Professional Documents
Culture Documents
RESUMO: Este artigo permite conhecer tanto algumas etapas da história da reforma agrária no Brasil, bem
como alguns pontos do Programa de Assessoria Técnica, Social e Ambiental – ATES prestado aos assentados
e busca verificar se os objetivos deste último programa estão sendo atingidos, principalmente aqueles que
buscam transformar os domicílios dos assentamentos rurais em unidades produtivas estruturadas e com acesso
ao mercado, já que uma identificação do objetivo da reforma agrária, embora similar ao do ATES, não foi
citado nem analisado neste artigo. Para verificação dos resultados, foram realizadas pesquisas bibliográficas e
documentais, com o aproveitamento da última pesquisa sobre a situação dos assentamentos consolidados no
Brasil, realizada em 2009 pelo IBOPE, a qual foi satisfatória para trazer respostas às indagações do presente
trabalho. Também foi realizada uma verificação das tendências futuras do Programa de ATES, objetivando
apresentar o Administrador, como possível agente de transformações dos assentamentos rurais em
organizações produtivas e rentáveis.
INTRODUÇÃO
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
alguns autores que trataram do tema, tanto da reforma agrária, como dos assentamentos
rurais e pesquisados documentos encontrados no site do Instituto Nacional de Colonização
e Reforma Agrária - INCRA.
Entre o período de 1946 a 1964 houve um grande interesse por parte do governo
federal para promover a distribuição de terras, garantindo os direitos constitucionais, que
preconizava iguais oportunidades de propriedade para todos. (CARVALHO, 1988).
A mesma constituição que empolgava o governo a promulgar uma lei de reforma
agrária era a mesma que servia de obstáculo para sua concretização, pois determinava
indenização prévia aos proprietários de terras que tivessem seu imóvel rural desapropriado
e o Estado não dispunha de recursos para isto. (CARVALHO, 1988).
Segundo Graziano da Silva (1987), na década de 1950, inicia-se no país o
planejamento sistemático da economia através do Estado. Nessa época, duas missões norte-
americanas no Brasil e também a Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL),
criada pelas Nações Unidas, apresentaram estratégias de desenvolvimento econômico para
o Brasil. Para que o plano desse certo a agricultura nacional teria que se expandir a fim de
gerar produtos primários para exportação e matérias-primas para a nascente indústria.
Arbage (2000) cita que as teses cepalinas preconizavam que havia uma
insuficiente oferta de produtos agrícolas devido à alta concentração fundiária no Brasil.
Em 1960 surgia novamente a necessidade de reforma agrária, com a finalidade de
ampliar o mercado interno a fim de garantir o consumo das produções das indústrias. De
acordo com Graziano da Silva (1987), o argumento que serviu para convencer a burguesia
industrial a apoiar esta reforma foi a explicação de que com a distribuição de terras aos
miseráveis, estes, ao produzirem, prosperariam e se tornariam os consumidores da indústria
nacional.
Em 1964 o presidente João Goulart, pressionado por ligas camponesas e por
movimentos de agricultores sem terra, decide desapropriar terras, situadas as margens das
principais rodovias para fins de reforma agrária. Contudo um golpe militar, apoiado pelos
grandes latifundiários, pois um ponto final nas desapropriações. (CARVALHO, 1988)
Ainda em 1964 o governo militar brasileiro autoriza o pagamento de
desapropriações de terras com títulos da dívida pública. Criam-se também o Estatuto da
Terra, o Instituto da Reforma Agrária (IBRA) e o Instituto Nacional de Desenvolvimento
Agrário (INDA), para programar a reforma agrária. Segundo Ranieri (2003), o IBRA
realizou diversos zoneamentos e cadastros, mas priorizando a colonização e expansão da
fronteira agrícola, deixando de lado as desapropriações. Em 1970, tanto o IBRA quanto o
5
Dispor de uma equipe polivalente que trabalhe a realidade dos assentados, tratando
tanto dos sistemas produtivos, do acesso ao mercado, mantendo uma assessoria técnica
contínua e presente junto às famílias, de forma ininterrupta.
Buscar uma relação diferente entre assessores e assessorada, em que o profissional
tenha uma boa capacidade de escuta e de diálogo, sendo mais propositivo que impositivo.
Ser mais mediadora, facilitadora e educadora. Estimular e reforçar a iniciativa das
famílias, acreditando em sua capacidade em definir e buscar a realização de um projeto
para o próprio futuro.
Dispor de uma assessoria para todas as famílias atendidas. O contrato entre
INCRA e prestadoras de ATES estabelece um número obrigatório de visitas por ano a todos
os lotes.
