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Escola Nacional de Administração Pública

Diretoria de Formação Profissional


Coordenação-Geral de Especialização

SEGURANÇA PÚBLICA NO BRASIL

Curso: Especialização Gestão Pública – 7ª Ed.


Disciplina: D1 – Desafios da Sociedade e Estado Brasileiro
Professor: Amarildo Baesso
Alunos: Gustavo Henrique Araruna Campos
Manoela Macedo
Marco Tourinho Gama
Maria de Fátima Bezerra
Rodrigo de Aquino

Brasília, 4 de março de 2011.


Índice

1. Introdução.....................................................................................................................................3
2. Desenvolvimento..........................................................................................................................3
2.1. Quadro da Insegurança..............................................................................................................3
2.2 Ações Estatais.............................................................................................................................4
2.3. Sistema Penitenciário e Jurisdicional.......................................................................................5
2.4. Educação....................................................................................................................................6
3. Conclusão.....................................................................................................................................6
Referências Bibliográficas ...............................................................................................................8
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1. Introdução

Segundo Márcio Thomas Bastos (2003), Segurança Pública diz respeito ao poder de
polícia: controle e imposição de comportamento com utilização da força, considerada no contexto
mais amplo da segurança como manutenção do necessário para a existência e a perpetuação da
sociedade e de seus membros.
Esse conceito está ligado à ação repressiva contra o crime. O próprio Thomaz
Bastos (2003) reconhece, no entanto, a importância da prevenção para efetividade da ação do
Estado. Outra dimensão da ação estatal, que não pode se desconsiderada, é a ressocialização. As
políticas de segurança pública serão mais efetivas na medida em que o Estado, por meio de um
marco normativo e institucional sólido, garanta a complementariedade das ações de prevenção,
repressão e ressocialização. Os desafios que se apresentam, portanto, englobam a criação de
valores sociais, o aperfeiçoamento de sistemas, políticas, instrumentos e ferramentas e a
integração dos poderes Executivo, das três esferas de governo, Legislativo e Judiciário.
O objetivo desse trabalho é abordar esses desafios na área segurança pública
considerando aspectos culturais e socioeconômicos brasileiros.
2. Desenvolvimento
2.1. Quadro da Insegurança
Um breve retrato do quadro de insegurança pode ser elaborado a partir de estatísticas
de casos de violência e de crimes contra a vida e o patrimônio. Entre 1998 e 2008, o número de
homicídios no Brasil cresceu 19,5%, passando de 41.950 ocorrências para 50.113, dos quais
36,5% tinha como vítimas jovens de 15 a 24 anos, em sua maioria, negros e do sexo masculino
(Waiselfisz, 2011). Caracterizam também a questão: o elevado número de mortes por acidentes
de trânsito, que chegou a 66.837 em 2007 (Confederação Nacional dos Municípios, 2009); a
violência doméstica, particularmente contra mulheres e adolescentes (Organização das Nações
Unidas, 2011); e a violência no campo, por influência dos grandes proprietários de terras
(Gonçalves, 2006),
A concentração dos índices de homicídios entre a população masculina jovem, negra
e de baixa renda indica que o problema da violência no Brasil tem uma ligação estreita com a
exclusão social. Análise dos índices socioeconômicos, entre 2005 e 2009, aponta para a tendência
de reversão nesse quadro, como se observa pela queda no coeficiente de Gini de 0,56 para 0,54 e
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pela redução de 21,6 para 18,9 na diferença entre 20% mais ricos e os 20% mais pobres (IPEA,
2009).
Apesar disso, não se observa inflexão nos índices nacionais de homicídios. Nas
regiões Nordeste e Centro-Oeste, no entanto, os índices de homicídio e a diferença entre os 20%
mais ricos e os 20% mais pobres superam os das demais regiões (IPEA, 2009). O aumento da
atividade econômica com concentração de renda é a hipótese subjacente ao crescimento das taxas
de homicídios nas cidades do interior (Waiselfisz, 2007).
O quadro de violência no Brasil também é influenciado pela dinâmica da
economia da droga: tráfico, distribuição e crimes conexos. A permeabilidade das fronteiras
nacionais e a proximidade dos grandes produtores de drogas de origem natural – Bolívia,
Colômbia, Peru e Paraguai – configuram o papel do Brasil como país de trânsito e crescente
consumidor de drogas. Enquanto os atores desse comércio ilegal no atacado permanecem
impunes e dificilmente são alvos de ações investigativas, as ações repressivas se concentram no
comércio varejista, especialmente nas áreas marginalizadas das zonas metropolitanas das grandes
e médias cidades, afetando particularmente a população de baixa renda e jovens que, em busca de
enriquecimento rápido e identidade social, se alistam como braços armados das facções
criminosas (Soares, 2003; Zaluar, 2007), culminando nas estatísticas desafiadoras para o poder
público e a sociedade civil.

