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Parte do Relatório de Pesquisa desenvolvida entre agosto de 2006 a dezembro de 2007 no
Núcleo de Pesquisa do Centro de Economia e Administração da PUC C Campinas.
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A principal vantagem dos dutos está na grande capacidade de transporte e por manter fluxo contínuo de
movimentação, mas é limitado pelos produtos que pode transportar como petróleo, gás, granéis sólidos, água
e produtos químicos. Os investimentos para implantação são elevados, mas apresenta gastos menores para
operação e manutenção. Os monotrilhos são trens que se movimentam, geralmente em áreas pequenas,
suspensos em estruturas elevadas por meio de um trilho como, por exemplo, a linha inaugurada em 1964
entre o centro de Tóquio e o aeroporto da cidade, com 13,1 quilômetros percorridos em 15 minutos a uma
velocidade de 52 km/h. Os transportadores automáticos são pequenos carros que se movimentam isolados ou
em comboios em vias isoladas como o sistema LTV do aeroporto de Dallas, com pouco mais de 20
quilômetros e capacidade para transportar até 40 pessoas por veículo. Para maiores detalhes, ver Mello
(1984).
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Os investimentos iniciais e os prazos de maturação são menores do que os Para elevadas quantidades de cargas torna-se inviável, frente aos
demais modais. O sistema viário possibilita melhorias por etapas e de curto demais modais de transportes. Apresenta problemas de
Estradas, Automóveis prazo, na medida em que o tráfego for aumentando. Apresenta economia de congestionamentos com saturação de rodovias e avenidas e de
Rodoviário avenidas (carros, escala em diferentes quantidades transportadas, especialmente para pequenos segurança nos deslocamentos de pessoas e mercadorias. Seu
e ruas caminhões, volumes e para cargas espalhadas que exigem rede coletora. É flexível em desempenho é afetado pelas características das vias, rampas e curvas,
ônibus). relação aos caminhos que pode seguir, mas limitado em relação à dimensão e além das restrições quanto à capacidade de transporte impostas por
quantidades das cargas que pode transportar. gabaritos de peso, largura e altura da carga, diante de pontes, viadutos
ou túneis.
Quase sempre o investimento inicial é elevado com maturação de
longo prazo. Necessita de elevado volume de carga para tornar-se
viável e de importante infra-estrutura de apoio para os deslocamentos
Possui capacidade para transportar cargas de alto valor agregado e produtos de aviões. No Brasil, a demanda por transporte aéreo apresenta
Aeroviário Ar Aviões perecíveis em grandes quantidades e elevadas dimensões. Atende às características distintas dos demais modais e países, especialmente
necessidades de rapidez com segurança no transporte. Possibilita flexibilidade devido à concentração de renda a demanda é inelástica em relação ao
na escolha da rota, respeitando-se os controles de tráfego aéreo e as preço das tarifas porque a maioria dos passageiros realiza viagens a
necessidades de infra-estrutura aeroportuária. negócios e as passagens são pagas pelas empresas. Existem também
problemas de congestionamentos no espaço aéreo e alguns aeroportos
têm pistas de pouso e decolagem com capacidade insuficiente.
Fonte: Elaboração do Autor.
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Para detalhes sobre a política de regulação de infra-estruturas no Brasil entre 2003 e 2005, ver Maciel
(2005).
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se reflete tanto em questões de política interna quanto nas relações internacionais, como é o
caso do abastecimento de petróleo na geopolítica mundial, [por exemplo]”
(Lessa,1996:p.9).
A complexidade em torno das decisões sobre investimentos em transporte pode ser
compensada, em parte, por meio de ações integradas entre os governos federal, estadual e
municipal, bem como por empresários do setor. Trata-se, em geral, de utilizar a infra-
estrutura de transporte como indutora do desenvolvimento, por meio da construção de
sistema viário integrado em direção às estações ferroviárias, rodoviárias, portuárias e
aeroportuárias. O intuito é de estimular demandas existentes ou futuras por deslocamentos,
de pessoas ou mercadorias, como forma de induzir a expansão econômica e urbana a partir
da disponibilidade de meios de transportes.
Em torno dessa questão, Coutinho (1996:p.9-10) lembra que:
(...) a importância atribuída ao papel do investimento público [nos diversos setores
de infra-estrutura] é exatamente a de articular um conjunto de interesses regionais e
privados capazes de sustentar não apenas a retomada do desenvolvimento como o
próprio processo de estabilização [monetária de um país]. (...) A definição de um
bloco de investimentos em infra-estrutura exerce um forte poder tanto na
articulação política de legítimos interesses regionais quanto na articulação de um
conjunto de interesses privados competitivos, além da fixação de um horizonte de
demanda que imprime confiança ao próprio setor privado.
Seria ingênuo esperar que a simples presença dos agentes privados na produção dos
serviços desse intricado sistema [o de transporte] por si só garanta os níveis
almejados e possíveis de eficiência econômica. (...) Nada garante que, nas interfaces
entre esses agentes, haverá uma coordenação efetiva por parte da “mão invisível”
do mercado, ou que se dêem condições de acesso às instalações de uso
potencialmente comum de forma equânime. (...) Nesse ambiente ocorrem
externalidades as mais diversas, distorções de preços relativos, assimetrias de
informação, conflitos de interesse, mercados não concorrências ou não contestáveis,
e interseções e vazios de competência.
