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uma imensa quantidade de conteúdos para se trabalhar nesta modalidade e diversas maneiras
de transmiti-los partindo da realidade dos alunos; sendo assim, os professores não precisam
ensinar de forma infantilizada e nem tratar os alunos da EJA como crianças. Além do mais
estes sujeitos tem muito o que nos ensinar.
Neste contexto busca-se analisar se a escola exerce suas funções e amplia os
conhecimentos trazidos pelos alunos ou coloca-os a margem como se estes não pudessem ser
considerados saberes que foram adquiridos ao longo de sua existência. Observando se a
instituição de ensino e os educadores consideram que a leitura do mundo vem antes da leitura
da palavra, ou seja, antes mesmo de freqüentar a escola os educandos aprendem diversos
conteúdos no meio em que vive, e para que ele adquira estes saberes não é necessário saber
ler. A escola necessita dar condições aos alunos para que eles compreendam a realidade a que
estão expostos a partir dos conteúdos ensinados, porém os assuntos que irão ser transmitidos
nesta modalidade devem ter ligação, ou melhor, devem surgir ou partir dos saberes já
existentes nestes alunos. Diante do exposto questiona-se: Até que ponto os conhecimentos
prévios que os alunos da EJA possuem são levados em consideração no processo de
aprendizagem em uma escola pública, nas salas de alfabetização de EJA do 1º segmento?
Segundo Brandão (1982) “não há uma forma única nem um único modelo de
educação, porém, ela é representada em uma fração do modo de vida dos grupos sociais que a
criam e recriam, entre tantas outras invenções de sua cultura, em sua sociedade. A educação
do homem existe por toda a parte e muito mais do que a escola, é o resultado da ação de todo
o meio sócio-cultural sobre os seus participantes. É o exercício de viver e conviver o que
educa. E a escola de qualquer tipo apenas um lugar e um momento provisório onde isto pode
acontecer”. Contudo, enfatizando a educação de jovens e adultos, percebe-se que ela
organiza-se em favor daqueles que tiveram seus direitos à escolarização retirados em período
regular de suas vidas; portanto é necessário saber ler e escrever como forma de deixar de ser
dependente (ler sozinho sem que outra pessoa tenha que ler para você o que deseja, como por
exemplo poder pegar um ônibus lendo o seu letreiro sem que seja preciso perguntar para outra
pessoa que ônibus é aquele)
Contudo, como já dizia Freire (1979) a educação possui um caráter permanente. Por
isso, não há seres educados e não educados, porque estamos todos nos educando. Existem
sim, graus de educação, porém estes não são absolutos. Portanto as pessoas estão sempre
adquirindo e aprimorando os seus saberes e a educação deve ocorrer através do processo de
letramento que segundo SOARES (2003) é o estado ou a condição de quem não apenas sabe
ler e escrever, mas cultiva e exerce as práticas sociais que usam a escrita. Letrar seria então
fazer com que os educandos coloquem em prática o que aprenderam, porque o letramento é o
resultado da ação de ensinar ou aprender a ler e escrever, está em constante construção, pois é
um processo contínuo.
O cão e a árvore também são inacabados, mas o homem se sabe inacabado e por isso
se educa. Não haveria educação se o homem fosse um ser acabado. O homem
pergunta-se: quem sou eu? De onde venho? Onde posso estar? O homem pode refletir
sobre si mesmo e colocar-se num determinado momento, numa certa realidade: é um
ser na busca constante de ser mais e, como pode fazer esta auto-reflexão, pode
descobrir-se como um ser inacabado que está em constante busca. Eis aqui a raiz da
educação. (FREIRE, 1979, p. 27).
educação não tem fim, pelo fato do homem ser inacabado e precisar se educar. Ninguém é
dono do saber e cada ser humano possui sua sabedoria, estas são diversificadas, mas não
existe nenhuma que se sobressaia da outra. As pessoas socializam seus conhecimentos
engrandecendo e aprimorando os saberes já existentes, contudo ninguém se educa sozinho e a
educação não se consiste no ato de aprender a ler e escrever, ela é muito mais que isso, pois
possui um conjunto de significados composto pelas especificidades dos educandos. Sendo
assim, a Educação de Jovens e Adultos consiste no ato de fazer com que os sujeitos desta
modalidade possam ampliar seus conhecimentos e engrandecer seus saberes partindo daqueles
já existentes, os quais serão a base para se obter novas informações. Segundo Freire (1987) a
educação em relação à alfabetização, não consiste no ato de aprender a ler e escrever, ou
repetir palavras, mas sim em dizer a sua palavra geradora, ou seja, a criadora da cultura.