2.2 Ações Estatais


A opção por ações repressivas para o enfrentamento do problema no Brasil tem-se
alinhado à cultura de controle social e segregação punitiva (Garland, 2008 apud Silva Jr., 2010:
p.73). A letalidade e a violência da atuação policial e o funcionamento injusto e ineficaz do
sistema de justiça alimentam a desconfiança social em relação às instituições (DaMatta, 1986;
Soares, 2003; Zaluar, 2007). Desacompanhadas de medidas para promoção da coesão social,
essas ações têm apresentado resultados transitórios e com potencial para gerar efeitos indesejados
no longo prazo.
A partir de 2007, por meio do Programa Nacional de Segurança Cidadã (Pronasci),
o governo federal passa a articular ações de repressão com ações sociais, visando à prevenção da
violência e ao combate às suas causas, com foco na valorização do profissional de segurança, na
formação de quadros, envolvimento da comunidade e coordenação com outras instâncias dos
poderes estaduais e municipais.
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Seguindo essa orientação, foram criadas as Unidades de Polícia Pacificadora


(UPPs), que representam “modelo inovador de gestão de políticas públicas, que atua para
coordenar ações do governo estadual, municipal e federal, da iniciativa privada e da sociedade
civil, reduzindo a fragmentação e superposição de projetos” (Henriques, 2011: sem página).
Outras iniciativas por parte da sociedade civil, associadas às UPP, têm ampliado o escopo de
serviços, tais como a oferta de empregos e a implementação de medidas para a identificação
social das populações marginalizadas.

Essa nova abordagem da questão da segurança pública cria oportunidade para o


desenvolvimento de novas estratégias e incorporação de novos atores, principalmente a sociedade
civil. As Conferências Nacionais de Segurança Pública – CONSEGs, com representação de
vários setores da sociedade e do governo, são arenas de cunho inovador, uma vez que permite
aproximar o Estado das demandas socias.

As conferências inserem-se, assim, em um marco de democracia e gestão pública


que acentuam a inclusão e a igualdade política e, ao inserirem uma pluralidade de segmentos,
também integram novas perspectivas e temáticas. Grupos historicamente marginalizados, com
poucos recursos econômicos ou políticos, têm a oportunidade de inverter desigualdades e
tradicionais hierarquias a partir desses fóruns (Souza, 2010: 117). A maior participação e a
interconexão de agendas aumentam a probabilidade de os processos de deliberação e tomada de
decisão serem mais democráticos e justos. (Souza, 2010: 107).

