You are on page 1of 148
OR a Ue See s P é eee eC Se eeu er ELE UT Coe ecu Mee ue COCR ewe EMTS tc ie Formacéo, o entretenimento e a comunicacao, mudaram COSC cee ECE Cae er a ee a RN ead nologias, maquinas ou aplicativos. E sobre as relacdes CUE Cen CMR ec ne ca) Sree A vey Teoria Dre eee een cn eae eC raestee > e Pee en ee uC Ee Ute ey pe ante aan as MIGI Cue enn oe oe aE Coe ete te Sea oer ec COU ale eR Te acessivel a partir de exemplos tirados do cinema, da te- Cee See ae Ss Digitais LINGUAGENS, AMBIENTES E REDES CCL LG) x Teoels mera MN een 32 VOZES A midias dig Cee meK Ly vida contemporanea. Estao Pie neces eeu peor ustet ears Da ete pec a cultura e, de maneira geral, eta ico keel Ue tee een dos telefones celulares as eee ee suet eriocs nee uel Gleree Orrico cultura, parte do ambienteno Fete ere ice © mundo da tecnologia, ce Clete ten ter cece cete ter ganha sentido quando se torna Bene Nic Mune nM er ealer Dies cee lacus rity ene cures ee textos, filmes produzidos ror onieie aetna end Resets ole eee gee as diferencas socials, a Resco Cie cos SM) one Nu teats Rieec ese eius Teoria das Midias Digitais Luis Mauro Sé Martino Teoria das M idias Digitais LINGUAGENS, AMBIENTES, REDES enacionais de Catalogucio aa Publicagio (C1) do Livro, SP Brasil) Midias Digiais: linguagens, ambientes, redes | Luis Maura Sa Martino, ~ Peeripolis, RJ: Vozcs, 2014 Bibliografa. ISBN 978-85. 1. Ciberespago 2. Msios de comunicacio 3. Midis digitais 4, Redes sociais I. Tieulo eee | ee ‘atilogo siscemtico EDITORA 302, 230285 : _Y VOZES Potrépolis © 2014, Edieora Vozes Leda. Rua Frei Luts, 100 25689-900 Pecrdpolis, RJ Incesnec: heep:hwww:vozes.com br Brasil Toxlos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra poderi ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (cletrénico ou mecinico, in:huindo forocépia e gravacio) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dadios sem permissao escrica a edicora Diretor editorial Frei AntSnio Moser Editores Aline das Sancos Carneiro José Maria da Silva Lidio Pereeti Marilac Loraine Olenik Joao Batisea Kreuch Exditoragio: Maria da Conceigio B. de Sousa Diagramagio: Sheilandre Deseow, Gritico Capa: frieo Lebsedenco ISBN 978-85-326-4740-5 ado conforme o novo acordo orropratic. Esce livea foi compesto e impresso pela Edirora Vozes Leda Para mes flo Lacas, ute, conv todas as eriengas de a perce, inascen praticande estas tov Sumario Invadngao, 9 1. Conceitos bisicos, 19 1 Ger, 0 conecio de Norbert Wiener, 21 Bits de informagio e midias digiais, 24 iberculeura, cenologia e inceigencias Pictre Lévy, 27 Accaleura da convergéocia de Henry Jenkins, 34. Michael Heim: losofa do mundo viceual conectado, 40 Howard Rheingold eo conceto de comunidace virewa, 44 Ciberculcura¢ Estudos Cultunis: Pryan Nayar, 49 1H, Redes sociais, 35% Alguns conceitos iieiais, 55 Oeseudo pioncito de JA. Busnes, 6 uitecuras de redes de Pal Baran, 64 A forga dos tacos fracos: a Teoria das Redes de Marke Granovetter, 1 4A escrucura serm center 4 Capital social e poder no modelo de combinaeirio dle rece de Merck, ?2 A capacidade das conexées cm rede: o experimento de Sacks © Graves, 76 7 Como as res crescem: a perspectiva de Albert-Liselé Barabisi, 79 UL, Midias digiais, espago publico e democracia, $3 As politicas do viteual, 85 2A politica da sociedade em rede: Manuel Castells, 99| Da Esfera Paiblica as esferas pibicas: Pecer Dahlgren, 108 AA Esfera Publica concetada de Yochai Benkler, 112 (Os timices cla Esfora Pablica virtual: Zizi Papacharissi, 116 4 2 A Esfera Pablica ea interner, 90 x3 IN Ambientes: a vida conectada, 121 ‘A Teoria da Solcia Conecrads de Sherry Turkle, 123, A cultura digital nas eelagescotidianas: Lee Siegel, 127 A Teoria da Proximidade Fleerénica de Human ¢ Lane, 130 A sés com toda mundo: a viela a dois nas pesquisas de Christine Link 133 “Ese Romeu ¢ Julieeativesern smariphoaer?": a proposta de Wellman, 137 8° 6 A forga das conexdes em gupo: Clay Shirky, 143 V; Cultuca: as formas das midias digicais, 149 1 Gases, narracivas conectadhs, 151 2 Da audiéaciaariva 8 audiévcia produtiva:« cultura dos fis edo fondon, 157 3. Reality TV e midkias digital, 163. 4. Blogs, entre o pablico eo privado, 169 5 Celebridaudes, microcelebsiades, webcelebridades, 173 + 6 Memes e vrais, replcagbes © culeura, 177 VIA Teoria do Meio: dos meios as mensagens, 183 | Teoria do Meio, 185 2 Harold fnnis: a histéria dos meios como historia da cultura, 188 3. Meluhan: a vida eleerbnict em uma aldeia global, 193 4 Ambicnte, canal, linguagem: as midias para Joshua Meyrowiez, 199 5. & conexao corpo-tecnolagia: Derrick de Kerckhove, 204 VIL Linguagens: O que as midias digicais tem a dizer?, 209 1 As linguagens das midias digitais em Lev Manovieh, 211 2 A Teoria ca Remediagao ce Bolcer e Grusin, 221 3 Incerfaces: ver, ouvi, sentir a Hnguagem digital, 226, 4 Lor as linguayens dlgieas: um caminho da mdi literary, 230 33 1 Mediagies & mediatizacios exploranda 0 rerveno conceisual, 235, de Stig Hjarvard, 239 3A vida mediada: Sonia Livngstone ¢ “a mediagio de cud”, 243 VILL. Mediagio © mediatizagio da sociedk 2A Teoria dla Mediacizag 4 Bem-vindo a Mediapolis, 247 IX. A critica das priticas, uma eeilha de 3.000 anos, 250 1 Placio es fimizes da tecnologia de comunicagiv, 253 2 Rascros, vigtkinci, contsoks: encze o piblico o privado, 256 (© simuluera do veal antes do virewal, 260 4 © culo do amador: « persscetiva apocaliprica de Andrew Keon, 264 : Dominique Woleon © os lites da comanicagda na ineemes, 268 Comex fnais, 271 Refissncias, 273 Introdugdo Em um texto de 2001, o pesquisador canadease Barry Wellman! notou tum cutioso paracoxo: quando deixam de chamar a atengio e se cornam tri- siais, as midias se tornam realmente importantes. Se sua articulacio com 0 coridiano atinge um nivel muito alto, a prdpria vida se transforma. Nao por conta da midia em si, mas pelas relacdes humanas ligadas a Este nio & um liveo sobre tecnologias, méquinas ov aplicativos. E sobre a relagbes entre seres humanos conectados por miclias digitais, em um pro- cesso responsivel por alterar o que se entende por pol ica, arte, economia, cultura, E também a maneira como o ser humano entende «si mesmo, seus relacionamentos, problemas e limicagdes. As midias digitais, ¢ 0 ambiente criado a partir de suas conexdes, estio articulados com 2 vida humana ~ no «que cla com de mais sublime e mais complexo. E quase um exercicio de imaginacia pensar o cotidiano sem a peeseaca das midias digicais. Das acividades mais simples, como marcar um jentar com amigos, aos complexos meandros da politica incernacional, boa parte da vida humana esté ligada as relagdes articuladas com miclias digieais, Elas «stio ali, crocando uma quanticade quase infinita de cados a todo instante, € em geral é s6 quando falham que voleamos a percebé-las, 