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Receitas

ZENCRANE FILMES, INDIANA PRODUCTION e DOWNTOWN FILMES APRESENTAM


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Q Buon appetito
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Notas da Crítica
satisfeitos de “ESTÔMAGO”, mas é impossível assistir ao
filme sem ficar com fome.”
Denis Seguin – Screen International
“Belíssimo filme que sacia nossa fome de diversão
inteligente.” “Uma ótima fábula sobre a relatividade da felicidade,
Marcelo Janot – Críticos.com.br “ESTÔMAGO” mostra que “chegar lá” é muitas vezes mais
divertido do que “estar lá”. E faz isso de forma tão cativante
“Diretor acerta a mão em fábula indigesta.” e agradável que me diverti do começo ao fim. Recomendo
Marcos Dávila - Folha de São Paulo fortemente.”
Ard Vijn – site Twitch (Roterdam, Holanda)
“Muito original, muito inteligente e divertido... Promete
Com JOÃO MIGUEL, “Em “ESTÔMAGO”, engenhoso drama culinário de
virar uma das sensações do ano.”
BABU SANTANA, vingança de Marcos Jorge, comida é igual a poder. Filmado
Luiz Carlos Merten – O Estado de São Paulo
CARLO BRIANI, por Toca Seabra com um nível apropriado de coragem,
ZECA CENOVICZ “ESTÔMAGO” ganhou diversos prêmios no Festival do Rio,
“...o primeiro longa-metragem do diretor Marcos Jorge
PAULO MIKLOS inclusive o prêmio de público, o que sugere que, mesmo
é uma obra rara no cinema brasileiro.”
e JEAN PIERRE NOHER fora dos cinemas de arte, os espectadores podem vir a
Chico Fireman - G1
apresentando gostar dessa saborosa - apesar de não totalmente digerível
FABIULA NASCIMENTO “Em uma sociedade onde uns devoram e outros são - refeição.”
devorados, o cozinheiro joga um papel decisivo, e pode Jay Weissberg - Variety
decidir qual é o melhor bocado. Este é o ponto de partida de
Marcos Jorge para lançar um olhar nada complacente
sobre a realidade brasileira contemporânea. Sob a Apresentação
aparência de uma comédia satírica, o filme nos oferece
ESTÔMAGO é a história da ascensão e queda de Raimundo
uma aguda reflexão social, que atravessa os diferentes
Nonato, um cozinheiro com dotes muito especiais. Trata de
extratos sociais. No país do “fome zero” e da “cultura
dois temas universais: a comida e o poder. Mais
antropofágica” exposta por Glauber Rocha, a parábola
especificamente, a comida como meio de adquirir poder. E
traçada pelo diretor aponta para as entranhas de uma
pode ser definido como “uma fábula nada infantil sobre
contraditória realidade.”
poder, sexo e culinária”.
Jorge Jellinek – Diretor do Festival Int. de Punta Del Este
Em sua estréia mundial no Festival do Rio 2007,
É possível rir e se emocionar simultaneamente com as
“ESTÔMAGO” consagrou-se como grande vencedor, tendo
experiências entre as caricaturas, com a doce visão dos
recebido quatro prêmios: Melhor Filme pelo Público,
presidiários, com a relação entre Nonato e uma prostituta
Melhor Diretor, Melhor Ator e Prêmio Especial do Júri. Em
felliniana, com a própria narração do protagonista. São
sua estréia européia, no Festival Internacional de Roterdã,
forças geradas por detalhes, sutilezas, pela explosão verbal
na Holanda, recebeu o prêmio Lions Award e foi o segundo
de um Babu, por um olhar de lado de João Miguel, por um
colocado, entre 200 longas, na preferência do público. Teve
resmungo, por pequenas modulações de expressões e
participação especial no Festival de Berlim 2008, com
vozes. Um filme de minúcias, de um conjunto poderoso,
direito a jantar inspirado nos pratos do filme, e venceu o
que merece transpor certo gueto de circulação.
Festival Internacional de Punta Del Este, no Uruguai, com
Cléber Eduardo - Cinética
os prêmios de Melhor Filme e Menção Especial de Melhor
Ator.
“Uma mistura de comida, sexo e poder que não é vista no
cinema desde “O Cozinheiro, O Ladrão, Sua Mulher e o
O filme marca a estréia de Marcos Jorge na direção de
Amante”, de Peter Greenaway, o filme de estréia de Marcos
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longas-metragens, depois de uma bem-sucedida carreira


Jorge é um suspense surpreendente, um mistério que gira
como diretor de curtas-metragens, filmes publicitários e
em torno não de “quem fez?”, mas sim de “o que foi feito?”.
artista-plástico especializado em vídeo-instalações.
Como uma deliciosa refeição em um clima estrangeiro, o
Marcos Jorge estudou cinema na Itália e lá viveu durante
filme atravessa o paladar para oferecer um inesperado,
toda a década de 90, e seus filmes e vídeos venceram mais
mas apropriado final. Talvez nem todos os clientes saiam
Q de 50 prêmios nacionais e internacionais.

