_______________________________________________________________________
Compreensão Científica do Comportamento
_______________________________________________________________________
Usos dos métodos de Pesquisa
A abordagem Científica
As Limitações da Intuição e da Autoridade
Autoridade
Ceticismo, Ciência e Abordagem Empírica
Integrando Intuição, Ceticismo e Autoridade
Objetivos da Ciência
Descrição do Comportamento
Predição do Comportamento
Determinando as Causas do Comportamento
Explicação do Comportamento
Pesquisa Básica e Aplicada
Pesquisa Básica
Pesquisa Aplicada
Comparando Pesquisa Básica e Aplicada
Termos Estudados
Questões de Revisão
Atividades
1
Quais são as causas da agressão e da violência? Como lembramos das
coisas, quais as causas do esquecimento e como podemos melhorar nossa
memória? Quais os efeitos dos ambientes estressantes na saúde e em
interações sociais? Como experiências na primeira infância afetam o
desenvolvimento posterior? Qual a melhor maneira de tratar a depressão?
Como reduzir o preconceito e os conflitos inter-grupais? É
provavelmente a curiosidade sobre questões como estas a razão mais
importante que leva estudantes a fazerem cursos de ciência do
comportamento. A pesquisa científica apresenta um meio de encaminhar
tais questões e nos fornece respostas sobre elas. Neste livro,
examinaremos os métodos da pesquisa científica nas ciências do
comportamento. No capítulo introdutório discutiremos os caminhos pelos
quais o conhecimento dos métodos de pesquisa podem ser úteis para a
compreensão do mundo a nossa volta. Adiante, serão revistas as
características da abordagem científica para o estudo do comportamento
e os tipos gerais de questões de pesquisa que concernem aos cientistas
do comportamento.
USOS DOS MÉTODOS DE PESQUISA
Cidadãos bem informados em nossa sociedade necessitam de um aumento no
conhecimento dos métodos de pesquisa. Nossos jornais diários, as
revistas de interesse geral e outros meios de comunicação estão
continuamente relatando resultados de pesquisa: “Personalidade do Tipo
A tem maior probabilidade de sofrer ataques do coração” ou “Fumar está
relacionado com notas baixas”. Artigos e livros salientam os efeitos
benéficos ou nocivos de uma dieta particular ou vitaminas na vida
sexual, personalidade ou saúde das pessoas. Levantamentos com
2
conclusões de como nos sentimos sobre uma variedade de tópicos são
freqüentemente relatados. Como avaliar tais relatos? Simplesmente você
aceita tais descobertas porque são supostamente científicas? Uma
formação em métodos de pesquisa o ajudará a ler estes relatos
criticamente, avaliar a metodologia empregada e decidir se as
conclusões são razoáveis.
Muitas ocupações requerem o uso de descobertas científicas. Por
exemplo, profissionais da saúde mental precisam tomar decisões sobre
métodos de tratamento, designação de pacientes para diferentes tipos de
ambientes, diferentes tipos de medicamentos ou para testar
procedimentos. Tais decisões são feitas com base em pesquisa; para
tomar boas decisões o profissional da saúde mental precisa ser capaz de
ler uma pesquisa conduzida por outros e julgar sua adequação e
relevância em uma situação particular de trabalho. Similarmente,
pessoas que trabalham em ambiente empresarial freqüentemente confiam em
pesquisas para tomar decisões sobre estratégias de mercado, maneira de
aumentar a produtividade, o moral do trabalhador e métodos de
selecionar e treinar novos trabalhadores. Educadores precisam manter as
pesquisas em tópicos referentes a efetividade das diferentes
estratégias de ensino ou programas que lidem com problemas especiais de
estudantes. O conhecimento dos métodos de pesquisa e a habilidade de
avaliar relatórios de pesquisa são úteis em muitos campos.
É também importante reconhecer que a pesquisa científica tornou-
se cada vez mais importante nas decisões das políticas públicas.
