You are on page 1of 652

Invenção, Tradição e Escritas da

História da Educação no Brasil

Universidade Federal do Espírito Santo

ISSN: 2236-314
ANAIS
LIVRO DE RESUMOS
Capa: Eduardo Gaudio
Diagramação: Omar Schneider e Wagner dos Santos

Local do evento:
Universidade Federal do Espírito Santo
Secretaria do VI Congresso Brasileiro de História da Educação
Av. Fernando Ferrari, 514 - Vitória - ES, CEP 29075-910

Dados Internacionais de Catalogação-na-publicação (CIP)


(Biblioteca Central da Universidade Federal do Espírito Santo, ES, Brasil)

Congresso Brasileiro de História da Educação (6. : 2011 : Vitória,


ES).
C749a Anais : livro de resumos [do] VI Congresso Brasileiro de
História da Educação, 16 a 19 de maio de 2011. – Vitória : UFES,
2011.
650 p.

Tema: Invenções, tradições e escritas da história da


educação no Brasil.
Promoção da Sociedade Brasileira de História da Educação.
ISSN: 2236-3114

1. Educação - História - Congressos. I. Sociedade Brasileira


de História da Educação. II. Título. III. Título: Invenções, tradições
e escritas da história da educação no Brasil.

CDU: 37(091)

O conteúdo e a revisão dos resumos é de responsabilidade dos autores.


COMISSÃO ORGANIZADORA DO

VI CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

Promoção
Sociedade Brasileira de História da Educação

Organização
Universidade Federal do Espírito Santo

Instituição Sede
Universidade Federal do Espírito Santo

Coordenação Nacional
Prof. Dr. Wenceslau Gonçalves Neto, UFU

Coordenação Local
Profª. Drª. Regina Helena Simões, UFES

Comitê Organizador Nacional


Prof. Dr. Wenceslau Gonçalves Neto, UFU
Prof. Dr. José Gonçalves Gondra, UERJ
Profª. Drª. Rosa Lydia Teixeira Corrêa, PUC-PR
Prof. Dr. Antonio Carlos Ferreira Pinheiro, UFPB
Profª. Drª. Regina Helena Simões, UFES

Comitê Organizador Local


Prof. Dr. Amarílio Ferreira Neto, UFES
Prof. Dr. Carlos Eduardo Ferraço, UFES
Profª. Drª. Cleonara Maria Schwartz, UFES
Profª. Drª. Cláudia Maria Mendes Gontijo, UFES
Profª. Drª. Denise Meyrelles de Jesus, UFES
Prof. Dr. Edson Pantaleão Alves, UFES
Profª. Drª. Gilda Cardoso de Araujo, UFES
Profª. Ms. Gleice Pereira, UFES
Profª. Drª. Izabel Cristina Novaes, UFES
Profª. Drª. Janete Magalhães Carvalho, UFES
Profª. Drª. Juçara Luzia Leite, UFES
Profª. Drª. Mariangela Lima de Almeida, UFES
Prof. Dr. Omar Schneider, UFES
Prof. Dr. Reginaldo Célio Sobrinho, UFES
Profª. Ms. Rosianny Campos Berto, UFES
Prof. Dr. Sebastião Pimentel Franco, UFES
Profª. Drª. Vânia Carvalho de Araújo, UFES
Profª. Drª. Valdete Côco, UFES
Prof. Dr. Wagner dos Santos, UFES
Comitê Científico
Profª. Drª. Ana Waleska Campos Mendonça, PUC-RJ
Prof. Dr. Bruno Bontempi Junior, USP
Prof. Dr. Carlos Henrique de Carvalho, UFU
Profª. Drª. Claudia Maria Mendes Gontijo, UFES
Prof. Dr. Elomar Tambara, UFPEL
Profª. Drª. Diane Valdez, UFG
Profª. Drª. Elisabeth Figueiredo de Sá, UFMT
Profª. Drª. Ester Buffa, UNINOVE
Profª. Drª. Irma Rizzini, UFRJ
Prof. Dr. Jorge Carvalho do Nascimento, UFS
Profª. Drª. Lúcia Maria da Franca Rocha, UFBA
Prof. Dr. Lúcio Kreutz, UFC
Prof. Dr. Marcus Levy Albino Bencostta, UFPR
Profª. Drª. Maria das Graças Loiola Madeira, UFAL
Profª. Drª. Maria do Amparo Borges Ferro, UFPI
Profª. Drª. Mauricéia Ananias, UFPB
Prof. Dr. Norberto Dallabrida, UDESC
Profª. Drª. Silvia Helena Andrade Brito, UFMS
Profª. Drª. Sonia de Oliveira Camara Rangel, UERJ
Prof. Dr. Tarcisio Mauro Vago, UFMG
Profª. Drª. Vera Teresa Valdemarin, UNESP

Secretaria do VI Congresso Brasileiro de História da Educação


Karen Calegari dos Santos
Lívia Camporez Giuberti
Maria Anna Xavier Serra Carneiro de Novaes
Miriã Lúcia Luiz
Sandro Nandolpho
Tatiana Borel
PROGRAMAÇÃO

Dia 16/05 - Segunda-Feira


0900h às 17h00 Credenciamento e entrega de material
13h00 às 16h00 Reuniões de grupos de pesquisa e sociedades científicas
17h00 Abertura oficial do evento – Sessão Solene
18h30 Conferência de abertura
20h00 Coquetel
Dia 17/05 - Terça-Feira
08h00 às 09h15 Mini cursos
09h30 às 12h00 Mesas-redondas
13h30 às 16h00 Sessões de comunicação
16h15 às 18h00 Comunicações coordenadas
18h00 às 19h00 Reunião do Coordenador do Comitê de Educação do CNPq com os
pesquisadores de História da Educação
19h15 às 21h00 Lançamento de livros
Dia 18/05 - Quarta-Feira
08h00 às 09h15 Mini cursos
09h30 às 12h00 Mesas-redondas
13h30 às 16h00 Sessões de comunicação
16h15 às 18h00 Assembléia da SBHE
21h00 Jantar por adesão
Dia 19/05 - Quinta-Feira
08h00 às 09h15 Mini cursos
09h30 às 12h00 Comunicações coordenadas
13h30 às 16h30 Sessões de comunicação
16h45 às 19h15 Conferência de encerramento
SUMÁRIO

9 ................................................................................................................... APRESENTAÇÃO

MINICURSOS
15 ........................................................................... EIXO 1 - ETNIAS E MOVIMENTOS SOCIAIS
16 ......................................... EIXO 2 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES E PRÁTICAS EDUCATIVAS
16 ............................................ EIXO 3 - HISTÓRIA DAS CULTURAS E DISCIPLINAS ESCOLARES
17 ....................................................................... EIXO 4 - HISTÓRIA DA PROFISSÃO DOCENTE
18 ......................................... EIXO 5 - IMPRESSOS, INTELECTUAIS E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO
19 ............................................... EIXO 8 - FONTES E MÉTODOS EM HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO
22 .................................. EIXO 9 - PATRIMÔNIO EDUCATIVO E CULTURA MATERIAL ESCOLAR

COMUNICAÇÕES COORDENADAS

27 ......................................... EIXO 2 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES E PRÁTICAS EDUCATIVAS


43 ............................................ EIXO 3 - HISTÓRIA DAS CULTURAS E DISCIPLINAS ESCOLARES
55 ....................................................................... EIXO 4 - HISTÓRIA DA PROFISSÃO DOCENTE
59 ......................................... EIXO 5 - IMPRESSOS, INTELECTUAIS E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO
89 .. EIXO 6 - ESTADO E POLÍTICAS EDUCACIONAIS NA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA
113 ............................................... EIXO 8 - FONTES E MÉTODOS EM HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO
117 .................................. EIXO 9 - PATRIMÔNIO EDUCATIVO E CULTURA MATERIAL ESCOLAR

COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

123 ........................................................................... EIXO 1 - ETNIAS E MOVIMENTOS SOCIAIS


153 ......................................... EIXO 2 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES E PRÁTICAS EDUCATIVAS
305 ............................................ EIXO 3 - HISTÓRIA DAS CULTURAS E DISCIPLINAS ESCOLARES
343 ....................................................................... EIXO 4 - HISTÓRIA DA PROFISSÃO DOCENTE
395 ......................................... EIXO 5 - IMPRESSOS, INTELECTUAIS E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO
499 ... EIXO 6 - ESTADO E POLÍTICAS EDUCACIONAIS NA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA
567 ................................................................. EIXO 7 - O ENSINO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO
575 ............................................... EIXO 8 - FONTES E MÉTODOS EM HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO
613 .................................. EIXO 9 - PATRIMÔNIO EDUCATIVO E CULTURA MATERIAL ESCOLAR

ÍNDICE REMISSIVO

633 ...................................................................................... AUTORES EM ORDEM ALFABÉTICA


APRESENTAÇÃO

Desde a sua criação, ocorrida em 1999, a Sociedade Brasileira de História da Educação (SBHE) tem
cumprido o importante papel de congregar professores/as e pesquisadores/as brasileiros/as que
desenvolvem atividades de ensino e pesquisa na área, de forma a estimular a realização de estudos
pautados pela crítica e pela pluralidade teórica, bem como promover o intercâmbio com outras
entidades de representação nacional e internacional no campo da história da educação e áreas afins.
Na perspectiva anteriormente descrita, um dos espaços desenhados para a divulgação e a troca de
conhecimentos produzidos tem sido o Congresso Brasileiro de História da Educação (CBHE) que, desde o
ano 2000, reúne, a cada dois anos, professores e pesquisadores nacionais e internacionais com
produção relevante sobre o tema.
Os CBHEs têm como objetivos: congregar profissionais brasileiros que realizam atividades de pesquisa e
ensino da história da educação; promover o debate acerca de investigações realizadas na área da
história da educação; incentivar a produção de novas investigações na área da história da educação nas
várias regiões do País; e contribuir para a divulgação de conhecimentos produzidos na área de história
da educação, especialmente aqueles relacionados com o ensino e a pesquisa nesse campo.
O I CBHE realizou-se no Rio de Janeiro, de 6 a 9 de novembro de 2000, e teve como tema central
“Educação no Brasil: História e Historiografia”. O II CBHE aconteceu em Natal, Rio Grande do Norte, de 3
a 6 de novembro de 2002, e focalizou a temática “História e Memória da Educação Brasileira”. O III CBHE
foi sediado em Curitiba, Paraná, de 7 a 10 de novembro de 2004, e teve como foco a “A Educação
Escolar em Perspectiva Histórica”. No IV CBHE, realizado em Goiânia, Goiás, de 5 a 8 de novembro de
2006, discutiu-se a “A Educação e seus Sujeitos na História”. O V CBHE, efetivou-se em Aracaju, Sergipe,
de 9 a 12 de novembro de 2008, focalizou o tema “O Ensino e a Pesquisa em História da Educação”.
Como pode ser observado nos quadros apresentados a seguir, as cinco primeiras edições do Congresso
Brasileiro de História da Educação indicam o desenvolvimento e a consolidação de um conjunto
temático, em torno do qual gravita a produção atual dos pesquisadores de história da educação.

Trabalhos
Eixos temáticos
aprovados
Estado e políticas educacionais 30
Fontes, categorias e métodos de pesquisa em história da educação 30
Gênero e etnia 22
Imprensa pedagógica 09
Instituições educacionais e/ou científicas 41
Pensamento educacional 40
Práticas escolares e processos educativos 37
Profissão docente 22
TOTAL 231
Quadro 1 - Eixos temáticos e trabalhos aprovados no I CBHE
Fonte: I Congresso Brasileiro de História da Educação – Programa e Resumos. Educação no
Brasil: História e Historiografia. Rio de Janeiro: SBHE, UFRJ, 2000.

9
Trabalhos
Eixos temáticos
aprovados
História comparada da educação 12
História dos movimentos sociais na educação brasileira 18
História de culturas escolares e profissão docente no Brasil 111
Intelectuais e memória da educação no Brasil 93
Relações de gênero e educação brasileira 51
Estado, nação, etnia e história da educação 49
Processos educativos e instâncias de sociabilidade 94
TOTAL 428
Quadro 2 - Eixos temáticos e trabalhos aprovados no II CBHE
Fonte: Anais do II Congresso Brasileiro de História da Educação. História e Memória da
Educação Brasileira. Natal: SBHE, UFRN, 2002.

Trabalhos
Eixos temáticos
aprovados
Arquivos, fontes e historiografia 80
Estudos comparados 13
Políticas educacionais e modelos pedagógicos 107
Cultura escolar e práticas educacionais 112
Profissão docente 51
Gênero, etnia e educação escolar 38
Movimentos sociais e democratização do conhecimento 11
Ensino de história da educação 06
TOTAL 418
Quadro 3 - Eixos temáticos e trabalhos aprovados no III CBHE
Fonte: Anais do III Congresso Brasileiro de História da Educação. A Educação Escolar em
Perspectiva Histórica. Curitiba: SBHE, Pontifícia Universidade Católica do Paraná, 2004.

Trabalhos
Eixos temáticos
aprovados
Políticas educacionais e movimentos sociais 66
História da profissão docente e das instituições escolares 118
Cultura e práticas escolares 114
Gênero, etnia na história da educação brasileira 36
Historiografia da educação brasileira e história comparada 29
Intelectuais, pensamento social e educação 62
Arquivos, centros de documentação, museus e educação 28
Ensino de história da educação 04
TOTAL 457
Quadro 4 - Eixos temáticos e trabalhos aprovados no IV CBHE
Fonte: Anais do IV Congresso Brasileiro de História da Educação. A Educação e seus Sujeitos
na História. Goiânia: SBHE, Universidade Católica de Goiás, 2006.

10
Trabalhos
Eixos temáticos
aprovados
História da profissão docente e das instituições escolares formadoras 127
O ensino de história da educação 20
Fontes e métodos em história da educação 95
Cultura e práticas escolares e educativas 184
Currículo, disciplinas e instituições escolares 88
Historiografia da educação brasileira e história comparada 35
Movimentos sociais, geração, gênero e etnia na história da educação 64
Políticas educacionais, intelectuais da educação e pensamento
pedagógico 170
TOTAL 783
Quadro 5 - Eixos temáticos e trabalhos aprovados no V CBHE
Fonte: Anais do V Congresso Brasileiro de História da Educação. A Educação o ensino e a
pesquisa em História da Educação. Aracaju-Sergipe: SBHE, Universidade Federal do Sergipe,
2008.

Especialmente relevante tem sido a evolução, em menos de uma década, do número de


trabalhos aprovados, de 231 em 2000, para 783 em 2008. Esse crescimento sinaliza, de forma
inequívoca, o crescente vigor experimentado pela pesquisa histórica em educação no Brasil,
amplamente sustentado na congregação e na conjugação de esforços de toda uma
comunidade científica representada pela SBHE.
Em sua sexta edição, realizada na Universidade Federal do Espírito Santo, de 16 a 19 de maio
de 2011, o CBHE elegeu como tema central Invenções, tradições e escritas da história da
educação no Brasil, e quatro mesas-redondas foram organizadas sobre as seguintes temáticas:

Mesa-redonda 1 - Produção e Usos de Fontes na Pesquisa Histórica em Educação


Mesa-redonda 2 - História da Educação e Ciências Sociais: Desafios Atuais
Mesa-redonda 3 - Memórias, Instituições e História das Práticas Educativas
Mesa-redonda 4 - Invenções e Tradições na História da Educação

Nas categorias comunicações coordenadas e comunicações individuais, os trabalhos inscritos


agruparam-se em torno de nove eixos:

1. História das instituições e práticas educativas


2. Impressos, intelectuais e história da educação
3. Estado e políticas educacionais na história da educação brasileira
4. História da profissão docente
5. História das culturas e disciplinas escolares
6. Fontes e métodos em história da educação
7. Etnias e movimentos sociais
8. Patrimônio educativo e cultura material escolar
9. Ensino de história da educação

Seguindo a tendência ascendente observada na trajetória dos Congressos Brasileiros de


História da Educação, registrou-se uma evolução de 783 trabalhos aprovados, em 2008, para
876 trabalhos aceitos em 2011, além do acréscimo de mais um eixo temático (Quadro 6).

11
Trabalhos Aprovados
Eixos temáticos Comunicações Comunicações
Minicursos Total
Coordenadas Individuais
1. História das instituições e
práticas educativas 1 22 225 248
2. Impressos, intelectuais e
história da educação 1 34 154 189
3. Estado e políticas
educacionais na história da 33 98 131
educação brasileira
4. História da profissão 1 05 75 81
docente
5. História das culturas e
disciplinas escolares 1 15 54 70
6. Fontes e métodos em
história da educação 5 10 55 70
7. Etnias e movimentos sociais 1 43 44
8. Patrimônio educativo e
cultura material escolar 1 4 27 32
9. Ensino de história da
educação 11 11
TOTAL 11 123 742 876
Quadro 6 - Eixos temáticos e trabalhos aprovados no V CBHE

Muitos apoios e redes de solidariedade tornaram possível a realização do VI CBHE, iniciativa


acolhida de forma generosa pela Universidade Federal do Espírito Santo, pelos seus dirigentes,
corpo docente, corpo discente e funcionários/as.
Expressamos também o nosso reconhecimento ao competente trabalho desenvolvido pelos
colegas, membros dos Comitês Organizador e Científico, que não mediram esforços para
atender às exigentes demandas de um evento desse porte. A todas essas pessoas o nosso
agradecimento pelo compromisso e pelo companheirismo nas longas horas de trabalho.
Finalmente, agradecemos à diretoria da SBHE e aos seus sócios e sócias pela confiança e pelo
apoio demonstrados durante todo o período de organização do evento.
A escolha da UFES para sediar o VI CBHE muito nos honrou e esperamos que o resultado do
trabalho realizado corresponda às expectativas de qualidade acadêmica, de trocas, de
aprendizagens e de congraçamento entre pares, características já associadas às tradições e
invenções do CBHE.

Vitória, maio de 2011.

Regina Helena Silva Simões


Coordenadora Local do VI CBHE

12
MINICURSOS

13
14
EIXO 1 - ETNIAS E MOVIMENTOS SOCIAIS

1349
OS MOVIMENTOS SOCIAIS E AS DIRETRIZES NACIONAIS POR UMA EDUCAÇÃO DO CAMPO

RAMOFLY BICALHO SANTOS.


UFRRJ, SEROPÉDICA - RJ - BRASIL.

EMENTA: Bases históricas da educação do campo no Brasil. I Encontro Nacional de Educadores e


Educadoras da Reforma Agrária (I ENERA); Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária
(PRONERA); I Conferência Nacional por uma Educação Básica do Campo; Os movimentos sociais e a
educação do campo; A educação do campo como direito da população camponesa; Diretrizes
Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo. OBJETIVOS: Conhecer as bases históricas da
educação do campo no Brasil, compreendendo os limites e as possibilidades da construção
problematizadora do conhecimento. Conhecer experiências e práticas de educação do campo
desenvolvida pelos movimentos sociais no Brasil, dentre eles, o MST. Compreender as transformações e
a atualidade da educação do campo no Brasil: a Constituição Federal de 1988; a LDB 9394/96; I ENERA;
PRONERA e as Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo. CONTEÚDOS: I) A
educação do campo: contexto histórico: a Constituição Brasileira; LDB 9394/96; I ENERA; PRONERA e a I
Conferência Nacional por uma Educação Básica do Campo. II) Diretrizes Operacionais para a Educação
Básica nas Escolas do Campo. (Parecer CNE/CEB nº 36/2001 e Resolução CNE/CEB nº o 01/2002). III) O
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e as escolas do campo. METODOLOGIA DE
TRABALHO Buscaremos dar destaque à participação que os diversos sujeitos coletivos (escolas,
secretarias, partidos políticos, agentes pastorais, movimentos sociais, etc.) desenvolveram na luta pela
educação do campo, assim como, suas bandeiras, os limites e as possibilidades de ação política. Como
estratégias de ensino, enfatizaremos a criação de pequenos grupos de estudos, onde os participantes
desse mini-curso consigam, a partir da problematização da realidade, discutir, amadurecer e organizar
as inúmeras possibilidades do pensar autônomo e crítico. Assim, teremos como preocupação essencial:
a constante troca e produção crítica do saber, incentivando a participação de educadores e educandos
em atividades, individuais e em grupos, que envolva e respeite a realidade da educação do campo nas
suas diferentes trajetórias. BIBLIOGRAFIA BÁSICA ARROYO, Miguel G.; Fernandes Bernardo M.. A
educação básica e o movimento social do campo – Brasília, 1999. Coleção Por uma Educação Básica do
Campo, n°2. BICALHO, Ramofly dos Santos. Alfabetização no MST: experiências com jovens e adultos na
Baixada Fluminense. Campinas: Editora Komedi, 2007. 2ª edição. O projeto político pedagógico do
movimento dos trabalhadores rurais sem terra. Campinas: Editora Komedi, 2008. CALDART, R. S.;
ARROYO, Miguel G.; MOLINA, Mônica C. Por uma Educação do Campo. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004.
CALDART, R. S. Pedagogia do Movimento Sem Terra: escola é mais do que escola. Petrópolis, RJ: Vozes,
2000. FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. RJ: Paz e Terra, 1975. MST – Caderno de Educação n.8 –
Princípios da Educação no MST. São Paulo, 1999.

15
EIXO 2 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES E PRÁTICAS EDUCATIVAS

347
O LIBERALISMO E O DUALISMO EDUCACIONAL NO PENSAMENTO DE CARNEIRO LEÃO

ALUÍSIO JOSÉ ALVES


FACED/UFU, UBERLANDIA - MG - BRASIL.

A proposta deste minicurso é identificar na obra Panorama sociológico do Brasil, de Antônio Carneiro
Leão, publicada em 1958, alguns princípios gerais do liberalismo e o pensamento do autor acerca da
origem do dualismo educacional. Visa também a construção de um índice para os que se interessam
pelo estudo das influências da ideologia liberal na educação brasileira no Século XX. O caminho proposto
para se atingir esses três objetivos é o da exposição compartilhada e do contato com excertos da obra
em estudo. A descoberta do livro ocorreu em virtude da necessidade se desenvolver leituras para o
embasamento de apresentação de atividade proposta pela disciplina Liberalismo e Educação no Brasil,
constante do quadro oferecido pelo Programa de Pós-graduação da Faculdade de Educação da
Universidade Federal de Uberlândia, no segundo semestre de 2009. Dessa atividade pedagógica que
nasceu o interesse em conhecer com mais profundidade os escritos de Carneiro Leão. Panorama
sociológico do Brasil, originalmente escrito em francês para a ministração de um curso na Sorbonne, no
ano letivo de 1950-1951, foi reescrito em português para atender à finalidade de publicação na forma
de livro. Fica aberta, só por isso, uma questão que é a de se buscar os originais e realizar um
cotejamento com o texto publicado em 1958. Publicada pelo Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos,
do Ministério da Educação e Cultura do Brasil, a obra agrega um extenso currículo de Antônio Carneiro
Leão descrevendo suas filiações a várias agremiações científicas de muitas partes do mundo, funções
desempenhadas no serviço público do Brasil nas esferas municipal, estadual e federal. Caudaloso
também é o elenco de publicações da sua autoria em português, francês, espanhol e inglês, o que
sugere ao leitor estar, de fato, diante de um intelectual de grande envergadura. Mas o que atesta isso
sobejamente é a densidade argumentativa presente no Panorama sociológico do Brasil. Apresentado
em seis capítulos, a obra reserva o IV e o V para descrever cenários políticos, filosóficos e sociais mais
amplos, internacionais, sem relacionar diretamente as exposições com a vida da sociedade brasileira,
permitindo, inferir que essas duas seções constituem o pano de fundo para contextualizar a organização
vista no país no início da metade do século XX. As quatro divisões restantes acentuam como relação
direta os fatos internacionais e regionais com a organização interna do Brasil, o que permite a
percepção do pensamento liberal de Carneiro Leão, seus posicionamentos e críticas altamente
reveladores das divergências existentes entre os intelectuais no que dizia respeito à aplicação dos
princípios daquela ideologia. BIBLIOGRAFIA SUGERIDA CARNEIRO LEÃO, A. Panorama sociológico do
Brasil. Rio de Janeiro: INEP, 1958. CUNHA, Luiz Antonio. Educação e desenvolvimento social no Brasil.
Rio de Janeiro: F. Alves, 1980.

EIXO 3 - HISTÓRIA DAS CULTURAS E DISCIPLINAS ESCOLARES

723
CAMINHOS PERCORRIDOS NA PRODUÇÃO DA HISTÓRIA DA LEITURA E DO ENSINO DE LITERATURA NO
BRASIL (1990-2010)
1 2
KARINA KLINKE ; MARCIO ARAUJO MELO .
1. UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA, ITUIUTABA - MG - BRASIL; 2.UNIVERSIDADE FEDERAL DO
TOCANTINS, ARAGUAINA - TO - BRASIL.

O mini-curso tem como objetivo analisar os aspectos teórico-metodológicos e as categorias de análise


utilizadas nas pesquisas que abordam a história da leitura e do ensino de literatura apresentadas em

16
congressos qualificados no Brasil, verificando a constituição do campo historiográfico dessas pesquisas,
bem como sua contribuição para a História da Educação. Justifica-se a ocupação com esta temática a
verificação por parte de historiadores do Brasil  e da França, sobre a intensificação das pesquisas
em história da leitura e do ensino de literatura fundamentadas na História Cultural e na linguística, a
partir da década de 1990. Questiona-se, ao mesmo tempo, a pertinência da constituição de campos de
pesquisa distintos – história da leitura e história do ensino de literatura – e sua intersecção,
respectivamente, com a história da educação e com a história das disciplinas escolares. A metodologia
utilizada será a apresentação de pesquisas bibliométricas desenvolvidas pelos proponentes deste mini-
curso, através das quais será mostrado o histórico das pesquisas desenvolvidas sobre a temática da
leitura e do ensino de literatura no Brasil, produzidas entre 1990 e 2010; análise das abordagens
teórico-metodológicas e das categorias utilizadas nessas pesquisas; apresentação de perspectivas para o
avanço da pesquisa no campo historiográfico, em especial sua contribuição para a História da Educação
no Brasil. Bibliografia: BATISTA, A.G.; GALVÃO, A.M.. Leitura: práticas, impressos, letramentos. Belo
Horizonte: Autêntica, 1999, p.99-118. BATISTA, A.G.; GALVÃO, A.M.; KLINKE, K. Livros escolares de
leitura: uma morfologia (1866-1956). Revista Brasileira de Educação. Associação Nacional de Pós-
graduação e Pesquisa em Educação. Campinas, SP. Mai.-Ago. 2002, n.20, p.27-47. CAVALLO, G.;
CHARTIER, R. História da leitura no mundo ocidental. Vol. 2. Trd. Guacira Marcondes Machado. São
Paulo: Ed. Ática, 2002. CHARTIER, A-M.; HÉBRARD, J. Discursos sobre a leitura ― 1880-1980. Trad.
Osvaldo Biato e Sérgio Bath. São Paulo: Ática, 1995. CHARTIER, R. A história cultural: entre práticas e
representações. Trad. Maria Manuela Galhardo. Rio de Janeiro: Ed.Bertrand Brasil, 1990. CHERVEL, A.
História das disciplinas escolares: reflexões sobre um campo de pesquisa. Teoria e Educação. Porto
Alegre, nº 2, p. 177-229, 1990. DARNTON, R. O beijo de Lamourette: mídia, cultura e revolução. Trad.
Denise Buttmann. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. JULIA, D. A cultura escolar como objeto
histórico. Revista Brasileira de História da Educação. Campinas, n. 1, p. 9-43, jan./jun., 2001. POULAIN,
A. (org) Pour une sociologie de la lecture: lectures et lecteurs dans la France
contemporaine. Paris: éditions Du Cercle de La Librairie, 1988. VIDAL, D. G. Culturas escolares:
estudo sobre práticas de leitura e escrita na escola pública primária (Brasil e França, final do século XIX).
1. ed. Campinas: Autores Associados, 2005.

EIXO 4 - HISTÓRIA DA PROFISSÃO DOCENTE

1075
MULHERES NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA: FUGA OU TOMADA DE CONSCIÊNCIA?
1 2
ANA PAULA RODRIGUES FIGUEIROA ; SANDRA CRISTINA DA SILVA .
1.UFPE, RECIFE - PE - BRASIL; 2.UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DE NORTE, NATAL - RN -
BRASIL.

O mini-curso em questão tem como principal objetivo discutir o ingresso da mulher na docência no
Brasil. Parte da seguinte indagação: o magistério feminino consistiu em uma “fuga” do lar ou da
“tomada de consciência” do elemento feminino da sua influencia na sociedade? Nesse contexto
buscamos refletir quais os motivos que levaram essas mulheres a adquirir uma formação intelectual, em
um espaço diverso do ambiente familiar, quando o comumente aceito e reafirmado era o ambiente
doméstico como aquele adequado para a mulher, uma vez que os papéis por ela desempenhados
deveriam ser: esposa, mãe e dona de casa. Busca-se conhecer a importância da participação da mulher
neste contexto, uma vez que reflete e interfere na formação dos indivíduos de um modo geral. O mini-
curso abordará questões referentes ao ensino normal tanto oficial quanto confessional, de cunho
protestante. A retrospectiva histórica levará em consideração desde a sanção da Lei do Ensino de
Primeiras Letras, de 15 de outubro de 1827 - onde se estabelece as regras para o admissão dos mestres
e das mestras no corpo docente oficial (Art. 7º e 12) - até as décadas finais século XIX - nas quais se
verificou o crescimento do ingresso de mulheres nas escolas normais laicas e confessionais (estas
últimas beneficiadas pela separação Igreja-Estado após a Proclamação da República em 1889).

17
Buscaremos ampliar a discussão a partir das questões acima, apoiando-nos em vários estudiosos da
temática, em especial Guacira Louro, Jane Soares de Almeida e Leonor Tanuri. Esta pesquisa tem como
referencial teórico autores como Norbert Elias (com sua concepção de Processo Civilizador) e Michel
Foucault (e sua concepção de Disciplina). Metodologicamente, utilizaremos textos que tenham relação
com a proposta do mini-curso, imagens das fontes utilizadas na pesquisa – regulamentos, fotos,
decretos, entre outros - que possam ser objeto de discussão nos momentos interação. Referências
ARANHA, Maria Lucia de Arruda. História da Educação e da Pedagogia Geral e Brasil. 3. ed. rev. e amp.
São Paulo: Contexto, 2006. ALMEIDA, Jane Soares de. Ler as letras: por que educar meninas e mulheres?
São Paulo: Autores Associados, 2007. Mulher e educação: a paixão pelo possível. São Paulo: Fundação
Editora da Unesp, 1998. ELIAS, Nobert. O processo civilizador: uma história dos costumes. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1994. FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: Nascimento da prisão. 37. ed.
Petropolis,Rj: Vozes, 2009. NETO, Mariana Moreira. O poder em Foucault e o poder nas mulheres.
Paraiwa - Revista dos Pós-Graduandos de Sociologia da UFPb - Número 1 - João Pessoa - dezembro de
2001 . TANURI, L. M. Contribuição para o estudo da Escola Normal no Brasil. Pesquisa e planejamento.
São Paulo, v.13, dezembro, 1970. VILLELA, H. O. S. A primeira Escola Normal do Brasil. In: Clarice Nunes.
(Org.). O passado sempre presente. São Paulo: Cortez, 1992.

EIXO 5 - IMPRESSOS, INTELECTUAIS E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

467
HELENA ANTIPOFF, A SOCIEDADE PESTALOZZI E A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DOS EXCEPCIONAIS NO
BRASIL (1930-1973)

HEULALIA CHARALO RAFANTE; ROSELI ESQUERDO LOPES.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE SAO CARLOS, SÃO CARLOS - SP - BRASIL.

Helena Antipoff nasceu na Rússia, em 1892. Graduou-se em psicologia e foi assistente de Claparède, de
1925 a 1929. Convidada pelo governo de Minas Gerais para auxiliar na Reforma de Ensino, em 1929,
organizou o Laboratório de Psicologia da Escola de Aperfeiçoamento de Belo Horizonte, realizando
pesquisas junto a alunos do ensino primário, e auxiliou no processo de homogeneização das classes,
destacando nelas a presença dos “excepcionais”. Observou que a escola não atendia às necessidades
destes e, para tanto, investiu na criação de instituições: Sociedade Pestalozzi (1932), Instituto Pestalozzi
(1934), Fazenda do Rosário (1940), Sociedade Pestalozzi do Brasil (1945). Foi conselheira da Campanha
Nacional de Educação dos Deficientes Mentais (1960), tendo participado da fundação do Centro
Nacional de Educação Especial (1973). Nosso objetivo é apresentar as idéias e a atuação dessa
educadora, visando apreender sua participação na constituição do campo da Educação Especial no
Brasil. Por meio de exposição oral, com apoio de projeção de material escrito e documental, e do
diálogo com os participantes, pretendemos: 1) analisar os pressupostos teórico-metodológicos do
trabalho da educadora com as crianças “excepcionais”; 2) apresentar o contexto histórico da Primeira
República, para compreender os fatores que levaram ao convite à Antipoff; 3) analisar suas pesquisas na
Escola de Aperfeiçoamento; 4) discutir o conceito de “excepcional” e destacar as ações públicas e
privadas em Minas Gerais, relacionadas a essa questão, com intuito de problematizar como se deu a
inserção das proposições de Antipoff; 5) apontar os caminhos percorridos por essa educadora nas
décadas de 1940 a 1970, verificando a influência de seus princípios e ações na constituição dos
programas de Educação Especial no Brasil. Bibliografia BUENO, J. G. S. Educação Especial Brasileira:
integração/segregação do aluno diferente. 2. ed. São Paulo: Educ, 2004. CAMPOS, R. H. F. Helena
Antipoff. In: FÁVERO, M. L. A.; BRITTO, J. M. Dicionário dos Educadores no Brasil: da Colônia aos dias
atuais. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora UERJ / MEC-Inep - Comped, 2002a. CAMPOS, R. H. F. (Org.) Helena
Antipoff: textos escolhidos. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2002b. CDPHA. Coletânea de obras escritas de
Helena Antipoff. Belo Horizonte: Imprensa Oficial de Minas, 1992. v. 1, 2, 3, 4. JANUZZI, G. M. A
educação do deficiente no Brasil: dos Primórdios ao Início do Século XXI. Campinas: Autores Associados,
2004. MAZZOTTA, M. J. S. Educação Especial no Brasil: História e Políticas Públicas. 5. ed. São Paulo:

18
Cortez, 2005. RAFANTE, H. C. Helena Antipoff e o ensino na capital mineira: a Fazenda do Rosário e a
educação pelo trabalho dos meninos “excepcionais” de 1940 a 1948. Dissertação (Mestrado em
Educação) – Universidade Federal de São Carlos, 2006.

EIXO 8 - FONTES E MÉTODOS EM HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

501
A IMPRENSA PEDAGÓGICA COMO TEMA, FONTE E OBJETO PARA A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO
PARANAENSE: JORNAL ESCOLA ABERTA (1980 – 1990)
1 2
ELAINE RODRIGUES ; EDILENE CUNHA MARTINEZ .
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ, MARINGA - PR - BRASIL; 2.ESCOLA MUNICIPAL PAULO FREIRE,
MARINGÁ - PR - BRASIL.

Esta pesquisa, concluída, problematizou o que Jornal Escola Aberta pode revelar sobre a produção e
circulação de idéias acerca do fazer educacional. Esse periódico é tomado como um exemplo de
Imprensa Pedagógica, oficialmente produzida pela Secretaria de Educação do Município de Curitiba,
durante a década de 1980 no Estado do Paraná. A Imprensa pedagógica é aqui entendida como tema,
fonte e objeto para o estudo da História da Educação. A descrição das fontes, um passo metodológico,
amparou-se na compreensão de que este procedimento historiográfico amplia as possibilidades de
problematização, desenvolvimento, e posterior apresentação da pesquisa. A análise buscou suporte nos
escritos de Roger Chartier (1990; 1996; 1999; 2002; 2007) e Michel de Certeau (1982 e 1994).
Pretendeu-se evidenciar os elementos que compuseram a materialidade e organicidade da fonte, o
questionamento do conteúdo dos editoriais, das manchetes e dos artigos que compõem o Jornal Escola
aberta e que bem representam o pensar oficialmente instituído e, pretensamente, direcionador do fazer
educacional no período de circulação do tablóide, 1986 a 1988, e ainda, investigar e significar a História
da Educação no Paraná, por meio da descrição e análise de um periódico pedagógico, publicado como
estratégia de divulgação do discurso oficialmente produzido e culturalmente selecionado para a
capacitação dos professores da educação pública municipal de Curitiba. A metodologia para exposição
dos resultados da pesquisa, na forma de minicurso, foi organizada em 4 itens. 1) apresenta-se o
entendimento acerca do tema Imprensa Pedagógica, tomando por base as categorias, representação,
identidade social e apropriação. 2) Organiza-se uma descrição detalhada das seções que estruturam o
Jornal Escola Aberta. 3) Discute-se os conteúdos das manchetes, editoriais e artigos que dão
organicidade ao periódico. 4) Exemplifica-se a organização do trabalho pedagógico realizado nas
escolas. O cumprimento, por parte da escola, da exigência de uma prática pedagógica baseada nos
pressupostos veiculados pelo jornal seria a base para a efetivação da proposta educacional almejada
pela Secretaria Municipal de Educação de Curitiba, assim entendiam os dirigentes educacionais. Duas
outras categorias, tática e estratégia, ampararam as afirmativas proposta pela pesquisa, nesta fase.
Entende-se que a descrição, problematização e análise do Jornal Escola Aberta contribui com as muitas
Histórias Educativas a serem escritas no Paraná. As categorias elencadas para a análise auxiliaram e
permitiram o entendimento de como foram estabelecidas as relações entre os “personagens” criados
pela Imprensa Pedagógica e a própria identidade dos sujeitos da educação escolar da década de 1980.

643
USO DE FONTES NA PESQUISA EM HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA

PAULO FERNANDES OLIVEIRA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO, JABOATAO DOS GUARARAPES - PE - BRASIL.

A pesquisa em História de Educação nos ajuda a reflexão sobre aspectos relevantes do desenvolvimento
de nosso país. Nossa experiência na pesquisa em História da Educação Física vem desde a graduação

19
como bolsista de iniciação científica do Centro de Memória da Educação Física e do Esporte no Nordeste
(CMEFE)/ UFPE, tendo como objeto de análise as práticas corporais educativas na cidade de Recife no
final do século XIX e início do século XX. O CMEFE/ UFPE é um grupo de pesquisa que se preocupa com o
resgate da memória da Educação Física e o Esporte na cidade de Recife e no qual desenvolvemos
trabalhos desde o ano 2003 ao lado do Professor Dr. Ricardo de Figuerêdo Lucena e do Professor Dr.
Edilson Fernandes de Souza. O grupo busca fontes em acervos como o Instituto Arqueológico, Histórico
e Geográfico do Estado de Pernambuco, Arquivo Público do Estado de Pernambuco, Fundação Joaquim
Nabuco, Seminário Batista, Escolas, Secretarias de Educação, etc. Dentro as fontes coletadas estão
folders, livros, atas de reuniões, relatórios, fotografias, jornais, cartas, etc. Como fundamentação teórica
usaremos autores como Elias (1994, 1995, 1998, 2008), Heller (1992), Lucena (2002, 2005), Simões
(2010), Souza (2009), Le Goff (1994), Marinho (1952), que tem uma preocupação intensa sobre o uso
das fontes como subsídios para as suas pesquisas. Podemos citar como Elias (1994, 1995, 1998) inova na
utilização de fontes como cartas, obra de artes e até de um manual de boas maneiras como referência
para o desenvolvimento de sua teoria. Esses autores têm uma preocupação metodológica com o uso das
fontes e mais especificamente Souza (2009) e Simões (2010) trazem essa preocupação para a Educação
Física em seus trabalhos. O mini-curso se organizará inicialmente com a exposição dos aspectos
pertinentes à metodologia da pesquisa e coleta de fontes, posteriormente será organizado um espaço
para o debate e a reflexão sobre a pesquisa aplicada à História da Educação com ênfase na História da
Educação Física, bem como sobre o uso das fontes como referência de estudo e finalmente será
organizado em conjunto com os cursistas uma sistematização dessas reflexões com a elaboração de
uma síntese da produção coletiva e a avaliação do curso. Temos por objetivo neste curso proporcionar
uma reflexão acerca da metodologia da coleta de fontes para subsidiar a pesquisa em História da
Educação, mas especificamente em História da Educação Física, bem como de que forma podemos
utilizá-las na construção e produção do conhecimento científico. Desse modo caminhamos no sentido
de buscar respostas para as inquietações que surgem ao longo do trabalho de pesquisa e assim
corroboramos para a descoberta da “verdade”, ainda que momentâneo e que este seja apenas a
aproximação da realidade à luz de um referencial teórico.

802
BAKHTIN E A PESQUISA DOCUMENTAL EM EDUCAÇÃO

MARIA DA PENHA DOS SANTOS DE ASSUNÇÃO.


UFES, VILA VELHA - ES - BRASIL.

Tomando como referencia a perspectiva sócio-histórica compactuamos com Bakhtin a idéia de que o
texto é matéria prima das ciências humanas. Acreditamos no texto como categoria de análise das
pesquisas em educação. Nosso referencial nos deixa a vontade para abordar especificamente a noção
de texto, que segundo Bakhtin (2003) “e um dado primário de análise de todas as disciplinas”. Nesse
contexto, é importante ressaltar, de acordo com Bakhtin (2000), que o texto é uma realidade imediata
do pensamento e da emoção. "[...] Onde não há texto, também não há objeto de estudo e de
pensamento [...]" (BAKHTIN, 2000, p. 329). Segundo Barros, os textos são “como elos na cadeia histórica
na cadeia discursiva”. [...] supõem tanto relações dialéticas entre textos e seus sentidos quanto relações
dialógicas entre textos e seus sujeitos, já que os sentidos se distribuem por diferentes vozes [...]
(BARROS, 1999, p. 42). Barros (2003) observa que o dialogismo discursivo se desdobra nos aspectos da
interação verbal entre o enunciatário e o enunciador do texto nos entremeios da intertextualidade, no
interior do discurso. Nesse sentido, o sujeito é deslocado e é substituído por vozes sociais que fazem
dele um sujeito histórico e ideológico. As vozes nos interessaram diretamente, porque ao deslocar o
sujeito autor/escritor das fontes a serem pesquisadas do eixo central do discurso, estas vozes nos
permitem perceber os sentidos da educação, pois os sujeitos deixam suas marcas impressas nos
documentos “oficiais” e “extra-oficiais”, discursos já instituídos/ou constituídos, e esses discursos não
foram reproduzidos, mas reconstituídos. Procedemos dessa maneira porque entendemos que
precisamos considerar os aspectos ideológico/históricos e histórico/ideológicos no momento da análise
discursiva. Assim, nosso objetivo é discutir possibilidades de pesquisas documentais pertinentes a
historiografia da educação considerando os princípios bakhtinianos relacionados ao texto. Ao

20
oportunizar as reflexões relacionadas ao referencial teórico bakhtiniano estamos optando por observar
a multiplicidade de vozes que se enunciam nas tessituras orais e escritas. Nesse sentido abordaremos a
pesquisa documental em educação considerando que a partir do referencial teórico bakhtiniano os
documentos são textos que precisam ser interrogados para além da autoria do escrevente. Isso implica
em ressaltar o princípio dialógico da linguagem explicitado por Bakhtin (2003). Estamos propondo a
reflexão de uma pesquisa documental que interrogue aos sujeitos que se enunciam nos textos sobre o
porquê e para quem foram/e ou são escritos determinados textos e quais as vozes que subzagem nos
documentos coletados. Esperamos com isso ampliar as possibilidades de análise dos dados no momento
de análise dos discursos impressos, manuscritos e orais pertinentes a historiografia da alfabetização.

1323
HISTÓRIA DA CULTURA ESCRITA E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO: OLHARES SOBRE OS PAPÉIS DA ESCOLA
1 2
MARIA TERESA SANTOS CUNHA ; ANA CHRYSTINA VENANCIO MIGNOT .
1.UDESC, FLORIANÓPOLIS - SC - BRASIL; 2.UERJ, RIO DE JANEIRO - SC - BRASIL.

Problematizar a importância de estudos sobre História da Cultura Escrita, entendida como estudo da
produção, difusão, uso e conservação dos objetos escritos (Castillo, 2002, p.19) em interface com
aportes da História da Educação, que tem entre seus objetos o estudo da escrita em suas várias
modalidades. Refletir sobre as relações entre história e cultura escrita a partir de papéis produzidos pela
escola (considerados como documentos ordinários ou cotidianos) é o objetivo deste curso. Para tanto,
toma-se como ponto de partida as práticas de escritas produzidas no ambiente escolar, especialmente
aqueles de textos produzidos cotidianamente – bilhetes, boletins, cartas, cadernos, diários de professor,
listas de matrícula e de material escolar, relatórios, etc. – que, geralmente, estão destinados ao fogo e/
ou ao lixo. O intuito é de visibilizar, historicizar e salvaguardar estes materiais produzidos em diferentes
temporalidades e em diversos espaços de sociabilidade que carregam permanências e singularidades e
ajudam a construir uma memória da educação escolarizada. OBJETIVOS: - Discutir aspectos da História
da Cultura Escrita em interface com a História da Educação, mediados pelas escritas escolares cotidianas
e ordinárias. - Apresentar possibilidades de pesquisa com tais documentações, ressaltando sua
metodologia e marcos teóricos. - Discutir propostas para que os estudos históricos sobre cultura escrita
e escritas cotidianas e ordinárias como políticas públicas de salvaguarda e conservação dos papéis da
escola. METODOLOGIA: - Aulas Expositivas e dialogadas - Apresentações de vídeos e power point -
Oficina de conservação de documentos antigos. BIBLIOGRAFIA BÁSICA CASTILLO GÓMES, A. (Coord.)
Historia de la cultura escrita.Del Próximo Oriente Antiguo a la sociedad informatizada.
Madrid:Edicciones Trea, 2002. CHARTIER, R. Cultura escrita, literatura e história. P. Alegre: Artmed,
2001. CUNHA, M. T. S. No tom e no tema. Escritas ordinárias na perspectiva da cultura escolar (segunda
metade do século XX). IN: BENCOSTTA, M. L. (0rg). Culturas Escolares, saberes e práticas educativas.
Itinerários históricos. SP: Cortez Editora. 2007. p.79-99. GOMES, A. C. (org). Escrita de si, escrita do
outro. RJ: FGV, 2004. HISTÓRIA DA CULTURA ESCRITA: Séculos XIX e XX./Ana M.O. Galvão (org).
BH:Autêntica, 2007. MIGNOT, A. C. V. (org).Cadernos à vista. Escola, memória e cultura escrita. RJ:
EdUERJ, 2008. __________ e CUNHA, M.T.S. Razões para guardar. Revista Educação em Questão.UFRN,
n.25. 2006. p.40 -61. VIÑAO FRAGO, A. Por uma história da cultura escrita: observações e
reflexões.Cadernos do Projeto Museológico nº 77. (Portugal). 2001.

1344
“OPERAÇÃO HISTORIOGRÁFICA EDUCACIONAL”: UM DIÁLOGO A PARTIR DE FONTES NOS SÉCULOS
XIX E XX
1 2
ADLENE SILVA ARANTES ; MARGARETE MARIA DA SILVA .
1.UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO- UPE, RECIFE - PE - BRASIL; 2.NEPHEPE-UFPE, RECIFE - PE – BRASIL.

Sabemos que a pesquisa em História da Educação tem vivenciado nas ultimas décadas uma renovação
em relação aos objetos e as fontes utilizadas pelos pesquisadores em diversos estados brasileiros. Essa

21
renovação se deve, sobretudo, a inserção dos estudos da história cultural no campo da história da
educação. Diante dessa constatação, pretendemos discutir, neste minicurso, alguns caminhos para
realização da “operação historiográfica educacional” (CERTEAU, 1982), sobretudo, a partir do uso de
livros escolares, jornais, cartas de professores e revistas de ensino como fontes para compreender a
história da educação nos séculos XIX e XX. A operação historiográfica é considerada como uma relação
entre um lugar, percebido de maneira abrangente como recrutamento, meio ou ofício, e procedimentos
de análise e construção de um texto (FARIA FILHO e VIDAL, 2003). Pretendemos também, problematizar
a produção e o uso de tais fontes para diversos estudos na História da Educação; analisar a constituição
de acervos “públicos” e “privados” como locais de memória. O arquivo Público de Pernambuco (APEJE),
a Fundação Joaquim Nabuco (FUNDAJ), a Biblioteca Pública do Estado, a Cúria Metropolitana de Olinda
e Recife e o Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre História da Educação e ensino de História em
Pernambuco – NEPHEPE – são os acervos que guardam as fontes que serão apresentadas neste
minicurso. Que políticas de conservação e pesquisa dispõem tais acervos? Quais fontes fazem parte
destes acervos? A metodologia utilizada será através de exposição dialogada e do contato com fontes
escritas e iconográficas para análise em pequenos grupos. Assim, esperamos contribuir com o debate
sobre o uso de diferentes fontes dos séculos XIX e XX, buscando estabelecer uma relação entre as fontes
localizadas para se compreender como a educação e a instrução foram se configurando ao longo dos
anos. Bibliografia sugerida: BATISTA, A. A. G.; GALVÃO, Ana Maria de Oliveira. Livros escolares de leitura
no Brasil: elementos pra uma história. Campinas: Mercado de Letras, 2009. CERTEAU, M. de. A operação
historiográfica. In: ______. A escrita da história. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1982. FARIA
FILHO, Luciano Mendes; VIDAL, Diana Gonçalves. História da Educação no Brasil: a constituição histórica
do campo (1880-1970). In. Revista Brasileira de História, vol. 23, n. 45, 2003, disponível em
http://www.scielo.br/pdf/rbh/v23n45/16520.pdf. GALVÃO, A. M. O. Problematizando fontes em
História da Educação. Educação e Realidade, Porto Alegre, v. 21, n. 2, p. 99-118, 1996. LOPES, E. M. T. e
GALVÃO, A. M. de O. História da Educação (O que você precisa saber sobre). Rio de Janeiro: DP&, 2001.
VALDEMARIN, Vera T. (Orgs.) A cultura escolar em debate: questões conceituais, metodológicas e
desafios para a pesquisa. Campinas, SP: autores Associados, 2005.

EIXO 9 - PATRIMÔNIO EDUCATIVO E CULTURA MATERIAL ESCOLAR

524
HISTÓRIA, EDUCAÇÃO E ARQUITETURA: UM DIÁLOGO POSSÍVEL
1 2
MARCUS LEVY BENCOSTTA ; ANA PAULA PUPO CORREIA .
1.UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ, CURITIBA - PR - BRASIL; 2.PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
EDUCAÇÃO DA UFPR, CURITIBA - PR - BRASIL.

A arquitetura escolar e o espaço por ela determinado são entendidos como portadores e transmissores
de mensagens de sentidos múltiplos, não deixando de lado os sujeitos a quem se destinam, quais sejam,
alunos e professores, os primeiros receptores de seus significados e que fazem uso do espaço enquanto
indivíduo-destinatário. Contudo, ao experienciar o espaço escolar - estar no local onde convergem todas
as mensagens e significados espaciais – eles também reagem a estas mensagens, segundo as
características próprias do universo escolar e suas intercessões com as realidades sócio-culturais do
espaço-tempo dado. Portanto, para entender a escola e suas transfigurações é significativo também
compreender como as linguagens arquiteturais penetram esse espaço permeado por discursos
ramificados na sociedade e na história. E desse modo, temos na importância dos estudos acerca da
arquitetura e do espaço escolar, elementos analíticos que demonstram que a gramática espacial insere-
se no tempo, e o edifício escolar em um espaço que dialogam com as transformações do tecido urbano,
e mais proximamente com as políticas educacionais que determinavam a construção deste tipo de
prédio. Portanto, para este mini-curso propomos discutir como os debates arquiteturais repercutiam
diante das concepções de escola, utilizando tipologias adotadas por certas correntes artísticas e

22
culturais, com o objetivo de identificar os modos construtivos, elementos decorativos e programas
iconográficos, e sua relação com os modos pedagógicos sobre o espaço escolar. Nesse sentido, os
principais objetivos deste minicurso são: 1) debater como a investigação e a análise da arquitetura
escolar apresenta aspectos que contribuem para o estudo da cultura material escolar; 2) identificar, por
meio das fotografias, desenhos e plantas arquitetônicas, as peculiaridades da escola, em especial, a
pública republicana; 3) examinar os modelos arquitetônicos colocados em circulação frente à formação
do cidadão republicano brasileiro. A metodologia a ser utilizada se dará pela discussão dos textos
sugeridos associada ao uso de múltiplas de fontes imagéticas. BIBLIOGRAFIA BÁSICA: BENCOSTTA, M. A.
L. História da Educação, Arquitetura e Espaço Escolar. São Paulo: Cortez Editora, 2005. BENEVOLO, L.
História da arquitetura moderna; São Paulo: Editora Perspectiva, 1995. WOLFF, S. F. S. Escolas para a
República. Os primeiros passos da arquitetura das escolas públicas paulistas. São Paulo: Edusp, 2010.
ZEVI, B. Saber ver a Arquitetura. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

23
24
COMUNICAÇÕES COORDENADAS

25
26
EIXO 2 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES E PRÁTICAS EDUCATIVAS

HISTÓRIA DA ESCOLA PRIMÁRIA NO BRASIL (1870 – 1950): UMA PERSPECTIVA COMPARADA


Coordenador: ANTONIO DE PÁDUA CARVALHO LOPES

882
CULTURA MATERIAL ESCOLAR: A ESCOLA E SEUS ARTEFATOS
1 2
DIANA GONÇALVES VIDAL ; VERA LUCIA GASPAR DA SILVA .
1.FEUSP, SAO PAULO - SP - BRASIL; 2.UDESC, FLORIANOPOLIS - SC - BRASIL.

A presente Comunicação visa apresentar parte dos resultados das pesquisas realizadas no âmbito do
Grupo Temático G2 - Cultura Material Escolar: investigações comparadas sobre a escola graduada (1870
– 1925), vinculado ao Projeto nacional: “Por uma teoria e uma história da escola primária no Brasil:
investigações comparadas sobre a escola graduada (1870 – 1950)”, coordenado por Rosa Fátima de
Souza e financiado pelo CNPq. O grupo agrega pesquisadores dos estados do Rio Grande do Sul, Santa
Catarina, Paraná, São Paulo e Maranhão e seus orientandos. Toma como fontes cartas de professores ou
da escola; expedientes administrativos como listas de materiais, lista de almoxarifado, inventários, etc.;
relatórios; jornais e a legislação. A meta é efetuar um amplo levantamento da cultura material escolar
primária, tendo como baliza inicial a aprovação das leis de obrigatoriedade escolar e final às primeiras
reformas da escola nova. Tem por objetivo identificar os modos de produção e disseminação um
modelo de escolarização da infância no Brasil, a partir do olhar que se fixa nos objetos e na
materialidade da escola. Em termos de perspectiva de análise busca-se privilegiar o sentido de
comparação entre as regiões e estados a partir de um conjunto de fontes próximas e de uma base
teórica “comum”. Trata-se de um esforço conjunto de pesquisadores debruçados em investigações
locais, mas com um fórum nacional para compor e aprofundar análises e tecer quadros comparativos
que favoreçam a compreensão de movimentos ocorridos no território brasileiro. Para desenvolver o
trabalho colaborativo da equipe, organizamos os dados coletados em tonos de quadros para 13
categorias (A - Mobília; B – Utensílios da escrita; C - Livros, Cartilhas e Revistas; D - Materiais Visuais,
Sonoros e Táteis para o ensino; E- Organização/Escrituração da Escola; F – Prédios Escolares; G –
Material de Higiene; H – Material de Limpeza; I – Trabalhos de Alunos; J- Idumentária; K- Ornamentos; L
- Honrarias; M – Jogos e Brinquedos). Temos atentado para a especificação de fornecedores e
representantes. O Banco de Dados elaborado está disponível na página do projeto nacional
(http://200.145.77.172/grupos/). Nesta Comunicação, discorremos acerca dos vários aspectos sobre os
quais o G2 tem se debruçado na constituição desse repertório material, focalizando a arquitetura
escolar, tanto no que diz respeito às fachadas quanto às plantas; aos objetos da escrita; o mobiliário
escolar e as representações de infância e de escola elaboradas no período.

1111
OS GRUPOS ESCOLARES NAS MEMÓRIAS E HISTÓRIAS LOCAIS: UM ESTUDO COMPARATIVO DAS
MARCAS DA ESCOLARIZAÇÃO PRIMÁRIA
1 2
LUCIANO MENDES FARIA FILHO ; ANTÔNIO CARLOS FERREIRA PINHEIRO .
1.UFMG, BELO HORIZONTE - MG - BRASIL; 2.UFPB, JOÃO PESSOA - PB - BRASIL.

Esta comunicação resulta do trabalho em andamento realizado pelo GT do projeto de pesquisa nacional
Por uma teoria e uma história da escola primária no Brasil: investigações comparadas sobre a escola
graduada (1870 – 1950) , coordenado por Rosa Fátima de Souza. O Trabalho de pesquisa do GT tem
como objetivo analisar a construção de representações sociais sobre a escola graduada a partir do
estudo comparativo de livros de história das cidades e de memórias, buscando compreender o impacto
social da criação e disseminação dos grupos escolares no Brasil. Tal empreendimento foi pensado a
partir das experiências sociais e culturais permeadas por peculiaridades histórico-educacionais que

27
envolvem o surgimento dos grupos escolares no Brasil, mais especialmente em Minas Gerais, no Piauí e
na Paraíba e a sua permanência no imaginário social, ainda hoje, como uma escola de verdade.
Propomos articular as proposições teóricas advindas da nova história cultural francesa (CHARTIER, 1988;
LE GOFF, 2003), especialmente as noções de representação e de cultura histórica, bem como a de
cultura educacional para analisar os livros de memórias e histórias de cidades brasileiras que, não raras
vezes, são elaborados por intelectuais locais – jornalistas, médicos, advogados, geógrafos, historiadores
– ou, simplesmente, por autodidatas. A partir desse referencial, da leitura das obras analisadas, da
elaboração de quadros comparativos foram analisados as marcas de escolarização presentes nessas
obras. Esses livros nos trazem importantes aspectos da cultura educacional brasileira. Eles abordam
diferentes aspectos dos municípios e da escolarização. Entretanto, na presente pesquisa agrupamos os
seguintes tópicos: Sobre a fundação de grupos escolares; Sobre a descrição física dos grupos escolares;
Sobre os seus primeiros professores/as; Sobre os alunos e a memória de ter sido aluno em um grupo
escolar; Sobre as novas práticas pedagógicas nos grupos escolares; Sobre cultura material e cultura
escolar; Fiscalização do trabalho docente e da eficácia do ensino e, finalmente, sobre a competição que
os grupos escolares terminaram por estimular com os outros tipos de escolas. Essas obras mesclam
elementos da memória, das reminiscências e de procedimentos de pesquisa e compreensão do “fato
histórico” ora assentado no mero “empiricismo”, ora no positivismo descritivo. Através delas é possível
compreender a maneira como as pessoas percebiam os movimentos educacionais do Estado e de seus
municípios, especialmente o modo como o grupo escolar se constituiu nas representações sociais.

880
CIRCULAÇÃO E APROPRIAÇÕES DA ESCOLA GRADUADA NO BRASIL (1889-1930): NOTAS DE UMA
INVESTIGAÇÃO EM PERSPECTIVA COMPARADA
1 2
ANTONIO DE PÁDUA CARVALHO LOPES ; ROSA FATIMA DE SOUZA .
1.UFPI, TERESINA - PI - BRASIL; 2.UNESP, ARARQUARA - SP - BRASIL.

Nas décadas finais do século XIX, em países da Europa e nos Estados Unidos da América, a escola
graduada foi considerada o modelo mais adequado para a universalização da educação primária erigida
como símbolo da racionalização do ensino e da modernização educacional difundindo-se por todo o
Ocidente. Os pressupostos principais dessa nova modalidade de organização pedagógica da escola
elementar compreendiam a classificação dos alunos pelo nível de conhecimento em agrupamentos
supostamente homogêneos implicando a constituição das classes; a adoção do ensino simultâneo, a
racionalização curricular – controle e distribuição ordenada dos conteúdos e do tempo (graduação dos
programas e estabelecimento de horários); a introdução de um sistema de avaliação, a divisão do
trabalho docente supervisionado por um diretor e um edifício escolar compreendendo várias salas de
aula e vários professores. No Brasil, esse novo estabelecimento de ensino primário foi implantado como
escola modelar durante a Primeira República. Mas esse processo de institucionalização ocorreu em
ritmos variados e em condições específicas em cada estado da federação. Nesta comunicação
apresentamos resultados finais de uma investigação comparada sobre a escola graduada no Brasil
incidindo sobre 14 estados: Acre, Maranhão, Piauí, Rio Grande do Norte, Sergipe, Bahia, Mato Grosso,
Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. O estudo
objetivou contribuir para o aprofundamento do conhecimento histórico em educação utilizando a
comparação como estratégia de análise e concepção interpretativa de modo a perceber as diferentes
apropriações da escola graduada nas regiões do país e os “contra movimentos” implicados em sua
difusão e, ainda, revisitar as análises sobre a temática já produzida em âmbito regional e local. O texto
tece considerações sobre os desafios de estudos comparados dessa natureza envolvendo uma
multiplicidade de fontes de pesquisa e aspectos como a relação da escola graduada com as outras
modalidades de escolas primárias, o significado social dessa escola moderna na sociedade brasileira no
início do século XX, a inovação representada pelo método de ensino intuitivo e a materialidade das
escolas. Tal reflexão ao mesmo tempo em que busca interpretar o processo de circulação e apropriação
do modelo de escola graduada no Brasil interroga a produção da pesquisa existente sobre o tema
apresentando um balanço acerca do avanço do conhecimento possibilitado pelo estudo comparado em
âmbito nacional e os desafios a serem empreendidos por outros esforços investigativos.

28
897
ÍDÉIAS EM MOVIMENTO: APROPRIAÇÕES DO MÉTODO DE ENSINO INTUITIVO NAS REFORMAS DA
INSTRUÇÃO PÚBLICA DE MINAS GERAIS, SANTA CATARINA E SÃO PAULO (1906-1920)
1 2 3
GLADYS MARY GHIZONI TEIVE ; VERA TERESA VALDEMARIN ; JULIANA CESARIO HAMDAN .
1.UDESC, FLORIANOPOLIS - SC - BRASIL; 2.UNESP, ARARAQUARA - SP BRASIL; 3.UFOP, OURO PRETO - MG
- BRASIL.

As reflexões aqui apresentadas fazem parte das discussões do GT1: “Método de ensino intuitivo”, do
projeto temático de âmbito nacional “Por uma teoria e uma história da escola primária no Brasil:
investigações comparadas sobre a escola graduada (1870 -1950)”,coordenado pela Professora Dra. Rosa
Fátima de Souza e financiado pelo CNPq. Composto por pesquisadoras da Universidade Estadual Paulista
(FCLAR/UNESP), Universidade Federal de Ouro Preto e de Minas Gerais (UFOP/UFMG) e Universidade do
Estado de Santa Catarina (FAED/UDESC), este eixo privilegia o estudo comparativo entre os estados de
São Paulo – pioneiro na utilização do método intuitivo na organização da escola graduada – Minas
Gerais e Santa Catarina, com o intuito de compreender as múltiplas facetas da articulação entre os
postulados do novo método e as reformas da instrução pública empreendidas entre 1906 a 1920.
Interessou-nos, pois, comparar as estratégias e táticas utilizadas pelos reformadores da instrução
pública desses Estados: Sampaio Doria, Firmino Costa e Orestes Guimarães, consubstanciadas na
legislação, nos regulamentos e dispositivos por eles acionados para implementar o uso do método
intuitivo nas escolas primárias. Particularmente, nesta comunicação, são discutidas as suas apropriações
acerca do método e, sobretudo, as suas estratégias para transformá-lo no “espírito” das reformas por
eles empreendidas, no processo geral a que deveriam se subordinar todas as normas, saberes e práticas
da escola primária. Para tal, são utilizados como fontes os documentos que nortearam as reformas,
especialmente a legislação, os regulamentos e programas de ensino, bem como as mensagens e
sinopses dos governadores, relatórios e artigos produzidos pelos três reformadores, dentre outros, os
quais têm permitido refletir sobre os processos de apropriação e difusão de tendências educacionais
emergentes, sobre as demandas para a formação de professores e sobre educadores que assumiram
funções protagonistas nos três estados no período da Primeira República. Considerando o método de
ensino intuitivo como eixo catalisador desses propósitos, pôde-se evidenciar a permanência de
estratégias educacionais, discutir as mudanças nos conteúdos escolares, caracterizar elementos
constitutivos da representação da profissão docente e assim, atribuir novos significados para questões
educacionais contemporâneas. O estudo comparativo entre os três estados possibilitou o mapeamento
de especificidades e de traços gerais componentes da mesma conjuntura educacional.

ASSOCIAÇÕES DE ALUNOS E IMPRENSA ESTUDANTIL


Coordenador: ANA CLARA BORTOLETO NERY

1057
IMPRESSOS ESTUDANTIS COMO PROCESSO FORMATIVO E DE INTEGRAÇÃO DE ALUNOS E EX-ALUNOS
DAS ESCOLAS NORMAIS RURAIS

FLÁVIA OBINO CORREA WERLE.


UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS - UNISINOS, PORTO ALEGRE - RS - BRASIL.

Apresenta as Escolas Normais Rurais criadas nos anos quarenta e inicio da década de cinquenta como
iniciativa vinculada ao contexto sociopolítico do Rio Grande do Sul. As primeiras normais rurais estavam
diretamente ligadas a iniciativas da Igreja Católica e à necessidade de expandir o ensino público a todas
as regiões do estado, necessidade esta não associada a políticas públicas articuladas a partir do núcleo
do Estado e nem exclusivamente voltadas para a formação do magistério. A segunda fase de criação das
normais rurais dá-se na vigência da Lei Orgânica do Ensino Normal, quando outras mantenedoras, já não
mais necessariamente vinculadas à Igreja Católica oferecem o curso normal rural. As escolas desta

29
segunda fase apresentam características diferenciadas em relação às mantidas por congregações de
confessionalidade católica, dentre elas estão a Escola Normal Rural Presidente Getúlio Vargas e Escola
Normal Rural Assis Brasil, de Três de Maio e de Ijuí, respectivamente. Esta apresentação discute um tipo
de formação e prática pedagógica, qual seja os impressos estudantis como espaço educativo, de
expressão e organização dos alunos. O foco da discussão são os impressos produzidos por estudantes de
duas escolas normais rurais do Rio Grande do Sul. O primeiro periódico analisado é A Voz da Serra, dos
alunos da Escola Normal Rural La Salle, de Cerro Largo, que foi publicado no período de 1946 a 1950.
Verifica-se que, embora os variados títulos que o jornal recebeu, ao longo do tempo, acenassem para a
especificidade rural da formação ministrada no curso, os temas nele tratados não davam prioridade ao
mundo rural: poucas eram as matérias que tematizavam essa realidade e formas de nela intervir.
Levanta-se a hipótese de que, embora o objetivo da escola fosse a formação do professor para a zona
rural, o veículo mantido pelo grêmio de alunos mais exprimia a socialização e a formação religiosa
impressa na escola do que a formação para o campo e para a vida rural declarada no curso. O outro
periódico analisado é O Eco do Estudante, órgão dos alunos da Escola Normal Rural Getúlio Vargas de
Três de Maio, impresso produzido na década de 1960, considerando a estrutura, condições de
produção, imagens e conteúdo do impresso. As fontes deste estudo são exemplares dos impressos
localizados nos arquivos de estabelecimentos de ensino, embora as escolas normais rurais nas quais eles
foram produzidos tenham sido extintas no inicio da década de 1970. Cada exemplar disponível foi
analisado em suas características registradas em ficha especifica. A analise dos impressos é
contextualizada frente às finalidades das escolas discutindo também as formas de agremiação de alunos
das escolas normais rurais.

1038
PRÁTICAS ENQUANTO ESTRATÉGIAS DE FORMAÇÃO: O ASSOCIATIVISMO DISCENTE

ANA CLARA BORTOLETO NERY.


UNESP, GUARULHOS - SP - BRASIL.

As associações de alunos das escolas de formação de professores são representantes de uma


significativa parcela das práticas desenvolvidas nestas instituições. Além de serem responsáveis por boa
parte das atividades extraclasse, tais associações também se ocupavam da publicação dos periódicos
dessas escolas. Estratégia de organização do campo e de conformação da profissão docente em São
Paulo, essas associações de alunos eram intituladas Grêmios Normalistas. O associativismo discente, nas
Escolas Normais, está atrelado à ação de João Lourenço Rodrigues, Oscar Thompson e João
Chrysostomo Bueno dos Reis Junior, na Escola Normal da Capital. A partir de 1911 passa a ser atividade
presente em todas as Escolas Normais do estado, tornando-se oficial a partir da Reforma de 1920. No
entanto, seus propósitos se diferenciam, tomando feições próprias em cada período. Esta comunicação
é resultado das pesquisas que venho desenvolvi no âmbito do projeto de pesquisa “Divulgando Práticas
e Saberes: a produção de impressos nas Escolas Normais”, sob minha coordenação, na Unesp, campus
de Marília. Neste projeto evidenciou-se a presença de uma parcela considerável de periódicos
publicados por alunos normalistas no estado de São Paulo, como resultado de uma prática associativa
estimulada pelos agentes. Desta forma, compreender a constituição de um espaço específico – o grêmio
normalista – a partir de um foco específico – os periódicos destas associações, revelou-se atividade
investigativa profícua. As fontes desta investigação são os periódicos Excelsior! (1911-1916), Raio Verde
(1917-1918), ambos da escola Normal Secundária de São Carlos, e O Estímulo (1906-1927), da Escola
Normal da Capital. Além dos periódicos, foram utilizadas fontes documentais como Annuario do Ensino
(1909; 1921), atas dos grêmios e periódicos publicados pelos professores das Escolas Normais paulistas.
Como resultados, observa-se alterações nos objetivos destas agremiações, a partir da Reforma Sampaio
Dória. Porém, permanece no cerne a idéia de formação pedagógica, uma vez que os alunos agremiados
são responsáveis por organizar atividades culturais e pedagógicas da própria Escola Normal. Ou seja, o
grêmio parece ter funcionado como um dispositivo de formação por homologia, tal qual a função
exercida pelas festas escolares e pela prática do escotismo. Não há elementos na documentação
analisada para estabelecer vínculos entre o associtismo discente e a Pedagogia da Escola Nova, ainda

30
que a idéia de escola ativa já estivesse presente na instrução pública paulista, pelas ações realizadas por
Oscar Thompson.

1048
O GRÊMIO NORMALISTA “2 DE AGOSTO” E SEU IMPRESSO: O ESTIMULO
IMPRESSOS, INTELECTUAIS E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

COMUNICAÇÕES COORDENADAS
AUREA ESTEVES SERRA.
FATEB, BIRIGUI - SP - BRASIL.

O presente texto é parte da pesquisa de doutorado realizada no Programa de Pós-Graduação em


Educação da UNESP de Marilia e tem por objetivo apresentar a associação estudantil “Grêmio
Normalista “2 de agosto” e seu impresso a revista O Estimulo publicada pelos normalistas da associação
dos alunos da Escola Normal Secundária da Capital/SP, no período de 1906 a 1927, edições estas
localizadas no “Acervo Caetano de Campos”. O primeiro ensaio do associativismo normalista na Escola
Normal da Capital foi o Club Republicano Normalista, uma associação de teor político. Já a segunda
associação foi a Arcadia Normalista, uma associação que possuía uma característica expressamente
literária, permanecendo sob a tutela do Estado. E a terceira experiência ora em foco foi o Grêmio
Normalista 2 de agosto, uma associação que pode ser constatada na própria revista publicada pelo
Grêmio Normalista “2 de agosto”, O Estimulo, datada de 1906. Também localizei três livros de atas na
qual está registrado o desenvolvimento das atividades do grêmio, como posse de seus associados,
pagamento das assinaturas da revista e muitas outras atividades do qual os alunos organizavam. Para a
análise das fontes há a compreensão de que todo impresso carrega consigo uma dupla característica: a
sua materialidade e o texto em si. Segundo Carvalho (1998), “[...] trabalhando com as representações
que agentes determinados fazem de si mesmos, de suas práticas, dos outros agentes, de instituições –
como a escola – e dos processos que as constituem”. (p. 33), é possível historicizar a linguagem das
fontes, originando novos temas de pesquisa que privilegiam os sujeitos envolvidos e as práticas
culturais. Para tanto se procede à análise da materialidade presentes nos exemplares levando em
consideração os dispositivos tipográficos. O Estimulo, Órgão dos Normalistas da Escola Normal
Secundária da Capital-SP é uma publicação de iniciativa estudantil que trata das questões educativas e
particularmente as que envolvem a escola Normal, questões estas que contam com o apoio de alguns
professores. Muitos são os temas abordados nessa revista, os que mais se destacam são: problemas
administrativos do ensino; edifícios escolares; missão educativa dos professores, questões pedagógicas
e profissionais, métodos de ensino, educadores entre outros. O associativismo discente, nas Escolas
Normais, está atrelado à ação de João Lourenço Rodrigues, Oscar Thompson e João Chrysostomo Bueno
dos Reis Junior, na Escola Normal da Capital. A partir de 1911 passa a ser atividade presente em todas as
Escolas Normais do estado, tornado-se oficial a partir da Reforma de 1920. Os resultados da pesquisa
confirmam que com a análise desses impressos e o cruzamento com outras fontes documentais foi
possível verificar como acontecia o associativismo estudantil por meio das práticas escolares quanto à
formação de professores disseminadas através do referido impresso.

1052
O MOVIMENTO ESTUDANTIL ORGANIZADO: 25 ANOS DE MEMÓRIAS

LUCILIA AUGUSTA LINO DE PAULA.


UFRRJ, SEROPEDICA - RJ - BRASIL.

Este trabalho, fruto da pesquisa de Tese de Doutorado já concluída, sobre o movimento estudantil
organizado e dirigido pelo Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal Rural do Rio de
Janeiro no período de 1975 a 2000. Levantamos a memória do movimento estudantil da UFRRJ, a partir
do depoimento dos seus líderes, protagonistas dessa história. Entendemos que o passado existente é
reconstruído continuamente no presente, assim os sujeitos analisam e interpretam os acontecimentos

31
vividos de forma diversa do olhar da época. Dentro da metodologia proposta realizamos entrevistas,
individuais e coletivas, com vários ex-militantes que, durante as décadas de 70, 80 e 90, participaram de
gestões do DCE. O pano de fundo da investigação foi a história do país, do movimento estudantil e da
Rural, no período analisado. A história oral completou e permitiu dar significado aos documentos e
impressos estudantis, incompletos, dispersos e em estado precário. A forma como os ex-militantes
rememoraram e reinterpretaram o seu engajamento naquele movimento constituiu o material empírico
a partir do qual foi possível construir as categorias centrais da análise e interpretação das
representações sobre a participação política estudantil na Universidade Rural. Os depoimentos
permitiram identificar o significado atribuído pelos militantes à sua atuação política, a influência da
militância estudantil na formação acadêmica e profissional e, principalmente, a importância dessa
atuação no conjunto de sua experiência de vida, na sua concepção de sociedade e na consolidação dos
valores e visões de mundo que norteiam sua atuação social. O movimento estudantil exerceu uma
influência significativa, enquanto instância de formação, no processo de construção das representações
e modos de vida dos estudantes universitários que dele participaram. Na investigação sobre a
participação política dos jovens universitários, partimos da premissa de que seria possível perceber a
influência do movimento estudantil no acúmulo de capital social e/ou cultural e na sua conversão em
outros tipos de capital, político, profissional, econômico. A investigação ampliou a compreensão sobre o
universo cultural dos jovens universitários, inseridos em uma instituição peculiar que favorece e
estimula a vida comunitária. Essa característica minimizou a enorme heterogeneidade da origem social e
das experiências dos estudantes e, desta forma, produziu uma ‘experiência comum’ reconhecida e
vivenciada. A convivência forneceu a percepção de que existem mais semelhanças do que diferenças
entre os estudantes, favorecendo a construção de vínculos, tanto temporários quanto permanentes.

1137
O IMPRESSO NORMALISTA EXCELSIOR! E A EDUCAÇÃO REPUBLICANA NO INTERIOR DE SÃO PAULO
(1911-1916)

EMERSON CORREIA DA SILVA.


UNESP/PPGE, MARILIA - SP - BRASIL.

Na presente comunicação buscamos enfocar a trajetória editorial da revista Excelsior! (1911-1916),


revista de propriedade do Grêmio Normalista “Vinte e Dois de Março”, considerando o objetivo de
compreender a participação do alunado na produção de Impressos Educacionais nas Escolas Normais do
interior de São Paulo/SP. A pesquisa concluída no ano de 2009, em nível de mestrado, com bolsa FAPESP
e CNPq, se pautou pelo estudo das primeiras publicações veiculadas pela Escola Normal de São Carlos,
em São Carlos/SP, mediadas pelas contribuições metodológicas de Roger Chartier no que concerne à
compreensão historiográfica e editorial, e Pierre Bourdieu no que diz respeito à compreensão do campo
educacional e habitus. Entrecruzamos dados referentes às informações editoriais, fontes documentais
como livro de empréstimos da biblioteca e dados funcionais, e fontes bibliográficas. É bom ressaltar que
esta pesquisa se desenvolveu em torno do GEPEFE (Grupo de Estudos e Pesquisa em Administração da
Educação e Formação de Educadores): linha memórias e perspectivas. Analisamos Excelsior! dividindo-a,
inicialmente, em duas fases: A primeira fase sob o apoio do diretor da Escola Normal Secundária de São
Carlos João Chrysostomo e de seu professor João Lourenço Rodrigues, que compreende o momento da
criação da revista até o terceiro número publicado, quando diretor e professor haviam sido removidos
para a Inspetoria Geral da Instrução Pública e Escola Normal da Capital, respectivamente. O terceiro
número é tomado como um número de transição, mas componente da primeira fase. A segunda fase,
do quarto ao sétimo número, período em que ocorrem grandes mudanças na feição editorial da revista,
que vão desde o projeto gráfico à escrita propriamente dita, que se distingue pelos trabalhos
desenvolvidos em sala de aula, tendo a frente o professor João de Toledo. A revista Excelsior! surge
cumprindo o papel de dar visibilidade às práticas ocorridas na escola, firmando-a junto à sociedade.
Ponto central para uma escola que se instalava sob o signo do futuro e grandes investimentos na
construção do imponente prédio e compra de materiais importados da Europa e Estados Unidos da
América. Entre os autores, além de alunas, alunos e professores (responsáveis pela seleção e revisão dos
artigos), encontra-se a presença de diretores e do secretário da escola, homens de influência da

32
sociedade local e outros convidados. São artigos resultantes de conferências promovidas pela Escola
Normal Secundária de São Carlos e entidades da sociedade são-carlense, além de encomendas feitas por
professores e alunos.

INSTITUIÇÕES DE ENSINO AGRÍCOLA E MODERNIZAÇÃO DO CAMPO


Coordenador: MILTON RAMON PIRES DE OLIVIEIRA

1388
ASPECTOS DOS INTERNATOS NO ENSINO AGRÍCOLA FEDERAL

JOAQUIM TAVARES DA CONCEIÇÃO TAVARES CONCEIÇÃO.


UFBA, SALVADOR - SE – BRASIL

Esta comunicação aborda a “pedagogia de internar” no contexto do ensino agrícola federal, sob a
competência do Ministério da Agricultura, tomando como objeto específico o internato da Escola
Agrotécnica Federal de São Cristóvão-SE (EAFSC-SE), no período de 1934 a 1967. Três aspectos são
destacados: os sujeitos e as condições de sustentabilidade do internato, a organização espacial do
internato e o exercício do poder disciplinar. Com relação aos sujeitos a pesquisa traça e analisa o perfil
sócio-econômico e a procedência dos internos, ressaltando a condição predominante de pobreza e a
procedência rural da maioria dos internos. Sobre as condições de manutenção ou de sustentabilidade
do internato, são evidenciados e discutidos os bens e serviços ofertados aos internos: um espaço no
dormitório coletivo, o enxoval (“substituições padronizadas”), a alimentação e a assistência medico -
odontológica e os custos com a manutenção do internato. Sobre a organização espacial são destacados
os dormitórios coletivos que caracterizaram os estabelecimentos até meados da década de 1950. A
maior parte resultou de prédios herdados dos antigos patronatos agrícolas ou dos primeiros
aprendizados agrícolas, posteriormente reformados. A partir da segunda metade da década de 1950
teve início uma nova política de internamento que passava a combater a aglomeração de internos em
grandes dormitórios e apresentava como solução a implantação de “dormitórios-apartamentos”. Nesse
contexto os investimentos na reestruturação e ampliação dos internatos receberam um impulso
considerável com a construção de novos “pavilhões de alojamentos” em diversas escolas da rede
federal. Os espaços específicos dos internatos dos estabelecimentos de ensino agrícola, com relação à
disposição espacial, seguiram o tradicional padrão dos internatos. Eram providos basicamente de
dormitórios, coletivos de regra, refeitório, cozinha, instalações sanitárias, prédios para atividades sociais
(centro social e auditório). Finalmente, é discutida a conformação do indivíduo no microcosmo do
internato, estabelecendo uma compreensão do exercício do “poder disciplinar” no internato,
evidenciando as técnicas disciplinares de controle do espaço, do tempo e das atividades diárias dos
internos. Na análise do controle dos espaços específicos do internato, foi destacada a vigilância da
movimentação dos internos no edifício-internato. No controle do tempo, as diversas formas de
sinalização deste com os diversos “toques de corneta” e outros dispositivos de controle. São analisadas
as práticas de transgressões (os desvios) entendidas como “micropenalidades” em suas diversas
modalidades (tempo, atividade, maneira de ser, discursos, corpo e sexualidade) e as sanções, que
tiveram como objetivo normalizar os indivíduos aos propósitos da instituição.

“O FERRADURA”: A SOCIALIZAÇÃO INSTITUCIONAL VISTA PELOS ALUNOS DA ESCOLA MÉDIA DE


AGRICULTURA DE FLORESTAL (MG) - 1953
1 2 3
MILTON RAMON PIRES DE OLIVEIRA ; BRUNO GERALDO ALVES ; ANGELA MARIA GARCIA .
1,2.UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA, VICOSA - MG - BRASIL; 3.COLÉGIO DE APLICAÇÃO -
COLUNI/UFV, VIÇOSA - MG - BRASIL.

O foco do trabalho é o exame de modos de intercomunicação de sistemas simbólicos que enfatizam


formas de representação social sobre a vida numa escola em sistema de internato. Tomamos para

33
estudo documentos produzidos, em meados do século XX, por alunos da Escola Média de Agricultura de
Florestal - EMAF (Minas Gerais), tomando como ponto de partida um jornal iniciado no ano de 1953. No
levantamento documental para análise no projeto, deparamo-nos com o jornal, denominado “O
Ferradura”, o qual mantinha uma tiragem semanal, em seu primeiro ano. A perspectiva da história
cultural subsidiou o delineamento da metodologia, em atenção às demandas do objeto de pesquisa,
viabilizando a problematização das narrativas históricas a partir da percepção multifacetada da vida
social, em especial de esferas do cotidiano. O jornal “O Ferradura” foi valorizado porque se destaca
como eixo fundamental da orientação prática dos estudantes no reconhecimento da escola como
espaço não só de formação técnico profissional, mas também de convivência social. Sobressai nos
pequenos artigos e colunas sociais modelos de comportamento, de higiene e de conduta masculina
como dimensões necessárias ao disciplinamento institucional e portadoras de significados que dão
sentido à permanência na escola. A incorporação desses modelos e do sentimento de pertença à
“família emafiana” amenizam as dificuldades da vida longe dos familiares. Documentos como o referido
jornal permitem colocar em relevo um universo portador de representações culturais, gerador de
condutas sociais e produtor de identidades. A vida dos indivíduos que integram a instituição se
reorganiza em torno não somente da formação, mas também de um projeto de sociedade no qual ela
está inserida. Nos exemplares foi possível perceber como os participantes das edições conferem
significados à Escola como se fosse uma família e apresentam indícios de suas origens sociais. As seções
permanentes configuram-se como dimensão importante para entender os modos como eles
interpretam sua experiência no sistema de internato, a função social do periódico e as relações
estabelecidas com outras instituições sociais instaladas nas proximidades, tanto territoriais como de
parcerias. Por extensão, reinterpretam sua trajetória de vida e constroem uma visão idealizada da
escola e da profissão de técnico agrícola. Ressaltamos a escassez de estudos que acompanhem o
processo de socialização de alunos, em instituições como a destacada, do ponto de vista dos mesmos ou
de como os jovens aprendem a tornarem-se membros efetivos de uma instituição. Examinamos o
processo de interiorização de categorias sociais que determinam identificações coletivas, no âmbito
institucional de imaginários coletivamente construídos. Assim, consideramos que a importância deste
trabalho deriva não somente da raridade de estudos sobre a questão, mas também pela contribuição
que pode conferir à história de educação no Estado de Minas Gerais, quiçá
no Brasil.

884
A FAZENDA-ESCOLA DE FLORESTAL-MG: O ENSINO AGRÍCOLA E O PROJETO DE MODERNIZAÇÃO DO
CAMPO

BRUNO GERALDO ALVES; MILTON RAMON PIRES DE OLIVEIRA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA, VICOSA - MG - BRASIL.

A pesquisa enfoca a trajetória da Fazenda-Escola de Florestal, em Minas Gerais, no período de 1939 a


1948. Objetivamos, na primeira fase da investigação, analisar as propostas e concepções sobre ensino
agrícola enquanto produto de políticas públicas imersas em um ideário específico de modernização, a
partir dos discursos presentes na inauguração da Fazenda-Escola de Florestal em 1939 e do projeto
fundador da instituição. Compreendendo a problemática que envolve a educação rural em Minas
Gerais, o foco da análise destacou os discursos presentes no evento de inauguração da instituição,
apontando para uma tentativa de alinhamento das expressões em torno do ensino agrícola a um projeto
maior de modernização, dimensionando agências e agentes presentes neste campo de forças, para
entender a própria concepção de educação rural que estava sendo redefinida. Buscamos compreeender
como os projetos e as disputas institucionais se relacionavam e delineavam as práticas pedagógicas a
serem desenvolvidas na instituição. Baseada na perspectiva da história cultural e de seus
desdobramentos, como a micro-história, delineamos a construção de uma metodologia que atendesse
às demandas apresentadas pelo objeto da pesquisa. No desenvolvimento do projeto analisamos fontes
escritas localizadas nos acervos da referida instituição e do Museu Histórico de Pará de Minas/MG,
problematizando a construção de narrativas históricas a partir da percepção multifacetada da vida social
e da incorporação de novos sujeitos, seus modos de viver, sentir e pensar em ambientes diversos na

34
esfera cotidiana. Na primeira fase a principal fonte utilizada foi um periódico da Secretaria da
Agricultura, Indústria, Comércio e Trabalho de Minas Gerais - a “Revista da Produção” - edição número
16, correspondente aos meses de maio e junho de 1939. Obra estruturada em 12 partes, sendo mais da
metade dedicada à inauguração da Fazenda-Escola, registrando a cerimônia e discursos proferidos.
Também é constituída de artigos direcionados à análise das ações do governo mineiro frente à
economia, enfatizando a agropecuária do Estado. Como resultado, destacamos que o projeto de criação
e atuação da Fazenda-Escola de Florestal foi concebido em padrões modelares, com o intuito de
incorporar a diversidade agropecuária existente em Minas Gerais, atendendo trabalhadores, capatazes e
administradores das fazendas com “cursos rápidos e práticos”. Buscava ainda aproximar os fazendeiros,
de diversas regiões do estado, das novas técnicas de produção desenvolvidas na Fazenda-Escola. Ao
concluirmos a primeira etapa da pesquisa, consideramos que o projeto da Fazenda-Escola de Florestal,
como delineado nos discursos de inauguração, articulava-se com o ideário de modernização do campo
esboçado para Minas Gerais no período de 1939 a 1948.
1001

ENTRE TRILHAS E VEREDAS: CONSTRUINDO HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DO COLÉGIO AGRÍCOLA DE


TERESINA

JULINETE VIEIRA CASTELO BRANCO.


UFPI, TERESINA - PI – BRASIL

Esse estudo é resultado de uma pesquisa de mestrado e procura construir as histórias e memórias do
Colégio Agrícola de Teresina (CAT), a partir do momento de criação da Escola Agrotécnica em 1954, até
sua incorporação à UFPI em 1976. A análise concentra-se em três etapas distintas e importantes nesse
período. A primeira trata da construção dos discursos de modernização do campo e da expectativa
acerca da criação da Escola Agrotécnica; a segunda refere-se ao início de funcionamento da instituição e
às dificuldades encontradas no grande projeto agrícola dos anos 60; a terceira, quando essa instituição
educativa é transferida para o Ministério da Educação, sendo incorporada à UFPI. Nesse sentido, o
recorte temporal apresenta duas décadas de efetivas mudanças na instituição escolar e na cidade de
Teresina. O estudo busca analisar o discurso agrário presente na imprensa, acerca da instalação do
colégio nos anos 50. Posteriormente, busca entrecruzar as falas que se constituíram memórias dos ex-
professores, alunos e funcionários sobre o CAT. A metodologia priorizou o uso da técnica de análise de
conteúdo para a interpretação das fontes documentais. Nesta etapa, foram realizadas pesquisas em
jornais, diários oficiais, mensagens, revistas; num segundo momento, a análise de documentos escolares
como fichas de matrículas, atas, diários, boletins, carteiras estudantis, históricos, além do uso da história
oral para a coleta de entrevistas com os 18 sujeitos da pesquisa. Como fundamento teórico empregou-
se a História Cultural a partir das concepções de Chartier (1990), Pesavento (2004), Le Goff (1996) e
Halbwacks (1990), com os novos objetos de análise histórica, onde encontramos as categorias de
representações, práticas, apropriações e memória. Os trabalhos de Nascimento (2004), Oliveira (2002),
Mendonça (1999) e Magalhães (2004) foram norteadores para a compreensão da história do ensino
agrícola no Brasil e das instituições escolares. Sendo assim, o estudo das práticas e representações
culturais muito contribuiu para um maior conhecimento das instituições educativas agrícolas. Portanto,
na tentativa de seguir construindo as histórias e memórias do Colégio Agrícola de Teresina, sob a ótica
dos discursos agrários piauienses, tornou-se possível compreender a importância desse símbolo escolar
para a revitalização dos discursos sobre a agricultura e a delimitação dos novos espaços campo e cidade.
Observou-se, ainda, que o projeto escolar agrícola estabeleceu teias de conexões com a modernização
industrial, com a cidade de Teresina e com o desenvolvimento econômico do Piauí. Por fim, por meio
das representações dos ex-alunos, professores e funcionários sobre o CAT, foi possível desvendar as
memórias construídas sobre o cotidiano escolar, o internato, o semi-internato, a transferência para a
UFPI, os conflitos, os valores, os tempos, os espaços e as vivências da instituição educativa agrícola.

35
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO E INSTITUIÇÕES ESCOLARES: ALGUNS OLHARES
Coordenador: SAULOÉBER TARSIO DE SOUZA

895
INSTITUIÇÕES ESCOLARES E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NO BRASIL

SAULOÉBER TARSIO DE SOUZA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA, ITUIUTABA - MG - CORÉIA.

A partir dos anos 90 do século passado, os estudos sobre instituições escolares se multiplicaram na
historiografia da educação brasileira, apresentando-se ainda hoje como tema de pesquisa relevante
entre os pesquisadores da área. A instituição escolar é espaço privilegiado de investigação das normas e
práticas que variam no espaço e no tempo ou coexistindo de formas diferentes, podendo ser estudada a
partir de variadas categorias como o contexto histórico de criação e fases de desenvolvimento da
escola; seu cotidiano (festas e rituais); o edifício escolar; os atores (alunos, professores e
administradores); os saberes e práticas (currículo, disciplinas, livros didáticos, métodos de ensino); as
normas disciplinares (regimentos e burocracia) e outros (NOSELLA, BUFFA, 2005). A partir de análise dos
resumos constantes dos anais dos eventos Congresso Luso-Brasileiro de História da Educação e o
Congresso Brasileiro de História da Educação (ambos realizados em 2008), buscamos demonstrar a
vitalidade dessa subárea do conhecimento, apontando algumas estatísticas importantes sobre a
pesquisa das instituições escolares, salientando, por exemplo, que os trabalhos apresentados têm certa
base temática comum, a partir da história de determinadas instituições escolares, focando arquitetura,
atores, métodos pedagógicos, práticas escolares e regulamentos, memórias etc. É preciso ressaltar que
no Congresso Luso-Brasileiro (Porto, Portugal) o eixo temático Instituições Educacionais e Cultura
Material Escolar contou com 114 comunicações coordenadas e individuais, representando 18,3% do
total dos 623 trabalhos inscritos. Já no Congresso Brasileiro de História da Educação nos eixos temáticos
1 (História da Profissão Docente e Instituições Escolares Formadoras) e 5 (Currículo, Disciplinas e
Instituições Escolares) foram inscritos 127 e 88 trabalhos respectivamente, de forma que representam
27,4% dos 783 trabalhos propostos; contudo, de acordo com a leitura dos resumos, entendemos que
apenas 118 deles enfocam determinado aspecto de uma instituição escolar ou grupo delas, assim, o
percentual seria de 15% do total dos trabalhos, um pouco abaixo das comunicações inscritas no Luso.
Esses números mostram uma grande diversificação dos temas, mas também a vitalidade da pesquisa
nesse campo que parece ainda estar longe de seu esgotamento. Contudo, é preciso ressaltar que é
ponto comum entre os pesquisadores da área, como em Saviani (2005), a necessidade de se articular o
geral e o específico nas pesquisas que têm como objeto a instituição escolar, afastando-se do engano de
se recortarem objetos de forma bastante particular e num plano de análise exclusivamente micro,
desconsiderando-se o contexto geral. Entendemos que investigar uma escola em seus diferentes
aspectos é uma das maneiras de se estudar a filosofia e a história da educação brasileira já que as
instituições escolares estão impregnadas de valores e idéias educacionais, além das marcas das políticas
educacionais.

907
A INSERÇÃO DOS GRUPOS ESCOLARES NO PROJETO DE MODERNIDADE: O CASO DO BRASIL NO
TRIÂNGULO DAS GERAES

ELIZABETH FARIAS DA SILVA.


UFSC, FLORIANOPOLIS - SC - BRASIL.

A proposta de enunciação na mesa redonda é corolária do Projeto de Pesquisa nominado


“Modernização e Educação Pública no Interior do Brasil. Estudo de caso no Triângulo Mineiro (1930-
1950)”, sob a coordenação da professora Dra. Betânia de Oliveira Laterza Ribeiro e aprovado pela
FAPEMIG em 2008. Na atualidade, a esfera da Educação é perpassada por temáticas como:
interculturalidade, relação de gênero, questão ambiental, a língua de sinais trabalhada como apenas
mais uma língua e não uma indicação de um estado de excepcionalidade. Tais temáticas indicam uma

36
crítica ao paradigma científico estabelecido e duas situações, aqui, propostas para análises. Primeiro a
concepção monocromática do projeto de Modernidade e em concomitância a avaliação crítica de
projetos globais -âmbito cultural- impondo-se e negando situações locais, transformando-as em
estranhas/tradicionais. O projeto de Modernidade aqui entendido está vinculado a um processo
produtivo determinado: o capitalista, mas está circunscrito (para fins analíticos) ao âmbito cultural,
junto aí, a Educação. O projeto de Modernidade emerge em áreas limitadas da Europa e impõe-se por
todo o planeta, de maneira fisicamente coercitiva, mas também de maneira imaginária e principalmente
simbólica. Uma teia simbólica entretecida alastrou-se. O locus é determinado mas a enunciação se quis
universal seja na variante socialista, liberal ou conservadora. Estas variantes desde o século XIX estão
em constante tensão e conflito seja latente, seja manifesta. Entretanto as três variantes possuem
pontos comuns no âmbito das aplicações de suas idéias e possibilidades. Os Grupos Escolares no Brasil
na sua origem inserem-se nesta tensão e conflito. Acolhem, agrupam pessoas em processo de
socialização secundária para com elas entretecer uma nova teia simbólica e imaginária sob o controle,
domínio e ordem do Estado. Na formalidade da Res pública. Os Grupos Escolares com suas inserções
não fazem retroalimentação. Impõem e ordenam o novo. Novos materiais escolares, novas ementas de
disciplinas baseadas no único saber reconhecido pela Modernidade, o científico. O Grupo Escolar de
forma mais expandida aumenta a clivagem entre cultura letrada e cultura popular, entre o moderno e o
agora considerado tradicional. Expulsa a “magia das coisas” e discute no “desencantamento do mundo”.
As coisas do local, diferentes tornam-se estranhas, exóticas. Ocorrem embates, emergem contradições.
E esta é a proposta especificamente: apontar e possibilitar compreensão de Grupos Escolares em
situações locais lidando com um projeto que se quis global.

1056
“ENSINAR A BEM VIVER”: LEITURAS INDICIÁRIAS ENVOLVENDO O GRUPO ESCOLAR E A VIVÊNCIA
DE UMA CERTA MODERNIDADE EM BARRETOS (1910/1930)

HUMBERTO PERINELLI NETO.


UNESP/CEUBM, SÃO JOSÉ DO RIO PRETO - SP - BRASIL.

Na aurora do século XX, Barretos era uma cidade em crescimento, tendo em vista a expansão do
comércio de gado no Centro-Sul brasileiro e, por conta desta economia, o fato da cidade ser elevada à
condição de capital do gado. Todavia, marcas de sua formação e características de sua economia não
foram apagadas pela modernização corrente, muito pelo contrário, elas foram aprofundadas nesse
processo. As diferenças existentes entre “Centro” e “Outro Mundo” – áreas que formavam a cidade -
foram ampliadas, à medida que a primeira cada vez mais recebia atenção do poder público (graças a
reforça da praça central, calçamento das ruas, instalação de luz elétrica, entre outras melhorias) e
investimentos privados (como a construção das casas e estabelecimentos comerciais), enquanto na
segunda ocorria um aumento da área do meretrício (tendo em vista o fluxo maior de boiadeiros, peões
e outros que se dirigiam para Barretos) e uma espécie de “guetização”. Neste contexto, vários colégios
privados foram instalados nesta cidade, mas o fluxo de inaugurações e fechamentos destes
estabelecimentos faz pensar na ausência de um público capaz de arcar com os custos do ensino ou que
nele atribuíssem importância. É notória em várias matérias publicadas nos jornais barretenses da
década de 1900 a organização de uma verdadeira campanha pela valorização da educação. No entanto,
a primeira escola de funcionamento mais efetivo em Barretos foi inaugurada em 1910: trata-se do
Grupo Escolar. Estava situado ao lado da praça central desta cidade e era dotado de uma arquitetura
moderna. O edifício era caracterizado pela predominância do estilo eclético com predominância do
neoclássico (ênfase no corpo principal). A acentuada presença de janelas expressava a influência do
ideário higienista, pois tal recurso facilitava a circulação de ar. Os muros e gradis revelavam a
preocupação por parte do construtor em definir claramente o que era espaço público e o que era
espaço privado. A bandeira nacional posicionada na parte central visava garantir lições de civismo aos
futuros cidadãos e cidadãs. Concluiu-se, portanto, se tratar de um claro emblema de civilidade, tanto
aos pequenos que abrigava quanto aos que avistavam tal prédio do lado de fora. Diante disso é possível
afirmar que era muito diferente o contexto que marcava a instalação do Grupo Escolar, em 1910. Ate
então, a maior parte das famílias era chefiada por lavradores, conforme é possível reconhecer na lista

37
de eleitores de 1890. O crescimento e a diversificação social registrados em Barretos desde então
haviam modificado brutalmente essa situação. Com base na leitura indiciária dos livros de matrículas
dos alunos compreendendo o período entre 1910 e 1930, buscou-se nesta pesquisa compreender a
relação existente entre educação, modernidade e cultura política numa cidade marcada pela
ambivalência arcaico/moderno. Trata-se de trabalho em andamento.

901
GRUPO ESCOLAR JOÃO PINHEIRO NA CENA URBANA: DO ARRANJO MAJESTOSO AO MOVIMENTO DA
LEGIÃO NEGRA NA IMPLEMENTAÇÃO DA ESCOLA 13 DE MAIO

BETANIA OLIVEIRA LATERZA RIBEIRO.


UFU, ITUIUTABA - MG - BRASIL.

A instrução pública primária no interior das Geraes teve origem nos primórdios da República, com a
inauguração dos três primeiros grupos escolares do Triângulo Mineiro, por volta de 1908. Entre eles, o
de Villa Platina, então nome do atual município de Ituiutaba. O objetivo dessa comunicação é
apresentar questões relativas ao Grupo Escolar João Pinheiro, circunscrevendo uma análise histórico-
crítica dos primórdios dessa instituição escolar. A concretização do primeiro grupo escolar em Villa
Platina deu-se no início do século XX, no contexto da organização da República, quando ocorreram as
tomadas de providência no sentido de promover a racionalização administrativa do Estado brasileiro.
Nesse momento, havia duas preocupações em Minas Gerais: a consolidação do regime republicano e a
necessidade de transformação da realidade educacional, envolvendo desde a precariedade do espaço
físico escolar até o elevado índice de analfabetismo. Além da formação de força de trabalho, havia a
preocupação de controlar o eleitorado, pois ao contrário do período imperial, foi estabelecido na
primeira Constituição Republicana o voto somente para alfabetizados. Segundo a “Gazeta de Uberaba”,
Villa Platina é descrita como uma “próspera localidade do Triângulo Mineiro”. A construção de edifícios
específicos para grupos escolares foi uma preocupação das administrações dos Estados, que tinham no
urbano o espaço privilegiado para sua edificação, em especial, nas capitais e cidades economicamente
prósperas, como o município de Villa Platina. O majestoso edifício desse grupo escolar tinha como
proposta tornar visível o ideal republicano, sendo imponente na urbe, numa materialização dos valores
e modo de vida da elite local. O arranjo elitista, desta escola, bifurca-se na década de 1930, com a
iniciativa de “homens de cor”, na criação da escola “13 de maio”, nome alterado em 1940 para “Escola
Municipal Machado de Assis”. Os descendentes de escravos africanos utilizavam o prédio do antigo
Grupo Escolar de Villa Platina na calada da noite. Trabalhadores da construção civil, empregadas
domésticas desenhavam o perfil dos discentes, de acordo com os depoimentos de ex-alunos. Assim,
corpos e mentes moldados no lugar/espaço da escola recebiam esperanças de adentrar em “um novo
mundo”, no entanto, alguns desistiam dos estudos, em decorrência do cansaço resultante de longas
jornadas de trabalho. A análise crítica da pesquisa e os resultados permitem concluir que devido ao
desinteresse do poder público no que tange ao investimento em educação, até a década de 1950 nesse
município, deteriorou o ensino público em contraste com o privado. Nessa perspectiva, o majestoso
palácio republicano paradoxalmente tem sua derrocada promovida pela mesma fonte de sua criação, o
Estado Brasileiro.

1114
O PROCESSO DE EXPANSÃO DO ENSINO SUPERIOR NO INTERIOR DO ESTADO DE SÃO PAULO NAS
DÉCADAS DE 50 E 60: O CASO DA FACULDADE DE FILOSOFIA, CIÊNCIAS E LETRAS DE SÃO JOSÉ DO RIO
PRETO

SILVANA FERNANDES LOPES.


UNESP, SAO JOSE DO RIO PRETO - SP - BRASIL.

A cidade de São José do Rio Preto (SP) exerce um papel de polo socioeconômico regional que vem se
constituindo desde sua fundação, em meados do século XIX. O desenvolvimento desse papel foi

38
impulsionado pela expansão da malha ferroviária em direção ao interior paulista, criando as condições
para que a cidade fosse se tornando um centro comercial no âmbito da região noroeste e esta região,
em meados da década de 1930, já respondia por uma média de 14% da produção agrícola e 20% da
criação bovina do estado. O crescente desenvolvimento econômico de São José do Rio Preto
impulsionou a ampliação tanto das atividades terciárias quanto das atividades rurais subordinadas à
indústria e na década de 50, período no qual a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras foi criada, a
cidade já contava com uma população predominantemente urbana. Diante desse quadro de
desenvolvimento, as condições eram favoráveis para a criação de uma instituição de ensino superior em
São José do Rio Preto. Proposta em 1955 e oficializada como faculdade municipal em 1957, vale
destacar que a criação desta Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL) não foi uma iniciativa
isolada. O ensino superior vinha crescendo desde o período imperial, porém nas décadas de 50 e 60
essa expansão sofreu um processo de maior aceleração em função das condições socioeconômicas já
mencionadas e da forte pressão exercida pelas camadas médias. Dentro desse quadro, a fundação dos
Institutos Isolados de Ensino foi uma das estratégias da política educacional para atender de alguma
maneira tanto as necessidades de desenvolvimento econômico quanto os anseios dessas camadas
médias em busca de ascensão social via título superior. Nesse sentido, é só a partir dessa perspectiva
geral que se torna possível compreender essa faculdade em particular. Esta pesquisa, então, busca
delinear alguns traços particulares dessa FFCL no conjunto dos Institutos Isolados de Ensino do período
estudado. Para tal, estão sendo utilizados como fontes principais os documentos de criação da
faculdade, as atas dos departamentos e alguns artigos de jornais locais por meio dos quais é possível
vislumbrar indícios de um diálogo entre diversas vozes sociais, muitas vezes conflitantes, em relação à
FFCL. Por último, cabe ressaltar que se trata de um estudo em andamento, inserido numa temática mais
ampla, visando uma reconstrução da história dessa instituição. Essa temática está sendo desenvolvida
pelo Grupo de Pesquisa “História e Política Educacional Brasileira”.

DESENHOS A MÃO LIVRE: UMA ANÁLISE DA HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES ESCOLARES


Coordenador: DAYSE MARTINS HORA

900
A ESCOLA-LABORATÓRIO DO PROJETO ESCOLANOVISTA E A MEDICALIZAÇÃO NA FORMAÇÃO DE
PROFESSORES

DAYSE MARTINS HORA.


UNIRIO, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL.

A medicalização das instituições sociais tem grande lastro de pesquisa nas ciências sociais, sendo objeto
de análises fecundas. Mas, ainda, identificamos como uma necessidade sua maior utilização na
educação. A pedagogia se recorre pouco do papel histórico do saber-poder médico na constituição
política brasileira, como estratégia de hegemonia e seus desdobramentos na construção do
conhecimento escolar e na formação de professores. Neste trabalho, estamos considerando a
medicalização como o processo pelo qual o modo de vida dos homens é normalizado pela medicina,
interferindo na construção de conceitos, regras de higiene, normas de moral, costumes e
comportamentos sociais. Tomamos por referência as práticas do Instituto de Educação do Rio de
Janeiro, pelo papel histórico que essa instituição representou como locus de uma prática pedagógica
renovada. Objetivamos discutir como a racionalidade médica se impôs a partir da colaboração médico-
pedagógica justificando a medicalização do currículo da formação de professores primários. Utilizamos
por recurso metodológico, a análise dos currículos no período que abrange as reformas de Fernando de
Azevedo e Anísio Teixeira (1927-1937) e as fontes secundárias que discutem sobre a prática assumida à
partir do currículo escrito que se apresenta a cada nova legislação. Desde o final do século XIX os
conteúdos biomédicos já se encontravam presentes de forma vasta e complexa. A Higiene englobava
conteúdos de Puericultura, Higiene escolar e cuidados médicos; a Anatomia e Fisiologia Humanas
exigiam o rigor dos cursos de medicina. Mas a seleção e organização desses conteúdos em função de

39
construir um conhecimento científico do indivíduo só começaram a se configurar com a reforma de
1927, se ampliando a idéia com a transformação da antiga Escola Normal em Instituto de Educação. A
formação do professor primário no Rio de Janeiro teve profundas marcas nas práticas desenvolvidas no
Instituto de Educação; escola-laboratório – do projeto escolanovista, instrumento na construção de uma
“ciência da educação”. Discutimos a racionalidade médica como suporte na construção de atitudes e
práticas necessárias ao professor para esse contexto, ou seja, como o saber-poder médico esteve
presente na constituição dos currículos de professores, apresentando-se como fundamentação do
pensamento curricular na época. Argumentamos, ao final, que a expansão e organização curricular
quanto aos aspectos medicalizantes coincide com o processo histórico de constituir a escola como
instituição intrinsecamente disciplinar e o processo em que se define a modernidade como sociedade da
escolarização.

902
O INSTITUTO DE EDUCAÇÃO E OS EMBATES NA FORMAÇÃO DO PROFESSOR: UM MOMENTO NA
HISTÓRIA DA INSTITUIÇÃO ESCOLAR

LIÉTE OLIVEIRA ACCACIO.


UENF, NITEROI - RJ - BRASIL.

O texto apresenta alguns aspectos da consolidação da Escola Normal situada na cidade do Rio de
Janeiro, sua transformação em Instituto de Educação, em 1932 e incorporação, em 1935, como uma das
unidades constitutivas da Universidade do Distrito Federal (UDF). Refere-se à subtema já estudado, de
pesquisa em andamento, coordenada pela autora, da formação de professores no Estado do Rio de
Janeiro. A organização dessa instituição educacional, em seus aspectos físicos, administrativos e
curriculares representa, em sua época, um avanço no panorama da educação brasileira, trazendo novos
sentimentos frente à escola, que assume espaços próprios. Observa-se que essas transformações
desencadearam embates nas esferas política e pedagógica, envolvendo governantes e educadores, que,
por sua vez, levaram a mudanças no panorama da educação local com reflexos nacionais. Assim,
objetiva-se, neste texto, analisar um dos momentos históricos da formação de professores no Rio de
Janeiro, quando, estando Getúlio Vargas à frente do governo federal, há interferências na educação por
meio de diretrizes normativas. Indicam-se aspectos da colaboração e desentendimento de Anísio
Teixeira e Lourenço Filho em relação à política desenvolvida nessa instituição com a criação, em 1935 e
extinção, em 1939, da Universidade do Distrito Federal (UDF). Como uma das unidades da UDF o
Instituto de Educação forma professores em nível superior e se incorpora integralmente a essa
universidade por sua Escola de Professores que passa a denominar-se Escola de Educação. O educador
Anísio Teixeira ampara-se na legislação federal para viabilizar a UDF, mas Gustavo Capanema, Ministro
de Vargas, considera que a universidade não se coaduna aos padrões e regulamentos federais. O Rio de
Janeiro sofre, no período, reflexos da crise político-social que se avoluma e setores conservadores
desfecham contra a UDF campanha difamatória com acusações perpassando dimensões administrativas
e ideológicas, sendo a universidade considerada desnecessária. Nota-se, ainda, que a instituição
formadora desempenha papel relevante no sentido da profissionalização do educador, assim como na
constituição da escola de formação docente como instrumento de mudança do ensino e de
transformação das ações na formação de professores. A metodologia baseia-se na reflexão histórica,
utilizando pesquisa bibliográfica e análise documental de fontes primárias, como legislação, programas,
atos oficiais, regimentos, históricos e diplomas do acervo da própria instituição pesquisada, além de
depoimentos de antigos alunos.

40
903
A ESCOLA NORMAL DA CAPITAL EM MINAS GERAIS NO INÍCIO DO SÉCULO XX

RITA DE CÁSSIA OLIVEIRA FERREIRA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS (UFMG), BELO HORIZONTE - MG BRASIL.
O objetivo desta comunicação é analisar o processo de criação e de institucionalização da Escola Normal
da Capital. Assim, procuramos apresentar a organização administrativa e pedagógica, o corpo docente,
os programas de ensino, os espaços e tempos escolares, e as principais atribuições postas à
Congregação dessa escola normal. A Escola Normal da Capital foi instalada no início de 1907, na recém-
inaugurada cidade de Belo Horizonte, capital do estado de Minas Gerais, acompanhando o conjunto da
reforma do ensino de 1906. O momento de instalação desta escola normal foi de intensas mudanças e
acontecimentos no campo educacional, destaca-se entre outras a formulação de uma proposta de
formação de professores fundamentada por uma concepção de educação escolar integrada aos debates
republicanos e civilizadores. Na capital Belo Horizonte esperava-se, através da escola e da atuação do
professor primário, a difusão do ideário de urbanização e civilização da população. Junto a isso, a
proposta para a criação da Escola Normal da Capital se desenvolveu em consonância com o debate
sobre a formação dos professores da época, que circulavam em outros estados brasileiros. Este trabalho
teve como principal suporte teórico-metodológico as reflexões e estudos dos autores que versam sobre
a história das instituições escolares, tais como Décio Gatti Júnior e Justino Magalhães. Em nossa análise
foram discutidas as seguintes categorias: espaços e tempos escolares, currículo e os sujeitos presentes
na trama que organiza a instituição. Para discutir a organização administrativa e pedagógica desta
escola, utilizamos o conceito de figuração, de Norbert Elias que permite problematizar as redes de
interdependências dos sujeitos, como também as tensões presentes e específicas sobre o ensino normal
encontradas nesta instituição. Tal discussão se faz a partir da interrogação de fontes documentais
diferenciadas tais como legislações educacionais, relatórios e mensagens de governo e documentação
específica da Escola Normal da Capital encontrada nos arquivos do Instituto de Educação (edifício onde
funcionou a escola normal), e no Arquivo Público Mineiro. Concluiu-se que a criação da Escola Normal
da Capital buscou superar o modelo de formação dos professores encontrados no período imperial, e
que seu órgão deliberativo, a Congregação foi um avanço em relação aos modos de decisões político-
pedagógicas anteriores por incorporar os professores da escola nas discussões e deliberações relativas
ao funcionamento da instituição. Observa-se, contudo, que o processo de instalação da Escola Normal
da Capital não se fez sem tensões. Embates e contradições permearam tanto o ideário e as expectativas
postas à própria formação docente, quanto ao funcionamento da Escola Normal da Capital.

904
TENHA PIEDADE DE NÓS: UMA ANÁLISE DA EDUCAÇÃO FEMININA DO EDUCANDÁRIO NOSSA
SENHORA DA PIEDADE EM PARAÍBA DO SUL, 1925-1930.

ALEXANDRE RIBEIRO NETO.


SECRETARIA DE EDUCAÇÃO E CULTURA DE PARAÍBA DO SUL, PARAIBA DO SUL - RJ - BRASIL.

Pretendemos em nossa comunicação analisar a história das instituições escolares católicas, destinadas a
educar e abrigar meninas desvalidas na Primeira República. Adotamos como marco cronológico inicial o
ano de 1925, para acompanhar a criação da Escola Municipal Condessa do Rio Novo, criada no interior
do Educandário Nossa Senhora da Piedade. E final o ano de 1930. Pensamos também em estabelecer
um período de cinco anos, para dar conta de uma pesquisa, com variadas ramificações, tais como:
questões de gênero, pensamento educacional católico, as relações entre o público e privado,
materializadas na construção de uma escola pública em um prédio privado católico. Quando
começamos a seguir os indícios encontrados nos documentos, encontramos uma ligação entre os
políticos que faziam parte da Câmara de Municipal de Paraíba do Sul e os membros da Mesa
Administrativa da Irmandade Nossa Senhora da Piedade, que administra a instituição pesquisada,
demonstrando uma velha prática, o vínculo entre a Igreja e o Estado. Para entendermos essa
interlocução, dialogamos com Arendt (2007) tencionando compreender os frágeis fios que une o publico
ao privado, sem perder de vista as especificidades da História da Educação. Hunt (2009) e Perrot (2005)
analisam a esfera publica e privada sob outra perspectiva, questionando a presença das mulheres nos

41
espaços privados, e dos homens nos espaços públicos. Nos são caras as reflexões de Chornobai (2005),
na qual a autora analise as praticas educativas e a arquitetura do espaço escolar católico, destinado a
educar meninas no Paraná. Não poderíamos esquecer-nos de convidar para o debate historiográfico
Fernandes (2007), que enriquece nosso estudo ano se debruçar sobre instituições portuguesas, cujo
objetivo também e educar a infância desvalida. O corpus documental é composto pelo Testamento da
Condessa do Rio Novo, os Relatórios de Compromisso, redigidos pelo provedor Randolpho Penna Júnior,
as Atas da Câmara Municipal de Paraíba do Sul, e o jornal O Arealense. O Educandário Nossa Senhora da
Piedade foi fundado em 1884, como cumprimento das vontades póstumas de Mariana Claudina Pereira
de Carvalho, a Condessa do Rio Novo. Ele ainda é administrado pela Irmandade Nossa Senhora da
Piedade e contava com o auxílio das Irmãs de São Vicente de Paula. Nosso trabalho se constitui num
estudo de caso, no qual adotamos como aporte teórico-metodológico o Paradigma Indiciário proposto
por Guinzburg (1989), pois através dos indícios deixados pelos homens e mulheres do passado,
tencionamos unir os fios do tecido social, que se encontra fragmentado, por diversos fatores, entre eles
o incêndio, que ocorreu no ano de 1955, que destruiu grande parte dos documentos da instituição,
como também seu belo prédio. Entendemos que esse estudo contribui para o preenchimento de uma
lacuna sobre a história das instituições escolares no estado do Rio de Janeiro.

929
HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES ESCOLARES: UM BALANÇO A PARTIR DOS CONGRESSOS LUSO-
BRASILEIROS DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

MAURO CASTILHO GONÇALVES.


PUC-SP/UNITAU-SP, TAUBATE - SP – BRASIL
.
A presente comunicação analisa a grande incidência, no Brasil, desde as últimas décadas, de pesquisas
que trataram do tema História das Instituições Escolares. A partir do exame dos trabalhos apresentados
nos Congressos Luso-Brasileiros de História da Educação (CLBHE) que versaram sobre essa temática,
foram mapeados e discutidos os aportes teóricos e metodológicos usados e as perspectivas adotadas
pelas pesquisas. Os CLBHE foram examinados, pois se consolidaram como eventos que iniciaram e
ampliaram o debate entre pesquisadores brasileiros e portugueses no campo da História da Educação e,
mais especificamente, na investigação de histórias de instituições escolares. Oito congressos já foram
realizados no Brasil e em Portugal. Neles foram divulgadas e debatidas pesquisas, dentre as quais,
muitas delas, se debruçaram sobre o itinerário e características de instituições escolares ou educativas.
Nesse sentido, um balanço histórico e historiográfico faz-se necessário, na tentativa de apontar quais
modelos interpretativos se tornaram hegemônicos e de que forma as relações teóricas entre os dois
países foram estabelecidas a partir da organização dos referidos eventos, ou ainda discutir se, as
pesquisas divulgadas nos eventos, produziram um conhecimento específico sobre a temática em tela.
Do ponto de vista da organização metodológica da presente comunicação, partiu-se dos seguintes
pressupostos: incidência de temas e títulos cadastrados nos eixos relacionados ao assunto, abordagem
teórica dos estudos e filiação institucional dos pesquisadores. A partir dessas categorias analíticas,
utilizou-se das máximas e instrumentais da análise de conteúdo como aporte metodológico de
verificação empírica e analítica. Quanto à escolha dos CLBHE, vale ressaltar que, a partir deles, os
estudos relacionados à história das instituições cresceram significativamente no Brasil, especialmente
considerando o alto número de trabalhos defendidos no âmbito dos programas de pós-graduação em
Educação. No que se refere a presente comunicação, cabe afirmar que, os estudos referentes à história
das instituições escolares, divulgados nos e pelos CLBHE, concentraram-se em analisar a escola como
objeto de estudo, privilegiando temas relacionados à arquitetura, ao currículo, à formação de
professores, ao material didático, às regras disciplinares, à organização do tempo, dentre outras
questões conexas, demonstrando uma ênfase nos aspectos internos das instituições educativas. Posto
isso, cabem, portanto, algumas problematizações: os CLBHE evidenciaram um modelo interpretativo
próprio acerca da história das instituições escolares? Os trabalhos divulgados constituíram, na área,
elementos nevrálgicos de divulgação e debate de escolas historiográficas diversas e conflitantes? Quais
razões explicam a ênfase em temas e objetos de estudo relacionados às questões internas das
instituições? São perguntas que a presente comunicação pretende debater.

42
EIXO 3 - HISTÓRIA DAS CULTURAS E DISCIPLINAS ESCOLARES

CULTURA MATEMÁTICA NO BRASIL OITOCENTISTA


Coordenador: CIRCE MARY SILVA DA SILVA

891
LIVROS DIDÁTICOS DE MATEMÁTICA NA ACADEMIA REAL MILITAR DO BRASIL OITOCENTISTA

CIRCE MARY SILVA DA SILVA.


UFES, VITÓRIA - ES - BRASIL.

Analisa-se numa perspectiva da história cultural o papel desempenhado pelos livros didáticos de
matemática no ensino da Academia Militar do Rio de Janeiro, desde sua criação em 1810 até 1822. A
partir da análise documental de fontes, como jornais da época, Carta Régia de criação da Academia
Militar, ofícios, programas, atas e livros, procura-se indícios sobre o ensino de matemática ministrado na
Academia, bem como as polêmicas em torno dos livros recomendados. Na investigação em andamento,
é possível constatar-se que, nesse período, existiu um forte controle do governo do Brasil na indicação e
adoção de livros didáticos para uso nessa Academia. Destaca-se a importância da Impressão Régia,
primeira editora do Brasil colonial, bem como o papel dos primeiros tradutores que atuaram como uma
ponte entre a cultura matemática européia e o saber escolar necessário a formação de militares e
engenheiros. Uma análise do papel exercido pelos livros didáticos no curso acadêmico da Academia Real
Militar do Rio de Janeiro, já permite apontar alguns traços sobre a educação matemática desenvolvida
nessa instituição de ensino: o tipo de formação básica recebida pelos futuros militares e profissionais da
engenharia assemelhava-se mais ao modelo francês do que ao português, os livros traduzidos era tarefa
dos próprios docentes, havia uma falta de autonomia dos docentes na escolha de livros, indicados na
Carta de Leite, a incipiente editoração no país e o alto custo dos “compêndios” geravam dificuldades
financeiras ao corpo docente e discente para a aquisição dos mesmos. A semelhança do ocorrido na
França, também no Brasil, pouco a pouco o monopólio dos livros de Sylvestre Lacroix se estabeleceu e
ocupou, por décadas, o status oficial, tanto suas obras originais em francês, como as traduções em
português. Isso se deve em grande parte à centralização governamental que tinha o controle sobre a
indicação dos livros na Academia Militar conforme revelaram os documentos. Aliado a isso sabemos que
livros são instrumentos de poder. No caso analisado, o poder estava não apenas na mão do imperador,
mas também dos docentes da junta da Academia. A história da disciplina matemática no contexto da
Academia Militar revela que a qualidade do ensino desta estava condicionada ao acerto na escolha dos
livros didáticos. O foco especial de nosso estudo reside na análise daqueles livros, tanto as traduções de
autores estrangeiros quanto as produções nacionais, destinados ao ensino aprendizagem da
matemática que serviram de matriz para a formação das primeiras gerações de professores de
matemática no País.

1163
A MATEMÁTICA NA FORMAÇÃO DO PROFESSOR PRIMÁRIO NO SÉCULO XIX: PERMANÊNCIAS E
MUDANÇAS

WAGNER RODRIGUES VALENTE.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO, SANTOS - SP - BRASIL.

A comunicação tem por objetivo analisar a presença da Matemática na formação de professorandos da


Escola Normal de São Paulo, a partir de sua segunda fundação (1875) até a chegada das propostas
republicanas ancoradas no ensino intuitivo (1890). A análise da formação matemática dos normalistas –
foco deste estudo - presente na Escola Normal de São Paulo, nos anos 1870, revela que não se
estabelece, de pronto, um novo modo de ensinar matemática aos professorandos. Não há uma
formação, uma prática pedagógica diferenciada para os futuros mestres dos alunos do curso primário.
Trata-se de garantir uma paridade com aquilo que está presente nos liceus, no curso secundário. As
mudanças e diferenças do que se vai ensinar aos normalistas, no caso de matemática, estão ligadas aos

43
conteúdos de ensino. A restrição da formação matemática para o futuro professor primário é dada pela
presença, somente, de aulas de Aritmética e elementos do Sistema Métrico Decimal, sem que haja
nenhuma iniciação em Geometria e Álgebra, os demais ramos matemáticos dos cursos secundários. No
caso da Aritmética os conteúdos de ensino limitam-se à programação do primeiro ano do curso que é
dado nos liceus. De outra parte, com a chegada da República, os reformadores do ensino paulista
colocam na pauta de suas propostas a formação de professores da escola pública. Elas têm como
alicerce a adoção do método intuitivo no trabalho pedagógico da escola graduada. Até então, por
exemplo, a Aritmética constitui um saber, cujas referências para ensino estão postas em alguns livros
(compêndios e manuais). A escola graduada precisa que o ensino de matemática seja dosado para os
diferentes anos escolares. A graduação do ensino coloca no centro dos debates a preocupação
metodológica. A fórmula para resolver a questão de como orientar o ensino graduado vem de
experiências em desenvolvimento nas escolas particulares. De caráter inovador, tais escolas orientam os
reformadores paulistas da instrução pública em suas propostas para o ensino primário e para a
formação de professores para esse nível escolar. Assim, passam a constituir referência para os
intelectuais que projetam mudanças para o ensino paulista, a partir da Escola-Modelo. A análise desse
trajeto da Matemática na formação do professor de primeiras letras constitui resultado parcial de
projeto de pesquisa financiado pela FAPESP intitulado “A educação matemática na escola de primeiras
letras, 1850-1950”. Utiliza-se como fontes de pesquisa provas e exames localizados no Arquivo do
Estado de SP, a legislação paulista para o ensino normal e livros didáticos de matemática. Consideram-se
os aportes teóricos e metodológicos da História Cultural.

899
O CÁLCULO DIFERENCIAL E INTEGRAL NA FORMAÇÃO DE ESTUDANTES DA ACADEMIA REAL MILITAR

LIGIA ARANTES SAD.


UFES, VITÓRIA - ES - BRASIL.

Esta comunicação tem como contexto mais abrangente as primeiras décadas da educação oferecida
pela Academia Real Militar, porém com objetivo específico de analisar alguns aspectos do ensino de
Cálculo Diferencial e Integral na formação de estudantes desta instituição. Metodologicamente, com as
investigações bibliográficas e documentais empreendidas, houve exame dos registros relativos aos livros
didáticos de matemática utilizados pelos lentes (professores) e estudantes, bem como dos rastros
fragmentados em documentos do Arquivo Nacional, da Biblioteca Nacional e de trabalhos de pesquisa já
realizados. Observa-se neste texto que desde a criação da Academia Real Militar, inclusive pela Carta
Régia de 4 de dezembro de 1810, os livros didáticos e de consulta científica eram estrangeiros e
predominantemente franceses, sendo que no campo de conhecimentos matemáticos, necessários ao
cálculo diferencial e integral, tem-se a presença mais citada de obras dos autores: Sylvestre F. Lacroix,
Leonhard Euler e Adrien-Marie Legendre. Na análise destas obras utiliza-se uma matriz epistemológica,
exemplificando a partir de algumas noções centrais ao desenvolvimento do Cálculo. Discute-se, assim, a
forte presença nestas obras das vicissitudes advindas de transições epistemológicas transcorridas no
desenvolvimento dessas noções. Especial destaque é atribuído às críticas relativas aos métodos
utilizados e a outros aspectos idiossincráticos relacionados ao Cálculo, os quais foram “garimpados” em
meio aos achados especiais de algumas notas de aula feitas por estudantes da Academia Real Militar.
Nestas notas pode-se observar, por exemplo, referências ao tratamento didático no ensino dos objetos
do Cálculo, com poucas indicações das obras teóricas adotadas, embora com marcada presença de
aplicações a problemas matemáticos e de outras ciências. A intenção maior com esse olhar micro ou
localizado é trazer para as discussões o importante lado do receptor (aluno ou professor) a respeito da
utilização das obras didáticas, pinçadas das representações desses poucos mas significativos registros;
uma vez que tem-se a existência de muito mais informações quanto ao outro lado – dos produtores
(autores renomados). Assim, com o aflorar dessas reflexões e críticas relacionadas ao cálculo diferencial
e integral, presentes na educação desses participantes ativos da Academia Real Militar, pode-se tecer
considerações analíticas e abrir outras possibilidades de entendimento não somente da história do
Cálculo Diferencial e Integral, mas também da educação de profissionais da área de exatas que ainda
hoje integram essa relevante parte da matemática em seus currículos.
1089

44
DIFUSÃO DE MATERIAIS PARA O ENSINO PRIMÁRIO DA ARITMÉTICA

LUIZ CARLOS PAIS.


UFMS, CAMPO GRANDE - MS - BRASIL.

Este artigo aborda a temática da cultura material escolar no campo da história da educação matemática
e pretende, mais especificamente, destacar o movimento de difusão de objetos materiais de natureza
não impressa, também chamada aparelhos de ensino, indicados para o ensino primário da aritmética no
contexto da Primeira Exposição Pedagógica do Rio de Janeiro, realizada nos idos de 1883. Os materiais
divulgados nessa exposição visavam proporcionar meios concretos para implantar procedimentos
didáticos compatíveis com as orientações do método de ensino intuitivo. As fontes utilizadas para a
realização do estudo descrito neste artigo foram constituídas por relatórios elaborados por diretores da
instrução pública e por ministros encarregados da instrução pública; regimentos prescritos para as
escolas primárias; manuais pedagógicos escritos para orientar as práticas dos professores, bem como
livros escolares que trazem informações sobre o tema. O referencial teórico adotado foi conduzido com
base nos conceitos articulados de cultura e disciplina escolares, na linha proposta por André Chervel e
compartilhada por outros autores que seguem a mesma corrente de pensamento histórico. Foram
também usados os conceitos de estratégias e táticas propostos por Michel de Certeau e de apropriação,
no sentido definido por Roger Chartier. Foi possível constatar que os desafios da educação matemática,
nos últimos anos do período imperial brasileiro, estão associados à tentativa de modernização das
práticas de ensino, através do método intuitivo, articulando conteúdos tradicionais com a valorização de
aspectos experimentais. Foram difundidos objetos de ensino produzidos e divulgados por empresas
européias e muitos deles circularam por escolas primárias brasileiras bem pela Escola Normal de Niterói.
A realização do estudo permitiu ainda compreender que os primeiros sinais da expansão de oferta de
educação escolar coincidem com o momento de difusão do método intuitivo, dando origem a um
discurso inovador em relação às práticas tradicionais. No que se refere ao domínio da educação
matemática as novas propostas foram acompanhadas pela indicação do uso pedagógico de objetos
concebidos especificamente para o ensino da aritmética, bem como das outras matérias constituintes
das chamadas matemáticas elementares. A compreensão desse momento histórico do ensino da
matemática revela a importância da temática da cultura material da escola, abrangendo as fases da
concepção, difusão e apropriação desses recursos didáticos do passado.

975
UMA ANÁLISE PRELIMINAR DO INVENTÁRIO DOS DOCUMENTOS DA COLEÇÃO BRUNELLI DA
BIBLIOTECA NACIONAL DO RIO DE JANEIRO

IRAN ABREU MENDES.


UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE, NATAL - RN – BRASIL

Neste artigo faço uma análise preliminar do inventário documental da Coleção Brunelli da Biblioteca
Nacional do Rio de Janeiro. Trata-se do acervo anteriormente pertencente a João Angelo Brunelli, padre,
astrônomo e matemático nascido em Bolonha (Itália), em 22 de janeiro de 1722. O referido padre
exerceu o cargo de professor de Aritmética e Geometria na Academia Real da Marinha de Portugal e foi
nomeado por D. José I professor de Filosofia e Matemática na Escola Superior Governativa de Lisboa.
Fez parte da comissão demarcadora de limites territoriais das terras portuguesas na parte setentrional
da América do Sul (Amazônia Brasileira) na segunda metade do século XVIII e após deixar a comissão
demarcadora de limites, voltou para Lisboa, onde assumiu o cargo de professor do Colégio dos Nobres.
Faleceu em 25 de fevereiro de 1804. Alguns anos após seu falecimento, seus livros, documentos,
correspondências e apontamentos pessoais foram comprados pelo governo brasileiro passando a
constituir a Coleção Brunelli, material este em fase de levantamento e seleção para um estudo mais
detalhado, posto que desenvolvo, desde 2007, uma pesquisa que trata sobre “Arte, ciência e
arquitetura na Amazônia brasileira na era pombalina”. Os documentos que compõem o inventário
foram identificados e descritos por Giorgio Robustelli e digitados por Valéria Pinto Lemos de modo a
compor as informações para o Guia de coleções da referida biblioteca, elaborada por Débora Santos

45
Lima Dellivenneri. O conteúdo do inventário compreende a correspondência ativa e passiva do titular
com Angelo Michele Bianconi, Sebastiano Caterzani, Antonio José Landi, Domingos Vandeli, Francisco de
Almada Mendonça, e Joaquim Inácio da Cruz Sobral, com o arquiteto José da Costa e Silva, entre outros,
tratando de assuntos de caráter particular e acadêmicos. O acervo totaliza 197 documentos entre
cartas, recibos e manuscritos diversos sobre astronomia, matemática, mecânica dentre outros assuntos.
O material documental e os textos estão escritos em português, italiano e latim, contendo parte das
obras que foram adquiridas pelo governo brasileiro, para a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro em
1818, por meio de uma negociação com o arquiteto português José da Costa e Silva, que mantinha esse
material em seu poder, após a morte de Brunelli. Neste trabalho apresento a primeira parte do estudo
sobre o referido acervo. Posteriormente, pretendo fazer um cotejamento com o material que já
organizei no decorrer da pesquisa realizada desde 2007, com vistas a compor uma parcela mais ampla
do itinerário intelectual de João Angelo Brunelli na Itália, em Portugal e no Brasil, visando descrever
como esse intelectual desenvolveu seus estudos nesses três países durante sua vida.

EDUCAÇÃO, PEDAGOGIA E INSTITUIÇÕES ESCOLARES NO BRASIL COLÔNIA, IMPÉRIO E REPÚBLICA


Coordenador: FABIA LILIÃ LUCIANO

928
A ESCOLA PÚBLICA REPUBLICANA NO RIO GRANDE DO NORTE NO GOVERNO JUVENAL LAMARTINE

MARLÚCIA MENEZES DE PAIVA.


UFRN, NATAL - RN - BRASIL.

Esta pesquisa estuda a institucionalização da escola pública no RN, na Primeira República,


particularmente no Governo Juvenal Lamartine. Utiliza como fontes as Mensagens de governo e a
legislação específica para a educação. Com o advento da República, notadamente no discurso, a
educação alcançou importância primordial. Os governos estaduais apressaram-se a realizar reformas,
criar leis, decretos, regulamentos, objetivando modernizar a escola pública. No entanto, o governo de
Juvenal Lamartine de Faria (1928-1930), não apresentou mudanças significativas. Esse governante teria
seu mandato concluído em janeiro/1931, mas a emergência da Revolução de 30 precipitou o seu
término e o de todos os governadores opositores. Na educação, a ênfase de sua administração ocorreu
na criação de escolas rudimentares. Nos documentados pesquisados não foi encontrado criação de
grupo escolar, a escola republicana por excelência, embora na sua Mensagem de 1º de outubro de
1930, no item Conclusão, anuncie que no segundo ano de seu governo, com chuvas abundantes, as
finanças melhoraram e pode executar “[...] a conclusão de diversos grupos escolares e o auxilio à
construção de outros”. Araújo (1882), que estuda as origens e organização da rede escolar no RN, da
Colônia à Primeira República, publica a relação dos grupos escolares criados no Estado, no período de
1908 a 1930, com seus respectivos decretos de criação, não constando nenhuma construção depois de
1927. Lamartine iniciou seu mandato em 1928. Apesar dessa evidência, observamos na mesma
Mensagem, no item Discriminação da Receita e Despesa do exercício de 1929, que os recursos para o
Departamento de Educação foi de 1.235:546$630 réis, o quinto maior do orçamento do Estado,
expressando valorização do setor educacional. Nestor Lima, então Diretor Geral do Departamento de
Educação, em Relatório (janeiro/agosto/1928), diz, no item SITUAÇÃO GERAL DO ENSINO: “Continúa, a
meu vêr, lisonjeira e cada vez mais profícua a situação do ensino no Estado”. A Mensagem de 1929
demonstra um crescimento no ensino primário e secundário, inclusive na freqüência, passando de
23.715 alunos em 1929, para 31.987, em 1930. Havia certo cuidado com a inspecção escolar. Na
Mensagem de 1928, Lamartine diz, “Nestas inspecções, o inspector de ensino não tem apenas visado os
methodos e processos empregados, a matricula e freqüência, mas, igualmente, as condições dos
edifícios, o mobiliário, o material de ensino e as necessidades que devem ser mais urgentemente
remediadas”. Parece que a inspeção escolar garantiu um mínimo de qualidade ao ensino. Portanto,
podemos identificar, no RN, um início de institucionalização da escola pública, embora ainda distante da
modernização propalada pelo movimento republicano.

46
1044
FORMAR PROFESSORAS PARA A PRINCESA DO SERTÃO: OS PRIMEIROS ANOS DE FUNCIONAMENTO
DA ESCOLA NORMAL DE FEIRA DE SANTANA (1930-1949)

ANTONIO ROBERTO SEIXAS DA CRUZ.


UEFS, FEIRA DE SANTANA - BA - BRASIL.

A Educação da Bahia dos anos 20 do século XX sofreu uma grande reforma, a partir da Lei 1.846, de 14
de agosto de 1925, sob a inspiração do pensamento escolanovista de Anísio Teixeira. No seio das
transformações propostas pela referida lei, são criadas duas escolas normais para o interior do Estado,
sendo, posteriormente, determinado que uma delas funcionasse em Feira de Santana, cidade
denominada, por Rui Barbosa, de Princesa do Sertão. Assim, nasce a Escola Normal de Feira de Santana,
inaugurada em 1º de junho de 1927, que passou a funcionar no dia 10 do mesmo mês. Nesse contexto,
o presente artigo tem por objetivo (re) constituir a história daquela Escola Normal, expondo os motivos
de sua criação e instalação, seus objetivos nos primeiros anos de existência, os métodos de ensino
utilizados, o seu currículo e a relação pedagógica entre alunas (os) e professores (as) no cotidiano
escolar. Para a elaboração do texto levou-se em consideração fatores históricos vividos pela Bahia e
pelo Brasil dos anos vinte e trinta do século passado. Também são apresentados aspectos da história de
Feira de Santana da década de 1930, período em que floresceu a Escola Normal da referida cidade.
Trata-se dos resultados de uma investigação baseada na abordagem qualitativa da pesquisa e em
princípios da História Cultural. As fontes utilizadas foram: Jornal Folha do Norte, semanário da Cidade de
Feira de Santana - Bahia, que circula desde 1909 até os tempos atuais; documentos da Escola
pesquisada (atas, cadernetas, memorandos, programas de disciplinas, fotografias, entre outros);
documentos de arquivos pessoais de professoras formadas pela Escola; e entrevistas com suas ex-
alunas, formadas entre 1930 e 1949. Como resultado da pesquisa, evidenciou-se que a Escola Normal
formou, sobretudo, mestras que se dedicaram à educação de crianças sertanejas, tanto na cidade onde
funcionou a Escola, quanto em outros municípios. Segundo as depoentes, cabia-lhes uma grande
missão: levar saber às crianças de todos os recantos sertanejos da Bahia, o que representava atender ao
principal objetivo daquela Escola. No exercício de suas funções docentes foram valorizados os seguintes
atributos: bondade, alegria, sacrifício e amor, indispensáveis, segundo as entrevistadas na vida de uma
professora da infância. Tais atributos eram destacados não só no período de formação na Escola
Normal, mas, também, estiveram presentes nos discursos dos professores homenageados pelas alunas
na ocasião das formaturas, conforme encontrado em diversas matérias do Jornal Folha do Norte.

1024
IMPLICAÇÕES DA PRODUÇÃO DIDÁTICA DE ABÍLIO CÉSAR BORGES PARA A ESCOLA PRIMÁRIA
BRASILEIRA DO SÉCULO XIX

FABIA LILIÃ LUCIANO.


UNISANTOS, SANTOS - SP - BRASIL.

A presente pesquisa se encontra em andamento, porém, com previsão de conclusão para fevereiro de
2011 e conta com auxílio financeiro institucional da própria Universidade. A produção didática de Abílio
César Borges para as Escolas Brasileiras do século XIX se constituiu temática desta investigação, com o
propósito de levantar, discutir e analisar as implicações dos títulos das principais obras desse autor para
a Instrução Pública, no período imperial. Sabe-se que historicamente, o livro foi um recurso utilizado
tanto na tarefa de ensinar quanto no ato de aprender, especialmente nos primeiros anos da
escolarização. Sendo assim, de acordo com a historiografia nacional da Educação, Abílio César Borges foi
o precursor do livro didático. Neste sentido, os seus impressos foram ao mesmo tempo fonte e objeto
de estudo, cujo instrumento foi o inventário documental e a técnica foi à descrição. Do ponto de vista
metodológico, a investigação se caracterizou como básica, de natureza documental, exploratória,
descritiva e analítica. Os dados foram coletados em Arquivos e Bibliotecas do país, acompanhadas de

47
consultas em acervos particulares. Para o seu tratamento e análise foi necessário nos remeter as
publicações de Bastos (2001); Burke (2004); Bittencourt (2006); Farias Filho (2005); Lajolo (1991);
Luciano (2004, 2006, 2007 E 2010); Vidal (2003); Oliveira (2000) E Zilbermman (1989 E 2008). Cabe
evidenciar que, o livro utilizado nas Instituições Escolares Imperiais teve dupla função. A primeira foi de
orientar o trabalho escolar e a segunda, a de formação dos docentes, ação que se intensificou a partir
de 1830. Com o intuito de imprimir os princípios de civilização e progresso, em plena expansão na
Europa, os livros se constituíam indicações do Império para todas as Províncias. Os primeiros impressos
adotados foram os silabários e seu objetivo era iniciar os aprendizes na escrita e leitura, por meio das
sílabas e das suas diferentes combinações. O método de soletração era a estratégia de alfabetização que
se desenvolvia com o uso do silabário e a seqüência modelar, a partir da memorização. É conveniente
ressaltar naqueles tempos, por falta de conhecimento e domínio das teorias de alfabetização, os
professores recorreriam aos silabários como recurso metodológico. Por fim, problematizar o livro
didático no contexto educacional oitocentista demanda a retomada, descrição, análise e discussão dos
títulos produzidos e publicados naquela época, como foi o caso do Barão de Macaúbas e do “Livro de
Leitura para o uso das Escolas Brazileiras”, organizado em quatro (4) volumes e distribuído
gratuitamente pelo autor. Contudo, estudar os impressos desse intelectual e as suas implicações é
indiscutivelmente, uma tarefa necessária e relevante para o campo da História da Educação.

A EDUCAÇÃO DOS SENTIDOS E A ESCOLA COMO LUGAR DE


CONSTRUÇÃO DA MODERNA SENSIBILIDADE
Coordenador: VERA LÚCIA GOMES JARDIM

1058
A EDUCAÇÃO DOS SENTIDOS NO ENSINO PRIMÁRIO NOS ANOS INICIAIS DA REPÚBLICA BRASILEIRA
NO CONTEÚDO DA REVISTA ESCHOLA PUBLICA (1893-1897)

ELLEN LUCAS ROZANTE.


PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO, CAMPO LIMPO PAULISTA - SP - BRASIL.

O objetivo desta comunicação é apresentar como a Revista Eschola Pública (1893-1897) formulou
propostas sobre a Educação dos Sentidos no ensino primário. A presente comunicação faz parte de uma
pesquisa de doutorado em andamento que tem como título “A Educação dos Sentidos no Método de
Ensino Intuitivo do ensino primário nos anos iniciais da República Brasileira”, que se realiza na Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, no Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação: História,
Política, Sociedade, sob a orientação do Prof. Dr. Kazumi Munakata. Esta comunicação tem como objeto
a Educação dos Sentidos, mais especificamente, as formulações, no final do século XIX, sobre como
educar os sentidos na escola, levando em conta que a escola tem contribuído na ordenação e
organização da sociedade, por meio da educação disciplinar do corpo. O marco dessa proposta no
estado de São Paulo foi a constituição, em 1893, de uma nova organização escolar que marcou a
evolução do ensino brasileiro pela influência que exerceu. Essa organização consistia em uma nova
modalidade de escola primária denominada “grupo escolar”. A Revista Eschola Publica foi uma
publicação restrita a São Paulo, e estabelecia um diálogo entre as formas de ver e conhecer o mundo e a
adoção do método intuitivo naquele estado. Para tanto, tinha interesses neste novo modelo
educacional identificado com um novo método inovador, o método de ensino intuitivo. O ensino por
este método tem como base o aprendizado por meio da observação do real e da experiência. Neste
método, a intuição pelos sentidos é a ação mais espontânea da inteligência humana em direção à
verdade. O referencial teórico utilizado para análise tem como base o conceito de experiência de Peter
Gay, para o qual a experiência é o encontro da mente com o mundo. Por fim, por meio da análise do
discurso proferido na Revista foi montado um banco de dados que levou em consideração o nome do
autor, sua qualificação, título dos textos, ano e número, além dos campos tema e observações. Estes
últimos foram preenchidos com informações obtidas por meio da compreensão de cada artigo em que
preponderou sua relação com o método intuitivo e a educação dos sentidos. Sobre a apreensão de

48
como eram entendidos os sentidos na educação das crianças, vale ressaltar, houve a subdivisão da
investigação entre os cincos sentidos (visão, audição, olfato, paladar e tato) com o intuito de identificar
como se propôs o adestramento de cada sentido no método intuitivo e ainda verificar se houve sentidos
mais privilegiados que outros.

1208
A EDUCAÇÃO DOS SENTIDOS NA CONCEPÇÃO DAS ESCOLAS MARISTA EM SÃO PAULO NO INÍCIO DO
SÉCULO XX (1908 – 1931): O USO DO GUIDE DES ÉCOLES

PAULA MARIA ASSIS.


PUC-SP, SAO PAULO - SP - BRASIL.

Esta comunicação é parte de uma pesquisa para tese de doutoramento cujo título é A Educação dos
Sentidos na concepção das escolas católicas entre os anos de 1889 - 1931 sob orientação do Prof. Dr
Kazumi Munakata. Para esta comunicação, o objetivo é investigar como era a Educação dos Sentidos nas
escolas Maristas no período compreendido entre os anos de 1908, ano em que os Irmãos Maristas
assumem o Colégio Arquidiocesano e, 1931, ano em que a reforma Francisco Campos provoca
alterações significativas no currículo da escola. Para este trabalho serão investigadas as fontes
documentais do Centro de Memória do Colégio Marista Arquidiocesano de São Paulo em especial o
Guide des Écoles. Este guia especifica o método marista, propõe currículo e orienta os educadores. Sua
principal característica é que em suas páginas abandona a pedagogia livresca baseada na retórica e
passa a adotar técnicas fundamentadas na observação e na experiência desenvolvendo alguns sentidos
que antes não eram privilegiados. Sob esse aspecto se pretende identificar quais são as vertentes
teóricas e os dispositivos pedagógicos presentes no Guide des Écoles, além de observar quais foram os
sentidos privilegiados (audição, visão, olfato, paladar ou tato) e como foram treinados a fim de redefinir
o sentir e produzir nos alunos um mesmo ângulo de apreciação de mundo. A partir de meados do século
XIX, a Igreja Católica começa a reorganizar sua atuação com relação à educação escolar, adotando
políticas que propunham uma nova estruturação de caráter reacionário pra a manutenção do seu status
quo. A intenção era frear o avanço das Igrejas protestantes que espalhavam suas escolas pelo mundo e,
dessa forma dar continuidades à idéia de que a Igreja Católica era a única intermediadora entre os
homens e Deus. Dentre as políticas de restauração adotadas está a formação de várias congregações
missionárias que partiram da Europa com propostas pedagógicas definidas. Das várias congregações
católicas missionárias ligadas à educação que chegaram ao Brasil, este trabalho privilegiará a proposta
dos Irmãos Maristas, uma vez que estes tinham um método muito bem estruturado e definido. A
hipótese é que as transformações ocorridas no mundo secular foram incorporadas pela Igreja e
repassadas para as ordens missionárias o que provocou mudanças no âmbito educacional. Será
considerado para a análise as práticas e a cultura escolar na perspectiva de Vinão Frago. O referencial
teórico que norteia a análise é o conceito de experiência de Peter Gay.

1042
A EDUCAÇÃO DO OUVIDO NA VIGÊNCIA DO CANTO ORFEÔNICO – 1931-1961

VERA LÚCIA GOMES JARDIM.


UNIP ALPHAVILLE - SP, BARUERI - SP – BRASIL

Desde meados do século XIX a educação do ouvido já constava das preocupações educacionais, como
pressuposto para o acesso a cultura e ao conhecimento. Englobava conceitos de formação de senso
estético, formulados desde o início da República, que expressavam a necessidade da formação do bom
gosto. A definição de “bom gosto”, sob responsabilidade do ensino musical nas escolas, presente desde
a sua inclusão como disciplina no currículo das escolas públicas, em 1838, adquiriu feições e significados
diferentes, conforme as concepções de seus formuladores. O objetivo deste trabalho é evidenciar os
elementos curriculares e estéticos privilegiados para compor o ideal de formação do homem presente
nos projetos educacionais, tomando como objeto as práticas para o ensino do canto orfeônico, mais

49
especificamente, a sua concepção de educação do ouvido. O período delimitado parte da Reforma
Francisco Campos (1931), momento em que a música, como disciplina escolar, foi organizada na forma
do Canto Orfeônico, mantendo-se nesta estrutura até a sua exclusão pela determinação da LDB de
1961, que instituiu a Educação Musical. Pela análise das fontes compulsadas – legislação, programas de
ensino, prescrições e orientações, métodos oficialmente instituídos – propõe-se verificar os princípios
que guiaram as mudanças e consolidaram práticas escolares para apreender a construção das novas
concepções educacionais voltadas para a educação dos sentidos e os requisitos ordenados para atendê-
la. Ao assumir a condução do Canto orfeônico, em nível federal, nos anos 30, Villa-Lobos define o seu
conceito de bom gosto relacionado às músicas da estética modernista, da qual era signatário;
preferência contrária à época, de evidentes características conservadoras. Nesta proposta, a educação
do ouvido e a educação estética eram organizadas em conteúdos de ensino como Apreciação Musical,
que previa audição de discos de conjuntos orfeônicos, de hinos, canções nacionais, além de testes de
discernimento de gêneros musicais. O controle sobre o ouvir se ampliava para avaliações e medições,
reeditando alguns procedimentos inspirados nos testes aplicados nos anos 10-30. Fichas de avaliação,
em circulação a partir de 1946, deveriam ser preenchidas com dados referentes ao aluno e seu
desenvolvimento nas aulas de Canto Orfeônico. Entre os tópicos constavam Provas funcionais dos
ouvidos, referindo-se, entre outros, aos Sentidos e a Acuidade auditiva. As Anotações para
anormalidades somáticas alertavam para que os alunos deficientes – de audição falsa – não deveriam
ser apartados do grupo para eventual correção, pois ninguém deveria ser excluído da participação, cujas
práticas possibilitavam uniformizar e regular modos de pensar e atuar socialmente. Como suporte
teórico, a fim de compreender as relações entre currículo, práticas e conteúdo, foi adotado autores
como Chervel e Viñao Frago, bem como Elias e Gay para articular aspectos que envolvem condutas
sociais e a educação dos sentidos.

1049
OLHAR E ESCUTAR: O DESLUMBRAMENTO DOS ESTUDANTES MOBILIZADOS DURANTE A DITADURA
MILITAR, POR ÍCONES JOVENS E REVOLUCIONÁRIOS ESTAMPADOS NAS MANCHETES DE JORNAIS E
REVISTAS DE CIRCULAÇÃO EM MASSA

KATYA MITSUKO ZUQUIM BRAGHINI.


DIRETORIA EXECUTIVA DA REDE DE COLÉGIOS MARISTA, CURITIBA - PR - BRASIL.

Posicionar-se contra a implantação e o funcionamento da Ditadura Militar no Brasil é a prática mais


evidenciada nos estudos que se ocupam com os movimentos estudantis nos anos 1960. Dá-se ênfase
para a prática política estudantil como o principal mote para a atuação daqueles estudantes que se
posicionaram contrários aos desmandos de grupos autoritários e conservadores que atuavam no
período. Ao contemplar as fontes produzidas por grupos conservadores foi percebido que os
movimentos estudantis eram apresentados como “subversivos”, termo que pela repetição, foi tornado
“banal”. Explicar o movimento estudantil, tanto pela atividade política como a sua única experiência,
quanto pelo aspecto da subversão aos padrões sociais estabelecidos, foram tornados “lugares-comuns”
da História e são atributos que excluem outras peculiaridades dos atos estudantis daquele período. O
estudo de artigos de jornais e revistas, bem como, dos testemunhos dos sujeitos que se mobilizaram
politicamente naquela época, apontou que aqueles jovens foram estimulados ao movimento estudantil
também por motivos rotineiros: a) a visão de fotos dos ícones revolucionários, também jovens,
estampados nas reportagens de revistas; b) o relato, o “ouvir dizer” de grandes investidas juvenis
registradas nas reportagens de circulação em massa sobre os manifestos de ruas, mobilizações gigantes,
comícios relâmpagos, assaltos a bancos etc.. Este trabalho, portanto, tem duplo objetivo: primeiro, o de
apresentar como a visão e a audição foram sentidos mobilizados para o desencadeamento do
movimento estudantil, visto aqui como um contágio emocional em que experiências vividas por sujeitos
da mesma faixa etária, a partir de reações às situações chocantes, instituem práticas diversas, que neste
caso também foram elementos constituintes dos movimentos políticos. O movimento estudantil é
entendido aqui como o resultado da interação entre sujeitos de faixa etária semelhante, mobilizados a
partir da sua identificação com as imagens e pelos relatos compartilhados em diversos ambientes
dentro e fora da escola. Da forma como aponta Peter Gay, as práticas cotidianas dos sujeitos podem

50
assinalar o significado da experiência de um grupo social. Segundo, o de demonstrar as percepções
daquilo que era considerado “inapropriado” e observar os métodos de produção de significados do
senso-comum. Trata-se de apontar que o senso comum, mais do que uma banalização do fato, é uma
superestimação dos estereótipos que apaga outras histórias sobre os sujeitos históricos. Este trabalho é
uma parcela de um estudo histórico de doutorado que apresentou uma imagem da juventude nos anos
1960 e 1970 a partir do que foi produzido, publicado e republicado na Revista da Editora do Brasil S/A,
clipping educacional que circulou entre os profissionais de ensino, tido como uma “contra-face” da
juventude que, à época, se manifestava de formas variadas, notadamente favoráveis ao regime militar.

ARQUIVOS ESCOLARES: POSSIBILIDADES DE PESQUISAS EM HISTÓRIA DAS DISCIPLINAS


Coordenador: EVA MARIA SIQUEIRA ALVES

1081
CENTRO DE MEMÓRIA DO COLÉGIO ESTADUAL DO PARANÁ: CONSIDERAÇÕES SOBRE SEU ACERVO
DOCUMENTAL

NADIA GAIOFATTO GONÇALVES.


UFPR, CURITIBA - PR - BRASIL.

Este trabalho tem como objetivo apresentar e discutir o processo de constituição do Centro de Memória
do Colégio Estadual do Paraná, e o acervo documental nele disponibilizado. O CEP sintetiza uma
trajetória que, de certa forma, implicou em formatos e propósitos diversos, em consonância com
projetos e políticas educacionais mais amplos, no país. Esta instituição foi oficialmente criada em 1846,
sob a denominação Licêo de Coritiba, e posteriormente, passou a Instituto Paranaense (1876),
Gymnasio Paranaense (1892), Colégio Paranaense (1942) e Colégio Estadual do Paraná (1943). Em 2006
foi iniciado um projeto de organização deste acervo, que no mesmo ano foi ampliado, no sentido de
criar e implantar um Centro de Memória do CEP, que abrangeria, além dos documentos escritos do
arquivo histórico escolar, o Museu Professor Guido Straube, e uma Seção responsável pelo
acompanhamento e orientação sobre cuidados com o patrimônio histórico da instituição, de forma
geral, como espaços, ambientes, e mobiliário, espalhados pelo prédio. Em junho de 2010, o Centro de
Memória foi oficialmente implementado, mediante aprovação de seu Regulamento pelo Conselho
Escolar do CEP, porém, ainda não foi inaugurado, uma vez que o espaço que será sua sede está em
reforma. Apesar disso, deve ser registrado todo o trabalho de organização dos acervos que já foi
desenvolvido. Por exemplo, a organização e higienização do acervo documental; a criação de uma
tipologia e classificação documental próprias; e um banco de dados, no qual estão catalogados todos os
documentos já higienizados. Atualmente cerca de mil documentos constam do banco de dados, e
abrangem desde ofícios e atas, a alguns tipos de fontes que podem contribuir mais diretamente para
pesquisas relativas a disciplinas escolares, como: livros de ocorrência, planos de ensino, conteúdos
programáticos; material didático; horários de aula; projetos para disciplinas, quadro de professores,
diários de classe; atas de reuniões de professores e pais; planos e projetos pedagógicos; currículos;
regimento interno; e quadros demonstrativos do número de professores, aulas, alunos e turmas. Para a
discussão sobre a organização do acervo do CEP são utilizados como referências principais os trabalhos
de Bellotto (1994), Zaia (2004), Vidal e Zaia (2001), no que tange a arquivos e arquivos escolares; Le Goff
(2003) e Ragazzini (2001), quanto a documentos e fontes para História da Educação; e de Magalhães
(1998 e 1999) sobre história das instituições educativas. Destaca-se a potencial contribuição do acervo
documental do CEP para pesquisas em História da Educação, como aquelas desenvolvidas no campo da
História das disciplinas escolares. Várias pesquisas já foram realizadas a partir de fontes deste acervo,
por exemplo, sobre a Educação Física, Canto Orfeônico, História, Arte e Atividades Complementares,
além de outras relativas a práticas e à cultura escolar, não relacionada diretamente a alguma disciplina.
969
A HISTÓRIA DAS DISCIPLINAS ESCOLARES ARMAZENADA NOS ARQUIVOS DAS ESCOLAS

51
EURIZE CALDAS PESSANHA.
UFMS, CAMPO GRANDE - MS - BRASIL.

Grande parte das pesquisas sobre História das Disciplinas Escolares no Brasil originaram-se das matrizes
teóricas elaboradas por Chervel e por Goodson. Ressalvadas as diferenças teórico-metodológicas entre
esses dois referenciais, constituem objetivos comuns dessas pesquisas a reconstituição da história de
determinada disciplina nas mais diversas fontes e procedimentos metodológicos: desde estudos
etnográficos até histórias de vida passando por depoimentos, entrevistas e análise de documentos
encontrados nos arquivos escolares, além da análise do currículo prescrito na legislação e nos
dispositivos específicos de cada escola. A questão primordial explicitada por Goodson sobre se o que foi
prescrito foi realizado se junta à proposta de Chervel de buscar a gênese e o funcionamento de cada
disciplina conduzindo o pesquisador a buscar documentos que possam oferecer indícios dessa história
para além dos relatos de seus atores. As pesquisas sobre HDE desenvolvidas neste grupo partem do
pressuposto de que a história de uma determinada disciplina escolar só pode ser compreendida no
âmbito do lócus (escola) que a produziu, uma vez que as especificidades da cultura escolar de cada
escola trazem elementos indispensáveis para essa análise. Os arquivos escolares embora contenham
grande parte dessa história transformam-se em obstáculo para o pesquisador da HDE, pois as
instituições escolares produzem e armazenam documentos para atender a exigências legais e
burocráticas e sua permanência, organização e acesso dependem dessas exigências; cessada a sua
função, cessa também a preocupação com a sua preservação e, em vez de arquivos, o pesquisador se
depara com depósitos de “papéis” que não fazem mais parte do “arquivo vivo” da escola mas que, por
alguma razão, ainda não foram descartados. O objetivo deste texto é apresentar e discutir as estratégias
desenvolvidas por este grupo para superar esses obstáculos e transformar esses “papéis” em fontes
para a história das disciplinas escolares. Foram realizadas treze pesquisas sobre HDE, a maioria delas em
uma mesma escola, cujas fontes documentais foram livros didáticos, atas, portarias, livros de
ocorrência, diários de classe, provas, cadastros de professores e alunos, cadernos escolares e recortes
de jornais armazenados nos arquivos da escola ou em arquivos particulares. A tarefa de localização,
seleção e análise desses documentos, principalmente nas primeiras pesquisas, exigiu grande esforço de
cada pesquisador. Atualmente, o arquivo encontra-se organizado, com grande parte dos documentos
digitalizados e acessíveis. Concluiu-se que a parceria com a escola é estratégia fundamental ao lado da
tarefa de organização do arquivo e facilitação do acesso às informações armazenadas com utilização das
tecnologias digitais, possibilitando a escrita da história de outras disciplinas escolares.

981
O ARQUIVO ESCOLAR E A EDUCAÇÃO FEMININA: UM OLHAR SOBRE O ACERVO DO COLÉGIO
PROGRESSO CAMPINEIRO (CAMPINAS - SP)

PRISCILA KAUFMANN CORRÊA.


FACULDADE DE EDUCAÇÃO UNICAMP / REDE MUNICIPAL DE VINHEDO, CAMPINAS - SP - BRASIL.

O acervo histórico do Colégio Progresso Campineiro se mostra rico e diversificado em suas fontes a sua
organização caminhou paralelamente à realização de diferentes pesquisas acadêmicas. O Colégio
Progresso foi fundado em 1900 na cidade de Campinas por um grupo de cidadãos de influência política
e econômica, dos quais se destacou Orosimbo Maia, que foi prefeito da cidade. O internato destinava-se
à educação feminina, procurando diferenciar-se de outras instituições mantidas por congregações
religiosas. A escola de nome inspirado pelo positivismo se apresentava como um estabelecimento
inovador, ao oferecer uma formação ampla voltada tanto para as humanidades, como para as ciências
exatas, consideradas pouco comuns no que se referia à escolarização feminina. Apesar da manutenção
da escola caber a um grupo de leigos, o ensino religioso possuía seu espaço desde a fundação,
fortalecendo-se nas décadas seguintes. Ao longo da trajetória da escola destaca-se sua segunda
diretora, Dona Emília de Paiva Meira, assumiu seu cargo em 1902 e nele permaneceu até 1937, ano de
seu falecimento. Dona Emília atuou intensamente no campo educacional dando forma ao projeto
pedagógico do colégio, que incluía uma formação religiosa calcada no catolicismo. Durante minha

52
pesquisa de mestrado identifiquei que o ensino religioso se configurava não apenas como uma matéria
de ensino presente no currículo, mas também como um conjunto de práticas realizadas na capela do
Colégio Progresso. O cotidiano do internato, permeado pelas matérias de religião, pelas missas, retiros
espirituais e comunhões, garantiria uma formação católica ampla. Um conjunto variado de documentos,
tais como livros de notas e faltas, regulamentos internos e matérias de jornais, permitiu identificar as
diferentes formas como este ensino era organizado na escola. O levantamento e a organização do
acervo do Colégio Progresso trouxeram à luz uma documentação bastante diversificada, que reúne
recortes de jornal, correspondências pessoais e oficiais, fotografias, prospectos de divulgação da escola,
além de seus livros de matrícula e registros de notas e faltas. Tais documentos permitem investigar o
universo escolar e sua cultura em múltiplas perspectivas, evidenciando a complexidade desta
instituição. A conservação deste acervo levou à realização de diferentes atividades, não se limitando à
pesquisa acadêmica. O envolvimento de professores e alunos do colégio possibilitou experiências de
valorização da história da instituição e de sensibilização para a preservação dos documentos históricos.
Nesta perspectiva, além de guardar ricas informações sobre o passado de uma instituição escolar, o seu
arquivo histórico se apresenta como um espaço de circulação de pessoas e idéias, lançando novos
olhares sobre a escola no presente.

916
O CENTRO DE EDUCAÇÃO E MEMÓRIA DO ATHENEU SERGIPENSE: CRIAÇÃO E PESQUISAS EM
HISTÓRIA DAS DISCIPLINAS

EVA MARIA SIQUEIRA ALVES.


UFS, ARACAJU - SE - BRASIL.

Ao investigar o Atheneu Sergipense, instituição de estudos secundários criada em 1870, como objeto de
pesquisa do doutorado, constatei que os documentos mais antigos apresentavam-se em deterioração
progressivos, bastante descuidados e relegados a condições insalubres de conservação. O patrimônio
arquivístico daquela “Casa de Educação Literária” secular clamava por cuidados, por preservação e
organização. Urgia a criação de um Centro de Educação e Memória da agência produtora e irradiadora
de práticas e padrões pedagógicos, que projetou vultos de destaque no panorama político e social e que
prestaram benefícios incalculáveis em todas as profissões e atividades que desempenharam. Diante da
riqueza de fontes localizadas, documentos do tipo: livro de atas, livros de matrículas, livro de ponto,
cadernetas de notas e de aulas, correspondências expedidas e recebidas pela escola, ficha de alunos,
provas de concurso, registro de visitantes, que refletem a vida da própria instituição e contribuem
sobremaneira para sua existência histórica, entendeu-se que esta documentação deveria ser preservada
e organizada. A fim de oportunizar aos pesquisadores e a toda sociedade o manuseio do rico acervo de
modo a desencadear estudos dentro da História da Educação, foi elaborado o projeto “Centro de
Educação e Memória do Atheneu Sergipense”, aprovado por Edital da Fundação de Amparo à Pesquisa
do Estado de Sergipe/FAPITEC-SE. O mesmo apresentava como objetivo realizar o levantamento e a
catalogação das fontes documentais produzidas pelo Atheneu Sergipense, no período de 1870 a 1950.
Concluída essa etapa, foi elaborado novo projeto, com aprovação do Ministério da Cultura, no ano de
2008. A conservação da massa documental produzida pelo Atheneu Sergipense tem suscitado pesquisas
de Mestrado, Doutorado, Iniciação Científica e Monografias, desenvolvidas pelo grupo de pesquisas
Disciplinas Escolares: História, Ensino, Aprendizagem (DEHEA), que tomam como fontes as informações
salvaguardadas do patrimônio cultural, educacional e social do Atheneu Sergipense que constitui parte
significativa da História da Educação do Estado de Sergipe. Cabe ressaltar que a conservação dos
documentos históricos produzidos pelas instituições escolares torna-se fundamental não só para a
memória da escola, mas também para memória daqueles que por ela passaram. A memória, como
lembra Nora (1993), é a vida em permanente evolução, carregada por grupos vivos, permeada pela
lembrança e pelo esquecimento. Na história, a reconstrução, que se imagina proceder é sempre
problemática e incompleta, daquilo que não existe mais. Assim, almeja-se com a prática de pesquisa
desenvolvida no CEMAS, incentivar que outras instituições, públicas ou privadas, preservem suas fontes
documentais, pois dessa forma estarão assegurando também a memória da educação brasileira e em
especial a de Sergipe.

53
54
EIXO 4 - HISTÓRIA DA PROFISSÃO DOCENTE

A PROFISSÃO DOCENTE NO BRASIL E EM PORTUGAL: UMA HISTÓRIA CONECTADA


Coordenador: ANA WALESKA POLLO CAMPOS MENDONÇA

646
REFLEXÕES SOBRE O PROCESSO DE PROFISSIONALIZAÇÃO DO PROFESSOR PÚBLICO NO MUNDO LUSO-
BRASILEIRO

TEREZA FACHADA LEVY CARDOSO.


CEFET-RJ, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL.

Este trabalho apresenta algumas conclusões sobre uma pesquisa já concluída, que integrou um projeto
financiado pela CAPES/FCT, na qual se procurou, utilizando a metodologia da educação comparada,
acompanhar as trajetórias da profissão docente no Brasil e em Portugal, recompondo o processo por
meio do qual os professores se constituíram como agentes históricos. A intenção foi investigar as
Reformas Pombalinas da Instrução Pública, particularmente a reforma dos Estudos Menores, no século
XVIII, que marcaram a intervenção pioneira do Estado português na constituição de um sistema estatal
de ensino, em todos os domínios do Reino, quando se criou o quadro de professores régios,
funcionários do Estado. O trabalho aqui apresentado é um recorte dentro desse amplo tema e teve
como objetivo inicial se debruçar sobre o processo de profissionalização do professor público no Rio de
Janeiro, entre o final do século XVIII e meados do século XIX. Partiu-se de algumas premissas: - a
Reforma dos Estudos se desenvolveu em dois momentos distintos de um mesmo processo; - a política
pombalina exerceu influência no movimento dos ilustrados, cooptando intelectuais; - a formação e
atuação de intelectuais na virada do século XVIII para o XIX, sob os princípios ilustrados, não criou o
intelectual “brasileiro” numa relação hierárquica e servil; - as aulas régias formaram um sistema de
ensino; - o cargo de professor público foi criado pelo Estado, mas os professores se percebiam como
uma categoria. As questões norteadoras da pesquisa foram basicamente duas: - Identificar se os
professores públicos tiveram ou não uma participação ativa na vida política e cultural brasileira e fazer
um levantamento das políticas dirigidas aos professores públicos por diferentes instâncias políticas e
administrativas. Alguns achados da pesquisa dizem respeito a participação dos literatos e poetas, no que
se poderia chamar o entre-lugar do intelectual "brasileiro”. Há também exemplos de professores
“portugueses” com uma participação intelectual, administrativa e política profícua. O levantamento
privilegiou, sobretudo, o século XVIII e desde 1759, ficando especialmente a década de 30 do século XIX
apenas parcialmente estudada. As fontes utilizadas no Rio de Janeiro encontram-se na Biblioteca
Nacional, Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, Arquivo Nacional, Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro e Real Gabinete Português de Leitura. E em Portugal, no Arquivo da Torre do Tombo, Arquivo
Geral da Alfândega de Lisboa, Arquivo Histórico Ultramarino, Biblioteca Pública e Arquivo Distrital de
Évora. O contato com as fontes primárias que não estão disponíveis no Brasil, suscitou novos
questionamentos e ampliou o interesse pelo tema, alterando, inclusive, a intenção inicial de estudar
prioritariamente os docentes do RJ.

1175
A REFORMA POMBALINA DOS ESTUDOS MENORES NA GÊNESE DO MAGISTÉRIO PÚBLICO
SECUNDÁRIO EM PORTUGAL E NO BRASIL

ANA WALESKA POLLO CAMPOS MENDONÇA.


PUC-RIO, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL.

O trabalho se propõe a socializar os achados da pesquisa recém concluída “A Reforma Pombalina dos
Estudos Secundários e seu impacto no processo de profissionalização do Professor”. Confirmou-se a
hipótese inicial de que as reformas pombalinas se constituíram em um momento decisivo na história da
profissão docente tanto em Portugal quanto no Brasil, a despeito da interpretação ainda dominante na

55
historiografia da educação brasileira de que seu impacto teria sido quase nulo na colônia. O primeiro
achado decorreu da aproximação aos trabalhos do historiador alemão Koselleck (1992, 2006) e ao seu
projeto de construir uma história dos conceitos, o que me levou a suspeitar da maneira frequentemente
a-histórica com que nos apropriamos do conceito de público, quando aplicado à educação ou ao ensino.
Se as Reformas Pombalinas constituíram, de fato, o que se poderia entender por um sistema público de
ensino, importa destacar o caráter da intervenção do Estado, a educação pública não se identificando
com a educação popular, já que se destinava apenas àquela parcela da população que poderia
efetivamente contribuir com as perspectivas de implantação do seu projeto centralizador. O segundo e,
talvez, o mais importante achado da pesquisa se articula com o primeiro e foi a constatação de que a
fragmentação dos estudos introduzida com as Reformas gerou um efeito de fragmentação da própria
profissão docente, com repercussões na forma como esta foi se constituindo historicamente,
fortalecida, no caso dos professores dos estudos secundários, pela sua estrita vinculação a uma matéria
específica. O terceiro achado resultou particularmente da interlocução com alguns autores portugueses,
que estudaram as origens do ensino secundário em Portugal. Foi possível constatar que o impacto da
fragmentação dos estudos se fez sentir também sobre a forma como este nível de ensino se organizou,
ao longo do século XIX, inclusive no Brasil, expressando-se na forte resistência que se manifestou lá e cá
à sua institucionalização como uma forma de ensino regular. Outras contribuições da pesquisa têm a ver
com os trabalhos que venho desenvolvendo mais recentemente no sentido de traçar uma
caracterização geral dos professores régios dos estudos secundários, no período em estudo (1759-
1794), tanto a partir de dados quantitativos, como qualitativos. A análise desenvolvida sobre esses
dados tem permitido avançar na caracterização da identidade profissional desse segmento dos
professores. A esse respeito, cumpre assinalar que, se no primeiro momento da pesquisa, a ênfase foi
posta sobre a ação do Estado no processo de construção dessa identidade, a partir da categoria de
funcionarização (Nóvoa, 1989), no momento atual, o foco deslocou-se para o processo de constituição
de uma cultura docente específica desse segmento da categoria, objetivada nas suas práticas e
transmitida de geração a geração, através da memória da corporação, e configurando uma tradição
inventada (ESCOLANO, 1999).

1246
ASSOCIAÇÕES PROFISSIONAIS DE PROFESSORES

LIBANIA NACIF XAVIER.


PPGE-UFRJ, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL.

O estudo é parte de uma pesquisa mais ampla por meio da qual se buscou elaborar uma síntese das
diferentes estratégias de associativismo docente no Brasil e em Portugal; classificar e caracterizar os
diferentes modelos de organização associativa verificados ao longo da pesquisa, bem como analisar os
seus efeitos sobre a configuração da carreira. Esta comunicação apresenta os resultados parciais de uma
pesquisa realizada na cidade de Lisboa, em 2008, em função da qual nós visitamos algumas associações
de professores estruturadas em torno ao ensino de uma disciplina específica ou de uma proposta
pedagógica definida. Pretendemos detalhar a caracterização desse tipo particular de estratégia
associativa, chamada pelos portugueses de associações profissionais. Estas se estruturaram tendo em
vista a auto-afirmação da categoria nos assuntos que dizem respeito ao seu campo de atuação
profissional. Nesse intento, apresentam objetivos variados, tais como: 1) exercer o controle, ainda que
limitado, sobre certas políticas – como as políticas curriculares, por exemplo; 2) participar
propostivamente no mercado de bens culturais – pela oferta de cursos de aperfeiçoamento profissional
ou pela publicação de livros e materiais didáticos, dentre outras ações; 3) promover o intercâmbio entre
pares, ampliando os espaços de exercício da colegialidade e promovendo meios de proporcionar a auto-
formação participativa como alternativa ao modelo dominante de organização do trabalho escolar. Tais
organizações foram identificadas em paralelo com outros modelos de associações, tais como as
assistenciais e as sindicais, além das profissionais e das científicas. O objetivo mais geral a que se liga
este estudo foi o de analisar os processos históricos de constituição da profissão docente sob a ótica dos
movimentos coletivos de intervenção na conformação da carreira, de negociação com as esferas de
poder e de interação entre lideranças coletivas e o grupo profissional. Esperamos, dessa forma, avançar

56
na compreensão das alternativas profissionais criadas por meio da ação coletiva e da institucionalização
de associações docentes. Por meio destas, diferentes grupos de professores operam a proposição e a
divulgação de modelos e práticas pedagógicas consideradas eficazes em contextos nos quais se
verificam mudanças na estrutura das oportunidades políticas (EOP) (Cf:Tilly:1978). Consideramos que a
noção de EOP é fértil para o estudo da história dos movimentos coletivos docentes, permitindo-nos
estabelecer nexos entre as motivações, as condições e as estratégias adotadas pelos grupos
profissionais em contextos de mudança política e social, analisando-os de modo articulado e
interdependente.

1254
PÁGINAS PARA EDUCADORES: UM ESTUDO SOBRE IMPRESSOS CATÓLICOS NO BRASIL E PORTUGAL
NA DÉCADA DE 1930

ANA MARIA BANDEIRA DE MELLO MAGALDI.


UERJ, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL.

O objetivo dessa comunicação, resultado de pesquisa em fase de conclusão, é o de produzir uma


reflexão sobre o viés doutrinário/educativo assumido por periódicos católicos em circulação no Brasil e
em Portugal, na década de 1930, considerando-se, especialmente, a produção de enunciados dirigidos a
educadores, nos veículos focalizados. Em particular, a análise estará dirigida a seções específicas,
publicadas em dois jornais diários católicos, um brasileiro e um português, e destinadas a educadores,
sendo as mesmas de dois tipos: seções destinadas a professores (Página do professorado e Página
escolar) e seções destinadas a mulheres (Para a mulher e o lar e Página feminina do Novidades: A bem
da mulher), apresentadas, em grande medida, a partir do lugar de mães e educadoras. Editados
respectivamente em Belo Horizonte e Lisboa, ao longo de um período mais alargado, os jornais O Diário
e Novidades, se inscrevem, nos anos 1930, no horizonte do movimento da Ação Católica que,
estimulado pelas instâncias hierárquicas da Igreja, adquiria relevo, à época, em diversos países, entre os
quais Brasil e Portugal. Os jornais em questão correspondiam à função destacada, atribuída à imprensa
católica nesse movimento, de mobilização de leigos sob a orientação da hierarquia católica, no sentido
do combate aos “males” provocados pela disseminação do laicismo e de outros valores identificados
com a modernidade, pela via da palavra impressa. Nessa direção, pode ser observado, ao folhearmos as
páginas de ambos os jornais, dedicadas a temas os mais diversos, um viés doutrinário indiscutível,
traduzido na intencionalidade dos editores em moldar consciências em sintonia com o projeto católico.
Se essa marca impregna as mensagens transmitidas aos leitores de modo geral, os educadores,
profissionais ou domésticos – nesse caso, confundidos com a figura das mães – eram constituídos em
alvo especial, com direito a seções de destaque, especificamente destinadas a si. Na estratégia
conduzida através das seções, observa-se a intenção de seus editores de contribuir para a preparação
consistente desses educadores, tratados em suas especificidades, de modo que os mesmos pudessem
atuar, de modo competente, como formadores de “almas católicas”. O relevo conferido a esses sujeitos
e às instituições a que correspondiam – escola e família – nessas publicações representa um indicativo
da percepção, compartilhada pelo movimento católico, da centralidade de sua ação educativa para o
sucesso do projeto católico, articulado, nos dois países, a projetos de construção da nação.

57
58
EIXO 5 - IMPRESSOS, INTELECTUAIS E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

HISTORIOGRAFIA DA EDUCAÇÃO: AS NARRATIVAS E O ENSINO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO


Coordenador: BRUNO BONTEMPI JUNIOR

1073
FORA DE CENTRO: A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA CONTADA PELOS EDUCADORES
REPUBLICANOS PAULISTAS

BRUNO BONTEMPI JUNIOR; MARIA LUCIA HILSDORF.


USP, SAO PAULO - SP - BRASIL.

A historiografia da educação brasileira por muito tempo consagrou as obras de José Ricardo Pires de
Almeida (1889), Primitivo Moacyr (1936-1942) e Fernando de Azevedo (1940) como peças primordiais e
modelares da história da educação no país. Seja como herdeira ou como crítica, a historiografia que
dialoga com esse conjunto resguarda, em geral, a interlocução com o ponto de vista que ele assume,
que poderíamos denominar de “voz do Centro”, em que tanto a seleção documental quanto a seleção e
interpretação dos eventos se reportam às iniciativas, reformas e políticas educacionais do Império, ou
da União, enquanto obscurecem, criticam ou mesmo ironizam as iniciativas tomadas em nível provincial
e estadual. Esta comunicação trata de um conjunto de narrativas que, nas primeiras décadas do século
XX, fez-se publicar por educadores de São Paulo, e que foi apagada por não estar no espaço do Centro e,
por certo, por discordar das obras de Moacyr, Pires de Almeida e Azevedo, apresentando um
contraponto às marcas de unidade, a homogeneidade, a continuidade e valorização do controle central,
do progresso e da evolução que as caracterizam. Trata-se da obra relativamente fragmentada e
descontínua, por escapar aos moldes editoriais em que mais tarde a produção dos pioneiros veio a
circular, mas que vinha sendo escrita ao menos desde 1904 por representantes das novas elites
intelectuais que orbitavam na esfera do poder estadual, ligados a grupos políticos direta (inspetores,
professores) ou indiretamente (juristas, burocratas) relacionados com a educação em São Paulo. Essa
produção emerge como propaganda (Reis, Thompson & Lane, 1904; Rodrigues, 1907-1908; Silveira,
1929; Escobar, 1933), balanço oficial (Rodrigues, 1907-1908), balanço comemorativo (Penteado, 1923)
ou ainda como munição a serviço do debate interno ao campo, em disputas políticas e educacionais
(Penteado, 1923; Silveira, 1929; Oliveira, 1931). Ainda que dispersa em diferentes veículos e instâncias,
não resta dúvida que entre si esses textos estabelecem um diálogo, puxando um fio temático em suas
narrativas. Tendo recolhido e organizado pela primeira vez esta produção em um mesmo corpus, esta
comunicação tem como objetivos identificar esse fio narrativo, destacar e compreender as escolhas de
fontes e acontecimentos, o valor que atribuem às ações narradas, assim como interpretar o sentido das
diferentes intervenções dialógicas à luz das posições ocupadas por esses sujeitos no ambiente da
educação paulista nos tempos de sua produção. Palavras-chave: historiografia, narrativa, educadores
paulistas.

1085
TEXTBOOKS IN THE HISTORY OF EDUCATION: NOTAS PARA PENSAR AS NARRATIVAS DE PAUL
MONROE, STEPHEN DUGGAN E AFRANIO PEIXOTO
1 2
JOSÉ GONÇALVES GONDRA ; JOSÉ CLAUDIO SOOMA SILVA .
1.UERJ, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL; 2.UFRJ, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL.

Em 1935, o periódico oficial do Instituto de Educação do Rio de Janeiro publicou o relatório do professor
de História da Educação, Afranio Peixoto, no qual o titular da cadeira descreve os conteúdos trabalhados
nos cursos que ditara nos três anos anteriores (1932-34), destacando atividades propostas às alunas,
indicando, igualmente, onde buscara inspiração para as aulas. Para ele, havia livros que mereciam ser
copiados, por exemplo os norte-americanos: A brief course in the history of education (1907) de Paul
Monroe (Doutor em filosofia e professor de história da educação no Teachers College da Universidade

59
de Columbia, New York) e A student´s text-book in the history of education (1916), de Stephen Pierce
Duggan (Professor of education in the College of the city of New York). Nesse estudo, investimos no
exame desses dois manuais como estratégia para analisar as apropriações operadas pelo professor
brasileiro no livro Noções de história da educação (1933), resultante do curso por ele ministrado em
1932. Tratamos de observar os traços da narrativa dos três autores, de modo a detectar homologias e
diferenças para, com isso, pensar a constituição de certo padrão narrativo e modelo de ensino para a
história da educação. Nessa primeira aproximação, foi possível observar a existência de uma concepção
de história da educação como história da civilização, o que ajuda a compreender a perspectiva de
grande síntese contida nos três manuais, o amarramento cronológico, com a definição dos pontos de
mutação, a seleção de acontecimentos que funcionam como exemplos e contra-exemplos e a ênfase em
aspectos que se aproximam do programa ao qual os autores encontram-se associados: o compromisso
com o desenvolvimento das mais altas qualidades pessoais dos indivíduos, com o pragmatismo e com o
progresso. Ao lado disso, no tocante ao textbook brasileiro, chama atenção a visada relativa à história
da América Latina, à do Brasil e ao denominado movimento da Escola Nova. Nesse caso específico, ao
introduzir essa diferença, Afranio Peixoto explicita seu duplo compromisso: com o pan-americanismo e
com o escolanovismo. No entanto, no primeiro esforço, há indícios de conversão da experiência norte-
americana em grande exemplo a ser seguido pelo conjunto dos outros 21 países latinoamericanos e, no
segundo, uma plêiade de referências distribuídas entre Europa e Américas, com destaque para autores
dos EUA e do Brasil, alguns deles muito ligados ao próprio Peixoto, como aquele que o convidara para
ministrar a disciplina, seu conterrâneo Anísio Teixeira. Portanto, se é possível reconhecer elementos
comuns contidos nas três narrativas, também identificamos a introdução de conteúdos específicos
como marca das contingências que modularam os cursos ministrados e os livros que resultaram das
intervenções desses homens em diferentes ambientes de formação de professores: na “cidade-capital”
do século XX e na capital do Brasil.

1231
MANUAIS DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO: DA MATERIALIDADE ÀS ESTRATÉGIAS NARRATIVAS

CARLOS EDUARDO VIEIRA; ROBERLAYNE DE OLIVEIRA BORGES ROBALLO.


UFPR, CURITIBA - PR - BRASIL.

A análise historiográfica é regida pela compreensão, a um só tempo, textual e contextual das narrativas
históricas, considerando não somente o contexto da disciplina e da área de pesquisa da HE, mas,
também, os contextos intelectuais, políticos, religiosos correlatos ao campo. Logo, a partir dessa
premissa que demarca o método dessa investigação, manifestamos nosso interesse específico de
problematizar o gênero narrativo presente nos manuais de HE, particularmente aqueles produzidos na
primeira metade do século vinte, voltados para os cursos de formação de professores e escritos por
autores brasileiros. Essa necessária delimitação no amplo rol da cultura dos manuais de HE nos conduz
aos livros homônimos intitulados Noções de História da Educação, escritos por Afrânio Peixoto e
Theobaldo Miranda Santos. No conjunto de práticas utilizadas pela escola, os manuais escolares
possuem grande importância no movimento de comunicar, de ensinar, de incutir valores, hábitos,
atitudes e conhecimentos. Nesta perspectiva, o objetivo desse trabalho é analisar dois manuais de
História da Educação que serviram de suporte para os cursos de formação de professores no Brasil, a
partir da década de 1930. Essas obras pertencem à Coleção Atualidades Pedagógicas, sendo elas:
“Noções de História da Educação” (1933) de Afrânio Peixoto e “Noções de História da Educação” (1945)
de Theobaldo Miranda Santos. Esses livros foram editados pela Companhia Editora Nacional, no âmbito
do projeto editorial denominado Biblioteca Pedagógica Brasileira, dirigido por Fernando de Azevedo
(1931-1949). O impacto desses textos no campo educacional e, particularmente, no delineamento da
disciplina História da Educação é difícil de ser aferido, contudo a presença longeva desses manuais nos
programas da disciplina História da Educação, as suas tiragens e as suas sucessivas reedições são indícios
da fortuna das Noções na produção de sentidos e de representações sobre o passado educacional. Para
além dos sentidos do passado, as Noções intervieram de forma intensa na modulação de valores e de
condutas pedagógicas, uma vez que suas manifestas intenções eram intervir sobre as práticas presentes
nas escolas. Os textos, escritos a partir de visões de mundo contrastantes, revelam também o embate

60
entre pioneiros e católicos na perspectiva de conferir sentido ao mundo moderno e aos seus desafios,
tendo como pomo da discórdia o sentido e o papel da escola nova. A perspectiva metodológica utilizada
para este trabalho visa compreender as relações entre as obras e seus contextos de produção,
considerando a materialidade destes objetos culturais e pedagógicos, bem como as estratégias
narrativas mobilizadas no processo de produção do convencimento do público leitor.

1391
O ENSINO PÚBLICO COMO PROJETO DE NAÇÃO: A NARRATIVA HISTORIOGRÁFICA DA ‘MEMÓRIA’ DE
MARTIN FRANCISCO (1816-1823)

CARLOTA BOTO.
FACULDADE DE EDUCAÇÃO DA USP, SÃO PAULO - SP - BRASIL.

O presente trabalho integra um projeto mais amplo, com o objetivo de proceder à análise
historiográfica do documento de Martin Francisco à luz do diálogo ali estabelecido com o debate
iluminista, especialmente com o pensamento de Condorcet. No âmbito deste congresso, a comunicação
ora proposta tem por finalidade refletir sobre a Memória sobre a Reforma dos Estudos da Capitania de
São Paulo elaborada por Martin Francisco Ribeiro d’Andrada Machado, um dos três irmãos Andrada que
marcaram o Brasil em seu processo de Independência. Filho de pai português e mãe brasileira, Martin
Francisco – como ficou conhecido – nasce em Santos, de família endinheirada. Assim como seus irmãos
– José Bonifácio e Antônio Carlos -, teve oportunidade de estudar na Universidade de Coimbra, onde
teria tido amplo contato com a literatura iluminista. Entre os anos de 1815 e 1816, Martin Francisco
redigiu e debateu um plano de estudos sobre educação que ele próprio elaborara, prevendo
estabelecimento de escolas e organização dos estudos na Capitania de São Paulo. Esse plano recebeu,
na ocasião, parecer negativo de Luiz José Carvalho e Melo. O argumento de Carvalho e Melo era o de
que o referido projeto requereria, para ser implementado, a alteração de leis vigentes para todo o país;
e que, portanto, não faria sentido restringir sua aplicação a uma única capitania. Atento a tal
justificativa, Martin Francisco – por ocasião da Assembléia Constituinte de 1823 – oferece a arquitetura
de seu plano pedagógico para a Comissão de Instrução constituída por aquele plenário. A Memória
sobre a Reforma dos Estudos da Capitania de São Paulo é, naquela nova oportunidade, aplaudida na
sobredita comissão, que recomenda que o texto fosse publicado a expensas do tesouro público. Tal
proposta de publicação não se efetivou. Há, de maneira intermitente, alguma remissão ao referido
documento entre memorialistas e historiadores da educação. A presente comunicação tem o intuito de
apresentar esta fonte do que poderíamos compreender como história política da educação brasileira - à
luz dos comentários acerca dela exarados por seus analistas e críticos. É possível verificar, pela leitura do
texto, o diálogo que ali se estabelece com as principais referências pedagógicas do período,
notadamente o "Rapport et projet de décret sur l’organisation générale de l’Instruction publique",
elaborado pela Comissão de Instrução Pública da Assembleia Legislativa da França revolucionária e
apresentado no plenário entre os dias 20 e 21 de abril de 1792. Nota-se que a trajetória parlamentar
dos dois documentos possuem alguma identidade, bem como o conteúdo dos dois textos. Buscar-se-á,
portanto, compreender a narrativa do documento de Martin Francisco, investigando a interlocução que
ele estabelece com as matrizes teóricas das quais se vale. As lentes do olhar historiográfico serão, nesse
aspecto, a ferramenta de aproximação dos dois cenários.

61
BRASIL, PORTUGAL E ESPANHA: CONCEITOS E EXPERIÊNCIAS DE EDUCAÇÃO ANARQUISTA
Coordenador: JOSÉ DAMIRO MORAES

912
"LEITURA QUE RECOMENDAMOS - O QUE TODOS DEVEM LER": LIVROS DIDÁTICOS UTILIZADOS NAS
ESCOLAS ANARQUISTAS

JOSÉ DAMIRO MORAES.


UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO JEQUITINHONHA E MUCURI, DIAMANTINA - MG - BRASIL.

Essa comunicação tem como objetivo contribuir para o aprofundamento do conhecimento histórico em
educação, ao realizar estudo sobre a circulação e análise dos materiais didáticos produzidos pelos
anarquistas. Esse estudo faz parte de um projeto de pesquisa que trata do conceito de educação
integral no pensamento anarquista. A Educação foi tema presente nas discussões e práticas no campo
socialista libertário do século XIX e XX, inspirando práticas e publicações. Apesar de existir algumas
dúvidas referentes à possibilidade dessa proposta, os ideais educacionais anarquistas se propagaram.
Paul Robin (1837-1912) e Francisco Ferrer i Guardia (1850 - 1909) foram dois importantes educadores
que desenvolveram experiências e influenciaram a criação de escolas em diversos países. Assim, Paul
Robin dirigiu de 1880 a 1894 o Orfanato de Prévost em Cempuis, na França e publicou suas reflexões
sobre educação integral sendo considerado referência na área pela Associação Internacional dos
Trabalhadores na década de 1860. Francisco Ferrer, além de fundar a Escola Moderna em Barcelona,
criou uma editora para produzir e publicar os livros, a "Biblioteca da Escola Moderna". Foram dezenas
de publicações inclusive um boletim que recebia contribuições do alunos e divulgava ações e questões
teóricas do racionalismo - proposta pedagógica criada por Ferrer. Nesse sentido, os anarquistas
brasileiros investiram na publicação e divulgação de material para dar suporte teórico às suas ações
educacionais. Podemos encontrar no jornal A Voz do Trabalhador (1908-1915) e na revista A Vida (1914-
1915) a orientação: “Leitura que recomendamos – O que todos devem ler”. Entre vários livros e autores,
destacamos para o campo educacional obras teóricas e outras para serem utilizados na aprendizagem
como: Adolfo Lima, O Ensino da História e Educação e Ensino: educação integral; Flamarion, Iniciação
Astronômica; Darzens, Iniciação Química; Laisant, Iniciação Matemática; Brucker, Iniciação Zoológica e
Iniciação Botânica; Guillaume, Iniciação Mecânica; Clemencia Jacquinet, História Universal, entre outros.
Importante destacar que muitos desses livros se destinavam às escolas e eram publicações da Biblioteca
da Escola Moderna. Como exemplo, o compêndio de História Universal de Jacquinet que discutia os
acontecimentos históricos e explicava o funcionamento da sociedade a partir da ótica do proletariado.
Outra obra emblemática é "Las aventuras de Nono" de Jean Grave, considerado como segundo livro de
leitura por Ferrer. Ao observarmos os autores e obras percebemos a riqueza e a profundidade teórica
dos títulos sugeridos e aventamos que deveriam fazer parte das mesas de leituras das associações
operárias, dos centros de estudos sociais e dos bolsos de militantes e simpatizantes. A partir das análises
e interpretações procuramos perceber as diferenças, similitudes e compromissos na formação individual
e coletiva desejada pelo projeto libertário da construção de uma nova sociedade.

927
EDUCAÇÃO LIBERTÁRIA E IMPRENSA PERIÓDICA ESPECIALIZADA EM PORTUGAL NO INÍCIO DA
REPÚBLICA

LUIZ CARLOS BARREIRA.


UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SANTOS - UNISANTOS, SAO PAULO - SP - BRASIL.

Circulação de modelos sócio-pedagógicos que orientam práticas sociais concretas (ou que delas
emanam) é o eixo temático em torno do qual se movem os estudos e investigações que o autor vem
desenvolvendo nos últimos cinco anos. Nesse contexto de pesquisa, seus principais objetivos têm sido:
1) investigar processos de formação de trabalhadores urbanos no terreno da história social; 2)
privilegiar, nessa investigação, projetos pedagógicos não-institucionalizados, concebidos, desenvolvidos
e implantados consoante os interesses das classes trabalhadoras, sem perder de vista, entretanto, as

62
relações historicamente construídas entre esses e outros tantos projetos (institucionalizados ou não)
voltados para a formação do trabalhador urbano. Neste trabalho, resultados (parciais) dos estudos
realizados sobre a revista Educação Social são apresentados. Educação Social é uma revista de
Pedagogia e Sociologia, publicada em Lisboa entre janeiro de 1924 e outubro de 1927, cujo único diretor
foi Adolfo Lima e que teve Emílio Costa como um dos seus redatores delegados. Com ele, o autor dá
continuidade aos estudos e investigações anteriormente referidos, especialmente ao seu último projeto
de pesquisa, intitulado Imprensa periódica e circulação de modelos sócio-pedagógicos: experiências de
educação libertária em Portugal no limiar do regime republicano (1911-1919), no qual analisou os
seguintes periódicos: revista Lúmen (1911-1913), revista Educação (1913), boletim Cultura Popular
(1919) e Boletim da Escola Oficina Nº 1 de Lisboa (1918). Adolfo Lima e Emílio Costa e suas ligações com
as pedagogias modernas, particularmente com a pedagogia libertária, constituem o principal elo da
revista Educação Social com esse conjunto de periódicos. Apresentar alguns dos principais traços do
modelo sócio-pedagógico que Educação Social fez circular é o objetivo deste trabalho. Por fim, convém
esclarecer que o termo “formação” (do trabalhador urbano) é aqui tomado em seu sentido mais amplo,
que abarca um vasto universo de práticas e saberes que vão desde os primeiros aprendizados informais,
obtidos pelo sujeito por meio de sua experiência imediata, seja no convívio com a família, seja com os
grupos sociais dos quais participa, até os mais formais, proporcionados pela educação escolar. E, ainda,
que é no terreno da história social que a imprensa é abordada, ou seja, como prática social concreta e
momento de constituição e instituição de diferentes modos de viver e pensar. De acordo com esses
pressupostos, a identificação dos projetos, das lutas e disputas dos sujeitos dessa prática é de
fundamental importância para a apreensão dos sentidos que esses sujeitos atribuíam à própria prática.

977
EXPERIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO LIBERTÁRIA NA ESPANHA ENTRE 1909 E 1939

ANGELA MARIA SOUZA MARTINS.


UNIRIO, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL.

Pesquisamos há cinco anos as propostas de educação libertária, com o intuito de compreender os


princípios educacionais contidos nessa experiência, como também a sua relação com os movimentos
sociais, no início do século XX. Buscamos recuperar fontes como: jornais, livros didáticos e outros
registros, produzidos por pensadores que se baseavam na perspectiva denominada libertária. Ao longo
da trajetória de nossa pesquisa, apareceram vários registros da educação produzida na Espanha, nas
primeiras décadas do século XX. Verificamos que as organizações sindicais, especialmente na região da
Catalunha, entre 1909 e 1939, propuseram várias experiências educacionais com o intuito de criar
projetos educativos diferentes das propostas educacionais vigentes na Espanha. Eram experiências
educacionais oriundas de um sindicalismo libertário, que, em sua maioria, se baseava na proposta
pedagógica da Escola Moderna, criada por Ferrer y Guardia, na primeira década do século XX. Os
sindicalistas libertários criticavam a Lei Geral de Educação da Espanha e mostravam que os problemas
quantitativos da educação eram apresentados distanciados dos problemas qualitativos, por isso a
Espanha precisava de um modelo educacional diferente do estabelecido para enfrentar o analfabetismo
e criar uma escola que possibilitasse o fortalecimento do pensamento crítico. Essas experiências
educacionais baseavam-se nos seguintes princípios: laicidade, racionalidade e anti-estatal. A educação
deveria: a) ser tratada como problema político; b) enfrentar os preconceitos patrióticos-chauvinistas e
os dogmas religiosos; c) possibilitar o ensino científico e racional; d) ser emancipadora. Destacamos que,
na primeira década do século XX, havia na Catalunha uma crise partidária e nesse período surgem os
partidos nacionalistas e republicanos. É um momento em que está no auge o partido da direita civilizada
e a Liga Regionalista dos Prat de la Riba. Há uma crise da metalurgia e do ramo têxtil, com baixos
salários e super exploração do trabalho. É um período que apresenta ações de terrorismo, provocações
e repressão. Havia uma forte perseguição aos sindicalistas, principalmente da tendência anarquista.
Nesse momento crescem, entre os sindicalistas espanhóis, as táticas do sindicalismo revolucionário e
também o anticlericalismo. Registramos também que desde o final do século XIX, em várias comarcas da
Catalunha, havia uma luta por escolas laicas e de livre pensadores. Inseridos nessa conjuntura política e
social, a Federação de Trabalhadores da Região Espanhola passou a recomendar em seus Congressos,

63
nas primeiras décadas do século XX, que as sociedades trabalhadoras criassem escolas laicas, pois
acreditavam que a emancipação e a instrução deveriam ser obras do próprio trabalhador.

931
ASPECTOS DA TRAJETÓRIA POLÍTICO-PEDAGÓGICA DE JOSÉ OITICICA, PROFESSOR DO COLÉGIO PEDRO
II E MILITANTE DA EDUCAÇÃO LIBERTÁRIA (1905 – 1950)

CRISTINA APARECIDA REIS FIGUEIRA.


PUC-SP - PMSP, SAO PAULO - SP – BRASIL
.
A presente pesquisa de cunho historiográfico constitui-se em um desdobramento da tese de Doutorado
intitulada A trajetória de José Oiticica: o professor, o autor, o jornalista e o militante anarquista na
educação brasileira que operou a reconstituição da trajetória e do itinerário de formação do catedrático
do Colégio Pedro II e militante anarquista José Rodrigues de Leite e Oiticica (1882-1957), educador
envolvido tanto nas ações da propaganda social libertária em jornais, em conferências do livre
pensamento, no teatro social, quanto nos projetos educacionais que circularam em padrões
diferenciados na História da Educação Brasileira. Autor de uma profícua produção intelectual
relacionada aos estudos da lingüística, da literatura, da música, da poesia, do teatro e do ideário
anarquista, cuja expressividade pode ser encontrada em numerosos artigos para a imprensa anarquista
e grande imprensa carioca, em seus manuais didáticos, em suas peças teatrais, em seus sonetos e em
seus ensaios sociológicos. Esta comunicação tem como objetivos destacar aspectos da trajetória
político-pedagógica de José Oiticica, professor do Colégio Pedro II, de sua participação na imprensa
periódica e nas conferências sociais nos Centros de Cultura no Brasil. Para a consecução da pesquisa
priorizou-se editorias e artigos de seu diretor, em especial, aqueles que trataram dos temas da
educação libertária e das estratégias e táticas para formação da “sociedade nova” por meio do debate
jornalístico. Por meio do exame de seus artigos jornalísticos, livros, opúsculos e manuscritos de aulas,
correspondência ativa e passiva e incursões nas historiografias da classe operária e da educação
brasileira, nos projetos educacionais que circularam em seus diferentes modelos, sobretudo entre os
anos de 1905 e 1950. A partir da evidência interrogada tratada por E. P Thompson, procurou-se
construir a pesquisa, em observação à lógica adequada aos materiais reunidos em observação à
seqüência de conteúdos detectada pelo exame das fontes primárias, por meio da reconstituição de
documentos e do diálogo com as fontes, seguindo os seus indícios, pistas e sinais sob inspiração de Carlo
Ginzburg. A discussão sobre as práticas educativas libertárias de José Oiticica justifica-se pelo fato de
trazer para o debate alguns princípios que orientaram a experiência do vivido nos projetos da educação
libertária, que, na contramão do pessimismo reacionário e do otimismo ingênuo, tinha o princípio da
reflexão, das ações direcionadas a projetos educacionais individuais, de pequenos grupos e quiçá
coletivos, e, principalmente, pelo fato de a pesquisa ser uma contribuição para o debate educacional
sobre os padrões de educação considerados vencidos, particularmente os relacionados aos projetos da
educação anarquista.

941
ESCOLA PAIDÉIA: QUEM SÃO E O QUE FAZEM HOJE OS EX-PAIDEIANOS?

CLOVIS NICANOR KASSICK.


UNISUL, FLORIANOPOLIS - SC - BRASIL.

Há vários anos vimos nos dedicando a pesquisar ações desenvolvidas por processos educativos
organizados sob bases libertárias. Inicialmente analisamos a organização didática de uma “Escola
Alternativa”. Na seqüência dos estudos, pesquisamos, em 1999, a organização didática da Escola
Paidéia, da cidade de Mérida-Espanha. O objetivo daquela pesquisa era o de identificar as ações
pedagógicas e os papéis desempenhados por professores e alunos, considerando os princípios de
liberdade e autoridade. Para entender a “arquitetura organizacional” capaz de formar “subjetividades
autônomas”, vivemos, naquela ocasião, por dois meses, a Paidéia. A imersão no cotidiano da escola nos

64
permitiu acompanhar esta construção, cuja base é o processo autogestionário. Transcorrido dez anos
daquela vivência, retornamos à Paidéia para, em conversa com os ex-alunos, agora na faixa de idade dos
30-35 anos, sabermos sobre como vivem, como ocorre sua inserção na sociedade e, especialmente, no
mercado de trabalho e como avaliam sua formação. Para esta nova pesquisa, consideramos
imprescindível, duas condições básicas: a primeira delas, a “vivência” do ambiente em que tais
experiências educativas estavam ocorrendo, e a segunda, o olhar arguto e atento – de historiador - para
apreender a nuance em que tal “arquitetura organizacional” se desenvolvia. Estes requisitos, Le Goff
(2006) entende como indispensáveis para que se possa produzir história, pois a vivência e a inserção
plena no ambiente em que os fatos, fenômenos e/ou acontecimentos ocorrem é fundamental para que
o pesquisador tenha uma visão da totalidade que os produzem e assim, possa, num novo olhar,
estabelecer uma nova leitura sobre os mesmos, buscando entender a quais códigos, regramentos,
convenções, costumes que estas experiências estão expressando e/ou buscam burlar, estabelecendo,
simultaneamente, novos códigos, regras, convenções e costumes. Para tanto, foi necessário um
“escavar” do ambiente para que, no papel de historiador, pudesse (re)constituir a história constituída,
agora, sob novo olhar. Foi preciso, decifrar, aprender, interpretar os códigos implícitos nos diferentes
fazeres para, conforme afirma ele, “restituir a vida” aos fatos, fenômenos, personagens. Para isso, a
entrevista configurou-se como ferramenta indispensável a este re-construir histórico, pois não basta
estar atento ao dito, é necessário “ler” os jeitos e trejeitos, o tom de voz, os movimentos, os parênteses
estabelecidos nas falas, enfim... o não dito, ou seja, tudo aquilo que o diálogo direto permite ler nas
entrelinhas através das pausas, reticências, que revelam a comunicação efetiva dos sentimentos e a
eloqüência que o registro das palavras não permitem. Assim, o presente trabalho analisa a inserção dos
egressos desta escola, quanto a: profissão escolhida; local de trabalho e adequação da conduta
individual à conduta profissional.

INTELECTUAIS E PROCESSOS DE PRODUÇÃO ESCRITA NA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NO BRASIL


Coordenador: ARLETTE MEDEIROS GASPARELLO

1140
A PEDAGOGIA MODERNA PELO MANUAL DE EVERARDO BACKHEUSER

HELOISA DE OLIVEIRA SANTOS VILLELA.


UFF, NITEROI - RJ - BRASIL.

As trocas recentes entre a história cultural e a história da educação elegeram novas fontes de pesquisa,
como o impresso pedagógico, pela possibilidade que oferecem de resgatar a historicidade dos processos
educacionais. No século XIX e primeiras décadas do XX, a maioria dos livros didáticos brasileiros foi
escrita por intelectuais que de alguma maneira encontravam-se ligados ao ensino, seja como
professores, funcionários da administração pública, tradutores de obras didáticas. Para analisar esse
tipo de produção torna-se necessário contextualizar seus autores, suas redes de sociabilidades e suas
trajetórias no campo educacional. Esta pesquisa tomou como objeto o Manual de Pedagogia Moderna
de Everardo Backheuser, obra largamente difundida nos cursos normais católicos e leigos, com pelo
menos cinco edições identificadas: 1934, 1936,1942,1948 e 1958. O estudo dialogou com o referencial
da história intelectual (Sirinelli, Bessone, Martins) procurando entender as condições de produção desse
impresso. Para tal situou o autor em sua geração, articulando dados de sua formação acadêmica,
política, inserção no mundo das letras, prática profissional, docência e militância nos movimentos do
magistério. Em seguida, deu destaque a sua conversão ao catoliciscimo, à rede de sociabilidades católica
que constituiu e o conseqüente posicionamento na política de classe do magistério, quando rompe com
a ABE (1931), da qual foi membro fundador e cria a Confederação Católica de Educação (1933). A análise
do Manual contribuiu para superar clichês que pré-definem o escolanovismo católico e questionar uma
visão historiográfica que percebe a produção do período como “adaptação” de teorias e modelos
estrangeiros a nossa realidade. Busca no conceito de Sobe de “histórias entrelaçadas” a chave
interpretativa para os diálogos e apropriações originais que o autor faz de suas referências, bem como

65
das viagens ao exterior que realiza. Utilizando um referencial muito variado que vai dos autores alemães
e belgas aos americanos e brasileiros, constrói suas próprias propostas em relação a temas como escola
e democracia, escola neutra, escola laica, relações entre pedagogia e ciência, e uma biotipologia que
certamente deixaram suas marcas na formação de gerações do magistério brasileiro. O trabalho tentou
se aproximar da recepção desse manual para identificar indícios de que foi utilizado tanto nas escolas
normais católicas quanto nas oficiais. Confirma a proposição sugerida por Magaldi de que, não obstante
algumas diferenças, havia muitos pontos de convergência entre a produção de católicos e liberais,
sobretudo no tocante à cientifização dos saberes pedagógicos e das práticas educativas. Conclui que
mais do que cópias ou adaptações, esses intelectuais-autores realizavam suas formulações a partir das
idéias que circulavam, apropriações essas que só adquirem sentido se relacionadas a experiência de vida
de cada um deles.

1076
PROFESSORES/AUTORES, PRODUÇÃO DIDÁTICA E ENSINO DE HISTÓRIA

ARLETTE MEDEIROS GASPARELLO


UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE, NITEROI - RJ - BRASIL.

O estudo apresenta resultados parciais de pesquisa sobre a produção escrita de professores e


historiadores do final do século XIX e início do século XX sobre ensino de história, tendo em vista sua
contribuição para a constituição deste saber escolar. A pesquisa insere-se no campo teórico
metodológico da história cultural e da nova história intelectual, que estimulam abordagens relacionais
sobre autores, suas obras e seu contexto. Uma produção intelectual é percebida no espaço cultural que
a define e na especificidade da história da sua disciplina, na sua relação com as outras produções
culturais do seu tempo bem como nas suas relações com outros aspectos da realidade socioeconômica e
política. Os principais textos analisados foram: L’enseignement secondaire de l’histoire en France,
publicado em 1898, dos professores e historiadores franceses Charles-Victor Langlois (1863-1929) e
Charles Seignobos (1854-1942); a coleção didática Histoire de La Civilization, de Charles Seignobos; os
livros didáticos dos professores do Colégio Pedro II no Rio de Janeiro João Ribeiro (História Universal) e
Jonathas Serrano (História da Civilização). Os trabalhos históricos de Langlois e principalmente de
Seignobos tiveram grande circulação no Brasil, lidos e referenciados pelos autores didáticos e demais
estudiosos. A metodologia da pesquisa compreende a obra intelectual em seu contexto de produção e
leva em conta a participação dos autores como sujeitos ativos, instituintes de uma nova configuração
educacional. Este trabalho dialoga com a história das disciplinas escolares, que congrega pesquisas que
têm em comum a preocupação em identificar a dinâmica do seu processo de constituição em suas
relações internas e externas à escola. Os professores/autores são percebidos a partir de sua inserção no
grupo dos intelectuais e suas práticas sociais ligadas aos processos de escolarização e de saberes
pedagógicos. A metodologia aproxima-se dos estudos sobre a relação entre linguagem e história, na
medida em que todas as experiências históricas que temos só se tornam experiências pela mediação da
linguagem. Neste aspecto, a direção contextualista da história conceitual alemã (Reinhart Koselleck)
contribui para a análise dos textos em sua historicidade, ao procurar entender, em um dado texto, o
modo como estes faziam sentido para o seu autor ou para um leitor seu contemporâneo. A análise
focalizou as interlocuções, as similaridades e inovações conceituais nas fontes selecionadas, com
atenção ao uso de conceitos gerados na reflexão sobre a prática educacional, da qual participaram
ativamente os autores dos textos que serviram de fontes para o estudo. As conclusões destacam tais
relações com a participação instituinte de historiadores e professores de História, que recriaram
conceitos do campo semântico da pedagogia escolar a partir da experiência docente e da reflexão sobre
a História e o ensino.

66
1096
HIGIENE ESCOLAR E EDUCAÇÃO DA INFÂNCIA NA OBRA DO MÉDICO ARTHUR MONCORVO FILHO DE
1909 A 1922

SÔNIA OLIVEIRA CAMARA RANGEL.


UERJ, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL.

Uma década após a Proclamação da República foi criado, no Rio de Janeiro, pelo médico Arthur
Moncorvo Filho, o Instituto de Proteção e Assistência à Infância (1899). Destinado a amparar, proteger e
assistir à infância, o Instituto pretendia coligar iniciativas médicas e educativas direcionadas a preservar
a vida e desenvolver econômica e socialmente o país. Nesta linha de ação, o Instituto pretendia instituir
a higiene pública social realizando estudos dos problemas e das formas de tratar a infância. Firmando-se
a partir da vertente assistencial científica, o Instituto colocou em prática um conjunto de procedimentos
tendentes a organizar e difundir saberes acerca da higiene, da prevenção e dos cuidados necessários à
criança. Temáticas como o alcoolismo, a degeneração humana, a procriação, a eugenia, a higiene
pública e privada, a higiene escolar, a mortalidade infantil e a tuberculose constituíam-se como
questões-problema recorrentes nos escritos do médico Moncorvo Filho, bem como nas campanhas
pedagógicas encetadas por ele. Sob sua batuta foi criado, em 1909, na gestão do Prefeito Serzedelo
Corrêa, no Distrito Federal, o Serviço de Inspecção Sanitária Escolar. Dentre suas intenções, o Serviço
objetivava promover a inspeção sanitária das escolas, a profilaxia das moléstias transmissíveis, a
inspeção médica individual e a vigilância sanitária das escolas, entre outros. Com base nas intenções que
mobilizaram a criação do Serviço interessa-nos refletir acerca da concepção de higiene escolar
elaborada por Moncorvo Filho para o Serviço, bem como na produção de impressos relativos ao tema.
Com esse intuito, centralidade será direcionada aos livros, aos cartazes, às alocuções e aos guias do
médico escolar escritos no período de 1909 a 1922. A periodização justifica-se considerando que, nesse
interregno de tempo, concentrou-se grande parte dos escritos de Moncorvo sobre higiene escolar.
Exemplo disto, foram os livros Inspecção Médica Escolar (1909), Guia de Hygiene Escolar (1911), Guia
Médico Escolar (1914), Hygiene Escolar e Hygiene Infantil (1917) e Inspecção Medico Escolar (1922). Do
conjunto dessa produção, destacaremos três livros: o de 1909, o de 1917 e o de 1922, como foco de
nossa análise. Assim como parte das preocupações de pesquisa, pretendemos analisar os livros
problematizando as concepções de higiene escolar e educação que nortearam a sua escrita, localizando-
os no conjunto dos debates e das iniciativas destinadas a atuar sobre a infância no período em
destaque. Pensar sobre as formas como o saber médico perspectiva à escola e os seus sujeitos sociais
pode contribuir para entendermos como os diferentes saberes (médico e pedagógico) instituíram
interfaces e perfis que condicionaram o lugar da criança normal e anormal na escola.

1277
VOZES DE PROFESSORES: A REVISTA O ENSINO PRIMÁRIO (1884-1885)

NAILDA MARINHO DA COSTA BONATO.


UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO - UNIRIO, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL.

A apresentação se insere na proposta de comunicação coordenada intitulada “Intelectuais e processos


de produção escrita na história da educação no Brasil” que “explora a possibilidade de reconfiguração
da base documental no processo de pesquisa”. Neste sentido, na perspectiva da história cultural do
impresso (CHARTIER) visa proceder uma análise de dois números microfilmados da revista mensal
intitulada “O ensino primário” datados de 31 de maio de 1884 (anno I, n. 1) e de 15 de agosto de 1885
(anno II, n.4). Portanto, trata-se do primeiro número da revista mensal consagrada aos interesses do
ensino e redigida por professores primários que teve 3.000 assinaturas por ano e do quarto número que
teve 5.000 assinaturas por ano. A tipologia documental – revista - do impresso objeto de análise está
explícita em sua folha de rosto. Classificada como imprensa pedagógica, os dois números da revista
contém artigos que possibilitam estudos sobre a feminização do magistério; o ensino público do Rio de
Janeiro; a Escola Normal da Corte; o Colégio Pedro II; os pareceres sobre o ensino primário de Rui
Barbosa; concurso para provimentos de cadeiras públicas e as polêmicas instituídas; a formação de

67
professores e professoras; salários de professores; escolas públicas primárias do sexo masculino;
manifestação de professores contra o poder público; entre outras temáticas; contribuindo, por exemplo,
para novas leituras sobre o processo de formação e conformação da categoria profissional docente e de
feminização do magistério neste nível de ensino. A análise de seus elementos extrínsecos não possibilita
a indicação do editor, mas as pesquisas na área indicam o jornalista e professor Luiz Antonio Reis como
seu redator-chefe. Tem como palavra de ordem: “Abrir escola é fechar prisões”. Os dois exemplares
foram encontrados no acervo de Obras Raras da Biblioteca Nacional. Questões como: a que ideário
político-ideológico essa revista se filiava? Que fundamentos político-filosóficos estariam no cerne de sua
produção e circulação? Quem eram os sujeitos/professores e professoras que nela se expressavam e
faziam circular suas idéias? Quais eram seus interlocutores? Qual a forma e os objetivos de sua
distribuição? Como era financiada? A busca de respostas a estas questões respalda-se em reflexão
histórica que leva em consideração, como metodologia (a) leituras sobre uso desse tipo de fonte para
pesquisa em história da educação; (b) leitura aprofundada dos impressos selecionados em forma e
conteúdo aliada a análise de outras fontes documentais; (c) pesquisa bibliográfica tendo em vista o
movimento educacional existente no período estudado de circulação da revista.

1108
EDUCAÇÃO DE MENINAS E MOÇAS POR MEIO DA TRADUÇÃO E DA EDIÇÃO DE ROMANCES

MÁRCIA CABRAL DA SILVA.


UERJ, RIO DE JANEIRO - RJ – BRASIL

No campo da História Cultural e, de modo específico, no campo da História da Educação nas últimas
décadas, observa-se uma diversidade de fontes utilizadas como instrumental metodológico de
investigação. Ao se problematizar os usos de fontes tradicionais na pesquisa histórica em diálogo com
outras áreas das Ciências Sociais e Humanas, como a Sociologia, a Antropologia, a Teoria da Literatura,
como refletiu Lynn Hunt (2001), apontou-se para a possibilidade de reconfiguração da base documental
da pesquisa histórica, utilizando-se, inclusive, o impresso de modo mais amplo como objeto de análise
ou mesmo como fonte para a compreensão das práticas educativas. Além de uma breve revisão no
campo conceitual dos estudos literários, na perspectiva dos exames realizados por Terry Eagleton (2002)
e Antonio Candido (1998), neste trabalho pretende-se refletir, de modo específico, sobre os modos de
intervenção dos intelectuais Raquel de Queiroz e José Olympio na educação de meninas e moças por
meio da tradução e edição de romances. Com esta finalidade, examina-se um exemplar da Coleção
Menina e Moça, tradução dos romances da Bibliothèque de Suzette, lançada no Brasil pela Livraria José
Olympio Editora em 1934. Selecionou-se o romance A Conquista da Torre Misteriosa (1951), por ter sido
traduzido pela escritora Raquel de Queiroz, com inserções importantes no âmbito da editora. A
escritora, além da produção literária divulgada, passou a ser editada com exclusividade pela Livraria José
Olympio Editora nos anos de 1930, e atuou como uma das tradutoras dos romances que compunham a
Coleção Menina e Moça. Ao longo da análise, conjugam-se reflexões metodológicas e o exame do
romance em tela, adotando-se a problematização da relação entre literatura, educação e intelectuais
como horizonte privilegiado de investigação. Os resultados preliminares alcançados, no âmbito de uma
pesquisa mais ampla em andamento, permitem algumas considerações. De um lado, verifica-se a
educação de meninas e moças sob um sutil controle no período examinado, por intermédio de obras
ficcionais afiançadas a um só tempo por uma editora, que passa a gozar de prestígio no campo editorial,
a par da intervenção da escritora-tradutora exclusiva da Livraria Editora. De outro, sublinha-se a
sociabilidade entre a escritora e o editor, que construíam formas de distinção nas malhas literárias e
editoriais. Por último, indicam-se algumas possíveis contribuições para o debate sobre modos de se
educar pela produção e circulação de obras ficcionais nas fronteiras dos estudos ancorados na História
Cultural, na Teoria da Literatura e na História da Educação.

68
HISTÓRIAS DE VIDA E NARRATIVAS AUTOBIOGRÁFICAS:
PESQUISAS E MEMÓRIA EM HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO
Coordenador: WOLNEY HONÓRIO FILHO

917
BRAZ JOSÉ COELHO: RASTROS E TRILHAS

WOLNEY HONÓRIO FILHO.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS - CAMPUS CATALÃO, CATALAO - GO - BRASIL.

O professor Braz José Coelho, doutor em Linguística e Língua Portuguesa pela Universidade Estadual
Paulista "Júlio de Mesquita Filho", é um destacado educador e professor da Universidade Federal de
Goiás desde 1972, além de escritor consagrado no sudeste de Goiás. Sua história de vida foi gravada em
2009 e publicada em HONORIO FILHO, W. A memória desenhada: identidades de um intelectual no
interior de Goiás - Brasil. In: Revista Actualidades Pedagógicas, n. 54. Ediciones Universidad De La Salle,
Bogotà, Facultad de Educación, jul./dez. 2009. O presente texto busca fazer uma leitura intercultural da
narrativa autobiográfica do professor Braz. Este exercício de investigação faz parte de um projeto de
pesquisa em andamento, intitulado “Experiências de vida e formação docente em Goiás”. A leitura
intercultural, em pesquisa (auto)biográfica, segundo Delory-Momberger, busca identificar na biografia
educacional do narrador a multiplicidade de vozes perfilando heranças e partilhas, a cultura do Outro
presente nas vivências e narrativas sobre experiências do sujeito. A fala do professor Braz é pausada.
Fala fundamentalmente usando palavras e mãos. Fala com as mãos, escrevendo. A memória trançada na
entrevista, por meio da fala acompanhada dos rabiscos que ele ia fazendo, estabelece um canal de
comunicação entre ele e seu passado. Isto é tão vivo na sua maneira de falar, de lembrar, que é possível
dizer que sem esta prática de desenhar a memória, seria impossível lembrar. Ou seja, a lembrança
estaria presa, subjugada a um detonador: o desenho, o rascunho, a escrita. Num primeiro momento,
quando estamos fazendo a primeira pergunta e começando a ouvir as primeiras palavras do
entrevistado, a impressão é que a narrativa histórica que se inicia irá ser estática, anunciando fatos, algo
que se tem, que se adquiriu ao longo de uma linha do tempo da história de vida. Porém, o entrevistado
não é apenas um objeto da formação, mas também o sujeito. Um sujeito composto e múltiplo. Isto dá
uma dimensão dinâmica ao relato, pois é possível perceber que as histórias contadas estão cheias de
transformações na vida de uma pessoa. Transformações em que os(as) entrevistados(as) são sujeitos e
sujeitados. Estes são momentos charneira, de que nos fala Josso. Assim, neste trabalho de leitura e
interpretação da história do indivíduo, do ser e seu tempo, a abordagem biográfica anuncia que
reconhece a autonomia do sujeito, frente ao mundo no qual ele está mergulhado e que ao falar de si,
ele vai se transformando, permitindo e capacitando, através da sua narrativa, a mudanças face a novas
exigências sócio-culturais. Em 2009, o professor Braz José Coelho publica livro de contos escritos no final
dos anos 1950 e engavetados, conforme ele mesmo diz. O título do livro é o nosso subtítulo: “Rastros e
trilhas”. O propósito é simples: identificar nos rastros e trilhas da narrativa que o professor Braz nos
deixou, a presença dele no mundo e do mundo em que viveu nele mesmo.

918
NARRATIVAS AUTORREFERENTES COMO FONTES RELEVANTES NA CONSTRUÇÃO DE HISTÓRIAS DE
VIDA

MARIA HELENA MENNA BARRETO ABRAHÃO.


PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL - PUCRS, PORTO ALEGRE - RS - BRASIL.

É rico trabalhar com fontes que permitam diversificadas possibilidades de construção de dados e
informações em pesquisa (auto)biográfica, tais como fotos, filmes, narrativas de si, documentos
pessoais e oficiais que permitam triangulações de informações. Nessa Comunicação Coordenada
evidenciaremos, no entanto, as narrativas autobiográficas. Estas, quando prestadas oralmente, nos
proporcionam melhor entendimento do significado que tem o fato narrado para o sujeito da narração,
já que vemos a expressão facial, o olhar de quem narra, assim como ouvimos as diferentes entonações

69
de voz e os gestos do narrador. Demais fontes são peças importantes, para triangular informações, mas
complementares para esse entendimento. Outrossim, as triangulações de informações não têm o
sentido de garantir a veracidade dos fatos narrados, mas de procurar uma verticalizada compreensão
desses fatos que permita o estabelecimento de relações significativas entre eles e os contextos
vivenciais do sujeito da narração. A “verdade” é o que é “verdadeiro” para o narrador. Isto porque as
narrativas são ressignificadas no momento da narração, dada a natureza reconstrutiva e seletiva da
memória. Trabalhar com memória não implica buscar fatos como verdade absoluta, uma vez que a
memória não é um repositório passivo de fatos, mas, sim, um processo ativo de criação de significados.
As trajetórias narradas proporcionam a construção de sentido de uma vida – a narração dessa trajetória
não é resultante do que realmente ocorreu em termos de experiências e aprendizagens, mas é
resultante da organização desses elementos como um argumento com dimensão temporal, espacial e
de múltiplas relações sociais . A narrativa tem uma natureza temporal tridimensional, tendo em vista
que rememora o passado com olhos do presente, permitindo prospectar o futuro, razão pela qual o
próprio discurso narrativo não procura necessariamente obedecer a uma lógica linear e seqüencial. De
forma articulada com a perspectiva tridimensional do tempo narrado, entendemos a narrativa em uma
tríplice dimensão: como fenômeno (o ato de narrar-se operacionalizado em imbricação com o
investigador); como metodologia de investigação (a narrativa como fonte de investigação) e como
processo (de ressignificação do vivido) . Em síntese: a investigação que trabalha com narrativas
autobiográficas permite vivenciar o uso de metodologia de pesquisa que, mais do que ser mera técnica
de coleta de dados e de análise de informações, propicia, aos participantes, um outro significado, mais
substantivo, qual seja o de ressignificar a própria história pessoal/profissional, razão pela qual o
trabalho que relataremos no segundo e no terceiro momentos traz à reflexão o real sentido de se
trabalhar com narrativas autobiográficas, quando todos aprendem mais sobre si no processo, pois
igualmente refletem sobre a própria história, em contexto e em contraponto com a história do outro.

919
ZILAH MATTOS TOTTA: SÍNTESE DA EDUCAÇÃO E DO EDUCADOR

LOURDES MARIA BRAGAGNOLO FRISON.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS, PORTO ALEGRE - RS - BRASIL.

Zilah Mattos Totta foi um expoente na História da Educação no Rio Grande do Sul. Iniciou a carreira
como professora no meio rural. Oriunda da capital, muda-se para Harmonia, comunidade de imigrantes
que só falavam a Língua Alemã, idioma que Zilah aprendeu no convívio com alunos e pessoas da
comunidade. Pela manhã, lecionava turmas de níveis diferentes em uma escola pluriseriada e à tarde, ia
para a lavoura com os alunos, que costumavam auxiliar os familiares nas lides do campo, com a
finalidade de conhecer a realidade vivencial desses alunos. Ao retornar a Porto Alegre, trabalha em
escolas da rede estadual, exerce a direção de uma delas e cria uma escola estadual de ensino de ensino
médio, da mesma rede. Cria, igualmente, uma escola comunitária, de grande expressão, na capital, da
qual foi diretora. É a primeira mulher a exercer o cargo de Secretária de Educação do Governo do Estado
do Rio Grande do Sul, foi presidente do órgão de classe do magistério gaúcho – CEPERGS e conselheira
do Conselho Estadual de Educação. Foi, igualmente, professora universitária. Acreditava no valor da
profissão professor, na necessidade de ao aluno ser proporcionada a possibilidade de uma
aprendizagem com sentido e uma avaliação adequada a esse desiderato, e a necessidade vital de
liberdade para o ser humano, desde que ser livre é viver em função de uma autonomia espiritual capaz
de equilibrar os anseios da natureza humana, tendo em vista que a existência humana poderia ser
entendida como um contínuo peregrinar em busca da felicidade, em busca da libertação, perpassando o
homem desde a civilização grega até o homem da pós-modernidade. A História de Vida de Zilah integra
uma série de Histórias de Vida de destacados educadores rio-grandenses que construímos no seio da
pesquisa intitulada “Identidade e Profissionalização Docente – narrativas na primeira pessoa”, apoiada
pelo CNPq e desenvolvida com base em narrativas de pessoas-fonte, trianguladas entre elas e entre
documentos, fotos, filmes. A leitura transversal dessas Histórias de Vida nos permite visualizar
elementos constitutivos não só das trajetórias individuais desses educadores, mas também aqueles que
constituíram/constituem a história da educação no Estado do Rio Grande do Sul. Nessa perspectiva são

70
utilizadas na universidade como elementos de formação de professores, não no sentido de serem
modelares para cópia, mas no auxílio para a compreensão de aportes do pensamento educacional que
sustentou/sustenta a formação de professores, bem como práticas e culturas escolares que ainda hoje,
de modo geral, se perpetuam. A História de Vida de Zilah Mattos Totta está publicada, na íntegra, em
ABRAHÃO, M.H.M.B. (Org.) Identidade e Profissionalização Docente – narrativas na primeira pessoa,
Porto Alegre: EDIPUCRS, 2004 (2. ed.). p. 207-251 e de forma mais compacta em: FÁVERO, M.L.A. &
BRITTO, J. M. (Orgs.) Dicionário de Educadores no Brasil: da colônia aos dias atuais. Rio de Janeiro:
Editora UFRJ, 2002. p. 984-990.

920
ISOLDA HOLMER PAES: A CONSTANTE APRENDIZ, A ETERNA PROFESSORA

BERENICE GONÇALVES HACKMANN.


FACULDADES INTEGRADAS DE TAQUARA - FACCAT, TAQUARA - RS - BRASIL.

Isolda Hommer Paes tinha uma personalidade marcante e era entusiasmada, criativa, ousada,
carismática. Numa época em que a maioria das meninas cursava o “primário” e eram encaminhadas “às
lides domésticas”, Isolda casa-se, sai de sua pequena cidade situada no Vale do Rio Paranhana, de onde
era oriunda, passa a residir em Porto Alegre, capital do Estado, começa a circular em um meio de
maiores exigências intelectuais e vence etapas: em apenas alguns anos, cursa “ginásio”, “colégio”,
forma-se na universidade e conquista espaços importantes no cenário educacional. Ao final do curso, é
convidada para ser Assistente na cadeira de Didática e para lecionar Didática Especial da Língua
Francesa na Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS.. Apaixonou-se pela profissão e
descobriu-se internamente. Naquele período, Isolda e Graciema Pacheco planejaram uma escola para a
realização do estágio dos “alunos-mestres” nas diferentes disciplinas da “escola secundária”. Nascia o
Colégio de Aplicação, fonte inesgotável de criatividade, inaugurado em 14 de abril de 1954, numa época
em que novas idéias surgiam para revigorar o ensino. Isolda introduziu no Colégio de Aplicação o ensino
de Línguas Estrangeiras e o ensino de Filosofia por níveis de conhecimento dos alunos. Criou também a
utilização da linguagem cinematográfica para o ensino de leitura e de narrações de contos,
oportunizando aos alunos desempenharem-se como narradores criativos. Através dos anos, exerceu
funções de Chefe de Departamento da Faculdade de Educação da UFRGS, onde criou o Laboratório de
Metodologia, Ensino e Currículo, onde se realizaram dezenas de investigações científicas. Isolda sempre
acreditou que o professor devia levar para a sala de aula uma nova inspiração, um estímulo, um desafio
à inteligência e sensibilidade do aluno. Essa ideia é que embasou, junto ao jornal Zero Hora, o projeto
“ZH na Sala de Aula”: trazer o mundo, a cidade, a localidade para a escola. A criança tinha de integrar-se
na realidade que lhe era oferecida como um convite à busca, à indagação... A História de Vida de Isolda
Holmer Paes é integrante de uma série de Histórias de Vida de destacados educadores rio-grandenses
que construímos no seio da pesquisa intitulada “Identidade e Profissionalização Docente – narrativas na
primeira pessoa”, apoiada pelo CNPq, na PUCRS, a partir de narrativas de pessoas-fonte, trianguladas
entre elas e entre documentos, fotos, filmes. A leitura transversal dessas Histórias de Vida nos permite
visualizar elementos constitutivos não só das trajetórias individuais desses educadores, mas também
aqueles que constituíram/constituem a história da educação no Estado do Rio Grande do Sul. Essa
História está publicada, na íntegra, em ABRAHÃO, M.H. M.B. (Org.) Identidade e Profissionalização
Docente – narrativas na primeira pessoa, Porto Alegre: EDIPUCRS, 2004 (2. ed.). p. 139-168.

921
PROFESSORES NA PÓS-MODERNIDADE: NARRATIVAS DA SUBJETIVIDADE DOCENTE

JUAN JOSÉ MOURINO MOSQUERA.


PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL - PUCRS, PORTO ALEGRE - RS - BRASIL.

A preocupação pelo desenvolvimento da personalidade, especialmente na etapa da vida adulta, e a


educação de professores nos tem levado, desde os anos 70, a procurarmos, intensamente, aprofundar

71
em estudos das histórias de vida de educadores, através de manifestações de seus sentimentos,
cognições e níveis de interação social. Nosso ideário se configura claramente emanado de uma
Psicologia Humanista, perspectivado pela dimensão sociocultural. Como docentes e investigadores, nos
temos sempre voltado para o desenvolvimento da personalidade, cognição humana e problemática do
conhecimento na Educação. Também se tem acrescido as dimensões de uma Educação Social, que
tornam possível o processo mais amplo, crítico e voltado para os grandes grupos humanos. Cabe
esclarecer que, ao pensarmos sobre o tema dos professores na pós-modernidade, estamos tocando
naquilo que nos parece de grande relevância, já que nestes momentos, as incertezas, fragmentações e o
panorama que se oferece aos seres humanos, parecem incidir fortemente em suas vidas, em especial
nas cognições e sentimentos e, consequentemente, pode vir a repercutir decisivamente como um efeito
multiplicador no fazer pedagógico dos docentes. A pesquisa, de cunho qualitativo, teve o objetivo de
analisar narrativas de professores universitários, que atuam na Faculdade de Educação da Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul - FACED-PUCRS. A área temática, que se preocupa
principalmente com o estudo da realidade cultural e a influência na vida pessoal e profissional de
professores, através de suas narrativas, é a pós-modernidade e sua influência na vida pessoal e
profissional dos docentes. As questões de pesquisa foram assim formuladas: Que vivências pessoais
narram os professores?; Que vivências profissionais narram os professores?; Que narram os professores
sobre seu desenvolvimento cultural? Os sujeitos da pesquisa foram escolhidos intencionalmente; são
seis docentes universitários em atividade há pelo menos cinco anos, que possuem diferentes vivências
profissionais e pessoais, isto é, desenvolvem atividades de ensino, pesquisa e publicações, com carga
horária maior do que 20 horas semanais, e têm reconhecimento e representatividade universitária. Foi
utilizada a entrevista de cunho biográfico, analisada através do estudo textual da narrativa, realizada por
meio de Análise de Discurso. Como produto da análise encontramos as dimensões: Opção pela profissão
e permanência nela; Influências Pessoais; Influências Profissionais; Percurso Existencial; e Influências
Culturais. Essas dimensões são semelhantes às dimensões encontradas nas narrativas dos professores
entrevistados em nosso estudo de Pós-doutorado, na Universidad Autônoma de Madrid-Espanha e em
estudos anteriores na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.

MODERNO, MODERNIDADE, MODERNIZAÇÃO: A EDUCAÇÃO


NOS PROJETOS DE BRASIL(SÉCULOS XIX E XX)
Coordenador: LUCIANO MENDES FARIA FILHO

950
MODERNO, MODERNIDADE, MODERNIZAÇÃO: TAVARES BASTOS, A INSTRUÇÃO E A CONSOLIDAÇÃO
DA NAÇÃO BRASILEIRA

JULIANA CESARIO HAMDAN.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO, BELO HORIZONTE - MG - BRASIL.

Objetivos: O presente trabalho pretende apresentar resultados parciais da análise realizada sobre as
formas de inserção política do jurista alagoano Aureliano Cândido de Tavares Bastos (1839-1875), no
Brasil Império, sobretudo no que se refere à defesa da educação e da abolição da escravidão. Tal análise
pretende colocar em evidência de que forma o debate realizado por meio de cartas, artigos em jornais e
publicações de livros expressava elementos relativos às suas idéias e concepções sobre o poderia ser
apreendido como moderno. Metodologia: A pesquisa em andamento arrola e analisa diversas
referências teóricas que possibilitam extrair do corpus documental relativo à vasta produção de Tavares
Bastos, os significados atribuídos por ele à idéia de moderno e de modernidade, focando, sobretudo, os
discursos em defesa da educação e da abolição da escravidão. Nesse sentido, recorre a procedimentos
que visam a articular criticamente a sistematização desse corpus de fontes variadas como, entre outras,
artigos de jornais, livros, cartas, aos conceitos que têm potencial explicativo dessas mesmas fontes, tais
como o de “repertório” e os da história social dos intelectuais, das idéias e da cultura, como ainda
aqueles referidos às interpretações sobre a nação brasileira e os brasileiros. O presente estudo pretende

72
compreender as formas por meio das quais um conjunto de concepções, formuladas pelo intelectual e
jurista alagoano (1839-1875), Aureliano Cândido de Tavares Bastos, articuladas em torno de questões
candentes à época, tais como a modernização da economia, a abolição da escravidão e a educação,
contribuiu para a construção e disseminação de um ideário de vida no Brasil, que fosse capaz de
congregar todos os que aqui viviam com vistas a formar uma nação e consolidar a ideia de povo
brasileiro. Pretende-se analisar as interlocuções do intelectual com as ideias em circulação no período,
com foco em autores e personalidades políticas brasileiras e européias, mas, sobretudo norte-
americanas, elegidas por ele, como sendo a expressão mais bem acabada da modernidade exigida aos
projetos de Brasil, presentes nos debates da época. Assim, o estudo pretende identificar e analisar o
lugar ocupado pela educação nos projetos de Brasil elaborados entre os debates presentes no período
de atuação política do intelectual e, ao mesmo tempo, compreender, por meio do corpus documental
analisado, o significado da educação nas nos projetos de Estado e de Nação propostos por Tavares
Bastos.

951
MODERNO, MODERNIDADE, MODERNIZAÇÃO: POLISSEMIAS E PREGNÂNCIAS

MARCUS VINICIUS CORREA CARVALHO.


UEMG, BELO HORIZONTE - MG - BRASIL.

Objetivos: O interesse desta comunicação é ponderar sobre a variegada apropriação e aplicação dos
conceitos de moderno, modernidade e modernização, propiciando uma interpretação crítica de sua
operacionalização por diferentes intelectuais brasileiros investigados no projeto de pesquisa “Moderno,
Modernidade, Modernização: a educação nos projetos de Brasil (séculos XIX e XX)” ora em andamento
sob a coordenação do Prof. Dr. Luciano Mendes de Faria Filho e da Profa. Dra. Maria do Carmo Xavier.
Metodologia: A pesquisa em andamento recorre a procedimentos que visam a articular criticamente a
sistematização de corpus de fontes variadas como, entre outras, artigos de jornais, epistolografia,
ensaios e textos de crítica cultural e literária, com leituras especializadas tanto no que tange aos
conceitos principais em questão como a temas relativos, como sejam os da história social dos
intelectuais, das idéias e da cultura, como ainda aqueles referidos às interpretações sobre a nação
brasileira e os brasileiros. Na presente comunicação, apresentar-se-ão algumas considerações iniciais
sobre a investigação ainda em curso através de texto sintético de caráter ensaístico.  Em texto
seminal sobre o tema em questão, Jacques Le Goff ensina que a palavra “moderno” emergiu com a
queda do Império Romano no século V, dando assim, já por sua longevidade, a dimensão da
complexidade de seus usos no curso desses dezesseis séculos. Assim, referir à etimologia do neologismo
modernus formado por modo, “recentemente”, surgido no século VI, contribui pouco para a
compreensão do largo campo semântico definido pela variedade de apropriações e aplicações que o
termo vem tendo desde então. A complexidade de usos multiplica-se, sobretudo, quando consideramos
as referências após a polêmica entre antigos e modernos iniciada em fins do século XVII e acirrada até
pelo menos a emergência da vaga romântica em fins do século XVIII. Exatamente este período, que
marca a emergência do pensamento histórico secularizado no ocidente, deflagra uma inflexão
determinante na sensibilidade, na reflexão e na atuação dos ocidentais sobre a natureza e a sociedade,
a qual Baudelaire nomeou em seu texto Le peintre de la vie moderne, publicado em 1863, de
“modernidade”. Nesse sentido, a modernidade, caracterizada como “época da história”, em que
dominam as categorias da “novidade”, da “superação” e do “progresso” sob a égide do marco da
Revolução Francesa, traduziu-se no Brasil, desde o último quartel do século XIX, como questão nacional
tratada como “modernização”. A polissemia implicada nesses termos convida a investigar criticamente
as suas permanências e pregnâncias em diferentes intelectuais que promoveram diferentes projetos de
Brasil através da educação nos séculos XIX e XX.

73
954
O MODERNO NA PEDAGOGIA: AS APROPRIAÇÕES DOS TEXTOS DE RUI BARBOSA PELO PENSAMENTO
EDUCACIONAL BRASILEIRO
1 2 3
LUCIANO MENDES FARIA FILHO ; MARIANA TAVARES VIEIRA ; MARCILAINE SOARES INÁCIO
1,2.UFMG, BELO HORIZONTE - MG - BRASIL; 3.UNINCOR, BETIM - MG - BRASIL.

PROPOSTA/OBJETIVO: É notória a presença marcante de Rui Barbosa nas pesquisas sobre o pensamento
educacional brasileiro. São inúmeros os trabalhos que, ao longo do século XX, tiveram como objetivo
aquilatar a contribuição desse intelectual e político na proposição/divulgação de parâmetros modernos
para a pedagogia no Brasil. Nesta comunicação, mobilizando as noções de apropriação, tomada de
empréstimo a R. Chartier, e de circulação/cicularidade cultural, tomada de empréstimo Carlo Ginzburg,
pretende-se analisar a forma como os professores e intelectuais brasileiros que escreveram sobre
educação se apropriaram da obra de Rui Barbosa, produzindo-a como documento-monumento que
demonstra, ao mesmo tempo, a genialidade do autor e seu protagonismo na introdução da pedagogia
moderna no Brasil. METODOLOGIA: Na pesquisa, consideramos como texto “inaugural” para análise das
formas de apropriação do pensamento de Rui Barbosa o texto de José Veríssimo - A educação nacional –
cuja primeira edição foi é de 1890, mas que foi mais amplamente divulgada a partir de sua segunda
edição, pela Francisco Alves, em 1906. O marco final desta nossa incursão pelas apropriações de Rui
Barbosa é o ano de 1954, quando Lourenço Filho publica o seu A pedagogia de Rui Barbosa, pela editora
Melhoramentos, livro que de uma vez por todas estabelece Rui Barbosa como um “grande pedagogo
brasileiro”. Estão sendo analisadas, consideradas, na pesquisa, as principais obras dos intelectuais da
educação brasileira que, entre 1906 e 1954, de formas diferenciadas, lidaram com o legado de Rui para
a educação brasileira. RESULTADOS: Temos percebido uma apropriação diferenciada dos textos
“pedagógicos” de Rui Barbosa longo da primeira metade do século XX. Sejam os Pareceres sobre a
Reforma da Instrução Pública, seja o livro “Lições de Coisas” que, apesar de “apenas”
traduzido/adaptado por Rui, é, em vários ocasiões, considerado como sendo se sua autoria, estes textos
comparecem em boa parte das obras até agora analisadas. Observamos que não há uma unanimidade
na apreciação e, muito menos, nas formas de mobilização dos referidos textos pelos diferentes autores,
ou mesmo, por um mesmo autor, em momentos distintos de sua carreira, como é o caso de Lourenço
Filho, conforme demonstraremos. A análise que empreendemos articula, assim, as principais expressões
do pensamento de Rui Barbosa com relação às expressões do moderno na pedagogia, procurando
compreendê-las aos discursos com as ideias em circulação na ambiência cultural do período.

943
MUDANÇA SOCIAL NO BRASIL: AS MULTIPLAS FACES DO MODERNO NA SOCIOLOGIA DE JUAREZ
RUBENS BRANDÃO LOPES

MARIA DO CARMO XAVIER.


PUCMINAS, BELO HORIZONTE - MG - BRASIL.

PROPOSTA/OBJETIVO: a comunicação focaliza a problemática da modernização e do desenvolvimento


brasileiro e pretende identificar e interrogar, idéias, conceitos e argumentos que demarcaram as
análises do sociólogo Juarez Rubens Brandão Lopes sobre os processos de mudança econômica e social
verificadas no Brasil entre as décadas de 1950/1960. O objetivo é apresentar as idéias mobilizadas no
debate público sobre o desenvolvimento brasileiro e analisar o modo pelo qual tais idéias plasmaram
formas de pensar a realidade nacional conformando um estreito vínculo entre a industrialização
(pensada como evento modernizador, capaz de substituir formas tradicionais de contato social por
outras mais modernas) e a mudança social. A análise dos dados se estabelece na interlocução com o
campo conceitual da história política privilegiando-se as noções de “repertório” (Charles Tilly) e
“estrutura da conjuntura” (Marshall Sahlins) com vista a apresentar uma interpretação sobre o papel da
intelectualidade na produção de entendimentos sobre o moderno e a modernização brasileira.
METODOLOGIA: o texto se organiza em duplo movimento. Examina-se o debate público sobre as
transformações econômicas e sociais em curso no Brasil nas décadas de 1950/1960 e identifica-se o

74
repertório de idéias e formas de agir por ele mobilizado. Analisa-se os sentidos atribuídos às mudanças
sociais em três estudos do sociólogo Juarez Brandão Lopes sobre a dinâmica do atraso e da
modernização brasileira: Sociedade Industrial no Brasil, publicado pela Difusão Européia do Livro em
1964, Crise do Brasil Arcaico publicado pela mesma editora em 1967 e Desenvolvimento e Mudança
Social, publicado pela Editora da USP em 1964. RESULTADOS: o entrecruzamento dos dados aponta o
quanto formas de pensar e formas de agir estão em íntima conexão e quanto expressam dilemas e
paradoxos vividos pela sociedade brasileira. O debate político e os estudos sociológicos sobre as
mudanças sociais no Brasil no recorte temporal da pesquisa sugerem a percepção da “indústria como
cultura”. Uma instituição capaz de desempenhar como função exemplar e subjacente, o papel de
agência de transformação da herança cultural tradicional. Nesse esquema interpretativo, a indústria
atua de forma semelhante à escola primária difundindo hábitos e comportamentos da cultura moderna
e citadina.

APRENDER A LER COM HILÁRIO RIBEIRO, ANTONIO FIRMINO PROENÇA E ARNALDO BARRETO
Coordenador: FRANCISCA IZABEL PEREIRA MACIEL

1316
ANTONIO FIRMINO DE PROENÇA E A PRODUÇÃO DE CARTILHAS E LIVROS DE LEITURA EM SÃO PAULO
NO INÍCIO DO SÉCULO XX

MARCIA DE PAULA GREGORIO RAZZINI.


CEFIEL-IEL-UNICAMP, SAO PAULO - SP - BRASIL.

Apoiada em pressupostos teórico-metodológicos da história cultural, da história do livro e da leitura


(Chartier, 1990; Darnton, 1990), da cultura escolar (Chervel, 1998; Julia, 2001) e da história das
disciplinas escolares (Chervel, 1990; Bittencourt, 2003; Viñao, 2007), a comunicação que integra
proposta de mesa coordenada focaliza a produção de livros destinados ao ensino-aprendizagem (inicial
e de desenvolvimento) da leitura e da escrita nas escolas elementares do estado de São Paulo nas
primeiras décadas do século XX, tomando como exemplo a produção da série de livros de Antonio
Firmino de Proença, composta de uma cartilha e de três livros de leitura graduada. O texto parte de
investigações anteriores (2005 e 2007), que relacionaram e analisaram a expansão da escola pública
elementar no estado de São Paulo e o considerável aumento da produção de livros didáticos de três
editoras instaladas na capital: Livraria Francisco Alves, Tipografia Siqueira e Companhia Melhoramentos
de São Paulo. No que diz respeito aos quatro livros didáticos de Antonio Firmino de Proença – Cartilha
Proença, 1º, 2º e 3º Livro de Leitura, publicados entre 1926 e 1928 pela Companhia Melhoramentos de
São Paulo, editora que comemorou 120 anos em 2010 (na Bienal do Livro de São Paulo) – trata-se da
primeira coleção completa produzida por essa casa editorial, visando os segmentos graduados que
compunham o então curso primário, de três ou quatro anos, dependendo da localização e do tipo de
escola: se era escola urbana, como os Grupos Escolares, o curso era de quatro anos; se era rural, como
as Escolas Isoladas, o curso primário era de três anos. O momento da publicação das obras de Proença
marca também a retomada da seriação do curso primário em três e quatro anos, duração que tinha sido
fixada pela Reforma Sampaio Dória, de 1920, para dois anos obrigatórios, como medida para reduzir os
altos índices de analfabetismo no estado. Antonio Firmino de Proença fez parte de uma geração de
intelectuais formados pela Escola Normal da Praça da República que participou ativamente do projeto
de modernização do ensino público elementar, atuando não só como professores e administradores de
escolas primárias e de escolas normais, como também produzindo artigos de revistas pedagógicas e
livros didáticos dirigidos a ambos os níveis. Tanto a produção como algumas indicações dos usos dos
livros didáticos de Antonio Firmino de Proença são compreendidas no contexto da cultura escolar
vigente, em que o ensino de língua materna e a leitura como prática escolar eram proeminentes no
currículo da escola primária, aspectos reforçados pela determinação oficial de que só cartilhas e livros
de leitura podiam ser destinados ao uso dos alunos, fatores que dimensionam a importância e o papel

75
relevante que tais produtos culturais representavam no processo de expansão da escola e do mercado
de livros didáticos.

1311
HILÁRIO RIBEIRO E SUA PRODUÇÃO DIDÁTICA DE LIVROS DE LEITURA

FRANCISCA IZABEL PEREIRA MACIEL; KATIA GARDENIA HENRIQUE CAMPELO DA ROCHA.


FAE/UFMG, BELO HORIZONTE - MG - BRASIL.

As cartilhas e os livros de leitura oferecem muitas possibilidades de investigação dentre elas sua
materialidade - formato, volume, ilustrações, disposição das lições e exercícios, tipo de letra; sua
proposta político-didática - concepção de método de leitura e escrita. As investigações tem levado os
pesquisadores a buscar novas fontes e novos métodos de análise e enfoques diferenciados. (Nóvoa
& Berrio, 1993). É nesta tendência que se insere essa comunicação: pretende-se analisar a
produção e a circulação da produção didática de Hilario Ribeiro – “Cartilha Nacional e a série de leitura
graduada”. O período analisado corresponde às últimas décadas do século XIX e a primeira metade do
século XX. A problematização em torno da alfabetização e expansão do ensino primário pode ser
agrupada em dois eixos temáticos: os livros de leitura, seus autores e os movimentos reformistas. Com
relação aos manuais escolares, em especial os livros de iniciação à leitura, pode-se afirmar que são umas
publicações especializadas, com identidade própria, trazem um ideário e um modelo pedagógico para
configurar o currículo e organizar a prática escolar. (Escolano, 1997). Segundo Choppin (1992), a
expansão e a diversificação dos manuais escolares devem-se, em grande parte, à vulgarização do Ensino
Simultâneo, como metodologia que tinha como princípio racionalizar e uniformizar o sistema de
instrução pública. No século XIX, é significativo o número de Relatórios dos Presidentes de Província que
argumentam a favor da organização de compêndios e do uso desse artefato por parte dos alunos e
professores visando ao bom desempenho do ensino. Buscar a uniformidade do ensino por meio de uma
metodologia se tornaria mais viável e racional se os princípios metodológicos pudessem ser
materializados em um compêndio destinado aos alunos e professores. A falta de compêndios para o
ensino da leitura é discurso recorrente nos relatórios do oitocentos, assim como não são raras as
explanações sobre os gastos feitos pelo governo com os meninos pobres com a compra de
compêndios.Pode-se dizer que dois fatores contribuíram decisivamente para a escassez dos livros, em
geral, nas escolas primárias: o alto custo dos livros e a escassez de livros de autoria nacional. Assim, na
tentativa de sanar a falta de autores de manuais escolares, o governo provincial institui concursos e
distribuição de prêmios para autores de livros escolares. É nesse contexto que Hilário Ribeiro publicou e
teve seus livros premiados na Exposição Pedagógica do Rio de Janeiro em 1883. Em 1885, Hilário
Ribeiro, já professor do Imperial Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro, publicou pela Livraria
Francisco Alves a Cartilha Nacional ou Novo primeiro livro de leitura para “o ensino simultâneo de
leitura e escrita”. Nessa comunicação pretendemos apresentar os resultados de pesquisa realizada
sobre o autor, professor Hilário Ribeiro e sua longeva produção didática nas escolas primárias do Brasil.

1319
ARNALDO DE OLIVEIRA BARRETO: UM AUTOR ENTRE LIVROS PARA ALFABETIZAR E PARA
DESENVOLVIMENTO DA LEITURA

ISABEL CRISTINA ALVES DA SILVA FRADE.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS, BELO HORIZONTE - MG - BRASIL.

Arnaldo de Oliveira Barreto, autor paulista, inspetor, diretor, professor de escola normal e editor da
Revista de Ensino foi também autor da Cartilha das Mães, publicada a partir de 1896 (Mortatti, 2000,
p.92) e da Cartilha Analytica, produzida em 1907. Arnaldo Barreto também produziu em co-autoria a
coleção graduada Puigari-Barreto. Autores que o antecederam nesta empreitada foram Abílio Cesar
Borges, Felisberto de Carvalho e Hilário Ribeiro. Neste trabalho, visamos indicar aspectos que
caracterizam algumas de suas obras destinadas à alfabetização: a Cartilha das Mães, A Cartilha Analytica

76
e a coleção Puigari Barreto que visa o desenvolvimento da leitura. Como pressupostos teóricos
utilizamos a distinção entre texto e impresso feita por Roger Chartier, buscando ver os livros como
textos e como impressos. Isso supõe investigar tanto seus conteúdos (textos e exercícios) como sua
configuração gráfica e o modo como o livro se apresenta como objeto material e gráfico. Uma primeira
vertente de análise busca evidenciar o que identifica cada uma de suas obras para alfabetizar, do ponto
de vista do modo de composição, das pistas paratextuais e dos conteúdos pedagógicos. A segunda
vertente busca encontrar quais são as linhas de continuidade ou de ruptura entre duas de suas obras
para alfabetizar e os livros de leitura. Pesquisa de Batista et al (2002) apresenta uma análise de um
corpo extenso de livros de leitura, do final do século XIX até meados da década de 70 do século XX,
analisando seus usos escolares, seus tipos, gêneros, existência de exercícios, classificando-os em
modelos de livros de leitura ligados aos seguintes princípios de didatização: modelo da leitura
manuscrita; modelo instrutivo; modelo formativo, modelo retórico-literário e modelo autônomo. Qual
modelo seria adotado pela série Puigari/Barreto? Estudo de Oliveira & Souza (2000) analisa
comparativamente duas séries graduadas: a de Felisberto de Carvalho e a de Puigari/Barreto, chamando
atenção para o papel destes livros na escola brasileira. Para a série Puigari/Barreto os conteúdos
indicam o intuito de apresentar assuntos de cunho moral e cívico, poesias e histórias do dia-a-dia.
Ambos eram possivelmente destinados às aulas de leitura e, em suas progressões por ano e por lições
evidenciam a construção de uma metodologia para o ensino da leitura, assim designada pela pesquisa
citada: leitura elementar (aquisição do código), leitura corrente (fluência e compreensão) e leitura
expressiva. Tendo em vista que estes estudos se concentram nos livros de leitura e não na sua relação
com os livros dos mesmos autores para alfabetizar, este estudo busca responder às seguintes perguntas:
o que distingue, afinal, os dois livros para ensinar a arte de decodificar, feitos pelo mesmo autor? Há
linhas de continuidade entre esses livros para iniciantes e suas propostas para os livros de leitura? Há
indícios de concorrência ou convivência, no mesmo local, entre suas obras e a de outros autores?

IMPRENSA E INTELECTUAIS NO SÉCULO XIX: FONTES PARA A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NO BRASIL


Coordenador: MARCILIA ROSA PERIOTTO

1128
CONCHAVOS, POLÊMICAS E RIVALIDADES: A IMPRENSA MINEIRA PELA ATUAÇÃO DE MENDES
PIMENTEL NA PRIMEIRA DÉCADA REPUBLICANA

CAROLINA MOSTARO NEVES DA SILVA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS, BELO HORIZONTE - MG - BRASIL.

Por meio da trajetória pública de Francisco Mendes Pimentel (1869-1957) em Minas Gerais, na primeira
década republicana, esta comunicação investiga a imprensa como um mecanismo de ação política e de
pressão dos grupos que compunham as elites em defesa dos seus interesses. Para tanto, foram
analisados os periódicos: A Folha, publicado em Barbacena (1893/94) e o Diário de Minas, de Belo
Horizonte (1899), ambos criados e dirigidos por Mendes Pimentel na década de 1890, além do Jornal do
Povo, também da capital mineira, para o qual colaborou assiduamente no ano de 1900. Além desses
períodicos, foram consultados diversos números do jornal oficial do estado, o Minas Gerais, com intuito
de observar os debates produzidos na imprensa mineira. Na conjuntura clivada pelas disputas políticas
que marcam a instauração e a organização do regime republicano em Minas Gerais, a atuação de
Mendes Pimentel – advogado, político e professor – em jornais mineiros evidencia o papel da imprensa
como um instrumento de persuasão, de formação de consensos e dissensos, inclusive em torno de
temas educacionais. Tratando a imprensa ora como meio de formar opinião, ora como reflexo da visão
do público leitor, esse publicista encarou os jornais como a arena pública na qual se debatiam as
questões de relevância para a sociedade e, por isso, lhe atribuía uma missão social, política e educativa.
Por entender que havia uma relação direta entre a educação e a consolidação do regime republicano,
conferia à impressa, assim como à escola, a função de formar o caráter nacional. Assim, no exercício da
análise e da crítica pelos periódicos, manifestou constantemente a intenção de elucidar e orientar os

77
leitores, como o mestre que atua em sua cátedra. Para ele, o recurso à imprensa representava ainda a
possibilidade de intervenção e acesso à esfera do poder, a participação em contendas políticas, por
meio da expressão pública de seus elogios ou críticas aos acontecimentos que envolviam o governo,
principalmente no âmbito estadual. Da criação d’A Folha ao desaparecimento do Jornal do Povo,
Mendes Pimentel alterou significativamente os rumos de sua trajetória pública. Transitou do partido
político à oposição, experimentou intensamente a atividade jornalística, deu publicidade a projetos e
ideias, nem sempre com absoluta coerência, mas que, sobretudo, registravam suas posições na cena
pública mineira. Se, de início, manifestou-se em favor da República que via nascer e que lhe instigava
expectativas, poucos anos depois, tornou-se crítico veemente do regime consolidado.

1306
EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO DA OPINIÃO PÚBLICA PARA O ADVENTO DO TRABALHO LIVRE EM MEADOS
DO SÉCULO XIX: O COMPROMISSO POLÍTICO-ECONÔMICO-SOCIAL DO JORNAL O AUXILIADOR DA
INDÚSTRIA NACIONAL

CELINA MIDORI MURASSE MIZUTA.


FACULDADE DE ARTES DO PARANÁ, CURITIBA - PR - BRASIL.

Esta pesquisa documental e bibliográfica de caráter histórico visa demonstrar a forma pela qual o jornal
O Auxiliador da Indústria Nacional conduziu a sua missão de educar e formar a opinião pública para o
advento do trabalho livre em meados do século XIX. No Brasil o trabalho escravo constituía a sua base
produtiva há mais de três séculos, entretanto, em 1850, duas leis abalaram a economia escravista: a Lei
Eusébio de Queirós, de 4 de setembro de 1850, que reprimiu o tráfico de escravos e a Lei de Terras, de
18 de setembro de 1850, que dispunha sobre as terras devolutas e as adquiridas por posse ou sesmaria.
Ambas as medidas colocaram na ordem do dia a questão da busca de alternativas para manter e até
aumentar a produção agrícola mesmo prescindindo do trabalho escravo cujo fim se prenunciava. Muitos
eram os aspectos a serem debatidos e era preciso educar e convencer, antes de tudo, os agricultores,
mas também a sociedade brasileira em geral a respeito da necessidade de introduzir mudanças na
organização da produção agrícola e preparar-se para a transição do trabalho escravo para o livre. Nesse
contexto o jornal O Auxiliador da Indústria Nacional, editado pela Sociedade Auxiliadora da Indústria
Nacional, desempenhou uma função educativa fundamental ao divulgar amplamente as propostas com
o intuito de viabilizar a modernização da agricultura praticada no país e a sua inserção no mundo
civilizado. Era imprescindível educar para o porvir e O Auxiliador contribuiu para fomentar o debate
quanto ao futuro do Brasil. Os artigos publicados no periódico abordavam questões tais como: a
repressão do tráfico pelos ingleses; a utilização de maquinaria a vapor na produção; a importância das
exposições de máquinas para incentivar tanto a compra como a invenção de novos equipamentos; as
vantagens na contratação de imigrantes europeus; a instalação de colônias de parceria; a utilização de
novas técnicas para o melhoramento e a conservação dos produtos agrícolas; a necessidade de criar
escolas agrícolas que atendessem tanto os filhos dos proprietários agrícolas quanto os trabalhadores; as
noções básicas de economia, entre outros assuntos. As edições do jornal O Auxiliador da Indústria
Nacional, publicadas no período de 1849 a 1851, e os relatórios do Ministério do Império referentes ao
mesmo período constituem as fontes primárias do estudo. Utiliza como fontes secundárias, as
publicações de autores dos séculos XIX, XX e XXI que se debruçaram em torno da temática específica ou
de temáticas afins ou do período delimitado para essa investigação. Espera-se assim contribuir para
ampliar e aprofundar o conhecimento acerca da História da Educação no Brasil nos oitocentos. A
pesquisa é desenvolvida com os recursos do CNPq.

78
1050
MIGUEL DO SACRAMENTO LOPES GAMA, O JORNAL O CARAPUCEIRO E A EDUCAÇÃO

MARCILIA ROSA PERIOTTO.


UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ, MARINGA - PR - BRASIL.

É um estudo sobre as ideias morais, de cunho religioso, elaboradas por Miguel do Sacramento Lopes
Gama (1793-1852) no jornal O Carapuceiro na cidade de Recife. Entende-se que os conteúdos escolares
e as práticas educativas na atualidade, destarte as mudanças sociais havidas até então, cultivam ainda
os elementos traçados ao longo do século XIX por pensadores de roupagem católica que transitavam
entre as medidas modernizadoras e, ao mesmo tempo, a manutenção das práticas arcaicas na educação
das crianças e jovens. O debate realizado por Lopes Gama- padre, jornalista e deputado provincial-, na
imprensa e durante os anos 30 e 40 dos Oitocentos revela uma abrangência que excede os limites da
crítica social e dos costumes. O jornalista realizou análises da conjuntura econômica e política,
principalmente das forças que mantinham o Brasil em situação de atraso e que negavam
sistematicamente a criação de medidas que pudessem conduzi-lo ao efetivo desenvolvimento social, tal
como a manutenção do trabalho escravo. Foi um opositor tenaz da escravidão, pois, concorde a muitos
pensadores do século XIX, também via o trabalho escravo como um dos maiores óbices à modernização
da sociedade. Curiosamente, a sua visão educacional resvalava numa forma de educar correspondente
aos conteúdos dos anos de colonização. Os conteúdos fundamentais à formação do jovem deveriam
amparar-se nos ensinamentos das Sagradas Escrituras, primeiramente. Tinha-se aí o propósito de
promover uma educação fundamentalmente moral, visando obter governantes avessos ao uso dos
cargos públicos em prol dos interesses pessoais. O objetivo do estudo é refletir o significado da
educação moral, de cunho religioso, que emerge na totalidade dos escritos de Lopes Gama frente a um
projeto de nação delineado pela elite político-econômica. Entende-se que sua visão de educação está
intrincada ao ideário liberal que alimentou suas opiniões sobre o estado social brasileiro daquele
período, problema da qual emerge a questão de se delinear, também, a matriz do pensamento que
conduziu suas reflexões e o colocou no campo da crítica social. Lopes Gama vivenciou as contradições
de um tempo que se modificava rapidamente, o que o levou a coexistir ao mesmo tempo com o arcaico
e o moderno, induzindo-o ao amalgama dessas duas épocas, fato que tornou seu pensamento
depositário de questões aptas a elucidar não somente os conteúdos educacionais que até hoje
perduram, mas o longo e conturbado processo de construção de um modelo de nação que atravessou o
Brasil durante o século XIX.

1409
ANÁLISE DAS PRÁTICAS DE LEITURA NO SÉCULO XIX POR MEIO DE JORNAIS

MÔNICA YUMI JINZENJI.


UFMG, BELO HORIZONTE - MG - BRASIL

Esta pesquisa tem por objetivo compreender as práticas de leitura desenvolvidas por José Alcibíades
Carneiro, redator do periódico O Mentor das Brasileiras. Impresso em São João del-Rei, Minas Gerais,
entre 1829 e 1832, pretendia-se, com sua produção, a instrução das senhoras brasileiras. Por ter sido
um dos poucos periódicos voltados para o público feminino no período e, tendo em vista que se tratava
de um contexto em que o processo de escolarização ainda era incipiente, esta pesquisa pretende
contribuir para os estudos acerca das práticas educativas não escolares no século XIX.
A produção de periódicos no período envolvia um complexo repertório de leituras de outros textos, tais
como jornais, livros e cartas, e a compilação dessas leituras para compor cada número de jornal, que
dividiam o espaço com textos de autoria dos redatores. Nesta pesquisa, foi realizada uma análise desse
processo de leitura e apropriação dos textos para compor os números do jornal, buscando-se analisar a
censura, acréscimos e demais tipos de adaptação dos textos originais relacionando-os ao contexto
político e cultural do período. Algumas das obras utilizadas para a produção do jornal foram:
Conversations on political economy, de Jane Marcet, O castigo da prostituição, atribuído a Edward
Young, Fábulas de Phedro, do fabulista grego Phedro e Cartas sobre a educação das meninas por uma
senhora americana, de autoria desconhecida, todos editados entre o final do século XVIII e início do

79
século XIX. Entre os jornais mais utilizados, podem ser citados: O Popular, de Pernambuco, O Simplício,
O Tribuno do Povo e Aurora Fluminense, do Rio de Janeiro, e Manual das Brasileiras, de São Paulo, todos
contemporâneos de O Mentor. Cartas de leitores e leitoras dirigidas à redação e correspondências
particulares foi também outro tipo de texto a ser incorporado pelo jornal. A análise mostrou que o texto
final impresso era o resultado da leitura e do crivo operados pelo redator, então professor de gramática
latina, colaborador de outros periódicos, e entusiasta do grupo dos liberais moderados. No processo de
produção do jornal, realizava um cuidadoso trabalho de adaptação, tendo em vista tanto as
competências de leitura supostas para seu público como os valores políticos e morais que se pretendia
difundir. Para as senhoras eram selecionados livros de fácil entendimento e que também possuíam
formato reduzido. Os conteúdos compilados eram adaptados de forma a respeitar os valores familiares
cristãos, enfatizando-se os papéis de esposa fiel e mãe zelosa. Em se tratando da discussão política, esta
era a mais evidenciada, promovendo os princípios defendidos pelos liberais moderados, como a
liberdade e a monarquia constitucional. Trata-se de uma pesquisa concluída.

PROJETOS E MISSÃO: MOVIMENTO INTELECTUAL E EDUCAÇÃO NO P


ARANÁ E SANTA CATARINA (1930-1980)
Coordenador: NEVIO DE CAMPOS

879
INTELECTUAIS CATÓLICOS: CONFIDENTES DO CRIADOR, MINISTROS DO PROGRESSO E SACERDOTES
DA VERDADE

NEVIO DE CAMPOS.
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA, PONTA GROSSA - PR - BRASIL.

Este artigo objetiva discutir as estratégias da elite intelectual católica para organizar e divulgar seu
ideário filosófico-teológico no Estado do Paraná nas décadas de 1940 e 1950, cujo recorte privilegia a
intervenção do laicato católico no Ensino Superior curitibano, pois em tal período se constituíram a
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Paraná - FFCL (1938) e a Faculdade Católica de Filosofia de
Curitiba - FCFC (1950). O problema central consiste em discutir o papel dos intelectuais e o lugar das
Faculdades de Filosofia no processo de expansão do ideário católico entre os paranaenses. A hipótese
deste texto é de que tais instituições de Ensino Superior se constituíram nos principais espaços de ação
dos intelectuais católicos, assim como consolidaram a presença institucional da Igreja Católica na alta
cultura paranaense. A narrativa deste artigo apoia-se nos discursos pronunciados na FFCL e na FCFC no
decorrer dessas décadas, por meio dos quais o grupo católico reafirmava que os estudiosos da ciência
consistiam em ser “confidentes do Criador, ministros do progresso e sacerdotes da verdade”. Esse
percurso analítico inscreve-se na história intelectual ao estabelecer interlocução com o conceito de
intelectual como organizador da cultura e mobilizador dos grupos sociais, sistematizado por Antonio
Gramsci. Tal conceito nos permite discutir as iniciativas dos intelectuais católicos no processo de
criação, coordenação e direção das atividades formativas organizadas nas Faculdades de Filosofia, bem
como problematizar suas ações como estratégias para consolidar a presença da Igreja Católica na alta
cultura curitibana e contrapor-se aos seus adversários. A ação do grupo católico inscrevia na luta pelo
controle do Ensino Superior paranaense, por conseqüência da formação de uma camada social
específica, a qual representava uma parte da elite econômica, política, social e cultural do Estado do
Paraná. A presença do laicato católico no Paraná consolida-se no final da década de 1920 com a criação
do Círculo de Estudos Bandeirantes, no qual em meados dos anos de 1930 foi organizado o primeiro
curso de filosofia tomista destinado aos integrantes desse centro cultural. Esse evento constituiu-se no
principal símbolo do movimento em defesa da criação da FFCL. Em 1939, a FFCL passou a ser controlada
diretamente pelos Irmãos Maristas, embora não se denominasse formalmente faculdade católica. Em
dezembro de 1950, a FFCL foi repassada ao controle da União devido à federalização da Universidade do
Paraná. No entanto, em agosto de 1950 já havia sido criada a FCFC sob a coordenação dos Maristas e do
laicato católico, o que indica que o Ensino Superior materializou a presença do ideário filosófico-
teológico da Igreja Católica no Paraná.

80
940
ERASMO PILOTTO: IDENTIDADE, ENGAJAMENTO POLÍTICO E CRENÇAS DOS INTELECTUAIS
VINCULADOS AO CAMPO EDUCACIONAL NO BRASIL

CARLOS EDUARDO VIEIRA.


UFPR, CURITIBA - PR - BRASIL.

O objetivo desse texto é refletir sobre o conceito de intelectual que vem sendo desenvolvido e utilizado
ao longo de dez anos de pesquisa no intuito de explicar o comportamento social dos intelectuais
associados, direta ou indiretamente, ao campo educacional no Brasil do último quartel do século
dezenove aos anos sessenta do século vinte. Essa formulação tem sido desenvolvida no diálogo com a
literatura que trata do tema dos intelectuais e, sobretudo, no cotejo com as fontes que formam o
corpus documental da pesquisa. Para evitarmos o tratamento abstrato e, portanto, meramente teórico
do tema, exploraremos o potencial heurístico desse conceito a partir da análise das ideias e da trajetória
do intelectual paranaense Erasmo Pilotto (1910-1992). A análise do processo de formação de Pilotto
revela, tanto a certificação escolar formal, como os investimentos em autoformação. Estudando sempre
em boas escolas de Curitiba, Pilotto formou-se como normalista pela Escola Normal Secundária de
Curitiba, em 1928. O autodidatismo é perceptível pela amplitude da sua produção intelectual, pois,
embora nos seus escritos o foco tenha se concentrado nas questões da educação, encontramos textos
seus que incidem sobre temas de filosofia, artes plásticas, literatura e história. O marco institucional da
trajetória de Pilotto foi a sua atuação na Escola Normal de Curitiba de 1933 a 1947, enquanto que como
marco intelectual destaca-se a sua vinculação, em meados da década de 1920, ao Movimento pela
Escola Nova. A produção de Pilotto em torno do tema da educação revela a sua refinada erudição, à
medida que os problemas educacionais foram analisados em diálogo com idéias oriundas de diferentes
áreas, com ênfase, na interlocução com as ideias filosóficas. A obra pedagógica de Pilotto foi
desenvolvida em um permanente processo de reflexão e de ação pedagógica. E, nesse sentido, a Escola
Normal de Curitiba e o Movimento pela Escola Nova representaram os espaços privilegiados por este
intelectual para a elaboração e a aplicação da sua teoria pedagógica. O foco nesse personagem histórico
tem motivado a formulação conceitual que discutiremos nesse texto que, em síntese, incide sobre
quatro aspectos: a identidade e o sentimento de missão dos intelectuais, bem como as crenças na
modernidade e no protagonismo político do Estado. Sendo assim, exploraremos as ideias e as ações de
Pilotto, a partir do conceito de intelectual que pretendemos expor e problematizar nesse espaço de
reflexão. Entendemos que essa opção permitirá, a um só tempo, revelar a singularidade de Pilotto e a
tipicidade do comportamento do sujeito coletivo denominado nesse texto de intelectuais. A aplicação
do conceito que explicitaremos em outros cenários dependerá de investigações circunstanciadas pela
pesquisa histórica. Logo, não é objetivo dessa reflexão generalizações imprudentes, mas sim provocar
questões que favoreçam o debate na História da Educação e na História dos Intelectuais.

947
JOÃO ROBERTO MOREIRA E O CURSO NORMAL DO INSTITUTO DE EDUCAÇÃO DE FLORIANÓPOLIS
(1937-1943): EFERVESCÊNCIA INTELECTUAL E PROJEÇÃO NACIONAL

LEZIANY SILVEIRA DANIEL.


UFPR, CURITIBA - PR - BRASIL.

O intelectual catarinense João Roberto Moreira (1912-1967) tornou-se figura conhecida no âmbito
nacional, quando de sua atuação junto aos principais órgãos da pesquisa educacional no Brasil, como o
Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais e o Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais, nas
décadas de 1940 e 1950. O presente trabalho, decorrente de tese de doutorado defendida em 2009,
privilegia sua gênese intelectual que ocorreu ainda em Santa Catarina, quando atuou como professor e
Diretor do Curso Normal do Instituto de Educação de Florianópolis (1937-1943). Principalmente,
durante o governo do Interventor Federal em Santa Catarina Nereu Ramos (1937-1945), os propósitos
de nacionalização foram mais acirradamente perseguidos, passando a formação de professores a ocupar
função estratégica na implementação das políticas governamentais. É no interior dessa realidade que

81
passam a ocorrer em Santa Catarina reformas no seu sistema de ensino, criando-se todo um ambiente
de discussão sobre a importância de adequá-lo às novas proposições do Estado Nacional. Moreira, nesse
sentido, foi um dos principais articuladores e pensadores educacionais catarinenses nesse processo. À
frente do Curso Normal do Instituto de Educação de Florianópolis, instituição modelo de formação de
professores em Santa Catarina, ele contribuiu para a criação de um ambiente de efervescência
intelectual, abordando temáticas que buscavam a constituição científica do campo pedagógico
catarinense, bem como proporcionavam maior embasamento científico das políticas educacionais do
governo catarinense. As evidências dessa forte ligação de Moreira com o governo podem ser
explicitadas mediante inúmeras iniciativas viabilizadas durante sua gestão como Diretor do Instituto.
Contando com o apoio do governo, Moreira criou, em 1941, a revista “Estudos Educacionais”, periódico
em que publicavam alunos e professores do Instituto, bem como intelectuais de projeção nacional; e
viabilizou a vinda ao estado catarinense de intelectuais como Fernando de Azevedo, Roger Bastide e
Donald Pierson. Além disso, em vários momentos, durante esse período, Moreira participou de
importantes eventos promovidos pelo governo que tratavam, diretamente, de questões centrais
abordadas no campo da política, como a educação e a cultura. Nessas oportunidades, Moreira exaltou
os direcionamentos dados pelo governo catarinense no campo educacional, produzindo análises que
demonstravam sua participação e apoio na implementação de tais diretrizes, especialmente, as
relacionadas à política de nacionalização do ensino. Em 1942, por exemplo, Moreira foi convocado pelo
governo de Nereu Ramos para representar o Estado de Santa Catarina no 8º Congresso Brasileiro de
Educação, que ocorreria em junho daquele ano, na cidade de Goiânia.

1145
LIDERANÇAS POLÍTICAS E RELIGIOSAS NA FUNDAÇÃO DA FACULDADE CATARINENSE DE FILOSOFIA

CELSO JOÃO CARMINATI.


UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA, FLORIANOPOLIS - SC – BRASIL

No contexto das políticas educacionais dos anos de 1950, discutimos os principais aspectos da fundação,
do reconhecimento e da constituição da Faculdade Catarinense de Filosofia. Diante do processo de
afirmação da educação no país, o ensino superior foi aos poucos se constituindo num importante pilar
de formação de profissionais para as redes de ensino que se institucionalizavam, sobretudo para o
ensino secundário, uma vez que para os níveis iniciais, esta formação se dava ainda na antiga estrutura
de formação da escola normal. A formação, a partir da titulação escolar em nível superior, dava
perspectivas de futuros, destinos ocupacionais nas estruturas das nascentes carreiras do serviço público,
tanto estadual quanto federal, que naquele momento recebiam grande força em decorrência das
políticas de indução para o país, adotadas nos anos de desenvolvimentismo nacional, que por
necessidade de organização passariam a ocupar importantes lugares no cenário nacional. Naturalmente,
aos olhares de suas demandas, isto representaria um lugar ao sol, ou melhor, ao acesso e estabilidade
com importantes rendimentos econômicos às classes desejosas de formação, mesmo diante de certas
restrições que os títulos recebidos impunham no mercado, mas que não deixavam de se demarcar e
constituir enquanto um indicador de destaque econômico no âmbito da sociedade catarinense. Os
desafios postos nesse processo colocavam em evidência os espaços que foram ocupados no âmbito da
organização das condições de funcionamento dos cursos pretendidos, cujo envolvimento de lideranças
políticas e religiosas, constituíam-se de esforços e certamente colocavam em evidência os muitos
interesses pessoais no sentido de projeção dos formandos e também institucionais, à medida que o
reconhecimento e funcionamento do ensino superior despertasse nas autoridades nacionais o interesse
de valorização da educação superior, apoiando com financiamentos públicos para sustentar os cursos,
além de responderem aos anseios sociais de classe e aos desafios educacionais que se voltavam para a
institucionalização da formação acadêmica e cultural no estado de Santa Catarina. Nesse sentido, a
fundação de uma Faculdade de Filosofia em Santa Catarina, consolidaria os anseios e colocava em
evidência o projeto e a trajetória de formação de uma elite cultural, desejosa de formação superior,
inicialmente, no âmbito da filosofia e letras. Mesmo com pequenas, mas certamente significativas
concessões de títulos acadêmicos aos seus filhos, os bacharéis seriam beneficiários de certa distinção
social, decorrente de coroamento no âmbito das letras e das humanidades.

82
LUGARES DE PODER, PRODUÇÃO E CIRCULAÇÃO DE SABERES PEDAGÓGICOS
Coordenador: MARIA RITA DE ALMEIDA TOLEDO

1197
TRADUÇÕES CULTURAIS DE COMO PENSAMOS EDITADAS NA COLEÇÃO ATUALIDADES PEDAGÓGICAS
(1933-1981)

MARIA RITA DE ALMEIDA TOLEDO.


UNIFESP, SAO PAULO - SP - BRASIL.

Com esse trabalho objetiva-se analisar os deslocamentos de sentido que são atribuídos à tradução do
título de John Dewey - Como Pensamos –, em cada uma das três versões, publicada na Coleção
Atualidades Pedagógicas, pela Companhia Editora Nacional, ao longo do século XX. Para tanto, toma-se
por objeto os dispositivos editoriais e tipográficos de apoio a leitura – orelhas, prefácios, notas de
rodapé do tradutor – acrescidos a cada uma das versões. Esta coleção foi utilizada nos cursos de
formação docente, compondo as bibliotecas de faculdades de Pedagogia, Educação, Psicologia, de
Escolas Normais e de Magistério. Ela é componente das práticas que se instauram no processo de
constituição da cultura pedagógica e das práticas de formação dos professores no Brasil, nas décadas
em que circulou. O estudo de uma coleção de livros na perspectiva da história cultural admite, com
Chartier, que não existe texto fora do suporte que dá a ler, que não há compreensão de um escrito,
qualquer que ele seja, que não dependa das formas através das quais ele chega ao leitor, daí a
importância de atentar para as formas produtoras de sentido ou da materialidade do impresso. A
coleção estudada é tomada como objeto cultural que, constitutivamente, guarda as marcas de sua
produção e de seus usos, entendida como estratégia editorial de difusão de saberes pedagógicos e de
normatização das práticas escolares. As três versões do título de Dewey acompanham as
transformações operadas no programa de leitura da própria coleção ao longo de seus 51 anos de
existência. No primeiro período da Atualidades (1931-1949), sob direção de Fernando de Azevedo,
Como pensamos tinha papel central porque poderia operar a “revolução” na escola - revolução que
significaria, nas palavras do prefácio assinado por Anísio Teixeira, a renovação das práticas escolares
tradicionais. Na década de 1950, quando de sua terceira edição (e segunda versão), ao título é atribuída,
pelo novo editor JB Damasco Penna, o sentido de clássico que demonstraria a maneira melhor e
mais acertada de por o pensamento do aluno, interessado, ativo e disciplinado, a serviço da educação
(1959). Já no início dos anos 1980, na última edição (e terceira versão) do título, o prefácio é assinado
por um dos maiores opositores da leitura de Dewey no Brasil: Van Acker. Nessa última versão, Dewey, e
seu título, são apresentados pelo educador católico como ultrapassados, como resquícios de um
período educacional já findo, porque não teriam mais seu valor reconhecido nem pelos educadores de
esquerda, marxistas militantes, que avaliariam o seu socialismo como pragmatismo burguês,
cientificista, individualista e utilitário -, nem pelos educadores católicos, que entendiam que a sociedade
democrática por ele concebida não é integralmente humana. Depois dessa versão o título nunca mais
foi reeditado.

1239
ESTRATÉGIAS DE MODELIZAÇÃO DA PRÁTICA DOCENTE NOS RELATÓRIOS DA INSPETORIA TÉCNICA EM
MINAS GERAIS

ROGERIA MOREIRA RESENDE ISOBE.


UNIVERSIDADE FEDERAL DO TRIANGULO MINEIRO, UBERABA - MG - BRASIL.

Este trabalho se inscreve na perspectiva da história cultural, que busca evidenciar a dinâmica da
historicidade da escola, concebendo-a como produto histórico da interação entre dispositivos de
normativização de uma cultura escolar e das práticas que os agentes que deles se apropriam. Focaliza
questões referentes ao movimento de difusão de modelos pedagógicos que vão produzindo,
gradativamente, desde as últimas décadas do século XIX, no Brasil, o desenho institucional dos Grupos
Escolares como expressão de moderna e renovada organização da escola primária. Convertendo em

83
hipótese de trabalho algumas asserções de Marta de Carvalho a respeito do estatuto central da
“pedagogia moderna” na constituição do “modelo escolar paulista”, este trabalho analisa experiências
ocorridas no âmbito da Reforma João Pinheiro em Minas Gerais. O conjunto de procedimentos e
estratégias mobilizado pelos reformadores mineiros revela a constituição de um sistema de ensino
pautado no referencial da pedagogia moderna que se alicerçava na lógica da reprodução desse modelo
por meio de dispositivos que promovessem a visibilidade e imitabilidade das práticas escolares. Uma das
peças centrais da reforma foi a criação da Inspeção Técnica do Ensino, que visava consolidação da
reforma. Na lógica de um sistema de ensino, baseado na prática, no ver fazer, os inspetores técnicos se
configuram como modeladores do ensino dando a ver aulas exemplares aos professores nas escolas
primárias do estado, fazendo a mediação entre as estratégias de modelagem das práticas culturais
segundo seus princípios instituintes, e as práticas alvo dessas estratégias de modelagem: a prática
docente. Tomado o conceito de estratégia, de Certeau, flagra a inspetoria e a própria Secretaria do
Interior como o lugares de poder que, no âmbito de uma política educacional caracterizada pela ação
reguladora e centralizadora do governo, institui uma hierarquia de autoridade entre os agentes
educativos. Essa hierarquia está em relação direta com um saber legitimado pelos preceitos da moderna
pedagogia que delimitava a competência dos sujeitos e atravessava as práticas escolares, produzindo
determinadas formas de relação entre os mesmos: os inspetores técnicos subordinavam-se à autoridade
central – Secretaria do Interior – os professores e diretores de grupos escolares subordinavam-se à
competência técnica dos inspetores regionais dos quais as praticas sociais emanam. Neste sentido, a
análise dos relatórios de inspeção evidencia que o inspetor técnico, respaldado e autorizado por uma
suposta competência técnica, atuava sobre o processo educacional e, sobretudo, sobre a prática
docente, a partir de um lugar de poder determinado, o lugar de um intérprete autorizado cuja ação
visava aproximar as práticas dos professores das regras estabelecidas na conformação de um
determinado modelo escolar de educação em Minas Gerais.

1241
ESTRATÉGIAS EDITORIAIS E TERRITORIALIZAÇÃO DO CAMPO DA PEDAGOGIA: UM LIVRO DE SAMPAIO
DÓRIA SOB A PENA DO EDITOR DA BIBLIOTECA DE EDUCAÇÃO

MARTA MARIA CHAGAS DE CARVALHO


UNIVERSIDADE DE SAO PAULO, SÃO PAULO - SP - BRASIL.

Esta comunicação analisa a inserção do livro Educação Moral e Educação Econômica, de autoria de
Sampaio Dória, na coleção Biblioteca de Educação, organizada por Lourenço Filho para a Companhia
Melhoramentos de São Paulo. Toma como referenciais de análise as proposições metodológicas de
Roger Chartier, que ressaltam a importância de considerar a materialidade do impresso analisando os
seus dispositivos textuais e editoriais de modelização da leitura. E explora analiticamente proposições
de Olivero acerca do aparelho crítico que produz a identidade editorial de uma coleção e as
contribuições de Genette e Cayuela para a análise de paratextos, como os prefácios. Educação Moral e
Educação Econômica, publicado em 1928, é livro produzido sob encomenda. A sua simples publicação
na coleção, como o seu III volume, quando tinham apenas sido publicados nela os livros de Henri Pieron,
Psicologia Experimental, e de Claparède, A Escola e a Psicologia Experimental, indicia o prestígio de que
gozava Dória junto ao organizador da coleção, seu ex-aluno na Escola Normal de São Paulo e antigo
amigo, discípulo e colaborador. Figurar na Biblioteca de Educação, ao lado de dois pedagogos então
internacionalmente ilustres, era sem dúvida uma honra para Sampaio Dória. Mas a leitura do Prefácio
indicia a ambigüidade da situação. Nele, um leitor atento e bem informado poderá perceber que o
notável esforço do prefaciador, Lourenço Filho, de enquadrar o volume na coleção, é também estratégia
de abrir espaço às novas tendências pedagógicas que o editor acreditava terem suplantado convicções e
teorias como aquelas que Dória professava. Para esse leitor, ficam evidentes, nesse prefácio, as
estratégias textuais que compõem o perfil de Dória e de suas idéias educativas de modo a reverenciá-las
e a concomitantemente situá-las na periferia do movimento de renovação pedagógica que Lourenço
postulava capitanear no país. A operação punha em evidência e valorava concepções julgadas
compatíveis com as novas doutrinas pedagógicas e silenciava as demais. O tema atribuído ao volume de
autoria de Sampaio Dória era relevante no campo da nova pedagogia e não deixava de ser de interesse e

84
domínio deste. Mas não era, certamente, o único tema de predileção do autor. Mais do que isso, na
territorialização que a coleção promove, fragmentando os assuntos por volume e destinando cada um
deles a um autor escolhido, era o próprio território em que Dória costumava se mover que lhe era
subtraído. A pedagogia científica e a psicologia experimental, peças inamovíveis desse território e temas
recorrentes em Princípios de Pedagogia, livro que Dória publicara havia pouco mais de dez anos, era
assunto destinado a outros autores, mais identificáveis com a propaganda das idéias e dos conceitos
que Lourenço acreditava nucleares no movimento internacional pela escola nova.

1261
ESCOLA E NOVA ESCOLA: DISPOSITIVOS MATERIAIS E POLÍTICA EDITORIAL DOS PERIÓDICOS
EDUCACIONAIS DA ABRIL

DANIEL REVAH.
UNIFESP, SÃO PAULO - SP - BRASIL.

Este trabalho compara dois periódicos educacionais da editora Abril: ESCOLA e NOVA Escola. O primeiro
é editado entre outubro de 1971 e abril de 1974, sendo publicados ao todo 27 números; o segundo é
lançado em março de 1986 e continua a ser editado até hoje, numa média de dez números anuais. Cerca
de 15 anos separam o início dessas duas publicações, ambas dirigidas aos professores do 1º Grau. Este
estudo compara os dispositivos materiais e a política editorial desses periódicos, bem como a sua
diferente repercussão entre os profissionais da educação em cada período, de modo a levantar algumas
hipóteses sobre essa diferença. A revista ESCOLA foi um fracasso do ponto de vista comercial e da sua
repercussão no campo educacional, ao contrário de NOVA Escola, que teve forte penetração entre os
professores. Essa diferença é discutida e relacionada com as diretrizes que definem as suas fórmulas
editoriais. No caso de ESCOLA, há três diretrizes fundamentais, explicitadas no seu editorial inaugural: a
adesão explícita às políticas educacionais do regime militar, pois coloca-se “entusiasticamente” a serviço
da Reforma de Ensino instaurada pela lei 5.692/71; a revista pensada como um “instrumento de diálogo
e cooperação com o professor de 1o grau”; o uso dos “recursos do jornalismo” numa revista
pedagógica. Esse último elemento da sua fórmula editorial é apresentado como um grande diferencial
em face do “mais insistente arcaísmo” que seria próprio dos outros periódicos educacionais. Nesse
período, ESCOLA diferencia-se nitidamente de outros periódicos dirigidos ao professor, assemelhando-
se em sua forma material a revistas comerciais da época, como Claudia, Veja e Quatro Rodas, da mesma
editora Abril. Nesse tipo de impresso, nota-se uma importante mudança no discurso pedagógico, na
mesma medida em que a pedagogia é transformada em notícia. Essa transformação, porém, não torna a
revista mais “atraente”, como pretendiam seus editores. É o que atesta o seu fracasso comercial, que
podemos supor está ligado à sua adesão às políticas educacionais da ditadura, mas também a um
professor-leitor que ainda não existe, tendo em vista tudo o que envolve essa Pedagogia do
acontecimento. NOVA Escola é lançada na década seguinte e no seu primeiro editorial a forma
jornalística é assumida de forma ainda mais incisiva, pois afirma-se que a revista “não é nem deseja ser
uma publicação pedagógica”, sendo produzida por “uma equipe de experimentados jornalistas”,
embora conte também com “profissionais da Educação”. O seu sucesso então é certo. E não parece
decorrência apenas da sua inserção no “processo de mudança que ora se verifica no país”, com a volta
da democracia, conforme indica o seu primeiro editorial. A discussão das diferenças entre os dois
periódicos será feita sob a perspectiva da História Cultural, que considera a forma material do impresso
inseparável das representações que ele cria, envolvendo também práticas de leitura inscritas nos
próprios suportes.

85
1283
OS LIVROS SAUDADE (1919), VIDA NA ROÇA (1933), ESPELHO (1928) E CAMPO E CIDADE (1964): UMA
APOLOGIA AO MEIO RURAL

CLEILA DE FÁTIMA SIQUEIRA STANISLAVSKI.


UNESP/FFC, MARÍLIA - SP - BRASIL.

Este texto tem como objetivo apresentar aspectos referentes ao meio rural presentes nas histórias dos
livros Saudade (1919), Vida na Roça (1933), Espelho (1928) e Campo e Cidade (1964), onde o autor
revela sua defesa ao meio rural. Os livros focados neste texto estão agrupados porque ressalta-se nas
histórias os personagens principais com características agrícolas num ambiente rural. Dessa forma,
estão voltados a convencer os leitores sobre as qualidades da vida no campo, fazendo apologia ao meio
rural. Estes livros compõem a Coleção de Leitura Escolar: Série Thales de Andrade juntamente com os
livros Ler Brincando (1932), Alegria (1937) e Trabalho (1958), que destacavam a educação rural e o
cotidiano das pessoas que moravam no campo. Para o desenvolvimento deste estudo, com resultados
preliminares de pesquisa de Doutorado, optei por procedimentos metodológicos de pesquisa
documental e bibliográfica situando-o no campo da história do livro escolar no Brasil estruturando-se a
partir das idéias de Roger Chartier numa abordagem identificada como história cultural. Centralizo nas
idéias de Chartier (2001) que define como relevante num texto as senhas explícitas e implícitas inscritas
pelo autor a fim de produzir uma leitura correta de acordo com sua intenção consciente ou
inconsciente, visando inscrever no texto convenções sociais ou literárias que permitirão sua sinalização,
classificação e compreensão, e estes aspectos são textuais, desejados pelo autor do texto investigado,
impondo assim protocolos de leitura. Os livros que compõe a Coleção de Leitura Escolar: Série Thales de
Andrade alcançaram muitas edições durante o século XX. Foram publicados pela Companhia Editora
Nacional em larga escala, e conquistaram o público leitor. Surgiram no momento de efervescência
editorial, no surgimento da Companhia Editora Nacional, contribuindo para o fortalecimento da editora
como maior editora do país naquele momento. Foram escritos pelo professor e escritor piracicabano
Thales Castanho de Andrade e foram destinados para leitura das crianças do curso primário das escolas
brasileiras no início do século XX. A presença de histórias que buscavam na realidade da vida do campo,
no cotidiano escolar e nas brincadeiras das crianças davam aos livros uma face real, ultrapassando o
campo imaginário, a fantasia e motivando a leitura. Entre os assuntos dos livros da Série
estrategicamente o autor abordava temas como a educação como forma de sucesso na vida e a ida à
escola, a escola rural e sua comunidade, a infância e suas vivências. O autor dos livros desta Coleção é o
Professor Thales Castanho de Andrade, piracicabano, autor e como professor de escola rural teve sua
vida dedicada à educação e aos livros, estava envolvido com a escola, as crianças e a comunidade rural.

1252
CULTURA PEDAGÓGICA E FORMAÇÃO DE PROFESSORES: A BIBLIOTECA DA ESCOLA NORMAL DE
PIRACICABA (1911-1920)

ANA CLARA BORTOLETO NERY.


UNESP, GUARULHOS - SP - BRASIL.

Analisar os livros que fizeram parte do acervo da biblioteca da Escola Normal Primária de Piracicaba,
interior de São Paulo, entre 1911 e 1920, é a preocupação central desta comunicação. Organizada a
partir do fundo da biblioteca da antiga Escola Complementar de Piracicaba e da política de criação de
bibliotecas escolares nas escolas normais do Estado, ela concorre para a constituição de um saber
especializado na área de formação de professores. A biblioteca escolar é compreendida como um
conjunto de materiais, em especial, de livros que, destinados ao uso do professores e à leitura escolar,
“organizam e constituem a cultura pedagógica representada como necessária ao desempenho escolar
de seu destinatário, o professor”(CARVALHO, 2007, p. 18). Entende-se, portanto, o conceito de cultura
pedagógica como a constituição de um saber específico a partir do conjunto de livros, adquiridos num
determinado período, com finalidade de formação docente. Para além do estudo dos conteúdos
veiculados por tais livros, o estudo da sua materialidade (Chartier) é evidenciado. Para a análise

86
proposta parte-se dos aspectos materiais que dizem respeito aos usos prescritos e à organização de um
repertório que estabelece uma cultura pedagógica determinada. Para caracterizar a cultura pedagógica
que se configura neste acervo serão objetos de análise os livros dedicados à Pedagogia. Para esta análise
utiliza-se a classificação feita por Carvalho (2007) em que distingue os tipos de impressos pedagógicos
em Caixa de Utensílios, Guia de Aconselhamento Tratado de Pedagogia. Como esta biblioteca foi
organizada a partir do fundo documental da antiga Escola Complementar de Piracicaba, os livros que
fizeram parte deste espólio serão também analisados. Como resultados é possível afirmar que, o
momento em foco, é marcadamente de profusão de princípios pedagógicos de diferentes matizes.
Neste sentido há a presença de livros nos moldes da Caixa de Utensílios e Guia de Aconselhamento. No
entanto, a entrada do livro de Calkins, na escola Normal Primária de Piracicaba, parece destoar um
pouco dos caminhos pelos quais a pedagogia parece se direcionar, sobretudo, com a indicação de
instalação do Gabinete de Psicologia e Pedagogia, após 1910. Por outro lado, se perfila com o conjunto
de livros trazidos por Thompson dos Estados Unidos em suas viagens, em especial, o livro de Emerson
White, A Arte de Ensinar, que Thompson manda traduzir em 1911, enquanto impresso que se enquadra
como Caixa de Utensílios.

87
88
EIXO 6 - ESTADO E POLÍTICAS EDUCACIONAIS NA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA

A ESCOLA, O ESTADO E A NAÇÃO: PARA UMA HISTÓRIA DO


ENSINO DAS LÍNGUAS NO BRASIL (1757-1827)
Coordenador: LUIZ EDUARDO OLIVEIRA

412
A CONSTITUIÇÃO DA NACIONALIDADE BRASILEIRA ATRAVÉS DO ENSINO SUPERIOR

CRISTIANE TAVARES FONSECA DE MORAES NUNES.


UFS E FSLF, ARACAJU - SE - BRASIL.

No reinado de D. José I, a sociedade eclesiástica foi substituída por uma sociedade civil. Os interesses da
fé e da alma dão lugar aos interesses do Estado, como detentor do poder absoluto. Pelo discurso
pombalino de modernidade podemos entender um explícito projeto de nação nas reformas
educacionais sugeridas por Pombal, tendo em vista uma desconstrução do modelo vigente proposto
pelos jesuítas para uma nova proposta de ideologia ilustrada. O novo projeto social iluminado era
baseado na ideia oposta da decadência e estagnação das sociedades alienadas pela superstição e pelo
obscurantismo religioso existentes na época. A educação passava a ser tutelada pelo Estado, encarada
como um dever público baseado no progresso das ciências e do homem. Na concepção de uma
soberania nacional, a Universidade de Coimbra é posta no centro de uma produção cultural ou
sociocultural que dará formação a essa nova mentalidade que os intelectuais deveriam dispor. Dessa
forma, o papel da universidade se constituiu no progresso desse Estado, que passou a estabelecer-se
como força motriz do progresso. A contribuição de Coimbra para a formação da nacionalidade brasileira
deve ser analisada através da ação dos egressos da Universidade nos movimentos em favor da
Independência do Brasil, em todas as funções políticas, culturais e científicas em que estiveram
envolvidos e filosoficamente comprometidos, quer como deputados, senadores, ministros e
conselheiros quer como presidentes de Províncias. O legado desse grupo de cientistas possibilitou a
formação da identidade nacional brasileira. O presente artigo, fruto de um projeto de pesquisa, busca
identificar a relação entre identidade nacional com os cursos superiores, na formação destes
intelectuais. Vale ressaltar que apenas os bacharéis brasileiros mais abastados podiam diplomar-se em
Portugal, notadamente na citada universidade. Podemos ter uma idéia das implicações das reformas
pombalinas no Brasil pelo Alvará de 1759, com o qual foram estabelecidos os primeiros concursos
públicos realizados na Bahia para as cadeiras de latim e retórica e a nomeação dos primeiros
professores régios de Pernambuco. Enfim, podemos entender as condições de subjulgação do povo
brasileiro posto que o nacionalismo passa a ser condição de libertação fabricando a própria nação e a
Universidade é posta no lócus da criação desse Estado-nação do Brasil.Os cursos que preparavam os
burocratas para o Estado eram as academias militares e os cursos cirúrgicos. Com a chegada dos cursos
de direito foi legitimado o cumprimento das atividades cotidianas de elaborar, discutir e interpretar as
leis, como tarefa principal do aparato jurídico, fundamental para a concepção da identidade nacional
através de um Estado forte e soberano e as instituições educacionais se tornaram o lócus da criação do
Estado-nação pela imposição da ideologia nacionalista.

1083
FICCIONALIDADE E DISCURSO IDEOLÓGICO: O EXEMPLO DE LUÍS ANTONIO VERNEY

CLÁUDIO DE SÁ CAPUANO.
UFRRJ, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL.

Publicado em 1746, o Verdadeiro método de estudar, escrito pelo oratoriano Luis Antonio Verney,
apresenta, como bem observa Ivan Teixeira (1999), traços de “ficcionalidade”. O jogo ficcional
empreendido por Verney, ao dispor as ideias contidas no texto em cartas enviadas da Itália a Portugal,
apresenta funções e efeitos diversos. Em uma cultura que tem por tradição a oralidade (Lima, 1991), o

89
tom de conversa do texto epistolar garante um primeiro nível de comunicabilidade do conteúdo a ser
apresentado. Por outro lado, a omissão das identidades tanto do emissor quanto do receptor das
missivas, bem como a sua construção “mascarada”, são recursos importantes, pois provocaram uma
discussão, prolongaram-na por longo tempo e sustentaram as principais ideias contidas no texto. Ao
reconhecer a autoridade dos jesuítas e demonstrar familiaridade com suas práticas educacionais, o
anônimo emissor das cartas praticamente impôs o fato de serem suas ideias dignas de reflexão. Isso
ocorre também porque, dentro do jogo ficcional, as cartas são na verdade um parecer encomendado
por um douto da Universidade de Coimbra a um religioso italiano, conhecedor da cultura portuguesa.
Tais aspectos conferem ao texto uma legitimidade certamente motivadora da imensa repercussão que
teve o livro, quando do seu surgimento em um contexto cultural no qual os jesuítas ainda dominavam a
educação em todo o vasto reino lusitano. Entender a ficcionalidade como recurso discursivo a serviço da
propagação de uma ideologia é um aspecto fundamental da presente reflexão. Apesar de circularem
com intensidade considerável no Portugal da primeira metade do século XVIII, pela atuação dos
chamados “estrangeirados”, será somente a partir da publicação do Verdadeiro Método de Estudar que
o Iluminismo entrará de vez na pauta de todas as reflexões sobre educação no reino português e nas
suas então colônias. Base das reformas pombalinas da educação, o Verdadeiro Método, mais de dois
séculos e meio de sua primeira edição, contém ideias a respeito de educação e de metodologias de
ensino surpreendentemente atuais. A obra colocou de vez o pensamento iluminista no centro das
discussões político-educacionais que possibilitaram, dentro dos domínios portugueses, a construção de
uma identidade cultural, de que a unidade linguística talvez seja o seu melhor reflexo. O presente
trabalho pretende analisar o elemento ficcional na construção do texto verneiano, para salientar a
importância desse recurso no desencadeamento irreversível de um processo de mudanças das
estruturas conservadoras que haviam se instalado e se consolidado em Portugal desde o século XVI.

995
A INFLUÊNCIA DAS REFORMAS POMBALINAS PARA A COMPOSIÇÃO DE GRAMÁTICAS INGLESAS DOS
SÉCULOS XVIII E XIX

ELAINE MARIA SANTOS.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE, ARACAJU - SE - BRASIL.

Com as reformas pombalinas da instrução pública, a história do ensino das línguas em Portugal e no
Brasil alcança estatuto de política linguística e educacional de um Estado-Nação, pois, pela primeira vez,
Portugal institucionalizou o ensino nos seus reinos, e colocou todo o controle da educação nas mãos do
Estado, retirando o monopólio da Companhia de Jesus. O impulso para a profissionalização do ensino
está relacionado ao Alvará de 28 de junho de 1759, conhecido como Lei Geral dos Estudos Menores,
através do qual Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal, acusava os jesuítas de serem
os grandes causadores do estado calamitoso em que se encontravam as Letras Humanas, propondo,
como solução, a estatização do ensino e a necessidade de uma habilitação legal para a ocupação do
cargo de Professor Régio. O ineditismo das ações propostas pelo Marquês de Pombal durante o século
XVIII pode ser confirmado ao se constar que, na França, somente em 1763, o ensino dependente do
Estado passou a ser defendido, enquanto que a instituição de escolas públicas na Prússia só ocorreu em
1763, na Saxônia em 1773 e na Áustria somente em 1774. O Projeto Pedagógico de Pombal teve grande
impacto durante o reinado de D. José I, no século XVIII, podendo-se rastrear as implicações de seus
pressupostos no século XIX, não só em Portugal como também em suas colônias. Esta pesquisa
relacionou o contexto sócio-político de tais reformas na colônia Brasileira, a legislação vigente e a
continuidade das políticas linguísticas e educacionais do período, como pode ser constatado ao se
analisar a Decisão n. 29, de 14 de julho de 1809, considerada a primeira referência ao ensino de idiomas
em solo brasileiro, através da qual duas cadeiras de ensino de línguas foram instituídas: uma de Língua
Inglesa e uma de Língua Francesa, juntamente com a divulgação das diretrizes para que compêndios
fossem produzidos por todos os professores de línguas nomeados no Brasil. Dois compêndios foram
analisados neste trabalho: a gramática anglo-lusitancia e lusitano-anglica de J. Castro, publicada em
1759, e a Arte Ingleza, publicada em 1827, pelo Padre Tilbury. A análise de compêndios para o ensino da
Língua Inglesa produzidos durante o período estudado neste trabalho nos faz perceber que existia uma

90
continuidade de ideias e de padrões de ensino, comprovando não ter havido uma ruptura no modo pelo
qual o ensino de Inglês foi tratado em Portugal e suas colônias. A legislação sobre o ensino de línguas no
Brasil no início do século XIX e as gramáticas da época encontradas na Biblioteca Nacional comprova a
repercussão das reformas pombalinas e reforçam a necessidade de maiores aprofundamentos sobre
esse objeto de pesquisa.

887
A LEGISLAÇÃO POMBALINA E A IDÉIA DE NAÇÃO

LUIZ EDUARDO OLIVEIRA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE, ARACAJU - SE - BRASIL.

Alguns dos mais importantes historiadores e teóricos que se interessaram pelo tema da nação e do
nacionalismo, bem como da identidade nacional, como Hall (2005); Renan (2006); Bhabha (2006);
Anderson (2008) e Hobsbawm (2008), são unânimes em situar a emergência da idéia de nação entre fins
do século XVIII e meados do século XIX. Anderson (2008) ressalta o papel dos “pioneiros crioulos”.
Hobsbawm (2008) atenta para o fato de que os nacionalismos que surgiram depois do Tratado de
Versalhes e do pós-guerra, especialmente nos Estados africanos, foram de outra ordem. Em conjunto,
no entanto, tais autores raramente fazem referência ao caso ibérico, especialmente o português,
fechando os olhos também para as especificidades dos casos americanos, divididos grosseiramente
entre os Estados Unidos e a “América Latina”, o que deixa pouco espaço para a reflexão e compreensão
dos desdobramentos das políticas educacionais e linguísticas de Portugal, especialmente em seu mais
importante domínio, o Brasil. Este trabalho parte do pressuposto de que as reformas pombalinas da
instrução pública foram pioneiras não somente no processo de estatização do ensino e de
institucionalização da profissão docente (CARDOSO, 2010), mas também no de conformação da idéia de
nação, uma vez que a legislação que lhe deu suporte e legitimidade, tendo sido expedida entre 1750 e
1777, mesmo não tendo alcançado seus efeitos de imediato, mas algumas décadas depois, mostra-se
inovadora ao adaptar a “Querela entre os Antigos e os Modernos” ao contexto lusitano, contrapondo
uma Europa polida, vista como modelo de civilização e progresso sempre almejado, aos jesuítas, que
representam um passado a ser repudiado, ao ponto de não pertencerem à suposta linha evolutiva da
cultura e do pensamento supostamente português. Desse modo, o discurso da legislação pombalina,
proferido e articulado pelo Estado com a colaboração de intelectuais do tempo, foi capaz de mobilizar
habilmente as palavras-chave do léxico iluminista então corrente para seus próprios fins, apresentando
um elevado grau de autoconsciência histórica e desdobrando-se, às vezes, em verdadeiros discursos
fundacionais, os quais se concentram na invenção de uma tradição gloriosa do povo lusitano, nas artes,
nas armas e nas letras, quando, na época das grandes navegações, que também fora a época cantada
pelo poeta de Os Lusíadas, havia conquistado a América, a África e as Índias, deixando boquiabertos os
demais povos europeus, inclusive seus rivais ibéricos – os espanhóis. Assim, a legislação pombalina é
aqui vista como uma das estratégias representacionais de construção de uma cultura e uma identidade
nacional, para falar como Hall (2005, p. 52-56), o que, levando em conta a cronologia adotada pelos
historiadores e teóricos acima mencionados, coloca Portugal – e, em alguns casos, o Brasil – em uma
posição central e não mais periférica no processo de construção discursiva das identidades nacionais.

946
A EDUCAÇÃO POMBALINA NA FORMAÇÃO DA INTELECTUALIDADE OITOCENTISTA: AS PRIMEIRAS
ANTOLOGIAS E A CONSTRUÇÃO DA IDEIA DE LITERATURA NACIONAL

MIRELA MAGNANI PACHECO.


UFS, ARACAJU - SE - BRASIL.

Este trabalho foi elaborado com base na pesquisa de mestrado em andamento e se propõe a tecer
considerações relativas ao alcance da educação pombalina na formação da intelectualidade luso-
brasileira, entre os séculos XVIII quando começam a se instalar as reformas pombalinas em Portugal e

91
seus domínios, e XIX, que corresponde à geração seguinte à implantação das reformas. É desse último
século que datam os primeiros esforços no sentido de formar a identidade brasileira através da
fundação de uma literatura tipicamente nacional (ROUANET, 1991; WEBER, 1997), empenhada em
fortalecer a nação recém-independente também pela palavra (ACHUGAR, 1994). A importância de
ajustar o foco sobre o século XIX encontra-se no fato de que essa idéia de literatura nacional, que se fez
propagar pelos discursos de diversos intelectuais oitocentistas, tanto em Portugal como no Brasil,
parece ter tido suas origens em dois momentos. O primeiro refere-se à corrente historicista européia,
que emerge a partir dos julgamentos críticos do alemão Friederich Bouterwek (1765-1828),
influenciado, por sua vez, pela dicotomia entre as literaturas do norte e do sul de Madame de Stael
(1766-1817) (CÉSAR, 1978). É nesse período que surgem na Europa outras manifestações de cunho
crítico e histórico como as obras de Sismonde de Sismondi e de Ferdinand Denis, além do Bosquejo da
História da Poesia e Língua Portuguesa do poeta e crítico português Almeida Garrett, e que parecem ter
servido não apenas para a “invenção da literatura portuguesa”, Como quis Abreu (2003), mas também
de base para a produção intelectual oitocentista brasileira, empenhada em fundar a nação pela palavra,
no período que sucedeu a independência política do Brasil. O segundo momento antecede essa
corrente, referindo-se ao processo de reformação da educação no período pombalino, tanto no que se
refere ao ensino de primeiras letras e secundário, a partir de 1759, com a emissão do Alvará régio
(FALCON, 1993; ANDRADE, 1978; CARVALHO, 1978; NUNES, 2006; ALMEIDA, 2008), como ao ensino
superior, sobretudo na Universidade de Coimbra, que parece ter sido um pólo formador da
intelectualidade brasileira, em ambos os períodos, de modo que muitos de seus egressos contribuíram
para a formação da idéia de nacionalidade brasileira por diversas frentes (GAUER, 2007). A frente da
qual trataremos aqui é a da literatura, que parece ter sido construída, tal como a conhecemos hoje, por
um ideário comum que circulou ao longo de todo o século XIX, empenhado em promover um divórcio
entre as literaturas portuguesa e brasileira e fundar a nação brasileira. Assim, estudar a formação
educacional da intelectualidade brasileira nesses dois períodos torna-se relevante no sentido de melhor
compreender a importância da educação como força motriz, capaz de movimentar a intelectualidade de
uma época e de ser, ao mesmo tempo, influenciada por ela.

913
LEGISLAÇÃO SETECENTISTA ACERCA DO ENSINO DE LINGUAS

SARA ROGÉRIA SANTOS BARBOSA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE, ARACAJU - SE - BRASIL.

A história do ensino da língua portuguesa no Brasil não pode ser desassociada do conjunto de reformas
pedagógicas ocorridas em meados do século XVIII, durante o reinado de Dom José I e sob a
responsabilidade de Sebastião José de Carvalho e Melo, futuro Marquês de Pombal, denominada em
história da educação como Reformas Pombalinas da Instrução Pública (1757-1827). As reformas pelas
quais Portugal passou significaram uma remodelação do cenário luso e, por extensão, de suas colônias,
que integrariam o plano português de constituição de um estado-nação sob as mesmas leis e língua.
Uma das primeiras medidas legais foi institucionalizar o português como língua nacional e isso
significava que todos os povos sob a mesma bandeira deveriam adquiri-la e, para tanto, foram abertas
escolas para este fim. A aquisição espontânea através da oralidade poderia levar o ouvinte a pronúncias
que não corresponderiam à forma gramatical e a língua acabaria por apresentar aspectos fonológicos
vulgares, características que certamente não deveriam fazer parte do plano de unificação vernacular. O
modo mais eficaz para que a língua fosse aprendida seria através de escolas de ler e escrever e para isso
fazia-se importante a figura dos mestres de gramática, professores encarregados de ensinar a língua aos
meninos e meninas. Na história da unificação da língua portuguesa, as leis que fazem parte das
Reformas Pombalinas na Instrução Pública são importantes quando se objetiva, como neste artigo,
investigar, à luz da legislação, o processo de institucionalização do ensino de língua portuguesa no Brasil
e demais colônias sob o domínio luso. Como se trata de uma pesquisa em andamento, somente serão
analisadas três peças que deliberaram acerca da institucionalização da língua portuguesa: Lei do
Diretório dos Índios do Grão Pará e Maranhão, de 03 de maio de 1757, que tratava da nacionalização do
idioma do príncipe em todo o território lusitano, proibia o uso da língua geral e criava duas escolas para

92
ensino de leitura e escrita da língua portuguesa; o Alvará Régio de 30 de setembro de 1770, em que o El-
Rei ordenou que os Mestres da Língua Latina instruíssem por um período de seis meses, através da
Gramática portugueza composta por António José dos Reis Lobato, os alunos que ainda não
dominassem a língua do príncipe e, por fim, a lei de 15 de outubro de 1827 em que se ordena a abertura
de Escolas de Primeiras Letras em território brasileiro e a introdução da Gramática da Língua Nacional
entre as matérias a serem ensinadas pelos professores.

INVESTIGAÇÕES COMPARATIVAS ESTADUAIS SOBRE A ESCOLA PRIMARIA NO BRASIL (1889-1930).


Coordenador: JORGE CARVALHO DO NASCIMENTO

968
O FEDERALISMO REPUBLICANO E O FINANCIAMENTO DA ESCOLA PRIMÁRIA PÚBLICA NO BRASIL
1 2
JORGE CARVALHO DO NASCIMENTO ; LÚCIA MARIA FRANCA ROCHA .
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE, ARACAJU - SE - BRASIL; 2.UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA,
SALVADOR - BA - BRASIL.