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As filmagens aconteceram durante cinco semanas em que devoram ou são devorados. Regras que ele usa a seu
Curitiba e São Paulo, em fins de 2006, e toda a finalização favor, porque mesmo os cozinheiros têm direito a comer
foi feita na Itália, em Milão e Roma, em meados de 2007. sua parte - e eles sabem mais do que ninguém, qual é a
“ESTÔMAGO” é a primeira co-produção cinematográfica parte melhor.
realizada a partir do acordo de co-produção bilateral Uma fábula nada infantil sobre poder, sexo e a
Brasil-Itália, assinado no início dos anos 1970. É um filme gastronomia.
de dupla nacionalidade, brasileiro para o Brasil e italiano
para a Itália.
Sinopse Longa
No elenco desponta o ator baiano João Miguel, como
Na vida há os que devoram e os que são devorados.
protagonista, acompanhado pela curitibana Fabiula
Raimundo Nonato, o protagonista de “ESTÔMAGO”, se FESTIVAL DO RIO 2007
Nascimento (em sua estréia no cinema), pelos cariocas
arranja, ao invés disso, por um caminho todo seu, um Melhor Filme
Babu Santana e Alexander Sil, pelo italiano Carlo Briani e
caminho à parte: ele cozinha. (Prêmio do Público)
pelo paulista Paulo Miklos.
Melhor Diretor
Nonato é um dos muitos migrantes que partem em direção Melhor Ator
O filme foi inspirado no conto “Presos pelo Estômago”, de
à cidade grande na esperança de conseguir uma vida que Prêmio Especial do Júri
Lusa Silvestre que assina, junto com Marcos Jorge, o
lhe permita, no mesmo dia, almoçar e jantar. Contratado
argumento do filme. O roteiro é de Lusa Silvestre, Marcos
como faxineiro em um bar, Raimundo descobre seu talento INTERNATIONAL FILM
Jorge, Cláudia da Natividade e Fabrizio Donvito. A
nato para cozinha e, com suas coxinhas, transforma o FESTIVAL OF ROTTERDAM
produção executiva é de Cláudia da Natividade. O diretor de
boteco em local de sucesso. É Giovanni, o dono de um Lions Award 2008
fotografia é Toca Seabra, que tem no currículo filmes como
conhecido restaurante italiano da região, quem primeiro
“O Invasor” (2002), “Do Outro Lado da Rua” (2004),
intui os dotes de cozinheiro de Nonato e muda sua vida, FESTIVAL INTERNACIONAL
“Cidade Baixa” (2005) e “Cão se Dono” (2007). A música
contratando-o como ajudante de cozinheiro. Assim DE CINE DE PUNTA DEL ESTE
ficou a cargo de Giovanni Venosta, compositor de
acontece para Nonato a descoberta da cozinha italiana, das
premiadas trilhas sonoras de vários filmes italianos: “Pão Melhor Filme
receitas, dos sabores e, como não poderia deixar de ser, do
e Tulipas” (2000), “Queimando ao vento” (2002) e “Ágata e Menção Especial
vinho. A vida de Nonato muda, inicia-se sua afirmação no
a tempestade” (2004). de Melhor Ator
mundo: uma casa, roupas, relacionamentos sociais e,
sobretudo, o amor de uma mulher, a prostituta de bom
Como grande parte da história se passa dentro de uma cela
apetite Íria, com a qual estabelece uma ancestral relação de
de cadeia, Luiz Mendes Jr. - que entrou na prisão aos 19
sexo em troca de comida.
anos, semi-analfabeto, e saiu 30 anos depois, como
escritor e cronista - atuou como consultor de vida e
O talento de Nonato na cozinha também é logo descoberto
comportamento no presídio.
pelos seus companheiros de cela. Para eles e para seu
violento chefe, Bujiú, a chegada do novo companheiro na
“ESTÔMAGO” foi vencedor do Prêmio de Produção de
cela é a salvação pois logo o miserável rancho da cadeia se
Filmes de Baixo Orçamento do MINC e seu roteiro
transforma em pratos exóticos. Nonato, à sua revelia,
participou do prestigioso seminário de co-produção
passa então a ser conhecido como Alecrim, e com esse
internacional "Produire au Sud", financiado pelo governo
apelido começa também a sua escalada ao poder.
francês.
Como e porque Nonato acabou na cadeia, isto não
Produzido pela Zencrane Filmes e pela Indiana
sabemos. Esta é uma pergunta que será respondida só no
Production, ESTÔMAGO tem distribuição da Downtown
final da história, quando se descobrirá o delito cometido
Filmes.
por este homem e se completará seu aprendizado. Pois
Nonato, apesar de sua ingenuidade e simplicidade,
Sinopse Curta rapidamente aprende as regras da sociedade dos que

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devoram ou são devorados. Regras que ele usa a seu favor,
Na vida há os que devoram e os que são devorados. porque mesmo os cozinheiros têm direito a comer sua
Raimundo Nonato, nosso protagonista, descobre um parte - e eles sabem, mais do que ninguém, qual é a parte

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caminho à parte: ele cozinha. E é nas cozinhas de um melhor.
boteco, de um restaurante italiano e de uma prisão - o que

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ele fez para acabar ali? - que Nonato vive sua intrigante Uma fábula nada infantil sobre poder, sexo e a
história. E também aprende as regras da sociedade dos gastronomia.
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Sobre o Diretor Filmografia Principal
MARCOS JORGE formou-se em Jornalismo no Brasil em 2007 - Estômago (ficção, longa-metragem);
1988. Em 1989-90 estudou cinema na Itália, com ênfase 2004 - O Ateliê de Luzia – Arte Rupestre no Brasil (doc.,
em linguagem cinematográfica, roteiro e direção de atores. longa-metragem);
Por alguns anos trabalhou em Roma como assistente de 2003 - Infinitamente Maio (ficção, curta-metragem);
direção e montador, em filmes de longa-metragem e 2002 - O Encontro (ficção, curta-metragem);
documentários para a televisão. Em 1995 transferiu-se 2000 - O Medo e Seu Contrário (exp., media-metragem);
para Milão, onde passou a roteirizar e dirigir 1998 - Paisagens (exp. curta-metragem);
profissionalmente. Depois de mais de dez anos vivendo no 1995 - Vernichtung Baby (doc., media-metragem);
exterior, no ano de 2001 retornou ao Brasil, onde criou, 1994 - Reflexões (exp., curta-metragem);
com Cláudia da Natividade, a produtora Zencrane Filmes. 1993 - Carta a Bertolucci (ficção, curta-metragem).

Seus filmes, documentários e vídeos participaram de


dezenas de mostras e festivais, no Brasil e no exterior, e Entrevista com
Marcos Jorge (Diretor)
venceram mais de 50 prêmios. Em 2002 lançou seu
primeiro curta-metragem de ficção, “O ENCONTRO”, que
recebeu 23 prêmios em festivais brasileiros e fez ótima
carreira internacional. Seu segundo curta-metragem, Quando foi que você percebeu que “ESTÔMAGO”
“INFINITAMENTE MAIO”, lançado em 2003, recebeu 17 acabaria se tornando seu filme de estréia na direção? O
prêmios. “O ATELIÊ DE LUZIA – ARTE RUPESTRE NO que mais o seduziu na história?
BRASIL”, lançado em 2004, é seu primeiro documentário O roteiro do “ESTÔMAGO” nasceu de um modo
de longa-metragem e foi vencedor de prêmio do Programa interessante e que vale a pena ser contado. Há quatro anos,
‘Rumos Cinema e Vídeo' do Instituto Itaú Cultural. respondendo a um convite para a estréia de um curta meu
É artista-plástico com vídeo-instalações expostas na em São Paulo, o escritor Lusa Silvestre me mandou três
França, Itália, Holanda e Japão. Expôs nos prestigiosos contos inéditos, todos centrados no argumento comida.
espaços da Triennale de Milão; foi artista-residente do Um deles me chamou logo a atenção, narrava a história de
CICV - Centre Internationale de Creation Video de um homem que aumentava seu prestígio numa prisão
Montbeliard, na França; seus espetáculos multimídia cozinhando para seus companheiros de cela. Gostei muito
foram eventos especiais no “Invideo - Mostra do conto e sugeri ao Lusa que o adaptássemos. Mas como
Internazionale di Video D'Arte e Ricerca” de Milão e do o conto era curto e insuficiente para embasar um longa, era
“Festival Pontino”, na Itália. necessário inventar mais coisas. E assim, juntos, fomos
criando toda uma história para o protagonista “antes” de ir
Dirigiu dezenas de filmes publicitários, para empresas para a cadeia, e o roteiro foi sendo escrito.
brasileiras e internacionais, com os quais venceu diversos Logo no início desta fase percebi que se tratava de uma
prêmios, entre eles dois Profissionais do Ano da Rede história universal, compreensível a todo tipo de pessoa,
Globo e duas medalhas de Ouro no Festival de Nova York. que mistura poder, sexo e culinária de maneira visceral e
No ano de 2007 lançou seu primeiro livro como fotógrafo, orgânica. Mergulhei de cabeça na elaboração do roteiro,
o volume “BRASIL RUPESTRE – ARTE PRÉ-HISTÓRICA com enorme dedicação e imenso prazer (foi uma das
BRASILEIRA”, em co-autoria com os arqueólogos André melhores fases de minha vida). Por sorte, outros logo
Prous e Loredana Ribeiro. também reconheceram o valor da história e vencemos o
Edital de Produção de Filmes de BO do Ministério da
“ESTÔMAGO” é seu primeiro longa-metragem de ficção. Cultura, o que tornou possível o filme.
Com ele venceu o prêmio de Melhor Diretor no Festival
Da conceituação à produção, quais foram os desafios
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Internacional do Rio de 2007.