Legisladores e líderes políticos de todos os níveis de governo
freqüentemente assumem decisões políticas e propõem leis baseadas em
descobertas de pesquisa. A pesquisa pode também influenciar decisões
judiciais. Um exemplo fundamental é O Resumo de Ciência Social que foi
3
preparado por psicólogos e aceito como evidência na Suprema Corte
Americana no caso Brown versus Conselho de Educação, em 1954, no qual a
Suprema Corte baniu a segregação escolar nos Estados Unidos. Este caso
proibiu a segregação escolar nos Estados Unidos. Um dos estudos citados
no resumo foi conduzido por Clark e Clark (1947). O estudo descobriu
que quando é permitido escolher entre bonecas negras ou brancas, tanto
as crianças brancas como as negras preferem brincar com as bonecas
brancas (veja Stephan, 1983, para uma discussão adicional das
implicações deste estudo). A legislação e a opinião pública, a respeito
de material pornográfico disponível, foram orientadas pelas
investigações de pesquisas comportamentais neste tópico (veja, por
exemplo, Koop, 1987; Linz, Donnerstein, & Penrod, 1987) e a pesquisa
psicológica de estereotipia sexual influenciou fortemente a decisão da
Suprema Corte na discriminação sexual de trabalhadores (Fiske, Bersoff,
Borgida, Deaux, & Heilman, 1991). A pesquisa é também importante para o
desenvolvimento e avaliação da efetividade dos programas planejados
para encontrar certos objetivos – por exemplo, para aumentar a
permanência de estudantes na escola ou influenciar pessoas a se engajar
em comportamentos que reduzem os riscos de contrair a AIDS. Se
obtiverem sucesso, tais programas poderão ser implementados em larga
escala. O fato de muitas decisões e posições políticas estarem baseadas
em pesquisa, fazem o conhecimento dos métodos de pesquisa,
particularmente importantes para todos que, como cidadãos informados,
devem avaliar, em última análise, as políticas através do voto direto.
A ABORDAGEM CIENTÍFICA
Abrimos este capítulo com várias questões sobre o comportamento humano
e sugerimos que a pesquisa científica é um meio valioso de responde-
4
las. O que faz a abordagem científica ser diferente das outras formas
de se aprender sobre o comportamento? Pessoas sempre observaram o mundo
ao seu redor e procuraram explicações para o que vêem e experenciam. No
entanto, em lugar de usar a abordagem científica, muitas pessoas
confiam na autoridade e intuição como forma de conhecimento.
As limitações da Intuição e da Autoridade
Muitos de nós conhece um casal que, após anos tentando ter filhos,
acaba adotando uma criança. Então, em um período muito curto de
tempo, a mulher engravida. Esta observação leva à crença comum de
que a adoção aumenta a probabilidade de engravidar entre casais
que têm este tipo de dificuldade. Tal conclusão parece
intuitivamente razoável e as pessoas usualmente explicam este
efeito – por exemplo, dizendo que a adoção reduz uma fonte
importante de estresse conjugal e a redução do estresse, por sua
vez, aumenta as chances da concepção (veja Gilovich, 1991).
Este exemplo ilustra o uso da intuição e evidência anedótica para
representar conclusões gerais sobre o mundo a nossa volta. Confiar na
intuição significa aceitar inquestionavelmente o que seu julgamento
pessoal ou uma história singular sobre a experiência de uma pessoa lhe
diz sobre o mundo. A abordagem intuitiva assume muitas formas.
Freqüentemente, isto envolve encontrar uma explicação para nosso
próprio comportamento e para o comportamento dos outros. Por exemplo,
você pode desenvolver uma explicação sobre o porque de seus constantes
conflitos com um colega de trabalho, tal como “esta pessoa quer o meu
trabalho” ou “ter de compartilhar um telefone nos põe em situação de
conflito”. Em outras ocasiões, a intuição é usada para explicar eventos
intrigantes observados, como no caso de concluir que a adoção aumenta
5
as chances da concepção entre casais que tem dificuldades em
engravidar.
