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Programa Doutoral em História, Filosofia e Património da Ciência e da Tecnologia

Seminário: Historiografia das Ciências


Docente: Professora Doutora Ana Carneiro
Discente: David Rodrigues dos Santos
1. Ficha de Leitura n.º 5:
F. R. Ankersmit, “Historiography and Postmodernism,” History and Theory, 28 (1989),
137-153
2. Objectivo
- Informar sobre as metodologias do pós-modernismo na historiografia;
3. Tema
- O pós-modernismo;
4. Tese do Artigo
- A substituição de métodos herdados do modernismo por novas soluções – pós-
modernas;
5. Estratégias Metodológicas/Comentários

Uma das características da vida contemporânea está relacionada, segundo o autor, Frank
Ankersmit, com o excesso de produção. Uma enorme quantidade de literatura histórica
que parece infiltrar-se em todas as áreas e disciplinas, que transporta consigo a sensação
de desalento e pouco civilizadora. Como tal, uma das soluções apontadas neste artigo,
relaciona-se com a constituição de uma ligação com o passado baseada no
reconhecimento honesto da posição que ocupamos no presente enquanto historiadores.

Aponta para o facto da historiografia necessitar de novas roupagens, de novas


metodologias nas suas abordagens. Fala-nos da era informação enquanto um objecto
que tem sido em conta como algo físico, que se move, que se espalha e se pode
organizar e armazenar. Refere, simultaneamente, a forma como o Estado, enquanto
entidade, controla e regula essa mesma informação e como essa informação nos pode
afectar1.

O pós-modernismo, quiçá como todos os ismos da avant-garde, tem como ponto de


partida a contraposição do moderno e, neste caso em particular, do papel de destaque
que a ciência ocupa – o alfa e o ómega. A atenção dos pós-modernistas não se focará
tanto nos resultados dessa investigação científica nem na forma como a sociedade
assimila essa investigação. Focar-se-á, contudo, no funcionamento interno da ciência e
da informação cientifica per se.

Segundo Ankersmit, para os pós-modernistas quanto mais autoritária e poderosa uma


interpretação for, mais escritos ela gerará no futuro, enquanto que para os modernistas, a
informação mais importante é a o ponto de chegada dos escritos. Não se tratará do pós-
modernismo ser um movimento anti-ciência, mas sim aciência. O objectivo dos pós-
modernistas será desestabilizar as verdades absolutas dos cientistas e do modernismo e,
segundo o próprio autor, a historiografia será o melhor exemplo de o demonstrar.

Esta atitude, este movimento, tem como ponto de partida uma visão estética
compartilhada pelos mais diversos autores, como por exemplo Jacques Derrida,
1
Sobre este tema ver J.F Lyotard, A Condição Pós-Moderna, Gradiva (2003), p. 17.
Friedrich Wilhelm Nietzsche, Hans Josef Gombrich e Artur C. Danto, e na comparação
de que uma obra de arte não é uma reprodução mimética da realidade mas um
substituto da realidade.

Assim, a linguagem e a arte não estão dispostas no lado oposto da realidade, mas numa
pseudorealidade e, consequentemente, dentro da realidade. Um segundo ponto
importante na abordagem do lado estético está relacionado o papel que o estilo deve
desempenhar, isto é, para os modernistas não teria qualquer papel de destaque, dado que
o estilo implica uma decisão sobre forma em vez do conteúdo. Por outro lado, os pós-
modernistas reconhecerão a importância do carácter estético da natureza da
historiografia através do estilo e da linguagem.

Estes autores reconhecem aquilo que a literatura compartilha com a historiografia, dado
que a sua natureza deste ofício (apresentar o passado), depende da sua definição de
linguagem. Neste seguimento, a historiografia possuiria o mesmo grau de opacidade e
dimensão intencional que a arte (ao contrario da linguagem cientifica que tende a ser o
mais clara e transparente quanto possível). Se para os modernistas uma prova é uma
revelação daquilo que aconteceu no passado, seguindo uma linha de raciocínio desde as
provas passadas até uma realidade histórica oculta nas fontes. Para os pós-modernistas,
as provas representarão apenas possíveis interpretações do passado.

Outra ponte que Ankersmit apresenta, está relacionada com a ligação entre a
historiografia e a psicanálise. Em ambos os casos lidamos com interpretações do sentido
do mundo, onde a psicanálise representa um reportório de estratégias de interpretação
dos traços. Enquanto o modernismo terá procurado, segundo o autor, a essência do
passado o pós-modernismo procuraria focar-se na história das mentalidades. Nesta
continuidade seremos alertados para estas novas tendências e não para uma quebra
radical com práticas antigas (sendo esta passagem uma característica pós-modernista).
Nesta nova visão o objectivo nunca será a integração, a síntese ou a totalidade, como
vimos com outros autores, mas sim focar a atenção em porções da história, num
movimento de abertura ao mundo.

Será, segundo o autor, a partir de Johann Goethe que se desenvolve um novo género de
escrita desapegado da história intelectual, filosófica, epistemológica, ou social, e ligado,
essencialmente, à interdisciplinaridade, abandonando qualquer contextualização
exacerbada. Tratar-se-á da entrada da Bildung na historiografia, num movimento de
aprendizagem com o passado, em vez de adequação. Desta forma, a historia deixará de
ser uma reconstrução de acontecimentos passados, e mais um jogo contínuo de
memórias.
«The time as come that we should think about the past, rather than investigate it»2
Em suma, o autor reiterará que nada do afirmado durante este artigo tem como objectivo
que a procura da verdade histórica seja abandonada. Tentará edificar um discurso onde a
dimensão metafórica e estética da historiografia se situa num campo mais vigoroso do
que a dimensão literal tida até ao momento. O pós-modernismo não rejeita por completo
a historiografia científica, apenas chama a nossa atenção para novas abordagens e novos
territórios que podem ser interpretados.

11 de Novembro de 2009

2
F. R. Ankersmit, “Historiography and Postmodernism,” History and Theory, 28 (1989), p. 152.

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