1 WELLMAN, B. “Physical Pe snd Cyherplace: the rte of personalized neoworking” ft tinal Joral of Urbane aad Regal Resa, sol, 25 2), jn [200% Como lembra Terry Flew", € imporcante procurar um equilibrio entre duas posicdes extremas quando se fala em médias digitais, o “hype” €0 "con ceachype", referindo-se ao eatusiasmo excessivo, bem como a desconfianca generalizada, com as midias digitas ¢ a interne. Ha evidéncias disponiveis para sustentar qualquer pos-¢io. [As miclias dligitais permiisam intimeras formas de relacionamentos hu- manos, mas € possivel questionar aré que ponco essa incerferéncia no foi iva; a expansio do nimero de usudrios nfo tem precedences, mas a “barreira digital” entre consctados ¢ desconectados continua; a “exclusio digital” € um problema de origens e consequéncias econdmicas, politicas € sociais, embora formas de incegracio das mais variadas procurem diminuir esse impacto, Pensar as midias digitais exige um trabalho constante de autoanélise para vicar a tentacio do “ano zero", no sentido de pensar que tudo mucou, assim como a perspectiva de que tudo continua igual, apenas em outro ambiente, Seres humanos continuam sendo seres humanos, em coda suit paradoxal complexidacle, mas conecrados de uma maneita diferente a partir das midias digitais, Avé onde se pode ir, elas nap sio methores ou piores do que os individuos, comunidades ¢ sociedades que as criaram € usa. (0 que sdo midias digitais? Como iniimeras oueras perguntas eebricas, hd uma quandidede consi- drivel de respostas disponiveis, nem sempre dialogando encre si. Como lembram Chandler ¢ Munday em sua obra de referéncia’, o cetma “miclias digicais” és vezes incercambiado com “nova miclia", “novas midias”, “novas es derivadas. De algum modo, essas expresses pro- ga entre os chamaclos “meios de comunicagio ‘ou “midias analégicas", como a televisio, o cinema, o radio, jor nais € revistas impressos, clos meios eletronicos. tecnologias” ¢ expy curam estabelecer uma dif de ma ‘As midias analogicas, ex linhas gerais, tinham uma base material: em tum disco de vinil, o som era gravado em pequenos sulcos sobre uma super ficie de vinil e, quando uma agutha passava sobre esses sulcos, 0 som era 2. FLEW. Naw male: an ineduction, Oxfords OUP, 20088 3. CHANDLER, D. & MUNDAY, R, Disinnary of Mudie an Commomicavon. Osforls OUR, 2ot0, 10 reproduzido. Da mesma maneiea, na fotografia € no cinema, uma pelicula fixava, a parcir de eagbes quimicas, « luz que chegava através da lente de uma clmera. No caso do ridio e da celevisio, ondas produzidas a parcir de _eios fisioos eram langadas no ar e captadas por antenas. Nas midlias digitais, esse suporte fisico praticamente desaparece, € os da- dos so convertidos em sequéncias muméricas ou de digitos ~ de onde di- ital ~ interpretados por um processador capaz de realizar cileulos de ex- trema complexidade em fracdes de segundo, 0 computador. Assim, em uma midia digital, todos os dados, sejam eles sons, imagens, letras ou qualquer ‘outro elemento slo, na verdade, sequéncias de mtimeros, Essa caracteristica permice o comparcilhamento, armazenamenco e conversio de dados. Dados transformados em sequéncias de ntimeros interprecados por um compucador: uma das caracteristicas principais das midias digitais. Essa transformacio, por sua vez, gera uma série de caracteristicas espectiicas, inexistentes nos meios analégicos ¢ que, ao longo do tempo, vem se ca- racteri pena, a partir de sua proposta, descacar alguns deles: nnclo como conceitus-chave, como destaca Flew, desses meios. Vale a Alguns conceicos-chave para as midias digiais a ne Barreira digital Diferoncas de acesso is teenologias ¢ midias digiais, bem como 2 eolrura descavolvida nesses ambience, vinculadas a problemas CGiberespage —_Espaco de iareracao criado no Huo de daddos digitais em redes de computadores; ritual por naa see localizivel no espace, mas salem suas aches © efeios. Convergéncia agio entre computadores, meius de comunicacio e redes dligitais, bem como de prostutos, servigos & meios na interne ‘Cultura partici. Porencialidade de qualquer individuo se rornar am prodlucor de patéria cculcur, sea recriando coneeiss j exisrentes, seja produzirdo contetidos inédicos Inceligéncia—Possibilidade oberea pelas ecenologias de rede de aumenear 9 coletiva conhecimenta prochizide de maneira socal ¢ coletv Incerarividade Incerferéncia ¢ interagio entre vsoirios, ou ustios, prog contetulos, em diferentes niveis ¢ formas, nos sistemas de camunicacie digial em eee " Interface A operagio das midias digitais aconcece a partir de poncos de contaro “amigaveis” entre disposicives ¢ usuirios, moldados @ partir de r‘eréncias culeutnis anteriores, ‘Segurangae Possbilidace de encifcagia de dados gerados nas midis vigil ligitais em rede, ultrapassando os limites piblicofparticular e tedefinindo a nagio de "privacidade’ Ubiquidade —Presenca, em todos os lugares, de milias digtais conectadas em rede, escabelecendlo conextes em qualquer espaco ¢ tempo. Velocidade A rapide de conexio de dads nas micas digitais se artieula ‘com @aceleeacio de inimerasatividades, pracessos € acontecimestos na vida cotidians. Virtalidade Dados das midiasdigitaisexiscem cle maneita independente de ambiences fsicos, podtendo se desenvalver livtes, a principio, dle qualquer hactcira desse tipo. FONTE: Blaborado principalmentea partir de Flew (2008), combinado com Gane Beer 2008, Abercrombie ¢ Longhuest 2008) ¢ Chane € Muay (2010). Midias di A possibilidade de compartilhar dados na forma de digitos combinada ‘com a integracio de processadores em redes cle alta velocidade estabeleceu als ¢ internet as condicées, 20 longo do século XX, para o desenvolvimento cle uma teia de conexdes dlescentralizadas que veio a se tornar a internet. Originalmence desenvolvida como parte de uma rede de operacdes milicares norve-ame- ricanas durante os anos de 1950 € 1960, no periodo da chamada “Guerra Fria’, 0 sistema passou pouco a pouco para uso comum, primeiramence nas uuniversidades e, em seguida, para o piiblico em geral Em 1991, Tim Berners-Lee ¢ seus colegas no Centro Europeu de Pesquisas ‘Nucleares desenvolvem a “World Wide Web”, iniciando a criagio das paginas sists — até entdo, o compartithamento de dados era feito primordialmente a partir de oucras formas de comunicacfo em rede como as BBS (“Board Bulle- tin System”, ou, em cradugio live, listas de mensagens) ¢ e-mails: ‘A expansio de redes sociais e formas de produgio colaborativa a partic do inicio dos anos de 2000 (se bem que sua origem se misture a da ineernet «em si) levou a um tipo mais denso de conexdes na chamada Web 2.0, termo cunhado por Tim O'Reilly’ em 2005 para definir 0 alto graw de incerati= 4 OEM ssecb-20.emipage= U. 2 Wharf Web 2.02 [Disponivel em hreitorellycom/pula/web2archivehohar- vidade, colaboracio © produgfo/uso/consumo de contedids pelos préprios usutirios. Em oposigo ao carater “fiso” da Web 1.0, que operava ao redor sobretuclo de “paginas” com elementos relativamente estiveis, como bogs, navegadores, cransposicio de concetidos offline para o digital, a Web 2.0 se apresentava como umna plaraforma dinémica, em conscante transformacio _gerada pelas interagoes entre usuarios. As redes sociais, o Gorgle ¢ as produ- um «édigo para interpretar as informacées. “Lampada apagada” significa “tudo bem”, enquanto seu acendimento significa “gua em nivel critico”, © eédigo dessa informagio tem apenas duss variéveis — sim ou nao, cor- respondendo a “limpada acesa” e “Himpada apagada”. Seo controlador da repeesa quiser uma informagao ineermedisria precisa~ 1 de uma segunda [Ampada e um novo cédigo. Duas limpadas apagadas, nivel bom; uma Himpada acesa, nivel médio; duas acesas, nivel eritico. A. vantagem, no caso, que um sistema mais complexo tende a dar inferma- ges mais precisas: o controlador, usando vérias impadas e combinacbes entre clas, saberd exatamente em que nivel esta a 4gua. Cada Limpada, no entanto, s6 pode dar um tipo de informagio. Esta acesa ou apagada, Aparentemente, no centro de um sistema de informacio std um cédigo bindrio. E a combinacio dessas unidades bindrias (as varias Kimpadlas, no exemplo) que criam informacées mais complexas. Cada uma ddessas unidades de informacio que implicam uma escolha é chamada de “di- _zito bindrio”. No original ingles, binary digit, ou simplesmence bit, a menor unidade geradora de informacies ¢ escothas em um siscema. A informagio contida em um bit 6, geralmente, um simples “sim” ou ‘nfo”. A partir de uma escolha feica, cacla uma das oucras escolhas bindrias representa outro bit, isto é, outra possibilidade de informagao. A velocdade dlessas informagées, ou seja, a capacidade de decidir se um bi? esta dizenco “sim” ov “nao” define qual seré 0 tempo de feedback Quem jf usou um computador com pouca capacidade de processamenco, por estar com problemas ou ser antigo, sabe bem disso: voce aperta uma tecla e demora uma ecernidade até a letsa aparecer na cela. Apenas para lus- trar, poderiamos dizer que © processador esta verificando cada um des bits 25 relacionados « essa tecla ¢ calculando 0 resultado, Pensando dessa maneira, computadores paderiam ser considerados um rama do mesmo tronco que _gerou as méquinas de calcular: trata-se de sistemas nos quais um processa- dor, manual ou digical, recebe inputs vindos do exterior, como apertar uma cecla ou deslizar 0 dedo sobre uma tela, calcula os bits referentes ¢ envia um sinal com o resuleado, o output. Maquinas de calcular exteemamente répidas, capazes de lidar com unidades minimas de informacio para decidir o que fazer com clas, A bist6ria do computados, de alguma forma, passa por essa definigio. ‘Até que, literalmente, eles foram conectados. © Além dos zeros ¢ uns ECO, U. Obra aberta. Sto Paulo: Perspectiva, 1997. PIGNATARL, D. luférmagio, linguagem, comunicagde. Sao Paulo: Perspectiva, 1967. 26 3 Cibercultura, tecnologia e inteligéncia: Pierre Lévy Escrevendo em 1996 sobre como seria a educacéo nos préximos anos, Pierre Lévy afirmou que “a internet ameaca o atual sistema de casino” Pensando na realidade francesa, destacava que 0 modelo de transmissio de conhecimento baseado em uma relacio professor-aluno passatia por varias mudangas. Naquele momento, a ideia de alunos usando miclias digicais em aula patecia ficgio cientifica — em muitos kigares ainda & No entanto, a expansio, itregular ¢ limitada, do acess0 aos equipamentos € conexdes se tornou um desafio & realidade, A proposicéo de Lévy nao era uma percepcio isolada, mas parte do crescimento de um tipo de relacionamento humano que ele denomina cbercultara Em linhas gerais, o termo designa a reunido de relagdes sociais, das pro- is dos seres humanos que se arcicalam cm redes incerconectadas de computadores, isto 6, no ciberespaco. Trata-se de um fluxo continuo de ideias, pricicas, represencagées, textos € ‘ocorrem entre pessoas conectadas por um computador ~ ou algum disposi- tivo semelhante ~ a outros computadores. dugies artisticas, incelectuais e bei es que A cibercultura mantém relagdes com o que acontece nos ambientes affine, 10 mesmo tempo, apresenta uma séric de especificidades. Cercamente as relagoes sociais, as idcias ¢ as praticas que circulam nas redes de computa- dores existem também no mundo desconectado, mas a ligacio via méquina imprime caracteristicas especificas a essas praticas Desa maneira, a ciberculeura no & um marco zero na culcusa de hue les por acontecerem em um espago conectado por computadores. Em outras palavras, é a cultura ~ en- tendida em um sentico bastante amplo como a producio humana, seja ma- terial, simbélica, intelectual ~ que acontece no ciberespaco. manidade, mas traz uma série de particulaci 27 Isso nfo significa dizer cuc, na cibercultura, a cecnologia determina as acdes humanas. Para Lévy, as teenologias criam as condicées de algumas priticas. O que separa a “caleura” da “iberculeura’ -opetacional desta dleima: acibercultura, a principio, refere-se ao conjuto de ppivicasleveelas @ cabo por pessoas conectadas a uma rede de computadores. O resultado é uma série consideravel de acdes e priticas que no acon- teceriam, por conta da auséncia de um aparato cecnolégico adequado, em outros momentos on lugares. <= |p. ae Posso tentar encontrar um amigo que nao vejo hé muitos anos pergun- tando por ele na escola onde estudamos ou no bairro onde ele morava, No encanto, a dimensio tecnolégica ~o ciberespago ~ cria as condigées para que reromemos 0 contato sem deslocamento fisico. A cibercultura é a transposi- cfo para um espaco conectato das cultaras humanas em sua complexidade e diversidade y : Nesse sentido, pensando em um fundamenco filoséfico da cibercultura, Lévy a define como sendo um “universal sem rotalidade” A palavra dugdes da mence humana que podem ser encontradas nas redes de compu- niversal” sefere-se ao conjunto complexo € cadcico das pro tadores. um retrato do imaginario humano ~ desorganizado, no qual os pontos nao se encaixam perf ou de unidade: a cibercultura se caracteriza pela moltiplicidade, pela frag- mentacio e desorganizacao. ramente ~, de onde a “auséneia de cotatidade” Nao ha um elemento unificador, como uma teoria politica ow uma crenga cmentos presentes na . portanto, algo externo para estabelecer seus funda- religiosa, que dé uma forma ow organize todos os cibercultura, Pal mentos, de onde a falta de uma “toralidade”, isto é, um elemento comum a todas as produgies ‘As cransformagSes da tecnologia permitem wm acesso cada vez maior as redes de compucadores. Quanto mais o ciberespago se expande, maior o tnimero de individuos € grupos conectados gerando € trocando informagies, saberes ¢ conhecimentos. Além disso, cria as condicdes, na cibercultura, para que novos saberes sejam desenvolvidos ~ aplicacivos, sites, programas, assim por diante. A aceleragio das mudangas técnicas, como processadores mais poderosos € baratos, leva o processo de volta a0 inicio, multiplicando sua velocidade. 