que você encontrou para fazer seu primeiro filme como
diretor?
Fazer cinema é uma tarefa complexa, que envolve muitos
recursos e pessoas, e comporta muitos desafios. Acho que
Q vale a pena destacar alguns deles.

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Antes de mais nada, para fazer “ESTÔMAGO” a produtora
Cláudia da Natividade conseguiu atuar um famoso acordo Mas, depois disso, o roteiro teve muitas revisões, muitas
de co-produção entre o Brasil e a Itália, que existia desde mesmo, mais ou menos umas dez. Nunca deixamos de
1974 e nunca tinha sido plenamente utilizado. Com muito trabalhar nele. As fases mais significativas foram durante a
trabalho e paciência ela decifrou os percursos previstos na pré-produção, em que recolhemos as sugestões dos
lei e conseguiu que os órgãos brasileiros e italianos apro- colaboradores mais próximos do filme; durante os
vassem a co-produção do filme. É graças a este trabalho ensaios, em que os atores deram muitas idéias,
que o “ESTÔMAGO” pôde ser finalizado na Europa. especialmente nos diálogos; durante a própria filmagem,
Outro grande desafio foi rodar o “ESTÔMAGO” com um pois cheguei a escrever uma cena numa noite e filmá-la no
milhão de reais, que é o valor do Prêmio de Produção de dia seguinte; durante a montagem; e até durante a
Filmes de Baixo Orçamento do Ministério da Cultura. finalização do som, reescrevemos os offs do Nonato. Um
Filmando em película, como filmamos, em cinco semanas, trabalhão, mas valeu a pena.
A receita de um
com uma equipe grande, um filme relativamente complexo
Do seu ponto de vista, que elementos de “ESTÔMAGO”
bom roteiro é como
e com muitas necessidades de produção, não o teríamos
feito com esta verba se tivéssemos optado por filmá-lo em dizem mais ao público brasileiro e mais ao italiano? Foi a receita de um bom
São Paulo. Movendo nossa produção para Curitiba, no complicado conjugar as exigências dos dois países, ou prato: você pode listar
entanto, conseguimos controlar muito melhor os custos e você acredita que o filme tem um caráter universal (até os ingredientes, pode
otimizar os recursos, contando com o apoio do Estado e da por ser uma fábula, com muitos toques indicar os modos
Prefeitura, que nos facilitaram o acesso a muitas das existencialistas)? do preparo, pode até
locações. O “ESTÔMAGO” é sim uma co-produção brasileiro-italiana contar os segredos
Mas talvez o maior desafio superado tenha sido não cair (veja bem, brasileiro-italiana, e não ítalo-brasileira), mas do cozinheiro, mas se
nos clichês que permeiam a história: os presos oprimidos, foi escrito, dirigido e realizado por brasileiros. Não precisei quem for fazer o prato
a prostituta deprimida, o italiano melodramático, a comida pensar o filme em função da co-produção, pois desde o não tiver “mão boa
pasteurizada etc. Ora, para poder fugir disso, desde o início o personagem do Giovanni já era pensado como para a cozinha”, o prato
começo imaginei os personagens como pessoas italiano. As muitas ironias que se fazem, no decorrer do não vai ficar bom
multifacetadas, e os ambientes como ambientes realistas. filme, ao caráter dos italianos, não estão ali em função da
Assim como a comida mostrada no filme é apetitosa co-produção, mas sim pelo seu caráter intrinsecamente
mesmo sendo feita em condições higiênicas tremendas, engraçado. Morei na Itália mais de dez anos, e posso dizer
os personagens do filme também têm qualidades e conhecer bem os italianos, mas seria ambição demais da
defeitos evidentes. E gostamos deles apesar disso, ou minha parte afirmar que conheço os gostos do público de
justamente por isso. cinema, portanto não sei ainda dizer se o filme vai fazer
sucesso por lá. Mas, pelas primeiras reações que venho
Um dos pontos mais fortes do filme é a precisão com que colecionando pelos festivais internacionais em que
a trama é conduzida. Por quantos tratamentos o roteiro “ESTÔMAGO” vem sendo apresentado, trata-se de um
passou até chegar à forma final? Aliás, qual a receita de filme que agrada bastante. O público de Roterdam adorou
um bom roteiro? o filme, elegendo-o segundo colocado, entre 200 longas,
A receita de um bom roteiro é como a receita de um bom em sua preferência. O público de Berlim esgotou os
prato: você pode listar os ingredientes, pode indicar os ingressos dias antes da projeção, apesar de serem os
modos do preparo, pode até contar os segredos do ingressos mais caros da Berlinale (49 euros pois incluíam
cozinheiro, mas se quem for fazer o prato não tiver “mão um jantar logo depois), e riu até mesmo nos créditos finais
boa para a cozinha”, o prato não vai ficar bom. Então, não (não estou exagerando, quem estava lá, viu). E já
sei contar muito bem a receita do roteiro do “ESTÔMAGO”. vendemos o filme para uma série interessante de países,
Em sua essência, ele foi escrito pelo Lusa Silvestre e por que inclui Argentina, Israel, Espanha, Holanda, Canadá e
mim, sendo o Lusa o responsável pela maior parte dos Grécia, entre outros. Acho que o filme tem, sim, um caráter
diálogos, e eu pela estruturação de grande parte das cenas. universal. Mas ele não foi buscado, ele aconteceu
A Cláudia da Natividade encontrou a chave para acabar o naturalmente, acredito que, pela verdade com que é

