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O trabalho do etnógrafo Edward Evan se baseia em uma pesquisa de campo

realizada ao final da década de 1920, com o povo Azande sudaneses. Trata-se de um


povo habitante de uma turbulenta África Central, sob domínio colonial. As referências
ao governo colonial, às influências européias, aludem ao governo do Sudão anglo-
egípcio e a seu impacto sobre a cultura Azande. Aqueles que viviam a oeste estavam
sob administração francesa. Na tentativa de controlar a doença do sono, o governo
concentrou a população em grandes aldeamentos ao longo das recém construídas
estradas federais. Na década de 1940, o número de casos da doença decresceu,
provocando o relaxamento das disposições. Os Azande interpretaram isso como uma
ordem oficial para deixar os aldeamentos. Nessa década também a meta do governo
passou a ser o desenvolvimento socioeconômico do Sudão meridional e o distrito Zande
foi escolhido como área de aplicação de um plano-piloto que visava inserir este e outros
povos na economia mundial, sendo implantado o cultivo de algodão.
Edward observou que esse povo vivia em uma região de savanas arborizada,
vivendo do cultivo do solo, caça, pesca, coleta de frutos e a criação de aves domésticas.
Demonstravam grande habilidade como ferreiros, produtores de óleo, entalhadores e
vários outros ofícios, havendo, no entanto, pouca comercialização de seus artigos. Isso
contribuiu para que não houvesse tanta influência externa sobre sua cultura. Havia um
padrão tradicional de residências dispersas, refletindo o sistema político organizado dos
indígenas. Cada reino era governado por um membro diferente de uma única dinastia
real, chamada de os Avongara, uma dinastia amante da guerra e de aventuras. O povo se
dividia em Avongara e plebe. Muitos príncipes ambiciosos dessa dinastia preferiram
criar um domínio para si a permanecerem sujeitos a um pai ou irmão. Cada reino se
dividia em províncias administradas pelos filhos e irmãos mais novos do rei ou por
alguns plebeus designados pelo rei. Algumas cortes podiam ser maiores que outras, mas
não havia diferenças significativas quanto ao governo. Na década de 1920 novas
medidas administrativas acarretaram no controle mais direto por parte das agências
governamentais, causando prejuízo na organização política tradicional.
Houve entre os Azande um rei chamado Gbudwe, assassinado em um choque
com forças britânicas anos antes de o pesquisador desenvolver seu trabalho. Sua
memória era reverenciada, pois, para aquele povo, marcava o fim de uma época, a
“Idade de Ouro da lei e do costume”. A administração colonial substituiu o trabalho nas
terras pelo trabalho nas estradas do governo.
Na época pré-colonial as disputas de menor importância eram arbitradas por um
delegado do governador. Os casos mais sérios, porém, eram levados à corte provincial,
para serem resolvidos pelo Oráculo de Veneno. As duas categorias mais freqüentes de
casos eram bruxaria e adultério, sendo que, à exceção da morte de uma criança pequena,
qualquer morte era atribuída à ação de maléficos bruxos humanos. O novo
espacejamento de moradias imposto na década de 1940 não contribuiu em nada para
eliminar os temores referentes á bruxaria. Com a liberdade de movimentos restringida
pelo plano de reinstalação, esses temores pareceram aumentar.
Os príncipes tiveram menos restrições ao que ficou conhecido como Operação
Zande (que determinou o plano de reinstalação e o plantio de algodão), pois ficaram
com a impressão de acentuarem sua autoridade, uma vez que os seus súditos eram
encaminhados para trechos determinados de terra e lá eram obrigados a permanecer.
Havia ainda um pequeno bônus do algodão. Mas à longo prazo os plebeus passaram a
ver seus governantes como “identificados com uma política impopular”, causando
insatisfação. Em 1945 eles apresentaram seu próprio candidato contra o filho do
príncipe governante.
As monografias do antropólogo não buscam “valor jornalístico”, mas contribuir
para o desenvolvimento de um corpo de deduções fundamentadas a respeito dos
princípios que regem a interação humana em diferentes épocas e locais. O seu trabalho
original, gerado pela teoria a partir de dados brutos, deve ser encarado como um elo na
genealogia do tema. Ele interpreta as crenças Azande na bruxaria como uma influência
estabilizadora do sistema sociomoral. Para ele a sociedade Zande não funcionava em
equilíbrio, passando por um período de transformação.

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