A análise comparativa sobre o financiamento da Educação nos Estados durante a Primeira República
coloca em relevo uma dificuldade: a diversidade dos dados apresentados nos relatórios dos
governantes, o que complica a comparação entre as distintas realidades educacionais. Assim, esta
comunicação apresenta os resultados preliminares da pesquisa que analisou a questão em seis
diferentes Estados brasileiros. Os estudos foram desenvolvidos no âmbito do projeto de pesquisa, já
concluído, sob o título Por uma teoria e uma História da escola primária no Brasil: investigações
comparadas sobre a escola graduada (1870-1950), financiado com recursos do CNPq. O trabalho busca
investigar traços comuns que viabilizaram o financiamento da escola primária graduada no Brasil, a
exemplo da indicação em distintos discursos do crescimento dos gastos com a instrução pública,
constatando a ausência de uniformidade, se considerados os dados aproximados de receita e despesa
totais dos Estados. A investigação utilizou como fonte comum as Mensagens Presidenciais dos
diferentes Estados. Estas apontam que os maiores gastos com a instrução pública eram com os edifícios
escolares: construção, manutenção, mas, sobretudo, pagamento de aluguéis. De todos os custos com a
instrução, os gastos com os aluguéis dos edifícios escolares e com a construção de prédios destinados
aos grupos escolares eram, efetivamente, os que mais pesavam ao erário. O grupo escolar era um
modelo de escola tido como muito dispendioso. A sua construção exigia muitos gastos, principalmente
quando se considera o alto custo das obras, imposto pela sua monumentalidade. Os prédios eram
grandiosos e ficavam nas proximidades do centro das cidades, onde o valor dos imóveis era elevado. Os
custos financeiros foram, portanto, o principal elemento considerado ao analisar, nos diferentes
Estados, o discurso daqueles que não viam com entusiasmo o modelo irradiado a partir da experiência
do Estado de São Paulo. A alegação evidenciava as dificuldades financeiras enfrentadas pelas diferentes
unidades da República Federal brasileira. O alto custo dos prédios era questionado e outras alternativas
foram propostas para a organização de novas instituições escolares. Alguns presidentes e governadores
estaduais, inclusive, sugeriam que as municipalidades assumissem esses gastos a fim de desafogar o
orçamento. As municipalidades ficariam responsáveis pela aquisição dos prédios e ao Estado caberia
adaptar os edifícios aos padrões pedagógicos e manter o ensino, o que permitiria continuar
implantando grupos monumentais.

93
1062
A ESCOLA PRIMÁRIA E O IDEÁRIO REPUBLICANISTA NAS MENSAGENS DOS PRESIDENTES DE ESTADO:
INVESTIGAÇÕES COMPARATIVAS DE 1894 A 1922
1 2
JOSÉ CARLOS SOUZA ARAUJO ; RUBIA-MAR NUNES PINTO .
UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA, UBERLANDIA - MG - BRASIL; 2.UNIVERSIDADE FEDERAL DE
GOIÁS, GOIÂNIA - GO - BRASIL.

O tema dessa comunicação propõe-se a uma análise de relativa amplitude nacional a respeito da escola
primária no Brasil em seu movimento instituinte – desde as suas modalidades coexistentes (escola
isolada, escola reunida, escola modelo, grupo escolar etc) -, enquanto expressam uma orientação
republicanista a enfrentar os problemas escolares de então, quando o analfabetismo vigente cobria 85%
da população brasileira. A periodização privilegiará os diferentes momentos de instauração de políticas
educacionais estaduais em torno dos grupos escolares, as quais cobrem de 1894 a 1922. Nesse sentido,
tal proposta estará adstrita ao seguinte objeto: uma investigação comparativa do ideário republicanista
veiculado em dez estados e um território, com as respectivas datas de instauração dos grupos escolares:
Acre (1915), Bahia (1913), Goiás (1918), Maranhão (1903), Mato Grosso (1910), Minas Gerais (1906),
Piauí (1922), Rio de Janeiro (1897), Rio Grande do Norte (1908), São Paulo (1894) e Sergipe (1911). As
fontes que orientam a referida pesquisa assentam-se nas Mensagens dos Presidentes de Estado bem
como nas legislações educacionais estaduais pertinentes às diferentes datações mencionadas.
Especificamente, essa orientação terá como foco as datações supra indicadas (ou mesmo próximas,
quando for o caso), tendo em vista averiguar como o discurso republicanista - expresso pelas
mencionadas Mensagens e pelas legislações estaduais - concebe as questões relativas à educação
escolar primária de então. Em termos de resultados, evidenciam-se temas comuns de ordem
republicana associados à questão educacional, mas basicamente a expressar o tecido republicano
brasileiro que então se fiava: a escola primária apresenta-se articulada ao saneamento moral, à salvação
publica, à justiça, à construção da nacionalidade, aos direitos de cidadania, aos interesses do povo. Além
disso, a ela cabia também construir a assumida orientação federalista, a de que os diferentes Estados e
Municípios viessem a ser coordenados pela União em vista do enfrentamento da educação como
problema nacional, da necessária instrução popular, da efetivação da democracia bem como da
afirmação de vínculos com a civilização e com o progresso. Este processo, entretanto, não ocorreu de
maneira uniforme ou linear nas unidades federativas de então, em vista das condições e configurações
político-econômicas e culturais específicas de cada um deles como também pelas desigualdades
regionais.

982
A EDUCAÇÃO ESCOLAR DA CRIANÇA QUE SE FEZ INDISPENSÁVEL (NORDESTE DO BRASIL, 1892-1930)

MARTA MARIA DE ARAÚJO


UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE, NATAL - RN - BRASIL.

Nas três primeiras décadas do século XX, o bem sucedido ordenamento do sistema escolar público
paulista, que, no regime republicano, experimentava modelarmente a institucionalização da escola
primária, especialmente a graduada, fez-se referência padrão para certos dirigentes estaduais –
programa de estudo combinado com a seriação e a simultaneidade, classe homogênea, método de
ensino intuitivo, divisão do trabalho docente, inspeção escolar. Por um lado, muitas foram as visitas
comissionadas de diretores da instrução pública visando conhecer a vida escolar resultante de uma
organização pedagógica exemplarmente moderna. Por outro, expedientes outros seriam preconizados
como, por exemplo, comissionar educadores paulistas para empreenderem reformas da educação
escolar adaptadas às condições socioeconômicas locais. No Nordeste do Brasil, implantado o arcabouço
político jurídico do Estado federativo republicano, por volta de 1892, os dirigentes insistiram em
medidas regulamentadoras diversas – umas restritas à letra da legislação, outras transitórias e algumas
efetivas – visando a um programa de reforma da educação escolar pública primária principalmente, nos
moldes da organização pedagógica de São Paulo, circunstanciada pelos preceitos da pedagogia

94
moderna. O presente trabalho centra-se na leitura de fontes documentais diversas (mensagens
governamentais, legislação educacional, relatórios de diretor-geral da instrução pública), bem como na
análise dos estudiosos sobre a institucionalização da escola primária republicana, especialmente nos
Estados do Nordeste (Bahia, Maranhão, Rio Grande do Norte, Sergipe e Piauí), com o objetivo de
comparar as peculiaridades, similitudes e distinções relativas às modalidades das escolas primárias
implantadas, tendo como pressuposto a organização pedagógica do Estado de São Paulo, no período de
1892 a 1930. As modalidades que compunham o núcleo pedagógico da escola primária republicana
nesses Estados nordestinos são analisadas como constitutivas de uma dada forma escolar de
socialização, segundo as teorizações dos historiadores Guy Vincent, Bernard Lahire e Daniel Thin (2001).
A hipótese defendida é a de que as diversas modalidades de escolas implantadas na Bahia (grupos
escolares, escolas isoladas e reunidas), Maranhão (escola-modelo, grupos escolares, escolas isoladas,
urbanas e rurais), Rio Grande do Norte (grupos escolares, escolas isoladas e rudimentares), Sergipe
(grupos escolares, escolas reunidas e isoladas ou singulares) e no Piauí (escola-modelo, grupos
escolares, escolas isoladas e reunidas) correspondiam, em parte, à extensão da educação escolar às
crianças das camadas populares, segundo os ditames oficiais de regularidade, uniformidade e
gradualidade socioeducacionais; por outra parte, a forma de socialização efetivada em cada uma das
modalidades de escola, mediante programa de estudo, série, idade, horário, inseria cada educando no
limite da classe social a que pertencia.

HISTORIA DA EDUCAÇÂO SOCIAL: UMA OUTRA ABORDAGEM DA HISTÓRIA


DA EDUCAÇÃO DOS DESAMPARADOS
Coordenador: CYNTHIA GREIVE VEIGA

1086
A EDUCAÇÃO PARA CRIANÇAS E JOVENS DESAMPARADOS NA COMPANHIA DE APRENDIZES
MARINHEIROS DE SERGIPE (1868-1885)

SOLYANE SILVEIRA LIMA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS, BELO HORIZONTE - MG - BRASIL.

Este trabalho, resultado de pesquisa de doutorado em andamento, tem como objetivo principal
problematizar a proposta de formação oferecida pela Companhia de Aprendizes Marinheiros de Sergipe
aos órfãos e desvalidos com idade entre 10 e 14 anos no período compreendido entre 1868, quando
ocorre a sua fundação, até o seu fechamento em 1885. A principal hipótese é que essa instituição
oferecia um tipo de educação diferenciada com o propósito favorecer autonomia para crianças e jovens
desamparados através da aprendizagem de um ofício, oportunizando sua inserção social. O trabalho
está dividido em três partes. Inicialmente realizou-se um levantamento bibliográfico sobre as produções
a respeito das Companhias de Aprendizes Marinheiros, enfatizando os objetivos, as principais
referências e os conceitos utilizados na construção destes trabalhos, sem a intenção de fazer um
balanço sobre essas instituições, mas para verificar a presença desse tema na historiografia da educação
brasileira. No segundo momento, analisou-se a criação dessas Companhias, com ênfase na de Sergipe,
partindo de uma sondagem sobre as suas origens e visualizando-as como instituições militares que se
constituíram em uma das poucas alternativas de aprendizado profissional no Império e que se
diferenciava da filantropia por partir de uma política pública (quiçá a primeira) do Estado. Por fim,
apresento a educação oferecida pela Companhia de Aprendizes Marinheiros de Sergipe. Esta instituição
era um estabelecimento para crianças e jovens desamparados, onde recebiam instrução elementar e
profissionalizante prevenindo da ociosidade, da mendicância, da permanência nas ruas e do crime.
Enfim se apresentava como uma instituição voltada para educação social. Para analisar a origem e o
funcionamento dessa instituição farei uso das contribuições de Norbert Elias, em seus estudos sobre a
gênese da profissão naval e sobre a condição de aprendiz. Para discutir a concepção de educação social,
buscarei subsídios nas publicações de autores espanhóis da História da Educação Social, dentre eles o
Julio Ruiz Berrio, que apresenta o conceito desse campo teórico e Irene Palacio Lis, que desenvolve a

95
idéia de que a caridade privada e eclesiástica se transformou em beneficência pública a partir do século
XIX, momento este em que surgem as Companhias de Aprendizes Marinheiros no Brasil. As fontes
utilizadas foram a legislação nacional e estadual e os relatos de governo(mensagens presidenciais e
estaduais). Por se tratar de uma pesquisa que se encontra em andamento, as questões apresentadas
não são definitivas, porém consiste num esforço para reflexão e aprofundamento do objeto de estudo.

889
A FORMAÇÃO DO SUJEITO TRABALHADOR NA REPÚBLICA: O ENSINO TÉCNICO PROFISSIONAL E A
CRIANÇA DESVALIDA DA FORTUNA

IRLEN ANTÔNIO GONÇALVES.


CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA, BELO HORIZONTE - MG - BRASIL.

O objetivo desta comunicação é o de apresentar algumas reflexões sobre a proposição da República


para a formação do trabalhador mineiro, que toma a criança desvalida da fortuna como sujeito
principal. Essa reflexão foi desenvolvida por meio da leitura dos discursos do legislativo e do executivo,
presentes nos Anais do Congresso Mineiro e na legislação, nas duas primeiras décadas republicanas. Tais
documentos foram tomados como fontes, por oferecem subsídios para a compreensão da política para
a educação e formação profissional. É um trabalho que faz parte de um projeto de pesquisa em
andamento, financiado pelo CNPq, cujo título é “A escolarização das atividades manuais e a formação
do trabalhador mineiro sob o ponto de vista do léxico republicano (1892-1920)”. Foram utilizados como
referenciais teórico-metodológicos as vertentes historiográficas da História da Educação, entrecortada
pela História da Cultura Política e da História dos Conceitos, entendendo-as não como uma
compartimentação da história, mas dentro do escopo de uma modalidade de imersão de uma prática
social, num dado tempo histórico. O que se propõe é uma compreensão de como foram produzidas as
representações de trabalhador, nos seus aspectos determinantes da legitimação de um ideário
educativo modernizador e, ainda, identificar como, nos diferentes lugares e momentos, essa realidade
determinada foi pensada e construída, pois, foi no campo retórico e discursivo de constituição das
políticas de formação profissional que os sujeitos, crianças desvalidas, foram nomeados, indicados,
construídos e ganharam visibilidade. Para o estudo dessas representações, considerou-se a produção
discursiva dos diversos grupos sociais que estiveram à frente da produção e condução das políticas
educacionais, tomando como premissas que: falar da produção da legislação educacional na República é
falar da produção de um discurso de representação da própria República. Assim, o mesmo movimento
de construção da República é, intrinsecamente, o movimento de construção das proposições de
formação do trabalhador, pela via da educação e da instrução escolares. A República não nasceu pronta,
assim como não se tinha projetos de formação predefinidos; falar em projeto de formação escolar do
trabalhador na República é falar no plural, projetos. Assim, numa República plural, também plural serão
os projetos de sociedade, de nação, de cidadania e de trabalhador; os projetos de educação dos
republicanos, principalmente o escolar, foram produzidos para produzir a República.

926
EDUCAÇÃO, TRABALHO E PROTEÇÃO SOCIAL NO INÍCIO DA REPÚBLICA BRASILEIRA

CARLA SIMONE CHAMON.


CEFET-MG, BELO HORIZONTE - MG – BRASIL

O objetivo dessa comunicação é discutir a criação das Escolas de Aprendizes Artífices, no início da
república brasileira, como política destinada à proteção social dos chamados "desfavorecidos da
fortuna". As Escolas de Aprendizes Artífices foram criadas no Brasil em 1909, por meio de um decreto do
presidente Nilo Peçanha, com o objetivo de ministrar ensino técnico profissional de nível primário,
gratuitamente para crianças na idade entre 10 e 13 anos. Primeira iniciativa da República brasileira
nessa direção, tais escolas foram endereçadas pela legislação aos “desfavorecidos da fortuna”. Essa
orientação não dava às classes pobres a exclusividade de acesso a essas escolas, mas deixava clara a
intenção de que era a esses segmentos que elas deveriam preferencialmente se destinar. É preciso levar

96
em conta que no final do século XIX e início do XX, em virtude do desenvolvimento do capitalismo
industrial, do processo de urbanização e do fim da escravidão, cresce no País o número dos
marginalizados e desamparados socialmente. Nesse contexto, o papel dessas escolas seria, de acordo
com o decreto que as instituiu, o de educar e instruir as crianças "desfavorecidas da fortuna" para que
elas tivessem meios de “vencer as dificuldades sempre crescentes da luta pela existência”. Era
importante que elas aprendessem a trabalhar para produzir seu sustento, sem depender da caridade
alheia. O aprendizado de um ofício seria a garantia de subsistência, devendo, por isso, ser transformado
em política pública. Aqui, a ação e a preocupação do poder público se dirigem ao sujeito desvalido,
sendo ele o alvo das políticas do Estado e a educação profissional a ferramenta que, acreditava-se, seria
capaz de produzir proteção social, na medida em que reduziria as incertezas do futuro. Nesse sentido, a
questão que pretendemos discutir aqui é se possível perceber nessa educação endereçada às crianças
mais pobres, denominadas de “desfavorecidos da fortuna”, a transferência da caridade privada, típica
das sociedades filantrópicas do século XIX, para a beneficência pública exercida pelo Estado. Tomamos
aqui como fonte principal as leis, regulamentos e relatórios sobre as Escolas de Aprendizes Artífices
como forma de identificar nessas instituições uma preocupação social por parte do poder público,
buscando também alguns indícios que nos permitam perceber o alcance dessa iniciativa. A análise dessa
documentação se faz no diálogo com a historiografia brasileira sobre as Escolas de Aprendizes Artífices,
com a concepção de educação social trabalhada por autores espanhóis, como Julio Ruiz Berrio e Irene
Palacio Lis e com as reflexões de Pierre Rosanvalon sobre a passagem do Estado protetor para o Estado
providência.

1080
A ASSISTÊNCIA PELA PROFISSIONALIZAÇÃO: O CASO DO INSTITUTO PROFISSIONAL JOÃO ALFREDO
(1910-1933)

MARIA ZELIA MAIA SOUZA.


UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL, RIO DE JANEIRO - RJ – BRASIL

A presente comunicação tem como objetivo analisar a legislação que regulamentou a assistência e a
profissionalização de menores desamparados, internos no Instituto Profissional João Alfredo (IJPA),
entre os anos de 1894 a 1933; atentando para as mudanças na concepção de assistência e de educação.
O propósito da instituição era abrigar, educar e profissionalizar menores nas condições sociais
apresentadas, na faixa etária compreendida entre 12 e 15 de idade. Busco verificar a aplicação do
previsto para o funcionamento da instituição asilar/escolar, trabalhando com o cruzamento das normas
com outras fontes disponíveis: relatórios dos dirigentes do IPJA e dos prefeitos do antigo Distrito
Federal. Para a compreensão do modo como se deu a mudança do discurso da assistência para o da
profissionalização, na organização do IPJA, a metodologia utilizada nesse estudo, que resulta de
pesquisa em andamento, situa-se na interface entre a chamada história social e a nova história política,
especialmente no âmbito da história da educação social. A importância política do antigo Distrito
Federal associada ao desenvolvimento industrial teriam sido circunstâncias que proporcionariam
condições favoráveis para que ocorressem avanços significativos em relação às políticas públicas
voltadas para o cuidado, a proteção e a educação dos menores desamparados. Remete, portanto, ao
modo como o sistema de regras atua para viabilizar o funcionamento do IPJA. Por outras palavras,
interrogar as condições em que tal sistema foi forjado: o que levou a sua formulação? Qual o seu
significado? Sob esse aspecto, considerou-se a legislação examinada como parte do processo de
ordenação das relações sociais ao constatar-se que os discursos acerca do “novo” olhar da normalização
da assistência e do ensino profissional, proposto pela instituição examinada, antecedeu às próprias
regulamentações. O cumprimento das normas nem sempre foi tranquilo frente as necessidades e as
exigências sociais. Por outras palavras, a funcionalidade e a harmonia previstas nos regulamentos do
IPJA, colocaram em debate outras maneiras de pensar a proteção e a profissionalização de menores
desamparados. Apenas tal condição social não era garantia de matrícula no IPJA, pois criaram-se
impedimentos legais: a matrícula se efetivaria após prova de exame de admissão (leitura e escrita) e
demonstração de aptidão para o exercício da futura profissão. Dessa forma problematizo se o Instituto
Profissional João Alfredo estaria perdendo sua característica assistencialista.

97
923
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO SOCIAL: UM CAMPO DE INVESTIGAÇÃO PARA A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

CYNTHIA GREIVE VEIGA


UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS, BELO HORIZONTE - MG - BRASIL.

O objetivo desta comunicação é discutir a concepção de história da educação social desenvolvida pelo
historiador Julio Ruiz Berrio da Universidade Complutense de Madri. Embora o termo educação social
seja mais conhecido na atualidade referindo-se a atividade educacional que inclusive não diz respeito à
educação escolar, não se pretende aqui um anacronismo. O objetivo da discussão desta concepção é dar
visibilidade a outras proposições de educação escolar diferenciada da escola regular, mas que possui em
comum no passado e no presente o fato de ser destinada às crianças em situação de desamparo moral e
físico. Minha hipótese é que a atual abordagem da história da educação escolar não é suficiente para
problematizar a história de outros processos escolares que não o da escola regular. No caso de
instituições escolares destinadas a crianças abandonadas e crianças infratoras, não seria necessária
outra abordagem conceitual? Enquanto a escola pública regular se organiza principalmente a partir do
século XIX, com o objetivo claro de inclusão escolar de todas as crianças, independente da origem social,
as instituições voltadas para crianças abandonadas e infratoras, são exclusivas comportando também a
existência de uma pedagogia diferenciada, com conotação de reabilitação social e moral, além de oferta
de ensino profissional. Observa-se ainda que no caso de pessoas portadoras de alguma necessidade
especial também foram criadas desde o século XIX escolas e pedagogias exclusivas, por exemplo, para
cegos, surdos-mudos e deficientes mentais. Contudo constata-se que a história da educação tem
problematizado pouco sobre a coexistência de escolas com funções diferenciadas a partir do século XIX
e priorizado os estudos sobre a escola regular. Entretanto a diversificação na escolarização das crianças
foi um acontecimento bastante freqüente sendo necessário problematizar melhor o processo de sua
organização por meio da discussão de algumas questões, tais como: a elaboração da função
assistencialista de instituições públicas que não as escolas regulares; as diferenças e aproximações nas
práticas escolares entre os diferentes tipos de escolas; a existência de propostas de ensino profissional;
os diferentes sujeitos envolvidos com educação de caráter assistencial. Para as reflexões sobre história
da educação social desenvolvidos nesta comunicação, além de Ruiz Berrio, foram realizados estudos de
autores que investigam questões como pobreza, assistência (Bronislaw Geremek) e trabalho infantil
(Maria Alice Nogueira, Friedrich Engels), além de questões relativas a perspectivas norteadoras de
políticas assistencialistas e de beneficência pública (Pierre Rosanvalon).

REFORMAS EDUCACIONAIS: AS MANIFESTACÕES DA ESCOLA NOVA NO BRASIL (1920- 1946)


Coordenador: MARIA ELISABETH BLANCK MIGUEL

874
AS MANIFESTAÇÕES DA ESCOLA NOVA NO PARANÁ: POLÍTICA ESTADUAL DE FORMAÇÃO DE
PROFESSORES

MARIA ELISABETH BLANCK MIGUEL.


PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ, CURITIBA - PR - BRASIL.

O período no qual as idéias oriundas da Pedagogia da Escola Nova influenciaram a educação escolar
paranaense situa-se entre 1920 e 1961. Três fatos são marcantes no período citado: o início,
caracterizado pela reorganização e sistematização da educação escolar existente, bem como a
introdução do ideário da Escola Nova (1920 a 1938); a consolidação, por meio de uma experiência única
realizada na Escola de Professores de Curitiba de 1938 a 1946, e após, sua expansão acompanhando as
escolas que se multiplicaram pelo território paranaense impulsionadas pelo desenvolvimento do Estado
(1946-1961). Na primeira fase salientam-se as figuras de Prieto Martinez e Lysímaco Ferreira da Costa; e
daí em diante é marcante a presença e atuação de Erasmo Pilotto. O trabalho é resultado de pesquisa

98
concluída, fundamentada em fontes documentais (leis, decretos, relatórios, mensagens dos
interventores e governadores, códigos de ensino), além dos textos escritos pelos próprios propositores,
bem como das obras nas quais os mesmos se inspiraram. As fontes possibilitaram a reconstrução de
parte da história e das políticas educacionais vigentes no Paraná, no período, mas somente foi possível
compreendê-las quando relacionadas às diretrizes internacionais provenientes da UNESCO, após 1946.
Objetiva-se tratar do período de 1920 a 1961 como o período no qual se conformaram políticas
estaduais de formação de professores e formação do aluno para fazer frente às demandas geradas pela
expansão da lavoura do café em solo paranaense, e pela ocupação de seu território. Sobretudo,
objetiva-se mostrar como concretamente, a Pedagogia da Escola Nova inspirou uma proposta de Lei
Orgânica Estadual na qual estavam expressos conceitos propostos por Anísio Teixeira (administração das
escolas por Conselhos de Educação dos municípios. As realocações de escolas conforme a presença de
maior clientela escolar, adoção de livros didáticos e uniformes escolares, proibição de transferências de
professores em período escolar constituem medidas racionalizadoras de Pietro Martinez, que
antecedem a reforma da Escola Normal aplicada em 1922. Nesta salienta-se a figura de Lysímaco
Ferreira da Costa, autor das Bases Educativas para a Nova Escola Normal do Paraná. A pedagogia de
Herbart caracteriza a reforma que será modificada em 38 por Pilotto. Este aplicará a princípio, as ideias
de Montessori e Decroly e, após as ideias pedagógicas de Langevin e Wallon, dentre outras. A influência
de Anísio Teixeira e das ideias veiculadas pelo INEP também são indicadores das manifestações da
Pedagogia da Escola Nova no Paraná.

908
A REFORMA FERNANDO DE AZEVEDO E AS COLMÉIAS LABORIOSAS E HIGIÊNICAS NO DISTRITO
FEDERAL DE 1927 A 1930

SÔNIA OLIVEIRA CAMARA RANGEL.


UERJ, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL.

Durante os anos em que esteve à frente da Diretoria Geral de Instrução Pública do Distrito Federal, de
1927 a 1930, Fernando de Azevedo tencionou reestruturar a instrução pública estabelecendo a
renovação interior da escola na sua organização, nos seus métodos e nos princípios que deveriam
instituir a idéia de escola renovada. A concepção de uma nova organização para a escola sustentava-se
nos conhecimentos científicos e na transmissão de valores morais e culturais compatíveis com o
escolanovismo predominante à época. Com este intuito, Fernando de Azevedo arquitetou
procedimentos pedagógicos e educativos das práticas e dos fazeres escolares, concebendo a idéia de
que as escolas deveriam organizar-se como colméias laboriosas de trabalho educativo e de higiene. A
reforma sistematizou procedimentos ampliando o espaço de aprendizagem, onde a sala de aula, as
bibliotecas, os laboratórios, o cinema, o rádio educativo, o teatro, o museu, as ruas e a casa foram
incorporadas a essa dinâmica educativa. Assim, por educação nova identificaram variados planos e
ex¬periências em que eram introduzidas idéias e técnicas novas, a exemplo dos métodos ati¬vos, da
adoção de testes e a adaptação do ensino às fases de desenvolvimento de cada aluno. Dessa forma, as
experiências realizadas pelas Diretorias Gerais de Instrução Pública dos Estados, nos anos de 1920,
passaram a significar a produção de uma for¬ma nova de educar as crianças num movimento que tendia
a uniformizar um modelo ideal de educação, de escola e de aluno. Objetivando refletir sobre o projeto
elaborado por Fernando de Azevedo para o Distrito Federal, pretendemos perscrutar os sentidos
constitutivos da idéia de educação formulada por esse educador, bem como a matriz de intervenção
que fundamentou as formas de pensar a escola. Partindo dessa compreensão, esse texto estrutura-se
num duplo esforço de reflexão teórica: em primeiro, busca contextualizar a Reforma no quadro das
reformas sociais estabelecendo, para isso, articulações entre os campos médico e o pedagógico; em
segundo pretende matizar as concepções que orientaram a ação intervencionista de Fernando de
Azevedo focalizando as práticas e os fazeres pedagógicos que se instituíram no espaço escolar a partir
das interfaces indicadas. Para isso, enfatizaremos como corpus documental de análise os relatórios, os
boletins, os jornais e os livros que nos ajudem a (re) compor as redes de sociabilidade que se
organizaram em torno dos projetos reformadores do social. Nesse cenário, o lema “escola para todos”

99
configurou-se como elemento instituidor de organização das relações sociais e familiares e, portanto,
como peça primordial de progresso, de higiene e de modernização do país.

701
A INTRODUÇÃO DA ESCOLA NOVA EM MATO GROSSO
ELIZABETH FIGUEIREDO DE SÁ.
UFMT, CUIABA - MT - BRASIL.

Os princípios pedagógicos da Escola Nova, em ampla expansão no Brasil a partir da década de 1920
principalmente através das reformas educacionais, caracterizaram-se pela centralização da criança no
processo educativo estabelecendo uma nova relação professor-aluno, a reformulação dos programas de
ensino dos cursos primários e de formação de professores, observando o desenvolvimento biológico e
psicológico da criança; e, a proposição de novas metodologias que respeitassem as capacidades
individuais considerando o ritmo de aprendizagem de cada criança. Contrapondo-se à “pedagogia
tradicional” que se fundamenta na transmissão pelo professor dos saberes acumulados pela sociedade,
através da sua palavra ou pela observação sensorial; a educação, na concepção escolanovista, não é
uma preparação para a vida, é a própria vida, é a interação entre o indivíduo e o meio através de
situações de experiência que visam o desenvolvimento de suas potencialidades. Tal ideário também
esteve presente na educação mato-grossense, principalmente no âmbito legal e nos discursos dos
governantes e intelectuais da educação. A presente comunicação tem como objetivo desvendar os
meios pelos quais as idéias escolanovistas foram introduzidas no cenário educacional do estado de Mato
Grosso na década de 1920 através da análise da reorganização curricular da Escola Normal (1923 e
1926), da reorganização curricular dos grupos escolares (1924) e do Regulamento da Instrução Pública
Primária (1927), instituído no governo de Mario Corrêa da Costa e elaborado por uma comissão
composta pelo Diretor da Instrução Pública, Dr. Cesário Alves Corrêa e pelos professores Jayme Joaquim
de Carvalho, Isaac Povoas, Julio S. Muller, Franklin Cassiano da Silva, Rubens de Carvalho, Philogônio de
Paula Corrêa, Fernando Leite de Campos, Nilo Póvoas e Alcino Carvalho. Constitui-se como um resultado
parcial da pesquisa em andamento intitulada “O ideário escolanovista em Mato Grosso”. Percebe-se,
após a análise da documentação apontada, a preocupação das autoridades do governo em acompanhar
as idéias pedagógicas que circulavam no País, através da viabilização da participação de representantes
em congressos promovidos pela ABE e pela União e do investimento na reorganização da Instrução
Pública, tanto no curso de formação de professores, como do ensino público primário. Ressalta-se que
se encontra presente nos discursos legais a preocupação, mesmo que de modo incipiente, com os
cuidados e a formação integral da criança mato-grossense.

881
O INQUÉRITO SOBRE A INSTRUÇÃO PÚBLICA (1926) E AS DISPUTAS EM TORNO DA EDUCAÇÃO EM
SÃO PAULO

DIANA GONÇALVES VIDAL.


FEUSP, SAO PAULO - SP - BRASIL.

Em 1922, o Brasil comemorava o aniversário de 100 anos da Independência. Para os festejos, a capital
da República fora preparada em grande estilo, o que incluiu o arrasamento do morro do Castelo e do
pobre casario que ali vicejava, recompondo o cartão-postal do centro da cidade do Rio de Janeiro; e a
realização de uma Exposição Internacional, idealizada com o propósito de exibir o progresso material e
científico alcançado pelo país, à semelhança das Exposições Universais, ocorridas em diversas nações do
mundo desde 1851. As duas iniciativas, de grande repercussão, não foram, entretanto, as únicas
expressões do ímpeto comemorativo que a data sugeriu. Embalados pela efeméride, diversos
intelectuais, políticos e instituições propuseram a elaboração de inquéritos e balanços, nos vários
âmbitos sociais, com o intuito de interpelar o passado, ressignificar o presente e, principalmente, traçar
os rumos do futuro. Passados apenas cinco anos, outro centenário era comemorado no país: o
centenário do ensino primário. Apesar de hoje bastante esquecido pela historiografia educacional, o dia

100
15 de outubro de 1927 foi marcado por uma série de manifestações públicas que incluíram desfiles
infantis, promulgação de reformas educativas, como o Código elaborado por Francisco Campos para
Minas Gerais, além de um intenso debate sobre a educação nacional. O balanço e a prospecção ou,
como diria Michael Conniff (2006), o planejamento social eram importantes chaves de entendimento do
período. O Inquérito sobre Instrução Pública, organizado, em 1926, por Azevedo para O Estado de S.
Paulo não fugia à regra. Premido entre os dois centenários, da Independência e da Lei do Ensino
Primário, e impulsionado pelo desejo de coligir opiniões sobre a educação paulista, inseria-se no
movimento que pretendia perquirir o presente e investir no futuro. Nos dois casos, compromissos
ideológicos e políticos entreteciam a operação e evidenciavam-se nos resultados obtidos. Para apreciá-
los, proponho que nos debrucemos apenas sobre a primeira parte do Inquérito, que corresponde à
temática do ensino primário e normal e foi publicada entre 10 e 30 de junho de 1926. Com intuito de
estruturar a exposição, organizei a comunicação em quatro itens. No primeiro, faço uma breve
caracterização do Inquérito: as partes que o compunham e seus objetivos declarados. No segundo,
procuro reconstituir o micro-clima das contentas político-educacionais que desenharam os contornos da
enquete. As principais propostas são objeto de investimento no terceiro item. Por fim, discorro sobre as
releituras feitas por Fernando de Azevedo a propósito de publicação do Inquérito em 1937 e 1957.

932
A ESCOLA NOVA EM SERGIPE NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XX

ANAMARIA GONÇALVES BUENO DE FREITAS.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE, ARACAJU - SE - BRASIL.

Este estudo é produto de uma pesquisa concluída com o objetivo de perceber os processos de
apropriação dos discursos e das práticas relacionadas com o ideal escolanovista em Sergipe, e baseia-se
nos pressupostos teórico-metodológicos da História Cultural. Durante as primeiras décadas do século
XX, em Sergipe, os diferentes grupos de intelectuais com responsabilidades sobre a política educacional,
compreenderam o movimento da Escola Nova, como um projeto pedagógico capaz de auxiliar na
resolução dos problemas referentes à Educação, principalmente, no que diz respeito à difusão da escola
pública, gratuita e laica, bem como a renovação dos métodos de ensinar e aprender. Para a realização
da pesquisa foram consultados as dissertações do Núcleo de Pós-Graduação da Universidade Federal de
Sergipe, e fontes localizadas nos acervos do Instituto Histórico Geográfico de Sergipe, do Arquivo
Público do Estado e em escolas públicas e privadas. Os documentos analisados apontam o diálogo entre
os intelectuais da educação sergipanos e as relações que  estes estabeleceram, com aqueles que
comandavam as reformas educacionais, no Distrito Federal, em São Paulo e na Bahia. A atuação do
professor paulista Carlos da Silveira na Direção da Instrução Pública, no período de 1909 a 1911, a
convite do Presidente do Estado, Rodrigues Dórea e o projeto de modernização apresentado por ele que
previu a construção de grupos escolares, a organização do serviço; inspeção escolar, e a adoção de
novos métodos de ensino, entre outras propostas, tornam-se emblemática para a compreensão da
apropriação dos ideais escolanovistas em Sergipe. A incorporação do discurso reformista passou,
também, pela forte mediação das viagens que estes intelectuais fizeram a São Paulo e ao Rio de Janeiro
e a intensa comunicação com os reformadores baianos. A difusão da inspeção escolar desenvolvida
como tecnologia de controle/acompanhamento do Estado juntamente com a prática de reuniões
pedagógicas, serviram de estratégias para a divulgação e adoção de novos métodos pedagógicos. É
possível afirmar que a apropriação de padrões do movimento da Escola Nova em Sergipe, foi ajustada
ao conunto das necessidades e possibilidades existentes no âmbito local, não apenas em fase da
compreensão que tiveram os intelectuais sergipanos que se entusiasmaram pelo movimento, mas
também considerando os conflitos e resistências enfrentados pela proposta. A modernização dos
métodos de ensino, a aquisição de materiais pedagógicos, o controle exercido pela inspeção e a
preocupação com a formação dos professores adequados aos novos ideais pedagógicos, apresentam-se
como marcas significativas da educação em Sergipe, nas primeiras décadas do século XX.

101
922
ENSAIOS DA ESCOLA NOVA NA PARAÍBA (1930-1942)

WOJCIECH ANDRZEJ KULESZA.


UFPB, JOAO PESSOA - PB - BRASIL.

As iniciativas tomadas em alguns Estados nos anos 20 do século passado objetivando a constituição de
sistemas de ensino sintonizados com as transformações produtivas dirigidas para a substituição de uma
economia primária por outra baseada na industrialização foram novamente colocadas em destaque com
a irrupção da Revolução de 30. Dada a heterogeneidade regional desse processo econômico, a
promoção da escolarização em novas bases, tanto quantitativa como qualitativamente, teve seu maior
impulso nas regiões de maior urbanização, notadamente no então Distrito Federal, não somente por sua
saliente visibilidade política, mas também devido ao seu favorecimento na distribuição das verbas
federais para a educação. Porém, na grande maioria das unidades da federação, como aconteceu no
caso da Paraíba, a questão premente da universalização da educação primária teve uma resposta efetiva
pífia, limitando-se a uma mera expansão quantitativa, desordenada e politicamente clientelista, sem
que houvesse grandes mudanças nos métodos ou nos objetivos do ensino. Todavia, não faltaram
iniciativas, mesmo que isoladas e personalistas, para modernizar o sistema educacional dos Estados,
principalmente antes da centralização do poder com o Estado Novo e da transferência da representação
dos interesses regionais do Congresso Nacional para os órgãos técnicos da burocracia estatal. Neste
trabalho, tomando como fio condutor principal a atuação do escolanovista José Baptista de Mello na
reforma do ensino público da Paraíba na década de 1930, procura-se historiar esse processo de
modernização do ensino num Estado pouco afetado em sua estrutura produtiva e que manteria
praticamente intacta a estrutura de poder oligárquica herdada da República Velha durante todo esse
período. Inspirado nas reformas realizadas por Anísio Teixeira no Rio de Janeiro, as quais teve a
oportunidade de conhecer pessoalmente graças a uma visita financiada pelo governo paraibano, Mello
centrou suas ações na formação de professores projetando inclusive a criação de um Instituto de
Educação concebido nos mesmos moldes daquele organizado na Capital Federal pelo educador baiano
introdutor do escolanovismo americano no Brasil. A reação oligárquica local, sempre acolitada pelo
clero católico, reduziu drasticamente o alcance das reformas encetadas por Mello, voltando-se ao
elitismo educacional anterior, situação que seria consolidada pela ação direta do governo federal
durante a ditadura Vargas no ensino primário e normal dos Estados.

RELEITURAS SOBRE A HISTÓRIA DO ENSINO SECUNDÁRIO NO BRASIL (1942 – 1971)


Coordenador: ROSA FATIMA DE SOUZA

938
AS POLÍTICAS DE EXPANSÃO E DE MODERNIZAÇÃO DO ENSINO SECUNDÁRIO NO ESTADO DE SÃO
PAULO E A QUESTÃO DA QUALIDADE DA ESCOLA PÚBLICA (1945 – 1968)

ROSA FATIMA DE SOUZA.


UNESP/ ARARAQUARA, ARARAQUARA - SP - BRASIL.

Apresentamos nesta comunicação resultados parciais de projeto de pesquisa em andamento intitulado


“Educação Secundária e Disseminação da Cultura Literária e Científica no estado de São Paulo (1931 –
1982)”. O texto analisa as políticas de expansão e modernização do ensino secundário implementadas
pelos governos do estado de São Paulo no período de 1945 a 1968. A historiografia da educação do
estado de São Paulo tem reafirmado o funcionamento de apenas três estabelecimentos públicos de
ensino secundário durante a Primeira República: o Ginásio de São Paulo instalado em 1894, o Ginásio de
Campinas em 1896 e o de Ribeirão Preto em 1906. A atuação do Poder Público privilegiou a educação
primária deixando a cargo da Igreja e da iniciativa particular a oferta da educação secundária. Somente a
partir dos anos 30 do século XX, os governos do Estado voltaram-se para a ampliação da oferta de vagas

102
de nível médio promovendo a expansão principalmente do curso ginasial. Inicialmente, a estratégia de
expansão recaiu sobre a estadualização dos ginásios municipais. A partir da década de 1950, a expansão
foi contínua e rápida. O número de ginásios elevou-se de 41 em 1940 para 465 em 1962. Para a
estruturação dessa rede de ginásios e colégios foram criados novos órgãos de administração do ensino e
um conjunto de prescrições visando a normatizar a organização administrativa dos estabelecimentos de
ensino, a carreira docente e as práticas educativas. Nesta comunicação apresentamos um recorte bem
específico da pesquisa, ou seja, o exame das transformações institucionais ocorridas na educação
secundária do estado de São Paulo e da atuação dos sujeitos envolvidos com essas práticas normativas e
políticas utilizando como corpus documental a legislação sobre educação secundária e normal, as
mensagens dos governadores do estado e secretários da educação, os projetos, programas e demais
prescrições estabelecidas pela Secretaria de Educação, especialmente pelo Serviço do Ensino Secundário
e Normal. Trata-se, portanto, de um primeiro mapeamento sobre o conjunto das políticas de expansão e
modernização do secundário levadas a termo no estado com o objetivo de compreender as políticas
implantadas pelo governo estadual para este nível de ensino, os dispositivos normativos de ordem
político-institucional envolvendo a criação e a organização das escolas (ginásios e colégios), a dinâmica
entre demanda e oferta educacional secundária, a composição do corpo discente e docente (formação e
condições de trabalho). Partindo da compreensão desses elementos pretendemos problematizar a
relação entre mudanças institucionais e suas implicações nas representações sociais sobre o papel da
escola secundária na sociedade. (Apoio: FAPESP).

967
AS MUDANÇAS DE SENTIDO E DE OBJETIVOS SOCIAIS DO ENSINO SECUNDÁRIO BRASILEIRO: O CASO
DO COLÉGIO ESTADUAL DE UBERLÂNDIA, EM MINAS GERAIS (1942-1971)

DÉCIO GATTI JR.; GERALDO INACIO FILHO; GISELI CRISTINA DO VALE GATTI.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA, UBERLANDIA - MG - BRASIL.

Nesta comunicação, parte-se da assertiva de que o ensino secundário brasileiro encontrou expansão
significativa de matrículas entre as décadas de 1940 e 1970, com a passagem de aproximadamente 100
mil para 1,2 milhões de alunos matriculados no período. Por conseqüência, o número de professores
saltou de aproximadamente 12 mil para quase 70 mil. Porém, esse período de expansão foi
acompanhado de mudanças na legislação educacional, bem como nas instâncias promotoras do ensino,
com a emergência de iniciativas da sociedade civil, de corte particular, como contraparte da oferta
estatal e confessional já existente e também em expansão. Objetiva-se compreender o processo mais
amplo e a forma particular tomada pelas mudanças no ensino secundário brasileiro, o que correspondeu
tanto a alterações do sentido social das instituições escolares, o que pode ser percebido pelas mudanças
da trajetória social dos egressos das instituições escolares no período, mas, também, de alterações dos
objetivos sociais, o que pode ser percebido, sobretudo, por meio do exame das mudanças curriculares,
dos saberes disseminados, do elenco de disciplinas, suas cargas horárias e os conteúdos explícitos, mas,
também, das práticas e métodos de ensino escolar. No interior desse contexto mais geral, procurou-se
examinar o caso particular do Colégio Estadual de Uberlândia, por meio da pesquisa histórico-
educacional, servindo de documentação existente, sobretudo, no arquivo da escola, do município e da
universidade, bem como dos depoimentos junto a antigos alunos, professores e dirigentes. Instituição
escolar que ocupava, no período histórico em tela, centralidade, mas não exclusividade, na formação
dos estudantes da cidade e de seu entorno – a região do Triângulo Mineiro – e mesmo sobre estudantes
de cidades próximas, oriundos, principalmente, dos estados de Goiás e de São Paulo, no interior de um
processo mais amplo de modernização que era efetivado na cidade, com papel importante no processo
de desenvolvimento do estado de Minas Gerais e do país, dado que a cidade se estabeleceu como eixo
de circulação entre o Sul/Sudeste e o Centro-Oeste/Norte do país, no qual ocorrem ações concretas de
urbanização, criação de estradas de ferro e de rodovias, implantação de serviços públicos e de
intensificação da atividade comercial, ao lado da criação e manutenção de instituições escolares.
Conjunto de iniciativas que demonstram a relação, forte e consistente, entre o que se passa na cidade e
na escola, neste caso, na escola secundária, com as finalidades sociais mais amplas (Apoio:
CNPq/FAPEMIG).

103
993
CULTURA ESCOLAR E PERFIL DO CORPO DOCENTE NO COLÉGIO ESTADUAL DIAS VELHO (1947-1964)

NORBERTO DALLABRIDA.
UDESC, FLORIANOPOLIS - SC - BRASIL.

Entre meados da década de 1940 e início dos anos 1960, no Estado de Santa Catarina, o subcampo do
ensino secundário era formado por uma grande e vigorosa rede de educandários confessionais e
somente quatro colégios públicos e gratuitos, que foram criados nos institutos de educação ou nas
escolas normais. O Instituto de Educação Dias Velho, localizado em Florianópolis, capital de Santa
Catarina, implantou, a partir de 1947, o curso ginasial – primeiro ciclo do ensino secundário – e, dois
anos depois, os cursos clássico e científico, que integravam o segundo ciclo do ensino secundário,
engendrando a criação um colégio público homônimo. Desta forma, o Colégio Estadual Dias Velho
afirmou-se como o principal estabelecimento de ensino secundário de caráter público, gratuito e
coeducativo de Santa Catarina. O objetivo do presente trabalho é compreender como a cultura escolar
prescrita nos textos normativos foi apropriada no Colégio Estadual Dias Velho, entre 1947 e 1964, a
partir da constituição do seu corpo docente. O conceito de apropriação é compreendido na perspectiva
de Roger Chartier, que considera que os bens culturais são usados de forma diferenciada de acordo com
as disposições de grupos sociais específicos. Nas instituições escolares os bens culturais também são
apropriados de forma inventiva e singular, especialmente pelo trabalho pedagógico dos professores/as.
A análise do perfil do corpo docente do Colégio Estadual Dias Velho considera os percursos escolares e
as preferências pedagógicas, culturais, políticas e religiosas dos professores/as que o constituía, à luz
das reflexões sociológicas de Pierre Bourdieu. Pelo fato de serem selecionados por concurso público, os
professores/as do Colégio Estadual Dias Velho, chamados de “lentes catedráticos”, constituíam um
quadro sócio-profissional qualificado e diversificado, que tinha prestígio social. Essa configuração
docente distinta, que concorria para um ensino público de qualidade, começou a ser alterada no início
da década de 1960 devido à implantação da Universidade Federal de Santa Catarina (1961), que atraiu
professores secundaristas; à massificação do ensino secundário, viabilizada pela construção de um novo
e imponente prédio para o Colégio Estadual Dias Velho, inaugurado em 1963; e ao golpe militar de
1964, que desligou professores considerados subversivos. Este trabalho apóia-se em documentos
escolares escritos, em matérias de jornais impressos e, especialmente, em depoimentos de ex-
professores/as do Colégio Estadual Dias Velho. Pretende-se, portanto, ler a cultura escolar do Colégio
Estadual Dias Velho pela compreensão do perfil do seu corpo docente.

1074
O ENSINO SECUNDÁRIO SEGUNDO O ESTADO DE S.PAULO: ANÁLISE DOS EDITORIAIS DE LAERTE
RAMOS DE CARVALHO.

BRUNO BONTEMPI JUNIOR.


USP, SAO PAULO - SP - BRASIL.

Resumo: Esta comunicação trata dos editoriais de O Estado de S.Paulo (OESP) sobre o ensino secundário
durante a tramitação da Lei de Diretrizes e Bases (1947-1961). Redigidos por Laerte Ramos de Carvalho,
professor da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, esses editoriais
expressam, não só a reação da fração da elite liberal paulista, representada na redação daquele diário,
diante da expansão desse ramo de ensino por força das pressões populares pelo acesso e pela abertura
de vagas, mas as concepções partilhadas pelo jornal e por certos setores da Faculdade de Filosofia sobre
o modelo ideal de ensino secundário, tendo em vista sua natureza humanística e sua finalidade
preparatória para o ensino superior. Naquele momento histórico, em que se estiolava a organização do
sistema de ensino instituído pelas Leis Capanema e em que a oportunidade da LDB estimulava os grupos
interessados a fazer valer ideias e proposições para a sua reformulação, o ensino secundário era objeto
das maiores inquietações. Em São Paulo, como decorrência direta da crescente demanda por vagas de
escolarizados em nível básico e da preferência das famílias pela continuidade dos estudos no ramo de
ensino médio que permitia o acesso ao ensino superior, teve início nos anos de 1950 uma vertiginosa

104
expansão dos ginásios, seja pela criação de estabelecimentos legais e regulares, seja pela criação de
seções e desdobramento de turnos. O executivo paulista, na vigência da política populista, responde a
essas demandas, administrando a criação de vagas como moeda de troca no jogo político local. OESP,
cujos proprietários e principais colaboradores eram contrários à “política adhemarista” e defendiam
propostas educacionais originalmente fundados na organização do ensino à luz da criação de um edifício
cujo topo seria a USP, tomaram posição diante do tema, que, pela freqüência com que foram tratados
em Notas e Informações, era de fundamental importância. Os argumentos giram em torno da tensão
entre a democratização do acesso e a qualidade do ensino, sobre a privilegiada interlocução e
articulação do ensino secundário, particularmente no segundo ciclo, com as expectativas de formação
de pesquisadores e professores secundários em nível universitário.

1061
ESCOLAS EFICIENTES NO PASSADO: CRITÉRIOS PARA ANÁLISE. O COLÉGIO ESTADUAL “CANADÁ” DE
SANTOS.

MARIA APPARECIDA FRANCO PEREIRA.


UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SANTOS, SANTOS - SP - BRASIL.

Hoje há um sentimento de profunda insatisfação e de desencanto pelo funcionamento da escola.


Freqüentemente têm aparecido estudos, no meio acadêmico, que analisam as escolas públicas de nível
secundário como escolas de excelência no passado e que, a partir da década de 1960, foram perdendo o
seu prestígio, quando a política educacional brasileira teve que democratizar o acesso à escola. As
análises habituais centram o êxito na presença e permanência de professores marcantes, liderança de
diretores, presença de espaços tempos culturais, entre outros. Por outro lado, acusam a sua decadência
com a simples expansão linear dos sistemas de ensino, pelo aumento da sua população escolar e pela
popularização do ensino. Professores que continuam ensinando, considerando a escola do passado. E
sabemos que a escola hoje não é a mesma da primeira metade do século XX. Percebe-se, apesar dos
inúmeros esforços e lutas, uma incapacidade de gerir a transição de uma instituição escolar “de vocação
elitista para uma escola de massas, com um público muito vasto e heterogêneo, social e culturalmente”.
As escolas não estão preparadas para a mudança nem para os desafios da inclusão. A presente
comunicação tem o objetivo de trazer à tona critérios para consideração do fenômeno, fundamentado
em bases teóricas, e reunir um conjunto de indagações sobre o tema em discussão. Foram utilizados
pensadores que desenvolvem trabalhos de análise das instituições escolares e buscam refletir sobre a
identidade da escola, como Rui Canário, Antonio Nóvoa e abordagens sociológicas (Dayrell e Licínio
Lima). Dayrell privilegia as diferentes relações ocorridas no âmbito escolar, considerando a escola um
espaço sócio-cultural, onde os alunos re-significam os espaços da escola, alterando sua função social.
Lima levanta um quadro teórico para o estudo da escola como organização educativa e ação pedagógica
organizada. Nóvoa observa que o que pode explicar as condições de sucesso não são as variáveis
tomadas uma a uma, mas sim encarada a escola com uma totalidade singular. Canário observa que a
escola vive uma mutação desde a década de 1970. A crise da escola é uma crise do modo de pensá-la.
Para a discussão do tema tem-se presente a escola secundária estadual “Canadá”, criada em 1934 em
Santos e lembrada por todos que passaram por ela, nas décadas de 1930-1970, como escola de
excelência. Lamenta-se o estado em que ela se encontra hoje, apesar de muitos esforços para reerguê-
la. A abordagem da problemática foi feita a partir da consideração da atuação dos professores, na visão
dos seus alunos, na atualidade profissionais competentes com liderança no meio em que atuam. A
metodologia utilizada é o estudo dos teóricos indicados e a análise de algumas dissertações de
mestrado sobre esse colégio e que fizeram uso de documentação da instituição, ao lado de inúmeros
depoimentos orais de ex-alunos.

105
POLÍTICAS EDUCACIONAIS NO BRASIL: GENEALOGIA E PERSPECTIVAS
Coordenador: LIA CIOMAR MACEDO DE FARIA

1404
EDUCAÇÃO DOMÉSTICA: DE VOLTA A CASA

MARIA CELI CHAVES VASCONCELOS.


UERJ, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL.

Na maior parte dos países ocidentais, o século XIX marca o início da escolaridade obrigatória aliada à
estruturação e organização dos sistemas de ensino sob o domínio do estado, que interferindo na
educação, vai, progressivamente, tornando-se o condutor das políticas educacionais. Tal processo, tem
seu ápice no século XX, quando, em alguns países, é consagrada a escolaridade obrigatória e o estado,
direta ou indiretamente, torna-se o mantenedor e o regulador, respectivamente, das redes públicas e
privadas de escolarização. Neste caso, encontra-se o Brasil que, a partir da Constituição Federal de 1934
tem decretada a escolaridade obrigatória para todos os cidadãos, ainda que apenas a escolaridade
primária. No entanto, ao consolidar a demanda estatal, outras formas de educação, praticadas ao longo
da história e identificadas como adequadas à formação de crianças e jovens, foram destituídas deste
lugar, anteriormente, ocupado. O presente estudo tem como objetivo analisar, em uma perspectiva
histórica, as possibilidades que se apresentam, na atualidade, do retorno aos espaços privados, como à
casa, categoria de lugar apropriado e reconhecido de educação e ensino, através das novas tecnologias
disponíveis, que rompem com os limites físicos e estruturais presentes na escola. Nesse sentido,
metodologicamente desenvolvemos um estudo comparado com Portugal, onde o ensino doméstico é
legal e onde já existem algumas famílias que optaram por ensinar os seus filhos na casa, exercendo o
direito de escolher o gênero de educação que querem dar às crianças e jovens. Ainda que as Leis em
vigor não permitam, no caso do Brasil, a página oficial do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira (INEP), órgão pertencente ao Ministério da Educação do Brasil (MEC),
contém o conceito de desescolarização como sendo “Supressão da instituição escola. Movimento que
combate à educação formal, atribuindo-lhe funções repressivas, e que preconiza a educação por meios
livres e não-convencionais”. Tomando como referência Ivan Illich, o sistema educacional atual, seria
fruto da revolução industrial do século XIX, e, portanto, baseado em seus modelos de fábricas,
compulsórias, hierarquizadas, e orientadas para medidas, que além de fragmentar o conhecimento,
separava os alunos apenas de acordo com a idade. Embora o conceito apresentado refira-se,
especialmente, as características da escola que, supostamente, a fariam atuar como uma instituição
repressora e reprodutora da ordem social vigente, trazendo mais problemas do que soluções, o sentido
da palavra desescolarização pode estar, hoje, mais afeito à idéia de que a sociedade desescolarizada
poderá ser alcançada com redes de aprendizado, por meio das ferramentas da web, além das inúmeras
possibilidades tecnológicas já existentes.

1406
EDUCAÇÃO MUNICIPAL: INTERVENÇÕES DAS POLÍTICAS PÚBLICAS FEDERAIS

ROBERTO FARIA.
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL.

Ao longo dos anos 90, a partir da Constituição Federal de 1988, da Emenda Constitucional nº 14 e da
LDB, ambas de 1996, novo panorama educacional tomou forma no Brasil, causando impactos
principalmente no meio rural. Naquele momento se redefiniram as responsabilidades de estados e
municípios na oferta da educação escolar, instituíram-se mecanismos de colaboração, financiamento, e
manutenção entre as três esferas, reforçando-se o papel da União, como coordenadora das políticas em
âmbito nacional. Entre outras incumbências, a LDB (art.87) atribui durante a Década da Educação (1997
a 2007), ao município e supletivamente aos estados e à União, prover cursos presenciais ou a distância
para jovens e adultos, insuficientemente escolarizados, matricular todas as crianças a partir dos sete
anos no ensino fundamental, realizar programas de capacitação para todos os professores em exercício

106
e integrar todos os estabelecimentos de ensino fundamental ao Sistema Nacional de Avaliação do
Rendimento Escolar. Considerado pelo Governo Federal como a principal reforma educacional
promovida pelo Brasil na década de 90, o Fundo Nacional de Desenvolvimento do Ensino Fundamental
(FUNDEF) assegurava a redistribuição dos recursos públicos, vinculados ao ensino obrigatório de acordo
com o número de alunos atendidos pela rede municipal e estadual de ensino e um gasto anual por
aluno. Ao mesmo tempo, através do Fundo Nacional de Desenvolvimento (FNDE) a União exerce sua
função supletiva e redistributiva em relação à escolaridade obrigatória.A investigação tem como
objetivo desvelar algumas contradições: a regulamentação do FUNDEF implicou em perda ou aumento
da receita, enquanto nas chamadas políticas compensatórias, como Renda Mínima, Bolsa Escola e a
atual Bolsa Família, se observa a manutenção de altos gastos com os recursos públicos, que deveriam
ser controlados pelos diversos conselhos de fiscalização e acompanhamento (CACS). Por outro lado, em
alguns municípios do interior, o critério para a escolha dos secretários de educação era estritamente
pessoal, priorizando a execução das formalidades burocráticas. Perante tal cultura política, o
cumprimento da nova legislação, principalmente no que diz respeito a receitas, despesas e percentuais
de aplicação, gerou em algumas prefeituras, dificuldades de ordem política e administrativa, no sentido
de assumir as exigências das novas diretrizes. O estudo, realizado em meu doutoramento sobre os
sistemas públicos de ensino da Região Serrana (RJ), se baseou na metodologia do estudo de caso, na
revisão de literatura sobre o tema e também, em dados oficiais e entrevistas com os dirigentes das
secretarias municipais de educação de São Sebastião do Alto, Santa Maria Madalena e Trajano de
Moraes.

1262
A ARQUEOLOGIA DA ESCOLA FLUMINENSE

LIA CIOMAR MACEDO DE FARIA


UERJ, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL.

O foco deste estudo investiga os impactos produzidos pelo 1° Programa Especial de Educação (I PEE) no
comportamento político da sociedade fluminense, durante o período de redemocratização, pós-
ditadura, na década de 80. Diante das circunstâncias que caracterizavam o cenário político fluminense, a
questão que se destaca é: Como a cultura autoritária e as práticas político-clientelistas historicamente
construídas afetaram as relações Estado - Sociedade Civil no embate travado entre o professorado
fluminense e as concepções político-pedagógicas do novo governo? Ao mesmo tempo, há que se
assinalar a herança e os impasses do processo ainda incluso da Fusão (1975) dos estados da Guanabara
(GB) e do antigo Rio de Janeiro. Logo, discutir a importância das políticas educacionais empreendidas
pelo PEE, tendo à frente Darcy Ribeiro, exige um esforço de recuperação teórica e memorialística, em
busca da gênese das diferentes concepções político-pedagógicas que irão travar um duelo, nos palcos
do sistema público estadual de ensino. Neste contexto de um passado ainda recente, lançamos um novo
olhar sobre as percepções ideológicas e posições dos principais atores sociais no teatro partidário do Rio
de Janeiro, que irão nos possibilitar um redesenho do quadro histórico-cultural daquele momento, de
retomada do processo democrático em âmbito nacional. O objetivo da pesquisa foi desvelar o processo
histórico de implantação dos CIEPs em meio às contradições políticas que irão caracterizar os últimos
anos do Estado de exceção. Torna-se ainda importante identificar os diferentes discursos que
permeavam o meio acadêmico, visando analisar o pensamento educacional produzido pelas correntes
político-ideológicas, que apoiaram ou rejeitaram o I PEE, buscando assim um entendimento mais amplo
da gênese de tal rejeição. Portanto, o que ainda está em jogo são visões ideológicas bastante distintas, a
respeito do papel e da função da escola pública / republicana. Tais concepções do pensamento político-
pedagógico nos remetem à pertinência e importância de pesquisas acerca da história das idéias e das
práticas republicanas, intentando examinar e identificar as referências conceituais, que irão originar o
atual modelo de escola pública no Brasil e em particular, a “arqueologia” da escola fluminense pós-
Fusão (1975). Analisa ainda como se estabelecem as relações - sindicato, governo e escolas, naquele
momento de abertura democrática, em que, de forma inédita, se reúnem os professores públicos da
capital e do interior das redes escolares, municipal e estadual. Na oportunidade, destacamos a

107
contribuição das investigações acerca das políticas educacionais no sentido de recuperar a gênese da
escola pública fluminense pós-Fusão.

1398
FINANCIAMENTO DA EDUCAÇÃO BÁSICA PÚBLICA NO BRASIL:

JANAINA SPECHT DA SILVA MENEZES.


UNIRIO, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL.

Esta comunicação tem por objetivo apresentar, de forma panorâmica, os principais avanços e desafios
associados à atual configuração da política de financiamento da educação básica pública no País. Nesse
sentido, a percepção de que as determinações legais vigentes estão alicerçadas em antigos
(des)caminhos conduziu à necessidade de apresentar alguns de seus referenciais históricos, como
condição para o entendimento da sua estrutura atual. Partindo dessa concepção, a comunicação dividirá
a história daquele financiamento nos três períodos a seguir especificados, sendo que a segmentação, de
objetivo didático, busca, ao realçar as grandes linhas que nortearam o financiamento da educação no
Brasil, apresentar um continuum relativo à sua evolução histórica com vistas a fornecer as bases para o
entendimento da sua atual configuração: • 1º período, decorreu do ano em que os jesuítas chegaram ao
País (1549) até sua expulsão (1759); nessa época foi delegada aos membros daquela ordem religiosa a
concessão das escolas públicas no País, assinalando o afastamento da Coroa em relação ao
financiamento da educação nacional. • 2º período, compreendido da expulsão dos jesuítas até o fim da
República Velha (1930), foi caracterizado: (1) pela busca de fontes autônomas de financiamento para a
educação e, (2) por deixar a educação por conta das dotações orçamentárias dos governos dos estados
e das câmaras municipais. • 3º período, que se estende da homologação da Constituição Federal de
1934 até o contexto atual, tem sido marcado pela busca da vinculação constitucional de um percentual
mínimo de recursos tributários para a educação. Tomando por base aspectos pontuais associados ao 1º
e ao 2º período, a comunicação para além de tratar de aspectos relacionados à vinculação de recursos,
presentes no 3° período, aprofundará questões relativas ao contexto atual e, mais especificamente, ao
Fundef ao Fundeb. Em meio a este cenário, buscar-se-á evidenciar alguns avanços e os desafios que
permeiam a atual configuração da política de financiamento da educação básica pública, desafios estes
apresentados durante a realização da Conferência Nacional de Educação (CONAE), realizada em
Brasília/DF, no primeiro semestre de 2010. Evidencia-se, por fim, que o estudo se baseia em pesquisas já
finalizadas e que, entre outros aspectos, tomaram por base pesquisas bibliográfica e documental.

AS POLÍTICAS DE ATENDIMENTO AOS INFANTES NA BELLE ÉPOCHE PARAENSE (SÉCULOS XIX E XX)
Coordenador: SÔNIA MARIA ARAÚJO

387
“TRADIÇÕES INVENTADAS” DE UMA BELLE ÉPOCHE PARAENSE: EXPANSÃO DA ESCOLA PRIMÁRIA E
“MODERNIDADE REPUBLICANA” NO ESTADO DO PARÁ (1897-1910)
1 2
ALESSANDRA FROTA MARTINEZ SCHUELER ; IRMA RIZZINI .
1.UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE, NITEROI - RJ - BRASIL; 2.UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE
JANEIRO, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL.

O trabalho apresenta reflexões de pesquisa em andamento sobre o processo de expansão da escola


pública primária no Estado do Pará, no período da chamada Belle Époche, momento áureo da indústria
do látex, a borracha. Privilegiando o recorte temporal de 1897 a 1910, a pesquisa se dedicou à análise
de fontes governamentais, como as Mensagens apresentadas pela Presidência do Estado à Assembléia
Legislativa, os Relatórios da Diretoria de Instrução Pública e o Álbum do Pará (1901-1909), publicado em
1908, por iniciativa do Governo do Estado. Esta documentação, de caráter oficial, foi problematizada e

108
interpretada tendo em vista três eixos temáticos centrais, que nortearam a investigação: a) as
modalidades e modelos de organização da escola (escolas isoladas, as “escolas de lugares” e os grupos
escolares), predominantemente propostos nas reformas educacionais ocorridas no Estado, incluindo a
sua capital, Belém; b) as representações sobre a escola e os sentidos políticos de sua difusão,
interiorização e expansão pelo território paraense; c) as concepções de República em disputa e as
funções atribuídas ao Estado, aos municípios e à sociedade no jogo político de (re) invenção de
“tradições” educativas e da escola primária no Pará. Fundamentado nas contribuições teórico-
metodológicas e no cruzamento entre os campos da História da Educação e da História Política, este
trabalho sugere a proposição de hipóteses iniciais sobre o processo de escolarização e difusão da malha
escolar no Estado. A abordagem utilizada consiste em considerar, simultaneamente, a autonomia, a
articulação e a influência mútua, e sempre desigual, entre uma diversidade de setores – o cultural, o
econômico, o social e o político. Este enfoque permite compreender como as disputas intra-elites
políticas, no processo de construção do governo republicano, interferiram nas reformas e nas diretrizes
educacionais do período, no contexto de “modernização” e de expansão das riquezas econômicas
oriundas da exploração da borracha. O encantamento provocado pela suntuosidade dos prédios
escolares, as festas e os desfiles cívicos dos alunos nas belas ruas da capital emergiram como
“espetáculos de civilidade” em face às práticas mágicas de religiosidade e às manifestações culturais
populares, que persistiam na “Cidade dos Encantados”. Neste sentido, a escola primária, especialmente
os grupos escolares, foi representada como símbolo e instrumento de progresso e civilização, elemento
fundamental no processo de construção de “tradições inventadas” sobre a chamada Belle Époche
paraense e a “modernidade republicana”. A investigação visa contribuir com o campo dos estudos sobre
a expansão da escola primária nos anos iniciais da Primeira República, período em que há ainda carência
de estudos sistematizados, especialmente no que se refere aos grupos escolares e às reformas
educacionais implementadas nos estados da federação, como é o caso do Pará.

893
AS CASAS DE ASILOS DA INFÂNCIA DESVALIDA: O CAMINHO DAS CRIANÇAS ABANDONADAS NA
SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DO PARÁ (1850-1910)

SÔNIA MARIA ARAÚJO; ELIANNE BARRETO SABINO


UFPA, BELEM - PA - BRASIL.

O presente trabalho em andamento investiga o processo de acolhimento das crianças enjeitadas na


Santa Casa de Misericórdia do Pará, entre 1850 a 1900, como parte da política de assistência à criança
abandonada na Província do Grão Pará. Os Asilos eram instituições de caridade, marcadamente cristãs,
que seguiam os padrões tradicionais dos asilos de Portugal. Essas casas tinham uma tripla função:
proteção, educação e instrução. Na Província do Grão Pará duas casas de asilos foram criadas para
receber as crianças abandonadas da Santa Casa de Misericórdia do Pará: o Preventório Santa Terezinha
e o Colégio Nossa Senhora do Amparo. Essas casas de asilos de crianças órfãs eram definidas pelo seu
caráter caritativo ou assistencial. A investigação pretende identificar sobre as casas de asilos: a) como as
crianças eram encaminhadas; b) como as crianças eram abrigadas; c) o perfil das crianças
encaminhadas; d) os critérios de acolhimento das crianças. As fontes documentais de pesquisa são
relatórios, cartas, ofícios, prontuários, jornais e manuais disponibilizados na biblioteca da Santa Casa de
Misericórdia e na biblioteca Pública. Com a exploração da borracha, a sociedade da província não estava
dissociada do contexto nacional e vivia grandes transformações nos campos político, econômico e
cultural. Essa economia provocou um intenso processo migratório, fazendo com que a população da
Província triplicasse consideravelmente. Eram pessoas vindas de muitas partes do Brasil e do exterior e,
juntamente com os novos habitantes, vinham crianças que obrigaram o poder público a tomar
diferentes medidas para receber esses pequenos moradores. Havia na cidade uma poderosa elite
formada pelos barões da borracha que impõe um novo modelo de vida, baseado em idéias trazidas das
cidades da Europa. Enquanto a população crescia em um ritmo frenético, eram impostas normas para
que nada interferisse no projeto de modernização da Amazônia. No contra-fluxo dessa política,
contavam-se alarmantes taxas de mortalidade infantil, pois as crianças eram as maiores vítimas das
doenças que apareciam: varíola, febre amarela e tuberculose. A concepção médico-higienista, que

109
embasava o projeto civilizador do final do século XIX, estabelecia muitas diretrizes para a formação de
uma nova sociedade. A criança era o foco principal para o estabelecimento dessa nova sociedade e as
políticas públicas começam a ser pensadas para ela. As práticas utilizadas no interior das casas de asilos
para crianças tinham um objetivo: transformar a criança pobre, desvalida, órfã em um cidadão útil para
a sociedade, principalmente em termos econômicos.

934
A FORMAÇÃO DE MENINAS ÓRFÃS NO ESTADO DO PARÁ NO FINAL DO SÉCULO XIX E PRIMEIRA
METADE DO SÉCULO XX

ANTONIO VALDIR MONTEIRO DUARTE.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA, BELEM - PA - BRASIL.

A investigação que ora se apresenta encontra-se em andamento e tem como objetivo entender as
práticas educativas vivenciadas por meninas internas em uma das mais importantes instituições do
Estado do Pará – o Instituto Antonio Lemos, que abrigou, por mais de seis décadas, meninas oriundas
das várias partes do Estado do Pará, de outras regiões do Brasil e de alguns países, com destaque para
Portugal, Espanha e Itália. Já se fez o levantamento e a reprodução de documentos e constatou-se um
precioso acervo localizado nos porões do próprio Instituto, e que está sendo catalogado: atas de
reuniões, mapas de notas e disciplinas escolares, livros de controle de entrada e saída de internas,
certidões de nascimento, fotos, livros-caixa, entre outros. Metodologicamente, a pesquisa também
abrangerá a história oral, pois entendemos que esta nos possibilitará entender melhor o cotidiano
vivenciado no interior da instituição a partir do olhar dos vários sujeitos que ali moravam especialmente
das meninas que estavam na condição de internas. A partir de uma primeira análise documental, o que
chamou atenção foi o elevado número de meninas internas oriundas da Itália, Espanha e, sobretudo,
Portugal. No ano de 1913, consta, em um dos livros, a entrada de cento e cinqüenta meninas das mais
diferentes faixas etárias, naturalidades e nacionalidades, sendo que noventa por cento delas no mesmo
dia e mês. O Instituto Antonio Lemos no Pará tornou-se uma das mais importantes obras de caridade e
de ensino entre o final do século dezenove e início do século vinte, graças ao extraordinário
desenvolvimento econômico alavancado pelo processo de plantação e comercialização da borracha que,
ainda nesse período, representava a maior riqueza da Região Amazônica. Durante os anos vinte do
século passado, com a transferência das internas para um novo prédio localizado no distrito de Santa
Izabel, a cinqüenta quilômetros de Belém, cumprindo uma determinação da intendência municipal e sob
a coordenação da Ordem Religiosa Filhas de Sant’Anna, fundada na Itália, se estabelece o projeto
educativo para a formação de meninas órfãs que permanecerá como internato até a década de sessenta
do século passado. Nesse sentido, a partir dos anos 1930, com as sucessivas crises políticas e financeiras
em decorrência do declínio da produção e exportação do látex, o Instituto passa a admitir meninas em
regime de externato.

1133
HISTÓRIA DA ESCOLA MISTA DO PARÁ: DO IMPÉRIO À REPÚBLICA

CLARICE NASCIMENTO MELO.


UFPA, BELEM - PA - BRASIL.

O presente trabalho apresenta resultados de uma pesquisa concluída sobre a história da escola mista
no Pará, entre os anos 1870-1901. A problematização que norteou o processo de investigação pode ser
sintetizada nas seguintes questões: na condição de projeto dos governos imperial e republicano, como
eram as escolas mistas no Pará? Como era a organização escolar no Pará antes das escolas mistas?
Como ocorreu a inserção das mulheres nessas escolas? As fontes documentais privilegiadas no estudo
foram: a legislação educacional, os jornais diários, os relatórios de governo, as revistas de ensino, as
quais foram examinadas cotejando o dito e o praticado. O método indiciário direcionou as leituras
documentais buscando as pistas e sinais das montagens da escola mista paraense, resultando na

110
construção de nexos no qual a participação de mulheres se pôs como fio condutor de compreensão da
história da escola mista no Pará, em um tempo de pretensa modernização tanto nos estilos de vida
quanto na educação pública e particular. Os resultados indicam, de um modo geral, que a escola mista
se constituiu e se configurou a partir da inserção das mulheres no universo educacional, seja por meio
da escolarização e da profissionalização, seja por meio da docência em escolas de meninas e meninos.
As evidências indicam que a escola de ambos os sexos – criada legalmente na Província do Grão-Pará em
1870 – deu os primeiros sinais da junção de meninas e meninos na escola, no momento em que a
presença de mulheres na educação se insinuava. As mutações na organização da educação, com a
regulamentação da escola mista na década de 1880, decorreram da inserção mais efetiva das mulheres
nessa escola. As imprecisões acerca da escola mista já na república, entre 1890-1901, quando esta se
espraia por todo o Estado, inclusive nos grupos escolares, são manifestações das contradições entre o
discurso modernizador e as práticas conservadoras em relação a esse tipo de escola, que se defronta
com a presença incisiva de professoras na regência do ensino e com a eqüidade entre os sexos na
discência. A escola mista se expandiu com base em dois acontecimentos: a ampliação da participação
das mulheres na profissão docente e a exclusão legal dos professores da docência nessas escolas; esses
dois movimentos foram concomitantes e relacionais, não causais. Em todo o processo histórico de
institucionalização das escolas mistas, as mulheres – alunas e professoras – foram determinantes na
dessacralização dos espaços, tempos e saberes estruturados na escola tradicional dividida por sexos.

111
112
EIXO 8 - FONTES E MÉTODOS EM HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

TRAJETÓRIAS ESCOLARES: PERSPECTIVAS METODOLÓGICAS E FONTES


Coordenador: NORBERTO DALLABRIDA

477
TRAJETÓRIAS DE ESCOLARIZAÇÃO: MEMÓRIAS E REGISTROS ESCOLARES DE ESTUDANTES DE CLASSE
POPULAR NOS ANOS 1960.

BEATRIZ T. DAUDT FISCHER.


UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS / UNISINOS, PORTO ALEGRE - RS – BRASIL..

Frente a um cotidiano caracterizado pelo efêmero, pela cultura do contínuo descarte de bens simbólicos
e materiais, salvar reminiscências da cultura escolar vivida em tempos pretéritos tornou-se premente
necessidade. Entretanto, o campo de investigações envolvendo memória tem sido questionado,
demandando aos pesquisadores encarar os desafios metodológicos com maior rigor e densidade
teórica. Embora para alguns seja controverso considerar a realidade como construída pelo discurso, é
aceitável que todo pesquisador vá além da mera transcrição literal de um/a depoente. Em outras
palavras, não estará em busca de uma verdade, nem tampouco partirá da concepção de que tal seja
possível. De fato, o que deve fazer diferença são aportes metodológicos solidamente fundamentados e,
principalmente, o compromisso em lidar com fontes diversificadas, aproximando-se o mais possível de
versões sobre a temática investigada. Estas e outras reflexões são trazidas à tona neste estudo, que
analisa trajetórias discentes, problematizando questões teórico-metodológicas inerentes aos processos
investigativos que lidam com memória. Para tal, vale-se de narrativas de sujeitos que recordam tempos
idos, em especial suas trajetórias enquanto estudantes frequentando bancos escolares no final dos anos
60 do século passado. O material empírico constitui-se, pois, das reminiscências destes sujeitos, cuja
infância foi vivida na periferia da área metropolitana de Porto Alegre/RS, tendo pertencido a famílias de
baixa renda. A investigação também utiliza procedimentos de pesquisa documental, a partir de registros
escolares, buscando por possíveis continuidades e/ou rupturas ao longo dos respectivos processos de
escolarização. Historicamente em nosso país alunos de classes populares tendem a interromper sua
trajetória escolar, sendo excluídos nas primeiras séries do ensino fundamental. Este problema tem sido
relacionado às condições econômicas das famílias, ao contexto cultural e/ou à falta de políticas públicas
adequadas para garantir a permanência na escola. Igualmente alguns estudos atribuem causas da
evasão às limitadas condições materiais das escolas públicas ou à carência de capacitação docente para
lidar com situações difíceis. A presente investigação, entre outros objetivos, buscou saber em que
medida estes e/ou demais fatores, podem ser considerados nas trajetórias de escolarização dos sujeitos
investigados. Em que medida, a partir da memória, práticas pedagógicas, decisões institucionais,
relações de saber/poder enredam-se nestas trajetórias escolares? Muito já foi dito acerca desta
problemática educacional, pouco, entretanto, tem sido perspectivado a partir de histórias narradas
pelos próprios sujeitos como propõe esta pesquisa.

552
TRAJETORIAS ESCOLARES: DILEMAS E DESAFIOS DE PESQUISA

LETICIA CORTELLAZZI GARCIA


UNIVERSITE PARIS DESCARTES, PARIS - FRANÇA.

Procurando alargar os limites disciplinares que normalmente dominam as teorias e as práticas de


pesquisa nas ciências humanas, os estudos sobre trajetórias – sejam elas sociais, escolares, familiares ou
individuais - abrem inúmeras possibilidades de análises que podem contribuir para a melhor
compreensão das relações recíprocas entre as influências sociais e condutas humanas ao longo do
tempo. Com a ampliação das perspectivas de pesquisa no campo historiográfico, este objeto antes
reservado as ciências sociais, ganhou gradativamente um lugar no âmbito da história, particularmente
na história de educação. Apoiado, sobretudo em suportes metodológicos como enquetes, entrevistas,

113
os quais também criaram novas fontes históricas - questionários, relatos de vida, fotografias, etc. - antes
ilegítimas e desprestigiadas aos olhos de Clio, permitiram expandir os caminhos de investigação. Novas
contribuições teóricas foram introduzidas neste campo, entre as quais as que postulam a abordagem de
um estruturalismo genético, isto é, a análise das estruturas sociais enquanto produto histórico e a sua
respectiva influência nas condutas individuais. Esta perspectiva teórica tem sido cada vez mais utilizada
no domínio da história da educação com o objetivo de analisar como os percursos sociais e escolares
justificam e/ou determinam em larga medida as escolhas profissionais e pessoais em etapas posteriores
ao período de escolarização. Se, de um lado, as estruturas sociais (classe social, instituição escolar, etc.)
são fatores importantes na constituição das trajetórias de vida dos indivíduos; por outro, pode-se
pressupor que as condutas individuais são também fruto de constantes negociações que os indivíduos
travam com os contextos meso e macro-social. Desta forma, uma questão teórica que desafia este
campo de pesquisa diz respeito à compreensão empírica do peso da formação escolar na trajetória dos
indivíduos e suas constantes reelaborações ao longo de suas trajetórias. A presente comunicação
procura apresentar os resultados de uma pesquisa ainda em andamento sobre trajetórias de vida e
transmissões familiares em três gerações de mulheres em Santa Catarina entre 1930 e 2010.
Concomitantemente, visa refletir sobre o estatuto teórico dos estudos de trajetória, indagando se a
análise das trajetórias escolares se constitui um fim analítico em si próprio, ou ao contrário, se esta
investigação permite a compreensão da importância da escola na relação dialética entre estrutura social
e indivíduo.

883
TRAJETÓRIAS SOCIAIS DE ALUNOS EGRESSOS DO COLÉGIO CATARINENSE (1951-1960)

NORBERTO DALLABRIDA; JULIANA TOPANOTTI DOS SANTOS DE MELLO.


UDESC, FLORIANOPOLIS - SC - BRASIL.

O intuito deste trabalho é investigar as trajetórias sociais de alunos egressos do ensino secundário do
Colégio Catarinense entre 1951 e 1960. O Colégio Catarinense foi fundado em Florianópolis – capital do
Estado de Santa Catarina – , em 1905, pelos padres jesuítas e consolidou-se como um educandário de
caráter privado e dirigido para adolescentes do sexo masculino e oriundos de classes privilegiadas.
Adaptando-se à Reforma Capanema, a partir de 1943, o Colégio Catarinense passou a oferecer o ensino
secundário completo, formado pelo curso ginasial (1º ciclo) e pelo curso científico ou clássico (2º ciclo
ou colegial). Contudo, no recorte temporal deste trabalho, o curso científico foi oferecido de forma
regular e com turmas grandes, enquanto o curso clássico formou somente duas turmas, ambas com dois
alunos. Recortamos o período entre 1951 e 1960 porque consideramos que ele permite analisar, de
forma efetiva, as trajetórias sociais dos alunos egressos, que atualmente estão aposentados ou em fim
de carreira. Pretendemos analisar as trajetórias sociais dos egressos do ensino secundário do Colégio
Catarinense, considerando as suas origens sociais, os seus percursos escolares no ensino secundário e
superior e as suas inserções sócio-profissionais. Para analisar essas trajetórias sociais usamos os
conceitos de capital cultural, capital social e capital simbólico, elaborados por Pierre Bourdieu para
compreender as desigualdades sociais e escolares no mundo contemporâneo. Essa visão polimorfa do
capital nos permite perceber as estratégias de reconversão de capital econômico em capital cultural e a
importância do capital social no processo de inserção sócio-profissional. O estudo das trajetórias sociais
dos alunos egressos do colégio dos jesuítas apóia-se, sob o ponto de vista empírico, nos relatórios
anuais do Colégio Catarinense, em notícias de jornais de circulação local e estadual e, especialmente,
nos dados de um questionário respondido pelos ex-alunos. Esse questionário foi enviado para 80 ex-
alunos que se formaram no ensino secundário do Colégio Catarinense no recorte temporal desta
pesquisa, que constitui a amostragem deste trabalho. Assim, estudamos as trajetórias sociais de alunos
egressos, procurando verificar o poder da origem social privilegiada no acesso ao ensino secundário
numa escola de elite e na vida sócio-profissional. Por outro lado, constatamos a presença de alguns
alunos provenientes de classes populares no Colégio Catarinense, na condição de bolsistas, que, com
muito esforço e renúncia, conseguiram ingressar no ensino superior e exercer profissões exitosas.

114
894
OS RELATOS DE TRAJETÓRIAS ESCOLARES COMO FONTE PARA A COMPREENSÃO DA HISTÓRIA E
MEMÓRIA DE ESCOLAS

GIANA LANGE DO AMARAL.


FACULDADE DE EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS, PELOTAS - RS - BRASIL.

Nos meios acadêmicos o estudo da história das instituições educacionais contribuem na elucidação e
compreensão da História da Educação brasileira, pois ao buscarem estabelecer o perfil de determinadas
escolas, enfatizam aspectos da cultura escolar e urbana, exploram questões didático-pedagógicas,
político-ideológicas, étnicas e de gênero em diferentes dimensões temporais e espaciais. Nesse sentido,
a utilização de relatos sobre as trajetórias escolares é uma possibilidade de dar voz a quem vivenciou o
jogo de identidades em determinadas instituições educacionais, servindo como uma importante fonte
para os estudos em História da Educação. Neste trabalho pretende-se apontar aspectos metodológicos
da organização de coletâneas de textos que abordam histórias e memórias de escolas da cidade de
Pelotas. Tendo por base o relato de trajetórias escolares de alunos, professores e funcionários de
determinadas escolas já foram organizados três livros. Nas coletâneas, a pluralidade de textos que se
abre ao leitor e/ou pesquisador mostra diferentes olhares em diferentes tempos sobre o cotidiano de
uma mesma instituição. É uma travessia fascinante em que a memória pessoal e social se entrecruza
com os processos cognitivo-afetivos vivenciados na escola, sendo uma preciosa fonte a ser explorada,
permitindo um olhar sobre tempos e espaços hoje distantes. Os relatos servem para aprofundarmos
dimensões, sinalizando para as contradições inerentes a todo o processo que envolve a busca de
identidade institucional a partir do olhar dos sujeitos que delas participaram. A pesquisa e publicação de
livros que abordem aspectos da história e da memória de instituições de ensino específicas que
constituem em si modelos culturais em circulação resultam de uma necessidade presente de
compreender a produção dessas escolas, sua atuação junto à comunidade, suas práticas, e suas culturas
escolares ao longo do tempo. Dessa forma, espera-se poder contribuir, também, como referencial
histórico para a compreensão e construção de propostas pedagógicas que levem em conta suas
identidades de escola que, sem dúvida, resultam de trajetórias peculiares. É inegável que todo grupo
social que esquece o seu passado, que apaga sua memória, acaba por perder sua identidade.
Certamente, a compreensão do presente é incompleta sem a inserção do passado, da experiência vivida
e consolidada. A organização e publicação desses textos constituem-se numa forma de recuperação de
uma identidade ameaçada pelo tempo e que precisa ser historicizada.

1021
TRAJETÓRIAS ESCOLARES E PROFISSIONAIS POUCO PROVÁVEIS: O CASO DE TRÊS EGRESSAS DO
COLÉGIO CORAÇÃO DE JESUS NOS ANOS DE 1950

ESTELA MARIS SARTORI MARTINI.


UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA, FLORIANOPOLIS - SC - BRASIL.

O objetivo da presente comunicação é compreender o que tornou possível o sucesso escolar e


profissional de três mulheres, alunas egressas do Curso Científico do Colégio Coração de Jesus nos anos
de 1950. Localizada na capital do Estado de Santa Catarina e especializada na educação feminina, esta
instituição de ensino católica e privada era dirigida para atender as classes sociais mais abastadas.
Fundado no final do século XIX, o Colégio Coração de Jesus oferecia serviços de internato, externato e
semi-internato. Foi o primeiro colégio feminino no Estado de Santa Catarina a oferecer o Ensino
Secundário completo, conforme exigia a Reforma Capanema de 1942 – Ensino Ginasial de quatro anos e
Ensino Científico e/ou Clássico de três anos. O Colégio Coração de Jesus iniciou o segundo ciclo do
ensino secundário com Ensino Científico e, somente em 1956, implantou o Ensino Clássico. As três
alunas egressas da presente investigação eram provenientes de famílias pobres e detentoras de baixo
capital cultural, cujo sucesso escolar pode ser, sociologicamente, considerado pouco provável. Os dados
desta pesquisa foram coletados em questionários e entrevistas semi-estruturadas. A orientação teórica
assumida na conduta da pesquisa toma os trabalhos de Pierre Bourdieu, sendo este autor responsável

115
pelos conceitos de capital econômico, capital cultural e capital simbólico, motes fundamentais para
compreender as desigualdades sociais e escolares naquele momento histórico, assim como o esforço e
as renúncias que estas ex-alunas fizeram para conseguir delinear uma carreira exitosa. Para
compreender a complexa rede de relações sociais e individuais das três egressas, os trabalhos de
Bernard Lahire serão igualmente essenciais. Ao assentar o foco sobre a construção de “perfis
sociológicos”, este autor possibilita levar em conta, nas análises das trajetórias individuais, quais foram
os processos sociais e familiares mediadores na constituição dos percursos escolares e profissionais
pouco prováveis e de excelência das três egressas, ou seja, cada uma será investigada nas múltiplas
facetas das suas experiências sociais e familiares. Sendo assim, será possível destacar alguns elementos
que indicam a possibilidade de ruptura da lógica da reprodução nas trajetórias escolares e profissionais
de alunos/as, cujas famílias pertencem a extratos baixos da sociedade. Este trabalho, ainda em curso,
perpassa o campo da micro-análise sócio-histórica, buscando assim, contribuir para novas possibilidades
historiográficas na história da educação brasileira.

116
EIXO 9 - PATRIMÔNIO EDUCATIVO E CULTURA MATERIAL ESCOLAR

PRESERVAÇÃO E MAPEAMENTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO EDUCATIVO:


A BIBLIOTECA DA ESCOLA NORMAL DE (1903 A 1976)
Coordenador: MARIA CRISTINA MENEZES

1381
MANUAIS DIDÁTICOS DOS GRUPOS ESCOLARES DE SERGIPE NO INÍCIO DO SÉCULO XX

CRISLANE BARBOSA AZEVEDO.


UFRN, NATAL - RN - BRASIL.

Os grupos escolares foram inaugurados em Sergipe no ano de 1911 com o intuito de pôr fim a
problemas no ensino primário. Por seu intermédio procurava-se promover melhorias nos métodos de
ensino, na qualificação dos professores e nos recursos didáticos. Em relação a estes podemos citar os
manuais escolares, alvo da presente pesquisa, atenta à preservação do patrimônio histórico educativo.
Objetivamos analisar a materialidade dos documentos (formato, dimensões, configuração dos textos,
entre outros aspectos) e identificar aspectos característicos de uma cultura escolar de uma determinada
época por meio da análise dos conteúdos dos textos. Para tanto, foi desenvolvida pesquisa bibliográfica
acerca da educação brasileira e de manuais didáticos e investigação documental, com atenção a
documentos dos antigos grupos escolares nos quais encontramos referências a manuais escolares bem
como os próprios manuais. A análise adota a abordagem da História Cultural por compreender que essa
perspectiva potencializa os manuais como fonte. A partir da pesquisa documental, até o momento
realizada, localizamos manuais voltados para áreas de História, Língua Portuguesa, Valores e Gramática,
os quais se tornaram alvo da presente análise. Os manuais aqui problematizados e analisados circularam
nos grupos escolares sergipanos nas primeiras décadas do funcionamento de tais instituições (1911-
1930). Compreendemos como manuais escolares publicações impressas voltadas para a educação
escolar. A investigação integra um plano mais amplo de pesquisa voltado para a organização,
catalogação e análise de manuais escolares gerenciado pelo Civilis - Grupo de Estudos e Pesquisas em
História da Educação, Cultura Escolar e Cidadania, em conexão ao trabalho que vem se realizando junto
à biblioteca histórica da antiga Escola Normal de Campinas, que em 1911 também vai a ela anexar o
Grupo Escolar Modelo, que após a inauguração do novo prédio da Escola Normal, em 1924, passa a
funcionar em suas dependências. Partindo da materialidade dos manuais, dedicamo-nos também à
análise do conteúdo das obras por compreender que tais documentos representam o conteúdo
específico de uma área de conhecimento relacionado a uma determinada perspectiva pedagógica,
carregando em si a configuração didática de um período. Além disso, retratam um tipo de aluno e um
sujeito que se deseja formar. Por meios dos manuais podemos estudar os aspectos políticos e
ideológicos de uma época bem como a história de práticas escolares. A investigação mostra-se
complexa. Este trabalho em andamento busca contribuir com a temática possibilitando meios de
compreensão das especificidades da cultura escolar dos grupos escolares. Podemos afirmar, ao menos
teoricamente, que os manuais escolares contribuíram para a disseminação de valores cívicos e morais
voltados para a formação das gerações republicanas.

1247
OS MODELOS DE LIÇÃO: AS OBRAS DO EDUCADOR JOÃO TOLEDO NA BIBLIOTECA DA ESCOLA
NORMAL DE CAMPINAS (1925-1934)

MARIA DE LOURDES PINHEIRO.


UNESP/IBILCE, CAMPINAS - SP - BRASIL.

O presente trabalho abrange o período de 1925 a 1934 e resulta de uma discussão acerca das
interlocuções do educador paulista João Toledo, ao defender, por meio da publicação de livros

117
destinados às escolas normais, uma educação pautada pela arte de ensinar e pelos modelos de lição.
Numa perspectiva histórico-cultural, o trabalho é parte da discussão realizada em tese de doutorado
defendida em 2009, que esteve articulada ao projeto financiado pela FAPESP “Preservação do
Patrimônio Histórico Institucional: Escola Estadual Carlos Gomes de Campinas”, no âmbito do CIVILIS,
Grupo de Estudos e Pesquisas em História da Educação, Cultura Escolar e Cidadania, da FE/UNICAMP. Os
manuais, do ex-professor e ex-diretor da Escola Normal de Campinas, mostram como João Toledo fez
uso das interlocuções que estabeleceu com profissionais contemporâneos ligados ao ensino, bem como
das apropriações e representações que fez tanto do modelo de educação com que foi formado quanto
das novas concepções que iam penetrando no país, para divulgar suas próprias idéias educacionais. Em
julho de 1921, convidado por Guilherme Kuhlmann, então diretor geral da Instrução Pública em São
Paulo, para participar de uma reunião com profissionais do ensino, João Toledo foi incumbido pelo
desenvolvimento de uma tese sobre a formação de uma biblioteca do professor primário. Para Toledo, a
formação de uma biblioteca do professor primário se impunha como complemento indispensável, pois
não bastava que o mestre tivesse um conhecimento preciso do educando em seu desenvolvimento
psíquico e somático, nem que conhecesse a finalidade da educação, de forma que o preparo pedagógico
somente não seria suficiente para torná-lo um mestre de crianças apto a orientar o aprendizado.
Segundo João Toledo, o professor chegava ao ensino primário com uma insuficiente preparação técnica
e o que se via era o mestre ensinando e os alunos passivamente escutando, procurando decorar as
lições recebidas. Sua crítica, nesse sentido, era que, nas escolas primárias ainda não se aplicava os
princípios que regulavam o aprendizado ativo, uma vez que estes, na sua concepção, nem mesmo se
achavam convenientemente expostos e esclarecidos. Toledo, nesse sentido, sugeria a formação de uma
biblioteca do professor primário composta por livros que apresentassem lições, guias, roteiros prontos,
para auxílio do trabalho do professorado. O educador paulista publicou “O crescimento mental” e
“Escola Brasileira” (1925), “Didática” (1930) e “Planos de lição” (1934). Tais obras compõem o acervo da
Escola Normal de Campinas, bem como outras que também trazem como preocupações a Arte de
Ensinar e os planos de Lições. A idéia de uma biblioteca do professor era compartilhada por outros
profissionais contemporâneos, ainda que com uma configuração e objetivos diferentes da proposta de
João Toledo.

1289
ESCOLA NORMAL DE CAMPINAS E OS MANUAIS DE BOAS MANEIRAS

RITA CÁSSIA ROCHA.


FACULDADE GUAIRACÁ, GUARAPUAVA - PR - BRASIL.

O presente trabalho desenvolve-se no âmbito dos projetos de preservação do patrimônio histórico


educativo desenvolvidos pelo CIVILIS, Grupo de Estudos e pesquisas em História da Educação, Cultura
Escolar e Cidadania, da FE/UNICAMP, no qual a autora deste resumo realiza pesquisa em nível de
doutorado. A escola, nas primeiras décadas do século XX, foi percebida como agência formadora, em
que privilegiaria as regras de condutas dos futuros professores os quais seriam organizadores da alma
nacional. Boas maneiras, bons antecedentes, delicadeza, refinamento, entoavam e comporiam a figura
das professoras e dariam sentido à profissão de docente. Neste sentido, a pesquisa em andamento
concentra-se no acervo da Escola Normal de Campinas, precisamente nos manuais de civilidade para a
formação de professoras. O trabalho dar-se-á na perspectiva de análise processual da micro-história, em
que será possível emergir novas reflexões sobre a constituição das práticas pedagógicas desenvolvidas
pela Escola Normal de Campinas. Os manuais levantados, até o momento, são exemplos claros de como
se dá a aprendizagem das regras de convivência e civilidade dentro e fora da escola. Alguns destes
manuais foram elaborados na Argentina, Portugal e França entre eles estão: O livro das Donas e
Donzelas de Julia Lopes de Almeida; O pequeno manual de Civilidade para Uso da Mocidade; Tratado de
Civilidade e Etiqueta de autoria da Condessa de Gencé. A utilização destes manuais demonstra as
intersecções dos códigos de refinamento adotados no Brasil na busca da auto-imagem como país
civilizado. Ao buscar relacionar os códigos de boas maneiras aos modelos civilizatórios estudados por
Norbert Elias, verifica-se de que forma estes novos hábitos, e condutas foram sendo internalizados por
meninas e jovens, a partir dos manuais veiculados pela escola. Sob esse aspecto, infere-se que é no

118
grupo social do qual a individuo participa, que se regula a vida instintiva e naturalizam-se
comportamentos, fazendo com que sejam aprendidos, controlados e autocontrolados por meio de
mecanismos de internalização combinados a determinadas estratégias ou modelos verificados pelo
tempo. Comportamentos que indicariam novos padrões, pautados por preceitos normativos e padrões
estéticos a serem seguidos.

1264
O MAPEAMENTO DE UMA BIBLIOTECA DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES

MARIA CRISTINA MENEZES.


FE/UNICAMP, CAMPINAS - SP - BRASIL.

O presente estudo se localiza na circunferência das ações desenvolvidas no âmbito dos projetos de
Preservação do Patrimônio Educativo do CIVILIS, Grupo de Estudos e Pesquisas em História da Educação,
Cultura Escolar e Cidadania, da FE/UNICAMP, do qual a proponente é uma das coordenadoras.
Outrossim, vimos realizando a interlocução sobre tal tema através da RIDPHE, Rede Iberoamericana
para a Investigação e a Difusão do Patrimônio Histórico Educativo, que se vem desenvolvendo como
lista de discussões, localizada no rol de listas da UNICAMP, e tem como moderadores Maria Cristina
Menezes, do Brasil, e Vicente Peña Saavedra, da Espanha. O estudo que se apresenta teve o seu início
no projeto "Preservação do Patrimônio Institucional : Escola Carlos Gomes de Campinas, que pode ser
lida como Escola Normal de Campinas. Tal projeto, que se desenvolveu com o apoio da FAPESP,
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, possibilitou que se organizasse o acervo
documental da antiga Escola Normal de Campinas, cuja documentação permitiu o percurso para as
ponderações aqui pretendidas. A recuperação do arquivo histórico documental da antiga escola de
Campinas, São Paulo, possibilitou que o inventário das fontes do arquivo histórico fosse publicado em
2009. Esta instituição, em suas várias denominações, adquiridas ao longo de sua existência, obteve em
1911 a denominação de Escola Normal Primária e o 2º Grupo Escolar da cidade passou a Grupo Escolar
Modelo. Em 1924, quando a escola passou a funcionar em prédio apropriado às suas funções, o 2º
grupo escolar começou a funcionar em seu interior. Tal movimento não foi prerrogativa desta escola,
fez parte de uma época, o que se pode hoje constatar em pesquisas que se vêm desenvolvendo
em tantas outras instituições. Os acervos trazem documentos escritos, iconográficos, museológicos, e
um grande número de itens bibliográficos, que deram forma à biblioteca infantil “Pequenos
Bandeirantes” e à biblioteca da escola Normal cujo prédio posteriormente passou a hospedar outras
modalidades de instituições o que acarretou o alargamento do acervo em número e títulos de obras.
Para os tantos itens encontrados, procedeu-se um mapeamento ainda modesto desta biblioteca, com o
aporte das fontes documentais do arquivo histórico da instituição, cujo inventário, organizado no
âmbito deste projeto, permitiu acesso aos relatórios, sobretudo, de 1945 a 1976, escritos pela mesma
bibliotecária. Os relatórios trazem informações importantes sobre o funcionamento da biblioteca,
número de consulentes, número de consultas por área de conhecimento, o movimento das classes
quanto a essas consultas, o aumento no número de obras e a proporção das mesmas quanto às áreas.
Há ainda a possibilidade de se perceber as práticas de manutenção e catalogação das obras, com a
aquisição de fichas matrizes, que já foram recuperadas em sua totalidade pelas ações do projeto de
preservação supracitado.

119
120
COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS

121
122
EIXO 1 - ETNIAS E MOVIMENTOS SOCIAIS

771
A EDUCAÇÃO DO CORPO POR MEIO DOS RITOS E DOS SÍMBOLOS NA AÇÃO INTEGRALISTA BRASILEIRA

RENATA DUARTE SIMÕES.


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, VILA VELHA - ES - BRASIL.

Investiga a “educação do corpo”, por meio dos ritos e dos símbolos, voltada para homens e mulheres
membros das fileiras integralistas que muitos adeptos conquistou no período de 1932 a 1938. Para
ordenar a ação do militante, um conjunto de dispositivos foi estruturado ditando regras, normas e
rituais a serem seguidos “fielmente” pelos membros da Ação Integralista Brasileira (AIB). Essa
ordenação instituía moral e corporalmente o integralista no movimento e na sociedade, e a ela os
integralistas estavam submetidos e deviam obediência incontestável. O objeto da pesquisa, concluída
em 2009, é a “educação do corpo integralista” elaborada e difundida pela Ação Integralista Brasileira –
movimento social de grande repercussão política, que emerge no Brasil Republicano, arquitetado por
Plínio Salgado, enquanto Chefe Nacional – com a finalidade de educar, disciplinar e preparar seus
membros tornando-os “soldados obstinados a defender a nação”. Delimita o período a ser estudado
entre 1932 e 1938, tendo como justificativa, para a data inicial, ser ela o ano de fundação da Ação
Integralista Brasileira. Como justificativa para a data final, aponta a extinção da AIB. Ao início do
Governo ditatorial de Getúlio Vargas, todos os partidos políticos são suprimidos, juntamente com eles, a
Ação Integralista Brasileira que havia obtido o registro de partido político em 1933 junto ao Superior
Tribunal de Justiça Eleitoral. Em função da dissolução dos partidos políticos, a AIB, adaptando-se aos
novos tempos, transformou-se novamente em sociedade civil com a denominação de Associação
Brasileira da Cultura (ABC). O Estudo realiza um diálogo com os “Protocollos” publicados em O Monitor
integralista, jornal fundamentalmente doutrinário e prescritivo do movimento que se encontra no
Acervo Plínio Salgado do Arquivo Público e Histórico do Município de Rio Claro-SP, ou seja, com as
diretrizes que orientavam os rituais e usos dos símbolos no integralismo. A proposta é que se observem,
nos “Protocollos”, elaborados pelo mais alto grau hierárquico do integralismo, ou seja, por Plínio
Salgado, as prescrições aos militantes do movimento. Os protocolos da AIB impunham que os “camisas-
verdes” obedecessem sem discutir às ordens superiores, cometendo falta gravíssima quem a elas
transgredisse. As ordens e ações de Salgado – Chefe em caráter perpétuo da AIB, com plenos poderes
deliberativos, a quem todos responderiam – eram inquestionáveis, sofrendo pena de exclusão
automática os “camisas-verdes” que as comentassem. Concluiu que, através dos ritos e dos símbolos, o
integralismo propagava, a seu modo, o comportamento a ser assumido pelos integralistas e,
conseqüentemente, a quem mais se predispusesse a ler seus jornais. Por meio das práticas ritualistas e
simbólicas, o integralismo impunha ao corpo um modo de ser, de se comportar, de vestir, de falar, de
calar, de andar, de casar, de morrer, de se embelezar, de amar, de odiar..., ou seja, um modo muito
próprio e uno de ser integralista.

743
A INSTITUCIONALIZAÇÃO DO NÚCLEO DE ESTUDOS AFRO-BRASILEIROS DA UFES: CONSTRUINDO
POSSIBILIDADES NO CAMPO DA EDUCAÇÃO DAS RELAÇÕES ETNICAS-RACIAIS

MARIA APARECIDA SANTOS CORREA BARRETO.


UFES/PPGE, VITORIA - ES - BRASIL.

Objetiva-se analisar aspectos históricos da institucionalização e da articulação do Núcleo de Estudos


Afro-Brasileiros da Universidade Federal do Espírito Santo, com ações no âmbito da formação
continuada de professores, no período de 2003-2010. A fundamentação teórico-metodologica é
pautada em dois eixos que se entrelaçam formando o núcleo de orientação desta formação: a
cosmovisão africana, as especificidades históricas e culturais da população negra nos diversos espaços
geográficos do Brasil e a análise dos processos opressivos de dominação sobre os africanos e
afrodescendentes e de suas formas de luta e resistência anti-racistas. Baseando-se ainda, na
constituição histórica de processos educativos no contexto da nova legislação, das Diretrizes

123
Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e o ensino de História e Cultura Afro-
Brasileira e Africana conforme a Lei nº 10.639/03 que visa contribuir para a desconstrução de um saber-
fazer preconceituoso/discriminatório. Os participantes da pesquisa foram professores(as),
pedagogos(as) e gestores(as) que atuavam na educação básica no sistema estadual de ensino. Como
metodologia propomos movimentos interligados durante o ano de 2003/2010: observação participante,
história oral, entrevistas, grupos focais. As novas diretrizes situam-se no campo das políticas de
reparações, de reconhecimento e valorização dos negros, possibilitando a essa população o ingresso, a
permanência e o sucesso na educação escolar. Dentre entre outros aspectos esta pesquisa vem
apontando como fundamentais para a formação docente como uma das principais vias para: o
aperfeiçoamento e organização do trabalho escolar e pedagógico nas escolas, de modo a compreender
que a cosmovisão africana, reinventada em territórios brasileiros contribui para o enriquecimento do
debate acerca das questões ambientais, tecnológicas, históricas, culturais e éticas em nossa
comunidade. Concluímos que o ideário desta política pública, com as ações investigativas dos Núcleos
de Estudos Afro-brasileiros constituídos nas IFES é afirmação do caráter pluriétnico da sociedade
brasileira, a formação de professores para atuar na promoção da igualdade racial e a eliminação de
qualquer fonte de discriminação e desigualdade raciais. Assim, apontamos ainda, que a formação
continuada de professores é um dos elementos históricos e sociais fundamentais para a desconstrução
das desigualdades que contribuem para exclusão de grande parcela da população afro-descendente dos
bens construídos socialmente.

557
A LIBERTAÇÃO DA MULHER ANALFABETA NO BRASIL ATRAVÉS DA EDUCAÇÃO POPULAR

PAULA SIMONE BUSKO.


UNISANTOS, SANTOS - SP - BRASIL.

No Brasil de hoje, a condição da mulher excluída, sobretudo na educação, tem sido palco de discussões,
desde os meios acadêmicos em seus vários campos do saber até no que diz respeito às políticas
públicas, porém, ainda de maneira tímida, caminhando na medida em que as pesquisas voltadas para o
gênero trazem à tona novos sujeitos, enfatizando a importância da representação feminina nos meios
sociais. Esta comunicação, que faz parte de uma pesquisa em andamento, tem como objetivo dialogar
acerca de estudos e reflexões da condição da mulher brasileira, desprovida de condições financeiras,
sobretudo do aprendizado escolar, subjugada em seu meio, e de como esta mulher poderá se libertar,
através de uma educação popular, conforme Dussel. O trabalho será dividido em duas partes, a primeira
objetiva a preocupação de Dussel com o ser oprimido, neste caso a mulher pobre e analfabeta, como ele
a vê, através de sua Exterioridade, e não do ponto de vista da Totalidade do meio, porque sucedendo de
forma totalitária a libertação desta mulher, na luta pelo aprendizado, poderá ocorrer de maneira
limitada, neopragmática, negando toda uma realidade racional existente. Cabe aqui a citação de ações
comunitárias que se justificam por si mesmas, espaços de consciência e de respeito por esta mulher,
indispensáveis para o crescimento de suas práticas sociais, livres e criativas. Na segunda parte, o
trabalho visa evidenciar que determinadas representações da mulher são construções culturais e
históricas, muitas vezes vistas por elas como algo natural. Neste intuito, o pesquisador não poderia
pautar suas pesquisas sem entender tais modelos impostos e sem a convivência com esta mulher,
dentro das ações comunitárias propostas e da educação popular. Dessa forma, o trabalho enfatiza que
só haverá entendimento do que seja um determinado estudo sobre esta mulher brasileira desvalida de
recursos educacionais, se esta for vista enquanto sujeito em busca de sua libertação, e não como um
objeto de estudo de uma simples “reflexão” externa, e isto só é possível através de uma presença
prática concreta do pesquisador na relação imediata do face-a-face, o que para Dussel é o ponto de
partida da libertação. A metodologia utilizada, inicialmente, será um levantamento bibliográfico
identificando historicamente os movimentos em favor da mulher no século XX. Será utilizada também a
história oral, com entrevistas em grupos de mulheres analfabetas ou em fase de alfabetização, e de
como elas entendem a sua inserção na educação. Para concluir será importante identificar questões que
se fazem surgir no próprio campo da pesquisa reconhecendo o avanço de estudos desta relação mulher
pobre-educação popular no Brasil, somente assim esta mulher terá chance de expressar a sua voz.
1028

124
A ORIGEM DA EDUCAÇÃO ÁRABE NO PARANÁ

WANESSA STORTI.
UFPR, CURITIBA - PR - BRASIL.

Esse trabalho trata dos quatro anos de existência da Escola Islâmica do Paraná, fundada em 1969, em
Curitiba. A escola possui relação direta com imigrantes árabes muçulmanos que, ao chegarem ao Brasil,
sentiram necessidade de continuar a divulgar sua cultura e religião. Durante os seus anos de existência,
houve o crescimento da fé muçulmana no Estado, substituindo-se a escola pelo local de culto desses
fiéis, a mesquita. A importância do trabalho reside, também na compreensão do papel desta etnia à
sociedade curitibana, além de divulgar e problematizar a maneira como a cultura escolar, entendida por
Forquin (1993), Faria Filho (2007), Viñao Frago (2000), acontece em uma instituição particular islâmica
que se fundamenta na manutenção dos valores e costumes trazidos pelos antepassados. Existem
contribuições sociais e históricas que o estudo pode trazer como um maior conhecimento da cultura
árabe e da história da educação no estado. O termo árabe muçulmano remete aos imigrantes
praticantes do Islamismo que chegaram ao Estado do Paraná na metade do século XX. A relação entre a
chegada dos imigrantes árabes e a fundação e manutenção da escola auxilia na compreensão da
instalação da etnia na cidade de Curitiba. A fundação da Sociedade Beneficente Muçulmana do Paraná
teve um grande impacto para a estruturação dessa instituição de ensino. Mesmo sendo essa imigração
estatisticamente pequena comparando-se com a chegada de outras etnias, os “turcos” construíram suas
raízes na capital do Paraná. A Escola Islâmica do Paraná, segundo os registros, estava apta para oferecer
ensino primário. A partir de março de 1971, criou-se o Ginásio Muçulmano Nossa Senhora de Fátima,
com atividade no ensino secundário. O nome revela a tentativa de integração da comunidade na capital
paranaense, como uma sincronia das duas religiões. A pretensão, então, não é somente relatar os
acontecimentos e marcos importantes da escola, mas sim interpretá-los. É como tornar presente o que
está ausente, uma presentificação do passado. (WERLE, 2004). Isso ocorre através da análise dos ritos,
das histórias, dos símbolos educacionais que servem como indícios para o relato da escola. Para
Magalhães (1999, p. 68), “a instituição educativa constitui, no plano histórico, como no plano
pedagógico, uma totalidade em construção e organização, investindo-se de uma identidade.”. As fontes
utilizadas foram em sua maioria os documentos escolares arquivados na instituição de ensino, além de
jornais da época e fotografias de acervos particulares de ex-alunos.

772
A REVISTA “O PEQUENO LUTERANO” NAS ESCOLAS PAROQUIAIS LUTERANAS NO RS- 1930-1960

PATRICIA WEIDUSCHADT.
UNISINOS, PELOTAS - RS – BRASIL.

O objetivo deste artigo é analisar a influência da revista “O Pequeno Luterano” nas escolas paroquiais
orientadas por uma instituição luterana, o Sínodo de Missouri. Esta revista foi editada pelo Sínodo, atual
Igreja Evangélica Luterana do Brasil, em 1931 em alemão gótico, sendo que, em 1939 com a
nacionalização do ensino começou a ser editada em português até 1966. A igreja do Sínodo de Missouri
foi instalada em 1900 na região meridional do estado do RS entre pomeranos e sua expansão se deve ao
grande investimento nas escolas e material impresso às jovens e crianças. Através da análise da revista,
percebemos que este material previa orientações doutrinárias, religiosas e de conhecimento geral, além
de entretenimento para colaborar na educação das crianças. A ênfase doutrinária estava presente em
textos que enfocava explicações bíblicas, do catecismo, e da vida biográfica de Lutero, com grande
aprofundamento, pressupondo, assim, que seria necessário o auxílio do professor para as crianças
leitoras entender os artigos. Podemos afirmar que os professores das escolas usavam a revista como
auxílio didático, e, também, como um manual a seguir durante o ano letivo. Em todos os anos da revista
ela seguia um cronograma de temas que coincidiam com as festas religiosas: ano novo, páscoa,
pentecostes, dia da reforma protestante e natal. Do mesmo modo as datas cívicas e nacionalistas
também obedeciam a uma seqüência de fatos organizados durante o ano: Dia de Tirandentes, Dia da
Independência, Dia da Proclamação da República. Os leitores infantis também se comunicavam com a

125
edição da revista, em sua maioria, identificados como alunos das escolas, relatando a sua escola e
práticas. A edição, diversas vezes, pede auxílio para os professores expandirem as assinaturas entre os
seus alunos, também apelam para os leitores nas dificuldades de poucas assinaturas fazer propaganda
entre os colegas de classe. A revista reforça as práticas de uma cultura escolar específica nos seus
leitores/ alunos, como decorar passagens bíblicas, maneiras e condutas de comportamento na escola e
na igreja. Assim, estaremos apoiando esta análise nos estudos de Chartier ao analisar o impresso, sua
circulação e edição como parte de um processo de construção entre leitores, editores e escola .Por isso,
evidencia-se uma interrelação entre as orientações da revista e as práticas escolares e religiosas neste
contexto. Este artigo faz parte de pesquisa em andamento dos estudos de doutoramento em educação
e ainda precisa aprofundar as análises da revista.

690
AGÊNCIA POPULAR NA OPÇÃO PELA NÃO ESCOLARIZAÇÃO NAS PROVÍNCIAS DE SÃO PAULO E DO
PARANÁ EM MEADOS DO SÉCULO XIX

FABIANA GARCIA MUNHOZ.


FEUSP, RIO CLARO - SP - BRASIL.

Esta comunicação apresenta interpretações possíveis para casos de resistência à escolarização em


meados do século XIX. A presente análise constitui recorte de pesquisa de mestrado em andamento. A
intenção é problematizar as recorrentes queixas presentes em relatórios de inspetores gerais da
instrução pública e presidentes de província acerca do baixo número de alunos matriculados em
algumas aulas públicas de primeiras letras – no caso, das províncias de São Paulo e do Paraná. As
hipóteses foram construídas operando-se com as contribuições de Michel de Certeau e Edward Palmer
Thompson. A partir de fontes produzidas pelo poder – homens que ocupavam o cargo de inspetor da
instrução e de presidente da província – e por professores de primeiras letras buscou-se indícios do
conhecimento da população acerca do funcionamento institucional que se constituía e suas táticas para
fugir do controle governamental. A opção pela não escolarização é compreendida como agência
popular, ou seja, tática dos sujeitos no interior de um cenário mais amplo de relacionamento com as
diversas instituições políticas do Brasil Imperial – entre as quais a polícia, o exército, a judicatura de paz,
o júri e a magistratura togada. Cargos como o de juiz de paz e de jurado não eram remunerados e
exigiam que o ocupante soubesse ler e escrever, a partir de 1841. A matricula e frequência às escolas
públicas forneciam letrados para a burocracia que se constituía e, ao mesmo tempo, um instrumento de
controle para o governo conhecer quem eram os seus alfabetizados. As listas de alunos que os
professores de primeiras letras elaboravam com nomes, idades e filiação representavam instrumentos
de controle social do Estado sobre esta população, tal como ocorria no caso das listas de moradores
(maços populacionais) que eram utilizadas para as eleições e também para fins de recrutamento. Maria
Odila Leite da Silva Dias (1988) destaca a “resistência ao recrutamento” e a “deserção sistemática” tanto
no caso das polícias provinciais, quanto no da guarda nacional, e, “pior de tudo, para os
contemporâneos, era o exército de primeira linha considerado como castigo pela população mais pobre,
que o identificava, com razão, a trabalhos forçados” (DIAS, 1988, p. 69). Nesse sentido, trabalha-se com
a hipótese de que a opção pela não escolarização esteja relacionada com a resistência às várias
possibilidades de recrutamento no XIX e tenha motivações convergentes com as que suscitaram
movimentos de resistência ao registro civil e ao censo como o "Ronco das Abelhas ou guerra dos
marimbondos" que foram revoltas contra os decretos de 1851, que instituíam o “Censo Geral do
Império” e o “Registro Civil de Nascimentos e Óbitos”.

1067
ARTICULAÇÃO PUXIRÃO: MOVIMENTO SOCIAL DOS POVOS FAXINALENSES

126
EMANUEL MENIM.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ, CURITIBA - PR - BRASIL.

A proposta deste trabalho encaixa-se no eixo temático movimentos sociais e etnia, no sentido de que a
partir da História do tempo presente busca-se discutir a atuação de uma instituição não-formal de
educação. Estudamos a Articulação Puxirão dos Povos Faxinalenses, movimento social que organiza este
grupo étnico. A Articulação Puxirão objetiva articular e mobilizar as comunidades em prol da defesa e da
promoção de seus direitos étnicos e coletivos com vistas ao acesso e à manutenção de sua
territorialidade. Desde 2005 este projeto organiza oficinas nas comunidades paranaenses e forma
lideranças faxinalenses com o intuito de propiciar o conhecimento de instrumentos, bem como de
mecanismos jurídicos que possam ser utilizados na reivindicação dos direitos de diversas comunidades
faxinalenses existentes no Estado do Paraná. Deste modo, a expectativa é que se formem atores ativos
dos processos de construção e de intervenção de políticas públicas em nível federal, estadual e
municipal. Este é um projeto de educação não-formal, uma iniciativa do terceiro setor da
educação.Sobre a História geral dos faxinalenses, podemos dizer que sua formação social é
caracterizada pelo uso comum da terra tanto para a criação de animais quanto para o uso dos recursos
hídricos e florestais. Sofrem o agravamento da possibilidade de permanência em seus territórios onde,
há décadas, a agricultura convencional vem produzindo consequências como a descaracterização sócio-
ambiental notada pela desagregação do sistema faxinal e pela expulsão das famílias ou de parte delas
para os centros urbanos. O presente trabalho é resultado de pesquisa de monografia em conclusão.
Pesquisa-se especificamente o Faxinal do Salso, em Quitandinha/PR. A baliza temporal desta pesquisa
vai de 2005 até o presente momento, sendo que o marco inicial se refere a entrada da Articulação
Puxirão nesta comunidade. Os conflitos ali são com os chacareiros. Na ótica faxinalense o chacareiro é
uma pessoa aposentada que não depende da vida na cidade e que procura um pedaço de terra em meio
aos faxinais e, por não compreender o modo de vida faxinalense, cerca sua terra diminuindo a área de
reprodução dos animais criados a solta. Nesta comunidade a organização trouxe maior coesão ao grupo,
e eles estão mais informados sobre seus direitos e lutam por eles. A questão da territorialização sofreu
mudanças desde que a comunidade se organizou em movimento social e o conhecimento das leis
favoráveis aos povos e comunidades tradicionais mudaram as relações entre os faxinalenses,
chacareiros, polícia e autoridades locais. Uma questão importante desta comunidade agora é a
reconstrução da identidade étnica e dos costumes do modo de vida faxinalense. E é frente a estas
questões que a Articulação Puxirão tem se posicionado.

444
AS ASSOCIAÇÕES DE MÚTUO SOCORRO E SUAS ESCOLAS ÉTNICO-COMUNITÁRIAS ITALIANAS: A
CIRCULAÇÃO DE SABERES E AS CONFORMAÇÕES IDENTITÁRIAS

TERCIANE ÂNGELA LUCHESE.


UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL, BENTO GONCALVES - RS - BRASIL.

O presente texto é resultado parcial de pesquisa em andamento intitulada “O processo escolar na


Região Colonial Italiana, RS: as escolas étnico-comunitárias, 1875 a 1938.” Nesse artigo, o objetivo é
apresentar as iniciativas escolares criadas, mantidas e difundidas pelas Associações de Mútuo Socorro
da Região Colonial Italiana do Rio Grande do Sul. Essa Região corresponde às primeiras três colônias
ocupadas predominantemente por imigrantes italianos: Colônia Caxias, Conde d’Eu e Dona Isabel. A
análise abrange o final do século XIX e início do século XX, momento em que houve maior participação e
importância desta forma de escolarização, sistematizada pelas diversas associações – rurais e urbanas.
Na análise são privilegiadas as atuações das seguintes Associações: Sociedade Italiana de Mútuo Socorro
Regina Margherita (fundada em 1882) no atual município de Bento Gonçalves; Sociedade Italiana Stella
d’Itália (1884) criada em Garibaldi; e Sociedade Príncipe de Nápoles (1887) de Caxias do Sul. Os nomes
das sociedades lembram algum herói italiano ou membro da Casa Real da Itália. Dentre as diversas
funções das sociedades estava a intermediação e preservação dos laços com a pátria de origem através
de festividades cívicas – italianitá, assim como assumiram a organização de diversas escolas subsidiadas

127
por materiais e mesmo professores provenientes da Itália. Constituíram-se, também, em espaços de
auxílio mútuo em caso de doença, morte ou sinistro de seus sócios. Buscavam difundir o sentimento de
italianidade com a comemoração das datas nacionais italianas, o culto à memória da família real e dos
heróis da península, bem como campanhas para a arrecadação de donativos enviados para a Itália.
Dentre os questionamentos que orientam a pesquisa e são destacados no texto podemos elencar:
Quem ensinava? Em que locais? Quais os conhecimentos privilegiados? Quais os suportes materiais
utilizados? Que conformações identitárias produziram? As “escolas italianas” foram consideradas
importantes na manutenção da língua e do culto da Itália como a pátria dos filhos dos imigrantes.
Tiveram atuação efetiva nesse sentido? Orientada pelos referenciais teóricos da História Cultural e
utilizando a análise documental de fontes historiográficas diversificadas como fotografias, materiais
didáticos, livros, correspondências, estatutos, relatórios de cônsules e agentes consulares, o artigo
privilegia a análise desta iniciativa ímpar de organização escolar, procurando contribuir para o
conhecimento da história da educação brasileira.

508
AS ESCOLAS ITALIANAS DAS SOCIEDADES DE MÚTUO SOCORRO EM CURITIBA: INSTRUIR A INFÂNCIA E
FORTALECER A IDENTIDADE ÉTNICA.

ELAINE CÁTIA FALCADE MASCHIO.


UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ, COLOMBO - PR - BRASIL.

O objetivo deste trabalho é analisar as iniciativas escolares junto as Sociedades Italianas de Mútuo
Socorro em Curitiba no final do século XIX e início do século XX. Busca compreender como essas
instituições empenharam-se na organização de escolas que contribuíram para a instrução da infância e
para o fortalecimento a identidade étnica, através da disseminação do sentimento de italianidade.
Procura identificar os sujeitos que fizeram parte daquele processo de escolarização, as práticas, as
relações de poder e os primeiros impactos da nacionalização. As sociedades de mútuo socorro eram
associações formadas por imigrantes e descendentes e objetivavam prover os seus membros com
auxílio financeiro em caso de necessidade. Além disso, essas instituições buscavam fortalecer os
vínculos entre os emigrados e a pátria de origem. Portanto, desempenhavam funções previdenciárias e
sindicais, oferecendo assistência aos trabalhadores operários, ou agiam como agremiações que
executavam ações para a manutenção da identidade do grupo, como celebrações de datas festivas
italianas, apresentações culturais e atendimento educacional em língua italiana. Em Curitiba, das 10
sociedades italianas de mutuo socorro criadas no ínterim dos anos de 1883 a 1916, três delas tinham em
seu escopo o atendimento educacional da infância conflagrando o fortalecimento da identidade étnica:
a Società Italiana di Beneficenza Giuseppe Garibaldi (1883), a Società Italiana Dante Alighieri (1896) e a
Società Italiana di Mutuo Soccorso Cristoforo Colombo (1905). Neste sentido, o recorte temporal
abrange os anos que assistiram a criação da primeira e da última sociedade italiana em Curitiba. A partir
do ano de 1916 iniciaram-se as primeiras ações de nacionalização do país, confluindo para a formação
do estado-nação. As sociedades organizadas pelos estrangeiros sofreram forte fiscalização, tendo que
realizar mudanças na organização mutual. Na tentativa de compreender as iniciativas escolares dessas
instituições e sua atuação na conformação da identidade étnica, foram privilegiados documentos como:
Registros Cartoriais, Estatutos das Sociedades, Jornais, Ofícios, Requerimentos e Relatórios das
autoridades do Ensino Paranaense. O diálogo historiográfico contemplou autores que tratam desde a
imigração italiana, até autores que abordam a historiografia educacional brasileira, os quais
contribuíram para entender o processo de imigração e escolarização no Brasil e no Paraná. Esta
pesquisa, ainda em andamento, está inserida em uma dimensão teórica e empírica mais ampla junto ao
processo de doutoramento em realização e procura incluir-se nas discussões do eixo temático Etnias e
Movimentos Sociais.

658
CHICO REI CLUBE: CONTRIBUIÇÕES PARA A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DOS NEGROS EM POÇOS DE
CALDAS, MG (1963-1995)

128
1 2
FERNANDA MENDES RESENDE ; GABRIELA CAMARGO SCASSIOTTI .
1.FEUSP, POCOS DE CALDAS - MG - BRASIL; 2.PUC MINAS CAMPUS POÇOS DE CALDAS, POÇOS DE
CALDAS - MG - BRASIL.

Este trabalho apresenta os resultados parciais de pesquisa sobre a história da educação dos negros e
formação da cultura negra em Poços de Caldas, cidade situada no sul de Minas Gerais. O trabalho
enfatiza a história do Chico Rei Clube – hoje Centro Cultural Afrobrasileiro Chico Rei – um clube para
negros, e suas contribuições para a comunidade negra local, buscando compreender as ações deste para
o reconhecimento da cultura afrobrasileira entre 1963 – fundação do Chico Rei Clube por dezoito casais
negros e alguns casais da elite branca poçoscaldense, com o intuito de organizar atividades de lazer para
a população negra de Poços – e 1995 – ano de uma importante comemoração planejada pelo Clube, que
marcou uma época de cisões e mudanças na diretoria. A motivação inicial para a pesquisa surgiu a partir
da percepção de que havia, na sede do Centro Cultural, uma significativa quantidade de material
guardado de forma bastante desorganizada, que pode ser utilizado como valiosas fontes para a história
e recuperação da memória do Chico Rei Clube. Realizamos um levantamento inicial de todo o material
encontrado no porão da sede do Centro Cultural, e em seguida demos início à catalogação deste
“arquivo”. Jornais, discos de vinil e fantasias utilizadas nas ocasiões festivas foram catalogados. Em
seguida, realizamos entrevistas com as pessoas que participaram de forma direta das atividades do
Chico Rei Clube entre 1963 e 1995, como, por exemplo, diretores, associados e usuários das atividades
oferecidas pelo Clube. Paralelamente, analisamos documentos oficiais, incluindo atas de reuniões, e
fotografias que se encontram com as pessoas que participaram das diretorias do Clube. Para analisar
todos os movimentos históricos do Chico Rei Clube, foi necessário estudar e compreender a chegada
dos negros no Brasil, a diáspora, a escravidão, o extravio da cultura e costumes, a apropriação da cultura
branca como meio de participação na sociedade, o mito da democracia racial, a educação dos negros
nos séculos XIX e XX, e outras questões relacionadas à história do negro no Brasil. As análises levam em
conta a formação, bastante específica, da sociedade sulmineira, especialmente a poçoscaldense, de
maioria de imigrantes italianos e poucos descendentes africanos, como já foi debatido por Marcus
Vinicius Fonseca (2009). Como referencial teórico básico utilizamos Kabengele Munanga (2009), Marcus
Vinicius Fonseca (2002 e 2009), Nilma Lino Gomes (2006), Ana Canen (2001), Luiz Alberto Gonçalves
(2002), entre outros.

1047
DAS ALAGOAS ÀS GERAIS: NORDESTINAS MIGRANTES E ESCOLARIZAÇÃO NO PONTAL MINEIRO (ANOS
1950-1960)

DAIANE DE LIMA SOARES SILVEIRA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA, ITUIUTABA - MG - BRASIL.

O presente trabalho é resultado parcial da pesquisa em desenvolvimento “Das Alagoas às Gerais:


Migrantes Nordestinos e Escolarização no Pontal do Triângulo Mineiro (anos 1950 a 2000)”, apoiada
pelo CNPq, que tem como objetivo central estudar os fluxos migratórios nordestinos para o município
de Ituiutaba e seus reflexos no sistema de ensino. Apresentamos problematização inicial, enfocando as
décadas de 1950 e 1960, quando analisamos a “chegada das massas” à rede escolar local, com a
progressiva elevação do acesso à escolarização, desencadeada, sobretudo, com os fenômenos da
industrialização e urbanização, tentando vislumbrar como se deu a inserção e permanência das
mulheres migrantes nesses espaços institucionais. Eleger esse grupo como objeto tem relação com a
pouca visibilidade da presença das nordestinas no município, já que os estudos existentes sobre
migração, priorizaram o trabalhador rural, por representar a maior parte dos migrantes. Estudar a
escolarização das migrantes nordestinas em Ituiutaba-MG permite-nos refletir sobre o papel social
desse grupo, colaborando para o entendimento da história sobre o feminino na região. Uma
especificidade encontrada na pesquisa foi a observação de que, enquanto os meninos – filhos dos
migrantes – deveriam colaborar com o sustento das famílias o que dificultava sua permanência na
escola e muitas vezes o próprio acesso a cultura letrada, as filhas eram, na medida do possível,

129
incentivadas a iniciar e concluírem os seus estudos. Do grupo de entrevistadas, três chegaram ao nível
superior, uma concluiu o ensino fundamental, e outras duas apenas o primeiro ciclo desse ensino (4a.
série). Entretanto, havia obstáculos para as migrantes se manterem nas escolas em função das
dificuldades cotidianas decorrentes de sua condição social, acentuadas pelas diferenças culturais. É
possível apontar, a partir desses dados e também nos apoiando em Motta (2010), que há uma
ressignificação do “dote intelectual” no novo espaço (Pontal Mineiro), o qual justifica o estímulo à
entrada da filha mulher no âmbito escolar, invertendo as estatísticas quando comparadas as do local de
origem - o Nordeste do país, que nos anos de 1950 e 60 tinha número elevado de mulheres fora da
escola, superior ao da população masculina. A expansão das escolas públicas na cidade nesse período,
também contribuiu para a escolarização dessas mulheres, mas acreditamos ser possível afirmar a
existência do dote como instrução (ABRANTES, 2010), ou seja, um mecanismo encontrado pelas famílias
migrantes, para ampliar as possibilidades de estabilidade econômica no novo destino, porém, o acesso à
escola pode ser visto também como uma forma de “dotar” intelectualmente essas mulheres,
contribuindo para sua emancipação.

730
DE SELVAGEM A EDUCADO: TRAJETÓRIA ECUCACIONAL DE CRIANÇA INDÍGENA NO FINAL DO SÉCULO
XIX

ANA PAULA DA SILVA XAVIER.


UFMG, CUIABA - MT - BRASIL.

Esta comunicação tem por objetivo discutir a experiência educacional de “Piududo” – Guido –, menino
indígena da etnia Bororo que viveu no final do século XIX. Essa investigação inseri-se em uma pesquisa
maior, desenvolvida junto ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de
Mina Gerais (UFMG), a qual busca estudar a história da escolarização da infância em Mato Grosso, no
século XIX. Nesta comunicação, inicialmente, busca-se discutir o Projeto de educação para população
indígena de Mato Grosso, tendo por base o Regulamento das Missões e Catequese de 1845 que esteve
em vigor em todo o império brasileiro, bem como os relatórios de presidentes de província e inspetores
da instrução pública mato-grossense. Num segundo momento, a escala de observação é verticalizada,
passando a focalizar a trajetória educacional de “Piududo”, um menino indígena da etnia Bororo que foi
retirado do convívio natural do seu grupo étnico e levado à Cuiabá para ser criado pelo Presidente da
Província de Mato Grosso, Coronel Rafael de Mello Rego e sua esposa, Maria do Carmo de Melo Rego.
Essa trajetória individual é traçada por meio de relatos do tipo memorialista, escritos por viajantes e
pessoas que estiveram ou habitaram em Mato Grosso, em especial, os redigidos pela própria Maria do
Carmo de Mello Rego, mãe de criação do menino – batizado como “Guido” – que após a morte do
mesmo, escreveu diversos relatos que apresentam descrições relativas aos costumes da etnia bororo e
dos moradores da cidade de Cuiabá, bem como visões de mundo em relação ao modo de vida do
menino indígena em seu grupo de origem e da educação vivencia junto às regras dos “civilizados” da
cidade. Nesse estudo, a analise das relações estabelecidas entre trajetória individual e relações com os
grupos sociais e étnicos possibilita compreender as múltiplas dimensões de deslocamento dos sujeitos
na sociedade da época. No caso de Guido, sua trajetória educacional não pode ser tomada como
representação de uma experiência coletiva dos diferentes grupos indígenas de Mato Grosso ou até
mesmo da própria etnia Bororo. Entretanto, a singularidade da trajetória desse menino indígena
contribui para dar visibilidade aos índios enquanto sujeitos históricos integrantes do processo de
escolarização do século XIX, em Mato Grosso, ao trazer a tona, a entrada de crianças indígenas em
escolas de primeiras letras, assim como possibilita pensar na configuração de diferentes espaços e
estratégias educacionais paralelas ao Projeto de educação para os índios desse período histórico.

1135
DIVERSIDADE ÉTNICO-CULTURAL NA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO RECENTE 1996 – 2008: UM ESTUDO
DESDE O ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO

130
1 2
ROSA LYDIA TEIXEIRA CORREA ; SIMONE TOLONI OLIVEIRA .
1.PUCPR, CURITIBA - PR - BRASIL; 2.PUC, CURITIBA - PR - BRASIL.

Este trabalho traz resultado parcial de uma pesquisa que se encontra em andamento, em nível de
mestrado. O principal objetivo é estudar a diversidade étnico-cultural existente entre alunos do ensino
fundamental e médio de uma escola localizada na cidade de Amambaí, estado do Mato Grosso do Sul,
na história recente. Trata-se, analisar as representações (Chartier 1996), sobre diversidade étnico
cultural, considerando dois tipos de fontes: legais e listas de alunos. Do ponto de vista legal, a etnicidade
está sendo analisada no âmbito da diversidade cultural no sentido de entender como ela é
representada, nos parâmetros curriculares nacionais, na Lei 9394/93, e nas legislações subseqüentes
como, tais como: a lei 10.639/2003 que inclui nos currículos do ensino regular a obrigatoriedade do
ensino de história e cultura afro-brasileira. Em listas de alunos, por meio de registro nomes, onde a cor
dos mesmos está registrada ao lado de nomes e sobrenomes. Metodologicamente este estudo é
orientado pela abordagem da história cultural (Chartier, 1996), que entende ser a realidade lida,
interpretada, para então se construir, elaborar compreensões sobre ela. As representações resultam de
percepções que os grupos constroem sobre o social e que não se constituem de modo algum em
construções neutras. Elas produzem estratégias e práticas sociais e escolares que tendem a impor
formas de poder e dominação. Dados preliminares obtidos das listas nominais apontam para a
existência de alunos que, sob o prisma étnico estão situados dentro das seguintes categorias: negros,
pardos, indígenas e brancos. Esta é uma particularidade que embora genérica nos permite
problematizar sobre o seu significado, considerando o fato de que são categorias socialmente
construídas (D’Assunção, 2007). Da perspectiva legal, embora as últimas legislações demonstrem
avanços em termos do trato da diversidade e, em particular com as questões de natureza étnica,
genericamente falando, elas ainda devem ser tratadas nos currículos escolares do ensino fundamental
de modo transversal. Por outro lado, não podemos perder de vista que a diversidade cultural enquanto
temática geral curricular e seus desdobramentos e, entre eles a questão étnica decorrem de conquistas
de direitos historicamente conquistados no interior dos movimentos sociais no Brasil em particular.

774
EDUCAÇÃO DA MULHER E MESTIÇAGEM NA PROVÍNCIA DO GRÃO-PARÁ (1831-1889)

SÔNIA MARIA ARAÚJO.


UFPA, BELEM - PA - BRASIL.

Esta pesquisa tem como objeto de investigação a relação entre educação para a mulher e mestiçagem
na Província do Grão-Pará, no período do Império no Brasil, mais precisamente no 2º Reinado, portanto,
abrangendo o período de 1831 a 1889. As questões que lançamos nesta investigação são: no contexto
da educação da mulher na Província do Grão-Pará, na transição do Império para a república no Brasil, já
se manifestavam práticas raciais? De que maneira a mestiçagem, e todas as questões raciais que a ela
circundavam, aparece na educação da mulher na Província? Objetiva-se com a pesquisa compreender,
por meio da análise de documentos governamentais, relações entre a educação da mulher na Província
do Grão Pará e a questão da miscigenação, nos anos de 1831 a 1889, de modo a acrescentar ao debate
da educação para a mulher no território do Império do Brasil as tentativas de, por meio da educação,
eliminar traços degenerescentes herdados da raça indígena. Considerando que a formação étnica do
norte do Brasil, predominantemente indígena, era associada à degenerescência e à selvageria, conforme
as teorias raciais largamente expandidas nas representações das elites brasileiras, formadas nos colégios
da Europa, especialmente de Portugal, país altamente patriarcal e católico, torna-se premente analisar
as relações que podem ser estabelecidas entre a educação da mulher na Província do Grão-Pará e a
questão da mestiçagem. Prioritariamente, utilizamos fontes governamentais, como documentos
publicados pelos presidentes da Província e legislação criada. A princípio, identificamos que no Grão-
Pará, região considerada terra de índio, a questão racial forneceu elementos diferenciados sobre a
educação da mulher no cenário nacional, que vai receber um tratamento mais contundente no início da
República. Os resultados preliminares indicam que a educação para a mulher no Grão Pará oferece ao

131
campo da História da Educação dados para reflexão que ampliam o debate nacional sobre a educação
no país para além da formação feminina como cópia do modelo de educação processada no Ocidente
europeu, especialmente da França. No caso particular da Província do Grão-Pará, a política de educação
para a mulher tinha especialmente como objetivo principal subliminar a superação de traços
degenerescente provindos da herança racial indígena. Considerada incapaz de educar os filhos para a
formação da nação independente, moderna e soberana, a mulher mestiça do norte precisava ser
educada para superar a moral degrada que conduzia suas práticas sociais.

1025
EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: AS AÇÕES PEDAGÓGICAS DO MOBRAL EM PATOS DE MINAS/MG
(1971-1979)

LENI RODRIGUES COELHO.


UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS, TEFE - AM - BRASIL.

Diante de tantas campanhas acerca da alfabetização de adultos, criadas e extintas no Brasil criou-se em
1967 o Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL). Esta pesquisa é fruto da dissertação de
Mestrado em Educação defendida em 2008 no Programa de Pós-Graduação na Universidade Federal de
Uberlândia. Os resultados obtidos são importante uma vez que preenche lacunas no vazio
historiográfico, pois não tem-se estudos cientificos referente as ações do MOBRAL em Patos de
Minas/MG nesse contexto. Diante disso, surgiu a necessidade de compreender e analisar as
especificidades do MOBRAL como também suas influências em Patos de Minas entre 1971 e 1979,
período este em que o movimento se estruturou como instância política e pedagógica da qual
objetivava erradicar o analfabetismo. O MOBRAL tinha como meta erradicar o analfabetismo em dez
anos de atuação já que o índice de analfabetismo da população se encontrava elevado. Dentre as fontes
deste estudo, são privilegiados o referencial teórico específico, os documentos oficiais, a história oral, os
anuários do IBGE de 1970 e 1980, os manuais pedagógicos e a imprensa local. O MOBRAL foi uma das
expressões político-educacionais do período da ditadura militar e a concepção, que o informava,
compreendia a educação como qualificação de mão de obra, e visava integrar a massa de analfabetos ao
processo capitalista. O MOBRAL foi um projeto de caráter ideológico-político, embora pretendesse ser
alfabetizador. Nesse sentido, pouco privilegiou os interesses democráticos em favor de uma parcela
significativa, a dos analfabetos. O MOBRAL em Patos de Minas não alcançou o objetivo central o de
erradicar o analfabetismo de adultos até 1980, pois os dados do IBGE mostram que neste período ainda
havia cerca de 23,7% de homens e 25,8% de mulheres sem escolaridade, índice este, considerado
elevado diante do discurso desenvolvido no decorrer da década de 1970 por este movimento. A análise
documental monstrau que a atuação do MOBRAL em Patos de Minas não foi eficaz no combate ao
analfabetismo e que o seu discurso oficial não condiz com as suas ações em termos práticos. Sua
proposta de educação era baseada nos interesses políticos do regime militar, por isso era necessário o
jogo ideológico, do qual pregava-se o discurso de que seus alunos saiam capacitados para o mercado de
trabalho, o que propiciaria a estes melhor qualidade de vida, além de prepará-los para o exercício da
cidadania. No entanto, sabe-se que dificilmente haveria a melhoria na renda da população carente, uma
vez que o modelo de desenvolvimento era excludente e concentrador de renda. O MOBRAL, partiu de
uma visão de mundo predeterminada, uma vez que seus objetivos eram previamente definidos não
dando oportunidade a população para discutir o caminho mais viável para executar o projeto.

1018
EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: MEB E MOBRAL NO PERÍODO DO REGIME MILITAR EM TEFÉ/AM
(1968-1975).

132
1 2
LENI RODRIGUES COELHO ; FABRÍCIO VALENTIM DA SILVA .
1.UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS, TEFE - AM - BRASIL; 2.UNIVERSIDADE FEDERAL DO
AMAZONAS, ITACOATIARA - AM - BRASIL.

O trabalho refere-se ao Movimento de Educação de Base (MEB)e o Movimento Brasileiro de


Alfabetização (MOBRAL) no município de Tefé/AM, sendo fruto dos resultados obtidos em pesquisa de
iniciação científica realizada entre julho de 2009 e julho de 2010. O tema é relevante como estudo
cinentífico, uma vez que tem a pretensão de minimizar as lacunas educacionais em âmbito regional e
local. Diante disso, surgiu a necessidade de compreender e analisar as ações pedagógicas dos
movimentos MEB E MOBRAL no período do regime militar, como também suas influências em Tefé
entre os anos de 1968 e 1975, já que neste período se desenvolveram com propósitos políticos,
pedagógicos e ideológicos distintos entre si. O MEB em Tefé foi instalado em 1964 com o intuito de
prestar serviços à população ribeirinha que se encontrava esquecida, bem como orientar e conscientizar
os indivíduos menos favorecidos do seu valor como ser humano. O MOBRAL em Tefé foi criado em
1976, através de comissões municipais com o objetivo de alfabetizar jovens e adultos que não tiveram
oportunidade de concluir seus estudos na idade própria. Acreditava que o indivíduo analfabeto
necessitava apenas das técnicas da leitura e da escrita para se capacitar para o mercado de trabalho. A
pesquisa foi fundamentada através de referencial teórico específico, documentos oficiais e história oral.
Diante da análise documental verificou-se que os movimentos enfrentaram dificuldades em comum,
como por exemplo: a falta de formação específica dos professores para lecionar, as comunidades mais
distantes eram desprovidas de escolas e energia elétrica, sendo o professor obrigado a lecionar em sua
residência que se encontrava em situação precária, a distância entre uma comunidade e outra, a
gratificação irrisória dos monitores do MEB, e a falta de pagamento aos do MOBRAL. Quanto aos alunos
percebeu-se dificuldades tais como: o trabalho pesado na agricultura, a fome, e a idade avançada
gerando assim um alto índice de evasão escolar. Apesar dos movimentos pregarem discursos com
princípios e métodos diferentes acerca da educação de adultos verificou-se que no período da ditadura
o MEB teve que redefinir suas ações pedagógicas para sobreviver ao golpe militar. Portanto neste
período os movimentos trabalharam juntos na alfabetização dos adultos, uma vez que estes
mantiveram convênios, sendo o MEB responsável pela educação funcional e o MOBRAL pelo pagamento
do salário dos monitores e a manutenção de materiais didáticos pedagógicos.

1330
EDUCAÇÃO DO CAMPO E MOVIMENTOS SOCIAIS

RAMOFLY BICALHO SANTOS.


UFRRJ, SEROPÉDICA - RJ - BRASIL.

É fundamental conhecermos os princípios desenvolvidos pelos movimentos sociais no que toca à luta
Por Uma Educação do Campo. Suas bandeiras, projetos, perspectivas e utopias. A formação política dos
trabalhadores e a valorização da consciência social são alguns dos desafios. Nesse sentido, a produção
do conhecimento pode ressignificar memórias, identidades e histórias vividas pelos sujeitos que se
articulam para superar a opressão e as diversas cercas do analfabetismo, da fome e a falta de projetos
emancipadores para/com o homem e a mulher do campo. Essa formação política, contextualizada
historicamente, pode contribuir para a reconstrução do passado, escavando memórias e
acontecimentos, recuperando documentos, fontes primárias e produzindo histórias críticas e contra-
hegemônicas. A produção do saber construído em parceria com os educandos/as, educadores/as, pais e
todos aqueles que, direta ou indiretamente, fazem parte dos movimentos sociais que lutam por suas
histórias, valores e reconhecimento, pode ser ressignificada, incentivando a implementação das
Diretrizes Operacionais Por Uma Educação do Campo. Essas experiências podem contribuir para a
gestação de embriões de democratização, socialização de poder, superação dos desafios, afirmação de
identidades e seres humanos preocupados com o fortalecimento do coletivo. Existe hoje nos espaços
formais e informais da produção do conhecimento, uma urgente necessidade de intervenção, com
reflexões que tenham por meta problematizar as dificuldades que possam ser apresentadas quanto às
questões teórico-metodológicas da educação do campo, na perspectiva crítica, dialógica e histórica. Essa
é uma pesquisa inicial financiada pela FAPERJ – Fundo de Apoio à Pesquisa no Estado do Rio de Janeiro,

133
com os seguintes objetivos: Conhecer o histórico da educação do campo no Brasil, compreendendo suas
possibilidades e limites de formação dos atores políticos que protagonizam os movimentos sociais;
Contribuir para a formação docente no contexto da educação do campo: o papel do educador na
seleção e organização dos conteúdos e os recursos didáticos utilizados; Conhecer experiências e práticas
de educação do campo desenvolvida pelos movimentos sociais no Brasil, dentre eles, o MST; Verificar
como se dão os processos de ressignificação dos novos caminhos do ensino e da pesquisa em Educação
do Campo e o desenvolvimento de práticas pedagógicas libertadoras no fazer em sala de aula. A
metodologia levará em consideração o percurso de um trabalho que se concretizará através do
levantamento de fontes, da análise crítica da documentação existente, de visitas às escolas públicas,
universidades, secretarias de educação e bibliotecas. Os diversos atores da sociedade civil – igrejas,
partidos, movimentos sociais e sindicatos dialogaram com a metodologia da história oral, num estreito
contato com os projetos de Educação do Campo. Assim, o eixo temático que nos propomos para essa
comunicação é Etnias e Movimentos Sociais.

1299
EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE ÉTNICO-RACIAL: A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE ENTRE
AFRODESCENDENTES E DESCENDENTES DE ALEMÃES EM SÃO PEDRO DE ALCÂNTARA/SC

CINTIA TULER SILVA.


UFSC, FLORIANÓPOLIS - SC - BRASIL.

Este trabalho é parte de uma pesquisa que vem sendo desenvolvida junto ao Programa de Pós-
Graduação em Educação, nível de Mestrado, na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), sob o
título “Negros em São Pedro de Alcântara (SC): os processos educativos e a formação da identidade de
afrodescendentes na segunda metade do século XX”. Comesta pesquisa objetiva-se analisar como os
processos educacionais, desenvolvidos no município de São Pedro de Alcântara, contribuíram (ou não)
para a construção da identidade étnico-cultural da população de origem africana, haja vista São Pedro
de Alcântara ser um município fundado por alemães e ter a predominância de seus descendentes até a
atualidade. Neste trabalho, tomou-se a memória como principal aporte teórico-metodológico. Ou seja,
por meio das falas/memórias, busca-se compreender como se deu a construção dos espaços de
sociabilidades, das questões identitárias, de gênero, os conflitos interétnicos, enfim, o conjunto de
representações acerca da pluralidade cultural. A educação escolar transmite a cultura, assim, algumas
vezes se reserva o direito de dizer o que é cultura e o que deve ser estudado. As definições de cultura e
sua aplicação ao conhecimento ficam dificultadas pelas ideologias que cercam o assunto. No trato dado
ao universal desaparecem as especificidades, ficam as categorias gerais, que fundamentam o
etnocentrismo. A cultura costuma ser percebida pela educação, de um modo geral como aquilo que
temos a capacidade de registrar e compreender. Uma maneira de superar esta postura é o relativismo
cultural. As relações estabelecidas dentro e fora do ambiente escolar influenciam no processo de
construção de identidades e na representação que esses indivíduos tem de si mesmos. Afinal, as
trajetórias sociais e educacionais da população afrodescendente e da população imigrante alemã foram
afetadas pelas condições materiais de ingresso dos dois grupos e pelas oportunidades efetivamente
oferecidas a um e a outro de conservar e vivenciar as suas referências culturais e religiosas. É
importante perceber como se estabeleceram as relações e a participação destes diferentes grupos
étnicos na construção das propostas curriculares das escolas. Buscando compreender a dinâmica das
relações multiétnicas no âmbito do cotidiano escolar, e a implicação destas na formação das
identidades, serão consultados os gestores dos processos educativos do município de São Pedro de
Alcântara, os educadores e os estudantes. A etnografia também marca a construção de sentidos neste
trabalho. Entendendo que a compreensão é também uma interpretação, o reavivamento da memória
contribui para a compreensão da realidade historicamente construída.Esta pesquisa pode representar
uma ferramenta na proposição de uma educação que promova o respeito mútuo e o reconhecimento e
valorização das diferenças.
603
EDUCAÇÃO FAMILIAR: OS VALORES TRANSMITIDOS PARA AS CRIANÇAS REMANESCENTES INDÍGENAS
DA COMUNIDADE DE ALDEINHA DE MISSÃO DO SAHY, BAHIA

134
1 2 3
MARIA GLORIA DA PAZ ; TATIANE PATRICIA DA S. SANTOS ; VALÉRIA MACEDO GONÇALVES .
1.UNIVERSDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB, SENHOR DO BONFIM - BA - BRASIL; 2.UNIVERSIDADE DO
ESTADO DA BAHIA, SENHOR DO BONFIM - BA - BRASIL; 3.UNVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA, SENHOR
DO BONFIM - BA - BRASIL.

O presente estudo tem por objetivo investigar como é que são transmitidos os valores culturais pelos
familiares das crianças remanescentes indígenas da comunidade da Aldeinha de Missão do Sahy. Sabe-
se que muitas histórias sobre índios são contadas e vão desde as transmitidas em livros didáticos até as
contadas por pessoas comuns e todas elas têm em comum a mesma premissa: a tentativa de retratar a
cultura desses povos; o que se torna algo de grande complexidade, em virtude de serem vários grupos e
cada um deles ter vivências diferenciadas. Boa parte dessas história, contadas nos livros didáticos e nos
romances de Literatura Brasileira, mostram o índio belo, sedutor, com penachos, de tanguinhas,
cultuando seus deuses, sempre arredios, ignorantes, fazendo a dança da chuva e emitindo sons de
uhuhuh, como no cinema americano. A Missão de Senhora dasNeves do Sahy, situada no Município de
Senhor do Bonfim, no Território do Piemonte Norte do Itapicuru; foi instalada por volta de 1697 ao sopé
do monte Tabor, pelos Padres Franciscanos da Ordem Menor. Atualmente é uma comunidade
remanescente com uma população aproximada de 3.000 habitantes, possui um núcleo comunitário
conhecido como Aldeinha ou Tribo; este local concentra em torno de 10 famílias, todos parentes, que
tem como principal fonte de renda o artesanato de cipó. O trabalho artesanal desse povo é passado de
geração em geração, tanto os adultos como as crianças e jovenstrabalham nesse processo. Os
matrimônios geralmente acontecem entre os próprios primos, para que não se percam os laços
sanguíneos e caso aconteça de um membro do grupo casar-se comuma pessoa de outra familia,deverá
residir em outro espaço, fora da Aldeinha. Com base nessa argumentação, nos surgem alguns
questionamentos: quem é o remanescente indígena da Aldeinha? Como é que são transmitidos os
valores culturaispara ogrupo?Como é a atuação da família da Aldeinha no processo de transmissão e
preservação dos valores? Como é que se dá essa transmissão para as crianças remanescentesda
Aldeinha em Missão do Sahy?

1215
EDUCAÇÃO INDÍGENA PARA O TRABALHO (1860 – 1889)

ADRIANE PESOVENTO PESOVENTO; NICANOR PALHARES.


UFMT, CUIABÁ - MT - BRASIL.

Estuda-se a educação indígena voltada para o trabalho, pratica comum entre os anos de 1860 e 1889. O
recorte temporal justifica-se devido à recorrência desse modelo no período, assim como a difusão de
argumentos em torno da necessidade de preparar os diversos grupos indígenas para o mundo do
trabalho na perspectiva ocidental, diante do que é entendido como nascimento da “modernidade” em
Mato Grosso. Para problematização do tema pesquisado foram discutidas as expressões "civilização e
barbárie", termos recorrentes nos documentos consultados e que naquele contexto estavam
relacionados a possibilidade de incorporação dos indígenas aos anseios da sociedade provincial. Entre os
autores que fundamentaram a pesquisa destaca-se Hayden White que desconstrói e reconstrói os
conceitos de civilização e barbárie, o autor faz uma discussão profunda sobre a origem histórica das
expressões, o que foi muito útil para compreender o seu aparecimento nos discursos que tratam da
educação indígena. A perspectiva teórica de Roger Chartier que tem suas reflexões pautadas na
perspectiva da história cultural, assim como Francisco Falcon que trabalha na mesma linha da
perspectiva cultural permitiram compreender a articulação entre práticas e representações. A pesquisa
tomou como base dados empíricos coletados junto ao acervo do Arquivo Público do Estado de Mato
Grosso (APMT) e também ao Núcleo Regional de Documentação Histórica (NDHIR). Entre as fontes
consultadas destaque para os relatórios dos presidentes de província, dos chefes de polícia, do
ministério da agricultura, jornais, correspondências avulsas, correspondências da Diretoria Geral dos
Índios, entre outras. No decorrer da investigação foi possível constatar que mais do que instruir nas
primeiras letras, era necessário civilizar os índios, para tanto nada mais eficiente do que conformá-los ao
mundo do trabalho desde a infância. A educação seria a aliada mais fiel aos propósitos desejados. Na

135
tentativa de disciplinar os índios primeiro vinha a instrução voltada para aprendizagem de ofícios ou
para o desempenho de atividades domésticas, junto a isso, a catequese e num segundo momento as
tentativas de inserção dos mesmos na lógica produtiva do capital que nascia naquele contexto em Mato
Grosso. O trabalho apresentado insere-se nas discussões que vem sendo realizadas pelo Grupo de
Pesquisa Educação História e Memória (GEM) do Instituto de Educação (IE) da Universidade Federal de
Mato Grosso.

978
ESCOLARIZAÇÃO E MIGRANTES NORDESTINOS NO TRIÂNGULO MINEIRO (ITUIUTABA: 1950-1960)

SAULOÉBER TARSIO DE SOUZA; DAIANE DE LIMA SOARES SILVEIRA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA, ITUIUTABA - MG - BRASIL.

A presente comunicação é resultado parcial do projeto “Das Alagoas às Gerais: Migrantes Nordestinos e
Escolarização no Pontal do Triângulo Mineiro (anos 1950 a 2000)” que tem como objetivo central
estudar os fluxos migratórios nordestinos para o município de Ituiutaba e seus reflexos no sistema de
ensino. Entendemos os deslocamentos populacionais como fenômenos que afetam regiões por todo o
mundo, sejam na condição de geradoras ou receptoras de migrantes (DEMARTINI, 2008). Desde os anos
de 1950, a cidade tem recebido nordestinos que, no princípio, vinham dos estados do Rio Grande do
Norte e da Paraíba. Esses fluxos foram motivados pelo ciclo econômico baseado na cultura de grãos
(arroz, milho, etc), e os nordestinos que aqui chegavam, buscavam as “oportunidades ilimitadas” no
novo “Eldorado Brasileiro” (nos anos de 1950, Ituiutaba foi denominada “Capital do Arroz”, em duas
décadas sua população aumentou em mais de 40%). Posteriormente, o fluxo de alagoanos tornou-se
predominante, de maneira que ainda hoje, todos aqueles que carregam o sotaque do Nordeste são
classificados como “os alagoanos”, população marginalizada a partir de critério cultural, constituindo-se
em massa indistinta diante da população. Pertencer ao grupo de migrantes nordestinos significou (e
significa) portar elemento de diferenciação social o que implica perceber-se como tal e se reorganizar na
vida comunitária. Assim, nossa proposta é apresentar resultados parciais da investigação sobre as
práticas sociais advindas do processo de reconfiguração desses sujeitos nos novos espaços, em especial,
nas escolas onde alguns deles se inseriram. Como as instituições escolares lidavam com o fenômeno do
migrante? Qual a relação estabelecida entre mineiros e nordestinos no interior da sala de aula? Que
estratégias os migrantes construíam para lidar com o preconceito e a exclusão nesses espaços
institucionais? Essas são algumas das questões que procuramos responder com o objetivo de melhor
visualizar a inserção desse grupo na dinâmica social local. Portanto, nosso esforço é no sentido de se
desvendar as especificidades e problemas que acompanham esses deslocamentos de nordestinos,
especificamente, no que tange ao acesso e permanecia desses indivíduos nas escolas. Compreender o
étnico como elemento fundante da dinâmica social implica no reconhecimento da multiplicidade de
culturas vivenciadas no mundo contemporâneo, o que é fonte de interações e confrontos refletidos no
processo educacional, de forma que também a educação é fenômeno etnicizado (KREUTZ, 1998). Nesse
trabalho, utilizamos o recurso a história oral, as fontes impressas (jornais, cadernos escolares, etc.) e
iconográficas.

394
ESCRAVIDÃO E EDUCAÇÃO: O PENSAMENTO DA ELITE INTELECTUAL E DIRIGENTE NA PROVÍNCIA DO
ESPÍRITO SANTO (1869-1889)

ALDAIRES SOUTO FRANÇA.


SEDU/PPGE/CE/UFES, VITORIA - ES - BRASIL.

136
Esta comunicação tem como objetivo apresentar algumas questões que foram problematizadas na
investigação que realizei no decorrer do Mestrado (PPGE/CE/UFES, 2004 - 2006) – Uma educação
imperfeita para uma liberdade imperfeita: escravidão e educação no Espírito Santo (1869-1889).
Procuro imergir nessas questões da seguinte forma: no primeiro tópico apresento as grandes tensões –
trabalho (escravidão e imigração), modernização e educação que se entrelaçavam no pensamento e nas
ações da elite intelectual e dirigente da Província do Espírito com o aos ideais de “civilização” e de
“modernização” proclamados pelo Império, principalmente ao que se refere à educação dos
trabalhadores negros escravizados, livres e libertos, nas últimas décadas do século XIX (1869-1989).
Evidencio as transformações sociais, econômicas, políticas e culturais no Império e na Província do
Espírito Santo no decorrer das últimas décadas do século XIX. Trata-se de adentrar não só no contexto
socioeconômico e cultural da Província do Espírito Santo nas últimas décadas do século XIX, mas
também vislumbrar alguns detalhes do cotidiano sociocultural vivenciado pelos trabalhadores negros
escravizados, livres e libertos. Por fim estabeleço um percurso sobre as representações da elite
intelectual e dirigente em relação à educação dos trabalhadores negros, ou seja, trata-se de
compreender essas representações da elite sob uma ordem de submissão e de controle social. Isso não
aconteceu de forma pacífica e nem consensual, mas sob uma tensão, pois a legitimação de uma
identidade passou pela desqualificação de outras. Este trabalho fundamenta-se no campo da
historiografia da História da Educação com uma proposta de abordagem ancorada na História Cultura. A
investigação baseou-se em fontes impressas, especificamente a imprensa espírito-santense, e no
cruzamento com outras fontes documentais correspondentes ao período, tais como: leis provinciais,
regulamentos, relatórios de presidentes da Província, jornais de outras províncias e da Corte, e Anais
das Assembléias Legislativas, disponibilizadas no Arquivo Estadual do Espírito Santo (APEES), no Arquivo
da Cúria Diocesana e no Arquivo da Assembléia Legislativa. Além disso, foram consideradas outras
fontes bibliográficas específicas sobre a Província do Espírito Santo neste período, como, por exemplo,
Basílio Carvalho Daemon (1879), Amâncio Pereira (1914), Maria Stela de Novaes (1963 e 1964),
Primitivo Moacyr (1940), Serafim Derenzi (1965) e José Teixeira Oliveira (1975). Também foram de suma
importância os relatos e imagens de Jean-Baptiste Debret (1978), as fotografias de George Ermakoff
(2004) e os relatos de Saint-Hilaire (1974). Observei que a educação oferecida aos trabalhadores negros
escravizados, livres e libertos era imperfeita.

605
ETNIA E SOCIALIZACAO NO CONGADO: MEMORIA E IDENTIDADE AFRO-DESCENDENTES
1 2
ADEREMI MATHEUS JACOB FREITAS CAETANO ; ANGELA MARIA GARCIA .
1.UFV, VIÇOSA - MG - BRASIL; 2.COLÉGIO DE APLICAÇÃO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA -
COLUNI, VICOSA - MG - BRASIL.

A análise enfoca o processo de socialização da infância, entendo-o como aprendizagem da cultura de


um grupo afro-descendente. A partir das vivências junto a um grupo de congado da Zona da Mata
Mineira (Minas Gerais) percebemos que processo de socialização da infância é fundado em práticas
implementadas pelos congos nos ensaios, apresentações, nas relações familiares e de vizinhanças,
atualizando princípios que remontam à fundação do grupo, datada de 1888. Focamos duas
temporalidades: aquela referente à infância dos informantes, quando inseridos em práticas
direcionadas para torná-los congos; e a atual, quando assumem a posição de socializadores. O período
enfocado nos relatos remonta às décadas de 1940 e 1950. A fonte privilegiada – os relatos orais dos
congos mais velhos, que são “a memória da sociedade” – propiciou informações sobre o processo de
socialização que vivenciaram. Definidos como agentes socializadores, os velhos congos intervêm no
processo de socialização, viabilizando a interiorização ativa dos princípios que delineiam a forma
identitária do ser congo a um maior número possível de crianças, possibilitando que estas, ao se
tornarem adultos, sejam, por sua vez, socializadores, atualizando o trajeto que realizaram. Utilizamos a
história oral de vida, por possibilitar a análise do fato histórico a partir de um novo olhar e de novas
fontes. Optamos por realizar as entrevistas nas casas dos congos e nos locais de ensaios, gravando-as
com o intuito de apreender a lógica presente nesses relatos. A forma identitária do ser congo funda-se

137
em práticas recorrentes de transmissão de saberes, as quais estão sob responsabilidade dos congos
mais velhos. A recorrência das passagens que remontam à infância deles e a importância que
direcionam para a formação dos mais novos definem o lugar social que a infância ocupa no grupo. A
valorização da oralidade dos mais velhos, da trajetória de vida e da sabedoria de que são portadores são
suportes do processo de socialização da criança no congado e pode ser configurado como um dos
recursos locais na formação escolar. Definido o processo de socialização como “construção de um
mundo vivido”, situado ao longo da existência e ligado às diversas atividades, as instituições
educacionais podem contribuir para potencializar as “formas identitárias” suportadas pela memória e
práticas dos grupos. Para tanto o seu projeto político pedagógico deve incorporar aspectos importantes
para a formação cultural da criança, reconhecendo a diversidade presente.

572
FAMÍLIAS NEGRAS COM CRIANÇAS NAS ESCOLAS DE MINAS GERAIS, NOS ANOS DE 1830

MARCUS VINÍCIUS FONSECA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO, BELO HORIZONTE - MG - BRASIL.

Este trabalho é parte de uma pesquisa que se encontra em andamento e tem como objetivo especificar
as relações entre a população negra e as escolas de Minas Gerais, no século XIX. Consideramos que o
período que compreende os anos de 1820 a 1850, representa a estruturação de uma política de
instrução pública com objetivo de educar o povo da província de Minas Gerais. Desta forma, este artigo
procura analisar o nível de relação entre esse processo e o segmento mais expressivo dentro da
estrutura demográfica de Minas, ou seja, a população negra de condição livre. Para realizar a análise
utilizamos como referência uma documentação que se refere a duas tentativas de contabilizar a
população dos distritos mineiros em diferentes momentos, 1831 e 1838. Os documentos relativos a
estes dois censos estão organizados através de listas nominativas de habitantes que foram elaboradas a
partir dos domicílios, através do preenchimento dos seguintes campos: nome de cada um dos
moradores, qualidade (raça, grupo étnico ou país de origem), condição (livre ou escravo), idade de cada
membro, estado civil e ocupação (atividade ou profissão). No campo que se refere à ocupação algumas
listas registraram as crianças que estavam nas escolas, com destaque para o distrito de Cachoeira do
Campo onde encontramos indivíduos em processo de escolarização nas listas de 1831 e 1838. Por se
tratar de uma das poucas listas em que estes dados se repetem nas duas séries documentais utilizamos
os dados deste distrito para analisar algumas características dos domicílios nos quais estavam inseridas
as crianças que foram registradas nas escolas, com destaque para uma distinção entre o perfil dos
domicílios dos alunos da instrução elementar e dos estudantes do secundário. O contraponto entre
estes dois segmentos do ensino revela que havia uma inversão no perfil racial e econômico destas
unidades de moradia, ou seja, enquanto aqueles que estavam no nível elementar eram marcados por
uma presença majoritária de negros livres oriundos dos extratos menos favorecidos economicamente,
os alunos do secundário eram caracterizados por um predomínio de estudantes brancos que pertenciam
aos grupos mais abastados. A partir da caracterização dos grupos presentes nas escolas e do perfil
diferenciado do ensino elementar e do secundário procuramos apresentar algumas considerações sobre
a importância da escolarização para os negros livres de Minas Gerais destacando a forma como os
membros deste grupo utilizavam a escola para demarcar seu distanciamento do mundo da escravidão.

1051
FAZER-SE DOCENTE NA UERJ: MOVIMENTO E ASSOCIATIVISMO

CARLOS EDUARDO MARTINS DA SILVA.


COLEGIO MUNICIPAL CASTELO BRANCO/SME, SÃO GONÇALO - RJ - BRASIL.

138
Nesse trabalho, pretendemos problematizar a experiência constitutiva dos docentes da Universidade do
Estado do Rio de Janeiro enquanto categoria sócio-histórica, colaborando para a compreensão da
construção da identidade dessa categoria social nos quadros da universidade no período de
redemocratização da sociedade brasileira. Pretende-se, ainda, investigar a relação entre o processo de
construção da entidade representativa dos docentes com a própria constituição identitária da categoria
docente da UERJ, no período final da década de 70 e início da década de 80, do século XX. Portanto,
entre o período das primeiras reuniões clandestinas (1977) até a consolidação da Asduerj como
entidade representativa (1985). Entrelaçamos as fundamentais contribuições do historiador inglês E. P.
Thompson, as reflexões de Hobsbawm e F. Dosse e o trabalho sobre a origem e gênese da UERJ
realizado por Deise Mancebo (1996), bem como com os depoimentos dos entrevistados/pesquisados.
Buscamos pontuar em nosso trabalho um movimento permanente entre empiria e teoria na produção
do conhecimento histórico. Assim, encontramos na história oral um caminho fértil no campo
historiográfico, que a partir da escola dos Annales, com a introdução de novos objetos, abordagens e
problemas, ressignificando-os, propôs a emergência de fontes alternativas ao documento escrito com a
revalorização do depoimento oral e das imagens. Buscamos um conceito de história que promova uma
ruptura com a dimensão linear e cronológica e caminhamos no sentido do tempo do agora, um tempo
múltiplo, em que o olhar para o passado constitua uma oportunidade de experiência do historiador com
esse passado, possibilitando o conhecimento do presente e construções de projetos futuros. Trazemos
algumas conclusões provisórias que nos apontam perspectivas e possibilidades de lançar novas
propostas investigativas, visto ser a UERJ um campo pouco pesquisado. Nesse sentido, Fazer-se docente,
desejosos por construírem uma universidade, marcada pela autonomia, democracia e associação entre
ensino, pesquisa e extensão, e não mais, “simples professores-horistas”, contrapondo-se ao projeto da
velha UERJ que valorizava, basicamente, o ensino, com uma estrutura de poder centralizada e nesse
processo de se constituirem docentes, na experiência e na ação coletiva, um processo ativo que se deve
tanto à ação humana como aos seus condicionamentos sociais, constroem-se e reconstroem-se em
movimento e nesse movimento é consolidada a Asduerj, uma entidade que possibilitaria instituir uma
universidade de fato.

754
HAVIA UMA ESCOLA NO MEIO DO CAMINHO...

FLÁVIO JOSÉ DE OLIVEIRA SILVA.


UFRN, PARNAMIRIM - RN - BRASIL.

O trabalho proposto é resultado de uma investigação realizada com populações nômades no interior do
RN, mais precisamente com um grupo de Ciganos da etnia Calon, com o objetivo de diagnosticar o
interesse pragmático dos Ciganos com relação a escola sistemantizada. O trabalho de pesquisa
aconteceu na cidade de Florânia, território do Seridó Potiguar, tendo como locus a Escola Municipal
Domingas Francelina das Neves, situada na Praça Calon do Bairro Rainha do Prado. O trabalho tem
como base conceitual as categorias de História e Memória, destacando no campo metodológico, teorias
assinaladas por expoentes da Nova História Cultural e pelos teóricos da categoria Memória, e contou-se
com diversos recursos da pesquisa como: Técnicas de pesquisa de Campo e a Técnica de observação
participante. O trabalho de garimpagem nos “arquivos” – as memórias do grupo foram realizadas numa
abordagem metodológica baseada na História Oral e os novos pressupostos que esta vertente
proporciona. A escassez de bibliografias ou até mesmo de pesquisas científicas sobre o povo cigano já
pode ser considerada vencida pela internet, informações na área de sociologia e antropologia, que
abordam os aspectos étnicos e culturais desse povo, que por não ter uma cultura letrada, não teve sua
história escrita e divulgada. A pesquisa aqui apresentada resultou na elaboração de um trabalho
monográfico intitulado: Sem lenço e sem documento: em que escola estudar? Este trabalho
proporcionou discussões sobre o papel da Escola como instrumento de inclusão social de grupos
minoritários ou marginalizados e de etnias sem poder; a formação de grupo de estudo na Escola
Municipal Domingas Francelina para buscar a compreensão de convivências com os diferentes sujeitos e
a diversidade; currículos e cultura escolar, além de fomentar entendimentos sobre a necessidade de
formulação de políticas afirmativas no município, tendo como ponto de partida as práticas sociais e o

139
cotidiano da escola. No trabalho de pesquisa concluimos que os Ciganos do Grupo Calon que aportaram
na cidade de Florânia e matricularam seus filhos na Escola Municipal Domingas Francelina das Neves em
busca do conhecimento sistematizado historicamente para o acesso aos meios de comunicação, serviços
e bens materiais de pleno usufruto dos não ciganos, como a conta bancária, o talonário de cheques, o
cartão de Crédito; o manuseio do telefone celular, a carteira de habilitação, os documentos necessários
à cidadania, enfim, aos bens materiais produzidos na sociedade.

645
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DA POPULAÇÃO NEGRA NO BRASIL: BALANÇO PRELIMINAR

SURYA AARONOVICH POMBO DE BARROS.


UFPB, JOAO PESSOA - PB - BRASIL.

O fortalecimento da História da Educação Brasileira, ocorrido no Brasil nas últimas décadas, trouxe
profundas transformações ao campo. Dentre elas, podemos destacar a emergência de diferentes
sujeitos históricos analisados no que se refere ao acesso (ou não) à cultura escolar. Assim, “vários
sujeitos da educação vêm sendo valorizados em suas ações cotidianas, o que se explicita no aumento de
interesse pelas trajetórias de vida e profissão e no engajamento que observa em análises organizadas
em torno de questões de gênero, raça e geração” (FARIA FILHO, GONÇALVES, VIDAL, PAULLILO, 2004, p.
141). Nesse contexto, trabalhos relacionando população negra e educação pelo viés da história da
educação começaram a vir a lume, como SILVA (2000), BARROS (2005), FONSECA (2002 E 2009). Ainda
que de maneira pouco sistemática no início, essa temática vem se fortalecendo, como é possível
constatar na existência de trabalhos de pós-graduação, publicações científicas e eixos temáticos em
eventos da área. O incremento dessas pesquisas reflete a força que tais questões vêm ganhando na
sociedade brasileira, extrapolando, inclusive, os limites acadêmicos. Tal aumento das pesquisas sobre a
participação da população negra no processo de institucionalização da educação no Brasil, no entanto,
faz parte da história recente da pesquisa acadêmica brasileira. A relevância do tema para diversas áreas
de conhecimento apontou para a necessidade de se realizar um balanço historiográfico acerca do tema,
compartilhando as preocupações de FERREIRA (2002, p. 259) de “sustentados e movidos pelo desafio de
conhecer o já construído e produzido para depois buscar o que ainda não foi feito, de dedicar cada vez
mais atenção a um número considerável de pesquisas realizadas de difícil acesso, de dar conta de
determinado saber que se avoluma cada vez mais rapidamente e de divulga-lo para a sociedade (...)”.
Neste trabalho, pretendemos apresentar um balanço preliminar sobre a História da Educação da
população negra no Brasil, resultado de pesquisa em andamento, assim como problematizar algumas
questões referentes a essa área. Após justificar a importância do tema e a metodologia que vem sendo
utilizada, apresentaremos alguns resultados parciais da pesquisa. A investigação aqui referenciada vem
realizando um levantamento bibliográfico em anais de congressos, revistas da área, bancos de teses e
dissertações, em busca de trabalhos identificados como da área da História da Educação Brasileira que
têm como sujeitos da educação a população negra, em diversos períodos históricos e regiões brasileiras.
Ao realizar tal empresa e divulgá-la, pretendemos evidenciar as pesquisas já realizadas sobre o tema,
facilitar o acesso de interessados na área aos trabalhos e apontar eventuais lacunas sobre a história da
educação da população negra, contribuindo para o fortalecimento da área.

571
HISTÓRIAS CONTADAS, MEMÓRIAS REVELADAS: O COTIDIANO ESCOLAR EM DUAS COLÔNIAS
ITALIANAS NARRADO POR ANTIGOS ALUNOS

ELIANE MIMESSE PRADO; ELAINE CÁTIA FALCADE MASCHIO.


UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ, CURITIBA - PR - BRASIL.

140
Este estudo prevê a análise do cotidiano escolar de algumas das escolas primárias criadas nos núcleos
coloniais de imigrantes pela iniciativa do governo e pelo esforço dos próprios moradores, em fins do
século XIX e início do XX. Tratam-se das escolas situadas nas antigas colônias de italianos, provenientes
da região do Vêneto, São Caetano e Alfredo Chaves, respectivamente localizadas no atual Estado de São
Paulo e do Paraná. Buscou-se, através da metodologia da História Oral, recompor os detalhes diários e
as experiências escolares vivenciadas nestas escolas pelos antigos alunos. Elegeram-se apenas os
indivíduos filhos de imigrantes italianos residentes nestas ex-colônias, portanto descendentes dos
primeiros imigrantes nelas instalados. Na cidade de São Caetano do Sul foi possível entrevistar quinze
pessoas, no ano de 1995 após a criação do Projeto denominado “História de Vida dos antigos
moradores”. Esse projeto foi liderado por um grupo de pesquisadores da Fundação Pró-Memória da
cidade. Em Colombo, antiga Alfredo Chaves, doze entrevistas foram realizadas entre os anos de 2003 e
2005, pelos membros da Associação Italiana Padre Alberto Casavecchia. Desse modo, a efetivação das
entrevistas foi fundamental para tal intento. As mesmas basearam-se em questionamentos referentes
as lembranças da infância de um modo geral, mas também enfatizaram as relações na comunidade e
nas famílias. Memórias, sentimentos, recordações foram tomados aqui a partir do uso das fontes orais,
as quais foram de grande valia para o desvelar das nuances diárias destes antigos alunos das escolas
coloniais. Os obstáculos enfrentados por esses sujeitos foram demonstrações de coragem nestas novas
searas por eles habitadas. O mesmo pode ser considerado para explicar a participação destes
descendentes no âmbito escolar. Embora atribuíssem à escola as expectativas de melhoria da condição
social, grande parte destes antigos alunos não conseguiu usufruir dos benefícios advindos da
escolarização. Marcados pela dificuldade de acesso ao ensino, pela necessidade inerente do trabalho,
pela dificuldade na aprendizagem do idioma nacional, ou ainda, pela complexidade na transmissão dos
processos pedagógicos das escolas primárias na época; a experiência escolar revelada demonstra
descontentamento desses entrevistados pelo universo escolar. Por outro lado, a freqüência escolar
evidenciava o lugar pleno da infância revelada nas boas lembranças que alguns alunos traziam consigo.
Esta pesquisa tem caráter comparativo e encontra-se em fase de conclusão, visa a inserção no eixo
temático Etnias e Movimentos Sociais.

631
HISTÓRIAS DE FORMAÇÃO DE PROFESSORAS NEGRAS: "NA CASA DE MINHA MÃE", O COMEÇO DE
TUDO...

DULCINEA BENEDICTO PEDRADA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO, VITORIA - ES - BRASIL.

Tudo começa, neste texto, a partir do meu encontro com o livro de Kwame A. Appiah: “Na casa de meu
pai”, de onde me veio inspiração para analisar as narrativas das professoras que compõem o universo da
minha pesquisa no curso de doutorado em educação, em fase de conclusão: “Escutando narrativas e
quebrando silêncios: a ‘desinvisibilização de existências’ em processos de constituição de subjetividades
de professoras negras”. Segundo Appiah (1997, p. 12), a família em que ele, e seus irmãos foram
criados, deu-lhes “um imenso espaço social para crescer.” De uma maneira geral, as famílias das
professoras, pelas suas próprias narrativas, representam esse espaço de crescimento social de que fala
Appiah. E, nesse contexto, as mães exercem um papel fundamental, análogo ao pai africano de Appiah,
só que um papel orientado no sentido de mudar o destino aparentemente traçado para suas filhas,
mulheres negras. Até mesmo na hora da escolha da profissão, as mães representam um papel decisivo
no futuro das suas filhas. A fala da professora, a seguir, exemplifica isso: “Quando eu escolhi o
magistério, eu escolhi o magistério, porque a minha mãe sempre disse que profissão de mulher era ser
professora, e que seria mais fácil pra arranjar emprego e era um caminho mais fácil para que nós
tivéssemos uma formação. Então, minha mãe sempre achou que magistério era o melhor caminho, era
mais fácil para que eu pudesse concluir um segundo grau, e foi assim que se deu a escolha por
magistério na minha vida, por sorte, gostei da profissão”. Trata-se de um trabalho de narrativa,
inspirado no processo de tradução de Boaventura de Sousa Santos e apoiado em Walter Benjamin e
Stuart Hall. Ao eleger a narrativa como estratégia metodológica, este estudo pretende dar uma

141
contribuição à discussão das relações de gênero/etnia, numa perspectiva de superação da dicotomia
que caracteriza essas relações, procurando desvelar o que impediu, no passado, e continua impedindo,
no presente, que os parceiros dessa relação se vejam como tal. Ao mesmo tempo, contribuir para que a
escola possa agir no sentido de reduzir os efeitos da desigualdade, organizando-se para tal finalidade e
capacitando os seus profissionais para garantir o tratamento educativo das diferenças, dentre elas as
diferenças etnicorraciais. Buscamos destacar, neste trabalho, a importância do conhecimento histórico
para o processo de reconhecimento das formas de instituição das desigualdades sociais, bem como sua
influência na construção de alternativas estratégicas de intervenção na continuidade dessas
desigualdades, se acreditamos que elas foram historicamente produzidas e que temos, enquanto
sujeitos históricos, um papel a desempenhar nessa história. E a escola, enquanto instituição
encarregada da socialização dos conhecimentos necessários à formação da cidadania, também tem uma
função decisiva no combate às desigualdades sociais.

419
INVENÇÕES E TRADIÇÕES CULTURAIS NO PANTANAL DE MATO GROSSO DO SUL, BRASIL: A
PEDAGOGIA DE PRESERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE NA PERSPECTIVA DA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO
1 2 3
LÉIA TEIXEIRA LACERDA ; MARIA LEDA PINTO ; MARCIA MARIA DE MEDEIROS ; ONILDA SANCHES
4 5
NINCAO ; PAULO GOULART JUNIOR .
1,2,3,4.UEMS, CAMPO GRANDE - MS - BRASIL; 5.UNIDERSIDADE ANHANGUERA-UNIDERP, CAMPO
GRANDE - MS - BRASIL.

A presente comunicação tem por objetivo apresentar dados do projeto de pesquisa interinstitucional:
Vozes Pantaneiras: O vivido e o narrado nas Histórias de Vida dos Habitantes do Pantanal Sul-mato-
grossense- Preservação e Respeito ao Meio Ambiente. Esta pesquisa tem por finalidade estabelecer uma
inter-relação entre as histórias de vida dos habitantes do Pantanal: a imagem, por eles, discursivamente
construída do espaço onde vivem e atuam, e as campanhas de preservação e respeito ao meio
ambiente. Esses habitantes, vivendo do trabalho nesse espaço formado por áreas úmidas, com
características geográficas e sócio-históricas singulares, constitui-se, histórica e socialmente, por meio
da riqueza lingüística que se concretiza na convivência com outros falantes do português e com os do
espanhol e das línguas indígenas, presentes na interação discursiva do dia-a-dia, resultantes do convívio,
em regime de fronteira aberta, com o Paraguai e a Bolívia. É por meio do uso da língua, aliado a outros
aspectos do contexto histórico e social, que o homem se constitui como sujeito que estabelece vínculos
com outros sujeitos e com outras culturas, construindo dessa forma, a sua história e a sua identidade.
Diante disso, a questão que se coloca é: em que medida se instauram os efeitos de sentido da pedagogia
pantaneira, como metáfora do cotidiano de seus habitantes (indígenas e não-indígenas) na preservação
desse importante bioma para o Planeta? O desafio, portanto, é compreender a inter-relação das
tradições e invenções dos saberes culturais na pedagogia do homem pantaneiro em relação às questões
ambientais, estabelecendo um contraponto com as campanhas de preservação ao meio ambiente
pantaneiro presentes na mídia. As narrativas levantadas, além de se constituir no corpus desta pesquisa,
posteriormente fará parte do acervo do Arquivo da Memória da Palavra do Homem Pantaneiro, sediado
na Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, na Unidade Universitária de Campo Grande. Para
tanto, estão sendo analisadas histórias de vida do homem pantaneiro, numa perspectiva da Análise do
Discurso, da Educação, da Antropologia, da Biologia e da História Cultural. O caráter inovador deste
trabalho consiste em realizar uma análise interdisciplinar do cenário local e global das tradições orais,
dos saberes e dos conhecimentos culturais do homem pantaneiro e das campanhas de preservação ao
meio ambiente idealizadas pelo Governo Federal. Isso permitirá estabelecer um diálogo entre a História
da Educação, a Educação Ambiental e a Cultura da região. Esse material, dada a sua relevância científica
e cultural, deverá ser divulgado nos diferentes cursos de graduação e pós-graduação das Universidades
Brasileiras.

1027
LUTAS POR TERRITORIALIDADE: NA FRONTEIRA DA EDUCAÇÃO INDIGENA

142
ARLETE M. PINHEIRO SCHUBERT PINHEIRO SCHUBERT.
UFES, VILA VELHA - ES – BRASIL

O estudo, ainda em curso, investiga a luta indígena por territorialidade, no Espírito Santo. Considera-se
central nesta pesquisa os conceitos de experiência e narrativa, como refletidos pelo filósofo Walter
Benjamin. Através dessa interlocução pretende-se compreender e descrever o caráter educativo do
acontecimento em pauta, procurando assinalar aspectos distintivos dessa experiência indígena, através
de suas narrativas. Com o propósito de mostrar o caráter mobilizador e re-elaborador das biografias e
identidades-culturais-contemporâneas dos Tupinikim no estado do Espírito Santo, partimos da premissa
que os indígenas pretendem através desses movimentos, intervir na dinâmica permanente de
destruição da sua experiência, e o fazem através das lutas por territorialidade. Portanto, perguntamos
pelo caráter educativo dessas lutas, compreendendo-as como contextos (lócus) educativo de
revitalização identitária-cultural dos indígenas Tupinikim. Propõe-se que os conflitos territoriais
indígenas no ES se inscrevem num espaço de não-controle, de não-disciplinamento, e por isso mesmo
seriam capazes de tornarem-se experiências potencializadoras da transformação de sentidos para
diferentes sujeitos e contextos: desde os sentidos instituindo pelas escolas até os modos de ser-produzir
dos sujeitos envolvidos intra e extra aldeias. Consideramos diferentes noções atravessando as lutas
territoriais e os vários sujeitos nelas envolvidos, o que nos possibilita pensar em sujeitos com diversas
identidades: indígena-do-lugar-tempo, indígena-índio, indígena-não-índio, indígena-com-saberes-locais-
globais,indígena-territorializado-desterritorializado-reterritorializado, indígena rexistente. A luta por
territorialidade, na perspectiva posta nesta pesquisa, é concebida como acontecimento que busca
manter a alteridade indígena, transmitindo às novas gerações os valores da tradição Tupinikim.
Seguindo essa lógica o conflito territorial se constituiria num acontecimento forte e decisivo de
intervenção educativa correspondente às formas tradicionais indígenas de educação. Ou seja: Eles
pretendem contrastar os processos de aprendizagens existentes nas aldeias através das narrativas
contidas nas lutas por territorialidades. A pergunta, então, é pela dimensão educativa do
acontecimento, acreditando que ele se dá em função da percepção desses sujeitos que constatam os
princípios e valores das comunidades fragilizados, o que coloca em risco a sua existência enquanto
indígenas. Consideramos, portanto, a probabilidade de termos sidos confrontados com um modo de
intervenção radical no saber e no aprender das novas gerações, com o propósito de acionar-alimentar
história-memória e identidade indígena, enquanto elementos da tradição em permanente criação e
recriação (elaboração).

384
MEMÓRIA E HISTÓRIA: OS POMERANOS DA SERRA DOS TAPES

CARMO THUM.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE - FURG, PELOTAS - RS - BRASIL.

A presente comunicação analisa silêncios e reinvenções pomeranas na Serra do Tapes, localizado no sul
do sul do Rio Grande do Sul, em relação a História e a Memória da cultura local. Deriva de processo de
pesquisa de doutorado concluído. As grandes linhas teóricas que se entrecruzam são: Educação, História
e Memória. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, cuja orientação principal, em termos metodológicos, é
a etnografia. Nesse sentido, a coleta de dados foi constituída de forma complexa e plural, passando
pelas técnicas: levantamento bibliográfico, análise documental, participação pesquisante, entrevistas,
conversas informais, rodas de diálogos, produção e análise de fotografias e inventários. Com os
objetivos de analisar as relações constitutivas do modo de ser da cultura local, em especial a cultura
pomerana da Serra dos Tapes, investiguei a cultura material e imaterial, presente nos entornos das
casas e das escolas, na busca de compreender o significado dos seus ritos e modos de ser. A imigração
pomerana no sul do Rio Grande do Sul diferencia-se de modo singular, em relação à dos outros grupos
imigrantes (alemães), em função das conjunturas históricas, constitutivas dos pomeranos e do processo
de isolamento e silenciamentos. O silêncio da cultura pomerana, no bojo da cultura local, se dá sob as
abas do poder: religioso, escolar, do comércio, da linguagem. O mundo patriarcal constrói suas

143
demarcações, no âmbito das relações de gênero e de poder. Ao mesmo tempo em que esse processo de
silenciamento se dá nos espaços públicos (escolas, igrejas, comércio), a vida cotidiana mantém práticas
e reinventa-se, no encontro com as demais culturas locais. A metodologia da Roda de Diálogo
caracteriza-se por ser um momento de interpretação da cultura local, pela sua própria voz, a partir dos
materiais coletados e catalogados. O processo de interpretação das imagens realizado com a
comunidade pesquisada permitiu percorrer a lógica de criação dos sentidos culturais e compreender o
enraizamento dos significados dados aos processos vividos. A cultura do silêncio e os silêncios da cultura
são, ao mesmo tempo, conseqüências do processo de opressão vivido e modos de resistência silenciosa.
O mundo pomerano reinventou-se, na Serra dos Tapes, constituindo-se em um caso específico. Foi
reconfigurado pelas trocas assimétricas, pelas apropriações das lógicas das culturas já presentes nesses
espaços. Compreendo que, muito mais do que cultura pomerana, há uma cultura local, que apresenta
códigos próprios e rituais específicos, capazes de permitir o trânsito das diversas correntes que a
condiciona. Os significados, desse conjunto de daos coletados e analisados apresenta-se, ao
pesquisador, como um grande mosaico do que é a cultura na Serra dos Tapes: plural, polifônica e em
movimento.

786
MEMÓRIA SOCIAL E CULTURA AFRO-BRASILEIRA-TRAJETÓRIAS DOS MOVIMENTOS NEGROS DO
MUNICÍPIO DE SERRA-ES

NELMA GOMES MONTEIRO.


UFES/PPGE/NEAB, VITORIA - ES - BRASIL.

O presente trabalho tem como objetivo analisar e problematizar a trajetória de luta, resistência e
conquistas dos movimentos negros no município da Serra, no Espírito Santo. Em 19 de março de 1849,
há 161 anos, um acontecimento histórico marcou o município de Serra (ES), foi a Revolta de Queimado,
também chamada de Insurreição de Queimado, liderada pelos escravizados Chico Prego, João da Viúva e
Elisiário. Esse acontecimento histórico é comemorado com manifestações culturais como forma de
preservação (reconstrução) da tradição e da memória do povo negro. Assim sendo, a pesquisa pretende
por meio de fontes bibliográficas, orais, história de vida e registros fotográficos levantar dados
qualitativos e quantitativos do que foi a resistência dos Negros de Queimados. A noção de cultura aqui
adotada compreende a definição de todos os bens materiais e imateriais criados e recriados por homens
e mulheres, entre os quais, modos de vida e ações transformadoras da realidade social. Os Movimentos
Negros em nível nacional tiveram suas trajetórias marcadas por resistências, lutas e vitórias. Para os
Movimentos Negros Capixabas não foram diferentes. Foram muitas trajetórias desse segmento social
que marcaram a História da Educação Brasileira. Nos períodos: colonial, imperial e republicano
encontramos indícios das lutas dos negros e não negros em defesa da educação e de sua cultura, como
também, é notória a presença das organizações negras urbanas: Os quilombos, até no final do século
XIX, constituíam formas de agrupamentos rurais autônomos de africanos/as e seus descendentes,
muitos deles não negros que viviam na resistência, organizados para enfrentar o poder hegemônico do
sistema escravista. Entre as entidades negras da época que se destacaram encontramos a Imprensa
Alternativa Negra e a Frente Negra Brasileira (FNB) que juntas assumiram a vanguarda em defesa dos/as
alunos/as negros/as nos bancos escolares. Os Fragmentos de jornais o Clarim d’Alvorada (1925) e do
periódico A Voz da Raça (1933) informavam à população a violação do direito à educação, para o
segmento social negro. Ao fazermos referência à memória estamos ancorados nos estudos voltados
para aspectos da cultura popular, dos saberesfazeres desses segmentos étnicos, por meio da família,
dos hábitos e costumes da comunidade, das tradições religiosas e das diferentes manifestações e
festejos culturais, entre outros. São vivências, que nos remetem à constituição social da memória.
Concluímos que ressignificar a Revolta de Queimado, no município da Serra-ES desvela-se o que tem
sido à força da tradição cultural/histórica para os movimentos negros contemporâneos, por meio de
suas lutas e manifestações culturais, sobretudo o congo constituído no tecido social, como uma das
expressões vivas de resistências, lutas e vitórias da população negra capixaba.

144
973
MEMÓRIAS DO MOVIMENTO ESTUDANTIL TIJUCANO (ITUIUTABA-MG, 1950-1960)
1 2
ISAURA MELO FRANCO ; JENNIFER MARIA PEREIRA MATOS .
1.UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLAÂNDIA/FACIP, ITUIUTABA - MG - BRASIL; 2.UNIVERSIDADE
FEDERAL DE UBERLÂNDIA/FACIP, ITUIUTABA - MG - BRASIL.

O presente trabalho trata-se de parte dos resultados de pesquisa concluída na Universidade Federal de
Uberlândia, Campus do Pontal. Tem como objeto de pesquisa as representações em torno do
movimento estudantil presentes nos jornais da cidade de Ituiutaba, ao longo dos anos de 1950 a 1970,
com o objetivo de desvendar o ideário de estudante/aluno veiculado pela imprensa local no período
analisado, observado a partir de contexto maior em nível de país. Elegemos os jornais como fonte de
pesquisa primária, pois as representações sobre as organizações estudantis presentes nesses periódicos
permitem abordagens mais amplas em relação ao fenômeno educacional, possibilitando o estudo de
concepções pedagógicas e ideologias que circulavam pelo imaginário da população local. Assim
realizamos o levantamento de fontes escritas em 06 coleções de jornais pertencentes ao acervo da
Fundação Cultural Municipal, a partir da leitura e fichamento de 531 notícias encontradas sobre o
universo escolar ao longo dessas duas décadas, das quais 42 se referem ao movimento estudantil.
Recorremos também à história oral, por meio de entrevistas a um dos antigos proprietários e editores
dos jornais pesquisados e a alguns dos ex-representantes do movimento estudantil local do período
analisado para a observação do ponto de vista dos sujeitos históricos daquela época, buscando o
cruzamento das fontes e o desvendamento de especificidades das organizações estudantis locais. A
análise das entrevistas nos permitiu refletir sobre a representação do ideário de aluno veiculado pela
imprensa local, por meio do levantamento de informações distintas daquelas presentes nos jornais,
colaborando para a produção da história da educação local. Como resultado da leitura das fontes
impressas, destacamos dois períodos diferentes relativos a representação do movimento estudantil nos
jornais: o primeiro que vai do início da década de 1950 até o ano de 1963, em que os estudantes são
apresentados com participação ativa na luta pela defesa de seus interesses com a realização de algumas
reivindicações políticas; e o segundo que se inicia após a implantação da ditadura militar, no ano de
1964, até o final da mesma década, em que a classe estudantil surge nas páginas dos jornais de forma
adequada ao sistema autoritário, quando há silenciamento dessa categoria no que se refere à
contestação das forças políticas instituídas. Assim, entendemos que a história local e a nacional não
podem ser discutidas independentemente, sendo necessário promover o diálogo entre o estudo local e
o nacional.

957
MENNONITENTUM: IDENTIDADE ÉTNICA MENONITA

FRANCIELLY GIACHINI BARBOSA.


UFPR, CURITIBA - PR - BRASIL.

O presente trabalho, resultado de pesquisa de mestrado, tem a pretensão de discutir a correlação


existente entre os menonitas e os elementos que fazem parte de sua dinâmica identitária. Os menonitas
são um grupo de origem étnica alemã de religião protestante. Estes após o confisco de suas
propriedades na Rússia pós-revolucionária migraram para lugares distintos, e um grupo acabou por
desembarcar no Brasil e estabeleceu comunidades nas novas terras. O foco desta discussão está na
parcela que se estabelece no bairro do Boqueirão, na cidade de Curitiba/PR no começo da década de
1930. O recorte temporal é de 1934 a 1948, marcos que sinalizam o estabelecimento do grupo no
Boqueirão e a retomada da escola que havia sido fechada em tempos de ferrenho nacionalismo do
Estado Novo. O corolário do desenvolvimento desses imigrantes ficou marcado inicialmente pelo
trabalho de venda de leite no centro da cidade, tanto que estes eram conhecidos como “os leiteiros do
Boqueirão”, mais tarde formaram uma cooperativa para a venda de produtos alimentícios e também
para os suprimentos necessários ao gado leiteiro. Dentre os empreendimentos, o que toma destaque

145
nesta análise são as práticas do grupo no que diz respeito à tentativa de preservação de sua identidade,
conhecida como mennonitentum. Os elementos desta representação se conjugavam principalmente na
religião protestante e na língua e ascendência alemãs. Em decorrência da busca por preservação de
tradições, costumes e identidade, eles fundam em 1936 sua própria escola, onde o idioma alemão é
ensinado, bem como o saudosismo e ufanismo relativos à Alemanha e seus líderes políticos,
principalmente aqueles ligados à ideologia nazista. No entanto, a escola acaba sendo fechada por conta
das políticas nacionalistas do período. Dessa forma, outras práticas, que não as escolares, são ativadas e
reforçadas para a auto-preservação do grupo. Dentre estas se destacam os batismos, os casamentos, as
músicas, os cultos, as leituras, a alimentação e até mesmo os funerais. As fontes utilizadas para este
artigo pautam-se em fotografias, relatórios de missionários menonitas, entrevistas, jornais de circulação
no período e jornais produzidos pelos próprios menonitas. Dessa forma, atravessando os anos e com
eles estabelecendo construções materiais e reconstruções simbólicas, os menonitas vieram, muitos
contrariados, para o Brasil, e foi aqui que reconstruíram suas vidas, relembrando e praticando tradições
centenárias, mas não sem inventar novas praticas e costumes, educando e reeducando seus filhos.

1161
MICRO-AÇÕES AFIRMATIVAS – POSSIBILIDADES DE SUPERAÇÃO DA DESIGUALDADE ETNICORRACIAL
NOS COTIDIANOS ESCOLARES

REGINA FATIMA JESUS.


UERJ, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL.

Este trabalho traz ao diálogo práticas pedagógicas de participantes da pesquisa Micro-ações afirmativas
no cotidiano de escolas públicas do município de São Gonçalo, realizada no período 2008 – 2010.
Buscamos ouvir e trazer as vozes de professores(as) gonçalenses que por suas histórias de vida, pela
negação e desvalorização do pertencimento etnicorracial negro em um município marcadamente afro-
descendente, reconhecem a necessidade de implementarem ações de caráter antirracista. A estas
ações, muitas vezes instituintes, temos chamado micro-ações afirmativas cotidianas. Esta noção revela
aproximações com o conceito de ação afirmativa, tendo em vista buscar potencializar crianças e jovens
afro-descendentes que, até então não percebiam, nos espaços escolares, a valorização da história e
cultura africana e afro-brasileira, e dos referenciais negros sendo apresentados e valorizados ao se
trazer a História Oficial. Assim, a história oral é a opção metodológica da pesquisa e, tal opção se deve
ao reconhecimento de que é preciso valorizar a palavra viva dos sujeitos cotidianos (Hampâté Bâ, 1982;
2003) cujas experiências são formadoras e possíveis transformadoras da realidade de exclusão que
ainda se perpetua nos cotidianos escolares, muitas vezes, impedindo e/ou dificultando o sucesso escolar
das crianças e jovens afro-descendentes. As narrativas foram/são consideradas locus privilegiados para
a apreensão e compreensão das ações da prática cotidiana, reconhecendo que os saberes que
buscamos para compreender a realidade pesquisada se encontram com os sujeitos informantes com os
quais dialogamos (Portelli, 1997). Ao trazer as palavrasmundo (Freire, 1988) dos sujeitos cotidianos a
fim de compreender as micro-ações afirmativas, discutir o caráter destas e os fatores que as motivaram,
dialogamos com Cunha Jr. (1992), Gomes (2006), Guimarães (2002), Gusmão (2002), Munanga (1999),
Oliveira (2006), dentre outros(as) que trazem suas leituras nesta encruzilhada cultural (Martins, 1997) e
nos oportunizam perceber as africanidades (Silva, 2000) presentes na cultura brasileira.

600
MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO E BASE- MEB: SUA RECONSTITUIÇÃO HISTÓRICA NO MUNICÍPIO DE
SENHOR DO BONFIM-BAHIA
1 2
MARIA GLORIA DA PAZ ; LUCIMAR BATISTA DE ANDRDE .
1.UNIVERSDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB, SENHOR DO BONFIM - BA - BRASIL; 2.UNIVERSIDADE DO
ESTADO DA BAHIA, SENHOR DO BONFIM - BA - BRASIL.

146
O presente estudo é resultante de um Trabalho de Conclusão de Curso- TCC, e teve como objetivo,
reconstituir elementarmente a história do Movimento de Educação de Base-MEB, no Município de
Senhor do Bonfim, Bahia, implantado pela Igreja Católica no período de 1961 a 1964. A metodologia
utilizada neste estudo foi a história oral, por ser esta capaz de dar voz aos indivíduos que são parte da
história deste acontecimento, uma vez que através dos relatos suas experiencias podemos iniciar a
busca de informações que possam contribuir com essa tentativa de reconstituição. As fontes orais
utilizadas na elaboração deste trabalho foram duas professoras, que hoje encontram-se aposentadas, e
que atuaram no programa, através da indicação do bispo diocesano da época D. Antonio Monteiro.
Segundo relatos as entrevistadas assumiram a coordenação pedagógica do programa, com a
incumbência de criar escolas radiofônicas em sete municípios da circunscrição da Diocese, o que se
concretizou em quatro destes: Jacobina, Campo Formoso, Antonio Gonçalves e Senhor do Bonfim. A
coleta dos relatos se deu através de uma entrevista direcionada por um roteiro previamente
estruturado, dividido em cinco partes: identificação dos colaboradores, informações sobre o Movimento
de Educação de Base no município, o aluno e os professores do MEB, as aulas e seus desdobramentos,
os recursos e materiais didáticos utilizados e a orientação pedagógica. A entrevista foi cuidadosamente
ouvida, gravada e transcrita posteriormente. Através dos relatos das professoras participantes deste
movimento, procuramos de forma elementar abrir caminhos para novas investigações a busca por
documentos, a identificação de outros participantes, com o intuito de reconstituir um dos
acontecimentos importantes para e história da educação do Município de Senhor do Bonfim, uma das
grandes experiências de educação popular, que tinha como destaque as Escolas Radiofônicas, pioneiras
da atual concepções de Educação à distância.

1236
NOME DE BATISMO ALEXANDRE BUENO, ETNIA TERENA: PERSONAGEM DE UM IMAGINÁRIO PARA
EDUCAÇÃO INDÍGENA NA PROVÍNCIA DE MATO GROSSO

ADRIANE PESOVENTO PESOVENTO.


UFMT, CUIABÁ - MT - BRASIL.

Este trabalho tem como proposta reconstituir parte da trajetória de Alexandre Bueno, índio da etnia
Terena que por diversas vezes aparece no cenário da história de Mato Grosso. Com suas tropas de
soldados viajou pela Província, percorreu lugares longínquos, foi influente em relação aos seus pares e a
elite político-administrativa da capital. O objetivo da investigação foi compreender como a simbologia
dos seus atos contribuiu para construção de um imaginário sobre como deveria operar a educação
indígena, especialmente a educação não-formal dos comportamentos e atitudes em sentido amplo,
particularmente nas tentativas instruir, atrair e submeter outras nações pelo exemplo, pela persuasão
ou ainda pela violência. Por mais de oito anos, período que vai de 1875 à 1884 encontram-se registros
das suas práticas. Sob o ideário “para um índio outro índio”, a sociedade provincial adotou Alexandre
Bueno, instrumentalizando-o para ser o mensageiro de um novo modelo, seus passos foram
acompanhados pelo governo local, registrados em documentos oficiais, suas atitudes noticiadas em
jornais, seus pedidos atendidos, isso tudo para que o mesmo servisse aos propósitos da sociedade
envolvente, a saber: atrair outros grupos étnicos ao convívio pacífico com os provincianos. No decorrer
da pesquisa uma questão se apresentou, a percepção do papel e das ações de Alexandre Bueno como
auxiliar na construção de um outro modelo. O referencial teórico metodológico adotado corresponde à
perspectiva do imaginário, ou seja, como um índio intitulado capitão, resistiu, serviu e alimentou o
imaginário coletivo, os discursos e as práticas sobre o modo de educar e o modo ser dos demais grupos
étnicos no período, e ainda, como o mesmo desvirtuou o estabelecido e compôs uma história própria a
partir dos limites impostos. Para compreensão do assunto adotou-se a perspectiva de táticas e
estratégias desenvolvidas por Michel de Certeau, bem como as concepções de micro-resistências e
micro-liberdades. Para realização da pesquisa foram acompanhados os passos deste personagem,
através dos relatos presentes em ofícios da época, tanto àqueles escritos pelos Diretores dos Índios,
quanto pelo próprio Alexandre Bueno e notícias sobre o mesmo publicadas em jornais da capital. Em
especial o relato de uma cena intrigante da chegada de Alexandre Bueno à capital, saudando a “Santa
Madre Igreja Católica”, espetáculo assistido por várias pessoas e noticiado nos jornais locais. Todas as

147
fontes pertencentes aos acervos do Arquivo Público do Estado de Mato Grosso (APMT) e do Núcleo de
Documentação Histórica Regional (NDHIR). O Grupo de Pesquisa Educação História e Memória do
Instituto de Educação da Universidade Federal de Mato Grosso contribuiu significativamente para a
compreensão do objeto investigado.

599
OPRIMIDOS E OPRESSORES: UMA ANÁLISE COMPARADA DOS CONTEXTOS DISCURSIVOS ENTRE AS
OBRAS DE ALEX HALEY E JOSÉ DE ALENCAR

DISLANE ZERBINATTI MORAES; FERNANDA DE JESUS FERREIRA; SILMARA DE FATIMA CARDOSO.


FEUSP, SAO PAULO - SP - BRASIL.

Levando-se em consideração que os estudos históricos mostram o século XIX como extremamente
produtivo em políticas e iniciativas que visavam à escolarização das classes populares e à formação da
população negra, apresentamos nesse trabalho os resultados parciais da pesquisa que investiga a
produção, circulação e apropriação de processos educativos, a partir do diálogo entre o livro Negras
Raízes: a saga de uma família (1970) do escritor negro norte-americano Alex Haley (1921-1992) e a obra
literária, política e teatral de José de Alencar (1829-1877). Adotamos a perspectiva dos estudos
comparados em História da Educação, na qual buscamos apreender as aproximações, os afastamentos e
entrecruzamentos de modelos de formação e inserção dos negros no período abolicionista nos Estados
Unidos e no Brasil, que são produzidos e dados a ver nas práticas discursivas dos autores. Assim,
trazemos duas visões sobre a escravidão e os processos educativos justificados pela iminência da
abolição: a visão romântica do escritor e político José de Alencar, representante do pensamento da elite
oitocentista, e a visão dos escravizados apresentada por Haley. A distância temporal e espacial da
escrita dos textos potencializa nosso olhar para a percepção de descontinuidades históricas, bem como,
das estruturas mentais e relações de poder, que envolvem a questão. Procurar-se-á destacar os modos
de construção do “Eu” e do “Outro” comparando-se experiências de escravidão, formas distintas de
inserção do ex-escravizado na sociedade e de perfis étnicos específicos, condicionados por modelos
culturais e idéias sobre a desigualdade racial que circulavam globalmente. Haley desenvolve um
trabalho memorialístico e historiográfico com o objetivo de mostrar ângulos contundentes do sistema
escravocrata, ressaltando os processos de sofrimento, resistência e resposta dos próprios escravizados.
Em contrapartida, Alencar justifica a manutenção do regime escravocrata pautado pelo discurso da
incapacidade dos escravos de atuarem em sociedade e dos inerentes benefícios que traria o contato das
“almas rudes” com o homem branco, civilizado. As condições de circulação e práticas de leitura dos
textos também foram analisadas. José de Alencar escreve em um contexto de amplo debate sobre o
papel da escravidão na constituição da nacionalidade brasileira, consolidando um discurso sobre a
inferioridade que se mantém mesmo após a abolição. Inserido no espaço de lutas por direitos civis
lideradas pelo movimento negro nas décadas de 1960 e 1970 nos Estados Unidos, Haley, por sua vez,
obteve grande sucesso editorial, chegando a vender quase dois milhões de exemplares nos primeiros
seis meses de lançamento. Considerando a capacidade de refletir sobre o real da obra literária,
depreende-se o universo de referências comuns, particularizadas em visões sobre a escravidão e
educação elaboradas pela elite e pelos descendentes dos escravizados.

1304
ORDEM MORAL E DOMÉSTICA EM PROL DE UMA LONGEVIDADE ESCOLAR: UM ESTUDO COM FILHOS
DE FAMÍLIAS NEGRAS DE MEIOS POPULARES (PERNAMBUCO E PARAÍBA, 1940-1970)

FABIANA CRISTINA SILVA.


UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO, PETROLINA - PE - BRASIL.

Este trabalho faz parte de uma pesquisa mais ampla que tem como objetivo compreender as formas de
presença de famílias populares no processo de construção da longevidade escolar dos filhos e em suas

148
práticas de leitura e escrita nos Estados de Pernambuco e Paraíba no período de 1940 a 1970. Neste
artigo analisaremos a organização familiar - condutas e normas - exercidas por famílias negras, “não-
hedeiras” e de meios populares que possibilitaram a manutenção e longevidade escolar dos filhos,
levando-os a atingir o ensino superior na Paraíba e em Pernambuco entre as décadas de 40 e 70. O
período analisado refere-se ao processo de escolarização dos filhos das famílias estudadas. É importante
destacar que, nesse, momento histórico, os indivíduos negros e pertencentes aos meios populares não
se caracterizavam como o principal público de níveis superiores de ensino e muito menos obtinham, ao
menos com freqüência, uma longevidade escolar. A pesquisa está baseada teórica e metodologicamente
sob os pressupostos da História Cultural e da Micro-História, além de alguns estudos no campo da
Sociologia da Educação. A especificidade do objeto a ser analisado, ou seja, as características das
famílias e o período histórico estudado apontaram a necessidade da utilização da História Oral, o que
tornou, ao longo do desenvolvimento da pesquisa, os depoimentos orais como a principal fonte de
trabalho, na qual nos amparamos para redigir este artigo. Foram analisadas três famílias com as
características acima citadas. Os resultados apontaram para a existência de uma configuração familiar
específica, pois fazer parte de uma família com determinadas características e práticas possibilitou uma
relação diferenciada com a escola. É como se essas famílias de meios populares, por não terem um
patrimônio financeiro e às vezes intelectual a ser preservado, têm na sua herança moral o bem mais
precioso, é como se os pais visassem uma certa respeitabilidade familiar da qual seus filhos deveriam
ser os principais representantes A família aparece como um “lugar” relativamente fechado, para evitar
influências negativas, os pais proporcionavam para esses filhos, mesmo que de forma intuitiva, rotinas,
espaços e momentos específicos para o estudo, assim como práticas de leitura, acompanhamento das
atividades escolares, além da manutenção material dos filhos na escola, como, por exemplo,
fardamento, livros entre outros. Este estudo tem possibilitado compreender, em períodos anteriores -
em que não existia uma discussão ampla sobre a necessidade e a importância da contínua escolarização
- a formação de uma organização familiar, objetivando a permanência dos filhos na escola.

817
PAULO FREIRE, A UFPE E O MOVIMENTO DE CULTURA POPULAR

ALESSANDRA MARIA DOS SANTOS; ÁNDRE GUSTAVO FERREIRA DA SILVA.


UFPE, RECIFE - PE - BRASIL.

Este estudo tem por objetivo apresentar a atuação da UFPE no Movimento de Cultura Popular, por meio
do Serviço de Extensão Cultural, da até então Universidade do Recife, que tinha Paulo Freire como um
dos seus coordenadores. Além de investigar as práticas cotidianas inerentes às atividades extensionistas
da UFPE e como tais práticas e seus autores se relacionam com o MCP, pretende-se também possibilitar
às presentes políticas de extensão da universidade balizar-se pelos acertos e equívocos do passado e
para tais finalidades utiliza-se o caminho metodológico de análise de fontes documentais da UFPE e
registro oral de atores envolvidos no objeto proposto. A instigação é compreender a contribuição que a
dinamicidade histórica atuou sobre a dimensão extensionista da UFPE, saindo de seu distrito
educacional e estendo-se até as classes populares numa atuação de extensão que promovia o diálogo
entre o saber científico e o popular e como esta construção histórica é materializada na vida cotidiana.
O cotidiano dos primeiros passos de uma prática pedagógica coincidem historicamente com a
constituição do MCP, no sentido de uma maior participação junto às reais soluções para os problemas
da população menos favorecida. Dessa maneira, nasce em maio de 1960, no Recife, um movimento que
aspira a redução do índice de analfabetismo além de proporcionar a elevação do nível de cultura da
população. Com este intuito surgiu o Movimento de Cultural Popular tendo como um dos fundadores
Paulo Freire, também professor da Universidade do Recife, atualmente UFPE, na qual ele implantou com
o SEC (Serviço de Extensão Cultural) o serviço de extensão através do desenvolvimento de ações que
visavam conscientização política a partir da alfabetização e valorização da cultura popular, o que
também serviu de apoio ao desenvolvimento do MCP. Assim, com objetivos de inserção da população à
cidadania, demonstrada no direito ao voto após a alfabetização, e técnicas inovadoras na educação de
adultos, como a relação do contexto sociocultural dos alunos no processo de ensino e aprendizagem, a
cidade atinge números consideráveis de alfabetização em curto espaço de tempo. Paulo Freire destaca-

149
se no cenário nacional com o seu método de ensino que passa a ser implantado pelo MEC (Ministério
Educação) em todo o país, com o Sistema de Educação Paulo Freire. Assim, como Paulo Freire estava à
frente do SEC, o serviço de extensão universitária ganha destaque, com participação de outros
professores, funcionários e alunos, ressaltando a relevância da responsabilidade acadêmica no auxílio
ao desenvolvimento social. No entanto, este presente estudo não apresenta resultados tendo em vista
que está em andamento.

396
SOCIEDADE IMAGINADA: A IDEIA DA NAÇÃO NO INÍCIO DO PERÍODO REPUBLICANO

DANIELA CRISTINA ABREU.


USP - SÃO PAULO, RIO CLARO - SP - BRASIL.

O presente trabalho é fruto de reflexões quanto à proposta do nacionalismo no âmbito das escolas
primárias paulistas no início do período republicano. Quando pensamos no nacionalismo nos
reportamos às ideias de múltiplos significados. Segundo Anderson (2008) autor de diálogo neste estudo,
o naciolismo é um composto cultural específico e para bem entendê-lo é preciso considerar suas origens
históricas, de que maneira seus significados se transformaram ao longo do tempo, e por que dispõem,
nos dias de hoje, de uma legitimidade emocional tão profunda. A ideia de nacionalismo, diferente de
nação transcende, as barreiras territoriais. Anderson define a nação como “(...) uma comunidade
política imaginada - e imaginada como sendo intrinsecamente limitada e, ao mesmo tempo, soberana”
(2008, p. 32). O autor aponta o apego que os povos tem às suas imaginações e como são capazes de
morrer por suas invenções. A escola primária imaginada pelos republicanos tinha também a função de
homogeneizar a língua para a construção de uma nação. Para tanto, acreditavam que era necessário
criar estabelecimentos de ensino capazes de abrigar os alunos em idade escolar. A educação popular era
vista como primordial, e por isso intelectuais e políticos a priorizavam como objeto de reforma,
fundamental para a organização da sociedade. Segundo relato de Thompson no Anuário de Ensino do
Estado de São Paulo de 1918, a língua falada pelo povo é a primeira característica da escola “é o
primeiro e mais importante, porque é o factor enérgico de nacionalização e de um laço estreito de
solidariedade. Os que falam a mesma língua commungam os mesmos sentimentos e teem os mesmos
ideais e as mesmas tradições”. Essa temática faz parte da operacionalização do texto de Anderson com
as fontes estudadas quanto à escolarização dos negros no início do período republicano e a ideia de
sociedade imaginada para o período, a qual a elite tenta por diversos mecanismos ocultar a presença
negra. Segundo Silva e Araújo (2005) a (re) leitura das reformas educacionais dos séculos XIX e XX,
deduz-se que a população negra teve presença sistematicamente negada na escola: a universalização ao
acesso e a gratuidade escolar legitimaram uma “aparente” democratização, porém, na realidade,
negaram condições objetivas e materiais que facultassem aos negros recém-egressos do cativeiro e seus
descendentes um projeto educacional, seja este universal ou específico.

1037
UMA IMPRENSA, UM GRUPO SOCIAL: DIFERENTES REPRESENTAÇÕES DO NEGRO

ROSANGELA FERREIRA SOUZA.


USP/UNIBAN, SAO PAULO - SP - BRASIL.

O presente trabalho pretende caracterizar as práticas de escolarização dos negros no início do século
XX, veiculada por periódicos não-educacionais direcionados especificamente para essa população, sob a
denominação de “imprensa negra” ou “jornais da imprensa negra”. Trata-se em um recorte do projeto
em nível de doutorado “Pelas páginas dos jornais: identidade, representações e escolarização do negro

150
em São Paulo (1924-1940), em andamento, e suas ações iniciais de pesquisa. Diferente de outras
pesquisas, nas quais é utilizada a imprensa periódica educacional para se buscar compreender práticas
de escolarização, a formação de professores, as características do alunado, da educação oferecida por
órgão oficiais (Catani e Souza,1994), este trabalho pretende, a partir da organização e caracterização de
uma imprensa que não se anunciava especificamente como órgão de propagação de idéias
educacionais, reconhecer a constituição da identidade, representações e escolarização dos negros, em
São Paulo, de 1927 a 1937. Proceder-se-á a análise do discurso propagado pelos jornais buscando-se
retratar as condições sociais, de trabalho e educacionais do negro no Brasil no início do século XX, após
a abolição da escravatura, e suas perspectivas quanto a sua escolarização, enquadramento ao “mundo
dos brancos”, ascensão social, etc. Para o desenvolvimento da pesquisa serão utilizados como fontes
primárias os jornais da chamada “Imprensa Negra” . Pretendemos elencar os redatores dos artigos,
diretores, fundadores, co-fundadores, tiragem (lucro advindo da mesma), formas de circulação, buscar
artigos que mostrem pressões e posições políticas do jornal, caracterizar historicamente o período de
circulação e as figuras típicas da “imprensa negra”, assim como as premissas de caráter educacional
propagadas por estes. Muitos foram os jornais que constituíram cabedais de informações sobre os
negros no interior do conjunto das publicações da imprensa negra, pretende-se com este ensaio
verificar, no entanto, se as representações e aspirações educacionais e sociais entre os negros eram
sempre as mesmas nos jornais; se existiam diferenças na abordagem dada ao negro brasileiro no
interior dos artigos de dos jornais e por fim, apontar em que medida essas diferenças atraiam um maior
número de leitores e garantiam formas próprias de circulação, leitura e apropriação das idéias
propagadas. Pretende-se desconstruir o discurso, segundo o qual, a imprensa negra constituiria-se em
um bloco homogêneo de informações acerca do negro e que sempre esteve disposta a defender e
reivindicar seus direitos diante de uma sociedade pretensamente discriminatória. Tal perspectiva de
trabalho insere-se nas discussões realizadas no interior do campo da História Comparada,
especificamente ligada aos estudos de Marcel Detienne, que propõem uma série de preocupações em
afastar a história comparada de anacronismos (tão comuns à história sobre os negros).

151
152
EIXO 2 - HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES E PRÁTICAS EDUCATIVAS

1193
“GRUPOS ESCOLARES EM FOCO: TECENDO HISTÓRIAS E MEMÓRIAS SOBRE O ENSINO PRIMÁRIO EM
MINAS GERAIS"

GEOVANNA DE LOURDES ALVES RAMOS.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA, UBERLANDIA - MG - BRASIL.

Esta pesquisa faz parte de minha tese de doutorado em que consiste na reflexão acerca da criação dos
grupos escolares na cidade de Uberlândia, em específico o Grupo Escolar Coronel José Teófilo Carneiro,
uma das mais antigas instituições de ensino uberlandense, sua relação com a cidade e as diferentes
classes sociais que a compunham nos anos de 1940 aos anos de 1972, pois com a Lei 5.692, os grupos
escolares foram extintos e o ensino primário passou a ser ministrado em escolas públicas e particulares,
como também tiveram seu currículo de ensino modificado passando a atender as instituições de
primeiro grau. Busca também compreender a cultura do grupo escolar, e em particular os significados
de sua construção na cidade de Uberlândia/MG. Para isso será necessário identificar o quadro social,
político e econômico da sociedade brasileira em geral e, de modo mais particular, da sociedade
uberlandense no decorrer dessas décadas. Penso ser necessário problematizar a trajetória do grupo
escolar no sentido de repensar como os moradores lidavam com as mudanças educacionais e como a
impressa local problematizava o ensino educacional, as experiências e dificuldades dos moradores na
luta pelo direito à aprendizagem das primeiras letras. Pretende-se que a história a ser resgatada
contribua para os estudos no campo educacional, do grupo escolar e para a construção da história da
cidade e das instituições escolares no Brasil, bem como seja capaz de fornecer elementos para outras
pesquisas de recortes mais estreitos e que possa ampliar a compreensão acerca da história da educação
no país. Dentre os documentos pesquisados para a pesquisa utilizo fontes da imprensa local,
documentos oficiais da Câmara Municipal de Uberlândia, Atas, Processos, Correspondências Recebidas e
Correspondências Expedidas, Protocolos, fotografias, entrevistas de ex funcionários e alunos, mapas da
cidade e revistas locais. Como vou trabalhar com a diversidade e provisoriedade do conhecimento
histórico não pretendo me cercar a priori, de teorias prontas e manuais que indicam passos pré-fixados
para a pesquisa. A teoria é pensada e construída em um diálogo com a experiência humana vivida. O
método assim pensando não é o desenvolvimento de uma técnica científica de pesquisa em História.
Parto de uma escolha dos sujeitos, do momento histórico e das fontes que já carregam minhas
preocupações e minhas posições políticas. Acredito que todas as fontes são carregadas de posições
políticas, valores, ideologias e nesse sentido busco estabelecer um cruzamento entre elas para
compreender com mais profundidade as teias que envolveram os sujeitos no momento histórico
escolhido e suas relações sociais com a instituição escolar.

801
A ALFABETIZAÇÃO NA HISTORIA DA EDUCAÇÃO NO ESPÍRITO SANTO (DÉCADA DE 1870)

MARIA DA PENHA DOS SANTOS DE ASSUNÇÃO.


UFES, VILA VELHA - ES - BRASIL.

A pesquisa teve como objetivo estudar a alfabetização na província do Espírito Santo na década de 1870
investigando se os discursos oficiais reformistas acerca da alfabetização contribuíram para a
constituição de “novos” métodos e práticas de ensino da língua que rompessem com modelos baseados
no trabalho com as unidades mínimas da língua. Nosso estudo é documental e partimos da concepção
bakhtiniana de linguagem abordando a noção de texto, que segundo Bakhtin (2003) “e um dado
primário de análise de todas as disciplinas”. A instrução pública capixaba passou por três regulamentos
e um regimento ao longo da década de 1870. É importante salientar que essas quatro propostas
buscaram entre outras coisas metodizar oficialmente o ensino e ao mesmo prescrever os programas de
ensino destinados ao ensino da leitura e da escrita. Ao longo do período tivemos a oficialização do
método mútuo, do método simultâneo, do misto e até mesmo da autorização para a mescla de

153
métodos. O método misto e o simultâneo eram considerados mais modernos, a utilização do primeiro
garantia a continuidade de métodos antigos como o mútuo e o individual. Isso nos leva a analisar que
apesar do discurso reformista a utilização do método misto tem a demonstrar que as práticas não eram
modificadas, pois se esse método congregava elementos de métodos mais antigos constituindo-se em
práticas conservadoras já instituídas não haveria mesmo modificação no ensino da leitura e da escrita.
Com programas que se destinavam a ensinar a ler, escrever e contar, se pensava em ensinar alguns
rudimentos de gramática a partir de impressos de marcha sintética sem considerar aspectos como a
relação sons e letras e da relevância do trabalho da produção de textos orais e escritos discutidos por
Gontijo (2005).Vale a pena ressaltar que a concepção que orientou os programas de ensino e os
materiais impressos utilizados na província do privilegiou o estudo das unidades menores. A
decomposição do ensino em sílabas, palavras e frases visava alcançar a leitura de textos que
inicialmente também eram decompostos em sílabas e depois em frases, no entanto esse procedimento
não trazia bons resultados, os relatos das autoridades provinciais deixaram transparecer que as crianças
não aprendiam a ler, e ainda eram constrangidas por torturas físicas e psicológicas por não aprender. As
escolas funcionavam em condições de precariedade, os professores não obtiveram formação adequada
e os materiais de ensino não foram suportes que facilitaram a aprendizagem da língua. Parece que as
falas reformistas, não romperam o plano discursivo. Até mesmo a gratuidade tão defendida pelo
presidente Tomé da Silva em 1873 logrou êxitos. Palavras-chave: Alfabetização. Métodos de ensino.
Livros de leitura.

641
A ASSOCIAÇÃO CRISTÃ DE MOÇOS NA PRIMEIRA DÉCADA DO SÉCULO XX NA CIDADE DE RECIFE: A
EDUCAÇÃO FÍSICA COMO ELEMENTO DE DISTINÇÃO SOCIAL

PAULO FERNANDES OLIVEIRA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO, JABOATAO DOS GUARARAPES - PE - BRASIL.

Buscamos através desta pesquisa, dar início à investigação sobre a Associação Cristã de Moços (ACM) –
Recife, pois esta unidade de análise nos oferece muitas informações sobre a prática da Educação Física
no Estado de Pernambuco. Temos por objetivo neste estudo mostrar em que medida a prática da
educação física, mais especificamente através do esporte serviu como elemento de diferenciação social
para os componentes da ACM – Recife no período em questão. Inicialmente foi feito um levantamento
da produção científica tomando como temática a ACM – Recife, mas nenhuma produção foi encontrada
a esse respeito, sendo as informações relacionadas a esta instituição encontradas em poucas linhas e
superficialmente, em sites como o da Confederação Brasileira de Voleibol e no Ministério do Esporte, no
Atlas do Esporte no Brasil. Foram consultados jornais, mapas, revistas, livros, fotografias, atas de
reuniões, regimentos, folders, relatórios visando estruturar um acervo de documentos que serviram de
fontes para a pesquisa. A prática da Educação Física na ACM ocupava um papel de destaque nesta
instituição religiosa no final da primeira década do século XX, na cidade de Recife – PE. O esporte
apresentava-se como o elemento da Educação Física mais apreciado, pois era carregado de significado
aos participantes das atividades. Partindo da perspectiva de que a formação do cidadão prescindia o
abandono de alguns vícios e demandava um alto grau de auto-regulação por parte dos jovens que
viviam no país naquele momento específico. Este alto nível de autocontrole tinha como elementos de
seu desenvolvimento a prática da Educação Física, através do esporte, bem como de religião que
conduziam os jovens neste sentido. A prática dessas atividades, que contribuíam para o
desenvolvimento do autocontrole, mais especificamente o esporte, constituía-se como elemento de
diferenciação social, pois esta atividade demandava um maior controle das pulsões para os seus
participantes, bem como a sua prática só era permitida aqueles de detinham um maior nível de
refinamento de seus comportamentos. A ACM – Recife tinha a particularidade de oferecer uma
“educação do corpo” através de um elemento novo e que demandava comportamentos específicos e
altamente regulamentados, em que havia altos níveis de controle, tanto interna com externamente.
Estes participantes tinham no esporte um elemento de diferenciação social que os possibilitava o
exercício do controle de suas condutas, favorecendo a sua caminhada em rumo da civilidade, que era
uma das necessidades da sociedade recifense neste momento de modernização.

154
1152
A BIBLIOTECA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE: ESPAÇO DE FORMAÇÃO DO LEITOR
UNIVERSITÁRIO

MARTHA SUZANA SUZANA CABRAL NUNES.


UFS, SÃO CRISTOVAO - SE - BRASIL.

Este artigo tem o objetivo de apresentar a biblioteca como espaço de conformação da cultura
universitária, a partir das possibilidades de leitura que imprimem em seus usuários. Especificamente,
pretende-se apresentar a Biblioteca da Universidade Federal de Sergipe, como instituição que contribui
na formação do leitor universitário e que compõe o aparelhamento necessário ao processo educacional.
Para trabalhá-lo, é preciso debruçar-se sobre a investigação das práticas de leitura desenvolvidas no
universo educacional superior, entremeada com a perspectiva do leitor universitário. Neste sentido,
compreender as práticas de leitura desenvolvidas pelo estudante do curso de Biblioteconomia
contribuirá nesta construção, tendo em vista tratar-se de um público que se utiliza da leitura para
apreender conhecimentos sobre sua formação profissional e acadêmica, mas também como dispositivo
de lazer e de distinção entre seus pares. A Universidade Federal de Sergipe foi criada em 1968 a partir
da congregação das faculdades isoladas existentes em Sergipe. Cada uma delas dispunha de seus
acervos bibliográficos, os quais davam o suporte na formação dos estudantes dos diferentes cursos. A
unificação destas bibliotecas isoladas só aconteceu em 1979, quando da construção do atual Campus
Universitário. Desde esta data, a Biblioteca Central da UFS (BICEN) cresceu em volume de obras e no
atendimento aos estudantes da Universidade, buscando seu estatuto de legitimidade a partir da
condução de suas ações voltadas para o atendimento às necessidades da comunidade acadêmica. A
estrutura da BICEN comtempla, além das obras de consulta livre, acervos de documentação sergipana,
documentos oficiais e multimídia, além dos periódicos especializados. Sua história, porém, traz
embutida a própria história do ensino superior sergipano. Para construção deste artigo, apoiamo-nos no
referencial teórico da História da Educação e em seus expoentes tais como Roger Chartier (1994) e o
conceito de representação, Anne-Marie Chartier (2007) e Diana Vidal (2005) com o conceito de práticas
de leitura, Pierre Bourdieu (2005) e o capital cultural e finalmente cultura escolar tomada de Dominique
Juliá (2004). As fontes para a coleta de dados são basicamente documentos institucionais,
regulamentos, além das fontes bibliográficas como artigos, livros e dissertações. Nas pesquisas
desenvolvidas pelo Núcleo de Pós-Graduação em Educação nenhum trabalho se debruçou sobre este
objeto. Neste sentido, demonstra-se sua relevância, pois trará maiores contribuições para os estudos na
linha de pesquisa sobre História, Sociedade e Educação, desenvolvida e sedimentada pelos
pesquisadores da área, que têm contribuído para o aprofundamento das questões educacionais nas
diferentes esferas, tanto elementar quanto superior.

1101
A CIDADE E A ESCOLA: ALIADAS NA CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ORDEM PÚBLICA

BERNADETTH MARIA PEREIRA.


CEFET-MG, BELO HORIZONTE - MG - BRASIL.

Este estudo foi realizado ao longo do desenvolvimento da nossa tese de doutorado em Educação
defendida na Universidade Estadual de Campinas-Unicamp. A tese intitulada “Escola de Aprendizes
Artífices de Minas Gerais, primeira configuração escolar do CEFET-MG, na voz de seus alunos pioneiros
(1910-1942)” foi orientada pela Profa. Dra. Olga Rodrigues de Moraes Von Simson, da Universidade
Estadual de Campinas-Unicamp, e co-orientada pelo Prof. Dr. Luciano Mendes de Faria filho, da
Universidade Federal de Minas Gerais-UFMG. Objetivamos com este artigo discorrer acerca da
articulação entre a cidade e a educação escolarizada para o trabalho, na construção de uma nova ordem
pública. Portanto, elegemos como objeto de estudo Belo Horizonte, a nova capital mineira, modelo da
modernidade brasileira no início do século XX, e a Escola de Aprendizes Artífices de Minas Gerais - EAA-
MG, (1910-1942), no contexto do Brasil republicano. A abordagem metodológica escolhida para o
desenvolvimento desse estudo, de caráter qualitativo, foi a História Oral, metodologia de pesquisa que

155
privilegia os testemunhos não escritos, as fontes não hegemônicas e, ao mesmo tempo dialoga com
uma multiplicidade de fontes escritas, visuais e inclusive as oficiais. Essa opção teórico-metodológica
nos possibilitou conferir um sentido histórico a essa problemática, no contexto da cultura urbana da
sociedade belorizontina e da EAA-MG. A partir desses levantamentos, concluímos que a cidade de Belo
Horizonte e a EAA-MG interagiam com o intuito de validar simbolicamente a visibilidade das novas
idéias liberais, de uma nova ordem política e das forças econômicas progressistas. Os valores
republicanos de civilização, progresso e trabalho deveriam ser assimilados pela sociedade por meio da
educação. A nova capital mineira demandou, portanto, a inclusão de medidas sócio-educativas, que
prepararassem as classes populares para integrar a nova realidade urbana em processo de implantação.
Havia uma grande confiança na ação pedagógico-assistencial como saída para resolver o problema da
vadiagem e da resistência ao mundo do trabalho. Nessa tarefa, foi intensa a atuação dos filantropos, dos
educadores, das instâncias governamentais, dos setores das classes dirigentes e dos demais
interessados numa realidade urbana segmentada e estruturada segundo os estamentos sociais. Vale
ressaltar, ainda, que a escola apropriou-se da cultura urbana desenvolvendo hábitos e valores que iam
ao encontro da ordem republicana. A cidade, por sua vez, buscava sua regeneração por meio da
educação escolarizada pelo e para o trabalho. Assim entendemos que a EAA-MG contribuiu para que
seus alunos, denominados pela elite como os “desfavorecidos da fortuna”, assumissem o lugar que a
nova ordem republicana reservou para eles, na jovem metrópole da modernidade brasileira.

564
A CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO ASSUMIDA PELA IGREJA CATÓLICA A PARTIR DO CONCÍLIO VATICANO II
E DAS CONFERÊNCIAS GERAIS DO EPISCOPADO LATINO-AMERICANO DE MEDELLÍN E PUEBLA

ELISEANNE LIMA DA SILVA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS, MANAUS - AM - BRASIL.

Este trabalho postula a relação Missão-Educação desde o Concílio Vaticano II, perpassando pelo debate
instaurado na Igreja Católica conciliar da latino-américa em décadas posteriores. Trata-se do resultado
de pesquisa documental calcada metodologicamente na hermenêutica-dialética ao estabelecer um
“caminho do pensamento”, um fio condutor interpretativo dos entrecruzamentos existentes entre
Poder, Religião e Educação no contexto das relações institucionalizadas. Objetiva explicitar que a Igreja
em tempos conciliares se auto-proclama subsidiária da questão educacional, correlacionando vida cristã
terrena e plano trasncendente pelo viés da catequização direta. A concepção de educação assumida
tanto nos documentos conciliares quanto nas Conferências Gerais do Episcopado Latino-Americano de
Medellín e Puebla aponta para um movimento transversal em sua questão de fundo: a missionariedade.
Ao perpassar pela “educação libertadora”, “educação para a justiça” e “educação evangelizadora” a
Igreja latino-americana opta pelos pobres de materialidade e, finalmente, transcende, objetivando
trabalhar a pobreza espiritual dos povos dos trópicos. A priori, o Concílio assenta a realidade das
diferenças culturais existentes entre os povos de uma maneira pontual sem maiores explicitações.
Frente às questões próprias do homem latino-americano, os documentos aludem de forma notacional e,
portanto, lacunar o trato com a questão indígena e o lidar com a diversidade cultural em tempos onde o
embate tradição/modernidade assume ares de renovação institucional. Medellín fala no
empreendimento do “diálogo criador com outras culturas” sem amarrar as pistas procedimentais para
tal; já Puebla direciona metodologicamente este lidar sob a égide absoluta da “evangelização das
culturas”. Outras questões conceptuais conflitivas como incorporação, integração e participação dos
povos indígenas no espaço educacional da catequese também são consideradas neste trabalho ao levar
em conta o caráter mandatório do Vaticano II no que diz respeito às possibilidades de criação de
mecanismos diferenciados de atuação da Igreja pós-conciliar. Dito isto, depreende-se a completude da
amarração Missão-Educação na América Latina: a Igreja Católica, ao visualizar (de longe) os contextos
das diferenças culturais e as múltiplas pulsações conflituais da sociedade latino-americana (as quais ela
mesma ajudou a gestar historicamente), tenta manter-se viva e fiel ao mandado de seu Fundador pela
veia da formação educacional das mentes e dos corações.

156
1203
A CONCEPÇÃO DE ESCOLA ATIVA NO ENSINO INFANTIL DE GOYAZ (1930)

ANA MARIA GONÇALVES; APARECIDA MARIA ALMEIDA BARROS; SELMA MARTINES PERES.
UFG, CATALÃO - GO - BRASIL.

O estudo que apresentamos é parte integrante do projeto de pesquisa A Institucionalização da Instrução


Elementar em Goiás (1835/1930). Propomos como foco de análise os princípios atribuídos ao ensino
infantil, ministrados às crianças de 4 a 6 anos nos jardins de infância, pelo Regulamento do Ensino
Primário do Estado de Goyaz (1930). A escolha deste documento prende-se ao intuito de compreensão
de como as idéias pedagógicas, veiculadas no Brasil, se colocaram no âmbito do trabalho reformista
operado em Goyaz em 1930. Entendemos que o referido documento nos permite explicitar as novas
práticas prescritas, individuais e coletivas, as quais deveriam ser vivenciadas por professores e alunos no
cotidiano das escolas. Na análise problematizamos que a proposta teve lugar no período de
efervescência das discussões das idéias pedagógicas renovadoras, período de ascensão da Escola Nova
no Brasil. Cumpre salientar que o sistema educacional paulista era tomado como modelo de educação
em Goiás. Assim, o governo do estado assinou um convênio com o governo de São Paulo acertando a
vinda de uma missão paulista, cuja chefia ficou sob a responsabilidade do professor Humberto de Sousa
Leal. No entanto, esse Regulamento seis meses depois sofreu alterações pelo decreto nº 659, de 28 de
janeiro de 1931, baixado pelo interventor federal Pedro Ludovico Teixeira, que assumiu o poder em
Goiás após a Revolução de 1930. No entanto, essas alterações promovidas pelo novo governo não foram
substanciais, visto que seus princípios escolanovistas asseguravam a inexistência de incompatibilidades
com o governo “renovador”. No que se refere à educação pública goiana, o governo revolucionário
recebeu do regime anterior um total de 18 grupos escolares e 161 escolas isoladas ou comuns, além das
escolas mantidas pelos municípios e as que funcionavam nas fazendas. Em relação ao ensino secundário
um total de 8 estabelecimentos estavam em funcionamento, sendo que 6 ofereciam o ensino normal.
Tinha início, assim, a ascensão de um novo grupo político ao poder e, segundo Chaul (1997), a
constituição de duas representações básicas: a utilização do saber médico como discurso que dissecava
o velho Goiás e a construção de uma nova capital, Goiânia, que se traduziria no símbolo maior da
modernidade e do progresso goiano. No campo teórico, buscamos aporte em autores como Pestalozzi,
Froebel, Montessori, Decroly e Claparède para interpretar os pressupostos metodológicos e conceituais
sugeridos pelo Regulamento. Apoiamo-nos, também, em fontes bibliográficas e documentais como
jornais, revistas, decretos, portarias e fotografias, levantadas no Arquivo Público “Frei Simão Dorvi”, da
Cidade de Goiás-Go e no Arquivo Histórico Estadual de Goiás, sediado em Goiânia-GO.

692
A CONSTITUIÇÃO DE INSTITUIÇÕES ESCOLARES NA ILHA DO MARANHÃO

MARIA DAS DORES CARDOSO FRAZÃO.


UFMA, SAO LUIS - MA - BRASIL.

O texto resulta de uma pesquisa em andamento cujo objetivo geral é conhecer a constituição de
instituições escolares no município de Paço do Lumiar. Os dados referem-se a seis escolas públicas da
Rede Municipal: Unidades de Educação Básica Alfredo Silva, Benjamin Peixoto, Genival Pereira,
Governador Luiz Rocha, Leda Tájra, Nicolau Dino. A referida Rede conta com trinta e nove escolas, das
quais, apenas uma é da zona urbana. Inicia-se o estudo conhecendo aspectos históricos e
socioeconômicos deste território, para, em seguida, aprofundarmos nos espaços escolares, onde
pudemos entrevistar as diretoras, bem como outros sujeitos da comunidade escolar e conhecer
documentos que constituem fonte para nosso trabalho. Paço do Lumiar faz parte da Ilha do Maranhão,
junto com São Luís, capital deste Estado, São José de Ribamar e Raposa. Há poucos trabalhos científicos
sobre o município em questão, alguns deles estão nas áreas de Ciências da Saúde e Geociências. Este
município foi habitado por indígenas e ainda hoje existem descendentes destes na localidade. Paço do
Lumiar tem suas origens históricas fundadas no tempo dos jesuítas no Maranhão, orginando-se de duas
propriedades distintas, depois agrupadas para a formação da Vila. Uma delas consistia em uma faixa de

157
terras doadas a um amigo de Alexandre de Moura, na então Província do Maranhão. A outra consistia
em uma légua de terra que formava o sítio Anindiba. O nome Paço do Lumiar surgiu em razão de sua
semelhança com uma localidade existente em Portugal, denominada Província do Lume. As escolas
foram fundadas: Unidade de Educação Básica Genival Pereira em 1º de abril de 1986. Unidade de
Educação Básica Benjamim Peixoto em 5 de setembro de 1970. Unidade de Educação Básica Nicolau
Dino em 1972. Unidade de Educação Básica Alfredo Silva em 1984. Unidade de Educação Básica
Governador Luiz Rocha em 1982. A Escola Jardim de Infância “Reino Infantil” situada a Praça Nossa
Senhora da Luz, sede do Município de Paço do Lumiar, foi fundada em 1983. A referida escola era
mantida pelo convênio entre Movimento Brasileiro de Alfabetização – MOBRAL e a Prefeitura desta
cidade. Em 1984, o MOBRAL foi extinto. A partir desta data, a Escola é nomeada Unidade Escolar “Lêda
Tájra”. A pesquisa traz contribuições teóricas de Certeau (2007), Haesbaert (2005), (2006), (2007),
Motta (2003) e Trovão (1994). Embora, a fundação destas instituições não seja recente, observa-se que
a educação oferecida pelas escolas supracitadas é carente de infra-estrutura, de pessoal, haja vista, que
a maioria de funcionários (as) é contratada e está em processo de formação em nível superior, este
quadro se agrava quando se trata de escolas da zona rural.

1226
A DISCIPLINA DO CORPO E A VIABILIZAÇÃO DA ORDEM NAS PRIMEIRAS DÉCADAS DO SÉCULO XX NO
MARANHÃO
1 2
KILZA FERNANDA MOREIRA DE VIVEIROS ; MARLÚCIA MENEZES DE PAIVA .
1.UFMA/UFRN, NATAL - RN - BRASIL; 2.UFRN, NATAL - RN - BRASIL.

Ao longo do século XIX, nos países ocidentais, a higiene marcou o advento da preocupação sanitária com
o meio urbano fomentando a composição de um dos campos mais importantes da medicina social. Essa
preocupação, no Brasil, esteve associada às grandes epidemias ocorridas nas principais cidades do
Império antes da segunda metade dos oitocentos. Alicerçada na tese de que o campo da higiene
buscava promover as melhorias das condições de vida da população e relacionado ao projeto
republicano modernizador da sociedade brasileira, este estudo objetiva dar relevância à compreensão
de uma teoria higienista oriunda do campo médico e sua conseqüente influência na configuração (ELIAS,
1970) e edificação de uma nova identidade nacional. Sob este enfoque, tomamos como referência os
discursos e as práticas do campo médico-social desenvolvidos na cidade de São Luís do Maranhão, por
se configurarem num solo de grande intensidade destes discursos e práticas médicas direcionadas à
infância, por meio de um jornal de época e da criação do Instituto de Assistência à Infância. Assim a
necessária compreensão do vocábulo infância, nos conduziu à concepção cultural da criança (KULHMAN,
2003), por esta se constituir, neste estudo, num campo de intervenção do discurso e das práticas
médicas que orientavam a disciplina do corpo na sociedade maranhense nas duas primeiras décadas do
século XX. Desta forma, a construção metodológica deste estudo se descreve em dois momentos. O
primeiro por estudos desenvolvidos no campo da higiene, saúde e educação e, no segundo momento,
buscou a compreensão do campo médico-social (BOURDIEU, 1989) e “corpo disciplinado” (FOUCAULT,
1987) na sociedade brasileira e maranhense, por se tornarem parte essencial à escrita deste estudo,
assim como na intenção de elaborarmos considerações acerca das práticas desenvolvidas no interior de
uma instituição de assistência à infância. Desta forma, nossas observações neste estudo se estruturam
sobre um olhar educativo, cultural, e social do campo médico, chamando-nos a atenção para sua
abrangência e importância, sobretudo educacional, numa dada temporalidade. Com o intuito de
contribuir para a historiografia da educação brasileira e maranhense e na intenção de somarmos
reflexões acerca da ação do campo médico-social no Brasil e Maranhense, através de instituições de
educação não escolares, estas ponderações integram parte das nossas análises em nossos estudos de
doutoramento, em vias de conclusão, desenvolvidos na Universidade Federal do Rio Grade do Norte.

158
1303
A EDUCAÇÃO DAS MULHERES E A PROPOSTA DA ESCOLA PROFISSIONAL FEMININA DE CURITIBA

DANIELLE GROSS DE FREITAS.


UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ, CURITIBA - PR - BRASIL.

O presente artigo, parte de uma pesquisa de mestrado em andamento, tem como objetivo a análise do
sentido de educação profissional feminina veiculada em uma instituição de ensino em inícios do século
XX, em Curitiba. A Escola Profissional Feminina foi instituída na capital do estado do Paraná no ano de
1917 pelo Decreto Estadual nº 548 de 8 de agosto do referido ano. Era dirigida por D. Maria Aguiar de
Lima, esposa de Antônio Mariano de Lima, famoso pintor e idealizador dessa instituição que
inicialmente, sob o nome de Escola de Desenho e Pintura, restringia-se a somente essas duas
modalidades de trabalho artístico e estendia seu atendimento também ao público masculino. Ao
assumir a direção, D. Mariquinha, como carinhosamente era chamada, modificou seu nome,
incrementou seu currículo e a organizou apenas para o atendimento de mulheres. Assim, a Escola
Profissional Feminina de Curitiba passa a ser uma instituição destinada a atender o público feminino na
aprendizagem de artes aplicadas às indústrias, tendo em vista acompanhar o cenário produtivo nacional
e mundial pelo viés do aperfeiçoamento dos ofícios voltado para as artes aplicadas nos trabalhos
manuais. Em meio a esse cenário coaduna-se a inserção da mulher de classes operárias e populares no
mercado de trabalho, movida pela necessidade financeira de custear ou complementar na sobrevivência
da família, o que veio movimentar um novo tipo de educação difundida em finais do século XIX e início
do século XX: a educação profissional. Para tanto, através de fotografias escolares e documentos que
regulamentaram a criação dessa instituição busca-se vestígios para compreender a que se destinava a
Escola Profissional a essas mulheres trabalhadoras, quais ofícios poderiam aprender e de que forma
poderiam aplicá-los em seus afazeres. No entanto o cenário referente a função da mulher na sociedade
neste período, apesar de estar permeado por divergências, afirma predominantemente o papel de
mantenedora do lar e da família, restrita a um universo privado, como o adequado para a sua natureza
frágil. Sendo assim, uma proposta de escolarização profissional feminina constituindo-se como co-
responsável por oportunizar a conquista de um espaço público, o universo do trabalho, às mulheres
permite vislumbrar outras representações do sexo feminino que não somente aquela vinculada a sua
função maternal. A pesquisa respalda-se, portanto, numa operação historiográfica de cruzamento dos
documentos acima citados, a fim de compreendê-los em suas entrelinhas, bem como estudo amparado
por referencial que aprofunda questões de gênero para subsidiar as análises.

750
A EDUCAÇÃO DE MENINAS DESVALIDAS NO MARANHÃO IMPÉRIO
SUZANA KARYME GONÇALVES DA CUNHA.
UFMA, SAO LUIS - MA - BRASIL.

Este trabalho constitui-se o resultado parcial da pesquisa Ordenação e disciplina: Instituições escolares
de atendimento à pobreza (meninos e meninas) no Maranhão Oitocentista, apoiada e financiada pelo
CNPq. Objetiva-se neste estudo o resgate da memória das instituições maranhenses de recolhimento de
crianças pobres e desvalidas (existentes no século XIX) encontrando-se representadas na Província, pela
Escola de Aprendizes Marinheiros, a Escola dos Educandos Artífices, a Escola Agrícola do Cutim e o Asilo
de Santa Teresa, sendo esta última, o objeto de investigação que se focaliza nesta argüição.
Apresentam-se dados significativos que caracterizam as práticas, os costumes e o cotidiano de dito
estabelecimento relativos à sua atuação no Maranhão Império, destacando-se e tentando-se
compreender as relações estabelecidas entre os atores implícitos neste cenário educativo e de
sociabilidade. Pretende-se analisar e compreender as representações construídas sobre essa instituição
e seu papel, importância e influência no campo educacional maranhense oitocentista, ao desmistificar
as formas de organização e as dinâmicas de seu funcionamento como lugar de ensino; tratando-se assim
de apreender o estrato cultural do espaço escolar, do cotidiano, dos rituais e sua significabilidade para
os são-luisenses no século XIX. Parte-se do pressuposto que essas instituições foram criadas pelo
governo provincial como forma de justificar perante a sociedade a democratização do ensino e como

159
forma de atender suas necessidades sócio-econômicas, visto que nos estamos referindo a espaços
escolares destinados ao recolhimento e à instrução de crianças pobres e desvalidas. Prescinde-se neste
investigar de três eixos epistêmicos no campo histórico: a história da infância, a história das instituições
escolares e a história do ensino profissional, considerando-se que essas instituições ofereciam além do
ensino das primeiras letras, os ofícios mecânicos para formação profissional; temáticas que trazem
consigo, ao serem tratadas pela história da educação brasileira e a historia da educação local, fatos e
acontecimentos que podem vir a tona neste processo do fazer historiográfico. A pesquisa em
andamento está sendo feita a partir do estado da arte, procurando-se identificar as temáticas que estão
sendo discutidas neste campo de estudo e a natureza das mesmas, estudos representados por (CASTRO,
2007; ABRANTES, 2002; FOUCAULT, 2004; CASTELLANOS, 2010; PETITAT, 1994; MAGALHÃES, 2004;
MARQUES, 1970; CRUZ, 2008) entre outros, e pela análise, identificação e questionamentos constantes
dos textos manuscritos, artigos publicados na imprensa periódica, relatório e falas dos presidentes de
Província, fontes legislativas e regulamentos referentes a essas instituições de ensino. Conclui-se, que as
estratégias de imposição utilizadas no intuito de consolidar os modelos educativos não foram
totalmente absorvidas pelas educandas nessas instituições.

1046
A EDUCAÇÃO DE MENINAS ÓRFÃS E DESVALIDAS NO COLÉGIO NOSSA SENHORA DO AMPARO (1850-
1870)
1
MARIA DO PERPÉTUO SOCORRO DE SOUSA AVELINO DE FRANÇA ; SAMARA AVELINO DE SOUZA
2
FRANÇA .
1.UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ E UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA, BELEM - PA - BRASIL;
2.UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA, BELÉM - PA - BRASIL.

Este trabalho tem por objetivo analisar como eram educadas as meninas órfãs e desvalidas no Colégio
Nossa Senhora do Amparo, no período de 1860 a 1870 em Belém-Pará. Trata-se de uma pesquisa
documental e bibliográfica que se vale de regulamentos do Colégio, requerimentos de matrículas,
jornais da época e da literatura pertinente a questão para compreender o processo formativo a que
foram submetidas às educandas naquele estabelecimento de ensino. O primeiro regulamento interno
do Recolhimento das Educandas, expedido pelo Presidente da Província do Pará João Antônio Miranda,
em 30 de Março de 1840, expõe em detalhes as regras de conduta a serem seguidas pelas alunas no
cotidiano escolar. As suas atividades iniciavam às cinco horas da manhã e encerravam as vinte e uma
horas. Estabeleceu-se nesse documento que, além das meninas órfãs e desvalidas, o Colégio passaria a
atender também meninas de famílias ricas da sociedade paraense, cujos pais, tutores e benfeitores,
podiam pagar pelos seus ensinamentos. Ao completarem 17 anos de idade não podiam mais
permanecer no Colégio. Para onde iam,então, às órfãs e desvalidas? Nesses casos, o administrador do
Amparo as incentivava a casar. Caso não conseguisse o feito, procurava empregá-las em casa de
famílias. As mestras do educandário deviam ser pessoas instruídas, de boa conduta moral e costumes.
Eram suas obrigações: ensinar as alunas a cozinhar, costurar, bordar, fazer flores e enfeites. Os mestres
de primeiras letras deveriam ser pessoas instruídas, de reconhecida moralidade e maiores de trinta e
um anos. Cabia a eles ensinar as alunas a ler, escrever e contar até as frações, os princípios elementares
de gramática da língua nacional, com explicações práticas, doutrina cristã e noções de moral. O ensino
era composto de três graus. No primeiro, as alunas aprendiam doutrina cristã, deveres morais e
religiosos, leitura, escrita, aritmética até frações, princípios elementares da gramática nacional. No
segundo, exercícios de agulha de todo o gênero e outros misteres próprios do sexo feminino. Por fim, no
terceiro grau, estudavam canto, piano, dança desenho e língua francesa. Enquanto os ensinamentos do
primeiro e segundo graus eram obrigatórios para todas as alunas, os de terceiro, eram reservados às
pensionistas, que podiam pagar pelas lições lá ofertadas, e às alunas órfãs e desvalidas que
apresentassem talentos para as artes, reconhecidos por seus mestres. As alunas eram educadas com
base na doutrina católica, cabendo a elas, no futuro, tornaram-se mães caridosas e amáveis a serviço do
catolicismo.

160
1358
A EDUCAÇÃO DO CORPO ANUNCIADA NO ADVENTO DA ESCOLA MISTA CONFESSIONAL EM RECIFE-PE

MARIA HELENA CÂMARA LIRA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO, RECIFE - PE - BRASIL.

Considerando o corpo não só como uma realidade em si mesmo, um mero possuir, e sim como o lugar e
o tempo onde o mundo torna-se humano, o entendemos como expressão das singularidades de uma
história social. O corpo, nesse aspecto, é visto como uma estrutura simbólica, a superfície de projeção
de identidades marcadas por mudanças sociais, históricas e culturais. Portanto, estudar o corpo em uma
perspectiva histórico social seria estudar as identidades travadas sobre ele e que o revelam como um
véu de representações. Nesse ponto de vista evidenciamos o corpo a partir de enunciados como:
técnicas corporais, gestualidades, normas de etiqueta, sentimentos e percepções em uma conjuntura
educacional sublinhada pelo advento da escola mista e pelas tensões das novas relações de gênero
requisitadas. Tendo em vista que a escola apresenta-se, ao longo dos anos, como um ambiente fecundo
para propagação de valores, costumes e práticas discursivas, elegemos o contexto da educação formal
para analisar as práticas corporais presentes nas relações de gênero travadas no advento das escolas
mistas. As discussões em torno da escola mista brasileira estão presentes em documentos datados
desde o final do século XIX. Há registros que mostram a abordagem desse assunto - embora não como o
tema principal - nas Conferências Populares da Freguesia da Glória no Rio de Janeiro, 1883, e nas Atas e
Pareceres do Congresso da Instrução do Rio de Janeiro, 1884. Os pareceres de Rui Barbosa, datados nos
últimos anos do século XIX e início do século XX, também abordam questões sobre a escola mista
(ALMEIDA, 2007). Destacamos como foco para este artigo, a posição da Igreja Católica sobre o fato de
meninos e meninas estudarem no mesmo espaço, o que configuramos no seguinte problema: Como as
escolas confessionais anunciaram as práticas corporais de meninas e meninos no advento das escolas
mistas? O objetivo em pauta é identificar e analisar o discurso religioso escolarizado acerca dessa
temática, presente no Jornal Católico A Tribuna, na década 1970, em circulação na cidade do Recife-PE.
Tal período foi escolhido por percebermos, em pesquisas anteriores, que nessa década fica evidente a
abertura de escolas mistas no universo confessional do Estado de Pernambuco. Nesse arcabouço
buscamos evidenciar o que foi argumentado para a aceitação desse tipo de intervenção educacional,
assim como, o que foi posto como resistência, no que confere a um dos principais jornais católicos da
época. Reconhecemos que nesse contexto as representações sobre o ser homem e o ser mulher
circuladas e estabelecidas em uma moral religiosa, receberam atenções diferenciadas que
condicionaram uma história da educação do corpo.

448
A EDUCAÇÃO MILITAR BRASILEIRA E A FORMAÇÃO DOS OFICIAIS DO EXÉRCITO NOS RELATÓRIOS DOS
MINISTROS DA GUERRA (1911 - 1925)

MARCUS FERNANDES MARCUSSO.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS, SÃO CARLOS - SP - BRASIL.

O objetivo deste trabalho é examinar a educação militar do Brasil e a formação dos oficiais do exército,
entre 1911 e 1925, através da análise dos relatórios anuais dos ministros da guerra. A partir dos
relatórios podemos traçar um panorama acerca da situação da educação militar brasileira e do tipo de
formação recebida pelos aspirantes a oficial nas escolas militares. Nesse sentido, daremos ênfase às
escolas de formação dos oficiais, especialmente a Escola Militar do Realengo, no Rio de Janeiro, que no
período figurou como a principal instituição de ensino militar do Brasil. O recorte cronológico escolhido
na análise deste trabalho abrange de 1911 a 1925. A Escola Militar do Realengo é fundada em 1913, mas
desde 1911 as reformas e orientações que indicavam sua fundação já estavam presentes nos relatórios
ministeriais. Em 1918, o governo brasileiro acertou a contratação de uma missão militar francesa para a
reformulação e modernização do Exército brasileiro. Inicialmente a missão concentrou seus esforços em
uma reforma das instâncias de comando da instituição castrense. Somente a partir de 1924 a missão
passou a direcionar seus esforços para a reforma da educação militar e das instituições de formação dos

161
oficiais do exército, especificamente para a Escola Militar do Realengo. Portanto, escolhemos como
último relatório o que se refere ao ano de 1925 para ilustrarmos as mudanças propostas pela Missão
Militar Francesa e corroboradas pelo ministério da guerra. Apesar dos relatórios figurarem como fontes
oficiais, e, portanto, passíveis de ocultar/dissimular fatos, são importante reveladores das mudanças
ocorridas na educação militar no período. As diferentes concepções de modernização do exército e os
consequentes meios de alcançá-la aparecem claramente nos relatórios, o que reforça a ideia de que
nesse interregno a educação militar brasileira foi um campo de disputas internas. A própria decisão de
contratar uma missão militar estrangeira gerou inúmeras discussões dentro e fora da instituição
castrense. Nessa altura recorremos a outras fontes que, ora contrapõem, ora corroboram as
informações contidas nos relatórios oficiais. Nesse sentido, são de grande importância as memórias e
relatos memorialísticos de alguns dos personagens envolvidos nesse projeto maior de modernização do
Exército e da educação militar brasileira. Durante o período estudado a Escola Militar do Realengo
serviu como o principal laboratório para as experiências de reforma e modernização da educação militar
e formação do oficial do exército realizadas pelo ministério da guerra. Através da correlação entre os
relatórios oficiais dos ministros da guerra, das memórias dos personagens e da bibliografia acerca do
tema pretendemos realizar um balanço acerca dessas experiências e de como elas influenciaram a
reforma geral do Exército e da educação militar coordenada pela Missão Militar Francesa a partir de
1924.

959
A ESCOLA DA SOCIEDADE UNIÃO OPERÁRIA: O MUTUALISMO NA EXPANSÃO DA EDUCAÇÃO POPULAR
EM SANTOS (1889-1930)

BRUNA DOS SANTOS AZEVEDO.


UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SANTOS - UNISANTOS, SANTOS - SP - BRASIL.

A passagem do século XIX para o século XX no Brasil foi marcada pela forte preocupação com a
Instrução Popular. No nascimento da República, diversos setores da sociedade discutiam a necessidade
de educar a população para que essa pudesse corresponder aos ideais de uma nação civilizada. Nessa
perspectiva, além da elite e do Estado, os setores populares foram também, responsáveis pela expansão
do número de estabelecimentos de ensino no país, por intermédio de associações, conhecidas na época
como, de socorro-mútuo. Naqueles tempos, a cidade de Santos assinalava grande contraste social, pois
de um lado se encontravam os ricos comerciantes locais e os comissários ligados à exportação do café, e
de outro, a grande massa de operários que trabalhavam no porto e no comércio. Foi nesse campo fértil
que, a cultura associativa se forjou e fortaleceu na região santista, caracterizada pela criação de
associações mutualistas. Dentre essas associações, cabe destacar as operárias, evidenciando que uma
das suas metas era a abertura de escolas para os trabalhadores e seus filhos. Foi, porém, neste cenário
cultural, social, econômico e político que surgiu a Sociedade União Operária de Santos. Essa foi fundada
no ano de 1890, por operários e mestres de obras, sob a máxima “sem trabalho não há progresso”. A
referida Associação pode ser caracterizada como uma agremiação de operários, com fins de instrução e
beneficência (auxílio na doença, morte e no desemprego). Nos primeiros anos da sua criação, a Escola
da Sociedade União Operária implantou as aulas noturnas, essas destinadas aos trabalhadores.
Entretanto, a frequência dos alunos era irregular. Foi somente, no ano de 1900 que a escola passou a ter
um fluxo regular de alunos que estudavam no período noturno. As aulas diurnas para o sexo masculino
tiveram início no ano de 1906 enquanto as turmas femininas foram inauguradas em 1908. Esse é,
portanto, parte do contexto onde se inscreve a presente pesquisa e que se encontra em andamento,
com o propósito de reconstituir, descrever e analisar a trajetória pedagógica e política da Escola
Sociedade União Operária nos seus primeiros anos de existência, em face da História da Educação
regional e nacional nos anos de 1889 a 1930. A escolha do tema reside na intenção de conhecer os
sujeitos que protagonizaram a discussão e implantação da Educação Popular em Santos por intermédio
das associações mutualistas de trabalhadores, com vistas a desvelar as suas implicações, intenções e
práticas educacionais. Por último, considerando a Escola da Sociedade União Operária como uma
manifestação explícita da organização dos trabalhadores, a reconstituição da sua trajetória se faz
relevante para compreender as associações mutualistas e a consolidação da educação popular

162
brasileira. Do ponto de vista metodológico, a pesquisa se caracteriza como histórica, de natureza
documental, exploratória, descritiva e analítica.

1317
A ESCOLA DE COMUNICAÇÃO DE SANTOS E O TRABALHO DE REVITALIZAÇÃO DA IGREJA CATÓLICA NO
BRASIL

CLAUDIO SCHERER DA SILVA.


UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SANTOS, SANTOS - SP - BRASIL.

O objetivo desta pesquisa é o estudo da origem da Escola de Comunicação de Santos, no período de


1954 a 1970. Tem-se presente a seguinte questão: o curso de Comunicação insere-se na perspectiva do
movimento renovador da Igreja, encetado por D. Leme, arcebispo do R. de Janeiro (1921–1942).
Quando se fala da Universidade no Brasil, é necessário deitar um olhar na presença da Igreja Católica.
No início do séc. XX, a sociedade brasileira passou por momentos de questionamentos e profundas
transformações. Um deles foi a questão religiosa. O liberalismo havia desenvolvido uma ótica de
secularização anticlerical. A hierarquia da Igreja sentia o afastamento e o grande vazio religioso que
imperava desde a separação do Estado e da Igreja em 1890. Era necessário fazer algo para retomar o
lugar na vida dos brasileiros. Um dos grandes arquitetos deste desafio foi o Cardeal Leme, D. Sebastião
Leme da Silveira Cintra (1882–1942). Tinha um projeto de restauração, para tirar os católicos do
marasmo em que se encontravam. Dentro desta proposta, surge a Universidade Católica. Assim, os
frutos seriam lideranças intelectuais católicas que cristificariam a nação brasileira. Separada do Estado,
em décadas anteriores, a Igreja Católica se inscreve agora no contexto de reaproximação com o Estado
no governo de Vargas. Numa época que tem presente a crise do liberalismo, com o advento dos
totalitarismos e a ascendência do socialismo na Europa. D. Leme, no princípio, está ligado a uma posição
mais conservadora, inclusive com o Estado Novo. Seus instrumentos são o Centro D. Vital (1922), com
nomes importantes na intelectualidade brasileira como o jesuíta Pe. Leonel Franca (1893–1949); Jackson
Figueiredo (1891–1928) e Alceu Amoroso Lima (1893–1983). A Revista Ordem (1921), fundada por esse
grupo, é o porta-voz do pensamento eclesial. Assim serão organizadas no diversos meios a Juventude
Universitária Católica, a JUC; a Juventude Estudantil Católica, JEC; a Juventude Operária Católica (JOC).
Em Santos, o 3º bispo diocesano, D. Idílio José Soares, sensibilizado com interesses da comunidade, vai
organizar, em 1951, com um grupo de profissionais liberais, a Sociedade Visconde de São Leopoldo que
será a responsável de introduzir dois cursos universitários: onde se encontra o curso de Jornalismo. A
imprensa católica foi considerada lugar central no movimento da Igreja. A Faculdade de Comunicação
inaugurada em 1970, inicialmente funcionou como curso de Jornalismo “Jackson de Figueiredo”. O
estudo ainda está sendo desenvolvido. A questão fundamental é: a Escola conseguiu desenvolver suas
metas iniciais? Quais os sinais dessa postura inicial? Estão sendo utilizados os documentos da Escola
(atas, relações de professores e de alunos) e principalmente a os jornais das imprensa local.São
importantes também os documentos pontifícios e das Comissões da Igreja relacionados à Universidade
Católica e a Imprensa.

1285
A ESCOLA DO FUTEBOL: PRÁTICAS EDUCATIVAS DA TOCA DA RAPOSA
1 2
PAULO HENRIQUE GUILHERMINO BARRETO ; ANTONIO JORGE GONÇALVES SOARES .
1.UFES UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO, VITORIA - ES - BRASIL; 2.UNIVERSIDADE FEDERAL
DO ESPÍRITO SANTO, VITÓRIA - ES - BRASIL.

Busca compreender o papel de uma instituição esportiva no campo da educação. Investiga a natureza
da escola de ensino básico mantida pelo Cruzeiro Esporte Clube nas dependências de seu centro de
treinamento para compreender as práticas educativas que ela proporciona, e como se constituem como
local de formação. Busca ainda levantar quem são e o que pensam os idealizadores dessa prática
singular de ensino. A noção de lugar e espaço, em Certeau (1994) será explorada, a revelar que a escola,
local instituído para a formação, torna-se espaço educacional através da ação dos sujeitos que a

163
compõem. O trabalho etnográfico de Wacquant (2002) servirá de referencial para a compreensão dos
fenômenos de vivência e convivência desse grupo social composto por jovens aspirantes a uma
concorrida carreira esportiva. Também as lições de Moscovici (2003) sobre representações sociais
nortearão o estudo na análise dessa perspectiva coletiva, sem perder de vista a individualidade dos
atores desse processo. Através de documentos, depoimentos, vestígios e imagens, serão levantados
dados sobre a motivação para a criação, o planejamento e o funcionamento desse espaço de prática
educativa. Utiliza documentos e depoimentos dos idealizadores dessa escola de clube. Trata-se de
pesquisa em andamento que incluirá agendamento de visita à escola para observação direta de seu
funcionamento, acesso a documentos internos, bem como entrevistas com seus representantes
pedagógicos. Para um aspirante a profissional, o treinamento é uma atividade cotidiana e compulsória,
enquanto a frequência escolar passa por preceitos sociais. Os clubes de futebol de grande porte
recebem, e hospedam, jovens atletas advindos de todas as partes do país. Veem-se então na obrigação
de oferecer escolarização a esses garotos, seja como forma de justificativa social, garantia às famílias
dos atletas, ou mesmo como estratégia para captação de talentos. Desde 2001, a Escola Alternativa
oferece acesso à escolarização aos atletas em fase de formação esportiva alojados no centro de
treinamento da Toca da Raposa I, localizado em bairro nobre da cidade de Belo Horizonte. O
oferecimento direto à escolarização proporcionado pela iniciativa (privada) da Escola Alternativa
demonstra que a conciliação dos treinamentos com a educação é algo inerente ao trabalho de formação
do Cruzeiro. O ambiente escolar constituiu-se historicamente como o local ordinário de
desenvolvimento da educação, dita assim educação formal. Algumas instituições, em suas diversas
manifestações, também exerceram papel educacional, como associações, sindicatos, e a própria família.
Outras, como o exército, o presídio, o seminário, tinham na educação um complemento à sua atividade
fim, se representado como instituições totais (FERREIRA NETO, 1999). Estaria o futebol caracterizando-
se como instituição total, na medida em que forma, alimenta, hospeda, e agora educa seus atores?

682
A ESCOLA MÉXICO: ESCOLA EXPERIMENTAL DO DISTRITO FEDERAL DOS ANOS DE 1930

ROBERTA DE BARROS DO REGO MACEDO.


PUC RIO, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL.

Este trabalho é fruto de uma pesquisa em andamento que vem analisando as práticas pedagógicas de
escolas experimentais que funcionaram no Rio de Janeiro, na década de 1930. O texto em exposição
apresenta especificamente a Escola México, 5˚ escola experimental subsidiada pelas políticas
educacionais conduzidas por Anísio Teixeira, quando este esteve à frente da Instrução Pública no antigo
Distrito Federal. Durante a sua gestão, Anísio propunha fundar em bases científicas a reconstrução
educacional do Brasil e, para tanto, criou escolas que pudessem fermentar novas praticas e métodos de
ensino. A trajetória da Escola México se mostra como expressão do projeto de renovação pedagógica do
período, principalmente aquele presente no pensamento de Anísio Teixeira. Deste modo, o presente
artigo apresenta, além do aspecto organizacional da escola, as inovações pedagógicas experimentadas
durante os anos de funcionamento da instituição enquanto Escola Laboratório. Foram identificados dois
fatores primordialmente testados: de um lado, a adoção do regime pedagógico-administrativo do
Sistema Platoon e, do outro, o desenvolvimento de uma metodologia baseada no “Método do Projeto”.
O experimento do primeiro fator baseava-se no aproveitamento do tempo e espaço das salas de aula,
consideradas como “ponto de excursão” dos alunos. Já a adoção do “Método de Projeto” se justificava
pelo seu potencial de coordenar as várias influências externas que os alunos recebiam do meio, assim
como de valorizar e promover a integração dos seus interesses, das suas experiências concretas e
problemáticas. O experimentalismo desta escola se propunha a desenvolver uma disposição pedagógica
capaz de comportar ao mesmo tempo o “ensino globalizado”, por intermédio do “Método de Projeto”, e
a “departamentalização” do conhecimento com base na organização pedagógico-administrativo do
Sistema Platoon. Foi possível compreender, por intermédio da análise dos arquivos pessoal de Anísio
Teixeira (CPDOC/FGV), da antiga diretora da Escola, Professora Juracy Silveira (ABE), e de publicações
sobre a escola nos impressos do período (acervo da Biblioteca Nacional), o modo como o
experimentalismo desta escola se desenvolveu. O objetivo desta comunicação é apresentar as

164
inovações pedagógicas aplicadas na instituição e, conseqüentemente, contribuir com os estudos que
vem analisando o pensamento educacional de Anísio Teixeira e de tantos outros que colaboraram com o
projeto de renovação educacional na década de 1930.

647
A ESCOLA NO PARQUE: PROCESSOS DE INSTITUCIONALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO INFANTIL NA CIDADE
DE VITÓRIA (ES) NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XX
1 2
JOHELDER XAVIER TAVARES ; SANDRO NANDOLPHO DE OLIVEIRA .
1.UFES, SERRA - ES - BRASIL; 2.UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO, VITÓRIA - ES - BRASIL.

No eixo temático, buscamos apresentar dados da pesquisa de doutorado, cujas análises históricas nos
forneceram indícios de processo de institucionalização da Educação Infantil na cidade de Vitória (ES) na
segunda metade do século XX. Na pesquisa tomamos como marco espaço-temporal a criação da
instituição destinada à educação infantil conhecida no centro da capital capixaba como Parque Infantil
Ernestina Pessoa, instituição que funcionou de 1952 a 2007. O estudo em questão traz como princípio
metodológico análises de cunho histórico pautadas em documentos, bibliografia e narrativas de
professoras e alunos. Para o desenvolvimento do trabalho adotamos o olhar da história em Walter
Benjamin que propõe o entrecruzamento do novo e do velho. Com base na análise de documentos do
início do século XX, relacionados à instrução pública na Província do Espírito Santo, observamos
reinvindicações por atendimentos educacionais em instituições para as crianças de pouca idade. Esses
documentos sinalizavam pistas de tímidas iniciativas no campo da Educação Infantil no estado do
Espírito Santo. No presente, observamos que nas últimas décadas o Sistema Municipal de Ensino de
Vitória (ES) incrementou significativamente o atendimento para as crianças na educação infantil se
destacando tanto no Espírito Santo quanto no Brasil. A partir de nossas análises, optamos por entender
os diferentes sujeitos e os espaços do Parque Infantil Ernestina Pessoa, durante seus 55 anos de
existência no Parque Moscoso, como sujeitos e espaços produtores e consumidores de conhecimento,
tornando-se local privilegiado onde puderam permanecer crianças capixabas de um momento histórico
com suas mais variadas influências. Nessa perspectiva nossas análises indicam que a instituição e seus
sujeitos foram pioneiros nas ações direcionadas a educação infantil, tornando-se referência para outras
instituições e profissionais da educação infantil. Entre as ações desenvolvidas na instituição destacamos
a valorização da arte, do folclore e do conhecimento espontâneo das crianças construído através dos
jogos e das trocas entre os sujeitos. No estudo o nosso olhar para as crianças buscou compreender os
processos, os desdobramentos dos trabalhos que institucionalizavam as práticas de Educação Infantil na
cidade de Vitória (ES). Assim compreendemos as crianças como portadoras da cultura de seu tempo,
sendo o Parque Infantil Ernestina Pessoa local privilegiado no que diz respeito à valorização das práticas
infantis, entre elas o direito de brincar e aprender brincando.

1188
A ESCOLA NORMAL NO PARANÁ NA REFORMA DE PRIETO MARTINEZ (1920): A BASE SÓLIDA DA
REFORMA RACIONAL DO ENSINO

MARLETE DOS ANJOS SCHAFFRATH.


FACULDADE DE ARTES DO PARANÁ, CURITIBA - PR - BRASIL.

A Escola Normal no Paraná inicia suas atividades no ano de 1870. Durante todo o Período Imperial
sofreu modestas reformas a fim de se ajustar a crescente demanda de professores formados para o
magistério público primário. Nos primeiros anos da República o ensino paranaense passa a receber a
influência da reforma do ensino paulista ainda que, no cenário educacional paranaense o que se via era
a tomada de medidas isoladas de modificação da organização do ensino sem, contudo configurar em
uma reforma geral, planejada e gerenciada para estabelecer novos padrões para o ensino público no
estado. Cesar Prieto Martinez, professor paulista, foi convidado pelo governo paranaense a assumir em
1920 a Inspetoria Geral do Ensino a fim de proceder a reforma do ensino público no estado. A reforma

165
da Escola Normal, os grupos escolares, o sistema de seriação, a homogeneidade das classes, os prédios
escolares e a ênfase na alfabetização se constituíram nas principais propostas da reforma tendo como
modelo o ensino paulista, reformado por Caetano de Campos (1890). A escola paulista reformada estava
fundamentada nos preceitos da Ciência da Educação que instaurava o ensino como operação científica,
validada pelos laboratórios de experimentação das Escolas Anexas as Escolas Normais. Representava a
modernidade pedagógica encarnada nos ideais da Escola Nova e Escola Americana; o progresso da
sociedade e, sobretudo, apontava a educação como caminho para a hegemonia política e econômica
conquistada por São Paulo. No Paraná, a reforma do ensino e as modificações na Escola Normal
executadas por Cesar Prieto Martinez a partir de 1920 são, sem dúvida inspiradas no modelo paulista,
contudo, há conforme indicam as fontes para esta pesquisa, as particularidades da sociedade
paranaense e sobremaneira a visão particular do reformador. No final do primeiro ano de seus trabalhos
no Paraná, Prieto Martinez produziu um relatório ao então Secretário Geral de Estado, Marins Alves de
Camargo, onde expõe os primeiros resultados da sua reforma assim como a perspectiva filosófica que
subsidia sua proposta de educação. Neste trabalho destaca-se a análise da reforma da Escola Normal
consubstanciada pelos fundamentos teóricos que moveu o reformador e o contexto paranaense. O
estudo será realizado tomando-se como base o conteúdo do Relatório da Instrução Pública de 1920.
Entretanto a análise do documento será realizada em perspectiva histórica, mediatizada por outros
documentos oficiais da Instrução Pública, por estudos e literatura produzidos sobre o período na busca
compreender a reforma da Escola Normal no Paraná (1920) em suas dimensões contextuais.

1009
A ESCOLA NOVA E A FORMAÇÃO DE MUSEUS ESCOLARES NO BRASIL

SÔNIA MARIA FONSECA.


HISTEDBR/UNICAMP, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL.

Esta comunicação é resultado parcial de uma pesquisa sobre Tratamento de Acervos Escolares, iniciada
em 2005, que visa sistematizar um conjunto de procedimentos técnicos de organização e conservação
que poderão ser aplicados aos acervos escolares de natureza arquivística e museológica. Ao
investigarmos a origem dos museus em instituições escolares constatamos que a adoção do método
intuitivo, e, posteriormente, a pedagogia da Escola Nova foram os marcos históricos para a prática
museológica adotada, sobretudo, em grupos escolares e escolas normais. A inovação pedagógica
ocorrida na segunda metade do século XIX contou com a introdução do Método Intuitivo ou Lição de
Coisas, uma ruptura com práticas de memorização e repetição, expressas em métodos de ensino
anteriores como o dos jesuítas, em vigor nos três primeiros séculos de nossa História. Com as novidades
pedagógicas postas pelo novo método, que se pretendia tanto método do conhecimento como método
de ensino, as instituições escolares tiveram que ser melhor equipadas para atender às exigências dos
postulados didáticos em vigor. Nos anos 20 do século XX, as reformas que foram implementadas pelos
pioneiros da Escola Nova, em vários estados, tais como Fernando Azevedo (DF), Francisco Campos (MG),
Lourenço Filho (Ceará), já traziam uma legislação escolar atinente a práticas pedagógicas que
favoreceram o surgimento de materiais didáticos e coleções didáticas, que serão o embrião da formação
de museus, particularmente os de História Natural. No “ Inquérito para o ‘ Estado de S. Paulo’”, que
Fernando de Azevedo elabora, em 1926, uma das 16 questões sobre o ensino primário e normal traz a
indagação sobre se os cursos nas escolas normais estão desamparados de material didático como
museus e herbários, laboratórios e bibliotecas. Duas obras pioneiras impressas nos anos 30 sobre o
tema museus escolares circularam nos ambientes pedagógicos. São elas a “Técnica da Pedagogia
Moderna” (1934), de Everardo Backheuser e “ Organização de Museus Escolares” ( [1937]), da
professora Leontina Silva Busch, esta última um registro do curso de prática de ensino, que voltava-se
também à organização do museu didático, ministrado em 1936 na Escola Normal “Padre Anchieta” de
São Paulo. Há indícios que estas obras tiveram divulgação ampla. No comunicado intitulado “Os museus
escolares” da professora substituta Helmy Wendt Pavão do Grupo Escolar “Almirante Barroso” de
Canoinhas, em Santa Catarina, datado de 20 de agosto de 1941, há referência à obra de Backheuser no
tocante ao museu da Escola Nova. Embora a bibliografia sobre o tema seja modesta, contrasta com a
legislação escolar, que através de regulamentos do ensino primário, ensino normal (Bahia, Minas Gerais

166
e Rio de Janeiro), código da educação e decretos (DF e São Paulo), dispôs sobre a criação de museus
escolares como “precioso órgão facilitador do ensino intuitivo”.

1151
A ESCOLA PRIMÁRIA NEUTRALIDADE E AS ESTRATÉGIAS DE LEGITIMAÇÂO DE UM CAMPO POLÍTICO-
PEDAGÓGICO NO FINAL DO IMPÉRIO

CLAUDIA PANIZZOLO PANIZZOLO.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS, ALFENAS - MG - BRASIL.

A ênfase na iniciativa de particulares, no que se refere à causa da instrução popular, considerada


caminho para o progresso, era uma constante nas últimas décadas do século XIX. O ensino paulista,
durante a transição do Império para a República, abrigou um modelo de Instituição claramente
diferenciada e geradora de inovações, que foi resultado do trabalho de um grupo de homens que se
formou na Academia de Direito, que se manteve ligado ao longo da vida por laços de amizade,
coleguismo e defesa de um ideário comum, quer seja na imprensa, quer seja nas iniciativas
educacionais. Este trabalho, trata-se de uma pesquisa já concluída e tem por objetivo recuperar o
alcance e os limites desse movimento construído por uma elite progressista que intencionou produzir,
através da propagação da instrução e das inovações do ensino, a modernização de São Paulo. Dessa
forma pretende-se analisar os motivos da criação, a breve trajetória e as prováveis causas do
encerramento da Escola Primária Neutralidade, importante instituição educacional criada em 1885 por
João Köpke, pelo co-diretor Antônio da Silva Jardim e pelo professor Artur Gomes – homens unidos pela
adesão ao partido republicano e aos princípios positivistas. A Escola apresentava-se “ostensivamente
positivista na sua fundamentação, na sua programação e objetivos, e no regime de trabalho” (Hilsdorf,
1986, p.232). Baseada em Comte, a Escola Neutralidade propunha um ensino que as elites progressistas
entendiam como necessário para a formação do espírito e do caráter do homem moderno, pautado na
elevação física, mental e moral da criança, que desenvolvesse os bons sentimentos da infância, através
de processos estéticos e intelectuais, pelos bons exemplos do professor e pela disciplina suavizada.
Dentre seus fundadores destaca-se o papel desempenhado por João Köpke, ao longo das décadas de 70
e 80, uma atuação intensa, profunda e, sobretudo, coerente, abrangendo experiências com o ensino
elementar e o secundário, com a produção de métodos para ensinar a ler e a escrever, bem como com a
produção de leituras voltadas a instruir e moralizar. Como membro da vanguarda liberal e republicana,
João Köpke envolveu-se ativamente com as escolas que almejavam a emancipação cultural da mulher, a
educação científica das elites e o ensino leigo e anticlerical. Embora a escola não apresentasse
problemas financeiros e tivesse estabilizada quanto às matrículas, João Köpke permaneceu à frente da
direção até meados de 1886, passando a direção para Geraldino Campista e Moura Lacerda, e mudou-se
definitivamente para a cidade do Rio de Janeiro.

956
A ESCOLA RURAL EM MATO GROSSO (1889-1920)

MARINEIDE DE OLIVEIRA DA SILVA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO - UFMT, CUIABA - MT - BRASIL.

Durante a primeira República, a educação era considerada como uma ferramenta importante para
alavancar o desenvolvimento do Brasil e tinha como objetivo principal, diminuir o analfabetismo e
fornecer uma formação capaz de despertar o sentimento de nação no povo brasileiro. Esses objetivos
deveriam estar presentes em todas as escolas do país, tanto nos currículos das escolas urbanas, quanto
das escolas rurais. Não se levava em consideração a diversidade de contextos em que essas escolas se
inseriam. Somente a partir de 1920, ganha força no Brasil, com os pioneiros do ruralismo pedagógico, a
discussão sobre as especificidades da escola rural brasileira. Deste modo, o presente trabalho, ainda em
andamento, pretende-se desenhar um quadro da realidade educacional das escolas rurais em Mato
Grosso, identificando o posicionamento do poder público, dos meios de comunicações, da sociedade e

167
dos docentes frente à realidade educacional das escolas rurais mato-grossenses, no período de 1889-
1920. Utilizou-se para execução deste trabalho, o método histórico, em que se analisarão fontes
documentais, disponíveis no Arquivo Público de Mato Grosso, tais como: Relatórios de Presidentes de
Províncias, de Diretores e Inspetores da Instrução Pública, Mensagens, Legislações e Jornais à época,
além de fontes bibliográficas que retratam o cenário em que a temática se insere. O recorte temporal
foi escolhido por abranger um período de grandes transformações sociais e educacionais no Brasil,
principalmente a partir de 1920, quando emergiram no país a luta por uma educação rural diferenciada
e que pudesse proporcionar conhecimentos e habilidades, capazes de tornar o sujeito apto a
trabalharem na terra e tirar dela sua subsistência. Os dados mostram que as escolas rurais em Mato
Grosso, possuíam a denominação, no período em estudo, de escolas isoladas. As escolas isoladas se
localizavam a mais de 3 km das cidades e tinham o objetivo de ministrar a instrução primária para
crianças de 07 a 12 anos de idade. A análise documental indicou ainda que a realidade das escolas rurais
mato-grossenses foi marcada por abandono, falta de alunos, descaso das autoridades locais, escassez de
estabelecimento de ensino, de materiais pedagógicos e de professores diplomados, contrastante com a
realidade da educação ministrada nas cidades. Acredita-se que o mapeamento documental sobre a
realidade das escolas rural em Mato Grosso possa trazer elementos para se compreender a conjunturas
sociais e as correntes de pensamento que permeavam a educação no período de 1889 a 1920.

1082
A ESCOLANORMALOFICIAL DO PIAUI E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA A SACRALIZAÇÃO DA MEMORIA
CIVICA

SALÂNIA MARIA BARBOSA MELO.


UEMA, TERESINA - PI - BRASIL.

O presente trabalho tem como objetivo primeiro apresentar a Escola Normal Oficial do Piauí, enquanto
instituição de ensino, inserida em um contexto histórico de construção da memória cívica, que buscava
atender as exigências ora impostas através de um calendário específico de criação de datas e
“inventando tradições”. Atentando para o fato de que todo este processo faz parte da expansão do
ensino primário, como ação das práticas pedagógicas das normalistas. A conceituação de Cultura Escolar
de Antonio Viñao Frago (1995) que a entende como sendo todos os aspectos do cotidiano escolar,
desde sua materialidade física, seus fazeres, saberes e modos de pensar, portanto com habilidades para
arquitetar hábitos e comportamentos coletivos, possibilitou este olhar interpretativo na tentativa de
empreender um estudo desta Escola e suas contribuições, para a história da memória cívica piauiense
na chamada Era Vargas, de 1930 a 1945, momento histórico em que a educação passa a ser vista como
instrumento de formação e constituição da nacionalidade, o recurso mais lógico é atrelar esse
pensamento ao cotidiano escolar, utilizando-se para tanto das festas cívicas e das disciplinas que
facilitassem a construção do patriotismo como Educação Moral e Cívica, Educação Física, História e
Canto Orfeônico. Para analisarmos a cultura escolar piauiense que pode ter seu início, a partir da
implantação dos grupos escolares como espaço de ação de professores (as) formados (as) na Escola
Normal é necessário, primeiramente compreender que, o que acontece no interior deste ambiente
cultural, que se funda dentro dessa temporalidade por nós buscada, de 1930-1945, na tentativa de
homogeneização de atitudes e padronização de práticas. Adotando como guia analítico o lugar ocupado
e as dinâmicas entre a História da Educação e a História Cultural, como essa rede de significados sociais
que possibilitam vislumbrar sentido neste universo imaginário que é a escola, com todas as suas
representações, através das comemorações cívicas. Este caminhar faz-se metodologicamente pela
História Oral, desta pesquisa ora em andamento, recorrendo-se às lembranças de ex-alunas e ex-
professoras que vivenciaram este momento e ainda, as diversas fontes escritas como os periódicos
locais, O Piauhy, Diário Oficial, o Almanaque da Parnaíba e as Mensagens Governamentais.

168
1199
A FOTOGRAFIA COMO FONTE NA HISTÓRIA DA INSTITUIÇÃO ESCOLAR

MARILDA CABREIRA LEÃO LUIZ; REINALDO DOS SANTOS.


UFGD, DOURADOS - MS - BRASIL.

O estudo ora apresentado utiliza-se da fotografia como fonte para recuperação histórica de uma
instituição escolar pública na cidade de Dourados – MS, no período de 1968 a 2010. Devido à
problemática da ausência de uma cultura de sistematização, organização e tratamento do documento
fotográfico nos arquivos escolares para preservação da história da escola, o mesmo tem como objetivo
sistematizar a imagens fotográficas das ações da Escola Estadual Rotary Dr. Nelson de Araújo de
Dourados – MS em arquivo escolar, para recuperação da sua história e memória. A investigação está
sendo realizada com o auxilio da tecnologia para a captura e escaneamento das fotografias das
atividades realizadas pela escola. O interesse por essa temática é um desafio que se coloca, uma vez que
há poucos estudos preocupados com a história e memória através das imagens. As imagens parecem
mudas, mas tem muito a nos dizer, como pontua Burke (2004)sobre fotografias, as quaismostram
aspectos do passado que outras fontes não conseguem revelar, principalmente nos casos em que os
documentos textuais são raros e poucos. Imagens fotográficas são registros através dos quais os
historiadores podem estabelecer diálogos, indagar e realizar estudos. Além da dedicação à luz das
teorias que a literatura propicia sobre o tema, a pesquisa conta com o apoio do documento CONARQ
(Conselho Nacional de Arquivos), o qual determina as recomendações para digitalização de documentos
arquivisticos permanentes. O andamento da pesquisa até o momento, se constitui nas leituras
bibliográficas, levantamentos e coleta de dados da escola campo da pesquisa, captação, catalogação,
atribuição de ementa, seleção, tratamento e digitalização das imagens fotográficas, as quais serão
submetidas à análise, para sistematização do relatório final da pesquisa. A apresentação dos dados
coletados através de uma amostragem das imagens fotográficas é de fundamental importância pelo
valor informacional fixado em seu conteúdo, onde seu valor de evidência varia segundo as
circunstâncias diferenciadas de criação do documento. O estudo proposto é desafiador, mas relevante e
fundamental na recuperação da história da instituição escolar e, como intervenção fomentar na escola
pesquisada uma cultura de organização nos arquivos escolares do documento fotografia, que se destaca
como uma nova fonte de pesquisa a partir do século XIX. Para sistematização do relatório final da
pesquisa proposta, será de grande valia para o momento, o olhar de outros pesquisadores da Historia da
Educação.

518
A FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS: UMA INSTITUIÇÃO AMBIVALENTE?

VÂNIA CLAUDIA FERNANDES.


UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL.

O objetivo deste estudo é reconstruir o processo de criação da Fundação Getulio Vargas, uma das mais
importantes instituições educacionais do país. Criada em 1944, por decreto-lei baixado pelo então
presidente da República Getúlio Vargas, a FGV é uma instituição privada que surgiu para desenvolver
atividades diversas, inclusive atividades próprias de Estado, como subsidiária do Poder Público.
Reconhecida nacional e internacionalmente pelos inúmeros projetos pioneiros desenvolvidos em
diversas áreas pelo ensino, pelo cálculo de indicadores econômicos, pela pesquisa, pela consultoria e
pelas publicações. No campo do ensino marcou sua atuação nos níveis fundamental, médio e superior.
Inicialmente desenvolveu suas atividades no Rio de Janeiro, expandindo-se posteriormente para São
Paulo e, mediante convênios, passou a atuar em outras capitais e no interior do país. A instituição
passou a oferecer cursos de graduação em Economia, Administração, Direito e Ciências Sociais, no Rio
de Janeiro. Em São Paulo, são oferecidos os mesmos cursos, com exceção de Ciências Sociais. Na pós-
graduação, no Rio de Janeiro, a FGV oferece Mestrado e Doutorado em Administração, Economia,
História, Política e Bens Culturais. Em São Paulo, há cursos de Mestrado e Doutorado em Administração
e Economia; e, somente Mestrado, em Direito. A análise foi realizada pela ótica da tensão entre o

169
público e o privado, procurando explicitar a estreita relação entre a FGV e o Estado, conceituada, neste
estudo, como “anéis burocráticos”. A compreensão deste objeto e sua relação com o poder tiveram
suporte nos estudos da Sociologia das Organizações, em autores como Max Weber, Fernando Henrique
Cardoso, Luiz Carlos Bresser Pereira, Sonia Fleury, Eli Diniz e Beatriz Wahrlich. Além disso, foram
examinados documentos legais, registros institucionais e relatórios financeiros relativos à instituição. Os
estudos sobre a Fundação Getulio Vargas, realizados por ela ou por terceiros não abordam a instituição
pela ótica da tensão entre o público e o privado. Contrariamente a essa prática, este estudo tem a
intenção de trazer contribuições para a compreensão da instituição em foco, por um prisma diferente
do usualmente empregado. O estudo permitiu concluir que a construção da marca FGV resultou,
principalmente, do forte investimento público, da proteção da concorrência em função de realizar
serviços para a área governamental e pelos fortes “anéis burocráticos” mantidos durante décadas com o
Estado e não apenas pela capacidade empreendedora de seus gestores. Palavras-chave: História das
Instituições Educacionais; público e privado; FGV.

625
A GÊNESE DOS CURSOS DE FILOSOFIA E PEDAGOGIA DA FACULDADE CATÓLICA DE FILOSOFIA DE RIO
GRANDE E A PARTICIPAÇÃO FEMININA NA DÉCADA DE 1960

JOSIANE ALVES DA SILVEIRA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS, RIO GRANDE - RS - BRASIL.

Este artigo destaca uma breve história institucional da Faculdade Católica de Filosofia de Rio Grande,
criada em 1960 pela Mitra Diocesana de Pelotas e integrada à Universidade do Rio Grande em 1969,
hoje Universidade Federal do Rio Grande (FURG). Visa apresentar a importância da Faculdade de
Filosofia e dos primeiros cursos de Filosofia e Pedagogia na formação de docentes do sexo feminino.
Esse objetivo surge do estranhamento propiciado pelos documentos, até então pesquisados, que
demonstram a baixa procura feminina nos cursos superiores da cidade até a criação da Faculdade de
Filosofia. A partir de então, investiga a possibilidade dos novos cursos dessa instituição terem propiciado
o aumento da procura feminina pelo ensino superior. Sendo assim, em Rio Grande, a presença das
mulheres no ensino superior teria começado a se acentuar na década de 1960, resultado da própria
inserção tardia de uma faculdade voltada para formação de docentes na cidade. Tal enfoque instiga a
pesquisa, ainda em fase inicial, que se pretende expandir para qualificação do Mestrado em Educação.
Para tanto, busca novos vestígios em diferentes documentos, tanto impressos quanto orais, estes ainda
por serem explorados. Os documentos até então manuseados foram encontrados no NUME (Núcleo de
Memória Engenheiro Francisco Martins Bastos), localizado no campus cidade da FURG, tais como:
decretos, pareceres, relatórios e fotos. Em um segundo momento pesquisou-se no Diário Rio Grande, de
1960 e 1961, único jornal do período em estudo, encontrado no acervo da Biblioteca Rio-Grandense.
Por fim, a pesquisa estendeu-se pelo Arquivo Geral da FURG, onde foi encontrado um caderno de atas
da Faculdade de Filosofia, do período de 1961 a 1970. A utilização da História Oral e de temáticas que a
envolvem, como memórias e representações, apresentam-se como novos desafios a serem explorados.
Sabe-se que a diversificação das fontes é fundamental em História da Educação, porém alguns cuidados
são indispensáveis no seu tratamento. Para tanto, na análise das diferentes fontes busca-se
embasamento teórico-metodológico em Carla B. Pinsky, Dario Ragazzini, Justino P. Magalhães, Sandra J.
Pesavento, Verena Alberti, entre outros. Enfim, até o momento a pesquisa constata a marcante
presença de mulheres qualificadas na Faculdade de Filosofia, como um diferencial em relação às demais
Faculdades criadas na cidade. Assim, pretende manter viva a memória dessa instituição que pode ter
representado a gênese da formação, em nível superior, de mulheres-docentes na cidade do Rio Grande.

170
1393
A GÊNESE E A IMPLEMENTAÇÃO DA EDUCAÇÃO MÉDICA NA CIDADE DE UBERLÂNDIA, MINAS GERAIS
1 2
ALUÍSIO JOSÉ ALVES ; GERALDO INACIO FILHO .
1.FACED/UFU, UBERLANDIA - MG - BRASIL; 2.UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA, UBERLÂNDIA -
MG - CANADÁ.

Esta comunicação tem por objetivo apresentar um projeto de pesquisa em andamento cujo título
provisório é A HISTÓRIA DO CURRÍCULO E DAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS DA ESCOLA DE MEDICINA E
CIRURGIA DE UBERLÂNDIA NO PERÍODO 1968-1973, bem como seus resultados parciais. A história da
medicina e a história da educação médica A riqueza e a densidade da história da medicina tem sido
sobejamente demonstradas em publicações e eventos, notadamente os que são promovidos pela
Sociedade Brasileira de História da Medicina e pelo Instituto Mineiro de História da Medicina. Por isso, a
criação de espaços para a discussão de processos e movimentos que habitam essa categoria da história,
como é o caso da educação, da formação de médicos, pode ser muito promissora. Algumas publicações
da ABEM, Associação Brasileira da Educação Médica, e discussões nos congressos de educação médica,
permitem inferir que o tema currículo, embora abordado com freqüência, mantem distanciamento da
pesquisa historiográfica desse artefato pedagógico. Por se tratar de um ramo profissional com forte
influência e poder de intervenção na vida tanto no aspecto particular quanto no coletivo, espera-se que
novas análises permitam elucidar quais tem sido os caminhos percorridos pelas instituições formadoras
de médicos recebam novos impulsos por parte de pesquisadores que se dedicam à história da educação.
Qual a justificativa para se abordar a história da educação médica? Não escapa ao olhar interessado de
quem pesquisa o tema, em sua totalidade, que os historiadores e memorialistas da medicina ou da
educação, em sentido geral, tem deixado intocadas as oportunidades de se construir instrumentos e
categorias epistemológicas que permitam abordar a história da educação médica. A pesquisa, objeto
desta comunicação, visa a construção de algumas propostas para essa lacuna historiográfica e
historiológica. Considerações finais O que está em andamento é a escrita da história da Escola de
Medicina e Cirurgia de Uberlândia, identificando a organização do seu currículo escolar e as eventuais
reformas que promoveu nesse artefato no período em que foi formada a primeira geração de médicos
pela instituição, de 1968 até 1973. Buscar-se-á também identificar e descrever os motivos históricos e
políticos que levaram à criação da atual Faculdade de Medicina de Uberlândia. Foram encontradas
peças documentais que permitam realizar a historiografia da Escola nos seus primeiros seis anos de
funcionamento. O primeiro resultado é a conclusão do inventário de fontes primárias, cuja soma
ultrapassa 2.000 páginas de documentos. As referências para esta fase da pesquisa são: currículo e
grades curriculares vigentes de 1968 a 1973, Atas de reuniões, Planos de aulas, Curriculi de professores
atuantes no período pesquisado, Relatórios diversos, Livros de protocolos, Registros na imprensa,
Cadernos escolares, Publicações internas, dentre outros.

516
A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NO MEIO RURAL NO MUNICÍPIO DE UBERLÂNDIA-MG (1950 A 1979)

SANDRA CRISTINA FAGUNDES DE LIMA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA, UBERLANDIA - MG - BRASIL.

A nossa pesquisa tem como tema a história do ensino rural desenvolvido no município de Uberlândia-
MG durante os anos 1950 a 1979. Embora tenha exercido papel fundamental na alfabetização das
crianças até o final da década de 1960, esse ensino ficou relegado a um segundo plano tanto por meio
dos investimentos do poder público que, insuficientes para equipar e dotar as instituições rurais de
ensino das condições favoráveis ao atendimento da população rural, não garantiam o seu pleno
funcionamento, quanto pela relativa ausência de estudos e pesquisas acadêmicas sobre a história da
educação rural. No entanto, até princípio dos anos 1960 era no meio rural que mais de 60% dos
brasileiros se alfabetizavam, posto que trabalhavam e residiam no campo. A opção pelo recorte
cronológico incidiu sobre a necessidade de apreender a história do ensino rural em Uberlândia em sua
trajetória de consolidação até a sua transformação no final dos anos 1970, com o processo de

171
nucleação, responsável pela extinção de algumas escolas e pela ampliação de outras com a
incorporação de alunos e professores dos estabelecimentos extintos. Como “ensino rural”
compreendemos nesta pesquisa, além das iniciativas de ensino formalmente ministradas nas
instituições escolares instaladas na zona rural, as atividades informais por meio das quais os campesinos
adquiriam os rudimentos das “primeiras letras”. Como se efetivava esse processo? Quem eram os
professores? Quais os materiais didáticos empregados? O que se ensinava? São respostas a estas
perguntas que buscamos com essa investigação. O Objetivo geral de nossa pesquisa consistiu em
apreender a história do ensino rural desenvolvido no município de Uberlândia-MG. Decorrem daí os
seguintes objetivos específicos: pesquisar as práticas desenvolvidas nos estabelecimentos rurais de
ensino; apreender os processos de ensino não escolar implementados no meio rural e por meio dos
quais os sujeitos entravam em contato com as primeiras letras; analisar as representações construídas
do ensino rural por aqueles que freqüentaram escolas rurais e/ou se alfabetizaram informalmente fora
dos estabelecimentos de ensino. Empregamos como fontes de pesquisa: jornais e revistas; atas do
legislativo, atas de reuniões escolares; livros de matrículas; cadernos de alunos; fotografias; entrevistas
com ex-alunos, ex-professores, ex-diretores de escolas, fazendeiros e lavradores. Ao elegermos a
história do ensino rural no município de Uberlândia como foco dessa investigação, acreditamos ser
possível ampliar os conhecimentos acerca da história da educação em Minas Gerais e com isso
contribuir para a compreensão de alguns dos atuais problemas que perpassam a educação no Estado e
assim indicar possíveis caminhos para solucioná-los

684
A HISTÓRIA DA UFRRJ E AS MARCAS DEIXADAS NA EDUCAÇÃO PÚBLICA DE SEROPÉDICA

MARIA ANGÉLICA COUTINHO.


UFRRJ, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL.

A HISTÓRIA DA UFRRJ E AS MARCAS DEIXADAS NA EDUCAÇÃO PÚBLICA DE SEROPÉDICA Maria Angélica


da Gama Cabral Coutinho / UFRRJ angelica@ufrrj.br m_angelicacoutinho@yahoo.com.br Palavras-
chave: história da UFRRJ – escola pública - Seropédica Eixo temático 2: História das Instituições e
Práticas Educativas O trabalho ora em questão refere-se a uma pesquisa em andamento que busca
investigar a História da escola pública no município de Seropédica e sua relação com a Universidade
Federal Rural do Rio de Janeiro. A região de Seropédica desenvolveu-se a partir da instituição da Escola
Superior de Agronomia e Medicina Veterinária – a ESAVM – em 1910, e atualmente tem sua identidade
definitivamente marcada por esse projeto educacional. A instituição educacional nasceu para atender
uma clara vocação rural, e em cumprimento às demandas e exigências de conhecimento na área
técnica. Mas com o passar do tempo, inexorável e contundente, a universidade dobrou-se à realidade
do crescimento populacional e urbano, admitindo paulatinamente a implementação de cursos de
licenciaturas em seu Campus original. “Universidade” deve ser entendida como a instituição que busca
um conhecimento universal, científico e humanista, que desconhece fronteiras sociais e políticas. Ela
reflete uma dada condição real, pois é fruto da construção histórica de um povo. O trabalho busca
compreender como a criação dos novos cursos da instituição de ensino superior, sobretudo das novas
licenciaturas, refletiu-se sobre as escolas do município universitário. A investigação vai procurar
perceber o processo de crescimento da rede escolar, traçando um paralelo com a expansão da
universidade e de suas unidades, em especial a multiplicação dos cursos de licenciaturas e se tal
realidade refletiu-se na formação dos professores da região municipal. O trabalho deseja contribuir para
a construção da História das Instituições Escolares de Seropédica permitindo que se compreenda a
educação pública que se apresenta no município, de que maneira a universidade colaborou para o
desenvolvimento da educação básica de uma região marcada por sua existência. A pesquisa através do
exame da trajetória histórica da UFRRJ, especialmente dos cursos de licenciatura, quer analisar as
escolas municipais, quem são seus professores, em que nível de formação esses docentes se encontram,
e como essa escola se insere nessa região, e se articula a essa sociedade, especialmente com a
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. A investigação apoiar-se-á em pesquisa dos arquivos
municipais, tanto nos da cidade de Seropédica quanto no do município de Itaguaí, do qual se emancipou
em 1997. A História Oral também será utilizada a fim de compreender a situação da educação pública

172
municipal e de seu processo de desenvolvimento, através dos relatos de professores e gestores, além
dos depoimentos de moradores da região.

810
A HISTÓRIA DAS CRIANÇAS MARGINALIZADAS NA AMAZÔNIA: A EXPERIÊNCIA DO INSTITUTO
PARAENSE DE EDUCANDOS ARTÍFICES (1870-1899)

ANDRESON CARLOS ELIAS BARBOSA.


UFPA, BELÉM - PA - BRASIL.

A pesquisa que ora apresentamos, em processo franco de investigação, tem como objeto de estudo o
Instituto Paraense de Educandos Artífices, legalmente criado em 1870, inaugurado dois anos depois,
localizado em Belém, capital da Província do Pará, destinado ao atendimento de crianças e jovens
desfavorecidos. Objetivamos compreender, a partir de registros de jornais que circulavam na cidade de
Belém, a percepção que a população local tinha das crianças consideradas desvalidas e/ou menos
favorecidas, assim como das políticas estabelecidas pelo governo da Província paraense no período
imperial para atendê-las, de modo a compreender a relação da condição dessas crianças, e as
representações que sobre elas circulavam, com a construção da nação brasileira. As questões que
norteiam o processo de investigação são: 1) Quem eram as crianças que a legislação do Brasil imperial
chamava de desvalidas, de menos favorecidas? 2) Qual a relação desses crianças com o Estado e deste
para com essas crianças? 3) Que políticas públicas foram pensadas no sentido de garantir o atendimento
a essas crianças? 4) Qual a importância do Instituto Paraense de Educandos Artífices no contexto
apresentado? e 5) Como a sociedade da capital da província do Pará percebia essas crianças? As fontes
utilizadas são os relatórios de província do período de 1870 a 1889, final do Segundo Império, e os
documentos relacionados ao Instituto Paraense de Educandos Artífices, disponíveis no Arquivo Público
do Pará. Fontes secundárias, sistematizadas e exploradas em um trabalho de construção do Estado da
Arte sobre o tema, também servem de ferramentas para a compreensão mais apurada do objeto. O
Instituto Paraense de Educandos Artífices era uma instituição “enquadrada” na mentalidade do final do
século XIX, ao transformar a assistência social caritativa (ligada principalmente aos ideais religiosos) em
filantrópica, com caráter mais cientifico. Ele se punha, para os homens de letras e governantes, como
uma instituição capaz de promover práticas civilizadoras na população paraense, antropologicamente
“marcada” pela mestiçagem. Sob a regência do ideal civilizador, as atividades pedagógicas do Instituto
eram extremamente moralistas e disciplinadoras. Tais práticas não ocorriam sem a participação da
sociedade de um modo geral. Nos jornais da cidade cidadão comuns se manifestavam a respeito das
regras que regiam o funcionamento daquela instituição, tanto quanto do seu sentido na formação da
população já pensada com base nos ideias da modernidade e da constituição da nação.

1384
A HISTÓRIA DAS INSTITUIÇOES ESCOLARES: UMA ANÁLISE NO MUNICÍPIO DE IRATI-PR

VERÔNICA BARBOSA FURMANOWICZ; CLAUDIA MARIA PETCHAK ZANLORENZI.


UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO OESTE - UNICENTRO, IRATI - PR - BRASIL.

O estudo da História da Educação nos leva a fazer reflexões sobre os conceitos presentes na educação,
acompanhando as transformações, evoluções, revoluções e modificações que ocorreram no decorrer
dos processos históricos acontecidos no âmbito educacional. Neste sentido, é possível, mais
especificamente, entender aspectos sociais, políticos, econômicos e culturais que envolvem os mais
variados contextos educacionais, como por exemplo, a História das Instituições Escolares. Pesquisar
sobre as instituições escolares é um tema que não se esgota, diante disso, tem-se observado um
crescente aumento no interesse em investigar esse assunto específico, pois conhecer a história das
instituições escolares é de grande valia para a compreensão da educação e seus reflexos nos diversos
ambientes. Compreender a origem da escola permite decifrar os motivos pelos quais ela passou a
existir, como também, as questões socioeconômicas que envolvem a instituição e o conjunto de valores

173
e cultura dos sujeitos envolvidos, compreendendo como isso se refletem nas práticas da escola. A
pesquisa histórica de determinada instituição de ensino permite identificar a identidade da instituição,
que a torna única, e singular; e, ainda, as características da educação praticada em uma dada sociedade
e de seus interesses, possibilitando perceber como as escolas servem de instrumentos de disseminação
de valores. Este artigo apresenta estudos de uma pesquisa que está sendo realizada como Trabalho de
Conclusão do Curso de Pedagogia – UNICENTRO- PR, tendo como tema a história das Instituições
Escolares, e como objetivo central investigar a criação do Primeiro Grupo Escolar em Guamirim,
comunidade localizada no interior da cidade de Irati-PR, fundado em 1947. A contribuição que este trará
para os interessados neste assunto será de um esclarecimento sobre fatos históricos que delineiam a
história do Grupo e da comunidade de Guamirim, valorizando-se a história local e contribuindo assim
para que possa se descobrir um pouco mais do surgimento do Grupo que foi uma das primeiras
instituições escolares que beneficiaram a comunidade. Para este artigo estamos priorizando três
momentos principais. Primeiramente, será abordado sobre a educação na república, os ideais
republicanos e a criação dos grupos escolares. Num segundo momento, será relatado sobre a Educação
em Irati-PR, a formação do município, a educação no município, fazendo um breve histórico, para no
terceiro momento ser discorrido sobre a educação no distrito de Guamirim, contemplando a formação
do distrito e a formação do Primeiro Grupo Escolar desta localidade. interesses, possibilitando perceber
como as escolas servem de instrumentos de disseminaços sujeirtante a pesquisa voltada pConsidera-se,
ao final, que este trabalho venha contribuir com o conhecimento sobre a história das Instituições
Escolares, como também com a história da educação do Paraná.

915
A IMPLEMENTAÇÃO DO JARDIM DE INFÂNCIA EM MATO GROSSO (1910 - 1930)

ELTON CASTRO RODRIGUES DOS SANTOS.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO - UFMT, CUIABA - MT - BRASIL.

Com a revolução industrial e inserção da mulher no mercado, muitas creches são instaladas para
atender aos filhos dos operários. As creches surgiram, inicialmente, como uma medida paliativa diante
da crescente urbanização e possuíam dois objetivos: atender às camadas populares e liberar a mão-de-
obra feminina para melhorar o rendimento do trabalho. As primeiras creches construídas no Brasil
tinham a incumbência de reduzir os altos índices de mortalidade infantil, através de um atendimento
prioritário, fornecimento de abrigo, alimentação e cuidados médico para as crianças pobres. Na metade
do século XX, exitiam no Brasil 47 instituições entre creches e jardins de infância espalhadas pelo país,
principalmente nas capitais. Entretanto, os estudos mostram que o primeiro jardim de infância
brasileiro, criado em 1875, não se destinou a atender às famílias operárias. Era uma instituição de
origem privada que funcionava em um bairro nobre do Rio de Janeiro, atendendo a crianças entre 3 e 6
anos pertencentes à elite carioca. O primeiro jardim de infância público brasileiro, do período
republicano, começou a funcionar em 18 de maio 1896, anexo à Escola Normal Caetano de Campos, em
São Paulo. Seu modelo educacional refletia os ideais liberais do fim do século XIX, sendo essa instituição
destinada, praticamente, às camadas abastadas da população, assim, não tinham qualquer
representatividade quantitativa. Diante do explicitado, pretende-se com esse trabalho desvendar
quando se iniciou o atendimento educacional para crianças entre 3 a 6 anos em Mato Grosso no período
entre 1910-1930, pautado na análise de documentos, tais como relatórios de Presidentes de Províncias,
de Diretores e Inspetores da Instrução Pública, mensagens, legislações e jornais à época. O período
delimitado justifica-se pelo ato de criação dos Jardins de Infância através do Decreto n°. 533 de 04 de
junho de 1910 até o final do período republicano (1930). Pressupõe-se que a implantação desse modelo
escolar de atendimento às crianças de 0 a 3 anos esbarrou com a falta de recursos, prédios apropriados
e professores qualificados para atender essa demanda. Esse trabalho é resultado parcial de uma
pesquisa em andamento que objetiva desvendar a implantação e implementação dos Jardins de Infância
em Mato Grosso. As análises preliminares indicaram que a implantação do atendimento às crianças na
idade pré-escolar em escolas públicas não se consolidou na prática, havendo somente indícios de sua
existência em instituições particulares.

174
1092
A IMPORTÂNCIA DOS CLÁSSICOS PARA A FORMAÇÃO DOCENTE: UM ESTUDO DE CANDIDO E AS
BODAS DE FÍGARO

JOSIANE SCHINAIDER.
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ, OURIZONA - PR - BRASIL.

Este estudo é uma analise de duas obras da literatura francesa Candido de Voltaire e As bodas de Fígaro
de Beaumarchais. Seu intuito é refletir sobre a contribuição dos clássicos na formação docente. O
aspecto que explicitaremos, neste trabalho, incide no fato de que, a formação ética e moral das crianças
estão, cada vez mais, fazendo parte das atividades do docente, em sala de aula. Na organização do
planejamento dos conteúdos a serem ensinados pelo professor, temas como regras de convivência,
respeito aos diferentes, passaram a ser atos cotidianos da docência. Parte fundamental da educação
não formal tornou-se, hoje, também responsabilidade do professor (a). São os docentes que estão
ensinando às crianças princípios essenciais de convívio social. Diante desta realidade, o professor
necessita ser exemplo de ética e cidadania. Ele (a) precisa conhecer a realidade de seus alunos,
estimular o raciocínio, a reflexão e, principalmente a leitura e o gosto pelo conhecimento. Mas como os
professores podem realizar esta tarefa, se eles próprios não são educados dessa forma, não aprendem a
ensinar assim? Por constatarmos a falta de leitura, de contato com obras completas, a falta de
conhecimento dos clássicos desde o ensino fundamental até a graduação é que elaboramos o tema que
norteia nosso trabalho de conclusão do curso de pedagogia (TCC) e que ora apresentamos como
proposta de comunicação: Qual a importância da leitura dos clássicos para a formação docente? Para
responder a essa questão fazemos a leitura dos textos de Voltaire e de Beaumarchais. Analisamos nas
duas obras, já mencionadas, a universalidade dos conhecimentos que perpassam a História e são usados
ainda hoje na formação da sociedade e, principalmente, na formação do ser humano. Ambas trazem um
momento de maturação da sociedade burguesa, na qual os homens explicam os acontecimentos como
sendo fruto das relações sociais, portanto, ações das pessoas e não como resultantes da vontade divina.
O homem, desta sociedade, representados nas duas obras, começa a se desprender da religião e trazer
para si a responsabilidade pela sua condição, homens que, por eles próprios, traçam seus caminhos.
Essas obras destacam importantes valores e compromissos sociais que são fundamentais a existência do
convívio social, independente do tempo histórico. Todavia, é preciso destacar que estas obras se
constituem em fontes de pesquisa e podem ser exemplos da história, para nós, em virtude do nosso
caminho teórico que trilhamos. Lemos os autores e consideramos a história da educação, por meio da
lente da História social e pensamos o homem no tempo da longa duração. É, pois, sob esta perspectiva
que afirmamos que estas obras servem de base para o educador na atualidade.

945
A INFLUÊNCIA DA IGREJA CATÓLICA SOBRE AS PRÁTICAS EDUCATIVAS DA ESCOLA ESTADUAL “JOÃO
DOS SANTOS”: UMA ANÁLISE A PARTIR DA HISTÓRIA ORAL

ADÉLIA CAROLINA BASSI.


UFSJ, SAO JOAO DEL REI - MG - BRASIL.

