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DA QUEIXA CRIME

A queixa ou queixa-crime é assim definida por De Plácido e Silva: “Queixa-Crime.


Exprime o mesmo que delação: é a denúncia do fato criminoso, para punição do
culpado. E, assim, objetiva-se na exposição circunstanciada do fato criminoso trazida
ao conhecimento da autoridade competente, pela parte ofendida ou por quem tenha a
qualidade ou poderes para representá-la a fim de que se inicie contra o ofensor ou
autor do delito a ação penal (...)”

Queixa é a petição inicial que dá início a ação penal privada. Assim como a denúncia,
utilizada para dar início à ação penal pública, para que a queixa seja recebida pelo
magistrado, deverá obedecer aos requisitos elencados no artigo 41 do Código de
Processo Penal:

Art. 41 - A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as


suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa
identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas.

A petição inicial da queixa deve se fazer acompanhar de documentos hábeis a


comprovar a existência do delito e os indícios de autoria do crime para que seja, então,
recebida pelo magistrado.

Dessa forma, com a petição inicial devidamente instruída, dá-se início ao inquérito
policial para a devida apuração dos fatos relatados na queixa.

A queixa pode ser proposta pela vítima ou por seu representante legal, por meio de
procurador com poderes especiais. O instrumento de mandato deve mencionar,
obviamente, o nome do querelante ou de seu representante, fazer referência a
circunstância criminosa, bem como é importante que conste o nome do querelado.

A procuração com poderes específicos é obrigatória uma vez que possibilita a


designação de incumbências tanto para mandante como para mandatário. Aqui, vale
observar que a procuração deve conter simples descrição do delito. Há quem considere
razoável a mera alusão ao boletim de ocorrência, à tipificação do delito ou ao inquérito
policial.

Via de regra, o ofendido deve constituir advogado para oferecer a queixa, a não ser
que seja tecnicamente habilitado para tanto. Se for pobre, na acepção jurídica do
termo, o juiz nomeará advogado para dar início e acompanhar a ação penal, se for o
caso.

É conveniente que o querelante assine a petição inicial da queixa juntamente com seu
advogado, já que assim, eventuais falhas ou lacunas no mandato ou na própria queixa
serão consideradas sanadas uma vez que assinando a queixa, o querelante avalizou
sua narrativa. Tem- se, por outro lado, que eventuais falhas e omissões podem ser
reparadas durante a instrução processual, desde que antes do término do prazo
decadencial.

Se questões relacionadas a identificação do querelado e ao fato criminoso dependerem


de diligências para que sejam devidamente apuradas e informadas, as diligências
deverão ser antecipadamente requeridas ao juízo criminal, para que constem da
queixa crime.

Em cumprimento ao princípio da indivisibilidade, a queixa deve alcançar todos os


autores do crime, inclusive co autores e partícipes, de maneira que aqui, o Ministério
Público funcionará como “custus legis”, fiscalizando e zelando pela indivisibilidade da
peça inicial. Se o querelante estiver certo de que apenas um agente cometeu o delito e
oferecer queixa apenas contra ele, não sofrerá prejuízos se posteriormente vier a ter
conhecimento de que outras pessoas concorreram para o crime, entretanto, deverá
aditar a queixa no prazo decadencial, sob pena da extinção da punibilidade de todos os
agentes, a qual é requerida pelo Ministério Público, se for o caso.

O Ministério Público poderá aditar a queixa crime, mesmo que essa seja ação penal
privativa do ofendido, corrigindo-a, complementando-a ou inserindo nela qualquer
informação relevante. Se por falta de provas ou por ignorância de identidade um ou
mais autores do mesmo crime não forem incluídos na peça inicial, o Ministério Público
deverá fazê-lo, se amealhar suficientes elementos probantes, porém, não poderá o
Ministério Público aditar a inicial para incluir agentes antes desconhecidos se o
querelante, injustificadamente, os excluiu da ação e já passou o prazo decadencial
para o aditamento.

Se o Ministério Público, após análise da queixa crime, entender tratar-se de crime cuja
apuração deve ser feita através de ação penal pública, deve oferecer denúncia
substitutiva da ação privada, cabendo-lhe, nesse caso, atribuições mais abrangentes,
já que agirá como “dono da ação penal”. Contudo, o Ministério público somente será
parte principal da ação se comprovar negligência ou desídia do querelante ou se
repeliu preliminarmente a queixa.

Se o juiz entender que o aditamento feito pelo Ministério Público não é cabível na
situação apresentada, remeterá os autos ao Procurador Geral para de dê seu parecer.

O Ministério Público tem o prazo de três dias para aditamento da peça inicial, contados
da data que recebeu os autos, sendo que na sua inércia, entende-se que não há
aditamento algum a ser feito. Se, contudo, no curso do processo surgir fatos ou
documentos novos o procurador pode proceder ao aditamento.

De qualquer maneira, é o Ministério Público obrigado a atuar em todas as fases do


processo, sob pena de nulidade relativa, que pode ser corrigida caso alegada em
tempo.

O prazo para o oferecimento da queixa crime é de seis meses contados da data em


que foi descoberta a identidade do criminoso pelo ofendido. Se a ação for subsidiária, o
prazo começará a fluir quando terminar o prazo para o oferecimento da denúncia.
Ambos são prazos decadenciais, portanto fatais, e por isso não comportam interrupção,
suspensão ou prorrogação.

Segundo o artigo 43 do Código de Processo Penal, a queixa será rejeitada nas


seguintes hipóteses:

a)Quando o fato narrado na queixa evidentemente não constituir crime: é óbvio que
somente é possível a propositura de uma ação penal se o fato for típico e antijurídico,
ante o princípio da legalidade;

b)Quando já estiver extinta a punibilidade pela prescrição ou por outra causa: se


constatado a presença de uma das causas extintivas da punibilidade, não há que se
falar em oferecimento de queixa.

c)Quando for manifesta a ilegitimidade da parte ou faltar condição exigida para o


exercício da ação penal: significa dizer que só o ofendido ou seu representante legal
tem legitimidade para promover a ação penal privada, sendo que o pedido deve ser
juridicamente possível e deve haver real interesse de agir.

Observa-se ainda, que a queixa pode ser rejeitada se não for devidamente instruída
com o inquérito policial ou por outros documentos hábeis a provar a materialidade do
crime e os indícios de autoria.

Dependendo do crime, o recebimento da queixa pode ser vinculado a exigências


específicas, ou seja, em um crime que deixa vestígios, o recebimento da inicial fica
condicionado ao exame pericial dos objetos que formam o corpo de delito, por
exemplo.

Há entendimentos diversos no que concerne a obrigatoriedade de fundamentação do


despacho de recebimento da queixa. Uns entendem que a fundamentação do
despacho anteciparia o julgamento da ação, e por essa razão, inadmissível. Outros
sustentam que o despacho deve sim ser fundamento, em cumprimento ao disposto no
artigo 93, IX da CF, que diz que todas as decisões devem ser fundamentadas.

Menciona-se, por fim, que caberá recurso em sentido estrito da decisão que rejeitar a
queixa.

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