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:>-: ed. ex.01 --..
-
Registro:
Coordenação Editorial
Carla Milano Benc10wicz
..
Revisão
Eunice T amashiro
-
-

Dilair F. de Aguiar

Projeto Gráfico

..-
Lacy M. Tsukumo Andrade

Capa: Fachada principal do Teatro Municipal de São Paulo.

-..-
1984. Levantamento por fotogrametria rerrestre. executado
pela TerraFoto S.A. Atividades de Aerolevantamento, em
convênio com o Departamento do Patrimônio Histórico, da
Secretaria Municipal de Cultura, da Prefeitura do Município
de São Paulo.

Dados de Catalogação na Publicação (CIP) Internacional


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

-..
:-=­

148
Ecletismo na Arquitetura Brasileira I organização Annateresa Fabris.
Nobel; Editora da Uníversidade de São Paulo: 1987.

ISBN 85-213-0473-0
São Paulo:

-....

-..-
1. Arquitetura História 2. Arquitetura moderna - Século 19 - Brasil 3. Arqui­
tetura moderna Século 20 Brasil 4. Ecletismo em arquítetura 5. Ecletismo em
arquitetura _. Brasil L Fabris, Annateresa.

---
CDD-720.981
-720.9
87-0518 -724

1. Arquitetura
Índices para cauíiogo sisremático.

História 720.9
2 Brasil Ecletismo Arauitetura 19 720.981
---
---
3. Brasil Ecletismo " 20 720.981
4. Ecletismo
5. Século 19 Arquitetura B1',ISil 720.981
6. Século 20 Ecletismo :\rquitetm8 Bt'usil 720.981

-
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SUMARIO

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~
7 Apresentação

Annateresa Fabris

....
8 Considerações sobre o Ecletismo na Europa
si • Luciano Patetta

28 Ecletismo no Rio de Janeiro (séc. XIX-XX)


Giovanna Rosso Del Brenna

68 Ecletismo em São Paulo


Carlos Lemos

104 O Ecletismo em Minas Gerais: Belo Horizonte 1894-1930


Heliana Angotti Salgueiro
s
•gd S 146 Arquitetura eclética no Pará
No período correspondente ao ciclo econômico da borracha: 1870-1912
g S Jussara da Si Iveira Derenji
:;;;;::t 9


g
9
f
176 Arquitetura eclética em Pernambuco
Geraldo Gomes da Silva
g S
gJ S 208 Arquitetura eclética no Ceará
José Liberal de Castro
"..

--...•
é

"...
r 256

280
A fase historicista da arquitetura no Rio Grande do Sul
Günther Weimer

O Ecletismo à luz do modernismo


Annateresa Fabris

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:CONSIDERAÇÕES SOBRE O ECLETISMO

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!I!BJ NA EUROPA

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I!IIIIIIII LUCIANO PATEnA

...

...

...

(Milão, 1935)

...

Arquiteto e professor de História da


Arquitetura na Faculdade de
Arquitetura da Politécnica de Milão.

..,

..,

Organizou a mostra de arquitetura na


Bienal de Veneza em 1976, do

...-

Neoc\assicismo (Milão) em 1978 e


sobre Longhi (Roma) em 1980,
Escreveu numerosos ensaios, publicados
na Itália, Espanha e Argentina, sobre
...,..i. Víoltet te Duc) Projeto de restauração da arquitetura do século XIX e do entre
~atedral de Clermont Femmd, 1875. guerras,

d
•111

Considerações sobre o A queda progressiva dos preconceitos reconsiderar com objetividade a ~

-• ....
críticos levou a historiografia produção arquitetônica recente, a
Ecletismo na Europa ar qui tetônica a reavaliar, no final do historiografia não. podia renunciar a
século passado, o Barroco e, no atual, o recolocar em discussão também as
Neoclassicismo (sobre o qual pesavam velhas categorias e as velhas
ainda a censura da crítica romântica e classificações, isto é, aquelas que
•­

idealista), o Art nouveau e o Ecletismo


(considerados pelo Movimento
consideravam o Neoclassicismo e o
Ecletismo não só como experiências • W

Moderno "inimigos" a serem subseqüentes, mas, até mesmo, •


derrotados). Reconstituir, com antitéticas. Aos poucos, porém, a adoção@·!I!!!II1!'
objetividade, os fatos e aprofundar os pela crítica de termos como clássico e In!!!._.
aspectos problemáticos do romântico 1; o aprofundamento do I!-_ _~
Neoclassicismo e do Ecletismo foi tarefa
dos últimos decênios; primeiramente,
através de uma reavaliação crítica
significado da imitação (seja ela relativa
à antigüidade greco-romana, seja à
medieval); a descoberta de que havia ~
.'_.f'
geral (quase um "reparo" obrigatório), uma dialética constante entre razões da ',III!!!!!IIi!"
depois através de pesquisas específicas arquitetura e razões éticas,. sociais e
sobre diferentes regiões e países, sobre políticas e de que existia uma única
aspectos determinados e arquitetos, clientela - a burguesia em ascensão -._~
individualmente. Dois fatos - pelo nos levaram a interpretar o período que ~
menos na Europa - estimularam estes vai da metade do século XVIII até o
~
estudos e interesses renovados: por início do nosso como um "único longo
um lado, a ampliação' do problema da
proteção e restauração do patrimônio
período" 2. Acabamos por reencontrar
uma continuidade histórica que tem ~

histórico-monumental para as estruturas origem na crise da antiga tradição _
urbanas e edifícios do século XIX; por clássica e vitoriana (por volta de 1750) ~
outro, a crise do urbanismo do e que culmina no abandono total de _ ...
Movimento Moderno que levou a um:, qualquer referência aos estilos ~~
revisão dos princípios desta disciplina históricos, pretendido pela arte moderna.~
e a uma reflexão crítica, em cujo
Reencontrar, no seio das experiências ~.
alicerce se encontram, exatamente, a
neoclássicas e ecléticas, razões de ~-
cultura e a cidade do século passado.
consenso mais do que de contraposição.. "
Podemos dizer até que Neoclassicismo e
Ecletismo, hoje, constituem o centro
e apagar qualquer linha nítida de ~
demarcação entre elas foi uma ~
de interesses de áreas, como a
contribuição crítica importante. Muitas .....c
universitária, por exemplo, onde as
dúvidas foram dissipadas e respostas
decisões operacionais e de projeto
convincentes foram dadas a estas
arquitetônico e urbanístico ~
questões:

amadurecem.
1) É realmente o Ecletismo -=­

Mas, se a perspectiva histórica mais a expressão da arte e da arquitetura


~
ampla e a superação da tábula rasa que se segue ao Neoclassicismo, seria
~
tendenciosa, teorizada pelas Vanguardas apolítico, no sentido burguês, tanto
~-
e pelo Movimento Moderno, permitiram quanto o Neoclassicismo era jacobino,
~
10
~
- .C;­

~
.......
........
.........
......
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..,
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.íIIII 2

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,;...
--
-~Goudoin, ]. B. LepeTe, Colonne V endóme,
~ris ,1806.
;.-.
....
. . . .Vignon, A Madeleine, Paris 1806.