A escola se relaciona diretamente com a memória, pois é, genuinamente, lugar de construção de


conhecimento. Nela são deixadas impressões, experiências e subjetividades. Analisar os fragmentos de
memórias, diferentes tipos de relatos e versões pode ser possível com o auxílio da História Oral. O
presente estudo apresenta resultados parciais de minha dissertação de mestrado, propondo-se inserir
esta comunicação no eixo temático “História das Instituições e Práticas Educativas”. Tem como objetivo
compreender a relação entre uma instituição de ensino e a religiosidade em São João Del-Rei, mais
especificamente a Escola Estadual “João dos Santos”. O período tomado como recorte cronológico vai
de 1934 a 1942, estipulado a partir da disposição de fontes documentais e orais. A centenária escola
aqui pesquisada tem suas origens ligas à Reforma João Pinheiro, de 1906, que se constituiu numa ampla
tentativa de remodelação do sistema escolar. Fundada em 26 de julho de 1908, recebeu o nome de
“João dos Santos” em memória ao pai de João Batista dos Santos, Visconde de Ibituruna, ex-presidente

175
da Província de Minas Gerais. Com o intuito de identificar as práticas educativas que estavam a serviço
do ideário Católico e compreender como se propagavam os preceitos religiosos na instituição, a
pesquisa toma como fontes as “Atas de Exames e Promoções”, única documentação existente no
estabelecimento, os cadernos escolares produzidos pelos estudantes, os jornais em circulação na cidade
e na instituição naquele período, e as entrevistas realizadas com ex-alunos da escola. Por isso, recorre-
se à História Oral, pois esta permite ao historiador construir evidências históricas a partir de visões
heterogêneas de diferentes narradores. A análise dos acontecimentos e relações estabelecidas entre
professores e alunos em classe permite revelar parte da história das práticas educativas passadas.
Sendo assim, como subsídio e fonte de informações, tem-se a memória de dois ex-alunos entrevistados
– e que estiveram na referida escola no período pesquisado – constituindo o principal material de
pesquisa. Fontes orais revelam, portanto, visões particulares de processos vividos coletivamente. A
singularidade é, pois, a principal potencialidade na utilização da História Oral. Deste modo, como
resultados preliminares do estudo, encontra-se a recorrência dos discursos morais e religiosos
vinculados na imprensa local e no próprio jornal produzido na escola. Tais discursos podem ser
observados nas práticas em sala de aula através das entrevistas e, principalmente, dos cadernos
produzidos pelos ex-estudantes. Reconstruir as práticas educativas que marcaram uma época é de suma
importância para a reflexão dos caminhos trilhados pela educação. O cotidiano, nem sempre encarado
como histórico, é nesse sentido, visto como fundamental artefato do fazer histórico.

1296
A INFÂNCIA NA CRIAÇÃO MUSICAL DE CÁTIA DE FRANÇA INSPIRADA EM JOSÉ LINS DO REGO

HAROLDO RESENDE.
UFU, UBERLÂNDIA - MG - BRASIL.

José Lins do Rego (1901–1957), romancista paraibano, desenvolveu conteúdos de cunho regionalista em
sua literatura, tendo como cenário histórico-geográfico a várzea do Paraíba e seus engenhos, sendo
possível afirmar que, não se detendo à região nordestina, em sua configuração geográfica apenas,
tratou também da composição social e da cultura regional, lançando um olhar sobre o homem,
habitante daquela região, no contexto das relações histórico-políticas. A cantora-compositora Cátia de
França, também paraibana, na esteira de suas leituras de José Lins do Rego transpõe traços deste
escritor para a sua própria obra, delineando a cultura popular nordestina em sua música e
estabelecendo ligações de elementos regionais, como tipos populares, folclóricos e caracteristicas
político-geográficas. Assim, suas composições, ao trazerem espaços, costumes, paisagens,
temporalidades e, sobretudo, a sociabilidade infantil do acervo literário de José Lins para sua criação
dão visibilidade a formas de se viver a experiência da infância em determinados espaços e tempos. Os
próprios arranjos de suas canções, com o uso da sanfona, da zabumba e do triângulo, trazem a
sonoridade regional nordestina para seu universo, aliando-o à criação do escritor. Assim, este trabalho
tem como objetivo estabelecer referenciais de análise histórica sobre a infância na criação musical da
cantora-compositora Cátia de França, de modo especial, a partir de composições que tenham como
substrato aspectos da obra do escritor. No recorte operado neste texto, o corpus documental será
delineado pelas composições dos dois primeiros LPs da cantora, cuja elaboração musical encontra-se
respaldo na obra de José Lins do Rego. A partir deste acervo, busca-se apreender como a literatura
apropriada pela música se torna um elemento-chave na representação da infância em sua criação
musical, ao mesmo tempo há a possibilidade de perceber significados sociais da experiência de ser
criança num universo de simbólico que informa, expressa, comunica, de modo a constituir percepções
singulares da dimensão humana. A literatura, assim como a música e o entrecruzamento de ambas são
entendidas como modos de descrição da realidade, como formas de enxergar, de conhecer o mundo.
Trata-se de expressões de vida, são registros de vida. Trata-se de narrativas do sensível, do simbólico, de
testemunhas da sensibilidade e da razão humanas, ancoradas num tempo determinado. Ao mesmo
tempo, pode-se dizer que, pelas narrativas literária e musical existe a possibilidade de o sujeito
(escritor/compositor/leitor/ouvinte) perceber-se no mundo, relacionar-se com o tempo e com as
representações presentes nesse tempo, dando a ver, na singularidade deste trabalho aspectos da
infância e da socialbilidade infantil nas terras nordestinas do início do século XX.

176
775
A INSTALAÇÃO DO ABRIGO PROVISÓRIO PARA MENORES ABANDONADOS DE SANTA FELICIDADE E A
APOLOGIA À INFÂNCIA POBRE NOS DISCURSOS QUE O ANTECEDERAM (CURITIBA, 1940-1950)

JOSEANE DE FÁTIMA MACHADO DA SILVA.


UFPR/SME, CURITIBA - PR - BRASIL.

O presente texto tem como objetivo analisar e compreender como se concretizou a instalação do Abrigo
Provisório para Menores Abandonados de Santa Felicidade e os discursos em apologia à infância pobre
que antecederam o seu surgimento. O tema proposto não se configura em uma pesquisa isolada, mas é
um dos aspectos abordados na dissertação de mestrado concluída no ano de 2009 e intitulada "Abrigar
o corpo, cuidar do espírito e educar para o trabalho: Ações do Estado do Paraná à infância do ‘Abrigo
Provisório para Menores Abandonados’ ao ‘Educandário Santa Felicidade’ (Curitiba, 1947-1957)", na
linha de História e Historiografia da Educação, do Setor de Educação da UFPR. Nesse sentido, se insere
no eixo temático História das Instituições e Práticas Educativas. A metodologia empregada ancora-se
teoricamente nas proposições de Bloch (2001), quando afirma que: a História é a ciência dos homens,
no tempo; a faculdade de apreensão do que é vivo é a qualidade mestra do historiador; reunir os
documentos que estima necessário é uma das tarefas mais difíceis do historiador; de todos os venenos
capazes de viciar o testemunho, o mais virulento é a impostura; uma palavra deve dominar e iluminar
nossos estudos: compreender; as mudanças das coisas estão longe de acarretar sempre mudança
paralela em seus nomes e reciprocamente acontece dos nomes variarem no tempo ou no espaço,
independente de qualquer variação nas coisas; tudo, as causas, em história como em outros domínios,
não são postuladas, são buscadas. Para tanto, as fontes se centram em quatro acervos: Arquivo Público
do Paraná; Arquivo da Biblioteca Pública do Paraná; Arquivo da Secretaria de Estado da Infância e
Juventude; Acervo de imagens da Casa da Memória de Curitiba. Diante da análise das fontes na
perspectiva da História Sociocultural pode-se considerar que o episódio de um Posto de Higiene e Saúde
ter se transformado, antes mesmo de sua inauguração, em um “Abrigo Provisório de Menores
Abandonados”, não foi ocasional e aponta para uma indagação: em que contexto e sob que
pressupostos se delineariam a criação de tal instituição? Assim a instalação do Abrigo Provisório para
Menores abandonados de Santa Felicidade pode ser compreendida a partir da análise dos discursos que
antecederam o seu surgimento já que há indícios de que a década de 1940 inaugurou um período de
mudanças tanto no plano estrutural da cidade, como no social. Ocorreu um período de alargamento da
assistência à infância pobre curitibana, no qual a filantropia esteve ao lado das iniciativas
governamentais de amparo e proteção à infância.

1377
A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA CRIANÇA ÓRFÃ: ORFANATOS ESPÍRITAS NO TRIÂNGULO MINEIRO,
MINAS GERAIS (1964-1990)

MARIA APARECIDA AUGUSTO SATTO VILELA.


PONTIFÍCIAUNIVERSIDADE CATÓLICA, SÃO PAULO - SP - BRASIL.

Este texto tem como proposta historiar a presença do orfanato espírita Lar da Criança em Ituiutaba-MG,
Minas Gerais, no período que vai da proposta de sua criação, em 1953, até o início de seu
funcionamento, em 1969. Esta periodização é marcada pela introdução da Política Nacional do Bem-
Estar do Menor, com a lei 4.513 de 01/12/64. A atenção à institucionalização da criança órfã chamou-
nos atenção, pois se associou muitas vezes à institucionalização da criança desvalida, principalmente
quanto à organização dessa institucionalização por parte de algumas associações espíritas, com ênfase
na segunda metade do século XX. No triângulo mineiro, as iniciativas partiram de associações espíritas
que construíram orfanatos, em algumas cidades, quase sempre obedecendo a princípios comuns, como:
a quase ausência de incentivo público; as campanhas filantrópicas junto à comunidade; e o acolhimento
de crianças órfãs da região, opondo-se ao Estado que visava principalmente à institucionalização do
menor infrator. Desse modo, entender a história regional significa posicioná-la num quadro mais amplo,
no qual são inseridas as mudanças que ocorrem no âmbito local. É nessa perspectiva, que entendemos o

177
funcionamento dos Orfanatos Espíritas, instalados no Triângulo Mineiro, na segunda metade do século
XX. Assim, verificamos que enquanto a movimentação nacional de institucionalização do menor,
promovida pelo Estado, preocupava-se sobremaneira com a questão do menor infrator, os Orfanatos
Espíritas tinham como foco principal a acolhida à criança órfã, retomando o que ocorria até a década de
1920, quando as instituições religiosas instalavam e mantinham os orfanatos. Para a busca de respostas
à questões de pesquisa, utilizamos nosso Corpus Documental (CUNHA, 2000), por meio de uma análise
interpretativa processual, numa perspectiva dialética/relacional. No que tange à relevância científica
desta pesquisa, julgamos necessário historiar esse o orfanato espírita Lar da Criança, pois constatamos a
quase inexistência de trabalhos historiográficos em relação ao nosso objeto. Portanto, é importante,
para a comunidade acadêmica local e regional, um trabalho dessa natureza, em função das
contribuições que possam trazer às novas interpretações historiográficas, ligadas ao campo da História
da Educação mineira e, porque não dizer, nacional. Hoje compreendemos que o Orfanato Lar da Criança
foi um projeto dos espíritas de Ituiutaba, para acolhimento de crianças sem família, principalmente sem
mãe.

1280
A INSTRUÇÃO PÚBLICA PARA CRIANÇAS POBRES NO COLÉGIO NOSSA SENHORA DO AMPARO NA
PROVÍNCIA DO GRÃO-PARÁ: UM ESTUDO DA INFÂNCIA NA AMAZÔNIA (1850-1890)

ELIANNE BARRETO SABINO; LAURA MARIA SILVA ARAÚJO ALVES.


UFPA, BELEM - PA - BRASIL.

A presente pesquisa faz parte da dissertação de mestrado que visa resgatar a história do Colégio Nossa
Senhora do Amparo, instituição pública que atendia crianças pobres na Província do Grão Pará, no
período de 1850 a 1890. Criada para instruir, abrigar e educar as crianças, a referida instituição foi
pensada a partir de uma política de higienizar e de estabelecer ordem na Província do Pará, pois muitas
crianças dormiam e viviam nas ruas, nos becos e em cortiços. Estudar a história desta instituição pública
é uma tentativa de compreender o discurso higiênico que se concretizava no século XIX, é interpretar a
importância política, social e cultural da instituição para este momento histórico na Amazônia. Além
disso, é uma tentativa de compreender a hierarquização do poder de uma época, de uma sociedade, e
de traços de identidades próprios dessa instituição, assim como sua proposta pedagógica e seus
conteúdos de ensino. Para tal pretendemos: (a) compreender a instrução para as crianças na província
do Grão-Pará entre os anos 1850 a 1890; (b) identificar o significado de instruir e/ou educar as crianças
desvalida, ex-escravas e indígenas para o Colégio Nossa Senhora do Amparo; (c) explicar de que forma
eram trabalhadas as instruções para as crianças menos favorecidas. Metodologicamente a pesquisa
abrange três momentos. Num primeiro momento tentamos localizar nosso objeto de estudo dentro da
área do conhecimento da história, bem como, demonstrar a interseção que há entre história cultural e
história da instituição escolar, buscando respaldo teórico em Chartier, Castanho e outros. Além disso,
conceituamos brevemente os termos História, Instituição e escolar, de acordo com as idéias de Werle,
Ragazzini, Monacorda, Magalhães e Torrinha. Posteriormente, discutimos a importância de se pesquisar
a instituição escolar Nossa Senhora do Amparo, sua relevância para instrução pública na província do
Grão-Pará, no período de 1850 a 1890, tendo como alvo as crianças pobres e sua contribuição para o
estudo sobre a infância na Amazônia, para tanto temos como base teórica em Miguel, Júnior e
Pessanha, Martinez e outros. As fontes documentais encontram-se no arquivo público de Belém. Por
fim, utilizamos a análise documental no sentido de compreender como esses debates e reformas
educacionais refletiram na Província do Grão-Pará e, sobretudo, no Colégio Nossa Senhora do Amparo,
uma vez que era uma das instituições do Governo Provincial responsáveis pela educação das crianças
pobres, atendendo as meninas desvalidas, as ex-escravas e as indígenas. Desta forma, acreditamos que
contribuímos para uma visão ampla do que foi a instrução pública para a infância no Império Brasileiro,
especialmente na Amazônia.

178
697
A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO DIDÁTICO NO COLÉGIO PEDRO II E O ENSINO DE SOCIOLOGIA (1925-
1945)

SILVIA HELENA ANDRADE BRITO.


UFMS, CAMPO GRANDE - MS - BRASIL.

Desde sua criação, na primeira metade do século XIX, o então Imperial Colégio de Pedro II já havia sido
pensado como escola modelar para o ensino secundário no país. Tal projeto consolidou-se nos decênios
seguintes, atravessando a Primeira República e se fazendo presente até 1951, quando uma última
reforma, emanada da Congregação do Colégio Pedro II e aprovada pelo Ministério da Educação e Saúde,
teve validade para o ensino secundário público em todo o país. Foi dentro desse período que houve, na
referida escola secundária, a introdução da disciplina Sociologia no currículo, que ali esteve presente
entre 1925 e a primeira metade dos anos 1940. Em função disso, este também é o marco temporal da
presente pesquisa, parte de um projeto coletivo, ainda em andamento, sobre os manuais didáticos
utilizados em quatro disciplinas no Colégio Pedro II, entre elas a Sociologia. Nesse sentido, esta
comunicação tem como objeto a organização do trabalho didático no Colégio Pedro II, especialmente a
forma como foi pensado e organizado o ensino de Sociologia, entre 1925 e 1945. O objetivo geral do
artigo é explicitar a organização do trabalho didático voltado para o ensino de Sociologia no Colégio
Pedro II. Entre seus objetivos específicos arrolam-se a discussão da relação educativa; dos recursos
didáticos, sobretudo do manual didático; e do espaço físico utilizados no ensino da referida disciplina.
Para tal, foram coligidas as fontes documentais pertinentes (sobretudo as atas da Congregação do
Colégio Pedro II e manuais didáticos produzidos por autores como Delgado de Carvalho, catedrático da
disciplina no período; os programas de ensino para a disciplina Sociologia e a legislação pertinente ao
ensino secundário nesse momento histórico); e as obras secundárias sobre a temática em questão.
Concluindo, os dados aferidos até o momento permitem problematizar as relações entre a presença da
disciplina Sociologia no ensino secundário, por um lado, e o processo de institucionalização desta
disciplina no Brasil, por outro. Além disso, permite ainda destacar como sua presença no ensino
secundário determinou uma produção intensiva de materiais didáticos voltados para o seu ensino,
sobretudo formado por manuais didáticos. O que revela, concomitantemente, um conjunto de autores e
estudiosos da Sociologia no Brasil, como é o caso de Delgado de Carvalho, que
tiveram influência, sobretudo na difusão do conhecimento sociológico e para estabelecer-se a mediação
entre um dado corpus teórico e seu público-alvo, a saber, os professores e alunos do ensino secundário.

504
A PARTICIPAÇÃO DAS CRIANÇAS NAS PRÁTICAS DE LEITURA E ESCRITA (CAETITÉ-BA 1908-1930)

GIANE ARAÚJO PIMENTEL CARNEIRO.


UFMG/UNEB, BELO HORIZONTE - MG - BRASIL.

Este trabalho tem como objetivo analisar a participação das crianças nas práticas de leitura e escrita, nas
primeiras décadas do século XX, em Caetité-BA. Ele é parte de uma pesquisa de mestrado, em fase de
conclusão, que visa apreender as práticas educativas das crianças em espaços não-escolares. A cidade
de Caetité se originou como entreposto de regiões mineradoras, nos caminhos entre a região da
Chapada Diamantina, na Bahia e o estado de Minas Gerais. Relatos de viajantes, memorialistas e
estudos recentes indicam que houve intensa circulação de pessoas, de produtos e de material escrito.
Documentos do final do século XIX e do século XX corroboram a ideia da circulação dos manuscritos e
impressos entre a população da região, de forma mais evidente, entre uma elite letrada. Vários
periódicos, como jornais e revistas, documentos oficias, livros, peças teatrais e cartas familiares
sobreviveram à ação do tempo. Para compreender como se deu a inserção da criança no mundo da
leitura e da escrita, em espaços não-escolares, nesta sociedade, serão utilizadas as correspondências
familiares, pois elas permitem adentrar no cotidiano da vida das famílias e chegar até suas crianças. As
correspondências encontradas pertencem a famílias tradicionais da cidade, o que limita a pesquisa à
condição social dos seus sujeitos. Os pressupostos teórico-metodológicos que orientam este estudo

179
estão referenciados na História Cultural, nos estudos sobre cultura escrita através da análise das
correspondências ordinárias. As mensagens trocadas entre os diversos membros da família indicam a
participação e o modo como as crianças se inseriram nas práticas da leitura e da escrita, mesmo antes
de ingressarem na instituição escolar. Ler e escrever eram atividades freqüentes entre todas as pessoas
da família, assim como comprar e presentear as crianças com livros. Antes mesmo das crianças serem
alfabetizadas, já se constituíam como leitoras/ouvintes de histórias e como autoras de textos, através do
ato de ditar suas mensagens e do adulto conduzir a mão para traçar as letras no papel. Os resultados
mostram que as crianças, mesmo com menor poder na sociedade, também tinham participação no jogo
de constituição dos sujeitos e na produção das diferenciações geracionais. Esse trabalho insere-se no
eixo “História das Instituições e Práticas Educativas”.

367
A PEDAGOGIA HISTÓRICO-CRÍTICA NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA

ANA CAROLINA GALVÃO MARSIGLIA.


UNESP, ARARAQUARA - SP - BRASIL.

Práticas pedagógicas consistentes devem estar coerentemente vinculadas às teorias pedagógicas e


psicológicas que a sustentam. Objetivando interpretar a pedagogia histórico-crítica de forma articulada
à filosofia marxista, tendo em vista compreender sua proposta metodológica para a prática pedagógica,
propõe-se um estudo teórico do referencial materialista histórico-dialético, que se inicia pela
contextualização da pedagogia histórico-crítica na educação brasileira. Em seguida, serão estudados os
autores que fundamentam essa teoria pedagógica e suas articulações com a psicologia histórico-
cultural. A pedagogia histórico-crítica começa a ser organizada teoricamente no final da década de 1970,
nas discussões da primeira turma de doutorado da PUC-SP e está fundamentada no materialismo
histórico dialético e na perspectiva política socialista. Suas ideias avançam em termos de sistematização
durante a década de 1980, com a obra “Escola e Democracia”, tomando corpo na década de 1990, com
o lançamento do livro “Pedagogia histórico-crítica: primeiras aproximações”, ambos de Dermeval
Saviani. No contexto da década de 1990 (neoliberalismo e pós-modernismo), diante das frustradas
tentativas de implantação de políticas educacionais “de esquerda” na década de 1980, refluíram as
adesões dos educadores aos movimentos progressistas. Mesmo nesse quadro adverso, muitos
educadores continuaram a trabalhar na perspectiva da pedagogia histórico-crítica, sendo demonstração
disso a realização, em 1994, do “Simpósio Dermeval Saviani e a Educação Brasileira”, que contou com
mais de seiscentos participantes. Na virada do século já eram perceptíveis os sinais de revigoramento do
interesse pela abordagem marxista nos vários campos da prática social, inclusive a educação. Os
educadores que não haviam deixado de trabalhar na linha da pedagogia histórico-crítica voltaram a
ocupar um espaço importante nos debates sobre os destinos da escola brasileira. As obras de Dermeval
Saviani são um exemplo da vitalidade dessa corrente pedagógica. O livro “Escola e Democracia” está em
sua 40ª edição, com mais de 200 mil exemplares vendidos. A obra “Pedagogia histórico-crítica: primeiras
aproximações” encontra-se na 10ª edição, com mais de 35 mil exemplares vendidos. “História das Ideias
Pedagógicas no Brasil” recebeu em 2008 o prêmio Jabuti na categoria educação, psicologia e psicanálise,
sendo importante contribuição para se compreender a trajetória das ideias pedagógicas no Brasil desde
suas origens. Em 2009, a pedagogia histórico-crítica completou 30 anos de esforços em prol da
educação da classe trabalhadora. Para tanto, foi promovido um seminário comemorativo, no qual se
reuniram professores e alunos de graduação e pós-graduação de 69 instituições, 37 cidades, 11 Estados
brasileiros. Isso indica que os educadores continuam discutindo sobre alternativas pedagógicas que
respondam a uma educação crítica na formação dos indivíduos.

180
683
A POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE MATO GROSSO E A EDUCAÇÃO – 1913 A 1937

EMERSON JOSÉ SOUZA.


UFMT, CUIABÁ - MT - BRASIL.

A POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE MATO GROSSO E A EDUCAÇÃO – 1913 A 1937 O presente trabalho
tem como propósito apresentar o resultado final de uma pesquisa sobre a alfabetização de praças da
Polícia Militar do Estado de Mato Grosso no período de 1913 a 1937. Com o advento do período
republicano se lança novos olhares sobre a educação no Brasil, trazendo a lume o debate sobre a
expansão do número de escolas e a diminuição do analfabetismo numa relação direta com a garantia de
democracia. Em Mato Grosso a alfabetização da população adulta encontra seus primórdios no final do
regime imperial,em 1872, quando são abertas duas escolas noturnas, ambas na capital Cuiabá, uma
funcionando na Paróquia da Sé e outra localizada no distrito de São Gonçalo de Pedro II, região do
porto. Esses cursos acabaram não prosperando, sendo extintos no ano seguinte, quando a Assembléia
Legislativa avalia os motivos que levaram a seu fracasso. Com a tentativa frustrada de implantação das
escolas noturnas, as mesmas só retornam em 1937, durante o governo de Getúlio Vargas, quando é
inaugurada a Escola Noturna Pedro Gardés. É nesse ínterim que se destaca a experiência de
alfabetização no batalhão de Polícia Militar de Mato Grosso, que a exemplo do que ocorre no Exército
desde o século XIX, institui em 1913 uma Escola Regimental que tem por finalidade ministrar o ensino
das primeiras letras as praças analfabetas que se alistavam no referido batalhão. Compreendendo esta
experiência como um modelo de alfabetização de adultos, busco evidenciar suas singularidades. Em um
cenário demarcado pelas intensas contendas políticas, onde a atuação do coronelismo constitui
verdadeira luta armada pelo poder, a atuação da Polícia Militar se vê diretamente envolvida nos
conflitos, refletindo as mazelas de uma sociedade marcada pela violência, ao mesmo tempo em que
constitui em espaço de educação para seu efetivo, seja através dos castigos disciplinares constantes,
seja através da inserção de seu contingente no universo letrado. Utilizando o método histórico como
interpretação e consultando fontes como os relatórios de governo, relatórios de diretores da Instrução
Pública, boletins internos da Polícia Militar, relações de matriculas da Escola Regimental, busca-se
compreender quem são esses alunos e como se posicionam perante o meio que estão inseridos; bem
como, evidenciar o pensamento educacional presente no âmbito da Polícia Militar do Estado de Mato
Grosso no período em questão, com seus métodos e concepções. O trabalho permite evidenciar as
configurações estabelecidas pela educação de adultos em Mato Grosso e, principalmente, destacar o
papel exercido pelo militarismo no que tange a esta modalidade de ensino.

1131
A PRÁTICA ESCOLAR DO INSTITUTO BENJAMIN CONSTANT NA CIDADE DE MANAUS

ERILANE DE SOUZA GUIMARÃES.


UNIVERSIDADE DE SOROCABA - UNISO, SOROCABA - SP - BRASIL.

Esta pesquisa se realiza dentro de uma perspectiva descritiva e analítica com o objetivo de recuperar os
fragmentos da história e memória do Instituto Benjamin Constant, no período entre 1889-1930. O
desenrolar do processo de investigação, permite-nos chegar a resultados mais proveitosos e a
discussões mais ricas do ponto de vista teórico e metodológico o que possibilita uma reflexão sobre o
desenvolvimento da pesquisa em todas as suas etapas, apesar das dificuldades e desafios encontrados,
sempre ficar atento ao rigor dos conceitos teóricos assumindo uma postura que implica na discussão
sistemática e continua ao longo de toda pesquisa. A proposta pedagógica do Instituto era a instrução
primária, moral e doméstica ao mesmo tempo em que preparava para o trabalho. Recebia em suas
dependências, meninas órfãs, que para lá eram encaminhadas, permanecendo no estabelecimento até
dezoito anos de idade, com exceção das que casavam antes ou, por algum motivo, não fosse mais
conveniente sua permanência no instituto. Havia a preocupação em repassar valores morais, amor à
pátria e principalmente preparar a mulher para exercer atividades consideradas afeitas ao seu sexo,
preparando-as para exercerem o serviço doméstico, e o papel de dona de casa, préstimos estabelecidos

181
como necessários para a formação da boa mãe e esposa virtuosa, e que correspondiam ao papel da
mulher como primeira educadora. O grande desafio da pesquisa está em enfrentar a deficiência de
sistematização e organização de documentos escritos e materiais iconográficos relacionados a essa
instituição. A pesquisa se desenvolve pela leitura da literatura a respeito, pela garimpagem e
sistematização dos documentos escritos e materiais iconográficos, caminho pelo qual se extrai, de
acordo com Ginzburg (1989), evidências, indícios e pistas referentes às práticas escolares, para que as
futuras gerações reconheçam as bases que consolidaram a educação amazonense. Além disso, baseia-se
nos pressupostos teóricos da cultura escolar e na forma como eles permitem construir a consciência
histórica, com o intuito de preservar parte da memória educacional local. Julia (2001), preconiza a
importância da análise dos conteúdos ensinados e das práticas escolares, afirmando que cada
instituição de ensino é única, singular nas suas normas estabelecidas e suas práticas desenvolvidas num
determinado espaço e época, onde são produzidos novos costumes e hábitos, que devem ser
investigados. Preservar a história e a memória da educação regional, seus saberes e fazeres sócio-
histórico-culturais e ampliar a produção científica devem ser compromisso perene dos que pesquisam e
se interessam pela História da Educação.

857
A REFORMA FRANCISCO CAMPOS NO ATHENEU SERGIPENSE

SUELY CRISTINA SILVA SOUZA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE, ARACAJU - SE - BRASIL.

A escrita desse artigo faz parte de uma pesquisa ainda em andamento, financiada pela Fundação de
Apoio à Pesquisa e à Inovação Tecnológica do Estado de Sergipe (FAPITEC/SE) e que estuda a
configuração da disciplina Matemática no Atheneu Sergipense frente à Reforma Francisco Campos.
Neste sentido, por meio do eixo História das Instituições e Práticas Educativas o presente trabalho trilha
a trajetória histórica da reforma do ensino secundário no interior do Atheneu Sergipense entre os anos
de 1938 e 1943, anos em que respectivamente ocorreu em Sergipe à definitiva implementação da
Reforma Francisco Campos e início da Reforma Capanema segundo equiparação deliberada pelo
Governo Federal. Para tanto, investigou-se alguns pontos das determinações prescritas pelo Decreto N.
7 de 14 de março de 1938, que regulou a referida instituição. Esses pontos elucidaram o cenário da
instituiçãoatravés da análise de sua organização, admissão, matrícula e regime escolar, muitas vezes,
articulados com as peças legislativas e fontes institucionais. Também levou-se em consideração os
estudos de Alves (2005), Nunes (1984) e Dantas (2004) que, entre outros aspectos, permitiram
apreender como se desenvolvia o ensino e a sociedade sergipana durante a década de 1930 e início dos
anos 40. Desse modo, dividiu-se essa pesquisa em três tópicos. O primeiro tópico trata do percurso
histórico da Reforma Francisco Campos no Atheneu, desde seus primeiros indícios até sua
implementação mediante Regulamento Interno. Ainda aqui, motivados pela curiosidade de distinguir a
ação de cada agente administrativo, buscou-se entender suas distintas funções quando, muitas vezes,
durante a investigação dos documentos escolares faziam-se presentes. No segundo tópico, descrevemos
o ingresso dos alunos nesse estabelecimento de ensino trilhando seus caminhos desde o processo de
admissão até a matrícula detalhando as determinações exigidas. E o terceiro tópico relatou-se os
instrumentos que regularam aquela instituição nos preceitos da ordem escolar. A Reforma Francisco
Campos se fez presente no Atheneu Sergipense desde 1936, pelo menos na lei estadual, visto que na
prática isso só aconteceu em 14 de Março de 1938, através do Decreto N. 7, conforme designou o
Interventor Federal no Estado de Sergipe ao despachar a criação do seu Regulamento Interno. Com
efeito, percebemos que os estudos secundários sergipanos apropriaram-se do ideário da Reforma
Francisco Campos, ainda que tardiamente, acompanhou os desígnios autoritários deliberados pela
Divisão do Ensino Secundário. Portanto, a instalação dessa reforma em Sergipe aconteceu em
substituição autoritária dos Cursos Complementares aos antigos Preparatórios por meio da Portaria
Ministerial de 17 de março de 1936, conforme equiparação ao Colégio Pedro II.

182
546
A SAÚDE DA MULHER: PRÁTICAS EDUCATIVAS NAS PROPAGANDAS DE CURITIBA NA DÉCADA DE 1920

SARASVATI YAKCHINI ZRIDEVI CONCEIÇÃO.


UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ, CURITIBA - PR - BRASIL.

Com base nos pressupostos da História Social da Cultura, a presente pesquisa em andamento tem como
objetivo analisar o discurso médico-higienista sobre a saúde da mulher, veiculado na década de 1920
por propagandas em três jornais curitibanos que se denominavam independentes: Gazeta do Povo, O
Dia e O Diário da Tarde. É a partir de meados da década de 1910, com a expedição médico-científica do
Instituto Oswaldo Cruz (IOC), chefiada por Belisário Penna e Arthur Neiva ao interior do Brasil que
revelava um país com uma população desconhecida, atrasada, doente, improdutiva e abandonada, e
sem nenhuma identificação com a pátria, é que ganha destaque a tese da importância da educação e da
saúde, e não só do branqueamento, para o resgate de um Brasil condenado ao atraso. A publicação em
1916 do relato Viagem científica pelo Norte da Bahia, Sudoeste de Pernambuco, sul do Piauí e de norte
a sul de Goiás dos médicos, representou um impulso para o movimento sanitarista que mobilizaria
grande parte dos intelectuais brasileiros e resultaria na criação da Liga Pró-Saneamento do Brasil em
1918 e do Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP) em 1920, sendo extremamente rápida a
adesão dos Estados à política do DNSP. É neste contexto que a mulher ganha um novo estatuto dentro
da sociedade: o de responsável e formadora dos futuros cidadãos fortes, sadios, tendo a
responsabilidade de contribuir para o aperfeiçoamento da raça. A medicalização da família e a
normatização da sociedade dependiam fundamentalmente dela, que se tornou figura central na
investida do saber médico, uma vez que era responsável pela geração e socialização primária das
crianças. Destinada pela natureza a gerar a vida, a mulher é revestida de responsabilidades morais e
sociais, inclusive no campo das profissões: professoras, visitadoras sanitárias, enfermeiras, educadoras
higiênicas, todas compartilhavam do estereótipo de cidadãs republicanas a serviço da educação e da
higiene da população. Este processo de educação da mulher para a saúde contava com veículos
importantes de divulgação, como jornais curitibanos que continham propagandas e anúncios em cerca
de 50% de suas páginas. O conceito de saúde é propagado enquanto uma mercadoria, um produto a ser
adquirido nas farmácias e botica. Nas propagandas há uma intensa campanha pela cura das doenças
sociais, à medida que novos hábitos e práticas vão sendo transmitidos à população, e os tradicionais
reprimidos, mesmo que saberes populares e científicos convivessem nos lares curitibanos. A
propaganda funciona assim como um discurso de educação dos sentidos, vendendo não só produtos,
mas idéias, imagens corporais e comportamentos, ajudando a veicular os novos ideais científicos dos
médicos-sanitaristas, à medida que se apropria destes ideais para vender e anunciar seus produtos e
serviços. A crítica das fontes publicitárias se torna procedimento essencial para reconstrução do passado
proposto pela estudo em questão.

522
A SEMIOLOGIA DO ESCOLAR CONSTRUÍDA PELO DR. UGO PIZZOLI (ITÁLIA-BRASIL)

CARLOS MONARCHA.
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA, SAO PAULO - SP - BRASIL.

Vinculada ao projeto “Clemente Quaglio (1872-1948): cânon da ciência pedológica — estudo histórico-
crítico”, apoio FAPESP, esta comunicação demarca aspectos da ciência pedológica de Ugo Pizzoli (1863-
1968), saber-fazer que proclama substancialidade e legitimidade, dentro da psicologia e pedagogia.
Consultas a acervos institucionais possibilitaram convocar massa documentária e interpretá-la, com
referencial teórico apropriado. Os objetivos da pesquisa priorizaram dados gerais sobre os esquemas
teóricos, cursos para o magistério e gabinetes de psicologia e antropologia, implantados por Ugo Pizzoli,
em Crevalcore (Bolonha) e Milão, Itália, e em São Paulo, Brasil. Além da diplomação em medicina pela
Universidade de Bolonha, Pizzoli apresentou tese em pediatria, Lo scleroma dei neo nati, frequentou
cursos de filosofia e pedagogia, em Bolonha e Pavia, de antropologia física, no Instituto de Antropologia
de Firenze, de psiquiatria, no laboratório de psicologia do Frenocômio de Reggio Emilia. Cognominado
“apostolo della pedagogia scientifica”, o pedologista intervém numa problemática em evolução: a

183
instrução popular centralizada e obrigatória, promovida pela unificação político-administrativa, a
célebre lei Casati (1859). Na moderna ciência do Risorgimento, o positivismo impera como atitude
cultural genérica ou método heurístico. Igualmente a Mantegazza, Lombroso, Credaro, Treves, Sergi, De
Sanctis, Ugo Pizzoli salienta a formação da inteligência, sentimento e vontade pelo estímulo da
educação e instrução, donde legislar o marco escolar como locus de observações empíricas
escrupulosas. Partidário do cerebralismo próprio da psicofísica e psicopatologia, o pedologista deriva a
semiologia do escolar dos processos psiconeurológicos e traços antropomorfológicos; ao transparecer a
dinamicidade do desenvolvimento (ontogênico), formas e variantes mentais e suas significações, quer
determinar a acomodação/adaptação do escolar às normas essenciais da cultura e lei moral. Em 1914,
quando evoluciona a matrícula geral no ensino primário brasileiro, conquanto incomodada por severos
índices de repetência e deserção, Ugo Pizzoli, afamado construtor de aparelhos e instrumentos
científicos, vê-se requisitado pelo governo paulista para ministrar cursos de técnicas e atuar no gabinete
da Escola Normal da Praça, idealizado por Clemente Quaglio. Meticulosa e vivaz, conclui-se que a perícia
semiológica operada pelo cientista italiano, cujos efeitos de superfície deságuam dispersamente nos
marcos escolares, singulariza-se pelo crescimento cumulativo de verdades, cuja tese central apregoa a
impossibilidade da igualdade natural entre os homens, donde medir-se e avaliar-se o desenvolvimento
da pessoa, em função de fins a serem alcançados.

1385
A VIAGEM PEDAGÓGICA NA BUSCA DE UM MODELO DE INSTITUIÇÃO PARA ASSISTÊNCIA À INFÂNCIA
DESVALIDA EM SERGIPE

ALESSANDRA BARBOSA BISPO.


UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS, CAMPINAS - SP - BRASIL.

No cenário nacional, as políticas sociais e legislativas estavam sendo implantadas e Sergipe precisava
criar uma instituição destinada para solucionar este problema que afetava todo o Brasil. A criação em
Sergipe de um órgão congênere obedecia a um movimento nacional; porém, o objetivo estava na
solução dos problemas locais. Aracaju, conhecida pelos seus quarteirões retangulares com suas ruas
retas e arborizadas, presenciou, nas décadas de 1940 e 1950 do século XX, um crescimento populacional
urbano que fez visualizar ainda mais a presença da infância pobre nas ruas da cidade. O objetivo do
trabalho é analisar a partir das viagens do diretor do Serviço de Assistência a Menores Abandonados e
Delinqüentes o modelo adotado para educar a infância pobre em Sergipe. A pesquisa procurou
compreender o objeto de estudo através de uma bibliografia que versa sobre história da educação,
história da assistência e história de Sergipe. Além dos relatórios e jornais do período. O Diretor do
Serviço de Assistência, Abelardo Maurício Cardoso, foi designado para conhecer as instituições
destinadas a menores abandonados e delinqüentes em outros estados. Nessas viagens, o Diretor do
Serviço procurou observar a organização dos estabelecimentos, bem como os erros e o aprofundamento
sobre o assunto, na busca de um modelo para a instituição de Sergipe. Foram visitadas, no total, trinta e
seis instituições, no período de 23 de janeiro a 7 de março de 1939, permanecendo maior tempo em São
Paulo, devido o fato de, neste estado, o diretor encontrar um Serviço organizado oficialmente. O diretor
Abelardo Cardoso, ao finalizar suas viagens aos outros estados, afirmou ter sido conquistado pelo
pensamento paulista, com especializações na assistência aos menores abandonados e delinqüentes. De
acordo com o diretor, a visita a São Paulo também deveria ter sido realizada por um médico, uma
professora e um pesquisador a fim de que estes profissionais fizessem um estágio na cidade antes de
inaugurar a instituição sergipana de assistência a menores abandonados e delinqüentes. Após essas
viagens foi sugerida a construção da Cidade de Menores de Sergipe que seguiu o modelo paulista de
instituições para menores abandonados e delinqüentes, principalmente, o “Educandário Dom Duarte”
alvo de grande entusiasmo pelo diretor do Serviço de Assistência a Menores Abandonados e
Delinqüentes, Abelardo Maurício Cardoso, que a denominava, em seu relatório, Cidade de Menores.
Afirmava não ter errado em começar sua viagem por São Paulo, pois este estado apresentava o melhor
serviço organizado do país, podendo ser aproveitado como padrão pelos seus “irmãos federados”. A
Cidade de Menores destinava assistir e educar menores abandonados e delinqüentes da faixa etária dos
sete aos dezoito anos de idade, em regime de internato. Neste estabelecimento, recebiam ensinos
primário, profissional e agrícola.

184
1118
A “MÁQUINA CHAGUISTA” E O INSTITUTO DE EDUCAÇÃO SARAH KUBITSCHEK: REFLEXÕES SOBRE AS
INTERFACES ENTRE POLÍTICA E EDUCAÇÃO

LUCIANA CARDOSO CARDOSO.


PUC-RIO, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL.

O presente texto busca indicar algumas das questões que norteiam a elaboração de minha tese de
doutorado, ora em andamento. Situado no campo da História da Educação e tendo como eixo temático
a História das Instituições e Práticas Educativas, este trabalho tem como proposta analisar o processo
que levou à criação do Instituto de Educação Sarah Kubitscheck (IESK) na Zona Oeste carioca em 1974.
Adotando uma perspectiva de mesoabordagem, esta pesquisa conta com análises de fontes
documentais e entrevistas realizadas com alguns dos protagonistas deste processo .Minha dissertação
de mestrado teve como foco a Escola Normal Sarah Kubitscheck (ENSK), criada na mesma região em
1959, no bojo das pesquisas então realizadas pude observar indícios que me levaram a acreditar que na
inauguração de sua congênere na década de 1970 estes elementos não só se intensificaram como
ganharam novos matizes gestados pelas acentuadas transformações sociais, econômicas e políticas do
período. Penso ser possível relacioná-la também à figura de Chagas Freitas ou melhor à sua meticulosa
política de trocas clientelistas, designada por Diniz (1982) como “máquina chaguista” que praticamente
dominou a política carioca e fluminense de 1970 até os primeiros anos da década de 1980. O atual
estado do Rio de Janeiro foi criado em 1975 com a fusão de duas unidades federativas, o antigo estado
do Rio de Janeiro e o estado da Guanabara, que se confundia com a cidade do Rio de Janeiro. A fusão
gerou uma acirrada disputa entre as lideranças do MDB (Movimento Democrático Brasileiro), um
confronto de significativas conseqüências para a dinâmica da política estadual e que se personificou nas
figuras de: Chagas Freitas, o chefe do MDB na Guanabara e governador deste estado desde 1971, e
Amaral Peixoto, líder do MDB fluminense. Amaral Peixoto contava com um enorme prestígio, mas foi
Chagas Freitas quem conseguiu o controle político do novo estado do Rio de Janeiro do qual passou a
ser governador em 1979. Meu trabalho organiza-se, portanto a partir das seguintes indagações: Que
interlocuções podem ser verificadas entre a criação do Instituto Sarah Kubitscheck e o cenário político
nacional naquele período? A inauguração do IESK pode realmente ser percebida como uma das
estratégias encetadas por Chagas Freitas para sustentação e legitimação de sua influencia política?
Como as questões acima mencionadas matizaram a organização da escola e a formação dos professores
daquela instituição? Desta forma, já apontando algumas balizas, mas cônscia de que a realidade da
pesquisa outras trará, este trabalho encontra-se como uma semente, ávida por condições que lhe
permitam não só germinar, mas também a possibilidade de gerar frutos.

551
ANALISANDO O PROCESSO DE CRIAÇÃO E CONSOLIDAÇÃO DO GRUPO ESCOLAR SILVEIRA BRUM EM
MURIAÉ-MG (1907 – 1930)

DENILSON SANTOS DE AZEVEDO; TALITHA ESTEVAM MOREIRA CABRAL.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA, VICOSA - MG - BRASIL.

O resumo apresenta os resultados parciais da investigação do processo de criação e dos primeiros anos
de funcionamento do Grupo Escolar Silveira Brum, no município de Muriaé (Minas Gerais), no ano de
1912, com o intuito de analisar os condicionantes sociais e políticos que contribuíram para sua
instalação e caracterizar a cultura escolar produzida neste estabelecimento de ensino até a década de
1930. Os principais objetivos são: buscar entender o movimento social e político que resultou no
processo de fundação e consolidação do primeiro grupo escolar público fundado nesta cidade;
identificar as características da cultura escolar instituídas no início de sua criação. Para a consecução
destes objetivos, utilizará como metodologia: o levantamento e análise do acervo documental e de
periódicos de história local encontrados no Arquivo Municipal de Muriaé, para conhecer o processo de
criação da referida instituição; a revisão de literatura sobre a história dos grupos escolares no Brasil e
em Minas Gerais, nas décadas de 1900 a 1930; levantamento e análise de documentos, fotografias e

185
outros materiais escolares encontrados nos Arquivos Público Mineiro, Municipal e no acervo da atual
escola; busca por depoimento de sujeitos que vivenciaram essa época; e, após reunir essas informações,
cotejar a filosofia educacional e as práticas pedagógicas implementadas no educandário pesquisado. O
estudo do processo de criação e expansão dos grupos escolares em algumas cidades do Estado de Minas
Gerais e no Brasil, permitiu identificar que essa difusão intentou efetivar a escolarização em torno do
projeto republicano, liberal e civilizatório, de promoção e difusão do ensino, bem como um meio de
modernização da sociedade e, consequentemente, do país. Como conclusão parcial, verifica-se que a
inauguração do Grupo Escolar Silveira Brum estabeleceu um marco na educação pública para o
município de Muriaé, instituindo uma nova maneira de organização pedagógica, com a figura do diretor
como responsável pela sistematização do trabalho; com a presença de um professor como regente do
ensino primário, ministrando aulas a um grupo de alunos que estavam divididos por séries no ensino.
Também cabe averiguar se, nesse período, aconteceram iniciativas voltadas para a concretização de
uma aprendizagem progressiva e a gradativa implantação de uma prática pedagógica embasada nos
princípios da escola nova. Por fim, como resultado dessa pesquisa, pretende-se tornar público este
patrimônio, por meio do registro digital das imagens, dos materiais escolares e da gravação dos
depoimentos dos sujeitos que fizeram parte da história dessa Escola.

778
ANÁLISE COMPARATIVA DE MODELOS DE ENSINO DA LEITURA PARA A ALFABETIZAÇÃO: O PROFA
(2001 A 2002) E O LIVRO DE LILI (1950)

FERNANDA ZANETTI BECALLI; CLEONARA MARIA SCHWARTZ.


UFES, VITORIA - ES - BRASIL.

O trabalho apresenta análise comparativa entre dois modelos de ensino da leitura que circularam no
Brasil em períodos distintos, a fim de mostrar aspectos que têm contribuído para assegurar
permanências de formas e maneiras de trabalhar o texto e a leitura na alfabetização. Analisou-se o
modelo de ensino da leitura proposto pelo Programa de Formação de Professores Alfabetizadores
(PROFA), implementado pela Secretaria de Educação Fundamental (SEF) do Ministério da Educação
(MEC) em 20 Estados brasileiros e no Distrito Federal, no período de 2001 a 2002, em comparação com
o modelo de ensino da leitura proposto pela cartilha intitulada O Livro de Lili, amplamente utilizada na
década 1950. Na comparação, analisamos a concepção de linguagem, de texto e de leitura que
fundamentam os dois modelos de ensino de leitura. Teoricamente, o estudo se embasa no referencial
bakhtiniano de linguagem e na Perspectiva Histórico-Cultural, e, metodologicamente, se configura como
análise documental, pautada pela perspectiva dialógica do discurso, tendo em vista o diálogo tecido
com o conjunto de documentos que compõem o kit de materiais escritos do PROFA e a materialidade da
cartilha O Livro de Lili. A análise mostra que o PROFA, na tentativa de desvincilhar-se do modelo de
textos apregoado pela abordagem associacionista de aprendizagem materializado nas cartilhas como
um apregoado de frases independentes que não constitui um todo de sentido, propôs o trabalho com a
leitura baseado em textos que as crianças sabem de cor. No entanto, ao prescrever "boas" situações de
aprendizagem da leitura, o programa retomou o que já estava proposto na cartilha O Livro de Lili, visto
que sugeriu aos professores que recortassem o texto em frases, depois em palavras, e, posteriormente,
oferecessem o alfabeto móvel para que as crianças reconstruíssem o texto, estabelecendo
correspondência entre partes do oral e partes do escrito, ajustando o que sabem de cor à escrita
convencional. Nesse sentido, acreditamos que a proposta de trabalho com o texto do PROFA não
contribuiu para romper com orientações metodológicas da década de 1950 no que diz respeito ao
ensino da leitura nas classes de alfabetização, nem para que o ensino da leitura assumisse a significação
de prática social que possibilita a formação da consciência crítica das crianças. Portanto, o estudo
aponta que se faz necessário um redimensionamento das concepções de linguagem, de texto e de
leitura que subjazem as propostas de ensino aprendizagem da leitura que circulam no País.

186
366
ANÁLISE DE PROGRAMAS E DOCUMENTOS DA SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DE SÃO PAULO
EM MAIS DE UM QUARTO DE SÉCULO: O CONSTRUTIVISMO COMO DISCURSO PEDAGÓGICO OFICIAL
NA REDE DE ENSINO PAULISTA

ANA CAROLINA GALVÃO MARSIGLIA.


UNESP, ARARAQUARA - SP - BRASIL.

Na atualidade, remontando ao movimento da pedagogia nova, as pedagogias do “aprender a aprender”


têm se firmado hegemonicamente, sendo diferentes discursos variantes de uma mesma concepção. O
lema “aprender a aprender” contém uma atitude negativa em relação à educação escolar. Tal atitude é
caracterizada por quatro princípios: 1) a aprendizagem que ocorra sem a transmissão intencional do
conhecimento tem maior valor educativo; 2) o processo de aquisição ou construção do conhecimento
tem mais valor do que o conhecimento em si mesmo; 3) uma atividade é verdadeiramente educativa
somente quando é espontaneamente desencadeada e conduzida pelas necessidades e interesses dos
alunos; 4) a escola deve ter por principal objetivo desenvolver uma alta capacidade de adaptação social
nos indivíduos. Cada um desses princípios contém um acento de valor negativo em relação ao que
caracteriza os aspectos clássicos na educação escolar: o ato educativo deve ser planejado; o
conhecimento universal deve ser transmitido; o bom ensino é aquele que provoca o desenvolvimento e
não que caminha a reboque dele; a escola deve desenvolver os alunos em suas máximas possibilidades,
de forma que possam buscar a transformação da sociedade. A rede estadual de ensino paulista tem se
guiado pelo construtivismo (pertencente às pedagogias do “aprender a aprender”) desde 1983 por meio
de seus documentos oficiais. Assim, o objetivo geral dessa pesquisa é analisar os programas e
documentos da Secretaria de Estado da Educação (SEE) publicados pela Coordenadoria de Estudos e
Normas Pedagógicas e Fundação para o Desenvolvimento da Educação, relativos ao Ciclo I do ensino
fundamental no período de 1983 a 2008, tendo em vista verificar a trajetória do discurso oficial
construtivista neste Estado. Os objetivos específicos são: examinar a política educacional dos governos
de André Franco Montoro, Orestes Quércia, Luiz Antônio Fleury Filho, Mário Covas Júnior, Geraldo José
Rodrigues Alckmin Filho e José Serra/Aberto Goldman, situando o contexto de produção e implantação
dos programas e documentos da SEE; analisar conceitos aludidos nos textos sobre o papel do professor,
a concepção de conhecimento e de aluno na visão do construtivismo; averiguar autores/artigos que são
citados nos documentos, apurando repetições e mudanças de discurso dos principais representantes.
Trata-se de pesquisa de doutorado, em andamento, cujo método é o materialismo histórico-dialético.
Como resultados parciais, podemos apontar: que os diferentes programas implantados pelos
governantes do período analisado não alteraram a linha pedagógica assumida desde 1983; as
concepções sobre aluno, professor e conhecimento referidas nos textos apresentam identificação com o
construtivismo, apesar de, especialmente na década de 1980, existirem posicionamentos contrários;
Jean Piaget, Emília Ferreiro e Ana Teberosky são os autores mais mencionados como referencial teórico
nas publicações analisadas até o momento (década de 1980).

1276
AS AULAS “AVULSAS” DE LATIM E O LYCEU PARAHYBANO: (1834-1877)

CRISTIANO FERRONATO.
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAIBA, JOAO PESSOA - PB - BRASIL.

O presente trabalho é parte de nossa tese de doutoramento, em andamento, que versa sobre a gênese
e a formação do Lyceu Parahybano e do ensino secundário na Província da Parahyba do Norte, no século
XIX. Temos como eixo central de análise neste texto, o comportamento do modelo antigo, das
chamadas Aulas de Latim, na Província da Parahyba do Norte - no arco temporal iniciado em 1834 e que
se prolonga até ao ano de 1877 – quando estas as aulas de Latim são oficialmente extintas, perante um
novo modelo que estava sendo implantado, o de aglutinação das aulas do ensino secundário em
instituições como o Lyceu Parahybano. Com a criação destas instituições (os Lyceus e Atheneus) pelo
país pretendia-se dar um sentido próprio ao ensino secundário que era o de formação das elites locais
para o aparelhamento do Estado que se estava a construir naquele momento, função que o ensino

187
secundário, dado nas aulas avulsas então existentes, não conseguia atingir. As Aulas “avulsas de Latim”
tinham um caráter de outro tempo “um tempo antigo” em oposição aos novos tempos que surgiam no
país com a Independência e a necessidade da formação de quadros burocráticos para dar continuidade
ao processo de construção da nação. Tempos que clamavam por um novo desenho curricular com maior
complexidade e mais moderno. Os liceus seriam então as instituições de ensino criadas para este fim
substituindo as chamadas aulas avulsas de Latim. Para a construção deste texto utilizamos como fontes
os relatórios da administração provincial, que contem os mapas da instrução secundária, nos três
modelos praticados na província da Parahyba do Norte: do Lyceu Parahybano; das Aulas de Latim
públicas; das Aulas de Latim do ensino particular. Tentaremos na análise da realidade aqui estudada
observar o ponto de vista dos professores - na medida em que a documentação nos auxiliar – e também
dos responsáveis pela instrução pública quais sejam: presidentes da Província, Diretores da Instrução
Pública. As fontes que mencionamos são compostas, sobretudo por documentação que as autoridades
públicas redigiam para serem apresentadas na Assembléia Legislativa Provincial, sendo assim
apresentada ao conhecimento dos políticos locais. São documentos produzidos para que outros
soubessem, e no caso dos professores, de acordo com normas que lhes eram propostas pelo poder.
Disso conclui-se que pela sua própria natureza seja uma documentação com a visão de uma parte dos
intervenientes, a parte que queria que os outros ficassem a conhecer. Tentaremos na análise da
realidade aqui estudada observar o ponto de vista dos professores – na medida em que a
documentação nos auxiliar – e também dos responsáveis pela instrução pública como Presidentes de
Província e Diretores da Instrução Pública. Para auxiliar em nossa análise utilizamos autores como:
Nóvoa (2003), Faria Filho (2000), Ramos (1998) e Pinheiro (2002).

924
AS CASAS DE EDUCAÇÃO E O ENSINO PARTICULAR EM PORTUGAL E NO ULTRAMAR (1759-1821)

CHRISTIANNI CARDOSO MORAIS.


UFSJ, SAO JOAO DEL REI - MG - BRASIL.

No contexto colonial, o papel das aulas régias era o de reproduzir a ordem estamental. Ler, escrever e
contar não eram habilidades possuídas pela grande maioria dos súditos do Império Lusitano. Mesmo
com todas as restrições, a disseminação da cultura escrita entre alguns que pertenciam aos estratos
menos abastados da sociedade poderia ser vista como útil e benéfica ao Estado, partindo do
pressuposto de que estes espaços educativos deveriam exercer ações preventivas e assistenciais. O
presente trabalho apresenta resultados finais de minha tese de doutoramento e se insere no eixo
temático “História das Instituições e Práticas Educativas”. Tem como objetivo inventariar e analisar
iniciativas de religiosos e leigos que se dedicavam ao ensino feminino ou ainda à educação de meninos
órfãos, além de estratégias familiares para a disseminação da cultura escrita, tanto em Portugal quanto
em suas possessões. Foram analisadas a legislação educacional do período, concursos de professores e
relatórios dos diversos órgãos responsáveis pela fiscalização das aulas públicas e particulares. O recorte
cronológico respeita o fato de haver uma regulamentação por parte do Estado Português, para todas as
instituições educativas aqui analisadas, desde o ano de 1759 até 1821. O tratamento da documentação
evidencia que as iniciativas estudadas favoreciam, sobretudo, a instrução masculina. O ensino privado
ou particular possuía duas modalidades: público e doméstico. O público era quando o professor
licenciado (ou examinado) dava as aulas em sua própria casa ou na casa do aluno. No segundo caso, o
mestre vivia na casa da família que o contratava, tornando-se um preceptor. Entre as famílias mais
abastadas da Metrópole, contratar um preceptor era um costume enraizado. As aulas particulares, de
qualquer espécie, eram uma saída para aqueles poucos que podiam arcar com tal despesa. Havia ainda
situações em que os professores particulares acolhiam, em suas residências, alguns alunos, criando
casas de educação particulares. Mesmo sendo impossível conseguir reunir dados quantitativos que
possibilitem uma estatística das aulas particulares no período colonial, as fontes permitem asseverar
que o ensino pago pelas famílias existia, tendo sido experimentado tanto em Portugal quanto em suas
possessões no ultramar. Dessa forma, percebe-se que o Estado Lusitano racionalizou e homogeneizou
uma estrutura educativa existente, aproveitando-se de iniciativas escolares experimentadas e eficientes.
Estas conclusões permitem lançar luzes sobre instituições e práticas educativas pouco estudadas pelos
pesquisadores da História da Educação que se debruçam sobre o período colonial.

188
422
AS ESCOLAS ISOLADAS EM MARIANA-MG NO INÍCIO DA PRIMEIRA REPÚBLICA: O DESAFIO DE
ORGANIZAR E OFERECER O ENSINO PÚBLICO PRIMÁRIO

LÍVIA CAROLINA VIEIRA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS, BOITUVA - SP - BRASIL.

Proclamada a República, em 1889, as inúmeras questões sobre como e porque realizar a educação nos
diferentes níveis chegavam aos discursos políticos de todo o Brasil. A educação das crianças e jovens era
um desafio para os novos dirigentes republicanos, pretensos (re)construtores da nação e de guardiões
dos direitos do povo, como observamos na mensagem de Deodoro da Fonseca, primeiro presidente da
República, datada de 1890, “Até hontem a nossa missão era fundar a republica; hoje o nosso supremo
dever perante a pátria e o mundo é conserval-a e engrandecel- a. Não se mudam instituições para
persistir em defeitos inveterados, ou para causar simples deslocações de homens”. Nesse processo de
construção da nação, a criação de instituições educacionais, públicas e privadas, precisava crescer
rapidamente, o que refletiu nos primeiros trinta anos da República, em políticas nas quais os estados
brasileiros, com autonomia constitucional para gerir o ensino primário, implementaram muitas reformas
na tentativa de promover mudanças. Minas Gerais e outros estados com destaque nacional, como São
Paulo e Rio de Janeiro dão maior atenção a educação. A diferenciação quanto à promoção da educação
nos estados fica clara quando se observa que o Brasil além de ainda ter mantido sua base agrária e rural,
com uma pequena parcela da população nas áreas urbanas e um grande atraso industrial, contava com
grandes diferenças econômicas entre os estados brasileiros. Ao remeter a responsabilidade da educação
aos estados, remeteu-a também as condições de atraso ou avanço das diferentes regiões. Este trabalho
teve o objetivo de analisar uma dessas reformas, a regulamentação e implantação das escolas isoladas
na cidade de Mariana- MG, no período da Primeira República que antecede a criação dos Grupos
Escolares (1889-1909). Para tal foram analisados os documentos dos seguintes arquivos: da Câmara
Municipal de Mariana (atas das reuniões e orçamentos), da Cúria Metropolitana de Mariana (jornais) e
do Arquivo Público Mineiro (documentos escolares, jornais, mensagens presidenciais e legislações). Os
resultados obtidos apontaram que no fim do século XIX, as importantes escolas da cidade de Mariana
eram particulares e/ou ligadas a igreja católica. Paralelamente funcionavam as escolas isoladas públicas,
poucas e restritas a uma pequena parcela da população, o ensino era limitado e os alunos dificilmente
prosseguiam os estudos. O ensino primário público não estava entre as prioridades da Câmara de
Mariana, e pouco apareceu nas atas das reuniões do período contemplado neste estudo e a Câmara
pouca atenção deu as escolas isoladas. O número de professores normalistas era pequeno, apesar de
haver a Escola Normal de Ouro Preto e a frequência em todas as escolas isoladas era bastante
insatisfatória se considerarmos que correspondia a apenas a metade dos alunos matriculados.

402
AS ESCRITAS OBRIGATÓRIAS NOS CADERNOS ESCOLARES

ALICE RIGONI JACQUES.


PUCRS, PORTO ALEGRE - RS - BRASIL.

O presente artigo apresenta um estudo sobre as escritas obrigatórias nos cadernos escolares da 1ª série
do Curso Primário do Colégio Farroupilha de Porto Alegre/ do estado do Rio Grande do Sul, na década
de 1950 e que fazem parte do acervo do Memorial da escola. O objetivo deste trabalho é mostrar que as
percepções da escola e dos valores educativos se refletem nas práticas educativas dos cadernos
escolares e que as escritas que aparecem não surgem de uma exigência íntima, mas de um controle e
de uma disciplina instituída pelos professores, pois os textos, exercícios, cópias, atividades de caligrafia
e ditados realizados pelos alunos pertencem à categoria de “escritas obrigatórias”, ou seja, aquelas que
simplesmente eram um reflexo das palavras e atitudes do professor ou do livro de texto e que se
reproduziam nos cadernos escolares. Pouquíssimos tipos de escritas encorajavam a criatividade dos
alunos. A maioria deles apontam fragmentos de cerceamento oriundos dos professores e da prática
pedagógica da instituição de ensino. Neste trabalho, o estudo irá centrar-se nos cadernos de caligrafia,

189
cópias e ditados da 1ª série do Curso Primário de uma escola alemã do século XX, uma vez que haviam
cadernos diferentes para várias atividades desenvolvidas. Os exercícios que versam sobre a escola,
hábitos e atitudes saudáveis e conteúdos de civilidade serão analisados. A importância do estudo, a
necessidade de aprender, a imagem da sala de aula e do professor, a utilidade dos conhecimentos
escolares – especialmente da leitura e da escrita – e suas possíveis aplicações foram aspectos que se
trabalharam nas salas de aula e que os alunos modelaram em seus cadernos escolares, de forma mais
controlada do que espontânea. O recorte deste estudo consistiu na análise dessas escritas de cinco
cadernos escolares da década de 1950 que foi realizada a partir de uma pesquisa documental, leitura,
categorização e formação de unidades para interpretação dos documentos. Com este estudo, conclui-
se, que as escritas obrigatórias nos cadernos escolares evidenciam, os valores transmitidos pelos
docentes através das cópias e dos ditados a partir da interiorização e expressão que os discentes faziam
desses valores em suas redações e composições livres. Sabemos que ao entrar na escola, há uma
infinidade de coisas a serem aprendidas. O uso dos cadernos, com toda a complexidade e diversidade de
saberes, faz parte dessa inserção. O que não sabemos talvez, é se o caderno escolar refletia
exclusivamente a personalidade do professor, ou também a da criança, isso ainda é uma interrogação
que permanece flutuando no ar.

1214
AS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SECUNDÁRIO EM CAMPO GRANDE: SUL DO ESTADO DE MATO GROSSO
(1910-1940)

REGINA TEREZA CESTARI DE OLIVEIRA.


UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO, CAMPO GRANDE - MS - BRASIL.

Esta pesquisa, em fase de conclusão, vincula-se ao projeto integrado “As Instituições Escolares no Sul do
Estado de Mato Grosso: gênese, implantação e consolidação (1910 -1940)”, que busca compreender o
processo histórico de implantação e consolidação das instituições escolares, no âmbito das políticas
educacionais, na região sul do estado de Mato Grosso. Este estado foi desmembrado em 1977, criando-
se o estado de Mato Grosso do Sul (MS), o que justifica o recorte espacial. Parte-se do entendimento de
que essas instituições são necessariamente sociais, criadas como unidades de ação e expressam visões
de mundo diferenciadas. Objetiva-se, aqui, analisar o processo de implantação do ensino secundário na
referida região, entre as décadas de 1910 e 1940, tendo como referência as reformas educacionais
nacionais do período. Destaca-se as primeiras instituições criadas em Campo Grande (capital do estado
de MS), para oferecer esse nível de ensino, ou seja: o Ginásio Osvaldo Cruz - setor particular -, em 1927;
e o Ginásio Municipal Dom Bosco - setor confessional-católico -, em 1930 (fundado, originalmente, pelo
Instituto Pestalozzi, em 1917). O recorte cronológico leva em consideração o processo de criação e
organização de ambos os ginásios, no referido período. A investigação baseia-se em fontes documentais
constituídas por leis, regulamentos, mensagens presidenciais encaminhadas à Assembléia Legislativa do
estado, relatórios de inspetores, levantados em arquivos públicos e particulares, atas da Câmara
Municipal de Campo Grande, assim como jornais da época. Nas primeiras décadas da República, o
ensino secundário, considerado como mecanismo de ascensão social, passou por várias reformas em
âmbito nacional e tinha como objetivo principal formar a elite dirigente, que ingressaria no ensino
superior. Assim, a escassez de estabelecimentos de ensino secundário no país, confirma o seu caráter
altamente seletivo, decorrente da política adotada pelo Estado brasileiro. Os resultados mostram que o
ensino secundário no sul do estado de Mato Grosso, começou com a ação da iniciativa privada, situação
que não se diferenciava da maioria dos estados do país que, de modo geral, mantinha apenas um
ginásio – modelo nas capitais - como foi o caso do Liceu Cuiabano, localizado em Cuiabá (capital do
estado de Mato Grosso). Diante da ausência de ginásios públicos, a fração social dirigente do sul de
Campo Grande investiu na criação do ensino secundário, na tentativa de garantir o poder no espaço sul-
mato-grossense, no contexto de modernização e aumento populacional dessa cidade. Portanto, até o
final da década de 1930, a iniciativa particular assumiu a responsabilidade de ministrar o ensino
secundário no sul do estado, na medida em que o poder público estadual criou o primeiro ginásio
público, isto é, o Ginásio Estadual Campo-Grandense em Campo Grande, somente em 1939.

190
1078
AS MUDANÇAS CURRICULARES DOS GINÁSIOS VOCACIONAIS DO ESTADO DE SÃO PAULO: DO
DESPERTAR DA VOCAÇÃO AO DESPERTAR DA TRANSFORMAÇÃO SOCIAL

DANIEL FERRAZ CHIOZZINI.


USP, SAO PAULO - SP - BRASIL.

A comunicação é um trecho da minha pesquisa de Doutorado, que consiste em um estudo da história e


da memória dos Ginásios Estaduais Vocacionais, projeto experimental educacional desenvolvido entre
1961 e 1969 no Estado de São Paulo, a partir da análise de documentos escritos, gravações de reuniões
pedagógicas da época e bibliografia de referência. A análise dos registros da memória individual de dois
educadores que participaram desse projeto experimental, realizada durante a pesquisa de Mestrado, foi
o ponto de partida para o estudo da memória coletiva dos Ginásios, permitindo identificar as diferenças,
conflitos internos e crises existentes na sua cúpula administrativa, o Serviço do Ensino Vocacional (SEV).
A mais emblemática dessas crises ocorreu em 1968, quando houve a demissão da maioria dos
supervisores de área. A demissão foi motivada pela aproximação da Coordenadora Geral das escolas
com um grupo de educadores que, na ocasião, havia entrado recentemente no SEV e que passou a
questionar as diretrizes educacionais então existentes. Esse novo grupo defendia um questionamento
maior do regime militar e práticas educativas mais “engajadas”. Posteriormente, na pesquisa de
Doutorado, busquei identificar na documentação escrita sobre a proposta pedagógica dos Ginásios, em
diferentes momentos da sua história, a repercussão dessas divisões internas e dessas mudanças. Nesse
sentido, foi utilizado como principal referencial um texto produzido para o I Simpósio de Ensino
Vocacional, ocorrido durante a 20ª. Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência
(SBPC), realizada de 7 a 13 de junho de 1968, em São Paulo, e publicado na revista científica Ciência e
Cultura. As categorias e conceitos apresentados nessa publicação foram analisados e comparados com
outros documentos produzidos pelo SEV na mesma conjuntura histórica e em períodos anteriores,
alguns deles utilizados para discussão junto ao grupo de professores. Como o Simpósio ocorreu alguns
meses antes da demissão dos supervisores, a discussão desse material foi o ponto de partida para
compreender como as diferenças entre o novo grupo de educadores, que ingressou a partir de 1967, e
os que já atuavam estão refletidas nos documentos associados à proposta político-pedagógica dos
Ginásios Vocacionais, assim como para investigar até que ponto essas divergências atingiam o grupo de
professores dos Ginásios ou se restringiam a cúpula administrativa do Serviço de Ensino Vocacional
(SEV). Sendo assim, a comunicação é uma exposição desse capítulo da tese, que consiste na
interpretação da proposta educacional desenvolvida no âmbito do Serviço do Ensino Vocacional como
espaço de conflito de grupos internos, representativos de projetos distintos de escola experimental que
se constituíram ao longo da existência dos Ginásios Vocacionais. Esses conflitos chegaram a influenciar,
para além da proposta educacional das escolas, diferentes memórias da experiência como um todo.

1127
AS PRÁTICAS DE DIVERSÃO DE ESTUDANTES DE DIREITO DA ACADEMIA JURÍDICA DE SÃO PAULO NA
OBRA DO MEMORIALISTA ALMEIDA NOGUEIRA, 1827-1890

MARINA SANTOS COSTA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL-REI, SAO JOAO DEL REI - MG - BRASIL.

Este trabalho apresenta resultados parciais de minha dissertação de mestrado, cujo principal objetivo é
investigar as práticas de diversão levadas a cabo pelos estudantes da Academia Jurídica de São Paulo,
entre 1827 a 1890. Entendemos por práticas de diversão todas aquelas atividades extraescolares
desenvolvidas pelos estudantes, mas quase sempre ligadas à Academia. Para analisar como se deram
essas práticas de diversão dentro e no entorno da Faculdade e os sentidos que elas assumiram para os
estudantes, tomamos como fonte principal a obra de Almeida Nogueira, estudante da Academia em um
tempo, professor da mesma em outro, intitulada: Tradições e reminiscências: estudantes, estudantões e
estudantadas. Organizada em nove volumes, a obra relata crônicas da Academia de São Paulo desde a
sua fundação em 1827 até 1890, o que favoreceu o estabelecimento do recorte cronológico do estudo.
Foi feita uma leitura minuciosa da produção de Almeida Nogueira à procura das práticas de diversão e

191
das configurações estabelecidas naquele espaço/tempo para o levantamento de categorias de análise,
dentre as quais os esportes, as festas, passeios, brincadeiras, os jogos de salão, os discursos amorosos,
produções artísticas e literárias etc. Estas categorias foram organizadas em um banco de dados, o que
permitiu uma análise quantitativa das recorrências das práticas de diversão dos estudantes.
Atualmente, temos nos dedicado ao cruzamento destas informações com outras fontes: os periódicos
paulistas que circulavam na época. Estes dados têm sido analisados a partir dos pressupostos de
Norbert Elias, especialmente os conceitos de configuração e redes de interdependências. Dessa forma, a
pesquisa permite a compreensão da dinâmica das relações sociais estabelecidas entre os sujeitos da
Academia, as forças que esses indivíduos exercem uns sobre os outros, os conflitos e tensões presentes
nesse espaço, o pertencimento social desses sujeitos e suas interações com o contexto da cidade de São
Paulo, o processo de construção da identidade dos próprios estudantes em suas práticas de diversão. Os
resultados preliminares indicam que a Academia de Direito era um espaço bastante rico em práticas
culturais, dentre elas, as práticas de diversão que funcionavam como uma das estratégias efetuadas
pelos estudantes para produzir suas relações sociais e de cotidianidade na Academia e em seu entorno.
Essa profusão de práticas de diversão permite um aprofundamento nos estudos que vem se ocupando
com as questões atinentes ao eixo temático “História das Instituições e Práticas Educativas”, o que traz
contribuições para o campo da História da Educação no que se refere ao ensino superior e às práticas
educativas cotidianas, não intencionais.

1350
AS PRÁTICAS ESCOLARES DA ESCOLA PRIMÁRIA PAULISTA NO FINAL DO SÉCULO XIX

ANALETE REGINA SCHELBAUER.


UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ, MARINGÁ - PR - BRASIL.

Sobre a difusão da escolarização primária no Brasil, é comum focalizarmos as primeiras décadas


republicanas, as reformas da Escola Normal e da Escola Primária, a criação dos Grupos Escolares, da
Escola Modelo, do Jardim de Infância. O olhar para o momento imediatamente anterior a este se
constitui em cenário para análise da temática em foco. O título – “As práticas escolares da escola
primária paulista no final do século XIX” – anuncia a finalidade da comunicação, que tem como contexto
a difusão da escolarização elementar salientada como um dos elementos de modernização da nação
brasileira. Sob esta perspectiva, emergem iniciativas de reorganização da escola primária em diferentes
províncias. Neste quadro, São Paulo configura-se como um terreno fértil para compreender as ações
decorrentes desse movimento, consubstanciadas pelas leis e regulamentos da instrução pública,
discutidos e aprovados no decorrer da década de 1880, e pelos relatórios dos professores primários, que
traduzem a forma como essas normas foram apropriadas no âmbito escolar. Tais fontes enunciam os
primeiros vestígios das práticas escolares e dos processos educativos que se consubstanciaram como
modelares nas reformas educacionais do período republicano entre os anos de 1890 e 1896. Os
documentos analisados fazem parte das fontes impressa e manuscrita sobre a Série Instrução Pública,
do Arquivo do Estado de São Paulo, que compreendem as leis e regulamentos da instrução pública
provincial, as atas do Conselho Superior de Instrução Pública, os relatórios dos professores primários da
capital e de algumas localidades da província. A partir da análise de dois espaços discursivos
caracterizados pelas fontes oficiais – pelas leis, regulamentos e regimentos da instrução pública paulista
e pelos relatórios dos professores públicos primários –, pretendemos iluminar o foco sobre esse
momento ao qual se pode atribuir esforços de organização e difusão da escolarização primária. As
concretizações relativas a esse ramo de ensino no final do Império permitem destacar as iniciativas que
imprimiram em cores e formas, os antecedentes da escola primária republicana. A análise desse período
permite precisar o lugar e o momento em que rupturas ocorreram, inovações foram propagadas,
processos educativos estabelecidos, determinados conhecimentos passaram a ser transmitidos pela
escola, condutas foram prescritas e cumpridas por professores e alunos, modelos pedagógicos aceitos
como válidos e mais eficientes no ensino e na aprendizagem das crianças. A temática justifica-se pela
centralidade do debate educacional em torno da difusão da escolarização popular, vista como um dos
elementos de modernização da nação brasileira, o qual fez emergir inúmeras iniciativas de renovação
educacional, muitas das quais foram normalizadas, prescrevendo os processos educativos e
regulamentando as práticas escolares dos professores primários.

192
1401
AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NO IMPERIAL COLLEGIO DE PEDRO II: 1838-1878

KARL MICHAEL LORENZ.


SACRED HEART UNIVERSITY, CONNECTICUT - ESTADOS UNIDOS.

A produção e o uso de materiais pedagógicos para uso escolar na segunda metade do século XIX
resultaram de teorias e princípios pedagógicos inovadores. Estes mesmos utensílios, quando tomados
como fontes históricas, podem desvelar facetas das práticas pedagógicas vivenciadas em instituições
escolares. Este estudo tem por objetivo analisar aspectos das práticas pedagógicas vivenciadas no
Collegio de Pedro II, no período de 1838 a 1878. Justifica-se este recorte temporal, uma vez que, em
1838, foi implementado o primeiro Plano de Estudos do Collegio e a implementação do Plano de
Estudos de 1878, marcou a ruptura de um 'padrão' de ensino adotado até então.No aspecto teórico-
metodologico, a investigação se insere na História da cultura material escolar, que tem como matriz
uma das vertentes da História Cultural . Está baseado nas seguintes fontes: Planos de Estudos,
Programas de Ensino, as Tabelas das Aulas e os Livros Didáticos adotados na instituição no período. Uma
análise dos Planos de Estudos adotados revela que os mesmos traziam as marcas do ensino secundário
europeu, especialmente do adotado na França; contemplavam prioritariamente os estudos clássicos -
humanísticos, sem contudo, deixar de lado os estudos modernos nomeadamente os de Ciências Físicas e
Naturais e as Línguas 'vivas'. As Tabelas das Aulas permitem conhecer com que profundidade estes
estudos eram tratados, uma vez que a carga-horária atribuída a cada disciplina revela a ênfase dada a
cada área de conhecimento. Os resultados demonstram que a prática pedagógica dos professores tinha
que se mover dentro destes limites permitidos. Já a análise dos Programas de Ensino e dos Livros
Didáticos revelam a visão dos conteúdos ensinados em cada disciplina, bem como a orientação
metodológica adotada. Os resultados demonstram que, no período em estudo, os conteúdos ensinados
seguiam as tendências do ensino secundário da Europa Central; eram estudos embasados nas mais
modernas tendências teórico-metodológicas de cada campo do conhecimento, em voga na Europa. Em
relação aos métodos de ensino adotados, como não poderia deixar se ser, refletiam os princípios
pedagógicos de sua época, um ensino ainda predominantemente verbalista, centrado nos conteúdos e
na figura do professor, porém, as novas tendências pedagógicas já se faziam presentes, notadamente no
ensino das línguas modernas, nas Ciências e no campo da História e da Geografia.

1372
AS RELAÇÕES DE PODER NA TRAJETÓRIA DO CENTRO DE ESTUDOS SUPERIORES DE CAXIAS -1968-2002

ROLDÃO RIBEIRO BARBOSA.


UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO, CAXIAS - MA - BRASIL.

Este é um recorte da pesquisa que está sendo desenvolvida com o título História e memória do CESC -
Centro de Estudos Superiores de Caxias (1968-2002), com o objetivo de construir a história dessa
instituição que teve e ainda tem uma importância estratégica para a interiorização da educação escolar
e o desenvolvimento no Estado do Maranhão. Mas em se tratando da questão do poder, intenta-se
construir uma história das relações que se estabeleceram em nível local e estadual, seja internamente
na instituição, desta com a instância hierárquica superior ou na relação desta com o poder local e com o
poder estadual. A questão norteadora é a de como os sujeitos históricos operacionalizaram o poder
para que o CESC tirasse o maior proveito possível na relação interna e nas relações com FESM/UEMA,
bem como com os poderes constituídos a nível municipal e estadual. Na construção da tessitura
histórica utilizaram-se três tipos de fontes: escritas, orais e imagéticas. As fontes escritas consistiram de
produção historiográfica, documentos oficiais e não oficiais e reportagens de jornais; as fontes orais
compõem-se de entrevistas colhidas de ex-alunos, agentes administrativos, professores, diretores,
reitores e secretário de educação, que tiveram passagem nessa trajetória do CESC; das fontes
imagéticas constam fotografias que registram os momentos mais solenes e rotinas da vida da
instituição. Na discussão dos dados empíricos utilizam-se os conceitos de memória de Jacques Le Goff,
de história de Walter Benjamin, de campo de Pierre Bourdieu, relações de poder de Norbert Elias, de

193
cooptação de Norberto Bobbio e de bloco histórico de Antônio Gramsci. O estudo compreende três
eixos fundamentais: as relações de poder que engendraram a criação e implantação do CESC; as
relações internas de poder em vista do exercício do poder no cotidiano interno do CESC; as relações
externas de poder com as instâncias hierárquicas superiores e as esferas municipal e estadual. Dos
dados extraíram-se as seguintes observações: o poder enquanto capacidade ou potencialidade para
transformar uma idéia ou projeto em ação, embora seja algo engendrado historicamente nas relações
sociais, nem sempre seus detentores o compreendem assim; nenhum poder se mantém se não estiver
apoiado num bloco histórico ou em um grupo que lhe de respaldo; nas instituições educativas se
reproduzem em dimensões micro as mesmas relações que engendram o poder na dimensão macro. Mas
apesar dos condicionamentos de um poder central e maior, as instituições educativas se constituem em
campos de resistência e de autonomia, embora relativizadas, frente aos setores dominantes da
sociedade.

601
ASSISTÊNCIA AOS “MOÇOS POBRES” DA UNIVERSIDADE DE MINAS GERAIS: A CAIXA DO ESTUDANTE
POBRE EDELWEISS BARCELLOS (1930–1935)

LAERTHE DE MORAES ABREU JUNIOR; ALICE CONCEIÇÃO CHRISTOFARO.


UFSJ, SAO JOAO DEL REI - MG - BRASIL.

Este trabalho tem como objeto de pesquisa a ação de assistência aos estudantes da Universidade de
Minas Gerais (UMG) realizada pela “Caixa do Estudante Pobre Edelweiss Barcelos” (CEPEB) no período
de 1930 a 1935. As primeiras ações de assistência estudantil relacionadas aos cursos superiores que
passariam a integrar a UMG se deram em 1912, com a Fundação Affonso Penna que, criada pela
Faculdade de Direito de Minas Gerais, se destinava à assistência aos alunos “carentes de recursos”. Em
1929, dois anos após a consolidação da UMG, foi criada a Associação Universitária Mineira (AUM), com
atividades voltadas à integração da educação universitária sob o ponto de vista moral, intelectual e
físico, inclusive assistência estudantil, fornecendo empréstimos de honra aos estudantes necessitados e
cujas identidades deveriam ser resguardadas conforme estatuto próprio. A renúncia do reitor da UMG
Mendes Pimentel em 1930, apontado como um dos principais mantenedores da AUM, inaugurou um
período em que as atividades desta se paralisaram. A nova Reitoria assumiu as atividades de assistência
ao estudante pobre e criou o Conselho de Assistência aos Universitários, que deveria ser presidido pelo
Reitor. Tal iniciativa supostamente não atendida às demandas daqueles estudantes até então assistidos
pela AUM. A Caixa do Estudante Pobre Edelweiss Barcelos passa a atuar nesse contexto,
proporcionando aos chamados “moços pobres” a assistência relacionada a taxas de matrícula,
mensalidade, empréstimos e assistência em casos de doença. Criada em 1930, a CEPEB conta com a
figura das Rainhas dos Estudantes Pobres, personagens de destaque no contexto social e estudantil da
época. A primeira Rainha, Edelweiss Barcelos, presidiu a CEPEB entre os anos de 1930 a 1932, sucedida
pela Srta Dayse Prates, que até 1935 esteve à frente da CEPEB, quando então a AUM retoma suas
atividades. A presente pesquisa encontra-se em andamento, e como metodologia, utilizamos como
fontes primárias os detalhados questionários de pedido de auxílio, cartas, pareceres, pedidos políticos,
extratos de entrevistas, livro-caixa, livros de benefícios, livros de eventos beneficentes, buscando
reconstruir a trajetória da CEPEB e a ação das Rainhas dos Estudantes da UMG no recorte citado,
estabelecendo a hipótese de que, para o acesso e permanência no ensino superior, antes frequentado
pelas elites econômicas e sociais, os estudantes pobres passam a estabelecer negociações, constituindo
assim possíveis relações de poder no interior da UMG que derivam das questões sociais que permearam
o contexto histórico das décadas de 1920 e 1930.

194
604
AULAS E PROFESSORES RÉGIOS NO RECÔNCAVO DA GUANABARA (1808-1837)

JORDANIA GUEDES.
UNIRIO, NOVA IGUACU - RJ - BRASIL.

O objetivo deste trabalho, fruto da pesquisa em andamento a cerca das instituições escolares e suas
práticas educativas no Município de Iguassú no Século XIX é apresentar a trajetória de professores
régios de primeiras letras nas Freguesias de Nossa Senhora da Piedade e Nossa Senhora do Pilar, ambas
na região hoje conhecida como Nova Iguaçu na Baixada Fluminense, Rio de Janeiro. Após a expulsão dos
jesuítas de todo o Império Português, foi necessária a reorganização do ensino oficial público, que não
foi realizada de forma homogênea e extensiva a toda a população. Esta reforma se deu através do
sistema de aulas régias, que foram divididas em disciplinas isoladas como desenho, retórica, gramática,
dentre outras e como o encontrado em terras iguassuanas: disciplinas elementares de ler, escrever, crer
e contar. As fontes utilizadas para a confecção deste artigo estão sob a guarda do Arquivo Nacional do
Rio de Janeiro e são compostas por requerimentos de candidatos à função, requerimentos de mestres
em exercício, substituições de docentes e atestados de boa conduta elaborados pela igreja local. O
sistema de aulas régias permaneceu no Império do Brasil entre os anos de 1759 e 1822, quando foi
denominado de aulas públicas. Na documentação analisada para este trabalho, os registros de aulas
régias em Iguassú permanecem até o ano de 1828, onde o professor da Freguesia de Piedade pede que
sua licença seja mais uma vez renovada. Após este registro pistas sobre a continuidade desta prática são
encontradas após o ano de 1833 quando a municipalidade da região é decretada como também sua
anexação a Província do Rio de Janeiro, todavia nos relatórios oficiais do governo a primeira escola
pública de primeiras letras para meninos é criada no ano de 1837. Através da documentação analisada é
possível afirmar que não houve mudança, reorganização e até mesmo ruptura entre os sistemas de
ensino após a Independência Brasileira e o ideário de uma nação brasileira ordeira e civilizada através
do ensino e instrução, da Lei Geral de Instrução em 1827, que ordenava a construção de escolas em
cidades, vilas e lugares populosos, como também do Ato Adicional de 1834 que designou que as
Províncias reorganizariam, legislariam o ensino primário e secundário. Recuperar o cotidiano de tais
escolas e da profissão docente neste período histórico, perceber as questões sociais e religiosas que
permeavam este espaço público por conta de seus vários agentes, são os principais desafios para uma
possível elucidação do que foram as aulas régias no recôncavo da Guanabara.

699
AÇÃO DA INSPETORIA DA INSTRUÇÃO PÚBLICA NA PROVINCIA DO MARANHÃO NA DECADA DE 50 DO
SECULO XIX

JOSECLEIDE SAMPAIO DA ROCHA; JOSIVAN COSTA COELHO; CESAR AUGUSTO CASTRO.


UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO, SAO LUIS - MA - BRASIL.

Este trabalho ancora-se no projeto de pesquisa ainda em andamento “A ação da Inspetoria Geral da
Instrução Pública na Província do Maranhão no período de 1835 a 1889”, que pertence ao Núcleo de
Estudo em História da Educação e das Práticas Leitoras no Maranhão-NEDHEL-UFMA. Pretende-se neste
trabalho compreender a constituição da inspeção da instrução, associada ao processo de
profissionalização docente no século XIX, como instrumento que almejou o controle e o exercício do
ofício, por meio de práticas, livros, materiais, circulação e movimentação de professores. Propõe-se
investigar, neste estudo, o modo como os professores públicos primários, sob a vigilância da Inspetoria
Geral Pública na Província do Maranhão de Instrução Primária e Secundária, lidavam com a ação de
serem fiscalizados, bem como suas relações com a inspetoria, as estratégias que utilizavam para
contornar os mecanismos de inspeção, as discussões e questões debatidas no campo pedagógico.
Busca-se identificar as estratégias de imposição adotadas pelo governo e pela respectiva Inspetoria por
meio dos decretos, regulamentos, portarias e visitas aos estabelecimentos educacionais, como também
detectar as táticas de apropriação adotadas por professores e alunos no processo de formação de
saberes e nas metodologias adotadas nas práticas pedagógicas no ato educativo. Analisam-se e tenta-se

195
apreender as representações construídas pelos inspetores expressas nos Relatórios dos Presidentes da
Província, Relatórios dos Inspetores da Instrução Pública, Ofícios, Regulamentos, Leis e Decretos sobre a
Instrução Pública e Relatórios dos Diretores do Liceu. Pretende-se analisar o contexto político e cultural
da sociedade maranhense, a fim de identificar como estes elementos estruturadores e estruturantes
influenciaram a ação deste mecanismo no processo de escolarização e de sociabilidade. Utiliza-se para
proceder à análise dos documentos da Inspetoria da Instrução Pública, como metodologia norteadora, o
levantamento desses materiais no Arquivo Público do Estado do Maranhão, e em seguida a sua análise e
compreensão por meio do método indiciário ginzburgiano, tentando-se encontrar os vestígios e marcas
não ditas no corpo da documentação num constante questionar. Pode-se a priori afirmar que a
Inspetoria da Instrução Pública era/foi um mecanismo criado pelo governo provincial que buscava
regular o bom andamento das aulas, fiscalizando os professores e alunos e servindo ainda como ponte
entre os Delegados da Instrução e o Presidente da Província a fim de por em práticas as estratégias
estabelecidas pelo governo. Objetiva-se com esta pesquisa contribuir para os estudos referentes à
História da Educação Maranhense e discutir a ação desses mecanismos existentes supostamente para
estabelecer a boa ordem da Instrução Pública no Maranhão Oitocentista.

616
AÇÕES EDUCATIVAS DO MUSEU NACIONAL PARA DIVULGAÇÃO DAS CIÊNCIAS E POPULARIZAÇÃO DA
CULTURA BRASILEIRA, NAS DÉCADAS DE 1920 E 1930

PAULO ROGÉRIO MARQUES SILY; JOSY DE ALMEIDA SANTOS.


UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO (UERJ), RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL.

Este trabalho tem por objetivo investigar as razões pelas quais o Museu Nacional do Rio de Janeiro, nas
décadas de 1920 e de 1930, se investiu ou foi investido de funções educativas voltadas para a
divulgação da ciência e para a popularização da educação, buscando compreender suas intenções e seus
significados, tomando como referência as ações desenvolvidas pelo Museu Nacional associadas às
demandas da instrução pública e de estabelecimentos escolares brasileiros nesse período. Para esses
estudos, procuramos considerar os debates sobre a educação, as idéias pedagógicas em circulação, os
novos métodos de ensino propostos para a instrução pública, as funções sociais dos museus e suas
práticas educativas à época, em uma conjuntura marcada, entre outras, pela institucionalização da
ciência, pela racionalização da pedagogia e pela nacionalização da educação. Durante a gestão dos
diretores Bruno Álvares da Silva Lobo (1915 – 1922), Arthur Hehl Neiva (1923 - 1926 ) e Edgard Roquette
Pinto (1926 - 1935) o Museu Nacional criou estratégias para divulgação das ciências e popularização da
cultura brasileira, o que resultou em ações promovidas por seus setores e seções de pesquisa,
orientadas por professores e cientistas. Para desenvolver tais estratégias e atingir seus objetivos foi
necessário produzir diferentes tipos de materiais para servirem como recursos pedagógicos em práticas
educativas, a saber: coleções didáticas e quadros murais, para comporem gabinetes de História Natural
e museus escolares, em estabelecimentos de ensino; filmes e diapositivos, com temáticas relacionadas
às ciências, utilizados em cursos e conferências para professores e alunos de diferentes níveis de ensino,
oferecidos pelo próprio Museu; A Revista Nacional de Educação, editada e publicada pelo Museu
Nacional, entre 1932 e 1934, com objetivo de levar o conhecimento das Ciências, das Letras e das Artes
às famílias brasileiras e aos professores e alunos de diferentes estados. Como fontes para essa pesquisa
estão sendo analisados os relatórios anuais dos diretores e dos chefes das seções de pesquisa do Museu
Nacional; os relatórios produzidos por Bertha Lutz (bióloga e funcionária do Museu Nacional) em suas
viagens no Brasil e no exterior, na década de 1920 e de 1930, para estudos sobre museus e suas ações
educativas; as conferências da Associação Brasileira de Educação (ABE); periódicos - jornais de grande
circulação, revistas especializadas - localizados nos arquivos do Museu Nacional, da Biblioteca Nacional
do Rio de Janeiro e da ABE.

196
1230
BIBLIOGRAFIA BRASILEIRA SOBRE ALFABETIZAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO BRASIL (1953 E 2010)

SUELI IWASAWA.
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA, MARÍLIA - SP - BRASIL.

Neste texto, apresentam-se resultados parciais de pesquisa de Trabalho de Conclusão de Curso de


Pedagogia, vinculada à linha “Alfabetização” do Gphellb – Grupo de Pesquisa “História do Ensino de
Língua e Literatura no Brasil, do Projeto Integrado de Pesquisa “História do Ensino de Língua e Literatura
no Brasil” e do Projeto Integrado de Pesquisa “Bibliografia Brasileira sobre História do Ensino de Língua
e Literatura no Brasil (2003-2011)” (auxílio CNPq), todos coordenados pela Profª. Drª. Maria do Rosário
Longo Mortatti. Os objetivos dessa pesquisa são de contribuir para a compreensão da história do ensino
de língua e literatura no Brasil, em especial para a história da alfabetização de jovens e adultos no Brasil,
propiciar compreensão dos principais aspectos da bibliografia sobre o tema e subsidiar pesquisas
subseqüentes e correlatas ao tema. Mediante abordagem histórica centrada em pesquisa documental e
bibliográfica, desenvolvida por meio dos procedimentos de localização, recuperação, reunião, seleção e
ordenação de referências bibliográficas, elaborou-se um instrumento de pesquisa contendo relação de
referências de textos acadêmico-científicos sob a forma de livros, capítulos de livros, artigos, teses,
dissertações, trabalhos de conclusão de curso e documentos oficiais produzidos por autores brasileiros,
sobre o tema “Alfabetização de jovens e adultos no Brasil”, entre 1953 e 2010, respectivamente, o ano
de publicação do texto mais antigo e o ano de publicação dos textos mais recentes, dentre os
localizados até o momento. Essas referências foram elaboradas de acordo com a Norma Brasileira de
Referências (NBR 6023), da Associação Brasileira de Normas Técnicas, e ordenadas em seções de acordo
com o tipo de texto. Dessa pesquisa resultou o documento Bibliografia Brasileira sobre Alfabetização de
jovens e adultos no Brasil: um instrumento de pesquisa, cuja análise preliminar proporcionou identificar
quantas e quais são as pesquisas que abordam a Alfabetização de jovens e adultos no Brasil; qual o
período histórico em que foram produzidas; em quais instituições foram produzidas e quem são os
autores dessas pesquisas que resultaram nas referências de textos localizados. Por meio da análise
preliminar desse instrumento de pesquisa, foi possível também constatar a importância do
desenvolvimento de pesquisas históricas sobre a alfabetização de jovens e adultos e também a
importância da elaboração de instrumentos de pesquisa em etapas iniciais do desenvolvimento de
pesquisas acadêmico-científicas.

1298
BILIOGRAFIA SOBRE ESTÁGIO CURRICULAR OBRIGATÓRIO EM CURSOS DE PEDAGOGIA, NO BRASIL
(1953-2009)

AGNES IARA DOMINGOS MORAES.


UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA, MARILIA - SP - BRASIL.

Neste texto, apresentam-se resultados parciais de pesquisa de iniciação científica (Bolsa


Pibic/CNPq/Unesp), vinculada à linha “Formação de professores” do Grupo e Projetos Integrados de
Pesquisa “História do Ensino de Língua e Literatura no Brasil” e “Bibliografia Brasileira sobre História do
Ensino de Língua e Literatura no Brasil (2003-2011)” (Auxílio CNPq), todos coordenados pela Profª. Drª.
Maria do Rosário Longo Mortatti. O objetivo da pesquisa é compreender um importante momento
histórico da formação de professores no Brasil e, para seu desenvolvimento, mediante abordagem
histórica, centrada em pesquisa documental e bibliográfica, elaborou-se um instrumento de pesquisa,
utilizando os procedimentos de: localização, recuperação, reunião, seleção e ordenação de referências
de textos resultantes da produção brasileira institucional e acadêmico-científica referente ao estágio
estágio curricular em cursos de Pedagogia no Brasil. As referências de textos localizadas, até o
momento, totalizam 122, e foram elaboradas de acordo com a Norma Brasileira de Referência (NBR) –
6023 (2002), da Associação Brasileira de Normas Técnicas. Com base na análise preliminar das
referências resultantes desse instrumento de pesquisa, destaca-se a escassa produção de trabalhos
históricos sobre estágio, apesar da relevância do tema neste momento histórico. O estágio é de algo

197
diretamente ligado à formação de professores, no Brasil. Um dos pontos mais polêmicos em relação à
formação de professores foi/é a questão do constante conflito entre a priorização, ora da formação
teórica em relação à formação prática, ora da formação prática em relação à formação teórica. A
questão da teoria e prática, mais especificamente o estágio, há décadas, perpassa os debates em torno
da educação. Para alguns o potencial do estágio parece sub-utilizado; para outros, estagiários, escolas e
universidades estão insatisfeitos. Os resultados obtidos até o momento indicam que o estágio foi e
continua a ser um tema polêmico e objeto de disputas teóricas; e também a realização desse
instrumento de pesquisa contribui para formação de iniciante na pesquisa científica, permitindo
identificar uma lacuna na produção bibliográfica sobre estágios. Esses resultados indicam, ainda, a
importância do instrumento de pesquisa, para o desenvolvimento de pesquisas históricas, já que, uma
vez elaborado e divulgado, pode colaborar, tanto para colocar em evidência áreas carentes de pesquisa,
quanto para a realização de pesquisas correlatas sobre essa temática.

1325
CADERNOS ESCOLARES E PRATICAS EDUCATIVAS NO PRIMARIO BRASILEIRO DA DECADA DE 30
1 2
ARICLÊ VECHIA ; ANTÓNIO GOMES FERREIRA .
1.UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ, CURITIBA - PR - BRASIL; 2.UNIVERSIDADE DE COIMBRA, COIMBRA
- PORTUGAL.

Para compreendermos o que realmente significa a atuação da escola, temos de encontrar formas de
chegarmos às atividades dos alunos. É nelas que se concretiza a intencionalidade educativa e a
habilidade pedagógica que deverá capacitar o sujeito escolarizado. Mas não há formas puras e diretas
de perscrutar a vivência escolar do passado, captar o poder da rotina escolar, compreender a
consistência do ensino ministrado, ver o desenrolar dos exercícios, observar a dialética da relação
pedagógica, colocar as questões na exata dimensão que o contexto sociocultural da época permitia. A
história das atividades escolares tende a parecer um antigo álbum de recortes, onde as imagens e os
apontamentos de diferentes momentos suscitam reações, mas dificilmente produzem a sensação dos
acontecimentos que testemunham. Na realidade, estamos quase sempre, diante de uma arqueologia da
escola, buscando nos materiais escolares a que temos acesso, a compreensão das vivências escolares e
do seu sentido educativo. Se houve tempos em que os manuais foram a principal fonte para se chegar
aos conteúdos, nos últimos anos, os cadernos escolares vêm despertando interesse, pois possibilitam
maior aproximação ao trabalho realizado na escola, tendo Hébrard (2001) considerado alguns tipos de
cadernos como “prova irrefutável" do trabalhado realizado pelos alunos. Os cadernos são suportes de
escrita e, como tal, expressam uma capacidade tecnológica tanto nos materiais de que são feitos como
no modo como são usados. Este estudo tem por objetivo desvelar as práticas pedagógicas e aspectos do
cotidiano vivenciados por professores e alunos, no interior da sala de aula de escolas de ensino primário
de três Estados brasileiros na década de 30 do século XX. As fontes que dão suporte às análises são uma
coleção de 24 cadernos, que pertenceram a um aluno de uma escola particular do Paraná de 1934 a
1937; a um aluno de uma escola pública de São Paulo de 1936 a 1939 e a uma aluna de uma escola
confessional de Minas Gerais no período de 1937 a 1940. No aspecto teórico-metodológico, se insere na
História da cultura material escolar, que tem como matriz uma das vertentes da História Cultural. Muito
embora as análises permitam perceber as atividades envolvendo as técnicas da escrita, as matérias
dadas, os exercícios realizados, as rotinas diárias, o caderno escolar revela-se uma fonte interessante
quanto complexa na reconstrução histórica das práticas escolares. Interessante, porque revela aspectos
das práticas pedagógicas, da apropriação dos conteúdos, das técnicas de ensino, dos valores veiculados,
das dificuldades dos alunos; complexa porque apresenta apenas parte das práticas escolares, deixando
muito a dizer sobre a oralidade existente na sala de aula e sobre atividades realizadas para além do
interior da classe que não foram passiveis de registro. Mesmo assim, são preciosos materiais para
compreendermos o ensino e as aprendizagens da época em causa.

198
653
CAMINHOS PARA SE APREENDER A CONSTRUÇÃO DAS IDÉIAS PEDAGÓGICAS NO BRASIL NA
FORMAÇÃO DE PROFESSORES: UMA APRESENTAÇÃO DO LIVRO DE OURO DA ANTIGA ESCOLA
NORMAL DA CIDADE DE SÃO CARLOS (1911-1945)

ALESSANDRA ARCE HAI.


UFSCAR, SAO CARLOS - SP - BRASIL.

Este trabalhao é fruto de trabalho que vem sendo realizado a três anos junto a Escola Estadual Dr.
Álvaro Guião (catalogação, limpeza, digitalização - fontes pictográficas - e alimentação de banco de
dados) com o objetivo de restaurar e preservar seu acervo documental e bibliográfico . O trabalho faz
parte do projeto de Extensão intitulado: “Recuperação, conservação e organização do acervo
documental e bibliográfico da Escola Estadual Álvaro Guião” e, do projeto de pesquisa financiado pela
Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) intitulado: “A idéias Pedagógicas em
movimento na Formação de Professores na Escola Estadual Dr. Álvaro (1930-1969): uma análise de seu
acervo bibliográfico e documental”. Este trabalho insere-se no campo das pesquisas da História das
Idéias Pedagógicas. A definição que foi tomada neste trabalho e utilizada para a realização de nossas
pesquisas fundamenta-se na definição feita por Dermeval Saviani em sua obra “História das Idéias
Pedagógicas no Brasil”. Saviani (2007, p. 6-7) diferencia idéias educacionais de idéias pedagógicas. Para
o autor o termo idéias pedagógicas contempla a prática educativa e a teoria que a embasa. Portanto
quando se pensa o termo “pedagógico” sua referência é também a forma como este se materializa, ou
seja, é operacionalizado no ato cotidiano de educar. Assim o “pedagógico” forma-se não só dos
discursos e das idéias dos autores, mas também do como fazer, de sua práxis. Não podemos deixar de
ressaltar que o trabalho com história das idéias pedagógicas ao procurar apreender o teórico-
metodológico traduzido na práxis educativa o faz tendo como ponto de partida a práxis social na qual
estas idéias são gestadas. Neste trabalho apresentamos ainda em caráter descritivo os conteúdos
trabalhados com as normalistas, no período de 1911 a 1945, por meio da leitura das provas que foram
registradas no Livro Ouro da antiga escola normal da cidade de São Carlos, situada no interior do Estado
de São Paulo. O “Livro de Ouro” da Escola Normal de São Carlos é constituído da transcrição das
melhores provas realizadas pelos alunos e escolhidas por seus professores. O primeiro registro de prova
é datado de 13/11/1911 com uma prova de Álgebra feita por um homem e a última prova com data de
29/09/1945 de Geometria e feita por uma mulher. O trabalho nos levou a encontrar nas provas
transcritas um caminho da divulgação das idéias pedagógicas que passou por autores como : Pestalozzi,
Froebel, Rousseau aos psicólogos funcionalistas como Claparede, William James, não deixando de
contemplar as ideais de John Dewey. As provas também revelam uma preocupação com a teoria e sua
pratica no interior das salas de aula. Ou seja, pelo registro foi possível apreender como as idéias
pedagógicas se constituíram no interior da escola normal desde a sua fundação ate o último registro
datado de 1945.

1026
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE: NOTAS
SOBRE A SUA CONSTITUIÇÃO

ANA PAULA SOARES LIMA; CORA LINHARES SANTOS.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE, NOSSA SENHORA DO SOCORRO - SE - BRASIL.

O ensino superior em Sergipe teve o seu surgimento no final da década de 40, mais precisamente em
1948 com a Escola de Química, originada da lei estadual nº 86, de 25 de novembro do mesmo ano. A
Escola de Química de Sergipe formava graduandos na área de Química Industrial, sendo base para
outros cursos como Engenharia Química, Licenciatura e Bacharelado em Química e Licenciatura em
Física. Assim como a Escola era um pólo independente, de ensino superior, existiam também as
Faculdades de Direito e a Faculdade de Filosofia, esta responsável pelo estímulo do estudo da
Matemática como ciência. Esses pólos independentes de ensino superior juntamente com os demais
cursos passaram a integrar uma única instituição, quando os estabelecimentos de Ensino Superiores

199
foram transferidos através da lei nº 1.194 de 11 de julho de 1963, sendo instituída quatro anos depois
sua fundação em 28 de fevereiro de1967, pelo decreto lei nº 269 e instalada em 15 de maio de 1968. A
Universidade Federal de Sergipe é composta por cinco grandes centros: CCBS (Centro de Ciências
Biológicas e Saúde), CECH (Centro de Ciências Humanas), CCSA (Centro de Ciências Sociais e Aplicadas),
CESAD (Centro de Educação Superior a Distância) e CCET (Centro de Ciências Exatas e Tecnológicas), este
último é o que engloba todos os cursos da área de exatas: Ciência da Computação, Engenharia da
Computação, Estatística, Bacharelado e Licenciatura em Física, Física Médica, Geologia, Bacharelado e
Licenciatura em Matemática e Química, Química Industrial e Sistema de Informação. O nosso objetivo
nessa pesquisa é o de investigar o surgimento desse centro (CCET) e como ele vem evoluindo
juntamente com a Universidade Federal de Sergipe. É possível constatar que a UFS está em contínuo
processo de expansão e interiorização. Neste sentido, destacam-se os Campi da Saúde, Avançado do
Crasto, o Rural e o Avançado do Xingó. Na produção desse estudo tomaremos como base a análise de
escritos já produzidos acerca do tema, a exemplo de Lima (1993), Subrinho (1999) Rollemberg &
Santos (1999), Araújo (2008) e Conceição (2010), a análise de livros, documentos, jornais, revistas,
fotografias e entrevistas. Essa pesquisa está relacionada com o estudo, em andamento, que conta com o
apoio da PROEX/UFS (Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários da Universidade Federal de
Sergipe), intitulado Universidade Federal de Sergipe: de Escola Superior a Universidade Multicampi.
Deste modo, os nossos levantamentos evidenciam a importância de conhecermos a história do ensino
superior em Sergipe e, por conseguinte contribuir na discussão acerca das instituições superiores no
país.

1180
COLÉGIO CENECISTA NOSSA SENHORA DO CARMO: EXAME ADMISSIONAL E CURSO GINASIAL - UNAÍ,
MG (1959 - 1971)

VIVIANE RIBEIRO; SUELEM CORRÊA SILVA.


INESC, UNAÍ - MG - BRASIL.

A Região Noroeste do Estado de Minas Gerais desenvolveu-se a partir da construção de Brasília na


década de 1950. O crescimento demográfico e a criação de escolas foram tardios em relação a outras
regiões do Estado de Minas Gerais e do Brasil. O estudo sobre o Colégio Cenecista Nossa Senhora do
Carmo justifica-se por estas características e pelo fato de ainda não haver pesquisas na área da História
da Educação na Região do Noroeste Mineiro. Esta é a única escola confessional católica do município de
Unaí, MG e sua criação foi uma resposta dos padres holandeses à escola paroquial presbiteriana que
oferecia o curso pré-admissional para o ginásio. Tem-se por objetivo investigar o papel do Colégio
Cenecista Nossa Senhora do Carmo na região do Noroeste Mineiro, através do estudo do contexto
sócio-político-econômico e cultural no qual foi fundado e de suas características pedagógicas e
educacionais. Trata-se de uma pesquisa na área da História das Instituições Educacionais.
Metodologicamente foram utilizadas a Pesquisa Bibliográfica sobre a História da Educação Brasileira e
da Campanha Nacional de Educandários Gratuitos (CNEG); Pesquisa Documental (Ata de Fundação e
Atas do Conselho, Atas dos Exames de Admissão, Livros de Ponto) e entrevistas realizadas com os
idealizadores da escola, ex-alunos, ex-professores e padres carmelitas de origem holandesa. O período
de estudo delimitou-se de 1959, data de criação do Ginásio Nossa Senhora do Carmo com o
funcionamento de duas turmas do 5º ano pré-admissional; à 1971 último ano de realização dos exames
de admissão nesta escola. O Ginásio Nossa Senhora do Carmo foi idealizado pelos padres carmelitas e
pelas autoridades locais: o prefeito e o promotor. Em 1959 as turmas do 5º ano admissional
funcionaram em salas emprestadas. Em 1960 a sede da escola já estava construída e teve início o
primeiro ano do curso ginasial. Os exames de admissão contaram inicialmente com a presença de um
inspetor escolar da cidade de Patos de Minas. Os candidatos faziam prova oral e escrita de Língua
Portuguesa, Matemática, Ciências, História e Geografia. Posteriormente, os alunos passaram a depender
de padrinhos políticos que garantiam suas vagas no curso ginasial. O número de candidatos reprovados
nos exames anuais chegava a sessenta por cento. A escola era administrada por um Conselho, dele
participavam os fundadores da escola os padres carmelitas, o prefeito, o promotor e os professores. Os
últimos exames admissionais no ano de 1971 coincidem com a promulgação da LDB 5692. A escola de

200
ordem confessional, comunitária e filantrópica desde a sua criação estava subordinada à Campanha
Nacional de Educandários Gratuitos (CNEG). Apesar de ser uma escola filantrópica ela destinava-se à
elite unaiense.

618
COLÉGIO DA POLÍCIA MILITAR DA BAHIA: UMA TRAJETÓRIA HISTÓRICA (1957-1975)

ANDRÉA REIS DE JESUS.


UFBA, SALVADOR - BA - BRASIL.

Este trabalho objetiva compartilhar os primeiros resultados da pesquisa teórica e empírica que está
sendo desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Educação-mestrado- na Universidade Federal
da Bahia, sob a orientação da Professora Doutora Lucia da Franca Rocha e se inclui dentro do eixo
temático da História das Instituições Escolares. A pesquisa investiga o ensino no Colégio da Polícia
Militar da Bahia entre os anos de sua fundação (1957) e consolidação da Ditadura civil-militar (1975)
com o objetivo de compreender como a ideologia do Estado Militar implantado a partir de 1964 se
refletiu nas práticas pedagógicas do colégio. O trabalho será apresentado em três partes: na primeira
será abordada a origem, objetivos e currículo da instituição, na segunda as mudanças trazidas pelo
Decreto Estadual nº 19615 de 9 de setembro de 1965 que determina que o Colégio da Polícia Militar
adote o Regulamento dos Colégios Militares do Exército (R-69) e para tanto, a conjuntura do golpe
militar e da implantação do Estado autoritário será abordada, de forma que possamos compreender o
contexto histórico em que essas mudanças foram implementadas. Outra mudança importante ocorreu
com a reforma do ensino de 1º e 2º graus (Lei 5692/71) e foi observado que novamente o currículo e os
objetivos do colégio foram afetados pela política educacional do Estado Militar. A terceira parte
apresentará os dados da pesquisa empírica já realizada, que consistiu em coletar, avaliar e criticar as
fontes disponíveis localizadas no arquivo da escola de modo a estabelecer fatos e conclusões. Para
tanto, adotamos os pressupostos teórico-metodológicos desenvolvidos por Paolo Nosella e Esther Buffa,
a fim de que possamos relacionar as singularidades produzidas pela cultura escolar da instituição
pesquisada com a sociedade na qual ela se origina e se situa. Desta forma, o método dialético propicia o
entrelaçamento entre o particular e o contexto social, político, econômico e cultural proporcionando
uma maior compreensão do objeto ao revelar suas múltiplas determinações. O aprofundamento de
categorias como cultura escolar, ideologia, instituições educativas, militarismo, autoritarismo e Estado
será essencial para o estabelecimento de reflexões e conclusões acerca da trajetória histórica da escola
que nos propomos a investigar.

550
COLÉGIO VIÇOSA: TRAJETÓRIA E DECADÊNCIA DE UMA INSTUIÇÃO DE ENSINO

RITA DE CÁSSIA DE SOUZA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA, VICOSA - MG - BRASIL.

Esta pesquisa, que está em andamento, busca recuperar a história de uma instituição particular de
ensino em uma cidade do interior de Minas Gerais, o Colégio Viçosa, que não existe mais. O edifício no
qual funcionava o Colégio fica numa região central da cidade e é bastante imponente, embora
atualmente esteja em uma situação dramática, podendo vir a ser interditado, segundo uma manchete
do jornal Folha da Mata de 15 de agosto de 2010. Entretanto, o Colégio já foi uma instituição escolar
reconhecida que atraia alunos de diversas partes do país que estudavam num modelo de internato ou
externato. Uma das primeiras informações interessantes sobre o Colégio é o fato de que era uma
instituição privada sem vinculações religiosas, uma situação pouco comum, especialmente para uma
pequena cidade do interior de Minas Gerais. Sendo preparatória para o ingresso no ensino superior e
cumprindo bem esta função, também chama a atenção o fato do Colégio ter deixado de existir quando a
procura pelo ensino superior tem, historicamente, sido cada vez maior. A principal metodologia para o
estudo tem sido a história oral, pois ainda não se sabe da existência de documentos sobre o Colégio,

201
onde estariam e se estão acessíveis para a pesquisa. De acordo com uma classificação apresentada por
Meihy (1996), a história de vida aqui utilizada consiste numa história temática, ou seja, o tema que
direciona a pesquisa é a vinculação dos sujeitos pesquisados com o Colégio Viçosa e suas vivências
relacionadas a esta instituição. Estão sendo realizadas entrevistas com ex-alunos, ex-professores e ex-
funcionários localizados por diversos meios. No site de relacionamentos Orkut existe uma comunidade
intitulada Estudei no Colégio de Viçosa criada em 16 de dezembro de 2007. Esta comunidade esta
servindo como forma de acesso a alguns ex-alunos, e pretende-se solicitar que, aqueles que residam em
regiões mais distantes, redijam um pouco de suas memórias e nos enviem via internet. A cada
entrevistado ou participante da pesquisa, estão sendo solicitados registros dos tempos da escola:
fotografias, diplomas, cadernos, livros, uniformes ou quaisquer outros materiais que puderem
esclarecer um pouco do que foi o Colégio Viçosa e como funcionava. A análise das entrevistas e das
memórias escritas pelos participantes está sendo feita buscando localizar as respostas aos
questionamentos sobre o Colégio, sua cultura, seus sujeitos, sua história. Lidar com a história oral
consiste em trabalhar com memórias, e estas, por sua vez, lida com uma reconstrução, no presente, de
fatos vivenciados no passado. Isto implica, portanto, em considerar lacunas, reelaborações,
resignificações, enfim, não se trata de recuperar o passado tal como este aconteceu, mas tal como este
se apresenta no presente para aqueles que lá estiveram.

592
COMEMORAÇÕES E FESTAS: DIMENSÕES DE UMA CULTURA ESCOLAR NO GRUPO VIDAL RAMOS
(LAGES, SANTA CATARINA, 1904-1928)

TANIA CORDOVA.
SESI, LAGES - SC - BRASIL.

Esta comunicação faz referência às considerações construída pela pesquisa de mestrado intitulado O
Novo Compõe com o Velho: O lugar do Grupo Escolar no cenário do Ensino Público Primário na cidade
de Lages, no estado de Santa Catarina (1904-1928), concluída em 2008. Dentre as possibilidades de
reflexão, foram selecionadas algumas interpretações que intentam compreender possíveis significados
da cultura expressa na organização e comemoração de festas que tiveram como cenário o universo
escolar do ensino público primário, representado aqui pelo grupo escolar Vidal Ramos que funcionou na
cidade de Lages até meados do século XX. O objetivo é apresentar como as festas que a escola
comemorava podem traduzir uma construção social que revela, em seu espaço, significados e
representações que favorecem a configuração de uma cultura inerente aos sujeitos que vivenciaram o
universo escolar. Sujeitos, que as organizaram e as celebraram, no intuito de registrar na memória social
escolar um sentimento que se propunha ser coletivo pela união dos anseios de seus participantes, como
parte do calendário escolar que delimitava um tempo e um espaço próprio. Nessa perspectiva, foi
selecionado um conjunto de expressões culturais que possibilitam representar momentos de
festividades vivenciados no Grupo Escolar Vidal Ramos, onde as crianças atuam como personagens
principais, tais como, a inauguração do Grupo, os exames, as exposições, as comemorações, as festas e a
Primeira Comunhão. Nelas estão registradas, além das datas comemorativas, discursos e imagens que
denotam uma cultura escolar festiva afirmada nesses eventos. As fontes que subsidiaram as discussões
são as fotografias escolares que testemunharam diferentes situações destas manifestações
comemorativas; as determinações da legislação educacional que procurava desenhar o formato dos
momentos festivos; os jornais de circulação na cidade de Lages, tais como, O Lageano; O Imparcial; O
Planalto. No que diz respeito às fontes, as mesmas foram utilizadas na construção de questões que
problematizaram o tema das festas e comemorações escolares entendidas como estratégias do
conhecimento da realidade histórica, por dar a conhecer as evidências e pistas que conduzam a
percepção de lembranças de um passado que se aproxima de uma representação da memória coletiva
sobre o universo da escola primária no Brasil. Os resultados que esta incursão no universo da escola
primária apontam para o entendimento que as festas do calendário escolar configuram dimensões
discursivas tomadas como experiências que retêm significados sociais e simbólicos a serem investigados
pela pesquisa histórica. Sob estes aspectos o presente estudo propõe a comunicação ao eixo temático
História das Instituições e Práticas Educativas.

202
1224
CONSERVATÓRIO ESTADUAL DE MÚSICA EM ITUIUTABA-MG: DA GÊNESE A CONSOLIDAÇÃO (1965-
1990)

NICULA MARIA GIANOGLOU COELHO.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLANDIA, UBERLANDIA - MG - BRASIL.

O objetivo central desse trabalho é apresentar reflexão inicial sobre a criação e consolidação do
Conservatório Estadual de Música Dr José Zóccoli de Andrade, no período de 1965 a 1990, instituição
escolar implantada na cidade de Ituiutaba- MG. Em um momento que se discute em ambito nacional a
Educação Musical e seus multiplos espaços é de suma importância conhecer e resgatar a história de
instituições educacionais que se dedicaram a formação artistica em Minas Gerais (único estado da
federação a criar escolas públicas seriadas para esse tipo de ensino). Em 1965, no Pontal do Triangulo
Mineiro, havia grande demanda por oportunidades de acesso a educação escolar na região, pois as
vagas públicas oferecidas eram bastante restritas, assim, foi pela atuação de lideranças políticas locais,
associada a articulação de sua primeira diretora (Guaraciaba Silvia Campos - professora de acordeom),
instituiu-se em 25 de novembro, por meio da lei n.3595, o Conservatótio Estadual de Música em
Ituiutaba, que iniciaria suas atividades em sede improvisada, a partir de 1966. No dia primeiro de março
daquele ano, começaram as aulas com os instrumentos piano e violão, atendendo a quarenta alunos e
contando com três professores, uma secretária e um zelador. É importante ressaltar que o
Conservatório iniciou suas atividades no ano de 1966, já no contexto da Ditadura Militar, período
marcado pela repressão e pela difusão de patriotismo com elevada carga ideológica a serviço do Estado,
isso pode ser verificado mesmo em cidades interioranas longe dos grandes centros de poder e indústria
do país, como Ituiutaba, por exemplo. Assim, buscamos visualizar nas atividades dessa instituição a
adesão de seu projeto pedagógico no sentido de se disciplinar os estudantes para um outro tipo de
sociedade baseado no industrialismo, na urbanização, atuando para a consolidação do sistema
capitalista (em pleno contexto de Guerra Fria), com propósito de consolidar o verde-amarelismo. A
instituição escolar deve ser observada como apenas uma das possíveis práticas educativas que
determinada sociedade desenvolve, de forma que o estudo histórico das escolas como objeto singular
deve contribuir para a compreensão do processo educacional global, promovendo avanço do
conhecimento, dessa forma, a dimensão da identidade de uma instituição somente estará mais bem
delineada quando o pesquisador transitar de um profundo mergulho no micro e, com a mesma
intensidade, no macro (SANFELICE, 2005). Para elaboração desse trabalho, utilizamos das fontes
impressas (atas, registros, jornais, etc), iconográficas (fotos de ex-alunos e do arquivo da escola), além
do recurso a história oral.

576
CONTRADIÇÕES E EMBATES REPUBLICANOS EM DEFESA DA EDUCAÇÃO: A LEGITIMAÇÃO DA
CONGREGAÇÃO DA ESCOLA NORMAL DO DISTRITO FEDERAL (1890-1898)

HELOISA HELENA MEIRELLES DOS SANTOS.


UERJ/CEMI-ISERJ, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL.

Este artigo descreve parte da pesquisa que estou desenvolvendo sobre a questão da educação, os
embates políticos na Congregação da Escola Normal do Distrito Federal nos primeiros anos da
implantação da República que se insere no eixo temático História das Instituições e Práticas Educativas.
A Congregação foi um espaço político-educacional dos professores da formação do magistério público
primário da cidade do Rio de Janeiro para implementação das políticas públicas o que possibilitava, na
prática, que as grandes questões educacionais seja da formação de professores, seja do ensino público
primário, não fossem apenas decididas pelo Diretor da Escola Normal ou pela Instrução Pública. As
deliberações da Congregação como o estabelecimento do currículo no novo sistema político da
república; os critérios usados para o recrutamento do pessoal docente do curso de formação; a filosofia
esboçada nas ações desenvolvidas por este grupo; o trato político de continuação de uma legitimidade
existente desde a criação desta Escola Normal; o tratamento curricular de importância, ou não, das

203
diferentes disciplinas oferecidas ao aluno; assim como suas discussões político-pedagógicas, serão
objetos deste trabalho que pretende refletir sobre as inúmeras polêmicas, as contradições e os embates
entre estes professores, seja com o próprio grupo, seja com o poder público. Revelar este grupo por
esta ótica e conhecer seus membros, requereu investigar a documentação do Centro de Memória
Institucional do Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro (CEMI/ISERJ) especialmente as atas da
Congregação de 1893 a 1898. A legislação do período, disponível na Biblioteca Nacional e na Câmara dos
Deputados, e o Almanak Laemmert, disponível on line, trouxeram ainda oportunidade de confronto e
complementação de dados trazendo novas pistas sobre os primeiros anos republicanos na Escola
Normal. Os embates do grupo quando da inclusão das Cadeiras de Biologia, Mecânica e Astronomia
demonstram a orientação política republicana de civilizar através das ciências e o modo conservador da
Congregação que temia perder a legitimidade reconquistada na gestão Benjamin Constant; mostram
também que, contraditoriamente, a Escola pretendia continuar conservadora frente à modernidade
republicana para não perder o poder político conquistado. As atas pesquisadas, assim como os ofícios
do período demonstram igualmente que se lutava pela legitimidade conferida à Congregação e seus
membros no âmbito da Instrução Pública, especialmente na gestão Benjamin Constant Botelho de
Magalhães. Esta pesquisa, ao eleger a Congregação da Escola Normal, espera contribuir para a
historiografia, mostrando a importância dos acervos escolares e apresentando as contradições e
embates nesta instituição formadora dos professores primários da cidade do Rio de Janeiro, na defesa
de sua legitimidade.

617
COTIDIANO DE GRUPOS ESCOLARES CATARINENSES NO DECORRER DO SÉCULO XX: UMA ANÁLISE DE
MEMÓRIAS DOS DOCENTES

FERNANDA RAMOS OLIVEIRA PRATES.


UDESC, FLORIANOPOLIS - SC - BRASIL.

O presente artigo trata de uma pesquisa preliminar relacionada ao projeto de Mestrado em Educação,
intitulado “Culturas e rendimentos escolares: um estudo comparativo de dois Grupos Escolares da
cidade de Florianópolis - SC (1947-1970)”, a ser executado na Universidade do Estado de Santa Catarina
(UDESC) - Linha de Pesquisa: História e Historiografia da Educação. O tema em estudo consiste na
análise de entrevistas realizadas com professores que estudaram e lecionaram em Grupos Escolares de
Santa Catarina no decorrer do século XX, sendo que o principal objetivo deste trabalho foi conhecer o
cotidiano dessas instituições, sob a ótica das memórias dos próprios docentes. Foram analisadas seis
entrevistas disponíveis no Acervo do Museu da Escola Catarinense. Todas as entrevistas estão
acompanhadas dos respectivos Termos de Doação. O citado Museu está localizado no município de
Florianópolis – Santa Catarina, e tem sua origem creditada ao Projeto de Pesquisa “Resgate da História e
da Cultura Material da Escola Catarinense”, concebido e coordenado por Maria da Graça Machado
Vandresen. Neste artigo utilizou-se a análise do conteúdo como principal procedimento metodológico,
aliada à revisão bibliográfica, incluindo elementos teóricos que refletem sobre a história oral. A partir da
análise e discussão dos dados coletados e das reflexões realizadas, percebeu-se que por intermédio da
utilização de testemunhos orais foi possível conhecer alguns detalhes não registrados em outras fontes,
principalmente, quando são utilizadas apenas as consideradas “fontes oficiais escritas”. Tendo em vista
que os entrevistados selecionados foram “pessoas comuns”, que estudaram e trabalharam em cidades
catarinenses, foi possível rastrear alguns modos de viver e pensar dos respectivos locais e épocas,
compreendendo-se práticas culturais de diferentes períodos, seja de alunos ou professores. Porém, é
necessário ter precauções quando o pesquisador se propõe a analisar entrevistas, tendo em vista a
seletividade existente nas memórias pessoais. Inconscientemente ou mesmo conscientemente, alguns
entrevistados acabam não relatando ou acabam modificando aspectos que não se recordam ou fazem
questão de não recordar. Dessa forma, para uma maior credibilidade e confiabilidade de uma pesquisa
em que a história oral é utilizada, faz-se necessário diversificar o número e tipo de fontes que
fundamentam o trabalho, como também, impor um maior rigor no confronto entre as mesmas, seja
para melhor entender as respostas das entrevistas, quanto para formular as próprias questões que
serão perguntadas.

204
1240
CURRÍCULO E PODER NOS PATRONATOS AGRÍCOLAS: A APRENDIZAGEM VOLTADA PARA O TRABALHO
NA SOCIEDADE CARIOCA DOS ANOS 1920

DANIELLE DE ALMEIDA GALANTE FERREIRA.


UFRJ, RJ - RJ - BRASIL.

Este trabalho é um desdobramento da pesquisa sobre as instituições de ensino em regime asilar, em


especial os patronatos agrícolas criados pelo Serviço de Povoamento do Governo Federal e destinados a
receber os menores recolhidos nas ruas do Rio de Janeiro. Estes andarilhos eram internados pela Polícia
em escolas agrícolas sob a alegação de um possível perigo à ordem social estabelecida. Durante a
Primeira República do século XX, o ideal civilizatório contava com a formação de jovens trabalhadores à
pátria, dando a ela status semelhante à modernização européia, visto que nas mãos deles estava a
responsabilidade do tão almejado progresso como nação. A conquista deste ideal foi favorecida
mediante o currículo selecionado e organizado pelas escolas agrícolas, onde os internos aprenderiam os
ofícios mecânicos, o trabalho agrícola e as primeiras letras. O plano de ensino desenvolveria os
conteúdos disciplinares de Língua Portuguesa, Aritmética, Geografia do Brasil e fatos da história da
humanidade. A cultura cívica e moral estava presente no culto à bandeira, cantos patrióticos,
comemoração festiva, palestras dominicais e exercícios militares. Já a cultura intelectual e as faculdades
físicas se dedicavam aos cuidados com a saúde, sobriedade, higiene, jogos recreativos, excursões a pé,
labuta diária na lavoura, preservação e cura dos padecimentos nervosos e dos hábitos perigosos da
infância. Os trabalhos manuais eram realizados nas oficinas de artes gráficas, marcenaria, alfaiataria,
sapataria, metais, ourivesaria, ferraria, carpintaria, selaria e mecânica. Assim, a pesquisa objetiva
entender como o currículo e o ensino cooperaram para o domínio dos corpos e das mentes desses
adultos em miniaturas, analisando os planos de estudos, as práticas educacionais engendradas e a
aplicação dos preceitos higienistas da educação integral presentes nos relatórios do Ministério da
Agricultura e regulamentos das instituições. A análise das fontes também se pauta na contribuição de
Apple às discussões acerca da cultura e do poder na Educação, politizando a teorização sobre currículo,
o que é de fundamental importância no âmbito acadêmico e relacional, ao explorar como as formas de
divisão da sociedade afetam o currículo; a forma como o currículo processa o conhecimento e as
pessoas; como contribui para reproduzir essa divisão; o conhecimento nele privilegiado; os grupos
beneficiados e os prejudicados pela forma como o currículo está organizado; e como se formam
resistências e oposições ao currículo oficial. Portanto, a temática abordada se justifica em virtude da
escassez de trabalhos desenvolvidos nesta área do conhecimento sobre a educação profissional nos
institutos asilares de formação integral do menor abandonado, especialmente os voltados para a
educação agrícola.

657
CURRÍCULO INTEGRADO NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL: PERSPECTIVAS HISTÓRICAS

ANTONIO HENRIQUE PINTO.


IFES, VITORIA - ES - BRASIL.

Nos anos finais do século XX e iniciais do século XXI sucessivos decretos do governo federal
colocaram a educação profissional num movimento pendular, fazendo emegir os tencionamentos
gerados pelas diferentes concepções de educação, de trabalho, de formação humana e de
sociedade.Esta foi a motivação inicial deste trabalho, resultado parcial de um projeto de pesquisa
interinstitucional que tem como foco investigar a perspectiva de integração do currículo da educação
profissional ao currículo da educação básica. Apresento uma análise histórica relativa ao
desenvolvimento curricular e práticas pedagógicas associadas a esse currículo na Escola Técnica Federal
do Espírito Santo, no período de 1950 a 2000, período de transição da formação profissional concebida
como assistencialista-correcional para a concepção meritocrática-conteudista. As memórias desse
tempo foram obtidas nos arquivos escolares ou narradas pelos depoentes, possibilitando uma análise,
uma interpretação e sua ressignificação para o presente (PORTELLI, 1997), por meio de um processo

205
indiciário (GUINZBURG, 1991). Registros em atas de conselhos escolares, formulários de secretaria
escolar, registros de professor, etc, constituíram-se em “fermento à história” (Le Goff, 2003),
possibilitando compreender os limites e as possibilidades da construção de um currículo integrado,
requisito fundamental à efetivação de uma formação profissional emancipatória. Nesse sentido,
dialogamos com o campo da historia do currículo, visto que permite penetrar nos processos internos da
escola para entender a construção social da escolarização (Goodson, 1997). Nesse sentido, no período
aqui considerado analisamos o processo ao qual a Escola Técnica Federal, instituição centenária
concebida e criada para atender a formação profissional destinada aos “desvalidos da sorte”, passou a
outro modelo baseado num ensino destinado à jovens e adolescentes oriundos de extratos da classe
média e que, para além da formação profissional, almejavam o ingresso na universidade. Saliento que
esse processo foi efetivado por um “deslocamento epistemológico” em relação à construção do
conhecimento profissional e por um “descolamento conceitual” em relação à prática profissional.
Discuto esse o processo de institucionalização mostrando um duplo movimento visando à superação do
estigma de escola assistencialista-correcional: ora instituindo práticas pautadas na racionalidade
técnico-científica, ora instituindo práticas aliada à formação humanista. Concluo que no período
considerado foi construída uma identidade híbrida, por um lado pautada na valorização da racionalidade
técnico-científica objetivada pelo currículo fragmentado e, por outro lado, um currículo aproximado da
concepção crítico-emancipatória, contradição inerente ao papel da escola e, em especial, da educação
profissional movida por projetos societários em disputa.

397
CURSOS, DISCIPLINAS E PRIMEIROS PROFESSORES DA FACULDADE CATARINENSE DE FILOSOFIA

CELSO JOÃO CARMINATI.


UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA, FLORIANOPOLIS - SC - BRASIL.

Neste texto, apresentamos os resultados finais de pesquisa, em que discutimos a partir de uma
reconstrução da estrutura organizacional dos primeiros cursos de graduação que tiveram suas
atividades autorizadas no mês de dezembro de 1954 e que após reconhecimento pelo governo Federal
da Faculdade Catarinense de Filosofia puderam iniciar suas atividades no ano seguinte, identificando a
formação pretendida para os primeiros alunos selecionados para freqüentar os cursos de Filosofia,
História e Geografia, Letras Clássicas, Letras Neo-Latinas e Letras Anglo-Germânicas, para uma formação
há muito tempo almejada por grupos sociais com destaque econômico e político na nascente
organização do ensino superior de Santa Catarina. Embora houvesse uma expectativa para a formação
de futuros bacharéis e professores para as redes de ensino pública e privada, muitos destes alunos não
concluíam seus cursos e os que concluíam não poderiam dar aulas de imediato, pois deveriam ainda
cursar o curso de didática, que foi oferecido somente alguns anos depois. Com as dificuldades regionais
por seu distanciamento e a difícil ligação terrestre da capital do estado com importantes cidades de
estados vizinhos como o Rio Grande do Sul e Paraná, onde a formação nestas áreas já havia sido
percorrida há mais tempos, mesmo sendo uma Faculdade isolada e particular, o governo do Estado de
Santa Catarina, aprovou uma lei autorizando o repasse de recursos para auxiliar financeiramente a
referida Faculdade a fim de que pudesse contratar professores com sólida e distinta formação fora do
meio local. Isto permitiu que alguns professores formados em países como Portugal, França e Espanha
iniciassem suas atividades docentes, com inconteste reputação e trajetória acadêmica. Além disto,
nossa discussão leva em conta os dispositivos legais que regiam a formação do ensino superior nas
reformas educacionais do período que precedeu assim como acompanhou o desenvolvimento dos
cursos de graduação. Identificamos entre os primeiros alunos matriculados uma significativa presença
de mulheres. A partir de fontes documentais, pudemos inquirir o passado, ouvindo suas próprias vozes,
uma vez que este não é meramente passado, e assim trazer à luz elementos importantes da
reconstituição da memória histórica dos cursos e de seus personagens. À luz de uma teoria crítica de
educação, nos debruçamos na reconstituição dos dados que pudessem dar vida à trajetória pessoal e
institucional de alunos e professores da Faculdade Catarinense de Filosofia, uma vez que foram
protagonistas de um movimento que resultou, mais tarde, em Santa Catarina, em importantes cursos de
graduação na área das Ciências Humanas.

206
707
D. SILVÉRIO GOMES PIMENTA, A JÓIA NEGRA DA IGREJA NA REPÚBLICA: A EDUCAÇÃO DOS MENINOS
POBRES E O COLÉGIO DO PATROCÍNIO

MARCO AURÉLIO CORRÊA MARTINS.


PPGE UFJF, JUIZ DE FORA - MG - BRASIL.

Inspirado em sua infância pobre, em suas dificuldades para conseguir estudar, por ter alcançado através
da educação o maior posto da hierarquia católica no Brasil até então, D. Silvério Gomes Pimenta, desde
suas primeiras visitas pastorais como Bispo Auxiliar de Mariana, procurou arrecadar esmolas para a
educação de meninos pobres. Não terminará o século XIX sem ter criado dois externatos e um colégio-
asilo na diocese. Este último terá uma existência de 28 anos, mantido pela Diocese e as rendas que
destinadas a ele eram alcançadas, fruto do trabalho do Bispo e do Diretor Mons. Nogueira. Preocupado
com a pobreza da Zona da Mata, pretendia D. Silvério criar na região 4 colégios, embora não fosse
prevista naquele local, foi na região de Juiz de Fora, limítrofe ao Estado do Rio de Janeiro que este foi
possível. Tese geral desde os últimos anos do Império, a educação devia ser obra da sociedade, apenas
apoiada pelo Estado. Dentro da Igreja haverá um movimento pela escolarização católica da sociedade,
reação à separação entre a Igreja e Estado ocorrida em 1890. Fiel seguidor da disciplina Tridentina o
bispo procura dotar a escolas de renda suficiente para sua mínima manutenção. Idealizado como Escola
Agrícola, antes do que ensinar práticas de agricultura via o Prelado uma possibilidade de trabalho para
os alunos que geraria renda a ser usada na mantença. Não deu certo e o Colégio do Patrocínio contratou
colonos para o trabalho da fazenda enquanto dos internos cuidavam de estudar e do serviço da casa.
Ainda sob inspiração tridentina, o Colégio preocupa-se em aceitar meninos que manifestassem a
vocação sacerdotal. Nos 28 anos de existência formou 64 futuros padres. A orientação tridentina era de
buscar vocações nas zonas rurais entre impúberes a serem formados longe das cidades, isolados.
Embora pareça um seminário, a literatura disponível não dá maiores motivos para acreditar nisso
quanto ao Colégio do Patrocínio. Duas obras darão lastro à presente pesquisa sendo uma biografia de D.
Silvério e uma obra sobre a diocese de Juiz de Fora que dedica o primeiro tomo ao Colégio do
Patrocínio. Uma análise estatística de dados sobre os alunos ingressantes, permite pensar
indiciariamente algumas questões sobre a origem e idade dos alunos, além de tentar entender se o
crescimento acelerado do número de matrículas nos anos iniciais da década de 1920 estariam
relacionados ao seu fechamento por aumento do déficit. Embora com desconfianças, D. Helvécio
manteve o Colégio funcionando, ainda que não lhe tenha enviado as verbas previstas no testamento de
D. Silvério. Em 1925, com a criação da Diocese de Juiz de Fora, seu bispo aceita a disposição do cargo de
diretor apresentada por Mons. Nogueira e pouco tempo depois o colégio era fechado. Esta pesquisa
poderá ser ampliada buscando-se novas fontes, sobretudo os documentos do Arquivo da Cúria
Diocesana de Juiz de Fora, faz parte do esforço de entender as ações católicas em Educação na transição
Império-República.

456
DA ESCOLA RURAL À ESCOLA URBANA: A PASSAGEM DA ESCOLA MISTA PARA O GRUPO ESCOLAR NO
CONTEXTO DE DEMOCRATIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO PÚBLICA PAULISTA (1920-60)

ELIANA NUNES DA SILVA.


UNICAMP, CAMPINAS - SP - BRASIL.

Esta pesquisa, em andamento desde 2008, propõe estudar a democratização da educação pública
paulista lançada pelos governos republicanos a partir do recorte de uma história local - a da Escola
Estadual Prof. Luiz Gonzaga da Costa em Campinas (SP). Percorrendo o campo da história das
instituições escolares, elege para sua análise e fonte de conhecimento a categoria “cultura escolar”
(Viñao Frago, 2004; De Rossi, 2004; R. F. de Souza, 2000). A metodologia baseou-se em fontes
documentais diversas levando em conta a ampliação da noção de documento escolar (Le Goff,
2003; Vidal, 2007), constituindo-se em observações registradas em diário de campo, entrevistas e
análise de objetos escolares. Assim como Portelli (1997) e Pollak (1989) desejamos ouvir aqueles que

207
não foram ouvidos e valorizar as memórias subterrâneas. Os objetivos pressupõem problematizar a
expansão do ensino paulista entre as décadas de 1920-60, relacionando o contexto macroeconômico e
político com o contexto do cotidiano; através das noções de mudança e permanência tecer a identidade
da escola mista na transição do rural para o urbano no desenvolvimento da cidade. A escola pesquisada
situa-se na periferia de Campinas, num bairro pacato fundado por imigrantes italianos e que até os anos
60 era considerado rural. Fundada em 1920 junto com a capela, funcionou nas instalações da
igreja como escola mista por 40 anos, quando se converte em grupo escolar em 1963. Nos anos 70
novos migrantes vieram morar no bairro, de outras regiões do Brasil, trabalhadores atraídos pelas
indústrias da região. Pela força da demanda a escola ganhou edifício próprio depois de meio século
imbricada com a igreja. Compõem as justificativas deste trabalho: valorizar as memórias das famílias e
da comunidade atendida por esta instituição social; dar voz aos sujeitos anônimos e visibilidade às suas
histórias de luta pela inserção; contribuir para o conhecimento da história da educação pública nos
espaços poucos conhecidos e divulgados da produção e circulação do saber – os da educação popular;
compreender práticas culturais escolares que circularam no passado, algumas permanecendo no tempo
presente e outras sendo modificadas, abolidas ou recriadas. Um rico acervo material e oral foi localizado
através dos depoentes cujas memórias preservam vestígios do passado e, segundo o historiador
paulista, memória é o vínculo entre passado e presente que permite manter as identidades. (Guarinello,
2004). Essa é a história de uma escola que é patrimônio de uma comunidade por ela atendida há
noventa anos. Os nexos entre família, trabalho, religião, cultura e escola, dinâmicas migratórias,
economia, política e Estado perfazem as análises dessa pesquisa sobre a educação paulista na primeira
metade do século XX, assim como os contrastes decorrentes das políticas públicas e os mecanismos de
poder e as oportunidades de ascensão social e educacional das classes populares empreendedoras no
projeto de melhoria de vida.

474
DA UNIVERSIDADE DA SERRA À UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL - A PRESENSA DA E NA
COMUNIDADE (1950 – 1990)

ELIANA GASPARINI XERRI.


UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL, NOVA PRATA - RS - BRASIL.

A Universidade de Caxias do Sul é o tema deste trabalho o qual é parte do estudo que comporá a tese
de doutoramento sob a orientação da Professora e Dra. Maria Helena C. Bastos, no Programa de Pós-
Graduação em Educação da PUCRS. A história de Instituições de Ensino Superior no Brasil remete às
primeiras décadas do século XX, quando foi criada a primeira Universidade no país. A criação em
número maior, de Universidades, insere-se no contexto dos anos de 1950 em diante, configuradas por
políticas mais democráticas e por ações governamentais autoritárias. A fundação da UCS ocorre neste
momento, o qual assiste ao aumento da demanda por vagas no ensino superior. Muito embora sua
criação tenha se dado nos primeiros anos do Regime Militar, 1967, portanto entre a LDB de 1961 e as
reformas na educação ocorridas em 1968, ela nasce da junção de cursos superiores isolados e que
atendiam ao perfil e às necessidades dos estudantes da região. O presente estudo aborda a criação da
UCS a partir dos cursos isolados pré existentes: Escola de Enfermagem Madre Justina Inês (1957) cuja
mantenedora era a Sociedade Caritativo-Literária São José; Escola de Belas Artes (1959) mantida pela
Prefeitura Municipal de Caxias do Sul,; Faculdade de Ciências Econômicas e de Filosofia (1959) mantidas
pela Mitra Diocesana; Faculdade de Direito (1960) cuja mantenedora era a Sociedade Hospitalar Nossa
Senhora de Fátima. Para a realização do estudo a análise historiográfica percorre os caminhos da
Universidade no Brasil com o intuito de estabelecer os marcos históricos necessários para o
entendimento sobre a criação da UCS, fazendo análise da história do Brasil recente, sobretudo a partir
de 1930 em diante, quando é criada a Universidade da Serra, denominada posteriormente por
Universidade de Caxias do Sul, estabelecendo relações entre a cidade de Caxias do Sul, a região e os
aspectos econômicos, culturais e religiosos que foram determinantes na criação da UCS e na sua
constituição como universidade comunitária e regional. Não é suficiente compreender a Universidade,
mas também é necessário estabelecer um novo diálogo entre universidade, sociedade, conhecimento e
poder. Por isso, é importante conhecer aspectos sobre a criação, fundação e sobre o contexto onde está

208
inserida a UCS, a qual abrange 69 municípios atuando na área do ensino, da pesquisa e da extensão em
uma das regiões mais prósperas economicamente do estado do RS. Fiz uso de documentos
institucionais, entrevista, revisão bibliográfica. O método empregado está embasado na análise
historiográfica pautada pela abordagem da nova história que permite o cruzamento entre as diversas
fontes na composição dos cenários e para a análise da criação da instituição.

363
DE PEQUENA CASA DAS IRMÃS CATARINAS À PATRIMÔNIO PIAUIENSE: HISTÓRIA, CULTURA E
ARQUITETURA NOS EDIFÍCIOS DOS COLÉGIOS DAS IRMÃS

SAMARA MENDES ARAÚJO SILVA.


UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ, TERESINA - PI - BRASIL.

No processo de formação da maioria das cidades do Piauí cujo “marco zero” é a igreja matriz da cidade
denota-se como os edifícios erigidos pela Igreja Católica são elementos marcantes no cenário urbano e
rural. E, ao lado das igrejas, na função de delimitadores dos espaços piauienses, estão outras
construções católicas: cemitérios, Santas Casas e colégios. Por meio da pesquisa histórica e
interpretando informações contidas em jornais, relatos orais de ex-alunas e fotografias dos Colégios das
Irmãs, analisamos a influência na sociedade piauiense da educação católica fornecida às mulheres
nestes Colégios, e percebemos que os prédios de tais Colégios são construções carregadas de múltiplos
significados para os piauienses, e, extrapolam o papel de edificação educacional, neste texto
apresentamos conclusões (parciais) sobre a importância histórica, arquitetônica, educacional e cultural
destes prédios para o Piauí. Percebemos que no espaço territorial das cidades, as escolhas dos locais
para a construção das instalações definitivas das escolas católicas se guiaram, entre outras, pelas
“diretrizes tridentinas” para a educação dos jovens católicos, as quais enfatizavam sobremaneira, a
convivência com a natureza de forma a assegurar o silêncio e a motivação para que os estudantes
pudessem se dedicar a oração e meditação. Por isto, os Colégios católicos femininos piauienses à época
da construção de suas sedes eram praticamente as últimas construções urbanas teresinenses e
parnaibanas, localizando-se no limiar entre a área rural e o espaço urbano. Os colégios em Teresina e
Parnaíba foram erigidos em áreas, inicialmente, distantes dos centros urbano-comercial, mas possuindo
acesso facilitado a estes, com objetivo de manter as alunas dedicadas e concentradas integralmente às
atividades que transcorriam nos espaços internos das escolas e, conseqüentemente longe das
perturbações e atrativos da vida mundana. Estudando o processo de instalação dos Colégios das Irmãs,
observarmos que estas edificações no Piauí, ao longo de um século de existência, de “pequena casa das
irmãs catarinas” se transformaram e se destacam entre as grandes construções existentes nas cidades
erguidas no início do século XX, e, são considerados os tipos ideais de construção para o funcionamento
de um estabelecimento dedicado as atividades educacionais, representam a ligação mantida entre o
Piauí e a Europa por meio das Irmãs Italianas, além de ser referência no tocante a preservação e
manutenção da arquitetura original, mesmo diante das intervenções para modernizar e adaptar as
estruturas já construídas às exigências contemporâneas. Assim, nos é possível estabelecer que os
prédios dos Colégios das Irmãs têm uma notoriedade singular, pois, além da grandiosidade e beleza
arquitetônica que demarcam os espaços urbanos teresinense e parnaibano, estas edificações são
reconhecidas pela população e poder público como integrantes do patrimônio histórico e cultural do
Estado.

531
DISCIPLINAMENTO NAS INSTITUIÇÕES ESCOLARES: UMA PRÁTICA HISTÓRICA E PERMANENTE

VANIA REGINA BOSCHETTI REGINA BOSCHETTI; CLÁUDIA MARTINS RIBEIRO RENNÓ.


UNIVERSIDADE DE SOROCABA, SOROCABA - SP - BRASIL.

Mostrar como ao longo da história das instituições escolares, as práticas e as medidas disciplinares
estiveram e ainda estão presentes, manifestando-se de várias maneiras, é o objetivo do presente

209
trabalho.Metodologicamente desenvolveu dois procedimentos: percurso bibliográfico e entrevistas
orais realizadas com diretores, professores, inspetores, pais e alunos de duas escolas (uma pública e
outra particular). A composição teórica utilizou dos escritos de Foucault, a teoria de “corpos dóceis” e
sociedade disciplinar; em Bauman, buscou os estudos sobre as mudanças de paradigmas sociais da
experiência individual humana e sua história; de Deleuze, trouxe os conceitos da sociedade de controle
e, de Taborda vieram as experiências sobre a educação corporal na escola. Com esses procedimentos de
abordagem, pôde de imediato, constatar que as práticas de disciplinar e controlar corpos e atitudes dos
alunos em ambiente escolar, sempre foram objeto das preocupações educativas, estando presentes no
cotidiano das escolas de formas mais diversas, como elementos fundantes das sociedades disciplinares.
Uma análise mais detalhada permitiu constatar as formas mais convencionais: a arquitetura dos prédios
escolares, a estrutura das salas de aula, a distribuição e a interdição dos espaços, a demarcação do
tempo, a atuação de inspetores e bedéis, chegando aos recursos de vigilância mais atuais da moderna
tecnologia e informatização como câmeras, circuitos integrados, verificação digital da frequência. A
inserção de tais mecanismos na escola estabelece, para o aluno, limites de atuação e, para a instituição
escolar possibilidades consideráveis não só do de exercício de autoridade, mas também de
arbitrariedade. O controle nas escolas permanece articulado às convenções sociais, acontecendo com a
constância necessária para produzir um comportamento que da escola, migre para a prática social
cotidiana do ser humano, em quaisquer situações e atividades que ele esteja. Essa forma de conceber a
educação tem como viés norteador, primeiramente a necessidade de disciplinar, para então, educar,
instruir, civilizar. Partindo desse princípio, todas as escolas, consideram indispensáveis praticar atitudes
e usar dispositivos de segurança e contenção. Em sua essência, tal princípio significa que se pune para
educar, para impedir a reincidência no erro. É assim que são punidos os atrasos, a desatenção, o não
cumprimento às regras em geral. A pesquisa conclui que, os diversos mecanismos disciplinares usados
pela escola ao longo da história estão evoluindo em técnicas cada vez mais sutis, tomando o corpo social
em sua totalidade e generalidade, mas também que nem sempre os recursos disciplinares adotados,
têm sido suficientemente eficazes na questão do cumprimento às regras, pois não impedem as ações
que burlam o disciplinamento.

862
DISCURSOS SOBRE A ESCOLARIZAÇÃO DA INFÂNCIA POBRE VEICULADOS PELA REVISTA DO ENSINO DE
MINAS GERAIS (1925-1930)

PAULA DAVID GUIMARÃES.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL-REI, SAO JOAO DEL REI - MG - BRASIL.

O presente trabalho parte da minha pesquisa de mestrado, já concluída, e tem por objetivo mapear,
descrever e analisar os três principais discursos sobre a educação da infância pobre veiculados pela
Revista do Ensino de Minas Gerais entre os anos de 1925 e 1930: o discurso moral, a discurso médico e
o discurso da psicologia. Com o crescente direcionamento dos ideais civilizatórios para a formação da
infância, considerada, na década de 1920, a mola propulsora para o crescimento e progresso do país,
intensificaram-se os discursos que alertavam sobre a situação preocupante da infância menos
favorecida nas escolas brasileiras. Entre tais discursos destacava-se o moral, principalmente o de fundo
religioso, que buscava moralizar essa infância, considerada a mais carente em todos os aspectos da
formação humana. Já o discurso médico alertava para o alarmante quadro das más condições de higiene
das crianças pobres nas escolas e sua precária situação de saúde. Por fim, o discurso da psicologia,
marcado pelos testes psicológicos, procuravam categorizar e classificar essas crianças, tentando formar
uma sociedade mais homogênea. Em Minas Gerais, a Revista do Ensino, impresso pedagógico
considerado um “espelho” das ações educacionais do Estado, apresentava em seu conteúdo textos que
veiculam tais discursos que, em sua maioria, estabelecem diretrizes sobre como educar a infância pobre
mineira. Para apreender os discursos moral, médico e da psicologia sobre a educação da infância pobre
no referido periódico, adotou-se o procedimento metodológico de leitura dos 52 números da revista
publicados entre os anos de 1925 e 1930. Nessa leitura foram identificados e catalogados 81 textos que
tratam da educação da infância pobre sob o olhar individual ou conjunto desses três discursos. Para a
análise dos dados foram adotadas algumas ferramentas metodológicas elaborados por Foucault como a

210
genealogia e a arqueologia, mas também seus estudos sobre enunciado, discurso e relações de poder.
Entre os resultados da pesquisa pode-se citar a forte influência dos discursos moral, médico e da
psicologia na formulação de ações e conceitos sobre a escolarização da infância pobre mineira. Foi
possível perceber, também, alianças e rupturas entre tais discursos, mormente no aspecto de quem
poderia se manifestar de forma mais “verdadeira” sobre a educação da infância pobre. A pesquisa
mostra que o discurso moral, dividia-se em duas vertentes: o discurso moral religioso e o discurso moral
leigo, o que denota a disputa entre o poder religioso e o poder científico. Já o discurso médico manteve
estreitas alianças com o discurso da psicologia, mas também com o discurso moral, pleiteando para a
infância pobre uma formação integral: da mente, do corpo e do espírito.

496
DISPOSIÇÕES OFICIAIS E MANIFESTAÇÕES DA SOCIEDADE: A FORMAÇÃO DA ESCOLA NORMAL DE JUIZ
DE FORA (1881-1901)

PRISCILA ALVES FERREIRA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA, JUIZ DE FORA - MG - BRASIL.

Este trabalho objetiva reconstruir a formação inicial da Escola Normal de Juiz de Fora, abordando
questões referentes à sua lei de criação, efetiva instalação e primeiras tentativas de supressão. O estudo
é fruto de uma pesquisa em andamento que aborda as políticas educacionais da citada mencionada, no
período compreendido entre o final do Império e as quatro primeiras décadas republicanas. A
historiografia nos mostra que, mesmo após a descentralização do ensino com o Ato Adicional de 1834,
ficando a formação de professores a cargo de cada província, as escolas normais em todo o Brasil
tiveram características semelhantes. Entre elas destacam-se as sucessivas reformas, que implicavam na
supressão ou valorização dessas instituições, instalações e mobiliário precários, crítica quanto à
eficiência do currículo e, consequentemente, da formação dos professores. Conforme constatado na
documentação levantada no Arquivo Público Mineiro, principalmente as referentes a relatórios de
inspetores e correspondências de professores, a Escola Normal de Juiz de Fora se assemelha, nesses
aspectos, às outras. Mas, ao pesquisar jornais do final do século XIX e início do século XX, presentes no
Arquivo Municipal de Juiz de Fora, encontram-se notícias que nos indicam que a instituição possui
especificidades que merecem ser mais bem estudadas. Em periódicos, como o Jornal do Commercio e o
Correio de Minas, há notícias de projetos de substituição da Escola Normal de Juiz de Fora por um
Externato do Ginásio Mineiro, de supressão da metade das escolas normais de Minas Gerais e mesmo
de que todas elas serão suprimidas ou poderão ser mantidas pelas câmaras municipais. Tais medidas, de
acordo com os órgãos oficiais, são necessárias devido tanto a cortes no orçamento estatal, quanto à
instituição não atender aos fins a que se destina. Há também artigos e discursos escritos por articulistas
dos jornais e por professores que expressam e, de certa forma, mobilizam a população a tomar atitudes
contra a supressão da instituição, através de abaixo-assinados e representações enviadas ao governo do
estado. Eles argumentam que a Escola Normal de Juiz de Fora, além de única da Zona da Mata mineira,
possui alta frequência e está em crescente desenvolvimento. As solicitações para a permanência da
instituição foram aceitas, ficando a mesma em funcionamento durante o período de crise financeira no
estado. Dessa forma, se faz importante o resgate da memória dessa instituição, analisando a relação
entre as disposições oficiais e as manifestações da sociedade que, naquele contexto, foram
fundamentais para transformar a realidade em questão.

472
DOCENTES E PRÁTICAS ESCOLARES NA ESCOLA JAPONESA DE SANTOS (1930 – 1943)

RAFAEL DA SILVA E SILVA.


UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SANTOS, SANTOS - SP - BRASIL.

O presente trabalho faz parte de uma dissertação ainda em andamento sobre a educação escolar
japonesa na cidade de Santos, inserindo-se no eixo temático da História das Instituições e Práticas

211
Educativas. Em tal estudo, foi possível perceber, pelo elevado número de escolas japonesas fundadas no
Estado de São Paulo até o final da década de trinta, que a imigração japonesa no Brasil foi marcada por
uma forte preocupação com a educação escolar e a transmissão da língua da terra natal às novas
gerações. Era comum, logo após a fundação de uma colônia, a construção de uma escola, mesmo que
de forma rústica, pois era necessário ensinar os mais novos acima de tudo, além de oferecer um espaço
cultural e administrativo para os colonos. Assim também ocorreu com a cidade de Santos, onde foi
fundada, com os esforços da associação de japoneses local e auxílio do governo japonês, a Escola
Japonesa de Santos em 1930, funcionando até o ano de 1943, fechada por determinações de cunho
nacionalista pelo governo Vargas. Assim, o presente trabalho tem como foco principal estudar, não
somente a história da Escola Japonesa de Santos, mas também as práticas docentes e escolares
realizadas no âmbito da instituição e suas respectivas repercussões socioculturais no contexto da
colônia, da história da cidade e da instituição em si. Com o apoio das referências bibliográficas, utilizou-
se para a presente pesquisa documentos localizados em acervos pessoais, como fotografias, recortes de
jornais, etc. Utilizaram-se também jornais da época, especialmente o Jornal A Tribuna e também, com
maior destaque, depoimentos orais de ex-alunos, filhos ou parentes de ex-funcionários e pessoas que
tiveram um contato mais próximo com a Escola Japonesa de Santos. A pesquisa concluiu, por fim, que a
escola servia tanto como espaço de preservação e manifestação da cultura japonesa, através do ensino
da língua e das práticas extracurriculares, como também de disseminação e integração da cultura
brasileira através do ensino brasileiro seguindo o currículo do Estado, funcionando como uma escola
primária normal licenciada pela Diretoria de Ensino local. Além disso, a pesquisa revelou também que os
anos posteriores a 1937 impuseram uma série de complicações ao funcionamento normal da Escola,
representando uma série de dificuldades para os administradores e os professores da língua japonesa,
tendo repercussões diretas no cotidiano escolar. Contudo, graças a estrutura montada durante os anos
de funcionamento, a escola ainda conseguiu desenvolver suas atividades até a determinação final de
fechamento em 1943, quando a maioria dos japoneses e descendentes foram obrigados a deixarem a
cidade para o interior do Estado.

545
EDUCANDO A SENSIBILIDADE: A PUERICULTURA COMO ALIECERCE DA MORAL E DO TRABALHO NA
ESCOLA MATERNAL DA SOCIEDADE DE SOCORRO AOS NECESSITADOS (CURITIBA, 1928–1944)
1 2
KELI FERNANDA RUCCO TURINA ; MARCUS AURELIO TABORDA DE OLIVEIRA .
1.UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ, CURITIBA - PR - BRASIL; 2.UNIVESIDADE FEDERAL DE MINAS
GERAIS, BELO HORIZONTE - MG - BRASIL.

O trabalho é fruto de pesquisa concluída que explora alguns dos pressupostos da Puericultura como
prescrição curricular para a Escola Maternal da Sociedade de Socorro aos Necessitados-SSN, criada em
Curitiba, em 1928. Entre tantas atividades previstas pelos idealizadores daquela instituição de
assistência à infância, a Escola Maternal se caracterizou pela preocupação em oferecer a escolarização à
infância ali assistida, cobrindo as idades de 0 a 12 anos, em três fases distintas: a creche, o Jardim de
Infância o Curso Doméstico. Nela a puericultura, a moral e o trabalho ganhavam relevo, ainda que sob
outras denominações estivesse presente também nas ações anteriores da SSN. Estes três preceitos
apresentavam-se como eixos de fundamental importância para a concretização do “objetivo máximo da
Escola Maternal: higiene, ordem e disciplina”. Entendidas essas três dimensões da formação como
intrinsecamente ligadas à educação do corpo e das sensibilidades, consideramos que o espargir da
puericultura, da moral e do trabalho foi realizado com base na desqualificação da maior parte da
população não só local, mas brasileira, ainda carente de um “choque de civilidade”. Esta deveria
internalizar as normas que lhes eram ensinadas, visando a formação de indivíduos higienizados,
civilizados e moralizados, sob o epíteto de “cidadãos”, independente das condições materiais que
determinavam sua condição de pobreza e abandono. Com base nas fontes analisadas observa-se que a
perspectiva de Puericultura adotada nas ações da Escola Maternal embasava-se em preceitos científicos
difundidos principalmente em congressos, entre outros espaços de grande circulação de idéias. Estas,
por sua vez, compunham as propostas de outras instituições e embasavam os discursos de médicos,
juristas, políticos, jornalistas, entre tantos outros profissionais que consideravam estes princípios como

212
fundamentais na educação da população. Assim, é mobilizada documentação de natureza variada, como
aquela emanada do interior da SSN (atas, correspondência, relatórios e programas), além da imprensa
diária e da produção de intelectuais ligados às causas da educação e da assistência à infância pobre. Na
documentação captamos ecos de um momento fundador do currículo, a sua prescrição, verificando
como a Puericultura se articulava à moral na tentativa de desenvolver uma sensibilidade afeita ao
mundo do trabalho. Este, por sua vez, era justificado por uma retórica de cunho religioso, assistencial e
caritativo para afirmar em corações e mentes infantis o lugar de cada um naquele mundo.

549
EDUCAR PARA A MODERNIDADE: PRÁTICAS EDUCATIVAS NAS PROPAGANDAS DE CURITIBA NO INÍCIO
DO SECULO XX

SARASVATI YAKCHINI ZRIDEVI CONCEIÇÃO.


UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ, CURITIBA - PR - BRASIL.

A cidade de Curitiba no início do século XX foi envolvida por uma dinâmica de mudanças, englobando
vários níveis da sociedade, na tentativa de tornar-se mais moderna e civilizada, no molde europeu. As
idéias de progresso, crescimento e modernização que permeavam este momento histórico foram
acompanhadas pela intelectualidade curitibana, que procurava implementar um projeto civilizatório em
toda a sua extensão: uma nova arquitetura é proposta, a urbanização começa a ser praticada com o
intuito de suceder o velho pelo novo, e aos poucos a população curitibana começa a conviver com
símbolos da ciência e da tecnologia no seu cotidiano: luz elétrica, bondes movidos a eletricidade,
automóveis e artefatos mecânicos. Na esfera social e cultural, novas práticas e hábitos vão sendo
absorvidos pela população, e os tradicionais são reprimidos através de uma intensa campanha pela cura
das doenças sociais. Imbuída do mito cientificista, essa intelectualidade curitibana produz discursos e
atua em diversos campos, entre eles os da saúde pública, da educação e do planejamento urbano,
visando à superação dos problemas sociais. O principal objetivo era “produzir” indivíduos sadios,
civilizados, de preferência brancos e dispostos ao trabalho, regenerador dos costumes de uma
sociedade marcada pelos “vícios” da escravidão e da miscigenação. As propagandas veiculadas nos
periódicos das duas primeiras décadas do século XX constituíram um veículo eficaz de disseminação
desses ideais. Elas se apresentam como um painel por onde se exprime a organização social/política da
cidade, com seus atores e circunstâncias. Nele se exibem a paisagem, a economia, as letras e artes, os
ideais políticos, a educação, a cultura, os hábitos e mudanças, a vida em sociedade, o progresso, as
influências externas e internas, constituindo, desta maneira, um lugar privilegiado de manifestação de
diversas vozes. Através de suas características próprias, como a linguagem e a imagem, as propagandas
curitibanas ditam as novas formas de lazer e de comportamento, afirmam e reafirmam os papéis sociais,
vendem uma nova ordem baseada na cultura moral, física e higiênica, indispensável para a formação de
homens fortes, saudáveis e produtivos. Os ideais de ciência e progresso associados à tecnologia
moderna; a ruptura com o velho, e a decorrente valorização do novo e da novidade; o desejo de
identificação com os valores estrangeiros; a fragmentação e especialização do conhecimento
contribuíram para a formação do imaginário moderno e conseqüentemente para a implantação do
projeto modernizador, do qual os intelectuais viam como uma verdadeira missão. Neste trabalho já
concluído, propagandas e anúncios são explorados como documentos e como suporte de sentidos das
práticas sociais, possibilitando captar um conhecimento mais amplo das práticas educativas vinculadas à
população nas duas primeiras décadas do século XX, a partir de pressupostos da História Social da
Cultura.

213
976
EDUCAÇAO INFANTIL E COTIDIANO: REPRESENTAÇÕES, PRATICAS EDUCATIVAS E FORMAÇAO
DOCENTE.

MILENA ARAGAO SOUZA; LÚCIO KREUTZ.


UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL, CAXIAS DO SUL - RS - BRASIL.

A preocupação que serviu de solo para alicerçar a educação da primeira infância brasileira, estava
atrelada à nova posição que a mulher assumia nas sociedades dos séculos XIX e XX. Sua ausência do lar,
rumo ao mercado de trabalho, denunciava uma presença: a criança. A necessidade em resolver um
problema social emergente – o desamparo infantil - bem como acompanhar a nova ordem que se
estabelecia – numa sociedade que se pretendia civilizada e desenvolvida - impulsionou a construção de
creches e pré-escolas: espaços, em sua maioria, de cuidado e proteção, tendo ações assistencialistas
como ponto central. As características que delinearam tais instituições, revelaram também o perfil de
seus educadores: mulheres sem formação para o cargo, representadas enquanto virtuosas e maternais.
Essa realidade permaneceu até a constituição de 1988, a qual enfatiza sua preocupação com a formação
consistente dos profissionais, sendo reforçada pela LDB 9394/96. Todavia, questionamos como se
desenvolveu a construção deste espaço visto pela lente do cotidiano. Qual era o perfil das pessoas que
trabalhavam com a educação da primeira infância? Que representações foram construídas sobre estas
mulheres? De que forma as mudanças nos documentos oficiais implicaram em mudanças no dia a dia
destas instituições, em especial no que concerne a formação docente? Neste contexto de indagações,
objetivamos olhar o cotidiano e investigar numa instituição de Educação Infantil, inaugurada em 1960, o
perfil das primeiras mulheres lá atuantes, bem como acompanhar as mudanças tanto na formação,
quanto na atuação docente, face às recomendações da LDB 9394/96. Neste sentido, a pesquisa estende-
se até a década de 2000 e busca em atas de reuniões, cadernos e materiais de apoio pedagógico, fichas
de contratação profissional entre outros documentos, pistas que nos permitam - como afirma
Pesavento (2008) – recuperar “os registros do passado” (p.64), a fim de construir um “quebra-cabeça
capaz de produzir sentido” (p.64). Através do diálogo entre o passado e o presente, investigando
mudanças e constâncias, vamos também problematizando a formação docente para este espaço, tendo
em vista, - como asseveram Campos e Rosenberg (1995) – que a qualidade da Educação Infantil está
intimamente relacionada à qualificação dos profissionais nela atuantes, uma vez que a falta de formação
específica, conduz as professoras a agirem de acordo com as representações construídas historicamente
sobre elas, as quais, escapando à reflexão crítica, convertem-se em verdadeiros obstáculos à atuação
profissional.* Pesquisa concluída.

722
EDUCAÇÃO COMO HERANÇA: PRÁTICAS EDUCATIVAS DE NEGROS ESCRAVOS E LIBERTOS NA
CAPITANIA DE MINAS GERAIS, SÉCULO XVIII

SOLANGE MARIA DA SILVA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS, BELO HORIZONTE - MG - BRASIL.

O presente artigo tenciona abordar as práticas educativas e sociabilidades vivenciadas pelos negros
(pretos, crioulos e pardos, escravos ou forros) observando a educação legada aos seus descendentes.
Educação compreendida de forma mais ampliada do que no seu sentido puramente escolar, focando as
relações em que os sujeitos se envolvem ou há a transmissão de conhecimento de qualquer tipo, seja de
caráter moral, religioso, técnico ou até mesmo letrado, não exclusivamente no âmbito da educação
escolar. Práticas educativas que podem envolver o estabelecimento de estratégias, que por sua vez são
apropriadas pelos sujeitos em situações e ações cotidianas que envolvem a convivência com as diversas
camadas sociais. Assim, a herança - elementos e atitudes que poderiam ter um sentido educativo - é
apreendida e interpretada, por vezes implicitamente, através das regras e padrões de inserção na
sociedade em que viviam aqueles indivíduos. Nesse sentido, na Comarca do Rio das Velhas, Capitania de
Minas Gerais, no século XVIII, as irmandades, as relações domésticas, os locais de trabalho, as lojas de

214
secos e molhados, as boticas, os estabelecimentos de comércio, os lugares das de práticas religiosas, se
apresentavam como espaços de sociabilidades permitindo aos mesmos sujeitos construir, reconstruir,
superpor e interpretar fazeres, lugares e identidades. Estes e outros aspectos de uma convivência
material, espiritual e intelectual podem ser recuperados por meio de testamentos e inventários, base
documental desta pesquisa. Essa documentação tem demonstrado sua riqueza para as pesquisas em
História da Educação. O presente estudo, fruto de resultados parciais de uma pesquisa em andamento
no Mestrado em Educação, nos possibilita frisar a importância de considerar os negros como atores
sociais e sujeitos nas narrativas que tratam do desenvolvimento histórico dos processos educacionais do
país, assim como compreender e contribuir com a História da Educação dos negros, em períodos
históricos mais remotos.

403
EDUCAÇÃO CÍVICA E NACIONALISMO: A APROPRIAÇÃO DO ESCOTISMO DURANTE AS
COMEMORAÇÕES CÍVICO-ESCOLARES EM LAGUNA – SC (1917-1930)

LUIZ DE DE SOUZA ROMERO SANSON.


UDESC, FLORIANOPOLIS - SC - BRASIL.

Este trabalho objetiva identificar e compreender alguns aspectos do processo de nacionalização no


Brasil da Primeira República. Com foco na educação, será privilegiada uma instituição extra-escolar de
significativo vulto no país e no estado catarinense, o escotismo, que será compreendido em sua
incorporação durante os eventos cívicos e desfiles públicos. Como objetivações específicas elencamos: 1
- Identificar a configuração sociopolítica catarinense na Primeira República. 2 - Identificar o papel do
escotismo em nível geral-local durante esse contexto. 3 - Identificar o caráter institucional das
festividades e comemorações cívico-escolares do mesmo período. 4 – Compreender os mecanismos de
circulação e apropriação de modelos culturais no interior da nacionalização em Laguna e em
comparação com as experiências brasileiras já pesquisadas nesse contexto. 5 – Compreender a
constituição de uma memória histórica a partir da relação entre escotismo e festas público-escolares em
Laguna, Santa Catarina. No âmbito metodológico são empregadas as ferramentas teóricas tocantes à
história oral e à análise de material iconográfico. Em um e outro caso, intentamos problematizar aquilo
que não foi revelado, porém verifica-se inerente ao fenômeno. São importantes também as fontes
bibliográficas de natureza teórica que embasam as argumentações resultantes dessa pesquisa. Destaco
a obra de Roger Chartier (A História Cultural – entre práticas e representações) e o texto de Bronislaw
Baczko (Imaginação social), que oferecem conceitos que refletem os mecanismos de circulação e
apropriação de modelos culturais, buscando compreender, em um viés, a relação entre as
representações e as práticas, além do poder simbólico do Estado. Buscar-se-á identificar e analisar a
relação entre a instituição escoteira desenvolvida em Laguna, de 1917 a 1930, e o fenômeno nacional de
construção de uma identidade republicana, no âmbito educacional extra-escolar. Para dar relevo a essa
ligação, os discursos acerca do escoteirismo lagunense serão importantes meios de reflexão e crítica. A
experiência da Escola de Escoteiros de Laguna com a política nacionalista da Primeira República se
realizou por meio das festividades cívico-escolares, que na época faziam parte do calendário escolar
público. Nesses eventos, as práticas escoteiras afirmavam os novos símbolos e as novas datas do regime
republicano. Assim, refletiremos sobre a relação entre as representações e as práticas culturais (o
projeto e os discursos acerca da educação confrontados à atuação do grupo em questão), a eficácia
simbólica do Estado e os mecanismos de circulação e apropriação de modelos culturais (o papel do
chamado discurso autorizado e as formas pelas quais foi incorporado pelo Escotismo em Laguna).
Pesquisa concluída em dezembro de 2008 e ampliada no Mestrado em Educação, linha de História e
Historiografia da Educação, 2010.

215
1017
EDUCAÇÃO E TRABALHO NO BRASIL COLONIAL: ARTES E OFÍCIOS NOS COLÉGIOS JESUÍTICOS
1 2
MARISA BITTAR BITTAR BITTAR ; AMARILIO FERREIRA JR. FERREIRA FERREIRA JR. .
1.UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS (UFSCAR), SAO CARLOS - SP - BRASIL; 2.UNIVERSIDADE
FEDERAL DE SÃO CARLOS, SÃO CARLOS - SP - BRASIL.

Este trabalho tem como objeto de estudo a ação pedagógica dos jesuítas no tocante ao ensino de artes
e ofícios durante o período de sua hegemonia no Brasil Colonial (1549-1759). As pesquisas produzidas
até o momento possibilitam afirmar que a educação jesuítica colonial não se restringiu aos preceitos
pedagógicos emanados do Ratio Studiorum, ou seja, da educação humanística de cunho livresco e
mnemônico (ensino de cor). Fundamental para a existência dessa educação foi o ensino das chamadas
artes mecânicas nas unidades produtoras que garantiam a base material dos colégios jesuíticos: as
fazendas de cana de açúcar e de gado. Assim sendo, partimos do pressuposto segundo o qual o ensino
das artes e ofícios no interior dos colégios jesuíticos se constituiu em atividade pedagógica relevante
que permite uma compreensão mais abrangente da história da educação durante o período colonial. Em
síntese, a hipótese de pesquisa que nos norteou fundamentou-se no entendimento de que os colégios
regidos pelo Ratio Studiorum dependiam da base material proveniente da economia agropecuária
desenvolvida nas fazendas e dos ofícios necessários às atividades econômicas na produção das
manufaturas. Assim, os colégios jesuíticos, para funcionar, dependiam de ofícios que eram
desenvolvidos por trabalhadores que os tinham aprendido nos próprios colégios. Na descrição dessas
artes e ofícios, Serafim Leite se reporta ao início da missão jesuítica quando, em 1549, aportaram em
terras brasílicas os primeiros jesuítas, referindo-se aos ofícios dos meninos índios, que aprenderam sob
o amparo dos padres e, assim, preencheram a primeira página do “trabalho civilizado, que sem ser de
português do Reino, se diferencia do primitivo indígena, quer dizer, já é trabalho brasileiro”, e arrola
pedreiros, ferreiros, carpinteiros, escultores, torneiros, alfaiates, e tecelões. Além desses ofícios
aprendidos “de ordinário” nos colégios, refere-se a outros que as fazendas mantinham para seu serviço,
dentre os quais canoeiros e serradores. No século XVII, há o caso de Pedro Pereira, natural de Braga,
que ingressou na Companhia em 1677 com 26 anos, e, no Colégio do Rio de Janeiro foi “soto-ministro e
superintendeu noutras oficinas (cozinha e refeitório)”. Finalmente, apenas para ilustrar o longo rol,
destacamos Vicente Rodrigues, um jesuíta emblemático do século inicial por ter sido, “hortelão, ou
agricultor, e ainda, para estar apto a ensinar o ofício aos índios, começou a aprender o de tecelão”, e foi
o primeiro mestre-escola do Brasil colonial. Assim, podemos supor que, conforme os colégios
prevaleceram em relação à catequese, os ofícios passaram a ser mais diversificados e intelectualizados,
tais são os bibliotecários, encadernadores, tipógrafos e impressores, por exemplo. Foi o caso de Manuel
Pires, natural do Porto, que ingressou na Companhia em 1720 e atuou como livreiro no Colégio da Baía,
além de “administrador de fazendas”.

1031
EDUCAÇÃO GLOBALIZADA: O MÉTODO DE ENSINO PROPOSTO PELAS FILHAS DE CARIDADE DE SÃO
VICENTE DE PAULO, 1866

ANA CRISTINA PEREIRA LAGE.


UNI-BH, BELO HORIZONTE - MG - BRASIL.

A comunicação busca analisar o método de ensino proposto pela Congregação das Filhas de Caridade de
São Vicente de Paulo através de uma obra publicada em 1866: Manuel a l’usage des filles de la charité
employées aux écoles, ouvroirs, etc. Analisando a expansão do catolicismo no século XIX, percebe-se
que a luta pela idéia de universalidade cristã vinha respaldada e fortalecida pelo discurso do papa e
também pela ampliação do raio territorial a ser catequizado, objetivos conquistados por uma novidade:
a circulação e a globalização crescente das congregações femininas. As congregações religiosas
femininas do século XIX, caracterizadas como de vida ativa, não estavam confinadas nas clausuras, mas
circulavam e pregavam a universalidade cristã para os “quatro cantos do mundo”, em um processo de
mestiçagem e de conexão entre os locais por onde passavam. É possível perceber as identidades das

216
congregações femininas e em suas articulações de mestiçagem nos diversos locais por onde se
espalharam, em um verdadeiro movimento de globalização por parte das congregadas. Considera-se
que a globalização das Filhas de Caridade aconteceu na segunda metade do século XIX. Dentro do
principio expansionista e da necessidade de divulgação do catolicismo, em um movimento de
globalização das idéias e costumes e de conexão entre os vicentinos, ocorreu a necessidade de
sistematizar regras e costumes para as Filhas de Caridade instaladas dentro e fora da França, além seus
assistidos. Um dos instrumentos de globalização de suas práticas foi o Manuel a l’usage des filles de la
charité employées aux écoles, ouvroirs, etc. . Pretende-se analisar a globalização e a conexão das
atividades vicentinas através desta obra que seria utilizado nas escolas administradas pela congregação.
A obra seguia impressa em 310 páginas para as casas das vicentinas e dividia-se em duas partes. Na
primeira parte da obra descreve - se os exercícios que devem ser feitos nas escolas e a maneira de fazê-
los (divisão das classes e admissão dos alunos; entrada dos alunos e mestras na classe; método de
ensino; lições de memória; lições de leitura; escrita; gramática e ortografia; aritmética; história;
Geografia; desenho; catecismo; orações e cânticos; saída das escolas; assistência aos ofícios da
paróquia; polidez; asseio). A segunda parte é uma descrição “das obras externas, dos patronos, dos
orfanatos de meninas e meninos, e os meios particulares para obter dos alunos a ordem e o trabalho”.
Segue ainda em anexo uma “lista dos livros clássicos indicados neste manual, e que devem ser adotados
pelas escolas das Filhas de Caridade”. Pretende-se analisar a obra proposta dialogando com os conceitos
da história conectada.

429
EDUCAÇÃO NO EXÉRCITO PORTUGUÊS NA ÉPOCA DA “VIRADEIRA” (AMÉRICA PORTUGUESA: 1777-
1808)

MARIA LUIZA CARDOSO.


UNIFA, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL.

EDUCAÇÃO NO EXÉRCITO PORTUGUÊS NA ÉPOCA DA “VIRADEIRA” (AMÉRICA PORTUGUESA: 1777-1808)


Maria Luiza Cardoso Universidade da Força Aérea (UNIFA) marialuizacardoso@terra.com.br Eixo
Temático: História das Instituições e Práticas Educativas Este trabalho teve como objetivo analisar a
educação formal promovida pelo exército na América portuguesa. Ele aborda o período denominado de
“viradeira”, que se seguiu ao governo do Marquês de Pombal (ministro de D. José I), quando D. Maria I
passou a reinar em Portugal, sendo substituída, posteriormente, por seu filho D. João, por insanidade
mental. Tal período exprimiu uma alteração nas relações que passaram a determinar o poder e as
dinâmicas econômica e social, desencadeadas no reinado anterior. A pesquisa teve como limite o ano de
1808, época em que a Corte portuguesa instala-se na América, fugindo da invasão do território
português determinada pelo imperador francês Napoleão Bonaparte. Este texto foi produzido com
informações coletadas aqui no Brasil e em Portugal - quando da realização de um estágio de
doutoramento, financiado pela CAPES, na Universidade de Coimbra, nos anos de 2005 e 2006. Todavia,
muitas das informações aqui apresentadas não foram abordados na tese, defendida no ano de 2009, na
Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. É importante destacar que a intenção da pesquisa
realizada no Curso de Doutorado foi estudar o papel que as instituições educacionais militares (do
Exército e da Marinha) desempenharam para o Estado, para a sociedade e, principalmente, para as
pessoas pertencentes às classes sociais desfavorecidas, no período em que o Brasil foi colônia de
Portugal. Quanto aos locais onde foram encontradas as fontes, cabe mencionar que, em Portugal, foram
visitadas as seguintes instituições: Arquivo Militar, Biblioteca do Exército, Biblioteca da Marinha, Arquivo
Nacional da Torre do Tombo, Arquivo e Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, Biblioteca
Nacional de Lisboa, Bibliotecas da Universidade de Lisboa. No Brasil, as pesquisas foram realizadas no
Serviço de Documentação da Marinha, no Arquivo Histórico do Exército, na Biblioteca Nacional, e na
Universidade de São Paulo. Numa época em que as instituições de ensino eram raras, acreditamos que
as “aulas” e as “academias” militares que existiam em Portugal e, principalmente, na sua colônia
americana, muito contribuíram para a formação geral e profissional daqueles indivíduos pobres que
puderam freqüentá-las. O texto traz informações sobre os discentes e docentes; o conteúdo, a
distribuição e a duração das “aulas”; e o material didático empregado. Assim, esperamos que a presente

217
pesquisa venha colaborar para a escrita da história da educação brasileira, através do viés da cultura
militar, cujos documentos, relativos à área pedagógica, ainda são pouco explorados. Palavras-chave: 1.
História da Educação. 2. História da Educação Militar. 3. História da Educação no Exército.

1177
EDUCAÇÃO, HIGIENE E TRABALHO EM MANOEL BOMFIM NA CONSTRUÇÃO DA MORAL BURGUESA,
NA VIRADA PARA O SÉCULO XX

GISELE DOS SANTOS OLIVEIRA.


UERJ, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL.

A construção da moral burguesa e as práticas educativas que foram pensadas e introduzidas na


sociedade brasileira, no Rio de Janeiro, nos anos finais do século XIX e início do XX contou com a
participação de vários pensadores de educação que tinham como proposta a construção da identidade
nacional, seu progresso e evolução. Focalizamos Manoel Bomfim, em virtude da pouca atenção que tem
recebido; foi professor da Escola Normal do Distrito Federal, assumiu a Instrução Pública em dezembro
de 1898, na condição de membro efetivo do Conselho Superior de Instrução Pública do Distrito Federal,
em 1902 embarcou para a Europa, onde comissionado pelo governo brasileiro, estudou psicologia
experimental com Alfred Binet e Georges Dumas, na Sorbonne, foi médico, participou da imprensa de
sua época, escreveu livros, dedicados a História, a Psicologia e a Pedagogia, campo que atuou com mais
destaque. Consideramos discutir essa atuação comparando com as demais praticas que co-existiram na
época, sem que qualquer delas impusesse silêncio da outra como faz ver algumas pesquisas na área da
História, na área da Sociologia e também na de Literatura. O que se entende é que toda produção é
histórica e como tal serve ao seu próprio tempo podendo se estender para outros tempos. Pois ainda
hoje em nosso entorno encontraremos muitas sobrevivências dos diferentes passados na educação
brasileira, em suas teorias, métodos e organização. Busca-se entender como a educação do corpo e as
propostas higiênicas podem ter auxiliado a implantação da Educação da Infância para o trabalho. Essa
escrita parece ter como tema central a preocupação com a construção de determinada moral que busca
introduzir nas crianças a preocupação com o trabalho e os frutos que se pode colher a partir deste.
Trata também das diferentes formas com que a medicina fora higienizando o espaço escolar através do
controle da leitura. Os médicos a partir de seu lugar científico e higienista definiam a idade e a temática
compatível que devia ser corretamente empregada com as crianças. Em Através Brasil (1924), Manoel
Bomfim e Olavo Bilac escrevem um livro de aventura indicado para as crianças da escola primária, no
livro percebemos claramente o interesse em se contar a verdade tida como objeto de valor científico da
época. Assumindo a condição de educadores, mais que indicar um livro eles produzem o livro que irá
dar sustentação a formação das crianças para o trabalho na sociedade burguesa. Era preciso construir a
cultura do trabalho livre e do recebimento de salário, nas relações de trabalho, sob o novo modelo
econômico. Buscamos analisar e discutir como Manoel Bomfim esteve pensando a educação para o
trabalho como uma cultura a ser aprendida e apreendida por crianças de modo que elas se tornassem
adultos mais justos, sérios, respeitosos e a partir de tais qualificações promovessem o progresso e a
evolução do Brasil.

706
EM TRAÇOS DE MODERNIDADE: A HISTÓRIA E A MEMÓRIA DO GRUPO ESCOLAR “HUGO SIMAS”
(LONDRINA-PR, 1937- 1972)
1 2
THAIS BENTO FARIA ; ANALETE REGINA SCHELBAUER .
1.PREFEITURA MUNICIPAL DE LONDRINA, LONDRINA - PR - BRASIL; 2.UNIVERSIDADE ESTADUAL DE
MARINGÁ, MARINGÁ - PR - BRASIL.

O nosso propósito é socializar os resultados obtidos de um processo investigativo permeado de paixão


pela escola primária pública, que se iniciou em 2008 e teve seu término em 2010. Devido essa relação
íntima com a escolarização elementar surgem questionamentos acerca da constituição do ensino

218
primário no município de Londrina que levaram a criar o primeiro grupo escolar, o "Hugo Simas", e, por
isso, lançamos o desafio de reconstruir sua história e sua memória, desde sua gênese até sua extinção
com a Lei 5.692/71. A principal meta foi perceber se esta escola primária cumpriu o ideário que
acompanhou a difusão dosgrupos escolares no período republicano e se formulou novas práticas e
incorporou vocábulos inspirados pelo pensamento da Escola Nova. Na análise associamos as condições
econômicas, históricas, sociais, políticas e culturais à história tecida por esta escola primária pública de
zona urbana. Para tanto, usamos documentos orais, escritos e iconográficos. Da composição do
panorama macroscópico acerca da escola pública primária no Paraná, aprofundamos na história de
Londrina e na da educação de "seu” povo. Os resultados da pesquisa desmonstram que o grupo escolar
investigado se apropriou de alguns princípios escolanovistas embora conviva com práticas procedentes
do fim do século XIX. Na busca de se firmar como uma escola de prestígio e qualidade, contava com um
considerável acervo material e com um corpo docente composto de maioria normalista. Entretanto, o
antagonismo formado entre a estrutura física e a crescente demanda trouxe inúmeros problemas que
encontrou no desdobramento de turnos e no uso de outros espaços uma das saídas. Por se tratar de
uma cidade formada por uma multiplicidade étnica, o GE "Hugo Simas” foi frequentado por um número
significativo de filhos de estrangeiros. Propagou valores de amor ao trabalho, à escola, à nação por
intermédio dos exames escolares e as exposições de trabalhos manuais. A arquitetura escolar, os
conhecimentos transmitidos, bem como a organização do trabalho pedagógico fez desta instituição
referência e em sintonia com os princípios de modernidade, racionalidade, padronização e higienização.

459
ENSINO COMERCIAL EM RIO TINTO – PB:O COLÉGIO TÉCNICO E A PROFISSIONALIZAÇÃO DE JOVENS
(1973-1992)
1 2
JOSE JASSUIPE DA SILVA MORAIS ; DANIELE VASCONCELOS RIBEIRO DA SILVA ; POLYANDRA ZAMPIERE
3 4
PESSOA DA SILVA ; TERESA CRISTINA BRUNO ANDRADE .
1,2,3.UFPB, JOAO PESSOA - PB - BRASIL; 4.UNESP, BAURU - SP - BRASIL.

A Lei Federal da Educação nº. 5692/71 determinou criação e implementação do Ensino


Profissionalizante que vigorou até a Lei de Diretrizes e Bases nº. 9394/96. Trata-se de momento político-
econômico e sócio-histórico importante para se investigar o processo de ensino-aprendizagem, pois,
durante esse período, ocorreram transformações relevantes, apesar dos índices elevadíssimos de
analfabetismo e da falta de escolas de ensino primário e secundário na região nordeste do Brasil. A
crescente procura pelo ensino técnico-profissionalizante de contabilidade na cidade de Rio Tinto – PB se
deu pelo desenvolvimento do comércio no Vale do Mamanguape, a diminuição na demanda por mão-
de-obra industrial e, consequentemente, a necessidade de contabilistas para atender à expansão
comercial das cidades de Rio Tinto, Mamanguape e ao seu entorno. Fora isso, a população local buscava
alternativas de empregabilidade além do trabalho na Companhia de Tecidos Rio Tinto (CTRT). Assim,
estabeleceu-se como objetivo analisar criticamente a formação profissionalizante de adolescentes e de
jovens adultos nos cursos de Técnico em Contabilidade e Formação de Magistério na cidade de Rio
Tinto. Para tanto, realizou-se pesquisa documental, circunscrita ao período de 1973-1992 – marco
temporal entre a fundação e o encerramento das atividades do Colégio – mapeando-se regimento,
histórico escolar, fichas de alunos, certificados e documentos de controle individual. A coleta de dados
ocorreu na Secretaria Estadual de Educação da Paraíba, no arquivo das escolas inativas, localizado em
João Pessoa, capital do estado. A bibliografia sobre Ensino Comercial e Educação Profissional serviu
como alicerce da fundamentação teórica, e os resultados deste estudo foram interpretados
qualitativamente, por meio da técnica de análise de conteúdo. Os resultados preliminares indicam que o
Colégio Técnico de Rio Tinto preparava mão-de-obra para atuação nos escritórios da fábrica de tecidos,
em serviços auxiliares do comércio e em assessoria burocrática, e o curso de Magistério visava atender à
demanda de professores para as escolas de ensino regular e profissional da região. Dentre outros
aspectos, verifica-se que, tanto no curso de Técnico em Contabilidade como no de Formação de
Magistério, a questão de gênero fica evidente, posto que se observe que o curso de Contabilidade tinha
demanda eminentemente masculina, em seu início, e o Magistério abrangia turmas formadas, em sua

219
maioria, por pessoas do sexo feminino. Constata-se, também, que em 1992, após o fechamento da
fábrica, a escola encerrou suas atividades.

1134
ENSINO DE LÍNGUA E LITERATURA NO BRASIL DO SÉCULO XIX: O CURSO ELEMENTAR DE LITERATURA
NACIONAL E AS POSTILHAS DE RETÓRICA E POÉTICA UTILIZADOS NO COLÉGIO PEDRO II

ANA APARECIDA ARGUELHO DE SOUZA ARGUELHO SOUZA.


UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL, CAMPO GRANDE - MS - BRASIL.

O presente trabalho apresenta resultados parciais de pesquisa em andamento acerca de instrumentos


didáticos na prática educativa escolar e vincula-se ao Programa de Pesquisa O manual didático como
instrumento de trabalho nas escolas secundária e normal (1835-1945). A pesquisa é desenvolvida pelo
grupo regional HISTEDBR/MS, coordenado pela Profa. Dra. Sílvia Helena Andrade de Brito (UFMS) e tem
o financiamento do CNPQ. Nele estão envolvidos pesquisadores da UEMS, UFMS e UNIDERP, todos
vinculados ao HISTEDBR nacional e regional de MS. Esse programa se desdobra no projeto A produção
material e a organização de instrumentos didáticos utilizados no ensino da língua e literatura – O
Colégio Pedro II (1835 a 1945), registrado na Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós Graduação da Universidade
Estadual de MS, sob minha coordenação. A relevância desta pesquisa se deve à utilização hegemônica
de manuais didáticos nas escolas de Ensino Médio para o ensino de Língua Portuguesa e Literatura
Brasileira, na contemporaneidade, em todo o território nacional. Neste caso, particularmente, manuais
de língua portuguesa e literatura. Tem-se a clareza de que, tal como esses instrumentos se apresentam
hoje, tanto em termos da sua distribuição monopólica como da sua organização interna e seus
conteúdos prestam-se a uma determinada uma tarefa de manutenção da sociedade. A escolha do
Colégio Pedro II como instituição de onde parte a pesquisa deve-se ao fato de ter sido esta a escola de
referência para o sistema escolar brasileiro de ensino médio, ao longo do período delimitado, como
forma de apreensão do objeto em sua historicidade. Foram selecionados como objetos deste estudo
dois manuais didáticos utilizados no Colégio Pedro II: o Curso Elementar de Literatura Nacional e as
Postilhas de Retórica e Poética, ambos de autoria do cônego Joaquim Caetano Fernandes Pinheiro, cujas
edições foram publicadas em 1862 e 1885, respectivamente. Esses instrumentos e seus similares
utilizados no Colégio Pedro II foram norteadores do ensino de literatura nas instituições de ensino
médio no Brasil do século XIX. O objetivo é, dentro de uma temática mais ampla, que abrange a função
dos manuais didáticos como transmissores de conhecimento no interior do modo de produção
capitalista, compreender o percurso e a tarefa que cumpriram tais instrumentos de leitura na
construção e manutenção do capitalismo, como fundamento para questionar o uso massivo e os limites
do manual didático para a atualidade. O referencial teórico utilizado é a Ciência da História,
instrumental definido por Marx em A Ideologia Alemã para indicar que todas as questões humanas são
históricas. Nesse sentido serão utilizadas fontes clássicas e contemporâneas que permitam a análise do
objeto.

1181
ENSINO PÚBLICO E PRIVADO NO BRASIL NOS SÉCULOS XIX E XX: A PRESENÇA DE INSTITUÇÕES
PRIVADAS PROTESTANTES
1 2
PERI MESQUIDA ; CESAR ROMERO AMARAL VIEIRA .
1.PUCPR, CURITIBA - PR - BRASIL; 2.UNIMEP, PIRACICABA - SP - BRASIL.

A expulsão dos jesuítas, em 1759, pelo Marquês de Pombal, procurando difundir as idéias iluministas
em Portugal e fazer o país sair do feudalismo e entrar no sistema capitalista europeu, criou um vazio na
educação no Brasil que durante quase três quartos de século ficou praticamente sem o ensino básico.
Este somente será lembrado, cinco anos após a proclamação da independência, por meio da Lei Geral,
de 1827, que visava a criação de escolas primárias. No entanto, se houve um “vazio” na educação de
base, o mesmo não ocorreu com o preparo dos filhos da classe dirigente que se beneficiaram da

220
presença de preceptores, nas fazendas, preparando-os para a entrada em universidades portuguesas e
francesas. Alem disso, a independência política (1822) e o movimento republicano (a partir de 1870), no
contexto das idéias liberais oriundas da França e dos Estados Unidos da América, abriram as portas do
país para intervenções educativas privadas, seja de leigos, seja de instituições de ensino confessionais,
católicas e protestantes, em especial essas últimas. Os protestantes de origem missionária norte-
americana, metodistas, presbiterianos e batistas, aproveitaram a onda liberal e a abertura
proporcionada pela Lei nº 54, de 1868, que suprimiu o ensino secundário na Província de São Paulo,
para se inserirem no espaço educativo brasileiro, a partir do final da segunda metade da década de
1860. Esses protestantes fundaram em especial colégios para os filhos da elite republicana e da
oligarquia agrária brasileira na região sudeste, mas não esqueceram os filhos dos proletários, abrindo
escolas paroquiais nas periferias das cidades que apresentavam um embrionário processo de
industrialização, onde eram ministradas as primeiras letras, mediante o pagamento de uma
mensalidade “simbólica”.Os colégios protestantes traziam dos Estados Unidos da América uma
educação considerada “moderna” pela elite política brasileira, pois a prátcia pedagógica tinha como
base o empirismo de Charles S. Peirce e o pragmatismo, de W. James, fontes do pensamento de John
Dewey, desenvolvidos com o auxilio do método indutivo, apropriado, segundo a visão dessa liderança
política, à formação de homens livres, democráticos, racionais e empreendedores. Com isso, o Estado
brasileiro mantinha a prática de deixar nas mãos da iniciativa privada o ensino da elite, assumindo o
papel de Estado educador para os filhos dos trabalhadores. Portanto, enquanto a elite brasileira, em
especial na Região Sudeste, era formada em colégios confessionais/privados protestantes e, mesmo
católicos, tendo acesso a uma educação apropriada à formação de dirigentes, os filhos dos proletários
recebiam do Estado uma educação apropriada para formar trabalhadores dóceis e conformados. Este
resumo de comunicação faz parte do resultado parcial de investigação científica em fase de
desenvolvimento levada a efeito por um grupo de pesquisa interinstitucional. Trata-se de projeto de
pesquisa historiográfica e documental.

824
ENTRE AUXÍLIOS E PREMIAÇÕES: O FUNCIONAMENTO DAS CAIXAS ESCOLARES EM GRUPOS
ESCOLARES DA CAPITAL MINEIRA

PRISCILLA NOGUEIRA BAHIENSE.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS, BELO HORIZONTE - MG - BRASIL.

Este trabalho tem por objetivo apresentar uma análise acerca do funcionamento das caixas escolares
presentes nos grupos escolares de Belo Horizonte na primeira década de sua implementação
(1911/1921). Instituídas pelo Secretaria do Interior de Minas Gerais a partir do art. 354 do Regulamento
da Instrução Pública no ano de 1911, o funcionamento das caixas escolares se caracterizava por fornecer
condições de permanência aos “alunos pobres” e premiar os alunos mais frequentes, independente da
condição social. Diante de sua organização e fim, entendo que as caixas escolares podem ser
consideradas como uma ação filantrópica, apesar de não atender apenas os alunos “pobres”. Suponho
também que as caixas escolares representaram um dispositivo de legitimação dos Grupos Escolares,
modelo que entrou em vigência a partir da Lei 439, de 28 de setembro de 1906, conhecida como Lei
João Pinheiro. Nesse sentido, identifico a relação entre as caixas escolares e o auxílio prestado aos
alunos das camadas populares nos Grupos Escolares da Capital na primeira década de sua instituição,
além de verificar as premiações concedidas aos alunos mais assíduos. Para tanto, utilizo como fontes:
relatórios das diretoras dos Grupos Escolares de Belo Horizonte, balancetes das caixas escolares,
legislação educacional do período, mapas de matrícula e correspondências da Secretaria do Interior de
Minas Gerais. Esses documentos estão localizados no Arquivo Público Mineiro e apresentam dados
relevantes para a compreender a relação entre o funcionamento das caixas escolares e seus
beneficiários, como a situação financeira, representada por uma coluna no mapa de matrícula que deve
informar se o aluno é pobre. No que se refere aos auxílios aos alunos “pobres”, estes se referiam à
compra de medicamentos para os adoentados, compra de tecidos para confecção de uniformes,
materiais didáticos e até mesmo alimentação. Aos alunos frequentes, eram oferecidos materiais como
dicionários e globos terrestres, por exemplo. Dessa forma, considero ser necessário pensar

221
principalmente nas condições de permanência dos alunos que tinham condição social menos favorável,
visto que, para estes, os auxílios aparentam significar um mecanismo de grande importância para a
permanência dos mesmos nos Grupos Escolares. Diante de um novo modelo de ensino que se buscava
consolidar, as caixas escolares tem um papel importante para pensar acerca da relação da população –
principalmente a de baixa renda – com o novo modelo de ensino.

342
ENTRE OS DOIS BRASIS: ESTUDOS E PUBLICAÇÕES DO CENTRO BRASILEIRO DE PESQUISAS
EDUCACIONAIS NOS ANOS 1950 E 1960

FERNANDO CÉSAR FERREIRA GOUVÊA.


UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO, SEROPÉDICA - RJ - BRASIL.

O Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais (CBPE) foi criado em 1955. A experiência do CBPE
constituiu-se em uma tentativa de pautar as ações no campo educacional nos instrumentos de cunho
científico, pesquisas, como estratégia de interferência no fazer pedagógico numa perspectiva de
intervenção. Assim, três tipos de estratégias forma acionadas para a sustentação do papel exercido pelo
CBPE: estratégias de articulação (as instâncias organizacionais internas do CBPE); estratégias de
irradiação (a utilização dos instrumentos de divulgação das iniciativas do CBPE, através de periódicos.
Dentre os quais vale ressaltar a Revista Educação e Ciências Sociais); estratégias de mobilização (o
trabalho desenvolvido pelo CBPE numa filosofia que penso estar traduzida no máximo envolvimento de
todos os atores, num processo contínuo). Os temas selecionados para a compreensão dessas
estratégias, as suas políticas e as suas práticas foram publicados na Revista Educação e Ciências Sociais.
De uma forma geral, esses temas expressaram a percepção institucional sobre o momento do país. Um
tempo histórico pautado pelo nacional-desenvolvimentismo num processo de tentativa de
transformação acelerada das relações econômicas e sociais numa perspectiva de dimensionar o
progresso representado pela evolução urbana brasileira em contraste com o propalado imobilismo do
universo rural. Desta forma, a Revista Educação e Ciências Sociais divulgou pelas suas páginas os
modelos de intervenção exemplar nas práticas curriculares e nas práticas dos professores visando ao
alcance da compreensão/modificação do mundo rural (sinônimo de atraso) sob as lentes do mundo
urbano (atestado de progresso) num processo de articulação entre Educação e Sociedade via a
realização de pesquisas, inquéritos e levantamentos realizados por educadores, sociólogos e
antropólogos ligados ao CBPE... sob o ângulo de um determinado grupo de poder com um determinado
tipo de olhar urbano sobre o mundo rural. Segundo a orientação do Programa do CBPE para os anos de
1956 e 1957, era fundamental responder a seguinte indagação: até que ponto o sistema educacional
brasileiro, considerado do ponto de vista da organização, conteúdo e método, satisfaz as exigências em
mudança e as necessidades sentidas do povo brasileiro? Bem, faz-se necessário indagar: quais os
responsáveis pela análise de todos estes dados e que – em última instância – definiriam as “reais”
necessidades do povo brasileiro numa operação assentada em “lentes” urbanas focadas no exame de
desejos/necessidades de um mundo rural? Responsabilidade extremada mesmo respaldada por um
trecho do documento que o conceito-chave do programa é o respeito às variações cromáticas regionais
e locais. Mais ainda: como tais análises foram compreendidas pelos grupos pesquisados? Quais as
respostas – mesmo em forma de silêncio tático – foram dadas pelos atores que constituíam o universo
estudado? Questões que justificam a investigação proposta neste trabalho.

463
ESCOLA GUATEMALA: UMA EXPERIÊNCIA EDUCACIONAL PIONEIRA
1 2
BERNADETE STREISKY STRANG ; ROBERTA DE BARROS DO REGO MACEDO .
1.UNOPAR, LONDRINA - PR - BRASIL; 2.PUC, RIO DE JANEIRO - PR - BRASIL.

O presente trabalho é fragmento de uma pesquisa, hoje concluída, intitulada “O INEP no contexto das
políticas do MEC, nos anos 1950/1960”, coordenada pela Profª Ana Waleska Pollo Mendonça e

222
financiada pela CNPQ-FAPERJ. O objetivo do recorte aqui proposto foi compreender a experiência
educacional realizada na Escola Guatemala nas décadas mencionadas. Ao analisar-se a documentação
encontrada nos arquivos de Anísio Teixeira no CPDOC/FGV e de Lucia Marques Pinheiro na ABE, entre
outros, observou-se que a criação dessa instituição de caráter experimental significou a materialização
de inovações metodológicas acalentadas desde os anos de 1930. Entre 1950 e 1960 a sociedade
brasileira se viu mobilizada diante do desafio de buscar soluções para um efetivo desenvolvimento
nacional. Os difíceis anos da grande guerra trouxeram resultados funestos para a economia de muitos
países. Isto determinou um reordenamento mundial, cada nação adotando estratégias e medidas para
suprir seus déficits. No campo da educação, o momento também era de reestruturação. O contexto
brasileiro e a própria dinâmica mundial dos anos 50 e 60, favoreceram a retomada da crença no
desenvolvimento educacional calcado em bases científicas, herdada dos anos 30. Fazia-se necessário
promover debates para a formulação de projetos que reorientassem as políticas de Estado ancoradas na
articulação entre industrialização, desenvolvimento científico e renovação educacional. A soma desses
fatores constituiu-se em solo fértil para o retorno do pragmatismo Deweyano entre nossos educadores,
o que significava recorrer ao seu grande expoente brasileiro: Anísio Teixeira. Neste cenário Anísio
retornou a cena pública e às questões relativas à política educacional do país, desta vez indicado para
assumir a CAPES (Campanha de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior). Entretanto, foi a partir
de sua posse no INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) pouco tempo depois, em
1953, que Anísio pôde colocar em prática alguns dos seus antigos projetos. Com a fundação em 1955 do
CBPE (Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais), órgão ligado ao INEP, a possibilidade de realizar
pesquisas na área educacional tornou-se realidade. Uma das medidas tomadas foi a implantação de
Escolas Laboratório. Essas escolas funcionavam como espaço de experimentação das novas
metodologias de ensino, testando programas, currículos, materiais didáticos, cursos de
aperfeiçoamento para professores, etc. Assim nasceu a Escola Guatemala, inaugurada em abril de 1954
pelo governo do Distrito Federal. No ano seguinte, tornou-se o primeiro Centro Experimental de
Educação Primária do INEP-CBPE.

980
ESCOLA RURAL NO BRASIL: PRIMÓRDIOS DA ESCOLA TIRADENTES NO INTERIOR DAS GERAES (1940–
50)
1 2
LEILA APARECIDA AZEVEDO SILVA ; VALERIA APARECIDA DE LIMA .
1.UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA, ITUIUTABA - MG - BRASIL; 2.UNIVERSIDADE FEDERAL DE
UBERLANDIA, ITUIUTABA - MG - BRASIL.

Vinculado à linha de pesquisa História e Historiografia da Educação, este estudo enfoca a gênese das
escolas rurais no município de Ituiutaba, Minas Gerais, e sua contribuição para a alfabetização de várias
gerações; isso porque, entre as décadas de 1940 e 1950, a maior parte da população do município — em
consonância com a realidade nacional — morava no campo. Este trabalho resulta de uma pesquisa de
iniciação científica em andamento e faz parte de uma pesquisa acadêmica mais ampla, intitulada
“Escolarização pública na região de Ituiutaba, Minas Gerais, na década de 1940–1950”. A investigação
aqui referida apresenta uma temática até então não explorada academicamente, visto que não foram
encontrados registros de outras pesquisas cujo foco de investigação seja o ensino rural do município de
Ituiutaba. O objetivo geral deste estudo foi compreender a gênese do ensino rural; e seus objetivos
específicos incluíram verificar e analisar de que forma o ensino rural contribuiu para alfabetizar a
população residente no campo, tendo como exemplo representativo desse ensino a escola rural
Tiradentes, cuja contribuição para a escolarização dessa população esta pesquisa buscou identificar e
analisar. Os procedimentos metodológicos da investigação abrangeram tanto entrevistas
semiestruturadas quanto a leitura crítico-analítica dos dados obtidos na pesquisa de campo. As fontes
de pesquisa incluíram documentos oficiais tais como atas de reunião da escola rural, atas de reunião do
Conselho Consultivo municipal, atas da Câmara Municipal, além de jornais do acervo da Fundação
Cultural de Ituiutaba e de registros de acervos particulares, tais como cadernos de professores e
fotografias; as fontes orais são provenientes de entrevistas com ex-docentes de escolas rurais do
período elegido. Uma das descobertas relevantes deste estudo se refere às estruturas das escolas rurais

223
implantadas no Brasil: eram isoladas e possuíam, em geral, apenas uma sala de aula; por isso, para
suprir a demanda por mais salas, até a casa do professor no campo era usada como espaço para
ministrar aulas. Essa condição precária contrastava com a situação de abundância das escolas urbanas,
as quais tinham várias salas de aula e atendiam alunos de várias regiões. Nessa lógica, ficam patentes
tanto a ideia de que escola rural disseminava uma ideologia burguesa que se assentava e privilegiava os
valores da vida na cidade quanto a noção de que a instituição escolar era meramente um subterfúgio
para a propagação de propósitos político-ideológicos.

446
ESCOLAS ÉTNICO-COMUNITÁRIAS ITALIANAS E SEUS MATERIAIS DIDÁTICOS EM ÉPOCA DE FASCISMO,
REGIÃO COLONIAL ITALIANA DO RS (1922 A 1938)

TERCIANE ÂNGELA LUCHESE; LÚCIO KREUTZ.


UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL, BENTO GONCALVES - RS - BRASIL.

O presente texto é resultado parcial de pesquisa em andamento intitulada “O processo escolar na


Região Colonial Italiana, RS: as escolas étnico-comunitárias, 1875 a 1938.” Nesse artigo, o objetivo é
analisar, a partir de diversos materiais didáticos, especialmente os livros enviados pelo governo de
Mussolini para as escolas italianas no exterior, os discursos fascistas. A delimitação espacial do estudo é
a Região Colonial Italiana do Rio Grande do Sul, que corresponde às primeiras três colônias ocupadas
predominantemente por imigrantes italianos: Colônia Caxias, Conde d’Eu e Dona Isabel (hoje municípios
de municípios de Bento Gonçalves, Monte Belo do Sul, Santa Tereza, Garibaldi, Carlos Barbosa,
Farroupilha, São Marcos, Flores da Cunha, Antônio Prado e Caxias do Sul). A análise abrange 1922, ano
em que Mussolini assume o poder político na Itália até 1938, período anterior às políticas de
nacionalização repressiva do Governo de Vargas, no Estado Novo. O referencial teórico é o da História
Cultural e as fontes documentais privilegiadas são livros, fotografias, relatórios e correspondências de
cônsules e agentes consulares, estatutos, quadros-murais, objetos e materiais escolares. É possível
encontrar, desde o final do século XIX, em todos os relatórios consulares, registros que retratam a
situação das colônias, mencionando a falta de escolas e a necessidade do governo italiano intervir,
passando a apoiar a educação, enviando livros e material escolar. Certamente transparece a perspectiva
de manutenção dos laços culturais com a Pátria-mãe, a Itália, através do ensino. Considerando as
mudanças na política externa italiana e suas relações diplomáticas com o Brasil no período em estudo, a
ênfase são os discursos veiculados, a construção de representações sobre um ideal de Pátria, a
disseminação de ideias nacionalistas e fascistas, bem como o sentimento de italianitá difundido nas
escolas italianas por meio de materiais didáticos, envio de professores e práticas educativas.
Compreender os saberes produzidos e difundidos pelos usos de materiais didáticos vinculados à difusão
do ideal fascista, as políticas governamentais italianas voltadas para a dotação de materiais específicos
para as escolas ‘italianas’ no exterior, assim como a questão dos usos e dos sentidos simbólicos que
esses objetos adquiriram no universo escolar da Região é tema de relevância para a História da
Educação. O artigo procura contribuir para a compreensão da multiplicidade de processos de
escolarização no Brasil, considerando sua diversidade étnica e cultural.

1390
ESCOLINHA DE ARTE DE CACHOEIRO DE ITAPEMIRIM: RESPEITO A INDIVIDUALIDADE E A
ESPONTANEIDADE DA INFÂNCIA

MYRIAM PESTANA OLIVEIRA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO, VITÓRIA - ES - BRASIL.

A pesquisa relata a criação da Escolinha de Arte de Cachoeiro de Itapemirim, cidade situada ao sul do
Estado do Espírito Santo que se deu no ano de 1950, pela professora Isabel da Rocha Braga(1914-1987).
Ela criou, dirigiu e trabalhou na referida Escolinha no período de abril de 1950 a dezembro de 1955 e
deixou um relato escrito sobre sua experiência, onde narra que, mesmo residindo em Cachoeiro no ano

224
de 1948, ficou sabendo da novidade no processo de recreação artística aplicado a crianças através de
notícias e reportagens dos jornais cariocas. Na época chegar ao Rio de Janeiro era de mais fácil, para os
moradores as cidades localizadas no sul do Estado, que chegar na capital Vitória. O Movimento
Escolinha de Arte do Brasil teve início no final da década de 40, século passado, na cidade do Rio de
Janeiro,por iniciativa do pernambucano Augusto Rodrigues (1913-1993) que foi professor, desenhista,
caricaturista, pintor e jornalista. O objetivo principal da Escolinha de Arte do Brasil: estimular a auto-
expressão da criança através de atividades artísticas e recreativas, respeitando a individualidade e
preservando a espontaneidade da infância, foi também o primeiro movimento organizado, que se tem
notícia, que preocupou-se em oferecer formação para professores de arte."...a Escolinha , além de
continuar com suas classes de arte para crianças, adolescentes e adultos, tornou-se um centro para
treinamento de professores de arte, estimulando também a criação de outras escolinhas em diversos
estados. Vale ressaltar que a segunda foi a de Cachoeiro de Itapemirim. Até 1973, as escolinhas eram a
única instituição permanente para treinar o arte-educador. Graças a essa maneira não competitiva e
mesmo cooperativa, pela qual sempre se orientaram, elas puderam contar com ajuda e o suporte da
comunidade intelectual em que estavam implantadas.” (Ana Mae Barbosa.Os equívocos no Brasil. ARTE
HOJE. Rio de Janeiro. N 18.pág A Escolinha de Arte de Cachoeiro de Itapemirim recebeu verba do
Ministério da Educação e foi considerada de utilidade pública pela Prefeitura da cidade. Um papel
importante do Movimento consiste não só em sair na frente da escola formal, mostrando a necessidade
da liberdade de expressão, e tratar todos sem distinção aproveitando suas potencialidades, mas como
movimento dinamizador do ensino da arte no Brasil, possibilitando o acesso a todos, não somente
aqueles do ensino formal, mas pelo ensino não formal e estabelecendo uma interlocução arte/cultura.

503
ESCRITA OU LEITURA? MARIA CARDOZO DE OLIVEIRA-1765

VERA MARIA DOS SANTOS.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE, ARACAJU - SE - BRASIL.

Este artigo é parte da pesquisa que desenvolvo sobre a mulher e a instrução dos órfãos menores da elite
setecentista sergipana no Doutorado em Educação da Universidade Federal de Sergipe. As fontes que
dão suporte para a realização deste trabalho são 81 inventários judiciais sergipanos do século XVIII. Foi a
partir da transcrição e análise desses documentos que encontrei o inventário de Alexandre Gomes
Ferrão Castelobranco, em que ficou o registro de que sua esposa, Maria Cardozo de Oliveira, sabia
escrever. Tal dado é relevante em face de um conjunto de trinta e sete mulheres inventariantes que
eram, em sua maioria, não-assinantes no século XVIII. Essas mulheres assinaram a rogo, ou seja,
recorreram a um terceiro, geralmente a um parente próximo, como filho irmão ou cunhado, para
assinarem por elas. De um modo geral, a educação da mulher nesse período restringia-se à
aprendizagem de boas maneiras e prendas domésticas para o bom governo da casa e,
consequentemente, para serem boas mães e boas esposas. Mesmo as mulheres de posse, oriundas de
famílias mais abastadas, não tinham assegurado o direito à instrução, que se tornou mais acessível para
o sexo feminino somente no século XIX. Mas o fato de as mulheres não terem acesso à instrução
escolarizada não constituiu regra, pois na Capitania de Sergipe Del Rey, a partir da segunda metade do
século XVIII, algumas delas deixaram as suas assinaturas nos inventários de seus maridos, a exemplo de
Maria Cardozo de Oliveira. Para essa senhora de decadentes engenhos, o exercício de tal prática era um
fator de distinção entre as demais mulheres daquele tempo. Além do mais ela não foi apenas assinante,
ela redigiu algumas peças do inventário de seu marido, e certamente, sabia mais do que assinar o nome.
Talvez estivesse além do que estava posto para a educação do seu sexo, a época. Para subsidiar esta
análise, recorro a autores como Pierre Bourdieu (1999), a fim de entender o papel da mulher numa
sociedade que se impõe pelo poder masculino, e a Magalhães (2001), que, ao analisar a historiografia da
alfabetização no mundo ocidental do Antigo Regime, discutiu não só a importância da assinatura, mas
também elaborou uma escala de assinaturas para compreender o nível de escolarização do indivíduo. É
sob esse aporte teórico imposto no decorrer do texto que me proponho inicialmente a traçar o perfil de
Maria Cardozo de Oliveira, considerando a sociedade sergipana setecentista e, no segundo momento, a
discutir a educação feminina através dos indícios encontrados no referido documento.

225
1287
ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO NO ESPAÇO DO LAR: A RELAÇÃO FAMÍLIA - ESCOLA NO ÂMBITO DO
SERVIÇO DE ORTOFRENIA E HIGIENE MENTAL (1934-1939)

JULIANA VITAL ABREU DAVID.


UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO - RJ – BRASIL

Este trabalho tem por objetivo apresentar e analisar as concepções do médico Athur Ramos acerca da
relação entre família e escola, bem como busca apreender as dinâmicas presentes na relação entre as
professoras e os pais de alunos no âmbito do Serviço de Ortofrenia e Higiene Mental (SOHM), dirigido
pelo referido médico, no período da gestão de Anísio Teixeira como Diretor da Instrução Pública no
Distrito Federal. A importância conferida à instituição familiar na educação das crianças em idade
escolar tem sido um tema bastante recorrente nos debates educacionais brasileiros atuais, sendo foco
de pesquisas que procuram compreender de que maneira é possível estabelecer uma relação entre
escola e família e quais os principais motivos de conflito que envolvem estas duas instâncias educativas.
No campo da História da Educação, alguns trabalhos, como os de Ana Maria Magaldi (2007) e Maria
Martha de Luna Freire (2006), nos mostram que, ao longo do século XX, as famílias foram alvo de ações
que afirmavam a importância da instituição familiar na educação dos filhos, ao mesmo tempo em que
buscavam capacitá-las para a tarefa educativa. Embora as ações dirigidas às famílias já possam ser
observadas no século XIX, quando, por exemplo, os médicos buscavam de forma significativa incutir
valores e hábitos saudáveis no espaço privado, o anseio por construir uma sociedade moderna, presente
no século XX, afirmou de forma significativa a importância da família na formação dos futuros cidadãos,
para que pudessem também contribuir para o progresso da Nação. As fontes utilizadas, para a
realização deste trabalho, encontram-se no acervo de Arthur Ramos, depositado na Biblioteca nacional,
referente ao período de funcionamento do SOHM, que atendeu aos alunos das Escolas Experimentais no
Rio de Janeiro, no período de 1934 a 1939. As principais fontes utilizadas foram os livros de vulgarização
escritos pelo diretor do Serviço: A Higiene Mental nas escolas e suas bases teóricas, A família e a escola
e A mentira infantil, que falam sobre o Serviço e sobre a influência da família na educação das crianças.
Além destes, também utilizo as fichas de observação comportamental, através das quais é possível
observar certa aproximação entre as professoras e as famílias dos educandos. A documentação foi
analisada, utilizando-se de aportes teóricos, como os de Jacques Donzelot (2001) e Christopher Lasch
(1991), que tratam da intervenção de agentes externos no espaço privado do lar. Este trabalho,
portanto, almeja contribuir para as reflexões sobre as relações entre família e educação e, de maneira
especial, sobre as relações entre família e a instituição escolar, propondo o enfrentamento da questão
sob uma perspectiva histórica e pretendendo, assim, explorar um território ainda pouco visitado no
campo da história da educação brasileira.

1288
ESTRATÉGIAS PEDAGÓGICAS DE PROPAGANDA CULTURAL NO BRASIL: ESCOLA NORMAL DE SÃO
PAULO
1 2
CESAR ROMERO AMARAL VIEIRA ; PERI MESQUIDA .
1.UNIVERSIDADE METODISTA DE PIRACICABA, PIRACICABA - SP - BRASIL; 2.PONFICICIA UNIVERSIDADE
CATÓLICA, CURITIBA - PR - BRASIL.

Embora a propagação das idéias liberais possa ser atribuída primeiramente à mentalidade francesa,
impulsionada pelos princípios revolucionários de 1789, de liberdade e igualdade, e à Grã-Bretanha com
seu sistema filosófico racionalista e empirista, coube aos Estados Unidos da América fazerem a síntese
máxima para a constituição e circulação de uma nova mentalidade educativa que potencializou a
influência dos princípios mais caros ao liberalismo: liberdade e individualismo. Segundo Leonor Tanuri, a
influência desses princípios sobre o sistema educacional paulista só começou a ser percebida a partir de
1874 “quando se consolidaram as idéias liberais de democratização e obrigatoriedade da instrução
primária, bem como de liberdade de ensino”. É nesse contexto, que os projetos educacionais passaram
a ser vistos como prioridades para o desenvolvimento da nação. A partir deste período o ambiente

226
social brasileiro - reflexo das mudanças históricas que estavam se processando em outras partes do
globo -, estava de tal modo carregado pelo pensamento cientificista que marcou um processo de
renovação das mentalidades, a que Roque Spencer Maciel de Barros chamou de época da “Ilustração
Brasileira”. Inebriados por dessa atmosfera, as mentes mais esclarecidas da sociedade propuseram-se
efetivamenteilustrar o país pela via da educação. Após as primeiras tentativas de estabelecimento de
uma Escola Normal em São Paulo, criadas pelas leis nº 34 de 16/3/1846 e nº 9 de 22/4/1874, sua
reorganização plena só foi possível em agosto de 1880, beneficiada pela Lei nº 130 de 25/4/1880,
alavancando novos processos de escolarização e circulação de idéias que marcaram positivamente uma
geração de intelectuais brasileiros. Esta pesquisa tem como objeto de estudo as disputas pedagógicas
que se deram no interior da Escola Normal de São Paulo, na primeira década do século XX,
protagonizadas por Oscar Thompson defensor do método americano de ensino e Rui de Paula Souza
empenhado defensor do método francês. O objetivo deste trabalho é descrever e analisar como se deu
este embate e quais foram às principais influências nas práticas sociais dos agentes envolvidos e em
particular para os processos educativos em gestação, destacando os conflitos, os diálogos e a fluidez da
circulação de idéias, bens e pessoal entre as duas nações referenciadas. A investigação aqui proposta
insere-se no domínio da história cultural e parte do pressuposto da existência de um processo de
entrelaçamento de culturas, potencializado nas duas últimas décadas do séc. XIX, e da noção de
“tradução cultural” como referencial de análise. Este trabalho faz parte de um projeto de pesquisa
interinstitucional, em fase de desenvolvimento, financiado pelo CNPq. Palavras-chave: Cultura escolar,
Escola Normal de São Paulo, Tradução cultural.

408
ESTUDO SOBRE A ESCOLA DE APRENDIZES DE FERROVIÁRIOS DA COMPANHIA PAULISTA EM JUNDIAÌ-
SP (1895-1901)

SUELI SOARES DOS SANTOS BATISTA.


FATEC JUNDIAÍ, ITATIBA - SP - BRASIL.

Está em andamento desde 2009, o projeto Memória Ferroviária (1869-1971) que tem como um dos
objetivos a implementação de um Centro de Memória do Patrimônio Ferroviário Paulista..A proposta é
que este Centro seja virtual, disponibilizando um banco de dados sobre os diferentes tipos de
documentação (manuscrito, bibliográfico, iconográfico e cartográfico). Espera-se também incorporar
elementos de cultura material na forma de um museu virtual (a partir do levantamento fotográfico dos
bens móveis do Museu da Companhia Paulista). Este projeto se divide em três eixos temáticos: Memória
e Patrimônio Industrial, Tecnologia e Território, Tecnologia e Cultura. No eixo temático “Tecnologia e
Cultura” insere-se a pesquisa Infância e Adolescência nos trilhos: um estudo sobre os Centros
Ferroviários de Ensino e Seleção Profissional a partir do Acervo do Complexo Fepasa na Cidade de
Jundiaí-SP que tem como pano de fundo a história do ensino profissional e tecnológico em São Paulo.
A partir do acervo da Biblioteca do Museu da Companhia Paulista é possível abarcar três importantes
fases desta história: o início da Escola de Aprendizes em 1895 e a sua inauguração oficial em 1901; a
formação e desenvolvimento do CFESP, entre os anos 30 e 40 e a sua incorporação ao SENAI, a partir de
1945. Segundo Cunha (2005), desde o início do século XX, as empresas ferroviárias mantinham escolas
para formação de seus operários e acusa a primeira delas como a Escola Prática de Aprendizes das
Oficinas, fundada em 1906, no Rio de Janeiro. O objetivo deste trabalho é, a partir de pesquisa
bibliográfica e documental resgatar, através dos relatórios da Companhia Paulista, a história da Escola
de Aprendizes de Ferroviários, em Jundiaí, cujas primeiras experiências datam de 1895. Nossos
primeiros estudos revelaram o número crescente de aprendizes desta escola entre 1895 e 1901, que
funcionava com o objetivo de que, entre estes aprendizes, despontassem os futuros operários. Os
documentos revelam que os aprendizes executavam ações na oficina ao longo do dia e à noite,
recebiam instrução complementar prática ao trabalho manual. Esta instrução complementar era
basicamente as quatro operações aritméticas a princípio, depois desenho geométrico elementar,
desenho de projeção, noções elementares de mecânica e de máquinas, projetando-se, assim, uma
formação em 3 anos. Neste período, havia a necessidade de um curso preliminar para os interessados,
já que estes chegavam, em sua maioria, sem saber ler, nem escrever e nem dominavam as quatro

227
operações fundamentais. O que se percebe pelos relatórios da Companhia Paulista é que este tipo de
escola, devido a necessidade crescente de mão-de-obra alfabetizada e disciplinada será o embrião para
os Centros Ferroviários de Educação e Seleção Profissional implantados a partir de 1934.

1374
EUFRÁSIA TEIXEIRA LEITE: A DAMA DOS DIAMANTES NEGROS E OS SABERES ESCOLARES INSTITUÍDOS
A PARTIR DE SEU LEGADO (1930-1941)

MAGDA SAYAO CAPUTE.


UERJ, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL.

O presente estudo, busca através da perspectiva de gênero na Historia da Educacao Feminina, investigar
as praticas e os saberes escolares, implementados no Instituto Doutor Joaquim Teixeira Leite, a partir
das iniciativas educacionais propostas no legado da Baronesa Eufrásia Teixeira Leite, conforme consta
em seu testamento. Desta forma, esperamos recuperar a memória e a historia da educação feminina
deste Instituto,entre o período de 1930-1941, período este ,em que o Instituto foi oficialmente
implantado na cidade de Vassouras, Estado do Rio de Janeiro, que em 1857 e elevada de Vila a cidade
trazendo em seu contexto histórico geográfico no inicio do século passado, o destaque de pertencer ao
Núcleo da Aristocracia Rural Fluminense ( representada pelos Barões do Café),devido a sua lavoura
cafeeira. A partir da implantação do Instituto, o que só ocorreu pós morte de Eufrásia Teixeira Leite, que
viveu entre o século XIX e faleceu em 13 de setembro de 1930, aos 80 anos,intentamos compreender o
ensino deste Instituto Feminino ,que esteve sob a responsabilidade administrativa e pedagógica da
ordem religiosa da Irmandade do Sagrado Coração de Jesus. Esta pesquisa torna-se relevante à medida
que investiga e educação feminina e seus saberes escolares, em um período da Historia da Educacao
Brasileira, ou seja, o século XIX, momento em que o cenário de afirmação e caracterização da escola se
apresenta de maneira significativa. Para isto, nos utilizaremos da analise das Fontes Primarias da
Secretaria Municipal de Educacao de Vassouras, que encontra-se no arquivo publico de
Vassouras,alocado no Museu da Casa da Era, antiga residência de Eufrásia. Poderemos observar neste
acervo, relatórios dos professores sobre seus alunos, suas turmas, diários de classe, folhas de
freqüência, provas, correspondências internas e externas das Instituições de Ensino de Vassouras desde
1869 e jornais da época,buscando contribuir desta forma , para os estudos e saberes na/para a
educação, especificamente em relação ao gênero feminino desta Instituição,do seu surgimento, suas
origens,seu currículo e praticas pedagógicas assumidas ao longo deste período histórico.

385
EXPERIÊNCIAS DE INSERÇÃO E AFIRMAÇÃO DE ESCOLAS CONFESSIONAIS FUNDADAS POR
MISSIONÁRIOS ESTRANGEIROS, BELO HORIZONTE – MG (1900-1950)

HERCULES PIMENTA SANTOS.


FAE - UFMG, BELO HORIZONTE - MG - BRASIL.

No desenvolvimento desta pesquisa, visando a obtenção do título de mestre em Educação e concluída


em junho do ano de 2010; buscou-se investigar sobre duas instituições particulares de ensino que foram
constituídas por missionários estrangeiros, alemães e norte-americanos, na cidade de Belo Horizonte,
estado de Minas Gerais, durante a primeira metade do século XX (1900-1950). Trata-se de duas
instituições de ensino confessionais de caráter jurídico privado, uma católica e a outra protestante,
sendo esta última da denominação Batista. Foram observadas algumas das práticas educacionais,
organizacionais e disciplinares entre estas escolas, de diferentes orientações religiosas, utilizando uma
perspectiva comparativa. Objetivou-se realizar a reconstrução histórica destas instituições escolares
escolhidas, seguindo uma abordagem metodológica que confluiu História da Educação, História Política
e caminhou por um viés cultural observado na materialidade produzida pelas próprias instituições em
foco, além dos conflitos de ordem social e religiosa vividos pelas comunidades de estrangeiros
estudadas. Pretendeu-se a respeito destas confissões religiosas verificar as diferentes experiências

228
vividas por estes grupos em relação à inserção dos mesmos em uma cultura tradicionalmente permeada
pelos valores pregados pela Igreja católica, que durante muito tempo esteve à frente do ensino privado
no Brasil. Mesmo sendo os missionários alemães ligados ao catolicismo, estes encontraram problemas
durante os dois períodos de guerra ocorridos na primeira metade do século XX. Os protestantes viveram
em Minas Gerais experiências parecidas com as de outras regiões, não apenas brasileiras, mas mundiais,
em relação a suas tentativas de expansão educacional e religiosa por terras tradicionalmente dominadas
pelo ideário do catolicismo. Buscou-se compreender como se deu o estabelecimento desses grupos
estrangeiros por meio de suas escolas na, planejada e recém criada, capital mineira, concentrando o
estudo na relação estrangeirismos/educação/urbanização/religião. Em relação à trajetória de
levantamento da documentação histórica necessária ao desenvolvimento desta pesquisa, foram vários
os locais pesquisados. Entre acervos férteis e escassos, públicos e privados, foram consultados os
arquivos das instituições escolares investigadas por esta pesquisa, que foram cruzados com documentos
produzidos externamente a estas instituições. Documentação esta, de natureza oficial ou não, focando
prioritariamente, nos jornais de ampla circulação no período.

1157
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO PRESBITERIANA DE ORIGEM NORTE-AMERICANA NO INSTITUTO
EVANGÉLICO DE LAVRAS- MG (1893-1936)

JOSÉ NORMANDO GONÇALVES MEIRA.


UNIMONTES, MONTES CLAROS - MG - BRASIL.

Esta pesquisa, de cunho historiográfico, discute a educação presbiteriana em Minas Gerais, privilegiando
a experiência de Lavras, no oeste do Estado, onde foi fundado em 1893, o Instituto Evangélico (que
posteriormente passou a ser chamado Instituto Presbiteriano Gammon). No estudo dessa iniciativa
protestante, de tradição calvinista, reformada, destacam-se na pesquisa a Escola Agrícola de Lavras,
fundada em 1908, o Ginásio, com curso preparatório anexo, o colégio feminino Carlota Kemper, a Escola
Comercial e outros cursos avulsos, que compunham o Instituto Evangélico. Os objetivos deste estudo
são: ampliar a discussão sobre a educação protestante no Brasil, principalmente no que se refere a
Minas Gerais; compreender as relações entre convicções religiosas e a "ação social", especificamente no
que se refere à prática educacional e as suas implicações na construção da sociedade; avaliar a relação
entre o projeto educacional presbiteriano em Minas Gerais e o "americanismo" instalado no imaginário
social brasileiro a partir de meados do século XIX; discutir a ideologia protestante trazida pelos
missionários norte-americanos e a eficácia dos seus símbolos, especialmente daqueles relacionados à
educação escolar, para os seus objetivos de reformar a sociedade brasileira; analisar os princípios
educacionais que nortearam o Instituto Evangélico de Lavras; discutir as estratégias adotadas pelos seus
implantadores, em busca de eficácia para as suas práticas pedagógicas; levantar as qualidades éticas e
morais entendidas como necessárias à formação dos alunos. Esta pesquisa permitiu compreender como
o projeto civilizador presbiteriano inseriu-se no contexto das discussões pertinentes às primeiras
décadas da República brasileira quanto à modernização do país e o papel da educação para que esses
ideais fossem alcançados. A idéia de “progresso” presente no discurso dos missionários norte-
americanos manifesta-se nos cursos oferecidos pela escola, que, segundo a propaganda, visava a
formação para “o viver completo”. Há consciência, entretanto, de que essa concepção dos objetivos da
educação escolar não é exclusiva do protestantismo reformado, mas encontra apoio em diversas das
suas doutrinas, favorecendo a sua adoção e o desenvolvimento de particularidades. Para a realização da
pesquisa, foram utilizadas fontes encontradas, principalmente, no Arquivo Público Mineiro, no Museu
Bi-Moreira da Universidade Federal de Lavras e no Pró-memória Gammon, do Instituto Presbiteriano
Gammon, em Lavras-MG.

229
1100
FORMANDO ELITES CONDUTORAS: A EXPANSÃO E A INTERIORIZAÇÃO DOS GINÁSIO NO PIAUÍ (1942 -
1971)

ANTONIO DE PÁDUA CARVALHO LOPES.


UFPI, TERESINA - PI - BRASIL.

Os estudos sobre instituições escolares têm se desenvolvido de modo significativo na historiografia


educacional brasileira nos últimos anos. Paolo Nosella e Ester Buffa (2009) datam dos anos 1990 o
desenvolvimento dos estudos sobre instituições escolares, embora estudos desse tipo tenham sido feito
anteriormente a essa data. Dentre esses estudos, alguns trabalhos têm se voltado para os ginásios
estudando diversos aspectos dessa modalidade de escola, tais como o de Graça (2002), Dallabrida
(2001), Amaral (1999) e Barroso (1997). Além dessa historiografia sobre os ginásios, no presente
trabalho foram utilizadas como referências teórico-metodológica Elias (1999), Petitat (1994) e Tyack e
Cuban (2001). Desse modo, tomando como referência os estudos sobre instituições escolares, o
presente trabalho é parte de uma pesquisa em andamento que analisa o processo de constituição da
rede escolar piauiense no período de 1889 a 1971. Nesse trabalho são apresentados os resultados
referentes a expansão e interiorização dos Ginásios, bem como sua consolidação em diversas
localidades piauienses. Para tanto foi definido o recorte temporal de 1942 a 1971. O marco inicial do
trabalho remete ao decreto-lei nº 4244, de 9 de abril de 1942 (lei orgânica do ensino secundário) e o
marco final da pesquisa refere-se a reforma implantada pela lei nº 5692 de 1971. A definição do marco
final considerou, também, o fim do exame de admissão. Dentre outros aspectos, podemos perceber que
o ritual do exame de admissão foi um dos mais lembrados nos livros de memórias, inclusive pelo uso de
escolas preparatórias para o mesmo. Assim, essa era uma experiência marcante no percurso escolar de
alunos que realizaram sua escolarização antes da implantação da reforma de 1971. Até a implantação
da reforma de 1971, o ensino ginasial era ofertado em 93 estabelecimentos de ensino no Piauí, sendo o
exame de admissão uma exigência para o acesso a esse nível de ensino. Com a reforma, o primário e o
ginásio se transformaram em ensino de 1º grau. Os alunos do 4º e 5º ano do primário foram
promovidos, automaticamente, para o 5º ano do 1º grau, sendo extinto o exame de admissão. Isso
alterou um ritual importante que demarcava uma passagem da escolaridade considerada marcante na
escolarização.A pesquisa procurou, ainda, compreender os diferentes modos como essa modalidade de
ensino foi se interiorizando no Piauí a partir da conjugação dos esforços das elites locais, de
organizações não governamentais, das confissões religiosas e do poder público municipal. A pesquisa
utilizou como fontes documentos oficiais (mensagens, diários oficiais, leis orçamentárias, dentre outras),
livros de história dos municípios, livros de memórias e jornais.

1255
FRAÇÕES DA HISTÓRIA: REPÚBLICA DO BRASIL E OS GRUPOS ESCOLARES (1889 A 1971)

BRUNA LUIZA NUNES GARCIA.


UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS, MONTES CLAROS - MG - BRASIL.

Este trabalho consiste em um fragmento da pesquisa – em andamento – apresentada ao Programa de


Pós-graduação em Educação, tendo em vista a admissão neste. Portanto, no intuito de pesquisar acerca
da alfabetização e dos ideais pedagógicos no período republicano, de 1954 a 1971, no Grupo Escolar
Professor Modesto, da cidade de Patos de Minas (Minas Gerais, Brasil); no presente trabalho serão
elencados alguns fatos históricos relevantes para a compreensão da pesquisa proposta. Vale ressaltar
que ao pensarmos a educação, temos que considerar os interesses que esta aciona e mobiliza; assim,
neste trabalho a história foi retomada a partir de 1889, visto que este foi o ano em que foi proclamada a
República do Brasil e, também, o período de divulgação e implementação dos Grupos Escolares neste
país. Além disso, buscamos elucidar como se deu a criação dos grupos escolares no Brasil e
especificamente como se deu a criação do Grupo Escolar Professor Modesto. Salientamos que, para
tanto, este trabalho consiste em um levantamento bibliográfico – BURKE (1992; 1997); GATTI JÚNIOR
(2002; 2005); GONDRA; SCHUELER (2008); HOSBSWAM (2001); MANACORDA (2006); SANTOS (2001);

230
SAVIANI, (1986; 2005; 2007); SCHAFF (2005); VEIGA (2007); VIDAL (2006); WARDE (1990); CUNHA;
BROILO (1996; 2008); FARIA FILHO; VAGO (2000); SÁNCHEZ GAMBOA; SANTOS FILHO (2007); dentre
outros – baseado na investigação histórica, num enfoque metodológico qualitativo fundamentado em
Sánchez Gamboa e Santos Filho. Sendo assim, implica esclarecer que para a realização deste estudo se
faz necessário lançar um olhar subjetivo diante do objeto investigado. Os Grupos Escolares elucidaram
uma nova organização administrativa e pedagógica da escola elementar, o que proporcionou a
reorganização dos espaços e tempos escolares e ampliação do currículo. Assim, os grupos escolares,
como representantes dos ideais republicanos, instauraram ritos, espetáculos, celebrações, divulgaram a
ação republicana, corporificaram os símbolos, os valores e a pedagogia moral e cívica que eram próprias
da República. Considerando toda a complexidade do tecido social que envolve a educação do ser e,
tendo em vista a importância da História da Educação para compreender o processo educacional, ou
seja, como o homem é educado e, mesmo, as possibilidades de educar este; salientamos a importância
deste trabalho. Neste sentido, destacamos o nosso interesse maior em desvendar e analisar o contexto
educacional de Patos de Minas, mais precisamente o que foi feito na educação do município com
relação ao processo de alfabetização desenvolvido no Grupo Escolar Professor Modesto.

1107
FRUTO DE MACABEIRA, TRABALHADOR RURAL É? AS RAÍZES DO APRENDIZADO AGRÍCOLA DE
CONCEIÇÃO DE MACABU

RAQUEL SOUZA DE BARROS.


UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL.

Em meados dos anos 1920, a Presidência do Estado do Rio de Janeiro elaborou medidas para a
restauração e modernização de sua agricultura, visando consolidar uma racionalidade capitalista nesse
setor por meio da introdução de novos recursos técnicos no espaço rural fluminense. Seu principal
objetivo era elevar o estado do Rio de Janeiro ao status de celeiro do país abastecendo-o de gêneros
alimentícios de primeira necessidade. Dentre os projetos para alavancar sua economia agrícola, o
governo estadual aprovou a instalação de dois Aprendizados Agrícolas no estado para a execução do
ensino agrícola fluminense. O Aprendizado Agrícola “Viçoso Jardim”, em Vassouras, e o Aprendizado
Agrícola “Presidente Pedreira” no 5º Distrito de Macaé tinham o objetivo de proporcionar a meninos
desvalidos do campo os ensinamentos de agricultura em geral e o ensino primário de letras. Partia-se da
concepção de que a instrução elementar era ferramenta necessária para a aquisição dos manejos
técnicos e da disciplina precisa para introduzir uma racionalidade no campo identificada com os ideais
de progresso da jovem nação republicana, e em termos locais, criar condições para a introdução de um
modelo de desenvolvimento agrário alternativo à hegemonia econômica da produção cafeicultora
paulista. Durante a tentativa de encontrar seus vestígios, os alicerces do Aprendizado Agrícola da
pequena cidade do interior Conceição de Macabu puderam ser localizados. Nessa antiga região, onde as
macabeiras foram extintas com a plantação de cana-de-açúcar, funciona hoje o Colégio Estadual
Agrícola Rêgo Barros, nas antigas instalações do Aprendizado. Após longos anos, a instituição preserva
aspectos dos seus primórdios e nos confronta com diversos relatos e modificações que possibilitaram a
sua perpetuação. O objetivo desse trabalho é investigar as práticas educativas, com suas estratégias,
negociações e confrontos, nos seus anos iniciais, tentando compreender as políticas educacionais de
ensino agrícola no Estado do Rio de Janeiro e suas repercussões no interior da referida instituição e
como foi recebida pelas famílias dos internos e grupos locais. Esse trabalho está em andamento e
pretende fomentar questões voltadas para o interior do nosso estado onde são ainda escassas as
pesquisas em história da educação brasileira. A investigação está sendo realizada no acervo documental
da própria instituição, nos rastros dispersos pela cidade, nos relatórios enviados ao Governo do Estado
pela Secretária de Agricultura e Obras Públicas, do Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro, nos
jornais da época e nas obras literárias relacionadas à educação rural da Biblioteca Nacional.

231
782
GINÁSIO ESTADUAL DE PILAR DO SUL: ANÁLISE DA ARQUITETURA E DO USO DOS ESPAÇOS ESCOLARES
(1961-1976)

ADRIANA APARECIDA ALVES DA SILVA; JOSÉ ROBERTO GARCIA; WILSON SANDANO.


UNIVERSIDADE DE SOROCABA - UNISO, SOROCABA - SP - BRASIL.

Os resultados apresentados neste artigo fazem parte da pesquisa em andamento do doutorado que
investiga o campo escolar de Pilar do Sul – SP. Em meados da década de 50, o campo escolar de Pilar do
Sul era constituído por três escolas e este trabalho busca compreender a história de uma das escolas, o
Ginásio Estadual de Pilar do Sul, analisando a arquitetura e os usos dos espaços escolares no período
referente 1961, ano de inauguração do prédio do ginásio, a 1976, momento que o ginásio é redefinido
como escola de primeiro grau devido a Lei de Diretrizes e Bases 5692/1971. Para analisar a arquitetura e
os usos dos espaços do Ginásio Estadual de Pilar do Sul foram utilizadas fontes primarias e secundárias.
As fontes primaria não ficaram restritas aos documentos escritos, fontes orais e iconográficas também
foram utilizadas, seguindo orientações de Le Goff, que rompe com a idéia de prova isolada e apresenta
o documento como produto de uma sociedade que o fabricou. Segundo Mauad, as imagens necessitam
de interpretações para compreender as representações sociais, identificar seus atores, sendo necessário
o recurso de outras fontes. As fontes orais entrecruzadas com as fotografias permitiram a interpretação
das memórias e suas imagens. Analisar a arquitetura e o espaço escolar exige um olhar aguçado, para
poder compreender as várias dimensões explícitas. Segundo Frago, a disposição física dos espaços
destinados a uma finalidade ou função reflete tanto sua importância como a concepção que se tem
sobre a natureza o papel e as tarefas destinadas a tal função. A localização e tamanho da biblioteca ou
qualquer outro espaço escolar demonstram os diferentes pensamentos sobre aquelas funções e
finalidades. A não priorização de um espaço pode indicar tanto a tentativa de minimizar ou reduzir sua
função quanto a não necessidade do mesmo. O prédio do Ginásio Estadual de Pilar do Sul foi construído
seguindo orientação da administração estadual que previa a utilização de plantas padronizadas que
tinham como critério a quantidade de habitantes da cidade, prédios funcionais e abrigava
aproximadamente 320 alunos. A análise evidenciou, entre outros aspectos, que havia uma preocupação
com a questão da salubridade, pois o prédio possuía salas arejadas que proporcionavam um ambiente
que dificultava a proliferação de doenças e adequado para o ensino. Havia espaços específicos para
artes manuais, apresentações artísticas e laboratório de ciências. A existência e boa localização desses
espaços nos revelam a importância de certas práticas, porém os usos desses espaços não aconteciam
plenamente, pois não havia materiais e mobiliários para o pleno funcionamento. A posição da
biblioteca, o tamanho do espaço e a falta de um acervo adequado nos trazem indícios de que há uma
tentativa de minimizar a função da mesma. Outros aspectos a serem destacados são a falta de um
espaço específico para atividades físicas e muros que isolassem a escola do ambiente e externo.

619
GINÁSIO ESTADUAL PEDRO II: CULTURA E CLIENTELA ESCOLAR NA EXPANSÃO DO ENSINO
SECUNDÁRIO PÚBLICO EM SANTA CATARINA

DEGELANE CÓRDOVA DUARTE.


UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA UDESC, FLORIANÓPOLIS - SC - BRASIL.

A instalação do Ginásio Estadual Pedro II, no ano de 1947 em Blumenau, no Vale do Itajaí inaugura o
processo de expansão do ensino secundário público em Santa Catarina. Partindo da perspectiva da
História Cultural, este estudo objetivou investigar o ensino secundário oferecido no Ginásio Estadual
Pedro II, nas décadas de 1940 e 1950, analisando aspectos da cultura escolar tais como: a gestão, o
espaço, as homenagens, os desfiles e o grêmio escolar cotejando-os ao perfil socioeconômico do
alunado. Além da análise documental foram aplicados cento e dezoito questionários aos egressos do
Ginásio Estadual Pedro II, distribuídos em sete turmas de licenciados no 1º ciclo ginasial entre 1950 e
1956 e entrevistas com alguns egressos, considerados pessoas-chave, para a compreensão de alguns
aspectos abordados na pesquisa. A população atendida no Ginásio Estadual Pedro II caracterizou-se por

232
frações das classes médias urbanas que o percebiam como instrumento de ascensão social
materializado em colocações em postos de trabalho privilegiados e a possibilidade de ingresso no ensino
superior.O estabelecimento do curso secundário oferecido por instituição pública e estatal modificou a
configuração dos agentes (escolas já existentes e detentoras de um monopólio no que tange à oferta
desse nível de ensino e as clientelas que nela investem e passam a investir) no campo educacional
específico de Blumenau nas décadas de 1940 e 1950 em diante. A inserção de um novo grupo social ao
ensino secundário provocou uma certa concorrência entre as escolas que já ocupavam o espaço social,
configurando novas relações entre os agentes/instituições promovendo disputas, tendo como móvel
principal o ensino secundário e sua oferta às novas populações. Tal ‘concorrência’, ou disputa, por
espaço e prestígio, fez com o Ginásio Estadual Pedro II mobilizassem esforços no sentido de agregar
capital simbólico a sua imagem de instituição de ensino. Tais esforços eram percebidos nos ritos: festas
escolares, desfiles, homenagens, visitas honrosas e nas propostas de um ensino renovado e moderno.
As leituras do espaço escolar forneceram elementos que permitiram apreender os preceitos
nacionalistas, morais e higiênicos que permeavam o discurso educacional da época, apontam influências
do ideário escolanovista presentes na gestão do Ginásio e revelam indicadores de uma cultura
burguesa. As festas, solenidades, competições entre escolas e o grêmio escolar, realizados no período
estudado, foram acontecimentos de grande importância no sentido de dar visibilidade à instituição
educacional. Esses momentos eram práticas simbólicas que reafirmaram a expressão de uma cultura
escolar e fortaleceram a identidade da instituição projetando-a no espaço social.

554
GRUPO ESCOLAR ANTÔNIO MARTINS (1930-1945): CONSIDERAÇÕES ACERCA DAS RESTRIÇÕES NO
FLUXO DE PROMOÇÃO DO ENSINO PRIMÁRIO
1 2
DENILSON SANTOS DE AZEVEDO ; GIOVANNA ABRANTES CARVAS .
1.UVF, VIÇOSA - MG - BRASIL; 2.UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA, VIÇOSA - MG - BRASIL.

O presente trabalho aponta os resultados finais da investigação a respeito da cultura e das práticas
escolares instituídas no Grupo Escolar Antônio Martins durante a Era Vargas (1930-1945), analisando
algumas considerações acerca do fluxo escolar durante o ensino primário e da influência significativa em
parcela da sociedade de Ponte Nova que o referido estabelecimento de ensino apresentou, fato este
verificado desde sua criação, em 1913. Diante da necessidade de inserir o objeto de pesquisa num
contexto mais amplo, buscou-se conhecer as principais modificações educacionais da educação primária
implantada na era Vargas no Brasil e na gestão do seu interventor no Estado de Minas Gerais, Benedito
Valadares. Para cumprimento de tal objetivo, realizou-se pesquisa bibliográfica a fim de identificar
aspectos da cultura escolar que foram introduzidos no currículo escolar e conhecer as mudanças
verificadas nas práticas escolares dessa instituição de ensino primário durante o período em foco. Após
a revisão de literatura, fez-se um levantamento e uma análise de alguns documentos referentes à
história do Grupo Escolar, no período de 1930 a 1945, localizados onde atualmente funciona a Escola
Estadual Senador Antônio Martins. Dentre os documentos encontrados, podemos citar: Atas de
Instalação e Atas de Exames; o Termo de Assentamento e Posse; Atas de Auditórios; Termos e
Relatórios de visitas oficiais. Também se fez uso de jornais da cidade e região, localizados no Arquivo
Público Municipal de Ponte Nova, que abarcam o período de 1930 a 1945. O estudo desses documentos
possibilitou conhecer as práticas pedagógicas adotadas nas salas de aula, aspectos das relações tecidas
entre professores, alunos, pais, diretores, inspetores e os demais funcionários do Grupo Escolar em seu
cotidiano, bem como as possíveis causas da restrição na promoção do 1° ao 2° ano primário e nos anos
subsequentes, o que pode ser observado desde a criação do GEAM até meados do ano de 1940. Outro
ponto importante diz respeito à disparidade entre os números de matrícula e freqüência percebidos nas
Atas de Instalação e de Exames, situação que também perdurou por muitos anos no Grupo Escolar. A
fim de se enriquecer as informações encontradas nas fontes escritas oficiais, foram realizadas
entrevistas com ex-alunos do GEAM, o que contribuiu para melhor compreensão do significado dos
Auditórios, do uso do uniforme, da presença da religião, da moral, do civismo e da educação física no
espaço escolar, da recitação de poesia e do canto, sobretudo dos hinos, além dos processos de avaliação
e de exames.

233
1295
GRUPO ESCOLAR DR. THOMAS MINDELLO: NÚCLEO DE IRRADIAÇÃO DA PEDAGOGIA RENOVADA NA
PARAHYBA DO NORTE (1930-1935)

ROSÂNGELA CHRYSTINA FONTES DE LIMA.


UFPB, JOÃO PESSOA - PB - BRASIL.

O presente artigo foi construído a partir de um recorte da dissertação de Mestrado Grupo Escolar “Dr.
Thomas Mindello” e a Cidade: compassos e descompassos entre a tradição e a modernidade, cuja
pesquisa esta vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Educação – PPGE da UFPB, e encontra-se
ainda em fase de conclusão. Buscamos investigar os nexos processuais da formação da escolarização
primária – grupo escolar -, com os processos estruturais de formação da sociedade paraibana,
examinando uma instituição escolar em particular, o Grupo Escolar Dr. Thomas Mindello como produto
e produtora de práticas educacionais e sociais institucionalizadas. Para tanto, buscamos compreender as
práticas cotidianas da e na escola como expressão da historicidade e dos processos de continuidade-
descontinuidade de produção e reprodução de relações sociais. Nesse sentido, este trabalho se
configura no domínio da História Social, numa perspectiva crítica e problematizadora, tomando como
referência algumas reflexões realizadas por Thompson (2001), e Hobsbawm (1997 e 1998), visto que,
esta concepção nos permite compreender a produção dos sujeitos históricos num tempo e espaço
marcados pelas determinações sociais, culturais, econômicos e políticos. Assim, o método de
investigação aqui adotado é o dialético, pois nos permite relacionar o particular (instituição escolar) com
a totalidade social (contexto). Para tanto, este estudo pretende analisar diversas fontes (primárias e
secundárias), coletadas no Arquivo Histórico da Paraíba da Fundação Espaço Cultural – FUNESC - e no
Instituto Histórico e Geográfico Paraibano - IHGP, correspondente aos anos de 1930 até 1935. Aqui nos
deteremos na discussão em torno das iniciativas empreendidas pela Diretoria do Ensino para difundir as
novas práticas pedagógicas, baseadas nos pressupostos da Escola Ativa na Parahyba do Norte,
considerando, por conseguinte, a história do Grupo Escolar paraibano, Dr. Thomas Mindello, verifica-se
que este é marcado por ser uma instituição disseminadora dos novos métodos pedagógicos, visto que,
nele se instalaram entre outros: a primeira Caixa Escolar, Jardim de Infância “oficial”, Circulo de Pais e
mestres, Biblioteca infantil, Clubes Agrícolas, Cinema escolar, dentre outros. Nesse contexto, o Grupo
Escolar Dr. Thomas Mindello se constituiu como um espaço mais amplo, para além do espaço tradicional
de um estabelecimento de ensino primário aonde se iria apenas aprender a ler, escrever e contar. Tudo
indica que, esse grupo escolar se constituiu num núcleo disseminador das novas práticas educativas
numa perspectiva escolanovista, ou seja, se configurou como um modelo a ser seguido para as demais
instituições de ensino público primário na Parahyba do Norte.

983
GRUPO ESCOLAR GOVERNADOR CLOVIS SALGADO COMO EXPRESSÃO DA POLÍTICA PÚBLICA
EDUCACIONAL (1950–1960)

THAIS PARREIRA DE FREITAS OLIVEIRA; ANDRÉA AZEVEDO DE OLIVEIRA.


FACIP/UFU, ITUIUTABA - MG - BRASIL.

Este texto apresenta resultados parciais de uma pesquisa ainda em andamento e cujo objeto de estudo
é a instituição escolar no interior de Minas Gerais. Esta investigação compõe uma pesquisa mais ampla,
intitulada “Escolarização pública na região de Ituiutaba/MG (1940–1960)”. Inserido no campo da
história e historiografia da educação e suas instituições, este trabalho de pesquisa objetivou
compreender as condições de surgimento do Grupo Escolar Governador Clóvis Salgado, nas décadas de
1950 e 1960. Os procedimentos metodológicos da pesquisa incluíram a identificação das categorias
selecionadas e a leitura crítico-analítica de documentos da escola, de jornais de época, de fontes orais
(entrevista com ex-diretoras e ex-professoras), das atas da Câmera Municipal e de documentos da
Superintendência Regional de Ensino de Ituiutaba. Uma das descobertas mais relevantes da investigação
se refere às condições materiais da escola, dentre as quais se destaca o problema da falta de um prédio
próprio para abrigá-la. Como um ato político e de protesto contra essa situação, as professoras da

234
escola ministraram suas aulas em baixo de uma árvore magnólia situada na frente da Igreja Matriz de
São José. Com essa atitude, a intenção das docentes era chamar a atenção da sociedade civil e do poder
político da cidade para o problema da falta de um espaço próprio para escola. A essa época, o corpo
discente da escola já continha mais de quinhentos alunos; assim, enquanto um grupo de alunos assistia
às aulas, outro grupo descansava nos bancos da igreja, pois a magnólia não fazia sombra o bastante para
abrigar todos os discentes sob sua copa. Além disso, as professoras foram obrigadas a se instalar e
lecionar em uma colchoaria, onde dividiam o alunado em oito salas de aula e onde ficaram por um
período longo de tempo. Após muitas lutas, a escola ganhou prédio próprio, em um terreno doado por
políticos da época e localizado nas proximidades do cemitério de Ituiutaba; mas a maioria das
professoras não ficou satisfeita com a construção do prédio nesse local. Dentre outros pontos, tais fatos
sugerem que houve um descompasso no processo de escolarização pública no Brasil, tendo em vista o
contexto nacional e o regional. Ora, se a política pública educacional do país priorizava a expansão
escolar, tal expansão ocorreu de forma precária em Ituiutaba, município então tido como “celeiro do
Triângulo Mineiro”, “capital do arroz” e cuja política pública local jogou a questão educacional para o
segundo plano.

580
GRUPO MODELO AUGUSTO SEVERO (1908-1928): PRÁTICA PEDAGÓGICA E FORMAÇÃO DE
PROFESSORAS

FRANCINAIDE DE LIMA SILVA; MARIA ARISNETE CÂMARA DE MORAIS.


UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE, SAO GONCALO DO AMARANTE - RN - BRASIL.

O presente texto resulta de uma pesquisa concluída sobre a prática pedagógica no Grupo Escolar
Augusto Severo, em Natal, primeira instituição do gênero no Estado do Rio Grande do Norte.
Analisamos a formação e experimentação dos formandos da Escola Normal de Natal entre 1908 e 1928.
No período em recorte ocorreram tentativas de organização educacional por meio da Reforma do
Ensino Primário (Lei n. 249, de 22 de novembro de 1907) e da Reforma do Ensino (Lei n. 405 de 29 de
novembro de 1916). O Decreto n. 178, de 29 de abril de 1908, reabriu a Escola Normal de Natal para o
preparo de professores primários de ambos os sexos, consoante a Moderna Pedagogia, bem como criou
uma rede de Grupos Escolares no Estado. O Grupo Escolar Augusto Severo foi instalado a partir do
Decreto n. 174, de 5 de março de 1908, o qual estabelecia que pelo menos duas cadeiras de ensino
primário fossem instaladas nesse estabelecimento. É inaugurado em 12 de junho do mesmo ano em
representativa festa cívica no centro cultural e urbano da cidade de Natal a época, o bairro da Ribeira. O
Decreto n. 198, de 10 de maio de 1909, o declarou modelo para os demais estabelecimentos de ensino
elementar norte-rio-grandense. Fundamentamo-nos na História Cultural definida através da conjunção
da história dos objetos na sua materialidade, das práticas nas suas diferenças e das configurações, dos
dispositivos nas suas variações. Para tanto, nos respaldamos em autores como Chartier (1990), Duby
(1993) e Morais (2003). Utilizamos os jornais A República e Diário do Natal, a revista Pedagogium, as
Leis, Decretos e Mensagens do Governo, Códigos de Ensino e o Regimento Interno dos Grupos
Escolares, documentos procedentes do acervo do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do
Norte (IHGRN) e fontes iconográficas, provenientes do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (IPHAN/RN). No Arquivo Público do Estado (APE/RN) pesquisamos os Livros de Inscrição dos
Grupos Escolares e Escolas Isoladas, Ofícios, Matrículas, Relatórios e Atas de reuniões da Diretoria Geral
da Instrução Pública e Diários de Classe. Analisamos a ação dos docentes nesta instituição primária,
assim como a história das disciplinas escolares, dos programas de ensino, bem como dos livros de
leitura. Ao problematizarmos conteúdos e métodos, observamos que o método intuitivo era a tônica da
prática pedagógica vigente e que os ritos de premiação e as festividades cívicas compunham o ideário
modernizador da época. Ressaltamos a importância dada a leitura e a escrita na escola primária numa
sociedade que se pretendia letrada.

235
898
GRUPOS ESCOLARES: ESPAÇOS DE EDUCAÇÃO E INSTRUÇÃO PARA CRIANÇAS NEGRAS?
(PERNAMBUCO 1911-1940)

ADLENE SILVA ARANTES.


UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - UFPB, JOÃO PESSOA - PB - BRASIL.

Sabemos que as teorias racistas permeavam o pensamento da sociedade brasileira no Império e


permaneceram presentes também na república, ou seja, mesmo com o surgimento da república a
questão racial permanecia, buscava-se uma “raça virtuosa”. Ao mesmo tempo que a primeira
constituição republicana garantia formalmente a igualdade política, a noção de raça não só se constituía
mas também legitimava uma prática de manutenção de desigualdades que vivenciamos na atualidade.
Diante do exposto, buscamos nesse estudo que está em fase inicial, investigar a educação destinada á
população negra nos grupos escolares pernambucanos, no período de 1911 a 1940. Pretendemos
mapear os grupos escolares existentes em Pernambuco no período estudado, destacando
implementação e funcionamento; identificar a origem étnico-racial e de gênero dos alunos dos grupos
pesquisados; analisar a “cultura escolar” presente nos grupos escolares da capital e do interior, e de
maneira mais específica, o lugar da leitura e da escrita nessas instituições. A pesquisa será baseada
teórica e metodologicamente pelos pressupostos da História Cultural. Utilizaremos como fontes de
pesquisa os anuários de ensino, programas de disciplinas dos grupos escolares, relatórios, regimentos e
legislação da instrução pública, Revistas de ensino, iconografia e jornais do período estudado.
Pretendemos utilizar, no estudo, o recurso da variação da escala de observação: ora a lente de análise
estará sobre sujeitos específicos, crianças que freqüentam os grupos escolares, professores,
funcionários; ora a lente se voltará para dimensões mais amplas, como a instituição escolar e o Estado,
por meio da análise do discurso dos legisladores e administradores da educação. A relevância da
temática enfocada se justifica pela ausência de estudos que se debrucem sobre a realidade
pernambucana e, sobretudo, sobre a presença de crianças negras nesses espaços considerados de
excelência para a educação republicana. Os dados preliminares demonstram que os primeiros grupos
escolares de Pernambuco foram o João Barbalho e o Martins Junior, ambos instalados na capital, Recife.
É possível perceber que havia uma classificação por gênero e por grupos étnicos (brancos e mulatos)
elaborada pelo Serviço Médico Escolar, em relação à Educação Física. Os alunos eram subdivididos em
“escolares normais”, “escolares sob-observação” e “escolares afastados da Educação Física”. Os exames
realizados apontavam, entre outros elementos, que “as deficiências da capacidade vital eram maiores
em mulatos do que em brancos”.

577
GÊNESE E DESENVOLVIMENTO DO ENSINO PRIVADO NA CIDADE DE PELOTAS-RS (1875-1975)

HELENA DE ARAUJO NEVES; ELOMAR ANTONIO TAMBARA.


UFPEL, PELOTAS - RS - BRASIL.

Esta pesquisa faz parte de uma investigação – desenvolvida em nível de doutoramento – caracterizada
como uma pesquisa qualitativa que possui uma abordagem sócio-histórica. Utiliza como procedimento
técnico a pesquisa documental – cujas principais fontes consultadas são propagandas impressas de
instituições de ensino publicadas em periódicos que circularam na cidade de Pelotas-RS. O objetivo
deste artigo é, então, apresentar a gênese e o desenvolvimento do ensino privado em Pelotas-RS de
1875 a 1975. Recorte efetuado porque a propaganda torna-se uma das únicas fontes existentes que
contém informações sobre escolas privadas que atuaram em Pelotas – algumas com duração efêmera,
outras existentes até a atualidade. Além disso, o acervo acessado, pertencente à Bibliotheca Pública
Pelotense, possui jornais com publicações a partir do ano de 1875. Para períodos anteriores a este
foram utilizados relatórios oficiais da província. Já o ano de 1975 foi determinado pelo interesse em
observar o cenário da educação privada ao longo de cem anos. Assim, foi possível analisar momentos
em que o ensino privado conviveu com escolas públicas, municipais e estaduais, que, ao que tudo
indica, configuraram um diferente perfil educacional para a cidade desde a criação dos primeiros

236
colégios privados. Tem-se, assim, como intento analisar as características do processo educacional
pelotense privado observando o que era destacado como relevante para a educação em diferentes
períodos – a partir do olhar das escolas. Como pano de fundo analisa-se, também, os conflitos de
interesse das esferas privada e pública no que se refere à educação. Até o momento foram catalogados
6.096 anúncios de instituições de ensino pelotenses. Diante desses arrolou-se o nome de 102
instituições privadas atuantes em Pelotas-RS ao longo do período investigado. Com base na formulação
de alguns questionamentos e por meio de modelos teóricos, a partir do contato com as fontes, foi
possível perceber que os anúncios impressos eram um meio de divulgação no qual as instituições de
ensino apresentavam à comunidade pelotense os serviços que ofereciam. Além disso, ilustravam como
essas eram constituídas ao detalhar, por exemplo, seu corpo docente, suas condições de admissão, as
disciplinas de que dispunham, além de sua estrutura física e moral. Verifica-se também que ao longo
dos anos os seus discursos estavam ligados às suas origens, aos seus princípios, e à suas percepções
sobre o mercado e sobre o serviço que ofereciam: a educação. Nesta pesquisa os anúncios fazem
emergir, portanto, aspectos sobre as instituições e sobre a própria educação na cidade. Acredita-se,
assim, que esta investigação possui uma relevância no que se refere à compreensão da história do
ensino privado em Pelotas-RS no decorrer dos séculos XIX, XX. Não tem como pretensão esgotar as
múltiplas leituras que possam ser feitas sobre o ensino privado, mas foca o olhar para o mercado da
educação, contribuindo, assim, com o campo investigado.

1352
HELENA ANTIPOFF E A PRIMEIRA SOCIEDADE PESTALOZZI DO BRASIL: IBIRITÉ, MG, 1932/1974

ANDERSON CLAYTOM FERREIRA BRETTAS.


IFTM - INSTITUTO FEDERAL DO TRIÂNGULO MINEIRO, UBERLANDIA - MG - BRASIL.

Na esteira da modernização da educação mineira pautada no escolanovismo através da Reforma


Francisco Campos–Mário Casassanta, foi convidada, em 1929, a lecionar na recém criada Escola de
Aperfeiçoamento Pedagógico, a educadora russa Helena Wladimirna Antipoff (1892/1974), à época
assistente de Édouard Claparède no Institut Jean-Jacques Rousseau em Genebra. Deparando-se com as
anomailia do quadro social brasileiro, Antipoff partiu para outros empreendimentos educacionais – o
tratamento da criança especial, a formação de profissionais para o magistério, a preocupação com o
homem do campo. A presente comunicação objetiva apresentar os resultados de uma pesquisa que
analisou a constituição, o desenvolvimento e o funcionamento da primeira sociedade pestalozziana do
país constituída em Ibirité, cidade da região metropolitana de Belo Horizonte, as ações de Helena
Antipoff para a implantação de outras instâncias de socialização do menor, vinculadas à Sociedade, bem
como a disseminação da educação inclusiva pelo país e as correlações teóricas entre Antipoff e o
filósofo Johann Heinrich Pestalozzi. Metodologicamente, este trabalho é embasado pela sociologia
compreensiva de Max Weber, intelectual que, superando o positivismo e o idealismo, enfatizou o
conhecimento histórico como instrumento consistente para o cientista social. O método weberiano tem
como foco de investigação a ação social, isto é, a conduta humana dotada de sentido, de uma
justificativa subjetivamente elaborada. Como fontes, foram pesquisados documentos bibliográficos
diversos e iconográficos; além da literatura pertinente. Ao longo de sua vida, Antipoff militou na
constituição de instituições de assistência ao menor; foi a primeira professora da cadeira de Psicologia
Educacional da UFMG; criou uma escola rural em Ibirité, interior mineiro. Efetivamente, podem ser
estabelecidas diversas aproximações entre o pensamento de Pestalozzi e as ações de Antipoff no campo
da educação em geral, sobretudo a educação especial: (a) a ideia da educação social e popular; (b) a
ênfase na educação profissional; (c) a concepção da educação baseada na natureza espiritual e física da
criança; (d) a educação fundamentada na conjuntura vivida pelo ser humano; (e) e a ideia da educação
como desenvolvimento interno e formação espontânea. Ainda nos anos 50, Helena Antipoff defendia a
necessidade da criação de uma federação das Sociedades Pestalozzi que congregasse os esforços das
instituições que defendiam os ideais pestalozzianos no país, entidade finalmente fundada em 1970 no
Rio de Janeiro, marco na história da educação inclusiva no Brasil.

237
1167
HISTORIOGRAFIA DO ENSINO SUPERIOR SERGIPANO: UM BALANÇO

JOÃO PAULO GAMA OLIVEIRA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE, SÃO CRISTÓVÃO - SE - BRASIL.

Em Sergipe os estudos da história do ensino superior têm crescido nos últimos anos. Os primeiros cursos
superiores que conseguiram lograr êxito em terras sergipanas só sugiram depois de 1940, a saber:
Economia (1948), Química (1950), Faculdade de Direito (1950), Faculdade Católica de Filosofia de
Sergipe (1951), Faculdade de Serviço Social (1954) e Faculdade de Ciências Médicas (1961), todas essas
instituições foram englobadas para a criação da Universidade Federal de Sergipe no final da década de
1960. O presente estudo tem por objetivo fazer o levantamento de monografias, dissertações, teses e
livros que versam sobre a História do Ensino Superior em Sergipe. Embora exista uma série de artigos
publicados em eventos da área, como também em periódicos, optamos por focar trabalhos de pesquisa
concluídos. Assim, o interesse por tal análise surgiu diante da construção da dissertação de mestrado
cujo objeto de estudo é o curso de Geografia e História da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe,
diante da necessidade de conhecermos os escritos acerca dessa modalidade de ensino antes de
estudarmos o objeto citado, fizemos uma investigação sobre tal temática. Na leitura buscamos
estabelecer uma classificação diante da recorrência de temáticas: A - O processo de criação da UFS:
Oliva (1990) e Araújo (2008); B - Instituições educacionais de ensino superior, cursos de graduação e
disciplinas acadêmicas: Lima (1993); Barreto (2004); Nunes (2008b); Oliveira (2008); Conceição (2010);
Rollemberg e Santos (1999); Oliveira (2009); Santana (2000); C - Biografias de intelectuais que atuaram
diretamente na constituição do ensino superior sergipano: Morais (2008); Silveira (2008); Lima (2009); D
- Sobre os movimentos e universitários temos: Cruz (1998); Brito (1999); Ramos (2000); Cruz (2003).
Temos ainda o trabalho de Nascimento et. all. (2009). Os estudos arrolados demonstram certo interesse
dos pesquisadores por investigar essa temática, sobressaem-se os trabalhos vinculados ao Núcleo de
Pós-Graduação em Educação da UFS, os recortes temporais relacionados a década de 1960, período de
criação da UFS e a constatação que a muito por se pesquisar, principalmente relacionado as instituições
de ensino superior que não conseguiram êxito no início do século XX e mesmo das diferentes faculdades
que abrigavam o ensino superior antes de 1968. Além da necessidade de análises mais pontuais sobre
professores, disciplinas e os diferentes saberes transmitidos no ensino superior em Sergipe no último
século.

1016
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO EM PERSPECTIVA: COTIDIANO E PRÁTICAS ESCOLARES DO GRUPO ESCOLAR
DE IBIÁ (1932 A 1946)

SIRLENE CRISTINA SOUZA; ADILOUR NERY SOUTO.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA, IBIA - MG - BRASIL.

Este trabalho de pesquisa se insere na área de história da educação, subárea de história das instituições
escolares, e tem como objeto de estudo o Grupo Escolar de Ibiá, na cidade da região do Triângulo
Mineiro/Alto Paranaíba (MG). O recorte temporal abrange de 1932 — ano em que o primeiro grupo
escolar foi criado e instalado — a 1946 — ano em que essa instituição de ensino passou a denominar-se
Grupo Escolar Dom José Gaspar. Para o desenvolvimento da pesquisa realizamos um levantamento das
fontes primárias e secundárias. O processo metodológico fundamentou-se em documentos oficiais,
arquivo de particulares e fonte oral, por meio de entrevistas semi-estruturadas com dez ex-alunos do
grupo escolar para analisar a dinâmica da escola como um todo e chegar às representações construídas
e veiculadas na época. Paralelamente, foi sendo analisada a legislação nacional do ensino primário e os
regulamentos e programas estaduais do ensino primário, com base no desenvolvimento de um amplo
levantamento bibliográfico pertinente ao estado da arte acerca da história e da historiografia da
educação nacional. A documentação usada na pesquisa foi ampla, para que se pudessem reunir
elementos norteadores responsáveis pelo surgimento e pela consolidação do Grupo Escolar de Ibiá no
processo de desenvolvimento urbano-industrial por que passava o Brasil. Assim, contextualizando a

238
dinâmica interna do grupo escolar com o cenário socioeconômico, político e cultural do país e da região,
a pesquisa buscou as relações dialógicas entre o geral e o particular. Trabalhamos com o processo de
institucionalização dos grupos escolares e a política educacional do Estado, desvelando as origens
históricas e os traços da economia, da política e da sociedade ibiaense, por meio da investigação sobre o
papel do Estado na educação, o cotidiano escolar e o lugar/espaço da educação. Resultados
quantitativos e qualitativos obtidos na consulta das fontes primárias foram submetidos a análises
explicativas ancoradas no método dialético. Mediante a compreensão da complexidade da educação
escolarizada no Grupo Escolar de Ibiá e de suas práticas, buscamos compreender essa instituição de
ensino que se produziu historicamente implicada num processo de modernização e num estilo de
modernidade que se configurava no Brasil nesse período, mas sem, contudo, distinguir as práticas
escolares do lugar em que se deram as suas referências. Buscamos identificar a concepção educacional
inserida no cotidiano desse estabelecimento de ensino pelos diferentes sujeitos que atuaram nessa
escola, no período em apreço. Indagamos acerca das transformações socioeconômicas e insistimos no
entendimento das práticas escolares e dos aspectos diferenciados do cotidiano nas múltiplas
apropriações do espaço e do tempo escolar.

933
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO INFANTIL EM DOURADOS/MS: A REORIENTAÇÃO CURRICULAR E SUAS
CONTRIBUIÇÕES À PRÁTICA EDUCATIVA

ELIANA MARIA FERREIRA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS - UFGD, DOURADOS - MS - BRASIL.

O presente trabalho tem como objetivo apresentar um estudo de como se realizou o processo de
reorientação curricular no Centro de Educação Infantil “Frutos do Amanhã”, no município de
Dourados/MS partindo de uma proposta de educação popular pautada na teoria de Paulo Freire, bem
como o modo como foi implantada no cotidiano da instituição de educação infantil. Trata-se, portanto,
de uma pesquisa já concluida Desta forma, pretende-se pesquisar o processo de reorientação curricular
ocorrido no Centro de Educação Infantil Municipal/CEIM/ sob a administração política do período de
2001 a 2004. Apresentando ainda a formação continuada dos educadores. O ano de 2001 marca um
percurso profissional com crianças de 0 a 6 anos no centro de educação infantil, na ocasião vivenciei
inúmeras discussões acerca da criança e da infância, e da transição da educação infantil, antes sob a
custódia da secretaria municipal de assistência social para a secretaria de educação. Nesse sentido, o
foco da discussão pauta-se em um conjunto de fontes documentais como leis, relatórios, planos de
aulas, desenhos, filmes e fotografias utilizadas no período citado. No entanto, trata-se de uma pesquisa
já concluída. A relevância do estudo parte da idéia que a pesquisa histórica em educação aviva traços de
compreender o que se faz na instituição de educação infantil, pois o fazer na educação infantil se
constitui coletivamente pelos educadores refletindo a prática pedagógica. Nesta perspectiva, o
educador torna-se pesquisador investigando as relações sociais estabelecidas entre a instituição e a
família, entre crianças e educadores, entre as próprias crianças e demais profissionais que atuam no
espaço educativo. O trabalho com a reorientação curricular favorece a observação das brincadeiras das
crianças, das relações estabelecidas com os objetos, dos conhecimentos que possuem e são formulados
no cotidiano, tendo a fala e as manifestações das crianças e adultos como instrumentos essenciais de
análise que permite desencadear um processo de reflexão e estruturação do currículo. Tal metodologia
propicia selecionar falas e manifestações que sejam mais significativas, retirando o tema gerador do que
poderá ser trabalhado com as crianças. Tal tema gerador pode ser um reflexo dos problemas
apresentados pela comunidade e que podem ser problematizados entre adultos e crianças da
instituição. Conclui-se, então, que a criança precisa ser tomada como foco principal na condução das
nossas reflexões e estas devem partir de suas vozes e manifestações, respeitando assim as suas
especificidades e concepções ao ver, pensar e sentir o mundo a sua volta, contrapondo dessa forma, as
práticas educacionais abstraídas da realidade e direcionadas pelos adultos.

239
1033
HISTÓRIA DAS IDEIAS PEDAGÓGICAS: CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA HISTÓRICO-CULTURAL E DA
PEDAGOGIA HISTÓRICO-CRÍTICA PARA O ENSINO DE CRIANÇAS PEQUENAS
1 2
JANAINA CASSIANO SILVA ; MERILIN BALDAN .
1.UFSCAR, SÂO CARLOS - SP - BRASIL; 2.FCLAR/UNESP, ARARAQUARA - SP - BRASIL.

O presente trabalho apresenta o fruto das discussões das pesquisas concluídas e em andamento
investigadas por nós ao longo de nossa formação acadêmica, com financiamento da FAPESP. Desta
forma insere-se no campo da história das ideias pedagógicas de caráter teórico-bibliográfico, uma vez
que, têm por objetivo investigar as ideias Pedagógicas em Favor do Ensino de Crianças Pequenas,
especificamente, as contribuições da Psicologia Histórico-Cultural e da Pedagogia Histórico-Crítica. O
referencial teórico metodológico adotado para este ensaio tem como norte os passos desenvolvidos por
Saviani (2007): o princípio de caráter concreto (as relações dos aspectos da realidade investigada), a
perspectiva de longa duração (captação dos movimentos orgânicos/estruturais), o olhar analítico-
sintético (levantamento das fontes e análise das informações), a articulação entre o singular e o
universal (as relações de reciprocidade, determinação e subordinação entre a esfera local, nacional e
internacional) e, por último, a atualidade da pesquisa histórica (a necessidade intencional da
investigação histórica). A Psicologia Histórico-Cultural, por meio das teorias dos seus principais teóricos:
Vigotski, Leontiev, Elkonin e Davidov; proporcionar-nos a consciência da importância do processo
educativo como alavanca para o desenvolvimento do psiquismo humano desde a educação infantil à
idade escolar. A Pedagogia Histórico-Crítica, cujo expoente é Demerval Saviani, luta contra a
seletividade, a discriminação e o rebaixamento do ensino das camadas populares e, nesse sentido, luta
contra a marginalidade por meio da escola a fim de garantir um ensino de melhor qualidade as classes
espoliadas, fazendo a defesa da “educação escolar”. Dessa forma, pode-se compreender a defesa do
ensino e da educação escolar a partir da confluência das duas bases teóricas do materialismo histórico-
dialético, isto é, a psicologia histórico-cultural e a pedagogia histórico-crítica, como formas do pleno
desenvolvimento do gênero humano e, por conseguinte, da prática social. A visão de ensino defendida
por estas correntes teóricas perpassa o trabalho educativo como sendo o ato de produzir, direta e
intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente
pelo conjunto dos homens, sem, contudo, excluir o cuidar. Porém, este será trabalhado de forma
diferenciada, uma vez que o ensino também está presente no cuidado, sendo este a produção do
humano no próprio corpo da criança e sua relação com ele, passando, desta forma, pela alimentação,
pelo andar, movimentar-se, etc. Desta forma, fazemos apontamentos necessários para a constituição de
uma práxis pedagógica que atenda de forma indissociada o cuidar e o educar, ou seja, que defenda o
ato de ensinar às crianças de forma indistinta, a despeito de lutar contra a dualidade pedagógica na
sociedade contemporânea.

661
HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES DE EDUCAÇÃO INFANTIL NATALENSE

SARAH LIMA MENDES.


PREFEITURA, NATAL - RN - BRASIL.

Estudar a História das Instituições de Educação Infantil nos permite estabelecer relações com a história
da infância e da criança e compreender as concepções pedagógicas que fundamentam as propostas e
práticas educacionais direcionadas para as crianças de zero a seis anos de idade. Ao focar este conjunto
de temas temos a possibilidade de compreender parte da história mundial da Educação Infantil o qual
nos revela que tanto as creches, jardins de infância ou escolas maternais, constituíram-se como
instituições de cuidado e somente, posteriormente, como instituições de ensino. Partindo do
pressuposto de que para entender o presente é preciso conhecer o passado, buscamos realizar, neste
trabalho, uma reflexão sobre a trajetória das Instituições de Educação Infantil na cidade de Natal/Rio
Grande do Norte durante o século XX. O objetivo do trabalho é a reconstituição histórica de alguns
aspectos das instituições de Educação Infantil no Município de Natal ao longo do século XX. Para isso

240
pretendo realizar uma reflexão e, em certa medida, reconstituir, embora parcialmente, a História das
Instituições de Educação Infantil no Município de Natal/RN, no século XX, procurando compreender o
surgimento dos espaços destinados ao cuidado e a educação da criança pequena. Como procedimento
teórico-metodológico adoto o uso de pesquisa bibliográfica com ênfase em autores que se ocupam em
descrever e problematizar a História da Educação Infantil no Brasil e no Mundo, como Moysés
Kuhlmann Junior, que nos revela que a história da infância, da criança e da educação infantil é marcada
por diversas concepções e práticas ao longo do tempo. Já Oliveira (2005) define que durante muito
tempo a educação e o cuidado destinado às crianças eram de total responsabilidade das famílias, pois
era através das relações que estabeleciam no seu grupo que as mesmas iam adquirindo valores e
padrões sociais, entre outros. Também opto como procedimento teórico-metodológico a coleta de
dados empíricos para a reconstituição de dados históricos e o entendimento de como ocorreu à
fundação das primeiras instituições de educação infantil no município de Natal. Nesta perspectiva,
buscamos compreender a origem das instituições de educação infantil em tal município, sejam elas
educativas ou centradas em práticas de cuidado, e entender as concepções de infância, de criança e as
concepções pedagógicas que fundamentam tais instituições evidenciando pontos de articulação com a
história mundial das instituições de Educação Infantil.

1205
HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES: O CASO DE DOURADOS – MS - BRASIL
(1940-1970)

ANA PAULA GOMES MANCINI.


UFGD, DOURADOS - MS - BRASIL.

A pesquisa em história de instituições escolares se constitui num espaço de discussão muito profícuo e
tem demonstrado vitalidade cada vez maior, devido à necessidade presente de preservação da história
da educação com a qual estamos envolvidos social e cotidianamente. A escolha dessa temática se
constitui um estudo que contribua para a recuperação da história das instituições educacionais no
município de Dourados, situado no sul do Mato Grosso do Sul, Brasil. A escolha do período (1940-1970)
se justifica por este ser marcado por significativa renovação deflagrada pela ação pública na oferta do
ensino primário, que ganhou configuração nos anos 1940. A pesquisa é financiada pela Fundação de
Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia no Estado do Mato Grosso do Sul – FUNDECT
e tem como objetivo recuperar a história da educação e das instituições escolares no município de
Dourados, desde o período em que ainda pertencia ao antigo estado de Mato Grosso. A esfera
municipal criou, no início dessa década, a primeira escola municipal e ampliou sua atuação nos anos
subseqüentes. Até então, os dados nos mostram que as iniciativas educacionais na região eram quase
que na sua totalidade ligadas a grupos religiosos, escolas privadas de caráter confessional. Atualmente,
se por um lado temos a riqueza que pode representar um território ainda “virgem” onde muito ainda
está por fazer, por outro lado temos uma grande dificuldade enfrentada com relação à preservação das
fontes documentais, por vezes perdidas, incineradas, ou extraviadas. Muitos documentos que poderiam
contar a história acabaram desaparecendo das instituições, por desconhecimento de seu valor histórico
e de seu valor enquanto objetos de registro de um período que teve significado para a instituição. Nas
instituições públicas foi possível observar que a falta de preservação está ligada à rotatividade de
funcionários, provocada pelas mudanças de governo, pois a cada mudança empreendida as equipes que
assumem têm práticas e formas diferenciadas de tratar o passado, ora com ações de valorização, ora
com descaso, e isso provoca a deterioração e a perda de referências que poderiam ser preservadas Esta
pesquisa deu origem ao grupo de Estudos e Pesquisas em História da Educação, Memória e Sociedade –
GEPHEMES e ao Núcleo de Estudos Interdisciplinares em História da Educação e Instituições Escolares
da Faculdade de Educação e vem subsidiando novas pesquisas nesta área. Nesse sentido esta pesquisa
ainda em andamento tem gerado novos frutos e inúmeras pesquisas na área de história das instiuições
escolares na região do sul do Mato Grosso do Sul.

241
962
HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES EDUCACIONAIS: O COTIDIANO DO COLÉGIO CANADÁ ENTRE OS ANOS DE
1964-1979

JOSÉ ESTEVES EVAGELIDIS.


UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SANTOS - UNISANTOS, SANTOS - SP - BRASIL.

A pesquisa está em andamento e tem como tema o cotidiano escolar do Colégio Canadá, de Santos,
durante a época da ditadura militar no Brasil. O objetivo do estudo é reconstituir e analisar a memória
do referido educandário, localizado na cidade de Santos (SP), entre os anos de 1964 a 1979, buscando
identificar as implicações do golpe militar no cotidiano escolar daquela Instituição, através da análise de
documentos encontrados nos arquivos da “polícia política” do estado de São Paulo. A pesquisa será de
natureza documental, descritiva e analítica, de caráter qualitativo. Os sujeitos envolvidos no estudo são
ex-alunos, ex-professores e ex-funcionários que freqüentaram o colégio durante os anos especificados.
Para o levantamento dos dados, o pesquisador se valerá de arquivos documentais do antigo
Departamento Estadual de Ordem Política e Social (DEOPS) de São Paulo. Diário de campo e roteiro de
entrevistas serão os instrumentos de pesquisa, privilegiando a técnica de entrevista, com base na
metodologia da História Oral. A opção pelo objeto de investigação, circunscrito ao Colégio Canadá, se
justifica pela história do próprio estabelecimento de ensino. Neste sentido, evidencia-se que a citada
Instituição Escolar foi criada por decreto em agosto do ano de 1934, passando a funcionar no mês de
fevereiro de 1935, em local provisório, sendo o primeiro ginásio estadual de Santos, assim como dos
demais municípios do litoral sul de São Paulo. Por iniciativa da Prefeitura Municipal de Santos, foi
construída a sua sede própria e inaugurada oficialmente em 28 de agosto de 1937, em terreno doado
pela companhia canadense The City Improvement Company LTD of Santos, concessionária de serviços
de água, luz e bondes da cidade. O nome “Colégio Canadá” é, portanto, resultado desse processo, uma
vez que anteriormente se chamava "Gymnasio do Estado". Durante décadas essa Instituição Escolar se
destacou pela qualidade de ensino tanto em Santos quanto na região da Baixada Santista. A
periodização que baliza a pesquisa (1964-1979) contempla o contexto histórico em que se insere o golpe
militar de 1964 e o início do processo de abertura política, em 1979. Com enfoque da dialética
materialista histórica, o presente trabalho de investigação busca fundamentação teórica em: Bosi
(1999), Thompson (1992), Romanelli (1978), Fazenda (1988) e Frigotto (1989). A escolha desses autores
se justifica pela característica do trabalho, que visa reconstituir determinado período da história de uma
instituição escolar durante a ditadura militar, por meio da análise documental e das memórias dos
atores envolvidos neste enredo. Palavras-chave: Educação, História, Arquivos Documentais.

669
HISTÓRIA DAS PRÁTICAS CORPORAIS NO CENTRO DO BRASIL: O CORPO ENTRE A CIDADE E O SERTÃO

RUBIA-MAR NUNES PINTO.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS, GOIANIA - GO - BRASIL.

Trata-se da pesquisa em andamento Educação e cultura na história das práticas corporais em Goiânia
(1935-2005): o corpo entre a cidade e o sertão, a qual tem como principais objetivos: 1) investigar os
sentidos constituídos para o corpo na história e na cultura de Goiânia em sua relação com o projeto de
integração nacional e; 2) compreender as articulações entre a cultura urbana, a cultura escolar e a
cultura corporal na cidade-capital goiana. A pesquisa tem sido efetivada pelo Grupo de pesquisa,
estudos e trabalhoem história do corpo em Goiânia (HISCORPO) e desenvolve-se sob o enfoque da
historia social, a qual possibilita o estabelecimento de interfaces com outros enfoques da história e,
assim, oportuniza a compreensão dos vínculos entre o corpo e outras dimensões da história e da cultura
goianiense. Tais vinculações são essenciais, principalmente, considerando a complexidade do processo
de modernização do corpo na sociedade goiana desencadeado com o surgimento da nova cidade-capital
goiana nos anos 1930 e 1940. A metodologia de pesquisa utiliza a perspectiva micro-histórica que é
entendida tambémcomo reflexão sobre os procedimentos usados pelos historiadores em suas pesquisas
e nãomeramente como a história de objetos reduzidos. Como inspiração para a interpretação das

242
informações, cogitamos a análise de discurso em sua acepção francesa, mas na apropriação de Eni
Orlandi. A gama de fontes de pesquisa é bastante abrangente compondo-se de fotografias, desenhos,
mapas, filmes, documentos oficiais, cartas, diários, súmulas, receitas alimentares, poemas, romances,
relatórios, jornais, revistas e livros didáticos, relatos e narrativas orais além de fontes originárias do
universo da cultura material (adornos e vestuário, equipamentos esportivos e de lazer, material
esportivo e de arbitragem, etc.). A investigação vem se efetivando por meio de vários estudos
monográficos que abordam temas articulados ao objeto de estudo definidos prioritariamente pela
existência de fontes disponíveis. Neste sentido, no ano de 2010 estão sendo realizados os seguintes
estudos: 1- infância em Goiânia por volta de 1940: práticas lúdicas e educação do corpo na Cidade-
Sertão; 2 – Memórias do corpo: homens e mulheres na cena urbana de Goiânia (1935-1965); 3 – História
e memória da pipa: usos e contra-usos da cidade na cultura corporal das crianças de Goiânia; 4 – O
esporte e a escola na cena da Cidade-Sertão (1983-1994): Uma década de Olimpíadas/UFG. Os
resultados parciais destes estudos têm confirmado a hipótese de que a construção social do corpo na
cidade-capital goiana contempla a tensão entre tradição e modernidade.

958
HISTÓRIA E MEMÓRIA DA FORMAÇÃO PEDAGÓGICA DO LICENCIADO EM HISTÓRIA (1970-1980)

LIA MACHADO FIUZA FIALHO.


UFC, FORTALEZA - CE - BRASIL.

HISTÓRIA E MEMÓRIA DA FORMAÇÃO PEDAGÓGICA DO LICENCIADO EM HISTÓRIA (1970-1980). Lia


Machado Fiuza Fialho Universidade Federal do Ceará – UFC lia_fialho@yahoo.com.br Eixo temático: 2-
História das Instituições e Práticas Educativas O Curso de História da UFC foi instituído pela lei 3.866 de
25/01/1961; a Licenciatura em História, entretanto, só teve início em 1972. Durante 21 anos (1972-
1993), o Curso de História integrou, em conjunto com o curso de Ciências Sociais e o de Filosofia, o
Departamento de Ciências Sociais e Filosofia. O estudo investiga a primeira década após a criação do
curso de licenciatura em história, quando ainda era regido pela Lei 5.540/68. A reforma universitária,
implantada pelo governo militar em 1968, e vivenciada por toda década de 1970, é considerada um
grande marco nas histórias das universidades brasileiras, pois objetivava modernizar a universidade para
um projeto econômico em desenvolvimento, dentro das condições de “segurança” impostas pela
ditadura para assegurar os interesses do capital que a representava (CARVALHO, 2005; CRUZ, 200;
SHIROMA, 2002). Cumpre ressaltar que esta investigação procura analisar a formação pedagógica do
licenciado em história pela Universidade Federal do Ceará na década de 70. Para contemplar esse
objetivo geral, realizaram-se os seguintes objetivos específicos: debate acerca do conceito de formação
pedagógica, bem como sua “necessidade” na práxis do historiador; investigação do contexto político e
econômico que influenciou a profissionalização dos licenciados em história na década de 70; e evocação
da memória dos licenciados em história mediante relato de experiência. A pesquisa apresenta
abordagem de natureza qualitativa que utiliza o caminho metodológico da história oral temática,
gravadas e transcritas, possibilitando a recuperação da narração e a (re)construção de memórias que
estimulam análises e discussões sobre situações individuais e coletivas, compreendidas a partir do
contexto social (Mesquita & Fonseca, 2006; Thompson, 1992). Os dados foram coletados em
setembro de 2010, mediante participação de cinco historiadores que vivenciaram a formação no
período em estudo. Os resultados evidenciam que a transmissão de conhecimentos era apresentada aos
alunos como verdades absolutas, e a desvalorização do saber discente era uma característica padrão,
gerada pela rígida hierarquia, na qual o professor figurava como detentor de todas as informações. Além
disso, era promovida uma visão limitada de conhecimento, favorecendo a formação de mentes passivas,
meros depósitos de fatos e informações fragmentadas. (CRUZ, 2001). Logo, era inviável para aquela
conjuntura uma transvaloração dos aspectos políticos, econômicos e sociais, isto é, a produção de outra
potência, que desconstruísse as verdades absolutas impostas pelo poder. Palavras-chave: formação
pedagógica; historiador; ditadura militar.

243
796
HISTÓRIA E MEMÓRIA DA INSTITUIÇÃO ESCOLAR - MARINGÁ (1946-1953)

EDNÉIA REGINA ROSSI.


UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ, MARINGÁ - PR - BRASIL.

Tem crescido o número de pesquisas realizadas pela historiografia da educação que tem investigado o
processo de institucionalização da escola primária no Brasil, buscando evidenciar de que maneira a
escola tornou-se o espaço por excelência de formação e de transmissão do saber. Ao longo dos últimos
anos, minha preocupação tem se voltado para a discussão do universo interno da escola, dos diferentes
planos e identidades culturais. Desse interesse surge a proposta de, a partir do cotidiano da escola
maringaense, trabalhar no plano de recuperação da memória da educação local e da cultura escolar.
Delimitou-se, assim, como objeto de investigação a “Casa Escola”, fundada em 1946, no município de
Maringá, no Estado do Paraná. As fontes que amparam esta pesquisa são os documentos institucionais e
as entrevistas produzidas no percurso da investigação. Os encaminhamentos metodológicos se
amparam em categorias de análises construídas no corpus teórico de intelectuais que tratam de temas
que giram em torno da cultura escolar, da identificação de estratégias e de táticas de manipulações
sociais e educacionais e de teóricos da História Oral. Dentre os resultados destacamos a sua
contribuição para a construção da memória da educação de Maringá. Como primeira escola pública da
cidade, narrar a sua história é buscar retirar do esquecimento a trajetória da educação local,
redimensionando-a diante do mundo e integrando-a ao todo da memória nacional. A análise da
trajetória da “Casa Escola” permite observar as mudanças operadas na organização espacial da
instituição escolar de ensino elementar. O estudo dessa instituição possibilitou examinar como ocorreu
a institucionalização local da escola, feita, às vezes, de forma controvertida no âmbito da aventura que
abria e fechava perspectivas de encontro entre humanidades e mundos diversos. A homogeneização
cultural buscada pela escola se deparou com outras identidades culturais locais, outros valores que
tencionavam essas intenções. Por outro lado, os profissionais da educação da “Casa Escola” operaram
modificações naquilo que lhes era solicitado. Os alunos, por sua vez, levaram para a escola a sua cultura,
desafiando e produzindo novas práticas no interior da escola. A investigação sugere uma compreensão
de escola como produtora, priorizando a ação dos sujeitos envolvidos nela, suas capacidades inventivas
de adaptação e de remodelação. Esta pesquisa se encaminhou na direção oposta àquelas que
identificam a escola como mero espaço de recepção das finalidades sociais e se aproximou daquelas que
entendem a escola como lugar de produção autônoma de conhecimento.

876
HISTÓRIA E PRÁTICA PEDAGÓGICA NO GRUPO ESCOLAR FREI MIGUELINHO NATAL/RN (1912-1920)

AMANDA THAISE EMERENCIANO PINTO PESSOA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE, NATAL - RN - BRASIL.

Com o objetivo de contribuir para a historiografia da educação no Brasil, especialmente no Rio Grande
do Norte, a Base de Pesquisa Gênero e Práticas Culturais coordenada pela professora Maria Arisnete
Câmara de Morais (UFRN) desenvolveu um Projeto destinado ao estudo das instituições escolares,
professores e professoras que se destacaram no cenário educacional da época. Como parte desse
projeto, este trabalho que se encontra em uma pesquisa em andamento, estuda a história do Grupo
Escolar Frei Miguelinho (segunda instituição pública do gênero) no período compreendido entre 1912 à
década de 1920. A metodologia utilizada para o desenvolvimento desse estudo foi à pesquisa
bibliográfica fundamentada em documentos encontrados no acervo do Instituto Histórico e Geográfico
do Rio Grande do Norte, no Arquivo Público do Estado, Biblioteca Central Zila Mamede e Escola Estadual
Padre Miguelinho. Após a edificação do primeiro Grupo Escolar em 12 de junho de 1908 na Cidade de
Natal/RN, o qual recebeu o nome de Grupo Escolar Augusto Severo, demais instituições do gênero
foram se disseminando pelo Estado, principalmente pelo interior. Na capital a segunda instituição só foi
criada em 1912 com o decreto 277-B em 28 de novembro, declarando que a referida instituição
compreenderia três escolas, duas elementares, uma para cada sexo e uma mista infantil. Recebeu o

244
nome de Frei Miguelinho em homenagem a Miguel Joaquim de Almeida Castro, mártir da Revolução
Pernambucana de 1817. Sua fundação aconteceu em 21 de abril de 1913 no bairro do Alecrim. As aulas
no Frei Miguelinho iniciavam-se às 10 horas e terminavam às 14 horas. As disciplinas lecionadas eram
Língua Materna, Aritmética, Desenho Geométrico, História Pátria, Canto, Estudos Físicos, Geografia,
Moral e Civismo. Para Diretor do Grupo foi nomeado o Professor Luís Soares Correia de Araújo, formado
pela primeira turma da Escola Normal de Natal em 1910. O referido Professor era reconhecido pelos
seus colegas de trabalho por ser um “educador nato”, preocupado não somente com o ensino do a.b.c,
mais também com o desenvolvimento do caráter de seus alunos. Sendo assim em 1917 fundou o Grupo
de Escoteiros do Alecrim, no qual, pregava o ensino de habilidades físicas, espirituais, intelectuais,
sociais e afetivas. Dessa maneira, esse estudo buscou discorrer um pouco da história da instituição, seu
cotidiano, professores, o funcionamento além da sala de aula, e os conteúdos ensinados aos seus
alunos, favorecendo assim uma melhor compreensão do processo historiográfico da educação no Rio
Grande do Norte.

1249
HISTÓRIA, POLÍTICA E EDUCAÇÃO FÍSICA: LAR DE IDOSOS NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO (SAME),
ARACAJU/SE

MARCEL ALVES FRANCO; HAMILCAR SILVEIRA DANTAS JÚNIOR.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE, ARACAJU - SE - BRASIL.

O objetivo deste trabalho foi realizar um estudo genealógico sobre a política de controle da saúde
pública utilizada para a criação do SAME (Serviço de Assistência à Mendicância), levantando questões
sobre a organização, os fatores sociais e culturais que influenciaram nesse projeto, bem como
aprofundando-se em conceitos biológicos e sócio-culturais encontrados no senso comum e na ciência e
que foram utilizados na tentativa de definir o que é ser idoso. Para sua construção foram tomados os
seguintes eixos: fatores históricos e a influência do Estado na organização da sociedade; o surgimento
do SAME; sobre a terceira idade e os conceitos biológicos e sociais que impregnam a definição do que é
ser idoso; e um ensaio sobre a Educação Física, práticas e rotinas corporais. Pensando no momento
histórico da época analisou-se o surgimento do SAME – Lar de Idosos Nossa Senhora da Conceição em
1949, inaugurado enquanto Serviço de Assistência à Mendicância. Sua importância se dava na
organização social e nos hábitos que degeneravam tanto a estética da localidade quanto a saúde. Dessa
forma, o trabalho busca estabelecer ligação, de forma indireta, com a questão do poder, suspensão de
direitos, organização e interesse, para que, tomando-a como referência, possamos perceber um dos
princípios para se organizar a sociedade de maneira que haja estruturação entre as diferentes camadas
populares, isolando e mantendo-as sob controle. Nesse sentido, a partir de bases teóricas foucaultianas,
confirmar a necessidade de um modelo educacional (higienista) vinculado à preocupação com a questão
da salubridade para além da educação. No âmbito da Educação Física foram realizados debates e
reflexões acerca da terceira idade: surgimento dos asilos, envelhecimento, estereótipos, direitos e
deveres da sociedade quanto ao idoso, discutindo sobre o campo de atuação da Educação Física, suas
possibilidades, alternativas e idéias em meio as intervenções, estabelecendo nexos com a estrutura
física da instituição (horta, espaço para eventos, etc.). O levantamento histórico trabalhado,
conjuntamente com a Educação Física, intentou apresentar as incidências sobre o corpo do idoso,
buscando apontar as explicações para determinadas causas e consequências no seu desenvolvimento
através das relações, principalmente, entre Poder e sujeito, nos permitindo pensar o Homem enquanto
sujeito participante nesse importante processo de construção cultural e social, enquanto um ser
individual e coletivo, carregando consigo um arcabouço rico em história e conhecimento.

245
1124
HISTÓRIAS DE VIDA DE PROFESSORAS DE CLASSES MULTISSERIADAS: CONCEPÇÕES DE TEMPOS E
RITMOS EM TERRITÓRIOS RURAIS
1 2
ELIZEU CLEMENTINO DE SOUZA ; ANA SUELI TEIXEIRA DE PINHO .
1.UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB), SALVADOR - BA - BRASIL; 2.UNEB, SALVADOR - BA -
BRASIL.

A noção de tempo escolar foi concebida historicamente com base em uma lógica urbana, que nem
sempre encontra relação com a realidade dos educandos e professores que vivem, estudam e trabalham
em escolas situadas em espaços rurais, como é o caso da Ilha de Maré, Salvador-Ba. A apreensão efetiva
da categoria conceitual do tempo poderá contribuir para a definição de um currículo, das escolas que
mantém classes multisseriadas, que seja capaz de produzir e operar com uma noção de tempo própria
das características da população que atende. Assim, neste estudo, os tempos e ritmos nas classes
multisseriadas são considerados na sua subjetividade e não a partir de uma lógica exógena às
capacidades de produção da vida das crianças, homens e mulheres que habitam a Ilha de Maré. Tendo
em vista apreender, nas histórias de vida das professoras, modos de lidarem com os tempos e ritmos
nas classes multisseriadas, o trabalho organiza-se em torno de dois objetivos. O primeiro é discutir a
configuração sócio-histórica e pedagógica das classes multisseriadas no contexto educacional brasileiro,
assumindo como recorte temporal o período que vai desde sua instalação no império até o seu
desenvolvimento atual frente às políticas contemporâneas sobre educação do campo, a partir do
confronto com as diversas ruralidades que constituem o território brasileiro e, mais especificamente, o
baiano. O segundo busca apreender os modos de construção dos tempos e ritmos nas classes
multisseriadas, a partir do entrecruzamento de narrativas de professoras que nelas atuam. O estudo
situa-se na vertente da pesquisa qualitativa, adota como método a abordagem biográfica, toma como
espaço empírico escolas multisseriadas da Ilha de Maré/Salvador-Ba e como sujeitos da pesquisa
professoras que atuam nas classes multisseriadas. Narrativas orais e dados do censo escolar configuram-
se como fontes da pesquisa, os quais possibilitam por um lado, conhecer como o social se personifica
nos sujeitos, como a dinâmica social pode ser retratada nas vidas singulares cotidianas e manifestas no
espaço escolar e por outro, relacionar os dados estatísticos com a realidade concreta. A partir desta
compreensão, podemos admitir que a narrativa é uma forma de estruturação da vida e que a correlação
entre a atividade de contar uma história e o caráter temporal da experiência humana, não é acidental,
mas uma necessidade “transcultural”. Nesse sentido, o tempo cronológico se articula com o tempo
lingüístico, este entendido não como uma manifestação individual e sim intersubjetiva. O estudo das
histórias de vida das professoras pode evidenciar modos próprios construídos, cotidianamente, no
espaço escolar de classes multisseriadas em torno dos tempos e ritmos, aqui concebidos, como
conceitos plurais, heterogêneos, múltiplos, complexos e subjetivos, uma vez que apreender as
concepções de tempo nas classes multisseriadas significa entender como esse conceito foi
historicamente construído no âmbito das práticas educativas.

805
INCREMENTAR A GINÁSTICA RACIONAL EM TODO O ESTADO:A ESCOLA DE EDUCAÇÃO FÍSICA E
DESPORTOS DO PARANÁ (1939-1956)

VERA LUIZA MORO.


UFPR/UFMG, CURITIBA - PR - BRASIL.

O estudo em questão apresenta os resultados parciais do projeto de doutoramento, que tem como
objetivo analisar a constituição da Escola de Educação Física e Desportos do Paraná e seu projeto de
Educação Física para formação de professores, na dinâmica da cidade de Curitiba, em fins da década de
30. O recorte temporal do estudo fixado entre 1939-1956 compreende o momento da primeira
fundação da Escola até sua estadualização, quando ocorreram mudanças significativas na organização
da mesma. A Escola de Educação Física e Desportos do Paraná foi criada em regime particular por
Francisco Mateus Albizú, pedagogo, professor da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Paraná e

246
inspetor de educação física no Estado, condição bastante peculiar, ao considerarmos a centralidade que
ocupavam médicos e militares na constituição das escolas de educação física, na época. Em 1940 a
Escola obteve o reconhecimento sem ônus do governo do Estado, mas sem conseguir o reconhecimento
do Governo Federal, acabou fechando suas portas no mesmo ano. Em julho de 1942, recebeu
autorização para funcionamento já sob os moldes do Decreto-Lei n.1212, que criava, na Universidade do
Brasil, a Escola Nacional de Educação Física e Desportos, com a finalidade de imprimir unidade teórica e
prática ao ensino da educação física e dos desportos em todo o país. Com o discurso de incrementar a
ginástica racional no Estado do Paraná, a Escola dá início, em 1943, ao seu primeiro ano letivo, com a
oferta de dois cursos: o Normal e o Superior de Educação Física, tornando-se assim a primeira
instituição para formação de professores especializados em Educação Física no Estado do Paraná.
Apoiado em pesquisadores da história das instituições escolares, como Magalhães, Gatti Jr e Buffa, o
estudo aponta para a superação das abordagens meramente descritivas dos espaços físicos, das funções
e dos sujeitos, procurando conferir um sentido histórico à instituição estudada, privilegiando categorias
de análise como espaço, tempo, currículo, modelo pedagógico, professores e público. Nesse texto será
apresentado o relato do itinerártio da investigação até o momento, desde os primeiros envolvimentos
com a temática, buscando dar visibilidade às fontes trabalhadas no cotidiano da pesquisa, aos indícios
da maneira como vão se institucionalizando tempos, espaços e práticas, e ao movimento realizado pelos
sujeitos envolvidos com o cotidiano da Escola, uma vez que as fontes indiciam uma circulação desses
sujeitos, que se deslocavam de seu local de origem para realizar cursos em outras instituições no Brasil
ou ainda estágios de formação no exterior.

378
INFÂNCIAS ESCRITAS: O JORNAL "A VOZ DA ESCOLA"(1936-1938)

MARIA HELENA CAMARA BASTOS; TATIANE DE FREITAS ERMEL.


PUCRS, PORTO ALEGRE - RS - BRASIL.

O estudo analisa os escritos dos alunos do ensino primário do Colégio Elementar Souza Lobo (1913)
publicados no jornal “A Voz da Escola” (1936-1938), como prática de formação pessoal, cívica e
religiosa, de aprendizagem da moral e/ou da civilidade. Busca analisar os discursos veiculados, que
expressam práticas curriculares do cotidiano escolar e suas influências nos modos como os autores
alunos pensavam, agiam e se expressavam nos espaços de construção de suas identidades. O periódico
é tomado como lócus privilegiado para adentrarmos no cotidiano de uma escola primária, da década de
1930, isto é, “o universo escolar e toda uma rede paralela de significações”. Entre as instituições
complementares à escola, estimuladas pelos protagonistas da escola nova, destaca-se o jornal escolar.
Os impressos de estudantes, em diferentes níveis de ensino, são documentos importantes para analisar
a cultura escolar. A pesquisa insere-se nas práticas de escritas escolares e infantis, especialmente na
interface da História da Educação e da História da Cultura Escrita, que analisa a produção, difusão,
conservação e o uso dos objetos escritos, em suas várias modalidades. O jornal “A Voz da Escola” (jornal
mensal e/ou bimensal) era responsabilidade dos alunos do 6º ano. É impresso em tamanho tablóide,
com 4 ou 8 páginas, muita propaganda, algumas ilustrações na capa decorrente das aulas de desenho,
fotos de turma de alunos. Com tiragem de 500 exemplares, era vendido ao preço de 200 réis. Os textos
são histórias produzidas pelos alunos, identificados pelo nome completo e a série a que pertencem. As
contribuições decorrem de trabalhos em diferentes disciplinas, mas as mais frequentes são Português e
História. Também aparecem poemas, pensamentos, adivinhações, enigmas, anedotas;
correspondências, recebidas ou enviadas, por alunos; autobiografias, listas de nomes com as notas dos
melhores alunos em avaliações parciais, nos exames, no final de ano; notas sociais e promoção de
sorteios. O jornal “A Voz da escola” reflete a importância que a formação moral e cívica se apresentava
na escola primária, contemplando o cultivo dos sentimentos e hábitos de conduta individual e social; de
respeito e tolerância; de generosidade e ajuda mútua; de disciplina e amor ao trabalho; de amor à
Pátria. Essa pedagogia patriótica acredita que a idéia de nação se aprende na família e nos bancos da
escola pública A fé na escola como a única tradução humanista da nação se apóia sobre dois pilares,
mais ideais que reais - a família e o Estado. É uma moral válida para todos, que exalta o sacrifício e o
trabalho, o respeito à hierarquia social e à fraternidade humana. A exaltação do valor patriótico e social,

247
a abundância de bons sentimentos, o espírito humanitário de viés paternalista, faz com que o ensino
moral e cívico desperte sentimentos ideais para uma sociedade idealizada. A intenção é de exaltação do
progresso e a necessidade de ordem.

1173
INSTITUIÇÕES ESCOLARES E PRÁTICAS EDUCATIVAS: ANÁLISE DO CURRÍCULO NA ESCOLA VILA ZILDA
NATEL NOS ANOS DE 1980-1991

CÉLIA MARIA SIQUEIRA GOMES.


UNISANTOS, SANTOS - SP - BRASIL.

O presente tema privilegia o currículo de uma escola pública estadual, no município de Guarujá, em São
Paulo, entre os anos de 1980 a 1991. A sua periodização se justifica em função da fundação da Escola
Vila Zilda Natel, no bairro de mesmo nome, no ano de 1980 passando em 1991 a se chamar Escola
Estadual Milton Borges Ypiranga. A escolha do tema se deu pelo fato da pesquisadora ser professora
efetiva da disciplina de Arte, desde 2005, nesta mesma Escola, com experiência profissional tanto na
gestão quanto na docência; Logo, o currículo da referida instituição escolar é objeto deste estudo.Do
ponto de vista metodológico pesquisa é de natureza histórica, descritiva e qualitativa, valorizando
entretanto, as fontes documentais e iconográficas, além de informações extraídas de entrevistas semi-
estruturadas com a diretora; a professora de arte; o inspetor de alunos e a merendeira. Para o seu
desenvolvimento foi necessário conhecer e compreender a história daquele estabelecimento de ensino,
recorrendo à reconstituição da sua memória, por intermédio de acontecimentos que revelaram
aspectos da sua construção, bem como, da sua realidade administrativa e pedagógica, envolvendo a
relação entre docentes, discentes e os funcionários. Para tanto,Gatti Júnior (2002) explica que
reconstituir historicamente as instituições escolares é conhecer o relacionamento do indivíduo com a
família, classe social, escola, igreja e demais grupos.Reconstituir um passado, com base nas lembranças
de pessoas que, de fato vivenciaram esse tempo, representa resultado de um encontro, no qual as
experiências de uma geração anterior são evocadas e repassadas para outra geração, dando
continuidade ao fio da história.Nesta direção, Buffa (2002) recomenda a descrição do processo de
instalação da escola, caracterização do seu espaço físico, conteúdos curriculares, legislação e normas,
pois este percurso metodológico nos permite dar significado ao objeto que está sendo estudado.
Contudo, a pesquisa recorreu às produções de Bosi (1999), Buffa (2002), Gatti Júnior (2002), Mazzilli
(2009), Saviani (2007), Thompson (1992) e Zotti (2004); Reconstituir e descrever a história da Escola Vila
Zilda Natel, compreendendo a sua organização física e administrativa, visando uma análise das práticas
educativas que foram instaladas no âmbito escolar são propósitos desta investigação que se encontra
em andamento desde agosto de 2009 e integra o texto do Relatório de Pesquisa (dissertação) a ser
qualificado em dezembro do corrente ano, para a sua posterior defesa, como exigência do Curso de
Mestrado do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação da Universidade Católica de
Santos (UNISANTOS).

639
INVENTAR A VIDA E CRIAR ALTERNATIVAS DE FORMAÇÃO:ALGUÉM SABE QUEM É BELINA FACION?

MICHELE LONGATTI FERNANDES.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL-REI, SAO JOAO DEL REI - MG - BRASIL.

Este trabalho investigou a trajetória de Belina Facion, uma líder comunitária da periferia da cidade de
São João del-Rei – MG. Belina tem se destacado em sua comunidade há vários anos pela atuação em
movimentos da Igreja Católica, dentre os quais a Sociedade São Vicente de Paulo. Nascida em 1923, em
uma família de origem humilde, a descendente de italianos teve poucas oportunidades de realizar o
sonho de se tornar professora, pois estudou apenas até a terceira série do ensino fundamental.
Contudo, aprendeu a fazer trabalhos manuais num pequeno Liceu da cidade e passou a ensinar o pouco
que sabia dentro da comunidade. A partir de sua própria experiência, Belina adquiriu conhecimentos

248
que lhe permitiram atuar em sua comunidade, auxiliando, por meio de cursos de formação, trabalhos
voluntários e outros incentivos, famílias carentes a adquirirem valores materiais, como a casa própria, e,
sobretudo, valores sociais como a aquisição da cidadania. Desse modo, Belina estabeleceu o que Gomes
(1993) denomina rede de sociabilidade, possibilitando interações sociais de estirpes variadas.
Constituindo-se como autodidata de formação (HÈBRARD, 1996), a líder comunitária desempenhou um
papel de figura de proa (ELIAS, 1995) em seu meio social. A pesquisa, já concluída, enfocou o modo
como uma mulher “comum” adquiriu notoriedade e relevância em seu meio social utilizando-se de
estratégias variadas para exercer, ao mesmo tempo, os papéis de mãe, esposa e líder comunitária.
Fundamentado na metodologia da História de Vida, o trabalho se pautou na constituição da memória
através de entrevistas gravadas com a “personagem” estudada, bem como da análise de documentos
pessoais e oficiais que possibilitaram o preenchimento de lacunas da memória e a compreensão de
fatos sociais mais amplos. A trajetória singular de Belina suscita a percepção de como os sujeitos atuam
na esfera social em processos nos quais influenciam e sofrem influências, em um movimento bilateral
em que o sujeito simultaneamente modifica o mundo a sua volta e é socialmente construído no seio das
relações interativas que estabelece. A partir da ótica da produção de si, o sujeito particular ganha
destaque dentro das pesquisas em história da educação, na medida em que deixa de ser “simples” para
tornar-se “singular”. Os resultados obtidos evidenciaram que, no caso estudado, a formação se deu
dentro da comunidade e a escolarização teve um papel secundário na construção de uma trajetória
pessoal.

751
INVENTÁRIO HISTORIOGRÁFICO FRENTE À CRIAÇÃO DO ENSINO AGRÍCOLA NO BRASIL E O
APRENDIZADO AGRÍCOLA DE BARBACENA, MG (1812-1910)

MARLI DE SOUZA SARAIVA CIMINO.


UERJ, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL.

Constitui objeto desta pesquisa a criação da escola Aprendizado Agrícola de Barbacena, MG, em 1910,
considerando suas contingências políticas, sociais e econômicas, tomando como referência a trajetória
do ensino agrícola no Brasil, que teve seu início em 1812. O Estado imperial, em seu papel de agente
transformador, remontou-se aos projetos de D. João VI que via a agricultura como a mais inexaurível
fonte de abundância e de riqueza nacional pela fertilidade e extensão dos campos do Brasil – sob esse
olhar, o Imperador sancionou o primeiro ato legislativo sobre ensino agrícola no Brasil, apresentado pela
Carta Régia de 23 de junho de 1812, dirigida ao Conde dos Arcos. A partir daí, criam-se as escolas ou
cadeiras de agricultura e os Institutos Imperiais de Agricultura. Para que houvesse, em cada província,
uma colônia orfanológica de escola primária, agrícola e profissional, o Estado subvencionou, pelos cofres
provinciais, verbas para tal objetivo. Indiferente de seu papel na riqueza pública do Brasil, o ensino
agrícola não obteve o devido valor tanto pela permanência da grande propriedade, quanto pela
execução do trabalho rural por homens privados de sua liberdade. Em relação à indústria, os Liceus de
Artes e Ofícios, iniciados em 1874, ofereceram instrução profissional, educando, pelo trabalho, os
desvalidos da fortuna. A primeira república viu nascer as Escolas de Aprendizes e Artífices, em 1909,
precursoras das Escolas Técnicas Federais, incrementando a formação profissional, de nível médio, no
Brasil. Nessa conjuntura, foi criada a Escola de Aprendizado Agrícola de Barbacena, MG, fundada em
1910 e subordinada ao Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio, ambicionando recolher das ruas
órfãos, desempregados e filhos de agricultores da região, ensinando-lhes ofícios, em regime de
internato. A educação profissional fica, então, marcada por uma dualidade: as escolas profissionais para
os miseráveis e desocupados, e para a elite, o ensino primário, propedêutico, complementado com
o ensino superior. Interessou-nos investigar as razões pelas quais essa escola agrícola inaugurou a série
de escolas federais em Minas Gerais, assim como quais seriam as intenções e os interesses políticos
envolvidos em seu projeto de criação; qual a malha social que procurou alcançar e arrebanhar e os fins
efetivamente atingidos. Para respaldar a investigação, analisamos as correspondências trocadas entre
os presidentes provinciais e os ministros da pasta; relatórios da província de Minas Gerais ligados à
educação; debates legislativos mineiros acerca da questão; decretos; leis e a bibliografia pertinente ao
inventário historiográfico.

