You are on page 1of 4

SENADO FEDERAL SF - 201

SECRETARIA-GERAL DA MESA
SECRETARIA DE TAQUIGRAFIA

O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco/PSDB – SP. Pronuncia o


seguinte discurso.) – Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, em primeiro lugar, uma
constatação de coincidência de pontos de vista, que muito me orgulha: coincidência
de ponto de vista com o Senador e Presidente Itamar Franco sobre aquilo que
acabou de expor no seu pronunciamento, como líder.
Eu gostaria de dizer, Sr. Presidente, que, efetivamente, concordo com
S. Exª e que, ontem, durante a audiência pública, eu polemizei – e duramente – não
apenas com o Ministro, mas também com os porta-vozes mais salientes do
governismo, em relação a exatamente esses três pontos que O Presidente Itamar
Franco mencionou: a desvalorização de tudo o que se fez antes do PT, da
estabilização pela qual S. Exª e o Presidente Fernando Henrique foram os grandes
responsáveis; o ato falho, talvez, do Ministro em relação à Vale, que revela um
fundo autoritário de pensamento – que, aliás, não condiz com a conduta prática do
Ministro – quando diz que o Governo poderia ter retalhado a Vale para forçar a
substituição do Presidente da época; e igualmente uma polêmica dura, e talvez até
acima do tom, quando uma nobre Senadora da base do Governo atribuiu – assim,
pelo menos, eu entendi – parte da culpa pela escalada inflacionária às críticas da
oposição. Exatamente esses três pontos foram objeto de resposta veemente da
minha parte e também da parte do Senador Alvaro Dias.
É exatamente sobre o problema da inflação, por onde S. Exª
começou, que eu gostaria de falar nesta tarde, no Senado. O Ministro Guido
Mantega, num determinado momento da sua apresentação, disse o seguinte: “não
fossem os combustíveis e os alimentos, a inflação estaria muito mais perto do
centro da meta”. Acontece que os combustíveis e os alimentos estão pressionando
a inflação – e pressionando muito, muito fortemente.
Vamos falar apenas nos combustíveis nesta tarde.
O preço dos combustíveis disparou. Isso é conhecido por todos, tanto
o da gasolina, quanto o do álcool. O álcool, em Brasília, já ultrapassou R$2,60 o
litro, e a gasolina – abasteci o meu carro, nesse último fim de semana em Brasília –
R$3,00 o litro. Evidentemente, os consumidores reclamam dos preços que
pressionam o Governo e preocupam toda a sociedade.
Mas o que é mesmo que está acontecendo? A gasolina, no País, já
faz muito tempo, é cara, apesar de sair das refinarias da Petrobras cerca de 25%
mais barata do que a que sai das refinarias nos Estados Unidos. A gasolina
brasileira para o consumidor é a mais cara das Américas, segundo uma pesquisa
recente de uma consultoria norte-americana AIRINC - Associates for International
Research, Inc. especializada em preços globais.
Apenas para que os meus colegas tenham ideia, se ainda não têm
essa informação, o preço médio da gasolina na capital paulista era, no momento da
pesquisa, US$1.73, cotado o dólar a R$1,67. Esse valor é 70% maior do que a
gasolina em Nova Iorque, e 105% mais alto do que a gasolina na Rússia. Para
ficarmos aqui na América Latina, a gasolina no Chile custa US$1.57.
E por que a gasolina brasileira é tão cara? Há vários fatores:
conjunturais e estruturais. A gasolina é cara, porque carrega evidentemente um
peso tributário enorme, beira a 60% do valor o litro de gasolina pago pelo
consumidor. Nós só perdemos para alguns países da Europa que fazem uma

