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1 - Introdução
1
Carlos Weis é Procurador do Estadode São Paulo, membro e primeiro coordenador do Grupo de Trabalho de
Direitos Humanos da Procuradoria Geral do Estado de São Paulo.
2
Lei Federal n. 8.078, de 11 de setembro de 1990.
”Art. 81 - A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida em juízo
individualmente, ou a título coletivo.
Parágrafo único - A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:
I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste Código, os transindividuais, de natureza
indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato;
II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste Código, os transindividuais, de natureza
indivisível, de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por
uma relação jurídica base;
III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum.”
2
direitos humanos sociais sempre estiveram presentes no horizonte dos interesses difusos e
coletivos, como já dizia Mauro Cappelletti na década de setenta, em seu consagrado
Formazioni sociali e interessi di grupo davanti alla giustizia civile 3, em que destacava o caráter
difuso de direitos à saúde, à segurança social, a não sofrer discriminação, entre outros
encontrados nas Constituições democráticas modernas e em declarações internacionais dos
direitos do homem.
2.1 - Inerência
A noção de que os direitos humanos são inerentes a cada pessoa, pelo simples fato
de sua existência, decorre do fundamento jusnaturalista racional adotado pelo Direito
Internacional dos Direitos Humanos. Assim é que o Preâmbulo da Declaração Universal dos
Direitos Humanos, logo no primeiro parágrafo, reconhece que a “dignidade inerente a todos os
membros da família humana e seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade,
da justiça e da paz no mundo.”5
3
O original italiano encontra-se publicado na Rivista di diritto processuale, Padova, CEDAM, v. 30, p. 361-402,
1975. Este trabalho utiliza a versão para o português, Formações sociais e interesses coletivos diante da justiça
civil, trad. Nelson Renato Palaia Ribeiro de Campos, Revista de processo, São Paulo, v. 5, p. 128-159, jan./mar.
1977.
4
Para os fins deste trabalho, os direitos humanos são aqueles decorrentes das normas e princípios
constitucionais, acrescidos dos pertencentes ao Direito Internacional dos Direitos Humanos, isto é, dos tratados
internacionais de que faça parte o Brasil, a teor do que permite o artigo 5o, § 2o, da atual Constituição Federal.
5
Esta passagem possui evidente conexão com a idéia de direitos humanos consolidada no século XVIII, como
mostra a seção I da Declaração de Direitos da Virgínia: “Todos os homens são por natureza igualmente livres e
independentes e têm certos direitos inatos que, quando entram no estado de sociedade não podem, por nenhuma
forma, privar ou despojar a sua posteridade, nomeadamente o gozo da vida e da liberdade, com os meios de
adquirir e possuir a propriedade e obter felicidade e segurança.” (Cf. tradução de Jorge Miranda, Textos históricos
3
O reconhecimento da inerência é premissa racional para a construção da noção de
direitos humanos, porque a existência do ser humano livre, anterior à criação do Estado,
permite a limitação da ação deste ou seu direcionamento para a criação de condições
favoráveis à vida em sociedade. E a transposição do pensamento liberal clássico para meados
do século XX se opera na medida em que aos documentos contemporâneos de direitos
humanos pouco importa o fundamento da inerência, mas sim o seu papel de pressuposto
necessário para o desenvolvimento de um conjunto de regras que visam a condicionar a ação
do Estado em benefício do interesse individual ou coletivo.
Como conseqüência decorre o caráter não taxativo dos direitos humanos até agora
reconhecidos, eis que sendo inerentes aos seres humanos, em grupo ou individualmente, se
apresentam em constante mutação, acompanhando e interferindo na evolução social, regional
e global. Assim, ainda que os tratados internacionais tenham conteúdo obrigatório, gerando
direitos aos seus beneficiários, nada impede uma nova formulação, seja pela sua inclusão em
algum texto legal futuro, seja por via da interpretação das expressões empregadas.6
2.2 - Universalidade
do direito constitucional, 2. ed. Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1990. p. 31. A Declaração de Direitos
da Virgínia foi promulgada em 16 de junho de 1776.)