Os adultos trazem variadas descrições ou concepções de mundo. Desse modo, o
educador não pode determinar qual a descrição de mundo que é válida ou correta, até porque,
como já foi citado, não existe nenhuma certa, elas são apenas diversificadas. Contudo, a
educação que deve ser buscada é aquela que abranja as diferenças, uma educação para todos,
havendo igualdade de oportunidades. Assim a educação de Jovens e Adultos poderá fazer
com que esses sujeitos que estão retornando sintam vontade de continuar seus estudos e
tenham interesse nas aulas ministradas pelos professores, os quais não devem esquecer-se de
considerar os saberes já existentes do aluno para que a partir destes possa encaminhar novos
conhecimentos.
Todos os sujeitos são dotados de especificidades culturais, por isso não existe
educação isenta do meio social e os homens não ficam isolados, eles vivem em determinada
comunidade; sendo o sujeito educando um ser de raízes espaços-temporais; com isso, por sua
vez o homem é dotado de saberes, costumes, hábitos entre outras questões que carregam em
seu interior, as quais estão presentes no meio em que cada indivíduo habita. Os
conhecimentos prévios que os alunos possuem estão relacionados a sua cultura; e o
comportamento dos indivíduos depende do aprendizado, da endoculturação que é a
internalização da cultura, por isso o desenvolvimento e aprendizagem de determinado ser
deve sempre basear-se em sua cultura, e com isso através desta desenvolver novos saberes.
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Mas o que seria a cultura em si? Segundo Tylor (1871) no vocábulo inglês Culture diz
respeito a todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes, ou
qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma
sociedade; contudo pode-se dizer que cultura é todo o comportamento aprendido em um meio
social.
No entanto, é fundamental definir-se o conceito de cultura e analisá-la em cada
indivíduo para que assim possa-se saber o que a compõe e o que cada educando traz consigo a
respeito desta; pois como já foi citado o educando possui saberes que partem da sua
sociedade, os alunos não são neutros e nem tão pouco desprovidos de conhecimento; muitas
vezes eles sabem até mais do que esperam-se, porque trazem um conjunto riquíssimo de
saberes, os quais em alguns casos várias pessoas desconhecem por não tomarem
conhecimento da cultura destes alunos.
Apesar do conceito de cultura ser muito amplo tornando incapaz abranger suas
definições totais por sua pluralidade de explicações, consegue-se ter uma base do que seja a
cultura percebendo que ela é o comportamento aprendido, as idéias que os sujeitos comporta;
por sua vez a cultura é produzida no seio da sociedade. Contudo, os comportamentos sociais
são diferenciados, pois cada cidadão comporta-se de maneira diversificada, ou seja, cada
sujeito fala, come, veste, se comporta, age, pensa, interage, trabalha de acordo com os
modelos construídos dentro da sua própria sociedade.
Todavia, os educandos da EJA, assim como todas as outras pessoas possuem
diversidades culturais, de diferentes individualidades encontradas na sociedade, mas não
devemos esquecer que todos são iguais perante a lei e que suas divergências devem ser
consideradas, suas individualidades necessitam ser levadas em consideração.
Enfim, o sujeito da EJA vem de múltiplos espaços e possuem diferentes etnias,
múltiplas culturas e a heterogeneidade está presente na prática pedagógica. Então a sala de
aula da EJA deve ser um espaço de compreensão e de reconhecimento da experiência e da
sabedoria. Muitas vezes os professores não possuem saberes epistemológicos para entender os
sujeitos e traz outras culturas aniquilando as já existentes. A escola está permeada por
relações de poder, de classes sociais, desigualdades; e por isso o currículo da EJA deve ser
construído considerando essas ambivalências para que os alunos sejam tratados igualmente,
mas que também se considere suas individualidades. Os sujeitos não são neutros, as práticas
trazem um teor ideológico. Contudo, conhecer os alunos é fundamental, tem-se que conhecer
sua historia, sua identidade e suas significações; ou seja, o conjunto de idéias que constrói o
sujeito.