Um problema com a intuição é que numerosos viéses cognitivos e
motivacionais afetam nossa percepção e, então, podemos extrair
conclusões errôneas sobre causa e efeito (cf. Fiske e Taylor, 1984;
Gilovich, 1991; Nisbet e Ross, 1980; Nisbet e Wilson, 1977) Gilovich
salienta que não há, de fato, relação entre adoção e subsequente
gravidez de acordo com investigação de pesquisa científica. Então,
porque nos apegamos a esta crença? Isto ocorre, provavelmente, porque
um viés cognitivo chamado correlação ilusória acontece, é um fenômeno
que acontece quando analisamos dois eventos que se sobressaem e ocorrem
juntos. Quando uma gravidez ocorre logo após uma adoção, nossa atenção
é direcionada à situação e somos levados, erroneamente, a concluir que
deve existir uma correlação causal. Tais correlações ilusórias também
ocorrem mais provavelmente quando estamos altamente motivados a crer na
relação causal. Embora, fazer isto seja natural, no entanto, não é
científico. Uma abordagem científica requer muito mais provas antes que
conclusões sejam extraídas.
Autoridade
O filósofo Aristóteles interessou-se por fatores associados à persuasão
e à mudança de atitude. Na Retórica, Aristóteles descreve a relação
entre a credibilidade e a persuasão: “a persuasão é obtida pelo caráter
do orador, quando o seu discurso nos faz lhe atribuir credibilidade.
Nós acreditamos nos bons homens mais completa e prontamente do que nos
outros.” Então, Aristóteles poderia argumentar que poderemos, mais
provavelmente, ser persuadidos pelo orador que tem prestígio, é digno
de confiança e é respeitável do que por alguém que não tem tais
qualidades.
6
Muitos de nós poderia aceitar os argumentos de Aristóteles
simplesmente porque ele é considerado uma “autoridade” de prestígio e
seus escritos continuam a ser importantes. Similarmente, muitas pessoas
estão prontas a aceitar qualquer coisa vinda através dos jornais, dos
livros, dos governantes ou de figuras religiosas. Acreditam que as
declarações de tais autoridades devem ser verdadeiras. O problema,
naturalmente, é que as declarações pode não ser verdadeiras. A
abordagem científica rejeita a noção de que alguém pode aceitar, na
base da fé, as declarações de qualquer autoridade; novamente, mais
provas são necessárias antes de uma conclusão científica ser assumida.
Ceticismo, Ciência e Abordagem Científica
A abordagem científica reconhece que ambas, autoridade e intuição, são
fontes de idéias sobre o comportamento. No entanto, os cientistas não
aceitam inquestionavelmente a intuição de qualquer um – incluindo a sua
própria. Cientistas reconhecem que suas idéias podem estar erradas como
a de outra pessoa qualquer. Também, cientistas não aceitam, com base na
fé, os pronunciamentos de qualquer pessoa, independentemente do
prestígio e autoridade desta pessoa. Então, cientistas são muito
cépticos sobre o que vêem ou ouvem. Eles insistem que os métodos
científicos devem ser usados para avaliar afirmações sobre a natureza
do comportamento.
A essência do método científico é a insistência de que todas as
proposições sejam submetidas a um teste empírico; isto significa que
as proposições são testadas usando o método cientifico de observação e
experimentação. Esta abordagem empírica do conhecimento tem dois
componentes básicos. Primeiro, uma idéia precisa ser estudada sob
condições nas quais ela possa vir a ser apoiada ou refutada: o teste
7
empírico permite que a proposição seja mostrada como falsa. Segundo, a
pesquisa é feita de maneira que possa ser observada, avaliada e
replicada por outros.
Portanto, o método científico, em contraste com a autoridade e a
intuição, não confia nas afirmações feitas por alguém ou geradas pelas
próprias percepções pessoais sobre o mundo. O método científico engloba
um número de regras para testar idéias através da pesquisa – ou seja, a
maneira pela qual as observações são feitas e os experimentos são
elaborados e conduzidos. Isto será explorado no decorrer deste livro.