Motivo pelo qual, “(...) a repartição dos custos de transportes entre setores
[econômicos] e regiões é determinante para as decisões de investimento e de localização
das atividades econômicas, bem como para a redução das disparidades regionais, à luz do
novo paradigma global de gerenciamento das cadeias de produção e distribuição [de
mercadorias], a partir da integração regional e internacional das empresas e países” (Castro
& Espósito,1998:p.10-11).
Barat (1996:p.21-22) sugere uma nova concepção para a implantação das infra-
estruturas de transporte, energia e telecomunicações, cujos investimentos deveriam ser
integrados como variáveis estruturadoras do espaço econômico. Essa nova concepção “(...)
pressupõe a consideração desses segmentos como módulos estratégicos que integram as
cadeias logísticas, produtivas e de comercialização, [tendo em vista os processos de
abastecimento, estocagem, produção, escoamento e ampliação de mercados] para orientar
as decisões locacionais dos investimentos [sic] em grande escala que se farão presentes nos
setores agrícola, agroindustrial, de mineração e industrial das novas fronteiras econômicas”.
Para o setor público, portanto, torna-se importante utilizar os investimentos em
transportes como política pública relacionada, por exemplo, à perspectiva do
desenvolvimento econômico e urbano (nacional, regional e local), à competitividade
empresarial, à inserção do país no comércio internacional e à geração de emprego e renda,
superando a competição existente entre os diferentes modais de transporte na busca por
competitividade, eficiência e eficácia na prestação de serviços aos usuários.
Inclusive porque as vantagens comparativas nas decisões sobre localização
industrial proporcionadas, especialmente, pela oferta de recursos naturais, ampla oferta de
mão-de-obra de baixo custo e trabalhadores qualificados disponíveis tornaram-se menos
importantes, diante de aspectos relacionados à qualidade e prazos de entrega dos insumos e
produtos, assistência técnica, além de inovações nos processos produtivos e nas formas de
comercialização de mercadorias (Castro,1995 ; Pessini & Braga,1996 ; Castro &
Espósito,1998)5.
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Para maiores detalhes sobre localização industrial, ver Azzoni (1982 ; 1986) e Pacheco (1998).
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Apesar de distante dos centros de negócios das cidades, aos poucos, os aeroportos
tornaram-se estratégicos para o desenvolvimento dos países, dos municípios onde estão
instalados e regiões localizadas no seu entorno, sendo importantes geradores de empregos,
rendas e tributos. Em 1998 o transporte aéreo gerou uma receita de US$ 1.360 bilhões e 28
milhões de empregos em todo o mundo, conforme a International Air Transport
Association (IATA)6. Nos EUA, por exemplo, e segundo dados do Airports Council
International (ACI), em 1998 foram transportados 3,2 milhões de passageiros e 38 mil
toneladas de cargas por meio aéreo, gerando uma receita de US$ 380 bilhões; 1,6 milhão de
empregos nos aeroportos e 4,2 milhões nas cidades onde estão os aeroportos; além de US$
155 bilhões na forma de salários e US$ 31,2 bilhões em impostos para as cidades, estados e
união.
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A importância dos organismos internacionais para o transporte aéreo foi analisada no item 1.2.1 deste
estudo.
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Para detalhes sobre os portos, ver Silva & Cocco (1999) ; FIEB-CNI (1999); sobre os aeroportos, ver
Palhares (2001:p.45-55) ; Marques (2002) ; Memphis-Shelby Country Airport Authorith (2005).
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Sul (Mercosul), Europeu, Asiático)8. Em geral são produtos sofisticados de alto valor
agregado dos setores eletroeletrônico, telecomunicações, jóias, entre outros, que, em
viagens de longa distância, podem ser danificados se forem transportados pelo modal
marítimo devido aos problemas de umidade, ou pelo modal rodoviário devido aos impactos
que podem sofrer durante o percurso.
O aeroporto industrial, no caso do Brasil, envolve um arranjo econômico e jurídico
entre Infraero, o Ministério da Fazenda, a Secretaria da Receita Federal, a Câmara de
Comércio Exterior (Camex) e o Ministério do Desenvolvimento da Indústria e Comércio
(MDIC) porque representa um entreposto aduaneiro na zona primária dos terminais
aeroportuários classificados como internacionais pela Infraero. Nestes aeroportos devem ser
realizados o primeiro pouso e a última decolagem de aeronaves estrangeiras, conforme
determinações da International Civil Aviation Organisation (ICAO)9 e o que estabelece a
legislação brasileira sobre o assunto10.