~ieto prem iado pela Academia Real, Paris

....
~8-18}O, Lilge 1842 (pro;elo de Ch.

"..-cier, 1786).


11

",..
....
democrático e renovador? A panir do
momento em que caíram por terra
com as pesquisas cognoscitivas que
aceitam, exatamente, essa
experiências criativas do passado,
baseadas, ao invés, no "buscar ex novo
. ..
411
­ iiJ

muitas das interpretações pOllticas do


Neoclassicismo e que, inversamente,
.rerificou-se que a burguesia da segunda
fragmentariedade característica e
aprofundam-na. Uma série de
fenômenos une, todavia, esses
e renovar sempre". - Pensemos,
enfim, na condição que aproximava
todas essas gerações: a arquitetura não
(I I
(I ..•
netade do século XIX possuía ideais fragmentos de história: uma "linha podia mais ser patrimônio de poucos
,.
fi li
)olíticos precisos, a tese mostra-se
:xcessivamente esquemática e não
;uporta verificações.
n O Ecletismo é algo que se distingue
contínua" percorre toda a trajetória da
arquitetura burguesa, desde os anos do
Iluminismo, na França, e do
paladianismo inglês dos country­
"mestres", devia ceder às novas
exigências da produção de massa e à
definiç~o de uma nova figura de
projetista: o profissional. Para os
.
II
l1li
li!

I
los revivals (e, particularmente, gentlemen, até os anos da Rainha projetistas profissionais era necessário
li
lo neogótico, isto é, do revival Vitória, do Segundo Império francês, que as escolas, as academias, 11
<1ais engajado, tanto como ideologia do colonialismo triunfante e da Belle preparassem um sistema de regras li
eligiosa quanto político-patriótica)? é poque. Pensemos na "estilização", razoáveis e concretas, de acordo com li!

.,.
im, se atribuirmos grande na simplificação dos elementos as atribuições exigidas pelo tempo,
mportância às premissas teóricas e aos arquitetônicos do passado, operações colocando a liberdade criadora em
que levaram as sutis complexidades de limites bem definidos. As severas
I!!I
bjetivos extradisciplinares; de outra
Jrma, as diferenças tornam-se mais proporção e de composição a cair em regras distributivas e tipológicas, o
randas (e inexistem se examinarmos as uma redução "moderna", que aproxima ritmo das estruturas modulares fixadas
mtes e os modelos adotados 3). arquitetos do século XVIII, como por J. N. Louis Durand (em seu
) E estes revivals coincidiam com a Robert e John Adams, John Soane, Precis des teçans d'architer:ture,
fi!
.Isca do assim chamado "estilo Claude-Nicolas Ledoux aos arquitetos Paris, 1801-1823), nas quais deviam r:
acional" que, na Itália, se expressou de meados do século XIX, como Henry se basear o decoro e a ornamentação (I!!Ii
ravés do neo-romântico ou do
:o-renascentista; na França e na
19laterra, do neogótico; na Alemanha,
) Rundbogenstil? 4. Pelo menos em
Irte, sim, principalmente se
Labrouste, Gottfried Semper e Edmund
Street. - Pensemos na concepção de
estilo como linguagem coletiva e sistema
universal de formas (aquelas do
universo greco-romano ou gótico) que
neoclássica, constituíram o. fundamento
da metodologia profissional por muito
tempo: na metade do século foram
adotadas pelo determinismo compositivo
dos engenheiros (que, posteriormente,
-
pr

..­
."

nsiderarmos que, entre todas as transcende as singularidades e revestiam as estruturas metálicas dos
:Jtivações ideais, as que obtiveram individualidades expressivas (de fato, o edifícios com ornamentações neobarrocas '"
aio! consenso foram o patriotismo e a "traço estilístico" pessoal de cada ou neo-renascentistas), foram utilizadas
lsca das próprias raízes culturais. arquiteto se mostra cada vez menos também nos projetos neogóticos e
ria um erro, porém, concluir que evidente). - Pensemos na relação com guiaram, no final do século, os primeiros
se longo período da arquitetura o antigo, que começa com uma edifícios com vigas e pilastras em
lais de 150 anos!) tenha sido abordagem de cunho mítico: passa por cimento armado.
mogêneo e tenha tido um fases ideológicas e interpretativas,
senvolvímento linear; ao contrário, depois à adesão com total ortodoxia, Se considerarmos decisivos, portanto,
: apresenta diferentes manifestações, para diluir-se, finalmente, na prática os fatores estruturais e supra-estruturais
mo poucas outras no passado, e profissional corriqueira. -- Pensemos de todo o período, isto é, a consolidação
'eções divergentes (freqüentemente na convicção de que era possível do poder burguês, os rumos tomados
1traditórias), testemunhos de urna escolher entre elementos extraídos das pela civilização industrial, o ~
1stante inquietude intelectual, a antigüidades, concentrar o melbor deles, entrelaçamento, na cultura romântica,
~"
ponto de se mostrar como um iludindo-se de que esse "encontrar e dos ideais nacionais e de independência
-íodo fragmentário, mais condizente aplicar" pudesse comparar-se às com os problemas econômicos da ~

.:...­
-
I
1_­

J.....­
produção em série, etc., parecem-nos
realmente desfacadas as tentativas de
classificar, rotular escolher> no seio
J

da experiência lingülstica global do


Ecletismo historÍcista. Quando os
ingleses Thomas Hope, James
Fergusson, T. L. Donaldson, C. Gilbert
SCOtl, os franceses César Daly e E.
Viollet le Duc, o alemão Friederich
Schinkel ~, desconcertados pelo aparente
"caos" das múltiplas pesquisas
estilís ticas, pelas contraditórias
experiências formais de sua época, pela
simultaneidade de vários revivals,
perguntavam-se, ansiosos, quando
também o século XIX saberia,
finalmente, "encontrar o próprio
-' estilo") não percebiam que estavam

-- buscando em uma direção anacrônica


e não viam que O século X1X já
encontrara 1<0 próprio estilo" e que este
era o Ecletismo. O Ecletismo era a
a • cultura arquitetônica própria de urn a
classe burguesa que dava primazia ao
conforto, amava o progresso
(especialmente quando melhorava suas
condições de vida), amava as novidades,

......
mas rebaixava a produção artística e
arquitetônica ao nível da moda e do
gosto .