C:\Users\LM\Downloads\ANF04052011 Preço Gasolina e Alcool.doc 04/05/11 19:42


SENADO FEDERAL SF - 202
SECRETARIA-GERAL DA MESA
SECRETARIA DE TAQUIGRAFIA

política tributária gravando a gasolina com o propósito de desestimular o uso dos


automóveis.
Nesses impostos, estão incluídos vários tributos. Nessa carga
tributária, estão incluídos vários tributos, contribuições, PIS, Cofins, a Cide, o ICMS,
que é controlado pelos Estados. A Cide funciona, como todos nós sabemos, como
um colchão para, digamos, moderar as flutuações quando sobe muito o preço da
gasolina no mercado internacional. E o ICMS tem as suas alíquotas, muitas vezes,
excessivamente elevadas pelos Estados, premidos que são pela erosão das suas
receitas tributárias em favor da concentração dessas nos cofres da União.
Mas há também razão que diz respeito à estrutura, à escassez, à
carência de produção, o que nos leva a constatar a precariedade do planejamento
do Governo nessa matéria nos últimos tempos.
Vejam, a gasolina, a produção de derivados do petróleo, de
combustíveis pela Petrobras não está acompanhando o aumento da demanda.
No ano passado, o País consumiu 117 milhões de metros cúbicos de
derivados de petróleo usados para combustível, ou seja, 11% a mais do que
produziu. Nós estamos consumindo mais gasolina e diesel do que produzimos.
Nós não temos refinarias suficientes, apesar das obras das refinarias
ter sido muito alardeado pela então candidata Dilma que havia sido anteriormente a
grande gestora do Governo, Ministra de Minas e Energia. Apesar de todo esse
alarde, nós não temos refinarias suficientes para atender o crescimento da
economia.
A Petrobras tem quatro refinarias em construção, mas a produção dos
derivados só deve crescer mesmo em 2013, daqui a dois anos. Até lá, seguramente
vamos ter que conviver com problemas de abastecimento, de preço elevado, que
obriga a Petrobras a importar, aumentar sua importação de gasolina, agravando
com isso a condição cambial do Brasil.
Ora, mas neste momento existe um fator conjuntural também que
influi fortemente sobre o preço da gasolina, que é a escassez de álcool.
O álcool está com o preço muito alto e há risco de desabastecimento
em muitos postos, de modo que os consumidores migram para a gasolina, dado a
grande proliferação dos automóveis flex.
Ora, essa escassez de álcool ocorre logo depois que o Governo
assumiu, - com muito orgulho, é justo o orgulho que temos do nosso parque
industrial produtor de álcool e do nosso complexo sulcroalcooleiro-, o papel de
grande vendedor de etanol no mundo.
Vamos vender etanol no mundo inteiro. Vamos trabalhar com os
Estados Unidos, falar com o Presidente americano para que abra as fronteiras do
seu País ao etanol brasileiro”. Enquanto isso, está faltando álcool no Brasil. Nós
tivemos que importar álcool agora, nessa crise de escassez de álcool.
Agora, por que falta álcool na bomba de combustível? As razões são
muitas, mas, evidentemente, uma é que houve queda na produção, houve uma
quebra de safra da cana, houve uma diminuição do ritmo de investimento das
indústrias processadoras da cana para a produção de álcool e de açúcar, em razão
da crise de 2008. Só agora, as empresas começam a colocar esses planos em
execução.