28 Daf a sensacio, diante da ciberculeura, de mudanca constance e a perspecti- va de que se esti sempre atrasado em relacio ao espago aonde se esta Lévy destaca quatro elementos como sendo os responsiveis, em sua arti- calacio, pela ciberculeura —o ciberespaco, o virtual, as comunidades vieeuais ea inteligéncia coletiva. Ociberespaco Ao que tudo indica, a palavra “ciberespaco” foi usada pela primeira vez no livto Newromancer, de William Gibson, publicado em_1984, Referia-se a um «spago imaterial ao qual seres humanos eram coneceados aeravés de apare- Ihos eletrdnicos. Essa definica © conceito desenvolvido por Lévy. inicial ainda guarda alguma semelhancacom © ciberespaco € a interconexo digital entre compucadores ligados em E um espago que existe entre os computadores, quando hé uma cone- ‘entre eles que permite aos usuarios crocarem dados. E criado a partic de ‘vinculos, ¢ nfo se confunde com a estrutura fisica ~ os eabos, as maquinas, 10 dispositivos sem fia que permice essa conexao, Uma das caracteristicas do ciberespaco € sua arquitetura aberta, isto é a capacidade de crescer indefinidamence. E fluido, em constante mo- vimenco ~ dados acrescentados e desaparecem, conexdes slo criadas desfeitas em um fluxo conscance. Cada pessoa com acesso i internet faz parte do ciberespaco quando tro- ca informagoes, compartilha dados, publica alguma informagio, enfim, na essa infraestrucura técnica. Embora seja possivel estabelecer algumas dis- tingdes mais sutis, pode-se dizer que, a0 se conectar & internet, 0 individuo esti presente no ciberespaco. Assim como nos espacos reais nem codas as pessoas so igualmente ativas, engajaclas em guestdes politicas ou em conversas, no ciberespago as cane- xGes no sio iguais, Mas assim como é imposstvel acordar sem estar imerso em um ambience fi ‘0 qualquer, com © qual obrigatoriamente se estabe- fecem relacoes, ¢ dificil estar no ciberespago sem um minimo de conexées. Por outro lado, & expressio “estar no ciberespaco” pode levar a merito- ta geogrifica um pouco longe demais. “Escar la", no caso, significa ser a possibilidade de naveyar entre decumencos, paginas, textos ¢ informagbes diversas, Isso implica que 0 ciberespago nao ta 1a” até que se converca 29 em algum tipo de interface em uma tela, seja de um computador, sablet ou celular; ao mesmo tempo, cada computador € parte de um conjunto maior dle elementos, formande uma espécie de “computador nico", no qual © rnimero de teocas tende potencialmente ao infinico, Levy destaca quatro componentes na eserucura do ciberespaco: + Memorias com informagoes ¢ programas a serem compartilhados pelas pessoas conectadas, * Programas, inserug@es a respeito do que deve ser feito pelo computador. * Incesfaces, que permitem interagio € acesso aos daclos do ciberespaco: para “estar la” sem ser um programa é preciso ver na tela os dados dos computadores. * Codificagio digial, isto & eransformagdo de toslos esses elementos em formulas matemiticas qu? permitem sua manipulagio por computadores € seu armazenamento em memérias. ‘A digitalizagio é uma condicSo sive que non da existéncia no ciberespaco. Pasa sor compartilhada, qualquer coisa é transformada em sequéncias de (s € Is nos pracessos de dlgitaltzacZo ~ ao se escanear uma imagem, por exemplo, as cores e formas sio cransformadas em instragbes binérias que permicem ao computador calcular exatamente o brilho e a cor de cada pe- daco da imagem, Uma ver digitais, dados ganham uma qualidade — tornam-se virtual. virtual © termo “espago virtual” ou apenas “vireual” é empregadlo muitas vezes como oposto ao "real", como s Lévy considera que o “virtval” é parte integrante do “real”, nao se opde a le. O concratio de “virtual”, nesse sentido, 6 “atual”, no sentido de algo que std aconrecendo neste morento. Vale a pena examinar um pouco mais de ilo que é “vireual” ndo civesse exist@ncia perco essa definigao, No ciberespago todas as informagies ¢ dados existem, mas no sao acessa- dos ao mesmo cempo. Esto, nas memérias de computadores e servidores. Existem como algo que jade ser, algo virinal, vio se tornar um ato quando forem acessados ¢ se eransformacem em figuras, imayens, textos e sons na tela, Os daclos do ciberespaco sio todos virtuais até que se transformem nnaquilo que deve ser 30 © mundo vircual do ciberespago, portanto, nilo se ope ao que seria um mundo “teal”, das coisas desconectadas. Ao contririo, a nocio de ciberculeu- ra leva em consideraco que essas duas dimensdes se articulam. A expressio “mundo vireual” pode se opor a “mundo fisico”, mas no a “mundo real”. © mundo vireual existe enquanto possibilidade, ¢ se corna vise! quando acessado, 0 que ni significa que ele niio seja real Os dacs que constituem o ciberespago permivem nio apenas a duplica- do de situagdes do mundo fisico, mas também sua transformacio, Um si- mulador de voo, por exemplo, pode calcular ¢ duplicar elementos presences na narureza, mas poderia calcular situacdes especificas além das condiches sliméticas da Terra, Dessa maneiea, o espaco virtual € uma regio porencial- mente sem limites ~ mas nem por isso menos real Aintetigancia coletiva O vinculo entre diversas comperéncias, ideias e conhecimentos, arciculado ra inceragio vireual entre individuos no ciberespago, € chamado por Lévy de “inceligéncia coletiva”. Caracteriza-se, de saida, pela diversidade qualiasiva ‘encre seus componentes « pela expansfo continua por conta da articulacao © troca constantes que o transformam ¢ adaptam a novos contextos. As comunidades do ciberespaco conscituem-se na troca constance de conhecimentos que citculam, si¢ modificados, reconsteuidos, aumenta- dos e editados de acordo com as demandas especificas de uma devermi- nada sicuacao. Dessa maneira, sem perder a inceligéncia individual, codas as pessoas po- dem, potencialmente, contribuir com algum elemento para a constituigao de um conjunto de saberes que, sem pertencerem especificamente a ain- _guém, esto & disposigao de todos para serem usados e cransformados Vale nao perder de vista que a inteligeéncia coleciva existe no ciberespaco como um aglomerado de saberes vircuais ~ isto é exiseem em poréncia, prontos para se transformarem em aro quanda necessirio. Assim, uma in- tcligéncia coletiva nao é dle maneira alguma uma inteligéncia “cotal”, ¢ me thos ainda cotalitéria, como se poderia imaginar em ficcoes cientificas mais sombri , mas um aglomerado de saberes potencialmence & disposigio de ‘quem precisar se setvir deles, E, como