249
1116
JOSÉ ALOÍSIO DE CAMPOS: ASPECTOS DE UMA TRAJETÓRIA (1943-1986)

PATRÍCIA FRANCISCA DE MATOS SANTOS.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE, ARACAJU - SE - BRASIL.

O objetivo desse artigo é o de analisar aspectos da trajetória do reitor/administrador e professor José


Aloísio de Campos (1914-1986), destacando suas contribuições no campo educacional no âmbito da
sociedade sergipana. O referido Reitor tem seu nome ligado à implantação do Campus da UFS -
Universidade Federal de Sergipe, instituída pelo Governo da União nos termos do Decreto-Lei n. 296, de
28 de fevereiro de 1967 e instalada em 15 de maio de 1968. Graduado em Ciências Econômicas pela
Universidade Federal da Bahia (1943), foi consultor técnico da Secretaria da Fazenda de Sergipe (1943),
professor do Colégio Tobias Barreto e da Faculdade de Ciências Econômicas (1955), Prefeito Municipal
de Aracaju (1968-1970) e Reitor da UFS (1976-1980). Foi na gestão de José Aloísio de Campus que houve
a transferência dos cursos da Universidade Federal de Sergipe, antes, espalhados em vários espaços de
Aracaju, para o Campus, no município de São Cristóvão, a antiga capital de Sergipe. Estes aspectos da
trajetória de José Aloísio Campos contribuem para estimular o nosso interesse por este intelectual
sergipano. Como gestor da UFS dirigiu os trabalhos de construção do Campus de São Cristóvão e foi seu
Reitor em pleno regime militar. Preocupou-se com a implantação de uma política de gestão
racionalizada para a instituição, particularmente no tocante à capacitação de Recursos Humanos. Para
isso, vale destacar que o referencial teórico utilizado na pesquisa tem como apoio a concepção que
Pierre Bourdieu (2007) usado para explicitar o seu entendimento de trajetória. Este estudioso esclarece
que há diferença entre vida e trajetória. Segundo Bourdieu (2007), o pesquisador pode reconstruir a
trajetória de alguém, mas não a vida. Para a construção deste estudo, serão utilizadas as seguintes
fontes: escritos já produzidos sobre a UFS e que tem relação direta com Aloísio Campos, a exemplo de
Oliva (2003), Santana (2000) Santos & Rollemberg (1998), Passos Subrinho (1999), além de atas,
relatórios administrativos, notícias em jornais, fotografias e entrevistas. Esta pesquisa está relacionada
com o estudo, em andamento, que conta com o apoio da PROEX/UFS (Pró-Reitoria de Extensão e
Assuntos Comunitários da Universidade Federal de Sergipe), intitulado Universidade Federal de Sergipe:
de Escola Superior a Universidade Multicampi. Neste sentido, acreditamos que esta pesquisa poderá
elucidar questões relacionadas à trajetória acadêmica de José Aloísio de Campos tanto como professor
quanto como reitor/administrador da UFS e ampliar o nosso entendimento sobre a educação pública
superior em Sergipe e no Brasil.

488
LAR ESCOLA DR. LEOCÁDIO JOSÉ CORREIA: HISTÓRIA DE UMA PROPOSTA DE FORMAÇÃO NA
PERSPECTIVA EDUCACIONAL ESPÍRITA (1963-2003)

CLEUSA MARIA FUCKNER.


UFPR, CURITIBA - PR - BRASIL.

O objetivo norteador deste estudo foi constituir aspectos da trajetória histórica do Lar Escola
Dr.Leocádio José Correia, no período entre 1963 e 2003. Esta escola fundada na cidade de Curitiba, pelo
professor e médium Maury Rodrigues da Cruz, é vinculada à SBEE (Sociedade Brasileira de Estudos
Espíritas), que é uma Instituição filantrópica e beneficente, que tem por objetivo estudar as
manifestações espíritas, divulgar os princípios da doutrina dos espíritos e proporcionar assistência social
às famílias carentes. Ao longo de sua trajetória a escola passou por práticas diferenciadas, atendendo
diferentes modalidades de ensino.. A partir de 1998 a escola centralizou seu trabalho na Educação
Infantil. Atualmente a Instituição é também a mantenedora da Faculdade Dr. Leocádio José Correia, que
desenvolve entre outros, os cursos de Administração de Empresas, Pedagogia e Teologia Espírita,
objetivando formar profissionais na área educacional e com o referencial da doutrina espírita. A
pesquisa foi concluída e defendida no Programa de Pós graduação em Educação na UFPR em dezembro
de 2010. Na primeira parte do trabalho intitulado: Espiritismo e Educação: uma construção histórica, a
nossa proposta foi analisar antecedentes do pensamento educacional espírita, bem como as obras

250
didáticas de Hippolyte Léon Denizard Rivail (Allan Kardec), intelectual da educação francesa e depois
autor das obras de codificação da doutrina espírita; Investigamos também na primeira parte o
espiritismo no seu processo histórico de consolidação e a relação com a educação, compreendendo o
movimento espírita na cidade de Curitiba. Na segunda parte que chamamos Da Teoria à Vivência na
Prática procuramos compreender a figura de Leocádio José Correia, o patrono e mentor intelectual da
Instituição a partir da sua ação enquanto Inspetor Paroquial das Escolas de Paranaguá no período de
1885-1886, bem como suas ideias e permanências na Instituição que hoje leva seu nome. Trabalhamos
com as fontes escritas e orais da Instituição no sentido de construir uma análise fundamentada nas
fontes da trajetória da escola como proposta e prática de uma educação espírita a partir da categoria
cultura escolar. Este trabalho se fundamentou na História Cultural enquanto olhar investigativo de uma
determinada realidade e concepção de mundo. Refletimos nosso objeto a partir da fundamentação de
Pesavento, Chartier e autores da História Cultural que nos ajudaram a compreender as fontes
constituídas pelo arquivo da escola, da SBEE, além das fontes da Igreja e da imprensa.

468
LEITURA E ESCOLA: UMA RELAÇÃO DE POSSIBILIDADES E INTERDIÇÕES

MARIA ALAYDE ALCANTARA SALIM.


SEME, VILA VELHA - ES - BRASIL.

O presente trabalho apresentou como objetivo geral compreender, numa perspectiva histórica, o
envolvimento de sujeitos escolares no Brasil, mais especificamente no Espírito Santo, com o livro e a
leitura. O tempo que foi alvo das minhas investigações estende-se dos últimos anos do século XIX até o
decorrer das três primeiras décadas do século XX no Espírito Santo – período denominado de Primeira
República. Focalizei, detidamente, a inserção e as condições de circulação do livro na sociedade
capixaba, as práticas de leitura e o uso do livro – didático e de literatura – nas diversas disciplinas que
integravam o currículo de duas principais instituições de ensino secundário existentes na cidade de
Vitória, durante os primeiros anos do século XX: Ginásio do Espírito Santo e Escola Normal.
Considerando a leitura uma prática estreitamente vinculada às demais práticas sociais (CHARTIER,
2002), procurei focalizar esse tema específico na confluência das circunstâncias sociais, econômicas,
políticas, culturais e educacionais que marcavam a sociedade da época. No trabalho de pesquisa
focalizei especificamente os espaços de leitura e de acesso ao livro disponível para os sujeitos escolares;
as formas de controle exercido pelas escolas em relação à leitura, a leitura dos alunos fora do espaço
escolar, os títulos das obras didáticas e literárias que eram adotados nas duas escolas e as as formas de
apropriação e os usos do material escrito, as práticas de leitura desenvolvidas no espaço escolar e os
sentidos produzidos por meio dessas práticas. A complexidade que envolve o trato de questões
relacionadas com as práticas de leitura foi destacada por Certeau (2000), quando alertou para o grande
desafio que a historia da leitura enfrenta ao buscar inventariar e racionalizar essas práticas que
raramente deixam marcas e acabam por dispersar-se em uma infinidade de atos singulares e subjetivos,
muitas vezes imperceptíveis ao olhar do historiador. Reconhecendo os limites impostos ao trabalho de
pesquisa, cabe ao historiador investigar quais circunstâncias governam a realização efetiva das práticas
de leitura em determinado tempo e espaço por uma determinada comunidade de leitura. Essa
perspectiva norteou todo o encaminhamento do trabalho e as análises das fontes documentais. Assim,
para mapear as circunstâncias vivenciadas e compartilhadas pelos sujeitos escolares nas duas
instituições pesquisadas, ou seja, a comunidade de leitores investigada, tomei como fonte de pesquisa
uma variedade de documentos, como: planos de curso, avaliações escolares, relatórios de inspetores
educacionais e de secretários de instrução, legislação educacional, os escritos de diferentes origens
produzidos por alunos e professores das duas instituições pesquisadas e, por fim, as entrevistas dos ex-
alunos das duas instituições de ensino.

251
1328
LEMBRANÇAS DOS TEMPOS DE ESCOLA GUARDADAS EM UM BAÚ: A CONSTITUIÇÃO DA ESCOLA EM
IBIAÍ, MINAS GERAIS (DÉCADAS DE 1910 A 1940)

CÁSSIA APARECIDA SALES MAGALHÃES KIRCHNER.


UNIVERSIDADE SÃO FRANCISCO, ITATIBA - SP - BRASIL.

O presente trabalho é fruto de uma pesquisa que teve como objetivo compreender o processo de
escolarização da cidade de Ibiaí, localizada na região norte de Minas Gerais, investigando experiências
de famílias que estiveram diretamente ligadas aos processos de constituição da escola nesta cidade. No
decorrer das décadas essas experiências de vida foram materializadas emforma de fotografias, diários,
cadernos de alunos, planos de aula e documentos escolares que, intencionalmente ou não, foram
transformadas em lembranças ao serem depositadas em um baú. Este baú foi passado de uma geração
para outra, montando-se assim um acervo que permite analisar suas diferentes vivências, tempos,
crenças e emoções, assim como seus modos de produção. O termo cultura escolar constitui-se em um
conceito nuclear para o desenvolvimento da investigação, sendo utilizados segundo os conceitos de
cultura escolar propostos por Antonio Viñao Frago (2008), Dominique Julia (2001), André Chervel (1990)
e Jean-Claude Forquin (1993). Também foram utilizadas as contribuições trazidas pelos estudos sobre
memória desenvolvidos por Ecléa Bosi (2007), Maurice Halbwachs (1900), Michel Pollack (1989) e Paul
Thompson (2002). O corpus documental foi composto por documentos selecionados do acervo
relacionados à escola (cadernos escolares, livros de matrícula, termos de instalação da escola, livros de
atas de inspeção, atas de exame dos alunos e planos de aula). O período temporal está diretamente
ligado a primeira e a última data encontrada nos documentos analisados, percorrendo as décadas de
1910 a 1940. O estudo evidenciou aspectos particulares da cultura escolar da Escola Mista de Ibiaí,
demonstrando que ao mesmo tempo em que era constituída por normas estabelecidas externamente
pela legislação vigente, também eram construídos ensinamentos e condutas peculiares a cultura escolar
desta localidade. Nesse sentido, o baú, tomado como objeto de estudo, apresentou marcas da
construção da cultura escolar em Ibiaí, demonstrando que o modo de pensar e viver da comunidade
pesquisada contribuiu de forma significativa para a manutenção desta escola mesmo em condições
adversas. Entre elas, salas numerosas, falta de material apropriado e pagamento de salários atrasados.
Do mesmo modo, fica aparente tanto nos relatos orais como no que foi registrado nos materiais
pesquisados a busca por uma identificação com os movimentos nacionalistas, os ideais de progresso, a
instrução e higienização presentes no ideário daquele período.

361
LOCALIZAÇÃO E CATALOGAÇÃO DE FONTES PARA PESQUISA DA HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES
EDUCATIVAS ESCOLARES E NÃO ESCOLARES DE LONDRINA

MARIA LUIZA MACEDO ABBUD.


UEL, LONDRINA - PR - BRASIL.

Pesquisa em andamento. Com o objetivo de fazer a recuperação histórica dos processos de instalação e
desenvolvimento das instituições educativas em Londrina e região estamos iniciando este projeto de
pesquisa que pretende a sistematização de dados documentais (arquivos) e memórias (depoimentos
dos protagonistas). O projeto se insere no processo de instalação do Laboratório de Ensino e Pesquisa
em História da Educação – LEPHE, sob a responsabilidade da área de História da Educação do
departamento de Educação/CECA/UEL. Entre as atividades previstas para este espaço está a
constituição de referências a respeito das escolas com o intuito de sistematizar fontes para pesquisa e
ensino em História da Educação. Esta proposta é decorrente do trabalho desenvolvido em pesquisas
anteriores. Os resultados destas pesquisas, sob a orientação da equipe docente que participava dos
projetos anteriores, mostraram a necessidade e pertinência da coleta, sistematização e guarda material
que possa se constituir em fontes para o desenvolvimento de pesquisas em História da Educação
Regional. Recorrentemente pesquisadores em História da Educação apontam a dificuldade de acesso a
informações a respeito da história das instituições educativas, comprometendo a compreensão de um

252
espaço significativo da “construção social das coisas humanas”, como afirma Nóvoa (1999). Superar esta
lacuna, com a organização e sistematização de fontes para a constituição de “uma abordagem
historiográfica dos fenômenos educativos, (re)construindo-os e representando-os discursivamente”,
segundo Magalhães (1999, p. 68) é a meta deste projeto. Esse autor salienta que uma pesquisa histórica
assume o caráter de originalidade e criatividade quando lança mão de fontes primárias inéditas ou faz
releituras de fontes secundárias, num processo de reconceitualização, em que o conhecimento anterior
é revisto, complementado, contestado, apresentado em novas visões. A sistematização de fontes
primárias inéditas deve permitir novas leituras a respeito da educação escolar na região de Londrina,
assim como deve possibilitar novas leituras da historiografia local. No caso deste projeto, o foco central
é coletar, sistematizar e disponibilizar para futuros estudos os registros escolares, nos seus diferentes
suportes (material impresso, depoimento, material fotográfico, material didático, objetos escolares,
entre outros). Sintetizando, são objetivos desta pesquisa: Localizar e catalogar a documentação
presente no acervo documental das escolas de Londrina; Colher depoimentos dos protagonistas da ação
educativa de escolas de Londrina; Sistematizar as informações coletadas no sentido de registrar a
História das Instituições Educativas de Londrina e região; Proporcionar espaço de iniciação cientifica
para estudantes de graduação em Pedagogia.

1141
LOURENÇO FILHO E A ALFABETIZAÇÃO: TESTES ABC E CARTILHA DO POVO

ENILDA FERNANDES FERNANDES.


UEMS, CAMPO GRANDE - MS - BRASIL.

Este trabalho é parte de uma pesquisa em andamento, que objetiva investigar os manuais didáticos
usados na Escola Normal de São Paulo, com foco na alfabetização, no período de 1909 a 1945. A
pesquisa incide sobre essa instituição educacional por ser ela a mais avançada nessa modalidade de
ensino, no período em questão, tendo sido tomada como referência por suas congêneres. O marco
temporal se justifica em função de que, nesse período, se conformou o currículo de formação de
professores que veio a embasar a subseqüente expansão do ensino. Orienta a análise a hipótese de que
os manuais didáticos voltados à alfabetização em nenhum momento da sua história se configuraram
como ferramentas eficazes para a formação de crianças leitoras e escritoras. Neste estudo tomam-se
por objeto duas obras de Lourenço Filho - utilizadas na formação de professores da Escola Normal de
São Paulo no período em questão - trata-se do livro Testes ABC, publicado em 1933, e Cartilha do Povo,
de 1928. Esses instrumentos didáticos tiveram grande penetração na educação brasileira, daí o seu
relevo para apreender as balizas que orientaram a formação de inúmeras gerações de
leitores/escritores. O objetivo foi o de analisar a função e o conteúdo desses manuais, na condição de
instrumentos de trabalho do professor. Para Lourenço Filho, à idade cronológica não corresponde, de
forma absoluta, a maturidade da leitura. A escola, balizada por critérios empíricos, reúne na mesma
classe, alunos maturos e imaturos. O Testes ABC funcionaria como instrumento destinado a verificar a
maturidade necessária à aprendizagem da leitura e da escrita, permitindo a apreciação rápida da
capacidade de aprender a ler e escrever com vistas à organização de classes homogêneas. A Cartilha do
Povo, a primeira de uma série de livros didáticos escritos por Lourenço Filho, obteve grande sucesso,
sendo utilizada por mais de seis décadas nas escolas brasileiras. Foram analisadas as duas obras, que se
complementam, com vistas a evidenciar os princípios teóricos que têm informado a natureza da leitura
e da escrita e que vêm delineando as práticas dos professores de alfabetização. Em termos gerais
procurou-se estabelecer pontos de aproximação entre os manuais de Lourenço Filho e aspectos do
manual didático tal como aparecem na proposta de Comenius, formulador desse instrumento didático
que se mostrou o mais adequado à universalização do ensino. Buscou-se ancorar a pesquisa em um
referencial teórico marcado pela visão de totalidade de modo a apreender as funções assumidas pelo
manual didático na educação contemporânea e debater seus limites como instrumento de
alfabetização, visando à sua superação.

253
1099
LUIZ ANTONIO DOS SANTOS LIMA E SUA PRÁTICA EDUCATIVA NO CENÁRIO NORTE-RIO-GRANDENSE
(NATAL/RN, 1910 – 1930)

KAROLINE LOUISE SILVA DA COSTTA.


UFRN, NATAL - RN - BRASIL.

O presente trabalho está vinculado ao projeto Gênero, Educação e Práticas de Leitura desenvolvido nos
estudos da Base de Pesquisa Gênero e Práticas Culturais, coordenada pela professora Maria Arisnete
Câmara de Morais/UFRN. Trata-se de uma pesquisa em andamento no qual objetiva configurar a prática
educacional dos formandos da primeira turma da Escola Normal de Natal, em 1910, que se sobressaíra
no cenário Norte Rio Grandense. Desta maneira, analisamos a atuação do professor Luiz Antonio dos
Santos Lima, durante o período de 1910 a 1930. Para tanto, realizamos pesquisas em documentos
encontrados nos acervos do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte/ IHGRN, dentre
estes destacam-se: a tese de doutorado de Luiz Antonio intitulada Higiene Mental e Educação (1927), os
jornais A República e o Diário do Natal. No Arquivo Público do Estado/ APE-RN localizamos fontes como
Relatórios, Atas, Ofícios, e o Livro de Honra. Realizamos também uma revisão bibliográfica na Biblioteca
Central Zila Mamede/ UFRN, por meio dos autores que enfocam seus estudos sob a perspectiva da
História Cultural. Com base nestes materiais, observamos que o professor Luiz Antonio dos Santos Lima
exerceu o magistério no Grupo Escolar Augusto Severo, no Atheneu Norte-Rio-Grandense e na Escola
Normal de Natal. Lecionou as disciplinas Física, Química e História Natural. Formou-se em Farmácia no
Recife, em 1919 e, posteriormente, em 1926, formou-se em Medicina no Rio de Janeiro. Atuou também
nas direções da Escola Normal de Natal e da Escola de Farmácia de Natal, esta ultima criada pela Lei nº
497, de 2 de dezembro de 1920. Dada sua relevância como educador, na cidade de Natal existe em sua
homenagem três referências que retratam o reconhecimento dos contemporâneos a este intelectual.
São estas: a Escola Estadual Professor Luiz Antônio, no bairro de Candelária, o Hospital Luiz Antônio,
também conhecido como Hospital do Câncer situado no bairro das Quintas, como também uma rua
localizada no bairro do Alecrim. Exemplo de fidelidade vocacional, Luiz Antonio, se destacou pelo
brilhantismo na arte do ensinar, pois preocupava-se também em cultivar os bons hábitos tais como:
metodização da alimentação; do asseio; da disciplina; entre outros cuidados, para a formação sadia dos
alunos. Através desta investigação evidenciamos as contribuições como sujeito social e educativo
deixadas por esse educador na constituição da sociedade letrada do Estado. Com este estudo
pretendemos contribuir para a Historiografia da Educação Brasileira e, em especial, a Norte-Rio-
Grandense.

1146
MANUAIS DE PSICOLOGIA – INSTRUMENTOS DE TRABALHO UTILIZADOS NA FORMAÇÃO DOS
PROFESSORES PAULISTAS (1920-1945)

SAMIRA SAAD PULCHÉRIO LANCILLOTTI.


UEMS, CAMPO GRANDE - MS - BRASIL.

Este trabalho tem o objetivo de analisar dois manuais de psicologia utilizados na formação de
professores paulistas, na primeira metade do século XX. Está articulado com pesquisa interinstitucional,
em andamento, financiada pelo CNPq - O manual didático como instrumento de trabalho nas escolas
secundária e normal (1835-1945). Os exemplares analisados foram produzidos em tempos diferentes,
mas publicados em 1938. Trata-se do Psychologia, escrito por Antonio Sampaio Dória, na década de
1920, com foco na formação dos normalistas; o outro é o livro Introdução à Psychologia Educacional, de
Noemy da Silveira Rudolfer, publicado com a finalidade de servir à formação de pedagogos na USP.
Pretende-se analisar a materialidade desses instrumentos de trabalho, tendo por vetor os conteúdos
concernentes à aprendizagem e ao desenvolvimento. Buscar-se-ão, nesses manuais, as teorias
transmitidas na formação dos professores, com o intuito de destacar quais foram os textos de referência
e em que grau esse conteúdo se encontra simplificado. Compreende-se que os manuais didáticos têm se
configurado historicamente como fontes exclusivas da formação escolar em todos os níveis de ensino,

254
substituindo as fontes clássicas. Há que se considerar que, por sua própria natureza sintética e
secundária, os manuais trazem conteúdo fragmentado, aviltado, que não oferece os elementos
necessários a uma formação sólida e consistente. No caso da Psicologia, ciência consolidada em fins do
século XIX, os avanços científicos paulatinos foram alimentando manuais de psicologia educacional com
noções vagas, insuficientes para permitir a justa apreciação dos conhecimentos especializados da área,
creditada como fundamento da pedagogia. Sampaio Dória explicita claramente que sua proposta é
objetivar lições por ele ministradas, no transcurso de dez anos de atividades docentes na Escola Normal
de São Paulo e admite que não intencionou um trabalho erudito. Informa que os conteúdos
apresentados foram buscados em fontes secundárias: tratados técnicos, livros de arte, livros de história
e obras várias, que não são devidamente referenciados. Já o manual de Rudolfer evidencia preocupação
em apontar o amplo leque de pensadores que contribuíram para a constituição da psicologia como
ciência e, no seu bojo, para a consolidação da psicologia educacional. Seu manual traz um vasto elenco
de teóricos apresentados, cada um, em poucos parágrafos. A autora enfatiza a multiplicidade de
interpretações acerca dos processos psicológicos e pondera que, diante de tal condição, impõe-se um
ponto de vista eclético que, segundo seu juízo é a única forma de apreender as contribuições da ciência
psicológica à prática pedagógica.

762
MARGEANDO A EXCELÊNCIA: TRAJETÓRIA DOS TÉCNICOS EM EDUCAÇÃO DO COLÉGIO PEDRO II, DE
1932 A 2010

ALESSANDRA PIO.
UFRJ, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL.

O presente texto integra pesquisa, de mestrado, em andamento que pretende desvelar o papel do
pedagogo através dos tempos no Colégio Pedro II – CPII. A única autarquia federal dedicada à Educação
Básica no país mantém-se dentre as mais respeitadas escolas do Rio de Janeiro, tanto pelo currículo de
seus docentes, quanto pelos resultados de seus discentes. Tomando como ponto de partida a
consideração de ser a escola um espaço plural, tratarei aqui de um agente social pouco lembrado neste
“lócus privilegiado de saber” e que não pertence aos grupos citados anteriormente. Deste
“esquecimento” deriva a dificuldade em afirmar se estes personagens contribuíram ou não para a
excelência de que tanto se fala. Logrando compreender as razões sócio-históricas que levaram ao
apagamento deste personagem, fiz uma busca pela documentação da instituição – Projeto Político-
Pedagógico e atual Regimento Interno – considerando que estes poderiam identificar funções e
atribuições desses agentes; examinei Decretos, Leis e Portarias referentes à escola e ao profissional em
questão desde 1932 à atualidade, definindo datas para determinadas ações institucionais; utilizei os
editais de seleção aos cargos técnicos do Colégio, entre 2004 e 2010, como tentativa de compreensão
das exigências quanto à formação destes agentes. Encontrei dados que possibilitaram afirmar que o
Técnico em Assuntos Educacionais do CPII é, comumente e diretamente, relacionado com o pedagogo,
mesmo quando a habilitação em pedagogia não era exigida. Este trabalho pretende, à medida que
resgata e expõe a trajetória dos TAEs, servir de fomento a pesquisas que enfatizem a formação da
identidade profissional do pedagogo e o trabalho técnico na escola. Para tanto, utilizei referenciais
trazidos por Saviani (2007) sobre a história do curso de Pedagogia no Brasil, sem descartar as
contribuições de Libâneo (2005) e Scheibe (1999), que discorrem sobre a identidade do pedagogo.
Através da legislação examinada pode-se verificar que o CPII não identifica com exatidão “quem é” ou
“para que serve” o pedagogo na escola – seja ele o Técnico de Educação ou o Inspetor das primeiras
décadas do século passado, ou o Técnico em Assuntos Educacionais do início do século XXI. Tendo este
Colégio certo destaque social, argumento que a instituição perdeu oportunidades ímpares de dialogar
sobre a questão – como nas discussões para a elaboração do Projeto Político Pedagógico e/ou para a
elaboração da proposta do Novo Regimento Interno – deixando, ainda que haja algumas possibilidades
de mudança, de contribuir para a construção da identidade prática do pedagogo para a escola.

255
582
MEMÓRIAS DA TRAJETÒRIA DA IR. SEVERINA CAVALCANTE SOUTO COMO SUPERIORA NA ESCOLA
NORMAL ARRUDA CÂMERA EM POMBAL (1970)

AMURIELLE ANDRADE DE SOUSA; KALYNE BARBOSA ARRUDA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAIBA, JOAO PESSOA - PB - BRASIL.

Este trabalho vincula-se ao grupo de estudos e pesquisas História da Educação da Paraíba


(HISTEDBR/PB) e ao projeto Educação e educadoras na Paraíba do século XX: práticas leituras e
representações, no Programa de pós-Graduação em Educação - PPGE. O presente trabalho que se
encontra em andamento tem por objetivo investigar a trajetória da educadora Irmã Severina Cavalcante
Solto, na Escola Normal Arruda Câmera, localizado em Pombal, interior da Paraíba. A escolha justifica-se
pela reconhecida presença da educadora como superiora e professora no cenário cotidiano das
instituições confessionais do ensino religioso em diversas instituições escolares Norte-Nordeste, tais
como Alagoas, Paraíba, Piauí, Ceará e Pombal, tendo mais tempo em Pombal, levando a mesma a ser
reconhecida posteriormente pelos alunos como patronesse da Escoia Estadual de 1.º Grau, localizada
em João Pessoa, capital da Paraíba, por seu trabalho e dedicação nesta referida escola. Sendo assim, a
pesquisa foi norteada teoricamente e metodologicamente pelos pressupostos da Nova História Cultural,
por entender que a mesma possibilita configurar no universo histórico-social a atuação das educadoras
de vida comum, por meio de estreita lente das micro-relações sociais nos espaços escolares, através de
suas falas e testemunhos, privilegiando novos, temas, problemas e metodologias. Utilizamos como fonte
principal de pesquisa, a Historia oral por ser única forma de se entender a totalidade de um individuo,
embora com algumas subjetividades, se pode ainda considerar a sua importância, pois ela traz uma
mudança profunda no campo da história, proporcionando a verdadeira história dos vencidos e menos
vencidos, pois os documentos oficiais encontram-se muito delimitados pelos dominantes, levando a
historia dos excluidos, o seu cotidiano e suas práticas à marginalização. Ou seja, levando assim múltiplas
versões sobre o mesmo fato acontecido. Sendo trabalhados também as fontes complementares os
documentos em fontes primárias e icnográficas, onde atribuiu para o maior aprofundamento sobre a
trajetória e tempo vivenciados pela Irmã Severina Cavalcante Souto. Trazendo a baila uma memória das
contribuições relacionadas ás prátricas disciplinares e pedagógicas. O estudo revelou uma personagem
de uma historia de vida intensamente dedicada a fé católica e profundamente envolvida com o
desenvolvimento da educação confessional da paraíba, porém, atualmente submetida ao anonimato, ao
esquecimento que ocorrem nas demais instituições escolares na Paraíba.

1334
MEU MESTRE, MINHA ESCOLA: ESCOLAS FAMILIARES E COTIDIANO ESCOLAR NA PRIMEIRA METADE
DO SÉCULO XIX

MARCELO DE SOUSA NETO.


UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ, TERESINA - PI - BRASIL.

No Brasil, em seu período colonial, a organização do ensino relacionou-se ao processo de reocupação do


território, em conformidade com o modelo de exploração metropolitano. No entanto, com relação aos
elementos normatizadores impostos pela Metrópole, muitos de seus traços transformaram-se,
resultando em novas formas educacionais adaptáveis aos interesses dos diferentes grupos sociais que se
constituíam no período. O ensino não esteve, então, circunscrito aos limites da ação oficial, existindo
segmentos sociais que buscavam alternativas para o ensino formal de seus filhos, frente aos limites da
educação jesuítica e, posteriormente, das Aulas Régias que, em parte, ocorria no âmbito do privado,
preenchendo o vazio da escola pública. Os limites do ensino público permaneceram durante o período
monárquico, marcado pelo caráter desarticulado entre os níveis de ensino, representando empecilho ao
seu desenvolvimento. Desta forma, durante o século XIX era uma prática comum no cenário brasileiro
familiares letrados, capelães ou mesmo mestres contratados ministrarem aula no espaço doméstico.
Ações dessa natureza constituíam-se em alternativas de ensino para as pessoas de posses, como forma
de superar as lacunas deixadas pela Instrução Pública, e, apesar de informais, adequavam-se ao modelo

256
oficial, assegurando aos seus egressos a conclusão dos estudos em escolas oficiais no Brasil e mesmo na
Europa. Essas escolas, conhecidas como “escolas familiares”, tornaram-se comuns em diversas regiões
do país. Todavia, a pesquisa acerca da forma de funcionamento e do cotidiano escolar dessas práticas
recebeu pouca atenção dos historiadores. O presente trabalho discute o funcionamento de uma dessas
experiências de “escolas familiares”, a Escola de Boa Esperança, que funcionou de 1820 a 1850,
localizada no Sertão piauiense. Essa escola, idealizada e mantida por Padre Marcos de Araújo Costa,
representou a mais bem sucedida experiência educacional do Piauí até a primeira metade do século XIX.
O texto investiga as sociabilidades constituídas nessa escola, tratando das experiências educativas nela
constituídas, revelando por meio disso, muito dos interesses e das relações sociais que envolveram seu
mantenedor, Padre Marcos de Araújo Costa, propondo recuperar, por meio da narrativa histórica,
fragmentos do cotidiano escolar no interior dessas “escolas familiares”. A pesquisa recorreu à consulta
de fontes documentais e bibliográficas e utilizou como interlocução teórica os estudos de Giovanni Levi,
Maria Beatriz Nizza da Silva e Miridan Britto Knox Falci.

790
MOVIMENTAR O BINÓCULO, ENTRELAÇAR SABERES: ARTHUR RAMOS E O SERVIÇO DE ORTOFRENIA E
HIGIENE MENTAL NO RIO DE JANEIRO DE 1930

ADIR DA LUZ ALMEIDA.


UERJ/USP, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL.

O trabalho problematiza a ação do médico-antropólogo Arthur Ramos, organizador da proposta de


atuação do Serviço de Ortofrenia e Higiene Mental ao assumir a chefia do mesmo (1934-1939). Ramos
(1903- 1949) vem ocupando um lugar importante na tessitura de pesquisas no campo da história da
educação, ao articular áreas de conhecimento com destaque para a antropologia; tendo traçado uma
cartografia educacional da gênese das questões relacionadas à precariedade das condições de vida dos
brasileiros e às dificuldades de acesso à escola e a escolarização. Na complexidade do pensar, elegeu,
como muitos intelectuais de então, a educação como vetor de modernização na “nação” e a cultura
como mola propulsora da população, fatores de inclusão e ascensão social, considerando a escola como
lugar estratégico para realizar este projeto. O conceito de “cultura” é central, por nos desafiar a
movimentar o “binóculo” teórico-metodológico, mudar a “lente” do olhar e nuançar os efeitos
produzidos, junto às escolas envolvidas, pelas reflexões teóricas e ações de Ramos na capital da
República, ao assumir a Seção de Ortofrenia e Higiene Mental (SOHM), do Instituto de Pesquisas
Pedagógicas. Como construir a nação plena de modernidade e progresso, articulada ao mundo
considerado moderno? A geração de intelectuais, com formações diversas, que se encontrou na Cidade
do Rio de Janeiro, nos anos de 1930, tentou responder com ações práticas esta pergunta. No entrelace
de saberes ocorrido na fervilhante conjuntura política da Capital da República é que vamos entender o
projeto de Ramos, frente à Seção de Ortofrenia e Higiene Mental. Primeiro Serviço, desse tipo, levado
dentro de escolas públicas. Uma ação, como ele mesmo define, eminentemente prática e para modificar
práticas. Arthur vai cunhar a representação de criança-problema, dando ênfase à ótica ambientalista e
culturalista, tendo no centro das preocupações a família e as condições de vida das mesmas. Busca
atingi-las, chegar à comunidade, alavancando a concepção escolanovista de “civilizar” a população.
Percebê-lo enquanto intelectual engajado, com contradições, preocupado com a profissionalização da
antropologia enquanto ciência explicativa das mazelas nacionais, entrelaçando-a com outros saberes
oriundos, principalmente, da Psicanálise e Psicologia Social; pesquisar ações do SOHM utilizando as
contribuições da micro-história italiana para analisar as fontes do Fundo Arthur Ramos da Biblioteca
Nacional, contribui para percebermos a ousadia das propostas de ação, no seu tempo vivido.

257
437
MULHER, MÃE E DONA DE CASA: A REPRESENTAÇÃO DA MULHER POÇOSCALDENSE NO JORNAL
DIÁRIO DE POÇOS DE CALDAS (1944-1964)
1 2
FERNANDA MENDES RESENDE ; PATRICIA CARVALHO ARRUDA .
1.FEUSP, POCOS DE CALDAS - MG - BRASIL; 2.PUC MINAS CAMPUS POÇOS DE CALDAS, POÇOS DE
CALDAS - MG - BRASIL.

Esta pesquisa configura-se como pesquisa histórica, qualitativa e bibliográfica, em que focamos a
história das famílias de Poços de Caldas, cidade situada no sul de Minas Gerais, utilizando,
principalmente, a imprensa escrita, tendo como fonte o Jornal Diário de Poços, que circulou entre 1944
e 1988. A periodização definida para a pesquisa foram as décadas entre 1944 a 1964, e refere-se ao
breve período democrático da política brasileira. A partir da imprensa escrita local, buscamos
compreender o cotidiano das famílias, seus usos, costumes, gostos, a partir de propagandas, notícias de
acontecimentos da e na cidade, analisando intervenções políticas e, principalmente, as representações
de mulher, esposa e dona de casa; pai, provedor e senhor; filhos, meninos, meninas e bebês.
Encontram-se no jornal visões de mundo, projetos políticos, conflitos e experiências sociais, ou seja, os
jornais fornecem uma visão geral da sociedade e de seus problemas. É um mecanismo de intervenção
política e produção de memória social e de representação coletiva de identidades e impactos sociais.
Analisamos de que maneiras eram abordados os assuntos relacionados às mulheres, a partir dos
espaços específicos para elas, denominados colunas, como “Coluna Feminina”, “Como cuidar do Bebê”,
e “Falando Com as Mulheres”, e notícias sobre direitos das crianças, assuntos policiais e políticos,
anúncios de aniversários, casamentos, entre outros. A maior parte das notícias que versavam sobre as
mulheres tratavam de educação, saúde, bem-estar, priorizando o futuro dos pequenos cidadãos
envolvidos, especialmente valorizando a educação da filha para que ela se tornasse uma futura esposa e
mãe dedicada. Havia uma preocupação com os “menores abandonados”, prevendo que estes se
tornariam adultos de pouco caráter, ladrões, perversos. Por outro lado, há muitas notícias sobre as
praças e os parques que existem a cidade, e a utilização destes pelas famílias. Apesar das notícias sobre
as crianças pobres, Casas de Assistência, assistência materno-infantil, observamos que o Jornal Diário de
Poços, como quase toda a imprensa escrita, era voltado para um público leitor de elite. Todas as
análises levam em conta a formação, bastante específica, da sociedade sulmineira, especialmente a
poçoscaldense, de maioria de imigrantes italianos e poucos descendentes africanos, como já foi
apontado por Fonseca (2009). O aporte teórico básico é a concepção da nova história cultural
(CHARTIER, 1988), além de Vieira (2007), Oliveira (2007), Magaldi (2007), Faria Filho (2000) e Souza
(2008).

1113
MUSEU DO HOMEM SERGIPANO (MUSHE): DOCUMENTAÇÃO, MEMÓRIA E AÇOES EDUCATIVAS
1 2
NÁLISON MELO SILVA ; CORA LINHARES SANTOS .
1.UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE, ARACAJU - SE - BRASIL; 2.UNIVERSIDADE FERDAL DE SERGIPE,
ARACAJU - SE - BRASIL.

RESUMO O Museu do Homem Sergipano (MUHSE), aberto ao público em novembro de 1996, na cidade
de Aracaju/SE, surgiu a partir da idéia de que os espaços museais além de guardar, preservar e divulgar
bens culturais se apresenta como um dos caminhos mais profícuos para divulgação das produções
acadêmicas; trabalha sua política de ação cultural e possibilita gestar um sentimento de pertencimento
necessário ao fortalecimento da identidade social, seja local, regional ou nacional estabelecendo um
vinculo com o público. Na presente pesquisa buscamos registrar e analisar as ações educativas
desenvolvidos no MUHSE - Museu do Homem Sergipano, uma entidade subordinada a PROEX – Pró-
reitoria de Extensão da Universidade Federal de Sergipe, além das ações voltadas para a preservação da
documentação e memória da cultura sergipana. Neste sentido concordamos com a interpretação de
Geertz (1999) sobre as culturas quando as apresenta como um padrão de significados incorporados em
formas simbólicas e transmitidos historicamente. Ele compreende que a cultura é parte integrante do

258
individuo e é através dela que se caracterizam as particularidades de um povo e, ao mesmo tempo,
permite a construção de uma identidade. O museu foi formado a partir da doação de pesquisadores,
abrigando títulos diversos voltados para a realidade sergipana, além de exposições temporárias (temas
diversos estimulando as reflexões), visitas orientadas (promove atividades pedagógicas) e exposições
itinerantes. Portanto, esta pesquisa será desenvolvida a partir da visita e estruturação de instrumentos
de análises, a exemplo de fichas e relatórios, livros, atas, projetos, resoluções, decretos, fotografias e
análise da documentação posta e das ações educativas r ealizadas no MUHSE. Objetiva-se com essa
pesquisa documentar e analisar as ações educativas implementadas pelo MUHSE, sem perder de vista o
que Laraia (2008, p.51) nos ensina ao afirmar que “tudo o que o homem faz, aprendeu com os seus
semelhantes não decorre de imposições originadas fora da cultura”. Essa pesquisa está relacionada com
o estudo, em andamento, que conta com o apoio da PROEX/UFS (Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos
Comunitários da Universidade Federal de Sergipe), intitulado Universidade Federal de Sergipe: de Escola
Superior a Universidade Multicampi. Neste sentido, acreditamos que esta pesquisa poderá elucidar
questões relacionadas à criação e ações pedagógicas desenvolvidas pelo Museu do Homem Sergipano,
assim como aprofundar as discussões acerca das ações pedagógicas posta em prática pela Universidade
Federal Sergipe, instituição a qual está vinculado o Museu do Homem Sergipano.

1178
MÉTODOS DE ALFABETIZAÇÃO DAS ESCOLAS PAROQUIAIS PRESBITERIANAS, MINAS GERAIS (1954-
1976)

VIVIANE RIBEIRO; CRISTIANE SILVA COSTA.


INESC, UNAÍ - MG - BRASIL.

Objetiva-se a partir deste trabalho apresentar os métodos de alfabetização utilizados nas escolas
paroquiais das igrejas presbiterianas da Missão Oeste do Brasil (WBM) e analisar suas características
didático-pedagógicas, aplicação e resultados. O trabalho justifica-se por constituir-se em um elemento
diferenciador na História da Educação Brasileira e em especial, pela implantação de métodos de ensino
e de alfabetização considerados modernos para a época. Metodologicamente foram utilizadas a
Pesquisa Bibliográfica sobre a História da Educação Brasileira e a História do Presbiterianismo, a
Pesquisa Documental (Atas, Relatórios e Material Didático elaborado por Martha Litlle para as
professoras alfabetizadoras) e História Oral (entrevistas com ex-professoras). O período foi delimitado
de 1954 a 1976, época de atuação da supervisora Martha Litlle nas escolas paroquiais da WBM. A WBM
caracteriza-se por sua mobilidade e a ênfase na evangelização. No final do século XIX os missionários
presbiterianos deslocaram-se de Campinas-SP para Minas Gerais: Triângulo Mineiro, indo em direção à
Região do Alto Paranaíba (1930) e ao Noroeste de Minas (1950). Ao lado das igrejas esses missionários
construíram escolas paroquiais para o ensino da leitura e da escrita, pois ou não havia nas cidades
escolas públicas ou os presbiterianos não eram aceitos nelas. Para dar unidade ao trabalho pedagógico
o Instituto Bíblico Eduardo Lane (Patrocínio-MG) em 1933iniciou um curso de formação de professoras e
em 1948 chegou ao Brasil a educadora norte-americana Martha Litlle para supervisionar as escolas. Ela
visitava anualmente as escolas paroquiais e no período de férias reunia todas as professoras na cidade
de Ceres-Go para cursos de capacitação. Lá as professoras estudavam sob influencia do escolanovismo,
os métodos de ensino norte-americanos, em especial o Método Analítico de Alfabetização. As práticas
pedagógicas ensinadas às professoras também tinham elementos da pedagogia de Froebel e Pestalozzi
quanto à organização da pré-escola: o mini culto antes das aulas, a utilização de músicas e materiais
concretos, atividades lúdicas, a participação da família na escola, a formação moral. As escolas
presbiterianas procuravam seguir a proposta curricular do Estado de Minas Gerais e na década de 1950
adotaram o livro de contos de João Lúcio Brandão “O Livro de Violeta” a partir do segundo ano primário.
Porém, as crianças do pré-escolar e do primeiro ano primário eram alfabetizadas através da utilização
dos métodos analítico (palavras, músicas e contos do livro “As mais Belas Histórias” de Lúcia Casasanta)
e sintético (exercícios de prontidão, discriminação auditiva e visual, fonética, utilização de cartilhas,
ênfase nas vogais efamílias silábicas).

259
381
NOTÍCIAS DO INSTITUTO DOS SURDOS-MUDOS, 1868-1896

VERÔNICA DOS REIS MARIANO SOUZA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE, ARACAJU - SE - BRASIL.

Este estudo se propõe a analisar a História da Educação dos Surdos no Instituto dos Surdos-Mudos no
Rio de Janeiro no período de 18681896 e inserir na historiografia educacional a História das pessoas que
apresentam alguma deficiência. O marco temporal, segunda metade do século XIX, compreende a
gestão do médico Tobias Rabelo Leite.Trata-se de uma pesquisa concluída. O trabalho fundamenta-se
nos pressupostos teóricos da História Cultural. Para realização da pesquisa buscou-se várias instituições,
entre elas a Biblioteca Nacional, o Instituto Nacional de Educação dos Surdos (INES) ambos no Rio de
Janeiro, a Biblioteca Epifânio Dória, o Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe e o Arquivo Público de
Sergipe. A vasta documentação encontrada em Aracaju deve-se ao fato de Tobias Leite ser sergipano e
haver publicado no Jornal do Aracaju relatórios sobre a instituição que dirigiu. Foram utilizadas e
analisadas diversas fontes, tais como atas, jornais, relatórios, regimentos, estatísticas, pareceres e livros
escritos, pelo então diretor, Tobias Rabelo Leite. O Instituto Imperial dos Meninos Surdos foi fundado
em 1857, entrou em crise com apenas um ano de funcionamento depois de passar por várias direções.
Em 1866 o médico Tobias Leite realizou uma inspeção no Instituto e constatou que parecia "um
depósito asilar de surdos". O então diretor, Manuel Magalhães Couto, foi exonerado e Tobias Leite
então assumiu o cargo de diretor em 1868; permanecendo no cargo até 1896, ano de sua morte. Foi na
gestão de Tobias leite que a educação dos surdos brasileiros passou a ser divulgada e sistematizada
através de suas obras. O método de ensino intuitivo foi utilizado nesse período, priorizando o ensino
através dos sentidos, fazendo-se uso de um vasto material (mapas, selos e gravuras de origem francesa
e alemã). No Instituto funcionava, também, um museu pedagógico. E nessa época (1876) o Instituto
participou da Exposição Internacional de Filadélfia. No regimento da instituição consta a rotina dos
alunos, o currículo, a metodologia, as medidas disciplinares.... O Instituto dos Surdos Mudos recebia
apoio do Imperador Pedro II que participava das solenidades do estabelecimento. Percebe-se que em
vários momentos houve discussões a respeito de qual a melhor metodologia a ser usada na educação
dos surdos. Durante os vinte e oito anos em que dirigiu o Instituto, Tobias foi figura participante nas
discussões educacionais do Império e do início da primeira República. E lutou incessantemente para a
divulgação da educação dos surdos nos anos oitocentos foi considerada uma escola moderna.

1258
O APRENDER E O ENSINAR – OS ESPAÇOS URBANOS E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA AS PRÁTICAS
EDUCATIVAS NÃO ESCOLARES

KELLY LISLIE JULIO.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL-REI, SAO JOAO DEL REI - MG - BRASIL.

Essa comunicação, parte de uma pesquisa desenvolvida durante o mestrado, tem como objetivo
demonstrar que o processo ensino-aprendizagem não se resume apenas aos ambientes de natureza
escolar, podendo ocorrer nos mais variados espaços de sociabilidade. Para isto, foi escolhido os espaços
urbanos das Vilas de São João del-Rei e São José del-Rei, Minas Gerais, entre 1808 e 1840. As duas Vilas,
pertencentes ao eixo minerador, foram duas localidades de intensa atividade urbana. Dessa grande
movimentação, surgiram instituições e espaços que permitiam o encontro de pessoas pertencentes aos
mais variados grupos que compunham a sociedade. Essas pessoas, munidas de costumes, ideias e
atitudes específicas do seu grupo, conviviam nos espaços e instituições existentes e, a partir desta
convivência, tornava possível a troca de representações de mundo. Tendo como base esta concepção,
ou seja, de que havia uma confluência de ideias e, a partir daí, novas eram criadas é que pretendo
destacar os espaços urbanos e as instituições como educativas e, ao mesmo tempo, exercendo funções
pedagógicas. Tais espaços poderiam ser tanto os físicos, como os agrupamentos de pessoas, sejam eles
religiosos, políticos, econômicos ou culturais que a partir das representações inscritas em cada um
deles, tentavam educar as pessoas. Assim, as igrejas, o comércio, as praças e outros ambientes como as

260
irmandades, as orquestras, as festas civis e religiosas passam a ter um papel importante na função
educativa. Esta perspectiva amplia a noção de educação, pois além da escola, outras instituições são
vistas como parte do processo de formação e instrução das pessoas. Para o desenvolvimento da
presente comunicação, será feita uma análise dos sermões, relatos de viajantes, periódicos do período e
arquivos da câmara municipal a fim de identificar alguns espaços e instituições existentes no início dos
oitocentos nas duas Vilas mencionadas acima. A partir desta identificação, será feita uma análise de
cada um dos espaços e, ao mesmo tempo, serão apontados alguns aspectos que possam identificar um
processo educativo em curso permeado por uma idéia de civilidade existente no período que foi
desempenhado por essas instituições. Aludindo à Nova História, o trabalho refere-se ao cotidiano, pois
procura indícios que possam demonstrar as práticas educativas presentes nos espaços comuns. Devido a
isso, os referenciais teóricos-conceituais são Nobert Elias (1993 e 1994); Morel (2005); Roger Chartier
(1990), Chamon (2002) e Veiga (2002).

659
O CANTO ORFEÔNICO, NO PROJETO DA FORMAÇÃO DE UMA CULTURA NACIONAL: PRÁTICAS EM
ESCOLA SECUNDÁRIA EM SANTOS (DÉCADAS 1930-1960)

MARIA APPARECIDA FRANCO PEREIRA.


UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SANTOS, SANTOS - SP - BRASIL.

O tema da comunicação é a proposta de considerar a educação como instrumento de desenvolvimento


da cultura brasileira, como fortalecimento do Estado Nacional, a partir do governo primeiro de Vargas e
seus efeitos nas décadas seguintes. A cultura nacional é vista como componente de moralização da
sociedade brasileira, identidade entre Estado e Nação fortes e moralizadores. O sistema escolar passa a
ser o grande aliado na transformação moral e cultural, atuando, especialmente sobre a infância e a
juventude. A política de Getúlio Vargas priorizou a família com a missão de criar e educar os filhos. Seu
ministro da Educação Capanema privilegia a educação cívica e os cultos patrióticos. Assim, o Canto
Orfeônico – que já se manifesta desde o início do século XX - será o grande instrumento de integração
das perspectivas do desenvolvimento da cultura brasileira, onde crianças e jovens aprenderão os valores
de patriotismo, de cidadãos amantes da pátria brasileira. A música tem um papel marcante, com a
presença do maestro Heitor Villa-Lobos, que batalha na recuperação do folclore, da música popular e na
popularização da música erudita (Concertos da Juventude), mas é principalmente o canto orfeônico,
canto coral popular que se desenvolve em nossas escolas. Várias publicações de conhecimento de
música, de canto orfeônico e de hinários cívicos e cantigas populares, sobretudoe sobre a cultura
brasileira são criados ou levantados como Qual cisne branco [...] (Canção do Marinheiro), Manhãs de
Sol, do meu Brasil, Uirapuru etc. Autores como Antonio Rayol (Maranhão, 1902), Fabiano Lozano, João
Baptista Julião, José Siqueira e o próprio Villa Lobos têm suas obras difundidas nas escolas , com teoria
musical e/ou cantos infantis e folclóricos. O canto orfeônico é também ligado à educação física em
espetáculos rítmicos com ginástica. O objetivo desta comunicação é resgatar a perspectiva dessas
práticas educativas na educação escolar, tendo presente um estudo de caso: uma instituição escolar de
Santos, a Escola Estadual “Canadá”, nas décadas 1930-1960. Pretende-se apresentar as práticas
escolares, a literatura musical e os cantos mais utilizados nos orfeões escolares, evidenciando a política
educacional iniciada na época getulista. Privilegiam-se as obras e as atividades da professora Yolanda de
Quadros Arruda que atuou com brilhantismo na escola santista. A metodologia utilizada foi o
levantamento inicial de estudos sobre o assunto na historiografia brasileira. Analisam-se algumas obras
da literatura orfeônica e a documentação encontrada no Colégio Canadá. São importantes, na pesquisa,
a voz de ex-alunos e os eventos, na imprensa local. O estudo está em andamento, porém algumas
conclusões já podem ser percebidas, como a eficácia da atuação de professores de música no período
getulista e anos seguintes (1934-1960), na cidade de Santos.

261
1386
O COLÉGIO DE CALÇADO E SUAS PRÁTICAS EDUCATIVAS

ALACIR ARAÚJO ARAÚJO SILVA.


FACULDADE SABERES, VITORIA - ES - BRASIL.

Este trabalho tem como objeto de estudo o Colégio de Calçado, instituição educacional particular, na
cidade de São José do Calçado, interior do Espírito Santo, período 1939 a 1958, gestão Mercês Garcia
Vieira. Constitui, pois, uma temática sobre a história da educação em São José do Calçado, ES. O recorte
espaço-temporal estudado – 1939, ano da fundação do Colégio de Calçado, a 1958, ano de sua
encampação pelo estado -- corresponde ao período de criação, desenvolvimento e ritos de passagem do
educandário, instituição referência, no período pesquisado, pela qualidade de sua proposta educativa. A
instituição alcançou seu mais alto conceito junto aos alunos, funcionários e comunidade, tornando-se
referência de qualidade reconhecida pelo ministério da educação, equiparada ao padrão nacional da
época, que era dado pelo Colégio Pedro II do Rio de Janeiro. O estudo sobre essa instituição educacional
se deveu às singularidades da proposta educativa que oferecia naquele período, vivenciada nas histórias
dos atores no cotidiano escolar, contribuindo, dessa forma, com a historiografia educacional. Além
disso, merece ser investigada, também, pelo papel que desempenhou no imaginário da sociedade
calçadense da época, com reflexos para o seu devir. Assim sendo, ao se fazer a leitura do Colégio de
Calçado, período 1939-1958, foram consideradas as especificidades regionais, bem como as
singularidades locais e institucionais a fim de se construir uma interpretação dessa instituição particular
de ensino, no seu contexto social e educacional, na gestão Mercês Garcia Vieira. O Colégio de Calçado,
fundado no ano em que iniciou a Segunda Guerra Mundial e, embora localizado numa pequena cidade
do interior, teve participação efetiva na conscientização da juventude sobre as causas do conflito, bem
como na mobilização da sociedade na campanha dos chamados pró-bônus de guerra. O estudo teve
como objetivos: 1-Analisar a imagem da instituição, período 1939 -1958, por meio de memórias de ex-
alunos, artigos publicados, jornais, fotos; 2- Identificar as práticas educativas do colégio que o levaram a
se constituir numa referência educacional da época. Utilizamos como fonte material memorialístico da
instituição, como acervo iconográfico, publicações, periódicos e entrevistas. Em relação à metodologia
utilizada, foram realizados:1-Levantamento de material memorialístico da instituição: entrevistas de ex-
alunos, fotos, publicações;2-Análise dos materiais coletados;3-Análise da legislação educacional da
época.

1119
O CURSO DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE: GÊNESE, IMPLANTAÇÃO E
TRANSFORMAÇÕES

MARIA ANGÉLICA MELO ROSA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE, ARACAJU - SE - BRASIL.

O objetivo neste artigo é descrever as etapas por que passaram os sujeitos envolvidos na criação do
curso de medicina no Estado de Sergipe, seus embates, suas concepções ideológicas e além de tudo o
ideal humano e disposição de implantar um curso que pudesse atender aos jovens sergipanos em sua
formação no próprio estado, contando com o apoio dos médicos atuantes, nesta época, no Hospital
Cirurgia, situado na cidade de Aracaju. O envolvimento da categoria foi determinante para estabelecer
direções para a criação da Sociedade Civil de Medicina de Sergipe, iniciada a partir dos anos 50, mas
precisamente em 1953. Esta sociedade é o enfoque principal do surgimento de um ideal de vanguarda
de estabelecimento de fronteiras, que delimitam o conhecimento no âmbito da saúde dentro do próprio
Estado, numa clara demonstração de capacidade e autonomia na formação dos médicos sergipanos.
Durante o processo de criação da Universidade Federal de Sergipe, vários aspectos socioeconômicos são
abordados, tendo em vista as condições que se fazem necessárias para o funcionamento de um curso de
medicina, suas peculiaridades, seus laboratórios, e todo o aparato tecnológico. O governo da época bem
como a sociedade sergipana irá atuar de forma muito importante para que a consolidação do curso
aconteça, e dentro desse envolvimento irão se destacar o movimento estudantil como parte integrante

262
e atuante no processo de criação. A gênese do curso, a implantação, o efeito das reformas e
apropriação de espaços para o funcionamento do curso de medicina são aspectos fundamentais que
devem guiar esta pesquisa. Para a construção do estudo serão levados em consideração os conceitos de
História e Memória que repousam nas concepções defendidas por Marc Bloch que define a primeira
como “a ciência dos homens no tempo” (apud LE GOFF, 2003, p. 23). Para Le Goff, a memória “é um
elemento essencial do que se costuma chamar identidade, individual ou coletiva, cuja busca é uma das
atividades fundamentais dos indivíduos e das sociedades de hoje, na febre e na angústia” (LE GOFF,
2003, p.469). Os estudos de Rollemberg & Santos (1999), Silva (2007), Santana (1997) e Santana
(2003), além das fontes colhidas no Departamento de Medicina e no Arquivo Central da Universidade
Federal de Sergipe, tais como: resoluções de criação, entrevistas com ex-alunos, professores e
funcionários além de placas de formandos e iconografias são fundamentais para a construção deste
estudo. Esta pesquisa está relacionada a pesquisa em andamento, que conta com o apoio da PROEX/UFS
(Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal de Sergipe), intitulada Universidade Federal de
Sergipe – de Escola Superior a Universidade multicampi” e a sua realização, certamente contribuirá para
aprofundar o conhecimento acerca da criação e funcionamento do curso de medicina, um dos cursos
mais concorridos da Universidade Federal de Sergipe.

721
O ENSINO PRIMÁRIO DE MATEMÁTICA NA PROVÍNCIA DO ESPÍRITO SANTO

EDUARDO VIANNA GAUDIO.


UFES, VILA VELHA - ES - BRASIL.

Este texto refere-se a um trecho de minha tese de doutorado em Educação na linha de Educação
Matemática, que se encontra em fase de defesa no Programa de pós-Graduação em Educação, da
Universidade Federal do Espírito Santo. Esse trabalho tem como objetivo constituir uma identidade do
Ensino Primário de Matemática no Espírito Santo no período 1840-1870. Partindo do método indiciário,
buscamos, em documentos da província do Espírito Santo, indícios do Ensino Primário de Matemática.
Na busca de um certo realismo na construção histórica, em nossa pesquisa, acreditamos não ter função
saudosista, nem caráter misericordioso com o passado, mas acreditamos estar em busca de uma
verdade, verdade esta que pode nos apontar outros olhares sobre a nossa identidade social, cultural,
escolar. Uma busca um tanto árdua, pois poucos são os registros que conseguimos resgatar que
apontam para a temática. Basicamente utilizamos as leis imperiais e as leis provinciais; os relatórios
produzidos pelos presidentes da província do Espírito Santo; as comunicações entre os professores, os
inspetores de ensino, e a diretoria geral de ensino da província; o texto de Levy Rocha que retrata a
visita de D. Pedro II ao Espírito Santo em 1860; fragmentos do jornal “Correio da Victória”. Dentre a
consulta possível conseguimos apontar elementarmente: o currículo básico, a partir das designações
legais ao que devia ser ensinado e para quem devia ser ensinado, também a partir das inquisições do
Imperador, D. Pedro II, aos alunos das escolas que visitou em 1860; alguns indícios de metodologia a
partir dos métodos de ensino indicados pelos regulamentos, pelos materiais disponíveis para a
realização das aulas, e pela forma de apresentação dos conteúdos em alguns livros didáticos; os livros
didáticos, compêndios, que eram destinados a estes estudos, dentre eles destacamos o compêndio de
Monteverde e o compêndio do professor Coruja; a interlocução da sociedade com o ensino a partir do
sistema de medidas e dos cálculos comerciais básicos, que estão presentes nas correspondências
oficiais, e nos anúncios de jornal. Adiantamos as conclusões de nosso texto apontando um ensino
incipiente, com experimentações diversas em metodologias, e professores não capacitados para tal
investidura. Legalmente buscando encontrar parâmetros que pudessem gerar resultados satisfatórios,
principalmente em prol do processo civilizatório, que acreditavam ser fundamento para a constituição
de uma nação independente, porém com resistências fortes de uma sociedade provinciana que não
vislumbrava mudanças significativas de seu modo de vida, e nem mesmo na educação como um projeto
necessário para o desenvolvimento político, econômico e social.

263
681
O ENSINO PRIMÁRIO E AS PRÁTICAS EDUCATIVAS EM MINAS GERAIS: TRABALHO, NAÇÃO E
INTOLERÂNCIA (1930-1954)

ALINE CHOUCAIR VAZ.


UFMG E UNIFEMM, BELO HORIZONTE - MG - BRASIL.

Esta comunicação refere-se a minha pesquisa de doutorado em andamento em que analiso as


representações sociais e políticas sobre a idéia de trabalho no tocante à infância, com uma interlocução
nos aspectos que se relacionam à modernização, nação, gênero, religião e mestiçagem/eugenia. Um dos
conceitos fundamentais para a reflexão do discurso do trabalho ancora-se na perspectiva da
intolerância, de ações e discursos que excluem o sujeito não trabalhador da sociedade e aqui são
referenciados no ensino primário. Analiso os materiais didáticos deste ensino, como os livros de leituras
e moral e cívica, cartilhas, livros de metodologia do ensino primário, além dos suplementos infantis da
imprensa mineira durante os anos de 1930-1954, apontando como os discursos sobre o trabalho são
ancorados numa ordem, ao mesmo tempo referendada pelo catolicismo, por meio da virtude do esforço
para se chegar à pureza, como também numa ótica burguesa clássica em que o “pesadelo” do não
trabalho se materializava na perspectiva do ócio, parasitismo e da ausência de produtividade. A ênfase
da construção de uma identidade nacional coletiva com destaque à criança “a ser preparada para o
trabalho” é apresentada nos materiais analisados. As categorias de gênero e mestiçagem são associadas
a análise quando, por meio delas, é possível problematizar as representações construídas sobre as
tarefas, atividades e o trabalho a ser exercido por grupos sociais distintos, na discussão de uma raça
(mestiçagem/eugenia) a ser preparada para o trabalho. O enfoque no ensino primário se justifica
quando em momentos variados se constrói ações efetivas de nacionalização deste ensino, por meio da
alfabetização da língua pátria, tornando-se palco de profusão das idéias força na sociedade das noções
de trabalho e do seu papel para o país. Também a escola primária exerceu um importante papel para os
diversos grupos sociais, na medida em que articulou a criança às primeiras noções escolarizadas e do
acesso ao conhecimento social. Os referenciais teóricos desta pesquisa sustentam-se nos conceitos de
imaginário social de Bronislaw Backzo, representações sociais de Roger Chartier, intolerância dos textos
organizados por Françoise Barret-Ducrocq, além de referências da História da Educação que discutem a
relação da cultura política com as práticas educativas.

1172
O ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL: FORMAÇÃO RELIGIOSA, EDUCAÇÃO RELIGIOSA, AULA DE RELIGIÃO?

PAULA MARIA ASSIS.


PUC-SP, SAO PAULO - SP - BRASIL.

Este trabalho tem como objetivo pesquisar o processo histórico de constituição da disciplina de Ensino
Religioso no Brasil e todas as mudanças ocorridas na sua estrutura no decorrer do século XX. Pretende-
se discutir o Ensino Religioso como disciplina escolar analisando seus livros didáticos e materiais de
apoio usados por professores para por em prática está disciplina. Analisar Ensino Religioso dentro do
âmbito escolar pressupõe um estudo sobre a história das disciplinas escolares. É importante ressaltar
que tratamos aqui do Ensino Religioso como disciplina escolar, diferente daquele que é ensinado dentro
do ambiente de culto, embora muitas vezes era o mesmo dentro e fora da escola, contudo, com
finalidades diferentes. Podemos perceber dois momentos marcantes. Primeiramente, nos anos iniciais
do século XX, primeiros anos da República, em que existe a separação constitucional entre Estado e
Igreja. A Igreja é retirada do universo educacional público e retornando na década de 1930,
reformulada, atendendo as novas expectativas escolares. O segundo momento é o período que
corresponde a elaboração da LDB 9.394/1996. Tentando se integrar às novas perspectivas de educação
que privilegia as diferenças e a integração cultural, elabora-se um PCN desfigurando o caráter religioso
confessional da disciplina. Tanto em um quanto em outro momento, o que podemos deduzir que esses
são pontos estanques, em que há uma reestruturação, com a necessidade novas de estratégias para a
legitimação das novas propostas. Importante que se tenha clareza desses diferentes momentos para se

264
evitar anacronismos, uma vez que o Ensino Religioso assumiu diferentes sentidos no decorrer do tempo.
A questão central da pesquisa gira em torno da pergunta: Por que existe um interesse tão grande em se
manter este componente curricular na escola, mesmo passando por tantas transformações e muitas
vezes não atendendo as expectativas da sociedade? Parto da hipótese de que a disciplina é o reflexo das
disputas da Igreja Católica na tentativa de se manter hegemônica dentro da sociedade brasileira e para
isso busca constantemente novas estratégias. Para tanto, esta pesquisa terá como fonte privilegiada os
Livros didáticos de Ensino Religioso, ele é um material pedagógico, tem características próprias,
diferentes dos outros livros. Pertence ao universo escolar, é mercadoria, mas também é objeto cultural;
além de manuais pedagógicos, legislação, planejamentos e diários de classes e se necessário, entrevistas
com professores, alunos e autores de livros de Ensino Religioso. Para este trabalho terei como
referencial as pesquisas sobre as disciplinas escolares autores como Ivor F. Goodson, André Chervel,
Kazumi Munakata, Circe Bittencourt, Alain Choppin.

759
O ESPAÇO, O TEMPO E A CULTURA ESCOLAR NA ESCOLA INDUSTRIAL DE NATAL (1942-1968)
1 2
MARIA DA GUIA DE SOUSA SILVA ; MARLÚCIA MENEZES DE PAIVA .
1.IFRN - UFRN, NATAL - RN - BRASIL; 2.UFRN, NATAL - RN - BRASIL.

Este trabalho é parte de uma pesquisa em desenvolvimento, no Doutorado em Educação da


Universidade Federal do Rio Grande do Norte, e tem como objetivo analisar como a Escola Industrial de
Natal organizou o seu espaço, o seu tempo e a sua cultura escolar. A partir do ano de 1942, a Escola
Industrial de Natal passa a ofertar o curso de Mecânica de Máquinas, Marcenaria, Artes do Couro e
Alfaiataria, todos eles com duração de 4 (quatro) anos. Além desses cursos, a partir do ano de 1945, a
Escola também passaria a oferecer o curso de mestria, com duração de 2 (dois) anos. Esse curso,
destinado aos ex-alunos do ensino profissional, visava a preparar os mestres de oficina. Para tanto, o
estudo destaca a organização da arquitetura da Escola, reconhecendo o espaço do prédio escolar como
lugar que se constitui a partir das demandas provenientes de um currículo que, oficialmente, tinha em
vista a formação de alunos pontuais, assíduos, capazes de cuidar do corpo, respeitar as outras pessoas,
cumprir os seus deveres e exercer uma atividade profissional. Além disso, essa investigação leva em
conta a localização da Escola e suas relações com o seu entorno, bem como o traçado arquitetônico do
edifício, a distribuição do espaço com os lugares destinados às suas práticas educativas. Nesse sentido, a
sua ordenação interna refletia a forma como a Escola demarcava as especificidades de ocupação e
circulação de cada sujeito nos ambientes, localizados no térreo e no pavimento superior, constituindo-
se em transmissores de saberes. Nesse contexto, a utilização do controle do tempo, no
desenvolvimento das atividades educativas, tornou-se fundamental. O referencial teórico-metodológico
utilizado nesse trabalho centra-se na análise qualitativa, dando ênfase aos documentos históricos
existentes no arquivo da própria Escola, hoje IFRN, como portarias da Direção da Escola, ofícios da
Diretoria de Ensino Industrial e fotografias que revelam flagrantes de sua rotina e de alguns de seus
rituais. Também privilegiamos alguns depoimentos de ex-alunos e de ex-professores que, ao
vivenciarem essas práticas educativas da Escola Industrial de Natal, tornaram-se sujeitos ativos do
processo de constituição de sua cultura escolar. Os autores Escolano (2001) e Julia (2001) ajudam-nos a
compreender como um conjunto de normas e práticas, inserido no cotidiano desse espaço educativo,
era transmitido e absorvido por esses sujeitos. Os estudos sobre a Escola Industrial de Natal (1942-1968)
têm possibilitado compreender o processo de constituição dessa instituição, que se tornaria uma das
mais importantes instituições de ensino profissional do Estado do Rio Grande do Norte.

265
614
O GRÊMIO DAS VIOLETAS, A CRUZ VERMELHA PARANAENSE E AS DISCUSSÕES SOBRE A SAÚDE
INFANTIL PARA A ORGANIZAÇÃO DO HOSPITAL DE CRIANÇAS DE CURITIBA

CLAUDINÉIA VISCHI AVANZINI.


UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ, CURITIBA - PR - BRASIL.

Neste artigo foram analisados aspectos do processo que resultou na organização do Hospital de
Crianças de Curitiba no inicio do século XX. A opção pelo estudo das ideias e ações que resultaram na
organização deste Hospital (micro) acaba por auxiliar o entendimento do macrocosmo (sociedade
curitibana) e, por sua vez, auxilia a compreensão da forma como a saúde infantil era percebida nas
primeiras décadas do novecentos na capital do estado do Paraná. Portanto, através desta pesquisa,
teve-se a intenção de investigar o processo múltiplo que resultou na organização do Hospital de
Crianças, percebendo como se explicitava a preocupação com a saúde infantil (de médicos e outros
membros da sociedade), quais as ideias que permeavam os debates sobre o tema, quais as instituições
que precederam e colaboraram para o delineamento da organização do Hospital de Crianças e,
principalmente, qual o ideário educacional que marcou esse processo relacionado ao cuidado com a
saúde infantil. Dentre as diversas ações que influenciaram a organização da Cruz Vermelha Paranaense
em Curitiba, em 1917, a construção de um hospital para crianças acabou sendo um dos objetivos da
instituição já em 1919. A Cruz Vermelha foi organizada em Curitiba a partir da movimentação do Grêmio
das Violetas, organização feminina da sociedade curitibana do final do século XIX. Esta organização
feminina logo foi sendo substituída na Cruz Vermelha Paranaense por uma diretoria mista, composta
por cavalheiros e por algumas senhoras já no ano de 1917. Até 1930, a Cruz Vermelha Paranaense
funciona provisoriamente numa casa cedida para o Instituto de Higiene Infantil também denominado
pela imprensa curitibana de Polyclinica Infantil, quando o Hospital de Crianças é oficialmente
inaugurado passando a funcionar num prédio próprio juntamente com a Cruz Vermelha. Como fontes
para este estudo foram utilizados relatórios de atividades (em tópicos de 1922 a 1995 e resumos de
1917 a 1956), gráficos temporais/anuais das atividades desenvolvidas pelo Hospital; dois históricos da
instituição escrito por médico do Hospital, um livro comemorativo publicado em 1978, fotos e notícias
publicadas em jornais diários. Metodologicamente, esse trabalho, que procura resgatar e discutir
historicamente os começos plurais do Hospital de Crianças optou pelos caminhos historiográficos
proporcionados pela história social, quer em sua matriz da Escola dos Annales, passando pela revisão
feita pela chamada Nova História, assim como pela obra de Edward P. Thompson. A pesquisa encontra-
se em andamento e desempenha um papel muito importante no aprofundamento dos conhecimentos
sobre a organização do hospital, compreendendo-o integrante de um processo histórico, cultural e
social que envolve a produção de saberes e práticas educativas.

615
O INSTITUTO DE EDUCAÇÃO DE PERNAMBUCO-IEP: COMO TUDO COMEÇOU?

ANA PAULA RODRIGUES FIGUEIROA; JOSÉ LUIS SIMÕES.


UFPE, RECIFE - PE - BRASIL.

A pesquisa é parte da dissertação do mestrado em educação pela Universidade Federal de Pernambuco,


que se encontra em andamento, onde será apresentada ao núcleo de teoria e história da educação. Traz
a trajetória da história da Escola Normal Oficial de Pernambuco ao Instituto de Educação de
Pernambuco, hoje denominada Escola Sylvio Rabello. A pesquisa representa uma contribuição para a
história das instituições de ensino do Recife, sobretudo para a preservação da memória histórica de uma
instituição escolar responsável pela formação de mestres das primeiras letras no século XX. A escola,
como toda instituição social, sempre foi objeto de inúmeras pesquisas. Desde sua origem até os dias
atuais busca-se conhecer a importância de tal instituição para a sociedade, uma vez que influencia e
interfere na formação dos indivíduos. A história, a educação e a sociedade são intrinsecamente ligadas,
nesse contexto tem-se como objetivo traçar a história da Escola Normal de Pernambuco até o início do
Instituto de Educação, levando em consideração as práticas pedagógicas, políticas, sociais e as

266
transformações econômicas em cada época, consolidando um novo tipo de sociedade. Onde se
observará que nesse processo também houve a questão do gênero feminino e é nessa conjuntura que
voltamos o olhar para refletir quais foram os motivos que levaram essas mulheres a buscar, num
ambiente extra familiar, uma formação intelectual, oposta ao pensamento vigente da época em que,
para a mulher, estava reservado o papel de mãe e de dona de casa. Esta pesquisa tem como referencial
alguns autores, entre eles Norbert Elias e a forma de organização da sociedade e o comportamento,
Michel Foucault e a forma disciplinadora, Guaracira Louro nos ajudando a compreender como se dá esse
processo de saída da mulher do lar para freqüentar a sala de aula, além das fontes apresentadas se
recorrerá a idéias consolidadas e construídas por pesquisadores que, de alguma forma, dedicaram seus
estudos a história da educação brasileira e especificamente a pernambucana. Para responder a essas
interrogações se fará uma metodologia que utilizará o arquivo do Instituto de Educação de
Pernambuco-IEP, o arquivo público estadual e da Fundação Joaquim Nabuco-FUNDAJ, além das fontes
apresentadas nessas instituições públicas, se terá base em pesquisadores consolidados, ou seja, a
metodologia adotada envolve referências bibliográficas, relatos pessoais (entrevistas), utilização de
documentários, jornais da referida época; além da analise iconográfica, possibilitando o conhecimento
dos valores, dos costumes, das opiniões, as relações sociais e familiares vivenciadas pelos informantes.

1327
O LICEU ESCOLA DE ARTES E OFÍCIOS MESTRE RAIMUNDO CARDOSO E O SABER CERAMISTA (1996-
2006)

ADRIENE SUELLEN FERREIRA PIMENTA; MARIA DO PERPÉTUO SOCORRO DE SOUSA AVELINO DE


FRANÇA.
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ - UEPA, BELEM - PA - BRASIL.

A presente pesquisa em desenvolvimento trata da análise da proposta pedagógica do Liceu Escola de


Artes e Ofícios Mestre Raimundo Cardoso no período de 1996 a 2006. Tal escola está localizada em
Icoaraci, distrito de Belém/PA, onde há a produção de cerâmica, que constitui uma forma de
manifestação da cultura local. Grande parte da produção dessa cerâmica está no bairro do Paracuri,
onde está localizada a referida escola, a qual possui um núcleo de artes, onde são desenvolvidas práticas
pedagógicas envolvendo a cerâmica. O objetivo deste estudo é analisar a proposta pedagógica dessa
instituição, assim como, investigar as condições históricas que levaram a sua criação e com isso, tentar
compreender o papel desta escola e de seus alunos em relação a preservação do saber ceramista. Tem
como perspectiva teórica os estudos de Clifford Geertz, Peter McLaren, Stuart Hall, Calos Rodrigues
Brandão, Roque Barros Laraia, Marlucy Alves Paraíso, Alfredo Veiga Neto, dentre outros autores que
dissertam acerca das temáticas como educação, história, cultura e saber ceramista. Do ponto de vista
metodológico trata-se de pesquisa de campo e documental com abordagem qualitativa, na qual será
utilizada a técnica da entrevista. A cerâmica configura-se como um dos ramos do artesanato que agrega
os hábitos, os costumes, as tradições, os conhecimentos e as experiências de determinado povo,
constituindo um seguimento rico fundamentado na vivência do homem. Sem deixar de compreender da
mesma forma, que ela é parte dos materiais utilitários para o dia a dia de diversos grupos humanos,
assim como utensílios utilizados para guardar alimentos, cozinhá-los e até mesmo servi-los em
momentos ritualísticos. A cerâmica de Icoaraci é uma forma de manifestação da cultura local que é
repassada de geração em geração. Ela agrega características de povos milenares das tribos Tapajônicas,
Marajoara e Maracá, que habitaram a região do Tapajós, Ilha do Marajó e do rio Maracá no Amapá,
além de incorporar a estilística dos próprios artesãos do lugar, o que torna essa arte única. O que
contribuiu significativamente para que a produção da cerâmica se desenvolvesse em Icoaraci foi a
presença de grandes jazidas de argila nos leitos dos rios e igarapés que cortam esse distrito. O Liceu
Escola fundado em 1996 tem como base de seu Projeto Pedagógico a cerâmica vinculada ao tripé
ensino, pesquisa e extensão. Percebe-se ainda, que a cerâmica é recorrente nas práticas pedagógicas
desenvolvidas no núcleo de artes do Liceu.

267
1185
O LYCEU EM GOIÁS: FORMAÇÃO DE ELITE INTELECTUAL 1906 A 1969

FERNANDA BARROS BARROS.


UFG-FE/CAPES, GOIANIA - GO - BRASIL.

A proposta da pesquisa é analisar a relevância das ações dos ex-alunos do Lyceu de Goyaz e do Lyceu de
Goiânia no Estado de Goyaz até o ano de 1969. Propomos esta análise a partir da afirmação de que a
elite intelectual de um lugar tem as mesmas condições de ação que a elite econômica e política.
Portanto, se o Lyceu conseguiu formar um grupo de intelectuais respeitados em todo o Estado, qual o
retorno dado para a sociedade por este grupo? A delimitação espacial é o Lyceu de Goyaz e Lyceu de
Goiânia. A delimitação temporal de 1906 a 1969 apresenta motivos relevantes, 1906 foi o ano em que a
equiparação do Lyceu ao Colégio de Pedro II se efetivou e 1969 foi o momento em que a instituição
deixou seus últimos traços de educação humanista e passou a integrar a rede pública estadual sem
diferenciações das demais instituições. A educação brasileira sempre foi usada como instrumento de
elitização, seja no período jesuítico, seja nos posteriores, o homem que chegava à escola era visto pela
sociedade de forma diferenciada. Pensadores e educadores brasileiros deixam este pensamento claro
em seus escritos. A juventude era educada sob os desígnios de que a escola não era para todos, pois só
quem realmente se esforçava poderia adentrá-la; e sabemos que este esforço era tanto financeiro
quanto intelectual, pois para se dedicar aos estudos o aluno teria que ser sustentado e não ser
trabalhador; era um grupo da elite econômica da sociedade. Levantamos a hipótese de que estes ideais
de elitização pela educação foram difundidos pelo grupo de bacharéis formados pelo Lyceu, pessoas que
se tornaram a voz cultural do Estado, como jornalistas, professores, advogados, políticos, médicos,
engenheiros entre outros profissionais. A metodologia da pesquisa documental que se realiza é
primeiramente a produção de um banco de dados dos alunos que ali estudaram de 1906 a 1669. Este
reúne informações sobre a vida escolar dos alunos, desde filiação, data de matrícula, conclusão, ou
transferência. Pretendemos identificar e analisar a atuação dos bacharéis formados pelo Lyceu de Goyaz
e pelo Lyceu de Goiânia. A coleta de dados ainda está em andamento, as fontes já consultadas são os
diários oficiais, que estão no Arquivo Público do Estado de Goiás, neles encontramos a legislação
educacional do ensino público secundário estadual e também documentos inerentes ao Lyceu, como
legislação interna, e nomes de alunos da instituição. Dada esta fase como concluída faremos uma
comparação do banco de dados com os nomes de pessoas ligadas à intelectualidade goiana, bem como
o poder público e poder judiciário: Governadores de Goiás, Deputados Estaduais, Deputados Federais de
Goiás, Prefeitos de Goiânia, Vereadores de Goiânia, Promotores Públicos, Presidentes da OAB, Juízes de
Direito de Goiás, Professores da UFG e UCG. Somente a pesquisa empírica nos dará condições de
chegarmos a conclusões sobre a atuação dos egressos do Lyceu em Goiás na cultura política e
intelectual do Estado de Goiás.

1122
O MANUAL DIDÁTICO HISTÓRIA DO BRASIL - CURSO SUPERIOR DE JOÃO RIBEIRO: UMA ANÁLISE SOB
A PERSPECTIVA DA ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO DIDÁTICO

CARLA VILLAMAINA CENTENO.


UEMS, CAMPO GRANDE - MS - BRASIL.

Este trabalho se enquadra num programa de pesquisa que investiga o papel dos instrumentos do
trabalho didático na relação educativa. O referido programa desdobrou-se em projeto de pesquisa –
financiado pelo CNPq – e nesse momento vem analisando manuais didáticos de diversas áreas do
conhecimento, adotados no Colégio de Pedro II desde o Império até 1945. A investigação proposta
sobre o manual didático como instrumento de trabalho evidencia sua natureza histórica e questiona sua
naturalização. Tem como pressuposto a necessidade de reconstruir, historicamente, as diferentes
funções assumidas pelos instrumentos de trabalho, visto que essas funções são determinantes para se
compreender o conteúdo e os usos que se fizeram dos mesmos. A chave para a compreensão desses
instrumentos é dada por Comenius, que propôs “ensinar tudo a todos”, tendo como inspiração a
organização técnica do trabalho manufatureiro. Dessa forma, surgiu o manual didático, instrumento que

268
possibilitou a simplificação do trabalho do professor (ALVES, 2001; 2005). A presente pesquisa investiga
os manuais pioneiros de História do Brasil e elege uma temática específica, a Guerra da Tríplice Aliança
(1864-1870). Analisa, em especial, um dos manuais mais importantes produzidos na Primeira República:
História do Brasil - Curso Superior (1900). Seu autor, João Ribeiro, foi catedrático do Colégio de Pedro II,
ocupando a cadeira de História Universal que abarcava História do Brasil. O manual referido influenciou
várias gerações e, segundo Melo (1989), foi adotado até a década de 1950. Teve 17 edições (Hansen,
2000) e uma reedição recente pela Editora Itatiaia (Alves & Centeno, 2009). Intelectuais como
Araripe Junior, Capistrano de Abreu, Licínio Cardoso e José Honório Robrigues consideram João Ribeiro
original em suas teses e renovador dos estudos historiográficos. Algumas de suas idéias influenciaram
vários estudiosos. Uma boa parte dos pesquisadores que vem se debruçando sobre os manuais didáticos
confirma a idéia de que Ribeiro teria renovado os estudos historiográficos. Alguns afirmam que ela se
irradiou, também, para o plano didático (Gasparello, 2004, Hansen, 2000 Bittencourt, 2008). Ainda que
se possa reconhecer a influência inovadora de João Ribeiro, sobretudo nos estudos sobre a “história
interna” do Brasil (Ribeiro, 1914), é necessário relativizá-la. Analisando sua interpretação sobre a Guerra
da Tríplice Aliança, ainda que Ribeiro discordasse politicamente da participação brasileira no conflito, foi
constatado que não se distanciou das demais difundidas à sua época. No que se refere à didática
também é questionável que tenha renovado o ensino de História do Brasil, pois seu manual didático não
supera outros anteriores no que diz respeito à função que exercia. Era um manual que realizava um grau
muito limitado de simplificação e de objetivação do trabalho didático, ainda muito distante do que fora
proposto universalmente por Comenius no século XVII.

729
O PRIMEIRO GRUPO ESCOLAR DE ITUIUTABA: TERRITÓRIO PÚBLICO COM DIFERENTES IDENTIDADES
COLETIVAS
1 2
CLAUDIA OLIVEIRA OLIVEIRA CURY VILELA ; BETANIA OLIVEIRA LATERZA RIBEIRO .
1.UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA, UBERLANDIA - MG - BRASIL; 2.UFU, UBERLÂNDIA - MG -
BRASIL.

A presente pesquisa debruça-se sobre o primeiro grupo escolar de Ituiutaba, cidade contemplada com o
terceiro grupo escolar da região do Triângulo Mineiro, dada sua projeção nacional. O próspero rincão
tinha sua economia aquecida pela qualidade das terras, abundantes em pastagens que favoreciam a
criação do Zebu e pelo expressivo veio diamantífero. Apresenta-se uma discussão peculiar lançando um
feixe de luz sob o território público oferecido pelo Grupo Escolar de Villa Platina, posteriormente
denominado Grupo Escolar João Pinheiro, na primeira metade do século XX. Lugar, por algum tempo, de
convivência comum, abrigando diferentes identidades coletivas. Objetiva entender, como os diferentes
segmentos co-habitavam o mesmo território, produzindo cotidianos díspares. Intenciona entender a
relação que se estabelecia, entre essas coletividades, em um período de pretensa civilidade republicana
e, oferece visibilidade histórica a cada uma. A metodologia pautou-se na pesquisa bibliográfica e
empírica. O estudo bibliográfico contribuiu para o entendimento acerca dos grupos escolares, e sobre os
conceitos de identidade e território. Na busca empírica, esquadrinhou-se o Grupo Escolar de Villa
Platina, o Batalhão do Cabo Firmino, o Grupo Escolar João Pinheiro, a Escola 13 de Maio, a Escola
Noturna Machado de Assis e o Grupo Escolar Ildefonso Mascarenhas da Silva, que são as diferentes
coletividades que por algum tempo dividiram o mesmo lugar - espaço. Como fonte primária elegeu-se o
Jornal Folha de Ituiutaba, principal impresso em circulação nesse recorte temporal. As fontes
secundárias foram atas legislativas de Ituiutaba, anuários estatísticos, iconografia de acervos
particulares dos memoralistas locais, que se constituíram ainda em fontes orais. Apreendeu-se, que
essas diferentes identidades coletivas, destoavam-se socialmente nesse lócus permeado por tensões e
conflitos, onde se travava disputa de poder social; entretanto a “superioridade” do primeiro grupo
escolar de Ituiutaba se sobrepunha, uma vez que o mesmo detinha o espaço físico em questão.
Verificou-se ainda, que a proposta de educação republicana, que sustentava o opulento prédio
educacional, almejava organizar tanto a educação como os aspectos sociais do município. No entanto, o
desinteresse político – educacional do Estado Brasileiro fez ruir a ideologia educacional da República e
tornou esse espaço da formalização educacional, precário e pedagogicamente desestimulante para a
sociedade local. Palavras - chave: instituição escolar, identidades coletivas, território.

269
1039
O PROCESSO DE ESCOLARIZAÇÃO EM SANTA CATARINA ENTRE 1860 E 1870: O DEBATE EM TORNO DA
OBRIGATORIEDADE DO ENSINO

LEONETE LUZIA SCHMIDT.


UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA, SAO JOSE - SC - BRASIL.

No presente trabalho apresento o resultado da pesquisa realizada sobre o processo de escolarização e o


ensino elementar na província catarinense no período de 1860 a 1870, evidenciando o debate dos
dirigentes da província no período em torno da obrigatoriedade do ensino. O objetivo é conhecer as
razões apresentadas em defesa da obrigatoriedade do ensino, naquele momento. Para isso buscou-se
descrever aspectos da materialidade das escolas de primeiras letras do período tais como as normas, os
tempos, os espaços, os sujeitos, os conhecimentos e as práticas escolares; identificar as justificativas
apresentadas pelos dirigentes da província catarinense do período para a criação e manutenção de
escolas de primeiras letras; conhecer os argumentos favoráveis e contrários a obrigatoriedade do
ensino. Para a análise neste trabalho foi tomada a história cultural como referencial teórico,
considerando as fontes utilizadas como objetos culturais. Foram analisados documentos oficiais, como
relatórios do presidente da Província, do diretor geral de Instrução Pública, entre outros documentos
como cartas, ofícios, circulares, livro e outros fundamentais para o entendimento da dinâmica que se
implantava na área da educação escolar em Santa Catarina naquele momento. Além dessas fontes,
também as notícias de jornais sobre a instrução pública foram constantemente utilizadas para se
contrapor aos documentos oficiais. Percebe-se que durante a década de 1860, em Santa Catarina, houve
troca constante de presidentes na província, muito maior que nas décadas anteriores. Esta situação fez
com que muitas das propostas para educação, encaminhadas por um presidente, antes de virar lei eram
desconsideradas pelo sucessor. Com a obrigatoriedade do ensino foi o que aconteceu. Logo no início da
década, o presidente em seu relatório apresentado a Assembléia Legislativa apresentou argumentos
que justificariam a elaboração e aprovação de uma lei que obrigasse os pais a mandar os filhos para
escola e, antes mesmo de ser elaborada a lei outro presidente toma posse e considera “vexatório” tal
propósito. A organização do tempo e do espaço, a definição do que ensinar e que materiais utilizar, a
regulamentação criada, as formas de controle estabelecidas, contribuíam para formar sujeitos
“civilizados”. As normas e práticas giravam em torno da formação de valores como obediência à religião
católica e amor às instituições do Estado. E, sem frequentar a escola como apropriar-se desses valores.

335
O PROGRAMA DO GRUPO ESCOLAR DO PARANÁ (1917) E O ASILO SÃO LUIZ DE CURITIBA, DOIS
ASPECTOS DA RELAÇÃO EDUCAÇÃO E TRABALHO

LIANE MARIA BERTUCCI; SILVANA C.H. PRESTES DA SILVA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ, CURITIBA - PR - BRASIL.

No Brasil, desde pelo menos os anos 1870, com os debates sobre a substituição da mão de obra escrava
pela livre, as discussões sobre a valorização do trabalho como fonte de desenvolvimento e riqueza
pessoal e nacional foram, pouco a pouco, se intensificando. O tema ganhou expressiva dimensão com a
instauração do regime republicano, em 1889, devido a pretensão de muitos entusiastas do novo
governo de “refazer” o Brasil através da educação de seu povo e do trabalho dos cidadãos, o que
concorreria para o progresso nacional. Essa época coincidiu com significativo impulso econômico no
estado do Paraná, devido a indústria da erva-mate e da madeira, que geraram, especialmente na região
de Curitiba, capital do estado, uma rede de oficinas e pequenas fábricas ligadas àqueles produtos, que
eram inclusive exportados. Esse crescimento que fez o território paranaense ser mais explorado e
povoado, significou mudanças sociais para Curitiba: a cidade tinha 24.453 habitantes em 1890, 60.800
em 1910 e 75.000 em 1920. Mas essas transformações, que fizeram a localidade ganhar novos prédios,
ruas calçadas e iluminadas, também geraram problemas, entre eles o aumento do número de pessoas

270
sem ocupação fixa ou perspectiva de emprego. Entre essas pessoas era expressivo o número de
menores (crianças e jovens), situação que preocupou e motivou ações de vários moradores e políticos
locais. Nesse período, em Curitiba, instituições assistenciais e escolares destinadas a menores
intensificaram a utilização do trabalho manual como forma de educação social. No final da década de
1910, iniciativas governamentais e de particulares se complementavam quando o tema era a educação
para o trabalho e sua valorização, com o objetivo maior de transformar crianças e jovens em
respeitáveis cidadãos-trabalhadores. O decreto estadual que regulamentou o Programa do Grupo
Escolar Modelo e Similares, de 19 de junho de 1917, pode ser arrolado como uma destas iniciativas
governamentais: a disciplina Trabalhos Manuais, detalhada no Programa, iniciava crianças em atividades
relacionadas ao mundo do trabalho, explicitando inclusive a divisão entre as atividades masculinas e as
femininas. Entre as ações de particulares, foi exemplar a organização dos cursos profissionalizantes
(carpintaria, sapataria e alfaiataria) no Asilo São Luiz, criado oficialmente em 21 de junho de 1919 pelas
Irmãs de São José. Organizado para amparar órfãos do sexo masculino da gripe espanhola de 1918, o
Asilo passou a receber outros menores de idades variadas e a preocupação com o futuro dos asilados,
com sua inserção social, motivou a organização de cursos profissionais na instituição. Partindo dos
pressupostos da história social, o texto analisa as semelhanças e diferenças entre a proposta escolar
legislativa e a educação asilar e, através delas, procura vislumbrar a sociedade curitibana das primeiras
décadas do século XX.

1103
O USO DE PERIÓDICOS COMO FONTE EM PESQUISA SOBRE INSTITUIÇÃO EDUCATIVA

CLARICE REGO MAGALHÃES; GIANA LANGE DO AMARAL.


UFPEL, PELOTAS - RS - BRASIL.

No trabalho de pesquisa que está sendo realizado a respeito da fundação da Escola de Belas Artes de
Pelotas (EBA), os periódicos da época estão sendo uma fonte fundamental, importantes documentos
históricos. Através das notícias veiculadas nos jornais da época, podemos avaliar a importância que
tinha a instituição para a comunidade pelotense. Lembramos que até a década de 70 era pequeno o
número de trabalhos da área da história que se valiam de jornais e revistas como fontes, ou seja, como
matéria-prima para a operação historiográfica. A tradição do século XIX e décadas iniciais do século XX
não considerava adequado o uso de jornais para o estudo do passado, porque eles conteriam registros
realizados sob o influxo de interesses, compromissos e paixões, fornecendo dados parciais, distorcidos e
subjetivos. Porém, com as mudanças havidas a partir dos anos 30 na própria concepção de documento
(nenhum documento seria neutro) e o fortalecimento da História Cultural (com o estudo das práticas e
representações sociais), os jornais passam da desconsideração à centralidade na produção do saber
histórico. O trabalho com a imprensa periódica é, entretanto, um procedimento complexo. O historiador
deve problematizar a relação entre o que se diz do acontecimento e o próprio acontecimento para que
possa, na medida do possível, alcançar e conhecer o passado. Este texto tem o objetivo de, por meio de
um estudo de caso, refletir a respeito da utilização de jornais como fonte na pesquisa histórica,
tentando verificar, com auxílio de diversos autores que tratam do assunto, suas possibilidades e seus
limites. A pesquisa da qual esta reflexão faz parte está em andamento. É um trabalho de tese cujo tema
é a gênese e trajetória histórica de uma instituição educativa: a Escola de Belas Artes de Pelotas (EBA),
que existiu como instituição de ensino particular de 1949 a 1973, quando foi federalizada. A EBA é a
origem do atual Instituto de Artes e Design da Universidade Federal de Pelotas (IAD/UFPEL). A
metodologia utilizada foi, em primeiro lugar, empreender pesquisa de campo para obter matérias de
jornal que tratassem da fundação de uma escola de arte em Pelotas. Para isto foram pesquisados
periódicos com datas anteriores ao dia 19 de março de 1949, data da fundação da EBA. Como um
segundo passo, este material está sendo abordado segundo referenciais teóricos da história cultural. Ao
que parece, os jornais tiveram o papel de verdadeiros parceiros na luta pela implementação desta
instituição educacional na cidade, e desvelam a mentalidade e o imaginário da comunidade pelotense
da época.
1126
ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO DIDÁTICO: A QUESTÃO CONCEITUAL

271
GILBERTO LUIZ ALVES.
UNIVERSIDADE ANHANGUERA - UNIDERP, CAMPO GRANDE - MS - BRASIL.

Este trabalho é produto teórico de projeto de pesquisa interinstitucional em andamento, denominado


“O manual didático como instrumento de trabalho nas escolas secundária e normal (1835-1945)” e
desenvolvido com o apoio do CNPq. Dois de seus pressupostos teóricos são básicos: 1º.) com o advento
da escola moderna o instrumento de trabalho conquistou centralidade na relação educativa; 2º.) no
conjunto dos instrumentos de trabalho do professor o manual didático granjeou primazia sobre os
demais, pois repousou nele, basicamente, a realização de certo grau de objetivação do trabalho
docente. Daí o manual didático ter sido elevado à condição de objeto privilegiado das investigações
científicas do grupo de pesquisa correspondente. Organização do trabalho didático, desde o início, tem
sido uma categoria de análise angular nessas investigações. Aceita e comungada no interior do grupo de
pesquisa, ela vem lastreando diversos artigos científicos, livros e capítulos de livros. O avanço da
produção científica, em paralelo, vem levantando questões que exigem refinamento teórico. Entre elas,
tem se colocado a necessidade de um retorno às origens da expressão organização do trabalho didático
para testar sua consistência, em especial pela difusão no âmbito da comunidade científica de expressões
aparentemente próximas, como organização do trabalho pedagógico, organização do trabalho escolar e
organização do trabalho docente. Visando superar essa limitação, o presente trabalho persegue dois
objetivos: 1º.) difundir, para além do círculo de seus usuários, a precisa acepção conferida a organização
do trabalho didático; 2º.) estabelecer a distinção entre essa categoria de análise e os significados
atribuídos às referidas expressões aparentemente próximas, difundidas por relevantes obras da
historiografia educacional brasileira. Com este objetivo, são tomadas como referências teóricas obras
clássicas de Marx (1988), Marx e Engels (1986), Lukács (1968 e s.d.), Ratke (2008) e Comenius (1976);
fontes documentais como o Didaqué (2003), além das elaborações referentes a organização do trabalho
didático contidas nos estudos de Alves (2001 e 2005). Por fim, são analisados os conteúdos conferidos
por fontes historiográficas às expressões organização do trabalho pedagógico, organização do trabalho
escolar e organização do trabalho docente. As fontes historiográficas tomadas como parâmetros
cingem-se, respectivamente, aos estudos empreendidos por Freitas (2008), Souza (2008) e Lancillotti
(2008).

1228
OS CAPUCHINHOS ITALIANOS NA FORMAÇÃO DO POVO NO NORDESTE BRASILEIRO (SÉC. XVIII-XIX)

IVANILDO GOMES DOS SANTOS; EDGLEIDE DE OLIVEIRA HERCULANO; MARIA DAS GRAÇAS DE LOIOLA
MADEIRA.
UFAL, MACEIÓ - AL - BRASIL.

A constituição do Estado Nacional é devedor da ação civilizadora de congregações religiosas que


chegaram ao Brasil desde os primeiros anos da colonização. Na ação colaboradora com o governo
português ou brasileiro a formação do povo foi tomando configurações pautadas na catequização e
amortecimento de conflitos, os quais se tornaram comuns na tentativa de consolidação do Estado
Imperial na primeira metade do século XIX. Neste cenário se insere a ação dos capuchinhos italianos que
passaram a atuar no Nordeste brasileiro desde o século XVII. Nosso texto, portanto, pretende
apresentar a trajetória desse grupo de religiosos compreendendo o período que segue do final do
século XVIII seguindo por todo o século XIX. Centraremos atenção no destaque de três desses religiosos
sobre os quais as fontes acessadas nos revelam uma ação de colaboração na catequização e
apaziguamento do povo. Dois deles atuaram entre os séculos XVIII e XIX: o frei Apolônio de Todi, que
esteve no sertão baiano pregando um catolicismo penitencial, região que depois seria palco do
Movimento de Canudos, e o frei Vitale de Frescarolo, que entre os sertões do Ceará e de Pernambuco,
permaneceu no trabalho de civilização dos índios da região. Por fim, o frei João Evangelista de Monte
Marciano enviado pelo governo republicano para pacificar a comunidade de Canudos por volta de 1895,
por ocasião da guerra instaurada. As fontes documentais que serviram de apoio na nossa escrita estão
centradas em documentos, como Informações sobre os índios bárbaros dos sertões de Pernambuco

272
(1802-1804), publicado pela Revista do Instituto Histórico do Ceará (1913); o Relatório Apresentado, em
1895, pelo Revd. Frei João Evangelista de Monte Marciano, ao Arcebispado da Bahia, sobre Antonio
Conselheiro e seu Séquito no Arraial dos Canudos, anexo a obra de Regni (1988), dentre outras. Entre as
fontes bibliográficas estão três volumes da obra Os capuchinhos na Bahia publicada no período de 1988
e 1991, pelo frei capuchinho Pietro Vittorino Regni, cujo título não revela o tratamento dado a toda
região Nordeste. A crítica a esses relatos virão de estudos de Norbert Elias, que na obra O processo
civilizador: formação do estado e civilização (1993) elenca as categorias de autocontrole dos desejos e
pulsões individuais em benefício do refinamento dos costumes sociais, sendo esse processo civilizatório,
que transcorre pelas relações sociais, considerado como algo irreversível a ponto de tronar-se uma
“segunda natureza”. Contribuirá também à crítica o texto Pensando com Elias as relações entre
sociologia e história da educação (2008), de Cynthia Greive Veiga, no qual a autora dialoga com o
aparato conceitual de Elias problematizando alguns aspectos educacionais monopolizados pelo Estado.

1346
OS DESTINATÁRIOS DO ENSINO ARTESANAL ASSISTENCIAL E COMPENSATÓRIO, ATÉ A ESCOLA
TÉCNICA PROFISSIONAL DO TRABALHADOR URBANO

MARIA TERESA GARBIN MACHADO.


UNESP- FCLAR, ARARAQUARA - SP - BRASIL.

Esse trabalho apresenta as interfaces históricas do ensino profissional no cenário da educação nacional,
focalizando seus destinatários, tendo como pano de fundo a instalação de uma escola profissional num
pequeno município do estado de São Paulo, na década de 1940. A finalidade da criação da escola e dos
cursos oferecidos, de ajustador mecânico para homens e serviços domésticos para as mulheres, foi o
atendimento imediato de necessidade de mão-de-obra, em razão da crescente urbanização e
industrialização da região cafeeira da Alta Mogiana, sendo, portanto voltada para a classe trabalhadora
em geral. Apesar de a escola enfocada não ter apresentado um caráter assistencial e compensatório,
como muitas outras escolas profissionais criadas no estado de São Paulo a partir dos anos de 1920,
acreditava-se que o trabalho gerava a possibilidade do ingresso dos pobres e desvalidos no mundo
produtivo, dentro de um ideário de educação produtivista e reprodutora das desigualdades sociais,
condicionada à aceitação das condições sociais dominantes, ao reservar aos economicamente
desfavorecidos uma possibilidade de educação direcionada apenas ao trabalho. Esta concepção de
educação técnica-profissional foi sofrendo alterações, sobretudo ao longo do século XX, ao acompanhar
as sucessivas reformas legislativas e educacionais e as necessidades de desenvolvimento do País,
promovendo um resgate histórico deste tipo de ensino e sua representatividade, em vista da dualidade
entre a educação acadêmica e a educação para o trabalho. Esta relação dual, persistente desde o ranço
colonial e imperial, com a divisão e hierarquização do conhecimento intelectual e do trabalho manual,
permaneceu através da destinação aos pobres mais aptos na república velha, representados pelo
trabalhador assalariado urbano, qualificado e disciplinado para o mercado fabril. Embora minimizada
em razão da industrialização crescente, tem permanecido a tensão entre a função propedêutica da
educação escolar, e o preparo profissionalizante para o mercado de trabalho. Nesse contexto, a escola
pesquisada vivenciou esse processo de mutação, sendo, portanto, um espaço de memória do ensino
profissional local. Ao abordarmos a história dessa instituição escolar, desde sua fundação em 1949 até
os dias atuais, levantamos sua trajetória de mais de 60 anos, sua identidade e seu papel na construção e
na preparação de crianças e jovens para o mundo do trabalho. As fontes utilizadas são os documentos
da instituição a qual a escola pertence, além de documentos produzidos pela escola, como os planos
escolares anuais que encerram os compromissos assumidos e desenvolvidos pela equipe escolar.

686
OS FILHOS DAS “CLASSES PERIGOSAS” NO ARSENAL DE MARINHA DO RIO DE JANEIRO (1871-1910)

273
MÔNICA REGINA FERREIRA LINS.
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL.

O presente trabalho trata-se de uma pesquisa de doutoramento em andamento e versará sobre como a
infância pobre foi pensada dentro da lógica de um “povo a se fazer” no período de transição do sistema
escravista para uma sociedade urbano-industrial capitalista. As políticas de Estado seguiam uma adoção
de progressiva eleição da criança como “semente do futuro” e como um problema social, com eixos de
intervenção centrados na correção e prevenção de seus “vícios” e “incapacidades” que atrasariam a
construção da pátria frente ao “progresso” e à “civilização”. Para desenvolver essa reflexão, escolhi uma
instituição do Estado, com intensa participação na política e na ordem institucional e de importância
histórica no processo de industrialização do Rio de Janeiro: o Arsenal de Guerra da Marinha em suas
sessões que recrutavam os “aprendizes menores".Parto da hipótese de que o Estado brasileiro, em fase
de transição para o capitalismo, não garantiu cidadania a todos e empreendeu mecanismos de
regulação social dos pobres reforçando à lógica de “regeneração” pela disciplina e pelo trabalho. Nessa
instituição militar a educação pelo trabalho assumia um valor ideológico, disciplinador, moralizante e
utilitário, uma vez que pretendia não apenas “salvar as crianças das classes perigosas” mas prepará-las
na mais tenra idade para a indústria militar e para o mercado industrial em expansão.O recorte
temporal entre 1871 e 1910 para estudar a história dessa instituição justifica-se a partir de dois marcos
históricos no interior da instituição pública estudada e suas repercussões no campo dos direitos: a Lei do
Ventre Livre e a Revolta da Chibata.Como fontes utilizarei os Relatórios Ministeriais do período para
acompanhar a trajetória da política interna do Ministério da Marinha de recrutamento e formação para
o trabalho das crianças até a faixa etária dos 21 anos; as cadernetas de disciplina e saúde dos pequenos
e dos jovens aprendizes, para acompanhar a trajetória de vida e de grupo, selecionados por amostragem
em anos diferentes do período e os programas de estudos das Companhias de Aprendizes e de Artífices
do Arsenal.Um dos autores centrais para a pesquisa e leitura das fontes históricas será o historiador
Edward Palmer Thompson que defende a existência de um caráter relacional entre o “ser social”, a
“experiência” e a “consciência social”. Essa relação acontece com pessoas em contextos reais, no caso a
criança pobre livre, escrava e liberta, que aprendeu ofícios, tornou-se operária ainda muito cedo, dividiu
as apreensões e estratégias de sobrevivência com escravos, com africanos livres, escravos da nação ,
operários adultos nacionais e estrangeiros e viveu as experiências das revoltas, das festas, dos
capoeiras, dos batuques, das brigas com a polícia presentes nas ruas do Rio de Janeiro entre 1871 e
1910 e que também pode ascender socialmente ao entrar para a Armada.

575
OS GRUPOS ESCOLARES E AS ESCOLAS RURAIS PARAIBANAS: PALCO DA MORAL, DO CIVISMO E DO
NACIONALISMO DURANTE O ESTADO NOVO (1937-1945)
1 2
ANTÔNIO CARLOS FERREIRA PINHEIRO ; HENNY NAYANNE TAVARES DE ARAÚJO ; EVELYANNE NATHLY
3
CAVALCANTI DE ARAÚJO SILVA .
1.UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA, JOAO PESSOA - PB - BRASIL; 2,3.UFPB, JOÃO PESSOA - PB -
BRASIL.

Este artigo apresenta resultados parciais do projeto de pesquisa que se encontra em andamento
intitulada “Escolarização para a moral, o civismo e o nacionalismo: os grupos escolares e as escolas
rurais espaços para difusão dos ideais estadonovistas (1937-1945)”, parcialmente financiado pelo
Conselho Nacional de Pesquisa – CNPq/UFPB. Por meio de pesquisa realizada no Arquivo Histórico do
Estado da Paraíba da Fundação Espaço Cultural e no Instituto Histórico e Geográfico Paraibano mais
especificamente em notícias publicadas no jornal “A União” e também através da leitura crítica da
produção historiográfica referente ao período estudado este artigo se propõe a analisar o processo de
implantação de políticas educacionais nos anos de vigência do Estado Novo observando a sua dimensão
social, cultural e, principalmente, política que marcou um período de autoritarismo, quando boa parte
dos direitos civis foram suspensos, no Brasil e, especialmente na Paraíba. A reflexão realizada durante as
análises fundamentam-se no referencial teórico propugnado por Gramsci (1988) que nos possibilita
compreender a história em seu movimento processual de um determinado período histórico. Partimos

274
do conhecimento mais geral sobre a formação econômica e social brasileira, articulada ao
desenvolvimento do sistema capitalista, para depreendermos como foram forjadas as relações de
dominação no interior do Estado e do sistema educacional brasileiros. Salientando que tanto nos
discursos políticos referentes à expansão dos grupos escolares nos espaços urbanos como nos
referentes às escolas rurais, no campo, o objetivo era consolidar uma noção de nacionalidade a partir
dos ideais e exigências de formação de uma mentalidade nova e disciplinada. O estudo se dedica
também a identificar as principais práticas pedagógicas que foram sendo implementadas nas escolas
rurais e nos grupos escolares, considerando as especificidades sócio-culturais daqueles que estavam no
campo e na cidade: discutir a compreensão acerca da educação popular e da educação escolar pública
no campo e na cidade, levando em consideração as possíveis contribuições do setor educacional para o
desenvolvimento da nação brasileira e do estado paraibano e por fim analisar a influência do
pensamento conservador e autoritário que teve o sentido de sustentar teoricamente e politicamente a
idéia da necessidade de promover uma educação nacional baseada nos princípios da moralidade, do
civismo, do nacionalismo e do conseqüente desenvolvimento da nação.

532
OS GRUPOS ESCOLARES EM SERGIPE NO GOVERNO GRACCHO CARDOSO (1922-26)

CRISLANE BARBOSA AZEVEDO.


UFRN, NATAL - RN - BRASIL.

Os grupos escolares foram criados no início do governo republicano com o intuito de pôr fim a
problemas no ensino primário. Por seu intermédio procurava-se promover melhorias nos métodos de
ensino, nos recursos didáticos e na qualificação dos professores. Em Sergipe foram implantados em
1911 por meio de uma reforma da instrução. A partir de então, a instrução primária pública seguiu sem
grandes alterações, vindo apenas na década de 1920 apresentar novos ânimos, a exemplo da expansão
dos grupos escolares. Melhorias nas finanças públicas contribuíram para tanto, uma vez que foram
aproveitadas pela administração de Graccho Cardoso. Assim como no resto do país, em Sergipe, foi
marcante a relação entre educação, reforma e modernidade no período. Diante do exposto, esta
pesquisa investigou o processo de expansão dos grupos escolares em Sergipe ocorrido durante a
administração Graccho Cardoso (1922-26). Nesse sentido, buscou perceber as representações sobre
educação e modernidade presentes na referida administração e seus efeitos sobre a instrução pública
primária, com foco nos grupos escolares. Para tanto foi feita pesquisa historiográfica acerca da
educação brasileira e da modernidade no país. O diálogo com a abordagem da história cultural permitiu
a percepção contextualizada dos processos educacionais no Sergipe republicano. A investigação pautou-
se ainda em documentos coevos, tais como: relatórios do diretor geral da instrução, inspetores
escolares e diretores de grupos escolares; Mensagens presidenciais e discursos de Graccho Cardoso;
regulamentos e programas de ensino; documentos manuscritos relativos ao ensino primário sergipano;
artigos de jornal e legislação. Os discursos e propostas de ação de Graccho Cardoso revelavam a defesa
da instrução pública como uma das tarefas prioritárias a cargo do Estado bem como sua relação com o
sucesso da República e da democracia e a necessidade de estudos e adoção de métodos racionais em
prol do desenvolvimento econômico. Tais aspectos revelam seu defensor como um homem que
acreditava no progresso, esperança que marcou sua administração. Acerca da instrução primária,
especificamente, ao assumir o governo, Graccho identificou problemas. Assim, realizou a compra de
casas para melhor alojar as escolas isoladas e empreendeu a construção de novos grupos escolares,
contando Sergipe, no início da sua administração, com cinco grupos e, ao final, com quatorze, sendo
cinco deles em Aracaju. Em 1924 era decretada nova reforma da instrução. Seu êxito aparecia associado
à execução nos grupos escolares. A expansão destes, no período, pode ser considerada parte integrante
de tal reforma, visto que o funcionamento do ensino organizado em prédios próprios e condizentes com
as necessidades da instrução encontrava na estrutura física, administrativa e pedagógica dos grupos um
caminho mais efetivo.
1368
OS MATERIAIS DIDÁTICOS NO ENSINO NORMAL DA PARAÍBA (1886-1930)

275
1 2
CARLOS AUGUSTO DE AMORIM CARDOSO ; MARIA ADELIA CLEMENTINO LEITE .
1.UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - UFPB, JOÃO PESSOA - PB - BRASIL; 2.UNIVERSIDADE FEDERAL
DA PARAIBA - UFPB, JOÃO PESSOA - PB - BRASIL.

O trabalho de investigação teve como objetivo descrever e analisar as atividades e o uso de materiais
didáticos no ensino normal da Paraíba do Norte no período 1886 – 1930. Inicialmente, situamos a
criação da Escola Normal na Paraíba no contexto de um conjunto de mudanças educacionais nos cursos
das escolas normais, sobretudos nos aspectos didáticos e metodológicos da Geografia. Analisando o
livro didático e os materiais escolares destinados ao ensino das escolas normais e utilizados por alunos e
professores, como objetos privilegiados o estudo busca ainda reforçar o campo de pesquisa da História
da Educação. Duas foram as vertentes tomadas pela investigação: uma, a que tem como base os
programas oficiais e os livros didáticos recomendados para a disciplina geografia em especial, e as que
tinham como referência básica o ensino ministrado no Colégio Pedro II. Outra vertente que
contextualiza historicamente o uso de materiais didáticos de Geografia na Escola Normal da Paraíba no
período de 1886 a 1930. O foco das investigações, centrado nos livros e nas formas de uso das cartas,
dos mapas, dos globos, dos cosmógrafos e todos os outros objetos materiais e de técnicas de ensino
(jogos e excursões escolares) usadas na escola e no ensino da geografia, mostra a diversidade
metedológica da época. No estudo sobre os materiais didáticos da Escola Normal utilizamos como
procedimento metodológico fontes bibliográficas e documentais, objetivando fazer um levantamento
historiográfico da história da escola normal da Paraíba. Assim, analisamos os compêndios que eram
utilizados nas escolas normais. A contribuição da pesquisa está também no levantamento dos livros
didáticos existentes em bibliotecas públicas e privadas da Paraíba e Pernambuco. Para a análise mais
minuciosa quanto ao uso dos materiais didáticos das Escolas Normais da Paraíba, foram escolhidos os
livros “Manual de Pedagogia Moderna (teoria e prática) para uso das Escolas Normais e Institutos de
Educação”, de Everardo Backheuser (1928), F. (1928). “Como se ensina Geographia”, de Antonio Firmino
Proença (1927) e “Práticas Escolares”, de Antônio D’ Ávila (1958). Entre a demonstração das propostas
de práticas pedagógicas no ensino de geografia, destacam-se os Passeios Escolares, um método ativo
presente na esfera do ensino normal. Conclui-se, portanto, que os livros didáticos, os compêndios, os
manuais de conduta entre outros mecanismos foram fundamentais na instauração de procedimentos
metodológicos afinados com os ditames da República: os sentimentos do belo e da noção de
pátria.Assim, procuramos identificar nos livros as discussões referentes às técnicas utilizadas nas Escolas
Normais referentes ao ensino da disciplina de Geografia, especificamente, ao uso das excursões
escolares, e a própria criação da escola.

710
OS MÉTODOS DE ENSINO NA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO PÚBLICA PARANAENSE NO SÉCULO XIX

FRANCIELE FERREIRA FRANÇA.


UFPR, CURITIBA - PR - BRASIL.

O propósito deste trabalho volta-se para o estudo dos métodos de ensino e seus modos de utilização no
interior das escolas primárias do Paraná, a partir da segunda metade do século XIX. A análise recai sobre
as práticas educativas decorrentes das apropriações dos professores primários e das autoridades de
ensino, advindas dos debates em torno da utilização dos métodos no cenário da instrução pública
paranaense. Esta pesquisa, que se insere no projeto de pesquisa intitulado “História, Cultura e
Escolarização da Infância”, cujos objetivos gerais voltam-se para o levantamento, catalogação e análise
de dados sobre programas, instituições, políticas de educação e assistência à infância no Paraná, bem
como sobre fontes de história da educação publicadas na imprensa paranaense e em periódicos locais,
encontra-se em andamento e deste modo, as conclusões são ainda parciais. No ano de 1857 foi
prescrito, no 1º Regulamento da Instrução Pública da recém província paranaense, o método de ensino
simultâneo para utilização nas escolas primárias, e, com base nas fontes, pode-se afirmar que este
método foi determinado com a justificativa expressa pelas autoridades de ensino de proporcionar o
desenvolvimento da instrução na província, uma vez que possibilitaria o ensino de muitos alunos
conjuntamente provocando um rápido adiantamento destes. Segundo esses gestores de ensino, a

276
instrução na província estava em processo de desenvolvimento e debate, logo um método de ensino
que melhorasse as condições escolares existentes seria testado e apreciado, e este, se bem aplicado
pelos professores, impediria a baixa frequência dos alunos garantindo sua permanência e adiantamento
nos estudos, de mesmo modo o método só teria garantia de boa execução se o professor estivesse bem
preparado e possuísse vocação para o ensino. A partir da década de 80 do oitocentos, as discussões e
recomendações quanto ao método a ser utilizado no Paraná, nos textos legais e relatórios, ganham
novas perspectivas e a pauta passa a ser sobre as vantagens do método intuitivo para a efetivação do
ensino. No que se refere às fontes, a pesquisa valeu-se do acervo disponível no Departamento do
Arquivo Público Paranaense - composto por relatórios presidenciais, relatórios de inspetores escolares,
comunicações governamentais e a legislação educacional. Utilizou-se ainda do acervo disponível no
Círculo de Estudos Bandeirantes no tocante aos relatórios presidenciais e de inspetores escolares. O
aporte teórico aqui utilizado, reporta-se às contribuições da historiografia educacional brasileira que
trata do tema em questão, bem como aos conceitos de “apropriação” e “prática cultural” provenientes
da perspectiva da história cultural, de autores como Michel de Certeau e Roger Chartier.

1059
PATRIMÔNIO EDUCATIVO E MATERIALIDADE DA CULTURA ESCOLAR NA HISTORIOGRAFIA DO
INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO PROFESSOR ALDO MUYLAERT EM CAMPOS DOS
GOYTACAZES/RJ, 1954-2010
1 2
VALERIA MARIA NETO CRESPO DE OLIVEIRA LIMA ; REGINA MÁRCIA GOMES CRESPO .
1.ISEPAM/RJ, CAMPOS DOS GOYTACAZES - RJ - BRASIL; 2.ISEPAM, CAMPOS DOS GOYTACAZES - RJ -
BRASIL.

Visto como uma das mais importantes iniciativas das reformas republicanas, os Institutos de Educação
caracterizaram-se como sítios históricos da educação, sobretudo, no que se refere à formação de
professores. Com a pretensão de ser um centro impulsionador das inovações pedagógicas procuraram
se definir como escolas profissionais que formavam técnicos engajados no estudo e soluções das
questões educativas. O Instituto de Educação de Campos (IEC), criado em 1954, se consolidou nas
últimas cinco décadas como instituição formadora de docentes, utilizando espaços concretos e
simbólicos para produzir novas metodologias de aprendizagem, renovar as práticas pedagógicas, além
de contribuir, decisivamente, para construção de valores, atitudes e comportamentos, o que lhe
permitiu manter um diálogo de vanguarda com a sociedade, em diferentes décadas. No presente
trabalho, o que propomos é um (re)encontro com as matrizes da formação docente do IEC, tomando
como ponto de partida as memórias, conceitos de cultura material e herança educativa que inscreveram
a instituição como patrimônio material e imaterial de uma coletividade. Nesse sentido, este estudo
objetiva conservar um legado delineado no cotidiano escolar e que, ao ser constituído a partir da
memória e do convívio, se configura como lugar de presença e de construção de histórias, retratando as
tradições, os costumes, os modos de fazer e ser de uma comunidade em períodos distintos. Conhecer e
comunicar a herança das atividades educativas desenvolvidas pelo Instituto de Educação exige
investigação e estratégias específicas que primam por uma análise contextualizada de documentos,
narrativas, ritos e cenas preservados pela história e pela memória. O registro desse percurso se faz na
observação de três elementos: o espaço próprio institucional, a estrutura curricular e o corpo docente,
exercitando o olhar sobre o vivido no espaço-tempo da escola, tendo a cultura escolar como meio que
favorece a leitura da realidade e suas práticas. O IEC, que passa a ser Instituto Superior de Educação
Professor Aldo Muylaert em 2001, torna-se parte integrante do patrimônio educacional e cultural do
Estado do Rio de Janeiro pelo reconhecimento explícito do valor sócio-histórico e cultural, que lhe foi
dado na historiografia da educação do norte fluminense. Nesse sentido, enfatiza-se a conservação e
comunicação do patrimônio educativo gerado pela cultura escolar, reveladora de um grupo social que
cria e reinventa a escola e a sociedade, em significativa relação de cumplicidade, resguardada no
espaço-tempo histórico e mnêmico desse patrimônio, que se renova continuamente.
966
POLITICAS PÚBLICAS PARA A EDUCAÇÃO RURAL: ANALISE DAS IMPLEMENTAÇÕES DO SISTEMA

277
NACIONAL PARA A FORMAÇÃO DE PROFESSORES DA COMUNIDADE RURAL CAIAMBÉ DO MUNCIPIO
DE TEFÉ-AM

DAYANE FEITOSA LIMA; CILENE DE MIRANDA PONTES; ALZILETE CAVALCANTE DA SILVA.


UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS-CEST, TEFE - AM - BRASIL.

A década de 1950 e os princípios dos anos de 1960 testemunharam o surgimento, em todo o continente
americano, de um conjunto de iniciativas em educação de adultos e capacitação de um amplo
contingente de trabalhadores que, naquele momento, compunham as surpreendentes estatísticas que
revelavam os altíssimos índices de analfabetismo e baixa escolarização da população latino-americana.
Neste contexto, a Educação Rural ganhou importante dimensão, gerando um conjunto de ações e
projetos educacionais relacionados á capacitação individual e formação agrícola do trabalhador rural,
que se espalharam pelos territórios americano e brasileiro. Historicamente , as iniciativas acerca da
Educação Rural brasileira não despontaram unicamente na década de 50. A difusão do ensino elementar
entre adultos, com o intuito de promover a alfabetização em massa, tanto no campo quanto na cidade,
teve uma primeira visibilidade nacional no período imediatamente posterior a Primeira Guerra Mundial.
Para que se dedicam as tarefas de formação de professores, o problema do ensino não se resume em
conhecer muito bem a área que se ensinara, fazendo-se necessário o conhecimento das condições
sociais e cognitivas dos educando, a preparação intensiva para o ensino. Frequentemente o futuro
professor deve necessariamente conhecer muitíssimo bem o campo de saber que será ensinado, caso
contrário ensina o que não sabe ou pouco conhece. Porém, os participantes da formação geral e básica
na área de conhecimento não reconhecem a legitimidade das preocupações com o aprendizado para
crianças e adolescentes. Os participantes na formação de professores acusam os demais de julgarem
que a educação reduz a instrução, ao ensino. O presente trabalho é parte de uma pesquisa de iniciação
cientifica, e trata das Políticas Públicas para a Educação Rural: com enfoque nas implementações do
sistema nacional para a formação de professores da comunidade rural. O objetivo do trabalho é
organizar fontes documentais para analises posteriores das implementações estaduais e políticas
publicas nas comunidades rurais até a década da educação (2000-2010) e atualizar os dados para o
ensino bem como -analisar alterações que estão ocorrendo no trabalho docente e as transformações no
campo social da educação na zona rural. -analisar as políticas educacionais contemporâneas e sua
repercussão no trabalho docente. -identificar e observar os novos elementos que se infiltram com
grande vigor nos sistemas de ensino rurais. -Relacionar os interesses e valores que orientam os docentes
e que presidem a cultura das escolas. Os caminhos que estão sendo percorridos pelo trabalho são:
levantamento e leitura dos dados bibliográficos, entrevistas,semi-estruturadas questionários sócio-
econômico, história oral, coleta de dados por meio de análise destes dados. As entrevistas envolvem os
professores, pedagogos, secretário e gestor, o questionário é direcionado a comunidade onde a escola
está inserida.

449
POSTOS DE PUERICULTURA: UM DOS CARROS CHEFES DAS AÇÕES DO DNCR NA ASSISNTÊNCIA, NO
CUIDADO E NA EDUCAÇÃO DA CRIANÇA PEQUENA NO BRASIL

JUSSARA MARIA VIANA SILVEIRA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE, ARACAJU - SE - BRASIL.

O presente artigo foi elaborado a partir das anotações do estudo que vem sendo desenvolvido no
doutorado em Educação na Universidade Federal de Sergipe. O objeto de estudo proposto são as ações
do Departamento Nacional da Criança (DNCr) em Sergipe entre os anos de 1950 a 1970. Dentro das
fontes levantadas percebeu-se a presença e a importância dos Posto de Puericultura, um dos carros
chefes, para o cumprimento das políticas para a infância no Brasil, desenvolvidas e postas em práticas
pelo governo de Getúlio Vargas (LEITE FILHO, 2008). A criança nesse período, foi materializada como
futuro da nação e o cuidado com a infância, tornou-se nas primeiras décadas do século XX, o modelo da
nação moderna, surgindo a partir daí, diversas instituições que tinham como objetivo a assistência, o
cuidado e a educação da criança pequena no Brasil. A complexidade do cuidar e do educar a criança

278
pequena no Brasil, caraterizou-se pelas disputas entre as orientações filantrópicas, assistêncialistas e
aquelas que recentemente foram construídas baseadas nos direitos universais. A primeira infância que
vai do 0 aos 6 anos de idade, só entra em cena no país sob a figura do amparo e da assistência no ínicio
do século XX. Os problemas que envolveram a infância brasileira, ficou entendido por muito tempo
como uma questão do âmbito privado. Ao Estado era atribuído apenas a responsabilidade de ajudar as
instituições que tinham como objetivo a assistência a criança através de recursos financeiros.Os Postos
de Puericultura dentro das ações do DNCr, apresenta-se como um forte aliado das políticas para a
infância na Era Vargas, foi através dessa intituição que os médicos e pedagogos puderam disciplinar a
família pobre, ditar regras de comportamento acerca da alimentação, vestuários, exercícios físicos,
educação, combate a mortalidade infântil e até o controle da sexualidade dos pais. O conceito de
puericultura de cordo com Leite Filho (2008), foi atrelado a política do Estado Novo, com a criação do
DNCr. A política salvacionista desse período deixou de se preocupar exclusivamente com a mortalidade
infantil, passando a desenvolver mecanismos para que a criança pequena tivesse um desenvolvimento
saudável em todos os aspectos, tantos os físicos como psicólogicos. O estudo vem sendo desenvolvido a
partir da análise de documentos ofíciais encontrados dentro dos arquivos públicos em Sergipe, e para
que possa dar novos significados a esses documentos, vem recorrendo-se aos aportes teóricos e
metodológicos da Nova História Cultural e da História da Educação da Infância no Brasil.

979
PRIMÓRDIOS DO GRUPO ESCOLAR ILDEFONSO MASCARENHAS DA SILVA NO TRIÂNGULO MINEIRO
(1940–1950)

VALERIA APARECIDA DE LIMA; LEILA APARECIDA AZEVEDO SILVA; CLARISSA BETANHO INÁCIO.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLANDIA, ITUIUTABA - MG - BRASIL.

Embora a criação de grupos escolares primários em Ituiutaba (MG) tenha começado já em 1910, a
expansão escolar pública nesse município não acompanhou o ritmo da difusão nacional da década de
1950. A lacuna de 37 entre a criação do primeiro grupo escolar (1910) e a do segundo (1947) sugere que
essa expansão foi tímida e precária em todos os âmbitos e que houve pouco investimento educacional
nesse município — embora o surgimento de quatro escolas privadas indique uma demanda efetiva pelo
ensino escolar e de que a educação privada foi decisiva para a implantação de escolas primárias. Essa
lacuna temporal ocorreu num município cujo desenvolvimento urbano e econômico era relevante para
os padrões do país. Até 1930, a economia do município girava em torno da atividade agropecuária; em
1935, teve início o ciclo do garimpo de diamante no rio Tijuco; a partir de 1950, o cultivo do arroz se
tornou atividade econômica predominante — sua força era tal que elevou Ituiutaba à condição de
“celeiro do Triângulo” e “capital do Arroz”. Nessa ótica que combina expansão escolar pública com
expansão econômica, este estudo investigou a instituição escolar nesse município como parte uma
pesquisa mais ampla intitulada “Modernização e educação pública no interior do Brasil: estudo de caso
no Triângulo Mineiro (1930–1950)”. Financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de
Minas Gerais em 2009, esta investigação buscou compreender a criação do grupo escolar Ildefonso
Mascarenhas da Silva, em 1947, de modo a identificar analiticamente sua evolução entre as décadas de
1940 e 1950. O eixo investigativo inclui as contradições entre um desenvolvimento econômico
ascendente e sua desarticulação com o desenvolvimento da educação do município, então precária. O
recorte temporal aqui adotado se vincula à gênese do grupo escolar criado em 1947 e sua instalação
como segunda instituição pública do município. Os procedimentos metodológicos da pesquisa incluíram
a leitura crítico-analítica de fontes primárias e secundárias, tais como leis e atas das reuniões da Câmara
Municipal, legislação nacional, atas do arquivo do Grupo Escolar Ildefonso Mascarenhas da Silva e
acervos fotográficos de particulares. Os resultados obtidos revelam que o ensino escolar na “capital do
arroz” era marcado pela precariedade material, pois o grupo ora estudado ocupou, durante mais de
uma década, prédios que não lhe eram próprios. Mesmo assim, o grupo teve impacto na vida escolar
das pessoas que nele estudaram e beneficiou a cidade de Ituiutaba no período estudado.

776
PRÁTICA EDUCATIVA ESCOLAR MEDIADA PELAS AULAS RADIOFÔNICAS DA EMISSORA DE EDUCAÇÃO

279
RURAL DE CAICÓ (RN, 1963-1966), SOB A DIREÇÃO PEDAGÓGICA DO MOVIMENTO DE EUCAÇÃO DE
BASE - MEB

MÁRIO LOURENÇO DE MEDEIROS.


UFRN, CURRAIS NOVOS - RN - BRASIL.

Investir em métodos e instrumentais que possibilitassem, de forma abrangente, célere e


economicamente viável, superar o expressivo contingente de analfabetos que perpassava as estatísticas
oficiais do Brasil, na segunda metade do século XX, constituiu-se razão precípua para o investimento em
um modelo de prática educativa escolar com o auxílio do rádio. O Movimento de Educação de Base
(MEB), criado no ano de 1961 sob a égide da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), tendo
celebrado convênio com o governo brasileiro para desenvolver um programa pioneiro de educação de
base, voltado para as regiões subdesenvolvidas do país utilizando-se das chamadas escolas radiofônicas,
tornou-se responsável direto por uma das mais expressivas experiências brasileiras na área da educação
com viés popular, nas regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste. O presente trabalho tem por objeto de
estudo a compreensão de uma prática educativa que visava, precipuamente, à instrução das populações
campesina e suburbana, especialmente de jovens e adultos, e que, na região do Seridó norte-rio-
grandense, encontrou esteio na Emissora de Educação Rural de Caicó, de propriedade desta diocese.
Objetiva-se compreender e explicitar os contornos dessa prática educativa pondo em relevo o material
pedagógico e o método que orientaram didática e pedagogicamente o trabalho dos seus agentes,
membros pertencentes à equipe local do Movimento de Educação de Base, no período estudado. A
investigação já concluída apoiada em fontes como cartilhas, apostilas, relatórios, correspondências,
artigos de jornal e entrevistas, recorre metodologicamente à noção de ação cultural proposta por
Michel de Certeau, vez que esta nos possibilita inscrever a abordagem da prática educativa em tela,
insertas em experiências que, embora institucionalmente pensadas, na sua prática podem transbordar e
desbordar dos contornos oficialmente concebidos inserindo criatividades e fissuras produtoras e,
simultaneamente, instauradoras de novos anseios. A análise das fontes revela a um só tempo, a pujança
e os limites daquela prática educativa que grassou pelo sertão do Seridó potiguar e como a “Rádio de
Caicó”, a um só tempo, a acolheu, deu suporte e a potencializou possibilitando a muitos campesinos
uma inserção em aprendizagens escolares envolvendo identificação e valorização das manifestações
folclóricas autóctones, novas técnicas de plantio e cultivo, a participação em organizações associativas e
comunitárias, a utilização de recursos tecnológicos já difundidos pela civilização, tais como o rádio, os
livros, as revistas, os jornais e os mecânicos equipamentos agrícolas. Aquelas aulas radiofônicas, além de
propiciar vivências escolares, contribuíram para inserir os sertanejos por elas alcançados, nas exigências
de uma sociedade em processo de internacionalização, na qual instrução e informação ocupam
destacado papel.

675
PRÁTICAS COTIDIANAS DA PROFESSORA ANÁLIA MACIEL (ELÓI DE SOUZA, RN/1930-1940)

EUCLIDES TEIXEIRA NETO.


UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE, PARNAMIRIM - RN - BRASIL.

O estudo apresenta a análise da ação pedagógica da professora Anália Maurício Maciel de Souza, e de
sua contribuição para a educação do município de Senador Elói de Souza, Rio Grande do Norte, entre as
décadas de 1930 e 1940. Nesse período, a professora atuou em sala de aula, colocando em prática
propostas de ensino que estabeleciam a modernização pedagógica e novas definições do conceito de
educação escolar. A professora nasceu em 24 de fevereiro, na cidade do Natal, no ano de 1915 e faleceu
em 10 de maio de 1996. Por se tratar de uma investigação na perspectiva da História Cultural,
enfocamos as práticas de mulheres professoras, em particular a de Anália Maciel, por meio de autores
como: Morais (2002), Chartier (1990) e Burke (1992). Para esta análise selecionamos fontes
documentais, tendo como principais suportes: Mensagens Governamentais, Leis e Decretos do Governo,
provenientes do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte e do Arquivo Público do
Estado/RN. Investigamos também em artigos de jornais e revistas advindos de arquivos particulares.

280
Realizamos, ainda, entrevistas com ex-alunos e amigos contemporâneos da professora em estudo. Nas
entrevistas pudemos viabilizar os processos pelo quais se deram as transformações do ensino no âmbito
local, bem como no âmbito estadual, e quais foram os fatores relevantes para a comunidade nas ações
educativas deixadas pela professora. Oriunda de uma formação pedagógica na Escola Normal de Natal,
após diplomação em 1933, desloca-se em 1936 para o interior do estado para lecionar nos Grupos
Escolares, Escolas Rudimentares e Escolas Isoladas, estabelecimentos de ensino instalados durante a
administração do Interventor Mário Câmara (1933-1935) e do Governador Rafael Fernandes (1935-
1937). A memória de uma professora que repassou valores e conhecimentos a uma comunidade cujas
lembranças são relatadas pelos atores que participaram do processo em análise constitui-se como
objeto de relevância na perspectiva historiográfica abordada. Destacamos as relações de gênero por
meio da atuação de Anália Maciel nos espaços em que ocupou na educação, onde a conquista da
mulher se estabelecia. Era uma oportunidade para a mulher atuar em ambientes públicos sem prejuízos
a sua condição feminina. A investigação mostra a importância da educadora para a História da Educação
norte-rio-grandense, particularmente, para o município de Senador Elói de Souza, onde se dedicou ao
magistério, oferecendo, além do saber escolarizado, a universalização da leitura e a escrita, bem como
valores sociais em aulas-passeios nas datas comemorativas e nos cânticos no início e término das suas
aulas.

708
PRÁTICAS DE ALFABETIZAÇÃO NO MUNICÍPIO DE LINHARES NOS ANOS DE 1960

NEUSA BALBINA DE SOUZA.


UFES, LINHARES - ES - BRASIL.

Situando-se no eixo história das instituições e práticas educativas este texto é uma síntese de nossa
pesquisa desenvolvida no curso de Mestrado. O trabalho integra um conjunto de produções
desenvolvidas na linha de pesquisa Educação e Linguagem, do Programa de Pós-Graduação em
Educação-UFES com vistas à reconstituição da história da alfabetização, da leitura e da escrita no Estado
do Espírito Santo. Pautada na concepção bakhtiniana de linguagem, sobretudo em sua noção de texto e
nos pressupostos da história de Le Goff, este estudo teve como objetivo investigar as práticas de ensino
da leitura e da escrita na fase inicial da escolarização, desenvolvidas, na década de 1960, no município
de Linhares/ES. Utilizando a pesquisa documental, buscamos, no entrecruzamento das vozes contidas
nos textos produzidos por sujeitos (professoras alfabetizadoras, idealizadores e orientadores da política
educacional) inseridos no contexto imediato de sua produção, analisar os discursos sociopolíticos e
educacionais veiculados na década de 1960; as práticas pedagógicas descritas pelas professoras que
atuaram em classes de alfabetização e os materiais utilizados nas escolas de Linhares para o ensino da
leitura e da escrita. A constituição do corpus desta pesquisa comportou três etapas. Na primeira,
reunimos documentos impressos, de fontes primárias e secundárias, como relatórios de governo, leis,
decretos, normativas, programas de ensino, relatórios de pesquisa, artigos de periódicos, boletim
estatístico, etc., localizados no Arquivo Público Estadual, Biblioteca Pública Estadual, Conselho Estadual
de Educação, Secretaria de Educação e Cultura do Estado, Superintendência Regional de Educação em
Linhares, Biblioteca e Arquivo Público Municipal de Linhares, base de dados eletrônica de leis e
legislações da Assembléia Legislativa do Estado do Espírito Santo e Biblioteca Central da Universidade
Federal do Espírito Santo. A segunda etapa consistiu na realização de entrevistas com seis professoras
que atuaram em classes de alfabetização em escolas no município de Linhares, na década de 1960. Na
terceira etapa, reunimos, de acordo com os depoimentos das professoras, os métodos, os materiais, as
cartilhas e os livros utilizados por elas no ensino da leitura e da escrita. A análise possibilitou constatar
que as políticas educacionais engendradas na esfera do ensino primário, sobretudo na primeira série,
visavam a atender as exigências do setor econômico de base industrial em desenvolvimento no Estado,
pautadas na concepção produtivista da escola. O ensino da leitura e da escrita se sustentou nos
tradicionais métodos sintético, analítico e analítico-sintético propagados nas cartilhas, livros de leitura e
pré-livros utilizados nas escolas.

281
525
PRÁTICAS EDUCACIONAIS E SABERES PEDAGÓGICOS DIFUNDIDOS PELA ESCOLA DOMINICAL
PRESBITERIANA

NICOLE BERTINATTI; ESTER FRAGA VILAS-BÔAS CARVALHO DO NASCIMENTO.


UNIVERSIDADE TIRADENTES, ARACAJU - SE - BRASIL.

Este texto propõe apresentar o modelo pedagógico das Escolas Dominicais Presbiterianas no Brasil,
caracterizando-as como um espaço de educação extra-escolar presente nas igrejas protestantes.
Fundada na Inglaterra, no ano de 1781, estudos realizados até então evidenciam que no Brasil a
primeira Escola Dominical foi organizada pelo missionário metodista Justin Spaulding em 1836. No
entanto, devido a dificuldades, a missão metodista encerrou-se no ano de 1841 abolindo,
consequentemente, a Escola Dominical, a qual voltou a ser implantada definitivamente em 1855, pelo
ministro protestante Robert Reid Kalley e sua esposa Sarah Poulton Kalley, vinculados à Igreja
Congregacional, no Rio de Janeiro. Já a igreja presbiteriana organizou sua primeira Escola Dominical,
também naquela cidade, em abril de 1860, através do missionário Ashbel Green Simonton. Este estudo
tem como objetivo analisar de que maneira as Escolas Dominicais Presbiterianas eram organizadas,
verificando a metodologia utilizada nas mesmas. O recorte teórico-metodológico está pautado em
Roger Chartier (1999), Dominique Julia (2001), Jorge Nascimento (2008) e Carlo Ginzburg (2007), os
quais oferecem categorias de análise como representações, cultura escolar, educação extra-escolar e
método indiciário. A pesquisa apresentada se encontra em andamento e justifica-se pela ausência de
estudos referentes às práticas educacionais das Escolas Dominicais Presbiterianas na história da
educação brasileira. Este trabalho insere-se na perspectiva da Nova História Cultural, a qual permite aos
estudiosos de História da Educação explorar outras áreas do conhecimento que venham enriquecer sua
pesquisa. Um dos procedimentos utilizados é o método indiciário, elaborado por alguns historiadores,
como é o caso do italiano Carlo Ginzburg (2007) para auxiliar no desvelamento de práticas educacionais
e culturais. Esse método explicita a condição de que o pesquisador deve estar sempre atento as
minúcias do texto, não se baseando somente nas características mais visíveis mas nas particularidades
que o forma. As fontes utilizadas para o embasamento deste texto foram Importância da Pedagogia
Religiosa na Consolidação da Igreja Presbiteriana do Brasil (KERR, 1925) e a Primeira Convenção
Regional das Escolas Dominicais no Rio de Janeiro (REIS, 1909). Os resultados parciais apresentam a
Escola Dominical como um espaço de realização de práticas pedagógicas, onde o principal objetivo era
ensinar a doutrina protestante através da Bíblia. As Escolas Dominicais tornaram-se um espaço
relevante de contato dos novos convertidos com a nova cultura religiosa, aprendendo a interpretar a
Bíblica, a cantar hinos evangélicos e a orar a Deus.

694
PRÁTICAS EDUCACIONAIS NO INÍCIO DO SÉCULO XX EM JUIZ DE FORA/MG: UM OLHAR ATRAVÉS DO
FUTEBOL
1 2
PRISCILA GONÇALVES SOARES ; ANDERSON DE CARVALHO MORORO .
1.UFJF, JUIZ DE FORA - MG - BRASIL; 2.UNIVERSIADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA, JUIZ DE FORA - MG -
BRASIL.

Esta pesquisa procurou analisar a importância do Colégio Metodista Granbery (1889) mediante a um
processo de civilização e modernização da cidade de Juiz de Fora na perspectiva das práticas corporais,
neste caso o futebol. Os estudos de Soares (2010) apontam para a importância das práticas corporais,
de diversão e das instituições educacionais no processo de modernização da cidade. Ao estudar os
jornais, a autora, encontra dados relevantes em relação à história do futebol no país e a história do
futebol em Juiz de Fora partindo das iniciativas do Colégio Metodista Granbery. Desta forma, investimos
esforço e encontramos no livro de Atas do Colégio registros de partidas de “foot-ball” disputada em
suas dependências em 1893. Esse dado se mostra assaz interessante pois, oficialmente, o jogo foi
introduzido no Rio de Janeiro por Oscar Cox no ano de 1894 (PEREIRA, 1999). Essa informação nos
remete a dois apontamentos iniciais: o pioneirismo desta instituição escolar com relação à introdução

282
das práticas esportivas em Juiz de Fora e a importância dada à educação do corpo através de práticas
esportivas. Descobrimos que O Granberyense, o time do Colégio, foi o primeiro grande time de futebol
de Juiz de Fora. Com base em jornais locais que circularam no início do século XX, como O Pharol e o
Jornal do Commercio, percebemos que O Granberyense era considerado como uma das principais
equipes de Minas Gerais. Recebiam diversos convites para disputar “matchs” em diversos locais dentro
o fora do Estado. A fama da esquadra é comprovada quando analisamos um amistoso realizado entre a
equipe juizforana e o Club Atlético Mineiro de Belo Horizonte. Quatro anos após a fundação, o clube da
capital mineira conheceu a sua primeira derrota. Foi na primeira partida intermunicipal do Atlético,
realizada no dia 12 de maio de 1912 contra o Instituto Granbery, de Juiz de Fora: 1 x 5. Os atleticanos
pediram revanche e perderam novamente: 0 x 3, no dia 7 de setembro, em Juiz de Fora. Na virada do
século, diversos grupos e instituições escolares em Juiz de Fora colocaram em execução uma proposta
pedagógica em que as práticas corporais tinham lugar de destaque (Cunha Junior, Vargas, 2006). E
desde os seus primórdios o Granbery sempre foi identificado pela sua excelência na valorização das
práticas esportivas (NOVAES NETO, 1997). Um dos preceitos básicos defendidos pelo colégio era atingir
a educação do homem na sua totalidade. Sendo assim, a educação física seria um meio para trabalhar
com os corpos dos alunos, mas sempre subordinada ao fim maior que é a formação do caráter
(MARALIZ, 1994). Acreditamos que este trabalho possa contribuir nas discussões em relação à história
da educação pensando as práticas educativas voltadas para educação do corpo na transição do século
XIX e início do XX.

974
PRÁTICAS EDUCATIVAS -CULTURAIS E ESCOLARES-MATO GROSSO(1751 A 1822)

NILEIDE SOUZA DOURADO; NICANOR PALHARES.


UFMT, CUIABA - MT - BRASIL.

O estudo inicial como tese de doutoramento junto ao PPGE-UFMT, busca conhecer e analisar as
modalidades de educação praticadas em Mato Grosso no período colonial (1751 a 1822), bem como
identificar se o processo educativo foi de natureza escolar (formal) ou informal, manifestas pelas
práticas educativas na perspectiva da maneira de fazer cotidiana dos indivíduos, ou aquelas emanadas
das determinações expressas pela Coroa lusitana através de atos institucionais reguladores,
estabelecidos para a capitania de Mato Grosso, à época. A presente pesquisa tem como suporte
empírico a documentação administrativa, eclesiástica, notarial e noticiosa que apontam pistas e sinais
das modalidades e formas diversificadas de educação praticadas na Vila de Cuiabá e na de Vila Bela da
Santíssima Trindade (primeira capital). As contribuições teórico-metodológicas de Norbert Elias,
Bourdieu,Chartier,Certeau,Hunt e as encontradas em abordagens propostas por pesquisadores
portugueses e latino-americanos, tais como António Nóvoa, Justino Magalhães, Thais Nívia de Lima
Fonseca, Enrique Dussel, Aníbal Quijano, entre outros, servirão como norte teórico, especialmente na
utilização das categorias de análises recorrentes, a saber, as práticas educativas culturais e escolares,
civilização, modernidade, colonialidade e ainda ações “civilizadoras” na América Portuguesa, em
especial aquelas aplicadas ao extremo Oeste colonial, na região mais ocidental do Brasil, onde se situava
a capitania de Mato Grosso, compreendida pelos Distritos Geral de Cuiabá e o de Mato Grosso (Vila Bela
da Santíssima Trindade) Adotou-se como baliza inicial a segunda metade do século XVIII, quando Mato
Grosso se configurou como Capitania, moldada pelo ideário iluminista que, dentre outras propostas,
indicava a necessidade de laicização do ensino e da educação escolar como fatores essenciais ao
desenvolvimento da civilização, assim como preconizava “civilizar” a população que habitava esse
território. Trata-se de um período marcado também por relevantes acontecimentos, como a expulsão
dos jesuítas do Brasil, as reformas pombalinas e marianas da instrução pública, com a instituição do
subsídio literário, sendo que a baliza de encerramento tem por base a inauguração do Império brasileiro
(1822). No diálogo preliminar com as fontes, depreendeu-se que, muito antes do estabelecimento das
reformas pombalinas da educação no Brasil colonial e da criação das aulas régias, a população da
capitania de Mato Grosso já vivenciava práticas educativas que poderiam tanto resultar no aprendizado
regular da leitura, da escrita ou da gramática, quanto no aprender a fazer através dos ofícios mecânicos,
artes, educação doméstica, mecanismos necessários à aquisição de hábitos de civilidade adquiridos

283
através do exemplo, da imitação e de outras modalidades de incorporação do ideário civilizatório,
preconizado no interior do mundo colonial e necessário para uma região de fronteira e de sertão.

583
PRÁTICAS EDUCATIVAS E DE LEITURAS FEMININAS NO MARANHÃO OITOCENTISTA

IRAJANE CANTANHEDE NUNES; LÍVIA DA CONCEIÇÃO REIS SANTOS; SAMUEL LUIS VELÁZQUEZ
CASTELLANOS.
UFMA, SAO LUIS - MA - BRASIL.

Objetiva-se nesse trabalho a análise e a compreensão das práticas, os saberes e as relações


estabelecidas e implícitas na educação feminina maranhense no século XIX tratando de elucidar as
particularidades de fatos silenciados pela história da educação local; estudo este que por encontrar-se
em andamento e, fazer parte de uma pesquisa maior “Ordenação e disciplina: Instituições escolares e
pobreza (meninos e meninas) no Maranhão oitocentista” tratar-se-á de forma tênue, mas nem por isso
menos importante, ao tentar compreender as formas de fazer do sujeito mulher, que por meio dos
documentos e da literatura especializada, nos ajudem a contextualizar e dar existência, ao
materialmente inexistente (a vida e educação de mulheres no Asilo de Santa Teresa e do Recolhimento
de Nossa Senhora de Anunciação e Remédios). Descreve-se e tenta-se entender a composição dessa
instrução como um elemento de distinção social, onde pobres e livres eram aceitos nas aulas de
primeiras letras, tendo o direito de aprender a ler, a escrever e a contar, além de aprenderem os
princípios cristãos e um ofício. Diferencia-se este modelo instrucional daquele aplicado às filhas das
classes abastadas; as quais frequentavam o ensino secundário e, consequentemente as faculdades,
mediadas por classes e professores particulares. Apóia-se esta pesquisa em documentos como:
relatórios dos presidentes de província, regulamentos das instituições e leis referentes à instrução
pública, comparando-se o escrito com lido. Destacam-se os relatórios que objetivavam o registro das
atividades administrativas ocorridas ao longo do mandato eletivo, tentando extrair do escrito oficial em
registro alusões que se façam a essa instrução, os elementos essenciais para a compreensão da
organização dos aspectos sociais, políticos e administrativos nas Instituições de Ensino na Província
visando às suas Leis e os Regulamentos. Utilizam-se também recortes de jornais publicados na capital
que auxiliarão na elucidação de fatos que ficaram implícitos nesses documentos, referenciando a
instrução pública e também a educação das mulheres na sociedade, por meio dos quais sustentaremos
nosso fazer investigativo ao compararmos o vivido com o escrito nos documentos oficiais. Utiliza-se
como aporte teórico-metodológico a pesquisa bibliográfica, fundamentando-nos em autores como:
Louro (1997), Chartier (1999), Lacerda (2003), Castellanos (2007). Colocam-se em evidência as práticas
de leitura na educação feminina, as estratégias de imposição adotadas pelos pais, maridos e
professoras(es), destacando assim, as táticas de apropriação utilizadas nessa instrução pelo sujeito
feminino leitor em questão. Visa-se investigar em que situações e ambiências ocorreram as leituras
nessa sociedade, tentando contribuir com este estudo para a ampliação da discussão em torno da
História da educação feminina no Maranhão dos oitocentos.

1035
PRÁTICAS EDUCATIVAS: UM ESTUDO DOS DOCUMENTOS DE ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS PARA A
DISCIPLINA DE HISTÓRIA DAS ESCOLAS DE ENSINO FUNDAMENTAL DA REDE PÚBLICA DE SÃO PAULO

ANA LÚZIA MAGALHÃES CARNEIRO.


CENTRO UNIVERSITÁRIO SÃO CAMILO, SAO PAULO - SP - BRASIL.

Este trabalho se constitui como desdobramento da pesquisa realizada em 2009 sobre as práticas de
professores de História do município de São Paulo, cujas ações e projetos declaravam-se direcionados
em contemplar a ética como conteúdo e prática escolar a partir das orientações propostas nos
Parâmetros Curriculares Nacionais e nas Orientações Curriculares do município de São Paulo por meio
dos Temas Transversais. A proposta para esta comunicação é apresentar os resultados parciais da

284
pesquisa em andamento sobre a formulação e implementação das orientações didáticas da área de
História, elaboradas pelas esferas federal e as específicas do estado e do município de São Paulo para o
ensino fundamental II. Os documentos analisados foram os Parâmetros Curriculares Nacionais- área de
História, publicados em 1997 pelo Ministério de Educação; os Referenciais de Expectativas para o
Desenvolvimento da Competência Leitora e Escritora no Ciclo II- Caderno de História, publicado em
2007, as Orientações Curriculares: proposição de expectativas de aprendizagem- História e uma
coletânea de recursos audiovisuais direcionados para as práticas educativas, publicados em 2008 pela
Secretaria Municipal de Educação de São Paulo; a Proposta Curricular do Estado de São Paulo: História,
publicada em 2008 pela Secretaria Estadual e complementada pelos Cadernos do professor, editados
bimestralmente. Objetiva-se nesta pesquisa, entrecruzar a documentação e verificar como se
relacionam as orientações didáticas sugeridas pelos Parâmetros Curriculares Nacionais da área de
História com as proposições dos documentos elaborados pelas redes de ensino estadual e municipal, se
há ou não consensos, quais diferenças significativas, em quais pontos e conceitosse aproximam e em
que se distanciam no que diz respeito às perspectivas teóricas e metodológicas para a construção das
propostas de práticas educativas, além de indicar quais as permanências e mudanças nos programas
educacionais, nas reformulações curriculares e na adoção de determinadas práticas no ensino de
História. Neste sentido, esta pesquisa dialoga com estudos voltados paraa discussão sobre ocurrículo da
disciplinade História, com produções que focam a reflexão didática sobre o saber histórico, sobre a
importância da seleção destes saberes e de suas práticas educativas e, justifica-se pelo interesse em
contribuir com a produção de conhecimento a respeitoda história do ensino de história refletidanos
documentos oficiais do sistema educacional brasileiro.

523
PSICOGÊNESE, AUTOCTISI E ESCOLA VIVA: CONCEITOS ASSERTIVOS DE CLEMENTE QUAGLIO

CARLOS MONARCHA MONARCHA.


UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA, SAO PAULO - SP - BRASIL.

Esta comunicação, vinculada ao projeto “Clemente Quaglio (1872-1948): cânon da ciência pedológica —
estudo histórico-crítico”, apoio FAPESP, demarca aspectos da produção científica de Clemente Quaglio.
Consultas a acervos institucionais possibilitaram convocar fontes documentárias de “menor estatuto
historiográfico” — opúsculos didático-científicos —, e interpretá-las com referencial teórico apropriado.
Os objetivos da pesquisa priorizaram o estudo dos conceitos de psicogênese, autoctisi e escola viva,
presentes na elaboração teórica do autor. Italiano naturalizado brasileiro, Clemente Quaglio, professor
primário autodidata, figura a si como “Psicólogo e Pedagogista”. Alçado ao gabinete de antropologia
pedagógica e psicologia experimental da Escola Normal da Praça, reorganizado, em 1914, pelo “médico-
pedagogista” Ugo Pizzoli, projeta-se como expert em questões escolásticas em conjuntura de
massificação do ensino primário, sua obrigatoriedade como questão de Estado, seguida da quebra da
ordem escolar. Sob a égide da Faculdade de Pedologia, por ele criada em 1918, publica os opúsculos —
Comparação entre a psicologia da criança e a do homem feito, A imaginação nas crianças brasileiras,
Nova filosofia do espírito e nova teoria da educação, A nova escola primária ou a escola viva, Tipos
mentais de cem jovens professoras paulistas, Meios de provocar a revelação das aptidões das vocações
técnicas-profissionais, A escola positivista, a escola ativa e a escola viva, Existe a educação? Inicialmente,
a construção organomecanicista da semiologia do escolar leva-o a denegar o desenvolvimento
(ontogênico) conforme leis fixas; sobremodo, importam-lhe o estímulo excitador, o exame, o
interrogatório; quer escrutinar tipos mentais, demonstrar níveis de desenvolvimento e a variedade das
formas individuais, para agrupá-las segundo caracteres comuns. Interdisciplinar, sua “psicologia
pedagógica” gravita em torno das verdades epistemológicas construídas pelas ciências do homem, na
modernidade — frenologia, antropologia, psicopatologia, fisiologia, biologia, psicometria; cita Galton,
Gall, Morel, De Sanctis, Binet, Betcherew, Sergi, Stanley Hall; para ele, o escolar é sobretudo organismo
vivente. De súbito, o pedologista reage ao positivismo-experimentalismo, denega interrogatório e fatos
de laboratório, sensibilizado pelo historicismo-filosófico de Giovanni Gentile (e de Lombardo-Radice e
Benedetto Croce), reconceitua desenvolvimento, educação e escola ativa. Tal escansão teórica, conclui-
se, leva-o a sobressaltar a crucialidade da autoctisi: com esse conceito, Clemente Quaglio manifesta

285
ineditismo e veridicidade, insurge-se perante as reformas escolares e inovações designadas de “Escola
Nova” ou “Escola Ativa”, justificadas pelas teorias funcionalistas.

991
PSIQUIATRIA E PEDAGOGIA: UM ESTUDO DAS PROPOSTAS EDUCATIVAS DA MEDICINA PSIQUIÁTRICA
DE INALDO DE LIRA NEVES-MANTA (1926-1940)

MARIA DE LOURDES DA SILVA; SAMARA SANTOS BASTOS.


UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO - UERJ, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL.

Inaldo de Lira Neves-Manta foi um psiquiatra de importante projeção no século XX no Brasil, América
Latina e Europa. Sua entrada na cena intelectual nacional é concomitante à consolidação da psiquiatria
como especialidade médica e seus trabalhos constituem fundamental contribuição neste processo. Aos
23 anos, candidatou-se a vaga na Academia Nacional de Medicina com o ensaio Individualidade e a obra
mental de João do Rio em face da psiquiatria, no ano de 1926, sob o título A arte e a neurose de João do
Rio. O trabalho inovou na época por apresentar leitura de uma personalidade pública à luz dos preceitos
psicanalíticos freudianos. Lançado no calor dos debates acerca da morte prematura de João do Rio, o
livro alcançou repercussão nacional e internacionalmente. Publicou em 1932, o livro O Alcoolismo na
Arte e na Psiquiatria e, em 1940, o livro O homem e o tóxico. Esses trabalhos têm como fio condutor a
temática dos vícios em suas raízes e determinantes. À época, extensos debates sobre o caráter e a
identidade do homem nacional suscitavam, na confluência do contexto, problematizações a respeito da
composição racial, da herança cultural e hereditária, da influência do meio físico e social na formação do
Brasil e do seu povo. Neves-Manta se faz presente nas discussões apresentando considerações a
respeito dos vícios como elementos da degenerescência que precisavam ser combatidos. Assim, atua no
sentido de atribuir a psiquiatria caráter preventivo fazendo-a atuar no tecido social de modo a
identificar anomalias ainda em estado latente ou inicial com o propósito de evitar maiores danos para o
conjunto da sociedade. Identificar os degenerados espalhados pela sociedade e dar-lhes destinação
merecida sem comprometer a ordem social seria parte do procedimento desta especialidade médica.
Aliada à psicanálise, o ajustamento dos “amorais”, alcançado pelo uso de uma pedagogia normalizadora,
completaria o tratamento. Nosso propósito neste trabalho foi compreender como o psiquiatra Neves-
Manta, utilizando-se dos preceitos teóricos do campo psicanalítico procurou engendrar mecanismos de
controle e ajustamento social dos degenerados identificados como viciados, e, de modo particular,
como ele ajudou a conformar tais representações destes no imaginário social, e, sobretudo, entender
como propôs à sociedade a incorporação destes mecanismos com o fim de que esta pudesse preservar-
se e civilizar-se integrada a uma estratégia que pretendia consolidar: um campo de conhecimento e seus
representantes, uma cultura eivada pelos conceitos e procedimentos disciplinares daí surgidos. As obras
adotadas como fontes foram confrontadas com produções do campo da psiquiatria presentes nas
publicações da Liga Brasileira de Higiene Mental para analisar interfaces com os debates relativos à
educação no período analisado.

1195
QUAL O LUGAR DA EJA NA OFERTA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL FEITA PELAS ESCOLAS FAMÍLIAS
AGRÍCOLAS (EFA’S) DO ESPIRITO SANTO?

EDNA CASTRO DE OLIVEIRA; WELSON BATISTA OLIVEIRA; CUSTODIO JOVENCIO BARBOSA FILHO.
PPGE/CE/UFES, VITORIA - ES - BRASIL.

Este artigo resulta de pesquisa em andamento e integra as ações do grupo de pesquisa interinstitucional
PROEJA/CAPES/SETEC-ES, que dentre suas metas previstas busca a realização de intercâmbios e projetos
de parceria com as antigas escolas Agrotécnicas Federais, atuais campus do Instituto Federal do Espírito
Santo , envolvendo os movimentos sociais do campo e fortalecendo ações pedagógicas junto a esses
movimentos sociais. Neste sentido, a pesquisa tem como objetivo geral focalizar alguns resultados do
levantamento da oferta de Educação Profissional, realizado em 2009, nas unidades que historicamente

286
tem reconhecido a sua tradição na oferta dessa modalidade no campo no Estado do Espírito Santo e, em
específico, problematizar o percurso histórico da oferta de “Educação Profissional” para Jovens e
Adultos do/no campo pela atuação das EFA’s do Espírito Santo. O caminho percorrido pelo estudo em
andamento tem envolvido o trabalho de campo com visitas realizadas a todas as antigas Escolas
Agrotécnicas, atuais campus do Ifes Espírito Santo (Itapina - Colatina, Santa Teresa e Alegre), bem como
a doze das dezesseis Escolas Famílias Agrícolas (EFAs) que ofertam Educação Profissional no campo. No
que tange a oferta da educação profissional integrada ao ensino médio, na modalidade Educação de
Jovens e Adultos, os Ifes passaram a ofertar cursos a partir da indução do governo federal pelo Decreto
5.840/06 que institui o Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação
Básica na Modalidade de Educação Jovens e Adultos (PROEJA). Através da análise documental, temos
identificado indícios de que as EFAs, bem como as antigas Escolas Agrotécnicas, desde seu inicio,
atuavam com a oferta da “Educação Profissional" para jovens e adultos. O que nos leva a problematizar
sobre as características dos sujeitos a quem essas instituições atendiam e a pertença desses aos grupos
que, historicamente, tem sido caracterizados como integrantes dos segmentos que do ponto de vista
sócio-cultural são identificados como sujeitos da modalidade de educação de jovens e adultos. Algumas
fontes primárias consultadas tais como: certificados de conclusão de curso e atas de reunião de
conselhos evidenciam o processo vivido inicialmente pelas EFA’s, no atendimento a esses sujeitos.
Observa-se que essas Escolas reuniam experiências de formação no trabalho com jovens e adultos e, no
decorrer dos tempos passam a não mais atender a esse público. Este fato, tem nos instigado a
investigar, na busca de compreender as razões pelas quais as EFAs, de certa forma, deixaram de atender
a esses sujeitos tendo em vista a baixa cobertura da oferta em nível de ensino médio regular e, em
específico, esta oferta para jovens e adultos trabalhadores do campo.

1332
REPÚBLICA E COLÉGIO PEDRO II: RELAÇÕES ENTRE O PROJETO DE SOCIEDADE E O PROJETO POLÍTICO-
PEDAGÓGICO ENTRE 1889 E 1931

GABRIEL RODRIGUES DAUMAS MARQUES.


UFRJ, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL.

A última década do século XIX e as primeiras décadas do século XX configuram um período histórico
significativamente marcado pela conjuntura de materialização do ideário republicano no Brasil, por
conta tanto da necessidade de superação do modelo Imperial quanto da importância de consolidação
de novas concepções e práticas do homem. Nesse período, acompanha-se a difusão de valores
referentes à garantia de um projeto político para construção do Estado Republicano e à manutenção de
grupos políticos em ascensão no poder. O objeto da pesquisa será o Colégio Pedro II, instituição
secundária fundada em dois de dezembro de 1837, na cidade do Rio de Janeiro, referência no que tange
à colaboração da institucionalização desse ramo de ensino no Brasil. Nosso recorte se dará no período
entre 21 de novembro de 1889, menos de uma semana após a Proclamação da República, em que o
nome do Colégio é modificado por Decreto para Instituto de Instrução Secundária; e 18 de abril de 1931,
quando, por meio de Decreto, o Ensino Secundário passa a ser dividido em dois ciclos – cursos
fundamental e complementar. Amparamo-nos pela obra Memória Histórica do Colégio de Pedro
Segundo, elaborada por Escragnolle Doria por decisão da Colenda Congregação e pelas pesquisas
realizadas no acervo do Núcleo de Documentação e Memória da referida instituição educacional, por
meio da qual localizamos documentos como o Almanach do Pessoal Docente e Administrativo;
Programas de Ensino; Livro de Ofícios Enviados e outros, que nos permitem o duplo manejo enquanto
fonte de informação historiográfica e objeto de investigação. O presente trabalho tem como objetivo
central investigar as mediações, relações, adequações, resistências e conflitos existentes entre a
consolidação do período republicano em suas primeiras décadas e o projeto político-pedagógico do
Colégio Pedro II. Discorremos nossa análise a partir das seguintes questões: a lógica da funcionalidade
do ensino secundário no que tange à formação dos quadros para gestão e organização do Estado; o
papel assumido pelo corpo docente em outras esferas da sociedade; e a divisão curricular e os
programas de ensino, em especial a Gymnastica, as Evoluções Militares, a Esgrima, a Instrucção Moral e
Cívica e a Hygiene. Foi possível identificarmos os estreitos vínculos entre os objetivos político-

287
pedagógicos do Colégio e o cenário republicano; a preocupação institucional em registrar e publicizar
sua história; a ocupação de postos e cargos políticos, artísticos e literários por parte principalmente do
professorado; e a preocupação com a formação e preparação moral, física e intelectual dos corpos de
seus estudantes.

1329
SAÚDE E EDUCAÇÃO NOS TEXTOS DO MÉDICO PARANAENSE EURICO BRANCO RIBEIRO

CLAUDIA REJANE SCHAVARINSKI ALMEIDA SANTOS.


UFPR, CURITIBA - PR - BRASIL.

Tendo como base nos pressupostos da História Social da Cultura, a presente pesquisa em andamento
tem como objetivo analisar analisar o discurso higienista, do médico paranaense Eurico Branco Ribeiro,
inserido no âmbito escolar, tendo como base, a tese intitulada A higiene dos internatos: estudo das
condições sanitárias dos internatos de São Paulo, apresentada na I Conferência Nacional de Educação
(1927) e O Coração Do Paraná (1929) – estudo sanitário à cadeira de higiene da Faculdade de Medicina
de São Paulo (1929). A escolha destas obras, entre sua vasta produção bibliográfica, tem como objetivo
entender a construção do discurso higienista de Ribeiro e seus desdobramentos nas relações de
sociabilidade que perpassa pela educação, haja vista, que na déc. de 1920 firmou-se o entendimento
que o êxito da política sanitária estaria na contemplação dos hábitos higiênicos, através da educação.
Eurico Ribeiro se insere neste tema ao contrapor espaço físico e higiene dos internatos de São Paulo, e
posteriormente, analisar a estrutura física das escolas guarapuavanas. O objetivo desta pesquisa é
perceber o processo higienista brasileiro e suas relações de sociabilidade, nas duas primeiras décadas do
século XX, através das obras de Eurico Branco Ribeiro, com o intento de compreender como a Medicina
se apropriou do discurso educacional do início da república no Brasil e como a educação se apropriou do
discurso da Medicina. Para interpretação e análise das fontes A higiene dos internatos: estudo das
condições sanitárias dos internatos de São Paulo, e O Coração Do Paraná (1929)” será necessário lançar
mão da análise historiográfica. A partir dessa análise procurar-se-á levar em conta a trajetória
intelectual do autor,o “lugar social” no qual ele articula o seu discurso e o momento específico no qual
ele concebe esse mesmo discurso. Esse recurso será importante para análise do tema em questão, pois
entende-se que uma obra carrega consigo traços do seu produtor e mais especificamente detêm as
marcas do que Certeau (2007) denomina de “lugar social”. Para proceder à análise da apropriação do
saber escolar pelo discurso médico, torna-se necessário entender como a medicina formatará seu
discurso com a concepção urgente de modernizar o país. Carvalho (1997), ao analisar o discurso dos
médicos e higienistas, reflete sobre o envolvimento dos mesmos com amplos setores da
intelectualidade em favor da causa educacional, na década de 1920, visto que os dois setores
ambicionavam maior participação política e também maior representatividade profissional. Sendo
assim, se estabelece o pensamento que a saúde, moral e trabalho são o tripé no qual estava embasada a
educação do povo.

424
SEMINÁRIO DE EDUCADORAS CRISTÃS NO NORDESTE BRASILEIRO: DA CRIAÇÃO À CONSOLIDAÇÃO
(1917-1967).
1 2
MARIA DE LOURDES P. RAMOS TRINDADE DOS ANJOS ; CARLOS HENRIQUE CARVALHO .
1.UNIVERSIADADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA, ARACAJU - SE - BRASIL; 2.UNIVERSIDADE FEDERAL DE
UBERLÂNDIA, UBERLÂNDIA - MG - BRASIL.

Esta comunicação tem por finalidade apresentar a trajetória da Escola de Trabalhadoras Cristãs (ETC) de
Recife, tendo como corte temporal o período de 1917 a 1967. A ETC foi criada por missionárias norte-
americanas, protestantes de confissão batista. Durante sua trajetória a escola teve seu nome alterado
diversas vezes, por motivos variados (atender determinações legais ou recomendações da missão). No
ano da sua implantação o nome era Training School. Em 1919 passou para Escola de Trabalhadoras

288
Cristãs (ETC), esta mudança teve por intuito atender as exigências da legislação em vigor. Em 10 de
dezembro de 1957, por solicitação da Junta Administrativa da ETC à União de senhoras, foi pedido
autorização para mudar o nome da instituição de Escola de Trabalhadoras Cristãs para Seminário de
Educadoras Cristãs. Entre 1917 a 1980, atuaram como diretora desse Seminário as seguintes
missionárias: Alyna Muirhead, Sammie Johnson e Graça Taylor (1917); Graça Taylor (1917-1919); Paulina
White (1919 -1924); Blanche Bice (1925); Essie Fuller (1926 a 1932); Mildred Cox (1933 a 1947); Maye
Bell Taylor (1947 a 1953); Martha Hairston (1953 a 1980). As fontes que subsidiaram a pesquisa foram:
atas, prospectos, boletim informativo, decretos leis, jornais, livros de registros internos, etc. O
referencial teórico ancoram-se nos estudos de Norbert Elias, Antônio Viñao Frago, Agustín Escolano,
Antônio Neves de Mesquita, Dominique Julia, Leda Rejane Accioly Sellaro, Carlos Henrique de Carvalho,
Ana Chrystina Venâncio Mignot, A.R. Crabtree, Mildred Cox Mein. Ao longo da investigação realizada se
constatou que na gestão de Martha Hairston, a partir de 1953, foram estabelecidas estratégias e
projetos propostos, os quais possibilitaram que houvessem várias transformações nas concepções da
instituição, voltada para educação feminina batista em Recife. É neste período que se observa a
expansão, incluindo as principais alterações promovidas no currículo escolar da instituição, bem como
no cotidiano do internato, na reestruturação e organização administrativa da ETC. Hairston voltou seu
olhar para o entorno da instituição, ou seja, vislumbrou a necessidade de implantar a Casa Batista da
Amizade, como forma de estender a ação da instituição para outros segmentos sociais. Foram
evidenciados os desafios e dificuldades enfrentados por Hairston para consolidar a instituição. Como
resultado da pesquisa podemos afirmar que emergiram alguns dispositivos de controle e
disciplinamento, que fazem parte da cultura escolar, entendida aqui não apenas como práticas
concernentes à instituição, mas abrangendo a relação dela com a sociedade e esta com a escola, pois foi
a partir deste processo que ocorreu a formação das moças batistas. Em termos pedagógicos é
importante destacar a organização da ETC, os métodos de ensino, o currículo, os projetos educacionais,
etc. Externamente as reformas educacionais foram consideradas, pois são elas que estabelecem os
marcos normativos para o ensino.

1097
STELLA VÉSPER FERREIRA GONÇALVES E SUA ATUAÇÃO COMO PROFESSORA E ESCRITORA NO ESTADO
DO RIO GRANDE DO NORTE (1910-1930)

ÉRIKA NOGUEIRA MARTINS.


UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE, NATAL - RN - BRASIL.

O presente trabalho é oriundo da efetivação de pesquisas acerca de professoras e escritoras que se


destacaram no Estado do Rio Grande do Norte, contribuindo para a formação de gerações. Os estudos
desenvolvem-se na Base de Pesquisa Gênero e Práticas Culturais, coordenada pela professora Maria
Arisnete Câmara de Morais. Desse modo, objetivamos reconstituir a prática educativa da professora
Stella Vésper Ferreira Gonçalves no cenário educacional norte-rio-grandense, durante o período de
1910 a década de 1930. No intuito de se obter informações mais detalhadas a respeito do perfil
biográfico desta educadora, bem como de sua trajetória docente, efetuamos pesquisas nos acervos do
Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte/ IHGRN, utilizando como fontes os registros
formais encontrados na Revista Pedagogium e em jornais como A República e Diário de Natal, do início
do século XX. Além disso, realizamos pesquisas no Arquivo Público do Estado/ APE-RN, Instituto de
Educação Superior Presidente Kennedy e Biblioteca Central Zila Mamede/ UFRN. Com base nas
investigações efetuadas, destacamos que Stella Gonçalves formou-se na primeira turma da Escola
Normal de Natal, no ano de 1910. Posteriormente, exerceu o magistério na instituição Grupo Escolar
Augusto Severo – criado no governo de Alberto Maranhão pelo Decreto Lei de n° 174, de 05 de março
de 1908 e, inaugurado, em 12 de dezembro de 1908. Observamos, também, que a referida educadora
pertenceu à Associação das Noelistas, espécie de irmandade, presidida por mulheres que realizavam,
periodicamente, estudos literários, religiosos e educacionais. Concernente a isso, dedicou grande parte
de sua vida ao exercício dos escritos de cunho religioso e, ao mesmo tempo, educativo no jornal Diário
de Natal da década de 1920. É importante destacar que, em alguns de seus artigos, utilizava como
assinatura o pseudônimo Potyguara com a finalidade de responder às questões propostas pelas

289
associadas da citada irmandade. Nessa perspectiva, os escritos de Stella Gonçalves evidenciavam um
modelo de educação articulado a valores religiosos como a fé incondicional, a perseverança cristã e o
amor fraterno. Ainda através de seus artigos, Potyguara defendia a relevância do papel materno na
formação moral da criança. A identificação das contribuições de Stella Gonçalves para a Instrução
Pública do Rio Grande do Norte e para a sociedade letrada natalense nos permite evidenciar sua
relevância, no âmbito da História da Educação, como educadora, escritora e mulher. Dessa maneira,
esta pesquisa, em andamento, visa contribuir para a Historiografia da Educação Brasileira, sobretudo, a
norte-rio-grandense.

542
TEMPO INTEGRAL NA EDUCAÇÃO INFANTIL: REFLEXÕES A PARTIR DE REFERÊNCIAS DE PEDAGOGOS
1 2 3
VALDETE CÔCO ; EDIVÂNIA DE SOUZA ; ELOISA MARIA FERRARI SANTOS ; VALÉRIA MENASSA
4
ZUCOLOTTO .
1,2,4.UFES, SERRA - ES - BRASIL; 3.SECRETARIA MINICIPAL DE EDUCAÇÃO, LINHARES - ES - BRASIL.

No contexto do eixo História das Instituições e Práticas Educativas, tomamos a oferta do tempo integral
na constituição das práticas educativas no cenário da Educação Infantil – EI. As diferentes abordagens
do “tempo de escola”, implicadas com projeto pedagógico, formação de profissionais, infra-estrutura e
outros elementos que ecoam nas práticas educativas, evidenciam a tradição de turnos parciais na
organização escolar (CAVALIERE, 2007). Nesse contexto, as transformações no percurso brasileiro de
oferta da EI, com a inserção nos sistemas de ensino, indicam uma redução na oferta do tempo integral,
especialmente quando as crianças avançam no percurso institucional (na faixa dos três a cinco anos),
num diálogo com esse modelo escolar. No movimento de apagamento da oferta, emerge referências a
um quadro institucional de dificuldades para organizar práticas educativas voltadas às crianças que
(ainda) permanecem no tempo integral. Nesse recorte, focalizamos as práticas educativas a partir de
referências de pedagogos atuantes em um município do Espírito Santo que, além do tempo parcial,
oferta EI de tempo integral, em jornada de dez horas diárias no espaço das instituições. Para dialogar
com as referências partimos da concepção de que “o real é processual” evidenciando a historicidade das
ações (KONDER, 2002, p. 187) que vão afirmando determinadas perspectivas para as instituições. Com
isso, potencializamos a ação dos sujeitos na história como “fazedores e refazedores do mundo” (FREIRE,
1998, p. 47) que, nas mediações sociais, negociam as (re)invenções na dinâmica complexa e conflituosa
da vida cotidiana (CERTEAU, 1993; BAKHTIN, 1992 e 1993). Numa perspectiva exploratória, coletamos
dados a partir de indagações propostas a quarenta pedagogos com procedimentos de reunião em
grupos para produção de registros, plenária para reunião dos dados dos grupos, elaboração de síntese
retratando as referências apresentadas e, por fim, mais uma plenária explorando a síntese e agregando
novos indicadores. A conclusão do estudo evidencia, na articulação das práticas educativas, a
permanência de concepções de adequação da EI à dinâmica da vida urbana e da constituição familiar,
favorecendo visões assistencialistas voltadas aos desprivilegiados. Os desafios ligados às questões
estruturais demandam reapropriação dos espaços e das rotinas redesenhando, na proposição dos
tempos de aula e de oficinas, as lógicas da escolarização. Repercutem na problematização do perfil
profissional em face da recomendação de integração entre as ações de cuidado e de educação e de
participação infantil na ação educativa. Assim, a oferta do tempo integral na EI, inserida nos sistemas de
ensino, traz novas configurações na história das instituições de EI, num contexto avaliativo de
necessidade de proposição de práticas mais próximas às necessidades das crianças.

290
1370
TOBIAS BARRETO E O MOVIMENTO DA ESCOLA DO RECIFE: UM ESPAÇO DE ESTUDOS E DEBATES

JOSÉ RICARDO FREITAS NUNES.


UNIT, ARACAJU - SE - BRASIL.

Depois de realizados estudos, constatamos uma estrutura racional das ideias tobiáticas determinantes
na configuração que Tobias Barreto faz das ideias filosófico-educacionais e as executam na Escola do
Recife. A pesquisa se fundamentou nos textos de estudiosos como do próprio Tobias Barreto de
Menezes e de seus comentadores, Luiz Antônio Barreto e Jorge Carvalho do Nascimento, a partir destes,
analisamos a construção descritiva dos elementos teóricos tais como: ciência, homem, conhecimento e
cultura. Compreender esses conceitos é determinante para entender o pensamento do sergipano acerca
da educação e sua difusão por meio da Escola do Recife. O artigo aborda contextualização histórica da
problemática investigada suas relações e implicações teóricas, bem como a educação científica ou aos
estudos do chamado germanismo pedagógico. A metodologia empregada toma por base a aplicação de
instrumentos que se inserem no âmbito da História Cultural, conferindo ênfase ao significado e ao
sentido que a educação assume, tanto conceitual, como da realidade sobre a qual a educação se volta
para análises e intervenções. Neste contexto, se registra três hipóteses: o pensamento tobiático
constitui uma interpretação de caráter evolutivo das noções educacionais. A dimensão objetiva do
conhecimento provindo da história, expressa uma tentativa de síntese entre o saber filosófico e o
científico. O sistema filosófico tobiático é resultante dos muitos modos de pensar, em voga no seu
tempo. Os quais podem destacar o espiritualismo eclético, romantismos, positivismo, racionalismo,
cientificismo, evolucionismo. Sendo estes determinantes na elaboração dos pré-supostos conceituais
acerca da educação defendida pelo intelectual. Para tanto, investigamos uma dimensão humana,
essencialmente prática, mas que não exclui as reflexões históricas sobre a dimensão educacional na qual
se insere. Finalmente, nos últimos anos de vida, Tobias Barreto suscita a hipótese culturalista,
antecipando uma das linhas fecundas de desenvolvimento do neo¬kantismo. Nessa dimensão, não foi
seguido por qualquer dos seus discípulos, que se limitaram a formular o culturalismo sociológico. Este,
embora impli¬casse o abandono de inquirição de índole filosófica, teve o mérito de prescrever o ideário
do fundador da Escola do Recife. Portanto, a educação concebida por Tobias Barreto é uma atividade
que trabalha com hipóteses, investigação e diferenciação; é um saber que se constitui pela reflexão,
pelo estudo dos fatos internos e externos, sua generalização e classificação; fundamenta-se em bases
físicas e metafísicas, por admitir que seja um erro querer dar a todas as coisas a forma determinada da
verdade em sua totalidade.

1250
TRANSIÇÃO DE MODELOS ENTRE EUROPA E BRASIL: A INFLUÊNCIA DA ARQUITETURA EUROPÉIA E DA
REPÚBLICA NA CONSTRUÇÃO DOS GRUPOS ESCOLARES BRASILEIROS NO PERÍODO DE 1893 – 1927

PATRÍCIA ALLIEN SANTO.


UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS, MONTES CLAROS - MG - BRASIL.

Esta pesquisa possui o objetivo de apresentar o processo de construção dos grupos escolares brasileiros
no período de 1893 – 1927 influenciados pela construção dos grupos escolares Europeus. Mas, não
deixaremos de mostrar como foi o processo desta criação com marcante influência da República
brasileira que agiu de acordo seus anseios, fixando ordem e progresso em estruturas sólidas que
possuíam o objetivo de educar. Pois a arquitetura européia é marcada pela imponência e representação
de poder a partir de suas características físicas que são capazes de expressar ordem e civilização. Sendo
assim decidimos discorrer sobre o processo de implantação dos primeiros grupos escolares europeus
comparando-os com os grupos escolares brasileiros, sobretudo no Estado de São Paulo, Paraná, Minas
Gerais e Rio de Janeiro. A metodologia empregada é uma pesquisa histórica bibliográfica tendo como
referência os principais autores desta temática tais como; FARIA FILHO, FRAGO, ROSA DE FÁTIMA,
DURÃES e BUFFA. Salientamos que esta pesquisa está em andamento e por este motivo não possui
dados completos de acordo seu objetivo, mas apresentaremos alguns escritos que são capazes de

291
identificar as mudanças ocorridas na urbanização com a construção dos grupos escolares no Brasil. Além
de mostrarmos o valor da instituição escola, provando que esta, possui um papel fundamental para a
construção do progresso e desenvolvimento do ambiente em que está inserida. Desta forma
percebemos que a introdução da arquitetura européia nos grupos escolares, veio para “renomear” a
antiga escola. A partir deste período, através de estrutura sólida, esta, adquiriu sua representação
própria e assumiu um caráter individual de poder. Portanto, a transformação da escola mudando a
metodologia e o modelo escolar “físico”, provou que a estrutura física de uma instituição de ensino é
extremamente importante não só para a melhor acomodação dos discentes e trabalho dos docentes,
mas principalmente para a valorização do poder escolar e concretização do progresso urbano. Desta
forma a escola começou a expressar outros ideais e estruturas não somente em seu interior, mas
principalmente em sua exterioridade modificando o urbano e o social.

662
UM OLHAR SOBRE O ENSINO DE ARITMÉTICA NA ESCOLA NORMAL FEMININA DE SÃO PAULO

NARA VILMA LIMA PINHEIRO.


GHEMAT, SAO PAULO - SP - BRASIL.

Esta comunicação é parte da pesquisa de Iniciação Científica intitulada “A Escola Normal e o ensino de
matemática: provas e professores, 1875 – 1890”, desenvolvida junto ao Grupo de Pesquisa de História
da Educação Matemática – GHEMAT, coordenado pelo prof. Dr. Wagner Rodrigues Valente, com
financiamento do CNPq. O presente estudo tem como objetivo apresentar aspectos relativos à prática
de ensino de Aritmética no curso da Escola Normal de São Paulo. Na realização deste estudo foram
consultados documentos referentes ao arquivo escolar da referida escola, localizado no Arquivo Público
do Estado de São Paulo. Acreditando que os documentos escolares se constituem como importante
material para a investigação de práticas educativas, pois definem importantes características do saber
escolar ensinado, indicando procedimentos metodológicos, foram consultados diferentes documentos,
tais como: exames de aritmética, programas de ensino, relação de pontos para prova do curso de
formação de professoras das séries iniciais da Escola Normal, dentre outros. Além desta fonte
documental, foi realizada uma pesquisa bibliográfica referente a estudos sobre o ensino na Escola
Normal na cidade da São Paulo. Com isto, verificou-se a existência de poucos trabalhos que abordem o
ensino de Aritmética numa perspectiva histórica. Criada em 1846, a Escola Normal paulista, era
destinada apenas aos rapazes. No ano seguinte, o governo autorizava a abertura de uma Escola Normal
para o público feminino. Mas esta escola nunca veio a ser instalada. Somente nos anos finais do período
monárquico, que pensadores e políticos passaram a defender a idéia de que a educação da infância
deveria ser atribuída ao sexo feminino. Diante disso, em meados de 1876, foi autorizado pelo presidente
da província de São Paulo, o funcionamento de uma Escola Normal nas dependências do Seminário da
Glória, permitindo ao publico feminino o acesso aos estudos do curso normal. Neste contexto, esta
pesquisa se propôs a analisar o ensino de Aritmética sob a ótica dos exames produzidos pelas alunas do
curso normal, do Seminário da Glória. Interessou-nos saber: quais os conhecimentos de Aritmética
necessários à formação docente feminina? Era o mesmo do curso masculino? Como se desenvolveu a
aritmética ministrada neste curso? Para o desenvolvimento desta comunicação nos apoiamos nas
reflexões dos teóricos da História da Educação, Dominique Julia e André Chervel. Utilizando os conceitos
de “cultura escolar” e “práticas educativas”.

292
676
UMA ANÁLISE DA RELAÇÃO ENTRE EDUCAÇÃO, SAÚDE E MORALIDADE NO PENSAMENTO DE
FERNANDO DE AZEVEDO: O PAPEL DA GYMNASTICA ESCOLAR NA REGERAÇÃO DO HOMEM
BRASILEIRO
1 2
MURILO MARIANO VILAÇA ; CÍNTIA BORGES DE ALMEIDA .
1.UERJ/UFRJ, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL; 2.PROPED/ UERJ, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL.

Neste artigo, que é parte de uma pesquisa em andamento, analisamos como Fernando de Azevedo
articulou saúde e educação através da prática denominada de gymnastica escolar. A partir duma
genealogia da noção moderna de saúde e da sua importância para a organização do meio social,
estabelecemos uma cartografia para analisar a visão esposada por Azevedo, segundo a qual a
gymnastica, além de promover saúde, regeneraria os indivíduos. Inicialmente, investigamos como a
saúde se tornou um imperativo, constituindo uma rede de relações de poder-saber tipicamente
modernida. A análise permitiu compreender traços da proeminência que aquele imperativo goza desde
a modernidade e como isso repercute, doravante, na formação das noções de homem. Grosso modo,
persuadidos da sua importância, os sujeitos modularizam suas condutas, submetendo-se relativamente
a um intricado procedimento de normalização que extravasa o âmbito biológico da vida humana,
atuando sobre outros aspectos. Os campos da moralidade e da formação do caráter são alguns
exemplos. Com o apoio analítico-conceitual da noção foucaultiana de governamentalidade,
especialmente o pólo biopolítico, buscamos, na primeira parte deste artigo, fazer uma breve cartografia
da lógica operatória na qual a gymnastica, concebida como um dispositivo bio-político-pedagógico de
gestão da vida, está inserida. Desta etapa analítica, depreendemos que Azevedo conjugou, com a
gymnastica, saberes biocientíficos, intentos biopolíticos de regeneração étnico-racial e formação moral,
investindo biopoliticamente sobre a população brasileira. Esses apontamentos serviram de base para
analisar a articulação entre elementos do movimento higienista e a gymnastica escolar no pensamento
de Fernando de Azevedo. Cumpre ressaltar que, na passagem do século XIX para o XX, viu-se uma
crescente influência dos movimentos higienistas no Brasil. Com eles, a escola passou a exercer uma
função indispensável na prática e formação de hábitos e condutas. Nosso foco analítico foi o texto A
poesia do corpo ou a gymnastica escolar: sua história e seu valor (1915), no qual a gymnastica é
denominada de medico-pedagogia. Secundariamente, outrossim, consideramos os textos Da educação
physica: o que ella é, o que tem sido, o que deveria ser (1920) e O problema da regeneração (1933).
Através deles, foi possível compreender como a gymnastica, associada à educação física, é valorizada
como prática escolar capaz de regenerar o povo brasileiro de um modo radical, a saber, alterando a sua
constituição étnico-racial. Nossas conclusões sugerem que Azevedo, integrando a noção de
governamentalidade biopolítica, reputa à gymnastica um papel fundamental num conjunto de
tecnologias que visavam à prevenção e promoção de dada noção de vida saudável ou higiênica
(biológica), mas, sobretudo, à regeneração de uma população tida como étnico-racialmente deficiente,
prescrevendo uma noção de vida boa e correta (ético-política), sem a qual a nação brasileira não
progrediria.

1132
UMA ANÁLISE DE CONCEPÇÕES DE ALFABETIZAÇÃO, NO ESPÍRITO SANTO, NO PERÍODO DE 1940 A
2000, POR MEIO DE CADERNOS ESCOLARES

GILCIANE OTTONI PINHEIRO; FERNANDA ZANETTI BECALLI.


UFES, VIANA - ES - BRASIL.

Ao longo dos séculos formas de escolarização foram criando modos de documentar a experiência
escolar dos sujeitos, e o caderno escolar se constituiu em suporte por excelência da escrita na escola. A
presença desse suporte nas práticas escolares fez com que ele se tornasse um importante testemunho
da cultura escolar, do currículo, do conhecimento da história de um país, dos valores e das ideias que
circulavam em determinada época e contexto. Assim, analisamos, a partir de diferentes cadernos
escolares utilizados por crianças em fase de alfabetização, no período compreendido entre as décadas

293
de 1940 a 2000, concepções de alfabetização que perpassavam práticas de ensino da leitura e da escrita
em instituições escolares do Espírito Santo. Cada caderno analisado remete-nos ao contexto no qual foi
produzido, no entanto, não temos a pretensão de reconstruir o passado, mas contribuir para a
compreensão desse processo inicial de escolarização. No trabalho, buscamos responder as seguintes
questões: Quais conhecimentos sobre o sistema de escrita têm sido ensinados na fase inicial de
alfabetização? Sobre quais conteúdos/conhecimentos os professores têm colocado sua maior atenção
para ensinar os alunos a ler e a escrever? Para responder tais questionamentos, tomamos por base às
contribuições da Psicologia Histórico-Cultural e da Perspectiva Bakhtiniana de Linguagem, pois essas
abordagens, ao tomarem como princípio a apropriação da linguagem como um trabalho intelectual
mediado por signos, portadores de valores sociais e ideológicos, definidos a partir do horizonte social de
sua época e pelas formas das relações sociais nas quais se constroem, permite visualizar que a prática
pedagógica não é neutra, uma vez que reflete interesses sociais, políticos, econômicos e culturais de
diversos agentes educacionais. A análise dos cadernos nos mostrou que o ensino proposto para a
aprendizagem da leitura e da escrita vem ao longo de décadas sendo pautado por bases teóricas e
metodológicas de cunho mecanicista que têm enfatizado um trabalho pedagógico baseado na
aprendizagem do alfabeto por soletração e pela repetição de sílabas. Notamos ainda que nesse
processo tem havido uma gradação extremamente lenta de introdução do aprendiz em práticas de
leitura e de escrita que tomem o texto como unidade de significação produzida por sujeitos em
diferentes situações de interação. Nesse sentido, os cadernos dão indícios de que a alfabetização na
história do Espírito Santo vem sendo compreendida como um processo restrito à aquisição de
habilidades mecânicas do código linguístico.

1014
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE: DE FACULDADES ISOLADAS A EXPANSÃO (1948 - 2008)
1 2 3
JOSEFA ELIANA SOUZA ; PATRÍCIA FRANCISCA DE MATOS SANTOS ; MARIA ANGÉLICA MELO ROSA ; ANA
4 5
PAULA SOARES LIMA ; NÁLISON MELO SILVA .
1.UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE, ARACAJU - SE - BRASIL; 2,3,4,5.UFS, ARACAJU - SE - BRASIL.

RESUMO A Universidade Federal de Sergipe é primeira instituição publica federal de nível superior, do
Estado de Sergipe, fundada em 1968, pelo Decreto-lei nº 269. A instalação se deu graças à reunião das
faculdades isoladas, a exemplo da de Ciências Econômicas (1948), Direito e Filosofia - FAFI (1950) e de
Ciências Médicas (1961); seguida dos institutos de pesquisa como a Escola de Química (1948) e a de
Serviço Social (1954), atingindo o número exigido para a implantação da academia. Esta nasceu sobre o
regime militar, tendo como primeiro Reitor João Cardoso do Nascimento Junior. O processo de
expansão da UFS concretizou-se sobretudo, nas duas últimas décadas, de modo que, hoje, a instituição
se faz presente no interior de Sergipe por meio dos Campis de São Cristovão, Itabaiana, Lagarto(Campus
da Saúde), Laranjeiras e os Pólos de Educação a Distancia (CESAD). Esta pesquisa configura-se num
estudo histórico acerca da criação, implantação, fundação, reforma e expansão da Universidade Federal
de Sergipe. A escolha deste estudo recaiu sobre um tema que tem chamado a atenção de pesquisadores
a exemplo de Rollemberg e Santos (1998), Passos Subrinho (1999), Oliva (2003), Araújo (2008), Lima
(2009) e Alveolos ( 2008) entre outros. Os referidos pesquisadores abordaram aspectos da História da
Universidade Federal de Sergipe: do processo de gestação das escolas superiores isoladas em Sergipe;
da reforma universitária e implantação da UFS; e da sua expansão. A construção deste estudo além de
amparar-se nas pesquisas já elaborados em nível de Graduação e Pós-Graduação Latu e Stricto Senso,
baseia-se também, no levantamento de fontes bibliográficas, orais, livros de registros de atas,
Regimentos, Resoluções, Relatórios, Processos, Portarias, etc. coletadas em instituições a exemplo da
Sala dos Conselhos, Departamentos, Centros e Núcleos de Pós-Graduações (UFS), Arquivo Central da
UFS, Biblioteca Central/UFS, nas Bibliotecas Epifânio Dória, Conselho Estadual de Cultura; Secretaria de
Estado da Cultura; Museu do Homem Sergipano - MUSHE, está pautado em entrevistas com ex-
professores, ex-alunos e funcionários que atuaram na UFS. Defende-se nesse estudo, a exemplo de
Fávero (2000, p. 14) que ao tratar da Universidade do Brasil afirmou que para compreender o
significado da sua criação, reforma e reorganização que mais do que nos atermos à legislação, às
exposições dos documentos “é fundamental conhecê-los e captar o significado de certas medidas, como

294
parte de uma realidade concreta, permeada de contradições”. Esta pesquisa está relacionada com o
estudo, em andamento, intitulado Universidade Federal de Sergipe: de Escola Superior a Universidade
Multicampi. Portanto, com os resultados parciais da pesquisa pretende-se tratar da história dessa
instituição de ensino superior que inaugurou uma nova forma de ver, conviver e conceber a educação,
imprimindo sua contribuição para a formação do povo sergipano,assim como de outros estados.

404
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO: DESAFIOS DE SOBREVIVÊNCIA

CELIA REGINA OTRANTO.


UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL.

A Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro se originou da Escola Superior de Agricultura e Medicina
Veterinária (ESAMV), criada pelo Decreto 8319, de 1910. A ESAMV foi vinculada ao Ministério da
Agricultura, Indústria e Comércio e se constituiu na primeira representante federal do ensino superior
agronômico brasileiro. Mesmo tendo sido criada como Escola e não como Universidade, sua estrutura se
assemelhava ao projeto de universidade que se delineava no Brasil, na época. No entanto, o sonho
correu o risco de não se tornar realidade, devido aos desafios que a Instituição precisou enfrentar para
garantir sua sobrevivência, que não ficaram restritos ao tempo da Escola, mas permeou parte de sua
vida já como Universidade. O objetivo deste trabalho é apontar esses desafios e sua superação, nos
anos de 1910 e 1915, como Escola, e 1967-1968, como Universidade, que ameaçaram a sobrevivência
da Instituição. Em 1910, a ESAMV enfrentou problemas de instalação, pois o mesmo Decreto que criou a
escola determinou sua instalação na Fazenda Santa Cruz, que se encontrava em ruínas. Em 1915, sofreu
sua crise mais grave, pois, sob a alegação de falta de verbas, a escola chegou a ser fechada, mas foi
reaberta, alguns meses depois, bem distante do local de origem. Superando as primeiras dificuldades,
em 1930, a ESAMV, foi declarada Escola Padrão Nacional para os Cursos de Agronomia e Veterinária e,
em 1943, foi transformada em universidade – Universidade Rural. Em 1962, assumiu a denominação de
Universidade Rural do Brasil por ser referência nacional para os cursos agronômicos. No entanto, em
1967, ao passar do Ministério da Agricultura para o Ministério da Educação, mais uma vez teve sua
existência ameaçada, pois a verba para manutenção da Instituição foi reduzida à metade, enfrentando
sérios problemas para manter os cursos, os alunos alojados e o enorme campus. Em 1968, quase deixou
de ser universidade, uma vez que não atendia à determinação da Lei 5540/68, que somente atribuía o
status de universidade à Instituição que oferecesse cursos em todos os campos do saber. Na ocasião, e a
já denominada Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), somente oferecia cursos na área
agronômica. O estudo aponta as dificuldades, enfretamentos, negociações, e a superação, em cada
momento de disputa O texto é fruto de uma pesquisa mais abrangente a respeito da história da
Universidade Rural, que continua em andamento, e vem sendo feita, principalmente, em fontes
primárias, envolvendo os Arquivos da ESAMV e das Escolas Nacionais (1910-1943) e Atas do Conselho
Universitário (1955 a 1969), além dos dispositivos legais que regiam a educação brasileira e a Instituição
foco da pesquisa, no período em análise.

1194
VESTÍGIOS DA CULTURA MATERIAL E PEDAGÓGICA DAS ESCOLAS ISOLADAS RURAIS (SANTO ANTÔNIO
DO RIO VERDE), CATALÃO-GO

APARECIDA MARIA ALMEIDA BARROS; APARECIDA RAMOS DA MOTA GONÇALVES.


UFG, CATALÃO - GO - BRASIL.

O presente estudo teve como cenário a educação rural em Goiás na segunda metade do século XX, cujo
objetivo foi analisar os vestígios da cultura escolar das escolas isoladas rurais no Distrito de Santo
Antônio do Rio Verde, município de Catalão, Goiás. Fundamentada nos estudos da historiografia da
educação e situada no campo das instituições escolares, referenciamos autores que, no Brasil, vem
contribuindo para o avanço das pesquisas neste campo, dentre os quais destacamos: Vidal, Buffa e

295
Nosella, Souza, Valdemarim, Faria Filho, Bencosta, Gondra. A pesquisa recorreu aos conceitos de cultura
material e cultura pedagógica para orientar a localização de objetos materiais, bem como o
levantamento de aspectos constitutivos da prática pedagógica e da rotina escolar vivenciadas nas
instituições pesquisadas. Os dados empíricos foraOrientamos as entrevistas fundamentadas em algumas
questões: a) Como e por que a senhora se tornou professora? b) Como conseguia organizar todas as
turmas e ensinar os alunos de séries diferentes numa mesma sala? c) De que maneira organizava e
distribuía o tempo e as tarefas para os alunos? d) Como era a convivência dos alunos com idade e séries
diferentes na mesma sala? e) As atividades de ensino eram realizada exclusivamente dentro da sala de
aula? f) Lembra de alguma situação que foi marcante no seu trabalho na Escola Rural? Conte-nos qual
foi? m obtidos por via de documentos e dos resquícios da memória dos professores sobre as Escolas
Isoladas Rurais caracterizadas pelas salas multisseriadas. Procuramos identificar as singularidades da
cultura material e pedagógica vivenciadas pelos professores das instituições pesquisadas. Além das
fontes documentais, foram realizadas entrevistas com professoras que atuaram nas referidas
instituições, sendo priorizadas questões torno da situação profissional, formação e acesso à função de
professora rural; condições de trabalho e salário; organização da rotina e das atividades escolares,
incluindo os aspectos burocráticos; as práticas pedagógicas; a estrutura escolar e as condições materiais
de existência e manutenção da escola isolada rural. Os resultados provisórios revelaram algumas
singularidades, tais como o formato da Escola Isolada Rural e das rotinas experimentadas nas salas
multisseriadas, com especial destaque para os arranjos e ajustes promovidos pelas professoras nas
situações de ensino e aprendizagem. O papel multifuncional da professora rural, bem como os vestígios
da memória de suas práticas constitui nos principais achados da pesquisa. Realçamos as formas distintas
de organização do trabalho pedagógico, a mediação da escola com a comunidade local, o lugar social e
estratégico ocupado pela professora no exercício da docência, dentre outros aspectos. Os vestígios da
cultura material e pedagógica reforçam a pertinência de se empreenderem estudos que se dediquem ao
registro de práticas pedagógicas e a conservação de traços da memória da educação brasileira.

773
‘EDUCAR PARA LIBERTAR’. PERFIS DE ALUNOS/ALUNAS DA ESCOLA TÉCNICA REDENTORISTA: NOVAS
SOCIABILIDADES

JUSSARA NATÁLIA MOREIRA BÉLENS.


PPGE-UFPB, CAMPINA GRANDE - PB - BRASIL.

O presente trabalho é fruto de pesquisas de doutoramento na Universidade Federal da Paráiba, ligadas


ao Grupo de Estudos e Pesquisas "História, Sociedade e Educação no Brasil" – HISTEDBR/GT-PB.
Buscamos compreender como uma instituição católica, a Congregação Redentorista, em Campina
Grande-PB, redimensionou sua filosofia educacional, passando de seminário vocacional masculino para
uma escola técnica mista entre as décadas de 1960 e 1970. Sob o lema de ‘educar para libertar’, a
Escola tinha seu público alvo nos jovens das camadas menos favorecidas da sociedade local. A pesquisa,
ora em andamento, busca, prioritariamente, através da leitura da documentação da própria escola
(arquivos, registros, fichas de alunos, álbuns de fotos etc) levantar o perfil destes(as) alunos (as) da
Escola Técnica Redentorista (ETER) no período que vai de 1975 a 1985. Este é também o período em que
Campina Grande vinha se adequando ao projeto desenvolvimentista do estado nacional militarizado, na
década de 1970, e encontra, na Congregação Redentorista, antes voltada para trabalhos ligados à
assistência social, adesão, a partir de 1975, aos objetivos nacionais da educação profissional. Era a Igreja
renovada sob as diretrizes do Papa João XXIII por meio da encíclica Mater et Magistra, em que atualizava
as orientações da igreja em prol da mensagem de “Paz e de Justiça social”. A Escola Técnica
Redentorista, sob direção religiosa e civil, amplia seus horizontes de formação humana, como escola
técnica profissionalizante, passando a atender, então, a rapazes e moças pobres, os quais,
impulsionados pelos ímpetos da realização profissional marcharam rumo à felicidade ou à “liberdade”
de poder dispor de um lugar no mercado. Nosso objetivo é verificar como meninas/mulheres de 14-15
anos deveriam ser competentes nas disciplinas de matemática, física e química, áreas de conhecimento
delegadas ao masculino pela sociedade patriarcalista. As sociabilidades (Norbert Elias) são construídas
culturalmente, na sua relação com o outro, que elabora sua identidade não só a partir do lugar ocupado,

296
mas das singularidades de classe, de etnia, de religião, bem como de relações de gênero como
construção social e cultural. Isto nos remete também à História da Educação (DIAS, 1992; LOPES, 1992),
entendendo-a não só como uma das formas de construção social e cultural, mas também como fator de
desenvolvimento socioeconômico. A sociação (SIMMEL, 1993) se reporta à forma realizada de maneiras
diferentes pelas quais os indivíduos se agrupam em unidades que satisfazem seus interesses, sejam
sociais, econômicos, políticos, artísticos. Desta maneira, usando metodologia quantitativa, buscamos o
perfil principalmente das alunas da ETER, frente aos cursos técnicos em eletrônica e telecomunicação,
bem como captar sociabilidades geradas neste novo ambiente oferecido pela Escola, sob os novos ideais
progressistas da Igreja, pós-Concílio do Vaticano, associando formação religiosa com educação para o
trabalho.

607
“A EXPANSÃO DO ENSINO SECUNDÁRIO MILITAR (1889-1919)”

BEATRIZ RIETMANN DA COSTA E CUNHA.


UFF/CMRJ, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL.

Objetiva-se nesta investigação, em andamento, examinar a constituição do ensino secundário militar


nas primeiras décadas da República, privilegiando a expansão do Colégio Militar, instituição criada em
1889, na Corte, fruto das transformações por que passava o Exército, em seu processo de
profissionalização. Tais mudanças refletiam a tendência reformista para ampliar e diversificar o ensino
militar, cuja difusão não se limitaria ao número de unidades escolares, mas também assumiria outra
face, atribuindo ao Exército o papel de prover o ensino secundário aos jovens que quisessem seguir a
carreira das armas, em virtude da pouca qualificação de seu efetivo. Apesar da efetivação do Colégio, a
passagem do Império para a República não foi seguida por mudanças qualitativas no Exército, pois ainda
perdurariam as questões que haviam emperrado, no período imperial, sua profissionalização e
modernização. Somente a partir de 1905, viria um amplo movimento de reformas, envolvendo uma
reorganização completa do ensino militar, visando atender à necessidade histórica de quadros bem
formados para a corporação. O desprestígio social conferido ao Exército durante o Império é atenuado
com os governos militares, se tornando um atrativo para os filhos das camadas médias emergentes,
outrossim, a oportunidade de educação gratuita, para os que não tinham posses, atraía jovens para o
corpo de oficiais possibilitando a ascensão social. Portanto, reveste-se de significado a iniciativa bem-
sucedida do Colégio Militar, refletida no grande número de matrículas. Consideramos que a difusão
desses estabelecimentos ligava-se ao programa reformista, no sentido de ampliar as condições de
ensino e assim atender às demandas preparatórias, visto que o Colégio tornara-se a única oportunidade
de ensino secundário militar para aqueles que desejassem seguir a carreira, tanto no Exército quanto na
Marinha. Igualmente, associamos sua aceitação às demandas por formação secundária, vindas da
sociedade, tendo em vista o crescimento dos setores médios da população. Entretanto o projeto
encaminhado pelo general Pires Ferreira, senador pelo Piauí, autorizando o Governo a criar colégios
militares nas capitais de todos os estados, não foi adotado e somente em 1912 obtém aprovação
legislativa, com a criação do Colégio Militar de Porto Alegre e o de Barbacena, assim como em 1919, é
estabelecido o de Fortaleza. Concernente aos aportes metodológicos, esta pesquisa priorizou a
perspectiva de, numa interface entre a história política e a história social da educação, examinar os
significados conferidos ao ensino secundário naquele período histórico, associados às disputas em curso
entre os diferentes projetos para a nação. Evidenciando os argumentos a favor e contra algumas
iniciativas, foi possível perceber a dinâmica nos embates e negociações que ocorriam no interior do
Estado, conferindo historicidade aos processos decisórios e aos impasses criados.

297
1359
“AOS ÓRFÃOS QUE FICARAM”: EDUCAÇÃO DOS FILHOS LEGÍTIMOS E ILEGÍTIMOS DAS FAMÍLIAS
ABASTADAS MINEIRAS SETESSENTISTA

TALÍTHA MARIA BRANDÃO GORGULHO; THAIS NIVIA DE LIMA E FONSECA.


UFMG, BELO HORIZONTE - MG - BRASIL.

Apresentando resultados parciais da pesquisa de mestrado na Faculdade de Educação da UFMG, que


tem como objetivo verificar como se davam as estratégias e práticas educativas dos órfãos das famílias
abastadas nas Comarcas dos Rios das Velhas e das Mortes entre 1750 e 1800, trazemos neste texto uma
análise sobre a educação oferecida aos órfãos legítimos e ilegítimos dessa camada da sociedade. Devido
a queda do ouro a Capitania de Minas Gerais, para o período abordado, passa a possuir contornos bem
urbanizados e uma economia bastante diversificada. Os negócios tinham uma grande importância para
a sobrevivência da população, além de serem extremamente lucrativos. Pensando por este viés
utilizamos, para a presente pesquisa, famílias abastadas ligada à atividade comercial. As condições de
vida na Minas colonial fazia com que a população branca e livre se apresentasse muito fluida e a
mestiçagem estava muito presente. A grande presença de negros bem como a mobilidade em busca do
ouro e por causa do comércio, fazia com que muitos relacionamentos não fossem oficiais aos olhos da
Igreja e Estado. Tal característica dessa sociedade aparce como um dos motivos a contribuir para a que
se tenha aí um grande número de filhos naturais, ilegítimos, que por vezes eram assumidos por seus
pais recebendo seus legados. As Ordenações Filipinas, vigentes até 1917, normatizam a concorrência de
filhos legítimos e ilegítimos à herança de seus pais. No entanto, essa apenas servia como um norte para
as sociedades dos domínios do Império português, já que, tais normas eram reinterpretadas e
adaptadas de acordo com os locais em que eram aplicadas. Pretende-se com esta comunicação verificar
se havia alguma diferença entre a educação (escolar ou não) que era oferecida aos filhos legítimos e
ilegítimos, ou seja, se esta “condição” interferia nas estratégias e práticas educativas direcionadas para
eles e/ou exercidas por eles, como podem ser percebidas bem como se dava tais interferência. O corpo
central de documentos para o desenho dessa pesquisa serão os inventários e testamentos localizados
nos Arquivos do IBRAM de Sabará e São João del Rei, afim de, através dos vestígios deixados nesses
documentos pelos indivíduos setecentistas, conseguir extrair informações extremamente úteis para
responder as questões que ora propomos.

362
“AULAS COM PROFESSORES EM CASA” E OUTRAS PRÁTICAS DE ESCOLARIZAÇÃO: MEMÓRIAS DO
ENSINO RURAL ENTRE 1910 E 1940
1 2
LUCIANE SGARBI GRAZIOTTIN ; DORIS BITTENCOURT ALMEIDA .
1.UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL, PORTO ALEGRE - RS - BRASIL; 2.UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO
GRANDE DO SUL, PORTO ALEGRE - RS - BRASIL.

Com o objetivo de reconstruir um fragmento da História da Educação no Rio Grande do Sul, cujo registro
em documentos oficiais é precário por se tratar de processos de escolarização, em alguns casos, não
insitucionalizados, a pesquisa em questão inventariou e analisou práticas utilizadas no meio rural do
Nordeste Gaúcho, na reigião conhecida como Campos de Cima da Serra. Essas práticas dizem respeito à
contratação de professores, pelas famílias dos alunos, para ministrar aulas em casa bem como, o envio
de crianças, já nos primeiros anos escolares, para os internatos religiosos, práticas de escolarização
empregadas pelas famílias residentes no meio rural utilizadas como alternativas para suprir a carência
de escolas. Através das memórias de 12 sujeitos, analisam-se os traços, gestos, indícios que
sobreviveram ao tempo e que suscitam, certamente, mais problematizações do que respostas, mas que
permitiram, através da utilização da História Oral como metodologia, a atribuição de outros significados
e entendimentos para a História, além daqueles postulados pela análise dita tradicional. Quanto ao
tempo de abrângência, parte da narrativa do senhor Doti, cujas memórias de escolarização remontam a
década de 1910, até a professora Lucila, que rememora seu tempo de educação rural na década de
1940, percorrendo assim 40 anos de história da educação fora do contexto urbano. A possibilidade de

298
contar essa Hisitória parte de um projeto iniciado na cidade de Bom Jesus, em 1989, denominado "
Resgatando nossas raízes" que, entre outras ações, se propôs a coletar memórias e a construir espaços
para guardá-las, dessse projeto organizou-se o Acervo Municipal de Memória Oral, sendo dele os
documentos analisados na pesquisa. No contexto da investigação, vários elementos compõem o
processo de entender as práticas que institucionalizaram, em certa medida, o que denominei de " Aulas
com professores em casa", prática adotada no meio rural devido a ausência de escolas. Os elementos
discutidos na pesquisa dizem respeito às relações de gênero, questões econômicas, culturais, políticas e
religiosas. A relação entre eles vai, ao longo da investigação, tecendo um cenário de educação, com suas
especificidades regionais interligadas às políticas públicas da educação em âmbito estadual e nacional.
As práticas observadas são identificadas nas memórias de pais, professores e alunos traduzindo, em
alguns casos, foram específicas de conceber o ensino, produzindo um legado de cultura escolar próprios
da região.

479
“ESCOLAS VERDES”: AS ESCOLAS DA AÇÃO INTEGRALISTA BRASILEIRA (AIB) NO ESTADO DO RIO DE
JANEIRO. (1933-1937)

PEDRO ERNESTO FAGUNDES.


UFES, VITORIA - ES - BRASIL.

A Ação Integralista Brasileira (AIB) ocupou uma posição de destaque no panorama político da década de
1930, sendo inclusive apontada como o primeiro partido de massa do Brasil. Estima-se que os
integralistas chegaram a contar com quinhentos mil filiados espalhados em todos os estados, o que
propiciou que nas eleições de 1936 fosse eleita uma numerosa bancada de vereadores, 20 prefeitos e 20
deputados estaduais adeptos da AIB. Para orientar, informar e doutrinar seus militantes a AIB também
foi uma das primeiras organizações políticas do país a utilizar os meios de comunicação de massa.
Através dos seus jornais e revistas os integralistas pretendiam ampliar seu capital político e atrair novos
filiados. A Ação Integralista Brasileira (AIB) ocupou uma posição de destaque no panorama político da
década de 1930, sendo inclusive apontada como o primeiro partido de massa do Brasil. Estima-se que os
integralistas chegaram a contar com quinhentos mil filiados espalhados em todos os estados, o que
propiciou que nas eleições de 1936 fosse eleita uma numerosa bancada de vereadores, 20 prefeitos e 20
deputados estaduais adeptos da AIB. Para orientar, informar e doutrinar seus militantes a AIB também
foi uma das primeiras organizações políticas do país a utilizar os meios de comunicação de massa.
Através dos seus jornais e revistas os integralistas pretendiam ampliar seu capital político e atrair novos
filiados. O percurso histórico da AIB é repleto de fatos e acontecimentos marcantes, buscando ampliar
sua inserção no meio da população, os “camisas-verdes” chegaram a fundar uma serie de ambulatórios
médicos, lactários e escolas nas inúmeras “Províncias Integralistas”. No estado do Rio de Janeiro,
principalmente, a partir de 1936, os integralistas fundaram dezenas de escolas de alfabetização e
profissionalizantes que funcionaram como locais de divulgação da doutrina da AIB. Sendo assim, o
objetivo da presente investigação é realizar uma análise das escolas fundadas pelos integralistas no
estado do Rio de Janeiro. Sendo assim, o percurso histórico da AIB é repleto de fatos e acontecimentos
marcantes, buscando ampliar sua inserção no meio da população, os “camisas-verdes” chegaram a
fundar uma serie de ambulatórios médicos, lactários e escolas nas inúmeras “Províncias Integralistas”.
No estado do Rio de Janeiro, principalmente, a partir de 1936, os integralistas fundaram dezenas de
escolas de alfabetização e profissionalizantes que funcionaram como locais de divulgação da doutrina da
AIB. Sendo assim, o objetivo da presente investigação é realizar uma análise das escolas fundadas pelos
integralistas no estado do Rio de Janeiro.

299
598
“FORMA SILENCIOSA DE ENSINO”- O ESPAÇO ESCOLAR NO CURRÍCULO DO CENTRO EDUCACIONAL
MENINO JESUS: PRODUZINDO SUBJETIVAÇÕES E IDENTIFICAÇÕES (1973 - 1997)

CARLA REGINA HOFSTATTER; GLADYS MARY GHIZONI TEIVE.


UDESC, FLORIANOPOLIS - SC - BRASIL.

Objetivos: Este projeto de pesquisa ao nível de Mestrado tem como objetivo principal a análise do
espaço escolar de uma escola privada e católica de Florianópolis: o Centro Educacional Menino Jesus -
CEMJ, fundado em 1955 e dirigido pela congregação das Irmãs Franciscanas de São José. A partir de
1973 esta escola mesclou ao traçado curricular de viés católico os pressuspostos do Método Montessori,
desenvolvido pela médica italiana Maria Montessori no início do século XX. Surgido no contexto da
Escola Nova, este Método propõe, dentre outras especificidades, um novo desenho espacial para a
escola e, especificamente para a sala de aula, adaptando-o as necessidades infantis e tornando-o auto-
educativo, ou seja, capaz de produzir a autonomia na criança. Tendo como ferramenta de análise as
teorizações dos historiadores espanhóis Agustín Escolano Benito e Antonio Viñao Frago (1998), parto do
pressuposto de que o espaço escolar é um mediador cultural em relação a gênese e formação dos
primeiros esquemas cognitivos e motores ou seja, um elemento significativo do currículo, uma fonte de
experiência e aprendizagem”, ou seja, o espaço escolar constitui-se numa “forma silenciosa de ensino”
e, portanto, como currículo. (ESCOLANO BENITO, 1988, p.26-27). Assim, a forma como o espaço é
projetado e utilizado na sala de aula e em outros “lugares” da escola, contribui para o engendramento
de uma determinada cultura escolar, capaz de produzir subjetivações e identificações bastante
particulares. E são justamente estes dois aspectos que pretendo analisar: a produção de subjetivações e
identificações nas crianças a partir de uma determinada configuração espacial, ou seja, que tipo de
significados/sentidos o espaço escolar projetado para o Centro Educacional Menino Jesus pretendia
produzir nos seus alunos e alunas no período recortado para a análise: de 1973 a 1997. Metodologia:
Trata-se de uma pesquisa de base documental. A base empírica para tal investigação é constituída de
fontes documentais tais como os programas de ensino, bem como as obras de autoria de Maria
Montessori, fontes iconográficas e entrevistas com as Irmãs da Congregação e corpo docente que atuou
na escola no período estudado. Trata-se,de uma pesquisa em andamento, iniciada neste ano de 2010,
não havendo, portanto, conclusões a serem socializadas.

663
“FORMAR HOMENS DE MAIOR OU MELHOR CAPACIDADE DE TRABALHO”: UM ESTUDO DA “MISSÃO”
DA ESCOLA NORMAL DE NITERÓI NA PRIMEIRA REPÚBLICA - 1893-1924

ARIADNE LOPES ECAR.


PROPED/UERJ, NITEROI - RJ - BRASIL.

O presente trabalho teve por objetivo analisar a política de formação de professores oferecida pela
Escola Normal de Niterói, entre 1893 e 1924. A institucionalização e afirmação da Escola Normal,
somadas a progressiva valorização das “normalistas”, representaram um momento de transformações
significativas na profissão, pela vontade de progresso e circulação de teorias em educação. Erigidas ao
lugar simbólico de “construtoras da nação”, as alunas-mestras vivenciaram políticas e práticas
formativas, no contexto de feminização do magistério e de expansão da escola graduada. Assim,
buscou-se, igualmente, conhecer a formação nesta instituição e como sua “missão” se fez presente nos
discursos dos Presidentes de Estado no período, traduzindo-se nas retiradas e inserções de disciplinas
com intensos debates na esfera governamental, sobre “o que ensinar ao povo”, pois se almejava um
saber que fosse capaz de ampliar a visão do cidadão brasileiro, modificar seus hábitos e inseri-lo na
modernidade, aspectos que condiziam com o “espírito republicano”. Dessa forma, a Escola Normal
cumpriria sua “vocação” auxiliando na formação dos futuros trabalhadores que contribuiriam para a
construção de uma nova sociedade, ou seja “formar homens de maior ou melhor capacidade de
trabalho”. Nesse sentido, consideramos que pesquisar a formação de professores nos leva a olhar as
articulações históricas e as relações de forças que a constituíram, o que pode ser verificado pelos

300
programas de ensino, pelas leis, decretos, regulamentos, culturas, saberes dos professores e dos alunos-
mestres. O trabalho em arregimentar normas que se transformassem em leis para a instrução pública,
tinha o significado de formar uma plataforma capaz de romper com o antigo regime e formar o cidadão
fluminense. Para compreender o funcionamento e entendermos um pouco melhor a contribuição dessa
escola para a história da instrução fluminense, analisamos as legislações e as políticas curriculares
disponíveis nos arquivos, os saberes, métodos e representações sobre a formação docente, no período
em que a educação apropriava-se de métodos de ensino ativos, como o intuitivo e as lições de coisas,
hibridizando-os com as proposições sobre a modernidade pedagógica. As mensagens dos Presidentes de
Estado (1893 a 1924), as leis que reformaram ou regulamentaram a instrução pública (1893, 1900, 1912,
1915, 1918) em particular a Escola Normal fluminense e os exames de fim de ano dos alunos (1897 a
1911), foram documentos utilizados que, articulados à extensa historiografia sobre a formação docente,
permitiram conhecer práticas escolares da Escola Normal de Niterói na Primeira República.

382
“IDEÁRIO REPUBLICANO NOS CAMPOS GERAIS: A CRIAÇÃO DO GRUPO ESCOLAR CONSELHEIRO
JESUÍNO MARCONDES (1907)”

LUCIA MARA LIMA PADILHA; MARIA ISABEL MOURA NASCIMENTO.


UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA, PONTA GROSSA - PR - BRASIL.

O presente trabalho refere-se à pesquisa de mestrado, do programa de Pós-Graduação em Educação da


Universidade Estadual de Ponta Grossa - PR, sobre o grupo escolar “Conselheiro Jesuíno Marcondes”,
construído na cidade de Palmeira nos Campos Gerais – Paraná. Trata-se de uma instituição regional de
ensino a partir da qual se procurou estabelecer relações entre o contexto nacional e o local, uma vez
que está dentro do projeto republicano de instauração de Grupos Escolares no país, cujo objetivo era a
expansão da escolarização visando reduzir o alto índice de analfabetismo e de forma ideológica,
doutrinar e “civilizar” a sociedade. Por ser uma instituição criada numa região com várias colônias de
imigrantes, procurou-se também verificar as questões mais gerais no contexto da sociedade, do Estado,
da organização das classes e grupos sociais dominantes que influenciaram nas relações de adaptação
desses imigrantes no país. Para dar conta dessa problemática e compreendê-la foram elencadas as
categorias de análise (Estado, Trabalho, Educação), com os quais se procurou aproximar do objeto em
estudo, no caso o grupo escolar inaugurado na cidade de Palmeira - PR (1907). O estudo foi estruturado
e organizado a partir dos pressupostos teórico-metodológicos do materialismo histórico e dialético, que
propõe para a investigação de determinado objeto que se parta das condições concretas de existência,
superando as concepções idealistas e metafísicas da história. O procedimento metodológico adotado
para o desenvolvimento da pesquisa foi, inicialmente a realização do levantamento das fontes
documentais e iconográficas, como encontradas no Grupo Escolar em estudo, no Museu da cidade de
Palmeira, na Casa da Memória de Ponta Grossa, no Arquivo Público do Paraná – PR e no Museu Campos
Gerais - PR, e posteriormente, a organização desse material devidamente copiado e digitalizado em um
banco de dados específico que foi armazenado em um CD-ROM. Uma cópia desse material, entregue
juntamente com a versão final da pesquisa, está disponibilizada no “Centro de Documentação On-line”
na pagina do Grupo de pesquisa HISTEDBR- Campos Gerais , de modo a colaborar com outras pesquisas
em História da Educação. A pesquisa foi dividida em três capítulos: “O ideário republicano no Brasil”;
“Os Campos Gerais e a formação da cidade de Palmeira”; “O Grupo Escolar Conselheiro Jesuíno
Marcondes”. Conclui-se que o presente trabalho permitiu uma melhor compreensão do projeto
republicano de instauração dos grupos escolares no país, cujo objetivo era a expansão da escolarização
como forma de dar instrução ao povo, que diferentemente dos discursos, se deu de forma lenta e de
acordo com os interesses políticos de cada região, sempre atrelado aos interesses de classes.

301
806
“REVISITANDO O PASSADO COM AS LENTES DO PRESENTE”: MEMÓRIAS, NARRATIVAS E TRAJETÓRIAS
DOCENTES DE PROFESSORAS

LEONICE DE LIMA MANÇUR LINS.


UNEB, ALAGOINHAS - BA - BRASIL.

O presente trabalho, fruto de pesquisa de doutoramento ainda em andamento, busca resgatar parte da
História da Educação na cidade de Alagoinhas-BA no período de 1960 a 1980, tendo como pano de
fundo as memórias e trajetórias profissionais e pessoais de algumas professoras, ex-alunas do Colégio
Santíssimo Sacramento (C.SS.S.), colégio católico e voltado para um público feminino da classe média e
alta. Analisamos a formação recebida pelas ex-alunas, suas práticas e trajetórias docentes, fazendo uma
reflexão sobre a construção das identidades de gênero e docente cultivadas na referida instituição
escolar, além de reconstruir a própria história da instituição educacional nos anos 60/80, do século
passado. Buscou-se conhecer em que medida a concepção de gênero e de professora veiculada na
prática pedagógica do C.SS.S. se constituiu em idéias modeladoras das práticas docentes de suas ex-
alunas. A discussão sobre memória, educação, gênero e formação docente tem ganhado profundidade,
novos referenciais teóricos permite melhor compreender e apreender o caminho percorrido por
professoras ao longo da sua formação, ingresso no magistério e trajetória profissional, permitindo
descortinar, entre outras coisas, o horizonte de construção de identidades e práticas de gênero e
docentes. Sabemos que o passado “tal qual aconteceu” nunca será plenamente reconstruído pelos
pesquisadores, no entanto, o zelo e o cuidado metodológico com as fontes de pesquisa permitem uma
aproximação e uma leitura do mesmo. Assim, as fontes que foram utilizadas no presente estudo foram
várias, seguindo a linha da “revolução, do alargamento e da ampliação” possibilitados pela Nova
História, levando-se em consideração a natureza e o problema da pesquisa. Fazendo uso de
depoimentos orais, coletados sob a égide da História Oral, as memórias de ex-alunas do C.SS.S. deram
“vida” ao nosso trabalho de pesquisa. Trabalhamos com esses depoimentos tendo clareza da sua forma
não linear, dos seus tempos múltiplos e de que a memória é entrelaçada de lembranças e
esquecimentos. A presente pesquisa vem auxiliar no resgate da história de uma instituição educacional
com mais de 70 anos de existência, que muito contribuiu (e ainda contribui) para o desenvolvimento da
cidade de Alagoinhas-BA, além de desvelar aspectos significativos de trajetórias profissionais e pessoais
de professoras formadas pelo referido colégio, tendo como base a preocupação com a escrita e
preservação da Memória e História da Educação na Bahia, dando “voz e vez” aos indivíduos que
protagonizaram essa história, nesse caso “as mulheres professoras”.

765
“SOB O MANTO SANTO DA IGREJA DE CRISTO”: POLÍTICA E RELIGIÃO NAS ORIGENS DO MOVIMENTO
DE EDUCAÇÃO DE BASE – MEB NO ESTADO DO PARÁ

CARLOS ANGELO DE MENESES SOUSA.


UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA - UCB, LAGO SUL - DF - BRASIL.

Baseado em fontes primárias como relatórios, programas radiofônicos e cartas da década de 1960, o
artigo discorre e problematiza a relação entre política, religião e a prática pedagógica do Movimento de
Educação de Base - MEB a partir de dois documentos: uma carta do bispo do Prelado de Guamá,
Bragança no Pará, dirigida à Marina Bandeira, então secretária nacional do MEB no ano de 1969 e de
“um ofício confidencial, reservado” do delegado regional do Pará da Polícia Federal ao mesmo bispo.
Nestes se descreve “a difícil situação da equipe do MEB em Bragança – PA” que “[...] vêm promovendo
uma campanha subreptícia, entre os ingênuos caboclos do interior, procurando lançá-los não só contra
as autoridades constituídas, atribuindo a estas a sua precária situação de vida, como também
promovendo a luta de classes, despertando o ódio contra os mais favorecidos pela fortuna. [...]
procuram se acobertar sob o manto santo da Igreja de Cristo [...] ”. Assim, este artigo versa sobre
aspectos históricos das origens do Movimento de Educação de Base – MEB, pertencente à Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB. O mesmo é parte de uma pesquisa que teve como objeto de

302
estudo a relação entre educação, política e religião, a partir da ação social de um grupo de leigos e
eclesiásticos do referido movimento. Conforme uma perspectiva weberiana, a análise genética da
constelação de interesses religiosos presentes em uma sociedade é fundamental para que possamos
entender os fenômenos religiosos na mesma. Assim, é necessário que conheçamos o período em que
tais fenômenos religiosos foram gestados, bem como as normas sociais e culturais objetivas.
Destacaram-se com o fito de identificar a relação entre os interesses políticos e religiosos nos
primórdios do MEB, alguns exemplos. A fim de se ter uma visão, o quanto possível, direta dos mesmos,
transcreveu-se trechos das cartas em questão e outros documentos. Constataram-se alguns dos
indicadores referentes à estreita relação entre política e religião na prática pedagógica nesse período de
origem do MEB, pois entendemos que os mebianos, através das escolas radiofônicas, entre outras
práticas educativas, desenvolveram seu projeto político-pedagógico com certa consistência interna
entre seus objetivos e ações desenvolvidas, a partir de uma racionalidade teórico-científica, buscando
endossar uma religiosidade transcendente, de salvação segundo a sociologia weberiana, onde a política
exercia um ponto capital. No contexto da época, nesta região do Brasil, isso significava que a
alfabetização e formação dos monitores (alfabetizadores) estavam, no mínimo, apresentando novas
idéias, perspectivas críticas que estimulava a autonomia e a liberdade dos sujeitos e a sua
“conscientização” de ser pessoa humana, filho de Deus e por isso portador de grande valor, em meio a
um contexto altamente tradicional, autoritário, profundamente desigual e isso fazia diferença.

443
“UMA ESCOLA NA VARANDA: A HISTÓRIA DE UM ESPAÇO DE EDUCAÇÃO PARA A INFÂNCIA”
(1949/1966)

LUISA MARIA DELGADO DE CARVALHO.


UERJ ( PROPED), RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL.

Esse trabalho, parte de uma pesquisa de doutoramento, tem como objeto de estudo a trajetória da
educadora Astrogildes Delgado de Carvalho, a partir da sua atuação como diretora de uma instituição de
educação mista e católica, conhecida como Jardim de Infância Chapelinho Vermelho. Esta escola
situava-se em Petrópolis, Estado do Rio de Janeiro, tendo funcionado entre 1949 e 1966, como a
primeira instituição escolar formal da cidade, a atender crianças na faixa de 3 a 5 anos de idade. Dando
continuidade à proposta educativa do Jardim de Infância, em 1961, passou a funcionar, sob a direção da
mesma educadora, o Externato Delgado de Carvalho, que ministrava o ensino primário, recebendo
crianças de 6 a 10 anos. Procura-se, nesse trabalho, analisar a história da escola, a partir de relatos orais
de ex-professores, depoimentos de ex-alunos, além de materiais disponibilizados por esses atores,
relativos à sua vivência na escola, como cadernos escolares e fotografias, assim como os documentos
depositados em acervos documentais da Cidade de Petrópolis. Pretende-se, ainda, analisar as
concepções de ensino presentes na atuação pedagógica da Professora Astrogildes, e também as suas
aproximações em relação ao ideário do movimento da Escola Nova. A esse respeito, merece destaque o
fato de seu sogro, Carlos Delgado de Carvalho, ter sido um dos signatários do Manifesto dos Pioneiros
da Escola Nova e um grande incentivador dos ideais do escolanovismo. Esse trabalho contempla
também a relação da educadora com Laura Jacobina Lacombe, diretora, durante longo período, do
Colégio Jacobina, que teve grande influência na cena educacional do Rio de Janeiro, uma vez que
ministrou o primeiro curso de especialização para professores de Jardim de Infância. A proximidade da
Professora Astrogildes em relação a Laura Jacobina Lacombe também é sugerida pela sintonia
observada entre o projeto do Colégio Jacobina e a proposta das instituições fundadas pela educadora
focalizada, além do fato de as trajetórias das duas educadoras católicas se encontrarem, em momentos
diversos. A escola, batizada com o nome de Chapelinho Vermelho, começou a funcionar na varanda da
casa da educadora, com objetivo de atender crianças de sua família e de famílias conhecidas, tendo, aos
poucos, ampliado o perfil de seu alunado, que passou a incluir filhos de famílias de setores médios da
cidade. Tanto o Chapelinho Vermelho, quanto o Externato Delgado de Carvalho, simbolizaram, na
cidade de Petrópolis, uma educação de qualidade, além de terem inovado, na inclusão de crianças com
necessidades especiais, apoiando-se nas teorias pedagógicas de Maria Montessori, e nos princípios do
catolicismo. O referencial teórico-metodológico utilizado na pesquisa vincula-se à história cultural,

303
aproximando-se, ainda, dos estudos de viés biográfico e da reflexão sobre as relações entre indivíduo e
sociedade, inspirada por Norbert Elias.

304
EIXO 3 - HISTÓRIA DAS CULTURAS E DISCIPLINAS ESCOLARES

492
"OTIUM CUM DIGNITAE": O ENSINO DE LATIM NO BRASIL IMPERIAL

EDUARDO ARRIADA.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS, PELOTAS - RS - BRASIL.

Este texto busca apresentar alguns resultados de pesquisa sobre o ensino de latim no Brasil Imperial,
tanto nos colégios públicos, como nos particulares. Nesse intuito analisamos diversos programas, bem
como manuais escolares, além de memórias de estudantes do século XIX. Dentro dos quadros de análise
na nova história cultural, realizamos uma pesquisa de cunho histórico, tendo como suporte teórico os
trabalhos de Chervel, Compère, Julia, Globot, Darnton entre outros. Nos anos finais do século XIX, a
persistência do Antigo Regime permanecia bastante forte numa Europa que avançava na fenda do
“progresso” e da “civilização”. Baseados num currículo clássico, onde sobressaia o latim e as demais
línguas, ele era hegemônico tanto nas escolas públicas, particulares ou religiosas. Para essa nova elite
cursar humanidades era apanágio de distinção, para os jovens dessa classe, só e somente ela poderia ser
sinal de distinção social. O ensino de latim no Brasil ocorre no século XVI, quando do estabelecimento
dos jesuítas. Entrou como fundamento de cultura geral, com o intuito de preparar os jovens para o
sacerdócio. Nessas classes de latim ou humanidades, ensinavam-se os alunos a recitar trechos de
poemas ou discursos latinos, e ensaiava-se a arte do diálogo. O Império, parcialmente manteve essa
tradição, ou seja, estruturou um ensino secundário alicerçado nas letras, gramática, retórica, poética e
literatura, com pouco espaço para a área científica, realidade que só começa mudar nos anos 70, do
século XIX. Durante o século XIX, para a grande maioria dos colégios públicos e particulares, tanto com
sistemas de estudos seriados ou não, as humanidades faziam parte preponderante desse ensino-
aprendizagem. Em geral, iniciava-se pelo estudo da gramática, depois versão e construção de pequenos
textos, e assim sucessivamente dos autores mais fáceis até os mais difíceis. Uma obra lembrada por
diversas gerações de jovens, “Novo Método da Gramática Latina” do Padre Antônio Pereira de
Figueiredo, conhecido nas memórias estudantis apenas como “Artinha”, marcou profundamente os
alunos, pois nunca deixou de ser referida. Somente após dominar as regras básicas da “artinha”, os
alunos tinham contato com os textos clássicos: Phedro; Cornelius Nepos; Tácito; Cícero; César; Virgílio;
Horácio; Ovídio, etc. Esse modelo de ensino estava estruturado como um curso secundário humanístico,
preparatório ao ensino superior, com uma difusão de cultura não profissional. Sua maior ou menor
abertura para as ciências, não altera em nada sua função precípua, de ser um curso de preparação não
profissional e alicerçado nas atividades intelectuais em detrimento das atividades consideradas
manuais, onde o latim pontuava como apanágio de distinção.

538
A CADEIRA DE GYMNASTICA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORAS: PRESCRIÇÕES, PRÁTICAS E SUJEITOS
(BELO HORIZONTE, 1910-1926)
1 2
ANDREA MORENO ; MARINA GUEDES COSTA E SILVA .
1.UFMG, BELO HORIZONTE - MG - BRASIL; 2.ISEAT E CEFET, BELOHORIZONTE - MG - BRASIL.

As reflexões aqui apresentadas são frutos de dois projetos de pesquisa em andamento que têm como
propósito compreender como se constituiu uma educação dos corpos, dos sentidos e das sensibilidades
numa instituição voltada para a formação de professoras primárias. Interessou-nos o percurso da
cadeira de gymnastica: sua constituição, concepções e práticas, como se inseria num projeto de
formação de professoras, os sujeitos envolvidos, seu diálogo na ambiência da cidade. Numa perspectiva
mais ampla, procuramos problematizar o enraizamento e afirmação da disciplina educação física, que
envolveu permanências e mudanças de concepções, práticas e sujeitos. A metodologia utilizada baseia-
se nos procedimentos da pesquisa histórica e as fontes pesquisadas estão localizadas em diversos
arquivos de Minas Gerais e constam de: programas e regimentos escolares, legislação, jornais, revistas,

305
correspondências, livros de atas, relatórios, entre outros. O objeto da pesquisa foca especificamente a
Escola Normal Modelo da Capital, instituição criada em 1906, para ser modelo e referência para as
demais escolas formadoras de professoras do estado. O recorte temporal guarda relação com o
primeiro programa de gymnastica da Escola e com a trajetória da professora Lucia Joviano. Percebe-se,
seja nas prescrições contidas nos programas de várias cadeiras, seja em outros espaços de sociabilidade
da escola, um intenso investimento sobre corpos e sentidos, que não se restringiu a uma dada disciplina,
mas revelou-se como um projeto mais amplo que informou a educação de futuras professoras-
mulheres-femininas. No âmbito deste trabalho apresentamos a constituição de uma Educação Física
escolar, presente na formação de professoras e como ela dialoga com a presença dos exercícios
phyisicos na escola primária. Nossa hipótese é a de que apesar das prescrições para a formação de
professoras darem ênfase à sua atuação no ensino primário, no caso da cadeira de gymnastica, essa
preparação vai mostrar-se dissonante com esse objetivo. Menos preocupada com a prática da educação
physica das crianças vai deter-se, sobretudo, à educação feminina de corpos. Assim, mesmo que haja
num determinado momento alterações no primado orientador do programa da gymnastica na formação
de professoras e timidamente a preocupação com a prática profissional se esboce, ainda não é
suficiente para que possamos afirmar que esta estará totalmente voltada para esse fim. Destaca-se que
a afirmação de uma educação física no ensino primário acaba por exigir mudanças na formação das
professoras, requerendo, cada vez mais, uma preocupação didática nesta.

1213
A CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO NO PENSAMENTO DE TOBIAS BARRETO (1839-1889)

JOSÉ RICARDO FREITAS NUNES; JOSÉ GILVAN DA LUZ.


UNIVERSIDADE TIRADENTES, ARACAJU - SE - BRASIL.

A Concepção de Educação no Pensamento de Tobias Barreto é o resultado de uma pesquisa que foi
desenvolvida no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Tiradentes -
PPED/UNIT, no período de janeiro /2010 a junho/2010. Com base na análise das obras, Estudos de
Filosofia e Estudos Alemães de Tobias Barreto e no estudo de alguns dos seus comentadores, Luiz
Antônio Barreto e Jorge Carvalho do Nascimento. Com efeito, a pesquisa investiga a historicidade e suas
implicações teóricas, bem como as experiências educacionais vivenciadas pelo intelectual até atingir o
chamado “germanismo pedagógico”. A metodologia empregada toma por base a aplicação de
instrumentos que se inserem na História Cultural, conferindo ênfase ao significado e ao sentido que a
educação assume, tanto conceitual, como da realidade sobre a qual a pedagogia se volta para análises.
A partir destes, levamos a cabo a construção descritiva dos elementos terminológicos constitutivos do
pensamento de Tobias Barreto. Ditos elementos, constatamos no decorrer da investigação, se fazem
expressar por meio dos construtos teóricos tobiáticos que identificam os conceitos de homem, ciência e
de cultura, os quais, por sua vez, são determinantes para a compreensão de serem os pré-supostos
conceituais, teorizados pelo pensador sergipano acerca da educação. De aspectos que dizem respeito, a
realidade sobre a qual a educação se volta para análises e intervenções. Neste contexto, se deram três
registros importantes: (a) o pensamento tobiático constitui uma interpretação de caráter evolutivo das
noções educacionais; (b) a dimensão objetiva do conhecimento provindo da história, expressa uma
tentativa de síntese entre o saber filosófico e a ciência; e (c) o sistema filosófico que ergue Tobias
Barreto é resultante dos muitos modos de pensar, em voga no seu tempo, no campo da filosofia e da
ciência. Dentre esses modos, podemos destacar o positivismo, o racionalismo, o cientificismo,
evolucionismo e o materialismo. Com efeito, foram estes modos de pensar que, em última instância,
determinaram a elaboração dos conceitos acerca da educação teorizada pelo sergipano. Eis que
investigamos uma dimensão humana, segundo entende o autor, essencialmente prática, mas que não
exclui a reflexão filosófica sobre a dimensão histórica na qual se insere o homem. A consideração deste
elemento último nos conduziu a identificar uma estrutura racional subjacente ao discurso de Tobias
Barreto que é determinante na configuração que este faz da educação e as executam na Escola do
Recife.

306
1206
A DISCIPLINA DE EDUCAÇÃO FÍSICA NA FORMAÇÃO DAS PROFESSORAS DA “ESCOLA FRANCISCANA
IMACULADA CONCEIÇÃO” DO MUNICÍPIO DE DOURADOS-MS.( 1959-1989)

ANA PAULA GOMES MANCINI.


UFGD, DOURADOS - MS - BRASIL.

Este artigo discorre acerca do objeto de estudos desta pesquisa que é a disciplina de educação física
para a formação de professores da “Escola Franciscana Imaculada Conceição”, e para tal, inicia-se
apresentando um pouco da história da educação no município de Dourados-MS, para que se possa
conhecer em que momento a referida escola foi criada. Na sequência discorre-se sobre a história da
própria instituição e em seguida sobre a inserção da disciplina de educação física na mesma, enfatizando
suas práticas e mudanças ao longo do período pesquisado (1959 a 1989), a fim de aclarar suas
especificidades na instituição. Através da documentação estudada, foi possível perceber que ao final da
década de 1960 a escola passa a dar maior incentivo a prática de esportes, pois a escola participava de
várias competições com várias instituições do Estado e com uma cidade específica, Dracena, São Paulo,
que se localiza em outra região, fato este que proporcionou à instituição a aquisição de uma diversidade
de vitórias, conquistando muitos troféus. Desde o início da década de 1960, o ensino para a formação
dessas professoras estava sempre aliado à prática de suas aprendizagens, pois as alunas atuavam como
professoras em escolas primárias durante sua formação, dessa forma tudo o que aprendiam na
disciplina de Educação física, recreação e jogos era trabalhado em sala de aula com as crianças, como o
período de 1959 a 1973 corresponde em grande parte ao período da ditadura militar, as práticas de
educação física (ainda que sutilmente), acatavam aos métodos estabelecidos pelo governo,
permanecendo o espírito competitivo.As mudanças foram pouquíssimas, mas significativas para que
houvesse abertura para mudanças maiores. Neste período não foram encontrados registros de
confecção de jogos de tabuleiros e estratégia, a educação física passa a concentrar-se em sessões de
exercícios físicos e de ginástica, além da prática de alguns esportes como voleibol, ping-pong e
queimada que possibilitaram à instituição a participação em diversos campeonatos locais e regionais.
Através dos conteúdos propostos na disciplina de educação física, é possível perceber, que esta, atuava
como reflexo do regime de governo vigente em cada época de 1959 a 1989, no entanto, através de
depoimentos de ex-alunas, conclui-se que apesar de haver na instituição uma forma disciplinar e
rigorosa no aprendizado das futuras professoras, estas tentavam repassar os conhecimentos para suas
práticas pedagógicas (ainda que de forma bastante tradicional), de modo mais envolvente possível, na
tentativa de obter um ambiente prazeroso de prática de exercícios para as crianças.

543
A DISCIPLINA ESCOLAR HISTÓRIA NATURAL, OS LIVROS DIDÁTICOS E OS PROFESSORES AUTORES NA
DÉCADA DE 1930: WALDEMIRO POTSCH E O COMPÊNDIO DE HISTÓRIA NATURAL
1 2
MARIA CRISTINA FERREIRA DOS SANTOS ; SANDRA ESCOVEDO SELLES .
1.UERJ/UFF, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL; 2.UFF, NITERÓI - RJ - BRASIL.

Os livros didáticos são considerados uma das fontes materiais do conhecimento escolar produzido e
selecionado por sujeitos ou grupos sociais em determinado contexto histórico, veiculando versões
legitimadas da disciplina escolar e influenciando as escolhas que os professores realizam na prática. Essa
pesquisa em andamento procura entender a constituição da disciplina escolar História Natural, os livros
didáticos e seus autores. Referencia-se nas perspectivas teórico-metodológicas da história do currículo,
buscando evidências das seleções operadas pelo sujeito-autor nas redes sociais e de poder do período.
No presente trabalho examinamos o compêndio de História Natural, publicado nos anos 1930 e de
autoria do professor Waldemiro Potsch, catedrático desta disciplina no Externato do Colégio Pedro II, e
apoiamo-nos nos livros didáticos e documentos como programas e relatórios de diretores desta
instituição. O compêndio analisado consiste em uma coleção de três volumes indicados para a 3ª, 4ª e
5ª séries do ensino secundário, apresentando nas capas desenhos de animais e plantas em seus
ambientes naturais e internamente a maioria das imagens e texto impressos em preto. Fazem parte dos

307
três volumes conteúdos de Botânica, Zoologia, Mineralogia e Geologia e no livro para a 5ª série também
consta a História da Terra. Até o início do século XX no Brasil os professores de História Natural
formavam-se em geral em cursos superiores de Medicina ou em escolas secundárias e eram autodidatas
como profissionais da educação. Essa especialização para lecionar em uma única disciplina foi um
processo longo, que ganha força na década de 1930 com a criação das Faculdades de Filosofia, ao
instituir a formação docente para este nível de ensino. Nos anos 1930 ocorreram mudanças
significativas na política educacional no Brasil: na reforma Francisco Campos organiza-se o ensino
secundário em dois ciclos: um fundamental, com cinco anos, e outro complementar, com dois anos, e
consolidam-se as Ciências como disciplina integrada no currículo do curso secundário. Neste contexto
de reforma, o estudo da história das disciplinas escolares ganha importância porque permite analisar
sujeitos e grupos sociais envolvidos na elaboração e na circulação de idéias relacionadas ao currículo
escolar e compreender os seus valores, interesses e as redes sociais e de poder a que estão ligados. Os
professores-autores de livros didáticos para o ensino secundário podem ser reconhecidos como tendo
um papel central, pois o livro didático pode ter sido a principal ou única fonte do conhecimento escolar
no período. Cabe lembrar que até o início do século XX grande parte dos livros didáticos destinados ao
ensino secundário era importada da Europa, e que com a crise de 1929 a importação de livros
estrangeiros tornou-se quase proibitiva, resultando no aumento da produção dos livros didáticos
nacionais para este nível de ensino.

1165
A ESCOLA MARIA CONSTANÇA E A DISCIPLINA LÍNGUA INGLESA: UMA INVESTIGAÇÃO DO "SOTAQUE
NORTE-AMERICANO" NA SALA DE AULA" (1955-2005)

MARTA BANDUCCI RAHE.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL, CAMPO GRANDE - MS - BRASIL.

Quando a investigação envolve instituições escolares, o conceito de cultura surge como idéia central,
uma vez que educação e cultura são indissociáveis. Tendo a escola como lócus desta pesquisa e
considerando-a como lugar de seleção de práticas e de conhecimentos e ligada às práticas culturais
enquanto formadora da sociedade, bem como lugar de construção das disciplinas escolares, torna-se
impossível dissociá-la dos sistemas de significados e valores da sociedade, ou seja, da cultura. Dessa
forma a escola transforma-se em lugar de produção e reprodução de valores, sentidos e significados da
sociedade e da cultura escolar. Como as disciplinas são construídas na escola, elas não podem dissociar-
se desses aspectos. Diante disso e da constatação da crescente presença de valores e costumes norte-
americanos no cotidiano brasileiro, esta pesquisa tem por objetivo analisar a disciplina língua inglesa em
uma escola pública - Escola Estadual Maria Constança Barros Machado, localizada em Campo Grande –
MS, escolhida como lócus da pesquisa, porque ao longo de sua história, possibilitou com seu espaço
físico e simbólico a produção e reprodução de conhecimentos e condutas esperados pela sociedade
campo-grandense. O papel de seus professores em suas práticas na inculcação e assimilação dos valores
e costumes estadunidenses, também ganhou relevância na pesquisa. As investigações centraram-se nas
práticas cotidianas de alguns professores durante o período de 1955 a 2005 e na cultura docente,
examinadas através de entrevistas e depoimentos de professores e alunos e buscas nos arquivos e
documentos da escola. Entre outros aspectos, foram examinados a construção da disciplina língua
inglesa no Maria Constança, a formação do quadro docente, o prestígio da disciplina no contexto escolar
e o uso do livro didático. Destacou-se, também, os fatores que levaram às aproximações entre Brasil e
Estados Unidos, bem como o papel de símbolos norte-americanos no cotidiano brasileiro e escolar.
Seguindo essa perspectiva, a investigação estende-se, então, aos aspectos políticos, econômicos e
culturais que propiciaram essas aproximações, o que permite evidenciar a presença de elementos
simbólicos estadunidenses no dia-a-dia da escola, como os jeans, o rock, a Coca-Cola e outros, além de
acordos culturais promovidos entre os dois países. Para a condução da pesquisa autores como Williams,
Pérez-Gómez, Julia, Bourdieu, Hobsbawm, Gramsci, alicerçaram as bases para o trabalho empírico. Por
fim, chegou-se à conclusão de que a “americanização” do estudante, no sentido adotado por essa
pesquisa, é muito mais um processo que vem de fora para dentro na escola brasileira e não o contrário.

308
666
A INSTITUIÇÃO DO LUGAR DA GEOMETRIA NA EDUCAÇÃO BÁSICA

FRANCISCA LAUDECI MARTINS SOUZA; ALEXSANDRO COELHO ALENCAR.


UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI, CRATO - CE - BRASIL.

O presente trabalho emergiu do interesse em compreender as práticas educativas ativadas no Ensino de


Matemática/Geometria. Desse modo, discute a construção do lugar na Geometria na Educação Básica, a
partir de um estudo de campo realizado nas escolas, públicas e particulares, do município do Crato,
região sul do Estado do Ceará. O objetivo é entender as práticas educativas envolvidas no processo de
ensino e aprendizagem de geometria no ensino fundamental do sexto ao nono ano. Especificamente,
buscou-se compreender que lugar esse saber ocupa no cotidiano das salas de aula; como está disposto
no livro didático; como professores e professoras o manipulam. Para tanto, entrevistamos, com um
instrumental semiestruturado, professores que trabalhavam, naquele momento, com ensino de
Matemática e Geometria, ou apenas de Geometria. Como esforço para garantir a multiplicidade das
práticas educativas compomos o universo da pesquisa com escolas públicas estaduais, escolas públicas
municipais e escolas particulares. As escolas municipais são localizadas em bairros periféricos,
geralmente recebem alunos provenientes de classes econômicas mais baixas, atendem exclusivamente
ao ensino fundamental e funcionam no turno diurno; as escolas estaduais estão localizadas em bairros
centrais e recebem alunos das diversas localidades da cidade, inclusive de alguns distritos e da Zona
Rural; as escolas particulares atendem um público formado por sujeitos advindos das classes média
baixa, média e média alta, abrangendo inclusive a maior parte dos municípios vizinhos e em alguns
casos alunos dos estados adjacentes, como Paraíba, Pernambuco e Piauí. Para dar conta da análise
construímos quatro categorias analíticas, a saber: inserção docente no ensino de
matemática/geometria, o ensino de geometria, escolha do livro didático, avaliação do livro didático e
materiais de apoio. Os resultados indicam que a prioridade atribuída à álgebra é uma realidade, fato
este que se configura em aspectos tais como a quantidade de aulas dedicadas. Mesmo que o ensino de
geometria esteja dissociado, na maioria dos casos suas aulas não passam de vinte por cento da carga
horária total, sendo que este estudo verificou em apenas uma das dez escolas pesquisadas um total
maior que esse, aonde a carga horária da disciplina de geometria chega a quarenta por cento do total
dedicado à matemática. Nas escolas onde a matemática integra álgebra e geometria, geralmente os
professores seguem o roteiro do livro, que por sua vez privilegia a álgebra. Porém às vezes, nem o
roteiro do livro é seguido pelo professor, acabando por negligenciar a maior parte do conteúdo de
geometria.

847
A LIÇÃO DO ABC: AS PRÁTICAS DAS PROFESSORAS RURAIS NO PIAUÍ NAS DÉCADAS DE 1940 A 1970

MARIA PERPETUO SOCORRO CASTELO BRANCO SANTANA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ, TERESINA - PI - BRASIL.

No período de 1940 a 1970, o Brasil, e especialmente, o Piauí vivenciava um contexto de transformações


políticas, sociais e econômicas. Neste período, o Estado vivenciou um processo de urbanização, sem
vinculação direta com a industrialização inserindo se no quadro de desenvolvimento do restante do
país, sendo este intensificada a partir da década de 1950. Contudo, para Rêbelo mais de 80% da
população residia na zona rural. Esta urbanização ocorreu no Piauí, principalmente, pela facilidade de
acesso entre um município e outro, garantindo a população do Estado o acesso aos bens de consumo e
à educação, promovido segundo Cunha e Silva (1947), principalmente, com a melhoria dos meios de
transportes e a inserção de ônibus e caminhões no interior do Estado. Nas décadas de 1940 a 1970, a
maior parte da população era analfabeta havendo uma busca por melhores qualificações pressionando
o governo federal a voltar sua atenção para o Ensino Primário, especialmente, na zona rural. Esta
precariedade no Ensino Primário era acarretado pela falta de material didático, prédios escolares
adequados e professores qualificados. Assim, era muito comum a presença de professores leigos no
espaço escolar, em especial na zona rural. Elas garantiam escolas às crianças destas áreas, como

309
também auxiliavam na permanência dessa população no seu lugar de origem, evitando por algum
tempo o êxodo rural. Deste modo, o presente texto é resultado de uma pesquisa de mestrado em
andamento e tem como objetivo analisar as práticas pedagógicas adotadas por estes professores que no
início de sua carreira não receberam uma formação escolarizada especifica para a docência e estavam
inseridos em espaços escolares desafiadores para o desenvolvimento de suas atividades docentes. Na
constituição do artigo, utilizarmos como fonte de análise, principalmente, entrevistas temáticas com ex-
docentes e alunos como forma de reconstituir as práticas desses professores. Para isso, nos utilizarmos
das memórias dos entrevistados por acreditar que ela reorganizará um corpo de informações auxiliando
na compreensão do cotidiano escolar rural e da prática destes professores. Além disso, utilizarmos
documentos oficiais e artigos de jornais que circulavam na década de 1940 a 1970. Fundamentamos
nossas discussões em autores como Romanelli (1998), Lopes (2009), Brasileiro (1996), Pinho e Souza
(2010) dentre outros. Percebe-se nas análises das fontes que os professores desenvolviam sua práticas
pedagógicas de acordo com sua formação, isto é, ensinava como haviam aprendido quando eram alunos
em uma das escolas rurais no interior do Piauí.

1174
A ORGANIZAÇÃO DAS CÁTEDRAS NA FACULDADE CATÓLICA DE FILOSOFIA DE SERGIPE (1951-1968)

JOÃO PAULO GAMA OLIVEIRA; EVA MARIA SIQUEIRA ALVES.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE, SÃO CRISTÓVÃO - SE - BRASIL.

O objetivo principal do presente estudo concerne em investigar a organização do regime de cátedras na


Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe (FCFS), no período de 1951-1968, sendo o primeiro
relacionado ao começo das atividades na instituição e o último quando o regime de cátedras é extinto
do país e a faculdade sergipana é integrada a Universidade Federal de Sergipe. Na FCFS o sistema de
cátedras possuía suas especificidades até mesmo por tratar de uma instituição mantida pela Igreja
Católica e com um restrito corpo docente. Tais peculiaridades são perscrutadas por meio de fontes
como o regimento da instituição, atas da congregação e do conselho técnico administrativo,
depoimentos orais entre outros vestígios do passado em foco na busca de vislumbrarmos como essas
foram distribuídas naquela faculdade católica. Para discutir acerca das cátedras no ensino superior
dialogamos com Bontempi Júnior (2001) e Fávero (2000). Esta faz um percurso histórico desde a
implantação das cátedras por D. João VI ainda no início do século XIX, até a sua substituição pelos
departamentos na década de sessenta do século XX. Bontempi Júnior (2001) ao fazer uma análise da
cadeira de História e Filosofia da Educação da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da Universidade
de São Paulo entre os anos de 40 e 60 do século XX, afirma que “A cátedra no regime vigente até a
reforma universitária (1968), deve ser considerada o ponto de partida para a articulação entre homens e
lugares no campo acadêmico” (p.21). Cabe ressaltar que as cátedras na presente pesquisa são
entendidas como um conjunto que agrega: os conteúdos ensinados na cadeira, o regente – catedrático,
e a rede de sociabilidade (SIRINELLI, 2003) entorno deste englobando aqui os seus discentes, colegas de
docência, como também outros intelectuais que se reconheciam no campo (BOURDIEU, 2003). Diante
das investigações inferimos que as cadeiras da FCFS eram distribuídas entre professores que já atuavam
em instituições do ensino secundário sergipano, ou mesmo no nascente ensino superior. Tais regentes
possuíam uma formação diversificada, como médicos, engenheiros, advogados e raros licenciado, estes
eram catedráticos que lecionariam nos cursos para formação de docentes de Filosofia, Geografia e
História, Letras Neolatinas, Letras Anglo-Germânicas e Matemática. Perquirir a organização de tais
cátedras e o complexo jogo de interesses diante destas pode contribuir para o entendimento da história
da FCFS, assim como dos catedráticos, cadeiras e saberes ali ensinados.

310
1320
A PESQUISA EM HISTÓRIA DAS DISCIPLINAS E HISTÓRIA DO CURRÍCULO: INVESTIGANDO A RECENTE
PRODUÇÃO BRASILEIRA
1 2 3 4
MARCIA SERRA FERREIRA ; MARIA VERONICA FONSECA ; CAROLINA LIMA VILELA ; MARCELE TORRES .
1,4.UFRJ, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL; 2.ESCOLA NAVAL, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL; 3.FAFIC,
CAMPOS - RJ - BRASIL.

No contexto de ampliação dos estudos em História do Currículo e História das Disciplinas é possível
perceber uma aproximação entre tais estudos para além de seus recortes temáticos e temporais, tanto
no que se refere aos referenciais teórico-metodológicos, quanto no estabelecimento de diálogos com
outras áreas de produção de conhecimento. Buscando descortinar tais produções, este trabalho
pretende investigar como têm sido construídos, na recente produção brasileira, os estudos em história
das disciplinas e história do currículo, visando a caracterizar, especialmente, como tem se estabelecido o
diálogo entre autores da sociologia do currículo e da história da educação. Afinal, embora inicialmente a
história da educação não tenha se voltado para questões sócio-históricas do currículo, as abordagens
historiográficas construídas a partir da nova historiografia possibilitaram uma ampliação das fontes
utilizadas pelos historiadores da educação em suas pesquisas. Tal fato levou, mais recentemente, ao
desenvolvimento de estudos que tem buscado olhar para a escola em seus aspectos mais específicos e
microscópicos. A análise empreendida fundamenta-se nos referenciais teóricos dos campos do Currículo
e da História da Educação, valendo-se, especialmente, dos estudos formulados por Ivor Goodson, André
Chervel, Décio Gatti Jr, Clarice Nunes e Marcia Serra Ferreira. Trabalhando com o conceito de
comunidades disciplinares, formulado por Ivor Goodson, tomamos como ponto de partida a ideia de
que os atores que delas participam, empregam uma variedade de recursos ideológicos e materiais para
se estabelecerem como hegemônicos. O trabalho toma como referência de análise o levantamento da
produção sobre o tema, nos GT de Currículo e História da Educação da ANPED, no período
compreendido entre 2000 e 2009, bem como a análise de artigos publicados em periódicos qualificados,
no período de 2000 a 2010. O objetivo é identificar, nessa produção, os sentidos de história adotados
pelos pesquisadores que vêm construindo conhecimento neste campo de estudo, nas suas relações com
as fontes, na escolha dos referenciais teóricos e nas opções metodológicas feitas. A análise inicial
construída aponta que, no que se refere à publicação de estudos em periódicos, a produção tem sido
maior de pesquisadores ligados ao campo da história da educação. No entanto, evidencia-se que no
espaço da ANPED, as discussões sobre história do currículo e história das disciplinas ainda se faz
eminentemente no GT de Currículo.

491
A PRODUÇÃO DOS LIVROS DE MATEMÁTICA MODERNA DO NEDEM PARA O ENSINO PRIMÁRIO NA
DÉCADA DE 1970

MARILIZA SIMONETE PORTELA.


PUCPR, CURITIBA - PR - BRASIL.

Este trabalho tem por objetivo socializar um dos aspectos da pesquisa desenvolvida no curso de
Mestrado na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (2009), a produção de livro didático de
Matemática Moderna para o Ensino Primário, pelo Núcleo de Ensino e Difusão da Matemática (NEDEM),
no Estado do Paraná, no final da década de 60 e início de 70 do século XX. Com uma abordagem
histórico-cultural, considerando as diferenças culturais que marcaram as apropriações escolares do
período, esta pesquisa valeu-se do aporte teórico-metodológico da história cultural. Apoiou-se nos
escritos de Michel de Certeau (1982), para a escrita da história, nos conceitos de cultura e cultura
escolar permeando as práticas dos professores, em Cliford Geertz (1989) e Dominique Júlia (2001) e em
André Chervel (1990), na compreensão das finalidades das disciplinas escolares. Autores como Valente e
Pinto, foram consultados em razão da suas extensas produções contemplando a trajetória histórica da
disciplina Matemática. Tendo como espaço de pesquisa o Instituto de Educação do Paraná e como
fontes, documentos oficiais, livros didáticos, arquivo pessoal e depoimentos de protagonistas sobre suas

311
práticas de ensino, a pesquisa buscou compreender os novos olhares voltados para o ensino da
matemática, inseridos num movimento que ficou conhecido como Movimento da Matemática Moderna
(MMM), deflagrado pelos avanços sócio-políticos na década de 1970. O interesse em promover
mudanças no ensino de matemática revelou-se na produção da coleção para o ensino primário “Ensino
Moderno da Matemática”, que foram elaborados inicialmente como cadernos de atividades, de forma
artesanal, impressos em pequenas gráficas, a partir das experimentações realizadas nas salas de aula.
Ganhando proporções maiores e um refinamento das experiências, o material foi posteriormente
editado oficialmente e utilizado em escolas primárias do município. Os estudos desenvolvidos por um
grupo de professoras apoiadas pelo NEDEM e vivenciados com os alunos na sala de aula do ensino
primário, tinham como proposta de ensino, na sua maior parte, fundamentação na teoria de Jean
Piaget, considerando as etapas de aprendizagem, contemplava também os estudos de Zoltan Paul
Dienes, e a utilização dos Blocos Lógicos, material por ele criado e usado para explorar os conceitos
matemáticos. A abordagem destes elementos e a escrita da história pode ser uma porta para o
entendimento das práticas de ensino de matemática nos nossos dias.

804
A PROPOSTA PEDAGÓGICA DE DIENES: EM TEMPOS DE MATEMÁTICA MODERNA

ELENIR TEREZINHA PALUCH SOARES.


PUCPR, CURITIBA - PR - BRASIL.

Resumo: O presente estudo é parte integrante da investigação em andamento, que visa uma tese em
Educação, focalizando a proposta pedagógica do matemático húngaro Zoltan Paul Dienes, disseminada
no Brasil em tempos da significativa mobilização internacional de renovação curricular da disciplina
Matemática, ocorrida no século XX, que ficou conhecida como Movimento da Matemática Moderna.
Inserida no projeto Estudos Históricos Culturais da Matemática Escolar no Brasil – Século XX, essa
proposta investigativa, que em sua totalidade tem como objeto a história da matemática escolar,
contemplando rupturas e mudanças que a partir das reformas e movimentos educacionais marcaram a
disciplina Matemática durante o século XX, no Brasil, problematiza os significados atribuídos pelos
agentes escolares à proposta de Dienes, que pode ter contribuído para orientar, em diferentes tempos e
espaços escolares do período delimitado, as práticas pedagógicas de formação do pensamento lógico de
estudantes brasileiros, buscando compreender suas formas de recepção e suas diferentes apropriações
pela cultura escolar, nas duas primeiras décadas da segunda metade do século passado. Tal investigação
pretende contribuir para o preenchimento de uma lacuna histórica existente na Educação Matemática
brasileira, correspondente a essa proposta pedagógica idealizada por Dienes, reconhecida como um
diferencial entre as idéias formalistas e estruturalistas que vigoraram nessa época, que se difundiu entre
os educadores brasileiros, envoltos naquele momento histórico pelas promessas renovadoras advindas
da, então denominada, Matemática Moderna. Utilizando referenciais teórico-metodológicos da história
cultural, fornecidos por Roger Chartier (1989) e Michel de Certeau (1982), bem como os estudos de
André Chervel (1990) sobre a história das disciplinas escolares, as contribuições de Dominique Julia
(2001) sobre cultura escolar e produções bibliográficas de Dienes, o estudo, que ora é apresentado,
busca esclarecer dúvidas sobre a responsabilidade pela criação do material didático amplamente
utilizado até nossos dias e conhecido como “Blocos Lógicos”.Considera a perspectiva de Dienes (2008)
expressa em correspondência eletrônica, onde este autor, além de reconhecer a existência, desde longa
data, de estudos dedicados ao uso de materiais concretos na formação do pensamento matemático,
assume como sua, uma proposta específica para a utilização de 48 blocos coloridos, hoje denominados
blocos lógicos, com finalidades pré-determinadas, através de uma efetiva proposta pedagógica para
ensinar conceitos lógicos a crianças. Palavras-chave: Dienes; proposta pedagógica; Matemática
Moderna.

312
1032
A PSICOLOGIA TRADICIONAL E O ESPONTANEÍSMO NA EDUCAÇÃO DE CRIANÇAS MENORES DE 03
ANOS: UMA ANÁLISE DOS DOCUMENTOS OFICIAIS NORTEADORES DA EDUCAÇÃO INFANTIL NO
BRASIL (1998-2006)

JANAINA CASSIANO SILVA.


UFSCAR, SÃO CARLOS - SP - BRASIL.

O trabalho é fruto de reflexões realizadas na dissertação de mestrado intitulada: Práticas educativas: a


relação entre cuidar e educar e a promoção do desenvolvimento infantil à luz da Psicologia Histórico-
Cultural, financiada pela Fapesp. Neste, buscarei investigar como a Psicologia Tradicional tem servido de
base na construção das políticas públicas para a educação infantil, principalmente na formação dos
professores. Trabalharei com os seguintes documentos oficiais do Ministério da Educação: o Referencial
Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998); os Parâmetros Nacionais de Qualidade para a
Educação Infantil (2006) e a Política Nacional de Educação Infantil: pelo direito das crianças de zero a
seis anos à Educação (2006), visto que estes foram as fontes para a elaboração dos projetos políticos
pedagógicos aplicados nas escolas de educação infantil. Utilizarei como categorias para a análise a
concepção de psicologia, infância e a formação do educador. Vale ressaltar que a concepção de
fenômeno psicológico dominante na Psicologia Tradicional, que perpassa nos documentos, baseou-se
nas idéias naturalizantes do liberalismo, que se caracterizaram por pensar o homem a partir da noção
de natureza humana, que iguala os homens e exige liberdade, como condição para o desenvolvimento
das potencialidades que estes possuem enquanto seres humanos. As melhores condições de vida
deveriam ser dadas ao homem para que seu potencial natural pudesse desabrochar. Essa concepção de
psicologia reflete no modo como a concepção de infância e a formação dos professores serão
trabalhadas nos documentos. A concepção de infância, dessa forma, pautar-se-à no protagonismo da
criança e no espontaneísmo. O professor deve ser aquele com formação para considerar como ponto
inicial para a sua ação educativa os conhecimentos que as crianças possuem, advindos das mais variadas
experiências sociais, afetivas e cognitivas a que estão expostos. Os assuntos trabalhados com as crianças
devem guardar relações específicas com os níveis de desenvolvimento das crianças em cada grupo e
faixa etária, respeitar e propiciar a amplitude das mais diversas experiências em relação aos eixos de
trabalho propostos. Essas reflexões nos mostram que, historicamente, a Psicologia carrega em si as
marcas a-históricas e conservadoras da sociedade que lhe deram origem, visto que se institui como
ciência no momento histórico no qual a burguesia, consolidada no poder, converte-se em classe
reacionária. E isso reflete nas diretrizes para a formação de professores e no trabalho a ser desenvolvido
na educação das crianças pequenas.

585
A REFORMA FRANCISCO CAMPOS (1927/28) EM MINAS GERAIS E A INTRODUÇÃO DA DISCIPLINA
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NO CURRÍCULO DA ESCOLA NORMAL

GERALDO GONÇALVES DE LIMA.


IFTM - INSTITUTO FEDERAL DO TRIÂNGULO MINEIRO, PARACATU - MG - BRASIL.

Refere-se a uma reflexão oriunda de pesquisa de doutorado em andamento acerca do processo de


modernização da educação em Minas Gerais, particularmente na Primeira República (1889 – 1930),
tendo como referência primeira a implementação de importante reforma do ensino primário e normal
realizada no Estado de Minas Gerais: a Reforma Francisco Campos (1927/28). Tal reforma resulta do
esforço empreendido pelos dirigentes políticos de Minas Gerais, no sentido de inserir o Estado no
projeto republicano e liberal de civilizar o Brasil, proporcionando o sentimento de nacionalidade,
almejado desde os primórdios da República. Parte desse projeto se refere às atribuições das Escolas
Normais como locais de formação de professores que contribuiriam para a consecução do projeto
renovador. A Reforma Francisco Campos insere-se na tentativa de realizar a modernização do ensino em
Minas Gerais. Seguindo a ideologia liberal, a educação cada vez mais se confirma como direito de todos.
Este princípio liberal norteador, baseada na educação como direito inalienável de todos, na verdade, se

313
insere na tendência de expressão de uma nova classe que surge no universo social, a burguesia
industrial. A presente apresentação tem por objetivos apresentar os pressupostos da Reforma Francisco
Campos e seu significado na conjuntura modernizadora educacional em Minas Gerais, destacadamente
no ensino normal; discutir as repercussões reformistas na organização curricular da Escola Normal em
Minas Gerais; analisar especificamente a inserção da disciplina História da Educação como reflexo do
escolanovismo no ciclo profissional nos cursos de formação das normalistas, especialmente na Escola
Normal Nossa Senhora do Patrocínio, em Patrocínio – Minas Gerais. A História das Disciplinas Escolares
representa uma perspectiva investigativa ainda em expansão nas mais novas tendências investigativas
da História e Historiografia da Educação. Assim, manifesta um desafio para as pesquisas em andamento
no sentido de consolidar o campo investigativo iniciado com as contribuições teóricas de André
CHERVEL (1990) referentes à História das Disciplinas Escolares. A reflexão exposta na presente
comunicação é resultado da revisão bibliográfica de autores como PEIXOTO (1983), BOMENY (1994),
GATTI JR (2009) que procuram apresentar, discutir e analisar a trajetória da implantação de reformas
educacionais em fins da Primeira República e a repercussão das mesmas na formação docente realizada
especialmente na Escola Normal, como parte do processo de modernização do ensino em Minas Gerais
e no Brasil.

380
A TRANSNACIONALIZAÇÃO DO DISCURSO NO CAMPO DO CURRÍCULO NA HISTÓRIA RECENTE DO
SÉCULO XXI

JANETE MAGALHÃES CARVALHO; SUZANY GOULART LOURENÇO.


UFES, VITORIA - ES - BRASIL.

Objetiva analisar como o discurso da Associação Internacional para o Desenvolvimento dos Estudos
Curriculares (International Association for the Advancement of Curriculum Studies - IAACS), uma das
mais conceituadas entidades no campo do currículo, fundada em 2001, que vem realizando Encontros
Trienais (China em 2003, Finlândia em 2006 e África do Sul em 2009), vem se expressando na primeira
década do século XXI, no periódico “Transnational Curriculum Inquiry” (TCI, 2004-2009). Visa, nesse
sentido, a compreender as relações estabelecidas entre o discurso da Associação, a representatividade
dos artigos apresentados no TCI, as temáticas enfocadas, assim como o lugar de que falam as autorias e
as implicações de um posicionamento que se pretende, do ponto de vista epistemológico,
“transcultural” e “pós-colonial”. Utiliza o método histórico documental. Seleciona, como fontes de
estudo, as onze edições do periódico, totalizando 54 artigos e/ou seções e 65 autores (algumas vezes
recorrentes). Identifica a tentativa de composição dos periódicos por temáticas, em alguns números por
mais de uma temática. Utiliza as categorias do simulacro e do hibridismo, tomando como intecessores
teóricos Derrida (1971) e Bhabha (1998, 2003). O primeiro, por ponderar que o signo carrega sempre
não apenas o traço daquilo que substitui, apontando o significante como multiplicidade indefinida e
considerando o significado como cultural e socialmente produzido, afirma o processo de significação
como dependente das relações de poder, mas, também, como abertura para a criatividade da
indeterminação prévia que escapa às representações, aos modelos cópias dominantes. O segundo, ao
postular que pensar a questão da cultura na atualidade é entender que, na contemporaneidade, o
cruzamento de espaço e tempo tem produzido complexas figuras de diferença e identidade que não
devem ser entendidas, apenas, por suas multiplicidades, mas por seus atravessamentos, seu caráter
híbrido. Aponta, como resultados, que há uma predominância excessiva de autores da
Austrália/Oceania (57%) e dos EUA e Canadá/América do Norte (32%), somando, aproximadamente,
90%, e que tais autores falam de um lugar que não habitam, mas que os habita, seja por serem
originários de outros países estudando ou trabalhando em universidades de referência, seja pelos
contatos propiciados por pesquisas em campo e/ou pelas mídias. Cabe, entretanto, problematizar a
absoluta ausência de autores de países latino-americanos e africanos neste debate, entendendo que a
hibridização que ocorre entre entidades situadas assimetricamente em relação ao poder, de alguma
forma, também afeta o poder, visto que o “terceiro espaço” que resulta da hibridização não é
determinado, nunca, unilateralmente, pela identidade hegemônica: ele introduz uma diferença que
constitui a possibilidade de seu questionamento.

314
588
APONTAMENTOS SOBRE A INFÂNCIA ESCOLAR NO PERÍODO REPUBLICANO NA PARAÍBA

MARIA DO SOCORRO NÓBREGA QUEIROGA; LUCIANA PRISCILA SANTOS CARNEIRO.


UFPB, JOAO PESSOA - PB - BRASIL.

Tomando como aporte teórico a educação escolar e a infância e sua constituição desde a modernidade
como categoria social, este artigo resulta de estudos e pesquisas realizados no Doutorado e, em outros
projetos e pesquisas, como o PIBIC. O objeto de estudo encerra dois eixos de análise: a educação escolar
e a infância na Paraíba, e sua constituição nos discursos educacionais, tomando como aporte teórico
áreas de estudos que se entrecruzam, como a Pedagogia, a Sociologia e as ferramentas teórico-
metodológicas dos Estudos Culturais. Sobretudo, as noções de poder-saber e de fabricação do sujeito
moderno, de Michael Foucault, foco da nossa pesquisa. O suporte teórico para a pesquisa, conjugado
aos objetivos específicos, delinearam o percurso metodológico, referendado nos objetivos específicos, a
seguir: 1) caracterizar os enunciados presentes nos documentos na perspectiva da Análise do Discurso;
2) proceder à classificação dos tipos de discurso 3) identificar as semelhanças e diferenças entre as
categorias de análise, nos diversos documentos; sobretudo no que se refere à hegemonia dos temas, de
modo a identificar e analisar os territórios e códigos infantis produzidos. A abordagem metodológica
utilizada é a analítica de Michael Foucault, com suas noções sobre arqueologia e genealogia, aliada à
pesquisa de documentos históricos que atravessam a República até as três primeiras décadas do Século
XX, na Paraíba. Dados ainda embrionários resultantes do estudo apontam para um deslocamento dos
sentidos atribuídos à infância, entre as décadas estudadas, consubstanciados em enunciados associados
aos cuidados higiênicos: nos anos de 1930 predomina uma visão de cuidado com as crianças no sentido
da educação moral. Já na década de quarenta e começo da década de cinquenta há uma continuidade
dos discursos com enunciados ligados à perspectiva eugenista, ao inatismo, aos “actos louvados ou
reprovados”, à personalidade da criança, à deficiência física e psíquica, sinais de um tempo em que a
ciência emerge como fundamento da educação. Bem diferente dos discursos produzidos na década
seguinte, 1960: persiste a preocupação com a classificação das crianças, envolto no conceito de
anormalidade, mas a hegemonia discursiva relaciona-se à preocupação em “formar” para um país em
desenvolvimento, “de acordo com sua capacidade tornando-se membros sadios, ajustados e úteis a
sociedade à qual pertencem”, consequência do desenvolvimento industrial e urbano.

1090
AS CRIANÇAS, OS JOVENS E A HISTÓRIA

GRINAURA MEDEIROS MORAIS.


UFRN, CAICO - RN - BRASIL.

A trajetória do ensino da disciplina história está marcada pela moldura dos primeiros tempos da sua
constituição enquanto disciplina escolar como espelho de um corpo de conhecimento que fora
transmutado da ciência histórica para a sala de aula passando pela depuração e pelo atravessamento do
viés psicológico e didático-pedagógico dos processos de ensino e de aprendizagem através das
chamadas transposições didáticas. É notório que o ensino dessa disciplina nas escolas refletia o estado
da arte da ciência histórica através do tempo com os seus avanços e recuos, aproximações e
distanciamentos dos contextos de origem de cada situação em particular, a saber: o ensino de história
na colônia, no império, na republica e nas atuais propostas curriculares. Não obstante as agruras de que
se tem notícia na literatura da área sobre o desprezo pela disciplina, hoje começa a se afigurar um novo
contexto criador de sentidos para o ensino de história. Pesquisas revelam que a ampliação de
abordagens, temas, fontes, objetos, e outros elementos oriundos do movimento da nova história, hoje
postos a historiografia através das discussões, da pesquisas e dos livros didáticos, têm despertado o
interesse dos estudantes por esta forma dinâmica e interessante de se estudar história para além da
decoração de datas e de nomes de heróis. Trata-se de um trabalho que é resultado de pesquisa
concluída sobre o ensino de história no ensino médio apresentado ao Programa de Pós-Graduação em
educação da UFRN e também de pesquisas permanentes sobre o ensino de história na atualidade bem

315
como a qualidade dos livros didáticos adotados e sua influência no desempenho dos professores e no
sucesso da disciplina. Os objetivos explícitos na pesquisa sobre o ensino de história que atualmente
realizamos em escolas do ensino médio e que também se apresentam neste trabalho estão voltados
para a compreensão das congruências e incongruências entre os discursos enunciados pelos estudiosos
da área e pelas políticas educacionais através dos Parâmetros Curriculares Nacionais e as realidades que
se processam no cotidiano das escolas e nos espaços das salas de aula de história enquanto disciplina
obrigatória dos currículos. A pesquisa teve início a partir de experiências enquanto professora de
História no Ensino Médio, fomentou as discussões do Mestrado e se estendeu ao fazer acadêmico das
pesquisas que se tornam permanentes na vida do professor/pesquisador. Atualmente, ela se estende às
escolas da rede pública de ensino através de um projeto encaminhado à PRO-REITORIA de Pesquisa da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Há um acervo significativo de dados que estão sendo
trabalhados tecnicamente pelos bolsistas interessados e envolvidos no processo de tratamento das
informações e na socialização do saber histórico à comunidade através de encontros presenciais e de
apresentações de trabalhos científicos em congressos.

1054
AS DIRETRIZES CURRICULARES PARA O ENSINO DE HISTÓRIA DA BAHIA: UM PROJETO PARA A
DISCIPLINA DE HISTÓRIA

NATHALIA HELENA ALEM.


IFBA/CAMPUS DE EUNÁPOLIS, EUNAPOLIS - BA - BRASIL.

A História da Educação brasileira vem passando por um intenso processo de transformações nos últimos
anos, quer do ponto de vista das propostas que vêm se anunciando em todo o sistema educacional,
quer da própria produção acadêmica. Assim como outros estados da federação, a Bahia construiu
propostas de mudanças na organização de seu sistema educacional durante a década de 1990, apesar
de pouco ou quase desconhecidos dos estudos em História da Educação e/ou das Disciplinas. Essas
propostas passaram tanto pela organização e unificação das matrizes curriculares do seu sistema de
ensino, como por propostas de Diretrizes Curriculares para o Ensino Fundamental (BAHIA,1995), para
diferentes disciplinas, inclusive de História. Em nosso trabalho nos dedicamos a analisar o projeto para a
disciplina de História, construído durante a década de 1990, pela Secretaria de Educação da Bahia,
discutindo as suas finalidades, conteúdos e metodologias. Esta pesquisa está inscrita em um projeto
maior que resultou em nossa dissertação de mestrado e, que tinha por objeto, a História do ensino de
História no Colégio Estadual Clériston de Andrade, na cidade de Eunápolis/BA, durante a década de
1990. O documento, Diretrizes, analisado para construção deste artigo, continha as propostas de
mudanças que se pretendiam constituir, e nos permitiu compreender o discurso da Secretaria de
Educação do Estado da Bahia sobre a disciplina escolar de História. Sua análise coloca-nos a
possibilidade de entender as disputas políticas que o engendram, dado que não se constitui em uma
peça técnica e/ou pedagógica simplesmente, mas em um elemento normatizador de relações sociais
que não se limitam aos muros das escolas. A compreensão de um instrumento curricular exige uma
exploração em múltiplas direções. Não se resume à análise do prescrito, mas às disputas que, em
diferentes momentos, se constituíram, desde sua construção à efetivação nas salas de aula. A simples
análise do documento não bastava, mas possibilitou o diálogo com os diferentes atores envolvidos no
processo e assim, possibilitou compreender o projeto de disciplina que se pretendia efetivar. Esse
documento apesar de normativo, sem peso legal de obrigatoriedade, foi distribuído e divulgado e está
presente como referência na memória dos diferentes atores. No documento, a disciplina escolar é
concebida como uma extensão da disciplina acadêmica. O espaço escolar seria o ambiente de
disseminação de um conhecimento que lhe é exterior. As mudanças, portanto, iniciar-se-iam,
prioritariamente, de fora para dentro, ainda afinadas com uma concepção que vigorou nos estudos
educacionais e na Educação brasileira durante a década de 1990. Nosso artigo pretende contribuir com
as discussões acerca da História das Disciplinas escolares no Brasil, em especial da disciplina de História
na rede estadual da Bahia, seus conteúdos, metodologias e finalidades que em nossa História recente se
pretendiam construir para o ensino desta disciplina.

316
1357
AS INFLUÊNCIAS PARA A IMPLANTAÇÃO DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO ENSINO PRIMÁRIO NO ESTADO DO
PARÁ

NEY FERREIRA FRANÇA.


UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ, BELEM - PA - BRASIL.

O presente trabalho é parte integrante da dissertação de mestrado que se encontra em andamento


tendo como título: “A história da educação física no ensino primário, no Pará, na primeira república
(1889-1930) pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade do Estado do Pará (PPGED-
UEPA). Aqui tem-se o objetivo de analisar as principais influências na implantação da educação física
como disciplina escolar no ensino primário no estado do Pará (1880-1890). O presente trabalho, está
sendo realizado procedendo-se a uma análise de documentos produzidos no período, como os
relatórios e regulamentos da instrução pública do estado Pará, livros publicados como “Notícia geral
sobre o colégio americano”(1888),“A educação nacional” (1890), “A Instrução Pública no Estado do Pará
em 1890” (1891) todos de autoria de José Veríssimo, e Também de uma bibliografia que trata da
história da educação, educação física e de aspectos econômicos e políticos da história do Brasil e do
Pará. Está análise proporcionará a compreensão das duas principais influências na implementação da
educação física no ensino primário no final do século XIX, quais sejam, o papel da elite e seus
intelectuais e a experiência do Colégio Americano, instituição de ensino existente na década de 80 do
século XIX no estado, e possibilitará, portanto, entender qual a concepção de educação e educação
física estava sendo proposta para o ensino primário. O papel da elite intelectual é importante, pois foi
difusora de ideias que precisavam ser assimiladas pelo conjunto da sociedade, dentre elas, a de um
novo tipo de educação. A experiência do Colégio Americano, também é importante para compreender a
aplicação de um modelo de educação e educação física que deveriam ser praticados, principalmente,
pela juventude em formação e o que dai decorre, isto é, a compreensão de qual concepção de educação
precisava ser desenvolvida e que aspectos deveriam ser priorizados. Estas influências, ao que mostram
as primeiras análises, tiveram grande importância no processo de implantação da educação física no
Pará. A razão de desenvolver este estudo, que se encontra em andamento, está baseada na carência dos
mesmos, percebidos no levantamento em periódicos da área, no banco de teses da CAPES e nos eventos
realizados em nível local e nacional, e também na oportunidade que a sociedade deve ter de conhecer
suas práticas educativas e para qual o mesmo pode contribuir de maneira significativa.

803
AS TRANSFORMAÇÕES DA MATEMÁTICA DA ESCOLA PRIMÁRIA DE MATO GROSSO (1920-1980)

LAURA ISABEL MARQUES VASCONCELOS DE ALMEIDA; NEUZA BERTONI PINTO.


PUCPR, CUIABA - MT - BRASIL.

O estudo, em andamento no curso de doutorado, tem como objetivo compreender as transformações


da matemática da escola primária de Mato Grosso no período de 1920 a 1980. Orientada na perspectiva
histórico-cultural, a pesquisa contempla conceitos de operação historiográfica (Certeau,1982),
apropriação (Chartier, 1990), disciplina escolar ( Chervel, 1990) e cultura escolar ( Julia, 2001,2003). As
fontes foram constituídas com documentos oficiais e documentos escolares relativos à disciplina
Matemática como livros didáticos, diários de classe, cadernos e provas escolares e com depoimentos de
protagonistas de momentos históricos que marcaram a história da educação matemática de Mato
Grosso. Analisando o passado histórico da matemática escolar ao longo do período delimitado, o estudo
centrou sua atenção nas formas de apropriação dos ideários e dispositivos legais levadas a efeito nas
práticas de ensino da disciplina em questão. No processo de expansão da escola primária de Mato
Grosso, ocorrido entre 1920 e 1960, o estudo destacou práticas de memorização da tabuada e
processos mecânicos da aritmética com exercícios descontextualizados do cotidiano infantil. As análises
das fontes relativas a esse período revelam que a introdução do ensino intuitivo foi um marco na
renovação da disciplina. O segundo período, décadas de 1970 e 1980, é marcado pela introdução da
Matemática Moderna e pela difusão do ideário piagetiano na escola primária matogrossense, como

317
indicam as propostas curriculares e os livros didáticos de Matemática das séries iniciais do Ensino de
Primeiro Grau de Mato Grosso, nova denominação do curso primário a partir da Lei 5692/71. Nessa
segunda fase de renovação, a matemática escolar transforma seu aparato didático-pedagógico a partir
da matriz epistemológica piagetiana, contemplando novas formas de utilização do material concreto.
Para além da percepção dos objetos pelos sentidos, defendida pelo ensino intuitivo, a compreensão dos
conceitos matemáticos passa a valorizar ações do pensamento e esquemas operatórios. Essas idéias
centrais na teoria piagetiana tornam-se pressupostos fundamentais nos cursos de capacitação ofertados
aos professores das escolas primárias de Mato Grosso. Além da novidade da Teoria de Conjuntos e da
nova linguagem matemática, o ideário que orientava os cursos ministrados no referido período
contemplava o uso de materiais estruturados, estimulando os professores a preocuparem-se com os
processos cognitivos utilizados pela criança na sua experiência matemática. Ao estimular a descoberta
de propriedades lógicas e a valorização das representações gráficas das quantidades, a simples
manipulação de materiais concretos passa a ser insuficiente para a compreensão dos conceitos
matemáticos. Tais mudanças marcaram a trajetória da matemática escolar e repercutiram na cultura
escolar da escola primária de Mato Grosso.

611
CADERNOS DA HISTÒRIA ENSINADA DURANTE A DITADURA MILITAR BRASILEIRA OU COMO UMA
DISCIPLINA ESCOLAR QUE TENTARAM SILENCIAR PERMANECEU VIVA NOS CADERNOS ESCOLARES

JUÇARA LUZIA LEITE.


UFES, VILA VELHA - ES - BRASIL.

O trabalho apresentado é parte de pesquisa em andamento cujo principal objetivo é investigar, no


contexto da Ditadura Militar Brasileira (1964 a 1984), de que forma os cadernos escolares de “Estudos
Sociais” e os de “Moral e Cívica” constituem registros singulares de aulas de História silenciadas pela
criação da disciplina escolar Estudos Sociais. Para tanto, discutimos primeiramente nosso objeto em sua
materialidade, definindo-o como objeto cultural e suporte material de uma escrita ao mesmo tempo
coletiva e individual. O diálogo com estudos de Gvirtz (1997,1999), ou com outros mais recentemente
organizados, como por exemplo, o de Mignot (2008), que apresentam um estado da arte sobre as
pesquisas em torno de cadernos escolares, é especialmente relevante para nossa investigação. Em
seguida, interrogamos pesquisas sobre a história do ensino de História no período da Ditadura Militar no
Brasil, em especial as de Cerri (2002, 2003), Rodrigues (2004), e Silveira (2009). O que nos interessa mais
fundamentalmente é: a) apreender, a partir do contexto de criação dos Estudos Sociais e de
descaracterização e esfacelamento da disciplina escolar História como disciplina autônoma, como uma
dada cultura escolar foi palco e página da resistência da prática de ensino de alguns docentes; e b)
investigar os cadernos escolares de Estudos Sociais/ Moral e Cívica/ História como fonte privilegiada
para a História da Educação do período, particularmente para a História do Ensino de História,
considerando-os também como expressão de uma determinada escrita de si (LEITE, 2007). Entrevistas
realizadas por Fonseca (2003) demonstraram que o prazer de estudar História, para muitos alunos de
então, estava relacionado à capacidade de comunicação dos professores e não à abordagem dada aos
conteúdos, muito menos aos conteúdos em si. Alguns estudos chegaram mesmo a discutir se as
diretrizes estabelecidas pelo Regime Militar para o ensino de História não reforçaram apenas aquilo que
já vinha ocorrendo no país nas práticas de ensino de História. Cerezer (2009) também utilizou
entrevistas para analisar de que forma o Estado utilizou o “silenciamento” do ensino de História como
mecanismo difusor de sua ideologia e também como formador de um capital humano em atendimento
às necessidades do mercado. Os cadernos escolares, no entanto, nos levam além da bipolaridade dessas
análises, pois trazem à tona um sujeito mais íntimo, "escrevinhador" do seu caderno, mas, também, um
sujeito que guardou os seus cadernos para um futuro possível, em demonstração de afeto por aquele
ensino visto aqui como parte de uma cultura escrita/ escolar repensada na dimensão do sensível. Para
nos orientar nesse percurso investigativo, nos apoiamos em Febvre (1953), Chartier (1990, 2005, 2007,
2008), Koselleck (1990), e Viñao (1995), e utilizamos sítios de relacionamento na internet para localizar e
organizar as fontes.

318
964
CONCEPÇÕES DE NATUREZA E SENSIBILIDADE AMBIENTAL NOS LIVROS DIDÁDICOS DE ENSINO DE
CIÊNCIAS NATURAIS DIFUNDIDOS NO BRASIL NO PERÍODO DE 1930 A 1961

CARLOS RENATO CAROLA.


UNESC, CRICIUMA - SC - BRASIL.

A atual crise ambiental suscita angústias, dilemas e busca de respostas. Neste sentido, a “Educação
Ambiental” pode ser compreendida como uma tentativa de resposta da sociedade moderna, uma vez
que a educação formal instituída ao longo do século XX acabou se tornando mais um instrumento de
formação de cidadãos para a sociedade de consumo. Enquanto a tendência dominante projeta
esperança num futuro promissor, com mais conhecimento científico e inovações tecnológicas, neste
trabalho nos propomos a projetar um olhar analítico para observar o passado histórico do ensino de
ciências naturais. Durante o período escolar aprendemos e assimilamos conceitos e representações que
ensinam diferenciar a cultura humana do mundo natural. Com a institucionalização e expansão do
ensino escolar a partir do século XIX, principalmente, o ensino de ciências naturais conquista um
importante espaço na estrutura curricular. No Brasil, o ensino do mundo natural começa a ser difundido
no Império (século XIX) e na Primeira República pelas ciências naturais provenientes das universidades
européias e dos Estados Unidos da América, traduzido em linguagem acessível para o livro didático. O
livro didático torna-se, então, um manual do conhecimento científico traduzido numa linguagem
acessível para crianças e jovens que perpassam pela escola durante o ensino fundamental e médio. Mas
que tipo de conhecimento transmitia os livros didáticos de ensino de ciências naturais, no período em
que o Brasil consolida sua política de expansão da educação escolar, particularmente no período de
1930 a 1961? Que concepções de homem e natureza eram ensinadas nos manuais didáticos destinados
às crianças escolares? Esta pesquisa tem por objetivo identificar a sensibilidade ambiental e as
concepções de homem, ciência e natureza nos livros didáticos de ensino de ciências naturais voltados
para crianças do ensino primário e fundamental, editados no período de 1930 a 1961. Trata-se de uma
pesquisa histórica, documental e bibliográfica inserida no campo da História da Educação e História
Ambiental. A metodologia de pesquisa se fundamenta nas discussões contemporâneas sobre o papel do
livro didático e da disciplina escolar como instrumentos culturais de difusão do conhecimento científico;
e percorre o campo da História da Educação brasileira com uma abordagem de História Ambiental. Em
termos de procedimentos metodológicos, selecionamos livros didáticos guardados em arquivos públicos
nacionais (Biblioteca Nacional, Fundação Getúlio Vargas, USP), em bibliotecas públicas e arquivos
particulares localizados na região sul de Santa Catarina; digitalizamos, fichamos e analisamos as obras
selecionadas. Trata-se de uma pesquisa em andamento.

1271
CULTURA, INFÂNCIA E ESCOLA: AS REPRESENTAÇÕES NA LITERATURA

NUBEA RODRIGUES XAVIER.


UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS, DOURADOS - MS - BRASIL.

O trabalho refere-se a um recorte de pesquisa sobre a compreensão da criança e da escola, na linha de


estudos sobre História da educação, Memória e Sociedade, do programa de pós-graduação em
educação da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFGD de Dourados/MS, sob a orientação da
profª Dra. Magda. C. Sarat Oliveira. Trata-se de um projeto maior de dissertação de mestrado, intitulado
Memórias de infância: a representação da criança sob uma perspectiva literária e tem como objetivo
elaboração da concepção de infância e de escola existente no nordeste rural brasileiro, por meio das
obras literárias Infância de Graciliano Ramos e Meninos de Engenho de José Lins do Rego, a partir do
imaginário social, obtidos pelas as emoções, as percepções, os interesses e a própria cultura, alcançando
assim, a heterogeneidade e as formas simbólicas sobre a criança, o aluno e as disciplinas escolares. A
relevância desse estudo se fez, pela análise das obras literárias, em conformidade, com as identidades
da criança e da escola, elaboradas a partir das memórias de José Lins do Rego e Graciliano Ramos, em
que buscamos compreender as estratégias utilizadas para a alfabetização e a prática de leituras

319
ocorridas em finais do século XIX e início do século XX. Como procedimentos metodológicos, utilizamos
a pesquisa bibliográfica, a análise literária e as perspectivas sociológicas de Norbert Elias para
compreendermos o processo de transformação da criança em aluno e das práticas educativas em
disciplinas escolares. A escolha de Norbert Elias se deu pelo autor propor que a civilização se fez por
meio de um processo, em que determinada camada social desenvolve transformação nos costumes,
concedendo o conceito de figuração que é uma rede de relações de indivíduos interdependentes que se
encontram ligados entre si a vários níveis e de diversas maneiras. E, para análise bibliográfica para os
aspectos da educação e da infância, estabelecemos um diálogo com os seguintes autores: ÁRIES (1978),
BENJAMIN (2004), HEYWOOD (2004), LOPES (2000), CHARTIER (1991), GEBARA (2009), GÉLIS (1991),
FREITAS (1997), KUHLMANN JR. (1998), PINTO; SARMENTO (1997), PONCE (2000), POSTMAN (1999),
PRIORE (1992), REDIN (1998), SARMENTO, M; GOUVEA (2008), SARAT (2009) tecendo assim, a
representação da criança e da infância. Consideramos, dessa maneira, que este trabalho resultou em
conclusões significativas, definindo que todos os acontecimentos advindos da história da criança
permitiram estruturar uma nova caracterização da infância, escola e disciplinas escolares, assim como
no âmbito sociológico, como um elemento histórico-cultural adequado por condicionantes econômicos,
culturais e políticos que determinam o comportamento infantil.

1011
CURRICULARIZAÇÃO DA MORAL E DO CIVISMO NO ENSINO MÉDIO NO ESTADO DO PARANÁ (1961-
1971)

NIVALDO CORRÊA TENORIO.


SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DO ESTADO DE MAO GROSSO DO SUL, CAMPO GRANDE - MS - BRASIL.

O objeto deste estudo insere-se num campo de pesquisa recente e em constituição, a História do
Currículo no Brasil e/ou, mais especificamente, nos Estados da Federação, com foco de interesse em
como foram implantados e/ou apresentados ao ambiente escolar. Diante disso, buscamos a reescrita da
história curricular construída para o ensino médio no Brasil e no Estado do Paraná, partindo de um lado,
do princípio teórico de que o currículo oficial não se configura necessariamente em currículo em ação e;
de outro, de que não podemos apenas nos ater a descrição estática do passado, mas sim buscar
entender por que razões o currículo se organizava de tal forma, por que foram eleitas tais disciplinas
para curricularizar a moral e o civismo e, dessa forma, entender os porquês destes conhecimentos
serem vistos como válidos e legítimos. Assim, a pergunta que orienta este estudo é: De que forma a
curricularização da moral e do civismo nos traz a possibilidade de repensar como são realizadas as
escolhas e as seleções de conhecimento? Para tentar responder essa questão, recortamos o período de
1961 a 1971, por considerá-lo, por um lado, delimitado pela promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação n. 4024 em 1961 e da Lei que fixa as diretrizes e bases para o ensino de 1º e 2º graus, n. 5692
em 1971 e; de outro, por consolidar os movimentos de agitação social, política e econômica.
Movimentos esses desencadeados pela Ditadura Militar, que iria direcionar a educação brasileira e mais
propriamente seu projeto curricular, pela instituição enfática da Moral e do Civismo, considerada
estratégica na concepção ideológica dos grupos político-econômicos que estavam no poder. Nosso
desenho metodológico alia técnicas do estudo bibliográfico e documental. Os objetivos desta pesquisa
encontram-se, assim delineados: Objetivo Geral: Desvelar a construção a curricularização da moral e do
civismo para o ensino médio nacional e local (estado do Paraná), na perspectiva de reescrita de uma
história curricular; Objetivos específicos: investigar como as Diretrizes e Normas Curriculares Nacionais e
do Estado do Paraná, instituídas no período de 1961 a 1971, consolidaram a curricularização da Moral e
do Civismo no ensino médio; compreender o processo de inclusão e permanência das disciplinas que
foram utilizadas para tal intento. Partimos da hipótese que o conjunto de legislações que promoveram a
curricularização da Moral e do Civismo foi/é expressão da legitimação de determinados objetivos
educacionais, à medida que esses se realizam sobre estruturas e instituições.

320
377
CURRÍCULO ESCOLAR, PCNS E INTERDISCIPLINARIDADE NO ENSINO FUNDAMENTAL: UMA ANÁLISE
SÓCIO-HISTÓRICA E CULTURAL
1
FRANCISCO XAVIER DOS SANTOS XAVIER SANTOS ; JULIANA BORBA SANTOS DE SOUZA PINTO BORBA
2
SANTOS SOUZA .
1.SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DO ESTADO DE PERRNAMBUCO, RECIFE - PE - BRASIL; 2.SEE, RECIFE - PE -
BRASIL.

O presente trabalho trata-se de uma pesquisa desenvolvida por especialista da Secretaria da Educação
de Pernambuco e que discute o conceito de interdisciplinaridade e sua inserção na elaboração do
currículo escolar. Seu interesse é analisar as orientações contidas nos PCNs do ensino fundamental –
1997 à atualidade - enquanto base curricular nacional e metodológica conceitual, considerando a
inserção do conceito de interdisciplinaridade, bem como a importância do referido documento para a
normatização do ensino no Brasil. E, com isso demonstrar a atualidade deste debate na reflexão
pedagógica e didática para prover uma lacuna que venha explicitar a compreensão das proposições
curriculares envoltas neste processo de transposição complexa e paradoxal. Interdisciplinaridade aqui
entendida como eixo integrador, que pode ser o objeto de conhecimento, um projeto de investigação,
um plano de intervenção. Uma visão contemplada na proposta dos PCNs numa perspectiva histórica que
estão intimamente relacionadas às transformações observadas tanto na esfera tecnológica e científica e
que repercutem no plano da cultura e que mediatiza em última instância a relação dos indíviduos com o
mundo real. Do ponto de vista histórico os PCNs assumem na conjuntura sócioeducacional, mais que um
mero auxílio, na verdade revela uma intenção de natureza política, pedagógica, e ideológica, que
parece resultar na materialização do currículo numa perspectiva sócio-histórica contemporânea, que no
caso brasileiro é de fato o parâmetro a ser seguido. Neste sentido, considera-se os significados atrelados
ao conceito de interdisciplinaridade, destacando, sobretudo a visão de alguns estudiosos brasileiros que
tomam como ponto de partida nas discussões que fazem em torno de currículo escolar e
interdisciplinaridade no ensino fundamental, uma abordagem social, histórica e cultural, a qual é dotada
de sentido e significado para os propositores de políticas educacionais num dado contexto. Deste modo,
o currículo é visto como instrumento vivo, que se faz e refaz a partir de um processo dinâmico e
histórico que envolve o diálogo com a cultura contemporânea, a base curricular e a interdisciplinaridade
nos diversos campos que compõem as disciplinas escolares. Este estudo tem sua gênese no quadro
teórico que dá suporte à pesquisa intitulada “Currículo Escolar, PCNs e Interdisciplinaridade no Ensino
Fundamental: uma análise sócio-histórica e cultural”, a qual, no momento presente, encontra-se em
processo de coleta de informações por meio de pesquisa documental e bibliográfica.

873
EDUCAÇÃO E SABER MILITAR NA CONTEMPORANEIDADE

ADALSON DE OLIVEIRA NASCIMENTO.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS, BELO HORIZONTE - MG - BRASIL.

A comunicação apresenta parte de uma tese defendida no Programa de Pós-graduação em Educação da


UFMG no ano de 2009. A pesquisa versa sobre exercícios físico-militares em escolas civis brasileiras e
portuguesas na passagem do século XIX para o XX. A chamada “Era das revoluções”, cujos marcos
históricos são a Revolução Francesa e a Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra, foi caracterizada por
profundas transformações em diversos aspectos da sociedade ocidental. Em relação à educação, o fim
do século XVIII e todo o século XIX são caracterizados por inovações e alterações substanciais, que
conformaram a pedagogia e a escola na contemporaneidade. Exemplo dessas mudanças é o surgimento
de sistemas escolares monopolizados e controlados pelo Estado, movimento que não foi uniforme em
todos os países. Na esteira desse processo histórico, a pedagogia se tornou laica, racional e científica, e
se transformou, a partir da interação com novos saberes. Sem a pretensão de esgotar essa ampla
discussão, destaca-se o movimento discursivo que levou à centralidade da escola como instituição social
capaz de moldar os indivíduos por meio da conformação às normas sociais e de produzir sociedades

321
homogêneas e orgânicas. Nesse amplo movimento de transformações sociais e da educação
contemporânea ocorrido após a chamada “dupla revolução”, interessa discutir mais de perto as formas
pelas quais o conhecimento militar interveio para a constituição do campo pedagógico contemporâneo
e o modo como o chamado “saber militar”, dentre outros saberes, passou a interferir na escola na
contemporaneidade. O objetivo da comunicação é realizar essa reflexão teórica e historiográfica
realizando breves considerações sobre a trajetória dos exercícios físico-militares - principal forma de
entrada do saber militar na escola na contemporaneidade. Para tanto, caracteriza-se o processo de
constituição dos métodos ginásticos europeus que surgiram no século XIX. A sistematização desses
métodos ginásticos é entendida à luz do higienismo e do nacionalismo político, que pregavam os
exercícios físicos como o caminho para a regeneração física e moral, e para a formação de cidadãos
aptos para defender a nação. Defende-se que os exercícios físico-militares são frutos da mudança do
habitus das pessoas e integram o código nacionalista, que se difunde pelas relações de
interdependência entre os indivíduos e as figurações sociais. Também se discute o conceito de cultura
política, com o fim de demonstrar que a escola foi um dos vetores de difusão do nacionalismo político.

925
EDUCAÇÃO EM PRINCESA ISABEL/PB. PERSPECTIVAS, CONTRADITÓRIAS, DE CONSTRUÇÃO DE UM
SISTEMA DE ENSINO PÚBLICO (1920-1945)

CHARYA CHARLOTTE BEZERRA ADVÍNCULA; MAURICÉIA ANANIAS.


UFPB, JOAO PESSOA - PB - BRASIL.

Este trabalho é parte da pesquisa de mestrado sobre Alice Maia, professora leiga que lecionou por mais
50 anos na cidade de Princesa Isabel/PB e teve que reestruturar-se profissionalmente em consquencias
das mudanças políticas que afetaram diretamente esta cidade nas primeiras décadas do século XX e tem
como objetivo principal identificar a mobilidade social desta professora, que começou sua carreira
lecionando em aulas de cadeiras isoladas no estado da Paraíba e após a revolução de 1930, devido à
implementação da reforma fiscal, foi demitida, tendo que reformular sua vida profissional. Dispensada,
deixa de estar vinculada a rede oficial de ensino para alfabetizar as crianças provenientes das elites, que
não conseguiam se moldar ao novo modelo escolar recém implantado ( ou aqueles que pudessem pagar
pelos seus serviços) – o Grupo Escolar - ou que ainda não tinham idade suficiente para ingressar na rede
regular de ensino. Pretendemos, a partir das concepções provenientes da nova história cultural,
reconstituir as práticas pedagógicas desta professora e sua mobilidade social para sobreviver em uma
sociedade arcaica e patriarcal, na qual o destino das moças ditas de família era o casamento e não a
independência financeira. Para tanto, utilizaremos a metodologia originária da história oral através da
realização de entrevistas com ex-alunos, vizinhos, familiares e amigos próximos da referida professora.
A intenção será a partir desses fragmentos de vozes, reconstituir, na narrativa, a vida privada e pública
de Alice Maia, para que a partir desta possamos melhor compreender a sociedade da época e suas
implicações no campo educacional a nível local. Na perspectiva do cotejamento dessas informações,
utilizaremos também das técnicas da pesquisa histórica para analisar a documentação produzida pelo
estado da Paraíba que fazia referência às professoras primárias da época, depositada no Arquivo
Histórico da Paraíba. Para essa pesquisa, foram encontrados leis, editais de concurso, relatórios dos
presidentes do estado e dos diretores da instrução pública, recibos e ordens de pagamentos. Num
período de construção do sistema de ensino público, pesquisar a vida de uma professora que estava,
oficialmente, ao largo desse processo poderá propiciar uma análise crítica desse período de transição
entre as cadeiras isoladas e a constituição dos grupos escolares, contribuindo para o debate
historiográfico acerca das ações do Estado, e as relações com os sujeitos da educação, para a instrução
pública primária.

322
1012
EDUCAÇÃO, GINÁSTICA E EDUCAÇÃO FÍSICA: APROPRIAÇÕES DA PEDAGOGIA MODERNA NO ESPÍRITO
SANTO ENTRE AS DÉCADAS DE 1910 E 1930

OMAR SCHNEIDER; JEIZIBEL ALVES ALVARENGA; MARCELA BRUSCHI.


UFES, VITORIA - ES - BRASIL.

Analisa o movimento político e educacional que, nas primeiras décadas do século XX, prescrevia que os
saberes relacionados aos cuidados com o corpo, a higiene, a saúde, a ginástica e a educação física
deveriam fazer parte da proposta de uma Pedagogia Moderna, capaz de colocar o estado do Espírito
Santo no concerto civilizatório ao modernizar a sua instrução pública. Questiona-se na investigação
como foi significada a presença da ginástica/educação física, e os saberes que lhe dão suporte, na escola
pelos intelectuais que procuram introduzir a Pedagogia Moderna no Espírito Santo entre as décadas de
1900 e 1930? Para responder a essa pergunta opera com o conceito de representação (CHARTIER, 1990)
para compreender as formas pelas quais a realidade é construída por seus atores e com a noção de
forma escolar (VINCENT; LAHIRE; THIN, 2001) para perceber as práticas de apropriação (CERTEAU, 1998)
entendidas como práticas de transformação de matérias sociais específicas. Emprega a proposta da
arqueologia dos objetos (NUNES; CARVALHO, 1993) para analisar os documentos como objetos culturais
que, constitutivamente, guardam as marcas de sua produção e dos seus usos. Utiliza como fontes os
relatórios dos governadores de estado, dos diretores da instrução pública, os anais da assembléia
legislativa e os impressos (livros, revistas e jornais). Concluímos que a introdução da ginástica na escola
brasileira, como disciplina, ocorre por meio de muitos percalços (VILLELA, 2002). Apesar de a Pedagogia
Moderna ter sido utilizada, no final do século XIX, para fundamentar as reformas da instrução pública no
Espírito Santo (SCHNEIDER, 2007), a ginástica como disciplina não foi contemplada nos debates da
instrução pública, visto que a educação física, conforme a Pedagogia Moderna poderia ser realizada por
meio da educação dos sentidos. Somente em 1908, na reforma realizada pelo educador paulista Gomes
Cardim, no governo de Gerônimo de Souza Monteiro, é que se começa a realizar de forma sistematizada
a ginástica na escola, agora não apenas como parte das lições de coisas, mas como matéria que deveria
ser cursada pelos alunos. A ginástica é escolarizada no Espírito Santo por meio do método sueco. Para
Monteiro (1911) a ginástica deveria ser executada com a finalidade de manter o organismo em
favorável formação, com exercícios militares para os meninos e a ginástica corretiva para as meninas. O
discurso do disciplinamento era associado à ginástica/Educação Física por entenderem que ela poderia
incutir nos alunos o gérmen da moral republicana. Prescrevia-se o disciplinamento e a moralização não
para formar o homem ilustrado do final do século XIX, mas para uma nova sociedade industrializada,
ordeira e moderna. Essa forma que adquire a Pedagogia Moderna no Espírito Santo tinha a ordem como
principal objetivo, pois somente desse modo, acreditava-se, poderiam amalgamar todas as diferenças
étnicas e culturais que compunha a região.

1245
EM FINS DE CÁTEDRAS: ESTUDOS DAS ORGANIZAÇÕES DE DISCIPLINAS ESCOLARES NO INSTITUTO DE
BIOLOGIA DE SERGIPE (1969 – 1983)

KÁTIA CARMO.
UFS, ARACAJU - SE - BRASIL.

Apresento neste artigo alguns estudos e considerações sobre o desmembramento inicial das cadeiras da
Faculdade de Medicina para a formação do antigo Instituto de Biologia de Sergipe e articulação de seus
professores titulares na intenção de mover uma análise sobre as principais mudanças ocorridas na
oferta de disciplinas básicas, dentro do antigo Instituto de Biologia de Sergipe. Durante este movimento
de organização e adaptação das disciplinas, o foco histórico volta-se ainda para a forma de inserção
desses professores no provimento das cadeiras e formação dos currículos de licenciaturas no primeiro
curso de Ciências Biológicas do Estado de Sergipe; quando vigoravam situações de disputa entre estes
mesmos professores. Essas ações de disputas e os resultados obtidos através das análises desse
contexto mostram a conformação inicial do que seria o cerne curricular da formação do professor

323
licenciado em Ciências Biológicas na década de 1970, em Sergipe. Como principal objetivo, tem-se a
visualização de condições culturais que ali existiram através das diferentes escolhas estabelecidas nas
reuniões das comissões de ensino, nas reuniões de professores e nos protestos de alguns alunos das
primeiras disciplinas que compunham os cursos de Medicina, bem como os alunos de Odontologia; além
das ações do professorado frente às mudanças impostas pelas leis federais, como a lei 5.540/68 que
modificou o ensino universitário, autorizando a implantação de institutos básicos em todo o país. Em
Sergipe, o decreto de fundação do Instituto de Biologia é datado de 12 de março de 1969, quando surgiu
do desmembramento da antiga Faculdade de Medicina, sendo transferido para a nova sede à Rua Vila
Cristina s/n, a 27 de fevereiro de 1971. Para isto, articulo não só as disputas de campo que se
consolidaram com o resultado de todos esses desmembramento e reorganização das cadeiras básicas,
mas também as conseqüências e desdobramentos que existiram e que refletiram sobretudo na cultura
escolar que se ressignificava em novos espaços, novas práticas e diferentes exigências curriculares.
Como principais fundamentações teóricas, utilizo os conceitos de redes de sociabilidades de Sirinelli
(1997), além dos conceitos de habitus, campo e capital cultural, definidos por Bourdieu (1974). Utilizo
Julia (2001), com o conceito de cultura escolar; assim como alguns autores que também trabalham
dentro da perspectiva da nova história cultural, como: Thompson (1992), Le Goff (1988) e Chartier
(1990). Dentre as fontes investigadas para a elaboração da pesquisa estão ofícios, atas, cartas,
depoimentos orais, listas de professores, e outros. Trata-se de uma pesquisa em andamento que propõe
análises e considerações que, certamente, podem contribuir para ampliar o conhecimento acerca da
cultura que permeou a formação da atual Universidade Federal de Sergipe, especialmente, no que diz
respeito ao antigo Instituto de Biologia da Universidade Federal de Sergipe (IBUFS).

1110
ENSINO DE HISTÓRIA E “INTERDISCPLINARIDADE”: AS CONCEPÇÕES DE HENRY JOHNSON (1915/1940)

ITAMAR FREITAS DE OLIVEIRA; TATIANE MENEZES SANTANA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE, SÃO CRISTÓVÃO - SE - BRASIL.

Este trabalho faz parte de uma pesquisa mais abrangente que investiga os vários sentidos do conceito
“ensino de História” nas obras dos pensadores educacionais que viveram entre os séculos XVI e XX, na
Inglaterra, França, Estados Unidos e no Brasil. O projeto “Histórias do conceito de ensino de História” é
desenvolvido por alunos e professores dos cursos de licenciatura em Pedagogia e em História e do
Mestrado em Educação da Universidade Federal de Sergipe, desde o início de 2010. O objetivo desta
comunicação é apresentar as ideias do historiador norte-americano, Henry Johnson (1867-1953), a
respeito de abordagens inovadoras no ensino de História, identificadas por conceitos clássicos, a
exemplo de “correlação”, “fusão” e “integração”. Considerada a única área em que todas as ciências se
encontram, a História, como comenta Johnson, pode ser correlacionada ao ensino da Geografia,
Educação Cívica e Literatura. Em relação à História e Geografia, o historiador afirma que a existência de
uma sem a outra, é algo inconcebível. Destaca, ainda, o papel da História na formação política dos
alunos e sua contribuição para a Literatura. O estudo da concepção de ensino de História em Johnson
pode contribuir para o desenvolvimento de uma história comparada do ensino de História acerca de
práticas educacionais francesas, norte-americanas e brasileiras. Este trabalho foi elaborado a partir de
análise de conteúdo do livro Ensino de História nas escolas primárias e secundárias (1915/1940) de
Henry Johnson. A obra, estruturada em dezoito tópicos, trata do conceito de História, da História nos
currículos escolares antes e depois de 1890, do estudo dos grupos sociais, dos livros didáticos de
História, dentre outros assuntos. Embora tenha sido um dos mais importantes historiadores dos Estados
Unidos do século XX e esteja presente nas bibliotecas brasileiras, Johnson é pouco conhecido entre
nossos acadêmicos. Segundo Erling M. Hunt, Johnson foi um dos responsáveis pela transformação do
ensino de História e dos Estudos Sociais nos EUA. Graduado em História pela Universidade de
Minnesota, lecionou História na Teachers College de 1906 até a sua aposentadoria, sendo condecorado
como professor emérito em 1934. Exerceu, ainda, os cargos de presidente da Associação de Professores
de História de Middle States e Maryland, e do comitê de Associação Histórica Americana, de vice-
presidente do Conselho Nacional para Estudos Sociais e foi um influente membro da Comissão de
Investigação dos Estudos Sociais nas Escolas. Johnson, uma das principais referências na área de ensino

324
de História e Estudos Sociais nos Estados Unidos e na Europa, possibilitou o diálogo entre os estudiosos
da História e os eruditos da Educação.