2.3. Sistema Penitenciário e Jurisdicional


Outro ponto a analisar refere-se à relação entre os sistemas carcerário e judiciário. De
acordo com dados do Ministério da Justiça (Brasil, 2011), o número de detentos chegou a
494.237, em 2010, um aumento de 112,34% em relação a 2000. Em contrapartida, de acordo com
o IBGE (2009), a população brasileira, no mesmo período, apresentou crescimento de apenas
12,91%. Apesar do aumento de 84% nas vagas oferecidas pelo sistema prisional nos últimos dez
anos, o déficit aumentou em 178,3% (Brasil, 2001). Parte do problema decorre de deficiências do
nosso sistema jurisdicional no que se refere à demora no julgamento de processos para
progressão de pena.
Outro indicador da falência do modelo de ressocialização a partir do sistema prisional
é o elevado grau de reincidência – entre 70% e 85% –, particularmente associado a jovens (60%)
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reduzido grau de instrução – 8% são analfabetos, 44% têm ensino fundamental incompleto e 90%
não têm o ensino médio completo (Brasil, 20??).
2.4. Educação
Para reverter essa tendência e consolidar os resultados obtidos com Pronasci, as
iniciativas governamentais precisam estar coordenadas com políticas voltadas para a educação,
particularmente direcionadas para (Brasil, 2011; Carvalho, 2011):
 crianças e jovens em situação de vulnerabilidade social, com o objetivo de prevenir
sua marginalização e cooptação por criminosos;
 policiais em atividade, em cursos tanto de aperfeiçoamento técnico como de direitos
humanos e civilidade ética e cidadã, visando a diminuição da letalidade de suas
ações e da prática da corrupção;.
 egressos do sistema prisional, no sentido de oferecer-lhes oportunidade de
ressocialização e profissionalização.
3. Conclusão
A complexidade do tema e a sua intersetorialidade e transversalidade com outras
políticas públicas determinam o envolvimento de diversos atores, entre eles órgãos públicos dos
Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, representantes da Sociedade Civil, meios de
comunicação e, em última instância, os próprios cidadãos.
Segundo Levinthal e Warglien,(1999, apud Bourgon, 2010), diante de problemas
desse porte, o desafio para os administradores públicos é a leitura do ambiente complexo,
conectar problemas, pessoas e soluções nos contextos corretos.
No âmbiro de um novo paradigma de abordagem do problema, caracterizado pela
aproximação entre governo e sociedade civil, o Pronasci tem respondido ao desafio de consolidar
novos valores na ação governamental, com perfil mais inclusivo, fortalecendo a cidadania e
trabalhando a imagem das autoridades policiais perante a sociedade.
É necessário, no entanto, perseverar nesse caminho. Além disso, outros programas
federais, como por exemplo o PAC 2, o Minha Casa, Minha Vida e o Bolsa Família etc., podem
estar integrados a soluções como as UPPs, que funcionariam como facilitadoras para a
implementação de políticas públicas federais inclusivas e de visão estratégica, adequadas às
necessidades locais. Esse canal de percepção da realidade e de demanda local deve ser utilizado
pelos gestores para o aperfeiçoamento de políticas públicas de caráter nacional.
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É imperativo, sobretudo, agregar maiores investimentos em educação, como forma de


prevenir a marginalização de crianças e jovens e de resgatar a cidadania dos grupos excluídos. Os
desafios envolvem a universalização da educação integral nas escolas públicas, com atividades de
esporte, cultura e cidadania no contra-turno. No ensino médio, recomenda-se a oferta de cursos
técnicos e profissionalizantes. Parcerias com a iniciativa privada podem ser uma resposta ao
desafio de garantir o acesso à educação em regiões com baixa infraestrutura.
O maior desafio é dar continuidade à implementação coordenada de políticas sociais
e de segurança, de cunho preventivo, e também reformar as instituições policiais como foco no
aperfeiçoamento das ações de repressão. O Brasil precisa participar de forma mais efetiva da luta
contra o tráfico de drogas na América Latina, principalmente por meio da cooperação com os
países vizinhos, com vistas ao fortalecimento das instituições policiais e da promoção de
alternativas econômicas de substituição da produção de drogas.
A desmilitarizaçào e a unificação das polícias estaduais, com a adoção do ciclo
completo, por exemplo, podem contribuir para a maior eficiência no emprego de recursos e na
eficácia das ações investigativas e de policiamento ostensivo. A experiência das UPPs devem ser
implementadas em outras regiões, particularmente em áreas onde o Estado precisa recuperar o
controle social e garantir condições adequadas para a oferta de seus serviços.
Os desafios do sistema prisional tangem a simplificação do processo penal e a
melhoria dos sistemas de informação sobre o cumprimento da pena. Outro aspecto se refere ao
incremento dos quadros da Defensoria pública, facilitando o acesso à Justiça por uma camada
maior da população de baixa renda.
As soluções para um problema multifacetado como é a redução da violência passam
pela garantia dos direitos sociais, por regularizar a questão fundiária, pela existência de
infraestrutura para uma vida digna e saudável, no campo e nas cidades. O poder político, uma vez
compartilhado pelas instituições governamentais, deve ser empregado em co-responsabilidade
entre Estado e sociedade para garantia dos termos do contrato social.
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Referências Bibliográficas

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