na ética das comunidades virtuais, a inteligéncia coletiva parte do principio da reciprocidade — 0 conhecimento de um individuo poclerd sempre ser ticil para outra pessoa, 31 1B, da mesma maneira que relagbes pessoais so pautadas por algum tipo de éviea c/ou principio mora’, sejam eles de qual nacureza forem, cambém as comunidades virtuais se fandam a partir das préticas consisleradas correras entre seus membros ~ uma das suas principais caracteristicas € a auto-orga~ jzagio € 0 estabelecimente de regras préprias fundadas nos deveres ¢ di- reitos cle seus participances, Para Lévy, pautam-se em uma ética da recipro- cidade: a obtencio de informagées deve ser retribuida com o acréscimo de © informagées ¢ dados, bem como do respeito aos outros participances. exame das comunidades viruais que se pode norar as dimensBes humanas da cibercultura ~ se é possivel jogar com as palaveas, a dimensio “culeusa”, no sentido das préticas sociais, que se estabelecem nesses espacos, ém uma ériea da reciprocidade ‘A nogio de “ineeligéncia’, neste caso, no se confunde com “formacio” nem com “erudigio”, mas com a dindmica da transformagio dos saberes dentro das préticas ¢ relagées humanas. A inteligéncia coletiva, a0 que pa- rece, indica que o valor de um conhecimento depende do contexto no qual se est Se alguém ese com diividas sobre o sentido da vida, a resposta pode vir de um grande pensador ~ um livro de Sartre ou Schopenhauer pode facil- mente resolver a questio (ou piorar as coisas), Quem comio instalar uma tomada, um video no YouTabe tende a solucionar 0 caso. Cada conhecimento € valorizaclo dentro de seu contexto especifico, sem ne- 4 com duividas sobre cessariamente implicar na desqualificagio dos outros, Com isso, hii uma equiparacio entre os diversos tipos de saberes denero de uma sociedade, dividides Coal perados em sua unidade para serem utilizados quando necessario ~ 10 mais de ancemao em categorias distintas -a universitéria x cultura popular”, “escola x mercado”), mas recu- cessidade, no concexto, é a medida do valor ~, principio exposco por Lé Michael Autier em seu livro As dvvures dl eoubecimento Nao faleam criticas a Pietre Lévy, sobretudo por sua alegacta falta de pers peceiva critica em relacio ss problemas sociais e econdmicos que, de algu- ‘ma maneira, esto sempre proximos das discussdes a respeieo do ambience inline, Pensado algumas vezes como alguém “otimisea’, talvez nfo aponce para uma felicidade generalizada com os dispositivos, mas, de fato, parece apostar nas possbilidades de uma cecnologia na inceracio entre seres huma- aos e da criagio entre eles 32, | { © Para se conectar BICUDO, M.A. & ROSA, M. Realiddee cibermnido, Canoas: Ulbra, 2098 LEMOS, A. Ciberruliura. Porto Alegre: Sulina, 2002 LEVY, P 0 que € 0 virtual. Sio Paulo: Bud. 34, 2003, ___- Giberattura. Sao Paulo: Ed. 34, 1999. 33 4 Accultura da convergéncia de Henry Jenkins Em meados de 2010, o ste de videos Vimeo langou um desafio pablico na internet. A ideia era refilmar incegealmente Star Wars, de George Lucas, es- ereado em 1977. O filme seria feito pelos préprios incernautes, no estilo que ‘quisessem, no formaro que achassem melhor. Os autores, de qualquer parte do mundo, deveriam enviarsua versio que, na montagem final, usaria no mé- sximo quinze segundos de cada um dos filmes. O resultado € 0 longa Star Wars Unort, feito a partic da interagio entre fis andnimos, Para realizar esse filme, além de saber operar programas de edligao de video ou equipamencos para flmagem ou animacao, era preciso um nivel comple: nhecerem encre si, estivessem em sintonia a respeito de como filmer. - sem S¢ CO- de inceragio ent:e os fis ~ era preciso que os aucore Essa relagio entre pessoss que nao se conhecem, mas dividem as mesmas referéncias, recriando as mensagens da midia (e tomando-se, clas mesmes, producoras) ¢ compartilhardo ideias espathadas entre varios meios de comu- nicagio em varias plataformas ¢ um dos elementos do que Henry Jenkins denomina cultura de comvergéncia Nao se crata, ¢ bom explicar logo de saida, da reuniao de varias fungbes em um nico aparetho. Essa é apenas uma das dimer ‘mo a mais importante, do que acontece ‘A convegéncia cultural aconeece na ineeragio entre individuos que, 80 compactilharem mensagens, ideias, valores e mensagens, acrescentam suas proprias concribuicies a isso, transformando-os ¢ langando-os de volea nas redes. Nao é porque um telefone tem dezenas de fungdes além de fazer chamadas que se poderia filar em “convergéncia”: ela acontece, de fato, no 34 momento em que referéncias culturais de origens diversas, as vezes contra- ditérias, se retinem por conca de uma pessoa ou de um grupo social ~ fis, por exemplo. A énfase na dimensao tecnoldgica é chamada por Jenkins de “falécia da caixa-preta’, imaginando, como exemplo, que no fururo um tinico dspo- sitivo ~ a “caixa-preea” — ocuparia o lugar de cados os outros, substituindo televisio, computador, telefone, camera, ¢ assim por diante. Se, por um lado, existem aparelhos que agregam fungées anteriormente feicas por dis- positivos diferentes, por outro lado isso no € o que caracteriza a cultura da convergéncia, E apenas um de seus aspectos. A convergéncia € um|processo culeural que acontece nay mente dos indi vviduos na medida em que podem ser estabelecidas conexdes entre os ele mencos da culcura da midia, isto é, das mensagens que circulam nos meio de comunicagio, ¢ realdade coridiana, Em seu nivel mais simples, quando: alguém vé uma pessoa na rua € @ acha parccida com algum personagem de uina série de TY, é um momento de convergéncia ~ 2 associncfio da mensagem da TV com uma pessoa real em um proceso que ocorre em minha ment2. A converg logias Tidades, mas depende de um outro fator para ganhar um tom mais préximo a produgio humana sua dime ncia, portanto, aio existe exclusivamente por conta das tesno= mora cenham imporeéncia para isso, A tecnologia cria as possibi- cat Culturas i Qualquer divisto da cultura em “niveis”, no sentido de pensar “alta cul- ra” ou “cultura letrada” em oposicio a uma “culeura popular” ou “culeura cle massa” perde sua razio de ser no conceito de “Cultura da Convergércia” nna medida em que essas separagées (“alea”, “média”, “baixa”, “popularesca") indo se suscencam historicamente — 0 que era “popularesco” ha erinta anos pode se tornar vu agora, séries de TV ¢ filmes sio adappeados de clissicos da literatura, ¢ assim por dianee, Para a cultura da convergéncia, a nogia de cultura” é dindmica e plural, com tragos de vas culturas se reeombinan- do ¢ modificando a cada instance Ouera premissa importance, além da questo ceenol6gica © cultural, é © aco dos individuos estarem acostumacios i Zingeagem dos meios digirais, ou seja, a mancira particular de codificar a mensagem naquele meio. No inicio de uma