Integrando Intuição, Ceticismo e Autoridade
A vantagem do método científico sobre as demais formas de conhecimento
sobre o mundo é a de que ele fornece um conjunto objetivo de regras
para coletar, avaliar e relatar informações, de tal forma que nossas
idéias possam ser refutadas ou replicadas por outros. No entanto, isto
não significa que intuição e autoridade não sejam importantes. Como
observado anteriormente, cientistas freqüentemente confiam na intuição
e nas afirmações de autoridades quanto a idéias para pesquisa. Além
disso, não há nada de errado em se aceitar as afirmativas de uma
autoridade desde que ela não seja aceita como uma evidência científica.
Freqüentemente evidências científicas não são possíveis, como por
exemplo, quando as religiões nos pedem que aceitemos certas crenças de
fé. Algumas crenças não podem ser testadas e, então, estão além do
domínio da ciência. Em contraste, idéias científicas precisam ser
testadas – é preciso que haja alguma maneira de verificá-las ou refutá-
las.
Também, não há nada de errado em se ter opiniões ou crenças desde
que sejam apresentadas simplesmente como opiniões ou crenças. No
entanto, seria interessante perguntar se a opinião poderia ser testada
8
cientificamente ou se existem evidências científicas relacionadas a
tais opiniões. Por exemplo, opiniões de que a exposição à violência na
televisão aumenta a agressão são apenas opiniões até que evidências
científicas sobre a questão sejam obtidas.
Quanto mais você aprende sobre o método científico mais você se
torna fortemente céptico quanto às assertivas dos cientistas. Você deve
estar consciente de que cientistas freqüentemente tornam-se autoridades
quando eles expressam suas idéias. Será que devemos estar mais disposto
a aceitar o que alguém tem a dizer se ele reivindica ser um cientista?
A resposta depende de se o cientista tem dados científicos que
sustentem suas afirmações. Se não houve tais evidências o cientista não
é diferente das outras autoridades; se as evidências científicas forem
apresentadas, você vai querer avaliar o método usado para obtê-las.
Também, existem muitos “pseudocientistas”, que usam termos científicos
para substanciar alegações (ex., astrólogos ou divulgadores da Nova
Era). Uma regra geral é ser altamente céptico sempre que alguém, que é
rotulado como cientista, faz afirmações que são sustentadas apenas por
evidências vagas ou improváveis.
OBJETIVOS DA CIÊNCIA
O método científico tem quatro objetivos gerais: (1) descrever
comportamento, (2) predizer comportamento, (3) determinar as causas do
comportamento e (4) compreender ou explicar comportamento.
Descrição do comportamento
O cientista começa com uma observação cuidadosa, porque o primeiro
objetivo da ciência é descrever eventos. Cunningham e
colaboradores examinaram julgamentos de atrativos físicos em
9
função do tempo (Cunningham, Druen, & Barbee, 1977).
Universitários do sexo masculino em 1976 atribuíram valores de
atratividade a um grande número de mulheres mostradas em
fotografias. As mesmas fotos foram avaliadas em 1993 por outro
grupo de estudantes. O julgamento da atratividade de mulheres foi
virtualmente idêntico; padrões de atratividade aparentemente
mudaram muito pouco ao longo deste período de tempo. Em outro
estudo, Cunningham comparou as características faciais de mulheres
que eram estrelas de cinema em 1930 e 1940. Tais medidas incluíam
altura dos olhos, largura dos olhos, comprimento do nariz,
proeminência do maxilar e largura do sorriso, estas
características faciais eram altamente semelhantes ao longo do
dois períodos de tempo, novamente indicando que os padrões de
atratividade permaneciam constantes.
Pesquisadores estão freqüentemente interessados em descrever a
maneira pela qual os eventos estão sistematicamente relacionados uns
aos outros. Jurados julgam réus muito atraentes com menor severidade do
que réus pouco atraentes? As pessoas são mais facilmente persuadidas
por locutores de alta credibilidade? Estudantes que estudam com a
televisão ligada tem menores notas que aqueles que estudam em ambiente
calmo?