Foi a clientela burguesa que exigIU (e

......

...

, obteve) os grandes progressos nas


instalações técnicas, nos serviços
sanitários da casa, na sua distribuição
interna, que solicitou urna evolução
rápida das tÍpologias nOs grandes hotéis,
nos balneários, nas grandes lojas, nos

"'4

. . . . . .C.
-
, DtÚy, MOllft Hilton'que! d'A"'hiJeCl Ure cf
de $culprure d 'Ornamem , Puni. 1869.
escritórios, nas bolsas, nos teatros e
nos bancos, que soube encontrar o tOm
exato de autocelebração nas estruturas
imponentes dos pavilhões das
~
- A. De Batldo/, Ponte Metólica, Proieto para
Exposições Universais (de Londres ­
a Exposição Universal de Paris, 1900. 1851 - e de Paris - 1867-78-79),
1)
- obtendo a aglutinação de todas as
expressões formais em torno do mito
do progresso : o Crystal Palace, a
Tour Eiffel, Les Calhies des Machines,
o Baile Excelsior os ro mances de
J

Júlio Veme, etc.

A essas exigências tão concretas e tão


decisivas para a nova edificação. os
arquitetos deram a única resposta
possível: uma arquitetura sem grandes
tensões espirituais, não autônoma,
mas participante e comprometida até ao
próprio sacrifício. A cultura
arquÍtetônica deleitou-se, por mais de
cem anos, com O fato de teI acolhido os
mais variados elementos lexicaís,
extraindo-os de todas as épocas e
regiões, recompondo-os de diferentes
maneiras, de acordo com princípios
ideológicos, nos quais podem ser
distinguídos , pelo menos, três
correntes principais: a da composição
estilística, -baseada na adoção
imitativa coerente e "correta" de
formas que, no passado, haviam
pertencido a um estilo arquitetônico
único e preciso (a esta corrente
pertenceram as mais des tacadas
tendências neogregas, neo-egípcias e
neo g6ticas ); a do hisloricismo lipológico;
voltado, predominantemente, a escolhas
apriorísticas de cunho anal6gico que
deviam orientar ° estilo quanto à
finalidade a que se destinava cada um
dos edifícios, reencontrando, na Idade
Média, os traços místicos e a
religiosidade para as novas igrejas; na
Renascença, as características áulicas
elegantes para os edifícios públicos, no
Barroco, ou nos estilos orientais, a
festividade exigida pelos equipamentos 6 7
de lazer, no Classicismo pesado do DelraHe, 1883, Pro;elo de uma necrópole H. Repton, Palácio do Regente, da " Desig111
in Les Grands Páx de Rome de 1850 a }or the Pavillio71 o/ Brighlon", Londres, 180:
.coríntio romano, o caráter apropriado 1900, s.d.

14
aos solenes edificios do Parlamento , construções (as colunas e as vígas) que,
~"C NEW NI\II UKJ". 'IISTOF.Y t" i5EU'·; dos Museus e dos Ministérios ; a dos de fato, deviam ser completamente
SOUTH KENSINGTON
pastiches compositivoJ que, com uma escondidas e revestidas por motivo de
maior margem de liberdade, "inventava" " decoro"; 5) os arquítetos (sobretudo
'1< '
'";;J soluções estilísticas historicamente na segunda metade do século) tentara m
·,i inadmissíveis e, às vezes , beirando o impor as razões da arte à progressiva
\". I mau gosto (mas que, muitas vezes, mecanização da era industrial : como
.~

escondiam soluções estruturais o socialismo ut6pico tentou mitigar as


interessantes e avançadas). injustiças sociais, assim também os
românticos John Ruskin e William
Algumas observações sintomáticas e Morris (no Arls and era/ts) tentaram
caracterízadoras sobre o século XIX se opor à queda da individualidade
podem ser feitas : 1) cada cópia , cacla dos valores artísticos artesanai s; 6)
réplica de um monumento antigo, de o século XIX" consumia" muito
um temp lo , de uma catedral, de um arco depressa os ideais, absorvendo-os em
de triunfo, etc., feita pelos arquitetos, sua vocação comercial : poucos anos

.. •
li
estava distante do original, era algo
completamente diferente do modelo, a
tal pontO que se t ornou, nitidamente,
depois das primeiras teorizações do
Colhic Revival (A. W. Pugin, 1936'),
em Birmingham e Sheffield,


li
!li
I
um pro tótipo do século XIX; apesar
do grande cuidado no levantamento (ou
produziam~se objetos medievais em
série e, na França, fundava-se a


exatamente por isso, talvez), no querer· Societé cOiholique pour lo


li! li
" retificar H, anular as ~rregularidades ,
corrigir os presumíveis erros, os
fobricoiion la venie, lo conession de
J

louis les objets co"socrés ou ctllte



•• 8
arquitetos historicistas produziram
sempre simulacros" (traíram o modelo
ff

pela excessiva fidelidade'); 2) a erudição


(1842) para fazer frente à demanda
das mai s de cem igrejas neog6ticas que,
naquela época , já estavam em

--
• •
e a filologia (onde se fizeram grandes
progressos) cons tituíram um entrave
evidente, quase uma paralisação da
construçãD , e ao fato dos bispos
tenderem, então. a prescrever tal
estilo 7. Uma ou tra observação deve
criatividade: as numerosas escolhas ser feita : a produção industrial,
estil1sticas possíveis pareceriam encarada ainda no século XVIII como
deno tar uma época de grandes sim ples curiosidade intelectual.
liberdades, quase anárquicas; entretanto, explodira na metade do século XIX,
:..
...

a elas correspondiam, sob o ponto de impondo suas impiedosas leis econômicas


vista do projeto , uma prudência e uma também ao canteiro de obras. De fato,

.......-­

sd • rimidez enormes; 3) as idéias, os subvertera-se a tradicional relação entre


programas, as finalidades eram se mpre utilidade e beleza, com a imposição de
melhores do que os produtos que elementos co nstrutivos metálicos

...

pretendiam propugná-los; 4) o pudor co mpletameme estranhos às formas e


dos costumes burgueses da época às proporções ca racterísticas dos estilos

...

...

...