Trabalhar metodologias participativas com enfoque pedagógico humanista e
construtivista, sempre considerando o saber prévio do assessorado, mantendo a postura de
assessor e facilitador.
Utilizar os enfoques sistêmicos, considerando elementos da unidade produtiva e
também do entorno.
Apoiar a transição do modo produtivo do assentado para uma produção mais
sustentável e agroecológica.
Atuar como assessoria técnica na esfera do campo produtivo, tendo como tarefa
central a geração de sistemas produtivos mais amplos e voltados a agroecólogia.
Buscar agregar valor ao produto primário ou beneficiar a produção, a fim de
aumentar a renda do assentado. A assessoria técnica e econômica, segundo o documento, é
12
elemento importante para o sucesso desta iniciativa, mas tem falhado quando os
empreendimentos são de maior vulto.
Trabalhar no sentido de possibilitar ao assentado o acesso aos mercados locais.
Segundo o texto, a melhor hipótese para trabalhar a questão, é que, com organização, é
possível um melhor acesso ao mercado.
Apoiar a pluriatividade das famílias assentadas, através de micro-
empreendimentos de corte e costura, de artesanato, etc.
METODOLOGIA
bibliográfica. A diferença essencial entre ambas está na natureza das fontes. Enquanto a
pesquisa bibliográfica se utiliza, das contribuições dos diversos autores sobre determinado
assunto (fontes secundárias), a pesquisa documental vale-se de materiais que ainda não
receberam um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os
objetos da pesquisa (fontes primárias).
As pesquisas bibliográficas foram realizadas nas Bibliotecas da Faculdade Alfredo
Nasser, na Biblioteca Pública Municipal de Goiânia e na Biblioteca da Universidade
Católica de Goiás, além de acessos a sites diversos.
As pesquisas documentais foram obtidas através de coletas de dados por meio de
entrevista realizada, via email, endereçada ao Serviço de Apoio a Micro e Pequena
Empresa de Goiás - SEBRAE/GO.
A pesquisa documental utilizou ainda de dados nacionais e regionais sobre a
reforma agrária no Brasil e sobre a assistência ou assessoria técnica, encontrados em sites
do INCRA.
Neste trabalho utilizou-se também de pesquisa descritiva, com caráter prescritivo,
uma vez que as informações coletadas foram úteis para elaborar recomendações de algumas
ações e modificações.
Devido à dimensão territorial do Brasil e a existência de assentamentos
praticamente em quase todas as regiões do país e também devido às divergências sociais e
econômicas existentes entre estas várias regiões, decidiu-se pela não realização de uma
pesquisa a nível local. Decidiu se utilizar a mais recente pesquisa quantitativa sobre a
situação atual dos Assentamentos Rurais Consolidados, realizada pelo IBOPE.
A pesquisa do IBOPE foi realizada no período compreendido entre 12 a 18 de
setembro de 2009, objetivando levantar o perfil e condições de vida das famílias que
residem em assentamentos, que estejam com situação consolidada. O universo da pesquisa
abrangeu apenas os assentamentos considerados pelo INCRA como estágio 7 (consolidada)
localizados em nove estados brasileiros: Bahia, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Minas
Gerais, Pará, Pernambuco, São Paulo e Tocantins. Foram realizadas entrevistas em 1.000
domicílios. A margem de erro é de 3 pontos percentuais para mais ou para menos,
considerando um intervalo de confiança de 95%.
14
participação do estado de Goiás, que entre os 44% dos produtores de excedentes, lideram o
ranking nacional com 72% deste último percentual. O operador do ATES em Goiás é o
SEBRAE/GO, referência nacional em apoio à micro e pequenas empresas.
Como foi citado, entre 2003 a 2008 a proporção de técnico para atender os
domicílios de forma individual era de 1:125.
Constata-se que se o técnico tivesse que passar 1 dia apenas em cada domicílio,
trabalhando de segunda a sexta feira, ou seja, 5 dias por semana, demoraria bem mais que
25 semanas ou mais de 6 meses para retornar ao primeiro domicílio visitado no inicio da
rota. Sem considerar, as percas de tempo com viagens entre um e outro assentamento, os
tempos necessários para se desenvolver uma boa análise e um bom planejamento, e,
também o tempo gasto por este profissional em visitar e reportar ao seu superior, ao
articulador responsável por 500 famílias ou ainda pelo corpo técnico de 4 núcleos
operacionais, os problemas e necessidades de cada domicílio anteriormente visitados.
A partir de 2008, visando minimizar esta morosidade, o governo resolveu diminuir
para 85 o número de famílias assistidas por cada técnico, ficando a proporção 1:85. Mesmo
assim, com a diminuição da morosidade em 32%, o primeiro domicílio da rota só voltará a
ser visitado após no mínimo quatro meses.