Predição do Comportamento
Outro objetivo da ciência é predizer comportamento. Uma vez que tenha
sido observado, com certa regularidade, que dois eventos estão
sistematicamente correlacionados (ex., grande credibilidade está
associada a grande mudança de atitude) torna-se possível fazer
predições. Uma implicação disto é que podemos antecipar eventos. Se
sabemos que um candidato na eleição é considerado de maior
10
credibilidade que outro, poderemos predizer os resultados da eleição.
Além disso, a habilidade para predizer freqüentemente nos ajuda a tomar
melhores decisões. Por exemplo, muitos universitários respondem a
Inventários de Interesse Ocupacional, tais como Inventário de Interesse
de Strong-Campbell no Centro do Conselho Universitário, porque conhecer
seus escores pode ajudá-los a tomar melhores decisões sobre possíveis
objetivos de carreira e escolha de áreas de interesse.
Determinando as Causas dos Comportamentos
Um terceiro objetivo da ciência é determinar as causas do
comportamento. Embora possamos predizer acuradamente a ocorrência de um
comportamento, talvez não soubéssemos identificar corretamente as suas
causas. Por exemplo, escores nos testes de atitude não causam notas
escolares. O teste de atitude é um indicador de outros fatores que são
as causas verdadeiras; pesquisas podem ser elaboradas para estudar
estes fatores. Similarmente, a pesquisa mostra que o comportamento
agressivo de uma criança pode ser previsto se soubermos quanta
violência a criança vê na televisão. Infelizmente, a menos que saibamos
que a exposição a esta violência seja uma causa do comportamento, nos
não podemos assegurar que o comportamento agressivo pode ser reduzido
ao se limitar as cenas de violência na televisão. Então, para se saber
como mudar o comportamento precisamos conhecer as causas do
comportamento.
Explicação do Comportamento
Um último objetivo é explicar os eventos que tem sido descritos. O
cientista procura entender porque o comportamento ocorre. Considerar a
relação entre violência na televisão e agressão; mesmo sabendo que a
violência na TV é uma causa da agressividade, precisamos explicar esta
relação. Isto é devido à imitação ou “modelação” da violência vista na
11
TV? Isto é resultado de dessensibilização para a violência e seus
efeitos ou ver violência na TV leva à crença que agressão é uma
resposta normal para frustração e conflito? Pesquisas adicionais são
necessárias para lançar uma luz sobre explicações possíveis do que têm
sido observado. Usualmente, pesquisas complementares como estas são
realizadas testando-se teorias que são desenvolvidas para explicar
comportamentos particulares.
Descrição, predição, determinação da causa e explicação estão
todas fortemente interligadas. Determinar a causa e explicar
comportamento estão particularmente imbricados porque é difícil sempre
saber a causa verdadeira ou todas as causas de qualquer comportamento.
Isto ocorre porque é difícil sempre saber qual a causa verdadeira ou
todas as causas de qualquer comportamento. Uma explicação que parece
ser satisfatória pode tornar-se inadequada quando outras causas são
identificadas em pesquisas subsequentes. Por exemplo, quando pesquisas
anteriores mostraram que a credibilidade do orador esta relacionada com
mudança de atitude, os pesquisadores explicaram a descoberta
estabelecendo que as pessoas estão mais dispostas a acreditar no que é
dito por pessoas de alta credibilidade do que por pessoas de baixa
credibilidade. No entanto, esta explicação deu lugar a uma mais
complexa teoria de mudança de atitude que leva em conta muitos outros
fatores que estão correlacionados com persuasão (Petty & Cocioppo,
1986). Resumindo, há uma certa ambigüidade nas investigações
científicas. Novas descobertas científicas em pesquisa quase sempre
colocam novas questões que precisam ser encaminhadas para futuras
pesquisas; explicações do comportamento freqüentemente precisam ser
descartadas ou revistas diante de novas evidências. Tal ambigüidade é
parte do prazer e do entusiasmo em se fazer ciência.