985
ENTRE FIGURAS E TROPOS: OS CONTEÚDOS E AS PRÁTICAS ADOTADOS PARA O ENSINO DE RETÓRICA
E POÉTICA NO ATHENEU SERGIPENSE(1874-1891)

ANA MÁRCIA BARBOSA DOS SANTOS.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE, SAO CRISTOVAO - SE - BRASIL.

O presente trabalho constitui parte de uma pesquisa de mestrado já concluída sobre o ensino da
disciplina Retórica e Poética no Atheneu Sergipense, no período compreendido entre 1874 e 1891. A
pesquisa tem cunho histórico e vincula-se ao Núcleo de Pós- Graduação em Educação da Universidade
Federal de Sergipe e pertence à linha de pesquisa História, Sociedade e Pensamento Educacional.Para
analisar o objeto, utilizou-se a pesquisa documental, com base nas contribuições da História Cultural e
da História das Disciplinas Escolares. Os Regulamentos e Editais da Instrução Pública, as Atas da
Congregação do Atheneu Sergipense, o Jornal do Aracaju, apostilas, discursos e compêndios serviram
como fontes. O estudo sobre o ensino secundário brasileiro, no século XIX, revelou que o mesmo
delineou-se pelo caráter clássico e direcionou-se ao preparo de jovens para o ingresso nas Academias
Superiores por meio dos Exames Preparatórios. Nessa perspectiva, as cadeiras ganhavam destaque na
medida em que eram exigidas em tais Exames. A análise do discurso de posse e das apostilas elaboradas
pelo professor Brício Cardoso, titular da cadeira, revelou alguns indícios, quanto aos seus propósitos, em
relação ao ensino da disciplina: seguir o modelo clássico, preparar seus alunos para um bom
desempenho discursivo, transmitir as regras necessárias para o domínio da língua portuguesa, a
utilização de autores portugueses e nacionais. Dentre as práticas adotadas para o ensino da disciplina
tiveram destaque: a leitura literária, as composições, as declamações, as transposições de trechos
originalmente compostos em prosa para verso e vice-versa. Vale destacar a profícua relação entre a
Retórica e o Direito, comprovada pelo destaque atribuído à eloquência de foro, não só nos manuais de
Retórica, mas também na apostila localizada, elementos que se relacionam diretamente à tendência
bacharelesca vigente no século XIX. Nesse período, impelidos pela articulação das circunstâncias sociais,
jovens pertencentes a famílias de destaque na sociedade sergipana tiveram, através da advocacia, uma
significativa elevação do seu status. A influência da retórica, nesse cenário, faz-se notar pela escrita,
ainda calcada no modelo clássico e pela valorização do discurso fundado nos preceitos da eloquência;
dessa forma, ao lado dos bens materiais, os bens culturais, como a erudição e o domínio da expressão
oral aturam como sinal de distinção. Esta pesquisa procurou evidenciar a importância da Retórica e
Poética no âmbito das humanidades e demostrar seu caráter estético, sua utilização como instrumento
de elevação social e sua atuação como trasmissora de valores sociais.

1222
GENARO DANTAS – ATUAÇÃO COMO PROFESSOR E PARTICIPAÇÃO NO MOVIMENTO DA
MATEMÁTICA MODERNA EM SERGIPE

JOSÉ GILVAN DA LUZ; JOSÉ RICARDO FREITAS NUNES.


UNIVERSIDADE TIRADENTES, ARACAJU - SE - BRASIL.

O estudo da historiografia na perspectiva da História Cultural vem ampliando o campo da História,


incluindo novos objetos, novas temáticas, destacando-se dentre eles o papel de personagens e
intelectuais. Esse novo olhar dentro da historiografia valoriza a vivência dos sujeitos históricos,
colocando-os como sujeitos de suas próprias ações. Para compreender a trajetória e atuação desses
personagens uma das metodologias a que se pode recorrer é a abordagem biográfica. Conforme Freitas
(2006), o desenvolvimento da pesquisa é compreendido através da abordagem biográfica na História da
Educação como aquela que, a partir de diferentes instrumentos e vestígios, recupera e registra a história
de educadores e intelectuais que ocuparam a cena educacional, com depoimentos, história de vida,

325
entrevistas, cartas, fotografias, matérias jornalísticas, entre outros. Essa ênfase na biografia é recente, a
partir da década de 80 do século XX, com os estudos de Peter Burke, Pierre Nora e outros criadores do
projeto micro-história, que enaltecem a narrativa de homens comuns e a destacar a complexidade de
suas individualidades e de suas particularidades. Com isso o gênero biográfico passa a ter o papel de
destaque na historiografia contemporânea em geral e na educação, em particular. Para compreender
essas histórias de vidas, a abordagem biográfica vem constituindo uma metodologia a que o
pesquisador pode recorrer, fundamentando-se nos estudos de Vavy Pacheco Borges, Ana Chrystina
Mignot, Denice Catani, Rui Martinho Rodrigues, Roger Chartier. Essa pesquisa centra-se na trajetória de
vida e nas contribuições do professor Genaro Dantas Silva - Matemático e Algebrista – que teve
participação ativa no Movimento da Matemática Moderna (MMM), no início dos anos 60, em Sergipe.
Sua iniciação ocorreu ao ser convocado para participar de encontros e conferências com matemáticos
como Malba Tahan e Omar Catunda, onde obteve um contato inicial com os fundamentos de análise e
álgebra. Como estratégia adotada para desenvolver os seus conhecimentos algébricos, esse pesquisador
e autodidata passou a importar livros de autores renomados como Courant, Howard, Marclane e
Birkhoff. O trabalho é circunscrito à segunda metade do século XX, quando esse professor pontuou
como um personagem controverso, dirigindo suas críticas à metodologia utilizada na época para o
Ensino da Matemática. Atuou na formação de novos pesquisadores e estudiosos da Matemática Pura; e,
embora não tenha obtido uma titulação de mestre ou doutor, tem domínio e conhecimento que
adquiriu com o seu autodidatismo, tendo participado de encontros e debates com pesquisadores de alto
nível. Atualmente, o professor Genaro Dantas Silva encontra-se aposentado, mas continua contribuindo
para o ensino da matemática, orientando novos e antigos docentes militantes desse campo acadêmico.

1337
INICIAÇÃO MUSICAL E CANTO ORFEÔNICO: REFLEXÕES SOBRE A EDUCAÇÃO MUSICAL NAS ESCOLAS
PÚBLICAS DURANTE O PERÍODO DO ESTADO NOVO

INÊS DE ALMEIDA ROCHA.


COLÉGIO PEDRO II, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL.

Apresento aqui algumas reflexões sobre a Iniciação Musical e o Canto Orfeônico, duas propostas de
ensino musical contemporâneas nas décadas de 1930 e 1940, que perpassaram o governo do presidente
Getúlio Vargas, analisando de que forma elas representaram uma afirmação e/ou uma resistência à
ideologia do Estado Novo. Tanto na bibliografia publicada por Heitor Villa-Lobos, que esteve à frente do
projeto do Canto Orfeônico, quanto naqueles assinados por Liddy Chiaffarelli Mignone, que desenvolveu
cursos de Iniciação Musical e formação de professores para aplicação dessa metodologia, constata-se
aproximações e afastamentos no que se refere à concepção, à prática e à circulação das metodologias
nas escolas públicas. A historiografia que tem analisado a proposta do canto orfeônico pouco tem
considerado outras propostas do mesmo período, ou nem tem mencionado a existência de propostas
concomitantes, como se observa em trabalhos de autores como Wisnik (1983) e Horta (1995). Por isso,
pensar sobre essas duas propostas importantes para a formação musical de crianças e jovens, e nas
relações que estabeleceram com o poder instituído, seguindo proposição apresentada por Bourdieu
(1987), amplia a compreensão sobre essas práticas pedagógicas e sobre a educação nessas décadas.
Para esta análise recorro a autores que pesquisaram a educação musical e a música nesse período,
como Fuks (1990), Santos (1996), Wisnik (1978, 1983) e Wolff (1991) e estudiosos de questões sobre a
educação nas escolas brasileiras como Veiga (2007), Xavier (2002) e Horta (1995), no sentido de
compreender alguns questinonamentos sobre os quais me detenho. Lanço, assim, questões que giram
em torno de algumas temáticas, tais como: quais as concepções nacionalistas foram apropriadas pelas
duas metodologias, que ideias pedagógicas e pedagógico-musicais predominam nessas duas propostas,
quais os pontos em comum e as oposições estabelecidas e como foram essas metodologias foram
aceitas nas escolas. Como fontes utilizo diversas tipologias priorizando documentos privados, dentre
eles as cartas, fotografias, anotações manuscritas para aulas e entrevistas pelas grandes possibilidades
que essas fontes representam para oferecer novos dados que outras fontes não oferecem. Enquanto a
Iniciação Musical se propôs a desenvolver a musicalidade do aluno, contribuindo para o aprimoramento
de suas potencialidades musicais e cognitivas, o canto orfeônico concebeu a prática musical como uma

326
forma de educar e disciplinar com ênfase no civismo. Assim sendo, situo o Canto Orfeônico como uma
afirmação da ideologia vigente durante o Estado Novo, em sintonia com uma proposta que buscava
unificar massas de alunos em um só canto divulgando ideias extra-musicais, enquanto que a Iniciação
Musical se constituiu como uma forma de resistência, em uma proposta que buscava atender diferenças
e a valorizar tempos de expressão e de aprendizado individuallizados.

739
LEITURA NA BIBLIOTECA ESCOLAR E PRODUÇÃO EDITORIAL EM SÃO PAULO NAS PRIMEIRAS DÉCADAS
DO SÉCULO XX

MARCIA DE PAULA GREGORIO RAZZINI.


CEFIEL-IEL-UNICAMP, SAO PAULO - SP - BRASIL.

Apoiada em pressupostos teórico-metodológicos da história das disciplinas escolares e da história do


livro e da leitura, a comunicação focaliza a produção de livros de literatura infantil da Editora
Melhoramentos e sua circulação em bibliotecas instaladas nos Grupos Escolares do estado de São Paulo,
entre 1900 e 1938, procurando matizar discursos e práticas que promoveram a institucionalização da
leitura desses produtos culturais no espaço escolar, tema de pesquisa de pós-doutorado, em
andamento, desenvolvida no Departamento de Teoria Literária do Instituto de Estudos da Linguagem
(IEL), junto ao Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Educação na área de Estudos da Linguagem e
Formação de Professores (CEFIEL), da UNICAMP. O trabalho parte de investigações anteriores (2005 e
2007), que relacionaram e analisaram a expansão da escola pública elementar no estado de São Paulo e
o considerável aumento da produção de livros didáticos de três editoras instaladas na capital: Livraria
Francisco Alves, Tipografia Siqueira e Companhia Melhoramentos de São Paulo. No que diz respeito à
expansão da Melhoramentos, editora que comemorou 120 anos em 2010, na Bienal do Livro de São
Paulo, verificou-se não apenas o aumento da produção de livros e materiais escolares, mas também o
investimento contínuo em títulos de literatura infantil. Assim, até aqui, os estudos apontam não só a
importância de cartilhas e livros de leitura, mas também a publicação da Biblioteca Infantil e sua ligação
com o sistema público de ensino elementar, coleção que entre 1915 e 1958 teve cem títulos de
literatura infantil. Ao lado de muitos títulos avulsos desse segmento editorial, outra coleção de sucesso
da Melhoramentos foi a série “Encanto e Verdade”, organizada por Thales Castanho de Andrade, a
partir de 1921. Embora fosse constituída e circulasse de forma independente, o trabalho mostrou que
essa produção de livros de literatura infantil buscou proximidade com a escola pública, inicialmente,
através da contratação de professores que ocupavam cargos na administração pública do ensino, para
dirigir as referidas coleções, depois, pela aprovação oficial de títulos de literatura infantil para a leitura
suplementar nas escolas primárias e, após 1925, quando os livros infantis passaram a integrar o acervo
da Biblioteca Infantil Caetano de Campos, a qual, na década seguinte, serviria de modelo para a criação
de várias bibliotecas nos Grupos Escolares da rede estadual. Além de indicar a passagem de práticas de
leitura intensiva (do livro didático único, na sala de aula) para práticas de leitura extensiva (de títulos
variados, na biblioteca escolar), os dados sobre a entrada e circulação da literatura infantil na escola
paulista apontam o crescimento e consolidação dos segmentos editoriais dirigidos às crianças e jovens
escolarizados.

1010
LINDO!EXPRESSÕES E FRASES DE “INCENTIVO” ÀS CRIANÇAS FEITAS POR PROFESSORAS-
ALFABETIZADORAS EM CADERNOS ESCOLARES (ANOS DE 1940-2000)

ELIANE TERESINHA PERES; MARA DENISE DIETRICH; SYLVIA TAVARES BARUM.


UFPEL, PELOTAS - RS - BRASIL.

Este trabalho faz parte de um projeto mais amplo cujo objetivo principal é desenvolver estudos sobre
história da alfabetização e sobre práticas escolares de leitura e escrita. No âmbito desse projeto temos
feito um esforço para constituir acervos que revelam aspectos da história da alfabetização no Rio

327
Grande do Sul. Já dispomos, entre outros, de uma centena de cartilhas escolares, de planejamentos
manuscritos de professoras (diários de classe), de exercícios escolares, de cartazes e outros materiais
didáticos de alfabetização, além de cadernos de alunos. É a partir de parte desse acervo que propomos
este trabalho, em especial trabalhamos com mais de cem cadernos de crianças em fase de alfabetização
que dispomos no referido acervo. Atualmente, temos 119 “cadernos de alfabetização”, assim
distribuídos, considerando as décadas: 1940 - 02; 1950 - 01; 1960 - 01; 1970- 08; 1980 – 11; 1990 – 22;
2000 – 72; sem data – 02. Nesta comunicação nos propomos, especificamente, analisar expressões,
frases, recados escritos por professoras alfabetizadoras nesses cadernos, ou seja, as marcas de correção
que, conforme indica a pesquisa, foram se alterando ao longo das décadas: das marcas manuscritas das
professoras, feitas à caneta, convencionadas na escola como “certo” (C), “errado” (X) ou “visto” (V), às
expressões como Lindo! Parabéns! Que gracinha! Ótimo!, Legal, Amo você!, por exemplo, há mudanças
expressivas que indicam alterações, não só na forma de “correção” dos cadernos, mas também na
relação das professoras com esse “suporte da escrita” (Hébrard, 2001), e na própria relação professor-
aluno. Utilizamos, na análise dos cadernos, as ideias de dispositivo escritural, como caracteriza Chartier
(2002), ou, ainda, de “objeto-memória”, conforme Mignot (s/d), considerando-os mais do que suportes
físicos (GVIRTZ, 1999), mas como dispositivos normatizados e ritualizados que, como afirma Gvirtz,
indicam o ensinado em sala de aula, o conhecimento proposto e a sua avaliação. Como Vinão (2008),
Hebrard (2001) e Chartier (2007), apostamos no caderno escolar como um objeto-fonte “precioso” para
o estudo do ensino e dos usos escolares da língua escrita, da relação professor-aluno e das mudanças
históricas da escola e da sala de aula. Neste trabalho mostramos que as palavras, frases, recadinhos e
expressõesdas professoras, em sua maioria, foram encontradas nos exercícios realizados nos cadernos e
são muito utilizadas pelas alfabetizadoras que também se permitem, nesses momentos, utilizar uma
linguagem mais informal, especialmente a partir dos anos 2000, que são do tipo: Que fofura!, Adoro
Você!, Adorei ter você comigo! , Você foi demais!, Tu és uma campeã!, Muito Bem!, Você foi demais!
Que gracinha!. Legal!, Jóia!, e, em maior número a expressão: Lindo!. Essas expressões, em geral,
demostram alegria, entusiasmo, elogios, ordem, controle implícito ou necessidade de atenção e
qualificação das atividades, como mostramos no texto.

712
LINGUAGENS E IMAGENS: O USO DAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS NOS LIVROS DIDÁTICOS
PUBLICADOS PELO GRUEMA NA DÉCADA DE 1970 – UMA CONTRIBUIÇÃO PARA O ENSINO DE
MATEMÁTICA

ALEXANDRE SOUZA DE OLIVEIRA.


UNIVERSIDADE BANDEIRANTE DE SÃO PAULO (UNIBAN-SP), SAO PAULO - SP - BRASIL.

Esta pesquisa faz parte de um estudo concluído e está incluso no eixo temático História das Culturas e
Disciplinas Escolares a ser apresentada na modalidade comunicação individual do referente VI
Congresso Brasileiro de História da Educação. Esta pesquisa pretende pôr em evidência uma nova forma
de abordar os conteúdos didáticos na educação brasileira pelo Grupo de Ensino de Matemática
Atualizada – GRUEMA na década de 1970, período em que vigorava o Movimento da Matemática
Moderna (MMM). Destacamos neste texto a história em quadrinhos nos livros didáticos do GRUEMA,
onde há conexões entre diversos conceitos matemáticos e diferentes formas do pensamento
matemático, abrindo espaços para a contextualização e a interdisciplinaridade, que vem sido sugeridas
e explicitadas a partir da década de 1980 nos currículos das escolas brasileiras. Considerando as histórias
em quadrinhos utilizadas como recursos pedagógicos, nossa questão de investigação ficou formulada da
seguinte maneira: Como as histórias em quadrinhos são utilizadas na coleção didática do GRUEMA para
o ensino da matemática? Acreditamos que pouco se conhece sobres as formas de leituras de imagens e
escritas utilizadas nos livros didáticos de matemática numa abordagem histórica. A coleção de livros
didáticos analisados são: Curso Moderno de Matemática para o ensino de 1º grau em 8 volumes para as
oito séries do 1º Grau, de acordo com as reformas propostas na Lei 5.692/71, cuja autoria esteve
associada à sigla GRUEMA – Grupo de Ensino de Matemática Atualizada, tendo sido elaborada por Anna
Averbuch, Anna Franchi, Franca Cohen Gottlieb, Lucília Bechara Sanchez e Manhucia Perelberg
Liberman, com consultoria de Luiz Henrique Jacy Monteiro. Acreditamos que as histórias em quadrinhos

328
podem ser utilizadas como um recurso pedagógico e neste há diversos fatores correlacionados que
fizeram com que este recurso fora apresentado nos livros didáticos do GRUEMA. A imagem em cada
uma das séries era concebida de uma forma diferente. Os quadrinhos, embora adotem uma linguagem
mais próxima do aluno, também eram utilizados para manter o rigor matemático, um dos ideais do
Movimento da Matemática Moderna . Os diálogos transmitem informações sobre os conteúdos
matemáticos, mas também mensagens de otimismo, de motivação, de satisfação ao alcançar um
objetivo. Acreditamos que a utilização dos quadrinhos nos livros didáticos tinham como visão uma
estratégia de metodologia nova para a época vigente e que mais tarde seria recomendada pelos
Parâmetros Curriculares Nacionais.

664
LIVROS DIDÁTICOS DE HISTÓRIA E A EDUCAÇÃO MODERNA DOS SENTIDOS: UMA ANÁLISE DAS OBRAS
DO PROFESSOR JOAQUIM SILVA

ARNALDO PINTO PINTO JUNIOR.


UFES, VITORIA - ES - BRASIL.

O processo de escolarização no país, iniciado na época monárquica e intensificado a partir da


implantação do regime republicano, foi engendrado por inúmeros discursos socioculturais que
defenderam a importância da educação formal e suas potencialidades para o progresso da nação. O
trabalho ora apresentado é um recorte da pesquisa desenvolvida durante o curso de Doutorado, entre
os anos de 2005 e 2010. Partindo da idéia de que os livros didáticos são objetos culturais datados, no
desenvolvimento das investigações também foram elencadas outras fontes históricas que pudessem
ampliar a análise dos cenários de produção e recepção das obras focalizadas. Produzidos como suportes
para a atuação de professores e alunos nas escolas brasileiras, os livros didáticos tiveram considerável
papel na constituição das disciplinas escolares. Buscando refletir sobre a história do ensino de História
no Brasil, focalizei as obras didáticas do professor Joaquim Silva (1880-1966), publicadas pela
Companhia Editora Nacional (CEN) entre 1940 e 1961, a partir, sobretudo, do diálogo com autores da
história cultural (Walter Benjamin, Michel de Certeau, Peter Gay, Edward P. Thompson). Reconhecidas
por pesquisadores da área como as mais vendidas no seu período de produção, essas obras dialogavam
com concepções da modernidade capitalista, amalgamando perspectivas histórico-educacionais liberais,
positivistas e românticas – principalmente católicas. Sucessos editoriais que circularam em escolas e
outros espaços por mais de três décadas, as obras do professor Joaquim Silva tornaram seu nome um
sinônimo de livro didático de História. Analisando as especificidades das coleções de História do Brasil,
relaciono a trajetória de vida do professor-autor às suas contribuições para o ensino da disciplina
escolar, compreendendo tais produções culturais na articulação com os programas educacionais oficiais,
os discursos historiográficos, os diálogos intelectuais vigentes, as demandas sociais e os projetos
comerciais da CEN. Na tentativa de atender às diversas expectativas, o autor, na elaboração de suas
obras didáticas, ressignifica versões histórico-educacionais dominantes, bem como outras memórias
sociais, para a produção de uma educação dos sentidos fundada numa memória histórica nacional,
idealizada, linear, progressista. Nas páginas dos livros didáticos de Joaquim Silva encontramos um
discurso histórico escolar pretensamente homogêneo, pautado por visões modernas, as quais, em sua
ambivalência, deixam também pequenas, mas significativas, brechas para interpretações plurais, na
relação com leitores ativos, portadores, muitas vezes, de memórias e histórias dissonantes.

972
LIVROS DIDÁTICOS E A TRAJETÓRIA HISTÓRICA DA MATEMÁTICA DO COLÉGIO

FRANCISCO DE OLIVEIRA FILHO.


UNIVERSIDADE BANDEIRANTE DE SÃO PAULO, GUARULHOS - SP - BRASIL.

Esta pesquisa de doutorado em andamento insere-se na História das Culturas e Disciplinas Escolares e
objetiva traçar o trajeto histórico de constituição da disciplina matemática do Colégio (Matemática a ser

329
ensinada no atual Ensino Médio - 1ª a 3ª séries). Está sendo desenvolvida no âmbito do GHEMAT –
Grupo de Pesquisa de História da Educação Matemática no Brasil -
http://www.unifesp.br/centros/ghemat, sendo parte integrante do projeto “Matemática Moderna no
Colégio”, financiado pelo CNPQ. Busca responder à seguinte questão: Como se constituiu
historicamente a disciplina Matemática para o Colégio, no período 1930 – 1970? O GHEMAT
desenvolveu projeto denominado “A Matemática do Ginásio”, cujo resultado foi publicado no livro “O
Nascimento da Matemática do Ginásio” e um CD-ROM denominado “A Matemática do
Ginásio”,contendo base de fontes (livros didáticos),onde buscou-se estabelecer a trajetória de
constituição da “Matemática do Ginásio”. Existirá, então, uma “Matemática do Colégio”? São diferentes
em suas origens e constituição? Por que? Metodologicamente a proposta foi dividida em quatro
períodos: 1º período – Curso Complementar – 1937-1941; 2º período – Cursos Clássico e Científico –
1942-1950; 3º período – Programa Mínimo – 1951-1966; 4º Período – Matemática Moderna – 1967-
1980. Como base inicial de fontes de pesquisa será utilizado um DVD (no prelo) contendo a produção
didática amostral relativa a cada período supracitado. Assim, através da análise dos livros didáticos dos
períodos, via estudos do pesquisador Alain Choppin; que sistematizou categorias de pesquisa na
investigação de livros didáticos; buscaremos entender e analisar como a disciplina Matemática do
Colégio foi sendo constituída, através da passagem por diversas Reformas Educacionais e nuances de
variação da produção didática que certamente acompanharam tais mudanças. A espinha dorsal teórica
da pesquisa são os estudos do pesquisador André Chervel sobre disciplina escolar. Chervel sai do senso
comum de considerar a disciplina escolar apenas como um rol de conteúdos. Ele amplia por demais o
conceito na medida em que diz que a mesma “é constituída por uma combinação, e proporções
variáveis, conforme o caso, de vários constituintes: um ensino de exposição, os exercícios, as práticas,
de incitação e de motivação, e um aparelho docimológico” (CHERVEL, 1990) e, ao ampliar o conceito,
nos deixa grandes possibilidades metodológicas e teóricas. A pesquisa dará ao livro didático o status de
fontes de pesquisa que, segundo Valente (2008), “[...] os livros didáticos ante os novos tempos da
História Cultural, tornaram-se preciosos documentos para escrita da história dos saberes escolares”.

787
O COMPÊNDIO DE GYMNASTICA ESCOLAR DE ARTHUR HIGGINS: SISTEMATIZAÇÃO DE UM
PROGRAMA DE ENSINO DE EDUCAÇÃO FÍSICA

GABRIEL RODRIGUES DAUMAS MARQUES.


PPGE - UFRJ, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL.

Considerado pioneiro na sistematização do ensino de Educação Física pela Revista de Educação Física
(1953, número em sua homenagem), Arthur Higgins elaborou um amplo programa de Gymnastica
Escolar, a partir de suas experiências como professor do Externato do Collegio Pedro II, do Asilo de
Meninos Desvalidos e da Escola Normal do Districto Federal, ao longo das décadas de 1880 a 1920. O
professor Arthur Higgins formulou e publicou em três edições a obra COMPENDIO DE GYMNASTICA
ESCOLAR, designada pelo autor como o methodo sueco – belga – brasileiro. O livro apresenta três
partes, a saber, Noções Theoricas Indispensaveis aos Profissionaes; Gymnastica Systematica Livre; e
Gymnastica Recreativa ou Jogos Gymnasticos. No presente trabalho, analisamos os aspectos teórico-
metodológicos presentes na segunda parte do livro, dividida em três momentos. De início, a diversidade
dos exercícios para o corpo é nomeada e classificada dentre as onze categorias, tais como Exercicios de
Ordem, Exercicios de Movimentos Imitativos, Exercicios Estheticos e Marchas Gymnasticas. Em seguida,
cada um dos exercícios possui a descrição de como o aluno deve proceder, assim como os comandos
que devem ser realizados pelo professor para que a aula ocorra com harmonia, ordem e perfeição. No
terceiro momento, a partir das contribuições de um relatório do Mr. G. Demeny, professor francês e
referência para a História da Educação Física, Arthur Higgins formula um Programma de Ensino de
Gymnastica Systematica Livre, distribuindo os exercícios de acordo com a faixa etária dos alunos. São
apresentados os exercícios referentes aos seguintes cursos: Elementar, para discípulos de sete a dez
anos de idade; Médio, para maiores de dez anos; e Complementar, para maiores de doze anos que por
pelo menos seis meses tenham praticado os exercícios do curso Médio. Ainda é apresentada uma Lição
Festiva para encerramento das aulas. Metodologicamente, localizamos a obra concomitantemente

330
como fonte de história e objeto de estudo, dialogando com conceitos e estudos do campo de História da
Educação, como culturas escolares, história das disciplinas escolares, Educação do Corpo e Infância. Esse
estudo visa contribuir para ampliar os conhecimentos e discussões acerca da presença da Educação
Física na escola enquanto componente e disciplina curricular. A partir dessa pesquisa, podemos concluir
que as práticas corporais caminham de acordo com o postulado de formulações pedagógicas ligadas ao
higienismo e ao militarismo assim como coadunam com o projeto de consolidação do ideário
republicano. Foi possível ratificar a importância de Higgins enquanto protagonista nas iniciativas de
sistematização do ensino de Gymnastica, ao apresentar procedimentos e progressões pedagógicas,
divisões de acordo com a faixa etária e demais elementos. Também percebemos seu papel de
intelectual, a preocupação com o rigor na atuação docente padronizada, a diferenciação de gêneros e o
utilitarismo dos exercícios.

1045
O COTIDIANO ESCOLAR DO LICEU DE ARTES E OFÍCIOS DE OURO PRETO: ENSINAR PARA A MORAL E
PARA O TRABALHO

LUCILIO LUIS SILVA.


CEFET-MG, ITABIRITO - MG - BRASIL.

O conceito de cultura escolar, de uma forma ampla, relaciona-se com uma proposta de investigação que
busca compreender as várias implicações, dimensões e representações que os sujeitos envolvidos no
fenômeno da escolarização estabelecem no cotidiano da escola e nas relações da escola com a
sociedade em um dado período histórico. (JULIA, 2001). Esse conceito estabelece um profundo diálogo
com a história das instituições. Segundo Vinão Frago (1995), afirmar que uma escola é uma instituição,
que por sua vez possui uma cultura escolar é uma obviedade. No entanto, o autor ressalta que devem
ser consideradas as culturas escolares produzidas por esse tipo de instituição. Para analisar uma
instituição escolar, é preciso levar em conta o conjunto de aspectos institucionalizados que existe em
cada instituição separadamente ou em um grupo de instituições. Esses aspectos institucionalizados
incluem as práticas e condutas, os hábitos e os ritos, os modos de pensar e as idéias compartilhadas
pelos sujeitos que participam do cotidiano da escola. As considerações expostas nas linhas anteriores
relacionam-se com o objetivo deste trabalho que é analisar o funcionamento interno do Liceu de Artes e
Ofícios de Ouro Preto, escola fundada no ano de 1886 que tinha como objetivo ensinar as primeiras
letras, os primeirosnúmerose um ofício mecânicoaos jovens pobres daquela sociedade. Para tanto, opta
pela perspectiva de analisar o processo de aprendizagem dos ofícios na referida instituição, destacando
a materialidade desse processo e as conseqüências deste para as relações sociais estabelecidas no
período. Ao procurar investigar a estrutura interna do Liceu de Artes e Ofícios de Ouro Preto teremos a
possibilidade de analisar as finalidades atribuídas a uma instituição que tinha como objetivo o ensino
para o trabalho. Nesse mesmo sentido, é possível analisar de que maneira a cultura escolar produzida
pelo Liceu interferiu no cotidiano dos sujeitos que participavam do processo de escolarização dos
saberes dos ofícios, ou seja, o que representou para a sociedade do período a apropriação, por parte da
escola, de parte da cultura do trabalho - a aprendizagem e o exercício dos ofícios. Ao analisar os tempos,
os espaços, os sujeitos, os conhecimentos e as práticas escolares inseridas na cultura dessa escola, é
possível ter uma visão ampla tanto dos fatores internos que marcaram a produção do seu cotidiano,
quanto dos fatores externos que determinaram a sua relação com a sociedade.

1340
O ENSINO DE FÍSICA NA PROVÍNCIA DE SÃO PAULO, 1860 A 1889

PAULO SERGIO CARDOSO; MOYSÉS KUHLMANN JUNIOR.


UNIVERSIDADE SÃO FRANCISCO, ITATIBA - SP - BRASIL.

Esta comunicação tem como objetivo apresentar projeto de pesquisa de mestrado, em andamento, que
pretende investigar de que modo a Física apareceu como disciplina escolar, em São Paulo, entre os anos

331
de 1860 e 1889, situando a escola no quadro das relações socias, em um cenário de intensas
transformações. Para tanto, irá analisar os movimentos organizados e idealizados por grupos como os
maçons, os republicanos e os positivistas, que contribuíram para que ocorressem importantes
mudanças no cenário paulista e fizeram com que modificações expressivas acontecessem na escola
oitocentista. Em várias cidades da província, surgiram escolas criadas por protestantes, republicanos,
positivistas e/ou maçons, como a Escola Americana, o Colégio Internacional, o Colégio Piracicabano e a
Escola Primária Neutralidade, entre outros. Muitas dessas escolas tinham como diferencial professores
renomados com uma inquebrantável tendência republicana e/ou positivista, e que ofereceram
disciplinas como a Physica e a Chimica. Portanto, será investigado como essas idéias e grupos
apareceram na Província de São Paulo, como e por que criaram suas escolas, qual a clientela atendida,
qual a formação dos professores dessas escolas, como a Física era caracterizada, no quadro curricular do
ensino primário e secundário, em relação com as outras matérias, os conteúdos abordados, como era
ministrada e quais materiais didáticos eram utilizados. Com base nos indícios encontrados, até o
momento, pretende-se mostrar que as disciplinas científicas, dentre elas a Física, ocupavam um lugar
importante na escola. De uma forma simbólica, vista como sinônimo de prosperidade, a inclusão da
Física no currículo educacional brasileiro comporia as medidas necessárias para se colocar o Brasil em
consonância com as grandes nações desenvolvidas. As disciplinas científicas contribuiriam para que o
Brasil se desenvolvesse e passasse, com maior rapidez, de país agrário para um país industrializado. Para
atingir esse objetivo, tomar-se-á como referência a história das escolas protestantes, leigas e positivistas
na Província de São Paulo, abordada, principalmente, por Maria Lúcia Spedo Hilsdorf (1996), Carmen
Sylvia Vidigal Moraes (2006), Reginaldo Alberto Meloni (2010) e Antonio Paim (1974). Na metodologia
serão pesquisados documentos primários oficiais existentes em instituições como o Arquivo Público do
Estado de São Paulo, o Centro de Memória da Unicamp, o Arquivo do Museu Imperial, a Biblioteca
Nacional, a imprensa do período, manuais e livros que abordem o tema Ensino Secundário no Império.
Essa pesquisa se justifica pela existência de um escasso material disponível sobre o assunto.

1053
O ENSINO PRIMÁRIO NO RIO GRANDE DO NORTE (1937-1945)

MARIA ANTONIA TEIXEIRA DA COSTA.


UERN, MOSSORO - RN - BRASIL.

Em 1937, é implantado o Estado Novo, o qual perdurou por nove anos, tendo como Presidente do Brasil,
Getúlio Dornelles Vargas. Neste mesmo ano é outorgada uma nova Constituição, que por sua natureza
autoritária representou um retrocesso em matéria de organização política brasileira, o qual refletiu nas
questões educacionais. Horta (2000) nos revela que a educação, a partir de 1937 passa a ser um
problema de Segurança Nacional. Sob essa ótica, questionamos: que objetivos eram definidos para o
ensino primário do Rio Grande do Norte nos anos de 1937 a 1945? Que conteúdos escolares eram
trabalhados e como eram selecionados? Como eram trabalhados estes conteúdos? Como os professores
avaliavam seus alunos? Que normas disciplinares eram determinadas? Para responder estas perguntas,
realizamos uma pesquisa que pretende caracterizar e analisar o ensino primário do Rio Grande do Norte
no período de 1937 a 1945. Quanto à escolha dos anos citados, deu-se em virtude do ensino ser
estabelecido por cada Estado, não havendo uma legislação nacional que regulamentasse a organização
escolar do ensino primário, até a publicação da Lei Orgânica do Ensino Primário em 1946. Como
referencial, o estudo parte de Vinão Frago (2001), o qual trata da cultura escolar como um conjunto de
normas, princípios, idéias praticadas ao longo da história das instituições escolares, de Dominique Julia
(2001) que também aborda a cultura escolar relacionando-a com o período histórico; as fontes
documentais são: o Jornal A República, a legislação localizada no Arquivo Público do Estado; recorremos
às obras de Fagundes (1940), Araújo (1998), Mariz e Suassuna (2001), Nóvoa e Finger (1988) e a
memória autobiográfica da professora Severina Silva do Nascimento. Constatamos que no Rio Grande
do Norte nos anos de 1937 a 1945 a cultura escolar do ensino primário era baseada em proposições de
educadores norteriograndenses, como: Nestor dos Santos Lima; Antônio da Rocha Fagundes, Mário
Tavares de Oliveira Cavalcanti. Os objetivos, os conteúdos, as metodologias do ensino primário estavam
expostos na Lei 405, de 29 de novembro de 1916. Podemos assim afirmar, que o ensino primário do Rio

332
Grande do Norte, teoricamente acompanhou o movimento escolanovista em sua reforma, expondo os
novos métodos de ensino. A esse respeito Araújo (1998) enfatiza que a Reforma de Ensino de 1916
representou uma das realizações renovadoras escolanovistas dos intelectuais potiguares. Com relação à
prática dessa nova proposta educacional não foi rapidamente efetivada e até hoje constatamos práticas
pedagógicas arraigadas em um referencial tradicional. Acreditamos que este trabalho contribuirá para a
história da educação norteriograndense.

454
O SABER EM DESENHO E A DIDÁTICA INTUITIVA: PRIMEIRO A COISA, DEPOIS A SUA SIGNIFICAÇÃO

GLAUCIA MARIA COSTA TRINCHAO.


UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA, SALVADOR - BA - BRASIL.

Este artigo tem como objetivo analisar as mudanças inovadoras ocorridas no ensino público de Desenho
no Brasil, no final do século XIX, promovidas pela pedagógica intuitiva adotada e estimulada pela política
educacional de Abílio César Borges e Rui Barbosa, destacando a valorização do Desenho como saber
fundamental para aplicação desse método nas escolas de primeiras letras e normais. Trata-se de um
estudo em andamento que destaca a História da Educação em Desenho como campo de pesquisa ainda
muito pouco explorado. Parte-se da idéia de que essa didática veio no bojo da luta pela superação dos
processos didáticos tradicionais e utilizados no século XIX e nasceu com as idéias pedagógicas de
Comenius, um dos pioneiros na propagação do ensinar pela “intuição real, não por descrições verbais”;
a de Pestalozzi, onde o Desenho era considerado prérequisito básico para a escrita; e a idéia do ensino
intuitivo, através dos jogos instrutivos no sistema de Froebel. No final do século XIX e início do XX, a
intuição passou a ser o eixo fundamental para as mudanças inovadoras e transformação dos processos
transitivos de caráter mecânico para uma pedagogia mais moderna de ensino. A nova proposta, as
lições de coisas ou ensino pelo aspecto, ganhou força pelo manual Lições de Coisas, de Norman Alisson
Calkins, objeto e fonte desta pesquisa de caráter analítica e histórica. Essa nova didática chegou ao
Brasil pelos discursos de Abílio, desde 1870, em defesa da pedagogia infantil e de uma pedagogia
moderna, e de Rui Barbosa, desde 1880, acerca da formação de professor e em defesa das mudanças no
ensino primário, que culminou na tradução do manual Lições de Coisas, de Calkins, e na sua adoção pelo
poder público, passando a determinar os saberes a serem ensinados nas escolas primárias, bem como as
prescrições metodológicas a serem seguidas pelo professor. Para Rui Barbosa o sistema em vigor era
vítima de uma pedagogia tradicional do “ensino vão, abstracto, morto, de palavras, e só palavras” e
deveria sair desse atraso pela adoção dos preceitos e processos didáticos da “pedagogia moderna” que
vigorava o conhecimento direto das coisas, da realidade sensível, onde se busca ensinar “primeiro a
coisa, depois a sua significação”, a educação pela análise da substância e só depois as regras. O manual
evidenciou o processo de transposição do saber em Desenho a ser ensinado nas escolas públicas
elementares e de formação de professor e o Desenho tornou-se uma das atividades essenciais ao
método intuitivo, pois compreendia aplicações artísticas e industriais, possibilitando tanto a
ornamentação quanto a construção dos objetos. O saber em Desenho alcançou posição fundamental na
nova estrutura didática inovadora, pois o poder da observação uniu o espírito da infância e a prática
intuitiva e o potencial do Desenho de despertar a intuição pela observação e representação foi matéria
fundamental no embasamento do ensino das lições de coisas nas escolas normais e primárias.

364
OS CONTEÚDOS ESCOLARES NA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA: O CASO DA REGIÃO NORDESTE
ENQUANTO CONTEÚDO ESCOLAR NOS LIVROS DIDÁTICOS DO INICIO DO SÉCULO XX

MARIA EDINEY FERREIRA DA SILVA.


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, SAO PAULO - SP - BRASIL.

Compreender a relação existente entre o currículo escolar e os conteúdos nele dispostos, significa
entender a influência da cultura escolar na elaboração dos conhecimentos a serem ensinados em um

333
determinado período.Tal constatação permite levantar questionamentos sobre determinados
conteúdos presentes nos livros didáticos de Geografia, em especial chama atenção a região Nordeste
proposta nos manuais escolares, que ora é caracterizada por fatores naturais, ora por imagens e
discursos cristalizados. Assim, percebe-se nesta pesquisa a importância de discutir ou no mínimo
sinalizar a trajetória de construção, realizado pela geografia escolar, deste recorte espacial do Brasil, não
apenas em sua materialidade delimitável, concreta, fruto de sucessivas (re)elaborações em diferentes
momentos e conjunturas no decorrer do processo histórico brasileiro, mas também, nas
“representações” construídas neste percurso que remetem mentalmente a idéia de um Nordeste da
seca, do cangaço, do messianismo,“região problema” até hoje presente nos livros didáticos e no
imaginário popular. Esta decisão se faz pertinente pelo fato de buscar na história da geografia enquanto
disciplina escolar a compreensão da construção deste recorte espacial na obras didáticas, possibilitando
assim a compreensão sobre algumas lacunas na historia do Nordeste enquanto conteúdo. Diante desta
compreensão, optou-se por dimensionar a analise à obra de dois autores relevantes na produção de
livros didáticos de geografia, Delgado de Carvalho e Aroldo de Azevedo entre os anos de 1920 a 1960.
Um dos fatores que levou a esta opção foi a “aceitação das obras” destes autores durante este período,
sabe-se que muitos fatores envolvem a ‘aceitação”de um livro didático (sua metodologia, abordagem,
influencia do autor etc), mas para a pesquisa o fato de um significativo número ter adotado estas obras
nos leva a crer que estas produções, apesar de não serem as únicas, eram a de maior aceitação, ou
seja,tanto Delgado de Carvalho quanto Aroldo de Azevedo divulgaram sua idéias a um considerável
numero de sujeito envolvidos no processos de ensino e aprendizagem do país neste período.A pesquisa
encontra-se em fase inicial, porém espera-se acima de tudo que esta pesquisa possa ajudar numa
melhor compreensão histórica do processo de construção do Nordeste, não apenas em sua
materialidade divisível e complexa representada nos mapas, com suas inúmeras configurações, mas
levar ao entendimento que este recorte espacial conhecido por muitos de nós hoje, foi sendo
construído por uma trama de discursos, imagens que acabaram por lhe conferir este feixe de
representações muitas vezes estereotipadas, caricatas, repetitivas, acríticas que foram sendo forjadas
ao longo de tempo, somando-se e ganhado “corpo”, seja através na mídia, nos discursos de elites
políticas, nas ações públicas do Estado, na arte, na literatura, materializados inclusive na tradição
seletiva que se expressa em nossos livros didáticos.

709
OS LIVROS DIDÁTICOS DE MATEMÁTICA COMO FONTES DE PESQUISA: SIMILARIDADES E DIFERENÇAS
DENTRO DE UM CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL

ALEXANDRE SOUZA DE OLIVEIRA.


UNIVERSIDADE BANDEIRANTE DE SÃO PAULO (UNIBAN-SP), SAO PAULO - SP - BRASIL.

Este artigo faz parte de uma pesquisa concluída e insere-se no eixo temático História das Culturas e
Disciplinas Escolares a ser apresentada na modalidade comunicação individual do referente VI
Congresso Brasileiro de História da Educação. Este estudo tem como objetivo investigar a abordagem do
ensino de função adotada em livros didáticos de Matemática para o ginásio durante as décadas de 1960
e 1970, período em que se caracterizou o Movimento da Matemática Moderna (MMM) no Brasil.
Procuramos identificar como diferentes autores de livros didáticos trataram o ensino de função a partir
das transformações advindas com o MMM. Com o advento do MMM, o ensino de função precisava
ganhar um novo tratamento pedagógico e metodológico nos livros didáticos, conforme as orientações
do Grupo de Estudos do Ensino da Matemática – GEEM. Antes do Movimento os autores de livros
didáticos ensinavam função por meio do estudo das variáveis dependentes e independentes e com o
MMM o conceito passou a ser ensinado como uma relação/ correspondência entre conjuntos. Assim,
pretendemos verificar como os autores seguiram o processo de disciplinarização de função em seus
livros didáticos durante as décadas de 1960 e 1970 no Brasil e se há ou não uma certa padronização do
ensino deste conteúdo a partir da coleção didática ginasial de Osvaldo Sangiorgi em Tempos Modernos.
Nossa questão de investigação ficou formulada da seguinte maneira: Como o tema função foi abordado
nos livros didáticos ginasiais nas décadas de 1960 e 1970 no Brasil a partir das transformações da
matemática escolar com o advento do MMM? Para responder esta pergunta, separamos a análise dos

334
livros didáticos em dois momentos: Tempos Pré-Modernos e Modernos. O primeiro corresponde à
década de 1950, durante a qual a legislação educacional vigente era a Portaria Ministerial de 1951. O
segundo é a denominação que utilizamos para as décadas de 1960 e 1970, período em que foram
publicados, pelo GEEM, em 1962, Assuntos Mínimos para um Moderno Programa de Matemática para o
Ginásio, Sugestões para um roteiro de Programa para a cadeira de Matemática, em 1965; e as Leis de
Diretrizes e Bases da Educação, de 1961 e de 1971. Em Tempos Modernos analisaremos a coleção
didática de Osvaldo Sangiorgi. Já em Tempos Modernos analisaremos a coleção didática desse mesmo
autor com os Guias para os Professores, as coleções de Bóscolo e Castrucci, de Agrícola Betlhem, de
Migues Asis Name e do Grupo de Ensino de Matemática Atualizada – GRUEMA, de autoria de Anna
Averbuch, Franca Cohen Gottieb, Lucília Bechara Sanchez e Manhúcia Perelberg Liberman.

1380
PESOS E MEDIDAS NO LIVRO "ELEMENTOS DE ARITMÉTICA" (1945) DO IRMÃO ISIDORO DUMONT

ELENICE DE SOUZA LODRON ZUIN.


PUC MINAS, BELO HORIZONTE - MG - BRASIL.

O sistema métrico decimal, desenvolvido na França revolucionária, ganha espaço nas escolas brasileiras
a partir da segunda metade do século XIX, sendo o novo sistema de pesos e medidas adotado no país
através da Lei Imperial n. 1157, assinada por D. Pedro II. Vários textos foram impressos para auxiliar os
professores na tarefa de apreender e ensinar os pesos e medidas que se tornaram oficiais. O novo
conteúdo foi se integrando à aritmética escolar, ganhando uma estabilidade apenas no século XX. Em
minha tese de doutorado (Zuin, 2007) apresento um estudo que teve como um dos objetivos investigar
como se processou a introdução do sistema métrico decimal nas escolas do Brasil e Portugal em meados
do Oitocentos. Os impressos com destinação pedagógica, que tratam desse tópico, publicados na época,
foram elencados como principais fontes. Visando ampliar a pesquisa anterior, apresento uma análise do
sistema métrico decimal na obra Elementos de Aritmética de Isidoro Dumont, dedicados ao curso
colegial e de admissão de escolas superiores, pela importância desse impresso no cenário escolar
brasileiro no Novecentos. O Irmão Isidoro Dumont (1874 – 1941) chegou ao Brasil, para substituir o
Irmão Andrônico na direção do Colégio do Carmo em São Paulo. Ele participou da fundação da FTD no
Brasil. A editora passou a suprir uma demanda existente no país das escolas católicas em relação aos
livros europeus. Licenciado em Matemática, na França, Dumont se empenhou na produção de textos
didáticos na área de Matemática, na qual incluem livros de Aritmética, Geometria, Trigonometria e
Álgebra. Seus livros foram muito utilizados nas escolas brasileiras, não apenas nas instituições
confessionais, tendo grande importância na condução dos conteúdos e metodologias nas aulas de
Matemática, durante várias décadas no século XX. Ao analisar a obra Elementos de Aritmética de Isidoro
Dumont, publicada em 1945, procurei verificar quais práticas pedagógicas eram dirigidas pelo livro
didático. Esse olhar se estabelece dentro da perspectiva de Julia, tendo o manual didático como um dos
elementos fundamentais que contribuem para que se tenha um “conjunto de normas que definem
conhecimentos a ensinar e condutas a inculcar, e um conjunto de práticas que permitem a transmissão
desses conhecimentos e a incorporação desses comportamentos...”. (Julia, 2001, p. 10). A análise se
concentra no sistema métrico decimal e em como o autor define os itens desse conteúdo, impondo uma
forma de transmissão desse saber, estabelecendo uma seqüência a ser seguida. Ao focar o ensino da
aritmética, mais especificamente o sistema métrico decimal, na primeira metade do Novecentos,
voltamo-nos para o campo da história das disciplinas/conteúdos escolares (Chervel, 1990), cuja
produção é restrita no cenário brasileiro, sendo ainda menor no que concerne à matemática. Com este
estudo, pretendo contribuir para a ampliação de novas pesquisas e debates no campo da história da
matemática escolar no Brasil.

335
1125
PRODUÇÕES DOS ALUNOS E INOVAÇÕES NO ENSINO DA CASA DE SÃO JOSÉ (1911- 1915)

JAQUELINE DA CONCEIÇÃO MARTINS; RAFAELA ROCHA DO NASCIMENTO.


UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL.

O presente estudo tem como objetivo analisar, especificamente, o ensino de Desenho como parte
integrante do plano de estudos da Casa de São José. Abrigo/escola que funcionou em regime de
internato entre os anos 1888 a 1916, com uma disciplina rígida, onde eram valorizadas a moral, a
obediência e os bons costumes. O propósito da instituição de abrigo era o de acolher meninos
desvalidos, pobres e “desgraçados da sorte”, ofertando-lhes o ensino primário e a iniciação ao trabalho.
Sua concepção assistencialista acompanhou as ideias científicas, próprias do período estudado, onde
adquiriu destaque a formação para e pelo trabalho. Grupos das elites sociais, associadas ao Estado,
criaram meios de instituir o acolhimento de parte da população destituída econômica, social e
politicamente, preparando-a para a vida prática na sociedade brasileira. Esta foi a experiência da Casa
de São José, criada pelo Ministro da Justiça Ferreira Vianna, com a ajuda de uma comissão de caridade.
No período republicano, a instituição passa para a administração do Estado, contando com o incentivo
de “capitalistas” e “industrialistas”. Nesse contexto, a expressão “educação profissional” emerge em
função do novo molde capitalista/industrial, que fortemente afetou a organização e funcionamento da
Casa de São José e suas congêneres. No âmbito desse estudo, trabalhamos com o corpus documental
composto pelos desenhos dos alunos desta instituição que integram a produção escolar da mesma e
que datam de 1911 a 1915. Investigamos como eram planejadas e desenvolvidas as aulas de desenho, e
o modo como era utilizados pela instituição nas exposições escolares. Para desenvolver esse estudo, que
é resultado de pesquisa em andamento, nos apropriamos do conceito de cultura material escolar, que
nos fornece aportes teóricos para investigarmos as produções escolares – desenhos - dos alunos da Casa
de São José. Desejamos ampliar esse conceito para além do estudo sobre edifícios, mobiliário,
utensílios, materiais pedagógicos, manuais didáticos etc., não desconsiderando que é por meio dos
materiais escolares que podemos instituir práticas discursivas, modos de organização pedagógica da
escola, constituição de sujeitos e práticas, significados simbólicos e outros. A hipótese de trabalho é que
a instituição organiza o seu plano de estudos, incluindo o ensino de desenho, voltado para a formação
da mão-de-obra de que necessitavam as incipientes indústrias brasileiras. Por meio do cruzamento com
outros documentos, como o convite para expor essas produções escolares, observamos que há indícios
de que havia interesse da Casa de São José em sociabilizar os resultados da instrução por ela ministrada.
Por fim, desejamos percorrer um caminho que contemple a discussão do ensino de Desenho como parte
da inovação pedagógica em curso e nos interrogarmos a respeito da sua importância como formação
prática.

591
PRÁTICAS ESCOLARES DE GOVERNAMENTO E A PRODUÇÃO DO DISCURSO DO FRACASSO ESCOLAR

MARIA DO SOCORRO NÓBREGA QUEIROGA; LUCIANA PRISCILA SANTOS CARNEIRO.


UFPB, JOAO PESSOA - PB - BRASIL.

A pesquisa que originou este artigo foi realizada em um projeto PIBIC. Insere-se nos Estudos Culturais e
do Currículo e tinha como objetivo investigar os fatores das relações e práticas pedagógicas que
contribuem para a produção do fracasso escolar, como mecanismos de produção de sentidos sobre os
alunos com trajetórias minoritárias na escola, ¬– tal como este fenômeno é tratado nos discursos
pedagógicos – através da observação e análise de como a escola (campo da pesquisa) constrói o seu
currículo, caracterizando a cartografia das identidades escolares que o currículo produz. E, como os
elementos curriculares se articulam no agenciamento dos discursos sobre o fracasso escolar e nos
processos de exclusão dos alunos da escola. Desenvolvida na rede pública estadual de Ensino
Fundamental (do 6º ao 9º ano, tendo em vista ser esse nível de ensino responsável pelas estatísticas
mais altas de reprovação e evasão − enunciados que compõem os discursos do fracasso escolar,
seja na escola, seja na literatura que trata dessa questão), localizada no município de Solânea, Paraíba,

336
teve como amostra 182 alunos. Como ferramentas metodológicas, utilizamos a abordagem da pesquisa
qualitativa descritiva e da técnica do Grupo Focal, através da escrita de si e do grupo de discussão,
tomando como referencial alguns objetivos específicos: 1) caracterização do discurso pedagógico
produzido pelos docentes sobre o fracasso escolar; 2) caracterização do discurso discente sobre o
fracasso escolar; 3) descrição das relações pedagógicas escolares que se constituem mais diretamente
em mecanismos de produção de sentidos sobre os alunos com trajetórias minoritárias na escola; e 4)
como essas “coordenadas de subjetivação” se articulam no agenciamento dos discursos sobre o fracasso
escolar e nos processos de exclusão dos alunos da escola. Na condução da pesquisa, como nossa
perspectiva teórico-metodológica envolve as ferramentas da análise de discurso, as turmas de alunos
selecionadas para compor a amostra, emergiram de entrevistas com os professores tratando dos alunos
de modo geral e de seu aproveitamento escolar etc, pois compreendemos que são as práticas e os
discursos que têm fabricado o fracasso, o discurso na crença de uma inferioridade “inerente” aos alunos
de classes populares, mesmo quando grande parte dos docentes pertença a mesma classe social dos
alunos. Os resultados apontam para dados curiosos, do ponto de vista de outras pesquisas e mesmo dos
discursos predominantes no senso comum, sobre os alunos e sua relação com a escola, como também
reforçam dados de outras pesquisas sobre as características dos alunos das camadas populares que
estão na escola pública. E, assim para a necessidade de se rever muitos parâmetros que envolvem a
organização da escola e do ensino.

478
PRÁTICAS ESCOLARES DO ENSINO PROFISSIONAL EM RIO TINTO – PB: O CODITANO NA ESCOLA DE
APRENDIZAGEM CORONEL FREDERICO LUNDGREN - SENAI (1946-1967)
JOSE JASSUIPE DA SILVA MORAIS.
UFPB, JOAO PESSOA - PB - BRASIL.

O objetivo deste estudo é analisar a cultura e o cotidiano da Escola de Aprendizagem Coronel Frederico
Lundgren (EACFL), mantida pela Companhia de Tecidos Rio Tinto (CTRT) e implementada com as práticas
escolares do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) da cidade de Rio Tinto – PB. Na
década de 1940, os industriais criaram escolas do SENAI visando preparar mão-de-obra especializada
para o trabalho nas fábricas. No interior da Paraíba, essa ideologia industrial também se tornou evidente
por intermédio da fábrica tecidos situada em um distrito de Mamanguape – PB. Tal empreendimento,
gerava em torno de quinze mil empregos diretos, fruto da isenção do imposto sobre circulação de
mercadorias (ICM), de âmbito estadual, por vinte e cinco anos, concedida pelo governador da época.
Por intermédio da Legislação que implantou o SENAI e a Lei Orgânica do Ensino Industrial, a Escola de
Aprendizagem que fosse mantida exclusivamente pelo estabelecimento industrial que a criou, não faria
o recolhimento da contribuição compulsória devida ao SENAI e se tornaria uma Escola de Isenção. Dessa
forma, esses dois incentivos fiscais contribuíram para atender os interesses da CTRT e também para a
criação da EACFL. Essa Escola de Aprendizagem oferecia formação profissional destinada aos filhos de
operários e tinha como finalidade a preparação da mão-de-obra para a indústria local. Para tanto,
realizou-se pesquisa documental, circunscrita ao período de 1946-1967 – marco temporal entre a
formação da primeira e da última turma da EACFL mantida exclusivamente pela CTRT – mapeando-se
diários de classe, fichas de controle de alunos, certificados, relações de turmas concluintes e
depoimentos orais. A coleta de dados ocorreu no arquivo da Delegacia Regional do SENAI em Campina
Grande – PB e por intermédio de entrevistas com ex-alunos/ex-operários da escola e da fábrica
residentes na cidade de Rio Tinto. A bibliografia sobre Cultura Escolar e Educação Profissional serviu
como alicerce da fundamentação teórica, e os resultados deste estudo foram interpretados
qualitativamente, por meio da técnica de Análise de Conteúdo. Os resultados preliminares indicam que
a EACFL com a filosofia educacional do SENAI, implantou uma cultura escolar para a fábrica e preparava
o aluno para transformar-se em um futuro operário eficiente e disciplinado. Em suas aulas mantinha
práticas escolares para o desenvolvimento de habilidades e normas que eram exigidas nas oficinas da
CTRT, como atividades em máquinas industriais e horários rígidos.

337
760
REGISTROS FOTOGRÁFICOS PRODUZIDOS NAS ESCOLAS MUNICIPAIS DE SOBRAL, CE. ENTRE 1960 E
2000 E INDÍCIOS PARA UMA HISTÓRIA DA CULTURA ESCOLAR NO MUNICÍPIO

JOSÉ EDVAR COSTA DE ARAÚJO.


UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ- UVA, SOBRAL - CE - BRASIL.

O Grupo de Pesquisa História e Memória Social da Educação e da Cultura – MEDUC desenvolve desde
2007, em parceria com a Escola de Formação Permanente do Magistério- ESFAPEM e com a Secretaria
da Educação de Sobral, investigações sobre a memória e a história da educação no referido município. A
colaboração investigativa resultou até agora na publicação de depoimentos autobiográficos, de
sistematizações de práticas docentes na perspectiva da autoformação e de ensaios históricos sobre as
instituições escolares da rede municipal de educação básica; permitiu ao mesmo tempo iniciar a
organização de acervos documentais que se transformam em fontes de pesquisa em condição de serem
acessadas. Está em curso atualmente o projeto Olhares da Memória: Uma história social das escolas
municipais de Sobral, cujo objetivo básico é produzir um conjunto de ensaios escritos por professores,
coordenadores e gestores escolares sobre a história de cada instituição de ensino da rede escolar
pública municipal de Sobral. Na primeira fase desta pesquisa, por ocasião da busca de documentos
administrativos, legais e por ocasião da gravação de depoimentos autobiográficos, foram reunidas e
catalogadas cerca de duas mil fotografias que registram os mais diversos aspectos da atividade
educacional escolar no município de Sobral, no período que se estende entre 1960 e 2000, quando se
estrutura a rede escolar local. São flagrantes de solenidades cívicas, visitas de autoridades, reuniões com
os pais e comunidade, inaugurações, feiras e exposições, dias de lazer, atividades rotineiras de sala de
aula, aspectos da arquitetura e da modernização dos prédios. Este acervo fotográfico acrescenta
significativas informações para o estudo da constituição da cultura escolar no município de Sobral ao
longo do século XX, ocorrida fundamentalmente através da estruturação inicial e posterior ampliação da
rede escolar municipal de educação infantil e de ensino fundamental, que no início do século XXI
finalmente consegue atender ao imperativo das sociedades contemporâneas de universalizar o acesso
das crianças em idade escolar às classes de alfabetização e séries iniciais. Esta comunicação descreverá o
processo investigativo que está se dando e destacará os achados iniciais sobre o valor documental e
afetivo bem como sobre o potencial informativo do referido acervo que, depois de digitalizado e
devidamente identificado, com a participação dos professores e funcionários da época, será colocado à
disposição dos pesquisadores como mais uma fonte para consulta.

341
TEMPOS E ESPAÇOS ESCOLARES NAS ESCOLAS DE PRIMEIRAS LETRAS DA PROVÍNCIA DE GOIÁS NO
SÉCULO XIX

SANDRA ELAINE AIRES DE ABREU.


UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS, ANAPOLIS - GO - BRASIL.

Este trabalho faz parte de uma pesquisa concluída, e o eixo temático é o da história das instituições e
práticas educativas. Com a Lei n.13, de 1835, o governo provincial definiu um conjunto de regras para a
organização das escolas de primeiras letras em Goiás, dentre as quais destacamos os tempos e espaços
escolares. O esforço visível para cumprir tal lei pode ser verificado no movimento de elaboração de
vários regulamentos de instrução, resolução e atos com o objetivo de unificar a estrutura e o
funcionamento da organização escolar na província. Os regulamentos de instrução pública constituíram
um “projeto” do governo provincial para as escolas de primeiras letras em Goiás. Assim, o objetivo deste
texto é analisar os tempos e espaços escolares das escolas primárias da província de Goiás no século XIX.
Para tanto utilizamos como fonte para esta análise, a legislação educacional, os relatórios dos
presidentes da província, os registros dos professores em seus mapas de aulas, as “memórias” de Cora
Coralina narradas em forma de poesia. Os poemas de Cora retratam a história de sua terra (cidade de
Goiás) e sua escola primária e os relatos de ex-alunos que freqüentaram as escolas de primeiras letras
da província de Goiás nas últimas décadas do século XIX e nas duas primeiras décadas do século XX. O

338
depoimento de ex-alunos torna-se importante para a presente pesquisa porque nos permite conhecer o
cotidiano da escola primária em Goiás do ponto de vista do estudante. O uso dos relatos desses ex-
alunos que freqüentaram a escola primária goiana no período da Primeira República justifica-se pelo
fato de que nos anos imediatos após a proclamação da República, não houve mudança significativa no
campo educacional na província, ou seja, continuou a prática rotineira do império. As primeiras
iniciativas de modernização da escola primária em Goiás iniciaram-se a partir de 1919, com o
estabelecimento dos grupos escolares. Utilizamos também poesias. O calendário das escolas primárias
em Goiás no século XIX era estabelecido pela legislação provincial, ou seja, era um tempo institucional,
prescrito que deveria ser seguido com rigor pelos professores e alunos. Quanto ao espaço escolar
durante o período imperial nenhuma iniciativa efetiva foi tomada pelos presidentes da província para a
construção de prédios para as escolas de primeiras letras, ficando sob a responsabilidade dos
professores a tarefa de arrumar as instalações escolares na maior parte do tempo com seus parcos
vencimentos.

849
TEMÁTICAS E NARRATIVAS SOBRE O NORDESTE CONTIDAS NOS LIVROS DIDÁTICOS DE HISTÓRIA
1 2
ALESSANDRA FERNANDES NÓBREGA ; MARIA ADAILZA MARTINS ALBUQUERQUE .
1.UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAIBA - UFPB, CONDE - PB - BRASIL; 2.UNIVERSIDADE FEDERAL DA
PARAÍBA - UFPB, JOÃO PESSOA - PB - BRASIL.

Esse artigo apresenta o tema que vem sendo desenvolvido no mestrado em Educação da UFPB, ligado à
linha de pesquisa de História da Educação e especificamente ao Grupo de Pesquisa Ciência, Educação e
Sociedade (GPCES), cujo objetivo é realizar um trabalho de análise comparativo sobre as narrativas e
temáticas sobre o nordeste brasileiro, impressas nos livros didáticos de História, entre o período de
1930 a 1961 e de 1996 a 2008. Essa delimitação periódica fundamenta-se na importância que a
discussão regional possuía nas primeiras décadas do século XX, fazendo-se presente desde a produção
literária e sociológica, até os debates políticos-econômicos que suscitou a instituição de órgãos de
planejamento regional pelo governo federal, a exemplo da criação do Departamento Nacional de Obras
Contra a Seca (DNOCS) e da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE); mais
recentemente a questão regional voltou a ser posta, agora no âmbito educacional com as propostas
valorização da cultura e da realidade local, permitindo aos estudantes identificarem-se com os
conteúdos curriculares estudados na escola, ao mesmo tempo em que promove o fortalecimento do
sentido de identidade e cidadania, levando os jovens a reconhecerem e respeitarem as diversidades
sócio-culturais existentes no país. Em função do espaço restrito desse artigo, utilizaremos dois livros
como suportes para nossas reflexões: História do Brasil (1943), de Rocha Pombo, reconhecido autor de
livros didáticos de História, com obras educativas publicadas desde 1917 até 1970; e História e Vida
Integrada (2005) de Nelson Piletti e Claudino Piletti, coleção recomendada com distinção pelos
pareceristas do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) de 2002 e uma das séries mais adotadas
para os anos finais do ensino fundamental, daquele período. Tomamos como premissa que a análise de
conteúdos dos livros didáticos, apresenta-se como possibilidade de apreensão do processo que instituiu
e transformou a disciplina escolar de história ao longo do tempo. Assim, discutindo as representações
sobre o nordeste e vinculando-as aos diferentes contextos históricos, pretende-se, apreender como o
saber escolar, reproduziu ou contestou as estruturas capitalistas instituídas nacionalmente. Os livros
didáticos por serem um dos principais recursos utilizados no processo de ensino-aprendizagem ganha
relevância para o entendimento da construção dos conhecimentos aceitos como adequados
socialmente por cada época, podendo ser tomados como fontes históricas, portadoras de visões de
mundo, de valores sócio-culturais, de abordagens epistêmicas e implicações políticas. Nessa
perspectiva, as diferentes narrativas e discursos sobre a história regional permitem que sejam expostos
os conflitos e contradições sociais, e seus reflexos nas temáticas inseridas nos livros didáticos e
debatidas no seio da instituição escolar; revelando, assim, toda a dimensão histórica que a produção e
difusão cultural possui.

339
727
UMA HISTÓRIA DA ESTATÍSTICA NO BRASIL

MARTHA WERNECK POUBEL.


PPGE/CP/UFES, VITORIA - ES - BRASIL.

Este trabalho, uma proposta de comunicação individual para o VI CBHE, tem como objetivo de pesquisa
elaborar uma trajetória histórica, sócio-política e econômica dos primeiros censos demográficos
brasileiros, com um recorte temporal na época oitocentista. Tomando por referenciais teóricos autores
como Bloch, Le Goff, Ginzburg, poderemos refletir, através do método histórico, através da análise da
história da estatística como ciência, buscando as ferramentas estatísticas que foram utilizadas na
realização destes censos. Os documentos deverão ser analisados considerando as intenções com que
serão utilizados no contexto de produção. As fontes, encontradas em arquivos, livros, artigos, teses ou
outras fontes em geral, deverão ser rastreadas de forma que o tema seja cercado, e os questionamentos
levantados possam ser respondidos. A metodologia a ser utilizada é de uma pesquisa histórica,
bibliográfica e documental. A pesquisa encontra-se em andamento em meu doutorado no PPGE e o eixo
temático o qual se propõe é o eixo 3, a saber: História das Culturas e Disciplinas Escolares. A palavra
Estatística tem origem na palavra em latim “status”, traduzida como o estudo do Estado e, significava
originalmente, uma coleção de informações de interesse para o Estado sobre população e economia.
Com o Renascimento, foi despertado um maior interesse pela coleta de dados estatísticos,
principalmente por suas aplicações na administração pública. A Escola Biométrica nasceu na Inglaterra
no final do século XIX em um dos grandes períodos formativos da história da Estatística, impulsionando
o estudo da estatística e o desenvolvimento de métodos. Nesse mesmo século, a Lei do censo foi
instituída no Brasil Império em 1870. O primeiro censo geral da população brasileira foi feito por José
Maria da Silva Paranhos (1872), conhecido como Visconde do Rio Branco. O censo foi complexo devido a
extensão geográfica, a dispersão da população, às condições limitadas de comunicação e à falta de
prática ou experiência. Com o aumento do número e da sofisticação de métodos para a produção e
interpretação de dados, a Estatística avançou no século XX. As ideias e os métodos da Estatística
desenvolveram-se ao longo da história, à medida que a sociedade mostrava-se interessada em coletar e
usar dados para variadas aplicações. As necessidades e demandas atuais nos levam a usar ferramentas
que possibilitem a compreensão desses fatos com vistas a possíveis transformações e,
indubitavelmente, a Estatística é uma dessas ferramentas. Devido a grande necessidade da utilização da
Estatística ser cada vez maior, torna-se importante conhecer como surgiu e qual o significado da
Estatística no Brasil, ou seja, é importante conhecer a sua História e, nessa direção, temos ainda um
longo caminho a percorrer.

1136
“NÃO DEVEMOS ADOTAR INDIFERENTEMENTE QUALQUER LIVRO DE LEITURA”: UM ESTUDO SOBRE
OS PROCESSOS DE SELEÇÃO DE LIVROS PARA A ESCOLA PRIMÁRIA PAULISTA

HELOÍSA HELENA PIMENTA ROCHA.


UNICAMP, CAMPINAS - SP - BRASIL.

Ensinar a ler de forma fluente, assegurando que o leitor se apropriasse dos conhecimentos, valores e
pautas de comportamento presentes nos livros, configurou-se em um dos objetivos que orientaram a
seleção de livros de leitura para as crianças que frequentavam as escolas primárias paulistas, nas
primeiras décadas do século XX. A discussão sobre o padrão de livro que deveria ser oferecido ao
público escolar, em seus primeiros contatos com o texto impresso, foi alvo de um intenso debate, no
âmbito do qual se procurou definir os critérios segundo os quais deveriam ser avaliados os livros de
leitura fundamental e suplementar. Visando desenvolver a agilidade e desenvoltura na leitura, mas
também oferecer à criança modelos de conduta, os livros de leitura, organizados em torno de temas
diversos, como a moral, as noções de ciências, os hábitos de higiene e os cuidados com o corpo, foram
objeto de avaliação das comissões instituídas pela Diretoria Geral da Instrução Pública. O trabalho
dessas comissões pautou-se em um questionário orientado segundo a indagação: “o que é um bom livro

340
de leitura?”. Indagação cuja resposta se traduziu em um conjunto de critérios que incluíam: os objetivos
a que visava o livro, a propriedade dos assuntos que abordava, a linguagem adotada e a “didaticidade”.
Nesta comunicação, apresentam-se resultados de uma investigação em desenvolvimento, com
financiamento do CNPq, que tem como objetivo o levantamento, catalogação e análise de manuais
escolares por meio dos quais se procurou difundir os preceitos higiênicos entre os alunos das escolas
primárias paulistas. Os investimentos com vistas à constituição dessa coleção têm exigido uma atenção
especial em relação às dimensões ligadas à produção e circulação, bem como aos indícios de
apropriação desses objetos culturais, os quais condensam em sua materialidade uma pluralidade de
interesses, intenções e regulações. A investigação dessas várias dimensões desdobra-se em
interrogações sobre os autores e sua vinculação institucional, as casas editoras, as edições, a tiragem, a
distribuição dos manuais e as prescrições de usos elaboradas pelas autoridades educacionais, autores e
editores. No conjunto das indagações que a pesquisa vem suscitando, esta comunicação insere-se na
dimensão da circulação dos manuais escolares, na medida em que se debruça sobre os debates que
presidiram a seleção dos livros de leitura, procurando flagrar os critérios que orientaram os membros
das comissões nomeadas pelo Estado, na análise e recomendação dos livros que deveriam ser adotados
nas escolas primárias. Tomando como fontes os relatórios dessas comissões, procura-se apreender os
aspectos em pauta na definição de tais critérios, bem como as representações em relação à leitura e ao
livro de leitura que perpassam as posições assumidas pelos educadores envolvidos nessa tarefa.

341
342
EIXO 4 - HISTÓRIA DA PROFISSÃO DOCENTE

1216
A ASSOCIAÇÃO SUL RIO-GRANDENSE DE PROFESSORES E SEUS ESFORÇOS EM “SOLENIZAR EM TODO O
ESTADO O DIA 15 DE OUTUBRO CONSAGRADO AO PROFESSOR”

SERGIO RICARDO PEREIRA CARDOSO.


IFRS - CAMPUS RIOGRANDE/ PPGE-FAE-UFPEL, PELOTAS - RS - BRASIL.

As datas comemorativas são uma constante nos calendários atuais, seja em nível mundial, nacional e
regional. Entretanto, é preciso ter em mente que tais datas são produtos culturais; estas, ao comporem
o calendário, ajudam a organizar o ciclo temporal de uma determinada sociedade, gestando o cotidiano
da esfera pública, ou seja, o calendário, assim como as datas que a compõem, são sobretudo um
produto social. A Associação Sul Rio-grandense de Professores (ASRP), fundada em 14 de outubro de
1929, sempre teve em seu estatuto, entre outras tarefas, a de “Solenizar em todo o Estado o dia 15 de
outubro consagrado ao professor”. Diante disso, este artigo tem o objetivo de responder as seguintes
questões: que significados o “15 de outubro”, dia do professor, representava para a Associação Sul Rio-
grandense de Professores (ASRP)?; Até que medida essa data foi responsável pela identidade do
professorado pelotense? Paralelo a isso, far-se-á um estudo comparativo com os estudos de Paula Perin
Vicentini, pesquisadora da História da Educação, que tem-se debruçado sobre a temática “Dia do
Professor” há um tempo considerável. Portando, este estudo, parte de uma pesquisa de doutoramento,
privilegiará os livros de atas das reuniões da ASRP desde sua fundação a 1963, as notícias sobre o Dia do
Professor nos periódicos locais de 1928 a 1963, bem como os artigos escritos pela já referida
pesquisadora Paula Vicentini sobre a temática em questão. A escolha dos marcos temporais não foi
aleatória: no caso de 1928, é devido ser esse o ano em que, pela primeira vez se vê nos jornais de
Pelotas menções ao Dia do Professor; já em 1929, é fundada a ASRP; como marco final, adotou-se o ano
de 1963, por ser este o ano em que o Dia do Professor passa a ser considerado feriado nacional. As
origens do Dia do Professor no Brasil ainda são desconhecidas enquanto prática popular; entretanto, a
História da Educação Brasileira remete tal data a 15 de outubro de 1827, dia em que D. Pedro I
promulgou a primeira Lei Geral do Ensino Elementar no Brasil. No entanto, parece ter sido em São Paulo
onde a manifestação popular começou, tendo sido trazida para o Rio Grande do Sul em 1926 pelo
professor Joaquim Alves da Fonseca, presidente-fundador da ASRP. Mesmo não se sabendo quando
nasce a manifestação popular do Dia do Professor, sua transformação numa “tradição inventada”, que,
segundo Eric Hobsbawm, fundamenta-se num conjunto de práticas, normalmente reguladas por regras
tácita ou abertamente aceitas; tais práticas, de natureza ritual ou simbólica, visam inculcar certos
valores e normas de comportamento através da repetição, o que implica, automaticamente, uma
continuidade em relação ao passado. Aliás, sempre que possível, tenta-se estabelecer continuidade com
um passado histórico associado, podendo ser interpretada, nesse caso, como um rito de colaboração da
construção e (re) construção da identidade da classe docente.

487
A CONFIGURAÇÃO DO PROFESSOR MODERNO: O PROFESSOR-PASTOR DA DIDÁTICA MAGNA

PATRÍCIA APARECIDA BIOTO-CAVALCANTI.


UNINOVE, ITAQUAQUECETUBA - SP - BRASIL.

O objetivo deste texto é demonstrar que o professor configurado na “Didática Magna” (1657) de
Comenius assume as características de um professor-pastor. O modo de leitura inspirou-se nos
procedimentos de Quentin Skinner em Razão e retórica na filosofia de Hobbes (1999). Pode-se afirmar,
apoiando-se em Skinner, que a obra em análise é um ato lingüístico de seu autor. Responde às
demandas do tempo, utilizando para isto o conhecimento elaborado disponível. Para compreender o
papel que a obra de Comenius desempenhou na emergência da escolarização moderna é preciso
localizar a rede de idéias que está em sua base, mas há que se considerar também as circunstâncias em
que emergiu, a origem de seu autor e suas intenções. A pesquisa é bibliográfica, tendo como fonte

343
principal a “Didática Magna”. Para estabelecer elementos de análise, foram utilizadas na pesquisa obras
como a “Suma Teológica” de S. Tomás de Aquino, o “Didascálicon”, de Hugo de S. Vitor, a “Imitação de
Cristo” de Thomas de Kempis, a “Orbis pictus sensualium” do próprio Comenius, além de obras de
consulta. Os tratados pedagógicos elaborados quando da emergência da forma escolar, entre os quais
inclui-se a “Didática Magna”, fazem parte do processo de configuração da escolarização moderna, posto
que tais obras portam um discurso pedagógico que, para além de reflexão sobre as mudanças na
educação, instituem práticas e modos de pensá-la. Elaborada neste processo, a Didática Magna participa
da proposição de um elemento decisivo na escola moderna, a relação pedagógica autônoma e
intermediada de "mestre" e "aluno", definida a partir do universo escolar. O professor da modernidade,
proposto nos tratados pedagógicos produzidos nos séculos XVI e XVII - entre os quais pode-se citar,
além da “Didática Magna”, o Ratio Studiorum atque Institutio Societatis Jesu (1599), da Companhia de
Jesus, e “A New Discovery of the old art of teaching schoole, in four small treatises” (1660) de Charles
Hoole - é aquele que deve transmitir um conhecimento elaborado por homens "cultos", seguindo um
método de ensino e aprendizagem estabelecido segundo critérios racionais/naturais, assumindo
posturas que expressam retidão de caráter e dedicação á missão de que são incumbidos, que será bem
cumprida se obedecerem ao prescrito nos tratados. O professor da Didática Magna deve preparar o
homem para conhecer e dominar o mundo, mas sem perder de vista o fim ultimo da vida humana, a
vida eterna ao lado do Altíssimo. O texto ora apresentado faz parte de pesquisa já concluída.

1077
A CONSTITUIÇÃO DA IDENTIDADE PROFISSIONAL DO SUPERVISOR QUE ATUA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

ANA REGINA FERREIRA DE BARCELOS.


UFSC, FLORIANOPOLIS - SC - BRASIL.

A presente proposta trata de um estudo exploratório, sobre a constituição da identidade do supervisor


escolar que atua na educação infantil do Sistema Público Municipal de Ensino Florianópolis/SC. O
objetivo inicial do trabalho é verificar quais as representações que os supervisores tecem sobre a
constituição da sua identidade profissional. Nesse sentido, localizar pistas de como emerge um grupo
profissional e compreender como se constitui as estratégias de reconversão do grupo, que se desloca do
ensino fundamental para educação infantil, são algumas das questões a serem investigadas por este
estudo. É demarcado o período de 1998 a 2009, no qual se intensifica a inserção desses profissionais no
quadro de educadores do município. Para elucidar as indagações realizadas, se estabelece uma
interlocução com autores, como Chartier (1991) que trata da noção de representação, Bourdieu (2007)
com suas reflexões sobre campo e Dubar (2005, 2009), que aborda a constituição das identidades, além
de outros autores que contribuem com as especificidades da supervisão escolar e da educação infantil.
As fontes de pesquisa utilizadas para compor o estudo abrangem questionários aplicados a uma
amostra de supervisores, a legislação pertinente, documentos orientadores produzidos nas esferas
federal e municipal referentes à educação infantil e à supervisão escolar, registros de formação em
serviço, bem como artigos, dissertações e teses que abordam a temática. Os dados oriundos do estudo
são preliminares e explicitam o contexto de atuação dos supervisores da educação infantil, o qual é
permeado por um movimento que vai de encontro, a tendência de extinção do supervisor no cenário da
educação nacional e catarinense em particular. Este campo profissional está crivado por outra tensão
igualmente importante, qual seja a redefinição da educação infantil brasileira pós-LDBEN n. 9.394/1996,
e seus desdobramentos nas décadas subsequentes, que tem promovido intensos debates. Discutem-se
as especificidades e o papel que cumpre a educação infantil, enquanto primeiro nível da educação
básica, o que compõem uma demanda de conhecimento e encaminhamentos que repercutem na
atuação do supervisor. Verificar a relação entre a formação inicial, demarcada pela Pedagogia-
Habilitação Supervisão Escolar- e a alternância da atuação do supervisor em diferentes níveis da
Educação Básica é um aspecto relevante da análise. Assim como, a influência de outras experiências -
docência, direção, coordenação- no processo de socialização profissional do grupo. Perceber nos
dilemas e tensões explicitados, os elementos que compõem as diferentes formas de representação que
os supervisores possuem sobre sua atuação, bem como as negociações e impasses vividos no campo
profissional acaba por mostrar os movimentos de avanços e recuos que compõem a constituição de um
campo profissional. São esses os indícios que preliminarmente perseguimos neste estudo exploratório.

344
584
A CONTRIBUIÇÃO DE HENRIQUE FREIRE PARA A CIRCULAÇÃO DAS IDEIAS PEDAGÓGICAS NO BRASIL E
EM PORTUGAL NO FINAL DE OITOCENTOS
1 2
SONIA DE CASTRO LOPES ; SILVIA ALICIA MARTINEZ .
1.UFRJ, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL; 2.UENF, CAMPOS - RJ - BRASIL.

Esta comunicação traduz-se como resultado de uma pesquisa que se encontra em fase de conclusão
sobre a história da profissão docente no Brasil e em Portugal. Tem por objetivo apresentar e discutir as
ideias pedagógicas, bem como a atuação profissional de Henrique Augusto da Cunha Soares Freire,
nascido em Almada, Portugal, em 1842. Formado pela Escola Normal de Marvila, onde obteve
habilitação para o exercício do magistério primário, Henrique Freire foi apologista da reforma realizada
por D. António Costa em 1870 colaborando no periódico Gazeta Pedagógica. No mesmo ano, sendo
professor em comissão na Escola Central de Lisboa, publica, junto com Graça Afreixo, o livro Elementos
de Pedagogia, que virá a ter oito edições e foi amplamente utilizado nas Escolas Normais brasileiras, em
especial pela Escola Normal da Corte, na cidade do Rio de Janeiro, e nas de Niterói e Campos. Em 1884,
na qualidade de presidente da Associação dos Professores Primários de Lisboa, funda a revista A Escola,
com repercussão na imprensa de educação e ensino brasileira. Na primeira parte do trabalho pretende-
se discutir as idéias pedagógicas de Freire como co-autor do compêndio Elementos de Pedagogia, de
grande impacto nos cursos de formação docente. Em seguida, procede-se à análise dos primeiros
números de A Escola, no qual Freire defende a instrução pública primária como estratégia para o
progresso social e desenvolve uma cultura profissional no âmbito do professorado. Tais análises nos
levam a situar o autor no contexto português de finais do século XIX, destacando trajetórias
intimamente relacionadas com o magistério primário, num cenário de incipiente desenvolvimento da
profissão docente. Objetiva-se, portanto, realizar um exercício comparativo no que diz respeito à
formação/profissionalização do magistério primário no Brasil e em Portugal, tomando como referência
as contribuições de Nóvoa (1995, 1998), Gruzinski (2001) e Carvalho (2007). Cabe ainda ressaltar a
perspectiva teórica fundamentada na leitura de Jacques Revel (1998) que acentua a importância de se
estar atento aos indivíduos percebidos em suas relações com outros indivíduos. Para este autor, a
aposta em acompanhar a trajetória de um homem ou de um grupo de homens é que torna possível
apreender a multiplicidade de espaços e de relações nas quais o personagem se inscreve. Finalmente,
pode-se inferir que Freire é reconhecido como integrante de uma geração de ex-alunos da Escola
Normal de Marvila que desempenharam um papel proeminente no associativismo docente e na
imprensa pedagógica através da defesa do ensino normal e das conferências pedagógicas (Nóvoa,
2003). A análise da sua produção permitiu perceber relações sobre o modelo de formação docente
adotado em Portugal bem como estabelecer conexões com o modelo brasileiro.

519
A DIVERSIFICAÇÃO DO TRABALHO DOCENTE PRIMÁRIO EM TERRAS SERGIPANAS NO SÉCULO XIX:
ENTRE CORRESPONDÊNCIAS OFICIAIS E ANÚNCIOS DE JORNAL

SIMONE SILVEIRA AMORIM.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE, ARACAJU - SE - BRASIL.

Esse texto faz parte de uma pesquisa de doutoramento em andamento e tem como objetivo analisar as
representações e experiências dos agentes envolvidos com a instrução pública em Sergipe no século XIX.
A análise do tema é feita com base nas discussões de Roger Chartier (1990), Norbert Elias (2001), Pierre
Bourdieu (1996) e Paul Veyne (1998). Através dessa pesquisa, realizada sob a matriz historiográfica da
Nova História Cultural, pode-se afirmar que uma das maneiras de se perceber o fomento da educação
primária no século XIX é através de anúncios de professoras e professores em jornais, bem como o
processo de institucionalização desse ensino através das correspondências enviadas por esses
profissionais. Assim, a proposta de estudo deste trabalho respalda-se em elementos históricos que têm

345
como foco as mudanças ocorridas no cenário educacional sergipano quando das perspectivas de
alterações nas relações que se estabeleceriam nesse campo a partir da crescente hegemonia da escola.
Esse fato provocou a delimitação no campo de atuação das Casas e do Estado, sendo que a educação
efetivada na Casa se caracterizava como prática amplamente aceita pela sociedade no período
estudado. De fato, ela se materializava de diferentes maneiras, de acordo com as posses, conveniências
e oportunidades de seus usuários e agentes. No entanto, ressalta-se que durante todo o século XIX
havia uma constante discussão a respeito da necessidade de haver uma normatização do magistério, de
criação de cadeiras públicas para o ensino primário e um investimento na formação de professores em
novos métodos. Assim sendo, ao longo do século XIX, foi exigido dos professores e professoras uma
formação básica para que eles exercessem suas cadeiras e esta foi colocada como condição essencial
para o ingresso no magistério primário a fim de que houvesse uma unificação dos conhecimentos
ensinados por eles, sendo estes supostamente garantidos através dos exames de habilitação. Nesse
processo, diversos agentes, especialmente o Estado, procuravam interferir nas tentativas de delimitação
do espaço de atuação os professores a fim de estabelecer valores e práticas que deveriam permear a
atuação deles. Pode-se, então, afirmar que o século XIX, em Sergipe, representou uma convivência de
práticas e que, através da ação do Estado, houve um processo de funcionarização e profissionalização
do magistério. Os relatos do poder público revelam impasses, conflitos e embates políticos em torno das
representações culturais sobre a escola primária. Esses fatos corroboraram para que os professores
encontrassem as condições para a profissionalização da categoria.

544
A EDUCAÇÃO INFANTIL COMO POSSIBILIDADE DE ATUAÇÃO NO REPERTÓRIO DA PROFISSÃO
DOCENTE

VALDETE CÔCO.
UFES, SERRA - ES - BRASIL.

No contexto do eixo História da Profissão Docente, abordamos as transformações no cenário da


docência focalizando a perspectiva de atuar na Educação Infantil – EI, em meio ao conjunto de
possibilidades presentes na formação inicial com as Novas Diretrizes Curriculares para o Curso de
Pedagogia (Cf. Resolução CNE/CP nº. 1/2006). No bojo das transformações no conceito de infância, nos
processos de institucionalização das ações educativas para as crianças e nas demandas postas ao
trabalho docente, destacamos a partir da pesquisa em andamento “Formação Inicial de Educadores
para a EI” que a EI vem se afirmando como um direito nas políticas educacionais, evidenciando um
campo de trabalho (BOURDIEU, 1996) marcado pela especificidade do atendimento à pequena infância.
Essa especificidade repercute nos desafios do trabalho educativo e nos processos de formação,
agregando novos aspectos à história da profissão docente. Nesse contexto, exploramos a configuração
da perspectiva de atuar na EI ancorados na concepção de que “o real é processual” (KONDER, 2002, p.
187) para evidenciar a historicidade das ações/invenções, que permite tanto indicar o movimento
interativo de ressignificação da EI com a inserção nos sistemas de ensino, quanto destacar que o
caminho em direção à possibilidade de atuar nesse campo também se constrói nas trocas entre os
sujeitos e na observação do cenário, com suas políticas de investimento no campo. Numa abordagem
qualitativa, coletamos dados com os/as alunos/as do curso de Pedagogia da UFES ingressantes no
currículo 681 (matutino, de 2006/1 a 2009/2) e 682 (noturno, de 2006/2 a 2010/2) com procedimentos
de observação na apresentação do curso considerando o conhecimento da possibilidade de atuar na EI;
aplicação de instrumento no terceiro período explorando as experiências vinculadas ao trabalho na EI na
parte inicial do curso e aplicação de instrumento na finalização do curso, buscado captar o percurso dos
alunos/as na aproximação à EI como perspectiva de trabalho. Considerando que cada um/a constrói sua
trajetória de um modo particular, vivendo experiências que dialogam diferentes universos, os dados das
duas primeiras etapas sinalizam um movimento em que, no campo da formação inicial, a EI vai se
fortalecendo no curso aliando os estudos realizados e as experiências pessoais e profissionais, numa
complexidade que envolve também as instituições e redes de ensino locais. Nesse jogo, temos uma
pluralidade de modos de discurso sustentados em distintos elementos de valoração negociados na
dinâmica social que, de diferentes modos, permeiam o movimento interacional dos sujeitos e passam a

346
integrar a história da profissão docente. Destacamos que as a luta pelo fortalecimento da EI no conjunto
do cenário educativo não pode perder de vista o investimento nos professores e as conquistas pautadas
para o conjunto da categoria.

998
A FORMAÇÃO DE PROFESSORES A PARTIR DA LEI 5692/71 - ECOS DA CRÍTICA ACADÊMICA

SANDRA HERSZKOWICZ FRANKFURT.


PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO, SAO PAULO - SP - BRASIL.

Este texto é parte da pesquisa de doutorado ainda em desenvolvimento, na qual se investigam as


práticas de apropriação da Lei 5692/71 para o curso de formação de professores em duas instituições de
ensino da cidade de São Paulo. Para tanto, são tomadas como referenciais teóricos as considerações de
Michel de Certeau (1994, 1995) e Roger Chartier (1990, 1994), no que se referem às práticas e
apropriações, de modo que este trabalho se situa no âmbito da História Cultural. Porém, para efeito
deste trabalho, analisa-se como a Lei 5692/71 foi recebida no meio acadêmico. Vale ressaltar que,
embora a Lei 5692/71 tenha sido promulgada a 11 de agosto de 1971, as discussões para sua elaboração
começaram no ano anterior, quando foi instituído o GT – Grupo de Trabalho – responsável pela
elaboração do projeto de lei que seria levado à Câmara dos Deputados para aprovação. Desse grupo de
trabalho participaram políticos e acadêmicos, representantes do Governo e dos Conselhos Estaduais e
Nacionais de Educação. Na 5692/71, a formação para o magistério está contemplada, à primeira vista,
no Capítulo V, intitulado Dos Professores e Especialistas. Entretanto, verifica-se, ao analisar a Lei, que a
alteração mais visível instituída pela 5692/71 diz respeito à organização do sistema de ensino em graus
e, nessa divisão, a formação de professores, antes ministrada em escolas normais, passa a constituir
uma habilitação profissional entre tantas possíveis, no ensino de 2º Grau. Dessa forma, na Lei 5692/71,
a formação docente, que aparentemente estava contemplada no Capítulo V, também estava
contemplado no 2° grau, uma vez que a formação nesse nível de ensino permitiria que o aluno se
qualificasse para ser professor de 1ª à 4ª séries ou, ainda, fazendo um ano adicional de estudos
específicos, ser professor até a 6ª série. No entanto, as modificações no âmbito da formação de
professores colocaram a Lei 5692/71 como alvo de críticas de acadêmicos, entre os mais contundentes
estão Dermeval Saviani e Miriam Jorge Warde que, em síntese, chegaram a afirmar que o curso de
formação de professores teve sua “filosofia” alterada, com uma total descaracterização dos cursos
normais, cuja consequência foi a queda na qualidade da formação dos professores, de tal modo que
passou a não haver diferenças entre os professores diplomados e os leigos quanto às condições técnicas
para assumir uma classe de primeira série. Será que a análise das determinações legais permite chegar a
tais conclusões? Ao analisar as apropriações da Lei 5692/71 em duas escolas que tiveram seus cursos
normais transformados em Habilitações Específicas para o Magistério, chega-se a conclusões
divergentes. Neste trabalho, são problematizadas essas críticas, tomando-as como ecos de uma época,
na qual as distorções se justificavam.

808
A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DO ENSINO SECUNDÁRIO E A LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL BRASILEIRA
DA DÉCADA DE 1960: O CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA NA FEFCL-PG/UEPG – PR

SILVANA MAURA BATISTA DE CARVALHO.


UEPG, PONTA GROSSA - PR - BRASIL.

Na perspectiva de interesse apontada por Le Goff quanto ao papel da ciência histórica de que o futuro
como o passado atrai os homens que procuram suas raízes, e sua identidade, nesta pesquisa buscou-se
maior clareza sobre a formação do professor de História na década de 1960, época reconhecida como
divisor de águas na história da educação brasileira, marcada pela reorganização do sistema educacional,
com a implantação da LDBEN 4024/61 e a Lei 5.540/68, da Reforma Universitária. Nesse sentido, na
pesquisa concluída, analisou-se a configuração curricular do curso de licenciatura de História da

347
Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de Ponta Grossa (FEFCL-PG), na cidade de Ponta
Grossa, estado do Paraná, de 1963 até 1970. Período que abrange da criação do mesmo até às
adequações em atendimento à Reforma Universitária, quando a referida faculdade passou a pertencer à
recém criada Universidade Estadual de Ponta Grossa. Dessa forma, contribui-se também com a
produção historiográfica sobre formação de professores, em nível superior, na história da educação
brasileira. Situando-se o objeto da pesquisa no contexto regional histórico-educacional dos meados do
século XX, na década de 1960, no estado do Paraná nota-se que ocorria finalização do processo de
ocupação das regiões de fronteira agrícola, com grandes movimentos migratórios de deslocamento de
pessoas em direção ao campo, em busca de terra e trabalho, levando à desaceleração do
desenvolvimento econômico, na região dos Campos Gerais, devido às transformações da economia
nacional alinhada às mudanças político-econômicas do pós-guerra. Para a análise do curso em questão,
lançou-se mão dos pressupostos teórico-metodológicos da história do tempo presente (CHAVEAU e
TETARD) e da utilização de fontes escritas (FARIA FILHO) e de fontes orais (VILANOVA), (MORAES),
(BRANDÃO), buscando-se no entrecruzamento das memórias docentes, com a documentação
institucional e a legislação federal (fontes escritas), recuperar as representações (CHARTIER) construídas
na prática dos professores responsáveis pelo Curso de História na FEFCL-PG. Nesse processo percebeu-
se as mudanças realizadas no antigo modelo de formação de professores chamado esquema 3 + 1, para
o modelo denominado de Licenciatura, com 4 anos de duração e a integração das disciplinas
pedagógicas ao currículo, em atendimento à legislação educacional, à criação do Conselho Federal de
Educação (CFE) do Conselho Estadual de Educação do Paraná (CEE-PR), a fixação dos novos currículos
dos Cursos de Licenciatura, organizados e efetivados nas representações dos professores formadores
atuantes no curso.

1189
A IMPRENSA DOCENTE COMO ESPAÇO E FORMA DE ORGANIZAÇÃO

DANIEL CAVALCANTI CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE LEMOS.


GEPHE/UFMG, BELO HORIZONTE - MG - BRASIL.

O presente trabalho analisa a importância da imprensa pedagógica na organização dos professores


primários do século XIX no Brasil e em Portugal, utilizando para isso os jornais produzidos por e para
professores que foram impressos na cidade do Rio de Janeiro e de Lisboa. Acredito que a imprensa
pedagógica pode ser entendida como uma das formas de organização dos professores no século XIX, ela
teve grande importância ao discutir temas de interesses dos professores, referentes a métodos, a
organização da escola, a escolha de livros entre outros assuntos. É possível perceber estratégias e
discussões assemelhadas entre os jornais docentes do Rio de Janeiro e de Lisboa. Essa discussão ajudava
a demonstrar o campo de interesses dos professores, assim como, delimitar o que fazia parte do seu
oficio. A Imprensa pedagógica desempenhou um papel fundamental tanto na produção como na
divulgação de saberes, idéias, modelos, práticas, experiências. Como também na progressiva
constituição de um campo profissional, por meio da veiculação de um discurso de autoridade, de
verdade, cada vez mais especializado e circunscrito. Essa imprensa, ao mesmo tempo em que veiculava
o discurso de autoridade do professor, ajudava, de forma decisiva, a construir o campo docente, já que a
imprensa pedagógica, com seus jornais e revistas organizadas por professores e por pessoas ligadas ao
ensino, podia ser entendida também como espaço de formação, mobilização e de intervenção.
Funcionando como um “centro” agregador de idéias, posições e afinidades pessoais, já que entre os
colaboradores do jornal há uma ligação funcional preexistente que não é apenas somatória, é fruto de
um pertencimento comum a um grupo profissional que se buscava definir com maior clareza, em
oposição a outras profissões. Utilizo como fontes para este trabalho jornais organizados por professores
e a grande imprensa do período. Os jornais brasileiros foram localizados na Biblioteca Nacional (BN) e os
jornais portugueses foram localizados na Hemeroteca Pública de Lisboa (HPL) e na Biblioteca Nacional
de Portugal (BNP). Busco, portanto, estudar os jornais entendendo-os em seu momento e lugar de
aparecimento como um importante monumento, peça emblemática para a compreensão da
participação e da intervenção organizada de professores. A imprensa foi utilizada pelos professores
como instrumento de disputa para legitimação e afirmação de uma identidade. Nesse processo, os

348
jornais pedagógicos conferiram uma dimensão pública às informações e debates que veiculavam, e, por
seu intermédio, é possível perceber a diversificação e a complexificação do campo docente e das
questões educacionais, tanto no Brasil como em Portugal.

1084
A MOCIDADE E A VELHECE: O LIAME DAS GERAÇÕES

GRINAURA MEDEIROS MORAIS.


UFRN, CAICO - RN - BRASIL.

O artigo foi escrito a partir dos resultados de pesquisa da minha tese de doutorado cujo tema aborda a
questão das gerações de professoras primárias durante o século XX na região do Seridó situada no
estado do Rio Grande do Norte. Seu título “ABRAÇO DE GERAÇÕES” revela a tendência dos estudos
sobre padrões geracionais e se enquadra na metodologia da história oral. Foram escolhidas cinco
cidades da referida região. Em cada uma delas, três gerações de professoras primárias, estabelecendo-
se o critério de que a primeira tivesse sido professora da segunda e esta da terceira. Desta forma, ficaria
mais visível no transcurso da pesquisa, o desvendamento do elo das gerações anunciadas através das
entrevistas realizadas. A pesquisa buscava compreender os modelos de ensino e de aprendizagem, as
mudanças e permanências e o entrelaçamento das práticas entre as três gerações, objetivo este, que
exigiu a realização de várias entrevistas durante o percurso da pesquisa. Ao
descrever/analisar/interpretar os resultados das entrevistas construiu-se um novo entendimento e um
novo olhar sobre coisas que já se encontram amadurecidas. A elaboração conceitual foi o primeiro
passo de um longo trabalho artesanal de polimento de conceitos específicos para o ajuizamento e a
reinterpretação de certas categorias de análise postas em estudo. As narrativas dessas professoras
situadas na estrutura do século XX no Seridó, retratam a repetição ou a transformação das dimensões
pedagógicas vivenciadas por elas, no modo particular de cada uma viver, pensar, trabalhar e organizar o
saber escolar. O tempo foi compreendido como um elemento cultural, pois diz respeito às práticas
pedagógicas geradas num dado momento da história da educação e que permanecem ou se
transformam conforme os costumes e as determinações da cultura escolar de cada geração. As novas
gerações se encontram numa outra vertente diferente das precedentes, pois arrastam consigo uma
parte dos adultos mais velhos. Mas, no desenvolvimento contínuo da memória coletiva, não há linhas de
separação nitidamente traçadas, como na história, mas somente limites irregulares e incertos. Uma
geração não se opõe a outra com indiferença. Os resultados da pesquisa serviram como suporte para a
escrita de uma tese de doutorado e para fomentar grandes discussões acerca das gerações de
professoras primárias que assumiram o palco da docência no interior do Rio Grande do Norte durante o
século XX. Neste sentido, o recorte da tese para a escrita deste artigo, constitui-se em mais um
desdobramento das reflexões realizadas até o momento e que prometem inserir-se num campo de
múltiplas possibilidades.

836
A MÍSTICA E O MITO DA ERA DE OURO DO MAGISTÉRIO: SALÁRIO E PROFISSÃO DOCENTE EM MINAS
GERAIS (1961-2004)

MAURO PASSOS PASSOS.


PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS, BELO HORIZONTE - MG - BRASIL.

A profissão docente comporta diversos tipos de relações e de sentidos. Durante muito tempo o
magistério esteve nas mãos da instituição religiosa, particularmente da Igreja Católica. Povoada de
muitas relações, chama a atenção dos historiadores pelos seus diversos aspectos – material, social,
político, cultural e religioso. Profissão e vocação ressoam diferentemente, embora se entrecruzem. Os
diversos congressos internacionais, nacionais e o intercâmbio acadêmico são instrumentos que têm
possibilitado uma articulação mais sistemática para pesquisas sobre a profissão docente. Um exame da
produção nesta área da história da educação revela um crescente interesse por este tema no Brasil Esta

349
comunicação apresenta o quadro salarial do magistério público mineiro, no período de 1961, data da
promulgação da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), a 2004, quando foi aprovado o
Plano de Carreira do Magistério em Minas Gerais. Seu objetivo foi fazer um estudo sobre a história da
profissão docente no Brasil, particularmente em Minas Gerais, e a relação do Estado de Minas Gerais
com o profissional da educação. A ação governamental tem grande importância no processo de
constituição da profissão docente, no que se refere à implantação de princípios e normas que regem seu
exercício. Este trabalho faz parte de uma pesquisa mais ampla financiada pelo CNPq – “O mito da era de
ouro do magistério: salário e profissão docente em Minas Gerais (1889-2004)”. Trata-se de uma
pesquisa documental que se utiliza do Banco de Dados
www.pucminas.br/magisterioeprofissionalizacao, criado pelos professores Mauro Passos e Ana Maria
Casasanta Peixoto, e de fontes escritas e orais. É uma pesquisa documental, longitudinal, pois
circunscreve quase todo o período republicano. Tem como fonte fundamental os documentos oficiais –
leis, decretos, regulamentos, portarias, pareceres, relatórios, discursos, pronunciamentos. Estas fontes
foram enriquecidas com outros documentos, tais como jornais, revistas, publicações de entidades de
representação docente, movimentos de sindicalização. Foi feita uma conversão dos valores monetários
para a moeda atual, tendo como indexador a cesta básica do DIEESE, para alguns períodos, e o salário
mínimo. Vários autores apontam que a baixa remuneração do magistério é um problema que remonta
às suas origens, mas faltam estudos específicos sobre o tema. Teoricamente o trabalho usou os aportes
da história social, pois a docência é um fenômeno historicamente situado. Insere-se num quadro de
amplas relações, influenciado por inúmeras situações, como o lugar ocupado por esses profissionais no
quadro produtivo, cultural, social e nas relações com o Estado.

1351
A PERCEPÇÃO CONTEMPORÂNEA DE FELICIDADE DOS PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA NO RECIFE-
PE

JOSÉ LUIS SIMÕES; ISIS TAVARES DA SILVA.


UFPE, RECIFE - PE - BRASIL.

Esta pesquisa tem como foco a percepção do conceito de felicidade na contemporaneidade, a partir dos
professores de Educação Física que atuam em escolas públicas na região metropolitana do Recife-PE. No
período de dois anos (2007-2008) entrevistamos 30 (trinta) professores de Ed. Física na perspectiva de
analisar como esses profissionais percebem o conceito felicidade na primeira década do século XXI, e,
ainda, se sentem realizados do ponto de vista pessoal e profissional e as implicações do trabalho escolar
no seu cotidiano. No que se propõe esta pesquisa, a correlação entre os objetivos e as metas a serem
atingidas encontra-se na possibilidade de fazer um diagnóstico da situação de bem-estar objetivo e
subjetivo dos professores. A certeza que a felicidade é uma coisa boa e desejada é a única coisa em
comum nas pessoas. Este senso comum gera um padrão de felicidade em que a maioria do todo é
incapaz ou impedida de alcançar. No conceito de felicidade não se pode afirmam o que se deseja e
pretende, não existem palavras definidas e consistentes. A maioria dos teóricos contemporâneos não
acreditaria que o estado de felicidade possa ser alcançado de uma vez por todas e que quando atingido
possa permanecer de uma vez por todas, sem necessidades de esforços adicionais. Perscrutar a respeito
do conceito de felicidade, seus conteúdos históricos e sociais também foi um objetivo mais específico
que permeou a pesquisa. Será que os professores de Ed. Física que atuam na rede escolar pública se
sentem felizes no trabalho? Quais as histórias de vida dos professores de Educação Física que atuam nas
escolas públicas do Recife? O que esses professores entendem pelo conceito “Felicidade” ? A
metodologia de pesquisa pautou-se em dois momentos: primeiro, análise da literatura especializada na
perspectiva de aprofundar o estudo do conceito de felicidade; segundo, análise dos depoimentos
coletados e confronto com os achados bibliográficos na direção de aprofundar teoricamente o estudo
sobre felicidade humana e conhecer com detalhes a percepção dos professores de Educação Física,
público-alvo da pesquisa. Trata-se de uma pesquisa concluída e os resultados são apresentados e
discutidos como pistas para entendermos com maior profundidade o impacto do trabalho escolar na
vida dos professores de Ed. Física. O estudo da felicidade ainda é pouco contemplado no ambiente
acadêmico científico. As teorias que abordam o tema não fazem um paralelo com a realidade social.

350
Trabalhar com os professores da rede pública problematizando a sua realidade contribuiu para um
resultado assaz, contextualizando a realidade vivida. É nesta perspectiva de romper com o teórico e
aproximar com a prática que a pesquisa foi desenvolvida.

766
A PROFISSÃO DOCENTE REPRESENTADA NA IMPRENSA TIJUCANA (ITUIUTABA-MG: 1960-1980)

JENNIFER MARIA PEREIRA MATOS; ISAURA MELO FRANCO.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLANDIA, ITUIUTABA - MG - BRASIL.

O presente trabalho se reporta ao projeto de pesquisa "Educação Escolar e Imprensa (Ituiutaba 1950-
2000)" com apoio da FAPEMIG. Tem como um dos objetivos a construção de um acervo digital com o
conjunto das notícias jornalísticas referentes ao universo escolar no município de Ituiutaba-MG. As
noticias que foram catalogadas pertencem as coleções de jornais constantes no acervo da Fundação
Cultural Municipal. Esse estudo, em específico, baseia-se na leitura das representações sobre a profissão
docente veiculadas nas páginas da imprensa local. O recorte temporal tem relação com a gradativa
expansão das escolas públicas verificadas nesse período alterando o predomínio das instituições
privadas verificado até os anos de 1950. Paralelo ao aumento das escolas, cresceu também o número de
professores no município, assim, acompanhando essa mudança na profissão, a imagem do professor
seria alterada nas páginas dos jornais aqui estudados. Até os anos de 1960, a figura do professor
veiculada era a do missionário a serviço da população, uma profissão de fé, relacionado a questões
assistenciais e pouco politizadas. A representação predominante do professor era a do sujeito sem voz
ativa, disposto a enfrentar as condições de trabalho que lhe eram impostas, reduzindo o seu papel a
missão de educar as massas, independentes de questões salariais, por exemplo. Já nos anos de 1980, no
contexto de redemocratização do país e de elevada inflação, os jornais passaram a apresentar os
professores como proletários na luta por seus direitos, especialmente, vinculando-os as questões
salariais, uma outra visão reducionista de seu papel. A imprensa local dava grande destaque as greves
por salários: “Professores Mineiros ameaçam entrar em greve na próxima semana” (Cidade de Ituiutaba,
07/05/1986) e: “Greve dos professores já obteve grande vitória” (idem, 11/06/1986), ainda:
“Professores prometem deflagrar greve” (idem, 28/04/1987). Compreendemos que os jornais
contribuem para o entendimento do universo escolar de determinado contexto, permitindo abordagens
mais amplas em relação ao fenômeno educacional, possibilitando o estudo de concepções pedagógicas
que circulavam pelo imaginário da população local, veiculando ideais de educação, de professor, de
aluno, etc. Segundo Araújo (2005), a imprensa revela-se fonte impar, pois sua peculiaridade é
apresentar o movimento da história (educacional, social, comercial, industrial, político, literário,
econômico, cultural etc.) em sua dinâmica cotidiana, exatamente como visto por aqueles que controlam
o que se veicula diariamente. Se o jornalismo vive das circunstâncias, e por isso mesmo, seja encarado
como uma fonte suspeita, na verdade é um rico manancial para a investigação em História da Educação.

688
A REFORMA DE INSTRUÇÃO PÚBLICA EM MINAS GERAIS (1906) E A IDÉIA DE MODERNIDADE

VÍVIAN GRASIELLE PEREIRA DE FREITAS.


UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS - UNIMONTES, MONTES CLAROS - MG - BRASIL.

Em nossa pesquisa discutimos algumas características da reforma de instrução pública que ocorreu em
Minas Gerais no Governo de João Pinheiro no ano de1906. Destacamos de maneira geral, como foram
implantadas medidas regulamentadoras da profissão docente e do ensino primário considerando as
idéias de modernidade. Realizamos um estudo qualitativo com características históricas a parir da
reforma de instrução pública que aconteceu em 1906, tendo como fonte primária a legislação –
Regulamento aprovado pelo decreto 1960 e a Lei 439 – de 1906. Além dessas fontes completamos a
discussão buscando alguns dados nos relatórios dos Presidentes do Estado e dialogamos com autores
que estudam a temática e a possibilidade de ter a educação como instrumento civilizatório.Percebemos

351
que as diretrizes dispostas visavam a necessidade de formar o cidadão republicano comprometido com
seus deveres, trabalhador, cumpridor das regras, capaz de atuar na sociedade proporcionando ao país
meios para ingressar na modernidade. Verificamos assim a legislação educacional como forma de
ordenar uma prática social e pedagógica.Nesse momento histórico a educação passou a ser vista como
viabilizadora de tais mudanças, contudo, em Minas Gerais isso aconteceria a partir de um ordenamento
no programa de ensino, na estrutura física, na formação dos professores, enfim era preciso organizar,
capacitar e adequar a educação e seus profissionais às idéias de modernidade. Nesse sentido
identificamos que a reforma propôs critérios de acesso ao magistério e ainda um sistema de
classificação do professor que funcionou como regulamentador da prática docente.Além de especificar
diretrizes para o programa de ensino e para as instituições, criando inclusive os grupos escolares em
Minas Gerais. Com os grupos escolares o Estado mineiro passou a contar com locais estruturados
exclusivamente para a instrução pública. Sobre o programa encontramos conteúdos voltados para
questões cívicas, tais como momento para o hino nacional e asteamento da bandeira, por exemplo. Os
professores deveriam cumprir uma série de critérios ou não podiam ingressar no magistério. Dentre
eles, precisa comprovar ser cidadão brasileiro (nato ou naturalizado). Questões sanitárias também
emergiram com essa reforma. Para atuar no ensino primário era necessário ser vacinado e não sofrer
com nenhuma enfermidade. A capacidade civilizadora da educação bem como as idéias de modernidade
podem ser percebidas e discutidas a partir das diretrizes legislativas aprovadas com a reforma de 1906
no Estado de Minas Gerais.

732
A TRAJETÓRIA DO PROFESSOR FRANKLIN CASCAES NA ESCOLA INDUSTRIAL DE FLORIANÓPOLIS (1941-
1970)

DENISE ARAUJO MEIRA.


UNIVERSIDADE MACKENZIE - IFSC, FLORIANOPOLIS - SC - BRASIL.

Este artigo faz parte de um estudo mais amplo que foi desenvolvido como dissertação de Mestrado no
Programa de Pós Graduação em Educação da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) e que
teve como objetivo problematizar a trajetória e os contornos da prática docente do professor/artista
Franklin Cascaes na Escola Industrial de Florianópolis (atual Instituto Federal de Santa Catarina) no
período de 1941 a 1970. Franklin Cascaes nasceu em 1908, na praia de Itaguaçú, município de
Florianópolis. Em meados dos anos 30, freqüenta o curso noturno do Liceu Industrial de Florianópolis
como aluno ouvinte. Trabalha como auxiliar de mestre, contramestre, na oficina de modelagem. No dia
01 de outubro de 1941, o então aluno passa a condição de Coadjuvante de Ensino no Curso de Desenho,
dando início a uma carreira que iria durar até 27 de novembro de 1970 quando se aposenta. Como
artista/folclorista, sensível ao “desmonte da cidade”, buscou nos relatos dos moradores nativos da Ilha
de Santa Catarina, uma estratégia para registrar “um tempo que estava terminando”. Inicialmente,
discutirei questões relacionadas ao universo vivido por Franklin Cascaes na cidade de “Nossa Senhora de
Desterro”, procurando apreender como pesquisadores, um ex-aluno e o próprio Franklin contam a sua
trajetória como artista/folclorista e como professor da Escola Industrial de Florianópolis. No segundo
momento, procuro a partir do conjunto de documentos que formam a sua pasta funcional, dos relatos
dos antigos alunos vestígios da trajetória do professor Franklin, como funcionário da Escola Industrial de
Florianópolis. Busco também perceber o seu envolvimento em um circuito de sociabilidade, que lhe
permite no período posterior a sua aposentadoria, garantir que o conjunto da sua obra permanecesse
sob a guarda e a tutela do Museu Universitário (UFSC). Por último, a partir de documentos da escrita
cotidiana preservados nos arquivos do Centro Federal de Educação Tecnológica de Santa Catarina e no
Museu Universitário Osvaldo Rodrigues Cabral, tais como caderno de desenho, provas, diários de classe,
além dos relatos orais de ex-alunos, que auxiliam para uma maior aproximação com a prática da sala de
aula, busco compreender aspectos da prática docente de Franklin, que uso fez o professor das normas
que lhe foram impostas e a forma como organizava os saberes. Trata-se de um trabalho de história da
educação que tenta compreender questões relacionadas ao cotidiano da sala de aula através da
trajetória de um professor desde o seu ingresso como aluno até sua aposentadoria como professor da
Escola Industrial de Florianópolis.

352
1355
A TRAJETÓRIA “SEM ESTILO” DE UMA EDUCADORA SANTAMARENSE

PRISCILA LICIA CERQUEIRA.


FSA, ALAGOINHAS - BA - BRASIL.

Este trabalho tem por finalidade destacar a trajetória da educadora baiana Zilda Paim, tal interesse é
mobilizado pelo reconhecimento de que não é possível escrever a história da educação sem mencionar
aqueles que a fizeram e a pensaram. Analisamos a história de vida desta educadora, para resgatar os
seus saberes, seu pensamento pedagógico, em outras palavras, para buscarmos descrever as
imagens/lembranças de como foi se tornar professora na década de 30, no interior da Bahia. Nascida na
cidade de Santo Amaro, sua educação foi marcada por padrões socais no qual o homem e a mulher
tinham papeis definidos, mas desde a infância ela se mostrou adversa aos padrões e na fase adulta se
tornou uma mulher para além do seu tempo. Desbravadora de atitudes, posturas e decisões que a
diferenciava das demais mulheres da sua época, que eram criadas para o casamento e subserviência ao
esposo, ela fez a sua história tornando-se a primeira mulher, a ingressar na esfera política, a assumir a
Presidência da Câmera de Vereadores da cidade, a se divorciar e a exercer durante longo tempo o cargo
de Diretora de uma Instituição Educacional Pública. A idéia de se apropriar de uma parte importante da
formação, desta educadora, possibilitou a reflexão e resignificação das práticas vivenciadas, além
evidenciar as marcas com as quais ela se tornou sujeito na tessitura da história. O conceito de formação
abordado neste artigo não perpassa exclusivamente nos cursos formais de ensino, mas em diversos
contextos que vão dando um sentido singular as dimensões pessoais e profissionais do sujeito.
Acrescenta-se a isso, que ao narrar a sua trajetória, a educadora pode re-elaborar suas experiências
para ter clareza de como se fez e o sentido de ser professora nos anos 30, no recôncavo da Bahia, além
de evidenciar o processo de reformulação, em outras palavras, a reconceitualização que a formação de
professores vem sofrendo no decorrer da história de maneira que o enfoque não considere apenas a
dimensão técnico – profissional, mas a dimensão pessoal do docente.Para tanto, o trabalho foi
estruturado a partir do ponto de vista da história da educação, com a utilização da entrevista narrativa e
pesquisa documental, o que permitiu evidenciar o seu legado para a educação e cultura do recôncavo
da Bahia. Desta forma, este trabalho procura contribuir para a pesquisa em história da educação na
Bahia, levando em consideração o legado da professora Zilda Paim à educação santamarense, e
procurando entender os percursos formativos e as decorrências do seu pensamento pedagógico na
constituição da educação e cultura baiana num espaço-tempo histórico.

828
AS PRIMEIRAS LETRAS EM SERGIPE E OS INDÍCIOS DA PROFISSÃO DOCENTE NO SÉCULO XVIII E XIX

SIMONE SILVEIRA AMORIM; VERA MARIA DOS SANTOS.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE, SÃO CRISTÓVÃO - SE - BRASIL.

A ideia de fazer um texto em parceria materializa a discussão que estamos desenvolvendo no


Doutorado em Educação da Universidade Federal de Sergipe. Uma das pesquisas tem como tema a
mulher e a instrução dos órfãos menores da elite setecentista sergipana e a outra a configuração do
trabalho docente em Sergipe no século XIX. Percebendo a afinidade entre os dois objetos decidimos,
neste texto especificamente, ampliar a discussão sobre o ensino de primeiras, analisando o seu
surgimento, a partir de uma releitura da historiografia sergipana sobre o período colonial e num
segundo momento, perscrutar o estabelecimento dessa modalidade de ensino no século XIX. Considera-
se que o termo Primeiras Letras no XVIII teve uma abrangência e um significado diferente do século XIX,
sendo a análise aqui proposta embasada nessa distinção. O corpo documental que deu suporte para a
elaboração dessa reflexão é constituído por uma vasta bibliografia sobre o período e ainda as legislações
de ensino, ofícios, correspondências de professores e anúncios de jornais. Vale frisar que tal análise
inicial não pode ser desvinculada da realidade do Iluminismo Português, implementado pela Reforma
Pombalina do ensino, que se concretizou a partir da expulsão dos jesuítas e da substituição da sua ação

353
educativa por uma nova dinâmica racionalista. Ressalta-se que essa nova dinâmica racionalista
respeitava a hierarquia eclesial, e ainda subordinava-se ao Estado. Para atender a esse intento foi
utilizada a discussão de Locke por ser um dos filósofos que influenciou sobremaneira, o Iluminismo
Português e discutiu amplamente o significado de educação e instrução no período. Sobre o ensino de
primeiras letras, autores como Adão (1997), Fernandes (1994) e Andrade (1982) são utilizados para
embasar a discussão. Quanto ao século XIX, os autores que referenciam a citada reflexão são Roger
Chartier (1990), Norbert Elias (2001), Pierre Bourdieu (1996), Gondra e Schueler (2008), Vicentini e Lugli
(2009). Estes respaldam a discussão em torno de que havia uma constante discussão a respeito da
necessidade de haver uma normatização do magistério, de criação de cadeiras públicas para o ensino
primário e um investimento na formação de professores em novos métodos. O Estado procurava
interferir nas tentativas de delimitação do espaço de atuação dos professores a fim de estabelecer
valores e práticas que deveriam permear a atuação deles. No entanto, através da análise das fontes,
percebeu-se que havia uma convivência de práticas e que houve um processo de profissionalização do
magistério. Assim essa discussão se alicerça e nos possibilita a compreender as “vozes” correspondentes
aos diferenciados sujeitos sociais que vivenciaram a instrução no século XVIII e XIX.

1148
AUTOMAÇÃO DO TRABALHO DOCENTE: EAD EM QUESTÃO

SAMIRA SAAD PULCHÉRIO LANCILLOTTI.


UEMS, CAMPO GRANDE - MS - BRASIL.

Este trabalho deriva de tese de doutorado, defendida no programa de pós-graduação em Educação da


UNICAMP, em fevereiro de 2008. Objetivou-se, com a pesquisa, o estabelecimento da análise histórica
da constituição do processo de trabalho docente. Na persecução do objetivo, tomou-se como ponto de
partida o estudo da categoria trabalho, nos escritos marxianos e marxistas. Com respeito ao trabalho
docente, Marx teceu breves considerações e um dos aspectos que se salientam de seus escritos é o de
que a produção docente se coloca como imaterial, por ser uma produção que não se separa do ato de
produzir, não se materializa em um produto. Para ele, quando comparadas ao conjunto da produção
capitalista, as formas imateriais de produção são insignificantes, secundárias, por não permitirem o
aprofundamento de sua subsunção real, ou a aplicação plena do método mais avançado de produção
capitalista, a maquinaria. Essa é a análise de Marx, no contexto histórico do século XIX, quando também
afirmou que o capital se move, permanentemente, no sentido de subsumir o trabalho sob a forma mais
avançada. A assertiva foi tomada como provocação para a apreciação dos impactos dos avanços
materiais alcançados na sociedade contemporânea sobre o processo de trabalho docente. Chegou-se,
no último terço do século XX, a um novo patamar tecnológico na produção industrial, com a aplicação
da automação de base microeletrônica, a que Moraes Neto denominou de automação flexível.
Associada aos avanços informacionais e comunicacionais, essa forma avançada de automação tem
permitido a objetivação, na máquina, não só da habilidade e força manual, como se deu com a
revolução industrial do século XVIII, mas também do engenho humano, da capacidade intelectual, que
distingue o homem dos outros animais. O trabalho docente avançou, paulatinamente, da forma
artesanal à manufatureira, que ainda prevalece no tempo presente, conforme discussão de Alves.
Considera-se que o patamar tecnológico alcançado coloca a base técnica necessária ao capital, para
avançar na subsunção real do trabalho docente em sua forma mais desenvolvida, ou seja, permite
presumir a automação de amplas parcelas do trabalho docente, ao menos nos níveis mais avançados de
ensino. Na medida em que esse trabalho se objetiva, fica disponível para uso/consumo independente
pelo aluno, o que torna o trabalho do professor acessório. O coroamento do ideário liberal na esfera do
ensino está ligado à possibilidade de instauração da autodidaxia. A análise da EaD, modalidade
educacional alicerçada sobre novas bases tecnológicas, é ilustrativa da tendência de automação do
trabalho docente, do avanço expressivo do capital na sua subsunção real.

383
AÇÃO COLETIVA DE PROFESSORES EM TEMPOS DE TRANSIÇÃO DEMOCRÁTICA: IMPACTOS E IMPASSES

354
LIBANIA NACIF XAVIER.
PPGE-UFRJ, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL.

A comunicação é fruto de pesquisa iniciada no pós-doutoramento realizado junto à Universidade de


Lisboa e a estudos posteriores que abordam os modelos de associativismo docente que tiveram curso
no Brasil e em Portugal, no período de transição democrática. Toma como base teórica o estudo das
ações coletivas e dos movimentos sociais (Cf: Vianna:1999 e Gohn:2008) que, em nossa opinião,
constitui abordagem privilegiada para se observar as tensões que marcaram os processos de
profissionalização / desprofissionalização da categoria docente (Cf: Nóvoa:1987 e Enguita:1991). Esses
dois conceitos estão sendo entendidos como duas faces da trajetória da categoria profissional dos
professores, cuja história é marcada pela tensão entre a missão heróica de forjar o futuro da nação de
acordo com a ideologia de Estado e o desejo de direcionar o seu poder de influência para um projeto de
mudança social no qual o protagonismo docente venha a ocupar papel de relevo. A análise do
repertório de ações coletivas (Tilly:1978) promovidas no período que antecedeu a fundação dos
sindicatos dos professores públicos – brasileiros e portugueses – durante a década de 1970, nos permite
observar aproximações e distanciamentos. No que tange às expectativas de promover mudanças
políticas e pedagógicas, a valorização de modelos de organização social de cunho socialista e/ou
comunista e a busca de informações a respeito da organização do ensino nesses países se apresenta
como um ponto comum. Por outro lado, os recursos utilizados para pressionar os poderes
governamentais e as estratégias de expansão das bases de apoio aos movimentos de contestação
docentes foram muito peculiares em cada país. No Brasil, a expansão das organizações sindicais nos
estados e sua rápida articulação em nível nacional viabilizaram uma negociação institucionalizada para
com as autoridades governamentais. Nesse contexto, o recurso à greve e as reivindicações de
recomposição salarial funcionaram como eixos aglutinadores da categoria e mote para angariar a
simpatia da chamada opinião pública. Contrariamente, em Portugal, as relações entre os professores e
as autoridades governamentais estiveram fora de controle durante o chamado período revolucionário
(1974-1976) quando as escolas públicas -- em particular os liceus – se transformaram em fóruns
permanentes de discussão e deliberação coletiva dos professores em um contexto de marcada
instabilidade político-institucional. Por fim, os impactos da ampliação e aprofundamento da atuação
política do professorado público dos dois países se aproximam no que tange às bandeiras genéricas de
democratização da gestão das escolas e de regulamentação da carreira profissional. Contudo, a
conquista dessas e de outras bandeiras, alcançadas em níveis diferenciados em cada país, não conseguiu
conter as oscilações presentes nos processos de profissionalização / desprofissionalização da categoria
docente, como se pode depreender das análises desenvolvidas em pesquisas recentes.

1339
CAMINHOS DO SINDICALISMO: TRAJETÓRIA DE VIDA DE PROFESSORES DO SEPE – NOVA IGUAÇÚ

ANDRÉA CRISTINA OLIVEIRA DUARTE DE SOUZA SANTANA DA SILVA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL.

A história da profissão docente tem se constituído em um tema bastante fértil para as pesquisas em
História da Educação. Desdobra-se em uma variedade de sub-temas indicando um solo fértil ainda a ser
explorado. Neste sentindo, as formas de organização dos professores são à base desta comunicação.
Portanto, pretende-se analisar através do tema “História de vida/ Trajetória de vida”, as relações entre a
dimensão política da profissão docente e os fatores que colaboraram para que os professores em foco
aderissem à política através de sua participação no Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do
município de Nova Iguaçu Nova Iguaçu - SEPE. Para tanto, o estudo consiste em um trabalho de
investigação que relaciona história de vida, socialização, formação e política. Desenvolve, ainda, uma
reflexão sobre a trajetória escolar e profissional dos pesquisados. Com isso, queremos ressaltar a
importância de suas escolhas frente a sua profissão e suas relações com as configurações familiar,
escolar e sindical. Ou seja, pretende-se compreender se esses espaços sociais vivenciados pelos sujeitos
de nossa analise estão de algum modo atravessados por algum tipo de socialização que os tenha levado

355
a uma atuação política mais ativa. A proposta do estudo procura analisar através de entrevistas a
trajetória social de oito professores que estão na liderança do SEPE de Nova Iguaçu. Tem como objetivo:
a) verificar em que medida a escolarização dos pesquisados influenciou sua opção pela carreira e pela
militância no sindicato; b) entender se as dificuldades cotidianas da carreira determinaram a adesão
pela política sindical; c) observar se a militância no SEPE é fruto de socializações anteriores (experiência
familiar, grêmios, associações religiosas, movimentos sociais e movimentos culturais). Trabalhar com
historia de vida nos aproxima da realidade subjetiva dos indivíduos, pois nos ajuda a compreender as
formas de socialização por eles vivenciadas, as estratégias e as escolhas cotidianas das famílias e dos
próprios entrevistados, sua entrada para o magistério e posteriormente para o sindicato. Ao mesmo
tempo, os conceitos de capital social e cultural e de disposição social permitem, em certa medida,
observar o quanto essas subjetividades são dependentes do meio social, bem como do volume de
capital que esses mesmos sindicalistas poderiam possuir. Buscamos em certas leituras que se
relacionam à “identidade docente”, algumas análises da construção da identidade através de histórias
de vida. Uma modalidade de investigação que proporciona ao pesquisador uma gama de inferência para
entender a atuação do professor no seu cotidiano. Queremos dizer com isso, que o estudo da história
de vida/ trajetória de vida permite a compreensão de algumas disposições pedagógicas e políticas do
professor.

609
CIRCULARIDADE DE MODELOS PEDAGÓGICOS E FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA
EM BELO HORIZONTE: VESTÍGIOS DE PRÁTICAS NO ACERVO DO CEMEF/UFMG (1950-1980)

TARCÍSIO MAURO VAGO; ANDREA MORENO; ANA CAROLINA VIMIEIRO GOMES; MEILY ASSBÚ LINHALES.
UFMG, BELO HORIZONTE - MG - BRASIL.

O objeto desta pesquisa é a formação de professores na Escola de Educação Física da UFMG, em Belo
Horizonte, de 1950 a 1980. Temporalidade que compreende a criação da Escola de Educação Física de
Minas Gerais, a primeira no Estado, em 1953; a sua condição de instituição híbrida (estadual e privada,
de 1953 a 1969), depois incorporada à UFMG, em 1969, pelo governo militar; a constituição de seu
corpo docente e sua capacitação em nível de pós-graduação; as reformas curriculares; a promoção de
eventos internacionais; o estabelecimento de intercâmbios com instituições estrangeiras; a intensa
produção de documentos pela (e para a) Escola de Educação Física. Há indícios de que neste período a
Escola foi constituindo seu projeto de formação de professores a partir da circulação e (re)apropriação
de modelos pedagógicos e científicos oriundos de instituições similares brasileiras e estrangeiras
(Estados Unidos e Alemanha). Nosso objetivo é então examinar esta dinâmica e para tanto a pesquisa
estrutura-se em eixos temáticos: 1) as Jornadas Internacionais de Estudos de Educação Física, realizadas
de 1958 a 1962, com participação de professores de diversos países, convidados para ministrar cursos e
proferir palestras; 2) o programa de cooperação técnica entre a Escola de Educação Física da UFMG e o
Convênio de Assistência Técnica Brasil/Alemanha, patrocinado pelo então Departamento de Educação
Física e Desportos (DEED) do MEC, na década de 1970; 3) o incentivo do DEED para a criação do
Laboratório de Fisiologia do Exercício na Escola, em 1976; 4) as reformas de seu currículo no período; 5)
os dispositivos didáticos produzidos por seus professores; 6) os cursos de treinamento e pós-graduação
realizados pelo seu corpo docente em países como EUA e Alemanha. A partir destes eixos mobilizam-se
fontes encontradas no acervo do CEMEF (Centro de Memória da Educação Física, do Esporte e do Lazer
da UFMG), como livros, atas, ofícios, programas curriculares, manuais, periódicos, cartilhas, registros de
professores e de alunos, relatórios, cartas, reportagens, discursos, fotografias, artefatos pedagógicos,
películas, dentre outros, que trazem vestígios de como circularam modelos pedagógicos e científicos
que fundamentaram o processo de formação de professores de Educação Física em Belo Horizonte.
Ancorada em procedimentos da História Cultural, a pesquisa dialoga com estudos sobre História da
Ciência, da Educação e da Educação Física, especialmente aqueles voltados para a formação de
professores, assumida aqui como movimento que comporta reconfigurações e reapropriações de
acordo com interesses e demandas de protagonistas enredados em circunstâncias políticas, econômicas
e sociais a serem deslindadas. A pesquisa está em andamento, realizada pela equipe do CEMEF/UFMG, e
financiada pela FAPEMIG.

356
1265
CONSIDERAÇÕES SOBRE AS CONCEPÇÕES DE FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES NA
PROPOSTA DO PROGRAMA PRÓ-LETRAMENTO: 2005/2009

LEONEIDE MARIA BRITO MARTINS.


UNESP - UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA - FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS, MARÍLIA - SP -
BRASIL.

Com o objetivo de contribuir para a compreensão de aspectos relacionados à história da formação de


professores no Brasil, apresentam-se neste texto considerações sobre as concepções que norteiam a
formação continuada de professores na proposta do programa Pró-Letramento, na área de
alfabetização e linguagem, como resultados parciais de pesquisa de doutorado em educação,
desenvolvida junto ao Programa de Pós-Graduação em Educação, da FFC-Unesp-Marília, vinculada às
linhas “Formação de professores” e “Alfabetização”, do Grupo de Pesquisa e dos Projetos Integrados de
Pesquisa “História do Ensino de Língua e Literatura no Brasil” e “Bibliografia Brasileira sobre História do
Ensino de Língua e Literatura no Brasil (2003-2011)” (auxílio CNPq), coordenados pela Profª. Drª. Maria
do Rosário Longo Mortatti. Analisam-se alguns aspectos da configuração textual do Projeto Básico do
Programa Pró-Letramento, que trata das diretrizes e estrutura do programa, e dos sete fascículos que
compõem a Coleção Pró-Letramento, na área de alfabetização e linguagem, e o conjunto de materiais
didáticos destinados à formação de professores das séries iniciais do ensino fundamental, publicados
pelo MEC, em 2006, e que constituem o corpus da pesquisa. Mediante abordagem histórica, centrada
em pesquisa documental e bibliográfica, desenvolvida por meio da utilização dos procedimentos de
localização, recuperação, reunião, seleção, ordenação de fontes documentais e de bibliografia
especializada sobre o tema de investigação, procedeu-se à análise da configuração textual do Projeto
Básico do Pró-Letramento e dos sete fascículos, na área de alfabetização e linguagem. A proposta do
Pró-Letramento de formação continuada de professores tem suas bases teóricas em Donald Schön, Ken
Zeichener e António Nóvoa, quando situa a formação de professores na perspectiva de formar
profissionais reflexivos. Até o momento foi possível constatar que a formação continuada de
professores precisa ser tematizada, de modo que não incorpore uma mera ação compensatória para
suprir as deficiências da formação inicial, seguindo um “modelo aplicacionista”, por meio de atividades
concretizadas em material didático ao professor que atua nas séries iniciais do ensino fundamental de
escolas públicas, posto que não se trata apenas de formar professores para uma área específica, mas de
considerar um conjunto de fatores que constitui historicamente as políticas públicas de formação de
professores no Brasil, na tensão entre continuidade e descontinuidade.

638
CONTRIBUIÇÕES PARA A HISTÓRIA DA PROFISSÃO DOCENTE NA REGIÃO NORTE DO CEARÁ NA
SEGUNDA METADE DO SÉCULO XX: O MEMORIAL DA PROFESSORA NOÉLIA FIALHO

JOSÉ EDVAR COSTA DE ARAÚJO.


UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ- UVA, FORTALEZA - CE - BRASIL.

A pesquisa em desenvolvimento integra o projeto “Instituições, Educadores e Práticas Educativas na


Região Norte do Ceará - História e Memória”, executado por integrantes do MEDUC – Grupo de
Pesquisa História e Memória Social da Educação e da Cultura. O objetivo geral é desenvolver
investigações, fazer registros, organizar acervos e produzir ensaios sobre a história de instituições
educativas, perfis biográficos de educadores e práticas educativas significativas em municípios
localizados na área de influência da Universidade Estadual Vale do Acaraú, um contexto sociocultural
formado por mais de duas dezenas de municípios. Esta atividade investigativa faz parte da negociação
entre os grupos de pesquisa em história e memória da educação das universidades públicas do Ceará
visando a construção de um projeto de pesquisa interinstitucional. O estudo sobre a professora Noélia
Fialho, compreendendo o período entre 1950 e 2000, justifica-se pelo fato dela representar, no universo

357
pesquisado, uma das mais destacadas representantes do modelo de educadora que está no magistério
desde a adolescência; que fez sua formação sistemática e universitária após já deter um grande cabedal
de conhecimento, decorrente do exercício do magistério na pequenina escola particular, em escolas
isoladas e grupos escolares; de ter atuado também na gestão escolar e na implantação de políticas. O
estudo de sua trajetória traz copiosas informações sobre as formas de organização da escola e do
trabalho escolar, sobre os processos de formação e acompanhamento dos professores no exercício
profissional, sobre a introdução de materiais de práticas de ensino, sobre a constituição da profissão
docente no ensino fundamental no município de Sobral e na Região Norte do Ceará. A pesquisa, cujos
resultados parciais ora serão comunicados, fundamenta-se na reconstituição da trajetória pessoal e
profissional da Profª. Noélia Fialho com base nos seguintes materiais: um detalhado memorial
cronológico organizado por ela própria, em que registra fatos considerados os mais marcantes em sua
carreira profissional, documentando-os com fotografias, recortes de jornais, bilhetes, comentários,
ofícios e outros tipos de documentos; um conjunto de depoimentos autobiográficos que estão sendo
registrados em vídeo. Este material autobiográfico é confrontado com informações provenientes de
outras fontes: depoimentos de professores seus contemporâneos, notícias de jornais da época,
documentos da política educacional e estudos históricos sobre o período. A pesquisa terá como
produtos finais: a publicação do memorial e os estudos sobre ele; a organização das fontes encontradas
e sua disponibilização para pesquisadores.

1115
CONTROLE, REGULAÇÃO E RESISTÊNCIA NA CONFIGURAÇÃO DA PROFISSÃO DOCENTE NO ESPÍRITO
SANTO NO INÍCIO DO SÉCULO XX: A LIÇÃO DA PROFESSORA JOANNA PASSOS

ANDREA BRANDÃO LOCATELLI; ARIADNY BEZERRA; REGINA HELENA SILVA SIMOES.


UFES, VITORIA - ES - BRASIL.

A pesquisa teve como objetivo analisar o processo de demissão, por “má conduta”, da Professora
Joanna Passos, ocorrido no contexto da Reforma Educacional¬ (1908-1909)- -orientada pelo Inspetor
Geral da Educação, o paulista Gomes Cardim – durante o governo de Jerônimo Monteiro (1908-1912) no
Estado do Espírito Santo. Interessou-nos investigar o “caso” Joanna Passos no contexto das pretendidas
homogeneidade e harmonia, associadas à moralidade, que constituíram as diretrizes da docência na
reforma do ensino capixaba no início do século XX. Assim, os desdobramentos da luta empreendida pela
professora contra o poder público, mostraram-se capazes de descortinar tensões entre forças
autoritárias do coronelismo local, ideias de modernização republicana, especialmente no campo da
instrução pública, tentativas de controle sobre a docência no decorrer do processo de instauração de
governos republicano no estado e a resistência expressa nas ações e denúncias da professora demitida
contra o poder instituído. Nesse contexto, o “caso” da professora capixaba Joanna Passos, ofereceu-nos
pistas para investigarmos as tentativas de controle da profissão docente nas suas dimensões
profissionais e pessoais, expectativas, ambigüidades e decepções que marcaram os primeiros tempos
republicanos no Brasil. Joanna Passos exerceu o magistério na localidade de Regência, no estado do
Espírito Santo. Foi demitida em 1909 quando ocupou as primeiras páginas dos jornais capixabas,
dizendo-se vítima de injuriosas e falsas acusações, feitas sob os chamados inquéritos clandestinos, que
recaiam tanto sobre a sua conduta profissional, quanto sua conduta moral no exercício da docência,
tendo, até mesmo, a sua virgindade posta à prova. Ela ainda apontou ser perseguida pelo inspetor Sr.
Alberico Lyrio dos Santos, que pretendia favorecer o “posto” de Regência a pessoa de sua família.
Indagamos, portanto, de que forma a situação vivida pela professora Joanna Passos nos ajuda a
compreender formas de controle exercidas sobre professores e professoras capixabas no período
estudado, na interface com políticas locais no campo da instrução pública. Em nossas análises,
dialogamos com o pensamento de FOUCAULT (1975), especialmente quando trata das idéias de punição
e vigilância; com os ideais de formação de professores que circulavam nas décadas iniciais da República
no Brasil (VILLELA, 2000); e com as relações de forças que movimentam a história (GINZBURG, 2002). Em
síntese, ao problematizar o “caso” Joana Passos, interrogamos mensagens de governo, relatórios da
instrução pública, jornais e obras historiográficas sobre o Espírito Santo (OLIVEIRA, 1975;
VASCONCELLOS, 1995) - na tentativa de compreender as tensões expressas nas visões de uma

358
professora, dos seus detratores e dos seus defensores, na configuração de práticas de controle e
regulação da profissão docente no Espírito Santo no início do século XX.

1315
DISCURSOS SOBRE A CONDIÇÃO DOCENTE NA ESCOLA PRIMÁRIA NAS PRIMEIRAS DÉCADAS DO
SÉCULO XX NO ESTADO DO PARANÁ

CRISTIANE DOS SANTOS SOUZA.


UFPR, CURITIB - PR - BRASIL.

A transição do século XIX para o XX foi marcado por importantes debates em torno da instrução pública
em todo o país, entre eles o papel do docente para as séries iniciais. No estado do Paraná, assim como
em outros estados brasileiros, o processo de feminização do magistério foi um acontecimento que
provocou significativos estudos na História da Educação, a entrada da primeira mulher na Escola Normal
em Curitiba, deu-se em meio a reivindicações. Gradativamente, os bancos da Escola Normal foram
preenchidos prioritariamente pela presença feminina e, paralelamente percebemos um relativo
afastamento do interesse masculino neste tipo de formação. Verificamos que vários discursos
contribuíram para fortalecer a representação da mulher como a mais apta para o ensino nas séries
iniciais, as justificativas foram construídas, em parte, pela aproximação do papel materno ao da
professora, atribuindo a esta última, uma espécie de maternidade cívica. Em relação ao professor,
debates em torno de questões salariais contribuíram para um relativo afastamento dos homens neste
nível de ensino, dada a representação construída à condição masculina que reservava ao homem o
papel de provedor da família. Procurando compreender estas diferentes representações,este trabalho
pretende verificar os discursos elaborados em torno da condiçãomasculina e feminina que contribuíram
para direcionardeterminados espaços de trabalho como inerentes ao homem ou à mulher,
especificamente observando a transição ocorrida entre professores e professoras do ensino primário no
estado do Paraná. A interlocução teórica escolhida para analisar estas questões pauta-se em estudos de
Skinner procurando verificar como os sentidos, valores e crenças foram construídos. Ao analisar os
discursos produzidos para autorizar determinadas crenças, concordamos com Skinner que “utilizamos a
nossa linguagem não apenas para comunicar informação, mas, simultaneamente, para atribuir
autoridade àquilo que dizemos...”(2005, p. 7) provocando as condições necessárias para o exercício do
controle social. Sobre o período escolhido, este reflete significativa preocupação em torno das questões
aqui já apresentadas, polêmicas estas publicadas em forma de artigos e entrevistas nos principais
jornais em circulação no Estado do Paraná. Estes jornais somados a revista A Escola e, ao livro do
professor Raul Gomes, Missão e não profissão! constituem as principais fontes investigadas para as
interpretações e sentidos construídos neste trabalho.

1348
DO COMO ENSINAR AO COMO A CRIANÇA APRENDE: IMPLICAÇÕES NA FORMAÇÃO DO PROFESSOR
PRIMÁRIO NAS PRIMEIRAS DÉCADAS DO SÉCULO XX

SHIRLEI TEREZINHA ROMAN GUEDES.


SEED/PR, NOVA LONDRINA - PR - BRASIL.

Essa comunicação apresenta algumas conclusões com base no estudo realizado sobre os sentidos da
Prática de Ensino na Escola Normal. Tem como objetivo discutir as implicações ocorridas com o
deslocamento no foco da formação do professor primário do como ensinar para o como a criança
aprende. Com a República, o direcionamento da formação do professor acontecia via Prática de Ensino
na Escola Modelo segundo as orientações da reforma paulista de 1890. Nas primeiras duas décadas da
República, ocorreu um fortalecimento da Prática de Ensino na Escola Modelo e inúmeras possibilidades
foram vislumbradas com a adoção do Método Intuitivo, a construção de prédios escolares vultosos em
contraposição às aulas ou cadeiras públicas, que funcionavam em casas ou locais improvisados. Além
disso, a possibilidade de fazer aparecer e acontecer a carreira do magistério parecia dar nova vida tanto

359
à Escola Normal quanto à Prática de Ensino. Foi nessa perspectiva que a Escola Normal se consolidou
nos primeiros anos da República. No entanto, entre os anos de 1910 e o início dos anos de 1920, a
Escola Normal e a Escola Modelo incorporaram os problemas e desgastes que a educação pública
enfrentou nos primeiros anos da República provocando mudanças na formação do professor. Depois de
mais de vinte anos sob a tutela dos professores da Escola-Modelo, retomou-se a idéia de praticar para
aprender a ensinar. Da ênfase na visibilidade que o Método de Ensino Intuitivo pregava, retomou-se a
valorização da experiência do observar para fazer. Nesse direcionamento, a Prática de Ensino, que
deveria ser a disciplina nuclear do currículo, ficou reduzida a atividades burocráticas cumpridas pelos
alunos como meros exercícios formais. Assim, realizada sob a perspectiva de demonstração, não
atendia, naquele momento, às necessidades de formação do professor. Os debates educacionais da
década de 20 do século XX, com base nos princípios educacionais da escola ativa, projetavam um novo
professor vinculado aos novos princípios educacionais, com novos conhecimentos. Após um período em
que a preocupação era com o “como ensinar” e, por decorrência, marcadamente, o predomínio do
ensino do método aos professores em formação, depois de 1920, o foco desloca-se para o “como a
criança aprende”. A crença de que a melhoria da escola primária estava intimamente ligada a uma
competente formação do professor, impulsionava e abria espaço a um novo olhar para a Escola Normal,
para a formação do professor e para a Prática de Ensino. No foco dos debates acerca da educação
pública, reapareceram as discussões sobre a função da Escola Normal e sua importância na formação do
professor. O anseio educacional da década de 1920 do século XX, de garantir uma competente escola
primária, impulsionou os debates sobre a formação do professor primário com a perspectiva da escola
nova.

400
DONA LINDAMIR: UMA VIDA A SERVIÇO DA EDUCAÇÃO

ALBONI MARISA DUDEQUE PIANOVSKI VIEIRA.


PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ - PUCPR, CURITIBA - PR - BRASIL.

O estudo trata da relação entre a formação docente e a prática pedagógica, a partir da história de vida
de uma educadora que fez seus estudos na Escola de Professores, atual Instituto de Educação do Paraná
“’Professor Erasmo Pilotto”, em Curitiba, e atuou como professora na educação infantil, no ensino
primário, ginasial e no curso de formação de professores em nível médio, tendo exercido também
funções de gestão em estabelecimentos de ensino no interior do estado do Paraná. O recorte histórico
corresponde a um período de quarenta anos, a partir de 1939, quando a educadora iniciou seus estudos
para o magistério. É relevante observar que esse período coincide com a aceleração do processo de
urbanização e o desenvolvimento da indústria, no Brasil; sob a ótica pedagógica, as diversas correntes
da Escola Nova permeavam a formação e a prática docentes, em especial nas Escolas Normais. No
Paraná, o professor Erasmo Pilotto havia elaborado um plano de formação para o magistério, de acordo
com o qual a Escola de Professores seria um centro de cultura educacional, destinado à investigação dos
problemas da educação e a realizações pedagógicas de impacto na sociedade. Os professores nela
formados seriam os arautos de uma concepção pedagógica inovadora e do compromisso com a função
social da educação, nos municípios em que viessem a exercer seu magistério. Na gestão escolar,
propugnava-se por um administrador que tivesse, entre suas atribuições, não só a gerência da escola,
mas também a do processo pedagógico. Metodologicamente, a pesquisa consiste em um estudo de
caso, com apoio na história de vida. Como fundamentação teórica para os estudos sobre a Escola Nova,
constituíram referência os trabalhos de Teixeira (1961), Lourenço Filho (1963) e Miguel (1997); quanto
às histórias de vida de professores, inspirou-se em Nóvoa (1992) e García (1992); no que respeita às
fontes, como orienta Bloch (2002), foram analisados e interpretados os vestígios deixados pela trajetória
da educadora em sua vida. Os dados foram obtidos por meio de fontes bibliográficas, legislativas,
documentais e orais. Recorreu-se às fontes primárias consubstanciadas nos livros de atas, boletins e
registros escolares dos estabelecimentos em que a educadora atuou. A bibliografia que lhe serviu de
formação, na Escola de Professores, entre as décadas de 30 e 40, foi igualmente considerada. O estudo
valeu-se, ainda, de entrevistas realizadas com ex-alunos e profissionais que com a educadora
conviveram. Outras fontes, como discursos pronunciados, cadernos escolares, registros de festividades

360
escolares, foram agregadas ao estudo. Concluída a pesquisa, verificou-se que a formação profissional da
educadora em apreço, num momento em que a Escola de Professores do Paraná adotava a pedagogia
da Escola Nova, sob a liderança de Erasmo Pilotto, refletiu de maneira indelével na sua concepção
pedagógica e na prática docente objetos deste estudo, tanto em sala de aula como na gestão escolar.

1263
ENTRE FREGUESIAS E COMARCAS: MOBILIDADE ESPACIAL DE PROFESSORAS E PROFESSORES NA
PROVÍNCIA DE MINAS GERAIS
1 2
CECÍLIA VIEIRA DO NASCIMENTO ; RAQUEL MENEZES PACHECO .
1.UFMG, BELO HORIZONTE - MG - BRASIL; 2.FACULDADE DE EDUCAÇÃO, BELO HORIZONTE - MG -
BRASIL.

Esta pesquisa, ainda em andamento, surgiu da junção de interesses de pesquisadoras em diferentes


momentos de formação (iniciação científica e doutorado), mas com uma inquietação em comum: a
recorrência com que professores e também professoras se movimentavam entre os diversos vilarejos e
cidades da província mineira e até entre outras províncias brasileiras; os deslocamentos destes sujeitos
dentro das próprias províncias, buscando ruas e regiões hierarquicamente privilegiadas; ou até mesmo
mudanças de conteúdos ministrados. Pesquisando trajetórias de mulheres professoras no decorrer do
século XIX, bem como aspectos educacionais difundidos por alguns periódicos que circularam na
província mineira nos oitocentos, entramos em contato com uma diversidade significativa de fontes,
como jornais, almanaque, mapas de professores e professoras, ofícios ligados à instrução, relatórios,
relatos de viajantes, além de alguns estudos concluídos e fomos percebendo que a prática de
transferência de professores e professoras de uma localidade a outra esteve presente também na
colônia, quando havia um número significativo de pedidos de transferências e esses raramente eram
aceitos pela Coroa, pois esta não julgava as justificativas dos pedidos convincentes. Contudo, eles já se
faziam presentes e, no decorrer do século XIX, passaram a ser sistemáticos. Uma hipótese que temos
elaborado diz respeito ao fato de a transferência entre professores e professoras coincidir com o
próprio surgimento dessa função. Em decorrência desse fato, nos questionamos sobre o que motivava
tais deslocamentos e quais as implicações dessa mobilidade para a prática docente. De forma incipiente,
temos percebido que a circulação de professores e professoras parece-nos, inclusive, uma forma de
aproximação com regiões em que realmente gostariam de estar e de viver. De maneira parecida, mas
em um contexto bastante diferenciado, sem anacronismos, podemos perceber a permanência da
prática do deslocamento entre professores e professoras da atualidade, mas agora no ensino superior.
Esses, mesmo passando anos de suas vidas estudando, formando um perfil acadêmico, não encontrando
espaços nas universidades públicas das grandes capitais, e são atraídos pelas redes de ensino
particulares da capital ou acabam migrando para outras cidades e estados onde haja uma maior
possibilidade de inserção no trabalho. Em que pese o pouco aprofundamento do estudo, acreditamos
que ele possa contribuir para as discussões do eixo temático História da Profissão Docente.

673
ENTRE QUEIXAS E RECLAMES: PROFESSORES(AS) DE JUIZ DE FORA EM EXAMES ESCOLARES

MARCELO GOMES DA SILVA.


UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL.

Este trabalho,parte de uma pesquisa em andamento, tem por objetivo discutir os processos de
recrutamento e as relações de poder aos quais estavam submetidos os professores primários na cidade
de Juiz de Fora, no início da República. Para tanto, partiu-se do estudo de um caso ocorrido com Maria
Ottilia Lopes, professora da cidade. Em certas épocas do ano, as escolas eram submetidas aos exames
escolares, cujo processo se dava pela composição de uma banca examinadora formada pelo Inspetor
Municipal de Ensino e outros professores da cidade, que visitavam as escolas e avaliavam os alunos e
professores(as). Em novembro de 1901, Maria Ottilia Lopes teve sua escola examinada e assim que “...
encerrados os trabalhos escolares, lança o Sr. Inspetor contra mim (...) as mais ásperas e descortezes

361
censuras, as mais deprimentes e descabidas insinuações, a mais severa e injusta admoestação”. Essas
palavras foram escritas por ela em uma carta enviada ao Agente Executivo Municipal (Presidente da
Câmara) como uma “queixa” contra o Inspetor. A professora ainda enviou uma carta para cada um dos
professores que compuseram a banca para afirmar sua versão dos fatos. A partir desse caso, é possível
pensar algumas questões. Primeiramente, pode-se indagar sobre o processo de recrutamento ao qual
eram submetidos os professores(as) para ocuparem cadeiras públicas no período. Exigia-se, por
exemplo, atestados de moralidade, idoneidade, expedidos pelos párocos das localidades e pelos
delegados de polícia Tendo o fato ocorrido durante os exames escolares, uma segunda questão é posta:
como se dava a escolha dos professores que iriam compor a banca examinadora? No Arquivo da
Prefeitura de Juiz de Fora, encontram-se listas de examinadores em diferentes anos. A partir do
cruzamento das mesmas percebe-se a recorrência de alguns nomes, ou seja, o revezamento dos
professores que seriam examinadores era restrito a um grupo, não eram todos os professores da cidade
que chegavam a ocupar o cargo. A análise das atas dos exames escolares revelou outros casos ocorridos
na cidade, dentre eles, um em que outra professora foi duramente criticada pela banca examinadora,
sendo sugerido pelo Inspetor, neste caso, que a mesma fosse transferida para uma escola mais distante
da região urbana, como “punição”, ficando em seu lugar, uma normalista que havia composto a banca
examinadora. A partir disso questiona-se a legitimidade dos processos de exames escolares. O caso de
Maria Ottilia Lopes nos ajuda a pensar que os professores(as) não incorporavam os resultados de
maneira obediente, além de possibilitar inferências importantes de serem tratadas para o entendimento
das prescrições e interdições as quais os professores(as) eram submetidos.

798
ESCOLAS COMPLEMENTARES PARA FORMAR PROFESSORES: DISCURSOS E RELAÇÕES DE PODER

TONY HONORATO.
UEL/FCL-UNESP/FUNDAÇÃO ARAUCÁRIA, LONDRINA - PR - BRASIL.

O objetivo consiste em, a partir das reformas da instrução pública paulista e dos discursos dos
reformadores na Câmara dos Deputados na última década do século XIX e início do século XX,
interpretar o processo de criação das escolas complementares no interior do Estado de São Paulo. A
criação das escolas complementares foi prevista na Reforma da Instrução Pública, sob a Lei n° 88 de
1892. O curso complementar seria destinado aos alunos habilitados nas matérias do ensino preliminar,
cumpriria a lacuna existente entre o ensino preliminar e o secundário, ofertando um grau intermediário
alimentado por um programa de ensino propedêutico para encaminhar o espírito do aluno para um
grau elevado em ênfase teórica. Nestes moldes as escolas complementares tornaram-se
estruturalmente inexequível ao Estado paulista e somado ao velho problema da falta de professores no
interior, os reformadores se defrontaram com uma conjuntura a ser alterada. Pois, como criar o curso
complementar sem ao menos subsidiar com professores as escolas primárias? A instituição pública
responsável por formar professores era a modelar Escola Normal da Capital, a ação republicana de
centralizar a formação docente em uma única instituição não acontecera com a eficiência e rapidez
esperada para atender a capital e o interior do Estado. Como desdobramento nota-se no discurso dos
reformadores no legislativo a proposta de novos núcleos para formação de professores. Mas se até
então não foi possível criar as escolas normais no interior, também prevista em lei, então qual era à
saída encontrada com semblante de inovação pelos republicanos paulistas para formar professores? É
este o problema tratado neste estudo concluído, ora apresentado. Como metodologia tomou como
referência o constructo de Norbert Elias (1980; 1993; 1994) para uma interpretação sócio-histórica das
relações humanas. A periodização configura-se entre 1892 — haja vista a previsão de criação das escolas
complementares — e 1910, quando houve a desfuncionalização das escolas complementares como
formadoras de professores. As fontes interpretadas foram: a) Relatórios da Câmara dos Deputados do
Estado de São Paulo (1895-1910); b) Reformas da Instrução Pública Paulista (1892-1910); Anuários do
Ensino do Estado de São Paulo (1907-1910). Este estudo considera que a necessidade de professores
para o ensino primário no interior paulista foi minimizada a partir da alternativa do governo em
transformar as escolas complementares em instituições habilitadas para diplomar professores
preliminares com custos e formação profissional inferiores à Escola Normal da Capital. O caminho foi
atribuir às escolas complementares uma natureza profissionalizante e descentralizar a formação de

362
professores tendo como referência em excelência de ensino a Escola Normal. Considera-se também que
esse processo não ocorreu como dualidade, mas sim como produtor de novas interdependências e
relações de poder no cenário da formação de professores paulistas.

375
ESPECIALISTAS EM EDUCAÇÃO: UMA “ELITE PEDAGÓGICA” PARA A UNIVERSALIZAÇÃO DO ENSINO
PRIMÁRIO NO BRASIL (1950/1960)

MÁRCIA DOS SANTOS FERREIRA.


UFMT, CUIABA - MT - BRASIL.

Entre as décadas de 1950 e 1960, o governo federal, através do Ministério da Educação e de órgãos a
ele subordinados, empreendeu uma série de ações no sentido da ampliação do acesso ao ensino de
nível primário a parcelas mais amplas da população brasileira. Este processo de expansão da oferta de
educação escolar implicou em mudanças significativas nas formas de planejamento, supervisão e
administração do ensino primário no Brasil. Ao focalizar um aspecto destas mudanças, relacionado à
política de formação de especialistas em educação, entre os anos de 1958 e 1966, este trabalho
apresenta os resultados de uma pesquisa sobre as modificações introduzidas na hierarquia docente do
ensino primário e os mecanismos de seleção e preparação dos profissionais que seriam encarregados de
disseminar idéias e procedimentos considerados adequados à oferta de educação elementar “para
todos”. Através da análise de documentos oficiais obtidos no Arquivo Histórico do INEP – Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, assim como de artigos de periódicos
publicados por órgãos vinculados ao Ministério da Educação – Revista Brasileira de Estudos
Pedagógicos, Educação e Ciências Sociais e Pesquisa e Planejamento, foi possível identificar duas
iniciativas voltadas à formação especializada de professores normalistas: os Cursos de Especialistas em
Educação para a América Latina, oferecidos, entre 1958 e 1966, pelo Centro de Regional de Pesquisas
Educacionais de São Paulo, e os Cursos de Formação de Professores Supervisores, promovidos pelos
Centros de Treinamento do Magistério, localizados em vários estados brasileiros, entre 1963 e 1965.
Uma característica compartilhada por ambos os cursos era o propósito de selecionar, em meio à grande
massa de professores “comuns”, aqueles educadores considerados como de “primeira plana”, que se
tornariam membros de uma “elite pedagógica”, ou seja, que exerceriam funções de planejamento,
supervisão e administração do ensino público, com vistas à viabilização do processo de expansão da
oferta de uma escolarização primária até então caracterizada por sua alta seletividade e restrita
abrangência. A interpretação aqui sugerida segue duas vertentes: 1) a compreensão do processo de
profissionalização docente no período em estudo, considerando as modificações introduzidas na
hierarquia existente entre os professores do ensino primário, a partir do modelo de análise elaborado
por António Nóvoa; 2) a identificação dos mecanismos de cooptação dos novos integrantes da “elite
pedagógica”, de acordo com a sociologia da intelectualidade brasileira sugerida por Sérgio Miceli. Os
resultados alcançados indicam a existência de uma concepção hierárquica e fragmentada de
profissionalização docente, que, combinada a uma estratégia de recrutamento de pessoal circunscrita
aos grupos dirigentes, contribuiu para a manutenção – e não para a transformação – do padrão de
diferenciação social inculcado pelo sistema escolar.

687
FORMAÇÃO DE PROFESSORES E PROFISSÃO DOCENTE NA BAHIA (1890 – 1925)

SARA MARTHA DICK; LÚCIA MARIA FRANCA ROCHA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, SALVADOR - BA - BRASIL.

363
Este artigo procura analisar a formação de professores com objetivo de compreender o processo
histórico de estruturação da profissão docente na Bahia. Para tanto, buscou-se o estudo do curso
oferecido pela Escola Normal da Bahia, do final do século XIX – 1890 – , com as idéias de Sátyro Dias,
quando iniciam-se as discussões sobre as primeiras medidas reformadoras da educação republicana ,
até o início do século XX, com a Reforma de 1925 – Reforma Góes Calmon, de influência nitidamente do
ideário de Anísio Teixeira. Desde os meados do século XIX, o ensino normal passou a ser um local
privilegiado para a conformação da profissão docente sob o domínio do Estado que exercia o controle
dos professores, sendo considerado como decisivo para os professores e sua profissionalização. Os
professores tornam-se funcionários públicos e nesse sentido o estado criou condições para o processo
de profissionalização. A definição da profissão docente subtende um corpo de saberes e uma instituição
legítima para transmiti-lo. Nesse sentido é que as escolas normais têm um importante papel no
processo de criação da profissão docente. As escolas normais, dentre elas, a Escola Normal da Bahia,
realizaram a passagem para o surgimento de um novo professor para a escola primária, uma vez que
sua formação foi sofrendo alteração ao longo do tempo. Procuramos analisar o conjunto de normas e
valores que os professores eram portadores. Através da análise das disciplinas oferecidas, para sua
formação temos condição de avaliar as alterações que ocorreram no campo metodológico, disciplinar e
científico a partir das regulamentações e reformas, tendo como marco o período de 1890 a 1925. Assim,
pretende-se, também, discutir as diferentes características de formação masculina e feminina,
principalmente no início do século XX, quando ocorreu a feminização do magistério e conseqüente
profissionalização do docente feminino. Para este estudo, as fontes utilizadas foram as Falas
Presidenciais, Relatórios e Reformas, além da bibliografia sobre a profissão docente. Os dados coletados
em tais fontes foram analisados tendo por base os fundamentos teóricos da História da Educação
brasileira, bem como os elementos encontrados em fontes secundárias que trabalham com a formação
de professores. Compreendemos que os resultados desta pesquisa contribuem para a composição do
conjunto historiográfico da educação baiana, de quadro tão lacunar, principalmente em relação ao
processo de profissionalização docente baiana no período em questão.

407
FORMAÇÃO DE PROFESSORES NA PARAHYBA DO NORTE: INICIATIVAS PARA A SUA
INSTITUCIONALIZAÇÃO (1861 A 1883)

ROSE MARY ARAUJO.


UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAIBA, JOAO PESSOA - PB - BRASIL.

O texto representa um dos resultados de uma investigação histórica desenvolvida para elaboração da
tese de doutoramento defendida em agosto de 2010, no Programa de Pós-graduação em Educação da
Universidade Federal da Paraíba. Esta investigação tratou de reconstituir o movimento e constituição
histórica da formação de professores na Parahyba do Norte – assim denominada até a instauração do
regime republicano – no século XIX. Nesse sentido, o presente trabalho tem como objetivo principal
analisar as iniciativas e/ou tentativas de institucionalização da formação docente no período de 1861 a
1883. Nesse contexto, a tessitura social da província paraibana era caracterizada pelo jogo de poder
entre as lideranças políticas locais e pela difusão dos princípios iluministas de herança francesa. Importa
ressaltar que no mesmo período, este último aspecto não era um fenômeno exclusivo da Parahyba do
Norte, predominavam nas demais províncias brasileiras em torno da construção de uma nova nação
onde a instrução pública foi enfatizada como instrumento privilegiado para sua constituição. A
temporalidade acima mencionada trata do período em que foram projetadas por gestores públicos
algumas iniciativas para formar professores para as atividades instrucionais nas escolas primárias, e ao
mesmo discutida a necessidade da implantação de uma escola normal. A discussão empreendida
focalizou esta instituição e a formação de professores como condição necessária à melhoria e
modernização dos serviços educacionais inerentes a instrução pública primária, por conseguinte, o
progresso social da Província. Para apreender e analisar as iniciativas de formação de professores dentro
do recorte histórico estabelecido, utilizou-se como fontes os discursos elaborados pelos presidentes da
província da Parahyba do Norte, os relatórios dos diretores da instrução pública dirigidos aos
presidentes provinciais locais, as legislações acerca da instrução que foram sancionadas no período em

364
estudo e que se encontram na Coleção de Leis e Regulamentos da Instrução da Paraíba no Período
Imperial e matérias jornalísticas de época. Embora a investigação tenha privilegiado um contexto
específico, a Parahyba do Norte, buscou-se articular os seus aspectos particulares com os mais gerais
inerentes ao movimento histórico da educação brasileira. Todavia é importante registrar que
possivelmente as tentativas de formar professores naquela realidade, produziram elementos que
concorreram para a implantação da sua primeira Escola Normal no oitocentista. Finalmente, pela
especificidade da temática abordada, o trabalho se insere no seguinte eixo: História da Profissão
Docente.

1290
FORMAÇÃO DOCENTE DE UMA “NOVA LEITORA”: A CONSTITUIÇÃO DE UM ACERVO PESSOAL NOS
MEIOS POPULARES. (PARAÍBA E PERNAMBUCO – 1950 A 1980)

CLARA MARIA MIRANDA DE SOUSA; FABIANA CRISTINA SILVA.


UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO, PETROLINA - PE - BRASIL.

O trabalho aqui apresentado é parte de uma pesquisa maior que aborda as práticas de leitura e escrita e
a longevidade escolar em famílias de meios populares. Na História da Educação, principal área de
atuação da presente pesquisa, as relações entre oralidade, cultura e letramento dentro do sucesso
escolar continuam na base das discussões dos pesquisadores, na busca de compreender práticas
construídas, por indivíduos, consideradas “novos letrados”. A pesquisa está baseada teórica e
metodologicamente na Nova História Cultural, mais especificamente na História da Leitura. Neste artigo
discutiremos sobre a formação docente de uma “Nova Leitora”, por meio da constituição de seu acervo
pessoal. Os depoimentos e a analise dos títulos encontrados na biblioteca pessoal constituem as
principais fontes desta pesquisa. Analisamos, também, sua relação com esse material e as práticas de
leitura ao longo de sua formação escolar e profissional. Essa “Nova Leitora” é filha de uma família não-
herdeira e de meios populares, que ao longo de sua formação docente constituiu um acervo pessoal.
Lêda é a quinta filha – mulher – de um total de 12 filhos, nasceu em 1953 na cidade de Piancó, interior
do estado da Paraíba. Como a pesquisa está em andamento, foi possível concluir que, pelo fato de Lêda
estar vinculada ao meio da educação, ela investiu em livros durante toda a sua formação, como
acadêmica e como professora universitária, o que possibilitou a constituição de um acervo pessoal.
Como resultados, observamos que o que denominamos como “leituras de pesquisas e
aprofundamento” – títulos vinculados a formação acadêmica - compõe 66,6% de todo o acervo
enquanto os outros 33,4% dos livros catalogamos como “leitura de lazer”. Portanto, o acervo pessoal de
Lêda mostra-se bastantes ligado ao seu meio profissional, e que foi constituído a partir de sua formação
docente e seu contato mais estreito com o mundo da leitura. A Nova Leitora, ao alcançar uma formação
profissional específica- formação docente- podemos considerá-la também como conservadora de um
habitus cultural, especialmente por conservar práticas de leitura e a permanente aquisição de livros na
manutenção de um acervo pessoal.

489
FORMAÇÃO E IDENTIDADE DOCENTE: O CURSO DE PEDAGOGIA EM MARINGÁ (1973 A 2005)

ELAINE RODRIGUES.
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ, MARINGA - PR - BRASIL.

O ponto de partida da pesquisa, agora concluída, foi a busca dos pressupostos teórico-metodológicos
que nortearam a constituição das estruturas curriculares do curso de Pedagogia ofertado
pela Universidade Estadual de Maringá, objetivando relacioná-las ao contexto de formação do Pedagogo
no Brasil. 1979 primava-se pela formação do especialista em educação. 1984 a 1987 – caracterizava-se
por uma exacerbação da visão sociológica na formação do pedagogo. 2005 – currículo em vigência,
habilita o pedagogo, com uma formação integrada, para atuar na docência nos Anos Iniciais do Ensino
Fundamental, na Educação Infantil e nas disciplinas pedagógicas dos cursos de formação de professores,

365
na gestão dos processos educativos escolares e não escolares e na produção e difusão do conhecimento
do campo educacional. Nesse sentido, constituem se como áreas integradas de formação profissional do
Pedagogo, suportadas na teoria e na pesquisa do campo da pedagogia e da educação: a) Docência na
Educação Infantil, nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental e nas disciplinas pedagógicas para a
formação de professores. b) Gestão Educacional, entendida como a organização do trabalho em termos
de planejamento, coordenação, acompanhamento e avaliação nos sistemas de ensino e em processos
educativos escolares e não escolares, bem como o estudo e a formulação de políticas públicas na área
da educação. Esta organização curricular enfatiza a identidade profissional, a docência e a formação de
gestor de processos educativos. A construção da identidade profissional objetiva que o aluno identifique
no campo da Educação, da Pedagogia e das demais ciências seu espaço específico de conhecimento,
proceda à leitura do mundo onde se situa e atua cotidianamente. A docência pressupõe um projeto de
formação de professores para o ensino fundamental, educação infantil e formação de professores,
portando-se como pesquisador de sua própria prática. A formação de gestor de processos educativos
deve possibilitar a visão ampla e global da escola, das políticas públicas e do sistema educacional e das
atividades educativas. Tomamos com fontes as estruturas curriculares referentes a cada um dos
períodos estudados, atas e pareceres dos conselhos que compõem a instituição que oferta o curso em
análise e também depoimentos dos personagens que compuseram o quadro docente e discente.
Metodologicamente aventuramo-nos no “terreno fértil” gerado pelo entrecruzamento de informações
retiradas do material disponível para identificação, discussão e análise da constituição de identidades-
profissionais-culturais assumidas pelo pedagogo, tomando por base o currículo em vigência durante sua
formação. A discussão resultante permite afirmar que a sinuosa travessia, por meio da qual
constituímos a síntese, que aqui se apresenta, revela um curso que esteve conectado com as
preocupações nacionais e a partir de 2005 vem conseguindo romper, ainda que parcialmente, com as
tradições que o iniciaram.

823
GOVERNO E FORMAÇÃO DOCENTE: A INSPEÇÃO COMO MECANISMO DE FISCALIZAÇÃO E REGULAÇÃO

MARIA APARECIDA ARRUDA.


UERJ/UFSJ, VICOSA - MG - BRASIL.

O presente trabalho faz parte de uma pesquisa que estou desenvolvendo acerca da formação de
professores primários na região do Campo das Vertentes, MG.Tendo como base o exame do Curso
Normal do Colégio Nossa Senhora das Dores, fundado em São João del-Rei em 1898, busco
compreender o mecanismo da formação docente (seu funcionamento, transformações e efeito) por
meio das questões relacionadas aos dispositivos escolares que permeiam esta formação. Neste estudo,
realizei uma reflexão circunscrita no âmbito destes dispositivos – a inspeção escolar – entendendo este
mecanismo como parte de uma estratégia para assegurar o prosseguimento de um projeto de
civilização e de institucionalização da escolarização dirigido a uma camada específica da sociedade.
Estou me referindo ao ensino confessional direcionado a um público exclusivamente feminino para os
quais a escola se voltou no início do seu funcionamento. Para tal utilizo como fonte os livros com os
“Termos das Visitas” dos inspetores ao Colégio e as Atas da Congregação com a presença de “fiscais” do
governo em cumprimento às exigências regulamentares estabelecidas em lei no período. Nesta
fiscalização estão compreendidas as aulas, os exames, os arquivos, papéis e documentos pertencentes
ao estabelecimento de ensino. O período compreende os anos iniciais do século XIX, com início em
1905, período em que o Colégio foi equiparado às escolas normais oficiais passando, a partir desta data,
a ser submetido a um rigoroso processo de fiscalização por parte do Estado. Com o estudo foi possível
observar diferentes modos de exercício do poder nas relações estabelecidas entre professores,
inspetores, governo e a instituição. A presença da fiscalização aponta a existência de relações de poder
na organização do Colégio. Enquanto práticas (e não objeto), nestas relações, estiveram envolvidas
diferentes instâncias da sociedade que, na engrenagem da fiscalização, aponta a existência de relações
de poder na organização dos saberes determinando investimentos e intervenções no exercício da
docência que, por sua vez, acabam por interferir na organização da sociedade. Por não constituir-se uma
homogeneidade, estiveram envolvidas nestas relações tensões e conflitos que se processam por meio
de denúncias, questionamentos, argumentações. Fez parte destas redes um campo de força,

366
heterogêneo, mobilizando ações, instaurando lutas em meio a negociações e mediações. Seja na forma
de adesão, seja de resistência, demonstraram os agentes participantes do projeto educacional do CNSD,
capazes, não só de resistir a esse projeto, como o de multiplicar as suas ações, ampliando o quadro da
formação docente nos anos iniciais do século XIX na região.

1302
GÊNESE DA FORMAÇÃO DOCENTE EM CURSOS NORMAIS NO CONTEXTO DA MODERNIDADE: EUROPA
E AMÉRICA

ROSÂNGELA MARIA CASTRO GUIMARÃES.


FACED-UFU, UBERABA - MG - BRASIL.

GÊNESE DA FORMAÇÃO DOCENTE EM CURSOS NORMAIS NO CONTEXTO DA MODERNIDADE: EUROPA E


AMÉRICA Rosângela M. C. Guimarães PPGED/FACED-UFU rmcguimaraes@netsite.com.br Descrições e
comentários são realizados, neste artigo, sobre os contextos socioeconômicos, políticos e culturais em
que se constituíram os cursos normais em países pioneiros do continente Europeu, nos EUA e, em
especial, no Brasil, sob o viés de um dos eventos componentes do rol de mudanças ocorridas, em
diversos setores da vida, ao longo da Modernidade Ocidental. O estudo que se propõe a comunicar faz
parte de uma tese de doutorado, cujo tema central direciona-se ao ensino da disciplina História da
Educação em uma instituição específica: a Escola Normal Oficial de Uberaba (MG), no período de 1928 a
1971. Metodologicamente, optou-se por contextualizar a gênese dos cursos normais para, em seguida,
identificar a inserção da referida disciplina no currículo desses cursos e, por fim, aproximar-se dos
contornos do seu ensino no cotidiano escolar da instituição. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica e
documental, em andamento, cujas fontes além de obras especializadas nos vários temas abordados
conta, também, com outras fontes mais próximas do objeto investigado: as legislações (nacional,
provincial e estadual), os documentos do acervo da escola (lócus da pesquisa) e, ainda, entrevistas com
egressas, preferencialmente, aquelas que exerceram a função docente após concluírem o curso normal.
A profissão docente é anterior à existência de cursos de formação de professores, mas, a necessidade
de se formar esses profissionais é bem antiga e remonta ao século XVI, pois é encontrada nos escritos
de Lutero, Comênius e Erasmo de Roterdã. O primeiro alertava que, para ensinar às crianças
necessitava-se de gente especializada. Contudo, a efetivação de cursos direcionados a essa finalidade
ocorreu, somente, durante a Modernidade. Cronologicamente, podem-se conceber três fases para a
construção dessa modalidade de ensino: durante o século XVII, na França, ocorreram as iniciativas de La
Salle; no decorrer do século XVIII, na Alemanha, o governo prussiano criou os Seminários de Mestres e,
também, na França, durante a Revolução Francesa (período da Convenção) foram criadas as primeiras
escolas normais. No entanto, no século XIX, com a Revolução Industrial consolidada, surge uma nova
sociedade, marcadamente liberal, para a qual urge que se produza uma escola para todas as classes,
patrocinada pelos Estados e, voltada, em boa parte, para a formação técnica e para um ensino eficiente.
Nesse século, estabelecem-se os sistemas nacionais de educação e as leis reguladoras da instrução
pública, de (quase) todos os países europeus e americanos, embora haja diferenças entre o que se
concebe como Modernidade européia e Modernidade Latino Americana. Palavras chave: ensino normal;
formação de professores; modernidade. Eixo temático 4 – História da Profissão Docente.

728
HISTORIAS DA PROFISSÃO DOCENTE NO TOCANTINS

JOCYLEIA SANTANA SANTOS.


UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS, PALMAS - TO - BRASIL.

367
As freiras dominicanas chegaram a Porto Nacional, cidade do norte goiano, em 30 de agosto de 1904,
com um educandário particular, o Colégio Sagrado Coração de Jesus. Viajando em batelão, a escritora,
Adozinha, ao lado do tio, padre e deputado, Carvílio Luso, recorda que no dia 06 de julho de 1905 saiu
do porto de Carolina para Porto Nacional, onde foi internar-se como aluna do supracitado colégio,
permanecendo até 1912, ano em que foi diplomada professora. As histórias docentes continuam em
relatos de antigos professores de meados do século XX, precisamente em 1932 quando seguiu para
Porto Franco, a professora, Marcolina Figueira de Magalhães, que dirigiu a primeira escola batista. Em
Porto Franco, dirigiu a escola batista com apenas quatorze alunos. No final da década de 1940, foi para
Carolina, no Maranhão, onde atuou como professora de Evangelismo. Essa localidade tinha o Instituto
Teológico Batista, escola de formação de missionários para a região. A presença crescente de mulheres
nas escolas e outros espaços públicos revelavam que a luta por destinos diferentes daqueles até então
prescritos para elas, começava a operar mudanças em suas! expectativas. Dispondo de conhecimento
interdisciplinar, as missionárias desempenharam funções de evangelistas, ou seja, sacerdotisas, em
primeiro lugar, mas atuavam em áreas afins como professoras, enfermeiras, conselheiras e legisladoras.
Para reforçar o trabalho na região, foram designadas mais duas obreiras para ensinar os princípios
batistas e dirigir escolas, no ano de 1936, Beatriz Rodrigues da Silva em Piabanha atual Tocantínia (TO) e
Lígia de Castro em Carolina (MA). A escola batista surgiu tanto da reivindicação de alguns moradores
como também da ausência de entidades de ensino. Para melhorar a docência, a União Feminina Batista
do Brasil doou a importância de vinte mil réis.Conforme cadernos de diários da época, havia no primeiro
dia de aula 28 alunos. Concomitantemente com a prática docente, Beatriz iniciou as visitas às aldeias
xerentes e à cidade de Bela Vista, atualmente Miracema. Em 1938, foram solicitados os dispensários
médicos, ambulatórios que atendiam à população. Para assumir o setor de enfermagem, foi designada a
missionária Sarah Cavalcante, que atuou em Pedro Afonso (GO). Marcolina foi considerada a pioneira no
setor de nomeação para função de missionária. Beatriz assumiu como Secretária Executiva no período
de divisão das Convenções Batistas, na década de 1960. Margarida atua como diretora do Colégio
Batista de Palmas, sendo líder influente na sociedade tocantina. Algumas tiveram funções de diretoras,
professoras, evangelistas, enfermeiras, musicistas, tradutoras e, sobretudo, plantando igrejas,
mantendo laços de solidariedade com a comunidade e sistematizando o trabalho de evangelização. O
estudo centrou-se na história oral de mulheres nos diferentes processos de reinvenção da história no
cotidiano e na sala de aula.

579
HISTÓRIA DA ESCOLA NORMAL DE NATAL (RIO GRANDE DO NORTE, 1908-1971)

FRANCINAIDE DE LIMA SILVA; MARIA ARISNETE CÂMARA DE MORAIS.


UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE, SAO GONCALO DO AMARANTE - RN - BRASIL.

O presente texto é uma pesquisa em andamento e insere-se no contexto de estudos que buscam a
compreensão da gênese, implantação e consolidação da formação docente no Brasil, em particular, no
Rio Grande do Norte. Objetivamos analisar as práticas e representações da Escola Normal de Natal entre
1908 e 1971. Respaldamo-nos em pressupostos advindos da História Cultural definida através da
conjunção da história dos objetos na sua materialidade, das práticas nas suas diferenças e das
configurações, dos dispositivos nas suas variações. Temos por aporte teórico-metodológico Burke
(1997), Chartier (1990) e Elias (2001). Utilizamos documentos provenientes do Instituto Histórico e
Geográfico do Rio Grande do Norte, tais como atas e ofícios, Leis e Decretos do Governo, Mensagens
dos Governadores, Regimentos da Escola Normal e os jornais A Ordem, A República e Diário do Natal.
Pesquisamos no acervo do Instituto de Educação Superior Presidente Kennedy cadernos de professoras,
diários de classe, relatórios e os compêndios utilizados na formação das normalistas. O Decreto n. 178,
de 29 de abril de 1908, reabriu a Escola Normal de Natal para o preparo de professores de ambos os
sexos e criou uma rede de Grupos Escolares no Rio Grande do Norte. A Escola Normal de Natal
preparava consoante a orientação da moderna Pedagogia os profissionais especializados em um modo
de ensino e aprendizagem compatível com a tarefa de educar a infância. Desde sua fundação passou por
diversos espaços, tais como o Atheneu Norte-Rio-Grandense, o Grupo Escolar Modelo Augusto Severo, o
Grupo Escolar Antônio de Souza. Em 1952, a instituição é pela primeira vez dirigida por uma mulher,
Francisca Nolasco Fernandes – D. Chicuta, educadora conhecida por sua profícua atuação na Escola

368
Doméstica de Natal. Neste período, a Escola Normal de Natal passa a Instituto de Educação, instalado
em edificação própria no bairro de Lagoa Nova, em Natal. Os imperativos sociais, políticos e humanos
que modificaram a instituição são denotados a partir da legislação educacional, dos regimentos, dos
relatórios e registros da prática produzida pelos mestres. Em consonância com estas necessidades a Lei
Orgânica do Ensino Normal, n. 4.024, de 20 de dezembro de 1961, oficializou como fins do Ensino
Normal prover o pessoal docente necessário às escolas primárias, habilitar administradores escolares,
desenvolver e propagar os conhecimentos e técnicas relativas à educação da infância. A Escola Normal
foi extinta pela Lei n. 5.692, de 11 de agosto de 1971, que marcou o surgimento de novas configurações
educacionais. Intituição de fomento: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior-
CAPES

809
HISTÓRIA DA PROFISSÃO DOCENTE EM PORTUGAL E NO BRASIL NO SÉCULO XVIII

SARA ROGÉRIA SANTOS BARBOSA; ELAINE MARIA SANTOS.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE, ARACAJU - SE - BRASIL.

Pensar a profissão docente sem levar em conta seus primórdios setecentistas é ignorar a importância
das reformas pombalinas da instrução pública ocorridas no século XVIII com a promulgação, em 28 de
junho de 1759, do Alvará Régio assinado pelo Rei de Portugal Dom José I que versa, dentre outras
coisas, sobre a subordinação da educação ao Estado Português e a regulamentação da profissão
docente, sendo obrigado, a partir daquele momento, a qualquer professor que quisesse ministrar aulas,
ser aprovado em concurso público para ter direito ao exercício pleno da profissão. A situação
educacional nas colônias portuguesas esteve sob o domínio da Companhia de Jesus desde o século XVI
sem que uma intervenção estatal pudesse ser evidenciada. Com a difusão das ideias iluministas, esse
padrão de ensino, desvinculado do sentimento de nacionalidade e de fortalecimento da língua, tornava-
se obsoleto e uma reforma educacional se fazia urgente. As reformas da instrução pública, lideradas
pelo Marquês de Pombal, tinham como pilares a centralização administrativa da educação e a
regulamentação da profissão docente, não só em Portugal, como também em suas terras além-mar.
Como ação inicial desse processo reformista, o citado Alvará, também conhecido como Lei Geral dos
Estudos Menores, culpava os jesuítas pelo estado calamitoso da educação e colocava a expulsão dos
integrantes da companhia e a transferência de responsabilidade sobre a educação para o Estado como
única solução para a salvação de Portugal. O processo de escolarização, iniciado com a reforma de
Pombal, abre espaço para o reconhecimento do valor do professor, principalmente do ensino das
primeiras letras, até então totalmente desvinculado do processo educativo. A busca pela consolidação
da profissão docente em meados do século XVIII e início do XIX passa pela abertura de duas escolas para
ensino da língua portuguesa no Brasil e a atuação dos mestres escola, estatização do profissional da
educação e a obrigatoriedade de possuir licença para ministrar aulas, até a abertura das escolas de
primeiras letras no Brasil. O presente trabalho se trata de uma pesquisa em andamento e tem como
objetivo resgatar o processo de estatização de ensino em Portugal e no Brasil e a institucionalização da
profissão docente, tomando como base as leis promulgadas no período denominado Pombalino, com o
fim de estabelecer um conjunto de práticas e condutas que deveriam ser seguidas e adotadas pelos
professores. Para tanto, a metodologia adotada será a análise da legislação pombalina que deliberou
sobre o ensino de línguas, sejam as estrangeiras ou a nacional, as instruções públicas para professores
régios, os papéis e deliberações da Real Mesa Censória e Junta do Subsídio Literário, cujos objetivos
eram determinar quais compêndios poderiam ser adotados ou banidos do ensino das linguas e custear
as despejas advindas da instrução pública, respectivamente.

1210
HISTÓRIAS DE VIDA, TRAJETÓRIAS DE FORMAÇÃO E TRABALHO DOCENTE: MEDIAÇÕES E INTERFACES
COM A HISTÓRIA EDUCACIONAL DA BAHIA
1 2
ELIZEU CLEMENTINO DE SOUZA ; JOSELITO BRITO DE ALMEIDA .

369
1.UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA (UNEB), SALVADOR - BA - BRASIL; 2.UNEB, SALVADOR - BA -
BRASIL.

A comunicação vincula-se às investigações que vêm sendo realizadas no Grupo de Pesquisa


(Auto)biografia, Formação e História Oral – GRAFHO, do Programa de Pós-Graduação em Educação e
Contemporaneidade – PPGEduC da Universidade do Estado da Bahia – UNEB, no âmbito da pesquisa
sobre histórias de vida de educadores baianos e suas implicações para a constituição do campo
educacional na Bahia. A opção pela pesquisa com histórias de vida, através de entrevista narrativa,
possibilita apreender aspectos sócio-históricos, mediante a mediação entre a “história individual” e a
“história social”. Nesta perspectiva, compreendemos não só a impossibilidade de separar o eu
profissional do eu pessoal, como do contexto histórico-cultural, político-econômico e sociocultural mais
amplo em que se inserem os educadores e desenvolvem cotidianamente o trabalho docente. As
narrativas estão situadas no contexto sócio-histórico e, portanto, só podem ser compreendida em
relação a um contexto mais amplo e formulada num sistema de referências. Tomamos como fontes para
a pesquisa, narrativas da professora Amabília Almeida, produzidas a partir da entrevista narrativa, tendo
em vista apresentar contribuições significativas aos estudos e pesquisas para o campo da história da
educação, tomando como objeto de análise a história pessoal e profissional da referida professora, que
a partir da década de 40 até os anos 90 do século passado, esteve social e politicamente imbricada na
construção e consolidação dos movimentos em defesa da escola pública e da valorização do magistério
baiano. A narrativa da professora Amabília Almeida é fruto de uma interação social e do entendimento
de que a formação é um trabalho de reflexão sobre os percursos de vida e das opções que cada um faz
ao longo da sua existência, entrecruzando com determinantes políticos e econômicos de cada momento
histórico. A entrevista narrativa ganha uma importância fundamental para a (re)construção da história
da educação, na medida em que desvela identidades e subjetividades, através das representações e
interpretações individuais/coletivas do mundo. Por fim, a narrativa de Amabília Almeida é reveladora
das diferentes formas de subjetivação que, historicamente, vêm sendo submetidos os professores pelos
discursos veiculados na sociedade e que definem como devem ser, agir e atuar no interior das escolas e
no contexto social mais amplo, bem como das resistências aos discursos instituídos e das lutas
empreendidas na construção de uma identidade profissional docente pautada pela autonomia, pela
ética e pelo protagonismo.

1153
IMAGENS FOTOGRÁFICAS DE PROFESSORAS: UMA TRAJETÓRIA VISUAL DO MAGISTÉRIO EM ESCOLAS
MUNICIPAIS DO RIO DE JANEIRO NO FINAL DO SÉCULO XIX E INÍCIO DO SÉCULO XX

ANA VALÉRIA DE FIGUEIREDO DA COSTA.


UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ; SEEDUC/RJ; UNIVERSIDADE IGUAÇU, NOVA IGUACU - RJ - BRASIL.

Este trabalho, parte de tese de doutoramento em Educação, tem como objetivo central apresentar a
investigação realizada através de registros e reproduções fotográficas, as relações sociais, usos e
costumes que emergem das imagens de professoras de escolas municipais do Rio de Janeiro, no período
compreendido entre final do século XIX (década de 1890) e início do século XX (décadas iniciais). O
estudo propõe uma análise como a imagem das professoras vem sendo veiculada e agregada a valores
pelo documento fotográfico, refletida no cotidiano e nas práticas escolares da época focalizada na
pesquisa. Dessa forma, o trabalho tomou o curso de um estudo historicossociológico na busca de
significados manifestos e latentes no discurso visual das imagens fotográficas de professoras de escolas
públicas do município do Rio de Janeiro. Assim, percorrendo documentos fotográficos do final do século
XIX e início do século XX – Primeira República -, apresenta uma possibilidade de mapear os usos e
costumes pedagógicos da vida cotidiana, inseridos no trabalho docente dessas professoras que
inscreveram suas identidades e como são olhadas ao longo das épocas. A escolha da cidade do Rio de
Janeiro se deve ao fato de ter sido este município a capital do país, tendo abrigado e emanado, então,
modos oficiais de conduta profissional para o magistério, assim como para outras profissões, além de,
nos dias de hoje, continuar sendo uma cidade-pólo difusora de hábitos e costumes que se difundem por
todo o país. Foram analisadas fotografias que compõem uma série, no dizer de Maud (2004). A

370
estrutura de análise tem como texto principal a fotografia como texto visual, tomando por base os
caminhos teóricos nos estudos de Bóris Kossoy (2001; 2002), Ana Maria Mauad (1990; 2004), Lorenzo
Vilches (1984), Ruggiero Eugeni (2000), Roland Barthes (1971; 1984; 1998; 1999), Erwin Panofsky (2002)
entre outros autores apresentados. A leitura do texto visual tem como pano de fundo a História da
Educação, com seus principais marcos no período demarcado pela pesquisa. As considerações finais
apontam que o estudo de imagens, documentos fotográficos de professoras de escolas públicas do
município do Rio de Janeiro, pode trazer propostas de um olhar renovado sobre a construção da
identidade docente, sobre as redes nas quais essa identidade é tecida e se configura, não estando essas
imagens alheias aos acontecimentos, tampouco às ideologias das épocas em que foram produzidas,
registradas e veiculadas. Ainda, as imagens não podem ser analisadas sem que o espectador do agora
esteja impregnado da época em que vive, o que abre caminho para um dialogismo entre o registro e a
visão desse observador atual.

689
JOÃO MOREIRA LIMA: TRAJETÓRIA DE UM EDUCADOR CIRCULISTA (1934 A 1959)

GILVAN VITOR DOS SANTOS.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE, ARACAJU - SE - BRASIL.

Neste estudo busca-se pesquisar a trajetória social do Monsenhor João Moreira Lima, sobretudo, no que
diz respeito as suas ações como sacerdote na diocese de Aracaju, no período compreendido entre os
anos de 1934 a 1996, quando este desenvolveu amplo programa sócio-educativo, assistencial, cultural e
religioso na capital Sergipana. Tal pesquisa se justifica por entender, que por ser um padre, o seu plano
pastoral não contemplou somente o aspecto religioso, mas também ações que dizem respeito às
mudanças tanto sociais quanto culturais. Essas ações caracterizaram o projeto civilizador que foi sendo
criado e posto em prática ao longo da sua trajetória. Assim, o objeto desse estudo é a trajetória social
do professor, sacerdote, e construtor de várias obras sócio-educacionais mons. João Moreira Lima, no
período que remonta aos anos de 1934 a 1959. Reconhecido como o precursor do Círculo Operário
Católico em Sergipe, João Moreira Lima foi o idealizador de importantes instituições de ensino e
culturais, representando, um daqueles poucos exemplos de sacerdotes que se tornaram conhecidos
também fora do seu oficio. Tal fato se deve não somente à repercussão de seu posicionamento frente
aos ideais anticomunistas, mas também, e talvez, sobretudo, às atividades de diversas matizes exercidas
por ele em Sergipe. Pois ao que parece sua trajetória caracteriza-se através de um amplo programa
sócio-educativo, voltado para uma proposta político-pedagógica de fortalecimento do movimento
circulista e de doutrinação dos trabalhadores sergipanos. Como objetivo pretende-se a partir de uma
abordagem biográfica reconstruir a trajetória social de João Moreira, o que envolve pesquisar,
sociologicamente, o modo como esse personagem percorreu o espaço social, respondendo o
questionamento de como seu deu a trajetória social desse religioso, que sempre esteve imbuído na
construção de ações - educacionais, culturais, política, religiosas e sociais? Partirá como metodologia da
investigação tanto os documentos pertencentes à Coleção de João Moreira Lima, depositados em um
Arquivo particular — diários, livros, revistas, correspondência pessoal, artigos em jornais etc. O
referencial teórico-metodológico apóia-se em conceitos sociológicos como trajetória social, habitus,
carisma e campo em Pierre Bourdieu assumindo fundamental importância na realização deste trabalho,
para estabelecer a relação entre o histórico das ações sociais e a trajetória de João Moreira Lima. O
poder e a representatividade desse personagem foram ampliados e concretizados em ações
pedagógicas, que foram definindo a estrutura cultural e educacional da região tendo como centro de
atuação João Lima que representava os interesses da Igreja através da aplicação dos princípios
educativos nas instituições que criou.

795
JULIA WANDERLEY, A MULHER-MITO NA FEMINIZAÇÃO DO MAGISTÉRIO PARANAENSE (1874 - 1918)

SILVETE APARECIDA CRIPPA DE ARAUJO.


UFPR, CURITIBA - PR - BRASIL.

371
A presente pesquisa concluída em agosto deste ano, inserido na linha temática História da Profissão
Docente, tem como objetivo apresentar a biografia histórica de Julia Wanderley, refletindo sobre a
relação vida e prática pedagógica desta professora, tida como um mito paranaense, em relação a
memória histórica construída a seu respeito, ou seja, as representações alicerçadas a mulher, a
professora e ao mito Julia Wanderley. Neste trabalho se pretende apresentar a biografia de Julia
Wanderley a partir da pesquisa sobre a mulher, a professora e o mito constituído a partir da memória
forjada que se consagrou a respeito desta personagem, bem como as representações e significados que
foram se conformando em torno dela. Para isto, não foi possível estudar Julia Wanderley isolada de seu
tempo e espaço de atuação, portanto, sua história de vida será problematizada considerando o contexto
da época em que viveu esta protagonista, focando a personagem Julia Wanderley de maneira dinâmica
e simultaneamente relacionando-a a institucionalização da instrução pública primária e secundária no
Paraná ou e mais especificamente a feminização do magistério. Julia Wanderley atuou como docente
em Curitiba, reconhecida no Paraná como a primeira mulher a participar presencialmente do curso
normal na capital do Estado. Atuou inicialmente como professora primária passando a ser também
diretora de Grupo Escolar e membro do Conselho Superior do Ensino primário. O período estudado é o
do final do século XIX e início do XX em Curitiba, ou seja, final do regime imperial e início da república no
Brasil, cenário importante para compreender a trajetória histórica de Julia Augusta de Souza Wanderley.
Nas primeiras décadas do século XX, uma nova cultura escolar vai se efetivando, com a presença das
massas e das mulheres na escola, é neste contexto que se configura a personagem estudada, inserida
numa sociedade que deseja se constituir através do ideal de progresso e da ordem, com a pretensão de
utilizar a escola pública primária, com o referencial da escola normal na conformação da professora
como agente de modernização. É importante assinalar que não é pretensão deste trabalho reconstruir o
que os silêncios e as memórias calam, mas procurar compreender os relacionamentos, as tramas, as
continuidades e descontinuidades, os limites que rompem ou unem as tramas vividas, procurando assim
construir uma unidade aparente de vida.

1234
LIÇÃO DO SILÊNCIO: AS HISTÓRIAS DE UMA PROFESSORA DE LÍNGUA PORTUGUESA DURANTE O
REGIME MILITAR

GERALDO BASSANI; ANDREA BRANDÃO LOCATELLI.


UFES, VITORIA - ES - BRASIL.

Buscamos, por meio da pesquisa, analisar a prática de ensino de língua portuguesa por uma professora
no período sob domínio da ditadura militar no Brasil. Interessa-nos observar e compreender como essa
prática escapa aos controles e determinações e se estabelece possível, apesar do regime de exceção em
que se insere e das consequências desse regime para a educação. A partir de abril de 1964, o regime
militar desencadeia um processo de supressão das liberdades democráticas desde os primeiros atos
institucionais. Na esteira desse processo, a Lei 5540, em 1968, e a Lei 5692, que estabeleceu, em 1971, o
sistema nacional de 1º e 2º graus, concebendo a educação como um instrumento a serviço da
racionalidade tecnocrática e desenvolvimentista da época. Entendemos que esse tecnicismo vem
acompanhado de um projeto de silenciamento das ideias e dos pensamentos, silenciamento que se
tornou uma das marcas mais importantes do regime militar no Brasil. Concebemos, assim, a escola e
especialmente a aula de língua portuguesa como um espaço de resistência a essa tentativa de
silenciamento, face à natureza da disciplina, especialmente no que tange à literatura que, sendo uma
manifestação artística, tende às liberdades e às pluralidades. A professora Gercy Machado de Lima era
professora do Colégio Estadual e Escola Normal João Bley, em Castelo-ES, durante o período e se tornou
referência para seus alunos na disciplina que lecionava. Contar suas histórias a partir de suas memórias
é não só uma tentativa de fazer relampejar o passado (BENJAMIN), como também de contar a história
não a partir dos heróis e mártires, mas sim da singularidade (BLOCH, GINZBURG). Assim, apropriamo-
nos das noções de história dos autores e da noção de tempo e história de Benjamin para entender
passado, presente e futuro como constituintes da narrativa de memória. A memória, assim, não pode
reconstituir a história como foi, mas reconfigurá-la a partir da narração presente. Além da entrevista

372
semi-estruturada com a professora, utilizaremos como fontes da pesquisa os documentos oficiais
relativos ao período em questão – leis, diretrizes e outros. Entendendo a aula de língua portuguesa
como espaço privilegiado por possibilitar o uso de textos literários bem como das letras de músicas,
utilizamos os conceitos de táticas e estratégias de Michel de Certeau para observar como, por meio
desse expediente, a professora burlou tanto a tendência tecnicista quanto a privação da palavra e da
liberdade de pensamento em sala de aula. A memória da professora vem revelar, então, como, apesar
do regime de exceção vigente, por meio da arte, conseguiu realizar o seu trabalho com a língua
portuguesa, tornando-se referência também na memória de gerações de alunos.

1219
MANUAIS DE ENSINO FRANCESES E BRASILEIROS PARA O ENSINO DA LEITURA E ESCRITA NO BRASIL
(1851 - 1966)

THABATHA ALINE TREVISAN; BÁRBARA CORTELLA PEREIRA.


FFC-UNESP-MARÍLIA, MARÍLIA - SP - BRASIL.

Com o objetivo de contribuir para a compreensão de importante momento da história da formação de


professores no Brasil apresentam-se, neste texto, resultados parciais de duas pesquisas de doutorado
(Bolsas FAPESP e CAPES) desenvolvidas junto ao Programa de Pós-Graduação em Educação da FFC-
UNESP-Marília, vinculada às linhas “Alfabetização” e “Formação de professores” do Grupo e dos
Projetos Integrados de Pesquisa “História do Ensino de Língua e Literatura no Brasil” e “Bibliografia
Brasileira sobre História do Ensino de Língua e Literatura no Brasil (2003-2011)” (auxílio CNPq),
coordenados por Maria do Rosário Longo Mortatti. Mediante abordagem histórica, centrada em
pesquisa documental e bibliográfica, desenvolvida por meio da utilização de procedimentos de
localização, recuperação, reunião, seleção e ordenação de fontes documentais e de leitura da
bibliografia especializada sobre o tema, focalizam-se os manuais e os capítulos de manuais, escritos por
autores franceses e por brasileiros, que apresentam os saberes considerados necessários ao ensino da
leitura e escrita, nos cursos de formação de professores no Brasil. Os manuais selecionados para essas
pesquisas foram publicados entre 1851 e 1966, respectivamente: anos de publicação do mais antigo,
Cours pratique de pédagogie destiné aux élèves-maitres des écoles normales primaires et aux
instituteurs en exercice, de Jean Baptiste Daligault; e do manual mais recente localizado até o momento,
trata-se do manual Leitura na escola primária: guia para as normalistas e professôres de curso primário,
de Juracy Silveira. A análise preliminar desses manuais de ensino escolhidos como fontes documentais
para essas duas pesquisas de doutorado permitiu constatar, até o momento, que os manuais de ensino
analisados são portadores de determinados saberes específicos com conteúdo sintetizado e método a
ser seguido, em um único suporte, e que, geralmente, sintetizam propostas oficiais de ensino. Também
foi possível constatar a importância desse tipo de impresso, da influência de autores franceses,
especialmente, no século XIX, do tipo de conteúdo nele ensinado, do tipo de circulação que tiveram e a
que necessidade a que respondiam em diferentes momentos históricos. Além disso, constatou-se que
um dos saberes necessários e fundamentais para a formação do professor primário é o preparo
específico para o ensino da leitura e escrita, uma vez que a maioria dos manuais de Pedagogia, Didática,
Prática de Ensino e Metodologia do Ensino Primário localizados, dedicam um capítulo ou mais para esse
ensino.

914
MEMÓRIAS DE UMA ALFABETIZADORA NO COLÉGIO SÃO JOSÉ, EM PELOTAS, DURANTE AS DÉCADAS
DE 1940 A 1980: RELATO INICIAL DE UMA PESQUISA

MARIA CRISTINA DOS SANTOS LOUZADA.


UFPEL - PPGE, PELOTAS - RS - BRASIL.

373
O presente trabalho trata-se de uma pesquisa histórica de características biográficas, onde se pretende
descrever a atuação da alfabetizadora - Irmã Luísa Maria - durante o tempo em que atuou no Colégio
São José em Pelotas/RS. Busco resgatar suas memórias através de entrevistas e documentos que
descrevem o seu método e a forma como desenvolvia suas aulas, desde o período preparatório da
alfabetização até a aquisição da leitura e da escrita por parte dos alunos. Levando em consideração os
fatos históricos, o contexto social e cultural em que se desenvolveram as relações entre a professora e
alunos, relacionando-os ao seu fazer docente durante as décadas de 1940 até 1980. É importante
ressaltar que esta pesquisa encontra-se em andamento e muitos caminhos ainda serão percorridos, mas
através da busca das fontes orais e escritas já posso tecer algumas considerações sobre essa trajetória
de alfabetização. Para os historiadores da educação as pesquisas biográficas são muito importantes,
pois elas tendem a revelar os contextos escolares, a visão dos professores sobre a sua atuação e
contribuem para os processos de formação de professores. Na pesquisa a principal fonte utilizada são as
narrativas de vida e de atuação da Irmã Luísa Maria. Realizei três entrevistas com a educadora nas quais
ela resgatou, através da memória, lembranças dos 42 anos de alfabetização. A produção do
conhecimento da História na presente pesquisa passou também pela busca de documentos. A
exploração documental é considerada de extrema valia nas pesquisas históricas, eis que, através dela
poderão ser encontrados subsídios que permitam interpretar e compreender os fatos, oferecendo uma
nova leitura à visão trazida pelas memórias relatadas. Nessa busca, encontrei algo muito valioso: a
cartilha “Castelo do Saber”, método criado pela educadora para realizar um modelo de alfabetização
que prendesse a atenção e estimulasse os alunos na aprendizagem da leitura e da escrita. Através das
narrativas, pode-se concluir que, a prática pedagógica e o método utilizado pela alfabetizadora em sala
de aula, marcaram a sua trajetória profissional e geraram um encantamento por parte daqueles que
aprenderam através dessa prática. Com a firme intenção de desvendar o passado e tornar públicos a
rica personalidade e o trabalho de uma professora reconhecida como exímia alfabetizadora na
comunidade escolar onde atuou, é que se está buscando pesquisar sobre as suas memórias. Salienta-se
que esta é uma visão das fontes. Poderão a partir deste trabalho, emergir novas formas de interpretar
as narrativas.

1235
MEMÓRIAS E HISTÓRIAS DA PROFISSÃO DOCENTE: ESCOLAS RURAIS NO INTERIOR DO ESTADO DE
SÃO PAULO (1950-1970)

ALESSANDRA CRISTINA FURTADO; MAGDA CARMELITA OLIVEIRA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS, DOURADOS - MS - BRASIL.

A presente proposta de comunicação inscreve-se na área da História da Educação, prioritariamente


discutindo objetos ligados às Memórias e às Histórias da profissão docente. Estudos sobre a história da
profissão docente vêm se tornando uma área de investigação de grande interesse para
pesquisadores/as ligados/as ao campo educacional, tanto no Brasil como em países estrangeiros, uma
vez que as pesquisas vêm assumindo feições distintas e realizadas em momentos históricos e condições
socioculturais diferenciadas. Com o objetivo de contribuir para a compreensão da história da profissão
docente, no Brasil, e, mais especificamente, no estado de São Paulo, a presente comunicação busca
descrever e analisar algumas trajetórias de ingresso de antigos/as normalistas de instituições situadas
em Ribeirão Preto/SP ─ a “Escola Normal Livre Nossa Senhora Auxiliadora” e a “Escola Normal
Oficial”, bem como apresentar as condições de trabalho vivenciadas pelos/as professores/as
iniciantes,nos espaços escolares rurais, no período de 1950 a 1970. A delimitação temporal encontra-se
entre os anos de 1950 a 1970, por sinalizar o período em que os/as antigos/as normalistas dessas
escolas ingressaram na profissão docente e atuaram em espaços escolares rurais. Tal esforço integra
pesquisas realizadas no processo de qualificação para o doutorado. Este trabalho tem como referencial
os estudos acerca da história da profissão docente, da história da educação e da memória. A
metodologia privilegia uma documentação que tem como fundamentação não somente registros
documentais, mas aqueles que foram produzidos a partir de entrevistas com professores/as que fizeram
a escola normal. As entrevistas permitiram perceber sentimentos aflorando nas rememorações, sobre
fatos que influenciaram a vida desses sujeitos, suas escolhas e razões em optar pela profissão, os modos

374
de enfrentar as dificuldades encontradas nas diferentes situações, enfim, o que pode tê-los/las
aproximado e distanciado, em suas trajetórias, do campo profissional do magistério. A análise
empreendida permitiu constatar que, entre os anos de 1950 e 1970, era comum o ingresso de alunos/as
formados/as nas escolas normais em áreas rurais, sendo possível verificar também que a trajetória
profissional destes/as professores/as iniciantes foi marcada por muitas dificuldades de inserção e
adaptação ao meio rural, dificuldades advinda da estrutura das escolas, das condições de moradia, de
transporte que o meio rural imprimia. Assim, pode-se concluir que a proposta desta comunicação traz à
tona uma abordagem importante para ser discutida no eixo 04 (quatro) do Congresso Brasileiro de
História da Educação, que tem como temática a história da profissão docente.

1183
MEMÓRIAS ESCOLARES DO PÚBLICO FEMININO DO CURSO DE LICENCIATURA EM INFORMÁTICA DO
INSTITUTO FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO – PÓLO SÃO MATEUS
1 2
EDNA GRAÇA SCOPEL ; MARIA JOSE RESENDE FERREIRA .
1.IFES/UFES, VITÓRIA - ES - BRASIL; 2.IFES, VITÓRIA - ES - BRASIL.

É um recorte dos estudos em andamento sobre a escolariazação do público feminino no Instituto


Federal do Espírito Santo. A base teórica de sustentação da pesquisa relaciona três eixos teóricos –
gênero e escolarização feminina, formação de professor e Educação a Distância (EAD). Os aportes são
encontrados em Scott (1900, 1992), Nader (2001), Faria Filho (2005), Vidal e Faria Filho (2005), Bosi
(1994), Pimenta (1999), Nóvoa (1995), Gatti e Barreto (2009) e Oliveira (2003). É uma pesquisa
qualitativa, com um estudo de caso com enfoque nas histórias de vida. Os sujeitos dessa pesquisa são as
alunas do curso de Licenciatura em Informática do Pólo São Mateus. Foi utilizada para construção dos
dados as informações do Sistema Acadêmico e a análise das postagens das alunas sobre suas memórias
escolares no ambiente moodle. A categoria conceitual relação de gênero busca rediscutir os respectivos
papéis do homem e da mulher, construídos culturalmente e denuncia a discriminação que o gênero
feminino sofre nos diversos âmbitos da sociedade. Historicamente, a presença feminina no Brasil,
apresenta-se vinculada à instituição familiar, que restringiu seu papel ao quotidiano doméstico,
circunscrita aos encargos da casa e os cuidados com os entes familiares. Nesse sentido, o trânsito das
mulheres para a esfera pública, deu-se de forma gradativa, permeado por tensões e mediante o
processo de escolarização. Assim, a instituição escolar foi preponderante para as mulheres superarem
algumas barreiras impostas pelas determinações sociais de gênero. A Educação a Distância é apontada
como uma das alternativas para enfrentar o desafio da formação docente, no momento em que a
política pública brasileira busca ampliar os programas de formação – inicial e continuada – dos
professores. Oliveira (2003) destaca a pertinência da EAD na formação de professores apóia-se em duas
razões principais. Por um lado, visa atenuar as dificuldades que os formandos enfrentam para participar
de programas de formação em decorrência da extensão territorial e da densidade populacional do país
e, por outro lado, atende o direito de professores e alunos ao acesso e domínio dos recursos
tecnológicos que marcam o mundo contemporâneo, oferecendo possibilidades e impondo novas
exigências à formação do cidadão. Nóvoa (1995, p. 25) ressalta “A formação não se constrói por
acumulação (de cursos, de conhecimentos ou de técnicas), mas sim através de um trabalho de
reflexividade crítica sobre as práticas e de (re)construção permanente de uma identidade pessoal”. Com
este trabalho consideramos que a discussões levantadas, possam contribuir para a reelaboração das
propostas curriculares dos cursos de Licenciaturas a distância da instituição.

996
MESTRA RITINHA: NAS LEMBRANÇAS E ESQUECIMENTOS AS REPRESENTAÇÕES DA DOCÊNCIA NA
ESCOLA PRIMÁRIA DE SABARÁ
1 2
JANAINA APARECIDA GUERRA ; MARIA DO CARMO XAVIER .
1.PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE DE MINAS GERAIS, SABARA - MG - BRASIL; 2.PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE
CATÓLICA DE MINAS GERAIS PUCMINAS, BELO HORIZONTE - MG - BRASIL.

375
PROPOSTA/OBJETIVOS: as placas de endereçamento que orientam o trânsito pelas ruas das cidades são
construções memorialísticas reveladoras de processos históricos e sociais e merecem ser explicitadas.
Elas são construções carregadas de sentido subjetivo e simbólico e se encaixam na noção de “lugares de
memória”. Nesta comunicação, mobilizando as noções de “memória coletiva” de Maurice Halbwachs
(1990), lugares de memória em Pierre Nora (1993) e “Memória e esquecimento” Michel Pollack (1989)
pretendemos analisar as representações construídas sobre a docência no ensino primário a partir da
memória guardada e evocada por uma placa de endereçamento da histórica cidade de Sabará. A placa
faz referência a uma mulher, negra e professora primária, que deixou marcas de sua atuação nas
décadas iniciais do século XX: Mestra Ritinha. Buscamos nas lembranças e esquecimentos de moradores
da cidade as representações da comunidade sabarense sobre essa personagem e sobre a docência. O
objetivo é construir uma interpretação das características e peculiaridades que fizeram com que essa
professora primária, ganhasse destaque naquela comunidade e discutir os dilemas e ambiguidades da
docência tendo como apoio as representações construídas sobre a Mestra Ritinha. METODOLOGIA:
optamos por trabalhar a memória social destacando os vínculos entre história e memória, sempre re-
significadas pelo tempo presente. Com base nesse recorte conceitual a investigação se sustenta em
dados coletados por meio de depoimentos orais de pessoas de três segmentos distintos: aqueles que
conviveram com Mestra Ritinha e dela guardam lembranças, aqueles que partilharam o processo de
construção da memória sobre essa professora e aqueles que, sob a forma de diálogos, acessaram
registros de memória dessa personagem. Por meio da coleta desses depoimentos e da análise do
discurso desses três segmentos, procuramos identificar as representações da docência e as respectivas
visões sobre o passado, o presente e futuro da profissão docente. RESULTADOS: na análise dos dados
temos percebido as formas diferenciadas como a memória social é elaborada por distintos grupos de
pessoas, em diferentes momentos do tempo e do espaço, e como tais memórias permitem que se
produza uma hierarquização de valores e idéias sobre a docência. Através da análise dos processos de
apropriação diferenciada de registros de memória, percebe-se o quanto as lutas por bens simbólicos
podem assumir distintas formas. A pesquisa permite dizer que os porta-vozes dos três segmentos, ao
produzirem seus discursos sobre a memória de Mestra Ritinha, buscam afirmar a veracidade e a
legitimidade do que estão dizendo considerando seus lugares e posições sociais, seus valores e
imaginário da sociedade. Constroem representações sobre a docência traduzindo/adaptando discursos
e imagens que circulam pela sociedade.

685
MODERNIDADE E PRÁTICA DOCENTE: ALGUMAS MEDIDAS DISCIPLINADORAS PARA O PROFESSOR
PRIMÁRIO (1906 A 1915)

VÍVIAN GRASIELLE PEREIRA DE FREITAS; SARAH JANE ALVES DURÃES.


UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS - UNIMONTES, MONTES CLAROS - MG - BRASIL.

No presente trabalho analisamos alguns direitos, deveres e penalidades instituídos para o professor
primário em Minas Gerais estabelecendo um diálogo entre essas diretrizes e o conceito de modernidade
vigente no período. Além disso, buscamos perceber em que medida tais proposições legislativas
traduziam o controle do Estado sobre a Educação e a sociedade. Principiamos nossa discussão em 1906
devido a reforma de instrução que ocorreu nesse ano, no governo de João Pinheiro e finalizamos no ano
de 1915 com aprovação da lei 657. Tanto a reforma como a legislação aprovada no período objetivavam
ordenar, organizar e qualificar o professor como aquele que poderia atuar propagando as idéias
modernas e ideais republicanos. Fizemos uma pesquisa qualitativa de cunho histórico tendo como fonte
primária a legislação educacional desse período – Regulamentos, Leis, Decretos. Além da legislação em
questão analisamos alguns relatórios escritos pelos presidentes do Estado e por fim buscamos respaldo
teórico em autores que discutem profissão docente, legislação educacional, e modernidade. A Educação
passou a ser percebida como capaz de contribuir para implantação dos princípios republicanos, ou seja,
através da instrução a população, no caso estudado a mineira, poderia adquirir instrução e assumir
conceitos de nação e patriotismo. Tendo maior compromisso com seus deveres de cidadão sendo
cumpridores das regras estabelecidas no momento republicano. Contudo para alcançar tal intento era

376
necessário remodelar o sistema de instrução e acompanhar os profissionais que nele atuavam. Nessa
perspectiva foram legitimadas algumas medidas disciplinares para os professores primários. Havia
alguns benefícios, como férias, prêmios e licenças e ainda deveres. Era função do professor, por
exemplo, zelar pelas condições higiênicas da sala de aula, ensinar os bons hábitos, cultivar valores
voltados para formação de um trabalhador comprometido e responsável. Por fim, foram
regulamentadas algumas penalidades tais como multa, advertência, suspensão e demissão. Em outras
palavras os professores passaram a funcionários do Estado submetidos a um conjunto de medidas
disciplinares. Aos poucos a legislação propôs elementos controladores da prática social e pedagógica. A
idéia de modernidade está presente a partir do momento que o fim principal da prática docente
voltava-se para a civilização da população e sua preparação para vivenciar essa nova e moderna
organização social. Para que o país, ou Estado estivesse em condições de assumir essa posição de
sociedade moderna cujas idéias se estabeleciam gradativamente, era preciso um povo alfabetizado,
produtor, trabalhador. Em suma, nesse texto discutimos as medidas disciplinares, contidas como
instrumentos legitimadores da idéia de modernidade em Minas. Palavras chave: Modernidade, Prática
docente e medidas disciplinares.

677
MULHERES E DOCÊNCIA: PARCERIA REVISITADA

CECÍLIA VIEIRA DO NASCIMENTO.


UFMG, BELO HORIZONTE - MG - BRASIL.

Este estudo, de cunho revisionista, tem como objetivo problematizar uma relação há muito conhecida
na historiografia da educação, quer seja, a vinculação entre mulheres e docência. Em pesquisa de
doutorado que venho desenvolvendo no programa de pós-graduação da Faculdade de Educação da
UFMG, sob orientação de Luciano Faria Filho, busco compreender a forma como as mulheres
elaboraram, no decorrer do século XIX, a condição de professoras públicas elementares. Para tanto,
acompanho a trajetória de doze professoras que atuaram entre as décadas de 30 e 80 do século XIX, na
comarca de Sabará, Minas Gerais. Com base nos referenciais micro-históricos, tenho buscado abarcar a
ambiência vivenciada por esse grupo de mulheres, no que tange o universo do trabalho, das relações de
sociabilidade, nas questões sócio-culturais, nas relações familiares e na interação com as escolas
normais. E essa aproximação tem se dado levando em consideração o método da ligação nominativa,
que consiste em captar um indivíduo e/ou seus familiares em diversas fontes, por meio da ligação de
nomes. Indícios, pistas, teia, rede de sociabilidade que tem como referência inicial 12 nomes de
mulheres, com o intuito de perceber elementos quanto às relações, condições sociais, religiosas,
étnicas, generacionais delas, elementos de suas vidas pessoais que muito possivelmente são reveladores
de suas atuações profissionais. E, como é comum aos estudos de trajetórias, tenho pesquisado séries
documentais diversas, como inventários e testamentos (posses, condições sociais e materiais,
parentescos), documentos eclesiásticos (que indicam batismo, casamento, óbito, incluindo a
possibilidade de antever expectativas de vida), jornais que circulavam em Sabará (fornecendo dados
sobre universo urbano e seus personagens, incluindo um Almanaque que registra endereço dos
moradores, viabilizando sua localização espacial na cidade), registros da Câmara Municipal de Sabará,
além de fontes sobre instrução pública e particular. O que tem se evidenciado como importante
elemento até o momento pode ser sintetizado em duas ideias: a escola normal como espaço de
chancela a uma inserção que já vinha ocorrendo desde as décadas iniciais do século XIX e a perspectiva
do magistério como herança, uma vez que parte significativa das professoras herdou a função de seus
familiares. Esses elementos contribuirão para melhor compreendermos a história da profissão docente,
eixo para o qual proponho a inserção deste estudo.

1020
NA PENNA DA IMPRENSA PROFESSORAS E PROFESSORES PRIMÁRIOS DO SÉCULO XIX (1852-1888):
CONTRIBUIÇÕES AOS ESTUDOS DA FEMINIZAÇÃO DO MAGISTÉRIO

377
ROBERTA GUIMARÃES TEIXEIRA.
UNIRIO, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL.

O presente texto visa comunicar os resultados de uma pesquisa de Mestrado concluída, que teve como
questão central refletir como os discursos da imprensa feminina do século XIX, da cidade do Rio de
Janeiro, contribuíram para o processo de feminização do magistério primário. A proposta se justificou,
pois estudos recentes indicaram, na segunda metade do século XIX, a partir de uma diversidade
documental, a existência de múltiplas identidades, trajetórias e experiências femininas que concorreram
para o reconhecimento das mulheres como atuantes na invenção do Brasil e na sua consideração como
sujeito/objeto da reflexão histórica. Foi utilizado como aporte teórico-metodológico os autores da
História da Educação Brasileira (GONDRA e SCHUELER, 2008; VIDAL, 2006, 2005; LOPES, FARIA FILHO, e
VEIGA, 2000), articulados com a categoria de representação de Chartier (2009; 2003; 1996; 1991; 1990)
e de gênero (DEL PRIORE, 2001; SCOTT, 1992; PERROT, 1998; 1991, 1989). Na pesquisa documental
realizada em quatro acervos públicos da cidade do Rio de Janeiro foram localizados quatorze periódicos
femininos do século XIX. Desse montante, quatro impressos apresentaram informações relevantes a
respeito das professoras e dos professores primários. Foram eles: O Jornal das Senhoras (1852-1855), O
Sexo Feminino (1873-1889), A Família (1888-1897) e O Ensino Primário (1884-1885). A partir dessa
seleção foi possível estabelecer o tempo histórico, que compreendeu o ano inicial de publicação d'O
Jornal das Senhoras e do jornal A Família, ou seja, de 1852 a 1888. Esse movimento de pesquisa nos
acervos auxiliou no reconhecimento dessa imprensa como um acervo cultural de valiosa contribuição à
temática em estudo bem como ressaltar a potencialidade desse tipo de fonte para os estudos histórico-
educacionais onde a imprensa deve ser compreendida como co-participe do processo de educação de
homens e de mulheres. Foram consideradas as condições do surgimento, as formas da materialidade
dessa imprensa escrita e/ou destinada às mulheres como também os seus sujeitos. Privilegiou-se olhar
na penna das mulheres escritoras, representações dos papéis sociais instituídos por elas como mães-
educadoras e missionárias que, posteriormente, passou também a representá-las na figura da
professora primária. Por fim, essa investigação possibilitou a constatação da luta e da resistência das
mulheres para se estabelecerem na profissão docente e desvelou alguns dos embates entre professoras
e professores do magistério público primário nos anos finais do Império, que contribuíram para o
entendimento do processo de feminização do magistério.

703
O ASSOCIATIVISMO MÚTUO DOCENTE NA HISTORIOGRAFIA EDUCACIONAL BRASILEIRA

SERGIO RICARDO PEREIRA CARDOSO.


IFRS - CAMPUS RIOGRANDE/ PPGE-FAE-UFPEL, PELOTAS - RS - BRASIL.

Fundada em 14 de outubro de 1929, a Associação Sul Rio-Grandense de Professores (ASRP) construiu


sua trajetória palpada em intenções, ações e conquistas, sendo esta a primeira instituição com o
interesse focado na elevação do nível do professorado e da proteção de seus interesses no Sul Rio
Grande do Sul; ao longo de sua existência, pode-se verificar que a ASRP não era apenas uma “ação entre
amigos”, como posteriormente será acusada pelo chamado sindicalismo "vermelho", mas sim uma
entidade que reuniu a classe docente de Pelotas e região, corroborando com o processo de
profissionalização docente ao longo do século XX. Diante disso, tendo como pano de fundo os estudos
sobre a ASRP, este artigo, parte de uma pesquisa de doutorado, tem por objetivo discutir o tratamento
dado às associações docentes de ajuda mútua pela historiografia educacional brasileira. Para isso,
optou-se por fazer uma breve discussão sobre as categorias que envolveram a história do
associativismo/ sindicalismo docente no Brasil, dando-lhes uma nova roupagem discursiva que permita
trazer à tona as associações mutuais docentes, não como um anexo da história do sindicalismo, mas sim
sendo elas um objeto singular com características e categorias próprias. Assim sendo, trabalha-se diante
do estado de conhecimento sobre a história do associativismo no Brasil, inclusive o docente. Pois, no
propósito de generalizar uma determinada perspectiva teórica, surgem na clássica historiografia da
classe operária duas vertentes referentes ao tratamento das associações mútuas e suas relações com a
construção da consciência de uma determinada classe: a primeira encara o mutualismo como sendo a

378
prima fase do movimento operário, uma espécie de pré-história das primeiras organizações operárias,
sendo por isso taxadas de sociedades sem caráter de resistência, de defesa dos interesses de classe; a
segunda vertente historiográfica ignora totalmente as formas de organização de trabalhadores que não
estejam vinculadas às ideologias comunistas e anarquistas, ou seja, até os anos 80, o associativismo é
encarado ou como uma proto-história do sindicalismo ou como sem importância para tal. É na década
de 1990 que a historiografia aponta uma tendência mais abrangente em relação às associações mutuais;
o sindicalismo “amarelo”, como foram pejorativamente denominadas as associações mutuais,passam a
ser encaradas como uma forma alternativa de consciência de classe com características reformista, e
não revolucionária, como a consciência de classe dos chamados sindicatos “vermelhos”. Em suma,
percebe-se uma tendência desta perspectiva na historiografia operária mais recente; na História da
Educação, entretanto, ainda é tímida a assunção do associativismo mútuo docente como
objeto específico de estudo, com características e categorias próprias de seu tempo.

744
O COLÉGIO PEDRO II NÃO ERA AQUI: O OLHAR IMPERIAL E OUTRAS FALAS SOBRE A ESCOLARIZAÇÃO E
A DOCÊNCIA NO ESPÍRITO SANTO NAS DÉCADAS DE 1850 E 1860

REGINA HELENA SILVA SIMOES; ROSIANNY CAMPOS BERTO; TATIANA BOREL.


UFES, VITORIA - ES - BRASIL.

Há 150 anos D. Pedro II visitou o Espírito Santo, durante o período compreendido entre 26 de janeiro e 9
de fevereiro. Em seu diário de viagem, o imperador registrou sérias críticas aos professores e ao ensino
ministrado nas escolas visitadas na província capixaba. Instigadas pelas críticas de Pedro II, investigamos
o exercício da docência no contexto provincial nas décadas de 1850 e 1860, buscando compreender
processos de formação e prática de professores no Espírito Santo durante a vigência dos regulamentos
datados de 1848 e 1862 que tratavam, respectivamente, “das escolas de primeiras letras” e da
“instrução pública” na província. Para tanto, utilizamos como fontes os referidos regulamentos
assinados por Luiz Pedreira do Couto Ferraz (1948) e José Fernandes da Costa Pereira Junior (1860),
relatórios sobre a instrução pública, mensagens presidenciais, documentos do Fundo de Educação sob a
guarda do Arquivo Público Estadual, jornais, e obras historiográficas (ROCHA, 1980; OLIVEIRA, 1975)
sobre o estado do Espírito Santo (ROCHA, 1980; OLIVEIRA, 1975), cotejando-as com a visão expressa no
diário imperial. As fontes foram analisadas a partir das seguintes questões: a) como se configuram as
críticas aos professores e ao ensino em escolas capixabas nos documentos analisados; b) quais as
diretrizes adotadas para o ensino primário na província; c) quais as prescrições estabelecidas para o
exercício do magistério no Espírito Santo nos regulamentos da instrução pública de 1848 e 1862. Sob a
inspiração do pensamento de Marc Bloch, Carlo Ginzburg e Walter Benjamin, procuramos observar, no
processo de seleção, análise e interrogação das fontes, a compreensão dos contextos da sua produção,
a pluralidade no entrecruzamento dos documentos encontrados e a leitura, a contrapelo, do texto e do
hors-texte. Como resultado do estudo realizado, destacamos o descompasso existente entre as
demandas com relação ao magistério, as críticas ao professorado e aos alunos capixabas, expressas
tanto no diário imperial como em discursos de autoridades locais e as precárias condições oferecidas ao
exercício do trabalho docente. Provocadas pelo distanciamento do olhar imperial, segundo o qual a
escolarização na província do Espírito Santo reduzia-se ao déficit absoluto, interessou-nos compreender,
por meio das fontes estudadas, as complexas condições do exercício do magistério na província,
buscando garimpar, a contrapelo, nas ausências cristalizadas pelos discursos sobre a escolarização e o
magistério capixabas, os incontáveis desafios do processo constitutivo da docência no tempo.
499
O DEBATE EDUCACIONAL GERONTOLÓGICO NA PARAÍBA NOS IDOS DE 1990 E 2000: A HISTÓRIA DO
PERCURSO DOCENTE DE TERESA AQUINO

DANIELLA BARBOSA SUASSUNA; CHARLITON JOSÉ DOS SANTOS MACHADO.


UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA, JOAO PESSOA - PB - BRASIL.

379
Esta pesquisa tratou-se de um estudo descritivo qualitativo com perspectiva histórica cujo objetivo foi
investigar a história de vida e o legado acadêmico da professora paraibana Teresa Aquino para a
institucionalização do debate educacional gerontológico na Universidade Federal da Paraíba entre os
anos de 1991 e 2005, ou seja, entre o ano de apresentação do anteprojeto para implantação da primeira
Universidade da Terceira Idade da Paraíba como órgão suplementar daquela universidade ligado à Pró-
Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários e o ano de encerramento das atividades educacionais da
mencionada professora no Núcleo Integrado de Estudos e Pesquisas da Terceira Idade da Universidade
Federal da Paraíba devido ao seu falecimento, respectivamente. Para tanto, a metodologia de
investigação utilizada foi a História Oral e a Memória como capaz de produzir fontes orais (entrevistas
temáticas) e de desvelar fontes escritas (relatórios e boletins anuais de atividades no campo do ensino,
da pesquisa e da extensão gerontológicas; resumos de anais de congressos; artigos de periódicos;
folders de eventos científicos; resoluções; portarias; atas de reuniões ordinárias; projetos de pesquisa,
de ensino e de extensão na área de Gerontologia; produções monográficas; e matérias jornalísticas) e
imagéticas (fotografias) junto tanto aos arquivos pessoais dos entrevistados (familiares e colegas de
profissão) quanto em bancos de dados visitados (arquivos escolares). Assim, após a conclusão da
pesquisa como parte integrante da dissertação de mestrado em educação de sua autora, viu-se que a
partir da narrativa da história do percurso docente de Teresa Aquino foi possível compreender as lutas
políticas, os discursos educacionais, os sujeitos escolares envolvidos e as mudanças sofridas na proposta
político-pedagógica pelo reconhecimento institucional do debate educacional gerontológico na Paraíba,
desde a concepção inicial de criação de uma Universidade da Terceira Idade nos moldes de educação
continuada propostos pela escola francesa do professor Pierre Vellas até o reconhecimento institucional
de tal discurso com a homologação do primeiro Núcleo Integrado de Estudos e Pesquisas da Terceira
Idade da Universidade Federal da Paraíba em 1994. Assim, a pesquisa contribuiu para se pensar, por
meio das singularidades e complexidades do cotidiano do fazer docente de Teresa Aquino, a dedicação
de sua velhice no processo de afirmação do direito a educação das pessoas idosas na Paraíba.

1217
O ENSINO PRIMÁRIO E A PROFISSIONALIZAÇÃO DOCENTE NO PIAUÍ

EDILENE LIMA DA SILVA.


UFPI, TERESINA - PI - BRASIL.

O presente artigo é resultado de um estudo desenvolvido no projeto de iniciação cientifica realizado de


2006 a 2008 na Universidade Federal do Piauí. Com o título “História e Memória da Educação no Piauí -
Brasil” o referido trabalho buscou reconstituir historicamente as transformações ocorridas no ensino
piauiense na primeira metade do século XX, a partir de dados levantados em fontes hemerográficas
(jornais) e em documentos oficiais (Mensagens Governamentais, Relatórios, Regulamentos e Decretos-
Lei) prospectados no Arquivo Público do Estado do Piauí - Casa Anísio Brito. A história tem se constituído
nos últimos anos como campo fértil para os pesquisadores da educação, onde presenciamos um
número significativo de trabalhos sendo produzido, decorrentes de novas vertentes de investigação
como a Nova História que veio ampliar as possibilidades de estudos e análise nessa área. Com o objetivo
de auxiliar a expansão da produção historiográfica local, propomos este trabalho que visa abordar sobre
a educação piauiense, especialmente no que se refere ao ensino primário e a profissionalização docente
no Estado. Assim, para a realização desta pesquisa contamos com o apoio teórico-metodológico da
Nova História Cultural, tendo como referência Peter Burke (1992) e Jacques Le Goff (2003), além de nos
fundamentarmos em autores como Eliane Marta Teixeira Lopes (2005), Denice Catani (2000), Itamar
Brito (1996), Antonio de Pádua Lopes (2001), Norma Soares (2004), Socorro Santana (2008), dentre
outros. Nesse sentido, pretendemos através deste estudo especifico voltar nosso olhar para o ensino
primário, uma vez que o período investigado vivenciava um momento de muita movimentação em
termos de debates e discussões acerca do mesmo, motivado pelo índice elevado de analfabetismo
existente no país. Dessa forma, a expansão do ensino era colocada como alternativa necessária para
amenizar essa situação de falta de instrução elementar entre a população, trazendo como consequência
a exigência pela profissionalização docente para o exercício do magistério primário no Estado. Com a
interiorização da educação no ano de 1929 o ensino rural no Piauí passou a ser visto como um dos

380
maiores problemas educacionais, devido à atuação de professores leigos, em virtude da dificuldade para
provimento de normalistas em muitas localidades, principalmente as mais afastadas dos centros
urbanos. Então, para resolver o problema da falta de professores habilitados na zona rural tivemos a
iniciativa da criação de Escolas Normais no interior do Estado e a implementação de Leis que visavam a
substituição de leigos por profissionais diplomados.
764
O INGRESSO NO MAGISTÉRIO CATARINENSE (1950-1980): OS CONCURSOS E A PROFISSIONALIZAÇÃO
DOCENTE

IONE RIBEIRO VALLE; DANIELLY SAMARA BESEN; SILVANA RODRIGUES DE SOUZA SATO.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA, FLORIANOPOLIS - SC - BRASIL.

O presente estudo integra o projeto intitulado “MEMÓRIA DOCENTE: Os impactos do movimento de


escolarização em Santa Catarina sobre a carreira docente, as identidades profissionais e o trabalho
pedagógico de professores da rede estadual de ensino”. Esta pesquisa está em andamento e se propõe
a recuperar, registrar e analisar a memória docente dos professores do magistério público estadual que
se encontram atualmente na condição de aposentados. No que se refere a este artigo, centrar-nos-
emos nos aspectos referentes à constituição da carreira docente dos professores primários, por
intermédio da análise dos dispositivos legais que regulamentam os concursos de seleção aplicados em
Santa Catarina, entre os anos de 1950 a 1980; um período em que o Estado catarinense toma para si a
responsabilidade pela escolarização inicial obrigatória. A expansão da escolarização primária no Estado
catarinense exigiu que a sociedade se organizasse inicialmente nos aspectos referentes à consolidação
do sistema de ensino. Embora a legislação educacional exigisse um nível mínimo de formação, a falta de
diplomados levou os sistemas de ensino a recrutarem jovens ainda em fase de estudo, ou mesmo
pessoas que não tinham nenhuma formação para o magistério. Paralelamente, na medida em que o
sistema se consolidava tornou-se necessário regulamentar a carreira profissional estabelecendo critérios
específicos para o ingresso e a permanência nos cargos. Assim, a ação do poder estadual foi essencial
para criar estratégias que visavam unificar o corpo docente, relacionadas, principalmente às exigências
de formação mínima para o exercício do cargo. A análise das leis que estabelecem os concursos para o
ingresso no magistério público estadual nos permitiu visualizar um movimento em favor da
profissionalização docente em Santa Catarina. Se no início dos anos de 1950 os documentos analisados
ainda mencionam a figura do “professor habilitado” – aquele que não apresenta formação específica,
mas que conta com a prática profissional – ele vai sendo progressivamente substituído por professores
complementaristas e por normalistas. Já no final dos anos de 1980, a composição da carreira docente
parece consolidada, sendo que a “habilitação profissional” (nível de formação) para exercício de
determinado cargo está diretamente relacionada à categoria profissional ocupada na hierarquia
docente. Os processos de recrutamento – especialmente por meio dos concursos – serão
compreendidos nos termos de Pierre Bourdieu como “ritos de instituição”. Segundo o autor (1998, p.
98), “falar em rito de instituição é indicar que qualquer rito tende a consagrar ou a legitimar, isto é, a
fazer desconhecer como arbitrário e a reconhecer como legítimo e natural um limite arbitrário, ou
melhor, a operar solenemente, de maneira lícita e extraordinária, uma transgressão dos limites
constitutivos da ordem social e da ordem mental a serem salvaguardados a qualquer preço”.

338
O MOVIMENTO DE INDEPENDÊNCIA NA BAHIA E OS PROFESSORES NO “FRONT”:
CONSTITUCIONALISTAS X SEPARATISTAS

JOSÉ CARLOS DE ARAUJO SILVA.


UNEB - DCH IV, JACOBINA - BA - BRASIL.

381
Oprocesso de emancipação do domínio português de fato tratou-se de um longo processo tensões entre
os vários segmentos e interesses envolvidos e que ainda adquiria novas matizes quando nos detemos
nas realidades locais, relativas às capitanias brasileiras. A Bahia, que já no ano de 1798 conhecera um
movimento republicano, de características populares pela participação de setores marginalizados da
sociedade colonial na então, maior cidade da colônia portuguesa na América, teve entre um dos seus
principais envolvidos, esse reconhecidamente, leitor, tradutor e divulgador de “obras sediciosas”, o
professor de gramática latina Francisco Muniz Barreto de Aragão. Alguns anos mais tarde, na
emergência do “grito do Ipiranga”, a Bahia, ou melhor, a sua capital, ainda se encontrava sob o domínio
político e militar dos lusitanos, cidade sitiada pelas tropas nacionais acampadas nas cidades
circunvizinhas (recôncavo baiano) Salvador, conheceu um embate para nós muito esclarecedor acerca
da vida, do pensamento e do trabalho dos membros do magistério régio do período, algo que alcançou
a incipiente imprensa do período e exigiu medidas concretas e práticas por parte desses indivíduos. Essa
proposta de comunicação individual tem como objetivo caracterizar a atuação dos professores régios
“situados” dos dois lados da contenda: Os constitucionalistas, favoráveis às decisões da Constituição do
Porto (1820) defendendo a manutenção do domínio português e os separatistas, defensores da
autonomia da Bahia e do Brasil. Assim essa pesquisa utilizou como fontes as referências a atuação
desses dois grupos nos trabalhos de Maria Beatriz Nizza da Silva, A primeira gazeta da Bahia: Idade
d’ouro do Brazil; Candido da Costa e Silva, Os segadores e a messe: o clero oitocentista na Bahia e tese
de doutorado de minha autoria intitulada: As aulas régias na capitania da Bahia (1759-1827): vida,
pensamento e trabalho de “nobres” professores de onde nos pudemos analisar a posição e atuação de
professores e mestres régios, como o professor de Filosofia Inácio José de Macedo que, enquanto editor
do principal (e primeiro) periódico do período na cidade defendia as cortes portuguesas e ironizava as
tropas baianas, de outra parte, temos os casos dos padres Daniel da Silva Lisboa e Manoel José de
Freitas Baptista Mascarenhas, celebrizados pela adesão à causa separatista.

1286
O PROFESSOR PÚBLICO PRIMÁRIO SE FAZ OUVIR: CONDIÇÕES DE TRABALHO, ADOECIMENTO E
ASSOCIATIVISMO DOCENTE EM MINAS GERAIS (1890 A 1911)

ELIANA OLIVEIRA OLIVEIRA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS, CONTAGEM - MG - BRASIL.

Esta comunicação insere-se no eixo temático “História da profissão docente”, trata-se de recorte de
pesquisa de mestrado em andamento e tem como principal objetivo discutir o movimento de
organização dos professores públicos primários em Minas Gerais nos anos iniciais do período
republicano. A partir da premissa de que as tensões nas relações escolares, acrescentado pelas
precariedades das condições de trabalho docente trouxeram conseqüências para a saúde do
professorado e contribuíram para o processo de organização dos professores primários, buscou-se
reconstruir as relações escolares; as disputas de poder, os conflitos, interesses e negociações presentes
no processo de escolarização. Minha hipótese é que os conflitos vivenciados no cotidiano do trabalho se
deram de forma tão intensa que foram externalizados pelos docentes na forma de recusas,
absenteísmos, reclamações e em algumas situações adoecimentos, que resultou em um significativo
número de pedidos licença medica para tratamento de saúde. Por sua vez, este conjunto de fatores
favoreceu o movimento de organização do professorado e culminou na criação da associação
denominada “União do Magistério Mineiro” no ano de 1906 e na realização de três encontros anuais
entre os professores primários ocorridos respectivamente nos anos de 1909, 1910 e 1911 intitulado
“Congresso dos Professores Públicos Primários de Minas Gerais”. A análise do processo de associação
entre os professores primários se fundamentou na teoria de Edward Thompson. Deste modo,
pretendeu-se explicar que a experiência compartilhada na prática docente, favoreceu a organização dos
professores enquanto categoria profissional de modo a fazer ouvir suas reivindicações. A teorização de
Norbert Elias também contribuiu para dar visibilidade a dinâmica relacional de interdependência
presente no processo de escolarização, sendo possível, perceber a existência de equilíbrios
diferenciados de poder entre professores, alunos, pais e gestores do ensino. As principais fontes
utilizadas para o desenvolvimento desta comunicação foram os documentos que se encontram no

382
Arquivo Público Mineiro, como os ofícios enviados a Secretaria do Interior com assuntos referentes a
instrução pública. Também foi dado destaque para as publicações no Jornal “Minas Gerais” referente a
“União do Magistério Mineiro” e sobre a realização dos três encontros do “Congresso dos Professores
Públicos Primários de Minas Gerais”.

1066
OS FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS DO MÉTODO DE ENSINO INTUITIVO E O MODELO DE PROFESSOR
DAS ESCOLAS PRIMÁRIAS NA MODERNIDADE BRASILEIRA

ROSÂNGELA SILVEIRA RODRIGUES.


UNIMONTES, MONTES CLAROS - MG - BRASIL.

Esta comunicação tem como eixo de discussão os fundamentos filosóficos do método de ensino
intuitivo, conforme propõe Sampaio Dória no manual Princípios de Pedagogia (1914), que por sua vez, é
proposto com o intuito difundir um modelo docente nas escolas primárias brasileiras. Assim, este
resumo é resultado parcial de uma pesquisa que tem sido desenvolvida como parte de uma investigação
maior sobre as representações de professor nos textos e manuais de Pedagogia utilizados nas escolas
normais brasileiras (1886-1914), Desta forma, a presente pesquisa, encontra-se vinculada ao grupo de
pesquisa GHES /Unimontes e financiada pela FAPEMIG e CNPq. Diante do exposto urge esclarecer que,
este estudo objetiva-se a realizar uma análise a respeito do conteúdo do manual Princípios de
Pedagogia de Sampaio Doria, impresso em 1914 e utilizado nas escolas normais brasileiras, a fim
levantar indícios da proposta do método de ensino intuitivo no conteúdo deste manual, de forma a
elencar elementos para subsidiar uma reflexão, com o objetivo de desvelar os fundamentos filosóficos
do mencionado método de ensino intuitivo, a partir das idéias de Bacon, Coménio e Rousseau. Idéias
estas, que ao fundamentarem o método de ensino em questão, foram utilizadas no período da
modernidade, como instrumento de legitimação e formação de um modelo ideal de professor (a) a ser
formado nas escolas normais e difundido nas escolas de formação primárias no final do século XIX e
início do século XX no Brasil, a serviço dos interesses republicanos. Nesta direção, este estudo é
realizado por meio de uma metodologia qualitativa, baseada nos princípios da investigação histórica e
tem como fonte primária “o manual Princípios de Pedagogia Sampaio Dória (1914)”, conforme já
mencionado, e cujo estudo dos dados extraídos desse manual, ocorrerá mediante a análise de obras
clássicas de Bacon, Coménio, Rousseau e de autores que estudam seus pensamentos e cujas idéias
podem ser entendidas como os fundamentos filosóficos do método de ensino intuitivo, que por sua vez,
ao ser difundido nas escolas brasileiras no período em questão, pode ser percebido como o início da
propagação de um modelo de professor, cuja prática pedagógica traduz a responsabilidade para com o
ideal de formação de um modelo de pessoas adequado à sociedade emergente no Brasil moderno. O
que com o decorrer da história da educação deste país, no futuro, receberá os contornos e
denominação de pedagogia ativa com características européias e norte-americanas.

1238
PEQUENOS VESTÍGIOS: INVESTIGANDO A DOCÊNCIA EM SERGIPE

FÁBIO ALVES DOS SANTOS.


UFS, ARACAJU - SE - BRASIL.

Escrito em 1925 e reunindo mais de 640 biografias de sergipanos, o Dicionário Biobibliográfico Armindo
Guaraná é obra de referência indispensável para ter contato inicial com aqueles que compuseram a elite

383
local até o início do século XX. Uma pesquisa sobre os professores do ensino secundário não poderia
abrir mão da consulta a esta fonte. No primeiro momento, o objetivo era apenas identificar as biografias
de professores presentes no referido dicionário. Percebeu-se ao longo da consulta um outro dado:
professores que eram filhos de professores; ou mais, famílias com vários professores ou até três
gerações de homens que se ocuparam deste ofício em algum momento de suas trajetórias. Do
levantamento realizado no dicionário, foi possível identificar cento e trinta e três professores, dos quais
três mulheres. O dicionário informa anos de nascimento e falecimento, as cidades em que nasceu e
faleceu o biografado, filiação, formação escolar, atividades profissionais e publicações. Dados que foram
organizados em uma planilha para tabulação. Este trabalho é parte integrante de uma empreitada maior
que venho desenvolvendo nos meus estudos do doutorado. A consulta ao Dicionário Biobibliográfico
Armindo Guaraná atende em parte aos objetivos de identificar os professores do secundário, das aulas
públicas e particulares, e os locais de ensino, bem como é um passo inicial para analisar os processos de
aquisição de conhecimentos e de formação. O cotejo com outras bases de informação (como o livro
História da Educação em Sergipe de Maria Thetis Nunes) possibilita perceber que muitos docentes não
têm sua biografia nesta relação, todavia a riqueza de detalhes aqui apreendidas contribui em muito para
um contato fundamental com aqueles personagens históricos. Um aspecto do total da pesquisa que
venho empreendendo é que a docência em Sergipe no XIX será entendida como campo profissional que
se constituiu e legitimou ao longo do período em questão, seja por meio da legislação, seja por meio da
prática social. Daí o enfoque sobre o processo de aquisição de conhecimentos, de formação desses
indivíduos, no que muito favorece a leitura do Dicionário. Para a realização da minha pesquisa, tomarei
como base interpretativa os procedimentos defendidos por autores como Carlo Ginzburg
(principalmente a questão do “paradigma indiciário”), Norbert Elias (a partir do conceito de habitus) e
Pierre Bourdieu (no que diz respeito à noção de campo de poder e os capitais simbólico, material e
cultural).

500
PROFESSORA ZILMA GURGEL CAVALCANTE (1943-2010): ITINERÁRIOS DE UMA PESQUISA
(AUTO)BIOGRÁFICA

DANIELLA BARBOSA SUASSUNA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA, JOAO PESSOA - PB - BRASIL.

O exame realizado nesta pesquisa de doutoramento em educação em andamento, contemplando o uso


metodológico da (auto)biografia e da história oral de vida na investigação sobre a formação e a
profissão da docente cearense Zilma Gurgel Cavalcante, tem como objetivo analisar historicamente as
contribuições educacionais da referida professora ao processo de implantação da primeira instituição
escolar voltada para a educação de pessoas idosas no Brasil em 1988, mais especificamente, na
fundação da Universidade Sem Fronteiras ligada a Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Estadual do
Ceará. Partindo desse itinerário, vale ressaltar que não se compreendeu neste estudo a produção
biográfica do sujeito escolar Zilma Gurgel Cavalcante como um personagem cativo na linearidade de sua
própria história de vida, ao contrário, o uso do método (auto)biográfico e da história oral de vida aqui
adotado permitirá a intervenção do sujeito pesquisado na explicação histórica de seu próprio percurso
educacional (dos estudos primário, ginasial e normal no Colégio Santa Isabel em Fortaleza/CE nas
décadas de 1940 e 1950; de seus estudos de graduação em Serviço Social na Universidade Estadual do
Ceará e de pós-graduação em Gerontologia na Universidade de Lyon 2 nas décadas de 1970 e 1980; e de
sua nova graduação em Psicologia na década de 2000), rastreando seus caminhos e descaminhos como
docente (desde sua primeira atuação como alfabetizadora tanto em escola confessional quanto em
escola pública municipal nas décadas de 1960 e 1970 até seu ingresso como docente da Universidade
Estadual do Ceará e da Universidade Sem Fronteiras nos anos 1980 até a atualidade), articulando suas
experiências e aspirações pessoais e profissionais nos acontecimentos do seu tempo e circunstâncias
históricas (surgimento das primeiras universidades da terceira idade no Brasil) para descortinar um
passado de atuação na sociedade cearense e suas repercussões no cenário acadêmico regional
nordestino e brasileiro. Logo, a partir dos subsídios teóricos da Nova História Cultural e, por
conseguinte, da perspectiva metodológica adotada, ficou evidente que a produção de fontes históricas

384
de e sobre Zilma Gurgel Cavalcante será percorrida por diferentes caminhos que, através da opção da
abordagem qualitativa, centralizará suas buscas por fontes orais, imagéticas e escritas capazes de
reconstruir as experiências e o contexto histórico de produção das atividades docentes da referida
professora para a inauguração do debate de promoção da educação de pessoas idosas por meio da
criação de universidades para a terceira idade no Brasil.

1156
PROFESSORES SECUNDÁRIOS NO PIAUÍ: A EMERGÊNCIA DO SUPORTE LEGAL NO CONTEXTO DA
PROFISSIONALIZAÇÃO NOS ANOS 1960 A 1970

ROMILDO CASTRO ARAÚJO.


UFPI, TERESINA - PI - BRASIL.

O objetivo do presente artigo é analisar como ocorreu a normatizado do exercício da profissão docente
no ensino secundário na rede pública estadual de educação do Piauí nos anos 1960 a 1970. Como parte
de uma pesquisa em andamento sobre a “Profissão docente no ensino secundário no Piauí: constituição
e organização nos anos de 1950 a 1980”, localisa-se no eixo temático História da Profissão Docente.
Assim, problematiza-se o objeto proposto a partir seguinte pergunta: como ocorreu o processo de
normatização do exercício da profissão dos professores secundários na rede pública estadual de
educação do Piauí no período de 1960 a 1970? Trabalha-se com uma perspectiva histórico-social,
baseada na metodologia da pesquisa bibliográfica e documental. Nesse sentido, vamos dialogar com
Lopes (2010) Nóvoa (1991, 1995), Romanelli (2006), Santos (1995), Vicentini e Lugli (2003), destacando
o conceito central de profissionalização. Dialogaremos ainda com as Leis n° 414/41, n° 4024/61 e
n°5692/71, nas quais analisamos as transformações na legislação em relação ao trabalho de professores
secundários. O conceito de profissionalização a ser utilizado será o elaborado por Antonio Nóvoa.
Contudo, a presente análise está focada no aspecto relacionado ao suporte legal para o exercício e a
carreira docente. Na perspectiva de compreender esse fenômeno como de longa duração, discutimos
tal fenômeno como parte de um processo de expansão do sistema educacional piauiense, que envolve
uma tomada de consciência dos professores secundários, que vão construindo à medida que ocorre o
processo de normatização da profissão e estabelecimento de novas relações com o Estado, um
movimento que visava a garantia da legitimidade de suas aspirações coletivas, originando uma
legislação da profissão docente voltada para esse nível de ensino. Concluímos que: a) a legislação que
normatiza o exercício de professores secundários no Piauí tem uma conexão com processo de
profissionalização desses professores, que nas décadas de 1960 e 1970 tem nas leis 4024/61 e 5962/71
suas maiores expressões, sendo, portanto, parte de uma dinâmica de expansão do sistema educacional
que visa atender a demanda efetiva por educação no ensino pós-primário, cuja suas necessidades se
encontram no processo de urbanização da sociedade piauiense. b) que parte fundamental desse
processo se deu na luta por um estatuto profissional que se expressasse na valorização da carreira
docente, ensejando instrumentos de gestão que possibilite a progressão profissional e vários outros
mecanismo de valorização; c) que essa realidade tem relações com o processo de funcionarização com o
advento do primeiro Estatuto dos Funcionários Públicos Civis do Estado do Piauí através da Lei 441/41,
que estabelece bases importantes da carreira que vigoraram durante o período estudado.

451
PROFISSIONALISMOS DE PROFESSORES DA ESCOLA NOTURNA MUNICIPAL NA PRIMEIRA REPÚBLICA –
UBERABINHA, MG

FLÁVIO CÉSAR FREITAS VIEIRA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA, UBERLANDIA - MG - BRASIL.

Apresento resultados da pesquisa concluída para a tese de doutoramento em educação, na linha da


história e historiografia da educação, com foco no Eixo Temático da história da profissão docente, tendo
em evidência os profissionalismos de professores da Escola Noturna Municipal, de 1924 a 1925,

385
Jerônimo Arantes e Alice da Silva Paes. A fundamentação teórica ao foco da pesquisa recebeu a
contribuição de Nóvoa; Costa; Popkewitz; Gil Villa; Esteve; Hargreaves; Contreras; Imbernón entre
outros para estabelecimento da proposta de análise dos diversos profissionalismos do professor num
contexto socioeconômico e cultural, com as dimensões tempo, espaço e das ideias pedagógicas. Pela
pesquisa documental, foram utilizadas fontes jornais e revistas, impressos, documentos oficiais da
Câmara Municipal de Uberabinha (1888-1966), atas e relatórios, leis municipais (1891-1933),
documentos escolares, relatórios da inspetoria escolar municipal (1924-1927), fotos, legislação
educacional oriundo dos governos municipal, estadual e federal, no período da Primeira República em
Uberabinha/Uberlândia. Nos resultados obtidos houve a identificação de profissionalismos distintos na
atuação profissional dos professores citados. O professor Jerônimo Arantes (1925-1926), com
profissionalismos: pleno associado e competente. A professora Alice Paes (1924), com profissionalismos:
restrito associado e competente. Os profissionalismos do professor são um conjunto de processos
sistêmicos do caráter da profissão docente, em sua prática habitual de ensinar, resultantes da tensão
sobre a autonomia do professor pelos aspectos da profissionalização: 1- habilitação legal em instituição
específica; 2- suporte legal para o exercício profissional: com tempo de atuação, direitos e deveres,
proibições e vinculações hierárquicas e 3- associação e reconhecimento de grupo profissional; e das
dimensões da profissionalidade: 1- obrigação moral; 2- compromisso com a comunidade; 3-
desenvolvimento da competência. A profissionalização definida por ser uma força estruturante da
identidade da profissão, caracterizada por estabelecer tensão sobre a autonomia profissional com vistas
ao controle, a demarcações legais sobre o reconhecimento público profissional. A profissionalidade
sendo a outra força estruturante da identidade do professor que se caracteriza por nutrir o estímulo à
autonomia profissional, por dimensões norteadoras de princípios e de valores, com respeito à obrigação
moral, ao compromisso com a sociedade e à competência profissional. Na trajetória profissional do
professor há uma constante renovação do seu caráter profissional, que pode ser compreendidas pelos
seus diversos profissionalismos, nas relações e práticas sociais e profissionais.

1063
PROFISSÃO DOCENTE E TEORIA DAS PROFISSÕES SEGUNDO MAX WEBER (1864-1920)

JOSÉ CARLOS SOUZA ARAUJO.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA, UBERLANDIA - MG - BRASIL.

Contemporaneamente, a profissão docente tem sido uma temática discutida sob variados ângulos:
histórico-educacional, sociológico, jurídico, psicológico, econômico, dentre outros. E uma temática de
fundo, e manifesta triplamente, tem estado presente: profissão, profissionalização e profissionalismo,
os quais implicam inerentemente o ser profissional – que convive com a herança do passado em seu
presente histórico, em seu movimento pela profissionalização - esta a negar a profissão que se tem -,
bem como em vista dos norteamentos do profissionalismo - este também a opor-se às outras duas
dimensões. Sob esse prisma, justifica-se a investigação sobre as teorias das profissões, sobretudo as
seminais, e que guardam rumores com o tempo presente, além de retroalimentarem as discussões
contemporâneas. São exemplares nesse sentido as posições expressas em escritos de Spencer,
Durkheim e Weber, entre o final do século XIX e início do XX. O objeto da presente proposta é elucidar a
concepção de profissão e o lugar do professor conforme a ótica de Weber (1864-1920), particularmente
em suas obras Ensaios de Sociologia e Sobre a universidade, escritas no decorrer das duas primeiras
décadas do século XX. É naquele contexto, advindo do andamento da 2ª. Revolução Industrial,
submetido ao liberalismo econômico, que as teorias das profissões vieram à tona. Em oposição às
orientações evolucionista, positivista e marxista, Weber concebe os grupos profissionais como
instituição cujas entranhas se expressam pelas próprias conveniências do Estado. É através deste que os
referidos grupos vieram a se exercitar a seu favor e monopolisticamente, o que teria promovido uma
orientação exclusivista e excludente, uma vez que o triunfo da especialização, a regulação profissional, o
credencialismo e as conseqüentes vantagens econômicas, o status, o prestígio, a busca de autonomia
profissional entre outros são apenas exercícios e manifestações decorrentes da referida simbiose do
Estado com o mundo das profissões, o que conduziu à burocratização. Esta, no dizer de Weber, está
assentada numa objetividade de caráter racional, posto que se expressa por regras, meios, fins e

386
objetivos inerentes aos próprios interesses do Estado. Nessa direção, o papel da educação e do
profissional docente, bem como das instituições escolares inserem-se entranhadamente no
desenvolvimento da burocratização em vista da objetividade racional buscada pelo próprio Estado. Por
conseguinte, a posição weberiana afirma os grupos profissionais como estruturantes a partir de
artifícios políticos, econômicos e sociais.

994
PROFISSÃO DOCENTE: REFLEXÕES EMERGENTES DAS MEMÓRIAS

JAQUELINE COSTA CASTILHO MOREIRA.


UNESP, ARARAQUARA - SP - BRASIL.

O registro das memórias dos professores colabora na construção de uma história da profissão docente.
Quando se escreve sobre as lembranças, extraem-se das experiências vivenciadas, tanto as memórias
“puras”, mantidas no inconsciente; como as lembranças reorganizadas pelos valores do presente. Mas
esse fazer de novo, vai além do “refazer-se”. Reconstruindo sua trajetória, o professor se recompõe com
novos estímulos e vigor, ao mesmo tempo em que se permite alento sobre seus erros, seus desacertos,
seus maus-jeitos e seus limites. Justifica-se este trabalho, como possibilidade de construir uma memória
social da profissão, já que o ponto de vista que o grupo constrói sobre uma temática (que também lhe é
prática); pode revelar em seu discurso, ideologias, estereótipos e mitos. Assim, este estudo de natureza
qualitativa teve como objetivo investigar a profissão docente a partir das memórias de professores.
Realizado com 30 participantes em exercício predominantemente na rede pública. O instrumento
utilizado foi um questionário aberto, que versava sobre a opção por esta profissão (o que foi declarado
conscientemente e o que a análise de conteúdo trazia à tona); o momento desta decisão; como a
carreira foi viabilizada em termos de apoio, suas formas de expressão, oposições e sua efetivação como
profissão. O estudo ainda revelou algumas histórias marcantes, assim como depoimentos que refazem
das trajetórias de vida, um balanço de suas carreiras. A análise foi realizada de forma descritiva, com a
utilização da técnica de Análise de Conteúdo Temático, sendo os resultados apresentados de maneira
percentual, como “figuras”. Os dados apontaram que 25% dos professores ingressaram na docência
porque gostavam da área e tinham prazer com a profissão; 14% sofreram influências de antigos
professores, especialmente no ensino secundário/médio, revelando em seu discurso, profundas
marcadas deixadas por estes profissionais; 8% acreditavam em ideais de transformação social ou de
resistência; sendo que o restante das respostas ficou pulverizado entre: vocação, identificação com a
carreira, retorno positivo do trabalho, estimulação do pensamento crítico, autoconhecimento, sonho,
amor, frustração em outra profissão e possibilidade de estabilidade/salário. Houve uma dicotomia
quanto ao apoio e oposição a profissão. Enquanto alguns docentes tiveram apoio de familiares, amigos
e professores; outros tiveram que superar a rejeição pelo trabalho, de forma auto-afirmativa. Como
conclusão inferiu-se que as vivências da escolarização, na peculiaridade de seu ambiente físico, social e
cultural, imersas num longo e importante tempo da vida, influenciaram fortemente, tanto as trajetórias
pessoais, como as opções profissionais.

374
PRÁTICAS DE FORMAÇÃO: HISTÓRIA E PATRIMÔNIO CULTURAL

TÂNIA CRISTINA MEIRA GARCIA.


UFRN, CAICO - RN - BRASIL.

As práticas de formação de professores têm variado no tempo e no espaço, mantendo, entretanto, via
de regra, uma relação de próximidade com as leituras que os indivíduos fazem da sua história e do seu
patrimônio cultual. A sociedade atual tem vivenciado a ampliação dos espaços e dos ambientes de
construção de conhecimentos e de edificação de novos saberes, de surgimento de novas habilidades e
desenvolvimento de competências, as quais têm possibilitado a articulação de experiências individuais e

387
coletivas as quais permitam a estruturação de redes de informação propiciadoras de leituras
contemporâneas sobre o mundo e o fazer. Tal fenômeno tem sido o marco definidor da edificação da
história desta sociedade, imprimindo um ritmo diferenciado às relações entre as pessoas, ao mesmo
tempo, em que promove a necessidade de rever paradigmas e construtos consolidados. A escola,
também, revê seu lugar como espaço de articulação de saberes e, ao fazer uma leitura sobre o seu
papel, discute os elementos estruturadores da sua ação, revisando também os saberes por ela
construídos e mediados. Neste cenário damos destaque aos rudimentos do trabalho docente,
indagando-nos sobre que novas práticas estão presentes na ação docente que coloquem esse fazer
profissional em sintonia com as aspirações atuais? Tentativas de articular respostas a esta indagação
persistem na história da educação e da formação docente. Por vezes temos lançado novos desafios à
formação do professor, na tentativa de fortalecer o diálogo entre a escola e sociedade, cientes que esse
profissional se afirma como articulador entre as fontes do conhecimento e sua aquisição e construção
pelos alunos. Sustentamos a tese de que a formação do professor implica o desenvolvimento de
competências e habilidades que o instrumentalizem a atuar em diferentes ambientes. Assim, temos
acompanhado a experiência de formação e de atuação do pedagogo dentro do museu, através de uma
ação formativa, em que o aluno de graduação familiariza-se com os elementos da educação patrimonial,
ao mesmo tempo em que, lida com os conceitos de patrimônio cultural e memória, estabelecendo
relação teórico-prática com a história e a cultura locais. O museu como um dos cenários de formação e
de atuação do pedagogo converte-se em um espaço onde o graduando adquire subsídios para o
desenvolvimento de uma competência profissional que se situa para além da escola. Nessa experiência
o profissional coloca em prática a concepção da educação como mediadora entre a sociedade e a
escola, imprimindo uma ação pedagógica que se fundamenta na formação continuada, na atenção ao
ensino da história e no apoio ao desenvolvimento do processo de aprendizagem. Esse acompanhamento
e estudos sobre a formação docente têm como arcabouço de análise a investigação qualitativa, apoiada
nos relatos de experiência, na produção de material e documentação pessoal, bem como, na produção e
condução de experiências de práticas de formação docente.

1004
PRÁTICAS DOCENTES EM RECIFE-OLINDA, 1851-1890

ADRIANA MARIA PAULO DA SILVA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO, JABOATAO DOS GUARARAPES - PE - BRASIL.

Tendo por base os registros documentais primários referentes às cidades de Olinda e de Recife,
pertencentes aos códices das séries Instrução Pública (IP) e Câmaras Municipais (CM)– componentes do
acervo do Arquivo Público Estadual Jordão Emerenciano (APEJE)–; os Relatórios dos Presidentes da
Província de Pernambuco (RPPP) dos anos de 1851 a 1890 e os anúncios demandando e/ou ofertando
serviços de professores(as) publicados no periódico Diário Pernambuco durante o mesmo período,
discutimos os resultados parciais de uma pesquisa em andamento. Nesta pesquisa, apoiada pela UFPE e
pela FACEPE, objetivamos investigar, em geral, a trajetória histórica de construção do trabalho docente
no Recife e em Olinda, durante a segunda metade do século XIX. Especificamente, objetivamos analisar
os discursos socialmente veiculados a respeito das práticas dos docentes atuantes em ambas as cidades
no período em questão; identificando e descrevendo tais discursos e práticas, comparando-os entre si e
com relação aos resultados das pesquisas nacionais e internacionais interessadas em objetos
semelhantes. Para a obtenção dos dados em geral, utilizamos as técnicas de observação documental e
de transcrição direta e completa. Com relação aos anúncios, tendo em vista a particularidade dos seus
conteúdos, elaboramos também um instrumento para classificá-los e quantificá-los, o qual se encontra
em fase de ajustes. Classificamos e quantificamos os(as) professores(as) registrados(as) nos anúncios do
Diário de Pernambuco com relação a vários itens: nome, sexo idade, nacionalidade, nível de ensino nos
quais atuavam, público alvo para o qual direcionavam suas ações, objetos de ensino, locais de atuação,
valores cobrados, posse de autorização governamental para o exercício profissional. Nesta comunicação
utilizando, os dados produzidos até o presente momento, as práticas docentes são discutidas a partir de
dois níveis de análise. Analisamos, tendo em vista as conjunturas políticas regionais, as conflituosas
relações entre os docentes e os poderes públicos provinciais, no sentido de resistirem às crescentes

388
tentativas de homogeneização das suas ações, motivações e intencionalidades no exercício da docência.
Comparamos entre si os perfis pessoais/profissionais dos docentes cujas práticas emergem da
documentação periódica, enfatizando sua grande diversidade e, por fim, articulamos os argumentos
desenvolvidos com uma discussão a respeito da maneira bastante particular de utilização da imprensa
por parte dos professores que atuaram no Recife e em Olinda no século XIX, na sua segunda metade.

1162
REGULAÇÕES DA PROFISSÃO DOCENTE NA PARAÍBA DO SÉCULO XIX
1 2
MELÂNIA MENDONÇA MENDONÇA RODRIGUES ; VIVIA DE MELO SILVA .
1.UFCG, CAMPINA GRANDE - PB - BRASIL; 2.PMCG, CAMPINA GRANDE - PB - BRASIL.

Dois estudos acerca das atuais configurações do trabalho docente nas redes públicas de ensino do
Estado da Paraíba, desenvolvidos nos anos de 2008-2009, indicaram a relevância do desenvolvimento
de uma outra pesquisa, neste ano de 2010, norteada pelo objetivo de sistematizar o processo histórico
de construção da profissão de professor do ensino elementar nessas redes, cujos primeiros resultados
ora se apresentam. Levantamentos preliminares permitiram identificar o período do Brasil Império
como o momento em que a atividade docente passa a constituir-se em objeto da regulação estatal,
disciplinando desde aspectos concernentes à regulamentação da profissão até elementos do cotidiano
escolar. Utilizando-se de fontes documentais, predominantemente leis e mensagens originárias dos
Presidentes da então Província da Parahyba do Norte, no período de 1835 a 1886, a pesquisa levantou
as prescrições governamentais acerca de questões centrais da profissão, como sejam: requisitos e forma
de ingresso na profissão, remuneração, regime e condições de trabalho, férias e aposentadoria. Dos
dispositivos legais consultados, destacam-se, mais especificamente, o Regulamento de 15 de janeiro de
1849 e o Regulamento no 36, instituído pela Resolução do Governo Provincial, emitida em 26 de junho
de 1886, em que são consolidadas todas as disposições até então em vigor referentes ao ensino
primário. Iniciando com definições mais gerais acerca do ensino primário, os Regulamentos tratam, no
que concerne aos professores primários públicos: das condições para o ingresso e permanência no
magistério primário; do provimento das cadeiras do ensino primário e dos concursos; dos deveres, da
vitaliciedade, dos vencimentos, das vantagens, das licenças, faltas, remoções, jubilação (aposentadoria)
e outras vantagens; das penas correcionais e dos recursos; do processo disciplinar. Os dispositivos dos
Regulamentos estudados demonstram o refinamento dos mecanismos estatais de controle e permitem
a identificação de aspectos contraditórios que configuram o trabalho do professor primário, durante o
período analisado: de um lado, elementos de profissionalização da categoria, como a exigência de
formação específica, o ingresso por concurso público, a fixação de ordenados e de critérios para
gratificações. Por outro, a permanência da responsabilização do professor pela garantia das condições
materiais de funcionamento das cadeiras, a maioria das quais, localizadas nas próprias residências das
professoras. Também caminha no sentido contrário à profissionalização a ênfase no aspecto
moralizador, consubstanciada nas referências ao bom comportamento e no estabelecimento de sanções
a condutas contrárias a ele. Por fim, também cabe destacar a permanência de elementos
patrimonialistas, seja no instituto da vitaliciedade, seja em prerrogativas conferidas a representantes do
aparelho estatal quanto a indicações para cargos no magistério público.

738
SONHOS E REALIDADE:MEMÓRIA AUTOBIOGRÁFICA E REPRESENTAÇÕES DA FORMAÇÃO E DA
PRÁTICA DOCENTE
1 2
FERNANDO HENRIQUE TISQUE DOS SANTOS ; PATRÍCIA APARECIDA DO AMPARO .
1.PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO PAULO, SAO PAULO - SP - BRASIL; 2.UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO,
SÃO PAULO - SP - BRASIL.

O objetivo deste trabalho é discutir as representações sobre a formação e a prática docente da


professora Tereza de Jesus Brasílio Lima, a partir da sua memória autobiográfica publicada em 1993:
Sonhos e realidade: monografia de uma professora. A professora relata suas experiências formativas e a

389
prática docente na região da grande São Paulo entre 1971 e 1985. O trabalho foi concluído no âmbito da
disciplina Fontes para a História da Educação: questões de pesquisa e de interpretação/ o caso das
fontes literárias do Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Educação da USP em 2007 e se
direciona ao eixo temático História da profissão docente. A fonte foi caracterizada como uma memória
autobiográfica, pois a autora narra momentos pontuais de sua vida particular, articulando-os às
experiências formativas e de sala de aula. O trabalho foi desenvolvido a partir da leitura e análise do
livro, identificando o lugar social ocupado pela professora para identificar as intenções de narrar a sua
experiência. O referencial teórico consiste em autores que discutem a diversificação de fontes e a
potencialidade do uso da autobiografia na pesquisa em História da Educação como, (CARVALHO, 2005),
(SOUZA et al; 2006), (BUENO et al, 2006), (VICENTINI; RODRIGUES, 2004), (JOSSO, 2006), (LEJEUNE,
2008); e (CHARTIER, 1990; 1991) que se preocupa com os processos sociais de construção das
representações pelos indivíduos. Em seu escrito, a professora Tereza dá a ver os processos de
conhecimento sobre si e cria significados para as diferentes situações que tecem sua vida.
Compreendendo que as experiências sociais sustentadas pelo contexto histórico de um período são
maneiras de se construir as categorias de pensamento que organizam nossa apreensão do real e nossas
ações sociais, podemos afirmar que os escritos da professora nos ajudam a perceber o modo como um
sujeito determinado deu sentidos ao período histórico em que viveu. Nesse sentido, trata-se de saber
como a professora paulista construiu representações sobre e a partir do momento narrado, a Ditadura
Militar de 1964, e as influências desta no ambiente escolar. As representações de Tereza sobre a
docência estão marcadas pela concepção sócio-construtivista de ensino, compreendendo que a
formação dos indivíduos depende de uma postura mais afetiva do professor no processo de
aprendizagem. Do ponto de vista dos sentidos dessa escrita para a professora, destacamos um discurso
que enfatiza a superação das dificuldades vividas em âmbito individual e a vontade de influenciar a
formação profissional como resultado da frustração de não ser aprovada no mestrado da Faculdade de
Educação da USP. Relata, ainda, as contradições e conflitos vividos pelo descompasso da formação
inicial e a prática docente. Fica claro, portanto, que, ao analisar a memória autobiográfica de Tereza,
trazemos para a discussão dos estudos educacionais uma fonte que diversifica os pontos de vista sobre
a escola, incorporando a visão da professora.

807
TECENDO NOVOS OLHARES SOBRE AS PRÁTICAS PUNITIVAS NA PARAÍBA DO SÉCULO XX

KALYNE BARBOSA ARRUDA; AMURIELLE ANDRADE DE SOUSA.


UFPB, JOAO PESSOA - PB - BRASIL.

Este trabalho, vinculado ao Grupo de Estudos e Pesquisas “História, Sociedade e Educação no Brasil”
HISTEDBR/GT-PB e ao projeto de pesquisa “Educação e educadoras na Paraíba do século XX: práticas,
leituras e representações”, têm por objetivo trazer à baila a trajetória profissional da educadora
paraibana Joana Carvalho Moreira (Joaninha Moreira), que lecionou no município de Alagoa Grande-PB,
analisando as práticas de castigos corporais exercidas pela citada educadora entre os anos de 1931-
1996. A escolha justifica-se pela sua relevante presença no cenário educacional da cidade de Alagoa
Grande-PB, seja pela notória severidade em que implementava as suas práticas pedagógicas, seja pelo
seu histórico compromisso de formação escolar de diversas gerações. A pesquisa já concluída apresenta
que os castigos corporais são compreendidos entre alguns alunos como algo positivo e de relevante
contribuição, para que o processo de ensino-aprendizagem fosse concretizado de forma favorável, o
que por sua vez, tais afirmações vão à oposição ao que o escritor José Lins do Rêgo afirma no Jornal A
União de João Pessoa – PB, no ano de 1944. Situado no campo de abordagem teórico-metodológica da
Nova História Cultural, possibilitou-se o acesso à memória das práticas educativas da educadora Joana
Moreira, através das entrevistas de história oral realizadas com personagens (ex-alunos (as) e familiares)
que conviveram com a referida educadora. Assim, este trabalho utilizou da história oral, que tem sido
utilizada pelos historiadores que destacam a experiência de pessoas comuns, embora, não exista a razão
pela qual o historiador oral não deva gravar as memórias das pessoas influentes, da mesma forma que
dos trabalhadores. Também, não pressupõe afirmar que trabalhar com a história oral significa desprezar
as fontes escritas, mas de considerar uma importante fonte, a evidência oral, desprezada por muitos

390
estudiosos que tem/tinham a História através de fonte escrita, como verdade acabada. Foi realizado,
também, nos arquivos familiares e públicos um levantamento de fontes escritas “de” e “sobre” a
respectiva educadora, na perspectiva de configurar o universo histórico-educacional da época. Por
conseguinte, utilizou-se de uma pesquisa do tipo qualitativa, pois não buscou medir ou enumerar
eventos, mas sim, o contato direto do pesquisador com a situação objeto de estudo. Pretende-se,
portanto, com este estudo, ampliar o conhecimento sobre o papel desempenhado por Joana Carvalho
Moreira, destacando a sua liderança e envolvimento, bem como, as suas contribuições à educação
brasileira e paraibana no seu espaço-tempo concreto do século XX.

1367
TEMPOS DE APRENDER E FORMAR

CÁSSIA APARECIDA SALES MAGALHÃES KIRCHNER.


UNIVERSIDADE SÃO FRANCISCO/SEC. MUNIC, DE EDUCAÇÃO DE BRAGANÇA PAULISTA, BRAGANÇA
PAULISTA - SP - BRASIL.

Nesta comunicação busco tecer algumas considerações sobre as contribuições da memória no processo
formativo do professor e os modos como o tal processo influi em sua prática como docente. Tal
proposta permitiu entrever os modos como os discursos são construídos e incorporados ao imaginário
dos professores e daqueles que lidam diretamente com eles. Esses discursos são marcados não apenas
na oralidade, mas também no tempo e espaço e influenciam diretamente na construção da identidade
individual e coletiva. Novas perspectivas sobre a formação docente apontam para a importância não
apenas da materialidade dos fatos, mas também dos modos como os discursos são construídos e
incorporados ao imaginário daqueles que lidam com a educação. O testemunho oral ou escrito sobre o
processo educativo ao qual foi submetido possibilita a compreensão do modo como esses atores
educativos interpretaram e reinterpretaram o ato de educar, assim como os sentidos que atribuem às
suas experiências escolares. As memórias discentes e docentes tornam-se objetos privilegiados de
análise dos processos de circulação, apropriação e produção da cultura escolar presente em nossas
escolas. Dar importância às vivências e memórias dos atores educativos recoloca os indivíduos no centro
da história sociocultural e atribui atenção renovada aos seus percursos de vida e atuação profissional
favorecendo uma ampliação nos modos de analisar os processos formativos rompendo com espaços e
tempos institucionalizados, trazendo aspectos relacionados à infância, família, religião e demais espaços
de socialização. A utilização do conceito de experiência e das formas como ela se afirma, revela-se como
o mecanismo adequado para mostrar como a linguagem e o silêncio funcionam na reconstrução das
vidas e das identidades pessoais e profissionais (Nóvoa, 1995, 1997). Desse modo o trabalho objetiva o
levantamento de memórias significativas de professores que atuam na Educação de Jovens e Adultos da
rede municipal de educação de uma cidade do interior paulista e através destas pautar estudos e
reflexões que contribuam para a prática educativa. O ato de rememorar faz com que cada professor
traga o seu passado até ao presente pelas recordações que preservam dando um significado peculiar
aos processos atuais de formação. A análise desenvolvida pauta-se nos processo de construção de
representação profissional do professor a partir na noção de habitus articulando o campo da formação
profissional, formação ideológica e envolvimento social político.

1297
UM ESTUDO SOBRE METODOLOGIA DA LINGUAGEM (1949), DE J. BUDIN

GIZELMA GUIMARÃES PEREIRA SALES.


FFC UNESP, MARILIA - SP - BRASIL.

Apresentam-se, neste texto, resultados de pesquisa de Trabalho de Conclusão de Curso de Pedagogia


(Bolsa Pibic/CNPq/Unesp), vinculada às linhas “Formação de professores” e “Ensino de Língua
Portuguesa” do Gphellb – Grupo de Pesquisa “História do Ensino de Língua e Literatura no Brasil” e dos
Projetos Integrados de Pesquisa “História do ensino de língua e literatura no Brasil” e “Bibliografia
Brasileira sobre História do Ensino de Língua e Literatura no Brasil (2003-2011)”, todos coordenados
pela Profª. Drª. Maria do Rosário Longo Mortatti. Com o objetivo de contribuir para a compreensão de

391
um importante momento da história do ensino de língua portuguesa no Brasil, focaliza-se a proposta de
ensino apresentada por J. Budin, em Metodologia da linguagem: para uso das escolas normais e
institutos de educação, cuja 1ª. edição foi publicada em 1949, pela Companhia Editora Nacional (SP).
Mediante abordagem histórica, centrada em pesquisa documental e bibliográfica, desenvolvida por
meio da utilização de procedimentos de localização, recuperação, reunião, seleção e ordenação de
fontes documentais, elaborou-se o documento intitulado Bibliografia de e sobre J. Budin (1914-1953):
um instrumento de pesquisa, contendo referências de textos escritos por Budin e referências de textos
escritos por outros autores com menções a Budin ou citações de textos seus. Essas referências foram
ordenadas segundo a Norma Brasileira de Referências (NBR) – 6023 (2002), da Associação Brasileira de
Normas Técnicas (ABNT). A partir da análise dessas referências, escolheu-se como corpus da pesquisa o
manual de ensino Metodologia da linguagem, e optou-se por analisar a configuração textual desse
manual. Essa análise consistiu em enfocar os diferentes aspectos constitutivos do sentido desse manual,
a saber: necessidades e finalidades a que respondia, características do autor e dos leitores a quem se
destinava, aspectos temático-conteudísticos e estruturais-formais desse manual. Os resultados obtidos
a partir da análise da configuração textual do manual permitiram constatar que, para a autora, a
linguagem possui função socializadora e sua aprendizagem está relacionada com o nível de maturidade
bio-psíquica de cada indivíduo, estando o seu desenvolvimento relacionado com o interesse da criança.
Foi possível constatar, também, que, no manual de ensino Metodologia da Linguagem, de Budin,
estavam divulgados e sintetizados saberes representativos de uma concepção de ensino de linguagem
relacionados com os princípios da “Escola Nova”, característicos do momento histórico-educacional em
que foi publicado. Por fim, foi possível constatar, ainda, a importância do estudo desse manual, um dos
primeiros destinados especificamente ao ensino da disciplina Metodologia da linguagem, no Brasil, no
período em que foi publicado, tendo sido utilizado para a formação de professores alfabetizadores
especialmente entre as décadas de 1940 e 1960.

713
VESTIGIOS DO IDEARIO ESCOLANOVISTA NA ORGANIZAÇÃO PEDAGÓGICA DO CURSO DE FORMAÇÃO
DE PROFESSORES EM MATO GROSSO

MARIA TERESINHA FIN; ELIZABETH FIGUEIREDO DE SÁ.


UFMT, VARZEA GRANDE - MT - BRASIL.

As idéias da Escola Nova no Brasil ganharam força na década de 1920, quando um grupo de intelectuais
brasileiros pautados nas idéias políticos-filosóficos de igualdade entre os homens e do direito de todos a
educação, defenderam a organização de num sistema estatal de ensino público, livre e aberto, um meio
efetivo de combater as desigualdades sociais da nação. Tais idéias motivaram as reformas estaduais que
contribuíram para a penetração do escolanovismo no Brasil, instituindo uma nova proposta
metodológica na qual a criança é sujeito da própria aprendizagem e, conseqüentemente, estabelecendo
uma nova relação entre professor e aluno. Com a implantação desse novo ideário educacional, as
exigências para a formação e atuação de professores vão se ampliando, uma vez que a educação
tradicional se achava centrada no professor e na transmissão do conhecimento. Em Mato Grosso é
possível verificar, segundo a pesquisadora Elizabeth Pippi Rosa (2002), a presença das idéias
escolanovistas desde os primeiros regulamentos da instrução pública no período republicano. Porém, é
na década de 1920 que tais idéias ganham força, principalmente através da legislação, impulsionando a
circulação do movimento pela Escola Nova no interior da instrução pública no Estado. Em 1926, no
governo de Cesário Alves Corrêa, a Escola Normal criada através do Decreto nº 533 de 3 de dezembro
de 1910 passa por reformulações na sua organização pedagógica. No mesmo ano, o governo organizou
uma comissão formada por alguns intelectuais mato-grossenses para a reorganização da instrução
pública. Este texto tem como objetivo analisar o Regulamento Interno da Escola Normal em Mato
Grosso instituído através do Decreto nº 742, de 29 de setembro de 1926, com vistas a perceber a
apropriação (CHARTIER, 1990) dos preceitos da Escola Nova nessa nova organização curricular. Para
isso, foram utilizadas documentações disponíveis no Arquivo Público de Mato Grosso, tais como:
Regimento interno da Escola Normal, Relatórios de Presidentes de Estado e de Diretores da Instrução
Pública, Mensagens, além de fontes bibliográficas que contextualizam o cenário em que a temática se

392
insere. Apresenta-se como resultado parcial de uma pesquisa em andamento que se propõe a investigar
a influência do ideário escolanovista na organização curricular do curso de formação de professores em
Mato Grosso, no período compreendido entre 1920 a 1933, quando ocorreram as duas reformulações
do Regimento Interno da Escola Normal em Mato Grosso.

393
394
EIXO 5 - IMPRESSOS, INTELECTUAIS E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

1150
A ACADEMIA DE DIREITO DO LARGO SÃO FRANCISCO E A REPÚBLICA DOS BACHARÉIS: OS
INTELECTUAIS E A CIRCULAÇÂO DE IDEIAS SOBRE A ESCOLARIZAÇÂO DA INFÂNCIA

CLAUDIA PANIZZOLO.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS, ALFENAS - MG - BRASIL.

A Academia de Direito de São Paulo funcionou, desde sua criação, em 1827, como laboratório em que
os jovens das elites econômicas e políticas eram convertidos em aprendizes do poder. Esta comunicação
refere-se à pesquisa já concluída e focaliza o período, entre as décadas de '60 e '80 do séc. XIX, em que,
na plena vigência do regime imperial e da escravatura, se forma e se articula uma geração de
intelectuais que converteu a instrução pública na arma privilegiada de luta republicana e liberal. A
crença generalizada na instrução e na educação fez com que esses homens se dedicassem a ilustrar,
investindo e definindo acerca dos assuntos educacionais, tomando a escolarização elementar como uma
de suas mais fundamentais bandeiras de luta. Essa geração de intelectuais esteve à frente das iniciativas
no âmbito da imprensa republicana, onde escreveram, defenderam e propuseram medidas relativas às
questões educacionais nos dois maiores jornais republicanos: A Província de São Paulo e a Gazeta de
Campinas. Esses homens exerceram também liderança e destaque nas associações literárias e
científicas, proferindo conferências, palestras, inaugurando gabinetes de leitura e lecionando em cursos
noturnos. Dedicaram-se ao ensino privado, através da criação, direção, apoio e docência em escolas de
caráter inovador e científico. Daquela geração são destacados dois dos seus membros: Francisco Rangel
Pestana e João Köpke que se sobrelevaram na cena nacional por meio do uso competente,
primeiramente, das sociedades e da imprensa estudantis, depois da grande imprensa, bem como da
criação de escolas e de impressos de destinação pedagógica. A análise de suas trajetórias, a partir da
Academia de Direito, é conduzida pelos conceitos sociológicos de "geração" e de "laços geracionais" que
conferem um sentido social ao conceito de intelectual, inscrevendo-o em uma rede de sensibilidades e
afinidades compartilhadas, herdadas e vivenciadas que instauram entre seus membros um sentimento
de pertencimento e de partilha de um mesmo destino. Originários de Mannheim, esses conceitos se
desdobram, com Sirinelli, na idéia de "estrutura de sociabilidade” tanto no sentido de partilha de
valores ideológicos e culturais, como no sentido de redes nas quais verdades, comportamentos, atitudes
comuns são secretadas. A pesquisa aponta como resultado, que tanto nas relações institucionais, como
nas formações sociais, a Academia de Direito se converteu em celeiro para os intelectuais, que se
organizaram com o intento de difundir concepções, promover propostas políticas e institucionais para a
educação das crianças.

1142
A ANPAE E A CONSTRUÇÃO DE POLÍTICAS EDUCACIONAIS: UMA LEITURA DOS EDITORIAIS DA RBPAE

ANA LUCIA CALBAISER DA SILVA; JOSÉ CARLOS ROTHEN.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS, SÃO CARLOS - SP - BRASIL.

Esta comunicação tem como objetivo elucidar o processo histórico da Associação Nacional de Política e
Administração da Educação (ANPAE) e a sua contribuição para a construção das políticas educacionais
por meio de seu periódico, a Revista Brasileira de Política e Administração da Educação (RBPAE).Como
parte de uma pesquisa em andamento, este trabalho pauta-se na análise da RBPAE no período que
inicia com sua criação, em 1983 até 2009, ano que a revista completa 25 anos de existência. Nesta
comunicação apresentaremos o resultado da investigação relativa aos aspectos gráficos da revista e da
análise de seus editoriais.A ANPAE é uma sociedade civil, sem fins lucrativos, fundada em 1961 pelos
professores de Administração Escolar e Educação Comparada. Buscando contribuir para a construção de
conhecimento sobre administração da educação, esta associação congrega pesquisadores, professores e
profissionais da área. Na década de 1980 a ANPAE criou a RBPAE como espaço destinado ao debate e

395
reflexões sobre questões teóricas e práticas da área.A metodologia está baseada no conceito de Ciclo de
Vida do Livro de Robert Darnton sobre a análise da história dos livros, que busca compreender como as
ideias são transmitidas por meio impresso. Fazendo um paralelo com este conceito, José Carlos Rothen
propôs o Ciclo da Revista, uma vez que a palavra impressa também é transmitida pela revista.
Diferentemente dos livros, que são tidos como obras fechadas (delimitados e com um número finito de
autores), as revistas são consideradas como obras abertas, nas quais a dinâmica tende a ser construída a
cada número. Segundo Rothen, as revistas podem ser veículos para estabelecer e conservar lideranças
políticas, científicas e culturais. Assim, traçamos aspectos que envolvem a história e a estrutura
administrativa da ANPAE e da RBPAE por meio da análise qualitativa dos editoriais, que permitiu a
compreensão da perspectiva política adotada pela ANPAE diante das diferentes perspectivas adotadas
nas políticas educacionais.Dentre as conclusões destacamos que a proposta de fundação da ANPAE
adveio da busca de condições favorecedoras para o desenvolvimento teórico e prático da administração
e sua trajetória refletiu o contexto histórico da educação e da sociedade brasileira. Nessa trajetória há a
crise de produção intelectual na área, percebida pela escassez de trabalhos enviados à RBPAE, na
década de 1980. Sobre as políticas educacionais nos editoriais da revista encontramos a posição da
ANPAE voltada para a gestão democrática, participativa, competente e não favorável à gestão de origem
empresarial capitalista.

612
A CAMPANHA DE EDUCAÇÃO DE ADOLESCENTES E ADULTOS (CEAA) E O SEU GUIA DE LEITURA (LER):
CONCEPÇÕES DE HOMEM, EDUCAÇÃO E ALFABETIZAÇÃO NOS ANOS 40

DEANE MONTEIRO VIEIRA COSTA; DANIA MONTEIRO VIEIRA COSTA.


UFES, VILA VELHA - ES - BRASIL.

O presente trabalho analisa numa perspectiva histórica o primeiro Guia de Leitura (LER) considerado o
principal instrumento de orientação dos trabalhos do ensino supletivo da 1ª fase da Campanha de
Alfabetização de adolescentes e adultos (1947-1950) promovida pelo Ministério da Educação e Saúde,
no Brasil. O Guia de Leitura enquanto suporte material das práticas escolares tratava-se de um
dispositivo de normatização pedagógica da Campanha. Desse modo, sua análise contribui para a
compreensão da concepção de homem, educação e de alfabetização de adolescentes e adultos,
defendidas pelo Ministério de Educação e Saúde, na década de 1940. Nessa perspectiva, a pesquisa
procura interrogar o passado em função de permanências e rupturas no contexto das políticas
educacionais voltadas para a alfabetização, no Brasil. Para isso, utiliza como metodologia a pesquisa
documental. Com base teórica fundamenta-se em textos produzidos por pesquisadores e professores
brasileiros com importantes interfaces nos campos da História da Educação e da política educacional
brasileira, entre eles: Beisiegel (2004), Paiva (1983), Gandini (1995), Nagle (2001), Veiga (2002) e Saviani
(2007). Para análise da concepção de linguagem fundamenta-se na teoria enunciativo-discursiva de
Mikhail Bakhtin. No que se refere à concepção de alfabetização toma como referência Braggio (1992) e
Gontijo (2003; 2008). Conclui que a concepção de homem que permeia a Campanha é de um indivíduo
que deve adaptar-se a sociedade vigente. Logo, um sujeito passivo e “incapaz” de produzir
transformações sociais Desse modo, a educação tinha a função de “construir” esse indivíduo adaptável a
essa sociedade. Por isso, encontramos em diversas publicações relativas a esse movimento, a defesa de
determinados fins tanto individuais (“desenvolvimento de cada ser humano, formação pessoal,
formação equilibrada da personalidade, gozo dos bens da civilização e da cultura”) quanto sociais
(“existência social mais harmônica, mais integrada, mais elevada, princípios de civismo e de
revigoramento da unidade nacional”) como pilares do planejamento geral da Campanha da educação de
adolescentes e adultos analfabetos defendidos pelo diretor-geral da CEAA na 1ª fase (1947-1950) –
Lourenço Filho. Nesse contexto, a alfabetização tinha no seu bojo a idéia de que a escrita é concebida
como um conjunto de símbolos cujas formas precisam ser aprendidas por meio de treino de habilidades
motoras e visuais. Assim, no que tange à concepção de linguagem, ela é tomada como sistema fechado
de normas imutáveis a ser adquirida pelos sujeitos do processo ensino-aprendizagem (professor e
aluno) numa ação mecânica de assimilação, decifração e codificação.

396
1168
A COLEÇÃO DE EDUCAÇÃO CÍVICA DA DIVISÃO DE EDUCAÇÃO EXTRA-ESCOLAR (1966)

CLEBER SANTOS VIEIRA.


UNIFESP, GUARULHOS - SP - BRASIL.

A comunicação apresenta a história da Coleção de Educação Cívica publicada a aprtir de1966 pela
Divisão de Educação Extra Escolar (DEE), órgão subordinado ao Departamento Nacional de Educação e
ao MEC. Busca-se demonstrar que as concepçõesde educação cívica veiculadas pelos títulos que
compuseram esta coletânea relacionam-se mais estreitamente aos discursos cívicos, experiências
escolares, práticas educacionais ou projetos políticos delineados em períodos históricos anteriores ao
Golpe Civil Militar de 1964. Analisa ainda as formulações de educação cívica inscritas no período de
transição política no país, ou seja, de 1959 e 1966, desde a criação da DEE pelo Decreto 43.170 de 04 de
fevereiro de 1959, até o Decreto Nº 58.23, de 21 de março de 1966, responsável por instituir o Setor de
Educação Cívica e por estabelecer a publicação de monografias cívicas como meta da DEE. Pretende-se,
na perspectiva da história cultural do livro, realizar um estudo intensivo da Coleção de Educação Cívica
pelo eixo das relações entre intelectuais e educação, destacando-se os três primeiros títulos publicados,
a saber: Conceituação de Estudos Brasileiros nos Três Níveis de Ensino, de João Roberto Moreira; A
Educação Cívica e o Trabalho, de Humberto Grande e Feriados Nacionais, de José Montello. Trata-se de
abordar os impressos considerando a lacuna existente entre aquilo que o Estado definiu como Educação
Moral e Cívica em 1969 e as definições que efetivamente circularam na sociedade antes disso. Ao
adotarmos tal procedimento partilhamos da observação feita por Michel Foucault que, ao se referir à
definição estatal de nação empreendida pela Encyclopédie, na França iluminista do século XVIII, como
sendo, na verdade, os esforços do Estado em refutar ou até mesmo excluir outras definições de nação
que circulavam na sociedade francesa no correr do século dezoito. Esta orientação metodológica é
imprescindível, não só porque permite compreender os discursos cívicos veiculados pelos impressos que
compuseram a Coleção como pontos de passagens dos efeitos de poder pretendido pelo Estado, mas
também porque ilumina os discursos cívicos produzidos em outros planos estatais e que se deslocaram
na mesma malha social no período em que o corpo jurídico normatizador da escolarização do civismo
ainda não havia se constituído em sua plenitude. Nesse sentido, busca-se apresentar a educação cívica
praticada durante a Ditadura Militar como tema que extrapola as fronteiras da Doutrina de Segurança
Nacional.

1389
A COLEÇÃO DE REVISTAS PRATICANDO CAPOEIRA: PRESCRIÇÕES, REPRESENTAÇÕES E
MATERIALIDADE

ANDERSON DE FREITAS SILVA; FELIPE FERREIRA BARROS CARNEIRO; WALLACE ROCHA ASSUNÇÃO;
ANDRÉ DA SILVA MELLO.
UFES, SAO MATEUS - ES - BRASIL.

O estudo analisa a coleção de revistas Praticando Capoeira, pelos seus dispositivos editoriais e as
representações que são feitas circular para compreender a organização do campo (BOURDIEU, 1974) da
capoeira. Desse modo, a pesquisa busca responder as seguintes questões: como a história da capoeira é
apresentada para os leitores da coleção Praticando Capoeira? Quais são os autores que circulam nesse
periódico? Com base em quais fontes eles constituem as narrativas? Para responder a essas questões o
estudo fundamenta-se na História Cultural com base nas reflexões sobre as lutas de representação
(CHARTIER, 1991), e sobre noção de apropriação (CERTEAU, 1998) como práticas de transformação. No
estudo consideramos os documentos como objetos culturais que guardam as marcas de sua fabricação
e usos prescritos. Desse modo, busca-se trabalhar com a imprensa, nos termos de uma arqueologia
(NUNES, CARVALHO, 1993), em busca de pistas, por camadas, para localizar os sinais, das práticas
editoriais, capazes de revelar os vestígios de uma intencionalidade que orienta a organização e o
regramento da leitura por meio da didatização da revista, sua leitura e seu uso por uma comunidade de
leitores. O recorte temporal compreende o ano em que se inicia a circulação do periódico até a última

397
revista publicada. A Editora D+T, responsável pela coleção de revistas, iniciou a circulação do impresso
em maio/junho de 1999 e até o momento foram lançados 70 números que estão distribuídos em 46
revistas intituladas Praticando Capoeira, 15 publicadas como Praticando Capoeira Especial e nove
denominadas como Praticando Capoeira Grandes Mestres, Grandes Grupos. A coleção de revistas
Praticando Capoeira nasce, segundo seus editores, pela necessidade de fazer circular para um público
mais amplo a única arte marcial genuinamente brasileira. Compreendemos que a análise de uma
coleção de periódicos possibilita perceber as particularidades de certa realidade, bem como o estudo de
seus usos, das práticas que dele se apoderam, de suas condições de produção e circulação, identificando
concepções e aspectos das representações de uma época. Os impressos que formam a coleção
analisada divulgam eventos, imagens, produtos e práticas prescritas para serem seguidas pelos seus
leitores, ao mesmo tempo em que vendem espaço publicitário para variados produtos ligados, direta ou
indiretamente, ao mundo da capoeira. Como o estudo está em andamento, podemos relatar indícios
que evidenciam o objetivo de conformação do campo da capoeira, nele encontramos narrativas que
procuram ensinar sobre a história da capoeira e prescrições sobre a sua escolarização, a criação de
símbolos que buscam forjar um ethos que passa pela normatização de práticas via produção de um
vocabulário que de conta de modelar a diversidade típica do mundo capoerístico. Assim percebemos
que a imprensa (DARNTON, 1996) não deve ser considerada como um registro do que aconteceu, mas
como uma força ativa na organização de um acontecimento.

1313
A CONSTRUÇÃO DE UM INTELECTUAL - SILVINO OLAVO, POETA, ADVOGADO, JORNALISTA E POLÍTICO
PARAIBANO DO SÉCULO XX

SIMONE VIEIRA BATISTA; JEAN CARLO CARVALHO COSTA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - UFPB, JOÃO PESSOA - PB - BRASIL.

O artigo ora apresentado é resultado de uma pesquisa que vem sendo desenvolvida no Programa de
Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal da Paraíba, linha de pesquisa História da
Educação. Configurando-se em uma “biografia intelectual” de Silvino Olavo (1897-1969) – escritor,
jornalista, advogado, político e poeta paraibano. Tendo por objetivo examinar as possíveis relações
entre Silvino Olavo, sua biografia, sua produção literária e sua trajetória intelectual buscando lançar luz
sobre as representações socialmente construídas pela educação e compreender quem era, de que
maneira, e por meio de quais estratégias, Silvino Olavo se fez e foi feito intelectual e poeta paraibano.
Imiscuir na vida desse intelectual paraibano através de sua biografia intelectual e da exegese dos textos
literários e jornalísticos produzidos pelo poeta entre 1920 a 1933 faz emergir tanto a sua participação
intelectual como parte de um esforço investigativo maior, que busca analisar quem eram e como se
constituíam os intelectuais brasileiros no início do século XX, bem como o lugar da educação nos
projetos de modernização para o país, quanto o modelo de identidade forjada e fixada pela educação
nos permitindo entender como essas representações agem sobre a realidade, modificando-a,
transformando-a ou tentando conservá-la, uma vez que, é a partir das idéias que as pessoas são
impelidas a participar de processos de transformação social, ou em outros casos, a lutar contra sua
execução. Destarte, considerando a dimensão do problema ora exposto, neste momento, optamos por
recortar a análise em torno dos textos jornalísticos produzidos por Silvino Olavo, intitulados Vamos
acertar os relógios, publicado em 03 de fevereiro de 1929, no jornal A União e Leonel Coelho: Misérias,
publicado em 18 de setembro de 1933 no jornal O Norte. Nesta perspectiva, Silvino Olavo revelou
através dos discursos jornalísticos, uma posição vanguardista aderindo à filosofia da história do
progresso e da modernização da sociedade, e também, pragmática uma vez que, antes de compreender
o passado, considerava o que era preciso fazer no presente reverberando o debate nacional e o
pensamento intelectual brasileiro no início do século XX em torno da questão nacional, fenômeno que
tem a sua origem associada à emergência da revolução burguesa, a partir da identificação sugerida
entre a soberania da nação e a soberania do Estado (ELIAS, 1993).

398
1166
A CRIAÇÃO E DISSEMINAÇÃO DE SABERES ATRAVÉS DE UM GRUPO EDUCACIONAL: ANÁLISE DA
REVISTA DE CULTURA VOZES NA DECADA DE 1960
1 2
FABIANA VILELA TANNÚS ; JOSÉ CARLOS ROTHEN .
1.FEIT UEMG, UBERLANDIA - MG - BRASIL; 2.UFSCAR, SAO CARLOS - SP - BRASIL.

Este estudo faz parte do contexto de investigação que busca a explicitação dos atores sociais que
participaram da elaboração de políticas públicas para a educação superior na década de 1960. O objeto
deste é explicitar o ponto de vista católico, tendo como fonte as matérias publicadas na Revista de
Cultura Vozes no período compreendido entre os anos de 1960 e 1970. O objetivo é identificar as
orientações que foram destinadas aos leitores imaginários da revista (professores, gestores, burocratas
governamentais, leigos, clero etc.), tendo em vista a Reforma Universitária de 1968. Em um período de
grande turbulência e frustrações permeando a panorâmica educacional do país, tinha-se uma revista
cujo conteúdo explicitava uma formação de saberes por uma elite intelectual católica ao mesmo tempo
em que, pelo discurso social buscava o desenvolvimento humano minorando as desigualdades. A
Revista se mostrou capaz de surpreender os leitores a cada número, trazendo temas polêmicos e
dialogando “com a sociedade numa postura dialética”. Tal perspectiva, advinda dos “novos ventos”
emanados pelo Concilio Vaticano II (1962 a 1965), talvez tenha se apresentado como tentativa de
reação da intelectualidade católica que via seu poder sobre a educação ameaçado pela conjuntura da
época. Foram percebidos, pela pesquisa, mudanças de postura em relação ao trato com temas
polêmicos: comunismo, educação liberal, UNE, por exemplo. Especialmente nos anos de 1961 a 1963,
crenças, movimentos sociais e visões pedagógicas que se opunham à postura católica – a única capaz de
promover a ‘formação ideal’ – eram vistas com intolerância e rejeição. No meio da década, começou a
florescer uma orientação agora mais aberta em relação aos objetivos de ‘aproximação com as massas’.
Finalmente, nos anos de 1968 e 1969, tornaram-se bem mais visíveis e diretos os discursos acerca da
urgência de se alterar o perfil do Ensino Superior no país. O foco das discussões tornou-se a defesa da
seguinte concepção católica: a educação, a formação, e a cultura como processos sucessivos e
integrados, que deveriam ser perseguidos no Ensino Superior. Permitindo, assim, que a universidade
cumprisse a sua missão de preparar os alunos para além da profissionalização, tendo como meta a
formação humana. Ou seja, forjar mão de obra tecnicamente preparada, lapidar líderes que buscassem
o desenvolvimento das nações na perspectiva da consciência moral e ética.

1335
A CRIANÇA PROBLEMA E AS RELAÇÕES ESTABELECIDAS ENTRE FAMÍLIA E ESCOLA A PARTIR DO
PROJETO DO SERVIÇO DE ORTOFRENIA E HIGIENE MENTAL

NATHÁLIA WANDERLEY CHIANELLO.


UERJ, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL.

O presente trabalho tem como objetivo analisar o livro “A Criança Problema”, publicado pela primeira
vez em 1939, de autoria do médico e intelectual Arthur Ramos. Este, por sua vez, foi chefe do Serviço de
Ortofrenia e Higiene Mental (S.O.H.M.), no período de 1934 a 1939, a convite de Anísio Teixeira, então
diretor de Instrução Pública do Distrito Federal. O Serviço teve como finalidade auxiliar no trabalho
desenvolvido pelos professores nas escolas experimentais do Distrito Federal, prevenindo e corrigindo
os maus ajustamentos psíquicos atenuados e os mais graves defeitos caracterológicos observados entre
a população escolar. O S.O.H.M. possuía preocupação com os fatores de ordem ambiental que
influenciariam na formação do caráter e personalidade das crianças, e procurava intervir no sentido de
possibilitar seu desenvolvimento harmonioso, favorecendo, assim, suas condições de aprendizagem. O
Serviço chefiado por Ramos produziu múltiplas estratégias de divulgação dos saberes considerados
essenciais para a educação da infância, como os da higiene mental e da psicanálise, sendo estes
dirigidos, tanto aos professores, apresentados como colaboradores valiosos do Serviço, quanto aos pais
dos alunos. Considerando a importância da vivência dos alunos junto a suas famílias, Arthur Ramos
buscou aproximar os pais dos novos conhecimentos científicos acerca da personalidade e do caráter

399
infantil, possibilitando que os mesmos, no espaço do lar, se tornassem afinados com as práticas
educativas encaminhadas nas escolas. Dirigindo-se a um público ampliado de educadores, o médico
lançou mão, entre as estratégias de divulgação dos saberes mobilizados pelo Serviço que dirigia, da
publicação de impressos de tipos variados. Entre estes, situaram-se opúsculos tais como: “A Higiene
Mental nas escolas e suas bases teóricas”, “A família e a escola”, “A mentira infantil”, entre outros. De
modo a atingir os profissionais da educação, Ramos publicou, ainda, artigos no Boletim de Educação
Pública, publicação oficial do Departamento de Educação do Distrito Federal. Um outro meio a que
recorreu para tornar conhecidas suas idéias foi a publicação do livro “A Criança Problema”. Criticando a
noção de criança “anormal”, Ramos assinala, no decorrer de sua obra, que a grande percentagem das
crianças tidas como anormais, na realidade seriam crianças difíceis, crianças problemas, marcadas, não
apenas pelo que compreendia como defeitos intelectuais, mas ainda morais e caracterológicos.
Refletindo sobre a destinação dessa obra e sobre a forma como se pode compreender sua possível
chegada ao lar dos alunos, pode-se considerar que o livro, embora não se caracterize como um manual
dirigido à família propriamente, se inscreve num horizonte mais amplo de projetos de caráter médico–
científico destinados a modelar as práticas educativas conduzidas na escola e no lar, assim como as
relações estabelecidas entre esses espaços, no período considerado.

1345
A CRÍTICA SOCIAL DE CARVALHO NETO NO PROJETO DA REPÚBLICA BRASILEIRA

MARIA DO SOCORRO LIMA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE, ARACAJU - SE - BRASIL.

Este artigo pretende analisar a crítica social realizada pelo intelectual sergipano Antônio Manoel de
Carvalho Neto (1889-1954), destacando três aspectos abordados por ele: na educação, no direito
penitenciário e no direito trabalhista. Na educação, destacamos dois momentos fundamentais. Em
1921, como deputado federal apresentou o Projeto “A educação dos anormais, defendido na Sessão do
Parlamento em 14 de outubro de 1921. Num texto abalizado sob a referência dos mais conceituados
educadores de vários países do mundo, o intelectual Carvalho Neto discutiu sobre a educação das
crianças desprovidas de inteligência que tinham como conseqüência o abandono à sorte e o desprezo
do Estado brasileiro. Para resolver tal problema propôs a criação de escolas e classes especiais para elas.
Esse foi o primeiro projeto sobre o assunto a ser apresentado com veemência no Parlamento Nacional
republicano. Pelo desempenho no tema, em 1922 foi convidado pelo então presidente do estado de
Sergipe, Coronel Joaquim Pereira Lobo a representar Sergipe na Conferência Interestadual de Ensino
Primário, no mês de outubro, na cidade do Rio de Janeiro. Seu projeto dos anormais ficou estancado na
Comissão de Finanças do Congresso, sem nunca ter saído, mas Carvalho Neto insistiu em seus discursos
parlamentares, entrevistas nos jornais e correspondências para que o assunto fosse refletido e tivesse
impacto junto aos governantes brasileiros e a sociedade. No direito penitenciário, através de discursos e
na literatura, aquele intelectual fez duras críticas ao sistema penitenciário brasileiro e se referiu às
questões biopatológicas que definiam na época o perfil de um delinqüente ou criminoso. Tal discussão
se arrastava desde o século XIX e provocara uma reflexão considerável entre os médicos e juristas,
pautada nos estudos do médico italiano Cezare Lombroso. Nas questões penitenciárias, as críticas de
Carvalho Neto recaíam na nomeação dos diretores das casas de detenção e na falta de uma política que
promovesse a educação para os detentos. Nas questões trabalhistas, defendeu entre outras coisas, as 8
horas diárias de trabalho, descanso semanal e distinguia o trabalho feminino do trabalho masculino. A
presente pesquisa se valeu da análise de obras literárias, livros jurídicos, discursos proposições
parlamentares e imprensa, fundamentou-se em autores brasileiros que trabalham o papel dos
intelectuais na História da educação brasileira e nos conceitos utilizados pela História Cultural. Parte da
pesquisa foi concluída no mestrado e se pretende dar continuidade no doutorado através da análise das
obras literárias do intelectual Antônio Manoel de Carvalho Neto, focando a educação como um de seus
principais temas.

400
1117
A DEMOCRACIA NO DISCURSO EDUCACIONAL DURANTE O NACIONAL-DESENVOLVIMENTISMO

ANA PAULA SALVADOR WERRI.


UNIVERSIDADE FEDERAL DO MATO GROSSO DO SUL, AQUIDAUANA - MS - BRASIL.

Objetivo deste trabalho é investigar como foi tratada a democracia no discurso dos educadores, no
período de 1948 a 1964, conhecido pela historiografia como nacional-desenvolvimentismo. Para tal
análise selecionamos textos produzidos neste período por quatro educadores importantes na luta pela
democratização do ensino no Brasil, Anísio Teixeira, Florestan Fernandes, Paschoal Lemme e Paulo
Freire, nos quais identificamos uma contínua defesa da democracia, da democratização da educação e
de uma educação democrática. O recorte temporal foi realizado considerando os marcos da luta pela
Escola pública neste momento, onde podemos destacar: a elaboração do projeto da Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional, pelo ministro da Educação e Saúde Clemente Mariani Bittencourt e seu
envio à Câmara dos Deputados em 1948; passando pelas disputas com o substitutivo encaminhado
posteriormente pelo deputado Carlos Lacerda; debates e discussões que desencadeou na elaboração do
documento que se constituiu como referência para os educadores deste momento, o Manifesto dos
Educadores Mais uma Vez Convocados, de 1959; a Campanha em Defesa da Escola Pública que precede
a aprovação da LDBEN/1961; e os Movimentos de Cultura e Educação Popular que se organizaram por
todo o país com o propósito de conscientização política, até se encerrarem com o Golpe Militar em
1964, dando fim ao processo “democrático” das lutas educacionais. Busca-se evidenciar, por meio deste
estudo, como estes autores dialogam com tais acontecimentos, buscando compreender a historicidade
que permeia esta discussão. Percebemos que o papel da educação neste contexto não foi
compreendido de forma unânime pelos quatro educadores. Para Teixeira e Freire a educação era capaz
de potencializar o processo de democratização e desenvolvimento do país. No entanto, para Fernandes
e Lemme apesar da efetiva defesa do papel da educação nas transformações sociais, estes intelectuais
destacavam os condicionantes sociais como limitantes desta ação. Porém, todos defendiam a
necessidade de uma total reforma do ensino no país, o que propiciaria transformações efetivas nas
estruturas sociais. Podemos afirmar, assim, que dos educadores liberais aos socialistas, a bandeira
comum entre eles era a educação para a democracia, demonstrando as necessidades de renovação
educacional e da própria sociedade. Os resultados demonstram que mesmo constituindo matrizes
teóricas diferentes, os autores convergiam na defesa da democracia, como força motora para a
modernização da sociedade brasileira que se mostrava atrasada no desenvolvimento das relações
capitalistas, participando de forma periférica da economia mundial. Os discursos educacionais deste
período para além de propostas educativas refletiam as lutas sociais travadas até o Golpe Militar, em
torno do projeto societário brasileiro, explicitando as características próprias da luta de classes no Brasil.

613
A DISPUTA DE PROJETOS NA FORMAÇÃO DE PROFESSOR NA FACULDADE DE FILOSOFIA CIÊNCIAS E
LETRAS DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO: A REVISTA DE PEDAGOGIA (1955-1967)

ELLEN LUCAS ROZANTE.


PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO, CAMPO LIMPO PAULISTA - SP - BRASIL.

O objetivo desta comunicação é apresentar como a Revista de Pedagogia (1955-1967) foi utilizada pelos
professores da antiga Cadeira de Didática Geral e Especial para demarcar posições frente ao embate
ocorrido na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, entre os professores
das disciplinas pedagógicas (que estavam ligados aquela Cátedra) e os professores das disciplinas
científicas pela formação de professores. A presente comunicação faz parte da dissertação de mestrado
concluída em 2008, que tem como título “A Revista de Pedagogia da Cadeira de Didática Geral e Especial
da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (1955-1967): A formação do
professor de ensino secundário”, que se realizou na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, no
Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação: História, Política, Sociedade. Na FFCL-USP, o
diploma de licenciado era conferido após quatro anos de estudos, desta forma o aluno cumpria nos três

401
primeiros anos um currículo fixo de Cadeiras e, na quarta série, os candidatos a licenciados deveriam
acrescentar as Cadeiras de Psicologia Educacional e a de Didática Geral e Especial. Portanto estas
Cadeiras eram responsáveis pela formação pedagógica do professor de ensino secundário. Esta
separação entre a formação pedagógica do professor e a científica criou um embate na FFCL-USP, que,
segundo os professores da Cadeira de Didática Geral e Especial, levou a um preconceito em relação às
disciplinas pedagógicas ao mesmo tempo em que se formulava a ideia de que a Faculdade visava muito
mais a formação científica do que a pedagógica. Este embate de posições demarcou projetos na
formação do professor de ensino secundário, e os professores daquela Cadeira se utilizaram da Revista
de Pedagogia como visibilidade da Cátedra e estratégia para a criação do Colégio de Aplicação. A Revista
de Pedagogia foi editada pelos professores de Didática Geral e Especial entre os anos de 1955 e 1967,
sendo que seu diretor era o catedrático Onofre de Arruda Penteado Júnior. Para a realização desta
pesquisa, este periódico é a principal fonte, a partir do qual foram criados dois bancos de dados: o
primeiro com o objetivo de mapear o impresso e o segundo teve o intuito de pesquisar as fichas
técnicas da Revista. Após a montagem destes bancos de dados, foi selecionado um corpus documental
com 56 artigos que se referissem ao Ensino Secundário brasileiro e que contivessem expressões que
mencionassem a formação do professor. A análise de discurso dos artigos selecionados foi feita levando
em consideração a posição dos agentes de produção do conteúdo da Revista, a fim de responder às
seguintes questões: para quem estes sujeitos produzem conteúdo e qual(is) o(s) lugar(es) ocupados por
esses sujeitos produtores de conhecimentos.

462
A EDUCAÇÃO ESTÉTICA NAS CRÔNICAS DE EDUCAÇÃO DE CECILIA MEIRELES: A HISTÓRIA DO ENSINO
ARTÍSTICO BRASILEIRO ENTRE A TRADIÇÃO ACADÊMICA E A INVENÇÃO MODERNISTA
1 2
BERNADETE STREISKY STRANG ; GIOVANA TEREZINHA SIMÃO .
1.UNOPAR, LONDRINA - PR - BRASIL; 2.UEPG, PONTA GROSSA - PR - BRASIL.