6
Vide a respeito os Pactos Internacionais em seu artigo 5o e, especialmente, o artigo 29, “c” da Convenção
Americana de Direitos Humanos. No mesmo sentido, a Constituição Federal de 1988 dispõe no artigo 5 o, § 2o, que
os direitos e garantias nela expressos não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela
adotados.
4
A concepção universal dos direitos humanos decorre da idéia de inerência, a
significar que estes direitos pertencem a todos os membros da espécie humana, sem qualquer
distinção fundada em atributos inerentes aos seres humanos ou da posição social que
ocupam.
7
Proclamada em Teerã, em 13 de maio de 1968. Tradução não oficial de Antônio Augusto Cançado Trindade.
5
todo e cada ser humano, aqui desprovido de um sentido concreto de existência, tido como
mera formulação racional genérica e abstrata.
Ocorre, como afirma Louis Henkin, que a universalidade dos direitos sociais pode
ser entendida no contexto mais amplo da dignidade humana, a que toda pessoa tem direito.
Desta forma, ainda que aqueles direitos digam respeito somente a certos grupos sociais, isso
se deve ao fato de se almejar a garantia efetiva, e para todas as pessoas, de um nível de vida
condizente com aquele princípio moral universal.8 Em conseqüência, a promoção dos direitos
econômicos, sociais e culturais, com a adoção de políticas voltadas a determinados setores da
sociedade - atualmente denominados “grupos vulneráveis” - é condição necessária para o
respeito pleno da universalidade dos direitos humanos, os quais não se realizam integralmente
sem a adoção das medidas previstas nos documentos que compõem o Direito Internacional
dos Direitos Humanos. Não há mais como pensar em respeito aos direitos humanos sem que
o Estado tome as providências que lhe compete, em vista a assegurar a elevação das
condições de vida ao que se convencionou chamar de padrão mínimo de dignidade humana.
Assim é que a ONU, mesmo tendo editado dois pactos internacionais de direitos
humanos9, aparentemente separando os direitos humanos em duas classes, fez questão de
afirmar a concepção unitária já em 1968, na Conferência Internacional de Teerã. A
Proclamação resultante do encontro é enfática: “13. Como os direitos humanos e as liberdades
fundamentais são indivisíveis, a realização dos direitos civis e políticos, sem o gozo dos
direitos econômicos, sociais e culturais torna-se impossível.”
Nos anos setenta, resoluções das Nações Unidas reiteraram esta idéia, consolidada
no item quinto, parte primeira, da Declaração e Programa de Ação adotada pela Conferência
Mundial sobre Direitos Humanos (Viena, 1993), ao afirmar que: “Todos direitos humanos são
universais, indivisíveis, interdependentes e inter-relacionados.”
8
The age of Rights. New York: Columbia University Press. p. 32.
9
Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais e Pacto Internacional dos Direitos Civis e
Políticos, ambos adotados pela Resolução n. 2.200-A (XXII) da Assembléia Geral das Nações Unidas em
16.12.1966 e ratificados pelo Brasil em 24.1.92.