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filme, o que, num filme como o “ESTÔMAGO”, é muita narrada a história.
coisa.
A primeira versão do roteiro foi escrita muito rapidamente, A metáfora da carne, explícita na brutalidade com que
em cerca de 30 dias, pois tínhamos uma data final para os personagens (em especial o Raimundo e a Íria) são
participarmos do concurso. E nela já estavam presentes
todos os elementos fundamentais que acabariam no filme.
tratados, nos faz pensar em uma sociedade como um
grande moedor de gente. A gastronomia entra aí como Q
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uma metáfora da humanização – de trazer um novo presídios de Curitiba e concentramos nossa atenção no
tempero à vida? Presídio do Ahú, prisão mais antiga da cidade, construída
Linda a metáfora contida nesta pergunta, encontro o há mais de 100 anos. Já negociáramos um modo de
“ESTÔMAGO” perfeitamente descrito nela. Realmente, a filmarmos lá com a prisão em funcionamento quando
sociedade brasileira pode muito bem ser descrita como um fomos advertidos que, se esperássemos um pouco, o
moedor de gente, especialmente da gente simples, da Presídio seria desativado e poderíamos filmar lá dentro o
gente pobre. “ESTÔMAGO” descreve este sistema injusto tempo que quiséssemos. Assim fizemos. O presídio foi
através de dois grandes temas: as relações de trabalho e o desativado e os presos removidos para outra unidade, fora
sistema carcerário. Nonato chega na cidade e da cidade. Os prisioneiros foram removidos somente com
imediatamente é preso. Não na cadeia, mas no quartinho a roupa do corpo, deixando no presídio “todos” os objetos
dos fundos do boteco do Zulmiro. E para ter o privilégio de pessoais. Então foi só fazermos, dentro do presídio, uma
ficar lá, entre ratos e baratas, deve trabalhar como um cela com duas paredes falsas (que removíamos quando
escravo. Sem benefícios. Só quando vai trabalhar para o necessário), e utilizarmos, como objetos de cena, objetos
Giovanni ele ganha um pouquinho mais de liberdade. Para reais deixados pelos presidiários. E para garantir o
Nonato, o talento para a cozinha (que ele descobre na realismo total, chamamos aos ensaios o nosso consultor
prática, tendo que cozinhar para comer) é sua única arma de comportamento carcerário, o Luís Mendes, para ajudar-
de liberdade, de afirmação, de sobrevivência. Não é à toa nos em todos os setores.
que, no filme, no instante em que Nonato começa a Então, nossa estada na prisão foi de mais de duas semanas
cozinhar, aparece a segunda parte dos créditos. Ali, de filmagem. E não foram semanas fáceis pois algo, lá
naquele instante, sua vida reinicia e, portanto, reinicia dentro, deixava sempre claro, para nós todos que
também o filme, que a partir daquele ponto muda de estilo, estávamos trabalhando, que aquele era um lugar de
ou melhor, incorpora um novo estilo, que é mais bonito que sofrimento.
o realismo cru com que a história vinha sendo contada até
ali. E cada vez que a magia culinária de Nonato acontece, o Você contou com a consultoria do ex-presidiário Luis
filme muda para um registro mais doce, a música se Mendes Jr. para elaborar as cenas que se passam na
suaviza, o mundo de Nonato e de seus companheiros fica penitenciária. Apesar do passado trágico, Mendes saiu
muito melhor. da cadeia como escritor e cronista. Você acredita que há
Um fato muito importante a ser destacado sobre esperanças para o sistema penitenciário brasileiro?
“ESTÔMAGO” é que, apesar de sua aparência fabulosa, se O Luis Mendes saiu da cadeia como escritor por exclusivo
trata de um filme bastante realista, especialmente no que se mérito próprio, através de um esforço incrível realizado
refere à vida dos protagonistas. A história é completamente solitariamente, e não como resultado da ação do sistema.
inventada, mas poderia ter acontecido. Infelizmente, pelo que vi e li durante a fase de pesquisa para
fazer o filme, o sistema penitenciário brasileiro não
Como foi a preparação para filmar no presídio? Que recupera ninguém, muito pelo contrário. O sistema é
especificidades você procurava no ambiente carcerário terrivelmente eficaz em punir, mas não faz aquilo para o
a ser filmado? qual foi pensado, que é recuperar o indivíduo para a vida
Posso dizer que tivemos muita sorte com as locações do em sociedade.
“ESTÔMAGO”. Seguindo nossa proposta de realismo na
realização do filme, “ESTÔMAGO” foi inteiramente filmado “ESTÔMAGO” dá a impressão de ter sido o produto de
em locações, sendo que a direção de arte apenas interveio uma cozinha muito bem orquestrada. Como foi ser o chef
no sentido de enriquecer os ambientes encontrados. O Bar dessa empreitada? E como você definiria o gosto desse
do Zulmiro efetivamente existe, encontra-se na região prato que acabou sendo o filme?
central de Curitiba, apelidada de “cracolândia”. A cozinha Acredito que houve mesmo muita sintonia na equipe que
do restaurante Boccaccio é a cozinha de um dos mais realizou o “ESTÔMAGO”. E como sugere sua pergunta,
antigos restaurantes da cidade, assim como são existe uma grande semelhança entre cozinhar e fazer
verdadeiros a boate, a pensão da Íria etc. Agora, nosso cinema. Assim como o cozinheiro, o diretor também
maior golpe de sorte foi o presídio. Inicialmente, mistura elementos heterogêneos, procurando a harmonia