As Crônicas de Educação de Cecília Meireles nortearam duas pesquisas distintas, mas concomitantes. No
entanto, ambas são complementares no que concerne à trajetória plural das proposições da Escola
Nova a partir do Manifesto dos Pioneiros, especialmente, no que se refere ao ensino artístico. Ambas
resultaram em Dissertações de Mestrado defendida pelas autoras em 2003. Na primeira pesquisa
privilegiou-se o estudo histórico das idéias e do envolvimento político e educacional de Cecília Meireles,
professora, intelectual, jornalista e signatária do Manifesto dos Pioneiros, suas ações, suas iniciativas no
âmbito da formação, organização e disseminação da cultura no Brasil dos anos 30. Utilizou-se como
fonte principal as crônicas publicadas diariamente no jornal carioca Diário de Notícias onde Cecília
dirigiu, de 1930 a 1933, a Página de Educação. Neste espaço, a autora manteve uma coluna intitulada
Comentários na qual tornou público o debate travado no campo educacional e defendeu os ideais do
grupo pioneiro que, como educadora e cronista, ali representava. Ainda a partir da seção Comentários a
segunda pesquisa selecionou textos que privilegiaram o Ensino de Arte. A ênfase que Cecília deu à
expressão artística não estava relacionada somente ao desenvolvimento psíquico e biológico da criança,
mas também à possibilidade de se proporcionar experiências culturais imprescindíveis para desenvolver
suas próprias manifestações estéticas e intuições poéticas. Pela maneira como Cecília concebia o
universo infantil, a introdução de uma verdadeira educação artística no sistema escolar significava a
desmistificação das leis quase sagradas do mundo da arte. Suas crônicas não deixam dúvidas quanto a
sua filiação às manifestações artísticas modernistas deflagradas no início do século XX, que
preconizavam a liberdade expressiva na produção da arte do período. Os pressupostos metodológicos
para um ensino artístico renovado, apontado por Cecília, indicavam que o Ensino Tradicional de Arte
estava regimentado em regras esquemáticas do desenho geométrico, desenhos decorativos ou de
estamparias, fato que tolhia a expressão livre de qualquer educando. Pela via de inspiração Modernista,
associada às proposições da Escola Nova, Cecília apontava a necessidade de uma revisão educacional
artística e propunha as experimentações plásticas a partir do desenho livre e de aulas de modelagem,
entre outros. E foi a partir desse olhar de viés modernista que o Ensino de Arte foi se distanciando da
tradição acadêmica de composição e produção visual.

402
992
A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NOS RELATÓRIOS DOS MINISTROS DO IMPÉRIO À ASSEMBLEIA GERAL
LEGISLATIVA ENTRE 1854 A 1889

LUIZA ANGÉLICA PASCHOETO GUIMARÃES.


PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO DE JANEIRO - PUC-RIO, VOLTA REDONDA - RJ - BRASIL.

Esta comunicação, inscrita no eixo temático Impressos, Intelectuais e História da Educação, tem por
objetivo apresentar a evolução da educação profissional, oferecida pelo Império Brasileiro, bem como
tecer algumas considerações em torno da temática abordada. Experiências de educação profissional já
se faziam presentes na ação dos jesuítas que atuaram no ensino de ofícios aos índios e escravos
africanos. No entanto, no Período Imperial, principalmente a partir da década de 1850, a educação
profissional expandiu-se com a criação de instituições educativas entre as quais podem ser citadas o
Instituto Comercial, o Instituto dos Surdos-Mudos, o Imperial Instituto dos Meninos Cegos, a Academia
Imperial das Belas Artes, o Conservatório de Música e o Asilo dos Meninos Desvalidos. Cada uma com
sua especificidade, mas na maioria das vezes destinavam-se aos jovens com baixo poder aquisitivo,
principalmente órfãos ou abandonados (os desvalidos como eram chamados). O caráter assistencialista
marca profundamente a educação profissional no período, o que de certo modo, contribuiu para o
preconceito gerado em torno da educação profissional. O que se espera com esse estudo é analisar se
houve avanço na educação profissional, principalmente no que se refere ao atendimento aos jovens,
expressos pelo número de matriculados e cursos oferecidos. O estudo está em fase inicial e visa
compreender o período que antecede a República, uma vez que a concepção de educação profissional
da época seráfoco das pesquisas que serão desenvolvidas no Programa de Doutorado em Educação
Brasileira da PUC-RIO.O estudodelineia-se segundo parâmetros de pesquisa qualitativa, em perspectiva
historiográfica, uma vez que se empenhará na análise e compreensão dos dados encontrados nos
relatórios enviados pelos Ministros do Império à Assembleia Geral Legislativa, encontrados no acervo do
Brazilian Government Digitization Project, organizado pelo Latin American Microform Project (LAMP), no
Center for Research Libraries (CRL), patrocinado pela Fundação Andrew W. Mellon. Esses relatórios
foram disponibilizados via Internet. O Brazilian Government Digitization Project reuniu imagens
digitalizadas das publicações emitidas pelo Poder Executivo do Governo Brasileiro entre 1821 e 1993, e
pelos Governos Provinciais disponíveis de 1830 a 1889, compilados por Ann Hartness, entre 1994 e
2000, através de parceria com a Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, onde se encontram os
documentos originais.

431
A ESCOLA DA INFÂNCIA DE COMENIUS

WOJCIECH ANDRZEJ KULESZA.


UFPB, JOAO PESSOA - PB - BRASIL.

Durante toda sua longa existência, Comenius (1592-1670), procurou mudar as concepções tradicionais
sobre educação, notadamente a respeito das crianças, às quais dedicou grande parte de sua obra.
Fundamentando-se nas Sagradas Escrituras, ele acabou por elaborar a nascente ontologia da infância
renascentista desenvolvendo suas conseqüências educacionais - educare arbusculas Dei - para,
posteriormente, as estender para conformar suas idéias pedagógicas em geral. O seu projeto de
constituição de uma escola para a nova infância de seu tempo emerge a partir dos anos 1629-1630
tendo como resultado um pioneiro manual para a escola materna, escrito na língua tcheca em 1632, o
qual daria origem à obra “A Escola da Infância”, publicada em latim em 1657. Nesse livro, Comenius
começa por chamar a atenção dos educadores para os primeiros seis anos de vida das crianças,
comumente considerados inapropriados para qualquer tipo de instrução devido às dificuldades
encontradas na aprendizagem das mais simples habilidades nessa idade. Em seguida, Comenius enfatiza
a importância primordial do pai e da mãe para a formação da criança nesses primeiros anos e a
conseqüente necessidade da preparação adequada deles para o exercício de seus papéis. Nesse sentido,
o autor do livro, além de visar a formação de professores, almejava atingir também aos pais ou tutores

403
das crianças com suas prescrições. O livro analisa a educação infantil em quatro partes consideradas
essenciais para o correto desenvolvimento da criança, a educação para a saúde física, iniciação religiosa,
formação moral e educação intelectual. Em todas essas modalidades de educação o ensino deverá ser
baseado no conhecimento concreto das coisas e não somente nas palavras que as designam. O autor
também destaca em sua obra a importância do ensino de conhecimentos básicos, como as ciências
naturais, a geografia e a história, para as crianças dessa faixa etária, que serviriam assim de pré-
requisitos para a futura escolarização de meninos e meninas. Desta forma, o manual de Comenius,
escrito tendo como normas a responsabilidade, a simplicidade e a seqüencialidade no ensino e
concebido como uma preparação adequada da criança em casa para o seu gradual ingresso na escola
pública, inaugura também o estágio educacional que viria a ser chamado futuramente de pré-escola.
Neste trabalho, com base em sua primeira edição em latim, analisa-se o significado dos conceitos
expressos no opúsculo de Comenius para a história da educação infantil, discutindo-se sua relevância
para a formação de educadores para essa faixa etária.

737
A GALERIA ILLUSTRADA – UM TYPO EUROPEU EM UMA PROVÍNCIA ACANHADA: CURITIBA 1888-9.

IRIANA NUNES VEZZANI.


UFPR, CURITIBA - PR - BRASIL.

Esta pesquisa, ainda em andamento, tem como objetivo investigar as relações entre palavra, imagem e
educação através da análise da revista “A Galeria Illustrada”, avaliando a significação da imagem na
história social e cultural durante a circulação do periódico de (1888-9), em Curitiba, na Província do
Paraná, na tentativa de compreender, do ponto de vista da educação e da arte, como foram
direcionados seus esforços na busca de uma construção estilística e social de uma província em busca
do progresso. Através da investigação em microfilmes arquivados na Biblioteca Pública do Paraná, da
análise detalhada do fac-símile editado em 1979 e da busca de fontes para conhecimento das pesquisas
nesta área e do contexto histórico da Curitiba de 1888-9 será possível a construção da ponte entre
imagem e cultura, na qual fica claro o papel pedagógico da imprensa, visto que seu discurso procurava
instigar um novo comportamento em seus leitores. Este estudo busca também, avaliar se “A Galeria
Illustrada” foi um dos instrumentos utilizados por agentes atuantes no seu tempo e comunidade, com o
objetivo de contribuir para a transformação do seu meio social. Através desta pesquisa é possível fazer
uma relação contextual das contradições de uma época em que as artes gráficas participavam das
tensões de conciliação ou de oposição entre educação, indústria, arte, artesanato, máquina, ornamento
e funcionalidade. O periódico representava, à sua maneira, uma sociedade civilizada sendo construída.
As imagens publicadas reforçavam os conceitos de modernidade, cultura e instrução pública. Marcavam
a vida urbana da Província e estimulavam percepções estéticas diferentes e complementares para
assimilação de novos gostos e estilos, através de ilustrações da vida, da moda e dos hábitos das grandes
cidades. No período em que nasce e circula a revista estavam acontecendo manifestações políticas e
culturais, debates entre intelectuais, artistas, escritores e educadores de diversas áreas que circulavam
no meio curitibano nas duas últimas décadas do século XIX. Sua criação, em si, já é a de um espaço que
estimula a sociabilidade e as relações intelectuais e de amizade entre os escritores e os artistas. Ao
examinar o microcosmo de "A Galeria Illustrada", abre-se uma janela para observar a vida que fervilhava
dentro e fora deste microcosmo. Ao ouvir os ecos destas discussões, é possível sentir-se circulando
pelas ruas daquela província, cruzando com os personagens e os leitores de "A Galeria Illustrada" e,
assim questionar suas relações com a linguagem e com as imagens aí veiculadas.
1220

404
A HIGIENE NAS PÁGINAS DA REVISTA DE ENSINO

MARISA SILVA CUNHA.


UNICAMP, CAMPINAS - SP - BRASIL.

A questão da higiene adquiriu vulto no Estado de São Paulo, principalmente na Capital, a partir dos
problemas engendrados com a expansão demográfica, resultante da política de imigração subsidiada
pelo governo em fins do século XIX. O Estado foi atingido por epidemias colocando em risco a base da
economia estadual, implicando em uma possível crise financeira. Em face desses problemas, as questões
de higiene e saúde tornaram-se prementes em função do aumento da preocupação com a intensa
urbanização na cidade de São Paulo. Fato que exigiu a estruturação de uma política de saúde pública,
com a criação do Serviço Sanitário em 1892 e a promulgação do primeiro Código Sanitário em 1894. Este
texto tem como objetivo procurar compreender como a higiene figurou em um periódico pedagógico de
grande circulação no Estado de São Paulo no início do século XX, e os vínculos que foram engendrados
entre a higiene e outras questões que foram surgindo no ambiente escolar. Foi selecionada a Revista de
Ensino, órgão da Associação Beneficente do Professorado Público Paulista, como fonte de pesquisa, pela
sua importância como espaço de organização e legitimação do campo educacional paulista, ao trazer
para as suas páginas as preocupações dos integrantes da diretoria da agremiação, no que diz respeito à
orientação pedagógica destinada ao professorado em geral e a congregação dos professores em uma
categoria profissional. Nesse sentido a Revista de Ensino teve uma contribuição preponderante em
relação às orientações sobre a temática da higiene em suas páginas. O recorte temporal refere-se ao
período do ciclo de vida do periódico: 1902 a 1918. Trata-se de uma pesquisa em andamento, que tem
por objetivo realizar a análise dos artigos da Revista utilizando o conceito de representação a que ser
refere Chartier (1990). Tendo em vista os diferentes agentes e “lócus” por onde a ação da higiene se faz
presente, procura-se compreender quais as representações dadas à higiene nos artigos discutidos pela
Revista de Ensino, e como essas diferentes representações foram tratadas nos artigos. A análise parcial
realizada nos artigos que tratam da questão da higiene na Revista de Ensino aponta para uma
orientação, direcionada ao professorado paulista, destacando a importância do profissional em relação
à prevenção e manutenção da saúde dos alunos, principalmente no que diz respeito aos exercícios
físicos, à necessidade de um período de descanso entre as atividades físicas e as condições do ambiente,
como móveis e iluminação adequados para evitar deformações físicas, e a preocupação com o
melhoramento do corpo como condição essencial para o desenvolvimento da raça humana.

1347
A HIGIENIZAÇÃO DA FAMÍLIA E DA INFÂNCIA NA IMPRENSA DE UBERLÂNDIA (MG) DO ESTADO NOVO

MARCOS PAULO SOUSA.


UNIVERSIDADE PRESIDENTE ANTÔNIO CARLOS - CAMPUS ARAGUARI, ARAGUARI - MG - BRASIL.

O presente trabalho tem como objetivo principal apresentar resultados de uma pesquisa já concluída
visando reconstituir relações estabelecidas entre educação, infância e família, no discurso jornalístico
constantemente publicado na cidade mineira de Uberlândia, entre os anos de 1937 e 1945. Realizou-se
uma pesquisa, no campo da história da educação, pela imprensa, a partir do levantamento de inúmeros
textos publicados em três jornais locais, a saber, O Repórter, A Tribuna e Correio de Uberlândia. Os
jornais se caracterizam como uma rica fonte de pesquisa, através da qual é possível compreender
relações tecidas no cenário histórico, político e educacional varguista do Estado Novo, sob controle e
censura realizada pelos órgãos governamentais. Nos vários momentos de enaltecimentos às proezas
varguistas na condução da política nacional, articulistas locais e nacionais sublinharam os
direcionamentos dados à família nacional e a necessidade de se ater sobre a formação da infância. A
linha diretiva do Estado Brasileiro estava nítida a partir da legislação que constantemente era publicada
e renovada, delineando concepções governamentais acerca da estruturação familiar. Com a
Constituição de 1937, a família fora responsabilizada pela educação, vários conteúdos foram abordados
ressaltando a atenção dispensada pelo novo regime à família e à infância. Se de um lado a Carta Magna
tributava ao Estado cuidados especiais à família, de outro, evidenciava especial interesse em zelar pela

405
formação física, intelectual e moral da infância. As matérias jornalísticas ressaltaram a necessidade de
reformas, mudanças de comportamento e, essencialmente, comprometimento da família brasileira com
a modernização da nação. A família que, segundo a imprensa escrita, estava sob a proteção especial do
Estado, deveria assumir seu papel na formação de super homens para uma nova sociedade, assim, teria
a obrigação de educar suas crianças, almejando formar cidadãos sãos e patriotas. A função educativa
dos periódicos pulsava concepções, direcionamentos, valores visando nutrir os formadores dos cidadãos
estadonovistas. As intervenções estatais procuravam potencializar seus processos formativos por meio
da publicação de inúmeros discursos que procuravam vincular a formação dos ‘novos cidadãos’, dentre
outras temáticas, à higiene e à educação sexual, que, de certa forma, vincularia o ‘biológico’ ao poder e
às demais esferas sociais.O discurso legitimador veiculado pelos jornais uberlandenses deixava jorrar o
ideário higiênicoeducativo do Governo Vargas, com toda sua carga formativa. Neste sentido, pode-se
concluir que a imprensa local foi utilizada como mais um mecanismo estadonovista para intervir,
direcionar e servir de mecanismo higiênicoeducativo sobre e para a família e infância brasileiras.

502
A IDÉIA DE PROGRESSO NA CULTURA POLÍTICA MINEIRA NAS DÉCADAS INICIAIS DA REPÚBLICA E SUAS
IMPLICAÇÕES NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL

PEDRO GERALDO DE PÁDUA; IRLEN ANTÔNIO GONÇALVES.


CEFET-MG, BELO HORIZONTE - MG - BRASIL.
Esta comunicação é fruto de uma pesquisa em andamento e objetiva refletir sobre o conceito de
progresso que adquiriu importância entre a classe política mineira nos primeiros anos da República.
Busca-se elucidar o sentido do conceito na cultura política e suas implicações na área educacional. Para
isso, propomos problematizar as seguintes fontes: as mensagens dos presidentes do Estado, a legislação
e suas respectivas tramitações no Congresso Legislativo, além de dicionários e enciclopédias em
circulação no período. A partir dos estudos da História da Cultura Política, entrecruzada com a História
dos Conceitos, e da Análise do Discurso, enfocaremos o surgimento e a expansão da idéia de progresso
entre as elites mineiras, por meio da análise dos discursos do legislativo e do executivo, considerando
essa idéia como um processo em movimento e não, simplesmente, como uma coisa pronta, vinda de
fora e aqui implantada. Consideramos que os indivíduos formam-se em uma determinada cultura
política, fenômeno vivo e em permanente mudança, compartilhando os dados filosóficos ou históricos
precedentes: visões comuns do passado, das instituições e da organização política e da sociedade ideal.
Para exprimir-se a cultura política usa um discurso codificado no qual o vocabulário, as palavras-chave,
as fórmulas repetitivas são portadoras de significação e desempenham, no nível do gesto e da
representação visual, o mesmo papel significante. Assim, ela adquire sentido no seio do clima cultural
por identificar, nomear e representar cada indivíduo, ou grupos, pela difusão de temas, de modelos, de
normas, de modos de raciocínio que, com a repetição vocabular, acabam por serem interiorizados,
tornando-o sensível à recepção de idéias ou à adoção de comportamentos convenientes. Também o
conceito de vetores – como a família, a escola e os diversos grupos por onde os cidadãos conviveram ao
longo da vida - nos permite conhecer o modo como a República foi se fazendo. A composição das
múltiplas influências desses vetores constitui a cultura política e o seu entendimento é fundamental
para a compreensão da idéia de progresso, presente nos discursos oficiais, especificamente, no que se
refere ao projeto de escolarização. Sobre essa questão, vale afirmar que há uma íntima relação entre a
educação escolar como instrumento transformador da sociedade e as propostas de constituição de uma
nação civilizada baseada na idéia de progresso, presentes nos discursos dos intelectuais e políticos
mineiros, nas primeiras décadas da República.

406
1369
A IGREJA CATÓLICA E A PRODUÇÃO DO CAMPO EDUCACIONAL NO SUL DO RS: UMA HISTÓRIA A
PARTIR DO PERIÓDICO A PALAVRA (1912-1959)

ADRIANA DUARTE LEON.


UFPEL, PELOTAS - RS - BRASIL.

O objetivo desta trabalho é analisar o campo educacional promovido pela igreja católica no sul do Rio
Grande do Sul e expressado pelo periódico A palavra. A história da educação explicitada pelo impresso
anuncia diversos conflitos da época, bem como apresenta as iniciativas da igreja católica no sentido de
estabelecer sua consolidação no campo educacional. Lançar olhar sobre o sul do Rio Grande do Sul por
intermédio do periódico Católico é um desafio que proponho estimulada pelas reflexões que realizei no
meu mestrado em educação e possibilitaram o meu mcontato com o periódico em questão. Embora a
imprensa seja uma fonte em potencial para pesquisa, o seu manuseio e a análise por parte do
pesquisador é um desafio que exige domínio de contexto, domínio das condições histórico-sociais e
políticas em que foram produzidos os documentos; caso contrário, corre-se o risco de produzir uma
descrição sem que o pesquisador tenha consciência dos conflitos ali explícitos. Através da análise da
imprensa é possível indicar os antagonismos e as filiaçoes ideologicas, presentes nas práticas. As
questões sociais explicitadas nas práticas sociais, se consolidam como meios de comunicação que
cumprem ao seu modo e ao seu tempo sua função social. No entanto não basta compreendê-los como
mecanismos que apresentam opções sociais e políticas é preciso comprendê-los como síntese dessas
disputas, ou seja é preciso entender os campos de conflito que produzem a fonte. O jornal A palavra
circulou na cidade de Pelotas e região sul no período de 1912 a 1959, com edição semanal, número de
páginas e formato variável, era uma publicação da diocese da cidade de Pelotas e pretendia ser um
veiculo de comunicação da Igreja Católica com a região Sul do Rio Grande do Sul. A diversidade de
assuntos tratados no periódico indica a preocupação em se tornar atrativo ao leitor, bem como atender
a diversas faixas etárias e interesses diferentes. As fontes utilizadas neste trabalho são escritas e
constituidas basicamente de periódicos, utilizei notas, artigos e editoriais extraídos do periódico A
palavra. A periodização anunciada para o trabalho corresponde ao período de circulação do impresso.
As conclusões são preliminares, pois o estudo está em fase inicial. É possível afirmar que o periódico
interveio na produção do campo do campo educacional no período de sua circulação, pois se consolidou
como um meio de comunicação eficiente que aglutinava leitores de diversos setores da sociedade.

469
A III CONFERÊNCIA NACIONAL DE EDUCAÇÃO: ESTRATÉGIAS PARA A INTERVENÇÃO NO CENÁRIO
EDUCACIONAL NACIONAL (1929)

TELMA FALTZ VALÉRIO.


UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ, CURITIBA - PR - BRASIL.

A presente proposta de trabalho é um recorte da tese de doutorado desenvolvida na linha de pesquisa


de História e Historiografia da Educação da Universidade Federal do Paraná que tem por título:
Conferências Nacionais de Educação: estratégias para uma intervenção na política educacional nacional
(1927-1967). Entretanto, para o presente trabalho a ser apresentado no IV Congresso Brasileiro de
História da Educação, elegemos a III Conferência Nacional de Educação como objeto de trabalho, por
dois motivos principais: 1) por se tratar de uma conferência que possui os anais da conferência bem
completo; 2) Um evento que propiciou maior projeção da Associação Brasileira de Educação no cenário
brasileiro. Dessa forma, através da análise dos discursos presentes nas teses da III CNE, intenta-se
perscrutar as estratégias utilizadas pela ABE, para criar uma política de intervenção educacional
nacional. Portanto, três das quatro questões presentes na tese de doutorado, balizaram a presente
análise: 1) Como se efetivou o movimento da Associação Brasileira de Educação em relação ao Estado e
a intervenção na política educacional? 2) Quais linguagens foram sancionadas como legítimas
integrantes do universo do discurso público? e 3) Que tipo de intelligentsias adquirem autoridade
nesses discursos?. Como referencial teórico, elegemos o trabalho de John Greville Agard Pocock (2003),

407
que analisa o discurso político. Para compreender esse universo linguístico e as formas de compreensão
da língua por meio de seu vocabulário e do contexto, Pocock faz distinção entre a langue – estrutura da
língua e da parole – processos concretos de conversação ou interação comunicativa, ou seja, uma
construção, com efeito de “verdade” por parte do enunciatário. Portanto, compreender essa gama
lingüística própria de cada grupo, ajuda a construir essa teia de relações estabelecidas entre o universo
lingüístico e o campo em que os agentes da ABE estão inseridos. Vimos que, apesar desse evento ser
direcionado a problemas relacionados à educação, os órgãos que realmente tiveram acento nesse
espaço foram aqueles diretamente ligados ao Estado. Podemos pensar que o Estado consentia essa
operação da ABE em relação a si mesmo, pois o presidente da república e os representantes do Estado
estavam presentes nas conferências, conheciam o teor das discussões estabelecidas e ao mesmo tempo
estabeleciam os limites das propostas aprovadas. Portanto, as conferências, podemos supor,
constituíram um espaço pensado pelas intelligentsias abeana com o objetivo de desencadear uma
campanha cívica em escala nacional, contar com uma ramificação da Associação Brasileira de Educação
em cada Estado e ocupar o espaço governamental. Tal ocupação viabilizaria a efetivação de uma política
nacional de educação e um amplo programa de ação social no país. Para tanto, precisavam do Estado
tutelando e apoiando as decisões ali tomadas.

792
A IMPRENSA COMO FONTE PARA A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NO AMAZONAS: A REVISTA DE
EDUCAÇÃO DA SOCIEDADE AMAZONENSE DE PROFESSORES

MARCOS ANDRÉ FERREIRA ESTÁCIO.


UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS - UEA, MANAUS - AM - BRASIL.

A produção de pesquisas na aérea de História da Educação se faz tanto pelo questionamento de


memórias, como pela interrogação de vários registros documentais escritos, falados, iconografados e
que estão relacionados aos estudos teóricos e conceituais da educação. E mais, o estudo da
historiografia na perspectiva da História Cultural, vem ampliando o campo da História e da História da
Educação, incluindo novos sujeitos, temáticas e objetos, destacando dentre eles o das instituições e
associações educacionais e dos impressos. O presente estudo teve por objetivo compreender a História
da Educação no Amazonas, no período de 1932 a 1937, a partir da Revista de Educação da Sociedade
Amazonense de Professores – SAP, instituição esta, fundada aos 04 de julho de 1930, com sede e foro
na cidade de Manaus, pela professora Mercedes Dantas, defensora no Estado dos ideais educativos do
escolanovismo. Almejava a referida entidade, proteger e congregar o professorado do Estado do
Amazonas, visando tornar o mais eficiente possível a sua ação cultural sobre as classes populares em
torno das idéias da Escola Nova. A pesquisa teve natureza qualitativa e foi do tipo documental e
bibliográfica, e utilizou-se a análise do discurso, para compreender os discursos como uma construção
social que, até certo ponto, reflete o pensamento, os valores e anseios de um determinado grupo.
Compreende-se que as revistas educacionais se constituem um dos principais veículos de informação do
campo educacional, pois divulgam, de modo imediato, assuntos e conteúdos referentes ao campo de
abrangência do periódico. O material coletado, exemplares da Revista de Educação, foram
seqüencialmente identificados, catalogados e interpretados de modo que os dados fossem articulados
ao contexto nacional e local a época que ocorreram. O certo é que, na Revista de Educação da SAP, as
matérias sobre a Escola Nova ocupavam espaços significativos, seja nas notícias, artigos ou colunas
inteiras, seja na divulgação do pensamento dos defensores dessa renovação educacional; mas continha
ainda, divulgação de relatórios, de prestação de contas da Associação, de opinião de leitores, de
atividades culturais e realizadas, de pronunciamento e discursos, e também de estatísticas educacionais
relativa a matrículas, unidades escolares e professores do Estado. Isso se justificava porque a
inquietação ideológica desse tempo passou a interpretar a escola enquanto uma função social. E de
acordo com este pensamento, a escola fazia parte da organização de uma estrutura cultural complexa,
na qual os principais elementos estavam intimamente relacionados: o político, o econômico e, como
conseqüência do envolvimento desses dois aspectos, o social.

408
911
A INFLUÊNCIA DAS IDEIAS FISIOCRATAS DE HENRY GEORGE NA PROPOSTA EDUCACIONAL PARA O
HOMEM DO CAMPO DE JOSÉ MARTÍ
1 2
FÁBIO INACIO PEREIRA ; JOSÉ JOAQUIM PEREIRA MELO .
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PARANÁ, MARINGA - PR - BRASIL; 2.UNIVERSIDADE ESTADUAL DE
MARINGÁ, MARINGÁ - PR - BRASIL.

O presente trabalhopropõe uma reflexão da influência das ideias fisiocratas de Henry George (1839-
1897) na proposta formativa para o homem do campo de José Martí (1853-1895). Este trabalho faz
parte de estudos ainda em realização e o eixo temático para o qual se propõe a comunicação é o
“Impressos, Intelectuais e História da Educação”. Um dos principais intelectuais e políticos norte-
americanos do final do século XIX, Henry George era referência para o estudo das condições econômicas
e sociais dos trabalhadores nos Estados Unidos. Para tratar da proposta de formação do homem do
campo de José Martí serão considerados, além das influências fisiocratas, os apelos dos setores sociais
em Cuba a que seus escritos propunham responder. Importa lembrar que foi nos Estados Unidos que
foram produzidos seus principais textos educacionais sobre o cultivo da terra e da necessidade de uma
educação que incorporasse as novas tecnologias do final daquele século como um objetivo a ser seguido
pelos produtores em Cuba. As ideias de José Martí tinham em vista os interesses econômicos e sociais e
ganharam grande destaque na década de 1880, na ilha, período de intensas transformações econômicas
que atingiam os setores produtivos agrário-exportadores, sobretudo açucareiros. A forte crise
econômica, o crescimento da concorrência internacional e as novas exigências técnicas na produção
demandavam mudanças amplas, reclamadas por José Martí em seus textos, destacando-se o processo
de formação do homem do campo e sua integração na cultura moderna. Metodologicamente, a
proposta é a de investigar as transformações nas relações de produção em Cuba que formavam a
estrutura econômica da sociedade, base sobre a qual se erigia o edifício social e, em particular, os
processos educacionais. Entende-se que os processos educacionais não podem ser compreendidos a
não ser quando referidos ao contexto em que ocorreram. Assim, os textos educacionais de José Martí
sobre a educação do campo foram passados por um crivo crítico e, ao mesmo tempo, por uma avaliação
com base nos referenciais históricos de sua elaboração.

867
A PEDAGOGIA MODERNA NO PARANÁ: INCURSÕES NA REVISTA DA A PEDAGOGIA MODERNA NO
PARANÁ: INCURSÕES NA REVISTA “A ESCOLA” ( 1906-1910)

CLAUDIA MARIA PETCHAK ZANLORENZI.


UNICENTRO, IRATI - PR - BRASIL.

A modernidade almejada pela ordem republicana desencadeava o desejo de organizar a sociedade e


nesse desiderato a educação tornou-se chave mestra para a legitimação dessa modernidade. No início
do século XX, a pedagogia moderna seria o exemplo lapidar para modernizar a educação. “A arte de
ensinar”, como modelo para a prática docente, seria o subsídio para modernização do ensino
republicano, bem como inspiração e guia, na qual a prática da observação modula a relação ensino-
aprendizagem (CARVALHO, 2000, p. 112). Para tanto, era necessário que fossem propagados os moldes
de ensino, ou melhor, os métodos de ensino e as práticas de organização escolar. No afã para que esse
objetivo fosse alcançado, algumas proposições eram feitas na dinâmica educacional. Esses princípios,
inicialmente propagados em São Paulo, amplamente seriam disseminados aos outros estados. A
imprensa, neste contexto, teve um papel fundamental na formação de opiniões, principalmente a
imprensa periódica dirigida aos professores, como por exemplo, a revista “A Escola”, veiculada na
Capital do Paraná, Curitiba, entre 1906 e 1910. Uma rica fonte histórica para a análise da realidade da
sociedade republicana paranaense, a revista “A Escola” era um periódico do Grêmio de professores
públicos do Paraná, em Curitiba, com colaboração de educadores de outras cidades e alunos do
Gymnasio Paranaense e Escola Normal. Apesar de sua breve circulação, a amplitude dos temas
debatidos nessa revista proporcionam subsídios para inúmeros trabalhos de pesquisa. Ademais esse

409
periódico teve um papel preponderante na disseminação de idéias específicas de professores aos
professores paranaenses. Ao analisarmos a revista “A Escola”, verificamos que a pedagogia moderna é a
categoria imperante. Com essa análise é possível inferir que no Paraná, seguindo o exemplo de São
Paulo, a ideia de modernidade era disseminada como a solução aos problemas na educação, tendo em
vista que era por meio da educação que seria possível transformar a sociedade, corroborado, então,
pela pedagogia moderna. A partir desse periódico, instaurava-se um material de formação aos
professores, cujo sucesso dependia de se apreender os princípios da arte de ensinar e de aplicá-los
inteligentemente na prática (WHITE, 1911, p.8). O presente artigo tem por objetivo apontar incursões
realizadas na revista “A Escola” e a disseminação da pedagogia moderna no estado. Para tanto,
primeiramente será abordado sobre a república e a ideia de modernidade, em seguida será discorrido
sobre a pedagogia moderna e após será feita uma breve análise da revista “A Escola”. Destarte,
pretende-se com este artigo arrolar sobre a história da educação no Paraná.

748
A PRESENÇA DA EDUCAÇÃO NA REVISTA CARETA (1914-1918)

LAERTHE DE MORAES ABREU JUNIOR; FERNANDA CONCEIÇÃO COSTA FRAZÃO.


UFSJ, SAO JOAO DEL REI - MG - BRASIL.

Este trabalho analisa a presença da educação na Revista Careta, durante os anos 1914-1918 no Governo
Wenceslau Brás, que contou com a Reforma Carlos Maximiliano. Esta cuidou do Colégio Pedro II e
regulamentou o acesso às escolas superiores. Os anos iniciais da República se caracterizaram por
tentativas esparsas e organização do sistema escolar. A reforma anterior, Rivadávia Correia, deu ênfase
ao ensino secundário, abolindo o diploma para o acesso ao ensino superior. Isto levou o governo
seguinte a tentar concluir a reforma reoficializando o ensino superior (Ghiraldelli Jr., 2006). Numa época
em que o analfabetismo atingia 75% da população brasileira, a repercussão das iniciativas
governamentais para a educação se restringia à elite. É nesse contexto que se torna instigante investigar
como os meios de comunicação social abordavam a educação. A Careta - periódico de circulação
nacional, editada no Rio de Janeiro entre os anos 1908 e 1957 e precursora das revistas semanais de
variedades - é objeto desta pesquisa na medida em que não foram ainda realizadas investigações sobre
essa revista no campo educacional. O que se ressalta nas análises já realizadas é o conteúdo
sociopolítico muito forte, numa linguagem crítica e satírica através de imagens, caricaturas e textos em
forma de piadas, com conteúdo dissimulado. Os fatos políticos são assim retratados, com humor e
provocação. Num primeiro olhar sobre as informações contidas no periódico em relação à Reforma
Carlos Maximiliano, nota-se uma crítica sutil à educação. Na edição de numero 353, de 27 de março de
1915, numa coluna assinada por “X.” encontramos um texto falando sobre as crianças, citando a
passagem bíblica na qual Jesus manda vir a Ele os pequeninos. Esta citação foi feita em latim pelo autor,
que em seguida exprime a seguinte observação: “A nova reforma do ensino atochou latim em grande
quantidade, suficiente para traduzir essa frase e qualquer outra” e continua o texto sem
necessariamente tocar na questão da reforma. Esse traço sarcástico se faz tão presente ao longo das
edições da revista que nem mesmo a Primeira Guerra Mundial, assunto sempre recorrente nas suas
páginas nesse período, escapa ao seu humor, sendo que entre fotos e notícias do conflito há uma coluna
que se estende pelas edições, chamada de Notas Cômicas, em que apresentam ilustrações com
pequenos textos sobre a guerra. Este trabalho investiga não só os textos das reportagens e colunas,
como também a publicidade de medicamentos como uma forma de educação, pois estas traziam a visão
higienista vigente na época, apresentando em suas imagens um modelo de saúde no qual deveria se
espelhar a sociedade brasileira. Esta pesquisa - que se encontra em desenvolvimento - pretende analisar
como a Careta, tratava as discussões sobre assuntos educacionais, em meio a uma sociedade que
enfrentava precariedade de resultados positivos para a educação sem atingir a população em geral, num
contexto de guerra mundial.

410
447
A PROFISSIONALIZAÇÃO DO ENSINO DE 2º GRAU NOS ARTIGOS DO JORNAL FOLHA DE S. PAULO
(1971-1982)

RITTA MINOZZI FRATTINI.


UNESP, ARARAQUARA - SP - BRASIL.

A presente comunicação é parte da pesquisa de mestrado em andamento intitulada “Reforma


Educacional de 1971: um estudo sobre os debates educacionais veiculados na imprensa paulista (1971-
1982)". Objetivamos aqui examinar como o jornal Folha de S. Paulo retratou os problemas e debates em
torno do ensino de 2º Grau no Estado de São Paulo em relação à profissionalização compulsória deste
nível do ensino determinada pela Reforma do Ensino de 1º e 2º Graus Lei nº 5.692/71 no período de
1971 a 1982. Utilizamos como fonte para este estudo as notícias sobre educação do jornal Folha de S.
Paulo, encontradas no Arquivo Público do Estado de São Paulo, que retratam as representações dos
sujeitos atuantes naquele período da história da educação como políticos, intelectuais, professores, pais
e alunos. Em 11 de agosto de 1971 foi aprovada a Reforma Educacional 5.692/71 que promoveu uma
reestruturação da organização escolar e do ensino vigentes até então, refletindo, sobretudo, mudanças
políticas, estruturais e organizacionais profundas no ensino, ocasionando uma série de mobilizações
documentadas nos jornais em circulação no período. A Lei propunha desenvolver as potencialidades do
educando como elemento de auto-realização, qualificação para o trabalho e preparo para o exercício
consciente da cidadania. O tema da profissionalização compulsória de todos os campos curriculares das
escolas ou a formação para o trabalho foi o aspecto mais debatido e polêmico da Lei 5.692/71. Nesse
sentido, o ensino técnico seria destinado àqueles que não conseguissem ingressar na universidade,
como também para suprir as necessidades do mercado de trabalho, caracterizando-se pela
terminalidade dos estudos e contensão da demanda pelo ensino superior. Segundo os artigos
publicados na Folha, os secretários estaduais de educação afirmaram ao jornal que o governo e a rede
particular de ensino não tinham condições de arcar financeiramente com esse ensino e,
conseqüentemente, as escolas desenvolveram precariamente os cursos nessa área. Além disso, o
mercado de trabalho não foi suficiente para absorver o contingente de técnicos que se formava a cada
ano. O impresso relatou ainda que com a obrigatoriedade do ensino profissionalizante criava-se um
impasse: o aluno não se formava como um bom técnico, nem se preparava para o vestibular. Outros
acusavam a profissionalização de alienar o aluno que, com a predominância de matérias técnicas em
detrimento da formação geral, perdia o censo crítico e o poder de análise da realidade brasileira. A
profissionalização obrigatória não chegou a ser efetivamente implementada, seja na rede pública ou
particular, e foi definitivamente eliminada pela Lei 7.044/82. A posição do jornal era de informar os seus
leitores acerca das mudanças em curso no processo de implantação do ensino profissionalizante nas
escolas paulistas, como também abrir espaços de debates que retratavam a indignação da sociedade
frente à profissionalização do ensino.

1305
A PRÁTICA ESCOLAR E O ESPORTE NO ENSINO SECUNDÁRIO EM SÃO PAULO NOS ANOS DE 1950

LUIZ FERNANDO COSTA DE LOURDES.


CENTRO UNIVERSITÁRIO ANCHIETA, SAO PAULO - SP - BRASIL.

Este estudo de cunho historiográfico analisa ações pedagógicas de Antonio Boaventura da Silva, um
intelectual da Educação Física cuja atuação deu-se promovendo práticas de ensino do esporte nas aulas
de Educação Física, e no desenvolvimento de campeonatos colegiais na rede de ensino secundário no
Estado de São Paulo. Este professor teve um papel importante na disseminação de idéias e práticas
desta disciplina em São Paulo e no Brasil admitindo-se a hipótese de que suas ações reverberarem
significativamente na conformação da Educação Física com disciplina escolar. Na trajetória de
construção desta pesquisa examinou-se um extenso corpus documental composto de fontes de diversas
espécies, tais como: documentos do acervo pessoal, correspondências, anotações de aulas, originais de
palestras, recortes de jornal, anotações de leitura, projetos; documentos oficiais referentes ao cargo de

411
professor da Escola Superior de Educação Física de São Paulo e da diretoria da sessão técnica
Departamento de Esporte e Educação Física de São Paulo nas décadas de 1930 e 1950, um conjunto de
cartas, fotos, recortes de jornal; Registros dos conteúdos dos cursos ministrados tanto no exterior,
quanto nas diferentes divisões e departamentos de Educação Física nos estados brasileiros. A partir da
categorização e da análise dos documentos foi possível reconstituir a sua trajetória social e itinerário de
formação e detectar a sua rede de sociabilidade, para com isso conhecer o campo de conflitos e de
projetos ligados à formação de professores. Para esta comunicação objetiva-se apresentar a análise das
prescrições de práticas pedagógicas e dos campeonatos colegiais realizados na década de 1950 na
cidade de São Paulo que espelham de forma significativa as práticas da Educação Física do período,
dado que este professor era referência na formação de professores. A condução da pesquisa foi
inspirada em proposições J. F. Sirinelli na qual considera professores atuantes, como foi Boaventura,
intelectuais, já que desempenham um papel importante na disseminação de idéias e práticas de uma
disciplina e de um campo teórico hipótese sustentada a partir de evidências observadas nas incursões
aos documentos do acervo que mostram, por exemplo, que nos anos 1950 houve significativa
participação das escolas nos campeonatos colegiais. Pode-se afirmar que neste período o envolvimento
das escolas secundárias é significativo, o Departamento de Educação Física estava estruturado, seu
corpo de inspetores havia crescido e a adesão ao projeto do campeonato e das demonstrações tinha
uma marca mais característica do projeto compartilhado por Boaventura e seus pares na Educação
Física. Boaventura se articulava com outros professores da área para organizar os eventos públicos de
educação física. Por todas essas evidências a pesquisa justifica-se e busca contribuir com a história da
conformação da área da Educação Física dialogando com as pesquisas voltadas para esta questão.

1155
A REFORMA CISTERCIENSE E ASPECTOS EDUCACIONAIS NO SÉCULO XII: UM ESTUDO DE ESCRITOS DE
BERNARDO DE CLARAVAL

RITA DE CÁSSIA PIZOLI.


FAFIPA/UEM, ALTO PARANA - PR - BRASIL.

Este trabalho tem como objetivo analisar a reforma monacal cisterciense realizada no século XII a partir
de alguns escritos de Bernardo de Claraval (1090-1153) e apontar suas implicações no processo
educativo do período. Desde o século VI a escola foi, no Ocidente, uma instituição antes de tudo
monástica. Os mosteiros preservaram a cultura greco-latina e assumiram a função de cultivar valores de
convivência e civilidade num período de instabilidade e insegurança. As reformas operadas em seu
interior, neste século, buscavam a retomada dos valores originais da proposta Beneditina. Nesse
sentido, apresentaremos as reforma cisterciense em sua relação com a sociedade.No século XII, à
medida que as escolas monacais diminuíam, devido à reforma cisterciense, as escolas paroquiais e
catedrais aumentavam seu número nas cidades. A proposta educacional, no interior desses dois espaços
apresentava algumas diferenças, que serão compreendidas em sua inter-relação com as questões
geradas no processo de renascimento das cidades. Um outro aspecto abordado é a compreensão da
postura da Igreja iniciada com a Paz de Deus, a Reforma gregoriana e o documento Dictatus Papae, de
Gregório VII. Essa postura estabelecia a política de independência do poder espiritual em relação ao
poder temporal. Bernardo de Claraval escreve e ensina nesse contexto de mudanças. Ao invés de seguir
seus estudos nas cidades, dedicando-se à filosofia, nas escolas catedrais, preferiu refugiar-se no silêncio
do mosteiro. De lá, escreveu sua teologia, orientando a vida monástica, a vida dos homens que se
dedicaram às primeiras cruzadas e a vida dos dirigentes da Igreja. Bernardo encaminhou a Igreja para o
seu momento de maior prestígio, com o papa Inocêncio III (1198-1216), monge cisterciensede
formação. Tornou-se uma peça chave da reforma eclesiástica em curso, estava em contato com todos os
pontos nevrálgicos dos conflitos políticos da sua época. Suas cartas e seus sermões revelam a dinâmica
entre ação e contemplação que se tornou sua vida e, por meio delas, podemos perceber a influência na
direção da sociedade. Nossas considerações serão ancoradas em estudos historiográficos e filosóficos, à
luz da metodologia da história social. Entre os primeiros Verger (2001), Le Goff (1980, 1991, 2005,
2008), Duby (1990) e Oliveira (2008). Entre os segundos Gilson (2007) e Leclercq (1980). Como fonte
primária temos os escritos de Bernardo de Claraval, especificamente o Tratado sobre os graus da

412
humildade e da soberba e alguns sermões contidos em sua Obra Completa. Este estudo integra as
análises históricas sobre o contexto do século XII, parte da pesquisa de doutorado em andamento
intitulada “Bernardo de Claraval e a influência de seus sermões no processo educativo do século XII”.

660
A REPRESENTAÇÃO DO TRADICIONAL E DO MODERNO NO ATO DE ENSINAR NAS IDEIAS
PEDAGÓGICAS PRESENTES NA REVISTA BRASILEIRA DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO – 2001 A 2009
1 2
MERILIN BALDAN ; ALESSANDRA ARCE HAI .
1.FCLAR/UNESP, SAO CARLOS - SP - BRASIL; 2.FCLAR/UNESP E UFSCAR, SÃO CARLOS - SP - BRASIL.

Este ensaio está vinculado de forma indireta com a pesquisa de mestrado em andamento “O Ato de
Ensinar: A Concepção de Ensino na Pedagogia Tradicional, na Pedagogia Histórico-Crítico e na Psicologia
Histórico-Cultural”, sob orientação da Professora Doutora Alessandra Arce e com financiamento da
FAPESP. O objetivo é analisar representação do ato de ensinar presente na Revista Brasileira de História
da Educação no que tange a polarização do “tradicional” e do “moderno” nas ideias e correntes
pedagógicas discutidas nos vinte e um números deste periódico. De acordo com tal caracterização,
vinculamo-nos ao quinto eixo “Impressos, Intelectuais e História da Educação”. A Revista Brasileira de
História da Educação tem assumido um papel importante no campo da pesquisa em educação como já
demonstrou o balanço realizado Ana M. Galvão, Dislane Z. Moraes, José G. Gondra e Maurilane de S.
Biccas (2008) cujo balanço repousou no período de 2001 a 2007; diante do qual damos prosseguimos ao
balanço até o período de 2009, bem como focalizamos além da análise da repercussão do periódico a
investigação acerca do tratamento da história das idéias pedagógicas nele presentes. A referida revista
foi publicada semestralmente no período de 2001 a 2006, a partir do qual passou a publicação
quadrimestral no período de 2007 a 2009. Em todos os números da Revista encontra-se as seguintes
seções: Sumário, Editorial, Artigos e Dossiês, Resenhas e Notas de Leitura e Traduções. Nos artigos,
pode-se observar tanto a publicação de trabalhos nacionais como internacionais, dando maior peso e
divulgação no conhecimento da história da educação. Ao todo podemos constatar um rol de 122
autores de artigos, somados aos 36 autores com artigos na seção de dossiês; além dos 28 autores de
resenhas, 10 de notas de leitura e 12 autores de traduções. Estes autores estão distribuídos em sua
maioria com artigos individuais e com uma publicação no período analisado, isto é, são poucos os
autores que apresentam mais de trabalho em alguma seção da referida revista. A investigação acerca
das relações entre o “tradicional” e o “moderno” na história das ideias pedagógicas, bem como as
concepções do ato de ensinar e as representações de professor e aluno, tem nos envolvido na busca de
verificar quais são suas representações para a compreensão da concepção do ato de ensinar, do
professor e do aluno. Ainda que parciais, os resultados apresentados muito colaboraram para visualizar
as pesquisas publicadas na revista e os campos necessários para a produção do conhecimento na
historia da educação. Tal embate, não descarta as possíveis relações entre uma tradição consolidada nos
usos e costumes da cultura escolar, bem como se respalda em uma linguagem da educação resultando
numa tradição inventada. O referencial teórico marxista empregado por Saviani (2007), bem como
importantes contribuições da primeira e da segunda geração da Escola dos Annales para trabalharmos
com o aporte das representações.

370
A REVISTA

MARIA ISABEL FILGUEIRAS LIMA CIASCA; ALINE GOMES DA COSTA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ, FORTALEZA - CE - BRASIL.

O presente artigo traz, das páginas da história da educação, uma revista veiculada na década de trinta
que se propunha a reforçar de maneira inovadora a educação do estado do Ceará, iniciada com a
reforma pedagógica de Lourenço Filho, em sua passagem por este estado nos anos de 1922 e 23. São
artigos, notícias, estatísticas, pensamentos e inquéritos em torno da educação, dos mais importantes

413
educadores e intelectuais da época. Sua duração foi curta, porém sua atuação muito intensa. Em apenas
5 edições, entre junho de 1932 e abril de 1933, é possível identificar e reconhecer o pensamento
pedagógico e a grande influência do movimento escolanovista, que, naquele período, entrava com
destaque no cenário educacional brasileiro. A “Educação Nova, revista pedagógica, sob os auspícios da
diretoria da instrução pública” tinha como diretor o Dr. João Moreira de Sousa, também diretor da
instrução pública, e, como redator-chefe, o então jovem bacharelando de direito, inspetor regional de
ensino, Prof. Antonio Filgueiras Lima. Os cinco volumes foram analisados à luz da Escola Nova e dos
acontecimentos históricos e educacionais do período. A pesquisa foi do tipo documental, a partir dos
exemplares da própria revista e de notícias que foram publicadas nos jornais a respeito de sua
veiculação. De acordo com o editorial do primeiro volume o objetivo da revista era “[...]propugnar a
adoção, de acordo com as necessidade e possibilidades regionais, dos métodos modernos da pedagogia
científica, em todos os estabelecimentos de ensino; estudar e divulgar, quando parecer conveniente, os
diversos tipos de escola, existente no paiz e no estrangeiro; sugerir ao poder público as medidas que se
afigurem uteis ao desenvolvimento cultural do Ceará; interessar a todos pela feitura e divulgação do
livro escolar cearense; apoiar por todos os meios as iniciativas particulares em bem da educação pública
e orientá-los no sentido dos modernos princípios educativos; estudar a questão da inspeção médica e
dentária nas escolas, bem como a da educação física, propagando as suas vantagens e sugerindo ao
governo a melhor maneira de resolvê-las; atuar no meio social, para fazer vitoriosos os novos ideais de
educação; estudar a melhor forma de elevar o nível moral e intelectual do professor, a fim de que a sua
atuação no meio social seja a mais eficiente possível; estudar tipos de escolas primárias, secundárias e
profissionais, de acordo com as condições peculiares à região cearense; trabalhar, finalmente, por que o
Ceará, tão cedo quanto possível, se associe á marcha vitoriosa da pedagogia moderna integral”.

930
A REVISTA PESQUISA E PLANEJAMENTO DO CRPE-SP: UMA ANÁLISE DAS RELAÇÕES ENTRE EDUCAÇÃO
E CIÊNCIAS SOCIAIS (1957-1966)

MAURO CASTILHO GONÇALVES.


PUC-SP/UNITAU-SP, TAUBATE - SP - BRASIL.

A comunicação apresenta os resultados de uma análise realizada em artigos, estudos, boletins


informativos e relatos científicos publicados na revista Pesquisa e Planejamento, periódico criado, em
1957, pelo Centro Regional de Pesquisas Educacionais de São Paulo (CRPE-SP). Foram selecionados
estudos que utilizaram as contribuições das Ciências Humanas e Sociais, especialmente a Sociologia. O
período estabelecido pela pesquisa (1957-1966), considerado a primeira fase da revista e o de sua maior
produtividade, foi demarcado em função da forte presença da perspectiva sociológica na interpretação
das questões e problemas da educação brasileira. Procurou-se, num primeiro momento, compreender
as interpretações que os estudos e pesquisas desta fase da revista imputaram ao campo da educação,
evidenciando que a revista produziu um padrão específico na leitura dos problemas da educação no
período. Especialistas em educação, técnicos da UNESCO, sociólogos, estatísticos e outros cientistas
sociais ocuparam as páginas da revista divulgando relatos de pesquisa e estudos temáticos. Na seleção
dos trabalhos, foram desconsideradas as pesquisas e artigos denominados “ensaios filosóficos” e
“técnicas de ensino” para o aprofundamento daqueles priorizados pela investigação, quais sejam: os
que trataram a temática educacional a partir de bases sociológicas, históricas e antropológicas. Nesse
caso, questões como analfabetismo, desenvolvimento, urbanização, industrialização, pesquisa,
planejamento e classes sociais, foram articuladas no que denominamos concentração temática da
primeira fase da revista. Dessa concentração, foram selecionados quatro temas: educação e ciências
sociais, formação de especialistas, pesquisa e planejamento educacional e ensino primário. A partir da
análise dos conteúdos veiculados pelos estudos e artigos que trataram dessas temáticas, constatou-se
que a revista produziu uma interpretação funcionalista e economicista dos problemas da educação,
seguindo padrões fornecidos pela presença de técnicos estrangeiros no CRPE-SP, especialmente
vinculados à UNESCO. Além disso, ficou evidenciado que os grupos relacionados à herança teórica e
metodológica do marxismo ficaram ofuscados, não se tornando hegemônicos no interior do Centro
Regional paulista. Numa outra perspectiva investigada pela pesquisa, a partir do exame dos estudos e

414
de boletins informativos divulgados pelo periódico, constatou-se que o CRPE-SP, especialmente no
período em que Fernando de Azevedo foi o seu diretor, o referido órgão atuou no sentido de consolidar
sua autonomia política, administrativa e científica em relação ao Centro Brasileiro de Pesquisas
Educacionais (CBPE). A presença de Azevedo nos quadros diretivos do órgão, a criação da revista
Pesquisa e Planejamento, o conteúdo de artigos, estudos e relatos de pesquisa e duas entrevistas
realizadas com ex-integrantes do CRPE-SP, constituíram a base empírica que sustentou a tese
supracitada.

629
A SAÚDE DO ESPÍRITO: UM MANUAL DE ORIENTAÇÃO MÉDICO PARA PAIS E PROFESSORES (RIO DE
JANEIRO 1930-1940)

RONALDO AURÉLIO GIMENES GARCIA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - UFSCAR, FRANCA - SP - BRASIL.

O Movimento Escola Nova que no Brasil foi representado por figuras como Anísio Teixeira, Fernando
Azevedo e Lourenço Filho, também contou com a presença de importantes profissionais da medicina.
Estes estavam convencidos de que era necessário e urgente reorientar a educação nacional. Para isso
lançavam mão do emprego de testes científicos, aplicação de princípios da psicanálise e da psiquiatria
para a constituição de uma nova forma de escola que superasse os métodos tradicionais de ensino, tido
como ineficientes e distantes da realidade do mundo industrial e desenvolvido. Neste contexto chama a
atenção o caso do médico psiquiatra alagoano Arthur Ramos que durante a década de 1930 se
transferiu da Bahia para o Rio de Janeiro. Nesta ocasião foi convidado por Anísio Teixeira, que conduzia
a reforma da educação na Capital, a chefiar o Serviço de Ortofrenia e Higiene Mental no Distrito Federal.
O objetivo do órgão então criado era atender às crianças das escolas públicas consideradas
problemáticas e incapazes de aprender. Os alunos encaminhados eram atendidos nas chamadas clínicas
de hábitos que funcionavam junto a algumas escolas previamente selecionadas. Lá o estudante era
submetido a uma série de exames e testes (físicos e psicológicos), a fim de estabelecer um possível
diagnóstico. Como o próprio médico vai reconhecer, a grande maioria das crianças encaminhadas pelas
instituições escolares não possuíam nenhuma deficiência que impedisse seu aprendizado. A experiência
de Ramos neste serviço o levou, alguns anos depois, a publicar um manual de orientação aos pais e
professores sobre a educação das chamadas crianças problema. Conceito que ele utilizou para classificar
os menores incompreendidos pela família e pela escola. O médico alagoano chegava a afirmar que os
pequenos eram na realidade vítimas das péssimas condições sociais em que viviam. Utilizando uma
linguagem direta e simples o pequeno livro, cujo título era A saúde do espírito procurou orientar a
família e os professores a conduzirem da maneira mais adequada possível a educação das crianças para
evitar futuros recalques e frustrações na fase adulta. O objetivo desta pesquisa foi analisar o discurso de
Arthur Ramos nesta obra, as estratégias usadas para traduzir os termos técnicos e científicos em uma
linguagem mais popular, os conceitos de infância, educação e família que o autor construiu e os
recursos gráficos empregados para atrair a atenção do leitor e despertar sua curiosidade. Trata-se de
um trabalho de pesquisa já concluído.

821
A SIGNATÁRIA CECÍLIA MEIRELES: INTERFACES EDUCACIONAIS NO DISCURSO JORNALÍSTICO (1930-
1933)

ROSÂNGELA VEIGA JULIO FERREIRA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA, JUIZ DE FORA - MG - BRASIL.

Este trabalho apresenta como fulcro de análise a discussão sobre Educação e Infância que se
operacionalizou por meio do discurso de Cecília Meireles. O diálogo com a fonte convergiu para alguns
indícios deixados pela poetisa, jornalista e educadora, Cecília Meireles, em suas crônicas, escritas no
período de junho de 1930 a janeiro de 1933 e publicadas no jornal Diário de Notícias do Rio de Janeiro,

415
então Distrito Federal, em a Página de Educação. Os fomentos argumentativos foram construídos na
tentativa de compreendermos e interpretarmos a atuação da jornalista e educadora que se utilizou de
um espaço jornalístico privilegiado para defender uma ideologia clara e precisa. Durante o processo de
investigação, procuramos discutir as crônicas escritas por Cecília Meireles em termos de suas
estratégias, táticas, encenações, recepções e eficácias, dirigindo a essência do olhar para as palavras
como ações em um contexto político, social e intelectual de fundamental importância para a história da
educação brasileira. A partir da ação do olhar ceciliano constituído no espaço jornalístico e para além
deste, procuramos organizar a gama temática produzida e/ou dirigida pela jornalista, optando por
estabelecer o corpus discursivo encontrado na Biblioteca Nacional a partir do que apreendemos: a
existência de veios fortes em duas grandes áreas: a Educação e a Infância. Essa construção central foi
alinhavada, situando-se historicamente o papel da imprensa na década de 1930. Destacamos a
importância que Cecília Meireles atribuiu à Página de Educação, vendo-a como uma fecunda sementeira
de idéias, uma vez que a concebia como espaço para informar e formar a sociedade e, mais
especificamente, os profissionais da educação. Ao pensar em uma Reforma Educacional, a jornalista
dialogou, dentre outros artífices, com educadores especialistas do Instituto Jean Jacques Rousseau, que
vieram para o Brasil com o objetivo de atuar na Escola de Aperfeiçoamento de Belo Horizonte, fazendo
de a Página um espaço divulgador do ideário educacional proposto à época. Na discussão como ação, o
compromisso jornalístico ceciliano constituiu-se em uma dimensão importante para a divulgação do
projeto educacional da Escola Nova. Nessa nova frente suas preocupações permitiram a concretização
de um papel fundamental da imprensa naquele momento, que era a possibilidade de difundir e, ao
mesmo tempo, legitimar esse ideário. Segundo esta Signatária do Manifesto de 1932, a infância, que
representava o começo da vida, deveria ser o começo da vida que a Revolução de 1930 havia sonhado
para o Brasil.

1212
A SÉRIE DE LEITURA GRADUADA “PEDRINHO” DE LOURENÇO FILHO: O BRASIL EM LIÇÕES (DÉCADAS
DE 50/60 DO SÉCULO XX)

MARIA TERESA SANTOS CUNHA.


UDESC, FLORIANÓPOLIS - SC - BRASIL.

Conhecidos como livros de leitura, as Séries Graduadas foram produzidas a partir dos inícios do século
XX, quando da institucionalização dos grupos escolares estendendo-se até inícios da década de 1970, na
educação escolarizada. Como objetos culturais foram instrumentos mediadores para a divulgação e
circulação de saberes destacando-se na consolidação dos processos de construção da leitura escolar.
Entre 1955/1959, o professor Manuel Bergströn Lourenço Filho (1897-1970), expoente na área de
Educação e um dos proponentes do Movimento Escola Nova produziu e divulgou pela Editora
Melhoramentos, A Série de Leitura Graduada Pedrinho. Tratava-se de uma coleção didática composta
de cinco (5) livros que mantinha, em cada volume, a continuidade dos personagens e o gradativo
aprofundamento das lições acompanhando a série a que se destinavam. Sua alta vendagem, até 1970
alcançando a cifra de cerca de dois (2) milhões de exemplares, é merecedora de estudos tanto no
âmbito da História da Educação como no âmbito da História dos Impressos e da Leitura Escolar, diálogos
teóricos com os quais se afina essa pesquisa em andamento. Este trabalho tem por objetivo a análise,
como fonte documental, de um conjunto de lições que abordam como método de ensino o tema
viagens nesta Série de Leitura Graduada. Investiga-se as maneiras de composição do discurso
pedagógico, apresentado pelo autor, que visava fornecer alicerces para a construção de um cidadão
industrioso, empreendedor e cosmopolita, atributos necessários à nova realidade urbana que se
impunha no Brasil à época. Para tal investigam-se, nesse trabalho, os ensinamentos vinculados com as
viagens que foram idealizadas pelo autor e realizadas pelo protagonista, para explicar o Brasil aos
leitores. As lições descreviam as viagens do protagonista pelas capitais do Brasil, apresentavam
situações recorrentes na vida das crianças e que envolviam noções de trabalho, civilidade e progresso,
além de alertarem sobre a necessidade de saber manejar a natureza para que ela pudesse,
efetivamente, trazer benefícios, tais como educar, regenerar, fortalecer o corpo e o espírito. Observa-se
que, através desse procedimento didático, o autor desenvolvia seu método de ensino pautado na

416
experiência, tão cara aos pressupostos escolanovistas, ao mostrar os cenários sociais, geográficos,
históricos que compunham o Brasil naquele período. O estudo está a evidenciar que pela leitura escolar
solidificava-se uma proposta afinada com os pressupostos de moldar comportamentos de acordo com
as exigências da sociedade e também defendiam o interesse, a experiência e reflexão do aluno,
princípios norteadores do Método Intuitivo, anteriormente criticado. O trabalho pretende contribuir,
também, para evidenciar a presença do elemento cognitivo experiência nos fundamentos da educação
pela leitura, proposta por Lourenço Filho.

1069
A TRAJETÓRIA DE VIDA DE ZENY DE SÁ GOULART E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA A EDUCAÇÃO
FEMININA EM SANTOS / SP

PALOMA LOPES BARBOZA.


UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SANTOS - UNISANTOS, SAO VICENTE - SP - BRASIL.

As questões de gênero têm se mostrado um promissor eixo de investigação dentro da História da


Educação . Analisar os sujeitos e as práticas que fizeram parte da construção do ideal de emancipação
feminina no período após a instauração do regime republicano é uma maneira de compreendermos o
debate acerca do papel social da mulher. Considerando o gênero como categoria de análise - entendido
como o estudo das relações sociais entre os homens e mulheres, tendo em vista o modo como elas se
estruturam ao longo do tempo histórico - partimos para uma perspectiva da formação de mulheres da
elite para os espaços públicos e privados. Assim sendo, a presente comunicação tem por objetivo
investigar a trajetória de vida de Zeny de Sá Goulart e a partir dessa perspectiva analisar as
contribuições que essa educadora trouxe para a educação feminina na cidade de Santos. Pretende-se
ainda, apresentar os ideais sobre concepção de educação feminina, discutindo a formação da mulher e o
seu espaço de representação, fora dos limites do lar. Zeny de Sá Goulart (1882-1960) figura entre as
mais ilustres personalidades femininas da cidade . Nascida em Niterói, era filha de um engenheiro e de
uma dona de casa. Mudou-se para São Paulo na infância e formou-se professora em dezembro de 1900,
na 2ª. Escola Modelo, no bairro da Luz. Foi nomeada para exercer o cargo de professora na Capital, mas
logo foi transferida para o interior paulista. Na cidade de Amparo casou-se e teve 5 filhos. Sendo
transferida como professora primária para Santos, aqui fixou residência e deu início a uma brilhante
trajetória de vida destinada ao magistério e as lutas pelas mulheres de seu tempo. Muito articulada,
circulou pelos meios educacionais, culturais, literários e políticos. Foi professora da rede pública e
particular, ocupou cargos de direção em diversas entidades assistenciais, além de ter sido a primeira
mulher a exercer o mandato de vereadora na Câmara Municipal de Santos. Pelo seu pioneirismo, abriu
portas para as mulheres numa época onde o mercado de trabalho e a participação na sociedade era
bastante restritivo. Contudo, apesar de todas essas atividades não deixou de lado a sua posição de
esposa e mãe. As fontes de pesquisa utilizadas para elucidar a trajetória de vida utiliza, neste estudo,
material documental escrito : artigos de jornais, atas da Câmara Municipal de Santos e documentos
encontrados nas instituições em que lecionou. A metodologia segue a vertente da análise documental e
bibliográfica.

339
A TRAJETÓRIA DOS INTELECTUAIS BAIANOS NO ÂMBITO DO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO NOS ANOS
1950 E 1960: ENTRE AFINIDADES ELETIVAS E AFINIDADES REGIONAIS

FERNANDO CÉSAR FERREIRA GOUVÊA.


UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO, SEROPÉDICA - RJ - BRASIL.

O presente trabalho busca compreender a trajetória e a permanência dos intelectuais baianos Jayme
Abreu (diretor executivo do INEP), Almir de Castro (diretor executivo da CAPES) e Péricles Madureira de
Pinho (diretor executivo do CBPE) à frente dos principais setores pedagógicos do MEC no período de

417
1951 a 1964. A metodologia terá como esteio a confrontação entre memórias, entrevistas, acervos,
correspondências, relatórios institucionais e impressos pedagógicos na perspectiva de apreender a rede
que deu a sustentação para a permanência dos referidos atores no âmbito da burocracia estatal, mais
especificamente na pasta atinente à educação que assistiu à passagem de treze ministros titulares no
período em tela. Trata-se de pesquisa em andamento que tem a intenção de pensar a construção de
uma forma de politização do pensamento/ação educacional de atores sujeitos/coletivos no seio de uma
rede de tramas político-partidárias complexas num modelo de Estado de orientação nacional-
desenvolvimentista. Jayme Abreu (médico) iniciou a sua trajetória na esfera federal em 1949 na
Superintendência do Ensino Médio do MEC e em 1953 foi convidado pelo intelectual baiano Anísio
Teixeira para o cargo de Diretor Executivo da Campanha de Levantamentos do Ensino Médio e
Elementar (CILEME). Abreu acumulou a partir de 1955 o posto de Diretor Executivo do INEP com a
chefia da Divisão de Estudos e Pesquisas Educacionais do CBPE. O segundo intelectual, Almir de Castro
(médico), foi em 1938 designado Delegado Federal de Saúde ficando neste posto até 1940. Quando
houve o desmembramento do referido Ministério, Castro fez a opção pelo Ministério da Educação e
Cultura e em 1954 foi nomeado Diretor-Executivo da CAPES por Anísio Teixeira. O terceiro ator desta
trama, Péricles Madureira de Pinho (advogado), conheceu Teixeira através do seu pai – Bernardino
Madureira de Pinho – que foi Secretário de Polícia e Segurança Pública do governador da Bahia Góis
Calmon ao qual também serviu Teixeira no período de 1924 a 1928. Pinho participou ativamente dos
momentos anteriores à criação do CBPE e no momento de implementação da referida instituição em
1955 foi conduzido ao cargo de Diretor Executivo. Desta forma, o presente trabalho visará ao
mapeamento da trajetória de cada um destes intelectuais e os entrelaçamentos com as afinidades
regionais numa tentativa de lançar outros olhares para as possibilidades políticas de permanências e
apagamentos de determinados atores nas instituições educacionais federais no arco de tempo que vai
de 1951 a 1964.

691
A VALORIZAÇÃO DA ARTE NA FORMAÇÃO DO PROFESSOR NA CONCEPÇÃO PEDAGÓGICA DE ERASMO
PILOTTO

ROSSANO SILVA SILVA.


UFPR, CURITIBA - PR - BRASIL.

O presente artigo é um recorte da dissertação de mestrado defendida no programa de pós-graduação


em Educação na UFPR em 2009 com o título “A arte como princípio educativo: um estudo sobre o
pensamento educacional de Erasmo Pilotto”. E procura analisar a atuação do professor Erasmo Pilotto
(1910-1992), focando as décadas de 1930 à 1940 momento no qual descreveu uma trajetória de
amadurecimento de seu pensamento educativo que teve forte valorização da experiência estética e da
arte como um principio formativo. Concepção que estava em consonância auntores com Dewey, Tolstoi,
Gentile, Read e Montessori. Apesar de não ter atuado como artista ou professor de arte Pilotto esteve à
frente de grupos que discutiam a modernização da arte e do ensino de arte no Paraná, participando de
iniciativas que buscavam trazer a Curitiba os preceitos do Movimento pela Escola Nova e as discussões
sobre a “arte de vanguarda”. Essas ações caracterizam a atuação de Pilotto frente aos grupos
intelectuais curitibanos, permitindo o acumulo de capital simbólico e ampliando sua autonomia tanto no
campo artístico como no educacional. As diversas iniciativas promovidas pelo intelectual visavam a
articulação do campo artístico com suas práticas educacionais realizadas na Escola de Professores,
transformando a instituição em centro de difusão cultural, onde ocorreram exposições, apresentações
musicais, teatrais e literárias. Eventos que tinham como estratégia principal contribuir para a formação
cultural do futuro professor normalista, que na visão de Pilotto era formada pelo tripé formação geral,
profissional e da personalidade do educador. Reconstruir a trajetória de Pilotto na Escola de
Professores, importante espaço de sociabilização e atuação onde o intelectual desenvolveu grande
parte de suas teorias educacionais, significou nessa investigação buscar os agentes com os quais Pilotto
manteve contato. O referencial teórico que auxilia na construção dessa trajetória mantém relação com
as idéias de campo, capital e habitus de Pierre Bourdieu, além da contribuição teórica sobre a história
intelectual e a conceituação de intelectual de Carlos Eduardo Vieira. As fontes pesquisadas são de

418
tipologias variadas divididas em: documentos oficiais, periódicos, manuscritos, obras e depoimentos. A
analise das fontes através do referencial citado permitiu ampliar a leitura sobre o ensino de arte no
Paraná traçando as relações entre o campo artístico e educacional local, através da ação de Pilotto em
seus diversos espaços de atuação.

1123
A ÁFRICA CONTINUA ENSINANDO A GENTE: PARA UMA HISTÓRIA DA EJA EM SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE

MAURILANE DE SOUZA BICCAS; ANA LUIZA DE JESUS COSTA.


FEUSP, SAO PAULO - SP - BRASIL.

Este trabalho objetiva apresentar os primeiros resultados de uma pesquisa que está em andamento
sobre a história da educação de jovens e adultos em São Tomé e Príncipe (STP), país africano insular,
colonizado por Portugal desde 1470 e que se tornou independente recentemente, em 1975. A luta pela
independência em STP está vinculada estreitamente ao processo de libertação das outras colônias
lusófonas: Cabo Verde, Guiné Bissau, Angola e Moçambique. STP apesar da sua curta história como
Estado soberano possui uma experiência educacional muito relevante e sua análise ajuda-nos a
compreender as políticas educacionais direcionadas às ex-colônias portuguesas. Uma das importantes
dimensões estratégicas empreendidas como um esforço de reconstrução deste país foi às campanhas de
alfabetização simultâneas e subseqüentes ao processo de independência. Paulo Freire um importante
intelectual do cenário brasileiro e mundial participou ativamente deste processo. Experiência fundadora
para STP e relevante também para uma história internacional da educação de jovens e adultos ao
compor um quadro, junto com Angola e Guiné Bissau, da participação de Freire bem como do papel da
educação popular/EJA na descolonização do continente africano. A história da EJA no pequeno
arquipélago fez-se tema de pesquisa a partir de um projeto de cooperação internacional entre Brasil e
STP iniciado em 2001, com a parceria entre o Ministério das Relações Exteriores, a ONG Alfabetização
Solidária e o MEC. Seu objetivo foi o de abrir turmas de alfabetização e pós-alfabetização, visando ao
final do mesmo, criar as condições necessárias de incorporação da EJA ao sistema regular de ensino. A
pesquisa sobre a história da educação da EJA de STP surgiu neste contexto, inicialmente para conhecer
seus marcos legais e posteriormente para compreender o processo histórico de escolarização mais
amplo. Em pesquisa no Arquivo Nacional de STP levantamos nos Boletins Oficiais a legislação do período
colonial e nos Diários Oficiais a que se referia ao período pós independência. Encontramos
regulamentos da instrução primária do período colonial, relatórios de missões da UNESCO, diagnósticos
sobre a educação em diferentes períodos, além da imprensa. Surpreendeu-nos o volume da
documentação encontrada, apesar das limitações e precariedade de condições materiais existentes.
Trabalhamos ainda no Arquivo Ultramarino e na Biblioteca Nacional em Lisboa. Entretanto, devemos
destacar às fontes orais. Durante nossa estada em STP tivemos a oportunidade de entrevistar
personagens importantes para a história educacional desde a independência até os dias atuais. A partir
das fontes reunidas fizemos um pequeno recorte que por hora apresentaremos. Trata-se da
caracterização e análise da presença de Freire nas discussões sobre a campanha de alfabetização de
adultos nos primeiros anos da década de 1980, retratada nas páginas do Jornal A Revolução, órgão do
ministério da informação de STP.

556
ADAPTAÇÕES LOCAIS DE UM TESOURO UNIVERSAL

MARÍA CLARA RUIZ; BERNARDO JEFERSON OLIVEIRA.


UFMG, BELO HORIZONTE - MG - BRASIL.

Este trabalho procura analisar comparativamente as edições em espanhol e português da enciclopédia


Tesouro da Juventude. Assim como em vários países do mundo, as traduções da enciclopédia The book
of Knowledge tiveram enorme sucesso editorial no Brasil e na Argentina, principalmente entre os anos
1920 e 1950. Ela foi a primeira enciclopédia dirigida ao público infanto-juvenil e se tornou livro de

419
referência em bibliotecas e escolas dos dois países. Grande parte dos assuntos tratados na enciclopédia
foi traduzida sem alterações nas diferentes línguas, o que contribuiu para universalizar conhecimentos e
abordagens produzidos em outros locais. É importante observar, no entanto, que as mesmas
abordagens podem adquirir diferentes significações em contextos distintos. O peso e tratamento que se
dava a religião, a questão das raças, o papel das mulheres nas sociedades e abordagens educacionais,
por exemplo, ganham colorações específicas no contexto brasileiro e argentino. Além disso, as seções
dedicadas aos clássicos da literatura, história e geografia têm notáveis diferenças da versão original e
entre as duas edições. É interessante observar que, sendo a versão em espanhol comum a diversos
países latino-americanos, seus editores tiveram que costurar uma única história, tecendo difíceis
arranjos na reconstrução de eventos históricos que rivalizavam países vizinhos. Neste trabalho
apresentaremos as principais diferenças entre o Tesoro de la Juventud e o Tesouro da Juventude
devindas das adaptações, omissões e divergências de abordagens, a partir do exame das edições de
1920; e esboçaremos algumas interpretações iniciais sobre os fatores contextuais de ambos os países
que poderiam ter contribuído na repercussão e na geração de diferentes significados entre leitores
brasileiros e argentinos. Propomos para a comparação os livros equivalentes das versões em espanhol e
português: El libro de la América Latina, Los países y sus costumbres, Cosas que debemos saber, El libro
de los «por qué», Hombres y mujeres célebres; e Livro do novo mundo, Livro do velho mundo, Coisas
que devemos saber, Livro dos porquês, Homens e mulheres célebres, respectivamente. A repercussão
desta obra, tanto nos casos em questão como nos diversos países em que foi publicada, faz dela um
excelente objeto de estudo do processo de circulação internacional de modelos e saberes e de suas
apropriações locais.

1259
AMERICANISMO NA EDUCAÇÃO FÍSICA BRASILEIRA: CIRCULAÇÃO E APROPRIAÇÃO DE MODELOS
PEDAGÓGICOS (1932 - 1945)

WALLACE ROCHA ASSUNÇÃO; ANDERSON DE FREITAS SILVA; ANTONIO SERGIO FRANCISCO OLIVEIRA.
UFES, GUARAPARI - ES - BRASIL.

Busca compreender a circulação e a apropriação (CERTEAU, 1991) do americanismo no processo de


constituição da Educação Física brasileira entre as décadas de 1930 e 1940. O americanismo é entendido
como movimento político-cultural que nasce nos Estados Unidos da América pela apropriação de outros
padrões culturais e posteriormente oferecido como síntese da modernidade econômica, política,
educacional e industrial para as outras culturas. Utilizamos a noção de circularidade cultural
(GINZBURG,1987) para o desenvolvimento da pesquisa com o repertório conceitual da micro história; as
reflexões de Jacques Le Goff (2003) e Fernando Catroga (2001) são referências para compreendermos a
construção da memória e do esquecimento referentes à circulação e apropriação das prescrições e usos
dos modelos de americanização no Brasil. As fontes utilizadas no estudo são dois impressos que
circularam entre os anos de 1932 e 1945, a revista Educação Physica, um impresso comercial da
Companhia Brasil Editora e a Revista de Educação Física editada pela Escola de Educação Física do
Exército. No ano de 2000 Warde lança a hipótese de que a constituição do americanismo no Brasil
ocorre por um processo longo e tortuoso e que esse itinerário não se construiu no sentido gramsciano,
mas em um tipo específico que ocorre na disputa entre diferentes padrões culturais, de diferentes
grupos. Esse processo ocorre anteriormente ao fim da Segunda Guerra Mundial, momento em que os
Estados Unidos da América ainda estão produzindo sua hegemonia, assim, em disputa com outros
padrões culturais que buscam meios de afirmar seus valores, suas idéias e seus modelos como os
melhores e mais modernos, ou seja, como aqueles que possuíam as melhores soluções para levar as
outras culturas a entrarem na tão decantada modernidade. Schneider e Ferreira Neto (2009) ao
estudarem a presença do americanismo na Educação Física brasileira evidenciam que havia a circulação,
por meio da revista Educação Physica, de representações sobre qual modelo de práticas deveriam ser
seguidas para a produção do “homem novo”. Elas estavam alicerçadas no ideário norte americano do
homem industrioso, capacitado a enfrentar a modernidade que o concerto civilizatório exigia. Os
primeiro dados do estudo apontam a presença e a circulação de prescrições relacionadas ao ideário
norte americano sobre a América Latina (panamericanismo) em artigos e imagens veiculadas nos dois

420
impressos utilizados como fonte. Percebemos a colaboração de professores e instrutores, alguns norte
americanos, vinculados à Associação Cristã de Moços, instituição que introduz o basquetebol e o
voleibol no Brasil. No levantamento bibliográfico foi percebido que muito já foi discutido sobre a
contribuição alemã, sueca, francesa e inglesa na constituição da Educação Física brasileira, mas pouco
sobre a contribuição americana no processo de organização dos saberes que deveriam dar suporte ao
entendimento da Educação Física como disciplina escolar.

452
ANÍSIO TEIXEIRA E OS TESTES PSICOLÓGICOS

KAREN FERNANDA DA SILVA BORTOLOTI.


UNESP - ARARAQUARA, ARARAQUARA - SP - BRASIL.

O movimento de renovação educacional denominado Escola Nova foi composto por elaborações
discursivas e proposições práticas muito diversas. No escolanovismo brasileiro, difundiram-se muitas
concepções relativas ao uso da Psicologia como ciência fundamental na educação escolar. A
historiografia registra como hegemônica a tendência de considerar as técnicas e os conceitos
psicológicos como meios para obter a sujeição dos indivíduos à ordem social, sendo os testes
instrumentos privilegiados para o cumprimento dessa meta. O presente estudo decorre de pesquisa em
andamento cujo objetivo é discutir essa caracterização por meio da análise do discurso de Anísio
Teixeira, cujos posicionamentos filosóficos e educacionais enfatizavam a necessidade de equilibrar o
respeito ao indivíduo, preservando as particularidades psicológicas e as aptidões naturais de cada aluno,
com os requisitos de uma ordem social democrática a ser instituída. Examinando a obra de Teixeira, é
possível notar três momentos determinantes de suas concepções psicológicas. O primeiro data de seu
contato, no final da década de 1920, com as idéias John Dewey, William H. Kilpatrick e outros
pensadores pragmatistas, defensores de uma Psicologia empírica, não introspeccionista, como se
encontra, por exemplo, no livro The human nature and conduct de Dewey. Esse contato foi propiciado
por sua visita aos Estados Unidos e aos estudos que realizou na Columbia University. O segundo
momento foi marcado pela convivência de Teixeira com um dos responsáveis pela difusão da Psicanálise
no Brasil, o médico Arthur Ramos, que dirigiu a seção de Ortofrenia e Higiene Mental do Instituto de
Pesquisas Educacionais durante a reforma da instrução pública comanda por Anísio no Distrito Federal
entre 1931 e 1935. O terceiro momento foi constituído pelas relações de Anísio Teixeira com Lourenço
Filho e Isaías Alves, ambos defensores da aplicação de testes psicológicos na educação. Nesta
comunicação, será focalizado especificamente esse último tema, buscando compreender os
posicionamentos de Teixeira acerca do movimento dos testes, tanto em âmbito nacional quanto
internacional. Para isso, serão apresentados os posicionamentos do autor expressos em textos
produzidos entre a sua volta dos Estados Unidos e o término de sua gestão no Distrito Federal. São eles:
“Manuscrito sobre a escola, o conhecimento e a aprendizagem” de 1929; Aspectos americanos de
educação de 1930; “Quociente de inteligência de alunos” de 1930; “O problema da assistência à infância
e à criança pré-escolar” de 1933; “Texto sobre a educação infantil” de 1936. Além disso, serão
considerados também os comentários do autor aos livros Introdução ao estudo da Escola Nova de
Lourenço Filho e Os testes e a reorganização escolar de Isaías Alves, publicados em 1930.

910
ANÍSIO TEIXEIRA: SOBRE SUA ATUALIDADE ENQUANTO IDEALIZADOR DA ESCOLA PÚBLICA BRASILEIRA
1 2 3
DILZA CÔCO ; LETÍCIA NASSAR MATOS MESQUITA ; MARILENE LEMOS MATTOS SALLES ; REGINA
4
GODINHO .
1.UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO, VITÓRIA - ES - BRASIL; 2.UNIVERSIDADE FEDERA DO
ESPIRITO SANTO, VITÓRIA - ES - BRASIL; 3.ASSOCIAÇÃO EDUCACIONAL DE VITÓRIA, VITÓRIA - ES -
BRASIL; 4.UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPIRITO SANTO, VITÓRIA - ES - BRASIL.

Este artigo visa trazer à reflexão a trajetória de Anísio Teixeira, como intelectual, educador e grande
idealizador da escola pública brasileira bem como trazer à tona a forma como este interagia com as

421
questões educacionais da sua época tendo como ponto de chegada a educação de nosso tempo e as
questões por ele apontadas que ainda persistem e coexistem na atualidade. Anísio Teixeira constitui
uma marca singular na história da educação pela insistente defesa em prol da escola pública e de
qualidade para o país. Sua atuação em diferentes instâncias políticas na área educacional possibilitou a
produção de uma vasta obra em que o educador explicita seu ideário. A pertinência de suas ideias
supera o seu tempo, pois, o que era vislumbrado por ele desde 1924, continua sendo almejado pela
sociedade brasileira e é objeto de programas políticos. Decorridos quase um século do início de suas
ações e reformas educacionais, assistimos na atualidade à defesa de sua pauta que ainda configura um
desafio a ser superado. Assim, tomamos o legado anisiano para análise por oferecer possibilidades de
exploração e ser revisitado pelas políticas atuais de educação. É sobre o potencial de suas ideias e
reapropriações que o artigo constrói o eixo central de discussão, através de pesquisa documental e
bibliográfica. Cabe esclarecer que devido à amplitude da obra de Anísio e as limitações do espaço do
artigo, iremos deter nossas considerações em alguns pontos que podem ser aludidos às questões da
qualidade da educação, formação de professores, programas de educação de tempo integral e
avaliações em larga escala. Nesse empreendimento teórico, a formação de professores é discutida a
partir da lei de diretrizes e bases da educação nº 9394/96 que instituiu a exigência de nível superior para
atuação na educação básica, buscando identificar em suas formulações, indícios da proposta de
formação de professores defendida por Anísio Teixeira. No segundo aspecto, os programas de educação
de tempo integral, o artigo situa as contribuições do educador para pensar as distinções entre os
conceitos de educação integral e educação de tempo integral e como esses são apropriados pelas atuais
políticas públicas de educação. Por fim, as avaliações em larga escala utilizadas com intensidade, a partir
da década de 90, para criar mecanismos de controle e instituir padrões de qualidade da educação
nacional também podem ser notadas nas propostas do grande educador. Desse modo, o artigo busca
analisar a influência do pensamento anisiano em três enfoques distintos e discutir a ressignificação de
suas contribuições em torno da noção de qualidade da educação na atualidade. Aponta para a retomada
de suas ideias, porém, não em sua essência, mas como recorte político e social.

1270
APONTAMENTOS PARA A EDUCAÇÃO DE UM MENINO NOBRE E OS SABERES ELEMENTARES

MARIÂNGELA DIAS SANTOS.


UFS, ARACAJU - SE - BRASIL.

De acordo com as pesquisas desenvolvidas por Hébrard (1990), Nóvoa (2000) e Oliveira (2010), o
processo de escolarização teve seu marco inicial com a instrução das crianças através dos ensinamentos
da doutrina cristã, e a consolidação da trilogia do ler-escrever-contar. Nesse âmbito, o estudo em foco
pretende analisar o Tratado Filosófico “Apontamentos para a educação de um menino nobre (1734)” de
Martinho de Mendonça de Pina e Proença por apresentar uma educação diferenciada para aqueles que
deviam suceder as famílias com o intuito de constituir uma nova burocracia dedicada à educação da
nobreza. Logo, seu Tratado é dividido em quatro: o primeiro ensina o idioma português, com o objetivo
de ler e escrever perfeitamente; o segundo apresenta os diversos caracteres e tipos de letras que se
usavam naqueles tempos; o terceiro fornece as regras da ortografia portuguesa; o quarto ensina as
noções básicas de aritmética. Convém ressaltar que, a escolha desse Tratado se deu por ser uma fonte
de pesquisa que apresenta a educação como foco principal, pois especifica uma prática educacional e
social determinada pelas exemplificações que compete a ele referenciar. O Tratado de Proença
mostrava-se voltado para a educação preceptoral, de caráter privado, destinada a modelar a nobreza
conforme princípios morais formadores do homem virtuoso. Nessa investigação foi utilizada a pesquisa
bibliográfica e quantitativa, recorrendo às seguintes fontes: livros, revistas científicas, Tratado Filosófico.
Esses documentos identificam a relevância do Tratado de Pina e Proença como fonte da história da
educação. É válido ressaltar que o trabalho encontra-se em andamento tendo como fundamento os
conceitos de: Carvalho (1952), Oliveira (2010), Hebrard (1990), Nóvoa (2000). Ao analisar como as
práticas intelectuais e práticas educativas implicaram no estabelecimento de estratégias na
aprendizagem dos saberes elementares no período setecentista estendidas nos manuais desses
intelectuais e nas formas de execução dessas práticas “Apontamentos” trouxe um discurso frente as

422
práticas com relação a civilização e a educação dos povos da Colônia Portuguesa e seus Domínios.
Portanto, o século XVIII acentuou-se o processo de laicização em curso de um período moderno e de
colocação da educação cada vez mais centrada no Estado, com o intuito de manter a ordem da vida
social. Concluo afirmando que o pensamento iluminista foi permeado nesse período com o papel de
redentor da educação, de sua capacidade de promover a regeneração e a emancipação dos indivíduos e
das intituições educativas como lugares previlegiados para a formação dos sujeitos em conformidade a
modernidade.

960
ARTHUR RAMOS E A CRIANÇA PROBLEMA: A HIGIENE MENTAL ESCOLAR E A PSICANÁLISE NO ANTIGO
DISTRITO FEDERAL (1934-1939)

CÁTIA REGINA PAPADOPOULOS.


PUC RIO, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL.

O presente artigo é parte da pesquisa de dissertação de Mestrado em Educação que está em


andamento. Tem como objetivo analisar como os conceitos da psicanálise influenciaram a concepção de
Arthur Ramos sobre a criança problema, mais especificamente, a mimada e a escorraçada, categorias
empregadas no âmbito do Serviço de Ortofrenia e Higiene Mental (S.O.H.M.). As crianças mimadas eram
descritas por Ramos como atrasados afetivos, em outras palavras, aquelas que ficaram presas às
fixações infantis da afetividade, como: o filho único, o caçula, o primogênito, a criança com dotes físicos
ou intelectuais, o filho da viúva, o filho de pais abastados etc e, as escorraçadas as que sofriam castigos
físicos, morais e psicológicos, tanto na família como na escola. Sendo também um qualitativo que
abrangia as crianças mal dotadas, as feias, as ilegítimas e as órfãs. Compreende o período de 1934 a
1939 tempo em que funcionou o citado Serviço, chefiado por Arthur Ramos a convite de Anísio Teixeira,
Diretor do Departamento de Educação do então Distrito Federal. Teria como finalidade a organização de
trabalhos de cunho preventivo e corretivo, atendendo e tratando os possíveis problemas psíquicos da
criança no lar e na escola e era desenvolvido nas escolas públicas do ensino primário, mais
precisamente, nas Escolas Experimentais (Bárbara Ottoni, Argentina, Estados Unidos, Manoel Bonfim e
México). Ramos buscou (des)construir o paradigma dominante em relação aos alunos que
apresentavam dificuldade de aprendizagem escolar e eram classificados como anormais. Ele afirmava
que a maioria das crianças tidas como anormais, na verdade, eram vítimas de uma série de
circunstâncias adversas, como desajustamento dos ambientes social e familiar. Desta forma, o autor
defendia, assim, a substituição do conceito de criança anormal pelo de criança problema e estabelecia
uma relação direta entre esta e seus pais problemas. As fontes documentais utilizadas para o
desenvolvimento deste trabalho foram às obras de Arthur Ramos sobre o assunto, as fichas de
observação comportamental dos alunos das referidas Escolas e os impressos de Vulgarização dirigidos
aos professores e famílias. Para tanto, se realizou um entrelaçamento das informações obtidas através
das referidas fichas e impressos, com o conteúdo bibliográfico, em uma perspectiva teórica baseada no
conceito de civilização de Nobert Elias, Freud e Arthur Ramos. Observa-se a relevância do uso do
conceito de civilização para a psicanálise no sentido de auxiliar o processo educativo através das ideias
inovadoras de Arthur Ramos. O eixo temático ao qual se propõe essa comunicação é Impressos,
Intelectuais e História da Educação.

334
AS ASSOCIAÇÕES DE ALUNOS DAS ESCOLAS NORMAIS DO BRASIL E DE PORTUGAL

AUREA ESTEVES SERRA.


FATEB, BIRIGUI - SP - BRASIL.

Esta comunicação apresenta os resultados da tese de doutorado em educação “As associações de


alunos das Escolas Normais do Brasil e de Portugal: apropriação e representação (1906-1927)”,
defendida em fevereiro de 2010, orientada pela Dra Ana Clara Bortoleto Nery (UNESP – Marília/SP),

423
tendo como co-orientador estrangeiro o Prof Dr Joaquim Pintassilgo (Universidade de Lisboa). Tendo
como objetivo contribuir para compreensão do papel das associações de alunos das escolas de
formação de professores no Brasil e em Portugal, analisaram-se aspectos do discurso sobre as
apropriações feitas pelos alunos que escreveram os periódicos: “Excelsior!” – Revista do Grêmio
Normalista “Vinte e dois de Março” da Escola Normal Segundarista de São Carlos (1911-916); “O
Estímulo” – Orgam dos alunnos da Escola Normal da Capital de São Paulo (1911-1920/1927) - Brasil e
dos periódicos portugueses: “Educação Feminina” – Órgão das Normalistas de Lisboa da Escola Normal
Primária de Lisboa (1913); “O Alvorecer” - Quinzenário Pedagógico, Literario e Scientífico – Propriedade
dos primeiranistas da Escola Normal do Porto (1912-1914) e “Os Novos” – Revista dos alunos da Escola
Normal Primária de Coimbra (1925-1927). Alguns números dos periódicos analisados centralizaram o
projeto editorial em determinadas temáticas, tais como: formação de professores, pátria/civismo/Deus,
associação e educação feminina, bem como a parte literária e recreativa. Buscou-se nessas publicações
emergir dos textos de forma específica ou indiretamente, particularmente as referências quanto à
formação de professores (aulas, conteúdo trabalhado, educadores), à organização associativa dos
alunos normalistas (órgãos, grêmios, centros cívicos), a nacionalidade (pátria, civismo, Deus) e auto-
governo (self-government). Os procedimentos para o desenvolvimento da pesquisa documental e
bibliográfica consistiram na reunião, seleção, ordenação e análise de fontes documentais (impressos em
questão, outros periódicos e documentos), bibliografia especializada sobre o tema, assim como um
estudo comparativo, onde são apontadas algumas semelhanças e diferenças para os temas
selecionados. Tratou-se da análise dos discursos veiculados nos impressos produzidos pelos normalistas
do Brasil e de Portugal pautados na História Cultural a partir dos conceitos de representação e
apropriação, de Chartier (2000), de estratégia, de Certeau (1982) e paradigma indiciário, de Guinzburg
(1989). Os resultados obtidos confirmaram a relevância do estudo sobre escolas normais, associações de
normalistas e seus respectivos impressos para a compreensão de um importante momento da história
quanto à criação das associações e formação de professores no Brasil e em Portugal verificando-se que
se produz um discurso que, embora pretenda ser emancipador, revela-se moralizante, pois se encontra
indícios que definem o discurso pedagógico como uma retórica do poder.

1192
AS CONCEPÇÕES DE INFÂNCIA NO PERIÓDICO CORREIO DA VICTORIA NOS ANOS DE 1849 E 1850

LUCIANE PARAISO ROCHA.


UFES, VITORIA - ES - BRASIL.

O trabalho monográfico, do qual discorre este artigo, objetivou-se ao estudo das concepções de infância
no periódico Correio da Victoria, nos anos de 1849 e 1850, e parte do pressuposto de que a imprensa,
ao participar na construção de uma determinada concepção de infância, defendia também uma
concepção de educação e de escolarização públicas inseridas no modelo dezenovista de civilização.
Estudos como o de Gabriel Bittencourt (1998) e o organizado por Juçara Brittes (2010), demonstram que
o Espírito Santo teve sua primeira tipografia apenas em 1840, quando circulou o primeiro jornal - O
Estafeta - que não passou do número inicial. Seguiu-se, em 1849, o Correio da Victoria, que circulou por
24 anos. Ao considerarmos os jornais como documentos privilegiados para apreender o meio social e
cultural do Oitocentos, os estudos nos possibilitam perceber como a imprensa foi uma estratégia
utilizada pelos intelectuais para difundir suas concepções de educação e de “civilização”. Dessa forma,
podemos dizer que a imprensa evidenciava as concepções de uma elite permeadas tanto pela esfera
local como nacional. Nesse jogo, o movimento empreendido pelo impacto da imprensa foi decisivo,
atingindo cada vez maior número de pessoas, pois, ainda que não soubessem ler, a leitura em voz alta
era um costume da época, difundido e valorizado. Podemos considerar que essas leituras eram de
extremo valor na difusão, consolidação e apropriação de representações, e o quanto os sentimentos
despertados pela literatura facilitaram a inculcação de normas de conduta. Nesse sentido,
fundamentamos nossa pesquisa no pensamento de Roger Chartier (1990, 2001, 2008) e
compreendemos que a construção e consolidação de concepções e representações estão relacionadas à
dinâmica das apropriações e da circulação de impressos a partir de determinados protocolos de escrita
e de leitura pertencentes a uma comunidade interpretativa; Elias (1994), que trata do processo

424
civilizador a partir do século XV, determinante para a sociedade ocidental; e Ginzburg (1989, 2005), que,
a partir de “pistas” e “sinais”, buscou detalhes pouco perceptíveis nos documentos da Inquisição.
Procuramos com a aproximação aos estudos já existentes (Del Priore, 1991, 2006), Faria Filho (2006,
2007, 2009), Kuhlmann Jr (1998), Sarmento e Pinto (1997), focar o nosso olhar para a história de
crianças e infâncias no plural, olhando a infância como parte de uma construção histórica e social.
Observando os assuntos relacionados à infância e à criança, distinguindo principalmente duas realidades
de infância, uma para os escravos e outra para as crianças livres. Esse material nos remete à
possibilidade de explorar variados discursos sobre a temática da infância, considerando a multiplicidade
de formas de viver das crianças nesse contexto.

1333
AS CONTRIBUIÇÕES DE ANTÔNIO LOBO E DOMINGOS PERDIGÃO EM RELAÇÃO ÀS PRÁTICAS LEITORAS
INFANTIS DO MARANHÃO NO INÍCIO DO SÉCULO XX
1 2
ALMICÉIA LARISSA DINIZ BORGES ; LUCIANA NATHALIA MORAIS FURTADO .
1.UFMA, SAO LUIS - MA - BRASIL; 2.UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO, SAO LUIS - MA - BRASIL.

Apresentam-se as contribuições de Antonio Lobo e Domingos Perdigão enquanto diretores da Biblioteca


Pública Benedito Leite e suas influências para o desenvolvimento e afloramento das práticas leitoras das
crianças que freqüentavam essa biblioteca. Identifica-se os livros adotados, as suas realizações a frente
da Biblioteca Pública, a execução de projetos voltados para crianças e, o apoio a Instrução Pública
primária. Analisam-se no processo histórico, as ações, regulações e as estratégias de imposição
exercidas no controle ao acesso dos livros, principalmente, por estes simbolizarem, a formação das
mentalidades e representarem a posse do conhecimento sendo transformadores latentes da sociedade.
Descrevem-se as táticas de apropriações dos diretores ao referir-se a educação maranhense, visto que,
Antonio Lobo foi o precursor do incentivo a leitura ao criar sala de leitura feminina e infantil e,
Domingos Perdigão continuou este projeto impulsionando ainda mais a leitura infantil, através da
publicação de um livro inovador próprio para instruir os mais jovens, auxiliando de fato na Instrução
Pública. Utilizam-se como metodologia o levantamento bibliográfico que serviram de apoio teórico para
o direcionamento desta pesquisa, tais quais: (CASTRO, 2007; CASTELLANOS, 2007; MORAES 2006;
SALDANHA, 2008; SILVA, 2008). A pesquisa documental (Relatórios dos Presidentes de Província,
Relatórios dos diretores da Biblioteca Pública Benedito Leite, Periódicos) encontrados na Biblioteca
Pública Benedito Leite e no Arquivo Público do Estado do Maranhão nos quais se refletem o contexto
em que estavam inseridos os diretores da biblioteca que tanto contribuíram para a formação
educacional maranhense. Conclui-se preliminarmente, que a presença destas figuras no cenário sócio-
cultural do Maranhão foi de grande relevância, pois se preocupavam com a formação educacional do
estado sendo porta-vozes da Instituição que caracterizava o “templo do saber” e, lutavam pelo
reconhecimento desta sobre os cidadãos, prezando por um espaço que cultuavam o saber, realizando
benefícios a sociedade. Desse modo, a pesquisa em desenvolvimento beneficiará os estudos na área de
história da educação, história do livro, história das bibliotecas, em especial para compreendermos a
sociedade maranhense em meados do século XX, sendo parte do projeto “Presença e circulação de
livros no Maranhão Oitocentista” desenvolvido pelo Núcleo de Estudos e Documentação em História da
Educação e Práticas Leitoras – NEDHEL.

705
AS EPISTOLAS NOS JORNAIS PARAIBANOS: O DISCURSO PEDAGÓGICO NO PERÍODO IMPERIAL

FABIANA SENA.
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA, CABEDELO - PB - BRASIL.

A historiografia tem considerado, tradicionalmente, a epístola como documento, servindo para


comprovar algum acontecimento, fato ou algo que foi dito. Indo além do interesse documental, os
estudos sobre a epístola têm se constituído como objeto e fonte de pesquisa com interesse histórico,

425
cultural, literário, educacional e antropológico, possibilitando ao pesquisador tratar tanto do seu
conteúdo quanto da sua forma. Sendo um dos gêneros textuais mais antigos que temos notícias, a
epístola teve predominância na França do século XVIII, quando foi possível verificar que tal estilo
proporcionava a valorização da experiência individual, igualmente oferecia uma escrita privilegiada das
atitudes e representação do sujeito. Compreendendo que a carta está no âmbito da comunicação
privada, devido ao seu caráter íntimo e/ou confidencial, dificilmente a vinculamos ao espaço público.
Com efeito, se observarmos os jornais mais conhecidos do Oitocentos brasileiro, constataremos o
considerável lugar ocupado pela epístola enquanto modo discursivo que proporcionava aos leitores a
intervenção pública em áreas que iam desde a Política à Literatura, envolvendo grande amplitude
temática. De um modo geral, a carta, divulgada pela imprensa, apresentava ao público posicionamentos
e opiniões, através dos quais se fortaleciam polêmicas de origem muito heterogênea, o que a torna um
dos tipos textuais mais comuns e importantes nas colunas do jornal. Para tanto, busco tornar visíveis as
epístolas de cunho pedagógico, as quais objetivavam tratar da educação e instrução pública na província
da Paraíba, fossem elas remetidas por diretores da instrução pública, professores, autoridades
escolares, pais de alunos e outros interessados nessa temática no período imperial. Ao tomar tais
epístolas nos jornais paraibanos como objeto dessa investigação, corpus dessa investigação, serão
analisadas a partir de duas perspectivas: a primeira a da forma, a escrita epistolar com suas regras e
modelos de composição, difundidas pelos manuais epistolares. A segunda está no horizonte do
conteúdo – discurso pedagógico –, já que se constitui em um gênero discursivo privilegiado para o
estudo das representações. Para atingir o objetivo proposto dessa investigação, tomaremos como base
teórico-metodológica a Nova História Cultural, a qual tem considerado os usos da escrita como uma
fonte bastante significativa para compreender como comunidades ou indivíduos constroem suas
representações de mundo e as investem de significação. Nesse horizonte, o corpus dessa pesquisa está
inserido numa tradição de escrita e de leitura, o que implica tomar o objeto de análise como lugar de
práticas discursivas, de ditos e de não-ditos.

939
AS IDEIAS REFORMISTAS DE ANTONIO CARNEIRO LEÃO E A EDUCAÇÃO BRASILEIRA ENTRE OS ANOS
DE 1889-1930

SILVIO SANTIAGO PASQUARELLI.


UNISANTOS, SANTOS - SP - BRASIL.

O Brasil Republicano do início do século XX buscava a inovação, inspirado na concepção positivista de


ação social mais ampla, que se contrastava com o regionalismo excludente e atrasado, ditado pela elite
letrada. Nessa época, Antonio Carneiro Leão, advogado de formação, viajava pelo país de norte a sul,
fazendo conferências, publicando livros e artigos, esses nos jornais de circulação nacional e
principalmente, defendendo a Educação como “um direito para todos”. Carneiro Leão, como era
conhecido, apontava frentes de atuação educacional tais como: Educação Religiosa, Educação Física e
Higiene. Em suas produções acadêmicas, o pernambucano defendia a Educação Popular para atender a
um país que estava se transformando tanto economicamente como urbanisticamente. Dentre as suas
publicações é possível encontrar os seguintes livros: “O Brasil e a educação popular” (1917); “Problemas
de Educação” (1919); “Os deveres das novas gerações brasileiras” (1923); “O ensino da capital do Brasil”
(1926); “Palavras de fé” (1928) e “A organização da educação em Pernambuco” (1929), entre outros
títulos. Carneiro Leão participou efetivamente da Reforma Educacional no Distrito Federal, de 1922 a
1926. Nesta direção, um dos seus resultados foram os cursos de aperfeiçoamento para professores. Em
1928 recebeu o convite para assumir a Reforma Educacional de Pernambuco, considerada no Nordeste
como histórica e modernizadora. O referido educador fazia críticas ao modelo e ao método pedagógico
adotado nas Escolas Primárias de municípios e estados brasileiros. Sua premissa era de que, a Educação
deveria inspirar-se em aspectos práticos e profissionalizantes, visando à formação do “novo homem
para a Era industrial no mundo”. Dentre as suas contribuições para o campo educacional, cabe destacar
a inserção da Sociologia nas Escolas Normalistas Pernambucanas, a sua participação no Movimento
Escola Novista, além da docência na Universidade do Brasil, por um longo período. Desta forma,
levantar, descrever e analisar a vida de Antonio Leão Carneiro e a sua trajetória histórica como

426
intelectual e professor, incluindo as obras e as suas implicações para a Educação Brasileira nos anos de
1889 a 1930 são propósitos deste estudo. Neste sentido, salienta-se que, a presente investigação se
encontra em andamento e está ligada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu, portanto, os dados
aqui apresentados integram o Relatório de Pesquisa (dissertação) a ser brevemente, qualificado para a
sua respectiva defesa.

1171
AS IDENTIDADES NACIONAIS VEICULADAS NO LIVRO ATRAVÉS DO BRASIL: ANÁLISE DE ASPECTOS
TEXTUAIS E ICONOGRAFICOS

KATIA GARDENIA HENRIQUE CAMPELO DA ROCHA; FRANCISCA IZABEL PEREIRA MACIEL.


UFMG, BELO HORIZONTE - MG - BRASIL.

Esse estudo é parte de uma pesquisa de Doutorado em desenvolvimento, vinculada ao Ceale - Centro de
alfabetização leitura e escrita, na Faculdade de Educação, da Universidade Federal de Minas Gerais.
Parcialmente financiada pela FAPEMIG. O texto apresenta algumas reflexões acerca das identidades
nacionais apresentadas no livro Através do Brasil, de Olavo Bilac e Manoel Bomfim. Nas últimas
décadas, no Brasil, vem aumentando, de forma significativa, o número de pesquisas cuja fonte e/ou
objeto de investigação encontra-se circunscrito na materialidade do livro didático. Em uma pesquisa
com abordagem histórica, devido ao lugar que ocupou e ocupa no sistema educacional, o livro didático
assume papel relevante como objeto histórico, fornecendo indícios que contribuem para a
compreensão de como foi se constituindo o processo de ensino-aprendizagem ao longo dos anos. O
livro Através do Brasil foi lançado em 1910 e teve ampla circulação durante várias décadas. Era uma
obra destinada ao curso médio das Escolas Primárias, tendo dentre seus objetivos: o de ensinar a
conhecer um pouco o Brasil e de contribuir para a formação da nação. Pesquisas realizadas, em diversos
países, apontam que o livro didático contribuía e contribui de maneira significativa para a constituição
de uma memória nacional. Na Escola Primária, as linguagens escrita e iconográfica dos textos escolares
se complementavam com o objetivo de despertar ou difundir identidades. Nessa investigação adotamos
como arcabouço teórico conceitual os estudos sobre Identidades e Identidades Nacionais (Bauman,
1999; Carvalho, 2008; Pomer, 1994; Reis, 2007), Imaginário (Baczko, 1985), Manuais de Leituras
Escolares (Batista & Galvão, 2009; Choppin, 2000; Somoza, 2002; Cucuzza, 2007; Ossenbach, 2007;
Castro, 1999), Materialidade do Impresso (Chartier, 1999), Imagens (Panofsky, 1979; Paiva, 2006).
Utilizando-se destes referenciais teórico-conceituais, estamos identificando elementos que podem ser
tomados como construtores de identidades nacionais. Posteriormente, realizaremos a análise dos
aspectos textuais e iconográficos desses elementos. Inicialmente, estamos mapeando a bibliografia
existente sobre as identidades nacionais difundidas em manuais de leituras escolares, nos períodos e
locais delimitados na investigação. Como fontes primárias de pesquisa têm se utilizado: o manual
escolar e a legislação que referendou esse objeto. A título de enriquecimento do trabalho estão sendo
coletados relatos orais, de pessoas que utilizaram esse manual em seu processo de escolarização, e
dados sobre o seu processo de circulação. Esta pesquisa encontra-se em desenvolvimento.

656
AS IDÉIAS DE DEWEY, KERSCHENSTEINER, TEIXEIRA E AZEVEDO EM CONTEXTO: HISTORICIDADE E
COMUNIDADE NO PENSAMENTO ESCOLANOVISTA

SANDRO NANDOLPHO DE OLIVEIRA; JOHELDER XAVIER TAVARES.


UFES, VITORIA - ES - BRASIL.

Em 1899, graças aos esforços de Adolphe Ferrière, foi fundado em Genebra um centro chamado Bureau
International des Écoles Nouvelles, cuja finalidade era coordenar a expansão das escolas novas que
derivaram da experiência realizada por Cecil Reddie na Inglaterra. O movimento escolanovista se
expandiu por inúmeros países europeus e americanos, propondo uma educação renovada embasada em
novos métodos científicos que investigavam não só o indivíduo e o meio social, como também a relação
entre ambos. Em meio à expansão internacional das ideias renovadoras, foi realizado um grande

427
investimento intelectual, entre 1889 e 1930, por meio de ensaios, revisão de doutrinas e elaboração de
teorias. No Brasil, o pensamento escolanovista foi introduzido por inúmeros intelectuais a partir de
leituras seletivas de autores internacionais. Ao analisar a historicidade deste processo, buscamos
problematizar a visão hegemônica na historiografia da educação brasileira de que as bases teóricas do
escolanovismo encontram-se exclusivamente em teorias liberais, sejam elas progressistas ou
conservadoras, desprezando influências teóricas não liberais. Ao investigar a noção de comunidade que
emerge do pensamento de Anísio Teixeira e Fernando de Azevedo, como também a dos autores que os
influenciaram, respectivamente Dewey nos Estados Unidos e Kerschensteiner na Alemanha, buscamos
compreender como as ideias, em especial a noção de comunidade, ganham nuances diferenciadas a
partir das configurações políticas e intelectuais, nas quais os quatro autores estavam inseridos, em seus
respectivos países. As fontes utilizadas na investigação correspondem às obras produzidas pelos autores
já referenciados, compreendendo-os como textos históricos. O método utilizado para a análise da noção
de comunidade nos autores, corresponde ao contextualismo linguístico proposto por Quentin Skinner.
Em tal método, leva-se em consideração não apenas o texto interpretado, mas também os contextos
lingüísticos específicos, os jogos de linguagens que governam o mundo mental e o vocabulário
conceitual empregados pelos autores num dado tempo e lugar histórico, suas crenças, percepções,
valores e ideologias compartilhadas. O presente trabalho nos proporcionou compreender que a noção
de comunidade é investida, pelos autores, de valores e sentimentos que muito revelam do sentido
proposto por eles, sendo tecida nos respectivos contextos por fios teóricos oriundos não só do
liberalismo, como também do socialismo e do pensamento aristocrático.

626
AS PRÁTICAS DE LEITURA DE UM SUJEITO PROVENIENTE DOS MEIOS POPULARES EM CAETITÉ-BAHIA
(SÉCULOS XIX E XX)
1 2
JOSENI PEREIRA MEIRA REIS ; ANA MARIA DE OLIVEIRA GALVÃO .
1.UNEB-BA, GUANAMBI - BA - BRASIL; 2.UFMG, BELO HORIZONTE - MG - BRASIL.

Esta comunicação é parte de um estudo já concluído sobre os modos e condições de participação de


João Gumes na cultura escrita, em Caetité-BA, no período de 1897-1928. Tem como objetivo reconstruir
as práticas de leitura e escrita de João Gumes (1858-1930), natural de Caetité-BA, a partir dos indícios
presentes em seus escritos. Gumes era proveniente de uma família de parcos recursos econômicos,
embora possamos considerá-la como detentora de certo capital cultural, pois alguns de seus membros
eram mestres-escolas, e de algum capital social, pois mantinha relações de proximidade com a elite
econômica e política de Caetité. Quanto à sua escolaridade, restringiu-se às primeiras letras, nível de
ensino oferecido pela cidade. No entanto, as limitações econômicas não o impediram de estabelecer
uma tipografia no Alto Sertão, produzir e fazer circular o jornal A Penna (1897-1942). Além de jornalista,
Gumes foi também romancista. Portanto, interessa identificar: onde o sujeito lia? Ou seja, que espaços
lhe serviram de formação e de leitura? O que lia? Que assuntos eram mais recorrentes nas suas leituras?
Que autores que influenciaram a sua formação como leitor e escritor? Procuramos também identificar
os gêneros literários que produziu. A história cultural e a sociologia da leitura constituíram as bases
teórico-metodológicas do estudo. Os resultados da pesquisa mostram que as leituras realizadas por
Gumes podem ser consideradas leituras interessadas, já que atendiam a uma diversidade e amplitude
de interesses, sendo portanto, múltiplas e variadas providas de certa intencionalidade, pois lia para
atender necessidades práticas na redação dos textos do jornal. É difícil estabelecer uma hierarquia entre
os vários tipos de leituras realizadas por Gumes, mas se pode afirmar que as leituras espíritas
prevaleciam, em função do número de livros encontrados, seguidas pelas leituras jurídicas e por aquelas
da área de saúde, História do Brasil, do mundo, bem como a literatura brasileira e a estrangeira. Nos
seus escritos eram recorrentes temas que se referiam aos problemas vividos pela população, como a
emigração, o analfabetismo, as condições de vida da população do campo, as práticas culturais da
região. Gumes utilizava a literatura como forma de denunciar ou mesmo divulgar as condições de vida
dos habitantes do campo. De modo mais amplo, as práticas desse sujeito-leitor podem ser
compreendidas como processos educativos significativos para a formação e instituição de uma
comunidade leitora na região do Alto Sertão baiano, considerando que foi o responsável por estabelecer
na região uma tipografia que permitiu a circulação e acesso do escrito a um número maior de pessoas.

428
1013
BACHAREL DE FORMAÇÃO, PROFESSOR POR PAIXÃO

SILVÂNIA SANTANA COSTA.


UFS / UNIT, ITABAIANA - SE - BRASIL.

O professor José Calasans Brandão da Silva atuou como docente nas instituições de ensino sergipana de
1937 a 1947, embora formado em Direito pela Faculdade da Bahia jamais atuou no campo, pois
afirmava que gostava de ministrar aula. Era comum o direcionamento dos jovens sergipanos de boa
renda para dar continuidade aos estudos fora do Estado. O jovem Calasans, na época de estudante na
Bahia fez parte da Associação Universitária e da Ação Integralista Brasileira, foi nomeado em 1933,
como membro da comissão de Imprensa da Bahia. Nos anos seguintes foi designado para coordenar a
Seção Universitária de Estudos, nomeado chefe da divisão de Coordenação e convocado pela secretaria
Provincial de Educação Moral e Cívica para participar de uma reunião, na qual foi encarregado do cargo
de chefe da Terceira Secção do Departamento Technico Provincial. No mesmo ano, quando cursava a 3º
série concorreu na chapa para bibliotecário no centro acadêmico Ruy Barbosa. Também representou a
Bahia na 1° Congresso Jurídico que reuniu vários universitários. No ano de 1937 assumiu o cargo de
diretor provincial dos serviços eleitorais e Políticos da SPCSE. Leituras exigidas no curso de Direito como:
Planiol, Duguit, picard, Clóvis Bevilaqua, Carlos Maximiliano, Carvalho Mendonça não foram lidos com
entusiasmo como Joaquim Nabuco e Gilberto Freire. Quando retornou a Sergipe com o título de
Barechal em Ciências Jurídicas e Sociais sabia que teria um promissor trabalho no campo jurídico, no
entanto pretendeu apenas ser professor de História enveredando pela pesquisa histórica e folclórica.
Nesse contexto, o professor Calasans passou a atuar em instituições de ensino de Sergipe, no
Departamento de Ensino e em diversos órgãos como o IHGS, o Serviço de Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional. A escolha por estudar esse intelectual foi motivada pela necessidade de analisar um
personagem que muito favoreceu a história sergipana e baiana, tanto no campo da atuação profissional
como no âmbito da historiografia. O trabalho analisou a obra: Aracaju contribuição à História da Capital
de Sergipe escrita por Calasans para concorrer à cadeira de História do Brasil e de Sergipe no concurso
para docente da Escola Normal “Rui Barbosa”. Ao investigar a obra do professor Calazans foi
fundamental dispor da perspectiva defendida de que o indivíduo não pode servisualizado isolado suas
atitudes não estãodissociadas do homem, as práticas são reflexos do modo de ser, pensar e agir
condicionadas pelo momento histórico e a posição ocupada na estrutura social. O método de
procedimento utilizado é o método biográfico-histórico, que auxilia na explicação dos processos e
instituições influenciadas pelo contexto cultural do período. Para obtenção das informações, a pesquisa
bibliográfica foi imprescindível. Ao realizar o estudo percebemos a contribuição da tese para concorrer a
cadeira de professor na Escola Normal “Rui Barbosa”, esta serviu de referência para os pesquisadores e
professores.

480
BIOGRAFANDO O PROF. VICTOR BECKER: APONTAMENTOS PARA A ESCRITA DA HISTÓRIA DA
EDUCAÇÃO NO SUL DO BRASIL

BEATRIZ T. DAUDT FISCHER.


UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS / UNISINOS, PORTO ALEGRE - RS - BRASIL.

Uma biografia deve ser encarada para além do conjunto de dados e curiosidades acerca da existência de
um sujeito, pois contribui na compreensão de relações mais amplas, envolvendo contexto sócio-político
onde a vida deste sujeito se insere. Assim, aqui são apontados fragmentos da vida do professor Victor
Becker, como professor, líder sindical e gestor do sistema educacional, relacionando etapas de sua
trajetória com acontecimentos vividos na história da educação. Os procedimentos metodológicos
incluem história oral e análise documental. Com base nas orientações da Associação dos Arquivistas
Holandeses e do Centro de Documentação da Fundação Getúlio Vargas, o material foi catalogado

429
conforme grupos e categorias da vida do biografado, levando em consideração datas e locais, de acordo
com situações pessoais e/ou profissionais. Na totalidade, o acervo abrange diversos aspectos da vida do
professor (1935-1996), sua breve carreira militar, seus vínculos como aluno e depois como professor
universitário, sua passagem por escolas públicas como docente, sua atuação como líder do Centro de
Professores do Estado do RS/CPERS e como Delegado de Ensino do Vale dos Sinos. Também foram
analisados documentos de acervo pessoal, planos de aula, palestras, recortes de jornal. Além de
documentos oficiais, como certificados e ofícios, ainda tivemos contato com reportagens de jornais,
bem como textos escritos pelo próprio biografado, abrindo, assim, oportunidades de maior contato com
seu modo de ser e de pensar. Neste arranjo é possível acompanhar as diversas atuações do professor
Victor Becker ao longo de sua carreira, tendo assumido diferentes papéis, tanto como docente, quanto
como ativo militante e/ou representante em instâncias políticas e administrativas da região do Vale dos
Sinos e do próprio Rio Grande do Sul. Cabe destacar que, quase no final de sua vida, o referido professor
assumiu cargo de confiança, tornando-se delegado de educação junto à secretaria de estado (RS). Neste
momento ele, que sempre fora um severo crítico quando na oposição aos governos, enfrentou grandes
desafios, mantendo integridade e coerência frente a seus colegas de sindicato. O conjunto de dados
coletados e analisados, além de trazer significativas contribuições para o acervo da história da região do
Vale do Rio dos Sinos, também agrega importantes informações para a escrita da história da educação
no sul do Brasil.

476
CIRCULAÇÃO DE IMPRESSOS PROTESTANTES E A AÇÃO DE ROBERT REID KALLEY NO BRASIL DURANTE
O SÉCULO XIX

PRISCILA SILVA MAZÊO; MARCUS ALDENISSON DE OLIVEIRA.


UNIVERSIDADE TIRADENTES, ARACAJU - SE - BRASIL.

Este artigo tem como objetivo analisar a ação de Robert Reid Kalley, agente da Sociedade Bíblica
Britânica e Estrangeira (BFBS), e sua relação com a disseminação de novas práticas civilizatórias e
educacionais a partir de meados do século XIX. Além disso, apresenta os nomes de vendedores
ambulantes de impressos protestantes que estavam sob sua direção e verifica de que maneira esse
sujeito foi propagador de um modelo religioso e educacional no Brasil, durante os anos de sua atuação,
nos Oitocentos. Na perspectiva da História Cultural, as Sociedades Bíblicas são compreendidas aqui
como associações voluntárias, responsáveis pela disseminação de práticas educacionais e religiosas,
através do trabalho realizado pelos seus vendedores na distribuição de impressos protestantes,
vendendo e, algumas vezes, distribuindo gratuitamente. O referencial teórico-metodológico está
pautado em Ester Nascimento (2004, 2007a, 2007b), Max Weber (2002), Norbert Elias (1994), Roger
Chartier (1990), Carlo Ginzburg (2007) os quais trabalham com conceitos como associações voluntárias,
cultura, impressos protestantes, práticas, e método indiciário. O texto proposto justifica-se pela
insuficiência de estudos sobre impressos, livros e leitores protestantes na historiografia educacional
brasileira. O missionário Kalley e seus seguidores distribuíram impressos os quais constituíram um dos
meios pedagógicos para forjar uma cultura protestante, assim como grupos de protestantes norte-
americanos auxiliaram na implantação de instituições escolares no Brasil. Com a realização de tal
estudo, pode-se observar que o trabalho dessas associações em parceria com os sujeitos envolvidos na
disseminação desses impressos teve um papel significativo na implantação de escolas de diversos tipos
(primárias, secundárias, de jovens e adultos, agrícolas, comerciais etc). Tais instituições religiosas, não
mais seguidoras das doutrinas católicas, possibilitaram o surgimento de um novo modelo religioso e
cultural regido por grupos de estrangeiros norte-americanos que aqui se instalaram e difundiram o
Protestantismo. Esta pesquisa é de cunho bibliográfico e documental a qual surgiu na iniciação cientifica
e atualmente encontra-se em andamento no mestrado, trazendo resultados parciais da dissertação
intitulada: Robert Reid Kalley: um divulgador de práticas religiosas e educacionais no Brasil (1855-1876).
Alguns resultados permitem perceber a configuração de novas ações e a difusão de novas práticas
civilizatórias, além da inculcação de novos hábitos no povo brasileiro durante o século XIX.

430
1227
COLEÇÃO EDUCAÇÃO É HISTÓRIA (2003-2004): CRÍTICA HISTORIOGRÁFICA E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO
EM SERGIPE

SAMUEL BARROS DE MEDEIROS ALBUQUERQUE.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE, LARANJEIRAS - SE - BRASIL.

Nos idos de 2003, passou a circular nos meios acadêmicos e intelectuais sergipanos a coleção Educação
é História, veículo que, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Sergipe (FAP-SE) e
da Universidade Federal de Sergipe (UFS), vem divulgando trabalhos produzidos por membros do Grupo
de Estudos e Pesquisas em História da Educação (CNPq/UFS), liderado pelo Prof. Dr. Jorge Carvalho do
Nascimento e vinculado ao Núcleo de Pós-Graduação em Educação da UFS. As obras que compõem a
coleção Educação é História são: “Historiografia educacional sergipana: uma crítica aos estudos de
história da educação”, de Jorge Carvalho do (Coleção Educação é História, 1, 2003); “Olhares de Clio
sobre o universo educacional. Um estudo das monografias sobre educação do departamento de História
da UFS, 1996-2002”, de Fábio Alves dos Santos (Coleção Educação é História, 2, 2003); “Vestidas de azul
e branco: um estudo sobre as representações de ex-normalistas (1920-1950)”, de Anamaria Gonçalves
Bueno de Freitas (Coleção Educação é História, 3, 2003); “A Escola Americana: origens da educação
protestante em Sergipe (1886-1913)”, de Ester Fraga Vilas-Bôas Carvalho do Nascimento (Coleção
Educação é História, 4, 2004); “A música instrumental em Japaratuba: trajetória da Sociedade
Filarmônica Euterpe Japaratubense”, de Geane Corrêa dos Santos (coleção Educação é História, 5,
2004). Entre fins de 2008 e princípios de 2009, publicamos na imprensa sergipana uma série de artigos
que, tratando das obras que compõem da referida Coleção, analisam sua contribuição ao campo da
História da Educação e empregam os rigores da crítica historiográfica. Nesse sentido, observamos,
dentre outras coisas, os objetos estudados, os recortes espaço-temporais delimitados, os
procedimentos metodológicos empregados na seleção e análise das fontes, a pertinência da bibliografia
utilizada, a apropriação e utilização de conceitos próprios do campo da História. Nesta comunicação,
reunimos e reordenamos as observações presentes nos artigos-resenhas, publicados entre fins de 2008
e princípios de 2009, analisando o conjunto das obras veiculadas pela coleção Educação é História.
Contudo, vele mencionar, que a crítica empregada é um indício tácito da relevância que a Coleção
ganhou no meio acadêmico. Se em nada tivesse contribuído, a Coleção teria passado despercebida e
ficaria adormecida em uma estante empoeirada. Muito pelo contrário, a empresa capitaneada pelo
professor Jorge Carvalho do Nascimento, vem despertando diversas reações, apreciativas ou não.
Certamente, a crítica historiográfica estimulará a produção intelectual em Sergipe e os integrantes do
Grupo de Estudos e Pesquisas em História da Educação continuarão contribuindo com suas
interpretações das experiências educacionais dos sergipanos e brasileiros, iluminando espaços e tempos
nebulosos da nossa História da Educação.

726
CONDIÇÕES DO ENSINO PRIMÁRIO CATARINENSE NA DÉCADA DE 1960: ANÁLISE DE PESQUISA E
BOLETINS

MARILÂNDES MÓL RIBEIRO DE MELO.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA, FLORIANOPOLIS - SC - BRASIL.

O trabalho que ora se propõe, deriva do estudo “Sílvio Coelho dos Santos - um intelectual moderno no
Centro de Estudos e Pesquisas Educacionais (CEPE) - SC: pertencimento, missão social e educação para a
formação/modernização (1960/1970)”, desenvolvido em nível de mestrado, na Universidade Federal de
Santa Catarina e defendido no ano de 2008. No decorrer da pesquisa documentos importantes que
abordam as condições da educação catarinense na década de 1960, não foram analisados.
Nosso objetivo é retomar e analisar alguns desses documentos para compreender tais condições. Os
documentos foram elaborados no interior do Centro de Estudos e Pesquisas Educacionais (CEPE),

431
instituição criada em 1963, no Governo de Celso Ramos (1961-1965), para desenvolver pesquisas em
educação com intuito de oferecer subsídios e imprimir qualidade ao setor educacional. O CEPE nos
primeiros dez anos atuou ganhando destaque por seu intenso trabalho de realização de pesquisas, e por
oferecer subsídios à elaboração do Plano Estadual de Educação (PEE), e à preparação de recursos
humanos para a educação. Celso Ramos (1961-1966), direcionou suas ações governamentais
elaborando o Plano de Metas do Governo (PLAMEG I), que compreendeu um projeto econômico e social
para o Estado de Santa Catarina, consolidando a interferência do Estado por meio do planejamento
econômico. O plano objetivava atingir três metas: o desenvolvimento do Homem, do Meio e a Expansão
Econômica” (Ramos, 1990, p. 9). Assim elevar os níveis da educação era uma questão decisiva. A
educação era entendida sob dois aspectos: como investimento econômico deveria em tese preparar o
catarinense como “elemento propulsor do progresso”, e como investimento social “habilitar o homem a
usufruir do progresso econômico alcançado, possibilitando-lhe plena integração no mundo da cultura” e
estimulando-o “à formação de superiores padrões éticos, jurídicos e espirituais” (Melo, 1967, p. 15).
Elegemos como fontes para desenvolver este trabalho, a pesquisa intitulada “Diagnóstico da Situação
Educacional”, publicada em 1971 e os “Boletins do CEPE”, do número 1 ao 25 publicados a partir do ano
de 1963. Algumas produções teóricas, Santos (1968/1970) e Melo (1967) e artigos escritos por técnicos
que naquele momento integravam o CEPE, também compõem esse corpus. Constam como os fatores
principais que condicionavam o desenvolvimento da educação, dificuldades ligadas aos aspectos
demográficos, aos econômicos e aos sócio-culturais. A organização, estrutura, administração e funções
do sistema educacional; os temas relacionados às matrículas, ao pessoal, organização das escolas desde
o ensino primário até o superior, constituem preocupações no período que pretendemos analisar.
Dedicamo-nos neste trabalho, a tratar e compreender as temáticas anteriormente citadas que ditavam
as condições da educação catarinense na década de 1960, focando nossa análise nos problemas
relativos unicamente ao Ensino Primário.

1282
CONSIDERAÇÕES SOBRE AUTORES DE MANUAIS DE ENSINO DE LITERATURA INFANTIL NO BRASIL
(1923-1991)

FERNANDO RODRIGUES DE OLIVEIRA.


UNESP-MARÍLIA, TUPA - SP - BRASIL.

Neste texto, apresentam-se resultados parciais de pesquisa de mestrado em Educação (Bolsa Fapesp),
vinculada às linhas “Literatura infantil e juvenil” e “Formação de professores” do Grupo e Projetos
Integrados de Pesquisa “História do Ensino de Língua e Literatura no Brasil” e “Bibliografia Brasileira
sobre História do Ensino de Língua e Literatura no Brasil (2003-2011)” (auxílio CNPq), todos
coordenados por Maria do Rosário Longo Mortatti. Com os objetivos de contribuir para a compreensão
de aspectos importantes da história do ensino da literatura infantil nos cursos de formação de
professores primários no Brasil e contribuir para a compreensão da história das disciplinas escolares,
focalizam-se aspectos relativos aos autores de manuais de ensino de literatura infantil e de autores de
manuais de ensino de língua e literatura que contêm capítulos sobre literatura infantil. Mediante
abordagem histórica, centrada em pesquisa documental e bibliográfica e desenvolvida por meio da
utilização dos procedimentos de localização, recuperação, reunião, seleção e ordenação de fontes
documentais, elaborou-se um instrumento de pesquisa no qual estão contidas dez referências de
manuais de ensino de literatura infantil e 14 referências de capítulos sobre literatura infantil em
manuais de ensino de língua e literatura. Esses manuais e capítulos foram produzidos por brasileiros
entre 1923 e 1991, datas, respectivamente, da 1ª. edição do livro mais antigo localizado, que contém
capítulo sobre literatura infantil e que considerou-se ter “funcionado” como um manual de ensino, e
data da 1ª. edição do manual de ensino de literatura infantil mais recente, dentre os localizados. Por
meio da análise da configuração textual do instrumento de pesquisa mencionado, foi possível
compreender que os autores de manuais de ensino e capítulos sobre literatura infantil contribuiram
diretamente para a história do ensino da literatura infantil nos cursos de formação de professores
primários no Brasil e para a constituição de um conjunto de saberes relativos à literatura infantil
considerados necessários para a formação desses professores. Esses resultados possibilitam, ainda,

432
afirmar que esses autores, até a década de 1940, tiveram atuação profissional relacionada a diversas
áreas da Educação e, a partir de 1950, passaram a se dedicar e se especializar na área da literatura
infantil, contribuindo, também para a produção de livro de literatura infantil e para a sua constituição
como campo de conhecimento.

483
CORRESPONDÊNCIA E MISSÃO PROTESTANTE NORTE-AMERICANA NO BRASIL E NA COLÔMBIA

ESTER FRAGA VILAS-BÔAS CARVALHO DO NASCIMENTO; ELLEN DE SOUZA BONFIM; TÂMARA REGINA
REIS SALES.
UNIVERSIDADE TIRADENTES, ARACAJU - SE - BRASIL.

Na perspectiva da História Cultural, esse trabalho se insere na História da Educação. Tem como principal
objetivo compreender a ação de missionários presbiterianos norte-americanos no Brasil e na Colômbia.
O conjunto de documentos analisado está localizado na Sociedade Histórica Presbiteriana, Filadélfia-
Pensilvânia, nos Estados Unidos. É parte de um corpus documental de mais de 1.500 documentos,
microfilmados em 11 rolos e enumerados de 139 a 151 e, posteriormente digitalizados. Porém, essa
investigação se limitou aos três primeiros rolos: 139, 140 e 141. A troca de correspondências foi feita
entre missionários, homens e mulheres, vinculados à Missão Brasil e à Missão Colômbia, possibilitando
o mapeamento dos missionários presbiterianos norte-americanos e seus locais de atuação no Brasil,
especialmente nas Províncias de São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Paraná, e na Colômbia,
especificamente em Bogotá, durante as décadas de 70 e 80 do século XIX. Os índices dos três rolos
analisados registram 585 documentos, sendo eles: 387 cartas, 36 relatórios, 23 orçamentos, uma ata,
cinco petições e 133 não identificados, já que, ao verificar a documentação microfilmada, percebe-se
que ela não confere com os documentos registrados no índice. Dos 585 documentos registrados no
índice, somente 389 foram microfilmados. Houve uma grande dificuldade na tradução, que além de
manuscrita em inglês, as cartas possuíam letras não muito legíveis e em alguns casos, a data registrada
no índice não correspondia à do documento microfilmado. Produzida entre os anos de 1876 e 1886, a
maior parte da correspondência era destinada a David Irving, Secretário Geral da Igreja Presbiteriana
dos Estados Unidos da América (PCUSA), cuja sede estava localizada em Nova Iorque. Também foi
realizado o rastreamento dos 37 missionários localizados, que em sua maioria era evangelistas e
professores. O referencial teórico-metodológico pauta-se nos seguintes conceitos: método indiciário
(GINZBURG, 2007), campo (BOURDIEU, 1980), associações voluntárias (WEBER, 2004), correspondência
(GOMES, 2004) e, missões protestantes (NASCIMENTO, 2007, 2008). No período investigado as fontes
demonstram que, apesar das condições desfavoráveis, tanto no Brasil quanto na Colômbia, como a
insalubridade e o clima, que causava desconforto e doenças nos missionários que atuavam nos países,
provocando até mesmo a vontade de desistir, pôde-se constatar a determinação que eles tinham
através de suas conquistas. As fontes permitiram compreender o projeto civilizador e educacional
proposto pelo grupo religioso presbiteriano norte-americano que atuou nesses países, a partir de
meados do século XIX. Portanto, a investigação desses documentos contribui na elucidação de questões
referentes à inserção do Protestantismo no Brasil e do seu papel na Educação brasileira.

942
DIÁLOGOS ACERCA DA INSTRUÇÃO PÚBLICA PARAIBANA: PERIÓDICOS E MENSAGENS PRESIDENCIAIS
NA TRANSIÇÃO IMPÉRIO-REPÚBLICA (1889-1903)

CLÁUDIA ENGLER CURY.


UFPB, JOAO PESSOA - PB - BRASIL.

O presente trabalho está vinculado ao projeto de pesquisa que se encontra em andamento, “História da
Educação na Paraíba entre os anos de 1889 a 1910: transições e conexões da monarquia para a
república”. Nesta comunicação serão analisados os anos de 1889 a 1903 tendo como referência os
jornais e as mensagens de presidentes de província que depois de 1889 foram chamados de presidentes
de estado. O principal objetivo a que nos propusemos aqui é o de trazer os primeiros resultados da

433
pesquisa que por meio da leitura e interpretação das fontes documentais apreendeu algumas das
representações acerca da instrução na Parahyba do Norte. Metodologicamente estabelecemos um
“diálogo” entre notícias de jornais e o discurso oficial presente nas mensagens dos presidentes de
província/estado. Encontramos nos periódicos paraibanos uma gama de notícias que perpassam o
cotidiano da instrução tanto pública quanto particular, como por exemplo, a construção de escolas
públicas, nomeações, demissões e falecimentos de professores, suspensão de cadeiras isoladas e
referências ao emprego dos recursos e aos gastos públicos com a educação. Nas mensagens de
presidentes de província/estado destacamos, inicialmente, questões que se desenrolam na direção de
demonstrar que a educação recebe altos investimentos por parte das autoridades provinciais, mas não
apresenta “resultados satisfatórios”. A partir de 1889 acrescenta-se aos males que afligem a educação o
aumento do número de alunos e um percentual pequeno de professores efetivos da recente república
brasileira. Pudemos também identificar referências ao modelo de educação suíça; a questão do acesso
dos alunos pobres à instrução de primeiras letras e secundária e o reconhecimento da educação como a
mola propulsora do “progresso” da nação que agora enfrenta os desafios de se constituir como uma
república. O conjunto documental pesquisado encontra-se todo catalogado a partir dos acervos
localizados no Instituto Histórico e Geográfico Paraibano (IHGP) e na Fundação Casa de José Américo. A
pesquisa tem como pressuposto teórico metodológico os estudos da nova história cultural na
perspectiva de Chartier e Certeau e, desta forma, nos interessa perguntar quem eram os homens de
letras que escreviam nos jornais; quem eram os presidentes de província/estado e quais eram as suas
formações intelectuais; o que escreviam sobre educação; qual a circulação dos jornais e o que diziam as
colunas dos leitores, essas são algumas das questões que têm fomentado nossos estudos.

633
DO MUSEU DA QUINTA DA BOA VISTA AO MUSEU DO PALÁCIO DO IPIRANGA: A INVENÇÃO DO
MUSEU SOCIAL REPUBLICANO NAS EXPERIÊNCIAS DE GERAÇÃO DE EDGARD ROQUETTE-PINTO E
AFFONSO E. TAUNAY ( 1917-1939)

JORGE ANTONIO RANGEL.


UERJ, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL.

Esta comunicação de pesquisa possui como intuito problematizar, não somente o processo de invenção
e de institucionalização dos museus sociais no Brasil Republicano do primeiro quartel do século XX
através dos campos da antropologia e da educação, mas também identificar a partir das experiências de
geração dos cientistas sociais Edgard Roquette-Pinto e Affonso D´Escragnolle Taunay como se forjaram,
no âmbito de suas produções intelectuais e de atuações sociais, os lugares de pertencimento científicos
e pedagógicos pelo quais construíram seus “discursos fundadores” acerca da nacionalidade, elegendo as
identidades culturais e as políticas institucionais étnicas como objetos e sujeitos de investigação em
seus estudos e em suas pesquisas. Nesse contexto, o Museu Nacional do Rio de Janeiro e o Museu
Paulista da USP (do Ipiranga) constituíram, respectivamente, através do esforço de interpretação de
Roquette-Pinto e de Affonso de Taunay um papel de vanguarda na produção científica e histórica da
nação, atuando como veículo difusor das políticas públicas de escolarização e de educação das elites.
Prática esta inclinada a desenvolver, pelo menos em parte, do ponto de vista das práticas liberais, as
tarefas de instruir e de capacitar os indivíduos-cidadãos frente ao ingresso narcísico à vida civilizada
espelhada nos progressos industriais da Europa dos finais dos novecentos. Pois bem: no âmbito dos dois
museus brasileiros em questão, a produção do museu social teve como intenção, no conjunto dos meios
de produção do social, de transformar o auditório (público) não letrado em “letrado” e afeito às
enunciações das mudanças trazidas pela modernização cultural, estética e econômica do país.
Laboratório da ciência e da educação, o museu social consagrou-se como guardião do patrimônio
nacional imbuído da construção de uma metalinguagem didático-social que se caracterizou na
transformação dos museus em museus da história, produtores de uma narrativa histórica sobre o
passado e o futuro do Estado-Nação. O museu como “laboratório de sentidos" capaz de institucionalizar
o campo das reformas sociais e, ao mesmo tempo, estar a serviço da fundação de uma República social
com influência ilimitada sobre a sociedade civil. No âmago de seus museus, Roquette-Pinto e Affonso
Taunay desenvolveram uma cultura política da organização documental que se expressou na ordenação

434
científica das diversas coleções existentes do Museu Nacional do Rio de Janeiro e no Museu Paulista da
USP na perspectiva de instruir os visitantes. O desafio era transformar o espaço museal em espaço da
história. Musealizar a educação, tendo como ponto de partida construir narrativas históricas dos
homens considerados “rústicos” do Brasil setentrional e dos bandeirantes de São Vicente. Roquette-
Pinto e Taunay atuaram como intelectuais organizadores da cultura e das instituições, articulados a um
champ intelectualle do pensamento social.

578
DOUTRINA E CONTRA DOUTRINA: UMA ANÁLISE ACERCA DOS ASPECTOS IDEOLÓGICOS PRESENTES
NO JORNAL CORREIO MERCANTIL DA CIDADE DE PELOTAS-RS (1875-1880)

HELENA DE ARAUJO NEVES.


UFPEL, PELOTAS - RS - BRASIL.

Esta pesquisa, já concluída, é caracterizada como uma pesquisa qualitativa e possui uma abordagem
sócio-histórica – utilizando como procedimento técnico a pesquisa documental. Ao realizar este estudo
investigou-se cinco anos de atuação de um periódico que circulou na cidade de Pelotas-RS na virada do
século XIX para o século XX. Trata-se do Jornal Correio Mercantil – investigado entre os anos de 1875 a
1880. Essa amostra foi, portanto, do tipo intencional. O objetivo desta pesquisa foi investigar, por meio
do referido periódico, quais eram as concepções ideológicas de tal publicação – procurando identificar
como essa discutia as temáticas educação e instrução no período analisado. Elegeu-se este jornal como
fonte principal porque esse se apresentava como um periódico “Comercial e Noticioso” não se
vinculando, oficialmente, a nenhum partido, governo ou classe. Esta pesquisa, portanto, insere-se nos
estudos que utilizam a imprensa para investigar aspectos da História da Educação. Pretendeu-se assim
apreender, de modo exploratório, como as relações entre a educação; a política e a religião eram
discutidas ou noticiadas – o que possibilitou determinar as seguintes categorias de análise: educação,
partido político e doutrina. Durante a etapa exploratória da pesquisa as seguintes questões foram
investigadas: esse periódico dá pistas de seu partido político? critica a posição política de outros
periódicos?; o que ele anuncia com relação à educação?; qual a ênfase dada às notícias sobre a
educação?; a linha doutrinária é perceptível? Assim, com base nas análises realizadas, foi possível inferir
que existia no período investigado um fértil terreno de disputas e de formação e consolidação de grupos
de pertença. Essas ideologias, por sua vez, apresentam-se no periódico investigado sempre que esse se
manifestava com relação a sua compreensão sobre a educação de um povo. A educação, portanto, foi
um tema recorrente que possibilitou um fértil terreno para que esse jornal se posicionasse perante a
sociedade. Ao tratar dessa temática o Correio Mercantil deixava claro, em suas páginas, que era contra
uma educação atrelada à igreja católica. Observou-se, ainda, que ele foi um propulsor de muitos
embates ocorridos na cidade de Pelotas-RS no período analisado – sejam nas esferas política, religiosa
ou educacional. Compreende-se, por fim, que seus posicionamentos, perante as categorias
estabelecidas para este estudo, ficaram registrados em suas páginas possibilitando o estudo ora
apresentado.

652
EDITORAS E TIPOGRAFIAS NO RIO GRANDE DO SUL: PUBLICAÇÃO E CIRCULAÇÃO DE LIVROS
DIDÁTICOS

EDUARDO ARRIADA ARRIADA; ELOMAR ANTONIO TAMBARA.


UFPEL, PELOTAS - RS - BRASIL.

EDITORAS E TIPOGRAFIAS NO RIO GRANDE DO SUL: PUBLICAÇÃO E CIRCULAÇÃO DE LIVROS DIDÁTICOS


Elomar Tambara Eduardo Arriada Neste texto, investiga-se a estruturação do sistema editorial do Rio
Grande do Sul, procurando elaborar um levantamento das principais casas editoriais e tipografias que
funcionaram no Estado. Dentro desse contexto, a centralidade encontra-se em procurar “mapear”
aquelas que se notabilizaram pela produção de textos escolares. A produção de livros didáticos no RGS,

435
como de resto no Brasil, solidificou-se no século XIX. Na periodização que adotamos, foi a partir da
década de 80 daquele século que houve, nesta região, a provincialização da produção, da distribuição e,
principalmente, da adoção de textos escolares. Este período, no RGS, estende-se até meados do século
XX. No período seguinte, há forte penetração de editoras de Rio de Janeiro e de São Paulo no mercado
gaúcho, embora, em contraponto, editoras gaúchas tentassem conquistar o mercado nacional, como é o
caso da Editora Globo. No período anterior à provincialização, quando havia um domínio de textos
produzidos em Portugal e na França, concomitantemente com os elaborados na Corte, ocorreu no RGS à
produção de livros didáticos de forma mais artesanal, embora, em alguns casos, com grande sucesso,
constituindo, já neste período, um forte elemento agregador na remuneração de professores, que os
comercializavam em seus ambientes de trabalho, em livrarias e, por vezes, os vendiam de porta em
porta. Esses textos eram produzidos em tipografias, ocupando, normalmente, tempo ocioso de
máquinas que se destinavam, prioritariamente, à produção de jornais e de livros em branco. Entretanto,
este movimento revela uma vocação na produção de textos didáticos que vai consolidar o RGS como o
3º pólo editorial do Brasil, ao lado de São Paulo e Rio de Janeiro no início do século XX, em consonância
com seu posicionamento econômico. O que fica evidenciado é que no processo de produção, circulação
e utilização do livro didático e, de modo especial, do texto de leitura há um emaranhado de interesses
econômicos, políticos e ideológicos que tornam este “mercado” um setor peculiar na área de editoração
de livros. Em verdade, há a necessidade de uma chancela institucional para o sucesso. Este “atestado
liberatório” vincula-se às instituições sociais hegemônicas, particularmente ao Estado coadjuvado pela
Igreja. Em suma, o RGS por cerca de 150 anos estruturou um sistema de produção de textos didáticos
que rivalizou com os grandes centros editoriais nacionais, criou também um mercado
caracteristicamente endógeno com a adoção de textos de editoras e autores gaúchos baseada
principalmente na chancela de órgãos institucionais que chancelavam a adoção dos mesmos nas escolas
públicas. Todo este sistema ruiu por ocasião do processo de federalização deste processo.

465
EDUCAR PARA O TRABALHO: CIRCULAÇÃO DE IDÉIAS SOBRE O DESENHO NAS OBRAS DE RUI BARBOSA

FELIPE FREITAS DE SOUZA; CARLA SIMONE CHAMON.


CEFET-MG, OSASCO - SP - BRASIL.

Esse artigo trata das idéias em circulação sobre a formação do trabalhador e suas relações com o ensino
de desenho no século XIX, pensando especificamente a circulação de idéias no Brasil através das obras
de Rui Barbosa. Compreendemos que houve uma intensa circulação de idéias pedagógicas sobre a
educação regular e a educação profissional nacional e internacionalmente. Esta circulação exerceu-se
através das viagens de agentes educacionais, da importação de obras pedagógicas e materiais de
ensino, da freqüência às Exposições Internacionais, iniciadas a partir de 1851, e da leitura dos relatórios
gerados pelas comissões enviadas para estas Exposições. As influências internacionais teriam
repercussão em iniciativas nacionais: a fundação de Liceus de Artes e Ofícios, sociedades mantenedoras
destes Liceus e outros frutos da organização da sociedade civil que realizaram a difusão destas idéias em
obras e em demais iniciativas. Dentre estas idéias em circulação, encontramos, relativamente à
educação profissional, indicativos do ensino de desenho como prática necessária para a formação do
trabalhador da indústria. Objetivamos indicar as relações estabelecidas entre as idéias que propõe a
necessidade de formação do trabalhador pela instituição escolar, bem como as modificações
organizacionais propostas para que a instituições escolares realizem tal intento. Utilizaremos como
documentos para análise a Reforma do ensino primário e várias instituições complementares da
instrução pública (1882) e O desenho e a arte industrial (1882) de Rui Barbosa. Nestas obras, o autor se
dispõe a reunir as principais discussões sobre os rumos que a instrução deveria tomar nos países
desenvolvidos, estabelecendo correspondências entre a formação do indivíduo e a formação para o
trabalho, tomando como referências as iniciativas e as obras de divulgação internacionais. A partir do
conceito de tradução cultural, operacionalizado por Maria Lúcia Pallares-Burke e Peter Burke,
investigamos a iniciativa de Rui Barbosa em traduzir culturalmente as iniciativas educacionais levadas a
cabo em outros países; procuramos responder o porquê das obras escolhidas pelo autor e de qual modo
o autor se apropriou das fontes consultadas. Referenciar-se a outra cultura é uma tentativa de suprir

436
determinadas lacunas na cultura que realizava essa referência, assim como apoiar outros aspectos que
já se exerciam na cultura que referencia. Entendemos, portanto, que compreender as idéias
educacionais sobre o ensino de desenho em suas relações com a educação profissional no pensamento
de Rui Barbosa é uma forma de compreender as idéias educacionais em circulação no último quartel do
século XIX quanto à formação do trabalhador.

1186
EDUCAÇÃO E IMPRENSA NO PIAUI

ANA MARIA BEZERRA DO NASCIMENTO.


UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUI, TERESINA - PI - BRASIL.

Em fase do andamento de estudos sobre a imprensa e educação no Piauí, este ensaio detém um duplo
propósito, primeiro apresentar o desenrolar de uma historia da educação e da imprensa no Piaui,
utilizando para isso estudos que refletiram sobre o singular e rico fazer histórico da imprensa no Brasil e
Piauí, que transformaram os jornais, ainda que escassos, em suporte de análise de um processo de
desvendar acervos, desmontar argumentos, recolocando em discussão o tema. Segundo, demonstrar
que o jornal tem uma função educativa, já que a imprensa atuava na sociedade piauiense agitando a
política, a sociedade e conseqüentemente a educação e a cultura. A imprensa buscava um público, em
uma série de iniciativas para as mulheres, os estudantes, os trabalhadores, os pequenos comerciantes,
os católicos, entre outros. Assim, para analisar imprensa e educação, selecionamos os jornais por
origem; periodicidade; ciclo de vida, redatores, produtores e colaboradores; de temática educacional ou
próxima a ela. Do título às manchetes, editoriais, crônicas, poesias, boletins, tudo foi objeto de consulta.
Com essas informações em mãos, passamos a estudar a imprensa no Brasil e Piauí para
compreendermos dados referentes à educação que provavelmente não seriam encontrados em outra
documentação: ideários, reformas, regulamentos, discursos sobre instrução, educação, escola,
anúncios, chamadas, convocatórias de escolas, alunos, professores, matérias ensinadas. O corte
cronológico tem inicio na primeira republica indo até o final do Estado Novo. Nesse período a imprensa
acelerou o ritmo da vida cotidiana invadida pela atividade editorial próspera que proporcionou o
aumento de jornais, revistas e periódicos. Organizações Literárias, educacionais ou científicas,
conduziram um processo de difusão da palavra impresa que influenciou formas de comunicação,
moldando, conseqüentemente, uma geração que difundiam idéias republicanas, positivistas,
anticlericais e socialistas para toda a sociedade e por todo o período estudado, em todas as conjunturas,
variando apenas de intensidade. Literatas, articulistas, professores (as) passarm a serem vistos como
intelectuais, pois, utilizavam a educação e a imprensa como atividade para divulgarem um conjunto de
expectativas de comportamento padronizado assumidas socialmente. Se na imprensa divulgavam,
debatiam, defendiam propostas, posicionavam-se estrategicamente para melhor divulgar suas
argumentações em torno dos questões educacionais que, supunha-se, transformariam a dura realidade
do país e do estado. Assim, influenciarm nas reformas educacionais vistas como instrumentos legais
para controlar a imprensa e a educação. Pela imprensa assistiu-se a constantes crises e mudanças no
mundo e no Brasil e o Piauí não ficou de fora, mesmo ganhando feição diferente, prenunciou rupturas. A
imprensa e a educação, em expansão, tornaram-se mediadora entre leitores, sociedade e cultura.

999
EDUCAÇÃO E POLÍTICA EM MINAS GERAIS: O CASO DAS SOCIEDADES POLÍTICAS, LITERÁRIAS E
FILANTRÓPICAS NO PERIODO REGENCIAL (1831/1840)

MARCILAINE SOARES INÁCIO.


UNINCOR E FAE/UFMG, CONTAGEM - MG - BRASIL.

A presente comunicação tem por objetivo apresentar os resultados de uma investigação já concluída
sobre a relação entre política e educação em Minas Gerais tal como ela é percebida e desenvolvida
pelas sociedades políticas, literárias e filantrópicas no período regencial (1831-1840). A abordagem

437
teórica adotada é a da história política entendida a partir das formulações teórico-metodológicas da
história cultural. O conjunto de fontes documentais compõe-se de jornais, falas dos presidentes da
província, relatórios de delegados de círculos literários, ofícios de professores e correspondências
recebidas e enviadas pelas câmaras municipais mineiras. Nesta comunicação, mobilizando as noções de
sociabilidade e projeto, analisamos os vínculos, as motivações e os interesses que configuram a relação
dos intelectuais com o Estado e a educação no período regencial. Nosso pressuposto é o de que
multiplicação desses espaços de sociabilidade relaciona-se a dois fenômenos complementares, porém
distintos: a difusão do Iluminismo e a configuração de uma esfera pública de poder. Buscamos explicitar
o modo como as tradições e as modernidades entrelaçaram-se, produzindo nuanças no movimento
associativo mineiro mediante o entendimento de que a criação das sociedades é parte do processo de
configuração de uma esfera pública de poder que teve lugar no Brasil a partir da década de 1820. Diante
disso focalizamos a construção do Estado imperial brasileiro com base no que designamos como a
“dinâmica das associações”, demonstrando que a partir de 1831, as agremiações foram mobilizadas
pelos liberais moderados, mineiros e brasileiros, tanto para garantir a ordem, a legalidade e o respeito à
Constituição quanto para conseguir a adesão ao projeto liberal moderado de Brasil. Analisamos a
inserção de um grupo de professores, padres e políticos, mineiro, que se destacou no período
pesquisado. Explicitamos o modo como tal inserção contribuiu para formulações de diagnósticos e de
projetos individuais e coletivos delineados num espaço de sociabilidades específico – as associações.
Focalizamos os projetos coletivos configurados em projetos político-culturais, entendidos como projetos
educativos, demonstrando que os principais objetivos eram: garantir a ordem, a legalidade e o respeito
à Constituição, e que a efetivação de tais projetos teve como ponto de apoio para sua efetivação a
imprensa, as bibliotecas, as festas, os espetáculos teatrais e a escola.

1187
ESCOLA PÚBLICA BRASILEIRA: INSTRUMENTO CONSTITUTIVO DO PROJETO NAÇÃO EM RUI BARBOSA

KEDNA KARLA FERREIRA DA SILVA; KIARA TATIANNY SANTOS DA COSTA.


UFPB, JOÃO PESSOA - PB - BRASIL.

O artigo apresentado é resultado de uma pesquisa que vem sendo desenvolvida no Programa de Pós-
Graduação em Educação da Universidade Federal da Paraíba, linha de pesquisa História da Educação. O
objetivo principal do trabalho é analisar o processo de expansão da escola pública brasileira, tendo por
base o projeto nação, elaborado pelo intelectual Rui Barbosa, que considerava a educação como idéia
política, ou seja, o ensino público era um problema político, a meta educacional não era formar
analfabetos funcionais, e sim, ensinar a “pensar”, compreender as instituições e construir a
nacionalidade. Busca-se compreender as nuances históricas, sociais e culturais que estão imbricadas
nesse processo de expansão da escola pública brasileira, considerada como o lócus de formação de
cidadãos conforme os princípios da democracia. Destarte, para compreendermos como ocorreu este
processo, é mister fazermos um recuo à historiografia educacional brasileira com o intuito de
cartografar desde a gênese da escola pública brasileira até a sua expansão e universalização durante o
período republicano, e identificar os conflitos, representações e símbolos construído na e pela educação
pública brasileira. Desta forma, semelhantemente aos demais intelectuais brasileiros, que indagava
acerca da singularidade brasileira, procurava uma definição do “ser brasileiro” e seu peso relativo na
formação da “identidade nacional”. Este estudo ainda, se propõe a reconstituir, em linhas gerais, a
inserção submissa do Brasil ao palco de um conjunto de reformas na educação escolar, que buscam
adaptar a escola aos objetivos econômicos e político-ideológicos do projeto da burguesia mundial para a
periferia do capitalismo nesta nova etapa do capitalismo monopolista. Nesta perspectiva irei enfatizar a
influência das idéias do Rui Barbosa por meio da análise do projeto de nação proposto pelo intelectual,
cujo objetivo era promover a ascensão do Brasil ao status de nação e consequentemente de país
civilizado, moderno, seguindo os ditames científicos europeus. Assim, a educação tornou-se o
instrumento fundamental a tão almejada nomenclatura de nação moderna, para tanto era necessária a
expansão, universalização da instrução pública. Logo, compreender o contexto e os interesses que
perpassaram a criação e expansão a instituição escolar pública no Brasil, significa compreendermos o

438
passado a partir do presente buscando interpretações que nos possibilitem pensar ações futuras em
busca de melhorias no que se refere á educação pública brasileira.

791
ESTRATÉGIAS DOS ANUNCIANTES PARA A DIVULGAÇÃO DA INSTRUÇÃO EM MINAS GERAIS (1825-
1842)

RAQUEL MENEZES PACHECO.


UFMG, BELO HORIZONTE - MG - BRASIL.

O presente estudo é proposto para ser apresentado sob forma de Comunicação Individual no eixo
temático Impressos, Intelectuais e História da Educação no VI Congresso Brasileiro de História da
Educação. O trabalho que apresento é um desdobramento do projeto de monografia, que se encontra
em andamento, intitulado “ANNUNCIOS: Projeções do cotidiano educacional em Minas Gerais 1825-
1842”. Desde o seu princípio, propusemos descobrir e analisar possíveis projeções educacionais
(escolares ou não) que se revelavam através de sessões de anúncios publicadas em um importante
periódico da época: O Universal (1825-1842). Esse periódico se destacou na primeira metade do século
XIX na província de Minas Gerais pela longevidade e por ser difusor de discursos patriotas, seguidor de
tendências liberais. Publicado em Ouro Preto o jornal possuía uma grande variedade de “sessões” que
iam se legitimando com o tempo e contribuindo para influenciar a opinião pública. O Universal pode ser
considerado uma importante estratégia educacional e, sendo assim reconhecido, é hoje, utilizado como
fonte de pesquisa. No projeto de monografia, já mencionado, encontramos entre os anúncios de
comércio de imóveis, escravos fugidos, animais desaparecidos e vários outros, anúncios que revelaram
uma importante característica do povo mineiro: a formação de uma sociedade letrada e preocupada
com a formação das novas gerações. Com base em trabalhos já publicados, utilizamos como
metodologia de pesquisa o levantamento e leitura de todos os 2387 anúncios publicados nos 3258
números d`O Universal durante os seus dezessete anos de publicação, bem como a transcrição daqueles
que nos permitiriam fazer projeções sobre possíveis práticas do cotidiano educacional mineiro na
primeira metade do século XIX. Esses anúncios selecionados foram divididos em duas grandes
categorias: comércio de impressos e instrução. O presente trabalho é uma análise realizada através da
categoria estabelecida na metodologia de pesquisa denominada: Instrução. Nessa categoria,
conseguimos englobar 163 anúncios que se dividem em temas como: exames públicos de alunos,
cadeiras públicas, pagamentos, abertura de estabelecimentos, e aquele que merece maior destaque, as
aulas. Elas eram o assunto de maior recorrência dentro dos anúncios englobados em Instrução,
correspondendo a 89. Anunciadas no jornal O Universal elas traziam em suas propagandas aspectos
interessantes, tais como: os espaços físicos em que aconteciam; os cursos ministrados e os seus
professores; os preços; dentre outros. Um olhar cauteloso sobre esses anúncios nos ajudou perceber as
várias estratégias que os professores, que em geral eram os anunciantes, utilizavam nos pequenos
textos dos anúncios publicados no jornal para influenciar a opinião dos leitores a respeito de qual
instrução a população necessitava e desejava.

357
FARIS MICHAELE: TRAJETÓRIA INTELECTUAL E CONCEPÇÕES DE EDUCAÇÃO

NEVIO DE CAMPOS; ELISA MARCHESE.


UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA, PONTA GROSSA - PR - BRASIL.

Este artigo objetiva analisar a trajetória intelectual de Faris Antônio Salomão Michaele (1911-1977) e
problematizar sua concepção de educação. Faris Michaele nasceu no município de Mococa, interior do
Estado de São Paulo e, aos seis anos de idade veio com a família para Ponta Grossa, Paraná. Sua
escolarização iniciou no Colégio São Luiz, coordenado por católicos, continuou no Colégio Regente Feijó
(Ensino Secundário) e foi concluída na Faculdade de Direito do Paraná. Sua trajetória profissional foi
marcada pela direção e colaboração na constituição de diversos espaços culturais e educativos, entre os
quais destacamos o Centro Cultural Euclides da Cunha (1947) e a Faculdade de Filosofia, Ciências e

439
Letras de Ponta Grossa (1949), bem como pela atuação no magistério de Ensino Secundário e Ensino
Superior. Além disso, ele teve vinculo com instituições do Estado do Paraná ao tornar-se membro da
Academia Paranaense de Letras, assim como com entidades e associações estrangeiras, entre as quais
destacamos a Accademia Letteraria Scientifica Internazionale (Itália), Academia Universal de Humanidad
(Argentina), Centro de Cultura de Figueira (Portugal). A análise desse personagem da história
paranaense apoia-se nos conceitos de campo, habitus, intelectual e trajetória de Pierre Bourdieu. Os
conceitos de intelectual e trajetória têm destaque nesta pesquisa, pois a escrita da história intelectual, a
partir da análise do funcionamento de uma sociedade intelectual, de suas práticas, suas estratégias e
seus habitus, evoca a necessidade do entendimento das contradições e do papel social desses
mediadores entre as estruturas e os estruturantes. Para reconstituir aspectos da trajetória desse
intelectual foram selecionados e analisados alguns documentos impressos, como por exemplo,
correspondências enviadas e recebidas pelo Centro Cultural Euclides da Cunha e pelo próprio Faris
Michaele, as obras que compõem o acervo da biblioteca pessoal desse personagem, bem como artigos
escritos por ele e sobre ele. O volume de correspondência evidencia que Faris Michaele mantinha
contato com Gilberto Freyre, Érico Veríssimo, Roquete Pinto, Cândido Rondon, Luís da Câmara Cascudo,
Roger Bastide, Valfrido Pilotto, Raul Gomes, entre outros. Já o acervo da biblioteca pessoal de Faris
Michaele possui aproximadamente oito mil livros, entre eles encontramos cento e um livros que tratam
da temática educacional destacando-se obras de autores como, Fernando de Azevedo, Rui Barbosa,
Anísio Teixeira, Emile Durkheim, Gustave Flaubert, Pe. Leonel França, William Kilpatrick, Lourenço Filho,
Karl Manhheim, Jean Piaget, Valfrido Piloto, Erasmo Pilotto, Jean-Jacques Rousseau, o que indica uma
forte relação com a tradição da Pedagogia Moderna. Em síntese, a partir de Bourdieu e do corpus
documental pretende-se contextualizar a trajetória intelectual de Faris Michaele e problematizar a
concepção de educação manifestada em suas discussões e ações.

415
FLORIANO DE LEMOS NO CORREIO DA MANHÃ: 1930-1940

RAQUEL DISCINI CAMPOS.


UFU, SAO JOSE DO RIO PRETO - SP - BRASIL.

Floriano de Lemos (1885-1968) foi um médico carioca cuja atuação na vida pública esteve entrelaçada a
uma auto-imbuída missão educacional em relação à população brasileira. Entre os anos de 1910 e 1920,
como era comum entre os intelectuais de sua geração, viajou pelo interior do país (Minas Gerais, Mato
Grosso e São Paulo) fundando escolas, sociedades beneficentes, jornais e revistas, num claro intento
civilizatório. Nas décadas posteriores, retornou ao Rio de Janeiro e concomitantemente à carreira de
médico e professor, ocupou recorrentemente as páginas do consagrado jornal Correio da Manhã, ora
publicando textos que não eram assinados, conforme pregava o nascente jornalismo empresarial
brasileiro, de modelo norte-americano; ora assinando a coluna Crônica Científica, publicada de forma
intermitente por aquele jornal aos domingos, de 1930 em diante. São os resultados do mapeamento e
análise dos escritos de Lemos nesta seção que se objetiva discutir na presente comunicação. Na Crônica
– ao mesmo tempo fonte e objeto de pesquisa – o autor abordou uma grande variedade de temas
relacionados às suas andanças pelo interior do país, à cultura, à educação escolar, às artes e, claro, às
ciências, invariavelmente buscando educar e esclarecer o seu público quanto às maneiras corretas de se
vestir, de apreciar uma obra de arte, de se medicar, de cuidar do próprio corpo etc. O exame desses
escritos se dá a partir dos parâmetros teóricos construídos pelo saber histórico e seu método crítico de
análise de fontes, ou seja: os textos do autor interessaram não apenas pelo que dizem, mas também
pela maneira como dizem – ou não dizem. Busca-se ainda discutir, juntamente com os pesquisadores da
História Social da Imprensa, não apenas as intenções educativas dos textos escritos por Floriano no
Correio, mas também os seus diferentes gêneros: crônica, artigo de divulgação científica e narrativa
memorialística. Compreende-se que tanto nas crônicas que abordavam os fatos corriqueiros do dia-a-
dia quanto nos artigos científicos, onde Floriano versava sobre os cânones e valores das ciências em
geral, e da medicina em particular, procurava-se socializar junto a um público mais amplo os debates
que ocorriam nas instituições científicas que então se consolidavam. Por outro lado, Floriano de Lemos
também produziu no espaço da Crônica vasta obra memorialística, baseada tanto em suas viagens pelo

440
Brasil quanto em sua infância num Rio de Janeiro que rapidamente se transformava. Sem dúvida que o
avivamento de uma produção tão extensa e multifacetada publicada pelo jornal carioca poderá também
iluminar as relações entre os impressos, os intelectuais e a história da educação nacional.
1376
FRANCISCA RODRIGUES MOURA (1860-1942): UMA EDUCADORA ENTRE DOIS SÉCULOS

MARIA LÚCIA DA SILVA NUNES; VIVIANA SOARES DA SILVA; ADRIANA MARCINEIRO VILAR.
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA, JOÃO PESSOA - PB - BRASIL.

A produção deste artigo nasceu da pesquisa que vem sendo desenvolvida no projeto Nomes de escola:
lugar de (não) memória de mulheres? (PIBIC), vinculado ao HISTEDBR/PB, junto ao Programa de Pós-
Graduação em Educação/CE/UFPB. O projeto referido tem como objetivo central revelar a história das
mulheres que dão nome às escolas da rede pública de ensino no estado da Paraíba, onde muitas dessas
patronesses, além de desenvolverem suas práticas pedagógicas por décadas seguidas, participaram
ativamente dos movimentos políticos e culturais de seu tempo. No entanto, hoje, quando muito, são
lembradas pelo nome escrito no muro, no portão, na fachada ou nos documentos timbrados de uma
escola. O levantamento de fontes escritas e orais, bem como iconográficas, sobre as referidas mulheres,
nos colocou frente aos indícios da história de Francisca Rodrigues Moura, educadora paraibana,
admirada e venerada por seus alunos, deu grandes contribuições à educação da sociedade paraibana,
nas últimas décadas do século XIX e primeiras do século XX, transitando, dessa forma, entre dois
séculos. Com este texto, objetivamos apresentar o legado da mestra Francisca Rodrigues Moura,
analisando os escritos de ex-alunos e admiradores que a homenagearam nos jornais paraibanos,
resgatando, assim, sua história e sua obra educacional que formou gerações de paraibanos, tanto no
ensino público quanto em seu famoso Curso Francisca Moura. Numa pesquisa de caráter bibliográfico,
tendo como principal fonte recortes de jornais encontrados nos arquivos locais, almejamos construir
uma biografia da referida professora. Francisca Moura desde cedo voltou-se ao exercício do magistério,
quando aos 9 anos de idade começou a ensinar a velha africana Maria que lhe serviu de mãe preta. Para
aqueles que a conheceram, a preceptora fez do magistério um sacerdócio e até os últimos instantes de
sua vida teve o pensamento voltado para a nobre missão do ensino. Apesar de suas contribuições para o
ensino público e privado na Paraíba, de reunir em volume os “Pontos de Português” que ministrava a
seus alunos secundários do Curso “Francisca Moura”, de publicar também uma pequena geografia para
os alunos primários, sua história ainda não foi contada. Em geral, o que se tem como memória dessa
professora, hoje, é seu nome denominando uma rua e uma escola da rede municipal, em João Pessoa.
mas pouco é lembrada ou sequer conhecida pela comunidade escolar e pela atual sociedade. A análise
dos escritos nos expõe uma mulher totalmente dedicada à prática do ensino, dinâmica e prestigiada
pela sociedade de seu tempo.

877
GILSON AMADO E O EDUCANDÁRIO DA MULTIDÃO BRASILEIRA

RAYLANE ANDREZA DIAS NAVARRO BARRETO.


UNIVERSIDADE TIRADENTES, ARACAJU - SE - BRASIL.

Membro da ilustre família da qual descende dentre outros intelectuais o embaixador Gilberto Amado
(1887-1969) e os escritores Genolino Amado (1902-1989) e Jorge Amado (1912-2001), Gilson Amado
nasceu em 1908 na cidade de Itaporanga d’Ajuda, Estado de Sergipe e faleceu em 1979. Filho de
Melquisedeck Faria e Ana Amado, Gilson entra na história da educação brasileira como idealizador e
fundador da TV educativa no Brasil, a qual, segundo ele, constituiu-se o educandário da multidão
brasileira. Tomando como objeto de estudo a trajetória intelectual do itaporanguense tenho por
objetivo desvelar como fora sua atuação na criação, implantação e atuação da Fundação Centro
Brasileira de TV Educativa – FCBTVE, situada na cidade do Rio de Janeiro, no período de 1967 a 1979,
anos respectivos da implantação da Fundação e morte do seu primeiro presidente o próprio professor
Gilson Amado. Para tanto recorro à pesquisa documental, bibliográfica e a entrevistas. No tocante ao
referencial teórico faço uso da noção de intelectual proposta pelo francês Jean François Sirinelli (1997),

441
pois para ele a noção de intelectual é uma questão de qualidade humana, existindo um caráter
polimorfo e polifônico, ou seja, de compreensão e de extensão da noção, que podem recair em dois
significados do intelectual, uma ampla e sociocultural, englobando os criadores e os mediadores
culturais e a outra mais estreita, baseada na noção de engajamento. Também recorro à compreensão de
instituição educativa do português Justino Magalhães (2004) quando este afirma que o desafio
hermenêutico do pesquisador é inferir sobre o grau de empenho e o norte da ação dos atores sociais
envolvidos nas realizações institucionais, sendo, inclusive, decisivo para a construção da identidade
histórica das instituições educativas. Embora em andamento, a pesquisa revela as primeiras
experiências da educação à distância no Brasil com recursos visuais, quando ainda fazia parte da
programação educativa na TV continental em 1967 até a criação do telecentro da TVE (1977),
destacando o tipo de programa e de conteúdos abordados, bem como a forma como o conhecimento
era transmitido e os recursos pedagógicos utilizados, revelando uma nova cultura escolar, baseada em
configurações virtuais, em metodologias estratégicas e professores televisivos. O estudo patenteia,
sobretudo a importância da atividade intelectual no tocante as estratégias de ação para implementação
e funcionamento de instituições educativas, estas, por sua vez, merecedoras de especial atenção dos
estudiosos da história da educação.

466
HELENA ANTIPOFF E A EDUCAÇÃO ESPECIAL NO BRASIL: OS SEMINÁRIOS SOBRE A INFÂNCIA
EXCEPCIONAL PROMOVIDOS PELAS SOCIEDADES PESTALOZZI NA DÉCADA DE 1950

HEULALIA CHARALO RAFANTE; ROSELI ESQUERDO LOPES.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE SAO CARLOS, SÃO CARLOS - SP - BRASIL.

Helena Antipoff nasceu na Rússia, em 1892. Graduou-se em psicologia e no início dos anos 10, do século
XX, participou dos ensaios de padronização dos testes de nível mental, elaborados por Binet e Simon; de
1925 até meados de 1929, foi assistente de Claparède no Instituto Jean-Jacques Rousseau. Convidada
pelo governo de Minas Gerais, chegou ao Brasil em agosto de 1929, para auxiliar na Reforma de Ensino.
Organizou o Laboratório de Psicologia da Escola de Aperfeiçoamento de Belo Horizonte, realizando
pesquisas junto a alunos do ensino primário, e auxiliou no processo de homogeneização das classes de
grupos escolares, a partir do qual destacou a presença dos “excepcionais”. Observou que a escola
comum não atendia às necessidades dessas crianças e investiu na criação de instituições para atendê-
las: Sociedade Pestalozzi (1932), Instituto Pestalozzi (1934), Fazenda do Rosário (1940), Sociedade
Pestalozzi do Brasil (1945). Além disso, foi conselheira da Campanha Nacional de Deficientes Mentais
(1960), tendo participado da fundação do Centro Nacional de Educação Especial (1973). Este trabalho
integra uma pesquisa que lida com essa trajetória de Helena Antipoff, em que se pretende apreender os
caminhos que fizeram com que os princípios antipoffianos se estabelecessem no país, dimensionando a
sua atuação e as ações das instituições criadas por ela na efetivação dos programas governamentais
para a educação dos “excepcionais” no Brasil. Identificamos que, no início da década de 1950, Helena
Antipoff idealizou os “Seminários sobre a Infância Excepcional” e, no decorrer dessa década, foram
realizados quatro seminários organizados pela Sociedade Pestalozzi de Minas Gerais, pela Sociedade
Pestalozzi do Brasil e, ainda, pela Sociedade Pestalozzi de São Paulo. Apresentamos aqui uma pesquisa
histórica, baseada em fontes documentais, em que foram analisados os anais dos quatro Seminários
(1951, 1952, 1953 e 1955), e que nos permitiu identificar os objetivos desses eventos, os temas
abordados, os participantes e os tipos de intervenções, assim como a conceituação do “excepcional”, as
opções de atendimento a essas crianças, as propostas de formação de pessoal para o trabalho com elas
e a relação da família com os profissionais ligados a esse trabalho. Com a análise desse material, foi
possível dimensionar o alcance das ações de Antipoff no Brasil, no que se refere à atenção aos
“excepcionais”, deixando evidente a sua dinâmica de trabalho, traduzida numa capacidade de mobilizar
agentes de diversas áreas e instituições, em diferentes estados da federação, constituindo-se em
elemento fundamental para a compreensão da permanência e do fortalecimento das práticas, dos
pressupostos e dos ideais preconizados por Helena Antipoff na realidade educacional brasileira.

442
698
HENRIQUE FONTES: UM INTELECTUAL NO CONTEXTO EDUCACIONAL CATARINENSE DA PRIMEIRA
REPÚBLICA (1910-1930)

SOLANGE APARECIDA DE OLIVEIRA HOELLER; MARIA DAS DORES DAROS.


UFSC, RIO DO SUL - SC - BRASIL.

O presente texto inscreve-se no campo da história da educação, tendo como fio condutor a história
intelectual. Gênero da narrativa histórica que visa associar as idéias aos seus contextos de produção e
de disseminação, analisando não somente o significado e a estrutura lógica dos textos, mas também o
processo de circulação, o uso e a recepção das idéias/representações em contextos mais amplos da
esfera social. Assim, nosso objetivo consiste em investigar Henrique da Silva Fontes como um intelectual
presente no cenário educacional catarinense, entre os anos de 1910 e 1930. Período este inserido no
que se denomina de Primeira República e que traz no seu bojo as requeridas transformações sociais,
políticas, educacionais, econômicas pretendidas pelo regime republicano que se pretendia consolidar. A
construção textual e o percurso metodológico desta análise são propostos a partir das seguintes
questões: O que define um intelectual? O que pode estabelecer Henrique da Silva Fontes como um
intelectual no contexto e período cronológico assinalados? Desta análise participam fontes que
expressam as idéias daquele que se pretende dar visibilidade como intelectual – Henrique da Silva
Fontes: Série Fontes (Cartilha Popular, Primeiro, Segundo, Terceiro e Quarto Livro de Leitura); dados
sobre sua atuação junto ao jornal semanário, A Época; documentos e informações que apresentam
aspectos dos cargos públicos e da trajetória profissional deste catarinense. Além destas, incluem-se
como fontes, documentos de Estado ou da legislação e fontes da imprensa que permitem apreender
aspectos relacionados à posição/lugar ocupados por Henrique da Silva Fontes no contexto do Estado de
Santa Catarina, entre os anos de 1910 e 1930. A investigação acerca de Henrique da Silva Fontes como
um intelectual catarinense na Primeira República (1910-1930), representa uma análise parcial de uma
pesquisa mais ampla que envolve outros intelectuais relacionados ao contexto e períodos já indicados.
Entre os anos de 1910 e 1930, Henrique da Silva Fontes comparece na vida pública do Estado de Santa
Catarina, tanto nas questões educativas como em sua inserção no cenário político do Estado, obtendo
projeção para além do contexto catarinense. Henrique da Silva Fontes – nas fontes consultadas e
também por sua produção intelectual e/ou sua influência ou atuação política – pode ser identificado, na
análise empreendida, como homem das letras, jurista, político e professor que percorre o contexto e
tempos aqui indicados, como transcende a eles.

890
HERNÁN VERA LAMPEREIN Y SU PARTICIPACIÓN EN EL MOVIMIENTO DE RENOVACION GRADUAL DE
LA EDUCACIÓN SECUNDARIA EN CHILE

JAIME CAICEO ESCUDERO.


UNIVERSIDAD DE SANTIAGO DE CHILE, SANTIAGO - CHILE.

El autor ha estado realizando desde 1996 a la fecha una serie de investigaciones acerca de los Premios
Nacionales en Educación que entrega cada dos años el estado de Chile a quienes se han destacado en el
ámbito educativo en el país; en ellas se busca reconstruir los principales rasgos de la vida de cada uno de
ellos, analizar sus principales aportes al sistema educacional chileno y verificar la existencia del
pensamiento educativo que cada uno de ellos ha tenido. Este trabajo tiene como objetivos
fundamentales (1) señalar los principales rasgos biográficos de Hernán Vera Lamperein, Premio Nacional
de Educación 2001, y (2) describir su participación en una de las principales reformas educacionales que
se impulsaron entre 1945 y 1953 en Chile, como parte del Movimiento de Renovación Gradual de la
Educación Secundaria. Esta Reforma fue impulsada por el gobierno de la época y estuvo inspirada en el
pensamiento pedagógico de John Dewey; sus ideas habían llegado al país a comienzos del siglo XX,
siendo Darío Salas uno de sus principales representantes. En efecto, la reforma impulsada en 1945
estuvo liderada por la educadora Irma Salas -hija de don Darío-, quien se había doctorado en Estados
Unidos con el Educador Norteamericano en 1930. Entre 1933 y 1943 la Sra. Salas había puesto en

443
práctica en el Liceo Experimental Manuel de Salas los principios pedagógicos de Dewey, transformando
el establecimiento en un verdadero laboratorio de aquella pedagogía. Este será el modelo que se
deseará aplicar a todos los liceos del país, comenzando por seis que se crearon para tales efectos;
Hernán Vera será el Rector de uno de ellos, el Liceo Experimental Darío Salas. La metodología utilizada
es la propia de los estudios históricos; se ha recurrido a fuentes primarias y secundarias, es decir, se han
realizado entrevistas, tanto al personaje como a quienes lo conocieron, se han analizado sus
publicaciones y se ha revisado la documentación de los lugares en que desempeñó su labor profesional.
Esta es una investigación ya concluida y la comunicación ubica en el eje temático 5: Impressos,
Intelectuais e História da Educação. (1) Comunicación para ser presentada en el VI Congresso Brasileiro
de História da Educação que se llevará a cabo en laUniversidade Federal do Espírito Santo, entre el 16 y
el 19 de mayo de 2011.

558
HISTÓRIA DA ALFABETIZAÇÃO: O CIRCO DO CAREQUINHA NO IMPRESSO E NAS MEMÓRIAS DA
AUTORA MARIA SERAFINA FREITAS

ISABEL CRISTINA ALVES DA SILVA FRADE; ANA PAULA PEDERSOLI PEREIRA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS, BELO HORIZONTE - MG - BRASIL.

A história da alfabetização no Brasil pode ser construída através de diversas fontes; uma delas é o livro
didático. Os livros de alfabetização, sobretudo as cartilhas, são representativos de práticas, ideários
pedagógicos, práticas editoriais e, historicamente, vêm se constituindo como primeira via de acesso à
cultura do impresso, uma vez que, em nossa sociedade, grande parcela da população aprende a ler
dentro do espaço escolar, e a cartilha é o primeiro livro a que os alunos têm acesso. Os livros/cartilhas
nos permitem perceber, questionar e refletir dados sobre a sua produção, circulação, divulgação e
recepção, seu conteúdo, a forma do impresso, seus autores e leitores, seus recursos expressivos e sua
proposta didática. Baseando nesses pressupostos construímos a pesquisa História da Alfabetização: O
Circo do Carequinha e as Memórias da Autora Maria Serafina Freitas, autora do pré-livro O Circo do
Carequinha, produzido na década de 60. Este trabalho é um sub-projeto do projeto “Autores mineiros
de cartilhas escolares: uma contribuição para a história da alfabetização em Minas Gerais, e está
vinculado ao programa “Cartilhas escolares: ideários, práticas pedagógicas e editoriais: construção de
repertórios analíticos e de conhecimento sobre a história da alfabetização e das cartilhas
(MG/RS/MT/RJ/ES/AM) – 1834/1997)”. Analisando o próprio impresso, trabalharemos características
que distinguem o livro de Maria Serafina de outros e suas motivações/vinculações com o movimento de
divulgação do método global de contos. Como abordagem metodológica utilizamos a História oral, pois
ela permite aceder diretamente aos sujeitos e à sua percepção da experiência vivida em momentos
relativamente recentes e a análise do impresso. Maria Serafina ocupou diferentes postos no sistema
educacional como professora, inspetora e secretária da Educação na Prefeitura de sua cidade natal –
Piunhi e sua trajetória lança luzes sobre um circuito específico de produção no interior do Estado. Sua
produção foi desenvolvida entre o arrefecimento das discussões do método global de contos, que
ocorreu nos anos 60, e o início da implementação, em Minas Gerais, do Centro Regional de Pesquisas
Educacionais, que inaugura uma outra tendência de produção de livros de alfabetização de autores
mineiros como Teresinha Casasanta, Magdala Lisboa Bacha e Ieda Dias da Silva. Seu livro foi baseado em
experimentação e teve uma proposta de redução das fases defendidas pela professora Lúcia Casasanta,
tendo sido editado com o aval da grande divulgadora do método global em Minas Gerais. Além dessa
análise, problematizamos a singularidade e a construção da memória da autora que foi bastante
reconhecida pela sua produção, teve várias edições de seus livros e, entrevistada aos 96 anos, se
recorda muito pouco desse momento de tamanha divulgação e importância de sua obra. No entanto,
reproduz e descreve, com muito detalhamento, as lições e materiais alternativos que usava como
professora.

444
567
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO E IMPRENSA: REVISITANDO A EDUCAÇÃO DO ANTIGO NORTE DE GOIÁS

JOCYLEIA SANTANA SANTOS.


UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS, PALMAS - TO - BRASIL.

Neste trabalho analisou-se a questão do impresso, mais especificamente a Revista Educação e Saúde de
Goiaz, na perspectiva de compreendê-la como fonte de pesquisa para a historiografia da educação no
norte goiano, no período de 1938 a 1962. A Revista foi criada pelo decreto n. 3.482, de 12 de junho de
1933, reorganizada pelo decreto-lei n. 186 de 24 de novembro de 1945. Reapareceu após um decênio
de inatividade sob o número 37 por intermédio do decreto n. 499 de 8 de setembro de 1958, do
Governador José Ludovico de Almeida, pertencente ao órgão oficial da Secretaria de Educação e Cultura
do Estado de Goiás, com circulação bimestral. O motivo pelo qual se escolheu a Revista Educação e
Saúde se vinculou ao interesse em catalogar fontes para a compreensão da história educacional no
norte goiano, atual Tocantins. A partir desse objetivo continuou-se o processo de catalogação dos
exemplares existentes da Revista no Instituto Histórico e Geográfico de Goiás (IHGG) em Goiânia, Goiás.
Em virtude da localização das fontes, ou seja, do acervo encontrar-se há 1.000 km da capital do
Tocantins, Palmas, e da imensidão dos processos educacionais gestados no período, selecionou-se
alguns discursos presentes no periódico, relacionando-os com as entrevistas realizadas com professoras
que lecionaram no recorte explicitado. À medida que a pesquisa foi avançando, chegou-se a conclusão
que era necessário primeiro historiar o surgimento do periódico já supramencionado. Quanto a primeira
menção ao extremo norte de Goiás, a revista publicou o Decreto- Lei nº. 554 de 28 de março de 1938
que instruía sobre o preenchimento dos cargos de professores escolares em todo território do Estado.
Citava ainda, que a segunda circunscrição escolar tinha os seguintes municípios: Arraias, Boa Vista do
Tocantins. Conceição do Norte, Cavalcante, Natividade, Pedro Afonso, Pilar, Santa Maria de Taguatinga,
São Vicente do Araguaia, São domingos, São José do Duro, São João d’ Aliança e Santa Maria do
Araguaia. No decorrer das publicações, a administração da revista solicitou aos professores de zonas
longínquas do Estado, informações sobre qual o melhor meio de lhes remeter o periódico. As histórias
docentes continuaram nas matérias editadas pela Revista. Destacou-se o papel crescente da mulher na
instituição educacional, principalmente de mulheres que construíram lugares de memória, ou seja,
lugares de docência inscritos em cada escola que levava o seu nome. Este trabalho revelou que a
imprensa e os impressos são uma instância privilegiada para a apreensão dos modos de funcionamento
do campo educacional porque fazem circular informações sobre o trabalho pedagógico e o
aperfeiçoamento das práticas docentes, o ensino específico das disciplinas, a organização dos sistemas,
as reivindicações da categoria do magistério e outros temas que emergem do espaço profissional, tais
como a luta por maior assistência educativa para uma região carente de recursos administrativos.

636
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NO ESPÍRITO SANTO: CONTATOS E CONFLITOS NA ESCRITA DIDÁTICA NO
SÉCULO XIX

ANDRÉ LUIZ BIS PIROLA.


PUC-SP, SERRA - ES - BRASIL.

A maior parte das pesquisas em História da Educação não mais ignora os projetos civilizadores,
idealizadores da identidade nacional, obstinados por consolidação nas diversas reformas educacionais;
não mais desconhece que a emergência da escrita historiográfica e didática estabeleceu contatos e
conflitos entre os interesses de sujeitos ligados a lugares de memória ou templos do saber; sabe que no
cerne dos embates deflagrados estava em jogo o poder de impor a correta História, Ensino e
Compêndios. Imerso neste contexto, o trabalho que apresentamos - como parte de pesquisa em
andamento realizada no âmbito do doutorado em Educação do Programa de Estudos Pós Graduados em
Educação, História, Política, Sociedade (EHPS) da PUC-SP - propõe analisar as práticas e representações
dos professores no processo de constituição das disciplinas escolares na História da Educação no
Espírito Santo. Privilegiamos a disciplina História e buscamos compreender a ação dos professores em
três processos históricos interligados: o processo de legitimação (representações sobre a disciplina); o

445
processo de problematização (apropriações sobre a disciplina); e o processo de produção didática
(confecção, comercialização e difusão dos livros didáticos). Fundamentamos a pesquisa a partir de uma
perspectiva na História Cultural, privilegiando os conceitos Representação e Apropriação (CHARTIER
1990; 2009), confluindo com os estudos ligados à História das Disciplinas Escolares (CHERVEL, 1990;
1992), e História do Ensino de História (BITTENCOURT, 1993; BRUTER 1997). Especificamente, buscamos
compreender como os professores, através, dos seus conteúdos, exercícios, práticas e avaliações,
responderam ou não às finalidades de seus contextos históricos. Daremos ênfase ao contexto
intelectual da produção didática e historiográfica da Educação no Espírito Santo entre 1894 a 1922.
Investigamos os modelos e interlocutores de História e Educação, indagando autores, obras, práticas e
interesses desse contexto. Enfim, analisamos, como, após mais de um século de vida, algumas obras do
período analisado ainda se situam como documentos privilegiados à compreensão histórica de disputas,
alianças, apostas e recusas; situam-se como vestígios daquilo que se pretendia como leitura correta de
História e de Educação. Daí, a importância que atribuímos à historiografia da educação aos
professores/autores ou intelectuais/escritores ligados às histórias regionais e locais. Importância maior
ao recompormos, a partir da análise dos vários jogos de escala, alguns sujeitos que, plasmando suas
obras com os moldes disponíveis em seu tempo e espaço, abriram possibilidades à compreensão dos
Brasis que coexistiam com o Brasil idealizado. Obras que se tornaram suportes de muitas questões com
as quais os alunos de ontem indagavam sua realidade. Questões que, atualmente, tombam esquecidas,
ocultadas ou preteridas por conta, muitas vezes, das covardias ou mediocridades de nosso tempo.
961

HISTÓRIA, INTELECTUAIS E EDUCAÇÃO: O BRASIL E OS BRASILEIROS NO PENSAMENTO DE MANOEL


BOMFIM

ROSANE SANTOS TORRES.


UERJ, SAO GONCALO - RJ - BRASIL.

O presente trabalho é resultado das pesquisas que venho desenvolvendo sobre a Instrução Pública na
Capital Federal nos anos iniciais da Primeira República no Brasil. Essa pesquisa, ainda em andamento, se
insere em um conjunto mais amplo de investigação, em que uma de suas vertentes situa-se no
reconhecimento da complexidade do universo intelectual brasileiro, cujos integrantes encontram-se, em
conjunto, comprometidos com a questão nacional. Por outro lado, uma das problemáticas centrais de
investigação se orienta no sentido de refletir sobre as diferentes representações construídas por
segmentos da intelectualidade em torno do “povo brasileiro”, especificamente no que se refere à
viabilidade do Brasil como uma nação moderna e civilizada. Levando-se em consideração que a
participação desses segmentos no projeto de (re) construção do Brasil não expressa um movimento
harmonioso, mas que reflete disputas e conflitos, tanto em relação ao Brasil que se pretendia construir,
quanto em relação aos caminhos que deveriam ser tomados na efetivação desse ideal, busco analisar
algumas das ideias defendidas por Manoel Bomfim, que tem se mostrado uma figura bastante
interessante, sobretudo no que se refere à veiculação de uma determinada imagem do Brasil e dos
brasileiros. Intelectual sergipano, profundamente envolvido com as questões de seu tempo, Bomfim
defendeu uma íntima relação entre “instrução popular” e “progresso nacional”. Para ele, país de
analfabetos é país de miséria, de pobreza e de degradação. É a partir dessa perspectiva, então, que
pretendo analisar o modo como esse autor pensava a “educação” como um caminho de cura para o
“nossos males essenciais”, e o modo como ele deslocava a desqualificação dos segmentos populares
para a ausência de instrução, diferenciando-se, portanto, de autores que a atribuíam à questão racial,
por exemplo. Ao trabalhar essa questão, espero analisar as diferentes leituras formuladas no período
sobre a realidade brasileira, bem como os variados projetos de futuro veiculados por membros da
intelectualidade. Procuro identificar as diferenciadas representações do povo brasileiro – em que pesem
seus possíveis desdobramentos políticos –, como também reconstituir, em meio aos debates suscitados
na época sobre a crença na redenção do país pela via da educação/instrução, as redes de interlocução
entre elementos da intelectualidade, identificando suas possíveis tensões com outros atores políticos do
período. A fim de levar a cabo essa proposta, pretendo analisar alguns artigos publicados em jornais
cariocas, a partir de finais dos anos de 1890, e em revistas, como a Revista Pedagógica Educação e
Ensino. Além dessa produção, pretendo privilegiar alguns trabalhos produzidos ao longo de sua

446
trajetória, dentre os quais merece destaque: A América Latina: males de origem. Texto em que o autor
se empenha em refletir sobre o país e seus habitantes, estabelecendo, com isso, diálogos com
importantes pensadores de seu tempo.

1184
HOLLANDA LOYOLA, EDUCAÇÃO E EDUCAÇÃO FÍSICA REFLEXÕES PEDAGÓGICAS E PRESCRIÇÕES
EDUCACIONAIS (1932-1944)

LUANA LÓOS DE FREITAS; OMAR SCHNEIDER; AMARÍLIO FERREIRA NETO.


UFES, VITÓRIA - ES - BRASIL.

Poucos são os autores que percebemos com visibilidade na História da Educação Física (EF) brasileira
nas décadas de 1930 e 1940, entre esses, os que possuem maior expressão são Fernando de Azevedo e
Inezil Penna Marinho. Outros atores circularam na área, mas ainda estão pouco estudados. Um deles,
apesar do conjunto da obra é Hollanda Loyola, militar, professor de EF, escritor, diretor de escola,
inspetor escolar e militante do Movimento Integralista. Objetivamos analisar quem foi Loyola; mapear
sua produção sobre pedagogia e EF; e investigar sua contribuição para o pensamento pedagógico da
área entre as décadas de 1930 e 1940. Para tanto, buscamos compreender quais foram os saberes
mobilizados por esse ator para produzir suas reflexões sobre a Educação e a EF? Quais foram as
referências utilizadas por ele para desenvolver suas prescrições para a EF? O que foi produzido com os
saberes em circulação para significar a presença da EF na escola? As fontes utilizadas no estudo são os
artigos publicados por Loyola na revista Educação Physica, no jornal Integralista A Offensiva e os livros
editados pelo autor pela Companhia Brasil Editora. Para responder a essas questões operamos com o
conceito de representação (CHARTIER, 1990) para dar a ver as formas pelas quais a realidade é
construída por seus atores e com a noção de forma escolar (VINCENT; LAHIRE; THIN, 2001) para
perceber as práticas de apropriação (CERTEAU, 1998) entendidas como práticas de transformação de
matérias sociais específicas. Assim, empregamos a proposta da arqueologia dos objetos (NUNES;
CARVALHO, 1993) para analisar os documentos como objetos culturais que, constitutivamente, guardam
as marcas de sua produção e dos seus usos. Observamos que, para Loyola, a EF deveria fazer parte da
educação integral (física, moral e intelectual) e assim necessitava da pedagogia para que fosse
significada no campo educacional. Parte das reflexões e das propostas de Loyola para a EF utilizava
como referência o pensamento de autores como Manoel Bomfim, Fernando de Azevedo, Georges
Herbert, Renato Kehl e Henri Wallon, que produziram algumas de suas proposições fundamentadas na
medicina e na higiene e, em alguns casos, na temática da eugenia. Apesar de utilizar nas suas
proposições as orientações do método Francês de ginástica, o autor propõe também um método
nacional, uma EF que desenvolvesse ao máximo as qualidades motoras de cada etapa da vida,
almejando que o indivíduo pudesse realizar com êxito suas atividades diárias e se desenvolvesse
plenamente para uma sociedade industrializada. Os saberes que são mobilizados pelo autor, para definir
a EF, a sua importância e finalidades para a infância, adolescência, idade madura e velhice são extraídos
do campo da fisiologia, resguardando na sua aplicação as particularidades relacionadas a idade, sexo,
práticas esportivas, as profissões, em função do meio e da finalidade que deveria orientar a educação
geral do povo brasileiro.

1366
IDEOLOGIAS E ORGANIZAÇÃO DA ESCOLA PÚBLICA NO BRASIL: O MANIFESTO DOS PIONEIROS DA
EDUCAÇÃO NOVA DE 1932 E O DISCURSO DE MODERNIZAÇÃO DA NAÇÃO

SIMONE CARLOS.
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ, MARINGA - PR - BRASIL.

Este texto objetiva-se pela busca de dados que possam identificar ou refutar as propostas do Manifesto
de 1932 como um discurso ideológico modernizante da nação a partir da organização da escola pública
e ao mesmo tempo compreender as motivações que permitiram a organização de intelectuais e
educadores liberais na redação de um Manifesto em prol desta educação. Assim, acreditamos ser

447
possível realizar aproximações sobre as discussões de organização da escola pública presentes em fins
do século XIX e início do século XX, e ponderar acerca das propostas presentes no Manifesto dos
Pioneiros da Educação Nova, frente às motivações das décadas anteriores. Orientamo-nos
metodologicamente pela perspectiva de que as “(...) idéias que revolucionaram uma sociedade inteira
(...) (MARX e ENGELS, 2009, p [?])” não surgiram ao acaso, mas formaram-se na sociedade anterior, e
que “(...) a dissolução das velhas idéias marcha de par com a dissolução de antigas condições de vida
(idem, ibidem)”. Utilizamos fontes documentais, como o Manifesto dos Pioneiros da Educação de 1932 e
interlocutores nas áreas de História e Historiografia da Educação e Organização da Educação Pública na
Primeira República, tais como Carlos Jamil Cury (1978), e Dermeval Saviani (2004; 2005; 2008), Jorge
Nagle (1974), Rosa Fátima de Souza (1998) e Analete Regina Schelbauer (1998). Para compreender as
motivações do Manifesto de 1932, fez-se necessário um entendimento anterior sobre o processo de
organização da escola pública brasileira e suas implicações na formação da nação civil e moral, tão
presentes nos debates das primeiras décadas da Primeira República. Com os estudos realizados, foi
possível identificar que os signatários representaram no manifesto suas concepções de educação, de
sociedade e de homem, e que embora suscitassem a deliberação de interesses individuais, lutavam por
um objetivo comum: a organização da escola pública em perspectivas Escolanovistas. Movido pelo
interesse de reformar a educação, o Manifesto materializou a idéia de uma geração de educadores e
intelectuais, que viam na educação a possibilidade de enriquecimento da nação a modernização do
modo de produção. Os resultados desta pesquisa nos permitiram considerar que o Manifesto dos
Pioneiros da Educação de 1932, foi uma expressão unilateral de um movimento de renovação, inserido
dentro um complexo contexto histórico de debates em prol da organização da escola pública e que a
ideologia de modernização da sociedade brasileira a partir da organização da escola pública, foi ponto
de destaque no Manifesto. Esta pesquisa pode ser considerada concluída, na medida em que cumpriu
seu propósito motivador inicial, mas pode ser considerada em andamento, na medida em que está
entre assuntos que serão abordados no desenvolvimento da dissertação de mestrado da autora.

761
IDÉIAS CRÍTICAS PARA A CONSTRUÇÃO DE UM BRASIL MODERNO: A CONTRIBUIÇÃO DE GERALDO
BASTOS SILVA NA HISTORIOGRAFIA EDUCACIONAL BRASILEIRA (1955-1969)

GISELI CRISTINA DO VALE GATTI; GERALDO INACIO FILHO.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA, UBERLÂNDIA - MG - BRASIL.

Trata-se da comunicação de resultados de investigação no campo da História da Educação, na


proximidade das temáticas da História das Idéias Pedagógicas e da Historiografia da Educação. O objeto
privilegiado é o pensamento disseminado nas obras de Geraldo Bastos Silva, redigidas entre 1955 e
1969, acerca da educação nacional e sobre o ensino secundário brasileiro, com o objetivo de
compreender o contexto, as idéias e as interpretações contidas na referida obra, sobre a relação entre
educação e desenvolvimento e, particularmente, sobre o papel do ensino secundário. O período
examinado é marcado por um ideário de modernização, via desenvolvimento econômico, com forte
influência das idéias emanadas da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), criada
em 1948, sendo patrocinado diretamente pelo Estado brasileiro, por meio da conjugação de iniciativas
de órgãos já existentes e novos da administração pública federal, tais como o Instituto Nacional de
Estudos Pedagógicos (INEP), criado em 1937, acrescido, em sua estrutura, pelo Centro Brasileiro de
Pesquisas Educacionais (CBPE), em 1955; o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES), criado em 1952; a Campanha de Aperfeiçoamento e Difusão do Ensino Secundário (CADES),
criada em 1953; o Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB), criado em 1955. Metodologicamente,
o trabalho de investigação tem se desenvolvido por meio de análise da bibliografia e da documentação
pertinente; análise dos textos redigidos pelo autor, com levantamento do conteúdo e da bibliografia de
referência utilizadas pelo autor; busca, seleção, e análise da bibliografia de referência acionada por
Geraldo Bastos Silva na redação de seus textos. Preliminarmente, pode-se afirmar que a busca da
modernização no país, estabeleceu uma ideologia desenvolvimentista que potencializou a crença do
planejamento a partir do Estado como fundamental para o alcance do Brasil Moderno, sendo que a
qualidade do processo de escolarização foi tomada como importante nesse processo. Geraldo Bastos
Silva, particularmente, está inserido nesse contexto de idéias, acionando categorias de análise de

448
exemplaridade e de transplante cultural em uma análise que privilegiou a problemática do ensino
secundário brasileiro em obras seminais, tais como: “A Ação Federal sobre o ensino secundário e
superior até 1930”, de 1955; “Apontamentos sobre a evolução da administração federal no ensino
secundário” de 1957; “Educação e Desenvolvimento Nacional”, de 1957; “A Nova Lei Federal de Ensino
Industrial e a Educação Secundária”, de 1963; “Educação e Desenvolvimento Nacional”, de 1965; a “A
Educação Secundária: perspectiva histórica e teoría”, de 1969. (Apoio: CNPq/FAPEMIG).

1104
IMPRENSA E DISCURSOS EDUCACIONAIS: PROFISSÃO DOCENTE NO PIAUÍ DE 1910 A 1928

JANE BEZERRA DE SOUSA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ, TERESINA - PI - BRASIL.

A imprensa é um meio privilegiado de investigação dos modos de funcionamento do campo


educacional. Todavia concebemos a educação como prática social, e a imprensa se constitui como lugar
na educação. O estudo, por intermédio de periódicos, permite analisar a história da educação local e
regional, entendendo não só o contexto educacional, mas o processo social que o gerou. Dessa maneira,
percebemos o estudo da história da educação ligada à imprensa, por esta constituir-se em documentos
com possibilidades de inúmeras dimensões, uma vez que se consolida como testemunho de métodos e
concepções pedagógicas de uma determinada época além de ser mediadora cultural e ideológica entre
o público e o privado. Desse modo pesquisamos os jornais: Diário Oficial do Piauí, O Apóstolo e o Piauí,
localizados no Arquivo Público do Estado do Piauí, Casa Anísio Brito compreendendo o período de 1910
a 1928, observando principalmente todos os discursos educacionais de diretores da instrução pública,
alunos, diretores de escola ou de membros da sociedade. Nesses discursos analisamos o ideário
educacional presente na sociedade para compreender a imagem social da profissão docente no Piauí no
período apontado. Esse período foi marcado pelas divergências entre as ideias dos católicos e as
daqueles que defendiam uma escola leiga. Os primeiros defendiam uma escola normal católica,
apontando os professores da escola leiga como “monstros”, ”mercadores da ciência”, ”pedantes
perversos” e “lobo voraz”. Segundo essa concepção, as normalistas eram um “bando descuidoso”, um
“verdadeiro fracasso”, termos propagados pelo jornal O Apóstolo, mantido pela Igreja católica. A
corrente da escola leiga tinha como seus principais defensores Abdias Neves, Matias Olímpio, Luís
Correia e Anísio Brito, que publicaram vários artigos em jornais entre 1913 e 1914, defendendo o
método sintético e uma educação em que a criança fosse a preocupação central. Os discursos
apontavam a educação como dever e patriotismo, espírito de civilização e grandeza de nacionalidade.
Nesse contexto, a mulher na escola primária era uma ideia-símbolo da sociedade moderna, por suas
características naturais de preceptora e santificadora, desde que também incorporasse características
progressistas, científicas e inovadoras no ensino. Ser professora normalista era ser missionária,
vocacionada e ter o magistério como sacerdócio.As normalistas, por sua vez, se apropriaram da ideia de
magistério como extensão do lar e da maternidade, o que silenciou a luta por melhorias quanto ao
exercício da profissão. Ser professor no Piauí nas primeiras décadas do século XX tinha então como
representação maior a normalista missionária, mãe, salvadora da pátria, com alto status social e aura
gloriosa, o que servia para esconder os salários baixos, a falta de um estatuto para profissão e as
deploráveis condições de trabalho, principalmente no interior do estado.

1160
IMPRENSA ESCOLAR: UMA DEMONSTRAÇÃO DE PATRIOTISMO NO ESTADO NOVO

VALQUIRIA ELITA RENK.


PUCPR, CURITIBA - PR - BRASIL.

Durante o Estado Novo intensificaram-se as medidas de nacionalização dos alunos das escolas étnicas,
públicas e particulares do Paraná. O recorte geográfico desta pesquisa será nas áreas de imigração
européia do Paraná, onde desde o início do século XX havia o clamor pela nacionalização da infância,
considerando que as escolas étnicas pouco ou nada ensinavam sobre a língua e cultura nacional. Uma

449
das reclamações dos sucessivos Inspetores de Ensino era de que, nas áreas de imigração européia, os
alunos não falavam ou entendiam a língua portuguesa. Após a nacionalização compulsória das escolas
étnicas, em 1938, todas as instituições escolares passaram a ensinar em língua nacional e produziam os
jornais escolares, compilados sob o título ‘Imprensa Escolar’, que circulou de 1939 a 1942. Estes jornais
circulavam em datas especiais, como no Dia de Tiradentes, no aniversário do Presidente Vargas, no Dia
das Crianças, na Semana da Pátria e na Proclamação da República. O objetivo é analisar os textos,
poesias, informações sobre datas alusivas à Pátria, que foram produzidas nestes jornais escolares, como
uma educação moral e cívica aos alunos. Os textos trazem a marca da nacionalização, identificando a
Pátria com o seu presidente e a sua imagem eram amplamente disseminadas, também outras medidas,
como as cooperativas escolares, os pelotões da saúde, a programação das semanas cívicas e o relato
destas semanas. Meninos e meninas produziam poesias, pequenos textos, desenhos, que sempre
remetiam a juventude ao seu dever com a Pátria. Os símbolos da Pátria como a Bandeira, o Hino
Nacional, o Brasão eram divulgados em profusão, assim, como também as imagens dos grandes vultos
nacionais, como Tiradentes, Duque de Caxias, Marechal Deodoro e o Presidente Vargas. Além da
Imprensa Escolar, será fontes de pesquisa a legislação educacional, os documentos oficiais como as
correspondências de Governo e os relatórios dos Secretários Estaduais de Educação, as prescrições de
grade horária, livros didáticos e conteúdos escolares únicos. Ainda usaremos as fontes orais, onde ex-
alunos permitirão compreender como as escolas organizavam estes textos e permitiam a sua circulação.
Estes ex-alunos passaram pelo processo de nacionalização, pelo constrangimento de pouco ou nada
saber da língua nacional. Estas fontes possibilitarão entender o processo de nacionalização dos alunos e
de homogeneização dos saberes escolares na produção do cidadão nacional. O silencio e as resistências
ante a nacionalização não se revela na Imprensa Escolar, mas, nos depoimentos dos ex-alunos.

637
IMPRESSOS DESTINADOS À FORMAÇÃO DOCENTE: TEXTOS E MANUAIS DE PEDAGOGIA UTILIZADOS
NAS ESCOLAS NORMAIS BRASILEIRAS (1886-1914)

SARAH JANE ALVES DURÃES.


UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS, MONTES CLAROS - MG - BRASIL.

Os impressos destinados à formação docente se constituem em uma fonte privilegiada para o registro
das mudanças que sucederam no campo do ensino e da Pedagogia. Especialmente os manuais de
pedagogia foram uma das estratégias para obtenção do estatuto científico dessa aérea de
conhecimento assim como o veículo de alguns ideários políticos com relação à organização do ensino e
da sociedade. Este artigo tem como objetivo central apresentar algumas considerações acerca de
representações docentes que foram veiculadas através de três impressos brasileiros destinados à
formação docente, quais sejam: Revista Pedagógica (1890-1896), do Pedagogium; Primeiras lições de
coisas (1886), de Rui Barbosa; e Princípios da Pedagogia (1914), de Sampaio Dória. Parte-se do
pressuposto que o incentivo à circulação desses impressos por parte do Governo Brasileiro foi uma
tentativa de se instituir um modelo de professor(a) ideal apresentado pelas teorias pedagógicas
européias. Mais precisamente desde a década de 1990 os manuais escolares, livros escolares, livros de
textos ou impressos educativos vem despertando o interesse de investigadores(as), quer seja como
fonte ou como objeto de investigação da História da Educação. No Brasil, como em diferentes países,
esses impressos têm sido analisados para estudo da história do currículo, das disciplinas, da prática e da
organização escolar. Essas investigações se referem predominantemente a uma análise de textos e
manuais utilizados na escola durante os séculos XIX e XX, período no qual o governo brasileiro passou a
usar os manuais e similares como mecanismos de consolidação do sistema nacional de ensino. Desse
modo, tal estratégia demonstra o interesse que o governo tinha em tentar homogeneizar e normalizar
um modelo docente para as escolas primárias. Para tanto, valemo-nos, sobretudo, do estado da arte,
apresentado pelo projeto de Manuais escolares-MANES, projeto Manuales Escolares-MANES, da
Universidad Nacional de Educación a Distância - UNED/MADRID e de uma bibliografia brasileira. A
análise dos impressos dar-se-à levando em consideração cinco aspectos como unidades comparativas,
quais sejam: teoria pedagógica e educativa; métodos de ensino; organização: sistema de ensino;
correntes e influência estrangeira; e função do professor(a). Ainda que tenha sido considerados esses

450
elementos comparativos de análise, neste texto busca-sereconhecer as especificidades de cada
impresso, especialmente no que diz respeito aos seus processos de produção e circulação. Esta pesquisa
foifinanciada pelo CNPq e pela FAPEMIG.

955
IMPRESSOS E SABERES PEDAGÓGICOS: AS APROPRIAÇÕES NO INÍCIO DO SÉCULO XX NO ESPÍRITO
SANTO

GECIANE SOARES NASCIMENTO.


UFES, MARECHAL FLORIANO - ES - BRASIL.

A presente pesquisa tem como objeto de investigação a Revista de Educação que circulou no Espírito
Santo entre os anos de 1935 à 1956. Uma documentação que se insere no campo de estudos que
privilegia os impressos pedagógicos como fontes de estudo em História da Educação, e expressam-se
como dispositivos de normatização pedagógica e também como suporte material de culturas escolares.
Trata-se de uma investigação que se constitui a partir dos pressupostos advindos da História Cultural
cujo objetivo principal pretende identificar o modo como em diferentes lugares e momentos uma
determinada realidade social é constituída, pensada e dada a ler. A significância desses materiais se
revela pela materialidade dos processos de produção, circulação, imposição e apropriação dos saberes
pedagógicos concebidos e vividos pela comunidade na qual esteve inserido. Por vezes, tratam-se das
leituras de leituras, portanto representações de modelos pedagógicos, em outros momentos,
expressam-se como mecanismos de legitimação de saberes e práticas pedagógicas, ou ainda, como
indícios de idéias circulantes. Desse modo, tal documentação exige um procedimento de leitura
cuidadoso, posto que, se refere a mecanismos de legitimação de saberes e práticas pedagógicas. No
presente trabalho, expomos as questões que nos levaram a categorização e critérios para a análise do
nosso corpus de pesquisa fundamentada no conceito metodológico proveniente CHARTIER (1990),
VINÃO FRAGO (2001), E VIDAL (2005). Assim, o caminho seguido para a exploração da documentação
primaria impressa se estabeleceu sob a elaboração de categorias de análises que visam identificar; a)
Em se tratando do vínculo institucional; o recorte temporal da circulação da Revista, ou seja, sua
periodicidade de publicação, o público a quem se dirigia, se tratava-se de circulação gratuita ou não, que
órgão era responsável por sua editoração, onde era realizada sua impressão, o número de tiragem; b)
No tocante à materialidade gráfica pretende-se identificar; a apresentação do sumário e sua relação
com os autores, sobre o que versam as publicações, quem são os autores mais recorrentes, de que
maneira são ilustradas as capas e contra-capas, quais volumes se conservaram na íntegra; c) Em relação
à circulação das revistas pretendemos identificar ainda; quais monopólios de autoridade científica
define os agentes que são autorgados à representar o conhecimento e hierarquizá-lo no campo
educacional, apresentam uma linguagem própria, os ideais divulgados estão sob quais influências, e,
versam de maneira geral sobre o que, quais preocupações são reveladas, os “problemas” que se
pretende debater. Deve-se, contudo, atentar-se aos hiatos entre os usos prescritos e os usos efetivos
que tal pesquisa pode apresentar, bem como frisar que se trata de possibilidades de exploração
documental.

990
IMPRESSOS PROTESTANTES E EDUCAÇÃO: UMA INVESTIGAÇÃO (IM)POSSÍVEL(?)

SANDRA CRISTINA DA SILVA; MARIA INES SUCUPIRA STAMATTO.


UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DE NORTE, NATAL - RN - BRASIL.

O registro de investigações acerca da relação entre os impressos confessionais e a educação ainda é


recente no Brasil, o que não ocorre, no entanto, em outros países, como em Portugal, onde esse tema já
é amplamente pesquisado (Conf. NASCIMENTO, 2008).O objetivo principal desta pesquisa é investigar a
relação entre os impressos protestantes, de cunho presbiteriano, e a educação pautada em um ideário
civilizador norte-americano, pensando a impressa confessional como um espaço educativo, sugestivo e
intencional.A comunicação que ora apresentamos orienta-se teórica e metodologicamente pelos

451
pressupostos da História Cultural. Segundo Fonseca (2008), as mudanças do fazer histórico no final da
década de 1930, com a publicação da Revista dos Annales e, posteriormente, com a História Cultural
tornou possível a pesquisa das diversas formas de educação. No Brasil, a autora alega que,
principalmente a partir da década de 1990, os estudos educacionais tem se diversificado bastante tanto
nos objetos, fontes e formas de abordagem. Discussões importantes, mas não tão amplamente gestadas
anteriormente – como a relação entre impressos protestantes e educação – tornam-se passíveis de
investigação. Novas abordagens, temáticas, sujeitos – muitas vezes relegados anteriormente a um
“esquecimento coletivo” - reaparecem como possibilidades diversas de investigação. Utilizaremos como
autores principais neste estudo, os olhares de Almeida (1998 e 2007), Burke (1992), Chartier (1990),
Elias (1993 e 1994), Louro (1997), Matos (1998, 2004 e 2007), Morais (1998 e 2009) e Nascimento (2002
e 2007). Foi observada a atividade literária presbiteriana no Brasil, desde a fundação do primeiro jornal
em 1864, chamado Imprensa Evangélica, no Rio de Janeiro, até a primeira década do século XX na qual
podemos verificar o crescimento/estabelecimento da imprensa protestante e, consequentemente, a
ampliação dos espaços dedicados a difusão de comportamentos desejados ou não, na imprensa
protestante. Isto nos leva a entender essa mídia como um espaço educativo, formador de indivíduos. Os
periódicos que receberam, porém, um olhar mais detalhado (sendo as principais fontes deste estudo)
foram: O Século (Natal/RN, 1895-1909) e Norte Evangélico (Recife/Garanhuns/PE, 1909-1958) entre os
anos de 1908-1910, momento de transformações nos cenários político e social do Brasil. Os referidos
periódicos foram consultados no Seminário Presbiteriano do Norte (SPN/Recife) e no Arquivo Histórico
Presbiteriano (São Paulo). É importante destacar que esta pesquisa mostra-se a partir de um
determinado olhar, de um foco e de um espaço de tempo específico. Este trabalho é parte integrante de
outro, mais amplo, uma tese, vinculada à Linha de Pesquisa Cultura e História da Educação (Programa
de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte) e à Base de Pesquisa
Gênero e Práticas Culturais: abordagens históricas, educativas e literárias. Trata-se, portanto, de uma
pesquisa em andamento.

563
IMPRESSOS, CIÊNCIA E EDUCAÇÃO: A CONTRIBUIÇÃO DOS PERIÓDICOS DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA
PARA A FORMAÇÃO DE UMA CULTURA CIENTÍFICA NA SOCIEDADE (1948-1960)

CATARINA CAPELLA SILVA; BERNARDO JEFERSON OLIVEIRA.


UFMG, PEDRO LEOPOLDO - MG - BRASIL.

A partir dos anos 1940, o Brasil teve um aumento nas iniciativas de divulgação científica como artigos
em jornais e revistas voltadas exclusivamente a divulgar inovações tecnológicas, descobertas da ciência
e conhecimentos científicos. Tais revistas, de cunho popular, não serviam apenas para informar, mas
promoviam valores, idéias e saberes que contribuíram para a formação de uma cultura científica na
sociedade. Este trabalho apresenta uma análise comparativa de três destas revistas, Ciência Popular,
Ciência Ilustrada e Ciência em Quadrinhos, publicadas no período compreendido entre 1948 e 1960 a
fim compreender como se deu parte do processo de formação de uma cultura científica na sociedade
brasileira. Verificamos que a preocupação com a educação científica está presente nos periódicos
analisados por meio de variadas propostas de difusão do conhecimento. Mais do que tornar a ciência e
a tecnologia ao alcance da sociedade a intenção se dava também em desenvolver o aprendizado de se
“pensar cientificamente”. O desenvolvimento de tal atributo desencadearia uma nova maneira de
interpretar o mundo além de despertar vocações profissionais para a crescente industrialização do país.
É importante destacar que a intenção pedagógica das revistas é reforçada pelos próprios artigos, temas,
público-alvo e circulação, bem como pelas discussões acerca dos problemas da educação no país. Deste
modo, estas publicações representam uma importante instância de mediação entre educação e a
difusão dos conhecimentos científicos. Neste trabalho analisamos as diferentes argumentações e
propostas presentes nas revistas para difusão da ciência, bem como sem deixar de examinar os aspectos
relacionados à materialidade das revistas, ou seja, os elementos relacionados à sua produção material e
textual (formato, tiragem, colaboradores, temáticas, etc.). Ricamente ilustradas, todas as publicações
traziam também diferentes imagens como fotos, ilustrações, gráficos etc., que demonstravam o
propósito didático e informativo. Assim, levantaremos informações a respeito das imagens veiculadas
nas edições acreditando que possam revelar mais a respeito da caracterização da publicação.

452
Compreender a materialidade das publicações contribui para perceber as estratégias de conformação
de seu público leitor, circulação e divulgação do conhecimento científico. Trata-se de evidenciar os
elementos e características que permitam uma análise sobre o significado de projetos editoriais
voltados para a divulgação da ciência. A presente comunicação apresenta alguns resultados parciais da
pesquisa de doutorado em andamento.

1273
INEZIL PENNA MARINHO E A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO BRASIL: PRÁTICAS
HISTORIOGRÁFICAS E FONTES DE PESQUISA (1940 E 1958)

ANTONIO SERGIO FRANCISCO OLIVEIRA.


UFES, VITORIA - ES - BRASIL.

O estudo da obra de Inezil Penna Marinho se dá em razão da quantidade e da qualidade de sua


produção na área da Educação Física. Essa afirmação se alicerça em Melo (1998) quando afirma que a
produção de Marinho em relação à História da Educação Física, pela orientação, pela peculiaridade, pela
intensidade marcam uma importante fase sobre essa temática no Brasil, embora, obviamente suas
opções metodológicas e operações teóricas sejam passíveis de diferentes críticas. Busca-se na
investigação caracterizar a produção de Marinho sobre História da Educação Física, perguntado pela
concepção de história que adotou na produção de suas obras. Desse modo, pergunta-se: quais as
operações intelectuais e metodológicas realizadas/praticadas e identificadas em sua obra sobre a
história da educação física? A pesquisa se desenvolve no âmbito da História Cultural tendo como
referência as teorizações de Chartier (1988) sobre o modo como em diferentes lugares e momentos
uma determinada realidade social é construída, pensada e dada a ler. Também utiliza o entendimento
de apropriação, desenvolvidas de acordo com a perspectiva apresentada por Certeau (1994), para
entender as práticas de uso e transformação de matérias sociais. Para dar a ver as representações que
Marinho, realizou em sua operação historiográfica (CERTEAU, 1999) utilizamos como fontes primárias os
estudos de Marinho, sistematizados em forma de livros e artigos, publicados entre os anos de 1940 e
1958. Para compreender como ele foi utilizado para contar a História da Educação Física no Brasil
utilizamos como fontes secundárias algumas obras que utilizaram suas ideias e também a produção de
autores que estudaram a sua produção intelectual, a sua vida e a sua obra. O balanço historiográfico
aponta que as principais referências da História da Educação Física no Brasil foram, indiscutivelmente,
os trabalhos pioneiros de pesquisa histórica desse intelectual entre os anos de 1952 e 1954. Essa intensa
produção e a reunião de materiais da Educação Física brasileira têm servido de base e interesse para
diferentes pesquisadores que colocam em evidência a importância de Marinho para a História da
Educação Física brasileira. Ao analisar a produção de Marinho e de autores que estudaram as suas obras
concluímos que a metodologia utilizada para a realização de sua obra está alicerçada na Escola
Metódica de Historiografia (KARNAL; TATSCH, 2009), pois o tratamento que ele submete às fontes, que
considera relevantes para a constituição da História da Educação Física, busca dar visibilidade às
linearidades históricas, aos grandes acontecimentos e personagens. Não está presente em sua obra a
discussão do estatuto epistêmico das fontes e nem o contexto em que foram produzidas.

1087
INTELECTUAIS DA EDUCAÇÃO E A PEDAGOGIA MODERNA EM SERGIPE. 1901-1931

CRISTINA ALMEIDA BARROSO.


UFS, ARACAJU - SE - BRASIL.

O encadeamento das ações dos intelectuais da educação ao empreender reformas que propunham
renovar práticas escolares, métodos e processos pedagógicos definiram a conformação do campo
educacional sergipano durante a primeira metade do século XX. Assim, o objetivo desse artigo é
identificar os intelectuais da educação, suas ações e estratégias relativas a disseminação dos preceitos
da pedagogia moderna, bem como compreender o alcance dessas ações na formatação da cultura

453
escolar percebendo as continuidades, as resistências e as mudanças provocadas por esses agentes da
educação. Isto porque importa não só analisar o que a lei planejava, ou seja, as intenções legais para
implantar mudanças no campo educacional sergipano, mas tentar entender o movimento dessas
transformações no interior das escolas através dos relatos de inspetores e delegados de ensino, dos
termos de visitas, dos relatórios dos professores e das falas, relatórios e publicações dos diretores de
instrução pública. A idéia também não é traçar a história de vida desses personagens que atuaram no
campo educacional sergipano desvelando existências narradas em possíveis seguimentos ordenados
pela lógica ou pela cronologia. A intenção se baseia em entender as ações que moveram as reformas
educacionais, as idéias defendidas e a forma como estas foram difundidas. Mas para reconhecer a
conformação do campo educacional através da trajetória e das ações desses intelectuais da educação
faz-se necessário perceber as relações estabelecidas entre esses agentes e o campo, e entre os agentes
e os outros grupos pertencentes ao mesmo campo. Ou seja, compreender o que Bourdieu chamou de
superfície social. Os intelectuais da educação, muitas vezes chamados de reformadores ou agentes da
educação, são caracterizados como aqueles que pensaram em formas de modernizar o ensino primário,
normal e secundário. Aqueles que planejaram, idealizaram e que criaram formas de regulamentar a
educação segundo os ditames da Pedagogia Moderna. Foram também chamados de intelectuais da
educação aqueles que serviram como difusores ou que tentaram implantar na prática escolar esses
princípios pedagógicos presentes no ideário republicano. Seus papeis ou funções serviram apenas como
meio possível de identificá-los, mas foi a forma como defenderam o movimento reformador da
educação que os definiu. Assim, acredita-se que as produções fruto das atividades desenvolvidas por
esses intelectuais da educação refletem a tentativa de dotar o sistema educacional sergipano de uma
rede de saber estável com base no ideal modernizador republicano. Além disso, através das reformas
buscam institucionalizar a atividade intelectual e ao mesmo tempo garantem a legitimidade das práticas
escolares tidas como aptas para preparar o homem moderno, o homem republicano.

742
INTELECTUAIS E MERCADO EDITORIAL DE LIVROS DIDÁTICOS: LOURENÇO FILHO E A COMPANHIA
MELHORAMENTOS

RAQUEL DE ABREU; MARIA DAS DORES DAROS.


UFSC, SAO JOSE - SC - BRASIL.

São objetos da presente comunicação as contribuições do intelectual Manoel Bergström Lourenço Filho
para a difusão das novas idéias sobre a educação no Brasil e o papel desempenhado pelas Edições
Melhoramentos na expansão do mercado editorial de livros didáticos e irradiação dos novos ideais
sobre a educação escolar brasileira. Expansão de mercado que se deve às iniciativas de democratização
e ampliação da rede de instrução pública no Brasil naqueles anos, que gerou um número significativo de
novos leitores e novos consumidores de livros didáticos nacionalizados. Como empresa atuante no
mercado editorial desses livros naquele período, podemos identificar a presença das Edições
Melhoramentos, que nasce da confluência associativa entre a Companhia Industrial Melhoramentos de
São Paulo e a Editora Weiszflog Irmãos, em 1920. Um dos propósitos da empresa era a implementação
de uma política de crescimento nos investimentos editoriais de livros didáticos com a finalidade de
tornar-se um centro difusor das novas idéias e debates sobre a educação brasileira. Em 1925 a
Companhia incorpora aos seus quadros funcionais o intelectual-educador Lourenço Filho (1897-1970)
com o objetivo inicial de organizar a Bibliotheca Infantil editada pela Weiszflog Irmãos desde 1915. Dois
anos após sua integração à empresa, o intelectual propõe a publicação e organização de uma série
pedagógica dirigida à formação de professores para a escola brasileira, reunindo obras de língua
estrangeira traduzidas e obras de autores brasileiros, a Bibliotheca de Educação. A coleção é pioneira no
Brasil e integra o conjunto de iniciativas similares daquele mesmo período, compreendido de forma
mais expressiva entre os anos 30 e 40 do século XX, por outras editoras nacionais. Naqueles anos, as
relações de trabalho entre os intelectuais e as editoras convergiam para o debate das novas idéias sobre
a formação do novo cidadão, materializadas em livros organizados pela legitimidade das autoridades
educativas representadas por nomes como o de Lourenço Filho. Na tentativa de entender a importância
dessas coleções pedagógicas na formação dos professores, cabe analisar a posição assumida pelos

454
intelectuais que foram os principais responsáveis pela expansão bibliográfica brasileira no período
estudado. Entre os títulos mais difundidos nessas coleções, destacamos o papel das obras com teor
sociológico, como “Educação e Sociologia” de Émile Durkheim, traduzida por Lourenço Filho em 1928 e
reeditada pela Melhoramentos por cinqüenta anos, até 1978. Pesquisas realizadas buscam perceber a
presença dessas obras nos cursos para formação de professores em Santa Catarina e sua importância na
expansão da escolarização da população dessa unidade da federação brasileira.

811
INTELECTUAIS ORGÂNICOS NO BRASIL: IDÉIAS E AÇÕES NA EDUCAÇÃO E NA CULTURA NACIONAL NA
DÉCADA DE 30

SILVANA MAURA BATISTA DE CARVALHO.


UEPG, PONTA GROSSA - PR - BRASIL.

Os resultados do trabalho realizado e aqui apresentados têm por objetivo, mostrar a importância das
idéias e ações dos “reconhecidos intelectuais orgânicos brasileiros da década de 1930”, na defesa da
Educação, como dever e responsabilidade do Estado na formação do povo. Assim, nessa perspectiva,
procede-se uma pesquisa em parte da produção historiográfica publicada, na esteira das idéias de
GRAMSCI, para compreender que os intelectuais brasileiros da década de 1930 do século XX - os
chamados modernistas formavam uma categoria preexistente ao Governo Vargas que passou a somar
forças junto ao poder político, de modo orgânico, contribuindo com idéias e ações na criação e
estabilidade política em vários setores, mas especificamente, na Educação e na Cultura Brasileira. Assim,
situados entre a lógica do mundo das idéias e das práticas, as idéias defendidas por poetas, romancistas,
dramaturgos, historiadores são fruto de sua paixão política, assumem o realismo do povo e alimentam o
imaginário social. Esse grupo formado pelo pertencimento ao mundo da intelectualidade, intenso
sentimento de posse de uma missão política, cultural, educativa e civilizatória, acredita que a cultura o
torna superior e legitimado a falar às sociedades. Embora, as idéias elaboradas intelectualmente nem
sempre correspondem a uma realidade ou são aplicáveis de forma verossímil, pois não há conexão
direta entre idéia e prática. Para que as idéias cheguem à prática se faz necessário torná-las
concretizáveis, num processo de transposição para políticas e, dessas para modelos, assim, as idéias
sofrem constrangimentos próprios da lógica de cada uma dessas dimensões. Portanto, analisando-se tal
questão, na produção historiográfica sobre a educação brasileira, confere-se que, na relação entre os
intelectuais e o Estado, no jogo de forças político-econômicas e intelectuais, estiveram presentes
pensadores autoritários e educadores profissionais junto à elite burocrática do Brasil nos anos 30. Em
especial, aqueles ligados à área de Ciências Humanas, vindos dos campos de conhecimento da
Antropologia, História, Educação, Literatura e Sociologia. E, assim, do mundo das idéias ao mundo das
práticas, com enfoque à Educação Formal e sua organização estatal, percebe-se a relevância da
intelectualidade brasileira, assim como, a sua influência nos encaminhamentos das políticas
educacionais do país, a presença de idéias e ações de intelectuais como Francisco Campos e Gustavo
Capanema, apoiados por Alceu Amoroso Lima, Anísio Teixeira e Fernando Azevedo, entre outros . E, do
estudo dessas idéias e de suas aplicações, confere-se que influenciaram nos rumos dados à educação e
cultura do país, cujas contribuições se refletem até os dias de hoje e, são reconhecidas na história da
educação brasileira.

837
JOSÉ JÚLIO RODRIGUES - UM PROFESSOR ENTRE DOIS CONTINENTES

AIRES ANTUNES DINIZ.

455
ESCOLA SECUNDÁRIA AVELAR BROTERO, COIMBRA - PORTUGAL.

Usando diversos trabalhos publicados por José Júlio Bettencourt Rodrigues, os arquivos de escolas onde
trabalhou e diversos jornais locais e nacionais, daremos conta do estudo em andamento sobre o seu
percurso profissional multifacetado vivido em Portugal, na Bélgica e no Brasil, para analisar as trocas de
ideias pedagógicas e de tecnologia que protagonizou. Para isso, analisaremos O Brasil ….de relance e
Comentários do Prof. Dr. José Júlio Rodrigues às lições proferidas durante o ano lectivo de 1947. Em
Portugal, foi professor liceal em várias escolas. Em Bruxelas, viveu o ambiente revolucionário dos fins do
século XIX e inícios do Século XX. Aí, absorveu não só a ciência química e física belga, mas também as
artes da música e da pintura, contribuindo para a nossa ligação aos movimentos artísticos e pedagógicos
da Europa. Em Lamego, nos sumários das suas lições elabora um embrião dos trabalhos individuais
educativos, uma metodologia didáctica que vai apurar como bolseiro na Bélgica. Aí, elabora um relatório
dos elementos recolhidos numa aprendizagem profissional que ultrapassa a sala de aula, onde se dá
autonomia aos alunos, mostrando aí os diversos passos do ensino: A Prelecção; A exemplificação
constante do ambiente nacional; A experiência pelo professor. A Experiência pelo aluno. A Excursão.
Concluirá que a física e a química são uma ciência de laboratório, onde as aulas serão os necessários
esclarecimentos teóricos para a experimentação científica. Regressado a Portugal, será o inspirador da
Reforma do Ministro Sobral Cid em 1914, em particular dos Trabalhos Individuais Educativos propostos
por este. Sempre atento ao Brasil, escreve em Maio de 1912, A Química prática dos Liceus, feita para
iniciação química dos estudantes portugueses e brasileiros, o que prossegue com diversos livros,
adaptando o que aprendeu na Bélgica à realidade brasileira. Como conheceu Oliveira Lima na Bélgica
em 1907-1908, quando partiu para o Brasil em 1913, este introduziu-o no círculo da elite brasileira, de
que fez parte, sendo também elemento de ligação com a elite portuguesa. Voltou a Portugal em 1920,
mas em 1921 é professor do curso de Química Industrial da Escola de Engenharia de Pernambuco, onde
reside até 1928 e tem três filhos. Estará de novo no Brasil de 1933 a 1935, onde trabalhou um total 17
anos. Após a reforma em 1944 em Portugal, regressou, morrendo em 1948 em Niterói. Neste vai e vem,
é Reitor do Liceu de Faro de 1930 a 1933, onde na Universidade Popular do Algarve deu o exemplo do
Rio de Janeiro como “uma das cidades mais limpas e saudáveis do mundo”. Contudo, cilindrado por uma
vida complicada, parece ter deixado de ser o pedagogo empenhado. Mas, é sempre um conhecedor
seguro da cultura e economia brasileira.

1036
JOÃO GOMES JUNIOR E O ENSINO DE MÚSICA NAS ESCOLAS PÚBLICAS, ANTES DE VILLA-LOBOS

VERA LÚCIA GOMES JARDIM.


UNIP ALPHAVILLE - SP, BARUERI - SP - BRASIL.

As ações do maestro Villa-Lobos no campo da educação musical foram e são amplamente divulgadas
consolidando uma memória de que a introdução do ensino da Música, no âmbito da educação pública
brasileira, se deu a partir de suas iniciativas, nos anos de 1930. No entanto, a música foi instituída como
matéria escolar nos currículos, pelo decreto n.º 27 de 12 de março de 1890 que reformou a Instrução
Pública de São Paulo. A implantação da música, como disciplina, passou por um processo de conquistar
os espaços institucionais e manter-se em concordância com os preceitos escolares, encontrando formas
adequadas de ensino compatível com a filosofia e princípios da proposta educacional idealizada pelos
reformadores do período. Esta tarefa mobilizou os esforços de personalidades que participaram do
movimento do ensino musical em São Paulo, como Fabiano Lozano, João Batista Julião, Honorato
Faustino, destacando o maestro João Gomes Jr. A importância de João Gomes Jr. como intelectual da
música é revelada por sua atuação e presença nas discussões a respeito do ensino da música durante
cerca de quarenta anos. Foi o primeiro Inspetor Especial de Música, nomeado pelo governo; e também
Inspetor Técnico e Inspetor Geral de Música das escolas públicas do Estado de São Paulo. Desde 1893
atuava como professor de música nas escolas públicas de São Paulo e na elaboração de métodos
destinados ao seu uso, como o Curso theorico e prático de música elementar (1903), em co-autoria com
Miguel Carneiro Jr., em que aplicava a filosofia educacional republicana para o ensino da música. A re-
elaboração destas idéias aparece no método O ensino da música pelo Methodo Analytico (1912) em co-

456
autoria com Gomes Cardim, adequando à música os princípios do método intuitivo proposto como
unidade para as práticas escolares. Seus artigos, publicados em periódicos educacionais da época,
possibilitam a compreensão de múltiplas dimensões das prescrições e orientações para o ensino da
música, bem como a adaptação dos métodos e suas justificativas. Entre compêndios, álbuns de música
compostos especialmente para as atividades escolares, artigos, métodos – aqui considerados como
objeto e fontes – ressaltamos, por sua importância, algumas de suas obras, visto já estarem ali
demarcados, a técnica da manossolfa e conteúdos musicais de caráter cívico-nacionalistas na estrutura
do canto orfeônico, elementos que se atribuem, indevidamente como inéditos, ao projeto de educação
musical de Villa-Lobos. São elas: Orpheon Escolar (1922), Cantigas da minha Terra (1924), Solfejo Escolar
(1928), Aulas de Mano-solfa (1929). Com base nas proposições de Sirinelli (2003), o objetivo deste
trabalho é investigar a inserção dos intelectuais da música no debate educacional brasileiro, focalizando
a produção intelectual de João Gomes Jr. e suas ações à frente dos postos de poder, que colaboraram
para configurar o ensino da música, a formação profissional e as instituições escolares, na Primeira
República.

734
JUANITA MACHADO: UM BELO ESPÍRITO FEMININO NA DÉCADA DE 1930

VERÔNICA DE SOUZA FRAGOSO.


UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA, JOAO PESSOA - PB - BRASIL.

Esse artigo pretende revelar a escritora Juanita Machado-(JM) através de suas palavras expressas nas
escrituras de artigos do jornal “A União”. A distinta senhora participou ativamente do movimento
feminista que pretendia levar a mulher ao exercício de seus direitos, apenas assegurados; segundo a
concepção feminista defendida pela mesma, através do sufrágio possibilitado pela educação. Embora o
pensamento de Juanita Machado não fosse comum às mulheres da época, revelá-los possibilita traçar
contornos insinuantes e conflitantes existentes no interior tanto do movimento feminista e da
educação, como da própria mulher comum, desprendida de posicionamentos políticos ou ideológicos.
Esse artigo faz parte do levantamento de fontes utilizadas na pesquisa de mestrado nomeada
Associação Paraibana pelo Progresso Feminino: as contribuições educacionais para a mulher paraibana
(1930 e 1940), vinculada ao Programa de Pós-graduação em Educação (PPGE)/UFPB, à linha História da
Educação e ao projeto Educação e educadoras na Paraíba do século XX: práticas, leituras e
representações. O aporte teórico-metodológico da Nova História Cultural, com a ampliação de fontes,
objetos de estudo e novas abordagens no campo historiográfico, permite publicizar discussões
relevantes no universo feminino. Essas novas abordagens valorizam tanto novas temáticas, quanto
sujeitos que na história tradicional são geralmente “perdidos” (como as mulheres), permitindo aos
pesquisadores redimensionarem suas percepções sobre a história local. Sendo um importante
divulgador de informações relacionadas ao cotidiano da sociedade paraibana durante várias décadas,
desde sua criação no ano de 1893, o referido jornal possui uma larga trajetória de publicações e em
nossa contemporaneidade se configura enquanto o terceiro jornal mais antigo ainda em circulação no
Brasil. Esses artigos que compunham o referido jornal eram veiculados na Paraíba e esteve disposto no
interior da Página Feminina, espaço aberto pela Associação Paraibana Pelo Progresso Feminino – APPF,
liderado pela ilustre feminista Bertha Lutz, cuja importância na consagração da mulher por seu direito
ao voto concedido em 1934 foi imprescindível. As fontes trabalhadas foram retiradas do acervo da
FUNESC- Fundação Espaço Cultural e conforme já mencionado se encontram no corpus do jornal “A
União”. São elas: Bertha Lutz- Juanita Machado (1933), Pela elevação mental da mulher paraibana-
Juanita Machado (1933)-, Na poeira da estrada, homenagem a Juanita Machado- Olivina Carneiro da
Cunha (1933), Mulher, política e poesia- JM (1933), A definição do beijo- Juanita Machado (1933), A
homenagem de ontem da APPPF a escritora Juanita Machado (1934), A minha parabola da amizade-
Juanita Machado (1934). Uma pequena nota em homenagem a Juanita Machado (1934), O movimento
feminista brasileiro- Juanita Machado (1934).

457
559
LEITURAS ÚTEIS: O JORNAL MONITOR SUL-MINEIRO E A DIFUSÃO DE SABERES CIENTÍFICOS NA
IMPRENSA MINEIRA (1872-1896)

DEBORAH COTTA OLIVEIRA; CATARINA CAPELLA SILVA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS, BELO HORIZONTE - MG - BRASIL.

Nos últimos anos, o papel formador da imprensa têm se tornado objeto de investigação cada vez mais
frequente dos historiadores da educação, sobretudo as publicações veiculadas entre o final do século
XIX e início do século XX, período que antecede o surgimento de outros meios midiáticos como o rádio,
televisão e internet. Os jornais e revistas desta época tiveram uma enorme profusão e desempenharam
um papel central na difusão cultural e, sobretudo, na circulação do conhecimento. Nota-se que uma
maior atenção tem sido dada aos principais veículos editados nas capitais e, que supostamente, tinham
uma circulação mais ampla. No entanto, jornais editados nas pequenas cidades do interior contribuíram
para o processo ao reproduzirem e adaptarem notícias e artigos selecionados de diversas fontes, assim
como veiculando textos produzidos por autores da própria localidade. Como parte da promoção de
conhecimentos ressalta-se nestes periódicos a publicação de artigos cuja temática versa sobre saberes
científicos ou “conhecimentos úteis” como eram então chamados. Propõe-se neste trabalho
compreender alguns aspectos da dinâmica de circulação de conhecimentos científicos a partir de um
periódico do interior da província de Minas Gerais. Para tanto, analisaremos o jornal Monitor Sul-
Mineiro, editado na cidade de Campanha durante os anos 1872 a 1896, enquanto esteve sob a direção
de Bernardo Saturnino da Veiga. Cabe ressaltar que o Monitor além de publicar assuntos de política,
literatura e economia também relatava uma preocupação com a situação da educação brasileira por
meio de seus editoriais. Observamos também que o Monitor Sul-Mineiro, ao veicular conhecimentos
considerados “úteis” aos seus leitores, refletia uma preocupação com a educação e instrução da
sociedade brasileira, o que nos leva a problematizar a noção de utilidade do conhecimento e o conceito
de “instrução popular”, que se encontra estampado em uma de suas seções. Bernardo Saturino da
Veiga, editor do jornal, que mais tarde se tornou membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro,
foi também responsável pela publicação, em 1879, de uma das primeiras enciclopédias brasileiras, cuja
proposta incluía a valorização dos conhecimentos científicos e a divulgação dos mesmos, tomados como
necessários à vida em sociedade. Nosso interesse é então, compreender como essas informações
impressas eram organizadas, para quais leitores e com quais objetivos. Nesse sentido, buscaremos
levantar as principais temáticas de ciência veiculadas, os autores das notícias e artigos, além de
identificar as principais fontes de informação utilizadas pelo jornal. Apresentamos nesta comunicação os
resultados parciais da pesquisa que se encontra em andamento.

767
LETRAMENTO DOS PORTUGUESES SETECENTISTAS EM SERGIPE DEL REY: PRIMEIRAS APROXIMAÇÕES

EUGÊNIA ANDRADE SILVA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE, ARACAJU - SE - BRASIL.

O objetivo deste artigo é buscar os indícios de letramento dos portugueses setecentistas moradores em
Sergipe Del Rey, mediante a análise de testamentos existentes, custodiados pelo Arquivo Geral do
Judiciário de Sergipe. São oitenta e sete que servem de fonte para esta pesquisa e para a que
desenvolvo no Doutorado em Educação pela Universidade Federal de Sergipe que tem como tema “O
letramento dos moradores setecentistas de Sergipe Del Rey.” Numa primeira análise desses oitenta e
sete testamentos, a grande surpresa foi encontrar apenas treze testadores de nacionalidade
portuguesa, oriundos das regiões do Porto, de Bragança, de Viseu, de Braga, Lisboa e Açores, dos quais
apenas um residia em São Cristóvão, capital da província, centro econômico e cultural do século XVIII de
Sergipe, sendo os demais na Vila Real de Santa Luzia, Vila das Santas Almas de Itabaiana e Vila Nossa
Senhora da Piedade de Lagarto. Os testamentos são fontes complexas, com uma imensa riqueza de
informações que possibilitam conhecer um dado grupo social no tempo e no espaço, em suas várias
vertentes, completando lacunas que outros documentos não conseguem preencher, tais como

458
nacionalidade e naturalidade, filiação, estado civil, conguês, relação dos filhos e filhas, dotes, vontades
de caráter religioso, residência, profissão/ocupação, distribuição de bens, estado de saúde, ritual
fúnebre, relações familiares, de compadrio e comerciais. Indícios sobre educação como o nível do
letramento de seus testadores mediante declaração dos mesmos, quais os intermediários da cultura
oral para a escrita (escreventes profissionais, parentes, testamenteiros, tabeliães), informações sobre a
escrituração contábil, ofícios profissionalizantes, educação de escravos. No caso estudado, podem
recuperar as suas trajetórias e inserções na sociedade sergipana, brasileira. Para coletar os dados dessa
documentação elaborei uma ficha de dados, com os seguintes itens: origem, filiação, estado civil,
número de filhos legítimos e naturais, ocupação econômica, residência, nível de letramento, a quem
legava o direito de representá-lo por ser analfabeto ou só assinante, valor da fortuna e para quem
deixava, dotes, transações comerciais, pertencimento a irmandades, compadrio. No caso dos
testamentos cerrados verificarei a familiaridade com a escrita a partir da assinatura. É a partir desses
elementos que num primeiro momento componho o perfil desses portugueses e num segundo
momento analiso o nível de letramento desse grupo social.

655
LITERATURA CAPIXABA E SEU ENSINO EM NOÇÕES DE LITERATURA: COMPÊNDIO DIDACTICO (1918),
DE ELPÍDIO PIMENTEL: PRÁTICAS E REPRESENTAÇÕES DE UM TEMPO

MARIA AMÉLIA DALVI; REGINA GODINHO.


UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO, VITÓRIA - ES - BRASIL.

Este artigo traz à tona o manual Noções de Literatura: Compêndio Didactico, de Elpídio Pimentel, cuja
publicação é datada de 1918. Tem como principal objetivo entender como o ensino da literatura
capixaba foi pensado pelo referido autor e contribuir para a compreensão de como este foi
implementado no Espírito Santo, no período – já que o manual em questão é uma obra produzida no
estado, para adoção pelas escolas secundárias aqui sediadas. Na primeira parte, contextualizamos a
instituição de nosso sistema literário a partir da chegada da família real portuguesa em 1808 e da
Independência do Brasil em 1822, sinalizando alguns de seus desdobramentos no ensino secundário
capixaba. Na segunda parte, apresentamos algumas informações a respeito da pesquisa em educação
que toma os livros didáticos como fonte privilegiada. Na terceira parte, descrevemos e analisamos o
manual de Elpídio Pimentel. Foi utilizada como metodologia a análise documental, evidenciando-se,
assim, que o manual de Elpídio Pimentel nos chegou às mãos não em suporte papel, mas como
integrante do banco de dados organizado pela professora Cleonara Maria Schwartz, coordenadora do
Núcleo de Estudos e Pesquisas em Alfabetização, Leitura e Escrita do Espírito Santo (Nepales/UFES). Este
livro foi localizado no acervo reservado da biblioteca da Academia Espírito-Santense de Letras
(gentilmente cedido para pesquisa pelo professor Francisco Aurélio Ribeiro/UFES), fotografado e
catalogado no banco de dados do Nepales, em seguida. Tomamos como recorte os capítulos que tratam
especificamente da literatura produzida em solo espírito-santense e concluímos, principalmente com
base no referencial teórico de Chartier (1990), Batista (1999, 2005) e Bittencourt (1993, 2004) que, a
despeito da tentativa de Elpídio Pimentel de correlacionar autores e obras, visando a inserir no sistema
nacional um estado que esteve à margem do principal circuito cultural (e, especificamente, literário) nos
séculos XIX e XX, e, ainda, a despeito de seu discurso de que era imprescindível à formação da
“mocidade estudiosa” o conhecimento dos “feitos de seus heroes conterrâneos e os acontecimentos
tradicionais do seu torrão natal”, do ponto de vista das práticas e representações, o ensino de literatura
capixaba de então se pautava por uma perspectiva que concebia a sucessão de escolas e autores
literários de modo linear, com base em uma filosofia que entende a escolarização formal como evolutiva
e progressista, pelo acúmulo de conhecimentos considerados essenciais para a formação do cidadão
republicano.

1179
LITERATURA E VIDA SOCIAL CURRAISNOVENSE: AS CRÔNICAS DO INTELECTUAL TRISTÃO BARROS
(1920-1930)

459
EVA CRISTINI ARRUDA CÂMARA BARROS; MÁRIO LOURENÇO DE MEDEIROS; JOEDSON WESLLY DE
MEDEIROS BATISTA.
UFRN, NATAL - RN - BRASIL.

Do encontro leitor e escritor por intermédio da obra literária e a perene novidade ofertada pelos
caminhos da leitura produzem o (re)conhecimento do outro existente em outra esfera temporal, cuja
verve intelectual, conduz pela escrita representações de seu meio circundante. O descobrimento pela
leitura de outras realidades subjaz na essência do ato de escrever seu principal objetivo, ou seja, essa
descoberta. Nessa perspectiva, este trabalho pretende apresentar uma leitura de crônicas do escritor
paraibano Tristão Barros (1896-1936), publicadas na revista literária Ninho das Letras (1925-1927) e nos
jornais O Porvir (1926-1927) e o Galvanópolis (1931-1932), no período em que residiu na cidade de
Currais Novos, no Seridó Norte-Rio-Grandense. Privilegia-se, assim, a apresentação e a apreciação dos
pontos de vista acerca da educação segundo a visão deste intelectual, já que, compreendemos que
ninguém melhor do que um pensador para nos apresentar as concepções de uma sociedade em nítido
processo de mudança num espaço-tempo de sua história. A partir de esse olhar que lança sobre a
educação e o modo como a concebe, bem como a postura de estima que denota para com essa cidade,
tencionamos desenvolver a leitura da obra de como representações da sociedade curraisnovense na
segunda metade dos anos 20 e início dos anos 30 do século XX. Norteando este trabalho tomamos como
fonte teórica estudos sobre literatura e sociedade em CANDIDO, 2006, sobre memória, em
HALBWACHS, 2006, e modernismo, em HELENA, 2003, além de aspectos sobre a modernização da
sociedade potiguar, em DANTAS e ARAÚJO, 2001. Como objeto de estudo, trabalharemos as
representações produzidas por Tristão Barros, mas compreendidas como usos e costumes e
pensamentos de uma época marcada pela confluência tanto de elementos da modernidade como da
permanência do arcaico e do tradicional. Para dar maior legitimidade a importância de uma nova
racionalidade social - como ordenamento urbano, escola graduada, iluminação pública, imprensa,
higiene pública, maquinários - advinda com os ideais de modernidade e sua influência no homem
moderno, tanto nas grandes metrópoles como nas pequenas cidades do interior de nosso país. Por sua
vez, a oferta de uma compreensão do homem de um tempo em um determinado recorte da história,
quando próximos a realidade comum dos indivíduos que tomam conhecimento desse corte temporal,
facilita o entendimento da vida atual. Nesse sentido, o esforço é para fugir de figurinos de uma
literatura e de uma história onde só cabem enquadramentos, normalmente produzidas nos grandes
centros acadêmicos. Buscamos, sim, fontes de compreensão próximas, produzidas por pessoas que
souberam fazer uma leitura local sem, no entanto, perder de vista o movimento mais geral.

1308
LIÇÕES PARA O CASAMENTO: EDUCANDO A FAMÍLIA PARA FORMAR A BOA SOCIEDADE

EVELYN DE ALMEIDA ORLANDO.


UERJ, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL.

Este trabalho tem como objetivo analisar o livro “Noivos e Esposos”, publicado pelo Monsenhor Álvaro
Negromonte em 1948, como uma estratégia desenvolvida pela Igreja Católica de utilizar o impresso a
serviço da educação. A prática de prescrever lições fundamentadas em um aparato teórico configurou a
Pedagogia católica do Monsenhor Negromonte entre as décadas de 30 e 60 do século XX e ancorou seu
discurso em todos os seus livros em lições de “saber” e “saber-fazer”. Neste manual, as lições de
“saber”, prescrevem um conjunto de teoria acerca do matrimônio com o intuito de restituir-lhe a
representação divinal atribuída pela Igreja e que serviu, em grande parte, para o estabelecimento de
uma sociedade calcada nos princípios da ordem. A família tornou-se a célula mater da sociedade e a
indissolubilidade dos laços conjugais, o exemplo da força dessa instituição. O investimento de
Negromonte em assegurar a solidez da família é marcado por argumentos espirituais e sociais. O autor
deixa clara a importância dessa instituição para a formação da boa sociedade em sólidas bases cristãs.
Além disso, a Igreja reforçava a legitimidade da família como célula educativa por excelência. No
entanto, o reconhecimento dessa primazia na educação dos filhos não significava que ela estava apta
para esse exercício. Educar as famílias passou a ser condição sine qua non para que a educação

460
praticada no lar fosse condizente com a pedagogia católica. Nessa direção, antes de se encaminhar
medidas educativas, propriamente ditas, em relação aos filhos, seria necessário formar o casal nas duas
funções que lhes são concernentes no interior da família: a de cônjuges e de pais. As lições de “saber-
fazer”, têm em vista reforçar o aprendizado teórico acerca das diferentes doutrinas em torno do
casamento. Negromonte adota um recurso pedagógico similar ao das fábulas. Ele apresenta uma
situação-problema e as possíveis soluções indicadas. Logo em seguida, ele traz exemplos práticos do
cotidiano que sinalizam para o fim trágico que está reservado para decisões precipitadas, equivocadas e
fora da doutrina diferentemente das situações em que as decisões tomadas estavam assentadas. Essa
estratégia pedagógica tem em vista incutir valores morais que prevêem e prescrevem ao mesmo tempo
uma série de comportamentos modelares condizentes com a doutrina católica. Nesse sentido, as
análises feitas por Donzelot, Lasch, Del Priore e Magaldi acerca da tarefa educativa reservada às famílias
auxiliam a leitura dessa obra e servem de subsídios para a construção de um outro repertório acerca dos
diferentes projetos educativos endereçados à família. No âmbito dos impressos, Chartier, Certeau, Elias,
Carvalho e Toledo ajudam a pensar nos usos prescritos e no corpus de saberes que constituem a
pedagogia católica.

695
LUGARES DA PRODUÇÃO EM HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO MATO GROSSENSE: A IMPRENSA PERIÓDICA
EM FOCO

ADRIANA APARECIDA PINTO.


UFMS/UNESP, COXIM - MS - BRASIL.

A presente comunicação apresenta a pesquisa em andamento, cuja preocupação incide sobre a


organização da instrução pública em Mato Grosso em um período produtivo no tocante a um conjunto
de esforços rumo à organização e implementação do aparelho educacional no Brasil (1890-1930). Indica,
ainda, a pertinência de alguns modelos educacionais, cuja eficácia e sucesso originaram, pretensamente,
a "importação" de práticas e profissionais como forma de garantir o êxito das iniciativas, a exemplo dos
seus estados de origem. O Estado de São Paulo, em certa medida, acaba por representar o signo do
progresso no tocante a algumas das inovações no campo educacional, a saber: processos de formação
de professores, produção e uso de materiais didáticos e periódicos elaborados para o ensino,
inauguração de espaços para a execução das atividades de ensino (grupos escolares). Essas iniciativas
inspiraram um conjunto de dispositivos adotados em Mato Grosso, no período entre 1890 a 1920,
visando instrumentalizar e desenvolver seu aparelho educacional, ao menos no plano discursivo, nos
moldes paulistas, conforme asseveram estudos produzidos. Dessa constatação, apoiados no universo
metodológico ligado à História Cultural, nas contribuições de Roger Chartier, Michel de Certeau,
originou-se o questionamento a respeito dos dispositivos por meio dos quais a referência paulista se
materializou naquele Estado. Elegeu-se a imprensa periódica como fonte para essa investigação, tendo
em vista as possibilidades que oferece para perceber, identificar e capturar o movimento de produção
da historiografia da educação mato grossense a partir de suas lentes. Devido a ausência de revistas
especializadas em ensino, fonte produtiva de circulação de idéias em São Paulo, Mato Grosso conta, nas
páginas de seus jornais, com intensos debates em prol da instrução, como demonstramos no decorrer
da pesquisa. Este estudo justifica-se em virtude da ausência de trabalhos que busquem compreender os
mecanismos e dispositivos utilizados para a configuração da instrução pública, na tentativa de entender
como a imprensa especializada e de circulação geral promoveu (ou não) a difusão do ideário, no caso
em estudo o paulista, consequentemente, como se efetiva a circulação de modelos pedagógicos, os
quais, supostamente, representariam práticas bem sucedidas e modelos a serem imitados. Objetiva-se,
ainda, identificar e analisar os elementos constitutivos das formulações paulistas acerca da instrução
pública na organização e configuração do ensino em Mato Grosso e como isso foi representado por
intermédio da imprensa. Destaca-se que a intenção de convidar professores paulistas para auxiliar nos
processos de organização da instrução em Mato Grosso, antecede aos marcos políticos reiterados pela
produção acadêmica, que datam da solicitação do Presidente de Estado, Pedro Celestino, em 1910, ao
governo de São Paulo. O jornal O Corumbaense já anuncia essa intenção em suas páginas nos entre os
anos de 1881 a 1889.

461
1365
MAGDA SOARES NA HISTÓRIA DA ALFABETIZAÇÃO NO BRASIL

MARIA DO ROSÁRIO LONGO MORTATTI; FERNANDO RODRIGUES DE OLIVEIRA.


UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA, MARILIA - SP - BRASIL.

Apresentam-se, neste texto, resultados de pesquisa vinculada ao Grupo de Pesquisa “História do ensino
de língua e literatura no Brasil” e aos Projetos Integrados de Pesquisa “História do ensino de língua e
literatura no Brasil” e “Bibliografia brasileira sobre história do ensino de língua e literatura no Brasil”
(CNPq). Com o objetivo geral de contribuir para a produção de uma história da alfabetização no Brasil e
para a compreensão do processo de constituição desse campo de conhecimento, focaliza-se a produção
didática e científica de Magda Becker Soares, Professora Emérita da Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG). Mediante abordagem histórica, centrada em pesquisa documental e bibliográfica,
elaborou-se um instrumento de pesquisa, no qual se encontram reunidas referências de textos de
Magda Soares, publicados entre 1958 e 2008, e referências de textos de outros autores com menções a
sua atuação profissional e produção escrita e/ou citações de textos seus. A análise desse conjunto de
referências e dos textos correspondentes propiciou compreender a importância da produção didática e
científica dessa professora e pesquisadora. Natural de Belo Horizonte/MG, Bacharel e Licenciada em
Letras neo-latinas e Doutora em Educação, pela UFMG, dentre os muitos e diferentes cargos e funções
que exerceu ao longo de sua atuação profissional, Magda Soares fundou, em 1990, o CEALE – Centro de
Alfabetização Leitura e Escrita, com sede nessa universidade mineira, e foi uma das fundadoras e
coordenadoras do GT “Alfabetização, Leitura e Escrita”, da Associação Nacional de Pós-Graduação e
Pesquisa em Educação - ANPED. Ao longo das últimas cinco décadas, teve publicados livros didáticos
para o ensino de língua portuguesa e para alfabetização bem como livros, capítulos de livros e artigos
em periódicos, nos quais tematiza e problematiza os principais aspectos da alfabetização e do ensino de
língua portuguesa. Dentre essas publicações, encontra-se Alfabetização no Brasil: estado do
conhecimento (1989); dentre os importantes resultados do balanço da produção acadêmico-científica
brasileira apresentado nesse relatório, tem-se a constatação da existência, até aquele momento, de
apenas uma pesquisa com abordagem histórica e a indicação da necessidade de desenvolvimento desse
tipo de pesquisa. O caráter pioneiro da atuação e da produção didática e científica de Magda Soares,
conforme se pode constatar especialmente em sua produção didática e científica influenciou
decisivamente a formação de diferentes gerações de professores e pesquisadores brasileiros e
contribuiu também decisivamente para a história da educação no Brasil e para a constituição da história
da alfabetização como campo de conhecimento.

1242
MALBA TAHAN: A CONSTITUIÇÃO E MANUTENÇÃO DE UM AUTOR/PERSONAGEM E SUAS
CONTRIBUIÇÕES À EDUCAÇÃO MATEMÁTICA

MOYSES GONÇALVES SIQUEIRA FILHO.


UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO - UFES, VILA VELHA - ES - BRASIL.

Delineia-se, em um primeiro momento a constituição do personagem Malba Tahan e os


entrecruzamentos com Mello e Souza, o qual pretendera surpreender o Brasil com uma mistificação
literária. Findada a preparação a que se propusera acerca dos costumes árabes e a par do contexto
editorial de seu tempo, foi em busca de um espaço para a inserção do personagem Malba Tahan.. A
partir das primeiras colaborações, os contos de Malba Tahan seriam publicados durante muitos anos em
vários outros jornais e revistas e dariam origem, em 1925, ao primeiro livro - Contos de Malba Tahan.
Tempos depois, embora com um número expressivo de obras publicadas e com grande prestígio
nacional, Mello e Souza não havia conseguido entrar no mercado internacional. Suas únicas experiências
com tradução estavam restritas à língua espanhola. Maktub e O Homem que Calculava foram os livros
escolhidos para serem publicados nos Estados Unidos, em cujas traduções figuraram, respectivamente,

462
os títulos: Maktub – The Book of Destiny e The Man Who Calculated. Suas últimas publicações, aqui no
Brasil, em 1ª edição, como também sua morte, ocorreram em 1974. Apenas, a partir dos anos 80 é que
haveria uma retomada das obras de Malba Tahan, coincidindo com um período de acontecimentos
bastante importantes na área da Educação Matemática: a realização dedois ENEM - Encontro Nacional
de Educação Matemática; a criação da SBEM - Sociedade Brasileira de Educação Matemática; a
implantação de núcleos de estudos na USP, UNICAMP, UNESP de Rio Claro/SP, Universidade Santa
Úrsula – USU/RJ; o surgimento de algumas"tendencias" - Etnomatemática, Resolução de Problemas,
Modelagem Matemática, Jogos Matemáticos, História da e na Educação Matemática. As produções do
autor/personagem Malba Tahan, apresentam contextos históricos, o lado lúdico e recreativo da
Matemática, seja por meio dos enredos criados ou adaptados, seja por meio dos problemas sugeridos,
que inseridos em uma perspectiva de investigação, evitam a manipulação imediata de dados e fórmulas
e favorecem tanto o desenvolvimento dos processos de pensamento, quanto à formação de
capacidades e de competências. Apoiados em panorama criterioso, foi-me revelado nos
entrecruzamentos das trajetórias de Mello e Souza e Malba Tahan; a importância do editor; o papel da
imprensa escrita; a presença de elementos históricos que explicam determinadas ações em
determinados períodos. Investiga-se, num segundo momento, a partir de um estudo histórico-
documental, em andamento, quais contexturas subsidiaram e subsidiam, atualmente, a Record para a
manutenção do autor-personagem Malba Tahan? Tem-se por objetivos identificar documentos que
remontem as reedições dos títulos disponíveis no mercado; analisar as estratégias editorias utilizadas
pela Editora Record para a comercialização e manutenção das reedições das obras de Malba Tahan. O
eixo temático a que se propõe esta comunicação é Impressos, Intelectuais e História da Educação.

1321
MAÇONARIA E EDUCAÇÃO POPULAR: ESPAÇOS DE CIRCULAÇÃO DO IDEÁRIO EDUCACIONAL
MAÇÔNICO (1870/1889)

MILENA APARECIDA ALMEIDA CANDIÁ.


UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE, NITERÓI - RJ - BRASIL.

Este estudo tem como temática de investigação a atuação da Maçonaria e de seus maçons no cenário
cultural e educacional brasileiro, no período de transição entre Império e República. Nosso objetivo tem
sido compreender de que forma as Conferências Populares da Glória – preleções públicas realizadas em
escolas da freguesia da Glória (RJ) - tornaram-se um espaço privilegiado para a circulação e
concretização de um projeto educacional maçônico. Experiência que teria, garantido, em certa medida,
ações concretas em prol da expansão da escolarização popular na Corte entre os anos de 1874 a 1889,
dentre as quais citamos a fundação da Associação Promotora da Instrução (1874), que protagonizou,
entre outras iniciativas, a criação da Escola Senador Corrêa (1883) do Museu Escolar Nacional (1883).
Além disso, a pesquisa tem buscado compreender o papel da organização maçônica no movimento
associativista do final do século XIX, na cidade do Rio de Janeiro, divisando em que medida o princípio
de associação serviu como norte para a consolidação das propostas de expansão da escolarização
popular neste período. Nesse sentido, tem-se procurado entender o espaço das Conferências Populares
como uma das instituições-chave pelas quais se manifestaram e se evidenciaram os princípios
norteadores de um projeto de sociedade do qual a educação popular teria ganhado centralidade. Um
espaço fundamental para a transmissão e recepção de uma cultura política gestada dentro das lojas
maçônicas. Como suporte empírico a pesquisa tem se apoiado em fontes documentais diversas. A
imprensa maçônica, sobretudo, tem se configurado como matéria-prima essencial para a investigação, a
qual tem permitido a identificação de uma rede de intelectuais maçons que protagonizaram o
movimento associativo maçônico nas décadas de 1870 e 1880. Destacam-se, aí, as publicações do
Boletim do Grande Oriente do Brasil (1871-1889) e, de forma mais lacunar, as publicações Boletim do
Grande Oriente Unido e Supremo do Brasil (1873-1878), o periódico A Família (Maçônica) (1872-1874) e
a Aurora Escocesa (1882). Utilizamos como principal registro sobre as Conferências, a revista
Conferências Populares, de 1876, é uma compilação de uma série de Conferências proferidas naquele
ano como de anos anteriores. Outras fontes ainda se abrem à pesquisa, como manuscritos, discursos,
biografias da época, cartas, estatutos das associações, entre outros documentos encontrados no acervo

463
do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, do Arquivo Nacional, da Biblioteca Nacional, no Arquivo da
Cidade, representando um rico material a serexplorado. Em caráter preliminar, os resultados nos
apontam a vinculação de intelectuais maçons que atuaram na organização destas Conferências e que
sustentaram, de forma sistemática e concreta, o princípio de associação como elemento primordial para
o projeto de expansão da escolarização popular.

512
MEMÓRIA DOS JESUÍTAS PORTUGUESES E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA: RELAÇÃO ENTRE A
OBRA DE SERAFIM LEITE E FERNANDO DE AZEVEDO

MARIA JURACI MAIA CAVALCANTE.


UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ, FORTALEZA - CE - BRASIL.

Trata da relação entre a memória histórica dos Jesuítas portugueses radicados no Brasil, no interior da
Missão Setentrional dos Jesuítas Dispersos, e a construção da História da educação brasileira, através de
uma aproximação de sentido e vínculo temporal entre a obra de Serafim Leite, História dos Jesuítas no
Brasil (1933-1950) e a de Fernando de Azevedo, A cultura brasileira (1943). Destaca a tradição dos
Jesuítas em se ocuparem de forma obstinada, desde a fundação da Companhia, com o registro de suas
ações, tanto com o objectivo de angariar apoios e simpatias por parte da Igreja e meio católico, quanto
para providenciar defesa em relação aos seus opositores, o que deu origem a uma prática que favorece
a formação de arquivos e, consequentemente, de informações minuciosas sobre a memória e a história
da Irmandade, bem como desperta o gosto e/ou responsabilidade de alguns jesuítas pela história da
Companhia de Jesus. Salienta, no que se refere à memória histórica dos Jesuítas no Brasil, que a obra de
Serafim Leite é o melhor exemplo de síntese e atualização, por ter sido a missão atribuída pela
Companhia ao referido jesuíta a de mostrar a dimensão cultural excepcional da obra missionária dos
Jesuítas no Brasil e ressaltar que a Companhia não deixou de existir após a perseguição de Pombal e da
República portuguesa. Ao salientar o protagonismo dos Jesuítas na formação cultural do Brasil,
contribuiu para o esquecimento da contribuição cultural dos contingentes humanos autóctones e
transladados da África. Reconhece a proximidade temporal e a afinidade ideológica entre a obra de
Serafim Leite e a de Fernando de Azevedo, pela ênfase dada por ambos ao papel educativo dos jesuítas
no processo de colonização do Brasil e crítica dirigida à política pombalina de expulsão. A temática aqui
delineada recebe inspiração da concepção de método desenvolvido por Paul Ricouer, que entende a
memória como dimensão fenomenológica, a história como questão epistemológica e o esquecimento
como parte da trama dos sujeitos históricos e campo de enquadramento hermenêutico. Esta
comunicação integra um projeto maior de investigação sobre a ação educativa dos Jesuítas portugueses
no Brasil, entre a Primeira e a Segunda República, que se encontra em andamento e em fase de análise
das obras de referência a que tivemos acesso, através do levantamento de fontes historiográficas,
iniciado há um ano, em arquivos e bibliotecas de Portugal e do Brasil. Tem carácter exploratório,
servindo como guia de organização analítica e articulação de alguns achados do levantamento de fontes
realizado até o momento, com vistas a relacionar impressos, intelectuais e História da Educação e
entender como a circulação de livros e jogos ideológicos em cena no período analisado contribuíram
para a definição de algumas bases da historiografia da educação no Brasil.

986
MEMÓRIA, EDUCAÇÃO E FOLCLORE: O PENSAMENTO DE PROFESSORES E FOLCLORISTAS NO
MOVIMENTO FOLCLÓRICO BRASILEIRO DA DÉCADA DE 1950

LUIZA ANGÉLICA PASCHOETO GUIMARÃES.

464
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO DE JANEIRO - PUC-RIO, VOLTA REDONDA - RJ - BRASIL.

Esta comunicação, inscrita no eixo temático Impressos, Intelectuais e História da Educação, apresenta a
pesquisa que teve por objetivo analisar o modo como o folclore passou a constituir-se como tema dos
debates entre professores e folcloristas brasileiros, no período compreendido entre 1940 e 1960,
sobretudo a partir das discussões travadas na ocasião do “Movimento Folclórico Brasileiro” da década
de 1950. Trata-se de pesquisa descritiva, de caráter historiográfico, que utilizou fontes documentais
digitalizadas, encontradas no acervo da Biblioteca Amadeu Amaral, disponibilizado via Internet, pelo
Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular, órgão vinculado ao Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (IPHAN). O Centro é um órgão administrado pelo Governo Federal que desenvolve e
executa projetos e programas, reúne documentação, faz pesquisa e busca promover, difundir e
estimular expressões saberes e fazeres do povo brasileiro. A pesquisa utilizou também fontes
bibliográficas que complementaram o trabalho e contribuíram para o desenvolvimento do tema, assim
como os periódicos “Cadernos de Folclore” e “Revista Brasileira de Folclore”, sendo que este último,
também se encontra digitalizado no acervo do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular. Os dados
obtidos foram registrados, analisados, interpretados e serviram para a elaboração do trabalho final da
disciplina de Antropologia oferecida no Programa de Doutorado em Educação Brasileira da PUC-RIO no
primeiro semestre do ano de 2010. No ano de 1936, o Congresso Internacional de Folclore, em Paris,
colocou em pauta o tema “Folclore e Educação”. Por suas relações com as Ciências Sociais,
principalmente com a Antropologia e a História, o Folclore passou a ser visto pelos folcloristas como um
fator de grande penetração no campo do ensino. As discussões giravam em torno do lugar que o tema
deveria ocupar no contexto educacional: como conhecimento autônomo nos meios universitários,
sendo as manifestações folclóricas objetos a serem estudados, pesquisados e catalogados; ou como
disciplina dos cursos normais, que deveria conceber o folclore como elemento didático de caráter
instrutivo e formador a ser utilizado na escola primária. A pesquisa buscou responder a seguinte
questão: “O que pensavam professores e folcloristas a respeito das relações entre folclore e educação?”
Essas discussões ganharam vulto na década de 1950, com o Movimento Folclórico Brasileiro e se
estenderam por pelo menos mais uma década. O estudo procurou compreender através dos
documentos encontrados, de que maneira os professores da época participaram dessas discussões.

949
MISSÃO E NÃO PROFISSÃO: O PAPEL DO PROFESSOR NA CONCEPÇÃO DE RAUL RODRIGUES GOMES
(1914-1928)

DULCE REGINA BAGGIO OSINSKI.


UFPR, CURITIBA - PR - BRASIL.

Este artigo é parte dos resultados de pesquisa em andamento que busca analisar o pensamento
educacional de Raul Rodrigues Gomes (Piraquara, 1889 – Curitiba, 1975) e suas interfaces com os
campos da arte e da cultura. Professor formado pela Escola Normal de Curitiba e bacharel de Direito
pela Universidade Federal do Paraná, Gomes participou do cenário cultural e educacional paranaense
durante toda sua vida produtiva, que vai de 1910 até o ano de sua morte. Signatário do Manifesto dos
Pioneiros pela Educação Nova (1932), relacionou-se com defensores das idéias do Movimento pela
Escola Nova no Paraná, como Erasmo Pilotto e Adriano Robine, e no contexto nacional, como Anísio
Teixeira, mantendo constante diálogo com os pensamentos de renovação para a educação. Sua atuação
no ensino primário, secundário e superior teve como conseqüência uma série de reflexões sobre a
centralidade do papel do professor no contexto educacional. Essas reflexões ganharam publicidade por
meio de artigos publicados em jornais de circulação local e nacional, bem como nas teses defendidas
nos Congressos Nacionais e Regionais voltados à Educação ocorridos nos anos 1920. Fazendo uso da
imprensa como arena de luta instrumento de intervenção social, Raul Gomes defendia a idéia do
magistério como missão ou como um sacerdócio a exigir do professor sacrifícios. Não obstante, isso não
significava que este não devesse ter remuneração e condições de trabalho dignas da importância de seu
ofício de educador, sendo essa bandeira levantada de modo enfático pelo educador. A análise de suas
idéias a respeito da profissão docente e de sua importância para a melhoria das condições da educação

465
no país terá como parâmetros de comparação as idéias e ações educacionais no período em questão,
procurando-se perceber em que medida relacionavam com a idéia de modernidade em circulação na
primeira metade do século XX. Para isso, nos apoiaremos no conceito de Gramsci do intelectual como
um partícipe dos processos de organização da cultura, e na conceituação de Carlos Eduardo Vieira do
intelectual moderno, para quem as principais características seriam: os sentimentos de pertencimento a
um grupo social específico e de missão social, e a defesa da centralidade da questão educativa no
projeto moderno de reforma social. Como fontes serão utilizados documentos institucionais e livros de
sua autoria, bem como artigos de revistas e jornais, em especial os compilados nas obras “A instrucção
pública no Paraná” (1914); e “Missão e não profissão” (1928). Esses artigos, que demarcam o recorte
temporal deste trabalho, constituem-se em documentos privilegiados para o aprofundamento das
reflexões em torno dos debates da época sobre os problemas educacionais, nos quais o professor tem
um lugar privilegiado.

984
MODOS DE SOCIALIZAÇÃO: OS ATORES RURAIS E A DISPOSIÇÃO PARA A LEITURA

LISIANE SIAS MANKE.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS, MORRO REDONDO - RS - BRASIL.

Este trabalho faz parte de uma pesquisa de doutoramento realizada no PPGE/FAE/UFPel, proposto para
o eixo temático: Impressos, Intelectuais e História da Educação. A pesquisa vincula-se aos estudos
relacionados à história da leitura, e as novas correntes teórico-metodológicas do fazer histórico, a
exemplo da Nova História Cultural que oferece um suporte teórico no qual o indivíduo ganha espaço e
representatividade como sujeito único, mesmo vinculado a um determinado grupo social. Para Darton
(1995), definir como os leitores assimilam seus livros é o estágio do circuito do livro que oferece maiores
dificuldades de estudo. As maneiras como se lia e como se lê na contemporaneidade e como ocorrem os
processos de apropriação da leitura, continuam a ser questionados, pois pouco se sabe sobre o
significado da mesma na vida humana. Neste contexto investigativo a trajetória de leitores rurais é
ainda mais desconhecida, havendo uma concepção bastante difundida no sentido de estabelecer o
vínculo entre as zonas rurais e a cultura oral. Neste estudo o principal propósito investigativo não é o
grupo rural, e suas especificidades, mas do ator social, que entre outras características é morador de
áreas rurais e está sendo investigado a partir de suas práticas de leitura. Assim, objetiva-se
compreender as práticas de leitura de “leitores rurais assíduos”, que leem constantemente e
intensamente, com o intuito de se instruírem, se informarem ou apenas por prazer de ler, apropriando-
se singularmente do texto lido. Para Lahire (2002), é imprescindível compreender que toda disposição
tem uma gênese, isto é, formas geradoras de sua constituição, sendo necessário apreender as matrizes
e os modos de socialização que proporcionaram à formação de uma determinada disposição social,
neste caso, a disposição para a leitura. Em termos metodológicos a construção de uma grade de
entrevista tem por objetivo apreender o indivíduo social, a partir das matrizes de socialização, “que são,
acima de tudo, a família, a escola e o universo de trabalho, assim como as instituições culturais,
esportivas, religiosas, políticas” (LAHIRE, 2004 p.38), considerando que cada matriz está entrelaçada a
outra. Assim, após uma investigação mais ampla, foram selecionadas seis trajetórias de leitores
vinculados ao universo rural. Trata-se de quatro homens e duas mulheres, que nasceram e cresceram
em localidades rurais, possuem pouca escolarização, têm mais de 70 anos de idade e envolvem-se
cotidianamente com práticas da leitura. Desta forma, considera-se ser possível dar visibilidade o leitor
como indivíduo singular no campo social, permeado por relações de sociabilidade que o constituem,
como também contribuir para a construção de novas percepções ligadas ao rural e a leitura.

671
NOTÍCIAS DE VIAGENS: O OLHAR DE ESTEVAM DE OLIVEIRA SOBRE A ORGANIZAÇÃO DO ENSINO DE
MINAS GERAIS, SÃO PAULO E RIO DE JANEIRO (1900-1903)

CÍNTIA BORGES DE ALMEIDA.

466
UERJ, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL.

O trabalho proposto, parte de uma pesquisa em andamento, analisou a repercussão das viagens de
Estevam de Oliveira (Inspetor extraordinário do ensino pelo Governo de Minas Gerais e jornalista), nos
estados de São Paulo e Rio de Janeiro, entre 1900 a 1902, com o intuito de elaborar um projeto de
reforma educacional, a partir de seus artigos e discursos sobre a organização do ensino, impressas pelo
"Jornal do Commercio" de Juiz de Fora. As reflexões do meu estudo partiram dos impressos nos quais se
relatava o pedido do Presidente do Estado de Minas Gerais de inspecionar a organização do ensino em
São Paulo e no Rio de Janeiro. A ideia era que as organizações servissem como “molde” para o projeto
de reforma do ensino mineiro, a partir das análises e observações de Estevam sobre o “movimento
reformista que logrou feições progressivas” para o ensino. Nas discussões publicadas no impresso
analisado, deu-se ênfase às possíveis “causas entorpecentes” do progresso do ensino primário no
estado, entre elas a multiplicidade de escolas isoladas, a fiscalização ineficiente da frequência escolar, o
não cumprimento da obrigatoriedade do ensino, o tamanho do território mineiro e a grande despesa da
receita estadual. Os artigos de jornais escritos a partir das viagens do inspetor ao território fluminense e
ao paulista permitiram traçar planos específicos para o ensino, como a criação de grupos escolares, a
divisão do ensino, a reforma das escolas normais, contrapondo-se e aproximando-se de pontos
levantados na organização do ensino desses estados. Minas Gerais adotou a ideia de grupo escolar,
como símbolo do progresso e tentativa de “extinguir” as numerosas escolas isoladas, a exemplo de São
Paulo, ainda nos primeiros anos do séxulo XX. É apresentado também algumas aproximações entre as
legislações (o estado mineiro adotou em sua legislação medidas paliativas para garantir a fiscalização
em relação a frequência escolar e manteve a medida compulsória da obrigatoriedade do ensino
primário, política também adotada pelo estado paulista e fluminense. As observações levantadas por
Estevam fizeram ressaltar a necessidade de uma reforma abrangente com dois atos nomeado por ele :
“nos atos de alçada administrativa”, para custear as escolas e para a fiscalização das mesmas; e “nos
atos de ordem técnica”, por que dizem respeito a organização intrínseca dos institutos escolares. O seu
estudo culminou em um pedido oficial do governo através da Secretaria do Interior por solicitação do
Presidente do Estado, para a elaboração de um projeto de Reforma para o ensino de Minas, publicado
em diário oficial "Minas Gerais", no ano de 1902, que dera reconhecimento regional ao inspetor,
iniciando uma discussão e debates no ano de 1903, por via de artigos enviados ao Jornal do Commércio,
enaltecendo a qualidade de seu projeto.

1204
O CHARME DA MODERNIDADE E A UTOPIA DA HYBRIS: O DISCURSO PEDAGÓGICO RADICAL DE
JOAQUIM NO BRASIL DOS OITOCENTOS (1879-1884)

JEAN CARLO CARVALHO COSTA; DALVA REGINA ARAÚJO DA SILVA; INGRID KARLA CRUZ BISERRA.
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA, JOAO PESSOA - PB - BRASIL.

Essa intervenção é conseqüência de Projeto PIBIC-UFPB, em andamento, intitulado “Itinerários


intelectuais e formação nacional no Brasil moderno: Escravidão, educação e reformas sociais no Projeto
de Modernidade de Joaquim Nabuco”, vinculado à Linha de Pesquisa “Itinerários intelectuais,
modernidade e educação no Brasil”, sob a coordenação do professor Jean Carlo de C. Costa, integrante
do HISTEDBR-PB. Essa intervenção, tem por objetivo ressaltar a importância do discurso político e
pedagógico de Joaquim Nabuco (1849-1910), enquanto forma de pensamento que presentifica, ainda
hoje, o legado da agenda reformista democrática instituída no Império, a qual foi guiada por
inquietações em torno das ideias de progresso, liberdade e instrução pública, elementos basilares da
consolidação, no discurso reformista liberal e radical do período, de uma “nação cidadã”. Ora, não é
exagero afirmar que as investigações sobre o pensamento produzido em solo nacional, bem como seus
principais intérpretes, vem ganhando atenção crescente, desde a década de 1990, não apenas em
círculos acadêmicos como também do público mais geral, isso sendo realizado de forma crítica e
reflexiva. A hermenêutica histórica sobre o Brasil legada por Nabuco exerceu papel de destaque na
importância atribuída à necessidade de consolidação das reformas sociais necessárias à configuração
final de uma nação moderna, fundando, do ponto de vista moderno, a narrativa que, ainda hoje,

467
impregna o pensamento nacional, confirmando o indício de que existe uma “comunidade de
imaginação” que insiste em se perguntar sobre o que nos conforma e nos auxilia a compreender o
porquê de nós termos nos tornado isso que hoje somos. O argumento central, nesse sentido, é ressaltar,
a princípio, a relevância do papel do discurso educacional desse intelectual na constituição de uma
agenda democrática atrelada a reformas sociais radicais e, segundo, apontar para a singularidade do
lugar de Joaquim Nabuco, um dos principais artífices de nosso “processo civilizatório”, na teorização
contemporânea interna à produção intelectual sobre a historiografia educacional brasileira. Para tanto,
o percurso metodológico delimitado para a consecução e submissão à apreciação nesse fórum
acadêmico, é a análise do discurso parlamentar de Joaquim Nabuco no período que compreende os
anos 1879 – 1884, período em que ele, no Parlamento, assimila a agenda reformista gestada nos
embates políticos das décadas de 1960 e 1970, e consolida uma diagnose sobre o “atraso” nacional
indubitavelmente inovadora. A escolha desse recorte parece constituir, e esse é o nosso argumento, a
tradução da transição de um radicalismo relativamente “ingênuo” a uma interpretação orgânica da
natureza da escravidão, atrelando a inevitabilidade de seu fim a reformas radicais no âmbito da política,
instrução pública, indústria entre outras esferas da vida social.

1190
O COMBATE POLÍTICO-EDUCATIVO NO JORNAL O PATRIOTA (1813-1814)

MARCILIA ROSA PERIOTTO.


UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ, MARINGA - PR - BRASIL.

Este estudo se propõe identificar o caráter educativo que permeou o jornal O Patriota (1813-1814), cujo
editor era Manuel Ferreira de Araújo Guimarães (1778-1838). O objetivo é estabelecer a conexão das
ideias defendidas com o projeto de nação que o Brasil principiava a defender. A imprensa do século XIX
é considerada fonte histórica que pode esclarecer o processo educativo que perpassou a sociedade
brasileira no período. Assim, no campo historiográfico há também o consenso de que a imprensa
daquele tempo foi educativa ao formar a opinião dos brasileiros, principalmente no período de
efervescência política iniciada em 1807 e no qual se presenciou o nascimento dos Estados Nacionais. O
estudo da imprensa do século XIX promove, pois, um amplo e competente resgate das manifestações do
passado em prol da formação da opinião pública, da educação e, principalmente da política geral da
nação da qual a educação formal emerge. A imprensa brasileira nesse período seria difusora do
pensamento cogente às mudanças, sem, no entanto, promover ou incitar revoluções. O jornal O Patriota
se insere nesse contexto. A pesquisa buscará, então, analisar com quais ideias o jornal expressou esses
anseios, sempre com o objetivo de determinar o caráter educativo com os qual revestiu suas ações. O
jornal O Patriota corresponde a uma imprensa que deixou marcas na formação de opinião política,
mesmo tendo uma curta existência (18 números entre o ano de 1813 e 1814), mas que marcou, por sua
vez, um dos momentos mais significativos no Brasil, ou seja, a ruptura política que abriu espaço para a
constituição de uma nova nação no cenário mundial. A existência do jornal foi marcada pela oposição
aos desdobramentos da revolução francesa, na fase napoleônica, cuja ação colocava em perigo o
ordenamento das velhas monarquias e pela contribuição à divulgação do liberalismo nessa parte do
mundo onde as ideias avançadas conflitavam com os interesses coloniais portugueses, que insistiam em
dar continuidade a uma política econômica prejudicial ao desenvolvimento material brasileiro. Na sua
diversidade o conteúdo do jornal refere-se aos embates cruciais travados pelos brasileiros e também
portugueses descontentes com o governo monárquico e, ao pôr em cena as questões que o processo
transformador em pauta exigia para a sua concretização, foi um dos participes de peso dessa luta. A
história da educação é um dos beneficiários do jornal em razão dos elementos postos à formação da
consciência política na época.
395
O DISCURSO DE AZEVEDO AMARAL DURANTE O ESTADO NOVO

TATIANE SILVA; MARCUS VINICIUS DA CUNHA.


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, RIBEIRÃO PRETO - SP - BRASIL.

468
Uma vertente da historiografia educacional caracteriza o regime instaurado por Vargas em 1937 como
produtor de uma interrupção no movimento renovador denominado Escola Nova, o que teria ocorrido
por intermédio de uma Pedagogia do Estado Novo delineada por três intelectuais nacionalistas: Azevedo
Amaral, Lourenço Filho e Francisco Campos. O presente trabalho resultou de pesquisa já concluída cujo
objetivo foi contribuir com a discussão acerca dos sentidos que se podem atribuir à expressão Escola
Nova na história da educação brasileira. Foram examinados os discursos desses três autores nos livros O
estado autoritário e a realidade nacional de Azevedo Amaral, Tendências da educação brasileira de
Lourenço Filho e O Estado Nacional de Francisco Campos, publicados respectivamente em 1938, 1940 e
1941. A análise foi feita à luz da metodologia adotada pelo Grupo de Pesquisa Retórica e Argumentação
na Pedagogia (USP/CNPq), cujo fundamento encontra-se na nova retórica de Perelman. Esta
comunicação visa apresentar os resultados gerais dessa investigação, mostrando os vínculos discursivos
entre os três autores, para, em seguida, mostrar os resultados específicos relativos ao estudo do livro de
Amaral, no intuito de explicitar as estratégias argumentativas empregadas. A semelhança entre os
autores é analisada por meio da metáfora percurso determinado, que é empregada para firmar a noção
de que o país possui uma trajetória previamente determinada para a qual deve ser conduzido por meio
da educação; nossa evolução histórica seria marcada por realizações imperfeitas desviantes da rota
previamente traçada, sendo o Estado Novo a única forma política capaz de superar os entraves e colocar
a Nação na direção correta. No caso de Amaral, serão apresentadas as seguintes estratégias, cada qual
relacionada a um intuito persuasivo: o uso do recurso às origens pretende identificar o cerne de nossos
problemas na maneira como fomos colonizados; a divisão da história em etapas, cada qual marcada por
um tipo de ocorrência, reforça o argumento anterior, mostrando a reiteração do problema a cada
momento da vida do país; as definições são usadas para diferenciar os termos Autoritário e Totalitário,
numa tentativa de superar a visão negativa do primeiro, com o qual o Estado Novo é identificado; a
dissociação de noções pretende superar a dicotomia entre sociedade e indivíduo preconizada tanto por
regimes totalitários quanto por liberais, tendo em vista a necessidade de distinguir as estratégias de
dominação postas em prática pelo Estado Novo; a desqualificação dos críticos mostra a incapacidade da
Aliança Liberal para governar o país.

410
O DISCURSO PEDAGÓGICO DE BETTI KATZENSTEIN
1 2
CLÁUDIA ROBERTA BORSATO ; MARCUS VINICIUS DA CUNHA .
1.CENTRO UNIVERSITÁRIO BARÃO DE MAUÁ, RIBEIRAO PRETO - SP - BRASIL; 2.FACULDADE DE FILOSOFIA
CIÊNCIAS E LETRAS DE RIBEIRÃO PRETO/USP, RIBEIRÃO PRETO - SP - BRASIL.

Este trabalho decorre de pesquisa em andamento cujo objetivo é examinar 41 artigos publicados na
coluna Clínica Psicológica do Caderno Feminino do jornal paulista Folha da Manhã, entre 1947 e 1948,
de autoria de Betti Katzenstein, psicóloga alemã nascida em 1906 e falecida em 1981, radicada no Brasil
desde 1936. Esse material pode ser caracterizado como integrante do movimento denominado Escola
Nova, uma vez que buscava efetivar um dos propósitos da renovação educacional: veicular orientações
sobre educação de crianças, particularmente em situação escolar, visando subsidiar as famílias, em
especial as mães, com informações fundamentadas na Psicologia, ciência considerada fundamental
nessa área. A análise dos textos é feita por meio dos referenciais teórico-metodológicos do Grupo de
Pesquisa Retórica e Argumentação na Pedagogia (USP/CNPq), cujos fundamentos encontram-se na nova
retórica de Chaïm Perelman. A meta da pesquisa é compreender a estrutura argumentativa e os
recursos discursivos utilizados por Katzenstein, tendo em vista a situação típica da retórica: um orador
(representado pela figura da autora dos artigos) pretende persuadir determinado auditório (os leitores,
mais precisamente as mães) para instituir certas disposições para a ação – neste caso, educar os filhos
segundo as orientações da ciência psicológica. Boa parte dos artigos contém uma estrutura
particularmente propícia à análise retórica: a autora interage com uma personagem feminina (Dona
Anastácia) que apresenta problemas de seu cotidiano familiar, sendo o texto um diálogo que evolui
evidenciando a transformação das intenções iniciais da personagem ante as intervenções da autora. O
procedimento de análise consiste em categorizar cada artigo de acordo com os seguintes parâmetros:
objetivo geral, o problema e as soluções apresentadas pela autora (orador); a fundamentação teórica

469
contida nas soluções apresentadas pela autora (orador); as disposições iniciais e finais de Dona
Anastácia (auditório); e as estratégias argumentativas componentes do discurso persuasivo. Nesta
comunicação serão apresentadas informações biográficas sobre Betti Katzenstein, mostrando suas
contribuições às áreas da Psicologia e da Educação no Brasil; será feita uma caracterização do
movimento escolanovista, de maneira a situar a atuação de Katzenstein voltada à orientação de famílias
por meio de conhecimentos científicos; serão relatadas as primeiras categorizações do material
pesquisado. O desenvolvimento subsequente da investigação almeja contribuir para o estudo da
circulação do discurso escolanovista, em especial no tocante às relações entre escola e família, por meio
de um veículo de informação – um jornal de notícias – que difere essencialmente dos materiais
acadêmicos usualmente pesquisados.

1278
O ENSINO DE LEITURA EM CARTILHA INFANTIL PELO METHODO ANALYTICO [1909?], DE C. A. G.
CARDIM (1875-1938)

FRANCIELE RUIZ PASQUIM.


UNESP/FFC/MARILIA, TUPA - SP - BRASIL.

Neste texto, apresentam-se os resultados parciais de pesquisa de iniciação científica (Bolsa


Pibic/CNPq/Unesp), vinculada às linhas de “Alfabetização“ e “Ensino da Língua Portuguesa" do Gphellb –
Grupo de Pesquisa “História do Ensino de Língua e Literatura no Brasil”, do Projeto Integrado de
Pesquisa "História do Ensino de Língua e Literatura no Brasil" e do Projeto Integrado de Pesquisa
"Bibliografia Brasileira sobre História do Ensino de Língua e Literatura no Brasil ( 2003-2011)" ( Auxílio
CNPq), todos coordenados por Maria do Rosário Longo Mortatti. Com o objetivo de contribuir para a
compreensão de um importante momento da história do ensino de leitura no Brasil, focaliza-se a
proposta para esse ensino apresentada pelo professor C. A. G. Cardim (1875-1938), em Cartilha Infantil
pelo methodo analytico, publicada pela tipografia Augusto Siqueira & Comp.(SP), presumivelmente
em 1909. Mediante abordagem histórica, centrada em pesquisa documental e bibliográfica, por meio da
utilização dos procedimentos de localização, recuperação, reunião, seleção, ordenação e análise de
fontes documentais, elaborou-se um instrumento de pesquisa contendo a bibliografia de Cardim, ou
seja, referências de textos escritos por esse professor. A partir da análise das referências de textos que
integram o instrumento de pesquisa, escolheu-se como corpus de análise de um exemplar da 9º. edição,
de 1919 da Cartilha Infantil pelo methodo analytico. A análise da configuração textual da cartilha
consiste em interrelacionar os diferentes aspectos constitutivos de seu sentido, a fim de se
compreender: quem foi o professor Cardim; a quem se destinava a cartilha; em que momento histórico
educacional foi publicada; a que urgências sociais respondia; com quais cartilhas dialogava. Os
resultados obtidos por meio da análise da cartilha vêm contribuindo para a compreensão de que, nela,
Cardim “concretiza” uma forma de processar o método analítico, a sentenciação, por considerar a forma
mais adequada para o ensino da leitura e escrita. Ainda a partir desta análise, foi possível compreender
o papel dos professores escritores de cartilha, especialmente no “segundo momento” da história da
alfabetização em que outras cartilhas foram elaboradas por professores paulistas com base no método
analítico. Por tendo sido esse método considerado o mais eficaz, foi institucionalizado pela instrução
paulista na tentativa de responder às urgências sociais daquele momento. Por fim, destaca-se, a
importância da elaboração do instrumento de pesquisa para subsidiar a pesquisa desenvolvida e que
essa pesquisa relaciona-se, de forma complementar, com o conjunto de pesquisas sobre temas
correlatos desenvolvidas no âmbito do Gphellb e que confirma a importância das atividades de iniciação
científica com etapa fundamental na formação de pesquisadores.

345
O INTELECTUAL JOÃO ROBERTO MOREIRA (1912-1967) E SUAS PRIMEIRAS INCURSÕES PELO
MOVIMENTO PELA ESCOLA NOVA (DÉCADAS DE 1920 E 1930)

LEZIANY SILVEIRA DANIEL.


UFPR, CURITIBA - PR - BRASIL.

470
No presente trabalho, resultado de tese de doutorado concluída em 2009, realizamos a análise do
processo inicial de formação do pensamento e atuação do intelectual catarinense João Roberto Moreira
(1912-1967) no campo educacional, entendendo que em Curitiba/PR, ao lado do intelectual paranaense
Erasmo Pilotto, Moreira teve o primeiro contato com as idéias e os princípios do Movimento pela Escola
Nova, em processo no Brasil. Consideramos que a partir de sua relação com Erasmo Pilotto e de sua
participação no Centro de Cultura Filosófica, por exemplo, Moreira acabou se enveredando pelo campo
da educação, evidenciando um início de carreira marcados pelo autodidatismo e amadorismo,
características presentes em outros profissionais da educação deste período. Ponderamos também que
o ambiente intelectual vivenciado por Moreira, fora dos espaços formais da escola e da universidade,
vistos, em muitos casos, como ultrapassados e expressão de um sistema de ensino tradicional,
colaborou e até mesmo foi decisivo para a definição de sua escolha profissional. Podemos indicar que
em Curitiba Moreira iniciou sua participação no Movimento pela Escola Nova e optou pela carreira de
educador.Foi no Estado do Paraná, então, que Moreira, num curto período de sete anos, se aproximou
de novas perspectivas teóricas, experimentando novas ações que se tornaram fundamentais para a
construção de uma nova forma de entender e agir no campo da educação. Seus primeiros ensaios no
campo educacional, ainda no Paraná, nas décadas de 1920 e 1930, se intensificariam quando ele
retornou ao Estado de Santa Catarina, onde passou a contribuir para a construção de um ambiente
intelectual mobilizado com o processo do Movimento pela Escola Nova. Logo após deixar a direção da
Escola Normal de Ponta Grossa/PR, Moreira assumiu primeiro a direção do Grupo Escolar Conselheiro
Mafra, de Joinville (1935-1936), para, em seguida, dedicar-se à formação de professores, lecionando e
dirigindo o Instituto de Educação de Florianópolis (1937-1945). Nessas oportunidades educativas, já em
terra barriga-verde, Moreira discutiu teorias e concepções educacionais; definiu mais detidamente suas
preferências temáticas; e colaborou com o governo no processo de constituição do campo educacional
e no projeto de nacionalização do ensino. Nos anos seguintes, Moreira projetou-se nacionalmente e,
mesmo, internacionalmente, trabalhando nos principais centros de pesquisa em ciências sociais e
educação, no país e no exterior, como o CBPE (Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais), a UNESCO
(Organização para Educação, Ciência e Cultura), entre outros. As principais fontes de análise utilizadas
foram cartas, livros, decretos entre outros.

438
O JORNAL ACADEMVS E A FACULDADE DE DIREITO DE SERGIPE

MARCIA TEREZINHA JERÔNIMO OLIVEIRA.


UFS, ARACAJU - SE - BRASIL.

A instituição do ensino jurídico em Sergipe foi resultado de um lento processo que se entrelaçou com o
estabelecimento do ensino superior nessa unidade da Federação brasileira, iniciado no último quartel
do século XIX e que apenas se concretizou em meados do Século XX, com a fundação seis faculdades,
que passaram a ministrar onze diferentes cursos, dentre elas a Faculdade de Direito de Sergipe. Durante
sua existência, em especial, nos dois primeiros anos após sua fundação, a Faculdade de Direito vivenciou
um intenso processo de constituição da organização discente em forma de agremiação política e
associações de natureza desportiva, cultural e filantrópica. Fundado em 1951, pelo Centro Acadêmico
Sílvio Romero, o Jornal Academvs circulou até o final da década de 1960, veiculando representações
estudantis acerca do cotidiano da Faculdade de Direito de Sergipe e da sociedade daquele tempo.
Diante desse cenário, o presente estudo, que se constitui em recorte da pesquisa que investiga a
trajetória da Faculdade de Direito de Sergipe no período de 1950 a 1970 e do intelectual Gonçalo
Rollemberg Leite, enquanto diretor dessa instituição de ensino por 17 dos seus 20 anos de existência,
tem por objetivo discutir a produção e circulação do Jornal Academvs, caracterizando sua estrutura,
composição, processo editorial e temas discutidos pelo impresso estudantil, evidenciando, dessa forma,
aspectos concernentes à cultura acadêmica daquela instituição de ensino superior. O desenvolvimento
de pesquisas dessa natureza tem como pressuposto a ampliação das práticas historiográficas
decorrentes do pensamento das três gerações da Escola dos Annales e que resultou no acréscimo de
abordagens, fontes e objetos de estudo conforme proposto pela Nova História Cultural, sendo que no

471
âmbito da História da Educação tal perspectiva teve como conseqüência a expansão dos limites de
utilização dos impressos, não só como instrumentos didáticos ou peças de administração escolar, mas,
para considerá-los como fonte de pesquisa que possibilita a compreensão da cultura escolar. A presente
pesquisa foi desenvolvida a partir do método histórico descritivo e, para tanto, utilizou-se de fontes
impressas de natureza bibliográfica, documental e legislativa, assim como, de fontes orais, consignadas
nos depoimentos de ex-alunos da Faculdade de Direito e, fontes iconográficas. Os resultados da
pesquisa trazem significativas contribuições para a compreensão da cultura escolar expressa nos cursos
promovidos e nas festividades realizadas pelo Centro Acadêmico, no relacionamento estabelecido entre
docentes e discentes, na gestão realizada pela Congregação da instituição, mormente, aquela
empreendida por Gonçalo Rollemberg Leite.

597
O JORNAL DOS APRENDIZES DO SENAI-PR E OS CAMINHOS DESVELADOS SOBRE O ENSINO
PROFISSIONAL ENTRE AS DÉCADAS DE 1940 Á 1960

DESIRE LUCIANE DOMINSCHEK.


UFPR, CURITIBA - PR - BRASIL.

No Centro de Memória do sistema FIEP-PR, localizei o periódico que constitui fonte de pesquisa deste
trabalho. Consta do acervo um boletim, de publicação semestral, produzido pelos alunos do SENAI-PR
para ser um informativo dos alunos. Sua primeira publicação aconteceu em 1949 e, a última, em 1996.
Este periódico tinha como título O Escudo, sendo um jornal organizado pelos alunos, desde a produção
dos artigos até a impressão do mesmo, contendo artigos sobre as atividades realizadas dentro da
instituição e também fora dela, bem como relatos sobre as visitas feitas às fábricas, as descrições dos
cursos e a profissão que estavam aprendendo no SENAI.A análise deste jornal pode permitir outra
compreensão sobre os caminhos percorridos pelo ensino profissional no estado do Paraná, uma vez que
possibilita indicar elementos detalhados da educação emanada pelo SENAI. É claro, tudo visto a partir
do olhar de jovens aprendizes — que não foram quaisquer aprendizes, mas os aprendizes que dirigiram
e organizaram O Escudo. Identifica-se a relevância deste estudo para a área de histórica na medida em
que o objetivo norteador do trabalho foi desvelar o olhar dos alunos aprendizes sobre o ensino
profissional que vivenciavam frente ao periódico que produziam. Tendo como foco uma instituição de
ensino cujos cursos ofertados diferem aos de uma escola convencional, uma vez que se trata de uma
instituição empresarial que visava atender as necessidades de qualificação de profissionais para a
indústria e, ao mesmo tempo, transmitir valores e princípios. Penso que a visão de mundo e sociedade
pode ser transmitida através de vários canais. No caso do SENAI, um desses canais era a própria
aprendizagem.Assim, o objetivo neste estudo não foi trabalhar sob a perspectiva do binômio trabalho-
educação, mas sim sob a perspectiva da compreensão dos alunos acerca do processo ensino-
aprendizagem no qual se encontram inseridos.Fazer emergir a narrativa dos alunos é construir parte da
história deste jornal, desta instituição e dos próprios alunos. Este trabalho é um recorte de minha
pesquisa de mestrado já concluída na área de História e Historiografia da Educação na Universidade
Federal do Paraná,e propomos a apresentação deste artigo para o eixo Impressos, Intelectuais e História
da Educação.

1211
O PROCESSO DE PRODUÇÃO E CIRCULAÇÃO DA OPINIÃO PÚBLICA

ELIANE LOURDES CALSAVARA LIMA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL REI, SAO JOAO DEL REI - MG - BRASIL.

472
Este trabalho é fruto de minha pesquisa realizada no curso de Mestrado da Faculdade de Educação da
Universidade Federal de Minas Gerais, entre os anos de 2005 e 2007. Possui como proposta apresentar
uma discussão acerca das evidências encontradas no periódico O Mentor das Brasileiras sobre a
necessidade de educar e formar as mulheres em assuntos políticos. O Mentor das Brasileiras, nossa
principal fonte de pesquisa, esteve em circulação no período de 1829 a 1832, na Vila de São João Del-
Rei, na província mineira. Através dos seus escritos, percebe-se a intenção dos seus redatores em
formar a opinião pública das mulheres nos assuntos políticos que estavam em evidência no Brasil
naquele período. O objeto de investigação proposto compõe o processo político de afirmação do
Estado-Nação brasileiro nas décadas iniciais do pós-independência, mas principalmente do momento
conflituoso da abdicação de D. Pedro I (1831) e do estabelecimento do período regencial, também em
1831. Envolve, portanto tensões no campo político, pois está relacionado à consolidação da autonomia
política brasileira. Sobretudo, neste trabalho, problematizarei a noção de opinião pública esclarecida,
explicitada neste periódico, visto que, os autores deste jornal, no papel de homens letrados, buscaram o
esclarecimento das suas leitoras com fins a uma socialização política das mulheres, para que estas
colaborassem no projeto de civilização para o país, educando os seus filhos, principalmente, no amor à
Pátria. A imprensa, neste momento, constituía-se um dos canais através dos quais a elite política
brasileira se utilizava para a formação da opinião do seu público leitor. Através dela, inspirada nas idéias
liberais em profusão por todo o ocidente, essa elite delegou-se a si mesma a função de educar e
“civilizar” o povo brasileiro. A imprensa se estabelece como um importante veículo de transmissão de
assuntos políticos nessa época. Entende-se que os redatores d’O Mentor das Brasileiras se auto
definiam como guias, os próprios “mentores” com fins ao esclarecimento das mulheres. Os redatores
nomeavam-se preceptores das mulheres com a finalidade de compartilhar os saberes políticos. Sendo
assim. as mulheres, se tornando esclarecidas, poderiam exercer um poder de vigilância sobre as
autoridades políticas. Este trabalho resulta de análise da fonte documental, ou seja, o próprio periódico
O Mentor das Brasileiras. Também foi realizada pesquisa bibliográfica, na qual, destaco, principalmente,
os trabalhos de Marco Morel no que se relaciona aos estudos sobre o papel da imprensa e opinião
pública no século XIX e Milton Meira do Nascimento e suas contribuições sobre os principais
pressupostos teóricos acerca do conceito de opinião pública esclarecida.

1129
O TEATRO COMO ESTRATÉGIA EDUCATIVA NO SEGUNDO IMPÉRIO: CARACTERISTICAS DE UMA
DRAMATURGIA IDEALIZADA PELO CONSERVATÓRIO DRAMÁTICO BRASILEIRO

CAROLINA MAFRA DE SÁ; ANA MARIA DE OLIVEIRA GALVÃO.


GEPHE/FAE/UFMG, BELO HORIZONTE - MG - BRASIL.

Concluímos em 2009 uma pesquisa que investigou o papel educativo do teatro em Ouro Preto/MG,
entre 1850 e 1860. Nesse período, o teatro era regulado por leis que atribuíam à polícia e ao
Conservatório Dramático Brasileiro, a responsabilidade por permitir ou impedir que peças fossem
representadas nos palcos do Império. Por isso, analisamos a documentação dessa instituição, consultada
na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, para compreender quais eram os critérios avaliados pelos
censores do Conservatório para que uma peça fosse licenciada; que tipo de arte dramática era
considerada educativa; qual era a diversidade de opiniões em relação a esse entendimento; e o que as
peças pretendiam ensinar. A partir de uma lista de textos teatrais encenados e vendidos em Ouro Preto,
localizamos a documentação produzida durante o processo de censura dessas dramaturgias. Sem perder
de vista que, entre os membros do Conservatório, não havia um consenso sobre o que exatamente não
poderia ser representado, identificamos alguns critérios utilizados para destacar qualidades e/ou
defeitos das peças, relacionados ao histórico, ao conteúdo, ao tipo de escrita e à autoria da peça. Esse
estudo foi baseado, teórica e metodologicamente, na história cultural e em estudos sobre a história do
teatro e do Brasil oitocentista. Observamos que o conteúdo dos textos era objeto de maior preocupação
dos censores que, guiados pela legislação, impediam conteúdos imorais, que ofendessem a religião, os
bons costumes e as instituições do país. Definimos como o histórico das peças as informações sobre um
licenciamento anterior do texto dramático e/ou sobre uma encenação bem-sucedida. Esse histórico era
utilizado como argumento, por aqueles que solicitavam a licença, para convencer os censores de que a

473
peça enviada era de qualidade e, também, pelos censores, para legitimar a concessão de uma nova
licença. Os autores dos dramas enviados ao Conservatório eram citados na documentação da censura
apenas se tal informação acrescentasse argumentos favoráveis à concessão da licença. Autores
franceses de prestígio e brasileiros já conhecidos pelo público eram mencionados. Os tipos de escrita – o
modo como o autor desenvolveu a trama, construiu as personagens, seu domínio da língua portuguesa
– eram examinados por alguns censores que acreditavam na necessidade de formar uma dramaturgia
nacional, apontando-lhes os defeitos e indicando os métodos para corrigi-los. Por fim, podemos dizer
que o Conservatório estabelecia o teatro legítimo brasileiro. A arte dramática era impelida pelo
movimento da construção de uma Nação centralizada, da busca por uma unidade e uma identidade
nacionais. Irradiava da Corte uma maneira de ser e de agir ideal, inspirada nas nações europeias,
consideradas mais adiantadas em civilização. Acreditava-se que o teatro deveria internalizar valores
burgueses, tais como: o trabalho, a família, o casamento, além de construir símbolos nacionais, heróis e
disseminar o amor à pátria.

1354
OFENÍSIA SOARES FREIRE: PROFESSORA, ESCRITORA E JORNALISTA SERGIPANA- UMA INTELECTUAL
DA EDUCAÇÃO (1941-1966)

IEDA MARIA LEAL VILELA.


GRUPO DE ESTUDO E PESQUISAS EM HISTORIA DA EDUCAÇÃO /UFS GRUPO DE PESQUISA HISTÓRIA DA
PRÁTICAS EDU, ARACAJU - SE - BRASIL.

O presente artigo integra uma pesquisa mais ampla, em fase de desenvolvimento, cujo objetivo é
investigar e analisar a trajetória da professora e escritora sergipana Ofenísia Soares Freire, através do
processo histórico-sociológico de sua formação docente e cultural , assim como, de suas práticas
pedagógicas, representações e a configuração docente no Colégio Estadual Atheneu Sergipense,
fundado em 1870, primeiro colégio secundário do Estado de Sergipe, onde lecionou durante vinte e
cinco anos, ou seja, durante o período a ser estudado. Esta pesquisa utilizar-se-á da metodologia sob a
perspectiva da abordagem biográfica, contextualizada, tendo como recorte temporal o período de 1941
a 1966, que representam seu ingresso e aposentadoria como docente nesse colégio. A fundamentação
teórica de tal estudo dar-se-á através dos pressupostos teórico-metodológicos da nova História Cultural,
a partir das categorias de análise que constituem o entendimento e compreensão da Historia da
Educação e da abordagem biográfica. Assim, sua fundamentação teórica dar-se-á através da
compreensão e análise das idéias de Jacques Le Goff, Nobert Elias, Pierre Bourdieu, Roger Chartier e
Dominique Julia e de Jean-François Serinelli que desenvolveram estudos no campo da história cultural.
Tal estudo pretende contribuir para as investigações no campo da história da educação feminina em
Sergipe e no Brasil. Encontra-se ancorado no campo da História da Educação, que tem utilizado como
matriz historiográfica a Nova História Cultural. Os dados utilizados foram obtidos através de fontes
escritas, tradicionais e não tradicionais e testemunho oral. Porquanto, não só a legislação tradicional
legitima o acervo documental. Outros testemunhos e vestígios deixados por homens e mulheres são,
também, considerados documentos. Ademais, as memórias, biografias, fotografias, os memoriais,
literatura, música, dentre outros, fazem parte de um acervo documental. Este artigo representa,
portanto, os primeiros resultados do levantamento de dados e transcrições das primeiras entrevistas
semi-estruturadas e depoimentos dos ex-alunos, ex-colegas e familiares da Professora Ofenísia, ocasião
em que foi constatada que a biografada, além de professora era, também, escritora, oradora e jornalista
e teve grande participação política na democratização do país, no lapso temporal, ora investigado.

1202
OS DESVALIDOS DA SORTE SOB OS OLHOS DA ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL DE SABARÁ

MARILEIDE LOPES DOS SANTOS.


UFMG, BELO HORIZONTE - MG - BRASIL.

474
Apresento aqui os resultados de parte da minha dissertação. O objetivo principal da pesquisa foi o de
identificar, analisar e compreender o discurso filantrópico e a assistência às crianças expostas e órfãs, no
entrelaçamento entre controle da população pobre e a educação em Sabará/MG de 1832 a 1860.
Explicitamos a dinâmica do governo da cidade nos seus aspectos urbanos do século XIX nas Minas
Gerais. O corpus documental analisado compôs-se em boa parte de documentação ligada à
administração pública, atas e correspondências da Câmara Municipal de Sabará, livros de registros de
nascimentos e casamentos, jornais e legislação. Essa documentação possibilitou acessar aspectos do
cotidiano administrativo sabarense e os discursos sobre saúde; educação; segurança e urbanização. No
cotidiano administrativo, a criança abandonada, os pobres, a política, a formação do Estado brasileiro,
também emergiam dos debates. Buscamos conhecer o processo de organização da Câmara Municipal e
os problemas apontados pelos seus administradores. Acompanhamos o trabalho principalmente dos
vereadores para administrar a cidade, sobretudo a partir da Lei de 1828. Nesse trabalho apresentamos
alguns movimentos na cidade, que denominamos de pedagogia da urbe, a partir da organização de
formas de sociabilidade e instrução do povo. Analisamos a atuação dos sócios da Sociedade
Pacificadora, Philantropica, Defensora da Liberdade e Constituição e Irmandade de Mizericordia da
Comarca de Sabará com a administração municipal e as redes das elites locais no direcionamento da
cidade que queriam para si. A instrução foi outro elemento importante na consolidação da pedagogia da
urbe. Por fim, o aspecto principal do trabalho que proponho para essa comunicação. Fizemos um
recorte mais específico dentro daquilo que era visto como um problema para a cidade, os expostos.
Procuramos evidenciar a presença destes na vila/cidade e as propostas voltadas para sua assistência.
Buscamos abordar a preocupação com o destino dos enjeitados, do medo de que esses viessem a
aumentar o quadro daqueles classificados como sem ocupação. Essa preocupação dava embasamento
para a justificativa de que era necessário cuidar da educação social dos expostos, recomendando que os
expostos tivessem na sua formação, o aprendizado de algum ofício, mas também o de duas ferramentas
importantes para a província mineira: a aquisição da leitura e da escrita. Nessa pesquisa percebemos
que em Sabará, o desejo de assistir aos expostos esteve ligado a princípios filantrópicos, mas também
ao desejo de (re)formar a conduta de um povo para que, orientados numa conduta ordeira, pudesse
demonstrar o quão harmoniosa, llustroza e civilizada era essa sociedade.

1312
OS LUGARES E OS MEIOS DE SOCIABILIDADE INTELECTUAL DO JORNAL O SEXO FEMININO (1873-1889):
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

ROBERTA GUIMARÃES TEIXEIRA.


UNIRIO/RJ, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL.

Esse trabalho é parte de uma pesquisa de mestrado concluída, que versou sobre a imprensa feminina do
século XIX, das lutas e resistências das mulheres para se estabelecerem como professoras primárias no
Oitocentos. Durante essa pesquisa, algumas questões foram levantadas pela própria bibliografia e fonte
analisadas. Entre elas, os espaços de troca e circulação de idéias dessa imprensa como condição para
elaboração intelectual dos próprios sujeitos e do seu ofício docente no Município Neutro. Com isso, o
objetivo específico dessa comunicação é tecer algumas considerações acerca dos lugares e dos meios de
sociabilidade intelectual exercidos pelas mulheres professoras e jornalistas do jornal O Sexo Feminino
(1873-1889), sobretudo D. Francisca Senhorinha da Mota Diniz (séc. XIX) redatora e proprietária desse
jornal por cerca de quinze anos. Primeiramente, ele foi editado na cidade de Campanha da Princesa em
Minas Gerais sendo, posteriormente, editado na Corte Imperial. A redatora-chefe deixava em evidência
a sua defesa pela implementação da rede pública de instrução elementar para a população analfabeta,
especialmente, para as mulheres, como ficou evidenciada no termo "escola do povo", que na época
tinha o mesmo significado de "escola elementar" (VILLELA e GASPARELLO, 2009). A redatora vinculava,
no jornal, as cartas que escrevia para os políticos reivindicando a criação dessas escolas e tecia elogios
às iniciativas de diferentes jornalistas.Tanto D. Senhorinha quanto as outras mulheres escritoras eram
mulheres urbanas que migraram do interior para a capital das cidades e circularam em diferentes
espaços, viajaram por diferentes localidades do país e do exterior. Elas tiveram uma educação
diferenciada e possibilitaram uma nova concepção de Educação quando agregaram o sentimento da

475
maternagem ao ensino e, ainda, fundaram instituições de ensino. Seguindo as indicações teóricas de
Gontijo (2005), essas mulheres foram intelectuais do seu tempo, por terem sido produtoras de bens
simbólicos, mediadoras culturais, relativamente engajadas na vida da cidade e/ou em locais de
produção e divulgação de conhecimento e promoção de debates. O jornal teve assinaturas do
Imperador D. Pedro II e sua filha Princesa Isabel; de várias localidades da Europa, como na Espanha e em
Nova York e, no Brasil em diferentes províncias, concretizando-se como um espaço de sociabilidade
formal como apontado na pesquisa de Morel (2005) de divulgação e circulação de idéias e projetos de
civilização e de Educação. Portanto, como sinaliza Schueler (2008; 2007; 2002), a noção de sociabilidade
é fundamental para o entendimento das trajetórias de indivíduos e de grupos que envolveram a
atividade intelectual em um determinado contexto histórico e social.