6
A indivisibilidade, então, está ligada ao objetivo maior do sistema internacional de
direitos humanos, a promoção e garantia da dignidade do ser humano. Ao se afirmar que os
direitos humanos são indivisíveis, se está a dizer que não existe meio-termo: só há vida
verdadeiramente digna se todos os direitos previstos no Direito Internacional dos Direitos
Humanos estiverem sendo respeitados, sejam civis e políticos, sejam econômicos, sociais e
culturais. Trata-se de uma característica do conjunto das normas e não de cada direito
individualmente considerado. Como diz Dalmo de Abreu Dallari, “Não existe respeito à pessoa
humana e ao direito de ser pessoa se não for respeitada, em todos os momentos, em todos os
lugares e em todas as situações a integridade física, psíquica e moral da pessoa. E não há
qualquer justificativa para que umas pessoas sejam mais respeitadas do que outras.” 10
10
Viver em sociedade. São Paulo: Moderna. 1995. p. 13
7
própria liberdade, revelando, neste aspecto, a teoria liberal uma completa ‘cegueira’ em
relação à indispensabilidade dos pressupostos sociais e económicos da realização da
liberdade.”11
Por isso, destaca Alejandro Artúcio que o caráter interdependente dos direitos
humanos implica que se deve conceder aos direitos civis e políticos e aos econômicos, sociais
e culturais a mesma atenção.16 Novamente, esta característica aponta para a atualidade dos
direitos humanos, afastando qualquer tentativa de priorização de uma ou outra classe de
direitos, o que, tanto quanto indesejável, violaria a lógica do sistema, eis que não há mais
dúvida de que as exigências das sociedades atuais implicam a criação de condições mesmo
para o exercício das liberdades negativas, caso ainda se entenda estas como
hierarquicamente prevalescentes sobre os direitos sociais.
2.4 - Transnacionalidade
Esta característica dos direitos humanos é bem resumida por Dalmo Dallari, para
quem “Os direitos fundamentais da pessoa humana são reconhecidos e protegidos em todos
os Estados, embora existam algumas variações quanto à enumeração desses direitos, bem
como quanto à forma de protegê-los. Esses direitos não dependem da nacionalidade ou
cidadania, sendo assegurados a qualquer pessoa.”17
éstos puede asegurar la existencia rela de aquellos ya que, sin la efectividad del goce de los derechos
económicos, sociales y culturales, los derechos civiles y políticos se reducen a meras categorías formales; y, a la
inversa, sin la realidad de los derechos civiles y políticos, sin la efectividad de la libertad, entendida en su más
amplio sentido, los derechos económicos, sociales y culturales carecen, a su vez, de verdadera significación.” (Los
derechos fundamentales de la persona humana. Estudios Básicos de Derechos Humanos, San José, C.R., v.2,
1995. p. 93).
15
Curso de direito constitucional. 6. ed. São Paulo: Malheiros, 1996. p. 524.
16
Universalidad, indivisibilidad, e interdependência de los derechos económicos, sociales y culturales, y los derechos
civiles y políticos: breves nociones de los mecanismos de suoervisión a nivel universal y regional. In: SEMINÁRIO
SOBRE DERECHOS ECONÓMICOS, SOCIALES Y CULTURALES, Genebra: Comissão Internacional de Juristas,
1996. p. 19.
17
O que são direitos da pessoa. São Paulo: Abril Cultural/Brasiliense, 1984. p. 22.
9
Realmente, a noção de que os direitos humanos acompanham o ser humano onde
estiver deriva da concepção jusnaturalista que neles vê a inerência acima tratada. Porém,
mesmo para quem entende o Direito apenas como fruto do Estado, o desenvolvimento do
Direito Internacional dos Direitos Humanos e a ratificação crescente dos principais tratados
internacionais pela grande maioria dos países acaba por conduzir à mesma conclusão, do
respeito aos direitos humanos em todo o globo.
Para proceder à aproximação das duas teorias, faz-se também necessário marcar
os dados essenciais dos interesses difusos e coletivos, que serão, a seguir, combinados com
as características dos direitos humanos contemporâneos, já traçadas no tópico anterior.19
18
É adotada aqui a terminologia eleita pelo Código de Defesa do Consumidor. Emprega-se então interesses
transindividuais ao invés de meta, pluri ou supra-individuais. Distingue ainda os interesses difusos dos coletivos,
não desconhecendo, porém, a ambigüidade terminológica da doutrina italiana, para a maioria da qual os dois
termos são sinônimos, ou mesmo a distinção entre ambas realizada por Luís Filipe Colaço Nunes (A tutela dos
interesses difusos em direito administrativo: para uma legitimação procedimental. Coimbra: Almedina, 1989. p.