8
A. WtJJel'house, Museu de História Natural,

Oxlord 1873, in The Btitish Architect,

X; 1878 .

vitoriana correspondia plenamente à


intolerância em relação à " rude e
vergo nhosa " nudez estrutural das
e da s ordens arquitetônicas. Tudo isso
coincidiu com O dualismo existente
entre engenheiros e arquitetos, quer

do pon to de vista da didática, quer da Locus, à posição geográfica, às


atividade profissional: estes não
conseguiram opor nenhUlna certeza
(somente dúvidas e reflexões
características e às técnicas
const ru tivas regionais. Ao lado dessas
primeiras pubücações, surgiram
.B. &J. M. COR
críticas) às certezas do cálculo d? numerosos guias,. primeiros es tudos I
ciência das cons truções e às conquistas
alcançadas pela técnica das instalações
industriais.
monográficos sobre uma catedral ou
abadia (Nolre Dam e de Paris, Chartres,
Si. Slephen, Weslmil1ster, etc.) , que
R
Uma grande qualidade, porém, tiveram
se anteciparam às publicações que
Lassus e VioHet Je Duc escreveram após
O
os arquitetos do século passado (e seus
clientes): um aguçado senso crític o.
1840. Constituíam uma novidade no
campo dos estudos históricos: enfrentar
N
De fato, entusiasmados diante do
o estudo de uma construção medieval
progresso técnico-científico. nunca
específica significava, naquele tempo,
pensaram que a arte e a arquitetu ra
ter que dar inicio a pesqu isas
pudessem apresen tar, em sua época,
arqueológicas tota1men te novas. Era
um progresso do mesmo nível. De tal
necessário, para O auror, adotar ex
forma a crít ica evidenciou as incertezas
novo o métod o de comronto com
e a qualidade medíocre da produção
ou tras cons truções mais ou menos
arquitetônica de seus contemporâneos,
contemporâneas da mesma região,
que o balanço que se fez no início de
reencontrar os arquétipos, reconstituir
nosso século não pôde deixar de ser
as relações e as influências de outras
totalmente nega tivo '. Cabe, portanto,
regiões ou áreas culturais (foram
a nós, hoje, corrigir em parte tais
descobertas áreas culturais como a
julgamentos c ressaltar as indiscutíveis
Normandia e o VaJe do Re no). Era
con tribuições da cultura eclética que
necessário ampliar a análise para
cons tituem, ainda, um patrimônio
além do esquema e da tipologia do
precioso. É o que pretendo fazer aqu i,
edifício, para avaliar a técnica
brevemente, acenando a antecipações
consrru tiva, os materiais e,
fundamentais na áre a dos estudos
principalmente, a decoração, que se
históricos, do relevo arquitetônico, da
mostrou completamente diferente da
tecnologia das construções e da
transmitida pelos Iratados re nascentistas
modernidade da casa .
e do classicismo. Foram os neogóticos
Em fins de 1700 já começaram a os principais responsáveis pela s
aparecer, principalmente na Inglaterra, contribuições mais interessa ntes,
alguns estudos de cu nho histórico­ rea lizando, depois de 1830, os primeiros
topográfico (sobre York e Wi nchester, estudos exaustivos sobre os diversos
sobre o País de Gales e a Escócia 9), esd los da Idade Médi a, a ponto de
que tentaram restituir um ambiente estabelecer dis tinções não só entre
totaLnente medieva l, o qua l não SÓ românico e gótico, mas entre as
ainda circundava uma catedral antiga diferentes expressões ou os períodos
co mo também constitu ía seu meio que tinham se sucedido (área por
cultural. Nessas obras encon tram-se os área) na França, I nglaterra, 9

,. B. r J. N. Cornel/, Elementos metálicor,

primeiros acenos às peculiaridades do Alemanha lO. Nova York, s.d.

16
-

....

Tornaram-se indispensáveis,
principalmente para a arqueologia'
greco-romana, relevos arquitetônicos

..

bem definidos para o acompanhamento


dos estudos históricos, bem como

..,

classificações e da tas precisas, isto é,

...

lançaram-se as bases de um novo modo


de "fa zer história". A verificação de
que a evolução das fases do gótico era
muito importan te, especialmen te nos
ii8I9 elementos decorativ os, levou os

e., estudiosos a analisá-las separadamente ,


dando vida a um novo gênero, de grande

...

~
.- ..... -;;-.. " -~r
importância 11. A atenção aos elementos
constru tores, aos materiais e às técnica s
levou, em pouco tempo, à descoberta
da arquite tura "menor", antecipando

...
~ um interesse nitidamente moderno. Os
relevos e as restituições gráficas de
• l edifícios g6ticos eram realizados com
urn a técnica muito avançada: as
111 li complexidades dos perfis e das

•s
-•. •

a
modinaturas medievais, ° recurso, na
construção , a soluções em diagonal
(agulhas, capelas, absides, pinácul os
das cated rai s) e a presença de

111
••
irregularidades métricas e an gulares
fizeram com que fosse m exatameute os
neog6ticos a aplicar, de forma difusa e

a
-.. 1
1
com grande prioridade, o método e os
procedimentos de geometria descritiva

.•- ••

de Gaspar Monge!2, apro'l{.eitando


$li exaustivamen te suas vantagens, sua
exa tid ão e sua vetificabilidade entre as
operações de relevo e sua resti tu ição
gráfica . Por sua vez, os neoclássicos
a
si
•,• 10
elevaram a níveis de autênti co
virtuosismo os projetos relativos às
hipóteses de policromia dos templos
111
.... I
I
10
C. Boito, DetalIJes de ArquiuttlYG em
gregos (os estudos de Hittorf e de
Kugler, que influenciaram uma tendência
neoclássica tardi a e nco-renascentista,
que usou muito O colorido nas
Madeira, in Omamenti. di mui gli stili,
111 I Milão, 1881 . fac hadas B) . A partir da metade do

• • 17

• •

--
século XIX tornou-se evidente,
portanto, que os historiadores da
arquitetura deveriam ter um a
competência no campo tecnol6gico e
uma familiaridade com as especificidades
da clisciplina e que era necessário
voltar-se também para a escultura e
pintura, iniciando estudos integrais, que
iam desde o monumento à decoração
e ao ambiente.