622
PADRE, PROFESSOR E INTELECTUAL: RAPHAEL GALANTI, UM JESUÍTA

LIGIA BAHIA DE MENDONÇA.


UERJ, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL.

Esse trabalho faz parte de pesquisa mais ampla, realizada no Mestrado em Educação da Universidade do
Rio de Janeiro com objetivo de analisar quais as estratégias e as táticas foram utilizadas pelos jesuítas
para resistirem e permanecerem no Brasil, principalmente no Rio de Janeiro, após a Reforma Pombalina,
ocorrida em 1759. Apreendendo, também, quais impactos as supressões de 1834 e de 1910, em
Portugal, trouxeram aos jesuítas e aos colégios do Rio. A Companhia de Jesus é uma ordem religiosa,
fundada em 1534, por Santo Inácio de Loyola, juntamente, com seus egressos companheiros. Aprovada
pelo Papa Paulo III, em 1540. Possuindo rígida disciplina militar, era ligada diretamente ao Papa,
desligada da hierarquia católica, atuando numa dimensão social. Os padres jesuítas atuaram e atuam
em diversos setores da sociedade, entre os quais, a educação formal. Dedico-me a pesquisar, essa face
de sua atuação, no Brasil, ou seja, os seus colégios. Nos limites desse trabalho abordamos os colégios,
nos quais ocorreu a permanência dos padres frente às supressões da Companhia, por meio dos seus
padresintelectuais e da rede de sociabilidade, constituindo-se em formas de estratégia e tática de
resistência dos inacianos. Entre os jesuítas, de maneira geral, os intelectuais da Companhia de Jesus
muito contribuíram para a representação que pretenderam produzir sobre si e da Ordem. Seguindo as
pistas dos homens que representaram a Companhia de Jesus nos diversos setores da sociedade
brasileira, ressaltamos, dentre estes, Raphael Maria Galanti, jesuíta italiano, nascido na cidade de
Piceno, em 1840, ingressando na Ordem de Inácio aos 20 anos. Chegou ao Brasil em 1890, foi membro
de alguns Institutos Históricos Geográficos Brasileiros, como os do Rio de Janeiro, Pernambuco e São
Paulo, e de Academias literárias, que fortalecia a rede de sociabilidade e também o destacava diante da
sociedade brasileira. Padre Galanti também tornou-se conhecido, pelo menos no meio educacional, por
conta dos livros didáticos de sua autoria, principalmente os de História, que precisavam da chancela da
Igreja Católica, o Imprimatur para que fossem publicados; foi professor de História nos colégios, função
que esteve sempre associada a intelectualidade, pois além de membro dos Institutos e autor de livro, o
jesuíta era professor, atuando diretamente na educação dos alunos dos colégios jesuítas. Raphael Maria
Galanti, um padre inaciano, um dos intelectuais sobre cuja ação jogamos luz, destacou-se diante da
sociedade de sua época, lutou, a sua maneira, pela manutenção da Ordem inaciana.

1309
PEDRINHO E SEUS AMIGOS: PARA ALÉM DA SALA DA AULA

CLAUDICEIA LINHARES DE ALMEIDA BEZERRA; MARIA CRISTINA GOMES MACHADO.


UEM, MARINGA - PR - BRASIL.

476
O presente artigo tem por objetivo apresentar o estudo sobre a produção didática organizada e
idealizada pelo educador Lourenço Filho (1897-1970), Série de Leitura Graduada Pedrinho, por meio do
Livro II Pedrinho e seus amigos, publicado em 1954, no Brasil. Pedrinho e seus amigos era direcionado às
crianças de oito a nove anos, representava a passagem da leitura corrente para a leitura autônoma Cabe
ressaltar que, os livros de leitura, foram utilizados por mais de seis décadas como instrumento
estimulador da leitura nas escolas brasileiras, bem como provocador do desejo de ler, visando à
compreensão do texto, não apenas para fruição, mas com intencionalidade educativa. Lourenço Filho
defendia um novo modelo educacional, que propiciasse o ensino prático e funcional da escrita e da
leitura desde o ensino primário. Para o intelectual, a educação deveria ser integral e contribuir com a
formação do homem em seus aspectos físico, moral e intelectual. Para tanto, sugeria algumas
recomendações, por meio do seu Guia do Mestre, ao professorado que se utilizasse dos livros de leitura,
a fim de facilitar essa árdua tarefa. Essa Série foi recebida com muito entusiasmo pelo professorado de
todo país, renovando a orientação à aprendizagem da leitura, baseada em estudos do vocabulário
infantil, e dos interesses das crianças brasileiras, nas várias idades. A experiência administrativa,
exercida no terreno da educação em São Paulo e no Ceará, proporcionou-lhe condições para melhor
desempenhar suas funções na área educacional O intelectual, em sintonia com o movimento
escolanovista, propôs uma organização no setor administrativo, político e pedagógico da educação.
Lourenço Filho destacou o importante papel do Estado em relação à organização e manutenção da
educação, que deveria ser obrigatória, gratuita e laica. O autor tinha por objetivo contribuir, por
intermédios de seus livros didáticos, para sanar a dificuldade de leitura das crianças que frequentavam
as escolas naquele momento, problema que persiste até hoje nas escolas nacionais. Por que Lourenço
Filho se preocupou em produzir uma série para leitura? Quais os conteúdos de leitura a serem
privilegiados no livro Pedrinho e seus amigos? A análise desenvolvida tem como pressupostos questões
sobre a história da educação, as quais foram tomando corpo em face das transformações determinadas
pelas relações de produção no sistema capitalista, no início do século XX. Acredita-se que o
conhecimento da proposta educacional de Lourenço Filho e a reflexão sobre ela venham propiciar
melhor compreensão da História da Educação, bem como dar novos subsídios para o processo histórico
de construção e organização do Sistema Nacional de Ensino Brasileiro.

409
PELA LAVOURA, HIGIENE E INSTRUÇÃO (1917-1939)
AMÁLIA DIAS.
UFF, MESQUITA - RJ - BRASIL.

O objetivo deste trabalho é apresentar alguns resultados da pesquisa em andamento sobre a história
dos processos de escolarização no município de Nova Iguaçu, cidade do estado do Rio de Janeiro, entre
as décadas de 1920 e 1940. Trata-se de uma cidade que se tornou importante pólo agro-exportador do
Estado a partir dos anos de 1920 e obteve atenção das forças políticas estaduais e federais no pós-1930.
Houve a promoção de certa infraestrutura para a região, desde a construção de estradas, saneamento e
outras melhorias. Nota-se também que o empenho em construção e aparelhamento de escolas estava
alinhado a uma política de saneamento e urbanização. Busca-se identificar as forças atuantes na
sociedade civil e na sociedade política e suas formas de participação, adesão ou resistência na oferta de
educação escolar na cidade. Neste sentido, focaliza-se a função intelectual exercida por Silvino de
Azeredo, no período em que foi diretor-proprietário do jornal local “Correio da Lavoura” (1917-1939).
Examina-se, sob uma perspectiva gramsciana, as relações deste intelectual com as classes produtoras e
o poder local, e o papel que o jornal exerce na divulgação de demandas acerca da criação de escolas
para o município. O jornal “Correio da Lavoura” foi fundado em 1917, em continuação ao jornal “O
Iguassu”. Ocupa atualmente a posição de 4º jornal mais antigo do Estado do Rio de Janeiro.
Especialmente para a história da educação, constituiu fonte importante, posto que, em sua linha
editorial, foi fundado compromissado com as bandeiras da lavoura, higiene e instrução, sendo possível
notar a presença constante de matérias sobre instrução, sobre as iniciativas educacionais, criação de
escolas e atividades escolares na região. Observa-se como estas causas são apresentadas e correlacionas
pelo jornal, que buscava propiciar um consenso acerca da importância destas frentes para o
desenvolvimento do município. Neste trabalho, ressaltam-se as possibilidades que a imprensa oferece

477
para os estudos de história da educação, sobretudo para a história local, posto que ainda sejam escassos
os acervos e a bibliografia referentes às administrações municipais, e mesmo estaduais. No tratamento
teórico-metodológico das fontes, compreende-se a imprensa como recurso de construção, circulação,
defesa e disseminação de concepções de mundo, de projetos de poder e sociedade, dos interesses e
perspectivas de um grupo social. Contudo, pelo empenho em forjar consensos, pela imprensa também é
possível entrever os projetos em disputa e as contradições que permeiam as relações sociais e os
conflitos que engendravam a sociedade iguaçuana neste período.

568
PERIÓDICOS EDUCACIONAIS E MODELOS DE LEITURA NO BRASIL DOS ANOS 1960-1970

MARIA RITA DE ALMEIDA TOLEDO; DANIEL REVAH REVAH.


UNIFESP, SAO PAULO - SP - BRASIL.

Esta comunicação apresenta os resultados parciais de uma investigação sobre a configuração dos
impressos educacionais brasileiros no período do regime militar. Para tanto são comparados três
periódicos educacionais lançados entre o final da década de 1960 e início da década seguinte: Educação
Hoje, Educação e ESCOLA. O objetivo é apresentar analiticamente os diferentes modelos de leitura
constituídos por suas políticas editoriais e a materialidade desses impressos, assim como os
deslocamentos ocorridos com a alteração do público leitor. Enquanto Educação Hoje destinava-se aos
professores do Ensino Médio (ginásio e colégio), ESCOLA dirigia-se ao professor de 1º Grau e Educação
voltava-se para um público amplo, de professores e especialistas em educação de todos os níveis do
ensino. Essas diferenças de destinação remetem para a Reforma de Ensino instituída pela lei 5.692/71,
que reconfigura a escola brasileira ao reorganizar os níveis de ensino e seu público. A escola de 1º Grau
substitui a antiga escola primária e o ginásio, integrando-os num único nível; e o colégio converte-se no
ensino de 2º Grau. As análises da história da organização escolar, até a lei 5.692/71, têm indicado uma
forte fronteira entre a cultura de formação e das práticas pedagógicas do professor primário e do
professor secundário. Essas fronteiras podem ser remetidas às instituições de formação, às funções
atribuídas às escolas primária e secundária, assim como ao público que freqüentou ou deveria
frequentar essas instituições. As duas escolas anteriores à Reforma possuíam culturas bastante
diferentes e que, pela oposição, auxiliavam na construção de suas identidades. Os periódicos destinados
ao professores acompanhavam essas diferenças, especializando-se nos problemas de cada um dos
níveis e, consequentemente, destinavam-se a professores-leitores diferentes. Ao ser instituída a
reforma, reuniu-se num único corpo docente tradições profissionais diferentes, a do professor primário
e a do professor secundário, então transformados em professores de 1º Grau. As revistas educacionais
acompanharam essas mudanças, reinventando seus públicos leitores por meio da alteração das políticas
editoriais dos impressos e da sua materialidade, afetada nesse período pela introdução de dispositivos
tipográficos e de leitura característicos das revistas comerciais, os quais afetam sobremaneira a
materialidade do impresso. Na análise da materialidade, bem como dos dispositivos nela implicados,
empregam-se as ferramentas conceituais da História Cultural. Sob essa perspectiva, a investigação
enfatiza a relação entre os conteúdos da cultura pedagógica e a materialidade de seus processos de
produção, circulação, imposição e apropriação pelos agentes envolvidos. Entende-se que os processos
de constituição do impresso, assim como as formas como são postos a circular, são reveladores das
estratégias de intervenção no campo da pedagogia e da formação docente.

1191
PRIMEIRA ARITHMETICA PARA MENINOS E A PRODUÇÃO DE MASCULINIDADES NO SÉCULO XIX

MARIA APARECIDA MAIA HILZENDEGER.


COLÉGIO JOÃO XXIII, PORTO ALEGRE - RS - BRASIL.

478
O presente trabalho, que se inscreve no eixo temático “ Impressos, Intelectuais e História da Educação”
e tem como título “Primeira Arithmetica Para Meninos e a Produção de Masculinidades no século XIX”
refere-se a uma pesquisa que foi desenvolvida em nível de mestrado no Programa de Pós-Graduação da
Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2009), que teve como objetivo
identificar e analisar discursos sobre masculinidade presentes no livro didático Primeira Arithmetica
para Meninos, compilado pelo educador brasileiro José Theodoro de Souza Lobo (1846 – 1913). Esse
livro, editado pela Livraria Selbach & CIA, foi aprovado pelo Conselho de Instrução e por uma
comissão da Escola Militar do Rio Grande do Sul para ser adotado nas escolas públicas e nas escolas
particulares nessa Província, no século XIX. A opção por este livro deu-se por compreender que nele
circularam discursos que implicaram - direta ou indiretamente - a produção de identidades de gênero,
de acordo com determinados modos de ser menino. A análise desenvolvida tomou como base as
teorizações sobre as relações de gênero, segundo o viés pós-estruturalista. Para tanto, foram utilizados
como fundamentos teóricos os trabalhos de Louro, Scott e Walkerdine, entre outros.
Metodologicamente, foi desenvolvido um movimento que denominei analítico-descritivo-analítico,
documentando e sistematizando o conjunto de informações focadas inicialmente no livro didático
citado, ampliadas posteriormente nas demais fontes: legislação da época, cartas-parecer presentes no
livro didático e manual de civilidade. Essas fontes, necessárias ao objetivo em questão, foram tomadas
como monumento no sentido foucaultiano. Nessa investigação, foram estabelecidos quatro focos de
análise: O ensino de Matemática no livro didático Primeira Arithmetica para Meninos, em que descrevo
e analiso alguns aspectos em relação a conteúdos apresentados no livro; O nome de autor, onde
examino de que maneira, em que condições e segundo quais regras foi produzido, utilizado e valorizado
este livro didático; A inferiorização da identidade feminina, em que verifico quais saberes foram
produzidos e veiculados através do livro didático de Matemática sobre feminilidades; A constituição da
masculinidade, em que analiso a contribuição desse livro didático no fortalecimento de uma educação
diferenciada para meninos, problematizando as significações criadas sobre “modos de ser menino”.
Com a presente pesquisa, verifico que esse livro didático, através de um conhecimento matemático
(Aritmética), permitiu a circulação de discursos que contribuíram para a produção de masculinidades,
em consonância com o proposto pela legislação e pelas orientações estabelecidas nos manuais de
civilidade da época.

1281
RENATO FLEURY (1895-1980) NA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NO BRASIL

CYNTIA GRIZZO MESSENBERG.


UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA -UNESP, MARÍLIA - SP - BRASIL.

Nesta comunicação, apresentam-se resultados parciais de pesquisa de mestrado em Educação,


vinculada às linhas "Alfabetização" e "Ensino de língua portuguesa" do Gphellb — Grupo de Pesquisa
"História do Ensino de Língua e Literatura no Brasil" — coordenado por Maria do Rosário Longo
Mortatti. Com os objetivos de contribuir para a compreensão de um importante momento da história
do ensino da leitura e escrita, em continuidade às atividades desenvolvidas, desde 2008, como bolsista
de iniciação científica (PIBIC/CNPq/Unesp), focalizam-se aspectos da produção bibliográfica de e sobre o
educador paulista Renato Fleury (1895-1980), na história do magistério paulista, tendo como base as
referências de textos reunidas no instrumento de pesquisa intitulado Bibliografia de e sobre Renato
Sêneca Fleury (1895-1980): um instrumento de pesquisa. Mediante abordagem histórica, centrada em
pesquisa documental e bibliográfica, desenvolvida por meio dos procedimentos de localização,
recuperação, reunião, seleção e ordenação de fontes documentais, vem-se ampliando o número de
referências bibliográficas de e sobre Renato Fleury e reordenando-as no instrumento de pesquisa
mencionado. As fontes documentais foram organizadas na forma de referências, elaboradas de acordo
com a Norma Brasileira de Referência (NBR 6023) da Associação Brasileita de Normas Técnicas (ABNT) e
totalizam, até o momento, 140 referências de texto. As referências foram ordenadas em duas seções, de
acordo com o tipo de texto, totalizando, respectivamente: 113 referências de textos escritos por Renato
Fleury, publicadas entre os anos de 1935 e 1978; e 37 referências de textos, publicados entre os anos de
1934 e 2007, por outros autores com menções a Renato Fleury, sua atuação profissional ou produção

479
escrita e/ou citação de textos seus. Dentre o total das 140 referências, há aquelas cujas datas de
publicação não consegui localizar, ou então referências repetidas em que varia o número da edição ou o
número de páginas. A análise dos resultados obtidos, até o momento, tem propiciado constatar que
Renato Fleury teve importante atuação na educação no Brasil, e contribuiu, por meio de ampla
produção escrita, com o ensino da leitura em escolas primárias de diferentes estados brasileiros.
Constata-se, em especial, a contribuição desse educador quanto à publicação de livros biográficos
destinados a crianças e jovens; e à publicação de cartilhas que representaram sua proposta de
“concretização” do método misto para o ensino inicial da leitura e escrita.

850
REPRESENTAÇÕES DE ESCOLA NA LITERATURA NORDESTINA NA DÉCADA DE 1930

ALESSANDRA FERNANDES NÓBREGA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA - UFPB, CONDE - PB - BRASIL.

Este artigo vincula-se a pesquisas em andamento junto ao grupo HISTEDBR-GT/PB e à linha de pesquisa
História da Educação/PPGE/UFPB, e tem como objetivo tecer análises sobre a representação de escola
nos anos de 1930 no Nordeste, a partir de obras literárias publicadas no referido período,
especificamente nos textos do escritor alagoano Graciliano Ramos (1892-1953) e da romancista
cearense Rachel de Queiroz (1910-.2003). Buscamos o aporte teórico-metodológico da Nova História
Cultural, no que tange à ampliação de abordagens e de fontes, sendo assim qualquer vestígio da
passagem do homem sobre a terra poderá assumir o estatuto de fonte. Recorremos também ao
conceito de representação apresentado por Chartier (1988), que enfatiza a relação entre uma “imagem
presente e um objeto ausente”, no sentido de procurarmos entender como a sociedade dos anos 30
pensou, construiu e “deu a ler” sua realidade, sua escola. Nessa perspectiva, tomaremos para leitura e
análise os romances São Bernardo (1934) e Vidas secas (1938) de Graciliano Ramos e O Quinze (1930),
de Rachel de Queiroz, bem como crônicas e cartas avulsas dos dois autores, publicados nos anos em
questão. A década de 1930 caracteriza-se pelo aguçamento de transformações que vinham se
constituindo nas décadas anteriores em todos os setores da sociedade e pela aceleração do processo de
industrialização e urbanização do país, fatores estes que elevaram a educação a um lugar de destaque
como impulsionadora dessas mudanças e instrumento essencial à implementação do desenvolvimento
da nação. A década vivenciou a elaboração de duas constituições, uma em 1934 e outra em 1937, com
inserções diferentes quanto à responsabilidade pela educação; ora cabendo ao Estado e à família maior
investimento, ora abrindo espaço para o setor privado. A escola como espaço formal de acesso à
educação passa a ocupar posto central nas discussões políticas e sociais do momento. Assim, os
intelectuais da época clamavam por uma escola nova que preparasse o novo homem para adaptar-se e
adequar-se à realidade brasileira, mas também para ser cidadão de seu tempo. Havia escolas suficientes
para formar o novo homem? Que escola era necessária para atender as demandas de uma nova
sociedade com desejos de industrialização e progresso? Como era visto tal espaço? De que forma essas
discussões adentraram as expressões literárias daquele contexto? Responder essas questões é o
caminho para alcançar o objetivo proposto acima, na escrita deste trabalho, e contribuir para a
construção do conhecimento na história da educação brasileira.

1343
RODRIGO JOSÉ FERREIRA BRETAS, UM INTELECTUAL DA EDUCAÇÃO NA MINAS GERAIS OITOCENTISTA
(1815/1866)

ANDERSON CLAYTOM FERREIRA BRETTAS; WAGNER JACINTO DE OLIVEIRA.


IFTM - INSTITUTO FEDERAL DO TRIÂNGULO MINEIRO, UBERABA - MG - BRASIL.

480
Mineiro de Cachoeira do Campo - histórico distrito de Ouro Preto, palco da Guerra dos Emboabas e da
Revolta de Filipe dos Santos - Rodrigo José Ferreira Bretas foi professor, filósofo e político nos tempos
do Império brasileiro. Com atuação em diversos segmentos, participou da fundação de colégios, do
ensino de filosofia e na impressão, circulação e escolha de livros voltados para a educação escolar. Sua
obra mais famosa foi a publicação da primeira biografia de Aleijadinho, elaborada a partir de fontes
primárias e relatos orais de contemporâneos do mestre do barroco, livro que o elegeu como sócio
correspondente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. A presente comunicação é resultado de
uma pesquisa que resgatou e analisou a trajetória e o pensamento deste intelectual múltiplo, com
enfoque em sua atuação no campo das idéias e ações educacionais, e a abordagem acerca das
concepções pedagógicas contidas no “ecletismo filosófico” – em que Bretas foi um dos principais
teóricos e disseminadores - método caracterizado pela escolha, dentre as doutrinas de diferentes
autores, das teses mais apropriadas, sem se preocupar em demasia com a coerência dessas teorias
entre si e sua conexão aos sistemas de origem. Essa tendência, em voga na filosofia mineira do XIX,
oriunda do espiritualismo romântico francês de Victor Cousin (1792-1867), significou uma superação do
chamado “empirismo mitigado”, escola lusitana que buscava a conciliação do pensamento
tradicionalista católico com os princípios empiristas. O pensamento eclético atenuou o radicalismo da
ideologia barroca em Minas e preparou o terreno para o Romantismo e para o Positivismo. As fontes de
pesquisa deste trabalho consistiram no levantamento das obras de Ferreira Bretas (em especial, o
“Novo esqueleto das faculdades e origem das idéias do espírito humano”), bibliografia pertinente,
documentos oficiais, livros raros do período, entre outros. Formado em Humanidades, Ferreira Bretas
estudou no Colégio Caraça e depois no Colégio Congonhas do Campo; lecionou Latim, Filosofia e
Retórica em escolas de diversas cidades – Barbacena, Barra Longa, Congonhas do Campo e Ouro Preto
(onde foi nomeado promotor interino da comarca). Fundou e dirigiu, entre 1846 e 1849, um colégio em
Bonfim do Paraopeba. No ano seguinte, ocupou o cargo de Oficial Maior da Secretaria do Governo da
Província. Em 1853, foi eleito deputado provincial, reeleito em outros três mandatos. Em 1858, foi
indicado Diretor Geral de Instrução em Minas Gerais, gestão marcada pela busca da modernização da
estrutura de ensino do estado e a cautela na escolha dos livros didáticos utilizados. Conectado com os
ideólogos do ecletismo da França, elaborou um plano de estudos para a implantação de
estabelecimentos de ensino mantidos pelo governo provincial. Em 1859, instalou a Biblioteca Pública de
Ouro Preto e, ainda nesta comarca, foi alçado à Inspetor da Instrução Pública. Em 1862 assumiu a
direção do Colégio de Congonhas. Bretas faleceu em 1866.

952
RURALISMO PEDAGÓGICO: SUD MENNUCCI E A ESCOLA NORMAL RURAL DE JUAZEIRO DO NORTE
1 2
ANTONIO GERMANO MAGALHÃES JUNIOR ; SARAH BEZERRA LUNA VARELA .
1.UNIVERSIDADE ESTADUALDO CEARÁ, FORTALEZA - CE - BRASIL; 2.UNIVERSIDADE ESTADUAL DO
CEARÁ, FORTALEZA - CE - BRASIL.

A instrução do homem campesino se tornou relevante preocupação para a sociedade brasileira durante
os anos de 1930. Foi, sob o governo de Getúlio Vargas, que se institui um movimento educacional
denominado Ruralismo Pedagógico. Diferentemente do modelo escolar existente nas cidades, as escolas
rurais surgiram com o intuito de formar o homem do campo para que ele permanecesse em suas terras,
fazendo crescer a economia do país e evitando o fluxo migratório resultante do êxodo rural. Para
atender os objetivos deste modelo formativo, surgiram também, neste período, as Escolas Normais
Rurais que intentavam formar o professor que atuaria no meio rural. Alguns teóricos tiveram relevância
nesse momento com suas obras vinculadas ao movimento ruralista, dentre eles está Sud Mennucci.
Baseado nos estudos de três obras deste autor: A ruralização (1944), Pelo sentido ruralista da civilização
(1935) e A crise brasileira de educação (1934), este trabalho tem como objeto de estudo a relação entre
o ideário do movimento ruralista presente nas obras do referido autor e os escritos dos alunos da Escola
Normal Rural de Juazeiro do Norte (ENRJN) em seu periódico escolar. Por meio da análise das fontes
impressas dessa instituição, jornal O Lavrador, estabeleceremos os traços em comum que permeiam as
idéias presentes nos livros de Sud Mennucci e na escritura dos alunos normalistas presentes nos jornais,
procurando compreender as interfaces existentes. Além disso, veremos como o ideal do Ruralismo

481
Pedagógico se materializou na escrita do O Lavrador. A demarcação temporal abrange os anos de 1934 a
1939, que são os anos de formação das três primeiras turmas da escola. O referencial teórico se
fundamenta na perspectiva da micro-história, baseada em Ginzburg, que reduzindo a escala de análise,
possibilita a investigação de fragmentos do real, ampliando as possibilidades interpretativas. A análise e
a organização das fontes foram realizadas por meio da utilização de um software denominado Atlas-ti,
que possibilitou potencializar o trabalho analítico através de seus processos de sistematização e
codificação dos jornais. Esta pesquisa se encontra em andamento e as considerações possíveis de serem
relatadas são a estreita relação existente entre as práticas escolares ruralistas na ENRJN e as concepções
de organização escolar, demonstrando que a referida instituição é expressão do discurso implantado
pelo Ruralismo Pedagógico, para atender ao ideário civilizatório e higienista proposto naquele período.

569
RUY DE AYRES BELLO E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA A HISTORIOGRAFIA EDUCACIONAL BRASILEIRA

ANDREA AGNES PINTO.


NEPHEPE/UFPE, UBERABA - MG - BRASIL.

O presente trabalho de pesquisa em andamento tem por objetivo analisar as contribuições de Ruy de
Ayres Bello no cenário educacional brasileiro. Este intelectual pernambucano participou diretamente
dos espaços educacionais e políticos produzindo um discurso sobre a educação brasileira. Ele trilhou
entre o Engenho, As Escolas, A Congregação Mariana, A Academia Pernambucana de Letras, o
Parlamento, A Universidade, ocupando os mais distintos cargos, e sua inserção nestes “campos”
moldaram sua cultura e sua herança. A contribuição de Ruy Bello através das suas obras literárias se
destaca pela versatilidade de temas que ele abordou em seus estudos. Entre os memoristas
pernambucanos ele é sempre lembrado pelas obras que escreveu. O seu legado classifica-se entre Livros
técnicos (todos aqueles destinados ao ensino profissional de formação de professores- Ensino Normal);
Romances; Artigos; Discursos e Memórias. Ruy Bello foi um homem letrado e com um bom nível de
relacionamento o que lhe possibilitou a parceria de publicação com outros autores, alguns estrangeiros.
A priori analisaremos os oito (8) títulos (1)Filosofia da Educação; (2)Pequena História da Educação;
(3)Princípios e Normas de Administração Escolar; (4) Filosofia pedagógica; (5)Subsídios para a História da
Educação em Pernambuco; (6) Introdução a psicologia educacional; (7) Introdução a Pedagogia e (8)
Esboço de história da educação, são obras técnicas destinadas a educação. Como os livros são instâncias
de circulação de saberes de uma disciplina ou um campo de conhecimento, é possível identificar o
pensamento pedagógico de Ruy Bello. Utilizaremos os pressupostos teóricos de Pierre Bourdieu à luz do
conceito de “campos”, “capital cultural e simbólico” e na definição de intelectual como produtor de
capital simbólico. Para Bourdieu, ainda que em muitos casos o capital cultural seja adquirido mais
facilmente por sujeitos com maior capital econômico, no entanto nem toda riqueza econômica se
converte em riqueza (ou nobreza) cultural. Ruy Bello não foge a regra foi um homem ao meu ver que
teve uma herança cultural intensa através de seus familiares: o pai, advogado e deputado; Duque de
Caxias e Joaquim Silvério dos Reis (hipotético parentesco); Julio Bello, senhor de engenho e poeta; os
primos José Maria Bello e Estácio Coimbra, vice-presidente da República. Diante da necessidade do
cruzamento de fontes para a historiografia desta pesquisa elegemos além de documentos escritos, os
documentos orais. Propomos um estudo de um caso particular (micro), do pensamento pedagógico de
Ruy Bello, numa relação com o geral, que contribuirá para o estudo nacional (macro) da Historia da
Educação.

539
SER MÃE, SER MODERNA, SER MULHER: A PROPAGANDA E A DIVULGAÇÃO DE REPRESENTAÇÕES DE
MULHER NAS REVISTAS FEMININAS DOS ANOS 1950

LIANA PEREIRA BORBA DOS SANTOS.


UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL.

482
A investigação apresentada, em andamento, pretende contribuir para a identificação e análise de
representações relativas à mulher, à sua educação e à sua função educativa veiculadas nas propagandas
publicadas em periódicos femininos da década de 1950. Três periódicos, disponíveis para consulta na
Biblioteca Nacional, na cidade do Rio de Janeiro, foram utilizados como fontes documentais
privilegiadas: Querida, Vida Doméstica e Jornal das Moças. A escolha das revistas femininas pode ser
justificada por sua dimensão educativa, ainda que não-formal, e por sua significativa circulação no
âmbito familiar. Inserida no cenário de modernização e urbanização que punha em convívio tradições e
costumes tão díspares e mesclados, a imprensa feminina realçava a importância e o sentido da
educação. Praticamente todas as revistas alternavam o conteúdo editorial com anúncios publicitários.
Em alguns casos, o espaço destinado à publicidade superava o número de artigos publicados,
demonstrando a “força” dos anunciantes, na produção discursiva que é a revista feminina. Observou-se,
nos três periódicos, a publicação de anúncios de produtos diversos, o que motivou a elaboração das
seguintes categorias para agrupá-los: a. Beleza: Inclui produtos cosméticos, lingeries, sapatos e
acessórios relacionados ao embelezamento da mulher; b. Atividades domésticas: Eletrodomésticos,
produtos de limpeza, móveis e artigos de decoração; c. Médico-higiênico: Medicamentos e produtos
ligados à manutenção da higiene e saúde da família; d. Alimentação: Produtos alimentícios destinados à
família; e. Serviços: Médicos, hospitais, cursos e comércio; f. Lazer: Obras de literatura, revistas,
brinquedos infantis, discos, cine projetores e pacotes turísticos; Outras: Produtos não inclusos nos
outros itens, como cigarros. Percebeu-se a divulgação de valores correspondentes à representação de
“mulher moderna” na valorização do consumo de produtos industrializados, nas propagandas que
faziam referência à necessidade de alimentos de fácil preparação, levando em conta a vida agitada da
mulher, assim como ao trabalho feminino fora do lar. Notou-se também a ênfase cada vez mais
acentuada em relação aos cuidados médicos e higiênicos. Tal situação pode ser associada à
representação de “mulher do lar”, constatada na existência de um discurso de caráter prescritivo, com o
objetivo de capacitar as mulheres como educadoras dos filhos e organizadoras da família. Por outro
lado, não se pode descartar a imagem de “mulher bela”, exaltada em inúmeras propagandas de
produtos cosméticos. Pode-se concluir, com a investigação empreendida, que a imprensa feminina
configurou um espaço de circulação de propagandas de produtos variados, assim como exerceu um
relevante papel na divulgação de representações modelares do gênero feminino.

1071
SOBRE O SURGIMENTO DOS INTELECTUAIS: REPERCUSSÃO DO AFFAIRE DREYFUS NA IMPRENSA
MINEIRA

CAROLINA MOSTARO NEVES DA SILVA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS, BELO HORIZONTE - MG - BRASIL.

Nos últimos anos várias pesquisas em história da educação brasileira vêm se ocupando do pensamento
e da ação de homens públicos, como políticos, escritores e jornalistas envolvidos com educação. Em
muitos casos, usa-se o termo “intelectual” para definir essas personagens, assim como muitos
pesquisadores afirmam compartilhar noções e operações da história dos intelectuais, gênero francês
que é um ramo da chamada “nova história política”. A historiografia francesa elege como momento de
surgimento dos “intelectuais” o affaire Dreyfus, em que escritores, professores universitários e artistas
franceses, entre os quais Émile Zola, se mobilizaram pela revisão do processo que condenou por
espionagem Alfred Dreyfus, capitão do exército francês. Nesse momento teria surgido o intelectual
como grupo distinto, afirmando-se como parte discernível do corpo político, tomando partido de uma
causa que extravasava suas atribuições profissionais e inclinações estéticas. Trata-se de uma questão
importante para a historiografia brasileira verificar o alcance e os limites do uso dessa acepção para a
definição e o tratamento dos sujeitos de pensamento e ação na vida pública no Brasil, considerando não
só as peculiaridades locais que desafiam o uso do termo em sentido universal, mas o emprego em
momentos históricos que antecedem ao “nascimento” dos intelectuais franceses. Nesta comunicação
apresentam-se os resultados iniciais de uma pesquisa que visa analisar a repercussão do affaire Dreyfus
na imprensa mineira, por meio dos artigos publicados sobre o caso no jornal Diário de Minas, de Belo

483
Horizonte, em 1899 – ano em que o processo de Dreyfus foi reaberto e se multiplicavam na França
manifestações contra ou a favor do condenado. Investiga-se como os homens de imprensa, comumente
designados intelectuais, perceberam os acontecimentos do caso Dreyfus, sobretudo as manifestações
lideradas por Zola. Para os colaboradores do Diário, o seu pronunciamento em defesa de Alfred teria
aumentado a repercussão do affaire, levando à revisão do processo. A voz de Zola teria atravessado a
França e divido a opinião pública, demonstrando o papel fundamental da imprensa. Entendiam sua
atitude como um ato de generosidade, indicativo de que um escritor pode tomar partido e se tornar
“apóstolo” de uma causa que não fosse de ordem literária, como no caso de um julgamento por crime
político. Afirmavam que em geral os homens de letras ou artistas eram erroneamente vistos como
possuidores de uma dimensão sobrenatural, que escaparia às contingências da vida humana. A
diferença entre esses homens e os demais não estaria em aspectos de sua vida animal, mas no âmbito
intelectual e sentimental, o que os tornaria observadores sagazes da natureza e do mundo subjetivo.

731
SÃO BOAVENTURA E A IMPORTÂNCIA DAS CIÊNCIAS PARA O DESENVOLVIMENTO DO INTELECTO

CONCEIÇÃO SOLANGE PERIN.


FAFIPA, MARINGA - PR - BRASIL.

Neste estudo, aborda-se a importância que São Boaventura de Bagnoregio (1217-1274) atribuiu ao
desenvolvimento do intelecto no final do século XIII. Essa questão para a formação humana foi
historicamente debatida, ou seja, o desenvolvimento do intelecto sempre foi considerado essencial na
busca humana dos conhecimentos necessários à sobrevivência e à organização dos homens em
sociedade. Nesse sentido, o tema será desenvolvido com base na análise das preocupações e
inquietações de Boaveentura, que mostra a necessidade de os homens desenvolverem o pensamento
intelectivo por meio do conhecimento das ciências e que entendia o uso da inteligência como
necessidade para a formação educacional do homem. Para mostrar isso, ele promoveu um debate com
os mestres (intelectuais) da Universidade de Paris que defendiam a Filosofia como a principal ciência de
conhecimento do mundo. Ele explicou que a origem de todas as coisas provinha de um único ser: Deus
seria o criador de tudo e de todos; além disso, baseando-se em uma hierarquia, subordinou as outras
ciências à Teologia, única ciência capaz de explicar a verdadeira criação, de revelar a existência de Deus
e de levar o indivíduo a desenvolver o intelecto. Para Boaventura, a inteligência representava a via de
aproximação com o Criador, porque, ao entender os ensinamentos divinos, o homem valorizaria os bons
sentimentos e agiria com humildade, caridade e solidariedade. Quando se analisa a relevância que
Boaventura, no final do século XIII, atribuía à inteligência para a formação educacional do homem,
percebe-se que, apesar das distintas prioridades postas em cada época histórica, o uso do intelecto
sempre foi o norteador da formação humana e que essa preocupação com o uso da inteligência para a
reflexão sobre as ações e os comportamentos sempre foi uma questão necessária para a organização
social, em qualquer período histórico. Nesse sentido, para proceder à análise, adotou-se o método que
prioriza o tempo, a história de longa duração. Entende-se que essa metodologia amplia a visão histórica,
favorece a análise da totalidade e, quando possível, a utilização de diferentes materiais e documentos
que auxiliam a interligar presente e passado no conhecimento histórico. As fontes são algumas obras de
Boaventura e obras de autores que favorecem uma compreensão do contexto do século XIII,
especialmente o educacional. Dentre elas, analisaremos a questão do desenvolvimento do intelecto,
apresentando de forma mais detalhada seus ensinamentos sobre a importância do uso da inteligência
para a organização da sociedade.
1363
TESES DOS BACHARÉIS EM DIREITO NO SÉCULO XIX: EDUCAÇÃO NOS PROJETOS DE BRASIL?

ILKA MIGLIO MESQUITA.


FAE-UFMG, BELO HORIZONTE - MG - BRASIL.

O trabalho que propomos discutir trata-se da problematização e análise das teses produzidas pelos
bacharéis formados na Academia de Direito de São Paulo (1827) no século XIX, tendo como referência a

484
educação, o escravismo e a questão racial nesses trabalhos. Este estudo é ainda pouco problematizado
pela historiografia brasileira e isto tem se revelado como uma demanda a ser enfrentada pelas
pesquisas em História da Educação, por possibilitar interrogar ações e discursos produzidos pelos
intelectuais Bacharéis em Direito no século XIX em relação à educação, tendo em vista tratar-se de um
período de organização de projetos de Brasil. Para tanto, a ampliação e renovação das pesquisas em
História da Educação no Brasil abre um espaço importante para o aprofundamento e difusão de
investigações que tratem de temas relevantes para a educação brasileira, possibilitando o
desenvolvimento da pesquisa sobre as teses defendidas na Academia de Direito de São Paulo, as quais
trazem indícios para os projetos de educação e questões sobre a escravidão e educação dos negros no
Brasil. Assim, partimos do suposto que idéias, argumentos e conceitos mobilizados pela intelectualidade
brasileira ao elaborar projetos de Brasil expressam dilemas e ambiguidades vividas pela sociedade
brasileira, em face da urgência de se instaurar processos de universalização e totalização que deveriam
servir como guia das sociedades interessadas/envolvidas com o paradigma da modernidade.
Pretendemos por intermédio do estudo fazer avançar a elaboração de uma teoria sobre o lugar da
intelectualidade brasileira na construção da esfera pública e produzir entendimentos sobre as noções de
moderno, modernidade e modernização, presentes no projeto maior desenvolvido no Grupo de Estudo
e Pesquisa em História da Educação (GEPHE), da Faculdade de Educação da UFMG. A localização do
sujeito intelectual e seus deslocamentos no espaço social são tomados como elementos centrais na
investigação. São elementos de uma mesma operação. O sujeito e o espaço social que ele ocupa são
criados e recriados a todo o momento como resultado do percurso, das escolhas, das experiências
vividas, das relações estabelecidas e não seu ponto de partida. O itinerário intelectual não é um dado
pronto, a priori, ele é própria história e não a condição para seu desenrolar. Portanto, o trabalho tem
como objetivo ampliar a análise do lugar ocupado pela educação nos projetos de Brasil, incluindo a
questão da escravidão e educação dos negros. Interessa-nos sistematizar e interrogar conceitos,
argumentos e intencionalidades presentes em discursos e ações que atribuíram à educação escolar o
lugar de instância mediadora dos processos de construção da cultura nacional e racionalização de
manifestações culturais diversificadas.

1130
THOMAZ ESPINDOLA: UM LIBERAL DO IMPÉRIO E SEUS ESCRITOS SOBRE A RENOVAÇÃO DA
ESCOLARIZAÇÃO ALAGOANA

MARIA DAS GRAÇAS DE LOIOLA MADEIRA; ROSEMEIRE DOS REIS SILVA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS, MACEIÓ - AL - BRASIL.

A obra do médico alagoano Thomaz do Bomfim Espíndola (1832-1889) tem sido objeto de estudo de
duas pesquisas em andamento no PPGE/CEDU/UFAL, intituladas “Recuperação de acervo bibliográfico
de docentes alagoanos (1840-1960)”, financiadas pelo CNPq no biênio 2009-2011, e “Estudo sobre
materiais didáticos referentes ao ensino de História no Império em Alagoas (1840-1888). Este trabalho
visa elaborar um perfil biográfico de Espíndola, com atenção para duas obras publicadas: o Relatório da
Instrução Publica e Particular da Província das Alagoas (1866) e o compêndio Elementos de Geografia e
Cosmografia oferecido à mocidade alagoana (1874). Do ponto de vista metodológico, as produções
analisadas foram rastreadas em acervos de obras raras de Maceió e acompanhadas da compreensão de
que para se aventurar na análise da escrita de determinado intelectual faz-se necessário, também,
conforme Certeau (1982), simultaneamente capturar a sua inserção social, política e cultural no tempo
vivido, ou, como nos lembra Bloch (2001), apreender a atmosfera intelectual na qual o sujeito está
imerso em dilemas que não são mais os nossos. Desse modo, pretende-se, conforme salienta Dosse
(2009), pensar obra e vida juntas, sem reducionismos, colocando-as em tensão. Espíndola foi lente de
Geografia, História e Cronologia do Liceu de Maceió, ocupou várias legislaturas no parlamento e cargos
na Diretoria da Instrução Pública de Alagoas, na segunda metade do século XIX, em especial, o de
Diretor Geral de Estudos. Como principal redator do jornal O Liberal, dada a vinculação ao Partido, ele
ocupou na Assembléia Provincial um lugar marcadamente polêmico, em especial, sobre o fechamento
do Liceu de Maceió em 1861, ao fazer a defesa da não-extinção de cadeiras de Geografia e História,
áreas que lhe interessavam de perto. Tecia críticas ao currículo do Liceu, por ele considerado obsoleto,

485
relacionadas às cadeiras de Análise dos Clássicos, Retórica e Filosofia, aos métodos e livros didáticos das
escolas de primeiras letras e aos castigos físicos que retiravam do aluno o gosto intelectual pela Ciência
moderna e por não vinculá-lo ao tempo no qual vivia. Essas críticas foram transformadas em propostas
de leis provinciais do ensino e em publicações, entre elas, consta um relatório da instrução pública e
particular de Alagoas (1866), em cujo teor situa o ensino provincial nos anos de 1835 e 1865, sob a luz
de seu olhar de Inspetor Geral de Estudos, cargo ocupado à época e para o qual o documento havia sido
elaborado. A outra publicação é um compêndio de Geografia (1874) onde veicula uma dada noção de
sociedade, escola e de saber, projetada nos estudos da referida área, por entender tratar-se de um
conhecimento utilitário e necessário aqueles vinculados a administração pública. O conteúdo e seu
modo de exposição anunciam matrizes do alemão Alexander von Humboldt, herdeiro do pensamento
cartesiano, para o qual a verdade cientifica obedecia a critérios de ordem e de clareza das idéias.

1364
TRAPOLINAGENS (IN)CONTIDAS NOS LIVROS DIDÁTICOS

CLAUDIA CRISTINA DA SILVA FONTINELES.


UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ, TERESINA - PI - BRASIL.

A pesquisa histórica tem recebido muito impulso ao longo do século XX, o que tem repercutido na
produção histórica na primeira década do século XXI, diversificando seus métodos, temas e abordagens.
Todavia, essa produção ainda se ressente de estudos mais sistematizados em relação a questões
voltadas para o ensino de História, seja em suas concepções teóricas, seja nas metodologias adotadas
nas escolas de Educação Básica. No caso brasileiro, isso repercute tanto os caminhos seguidos pela
própria história nacional quanto a trajetória traçada pelo ensino de História, principalmente após as
intervenções estatais voltadas ao sistema de ensino ocorridas durante as duas décadas que sucederam a
1964 – período marcado por uma série de reformas que repercutiram diretamente no currículo escolar
e nos cursos de formação de professores nessa área. A carência relativa a esse campo do conhecimento
fica ainda mais acentuada quando se refere à produção de recursos didáticos produzidos sobre a
História do Piauí, sobretudo quando o público alvo são os estudantes dos anos iniciais do Ensino
Fundamental – nível de ensino cuja responsabilidade pela docência é assumida predominantemente por
professores polivalentes. Nesse sentido, o presente trabalho visa analisar como dois livros didáticos
"Piauí: tempo e espaço" e "Teresina: tempo e espaço" - obras publicadas e adotadas em escolas das
redes pública e privada de ensino na década de 1990 - atuaram como a principal tentativa de reagir
contra essa omissão em relação ao ensino de História nos anos iniciais do Ensino Fundamental, ao
mesmo tempo em que funcionaram como elementos articuladores entre as pesquisas acadêmicas
acerca do cenário piauiense e a Educação Básica, haja vista ser o principal recurso pedagógico e didático
voltado para o ensino de História do Piauí no período em todos os níveis de ensino. Procura-se, por
meio desse estudo, perceber como esses livros, mais que recursos didáticos, atuaram como
instrumentos de valorização da história e da cultura piauienses, além de funcionarem como elementos
promotores de um ensino reflexivo em uma época em que predominava a história narrativa descritiva
nas obras didáticas. Para tanto, esta pesquisa mantém interlocução teórica com os estudos de Roger
Chartier, Michel de Certeau, Selva Guimarães Fonseca, Nelma Baldin e Maria Cecília Silva de Almeida
Nunes, esta última uma das autoras das referidas obras, cuja atuação acadêmica e profissional foi
permeada pela preocupação com o ensino de História.

1284
TRATADOS DE PEDAGOGIA PARA A FAMÍLIA: ALIANÇA ENTRE IGREJA E MEDICINA NA CONFORMAÇÃO
DA SOCIEDADE BRASILEIRA

JULIANA VITAL ABREU DAVID; EVELYN DE ALMEIDA ORLANDO.


UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL.

486
Os manuais que elegiam o espaço do lar como alvo privilegiado para sua destinação configuram uma
importante documentação para a História da Educação ainda pouco explorada pelo campo. Este
trabalho tem em vista analisar a representação desses impressos na sociedade brasileira atentando,
especificamente, para os livros “Noivos e Esposos”, “A Educação dos Filhos”, “Como Corrigir seu Filho”
do Monsenhor Álvaro Negromonte e para a obra “Faça seu filho feliz: a higiene mental da criança e do
adolescente” do médico Fernando Magalhães Gomes. O uso do impresso por esses intelectuais
contribui com a História da Educação por dar visibilidade a um conjunto de estratégias educativas
endereçadas às famílias com o objetivo de constituir um corpus de saberes pedagógicos, voltados para a
esfera do lar. Esses manuais possuíam um nítido caráter normativo e visavam instruir seus leitores,
sobretudo as mulheres, sobre os padrões de conduta adequados à sociedade brasileira entre as décadas
de 30 e 60 do século XX. Neste contexto, tanto a Igreja como a ciência médica buscavam, através da
produção de saberes formativos, se afirmar de forma interdependente, tomando a família como ponto
de partida, imprimindo idéias, valores, hábitos de conduta, modelando afetos e comportamentos. O que
estava previsto nesses manuais ia além da formação de leitores. Era a produção de um grupo social
instruído dentro dos liames do catolicismo e da Higiene chamado a desempenhar uma função na
sociedade que necessitava de uma sólida base teórica. Esse caráter teórico dá aos livros do Negromonte
e do Fernando Gomes um caráter de “Tratado de Pedagogia”. Não obstante essa representação, esse
tipo de impresso se apresentava de maneira teórica e prática ao leitor, revelando a preocupação de
produzir um conjunto de saberes prescritos em lições de “saber” e “saber fazer”. Esse formato os torna
similares aos manuais de civilidade em sua condição de “instrumentos de ‘condicionamento’ ou
‘modelação’, de adaptação do indivíduo aos modos de comportamento que a sociedade onde vivem
torna necessários. Nesse sentido, o diálogo com Chartier, Certeau, Elias, Carvalho e Toledo é
fundamental para essa análise no que concerne a compreensão da representação do impresso no bojo
de um conjunto de estratégias e táticas voltado para a configuração de uma determinada sociedade. No
âmbito da família, Donzelot, Lasch, Del Priore e Magaldi fornecem importantes subsídios teóricos para
esta análise e contribuem diretamente para ampliar essa vertente da historiografia da educação.

414
TRAÇOS, LINHAS E CORES NA OBRA DIDÁTICA DE LOURENÇO FILHO: EXPRESSÃO E CONTEÚDO NAS
IMAGENS DA SÉRIE DE LEITURA GRADUADA PEDRINHO (1953-1970)

RAQUEL DE ABREU.
UFSC, SAO JOSE - SC - BRASIL.

A presente comunicação faz parte do conjunto de resultados obtidos na dissertação de mestrado “A


Série de Leitura Graduada Pedrinho (1953-1970) e a perspectiva de socialização em Lourenço Filho”,
defendida em julho de 2009, pelo Programa de Pós Graduação em Educação da Universidade Federal de
Santa Catarina - UFSC. Entre 1953 e 1970 a Edições Melhoramentos publicou uma série de livros
didáticos para a escola primária brasileira, a Série de Leitura Graduada Pedrinho, que reúne quatro
volumes para leitura graduada e uma cartilha, acompanhados pelos respectivos exemplares para
orientação dos professores, os Guias do Mestre. O autor da série é o intelectual-educador Manoel
Berström Lourenço Filho (1897-1970), um dos integrantes do movimento escolanovista brasileiro e o
ilustrador Oswaldo Storni (1909-1972), artista plástico com nome relacionado à história da ilustração de
livros infantis e juvenis e revistas em quadrinho brasileiras. A série representou uma inovação no
mercado de livros didáticos na época, não só pelos conteúdos escritos, que narram o desenvolvimento
escolar de uma criança inserida num mundo social específico, mas também pelo interior dos exemplares
fartamente ilustrados, chamando atenção para o verde-amarelismo das capas. Com o objetivo de
discutir a perspectiva de socialização da criança brasileira na obra didática de Lourenço Filho, neste
artigo, o recorte analítico prioriza, através de metodologia apropriada - o semi-simbolismo, a utilização
das imagens impressas nas capas de dois exemplares da coleção, Pedrinho e seus amigos e Aventuras de
Pedrinho, segundo e terceiro volumes respectivamente. Os livros podem representar uma história social
que pode ser decomposta também em imagens e não somente em códigos da escrita tradicional, pois a
utilização de imagens como fontes documentais possibilita a compreensão do que há de representativo,
do que foi selecionado e hierarquizado pelo autor da série. Ao analisar as imagens selecionadas nas

487
capas dos livros didáticos, realizamos um exercício de fusão entre imagens do passado construído e de
um presente também em construção, dando margem a construções interpretativas. Ao realizar análises
das ilustrações como se fora um texto escrito, considerando a relação semi-simbólica entre o plano de
expressão – PE, e o plano de conteúdo – PC, identifica-se um universo de possibilidades analíticas para
decodificação das mensagens contidas nas imagens. Estas que nos permite dizer quem é o protagonista
da série e como essa criança deve ser educada. Como em um texto escrito, as ilustrações das capas dos
dois volumes selecionados são um enunciado para os conteúdos apresentados no interior dos
exemplares e, especialmente, podem indicar a perspectiva de socialização que permeia essa obra de
Lourenço Filho dirigida para a criança do ensino primário brasileiro nos primeiros anos da segunda
metade do século XX.

506
UM LIVRO PROVEITOSO PARA A MOCIDADE ESTUDIOSA DA BELÉM DO DO PARÁ NO COMEÇO DO
SÉCULO XX: ALMA E CORAÇÃO

MARICILDE OLIVEIRA COELHO.


EAUFPA, BELEM - PA - BRASIL.

A expansão da escola primária e o fortalecimento dos estados-nação, a partir de meados do século XIX,
proporcionaram o crescimento da produção e da venda de livros específicos para uso escolar em vários
países do mundo. Entre esses livros, aparecem livros de leitura corrente com narrativas que traziam
lições de História, Geografia, Ciências, mas, sobretudo, de lições morais. Na França, um exemplo desse
tipo de leitura é o livro Le tour du France par deux enfants: le petit livre rouge de la Republique, de
1877; na Itália, Edmund de Amices publicou Cuore em 1886 e na Alemanha, Selma Lagerlof publicou Nils
Holgerssun em 1906. No Brasil, Olavo Bilac e Manoel Bomfim lançaram, em 1910, Através do Brasil, livro
que narra a aventura de duas crianças em viagens por diversas regiões do país. Ao estudar esses livros, é
permitido ao pesquisador observar qual o projeto proposto para a infância naquele momento histórico.
Como nos lembra Roger Chartier (2001), a leitura intensa do texto tem o poder de tornar-se uma
referência à maneira de pensar. A comunicação ora apresentada tem por objetivo analisar o livro de
leitura Alma e Coração, de autoria do deputado paraense Higino Amanajás. Publicado em 1900 na
cidade de Belém, o livro Alma e Coração foi destinado, pelo Conselho Superior de Instrução Pública, aos
alunos do segundo ano do curso primário superior. Sua primeira edição saiu pela Tipografia J.B. dos
Santos, com uma tiragem de cinco mil exemplares. Nos anos seguintes, foram publicadas mais quatro
edições pela Tipografia da Imprensa Oficial, sendo a quinta e última edição datada de 1905. Escrito no
alvorecer da República brasileira e indicado para a mocidade estudiosa, este livro traz, em suas cento e
setenta e três páginas, “agradáveis prelações”, que serviram de suporte para o professor primário
“despertar no espírito das crianças” os valores morais e cívicos almejados pela recente sociedade
republicana. Valores estes que primavam pelo exercício de uma liberdade sem excessos e o respeito às
leis e às autoridades. Walter Benjamin, no texto “O Narrador” (1975), afirma que essas lições são
próprias dos romances de formação, onde a narrativa se estrutura num plano com o intento de
transmitir ensinamentos. Além disso, a publicação do livro Alma e Coração remete ao inicio do processo
de nacionalização do livro escolar, considerando-se que até o último quartel do século XIX, os livros
estrangeiros, em traduções e adaptações muitas vezes duvidosas, prevaleciam no ensino das crianças
brasileiras.

840
UM OLHAR DO PASSADO, UMA VISÃO DO PRESENTE: JOAQUIM MARIA MACHADO DE ASSIS, SEUS
LIVROS E AS DEDICATÓRIAS COMO VESTÍGIOS DA MEMÓRIA

VERA LUCIA ALVES BREGLIA.


UNIV.FEDERAL FLUMINENSE (UFF), RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL.

488
Trabalha as dedicatórias encontradas nos livros ofertados a Machado de Assis. A escolha das
dedicatórias como peças fundamentais do estudo não se pautou apenas na preservação e reconstituição
do acervo machadiano; vislumbrou-se a relevância de uma análise cuja natureza possibilitava
reconstruir a memória literária e cultural do país. O olhar sobre a história da Biblioteca de Machado de
Assis permitiu que se entendesse a importância do acervo, sua singularidade, a trajetória intelectual do
escritor e a importância das dedicatórias para a reconstrução das relações intrínsecas e extrínsecas e,
nessas relações, identificou-se as articulações que configuram as dedicatórias como vestígios de
memória. Por meio da análise das dedicatórias do acervo machadiano acreditou-se ser possível verificar
que vestígios de memória são esses, como podem ser reconstruídos, aspectos que se constituíram em
objetivos do estudo. A fundamentação necessária para desenvolver a parte inicial da pesquisa teve
como referência Piza (2008), Vianna (2001) Jobim (2001), Chartier (2000), Le Goff (1997) Halbwachs
(2004) Nora (1993), Pollak (1992), Ricoeur (2001) e Ginszburg (1989). Para atingir os objetivos propostos
foi necessário estabelecer algumas etapas: a primeira delas foi buscar em alguns autores, uma
metodologia de análise, um caminho que levasse a termo o estudo. Nessa etapa, os autores referência
foram Bardin (1977) e Minayo (1992). Na segunda etapa foi necessário escolher o arranjo, o recorte a
ser feito no conjunto de dedicatórias. A decisão recaiu sobe um arranjo cronológico. Para que se
pudesse melhor observar as dedicatórias, decidiu-se sistematizá-las por meio de quadros, com o nome
do doador, nome do autor seguido de título e local de publicação, e também a data com o local que
registrado pelo ofertante. Finalizado o estudo, identificou-se uma concentração de obras ofertadas no
final do século XIX e início do XX o que confirmou a hipótese de que Machado recebeu mais livros a
partir da época em que se tornou presidente da Academia Brasileira de Letras. Os resultados levaram a
consolidar o conceito das dedicatórias como vestígios de memória: parte da memória literária carioca
no período de vida do escritor Machado de Assis - costume do meio literário da época de ofertar livros
dedicados. Também foi possível recuperar a escrita da época, tanto na ortografia, como no estilo usado
e visualizar a rede de sociabilidade do escritor que incluía estrangeiros, na sua maioria, portugueses.

433
UMA ANÁLISE DA QUALIDADE DA ESCOLA NO BRASIL A PARTIR DA CONTRIBUIÇÃO DE ANÍSIO
TEIXEIRA (1934/1971)

BERENICE CORSETTI.
UNISINOS - UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS, PORTO ALEGRE - RS - BRASIL.

Este texto apresenta resultados parciais de pesquisa que está sendo realizada sobre a problemática do
rendimento escolar no Brasil, envolvendo o período de 1934 até 2010. Neste momento realizamos um
recorte temporal situado entre 1934 e 1971, analisando a contribuição de Anísio Teixeira no que
interessa para a reflexão sobre a questão do rendimento escolar, tema presente em sua obra
relacionado com a qualidade da escola. A investigação possibilitou apontar as iniciativas adotadas por
esse educador, com vistas à melhoria do rendimento da aprendizagem nas escolas brasileiras. A
contribuição de Anísio Teixeira para a educação brasileira já foi ressaltada sobremaneira, por diversos
estudiosos da nossa história. Interessa-nos, entretanto, resgatar alguns de seus posicionamentos, em
função da relevância que adquirem para a reflexão que empreendemos, sobre a problemática do
rendimento escolar no Brasil. As considerações de Anísio Teixeira são fundamentadas em dados
estatísticos sobre a realidade da escola brasileira. A partir dos dados que apresentou, Anísio Teixeira
afirmava a franca deterioração do ensino primário, com a exacerbação do caráter seletivo da educação,
na sua tendência de preparar alguns privilegiados para o gozo de vantagens de classe e não o homem
comum para a sua emancipação pelo trabalho produtivo. Naquele momento histórico, a escola primária
foi colocada como parte importante do processo de modernização do país, o que tornou a questão do
rendimento escolar tema relevante no cenário educacional brasileiro. Através da obra de Anísio Teixeira
é possível perceber a presença marcante da influência norte-americana, por meio de autores e de
processos avaliativos e planos de reorganização escolar. Além disso, pudemos identificar que a avaliação
do rendimento da aprendizagem definiu a reorganização da escola, das classes e do sistema de
promoção dos alunos, além de promover a reformulação dos programas, dos métodos, e da formação
de professores. Nesse processo, a avaliação do rendimento escolar foi utilizada para a obtenção da

489
qualidade, do disciplinamento e do controle da escola. Trata-se de um trabalho historiográfico, baseado
em fontes documentais. O conjunto de pressupostos teóricos que orientou o procedimento
metodológico de nosso trabalho fundamenta-se na perspectiva dialética. Conferimos ao trabalho uma
dimensão estrutural, sem excluir a análise de elementos conjunturais que foram percebidos a partir dos
elementos factuais apontados pelo levantamento empírico da realidade investigada. Nessa direção,
adotamos, como fundamento teórico-metodológico de nosso trabalho, a metodologia histórico-crítica.

736
UMA ASSOCIAÇÃO FEMININA NAS PÁGINAS DO JORNAL A UNIÃO NAS DÉCADAS DE 1930 E 1940

VERÔNICA DE SOUZA FRAGOSO.


UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA, JOAO PESSOA - PB - BRASIL.

Este artigo compõe a pesquisa, em andamento, cujo título é Associação Paraibana Pelo Progresso
Feminino: contribuições educacionais para a mulher paraibana (décadas de 1930 e 1940), e insere-se na
linha História da Educação junto ao projeto Educação e educadoras na Paraíba do século XX: práticas,
leituras e representações. Inscrito na perspectiva teórico-metodológica da Nova História Cultural, que
propicia o ingresso de novas fontes, novos objetos de estudo e novas abordagens no campo
historiográfico, tem como objetivo identificar as contribuições educacionais da Associação Paraibana
pelo Progresso Feminino, para a formação da mulher paraibana circunscrita no universo temporal que
vai de 1930 a 1940. Trabalhar com estudos que contribuam de alguma forma para trazer à tona a
história da mulher, e mais especificamente a mulher paraibana, é importante, pois se trata de uma
agente até pouco tempo obscurecida. Embora seja possível assinalar um interesse crescente pela
história das mulheres, expresso através da publicação de livros, da formação de grupos de pesquisa
voltados para temáticas que põem não só a mulher, mas também as questões de gênero em foco, ainda
há muito a ser descoberto. A Nova História Cultural possibilitou um novo olhar em relação ao papel
feminino, cuja existência passou a constituir-se enquanto sujeito social, proporcionando um encontro
exitoso entre a renovação teórico-metodológica da história com a publicização da história das mulheres.
Utilizando-se do canal aberto pela imprensa escrita, através do jornal A União, a organização
denominada Associação Paraibana Pelo Progresso Feminino (APPF), fundada em 11 de março de 1933,
célula da Federação Brasileira Pelo Progresso Feminino (FBPF), criada em 1922 por Bertha Lutz e Maria
Lacerda de Moura, publica textos significativos para o amadurecimento do movimento feminista na
Paraíba, direcionando principalmente para a defesa do sufrágio feminino através da educação. Não
existem registros ainda explorados sobre o papel educacional dessa associação para a formação das
mulheres paraibana, naquele contexto. Essa pesquisa procura trazer á luz esse universo velado, cujos
documentos contribuirão para ampliar o conhecimento da história da educação da Paraíba e da história
das mulheres. Será realizada uma pesquisa de caráter histórico apoiando-se na análise documental cuja
coleta de dados conduzirá a uma interpretação da configuração das décadas de 1930 e 1940. As
associadas da APPF divulgaram suas idéias através de uma coluna no Jornal A União, órgão oficial do
Estado, em um espaço denominado Página Feminina. Espera-se que a pesquisa revele o ideário da APPF
e sua contribuição ao movimento feminista na Paraíba; identifique as razões históricas, políticas,
econômicas, sociais, ideológicas geradoras de suas concepções sobre a educação e instrução das
mulheres.

680
UMA EDUCADORA NA COORDENADORIA DO BEM ESTAR SOCIAL, SÃO PAULO, 1979-1981
1 2
DARCI TEREZINHA DE LUCA SCAVONE ; MOYSÉS KUHLMANN JUNIOR .
1.USF, ITATIBA - SP - BRASIL; 2.USF / FCC, ITATIBA / SAO PAULO - SP - BRASIL.

UMA EDUCADORA NA COORDENADORIA DO BEM ESTAR SOCIAL, SÃO PAULO, 1979-1981 Darci
Terezinha De Luca Scavone Universidade São Francisco darci.scavone@gmail.com Moysés Kuhlmann

490
Junior Universidade São Francisco / Fundação Carlos Chagas / bolsista de produtividade em pesquisa do
CNPq moyses@saofrancisco.edu.br Este estudo, que é parte de pesquisa de mestrado em andamento,
tem por objetivo apresentar a trajetória de Therezinha Fram, pedagoga que, de 1979 a 1981, assumiu o
principal cargo da Coordenadoria do Bem-Estar Social da prefeitura de São Paulo (COBES), órgão
responsável, entre outros serviços, pelas creches no município. Esta investigação histórica procura
localizar Therezinha Fram como agente social que ocupou posições num espaço e tempo determinados
e pretende contribuir para a compreensão sobre a implantação da rede pública de creches diretas na
cidade de São Paulo. Todos possuem raízes: pessoas, grupos sociais, instituições, mas de que modo esse
passado se revela? Para localizar vestígios e sinais de sua atuação e responder algumas indagações,
lançou-se mão dos estudos de Ginsburg (1987), Chartier (1990), Williams (1992) e Hosbsbawm (1998).
As fontes bibliográficas e documentos estudados compõem o acervo do arquivo da Secretaria Municipal
de Assistência e Desenvolvimento Social da prefeitura de São Paulo e do Centro de Documentação,
Biblioteca e Arquivo da Secretaria de Estado de Assistência e Desenvolvimento Social do governo de São
Paulo. Desde a década de 1960, Fram, militante católica, educadora, docente e diretora de escola
pública, exerceu funções e cargos públicos de direção e assessoramento, e cargos de confiança no
primeiro escalão, nas áreas da educação e da assistência, na prefeitura e no governo de São Paulo. Foi
membro do Conselho Estadual de Educação e foi uma das interventoras do Serviço de Ensino Vocacional
(SEV) da SEE. Faz parte da Academia Paulista de Psicologia e da Fundação Abrinq. A partir dos anos
1980, dedicou-se às questões relacionadas aos direitos humanos. Em 1979, o novo governo paulistano
nomeava como coordenadora da COBES uma pedagoga, em uma seara dominada por assistentes
sociais. Ali, Fram encontrou todo tipo de problemas: as mulheres estavam nas ruas, lutavam por
melhores condições de trabalho e liberdade, e as mães exigiam creches públicas. Quieta, covarde,
misteriosa, esses eram os ditos de pessoas que trabalharam com ela. A curiosidade se manteve da
chegada à despedida. Como entrou, saiu. A investigação realizada mostra que, na COBES, Therezinha
Fram possibilitou o exercício da democracia nas relações de trabalho e na construção coletiva do projeto
de implantação da nova política de atuação da COBES e pode ter influenciado na concepção da creche
como política pública de direitos.

1105
UMA HERMENÊUTICA DO NACIONAL NA PRIMEIRA REPÚBLICA: EDUCAÇÃO, REFORMAS SOCIAIS E
REVOLUÇÃO NO PENSAMENTO RADICAL DE MANOEL BOMFIM
1 2
JEAN CARLO CARVALHO COSTA ; AMANDA SOUSA GALVINCIO .
1.UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA, JOAO PESSOA - PB - BRASIL; 2.UNIVERSIDADE FEDERAL DA
PARAÍBAA, JOÃO PESSOA - PB - BRASIL.

A consolidação dos Estados-nação, na América, apresenta um artifício que possibilita diferenciá-los da


constituição dos Estados nacionais europeus, pois o elemento acionador desse movimento é romper
com o que se denominou Era do Impérios, período de hegemonia política de alguns e de autocrítica de
outros. As teses defendidas em torno da viabilidade ou não da construção das novas nações foram
discutidas pelos intelectuais e “mandarins” da época em torno da América Latina. Entre Império e
República, muitos foram os temas da agenda política e conceitual da intitulada “Geração de 1870”:
iberismo, democracia, reformas, liberalismo, cidadania, instrução entre outros. Essa “agenda” existiu em
aberto, sendo alvo de avaliação e de crítica constantes nos embates internos à intelligentsia. A
historiografia tem destacado os “caminhos” apontados por Manoel Bomfim (1868-1932), devido a sua
crítica às supostas razões que, do ponto de vista do pensamento brasileiro, alicerçavam o “atraso” e a
sua expansão conceitual à própria idéia de nação. O percurso dessa investigação, já finalizada, extraiu a
idéia de que sua obra pode ser sistematizada em três áreas de atuação intelectual: historiográfica,
educacional e psicológica, constituintes de sua hermenêutica sobre o Brasil. Ainda que ampla e profícua,
tendeu ao ostracismo ao longo do século XX, retomada nas últimas décadas como conseqüência das
mudanças relativas a um novo olhar sobre o passado. Essa retomada tem sido realizada a partir,
principalmente, da obra ensaísta e historiográfica, alvo dessa intervenção, que compreende “América
Latina: Males de origem (1905)”, o seu principal livro, rompendo com os modelos interpretativos sobre
o Brasil, hegemônicos até então; “O Brasil na América. Caracterização da Formação Brasileira” (1929),

491
“O Brasil na História. Deturpação das tradições, Degradação Política” (1930) e o “Brasil Nação. Realidade
da Soberania Brasileira” (1931). A interpretação de Bomfim relativa às razões de uma autocompreensão
depreciativa da formação nacional nos legou ferramentas a uma crítica historiográfica e a uma espécie
de cartografia da agenda reformista instituída no Império e início da Primeira República. Para fins de
conclusão, pode-se dizer que o seu radicalismo o insere em uma linhagem de intelectuais que insistem
em preservar “escolhas democráticas” em nível institucional. Ao mesmo tempo em que o aproxima de
um radicalismo mais exacerbado guiado através do papel que o conceito de “revolução” exerce sobre
essa geração. A sua hermenêutica, assim, desdobra-se em elemento utópico associado à emancipação
via educação que, hoje, alimenta as gerações contemporâneas e nos convida a re-pensar a não
consolidada agenda reformista instituída no Império.

630
UMA NOVA ESCOLA A PARTIR DOS PRINCÍPIOS CIENTÍFICOS: OS DISCURSOS MÉDICOS SOBRE A
REFORMA DA EDUCAÇÃO NACIONAL (RIO DE JANEIRO 1920-1940)

RONALDO AURÉLIO GIMENES GARCIA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - UFSCAR, FRANCA - SP - BRASIL.

No Brasil no início do século XX as influências das idéias positivistas, advindas da Europa, com seus
ideais de reforma social e de forte confiança no papel da ciência acabavam colaborando para a
constituição de uma modelo de Estado e de Administração de inspiração liberal. No entanto a realidade
continuava excludente, principalmente em relação à maioria da sociedade brasileira. Foi em meio a este
contexto histórico que algumas experiências de intervenção direta na realidade social começam ser
implantadas. Um exemplo disso foram as reformas educacionais que ocorreram em diferentes lugares
do país, principalmente a partir da década de 1920. Entre os líderes destas propostas reformistas,
estavam os escolanovistas. O Movimento Escola Nova no Brasil também contou com a participação de
profissionais da medicina. Estes estavam imbuídos de um ideal de reorientação da educação nacional
por meio do emprego de testes científicos e de uma nova forma de escola que superasse os métodos
tradicionais de ensino, tido como ineficientes e desconectados da realidade do mundo industrial e
moderno que queriam ver implantados no Brasil. Os médicos se propunham a pensar um modelo de
educação que levasse em conta as contribuições da higiene mental, da psiquiatria e da psicanálise. Uma
nova concepção de infância passava a ser difundida. Agora os pequenos eram apresentados como seres
em intensa atividade cognitiva que deveriam ser estimulados a se desenvolverem sem os excessos dos
cuidados adultos. Toda esta preocupação com a formação de um ser livre de recalques que não viesse a
desenvolver neuroses futuras na fase adulta não poderia ser realizado num modelo tradicional de
escola, onde a autoridade inquestionável de mestres e pais colaborava para a gestação de uma
sociedade de homens neuróticos e reprimidos. Por isso a defesa de um novo modelo de educação que
levasse a criança a pensar, a desenvolver livremente sua capacidade e criatividade e que sua curiosidade
fosse estimulada. O papel do professor não seria outro que não o de guiar os alunos até o
conhecimento, mas sem imposições ou autoritarismos. Entre os profissionais da medicina preocupados
com todas essas questões estavam os médicos: Arthur Ramos, Afrânio Peixoto e Júlio Pires Porto-
Carrero. Todos vinculados à área médica no Rio de Janeiro que produziram estudos sobre a
possibilidade do emprego da psicanálise na educação. O discurso médico sobre as questões do ensino
era veiculado por estudos publicados e em encontros e congressos de educação e higiene mental. O
objetivo desta pesquisa é compreender o papel do discurso médico no interior do Escolanovismo, bem
como as alternativas apontadas pelos intelectuais da medicina para a educação nacional. As fontes
utilizadas foram obras escritas e publicadas pelos referidos autores entre os anos de 1930 e 1940. Trata-
se de uma investigação ainda em curso.

405
UMA OBRA REFERÊNCIA PARA PROFESSORES RURAIS: "A ESCOLA PRIMÁRIA RURAL"
1 2
DORIS BITTENCOURT ALMEIDA ; LUCIANE SGARBI GRAZIOTTIN .

492
1.UFRGS, PORTO ALEGRE - RS - BRASIL; 2.UCS, CAXIAS DO SUL - RS - BRASIL.

O presente trabalho analisa a obra “A Escola Primária Rural”, produzida pela professora e técnica rural
Ruth Ivoty Torres da Silva, no início da década de 1950, no Rio Grande do Sul. Pretende-se investigar as
representações construídas sobre o mundo rural; representações acerca dos significados da escola,
acerca dos professores, dos alunos, das populações rurais, de um modo geral. O estudo insere-se no
campo de investigações da História da Educação, sendo esta uma componente fundamental da história
das práticas culturais e do cotidiano social. A pesquisa identifica-se com os pressupostos teóricos da
História Cultural, corrente historiográfica que busca outras alternativas à história de cunho tradicional.
O trabalho também se inscreve nos estudos da imprensa pedagógica, no campo da história das práticas
de leitura e escrita, tendo como referenciais as concepções da cultura escrita enquanto uma produção
discursiva de um determinado tempo e lugar. O livro em questão constitui-se em um documento
significativo para a História da Educação, por reconstruir o imaginário educacional rural, analisar o
ensino nas regiões campesinas, relatar experiências desenvolvidas em diferentes escolas e propor
atividades práticas relacionadas ao trabalho pedagógico do professor. Para além da apresentação dos
temas abordados no livro, a investigação está especialmente interessada nos significados da difusão dos
discursos difundidos pela obra, nos processos de subjetivação provocados pelos textos escritos e suas
possíveis influências nos modos como os docentes rurais pensavam, agiam e se expressavam nos
espaços de construção de suas identidades. Entende-se que os professores rurais foram constituídos por
meio de práticas historicizadas e das inter-relações de diferentes discursos que se difundiam e se
sustentavam na sociedade brasileira das décadas passadas e, portanto, se viam projetados nas páginas
do livro. Por isso, o forte potencial educativo do trabalho de Ruth Silva, pois seus escritos legitimam
condutas e comportamentos, são suportes que se fazem ler, ouvir ou ver e produzem sentidos. Assim,
quando professores se identificam com os temas circulantes, eles se tornam assujeitados a esses
discursos, seja por um processo de adesão ou de identificação, e começam a se reconhecer e,
paralelamente, a se constituir como sujeitos. Para desenvolver esta investigação, foram fundamentais
os estudos de Michel Foucault e de Roger Chartier, nas abordagens referentes à constituição dos
sujeitos, às produções discursivas, a apropriação e aos protocolos de leituras.

1102
VERNEY: UM PRECURSOR DA LEGISLAÇÃO POMBALINA

GISELLE MACEDO BARBOZA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE, ARACAJU - SE - BRASIL.

Este trabalho é fruto de uma pesquisa que ainda está em desenvolvimento. Seu ponto de partida é
compreender as principais mudanças no tocante ao ensino de línguas durante o período em que
Sebastião José de Carvalho e Melo (1699-1782) constituiu o gabinete de D. José I e expediu junto aos
seus colaboradores um conjunto de peças legislativas de 1750 até 1777 que impulsionaram as reformas
pombalinas da instrução pública. Para concretizar tal objetivo, fez-se a leitura de duas leis referente ao
ensino de línguas: a Lei do diretório de 3 de maio de 1757 – documento no qual se proíbe o uso da
língua geral até então comum entre índios e colonos, obrigando-os a falarem a língua portuguesa – e o
Alvará de 19 de maio de 1759 – em que a educação torna-se razão de Estado e regulamenta a profissão
docente ao retirar das mãos dos jesuítas o ensino. Além da leitura desses dois dispositivos, realizou-se a
análise do Verdadeiro método de estudar publicado em 1746 de Luís Antônio Verney (1713-1792), obra
que retomou a discussão iniciada pelos humanistas do século XVI, João de Barros (1496-1570) e Pero de
Magalhães Gandavo (1540-1580) no tocante à política lingüística em que os autores defenderam a
língua portuguesa e reivindicaram seu ensino nas escolas antes do latim em uma época em que este era
transmitido aos discípulos através de mestres enquanto a língua materna era tida como conhecimento
desnecessário nas instituições de ensino, pois poderia ser adquirido no convívio familiar. Verifica-se com
a comparação entre as leis expedidas no período pombalino a influência que o Verdadeiro método de
estudar teve nos projetos educacionais expressos por meio dos ordenamentos jurídicos, sobretudo, no
Alvará de 1759, pois neste documento há várias determinações que se assemelham ao que já havia sido
sugerido pelo pedagogista Luís Antônio Verney, como a crítica ao método jesuítico, ao despreparo dos

493
mestres e à prioridade que se dava ao ensino da língua latina em detrimento da língua portuguesa entre
outros julgamentos no que se refere aos estudos em Portugal. Infere-se então que está obra
representou o espírito iluminista da nação lusitana. Trata-se, portanto, de uma obra essencial para o
estudo das reformas educacionais desse período em Portugal, pois, de acordo com Salgado (1949) o
Verdadeiro método de estudar teria sido o pioneiro na literatura pedagógica portuguesa a traçar
métodos de ensino para os vários tipos de estudo, fundamentados na cultura portuguesa a partir das
orientações, sobretudo, de pedagogistas franceses e alemães.

716
“APRENDENDO A SER MULHER”: O DISCURSO MÉDICO-PEDAGÓGICO VOLTADO PARA AS MULHERES
NO PARANÁ (1916-1926)

SILVIA DE ROSS.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ., PONTA GROSSA - PR - BRASIL.

Esta pesquisa objetivou compreender o discurso médico-pedagógico publicado no periódico Paraná


Médico no início do século XX. Os médicos, no Paraná, foram intelectuais engajados na construção de
discursos-pedagógicos sobre as mulheres. A análise do conteúdo discursivo, publicado em artigos no
jornal Paraná Médico (1916-1926), possibilitou identificar duas categorias centrais: a primeira, explicita
o que era considerado “normal, ideal e educado” para as mulheres e almejado pelos médicos; e a outra,
o que era considerado “desviante” na conduta e no corpo das mulheres. A discussão em evidência
remete ao próprio período da proclamação da República Brasileira, à tentativa de construir o Estado e
uma identidade nacional com base na família e ao movimento de muitos intelectuais brasileiros que
produziram discursos voltados para a definição de papéis sociais. As evocações médicas assumiram um
sentido educacional na medida em que elas contribuíram para a instituição de um padrão de
comportamento para as mulheres. O discurso médico tentava direcioná-las ao cumprimento das
expectativas biológicas e culturais colocadas sobre seus corpos já categorizados como de fêmeas: a
procriação, a maternidade, as atividades de “dona-de-casa” e esposa. As condutas que não se
enquadravam nesse molde eram consideradas “anormais” ou “desviantes”. Mulheres que se envolviam
com política, que não seguiam o padrão heterossexual, que se vestiam com roupas decotadas, que
“arrotavam”, que não casavam ou procriavam ou que se envolviam em atividades consideradas públicas
e masculinas foram histericizadas e estigmatizadas no discurso médico. No entanto, a questão da
necessidade de mão-de-obra trazida pelo sistema capitalista adequou a abordagem da medicina. Os
médicos evidenciaram o dever da sociedade em cuidar dos filhos das mulheres que precisassem
trabalhar mas reafirmaram a posição de centralidade da mulher como mãe, ou seja, a maternidade
deveria continuar sendo primordial em sua vida. Outra ideia em questão foi a complementaridade entre
os sexos. Apoiados no pensamento de que nenhum sexo é inferior, os médicos afirmaram a existência
de funções naturais e sociais específicas para cada corpo e, assim, contribuíram para definição de papéis
sociais tanto para mulheres como para homens. Contudo, ao mesmo tempo em os discursos médicos-
pedagógicos evidenciam a tentativa de educar os corpos também explicitam casos de mulheres que não
agiam, seguiam e respeitavam completamente o padrão considerado hegemonicamente como
“normal”. É possível afirmar, portanto, que a Medicina e o Estado, no Paraná, uniram forças para educar
as mulheres, embora muitas resistissem. A direção central foi tomada a partir da definição do que seria
“normal” e o “anormal” (que foi transformado em patológico) em cada conduta através de explicações
com base numa ciência ocidental, branca, burguesa e europeia.

1267
“COMO SER MULHER” NO ALVORECER DO SÉCULO XX EM PELOTAS: A VEICULAÇÃO DE
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE GÊNERO NO PERIÓDICO DIARIO POPULAR (1909-1920)

RITA DE CÁSSIA GRECCO DOS SANTOS.


FURG E UFPEL, PELOTAS - RS - BRASIL.

494
O texto apresenta as principais representações sociais veiculadas na imprensa pelotense sobre “como
ser mulher” nas primeiras décadas do século XX e o possível impacto na produção de sua identidade de
gênero. Atribuímos a articulação e assunção dessas representações socialmente construídas, à
conformação de alguns elementos-chave – tais como o contexto sócio-econômico-político, educacional
e religioso de Pelotas – no alvorecer do século passado, numa sociedade que ansiava por uma formação
feminina nos moldes do recato, da fé e da subserviência, em consonância com o modelo familiar,
católico e higienista acalentado no referido período histórico – de uma “mulher bem comportada” – e
os princípios de modernização da nascente república brasileira. Para empreendermos esta investigação,
assumimos a Historiografia ou como define Certeau (2007), a operação historiográfica como perspectiva
teórico-metodológica, posto que, buscamos com o cruzamento das informações e significações
apreendidas pela triangulação de fontes plurais, realizar um verdadeiro trabalho de construção do
passado (BENJAMIN apud PESAVENTO, 2005) acerca das representações socialmente construídas de
“como ser mulher”, e o possível impacto na produção de sua identidade de gênero. Nesse sentido, além
da revisão bibliográfica sobre o tema, recorremos também à coleta, análise e interpretação dos dados
obtidos no acervo da Bibliotheca Pública Pelotense, focadamente no periódico local “Diario Popular”, no
período de 1909 a 1920. Constatamos que os jornais sulistas na transição do século XIX para o XX e,
especificamente o “Diario Popular” nas primeiras décadas do século XX, não criaram o modelo ideal de
mulher, pois esse já fazia parte do imaginário ocidental. No entanto, é inegável que este meio de
comunicação social contribuiu e, muito, na veiculação de algumas representações sociais de gênero que
impregnaram a mentalidade da sociedade local e regional e forjaram uma figura de mulher plasmada no
perfil de “educadora da família e da sociedade” ou de “mulher trabalhadora, diligente e honesta”. Assim
sendo, reconhecemos que os meios de comunicação social exercem na atualidade e têm exercido há
muito tempo uma profunda e também decisiva orientação na vida social, política e cultural de toda e
qualquer sociedade e, como tal, constituem-se em um importante instrumento de formação e
configuração social de gênero, engendrando e veiculando, portanto, representações socialmente
construídas, comprovando, então, as relações de pertencimento, reprodução e trocas entre o espaço
micro (local) e o macro (sociedades gaúcha e brasileira).

602
“CURSO DE PEDAGOGIA” – UM MANUAL PARA O CURSO DE FORMAÇÂO DE PROFESSOR

MIGUEL ANDRE BERGER.


UNIVERSIDADE TIRADENTES, ARACAJU - SE - BRASIL.

Os manuais pedagógicos constituem-se livros elaborados para formar futuros professores e que
reuniam em escritos sintéticos e fáceis de ler as questões tidas como essenciais para os educadores,
constituindo como produções intermediárias no campo educacional, na medida em que elucidavam
ideias originadas não só da Pedagogia, como também em outros campos, acerca do ideário
escolanovista, da pedagogia moderna, do método intuitivo, a fim de fundamentar o trabalho
pedagógico nas primeiras décadas do século XX. Os manuais pedagógicos são representações
significativas do que se pensava e se disseminava em uma dada época como também mostram como
conceitos eram apropriados por seus autores e leitores quando analisadas as referencias bibliográficas
dos próprios manuais e dos estudos m,onográficos. O interesse pelo estudo desse material como um
artefato da cultura pedagógica de uma época insere-se dentro de uma perspectiva teórico-
metodológica que se situa no campo da história intelectual em sua interface com a história social e
cultural. A História da Educação, enriquecendo-se a partir dos estudos culturais, demonstra crescente
interesse pelos impressos pedagógicos, suas condições de produção, circulação e apropriação,
utilizando das contribuições teóricas de Chartier. O livro “Curso de Pedagogia”, publicado em 1913, é de
autoria de Helvécio Ferreira de Andrade, natural de Capela (Estado de Sergipe), formado em Medicina
em Salvador (BA) e exercendo a função de inspetor da saúde pública em Santos (SP), onde tomou
conhecimento das iniciativas educacionais propostas por Caetano de Campos e do ideário escolanovista.
Esse intelectual atuou como médico, professor da Escola Normal Rui Barbosa e diretor da Instrução
Pública em Sergipe no período de 1913 a 1935. O livro está estruturado em quatro capítulos, discutindo
temas referentes à Psicologia, à Pedologia, à Metodologia e Higiene Escolar. Esse intelectual apropria

495
das contribuições teóricas de Welch, Farias de Vasconcellos, Mantovani, Lalois et Picavet, Binet,
Claparède e Richet (pedologia) Compayré,(metodologia) , Felisberto de Carvalho, Yvert, Jules Simon e
do médico higienista Balthazar Vieira de Mello, além de outros educadores que veiculavm seus escritos
publicados na Revista do Ensino de São Paulo. Helvécio de Andrade consulta esse periodico no período
de setembro de 1911 a novembro de 1912. Esse manual assumiu o papel de produto e produtor de um
discurso pedagógico que muito influenciou a cultura escolar do curso de formação de professor bem
como as decisões dos dirigentes escolares na construção do novo modelo de escola graduada - os
grupos escolares, em Sergipe. História da educação

856
“NÃO RASGUEM AS CARTAS!” INTERCÂMBIO EPISTOLAR E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO: OBJETOS E
FONTES

MARIA JOSÉ DANTAS.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE, ARACAJU - SE - BRASIL.

Caixas, pastas, sacolas e gavetas, são lugares onde geralmente encontramos um amontoado de papéis
guardados, quase sempre, por questões ligadas à valorização sentimental. São documentos, diários,
cartas e demais impressos que, em momentos de faxina e na busca por espaço, muitas vezes são
rasgados ou ateados ao fogo. Para não cometer estes equívocos, os arquivos pessoais têm sido locais
onde se guarda muitos destes impressos, com a missão de manter viva a memória de alguém. Seja qual
for a situação, existem pesquisadores de plantão, dispostos a colocar as mãos nesta “miudeza”, nestes
“papéis guardados” e assim investigar o privado e decodificar a sua dimensão histórica, como fonte e
como objeto de pesquisa. Desta forma, este artigo tem como objetivo fazer um levantamento de alguns
estudos que têm sido publicados sobre cartas de professores encontradas em arquivos pessoais.
Autores como Ana Chrystina Venâncio Mignot, Maria Teresa Santos Cunha, Maria Helena Câmara
Bastos, Antônio Maurício Medeiros Alves e Eliane Peres, subsidiaram a análise no sentido de
fornecerem as pistas, através de suas coletâneas e artigos publicados. A carta como objeto material
esteve presente na história da sociedade ao longo dos séculos e no contexto educacional elas aparecem
e assumem uma dimensão educativa. Estudos sobre cartas no âmbito da História da Educação têm sido
uma abordagem em evidência desde a última década do século XX, possibilitados, sobretudo pela Nova
História Cultural. Estas publicações têm colocado em relevo tanto as cartas que os educadores
escreveram como as cartas que eles receberam e até mesmo a relação que passou a existir entre o
“carteiro e o educador”. Escrever cartas é revelar angústias, dúvidas, desafios. É também narrar
opiniões, desejos, apropriações e representações sobre determinado assunto ou objeto. O envio das
cartas cria um desejo de reciprocidade, de uma resposta, é quase uma conversa à distância. Assim, para
a realização deste estudo, no primeiro momento realizamos a leitura e fichamento dos textos, que
depois foram classificados por categorias temáticas. Isso nos possibilitou verificar as práticas educativas
de vários educadores que através de suas cartas, ou nas cartas que recebiam dos alunos debatiam
assuntos de outras épocas, pediam desculpas, perdão, conselhos, agradeciam, enviavam
recomendações e instruções, dentre outras modalidades encontradas. Enfim, verificamos que estas
cartas sinalizam a existência de um diálogo epistolar educativo, importantíssimo para a escrita da
História da Educação.

1041
“O ESTUDO”: UM EXEMPLAR DA IMPRENSA ESTUDANTIL DOS ANOS DE 1920 E 1930

ANDRÉA SILVA DE FRAGA.


FACULDADE DE EDUCAÇÃO - PPGEDU/UFRGS, PORTO ALEGRE - RS - BRASIL.

A proposta de apresentação para esse Congresso se destina a apresentar um exercício intelectual, a um


pouso no papel de uma prática de escrita que representa a apropriação das minhas práticas de leituras,

496
acerca do que venho desenvolvendo no meu mestrado, desde março de 2010. É um momento reflexivo,
todavia com mais dúvidas do que respostas, como todo início de uma pesquisa. O corpus documental
que disponho corresponde ao total de 23 exemplares da revista intitulada O Estudo, publicado entre os
anos de 1922 a 1931, pelo Grêmio de Estudantes da Escola Complementar, que a partir do ano de 1929
passou a se chamar Escola Normal, e no ano de 1939 passou a ser conhecida por Instituto de Educação
General Flores da Cunha. Portanto, corresponde a um determinado impresso escolar produzido por
alunas e futuras professoras, e como tal traz a possibilidade de se estudar a história da instituição e
cultura escolar. A escola foi fundada no tempo do Império, ano de 1869, em Porto Alegre, como Escola
Normal da Província de São Pedro, para a formação de professores. Como escola pública e gratuita
estava aberta ao público em geral, especificamente o feminino de todos os grupos sociais, porém as
alunas matriculadas em sua grande maioria representavam as camadas médias da sociedade gaúcha. A
Escola oferecia uma carreira no magistério e esta representava a possibilidade da formação mais ampla
(de nível secundário) e uma opção profissional para essas moças. Durante sua existência a escola foi se
modificando, porém no período em que corresponde aos anos de publicação do impresso estudantil O
Estudo, ou seja, nas décadas de 1920 e 1930, o setor educacional do país vive o momento de ascensão
do Movimento da Escola Nova e que teve grande influência na Escola. O estudo da publicação do O
Estudo traz de original o fato de que é um periódico produzido pelas alunas do curso de formação de
professoras da Escola Normal. E isto provoca diversas indagações, tais como: Por que editavam uma
revista? A revista pode indiciar práticas estudantis? Práticas de formação de estudantes normalistas?
Elas são escritas em que contexto? É prática cultural comum a época? Quem são os autores e editores?
Qual é o público-leitor? Quais são os momentos de interação entre autores e leitores? Todas as
questões correspondem a fragmentos de um questionamento maior, de uma problemática inicial: é
possível fazer uma história da leitura e da escrita de autoria estudantil através da revista O Estudo? Para
tentar acalmar tantos pontos de interrogação provocados pela tentativa de trabalhar com a história da
leitura e da escrita,é imprescindívela utilização dos pesquisadores Michel De Certeau, Robert Darton e
Roger Chartier.

746
“ÀS MINHAS MENINAS”: UM ESTUDO SOBRE OS DISCURSOS DE LAURA JACOBINA LACOMBE
DIRIGIDOS ÀS ALUNAS

TALITHA DOS PRAZERES BERNER.


UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL.

Na primeira década do século XX, Isabel Jacobina Lacombe fundou o Colégio Jacobina, que existiu até
aproximadamente a década de 1980. A fundadora do colégio tinha como objetivo inicial educar suas
filhas e as crianças confiadas à instituição, em sua maioria moradores dos arredores da escola. Percebe-
se, com isso, que tal instituição tem em sua origem o núcleo de uma família. Por volta da década de
1930, a escola possuía o nível primário e o nível secundário, aumentando assim o número de alunas e de
professores. No decorrer das transformações ocorridas no colégio Laura Jacobina Lacombe, filha da
fundadora do colégio, tornou-se primeiramente vice-diretora e posteriormente diretora da instituição.
Esta educadora formou-se no próprio Colégio Jacobina e, acabando os seus estudos, dedicou-se a
participar de encontros e assembléias voltadas para o tema da educação, atuando também na
Associação Brasileira de Educação (ABE) e na Organização Mundial para a Educação Pré-Escolar (OMEP).
Entrou em contato com concepções pedagógicas em circulação na Europa e nos Estados Unidos, e no
Brasil, apropriou-se dos conteúdos do movimento da chamada Escola Nova, associando-os, no projeto
pedagógico da escola, com as concepções católicas com as quais se identificava. Neste trabalho, serão
analisados cincos discursos, escolhidos por serem consecutivos, de 1946 a 1950, pronunciados por D.
Laura em cerimônias de formatura das alunas do colégio. Nestas falas, D. Laura transmite conselhos que
considerava importantes para a vida de suas alunas após a formatura, abordando temas como
educação, moral, religião, civilidade e o papel da mulher na sociedade. Ressalta-se que o acesso a estes
discursos deu-se através do periódico Traço de União, uma revista pertencente às alunas do Colégio
Jacobina, em que se abria espaço para as colaboradoras escreverem assuntos de seu cotidiano,
interesse e desejos. Também encontramos nessa publicação artigos de D. Laura voltados para informar

497
as alunas sobre sua participação nos debates educacionais de que participava. A professora e diretora,
buscava sempre instruir suas alunas, tomando para si uma posição afetuosa, aconselhadora e de
aproximação e intimidade, lembrando assim a forma que uma mãe age com sua filha. Sua atuação pode
sinalizar para sua concepção de educadora, marcada ao mesmo tempo por uma dimensão profissional e
familiar. Sua forma de ser professora pode também derivar-se do fato de ter sido educada por sua
própria família nesta instituição. Pretendo com a analise destes discursos, auxiliar a compreender a
educação no Colégio Jacobina, bem como a relevância exercida por essa educadora na instituição e no
cenário educacional de seu tempo.

498
EIXO 6 - ESTADO E POLÍTICAS EDUCACIONAIS NA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA

768
“A LIÇÃO DA MOCIDADE RETA": UM OLHAR SOBRE O PROJETO EDUCACIONAL DO ESTADO NOVO
(BIOGRAFIAS DE GETÚLIO VARGAS PARA A JUVENTUDE)

ANA PAULA DA SILVA.


UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL.

O grandioso projetopolítico e educacionalmaterializado durante o Estado Novo (1937-1945) teve como


um de seus núcleos centrais a valorização da brasilidade. No âmbito das estratégias voltadas para o
fortalecimento/legitimação do regime que procurava construir uma identificação com a nação, houve a
preocupação, por parte do Estado, com a construção de uma imagem idealizada do próprio Estado
Novo, da figura de Vargas diante do povo e de sua relação com este, em especial, com os trabalhadores
e a juventude. Marcado pela implantação de medidas de cunho notadamente autoritário e nacionalista,
o regime caracterizou-se pelo forte investimento em um discurso centrado na promoção da justiça
social, com o ideal de valorização do homem e da família, do trabalho e da educação, embasando a
tarefa de fortalecer a nação e levar o país ao desenvolvimento. A utilização dos meios de comunicação
de massa como instrumento de difusão ideológica do regime configurou-se como mecanismo do Estado
para produção de representações que deveriam ser interiorizadas pela população. Boa parte dos
esforços esteve voltada para a construção do chamado “mito” Vargas, forjando a imagem do presidente
como indiscutível líder nacional, responsável pelo governo da grandiosa “família brasileira”.
Considerando que a juventude assume, de certo modo, centralidade no projeto de construção da
nacionalidade, certamente a relação de aproximação que se procurou estabelecer entre Vargas e os
jovens brasileiros foi fundamental. Para isso, o Estado, por intermédio dos órgãos oficiais de
propaganda, lançou mão de estratégias diversas para difusão de uma imagem estereotipada da figura
do presidente diante dos jovens, produzindo todo um conjunto de representações acerca de valores
como família, educação, trabalho e nação, exaltados pela ideologia estadonovista. Tais estratégias
compreenderam uma vasta produção de materiais impressos e, entre eles, diversas biografias de
Getúlio Vargas, voltadas para o público infanto-juvenil. Proponho-me, então, neste trabalho, a um breve
exercício de reflexão sobre as representações que um grupo de intelectuais identificado com o regime
produziu acerca da figura de Vargas e da juventude, a partir de algumas dessas biografias. A proposta é
refletir sobre a produção destes impressos no quadro do projeto político-ideológico do regime do
Estado Novo e, ainda, a forma como os valores exaltados pelo regime são apresentados aos jovens
nessas publicações. Busco, assim, compreender algumas dimensões das relações que o Estado procurou
estabelecer entre Vargas e a mocidade, e como o regime construiu mecanismos de governo da
população infanto-juvenil.

1143
A ALFABETIZAÇÃO DE CRIANÇAS NO ESPÍRITO SANTO, NA DÉCADA DE 1950
1 2
DULCINÉA CAMPOS ; CLÁUDIA MARIA MENDES GONTIJO.
1.UFES, VITORIA - ES - BRASIL; 2.UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO, VITÓRIA - ES - BRASIL.

A comunicação propõe apresentar resultados de uma pesquisa de Mestrado em Educação, concluída em


2008, no campo da história da alfabetização, cuja finalidade foi investigar os sentidos da alfabetização
na história da educação, no Estado do Espírito Santo, na década de 1950. Escolhemos essa década para
desenvolvimento do estudo, porque buscávamos compreender as mudanças, as continuidades e as
contradições nas políticas e propostas de alfabetização no Espírito Santo decorrentes da promulgação
da Lei Orgânica do Ensino Primário em 1946. Recorre aos pressupostos bakhtinianos da linguagem,
dialogando com os dados e analisando, nesse processo, os sentidos atribuídos à alfabetização, pelas
diferentes vozes dos sujeitos envolvidos, que, a partir de diferentes lugares e realidades concretos,
produziram essa história. A partir da análise das fontes/textos encontrados (textos oficiais,

499
normatizações, artigos divulgados na imprensa local, cadernos de professores, textos orais produzidos
por professoras alfabetizadoras que atuaram nas salas de aula, etc.), concluímos que as políticas e as
propostas de alfabetização foram fortemente marcadas por pelo menos dois ideários/tendências
pedagógicos/as. Desse modo, a divulgação pelo INEP do Plano (1949), como parte do processo
nacionalização do ensino primário, influenciou as leis, os programas de ensino e as propostas de
alfabetização no Espírito Santo. O Plano (1949) do INEP está ancorado no ideário da Escola Nova e,
dessa maneira, apresenta a indicação de um método específico de alfabetização: Método Global. Rafael
Grisi, professor e defensor das idéias escolanovistas e do Método Global, como secretário de Educação
no período 1951-1955, empreendeu a reforma administrativa e educacional no Espírito Santo, visando à
construção das bases necessárias para a implementação desse ideário e do Método Global de
alfabetização. No final da década de 1950, tendo em vista, dentre outros fatores, a tessitura de ações,
em prol da inclusão de mais um programa de ensino, houve a implementação do Programa de
Assistência Brasileiro-Americana ao Ensino Elementar - PABAEE, ancorado no ideário tecnicista. Pode-se
afirmar que o Espírito Santo buscou conduzir a sua política de alfabetização, expondo desde a
constituição de uma cultura educacional sob os auspícios da Escola Nova, passando pela política de
racionalização do trabalho dos professores, até o processo de tecnicização do ensino. Todavia, as
políticas e propostas não implicaram mudanças substantivas nas práticas de alfabetização.

439
A AÇÃO DA INSPETORIA GERAL DE INSTRUÇÃO PÚBLICA NO MARANHÃO IMPÉRIO: 1841 -1889

CESAR AUGUSTO CASTRO.


UFMA, SAO LUIS - MA - BRASIL.

No século XIX o quadro da educação na Província do Maranhão, não difere das demais localidades do
país, era precária em todos os seus aspectos: falta de professores, material e prédios escolares.
Alterações significativas na educação maranhense ocorreram quando da aprovação da Lei de 15 de
novembro de 1827, momento em que o governo provincial passa a definir as suas políticas internas de
ensino. Movimento que vai contribuir para a criação do Liceu, em 1838 e sua regulamentação pela Lei N.
77 de 24 de julho desse ano, em que são estabelecidas as regras de ingresso, diplomação, disciplinas
escolares e admissão de professores. A elegermos nesta investigação a Instrução Pública no período
Imperial, reconhecemos os desafios intrínsecos a essa escolha pela carência de estudos voltados para
esse período no campo da História da Educação maranhense. A Inspetoria Geral da Instrução Pública,
criada em 1843, tinha como finalidade: a) fiscalizar as escolas públicas e particulares; b) regular e dirigir
o sistema e o método de ensino, organizar e compilar os compêndios a serem adotados em todas as
escolas da Província de modo a controlar a produção e a circulação dos saberes; c) vigiar e punir os
professores públicos e particulares que não atendiam os princípios da moralidade e não apresentassem
domínio de conteúdo das primeiras letras, do cálculo e da escrita. Para a realização desta pesquisa, que
se encontra em andamento, definimos três eixos de análise. O primeiro busca entender a
institucionalização da inspetoria Geral da Instrução no período de 1843 a 1889. O segundo quer
compreender o significado, as iniciativas de adoção, suas inflexões e os seus desdobramentos a partir da
expansão da escolaridade pelo território maranhense. O último, o funcionamento da Inspetoria com
relação à cultura escolar, em especial, sobre o currículo, a organização do tempo e dos espaços
escolares. Para isso, recorreremos a um conjunto de fontes tais como os Relatórios dos presidentes de
Província, dos Inspetores e dos Delegados Literários, a imprensa periódica e a legislação que agregadas
aos documentos manuscritos (fontes principais), dentre outros papéis que se encontram armazenados
no Arquivo Público do Estado e no Núcleo de Estudos e Documentação em História da Educação e das
Práticas Leitoras ( NEDHEL) e que poderão contribuir para (des)revelar as ações da Inspetoria Geral da
Instrução Pública no Maranhão nos oitocentos,). Esperamos que esta pesquisa contribua para
entendermos as ações, os sujeitos, os materiais, as regras de conduta e as práticas e os saberes
adotadas no interior das escolas públicas e particulares no Maranhão Imperial.

500
800
A CONSTITUIÇÃO DO SISTEMA ESCOLAR MARANHENSE NO CONTEXTO REGENCIAL E DE INÍCIO DO
PRIMEIRO REINADO OITOCENTISTA (1831-1850)

JOSE FERNANDO MANZKE; ELISANGELA SANTOS AMORIM; JOSEILMA LIMA COELHO.


UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO, SAO LUIS - MA - BRASIL.

O artigo aborda a constituição do sistema escolar no Estado do Maranhão no século XIX, a partir da
Independência do Brasil, notadamente no período regencial e início do Segundo Reinado, de 1831 a
1850. Objetiva contribuir para o conhecimento do processo de institucionalização da educação no
Maranhão do século XIX, e, ainda, compreender o debate sobre o alargamento pelo direito da educação
e da definição do público-alvo que teria acesso à educação escolar. Aborda a preocupação com a
instrução pública por parte da elite dirigente, a partir do ideário liberal, e os esforços dos gabinetes
regenciais em promover a educação. A emancipação política do País vislumbra na instrução pública um
instrumento de emancipação social e superação do atraso colonial promovido pelo jugo português. Em
que pese a inspiração liberal e discursos exaltados do período, pouco foi feito efetivamente que
contemplasse o acesso à educação por parte das massas populares. O Ato Adicional de 1834, Lei nº16,
de 12/10/1834, do gabinete Feijó, transfere as responsabilidades da instrução pública para as
províncias, objetivando racionalizá-la. Em 1835, por ato do então Presidente da Província, Antônio
Pedro da Costa Ferreira, Lei nº 3, de 30/03/1835, são criadas 13 ‘cadeiras de ensino público’. Estas
‘cadeiras’ abrangiam o ensino secundário (3 na Capital) e o ensino primário, com turmas de ‘primeiras
letras’ (11 no Interior da Província, distinguindo-se as Vilas de São Bernardo, São Bento Nª Sª do Rosário,
Santa Ana do Buriti, Urubu, Nova de São José, Nª Sª de Nazaré do Riachão, Caxias e povoações). Como
as demais províncias, o Maranhão, carente de recursos materiais e humanos, não conseguirá viabilizar
aqueles objetivos, fazendo daquele diploma legal ‘letra morta’. Como resultado deste processo,
encontraremos os Relatórios dos Presidentes da Província registrando seu descontentamento com a
qualidade dos processos educacionais. Já no Relatório do Presidente da província do Maranhão de 1840,
o coronel Luis Alves de Lima e Silva (futuro Duque e Barão de Caxias), revela a dificuldade na gestão do
nascente sistema escolar. O Pacificador da Balaiada, através das armas, não conseguia gerenciar seus
docentes, queixando-se ‘do pouco zelo dos professores em cumprir seus deveres’, já que das 52 escolas,
exceto o Liceu, apenas 7 haviam entregue o mapa de freqüência dos alunos. No final do período, vamos
encontrar um esforço por parte das autoridades no sentido de regulamentar a instrução pública. A Lei
nº 267, de 17/12/1849, do então presidente da Província, Honório Pereira de Azeredo Coutinho, busca a
organização do ‘sistema escolar’, avançando para questões de ordem metodológica e funcional.
Portanto, este estudo faz uso de fontes documentais – Leis e Regulamentos de Instrução Pública e
Relatórios da Presidência da Província do Maranhão do período de 1831 a 1850 com análise contextual
histórico-comparativo.

1060
A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO DE BILINGUISMO NA EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA: O CASO DOS
MUNDURUKU DO RIO CANUMÃ/ AM

ADRIA SIMONE DUARTE DE SOUZA.


UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS, MANAUS - AM - BRASIL.

Este trabalho apresenta um recorte da dissertação de mestrado intitulada “Identidade, Educação


Escolar Indígena e Bilingüismo na Aldeia Munduruku” e pontua o processo de implantação das raízes da
educação bilíngüe na comunidade indígena Munduruku. Conforme Peter Paul Hilbert (1958) “O rio
Tapajós era o “habitat” tradicional dos Munduruku, mas por volta de 1750 a 1768 houve grande
movimento migratório para a região do rio Madeira, quando estes índios se dispersaram pelos rios
Sukunduri, Canumã, Mawé-Açu, Abacaxis e tributários, coincidindo com a expansão da extração da
borracha que envolveu toda a região do Amazonas”. Como esta discussão do povo Munduruku não é
um fato isolado nem no espaço e nem no tempo, optamos por fazer este estudo levando-se em conta o
contexto das políticas de educação indígena brasileira ao longo da história. No tocante a metodologia,

501
esta pesquisa constituiu-se de uma análise bibliográfica e documental com o intuito de situar as políticas
lingüísticas articuladas junto à política de Educação Escolar Indígena no Brasil e especificamente na
Amazônia, detendo-nos nas questões referentes à aliança entre a política positivista do Estado e a
política missionária do Summer Institute of Linguistics/SIL, passando pelo período pombalino e
posteriormente, pelas políticas públicas vinculadas as questões lingüísticas implementadas a partir da
Constituição de 1988. Durante o processo de pesquisa levamos em consideração as seguintes questões
norteadoras: Quais as políticas educacionais dentro do contexto das políticas indigenistas? Quais as
conseqüências sociais e culturais que as políticas indigenistas acarretaram para os povos indígenas no
geral e para os Munduruku em particular? Também estudamos como o conceito de bilingüismo foi se
transformando ao longo das discussões sobre escola indígena até assumir a conotação que possui hoje
de tentativa de respeito com as diferentes línguas. Analisamos o processo da conquista da Amazônia
tentando vislumbrar as políticas lingüísticas dentro do contexto das políticas educacionais indigenistas.
Assim, este trabalho articula-se ao eixo-temático Estado e Políticas Educacionais na História da Educação
Brasileira, pois discute como os modos pelos quais as práticas de educação escolar indígena refletiram
os processos de redefinição das identidades indígenas, tendo em vista o momento sócio-histórico
atravessado, além de esclarecer quais os motivos que levaram o povo indígena Munduruku ao
movimento por uma educação escolar indígena bilíngüe e o processo de construção desta educação.
Para concluir levantamos algumas questões relacionadas às formas como historicamente se pretendeu
resolver esta contradição na Amazônia brasileira, bem como afirmar nas palavras de Honório (2000) que
nesta região as políticas lingüísticas oscilaram entre “(...) falar uma língua, falar duas línguas, falar
muitas línguas, ou, simplesmente silenciar.”.

581
A CRIAÇÃO DOS GRUPOS ESCOLARES EM MINAS GERAIS: EXPERIÊNCIAS ANTECESSORAS À LEI JOÃO
PINHEIRO DE 1906

CRISTIANE OLIVEIRA DE SOUZA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA, JUIZ DE FORA - MG - BRASIL.

A presente comunicação é fruto das discussões do projeto que estuda as políticas públicas voltadas para
a educação brasileira a partir da escolaridade de Juiz de Fora. O projeto, que ainda se encontra em
andamento, compreende o período de transição do Império para a República, se estendendo até a
década de 1930. Através da análise dos documentos disponíveis no Arquivo Público Mineiro, em Belo
Horizonte, e dos periódicos da cidade de Juiz de Fora, Jornal do Comércio e Correio de Minas, busca-se
resgatar os debates que antecederam a criação oficial dos grupos escolares em Minas Gerais, sobretudo
na cidade de Juiz de Fora. Os grupos escolares começaram a ser organizados e construídos na última
década do século XIX, sendo instalado primeiramente em São Paulo, para depois se disseminarem para
os outros estados do país. Em Minas Gerais foram criados oficialmente na reforma do ensino primário e
normal, realizada no governo de João Pinheiro no ano de 1906. O presente estudo busca resgatar as
discussões que antecederam a formulação da reforma supracitada, fazendo-se necessário investigar os
espaços de experiência que possam ter influenciado em sua formulação. Trata-se de investigar
principalmente a experiência de implantação de grupos escolares, em caráter experimental, pelo
governo mineiro no ano de 1901. Tal processo se restringiu às cidades de Juiz de Fora e São João
Nepomuceno, sendo suspenso pelo Secretário do Interior no ano de 1903, por não apresentarem
resultados satisfatórios para a instrução. Entretanto, o grupo escolar de Juiz de Fora continuou
funcionando mesmo após a decisão do Secretário. A hipótese que norteia o trabalho é de que as
políticas são constituídas através dos debates no interior da própria sociedade e também através de
ações que visavam modificar a estrutura escolar existente, como a experiência realizada em 1901. As
discussões eram travadas nos periódicos da cidade, por diferentes atores que propunham mudanças nas
políticas educacionais. Dentre os atores que utilizavam a imprensa para manifestar suas idéias, destaca-
se o inspetor escolar e jornalista Estevam de Oliveira. Mesmo pertencendo ao governo, tecia duras
críticas à instrução primária mineira, que tinha sua organização baseada nas escolas isoladas, alvo de
grande parte de suas criticas devido suas péssimas condições. Por isso, propunha a reforma do ensino,
que tinha como um dos pilares a adoção dos grupos escolares como uma nova forma de organizar e

502
conceber a escola, em detrimento das escolas isoladas tidas para ele como um entrave para o
desenvolvimento do ensino. O referido inspetor auxiliou o governo mineiro na instalação dos grupos
escolares experimentais de 1901 e apresentou sua proposta de reformulação do ensino, em relatório
enviado ao Secretário do Interior no ano de 1902, após viagem comissionada pelos estados do Rio de
Janeiro e São Paulo.

441
A DISPUTA PELA ESCOLA ENTRE O ESTADO E A IGREJA CATÓLICA, EM PORTUGAL E NO BRASIL, NOS
SÉCULOS XIX E XX

CARLOS HENRIQUE CARVALHO; .


UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA, UBERLANDIA - MG - BRASIL.

Esta comunicação tem por objetivo analisar relação Estado/Igreja Católica, em Portugal e no Brasil, na
disputa pela hegemonia da escola, no quadro da segunda Modernidade, ou seja, é uma abordagem na
longa duração, que vai do século XIX a meados do século XX, pois neste período se avolumam os
conflitos entre estas instâncias promotoras de educação, em razão das discussões em torno dos
princípios liberais, que fundamentam à criação dos sistemas nacionais de ensino. Por outro lado, os
séculos XIX e XX podem ser caracterizados por vários pontos de contato e de cooperação entre Igreja
Católica/ Estado, não obstante as questões ideológicas e as disputas pela hegemonia sobre o ensino e a
instituição escolar. Assim, a Modernidade pode ser apresentada como um processo histórico assinalado
por ciclos de hegemonia do Estado, sob a forma de Estado Liberal e Republicano, e por ciclos de
convenção e procura de entendimento com a Igreja Católica. É neste contexto que a escola emergiu e se
consolidou como instância de (in)formação, ordenação, mobilização da sociedade, de modo a servir as
conveniências, quer da Igreja, quer do Estado. Nesse sentido, a educação escolar aparece
historicamente como instrumento usado, ora por uma, ora por outra, para fins de revolução e de
reforma, ou ainda para conservação e institucionalização de seus interesses. As fontes que subsidiaram
a pesquisa foram: as revistas Brotéria e A Ordem, além dos jornais Novidades, A Voz, o Diário de
Notícias e O Século, correspondências oficiais trocadas entre o Estado e a Santa Sé. Este documentos
foram buscados na Biblioteca Nacional de Portugal, Arquivo Nacional da Torre do Tombo e no Arquivo
Histórico-Diplomático do Ministério dos Negócios Estrangeiros. Também foram pesquisados os arquivos
da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e do Centro de Estatística Religiosa e Investigação Social.
Como resultado da investigação observa-se que a mobilização religiosa se operou por meio de um forte
empenho das congregações religiosas católicas no campo educacional, demonstrando que a temática e
a questão diocesana são fatores marcantes na constituição do cenário político na longa duração em
Portugal e, sobretudo, no Brasil do século XIX. No século XX os Estados centralizadores, principalmente
na vigência do Estado Novo em ambos os países, procedem a sistemáticas revisões das Concordatas
com Roma. Em comum, nestas conjunturas, há uma intensa e tensa disputa pela escola como instância
de informação, normalização e mobilização. Portanto, resgatar, pelo menos em parte, a história da
relação Estado/Igreja Católica, contribui para “reconstituir” as conjunturas e as tensões que
caracterizaram a Modernidade brasileira e portuguesa, quer no que se refere ao ideário liberal e laicista,
quer às modalidades de colaboração, tendo frequentemente esta aproximação evoluído para a
organização de terceiro setor, situado entre a iniciativa estatal e a iniciativa privada confessional.

1353
A EDUCAÇÃO JESUÍTICA NO PROJETO COLONIAL DE PORTUGAL NO BRASIL: O CASO DO ENSINO
SECUNDÁRIO

SOLANGE APARECIDA ZOTTI.


UNIVERSIDADE DO CONTESTADO - UNC; COLÉGIO CEM, CONCÓRDIA - SC - BRASIL.

O presente trabalho apresenta a investigação da função sócio-política do ensino secundário no contexto


do projeto colonial de Portugal no Brasil. Tem por objetivo identificar e analisar a função do ensino
secundário. A investigação se pautou em documentos escritos, cujas fontes primárias foram os

503
documentos oficiais que orientaram a organização do ensino secundário no período, em especial a Ratio
Studiorum. Este estudo se propôs a tratar da organização e da função do ensino secundário, a partir de
uma análise de totalidade, tendo em vista que a função desse nível de ensino se estabelece de acordo
com os interesses do bloco histórico hegemônico. O século XVI marca a conquista do mundo pelo
poderio militar europeu, a exploração colonial e o período da Reforma e Contra-Reforma religiosa.
Nesse contexto, se insere o projeto colonial português para o Brasil e o papel da educação jesuítica
nesse projeto. O Brasil, em todas as fases da economia colonial e no contexto do desenvolvimento do
capitalismo, sofre um contundente processo exploratório vinculado aos interesses do Estado português.
A colônia se constitui em mero espaço de expropriação, sem projeto de desenvolvimento e sem a
permissão para a construção de um projeto próprio, como ocorreu, por exemplo, no processo de
colonização da América do Norte pela Inglaterra. É esse o projeto de Portugal para a colônia, no qual se
insere a atuação da Companhia de Jesus. No projeto colonial de Portugal para o Brasil, a igreja e o ideal
missionário são os mais importantes instrumentos para a manutenção da ordem estabelecida, herança
da sociedade feudal, mas principalmente para justificar ideologicamente o processo de expansão
comercial. A discussão da função do ensino secundário é apresentada a partir de dois eixos: a fase dos
“tempos heroicos” (1549-1570), idealizada por Nóbrega; todavia consideramos mais adequado estender
essa fase até o final do século XVI, quando ocorre a morte de Anchieta e a promulgação do Ratio
Studiorum. Essa fase teve um caráter “civilizador e democrático”, entendidos esses termos na lógica do
colonizador e não do colonizado, em que já ocorrem as primeiras experiências de ensino secundário,
através do ensino da gramática latina. A segunda é marcada pela organização do ensino através do Ratio
Studiorum (1599-1759). De caráter aristocrático, consolida a atuação da Companhia no ensino
secundário. A partir destas fases, apresentamos o processo de desenvolvimento do ensino secundário
no Brasil, sua organização e seu papel. Identificamos que o ensino secundário e o superior cumprem a
função fundamental de formação dos quadros dirigentes e intelectuais afinados com o projeto
hegemônico. O artigo aqui apresentado é decorrente da tese de doutorado em educação defendida na
Universidade estadual de Campinas – UNICAMP em fevereiro de 2009.

455
A EDUCAÇÃO NA ASSEMBLEIA CONSTITUINTE DE MATO GROSSO DO SUL DE 1979: TEMAS, ATORES E
VISÕES

NILCE APARECIDA DA SILVA FREITAS FEDATTO.


UEMS/FUNDECT/CNPQ, CAMPO GRANDE - MS - BRASIL.

O estudo do processo de elaboração da primeira Constituição do Estado de Mato Grosso do Sul, 1979,
permite identificar os estreitos limites do legislativo estadual no âmbito da “democracia excludente”.
Formalmente, tal processo difere pouco daqueles empregados na elaboração das Constituições dos
outros estados e Constituição Federal. O partido governista procurou vencer as resistências e justificar a
aprovação das matérias. A oposição “consentida” participou nos limites que lhe eram impostos e tornou
possível a aprovação do projeto. Apresentou emendas mesmo sabendo que só conseguia aprova-las
com o consentimento da situação. A sociedade civil pareceu ausente tendo em vista as emendas
apresentadas à Comissão Constitucional, deixando o caminho aberto para a aprovação de um projeto
alheio aos anseios da população do estado recém criado. No campo da educação o processo apresenta
algumas peculiaridades, dentre estes a ausência de educadores e estudantes. As fontes utilizadas foram
documentos encontrados nos arquivos da Assembléia Legislativa visto que as discussões e os debates
não foram organizados em anais. Além disso, examinamos o Projeto de Constituição de Mato Grosso do
Sul apresentado pela Comissão de Sistematização, em junho de 1979 e o Texto Final promulgado.
Realizamos um estudo histórico-documental com o auxílio da análise de conteúdo, todavia, como Mato
Grosso do Sul tem apenas 32 anos complementamos nossa investigação com fontes orais. Pelas análises
foi possível verificar que o poder executivo e o legislativo estevam em sintonia na elaboração da
Constituição Estadual de 1979, embora a direção dos trabalhos da Assembléia Constituinte tenha sido
“cedida” à oposição. Quanto à educação o texto praticamente repete o disposto na Constituição
Federal, todavia merece destaque a valorização da população indígena e o estímulo à criação de
bibliotecas públicas e museus. A divisão do estado de Mato Grosso e consequentemente a criação de

504
Mato Grosso do Sul, ocorrida em 1977, requer análises aprofundadas que abordam as raízes históricas
desse fato político-institucional que parece fruto de uma estratégia nacional do período. Desse modo
esperamos, com este estudo, contribuir para o entendimento de como ocorreu a elaboração da
primeira Constituição do estado situando-a em perspectiva histórica, isto é, levamos em consideração o
contexto histórico-social-político-cultural em que ele estava inserido.Foi nosso propósito, também, sem
cair no regionalismo estreito trazer à balia a temática regional com o intuito de ampliar e contribuir para
a composição da história da educação brasileira valorizando as peculiaridades. Além disso, o estudo
evidencia a importância do conhecimento das leis pelos educadores na luta pela democratização da
educação. O texto em tela é parte da pesquisa “A História da Educação em Mato Grosso do Sul (1977-
2006): 30 anos depois”, desenvolvida como contrapartida de bolsa de DCR financiada pelo CNPq
supervisionada pela Fundect/UEMS.

1233
A EDUCAÇÃO NA LEGISLAÇÃO PARANAENSE: A ORGANIZAÇÃO DO ENSINO PRIMÁRIO NO PERÍODO DE
1889 A 1900

MARIA CRISTINA GOMES MACHADO; CRISTIANE SILVA MELO.


UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ, MARINGÁ - PR - BRASIL.

Neste texto estudamos a política educacional do Estado do Paraná para a organização da escola pública
primária republicana no período de 1889 a 1900. Na segunda metade do século XIX, os debates em
torno da necessidade de educar as classes populares e de que a escola pública seria fundamental para a
formação do cidadão e para a formação para o trabalho tornava uma questão central nos debates
políticos. Essa idéia se acirrara na Europa e, pari passu, ela, também, se manifestava no Brasil e no
Paraná, este estado é tomado como objeto dessa pesquisa. Os homens de Estado, os Governadores
eleitos ou indicados, procuravam disseminar a escola nos diferentes estados, antigas províncias, em
especial, no Estado do Paraná, apoiando-se na Constituição de 1891 fundamentada no regime de
federação. Esta determinava que o Governo Central se responsabilizasse pelo ensino secundário e
superior em toda a federação e pelo primário apenas no Distrito Federal. Assim, cada estado
responsabilizava-se pela criação e manutenção da escola primária. As ações estaduais aconteceram em
tempos e espaços diferenciados. No campo historiográfico têm crescido os estudos regionais,
compreendidos como manifestação do movimento nacional e internacional. Desta forma,
acompanhamos as políticas educacionais explicitadas no estado paranaense, tomando como fonte
primária a Carta Constitucional Estadual de 1892, bem como o debate constituinte que precedeu à sua
aprovação, a legislação educacional publicada no estado, os relatórios de governadores escritos no
período de 1889 a 1900, entre outras. Estas tomavam como ponto de partida a necessidade da adoção
da gratuidade do ensino. Temas como laicidade e obrigatoriedade provocavam polêmica e não
chegaram a fazer parte da legislação deste estado. Para essa análise considera-se o contexto econômico,
político, social e cultural que gestou as proposições referentes à educação. O estado era constituído por
uma população, em sua maioria, constituída de povos brancos, originários de diferentes grupos de
imigrantes que se dirigiram para a região sul, sobretudo poloneses, holandeses e italianos. Os negros e
mulatos constituíam-se em um número reduzido em função do Paraná ter sido elevado à categoria de
Província independente da Província de São Paulo em 1853, após a proibição do tráfico de escravos. A
economia desse estado, no momento da Proclamação da República, baseava-se no trabalho agrícola, a
extração da erva-mate e um incipiente processo de industrialização. Ressalta-se que uma pequena
parcela da população era letrada, contudo era comum que em cada povoado se reivindicasse a
construção de escolas destinadas ao ensino elementar para crianças. A educação foi temática dos
inúmeros governadores nomeados no Estado do Paraná. A primeira década republicana foi marcada
pela criação de diversas leis, decretos e regulamentos com o objetivo de difusão de escolas primárias no
Paraná, tomados como fontes para a elaboração desse texto.

505
1201
A EMERGÊNCIA DA ESCOLA RURAL EM MINAS GERAIS (1892-1899)

GILVANICE BARBOSA DA SILVA MUSIAL.


FAE/UFMG - FAE/UEMG, BELO HORIZONTE - MG - BRASIL.

O presente trabalho, que é parte de uma pesquisa de doutorado, em andamento, tem como objetivos:
identificar a emergência da escola rural em Minas Gerais no final do século XIX (1892 a 1899);
compreender as especificidades dessa escola, no que se refere aos seus tempos, espaços, conteúdos,
métodos, materiais e sujeitos; identificar e analisar as representações sobre o rural, a escola rural e seus
sujeitos em Minas Gerais nos diferentes discursos e relacionar as representações sobre rural, escola
rural e seus sujeitos e o processo de escolarização em Minas Gerais, no período. A partir da Lei 41 de
1892, apareceu pela primeira vez na legislação educacional, em Minas Gerais, a denominação escola
rural. Anteriormente, seja ao longo do período Imperial ou mesmo nos primeiros anos da República, a
educação destinada ao povo recebeu algumas denominações, tais como: escolas de primeiras letras,
cadeiras de instrução primária, escola de instrução primária, escola primária de primeiro e segundo
graus. Além de criar a denominação escola rural, a referida Lei estabelece a distinção entre escola rural,
urbana e distrital, no que se refere ao programa de estudos, à freqüência mínima exigida e à
remuneração dos seus professores. Para a compreensão da emergência da escola rural em Minas
Gerais, no período, trabalhamos com a legislação escolar, com dados estatísticos (demográficos e
escolares) - a exemplo do censo demográfico de 1890 e de mapas de sala de aula das escolas de
instrução primária -, com relatórios de Inspetores Escolares, Secretários do Interior, Presidentes do
Estado, com obras literárias, jornais e dicionários do período. O estudo está baseado, teórica e
metodologicamente, nos pressupostos da História Cultural e, em particular, no conceito de
representação, discutido por Roger Chartier. O texto está organizado da seguinte forma: inicialmente,
indicamos as motivações para a realização da pesquisa e as principais questões que a orientam; em
segundo lugar, apresentamos alguns conceitos básicos com os quais dialogamos ao longo do trabalho;
em terceiro, procuro compreender a distribuição do ler e do escrever na “circunscripção” de Sabará a
partir do recenseamento demográfico de 1890; por fim, analisamos o processo de criação, instalação de
escolas rurais no estado de Minas Gerais, no ano de 1892 e a transferência dessas escolas para a
responsabilidade dos municípios, no ano de 1899; nas considerações finais, apresentamos alguns
resultados da referida pesquisa. Apoio: FAPEMIG, no Estágio Sanduíche CAPES.

892
A ESCOLA PRIMÁRIA NO BRASIL: SIMILITUDES, PERMANÊNCIAS, E RUPTURAS NOS ESTADOS DE SÃO
PAULO, RIO GRANDE DO NORTE E PARANÁ (1890-1930)

ANA EMÍLIA CORDEIRO SOUTO FERREIRA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA, ITUIUTABA - MG - BRASIL.

Esta comunicação tem por finalidade discutir as questões relativas ao ideário republicano presente nas
mensagens dos presidentes de estado, bem como a legislação, entre 1890 a 1930, sobre as escolas
primárias, tendo por referencial teórico-metodológico a História Comparada, pois é significativo buscar,
compreender e explicar as diferenças, consideradas em meios sociais distintos, onde se pode observar
as semelhanças e diferenças entre os espaços postos em comparação. Por outro lado, é necessário ter
em mente que a comparação implica tanto a busca pelas similitudes e permanências, quanto à
preocupação com as rupturas. Portanto é nessa busca que este estudo se ancora, com o objetivo de
compreender a história da escola primária no Brasil, abrangendo os estados de São Paulo, Rio Grande
do Norte e Paraná. Nesse sentido, o mapeamento da constituição do ensino primário em cada um
desses estados configura-se necessário, ao possibilitar análises em torno da educação, o que pode levar
a compreensão de como o ideário republicano incorpora em seu discurso a necessidade de se
estabelecer o ensino primário no país. Ancoramo-nos ainda em estudos realizados, para se conseguir a
apreensão dos processos educativos e sua relação com a sociedade no contexto das transformações
sócio-econômicas, políticas e ideológicas, estabelecendo os nexos entre o particular e o geral,

506
principalmente nos aspectos relativos às especificidades dos aspectos educacionais do país, em
comparação com São Paulo, Rio Grande do Norte e Paraná. As fontes que subsidiam a pesquisa são as
seguintes: Legislações, Relatório e Mensagens dos Presidentes e Jornais, dos estados de São Paulo, Rio
Grande do Norte e Paraná. Para tanto, foram analisadas as mensagens dos Presidentes dos Estados,
bem como as legislações da época. Portanto, a pesquisa revelou que os elementos educacionais da
escolarização primária, presentes tanto nas modalidades das Escolas Isoladas, Escola Singular, Escola
Distrital, Escola Rural, Escola Urbana, Escola Modelo, Escola Unitária, Escola das Primeiras Letras e,
enfim, a forma mais racionalizada da educação primária: os Grupos Escolares, os quais colocaram em
relevo o movimento de tentativa de constituição do modelo escolar no período estudado, mas, ao
mesmo tempo, aponta para um projeto civilizador republicano, compreendendo estratégia de
intervenção estatal para civilizar as classes populares, representadas nos relatórios dos presidentes de
estados como antíteses da modernidade. Tais representações revelam concepções marcantes do
pensamento brasileiro da época, demarcado pelos determinismos arcaico/moderno e campo/cidade,
engendrado nas propostas dos governos dos três estados estudados.

423
A ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA E A LEI 5.692/71: EDUCAÇÃO E A DOUTRINA DE SEGURANÇA
NACIONAL E DESENVOLVIMENTO

NADIA GAIOFATTO GONÇALVES.


UFPR, CURITIBA - PR - BRASIL.

O objetivo deste trabalho é discutir fundamentos da Doutrina de Segurança Nacional e


Desenvolvimento, proposta pela Escola Superior de Guerra - ESG, e a forma como estes aparecem nas
proposições da Lei 5.692/71. A ESG foi criada em 1949, com a finalidade de dirigir e planejar a segurança
nacional, associada ao desenvolvimento do país, sendo compreendidos como interdependentes. A partir
de 1964, com o início da ditadura civil-militar, a ESG assume papel estratégico nas diretrizes e nas ações
do período. A percepção da ESG acerca da segurança nacional, ao longo do tempo, passou da
preocupação com a agressão externa, para com a subversão interna. O enfrentamento dessa situação
levou à proposição de uma Grande Estratégia, gestada desde os anos 1950, focada em quatro
estratégias: política, econômica, psicossocial e militar. A psicossocial, que diz respeito mais diretamente
a este trabalho, diz respeito às instituições da sociedade civil: família, escolas, universidades, meios de
comunicação de massa, sindicatos, Igreja, empresas privadas, entre outras. Caberia à estratégia
psicossocial propor diretrizes de ação e prever, prevenir e enfrentar pressões e conflitos provenientes
dessas instituições. Dessa forma, a Lei 5.692/71 pode ser compreendida como uma ação articulada,
tanto à Doutrina de Segurança Nacional e Desenvolvimento, quanto à estratégia psicossocial – embora
necessariamente articulada às demais estratégias (econômica, política e militar). As principais fontes são
o Manual da Escola Superior de Guerra, a própria Lei 5692/71, e documentos a ela relacionados, do
Conselho Nacional da Educação (Documenta) e publicados na Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos.
Para o desenvolvimento do trabalho, são utilizadas como referências as contribuições de Roger Chartier
(conceito de representação), de Marc Bloch (fontes e História), de Dario Ragazzini (fontes e História da
Educação), de Luciano M. de Faria Filho (documentos oficiais e legislação). No trabalho, destaca-se a
compreensão da ESG de necessária interrelação entre Segurança Nacional e Desenvolvimento, ou seja,
não pode haver uma sem a outra estar garantida. A estabilidade social interna era elemento central
para a Doutrina, e a Educação e a escola foram elementos-chave para as proposições da ESG, por
articularem os eixos econômico, político, social e doutrinário. A Lei 5.692/71 envolve assim diretrizes
que articulam todas as estratégias centrais da ESG, estabelecendo, por exemplo, uma reorganização da
estrutura do ensino (1º e 2º graus), sua articulação com demandas sociais e econômicas (como o ensino
profissionalizante no 2º grau, orientação vocacional na escola), e novas diretrizes curriculares (por
exemplo, reforçando a obrigatoriedade de Educação Moral e Cívica – estabelecida como disciplina desde
1969 – , inserção de disciplinas formativas profissionalizantes).

507
526
A HISTÓRIA DO TEMPO DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL

MARCELO LIMA LIMA.


UFES, VILA VELHA - ES - BRASIL.

Objetivo Com a intenção de avaliar as políticas públicas de educação profissional com base na teoria do
valor de Marx (1989) desenvolvemos uma pesquisa (concluída em 2004) que privilegiou o
desenvolvimento histórico dos modelos pedagógicos da educação profissional no Brasil empiricamente
referenciado nas reformas educativas implementadas no sistema federal de ensino. Metodologia
Resgatamos por meio de análise documental os modelos pedagógicos praticados historicamente pelos
IFES desde sua criação como escola de aprendizes artífices do Espírito Santo em 1910 até o sue formato
de Centro Federal de Educação Tecnológica em 2002 para delinearmos o que chamamos de
desenvolvimento histórico do tempo socialmente necessário para a formação Profissional que engendra
os modelos pedagógicos historicamente praticados pela instituição de educação profissional. Essas
configurações formativas dizem respeito às pedagogias, aqui denominadas, de pedagogia da República
Nascente (1909-1942), pedagogia do Estado Estruturante (1942-1994) e pedagogia do Estado Neoliberal
(1994-2002). Essas políticas pedagógicas têm que ver com um tipo de inserção produtiva tanto no caso
dos egressos da instituição de ensino, quanto no caso do próprio país, revelando, assim, a natureza dos
projetos nacionais mais amplos. Isso se manifesta, em nível nacional, no processo histórico de
industrialização e no desenvolvimento da educação profissional, o que se revela e também se aplica às e
nas transformações dos modelos formativos praticados no âmbito da rede de escolas de aprendizes
artífices (1909-1937), passando pelos liceus industriais (1937-1942), chegando às escolas técnicas (1942
– 1996) e aos Cefet(s) (1996 – 2008). Na experiência concreta da antiga Escola Técnica Federal do
Espírito Santo (ETFES) foi possível verificar este movimento histórico de metamorfose das
temporalidades formativas por meio da pesquisa por nós empreendida. Cada fase histórico-pedagógica
dessa pode ser entendida por suas temporalidades que foram constituídas, ao longo dos anos, pela
relação das formações técnico-produtivas de cada contexto com o papel exercido pelo Estado nesse
campo. Isso pode ser traduzido pelos graus de mercantilização ou publicização da reprodução da força
de trabalho. Essa lógica pôde ser percebida pela nossa pesquisa no Centro Federal de Educação
Tecnológica do Espírito Santo (CEFET/ES), onde constatamos a existência de tempos e modelos de
formação que se vão tornando socialmente necessários para a formação profissional, cujos modelos
pedagógicos resultam dos tipos de mediação exercidos pelas instâncias de poder, tendo em vista
processos produtivos e projetos educativos.

654
A INFLUÊNCIA DA IMPLANTAÇÃO DO GRUPO ESCOLAR NO PROCESSO DE CONSTITUIÇÃO DE UMA
REPRESENTAÇÃO DAS ESCOLAS ISOLADAS EM OURO PRETO, MINAS GERAIS (1900-1920)

JULIANA GORETTI APARECIDA BRAGA VIEGA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS, ITABIRITO - MG - BRASIL.

O principal objetivo desta pesquisa, que se encontra em andamento, é compreender como a


implantação do grupo escolar influenciou o processo de constituição de uma representação para as
escolas isoladas em Ouro Preto (MG), durante as duas primeiras décadas do século XX. As escolas
isoladas, também denominadas de escolas singulares ou cadeiras públicas de ensino, referiam-se à
forma de organização do ensino primário público do Brasil, que prevaleceu durante o século XIX e
continuou existindo no país após a implantação dos grupos escolares, que em Minas Gerais ocorreu,
gradativamente, a partir de 1906. Aquelas instituições eram constituídas por um ou mais grupos de
alunos, sob a responsabilidade de um (a) docente. Em Minas Gerais, do ano de 1906 em diante, as
escolas isoladas - que podiam ser masculinas, femininas ou mistas - passaram a apresentar a graduação
por classes, cada uma correspondente a um ano diferente: 1º, 2º, 3º ou 4º ano. De maneira geral, foi
construído um discurso que desqualifica essas instituições. Mas, será que essa produção discursiva foi
influenciada pelo processo de implantação dos grupos escolares no Brasil? Esta pesquisa pretende

508
investigar de que forma o estabelecimento do grupo escolar interferiu na constituição de uma
representação e na produção de um lugar para as escolas singulares de Ouro Preto, localidade que, após
um período de crise no início do século XX, constituiu-se como lugar de memória preservada. Com o
intuito de alcançar esse objetivo principal, pretendendo descrever e analisar: 1) Quais agentes e com
que propósitos conceberam uma determinada representação para as escolas isoladas; 2) Que relação
pode ser estabelecida entre a representação construída e o lugar produzido para as escolas isoladas e o
estabelecimento de Ouro Preto como lugar de memória; 3) Em que medida a representação elaborada a
respeito daquelas instituições contribuiu para afirmar o projeto educacional implantado em Minas
Gerais, a partir de 1906; 4) Quais estratégias discursivas podem ser identificadas na construção de
representações para as escolas isoladas e para o grupo escolar de Ouro Preto; e, 5) O tipo de
caracterização que foi conferida às escolas singulares em termos de espaços, organização e corpo
docente. Para realizar este estudo, fundamento-me nos conceitos de representação, discursividade
reguladora e produção de lugar. As fontes utilizadas serão relatórios de inspeção técnica referentes aos
anos de 1900 a 1920, a legislação escolar do estado de Minas Gerais e jornais da época. Proponho a
comunicação desta pesquisa para o eixo temático Estado e Políticas Educacionais na História da
Educação Brasileira.

1382
A INSTRUÇÃO NA PROVINCIA DO ESPÍRITO SANTO ENTRE 1835 E 1848: OS AVANÇOS POSSÍVEIS

SEBASTIAO PIMENTEL FRANCO.


UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO, VITÓRIA - ES - BRASIL.

A partir do Ato Adicional de 1834 pela lei nº. 16 de agosto significativas mudanças ocorreram no
capítulo quinto da Constituição que definia atribuições aos Conselhos Gerais de Província. Estes foram
extintos, e, em seu lugar, foram criadas as assembléias legislativas provinciais que passou a legislar
sobre a economia, a justiça e a educação. Institui a descentralização no campo educacional, passando a
instrução primária e secundária a ser responsabilidade de cada Província. A escolha do recorte temporal
inicial é 1835 em razão da entrada em vigor da lei citada acima e finalizada em 1848, em razão de que
neste ano entrou em vigor um novo regulamento da instrução pública que alterará de certa forma os
parâmetros de ordenação desse setor. O período delimitado pelo trabalho situa-se localmente num
momento muito significativo por duas razões: a) O discurso em favor da instrução se acentuava
enormemente, uma vez que, a idéia de que só pela disseminação da oferta da escolarização o país sairia
do atraso e da incivilidade se tornou uma realidade; b) a economia da província do Espírito Santo crescia
a passos largos, graças à expansão da produção e da comercialização do café, o que garantia a província
disponibilizar mais recursos financeiros para esse setor. Em razão do pequeno número de pesquisas
sobre a história da educação local, este trabalho objetiva preencher lacunas acerca dos conhecimentos
da história das políticas educacionais do Estado Espírito Santo. Para tanto utilizamos como fontes: os
relatórios dos presidentes de província, os relatórios sobre a instrução pública; as correspondências
entre autoridades, professores e sociedade local; os documentos do Fundo de Educação e a
documentação que se encontra sob a guarda do Arquivo Público Estadual; além é claro, de obras
historiográficas sobre o Espírito Santo. As fontes foram analisadas a partir das seguintes questões: Como
o governo local percebia ou compreendia a importância da instituição?; Quais as concepções vigentes
de educação?; Como era a organização dos alunos?; Quem eram os mestres? E como eram formados os
mestres?; Havia diferenciação no ensino entre os gêneros?; Quem tinha acesso a escolarização?; Qual o
quantitativo de escolas e professores?; Quais os recursos financeiros despendidos com a educação?;
Como estavam organizados os diferentes níveis de escolaridade? Metodologicamente optamos por
trabalhar com o aporte teórico do método indiciário do historiador italiano Ginzburg, buscando através
de indícios e pistas obter elementos que nos permitam uma visão do estado da instrução na Província
do Espírito Santo.

509
1196
A INSTRUÇÃO PRIMÁRIA E OS DEBATES PARLAMENTARES NA FORMAÇÃO DO IMPÉRIO BRASILEIRO

VANESSA BARBOSA DO NASCIMENTO.


UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE, SAO JOAO DE MERITI - RJ - BRASIL.

A primeira metade do século XIX foi um momento que proporcionou as “condições de possibilidades”
para a sistematização do ideário de nação e da escola capaz de servi-lo. Os debates acerca da instrução
entrecruzavam-se com as questões político-estratégicas daquele momento, estabelecendo mitos e
tradições, favoráveis a um país recém independente. Nesse contexto, as discussões parlamentares
acerca dos projetos relacionados à instrução, e muito do que pode ser relacionado a ela, indicam que a
mesma era parte importante deste momento crucial. Para compreender as implicações referentes à
instrução no século XIX, esta comunicação insere-se na possibilidade de desenvolver e aprofundar as
reflexões acerca das propostas relacionadas à instrução, através dos debates políticos proferidos na
Câmara dos Deputados, nos idos de 1827 e tem por objetivo apresentar parte inicial da análise dos
debates parlamentares em torno da Lei de 15 de outubro de 1827, considerada a nossa primeira Lei
Geral para a Instrução Pública relativa ao ensino elementar no país pós-independência. Os Anais da
Câmara dos Deputados de 1827 constituem as principais fontes da investigação e resultam de uma
compilação dos textos redigidos pelos taquígrafos e publicados em alguns jornais da época (a
compilação dos textos só ocorre em 1875, pela Tipografia de Hipólito José Pinto e Cia.). O interessante é
que estes taquígrafos registravam o que estava sendo dito no fervor das sessões, podendo captar desta
forma as emoções que estavam “pairando” em meio às discussões, às desavenças e aos acordos
realizados na Câmara, circunstância a que chamamos de os “bastidores” da lei. Através destes textos,
procuramos perceber a mobilização dos termos e conceitos associados à noção de instrução e sua
relação com uma identidade nacional que se imaginava naquele momento. O embasamento teórico-
metodológico dessa pesquisa explora as contribuições de Michel Foucault para a compreensão do
discurso em sua complexidade e de Reinhart Koselleck para perceber os conceitos sociais e políticos em
sua historicidade. Tais contribuições, que ajudam a entender que o estudo de um elemento se dá na
amplitude da história e que a linguagem só se significa e re-significa compreendidas as diversas
dimensões históricas na qual está inserida. Conclui-se que trabalhar com esse material enquanto fonte
primária foi relevante para se compreender questões que estavam ligadas ao discurso político e suas
representações, e perceber como os dirigentes projetavam preparar os cidadãos para assumir o papel
que lhes cabia no “mundo” e, cada vez mais, aproximar o país à condição do que consideravam uma
nação civilizada naquele momento tão peculiar.

971
A INVISIBILIDADE DO IMIGRANTE NA POLÍTICA EDUCACIONAL MINEIRA (1888 - 1912)

MAYSA GOMES RODRIGUES.


UNIVERSIDADE FUMEC, NOVA LIMA - MG - BRASIL.

O objetivo deste estudo é aprofundar a discussão sobre as leis e os regulamentos da educação e da


imigração em Minas Gerais, no período de 1888-1912, buscando compreender as relações estabelecidas
entre a produção da escolarização neste estado e a educação das crianças filhas de imigrantes. A
história da imigração e a história da educação em Minas Gerais resguardam em seu processo a
construção de dimensões que lhes são próprias. Neste contexto, consideramos que a imigração e a
educação constituíram dois lugares distintos, embora indissociáveis, na medida em que, ao se fixar no
Brasil, e em Minas, os imigrantes necessitaram de lugares para que seus filhos fossem instruídos. A
escola contempla, neste período, uma forma de racionalidade educativa, que não só objetiva, mas
permite educar em larga escala, ou seja, permite produzir uma socialização política e culturalmente
predominante. Assim sendo, analisamos como as leis da imigração abordaram a questão da educação e,
de igual maneira, como a legislação educacional tratou da educação das crianças filhas de imigrantes.
Esta proposição considerou dois fatores importantes, a centralidade da escola, e, portanto, a produção
da escolarização como uma política de Estado; e a importância do movimento imigratório para Minas

510
Gerais neste período. A análise destes processos possibilita o entendimento da construção da história da
educação em Minas Gerais naquilo em que esta se realiza enquanto política de Estado em sua relação
com a imigração, e, conseqüentemente, com a educação das crianças filhas de imigrantes. Demarcamos
este período para estudo por três fatores: o início do período republicano no Brasil e as transformações
dele advindas, o maior fluxo da corrente imigratória para Minas, e a produção da legislação educacional,
que tomamos por fonte. Este trabalho foi realizado a partir de pesquisa documental de fontes primárias
e secundárias, tendo como principal referência o acervo histórico do Arquivo Público Mineiro, onde
efetivamos o levantamento indiciário das leis e regulamentos da educação e da imigração para o
período. Assim, procuramos compreender a educação de imigrantes no contexto da política educacional
mineira em fins do século XIX e início do XX. Abordamos, dentre outros aspectos, como as diretrizes de
assimilação – que permearam a política de imigração – produziram uma invisibilidade das crianças filhas
de imigrantes nas escolas. Nossa hipótese, neste caso, é de que a idéia de assimilação do imigrante
presente nas diretrizes das políticas de imigração levou, em alguns casos, os governos do Estado neste
período, à produção oficial e velada da educação destas crianças. Isso é o que buscaremos demonstrar.

555
A NACIONALIZAÇÃO DO DEBATE SOBRE INSTRUÇÃO PÚBLICA: OS CONGRESSOS BRASILEIROS DE
INSTRUÇÃO PRIMÁRIA E SECUNDÁRIA NA DÉCADA DE 1910

TEREZA MARIA TRINDADE DA SILVA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS, BELO HORIZONTE - MG - BRASIL.

O objetivo deste trabalho, resultado de pesquisa em andamento, é discutir as iniciativas de educadores


e políticos para a nacionalização da organização da educação pública no início da década de 1910. Para
tal foi pesquisado o acontecimento de dois importantes eventos, a saber, o Primeiro Congresso de
Instrução Secundária, ocorrido em São Paulo de 15 a 24 de fevereiro de 1911, e o Segundo Congresso
Brasileiro de Instrução Primária e Secundária, realizado em Belo Horizonte de 28 de setembro a 4 de
outubro de 1912. Tais eventos promoveram debates em defesa da elaboração de uma proposta de
política educacional a nível nacional de modo a resolver e/ou remediar os problemas latentes da
educação brasileira. Estes eventos foram amplamente divulgados pela imprensa da época e tinham
como público alvo os professores de instituições públicas e particulares de ensino do país,
representantes do governo, autoridades escolares, jornalistas e demais pessoas envolvidas com a
educação. Devido à descentralização ou estadualização da organização da instrução pública desde os
tempos imperiais tem-se como hipótese que a grande inovação dos eventos em questão esteve no fato
de iniciar a discussão a respeito da responsabilidade do Governo Federal em relação ao ensino público.
Entre as ações defendidas pelos congressistas esteve a ênfase na urgência da garantia da manutenção e
ampliação de verbas pela União para a instrução primária e secundária, além da necessidade de se criar
um departamento para a educação, o Ministério da Instrução Pública. Para o desenvolvimento deste
estudo foram analisados como fonte documental relatórios e anais dos eventos, legislação de ensino e
imprensa, além de estudos sobre a história e história da educação do período. Após leitura e análise nos
documentos referentes aos congressos pode-se perceber nos discursos e teses apresentados, diferentes
preocupações quanto à situação do ensino público, sobretudo a instrução primária e secundária,
apresentado como um problema de âmbito nacional. Dado o déficit da instrução primária, nesse
período foi constatado um alto índice de analfabetismo e tem-se como hipótese que acontecimentos
históricos como a abolição da escravatura, o desenvolvimento urbano, o crescimento da economia e da
indústria, a exigência de ler e escrever para o exercício de direitos políticos, as precárias condições de
acesso à educação, a falta de financiamento do ensino primário por parte do governo federal e outros
fatores sociais e políticos contribuíram para a promoção da discussão do analfabetismo e da decadência
do ensino secundário como problema nacional.

511
953
A POLÍTICA EDUCACIONAL DO GOVERNO VARGAS: NACIONALIZAÇÃO DO ENSINO EM SUAS
DIMENSÕES DE CONTROLE POLÍTICO-CULTURAL

NEIDE ALMEIDA FIORI.


UNISUL, FLORIANOPOLIS - SC - BRASIL.

Esta comunicação refere-se, de modo mais específico, à região Sul do Brasil enquanto área colonizada
historicamente por imigrantes estrangeiros das mais diversas nacionalidades. Chegavam portando seus
valores culturais, a religião, o idioma e não encontravam na terra de acolhimento escolas públicas
destinadas ao atendimento escolar dessas populações e mesmo de seus descendentes. Face à situação,
esses grupos populacionais de origem estrangeira organizaram uma rede de ensino de caráter
particular, mantida pela comunidade através das Associação Escolares, cuja forma de funcionamento
estimulava o cultivo dos valores da terra dos antepassados e, principalmente, o idioma étnico. Essa
situação não se constitui no tema desta comunicação, todavia é possível afirmar que forma o pano de
fundo que origina as ações que fundamentavam a política de nacionalização do governo brasileiro que
visava a sociedade com um todo mas que tinha, nas questões relacionadas com a escola, a sua grande
prioridade. No âmbito da Educação, essas ações passaram a ser conhecidas como Política de
Nacionalização do Ensino em um processo social que alterou profundamente as relações sociais na
região Sul; como se alongou no tempo, adquiriu familiaridade no viver das pessoas (por vezes, uma
“dolorosa familiaridade” e passou a ser designada apenas como “nacionalização do ensino”. Inicia-se, de
uma forma mais expressa/nítida no ano de 1938 embora já tenha raízes nas décadas de 1910/1920;
todas essas ações intimamente relacionadas com os rumos do sentimento nacional brasileiro.
Influências mais amplas também estavam presentes, especialmente as oriundas do contexto da Segunda
Guerra Mundial e o novo jogo de forças internacionais que então se criava. Nesse contexto insere-se a
“política de nacionalização do ensino”, que constituirá o tema principal da presente comunicação. Uma
política de governo multifacetada e que envolveu as diversas instâncias do poder do Estado – federal,
estadual e municipal. Relacionar-se-á ainda com exército e política militar, especialmente nos tempos de
guerra. No jogo de todas as considerações apresentadas, a presente comunicação propõe-se a debater a
política de nacionalização considerando que inicia no ano de 1938, visando atingir o objetivo geral:
analisar o agir da polícia e do exército no sentido da “nacionalização do ensino”. Este se desdobrará em
alguns objetivos específicos também relacionados com a nacionalização do ensino: analisar o contexto
nacional e internacional; identificar e descrever a fundamentação legal e suas implicações principais;
enfocar a situação das populações imigrantes ou de origem estrangeira; situar o papel da escola pública
nesse contexto. Trata-se de uma investigação já concluída e que se apóia nos procedimentos
metodológicos: entrevistas, bibliografia, análise de legislação e pesquisa iconográfica.

470
A POLÍTICA EDUCACIONAL NO ESPÍRITO SANTO NA PRIMEIRA REPÚBLICA: ALGUMAS REFLEXÕES
SOBRE AS REFORMAS MUNIZ FREIRE (1892) , GOMES CARDIM (1909)E ATÍLIO VIVACQUA (1928)

MARIA ALAYDE ALCANTARA SALIM.


SEME, VILA VELHA - ES - BRASIL.

As elites dirigentes que comandaram o processo de instauração do Governo Republicano, formadas no


seio dos ideais positivistas, defendiam, em seus discursos, que o Brasil buscasse o progresso e
ingressasse na idealizada Modernidade. Além disso, a educação era vista como um importante
instrumento de conformação social, na medida em que seria responsável pela formação do cidadão
apto a seguir a nova ordem social. No decorrer desse período, no campo das idéias pedagógicas, os
pressupostos teóricos da “Escola Nova” ganhavam espaço no debate educacional e norteavam as
reformas educacionais promovidas em vários estados brasileiros. No Espírito Santo, a primeira
intervenção institucional na Instrução Pública do período republicano ocorreu durante o governo de
Moniz Freire (1892 – 1896) e consistiu, basicamente, na reorganização do ensino primário e na criação
da Escola Normal. A Escola Nova forneceu as bases teóricas para as outras duas importantes reformas

512
educacionais promovidas pelo Governo Estadual durante esse período: a reforma de Gomes Cardim
(1909) e a Atílio Vivacqua (1928). As duas reformas marcaram a penetração do escolanovismo no Brasil.
A primeira fase, período em que ocorreu a Reforma Cardim, vai dos últimos anos do século XIX até a
segunda década do século XX e corresponde ao momento inicial de propagação das novas idéias e
criação das condições facilitadoras para o mais amplo movimento que ocorreria nos anos posteriores. A
segunda fase, período da Reforma Vivacqua, teve início a partir da década de 1920 e marcou a difusão
sistemática dos ideais da Escola Nova e as primeiras tentativas governamentais de promover na prática
uma nova estruturação das instituições escolares. Deste modo, o presente trabalho apresenta como
objetivo geral analisar o cenário educacional do Espírito Santo durante a Primeira República, focalizando
especialmente as três referidas reformas educacionais realizadas nesse período. No estudo dessas
reformas educacionais analisei as ações propostas, as idéias pedagógicas que configuravam os discursos
dos reformadores, e a circulação/apropriação dessas idéias pelos professores da rede pública de ensino.
Procurei desenvolver uma análise a partir do entrecruzamento das informações relativas aos aspectos
políticos, econômicos e socioculturais que marcavam a sociedade capixaba entre o final do século XIX e
as primeiras décadas do selo XX, focalizando com mais atenção a cidade de Vitória. Para tanto, realizei
uma pesquisa histórico-documental selecionando uma grande variedade de testemunhos
(BLOCH,2001;GINZBURG,2002,2004): relatórios governamentais, legislação educacional, ofícios,
requerimentos e cartas emitidos e recebidos pelas autoridades dirigentes, livros didáticos, produção
escrita de alunos e professores; jornais e revistas. Essa pesquisa foi parte do trabalho de doutorado
(SALIM,2009) concluído no ano de 2009.

784
A POLÍTICA “DO FAVOR” E A EDUCAÇÃO ENTRE OS ANOS DE 1940 A 1980 NA PARAÍBA

MARIA VALDENICE RESENDE SOARES; MARIA LÚCIA DA SILVA NUNES; NIÉDJA FERREIRA DOS SANTOS.
UFPB, JOÃO PESSOA - PB - BRASIL.

O presente texto origina-se de pesquisas em andamento junto ao Mestrado no Programa de Pós-


Graduação em Educação da Universidade Federal da Paraíba e está vinculado ao Grupo de Estudos e
Pesquisas “História, Sociedade e Educação no Brasil – (HISTEDBR-GT/PB). Tem como objetivo analisar o
fenômeno da política “do favor”, na Paraíba e suas implicações na educação entre os anos de 1940 a
1980. Nesse recorte temporal, podemos situar essa prática como clientelista. O clientelismo surgiu com
o enfraquecimento do coronelismo e diferencia-se deste pela mudança do sujeito a partir do qual as
relações de troca se estabelecem. Muda a figura do coronel rural para os chefes políticos tipicamente
urbanos que pautam suas carreiras, visando atender benefícios eleitorais como empregos, obras
públicas, acesso facilitado às instituições públicas, através do tráfico de influência, tendo em troca a
garantia de votos, dando continuidade a uma política de clientela, em formas de fidelidade e adesão
políticas, ainda permeadas na lógica do voto - mercadoria. Essa prática remonta ao período escravocrata
brasileiro, segundo os estudiosos que retratam o “homem livre” desse tempo. A importância de se
realizar este estudo justifica-se pela escassez de publicações que observem a influência dessa prática no
campo da educação, conforme pesquisa inicial, realizada junto aos periódicos das Revistas: Educação
& Sociedade, Educação, e no banco de teses e dissertações da CAPES, utilizando como filtro as
palavras-chave: Educação e clientelismo/coronelismo. Apoiamo-nos nos pressupostos teórico-
metodológicos da Nova História Cultural que aponta para a ampliação no uso de fontes e das
abordagens historiográficas. Nesse sentido, além do levantamento bibliográfico sobre a temática,
utilizamos como fonte entrevistas orais, com educadoras que exerceram suas práticas no referido
período, e cartas manuscritas, produzidas por uma educadora e dois cidadãos que se reportam a
políticos para obter benefícios. Estas foram localizadas em caixas no Arquivo Público do estado da
Paraíba, que se encontra na Fundação Espaço Cultural José Lins do Rego. Através das análises dos
discursos dos(as) interlocutores(as) dessa história nos aproximamos de um determinado contexto, onde
a política “do favor” perpassou como elemento condutor nos fenômenos sociais vivenciados na vida
política do país e esteve configurado nas vivências da educação, em especial, na Paraíba. Esse fenômeno
pode ser apontado como entrave à construção de uma sociedade democrática, uma vez que manipula a
utilização de bens públicos com finalidades de caráter privado.

513
1007
A REFORMA ORGÂNICA DO ENSINO INDUSTRIAL DE 1942: CAMINHOS DE SEDIMENTAÇÃO DE UM
NOVO MODELO DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL NO BRASIL

WANIA MANSO ALMEIDA.


IFF, NITEROI - RJ - BRASIL.

Neste artigo apresento resultados da pesquisa sobre a institucionalização do ensino industrial no Brasil
que integram minha tese doutoramento defendida pela PUC Rio em abril deste ano. A investigação
privilegia o período do Estado Novo (1937-1945) quando foi instituída a reforma orgânica do ensino
industrial, marco no desenvolvimento dessa modalidade de ensino. Enquanto parte de um estudo mais
amplo que utiliza a abordagem teórico-metodológica denominada história da educação comparada,
nesta pesquisa as fontes são entendidas como veículos de difusão e negociação de uma razão
pedagógica do tipo científico, fundada em estilos de prática de pensamento relacional comparativo. Na
base documental destacam-se textos legais, atas de sessões parlamentares e de congressos, relatórios,
pareceres, artigos de revistas, correspondência pessoal e fotografias. As fontes utilizadas encontram-se
alocadas, principalmente, no Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil,
CPDOC, da Fundação Getúlio Vargas. O texto destaca acontecimentos que antecederam a promulgação
da Lei Orgânica do Ensino Industrial de 1942, na gestão do Ministro Capanema, com especial atenção
aos embates estabelecidos entre o Ministério da Educação e Saúde e os empresários – seja, em primeiro
lugar, pelo controle da direção moral, cultural e ideológica dos trabalhadores da indústria, considerado
indispensável ao modelo moderno conservador de sociedade que se instituí; seja, em segundo lugar,
pelo estabelecimento de um modelo de formação profissional para os operários e, neste caso,
evidenciam-se importantes articulações entre o trabalho realizado pela Comissão Interministerial
designada para regulamentar a questão, em 1939, e a regulamentação do Serviço Nacional de
Aprendizagem, SENAI, em 1942. Ademais, coloca-se em foco a ênfase dada pelo Ministro Capanema à
necessidade de se conferir uma maior permeabilidade entre o ensino técnico e o clássico. Alegava
Capanema que também no Brasil havia certo “preconceito” contra o chamado “academismo” ou
“literatura” das escolas profissionais. Havia oposição à introdução de matérias culturais e de educação
geral no ensino industrial porque essas matérias eram sempre associadas à rotina e à ineficiência. Para
romper com esses preconceitos e oposições, a nova reforma o ensino industrial passou a integrar não
apenas o “ensino técnico, da tecnologia, e da prática de ofícios e técnicas, mas, também o ensino de
matérias de formação científica, literária e artística do adolescente e, ainda, a formação moral, cívica,
religiosa e patriótica do adolescente”. Capanema, mesmo que na parcialidade da “democracia possível”,
pretendeu avançar contra os limites impostos ao ensino profissional elevando-o ao nível de ensino
secundário e viabilizando a articulação entre ramos de ensino e cursos superiores correspondentes.

417
A TEMPORALIDADE HISTÓRICA DA LEI DE ENSINO RIVADÁVIA CORRÊA (1911): PASSADO OU FUTURO?

MARLOS BESSA MENDES DA ROCHA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA, JUIZ DE FORA - MG - BRASIL.

O argumento central do trabalho é o de dar um sentido de temporalidade histórica à lei Rivadávia


Corrêa de 1911. A lei vem a lume precisamente numa época de transição, onde a velha herança
educacional do final do Império, mais precisamente decorrente da “visão de mundo” configurada pelo
decreto-lei Leôncio de Carvalho (1879), começa a ser superada, ainda que de forma regionalmente
diferenciada. A política pública educacional mineira que começa a se expressar na década de 1910 seria
uma revelação desse novo tempo histórico. O novo tempo se expressa na política de educação através
de alguns traços que vão se tornar definitivos na política pública de educação da nação, porque na
verdade representaria uma transformação do direito público de educação correspondente a uma
atualização da modernidade do mundo: de razão de Estado transforma-se em direito do indivíduo. Esses
traços são antes de tudo o definitivo compromisso do Estado com a expansão do ensino primário, não
mais tomando as iniciativas da sociedade como eixo do “horizonte de expectativa” do futuro da

514
educação no país; conseqüentemente, a questão da obrigatoriedade escolar se transforma, não mais
fundada numa idéia de contraposição do Estado a uma “incúria” da sociedade, mas agora fundado num
dever do Estado para com o direito do seu povo. Como se trata, então, de um novo direito da cidadania,
a preocupação agora já não pode ser de simples expansão da escolarização, mas da abrangência da
escola a todas as crianças em certa faixa de idade obrigatória; finalmente, a exigência de cumprimento
pelo Estado daquele dever público através da fixação orçamentária de verbas que possibilitem tal
compromisso. Procuro demonstrar que isso ocorre em Minas num certo contraponto com São Paulo,
pois o impulso publicista de São Paulo dos primórdios da República teria sido tolhido pelos movimentos
cívico-nacionalistas da década de 1910 que desfocariam do Estado a iniciativa do ensino. Decorre dessa
política civilista a retirada do compromisso público com o ensino primário regular, deslocando-o para as
grandes campanhas de alfabetização. Abdica-se assim de uma política estruturante do ensino primário
público. Somente em 1920, com a reforma Sampaio Dória, São Paulo ingressaria num compromisso
definitivo com a expansão pública do ensino primário sob o critério da abrangência escolar. A lei
Rivadávia Corrêa dar-se-ia, portanto, justamente nessa fase de transição histórica onde uma herança do
final do Império, que tem na sociedade o horizonte de expectativa da iniciativa educacional, começa a
se transformar, de forma ainda diferenciada pelos estados do país, em derradeiro compromisso do
Estado com o ensino primário. As fontes são jornais de época existentes na cidade de Juiz de Fora, bem
como os Anais do I Congresso de Instrução Secundária (São Paulo, 1911) e do II Congresso de Instrução
Primária e Secundária (Belo Horizonte, 1912). Trata-se de uma pesquisa em andamento.

758
A TESSITURA DO DIREITO À EDUCAÇÃO: DAS PROPOSTAS PRECURSORAS AO PLANO ESTADUAL DE
EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO DO SUL (1991- 2003)

LARISSA WAYHS TREIN MONTIEL; NILCE APARECIDA DA SILVA FREITAS FEDATTO.


UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS, DOURADOS - MS - BRASIL.

O tema direito à educação tem possibilitado estudos e pesquisas que enfocam o processo histórico e
político de sua afirmação como um direito social e humano, assim como as garantias de
sustentabilidade desse direito entre a sociedade e o Estado. Dessa forma, esse estudo faz parte da
dissertação de Mestrado em Educação defendida no ano de 2010. Tem como objetivo desvelar a
trajetória do direito á educação em períodos históricos diferentes no estado de Mato Grosso do Sul,
tentando perceber como esse direito foi elaborado e firmado como garantia real no texto final das leis,
buscando apreender nas propostas de educação e/ou nos planos estaduais de educação de três
governos sul-mato-grossenses sendo eles: o “II Plano Estadual de Educação do Mato Grosso do Sul
(1985) do governo de Wilson Barbosa Martins (1982- 1985)”, a “Proposta de Educação para Mato
Grosso do Sul (1991-1994) do governo de Pedro Pedrossian (1991-1994)” e o “Plano Estadual de
Educação – Lei nº. 2791, de 30 de dezembro de 2003 do governo de José Orcírio Miranda dos Santos
(1999-2003)”, como se configurou a garantia do direito a educação. Metodologicamente realizamos
uma pesquisa qualitativa histórico-documental com auxílio da análise de conteúdo. As fontes utilizadas
foram os documentos finais de cada proposta ou plano de educação. Pelas análises foi possível verificar
que os governos sul-mato-grossenses se dedicaram a elaboração da documentação para cumprir com
reformas necessárias para o setor educacional e pouco se debruçaram para garantia e efetivação do
direito à educação nos textos das leis. A pesquisa revelou que as propostas do governo central são
sempre “modelo” para o governo local e muito pouco se avança quanto à garantia de direitos. E que
mesmo com a mudança de governos locais a prioridade é atender os condicionantes internacionais que
direcionam os rumos da educação brasileira. Mais do que fazer a análise dos documentos o que se
buscou foi demonstrar “os caminhos não seguidos e explicar os caminhos tomados” em relação ao
direito à educação. Palavras-chave: História da Educação, Educação de Mato Grosso do Sul, Direito
Educacional.

515
1260
ACESSO À EDUCAÇÃO SUPERIOR NA PRIMEIRA REPÚBLICA: A AÇÃO REGULADORA E
REGULAMENTADORA DO ESTADO BRASILEIRO

SILVIA MARIA LEITE DE ALMEIDA.


UNEB, SALVADOR - BA - BRASIL.

O presente trabalho enfoca a política de acesso à educação superior no Brasil, através da análise da
legislação federal publicada entre os anos de 1891 a 1934. Objetiva mapear as formas de ingresso na
educação superior neste período histórico, conhecido como Primeira República. Procurou-se realizar
uma sistematização da legislação educacional fazendo um balanço do conteúdo da legislação aprovada.
Buscando analisar como o Estado brasileiro regulou e regulamentou esse processo através da “teia
normativa”. Neste período foram identificadas diferentes formas de acesso: as realizadas através de
exames preparatórios; dos exames de madureza e do exame de habilitação, também denominado
vestibular. Procurou-se realizar uma retrospectiva histórica, como Machado e Oliveira (2001) indicam:
uma sistematização da legislação educacional fazendo um balanço do conteúdo da legislação aprovada.
Para tanto o tema foi trabalhado a partir do ordenamento normativo a partir da Carta Constitucional de
1891. Neste período, particularmente, foi verificado a presença marcante do Estado brasileiro,
regulando e regulamentando o acesso à educação superior, sobretudo no que se refere às delegações
legislativas inauguradas e tornadas cotidianas no Império e reproduzida ao arrepio da nova Carta. Na
vigência da Carta Constitucional de 1891 foram publicadas 38 normas que regularam o acesso à
educação superior de forma direta ou indireta. Interessante perceber que a maioria destas normas se
consubstanciou sob a forma de decretos. Destes, 31 foram oriundos do Poder Executivo e 7 foram de
autoria do Legislativo, o que denota que as “reformas” educacionais foram realizadas, sobretudo, pelo
Poder Executivo por delegação do Legislativo. O Estado nesta época teve uma ação “modeladora”, mas
também não se esquivou de um perfil “fiscalizador”. A função modeladora foi realizada na medida em
que disciplinou modelos e formatos de acesso com objetivo de dar organicidade ao setor. O papel
fiscalizador ocorreu principalmente em relação ao funcionamento do sistema e no provimento de um
bem público, detalhando normas legais e procedimentos burocráticos. Os exames positivados nas
diferentes normas deste período, e também em outros, tinham a intenção de pôr à prova os candidatos,
no sentido de verificar sua capacidade e “merecimento”. Se, no início, tinha a função de distribuir os
candidatos às vagas existentes, a partir de 1925, classifica os que se sobressaem nas avaliações
propostas, tendência esta que é reproduzida até os dias atuais. Destaca-se também no período
estudado, a exigência, a partir de 1925, da conclusão do ensino secundário para ingresso na educação
superior.

590
AS AULAS PARTICULARES DE INSTRUÇÃO ELEMENTAR NO PROCESSO DE INSTITUCIONALIZAÇÃO DA
INSTRUÇÃO EM MINAS GERAIS, SÉCULO XIX

FLÁVIA GONTIJO DE SOUSA.


UFMG, BELO HORIZONTE - MG - BRASIL.

O presente trabalho é parte de pesquisa de mestrado em andamento. O objetivo é discutir a


organização, o funcionamento e a expansão das aulas particulares na província de Minas Gerais no
século XIX. Especificamente, apresenta-se a discussão a respeito do lugar dos mestres particulares na
estruturação da instrução elementar na província de Minas Gerais, século XIX. Destaca-se que neste
tempo o império brasileiro é marcado pelo ideário de construção da nação. Uma das ações que
expressam tal ideário foi a implementação e difusão da instrução elementar, ou seja, do saber ler,
escrever e contar. Desde a Constituição de 1824 a instrução primária foi instituída como gratuita para
todos os cidadãos. Após o ato adicional de 1834 houve a descentralização das normatizações que
regulamentam a instrução, desse modo ficou a cargo de cada província elaborar e reger esse processo.
As propostas oitocentistas pensadas pelas elites no Brasil contemplavam o acesso a instrução para todas
as classes como maneira de formar o povo. A instrução se apresentava como parte da estratégia de

516
produção da civilização. Desse modo ao longo do século XIX foram organizadas as aulas de instrução
pública bem como as aulas particulares no âmbito da estruturação política da província de Minas Gerais.
Portanto o pressuposto é de que a compreensão do funcionamento das aulas particulares deve levar em
consideração a organização das aulas públicas, ou ainda, as políticas de educação desenvolvidas pelo
governo provincial. Nesta comunicação serão apresentados os procedimentos normativos de
autorização para funcionamento de uma aula particular elaborados pelo governo provincial, com
destaque para as exigências demandadas a um mestre particular em comparação aos mestres públicos;
mas também se discute as tensões existentes entre o provimento das aulas públicas e das aulas
particulares. A principal hipótese é a existência de relações clientelísticas no processo de provimento
das cadeiras, o que muitas das vezes contribuiu para a desqualificação dos mestres públicos em
detrimento dos mestres particulares. Para o desenvolvimento do trabalho investigou-se diferentes
fontes documentais tais como relatórios de presidentes de província, legislação, ofícios diversos e
jornais sob a guarda do Arquivo Público Mineiro e da Hemeroteca de Belo Horizonte. Para a análise
teórica, privilegiaram-se estudos historiográficos de autores que discutem a organização do estado
brasileiro e as relações clientelísticas no Brasil, como José Murilo de Carvalho e autores que abordam a
história da educação no período.

1169
AS AÇÕES DO GOVERNO PERNAMBUCANO NO CAMPO DA QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL NA CIDADE
DO RECIFE ENTRE 1850 E 1889

RAMON OLIVEIRA.
UFPE, RECIFE - PE - BRASIL.

A pesquisa financiada com recursos do CNPQ analisou os mecanismos de qualificação profissional


desencadeados por parte do Estado visando atender às necessidades da economia e da urbanização
recifense, entre 1850 e 1889. Analisou-se documentos de governo versando sobre o desenvolvimento
econômico do estado de Pernambuco e da Cidade do Recife, notadamente, os relatórios dos
Presidentes de Província. Também foram analisadas petições da agroindústria açucareira, do comércio,
das companhias diversas, das fábricas, dos sindicatos e sociedades diversas, das associações
beneficentes, dos assuntos eclesiásticos, das escolas particulares, dos populares e dos professores
públicos, enviadas ao poder público. Entre os resultados obtidos destacamos que em meados do século
XIX era muito pequeno o número de estabelecimentos fabris em Recife. Existiam enquanto atividades
fabris: refinação de açúcar, fábricas de vinagre, fábrica de bebida alcóolica, padarias, fundição de
metais,fábrica de sabão, estaleiros, olarias, fábrica de gaz . Embora o processo de industrialização tenha
sido muito lento e não tenha havido a necessidade da ação do poder público de forma a garantir uma
mão-de-obra adequada a novas necessidades, foi possível constatar a presença de um discurso em
defesa de maior investimento em educação, bem como o interesse em construir espaços voltados ao
processo de instrução profissional. No entanto, constatamos que predominava uma visão de formação
profissional como algo voltado aos setores marginalizados socialmente. Não à toa, os espaços de
formação profissional terminaram por ser aqueles que abrigavam os órfãos. No âmbito do interesse
estatal pelo investimento na formação profissional, o maior destaque pode ser dado às ações de
parceria que governo da província realizou com alguns empresários, os quais em troca de alguns
privilégios, como o monopólio de um determinado serviço durante certo período, se responsabilizavam
pelo ensino de ofícios industriais a menores do Colégio de órfãos. Os órfãos poderiam aprender, no
próprio ambiente de trabalho, ofícios como os de fiandeiros, tecelões e outras atividades industriais em
geral. A ausência de ações específicas do poder público não pode ser confundida com a inexistência do
debate e da aprovação de leis visando à construção de escolas profissionalizantes. Nesse sentido,
observa-se que, embora não tenha sido colocada em funcionamento no tempo desejado e da forma
pensada, houve a aprovação de uma escola industrial, bem como de uma escola agrícola. A escola
comercial funcionou, mas não conseguiu prosperar em suas atividades, vindo a ser fechada poucos anos
após a sua inauguração.

517
482
AS ESCOLAS ISOLADAS NO OESTE CATARINENSE: UMA QUESTÃO DE NACIONALIZAÇÃO (1935-1945)

TATIANE MODESTI.
UFSC, FLORIANOPOLIS - SC - BRASIL.

O presente texto tem por objetivo analisar as escolas públicas isoladas no oeste catarinense, entre 1935
e 1945, como uma alternativa para levar a política nacionalista ao interior do Estado, buscando assimilar
grupos estrangeiros em localidades rurais. Durante a Primeira República, através de reformas do ensino
em vários estados do país, introduziu-se um modelo de escola graduada moderna, caracterizada pelos
grupos escolares, visando uma substituição gradativa das escolas isoladas, embora muitas destas escolas
permaneceram e foram difundidas durante o período Vargas, como na região aqui sinalizada. O oeste
catarinense se caracterizou por receber agricultores alemães e italianos oriundos do Rio Grande do Sul,
os quais formaram diversos núcleos coloniais, sendo as décadas de 1930 e 1940, um período de intensa
colonização. Assim, as escolas isoladas se apresentam como uma forma de atingir as comunidades mais
afastadas dos centros urbanos, possibilitando nacionalizar grupos estrangeiros nas zonas rurais. O
recorte temporal foi definido a partir da reforma do ensino catarinense conhecida como Reforma
Trindade e o início da atuação de Nereu Ramos à frente do governo do Estado. Destaca-se o Estado
Novo (1937-1945) como um período em que há uma intensificação de medidas que visavam uma
homogeneização da cultura, sendo que a escola se colocava como um local difusor dos ideais
nacionalistas. A escola era vista como capaz de transmitir os saberes necessários para a constituição de
uma Nação forte e consolidada, assim a política nacionalista visava a integração de vários grupos étnicos
com os referencias nacionais, buscando uma unificação em prol do Estado. Esta abordagem refere-se a
uma análise parcial que está inserida em uma pesquisa mais ampla acerca das escolas públicas no oeste
catarinense. Foram tomadas como fontes: Relatórios do Interventor Nereu Ramos, Relatórios do
Departamento de Educação, correspondências e jornais locais. A metodologia utilizada busca responder
aos seguintes questionamentos: Quais as características das escolas isoladas? Qual era a necessidade
das escolas isoladas para a região, no tocante a política de nacionalização? Como o governo estadual via
essas escolas? Por meio desta investigação foi possível verificar alguns aspectos ligados as condições de
funcionamento das escolas isoladas, no que se refere a materiais, prédios, professores e serviço de
inspeção, buscando perceber como se colocavam as escolas públicas isoladas no oeste de Santa Catarina
quanto à nacionalização de grupos estrangeiros.

667
AS INICIATIVAS GOVERNAMENTAIS ACERCA DO ENSINO PROFISSIONAL EM MINAS GERAIS NO FINAL
DO SÉCULO XIX

FELIPE OSVALDO GUIMARÃES.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS, BELO HORIZONTE - MG - BRASIL.

A pesquisa buscou traçar um panorama acerca dos objetivos explicitados pelos governos provinciais
para a criação de instituições de ensino profissional em Minas Gerais no decorrer do século XIX. O
mapeamento dessas instituições voltadas para o ensino agrícola, manufatureiro e comercial constatou
que a maior parte delas foi criada nas duas décadas finais do século XIX. Uma das hipóteses elencadas
para justificar essa concentração em um período específico é a de que tais instituições foram muito mais
do que apenas locais de recolhimento de jovens pobres, libertos ou escravos, uma prática comum no
contexto educacional brasileiro à época. Esses estabelecimentos também procuraram atuar no sentido
de preparar mão-de-obra qualificada para as novas exigências de desenvolvimento da economia
mineira. Em um contexto de instalação de indústrias e da necessidade de aprimoramento das técnicas
agrárias, a criação de instituições para o ensino de ofícios manufatureiros (como os Liceus de Artes e
Ofícios das cidades do Serro, São João Del Rei e Ouro Preto) ou para o aperfeiçoamento da agricultura
(como o Instituto Agronômico de Itabira) foi pensada pelo poder público como uma possibilidade de se
superar práticas consideradas arcaicas, tanto no campo quanto na produção industrial. Outra hipótese é
a da percepção pelos governantes da necessidade de se modernizar as relações de trabalho, haja vista a

518
desagregação do sistema escravista. A qualificação de homens para o trabalho no campo e nas fábricas,
muitos deles ex-escravos, foi entendida como parte de um projeto modernizador tanto sob o ponto de
vista social quanto o econômico. Não se deve negar o caráter assistencialista desses projetos, dado o
fato de terem sido pensados para atender prioritariamente às camadas mais baixas da sociedade. Além
disso, muitas dessas instituições tiveram uma existência breve, tendo em vista as poucas verbas
alocadas para seu funcionamento, o que exigiu muitas vezes que complementassem seus orçamentos
com auxílios de particulares ou de instituições mantenedoras. Porém, o que se percebe é um duplo
movimento. Um, no sentido de uma maior participação direta do Estado na organização do ensino
profissional, criando ou custeando instituições em várias cidades da província de Minas. E outro, sob a
forma de uma mudança (ainda que lenta e descontínua) de um modelo de ensino baseado no
assistencialismo para outro em que a profissionalização da mão-de-obra é compreendida como um dos
motores do desenvolvimento e de superação do atraso econômico. A documentação pesquisada
consistiu nos Relatórios dos Presidentes da Província de Minas Gerais, entre 1837 e 1898, estando essa
documentação presente no Arquivo Público Mineiro, em Belo Horizonte. As contribuições bibliográficas
incluem autores como Luiz Antônio Cunha, Jaílson Alves dos Santos e Celso Sukow da Fonseca.

1266
AS REFORMAS DA INSTRUÇÃO E ALGUMAS AÇÕES DE DIRIGENTES REFORMADORES

DIMAS SANTANA SOUZA NEVES SANTANA SOUZA NEVES.


UNEMAT, CÁCERES - MT - BRASIL.

Este estudo produz uma compreensão do processo das reformas da instrução elementar desenvolvidas
em Mato Grosso, Minas Gerais e na Corte Imperial na década de 1850. No exame desse movimento, o
trabalho interroga aspectos singulares dos modos de apropriação e aproximações entre as
representações existentes em torno das mudanças, buscando relacionar lutas, interesses e disputas que
se fizeram presentes nos distintos embates verificados no âmbito do esforço reformador. Para tanto, a
investigação se deteve na localização e reflexão de formações discursivas que tinham como propósito
tornar legítima a escola elementar e suas qualidades para produzir transformações nos sujeitos
escolares. A tentativa era de afirmar a escola e a beleza dos efeitos pedagógicos no governo dos
indivíduos. Assim, as disposições normativas foram construídas tendo em vista permanências e
inovações que desejavam instituir na sociedade brasileira da época a partir da definição das serventias
da escola e dos equipamentos escolares. A investigação se constitui em um esforço de prática de
história da educação em perspectiva comparada, focada na trajetória de vida dos reformadores e nas
prescrições definidas para realizar a forma escolar de cada espaço social. Por isso, a investigação buscou
realizar um diálogo com a compreensão das proposições de mudanças, seu desenho e efeitos,
relacionados com o pensamento e as articulações políticas da Conciliação, cuja composição política
procurou oferecer sustentação ao programa reformador em questão. No corpus documental trabalhado
foi possível observar a regularidade de um regime de verdade que, no campo da educação elementar,
esteve assentado nos argumentos e medidas voltadas para a regulação das idéias de liberdade,
universalidade, obrigatoriedade e gratuidade do ensino. Essas manifestações tinham a finalidade de
efetivar as mudanças em curso com o propósito assegurar o “governo da população”, cuja ação
pedagógica deveria partir da demonstração da importância da escola às crianças e famílias. De igual
maneira entende-se que ao prescrever os objetos e equipamentos necessários no ambiente da escola e
aos alunos em escolarização, os dirigentes visavam dar visibilidade ao aparelho e acontecimentos
escolares como mecanismo de governo dos escolares e da sociedade pela efetivação de símbolos e
efeitos de poder que produziam esses dispositivos. Assim, o estudo procura demonstrar que o processo
reformador da escola elementar foi objeto de disputas, nem sempre efetivadas de acordo com o
modelo projetado. Acasos e efeitos variados ajudam a pensar o modelo escolar e social que
pretenderam normatizar e normalizar, mas também as forças em jogo e as disposições da racionalidade
dos dirigentes do Império.

519
1269
AS REFORMAS POMBALINAS E A LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL

MARIÂNGELA DIAS SANTOS.


UNIT, ARACAJU - SE - BRASIL.

O enfoque teórico estabelecido para a construção deste trabalho tem como base a primeira peça
legislativa das reformas propostas pelo Marquês de Pombal. A Lei do Diretório de 1757, que expressa às
primeiras mudanças no âmbito educacional com o processo de unificação da língua portuguesa no Brasil
e demais Colônias sob o domínio luso, proibindo o uso de qualquer dialeto. O estudo tem como objetivo
ressaltar que a origem e o desenvolvimento histórico da educação pública no Brasil estão estritamente
ligados as ações reformistas empreendidas pelo Marquês de Pombal. Logo, com o Alvará de 1759 um
novo sistema de educacional é estabelecido, com a valorização do ensino, consolidação da língua
portuguesa e oficialização do magistério. Esse Alvará enfatiza a intenção da Coroa em unificar a
educação na Colônia e fiscalizar a ação dos professores, ora sua nomeação ora o material didático por
eles utilizado. E, conclui apresentando a contribuição da Lei de 1772, onde mostra a quantificação das
aulas de primeiras letras. Os mapas de freqüência apresentam dados informados pelos mestres, sendo
um dispositivo do governo para controlar o trabalho dos mestres, existência das aulas, freqüência dos
alunos e os conteúdos a serem instruídos. Dessa maneira, o estudo conduz a analisar o projeto de
renovação educacional no período pombalino, mostra que trouxe mudanças metodológicas para o
ensino em Portugal e suas Colônias. Nessa investigação foi utilizada a pesquisa bibliográfica e
quantitativa, recorrendo às seguintes fontes: livros, revistas científicas, leis, e decretos. Esses
documentos apresentam a relevância dessas fontes para a história da educação. É válido ressaltar que o
trabalho encontra-se em andamento tendo como fundamento os conceitos de: Carvalho (1952), Oliveira
(2010), Hebrard (1990), Nóvoa (2000). Assim, a utilização da legislação como fonte tem como intenção
demonstrar as reformas realizadas por Pombal no foco educacional. A partir da legislação, observou-se a
mentalidade, a constituição da nação em Portugal e em seus domínios. O estudo acredita que como
mediadora dessas relações a legislação auxilia no desvendar das práticas escolares que envolviam os
professores, alunos, conteúdos e estratégias administrativas. A intervenção de Pombal na educação
deu-se por meio da legislação, onde via nas reformas educacionais um meio de dar continuidade ao
empenho modernizador, ao transformar e reformar a mentalidade. Para tal, percebe-se que as reformas
educacionais de Pombal almejavam três objetivos: secularizar a educação, padronizar o currículo e
trazer a educação para o controle do Estado. Por fim, ao propor as reformas educacionais por
intermédio da aprovação de decretos, leis e alvarás, Pombal buscou organizar a instrução pública para
servir os imperativos da Coroa.

620
AS REPRESENTAÇÕES SOBRE O TRABALHADOR MINEIRO SOB O PONTO DE VISTA DO LÉXICO
REPUBLICANO (1892-1924)

VERA LÚCIA NOGUEIRA; MICHELLE REIS DE ALVARENGA.


UNIVERSIDADE FUMEC, BELO HORIZONTE - MG - BRASIL.

O objetivo desta comunicação, que faz parte de uma pesquisa em andamento, é analisar as
representações sobre o trabalhador mineiro, construída nos e pelos discursos, proferidos no Congresso
Legislativo e no Executivo, bem como nas e pelas legislações, do período de 1892 a 1924, relativas à
política de formação profissional em Minas Gerais. A opção metodológica consiste em mapear,
problematizar, cruzar e confrontar as diversas fontes, tais como as leis e decretos, os Anais do
Congresso Legislativo, as Mensagens dos Presidentes, as correspondências enviadas e expedidas pelas
Secretarias do Interior e de Agricultura. A compreensão do processo de construção das representações
do trabalhador mineiro ocorre no diálogo com tais fontes e, para o estabelecimento desse diálogo,
recorremos a alguns conceitos da História, dentre os quais os de representação, de cultura política e
escolarização. O diálogo se realiza no encontro entre a História da Educação, a História dos Conceitos e a
História Política. Intenciona-se compreender o tratamento conferido pelas elites políticas mineiras aos

520
novos agentes sociais que passaram a constituir a sociedade brasileira, a partir do final do século XIX: os
trabalhadores assalariados. Entendemos, com isso, que o tratamento conferido aos trabalhadores
mineiros é parte de uma representação que se tinha sobre o conjunto dos trabalhadores brasileiros num
período em que as camadas operárias da população encontravam-se em processo de constituição como
classe trabalhadora. A opção pela modernização do setor produtivo, pela via da reforma educacional,
representou para os agentes dirigentes mineiros o controle político hegemônico, com o objetivo de, a
partir dos mais modernos referenciais teóricos liberais, incorporar os trabalhadores-cidadãos ao
trabalho assalariado e à República. Essa é uma constatação que pode ser percebida na literatura da área
e que se coloca como demanda de aprofundamento. Ao analisar o processo de configuração da política
educacional, que se desenvolveu ao longo das três primeiras décadas da República, voltada para a
população jovem e adulta trabalhadora, especialmente via instrução primária noturna, constatamos
que, embora Minas Gerais se caracterizasse como um Estado constituído pelas mais variadas formas de
diversidade, quando o assunto era a educação do trabalhador, havia um consenso quanto ao tipo de
educação e à maneira como essa deveria ser desenvolvida: por meio do ensino profissional agrícola,
cujo sujeito privilegiado era o trabalhador rural. O interesse no investimento educacional no campo
advinha da crença da eficácia do saber técnico e científico aplicado ao setor agropecuário mineiro, como
forma modernizadora da economia e do processo produtivo das atividades campesinas. Ressalta-se que
essa postura fora influenciada pelos setores da Europa e dos Estados Unidos que já se encontravam,
naquela época, em pleno desenvolvimento agroindustrial.

989
AS “MISSÕES RURAIS DE EDUCAÇÃO”: UM PROJETO CIVILIZATÓRIO MODELO NO BRASIL
DESENVOLVIMENTISTA

FLÁVIO ANÍCIO ANDRADE.


UFRRJ, NITEROI - RJ - BRASIL.

Neste trabalho são apresentados os resultados de um estudo realizado acerca de uma experiência
modelo de educação da população rural brasileira. Esta se efetivou no contexto do projeto de
desenvolvimento econômico do pais baseado na difusão dos princípios da racionalização do trabalho e
no aprofundamento da vivência dos hábitos, atitudes e valores característicos dos espaços urbano-
industriais através de sua máxima extensão no território brasileiro. Da análise da fonte primária
privilegiada neste estudo, isto é, os relatórios oficiais de avaliação do projeto publicados pelo Serviço de
Informação Agrícola do Ministério da Agricultura em 1952 sob o título “Missões Rurais de Educação:
uma tentativa de organização da comunidade”, pode-se concluir que o projeto de desenvolvimento do
país posto em prática pelo Estado em bases mais complexas a partir dos anos 50 caracterizou-se
também por um imprescindível esforço de disseminação para o conjunto da sociedade brasileira dos
princípios organizativos inerentes aos espaços fabris que desejavelmente deveriam vir a ser a
locomotiva da produção da riqueza nacional. Simultaneamente buscou-se também a incorporação ativa
de um contingente maior da população brasileira à ordem política democrática instaurada no pós-
guerra. Estando sob responsabilidade direta do Serviço de Informação Agrícola do Ministério da
Agricultura entre os anos de 1950 e 1951 e desdobrando-se nos anos subseqüentes no apoio a
iniciativas de mesma natureza adotadas em outras localidades rurais do país, a implantação de uma
experiência piloto de organização comunitária combinada com a oferta de oportunidades de elevação
da escolaridade no município de Itaperuna, localizado na região noroeste do estado do Rio de Janeiro,
aparece como exemplo paradigmático do esforço industrializante encetado pelo Estado. Tratava-se de
criar pólos de irradiação de um novo padrão de vivência econômica, política e social baseado no
associativismo e na criação de espaços de organização da vida política em nível local visando tanto a
elevação dos índices de produtividade e renda de uma dada comunidade das regiões mais interioranas
do pais quanto a propagação dos valores e práticas mais típicos de uma sociedade democrática. O
discurso referente ao campo da educação em particular e dos processos formativos em geral formulado
no momento histórico aqui abordado assume que os princípios e práticas a estes correspondentes
deveriam vir a ser adotados também no âmbito do setor produtivo agrícola e, intrinsecamente ligado a
este primeiro objetivo, como forma de educar o conjunto da população brasileira no sentido da

521
incorporação de novos hábitos e atitudes típicos do que poderíamos denominar uma “civilização
industrial”, a qual deveria suplantar os vícios arcaicos característicos de uma sociedade cuja área rural
permanecia oferecendo escassas condições de vida e participação nos rumos de sua comunidade à
grande maioria de seus habitantes.

1229
CONTRIBUIÇÃO À HISTÓRIA DO MUNICÍPIO PEDAGÓGICO NO BRASIL E EM PORTUGAL: UM ESTUDO
COMPARADO DE UBERABINHA E MAFRA

LUCIANA BEATRIZ DE OLIVEIRA BAR DE CARVALHO.


FACULDADE CATÓLICA/FACULDADE DO TRABALHO, UBERLANDIA - MG - BRASIL.

Este estudo é resultado da conclusão da nossa tese de doutoramento, a qual se debruçou sobre a
questão da descentralização/centralização do ensino. Nesse sentido, é nosso propósito apresentar as
iniciativas da Câmara Municipal dos municípios de Uberabinha (Uberlândia desde 1929, pela lei 1.126,
de 19 de outubro, sancionada pelo então presidente de Minas Gerais Antônio Carlos Ribeiro de
Andrada), Minas Gerais, Brasil, e Mafra, em Portugal. Essas cidades se constituíram em focos
importantes de propagação da instrução pública municipal. Com essa perspectiva buscamos
compreender as ações de seus poderes legislativos no campo educacional, procurando sublinhar como
as políticas municipais foram, de certo modo, concomitantes nesses dois municípios e simultâneas
àquelas tomadas pelos governos centrais dos respectivos países, ou seja, Brasil e Portugal. O período de
estudo começa em 1888, momento em que ocorre a emancipação política de Uberabinha, sendo
organizadas as instituições políticas específicas da cidade, a exemplo da Câmara Municipal. Por outro
lado, o ano de 1928 constitui a data-limite, porque indica a aprovação de um conjunto de leis relativas à
educação mineira que ficou conhecida como reforma Francisco Campos, de 1927 e 1928. Já para o caso
português, elegemos o mesmo ano de 1888. As fontes que subsidiaram a pesquisa foram as Atas das
Câmaras Municipais, as legislações do Brasil e Portugal, além dos jornais que circularam nas duas
cidades. Embora as origens da Câmara Municipal de Mafra remontem à data anterior, a discussão no
âmbito da educação não é menos candente. Assim, de início se discute o sentido da educação para,
depois, se caracterizá-la no contexto maior, procurando demonstrar que essas cidades desempenharam
papel significativo como municípios pedagógicos. Município pedagógico seria a categoria de entidade
administrativa local cujas autoridades constituídas, avançando além das dimensões político-
administrativas, promovem a educação a uma posição de centralidade para alcançar o desenvolvimento
socioeconômico e para legitimar o poder. Trata-se de uma categoria ainda em formação, de uso
recente, mas que tem sido identificada no Brasil na segunda metade do século XIX, graças à existência
de uma legislação descentralizadora da gestão do ensino e pela extensão da responsabilidade para com
a instrução primária aos limites municipais, levando à regulamentação e implementação locais dessa
obrigação. Também se inclui nesse conceito a apropriação que as elites fazem dessa responsabilização,
tirando proveito para concretizar objetivos particulares relacionados à manutenção da ordem, à
disseminação de ideologia e à delimitação de uma identidade municipal.

393
CURRÍCULOS, ENSINO DE HISTÓRIA E CULTURAS ESCOLARES NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO (1970-
2010)

ALDAIRES SOUTO FRANÇA.


SEDU/PPGE/CE/UFES, VITORIA - ES - BRASIL.

Esta comunicação se insere no eixo temático “Estado e Políticas Educacionais na História da Educação
Brasileira” e tem por objetivo apresentar um conjunto de reflexões que tenho desenvolvido no decorrer
do processo investigativo ainda em andamento do Doutorado em Educação. Pretendo problematizar
sobre o contexto histórico, político e sociocultural das reformulações curriculares realizadas pelos
sistemas de ensino do Estado do Espírito Santo ao longo das últimas décadas, de 1970 a 2010,

522
especificamente no que se refere ao Ensino de História. Dessa forma, o objetivo principal do texto é
demonstrar o quanto é importante compreender como essas reformulações curriculares influenciaram a
cultura escolar, ou seja, se transformaram em um conjunto das normas e práticas definidoras dos
conhecimentos ensinados e dos valores e comportamentos a serem inculcados na escola. Trata-se
também de compreender as influencias que os organismos internacionais vêm desempenhando na
decisão dos rumos das políticas educacionais e das organizações curriculares. Além disso, apresento
algumas inquietações relacionadas ao Ensino de História, em especial, como os professores de História
dão sentido ás suas práticas, na tensão entre as capacidades inventivas que se desenvolvem na sala de
aula e as convenções estabelecidas pelas propostas curriculares, entre 1970 à 2010. Isso nem sempre é
evidenciado através dos registros oficiais (proposta curricular, planos educacionais, relatórios oficiais,
atas, boletins), por isso acredito que seja necessário ler esses documentos nas entrelinhas, bem como
procurar outras fontes complementares, tais como: periódicos, livros, registros dos professores, relatos
de experiências, notícias de jornais, materiais didáticos, fotografias, diplomas, depoimentos, entre
outras. A pesquisa será qualitativa interpretativa baseada nos princípios de investigação da História
Cultural e na produção historiográfica do campo da História da Educação. Os conceitos de
representação, apropriação e prática apresentados pelos estudos de Roger Chartier (1990) e os
conceitos de estratégias e táticas apresentados por Michel de Certeau (2004) serão importantes para o
processo de investigação e escrita da pesquisa. No decorrer do processo metodológico empírico serão
aplicados questionários semi-estruturados e entrevistas abertas e gravadas, buscando a compreensão
sobre cultura escolar, as formas escolares, o jeito de fazer, conceber, pensar e dos professores de
História na realização de suas práticas, bem como aquilo que não foi feito, pensado e não dito,
procurando problematizar suas representações, apropriações e práticas em relação às propostas
curriculares para o Ensino de História no Estado do Espírito Santo.

453
CÓDIGO DISCIPLINAR E REGIMENTO NAS ESCOLAS PRIMÁRIAS CATARINENSES (1910-1935):
PREMIAÇÕES E CASTIGOS

SOLANGE APARECIDA DE OLIVEIRA HOELLER.


UFSC, RIO DO SUL - SC - BRASIL.

Este texto tem como objetivo uma análise do código disciplinar e do regimento escolar presente nas
escolas primárias catarinenses – escolas isoladas e grupos escolares – entre os anos de 1910 e 1935.
Este período pode ser caracterizado juntamente com um projeto educacional que procurava a sua
consolidação regido pelo ideário de um novo regime político-administrativo: o republicano. Destaca-se
que ao ideário republicano interessava que a educação cooperasse com a consolidação do Brasil como
uma nação avançada e desenvolvida, a exemplo de outros países. Assim, em Santa Catarina, como em
muitos outros Estados brasileiros, a escola passa a ser considerada como a pedra angular da grande
república. O exposto aqui trata-se de uma pesquisa concluída, de cunho historiográfico, no campo da
história da educação, tendo como foco o ensino público primário em Santa Catarina, entre os anos de
1910 e 1935. O início do período cronológico deriva da chamada primeira grande reforma da instrução
pública catarinense, no período republicano, empreendida por Vidal José de Oliveira Ramos (1910), e a
reforma da educação, articulada por seu irmão Aristiliano Ramos, em 1935. As fontes tomadas
consistem nos Regulamentos da Instrução Pública de 1911 e 1914; aspectos da legislação pertinente;
mensagens de presidentes, governadores, interventores federais; relatórios de secretários do interior e
justiça, de inspetores e diretores de grupos escolares e escolas isoladas. O percurso metodológico
adotado, procura responder aos seguintes questionamentos: Como estavam caracterizados o código
disciplinar e o regimento escolar nas escolas primárias catarinenses? Que elementos materiais e
simbólicos participavam para premiar ou castigar as crianças que freqüentavam as escolas isoladas e os
grupos escolares catarinenses? Esta investigação possibilitou perceber que dentre as formas de ensinar
condutas e disciplinar as crianças que freqüentavam as escolas primárias, estavam às prescrições
impostas pelo código disciplinar e pelo regimento escolar. Os alunos matriculados nas escolas do
Estado, estavam sujeitos às penas de admoestação; repreensão; reclusão na sala de aula por meia hora
depois de terminados os trabalhos do dia; suspensão de até quinze dias; e eliminação por incorrigível.

523
As recompensas, as penalidades, as honrarias remetiam a experiências diferenciadas nas escolas
primárias catarinenses. O regramento para as escolas isoladas e grupos escolares, definia-se também
pelo estabelecido no código disciplinar e pelo regimento escolar. Estes documentos e outras exigências
impostas às crianças, concorriam para que elas experimentassem sua escolarização de modo a serem
exaltadas ou diminuídas de acordo com suas condutas julgadas próprias ou não, nos tempos e espaços
específicos das escolas primárias. Os referenciais desta abordagem teóricos permearam os estudos da
história cultural.

632
DAS PROPOSTAS DA SOCIEDADE CIVIL À TUTELA DO GOVERNO ESTADUAL: ORIGEM HISTÓRICA DA
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA (1950-1970)

ANA MARIA FONTES DOS SANTOS.


UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA, FEIRA DE SANTANA - BA - BRASIL.

Este trabalho faz parte de minha tese de doutorado em andamento, e procuro apresentar elementos
essenciais de um dos capítulos pouco estudados da história do ensino superior na Bahia: o percurso
histórico da Universidade Estadual de Feira de Santana instituída no ambiente do regime militar,
enquanto proposta supostamente articulada e planejada no âmbito da gestão estadual de Luiz Viana
Filho (1967-1971). A pesquisa desenvolvida discute as reivindicações por ensino superior acalentadas
por intelectuais e políticos da cidade desde o final da década de cinqüenta, primeiro junto à
Universidade Federal da Bahia para estender suas ações ao município, e, ao mesmo tempo, através de
iniciativas mais concretas, que resultaram na criação da Fundação Simões Filho, com o propósito de
criar uma Universidade Rural, que deveria ter abrangência estadual, e na organização da Associação
Cultural Filinto Bastos, cujo objetivo seria a implantação de Faculdade de Filosofia no município como
base inicial para uma universidade. O envolvimento de outros segmentos da sociedade local e as
pressões daí resultantes obrigaria o governo a modificar suas metas educacionais para o município. A
partir daí foi detonando um processo em que o estado baiano passou a investir no setor com maior
intensidade, vindo a assumir a direção e o controle exclusivo da oferta de ensino superior em todo o
território estadual até os anos noventa do século passado. A análise empreendida busca pontuar os
significados das propostas e os seus diferentes contextos, que estariam na origem da referida instituição
e os liames e arranjos que articularam a proposta governamental resultante. A perspectiva é focalizar as
disputas e tensões no âmbito das relações de força presentes na constituição do campo de educação
superior em Feira de Santana, articulado ao contexto educacional e cultural da Bahia no período
estudado. Na análise empreendida utilizo algumas concepções de Gramsci e o conceito de campo em
Bourdieu. As fontes utilizadas são as seguintes: estatutos das entidades, atas, discursos, artigos dos
intelectuais envolvidos publicados nos jornais A Tarde e Jornal da Bahia, ambos da capital, e Folha do
Norte, de Feira de Santana, bem como o projeto do governo baiano na gestão referida. Além da análise
documental recorre-se nessa pesquisa aos recursos da história oral, resultado de entrevistas com antigo
Secretário de Educação do Estado e com dois mentores do ensino superior no município. Inscreve-se
este trabalho no eixo temático Estado e Políticas Educacionais na História da Educação Brasileira.

593
DEMOCRACIA E ESCOLA: UM PROCESSO EM CONSTRUÇÃO

MARIA CLEIDE SOARES DE SOUSA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA, JOAO PESSOA - PB - BRASIL.

O presente artigo tem como objetivo proceder a um relato sobre as teorias da educação - as não críticas
e as crítico-reprodutivistas - sob o enfoque de Dermeval Saviani, que analisa a problemática do ensino
que se desenvolve no interior da escola, através de uma abordagem política. Enfatiza as atividades-fim,
visando examinar quais são as funções políticas que esse ensino desempenha, as finalidades a que se
destina, os procedimentos que adota para atingi-las e a existência de coerência entre essas finalidades e

524
os procedimentos. A educação brasileira, ao longo de cinco séculos, vem se construindo e se
desenvolvendo, para encontrar o eixo do equilíbrio que proporcione a formação da sociedade, do/da
cidadão/cidadã brasileiro/a. O desenvolvimento da educação brasileira e a construção do processo de
democracia, na sociedade e na escola, ocorrem no embate entre os dominantes, que querem manter a
hegemonia, e os dominados, que buscam conquistar seus espaços. De acordo com Saviani (2008), para
colocar a educação como questão nacional, é necessário compreender como se constituiu e se
desenvolveu historicamente. Afinal, no Brasil, quem tinha direito à educação? Quem estava na escola
pública? O sistema público de ensino surgiu para quem? Partindo do pressuposto de que a classe
dominante não tem interesse na transformação histórica da escola, uma teoria crítica só poderá ser
formulada do ponto de vista dos interesses dos dominados. As teorias não críticas da educação não
consideram os problemas e a estrutura social como influenciadores do processo educativo. As teorias
crítico-reprodutivistas compreendem que é a estrutura socioeconômica que define o modo como se
evidencia o fenômeno educativo. Todavia, as teorias não críticas propõem, ingenuamente, que o
problema da marginalidade seja resolvido por meio da escola, sem jamais se conseguir êxito, enquanto
as teorias crítico-reprodutivistas têm como objetivo explicar os determinantes materiais e a razão do
suposto fracasso escolar. Para o campo metodológico, optamos por pesquisar obras desse autor que
tratam da educação brasileira, da escola pública, democrática e outros autores que corroboram esse
pensamento para a construção do projeto pedagógico brasileiro. Como resultado desta pesquisa,
constatamos que o autor crítica o modelo estabelecido e vislumbra uma pedagogia revolucionária, que
conceba a escola como um espaço de democracia e de acesso ao saber e valorize conteúdos que sejam
condizentes com a realidade das camadas populares. Portanto, entendemos que a discussão proposta
por Saviani é relevante para o debate atual sobre o desenvolvimento da educação, razão por que é
pertinente ao eixo temático - 6. Estado e Políticas Educacionais na História da Educação Brasileira.

421
DUAS PROPOSTAS PARA A EDUCAÇÃO NA BAHIA ENTRE AS DÉCADAS DE 40 E 70 DO SÉCULO XX: OS
GINÁSIOS PÚBLICOS DO DEPUTADO RUBEM NOGUEIRA E OS CENTROS EDUCACIONAIS DE ANÍSIO
TEIXEIRA

JOSÉ ROBERTO GOMES RODRIGUES.


UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB, JUAZEIRO - BA - BRASIL.

Este trabalho refere-se às primeiras discussões acerca de um projeto que tem como objetivo investigar a
criação e implantação dos ginásios públicos, propostos em lei pela Assembléia Legislativa do Estado da
Bahia, em várias cidades do interior (Serrinha, Caetité, Jequié, Canavieiras, Itabuna e Juazeiro), bem
como os centros educacionais, projetados pelo educador Anísio Teixeira. O que se propõe é um estudo
das relações, das tendências e transformações que marcam os projetos, as concepções e a definição
dessas formas de escolarização de ensino ginasial, colegial (clássico e científico) e de ensino do segundo
grau, nas respectivas cidades, a partir da análise dos projetos, da sua concepção, discussão, tramitação,
aprovação e execução. De maneira mais ampla pretende discutir questões referentes à estruturação das
instituições, às questões de gestão e de políticas, bem como às relacionadas com as demandas sociais,
quanto a essa forma de escolarização. O objetivo é investigar a escola secundária, na Bahia, como
instituição pública de ensino, e a expansão dessas formas de escolarização e de ensino. Nesse sentido
são suscitadas três perspectivas de investigação: uma referente aos projetos educacionais e aos
educadores. Projetos, os quais foram sugeridos e implantados nesse período e os educadores, os quais
se referem aos agentes que atuaram diretamente na elaboração e implantação destes projetos; a
segunda perspectiva é voltada para as políticas educacionais e à rede de ensino. As políticas que
vigoraram nas décadas de 1940 até a de 1970, bem como à expansão do ensino secundário no estado.
Essa perspectiva, também, está voltada para a compreensão de como a rede escolar estava estruturada,
instalada e em efetivo funcionamento; por último, uma terceira perspectiva de análise que diz respeito
aos processos e concepções didático-pedagógicas que se praticava. Trata-se de um estudo de caráter
sócio-histórico a ser desenvolvido por meio da coleta e análise de documentos, em acervos regionais e
locais no estado da Bahia e em acervos e arquivos nacionais. O estudo está sendo realizado tomando
por base diversas fontes primárias, constituídas de documentos das instituições escolares pesquisadas,
os ginásios e os centros educacionais. São ofícios, estatutos, livros de atas, cartas, folhetos diversos,

525
portarias, documentos oficiais do governo estadual, livros de registro de inspetores federais e estaduais,
documentos da secretaria da educação do estado, relatórios, etc; e fontes secundárias, constituídas de
publicações acerca da história das cidades e outras, tais como: opúsculos, biografias, memórias, etc.
Também se constitui como objetos de análises os testemunhos, a serem colhidos por meio de
entrevistas semi-estruturadas, de agentes que tiveram vinculação com as questões, nos locais onde o
processo se desenvolveu.

574
EDUCAÇAO MARANHENSE: UM OLHAR SOBRE A INSTRUÇÃO PÚBLICA A PARTIR DE LEIS, DECRETOS E
REGULAMENTOS (1880-1900)

DIANA ROCHA DA SILVA; ALMICÉIA LARISSA DINIZ BORGES; MARCIO JORGE SOUZA MENDES.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO, SAO LUIS - MA - BRASIL.

Apresenta-se nesta pesquisa, ainda em andamento, um estudo a partir das fontes documentais
priorizando as leis, decretos e regulamentos como fonte de investigação para o campo da educação
pública maranhense compreendendo-as como meio indispensáveis para o reconhecimento e
entendimento da realidade educativa oitocentista inserida em sua própria historicidade. Utilizam-se as
fontes não como elemento manipulador imposto por uma elite hegemônica, mas como campo
investigativo, que ainda que careçam de olhares menos estereotipados e generalizantes e, de
questionamentos inseridos numa contextualidade desmistificadora, denunciem na medida em que se
mergulhe na fonte, o caráter intencional de sua construção, num alargamento constante do documento
visando a apreensão de sua significabilidade. Propõe-se neste trabalho a partir do estudo da
documentação legislativa (referente à instrução pública primária no Maranhão oitocentista), investigar
as ações governamentais instituídas legalmente em prol de melhoria no campo educacional deste
Estado, nas duas últimas décadas do século XIX, possibilitando assim, abranger as principais
preocupações do poder público estadual em torno da educação primária. Percebe-se por meio dos
contrastes entre as leis e os relatórios de inspetores públicos, quais ações foram de fato implementadas
numa província onde a maioria da população encontrava-se a margem da educação; bem como
identificar os dispositivos legais frutos de interesses sócio-políticos e econômicos da época que
influenciaram direta ou indiretamente na homologação do cumprimento dessas leis. Os procedimentos
metodológicos centram-se em dois momentos: levantamento bibliográfico que tem como objetivo
entender o contexto sócio-político e econômico do Maranhão no período de ruptura do Império e o
advento da República, focalizando o papel da educação neste cenário de transição política amparando-
nos nos estudos sobre a educação de autores como Gondra (2005, 2008), Almeida (2000), Saldanha
(2008) e Castro (2009). Recorre-se na pesquisa documental ao mapeamento e análise de Leis,
Regulamentos, Decretos e Portarias que regeram a instrução primária destacando a criação e regulação
de escolas, disciplinas, contratação e formação de professores, organização do ensino primário a fim de
compreender as múltimas décadas do movimento educacional oitocentista. Busca-se entender a
relevância da instrução primária para a sociedade imperial e até que ponto a mesma contribui para a
escolarização de uma sociedade escravista, contribuindo assim, para estudos futuros na área de História
e Historiografia da Educação, História do Maranhão e História da Educação Primária.

426
EDUCAÇÃO E CIVISMO NA PRIMEIRA REPÚBLICA RIOGRANDENSE: O CASO DA PRAÇA DE DESPORTOS
DO MUNICÍPIO DE BAGÉ
1 2
ALESSANDRO CARVALHO BICA ; BERENICE CORSETTI CORSETTI .
1.UNIVERSIDADE FEDERAL DO PAMPA, BAGE - RS - BRASIL; 2.UNISINOS, SÃO LEOPOLDO - RS - BRASIL.

Este artigo integra a investigação intitulada “Histórias e Memórias da Educação: Um olhar sobre a
Instrução Pública do município de Bagé na Primeira República”, que vem sendo realizada no curso de
Doutorado desenvolvida junto ao Programa de Pós-Graduação da Universidade Vale do Rio dos Sinos
(UNISINOS). Tem como propósito estabelecer diálogos historiográficos entre os discursos cívicos e as

526
intenções pedagógicas presentes na construção de um espaço escolar destinado à Educação e ao
Civismo, na segunda década do século XX, no município de Bagé/RS, e se insere no Eixo 06 – Estado e
Políticas Educacionais na História da Educação Brasileira. Para tanto, as fontes historiográficas utilizadas
para a realização deste trabalho foram os Relatórios Intendenciais, Relatórios de Orçamento e o
Regulamento da Praça dos Desportos de 1927. Estas fontes documentais foram abordadas sobre o
prisma da metodologia histórico-crítica, constituindo um arcabouço empírico capaz de articular as
relações entre o escrito e o não-escrito, logo, analisaram-se estes documentos históricos numa
perspectiva dialética. Sob esta perspectiva as fontes apontaram as concepções pedagógicas da
municipalidade na construção de um espaço sócio-educativo da História e da História da Educação,
como também, possibilitaram uma aproximação teórica da política estadual desencadeada após a
década de 1920. Esses documentos demonstraram que houve certos afrouxamentos administrativos na
ortodoxia do Positivismo Castilhista na condução política do Estado do Rio Grande do Sul, o que significa
afirmar que estas mudanças ocorreram efetivamente após a Revolução Constitucionalista de 1923. Os
signatários do Partido Republicano Riograndense e do Partido Federalista realizaram a assinatura do
Pacto de Pedras Altas em 1925, possibilitando assim, uma coalização partidária no RS. Ademais, todas
essas mudanças ocorridas no cenário político gaúcho, após a década de 1920, permitiram que as
Intendências Municipais promovessem reformas pedagógicas de acordo com suas intenções particulares
e com suas características locais, um exemplo dessas transformações administrativas, foi à aprovação
em maio de 1925, do Regulamento das Escolas Municipais, que promoveu as primeiras mudanças
pedagógicas municipais na Educação Primária municipal. Assim, a apreensão do panorama político do
RS foi essencial para compreender as mudanças pedagógicas, este olhar acurado sobre as fontes
investigadas foi essencial para que os sentidos dos escritos fossem proveitosos na leitura do tema
abordado por este trabalho.

1360
EDUCAÇÃO E SAÚDE PÚBLICA NO PARÁ IMPERIAL E REPUBLICANO (1875 À 1895)

SAMIRES AVELINO DE SOUZA FRANÇA.


UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA, BELEM - PA - BRASIL.

O Pará, no período de 1875 à 1895, foi assolado por diversas epidemias. O sarampo, a varíola e a febre
amarela costumavam ser responsáveis pelo número crescente de adoecimentos e óbitos, em virtude de
sua morbimortalidade e da deficiência dos mecanismos de controle de alastramento, por parte das
autoridades competentes. Segundo os relatórios de presidentes da província, até meados de 1882, a
maior incidência dessas enfermidades ocorria no interior do Estado, contudo a partir deste mesmo ano,
foram notificados os primeiros casos na capital. Essas doenças, geralmente, chegavam ao Pará através
de imigrantes oriundos de outras províncias do país, principalmente do nordeste. Percebendo o precário
estado da saúde pública no Pará, foram instituídas, ao longo destes vinte anos, medidas preventivas e
curativas que visavam reduzir ou mesmo erradicar estas moléstias do território paraense, eram elas: a
vacinação e revacinação obrigatória, o fornecimento de medicamentos aos municípios endêmicos, bem
como de ambulâncias, programas de higienização de residências e direcionamento de pacientes graves
às unidades de tratamento especializado, na época a Santa casa de Misericórdia. Além de todas as
providências supracitadas, começaram a ser pensadas também, mudanças estruturais do espaço físico
escolar, como por exemplo, a abertura de portas e janelas, para que se fizesse da escola um ambiente
mais iluminado, arejado e, assim, mais adequado ao processo ensino-aprendizagem. Apenas no início do
século XX, no governo de Lauro Sodré, passaram a ser pensadas estratégias de atenção primária em
saúde, representadas pela criação das diretorias de higiene escolar, as quais eram responsáveis pela
orientação, educação e informação de crianças e adolescentes do ensino público e privado. Este nível de
atenção primária em saúde está relacionado com o desenvolvimento de ações individuais e coletivas
que englobem a promoção da saúde propriamente dita e a prevenção de agravos. Neste contexto, os
professores além de exercerem a docência nas escolas primárias da época, eram também agentes
promotores de saúde, tendo o papel de orientar e informar os alunos, sobre os cuidados básicos de
higiene e prevenção contra o adoecimento. Com isso, objetivava-se a defesa desta população, no que
tange a conservar o estado de saúde dos paraenses, impedindo desta forma que as doenças se

527
instalassem. Este trabalho analisa as medidas de prevenção e promoção de saúde desenvolvidas pelos
presidentes da província e governos estaduais com o intuito de conter a disseminação de doenças que
atingiam a sociedade paraense, nas últimas décadas do império e início do regime republicano.

936
EDUCAÇÃO E TRABALHO: A CONFIGURAÇÃO E EVOLUÇÃO DO ENSINO AGRÍCOLA EM MINAS GERAIS
NOS MARCOS DO “DESENVOLVIMENTISMO MINEIRO” (1903-1920)

FABRÍCIO VALENTIM DA SILVA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS, ITACOATIARA - AM - BRASIL.

A presente análise está centrada no pressuposto de que o ensino agrícola em Minas Gerais tem raiz no
projeto de “desenvolvimentismo mineiro” engendrado pelo Estado e pelas “classes produtoras”
mineiras durante as duas décadas iniciais do regime republicano. Como marco oficial da elaboração
desse projeto econômico, consagrou-se o primeiro Congresso Agrícola, Industrial e Comercial de MG
realizado em Belo Horizonte, de 13 a 19 de maio de 1903. Este congresso foi um dos principais cenários
de enunciação da instrução agrícola enquanto instrumento de organização do mercado de trabalho no
campo e de “disseminação de inovações técnicas no trato com a terra e rebanhos”. Esta estratégia foi
posta pelo Estado, em “aliança” com as classes produtoras mineiras à medida que uma antiga questão
ligada ao processo de “transformação do trabalho” se apresentou como um dos principais obstáculos
para a “concretização” do projeto de desenvolvimento econômico de Minas Gerais: o “problema da
mão-de-obra”. A partir desse pressuposto busca-se esclarecer nesse estudo o modo como os debates e
os desdobramentos do Congresso Econômico de 1903 influenciaram no processo de configuração do
ensino agrícola no Estado de Minas, durante a Primeira República. Estende-se a presente análise até
1920, em razão de este ano constituir marco da mudança de estratégia do governo mineiro quanto à
função maior do ensino agrícola de organizar o mercado de trabalho nos campos. Mudança esta,
articulada por Arthur Bernardes quando ocupava a presidência de Minas de 1918 a 1922 e que se
materializou com a criação da Escola Superior de Agricultura e Veterinária de Viçosa, através da Lei
Estadual n.761 de 06/09/1920. Essa instituição destinada à realização de investigações, pesquisas e a
disseminação de ensinamentos agrícolas úteis e práticos à população rural de MG, em todos os níveis e
modalidades, acabou inaugurando uma nova fase no processo de configuração e desenvolvimento do
ensino agrícola mineiro. Visto que, a principal meta da Escola era dinamizar a produção da lavoura
mineira da época, por meio da premissa de “criar” um tipo ideal de produtor rural para o campo de
Minas Gerais. Tratava-se de eliminar o modo de vida do Jeca Tatu - o “caipira mineiro”, que segundo as
elites do período em estudo era resistente ao “progresso”, a civilização do país e estava sempre de
“cócoras” para a racionalização da agricultura mineira. Buscava-se, assim, efetivar uma “reforma rural”
que garantisse a modernização da agricultura do Estado em termos técnicos e socioculturais. Porém,
sem alterar a estrutura fundiária mineira. Assim, as desigualdades sociais e econômicas seriam tratadas
apenas, como uma questão técnica: o empirismo agrícola. Não importava se o produtor era dono da
propriedade rural, meeiro ou operário, isto quer dizer, que o fracasso e a prosperidade do produtor
rural estavam sempre atrelados ao “uso ou não uso” dos modernos processos de produção.

416
EDUCAÇÃO INTELECTUAL, MORAL E FÍSICA: AS INFLUÊNCIAS DE HERBERT SPENCER NA CRIAÇÃO DO
PROGRAMA DE ENSINO PRIMÁRIO MINEIRO DE 1906

ROSANA AREAL CARVALHO; RAPHAEL RIBEIRO MACHADO.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO, MARIANA - MG - BRASIL.

Proclamada aRepública, fez-se necessário um arcabouço político-ideológico para legitimar tal


organização política e social. Formar o Estado através da construção da Nação e uma idéia de cidadania
através do trabalho fizeram parte da nova mentalidade de atuação política. Sob estes auspícios, a
escola, principalmente a primária, passou por várias reformas que a encaravam como lócus fundamental

528
de articulação e divulgação desse novo tipo de representação social. Dentre estas reformas de cunho
educacional, podemos citar a “Reforma do Ensino” de 1906, no governo de João Pinheiro, em Minas
Gerais, que concatenou os ideais republicanos civilizadores ao colocar a escola como um instituto de
educação intelectual, moral e física. Tal missão nos remete à obra de mesmo título do filósofo de
orientação darwinista, Herbert Spencer, “interlocutor” das ações “positivistas” que marcaram as
mudanças na forma de pensar a República brasileira. Este trabalho, em desenvolvimento,pretende
entender o Programa de Ensino Primário mineiro de 1906 e os ideais republicanos que circundaram a
construção de tal projeto educacional. Procuramos analisar como as idéias de Herbert Spencer
influenciaram a reforma do ensino primário mineiro de 1906, nos debruçando sobre o Programa de
ensino. Pressupondo que tal “Programa” seria a expressão do poder de um grupo, e, por conseguinte o
“espelho” das expectativas deste grupo sobre outros, podemos entendê-lo como ponto de chegada de
uma série de “experiências”, como processo e resultado das mesmas, dos sentidos construídos e
compartilhados e/ou disputados pelos sujeitos que o elaboraram. Enquanto currículo, como expressão
de um projeto de escolarização historicamente concebido, podemos entendê-lo como a organização do
conhecimento cultural e socialmente válido para seu contexto. Nessa perspectiva, o currículo pode ser
visto não apenas como a expressão ou representação de interesses sociais determinados, mas também
como produzindo identidades e subjetividades sociais determinadas. Assim, a formulação curricular do
“Programa”, sua forma escrita, poderia nos oferecer um roteiro para a retórica legitimadora da
estrutura institucionalizada da escolarização que se propunha para este contexto, tornando-se possível
entender quais as metas esperadas e as estruturas prévias em que a criação do currículo, do “programa”
se encontravam, tendo em vista a formação do trabalhador-cidadão como mecanismo modernizante da
sociedade mineira e brasileira no início do século XX.

970
EDUCAÇÃO MODERNA E INTINERÁRIOS INTELECTUAIS: UMA ANÁLISE DA POLÍTICA EDUCACIONAL NA
PARAHYBA (1912-1916)

MAÍRA LEWTCHUK ESPINDOLA; JEAN CARLO CARVALHO COSTA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA, JOÃO PESSOA - PB - BRASIL.

Nesta intervenção, apresentaremos alguns resultados do nosso trabalho dissertativo, o qual se encontra
em fase de andamento. Nosso objetivo principal é entender como algumas idéias relativas à educação
produzidas por certa elite intelectual, denominada de “paradigma republicano”, repercutiram na
política educacional formuladas no Estado da Parahyba entre os anos de 1912 e 1916. Esse recorte
histórico foi selecionado devido ao fato da Parahyba ter sido governada pelo Presidente de Província
João Pereira de Castro Pinto, seu mandato, apesar de curto, foi reconhecido pela implementação de
diversas reformas no campo educacional. Para tal, pretendemos abordar essa relação a partir das leis
voltadas para a educação primária no Estado. Para compreendermos melhor essa temática, tomamos
como ponto de partida o pensamento dos intelectuais sobre algumas questões que se tornaram pano
de fundo de suas investigações, como as questões relativas à transição do império para a república
brasileira, à Escola Moderna, à emergência da modernidade e à formação da identidade nacional.
Destacamos que a preocupação com a instrução permeia a obra de vários intelectuais da época e faz
parte de um debate maior em torno da formação da identidade nacional. Em nossa pesquisa
dissertativa, utilizamo-nos da perspectiva hermenêutica, pois entendemos que na pesquisa histórica o
significado proveniente da análise dos documentos de fontes primárias e secundárias, no nosso caso os
arquivos do Estado, é sempre aberto a revisões, pois depende de variáveis como o contexto em que foi
produzido e o lugar do pesquisador. Destacamos a importância da pesquisa com os documentos oficiais,
porém ressaltamos a necessidade de reflexão sobre essas análises para não cair em aproximações
mecânicas. Para tal, problematizamos o paradigma clássico, o qual coloca a legislação apenas como
fruto da imposição do Estado, e tendemos a conceber pensamos essa legislação como “corpus
documental”, ou seja, carregadas de sentidos múltiplos que traduzem as suas diversas dimensões
possíveis de análise. Por isso, nos parece adequado apreciar essas leis a partir da análise hermenêutica e
é nesse percurso que realizamos a fusão entre a perspectiva dos contemporâneos da fonte e a nossa
perspectiva. Nossas considerações iniciais, nos mostram que apesar de um entusiasmo em relação à

529
educação no Estado, há um hiato entre a gestação das políticas via a legislação educacional e a sua
concretização no intra e extra muro escolar.

432
EDUCAÇÃO PÚBLICA INTEGRAL: CIEP - CENTRO INTEGRADO DE EDUCAÇÃO PÚBLICA UMA
EXPERIÊNCIA POSITIVA NA HISTÓRIA DA POLÍTICA EDUCACIONAL NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

FÁBIO ARAÚJO DE SOUZA.


UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, DUQUE DE CAXIAS - RJ - BRASIL.

Este estudo é resultado de uma pesquisa desenvolvida durante três anos (2004 - 2006) nos Centros
Integrados de Educação Pública - CIEP's chamados, oficialmente, de Brizolões, no município de
Petrópolis-RJ. Esta pesquisa justifica-se pela necessidade de discutir modelos de educação pública em
tempo integral na sociedade brasileira. Os eixos teóricos estão fundamentados, principalmente, nas
obras de Karl Marx, Darcy Ribeiro, Gaudêncio Frigotto e Maria C. de Souza Minayo. Como metodologia
esta pesquisa utilizou o modo dialético para manter viva a contraditória relação que une teoria e
prática, dados e fatos da empiria e elaboração conceitual, fontes primárias de pesquisa e o resultado
crítico da pesquisa. Foram realizadas entrevistas individuais com a aplicação de questionários pré-
estruturados, além da análise de documentos com fontes da história dos CIEP. A pesquisa realizada foi
majoritariamente qualitativa, o método quantitativo pode não contemplar a relevância da
subjetividade, porém alguns dados são apresentados em forma quantitativa, sendo assim, esta pesquisa
é quali-quantitativa. Neste estudo se delimitou resultados da pesquisa bibliográfica realizada na
Fundação Darcy Ribeiro - FUNDAR - e da pesquisa de campo realizada nos seis Centros Integrados de
Educação Pública, que teve como objetivo analisar as opiniões dos funcionários destas instituições, que
trabalharam com o Programa Especial de Educação-PEE I (1983-87) e com o PEE II (1991-94) e que ainda
atuam nos referidos estabelecimentos, com relação à proposta educacional dos PEE I e II e
subsequentemente sem os mesmos. Todos os Programas implementados nos CIEP foram avaliados
pelos funcionários, dentre eles: o programa Aluno Residentes, Estudo Dirigido, Animadores Culturais,
Capacitação Profissional, Material Educativo... Apresenta-se, também, um histórico das principais
experiências de projetos de educação integral no Brasil. A partir dos dados estatísticos, dos relatos, das
entrevistas e dos questionários verificou-se a diferença entre a proposta educacional da escola de
tempo integral possibilitada pelos PEE I e II, e as propostas educacionais de escola de turnos dos
governos subsequentes. Destarte, dentre outros dados obtidos, constatou-se que dos dezoito
entrevistados 88,8% aprovaram os PEE I e II e afirmaram através do discurso que a educação hoje está
muito aquém da desejada pela população atendida e pelos próprios profissionais. Sendo assim, segundo
a pesquisa constatou-se que o Centro Integrado de Educação Pública foi uma proposta de política
educacional adequada para as ncessidades dos educandos e educadores do Estado do Rio de Janeiro.

461
EDUCAÇÃO, REPÚBLICA E SECULARIZAÇÃO: IGREJA CATÓLICA E ESTADO EM MINAS GERAIS NO INÍCIO
DA REPÚBLICA BRASILEIRA

WENCESLAU GONÇALVES GONÇALVES NETO.


UFU - UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA, UBERLANDIA - MG - BRASIL.

Neste trabalho focaremos as relações Estado brasileiro–Igreja Católica, profundamente afetadas com a
mudança do regime político em 1889, tomando como referência o conflito de interesses envolvendo as
questões da educação nos primeiros anos da República no estado de Minas Gerais. No território
mineiro, as tensões envolveram variados ingredientes, expondo tanto a reação por parte da Igreja como
a busca do entendimento por parte dos políticos e lideranças católicas. Ou seja, houve como que uma
mobilização para que a transição não significasse um rompimento definitivo, com conseqüências
danosas para as relações Igreja-Estado. Mas, apesar desses esforços, diversos problemas foram
identificados na documentação trabalhada nos arquivos de Ouro Preto, Mariana e no Arquivo Público

530
Mineiro (jornais, atas das câmaras municipais, livros de leis, correspondências, projetos de vereadores,
relatórios de inspeção, etc) como laicização dos cemitérios, determinação de calendário civil diferente
do religioso, exclusão de símbolos religiosos nas repartições públicas, adoção de uma bandeira com
dístico positivista, instauração do casamento civil e, o que mais nos interessa aqui: a exclusão do ensino
religioso das escolas públicas. A Igreja em Minas Gerais reage imediatamente ao Decreto federal que
determinava o caráter leigo do Estado brasileiro, liderada pela diocese de Mariana, batendo-se
intransigentemente pela inclusão do ensino religioso no currículo das escolas públicas. A ação
desenvolve-se em várias frentes: pela imprensa, tanto nos jornais locais como pelo O Viçoso, mantido
pela diocese de Mariana; pela iniciativa de sacerdotes que se elegem vereadores nas câmaras de
diferentes cidades mineiras e tentam colocar esse conteúdo no currículo das escolas municipais; pelo
questionamento das autoridades estaduais sobre a aplicação da lei; pela criação de escolas próprias,
contando com o auxílio de congregações religiosas oriundas da Europa. Ao final, no característico estilo
político mineiro, chega-se a um acordo, por meio do qual o governo, apesar de não oferecer, não proíbe
a presença do ensino religioso nas escolas estaduais. No campo da abertura de escolas, apesar de se
voltar também para a instrução das primeiras letras, vai ocorrer uma especialização da Igreja Católica na
oferta do ensino secundário, para o qual o Estado não estava responsabilizado, ficando como campo
livre para a ação da Igreja Católica e de outras confissões. Como resultado, veremos a Igreja Católica
reconstituir parte do seu antigo poder no campo da educação e ainda reforçar a aliança com a burguesia
agrária, com a qual estabelecerá estreitas relações ao se encarregar da educação de seus filhos por meio
das escolas secundárias.

561
EM DEFESA DA MODERNIDADE: OS LIBERAIS E A ESQUERDA NO MANIFESTO DE 1932 E NA
CAMPANHA EM DEFESA DA ESCOLA PÚBLICA

MICHELE CRISTINE DA CRUZ COSTA.


FCLAR, RIBEIRAO PRETO - SP - BRASIL.

O presente trabalho integra um projeto de pesquisa em andamento que busca compreender a relação
entre o pensamento liberal e o de esquerda, tendo em vista dois momentos específicos da história da
educação no Brasil: a publicação do “Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova” em 1932, num período
de equilíbrio entre as idéias da pedagogia tradicional e da pedagogia nova, e a Campanha em Defesa da
Escola Pública deflagrada a partir da publicação do Manifesto de 1959 e organizada em torno dos
debates para a elaboração da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional promulgada em 1961, num
contexto de predomínio da pedagogia nova enquanto corrente hegemônica no campo das idéias
pedagógicas. Assim, objetivamos: analisar o momento histórico-político no qual há o equilíbrio entre as
idéias da pedagogia tradicional e da pedagogia nova e, posteriormente, o predomínio da pedagogia
nova, explicitando o momento teórico-filosófico que anima as correntes no campo das ideias
pedagógicas entre 1932 e 1961; e identificar os principais intelectuais e seus posicionamentos nos
debates travados no período. Para isso, centraremos nosso olhar para três intelectuais que formaram a
bases do movimento renovador em 1932, são eles: Lourenço Filho, Fernando de Azevedo e Anísio
Teixeira. Junto a este três importantes intelectuais signatários do manifesto de 1932, analisaremos
também as ideias de Paschoal Lemme, tendo em vista a identificação do mesmo com o pensamento de
esquerda. Em relação ao movimento configurado como uma ampla Campanha em Defesa da Escola
Pública, centraremos na análise de três correntes: a liberal-idealista, liderada por Roque Spencer Maciel
de Barros, Laerte Ramos de Carvalho e João Eduardo Rodrigues Villalobos; a liberal-pragmatista,
liderada pelos educadores ligados ao movimento renovador – Anísio Teixeira, Fernando de Azevedo,
Almeida Júnior e Lourenço Filho; e a socialista, liderada por Florestan Fernandes. Para nortear o
trabalho, levantamos algumas questões que poderão nos ajudar a compreender a relação entre o
pensamento liberal o de esquerda: Quais são os conflitos políticos e filosóficos que podemos encontrar
nas idéias que sustentam o pensamento político e pedagógico das correntes de esquerda e liberais?
Qual sentido de suas aproximações em momentos históricos determinados? A garantia da modernidade
pode ser o argumento utilizado pelas esquerdas ao aderirem ao Manifesto de 1932 quanto à Campanha
em Defesa da Escola Pública? Essas são questões que pretendemos responder ao longo de nossa

531
pesquisa. Como pressupostos teórico-metodologicos realizaremos uma pesquisa bibliográfica a qual
sustentamos o caráter  concreto do conhecimento histórico-educacional numa perspectiva de
longa duração, pautado num olhar analítico-sintético no trato com as fontes, articulação do singular e
do universal e a atualidade da pesquisa histórica, entendendo-os como fundamentais ao trabalho
dentro da perspectiva materialista-dialética da história da educação.

988
ESCOLA COMO AGÊNCIA DE CIVILIZAÇÃO: PROJETOS FORMATIVOS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS PARA A
EDUCAÇÃO RURAL NO BRASIL (1946-1964)

FLÁVIO ANÍCIO ANDRADE.


UFRRJ, NITEROI - RJ - BRASIL.

O presente estudo se propôs uma análise acerca do papel de agência de civilização atribuído à escola
rural no Brasil frente ao projeto de expansão dos valores ligados ao espaço urbano e ao concomitante
processo de industrialização que se aprofunda na segunda metade do século XX. Tendo por base uma
análise das pesquisas, projetos e propostas referentes ao tema do ensino primário rural publicados
entre o fim da ditadura varguista e o advento do golpe civil-militar de 1964 nas páginas da Revista
Brasileira de Estudos Pedagógicos, órgão oficial de divulgação e formação do Instituto Nacional de
Estudos Pedagógicos (INEP), investigou-se mais particularmente o papel estratégico atribuído à escola
rural como espaço privilegiado do esforço de conformação da população do campo brasileiro frente aos
valores, hábitos e práticas característicos tanto do trabalho em moldes industriais quanto do estilo de
vida urbano que lhe é consentâneo. A preocupação com a educação da população rural se constitui em
tema da ação do Estado no Brasil a partir dos anos 30. As razões de tal emergência encontram-se ligadas
à necessidade de disseminação do que poderíamos denominar uma “civilização do trabalho” em nosso
país. No entanto, foi especialmente a partir da segunda metade da década de 40 que a extensão da
educação da população rural se apresentou tanto como forma de disseminação dos valores e
comportamentos emanados do meio urbano quanto como mecanismo de fixação dos homens e
mulheres do campo em seu lugar de origem. Parte-se aqui do entendimento de que o esforço de fixação
na sua comunidade de origem do homem do campo passava no momento histórico em pauta pela
elevação das capacidades de trabalho e organização daquele sujeito, movimento que se configurava em
última instância como de extensão de um determinado projeto de cidadania. As práticas pedagógicas da
escola primária rural aparecerão aí, na formulação dos que estavam pensando a política educacional do
Estado brasileiro, como promovedora de uma aprendizagem daqueles mencionados valores tanto por
parte dos alunos imediatamente sob seus cuidados quanto por parte dos pais e da comunidade do
entorno da escola de maneira geral. A escola primária rural deveria tornar-se um centro de irradiação
dos novos valores do industrialismo ao incorporar e refletir ela mesma tais valores. O período histórico
que constitui o recorte da pesquisa encontra-se marcado pela transformação do Estado em agente
promotor de uma nova configuração econômica, política e social no Brasil sendo o eixo de sua ação o
esforço de expansão do setor industrial do país. Concluiu-se que o projeto de expansão e readequação
da educação rural se encontrou conformado por um dado projeto político-social estruturado pelo
objetivo de extensão dos hábitos, atitudes e formas de comportamento característicos de uma
“civilização industrial” a ser implantada plenamente no Brasil, a qual teria no ambiente de trabalho
fabril e no meio urbano a sua referência central.

573
ESCOLA REUNIDA OU GRUPO ESCOLAR?: UMA ANÁLISE DO PROCESSO DE CRIAÇÃO DOS GRUPOS
ESCOLARES DE SÃO LUIS/MA

532
DIANA ROCHA DA SILVA; JONIVALDO LOPES SANTOS.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO, SAO LUIS - MA - BRASIL.

Objetiva-se investigar o processo de modernização da educação pública primária maranhense no


período da primeira república focalizando a primeira década do século XX. Pretende-se investigar o
cenário político-educacional desse estado a partir da análise dos discursos políticos proferidos que
exaltavam a eficácia da educação pública fundamentais ao disciplinamento e adequação do povo aos
novos anseios nascidos com a implantação de um novo regime político. Pretende-se analisar o conceito
de escola reunida e grupo escolar, buscando perceber as suas características e peculiaridades e
principalmente qual a representação que esses modelos escolares assumiram nesse estado. Descreve a
história dos grupos escolares maranhenses no período republicano, buscando refletir sobre como este
modelo de ensino foi institucionalizado na primeira década do século XX; quais os principais fatores que
contribuíram de forma decisiva para a criação desse modelo de ensino considerado nesse período como
símbolo da renovação educacional e, ainda investigar quais os aspectos culturais que foram modificando
lentamente, ao longo do tempo, o cotidiano educacional dessas escolas. Utiliza-se como procedimentos
metodológicos a pesquisa bibliográfica baseada na história cultural, segundo a concepção de Pesavento
(2007) Nunes (2003) e Chartier (2003) e dos estudos de Diana Vidal (2006, 2007) Faria Filho (2006,
2007), Souza (2006, 2007, 2008) Diomar Motta (2006) Lilian Saldanha (1992) sobre a história dos grupos
escolares. Para a pesquisa documental prioriza-se a análise do Regulamento Geral da Instrução Pública
do Estado do Maranhão publicado em 1896 buscando compreender como o ensino primário estava
legalmente estruturado nos anos que precederam a criação dos primeiros grupos escolares
maranhenses; analisa-se, ainda o Decreto n. 36 de 1 de Julho de 1904 responsável por regular e criar
dois grupos escolares nesta capital, manuscritos do diretor da escola normal e do inspetor da instrução
pública, regulamento do ensino e outros documentos necessários ao reconhecimento do cotidiano
escolar desses grupos. Constata-se que o processo de institucionalização dos grupos escolares
maranhenses nasceu de um projeto político que acreditavam que a criação dessas escolas seria o meio
mais eficaz e eficiente de contribuir para o crescimento sócio-cultural e econômico do estado. Entende-
se ainda que a representação desses grupos concebia-os como o modelo de ensino moderno, atual,
inovador e necessário à escolarização primária. Acredita-se que o resgate histórico baseado nas fontes
documentais formais e oficiais e do questionamento constante sobre as mesmas, pode-se compreender
a história das instituições públicas, considerando as experiências históricas e culturais nas suas
singularidades, contribuindo dessa forma para que novas possibilidades de pesquisas possam ser
realizadas e conseqüentemente amplie-se a discussão em torno da institucionalização dos grupos
escolares maranhense.

1006
ESCOLA SANTA TERESINHA E GRUPO ESCOLAR: ENCONTROS E CONFRONTOS NA EDUCAÇÃO
PRIMÁRIA DE IBIÁ (1937 A 1961)

ADILOUR NERY SOUTO; SIRLENE CRISTINA SOUZA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA, UBERLÂNDIA - MG - BRASIL.

O presente trabalho busca compreender o contexto histórico e as circunstâncias em que se deram as


relações entre o ensino público e privado no município de Ibiá-MG, mediante a análise do processo de
criação e consolidação da escola particular Santa Teresinha. Esta pesquisa visa desenvolver um estudo
sobre a atuação da iniciativa privada na educação brasileira entre os anos de 1937 a 1961, período
compreendido entre a Constituição de 1937, momento da criação da Escola Santa Teresinha em Ibiá, e a
promulgação da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional em 1961. Assim, ao situar o
embate entre o ensino público e o privado faz-se necessário ressaltar que seus desdobramentos efetivos
vinculam-se às determinações de uma dada realidade sócio-político-cultural em que a aproximação da
escola pública da privada emerge das intenções subjacentes às propostas do Estado brasileiro. A
necessidade de preparação de mão-de-obra, a divisão do trabalho e a aceleração do processo de
urbanização criado pelo desenvolvimento do capitalismo, entre as décadas de 40 e 50, acenam para a

533
necessidade da formação dos cidadãos, impulsionando o processo de escolarização em todo o Brasil. O
município de Ibiá influenciado pelo ritmo do progresso experimenta expressivo crescimento
populacional, fazendo com que o Grupo Escolar de Ibiá não consiga abarcar toda demanda da população
em idade escolar. Nessa conjuntura, é criada a escola Santa Teresinha. Nesse sentido, propomos um
estudo que busca abarcar as relações entre o ensino público e o privado como categoria de análise de
todo um contexto sócio-econômico, político e cultural que encontra na iniciativa privada da educação
uma forma de levar o conhecimento das primeiras letras às crianças dos mais desconhecidos rincões das
Minas Gerais. Assim, relacionando o contexto histórico educacional macro com o micro, nosso objeto de
estudo torna-se proeminente à medida que acena para as relações entre o ensino público e privado no
Brasil, num contexto em que ocorre o processo de disseminação da escolarização em todo país. Nesse
intuito, a pesquisa que se encontra em andamento, caminha numa perspectiva qualitativa, mas sem
desprezar os dados quantitativos, mediante a consulta das fontes primárias, sendo estas submetidas às
análises explicativas ancoradas no método dialético. Dessa maneira, nossa pesquisa torna-se relevante à
medida que busca responder questões pertinentes à História e Historiografia da Educação do Brasil,
tendo em vista o rico acervo documental e iconográfico que essas instituições de ensino público e
privado, Grupo Escolar de Ibiá e Escola Santa Teresinha, preservam como parte significativa da História
da Educação do Triangulo Mineiro/Alto Paranaíba.

547
ESTADO E INFÂNCIA NO BRASIL (1899-1920): ESTADO E INFÂNCIA NO BRASIL (1899- 1920): O
DISCURSO MÉDICO-HIGIENISTA E A INSPETORIA DE HIGIENE INFANTIL

DÉBORA TEIXEIRA DE MELLO.


UFSM, PORTO ALEGRE - RS - BRASIL.

A história do atendimento à criança pequena no Brasil participa da historiografia: das mulheres, das
famílias, das crianças, do trabalho, da educação na primeira infância e do bem-estar social. O
atendimento à infância assumiu historicamente muitas formas, podemos aqui defini-lo como o
atendimento/cuidado/educação de crianças por alguém que não os pais, tanto em uma instituição
quanto em algum tipo de solução doméstica ou informal dentro ou fora de casa. No Brasil, na história do
atendimento infantil embora este seja um dos direitos negados, e só recentemente reconhecidos pela
Constituição de 1988 e LDBEN 9394/96, ele é também constituído do esforço das mães trabalhadoras
em encontrar cuidado para seus filhos quando serviços institucionais não estão disponíveis. Algumas
vezes, elas adaptaram instituições destinadas a outros fins, como asilos, orfanatos. Em outras vezes, elas
contaram com vizinhos, cuidadores e irmãos mais velhos ou, como último recurso, deixavam as crianças
sozinhas em casa ou nas ruas do lado de fora das fábricas. A história do atendimento à infância no Brasil
teve múltiplos inícios em arranjos tanto formais quanto não formais. Ao retratarmos um tema como
esse, seguimos a trajetória dos registros junto às organizações voluntárias ligadas aos órgãos do
governo, e das organizações da sociedade civil, resgatando os pronunciamentos que dominaram as
discussões do bem-estar infantil. A história do atendimento à infância é cheia de tensões, uma história
com lacunas entre intenções dos planejadores e defensores da administração pública, e para a
compreensão das questões que afetam o atendimento à criança pequena, é necessário considerar-se a
evolução sócio-histórica que está relacionada com a própria evolução sociopolítica do Brasil,
reconstruindo os vestígios da trajetória da implementação das políticas públicas direcionada à pequena
infância. Refletir sobre a evolução histórica do discurso oficial e das demandas sociais, nos permite um
entendimento de como tem evoluído a imagem e as ações do poder político em relação à infância, e
qual tem sido a evolução das estruturas de resposta criadas pelo poder público para a concretização do
atendimento às demandas sociais pelo atendimento à criança pequena. Nessa perspectiva, é a partir da
análise do contexto histórico que este estudo foi se desenvolvendo. O estudo da história do
atendimento à pequena infância possibilita-nos uma melhor compreensão das atuais características e
das diferentes questões que afetam seu funcionamento. Nesse estudo, buscamos discutir a influência
do discurso médico-higienista na criação da Inspetoria de Higiene Infantil nos anos 20, como uma
iniciativa do modelo ideológico afirmado nas ações de médicos, juristas e poder público que

534
contribuíram para fundamentar as bases do sistema de assistência à infância no Brasil, do final do século
XIX e nas primeiras décadas do século XX.

373
ESTADO E POLÍTICA EDUCACIONAL NO BRASIL: DIRETRIZES E IMPLICAÇÕES DO PROCESSO DE
“CONVERSÃO” DEMOCRÁTICA (1985-1992)

ANTONIA ALMEIDA SILVA.


UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA (UEFS), FEIRA DE SANTANA - BA - BRASIL.

O presente estudo tematiza as políticas educacionais para a educação básica desencadeadas a partir da
Nova República, período coroado com a eleição do presidente Tancredo Neves e seu vice, José Sarney
(1985-1990). A análise empreendida interpela as diretrizes para a educação básica anunciadas nos
documentos produzidos pelos governos José Sarney (1985) e Fernando Collor de Mello (1990-1992),
entre eles o I Plano Nacional de Desenvolvimento da Nova República (1986-1989), o programa Educação
para Todos: caminho para a mudança (1985), o Programa de Alfabetização e Cidadania (1991) e Brasil:
um projeto de reconstrução nacional (1991), procurando evidenciar as contradições e implicações das
diretrizes educacionais para o projeto da Nova República de promover mudanças políticas, econômicas
e sociais necessárias ao país para fazer frente à recessão econômica, combater a pobreza e redefinir a
participação do Estado no novo momento que despontava. O estudo tem como objetivo analisar as
políticas públicas para a educação básica, explicitando os pressupostos político-pedagógicos e a
concepção de Estado que orientaram as formulações governamentais e suas interfaces com as
dinâmicas sociais mais amplas. Assumiu-se como pressuposto desta pesquisa que as políticas públicas
são mecanismos operatórios de um projeto educacional que é parte de uma realidade contraditória, na
qual estão em disputa visões sociais de mundo. A metodologia adotada foi amparada na análise de
conteúdo qualitativa e o corpus de análise foi composto pelos documentos oficiais versando sobre as
intenções e ações dos governos no setor da educação. A hipótese que fundamenta a incursão é a de que
a transição brasileira, inclusive em seu momento final, guarda alguma relação com a noção de
“revolução passiva” apresentada por Gramsci, a qual refere-se a um elemento no campo político que
corresponde aos movimentos da classe hegemônica, por intermédio da intervenção legislativa do
Estado e da organização corporativa, para introduzir modificações que assegurem a hegemonia dessa
classe. Esse conceito, empregado por Gramsci para compreender o contexto italiano do século XIX,
envolve duas dimensões relevantes que permitem pensar o contexto brasileiro: o lugar estratégico da
intervenção do Estado na legislação e o tempo da reorganização corporativa da classe hegemônica.
Nesta fronte, o estudo produziu evidências de que a estratégia do Estado brasileiro de alternar o
paternalismo e a repressão no enfretamento dos conflitos de classe foi fundamental para reagregar a
classe hegemônica e garantir a continuidade do seu projeto a partir da década de 1990.

388
ESTADO, POLÍTICAS E FORMAÇÃO DE PROFESSORES

ANGELA GALIZZI VIEIRA GOMIDE.


UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA, LONDRINA - PR - BRASIL.

O trabalho discute as políticas para a formação de professores aplicadas no Brasil e a influência da


Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). Trata-se de uma
pesquisa bibliográfica e documental, que está sendo realizada mediante o levantamento histórico-
bibliográfico de documentos da UNESCO, com o objetivo de compreender as suas orientações para a
educação e estabelecer as possíveis relações com a política de formação de professores no percurso
histórico compreendido entre 1945 e 1970. Questionamos: Como as orientações da UNESCO para a
educação e a formação de professores foram apropriadas e implantadas pelo/no Brasil? Qual a relação
dessas orientações com o papel do Estado e o contexto político, econômico, social e educacional do
Brasil naquele momento? Quais os seus impactos nas políticas para formação de professores? Visando

535
ultrapassar a dimensão fenomênica, articulamos o referencial teórico pertinente às múltiplas relações
que movimentam e dinamizam a sociedade capitalista, num estado republicano, no período histórico
pós segunda-guerra mundial, cuja hegemonia norte americana se articula e se sobrepõe.
Primeiramente, selecionamos e constituímos um corpus documental. Analisamos a Constituição da
UNESCO, vinculada à Declaração Universal dos Direitos Humanos, no qual a mesma define seu propósito
na promoção da paz e da segurança, por meio da educação, da ciência e da cultura. O Projeto Maior Nº
1, sistematizou as conclusões da “Conferência Regional sobre Educação Primária gratuita e obrigatória
na América Latina”, determinou o atendimento à educação primária, prioritariamente na área rural. As
Recomendações nº 32 e nº 36, divulgadas respectivamente nas XIV e XVI Conferências Internacionais de
Instrução Pública em 1951 e 1953, dispõem sobre a escolaridade obrigatória e a formação do magistério
primário. Analisamos a Recomendação Relativa à Condição Docente (1966), que fez recomendações
sobre a formação inicial e continuada, o acesso, a remuneração, a liberdade, os direitos e deveres dos
professores, bem como sugeriu condições para o trabalho, visando a eficácia do ensino e da
aprendizagem. No Brasil, os documentos analisados focalizaram-se nas Leis Orgânicas para o Ensino
Primário e o Curso Normal, as Constituições Brasileiras de 1946 e 1966 e a LDB 4024/61. Verificamos
uma sincronia entre a UNESCO, a sociedade civil e a organização do estado brasileiro ao difundir
concepções hegemônicas liberais, consolidar o capitalismo periférico e fundamentar ideologicamente as
políticas para a educação e a formação de professores aplicadas no Brasil naquele período.

885
EVASÃO E REPETÊNCIA EM SÃO PAULO (1907-1940)

NATÁLIA DE LACERDA GIL.


UFRGS, PORTO ALEGRE - RS - BRASIL.

O presente estudo versa sobre a evasão e a repetência escolar no Estado de São Paulo entre os anos de
1907 e 1940. Foram examinados documentos produzidos pela burocracia estatal, tais como os Anuários
do Ensino e Boletins da Secretaria da Educação e Saúde Pública, no intuito de compreender como a
administração diagnosticava esse movimento escolar e que reações políticas apresentava diante dos
dados obtidos. Nesses materiais foi possível localizar tanto dados estatísticos que indicam uma
significativa expressão dos índices de reprovação e de abandono dos estudos, quanto a interpretação
dessas informações e a tomada de posição diante delas. A pesquisa vem mostrando que as discussões
acerca da descontinuidade no fluxo dos alunos pelas séries do ensino primário – que amplo destaque
teve no país a partir da década de 1980 – já ocupava desde há muitos anos as preocupações dos
gestores da educação pública. Com a implantação da escola graduada em São Paulo nos primeiros anos
da República ganha evidência a questão da repetência de série na escola primária. Também a evasão
passa a poder ser mensurada por ocasião da formalização de um conjunto de procedimentos de notação
e de controle de matrícula e frequência. Tais registros ao longo das primeiras décadas do século XX vão
permitir delinear uma certa imagem do trabalho realizado nas escolas paulistas que é assumido como
representativa da qualidade – ou de sua ausência – do ensino naquele estado. Contrapondo-se a isso,
tem-se um significativo esforço, no mesmo período, no sentido de consolidar no imaginário da
população a ideia da escola graduada como modelo de eficiência e modernidade pedagógica. Assim,
interessa compreender como se procedeu à acomodação desses dados num discurso que primava pelo
elogio às vantagens da organização escolar que se tinha implantado. Trata-se de uma pesquisa em
andamento que pretende contribuir na compreensão da história da escola brasileira, no sentido de
colocar em discussão a questão da qualidade do ensino no início da República. Nesse sentido, parte-se
da consideração de que tais aspectos não são inequívocos nem imparciais para, assim, orientar a
identificação de elementos que balizaram o entendimento sobre o que seja qualidade e eficiência do
ensino para a administração do ensino paulista. Opera-se aqui com o conceito da estatística como
representação do real e, portanto, busca-se perceber como a escolha das categorias de contabilização
do movimento escolar ajudou a construir a imagem da escola naquele momento.

386
GÊNESE DO PROCESSO DE INTERIORIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR EM SANTA CATARINA

536
LETICIA CARNEIRO AGUIAR.
UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA - UNISUL, FLORIANOPOLIS - SC - BRASIL.

De natureza bibliográfica e documental, este estudo tem a finalidade de analisar quais fatores
impulsionaram a gênese da interiorização da educação superior no Estado de Santa Catarina na década
de 1960. Observa-se que até 1965 existiam nesse Estado apenas duas instituições de ensino superior – a
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e a Universidade para o Desenvolvimento do Estado de
Santa Catarina (UDESC), ambas situadas na capital do estado. A década de 1960 representou para Santa
Catarina um marco no seu processo de modernização econômica, com uma forte intervenção estatal
favorecedora da acumulação privada de capital e a adoção do binômio educação e desenvolvimento
como eixo das políticas públicas. A política educacional catarinense passou a ser pensada como
integrante dos planos econômicos globais e, como política pública, voltou-se para atuar na correlação
de forças sociais, seguindo determinações do desenvolvimento econômico capitalista. O acentuado
desenvolvimento econômico em curso produziu o aumento da população urbana e do leque de
empregos nos setores secundários e terciários, expressando a necessidade do letramento, do avanço da
escolarização. No âmbito estadual, a ampliação de faculdades e cursos superiores expressava uma
tendência de organização do ensino superior no Brasil, tendo em vista as novas determinações impostas
pelo capitalismo em âmbito estadual e nacional direcionadas à modernização do Estado e à reprodução
ampliada do capital. À via educacional cabia o papel de formação de “capital humano”. A mesma
ideologia desenvolvimentista que justificou a criação dos primeiros cursos superiores na UFSC e na
UDESC também influenciou no interior do estado os movimentos reivindicatórios pela interiorização
desse ensino. Alguns fatores contribuíram para favorecer o surgimento desses movimentos, tais como: o
crescimento vertiginoso na matrícula do ensino médio colegial (572%) e o aumento do seu número de
egressos, provocando uma ampliação da demanda por cursos superiores; as necessidades postas pelo
processo de diversificação dos ramos de atividades econômicas, cujo empresariado passou a defender a
imediata instalação de instituições de ensino superior em suas regiões, impulsionados também pelas
políticas estatais que fizeram desse nível de ensino um dos pontos básicos da infra-estrutura buscada
para o alcance da modernização; as expectativas dos setores médios da população que concebiam a
educação superior como via de ascensão social; etc. Assim, a partir de 1965, houve um espantoso
processo de expansão e interiorização dos cursos superiores, sendo que inicialmente isso ocorreu
através do surgimento de escolas isoladas e que se consolida via criação de fundações educacionais que,
em sua maioria, foram criadas pelos poderes públicos municipais, representando, na prática, não uma
expansão da educação pública, mas sim, de caráter privado.

379
IMPLANTAÇÃO DO PLANO DE CARGOS E CARREIRA DO MAGISTÉRIO EM MATO GROSSO DO SUL
(1979-2010)

MARGARITA VICTORIA RODRÍGUEZ; CAROLINHE HARDIM SIMÕES.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL, CAMPO GRANDE - MS - BRASIL.

O trabalho analisa o processo de implantação do Plano de Cargos e Carreira do Magistério no estado de


Mato Grosso do Sul no período de 1979-2010. Tem como objetivo discutir as políticas públicas de
valorização profissional dos docentes com foco na análise da legislação que regulamenta o plano de
carreira do magistério. Trata-se de uma pesquisa documental na qual se discutem as normas legais que
regulam a educação pública no Estado de Mato Grosso do Sul, e explora-se, no trabalho, a trajetória das
Políticas Públicas do estado referente, à remuneração dos docentes da Educação Básica, no período de
1979 até o ano de 2010. O estado de Mato Grosso do Sul foi criado a partir de um movimento
separatista, desvinculando-se do estado de Mato Grosso, conforme a Lei Complementar n. 31 de 11 de
outubro de 1977. Ainda que a lei separatista seja do ano de 1977, a posse do governador do novo
estado só se materializou a partir do dia primeiro de janeiro de 1979. O primeiro estatuto dos
professores de Mato Grosso do Sul foi instituído no ano de 1981, o mesmo se manteve vigente durante
mandato de diferentes governadores e sofreu diversas retificações e substituições. O estatuto hodierno

537
foi promulgado durante a primeira gestão do governador José Orcírio Miranda dos Santos (1999-2007)
mediante a Lei Complementar n. 87 de 31 de janeiro de 2000 e também ocorreram nos anos seguintes
alterações. No decorrer da pesquisa constata-se que no período 1979-1996, a remuneração e benefícios
trabalhistas dos professores, sofreram grandes arrochos causados pela decadência econômica ocorrida
pelo enfraquecimento do milagre econômico e pela posterior crise dos anos 1980 e 1990 devido à alta
dívida externa do Brasil e a crise na balança de pagamentos. A alta inflação do período e as crises
econômicas refletiram diretamente nos salários dos professores ao obterem apenas aumentos mínimos
de correção inflacionária. A partir de 1996, se verificam reformas no Estado brasileiro que afetam as
políticas educacionais nacionais e se promulgam leis como a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional) e os Fundos de financiamento da educação (FUNDEF e FUNDEB), que tem como propósito
corrigir as desigualdades no sistema educativo e das condições de trabalho e salário dos professores.
Porém, nas normas que regulamentam o trabalho e salário dos professores no estado não se
evidenciaram benefícios concretos que tenham repercutido significativamente no salário e valorização
dos professores. Com efeito, as políticas educacionais de valorização do magistério no referido estado
permaneceram estagnadas durante quase toda a década de 1990, restabelecendo-se vagarosamente
apenas após o ano 2000 com o novo estatuto estadual do professor, que incorpora alguns dos
benefícios defendidos pelo movimento docente. Porém apesar de alguns avanços nos benefícios –
licencias, tempo de trabalho, promoção – observou-se um deterioro em termos de remuneração no
novo plano de carreira.

752
INSTRUÇÃO PÚBLICA NO DISTRITO FEDERAL NA VIRADA PARA O SÉCULO XX: AS PROPOSTAS DE
REDUÇÃO DE DESPESAS COM O ENSINO PÚBLICO EM 1900

JOSÉ CARLOS PEIXOTO DE CAMPOS.


UFRJ, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL.

O presente trabalho tem por objetivo analisar as propostas da Diretoria Geral de Instrução Pública do
Distrito Federal, em 1900, na gestão de Benedicto Valladares, durante a administração do Prefeito
Antonio Coelho Rodrigues, que buscavam a redução de despesas com o ensino público através de
mensagens encaminhadas ao Conselho Municipal visando modificações na legislação pertinente. A
pesquisa se baseou no referencial teórico-metodológico da dialética materialista histórica, a partir de
fontes primárias como os Códices de Instrução Pública e os Boletins da Intendência Municipal, que se
encontram, respectivamente, no setor de Documentação Escrita e na Biblioteca do Arquivo Geral da
Cidade do Rio de Janeiro (AGCRJ). As proposições do Diretor Geral, que defendiam mudanças na
legislação da Capital Federal, consideradas como muito vantajosas ao magistério público, retiravam
direitos adquiridos pelo funcionalismo municipal e ampliavam a precarização do trabalho docente.
Assim, a questão da redução do percentual da gratificação dos professores (de 10% para 5%) adicionado
da ampliação do tempo de serviço a ser cumprido para ter o direito à referida gratificação (de 5 anos
para 10 anos); as reduções que também incidiriam sobre 15, 20 e 25 anos de magistério, diminuindo
proporcionalmente a gratificação; a redução de despesas atingia novamente o magistério, a partir da
proposta de ampliação da quantidade de professoras adjuntas, consideradas “professoras econômicas”,
revelando a desvalorização a que estava submetido todo o magistério público. Além disso, obrigava a
nomeação para qualquer região da cidade, sem condições mínimas para tal; e extinção da exigência de
serem formadas na Escola Normal. Por fim, o Diretor Geral defendia ainda a supressão do auxílio para
aluguel de casas para os professores. As referidas propostas de mudança na legislação se concretizaram
sob a forma do Decreto nº 207 de 12 de junho de 1900, que trata em geral das “repartições municipais”.
Como resultado do exame dos documentos pesquisados, é possível destacar que, juntando-se,
principalmente, a ampliação da quantidade de professoras adjuntas, com seus baixos salários, à quase
supressão das gratificações dos professores catedráticos, à necessidade de arcarem integralmente com
os aluguéis para moradia, desenhou-se um quadro de perdas trabalhistas significativas para o magistério
na cidade do Rio de Janeiro na virada para a primeira década do século XX. Nesse sentido, ressalta-se
que reformas na legislação, que precarizam as condições de trabalho e formação dos professores, não

538
constituem política pública exclusiva de tempos neoliberais, e que o magistério público do Rio de
Janeiro trava uma luta de resistência desde a virada do século XX.

1407
LIGAS DE COMBATE AO ANALFABETISMO NO BRASIL: A CONTRIBUIÇÃO DO MUNICÍPIO DE BARBALHA
PARA A EDUCAÇÃO BRASILEIRA

ZULEIDE FERNANDES DE QUEIROZ.


URCA, CRATO - CE - BRASIL.

O estudo registra a história da educação do Cariri Cearense tomando a Liga Barbalhense Contra o
Analfabetismo como nosso objeto de estudo. No ano de 1917, no fervor do movimento de luta pela
erradicação do analfabetismo, no período denominado pelos historiadores de “otimismo pedagógico”, o
município de Barbalha, situado no sul do Ceará, se destacou na história da educação brasileira quando
assumiu, na sua região propagar, um movimento nacional chamado de Liga Brasileira de Combate ao
Analfabetismo. a Liga Brasileira foi criada em 1915 e tinha como objetivos, de acordo com os
intelectuais envolvidos naquele projeto o combate ao analfabetismo em todo o Brasil. A fundação da
Liga Cearense Contra o Analfabetismo (LCCA) e a Liga Barbalhense Contra o Analfabetismo, em 13 de
maio de 1917, como as demais espalhadas no Brasil, era ideologicamente orientada pelas das Ligas
Nacionalistas. A Liga Barbalhense contra o Analfabetismo, criada pelo advogado rábula, José Bernardino
de Carvalho Leite, se constituiu na primeira experiência significativa da república na educação do
município, inspirada nos ideais de modernidade. Representou o espírito nacionalista dos seus
protagonistas e sua busca de espaços de atuação política no campo educacional na república. A
Pesquisa, de caráter documental foi realizada a partir de documentos encontrados em bibliotecas da
própria cidade e em arquivos de particulares. Como resultados foi possível registrar que os
protagonistas da Liga Barbalhense Contra o Analfabetismo descendiam das famílias que partilhavam do
poder político e econômico, originário da época do Império e testemunharam a inserção de Barbalha no
contexto de resistência e crítica dos movimentos intelectualizados à ineficiência das políticas
educacionais dos primeiros governos da república. Deve-se considerar a tradição de afinidade sócio-
ideológica dos protagonistas locais da educação com os ideais políticos do Império, e que, através deles,
se mantiveram na república. O espírito nacionalista invocava o saudosismo, expresso na crítica ao
regime republicano, na tentativa de resgatar as experiências educacionais implementadas durante
aquele período. Nesse sentido a Liga de Barbalha era um movimento republicano, de caráter nacional
cujos implementadores tinham suas origens no ideário do Império. Junto a atividade escolar, a Liga,
sintonizada com o espírito cívico-patriótico mantendo uma banda de música Concluímos que a Liga foi
elemento definidor da educação em Barbalha, ainda hoje lembrado pelos filhos da cidade e motivo de
orgulho local.

747
MAQUINARIA ESCOLAR, MAQUINARIA DE FÁBRICA: FOTOGRAFIAS DO (IN)VISÍVEL DA PRESENÇA DAS
ESTRUTURAS DE FÁBRICA NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL

LUANI DE LIZ SOUZA; JUÇARA ELLER COELHO.


UDESC, FLORIANOPOLIS - SC - BRASIL.

Este estudo deriva-se de duas pesquisas em andamento no Mestrado em Educação da Universidade do


Estado de Santa Catarina no PPGE - Linha de História e Historiografia da Educação. Inscreve-se no Eixo 6:
Estado e Políticas Educacionais na História da Educação Brasileira no VI Congresso Brasileiro de História
da Educação. Tem por objetivo analisar nuanças da reforma educacional empreendida no Brasil na
década de 1990 com foco nas diferentes ações políticas para a Educação Profissional no período de
1997 a 2008, que compreende o momento histórico relativo às referidas pesquisas. Nesse sentido,
identificam-se, por meio da análise do acervo fotográfico de instituições federais de educação
profissional e tecnológica, bem como de fábricas localizadas no Estado de Santa Catarina, as similitudes,

539
semelhanças ou afastamentos entre os aparatos formativos dentro dessas instituições escolares e dos
conjuntos de instrumentos produtivos no interior das fábricas. Para efeito da análise são utilizadas
fotografias de diferentes períodos na história da educação profissional brasileira. Utilizar as fotografias
como fonte para abordar a historicidade do contexto e do espaço educacional atrelado à presença da
fábrica na educação profissional remete a estudos e apropriação das abordagens de Foucault e
Benjamin acerca das imagens. Corteja-se, também, com as premissas sociológicas de José Martins de
Souza que aproxima as estruturas dos documentos fotográficos para analisar as desigualdades e
conflitos sociais. As imagens, mesmo nos silêncios discursivos, demonstram a presença da modernização
na educação profissional, identificando algumas formas de regulação social que convergem para a
tentativa de disciplinar e normatizar os educandos com vistas a assumirem a função de trabalhadores. A
formação, nessa perspectiva, não está atrelada somente à presença da maquinaria da fábrica no espaço
escolar, mas efetiva-se, também, por meio do aparato político e ideológico utilizado na ação
pedagógica. O olhar projetado na busca das imagens evidencia o entrelaçamento dos ambientes fábrica
e educação, aparatos educativos e produtivos, ambos regulando e normatizando a ação educativa e os
sujeitos envolvidos. Esta investigação, ao historicizar a presença da maquinaria da fábrica no espaço e
no contexto escolar, possibilita a visualização de relações de reprodução social engendradas nas
estruturas da educação profissional brasileira. Esta demonstra, assim, sua histórica tendência de suprir
as demandas de mercado em detrimento de demandas sociais. Por fim, percebe-se, pelos documentos
fotográficos, a (in)visibilidade dos jogos de poder que instauram a demanda mercadológica como foco
da formação na educação profissional brasileira em nome de sua modernização.

514
MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO DE BASE EM MATO GROSSO: ISOLAMENTO E AÇÃO

DÉBORA ROBERTA BORGES; MÁRCIA DOS SANTOS FERREIRA.


UFMT, CUIABA - MT - BRASIL.

Esse trabalho resulta de uma pesquisa que está sendo realizado no Grupo de Pesquisa História da
Educação e Memória (GEM), do Instituto de Educação da Universidade Federal de Mato Grosso
(IE/UFMT). Seu objetivo é enfatizar as características próprias ao Movimento de Educação de Base
(MEB), da forma como ele se desenvolveu no estado de Mato Grosso, na década de 1960. Para
compreensão daquele momento histórico foi realizado um estudo bibliográfico, consulta do projeto do
Movimento, do plano de ação e dos relatórios referentes à execução do MEB no estado de Mato
Grosso. Cada espaço social tem sua peculiaridade. Em Mato Grosso, o isolamento geográfico em relação
aos estados mais desenvolvidos economicamente e o fluxo migratório originário do sul do país
cobtribuíram para particularizar a experiência do MEB. No início da década de 1960, quando o MEB
iniciou suas atividades, o estado de Mato Grosso era considerado isolado em relação aos centros
urbanos e com população rarefeita. Esses fatores não impediram que o Movimento atuasse no estado,
através da Rádio Bom Jesus de Cuiabá. O MEB/MT desenvolveu suas atividades com o propósito de
alfabetizar as pessoas que não haviam tido acesso à escolarização na idade considerada adequada e que
viviam em regiões pouco desenvolvidas do país. O início do Movimento no estado é registrado a partir
de 1962. Em 1963, trabalhando com 50 receptores, o MEB atendeu cinco dos 64 municípios do estado
de Mato Grosso, ou seja, 7% do total de municípios do estado. Os relatórios de atividades do MEB
consultados para esta pesquisa indicam que havia grandes projeções de intensificação das atividades
para o ano de 1964, com o início de treinamento de alguns integrantes do Movimento diretamente com
o educador Paulo Freire. Nesses treinamentos, os monitores deveriam discutir suas experiências com o
novo sistema de alfabetização de adultos que se procurava colocar em ação. Com o golpe de estado de
31 de março, o MEB ficou comprometido. Paulo Freire e outros educadores foram perseguidos e
exilados. O Movimento sofreu as consequências da falta de recursos, mas não deixou de atuar, mesmo
que em menor abrangência e com fiscalização do governo militar. Em 1966, a subordinação do MEB às
instâncias governamentais e a grupos mais conservadores da Igreja Católica resultou no fechamento de
vários sistemas, inclusive o mato-grossense. O encerramento das atividades do MEB no estado de Mato
Grosso implicou na interrupção de uma experiência que pretendia promover, mesmo em um sistema
considerado "isolado", uma ação educacional comprometida com a emancipação humana.

540
1253
MUNICÍPIO PEDAGÓGICO: AS AÇÕES DO MUNICÍPIO DE MONTES CLAROS COM A EDUCAÇÃO E AS
PROFESSORAS PRIMÁRIAS NO PERÍODO DE (1889-1906)

PATRÍCIA ALLIEN SANTO.


UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS, MONTES CLAROS - MG - BRASIL.

Esta pesquisa possui o objetivo de analisar e apresentar as ações do município de Montes Claros no
período republicano com a instrução primária. Ela faz parte de um projeto de pesquisa aprovado pelo
CNPq durante o período de 2010-2011, desenvolvida por professores da UFU, UNIMONTES e UFOP
intitulada como “Descentralização do ensino e ação municipal na educação brasileira: análise de alguns
municípios de Minas Gerais no início da República (1889-1906)”. Entende-se município pedagógico
como uma entidade político-administrativa possibilitada no final do séc. XIX pela presença de uma
legislação descentralizadora da gestão do ensino e a extensão da responsabilidade para com a instrução
primária aos seus limites, levando à regulamentação local dessa obrigação. Para tal estudo, a
metodologia empregada consiste em um levantamento histórico bibliográfico e na identificação de
fontes existentes no Arquivo Público da Câmara Municipal - Vereador Ivan José Lopes, que tratam da
educação de Montes Claros, no período em estudo. Demonstraremos como a câmara municipal com seu
poder legislativo preocupou com a instrução primária com os aspectos físicos escolares, ensino em geral
e desenvolvimento institucional. Todavia, não deixaremos de analisar as ações da câmara municipal com
os docentes, pois encontramos vários registros nos livros de ata que apresentam dados acerca da
remoção de professores, substituições, férias, contratações, afastamentos do cargo, transferências de
escolas e cidades e até mesmo encontramos dados de ações punitivas. Como explicitado no início deste
escrito, esta pesquisa encontra-se em andamento e por ente motivo não podemos apresentar dados
suficientes para demonstrarmos com exatidão a nossa proposta, mas a partir das fontes que temos e
analisamos, apresentaremos uma breve introdução do objetivo proposto nesta pesquisa. Pois, a partir
de estudos bibliográficos, descobrimos que a exploração destas leis nos faz aproximarmos com os fatos
e acontecimentos passados educacionais, proporcionando um grande avanço para entendermos melhor
as ações com a instrução primária do município neste período e o porquê de vários fatos passados que
até então pareciam inexplicáveis e sem motivo se fossem analisados individualmente sem
comprovações registradas.

825
O BANCO MUNDIAL E A INTERVENÇÃO AVALIATIVA NA POLITICA EDUCACIONAL DOS PAÍSES POBRES
1 2
MARIA DAS DORES MENDES SEGUNDO ; JOSEFA JACKLINE RABELO .
1.UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ, FORTALEZA - CE - BRASIL; 2.UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ,
FORTALEZA - CE - BRASIL.

Face ao vigor do debate atual sobre a intervenção e o consequente monitoramento do Banco Mundial
na formulação e efetivação das políticas educacionais nos países periféricos, particularmente no Brasil,
em atendimento às necessidades impostas pelo capital em crise, elegemos como objetivo analisar os
pressupostos da avaliação do Banco Mundial sobre o cumprimento das metas da universalização da
Educação Básica, definidos no Programa de Educação para Todos, consolidado, em primeira instância,
na Conferência Mundial de Jomtien, em 1990 e reiterado, uma década depois, no Marco de Ação de
Dakar. Os termos e os critérios dessas avaliações foram publicados em documentos intitulados de
Relatórios de Monitoramento de Educação para Todos, que expressam, como finalidade primeira,
avaliar as políticas educacionais e os resultados alcançados nos países membros da ONU, tomando
como base os critérios de gestão descentralizada, das reformas educacionais e de compromisso de
racionalidade dos recursos públicos municipais. Sob a tutela do Banco Mundial, os Relatórios de
Monitoramento de EPT, a partir de 2003, estão sequenciadas por ano e tema, a saber: i) Relatório de
Acompanhamento Global da EPT, 2003/4 - Gênero e Educação para Todos: o salto rumo à igualdade; ii)

541
Relatório de Acompanhamento Global da EPT, 2005 - O Imperativo da Qualidade; iii) Relatório de
Acompanhamento Global da EPT, 2006 - Alfabetização para a vida; iv) Relatório de Acompanhamento
Global da EPT, 2007 - Bases Sólidas: Educação e Cuidados na Primeira Infância; v) Relatório de
Monitoramento Global de EPT, 2008 - Educação para todos em 2015: Alcançaremos a meta? vi)
Relatório de Monitoramento Global de EPT, 2009 - Superando a desigualdade: por que a governança é
importante; vii) Relatório de Monitoramento Global de EPT, 2010 - Alcançando os marginalizados. A
análise desses documentos se volta para o exame dos fundamentos histórico-filosóficos e as implicações
sócio-políticas do Movimento de Educação para Todos na reorganização das políticas educacionais no
âmbito dos municípios brasileiros. Nosso estudo se articula aos postulados da ontologia marxiana que
possibilita o correto entendimento acerca dos fundamentos do complexo educacional que, no plano da
internacionalização da educação, aprofunda a desigualdade historicamente produzida nos países
pobres. Em linhas gerais, destacamos elementos reveladores da inversão de prioridades, camufladas
pelo discurso da EPT, em que as recomendações políticas do Banco Mundial impõem uma ampla
reforma na educação brasileira como parte da agenda de ajuste estrutural do capital, desdobrando-se
na consolidação de um profundo processo de monitoramento em todos as dimensões que envolvem a
prática sócio-educacional, a saber: a avaliação institucional e de ensino-aprendizagem; a legislação
educacional; o financiamento da educação; o currículo escolar; o trabalho docente e as práticas
pedagógicas em todos os níveis e modalidades do ensino no Brasil.

371
O COMÉRCIO DA INSTRUÇÃO SUBVENCIONADO PELO ESTADO IMPERIAL

ALINE DE MORAIS LIMEIRA.


UERJ, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL.

Resultando de pesquisa concluída, em nível de mestrado, este estudo procurou problematizar um tema
caro à historiografia da educação, investigando o cruzamento dos domínios do público e do privado no
século XIX. O objetivo foi compreender os processos de subvenção que o Estado Imperial concedia aos
colégios particulares da Corte, no intuito de promover o ensino primário aos meninos e meninas em
extrema pobreza. Neste sentido, foram analisadas as fontes primárias disponíveis no Arquivo Geral da
Cidade do Rio de Janeiro que abrangiam aqueles benefícios, num recorte que contempla as décadas de
1860 e 1870. Para fazer funcionar aquelas práticas de subvenção foi montado todo um aparato
burocrático, uma rede de procedimentos que envolviam várias instâncias da administração da Instrução
Pública e da sociedade. Com um parecer dos delegados, favorável ou não, o ofício era encaminhado à
autoridade superior: o Inspetor Geral da Instrução lia os processos, aprovava os que achava conveniente
e encaminhava-os, com seu parecer, ao Conselho Diretor para o veredicto final. Como deixaram
evidentes as fontes pesquisadas, aquelas subvenções eram justificadas por conta da distância muito
acentuada entre os alunos e a localidade em que estava situada a escola pública, ou em razão do
número elevado de meninos e meninas pobres que estavam deixando de ser atendidos por elas. Os
gastos com os alunos subvencionados (crianças e adultos, entre 6 e 60 anos) eram praticamente os
mesmos em relação às escolas públicas, cada um deles custava ao Tesouro Nacional um valor
aproximado. Sabe-se que aquelas experiências de subvenção foram capilarizadas por todo território
nacional, ao passo que surgiam e eram defendidos os projetos de disseminação da própria instrução. E,
ao ser inscritas em legislação oficial da época (Regulamento de 1854, Reforma Leôncio de Carvalho, de
1879), tiveram seu estatuto oficializado. Foram legitimadas pelo Estado Imperial que as
institucionalizou, por grande parte da sociedade que demandava por seus serviços, reivindicava sua
implantação e defendia sua permanência. De um modo geral, foi possível compreender que o impulso à
atuação dos particulares fazia parte da política de Instrução Pública do Governo Imperial, a partir de
diversas formas de incentivo e contribuição. A estratégia de proteção à instância privada não se resumia
aos discursos favoráveis ou às legislações que lhe garantiam o direito de liberdade de ensino. A partir da
análise destas situações e experiências, identificou-se que o Governo da Casa e o Governo do Estado
articulavam-se de formas distintas.
1237
O CURSO DE AMINISTRAÇÃO ESCOLAR NO CONTEXTO DA MODERNIZAÇÃO EM MINAS GERAIS

542
ANA AMÉLIA BORGES LOPES; MARIA DO CARMO DE MATOS.
UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS, BELO HORIZONTE - MG - BRASIL.

No período 1946/1969 funcionou em Minas Gerais um curso de nível pós-normal, o Curso de


Administração Escolar (CAE), que habilitava professores da rede estadual de ensino para a docência de
algumas disciplinas no ensino normal, para a direção de escola, orientação pedagógica, inspeção
escolar, com reconhecida importância na educação do Estado. Os profissionais formados por esse curso
atuaram em cargos de projeção e influência no sistema de ensino estadual. Esse curso, conhecido como
CAE, surgiu quando foi extinta a Escola de Aperfeiçoamento, criada em 1929, voltada para a formação
da elite educacional, cujo funcionamento se encerrou em 1946, em decorrência das mudanças
introduzidas na legislação pela Lei Orgânica do Ensino Normal – Decreto Lei Nº 8520/1946, que criou os
institutos de educação. O período de funcionamento do CAE registrou diferentes mudanças na política
educacional do Estado que incluem desde o fim do Estado Novo, em 1945, que marcou o início da
redemocratização do país, passando pelo governo de Kubistcheck (1951/1955), voltado de modo
acentuado para a modernização. Nesse contexto esta pesquisa pretende identificar e analisar as
influências presentes na realidade educacional mineira; as propostas educativas e de formação docente,
à época presentes na literatura em circulação no meio educacional e a concepção de educação existente
no Curso de Administração Escolar. Apesar de sua importância esse curso tem sido muito pouco
estudado, uma das possíveis razões reside na perda dos seus arquivos em incêndio que destruiu grande
parte da biblioteca da instituição. Neste sentido, o acervo do Serviço de Orientação e Seleção
Profissional - SOSP, em processo de organização, assume importância enquanto fonte de informações,
uma vez que a seleção de candidatas ao CAE era feita, em parte, por esse serviço. Considera-se que a
reconstituição das concepções e práticas que direcionavam os processos seletivos podem se constituir
em indicadores das concepções e práticas que orientaram a educação e a formação docente no Estado
naquele período. Pretende-se pois analisar as concepções e finalidades sociais, políticas e educacionais
apropriadas e incorporadas no material referente aos citados processos seletivos - testes e redações das
candidatas - e suas implicações na produção de concepções e de práticas educativas e de formação
docente desenvolvidas no CAE. O processo de investigação incluirá ainda pesquisa bibliográfica e
documental, além de informações e dados buscados junto a profissionais formados na instituição em
questão.

1256
O DEBATE ACERCA DO ENSINO PÚBLICO NAS DISCUSSÕES SOBRE A LEI DE DIRETRIZES E BASES DA
EDUCAÇÃO NACIONAL (1961)
1 2
MARIA CRISTINA GOMES MACHADO ; CRISTIANE SILVA MELO .
1.UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ, MARINGÁ - PR - BRASIL; 2.UNIVERSIDADE ESTADUAL DE
MARINGÀ, MARINGÁ - PR - BRASIL.

Esta comunicação apresenta o debate acerca do Estado e da educação expresso por intelectuais que
discutiram a organização do ensino público nos anos que antecederam a aprovação da Lei de Diretrizes
e Bases da Educação Nacional de 1961. A “educação no Brasil” e a “‘democratização’ do ensino
nacional” foram temas de muitas discussões no país no período de 1959 a 1961 visto que se encontrava
em tramitação, no Congresso, o Projeto dessa Lei, proposto inicialmente em 1948, pelo Ministro da
Educação Clemente Mariani. Com a apresentação de um projeto substitutivo, em janeiro de 1959, pelo
Deputado Carlos Lacerda, acentuou-se na sociedade os debates acerca do papel do Estado para com a
oferta do ensino à população. A polêmica baseou-se, sobretudo, na questão da liberdade de ensino,
referenciada no projeto substitutivo, estendendo-se às discussões sobre a atitude do Estado em
financiar ou não escolas privadas e de seus deveres com a manutenção da rede escolar pública e
privada. Esse movimento teve a participação de educadores da geração dos pioneiros da Escola Nova,
professores intelectuais e líderes sindicais da nova geração de defensores do ensino público. À medida
que se seguiam no Congresso as discussões em torno da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional,
prosseguia-se na sociedade a movimentação dos intelectuais nas discussões dos assuntos relacionados à

543
educação brasileira e à defesa do ensino público. O movimento de Defesa pela Escola Pública teve como
centro de irradiação a Universidade de São Paulo e obteve também a participação de estudantes, em
especial alunos dos cursos de Pedagogia e Ciências Sociais, que se organizaram de modo a estudar,
debater e propagar o movimento por meio dos órgãos de imprensa e conferências. A necessidade de
um sistema nacional de ensino no país foi destacada pelos signatários da Campanha em Defesa do
Ensino Público como algo importante para o estabelecimento de educação democrática para toda a
população. A população brasileira deveria contar com uma rede de ensino primário, médio e superior
que relacionasse entre si conteúdos necessários à formação integral do indivíduo para o meio social. O
ensino primário elementar deveria propiciar condições para que o aluno prosseguisse em seus estudos.
O ensino médio deveria preparar os estudantes não somente para o alcance do ensino superior, como
também para as relações sociais, sendo importante favorecer a formação para o trabalho e para a
cidadania. O ensino superior, por sua vez, deveria contribuir para a formação de profissionais bem
qualificados, assim como para o avanço científico do país. Era necessário que o Estado se atentasse aos
benefícios que a educação poderia proporcionar à população em geral. Os signatários da campanha
destacaram, ainda, a necessidade de o Estado assumir a responsabilidade de investimentos na área de
educação.

1149
O DISCURSO EDUCACIONAL NA LEGISLAÇÃO POMBALINA E SUAS IMPLICAÇÕES NA AMÉRICA
PORTUGUESA

GISELLE MACEDO BARBOZA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE, ARACAJU - SE - BRASIL.

Este trabalho é resultado de uma pesquisa que está em construção. Seu recorte temporal insere-se no
período de 1757 a 1828. Em 3 de maio de 1757, pois foi publicado a Lei do Diretório, documento através
do qual Sebastião José de Carvalho e Melo, junto ao Gabinete de D. José I, iniciou a construção do
discurso antijesuítico desse governo, ao dizer que foi necessário expulsar os religiosos da Companhia de
Jesus do seus domínios. O dispositivo trazia como argumento para tal providência, o desmazelo dos
jesuítas com a educação na colônia, pois, de acordo com o legislador, não haviam se empenhado em
educar devidamente o “selvagem” para transformá-lo no homem civilizado com condições intelectuais
de se organizarem administrativamente. Criticava-se os método utilizado pelos religiosos, por estes
ensinarem os indígenas na língua geral “invenção verdadeiramente abominável”, ao invés de ensiná-los
através da língua portuguesa, privando, assim, esses povos de alcançarem o conhecimento que os
libertaria da ignorância e da rusticidade. Seria preciso então recomeçar não só com novos mestres que
apresentassem métodos diferentes daqueles adotados pelos religiosos, mas, sobretudo, incutissem um
sentimento de pertença em relação ao Estado Português. Quanto ao ano de 1828, justifica-se por ser
neste ano que aparece pela primeira vez na legislação brasileira a gramática utilizada por Sebastião José
de Carvalho e Melo para exaltar seus feitos e legitimar a língua portuguesa como nacional. Nesse
sentido, objetiva-se mostrar como o discurso educacional pombalino imprimiu mudanças significativas
no quadro pedagógico brasileiro. Para materializar tal proposta, realizou-se a análise da legislação
pombalina expedida no período de 1750 a 1777, além da peça legislativa publicada no Brasil em 30 de
abril de 1828, que aprova os estatutos da Casa Pia e Colégio de São Joaquim dos Meninos Órfãos da
Bahia e indica o compêndio gramatical – Arte da grammatica da língua portugueza de Antônio José dos
Reis Lobato – encomendado por Sebastião José de Carvalho e Melo. Sublinha-se com análise dos
documentos, acima citados, que os projetos educacionais no que se refere ao ensino das línguas do
ministro português tencionavam construir um projeto de nação, incutindo, assim, um sentimento de
nacionalidade não só em Portugal como também nos seus domínios para formar vassalos úteis ao seu
projeto. Desse modo, impôs o uso da língua portuguesa em suas colônias e, posteriormente, fez desse
saber para a sociedade lusitana e colonial o mais importante no ensino das línguas. Tornando-o
prioridade entre os saberes linguísticos, ou seja, o mestre deveria transmitir aos alunos os principais
fundamentos da língua portuguesa para os discípulos antes de ensiná-los o latim e as demais línguas
estrangeiras, pois o português facilitaria a aprendizagem de desses conteúdos, concedendo, assim, a
língua portuguesa a sua maioridade em Portugal e seus domínios.

544
624
O ENSINO OBRIGATÓRIO EM SÃO PAULO: DA ESTADUALIZAÇÃO À MUNICIPALIZAÇÃO

SILVIO CESAR NUNES MILITÃO.


UNESP - CAMPUS DE PRESIDENTE PRUDENTE, PRESIDENTE PRUDENTE - SP - BRASIL.

O trabalho em tela é baseado na pesquisa de doutoramento em Educação intitulada “O processo de


municipalização do ensino no Estado de São Paulo: uma análise do seu desenvolvimento na Região de
Governo de Marília”, concluída em meados do ano de 2007 e cujo objetivo principal foi o de examinar a
operacionalização e os desdobramentos de tal processo especificamente nos quatorze municípios que
compõem a região contemplada pelo referido estudo, a saber: Álvaro de Carvalho, Alvinlândia,
Echaporã, Fernão, Gália, Garça, Júlio Mesquita, Lupércio, Marília, Ocauçu, Oriente, Oscar Bressane,
Pompéia e Vera Cruz. Por sua vez, o trabalho ora apresentado objetivou investigar a constituição
histórica do sistema de ensino paulista e a sua predominância na cobertura pública da etapa obrigatória
de escolaridade (atualmente denominada de ensino fundamental), característica diversa daquela
encontrada na maioria das outras unidades da Federação onde a participação da esfera municipal foi se
tornando paulatinamente equiparada ou mesmo superior a da esfera estadual no atendimento ao
ensino em questão. Buscou, também, examinar os principais intentos de municipalização do ensino
obrigatório registrados no Estado de São Paulo desde o período do Império e as razões de não terem
logrado êxito no âmbito do território paulista, no qual a oferta do ensino fundamental continuou
praticamente estadualizada e a participação municipal permaneceu incipiente até a primeira metade da
década de 1990. Por fim, parte para a análise do intenso movimento de transferência de matriculas
públicas do ensino fundamental da rede estadual para as municipais verificado no Estado de São Paulo
no tempo presente, sobretudo por força do advento do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do
Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (FUNDEF), mecanismo de financiamento
fortemente indutor à municipalização deste nível de ensino e que vigorou no Brasil por um período de
dez anos (1997 a 2006). De natureza qualitativa, o presente trabalho foi desenvolvido por meio de
pesquisa bibliográfica e documental. A primeira envolveu o levantamento, a seleção e o estudo de
diversas publicações sobre a temática em questão. A pesquisa documental, por sua vez, incluiu a
seleção, exploração e análise da legislação federal e estadual referente ao financiamento da educação e
municipalização do ensino fundamental, bem como de dados estatísticos concernentes aos aspectos
educacionais e abrigados nos sites do INEP/MEC e da SEE/SP.

725
O FINANCIAMENTO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO PÓS-LDBEN 9394/96:
UMA ABORDAGEM HISTÓRICO-SOCIOLÓGICA

REGINALDO CELIO SOBRINHO; EDSON PANTALEÃO ALVES.


UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO, VITORIA - ES - BRASIL.

Ao longo das últimas décadas, diferentes estudos procuraram conhecer a realidade educacional da
Educação Especial no Estado do Espírito Santo (CASTRO et al., 1987; JESUS et al., 1992; JESUS et al.,
1999). A partir desses estudos, observamos um período que se caracterizou por sensíveis mudanças,
desde uma situação de “política implícita de segregação” até tentativas de implantação de uma política
de inclusão escolar. Tais mudanças foram impulsionadas, em grande medida, pelas políticas nacionais
que tiveram em seu bojo o movimento internacional de Educação para todos. Estudos em nível nacional
(BUENO et al., 2003), encomendados pelo GT em Educação Especial da Associação Nacional de Pesquisa
e Pós-Graduação em Educação, ocuparam-se em estudar as políticas de Educação Especial no Brasil,
tomando como unidade de análise as regiões brasileiras e os Estados. Além de sinalizarem que os
documentos legais e oficiais influenciam as políticas e as práticas concretas, esses estudos advogam a
necessidade de uma continuidade de pesquisas relativas às políticas em ação, como tentativa de
compreender como os Estados e os Municípios brasileiros vêm enfrentando questões específicas

545
relativas à concretização do direito de todos à educação escolar. Tais questões referem-se às
perspectivas de atendimento educacional especializado, à formação de professores, aos recursos
pedagógicos, à instituição de salas de recursos multifuncionais e, finalmente, ao financiamento da
Educação Especial. Em consonância a essas preocupações, na pesquisa em andamento, intitulada:
“Políticas de Educação Especial no Espírito Santo: implicações para formação continuada de gestores
públicos de Educação Especial”, observamos a necessidade de discussões mais atentas relativas ao
financiamento da educação destinada aos alunos que apresentam deficiência e/ou transtornos globais
do desenvolvimento. Assim, neste texto, temos como objetivo evidenciar reflexões sobre o
financiamento da educação especial no Espírito Santo, considerando o período pós LDBEN 9394/96.
Para a sistematização dos dados, tomamos um conjunto de publicações oficiais que, ao longo desse
período, explicitaram os investimentos públicos destinados à área de educação especial numa
perspectiva inclusiva focalizando, primordialmente, os aspectos concernentes à formação de
professores e ao atendimento educacional especializado. Nossas análises tomam como referência a
literatura que versa sobre as políticas públicas em Educação Especial e os pressupostos da Sociologia
Figuracional, conforme elaborada por Norbert Elias. Considerando o propósito das reflexões contidas
neste texto, admitimos seu enquadramento no eixo temático: Estado e Políticas Educacionais na
História da Educação Brasileira.

1170
O FUNDEF E A MUNICIPALIZAÇÃO DO ENSINO NA REGIÃO ADMINSTRATIVA DE SÃO JOSÉ DO RIO
PRETO(SP)

JULIO CESAR TORRES.


UNESP, SAO JOSE DO RIO PRETO - SP - BRASIL.

A pesquisa por nós desenvolvida, ainda em andamento, resgata o histórico das políticas de
financiamento da Educação Básica no Brasil contemporâneo. Em um primeiro momento, nosso trabalho
investiga os aspectos determinantes da descentralização da Educação Básica brasileira no período pós-
1988 (nova Constituição Federal), com um enfoque na municipalização do Ensino Fundamental a partir
da instituição do Fundef (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de
Valorização do Magistério). Nossa coleta de dados compreende os sistemas de ensino dos quatorze
municípios que compõem a Diretoria Regional de São José do Rio Preto (SP), a saber: Bady Bassitt,
Cedral, Guapiaçu, Ibirá, Icém, Ipiguá, Mirassolândia, Nova Granada, Onda Verde, Orindiúva, Palestina,
Potirendaba, São José do Rio Preto e Uchoa. A partir desta amostra, buscamos identificar quais aderem
à municipalização por meio da análise da evolução das matrículas nos sistemas municipais de ensino no
período compreendido de 1997 a 2007, visto que grande parte da literatura aponta o Fundef como um
fator indutor do processo de municipalização do Ensino Fundamental. Dessa forma, os objetivos
específicos de nossa pesquisa compreendem: a) analisar como se configura a descentralização da
educação no período elencado, destacando-se os marcos político-institucionais e assinalando os
“determinantes” desse processo, tomando-se como referências analíticas a promulgação da nova Carta
Magna de 1988, o pacto federativo, os princípios da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
e a instituição do Fundef em 1996; b) discutir o Fundef como uma política de financiamento “indutora”
do processo de municipalização do ensino fundamental; c) identificar o processo de municipalização do
ensino fundamental nos quatorze municípios indicados. Os resultados parciais de nossa pesquisa
indicam que, para a amostra estudada, a partir da vigência do Fundef em 1996, grande parte dos
municípios da Região Administrativa de São José do Rio Preto (SP) iniciam um processo de
municipalização das matrículas do Ensino Fundamental, apontando uma tendência de municipalização
também verificada em outros estudos nas demais regiões do Estado de São Paulo e do próprio país. No
caso específico da Região Administrativa estudada, é no ano de 2002 que ocorre a inversão do contexto
anterior, qual seja, a partir desse ano o número de matrículas nos sistemas municipais de ensino
fundamental supera o total de alunos matriculados nas escolas públicas sob responsabilidade do
governo estadual.
719
O INEP E O PROJETO OPERAÇÃO-ESCOLA(1968-1970): ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

546
CECILIA NEVES LIMA.
PUC-RIO, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL.

O presente resumo é resultado de pesquisa de doutoramento (ainda em fase inicial) e tem como
objetivo apresentar o Programa Estratégico do Desenvolvimento (PED) do governo Costa e Silva para o
âmbito educacional, denominado Operação-Escola, bem como as relações traçadas desse projeto com o
INEP nos anos de 1968-1970. O trabalho se insere no eixo Estado e Políticas Educacionais na História da
Educação Brasileira, por se tratar de uma primeira reflexão acerca dessas relações num contexto
histórico marcado pela crença no desenvolvimento econômico e social.O principal objetivo do PED era,
entre outras coisas, solucionar os problemas relacionados com a estrutura e o financiamento da
comercialização de alimentos e a eliminar os principais pontos de estrangulamento da infra-estrutura,
da produção industrial e do mercado interno. No âmbito educacional, as medidas eram entendidas
como instrumento de aceleração do desenvolvimento e do progresso tecnológico, ou seja, o papel da
educação para a preparação de novos tipos de recursos humanos e de um novo quadro institucional,
para liderar o processo de desenvolvimento tecnológico. Através do Decreto n°63.258 de 19 de
setembro de 1968, foi instituído o projeto estratégico prioritário do Programa Estratégico para o
Desenvolvimento, denominado Operação-Escola. Seu principal objetivo era promover a obrigatoriedade
escolar de 7 a 14 anos. As relações estabelecidas entre educação e desenvolvimento, abordadas no PED
eram marcadas pela contribuição que a educação formal poderia ser a ferramenta responsável pelo
desenvolvimento, através da integração entre educação e trabalho. O projeto Operação–Escola se
desenvolveu através das Secretarias de Educação dos estados e do Distrito Federal, competindo ao
Governo Federal o exercício de ação supletiva, bem como a assistência técnica e financeira para as
secretarias, mediante a transferência de recursos orçamentários específicos. É a partir da idéia da
cooperação técnica dada pelo Governo Federal às Secretarias de Educação do país que o INEP, enquanto
órgão de pesquisa e de assessoria técnica, participou do projeto sendo o responsável pela sua
organização e execução. Através da análise de relatórios institucionais, de documentos do arquivo
pessoal de Lúcia Marques Pinheiro (técnica do INEP e signatária do relatório final do projeto Operação-
Escola) e bibliografia pertinente a temática, podemos afirmar o caráter híbrido dessa instituição foi um
fator importante para que o projeto operação-escola fosse executado.

391
O MANIFESTO DOS PIONEIROS (1932) E O LIVRO DOS CIEPS (1986): REFORMADORES E INSCIENTES

BRUNO ADRIANO RODRIGUES DA SILVA.


UFRJ, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL.

Este texto que ora apresentamos é parte de nossa dissertação – Escola de Tempo Integral e
Comunidade: História do Programa de Animação Cultural nos CIEPs (2008) - defendida no Programa de
Pós-graduação em Educação da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, revisto e ampliado
para interlocução com o que, atualmente, nos debruçamos: as influências do movimento escolanovista
brasileiro em programas/políticas educacionais e a ampliação das funções escolares em sua fase
obrigatória, notadamente no âmbito de participação da sociedade civil; a relação entre escolas de
educação integral em tempo integral e a comunidade. Propomos um dialogo documental entre o
Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova de 1932 e o Livro dos Centros Integrados de Educação Pública
(CIEPs) publicado em 1986 no Rio de Janeiro ao final da primeira gestão de Leonel Brizola a frente do
governo do Estado. Com esse objetivo, é importante nos resguardarmos diante das características
existentes em de cada um desses documentos. Um compreendido enquanto um manifesto; outro
enquanto conseqüência de uma política educacional de nível estadual, entretanto ambas as publicações
justificadas através da mesma consideração: a preocupação com o acesso e a permanência das classes
populares na educação. Dessa forma, apresentaremos um exercício de comparação entre estes
documentos buscando enfatizar como ambos tratavam a inserção das classes populares no conjunto das
atividades escolares: a relação “escola-comunidade” como forma de distinção entre dois projetos de
democracia. Levaremos em consideração, portanto, os contextos onde tais documentos foram

547
publicados, de maneira que possamos melhor compreender as proposições presentes nessa relação.
Sendo assim, na primeira sessão apresentaremos o contexto de lançamento do Movimento dos
Pioneiros da Educação Nova demarcando as características principais, notadamente os elementos que
iremos comparar – a relação entre escola e democracia através da participação comunitária no processo
educacional. Na segunda sessão discutiremos as relações entre este movimento e o livro dos CIEPs
apontando semelhanças e diferenças através de três sub-itens: i) a educação e a construção
democrática do país; ii) o trabalho para modernidade e o trabalho na modernidade; iii) a escolarização
de atividades comunitárias como forma de construção democrática. No último momento - a conclusão -
apresentaremos o entendimento que diferencia dois projetos distintos de país: Reformadores e
Inscientes.

1098
O PROCESSO DE AVALIAÇÃO DE LIVROS DIDÁTICOS DE GEOGRAFIA DA CALDEME: A ANÁLISE DO
PROFESSOR JAMES BRAGA VIEIRA DA FONSECA

JULIANA MIRANDA MIRANDA FILGUEIRAS.


PUC/SP, SAO PAULO - SP - BRASIL.

A presente comunicação propõe-se a examinar o processo de avaliação de livros didáticos de Geografia,


realizado pela Caldeme - Campanha do Livro Didático e Manuais de Ensino -, por meio da obra do
professor James Braga Vieira da Fonseca, Programas e Livros Didáticos de Geografia para a escola
Secundária (1931-1956), publicado em 1957, pelo CBPE/INEP. O livro de Fonseca, ao analisar manuais
didáticos e programas de Geografia para o ensino Secundário, se insere nos estudos produzidos pela
Caldeme nos anos 1950, que visavam repensar a educação no Brasil. Este estudo integra a pesquisa de
doutorado, em andamento, intitulada Os processos de avaliação de livros didáticos no Brasil. Os
documentos selecionados para o estudo foram produzidos pela Caldeme, INEP e CBPE. Para contar a
história da Caldeme, que foi criada em 1952, em meio às discussões sobre a necessidade de
reformulação dos objetivos, métodos, conteúdos de ensino e atualização dos livros didáticos, foram
utilizados ofícios e correspondências internas da Campanha. Além desse material, utilizou-se como
documento central o livro do professor James B. da Fonseca, que foi convidado, em 1954, para elaborar
a análise dos programas de ensino de Geografia e dos livros didáticos usados nas escolas. Seu estudo era
o primeiro realizado pela Campanha. Fazendo emergir as lutas de representações, como destaca
Chartier, o presente trabalho procura compreender o discurso - por meio das estratégias e práticas do
grupo encarregado da Campanha do Livro Didático e Manuais de Ensino, sob a direção de Anísio Teixeira
-, que pretendeu forjar uma determinada percepção da educação no Brasil dos anos 1950. As
representações desse grupo, por meio de suas práticas sociais, buscou organizar diagnósticos e propor
soluções para o ensino da escola pública secundária que começava a receber um novo público. Ao
analisar e avaliar os livros didáticos a Caldeme pretendia influir objetivamente na produção, circulação e
uso dos manuais, pois almejava modificar o objeto que seria utilizado nas escolas brasileiras. Ajustando-
se ao objetivo da Caldeme - como professor de Didática na Faculdade de Filosofia, da Universidade
Católica do Rio de Janeiro e assistente de Didática de Geografia e História, na Faculdade Nacional de
Filosofia da Universidade do Brasil -, Fonseca fez um balanço da situação do ensino e dos livros didáticos
de Geografia para a escola secundária, apresentou críticas e sugestões pedagógicas. Como a Caldeme
pretendia, a partir do diagnóstico das situações escolares, elaborar propostas para a melhoria do ensino
nacional, Fonseca cumpriu sua função. O livro de Fonseca é um produto de seu tempo, que fornece
informações sobre a escola secundária, o ensino da Geografia e a produção de livros didáticos. Seu livro
evidencia questões que faziam parte dos embates intelectuais dos anos 1950. É uma obra que permite
compreender as expectativas dos estudos realizados pela Caldeme/INEP.

827
O REJUVENESCIMENTO DA TEORIA DO CAPITAL HUMANO NO CONTEXTO DAS POLÍTICAS NEOLIBERAIS
DE EDUCAÇÃO NOS PAÍSES PERIFERICOS

548
1 2
HELENA DE ARAÚJO FRERES ; MARIA DAS DORES MENDES SEGUNDO ; MARIA SUSANA VASCONCELOS
3
JIMENEZ .
1.UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ, FORTALEZA - CE - BRASIL; 2,3.UNIVERSIDADE ESTADUAL DO
CEARÁ, FORTALEZA - CE - BRASIL.

Este artigo decorre dos esforços investigativos realizados no âmbito das pesquisas vinculadas à Linha
Marxismo Educação e Luta de Classes do Programa de Pós-Graduação em Educação Brasileira, da
Universidade Federal do Ceará (UFC), e ao Instituto de Estudos e Pesquisas do Movimento Operário
(IMO), da Universidade Estadual do Ceará (UECE). Nele buscamos analisar as diretrizes majoritárias
presentes na política educacional brasileira, recomendadas aos países periféricos pelo capitalismo
contemporâneo, em sua feição neoliberal. Nessa direção, examinamos a função assumida pela
educação no contexto histórico de crise do capital, que põe em movimento o processo de
rejuvenescimento da Teoria do Capital Humano, submergida a mecanismos ideológicos funcionais ao
sistema ora vigente, que acabam por atrelar a educação – agenciada pelos organismos internacionais,
particularmente o Banco Mundial – à lógica do mercado, sem quaisquer mediações. Assim sendo,
implementa-se, no contexto destes países subalternos, políticas de ajuste sócio-econômico, atribuindo
aos indivíduos, habitantes destas sociedades periféricas, a responsabilidade pela solução dos problemas
que afligem a humanidade, tais como a pobreza, a destruição ambiental e a violência. A educação, como
complexo central no desenvolvimento histórico dos homens é desconsiderada e passa a constituir,
nessa perspectiva, um fator instrumental para a solução dos males produzidos pelo acirramento
concorrencial do capital em crise. Em outras palavras, atribui-se à educação a função social de formar
um novo homem, modelo de cidadão comprometido com a sustentabilidade da ordem societal. Para
tanto, inicialmente, lançamos mão de uma pesquisa bibliográfica e documental, apoiadas em autores
como Mészáros (2006), que teoriza a crise estrutural do capital; Mendes Segundo (2005), que analisa o
papel do Banco Mundial como promotor das políticas educacionais para os países periféricos; Jimenez,
Mendes Segundo e Rabelo (2009), que investigam o movimento dos programas de Educação para Todos
impostos pelo capital no contexto de crise estrutural; Motta (2007), que trata do rejuvenescimento do
capital humano como estrutura atrelada aos interesses do capital em crise. No desvelamento crítico da
mutação da Teoria do Capital Humano, redirecionada à empregabilidade e ao capital social, somada às
análises das diretrizes das políticas educacionais orientadas pelos organismos internacionais,
examinamos os documentos resultantes das Reuniões do Grupo de Alto Nível de Educação para Todos,
datadas a partir de 2001. Dissecando tais proposições, podemos afirmar, a título de conclusão, que, em
última instância, tais diretrizes determinadas pelo Banco Mundial comandam a mercantilização do
ensino, intensificando a precarização da educação nos países periféricos.

1023
OS DE “ESPÍRITO RETO E ILUSTRADO” NA FISCALIZAÇÃO DO ENSINO: BACHARÉIS NA INSPETORIA DA
CAPITAL DO IMPÉRIO (1854-1865)

ANGÉLICA BORGES BORGES.


USP, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL.

Por meio de uma pesquisa que realizei acerca da organização e do funcionamento da inspeção de
professores públicos primários, na Corte Imperial, foi possível perceber a existência de diversos setores
da sociedade, entre as quais a ordem médica, militar e religiosa, bem como a presença significativa de
elementos da ordem jurídica, atuando nas engrenagens da fiscalização da instrução. Nesse trabalho,
pretendi enfocar os bacharéis em direito, buscando situá-los na sociedade brasileira oitocentista, dando
relevo à atuação desse grupo na área da educação, principalmente no que concerne ao serviço da
inspeção no Município Neutro. Nesse sentido, cabe destacar que a inspeção estava organizada a partir
da Inspetoria Geral de Instrução Primária e Secundária da Corte e era exercida por diferentes agentes,
que ocupavam cargos como o de inspetor geral, delegados de distritos e membros do Conselho Diretor
da instrução. Para realização do estudo utilizei documentos localizados nos códices da Série Instrução
Pública do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro; decretos da Coleção de Leis do Império; relatórios
produzidos pelos ocupantes do cargo de Ministro e Secretário dos Negócios do Império; relatórios da

549
Inspetoria Geral de Instrução Primária e Secundária da Corte e ao Almanak Laemmert. A partir das
observações existentes a respeito da configuração da formação e profissão de bacharel no século XIX,
torna-se possível compreender a presença da ordem na inspeção de escolas e no governo dos
professores. Sérgio Adorno destaca que, apesar dos problemas levantados, a cultura jurídica produziu
um tipo de intelectual politicamente disciplinado conforme os fundamentos ideológicos do Estado.
Homens que, a partir do governo de si, também poderiam exercer o governo do outro. A formação
moral dos bacharéis, a partir dos princípios da civilização, poderia contribuir para a eficiência na
fiscalização da instrução e, assim, garantir o funcionamento de um projeto civilizatório via escola.
Indicados pelo inspetor geral e nomeados pelos Ministros do Império, os bacharéis ocuparam cargos
distintos no interior da inspetoria e, concomitantemente, poderiam exercer outros cargos da
administração da burocracia estatal ou outras funções na sociedade. Os bacharéis identificados,
representantes do campo jurídico, vistos como um grupo marcado pela “prudência política”, se
inscreveram na fiscalização das escolas da Corte, demarcando espaços e conferindo legitimidade às
ações comprometidas com a moralidade pública, a manutenção da ordem e da civilidade e com a
propagação de uma instrução formadora de hábitos ordeiros.

1244
OS DESDOBRAMENTOS DA LEGISLAÇÃO POMBALINA SOBRE O ENSINO DE LÍNGUAS NO BRASIL (1803-
1828)

MARCLE VANESSA MENEZES SANTANA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE, SÃO CRISTÓVÃO - SE - BRASIL.

Este trabalho é um dos resultados de um projeto maior do GPHELB (Grupo de Pesquisa História do
Ensino das Línguas no Brasil), intitulado “A Escola, o Estado e a Nação: para uma história do ensino das
línguas no Brasil (1757-1827)”. Seu objetivo geral foi investigar o processo de institucionalização do
ensino de línguas no Brasil, bem como de sua configuração como disciplina escolar, no intuito de
delinear suas representações e finalidades pedagógicas, políticas e culturais no sistema educacional do
país, de 1757 a 1827. Dessa forma, o presente trabalho tem por objetivo apresentar os desdobramentos
da legislação pombalina na legislação imperial brasileira entre os anos de 1803 a 1828, cumprindo,
portanto, quatro etapas. Na primeira, executou-se o levantamento da legislação referente à matéria,
compreendendo entre os anos de 1808 a 1828. Na segunda etapa, foi feita a análise e interpretação dos
documentos coletados, baseadas na historiografia educacional e na historiografia linguística e literária
sobre a matéria. Na terceira, a partir dos dados obtidos, foi possível confrontar as peças legislativas com
os trabalhos produzidos nos campos da Linguística Aplicada, História das Idéias Linguísticas e História da
Educação sobre a matéria. A quarta e última etapa da pesquisa tomou como base as informações e
dados levantados nas etapas anteriores, buscando identificar e avaliar o modo como se delineiam as
finalidades pedagógicas, políticas e culturais do ensino de línguas no Brasil no período recortado, para
que se pudesse estabelecer uma periodização relacionada ao ensino de línguas no país, do ponto de
vista legislativo, levando em conta suas finalidades e práticas. Levando-se em consideração a
metodologia descrita anteriormente, foi possível perceber que tanto a legislação pombalina quanto a
legislação joanina, considerando a última uma continuidade da primeira, possibilitaram a união de três
conceitos fundamentais que, amalgamados, promovem o fortalecimento mútuo: a escola, o estado e a
nação. Não obstante, o período joanino também se caracterizou por uma intensa conjugação dos
preceitos pombalinos, seja através da atribuição da importância de se aprender as línguas estrangeiras,
seja através da indicação de compêndios e professores, mas principalmente pela criação de escolas de
primeiras letras, um importante marco do ensino no Brasil, logo, ao determinar o ensino de tais línguas,
a legislação se volta para a questão da afirmação da cultura e da identidade nacional.

1405
OS ESTATUTOS DE 1772 DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA

CRISTIANE TAVARES FONSECA DE MORAES NUNES.

550
UFS E FSLF, ARACAJU - SE - BRASIL.

Os Estudos Maiores eram realizados fora da colônia, mais habitualmente em Coimbra, cujo acúmulo de
críticas foi formalizado pela governança pombalina por um primeiro documento originário da Junta de
Providência Literária, em agosto de 1771, O Compêndio Histórico do Estado da Universidade de
Coimbra, foi um atestado impiedoso contra os jesuítas, tidos como responsáveis únicos por uma
decadência e retrocesso nos estudos em Portugal e suas colônias. Este documento deu embasamento e
sustentação à criação dos Novos Estatutos da Universidade de Coimbra, criados em 1772, abertos pela
Carta de Roboração assinada pelo próprio D. José I no livro I. Neste documento, abordou-se sobre a
preparação para o curso “Theologico”, constando plano de curso, ementários das disciplinas, tempo de
curso e metodologia a ser utilizada. O segundo livro versava sobre os cursos jurídicos das faculdades de
cânones e de leis e o terceiro é o livro das ciências naturais e filosóficas, incluindo-se aí a medicina e a
matemática. O objetivo geral era modernizar as faculdades de teologia e de lei canônica, incorporar o
estudo de fontes portuguesas no currículo da faculdade de direito e atualizar a faculdade de medicina,
pouco procurada por alunos, fazendo voltar o estudo de anatomia por intermédio da dissecação de
cadáveres, antes proibida por questões religiosas. Portanto, como finalidade do ensino havia a
preparação para o exercício das profissões correspondentes a cada uma das faculdades como havia
também a necessidade de fazer progredir os conhecimentos na prática das ciências. Com a reforma
educacional, foi criado um programa pedagógico que se definiu como uma doutrina contra o sistema
adotado nas escolas jesuíticas. A reforma da Universidade de Coimbra é a mais conhecida ação
reformista, de cunho educacional, promovida por Pombal, que veio precedida e fundamentada por
documentos que, somados ao Compêndio Histórico atribuem os malefícios ocasionados pelos jesuítas a
nação lusitana. Tratou-se, na verdade, de uma ação contínua que destruiu o ethos educacional jesuítico.
O compêndio é um texto escrito de convencimento explícito de que de fato e verdadeiramente a
educação centralizada nas mãos dos jesuítas representou um fracasso cultural, um atraso econômico e
toda uma desgraça generalizada com foco certo na Companhia de Jesus. Os Estatutos simbolizaram o
novo, o moderno, visto que as reformas propostas por Pombal visavam colocar Portugal numa posição
de maior destaque na Europa. Talvez essa tenha sido a mais forte motivação para as reformas
pombalinas: pôr o reinado português em condições econômicas tais que lhe permitissem competir com
as nações estrangeiras. O presente artigo refere-se a um projeto de pesquisa, visto que os novos
estatutos merecem estudo pela análise de seus fundamentos ideológicos e também pela novidade nos
estudos da Filosofia Natural e das Ciências Exatas então iniciadas.

1139
OS GINÁSIOS VOCACIONAIS DO ESTADO DE SÃO PAULO: A ATUALIDADE DE UM PROJETO CEIFADO
PELO REGIME MILITAR

ANGELA RABELLO MACIEL DE BARROS TAMBERLINI.


UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE, NITEROI - RJ - BRASIL.