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Cada ser social possui uma identidade que parte da sua forma de vida baseada em sua
sociedade; estando está ligada a construção histórica de cada sujeito, no entanto estas historias
são diversificadas e envolvem aspectos individuais, históricos e sociais; mas a identidade de
um ser não é uma coisa acabada, porque ela encontra-se em constante e permanente
construção a partir das experiências que os indivíduos vivenciam. Enfim, esta identidade que
os indivíduos carregam consigo é construída em determinado contexto histórico e cultural.
Em alguns casos, a escola funciona com base em regras específicas e com uma
linguagem particular que deve ser conhecida por aqueles que nela estão envolvidos; o
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desenvolvimento das atividades escolares está baseado em símbolos e regras que não são
parte do conhecimento de senso comum dificultando a aprendizagem dos alunos, afinal,
muitas vezes a linguagem escolar mostrou ser o maior obstáculo da aprendizagem do que os
próprios conteúdos estudados. Então, os professores devem encaminhar suas aulas pensando
nos seus alunos, com uma linguagem compreensível por todos os estudantes para que assim
eles possam aprimorar seus conhecimentos e entender aquilo que o educador quer socializar.
Os seres humanos possuem um bom nível de competência cognitiva até uma idade
avançada, alguns psicólogos evolutivos ressaltam que o que determina o nível de competência
cognitiva das pessoas mais velhas não é tanto a idade em si mesmas, quanto uma série de
fatores de natureza diversa. Entre esses fatores podem-se destacar o nível de saúde, o nível
educativo e cultural, a experiência profissional e o tônus vital da pessoa, ou seja, sua
motivação, seu bem estar psicológico e muitos outros fatores, portanto é esse conjunto de
fatores que determina boa parte das probabilidades de êxito que as pessoas apresentam, ao
enfrentar as diversas demandas da natureza cognitiva.
No entanto, pode-se perceber que o sujeito da educação de Jovens e Adultos pode sim
aprender novas coisas e que ele por si só já é dotado de conhecimento; possui capacidade de
desenvolver estes saberes já existentes, porém, para que os conhecimentos sejam aprimorados
torna-se necessário que estes sujeitos encontrem meios para que isto ocorra. Mas quais seriam
esses meios exigidos para que o conhecimento possa ser engrandecido? Bem, um deles seria o
espaço escolar, ou até mesmo a sala de aula em si, pois esta deve ser adaptada para os adultos
e não preparada apenas para crianças, porque a educação destes sujeitos não deve ser
infantilizada; um outro meio que pode ser citado é o fato dos professores em relação ao
conhecimento cultural, os educadores devem estar ciente das especificidades dos alunos e
necessitam ser dotados de conhecimentos relacionados a diversidade cultural dos sujeitos da
EJA, porque é fundamental que se leve em consideração os conhecimentos prévios que os
alunos possuem.
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Contudo, o educando não precisa ficar repetindo palavras para aprendê-las, basta que
utilizem as palavras que já conhecem para através dela conhecer outras, o alfabetizando, ou
melhor, o sujeito da EJA, deve ser colocado em condições de poder re-existenciar,
criticamente (colocando suas opiniões) as palavras de seu mundo, para, na oportunidade
devida, saber e poder dizer a sua palavra, expor seus pensamentos. O educando tem o direito
de dizer o que acha e de opinar a respeito do conteúdo que está sendo socializado, aliás, o
aluno deve colocar-se diante das explicações feitas pelo professor, deve ser curioso, crítico e
questionador, pois ele tem a capacidade de recriar conceitos e aprimorar sempre os saberes já
existentes.
O saber se faz de uma superação constante, os alunos estão sempre descobrindo novas
coisas e aprendendo novos conteúdos, muitas vezes até mesmo sem perceber; pode-se
ressaltar que não existe saber nem ignorância absoluta, sempre existe saberes conhecidos por
uns e desconhecidos por outros, mas todas as pessoas são capazes de socializar e tomar
conhecimento desses saberes, um ser educa o outro e cada um transmite o que sabe, criando
assim um conjunto de informações que cresce a todo momento.
fatores necessário para se conhecer e apresentar sua capacidade de crescer e adquirir novos
saberes.