Grande parte desses estudos estava,


como já dissemos, clireta ou
indiretamente, ligada ao problema da
restauração que, aliás, no século XIX,
sempre es teve ligado ao problema do
projeto da nova arquitetma (Vjollet le
Duc não foi, de' fato, historiador,
restaurador e arqu iteto?); assim, a
cu]rura eclética deu à problemát ica da 11
;estauração uma impostação nitidamente
processual, aberta e dialética , de caráter irregularidades irrepetíveis. Foi construtor neog6tico co mo um princípIO
altameme moderno. Levemos em exatamente a pa rtir de considerações ideológico. Pretendia-se, como se sabe,
consideração estes dois aspectos: desse gênero que surgiu a primeira contrapor ideais precisos de sinceridade
interesses e premissas iguais Society for lhe Protection of Ancienl construtiva, de verd ade , de economia , e
desembocaram em duas concepções Bllilding (fundada por William Morris até mesmo, de moralida de da construção,
opostas de restauração, a do em 1877, a partir, porém) de uma idéia aos pasliches polies tilísticos, com seus
"complemento estilístico" (defendida de Ruskin de 1854) que promovia mascaramentos " im orais ", com suas
por VioUet le Duc) e a da " não não uma conservação artistico-seletiva, soluções formais freqüentemente
interferência e da pura conservação" mas histórico-documental de tooo o muito descuidadas na realuação. Obter
(defendida por Ruskin); - a intuição patrimônio monument al (hipótese tão esses ideais neog6 ticos de construção
(não apriorística , mas fru to de uma avan çada que 56 hoje foi absorvida). foi possível graças à perfeição alcançada
famili aridade com o trabalho com Outras importantes antecipações no uso da pedra aparelhada, conseguida
monumentos) de que a redução (tão podem ser observadas no setor de com a aplicação dos métodos cientHicos
cara aos neoclássicos acadêmicos) dos edificações neog6ticas, seja o tradicional da estereolOm;a (isto é, da ar te de corta!
edifícios a seus esquemas tipol6gicos, (das construções de tijol os e pedras ), as pedras de acordo co m uma
fo rm ais, volumétricos e espaciais levava seja aquele abe rto aos novos sis temas determinada forma ); métodos com os
construtivos das estruturas metá.licas .
de fato a um distanciamento do quais qualquer encaixe de ped ra (ou de
conhecimento COncreto da arquitetma ; A lição - aprendida através dos carpintaria) podia ser represe ntado. de
de que o monumento tinha uma mo numentos medievais - sobre a forma exa ta , no dese nh o, enco mendado
identid ade absoluta com suas pedras , essencialidade construtiva do gótico, fora da obra e depois aplicado .
com' seus muros e suas abóbadas, um sobre a maneira de erguer edifícios em (Po rtanto, tudo que já havia sido
tmicum com aquelas pedras e sua idade, blocos completos , sobre a relação entre enfrentado arresanalmente pelos
com os sinais do tempo, com suas decoração e estrutura, foi assumida pelo constru tores medievais podia , ago ra , ser

18
.....

~
11
].B.H. LAssus, Igreja SI. BaptiJte de Bellevilfe,
Paris. in Enciclopédia d'Architecture, 1864 .
realizado cientificamente , com rapidez e
com o uso de máquinas. O que
Rondelet 14 experimentara para as
grandes pontes (1 800-1817) era agora

..,

~
aplicado de forma difusa nas obras).
Prova disso são as igrejas francesas de
G. B. Antoine Lassus, E . Vi ollet le

Duc, Eugéne Barthélemy , Franz

~ Christian Gau ; a produção inglesa de

I)

,,

Norman Shaw e de Edmund Stree t n .

São de grande interesse as rel ações


entre o neogótico e a engenharia do

• ferro . Enquan to para a cultura


neoclássica (pensemos em Durand) a

.. , )
)
12
F.c. Gar4, Sainte-ClOfilde, Parir 1846.
engenhari a desempenhara um papel
subalterno na construção, limitando-se

,
12
ao esqueleto do edifício, ao cálculo e
li dimensionamento de vigas e colunas, de

•.. !I
acordo com critérios de Il;lodularidade
que, não necessariamente, se aplicavam
ao invólucro arquitetônico, para a
• !b cultura neog6tica a forma arquitetônlca

.. •
• I
IJ
podia ser esse ncialmente uma forma
es trutural. Além dis so, enq uanto era

• •
w. S/aur, 19reja ~m í tl"TO, 18J6. in difícil enCOntr ar afinidade entre os
Insuumenta Ecc!esiastic.a, 11, 1856.


elementos da s novas estrutura s da
14 engenharia e os elementos da arquitetura
L. A. Lussof1 e S. A. Boileau, 1grejq de

.. •
c1 ásslca, ta rDou-se logo evidente aos
Saif1t.Eugéne, Paris 1855.
neog6 ticos a coincidência formal entre
as es truturas metálicas e as modenaturas
dos edifícios góticos. Essa coincidência

..
pode ser verificada sob dois aspectos
de alcance diferente, um
substancialmente prático, o outro
rela ti vo às concepções de projetos . Ao
primeiro caso per tence ~ a igrej a de
Everton, de Thomas Rickman , os
é­ S modelos de igrejas pré-fabl"icadas em

~ • lerro de Willi am S,lter e de Richard


C. Ca rpenter; em Paris, as igrejas de

.. I

li!!!!!!
s. Et~gene, de Louís-Auguste BoiJeau
e de S aint Augu still, de Victor Baltard
(1 830·60), todas realizações o nde, em

• 19
sua maioria, as ogivas e os cruzeiros 17
foram executados com vigas de ferro, E. M. Barry, Planta da casa "W' orsley Hall "
Lancashire, in The Builder, VIII , 1850.
explorando as possibilidades da
montagem; todas construções em que
as formas neogóticas eram realizadas
como em um meccano t,. Pertencem
ainda a esta "simbiose" de gótico e
construções metálicas quer a inserção
desenvol ta de balcões em gusa e ferro
no interior de igrejas neogóticas em
pedra , q\,ler a adoção (como no interior
do célebre Oxford Museum - 1859)
de séries de pequenas colunas metálicas,
finas e muito altas, totalmente estranhas,
em termos de proporção, às tradições
harmônicas . No segundo caso,
15/16
enquadram-se aquelas experiências R. Pareto, G. Sacheri, Baraustradas metálicas
avançadas de projeto que aspiravam, de para escadas, Elevador hidráulico Stigler,
modo mais ou menos explícito, à in Enciclopedia delle arti e dei mestieri, s.d.
superação do afastamento inevitável 16

das competências entre engenheiros e


arquitetos . Em algumas ocasiões
conseguiu-se (enfrentando as mais
ousadas estruturas de grandes
coberturas) "filtrar" o projeto de
engenharia através de uma aguda
interpretação dos mais importantes
êxitos góticos: a exata subdivisão
hierárquica dos diversos elementos da
estrutura ; o dimensionamento e a
forma das pedras (nos elementos de
.........

sustentação) de modo a que


trabalhassem no limite de esforço
máximo (limite que era possível
alcançar agora através do cálculo); a
concepção do esqueleto de um edifício
como o de um organismo vivo, com um
conjunto de nervos, juntas (ou
dobradiças) e confluência de esforços e
cargas nos nós estruturais .

* Nome comercial de brinquedo italiano que


permite fazer pequenas cons truções mecânicas.
(N. do T. )
.........
n,.tU6.- ..................... L n . . ­
la o.-c- (~o..w 0.).