conversa celefdnica, ao ateader a uma chamadla, deve-se cizer 35 pronto”, “quem fala?” ou expressoes semelhantes. Ja a abercura de um programa de televisio implica algum tipo de apresentagao, seja uma produgio grifica, seja uma mtisica, No cinema, as técnicas dle corte e edicdo sho familiares do pilico. A linguagem dos meios de comunicagao, seus cédigos e modelos de pro- dugio sio referencias compartilhadas pelos individuos grupos, abrindo es ago para formas de criacio. A ideia de “meios de comunicacio” na cultura da convergéncia é bastante abrangente, ¢ se refere dese as midias de massa, como o cinema € a tele- visio, até as midias digicais ¢ as interagdes do ciberespaco. A convergéncia nao significa que um meio novo destrua ou invalide um meio antigo, mas ‘encende que ambos se modificam mutuamente em uma furersego da qual emergem novos significades Assistir a uma novela ou a um jogo de fucebol pela televisio, por exemplo, estar diante de uma midia ce massa, vendo algo planejado de acordo com os pacdmetros da indistria culcural. No entanto, quando o individuo comparti- tha nas redes digitais seus comencérios a respeito do que vé, a experiéncia de ver televisio de apenas “ver” celevisio, mas rrata-se, sobretudo, de discutir ¢ reimaginar a mensagem, que ser recriada e comparcilhada com outras pessoas, alterada ~ als, deixa de ser, em cermos mais estritos, um ato Dessa maneira, a no fercares midias rendem a ser agrega individuos, rerando novas articulagies na mancica como esses fenémenos Jo de convergéncia parce do principio de que as di- las ¢ ressignificadas na experiéncia dos silo vivenciados. Os processos de convergéncia sio dindmicos, e aconsecem no momento fem que 0 individuo recria, em sua vida cotidiana, as mensagens ¢ as ex- periéncias em conjunto com as mensagens que chegam da midia ~ © que ele, por sua vez, pode “re-criar”. A cultura da convergéncia representa wna alreragio, alls, na maneirs como o individuo é visto no processo de comu- E deseacada uma oucra concepcao do processo de comunicagio: embora fa inchiseria culeural continae ex uma légica empresarial, os receptores tornam-se capazes de ¢laborar/recla~ stindo ¢ produzindo mensagens dentro de borar sues préprias mensagens, compartilhando of cédigos da cultura da 36 ida, mas também reinterpretando ¢ recriando esses elementos conforme € possivel elaborar a partir de midias digitais, O receptor se tora, na Cul- ura da Convergéncia, alguém produtivo, que no apenas vai reinterpretar as mensagens da midia conforme seus cédigs culeusais, mas também vai seconstruir essas mensagens ¢ langi-las de volta ao espago piiblico pela via clos meins digitais. ‘Uma das premissas mais importantes do conceio de Cultura da Coaver- kéncia diz respeito a possibilidade de cada individuo ser potencialmente um producor de mensagens, Neste ponto, 0 fato das eecnologias digitais esea- em presentes no cotidiano facilita o trabalho de criag2o (ou rectiagae} por individuos fora do citcuito da indiseria culeural. Esses producos assumem tuma enorme quantidade de formas, desde a edicio de um tzecho de algum filme hollywoodiano com outra erilha sonora, aeé a criagio auténoma de videos, éudios e textos. Una caraccerfstica clesse produgdo que se afina com a nogio de conver g@ncia é 0 fato de muicas delas, mesmo caseiras, buscarem de alguma ma- nncira emlar a cultura dos meios de comunicagio ~ 0 estilo de celejornais, de programas de radio ou shows cle entcetenimento é sempre um modelo possi- vel para a claboracio das mensagens pelo piblico. A audiéncia produtiva da cultuca da convergéncia nio deixa de se basear nos céidigos que viu, ouriu & leu a vida coda, cemperados com suas préprias ideias e concepedes, quendo criam suas préprias producies. Com alguns programas simples de edicio de video, uma pessoa pode re- ait uma cena de novela em seu computador, colocar a tridha sonora que julyar mais adequada e dar significados diferences do que o autor da novela e a emissora de TV imaginaram. Ao colocar essa sua produciio dispo- nivel no ambiente digital, compartilha com oucras pessoas essa sua reelabo- , alterando 0 ciccuita emissor-receptor Corramente isso nao significa necessarlamente que re pptores prodacivos anénimos ¢ a inddstria cultural estejam em pé de igualdade. A tecep € amma atividade que s¢ «lesenvolve em rede, na produgio de contetilos, discussdes, troca de ideias ¢ engajamenco com as priticas rela- cionadas ao que se gosta ~ eventos reunindo fis de filmes ou séries de TV, 7 por exemplo, costumam mostrar que 0 processo de recepgio criativa segue por caminhos dificilmence imaginados pelas empresas de comunicagi. Em es entre formas de producio uma cultura da convergéncia, nfo $6 as di € recepgio da cultura mudam, mas propria maneira de contat histérias cencontea outros eaminhos. Narrativas transmidia Para o piblico geral, Metrix é um filme. Quen gosta um pouco mais, sabe que se trata de uma eslogia de filmes — Matrix, Matrix Reloaded ¢ Ma- svi: Revolusions. Os fs, no encanto, sabem que esses filmes sio apenas uma parte do iceberg de todas as narrativas que compéem esse universo: além deles, hd um geupo de curea-meeragens de animagio, feitos por cineastas de ‘varias parte do mundo, chamado Animatrix, além do game Exter the Matrix ¢ de diversas informacées espalhadas pelo site oficial do filme ¢, segundo alguns, nos extras dos DVDs, Cada um desses itens nf € apenas uma repericio da histéria dos film ao coneririo, cada um deles acrescenea dados importantes & narrativa ci- nematogritica, explicando detalhes sobre 0 que aconteceu ances dos filmes ou entre alguns dos episédios, Essa maneira de concar wma hisedria em virias placaformas, passando por cinema, televisio, internet e games € um dos principais elementos conceicuais da cultura da convergéncia, a ideia de narvativa cransmidia. Em linhas gerais, uma narrative eransmidia & uma histéria que se des- dobra em vérias placaformas ¢ formacos, cada uma delas trabalhanco em sua propria linguagem ¢ acrescencando clementos aovos a0 conjunto da histéria, No caso de Matrix, por exemplo, cacla midia apresenta sua propria contsibuigao ao desenvolvimento da historia, Sob outra perspectiva, aacrativas transmidia sto cambém wma maneira de atrair consumicores de diversos nichos para os produtos oferecidos. Por outro lado, © dliferences, maneiras espectficas de viver as narrativas para além do que € apresentado no cinema ou na televisio. atrativo da narativa transmidia € proporcionar, a piiblicos Embora essa natrativa Forizontal nao deixe de ser ancorada em escraté- sas comerciais, seu sucesso se deve também a acio dos fis.