Uma área do próprio aeroporto é destinada para a instalação de empresas,
especialmente as que operam no sistema just-in-time, permitindo agregar valor às
mercadorias porque peças, partes e componentes importados passam por um processo de
montagem para transformarem-se em mercadorias disponíveis para a venda interna ou
externa (Smith Associates, 2000; Jarach, 2001; Marques, 2002). No Brasil, o aeroporto
industrial está previsto para ser construído em Confins (BH), no Galeão (RJ), em Viracopos
(SP) e Petrolina (Pernambuco) (DAC, 2004 ; Infraero, 2005).
Há possibilidades de instalação de empresas em segmentos econômicos
diversificados na área destinada para o aeroporto industrial, como: I) manutenção, reparos e
pinturas em aeronaves; II) negociação de peças, partes e componentes entre pólos
industriais e centros tecnológicos por meio de redes internacionais de distribuição ou
“caminhos de um dia” (one day walk), como a rede formada por Toledo, Atlanta e Dallas,
nos EUA; e III) intercâmbio de produtos perecíveis, pois a colheita é feita de dia, o
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Sobre o comércio internacional organizado pelos países em blocos econômicos, ver Thorstensen (1994) ;
Cherem & Di Sena Júnior (2004) ; Cano (1993) ; Tavares & Fiori (1993).
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A ICAO, da qual o Brasil é signatário, faz prevalecer toda a legislação relativa ao transporte aéreo
internacional sobre a legislação nacional como convenções, tratados, protocolos, atos e acordos aéreos de que
o país seja parte integrante, conforme consta no Artigo 178 da Constituição da República Federal do Brasil de
1988. Esse assunto foi tratado no item 2.1 deste livro. Para maiores detalhes, ver (OACI, 2001).
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Trata-se da Medida Provisória 2158-33, de 28-6-2001; das Instruções Normativas SRF nº 241 de 6-11-
2002; nº 356 de 2-9-2003; nº 463 de 19-10-2004 e do Ato Declaratório Executivo nº 02 de 26-9-2003 (ver o
Quadro 4, anexo).
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transporte é noturno e no dia seguinte o produto está no mercado de outros países, podendo
representar um diferencial de competitividade para o setor agrícola como, por exemplo, no
caso do aeroporto de Petrolina que deverá atender, principalmente, aos fruticultores da
região do Vale do São Francisco, que estão entre os maiores produtores de manga e uva de
mesa do país.
Com o aeroporto industrial é possível aumentar o número de vôos internacionais de
cargas, inclusive porque os custos de produção das empresas são reduzidos devido à
ausência de gastos com seguro e à suspensão ou redução de impostos e tarifas que incidem
sobre as operações de importação e exportação de mercadorias como o Imposto de
Importação (II), e que incidem sobre peças, partes e componentes de produtos
industrializados como o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), o Programa de
Integração Social (PIS) e a Contribuição para Financiamento de Seguridade Social
(Cofins).
Para as empresas instaladas no aeroporto industrial existe a vantagem operacional
dada pela redução do tempo de produção, com a dispensa dos desembaraços aduaneiros
(embarque, desembarque e liberação de cargas). Essas empresas podem ainda elevar a
demanda local por insumos, produtos e serviços gerais para complementar a produção de
suas mercadorias e, depois, exportar ou vender para o mercado internacional.
Enquanto centro de negócios e serviços os aeroportos possibilitam ainda a
constituição de atividades comerciais diversificadas como: cafeterias, espaço para banho de
sol, como no Aeroporto de Miami, salas para teleconferências e conferências, além de lojas
(de flores, artigos esportivos, artesanato local, de discos, antigüidades, jóias e pedras
preciosas), restaurantes, lanchonetes, free-shops, espaços publicitários, bancos, casas de
câmbio, locadoras de automóveis, barbearias, cabeleireiros, livrarias, bancas de jornais e
revistas, bem como serviços diversificados (aluguel de armários, malas e bolsas, agentes de
viagens, correio, telefônicas, reservas de hotéis, transportes, engraxate), hotéis, farmácia,
cinemas, salas para reuniões, salas vip, piscinas e quadras de tênis.
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As citadas relações entre cidades e aeroportos, bem como o dilema maior entre
ambos (rapidez no ar e lentidão na terra), reafirmam a importância da intermodalidade e da
intramodalidade como formas de utilizar o transporte aéreo como um dos indutores do
desenvolvimento, considerando-se que permitem melhores condições de acesso à cidade
aeroportuária e ao centro de negócios e serviços, e que os aeroportos precisam estar
inseridos junto ao meio urbano das cidades onde estão localizados, devido às novas
atividades econômicas que passaram a exercer e à dimensão física-territorial que
adquiriram.
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Outros exemplos ilustrativos de integração entre trens e aviões são os seguintes. Nos
aeroportos das cidades de Frankfurt, Paris (Charles de Gaulle), Lyon e Estocolmo há
integração com os trens de alta velocidade. Nos aeroportos de Amsterdã, Bruxelas, Berlim,
Birmingham, Manchester e Southampton existem integração com trens de longa distância.
Nos aeroportos de Barcelona, Belfast, Gatwick, Milão, Pisa, Roma existem integração com
trens locais. Nos aeroportos de Paris Orly, Heathrow, Madri, Newcastle, Hartsfield-Atlanta,
O’Hare, Chicago ocorrem integração com metrôs.