20
problema da modernidade da Casa. A
incidência mais direta e interessante
deu-se na segunda metade do século
XIX, na Inglaterra, sobre O tema da
casa de campo burguesa para uma
família, a country house. Depois de
] 840, desapareceu quase que por
completo, nesta produção, a tipologia
clássica da casa compacta, quadrada
e cúbka (inspirada no Renascimento
italiano e principalmente em
Paliadio) 15. Projetistas e clientes não
pretendiam, de fato, sacrHicar nada
da funcionalidade a regras ou
convenções formais. (Para um teódco
A inrerpretação da estrutura da catedral com j dobradiças;, góticos não só no como Pugin, sacrificar a funcionalidade
gótica como um ser orgânico levou perfil ogíval rebaixado, mas também ã forma era até mesmo imoral 19). Os
VioUet le Duc a descrever nos no detalhe em nós dos contrafortes 16 exemplos da arquitetura menor da
Entreliens (1863) o sistema de abóbadas (essas realizações são de 1870-1880). Idade Média, leiga ao invés da religiosa,
como uma esrrutura de painéis Resultados condusivos dessa o conjunto dos estilos que a geração
sustentado:;, por costelas; fazendo os: capacidade dos arquitetos repensarem de Williarn Morns e Phílip Webb
construtores ídentificá~la como uma o gótico foram as igrej;ts parisienses reconheda no Old Engtish (isto é, ()
estrutura com painéis de vidro de Notre Dame du Trqvail (1899), de g6tico do primeiro período, o Tudor.
sustentados por um esqueleto metálico. Louís Astruc, e de 51. Jean de Elisabctano) o Queen Ann) parecia
Alguns exemplos dessa assimilação Afonimarf.re (1894), de Anatole De apropdado aos novos ideais e
I<naturaI" das formas góticas sao: as Balldot, primeira igreja construída com exigências. Parecia coinddjr com os
estufas de John Claudius Loudon e de cimento armado, onde o material princípios de integridade, honestidade
Joseph J?axton, com cimbres metáHcas e arnficial pôde ser modelado através da e sinceridade construtivas, com a
vidro) cujas formas em concha, com variação da espessura entre partes de exígência de flexibiHdade compositiva c,
abóbada carenada, com quiJha "sustentação" e partes "sustentadas" . finalmente, com as características
inverüda, sao autênticos "moldes" dos exatamente como as abóbadas góticas, ambiemais inglesas, como tinham sido
volumes de sal do gótico inglês tardio; Das quais as nervuras e ús triângulos definidas por um séc:l1o de teorizações
as coberturas de ambientes amplos) (gomos) eram constru:ídos com o mesmo e exemplificações a respeito do
propostas por VloUet le Duc e Anatole material, porém" com resislência e PiUoresco.
De Baudot, modelando'(is nas abóbadas espessura diferentes. Adotando a
nervUfadas em estrela do gótico Essas casas inglesas não conseguiram
patente do engenheiro Cottandn, De
catalão rardio; ou em leque (de ínaugurar um novo estilo arquitetõnico,
Raudot construiu um ambiente novo e
Cambridge, \'qindsor e O:dord); os mas con-espondc.ram plenamente a um
jivremente concebido, górico, porém,
grandes arcos de ferro da estação novO estilo de 1Jida: prático mas
na concepção de um esqu~+~to de
londrina de St.," Puneras (73 metros de elegante, refinado mas intolerante
sustenração à vista e de estruturas que
vão livre) com perfis do arco ogival com vínculos irracionais, isto é,
dão ritmo ao espaço interno.
policêntrico (no caso, seis centros); os arrojado, mas principalmeme volrl1do
arcos da ~)'ala das Máquinas de Eofoquemos ag0ra :1 influência que para o conforto. O confoHo era o
Ferdinand Duten (ll5 merros de vão, teve a eulmrií medieval sobre o verdadeiro problema central desta

21
-

produção (e era isto que a tornav a 19

uma produção tipicamente burguesa) . "Wiener FaçodenbJlclt", 1, 1860-1890,

' FienQ 1892.

Robert Ke rr , em seu The Gentleman's


H ouse (Londres, 1864), observara,
como bom eclé tico, todos os es tilos
possív eis para a casa, ma s coocluía
que, caso se qui sesse um "confortable
lodging", um alojamento confortáv el ,
e ra preciso excluir o neoclássico e o
oeo-renascentist a e voltar -se para o
gó tico. As melhore s casas de Norman
18
Shaw , de Edmund Str ee t , de William Projeto de Cala de campo, in Architecture
Burges, de Wi1liam Bum e de AJfred píttoresque au XIX Siecle, Paris 1869.
Waterhouse 20 a presen tavam uma 18

planime tria articulada , uma perfeita


adaptação às irregularidades do te rreno,
uma cuidadosa orga nização interna :
grupos de qua rtos, cada um deles com
um banheiro; dimensões e proporções
dife re ntes entre as áreas comuns e de
serviço; e ainda um a multiplicidade
de materiais, pedra, tijolos , madeira ,
feno e vidro . Dedicava-se grande
atenção às instalações de aquecimento
e ven til ação . Mas , sobretudo, três
princíp ios de pro je to anteci pa ram
algumas escolhas da arquitetura
moderna : 1) a predominância da
planta sobre a el evação (isto é, a
prioridade dada, no pro jeto, ao es tudo
das caracterís ticas distributivas); 2) a
livre disposição, nas fachadas , de
janelas e va randas, loca lizada s onde a
vis ta e ra mel hor {com o uso de grandes
vidraças, ainda que estranhas ao estilo
arqu ite tônico, que exigia que fossem em
pequenos quadrados}; 3) a prioridade
do inte rio r so bre o exte rior e a
uoidade da casa com sua decoração .
(Pa ra Morris e seus colegas, isto
tra ria co mo conseqüência a necessidade
de melhorar o gosto do mobili ário e
dos obje tos domésticos). Assim co mo
as teor ias de Viollet Je Duc sobre a

22
• • •• , • , "----.!.---!
com o foco perspectiva constituído por
um monumento, a acentuada
UJL1llJL!1 I 1I (, I1 11 I
geome rrização do espaço urbano {rodos
,flítttí,l,
<

elemenros perfeita mente adaptáveis às


. -- . - - ,- - . - - '.

j : U--...
paradas militares) mais ainda do que
na s realizações da época napoleônica
".J.1 ._, ,,.........
enconrraram sua concretização na Pads
5 do Barão Haussmann (1853-70), no
Ring de Viena (1859-80), na Berlim de
Bismarck (1870-80) e, embota de fotma
menos visrosa, também em Florença
) (1864), em Roma (1870), Bruxelas
» (1867- 71), Barcelona (o plano Cerdà
de 1859) e na Cid ade do México
(1860) . A ca racterís tica morfológica
) foi o iso lamento dos principais
,/ .....
) monumentos do passado (catedrais e
v.~,.: palácios) que deviam domin ar o espaço
) -o; . ..... ~.,