31).
19
As questões típicas da processualística não serão objeto de debate neste trabalho, cujo objetivo é verificar em
que medida a classificação dos interesses ou direitos como difusos, coletivos ou individuais homogêneos se
adequa aos direitos humanos.
10
imprecisos de pessoas, todas unidas por se encontrarem na mesma situação, jurídica ou
fática. 20
Como reflexo dessa nova realidade social21, a concepção de que somente são
dedutíveis juridicamente as relações entre dois sujeitos de direitos e obrigações claramente
definidos não mais se aplica. Decorre que as relações jurídicas massificadas têm como um
dos pólos seres humanos agregados numa mesma categoria, grupo ou classe social, pouco
importando os traços que distinguem cada indivíduo, do que decorre a inadequação da
fórmula processual individualista, segundo a qual o sujeito de direitos é o titular da relação
jurídica material.
Mais além, a tutela estatal não poderia ignorar relações sociais que não se
adequassem ao modelo individualista, mas que continuavam a gerar conflitos sem solução.
Para tanto, surgiu a necessidade de se prestar atenção não mais no dado da titularidade do
direito, mas nos próprios interesses em discussão e sua relevância social, para encontrar outra
maneira de tutelá-los. Nestes casos, a relação entre o bem de vida e a pessoa se estabelece
não mais em vista de um indivíduo, mas de uma coletividade, no que definitivamente se afasta
do modelo tradicional, em que a titularidade do direito de exigir a prestação equivalia à da
relação jurídica material.23
20
Cf. GRINOVER, Ada Pellegrini. A tutela jurisdicional dos interesses difusos. CONFERÊNCIA NACIONAL DA
ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL, 7., 1978.
21
Para dar uma idéia do fenômeno no Brasil, em 1960 cerca de 55% da população brasileira vivia no campo,
situação que se inverte e intensifica a partir da década seguinte. Em 1980, apenas 36% dos brasileiros viviam no
campo e as grandes regiões urbanas aglutinavam a maioria da população urbana. (fonte: IBGE).
22
Ob. cit., item 5.4..
23
Como destaca MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Interesses difusos: conceito e legitimidade para agir. 3. ed.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 1994.
11
da “coletividade como um todo”, identificam-se com o “bem geral”. 25 Em regra, porém, dizem
respeito a certos grupos sociais, mais ou menos precisos, com o que se assemelham mais aos
“corpos intermediários”, a parcelas da sociedade que possuem interesses coincidentes ou não
com o todo.
31
Tomando como exemplo as mulheres, sua identificação como grupo social decorre não do dado biológico de
pertencer ao sexo feminino, mas pela situação real de desigualdade que viola o Direito e as coloca, todas, como
credoras das mesmas providências perante o Estado. Em decorrência, surgem normas aplicáveis somente a elas,
já consolidadas em um conjunto de tratados internacionais, que, inclusive, constitui um ramo específico do Direito
Internacional dos Direitos Humanos. No mesmo sentido, mostram-se sem qualquer sentido argumentos
comparativos, como se devesse haver “direitos dos homens”, eis que a supremacia social destes não os coloca
na posição de demandantes, enquanto grupo, de qualquer providência estatal para a eqüalização de suas
condições de vida.
15
Tendo em vista a definição contida no inciso I do citado artigo 81 do Código de
Defesa do Consumidor, surgem como direitos humanos difusos, em primeiro lugar, aqueles
decorrentes dos tratados referentes aos direitos globais, sempre que for possível identificar
com clareza as medidas requeridas. Porém, como já destacado, este ramo do Direito
Internacional dos Direitos Humanos ainda se encontra em fase de desenvolvimento, buscando
resolver questões ligadas ao obrigado por suas prescrições.