pensávamos em construir a cela em estúdio e fazermos como resultado final de sua atuação.
num presídio real somente as cenas complementares do Foi um privilégio ser o chef da cozinha que preparou o
corredor, o que poderia ser viabilizado numa diária de “ESTÔMAGO”. Além dos ingredientes, excelentes, devo
filmagem. Com este objetivo visitamos os principais dizer que a equipe que os preparou foi sensacional. Basta
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conferir a fotografia linda e poderosa do Toca Seabra, a No Rio, existem muitos garçons que se tornaram donos
música do Giovanni Venosta, (inspirada nos faroestes de restaurantes. O que te motivou a escrever sobre
italianos da década de 60), a montagem milimétrica do Raimundo Nonato – ou Alecrim, personagem de João
Luca Alverdi (que ficou trancado três meses num hotel Miguel -, um homem que encontra na gastronomia um
ajustando os fotogramas com paciência de ourives). meio de inserção social?
Já para definir o tipo de prato que é o “ESTÔMAGO” é Como você observa, a gastronomia, no mundo real, é um
preciso pensar um pouco. Certamente trata-se de um excelente meio de inserção social. Isso acontece mesmo, e
prato forte, de gosto marcado, agridoce em alguns “ESTÔMAGO” parte desse fato para contar a trajetória de
momentos, salgado em outros, e que termina deixando um nosso herói. Aliás, uma questão levantada pelo filme e que
gosto amargo na boca. acredito não foi ainda completamente compreendida é a
questão do nordestino no sul do país. Raimundo Nonato,
Ao juntar João Miguel, Babu Santana e Paulo Miklos, no conto do Lusa Silvestre que inspirou o filme, era
Então, nossa estada
“ESTÔMAGO” acaba contando com três das grandes nordestino porque são nordestinos muitos dos melhores
na prisão foi de mais
caras do cinema brasileiro dos anos 2000. Qual a cozinheiros e chefs que trabalham nos restaurantes de São
de duas semanas de
importância desse elenco? Acha que Fabiula Paulo e Rio. Mas, no filme, a esta razão juntou-se outra:
Nascimento é a próxima a entrar nesse rol de estrelas? são, sobretudo, nordestinos os homens e mulheres que filmagem. E não
O processo de escolha e formação do elenco do chegam sem eira nem beira nas metrópoles do sul em foram semanas
“ESTÔMAGO” foi lento e trabalhoso. A seleção de cada busca de emprego e são explorados pelos sulistas. Este fáceis pois algo, lá
ator teve uma história e um percurso diferente. olhar crítico do filme em relação à exploração do migrante dentro, deixava
Para a personagem da “Íria”, por exemplo, fizemos testes pobre é evidente: Nonato primeiro é praticamente sempre claro, para
em São Paulo, Rio e Curitiba, testando mais de uma encarcerado pelo dono de um boteco, onde trabalha em nós todos que
centena de atrizes. Demorei em decidir a confiar a uma troca de comida e moradia, não tendo sequer direito a estávamos
estreante um papel tão importante, mas a Fabiula salário; mais tarde, vai trabalhar, com bem mais dignidade trabalhando, que
Nascimento terminou por me convencer, pela presença, é verdade, para o dono de um restaurante italiano, cujo aquele era um lugar
pelo talento e pela absoluta dedicação ao trabalho e à caráter brincalhão não esconde, no entanto, o preconceito de sofrimento.
personagem. Tenho confiança de que se ela souber gerir que o faz referir-se a Nonato às vezes como paraíba, às
bem sua carreira, vai se tornar uma estrela. vezes como cearense, muito embora Nonato afirme, várias
O nome do Babu Santana surgiu cedo, a partir do excelente vezes, não vir nem de um nem de outro desses estados. E
trabalho dele no filme “Quase Dois Irmãos”, da Lúcia na cela, os outros prisioneiros o tratam da mesma
Murat, mas ele teve que competir, em testes e entrevistas, maneira, adicionando ainda um outro tratamento
com atores extraordinários como o Flávio Bauraqui e o preconceituoso, o de “parmalat”. Estes “preconceitos
Leandro Firmino, só para citar dois exemplos. cruzados” não são o tema do filme, mas estão lá,
Para o personagem do “Giovanni” inicialmente pensamos evidentes, para que se reflita sobre eles. E para que se ria,
num ator famoso na Itália, o Diego Abantantuono, mas foi também, é claro, já que o riso inteligente é a melhor forma
ficando claro que para que o filme funcionasse no Brasil de crítica que se conhece.
precisávamos de um italiano que falasse um excelente
português, e o Carlo Briani, com sua história pessoal em Você considera o filme uma ode à gastronomia?
alguns pontos coincidente com a do personagem, tornou- Certamente, e trata-se de uma ode à “baixa-gastronomia”,
se uma escolha evidente. à gastronomia de boteco. Desde o início era essa a minha
O próprio João Miguel, protagonista absoluto do filme, foi intenção: fazer um filme sobre culinária, mas que fosse
uma escolha delicada: o Nonato quase foi outro até o diferente dos outros filmes que abordam o tema. Em geral,
momento em que encontrei pessoalmente o João e percebi os filmes gastronômicos falam de “alta” gastronomia.
que ele poderia dar ao personagem uma personalidade Basta lembrar de “Vatel”, “Como Água para Chocolate”,
forte e rica. “Simplesmente Martha”, ou, mais do que todos, “A Festa
Já a escolha do Paulo Miklos foi feita muito cedo. Enquanto de Babette”. Mesmo “O Cozinheiro, O Ladrão, Sua Mulher