19 urb ano reestruturado a seu redor; e


j também o isolamento dos "novos
monu menros", os Ministé tios, os
cacionaJidade construriva g6tica e nov a "escala " dos fenôrp.enos (as
sobre as possibilidades de modelar o e
ferrovias, por exemplo.), com os Museus , os T earros, e tc .: os edifí.cios
do Ring vienense, o Ratbaus de
ferro funcionaram como premissas "grandes números " no crescimeuto dos
para as estruturas Art Nouveau de Victor habitantes, dos veíc ulos, dos setviços. Friedrich Schmi t, a Universidade de
H orta e de Hecror Guimard , a Heinrích Ferstel, o Bürg-tbeatre de
Dois foram os remas tratados pelo GOltfried $emper (187 4) e a Ópera
culrura da coun try house foi uma
ut bani smo: a) a intervenção na padsiense de Charles Garnier
referência precisa para Charles
cidade preexistente, através da (1862) dominam a cena urbana ,
Mackintosh e Charles Voysey,
tran sformação dos antigos muros Ge emergindo, não tauto e m virtude do
reEetência q ue , através de Hermann
defesa em alamedas arborizadas para es tilo ou da qualidade arquitetônica ,
Murhesius, chegou até o Continen te
passeio , da aberrura de novas artérias com o pela grandeza e pela exaltação
europe u.
de cruzamento (a demolição das das três dimensões.
Como de costum e, a historiografia es trutu ras medi eva iS e do Renascimento

--


3
$
do Ecletismo concentrOU a atenção
na linguagem arquitetônica,
descuidando-se da s referências dessa
por exigência do tráfego e da higiene);
b) a determinação morfológica da
expansão urbana e, em particular, dos
Seja nos anos do Império (1805 -1815).
seja naqueles das cidades capitais
(1850-80). O urb anismo estabeleceu

• $ cuhura na evolução da cidade , nos novos bairros residenciai s burgueses, uma hiera rqu ia precisa da s estru(Uras

• ) planos diretores e no projeto urbano.


Ao contrário, o historicismo
dos bairros adm inistrativos e comerciais.
O modelo foi encontrado na Roma de
urbanas {que coincide, naturalmente,
com a hie rarquia econômica e das
• ) arquitetônico e o urbanismo do século SistO V e, em geral, na cidade bar roca: classes sociaís 21. Para que se tornasse

• I XIX desenvoJveram-se na mais o culto do eixo de sime tria, do sistema evidente a eonsistência da cidade




I)
perfeita simbiose. Tal corno a edificação,
também a cidade teve de acertar contas
com quantidades inéd itas, com urna
fechado realizado pelos muros de
co nsrrução coutínuos , ao longo dos
grands boulevords, as ruas retilíueas
como "o rga ni smo", devia ser
respeitada uma rigorosa graduação: a
emergência volumétrica e das

• I) 23

I
I
qualidades formais {ou estilísticas} vezes, as habit ações assumiam a forma
devia ser inversamente proporcio nal à torre, ou eram cobertas por cúpulas.
quantidade : do elemento mais Tanto nas casas não isoladas como nos
difundido, a casa comum de moradia, " palace tes", os estilos mais recorrentes
ao mais excepcional, a construção eram o Quatrocelltismo, o
monumental. Na reaLidade, a culrura Quinhentismo ou o pasliche barroco,
eclética não soube ater-se até o fim a mas, no fim , essas escol has estilísticas
estas regras, realizando uma ddade não que, tal vez, à época, tiveram um
livre de contradições, mas, talvez, e certo significado, são consideradas h.oje
exatamente por causa delas, muito viva sem impor tância. A cidade da segunda
e inte ressante. A desqualificação metade do século XIX parece ter
progressiva do centro urbano e dos realizado, apesar da presença da
bairros burgueses para as periferias linguagem polie~tilís tíca> a atual
devia ocorrer com uma simplificação " homogeneidade" e continuidade de
progressi va das escolhas arquitetônicas estilo que, no início do século, eram um
e estilisticas e dos materiais: às vezes, ideal neoclássico.
porém, realizações populares e
intensivas como as berUnenses Até mesmo os parques urbanos e os
Mietkasernen (casernas de aluguel) jardins, exigidos por questões de
mascaravam-se sob for ma de "grandes higiene como forma de corrigir a
edifícios" decorados retoricamente . A densidade excessiva de edifícios,
burguesia não soube renunciar a produzida pelo urbanismo, ,~ão, no
colocar nas fachadas das próprias casas, projeto, uma síntese eclética : do jardim
ao longo das ruas, as mesmas ordens barroco fra ncês e daquele típico de
arquitetônicas que deviam ser cada país. Pensemos no parque
reservadas aos edifícios públicos: parisiense de Buues·Chaumont, realizado
procurou, portanto, a monumental id ade. por]. A. Alphand (1867) e no Centrol
Mas co nseguiu apenas em parte: as Park, realizado por E. L. Olmstead em
colunas, os pilares, os frontões , os Nova I orque (1851-60) . O processo
pedes tais em bossagern, etc., adotados que o Movimento Moderno instituiu há
em toda parte, a proliferação do cinqüenta anos contra a cidade eclética
caráte r áulico acabavam por empobrecer do século XIX , hoje nos parece
sua potencialidade expressiva e tendencioso e in aceit ável. Os ataques
simbólica. As fachadas estilísticas contra a quadra do século XIX , contra
que se sucediam nas ruas anulavam-se a forma fechada em favor do
como peças intercambiávei s de um "loteamento aberto" > a abolição da
unicum homogêneo. As únicas opções "rua" tradicional e da "praça",
possíveis dentro de tanta uniformidade além do entrelaçamento das (unções
eram as soluções em esqu ina (pense mos vitais na cidade (surgid as, então , como
na diferente maneira de evidenciar reação aos excessos especulativos e às
esses mo tivos em Paris e Barcelona) altas densidades intensjvas) não são
e as cabeceiras das quadras voltadas hoje partilhados pelos ur banistas. A
para as praças circulares e poligonais 20
censura total daquela morfologia
E. Púovono: Villo Crespi, etn Crespi
do novo tecido urbano, onde, muitas . urbana que o Ecletismo retomara dos d'AJdo, 1907.

24
arquitetos antigos (e que reln terpretara
à luz de novas exigências) levou-os a
construir, com as grandes periferias, uma
cidade sem forma, uma ucidade sem
qualidade". A última expressão
qualificada, a última parte da cidade
de valor indiscutíve1 é aquela
; construída pela cultura eclética no
século passado e no primeiro decênio
) do nosso; não apenas estudá-la e
) partir novamente dela , para formular
novas hipóteses urbanas, mas também
j defendê-la das agressões da especulação
F ) imobiliária, é a tarefa da cultura
r ) atual dos arquitetos .