Muitos alunos retornam aos estudos depois de muito tempo e como já foi exposto
anteriormente trazem conhecimentos prévios relacionados ao seu meio de vida, a sua cultura;
buscam a escola com o intuito de aprender a linguagem escrita. No entanto, para que esses
alunos sintam-se motivados e compreendam os conteúdos que vão ser socializados pelo
educador é necessário que o processo de alfabetização defina para quem, para que e como
ensinar, devendo ter como objetivo propiciar às condições de ensino-aprendizagem para que
os sujeitos se apropriem de um sistema de representação da realidade no caso a linguagem
escrita, internalizando-a.
O ensino da EJA exige mais atenção devido às exigências do mercado de trabalho que
requer níveis de letramento cada vez mais acentuados, várias habilidades que empurram os
sujeitos para escola. Durante suas aulas, os professores da EJA precisam tomar cuidados
quanto à maneira que vão ministrar suas aulas, porque os formuladores de políticas
responsáveis pela EJA tomam alfabetização como aquisição de um sistema de código
alfabético, tendo como único objetivo instrumentalizar a população com rudimentos
escolares.
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A visão que se tem do alfabetizando [...] é sempre de quem possui um vazio a ser
preenchido por um saber do qual não tem o domínio e que o levaria à sua auto-promoção.
Mas a ignorância seria vencida pelo esforço próprio e a escola, por sua vez, o instrumento de
sua realização. Tem-se a concepção de alfabetização como um processo de aquisição de uma
técnica de decodificação oral ( para escrever) e de decodificação escrita (para ler).
Entretanto é necessário rever suas idéias na hora de ensinar para que não se aplique
métodos inadequados que venham desestimular os alunos e fazer com que eles, mais uma vez,
abandonem a escola.
O ensino propicia uma imensa riqueza no processo de criatividade, e tem como papel
principal o de construtor do conhecimento como um todo. O que vemos na escola deve ser
ensinado porque é parte substancial de todo o patrimônio cognitivo da humanidade.
A relação entre o professor e o aluno da EJA é um aspecto essencial da organização
dos elementos enriquecedores desta modalidade, aquisição de conhecimentos e da situação
didática, tendo em vista alcançar os objetivos do processo de ensino-aprendizagem que se
constitui na transmissão e assimilação dos conhecimentos, hábitos, habilidades e
competências.
Neste caso, no ensino da EJA, por seu caráter particular em relação a educação básica,
essa relação entre o professor e o aluno se estreita e as vezes se confundi com relações
fraternais ou até mesmo paternais, pois o aluno faz do professor uma ponte para o pleno
acesso ao exercício de sua cidadania. Mas deve-se tomar cuidado com essas relações para
que os sentimentos não sejam confundidos e depois um ou outro venha a se decepcionar.
Porém, o professor deve manter uma boa relação com o aluno, deve cativá-lo para que ele
sinta-se bem e motivado a assistir as aula na busca de engrandecer os saberes que já possuem.
O professor não deve ser bruto, rígido, autoritário e nem muito menos mostrar-se
superior ao seu aluno, até mesmo porque ninguém é dono do saber e nem é dotado de um
conhecimento finito, as pessoas, sejam elas professores ou alunos, tem muito o que aprender
umas com as outras; e uma boa relação é fundamental para que estes conhecimentos sejam
socializados; um socializa o que sabe para o outro e assim, juntos, vão construindo novos
saberes e redefinindo ou engrandecendo e aprimorando seus conceitos, suas opiniões.
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Em uma determinada visita feita a uma escola pública, em uma sala da EJA, uma
professora demonstrou ser amiga e afetiva com seus alunos, estes mostravam gostar da
mesma. Através da observação percebe-se que a relação entre o professor e o aluno é
fundamental para o desenvolvimento e a aprendizagem do educando, pois quando o aluno
simpatiza com o professor a aula torna-se mais agradável e o estudo mais interativo. Isso
porque ambos se comunicam mais e expõe suas idéias; e os alunos sentem-se mais seguro
para debater sobre os diversos temas que surgirão nas aulas, sem ter vergonha de expor-se ou
até mesmo receio de falar algo que não agrade as outras pessoas; havendo assim um debate
coletivo no qual todos os participantes poderão ampliar seus conceitos.
Nota-se que o papel do professor esta ligado a “transmissão” de certos conhecimentos,
os quais são pré-definidos e constituem o próprio sentido da existência escolar. O educador
exerce um papel de mediador e incentivador entre cada aluno e os seus diversificados
modelos culturais. Por isso o professor deve estar sempre motivado para ensinar e incentivar o
aluno a construir ou aprimorar o saber.