Como direitos humanos difusos podem ser enquadradas muitas das prescrições
relacionadas aos âmbitos econômico, social e cultural. A rigor, seguindo a terminologia legal, a
titularidade de parte dos direitos de tal natureza não é coletiva, mas difusa, pois o grupo social
que a detém não é plenamente identificável e seus membros estão ligados por circunstâncias
de fato.
Resulta que um primeiro foco destes direitos decorre das relações trabalhistas, em
que efetivamente pode ser vislumbrado um universo definido de pessoas, sendo expressiva a
utilização das palavras “classe” e “categoria” pelo inciso II do artigo 81 do Código. Tanto assim
é que cada vez mais os conflitos são resolvidos por acordos gerais. Estes, por sua vez,
observam uma expansão no seu conteúdo para abarcar, além das condições de trabalho, a
cooperação entre patrões e empregados para melhorar a gestão e a produtividade das
empresas, como condição de sobrevivência de ambos.34
32
SIEGHART, Paul, The international law of human rights. New York: Oxford University Press, 1995. p. 368.
33
MANCUSO, Rodolfo de Camargo, ob. cit., p. 44.
34
Sobre a conexão entre os direitos laborais e os interesses transindividuais, vide FIORILLO, Celso Antônio
Pacheco. Os sindicatos e a defesa dos interesses difusos no direito processual civil brasileiro. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 1995.
17
Em vista dos direitos humanos de natureza política, os partidos mostram-se centros
de aglutinação de interesses coletivos, como no caso da liberdade de sua existência e de
participação no processo eleitoral.35 E o interesse partidário não se mistura com o de seus
membros ou de seus eleitores, merecendo caracterização e proteção próprias.
35
Vale a pena colocar o problema das agremiações políticas cujo objetivo é a instauração de um sistema não-
democrático, cuja atualidade é dada pelos movimentos neonazistas e pelo fundamentalismo religioso. A questão é
saber se a democracia admite que se questione as suas próprias regras fundamentais de sobrevivência, ou se
neste caso não prevalece a vontade da maioria. Do ponto de vista do Direito Internacional dos Direitos Humanos,
o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos prevê que o direito à livre associação está sujeito às restrições
que se façam necessárias, em uma sociedade democrática, ao interesse da segurança nacional, ou direitos e
liberdades das demais pessoas (art. 22 - 2), do que se infere a possibilidade de proscrição de entidades do tipo
acima citado.
18
Figura como exemplo o direito a que o Estado combata as epidemias (PIDESC, art.
12-2, c); se isso depender da aplicação de uma vacina, não há problema em que uma pessoa
exija esta prestação que, neste caso não, é indivisível e nem se destina a um número
indeterminado de pessoas.
a ação popular. Ganha destaque a primeira, diante da possibilidade que cria para o julgador, de determinar a
realização de uma prestação pelo Estado, ao invés de apenas poder ser utilizada para a interrupção de prática
antijurídica, caso das demais.
38
Ob. cit., p. 42.
20
Tais ponderações têm em vista mostrar que os direitos econômicos, sociais e
culturais não são meras aspirações populares, mas contêm um efetivo caráter cogente, na
medida máxima das possibilidades técnicas e financeiras do Estado, como prevêem as
normas internacionais.
Por fim, não resta dúvida que os serviços públicos se enquadram no objetivo estatal
mais amplo de erradicar as desigualdades regionais e sociais (Constituição Federal de 1988,
artigo 3o, III), estando sua atribuição, para pessoas em situação vulnerável, em perfeita
harmonia com essa diretriz, na construção efetiva de um Estado Democrático de Direito.
6- Conclusões e propostas.
A) É juridicamente possível estabelecer uma correlção entre as normas definidoras dos direitos
humanos e os interesses transindividuais, seja em face do desenvolvimento doutrinário de
ambos ramos do Direito, seja diante da classificação trazida pelo artigo 81 da Lei Federal n.
8.078, de 11.9.90;
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22
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