Foi observado que a distância entre a figura do articulador e o assentado era ainda
bem maior, uma vez que a proporção era de 1:500 famílias. Se este fosse ter que visitar
cada assentado demoraria mais que dois anos para retornar ao primeiro domicílio da rota.
Estas podem ter sido, entre outras, uma das razões da baixa produção e pouca
comercialização de excedentes.
O projeto Lumiar, como foi visto na literatura, acabou por ser extinto por falta de
bons resultados e também por desvios de funções das equipes locais.
Constata-se por sua vez que o ATES também corre este mesmo risco, em razão das
dificuldades que o INCRA está tendo em acompanhar, fiscalizar e monitorar as assessorias
contratadas e também pelas deficiências de atuação e experiência dos técnicos do ATES,
tanto em agroecologia como em economia solidária, como foi visto na literatura.
Com relação às respostas da questão de número 5 aproveitar-se-á de outra pesquisa
realizada pelo IBOPE em agosto de 2009, com amostra de 2.000 entrevistas, com o intuito
de detectar a renda nacional, para efetuar-se uma comparação visual, sem comentários,
17
entre as duas. Renda de até um salário mínimo: nacional 17% e assentamento 37%; renda
entre 1 e 2 salários mínimo: nacional 33% e assentamento 35%; renda acima de 2 salários
mínimo: nacional 46% e assentamento 26%.
Segundo o SEBRAE/GO.(2009) para se montar uma lanchonete na capital é
necessário um investimento de R$ 21.000,00. A lanchonete proporciona um lucro mensal
de R$ 1.727,35 que pode aumentar para R$3.157,35 por mês se os 2 funcionários
necessários ( 1 atendente e 1 chapeiro) forem da família.
Finalmente, a resposta à questão de número 6 pode evidenciar outra falha de ATES,
que tem entre suas atribuições intermediar o acesso do produtor ao crédito rural, o que não
é utilizado por 75% dos assentados. Pode também esta falta de acesso ao crédito estar
vinculada ao problema do assentado se encontrar com pendências registradas no Cadastro
de Inadimplentes (CADIN).
Com relação a esta pesquisa do IBOPE, convém salientar que a mesma foi criticada
pelo INCRA, por não concordar com os resultados detectados pela pesquisa. O INCRA em
março deste ano instituiu outra pesquisa para rebater a do IBOPE, a qual foi realizada entre
março deste ano (2010), todavia até o fechamento deste trabalho os resultados não foram
divulgados pelo INCRA.
Quanto ao questionário endereçado ao SEBRAE/GO, precisamente ao Coordenador
Estadual de Ates em Goiás, JOEL RODRIGUES ROCHA, as perguntas e respostas se
encontram abaixo.
1) Em termos organizacionais como está estruturado o ATES em Goiás?
Resposta: O SEBRAE tem uma coordenação – depois temos os gestores que ficam
nas Regionais (são 3) e cada Regional tem 01 supervisor e cada supervisão é responsável
pelos Agentes de Desenvolvimento Rural os ADRs.
2) Quantos assentamentos e assentados existem em Goiás?
Resposta: O número total não sei precisar, mas o SEBRAE atende mais ou menos
125 Assentamentos com 5.581 famílias.
3) Qual é a formação acadêmica do pessoal pertencentes ao Ates/SEBRAE que atua
em cada núcleo operacional?
18
Como foi visto na parte de literatura, que discorre sobre o Referencial Metodológico
para o ATES, o governo instituiu este referencial metodológico para garantir uma melhor
prestação de serviços pelo ATES ao assentado. Contudo, as garantias são fracas e
praticamente inexistentes na área de ADMINISTRAÇÃO.
Longenecker et. all. (1997) afirma que o gerenciamento é necessário em qualquer
negócio. Drucker (2003) completa, afirmando que qualquer negócio independente de sua
estrutura jurídica, precisa de administração para adquirir vida e funcionar.
É preciso entender que o lote ou domicílio recebido pelo assentado é uma unidade
de produção e assim sendo deve ser vista como uma pequena empresa familiar e que o
assentamento como um todo deve também ser entendido como uma organização acima da
informal, para atingir seus objetivos de lucro e crescer economicamente.
O Referencial Metodológico para o ATES recomenda trabalhar a partir do próximo
ano, no sentido de colocar uma assessoria a serviço dos projetos da família.
Isto significa que a família liderada por um chefe de domicílio, cujo grau de
escolaridade está aquém da 4ª série fundamental (680 ou 68% em cada 1.000 segundo a
pesquisa do IBOPE), será responsável por seus próprios projetos, independentes deles
serem econômicamente viáveis, tendo no ATES uma assessoria esporádica, haja vista a
morosidade detectada entre uma visita e outra.