Portanto, o bom relacionamento em sala de aula é quase sempre tão importante quanto
á diversidade de métodos e outros recursos instrucionais que são utilizados para educar; os
alunos devem estar alegres, bem humorados e seguros em todos os momentos e
principalmente no de desenvolver as atividades de aprendizagem, assim pode-se perceber que
o relacionamento entre os componentes da sala é agradável e bom.
Entretanto, o professor é à base do bom relacionamento porque é ele o responsável
pela boa interação e pelo bem estar de seus alunos. Sua influencia na sala de aula é grande,
portanto, a criação de um clima agradável que favoreça a aprendizagem depende dele.
Como já foi visto a EJA se organiza em defesa daqueles que tiveram seus direitos à
escolarização retirados no período regular de suas vidas; devido as exigências do mercado de
trabalho muitos retornam a escola, pois atualmente o grau de escolaridade exigido para que
possa-se conseguir um emprego tornou-se bem mais avançado.
A medida em que o mercado de trabalho requer profissionais polivalentes, capazes de
executarem diversas tarefas com competência e habilidades, a pressão sobre os trabalhadores
mal preparados aumenta. Dessa forma, a aprendizagem ao longo da vida, que possibilite as
pessoas selecionar informações é essencial. Além disso as pessoas também precisam se
conscientizar de que elas são capazes de engrandecer seus saberes, e que aperfeiçoar seus
conhecimentos é fundamental a vida, para o seu bem estar e não apenas para o mercado de
trabalho.
Através de uma observação a escola X, que tem educação de jovens e adultos no
período noturno, pode-se observar que a estrutura da sala de aula era desestimulante pelo fato
da mesma não ser acomodável e de boa estrutura física. Tendo em vista que uma boa estrutura
escolar contribui para um melhor desenvolvimento da aprendizagem do aluno, nota-se que
esta escola era desprovida de uma boa estrutura.
Em primeiro lugar a sala era desconfortável, pois o espaço era pequeno e sem
ventilação, não permitindo ao aluno uma exploração do seu próprio ambiente de estudo e até
mesmo a professora de se locomover aos seus alunos.
Quanto à estrutura pedagógica do ambiente interno, esta não possuía materiais que
chamassem a atenção dos educandos, como cartazes confeccionados pelos mesmos, alfabetos
expostos, atividades realizadas por esses sujeitos, assim como todos os trabalhos produzidos
pelos alunos da sala.
É necessário que se prepare o ambiente de trabalho de forma a deixá-lo apto e
agradável ao ensino, pois uma sala de aula que não chama a atenção e nem expõe nada de
interessante torna o ambiente monótono. Já uma sala com cartazes e outros trabalhos, pode até
ajudar na leitura dos alunos, pois os alunos que chegam antes de iniciar as aulas vão ficar
olhando o que tem ao seu redor e tentar interpretar, mesmo que seja uma leitura visual ele
estará treinando sua aprendizagem. Mas, vale ressaltar que os trabalhos expostos não devem
ser infantilizados e sim de acordo com a realidade e o meio social em que vive cada aluno,
considerando sempre seus saberes, sua cultura e suas individualidades, incluindo a sua
diversidade cultural.
Ainda nesta escola pode-se perceber que, realmente, em alguns casos, as aulas não são
motivadoras, pois, os educadores desta área infantilizam esta educação e tratam os alunos
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como crianças; além das aulas, nota-se que a direção escolar da instituição de EJA, os
materiais didáticos, o corpo docente, técnico e administrativo que atende a esses sujeito são os
mesmo que atendem a educação infantil, por isso adaptam a maneira de ensinar as crianças a
educação de jovens e adultos.
Exemplificando a questão da infantilização acima citada, tem-se o caso de uma
professora da alfabetização da EJA que de inicio parecia ser motivadora e quere fugir do
tradicional, mas no desenvolver da atividade da aula assistida observou-se que a professora
não motivava os alunos a aprimorar os seus conhecimentos. A aula iniciou-se com a
distribuição de uma atividade xerocopiada, na qual continha uma série de figuras. Cada aluno
possui alfabetos móveis que seriam utilizados nesta atividade, no entanto neste dia nem todos
estavam com eles em mãos. A professora pediu para que os alunos sentassem em dupla para a
realização da atividade que consistia em uma composição de palavras com as letras do
alfabeto móvel de acordo com a figura exposta na folha que receberam; a idéia de trabalhar
em dupla, segundo a professora, seria a de que um ajudaria o outro quando sentissem
dificuldade. No entanto percebeu-se que em algumas duplas, certos alunos apenas copiavam o
que o colega tinha feito; na Xerox encontrava-se um grande número de figuras, era uma folha
de oficio A4 completa de desenhos pra que os alunos escrevessem o nome de cada uma delas.