¢ do pubblico ineressado que, trocando informacies, ideias ¢ especulacdes a respeito do que gostam, alimearam essa rede de narrativas. As empresas no teriam 38 | i i © gue oferecer se nao houvesse ua demanda alimenrada diligencemente pelos fis em féruns, listas de discussio ¢ comunidades vireuais dedicadas a descobrir deralhes © conjeccurar sobre seus filmes e livros preferidos. (© sucesso das narrativas transmidia dependem do engajamento do pabli- o.com os produtos. Além disso, da perspectiva de que esse pabico também € capaz de criar e recriar suas prOprias versBes da hise6ria, além de se en- volverem com toda a chamada “cultura material” decorrente dessas pro- dugies ~ ¢ ficil encontrar, em lojas fisicas ou virruais, c6pias dos éculos de New, dos paleeds de Smith, de Matrix, sabres de luz de Star Wars ou varinhas magicas das histérias da série Harry Potter Para além das convergéncias, no mundo dos fis. © Leituras convergentes CANCLINI, N.G. Culturas bibridas. Sao Paulo: Edusp, 1997. JENKINS, H. Cultus da eomvergéncia, Si0 Paulo: Aleph, 2010. SANTAELLA, L. Por que as comanicagies ¢ as artes stiio emvrrginde? Sio Paulo: Paulus, 2005, 39 5 Michael Heim: a Filosofia do mundo virtual conectado No desenho animado Wall, lancado pela Pixas em 2008, em um fucuro icamenve perderam sua capacidade de se comu- discance, seres humanos pi nicar sem o auxilio de midias digicais. Em uma cena, duas pessoas sentadas lado a lado esto usando uma rede social para conversar, mesmo estando a poucos cencimecros uma dé outra, Diance das telas, experimencam um tipo de interacéo integralmente digital. O pensamento, acoplado & tecnologia digital, é aleerado em sua esséncia Essa é uma das proposecs de Michael Heim em A metaffvca da realidade vival, no qual procura construir uma oncologia das midias digitais, As pa- lavras "mecafisica” e “ontologia ralvez no sejam as mats aeraentes em um texto, € um buscar definir as dois termos 86 € possivel deixando claro, desde o inicio, que se craca de urra tentativa necessariamente incompleta Heim esté interessado em enconcrar os aspectos das midias digitais do ciberespago que vio além dos aplicativos, das maquinas ¢ tecnolo- gias. Seu objetivo ¢ claborar uma mecatisica do digital e do virtual, pro- curando entender 0 que acontece com os seres humanos inseridos nese ambiente. Trata-se de pensar como as qualidades essenciais das médias digieais ¢ do espaco virtusl, isto é, sua metafisica, altera a esséacia do ser humano, sua aviolagia A resposta de Heim & direta: “computadores estrucuram nosso ambiente mental”, A relagio clos seres humanos com o conhecimento do mundo ao seut redor se eransforma complecamence quando ¢ incermediada pelus midias digi ris, As percep¢Ges, 0s relaconamencos e a propria atividade mental operam a partir de uma continua interscecio com o digital. Por conta disso, nosso pensa~ _mento, assim como nosso relacionamento com a realidade © com outros seres humanos, si, ao menos parcialmente, adaptados & Kégica das midias digital Isso nfo significa un pressigin appucaliptivo. 40 i | i | | i | 1 | | 1 i i Aconexio coma tela ‘Ao que parece, @ mente humana tem uma enorme plasticidade, capa- cidade de se adaptar ao ambiente cognitive no qual esti inserida. Nosso processar informacdes ¢ dar sentido a elas est ligado ao modo como essas informagdes chegam aré nés —o ambience cognitivo diz respeito aos modes de circulagao de dados em uma determinada época. Antes da escrita o conhecimento era oral, eransmitido de geragio a ge- ragio. A escrita permitiu aos seres humanos armazenarem informagdes em ‘outro local além de seu cérebro, em uma espécie de HD externo esctito, A invencao da prensa mecinica por Gutemberg aumentou progressivamence a quantidade de informagées em cieculacio dos séculos XV ao XX, e as midias digitais, no século XI, tornam esse crescimento exponencia Vale aqui um exemplo, Durante séculos 0 texto manuscrito foi o primeiro principal insttumento de comunicagio primétia de ideias. No manuscrito, ou mesmo nas maguinas de escrever, nao tinha nenhuma mobilidade: uma ‘vex escrito no papel, nao permitia corregses. Corrigir significava escever tudo oucra vez. A solugio era fazer um planejamenco prévio do que seria escrito, um rascunho, antes de passar para qualquer versio definitiva (© pensamento, nesse processo, tinha de amadurecer as ideias € conexbes, 2 teflecio tomava tempo, ¢ colocar os caracteres no papel era a tileima eta- pa de uma crilha encre a ideia, sua elaboragio ¢ sua escrita, Diante de uma tela em branco, expetimentamos uma velocidade do pensamento diferente a que seria possivel diante de uma fotha de papel. A capider do toque, 2 sensibilidade das ceclas € a velocidad do processador que coloca nossos pensamentos diretamente diance dos olhos eliminam a necessidade de um planejamento anterior, quase frase a frase, do que seria escrito. De seres gic ficos, passamos a seres digitas. A possbilidade de escrever diretamente usando um programa ao com- putador alterou esse circuito, Na tela, o texto pode ser alterado o tempo todo. © planejamento anterior muda por conta da possibilidade de ver os pensamentos aparecerem na rela quase no momento de sua formulagio. O Linico impediment é a velocidade dos dedos no teclado. Nao houvesse essa barreira fisica, a tela poderia ser inundada dle caracceres ¢ pensamentos dire- tamente vindos do cérebro. a ‘Tempo, espaco e informacces Para sobreviver, a mente humana se adapta a essas mudancas de ambiente cognitive para dar sentido ao volume de informagies com o qual precisa lidar ~ essa € uma das mudangas oncoldgicas. Uma dimensio disso € a 3@ii- sacio contemporanea de compressio do tempo. ‘A quantidade de informagies aual demanda um cempo adicional para selecionar, mesmo em um aivel superficial, o que merece atencio ~ traba- Ihamos, diz Heim, em um "pintano intelectual” decorrente do actmulo de informagbes que chegam. ‘Como essas informagdes vém de todos os lugares ~ celas espalhadas em tzansportes piblicos, computadores, avisos, vitdoors — e so muito numero~ sas, a meate tem muito mais trabalho e gasta muito mais tempo. Como © dia continua cendo apenas 24 horas, o resultado Ga sensagio de que o cempo eseé passando mais rapido ‘Um efeito mais profundo é 0 que Heim denomina “erosio da capacidade de dar significado’ Miquinas lidam com infermagées; seres humanos, com 0 significado des- sas informagies. No encanto, na meclida em que a torrente de dados ¢ cada vez maior, 0 resultado é um predominio da informacio sobre o significado — boa parte das informacSes que as pessoas recebem rodos os dias, em aplicativos, e-mails ¢ redes sociais nao significam absolucamente nada. Nao vio alémn dt superficie da informacao. A capacidade de prestar ztengio nas coisas, bem como o tempo em que a meace consegue ficar concentrada em algo, diminui. Como resuleado, wma ansiedade constante por novas informagoes: “queremos acesso a culo agora, instantinea e simulraneamence”, escreve Heim. Se, no