A leitura desta informação comporta pelo menos duas operações:

• Sublinhar algumas das frases do texto a cor, por exemplo:

a. Azul: para os factos;

b. Amarelo: para algumas frases ilustrativas do discurso que


iremos provavelmente aproveitar no momento da
redacção do texto;

c. Vermelho: para frases ou sequências de que não


apreendemos o significado de imediato e que merecem
tratamento posterior.

d. Há quem assinale com uma outra cor as surpresas do


discurso, os temas inesperados, novas articulações
problemáticas, etc.

• Leitura dos textos e anotação.

Ao mesmo tempo, «resume-se» a entrevista nas margens esquerda e


direita do papel: durante a leitura, regista-se na margem esquerda
uma pequena síntese da narrativa (análise temática) e na margem
direita a relação mais conceptual com o modelo de análise (análise da
problemática).

Como se trata de uma leitura indutiva, é natural que surjam novas


temáticas (descritivas) e problemáticas (níveis que permitem novas
interpretações sobre o fenómeno a estudar). De qualquer modo,
como as entrevistas e a observação directa tiveram como suporte um
quadro conceptual de problematização e um guião, a grande maioria
das temáticas e problemáticas está identificada.
Construção das sinopses da informação qualitativa:

Com base na leitura anterior, constroem-se as sinopses das


entrevistas/observações numa grelha vertical cuja primeira coluna
apresenta as grandes temáticas do guião.

As sinopses são sínteses dos discursos que contêm a mensagem


essencial e são fiéis, inclusive na linguagem, ao que disseram os
sujeitos investigados. Quando se trata de estudos exploratórios e as
entrevistas são muito abertas, as temáticas e as problemáticas são
construídas durante a pesquisa, sendo depois agrupadas de forma a
permitir a sua comparação (processo de categorização).

Objectivos centrais das sinopses:

• Reduzir o montante de material a trabalhar identificando o


corpus central da informação;

• Permitir o conhecimento da totalidade do discurso, mas


também das suas diversas componentes;

• Facilitar a comparação;

• Ter a percepção do ponto de saturação teórica.

As sinopses podem ser completadas por outros esquemas que dão


conta de percursos biográficos, dados de caracterização
(=caracterização da amostra).

Estas análises (categoriais e temáticas) são consideradas análises


descritivas e ainda não interpretativas, mas têm uma forte
intervenção do investigador. No fundo, a intenção é contar ao leitor o
que nos disseram os sujeitos, mas, em lugar de contar 25 opiniões
diferentes, agregam-se as diferentes lógicas do que nos foi contado.
Só depois é possível proceder a análise interpretativas (análises de
ideal-tipo e/ou outro tipo de arrumação das interpretações
sociológicas).

Análise interpretativa

Mas o trabalho de um investigador do social não se limita à descrição.


Compete ao investigador relacionar os processos históricos globais
com as individualidades históricas e interrogar-se sobre a génese
daqueles fenómenos, à luz das interrogações que concebeu face ao
objecto de estudo. Para isso, não se limita a simples descrições dos
fenómenos através quer da rearticulação das variáveis, quer da
ligação aos fenómenos estruturais que conhece.

É-lhe permitido, nesta passagem para o nível interpretativo, conceber


novos conceitos e avançar com proposições teóricas potencialmente
explicativas do fenómeno que estuda.

É uma etapa arriscada, porque se corre o risco de descolar do


material, e exigente na articulação da teoria e a empirica, sendo
importante o pensamento crítico.

Elaboração do relatório final:

Explicitar os postulados teóricos, meios e métodos de recolha de


informação;

Clarificar cuidadosamente as estratégias de recolha e análise de


dados;

Ilustrar com dados empíricos as construções teóricas mais


significativas;

Expor as dificuldades e o percurso no terreno (tomada de decisões)

Preservar a confidencialidade da informação

Explicitar a significação teórica e a generalização de dados.

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