C:\Users\LM\Downloads\ANF04052011 Preço Gasolina e Alcool.doc 04/05/11 19:42


SENADO FEDERAL SF - 203
SECRETARIA-GERAL DA MESA
SECRETARIA DE TAQUIGRAFIA

Mas isso revela também uma falta de planejamento do Governo, de


previsão do Governo. Ora, segurança energética é um fator chave não apenas na
produção econômica, mas na vida das pessoas. E o Governo descuidou, nos
últimos oito anos, dessa segurança energética. Por quê? Era evidente que faltava,
no Brasil, uma política de estoques reguladores para a produção, para compensar
período de escassez de uma commodity agrícola que está sujeita às variações do
tempo, às intempéries, à quebra de safra. Faltou uma política – que há muito tempo
os produtores de álcool reclamavam – de formação de estoques reguladores.
Ao mesmo tempo em que o Governo brasileiro, estimulou a produção
de carros flex e portanto era previsível o aumento da demanda por álcool, faltou
política que incentivasse o aumento da produção e, inclusive, estimulasse as
empresas produtoras de álcool a investir na produção como forma de aumentar a
sua rentabilidade.
Nós temos, hoje, muitas usinas que produzem energia a partir da
queima do bagaço de cana e produzirão muito mais quando chegar a um ponto de
desenvolvimento industrial com tecnologia – que hoje ainda está confinada aos
laboratórios – de produção de etanol a partir da fratura da molécula dos vegetais,
que permitirá a produção de álcool a partir da palha da cana, a partir de madeira.
Ora, faltou ao Governo, do ponto de vista da ação governamental, uma política que
estimulasse a produção de energia como forma de essas empresas produtoras de
álcool e de açúcar terem recursos próprios para investir na sua própria produção.
Veja, e o que falta para isso? Falta financiamento para repotencialização das
caldeiras, para a aquisição de novas caldeiras e falta também a disciplina de uma
questão-chave, que é o acesso da energia elétrica produzida nas refinarias às redes
de transmissão. Não é uma questão planetária, mas demandaria dedicação do
Governo e propiciaria um enorme salto na produção de energia elétrica a partir da
queima do bagaço de cana.
O Governo, em determinado momento, ficou tentado a demonizar o
setor sucroalcooleiro: “Está faltando álcool porque as usinas estão produzindo
açúcar”. Ora, Sr. Presidente, a margem de flexibilidade de uma usina que produz
álcool passar a produzir açúcar é muito pequena, é em torno de 6%. Então, houve
quebra de safra na Índia, aumentou o preço do açúcar. É natural que as usinas
procurem produzir açúcar,sobretudo, diante da incerteza do mercado interno do
álcool, uma vez que o Governo manipula o preço da gasolina. Sem segurança de
que terá um mercado organizado e razoavelmente competitivo, as indústrias do
setor sucroalcooleiro, em determinado momento, migraram para a produção de
açúcar. Mas essa margem de imigração é muito pequena, não vai, como já disse,
além de 6%. Então, não é por aí, com a demonização do produtor do açúcar e
álcool, que o Governo vai nos tirar dessa enrascada; é, sim, produzindo políticas
que estimulem, ao mesmo tempo, a produção de açúcar e a produção de álcool.
Temos tecnologia, terra férteis, capacidade empresarial, há mais de 500 anos, é
uma produção tradicionalíssima do Brasil. É perfeitamente possível fazermos as
duas coisas ao mesmo tempo: produzirmos açúcar e produzirmos álcool, desde que
haja planejamento, estoques reguladores, estímulos creditícios e estímulos fiscais,
para que possamos desenvolver, ainda mais, esse extraordinário patrimônio que o
Brasil tem, que é seu complexo sucroalcooleiro.

C:\Users\LM\Downloads\ANF04052011 Preço Gasolina e Alcool.doc 04/05/11 19:42


SENADO FEDERAL SF - 204
SECRETARIA-GERAL DA MESA
SECRETARIA DE TAQUIGRAFIA

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco/PSDB – SP) – Apenas


para terminar, Sr. Presidente.
O meu receio é o de que o Governo, ao procurar interferir na questão,
faça-o de maneira atabalhoada, com controles, com restrições, e aí o risco é matar
a galinha dos ovos de ouro. Um setor que precisa de estímulo se vê alvo de
medidas punitivas, coercitivas, regulamentos burocráticos que só farão complicar
uma situação que já é, por si só, bastante complicada.
Muito obrigado.

C:\Users\LM\Downloads\ANF04052011 Preço Gasolina e Alcool.doc 04/05/11 19:42

You might also like