inicio do século XX, 4 resposta a uma carta poderia demorar semanas, no inicio do séeulo XXJ uma mensagem que nio seja respondida inseancaneamente pode gerar preocupacio Isso leva a um ousado paralelo de Heim. Acibercaverna de Plato A proposea é pensar uma equivaléncia entre o ciberespago ¢ a chamada “Alegoria da Placio psopie uma imagem para explicar a relacto dos seres humanos com werna”, de Placio. Na parte VII de seu livia A repdbica, a2 Alguas homens esto presos em ama caverna desde sew nascimente, Es- tao de costas para a entrada da caverna, seguros por corrences que os forcam 2volhar para fundo da caverna, ¢ tado 0 que conseguem ver projetadas pelas pessoas que passam encre a luz do sol ea entrada do lagar. Supondo que um dos prsioneiros subieamence se soleasse ¢ conseguisse sir a0 chegar li fora seria ofuscado pela luz, mas, 20s poucos, conseguiria dstin- gui o que escava olhando e finalmente veria a realidade das coisas em vez de eras sombras, (Isto nao chega sequet « um palido resumor nada substicui a beleza do texto original de Platio) as sombras ‘A metafora proposta por Heim é uma atualizacio moderna dessa alezoria para explicar 0 ciberespaco. Em sua definigao, o ciberespago € 0 lugar no ‘qual a mente, libertada da caverna do corpo fisico e de suas limitagées, entra ‘em um mundo de pura representacio ~ pode haver uma pitada de ironia a0 considerar que a representacio digital do ciberespaco, para a pessoa conec- ada, corna-se a realidade. ‘A conexio com as interfaces € to comam, explica Heim, que s6 nos da- ‘mos conta de sua presenca quando uma delas fatha ¢ a intermediagio digital com a realidade fisica é interompida. No encanto, se no mico da caverna de Platio havia uma perspectiva do momento da liberdade, no ciberespaco o sentido é diferente. A presenga das interfaces em todos os lugares torna possivel estar no ciberespago em qual- quer lugar, de maneira que a representacao ¢ a realidade fisiea se compleram © tempo todo. A metafisica proposta por Heim mostra como a tecnologia acoplada 20 ser pode levé-lo a lugares distances, mas o tom geral é mais de diagnéstico do que de um prognéscico para o fucuro, Analisa como as micas digita’s ¢ 0 ciberespaco alzeraram a relacio do pensamento humano com 0 ambiente ao seu redor, abrindo rambsém fronceiras para conhecimentos até entio igaosa- dos. Um balango dos problemas ontolégicos em tempos digicas. ® Leitura relacionada SIBILIA, P “Clique aqui para apagar mis lembrangas ~ A digitalizacio do ebro em busca da filicidade”, In: COUTINHO, E.G.; EREIRE FILHO, J. & PAIVA, R. (orgs.). Miia e pater. Rio de Janciro: Maund X, 2008, 43 6 cS Howard Rheingold e o conceito de “comunidade virtual” Ha mais ou menos uns vince mil anos seres humanos decidiram que viver junco era mais interessante do que enfrencar os perigos da vida — animais, a nacureza, eribos inimigas ~ sozinhos. Essa decisao teve um efeito colaceral inesperado: para viver juntos, seres humanos precisam definir quem faz 0 que, estipular objetivos comuns e decidir quais sio os ineeresses em disput Em outras palavras, precisaram se organizar a partir das condig6es materiais de vida existences. De lé para c4, pouca coisa mudou em alguns aspectos: da familia as ci- dades, clubes, associagSes e insicuigdes, seres humanos se retinem em munidades, agrupamentos de pessoas que tém ao menos alguns tragos comum, A raiz da palavra “comunidades” & a mesma de “comum” ¢ de “comunicagio", pensada como “aquilo que pode ser compartilhado” A incernet e as micias digicais abriram espacos de inceragio em comuni- dade até entio desconhecidos, aumentando as possibilidades de estabele- cimento de lagos entre seres humanos. Um dos primeiros trabalhos sobre © tema dos relacionamentes online foi escrito por Howard Rheingold em 1994, inticulado A comunidede virtual. Embora esse ano cenha sido um dos marcos da liberagio comercial da internet, comunidades vireuais existiam desde os anos de 1980, ¢ 0 trabalho de Rheingold & uma espéce de balanco preliminar das promessas, possi- bilidades e limites desse fendmeno. Embora suas pesquisas se refiram as is daquele momento, algumas ideias so \iteis para se pensar algumas caracteristicas dos desenvolvimentos pos- ceriores das redes sociais. caracteristicas das comunidades virn Comunidades vireuais, nes palavras de Rheingold, sio uma “teia de rela- 8s pessoais” presentes no ciberespago, formadas quando pessoas mantém 44 conversas sobre assuncos comuns durante um periodo de tempo relativa- mente longo. Como qualquer comunidade humana, associagies virtuais se constroem a partir de lagos de interesse na troca de informagGes. A diferenca principal, no caso, estd no Fato cesses vinculos serem formados e mantidos @ partir de um computador. oe Agrupamentos sociais construidos a partic de relagdes interpessoais me- diadas por uma cela digital na qual esto informagées sobre 0 grupo, as comunidades vireuais ganham forga nfo por conta da tecnologia, mas pelas incengdes, vontades, afetos ¢ conhecimentos compartilhados — inecragio hu- ‘mana ¢ © ponto de partida e a razio de ser das comunidades vireusis, ‘Uma caracteristica das comunidades viecuais € a climinagao das frontei ras do espaco enere seus participantes. Comunidades humanas no espago fisico eram geralmente limitadas pelas distancias: as dificuldades de movi mentagdo existentes até meados do século XIX permitiam uma associagao ‘quase direta entre 0 lugar e seus habitantes, As relagbes de familia, clas, grupos, © mesmo cidaces e paises eram constituidas, enere outros elemen- tos, pelas facilidades e dificuldades de contato entre as pessoas. Nio por acaso a distincia e a impossibilidade de coneato eram um fatos relevance na constitaicao do “ourro” Humano, demasiado humano Na comunidades virtuais, por sua vez, so estabelecidas outras relagées de tempo ¢ de espago, Estar na mesma comunidade de outra pessoa niio significa de proximidade de lugar fisico, na medica em que isso acontece no ciberespago, entendido por Rheingold como um espago conceitual estabele- cido a partir de relagies humanas, na eroca dle ideias, valores ¢ informagdes mediadas por meios digitais. No ciberespaco, em vex. de vozes e gestos, a inceragio acontece a partir de pixels em uma tela sons eletronicamence compartilhados. 1ss0 niio torna 4 comunicagio entte as pessoas menos auténtica se comparacla com uma interagio face 2 face. Comunidades virtuais nao sto melhores ou piores do que os agrupamentos humanos no espaco fisico. Embora a forma de ligagio entee os individuos seja diferente, seres hu- ‘manos transpGem para as comunidades vircuais seus desejos, vontades © aspiragies, das mais sublimes is mais perversas. Suas caracteristicas especi- ficas ~ distancias relativas, proximidades digieais, anonimato ~ podem criar 45

You might also like