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ainda escrevia o roteiro, já comecei a pensar no Paulo para e o Amante” aborda o tema a partir de um restaurante fino.
o papel do Etcetera, inclusive como uma pequena Já em “ESTÔMAGO” os pratos que mostramos são pratos
homenagem ao cinema brasileiro e ao Beto Brant como populares, e a preparação deles, precária. Mesmo assim, o
realizador emblemático da nova geração de cineastas. filme deixa o público com fome. Mesmo vendo as
condições sanitárias terríveis da cozinha do boteco do
Zulmiro, o espectador tem vontade de comer o pastel que o Q
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Nonato fez ali. Era exatamente isso o que eu queria. de facas, de lâminas de corte. Sua mãe não morava com ele
“ESTÔMAGO” é uma declaração de amor à culinária. Seja – ela era uma prostituta, mas ele não sabia. Era uma
nas palavras de Giovanni, seja naquelas de Íria ou de Bujiú, mulher de vermelho que chegava de vez em quando, com
a comida é um amor que satisfaz a todos. um perfume muito forte, e que levava alguns presentes
para ele. Foi para fazer um link com a Íria – acho que nas

Sobre o Elenco
fábulas e na comédia você tem que ir para o arquétipo. O
roteiro sugere essa fantasia.

JOÃO MIGUEL (Raimundo Nonato / Alecrim) Como foi trabalhar com a Fabiula e o Babu, que são
Ator baiano, João Miguel é a estrela de “ESTÔMAGO”. Por atores de escolas completamente diferentes? E o que
sua atuação como Raimundo Nonato, ganhou o prêmio de essa diversidade no elenco acrescentou ao filme?
Melhor Ator do Festival do Rio 2007. Essa foi a segunda Foi muito legal o processo com os dois – aliás, isso foi uma
vez que João ganhou esse prêmio, a primeira foi em 2005, das razões para que eu fizesse o filme. Eu tenho muito essa
com “Cinema, Aspirinas e Urubus”, de Marcelo Gomes. sede de conhecer pessoas, que é algo que o cinema
João Miguel atuou ainda em filmes como “Mutum”, de propicia. A Fabiula é excelente atriz que veio do teatro e que
Sandra Kogut, “Deserto Feliz”, de Paulo Caldas, “O Céu de estava descobrindo o cinema. Tinha muito essa coisa de
Suely”, de Karim Aïnouz, “Eu me lembro”, de Edgar um ajudar o outro. Já o Babu é um cabra que veio do Nós
Navarro, e “Cidade Baixa”, de Sergio Machado, sua estréia do Morro, um grupo que tem uma marca, uma postura... A
na telona. gente se deu muito bem, ele é um ator interessantíssimo,
um ator de atitude em cena. Porque não basta ser um
Como foi que você recebeu o convite para interpretar o intérprete, você tem que dar muito de si, agir em todos os
Raimundo Nonato? O que achou do personagem? sentidos.
Eu me interessei muito pela coluna vertebral do roteiro – e,
principalmente, por essa questão fabular, de um E as lições de cozinha, continuam a ser bem
personagem imigrante que por necessidade se aprisiona aproveitadas por você?
na cidade grande. A maneira que ele tem de ir ganhando Não, eu continuo degustando, sempre fui um bom
poder é através do seu talento na cozinha, o que acaba degustador (risos). Prefiro comer, mas acho incrível a arte
virando uma coisa terrível também – ele é o colonizado que da cozinha. Eu venho de família italiana e sou baiano,
acaba absorvendo as normas do patrão de uma maneira portanto venho com essa cultura da comida. E na verdade,
quase paternalista e acaba não tendo voz própria. Ou o fato de eu ter aceitado o roteiro tem a ver com isso um
melhor, essa voz vem completamente destrambelhada, o pouco também, de saber que comida é algo muito forte no
que é uma metáfora que diz bastante respeito à nossa dia-a-dia da gente.
cultura.
FABIULA NASCIMENTO (Íria)
O filme se passa em dois ambientes bem marcados: a “ESTÔMAGO” é a estréia da curitibana Fabiula Nascimento
cadeia e a cozinha. Como foi a preparação para viver em em longas-metragens. No teatro, ela participou de várias
cada um deles? montagens, sendo a mais recente o “Macbeth” do diretor
Para a prisão a gente teve a orientação do Luiz Mendes Jr., Moacir Chaves. Em breve, a atriz poderá ser vista no
um escritor que ficou preso durante muitos anos. Já na próximo filme de Marcos Jorge, “Corpos Celestes”.
parte da cozinha, eu fiz alguns cursos. Estagiei num
restaurante italiano e num boteco, que foi o mesmo onde a De cara, como é que pegou essa história de interpretar
gente filmou. Foi importante entender como era a uma prostituta gulosa?
atmosfera de um restaurante, de uma cozinha industrial. Eu fiquei super interessada quando li o roteiro – achei
fantástica a personagem, essa troca de sexo por comida
O que é que você trouxe da sua bagagem para o Nonato e que ela estabelece com o Raimundo Nonato. Também
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o que você foi acrescentando ao longo do filme? achei bacana ter que engordar seis quilos para deixá-la
Um dia, no hotel, eu fiz uma historinha na minha cabeça, de bem felliniana. Era um papel arriscado, e eu fiquei muito
quem seria o Nonato antes do filme: um menino do interior, feliz em ter passado em todos os testes para poder fazê-la.
criado com o irmão por sua avó, numa cidade violenta, um
fim de mundo onde as pessoas são oprimidas e não têm
Q muita saída. Além disso, ele era rodeado por um universo

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Houve alguma espécie de laboratório para compor a Bujiú é a típica liderança criminosa que abusa do poder.
Íria? Quais as nuanças que você buscou para afastar o
Na realidade foi um laboratório curto. Eu conheci algumas personagem da caricatura?
garotas de programa que trabalham numa rua perto da Sempre que me chamam para fazer um criminoso, um
minha casa aqui em Curitiba e marquei um bom almoço bandido, eu penso muito nas coisas que eu já vi. É comum
com duas delas. Ao longo da conversa, eu tentei entender se fixarem no estereótipo do cara e esquecerem que por
porque elas estavam naquela vida. Depois eu fui à boate trás dele tem uma pessoa. Assim, na preparação para o
onde o filme acabou sendo rodado para ver as meninas Bujiú eu pensei que ele poderia ser um guloso, uma dessas
dançando. O que eu achei muito interessante era a alegria crianças capazes de comer uma bisnaga inteira de uma vez
que elas tinham. Porque a vida delas é muito sofrida, são só. Eu comecei a pensar nele como um comedor
prostitutas de rua que trabalham há 15 anos por aqui. compulsivo. O poder dele já era explícito, muito do
Então elas mentiam pra mim o tempo inteiro (risos), como personagem estava em mim. O que eu procurei em dar ao
se fosse muito bom ser prostituta. Por causa disso eu Bujiú foi um tom humano, que é essa compulsão, essa
tentei pôr uma alegria na Íria – é aquele sorriso, aquela característica de não medir esforços para comer.
força dela. Eu venho de família
Como você avalia o Bujiú frente aos outros personagens italiana e sou
Você estreou em longas-metragens já com uma que você interpretou na TV e no cinema. Ele trouxe baiano, portanto
repercussão e tanto. O que as pessoas mais comentam novidades? venho com essa
sobre sua atuação? O Bujiú tem um tom de humor que é muito interessante. cultura da comida.
Ah, elas costumam chegar e falar: “caramba, que mulher é Mais ainda quando ele encontra o Raimundo Nonato, o E na verdade, o fato
essa? Você é uma menina!” (risos). cara que tem a possibilidade de realizar o sonho da vida de eu ter aceitado
dele, que é ficar ali na cadeia, comandando tudo e o roteiro tem a ver
Como foi para você se ver recriada na tela como uma comendo bem (risos). Toda vez que me chamam para fazer com isso um pouco
gordinha sexy e desbocada? um personagem eu não me importo que seja um bandido – também.
É muito maluco... Eu me desprendi totalmente da vaidade. quero é que venham mais 200 bandidos (risos)! O que me
Adoro as cenas em que aparece a pança, aquela coisa bem importa é a importância dramática dele na história. E o
humana. Bujiú tinha uma colocação muito boa no texto, um tom de
comédia bem leve.
Aliás, a cena da dança na boate é dos seus momentos de
maior exposição no filme. Como foi que você encarou Como foi conviver, no ambiente carcerário em que foram
esse desafio? rodadas as cenas do filme, com atores de experiências
Eu fiz uma dança, mostrei pro Marcos Jorge e ele achou tão diversas?
legal. Na hora de gravar, quando vi que tinha muita Foi basicamente um bate-papo de atores – o Marcos Jorge
figuração – gente que eu nunca tinha visto, alguns soube usar um pouco da experiência de cada um para
conhecidos – eu tremia da cabeça aos pés. Eu só pensava: compor as cenas. O que a gente buscou então foi
agora vou tirar a roupa na frente de todas essas pessoas! humanizar aquela cela e passar a ver os detentos como
Mas foram duas vezes só – na terceira vez eu já estava em uma comunidade. Quem também ajudou bastante nessa
casa (risos). parte do filme foi o Luis Mendes Jr., que deu consultoria
sobre a vida na cadeia.
BABU SANTANA (Bujiú)
Integrante do grupo “Nós do Morro”, Babu Santana Vocês parecem ter se divertido bastante na cena do
ganhou o Prêmio Especial do Júri do Festival do Rio 2007 banquete. Comeu-se bem durante as filmagens?
por sua atuação nos filmes “ESTÔMAGO” e “Maré, nossa (risos) Caramba, por causa daquela cena eu não como
história de amor”, de Lucia Murat. Sua estréia no cinema carne de porco até hoje! Até a gente acertar tudo, eu tive
foi em “Cidade de Deus”, de Fernando Meirelles e Kátia que repetir umas três ou quatro vezes. E foi punk... Eu

