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O melhor professor que já tive

http://www.ciens inando.com.br/2011/02/o-melhor-profes s or/ February 22, 2011

O senhor Whitson ensinava ciências para a 6ª série. No primeiro dia de aula ele nos
falou sobre uma criatura chamada cattywampus , um animal noturno extinto durante a
Era do Gelo. Ele passou para os alunos um crânio enquanto falava. Todos nós fizemos
anotações e depois respondemos a um teste sobre a aula.

Muito simples, o professor explicou. Ele havia


inventado tudo o que falou sobre o
cattywampus . Aquele animal nunca havia
existido, ou seja, toda a informação em nossas
anotações estava errada. Nós esperávamos
crédito por respostas erradas?

Desnecessário dizer, nós ficamos revoltados.


Que tipo de teste era esse e que tipo de
professor ele era?

Nós deveríamos ter descoberto, o senhor


Whitson disse. Afinal, equanto ele passava o
crânio do cattywampus pela sala (que na
verdade era o crânio de um gato), não estava afirmando que não havia sobrado
nenhuma evidência do animal? Ele havia descrito sua incrível visão noturna, a cor de
sua pelagem e muitos outros fatos que ele não poderia saber. Ele havia dado ao animal
um nome ridículo e mesmo assim ninguém havia desconfiado. Os zeros em nossas
provas iriam para a avaliação, ele disse. E eles foram.

O professor Whitson disse que esperava que aprendêssemos uma lição dessa
experiência. Professores e livros didáticos não são infalíveis. Na verdade, ninguém é.
Ele nos disse para nunca deixar nosso cérebro ficar desatento e a tomar satisfação
sempre que pensássemos que ele ou qualquer livro estivessem errados.

Toda aula com o professor Whitson era uma aventura. Ainda posso lembrar de
algumas aulas de ciências do começo até o final. Um dia ele nos disse que seu carro
era um organismo vivo. Nós demoramos dois dias para bolar um argumento contrário
que ele aceitasse. Ele não nos deixava sossegar até que houvéssemos provado não só
que sabíamos o que era um organismo, mas também que tínhamos força para
defender a verdade.

Nós levamos nosso recém-adquirido ceticismo para todas as nossas aulas. Isso
causou problemas para os outros professores, que não estavam acostumados a
serem desafiados. Nosso professor de história começava a falar sobre algum assunto
e de repente alguém limpava a garganta com um “ram-ram” e dizia “cattywampus”.

Se alguém me pedisse uma proposta para solucionar os problemas de nossas escolas,


ela seria o professor Whitson. Eu não fiz nenhuma grande descoberta científica, mas
ele deu a mim e meus colegas de classe algo tão importante quanto: a coragem de
olhar outra pessoa no olho e dizer que ela está errada. Ele também nos mostrou que
você pode se divertir nesse processo.

Nem todo mundo vê valor nisso. Uma vez contei sobre o senhor Whitson a um
professor de ensino fundamental, que ficou horrorizado. “Ele não devia ter enganado
você assim”, disse.

Eu o olhei nos olhos e disse que ele estava errado.

O texto acima é um dos materiais mais interessantes que já vi sobre como o professor
pode – e deve – ser o veículo de transformação de maior importância para os alunos.
Sou da opinião que a proposta de ensino do prof. Whitson deve ser a pedra
fundamental na formação de novos professores e na reciclagem dos veteranos,
principalmente – mas não somente – nas disciplinas ligadas à Ciência.

Esse texto é uma tradução de um artigo de David Owen publicado no Reader´s Digest
(Edição Asiática) em abril de 1992, extraído e disponibilizado na página do professor
Aaron Tan Tuck Choy, da Universidade Nacional de Singapura. Chegou a mim via Twitter
por um RT da @NatureNews dado por Leonardo Gedraite (@LeoGed).

O original pode ser acessado em


http://www.comp.nus.edu.sg/~tantc/cattywampus.html.

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