F)
F )
) 21
21
MagnocQfJQ//o, C.UQ no v;a Statuto em
Milõo, 191 4.

22
Cosa na Via BerlO1/i em Milão, 1913.

• j

-

•..
)
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)

•.. 3

.• )
)

-.•. )
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as
3

as
.. ,
li

)
25

... ..
p~

Notas

L KIMBALL, F. Romantic-Classídsm in Architecture, in "Gazette des Beaux


.....
fi'
-
Arts", 1944; cf. também Rosemblum, R. Transformatíons in Late Eighteenth f
Century Art, Princeton 1967-69; Honour, H. Neoclassidsm, London 1976.
~
2. PATETTA, L. L'Architettura deWEcletismo. Fonti, Teorie e Modelli, I
1750-1900, Milano 1975. fi
e1 ri

..
3. PATETTA, L. op. dt. e também I Revivals in Architettura, in "11 Revival", ....
­
li
coord. por C. G. Argan, Milano 1974. ti
4. GERMANN, G. - Gothic Revival in Europe and Britaín: Sources, In/luences pll
and Ideas, London 1972; Pevsner, N. Some Architectural Wríters of Nineteenth ,.- li
Century, Oxford 1972.
5. Cf. Patetta, 1., cito 1975, Antologia de textos; Pevsner, N., op. dt.; Morris, W.
The Revival ofArchitecture, 1888; Hitchcock, H. R. Architecture: Nineteenth
and Twentieth Centuries, London 1958.
6. PUGIN, A. W. N. Contrasts: or a Paraltel between the Noble Edifices,
fi-
.
.- ...
f

..,.. .
e7
London 1836; e The True PrincipIes o/ Christian Archítecture, Oxford 1841. Para 5
o neogótico cf. também Eastlake, C. A History o/ Gothic Revival, London 1872;
Clark, K. The Gothic Revival: an Essay in the History o/ Taste, London 1962.
7. BENEVOLO, L. - Storía dell'Architettura Moderna, Bati 1960, p. 113.
8. Cf. Boito, C. - Ornamenti di Tutti gli Stilí, Milano 1880; Fergusson, J.
History of the Modem Styles of Architecture, London 1862; Melani, A.
Architettura del XIX Saolo, in "Manuale di Architettura", Milano 1899; Scott, G.
Architettura dell'Umanesimo, London 1914; e "Appendice", in Pevsner, N. op. cito
..
11

IIi
I
F


I
9. Refiro-me às obras de Bentham, J.; Milner, J.; Brítton, J.; Grose, F.; Hearne,
T., etc., cf. a bibliografia em Eastlake e em Clark, op. dt. Também na França I
foram publicados estudos do gênero, cf. Patetta, 1., op. de, 1975 e Petit, J. L.
Architectural Studies in France, London 1854; Vitet, L. Des Études Archéologiques
aF
en France, in "Revue des Deux Mondes", 15 August 1847. De Caumont, A. em IUI
1824 publica seus estudos sobre a Normandia.
I
10. Sobre este tema apresentei a comunicação Il Gotico dei Goticisti come
Laboratorio e Cantiere di Avanguardia no Congresso realizado em Pavia, em •
setembro de 1985, sob o titulo "11 Neogotico in Europa". Anais em impressão. li
11. Halfpenny, J.; Carter, J.; Atkinson, T. W. publicaram, entre 1790 e 1830, l­
obras sobre os detalhes góticos levantados nas catedrais inglesas. Na França, são
A. De Laborde e AncÍsse De Caumont que levantam os detalhes da arqueologia I ­
medieval.
12. MONGE, G. Geometrie Descriptive, Leçam Donnés aux Écoles Normales •• ,

..
l'An III de la République, Paris 1798; as aplicações mais importantes e oportunas
foram ministradas na École Polytechnique.
13. Para os estudos de Hittorf, Kugler e também de Labrouste, H. cf. Recherches
I!f!
aux XVIII et XIX Siêcles sur la Polycromie de l'Architecture Grecque, in "Paris­

"
Rome-Athénes", Paris 1982; Middleton, R. Perfeúone e Colore: la Policromia
nell'Architettura Francese dei 18." e 19. Secolo, in "Rassegna", 23, 1985.
0

pé F
26

fI!!!'
I
é
...
......

.... 14. RONDELET, G. - Trattato Teorico Pratico dell'Arte di Fabbricare (1802-17)


ed. it. Mantova 1832; Perronet, J. R. Description des Proiects et des la
Construction des Ponts; Paris 1788. Cf. na Inglaterra a tradução de Nicholson,
P. da obra de Rondelet intitulada New Practical Builder, London 1823 .

----
..,
15. Cf. Hautecoeur, L. Histoire de I'Architecture Classique en France, V, Paris
1957; Hitchcock, H. R. Early Víctorian Architecture in Britain, New Haven 1954;
Summerson, J. Victorian Architecture, London 1970.
16. Cf. Patetta, L., cit., 1975; Germann, G., op. cit.; Collins, P. Chagíng IdeaIs in

.......,=­ Modern Architecture) London 1965; Schild, E. Dal Palazzo di Cristalto aI Palais
des Illusions, Firenze 1971.
17. DE BAUDOT, A. número monográfico da revista "Architecture
Mouvement-Continuité", n. 28, s.d.; De Baudot, L)Architecture le Passé, le Présent,

.........
Paris 1913; L'Architecture et le Béton Armé, Paris 1916; Cottancin, P .
Conference sur les Travaux en Ciment avec Ossature Métallique) in "Bulletin de
l'Union Sindical e des Architects" 1895-96 .
19. PUGIN, A. W. N. - The True PrincipIes 01 Christian Architecture, Oxford
1841, p. 61. Cf. também Tachiaventi, L Viollet le Duc e la Cultura Architettonica
dei Revivals) Bologna 1976 .

.., 20. GIROUARD, M. - The Victorian Country House, Oxford 1971. Cf. Scott,
G. G. Remarks on Secular and Domestic Architecture, Present and Future, London
1857; Dolman, F. T. Examples o/ Ancient Domestic Architecture, London 1858;
Hussey, C. English Country House, London 1958.
~
21. NARJOUX, F. - Paris: Monuments Éléves par la Vil/e, Paris 1880; Lameyre,
!!!!819 G. Haussmann, Pré/et de Paris, Paris 1958; Hegemann, \YJ. La Berlino di Pielra
(1930), Mílano 1975; Aymonino, c.; Fabbd, G.; Villa, A. Le Città Capitali del
~ XIX Secolo. Parigi e Vienna, Roma 1975. Cf. também Patetta, L. La
!!!!!!I!!t Monumentalità nell' Architettura Moderna, Milano 1982.

~
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