Peter Drucker, um dos maiores gurus da Administração não encara com bons olhos
a função de assessoria. Para ele, em qualquer empreendimento existem várias funções
responsáveis pelos negócios, mas nenhuma é de aconselhar outra função ou agir no lugar
19
dela. Para ele, ser assessor é ter autoridade sem responsabilidade, o que é destrutivo.
(DRUCKER, 2003)
Por outro lado, Longenecker et. all. (1997) considera a possibilidade do
administrador de pequena empresa buscar suporte externo para melhorar suas áreas fracas.
O atendimento de ATES, antes direcionado mais a família individualmente, deverá
ser realizado de preferência em nível de assentamento.
Isto indica uma tendência à economia solidária. Notadamente uma das deficiências
de conhecimento identificadas pelo INCRA no corpo técnico de ATES.
Segundo Sparovek e Maule (2003), os assentados são dispersos e preferem
administrar seus domicílios individualmente, não priorizam ações coletivas. Oliveira (2006)
confirma, alegando que o assentado do assentamento Rio das Pedras em Uberlândia - MG
prefere trabalhar sozinho e rejeita trabalhos coletivos por falta de relacionamento e
desconhecimento com práticas associativas e cooperativas na produção do trabalho, pois as
já iniciadas fracassaram. Vilckas (2004) afirma que muitos assentados são radicais as
mudanças.
A falta de liderança competente e responsável é destacada por vários autores, nos
cursos de Administração. São úteis nos assentamentos, onde os assentados estão dispersos e
contrariados em tentar por si ou por associações com dirigentes incompetentes, sem ter um
porto seguro no qual possa se ancorar.
Chiavaneto(1999) destaca a necessidade da presença de líderes em qualquer tipo de
organização, afirmando que o bom administrador é aquele que sabe ser um bom líder.
Longenecker et. all. (1997) afirma que é a liderança que constrói o entusiasmo... Os líderes
carismáticos são agentes de mudança, são pregadores e estimulam o surgimento de
seguidores. (CONGER, 1991)
Faz parte da grade curricular do administrador conhecimento das diferenças entre
liderança autocrática, liberal e democrática; para que ele esteja apto a assumir a postura
certa de acôrdo com a conveniência do momento em que dela precisar lançar mão.
Acrescenta-se também a problemática que o Referencial Metodológico para o ATES
chama de necessidade de debate, conhecida entre os administradores como Administração
de Conflitos e Negociação.
20
Recomendações
Estas sugestões são apenas superficiais, o aprofundamento das mesmas será objeto
de outros estudos.
A análise do sistema de atendimento do ATES às famílias através das ADRs, antigo
núcleo operacional, segundo o SEBRAE/GO, mostra que a equipe mais próxima do
assentado é composta por um(a) assistente social e um profissional em ciências agrárias. O
cargo de supervisor, antigo articulador, é geralmente exercido por outro profissional em
ciências agrárias (veterinário, zootecnista ou agrônomo).
A presença de um profissional em ciências agrária não precisa ser constante nem
em grandes empresas rurais nem tampouco em assentamentos. Ela pode ser realizada de
maneira mais esporádica, ou seja, nas necessidades de informações técnicas sobre produção
mais viável e melhor tecnologia a empregar; nos diagnósticos e prescrições saneadoras
contra infestações de pragas ou doenças em culturas ou animais e, em outros eventos
esporádicos.
Recomenda-se, que este sistema seja alterado, com a inclusão do Administrador no
lugar do profissional de ciências agrárias fixo no assentamento. Este último atuará apenas
nos assentamentos como consultores vinculados ao Administrador que os requisitará ou
lhes acionará quando houver necessidade. Assim estes profissionais ao invés de atuarem
nas ADRs, atuarão junto à supervisão do ATES.
A integração do Administrador no assentamento poderá proporcionar o surgimento
de ferramentas gerenciais necessárias ao aumento da lucratividade do assentado e também a
emancipação do assentamento.
Poderá também melhorar a aplicação dos recursos do PRONAF e da utilização da
mão-de-obra; poderá melhorar os controles de custos, de produtividade; poderá estabelecer
22
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CHIAVANETO, I. Administração nos novos tempos – 2ª. ed.: Rio de Janeiro: Campus,
1999
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4ª. Ed. São Paulo: Atlas, 2007
LEAL, N. Reforma agrária: colônia agrícola nacional de Goiás (CANG). 2ª. Ed.
Goiânia: Kelps, 2006