12
PESQUISA BÁSICA E APLICADA
Pesquisa Básica
A pesquisa básica tenta responder às questões fundamentais sobre a
natureza do comportamento. Os estudos são freqüentemente elaborados
para encaminhar questões teóricas concernentes a fenômenos tais como
cognição, emoção, aprendizagem, motivação, psicobiologia,
desenvolvimento da personalidade e comportamento social. Aqui estão as
citações de alguns artigos de revistas que ilustram algumas questões de
pesquisa básica:
Goffman, L., & Smith, A. (1999). Developmente and phonetic
differrention of speech movement patterns. Journal of
Experimental Psychology: Human Perception and performance, 25,
649-660.
Os pesquisadores cuidadosamente mediram os movimentos de fala feito
por crianças de 4 a 7 anos e adultos como se eles tivessem o
mesmo modo de falar. Encontraram que os movimentos tornam-se
mais estáveis com a maturidade.
Jones, J.R., & Moore, J. (1999). Some effects of intertrial-
interval duration on discrete-trial choice. Journal of
Experimental Analysis of Behavior, 71, 375-394.
Em um experimento de escolha, pombos escolheram uma de duas
possíveis respostas em cada tentativa; escolhas corretas eram
reforçadas. O intervalo de tempo entre cada tentativa foi
sistematicamente manipulado com intervalos que variavam de 0 a
120 segundos. Intervalos entre tentativas maiores reduziram a
probabilidade de acontecerem escolhas reforçadas.
13
McBride, D.M., & Dosher, B.A. (1999). Forgetting rates are
comparable in conscious and automatic memory: A process-
dissociation study. Journal of Experimental Psychology :
Learning, memory, and Cognition, 25,583-607.
Os pesquisadores estudaram a memória que é processada
conscientemente com esforço e a memória que é usada
automaticamente sem consciência de recordar. Os dois tipos de
memória tem taxas similares de memorização.
O’Brien, M., & Chin, C. (1998). The relationship between children’s
reported exposure to interparental conflict and memory biases in
the recognition of aggressive and constructive conflict words.
Personality and Social Psychology bulletin, 24, 657-666.
Crianças de 7 a 12 anos ouviram uma fita de pais tendo uma
discussão. Em teste subseqüente de memória sobre o que eles
haviam dito na discussão, crianças mais velhas que haviam sido
expostas a um conjunto maior de conflito em suas próprias vidas
tiveram muitas “positivas falsas” – elas recordaram muitas
coisas ditas na discussão que de fato não estavam lá.
Pesquisa Aplicada
Os artigos de pesquisa citados anteriormente se referiam a processos
básicos de comportamento e cognição ao invés de apontar para qualquer
explicação prática imediata. Em contraste, a pesquisa aplicada é
conduzida para encaminhar questões nas quais haja problemas práticos e
soluções potenciais. A título de ilustração aqui estão listados alguns
artigos científicos:
14
Dugan, S., lloyd, B., & Lucas, K. (1999) Stress and coping as
determinants of adolescent smoking behavior. Journal of Applied
Social Psychology, 29, 870-888.
Fumar cigarros entre adolescentes está associado a percepção de
que a vida é cheia de estresse e que fumar os ajuda a lidar com
o estresse.
Kovera, M. B., McAuliff, B. D., & Hebert, K. S.(1999). Reasoning
about scientific evidence: Effects of juror gender and evidence
quality on juror decisions in a hostile work environment case.
Journal of Applied Psychology, 84, 362-375
Jurados do sexo masculino que ouviram um perito estiveram mais
propensos a encontrar argumentos para defesa do que os que não
ouviram o especialista; Mulheres não foram influenciadas pelo
perito. A qualidade da evidência apresentada não teve influência
sobre os jurados.
McGuire, M. T., Wing, R. R., Klem, M. L., Lang, W., & Hill, J. O.