A aula iniciou-se as 19:30, iniciando-se também a atividade, porém só as 20:02 a
primeira dupla conseguiu terminar toda a atividade. Os alunos pareciam gostar do que
estavam fazendo, ou seja, desta atividade, mas devido a grande quantidade de figuras e ao fato
dos alunos terem dificuldades na escrita ela tornava-se muito extensa. Os alunos não
possuíam livros didáticos, por isso a professora tinha que procurar outros meios para ministrar
suas aulas, contudo percebe-se que mesmo não tendo livros a educadora e alguns alunos ainda
prendem-se a eles, pois ficam procurando atividades prontas em livros que possuem em casa.
Além disso notou-se o trabalho de vários conteúdos em uma mesma atividade, sendo estes
realizados em seqüência um após o término do outro. Durante a realização da atividade, viu-
se que os alunos sentiam muita dificuldade para identificar a figura e as confundiam com
outras coisas que não estavam expostas na folha, como uma figura que era o desenho de uma
cabeça e eles não sabiam se escreviam que era um homem, um bigode ou uma cabeça.
No entanto, nesta atividade, a professora aceitava como certa a resposta que cada um
colocava alegando que cada pessoa tinha o direito de achar o que queriam e dizia a seus
alunos “coloquem o que acharem que a figura é para vocês”. Pra formar as palavras, os alunos
a pronunciavam e a escreviam após montarem a mesma na banca com as letras do alfabeto
móvel. Os alunos escreviam como falavam e por isso trocavam algumas letras; a professora
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passava de banca em banca para olhar como estava caminhado a atividade; ao identificar um
erro ela induzia o aluno a pensar e a encontrá-lo sem dar a resposta pronta.
Alguns alunos ainda estavam aprendendo a escrever o seu nome e estavam sendo
alfabetizados, por isso sentiam dificuldades para escrever. Uma aluna que já estava mais
desenvolvida, disse que gostava daquela atividade porque nela eles também aprenderiam a
falar; dizendo: “isso é bom para agente aprender a falar, a gente fala errado e escreve errado”.
Já outro aluno não se intimidava pelo fato de sentir dificuldades em algumas coisa e falou: “ a
gente não sabe por isso a gente tem que perguntar”. Nestas falas percebe-se que os alunos
tinham vontade de aprender e de engrandecer seus conhecimentos; mesmo tendo que trabalhar
durante o dia, iam para a escola com o desejo de aprimorar seus saberes e demonstravam ter
interesse e força de vontade para dar continuidade aos estudos. Um aluno com intuito de
concluir seus estudos disse: “estou estudando aqui para um dia conseguir entrar na
Universidade Federal de Alagoas (UFAL)”. Nesta fala notou-se que este aluno aspira crescer
e busca sempre novos caminhos não desistindo de estudar.
Após todos os alunos terem terminado a atividade, a professora, colocou no quadro
todas as palavras corretas e pediu para que os alunos conferissem com as que tinham escrito
para verificar qual eles tinham acertado. As palavras encontravam-se escritas desordenadas
quanto a seqüência das letras do alfabeto; pois a professora também estava trabalhando ordem
alfabética. Oralmente, junto com os alunos, a professora grifou as palavras na lousa em ordem
alfabética, trabalhando ainda com as mesmas a separação silábica de cada uma delas. E assim
conclui-se a aula.
Os professores necessitam rever suas maneiras de ministrar as aulas para que assim
torne-as atrativas e dinâmicas sem que fujam da realidade de cada aluno. A EJA precisa de
mudanças e todos os envolvidos nesta educação deve ir em busca da transformação da
educação para um melhor ensino; que faça com que os alunos sintam disposição e vontade de
engrandecer seus conhecimentos sem que sejam tratados como crianças.