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Lund, em 2002. Desde então, não parou de atuar e fez queria dar uma veracidade à cena e comia mesmo! Só a
filmes como: “As Alegres Comadres”, de Leila Hipólito; partir da metade do dia é que eu comecei a fazer o truque
“Quase Dois Irmãos”, de Lucia Murat; “Redentor”, de de botar a comida na boca e não engolir.
Cláudio Torres; e “Achados e Perdidos”, de José Joffily. Em
2008, lança “ESTÔMAGO” e “Maré, nossa história de
amor”.
O que você achou da dupla premiação no Festival do Rio
2007? Q
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Foi surpresa total. Tinha cinco anos que eu ia ao Festival e,
nesse último, as meninas da organização ligaram No início dos anos 90 trabalhou como coordenadora de
perguntando se eu iria. Achei engraçado, porque eu lançamento de produtos para diversas empresas no Brasil.
sempre estava lá e ninguém tinha se preocupado com isso Em 1993 transferiu-se para a Itália, onde especializou-se
(risos)! Fui meio com a pulga atrás da orelha... Mas na área de Cooperação Internacional e trabalhou com o
quando saiu o prêmio de melhor ator para o João Miguel, desenvolvimento de projetos sociais em organizações
eu relaxei – eu sabia que era para ele. A única esperança não-governamentais e multilaterais.
que eu tinha era ali – nunca tinha visto um prêmio especial Voltou ao Brasil no ano de 2000 quando, com Marcos
ser dado para atores. Pois aí eu estava lá, feliz pelo Jorge, criou a Zencrane Filmes.
“ESTÔMAGO”, quando fui chamado ao palco. Achei até Desde então, produziu dois curtas, dois longas e um livro
que era para apresentar algum prêmio, quando na verdade de arte, levando a Zencrane a se transformar também em
era para receber. Demorou até cair a ficha! Editora.

CARLO BRIANI (Giovanni) LUSA SILVESTRE - Roteirista


Nascido em Veneza, Itália, e radicado no Brasil, Carlo Professor da Escola Superior de Propaganda e Marketing
Briani estudou cinema e teatro na Itália, tendo feito (ESPM), redator publicitário e diretor de criação da
estágios com Federico Fellini e Lina Wertmuller, entre agência McCann, Lusa é também colunista de grandes
outros. Foi diretor artístico de Tele Monte Carlo, em Roma, revistas e autor do livro de contos Pólvora, Gorgonzola &
e produtor executivo da Buena Vista para a Itália. Estreou Alecrim, no qual a gastronomia permeia um conjunto de
no cinema em 1983 com o filme “A Mulher-Serpente e a histórias repletas de amor, traição e suspense.
Flor”, dirigido por J. Marreco, com roteiro de Benedito Ruy Um dos contos do livro era, justamente, Presos pelo
Barbosa. Em 1985, apareceu em “Um Assunto Muito estômago, que fala sobre como a rotina de um grupo de
Particular”, de Nello De Rossi. Em 1999, participou de presidiários foi alterada com a chegada à cela um
“Oriundi”, de Ricardo Bravo. Briani também participou de cozinheiro cearense. Alguns anos atrás, ao conhecer
novelas e séries de TV, como “Direito de Amar”, a Marcos Jorge, que ele havia contatado com a proposta de
regravação de “A Escrava Isaura” e “Paraíso Tropical”. dirigir um filme publicitário, o escritor resolveu mostrar-
“ESTÔMAGO” é o quarto longa-metragem da carreira do lhe esse texto. Pouco tempo depois, Marcos respondeu,
ator. animado, que o conto daria um longa-metragem. “Mas aí
eu achei que, para filmar a história, a gente precisava
PAULO MIKLOS (Etecétera) mostrar também o que tinha acontecido antes na vida do
Paulo Miklos é músico da banda Titãs. Revelação do filme cozinheiro, o que o levou à prisão”, conta Lusa. Assim, os
“O Invasor” (2002), de Beto Brant, Miklos fez participações dois passaram os três anos seguintes trabalhando no
no seriado “Os Normais” e na novela “Bang-Bang”, ambos roteiro do que se tornaria “ESTÔMAGO”. “O Marcos dizia:
da TV Globo. Seis anos depois de sua estréia no cinema, o “é difícil de manobrar esse texto, mas vai dar'”, revela. E
músico volta às telas como ator em “ESTÔMAGO”. deu o maior pé. Hoje, os dois estão burilando o roteiro de
mais um filme, o drama Dois Seqüestros.
JEAN PIERRE NOHER (Duque)
Nascido na França, mora na Argentina desde a infância, LUIZ MENDES JR. - Consultor de
onde é ator conhecido. Já fez 21 longas-metragens, entre comportamento no cárcere
eles: “Um Amor de Borges”, de Javier Torre, pelo qual Passou 31 anos e dez meses na prisão, condenado por
ganhou o prêmio de Melhor Ator do Festival de Biarritz; assalto e homicídio. Ainda encarcerado, escreveu
“Valentin”, de Alejandro Agreste; e “Diários de Memórias de um Sobrevivente, livro que chamou a
motocicleta”, de Walter Salles. atenção dos jornalistas da revista Trip, da qual virou
colunista. A verdade com que Luiz descreve o dia-a-dia na
cadeia, as gírias e costumes e todo o jogo de cintura que os
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Sobre os Colaboradores
detentos têm que ter para seguir vivendo impressionaram
a produção de “ESTÔMAGO”, que resolveu convidá-lo
para ser consultor nas cenas de prisão. No primeiro
CLÁUDIA DA NATIVIDADE – Produtora encontro com o roteirista Lusa Silvestre, ele logo
Estudou Filosofia e Sociologia Política. Foi pesquisadora observou: “a história era boa, mas algumas coisas eram
Q bolsista do CNPQ na Universidade Federal do Paraná. meio ingênuas.” O trabalho começou pelos nomes dos