(1999). What predicts weight regain in a group of successful
weight losers? Journal of Consulting and Clinical psychology,
67, 177-185.
Os participantes eram pessoas que tinham, com sucesso, completado
um programa de perda de peso; alguns mantiveram o peso e outros
ganharam peso. As pessoas que ganharam peso eram as que, mais
provavelmente, tiveram uma perda inicial de uma grande
percentagem de peso corporal, uma história de depressão e
exagero na comida.
15
Scott, D. (1999). Equal opportunity, unequal results: Determinants
of household recycling intensity. Environment and Behavior,31,
267-290.
Sobre 600 moradores de 4 comunidades que tinham idênticos programas
de reciclagem foram levantados para verificar suas atividades de
reciclagem. Indivíduos que eram recicladores confiáveis, em
contraste com os menos ativos, acreditam fortemente que a
distribuição de lixo compacta é um problema e crêem que a
reciclagem é um modo efetivo para encaminhar o problema.
Uma área principal da pesquisa aplicada é chamada avaliação de
programa. Pesquisas de avaliação de programas avaliam as reformas
sociais ou inovações que ocorrem no governo, na educação, no sistema de
justiça criminal, na industria, na assistência à saúde e nas
instituições de saúde mental. Em um influente artigo sobre “reformas
como experimentos” Campbell (1969) salientou que os programas sociais
são realmente experimentos delineados para encontrar certos resultados.
Ele argumentou persuasivamente que cientistas sociais devem avaliar
cada programa para determinar se obtiveram os efeitos pretendidos. Se
não, programas alternativos deverão ser tentados. Este é um ponto
importante que as pessoas em todas as organizações esquecem muito
freqüentemente quando novas idéias são implementadas; a abordagem
científica determina que novos programas devam ser avaliados. Aqui
estão alguns títulos de artigos de revistas que ilustram as pesquisas
de avaliação de programa:
Grossman, J. B., & Tierney, J. P. (1998). Does mentoring Work? An
Impact study of the Big brothers Big Sisters program.
Evaluation Review, 22, 403-426.
16
Os pesquisadores compararam jovens que tinham sido randomicamente
designados a participar no programa Big brothers Big Sisters com
jovens que não foram designados. Durante um período de 18 meses
os participantes do programa apresentaram menor probabilidade de
usarem drogas e álcool, comportarem-se agressivamente e fugirem
da escola.
Sanders, L. M., Trinh, C. Sherman, B. R., & Banks, S. M. (1998).
Assessment of client satisfaction in a peer counseling substance
abuse treatment program for pregnant and postpartum women.
Evaluation and Program Planning, 21, 287-296.
Satisfação dos clientes em um programa de abuso de substância foi
avaliado usando-se medidas quantitativas e qualitativas.
Satisfação foi mais alta entre os clientes que eram mais velhos,
usaram mais o serviço e estiveram mais tempo no programa.
Muitas pesquisas aplicadas são conduzidas nos ambientes das grandes
firmas de negócios, companhias de pesquisa de mercado, agências
governamentais e organizações de pesquisa de opinião pública e seus
resultados não são publicados mas em vez disso usados dentro da
companhia ou por seus clientes. Se os resultados são ou não publicados,
de qualquer modo, eles são usados para ajudar pessoas a tomar as
melhores decisões referentes aos seus problemas que requerem imediata
atenção.
Comparando Pesquisa Básica e Aplicada
Ambas, a pesquisa básica e a aplicada, são importantes; uma não pode
ser considerada superior a outra. De fato, o progresso da ciência
depende de uma sinergia entre pesquisa básica e a aplicada. Muitas
17
pesquisas aplicadas são orientadas por teorias e descobertas das
investigações da pesquisa básica. Por exemplo, a pesquisa aplicada
sobre depoimento de perito em sessão de júri é guiada pela pesquisa
básica em percepção e cognição. Por sua vez, as descobertas obtidas em
ambiente aplicado freqüentemente requerem modificações das teorias
existentes e incita mais pesquisa básica. Então, o estudo do real
testemunho ocular nos leva a preciosos e mais acurados conhecimentos
dos processos básicos de percepção e cognição.