No entanto, percebe-se que muitos educadores desejam mudar suas práticas
pedagógicas, mas não sabem como pelo fato de só ouvirem falar sobre mudança na educação,
transformação na educação e não se deparam com práticas que de fato demonstrem como se
pode ensinar de forma a melhorar a Educação de Jovens e Adultos. Enfim encontra-se muita
teoria a respeito da Educação de Jovens e Adultos, de como ela deve ocorrer, e até mesmo
algumas críticas aos professores desta modalidade; mas não se vê estas teorias na prática.
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3 JUSTIFICATIVA
precisa entender que o aluno da EJA é e sempre será um ser pensante que traz consigo uma
série de conteúdos, historias de vida incríveis que necessitam ser consideradas para o processo
de ensino.
Contudo, busca-se mostrar aos professores da educação de jovens e adultos que os
alunos desta modalidade possuem conhecimentos antecedentes, os quais devem ser dados
importância à medida que os professores forem ministrar suas aulas; devendo buscar o
aprofundamento dos conhecimentos já existentes partindo do meio social e da realidade de
cada um. Afinal os conhecimentos não possuem fim, pois eles estão em constante construção.
Estas informações citadas que estarão contidas neste trabalho será passada com base em
estudos teóricos e observações realizadas em uma escola X especificamente em salas de
alfabetização da EJA, onde irá socializar através deste projeto as experiências e os dados
adquiridos na observação. Este trabalho também poderá contribuir para um despertar no
educador em relação a curiosidade e o interesse nesta educação, para que assim possam
resgatar os conhecimentos culturais dos alunos e valorizá-las; ressaltando que deve-se
trabalhar de forma dinâmica e atrativa.
4 PRESSUPOSTOS
Alguns educadores apresentam uma visão de que os alunos da educação de jovens e adultos
são incapazes de entrar em uma universidade, porque estão velhos e por isso aprender a ler e a
escrever é o suficiente; com isso a maioria dos estudantes concordam tendo o pensamento de
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que arrumar um emprego no momento é o fundamental não podendo perder muito tempo
estudando.
5 OBJETIVOS
Investigar até que ponto os conhecimentos prévios que os alunos da Educação de Jovens e
Adultos possuem são levados em consideração no processo de aprendizagem na Escola
Professora Maria Lucia Lins de Freitas nas salas de alfabetização do 1º segmento observando
que experiência e expectativa estes alunos trazem quando buscam a escola.
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6 METODOLOGIA
O estudo de caso é uma categoria de pesquisa cujo objeto é uma unidade que se
analisa profundamente. Pode ser caracterizado como um estudo de uma entidade bem
definida, como um programa, uma instituição, um sistema educativo, uma pessoa ou uma
unidade social. Visa conhecer o seu “como” e os seus “porquês”, evidenciando a sua unidade
e identidade próprias. É uma investigação que se assume como particularística, debruçando-se
sobre uma situação específica, procurando descobrir o que há nela de mais essencial e
característico. Trata-se de um tipo de pesquisa que tem sempre um forte cunho descritivo. O
pesquisador não pretende intervir sobre a situação, mas dá-la a conhecer tal como ela lhe
surge. Para tanto, pode valer-se de uma grande variedade de instrumentos e estratégias. No
entanto, um estudo de caso não tem que ser meramente descritivo. Pode ter um profundo
alcance analítico, pode interrogar a situação. Pode confrontar a situação com outras já
conhecidas e com as teorias existentes. Pode ajudar a gerar novas teorias e novas questões
para futura investigação. Este projeto irá estudar o os conhecimentos prévios que os alunos da
EJA possuem.
A observação é uma das etapas do método científico. Consiste em perceber, ver e não
interpretar. A observação é relatada como foi visualizada, sem que, a princípio, as idéias
interpretativas dos observadores sejam tomadas.
7 CRONOGRAMA
Observaçao X X X
Quationario X
aos alunos e a
professora
Questionario a X
coordenador(a)
Entrevista com X
alunos
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Entrevista com X
professores
Entrevista com X
coordenador(a)
Escrita do X X X X X X
trabalho
preeliminar
Escrita do X X
trabalho
8 CUSTOS
REFERÊNCIAS
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação. 6 ed. São Paulo: Brasiliense, 1982.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é método Paulo Freire. 17 ed. São Paulo: Brasiliense,
1991.
FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. Tradução de Moacir Gadotti e Lilian Lopes Martin..
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 4 ed. Rio de Janeiro. Jorge
Zahar Editor. 1989.
LUDKE, Menga; André, Marli. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo:
E.P.U. 1986