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bandidos – o Etecétera, interpretado por Paulo Miklos, por Rupestre - arte pré-histórica brasileira”. Seus filmes já
exemplo, foi sua sugestão. Mais tarde, Luiz participou das ganharam mais de 40 prêmios em festivais nacionais e
filmagens na cadeia em Curitiba. “Quando vi, tava internacionais.
querendo até dirigir o bagulho”, diz. Ele ajudou a construir
todos os personagens, ficou amigo de Babu Santana e, INDIANA PRODUCTION COMPANY
fuçando aqui e ali, achou um baralho feito com a parte de A Indiana Production Company nasceu em dezembro de
trás dos maços de cigarros. Com ele, começou a jogar 2005 de um encontro de três amigos: Gabriele Muccino,
Ronda (“que é jogo de ladrão, só esperto joga”) com o Marco Cohen e Fabrizio Donvito. A Indiana Production
elenco. Logo, a coisa estava pegando fogo. Luiz saltou fora opera na produção cinematográfica, publicitária e
minutos antes de a câmara começar a registrar aquela que televisiva e é composta por uma equipe de 14 pessoas
é uma das cenas mais autênticas de “ESTÔMAGO”. “O divididas em três sedes: Roma, Milão e Los Angeles. No
trabalho só foi bom por causa da simbiose que houve”, ano de 2007, passou a fazer parte como sócio da familiar
conta o escritor, que fez uma ponta no filme como equipe da Indiana, o irmão de Gabriele, Silvio Muccino.
carcereiro. Além de Memórias, Luiz também escreveu os
livros Tesão e Prazer e Às Cegas e as peças A Passagem e
Dois Mundos – a qual, por sinal, deve virar filme com
direção de Babu.
Sobre a Distribuidora
DOWNTOWN FILMES
GERALDINE MIRAGLIA - Consultora de Fundada por Bruno Wainer, em 2005, a DOWNTOWN
comportamento na cozinha FILMES é uma empresa independente de distribuição de
filmes nacionais e internacionais.
Chef do Oli Gastronomia, de Curitiba, eleito pela revista Desde sua criação, a empresa já lançou mais de 20 filmes,
Gula o melhor bistrô do Paraná. Escolhida também a entre eles, o sucesso de público e crítica “A Marcha dos
melhor chef do estado na mesma eleição, Geraldine foi Pingüins”, de Luc Jacquet; “Crime Delicado” e “Cão sem
chamada por Marcos Jorge para ensinar os detalhes de Dono”, de Beto Brant; “O Crocodilo”, de Nanni Moretti;
cozinha a João Miguel e Carlo Braini (que interpreta “Minha mãe quer que eu case”, de Michael Lehmann;
Giovanni, o dono do restaurante), de forma que suas “Batismo de Sangue”, de Helvecio Ratton; “Meu Melhor
atuações fossem as mais convincentes possíveis. Ela Amigo”, de Patrice Leconte; e “Meu nome não é Johnny”,
ensinou o manejo do acendedor de fogão, a organização de Mauro Lima, a primeira grande sensação do circuito em
do balde de ingredientes, a forma com que os utensílios de 2008.
cozinha devem ser segurados e até mesmo como os Em 2007, a Downtown Filmes fechou uma parceria com o
pratos devem ser decorados. “Ainda dei alguns palpites no BNDES e mais 10 empresas privadas e criou o primeiro
texto, fui ao mercado para mostrar como era a aquisição de fundo de investimento voltado exclusivamente para a
produtos e emprestei as minhas panelas para a filmagem”, distribuição de filmes brasileiros, o Funcine Lacan-
conta a chef. João passou um bom tempo cozinhando de Downtown Filmes, que já conta com uma verba de R$ 12,6
verdade no Oli – um dia, Geraldine incluiu no menu o milhões. Os projetos mais adiantados são “Divã”, de José
macarrão a putanesca só para que ele pudesse treinar Alvarenga, “As vidas de Chico Xavier”, de Daniel Filho, e
melhor suas habilidades. O resultado de tanta dedicação “Somos tão jovens” (Ex-“Religião Urbana”), de Antonio
pode ser comprovado na tela. Carlos da Fontoura.
O cinema nacional é um dos destaques da empresa, que,
em 2008, pretende se dedicar ainda mais à distribuição de
Sobre as Produtoras filmes brasileiros.

ZENCRANE FILMES
A Zencrane Filmes foi criada no ano 2000 por Cláudia da

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Natividade e Marcos Jorge. Empresa especializada no
desenvolvimento de projetos e na produção cultural e
cinematográfica realizou dois premiados curtas-
metragens (“O Encontro” e “Infinitamente Maio”), o Para outras degustações acesse o site
documentário “O Ateliê de Luzia”, o filme de longa-
metragem “Corpos Celestes” e o livro de arte “Brasil WWW.ESTOMAGOOFILME.COM.BR Q
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Q Patrocínio
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Este filme foi selecionado pelo Programa Petrobras Cultural

Elenco Ficha Técnica


Raimundo Nonato / Alecrim - JOÃO MIGUEL Empresas Produtoras: ZENCRANE FILMES
Íria - FABIULA NASCIMENTO e INDIANA PRODUCTION COMPANY
Bujiú - BABU SANTANA Direção: Marcos Jorge
Produzido por: Cláudia da Natividade,
Giovanni - CARLO BRIANI
Fabrizio Donvito e Marco Cohen
Zulmiro - ZECA CENOVICZ
Roteiro: Lusa Silvestre, Marcos Jorge,
Etecétera - PAULO MIKLOS Cláudia da Natividade e Fabrizio Donvito
Duque - JEAN PIERRE NOHER Argumento: Lusa Silvestre e Marcos Jorge
Lino - ALEXANDER SIL Produção Executiva: Cláudia da Natividade
Valtão - MARCEL SZYMANSKI Diretor de Fotografia: Toca Seabra
Seqüestro - HELDER CLAYTON SILVA Montagem: Luca Alverdi
Guentaí - TINO VIANA Direção de Arte: Jussara Perussolo
Boquenga - SIDY CORREA Música: Giovanni Venosta
Magrão - RODRIGO FERRARINI Desenho de Som: Jean-Christophe Casalini
Vagnão - MARCO ZENNI Som Direto: Maricetta Lombardo
Figurino: Marisol Grossi
Francesco - ANDREA FUMAGALL
Casting: Grazie Lara, Renata Medeiros e Rose Costa
Consultor de Comportamento no Cárcere: Luiz Mendes Jr.
Consultora de Comportamento na Cozinha:
Geraldine Miraglia
Brasil - 2007 - 112 minutos - 35mm Livremente inspirado no conto “Presos pelo
1:1,85 - Cor - Dolby DigitalI Estômago”, de Lusa Silvestre

Rio de Janeiro: Primeiro Plano


(21) 2286 3699 • Anna Luiza Muller
Ana Roditi - anaroditi@primeiroplanocom.com.br

São Paulo: F&M Procultura Assessoria de Imprensa


(11) 3263 0197 • Margarida Oliveira e Carolina Moraes
carolina@procultura.com.br
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