Nos últimos anos, muitos em nossa sociedade, incluindo
legisladores que controlam os orçamentos das agências de fomento à
pesquisa do governo, têm exigido que a pesquisa seja diretamente
relevante a uma questão social específica. O problema com esta atitude
em relação à pesquisa é que nunca podemos prever a aplicação imediata
da pesquisa básica. O psicólogo Skinner, por exemplo, conduziu pesquisa
básica, nos anos de 1930, em condicionamento operante, que descreveu
cuidadosamente os efeitos do reforçamento em comportamento como o de
pressão à barra, em ratos. Anos mais tarde, esta pesquisa, permitiu
muitas aplicações práticas na terapia, educação e psicologia da
industria. Pesquisas sem valor aparente de aplicação prática podem
tornar-se úteis, no fim. O fato de ninguém poder prever o eventual
impacto da pesquisa básica leva-nos a conclusão de que o financiamento
para a pesquisa básica é necessário tanto para o avanço da ciência como
para o benefício da sociedade.
A pesquisa comportamental é importante em muitos campos e tem
aplicações relevantes na política pública. Este capítulo introduziu
você aos principais objetivos e tipos gerais de pesquisa. Todos
pesquisadores, independentemente de estarem interessados em pesquisa
básica, aplicada ou de avaliação usam o método científico. Os temas e
18
conceitos deste capítulo serão expandidos no decorrer deste livro. Eles
serão a base para se avaliar as pesquisas de outros e também para
planejar seus próprios projetos de pesquisa.
Este capítulo enfatizou que cientistas são cépticos sobre o que é
verdadeiro no mundo e insistem que as proposições devem ser testadas
empiricamente. Nos próximos dois capítulos, focalizaremos duas outras
características dos cientistas. Primeiro, os cientistas têm uma intensa
curiosidade sobre o mundo e encontram inspiração para suas idéias em
muitos lugares. Segundo, os cientistas têm forte princípio ético; eles
estão comprometidos a tratar aqueles que participam nas investigações
científicas com respeito e dignidade.
TERMOS ESTUDADOS_________________________________________________
Autoridade
Ceticismo
Intuição
Objetivos da Ciência
Pesquisa Aplicada
Pesquisa Básica
Teste Empírico
QUESTÕES DE REVISÃO__________________________________________________
1. Por que é importante para qualquer pessoa em nossa sociedade ter
um conhecimento sobre métodos de pesquisa?
2. Por que o cepticismo científico é útil em favorecer nosso
conhecimento do comportamento? Como pode a abordagem científica
diferir de outras formas de obter conhecimento sobre o
comportamento?
19
3. Faça a distinção entre descrição, predição, determinação da causa
e explicação como objetivos da pesquisa científica.
4. Faça a distinção entre pesquisa básica e aplicada.
ATIVIDADES
Leia alguns editoriais em seu jornal diário e identifique as fontes
usadas que dão suporte às afirmativas e conclusões. Os jornalistas usam
intuição, recurso de autoridade, evidência científica ou uma combinação
de todas? Dê exemplo.
1. Você está interessado em estudar depressão psicológica. O que
você deve tentar para executar seu intento, se o seu objetivo é
descrever depressão, predizer depressão, compreender as causas da
depressão e explicar depressão?
2. Imagine um debate com a seguinte afirmativa: Cientistas
comportamentais somente podem conduzir pesquisas que tenham
imediata aplicação prática. Desenvolva argumentos que suportem
(“pró”) e se oponham (“contra”) a afirmativa.
3. Imagine um debate com a seguinte afirmativa: O conhecimento da
metodologia de pesquisa é desnecessário para estudantes que
pretendem seguir carreira em psicologia clínica e aconselhamento
porque o tempo destes profissionais será gasto ajudando pessoas.
Desenvolva argumentos que apóiem (“pró”) e se oponham (“contra”)
a afirmativa.
20