Visando recuperar a memória de um projeto educacional complexo e singular, sobre o qual poucos
trabalhos foram produzidos até a década de 90 do século passado, pretendemos estudar, conhecer e
divulgar a proposta pedagógica dos ginásios vocacionais, implementada em seis escolas da rede pública
paulista nos anos 60, com o intuito de, ao resgatar a sua história, buscar novos conhecimentos que nos
permitam refletir sobre a escola pública ontem e hoje, verificando as concepções subjacentes ao
projeto, sua prática pedagógica e vínculos com a comunidade de seu entorno, bem como a constatação
da possibilidade de implementação de uma escola de qualidade na esfera pública. Objetivamos ainda
resgatar o sentido político de uma pedagogia arrojada, considerada subversiva pelo regime militar. Na
construção de um olhar que nos revele concepções e práticas vigentes nos vocacionais, nos utilizamos
de fontes documentais – então reunidas no acervo da PUC de São Paulo, além de documentos cedidos
por ex-professoras – e de fontes orais, tais como entrevistas com a ex-coordenadora do projeto, Profª
Drª Maria Nilde Mascellani e seis ex-professoras de diferentes escolas vocacionais, além da leitura de
teses e dissertações sobre o tema. Cientes do alerta de Verena Alberti, de que a entrevista é uma “fonte
para o estudo do passado e do presente” e não a “revelação do real”, consideramos que os

551
depoimentos colhidos são de capital importância por constituírem fontes complementares aos
documentos de um período marcado por repressão e violência e pelo apagamento da memória. Neste
sentido, urge recorrer às fontes orais, na tentativa de abarcar a pluralidade do real, para melhor
apreender o universo de suas representações e assim interpretar esta rica experiência. A realização da
pesquisa nos permitiu identificar uma pedagogia fundada nas idéias de Emmanuel Mounier,
profundamente comprometida com a transformação social. Com uma visão antropológica de cultura, se
valia do trabalho pedagógico interdisciplinar, explicitado na assunção da área de estudos sociais como
área núcleo do “core curriculum”, uma grande idéia ou conceito, um tema gerador, que tem por função
vivificar uma seqüência de problemas e dar-lhes a desejada unidade. O currículo era integrado e eram
utilizados estudo do meio, estudo dirigido, etc, nesta proposta que, visando formar o ser humano pleno,
considerando mister lapidar-lhe arazão, a imaginação e a sensibilidade, interagia com a comunidade, se
ancorava na valorização do público e na historicidade, concebendo o homem como ser cultural e agente
social, antídoto contra o individualismo e a imobilização no presente, marcas do mundo contemporâneo
que precisamos combater. Pesquisa concluída.

846
OS PNPGS E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA A PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM EDUCAÇÃO

SAMARA MARIA VIANA DA SILVA; MARIA DO AMPARO BORGES FERRO.


UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ, TERESINA - PI - BRASIL.

O olhar do historiador da educação permite uma maior compreensão da realidade educacional do


presente, por meio do retorno ao passado. Dessa forma, com esta pesquisa histórica, do tipo
documental e bibliográfica, pretende-se com este artigo rememorar a história da Pós-Graduação Stricto
Sensu no Brasil a partir dos Planos Nacionais de Pós-Graduação (PNPGs), por compreender a relevância
destes Planos para a trajetória da Pós-Graduação brasileira. Apoiando-se na Nova História Cultural, por
possibilitar o uso de diversas fontes e por se preocupar com toda atividade humana, objetiva-se ainda
refletir a Pós-Graduação Stricto Sensu no Brasil, especificamente os Programas de Mestrado em
Educação, tendo como viés os Planos Nacionais de Pós-Graduação que vigoraram no período de 1975 a
2010. Destacando que 04 (quatro) destes Planos foram impressos e tiveram livre circulação entre os
Programas de Estudos Pós-Graduados e 01 (um) deles não teve tal circulação. Ressalta-se que mesmo
sem a circulação efetiva de um destes Planos, a Pós-Graduação brasileira em muito cresceu no período
que deveria vigorar tal PNPG. Esta pesquisa é parte de uma Dissertação de Mestrado em fase de
conclusão. Portanto, este trabalho teve como fundamentação teórica autores, como: Burke (1992),
Lopes e Galvão (2001); Halbwachs (1990); Almeida e Borges (2007); Ramalho e Madeira (2005); Kuenzer
e Moraes (2005); Hostins (2006); Silva, Bittar e Veloso (2004); Saviani (2006) e como fontes de pesquisa
os Planos Nacionais de Pós-Graduação, que norteiam as políticas educacionais para a Pós-Graduação
brasileira, o Parecer nº 977/65 do Conselho Federal de Educação, por ser o marco referencial dos
Estudos Pós-Graduados no Brasil, e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n.º 9394/96 que
contribuiu efetivamente para a expansão da Pós-Graduação no Brasil no período que deveria ter
vigorado o IV Plano Nacional de Pós-Graduação. Nesse sentido, faz-se necessário rememorar a Pós-
Graduação Stricto Sensu no Brasil a partir dos Planos Nacionais de Pós-Graduação, por serem
documentos de grande relevância para os Estudos Pós-Graduados e por terem contribuído efetivamente
para a implantação, consolidação e expansão da Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação no Brasil.
Nesta perspectiva, conclui-se que a partir dos objetivos traçados nos PNPGs verifica-se a função, as
diretrizes e as políticas educacionais da Pós-Graduação na sociedade brasileira, uma vez que esta é
responsável pela capacitação de docentes para atuarem tanto na Educação Básica quanto Superior e
promover o desenvolvimento social, cultural, tecnológico e científico da sociedade através da pesquisa
científica desenvolvida na Pós-Graduação.

473
OS ÓRGÃOS SUPERIORES DA INSTRUÇÃO PÚBLICA NA ADMINISTRAÇÃO REPUBLICANA (1890 – 1933)

ROSILEY APARECIDA TEIXEIRA.

552
UNINOVE, SAO PAULO - SP - BRASIL.

No início da “República Paulista”, por meio de amplas reformas que visavam à implementação de uma
nova estrutura política e administrativa, entre elas a reforma da instrução pública, o que se viu foi todo
um esforço de efetivação de um governo de Estado, caracterizado pela passagem de uma economia
agrário-exportadora para outra crescentemente urbano-industrial. No que tange às reformas da
instrução pública, o que se verifica é que implicavam não só sua própria reorganização, mas,
principalmente, a forma de administrá-la, estendida à reorganização de todos os moldes da vida
moderna, cuja dinâmica estava ligada ao movimento secular de emergência da “arte de governar”. Para
explorar algumas das possibilidades de análise e compreensão da relação educação/sociedade e referir-
se tanto às práticas quanto aos discursos que se dão em torno da escola, é preciso levar em conta que
as relações entre a escola e sociedade são complexas. A questão precisa ser assentada em bases mais
ampla, não só contextualizando-a histórica, social, política, econômica e culturalmente, mas levando em
consideração o projeto iluminista de escolarização única, universal e obrigatória para todos, processo
que se inicia no que habituamos chamar de modernidade. Assim sendo, este texto tem por objetivo
evidenciar a operacionalização do projeto republicano de ordenação da vida social. O foco é o projeto
de educação popular com a criação e desenvolvimento de uma Diretoria de Instrução Pública com um
grupo de funcionários em cargos de direção do ensino, para garantir a execução desse projeto, seja por
meio da organização administrativa e pedagógica das escolas, seja através da fiscalização e a
qualificação dos professores. Será observado também como outros serviços foram instituídos de modo a
se atender às demandas sociais do projeto social em execução. Para tanto, a análise a ser empreendida
neste trabalho resulta de uma pesquisa, já concluída, cujo objetivo central foi evidenciar as práticas de
recrutamento de qualificação dos professores públicos primários em São Paulo, momento em que, por
meio de uma analise documental se confirmou que a racionalização do trabalho pedagógico que se viu
operar na escola, desde os primórdios da República, na instrução pública paulista, foi um conhecimento
gerado dentro da organização político-administrativa estatal. Uma racionalização instituída, a partir de
prescrições que se manifestavam por intermédio da legislação, como determinação traçada para o
controle do tempo de trabalho. A exigência de uma padronização da atividade docente, por meio de
programas preestabelecidos, foi regulada e operacionalizada pelos inspetores distritais e escolares, que,
com suas visitas às escolas isoladas, reunidas e mesmo aos grupos escolares, fizeram cumprir as
determinações prescritas em regulamentos.

1373
POLÍTICAS EDUCACIONAIS NO OITOCENTOS: A REFORMA COUTO FERRAZ E SEU IMPACTO SOB A
INSTRUÇÃO PÚBLICA PRIMÁRIA NA CORTE IMPERIAL NA DÉCADA DE 1850

RAMONA HALLEY ROSÁRIO DE SOUZA.


UFRRJ, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL.

Este trabalho busca analisar as políticas educacionais instituídas pelo Governo Imperial na cidade do Rio
de Janeiro – conhecida como Município da Corte – durante a década de 1850, e seu impacto sob a
instrução primária ou de primeiras letras nesse período, comparando as leis e sua efetiva aplicação nas
escolas. Essas políticas educacionais instituídas culminam na chamada Reforma Couto Ferraz,
implantada pelo Ministro e Secretário d’Estado dos Negócios do Império de mesmo nome, na Corte
Imperial, a partir de 1854, que pôs em vigor o Regulamento da Instrução Primária e Secundária da Corte.
Este trabalho constitui parte da pesquisa em andamento sobre a instrução pública primária no
Município da Corte, na década de 1850. Nosso estudo busca analisar o modelo educacional proposto
para as escolas públicas de primeiras letras na Corte, para identificar as concepções de instrução,
educação e ensino da época para compreender a função da instrução de primeiras letras na sociedade,
estabelecendo uma comparação entre os discursos e a prática, entre leis e regulamentos e o
funcionamento das escolas. Pretendemos demonstrar que a educação escolar de primeiras letras na
Corte representou perspectivas diferentes para governantes, professores, pais e alunos e que, aos
poucos, ela adquiriu valor para esses atores. A instrução de primeiras letras consistiu na iniciação aos
estudos. Nas Aulas públicas de primeiras letras da Corte o currículo comum às escolas de meninos e de

553
meninas era o aprendizado da “a instrução moral e religiosa, a leitura e a escrita, as noções essenciais da
gramática, os princípios elementares da aritmética, o sistema de pesos e medidas do município”,
segundo o Regulamento de 1854. Porém os currículos das escolas apresentavam diferenças entre as
escolas de meninos e as de meninas desde a Lei de 15 de outubro de 1827. Essa fase da instrução era
freqüentada por “discípulos” – como eram chamados os alunos das escolas primárias – de 5 a 15 anos
de idade. Através dos Relatórios do Ministério do Império e dos ofícios de sua secretaria, da legislação e
dos regulamentos da instrução, dos ofícios da Inspetoria da Instrução Primária e Secundária da Corte –
criada com a Reforma Couto Ferraz - e dos professores primários, disponíveis no Arquivo Nacional e no
Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, foi possível verificar as dificuldades de aplicação das leis nas
escolas como a falta de verbas para a construção e aluguel de edifícios adequados para as escolas, da
dificuldade de atrair e manter os alunos nas escolas; da falta de mobiliário escolar e materiais didáticos
e de professores bem preparados para as escolas. Apesar desses entraves, verifica-se um crescimento
do número de escolas e alunos ao longo da década, um aumento do corpo burocrático responsável
pelas funções do ensino, o que traz melhorias para a administração e fiscalização do funcionamento das
escolas e um maior controle dos conteúdos e procedimentos didáticos adotados.

529
PRIVADOS DE LIBERDADE MAS LIVRES PARA O CONHECIMENTO: A POLÍTICA EDUCACIONAL NO
SISTEMA PENITENCIÁRIO DO PARANÁ

ANA LUCIA TOMAZ CARDOSO.


UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ, MARINGA - PR - BRASIL.

A Educação é um poderoso argumento em favor da democracia, da justiça, da igualdade, do


desenvolvimento socioeconômico e científico, além de ser um requisito fundamental na construção de
uma sociedade mais justa, menos desigual, na qual resultaria no caso do Brasil, na inclusão do conjunto
de brasileiros, vítimas da história excludente de nosso país. Diante do exposto nosso trabalho tem como
objeto de estudo a Política de Educacional para Jovens e Adultos no Paraná, tendo como ponto de
partida a reforma educacional ocorrida no país na última década do século XX, sob a coordenação do
Ministério da Educação e influenciada pelos organismos multilaterais e a nova reconfiguração do capital
no mundo do trabalho. O objetivo é contribuir no debate sobre a Educação de Jovens e Adultos,
centrando a discussão no processo de escolarização ofertada a jovens e adultos privados
temporariamente de liberdade, no período delimitado, tendo como fio condutor a questão
escolarização versus ressocialização, no contexto da globalização do capital. Dois procedimentos
preliminares de investigação antecederam a construção deste trabalho. Com o objetivo de assimilar as
informações e conhecimentos disponíveis sobre o objeto da pesquisa, realizamos uma revisão
bibliográfica e um histórico sobre a educação de jovens e adultos no Brasil, no Paraná e nas unidades
penais paranaenses. O segundo procedimento foi à coleta de documentos oficiais referentes à Educação
de Jovens e Adultos no Paraná e a implantação dos Centros de Educação Básica de Jovens e Adultos nas
unidades penais. A retomada da trajetória da Educação de Jovens e Adultos no Brasil e no Paraná,
delimitando a década de 90, como ponto de partida para o estudo das ações do governo estadual no
combate ao analfabetismo e na escolarização de jovens e adultos privados de liberdade, tem sido
fundamental na construção da pesquisa, conduzindo a reflexão da seguinte problemática, como a
educação ofertada a população carcerária no Paraná pode ou poderá amenizar e reduzir a reincidência
da marginalidade. Para ampliarmos nosso campo de discussão a inserção do tema no eixo temático
Estado e Políticas Educacionais na História da Educação Brasileira, será fundamental para que possamos
ir além do que está estabelecido na legislação e nas políticas públicas de educação brasileira sem
esquecermos da figura do Estado como propulsor das mesmas e extremamente alinhado as agências
multilaterais. Considerar a educação de jovens e adultos como uma via para solucionar os problemas de
baixa escolaridade de uma parcela da população paranaense e consequentemente dos problemas
sociais parece mascarar as mazelas presentes no mercado de trabalho e as contradições das relações
sociais capitalistas.

554
648
QUALIFICAR, CAPACITAR, HABILITAR: A EDUCAÇÃO E A PRODUÇÃO DE SUJEITOS OUTROS, NO CEARÁ
DO SÉCULO XX

FRANCISCA LAUDECI MARTINS SOUZA.


UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI, CRATO - CE - BRASIL.

Este trabalho emergiu do interesse nas questões disciplinares que comparecem à produção de sujeitos
para a educação. Assume como específico o Estado do Ceará e institui o recorte 1987 a 2007 como
elemento importante da inteligibilidade deste modelo reformador. Singulariza o campo da educação e
privilegia, para efeito das análises, a produção de sujeitos realizada a partir do Programa de Formação
Docente em Nível Superior Magister, realizado na Universidade Regional do Cariri (URCA). O objetivo da
pesquisa foi apontar e problematizar os tipos de lógicas disciplinares acionadas para a produção de
sujeitos outros. O caminho metodológico constitui uma abordagem da genealogia nos termos de
Foucault a partir de uma questão geral qual seja o exame de uma ação do Estado no campo da educação
como espaço-tempo em que se percebe a presença das questões principais que perpassam a pesquisa.
Esta história foi possibilitada por um conjunto de séries documentais instituídas a partir de três eixos: o
discurso produzido a partir das teses e dissertações defendidas nas universidades públicas brasileiras no
período de 1987 a 2007 e cujos resumos compõem o acervo do portal da CAPES; as prescrições
educativas que deram suporte a educação nas duas últimas décadas do século XX; a documentação
produzida ao longo da execução do Curso Magister. A pesquisa permite afirmar que há um tempo no
Estado do Ceará, a partir do qual emerge uma engrenagem pautada no objetivo de produzir sujeitos
diferentes daqueles presentes no contexto populacional. Sujeitos a quem denominados sujeitos outros,
numa alusão de que para além das demandas por outros sujeitos - habilitados, qualificados, capacitados
– o Estado objetivava reformar os sujeitos cujas inscrições pertenciam a um passado que precisava ser
superado. Estes procedimentos de reforma ativados no Estado do Ceará não constituem
acontecimentos isolados, muito pelo contrário resultam das marcas sutis, singulares que se entrecruzam
e formam uma rede difícil de desembaraçar. Marcas simbólicas, econômicas, culturais onde, por vezes,
o Estado aparece como protagonista, por vezes, age como meio de realização dos interesses
inicialmente não estatais. Interesses reformadores que animaram os diferentes lugares por onde se
inscreveram, mas aportaram com freqüência no campo da educação. Interesses traduzidos, por
exemplo, na capacitação, qualificação e habilitação dos sujeitos, ou seja, na necessidade de produção de
sujeitos qualificados para a indústria e seus modelos de reestruturação produtiva; sujeitos educados a
partir de uma outra concepção de higiene e saúde; sujeitos preparados para o uso eficiente do solo e da
água; sujeitos capacitados para o exercício da reforma agrária de mercado; sujeitos habilitados para o
exercício da docência na educação básica.

753
RADIODIFUSÃO E EDUCAÇÃO NO BRASIL: REPERCUSSÕES SATÍRICAS DOS PROCESSOS DE
ESCOLARIZAÇÃO DO SOCIAL NOS ANOS 1930-1940

MARIA ANGELA BORGES SALVADORI.


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, SÃO PAULO - SP - BRASIL.

As primeiras transmissões radiofônicas no Brasil foram feitas nos anos 1920, embaladas pelo ideal
educativo de Roquete Pinto que sonhava fazer do rádio o grande “professor” da nação. Nos anos 1930,
porém, as intervenções do Estado sobre a radiodifusão e o fortalecimento tanto da indústria do
entretenimento quanto das empresas de comunicação promoveram profundas alterações no setor e,
rapidamente, aspectos mais comerciais suplantaram a antiga proposta educativa. Em 1931, um decreto
presidencial estabelecia o monopólio do Estado concernente à autorização para a criação de novas
emissoras e concessão das freqüências. No ano seguinte, outro decreto permitia às emissoras a
veiculação de propaganda comercial, medida que ofereceu novas e ampliadas possibilidades de lucro.
Com a adoção de programação mais variada - incluindo música popular, rádio-teatro, rádio-novelas,
programas de auditório e humorísticos - cresceu significativamente o número de ouvintes e,

555
conseqüentemente, o de anunciantes. Dez anos à frente do pioneirismo de Roquette Pinto, outro era o
panorama da radiodifusão brasileira: além das rádios “sociedade” e “clube”, entidades civis sem fins
lucrativos, mantidas por meio da contribuição mensal de sócios que apostavam no rádio como um
veículo ideal para a educação do povo, havia agora uma quantidade também crescente de emissoras
comerciais, organizadas e gerenciadas empresarialmente, com provimentos geralmente advindos da
propaganda. Neste contexto, este estudo, em andamento, analisa repercussões satíricas do processo de
escolarização no Brasil constantes em antigos programas humorísticos de rádio que, geralmente
organizados pelo diálogo entre um professor e seus alunos, foram simultaneamente grandes sucessos
em termos de audiência e alvos de uma crítica sistemática por parte daqueles que defendiam a
radiodifusão como instrumento de difusão da “verdadeira” cultura. Embora a relação entre rádio e
educação não constitua um campo inédito no âmbito da história da educação brasileira, os trabalhos a
ela dedicados focam, de modo mais freqüente, as propostas dos pioneiros do rádio no Brasil, iniciativas
do Estado para a expansão e normatização da radiodifusão ou programas mais claramente educativos.
Por vezes vistos como “menores”, os humorísticos são antes lembrados que analisados, situação
agravada pela grande dificuldade de acesso às fontes sonoras. Recuperando pequenos fragmentos
sonoros desses programas e investigando sua repercussão em periódicos da grande imprensa – tais
como as revistas Fon Fon e Carioca -, este trabalho objetiva compreender as razões do sucesso desse
gênero e, neste percurso, identificar as críticas que veicularam, jocosamente, ao processo de
escolarização no Brasil, explicitadas em conflitos entre sonoras tradições populares e saberes escolares.

1268
REFORMADORES E ENCANTOS COM A EDUCAÇÃO: OS EXAMES ESCOLARES E A ESPETACULARIZAÇÃO
DO SABER ESCOLAR

DIMAS SANTANA SOUZA NEVES SANTANA SOUZA NEVES.


UNEMAT, CÁCERES - MT - BRASIL.

Os exames escolares foram importantes instrumentos da articulação entre o poder e o saber, entre a
política e a escola, entre dirigentes, sociedade e escolarizados. Eles serviram para “espetacularização”
das instituições, dos sujeitos e dos saberes visando estabelecer parâmetros para construção do “mundo
civilizado e culto”, tendo os conhecimentos como referência para alcançar o ápice da afirmação escolar
e social das pessoas. De modo particular pela capacidade de demonstração pública da intelectualidade
construída na escolarização. A partir desta leitura, este trabalho constrói um significado em torno dos
discursos produzidos por reformadores da educação que, na década de 1850, em Minas Gerais, Mato
Grosso e no Município Neutro da Corte, produziram um conjunto de transformações na educação,
prescrevendo as reformas da instrução pública e garantindo a apresentação pública dos trabalhos
produzidos no interior desses espaços sociais. Com contribuições de autores do campo da educação
comparada e com o pensamento em torno da ordem dos discursos produzidos por Foucault, foram
analisados os escritos divulgados por Euzébio de Queiroz, Coutto Ferraz, Joaquim Gaudie Ley e Antonio
Bhering. Quatro personagens da educação nacional que fizeram, também do discurso em torno dos
exames escolares, um mecanismo de afirmação do Estado brasileiro. Produções que exigiam e
estabeleciam garantias de certos padrões moral, intelectual e cultural às famílias brasileiras. Escritos
pelos quais demonstravam a força e a expressão dos conhecimentos e dos ensinamentos, enfim dos
saberes apresentados pelas crianças escolares. Nessa dimensão, as práticas discursivas dos dirigentes do
Estado foram disseminadas para apresentar a qualidade da escolarização e os instrumentos dos exames
escolares como ferramentas de disciplinarização dos corpos e das práticas dos sujeitos. A idéia era
propiciar uma situação, um ritual que deveria ser valorizado pela sociedade, um momento de amostra
escolar em que os agrupamentos sociais pudessem acompanhar o espetáculo da demonstração pública
dos esforços, da beleza e da qualidade dos trabalhos escolares, concomitante com o estabelecimento de
uma racionalidade sobre a expressão do Estado por meio das ações dos governantes e professores. Essa
tradição dos exames - pensados como modos de “confissão dos pecados e das virtudes” pela igreja
católica - foram apropriados e desenvolvidos pela escolarização brasileira para publicizar o
“desconhecido” da maioria do público e foi promovido no decorrer do século XIX para dar visibilidade e

556
estimular sentimentos de esperança e confiança nos trabalhos desenvolvidos no interior das instituições
de ensino.

793
REGULAMENTAÇÃO DA FISCALIZAÇÃO DO ENSINO PRIMÁRIO DE MINAS GERAIS (1889-1906)

JULIANA VIEIRA TABORDA.


UFMG, BELO HORIZONTE - MG - BRASIL.

Este trabalho faz parte do projeto “A docência na escola primária: relação de geração, gênero, classe
social e etnia (Minas Gerais, séculos XIX e XX)”. Esta pesquisa está em andamento e tem como objetivo
compreender de que forma era feita a fiscalização do ensino primário no Estado de Minas Gerais.
Pretende-se analisar a normatização da função do inspetor escolar nos primeiros dezessete anos da
República: a regulamentação do trabalho (nomeação, direitos, deveres e atribuições), bem como
examinar as transformações ocorridas nas leis, decretos e nos regulamentos mineiros deste período
histórico no que diz respeito ao cargo de inspetor. Objetivo ainda averiguar a relevância social e política
deste cargo. O período demarcado para estudo compreende desde a instalação da República até a lei
mineira nº 439 de 28 de setembro de 1906, que originou a criação dos grupos escolares no estado de
Minas Gerais. A pesquisa é baseada em fontes documentais tais como: correspondências entre
professores, inspetores e governo enviadas à Secretaria do Interior sobre a fiscalização do ensino
primário; relatórios dos presidentes do estado e dos inspetores da 1ª Circunscrição Literária; legislação
educacional mineira do Império e das primeiras décadas republicanas, que se encontram no Arquivo
Público Mineiro, e também em bibliografia pertencentes ao campo da História da Educação. Como
conclusão parcial pode-se afirmar que a normatização da profissão, por meio da legislação, sugere uma
valorização do trabalho de fiscalização do ensino por parte do Estado. Propõe também um modelo de
inspetor: agente de confiança do Estado que deveria visitar as escolas de sua circunscrição o maior
número de vezes que lhes for possível, examinando-as e colhendo os dados estatísticos necessários,
para registrá-los nos seus relatórios. Acredito que as informações contidas nestes relatórios
influenciariam as ações futuras do governo referentes à instrução publica. A inspeção do ensino se
estabelecia como um importante mecanismo de averiguação da condição da educação primária de
Minas Gerais, bem como a construção de um diagnóstico da instrução primária, seu cotidiano as suas
práticas e os seus agentes. Isto porque era partir dos relatórios de visita destes funcionários que
apresentavam informações minuciosas sobre a organização e funcionamento das escolas, e sobre a ação
dos inspetores, tornando possível avaliar as condições do ensino primário no estado e também as
condições de trabalho dos inspetores.

670
REGULAMENTO DA ASSISTÊNCIA E PROTEÇÃO A MENORES ABANDONADOS E DELINQUENTES: A
CLASSIFICAÇÃO E A EDUCAÇÃO DOS “MENORES” NA LEGISLAÇÃO MINEIRA DE 1927

ELIANE VIANEY DE CARVALHO.


UFSJ, SAO JOAO DEL REI - MG - BRASIL.

Em Minas Gerais, durante o governo Antônio Carlos (1926-1930) várias ações foram empreendidas com
o objetivo de cuidar e educar a infância e a adolescência. Uma delas foi a aprovação do Regulamento da
Assistência e Proteção a Menores Abandonados e Delinqüentes através do decreto N. 7680 de 3 de
junho de 1927. O propósito dessa ação legal era acolher os menores abandonados moral e
materialmente evitando que se tornassem um incômodo para a sociedade. Os juristas, educadores e
demais autoridades supunham que com a educação em instituições apropriadas, esses menores,
posteriormente, poderiam retornar à sociedade recuperados e contribuiriam para o progresso da nação.
Neste trabalho a legislação mineira de 1927 é analisada sob a perspectiva de Foucault (1979; 2002).
Nota-se no discurso higienista dos legisladores as “vontades de verdade” e as “relações de poder” ao
nomear quem era os “menores”, quais ações deveriam ser empreendidas e quais os profissionais seriam

557
adequados para essas ações. Segundo o regulamento, os “menores” eram classificados em diversas
categorias: “abandonados: menores de 18 annos de ambos os sexos”; “pervertidos: menores vadios,
mendigos e libertinos”; “delinqüentes: tendo mais de 14 annos de edade, forem indiciados auctores ou
cumplices de facto qualificado pela lei como crime ou contravenção” e “anormaes: creanças que, por
uma razão qualquer, se acham em condições de inferioridade e não podem adaptar-se ao meio social”.
O texto legal diz também que: “Serão assistidos e sujeitos a tratamento especial os anormaes por:
déficit physico, sensorial, intellectual e por déficit das faculdades afectivas”. Há ainda indicação de
diferentes estabelecimentos de assistência como: “abrigo para menores; escolas de preservação,
escolas de reforma e escolas para anormaes. Foram analisadas também, as “medidas legais aplicáveis”
aos “menores”, para evidenciar o discurso higienista dos legisladores em classificar e disciplinar os
“menores” na tentativa de impedir e prevenir que no futuro eles se tornassem “delinqüentes
profissionais” e “perturbadores da paz e do progresso social”. Vale destacar a carta do Secretário de
Segurança e Assistência Pública, Bias Fortes ao governador do Estado “...resolvido o importante
problema do amparo e da educação de seus assistidos (os menores), que orientados a tempo e a tempo
arrancados ao ambiente do ar rarefeito em que se esterilizam, são convenientemente encaminhados
para o trabalho honesto, que os transformará em valores moraes, intellectuaes e econômicos”. Nesta
pesquisa em andamento, ao analisar os discursos dos intelectuais e autoridades políticas da época,
percebe-se a fraca consistência epistemológica da argumentação, ao lado do forte apelo emocional dos
enunciados.

535
REPESENTAÇÕES DA AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO NA REVISTA VEJA

KARINE PRESOTTI.
UFES, VILA VELHA - ES - BRASIL.

O presente trabalho apresenta os resultados de nossa dissertação de mestrado em andamento e discute


a categoria avaliação institucional da educação básica a partir da representação dessa política pública na
Revista Veja durante os anos de 2006 a 2009; analisa como a revista se configura como mediadora
cultural contribuindo na elaboração e na “circulação de representações” que associam avaliação à
aferição e conquista de qualidade na educação. Acreditamos que o trabalho potencializa um
alargamento do olhar sobre a história presente da educação e os interesses de grupos que participam
da redefinição de uma representação de “qualidade” (CHARTIER, 1990) e, por conseguinte, das
identidades institucionais e dos atores vinculados à educação. Tomando como fonte a revista Veja,
publicação semanal de maior circulação no Brasil, foram mapeadas dezenove matérias no seu arquivo
digital através do recurso “busca avançada”. Pesquisamos os termos “qualidade na/da educação” e
“avaliação da educação”. As matérias serão aqui classificadas e analisadas como fontes entendendo que
sua proximidade temporal não as afasta do estatuto de documento histórico. As fontes provenientes da
imprensa têm ganhado alargado espaço na história da educação e configuram-se como lócus de ricas
possibilidades para investigação dos debates educacionais que não se restringem aos limites do campo
educacional e acadêmico. Trata-se de um primeiro esboço de uma percepção histórica de uma política
em curso, de escrever uma história do tempo presente, caracterizada pela proximidade temporal do
autor em relação ao tema tratado, “encurtando o prazo entre a vida das sociedades e sua primeira
tentativa de interpretação” (LACOUTURE, 1998, p.217). O sistema de avaliações sistêmicas da educação
básica brasileira é um projeto que se efetiva a partir de meados dos anos 90 e que ganhou
expressividade no último decênio integrando o processo de reforma do Estado. O recorte a partir de
2006 justifica-se por ser o ano em que os resultados de uma dessas política avaliativas, o Exame
Nacional do Ensino Médio, começam a ser divulgados, ganhando notoriedade na imprensa. Trata-se,
portanto, das representações de uma política contemporânea e em curso. Embora essa proximidade
temporal possa ser um limitador pelo alcance restrito às repercussões, acreditamos que é aí também
que está sua potencialidade, já que se lança em uma compreensão que não subestima o vigor das forças
em curso e que é menos suscetível aos condicionamentos de quem analisa o “drama” sabendo seu fim.

558
486
SER ESTRANGEIRO EM SEU PRÓPRIO PAÍS: O DESCONHECIMENTO DA LÍNGUA NACIONAL NAS
ESCOLAS ÉTNICAS DO PARANÁ.

VALQUIRIA ELITA RENK.


PUCPR, CURITIBA - PR - BRASIL.

Desde meados do século XIX até 1938, no Paraná havia mais de duzentas escolas étnicas eslavas. Estas
escolas existiam a margem do Estado, com uma forma de organização muito específica, cujos conteúdos
escolares eram ministrados na língua materna do grupo, assim, como também a história, a geografia e a
cultura da língua pátria. Adotavam livros escolares na língua de origem do grupo, assim, como as lições
eram ministradas nesta língua, portanto muitos alunos desconheciam ou pouco conheciam da língua
portuguesa, apesar de serem brasileiros. Nesta pesquisa objetiva-se explicitar o processo de
nacionalização destas escolas e também os processos de resistência que estes grupos étnicos
apresentaram ante o ensino em língua nacional e medidas implementadas pelo Estado para nacionalizar
estes alunos. Esta pesquisa fez parte da tese de doutorado. As fontes de pesquisa são os documentos
oficiais, como a legislação educacional, os Relatórios e Mensagens de Governo, os arquivos da DOPS, os
arquivos particulares das instituições, também as entrevistas e depoimentos daqueles que eram alunos
destas escolas em 1938, e vivenciaram a nacionalização compulsória. As fontes possibilitam o
cotejamento das informações e analisar o processo de nacionalização destas escolas. Desde 1909 até
1938, a legislação educacional priorizava o ensino em língua nacional nas escolas primárias, para
integrar estes alunos á cultura nacional. Portanto, a cada legislação educacional e imposição de medidas
nacionalizadoras, novas formas de resistência eram criadas para manter a cultura étnica. Ante a pressão
estatal, a partir de 1919, para que estas escolas adotassem os livros escolares prescritos, os horários, o
calendário e os conteúdos das escolas públicas, estas, adaptavam-se para cumprir a legislação, mas, não
perder a identidade cultural. Tornaram-se escolas bilíngües, adotaram os livros oficiais e os não oficiais e
nas visitas dos inspetores de ensino eram criados mecanismos para aparentar a nacionalização dos
alunos. Apesar dos mecanismos de controle sobre os professores e sobre os saberes escolares, estas
escolas não perderam a identidade étnica. Somente em 1938, com a nacionalização compulsória é que
as escolas étnicas foram fechadas e obrigadas a ensinar em língua portuguesa. Ainda assim, estas
encontraram formas de burlar a legislação e ensinar a cultura étnica, em espaços alternativos. Os
depoentes relatam os constrangimentos de sentir-se estrangeiro, de não saber a língua nacional, e da
necessidade da ‘tradução’ das lições da língua nacional para a língua de origem, a partir de 1938.

1356
TRAJETÓRIA DA EDUCAÇÃO DE SURDOS NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO: QUESTÕES HISTÓRICAS E
POLÍTICAS

ALINE DE MENEZES BREGONCI.


UFES, CARIACICA - ES - BRASIL.

Trazer a discussão sobre a educação de surdos no campo das políticas educacionais é dar visibilidade a
um processo que se deu a partir de mudanças paradigmáticas na educação de surdos ao longo da
história, através de tensões e movimentos realizados por educadores de surdos de linhas teóricas
diferenciadas e dos movimentos sociais promovidos pelos surdos. A relevância dessa problematização
está pautada nos movimentos políticos e sociais que foram promovidos ao longo dos anos,
principalmente durante o século XX, desdobrando-se em discussões que culminaram em políticas e
práticas educacionais executadas pelo poder público e pela escola, com o objetivo de assistir a um
público específico – os alunos surdos. E também, se deve ao fato de o estado do Espírito Santo ter se
tornado, durante boa parte do século XX, uma referência em aplicação de determinados métodos e
práticas da educação de surdos, reconhecidos em todo o país. Objetivando trazer à tona os processos
históricos e os caminhos percorridos dentro dos debates da academia e das políticas públicas de
educação de surdos, pretendemos apontar os caminhos percorridos por essas políticas no estado do
Espírito Santo como resultado de uma discussão que se dava em âmbito nacional e internacional,

559
principalmente a partir da Lei de LIBRAS 10.436 / 02 e do Decreto 5626/05 que impulsionaram de forma
mais radical as mudanças, se tomarmos como referência as políticas até então, sustentadas em teorias
aprovadas no Congresso de Milão de 1880. Para traçar essa trajetória, utilizaremos de documentos
expedidos pelo MEC como a Lei nº 9394/96 Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional , LDBN Lei nº
9394/96 – LDBN - Educação Especial, Lei nº 8069/90 - Estatuto da Criança e do Adolescente - Educação
Especial Lei nº 8069/90 , Lei nº 10.098/94 de Acessibilidade, Lei nº 10.436/02 de LIBRAS, Lei nº 7.853/89
- CORDE - Apoio às pessoas portadoras de deficiência, Lei nº 9424 de 24 de dezembro de 1996 –
FUNDEF, Lei nº 10.845, de 5 de março de 2004 - Programa de Complementação ao Atendimento
Educacional Especializado às Pessoas Portadoras de Deficiência, Plano Nacional de Educação - Educação
Especial, além de bibliografias produzidas sobre essa temática, focalizando os fatos históricos
concernentes ao estado do Espírito Santo. Essa pesquisa encontra-se em andamento e é fruto do
trabalho desenvolvido pelo Grupo de Estudos Surdos em Educação (GES) que é vinculado ao Núcleo de
Ensino, Pesquisa e Extensão em Educação Especial (NEESP) da Universidade Federal do Espírito Santo
(UFES).

1272
TRAJETÓRIA HISTÓRICA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO ESTADO
DO ESPÍRITO SANTO NO PERÍODO DE 1995 A 2004
1 2 3
EDNA CASTRO DE OLIVEIRA ; EDNA GRAÇA SCOPEL ; HELTON ANDRADE CANHAMAQUE ; ALINE DE
4
MENEZES BREGONCI .
1.IFES E UFES/PPGE, VITÓRIA - ES - BRASIL; 2,3,4.UFES/PPGE, VITÓRIA - ES - BRASIL.

A presente pesquisa tem como objetivo analisar a trajetória da Educação de Jovens e Adultos no Estado
do Espírito Santo através dos movimentos políticos e sociais que nortearam a sua constituição, de
iniciativas governamentais e populares, que dão visibilidade ao seu processo formador, com recorte das
políticas de governo no período de 1995 a 2004. A modalidade Educação de Jovens e Adultos em seu
percurso de luta para construção de uma política pública é algo recente, que se traduz na legislação a
partir da LDB 9394/96 e nas regulamentações que se seguem como o Parecer CNE/CEB nº 11/2000, a
Resolução CNE/CEB nº 03/2010 e as proposições da CONAE/2010, dentre outras. Historicamente,
observa-se que o movimento em favor de EJA tem se caracterizado por iniciativas tímidas, inspiradas
numa concepção de Educação de Jovens e Adultos restrita a alfabetização. Nesse sentido, as iniciativas
neste campo buscavam promover a EJA, não enquanto parte integrante das demandas da educação no
país, mas como tentativa de diminuição das taxas de analfabetismo, com o intuito de responder as
metas dos acordos internacionais firmados com potências e bancos capitalistas. Nesse contexto, as
tensões produzidas pelas implicações da globalização econômica nos rumos das políticas educacionais
no país, na década de 1990, tiveram efeito perverso principalmente na EJA, em função das contradições
do sistema capital geradoras da pobreza e exclusão social. Buscava-se combater o analfabetismo,
considerado “vergonha nacional”, que precisava ser erradicado. Nessa pesrpectiva, propunha-se a
solução do problema pela melhoria das taxas de analfabetismo e a elevação dos níveis de instrução
escolar nos países em desenvolvimento. Outras ações que se traduzem como polítticas de governo para
EJA são as iniciativas filantrópicas e das comunidades em alguns movimentos, de alfabetização em
massa, promovidos pelo governo em níveis nacional e estadual. No Espírito Santo não se foge a essa
lógica. Para compreender o percurso das politicas locais lançamos mão da análise documental utilizando
de fontes primárias da Secretaria de Estado da Educação (SEDU), bem como da produção de estudiosos
ao longo deste período, que buscam situar o lugar ocupado pela EJA na agenda política do Estado,
através dos Planos Estaduais de 1995 a 2004, período fundamental para o lançamento das bases que
constituíram a EJA contemporânea e em que se buscou avançar na sua concepção de educação como
direito. Daremos destaque as políticas de alfabetização do governo estadual: “Projeto Todos Podem Ler”
e o “Projeto Alfabetização é um direito”. A presente pesquisa encontra-se em andamento e é fruto do
trabalho de pesquisa que envolve as ações do Núcleo de Educação de Jovens e Adultos e do grupo de
pesquisa PROEJA/CAPES/SETEC/ES.

560
596
UM MODELO E UM LUGAR ESPECÍFICO PARA AS ESCOLAS RURAIS: AS CONCEPÇÕES RURALISTAS NA
CONSOLIDAÇÃO DAS LEIS DE ENSINO EM SÃO PAULO (1947)

VIRGÍNIA PEREIRA DA SILVA DE ÁVILA.


UNESP/ARARAQUARA, ARARAQUARA - SP - BRASIL.

O presente trabalho é parte integrante de pesquisa em desenvolvimento sobre o ensino primário rural
em São Paulo e Santa Catarina (1920-1947), e trata de forma específica acerca do lugar a ser ocupado
pelas escolas rurais na nova Consolidação das Leis de Ensino no Estado de São Paulo, aprovada em 1947.
Por essa legislação passam a coexistir dois tipos de escola rural. Por um lado, foram mantidas as escolas
isoladas e grupos escolares localizados na zona rural, cujo programa será o mesmo desenvolvido nas
escolas urbanas, por outro, a criação de escolas isoladas e grupos escolares típicos rurais, com uma
organização de ensino de caráter vocacional-agrícola. Com uma feição de cunho centralizador e
uniformizante, a Consolidação das Leis de Ensino, em São Paulo, obedecia ao disposto pelas diretrizes
das Leis Orgânicas, editadas por meio de decretos-lei, pelo Ministro da Educação e Saúde, Gustavo
Capanema, entre 1942-1946. No concernente ao ensino primário rural a nova legislação procurou
adequar-se ao estabelecido pela Lei Orgânica do Ensino Primário – Decreto-Lei n. 8.529, de 2 de janeiro
de 1946 –, bem como a Lei Orgânica do Ensino Agrícola – Decreto-Lei Nº 9.613, de 20 de agosto de
1946. No novo dispositivo legal a educação primária e a educação rural foram tratadas como
modalidades distintas, a educação primária seria ministrada nas escolas isoladas; nos grupos escolares,
e nos cursos primários anexos as escolas normais (SÃO PAULO, 1947, art. 2º), e a educação rural, nas
escolas típicas rurais; nos grupos escolares rurais; nos cursos de agricultura das escolas normais; nos
cursos especiais intensivos, destinados aos professores, com ou sem função no magistério oficial (SÃO
PAULO, 1947, art. 3º). Desde 1938, Getulio Vargas e os ideólogos do novo regime uniram-se na decisão
de fortalecer o sentimento de nacionalidade, inclusive, tomando algumas iniciativas no que se refere à
geopolítica, ou seja, o estado passa a preocupar-se com a posse integral do território brasileiro
(MONARCHA, 2007). Em São Paulo a institucionalização dos grupos escolares rurais se deu em 1938,
mediante o decreto n. 8.951, de 2 de fevereiro que dispõe sobre a criação de grupos escolares rurais, no
governo de Adhemar de Barros. As novas orientações da legislação paulista baseavam-se integralmente
no Decreto-Lei n. 13.635, de 1º de outubro de 1943, elaborado por Sud Mennucci, quando do seu
retorno a direção do ensino paulista, entre os anos de 1943 a 1945, no governo de Fernando Costa.
Contudo, o número de grupos escolares e escolas isoladas típicas rurais não foi expressivo se comparado
aos 60% das crianças em idade escolar concentradas na zona rural, neste período. Nossa hipótese é de
que as escolas típicas rurais representavam um investimento oneroso ao estado e por isso, o número
restrito de escolas.

1274
UMA PEDAGOGIA DA CIDADE E SEUS SENTIDOS: O PRÍNCIPE (RIO GRANDE DO NORTE) E SUAS
POSTURAS MUNICIPAIS NO SÉCULO XIX

OLIVIA MORAIS MEDEIROS NETA.


UFRN, IPUEIRA - RN - BRASIL.

As educabilidades, as sociabilidades e as sensibilidades podem ser exploradas em diversas pesquisas


com os mais distintos objetos que, de forma ampla, atentam à compreensão do ser e estar no mundo de
sujeitos em espaços e temporalidades específicas. Dessa forma, esse trabalho que é parte das
discussões realizadas no Doutorado em Educação da UFRN consideraque a cidade é detentora de uma
instrução socializadora e de uma função pedagógica pelas quais se moldam valores e modelos de
conduta à experiência da urbanidade. Por isso, objetivamos refletir acerca da pedagogia da cidade
expressa pelas posturas municipais, no caso específico, do Príncipe (atual cidade de Caicó-RN) no século
XIX. Para a realização desse trabalho que se alinha a história social da cidade utilizamos como fontes um
conjunto de códigos de posturas municipais dispostos entre os anos de 1835 e 1884, leis e decretos
municipais e provinciais. A Câmara Municipal, instituição de natureza política presente no Príncipe

561
desde 1788, por meio dos seus legisladores, projetava escritas à legalidade urbana e às práticas sociais e
culturais dos cidadãos. A vereança era, então, responsável pelas funções administrativas de ordenar e
legislar acerca dos bens públicos e do modus vivendi, das sociabilidades, comportamentos e habitus dos
cidadãos. Por meio dessas funções expressas nas posturas municipais se constituía uma pedagogia da
cidade que articulava as práticas sócio-culturais à ordem nos espaços e que se materializava em
deliberações quanto a realização das feiras, ao funcionamento dos mercados e espetáculos, ao contexto
da segurança, da saúde e da regularidade externa dos edifícios e da inspeção das escolas de primeiras
letras, dentre outras deliberações. As posturas e seus códigos expressavam uma pedagogização sob a
qual o princípio do respeito deveria perpassar as ações individuais e coletivas. Assim, não eram
permitidas ao habitante da urbe latrinas com escoário para fora, a vulgarização de pasquins que
ofendam a religião e a moralidade pública, escrever nas paredes, portas, janelas e muros de prédios
públicos ou particulares, realizar espetáculos sem licença municipal. Enfim, a pedagogização no Príncipe
se constituiu de forma instrutiva e socializadora na relação entre a cidade e seus habitantes estabelecida
pela municipalidade em suas posturas que imprimiam uma pedagogia com sentidos estéticos, sócio-
econômicos, sócio-culturais, moralizadores e salubres que atentava para uma educação política dos
sentidos.

413
UNIVERSIDADE E MEMÓRIA INSTITUCIONAL: A CONSTRUÇÃO DISCURSIVA PARA A CRIAÇÃO DA
UNIVERSIDADE (NO) DO BRASIL
1 2
ANTONIO JOSE OLIVEIRA ; EVELYN GOYANNES DILL ORRICO .
1.UFRJ, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL; 2.UNIRIO, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL.

Na história da educação brasileira é fato que merece atenção a reação contrária, durante séculos, à
criação da instituição universitária. Desde o período colonial, diversas foram as tentativas para que a
Metrópole portuguesa autorizasse a criação de instituições de ensino superior nas terras brasileiras,
sistematicamente negadas, o que impelia os jovens da elite colonial aos estudos nas universidades
européias. Somente a partir do século XIX, com a vinda da Família Real e a elevação do Brasil à categoria
de Reino Unido, surgem nossos primeiros cursos superiores, mas organizados na forma de instituições
isoladas, privilegiando sobretudo a formação de médicos e engenheiros. Este trabalho procura refletir
sobre o processo de estruturação da instituição universitária no Brasil, inserida num projeto de
construção da nacionalidade, tendo como referencial teórico-metodológico a Análise de Discurso (AD)
da vertente francesa. Para tal, analisa-se discursivamente os princípios estabelecidos no Estatuto das
Universidades Brasileiras de 1931 e os principais artigos da Lei 452, de 5 de julho de 1937, que instituiu
a Universidade do Brasil, na Capital da República, como instituição modelar. Considera-se que os
discursos institucionais ou dispositivos legais nem sempre explicitam as divergências e contradições em
confronto e evocam (quando não perpetuam) a memória de determinados grupos num contexto sócio-
histórico específico. Concebe-se o discurso, como expresso em sua materialidade, como “palavra em
movimento” e, desse modo, há que se compreender também a forma como significa, produzindo
sentidos. Toda palavra é carregada de um conteúdo e de um sentido ideológico, liga-se diretamente às
experiências de vida de indivíduos ou grupos e todo discurso tem a finalidade de expressar e produzir
sentidos e, mais do que somente expressar um “puro pensamento”, configura-se como conseqüência de
relações ideológicas. Por isso torna-se imprescindível perceber, em toda pesquisa histórica, quem são os
sujeitos envolvidos bem como o contexto no qual se inscrevem as formações discursivas. Por intermédio
da AD, pretende-se conferir aos registros documentais novas perguntas, já que as maneiras de
expressão e registros não são inocentes e despidas das ideologias dos sujeitos. Para além de sua
aparente neutralidade, revelam estruturas mentais, maneiras de perceber e organizar a realidade, por
meio das redes de memórias sociais produzidas a partir de formas específicas de lembranças e
atribuição de sentidos. Valendo-se das associações entre os discursos oficiais de Estado com os
documentos institucionais, pretende-se demonstrar que a Universidade do Brasil se configurou como
um modelo específico de instituição universitária coincidente ao projeto nacional-desenvolvimentista
característico da centralização política do período Vargas. Sua existência, nesse sentido, implicava a
supressão de modelos alternativos movidos por filiações ideológicas conflitantes.

562
781
USOS E APROPRIAÇÕES DA LEI ORGÂNICA PARA O ENSINO PRIMÁRIO NO ESPÍRITO SANTO

ELIS BEATRIZ LIMA FALCÃO; CLEONARA MARIA SCHWARTZ.


UFES, VITÓRIA - ES - BRASIL.

A comunicação apresenta resultados de estudo desenvolvido na linha de Pesquisa Educação e


Linguagens do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Espírito Santo, que
teve como tema O ensino da leitura no Espírito Santo (1946-1960). No estudo, abordamos apropriações
efetivadas por responsáveis pela condução da política educacional capixaba do Decreto-Lei nº. 8.529, de
2 de janeiro de 1946), no período de 1946-1960. Elegemos como marco inicial o ano de 1946, por ser o
momento de aprovação do plano nacional para o ensino primário por meio da Lei Orgânica do Ensino, e
como marco final o ano de 1960, por ser o momento de reestruturação do ensino primário por meio da
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº. 4.024, de 20 de dezembro de 1961). Como
fundamentação teórico- metodológica, elegemos princípios da História Cultural, por acreditamos que
essa perspectiva permite dar ênfase a usos de objetos culturais e a práticas diferenciadas de sujeitos, o
que nos conduziu a abordar a relação entre estratégias de imposição e táticas de apropriação. Nesse
sentido, nos apropriamos das categorias táticas, usos, estratégias e representação enfocadas por Michel
de Certeau (1994) e Roger Chartier (1985). As categorias permitiram analisar estratégias e táticas
utilizadas por responsáveis pela política educacional no Espírito Santo para atender a regulamentação
nacional do ensino primário e ao discurso por um ensino mais moderno e, portanto, “ativo”,
orquestrado pelos dirigentes da política nacional e local. Fizemos uso de fontes como atas de reuniões
pedagógicas, legislação, mensagens de governo e de matérias publicadas na mídia impressa diária. As
fontes utilizadas na pesquisa nos permitiram apreender, nos discursos dos responsáveis pela condução
da política educacional capixaba, a intenção em conferir à educação primária o estatuto de
modernidade dentro de “bases científicas”, apropriando-se, nesse sentido, de discursos educacionais
que estavam em voga e condizentes com esse estatuto como o discurso orquestrado pelo Instituto
Nacional de Estudos Pedagógicos – INEP, pois esse órgão, hierarquicamente situado numa esfera maior
de poder, no período de 1950 a 1960, foi o divulgador de uma concepção pragmática de educação que
via no conhecimento científico a solução para os problemas educacionais. As fontes nos permitiram
ainda conhecer táticas que visaram ao atendimento das orientações presentes na Lei Orgânica do
Ensino Primário (Decreto-Lei nº. 8.529, de 2 de janeiro de 1946) e também indícios de apropriações
diferenciadas do que era prescrito nessa lei.

769
VINTE E CINCO ANOS DO PNLD: UMA TRAJETÓRIA DE NEGOCIAÇÕES ENTRE POLÍTICA EDUCACIONAL E
ECONÔMICA

MAGDA CARVALHO FERNANDES.


UFMS, CAMPO GRANDE - MS - BRASIL.

O Brasil, após um longo período de governo ditatorial, inicia um processo de restauração da democracia,
que vem acontecendo de modo gradativo. O PNLD é um programa de referência para a compreensão do
processo de redemocratização brasileira, no campo da política educacional, posto que vem
atravessando todos os governos nos últimos 25 anos da história da educação brasileira. Logo, o objetivo
dessa pesquisa, em andamento, é apresentar uma análise do PNLD, política pública que tem início em
1985, durante o governo José Sarney, passando pelos demais governos até os dias atuais (1985-2010). A
investigação foi baseada em análise documental e bibliográfica. A questão central da discussão está na
relação que se expressa nas negociações estabelecidas entre a concretude histórica da política
governamental e a democratização da educação. Sendo a política de Estado brasileiro, uma democracia
baseada no liberalismo social e o direito à educação, uma conquista dos direitos sociais, o PNLD vem
sendo interpretado pelos governos de forma diferenciada na sua implementação. Inicialmente, esteve

563
focado principalmente, no atendimento assistencial ao aluno carente, associando a melhoria da
qualidade da educação básica à distribuição de livro, abstendo-se de uma política comprometida com a
qualidade do livro didático, que vai além da distribuição em quantidade suficiente. Se num primeiro
momento, o PNLD traz a escolha pelo/a professor/a enquanto um de seus principais avanços em relação
às políticas para o livro didático anteriores, logo num segundo momento a qualidade dessa escolha é
questionada e tem início uma reforma educacional, com indicadores de avaliação da qualidade dos
conteúdos dos livros e da implantação de Parâmetros Curriculares Nacionais, que servissem de
orientação ao/à professor/a. O PNLD deixa de estar vinculado ao atendimento à criança carente e todas
as escolas passam a receber o livro didático. É também nesse período que aumentam de forma
significativa as relações com o Banco Mundial, através de financiamentos que vêm acompanhados de
recomendações, numa perspectiva economicista e a qualidade do ensino fica depreciada em favor de
uma lógica de mercado. Nesse último governo, podemos perceber uma ampliação dos fundos de
natureza contábil destinados às políticas educacionais. Hoje, a logística que envolve o PNLD é bastante
complexa e extensa, como em nenhum outro programa do governo. Não é fácil atender à demanda da
escolha e entrega em tempo hábil de livros a todas as escolas públicas brasileiras, fazer a análise técnica
e pedagógica dos livros inscritos pelas editoras no programa e possibilitar um sistema de escolha, onde
o professor tenha a como fazer a apreciação dos livros aprovados pelo MEC. O tamanho da importância
da política educacional que envolve o PNLD deveria ser proporcional ao salto de qualidade que a
educação brasileira necessita para contribuir com uma sociedade que proporcione igualdade de
oportunidades e portanto, menos injusta.

1223
“EXPERIÊNCIAS QUE DESEJAMOS TENHAM AS CRIANÇAS” NOS JARDINS DE INFÂNCIA PARANAENSES
DE 1950

JORDANA STELLA BOTELHO DALLA VECCHIA.


UFPR, CURITIBA - PR - BRASIL.

Entre 1947 e 1951 Moysés Lupion governou o Estado do Paraná, em seu primeiro mandato, tendo como
seu Secretário da Educação e Cultura, a partir de 1949, o intelectual e professor Erasmo Pilotto. Esta
gestão governamental se autodenominou como responsável pela elaboração do primeiro documento
oficial dirigido aos jardins-de-infância paranaenses no formato de um programa, sob o título de
Programa de Experiências para Jardins de Infância, datado de 1950. Considerando-o uma fonte
importante para conhecer e compreender melhor a história da Educação Infantil paranaense e
brasileira, algumas questões se apresentam: por que um “programa de experiências”? De onde vem
esta ideia de experiência? Qual a base teórica que sustenta tal proposição curricular? Por que teria sido
proposta pelo governo paranaense, principalmente na figura do secretário Erasmo Pilotto? A descoberta
da natureza pragmatista deweyana deste currículo através do norte-americano, leitor e seguidor de
Dewey, Robert Hill Lane, cujo texto foi apropriado pelo secretário paranaense para compor a primeira
parte do programa, permite trazer para a cena uma gama de personagens reveladores das circulações
de ideias (a partir da “noção de circularidade” de Ginzburg 2006) e das apropriações e representações
diversas (nos termos de Chartier 1990, 1991) que se entrelaçam de diferentes modos para constituir um
currículo, entendido (a partir de Goodson 1990, 1991, 1995) como construção social, produção datada e
resultante tensões, negociações e múltiplas visões que se perfazem no seio dos grupos ligados à
educação em seus diversos níveis de atuação e influência. A identificação e análise do discurso
deweyano posto no programa para jardins-de-infância e negado para o programa para o curso primário,
decretado concomitantemente ao primeiro, traduz uma determinada visão de como deve ser a
educação da criança pequena, especialmente entre 4 e 6 anos, no Paraná de 1950. Contudo esta
produção paranaense faz uma interface com o Estado Brasileiro como um todo, uma vez que alguns
estudos do campo da historiografia educacional (Mendonça et al, 2006) argumentam que o
desenvolvimentismo dos anos de 1950 e 1960 “constituiu-se em um solo fértil para a retomada e a
expansão do ideário da Escola Nova, e particularmente do pragmatismo deweyano entre os educadores
brasileiros” (p.98). A trama se emaranha a partir dos estudos de Vieira (2001, 2004, 2007) que
revelaram o esforço do intelectual Erasmo Pilotto em demonstrar os limites do positivismo e da

564
concepção pragmatista de homem e de cultura. Então por que um currículo de base deweyana para os
jardins-de-infância em 1950? Este trabalho visa, desse modo, contribuir com a discussão do currículo
voltado para a criança pequena ao ampliar o debate acerca das escolhas teóricas, políticas e dos
meandros produtores de sua tessitura.

565
566
EIXO 7 - O ENSINO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

935
A PROVÍNCIA PARANAENSE E O ENSINO DA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

FÁTIMA MARIA NEVES.


UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ, MARINGA - PR - BRASIL.

O objeto de estudo desta comunicação é a história da instrução na Província do Paraná. A pesquisa em


história da educação vem, desde 1990, se renovando e se desenvolvendo não só quantitativa como
também qualitativamente, conferindo status diferenciado entre os pesquisadores da área educacional.
Os tradicionais temas estão sendo retomados, adquirindo consistência investigativa diferenciada,
enquanto outros e novos temas ganharam visibilidade nas pesquisas, como a história das instituições
escolares; história da educação e gênero; intelectuais e métodos pedagógicos; escola e cultural escolar;
arquitetura, mobiliário, saberes e práticas escolares; história da educação infantil brasileira; história das
disciplinas escolares e acadêmicas. Na pesquisa em andamento, identificamos que, especificamente, no
Paraná, a sua história da educação vem ganhando corpo, resultante de investigações, relativamente,
consistente. Estabelecemos, portanto, para esta comunicação, o objetivo de tecer considerações sobre a
história da educação e da instrução pública e elementar na Província do Paraná, a fim de contribuir com
o ensino desta temática, nas disciplinas de história da educação, nos Cursos de Pedagogia. Os marcos
temporais são 1853 a 1889. As fontes utilizadas são os Relatórios de Presidente de Província, Instrução
Pública e Governadores, Legislação Imperial e Provincial, Jornais, Dicionários, obras diversas sobre
História e História da Educação e fontes manuscritas como ofícios de professores ao Presidente da
Província. A instrumentalização teórica e metodológica da pesquisa se fez por meio de procedimentos
técnicos de investigação que se amparam na Análise Documental, na investigação historiográfica e na
pertinência de matrizes teóricas desenvolvidas em estudos sobre a história da província paranaense e
suas relações com o fenômeno educacional. Os principais resultados, obtidos até o momento, destacam
as considerações sobre os conteúdos programáticos, em relevância, aqueles relacionados aos
conhecimentos de agricultura. Destacam também os mecanismos de avaliação e dos exames, a
premiação e os castigos. Bem como a questão metodológica (individual, simultâneo e mútuo). As
desavenças entre inspetores nacionais e professores portugueses e, fundamentalmente, a concepção
mais divulgada, no período, acerca da educação, da instrução e da escola são outros resultados
mensurados. Como elemento conclusivo, enfatizamos as possibilidades encontradas sobre o
entendimento que se tinha de infância ou de criança comparados a pequenos arbustos que poderiam
ser dobrados e dirigidos a vontade.

1091
ANSELMO DE BEC E A EDUCAÇÃO MEDIEVAL: A CARIDADE ENQUANTO VIRTUDE NECESSÁRIA À
FORMAÇÃO DO MESTRE E DO ALUNO

ELIZABETE CUSTÓDIO DA SILVA RIBEIRO.


UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ, MARINGA - PR - BRASIL.

Este trabalho é parte de nossa pesquisa, em nível de mestrado, concluída em 2009, que teve por título
'O divino e o humano em Anselmo de Bec: novos caminhos para a educação no século XI'. Tendo como
caminho a própria História, nossa comunicação pretende analisar as considerações de Anselmo de Bec a
respeito da caridade, enquanto virtude necessária a todo aquele que ensina. Teólogo e filósofo italiano
do século XI, Anselmo optou por se dedicar inteiramente à vida religiosa e participou, ativamente, de
um momento de grande efervescência social. Por meio dos relatos do discípulo Eadmero, na biografia
Vida de San Anselm por su discípulo Eadmero, bem como em suas correspondências, as Cartas de San
Anselm, entendemos que a proposta educacional anselmiana tem como base a caridade, uma virtude
fundamental no processo de formação dos homens, pois, somente de posse dela, o mestre poderia
estar apto a se comprometer com a formação de seus discípulos, a acreditar na capacidade do ser

567
humano mesmo diante de grandes adversidades. É importante ressaltar que não encontramos, nos
relatos, nas obras ou nas Cartas, um conceito definido e explícito de caridade, porém suas exortações e
comportamento expressam que ela é um complemento do amor, uma ação desencadeada por ele. Em
Anselmo, a caridade ultrapassa o simples ato de dar esmolas, implica benevolência com todos,
compreensão com as imperfeições alheias, perdão. Enfim, é uma responsabilidade que se assume com o
outro, sem nada desejar em troca, é viver com e para o outro. Eadmero, ao vivenciar o cotidiano de
Anselmo e descrever detalhes da vida deste - que foi reconhecido como um dos mais importantes
pensadores da Idade Média Central - contribuiu para que seus escritos fossem preservados e
tivéssemos, hoje, em Anselmo, uma importante fonte de estudos sobre a história da educação
medieval. Além disso, Eadmero nos permitiu conhecer a forma como o mestre Anselmo se posicionou
diante das adversidades que todo educador enfrenta, independente do tempo histórico em que se vive.
Ao ensinar de forma simples (por analogias) e tendo por base a moderação e o profundo conhecimento
do que se deseja ensinar, Anselmo chamou a atenção de seus pares e nos deixou a lição de que
conteúdos são de suma importância, mas, sozinhos, não formam o homem, por completo. É preciso,
primeiramente, dar aos homens humanidade, desenvolver suas sensibilidades, para que estes possam
enxergar para além de si mesmos, pois, segundo o mestre, é só nesta condição que o homem estará
apto a ensinar e a aprender.

1043
CONSIDERAÇÕES SOBRE A REPRESENTAÇÃO DO INDÍGENA E O ENSINO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

FRANCIELE BENTO; FÁTIMA MARIA NEVES.


UEM, MARINGÁ - PR - BRASIL.

O ensino, a pesquisa e a prática docente no campo da História da Educação Brasileira constituem o lócus
de produção desta comunicação. Inseridas neste campo, destacam-se as renovações temáticas,
provenientes de diferentes construtos teóricos amparadas nas teorias pós-modernas, resultando em
mudanças significativas para a operação historiográfica. Identifica-se que as transformações atingiram
direta ou indiretamente tanto o perfil do historiador da educação, bem como procedimentos de
pesquisa, dentre estes o conceito ou a concepção de Fonte e, por conseguinte, sua operacionalização. O
novo perfil incidiu, também, no profissional do ensino da história da educação, como campo disciplinar,
específico do Curso de Pedagogia. Objetivamos, nesta comunicação, tecer considerações sobre como os
“naturais da terra”, os “índios” foram apresentados nas Cartas Jesuíticas e como, atualmente, são
apresentados em diversos suportes culturais, como as Histórias em Quadrinhos (HQ), e absorvidos pelos
agentes escolares. As Fontes que amparam este trabalho são A Carta de Anchieta, redigida em 1585, e
as (HQ) do Papa-Capim, personagem indígena criado por Maurício de Sousa. Dentre os resultados,
destacam-se as considerações sobre a “didatização” da representação estereotipada do indígena
configurada na personagem Papa-Capim. Representação esta direcionada para a infância e inserida no
contexto educacional, ainda no Curso de Pedagogia. A didatização de objetos culturais faz parte das
práticas escolares, no entanto, algumas representações de fatos, períodos e sujeitos históricos precisam
ser problematizadas quando adentram o cenário educacional. Partindo desse ideário, a seguinte
problemática ficou evidente: Será que os profissionais da educação têm consciência das relações
descontextualizadas que alguns objetos culturais, midiáticos, como a personagem Papa-Capim,
carregam implicitamente? Dessa forma, trabalhos historiográficos sobre a temática se configuram como
referências medotológicas para o nosso estudo. O referencial teórico que subsidia este trabalho destaca
teóricos que ampliaram as possibilidades de estudos envolvendo as categorias históricas de História, de
representação do indígena veiculado pela mídia, de Memória, de Cultura Escolar e de Educação do
Olhar. Dentre as considerações finais observamos que o conceito de memória, elemento social
construído com base na vivência e no acúmulo de experiências, pode ser manipulado e criado com
intenções implícitas e explícitas. Finalizamos, com o entendimento de que a escola é uma instituição que
desempenha um relevante papel na construção de uma memória histórica e social para seus agentes e
ainda se apresenta, na contemporaneidade, como um dos locais mais significativos na vida de uma
criança. Portanto, nossa função como educadores é desconstruir a reprodução acrítica do modelo de
concepção de HISTÓRIA divulgada em veículos e produtos culturais produzidos pela mídia.

568
356
ENSINO E APRENDIZAGEM EM HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO: RELATO DE EXPERIÊNCIA COM ESTUDANTES
DE PEDAGOGIA

CLAUDEMIR DE DE QUADROS.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA, SANTA MARIA - RS - BRASIL.

Neste texto, apresenta-se o relato de experiência de ensino e aprendizagem em história da educação,


desenvolvida com estudantes do curso de Pedagogia do Centro Universitário Franciscano - Unifra, em
Santa Maria/RS, entre os anos de 2007 e 2009. No âmbito dessa experiência, destacaram-se
preocupações com processos de ensino e aprendizagem, promoção da curiosidade e estímulo à
capacidade criadora, educação digital e profissão docente. Essas preocupações se desenvolveram a
partir de vivências em relação ao ensinar e ao aprender em cursos de formação de professores e,
inicialmente, tomaram forma de perguntas simples, dentre as quais podem ser destacadas as seguintes:
como posso melhorar ou tornar as aulas mais interessantes, mais vivas, mais dinâmicas? Como usar
textos de modo mais produtivo? Como mobilizar intelectualmente estudantes para o aprendizado
relacionado à história da educação? De que modos a educação digital ou o uso de tecnologias da
informação e da comunicação podem contribuir nesse processo? Como produzir possibilidades de
ensinar e aprender acerca da história da educação em cursos de formação de professores? Como
integrar pesquisa com ensino e aprendizagem e fazer disso uma dimensão importante da formação de
professores? Ao longo do tempo, essas questões pautaram o planejamento de ensino, bem como
suscitaram outras perguntas, outras dúvidas, outras reflexões. No decorrer da experiência, a
organização do trabalho procurou privilegiar duas dimensões concomitantes relacionadas ao ensino e
aprendizagem em história da educação. Por um lado, a preocupação com a apresentação, exposição e
estudo de temáticas gerais acerca da história da educação no Brasil, o que era feito com o objetivo de
iniciação e contextualização. Por outro, a preocupação com o desenvolvimento de atitudes de reflexão e
de busca de informações acerca do passado educativo, para o que concorriam a produção de narrativas
de memórias, iniciação à pesquisa, desenvolvimento de habilidades de acesso a meios digitais, algum
conhecimento de temáticas específicas e desenvolvimento da criatividade, da motivação e de
habilidades de expressão oral e escrita. Os resultados foram animadores: embora em graus variados, os
estudantes demonstraram mais mobilização, revelaram-se curiosos e capazes de criar, incitou-se à
pesquisa, produziram-se experiências relacionadas com educação digital e promoveram-se reflexões
acerca da profissão docente. Em síntese, foi uma experiência formativa importante e marcante no
âmbito do curso de Pedagogia do Centro Universitário Franciscano.

797
INTELECTUAIS, INSTITUIÇÕES E CIRCULAÇÃO INTERNACIONAL DE IDÉIAS NO PROCESSO DE
CONSTITUIÇÃO DA DISCIPLINA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NO BRASIL (1840 - 2000)

DÉCIO GATTI JR..


UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA, UBERLANDIA - MG - BRASIL.

A presente comunicação está inserida no âmbito da história disciplinar da História da Educação. Resulta
tanto de investigação concluída recentemente sobre o dinâmico e complexo processo de constituição da
disciplina História da Educação no Brasil, mas também, de investigação em curso sobre o rico processo
de construção de saberes afetos à disciplina por intelectuais estrangeiros e brasileiros que dialogam em
suas obras, em especial nos manuais de ensino utilizados na formação de professores. Tematicamente,
parte-se da constatação de que a dinâmica sócio-histórica de constituição da disciplina, seja em sua
dimensão historiográfica ou em sua dimensão formativa, incluiu a ação e o intercâmbio de idéias em
termos internacionais de intelectuais afetos a área educacional, particularmente no âmbito da História
da Educação, com análise, em seguida, da forma específica como foram apropriadas e utilizadas essas
idéias por intelectuais de outros países, em especial, brasileiros. Intelectuais estes que, de modo geral,
ocuparam posições institucionais importantes em escolas normais e universidades que exerceram
centralidade na formação do campo pedagógico e na produção de uma memória e de uma historiografia

569
sobre a educação em termos mundiais e que tiveram suas idéias, concepções e visões de mundo e de
educação disseminadas por meio da circulação de livros e de artigos em seu idioma nativo e, sobretudo,
por meio de traduções dessas obras para diversos outros idiomas, bem como nas palestras e seminários
realizados em seus próprios países de origem e no exterior. Evidência desse processo pode ser
constatada no volume de obras estrangeiras e de traduções no âmbito da História da Educação que
circularam no Brasil com maior intensidade no período compreendido entre 1840 e 1960 e, com menor
intensidade, a partir de 1990, bem como na significativa freqüência com a qual essas obras foram
utilizadas no ensino da disciplina nos cursos afetos a formação de professores. Desse modo, constitui
objetivo dessa comunicação expor a forma como circulavam as idéias e se estabeleciam os diálogos
entre intelectuais estrangeiros e brasileiros no processo dinâmico de configuração e de reconfiguração
da disciplina História da Educação no Brasil ao longo do período compreendido entre as décadas de
1840 e 2000, por meio de análise que privilegiou como fonte os manuais veiculados e os programas de
ensino colocados em ação, bem como o exame biográfico dos intelectuais envolvidos (Apoio:
CNPq/FAPEMIG).

608
LIVROS DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DA COLEÇÃO ATUALIDADES PEDAGÓGICAS (1933-1977): UM
ESPAÇO DE MEMÓRIA DA FORMAÇÃO DOCENTE

ROBERLAYNE DE OLIVEIRA BORGES ROBALLO.


UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ, CURITIBA - PR - BRASIL.

Este trabalho é resultado da investigação historiográfica em andamento, sobre os livros de História da


Educação que serviram de suporte para a maioria dos cursos de formação de professores, a partir de
1930, no Brasil. As obras em questão pertencem à "Coleção Atualidades Pedagógicas", editadas entre
1933 e 1977, pela Companhia Editora Nacional, no âmbito do projeto editorial denominado "Biblioteca
Pedagógica Brasileira". Estes livros escolares, inscritos em uma longa tradição, inseparáveis tanto na sua
elaboração como na sua utilização das estruturas, dos métodos e das condições de uso de seu tempo e,
que passam a ser utilizados no cenário educacional brasileiro, são a essência deste trabalho que
buscamos desenvolver. Passamos a refletir sobre a estreita relação existente, entre currículos e
programas de ensino e os livros usados para subsidiar os processos de formação de professores, a partir
dos anos de 1920 e 1930. Respectivamente, nestes períodos, as reformulações empreendidas nos
currículos dos cursos de formação de professores, provocaram mudanças significativas no campo
editorial. As editoras comerciais passaram a investir em frentes de produção de livros escolares voltados
para "o currículo específico de formação profissional do professorado". Por sua vez, os livros passaram a
auxiliar nos processos de formação, revelando o anseio por renovação educacional, aliado aos ideais de
aprimoramento profissional. Nesta perspectiva, tendo como objetivo para este trabalho, conferir aos
livros de História da Educação o estatuto de espaço de memória da formação docente, utilizamos como
perspectiva metodológica, a análise das obras a partir de três funções: em primeiro lugar, considerando
estes livros “suportes curriculares”, que vinculam conhecimentos que as instituições educativas
pretendiam transmitir; em segundo, os compreendendo como “espelhos da sociedade”, representando
os valores, atitudes, ideologias que caracterizam mentalidades dominantes, em uma determinada
época; e em terceiro lugar, os entendendo como expressão das estratégias didáticas, que implicam nas
práticas utilizadas pelos professores do passado. Por meio desta pesquisa, concluímos que, feita nestes
livros, a História da Educação representa o testemunho sobre um modo de se pensar a educação, cuja
finalidade surge associada à Escola Normal. E, que as obras em questão, por meio de seu processo de
produção e circulação, refletem a sociedade, a cultura e a pedagogia que regula a memória das práticas
de formação docente. Por fim, os livros de História da Educação, compõem uma diversidade material
que marca um novo olhar para a história da escola, da educação.

570
610
NARRATIVAS DA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA: NOTAS PARA PENSAR A EXPERIÊNCIA DE
PRIMITIVO MOACYR (1867-1942)
1 2 3
JOSÉ GONÇALVES GONDRA ; GUARACI FERNANDES MARQUES MELO ; MARCIO MELO PESSOA.
1.UERJ/CNPQ/FAPERJ, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL; 2.UERJ/FAPERJ, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL;
3.UERJ/CNPQ, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL.

Em 1938 a Companhia Editora Nacional lançou o volume 121 da Biblioteca Pedagógica Brasileira.
Tratava-se do 3º tomo da série A instrução e o Império – subsídios para a História da Educação no Brasil
(1854-1889), de Primitivo Moacyr. Esse e um conjunto de outros cinco livros que integram a Biblioteca
Pedagógica Brasileira e os sete volumes publicados pelo INEP compõem a escrita monumental de
Moacyr. No entanto, ao lado dessas intervenções públicas, Moacyr pronunciou-se em outros espaços de
saber, como alguns congressos organizados pelo IHGB e na grande imprensa. Nesse trabalho,
procuramos observar a presença desse autor em espaços ainda pouco explorados nos estudos de
história da educação. Para tanto, privilegiamos o exame de três jornais: O Imparcial, o Jornal do
Comércio, impressos na capital e o Diário Oficial da União. No primeiro, a visibilidade proporcionada dá
a ver suas articulações no campo jurídico, por meio da propaganda regular do escritório de advocacia
mantido com Carlos Peixoto Filho e Josino de Araújo. No segundo, é possível observá-lo como narrador
da história da educação desde 1916, por meio do texto O ensino público no Congresso Nacional, breve
notícia. Já no último, parte das rotinas que marcaram a vida de Primitivo Moacyr se faz perceptível. O
exame preliminar dessa documentação permitiu pensar que compreender o processo de construção de
uma voz autorizada para narrar a história da educação não se esgota com o exame do que se publica nas
Bibliotecas. A locução legitimada deve considerar, no mínimo, o quadrilátero que a articula e que
permite sua pronunciação, isto é, um conjunto de ações desenvolvidas por Moacyr no aparelho
legislativo, no âmbito do movimento da escola nova, no IHGB e na imprensa. De nosso ponto de vista
são essas ações, simultâneas e sucessivas, que possibilitaram a emergência do homem probo e de rara
agudeza e tenacidade, como é descrito pelo conterrâneo Anísio Teixeira, no prefácio do 3º tomo a que
nos referimos. Ao ampliar a cadeia discursiva de que Moacyr faz parte constituímos um campo de
presença mais alargado para ter outras condições de interrogar a forma de história e o regime de
existência que ela ajuda a fabricar. Com esse investimento, introduzimos na operação do saber relativo
à história da educação o desafio de torná-la pensável, constituindo o traço da escrita como parte
irrevogável desse saber, posto que se trata de dispositivo sem o qual teria dificuldades de se instaurar e
legitimar. Nesse caso, ao examinar experiências de escrita da história da educação desenvolvidas por
Moacyr na imprensa, identificamos outros espaços de inserção e de legitimação da história que, de
acordo com nossa hipótese, indicia pertencimentos prévios do autor e um processo de fabricação da
palavra autorizada e multiplicada pelo que é difundido nas duas Bibliotecas referidas e pelo uso
continuado de que dela vem fazendo a comunidade de historiadores da educação brasileira.

365
O ENSINO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NO CURSO DE PEDAGOGIA DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE
LONDRINA

MARTA REGINA GIMENEZ FAVARO.


UEL UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA, LONDRINA - PR - BRASIL.

Assumimos como foco de atenção nesse trabalho, a reflexão sobre o ensino de história da educação,
tomando como referência inicial o Curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Londrina. A História
da Educação nasce como disciplina nos cursos de formação de professores, passando por diferentes
momentos no que diz respeito ao entendimento da sua tarefa. A produção sobre a história da educação
é historicamente bastante recente, sua apropriação pelos cursos de formação de professores,
principalmente a escola normal e posteriormente o curso de pedagogia, no caso brasileiro, cria um
espaço de reflexão e pesquisa, tanto sobre os conteúdos específicos quanto sobre o ensino desses
conteúdos. A disciplina história da educação, tradicionalmente, ocupa um espaço nos currículos dos

571
cursos de pedagogia desde sua criação no Brasil. Compreender como essa disciplina se configura e
articula com a proposta de formação dos pedagogos, no caso particular do Curso de Pedagogia da UEL, e
como sua proposta se materializa na relação ensino aprendizagem é o objetivo desse trabalho. Assim
sendo, nossa pergunta orientadora será: “Como se caracteriza o ensino de história da educação no
Curso de Pedagogia da UEL?” Nossos objetivos são: Compreender o ensino de história da educação;
Analisar os conteúdos, objetivos, procedimentos e materiais didáticos próprios da disciplina História da
Educação. Avaliar a composição de conteúdos e metodologia/procedimentos pensados para a disciplina
história da educação no curso de pedagogia / UEL; Compreender a partir das representações dos alunos
o significado e importância atribuídos aos conteúdos de História da Educação na formação do Pedagogo;
Selecionar e categorizar as fontes utilizadas na pesquisa como parte do acervo do Laboratório de Ensino
e Pesquisa em História da Educação - LEPHE. Sintetizando, propomos nesse trabalho a criação de um
espaço de reflexão e sistematização sobre o papel da história da educação na formação do pedagogo.
Estão presentes nessa ação vários esforços: o de compreender mais elaboradamente o sentido
assumido pelos conteúdos de história da educação na formação do pedagogo; Qual a medida de
apreensão e significação desses conteúdos pelos alunos, considerando a representação construída por
eles sobre as exigências na formação do pedagogo? Qual a compreensão da importância do estudo da
história da educação para a sua formação? Nosso trabalho será mediado pela orientação da pesquisa
participante, “alternativa epistemológica na qual pesquisadores e pesquisados seriam sujeitos ativos na
produção do conhecimento” (VEIGA apud NORONHA, 2006, p. 135). Nossas fontes serão os
protagonistas (professores e alunos) e os documentos (registros institucionais, programas de disciplinas,
documentos oficiais, relatórios de pesquisa). Faremos uso de alguns procedimentos e instrumentos tais
como, análise documental, questionários, depoimentos, diário de campo.

1072
O ENSINO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NOS CURSOS DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DA
UNIMONTES: O INÍCIO DE UM DEBATE NECESSÁRIO
1 2
ROSÂNGELA SILVEIRA RODRIGUES ; ISLEI GONÇALVES RABELO ; MARIA NAILDE MARTINS RAMALHO
3 4 5
NAILDE RAMALHO ; BRUNA LUÍZA NUNES GARCÍA ; FARLEY RODRIGUES DOS SANTOS JUNIOR .
1,2,4.UNIMONTES, MONTES CLAROS - MG - BRASIL; 3.UFVJL, DIAMANTINA - MG - BRASIL; 5.UNIUBE,
MONTES CLAROS - MG - BRASIL.

Esta comunicação tem como apresenta reflexões acerca de resultados parciais de uma pesquisa a
respeito da disciplina História da Educação. Disciplina esta, aqui compreendida que ao ser ministrada
nos cursos de formação de professores, dependendo do enfoque que lhe é atribuída, poderá fomentar
entre os sujeitos do processo educativos discussões acerca de elementos históricos, que ao serem
problematizados, tornam-se elementos indispensáveis ao processo de formação do professor
emancipado. Diante deste argumento, essa pesquisa tem como objetivo investigar a presença da
disciplina História da Educação nos cursos de formação de professores oferecidos pela Unimontes-
Universidade Estadual de Montes Claros, e problematizar os prejuízos que a ausência da mesma nesses
cursos poderá desencadear na formação do acadêmico que se torna professor na região norte de Minas
Gerais (vale do Jequitinhonha, São Francisco e Mucuri) e Sul da Bahia. Nesse sentido, por meio da
presente investigação levanta-se dados que consistem em resultado parcial da pesquisa: a formação
docente na tradição da Unimontes (décadas de 60, 80 e 90): contraposições epistemológicas do
conteúdo da disciplina História da Educação mediante a historicidade formativa e a historicidade crítica.
A metodologia adotada fundamenta-se nos princípios da investigação histórica, e é materializada por
meio de uma pesquisa bibliográfica com base em literatura que consiste em resultados de pesquisas
realizadas por pesquisadores como: Novoa, Neto, Gatti, Lombardi, Sanfelice, Saviani, Carvalho, Faria
Filho, dentre outros. Materializa-se também por meio de pesquisa empírico documental que tem como
fontes primárias os quadros curriculares dos projetos dos cursos de licenciatura propostos pela
Unimontes nas décadas de 60, 80 e 90. O recorte temporal foi definido por consistir-se no período em
que foram criados os cursos de licenciatura na Unimontes, bem como por ser o período em que o Ensino
Superior é expandido no país com a instituição da política nacional de educação através da LDBEN, Lei
nº. 4024/61. Considerou-se também o período de abertura política em cujo contexto se instituiu a atual
política educacional através da LDBEN 9394/96, momento que define também a nova política para o

572
Ensino Superior e conseqüentemente a nova organização para os cursos de licenciatura. Sendo assim,
apresentam-se dados quantitativos, e diante dos mesmos, realiza-se uma reflexão acerca da
importância da presença da disciplina em questão no processo de emancipação dos professores em
formação.

586
O MANUAL “PEQUENA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO” (1936) DAS MADRES PEETERS E COOMAN NO
ENSINO DA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO BRASILEIRO

GERALDO GONÇALVES DE LIMA.


IFTM - INSTITUTO FEDERAL DO TRIÂNGULO MINEIRO, PARACATU - MG - BRASIL.

Com a formação dos Sistemas Nacionais de Ensino no mundo europeu no século XIX, há a necessidade
de reformulação da formação de professores, demonstrada através da gênese das Escolas Normais.
Paralelamente, torna-se evidente também a formulação de obras pedagógicas com o intuito de oferecer
suporte para as atividades desenvolvidas no âmbito do processo ensino / aprendizagem dos
normalistas. No Brasil, esse processo de sistematização da formação de professores se acentua
sobretudo no decorrer da República Velha, quando há um movimento de assimilação dos ideais
científicos difundidos pelo Positivismo, buscando conciliá-los com os princípios propagados pelo
liberalismo. O escolanovismo se mobiliza como tentativa de renovar as consideradas arcaicas estruturas
do ensino brasileiro, acentuando uma modernização do ensino normal. Como reação a essas tendências
do chamado escolanovismo, percebe-se uma reação de intelectuais da ala católica, desejosos da
manutenção do modelo de ensino oferecido em instituições escolares da Igreja Católica. A presente
comunicação se refere especificamente à reflexão acerca de um manual escolar formulado pelas
Madres Peeters e Cooman (“Pequena História da Educação”), resultado de uma investigação de
doutorado em andamento acerca da História do Ensino de História da Educação na Escola Normal Nossa
Senhora do Patrocínio, situada em Patrocínio – Minas Gerais. Tem por intuito caracterizar a autoria do
manual como representante do esforço católico em reagir ao movimento escolanovista; descrever a
obra citada como parte de um projeto maior, manifestado na Coleção “Biblioteca da Educação” como
produção editorial da Melhoramentos; analisar as matrizes epistemológicas dispostas na estruturação
lógica da obra em questão. A abordagem dos manuais escolares como fonte para o entendimento do
processo de formação de professores normalistas se demonstra pertinente no sentido de
compreendermos a trajetória da disciplina História da Educação como parte do currículo implementado
através de legislação específica de reformas do Ensino Normal em muitos estados brasileiros. Autores
como BASTOS (2006), GATTI JR. (2009), OSSENBACH e RODRÍGUEZ (2001), GUEREÑA, OSSENBACH,
POZO (2005), CHOPPIN (2002) são citados como intelectuais engajados na exposição de estudos acerca
do uso de manuais escolares na formação de professores, demonstrando a importância de tais
elementos na compreensão da trajetória histórica das Escolas Normais enquanto instituições
fundamentais para a educação brasileira.

1400
OS LIVROS DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NORTE-AMERICANOS ADOTADOS NO BRASIL NOS SÉCULOS
XIX E XX: ORIGEM E ABORDAGENS

KARL MICHAEL LORENZ.


SACRED HEART UNIVERSITY, CONNECTICUT - ESTADOS UNIDOS.

A pesquisa sobre o a trajetória do ensino da História da Educação no Brasil demonstra que sua
institucionalização como disciplina escolar foi marcada por idéias oriundas de diversos países, entre eles
a França e os Estados Unidos. Esta transmigração de idéias foi possível, principalmente, via livros
didáticos publicados naqueles países. Este trabalho tem por objetivo analisar as vertentes de
pensamento sobre a história da educação, veiculadas nos livros de “Historia Geral da Educação” de
autores norte americanos que circularam no Brasil na segunda metade do século XIX e no início do

573
século XX. Teórica e metodologicamente, o estudo tem como matriz a Historia Cultural e se inscreve na
linha de investigação que explora a transmigração idéias, de práticas e de políticas educacionais entre os
países. A comunicação começa com uma discussão sobre o desenvolvimento da História de Educação,
como disciplina escolar nas instituições pós-secundárias nos Estados Unidos a partir de 1838 e a
produção de livros-texto norte-americanos a partir de 1842. A seguir, são discutidos os textos norte-
americanos de “Historia Geral de Educação” que circularam no Brasil nos séculos XIX e XX, como as de
Hailman (1874), Painter (1886), Payne (1893), Davidson (1900), Monroe (1905) além de outros.
Fundamentando nossa discussão nas analises feitas por Monroe (1912), Brickman (1979) e Chambliss
(1979, 1994) a respeito do desenvolvimento de livros de historia da educação, constata-se que existiam
duas abordagens principais nestas obras. A primeira apresenta a historia da educação por meio das
idéias de eminentes pensadores do passado com respeito à importância e à metodologia do ensino da
área, citando suas próprias idéias como matéria prima do texto. A segunda perspectiva se fundamenta
na proposição que os pensamentos do passado revelam o papel da Providencia Divina nas atividades
humanas, garantindo assim o progresso do Homem no caminho para chegar a um estado maior de
perfeicão. Ambas as abordagens tiveram origem em idéias que circulavam na Alemanha e em menor
escala na França, no período. O estudo sugere que através dos livros-textos norte-americanos, que
circularam no Brasil, no período estudado, as duas orientações prevalecentes, nos Estados Unidos, a
respeito do ensino da historia da educação, foram introduzidas na educação brasileira por meio desses
materiais didáticos.

574
EIXO 8 - FONTES E MÉTODOS EM HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

640
A BIBLIOTECA DA FACULDADE DE DIREITO ENQUANTO FONTE PARA A PESQUISA DO ENSINO JURÍDICO
EM SERGIPE: PERCURSO INVESTIGATIVO (1951-1970)

MARCIA TEREZINHA JERÔNIMO OLIVEIRA.


UFS, ARACAJU - SE - BRASIL.

Enquanto objeto de estudo ou elemento para a escritura historiográfica, as fontes têm assumido
importância capital nas investigações realizadas no campo da História da Educação, a partir das
contribuições teóricas e metodológicas advindas da Nova História Cultural, que possibilitaram uma
ampliação na utilização de fontes, métodos e objetos de estudo, onde temas como a cultura e o
cotidiano escolares, a organização e o funcionamento interno das escolas, a construção do
conhecimento escolar, o currículo, as disciplinas, os impressos e a imprensa pedagógica, os agentes
educacionais, dentre outros, passaram a ser crescentemente estudados e apreciados, integrando as
pesquisas desse campo educacional. Trata o presente trabalho da constituição e do funcionamento da
Biblioteca da Faculdade de Direito de Sergipe, no período considerado entre 1951 e 1970, espaço de
tempo compreendido entre a decisão de sua criação e de sua incorporação à Biblioteca Central da
Fundação Universidade Federal de Sergipe (BICEN). Organizada pelo intelectual, jurista e professor de
Direito Civil, Gonçalo Rollemberg Leite, a Biblioteca da Faculdade de Direito chegou a possuir mais de
7.000 volumes em seu acervo e uma frequência anual que chegou até 2.500 leitores, constituindo-se em
um dos elementos do processo formativo dos bacharéis em Direito de Sergipe, assim como, de
expressão do pensamento jurídico esposado pela Faculdade de Direito. De um lado, o objetivo do
trabalho é trazer à luz a caracterização dessa biblioteca enquanto fonte para o estudo da história do
ensino jurídico e de outro, de forma incidental, abordar a utilização de fontes impressas de natureza
bibliográfica, fontes iconográficas e fontes orais na escrita historiográfica educacional. Nesse sentido os
conceitos basilares que compõe o trabalho são tratados a partir da contribuição de Darton (2010),
Chartier (2009), Alberti (2005), Luca (2005) e Cunha (2009). Para a realização da pesquisa foi utilizado o
método histórico descritivo e fontes impressas de natureza bibliográfica, documental e legislativa, assim
como, fontes iconográficas e fontes orais, por intermédio de relatos de servidores e ex-alunos. Os
resultados traçam um primeiro perfil das práticas de leitura empreendidas por acadêmicos do Curso de
Direito, assim como, apresentam algumas marcas de leitura e do tempo nos livros que compunham o
acervo da Biblioteca da Faculdade de Direito de Sergipe e da forma como o acervo e o espaço físico
eram utilizados enquanto lócus de afirmação da cultura escrita, trazendo, assim, significativos
elementos para a compreensão da história do ensino jurídico em Sergipe.

521
A CONSTRUÇÃO DO CAMPO EDUCAIONAL LOCAL: UMA EXPERIÊNCIA DE PESQUISA

FÁBIO GARCEZ DE CARVALHO.


UFRJ, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL.

A presente comunicação integra a pesquisa realizada em curso com vistas ao doutoramento. O projeto
Educação em Icapuí: um estudo em micro-análise do grupo social docente (1960 / 2010) versa sobre o
lento processo de institucionalização da educação no pequeno município nordestino de Icapuí, cuja
emancipação ocorreu em meados dos anos 1980, tendo como questão-chave a seguinte pergunta:
Como se constituiu o grupo social docente em uma região rural periférica? Aparentemente uma questão
simples, mas que é o fio condutor de nossa investigação, uma vez que os dados até então coletados
indicam que foram os professores leigos que assumiram posição estratégica na construção do campo
educacional local. Mais de 80 % dos professores do recém-emancipado município de Icapuí eram leigos
na virada dos anos 1980 para os anos 1990. Vale considerar também que o processo político e social
desencadeado após a emancipação resultou na implantação de um projeto de universalização do ensino

575
no município. A viabilização de tal projeto contou com a ativa participação dos professores leigos. Dada
a sua centralidade no processo de lenta escolarização local, vale perscrutar as origens desses
professores, a sua inserção comunitária, e a sua posição no jogo de poder político local que envolve
distintas instituições, tais como a Igreja Católica, em sua expressão local e as estruturas de poder
estatal, em sua mediação municipal. Para uma definição da relação entre indivíduo e sociedade,
poderíamos utilizar a metáfora de rede, para analisarmos a inserção dos professores leigos em
diferentes contextos que ao se entrelaçarem geram tensões e solidariedades. Metáfora que nos remete
à micro-história italiana, cujos aportes-teórico metodológicos tem orientado a investigação em curso.
Conforme referido anteriormente, os dados coletados foram frutos de uma investigação que inclui os
testemunhos orais e os impressos elaborados pela prefeitura local. Vale considerar que o recurso à
História Oral aqui referido, trata de seu uso como técnica de pesquisa. Assim sendo, entendemos ser
possível a apresentação de um itinerário de pesquisa que propõe uma reflexão sobre as seguintes
questões: 1) o uso dos documentos orais, suas potencialidades e seus limites, a partir de uma
experiência de pesquisa em curso; 2) um relato sobre as fontes escritas, seu problemas e singularidades
em municípios rurais de pequeno porte. Reflexões que se encontram, por seu turno articuladas, com a
questão-chave: Como se constituiu o grupo social docente em uma região rural periférica?

1088
A DIFUSÃO DO METODO INTUITIVO NO CAMPO EDUCACINAL SERGIPANO. 1909-1923

CRISTINA ALMEIDA BARROSO.


UFS, ARACAJU - SE - BRASIL.

As lições de coisas ou método intuitivo eram apontados por diversos personagens da história da
educação como a grande novidade pedagógica da segunda metade do século XIX. Caracterizado pelo
uso da observação e da intuição, seus defensores divulgavam com acuidade a funcionalidade desse
método. Assim, o objetivo desse artigo é compreender a difusão do método intuitivo no campo
educacional sergipanos nas primeiras décadas republicanas. Esse método consistia na aplicação de
dispositivos que despertassem no aluno o interesse, a atenção, a observação para estimular
determinado entendimento sobre o objeto ou fato explanado. Nessa direção, ao pensar sobre a escola
como uma instituição que está vinculada ao processo de difusão de sistemas de pensamento de uma
determinada classe social. Ao serem adotados como consensuais, esses esquemas interpretativos
gerariam a constituição de determinados habitus mentais. A criação de dispositivos didáticos para a
transmissão da cultura seria, nesse processo, um mecanismo para a efetivação da aquisição dos saberes,
de referência de modelos de pensar, de habitus. Nessa proposição, o método prescreve-se como um
procedimento capital, isto porque é através da metodologia utilizada em sala de aula que as orientações
são difundidas e sintetizadas pelos alunos. O modo de aprender centrado na visibilidade, na
imitabilidade e na experimentação, característica fundamental das lições de coisas, tornou-se um dos
dispositivos principais da institucionalização do sistema modelar de ensino. Nessa estratégia da escola
republicana, o método intuitivo figurou como o caminho imprescindível para a aprendizagem. Não
obstante a continuidade de boa parte dos elementos referentes às práticas metodológicas anteriores, o
método proposto pela Pedagogia Moderna em Sergipe ancorava-se na iniciativa de alguns educadores
como Rodrigues da Costa Dórea e Carlos Silveira que implantaram, pelo menos oficialmente, o método
intuitivo nas escolas primárias sergipanas através da Reforma de 1911. Rodrigues Dórea e Carlos Silveira
fundamentaram-se na possibilidade de renovar os processos de ensino e a formação dos professores.
Com vista para o movimento de renovação iniciado por Caetano de Campos em São Paulo, ressaltaram a
importância desse método para o desenvolvimento do campo educacional sergipano. Com a assessoria
de Helvécio de Andrade, as propostas metodológicas implantadas em 1911 foram disseminadas,
sobretudo, durante as aulas de Pedagogia que ministrava na Escola Normal. Esta, por sua vez, deveria
ser o núcleo irradiador dessa inovação metodológica, pois para executar eficazmente a tarefa de
ensinar, era preciso que o professor soubesse aplicar devidamente o método.

576
337
A EDUCAÇÃO E A URBANIZAÇÃO NA DÉCADA DE 1910 EM PELOTAS: DE JOSÉ BARBOZA GONÇALVES A
CYPRIANO CORRÊA BARCELLOS

MARIA AUGUSTA AUGUSTA MARTIARENA DE OLIVEIRA.


IFRS/UFPEL, OSORIO - RS - BRASIL.

O presente trabalho dedica-se à análise das páginas dedicadas ao tema da educação, presentes nos
Relatórios Intendenciais apresentados na década de 1910, pelos intendentes José Barboza Gonçalves e
Cypriano Corrêa Barcellos, realizando, ainda, uma ligação com o discurso relacionado à urbanização no
início do século XX. Acredita-se que a gênese da ênfase dada à temática da educação na década de
1920, deu-se na década de 1910, quando a educação passou a ter mais espaço nos Relatórios
Intendenciais. Portanto, o objetivo deste trabalho é analisar as abordagens sobre educação nos
Relatórios Intendenciais da década de 1910 e perceber se a temática educação ganhou espaço nesse
período, no âmbito do desenvolvimento urbano de Pelotas. A educação lentamente passou a figurar nos
Relatórios Intendenciais na cidade de Pelotas, durante a Primeira República. Embora o período em que
tal tema tenha sido um dos pontos mais comentados seja a década de 1920, a década de 1910 não
perde a sua importância, tendo em conta que a gênese das discussões ocorridas na década seguinte
encontra-se ali situada. Logo, estudar o que era abordado sobre educação nos Relatórios Intendenciais
de José Barboza Gonçalves e Cypriano Corrêa Barcellos é relevante no sentido de estudar a gênese das
discussões sobre educação na Primeira República em Pelotas. Para a realização deste trabalho que faz
parte de uma pesquisa maior em andamento, realizada no Curso de Doutorado em Educação, na
FaE/UFPel e refere-se ao Eixo Fontes e Métodos em História da Educação, por tratar-se da abordagem
dada à utilização de Relatórios Intendenciais (produzidos anualmente no mês de setembro e contendo
as informações apresentadas pelos intendentes municipais sobre todos os âmbitos de seu governo). A
metodologia utilizada refere-se à análise de documentos escritos, notadamente oficiais, utilizando-se o
conceito de violência simbólica de Bourdieu, ao mesmo tempo em que busca em Foucault as formas de
dominação e disciplinamento através da propaganda política. Além dos autores citados, realizou-se,
ainda, uma revisão bibliográfica que propiciasse o embasamento teórico para a concretização do
presente trabalho. Nessa revisão, por tratar-se de pesquisa realizada durante a Primeira República, mais
especificamente na década de 1910, utilizou-se autores cujos trabalhos mostram-se extremamente
relevantes nesse período, refiram-se ao âmbito nacional, como Saviani, Hildorf, Becostta, ou estadual,
como Tambara, Corsetti, Stephanou, Amaral, Vanti, entre outros.

841
A ESCOLA PRIMÁRIA RURAL NO CÓDIGO DE EDUCAÇÃO DE SÃO PAULO (1933): ENTRE AVANÇOS E
PERMANÊNCIAS

VIRGÍNIA PEREIRA DA SILVA DE ÁVILA.


UNESP/ARARAQUARA, ARARAQUARA - SP - BRASIL.

Este trabalho é parte integrante de pesquisa em desenvolvimento sobre o ensino primário rural, nos
estados de São Paulo e Santa Catarina, no período que compreende as décadas de 1920 a 1947, do
século XX, centrando-se de forma específica na análise do Código de Educação de São Paulo, aprovado
em 1933. Por esse documento o aparelho escolar paulista ganha contornos mais uniformes. Em
consonância com os princípios anunciados no Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, esse
documento concentrou de forma geral e específica todos os aspectos pertinentes ao ensino primário,
nas suas dimensões burocrático-administrativo-pedagógicas, incluindo de forma detalhada o ensino na
zona rural. A elaboração do Código de Educação contou com a participação de diversos educadores, que
durante trezes meses de estudos e debates coordenaram as comissões temáticas, entre os quais
destacam-se: A. Almeida Junior, Roldão Lopes de Barros, João de Toledo, Luiz Damasco Pena, Noemy
Silveira e Sampaio Dória. Esse fato, por si só, demonstra que o Código de Educação constituiu-se como
um projeto coletivo, cujo objetivo era reorganizar em novas bases concepções e planos a educação
pública no estado e, dessa maneira, adequar o aparelho escolar às novas exigências sociais e

577
econômicas. Em que pesem as dificuldade e limitações quanto à implementação de algumas normativas
prescritas pelo Código de Educação, faz-se necessário destacar o investimento de alguns educadores na
resolução dos problemas concernentes ao ensino primário paulista. Sem dúvida, foi na gestão de
Almeida Junior, Diretor Geral do Ensino, entre os anos de 1935 e 1937, que a execução do Código de
Educação atingiu maior visibilidade, sobretudo, em relação às escolas primárias rurais (escolas isoladas e
grupos escolares rurais). As ações desencadeadas nesse período tinham por fim dar maior organização e
racionalidade ao trabalho nessas escolas, sendo plubicizadas na Revista Educação, em 1936. Entre as
inúmeras iniciativas, uma em especial chama a atenção: a criação dos cursos de especialização de
professores “destinados á roça”, com a duração de três meses letivos. Esses cursos seriam
desenvolvidos nas escolas normais com os seguintes tópicos: “Hygiene rural”; “Problemas geraes do
meio rural e da respectiva escola”; “O ensino commum, na escola rural; Actividades agrícolas”. Todavia,
embora se observe o esforço empreendido por Almeida Junior durante os anos de 1935 a 1937, os
problemas relativos ao ensino primário rural não foram suplantados, os prédios escolares continuavam
insuficientes, o número de alunos sem matrícula ainda se mantinha alto e a fixação dos professores na
zona rural não era tarefa das mais fáceis. Além da baixa remuneração somavam-se as especificidades de
uma escola rural e o nível de preparação do professorado para adequar e desenvolver os
conhecimentos necessários e exigidos pelos programas de ensino.

1402
A ESCRITA DOS ESTUDOS EDUCACIONAIS: UMA ANÁLISE DAS APROPRIAÇÕES TEÓRICAS NA
PRODUÇÃO HISTÓRICA EDUCACIONAL EM PERSPECTIVA COMPARADA

DENICE BARBARA CATANI.


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, SÃO PAULO - SP - BRASIL.

Em diferentes momentos, o problema da produção, escrita e circulação dos conhecimentos


educacionais constituiu objeto específico de meus investimentos de pesquisa. Os escritos dos
professores, quer sob a forma de produções periódicas livros e congêneres ou sob a forma de romances,
autobiografias e memórias, interessam-me desde há muito. Concebidos como manifestações dos
diferentes estados de organização do campo educacional também constituem, sem dúvida, fontes
importantes para o conhecimento histórico desse espaço social. São muitas as análises que, nos últimos
anos, buscam explicitar tais processos. No que tange aos estudos histórico-educacionais, a compreensão
das modalidades de construção dos mesmos tem sido também fortalecida. Em 2006, prolonguei análises
que chamavam a atenção para as formas de apropriação teórica características da disciplina entre nós.
Novas configurações da questão podem ser consideradas agora a partir de investigação (CNPq) que tem
por tema o título desta comunicação e volta sua atenção para os tipos de trocas e aproximações entre
pesquisadores e para as formas de tradução e incorporação de idéias/ conceitos/ autores, entre outros
elementos, procurando estabelecer relações entre o campo e as escolhas teóricas, temáticas e
metodológicas operadas pelos estudiosos, no caso brasileiro nas três últimas décadas. Os modos de
organização das comunidades científicas internacionais contemporâneas e das redes de relações
mantidas entre os diferentes países engendram uma gama muito variada de aproximações entre as
pesquisas. Assim, ampliamos a análise do caso brasileiro em direção aos países que, em período
recente, tem constituído referências freqüentes para nossa comunidade de pesquisa educacional, ou
seja, França, Portugal e Espanha. Apresenta-se uma análise de apropriações e relações entre a produção
brasileira e portuguesa procurando realçar a recorrência de autores e obras dos quatro países.
Examinam-se modalidades de presença das questões e escolhas na escrita da história da educação pelo
exame de artigos, teses, dissertações e outros materiais mediante categorias que permitem diferenciar
modos de produção e operações de escrita desses trabalhos. É o caso das categorias que diferenciam
modalidades de incorporação e referências a autores, por exemplo. Isto permite melhor matizar a
afirmação das relações e proximidades e discutir os seus sentidos. A proposição do estudo de produções
das três últimas décadas permite acompanhar o estado do campo educacional brasileiro em momentos
bastante diferenciados pela organização institucional e as políticas de pesquisa.

578
1005
A INFÂNCIA ESCOLAR NAS LEMBRANÇAS DE CORA CORALINA

DIANE VALDEZ VALDEZ.


UFG, GOIANIA - GO - BRASIL.

Esse texto faz parte de pesquisa “Infância e educação nos contos goianos”, projeto desenvolvido no
curso de Pedagogia da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás. A pesquisa tem por
finalidade estimular os estudos de história da educação regional no âmbito da Faculdade de Educação,
sobretudo nas disciplinas de História da Educação e Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Para
impulsionar debates acerca da história da educação regional, é preciso buscar diferentes fontes para
produzir estudos, debates e textos. A fonte utilizada neste texto foi a literatura da poetisa goiana Cora
Coralina (1889-1985). Trata-se de escritos, em formato de poemas ou contos, inspirados nas lembranças
da autora que viveu sua infância no final do século XIX. Os escritos de Cora apresentam várias leituras
sobre a relação da infância com o ensino, escola, professora, livros, punições etc. Levando em conta os
liames da memória e a abrangência poética ficcional desse tipo de fonte. Os escritos fornecem pistas
para compreendermos um pouco mais sobre a relação ‘infância e escola’ neste período da história,
sobretudo, no que se refere ao poder dos adultos sobre as crianças que se mascarava sob a necessidade
de proteger vigiando ou de punir para educar. Coralina não se contenta em narrar como testemunha de
história neutra, ele julga, marcando bem o lado em que estava naquela altura da história, reafirmando
sua posição ou matizando-a. Em boa parte de suas lembranças a infância não é invocada como uma fase
idílica, pelo contrário, a poetisa faz questão de enfatizar momentos duros e tristes. É possível perceber
que os sentimentos registrados são ambíguos, ora nos remetendo a uma visão saudosista e melancólica,
ora nos trazendo lembranças amargas e tristes. Diante disso um fator importante foi levado em conta
neste estudo, trata-se de lembranças de uma pessoa adulta que se reporta à sua infância. Esta é uma
ressalva importante para analisar até que ponto os relatos se aproximam do cotidiano escolar do
passado e como os valores atuais podem remodelar a memória. Críticas, laudatórias ou nostálgicas, as
lembranças conferiram um lugar importante ao tempo de aprendizagem escolar, refletindo tanto uma
afirmação do presente, ou mesmo do futuro, quanto uma visão objetiva do passado, muitas vezes
mitificada. A infância é mais representada que descrita, sendo estas representações marcadas pela
ansiedade social, moral e política da obrigatória seleção trazida pelo tempo e da deformação operada
pela memória.

711
A LITERATURA COMO FONTE PARA PESQUISAS SOBRE ESCOLA E CULTURA ESCOLAR: POSSIBILIDADE
DE ANÁLISE EM HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

ROSANA SANTANA DE MORAIS.


COLÉGIO MILITAR DE CAMPO GRANDE, CAMPO GRANDE - MS - BRASIL.

Este texto tem como objetivo apresentar considerações sobre alguns modos de representação da escola
em contos e crônicas de autores do século XX na literatura brasileira, a partir dos conceitos cunhados na
linha de pesquisa Escola, Cultura e Disciplinas Escolares, do Programa de Pós-Graduação em Educação
da UFMS. A escola, nessa abordagem, é entendida o espaço formal de aprendizagem, o lugar em que a
história é construída em um determinado tempo e onde se conta essa história. Viñao Frago, Julia e
Pérez-Goméz, autores que pesquisam a cultura escolar, têm em comum o fato de perceberem a escola
como um lugar de produção e reprodução de cultura, com características próprias no que se refere aos
modos de pensar e de fazer, considerando em suas pesquisas os tempos e os espaços escolares, os
saberes e os sujeitos da escola e a materialidade das práticas pedagógicas. Visto que tais práticas nem
sempre estão documentadas e arquivadas, as obras literárias tornam-se fontes importantes de pesquisa
nessa área. Essas obras, de maneira geral, apresentam muitos elementos da cultura de uma
determinada sociedade. No que se refere à cultura escolar, tais representações demonstram o cotidiano
das escolas e o comportamento dos indivíduos que as compõem. Lopes e Galvão (2001) apontam que
“os autores não são somente testemunhas de sua infância ou da idade adulta, mas são intérpretes

579
sensíveis e apaixonados dos processos familiares, escolares e sociais.” A partir desse referencial teórico,
busca-se fazer um exercício de análise, usando contos e crônicas de alguns autores brasileiros do séc.
XX. Essa opção foi pensada, porque esses gêneros textuais têm como fonte de inspiração
acontecimentos reais e retratam de maneira peculiar os modos de organização da escola. Foram
selecionados sete textos de cinco autores: Clarice Lispector, Leonardo Arroio, Sérgio Porto, Fernando
Sabino e Luis Fernando Veríssimo, escolhidos muito mais pela temática que pelo autor ou época. São
histórias sobre o comportamento de alunos e professores em sala de aula, apresentadas de maneira
bem humorada, como em “Santinho” (VERÍSSIMO, 2001); ou mais intimista, como em “Os desastres de
Sofia” (LISPECTOR, 1999); mas que representam de maneira sensível esse relacionamento tão particular,
apesar do ambiente social de mais de trinta pessoas em uma sala. Como resultados, identificam-se
traços comuns nas histórias e nas representações de escola narradas. Assim, foram observadas algumas
expressões da cultura escolar, em especial o modo de organização (tempos e espaços escolares) de uma
escola nova, que se reorganizava, e a presença/influência das professoras primárias.

1144
A MÍSTICA ESPONSAL E A EDUCAÇÃO PARA A FELICIDADE NO SÉCULO XIII: REFLEXÕES SOBRE AS
CARTAS DE CLARA DE ASSIS A INÊS DE PRAGA

IVONE APARECIDA DIAS.


UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ, MARINGÁ - PR - BRASIL.

Resumo: O objetivo desta comunicação é apresentar reflexões sobre a educação para a mística
esponsal como um dos caminhos para a conquista da felicidade no século XIII. Tais reflexões são os
primeiros resultados de pesquisas para a elaboração da uma Tese de Doutorado em Educação no
Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Maringá. A temática da Tese
está centrada na realização de estudos para melhor compreender a influência do papel educacional
desempenhado pelas mulheres religiosas no século em relevo. Nesse processo amplo, a pesquisa
enfocará as fontes primárias clarianas, ou seja, os Escritos de Clara de Assis, bem como aqueles que têm
nela sua destinatária principal, como as Legendas e as Bulas papais. Neste evento, a intenção é
apresentar considerações sobre as quatro Cartas que Clara endereçou à religiosa Inês de Praga (ou de
Bruges). Nestes documentos é possível observar que Clara se coloca como educadora ou formadora
daquelas a quem chama de irmãs e filhas. Para ela, a religiosa é esposa de Cristo e, portanto, deve
conhecê-lo e amá-lo, sendo que a melhor forma de fazê-lo é trilhar o caminho da mística esponsal,
aquele que possibilita ao homem o conhecimento de si e o conhecimento de Deus. Para Vizmanos
(1949), a concepção de que as religiosas eram esposas de Cristo foi sistematizada a partir do século II.
Antes desse período, as comunidades cristãs particulares e a Igreja em sua totalidade eram tidas como
as esposas na relação com Cristo. Ao longo do final da Antiguidade e durante a Idade Média, esse
processo de considerar a mulher religiosa consagrada como a esposa de Cristo se desenvolveu e
recebeu significativa expressão nos escritos de diversos autores. Assim, neste último período, merece
destaque as produções de Clara de Assis que, ao ensinar Inês a tornar-se esposa de Cristo apresenta um
“método” para a realização desse processo, que segundo Rotzetter (1994), pode ser sintetizado da
seguinte forma: “deixar-se atingir”, “considerar”, “contemplar” e “desejar imitar”. Ao indicar esse
processo, Clara assinala que a felicidade é uma possibilidade, ela pode ser alcançada pela aproximação
constante que leva ao encontro permanente com o Esposo. Nesse sentido, considerando a perspectiva
da longa duração elaborada por Bloch (2001) a intenção é apresentar como Clara herdou dos antigos e
medievais a concepção da mística esponsal, como a reinterpretou, vivenciou e ensinou aos homens de
seu tempo, indicando-a como o mais seguro dos caminhos para a felicidade humana.

580
464
A PROCURA DE MODELOS: TRADUÇÃO CULTURAL NO BRASIL IMPÉRIO

FELIPE FREITAS DE SOUZA.


CEFET-MG, OSASCO - SP - BRASIL.

Segundo Maria Lúcia Pallares-Burke, em Nísia Floresta, o Carapuceiro e outros ensaios de tradução
cultural, a idéia de que a cultura é um texto que deve ser lido e decifrado pelo pesquisador tem sua
origem na antropologia social: tal concepção da cultura indica o esforço de tornar certa cultura
inteligível por outra. A metáfora da tradução é proveitosa na medida em que tornar inteligível uma
cultura para outra implica em criatividade e interpretação por parte do agente responsável pela
tradução; ou seja, a tradução cultural é um conceito-processo que é levado a cabo por um agente social-
tradutor. O conceito de tradução cultural procura a ênfase das trocas: quando uma cultura se apropria
de conteúdos de outra, recontextualiza e adapta os conteúdos cedidos. Estes processos,
recontextualização e adaptação, visam suprir lacunas na cultura que procura conteúdos em outra(s) ou
mesmo confirmar posições e pressupostos da cultura receptora. Trais processos, enfim, evidenciam os
dilemas e impasses das trocas interculturais. Podemos observar a tradução cultural no século XIX,
quando a procura por modelos e por diretrizes para a teorização e para a prática educacional estiveram
em voga no Brasil Império – período este no qual houve um estímulo à difusão da instituição escolar na
Europa e nas Américas. Os países indicados como modelos, Estados Unidos e alguns países europeus,
também se inter-relacionavam: serviam como modelos uns para os outros. Assim, a circulação de idéias
e conteúdos culturais exerceu-se enfaticamente e de um modo que inviabiliza a procura por um modelo
originário, mas que ressalta um processo de tradução cultural. Peter Burke, em texto na obra A tradução
cultural: nos primórdios da Europa moderna, nos adverte que o conceito de tradução cultural visa
descrever encontros culturais nos quais cada parte tenta compreender as ações da outra. Fenômenos
recorrentes no século XIX (e seus exemplos) foram: viagens de professores para outros países, que
visavam atualizá-los segundo os modelos estrangeiros (indicamos Maria Guilhermina Loureiro de
Andrade e Francisco de Assis Peregrino); a circulação de materiais escolares (equipamentos de
laboratórios de física e química, bem como coleções didáticas importadas); a circulação de obras que
dedicavam-se aos estudos em educação (indicamos as leituras de Ferdinand Buisson e Celéstin
Hippeau); as Exposições Internacionais que evidenciavam o repertório das idéias e feitos educacionais
dos diferentes países expositores. Através da pesquisa sobre a circulação de modelos, procuramos
evidenciar a proficuidade da tradução cultural como modo de leitura da constituição de um saber-fazer
pedagógico nacional. Concluímos indicando que a tradução cultural indica uma partilha de projetos e
sentidos da ação educativa; a tradução cultural permite, portanto, apreender esse rico processo de
constituição do pensamento educacional brasileiro em relação aos pensamentos educacionais
estrangeiros.

440
A REPRESENTATIVIDADE DO LIVRO, DA LEITURA E DO LEITOR NA IMPRENSA MARANHENSE DO
SÉCULO XIX

SAMUEL LUIS VELÁZQUEZ CASTELLANOS.


UFMA, SAO LUIS - MA - BRASIL.

Trata-se de expor e identificar neste trabalho, a forma, a circularidade e a intensidade em que o livro, a
leitura e o leitor estiveram presentes na sociedade maranhense no século XIX, refletindo sobre a
natureza dos escritos, a importância destas temáticas expressas nos conteúdos, as intencionalidades
implícitas nas matérias expostas e em que medida as discussões sobre o ato léxico e suas diferentes
métodos de ensino espelhados nestes suportes culturais influenciaram o processo educativo em
espaços escolares e não-escolares. Estuda-se o campo sócio-histórico-educacional e cultural
maranhense oitocentista destacando as questões dos impressos e as suas diversas apropriações,
descrevendo e avaliando as representações construídas sobre a leitura, o leitor e o livro por meio das
noções e concepções proferidas nos discursos. Utiliza-se o jornal como fonte de análise e de

581
compreensão do histórico auxiliados na história cultural como metodologia substantiva,
independentemente de se constituir um documento aparentemente não confiável pelas suas
particularidades tendenciosas e a sua não-imparcialidade, segundo as ortodoxias investigativas. Explora-
se na tipografia do suporte escrito um campo de possibilidades latente, que por meio da história cultural
pode se compreender, como em diferentes lugares e momentos uma determinada realidade social é
construída, pensada e dada a ler. Tenta-se demonstrar a impossibilidade de classificar a priori numa
escala de valores e de se matematizar os aspectos plurais inseridos no ato léxico (leitor, livro, leitura e
maneiras de se ler) que se enredam numa multiplicidade de intenções e numa variabilidade de sentidos
e significados construídos por uma multidão de sujeitos em tempos e espaços indefinidos, a não ser que
se considere esta gama de elementos estruturadores e estruturantes numa rede interrelacional
analisada e compreendida, ao se propor a mudança de abordagem de uma história social da cultura
para uma história cultural da sociedade, onde a objetividade das estruturas como pretensas moldadoras
dos sujeitos nos espaços de leitura e no tempo plural do escrito por ler devem ser vistas, como
culturalmente constituídas ou construídas. Conclui-se que estratégias de imposição empregadas nestas
materialidades culturais impressas foram absorvidas pelos leitores e não leitores dependendo das
táticas de apropriação utilizadas nas diferentes situações de leitura; portanto o uso de hipóteses pré-
estabelecidas e de deduções tautológicas se faz dispensáveis, porque é na procura incessante de
indícios aparentemente desprezíveis que nosso olhar e nossas estratagemas de análise tratarão de fazer
compreensível, os enredos produzidos, implícitos e escondidos neste estrato cultural.

528
A UTILIZAÇÃO DE PONTOS DE PROVA COMO FONTE HISTÓRICA: UM PROCEDIMENTO INDICIÁRIO

STELLA SANCHES DE OLIVEIRA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL, CAMPO GRANDE - MS - BRASIL.

Este texto é um exercício teórico-metodológico de uma prática de pesquisa concluída de mestrado no


campo da história da educação, sustentando-se na mediação de três ideias principais: no paradigma
indiciário, na ampliação da noção do documento na pesquisa histórica enquanto
documento/monumento e no entendimento de que o proceder do historiador não é neutro. O texto
tem por objetivo explicitar o procedimento investigativo sobre a história de uma disciplina escolar do
ensino secundário no Brasil, a partir de um conjunto de documentos localizados no arquivo escolar da
instituição educativa lócus da pesquisa. O trabalho detém-se em expor o procedimento técnico
realizado com os Pontos de prova de francês na busca de responder à questão de como o paradigma
indiciário contribuiu no tratamento dessas fontes na investigação em história das disciplinas escolares.
Ciente de que o fenômeno histórico a ser estudado não está na fonte histórica, embora esta esteja na
origem, no ponto de partida para a construção historiográfica, ressalto a importância de questionar as
fontes, de enxergar o que ali estava presente de mais escamoteado e imperceptível, que por pouco
pareceram descartáveis, e finalmente, de resgatar as minúcias e os pormenores negligenciáveis do
registro. Os documentos em questão eram elaborados pelo respectivo professor da disciplina para
registro da matéria de prova, denominado de Relação dos pontos de francês para prova parcial, foi
resumidamente chamado na pesquisa de Pontos de prova. Os Pontos de prova localizados estavam
datilografados e carbonados em folha de seda de uma página inteira por disciplina e por série do curso
ginasial. Em relação à disciplina francês, foram encontrados Pontos de provas de apenas quatro
professores - Nicolau Fragelli, João Calixto Bernardes, Maria Constança Machado e Edna de
Albuquerque - das 1ª, 2ª, 3ª e 4ª séries ginasiais dos anos de 1942 a 1947. Como parte da escrita da
história da educação, por esses documentos foi possível resgatar não somente os conteúdos de ensino
como também indícios de práticas dos professores de passar exercícios e de escolher esse ou aquele
tema. Sendo o Ponto de prova um documento do universo escolar preenchido pelo professor como
obediência a uma ordem, não se pode ignorar que havia uma intenção de mostrar que toda a sua
obrigação era cumprida e bem feita. Dessa forma, busquei, ainda como parte do exercício metodológico
aqui proposto, identificar relações de poder e perceber o quanto um documento pode aportar marcas
de quem o preencheu.

582
789
ANÔNIMOS, MARGINAIS, INVISÍVEIS E ESQUECIDOS: O PROJETO DE AMPLIAÇÃO DO ACERVO DE UM
CATÁLOGO FOTOGRÁFICO DIGITAL DOURADOS / MT (1850-1950)

MARIA EDUARDA FERRO; ANDREÍNA DE MELO LOUVEIRA.


UEMS, DOURADOS - MS - BRASIL.

A comunicação objetiva socializar o itinerário investigativo e apresentar os resultados parciais da


pesquisa Retratos e Imagens do Cotidiano: a região de Dourados/MT (1850-1950), desenvolvida pelo
grupo História e Memória (CNPq/UEMS), como parte das atividades do Laboratório das Licenciaturas da
Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (LALIC/UEMS). Como fruto das reflexões fomentadas pelo
projeto Imagens de Crianças e Infâncias no sul de Mato Grosso: final do século XIX até meados do século
XX (FUNDECT) iniciou-se, em 2009, a produção do Catálogo Fotográfico Digital: Crianças e Infâncias do
Sul de Mato Grosso (1850-1950). Em 2010, percebeu-se a necessidade de traçar um planejamento para
ampliação do acervo, já que as imagens coletadas, especialmente nos acervos públicos do município de
Dourados (hoje MS), nos apresentavam a região por uma ótica unilateral. Dentre as fotografias
localizadas, predominam registros de momentos considerados significativos por um dado segmento da
sociedade que firmou o “seu” recorte de mundo como “a memória” a ser preservada. Tratam-se de
inaugurações de espaços públicos, eventos cívicos e militares, festas promovidas pelas igrejas ou pelas
escolas confessionais. Nessas fotografias a coletividade nos pareceu tutelada, regida, “dada a ver” pelos
olhos de fotógrafos agenciados por instituições ou pelo Estado para perpetuar a memória comumente
denominada “memória oficial”. Sabendo que a memória coletiva é construída sob a ótica do grupo
social que teve a oportunidade (e o poder) de fazer-se representar e, em meio à evidência de lacunas e
ausências de povos e segmentos sociais, a inquietação nos conduziu a um plano de expansão do acervo
do Catálogo com vistas a privilegiar a localização de documentos fotográficos esparsos em acervos
familiares, retratos engavetados, esquecidos, que estão por amarelar, sem que seus herdeiros os
vislumbrem como portadores de cultura. Nos interessou dar luz a essas imagens, não apenas pelos
(muitos) recortes investigativos que vislumbramos no campo da História da Educação e da História
Social da Criança e da Infância, estamos certas de que pesquisadores de outras áreas poderão
igualmente se servir do Catálogo. Queremos, enfim, dar a conhecer essas imagens que não estão
preservadas nos arquivos públicos porque sequer foram convidadas para deles fazerem parte, acham-se
guardadas nos álbuns familiares, nas gavetas de protagonistas sociais anônimos, marginais, invisíveis e
esquecidos.

1158
AS ONDAS QUE SE PROPAGAM ENTRE A ORALIDADE E A ESCRITURA:UMA ANÁLISE SOBRE AS FONTES
QUE NOS POSSIBILITAM OS ESTUDOS SOBRE RÁDIO EDUCAÇÃO ENTRE 1930 E 1940

PATRICIA COELHO COSTA.


USP, INDAIATUBA - SP - BRASIL.

Desde a década de 1920, educadores desenvolveram programas educacionais para o nosso


broadcasting, acreditando ser este o meio de superar as falhas do nosso sistema educacional, pela sua
capacidade de levar conhecimento e cultura aos lugares mais distantes do nosso país. De diferentes
formatos, tais programações representam importante capítulo da história da nossa educação a partir
dos investimento de intelectuais como Edgar Roquette-Pinto, Francisco Venâncio Filho e Edgard
Sussekind de Mendonça. Nos anos 1930 e 1940, quando nossas emissoras passaram a ter um caráter
bem mais comercial, as iniciativas de Genolino Amado, responsável pela criação da Biblioteca do ar,
transmitida pela Rádio Mayrinck Veiga entre 1937 e 1945, e Ariosto Espinheira idealizador da Viagem
através do Brasil, irradiada pela Rádio Jornal do Brasil nos de 1936 e 1937 são relevantes, pois tem os
preceitos educacionais dos pioneiros da radiofonia entre nós, em conjunto com a preocupação em
conquistar audiência comercial. O estudo de tais experiências é muito prejudicado pela escassez de
fontes, principalmente orais. A oralidade é de grande importância para a compreensão da linguagem

583
utilizada nesse veículo de comunicação. Para ocupar o microfone, são considerados o timbre da voz, a
dicção, a entonação e tantos fatores que transformam a leitura em irradiação. Por outro lado, não se
pode esquecer da dimensão do conteúdo escrito que envolve o rádio. Muitas são as fontes escritas que
deste nos aproximam: jornais, revistas especializadas, relatórios. Os textos criados para leitura ao
microfone das rádios possuem toda uma especificidade, o autor, que nem sempre é responsável por sua
irradiação, tem preocupações dirigidas ao público ouvinte: a seleção das palavras, a clareza da
mensagem, o tempo de que dispõe para ser apresentado. Sob esse aspecto, percebo a radiofonia tanto
no domínio da oralidade quanto da escrita, pois, ainda que o consumo se dê pelo que é ouvido, há toda
uma produção de textos especificamente criados para as transmissões, os chamados scripts. Este artigo
visa refletir sobre as dimensões oral e escrita, presentes na linguagem radiofônica, buscando caminhos
de análise das programações a partir dos scripts, superando a falta de fonte orais. Pata tal utilizarei
como fontes os scripts da Biblioteca do ar, organizada por Genolino Amado, a historiografia e textos
publicados em periódicos sobre o radiofonia. Sendo assim, este estudo pretende contribuir para novas
visões sobre as fontes de estudo da história educação através do rádio. Este trabalho se insere em
projeto de pesquisa sobre a rádio educação ainda não concluído.

1106
AS REVISTAS DE ADMINISTRAÇÃO, A CONSTITUIÇÃO DO CAMPO E A DIFUSÃO DO CONHECIMENTO
ADMINISTRATIVO (1931-1966)

SIMONE CRISTINA SPIANDORELLO.


UNIVERSIDADE SÃO FRANCISCO, JUNDIAI - SP - BRASIL.

De uma maneira geral, pesquisadores do campo da Administração têm sugerido a ampliação da


pesquisa sobre a história da Administração no país e de seu ensino. Este trabalho tem como principal
objetivo a apresentação do método de pesquisa histórica utilizado na elaboração da dissertação de
mestrado apresentada em 2008, que procurou analisar partes do processo de constituição da categoria
profissional de administrador no Brasil, os espaços escolares vinculados a essa profissionalização e à
consolidação dos saberes próprios do campo da administração. Esse processo, ou parte dele, foi
analisado com base na teoria dos campos, de Pierre Bourdieu, buscando identificar as “revoluções
específicas” empreendidas pelo grupo como estratégia para conquistar lugar e reconhecimento no
campo (Bourdieu, 2004). Procurou-se ainda adotar uma perspectiva crítica de análise fundamentada nas
analíticas de descontinuidade histórica de Michel Foucault. A investigação tomou como fonte o material
impresso em revistas periódicas publicadas por escolas ou institutos de difusão dos preceitos da
administração científica, a saber, a Revista de Administração de Empresas (RAE) vinculada a Escola de
Administração de Empresas (EAESP) e a Revista de Administração Pública (RAP) vinculada a Escola
Brasileira de Administração Pública (EBAP), ambas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a Revista de
Administração da Universidade de São Paulo (RAUSP) e a Revista Brasileira de Produtividade do Instituto
de Organização Racional do Trabalho (IDORT). Foram analisados 916 fascículos sistematizados por meio
de planilhas eletrônicas – uma para cada revista – divididas em sete seções: volume, número, artigos,
editorial, seções de interesse, folha de rosto e direção da revista. Na seção artigos, registrou-se os
principais temas tratados em cada fascículo, procurando identificar tendências ou repetições que
pudessem configurar uma tentativa de consolidar ou destacar um assunto em detrimento de outros. Os
editoriais das revistas se mostraram um canal privilegiado para a investigação do posicionamento
político das instituições, por operarem como porta-vozes das opiniões e articulações do grupo. As
demais seções contribuíram com o mapeamento de estratégias mercadológicas, bem como das alianças
comerciais que foram estabelecidas. A pesquisa demonstrou que as revistas consolidaram-se como
principal meio de difusão do conhecimento administrativo, no início do século passado, e sua circulação
e perenidade contribuíram para assegurar a consagração das instituições a que estavam vinculadas, no
campo profissional que estava em formação.

584
678
AS “ESCRITAS ORDINÁRIAS” NO COTIDIANO DE IRMÃOS AGRICULTORES

VANIA GRIM THIES.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS, MORRO REDONDO - RS - BRASIL.

O presente trabalho é parte integrante da pesquisa de tese em andamento e tem por objetivo investigar
as práticas individuais da escrita de diários de irmãos agricultores com pouca escolarização, moradores
da zona rural dos municípios de Pelotas e Morro Redondo, na região sul do Estado do Rio Grande do Sul
(Brasil). Trata-se das escritas dos irmãos Schmidt: Aldo (62 anos), Clemer (59 anos) e Clenderci (53 anos).
Os diários foram escritos no período que compreende os anos de 1972 até os dias atuais. Aldo iniciou
suas escritas em 1972, aos 25 anos enquanto era solteiro e morava na casa paterna. Em 1976, casou-se,
constituiu família e continuou escrevendo diários com a “nova” família, prática que exerce atualmente.
É o precursor das escritas na família, escreve diariamente o correspondente a trinta e oito anos
consecutivos sem deixar o registro por um dia sequer. Já o irmão Clemer escreveu diários de 1975,
enquanto solteiro, na casa do pai, até 1979, quando se casou e parou de escrever. Clenderci dá início
aos diários em 1982 com a nova família e a saída da casa do pai, porém, ele permanece escrevendo até
1993. As escritas estão relacionadas ao trabalho no cotidiano rural, ao tempo, lazer e as atividades
sociais da vida comunitária da família Os procedimentos metodológicos adotados para a análise são
entrevistas abertas, análise do conjunto dos diários e, ainda, os registros no caderno de campo das
observações realizadas durante as visitas e encontros ocasionais ocorridos fora do contexto da pesquisa.
Os autores utilizados como referência para o campo da metodologia de pesquisa são Robert Bogdan e
Sari K. Biklen (1994) e Bernard Lahire (2002, 2004, 2005). No campo das teorias e principais conceitos
que sustentarão o trabalho estão Bernard Lahire (2002, 2004, 2005), Antonio Castillo Gomèz (2003),
Daniel Fabre (2003), Roger Chartier (2001), Antonio Viñao Frago (1999), estudos bakhtinianos, entre
outros. O estudo procura mostrar as escritas dos agricultores como uma prática de escrita ordinária,
sem qualidade científica e sem a consagração do autor, mas sim, produzida para deixar os traços do
fazer cotidiano (FABRE, 1993). O estudo indica que cada vez mais os sujeitos escrevem fora do ambiente
escolar e das regras formais, trazendo contribuições significativas à História da Educação, especialmente
ao campo da História da Cultura Escrita, compreendendo a escrita como uma prática individual que
compreende e corresponde a práticas socioculturais mais amplas.

1164
CATEGORIAS CONCEITUAIS DE BAKHTIN PARA A PESQUISA HISTÓRICA: A POLIFONIA E O DIALOGISMO
1 2
DULCINÉA CAMPOS ; ELIS BEATRIZ LIMA FALCÃO .
1.UFES, VITORIA - ES - BRASIL; 2.UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO, VITÓRIA - ES - BRASIL.

Esta comunicação pretende estabelecer diálogos iniciais entre conceitos presentes na obra de Bakhtin,
como os de discurso dialógico e as implicações teórico-metodológicas para a pesquisa nas Ciências
Humanas. No que se refere a implicação desse método para o campo de pesquisa em ciências humanas
e do homem, Bakhtin desenvolveu uma visão inovadora que passa necessariamente pela comunicação e
pelo diálogo, pois segundo esse autor, não podemos contemplar, analisar e definir as consciências
alheias como objetos, como coisas, visto que a única forma possível de comunicarmos é dialogicamente.
Para analisar a compreensão de Bakhtin e da utilização de discurso como um conceito filosófico e
ferramenta crítica, nos deteremos na obra “Problema da Poética de Dostoievski”, a qual possibilita uma
discussão sobre o que poderíamos chamar de a marca do trabalho de Bakhtin que é a discussão sobre a
natureza da linguagem, pois essa obra nos permite refletir sobre os modos de pensar, trabalhar e
escrever a pesquisa na perspectiva histórica. Aborda o discurso polifônico e o discurso homofônico, e o
estudo das relações entre os enunciados e o autor e as relações dialógicas entre os enunciados que se
constitui o método dialógico. Assim, a pesquisa nas Ciências Humanas à luz das contribuições que a obra
de Dostoievski nos permite pensar, é uma modalidade de pesquisa que trás em seu texto a coexistência
de inúmeros narradores, narrativas, formas de narração e temas que, no decorrer da enunciação,
configuram uma “heterogeneidade discursiva”, expressão criada por Bakhtin em seus trabalhos sobre

585
literatura, como destaque, no romance de Dostoievski em que várias “vozes” se exprimem sem que
nenhuma seja dominante (BAKHTIN, 1970). E é essa pluralidade de vozes que configura o texto que nos
convida a uma reflexão pautada em duas teorias fundamentais da obra de Bakhtin para a pesquisa: a
polifonia e o dialogismo. Dessa forma, uma contribuição de Bakhtin à luz de Dostoievski seria dar a cada
sujeito da pesquisa a parte que lhe é devida, deixando que a escrita apresente as muitas vozes do
discurso, cada uma com o seu ponto de vista. As bases do romance polifônico nos permite reflexões
acerca da metodologia da pesquisa, ou seja, a forma de trabalhar e escrever a pesquisa, pois toca de
forma significativa os princípios de inteligibilidade dos textos. Instiga-nos acerca da condição do outro
não como um escravo mudo, não sobrepondo nossas palavras às palavras dos sujeitos autores de
textos/discursos, mas fazer com que as palavras desses sujeitos ganhem autonomia em nossa voz. Está
posto o desafio ao pesquisador de tornar essa escrita, que é uma representação de uma realidade, em
um discurso válido e não um discurso conclusivo à revelia. Portanto escrever a maneira polifônica
requer pensar nessa escrita como um grande diálogo, que ao autor não reserva-se a última palavra, mas
fazer ecoar as suas vozes com as vozes dos sujeitos de quem se escreve, em um verdadeiro
inacabamento.

822
CECÍLIA MEIRELES COMO UM “SER NO MUNDO”: INTERPRETAÇÕES RICOUERIANAS DA OBRA
JORNALÍSTICA (1930-1933)

ROSÂNGELA VEIGA JULIO FERREIRA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA, JUIZ DE FORA - MG - BRASIL.

Este texto sustenta-se pela possibilidade de compreender o pensamento da poetisa Cecília Meireles,
visto sob o olhar do hermeneuta francês Paul Ricoeur, por meio da rede de referências por ela
estabelecida quando atuou como jornalista e educadora nos primeiros anos da década de 1930. A
vertente metodológica entendida como um percurso interpretativo procura entender o humano a partir
de sua condição de ser lançado no mundo, carregado de uma historicidade já que tem como
possibilidade mais própria o “ser para a morte” e é constituído ética, política, religiosa e esteticamente
pela efetivação de valores e significados comuns à comunidade em que se percebe inserido. Assim,
nossa intencionalidade se propõe a aclarar de que maneira essa perspectiva de análise pode servir de
apoio a um caminho metodológico efetivado em uma pesquisa desenvolvida em trabalhos bibliográficos
e de campo, bem como apresentar as reflexões resultantes de tal procedimento. Em outras palavras,
como a vivência de experiências que reconhecemos como devedoras do nosso olhar pode se estruturar
na forma de textos escritos e servir de base para a sustentação de uma pesquisa acadêmica no campo
da História da Educação. Isto posto, buscamos pensar o texto poético e não-poético de Cecília Meirelles
como ressonâncias que emergem da possibilidade refratária de suas idéias. As análises se centraram em
alguns indícios deixados por Cecília Meireles em suas produções escritas, no período de junho de 1930 a
janeiro de 1933, publicados no Diário de Notícias do Rio de Janeiro, então Distrito Federal, na página
dedicada a Educação. Neles, a autora apresenta temas variados que passam por discussões sobre as
concepções de infância, família, escola, política entre outros. Sua arte, tão latente nas poesias, permite a
construção de uma cultura pedagógica que sensibiliza o outro. A poeta-educadora deixou a
possibilidade de apropriação de seus textos atribuindo-lhes novos significados. Ao ser sensibilizada no
sensível, Cecília se vê como um ser no mundo e lida com a percepção dos fenômenos mundanos tanto
pela poesia como pelas crônicas de educação. Noutras palavras, a obra desse cânone da Literatura
existe no/com o mundo e, desta forma, atribui sentidos para o processo de compreensão de um tempo
outro, ultrapassando as barreiras cronológicas de sua produção. Trata-se de minúcias de um tempo que
uma hermenêutica interpretativa possibilita a compreensão de uma dialética da ação. Nesse
movimento, diante das fontes, podemos apontar que Cecília aposta na percepção da criança como um
ser que se constitui mediado pelas relações que efetiva com o outro; um ser no mundo que, a partir das
referências vivenciadas pelos adultos, estabelece as suas próprias; uma incógnita, visto que
desestabiliza as convicções e certezas postas pelos adultos; um ser histórico que nos possibilita
encontrar refrações na atualidade.

586
565
CONDORCET, TRAJANO E A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA NO SÉCULO XIX

MARCUS ALDENISSON DE OLIVEIRA; PRISCILA SILVA MAZÊO.


UNIVERSIDADE TIRADENTES, ARACAJU - SE - BRASIL.

Esse trabalho é resultado de um projeto de iniciação científica e se insere na História da Educação e na


História do Livro. Tem o objetivo de analisar o modelo francês e o modelo norte-americano para o
ensino da Aritmética nas escolas de primeiras letras do Brasil Oitocentista, a partir da análise dos livros
Método para aprender a contar com segurança e facilidade, de Condorcet e Aritmética Elementar
Ilustrada, de Antonio Bandeira Trajano, ambos publicados no Brasil, em 1883. Para fundamentação
teórica utilizaremos os seguintes autores: Vera T. Valdemarin (1998), Roger Chartier (1990), Ester
Nascimento (2008) e, Eliane Marta T. Lopes e Ana Maria de O. Galvão (2005). A análise dos dois livros
permitiu elaborarmos a hipótese de que Condorcet e Trajano propuseram maneiras distintas para a
instrução da Aritmética, sendo que Condorcet fez uso do método tradicional e Trajano utilizou-se do
método intuitivo. Assim, o livro de Condorcet, publicado na França no final do século XVIII, era
destinado às escolas de primeiras letras. Apesar de demonstrar esse método, o autor apresenta, no livro
Método para aprender a contar com segurança e facilidade, inovações para o ensino de sua época. O
livro está dividido em duas partes, uma para o aluno e a outra para o professor, demonstrando seu
interesse com a relação ensino-aprendizagem. Já o livro de Trajano, também destinado as escolas de
primeiras letras, demonstra a presença do método intuitivo. Toda a produção sobre Aritmética de
Trajano foi preparada com base em notas fornecidas por Mary Parker Dascomb, professora da Escola
Americana de São Paulo, a mesma instituição que pó autor lecionava. Em sua obra, o autor demonstrava
sua preocupação com a aprendizagem do aluno. Seu livro foi utilizado nas escolas brasileiras até meados
do século XX. Diante da análise realizada nas obras desses autores, foi possível perceber que
gradativamente o método francês vinha sendo substituído pelo método norte-americano, visto que, o
método tradicional (francês) se caracterizava pela predominância de decorar, não apresentava os
assuntos contextualizados, diferentemente do método intuitivo (norte-americano) onde era evidente a
presença de inovações, despertando, dessa forma, o interesse dos alunos. O cruzamento desses dados
permitiu, assim, compreender como os livros didáticos prescrevem normas que regem as estratégias de
imposição, difusão e apropriação de saberes educacionais, entendendo por apropriação a forma como
os indivíduos se relacionam e se utilizam dos modelos culturais que lhes são impostos.

644
DE DOCUMENTOS A FONTES: A ORGANIZAÇÃO DOS ARQUIVOS DA ESCOLA ESTADUAL MARIA
CONSTANÇA BARROS MACHADO (CAMPO GRANDE/MS)

EURIZE CALDAS PESSANHA; STELLA SANCHES DE OLIVEIRA; WANDERLICE DA SILVA ASSIS.


UFMS, CAMPO GRANDE - MS - BRASIL.

Tornou-se lugar comum entre os trabalhos de História da Educação no Brasil, o registro das dificuldades
de trabalhar com arquivos históricos das escolas. Menciona-se o estado precário dos próprios
documentos, das instalações onde estão armazenados e a total ausência de organização dos mesmos,
obrigando os pesquisadores a um trabalho prévio que consiste em “garimpar” os documentos que vão
constituir as fontes para o estudo de seus objetos de pesquisa. Trabalho que muitas vezes precisa ser
refeito cada vez que uma nova pesquisa se inicia. Para realizar uma série de pesquisas sobre a cultura
escolar de uma escola secundária fundada na década de 1930, nosso grupo de pesquisa enfrentou as
mesmas dificuldades. As primeiras incursões aos arquivos da escola datam de 2002 com o objetivo de
localizar documentos para a escrita da história de disciplinas escolares que tiveram como lócus essa
escola; desde então foram realizadas várias pesquisas cujas fontes foram localizadas nesse arquivo.
Paralelamente à realização dessas pesquisas foi necessário organizar os documentos existentes na
escola. O objetivo deste trabalho é descrever e analisar o tratamento dos documentos localizados no
arquivo da Escola Estadual Maria Constança Barros Machado, em Campo Grande, MS, como fontes para
a história da cultura escolar. Descreve-se a situação em que os documentos foram localizados, seu

587
potencial como fonte, as primeiras tentativas de organização, e os resultados de um processo com o
objetivo de organizar e facilitar o acesso de pesquisadores a esse acervo. Foram localizadas,
selecionadas, digitalizadas e editadas 9423 fotos de documentos relativos à história da escola desde o
decreto que a criou em 1938. Os documentos estão organizados por livros de matrículas; atas de
admissão, de reuniões, de realização das provas, dos exames de segunda época, dos registros de
inscrição e dos resultados dos exames; lista de protocolos; livros de compromisso, de posse e de registro
dos professores; portarias internas; registro de notas e médias dos alunos; termos de inscrição de
exames de admissão; cadastro de funcionários; documentos relacionados à inspeção prévia; dentre
outros. Os arquivos dos documentos estão dispostos de maneira que possam ser realizadas buscas por
data, tipo de documento ou temática. Discute-se a utilização dos recursos de informática para a
preservação e democratização do acesso aos documentos armazenados nos arquivos das escolas como
fontes para a escrita da História da Educação.

1040
DO CASO EXCEPCIONAL À PERCEPÇÃO DA SÉRIE: ANÁLISE DO ÁLBUM FOTOGRÁFICO DO JARDIM DA
INFÂNCIA DA ESCOLA CAETANO DE CAMPOS-SP

RACHEL DUARTE ABDALA.


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, TAUBATE - SP - BRASIL.

Ao analisar a série composta pelos 23 álbuns fotográficos do acervo do Arquivo da Escola Caetano de
Campos (AECC), percebeu-se recorrências e a potencialidade de refletir, a partir desse significativo
conjunto documental, sobre a especificidade do álbum fotográfico e da série de elementos que o
compõem. Além dessa questão, pretendeu-se estudar um objeto que, devido à sua composição
fundamentalmente artesanal destaca-se do conjunto: o Álbum do Jardim da Infância. Além disso, a
análise deste álbum suscitou questões que ultrapassam sua materialidade e incidem sobre suas
condições de produção e sobre a própria cultura escolar. Outro objetivo deste estudo foi o de
compreender a relação entre série e documento único, considerando-se a própria condição de série que
caracteriza um álbum fotográfico. Ademais, ao analisar aspectos materiais e compositivos desses
documentos, verifica-se que constituem fontes para investigação acerca do modelo paulista de
educação entre o final do século XIX e as primeiras décadas do século XX - sua representação e
memória. Um álbum caracteriza-se primordialmente pela sua completude e pela sua lógica
organizacional. Compõe uma narrativa sobre determinado assunto e articula imagens e textos. Observa-
se que há um certo padrão na organicidade dos álbuns fotográficos escolares e, nessa série em especial,
é possível distinguir dois grupos: os produzidos na escola de modo amador e artesanal e os produzidos
de acordo com técnicas e materiais profissionais. A materialidade geralmente reflete o contexto no qual
o álbum foi produzido. Observa-se que, no caso do AECC, o álbum do Jardim de Infância destaca-se
justamente por essa peculiaridade, pois foi composto a partir de elementos típicos do jardim de infância
e de suas práticas pedagógicas. A inserção do álbum do Jardim de Infância na série de álbuns da Escola
Caetano de Campos pode ser constatada de modo icônico não verbal, pois, embora não haja
identificação explícita verbal ao nome da escola, a capa é ornamentada por imagem bordada do prédio
do jardim de infância da escola, e em suas páginas há diversas fotografias que podem facilmente ser
identificadas como registros do referido prédio. A análise da composição do álbum aponta para sua
classificação como uma homenagem direcionada a uma determinada mulher com vínculos com o jardim
de infância que não foram ainda totalmente identificados. O “Álbum Jardim da Infância” apresenta um
desafio analítico, pois, embora apresente pistas, indícios, suas lacunas, ausências e obstáculos à
identificação são marcantes e significativos. Assim, explorar a particularidade do Álbum do Jardim da
Infância não significa percebê-lo como representativo nem perder sua vinculação à série de álbuns da
escola Caetano de Campos.

588
1251
DO TEXTO AO HIPERTEXTO: DA (I)MATERIALIDADE DOS DISPOSITIVOS EDITORIAIS

FELIPE FERREIRA BARROS CARNEIRO; AMARÍLIO FERREIRA NETO.


UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO, VITORIA - ES - BRASIL.

A presente investigação possui como objeto os suportes de leitura utilizados em fontes de pesquisa no
campo da Educação Física. Procura compreender as implicações das mudanças nos “dispositivos
editoriais” (CHARTIER, 1991) no processo de veiculação de trabalhos científicos, visando apreender as
“continuidades e descontinuidades” (BLOCH, 2001) que constituem a passagem das publicações
impressas para os documentos virtuais. As fontes privilegiadas são os anais do Congresso Brasileiro de
Ciências do Esporte e Congresso Internacional de Ciências do Esporte (CONBRACE/CONICE), ocorridos
entre 1997 e 2009, o que corresponde a sete congressos. O recorte selecionado compreende o ano em
que é realizada a primeira publicação dos trabalhos completos desse fórum em um caderno exclusivo
para os anais, até o último evento realizado em 2009. O CONBRACE/CONICE é organizado por uma
instituição que, ao longo de sua história, busca ser representativa da área de Educação Física, qual seja,
Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte. Desse modo, como nos ensina Certeau (1994), no processo de
“fabricação” dos anais, salienta-se a intencionalidade de um grupo posicionado “estrategicamente” em
um “lugar de poder” que visa formar e conformar os discursos em circulação no campo. Nas fontes
observa-se modificações gradativas nos suportes utilizados para leitura dos anais, uma vez que, na
tentativa de otimizar o formato de circulação dos trabalhos aprovados, os comitês responsáveis pela
organização do evento realizaram um processo de passagem do dispositivo impresso para o uso do
modelo estritamente virtualizado. O estudo analisou a (i)materialidade desses documentos, por meio
dos “indícios” (GINZBURG, 1981) deixados nas capas dos anais, nas imagens, na produção do layout, no
tema do congresso, nas etiquetas dos CDs, investigando as implicações desses suportes no uso dessas
fontes. Enfim centra-se nos dispositivos editoriais que didatizam um uso modelar dessas publicações,
que dão visibilidade ao que é produzido para uma comunidade de leitores especializados (CHARTIER,
1991). Investiga também os processos de “virtualização” (LÉVY, 1996) desses anais, como o uso dos
softwares de leitura dos trabalhos. A pesquisa indica mudanças nas relações do leitor com essa
produção a medida que o suporte de leitura modifica seu próprio estatuto ontológico, de acordo com as
alterações que esses dispositivos editoriais sofrem no processo de passagem do texto impresso para o
CDs e finalmente para hipertexto. Aponta para a potencialidade dessa virtualização, como a maior
circulação do conhecimento produzido por essa comunidade científica, problematizando os impactos
desses processos na imprensa científica. Alerta para a necessidade da existência de protocolos de
segurança, bem como para os riscos desse formato e suas implicações para a realidade brasileira, como
o acesso não democrático a internet.

788
DOCUMENTOS FOTOGRÁFICOS E REPRESENTAÇÕES DO MUNDO DO TRABALHO EM DOURADOS / MT
(1850-1950): PEQUENOS PÉS DESCALÇOS ENTRE TRABALHADORES

MARIA EDUARDA FERRO; ANDREÍNA DE MELO LOUVEIRA.


UEMS, DOURADOS - MS - BRASIL.

Compreender o potencial do documento fotográfico é buscar a educação do olhar para além da


ingenuidade. Tratar a fotografia sob essa perspectiva implica contextualizar o momento de sua
produção, tendo em conta a multiplicidade de aspectos envolvidos, como questões de ordem técnica,
social, ideológica, histórica, entre outras. Esse enfoque teórico sustenta que a fotografia não é reflexo
da realidade, posto que representa um mundo formado por práticas sociais, culturais e discursivas. A
representação é formada na perspectiva de classificações e exclusões, tecidas no mundo social
permeado por interesses dos grupos que a geram. A perspectiva da analise é pautada na concepção da
fotografia como mediação. Para Ciavatta a concepção de mediação implica na interpretação do
conjunto das relações presentes no local e no tempo da sua produção. A imagem é resultante da relação

589
de sujeitos, elas contam histórias, atualizam memórias e nos reportam para diferentes realidades. O que
possibilita o caráter histórico da fotografia é o fato das pessoas que compõe a fotografia poderem ser
alocados a um determinado tempo. A memória coletiva é formada pelas escolhas que foram feitas no
passado. Escolhas estas que eternizaram um determinado momento da história. Ela possui um caráter
informativo, uma “re-criação” da realidade conforme a visão do grupo social que a produziu,
estabelecendo a fixação de um momento do passado. A imagem entendida como documento se
relaciona com outros documentos e o processo de sua produção social. Le Goff entende que todo
documento é monumento porque ser produto da sociedade que o fabricou segundo de poder. Logo,
escolhas determinam o que deve ser perenizado, e isso torna a fotografia uma produção cultural, que se
orienta pelo olhar do fotógrafo e do fim a que se destina. Nessa perspectiva, analisamos na presente
comunicação um conjunto de fotografias que compõem o Catálogo Fotográfico Digital: Crianças e
Infâncias do Sul de Mato Grosso (1850-1950), produzido pelo grupo de pesquisa História e Memória
(CNPq/UEMS), privilegiando a relação Criança e Infância no Mundo do Trabalho na região de Dourados
MT no período de 1850-1950. Pensar o mundo do trabalho nas fotografias é conceituá-lo como
atividades materiais, produtivas, como o processo de criação cultural que se gera em torno da
reprodução da vida (CIAVATTA, 2002).

445
EDUCAÇÃO E TRABALHO NO BRASIL, DO FINAL DO SÉCULO XIX, ATRAVÉS DAS CARTAS DE INA VON
BINZER

MARCUS FERNANDES MARCUSSO; LÍVIA CAROLINA VIEIRA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS, SÃO CARLOS - SP - BRASIL.

Este trabalho é resultado da análise do livro “Os meus romanos: alegrias e tristezas de uma educadora
alemã no Brasil”, um conjunto de cartas de Ina von Binzer, assinadas com seu pseudônimo Ulla von Eck,
redigidas no período em que trabalhou como preceptora no Brasil, entre 1881 e 1883. Todas as cartas
foram remetidas à sua amiga alemã Grete com quem Ina demonstra ter grande intimidade, pois revela
suas impressões e pensamentos mais íntimos, na maioria das vezes imbuídos da paixão característica de
uma jovem de 22 anos, que se deparou com uma realidade social, econômica e cultural muito diferente
da Alemanha recém unificada. As cartas romanceadas de Ina Von Binzer são importantes fontes
primárias para estudos da área de educação, e também para outras áreas como história e teoria
literária. O livro apresenta ricas informações sobre as diferentes questões pertencentes à época em que
Ina esteve nos trópicos: escravidão, trabalhos manuais, imigração, composição da sociedade, cultura,
educação, etc. Nesse trabalho, nos ateremos a duas questões que julgamos essenciais nos escritos: a
educação e o trabalho. As cartas foram analisadas buscando relacionar os temas da educação e do
trabalho, que como demonstrou Ina estavam intimamente ligados. Observando a insignificante
importância dada aos ex-escravos, sobretudo as crianças libertas com a Lei do Ventre Livre (1871), Ina
demonstrava sua recorrente inquietação frente à transição do trabalho escravo para o livre que estava
ocorrendo no Brasil, e é este universo que procuramos resgatar. O trabalho é abordado na obra sob dois
aspetos, antagônicos e próximos, a escravidão e o trabalho livre. A escravidão talvez seja o tema que
perpassa praticamente todo o livro, fato explicado pelo interregno em Ina passa por aqui – 1881 a 1883
– quando a abolição já era tida como irrefreável por boa parte da classe senhorial. A preocupação com a
educação também ocupou um lugar de destaque em suas cartas e não revelava só a preocupação
inerente ao ofício de professora. Ela apontou problemas da educação brasileira em geral, indo assim
além da descrição de suas aulas e alunos, ao demonstrar sua preocupação com a educação das negras
recém libertadas. A obra é fonte também para se observar a figura da preceptora que foi emblemática e
central na educação brasileira do período imperial, uma vez que a contratação preceptoras era uma
prática comum entre a aristocracia brasileira. A efervescência vivenciada e narrada por Ina, de uma
sociedade que estava em transição do regime escravista para o do trabalho livre revela a fragilidade pela
qual o modo de produção brasileiro passava. Perceber na prática como se organizava a sociedade é uma
das possibilidades que as cartas de Ina nos trazem.

590
1387
ESCRITA AUTOBIOGRÁFICA E EXPERIÊNCIA GERACIONAL: MINHA VIDA DE MENINA

MARIA CRISTINA GOUVEA.


UFMG, BELO HORIZONTE - MG - BRASIL.

O livro Minha vida de menina teve origem no diário da autora, Alice Dayrell Caldeira Brant, escrito entre
1893 e 1895, quando contava com 13 a 15 anos de idade, tendo sido publicado em 1942. A obra vem
gerando sucessivas reedições, tendo sido traduzida para o inglês e frances e originado uma
interpretação cinematográfica( 2004). O objeto desta comunicação é explorar as possibilidades
interpretativas das produções autobiográficas na escrita da história da educação, tendo como autores
sujeitos das novas gerações. Para tal pretende-se, por um lado, analisar as motivações, condições de
escrita e autoria da obra. Por outro, contemplar a singularidade do olhar da autora sobre o universo
social em torno, definido por um pertencimento geracional, sócio- cultural e religioso. Pretende-se
apreender como a herança cultural da autora, construída na fronteira entre a ascendência protestante
inglesa paterna e católica brasileira materna, como também na transição entre o universo infanto-
juvenil para o mundo adulto, resultou numa interpretação original da sociedade circundante. A
motivação da escrita do diário, em resposta a uma sugestão paterna, ancora-se numa tradição inglesa
de registros autobiográficos, dimensão da construção dos domínios da vida privada e da intimidade. Sua
continuidade, por outro, responde também a uma demanda escolar. No caso do diário de Alice, as
referências culturais inglesas propiciam um estranhamento do universo social de Diamantina,
resultando numa descrição arguta das tradições culturais, bem como das diferenças e desigualdades
étnico- raciais, sociais e religiosas. Vivendo em condições de pobreza, estudando na Escola Normal para
garantir uma inserção profissional, numa cidade marcada pela decadência da exploração mineral, na
transição do regime escravocrata para o trabalho livre, a autora analisa o mundo em torno também a
partir de um pertencimento geracional. Ela interroga as referências culturais do mundo adulto, ao
mesmo tempo que prepara para nele inserir-se. No estudo da obra, construída na fronteira entre duas
culturas e gerações, foram destacados os seguintes temas: religião, raça, geração, inserção social,
trabalho, escola e profissão docente. Neste sentido, o diário é tomado tanto como fonte, ao
contemplar-se a apreensão do contexto histórico, quanto objeto, ao analisar-se as condições de autoria
e escrita, bem como a fertilidade e limites interpretativos da produção autobiográfica, especialmente na
escrita da história da infância e juventude

1200
ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM EDUCAÇÃO FÍSICA: A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO EM
PERIÓDICOS (1930-2009)

SILVANA VENTORIM; GRASIELA MARTINS LOPES POLEZE; ÉRICA BOLZAN.


UFES, VITÓRIA - ES - BRASIL.

Esta pesquisa apresenta o estado do conhecimento sobre o Estágio Supervisionado (ES) na formação de
professores de Educação Física no período de 1930 a 2009 por meio do estudo da materialidade e da
textualidade dos periódicos e dos seus textos. Ao partir da premissa de que há um repertório de
conhecimentos produzidos pela Educação Física passível e possível de ser apreendido descrevemos os
elementos do traçado qualitativo formal da materialidade dos periódicos e dos seus textos e
analisamos, pela textualidade, os pressupostos sobre o ES em Educação Física. Os periódicos foram
selecionados do Catálogo de Periódicos de Educação Física e Esporte (1930-2000), resultado de pesquisa
realizada pelo Proteoria. Pela pesquisa documental bibliográfica adotamos os seguintes procedimentos:
a) leitura exploratória, leitura analítica e fichamento dos textos considerando os indicadores estágio,
estágio supervisionado e formação de professores; b) organização de fichas descritivas dos
textos/artigos; e c) cruzamento de dados e descrição/análise final. A sistematização dos indicadores de
identificação dos periódicos e de seus textos tem se mostrado relevante para compor o cenário do
estudo sobre a temática dessa pesquisa de modo a reconhecer o potencial informativo e o lugar
ocupado pelo uso dos periódicos como fontes na construção da Historiografia da Educação e da

591
Educação Física. Então, conhecer e sistematizar as informações sobre periódicos em Educação e
Educação Física tem sido importante para o reconhecimento dos saberes como expressão de teorias e
inerentes à constituição do campo acadêmico. Reconhecemos o status político e epistemológico dos
periódicos, pois refletem e promovem o debate sobre a temática, o que nos coube penetrar no seu
interior e apreender conceitos, argumentos e implicações que constituem a relação entre formação do
professor, identidade docente e prática pedagógica pela mediação dos ES. A pesquisa reafirmou a
relevância político-acadêmica dos estudos sobre a imprensa periódica na área da Educação Física, na
medida em que localizou, identificou e descreveu os diferentes elementos da produção do
conhecimento sobre a temática. Constatamos em aproximadamente 80 anos uma produção pequena e
com concentração de textos na década de 1990. Pelo debate circulado apontamos a importância da
análise da produção do conhecimento a partir dos periódicos e identificamos pressupostos que
expressam, até o final da década de 1980, uma perspectiva de ES como o momento de aplicação de
conhecimentos desenvolvidos ao longo do curso de formação e, a partir desse momento, o
desenvolvimento da perspectiva de ES como construção dos saberes e da identidade docente no
contexto do exercício da profissão. Entendemos que os periódicos indicam um repertório de saberes
para compreensão e construção da realidade educacional, já que neles encontram-se práticas de ensino
e de pesquisa.

717
FONTES PARA A PESQUISA EM HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NO ANTIGO SUL DE MATO GROSSO (1890 A
1950): ELABORANDO INSTRUMENTOS DE PESQUISA
1 2
ADRIANA APARECIDA PINTO ; ALESSANDRA CRISTINA FURTADO .
1.UFMS/UNESP, COXIM - MS - BRASIL; 2.UFGD, DOURADOS - MS - BRASIL.

Este trabalho tem como propósito contribuir para ampliar o campo de estudo da História da Educação
sobre o antigo Sul de Mato Grosso. Para tanto, a presente comunicação ancorada em pesquisas que se
encontram em andamento, visa realizar uma discussão acerca da elaboração e organização de
instrumentos de pesquisa, tomando como base as fontes documentais referentes à educação no antigo
Sul de Mato Grosso, no período de 1890 a 1950, encontradas em arquivos públicos, acervos escolares e
centros de documentação. A justificativa para a delimitação pauta-se na ausência de estudos que se
dediquem a mapear, inventariar e analisar a documentação originada neste período. Mediante
abordagem histórica, centrada em pesquisa documental e bibliográfica, que está desenvolvida por meio
da utilização de procedimentos de localização, recuperação, reunião, seleção e ordenação de fontes
documentais dos arquivos e acervos pesquisados e de um referencial teórico ligado à História, História
da Educação e Arquivologia. Acreditamos que a partir deste conjunto de fontes documentais é possível
iniciar a constituição de uma memória histórica da educação, balizada em fontes de arquivos e acervos
localizados em Mato Grosso e no Antigo Sul de Mato Grosso. Entendemos, ainda, que a abordagem
histórica da educação, neste estado, vem sendo realizada a partir das pesquisas que elegem eixos e
cidades que se constituem como pólos de produção e investigação, tendo em vista a localização das
fontes e da documentação referente ao Estado no período que antecedeu a sua divisão, manter-se sob
poder público de Mato Grosso. Destacamos que o problema não concentra-se somente no acesso e
guarda dos documentos e sim, ao acesso e interesse dos pesquisadores acerca dos temas e
documentação pertinentes a porção Sul do Estado, conforme demonstra os levantamentos realizados
no banco de dados da CAPES. Frente ao exposto, a organização deste trabalho reflete o esforço da busca
pela consolidação do campo de estudos e pesquisas em História da Educação em Mato Grosso,
viabilizada pela parceria entre pesquisadores das universidades federais sediadas atualmente no antigo
Sul de Mato Grosso, fomentando e fortalecendo o que se convencionou chamar de rede de
sociabilidades. Os resultados obtidos, para além do fomento às pesquisas históricas em programas de
pós-graduação em educação na região, cuja característica apresentava-se, até pouco tempo, cuja
produção apresentava-se vinculada aos cursos de pós-graduação em História, visam à organização e
geração e divulgação de instrumentos de a pesquisa com vistas a subsidiar a produção no campo.

592
1138
HISTÓRIA CULTURAL: CONTRIBUIÇÕES A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO E A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA

KAREN CALEGARI DOS SANTOS.


UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO, VITORIA - ES - BRASIL.

O texto que ora se apresenta versa sobre as contribuições da proposta teórica metodológica da História
Cultural a uma pesquisa concluída intitulada Escolarização e Educação Física: aproximações com a
província do Espírito Santo. A pesquisa buscou investigar o processo de escolarização da Educação Física
no estado do Espírito Santo e objetivou sistematizar análises sobre o processo de escolarização capixaba
e integrá-lo ao debate que vem sendo desenvolvido em âmbito nacional e ampliar as possibilidades de
compreensão do engendramento do campo da Educação Física articulado ao processo de escolarização.
A pesquisa contou como amostra, os relatórios dos Presidentes da Província do Espírito Santo entre os
anos de 1833 e 1888 e os relatórios da Diretoria de Instrução Pública do Espírito Santo entre os anos de
1859 e 1886. Como já observado, as pesquisas documentais contribuem de forma significativa para a
identificação e análise de elementos-chave para a construção da história da educação no século XIX,
expondo as representações e práticas escolares. Contudo, é preciso salientar que o discurso oficial deve
ser tratado com certa prudência. Parte dessa preocupação advém da necessidade de questionar a
validade do documento como sinônimo de uma verdade histórica inabalável; é preciso concebê-lo, pois,
como um texto normativo produzido no intento de intervir e/ou modificar práticas sociais. Nesse
sentido, a análise dos documentos apontados como meio de acesso às práticas, propõe o uso das
contribuições advindas dos estudos de Roger Chartier sobre a operação historiográfica, numa tentativa
de responder as problematizações no que tange tanto a escolha, como a necessidade de conhecer a
história das fontes elencadas abrindo o devido diálogo com os documentos a partir de sua
materialidade. Num primeiro esforço de síntese, gostariamos de apontar que a escolha em operar nesta
pesquisa por meio dos documentos oficiais possibilita uma via de interpretação dos acontecimentos,
ainda que seja inapreensível reconstruir o vivido como de fato o foi, tal como a história cultural propõe.
Nesse sentido, consideramos que investigar os processos normativos de institucionalização da escola
capixaba, é um meio para compreender também as tensões existentes no processo de conformação do
próprio modelo escolar. Logo, é preciso que o pesquisador, por meio da crítica documental,
compreenda as condições pelas quais os documentos foram produzidos, os significados a eles atribuídos
e os usos pelos quais os sujeitos o condicionavam.

587
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DE GOIÁS: DOCUMENTOS EM REDE

VALDENIZA MARIA LOPES DA BARRA MARIA BARRA.


UFG, GOIANIA - GO - BRASIL.

O presente trabalho expõe a pesquisa realizada por um grupo/rede que inclui professores e estudantes
da Universidade Federal de Goiás, Universidade Estadual de Goiás e Faculdade Estácio de Sá – GO. Tal
grupo se debruça sobre um amplo conjunto documental manuscrito e impresso encontrado no Arquivo
Histórico Estadual de Goiás (AHE-GO), Instituto de Pesquisas e Estudos Históricos do Brasil Central
(IPEHBC), Gabinete Literário Goiano (Cidade de Goiás) e Instituto Histórico e Geográfico de Goiás (IHGG).
O trabalho foi iniciado em 2004 com o levantamento de dados da história da educação em Goiás,
havendo ênfase para o período de 1830 a 1930. A pesquisa implica a realização de leitura, seleção e
transcrição de dados relativos à educação. Como finalidade última, visa a formação de um banco de
dados de acesso público ilimitado. Em setembro de 2008 esta pesquisa flertou-se com o Museu Virtual
da Educação de Goiás (Faculdade de Educação - UFG), criado em 2002 e interrompido em 2003. Em
ambos os projetos, verifica-se a proposta de recuperação e disponibilização eletrônica de documentos
da educação goiana. No momento em que se relata este trabalho, os documentos trabalhados por esta
rede de pesquisa estão recebendo os tratamentos de descrição, classificação e arquivamento digital dos
dados no software Ica atom, em conformidade com a NOBRADE. Tal trabalho envolve os seguintes
documentos: 1) Três periódicos: A Matutyna Meyapontense, 1830 a 1834; Correio Oficial, 1837 a 1900;

593
A Tribuna Livre, 1878 a 1883; 2) Série de relatórios presidenciais: anos de 1835 a 1917; 3)
Documentação referente ao Gabinete Literário Goiano: atas de 1864 a 1903; estatuto de 1905,
relatórios presidenciais 1880 a 1884; acervo de obras do século XIX que inclui cerca de 280 livros
fotografados (capa, contra capa, lombada, sumário e ficha catalográfica; 4) Documentação normativa
(leis, regulamentos e programas de ensino): relativos aos anos de 1835, 1846, 1869, 1884, 1886 (dois
documentos distintos), 1887, 1893, 1904, 1906, 1928, 1930 (dois documentos distintos), 1937, 1962,
1973, 5) Mapas de frequência escolar, entre outros.. Neste projeto inclui-se também a incorporação de
acervo de cerca 400 fotografias de situações escolares goianas do século XX, produto de trabalho
desenvolvido por uma professora de História da Educação ao longo dos últimos dez anos em diferentes
municípios goianos. A rede de pesquisa, ora denominada Rede de Estudos de História da Educação de
Goiás (www.fe.ufg.br/reheg) se pretende repositório eletrônico de documentos da história da educação
de Goiás. Palavras-chave: História da educação; Goiás; Fontes.

353
INFÂNCIA E EDUCAÇÃO DA INFÂNCIA NOS CONGRESSOS BRASILEIROS DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO
(2000-2008)

DANIELLE MARAFON.
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PARANÁ, CAMPUS PARANAGUÁ, PONTA GROSSA - PR - BRASIL.

O objetivo deste artigo é discutir a presença das temáticas infância e educação da infância nos textos
publicados nos anais dos Congressos Brasileiros de História da Educação (CBHE), no período de 2000 a
2008, enfatizando a sua recorrência (número de textos) e a sua forma de abordagem (recorte
temporal/espacial, ideias e discursos sobre infância, instituições e experiências pedagógicas de
educação da infância, instituições e experiências de proteção infantil, fontes utilizadas, quadro teórico).
Nesses termos, a problemática consiste em analisar o lugar da infância e da educação da infância na
narrativa historiográfica nos CBHE. A definição dos textos seguiu os seguintes critérios: 1) seleção a
partir da identificação das temáticas no próprio título; 2) leitura dos resumos dos artigos selecionados;
3) leitura dos textos completos dos artigos selecionados a partir dos dois primeiros critérios. Tais
critérios permitem mapear a recorrência das temáticas infância e educação da infância no principal
evento da área de história da educação brasileira organizado pela Sociedade Brasileira de História da
Educação (SBHE). Soma-se a outros projetos, como por exemplo, a tese/livro A pesquisa em educação
infantil no Brasil: trajetórias recentes e perspectiva de consolidação de uma pedagogia da educação
infantil (1999) de Eloísa Acires Candal Rocha que investiga como as pesquisas recentes nas diferentes
áreas do conhecimento têm contribuído para a constituição deste campo de conhecimento. A narrativa
de nosso artigo é menos pretensiosa, pois visa apresentar como a infância e a educação da infância é
retratada pelos pesquisadores de história da educação que participaram dos CBHE. Este artigo insere-se
na polissêmica e complexa área da historiografia, pois pretende recortar uma escala bastante reduzida
dos escritos de história da educação produzidos e publicados nas cinco edições do CBHE da SBHE. O
vocábulo historiografia possui diversas acepções, o que provoca múltiplos debates. Porém, neste texto,
compreendemos historiografia como história da história. Em termos sintéticos, assumimos a definição
de historiografia como estudo que envolve reflexões, de natureza variada, sobre os historiadores e suas
respectivas obras. Desse modo, é possível observar um conjunto muito variado de abordagens
historiográficas, dentre as quais destacamos aquela que tem por finalidade saber como um determinado
tema tem sido tratado ao longo do tempo, por vários autores e várias obras, ou da perspectiva das
tendências ou escolas históricas. Em síntese, neste artigo o recorte é de espectro temático, pois objetiva
compreender a abordagem da infância e a educação da infância nos textos publicados nos CBHE.

594
389
LITERATURA, HISTÓRIA E EDUCAÇÃO: DIÁLOGOS POSSÍVEIS

LETICIA SOUTO PANTOJA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ - UFPA, BELEM - PA - BRASIL.

Durante várias décadas, a historiografia da educação no Brasil, privilegiou pesquisas focadas no estudo
dos fatos históricos considerados relevantes para o processo de construção de um modelo de educação
formal, escolar e tutelada pelo Estado. Preteriu-se, por exemplo, a análise da ação cotidiana dos sujeitos
sociais envolvidos nos fenômenos educativos, bem como, a reflexão sobre outros saberes e espaços de
transmissão de saber, para além do ambiente escolar. Atualmente, no contexto de uma emergente
historiografia preocupada em revisitar as múltiplas vivências da educação no Brasil, surgem estudos
direcionados a novos objetos, novas abordagens metodológicas e novas fontes de pesquisa. Assim, a
educação chamada ‘não formal’, articulada fora do espaço escolar e envolvendo práticas, saberes e
conhecimentos oriundos principalmente das camadas populares, revela-se objeto fecundo para
pesquisa. Paralelamente, a literatura, considerada aqui como um veículo discursivo que propaga certas
percepções intencionais da realidade histórica e dos sujeitos sociais que a subscrevem, mostra-se fonte
documental importante para se entender um pouco da realidade educacional em certo espaço-região.
Nesta perspectiva, as vozes que ecoam das narrativas literárias deixam de ser vistas exclusivamente
como relatos ficcionais, para serem apreendidas em seu caráter simbólico, ideológico e projetivo. As
obras “Belém do Grão-Pará” e “Passagem dos Inocentes”, escritas pelo literato Dalcídio Jurandir, se
articulam a essa discussão na medida em que permitem ao pesquisador conhecer um pouco sobre as
representações a respeito da educação formal e dos saberes não escolares difundidos na sociedade
paraense, entre1920 e 1940. Os escritos dalcidianos, permeados de evocações, memórias afetivas e
descrições pormenorizadas dos valores e crenças que sustentavam certas imagens acerca da
importância da escola e da escolarização para ‘ascender na vida’ e ‘civilizar-se’, dão a conhecer outros
discursos que implícita e/ou explicitamente asseguravam a diferenciação entre o saber formal e outros
saberes presentes na sociedade parauara à época. Pelo teor das narrativas verifica-se que os segmentos
aburguesados da sociedade amazônida estabeleciam dicotomias entre a educação formal e não formal,
valorizando o saber escolarizado em detrimento de outras formas de saber cotidianamente articuladas
entre a população mais pobre da capital do estado do Pará. Práticas habituais relacionadas ao
aprendizado da medicina popular, pautadas no conhecimento do acervo herbário da região e
transmitidas oralmente por diversas gerações; ofícios oriundos de artes ensinadas no espaço doméstico
ou familiar; práticas de sociabilidade provenientes de antigas tradições indígenas ou negras; fazeres
culinários aprendidos no contato diário com os costumes de migrantes e imigrantes; figuram entre
aqueles conhecimentos não formais presentes na região e que eram desprezados pelas camadas mais
ricas da população.

1209
LIVROS DIDÁTICOS COMO FONTES PARA A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO: UM MAPEAMENTO DA
PRODUÇÃO ACADÊMICA

KÊNIA HILDA MOREIRA.


UNESP, ARARAQUARA - SP - BRASIL.

Considerando que o livro didático se converteu em uma das fontes privilegiadas tanto para historiadores
do livro, como da educação nas suas diferentes especialidades, como a história das disciplinas escolares
e a história do currículo, por exemplo, propomos essa comunicação com objetivo de apresentar um
mapeamento da produção acadêmica sobre o livro didático realizada no Brasil. Trata-se de um
levantamento de livros, capítulos de livros, periódicos, artigos e trabalhos em congressos acadêmicos
que tiveram como fontes os livros didáticos. O foco do mapeamento foi às investigações em torno da
história da educação. Esse mapeamento é parte de nossa tese de doutoramento. Consideramos como
descritor de busca o termo “livro didático” ou similares, como “manual”, “livro de texto”, “compêndio”,
“livro escolar” e “livro de classe”, nos títulos. Não consideramos os paradidáticos por tratar-se de outro

595
tipo de objeto. Utilizamos como fonte de busca a bibliografia apresentada pelo projeto Livros Escolares
(LIVRES), a bibliografia do projeto Manuais Escolares (MANES), e a bibliografia de Moreira e Silva (2010).
Localizamos 43 livros, dos quais dois referem-se a mapeamento de livros didáticos, um referente ao
século XIX (TAMBARA, 2003) e outro ao século XX (UNICAMP, 1989); 23 capítulos de livros; três
periódicos dedicados ao tema, totalizando 21 artigos, além dos 25 artigos em periódicos variados (dos
quais sete estão na Revista brasileira de história da educação); 65 produções entre teses e dissertações,
e várias comunicações em anais de eventos acadêmicos, específicos e não específicos sobre livro
didático, dentre eles os cinco congressos brasileiros de história da educação. Apresentamos as análises
separadamente, por tipo de objeto e ao final apresentamos algumas reflexões gerais: No que diz
respeito a periodização, com exceção de Holanda (1957) e Nosella (1978), os demais trabalhos
localizados, nos diferentes formatos, foram produzidos a partir da década de 1980 com maior
concentração nos últimos dez anos do século XXI. Entre os congressos brasileiros de história da
educação destacam-se as investigações que relacionam livros didáticos/manuais pedagógicos e
formação de professores, com 17 ocorrências. As investigações sobre a questão de gênero e etnia nos
livros didáticos é considerável entre as comunicações detalhadas. Entre os temas mais recentes estão os
que tratam da produção, indústria e circulação do livro didático. O mapeamento permite evidenciar a
carência de grupos de trabalhos dedicados a escrever uma história geral da literatura escolar no Brasil.
Ainda não dispomos de um censo dos livros didáticos produzidos no país, de inventários das obras
disponíveis, da evolução dos marcos legislativo e regulamentário, das edições escolares, da sociologia
dos autores, da evolução da estrutura produtiva, da análise de sua difusão e de sua recepção.

1176
MANUAIS ESCOLARES DE HIGIENE: COMO FONTES PARA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

CAROLINA TOSHIE KINOSHITA.


UNICAMP, CAMPINAS - SP - BRASIL.

Nas primeiras décadas do século XX, ganha força o debate sobre a importância da higiene na
constituição de indivíduos saudáveis. Desse debate, surgem diversas ações de propagação das idéias da
higiene no âmbito escolar, desde a institucionalização de órgãos como a inspeção médica escolar até a
elaboração de leis que procuram conformar a atividade educacional às exigências sanitárias. É nesse
contexto que surgem os primeiros manuais escolares voltados para o ensino da higiene nas escolas
primárias do Estado de São Paulo. Concebidos por muitos médicos e educadores como uma ferramenta
eficaz no ensino e disseminação de preceitos higiênicos, esses manuais tinham como intuito incutir, de
forma amena, os ásperos conselhos e ensinamentos de higiene, por meio de historietas, músicas,
poemas ou ilustrações, de fácil assimilação e memorização Em meados da década de 20, a Diretoria
Geral da Instrução Pública passa a recomendar o uso de alguns desses materiais como leituras
suplementares nos primeiros anos do ensino elementar, por meio da divulgação de listas oficiais
publicadas nos principais periódicos de educação do período. As grandes casas editoriais, tais como a
Francisco Alves e Melhoramentos, também foram responsáveis pelo incentivo à elaboração e venda dos
manuais escolares de higiene, valendo-se, para a sua divulgação, da publicação de propagandas e
resenhas. Os periódicos educacionais, além de serem utilizados para divulgar a publicação dos diversos
manuais, eram também responsáveis pela difusão das principais idéias contidas nestes materiais, além
de se constituírem em um veículo de manifestação de apoio à aquisição dos mesmos, por meio de
textos assinados por renomados educadores do período. Interrogando sobre a importância desses
materiais para a difusão dos preceitos higiênicos na escola primária paulista, na pesquisa de mestrado
em desenvolvimento toma como fonte de pesquisa os manuais escolares de higiene, produzidos entre
as décadas de 1920 e 1940, no Estado de São Paulo, procurando contribuir para a reflexão sobre os
limites e possibilidades dos manuais escolares para a compreensão da história da educação. Nesta
comunicação, discutem-se aspectos decorrentes da revisão bibliográfica sobre os manuais escolares
como fontes para pesquisa histórica, tendo como foco principal o estudo e a sistematização das
questões metodológicas que devem ser consideradas no tratamento dessa fonte. Para tanto,
examinam-se as teses e dissertações localizadas nos bancos de dados das bibliotecas das universidades
brasileiras e no Banco de Teses da CAPES.

596
399
MEMÓRIA, AUTOBIOGRAFIA E TRADIÇÃO ORAL: CONTRIBUIÇÕES DA OBRA “INFÂNCIA DE
GRACILIANO RAMOS PARA A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO”

MAISA DOS REIS QUARESMA.


UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO/RJ, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL.

A pesquisa, embasada nos pressupostos teóricos da história oral, foi realizada no município de Buique,
Pernambuco, no período de 1997 a 2002, quando houve atendimento a população no combate ao
analfabetismo (55%) pelo Programa Alfabetização Solidária. No local viveu Graciliano Ramos que
registrou na obra “Infância” depoimentos autobiográficos sobre o processo pessoal de alfabetização, as
impressões com relação aos professores, os espaços de sala de aula, as metodologias de ensino, as
cartilhas e livros utilizados pelos alunos de autoria do Barão de Macahubas. Os estudos realizados por
Saviani (2000), sobre Abílio Cesar Borges, a possibilidade de comparar as evidências da experiência
pessoal de Ramos (1945) com a mensagem generalizada da própria tradição oral da comunidade de
Buique/PE permitiu definir os objetivos de comprovar a fidedignidade da autobiografia publicada como
fonte histórica do final do século XIX no nordeste brasileiro; avaliar e testar as evidências dos relatos
autobiográficos de Ramos (1945) como fontes de informações sobre a história da comunidade local e o
processo de ensino aprendizagem nas salas de aula, interpretar a relação da evidência encontrada com
os modelos mais amplos e com as teorias da história gerando o norte e o impacto para a construção da
história do futuro. A metodologia utilizada no trabalho seguiu as seguintes etapas: revisão da literatura
publicada sobre o tema do trabalho, visitas e coleta de dados no Museu e Biblioteca Municipal,
Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, documentos existentes na Prefeitura, levantamento e catalogação
das fontes primárias e secundárias, organização de fichas organográficas e roteiros de entrevistas com
moradores dos distritos e vilas de Buique/PE, aplicação do processo de crítica externa (autenticidade e
de crítica interna – veracidade) as fontes primárias e secundárias encontradas, comparação e análise
dos pressupostos teóricos publicados na bibliografia sobre o tema estudado com os depoimentos
obtidos nas visitas e entrevistas, interpretação dos dados, organização do relatório final da pesquisa. No
período de permanência da autora do trabalho como coordenadora pedagógica das turmas de
alfabetização de jovens e adultos no município de Buique/PE foi possível pesquisar e atingir objetivos
previstos, estabelecer a integração da individualização das descrições de Ramos (1945) à generalidade
de uma história social, da História da Educação. Palavras chave: Autobiografia, Tradição oral e História
da Educação.

349
MEMÓRIAS DE EX-ALUNAS PRECURSORAS DA FACULDADE DE DIREITO DE PELOTAS-RS

VALESCA BRASIL COSTA.


UNISINOS, PELOTAS - RS - BRASIL.

Este trabalho que se refere a fase inicial de pesquisa de doutorado, tem como objeto a memória de
alunas pioneiras da Faculdade de Direito da cidade de Pelotas-RS, mulheres que fizeram da educação
uma importante ferramenta para sua inclusão e destaque na sociedade. Quanto a metodologia temos
na primeira fase da pesquisa a revisão bibliográfica, envolvendo temáticas de história Oral, história da
educação e ensino jurídico. A seguir, na segunda fase, tendo como local de investigação a Biblioteca
Pública Pelotense e a Faculdade de Direito de Pelotas, foram pesquisados arquivos, em especial jornais e
livros. Paralelamente foram realizadas entrevistas envolvendo personagens que fizeram a história da
Faculdade de Direito de Pelotas, entre elas: Heloísa do Nascimento, que se destacou por ser uma das
primeiras professoras de Direito no Brasil; Sophia Galanternick, a primeira mulher a tornar-se
Promotora Pública no RS; Maria Soares, que muito jovem tornou-se juíza de Direito no interior do RS;
Rosah Russomano, professora de Direito Constitucional da Faculdade de Direito de Pelotas e primeira
mulher a receber título de Professora Emérita na UFPel; Gilda Russomano, que também foi professora
desta instituição de Direito e primeira mulher no Brasil a ser diretora de uma Faculdade de Direito; Lia
Palazzo, aluna e também diretora com destaque nesta instituição. O conjunto de dados analisados

597
permite afirmar que, através da educação, essas mulheres superaram o preconceito e a limitação
imposta por uma sociedade patriarcal, tornando-se pioneiras em diferentes instâncias do ambiente
jurídico. Em outras palavras, a educação se fez instrumento fundamental para o acesso pioneiro das
mulheres pelotenses a profissões tidas como tipicamente masculinas, como no caso do espaço jurídico.
Dando prosseguimento à pesquisa, pretende-se resgatar a trajetória de outras mulheres que, como as
primeiras, também se destacaram a partir da Faculdade de Direito de Pelotas-RS. Pretende-se, assim,
impedir que a caminhada dessas mulheres se perca na trajetória do tempo, pois suas histórias
constituem marcas significativas não só no judiciário pelotense, mas também gaúcho. Assim, esta
pesquisa se mostra importante por resgatar não só personagens femininas locais como também por
fazer uma analise da importância da educação na vida das mulheres pelotenses que fizeram do espaço
jurídico parte fundamental em suas carreiras e nas suas vidas. Com isso percebemos que um trabalho
que se propõe a resgatar a mem[oria da mulheres pelotense que se destacaram no espaço jurídico é um
trabalho que se mostra de grande importância em especial por que este espaço desde sempre foi um
reduto considerado como centro de presença profissional masculina. Por este fato, bem como por
demonstrar também a impotancia da educação como isntrumento de inclusão feminina é que nos
dedicamos a resgatar a memória das primeiras mulheres que venceram barreiras impostas por uma
sociedade comandada e elaborada por homens.

623
MEMÓRIAS DO ESCRITOR ERICO VERISSIMO (1905 - 1975): UMA FONTE DE ESTUDOS PARA A
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

ROSELUSIA TERESA PEREIRA DE MORAIS.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS, PELOTAS - RS - BRASIL.

Esta comunicação faz parte de uma pesquisa concluída, integrante da dissertação de Mestrado em
Educação (UFPel), intitulada: “Representações da docência em romances de Erico Verissimo: a
personagem Clarissa”. Este trabalho tem como objetivo apresentar as memórias do escritor Erico
Verissimo como uma possibilidade de fonte para os estudos da História da Educação a partir de uma
abordagem da História Cultural e da Literatura. Os fundamentos teórico-metodológicos consistem em
um conjunto de conceitos do campo da Educação, Literatura e História da Educação que orientam as
análises deste estudo. O referido escritor nasceu em Cruz Alta, Rio Grande do Sul, em 1905. Dedicou-se
à produção de romances, ficção histórica, literatura infantil e infanto-juvenil, livros de viagem,
biografias, ensaios, artigos e crônicas. Em sua obra autobiográfica, Solo de Clarineta I, fonte de estudo
deste trabalho, o autor descreve cenários, imagens e sensações vividas em sua história de vida
constituída em tempos e espaços definidos. Além disso, o romancista destaca as suas motivações para a
escrita e o processo de construção dos seus personagens. Apresentá-lo implica considerar o processo de
criação literária e a autoria ligada à produção de sentidos e motivações para a escrita. O escritor é
aquele que, atento ao mundo em que vive, transporta para o universo ficcional uma forma específica e
particular “de ver e dizer” esse mundo. Ele “inventa” seu mundo ficcional e, ao fazê-lo, carrega
experiências vividas. Dessa maneira, a ficção é (re)construção, problematização da vida social, sob a
percepção de um autor. Daí a força e a possibilidade de tomar a conceituação de “representação” do
mundo através da Literatura proposto por Chartier (2009). Nesta perspectiva, vale ressaltar que não
pretendo estabelecer uma relação direta da vida de Erico Verissimo com a criação dos personagens em
sua obra, até porque existe um limite entre a memória descrita pelo escritor e a criação de personagens
em obras de ficção. No entanto, como ele mesmo indica, é possível admitir que há uma correspondência
que está imbricada no ato de criar e escrever e a consequente produção de sentidos do que é vivido,
experimentado e sentido em sua vida. Portanto, se reconhecermos que a Literatura é outra forma de
ver e dizer o mundo a partir do que o escritor constrói, ou seja, é alguém que vê e registra o mundo com
a lente do sensível, da imaginação, da criatividade e, muitas vezes, da indignação e da denúncia. Por
isso, a Literatura coloca-se como uma possibilidade ímpar para os estudos educacionais e da História da
Educação.

598
1291
MUNDO RURAL: ESCRITAS, IMAGENS E MEMÓRIAS
1 2 3
VANIA GRIM THIES ; CARMO THUM ; PATRICIA WEIDUSCHADT .
1.UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS, MORRO REDONDO - RS - BRASIL; 2.UNIVERSIDADE FEDERAL DE
RIO GRANDE, RIO GRANDE - RS - BRASIL; 3.INSTITUTO SUL RIO GRANDENSE, PELOTAS - RS - BRASIL.

A análise histórica da Educação através dos modos de vida, das escritas e das memórias realizadas no
entorno da Serra dos Tapes (Sul do RS) indicam vínculos orgânicos dos processos de vida rural, seus
modos de ser e viver com processos de memória e escrita. As implicações históricas dos processos de
silenciamentos e da memória apresentam-se em documentos de fonte primária, nas escritas e nas
narrativas dos sujeitos desses contextos. Esses documentos materializam as especificidades de grupos
humanos de contextos rurais pomeranos da Serra dos Tapes. Derivado de processos de pesquisa de
Mestrado e Doutorado em andamento dos autores, os elementos em análise perpassam pelo foco de: a)
análise do processo de constituição da instituição religiosa Sínodo de Missouri, atual IELB (Igreja
Evangélica Luterana do Brasil), instalada na região meridional do Estado do Rio Grande do Sul nas
primeiras décadas do século XX. As práticas escolares e educativas de uma cultura escolar específica, a
da cultura pomerana apoiada na igreja do Sínodo de Missouri são analisadas a partir do conceito de
cultura escolar. b) escritas de diários de agricultores, esses diários são classificados como escritas
ordinárias (écritures ordinaires), ou seja, escritas que servem para deixar os traços do fazer cotidiano
sem ter como objetivo a consagração de uma obra ou de um autor (FABRE, 1993). É nessa perspectiva
de análise que as escritas dos agricultores trazem o cotidiano do trabalho, o tempo, o lazer e, ainda os
acontecimentos sociais e comunitários, uma escrita que conta a vida de uma maneira muito peculiar,
narrando assim a vida cotidiana dos casamentos, enterros, vida religiosa e outros aspectos da vida social
da família. Esses elementos interpretados a luz da história regional, potencializam a compreensão do
mundo rural em perspectiva histórica, localizando essas ações no tempo e no espaço. c) A memória em
imagens e narrativas, tendo como objeto a investigação dos elementos constitutivos da Educação,
memória e a História da Educação das Comunidades Pomeranas, a partir de um levantamento
iconográfico do mundo material da Serra dos Tapes, bem como narrativas de histórias de vida cotidiana
e de processos formativos que envolveram os membros e os docentes dessas comunidades, busca
compreende o movimento complexo da história cultural dos pomeranos no Sul do Rio grande do Sul.
Essa movimento analítico ampliado contribui na explicitação do contexto da época e amplia o horizonte
de análise histórica.

1232
O CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS E AS SUAS
FONTES PARA ESTUDO DA FORMAÇÃO E PROFISSÃO DOCENTE (1959-1962): POSSIBILIDADES E
LIMITES

ANA PAULA PAULA FERNANDES DA SILVA PIACENTINE.


UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS, DOURADOS - MS - BRASIL.

A presente comunicação visa apresentar e discutir as possibilidades e os limites que o acervo do Centro
de Documentação Regional da Universidade Federal da Grande Dourados CDR/UFGD, oferece para o
estudo da formação e profissão docente no período compreendido entre 1959 a 1962. Tal esforço
fundamenta-se em uma pesquisa concluída que foi desenvolvida para um curso de especialização em
formação de profissionais da educação, na área temática da História da Educação, Memória e
Sociedade. A delimitação temporal encontra-se ancorada nas fontes documentais mapeadas junto ao
Centro de Documentação da Universidade Federal da Grande Dourados, sobre a temática analisada.
Desse modo, o presente trabalho se baseia na pesquisa histórico-documental e em um referencial
teórico que se fundamenta nas leituras acerca da história e da memória, história da formação e da
profissão docente, entre outros. Cabe mencionar que a utilização de documentos em pesquisa é
justificada pela riqueza de informações que deles podemos extrair e recuperar, ampliando o

599
entendimento de objetos cuja compreensão necessita de contextualização histórica e sociocultural.
Desse modo, os esforços de localização, levantamento, mapeamento e de descrições das fontes já
realizados revelam-se significativos para a pesquisa em História da Educação, na medida em que
possibilitam subsídios para a realização de pesquisas visando à construção de uma história da profissão
docente em Mato Grosso do Sul. Considerando-se que as fontes foram ponto de origem, a base e o
ponto de apoio para a produção historiográfica, o estudo fez uso das Pastas dos Professores da
Delegacia Regional do Mato Grosso, período de 1959 a 1962, as quais possibilitaram compreender o
perfil do corpo docente, no que diz respeito a sua formação e qualificação profissional. Contudo, a
análise desse conjunto de fontes permitiu também constatar como era a organização dos cargos nas
instituições escolares de Dourados/MS. Tais dados possibilitaram compreender que os cargos de direção
geralmente eram ocupados pelos homens e a atividade docente nas salas de aulas realizadas pelas
mulheres, o que deixar entrever uma clara distinção de gênero, que marca a história da profissão
docente. Apesar desse conjunto de fontes fornecerem informações importantes para o estudo da
formação e da profissão docente, é preciso salientar os limites do uso de documentos, tendo em vista as
razões e os modos pelos quais essas documentações foram produzidas, as circunstâncias dessas
produções e a relação dos autores com os órgãos da Administração da escola e do Ensino.

428
O DISCURSO PEDAGÓGICO DOS VÍDEOS DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES: UM OLHAR SOBRE AS
PRODUÇÕES AUDIOVISUAIS DOS ANOS 1970-1980

CELSO LUIZ JR.


UEL, LONDRINA - PR - BRASIL.

Resumo Este texto nasceu de um projeto de pesquisa de doutorado em andamento no programa de


pós-graduação em educação: currículo da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, o qual tem por
objetivo analisar as contribuições do uso de fontes audiovisuais na pesquisa em história da educação no
Brasil, mais do que isso identificar o discurso pedagógico nos vídeos produzidos em/e para escolas com
finalidades “educativas” como: registro de datas e eventos importantes, produção de vídeos educativos
para ensino e aprendizagem dos alunos ou formação de professores em serviço. Neste sentido, tais
vídeos foram largamente utilizados pelas escolas (públicas e privadas), prefeituras e governos do estado
do Paraná nos anos setenta e oitenta do século passado. Dois fatos nos chamam atenção para tal
recorte temporal. Em primeiro lugar temos a popularização do formato VHS (Video Home System)
formato este que produziu uma relação direta com vídeos “educativos”, dado que não foi concebido
especificamente com este intuito, mas que de alguma forma foi inserido na cultura escolar, se fazendo
presente nas escolas e universidades incorporando-se à cultura escolar daquele contexto. Ao mesmo
tempo o Brasil passava por discussões importantes que afetam o campo da educação: abertura política,
(re) elaboração de novas leis educacionais, mudanças no discurso intelectual, especialmente no começo
dos anos 1980 com a incorporação de referenciais teóricos para os mais críticos pelos intelectuais
brasileiros da educação e ainda temos o posicionamento mais científico da educação (que outrora),
todos estes elementos proporcionaram grande preocupação por parte da cultura escolar em produção
de vídeos relativos ao campo educacional, discutindo as temáticas do momento, como função
educativa, formação de professores, educação de jovens e adultos etc. Parte desse material imagético
está guardado em acervos de escolas e universidades do país, muitas vezes sem o devido cuidado e
paulatinamente acaram caindo em desuso e no esquecimento - como no caso do Laboratório de
Tecnologia Educacional (LABTED) da Universidade Estadual de Londrina-PR, a qual dispõe de grande
volume de vídeos deste período. Assim sendo, pretendemos analisar o discurso pedagógico presente
nessas fitas, a luz da Cultura Escolar e da Nova História, em autores como Julia, Marc Ferro etc. com a
finalidade de contribuir para a pesquisa de história e educação e da reflexão do currículo daquele
momento histórico, baseando-se em fontes audiovisuais, levantar uma preocupação com preservação
da memória audiovisual e também para analisar as peculiaridades do discurso pedagógico presentes
neste tipo de fonte.

600
1292
O ITINERÁRIO DE UMA PESQUISA: OS VENTOS QUE SOPRARAM NAS ESCOLAS PRAIANAS

MARCIA DA SILVA QUARESMA.


UERJ/ PROPED, CABO FRIO - RJ - BRASIL.

Esta comunicação tem como objetivo descrever e analisar o itinerário de uma pesquisa, em particular, a
pesquisa que realizei para minha dissertação de mestrado no Proped/UERJ, em 2010. O tema da
pesquisa - As Escolas Praianas no Estado do Rio de Janeiro – é, até onde pude averiguar inédito. O
estudo sobre as Escolas Praianas me levou a buscar as mais diversas fontes que ajudassem a pensar a
política educacional na década de 50 no Estado do Rio de Janeiro e a gênese destas escolas. Essas fontes
acabaram se tornando também um objeto de estudo. Tudo o que foi coletado nas antigas Escolas
Praianas, desde a procura destas escolas - que até hoje já mudaram de nome algumas vezes, a
sensibilização das comunidades escolares para a pesquisa – através de estímulos como, por exemplo:
palestras e divulgação da pesquisa em meios de comunicação para que o estudo fosse entendido como
um trabalho de redescoberta -, as mudanças ocorridas durante o percurso da pesquisa com uma das
fontes importantes como, por exemplo, a Imprensa Oficial do Estado do Rio de Janeiro, o contato com
acervos pessoais e a guarda desses acervos, tudo isso foi um processo de descoberta e também de
muito estudo. Apesar da pesquisa se dar nos dias atuais, as fontes documentais são todas da década de
50 e 60, mas as novas tecnologias trouxeram também diversidade à pesquisa. Os diversos e alguns para
mim desconhecidos documentos escolares (livros de visitas, livros de matrículas, atas de resultados
finais, inventários, ofícios entre outros) estavam guardados e dispersos das mais variadas formas.
Descobrir estes esconderijos, demandou vários artifícios. Os diários oficiais, as fotos, as histórias e
memórias de professores e alunos, as visitas às Escolas Praianas, possibilitaram a redescoberta de uma
época e de um acervo que puderam demonstrar a originalidade desta pesquisa e de algumas fontes
também. Este percurso da pesquisa e as fontes se transformaram em objeto desta comunicação, pelas
possibilidades que apresentaram de serem ainda mais esclarecedoras quanto ao período, as
comunidades e as condições das Escolas Praianas estudadas. A leitura de textos sobre a análise de
legislação, os estudos sobre o papel da memória, dos arquivos, sobre a história política possibilitaram
entender toda essa quantidade de documentos. A idéia de refazer esse itinerário de pesquisa é, talvez,
possibilitar a outros pesquisadores, através da experiência por mim vivida, formas de perceber o quanto
a sensibilização das escolas – tema da dissertação -em relação à pesquisa, a sensibilização em relação
aos documentos guardados e a busca desses documentos e das demais fontes, podem fazer diferença
na ocasião do desenvolvimento do trabalho.

425
OS DOCUMENTOS MICROFILMADOS E/OU DIGITALIZADOS COMO FONTE PARA O ESTUDO DA
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO: AVANÇOS E POSSIBILIDADES

ALBONI MARISA DUDEQUE PIANOVSKI VIEIRA.


PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ - PUCPR, CURITIBA - PR - BRASIL.

O objetivo do estudo é analisar os avanços e possibilidades que a microfilmagem e/ou a digitalização de


documentos públicos pode trazer para a pesquisa em História da Educação, a partir da percepção de
acadêmicos que realizaram análise de documentos históricos do século XIX e da primeira metade do
século XX, disponíveis no site do Arquivo Público do Estado do Paraná. Nos dias de hoje, é cada vez mais
acentuada a utilização de sistemas computadorizados nas atividades da administração pública e, em
especial, na preservação da memória histórica, que passa a constituir valiosa fonte de pesquisa
disponibilizada pelos arquivos. No Paraná, essa tarefa é desempenhada pelo "Archivo Público", criado
pela Lei nº 33, de 7 de abril de 1855, sancionada pelo primeiro Presidente da Província do Paraná,
Conselheiro Zacarias de Góes e Vasconcellos, com a principal finalidade de preservar as "memórias
impressas ou manuscritas relativas à história e geografia da Província". Ao longo de mais de 150 anos de
atividades, o volume de documentos recebidos cresceu e, com ele, as funções do Arquivo se
redimensionaram. Assim, na última década, inúmeros documentos foram microfilmados e/ou

601
digitalizados e disponibilizados para pesquisa on line, tais como as Mensagens de Governo (1892 a
1956), os Relatórios de Governo (1854 a 1950) e os Relatórios de Secretários de Estado, que incluem os
da Secretaria dos Negócios do Interior, Justiça e Instrução Pública (1859 a 1934). Considerando-se a
disseminação da informação propiciada pelo processo de gestão documental, a redução de tempo no
acesso à documentação e a utilização de recurso tecnológico com o qual os acadêmicos apresentam
familiaridade, solicitou-se aos estudantes participantes da pesquisa que realizassem a leitura e análise
contextualizada dos Relatórios oficiais no que dissesse respeito à História da Educação do Paraná no
período compreendido entre 1854 e 1956, mediante consulta à documentação disponível on line.
Finalizada essa atividade, passou-se ao estudo da percepção do processo de investigação pelos alunos
que o haviam vivenciado, de modo especial sobre as condições de acesso aos documentos oficiais na
área da educação, as dificuldades que a leitura dos documentos lhes havia apresentado, as vantagens de
serem digitalizados documentos oficiais antigos e a contribuição que a pesquisa documental e sua
análise haviam trazido para os estudos em História da Educação. A coleta de dados foi efetuada por
meio de respostas dadas pelos acadêmicos a questões abertas organizadas em forma de questionário.
Essas respostas foram categorizadas, analisadas e discutidas à luz da contribuição de autores como Faria
Filho (2000), Amorim (2000), Lombardi (2000) e Farge (2009). Como resultado, foi possível levantar a
percepção dos alunos sobre a utilização das novas tecnologias para realização de estudos em História da
Educação, bem como reafirmar o papel que elas desempenham na ampliação e democratização do
acesso a fontes históricas.

350
OS HÁBITOS E A EDUCAÇÃO: UMA ANÁLISE DE TOMÁS DE AQUINO (SÉC. XIII)

TATYANA MURER CAVALCANTE; TEREZINHA OLIVEIRA.


UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ, MARINGÁ - PR - BRASIL.

Esta comunicação – parte de nossa pesquisa de doutorado em andamento – tem por objetivo debater
as relações entre as transformações sociais e a a produção do conhecimento no Ocidente medieval do
século XIII, especialmente na elaboração acerca da ética em Tomás de Aquino (1224-5?/1274).
Compreendemos que o nascimento de uma nova instituição voltada para a elaboração do saber naquele
século, a Universidade, foi parte de um processo de profundas transformações na sociedade medieval,
iniciados a partir do Ano Mil, como o (re) nascimento das cidades, do comércio, bem como da ampliação
do universo cultural cristão, em decorrência do contato com outras culturas (LE GOFF, 1992-2007;
VERGER, 1999; ULLMANN, 2000). No ambiente citadino, as relações entre os homens alteraram-se e
ampliaram-se sensivelmente, seja em razão a nova forma de organização do trabalho – as corporações
de ofício –, seja pela diversidade de papéis sociais nela envolvidos. A vida material tornou-se relevante
àquela sociedade, também no que concerne às possibilidades de aquisição ou desejo de bens materiais.
Ao vivenciarem uma sociedade mais complexa, aqueles homens precisaram recriar seus costumes e
criar novos comportamentos. No intuito de compreender a nova sociedade em formação, bem como de
propor-lhe ideais, os mestres universitários – sobretudo em Paris – revisitavam não apenas as
concepções teóricas assentadas na tradição cristã agostiniana, mas também as recém descobertas obras
da filosofia antiga e as da tradição árabe e judaica (LAUAND, 2004; OLIVEIRA, 2005). Assim, ao olharmos
para a obra de um dos mais importantes autores do período, Tomás de Aquino, buscamos apreendê-la
como um esforço de compreensão de seu tempo, bem como de uma proposta de formação de uma boa
sociedade. Considerando os limites desta comunicação, selecionamos um texto para análise, A causa
dos hábitos quanto à sua geração (ST, IaIIae, q. 51), oriundo da Suma de Teologia, principal obra do
autor, de relevância extraordinária para compreender sua elaboração acerca da ética. Debateremos o
texto do Aquinate à luz da historiografia atual concernente ao tema, em especial dos autores acima
referenciados, buscando compreender a elaboração do autor tendo como referência os problemas de
sua época. Preliminarmente, é possível afirmar que o debate acerca dos hábitos apontava a necessidade
de reformular comportamentos tendo em vista uma configuração citadina da sociedade, bem como de
ensinar aos homens a serem cotidianamente virtuosos nessa nova situação.

602
346
OS RELATÓRIOS DAS DELEGACIAS REGIONAIS DE EDUCAÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO E SUAS
IMAGENS COMO FONTE PARA A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO – DÉCADAS DE 1930 E 1940

MACIONIRO CELESTE CELESTE FILHO.


UNESP, CAMPUS DE BAURU, SAO PAULO - SP - BRASIL.

Após a criação do Ministério da Educação e Saúde Pública no final de 1930, diversas unidades da
federação criaram órgãos congêneres estaduais. A Secretaria de Estado da Educação e da Saúde Pública
de São Paulo, além de suas diversas diretorias, se estrutura com uma Delegacia Regional da Capital e
com vinte Delegacias Regionais do Interior, ocupando as principais cidades do Estado. A partir de 1933
(Bauru) e sistematicamente até 1944 (São Carlos), estas vinte e uma delegacias de ensino organizarão
relatórios periódicos das atividades educacionais e dos estabelecimentos escolares de suas respectivas
regiões. Estes relatórios, 68 encontrados até o momento, encontram-se no Arquivo Público do Estado
de São Paulo. Eles não são completamente inéditos como fonte de pesquisa. Rosa Fátima de Souza, em
seu livro Alicerces da pátria: história da escola primária no estado de São Paulo (1890-1976), já abordou
estes relatórios. No entanto, eles ainda são fonte de pesquisa para a História da Educação bastante
inexplorados. Num primeiro contato, salta aos olhos, literalmente, a riqueza de suas imagens.
Frequentemente, estes relatórios contém dezenas de fotografias, mapas das unidades escolares,
gráficos ilustrados e plantas das escolas sobre os quais estabelecem inventários, relatam e documentam
suas atividades. Em fase inicial de pesquisa, é necessário refletir sobre os procedimentos metodológicos
de como utilizar tal diversidade de informações como fonte de pesquisa em trabalhos de História da
Educação que tratem das décadas de 1930 e 1940 em São Paulo. Não se pretende que as fontes visuais
de informação sobre o passado tenham autonomia em relação às fontes escritas. Porém, os
historiadores estão mais acostumados em utilizar estas últimas. Como se devem abordar as
especificidades das fontes iconográficas em História da Educação? Esta e a pergunta que move este
atual trabalho. Inicialmente, a solução encontrada foi estabelecer as premissas conceituais que alguns
estudiosos dão a este tipo de fonte. Os autores privilegiados para tanto foram Peter Burke –
Testemunha ocular: história e imagem e também A escrita da História: novas perspectivas; Ivan Gaskell
– História das imagens; Roy Porter – História do corpo; Antonio Rodrigues de las Heras – Metodologia
para el análisis de la fotografia histórica; Boris Kossoy – Fotografia & História e Susan Sontag –
Sobre fotografia. O atual trabalho pretende articular as idéias às vezes antagônicas destes autores com
o material encontrado em parte dos relatórios das Delegacias Regionais de Ensino do Estado de São
Paulo das décadas de 1930 e 1940 do século passado. Será privilegiada a fonte fotográfica, mas,
secundariamente, também serão apresentados exemplos de mapas, gráficos e plantas arquitetônicas
destes relatórios. Tem-se por objetivo equacionar parâmetros básicos para o uso de fontes visuais como
elemento importante da documentação passível de ser utilizada em História da Educação.

906
OS VESTÍGIOS DO PASSADO: A UTILIZAÇÃO DO PARADIGMA INDICIÁRIO NA ANÁLISE DE FONTES
DOCUMENTAIS DA HISTÓRIA DAS INSTITUIÇÕES ESCOLARES

ALEXANDRE RIBEIRO NETO.


SECRETARIA DE EDUCAÇÃO E CULTURA DE PARAÍBA DO SUL, PARAIBA DO SUL - RJ - BRASIL.

Esse texto integra as discussões teórico-metodológicas da nossa dissertação intitulada, Tenha Piedade
de Nós: uma análise da educação feminina do Educandário Nossa Senhora da Piedade em Paraíba do
Sul, 1925-1930. O corpus documental é composto pelo Testamento da Condessa do Rio Novo, os
Relatórios de Compromisso, redigidos pelo provedor Randolpho Penna Júnior, as Atas da Câmara
Municipal de Paraíba do Sul, e o jornal O Arealense. O Educandário Nossa Senhora da Piedade foi
fundado em 1884, como cumprimento das vontades póstumas de Mariana Claudina Pereira de
Carvalho, a Condessa do Rio Novo. Ele ainda é administrado pela Irmandade Nossa Senhora da Piedade
e contava com o auxílio das Irmãs de São Vicente de Paula. Pensamos também em estabelecer um
período de cinco anos, para dar conta de uma pesquisa, com variadas ramificações, tais como: questões

603
de gênero, pensamento educacional católico, as relações entre o público e privado, materializadas na
construção de uma escola pública em um prédio privado católico Nosso trabalho tem como objetivo
analisar a utilização do Paradigma Indiciário, proposto por Carlo Ginzburg (1989), nas fontes
documentais das instituições escolares. Um dos grandes problemas, que afligem os pesquisadores, que
se dedicam a reconstrução da história, das instituições escolares é a fragmentação dos acervos. A
fragmentação pode ter acontecido por diferentes motivos, tais como: incêndios, mudança de endereço
da instituição, e a ausência de funcionários especializados e local próprio, para a conservação de
documentos. Não podemos esquecer que, reconstruir a história de uma instituição escolar, não é
organizar cronologicamente os documentos, e descrevê-los, essa é apenas uma etapa importante, do
trabalho do historiador da educação. Antes de tudo se faz necessário eleger um problema. Não se faz
história da educação, sem um olhar problematizador sobre o passado das instituições escolares. Para
unir os fios de um tecido social com diferentes perdas, Carlo Ginzburg propõe que o pesquisador não se
limite a pesquisar a instituição, mas amplie o seu olhar par a sociedade, na qual ela está inserida, para
que o mesmo possa conhecer a relevância social, da instituição pesquisada, e nesse percurso coletar
indícios que, o permitam conhecer os diferentes agentes históricos, que no calor dos dias construíram
uma sociedade, cujos documentos nos permitem fazer falar novamente.

1379
PELA NARRATIVA ROMANESCA, UMA FORMAÇÃO EXEMPLAR! (CAICÓ-RN, SÉCULO XIX)

FRANSELMA FERNANDES DE FIGUEIRÊDO.


UFRN, NATAL - RN - BRASIL.

No Brasil do século XIX, a criação da Imprensa Régia, em 13 de maio de 1808, propagou a palavra
impressa e difundiu o interesse pela leitura de obras como almanaques, manuais de civilidade, guias
medicinais, livros de orações, livros juvenis e romances de cavalaria, a exemplo da História do imperador
Carlos Magno e os doze pares de França (autoria desconhecida), romance de cavalaria com valores e
padrões de vida que remetem à cavalaria medieval, publicado na França, por volta de 1525. Traduzido
para o português no século XVIII, por Jerônimo Moreira de Carvalho, esse romance alcançou grande
longevidade e popularidade, inclusive por todo sertão nordestino, onde foi sucessivamente lido e
reescrito para forma de cordel. Em Caicó-Rio Grande do Norte, assim como em diferentes lugares do
Brasil, esse romance de fundo religioso foi uma das obras responsáveis por consubstanciar
sociabilidades leitoras relativas à oralidade, à escrita, à escolarização e, sobretudo, à religiosidade. Os
moradores de Caicó, em sua maioria agricultores, fazendeiros, vaqueiros, artesãos e militares, além de
profundamente católicos e cultuadores das histórias de célebres guerreiros, eram também afinados com
seu enredo instrutivo e formativo, fosse pela leitura feita ou pela escuta da mesma. A investigação parte
do referencial teórico-metodológico da história da leitura de Roger Chartier (2001) – que permite pensar
os mesmos textos ou livros lidos como objetos culturais de ensinamentos e decifrações múltiplas que
forneciam às gerações sucessivas referências [quase] idênticas – e objetiva refletir sobre os
ensinamentos formadores de comportamentos pretendidos nessa narrativa romanesca. A análise revela
que os ensinamentos formadores pretendidos na História do imperador Carlos Magno e os doze pares
de França definem-se principalmente como aqueles relativos à formação religiosa, aos comportamentos
sociais e à vida cotidiana de homens, mulheres e crianças. Os ensinamentos relativos à formação podem
ser entendidos como o dever de fazer orações diárias, de construir oratórios e capelas, de ler ou ouvir a
leitura da Bíblia Sagrada, de praticar a caridade e de participar das festividades religiosas da Igreja
Católica. Os ensinamentos destinados à formação de comportamentos sociais como o dever de educar
(na leitura e na escrita, pelo menos) e doutrinar (na religião) os filhos, e de portar-se adequadamente,
com cortesia e civilidade. Os relativos à vida cotidiana definem-se especialmente pelos modos de
cavalgar destemidamente e pela coragem de lutar pela sobrevivência.

604
401
POR FONTES JURÍDICAS E CARTORIAIS, UMA CIDADE E SUAS SOCIABILIDADES (PRÍNCIPE, RIO GRANDE
DO NORTE, SÉCULO XIX)

OLIVIA MORAIS MEDEIROS NETA.


UFRN, IPUEIRA - RN - BRASIL.

As sociabilidades nos espaços citadinos apontam para múltiplas condições de construção do social e de
vivências, pois os modelos de comportamento mais ou menos se ajustam as realidades materiais, aos
gestos, a ordem das festas e das cerimônias e a maneira de organizar o espaço social, trazendo o
testemunho de uma certa ordem. Nessa perspectiva, esse trabalho que é parte das reflexões
desenvolvidas no Doutorado em Educação da Universiddae Federal do Rio Grande do Norte, tem como
tema as sociabilidades formativas no Príncipe, atual cidade de Caicó-RN, o que possibilita a demarcação
do objeto de estudo 'cidade e suas sociabilidades'. Assim, objetivamos analisar as sociabilidades no
Príncipe, século XIX, a partir de um conjunto de fontes jurídicas e cartoriais pertencentes ao 1º Cartório
Judiciário de Caicó que estão sob a custódia do Laboratório de Documentação Histórica do Centro de
Ensino Superior do Seridó da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. As sociabilidades remetem
para as realidades sociais relativamente verificáveis na vida social e sua prática organizada, sendo essa a
forma principal da vida associativa. Esse entendimento de sociabilidade toma por base o trabalho
‘Penitents et francs-maçons de l'ancienne Provence’ de Maurice Agulhon. Para a interpretação das
fontes, o estudo assenta-se no método indiciário, permitindo o apreço aos pormenores e a conciliação
entre a racionalidade e a sensibilidade. Do conjunto de fontes jurídicas e cartoriais selecionamos
testamentos e autos de contas, inventários e processos-crime como o da ré Joanna, escrava (1869) e do
réu João Serafim de Maria (1876). Esses apresentam componentes de sociabilidades formativas em
espaços como o da Matriz de Santa Ana, das vias públicas, das casas sitas no perímetro urbano e o da
Casa de Câmara e Cadeia Pública que, particularmente, ao sediar reuniões dos vereadores, os júris, os
interrogatórios, os exames de corpo de delito e outros modus sociais e políticos materializava
sociabilidades político-administrativas e jurídicas. As fontes jurídicas e cartoriais analisadas nos
permitiram perceber que, no Príncipe as sociabilidades se distribuíam pelos estabelecimentos privados e
pelas instituições públicas constituindo uma intersecção da vida familiar, com a econômica, a política, a
social, a cultural. Dessa forma, as sociabilidades formativas no Príncipe no século XIX ocorriam pela
relação entre a cidade e a educabilidade, pois a urbe com seus mecanismos de regulação como a Casa
de Câmara e Cadeia e o aparato jurídico constituíam formas a ação dos seus moradores e, como isso,
ditavam orientações e condutas para esses.

1000
POSSIBILIDADES E LIMITES NO/DO ESTUDO COMPARADO DE DOCUMENTOS CURRICULARES: A
CONSTRUÇÃO DA HISTÓRIA CURRICULAR NO CAMPO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL (1979 E 1999)

FABIANY TAVARES SILVA.


UFMS, CAMPO GRANDE - MS - BRASIL.

Pesquisa finalizada recentemente, inscrita no campo da história do currículo, objetivou a escrita da


história curricular no campo da educação especial, mas, especificamente, a escolarização dos deficientes
no Brasil. Essa escrita foi operada a partir do estudo comparado de dois documentos curriculares,
produzidos pelo Ministério da Educação, nos anos de 1979 e 1999. Nesse cenário, os limites estavam
delineados por estudo que desconsiderasse na explicação de qualquer fato ou fenômeno educativo as
relações com as convicções políticas, econômicas e/ou filosóficas da sociedade a que serviu/serve,
tampouco comparar as mudanças educacionais sem um mínimo de dados sobre o período histórico em
que essas se deram. Já as possibilidades, de um lado, se descortinavam pela/na busca das semelhanças
e diferenças entre esses documentos e, de outro, pelo sentido da comparação, isto é, as dinâmicas
colocadas em curso a partir das transformações das condições de escolarização, superando a mera
descrição. Diante disso, para essa comparação foram eleitas duas categorias de análise, a saber: a
escolarização e a escolaridade. Por escolarização entendemos a construção e a materialidade das

605
políticas educacionais (de matrícula, de organização dos níveis, etapas e serviços, entre outros), que
asseguram a escolaridade, aqui delimitada na proposição da atividade escolar propriamente dita, a qual
implica a frequência de aulas e a avaliação dos desempenhos escolares. Na perspectiva de
encontrarmos a geografia histórico-político-educativa desses documentos, nossa primeira categoria, a
escolarização, em comparação indicou que sua formulação estava intimamente associada a uma
determinada compreensão da importância da seleção dos indivíduos, com base na caracterização da sua
deficiência e, consequentemente, na identificação dos comportamentos que precisavam ser
instalados/inculcados de acordo com os padrões de normalidade para sua melhor integração. No que
diz respeito a escolaridade, seu objetivo maior, parece ser o de controle, traduzido na distribuição dos
conteúdos acadêmicos em diferentes disciplinas, com a premissa de que tudo deve ocorrer devido às
“orientações” impostas pela subjetivação e adjetivação em tempos de aprendizagens. Em conclusão
uma comparação é, em definitivo, um processo ordenador em que, não somente se dispõe
ordenadamente os materiais previamente reunidos, e sim, atribui a cada um deles a relevância
adequada. Nesse sentido, a escolarização dos deficientes parece assumir o currículo como um texto que
se tece a partir de múltiplos discursos, das deficiências, das necessidades educativas impressas por elas,
enfim, discursos que podem ser aplicados ao mundo da escolaridade por meio de um conjunto de
pressupostos prévios que não refletem a natureza dessa mesma escolaridade e não pondera a função
social, política e cultural da educação para grupos determinados.

1034
RASTROS SOBRE A EDUCAÇÃO FEMININA NO PERÍODO COLONIAL: INSTRUÇÃO MORAL E OFÍCIO
DOMÉSTICO NAS VILAS DE ÍNDIO

FRANCISCO ARI ANDRADE.


UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ, FORTALEZA - CE - BRASIL.

A referida pesquisa foi desenvolvida no período de 2009-2010. Aconteceu junto ao Arquivo Público do
Estado do Ceará- APEC. Insere-se no Programa de Iniciação Científica, da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-
Graduação - UFC. Contou com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
- CNPq, por meio de concessão de uma bolsa de iniciação científica. O objeto da investigação foi localizar
e catalogar documentos sobre as Vilas de índio da Capitania do Ceará. Procurou-se descobrir rastros
acerca das aulas régias. Foram encontrados documentos que possibilitam o itinerário da educação
brasileira no período colonial. A pesquisa se desenvolveu em duas etapas. Na primeira, a localização dos
documentos. Na segunda, a catalogação e digitalização. As vilas de índio foram instituídas pela política
do diretório. O Marques de Pombal, no bojo das reformas do Estado português, empreendeu o
reordenamento na Colônia. Foram publicadas leis para disciplinar a conduta dos índios. As vilas
constituíram respostas às reivindicações dos colonizadores. O governo de cada vila civil era composto
por uma junta de funcionários públicos: um diretor, cuja exigência para o cargoeram as virtudes morais
compatíveis com a ciência da língua portuguesa, um juiz ordinário, vereadores, um oficial de justiça,
uma vigaria composta por um pároco e seu coadjutor, com direito a côngruas, além de mestre de ensino
para meninos e meninas. Para alcançar aquela finalidade eis o tripé onde se assentava o ordenamento:
O trabalho agrícola para produção de alimentos destinava para suprir as necessidades dos aldeados, era
obrigatório para todosos homens dos 13 aos 60 anos; casamento católico, inclusive entre brancos e
nativos, como critério de construção da base familiar cristã; 3) instrução de ler e escrever para meninos
e meninas indígenas, além de ofícios domésticos. O mestre de ensino de cada vila de índio era pago pelo
imposto do subsídio literário. A pesquisa localizou 48 documentos. Os documentos se integram a
questão das aulas de ler e escrever para meninos. Para meninas havia a recomendação de uma base
curricular moral para meninas, arraigada numa orientação religiosa, onde se associava aquisição de
leitura, de escrita, de operações com número com a aquisição de habilidades em ofícios domésticos.
Dentre os achados, destacam-se um documento datado de 1789, um despacho expedido pelo
Governador da Capitania, atendendo a solicitação de provimento do mestre de ensino de primeiras
letras na Vila de índio de Arronche. Na epígrafe de outro documento há uma referência ao termo
mestre de meninos. Porém, na parte central do mesmo está destacada a função de mestre de meninas.
Isso indica a existência de escolas de ler e escrever para meninas índias nas vilas da capitania do Siará

606
Grande. Uma leitura atenta de um trecho de um documento se percebe o que estava sendo sugerido
como modelo de educação imposto para as meninas índias nas Vilas do território da capitania cearense.

650
REFLEXÃO SOBRE A CATEGORIA TOTALIDADE DO MÉTODO DIALÉTICO AO TRATAR A DUALIDADE
EDUCACIONAL NO CAMPO DAS MENTALIDADES

SILVÉRIO AUGUSTO MOURA SOARES DE SOUZA.


PPFH/UERJ, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL.

O texto trata de investigar o limite da fragmentação da totalidade no método dialético no sentido de


forjar novas unidades dialéticas que considere as subjetividades do indivíduo para que se possa
compreender a relação intrínseca individuo-coletivo na Educação. Com efeito, o processo educacional é
um processo de formação humana que, por sua vez, é um processo de conhecimento e de realização
individual e, por conseguinte, um processo de subjetivação. Esse fator subjetivo, entretanto, deve ter
um caráter social para não instrumentalizar idealismos que descaracterizariam a dialeticidade do
processo. Por outro lado, a totalidade é representada pelo fenômeno da Dualidade Educacional que
trata de dois processos educacionais: educação para a classe popular e a educação para a elite
conservar a sua hegemonia. Esse estudo leva em consideração a necessidade de concreção na análise do
fenômeno a fim de inseri-lo dialeticamente em uma perspectiva histórica, no caso, na dimensão da
História das Mentalidades. Esse campo histórico mostra a existência de uma história das estruturas
onde o aspecto sócio-econômico, por Michel Vovelle, está inserido à “história das atitudes mais
elaboradas”, que passa a explicar opções, atitudes e comportamentos coletivos, indo além das análises
das estruturas sociais. Como é uma história que pretende problematizar o social nos modos de viver,
sentir e pensar dos indivíduos no coletivo; na articulação com a concepção dialética da totalidade,
observa-se a necessidade de deslocar as unidades concretas de contradições do método de pesquisa às
atitudes e aos comportamentos coletivos. A finalidade dessa produção de conhecimento é contribuir na
resistência às novas investidas de conservação da escola dual em um Capitalismo dependente, pela
conscientização crítica das subjetividades associadas – estabelece-se, assim, a contradição entre essa
escola dual e a escola única. Essa unicidade é tratada sob o ponto de vista anarquista. Fomos encontrar
na História das Mentalidades um campo fértil para investigar não somente as conseqüências das
relações de poder, mas procurar saber onde se encontra a motivação que levam os indivíduos a desejar
subjugar indivíduos. Essa perspectiva histórica já foi testada em estudo anterior, no confronto de
concepções educacionais liberais e libertárias. Aqui, o propósito desse trabalho, em última análise, é
amadurecer essas bases metodológicas no intuito de pensar dialeticamente o objeto em questão para
melhor compreender as subjetividades das políticas públicas educacionais contemporâneas e identificar,
para além da conjuntura dessa fase financeirizada do Capital, as forças inerciais que promovem a
dualidade na Educação. Pesquisa em andamento.

1055
REFLEXÕES ACERCA DA PESQUISA COM A HISTÓRIA DA DISCIPLINA DE HISTÓRIA

NATHALIA HELENA ALEM.


IFBA/CAMPUS DE EUNÁPOLIS, EUNAPOLIS - BA - BRASIL.

Opresente trabalho apresenta algumas reflexões acerca do nosso objeto de pesquisa, nossos marcos
teóricos, metodológicos, bem como nosso percurso ao longo do trabalho com a História do ensino de
História no Colégio Estadual Clériston Andrade, em Eunápolis/BA, durante a década de 1990, que
resultou em nossa dissertação de mestrado. Em nosso texto discutimos a pesquisa no campo fronteiriço
e movediço, da História da Educação, que transita entre dois campos, pois tem como objeto a Educação,
mas investiga sob a luz da História. Essa especificidade, aponta a necessidade da filiação clara das
pesquisas em História da Educação, aos marcos teóricos metodológicos da História sem, entretanto,
descuidar dos conceitos que informam de forma própria e singular seu objeto, a Educação. Este trabalho
encontra-se vinculando aos aportes teóricos da História Cultural e da História das Disciplinas Escolares,

607
que são utilizados para compreensão do objeto, a História do ensino da disciplina escolar de História,
bem como na construção da metodologia pesquisa. No texto, posicionamos nossa pesquisa, situando-a
frente a outros trabalhos em História da Educação, e das disciplinas escolares na Bahia e também em
outros estados, como: no Paraná e em Pernambuco. No entanto, aponta a preocupação, em especial,
com o estado da Bahia, onde verifica a pouca investigação no campo da História da Educação, em
especial, da História do ensino de História. O texto aponta, que assim como nosso trabalho, as pesquisas
em História da Educação com esse objeto, disciplinas escolares, tem se pautado por incursões ao
interior das salas de aula. Não ficando apenas com as discussões referentes aos currículos e normas,
pois esses só possuem existência no trabalho das salas de aula. Assim, para adentrar ao universo rico e
criativo das salas de aula, as recentes pesquisas, incluindo a nossa, apresentam a necessidade de
trabalhar com fontes variadas, desde as cadernetas escolares as fontes orais sem, contudo, negligenciar
as leis e currículos prescritos. Por fim, apresentamos possibilidades de interpretação e o convite a
inúmeros começos. Ao propormos essa investigação no campo da História do ensino de História no
município de Eunápolis, na Bahia, entendemos que a verticalização dos estudos nessa área poderá
auxiliar a compreensão das propostas, não por elas, mas a partir dos embates e apropriações próprios
das vivências dos indivíduos. As mudanças e permanências promovidas pelas novas propostas devem ter
seu entendimento nelas, mas também na vivência dos sujeitos que as implementaram.

475
TOMAS DE AQUINO NA UNIVERSIDADE PARISIENSE: ENSINO, POLÍTICA, E MEMÓRIA NA HISTÓRIA DA
EDUCAÇÃO MEDIEVAL

TEREZINHA OLIVEIRA OLIVEIRA.


UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ, MARINGA - PR - BRASIL.

O objetivo deste trabalho é analisar a relação entre ensino e política, na Universidade de Paris, na
segunda metade do século XIII. A fonte para este estudo são duas questões da Suma de Teologia (II – II)
de Tomás de Aquino. Trata-se da questão 101, sobre a Piedade, e a questão 102, sobre o Respeito. As
duas questões expõem o modelo de ensino que era realizado na Universidade e, ao mesmo tempo,
explicita que o mestre dominicano, ao ensinar seus alunos, não perdia de vista os problemas pontuais
de sua época. As aulas e os escritos de Tomás tinham como cenário a vida cotidiana de uma das mais
importantes cidades do Ocidente medievo, Paris. Esta e a sua universidade apresentavam cenas
distintas das apresentadas no feudo. Estas cenas traziam à baila um novo modo de vida, na qual as
diferenças sociais, culturais e de saberes eram apresentados aos homens. Estes precisavam ensinar e
aprender a conviver com elas. Ao tratar da piedade e do respeito, o mestre Tomás busca ensinar aos
seus alunos a importância da tolerância e do respeito entre os homens para que a vida pudesse
transcorrer no espaço coletivo. Este teórico explicitou as diferenças entre as concepções teóricas
ensinadas, ou seja, os escritos sagrados e textos de Aristóteles. Também precisou explicar aos seus
alunos e aos que o ouviam – pois, este intelectual era mestre da universidade e frade pregador - os
diferentes níveis de relacionamento que os homens travavam entre si, para evidenciar que o respeito
devido aos pais tem uma natureza, em relação aos mestres outra, em relação ao governante, outra
ainda, e a Deus, uma quarta. Diante deste cenário da urbis, Tomás mostrou aos homens que não existia
mais uma única forma de relacionamento, mas múltiplas e, em cada uma delas, exigia-se daqueles que
as estabeleciam, compreensões e atitudes diferenciadas. A vida na cidade e na universidade tornara-se
complexa, exigindo que os homens tivessem novas noções de convívio social, especialmente em relação
ao governante. Necessitavam, por isso, aprender a arte de conviver em comum e a arte da política para
obedecer às novas leis sociais. Esta proposta segue os princípios teórico-metodológicos da história social
e trilha os caminhos da longa duração. Ao refletirmos sobre os escritos tomasianos apreendemos, por
meio da memória histórica, como teóricos de outros tempos conseguiram aliar em seus escritos e aulas
os conteúdos programáticos a serem ensinados e princípios norteadores da política tão caros ao
convívio social, independentemente do tempo histórico. Por fim, observamos que este estudo é parte
de uma pesquisa em andamento sobre os intelectuais da Universidade de Paris financiada pelo
CNPq/PQ-II.

608
435
TRAÇOS DO PASSO EDUCACIONAL: A CONTRIBUIÇÃO DAS FONTES ICONOGRÁFICAS E IMAGÉTICAS
PARA A CONSTRUÇÃO DA HISTÓRIA DOS COLÉGIOS CONFESSIONAIS

SAMARA MENDES ARAÚJO SILVA; ANA LOURDES LUCENA DE SOUSA.


UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ, TERESINA - PI - BRASIL.

No percurso de uma pesquisa de doutoramento sobre a historicidade e o cotidiano das instituições


educacionais confessionais nos impuseram o desafio ao trabalhar com as fontes iconográficas e
imagéticas pelo fato de que tais Colégios e as ex-alunas destes dispõem (em geral) de grande número de
imagens produzidas em diferentes épocas de suas trajetórias escolares, que registraram de diferentes
modos momentos da vida destas instituições: práticas educativas (instrucionais, morais e religiosas),
alterações arquitetônicas em suas estruturas físicas, bem como informações relativas às pessoas se que
se relacionavam com os Colégios, seja por serem suas alunas, professores e/ou funcionários, visitantes
detentores de cargos eclesiásticos (bispo, monsenhores, padres, etc.) e civis (presidentes, governadores,
prefeitos, deputados, etc.); e, revelaram, ainda, a importância dada ao momento de se fazer os registros
fotográficos até a primeira metade do século XX, tanto que o Colégio das Irmãs de Teresina contratou
como fotógrafo exclusivo para os eventos do Colégio o mesmo profissional que prestava serviços para o
Governo do Estado do Piauí (1940 a 1960), Guilherme Müller, e que para atender a demanda do Colégio
pelas imagens montou ao lado de seu estúdio fotográfico um salão de beleza (administrado por suas
filhas) e que era freqüentado, quase que exclusivamente, pelas alunas das freiras Catarinas. Lembremos,
ainda, que a fotografia não era comum para a maioria dos brasileiros, em razão dos altos custos para
compra de equipamento e para revelação, então, possuir fotografias no país antes da década de 1960
era, também, um indicativo da posição sócio-econômica senão de destaque, pelo menos confortável ao
ponto de se despender uma quantia significativa com a aquisição de fotografias. Tal constatação nos
assegura que as fotografias dos Colégios Católicos revelam bem mais que imagens de situações
singulares indicam, também, a condição financeira familiar daqueles indivíduos que detém tais objetos
de memória. Apoiados na História Cultural demonstramos a utilização das imagens como fonte histórica
em nossa pesquisa sobre escolas confessionais – especialmente as piauienses –, e como a partir destas
enredamos as narrativas, tecendo as relações entre o registro imagético e o contexto histórico com o
intuito de se empreender a análise da fotografia enquanto registro de experiências históricas
relacionadas aos Colégios Católicos estudados, nos foi possível confrontando as imagens com outras
fontes históricas conhecer e compreender, além dos rostos dos nomes remorados pelas ex-alunas em
suas falas e citados noutros documentos, o discurso proferido e defendido, a posição social ocupada, a
delimitação de posições sociais, a convicção política, etc. enfim, a imagem traz o registro de uma
realidade histórica e social pensada e articulada, e por fim, marcada, pela configuração social vigente e a
qual as escolas confessionais pertencem e “espelham”, e, por vezes, reproduzem.

1361
UM BALANÇO DA PRODUÇÃO ACADÊMICO-CIENTÍFICA SOBRE HISTÓRIA DA ALFABETIZAÇÃO NO
BRASIL (1979-2009)

MARIA DO ROSÁRIO LONGO MORTATTI.


UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA, MARÍLIA - SP - BRASIL.

Com o objetivo de contribuir para o balanço da produção acadêmico-científica sobre história da


alfabetização no Brasil, apresentam-se, neste texto, resultados de pesquisa vinculada ao Grupo de
Pesquisa e ao Projeto Integrado de Pesquisa “História do ensino de língua e literatura no Brasil” e ao
Projeto Integrado de Pesquisa “Bibliografia brasileira sobre história do ensino de língua e literatura no
Brasil” (CNPq). Por meio da utilização de procedimentos de localização, recuperação, reunião, seleção e
ordenação de referências de textos sobre o tema, produzidos por brasileiros, entre 1979 — ano do
primeiro trabalho acadêmico com abordagem histórica da alfabetização — e 2009 — ano de
encerramento da pesquisa —, foi elaborado um instrumento de pesquisa, no qual se encontram mais de
três centenas de referências de livros, capítulos de livros, artigos em periódicos, textos avulsos

609
disponíveis na Internet, textos completos publicados em anais de eventos, teses de livre-docência e de
doutorado, dissertações de mestrado, monografias de conclusão de curso. A análise desse conjunto de
referências e dos textos correspondentes possibilita as seguintes conclusões preliminares:
especialmente a partir do ano de 2000, tem-se intensificado a produção acadêmico-científica com
abordagem histórica sobre alfabetização; esse processo dialoga diretamente com a produção
acadêmico-científica sobre história da educação brasileira e estrangeira, com destaque para a européia
e norte-americana, em circulação especialmente a partir das décadas de 1970 e 1980; grande parte
dessa produção é constituída de artigos em periódicos, de textos em anais de eventos e de trabalhos
acadêmicos em nível de mestrado e doutorado, os quais se encontram disponíveis em sites de
programas de pós-graduação e de bibliotecas ou em banco de teses on-line; grande parte dessas
pesquisas tem sido desenvolvida no âmbito de programas de pós-graduação em educação e de
grupos/núcleos de pesquisa sediados em instituições da região Sudeste do país, embora se constate
também a expansão dessas pesquisas nas regiões Sul e Centro-Oeste. Essas conclusões preliminares, por
sua vez, propiciam também compreender a tendência à constituição da história da alfabetização como
campo de conhecimento específico, por meio da definição de identidade e da autonomia de específicos
objetos de estudos e respectivos métodos de investigação, ainda que preservando sua natureza
interdisciplinar, resultante da complexidade e multifacetação do fenômeno envolvido. E, em
decorrência, a necessidade de problematizar os principais aspectos característicos da pesquisa nesse
campo, em especial os relativos: às fontes documentais, objetos e métodos de investigação;
pressupostos teóricos e tendências teórico-metodológicas que sustentam a produção acadêmico-
científica brasileira. Para esse balanço, pretende contribuir este texto.

1095
UM IMPRESSO PARA MULHERES E SEUS MODOS DE APROPRIAÇÃO: A REVISTA GRANDE HOTEL E SEUS
LEITORES (BELO HORIZONTE, 1947-1963)

JULIANA FERREIRA DE MELO.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS, BELO HORIZONTE - MG - BRASIL.

Neste artigo, apresento resultados parciais de uma pesquisa em andamento, cujo objetivo é investigar a
Revista Grande Hotel, destinada às mulheres, e a apropriação do impresso por seus leitores em Belo
Horizonte, do início de sua circulação no Brasil, em 1947, até 1963, um ano antes do Golpe Militar.
Como fontes para o estudo, utilizo números da revista, publicados no período da investigação, e
também depoimentos orais de leitores de Grande Hotel à época. Têm sido fontes potenciais para o
trabalho cartas de leitores trocadas entre si, ou aquelas escritas para os responsáveis pela edição da
revista; registros dos sujeitos participantes da pesquisa, nos quais eles narram sua experiência de leitura
do impresso, tais como notas em diários. O estudo volta-se, portanto, para a investigação da leitura, a
partir tanto do texto impresso, como das experiências de leitura de diferentes sujeitos quanto a estas
variáveis: gênero, classe social, escolaridade. Deseja-se entender as apropriações que os diferentes
leitores faziam de um mesmo impresso, tendo em vista suas práticas de leitura e os usos que faziam da
revista, em determinado tempo e espaço, em um contexto, no qual se pressupõem modos partilhados
do ler. A partir das constatações oriundas do desenvolvimento da pesquisa, problematizam-se questões
como: é possível dizer que uma pessoa é aquilo que lê? Como os diferentes indivíduos atribuem
significado para aquilo que leem? De que modo, em determinadas condições históricas, eles se
apropriam de certo tipo de texto? O objeto deste estudo configura-se, assim, a partir de um impresso e
das práticas sociais de leitura relacionadas a ele. Durante a pesquisa, tem-se analisado a materialidade
de Grande Hotel e os textos nela publicados. Dessa maneira, reconstroem-se os leitores visados pela
revista; delineia-se seu Leitor-Modelo; identificam-se, descrevem-se e analisam-se os dispositivos
presentes no impresso. Para se chegar às práticas de leitura, depoimentos orais de seus leitores têm
sido coletados e analisados, na perspectiva da História Oral e da Análise do Discurso. Assim, tem-se
verificado como os leitores empíricos se apropriavam de Grande Hotel. A pesquisa vem demonstrando,
como estudos da História Cultural, da História da Leitura já evidenciaram, que há uma tensão entre os
dispositivos presentes em Grande Hotel, os quais procuram condicionar os movimentos das(os)
leitoras(es), em seu trabalho de produção de sentido para os textos que leem, e a apropriação que os

610
sujeitos fazem do impresso, seus usos da revista feminina. Finalmente, é possível também afirmar que,
embora alguns estudos históricos e sociológicos evidenciem que revistas “populares” e femininas,
especialmente as revistas de fotonovelas, fossem consumidas por mulheres pobres com poucos anos de
escolaridade, Grande Hotel foi objeto da leitura de homens e mulheres, quando jovens, oriundos não
somente de meios populares, mas também das camadas médias letradas do Brasil, entre 1947 e 1963.

398
UMA PERSPECTIVA HISTÓRICO-JORNALÍSTICA DA EDUCAÇÃO NA REGIÃO DE BAIXADA DO RIO DE
JANEIRO (1931-1961)

ANTONIETTE CAMARGO DE OLIVEIRA; WENCESLAU GONÇALVES GONÇALVES NETO.


UFU - UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA, UBERLANDIA - MG - BRASIL.

Nosso objetivo tem sido compreender e ou ampliar a visão a respeito do contexto educacional da
Baixada Fluminense, mais especificamente das cidades de São João de Meriti e Duque de Caxias, no Rio
de Janeiro, entre os anos de 1931 e 1961. Basicamente se buscou perceber quais os principais
problemas veiculados pelos jornais ou periódicos publicados ao longo deste período, buscando obter
uma visão mais alargada a respeito da educação numa região próxima à então capital do país. Nesse
sentido, foram observados vários assuntos abordados pela imprensa escrita da época, sendo desde
queixas mais específicas, direcionadas a determinadas instituições escolares, por exemplo, até questões
levantadas sobre a educação de uma maneira geral. É nossa pretensão também, que este trabalho sirva
enquanto ponto de partida para novas pesquisas na área da História da Educação, considerando o tipo
de fonte e a metodologia utilizada. A imprensa escrita tem sido de extrema importância na
compreensão do contexto histórico-social em que se encontra pelo menos duas instituições
educacionais — os atuais Colégios Santo Antônio e Santa Maria, localizados respectivamente em Duque
de Caxias-RJ e São João de Meriti-RJ — eleitos enquanto objeto de pesquisa para a pós-graduação.
Nesse sentido, metodologicamente foram selecionados e transcritos diversos artigos, que tratam a
respeito da infância (desvalida ou abandonada); bem como a respeito dos problemas do ensino escolar
de maneira geral, sob o olhar dos então articulistas locais; das publicações escolares; dos debates mais
específicos quanto à implementação de uma biblioteca municipal; questões médico-higienistas,
diretamente ligadas, segundo os então articulistas, à (falta de) educação; percepções sobre o ensino da
educação física; campanhas de alfabetização e educação de adultos; artigos que tratam da
obrigatoriedade e gratuidade da educação escolar; torneios estudantis; comemorações cívicas e outros.
Mas principalmente os debates em torno da formação de professores, mais especificamente das
primeiras normalistas que serviriam à região da Baixada Fluminense, formadas no Colégio Santo
Antônio, sob a direção das Irmãs Franciscanas de Dillingen, Congregação esta originária da Alemanha.
Após transcritos e categorizados, a sistematização e análise de tais artigos nos possibilitam uma das
mais importantes e necessárias visões “panorâmicas” — tendo em vista que os artigos foram escritos na
vivacidade dos acontecimentos — sobre a sociedade educacional fluminense de maneira geral, bem
como caxiense e meritiense de maneira particular. Trata-se de trabalho em andamento.

611
612
EIXO 9 - PATRIMÔNIO EDUCATIVO E CULTURA MATERIAL ESCOLAR

1121
A BIBLIOTECA COMO UM ESPAÇO DE SOCIABILIDADES NO ÂMBITO DO ENSINO PRIMÁRIO
CATARINENSE EM MEADOS DO SÉCULO XX

GISELA EGGERT STEINDEL.


UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA, FLORIANOPOLIS - SC - BRASIL.

Se a biblioteca pública moderna é uma herança cultural da Revolução Industrial, a biblioteca escolar
moderna brasileira tem seus fundamentos no ensino primário preconizada no projeto político e social
republicano. O presente trabalho trata da biblioteca do ensino primário no estado de Santa Catarina
inscrita na legislação a partir da década de 30 do século XX. Essa biblioteca da escola primária está
contextualizada na História da Educação, precisamente nas diferentes reformas efetuadas nesse Estado.
A primeira reforma do ensino republicano catarinense, esteve sob o comando do professor Orestes
Guimarães, que em 1910 assumiu o cargo de Inspetor Geral da Instrução Pública para modernizar a
educação pública. Em 1935 ocorreu a Reforma de 1935, também conhecida como Reforma Trindade
criando o Departamento de Educação de Santa Catarina, instituindo as bibliotecas na escola. A Reforma
Trindade, criou o Departamento de Educação e as ditas subdiretorias: a Subdiretoria de Bibliotecas,
Museus e Radiodifusão. A Reforma estabeleceu uma nova categoria profissional na escola, o cargo de
Professora Bibliotecária e Professora Encarregada de bibliotecas escolares. As bibliotecas propostas
nessa reforma seriam instaladas nos Grupos Escolares Modelo. De certo modo pode-se inferir que as
reformas do ensino em âmbito nacional pautadas na Escola Nova, realizadas por Fernando de Azevedo
(1927-1930) e Anísio Teixeira (1931-1935), alcançaram a Reforma Trindade em Santa Catarina. Passados
cerca de onze anos ocorreu a Reforma Elpídio Barbosa, em 1946, a qual ratificou a legalidade da
biblioteca por meio do Decreto. De caráter documental e bibliográfico, esse trabalho tem como principal
fonte de análise o Decreto nº. 3.735, de 17 de dezembro de 1946, “Regulamento os Estabelecimentos
de Ensino Primário no Estado de Santa Catarina” ou a dita Reforma Elpídio Barbosa. O estudo está
circunstanciado aos estudos culturais entendendo que essa biblioteca do ensino primário era
preconizada como um espaço histórico de sociabilidades. O conceito de sociabilidades está
fundamentado em George SIMMEL e a biblioteca é compreendida como um elemento da cultura
escolar. O exame ao decreto entrecruzados com o Guia da Bibliotecas Brasileiras, décadas de 50 e 70 e a
bibliografia apontam que a biblioteca do ensino primário no Estado de Santa Catarina se conformava em
um equipamento essencialmente formativo imbuído de diferentes de sociabilidades presentes desde o
lugar físico que ocupava nas escolas, na organização e composição do acervo bibliográfico bem como no
envolvimento dos alunos, professores e comunidade escolar de então.

351
A CULTURA MATERIAL NA ESCOLA NORMAL RUI BARBOSA: OBJETOS E PROJETOS PEDAGÓGICOS NA
FORMAÇÃO DOCENTE (ARACAJU-SE, 1911-1947)

ANAMARIA GONÇALVES BUENO DE FREITAS.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE, ARACAJU - SE - BRASIL.

Este estudo vincula-se à História da Educação, tendo em vista os pressupostos da História Cultural e
investiga a cultura material da Escola Normal Rui Barbosa, localizada em Aracaju, no período de 1911 a
1947. O marco inicial do estudo corresponde à inauguração do primeiro prédio construído para abrigar a
instituição pública responsável por formar os professores do Estado de Sergipe, e o marco final ao
processo de implantação da Lei Orgânica do Ensino Normal (Decreto- Lei 8.560, de 02/01/1946), que
passou a vigorar em todo território nacional a partir de 1946, transformando as escolas normais
renomadas em Institutos de Educação. Através do levantamento e análise dos diferentes dispositivos
didáticos (livros, cadernetas, cadernos, provas, carteiras, mapas, globos, sólidos geométricos,
instrumentos de laboratórios, arquitetura escolar, organização do tempo e do espaço, quadros

613
ilustrativos, imagens, entre outros dispositivos) verificou-se a representação e a apropriação de modelos
escolares vinculados à modernidade pedagógica, vigente no país desde o final do século XIX, e o
processo de formação de professores na instituição pesquisada. A fonte privilegiada a investigação,
neste momento, foram os depoimentos de ex-alunas e ex-professoras que atuaram na instituição, no
período de 1920 a 1950. Trata-se de uma pesquisa em andamento que tem como embasamento teórico
as concepções de cultura escolar e cultura material escolar produzidas por: Dominique Julia, Augustin
Escolano, Viñao Frago, Margarida Louro Felgueiras, Diana Vidal, Luciano Mendes Faria Filho, Rosa
Fátima de Souza e Marcus Levy Albino Bencostta. Como em outros Estados do Brasil, em Sergipe os
diferentes grupos de intelectuais com responsabilidades sobre a política educacional durante as
primeiras décadas do século XX, muitos deles professores catedráticos da instituição investigada,
compreenderam o movimento da modernização pedagógica como um projeto pedagógico capaz de
auxiliar na resolução dos problemas referentes à educação, principalmente no que dizia respeito à
difusão da escola pública, gratuita e laica, bem como a renovação dos métodos de ensinar e aprender. A
investigação da cultura material escolar, para além de apenas inventariar objetos antigos, e em desuso,
prevê a possibilidade de construir relações possíveis entre os objetos pesquisados, o cotidiano escolar, e
os projetos formativos relacionados com eles. Na ausência dos objetos “em si”, o registro sobre a
existência deles, quer através de documentos oficiais ou da investigação das memórias dos sujeitos
envolvidos com esses objetos, ex-alunos e ex-professores da instituição pesquisada são muito úteis, no
processo do desvelamento das práticas formativas e dos modelos e métodos pedagógicos adotados no
período investigado.

785
A DIVISÃO DE TECNOLOGIA DE ENSINO DE SERGIPE E SUAS CONTRIBUIÇÕES NA MUDANÇA DA
CULTURA MATERIAL E PRÁTICA PEDAGÓGICA

ANDRÉA KARLA FERRIERA NUNES; MIGUEL ANDRE BERGER.


UNIVERSIDADE TIRADENTES, ARACAJU - SE - BRASIL.

Na década de 1990 a utilização das tecnologias da informação e comunicação chega com maior
intensidade nas escolas públicas, e para acompanhar os programas e projetos implantados pelo
Ministério da Educação - MEC se fez necessário que cada Unidade da Federação criasse um órgão ou
setor que acompanharia as ações demandas pelo MEC enquanto politica pública de uso das tecnologias
nas escolas. Em Sergipe, a Divisão de Tecnologia de Ensino - DITE foi o órgão designado para o
acompanhamento, assessoramento e capacitação das demandas de implantação de recursos
tecnologicos nas escolas públicas. A introdução dos recursos tecnologicos exigiu outras formas de
conceber a estrutura física das escolas, bem como o entendimento do uso desses recursos pelos
docentes. Nesse contexto, a Divisão de Tecnologia de Ensino passa a contribuir para a implantação das
tecnologias, com capacitações para os docentes e sugestões de mudanças ou adquações da arquitetura
dos prédios escolares, a fim possibilitar o acolhimento dos recursos tecnologicos. A utilização dos
recursos tecnologicos passa a interferir na organização espacial das escolas, que antes não estavam
preparadas para receber os aparelhos; bem como outros tipos de práticas pedagógicas foram
necessárias para a utilização dos recursos por parte dos docentes. Em pesquisa realizada em
documentos do setor foi possivil verificar textos enviados por diversas escolas que relatavam
dificuldades em guardar os recursos tecnologicos. Outros documentos em forma de Comunicação
Interna solicitavam apoio do setor para a compra de armários e grades que pudesse assegurar a guarda
de aparelhos. Sem contar em escolas que descreviam a necessidade de ampliação do espaço escola para
que os recursos fossem utilizados em espaços apropriados. Além de mudanças no âmbito da estrutura
da escola, verificou-se nos documentos o pedido de traves de segurança, vigilantes, além de grades no
local que ficariamos recursos tecnológicos. Observa-se nos relatos que há transformação na estrutra da
escola e que tais pedidos refletem um contexto societal. A pesquisa na fonte documental do setor ainda
posssibilitou observar quais os conteúdos propostos nas capacitações com os docentes e o que se
pretendia mobilizar em termos de conhecimento para que os professores trabalhasssem com os
recursos tecnológicos. Foi encontrado ainda projetos desenvolvidos nas escolas pelos docentes com a
utilização das tecnologias. Entender o papel da Divisão de Tecnologia de Ensino neste processo é

614
perceber como as escolas foram ou não se adequando a chegada desses recursos tecnológicos, e
visualizar com as politicas públicas terminam por inteferir em práticas pedagógicas que eram utilizadas
na época.

1336
A ICONOGRAFIA DA GEOGRAFIA NOS LIVROS DIDATICOS E A CONSTRUÇÃO DA NACIONALIDADE
BRASILEIRA
1 2
ARICLÊ VECHIA ; ANTÓNIO GOMES FERREIRA .
1.UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ, CURITIBA - PR - BRASIL; 2.UNIVERSIDADE DE COIMBRA, COIMBRA
- PORTUGAL.

A política cultural nacionalista adotada pelo Estado Novo (1930-1945) passava por um projeto de
construção da "identidade nacional" baseado na homogeneização da cultura e da ideologia, bem como
na valorização do território como elemento constitutivo desta identidade. Para a consecução deste
ideário, em 1938, foi fundado o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística visando auxiliar na
formação da idéia de nação pelo “reforço do espírito nacional” materializado na unidade do território.
Este projeto estava ancorado no pensamento geográfico francês, principalmente no de Vidal de La
Blanche que buscava o conhecimento da “cor local”, i.e, das especificidades regionais, registrando-as em
coleções de fotos, desenhos e gravuras visando a construção da imagem da nação. A partir de 1939, o
IBGE passou a publicar na Revista Brasileira de Geografia uma coluna intitulada “Tipos e Aspectos do
Brasil”- que consistia em desenhos acompanhados de pequenos textos que buscavam construir figuras
identitárias do homem brasileiro. Os desenhos eram de Percy Lau, ilustrador do IBGE, que produziu, a
bico de pena, uma coleção de 143 representações das "identidades territorializadas". Os desenhos e os
textos que o acompanham foram posteriormente publicados no livro: ' Tipos e Aspectos do Brasil' . Este
estudo se insere teórica e metodologicamente nos estudos de Historia Cultural, na vertente da História
da Cultura Material Escolar; tem por objetivo analisar a utilização destes desenhos e textos, nos livros
didáticos do ensino primário brasileiro nas décadas de 40 a 70 do século XX. As fontes utilizadas são
duas coleções de livros didáticos de autoria de Theobaldo Miranda Santos, - Vamos Estudar e A Criança
Brasileira, destinados ao ensino da 1ª a 5ª serie do ensino primário. Cada livro abrange todos os
conteúdos da série do ensino primário à qual se destinava e têm como eixo central, a territorialidade
regional. Sendo assim, muitos tipos regionais e respectivas paisagens são estudados tais como : o
Extrator de Pinho e a florestas de pinheiros, o Ervateiros, o Garimpeiro, o Seringueiro,o Gaucho, um tipo
valente e destemido que contrastava com o tipo do Vaqueiro do Nordeste, não impulsivo, mas
calculista, lacônico e retraído que apesar de viverem das mesma atividade econômica conviviam em
paisagens desiguais. Os desenhos procuravam representar traços físicos e psicológicos dos `tipos
regionais` em sua relação com o meio físico e cultural- as `identidades territóritorializadas`. O numero
de edições dos livros analisados, por si só atestam o alcance do Projeto nacionalizador e da obra do
ilustrador. As ilustrações dos `tipos regionais` tornaram-se ícones, povoando a mente das crianças e
criaram um imaginário a respeito do homem brasileiro e de seus gêneros de vida e contribuíram para a
construção da idéia de nacionalidade brasileira até a década de 1970.

1109
A LINGUAGEM DA BAUHAUS E A GRAMÁTICA ARQUITETURAL MODERNA (1919-1933):
APONTAMENTOS INICIAIS

MARCUS LEVY BENCOSTTA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ, CURITIBA - PR - BRASIL.

A Bauhaus é considerada pela historiografia da arte, da cultura e da educação como uma escola que
nasceu do caos logo depois da primeira grande guerra e que tinha como meta eliminar barreiras entre
as diferentes criações artísticas e arquitetônicas.Esta escola teve vida curta (1919-1933) por conta dos
nazistas terem fechado suas portas, entretanto, são indeléveis os registros na linguagem de seu

615
movimento que deixaram raízes fundamentais na arquitetura do século XX. Seus arquitetos entendiam
que a modernidade da Bauhaus residia no seu modo de construção, nesse sentido, o que se tem hoje de
mais importante em termos pedagógicos sobre o design arquitetônico moderno da Bauhaus foi
motivado pela crença de uma industrialização: a idéia que uma produção em grande escala poderia
democratizar o mundo. A importância da Bauhaus nos diversos tipos de arquiteturas contemporâneas e
suas vanguardas é percebida na sua gramática como criadora de padrões que estão presentes até os
dias de hoje, considerada um dos alicerces do modernismo reconhecido internacionalmente, inclusive
nos edifícios escolares construídos sob sua influência. Para esta comunicação tratarei de alguns
exemplos da linguagem arquitetural bauhausiana e sua concepção de espaço escolar, tentando
perceber como ele foi organizado dentro da lógica de construção e de experiência de uma arquitetura
escolar moderna. Contudo, as análises que proponho não se circunscrevem a uma observação dos
edifícios escolares tão somente através dos olhos da engenharia, mas também pelos discursos que
idealizaram os projetos de uma geração de arquitetos formados e influenciadas pelos discursos da
Bauhaus. Desse modo, meu interesse não se limitará apenas em refletir o processo pelo qual a
arquitetura bauhausiana escolar progrediu, mas também compreender até que ponto ela transmitiu
uma expressão que traduz as vanguardas arquiteturais de uma época. O mérito do tema desta pesquisa
e sua originalidade residem inicialmente nas questões e problemas postos frente às fontes históricas
deste objeto de investigação. Nesse sentido é dou continuidade a organização, catalogação,
identificação de um conjunto variado de fontes já localizadas e depositadas em acervo próprio desta
pesquisa, tais como, fac-símiles de diversos catálogos das exposições patrocinadas pela Bauhaus,
fotografias e desenhos de fachada e maquetes de edifícios, plantas arquitetônicas, jornais e relatórios
da escola Bauhaus, além de um acervo bibliográfico particular. Um desafio é tentar explicar como a
linguagem dessa vanguarda tomou forma nos traçados das fachadas dos prédios escolares que ela
projetou e com isto tentar criar uma tipologia que identifique as peculiaridades de cada edifício.

755
A PRESENÇA DOS MATERIAIS ESCOLARES NO MARANHÃO OITOCENTISTA

LUCIANA NATHALIA MORAIS FURTADO; JANIELLE DE OLIVEIRA MORAES.


UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO, SAO LUIS - MA - BRASIL.

Neste trabalho objetiva-se compreender a inserção dos materiais escolares na instrução pública no
Maranhão oitocentista, especificando suas tipologias, formas de utilização ao longo do processo
educacional e suas contribuições para a estruturação da instrução pública. Descreve-se a presença,
produção, circulação e distribuição de materiais culturais, identificando-se entre eles, os livros,
cadernos, vestuários, mobiliários e outros de outra ordem (mas nem por isso menos importantes e
utilizados) com a finalidade de se constatar a representatividade destes objetos na formação
educacional e cultural dos aprendizes no cenário são-luisense. Objetiva-se neste estudo evidenciar os
diferentes artefatos utilizados no cotidiano escolar maranhense, colocados a disposição dos alunos nas
diversas práticas e saberes educativos e instrucionais, adotadas no interior de estabelecimentos
dedicados ao ensino das primeiras letras na garantia de uma aprendizagem da leitura, da escrita e do
cálculo. Utilizam-se nesta pesquisa as fontes bibliográficas que nos direcionará sobre a temática em
questão, apontando em início o estado da arte em que se encontra esta temática nos espaços
acadêmicos de discussão, como também nos darão suporte teórico para compreendermos o contexto,
as apropriações, a representatividade e os usos dessas materialidades no interior desses lugares do
sistematizar o pensar e o agir, que visavam a educação maranhense no século XIX. Textos e contextos
que são analisados, discutidos e abordados por mediação de, Castellanos (2010), Vidal (2005) e Sousa
(2010). Usam-se por outro lado como fontes de análise, a imprensa periódica (Jornais, Revistas,
Catálogos), os Relatórios de Diretores da Instrução Pública e dos presidentes da Província e os
regulamentos e estatutos das instituições escolares (em estudo) que se encontram armazenadas na
Biblioteca Pública Benedito Leite e no Arquivo Público do Estado do Maranhão, questionando sua
produção, inferindo sobre sua representatividade, tentando compreender o lugar que ocupava seu
produtor na sociedade gonçalvina, assim como, a sua intencionalidade visando à construção do histórico
num alargamento constante da fonte. Busca-se a partir dessas fontes compreender os distintos olhares,

616
as diferentes modalidades e os usos desses materiais por diferentes sujeitos em diferentes
espacialidades e temporalidades distintas ainda que se contemple nesta investigação o pensar
oitocentista educativo do Maranhão. Concluiu-se com pequenas aproximações do que seriam estes
artefatos culturais no processo educativo e sua representação nos documentos primários e secundários
que refletem sobre a época, sobre os costumes, cultura e processos educativos inseridos no devir do
século XIX. Este trabalho é resultado parcial do projeto de pesquisa em andamento Presença e
circulação do livro e da leitura no Maranhão Oitocentista, desenvolvido no Núcleo de Estudo e
Documentação em História da Educação e das Práticas Leitoras no Maranhão.

427
CENTRO DE MEMÓRIA DA EDUCAÇÃO DO SUL DE SANTA CATARINA (CEMESSC): PRESERVANDO O
PATRIMÔNIO ESCOLAR

GIANI RABELO; MARLI DE OLIVEIRA COSTA.


UNESC, CRICIÚMA - SC - BRASIL.

Esse artigo procura discutir e problematizar o processo de implantação do Centro de Memória da


Educação do Sul de Santa Catarina (CEMESC) realizado pelo Grupo de Pesquisa História e Memória da
Educação (GRUPEHME). O referido grupo, vinculado à Pró-reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa e
Extensão/UNESC e cadastrado ao CNPq, vem realizando várias atividades, desde 2001 que buscam
pesquisar, registrar e organizar um banco de dados sobre o processo de educação em Santa Catarina, ao
longo do século XX. Com o intuito de criar uma cultura científica, junto às comunidades escolares e
acadêmicas, voltada para a preservação da memória dos estabelecimentos escolares é que os membros
do GRUPEME decidiram criar um centro de memória em meio digital, até porque o objetivo do grupo
não é retirar documentos e objetos das escolas e sim contribuir para uma cultura de preservação e
valorização do patrimônio escolar. O CEMESSC está pautado em uma concepção de história da educação
que busca a valorização de todos os sujeitos envolvidos no processo de escolarização, ou seja, uma
perspectiva da história social em diálogo com a história cultural. O CEMESSC tem como objetivos:
Inventariar as primeiras escolas estaduais do Sul de Santa Catarina; contribuir para o fortalecimento de
uma cultura científica voltada a história da educação junto às comunidades escolares; oportunizar a
construção da história dos estabelecimentos escolares de forma interativa; proporcionar experiências
educativas para que as comunidades escolares se sensibilizem sobre a importância da preservação do
patrimônio histórico escolar, apoiadas em atividades interativas e lúdicas; oportunizar aos usuários do
CEMESSC contato com os novos conhecimentos científicos e tecnológicos, que interagem com a história
e a memória; oferecer aos usuários do CEMESSC contato com a concepção crítica do conceito de
história; organizar atividades educativas que levem a valorização do patrimônio histórico escolar;
ampliar o número de pesquisas acadêmicas no campo da História da Educação. Num primeiro momento
foi realizada visitação in loco nos estabelecimentos de ensino estaduais, localizados nas micro-regiões
do Sul de Santa Catarina, com o objetivo de apresentar o CEMESSC às suas equipes gestoras e solicitar
autorização para que os prédios escolares, mobílias e objetos pudessem ser fotografados e os
documentos escritos e iconográficos, considerados mais antigos e com maior valor histórico, fossem
digitalizados. Nesta primeira etapa dos trabalhos foram digitalizados documentos e fotografados
objetos antigos e a arquitetura das 11 (onze) escolas. Ao todo serão 43 (quarenta e três) escolas
públicas estaduais envolvidas, localizadas nas microrregiões da Associação dos Municípios da Região
Carbonífera – AMREC, Associação dos Municípios do Extremo Sul Catarinense – AMESC e Associação de
Municípios da Região de Laguna – AMUREL.

617
642
CORPOS ESCOLARES, LEITURA DE IMAGENS: O UNIFORME ESCOLAR NA ESCOLA TÉCNICA FEDERAL DE
SANTA CATARINA - 1964 A 1985

IVANIR RIBEIRO; LUANI DE LIZ SOUZA.


UDESC, PALHOCA - SC - BRASIL.

O presente trabalho caracteriza-se como um dos desdobramentos de estudo em curso acerca dos
uniformes escolares que foram usados pelos alunos da Escola Técnica Federal de Santa Catarina, no
período entre 1964 a 1985. Busca-se, pela exploração das potencialidades da fotografia – neste estudo
tomada como fonte – uma aproximação da história e da memória da referida instituição, apontando
sentidos simbólicos que recaem sobre o uniforme escolar. Conforme um conjunto de trabalhos tem
indicado, o uniforme se constitui em artefato que disciplina, normatiza condutas e corpos e concorre
para homogeneizar o espaço escolar. Como fontes para a presente reflexão, serão então utilizadas
imagens fotográficas recolhidas no acervo da instituição, em formato digital e impresso, e outras
conservadas em arquivos pessoais de ex-professores. Nas fotografias estão representadas imagens do
corpo docente e discente em diferentes situações: na realização de trabalhos práticos nas diversas
oficinas, em salas de aula, em atividades esportivas e em comemorações de datas nacionais. Além da
leitura do conteúdo das imagens procura-se aqui estabelecer um diálogo do documento fotográfico com
outras fontes historiográficas disponíveis. Tomamos como um dos pontos de referência para a análise
iconográfica os estudos de Panofsky, que salienta o perceptível, o visível, mas que adentra nas
construções simbólicas que aproximam o olhar para as relações invisível traçadas diante do
disciplinamento corporal, das normatizações e dos conflitos entre a tentativa de homogeneização do
espaço escolar e as relações cotidianas das instituições escolares e dos sujeitos. Cotejadas com
referenciais da sociologia da imagem nas premissas de José de Souza Martins, as cenas capturadas pela
câmera parecem identificar certa homogeneidade de uniformização dos alunos nos registros referentes
aos desfiles cívicos, diferentemente dos aspectos percebidos nas fotos em que os alunos encontram-se
em salas de aula ou em atividades práticas nas oficinas, onde aparecerem, muitas vezes, sem uniformes.
Essa característica pode indicar o que um conjunto de pesquisas já existentes, considera tal qual uma
intencionalidade do registro fotográfico e de seu duplo sentido: o de expor e o de ocultar. O exercício de
exploração deste acervo coloca-se, pois, como desafiante e promissor no sentido de desvelar alguns
aspectos da cultura escolar e da cultura material que a compõem. O viés da cultura material é dado pela
filiação da presente proposta que se configura como um dos desdobramentos de pesquisa de mestrado
em andamento, na linha História e Historiografia da Educação do PPGE da UDESC e integra a pesquisa
“Objetos da Escola: cultura material da escola graduada (Santa Catarina, 1870-1950), UDESC/CNPq, que
vem sendo desenvolvida de forma articulada com o Projeto Nacional “Por uma teoria e uma história da
escola primária no Brasil: investigações comparadas sobre a escola graduada (1870–1950)” (CNPq).

336
EDUCAÇÃO PATRIMONIAL E A PRODUÇÃO DE ARTEFATO MATERIALL ESCOLAR

ANTONIA SIMONE GOMES.


FAVALEUEMG, CARANGOLA - MG - BRASIL.

O presente trabalho tem como objetivo identificar como a Educação Patrimonial surge no município de
CarangolaMG como proposta educativa que se pauta nos princípios de uma educação que visa a
formação integral do sujeito com base na sensibilização para as questões do patrimônio cultural. A
pesquisa foi desenvolvida tendo como foco o programa de ações da Educação Patrimonial proposto pela
Secretaria de Cultura, Lazer e Patrimônio Artístico e Cultural em parceria com a Secretaria Municipal de
Educação de Carangola referente a gestão 2004-2008. Mas a análise centrou-se em torno de uma
produção diferenciada, a cultura material escolar. Foram privilegiados dois portifólios, que são pastas
que reúnem além das atividades pedagógicas referentes aos projetos desenvolvidos, os relatórios de
professoras. Essa opção se deu pelo fato de os produtos dessas atividades estarem organizados sob a
forma de suporte material, o que permitiu ter acesso às concepções que foram privilegiadas dentro de

618
uma proposta pedagógica, além de ser possível apreender como se davam as práticas culturais de
valorização do Patrimônio Cultural. Pensando no objeto da pesquisa, interessava-me investigar que
narrativas eram indicadas pela escola no que tange ao trabalho de Educação Patrimonial além de
destacar o contexto em que se deu essa produção. Buscou-se também apontar a importância da
produção de artefatos materiais escolares, neste sentido, atentou-se para o fato de como a
materialidade presente na constituição dos portifólios possui um conteúdo específico que trata da
produção reprodução de valores e bens culturais. Isso significou buscar nas práticas pedagógicas e
materiais os “fatos que serviram para serem interpretados como hábitos e tradições reveladoras da
cultura que se observa” (Bucaille e Pesez, 1989)..A pesquisa concluída mostrou uma preocupação dos
professores no investimento em atividades de valorização e fortalecimento da identidade local sem
perder de vista os elementos de interlocução com o discurso sobre a identidade brasileira, a memória e
a herança cultural. Esses elementos demonstraram a circulação de uma representação social a partir da
noção de patrimônio. Ao mesmo tempo, as exigências escolares são assimiladas por aquisições que
demarcam o projeto pedagógico que se volta para a valorização do patrimônio cultural como peça
fundamental para salvaguarda e proteção do patrimônio, constituindo-se, assim um instrumento de
gestão.

763
ENSINO DE HISTÓRIA: ENTRE O MUSEU E A ESCOLA

REGINA CELI FRECHIANI BITTE.


UFES, VITORIA - ES - BRASIL.

O presente trabalho expõe os resultados parciais de nossa pesquisa de doutorado em andamento junto
ao PPGE da UFES. Tem por objetivo geral analisar, dentro de uma determinada cultura escolar presente,
as práticas escolares cotidianas envolvendo os professores e alunos. Consideramos que o campo da
História do presente ainda não possui bases sólidas na História da Educação, o que torna nossa pesquisa
ainda mais instigante.Procuramos investigar quais as competências que os professores procuram
desenvolver nos estudantes, bem como que tipo de estratégias são utilizadas para tal em contexto de
aprendizagem histórica na relação museu e escola. Investigamos, portanto, como o professor pretende
formar alunos com sensibilidades e análise crítica sobre a vida social, material e cultural das sociedades
que o circundam, considerando a complexidade do conhecimento histórico, fruto de diversas operações
cognitivas e sociais. Partindo do pressuposto de que a construção do conhecimento histórico na escola
não se processa diretamente entre o sujeito e o objeto a ser conhecido, que entre eles existe a ação
mediadora do professor, a ação mediada da linguagem, de signos e ferramentas, optamos por trabalhar
com museu como espaço mediador na construção do conhecimento histórico. Os objetos ali presentes
falam de uma história individual e, também de uma história coletiva, pois eles fazem parte de uma
comunidade que viveu em determinado tempo e espaço histórico. Nesse sentido, o contato com os
objetos forma, às vezes, um discurso complexo para os alunos e podem ser mediados pelo professor,
suscitando questões relativas à construção de uma memória e de representações do passado. Conforme
Meneses (1990), a memória concerne mais ao presente que ao passado. Retirar a sua dimensão de
passado seria não entendê-la como força do presente. Isto é, sem memória, não há presente humano, e
muito menos futuro. Dessa forma, a memória giraria em torno de um dado básico: a mudança. Foi com
esse entendimento sobre a relação entre a memória e vida presente que veio a idéia de trabalhar os
objetos presentes no museu como mediadores da construção do conhecimento histórico pelo aluno, e,
assim, considerar a constituição da memória como possibilidade de reflexão sobre o passado,
intimamente relacionada com as transformações do presente. Nesse sentido, entender as idéias prévias
dos estudantes visa o desafio contínuo do pensamento, procurando relacionar as idéias prévias, com a
história que os objetos no museu são portadores. Esta pesquisa parte do principio de que é de grande
relevância para o meio acadêmico e para a prática educativa como um todo, investigar, a partir da
confluência dos paradigmas da História Cultural (CHARTIER, 1990) e da História do Presente (TETARD,
1999), como se tem constituído a aprendizagem histórica, tomando por base a relação que se
estabelece entre museu e escola. Para tanto, utilizaremos de questionários , entrevistas, diário de
campo e observação.

619
537
ESCOLA E CULTURA NO SÉCULO XX: CADERNOS ESCOLARES DE UMA EDUCADORA PARAIBANA (1948)

FRANCYMARA ANTONINO N. DE ASSIS; CHARLITON JOSÉ DOS S. MACHADO; TATIANA DE MEDEIROS


SANTOS.
UFPB, JOAO PESSOA - PB - BRASIL.

Este trabalho é fruto da pesquisa de doutorado “Práticas educativas no cariri paraibano: memórias da
educadora Estelita Antonino de Souza (1947-1991)”, vinculada ao projeto Educação e Educadoras na
Paraíba do Século XX: práticas, leituras e representações, do Grupo de Estudos e Pesquisas “História da
Educação da Paraíba” – HISTEDBR/GT-PB. Trata-se de uma primeira abordagem dos cadernos escolares
e das narrativas sobre o cotidiano escolar do Colégio de Santa Rita, localizado na cidade Areia - PB, local
onde Estelita Antonino de Souza, professora e historiadora paraibana, cursou o ginásio. Os depoimentos
da educadora, assim como seu rico arquivo, composto por livros, atas, cadernos de alunos, planos de
aula, fotografias, revistas, publicações diversas, trabalhos escolares, correspondências, dentre outros
documentos, são parte do acervo que será objeto de estudo da tese. A pesquisa encontra-se em fase de
levantamento e catalogação das fontes, o que permite a construção das primeiras análises. As narrativas
que compõem este artigo são resultantes de uma entrevista realizada com a educadora em agosto de
2009. A entrevista foi gravada e não seguiu um roteiro previamente definido, o que permitiu que
diversas memórias viessem à tona. Os cadernos escolares objeto de análise são o de economia
doméstica e o de trabalhos manuais, datados de 1948. O objetivo é analisar, por meio de relatos orais
de vida e dos cadernos escolares, as formas utilizadas para legitimar saberes e disseminar
conhecimentos e valores neste nível de ensino. A metodologia adotada para a análise do tema
compreende a discussão teórica sobre a cultura escolar, os estudos no território da memória, bem como
as contribuições da nova história cultural, na perspectiva do enfoque na vida cotidiana. A narrativa oral
lembra os primeiros anos de sua formação no Colégio de Santa Rita e revela um conjunto de práticas
culturais voltadas para a formação das moças. Os cadernos são objetos claros das práticas escolares que
confirmam o trabalho organizado e desenvolvido pelos professores da instituição através do treino
exigido das suas alunas. A apreciação de suas falas e dos cadernos escolares permite desvelar, mesmo
que de forma parcial, práticas culturais implementadas no Colégio de Santa Rita no momento estudado.
Desse modo, é possível apreender as formas de organização do cotidiano escolar e as prováveis
estratégias utilizadas para desenvolver os métodos de ensino, como os métodos punitivos e
disciplinares.

668
ESCOLAS DO CÍRCULO OPERÁRIO CATÓLICO DE SERGIPE: FONTES PARA A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO EM
SERGIPE

GILVAN VITOR DOS SANTOS; JOSEFA ELIANA SOUZA.


UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE, SAO CRISTOVÃO - SE - BRASIL.

Neste trabalho, aborda-se o arquivo das escolas circulistas, como elemento de estudo para a história da
educação em Sergipe no decorrer dos anos de 1951 a 1975. A proposta é pensar o conjunto de fontes
documentais contido nesse arquivo como possibilidade de leitura e ou releitura histórica das instituições
escolares pertencentes ao movimento circulista o que permite compreender a atuação do circulismo
sergipano no campo da educação, principalmente no que diz respeito à formação de seus membros,
através da educação formal ampliada para alfabetização e profissionalização dos mesmos. O objeto
desse artigo é o arquivo das escolas do Círculo Operário Católico de Sergipe: Escola Padre José de
Anchieta, Educandário Dom Avelar Brandão Vilela Escola profissional de Corte e Costura Joana Ribeiro,
Escola de Líderes Operários, e Educandário Cristo Rei. Já que essas escolas produziram documentos que
encontram-se, no arquivo, e sua análise permite o conhecimento da cultura material escolar das
instituições educativas circulistas. O objetivo é apresentar as possibilidades que esses documentos
oferecem para o estudo dos estabelecimentos de ensino daquelas instituições e para a história da
educação em Sergipe, tendo em vista que o movimento circulista dedicou parte de suas ações a criação
de escolas visando, sobretudo, desenvolver sua ideologia na classe operária. Como recurso

620
metodológico se utilizará, a partir da organização do arquivo e catalogação do material identificando
aspectos da cultura escolar como: provas, cadernos, fotos, cadeiras, diários, atas de reuniões, e todo
tipo de documentação referente à administração, tanto de funcionários quanto de professores e etc. O
referencial teórico do estudo se baseia na categoria de cultura escolar utilizadas, por Dominique Julia e
António Viñao Frago. Já que as questões referentes à cultura escolar e as fontes que permitam sua
percepção e estudo nas instituições educacionais circulista, acabam por fazer voltar os olhares aos
arquivos escolares das mesmas, em busca de registros documentais que permitem mais conhecimentos
da cultura material escolar daqueles estabelecimentos educativos. Os arquivos das escolas circulistas
revelam-se como ferramentas singulares de pesquisa, pois cada um dos objetos produzidos no âmbito
escolar carrega grande quantidade de informação que, ao ser cruzada com os outros dados delineiam a
história e as memórias presentes nessas fontes. Isso torna o arquivo escolar, uma fonte de grande
importância no estudo das escolas circulistas e, sobretudo, para a história da educação em Sergipe.
Palavras-chave: Escolas circulistas, Arquivo escolar, Cultura material.

735
HISTÓRIA, EDUCAÇÃO E ARQUITETURA: UM DIÁLOGO POSSÍVEL

MARIA HELENA PUPO SILVEIRA.


SECRETARIA DA EDUCAÇÃO DO PARANÁ, CURITIBA - PR - BRASIL.

Este trabalho tem como objetivo contribuir para a discussão das representações da arquitetura como
um dos eixos do patrimônio escolar. O foco principal deste artigo é o patrimônio arquitetônico como
“lugar de memória” e diz respeito à identidade e à imagem da escola como reconstrução da história da
instituição. O Patrimônio Histórico Arquitetônico, em seu sentido mais amplo, pode ser definido como
um bem social ou cultural que possui significado e importância material para a sociedade. Estes bens
foram construídos ou produzidos pelas sociedades passadas e de alguma forma representam uma
ligação entre passado e presente, que dão o significado ao movimento tempo-espaço e aos sujeitos de
hoje. Os estudos deste artigo fazem parte das investigações em andamento do “Núcleo de Preservação
do Patrimônio Histórico Escolar”, atuando desde 2008 no âmbito da Secretaria de Estado da Educação
do Paraná. O objeto de estudo neste documento refere-se às escolas públicas mais antigas da cidade de
Curitiba, ainda em funcionamento, tais como: o Instituto de Educação do Paraná “Professor Erasmo
Pilotto” (1924), primeira escola pública de formação de professores de Curitiba, o Colégio Estadual do
Paraná (1953), primeiro ginásio público de Curitiba, o Colégio Estadual Xavier da Silva (1903), o primeiro
grupo escolar de Curitiba, o Colégio Estadual D. Pedro II (1927), o primeiro grupo escolar de dois
pavimentos construído no Estado do Paraná. A análise dessas instituições terá como fundamento
teórico a perspectiva da cultura material escolar, que além de contribuir para a compreensão da
composição do espaço escolar pode identificar as diretrizes educacionais adotadas pela escola, bem
como sua inserção no quadro educacional brasileiro de cada período histórico. Os principais autores
estudados são: Bucaille e Pesez (1989), Viñao-Frago (1995), Veiga (1999), Souza (1998) e Bencostta
(2005). As fontes pesquisadas são os documentos oficiais, dentre elas destacamos: as mensagens
governamentais, os relatórios de inspetores de ensino, as plantas arquitetônicas e as fotografias de
acompanhamento das obras e do funcionamento das escolas aqui priorizadas. Quanto á periodização da
pesquisa refere-se basicamente as primeiras décadas do século XX, período em que se iniciou a
construção dos edifícios escolares públicos paranaenses até as décadas de 1953, com a inauguração do
Colégio Estadual do Paraná.

963
LEITURA PARA MOÇAS: PERIÓDICOS ESCOLARES PARA A JUVENTUDE CATÓLICA

HELOÍSA HELENA DALDIN PEREIRA.


UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ, CURITIBA - PR - BRASIL.

A Congregação das Irmãs de São José de Chamberry fundou em 1907, em Curitiba, o Colégio Nossa
Senhora de Lourdes, o Cajurú, dedicado a atender uma camada da população que buscava uma

621
educação para as meninas e moças baseada na civilidade segundo os moldes europeus do progresso,
carregados de polimentos, sinônimo do status almejado pela elite. Essa educação prevaleceu até a
década de 1970 quando ocorreram mudanças significativas na educação brasileira. Contudo, em relação
ao aspecto sócio-cultural, os anos 60 evidenciaram transformações sociais, políticas e culturais que se
refletiram em todas as camadas da população através da proliferação de uma imensa diversidade de
comportamentos, tendências culturais e estilos de vida. O presente estudo se inscreve na perspectiva da
Historia Cultural, na vertente da Historia da Cultura Material Escolar. Tem como objetivos examinar a
experiência educacional das alunas analisando aspectos da cultura escolar dessa instituição e interrogar
sua participação na produção de padrões de formação das jovens durante os anos 60. Utiliza como
fontes principais, os números de dois periódicos publicados na década de 60: “O Cajuru”, órgão oficial
do Colégio Nossa Senhora de Lourdes, e “O Eco: a Revista para a Juventude Brasileira”, editado no Rio
Grande do Sul e assinado pelo colégio para leitura das alunas. O “Cajuru”, periódico trimestral em forma
de jornal estudantil, escrito pelas estudantes, professores e religiosas, fazia circular a todas as alunas do
colégio e seus familiares poemas e artigos celebrando o amor a Deus e a exaltação à pátria, nos quais
predomina a marca da educação católica o que indica que a qualidade desse ensino é indissociável das
práticas disciplinares, religiosas e morais inerentes ao modelo de educação praticado pelo colégio. O “O
Eco" trazia letras de música; coluna do leitor; pensamentos e orações; artigos e contos assinados por
professores e padres; resenhas de filmes e dicas de livros. A maioria dos textos trata de assuntos
domésticos e frívolos reproduzindo e sugerindo os lugares da mulher como mãe, dona-de-casa, esposa e
educadora dos filhos da pátria, condição que toda jovem deveria almejar. A partir da análise dos textos,
observa-se que o amor cristão, a maternidade, a generosidade e o patriotismo, enquadram-se
perfeitamente no projeto de inculcação do papel familiar e social da mulher, condizentes com os
preceitos católicos, permite revelar aspectos das práticas pedagógicas e religiosas do referido colégio
que se apoiavam em valores relacionados à moralidade e à religiosidade para definir a conduta das
alunas e observa-se o significado que estas práticas tiveram no contexto escolar disciplinador como
meio de conformar modos de ser e de pensar das alunas de acordo com os padrões de comportamento
defendidos pela sociedade, pela igreja e pela cultura escolar para a manutenção do “status quo” de uma
elite.

635
MANUAIS PEDAGÓGICOS E BIBLIOTECA ESCOLAR: ANÁLISE INICIAL DO ACERVO “JOAQUIM NABUCO”,
EM SANTO ANDRÉ - SP

MARIANA GALLUZZI DE SÁ.


UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA - UNESP, CAMPUS DE MARÍLIA, SAO PAULO - SP - BRASIL.

A Biblioteca Escolar “Joaquim Nabuco” foi fundada em 1949 para servir aos alunos do Instituto Coração
de Jesus, localizado no município de Santo André – SP. Por se tratar de uma biblioteca que teve grande
importância para a educação e aculturação da comunidade local e para a formação de professores
primários a partir de 1959, configura-se como valioso objeto de estudo que possibilita a compreensão
das maneiras como produziu conhecimento acerca do ensino primário no período de 1959 a 1974. Com
o objetivo de compreender de que forma se exerceu a circulação de saberes profissionalizantes no
âmbito da formação de professores por meio da disponibilização e utilização de manuais pedagógicos
na Biblioteca, identificaram-se quais foram os manuais pedagógicos oferecidos por essa instituição no
período, considerando alguns aspectos para sistematização da pesquisa, a saber: quantidade de
manuais pedagógicos oferecidos; relação de títulos oferecidos em mais de um exemplar ou edição; e
incidência de autores. Após levantamento e análise dos dados iniciais, as informações obtidas foram
tabuladas e verificadas, a fim de compreender a importância desses manuais na formação docente, bem
como realizar análise mais aprofundada de três manuais selecionados. Partindo do pressuposto de que
os autores dos manuais pedagógicos veiculam em seus textos síntese de ideias apresentadas por
pensadores e pesquisadores considerados importantes, é importante compreender de que forma esses
autores se apropriam (Chartier, 1990) dos saberes do magistério, identificando os usos que os escritores
dos manuais fizeram deles, percebendo os ideais de educação privilegiados por estes. O acervo
“Joaquim Nabuco” foi constituído por 5253 livros de diversos gêneros, dentre os quais, cerca de 223 são

622
manuais pedagógicos destinados ao uso das normalistas. A grande maioria desses manuais foram
descartados ao longo dos anos pelas bibliotecárias por serem considerados “ultrapassados” ou “fora de
uso”, tendo permanecido alguns exemplares nas prateleiras até os dias de hoje. Após a verificação dos
manuais ainda disponíveis foram selecionados os manuais Educar pela recreação, de Maria J. Schmidt
(1958); Introdução à Didática Geral: dinâmica da escola, de Imídeo G. Nerici (1969); e Nova Didática, de
Alaíde L. de Oliveira (1970) para análise mais aprofundada, dada a relevância desse material para a
formação docente e por ainda não terem sido objeto de análise de outros estudos. Essa análise, parte
de pesquisa em andamento, permitiu compreender que o pensamento pedagógico em pauta nesse
momento era conduzido pelo movimento Escola Nova e que os três autores estudados baseiam seu
pensamento acerca do ensino primário nos ideais desse movimento.

1275
MEMORIAL DO COLÉGIO MARISTA ARQUIDIOCESANO DE SÃO PAULO
1 2 3
KATYA MITSUKO ZUQUIM BRAGHINI ; RICARDO TOMASIELLO PEDRO ; RAQUEL QUIRINO PIÑAS .
1.PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO - DIRETORIA EXECUTIVA DA REDE DE COLÉGIOS
MARISTA DERC, CURITIBA - PR - BRASIL; 2,3.COLÉGIO MARISTA ARQUIDIOCESANO DE SÃO PAULO, SÃO
PAULO - SP - BRASIL.

O objetivo deste trabalho é apresentar aos pesquisadores o Memorial do Colégio Marista


Arquidiocesano de São Paulo, instituição fundada em 1858, e desse modo discutir sobre as
possibilidades de utilização do seu acervo escolar para a pesquisa em História da Educação e para o
Ensino de História. O Memorial foi criado em 2007, como parte das ações comemorativas do
sesquicentenário da instituição e centenário da gestão Marista no colégio. O Memorial tornou-se parte
integrante da Biblioteca e tem por objetivos fundamentais: preservar e oferecer a documentação à
pesquisa; fazer uso da documentação como instrumento pedagógico para atividades educativas e
culturais; salvaguardar itens que estão fisicamente integrados ao cotidiano escolar. O seu acervo
compreende cerca de 30 mil documentos. Além das medalhas, troféus e uniformes o acervo é composto
por: fotografias (20 mil imagens desde o final do século XIX até os dias atuais); publicações (dezenas de
revistas e boletins, tendo por destaque, informativos anuais do colégio), museu escolar (composto por
mais de 800 peças que datam do final do século XIX às primeiras décadas do século XX, incluindo
instrumentos de laboratório, modelos anatômicos, pranchetas para observação etc.); registros escolares
(livros de matrícula, cadernetas de consumo dos internos, exames de admissão, boletins, atas, provas,
registros de instrução militar etc.). O acervo é aberto à comunidade interna e externa, respeitando às
orientações de acesso, por conta dos cuidados de preservação. A estrutura física do Memorial conta
com reserva técnica, sala de exposição permanente e dispõe amostras digitais do seu acervo pela
internet por meio de base de dados. A rica documentação do acervo narra a trajetória do Colégio
Marista Arquidiocesano, e faz parte da História da Educação brasileira, e por isso, é pertinente que esta
comunicação seja apresentada no eixo temático que trata de Patrimônio educativo e cultura material
escolar. Da parte dos pesquisadores existe a preocupação em transpor as linhas de pesquisas
centralizadas na análise das ideias ou das políticas pedagógicas, voltando sua atenção para o universo
escolar evidenciando as práticas e as formas como os sujeitos do passado se organizavam e se
relacionavam na escola. No entanto, comumente, nos relatos dos pesquisadores, interessados em
documentação escolar e arquivistas é comum a reclamação em torno do estado precário em que são
encontrados os documentos escolares em diversas instituições pelo país. Portanto, o Memorial tem por
meta social a salvaguarda e a preservação dos seus documentos estabelecendo uma “geografia”
documental interessante à construção da memória educativa, já que abriga, de forma adequada, os
documentos e peças, vestígios do cotidiano escolar. Geografia documental pensada a partir da acepção
de Mogaro que apresenta um mapeamento de possíveis investigações feitas a partir dos documentos de
arquivos.

623
848
MUSEU ESCOLAR: A EXPERIÊNCIA DE UMA EDUCADORA PARA ENSINO BRASILEIRO.

ANA MARIA LOURENÇO POGGIANI.


UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SANTOS, SANTOS - SP - BRASIL.

O Museu Escolar na história é uma instituição responsável não só pela guarda da memória da vida do
ensino como também é instrumento facilitador da aprendizagem. Já existia nos fins do séc.XIX, ainda na
chamada escola tradicional, principalmente como Museu de História Natural. O Museu Escolar começou
a surgir nas escolas primárias, com intuito de aumentar as habilidades da criança e colocá-la em contato
direto com os objetos que enriquecessem as aulas, a partir do método intuitivo, lição de coisa. No
movimento de reforma do ensino do Estado de São Paulo a partir de 19, o Museu Escolar está presente
no Código de Educação, como elemento inovador para o desenvolvimento das práticas do método
intuitivo. O objetivo dessa comunicação é a apresentação da experiência realizada pela educadora
Leontina Silva Busch na criação de um Museu Escolar na Escola Normal “Padre Anchieta” em São Paulo
em 1936. Nas palavras dessa educadora podemos entender a real função desse órgão para educação
“Seu feliz ajustamento ao aparelho escolar eleva de muito o grau de eficiência da ação escolar nos
aspectos instrutivo, educativo e socializador. Será então o museu um ótimo elemento de ativação do
aprendizado, fazendo sua influência repercutir até sobre a disciplina dos escolares”. Na Escola Normal,
ele aparece como formador das futuras professoras, construindo as bases para o ensino motivado e
ativo. Nessas duas funções do museu escolar, - a Profª. Leontina Busch, teve uma participação direta, na
sua tarefa de constituir novas mestras, despertando a investigação e a confecção de materiais que
tornariam as aulas ministradas por essas professorandas mais motivadas, proporcionando o interesse e
a aprendizagem das crianças. Em suas aulas de Práticas de Ensino na Escola Normal “Padre Anchieta”,
essa professora organizou e encaminhou suas alunas normalistas a desenvolverem durante o ano letivo
de 1936, um projeto de criação do museu escolar nessa instituição. A partir da noção do que é museu
escolar; seu papel para tornar as aulas ativas e a importância dos objetos de seu acervo, o professor tem
subsídios para conduzir os alunos a observar o mundo que o rodeia. A metodologia empregada nesta
comunicação é a pesquisa de documentação histórica, baseada no livro da Profª. Leontina Silva Busch
“Organização de Museus Escolares” que descreve como esse projeto-museu foi idealizado, organizado e
executado. Utilizar-se-ão outros documentos que focalizem a trajetória educacional da referida
professora. Por outro, a técnica da entrevista será de grande auxílio, uma vez que proporcionará os
relatos da própria filha da professora. A presente comunicação faz parte de um estudo em andamento
sobre os Museus Escolares na 1ª. Metade do séc. XX.

715
MUSEU ESCOLAR: O QUE DIZEM OS INVENTÁRIOS (SANTA CATARINA / 1941-1942)

MARILIA GABRIELA PETRY.


UDESC, FLORIANOPOLIS - SC - BRASIL.

O presente trabalho busca explorar a constituição de museus escolares em escolas primárias


catarinenses, por meio da análise de inventários escolares, remetidos ao Departamento de Educação de
Santa Catarina, nos anos 1941 e 1942, os quais prestavam conta dos objetos constantes nas escolas, por
ambientes, seja sala de aula, gabinete da direção, portaria ou museu escolar. Insere-se nas discussões a
respeito da cultura material escolar enquanto potencializadora de projetos educacionais, uma vez que
os sujeitos postos em relação com os materiais produzem saberes, comportamentos e significados, quer
seja em relação com o edifício, o mobiliário ou o material de ensino, três elementos considerados
fundamentais por Ramón López Martín (2006) para compreender as culturas escolares. Para o caso dos
museus escolares estes elementos encontram-se imbricados, uma vez que a ele é destinada uma sala
específica em determinadas escolas, por se ordenar de acordo com o mobiliário – para a disposição das
coleções, e por fornecer (ou ser?) o material didático para o desenvolvimento das aulas. Entende-se que
museu escolar é a junção de objetos, naturais e fabricados, de origem mineral, vegetal e animal, em
coleções, organizadas pelos professores e alunos, para o ensino. Aparecem na bibliografia sob

624
diferentes formatos, dentro da sala de aula e/ou em um gabinete específico, disposto em armários com
portas de vidros, estantes, caixas ou mesas. Neste cenário pretende-se identificar e refletir acerca de
diferenças e semelhanças dos museus escolares de um conjunto de escolas catarinenses, por meio da
exploração de listas de inventários, as quais contêm as seguintes informações: número de ordem,
quantidade, qualidade (descrição do objeto), estado de conservação, valor e observações. A descrição
de utensílios tais como: serrote e martelo, quadros instrutivos de insetos e flores, estantes, conchas e
caramujos, chifres de veados, entre outros artigos, sugere uma lógica de constituição do acervo, que se
relaciona com um princípio pedagógico ao qual o museu se vincula. Estes objetos são ainda uma das
expressões da materialidade escolar, e fazem parte da expansão do projeto de escolarização popular
catarinense. O artigo que aqui se apresenta é um desmembramento da pesquisa em andamento
“Objetos da escola: cultura material da escola graduada (1870-1950) (UDESC/CNPq)”, a qual esteve
vinculada ao projeto nacional “Por uma teoria e uma história da escola primária no Brasil (1870-1950)
(CNPq)”, e compôs o Grupo Temático 2 – Cultura Material Escolar.

888
NOS SUBTERRÂNEOS DA MEMÓRIA CONTRA O ESQUECIMENTO: VINTE ANOS DA EXPERIÊNCIA DE
CRIAÇÃO DO CENTRO DE MEMÓRIA DE EDUCAÇÃO DA SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DA
PREFEITURA DO RIO DE JANEIRO

JORGE ANTONIO RANGEL.


UERJ, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL.

A proposta de comunicação tem por intuito recuperar o percurso da experiência que originou a criação
do Centro de Memória da Educação como órgão da Secretaria Municipal do Rio de Janeiro da Prefeitura
Municipal do Rio de Janeiro em 1990, buscando compreender esse percurso, como um esforço teórico e
metodológico de promoção, do ponto de vista da institucionalização, das iniciativas de organização, de
guarda, de preservação e de divulgação das fontes documentais que constituíam, àquela época, os
acervos de caráter histórico pertencentes às escolas públicas da rede municipal de educação do Rio de
janeiro. Esses registros documentais foram encontrados com risco de perda total e sem qualquer
tratamento adequado, do ponto de vista de sua conservação e de sua organização em termos de
arquivo. O levantamento de fontes, iniciado em 1989, com o levantamento de fontes realizado no
pluriverso das escolas públicas, fundadas entre 1870 a 1945, identificou não somente um corpus
documental escolar que constava da existência de manuscritos, impressos, livros raros, fotografias,
desenhos, pinturas, arquitetura, mobiliário, objetos tridimensionais que pontuavam os interstícios das
práticas culturais escolares, mas também ajudavam a reconstruir os campos de possibilidades (Velho,
1989, p. 50) em que se forjaram a escrita, a oralidade, a memória e a história da escola. Reconhecer os
lugares de produção da escola nos instigou ao entendimento histórico das condições de produção
histórica de tais documentos/memória e dos “não-lugares” entre a prática e a escrita, como bem nos
situa Michel De Certeau (1982, p.98) Como fruto do trabalho com as fontes (acervos escolares),
inaugurou-se a Exposição Memória da Educação na Cidade do Rio de Janeiro, em parceria da Secretaria
Municipal de Educação do Rio de Janeiro com o Museu Histórico Nacional (MHN), em outubro de 1990.
A Exposição ocupou os 132 metros quadrados da Sala Regina Régia do MHN. Constituiu-se de quatro
módulos que versavam sobre o pluriverso escolar dos dois primeiros quartéis republicanos, constituiu-
se de imagens fotográficas, mobiliários e objetos tridimensionais oriundos das escolas da rede municipal
do Rio de Janeiro. Assim, com a criação do Centro de Memória foram identificadas, catalogadas,
higienizadas, cerca de cinco mil imagens fotográficas e recuperadas mobiliários e peças tridimensionais
da época de fundação das escolas. Conhecimento, informação e comunicação fizeram parte do processo
de elaboração desse trabalho de “arqueologia dos saberes”, da materialidade da cultura escolar e da
compreensão dos sujeitos e de suas práticas (Felgueiras, 2005, p.177) Trazer à tona a discussão em
torno da experiência de criação dessa instituição inspira-nos a recorrer a nossas “memórias
subterrâneas” (Pollack,1999) contra o esquecimento

625
1064
O MÍNIMO NECESSÁRIO: MOBILIÁRIO ESCOLAR DE ESCOLAS ISOLADAS (SANTA CATARINA, 1910 -
1920)

VERA LUCIA GASPAR DA SILVA; CAMILA MENDES DE JESUS; LUIZA PINHEIRO FERBER.
UDESC, FLORIANOPOLIS - SC - BRASIL.

Este trabalho apresenta algumas reflexões acerca da constituição material das escolas isoladas
catarinenses, no tocante ao mobiliário. Como recorte temporal estabeleceu-se os primeiros anos após a
reforma educacional de 1911, conhecida como reforma Orestes Guimarães. A fonte principal para coleta
de dados se constitui no Relatório de um Inspetor Escolar de escolas isoladas datado de 1916. Os dados
apurados neste relatório são então cotejados com prescrições da legislação em vigor e informações
encontradas em relatórios de presidentes da província localizados na base de dados on line do Center
for Research Libraries – CRL (http://www.crl.edu/brazil). Enquanto percurso fez-se um mapeamento na
fala do inspetor, no sentido de apurar o material necessário para o funcionamento de uma escola
isolada no Estado neste período. Os elementos são então refletidos a luz das informações localizadas em
relatórios dos presidentes da província nos quais se identificam normatização e recomendações para
estruturação e funcionamento das escolas isoladas e grupos escolares, entre eles a inspeção. Entre os
produtos desta inspeção estão os relatórios como o do ano de 1916, aqui tomado como exemplar; suas
páginas revelam as visitas do inspetor à escola nas quais tomava notas acerca da organização,
regulamentação e mobiliário. Para cada uma das instituições visitadas o inspetor descreve tópicos, entre
eles um específico que versa sobre o mobiliário existente e aquele em falta. Em registro datado de 10 de
outubro de 1916 relata que “a escola está mal installada, funccionando numa sala imprópria,
acanhadissima e pouco arejada, parecendo-se mais com um cubículo do que com uma sala de aula (...)”.
Considerando-se especificamente os materiais foi registrado o que segue “Material Escolar – 4 classes
com os respectivos bancos, 3 mappas, 1 quadro de Parker, 1 quadro negro, estando todos estes
objectos bem conservados. Nota: faltam 4 cadeiras, 1 relogio, 1 estrado para a meza da professora e 1
bandeira do Estado” (p. 3). Dados como estes fornecem indícios acerca do desenho “ideal” de uma sala
de aula e / ou escola, bem como, da importância da constituição material para seu bom funcionamento.
Por registros desta ordem se pretende, acompanhando Vidal (2009, p.43) indagar sobre “como a
modernidade educativa foi sendo reinventada, a partir de um signo de progresso que associava
desenvolvimento científico e educativo à ampliação material da escola” e assim, poder desenhar, ainda
que em parte, a constituição material escolar da época. Este trabalho apresenta alguns resultados da
pesquisa em andamento OBJETOS DA ESCOLA: Cultura Material da Escola Graduada (1874-1950)
(CNPq/FAPESC/UDESC), vinculada ao Projeto Nacional “Por uma teoria e uma história da escola primária
no Brasil: investigações comparadas sobre a escola graduada (1870-1950)” (CNPq).

718
OBJETOS DA ESCOLA E PRECEITOS HIGIENISTAS: CONDUTAS NO GRUPO ESCOLAR LAURO MÜLLER

ANA PAULA DE SOUZA KINCHESCKI; TAINARA LEMOS DAS NEVES.


UDESC, SAO JOSE - SC - BRASIL.

O presente trabalho objetiva identificar e explorar preceitos higienistas que recomendam condutas para
o uso do espaço escolar, do mobiliário e de utensílios diversos. A análise será realizada a partir de
documentos referentes ao Grupo Escolar Lauro Müller, inaugurado em 1912, integrante da primeira
geração de instituições deste gênero em Santa Catarina. O conjunto de escritos primários pesquisados
está localizado no Museu da Escola Catarinense, situado em Florianópolis. Trata-se de quatro relatórios
enviados ao Departamento de Educação do Estado nos anos 1946, 1947, 1950 e 1951, assim como de
um livro de Termos de Inspeção de 1951 a 1961. Os documentos analisados permitem reflexões sobre o
cuidado com a higiene da instituição e sua relação com os objetos da escola. A título de exemplo
destaca-se um relato, escrito em 1947 pela diretora do estabelecimento, o qual demonstra um aparente
cuidado com a saúde do corpo discente ao mencionar a necessidade da compra de giz de qualidade para
uso no quadro-negro. Afirma-se que o giz branco “danificou os quadros, opôs-se ao bom andamento

626
dos trabalhos, prejudicou as crianças, aumentando, neste ano, o número de alunos com propensão
declarada à miopia. O giz não adere ao quadro; à medida que se escreve, vai se reduzindo a pó,
permanecendo no quadro, apenas, vestígio de letras”. Outro ponto enfatizado refere-se a observações e
recomendações feitas ao espaço da cozinha, de ações que teriam como foco este ambiente e
consequências em seus utensílios. Evidenciam-se no ano de 1946, quando a diretora explana que a
cozinha “Está em bom estado de conservação. Não se pode, entretanto, evitar que, em certos dias, a
fumaça venha enegrecer as paredes e principalmente o fôrro. Há asseio e possível higiene, pois
enquanto o fogão não possuir uma serpentina para água quente, as canecas não podem ser diàriamente
esterilizadas. São, apenas, lavadas com água e sabão.” A análise dos documentos revela importantes
indícios sobre a relação estabelecida entre os objetos da escola e preceitos higienistas contidos nos
regimentos dos G.E.s. Tomam-se como suporte para reflexão, produções bibliográficas acerca da cultura
material escolar e discussões a respeito de higiene escolar. Para tecer as considerações, trabalharemos
com dois conjuntos como suporte teórico. O primeiro é composto por textos informativos produzidos
para escolas francesas e espanholas. O segundo reúne análises e reflexões empreendidas na área sobre
esta temática, veiculadas em livros, artigos e trabalhos apresentados em eventos científicos. A reflexão
aqui sugerida é um resultado da pesquisa em andamento “Objetos da Escola: Quando novos
personagens entram em cena”, a qual subsidia os estudos da pesquisa “Objetos da Escola: Cultura
Material da Escola Graduada (1870-1950)”, que por sua vez tem sua proposta vinculada ao Projeto
Nacional “Por uma teoria e uma história da escola primária no Brasil: investigações comparadas sobre a
escola graduada (1870-1950).

700
ORGANIZAÇÃO DE ACERVOS ARQUIVÍSTICOS:A EXPERIÊNCIA DO CENTRO DE ESTUDOS SOBRE A
MEMÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA, DO ESPORTE E DO LAZER (CEMEF/UFMG)

MEILY ASSBÚ LINHALES; ADALSON DE OLIVEIRA NASCIMENTO; ANA CAROLINA VIMIEIRO GOMES;
HERCULES PIMENTA SANTOS.
UFMG, BELO HORIZONTE - MG - BRASIL.

Esta pesquisa constitui-se como parte integrante de um projeto maior intitulado “CEMEF/UFMG como
lugar de memória e pesquisa da história do esporte em Minas Gerais: organização e conservação de
acervos”. O principal propósito deste projeto é consolidar o Centro de Estudos sobre a Memória da
Educação Física, do Esporte e do Lazer (CEMEF), como lugar de memória e de pesquisa da história da
educação física. Um dos eixos de investigação em andamento é este que pretende organizar o fundo
institucional que reunirá documentos produzidos e acumulados pela Escola de Educação Física desde os
seus primórdios, no ano de 1952. Nesta data foram criados em Belo Horizonte dois cursos superiores de
Educação Física – um vinculado ao Estado de Minas Gerais e outro vinculado às Faculdades Católicas. Em
1958, com a criação da Escola de Educação Física de Minas Gerais, houve a fusão destes dois cursos. A
instituição passa a ser mantida com recursos da Diretoria de Esportes do Estado e sua orientação
pedagógica fica ainda vinculada à Sociedade Mineira de Cultura, entidade mantenedora das Faculdades
Católicas. Mais tarde, no ano de 1969, a Escola foi incorporada à Universidade Federal de Minas Gerais.
Tomando como metodologia de pesquisa a análise da organicidade e da proveniência dos documentos,
buscamos estabelecer o quadro de arranjo do referido fundo. No acervo do CEMEF existem documentos
de diferentes gêneros e suportes: textuais, iconográficos, fílmicos e tridimensionais. Estes documentos
oferecem pistas e hipóteses de investigação para o reconhecimento das funções e estruturas
organizacionais das instituições que os produziram e acumularam. Assim, a investigação sobre a
estrutura administrativa e sobre as funções destas instituições contribui significativamente para a
elaboração do arranjo do(s) fundo(s) e das diversas classes que reunirão as unidades documentais. A
complexidade deste trabalho busca associar os saberes relativos à História da Educação Física aos
conhecimentos e normas técnicas que regem a organização de arquivos. Combinamos assim dois
procedimentos de investigação: a) o estudo sobre a evolução institucional, com toda a sua pluralidade, e
b) a prospecção arqueológica, visando a identificação dos tipos documentais. Pretendemos que esta
metodologia, calcada nos princípios fundamentais da arquivologia, nos permita organizar este(s)
fundo(s) institucional(is) de forma original. Espera-se que o quadro de arranjo revele aos pesquisadores

627
o contexto de produção documental e que a classificação dos documentos de memória nos permita
contar a singularidade presente nesta história da formação de professores de Educação Física em Minas
Gerais.

757
PASSOS E ESPAÇOS DA CONSOLIDAÇÃO DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO PATRIMÔNIO ESCOLAR

JAQUELINE COSTA CASTILHO MOREIRA.


UNESP, ARARAQUARA - SP - BRASIL.

O estudo das condições dos ambientes educacionais e de suas formas de ocupação revela as
contradições no emprego das políticas educacionais vigentes; assim como indícios das especificidades
das realidades escolares. Este trabalho em andamento teve como objetivo, investigar qual o espaço
destinado à Educação Física Escolar, relacionando sua valorização ou não, na atual Escola Estadual "Prof.
Suetônio Bittencourt Jr.", de Santos/SP, entre 1963 e 2010. A escolha por esta longa periodização
justifica-se pelo objeto pesquisado, a arquitetura; que para ser alterada necessita de aparato legal,
licitações, tempo para execução das obras e consolidação do uso do espaço pelos envolvidos. A
metodologia remete a “pesquisa histórica descritiva”, coletada por meio de fontes secundárias e
primárias (relatórios, prontuários, desenhos arquitetônicos, fotos, jornais, relatos orais de discentes e
docentes). Inicialmente conhecida como Grupo Escolar do "Bairro do Macuco", foi criada pelo Decreto
n° 42.703 de 1963, com dez classes e um turno. A arquitetura apresentava-se similar ao panóptico, de
cunho coercitivo e disciplinatório. Porém, nessa unidade, o centro diferenciava-se por abrigar árvores
altas, areia e terra; e por sua utilização como espaço recreativo. Em 1965, o estabelecimento passou a
ser denominado "Grupo Escolar Prof. Suetônio Bittencourt Jr.”. Em 1969, o “Ginásio Estadual de
Maracanãzinho”, foi instalado neste mesmo prédio, com o desdobramento dos períodos, em função da
pouca disponibilidade de salas. Entre 1964-1970, a Educação Física não era considerada disciplina e nem
era obrigatória, dependendo muito da cultura da unidade escolar. No “Suetônio”, a partir de 1971, essa
“prática educativa” passou a ser realizada em um clube, no contraturno do período letivo. Em 1994, o
Estado assumiu as salas de 5ª a 8ª séries e o ensino médio, e a área central foi cimentada ganhando
demarcações esportivas. Em seus 47 anos de existência, a unidade sofreu poucas modificações, salvo a
manutenção anual, pintura e pequenos consertos. As mais significantes para a Educação Física,
ocorreram em 2007, com a construção da atual quadra poliesportiva e entre 2009/2010, quando foi
feita sua cobertura e iluminação. As análises das modificações ocorridas no prédio escolar, confrontadas
com as fontes, permitiram inferir sobre as alternâncias legais e das práticas, a natureza, importância e
papel da disciplina, assim como sua controversa consolidação no patrimônio escolar. Evidências das
diversas lógicas sociais relacionadas ao uso do espaço e da fruição de uma cultura escolar.

987
PATRIMÔNIO IMATERIAL: UMA REFLEXÃO HISTÓRICA SOBRE REPRESENTAÇÕES CULTURAIS NO
PONTAL DO TRIÂNGULO MINEIRO

ANDRÉ LUÍS PARREIRA; ANDRÉA AZEVEDO DE OLIVEIRA; THAIS PARREIRA DE FREITAS OLIVEIRA.
FACIP/UFU, ITUIUTABA - MG - BRASIL.

O presente trabalho tece reflexões no que concerne ao Patrimônio Imaterial no Ensino Escolar, de uma
Escola Pública de Educação Básica situada no município de Ituiutaba/MG. O estudo tem como intento
contribuir no processo educativo inserindo os alunos na realidade cultural na qual permite desenvolver,
investigar e refletir sobre sua ligação com um passado mais distante, buscando compreender as
historicidades das representações culturais, seja voltado para as artes, teatro ou dança, buscando um
ensino direcionado para sujeitos históricos, propiciando um conhecimento mais amplo da realidade em
que vivem, com atividades prazerosas e fora do âmbito da sala de aula. A pesquisa se justifica tendo em
vista que o espaço escolar é um multiplicador dos aspectos relevantes do conhecimento, da valorização
e da conscientização do Patrimônio Imaterial, assim pode-se afirmar que é importante mostrar aos

628
educadores e educandos a necessidade do desenvolvimento deste estudo para proporcionar um melhor
entendimento, uma melhor conscientização e fortalecimento de uma memória local, enaltecendo a
cultura popular. Dessa forma, a instituição escolar, como unidade social, ímpar, única, possui formas de
organização e funcionamento com peculiaridades próprias, a qual busca sua identidade construída em
sua trajetória histórica, com o intuito de proporcionar um sistema de ensino que possa ser um fator de
mudança social dentro do limite social-institucional, objetivando, também, valorizar a memória da
cultura de um modo geral. Desenvolvemos como metodologia, pesquisa bibliográfica; análise
documental e entrevista semi-estruturada que trouxeram relevância para o estudo em coerência com a
práxis dos graduandos, autores desse estudo. As conclusões parciais mostraram que o patrimônio
imaterial no ensino escolar e seus programas viabilizam projetos de identificação, reconhecimento,
salvaguarda e promoção da dimensão imaterial do patrimônio cultural que busca estabelecer parcerias
com instituições dos governos federal, estadual e municipal, universidades, organizações não-
governamentais, agências de desenvolvimento e organizações privadas ligadas à cultura e à pesquisa,
revelando a abertura da escola para a comunidade, gerando um sentimento de identidade e
continuidade, contribuindo assim, para promover o respeito à diversidade cultural e à criatividade
humana, possibilitando o conhecimento das características centrais da região do Pontal Mineiro e das
dimensões sócio-culturais de nossa sociedade.

672
RELAÇÕES ENTRE ARQUITETURA, URBANISMO E EDUCAÇÃO: O CASO DA ESCOLA NORMAL DE
PARANAGUÁ/PR

ANA PAULA PUPO CORREIA.


UFPR, CURITIBA - PR - BRASIL.

O presente trabalho insere-se no estudo do patrimônio educativo e cultura material escolar, e tem
como intenção investigar os debates acerca da implantação do projeto que desencadeou a política de
construção do edifício destinado ao prédio público da escola. O estudo contempla as relações entre os
campos da arquitetura, urbanismo e a história da educação através da trajetória inicial da Escola Normal
de Paranaguá/PR. Além disso, baseia-se no pressuposto de que o edifício escolar, concebido e
construído para fins educativos, incorpora em seu espaço as demandas pedagógicas, sanitárias e os
códigos de posturas construtivas vigentes. Uma das questões a ser compreendida refere-se às possíveis
relações existentes entre os projetos construtivos (arquitetônicos) e os projetos políticos/educacionais
que se veiculava no período aqui estudado. Optou-se pela analise do prédio escolar público,
considerados estabelecimentos de domínio e controle do poder estadual, que revelam a intenção
política dos governos que se encarregaram de sua construção e que correspondia a maioria das escolas
desse tipo de ensino ofertado nos primeiros anos do século XX. É importante ressaltar que para dar
conta dessa questão será necessário não só o estudo dos projetos políticos/pedagógicos e sua
materialidade no tempo e no espaço (por meia da arquitetura escolar), mas, igualmente, os estudos
desta construção na cidade, tendo em vista que estas têm inegável valor histórico, artístico e cultural.
Quanto á periodização, a pesquisa aborda desde o início das décadas de 1920, com as discussões sobre
a construção do prédio escolar até a década de 1930, com a fundação do colégio. As fontes que
responderão as indagações, por meio da pesquisa histórica a partir de análise documental, serão: as
mensagens governamentais, relatórios de inspetores de ensino, regulamentos escolares, decretos,
programas de ensino, periódicos da época plantas arquitetônicas e fotografias. Como referenciais
teóricos, este texto está fundamentado nas contribuições dos teóricos da História da Educação, da
História da Arquitetura e do Urbanismo, entre eles: Anne-Marie CHÂTELET (1999), Antonio VIÑAO e
Augustín ESCOLANO (1998), Marcus Levy Albino BENCOSTTA (2005) e Silvia Ferreira Santos WOLFF
(2010), dentre outros. Este trabalho é parte da minha pesquisa de doutorado em andamento, com isso
acredita-se ser possível apresentar uma das explicações históricas sobre a organização da cultura e da
arquitetura escolar no período do discurso modernizador do estado do Paraná.

629
340
RETRATOS DA ESCOLA: A ESCOLARIZAÇÃO FOTOGRAFADA

IDELSUITE DE SOUSA LIMA.


UFCG, CAMPINA GRANDE - PB - BRASIL.

Nas escolas fotografa-se muito. Numa busca de retenção temporal as escolas utilizam-se de fotografias
como que para registrar o que a instituição considera relevante na busca de imortalizar alguns instantes.
O presente trabalho é parte de uma pesquisa mais ampla sobre a análise histórica de uma política do
conhecimento escolar, no bojo de uma reforma educacional desenvolvida nos anos finais do século XX.
O texto ora exposto refere-se a um estudo sobre o intramuro da escola, realizado no sentido de captar
indícios das práticas culturais do processo de escolarização incorporadas pela cultura escolar vivenciada
na instituição educativa. Para a realização da investigação foi utilizado como procedimento
metodológico uma pesquisa documental. Dentre os documentos da escola o acervo fotográfico
consubstancia-se como importante fonte para entender esse processo. Tal acervo ocupa parte
significativa do arquivo escolar, com uma gama de exemplares fotográficos, configurando-se numa
cultura material que a escola guarda como uma herança a preservar, como uma representação do seu
viver. Os álbuns com as fotografias integram os documentos. Contém, pois, informações valiosas sobre a
escola, os professores, o núcleo gestor, os alunos, as atividades realizadas, o cotidiano, as festividades,
os cursos ministrados, os visitantes e autoridades que por ali passaram. Apresentam fragmentos do
ensino, do currículo, das dinâmicas de sala de aula, do fazer educativo, enfim da organização do
processo de escolarização. Assim, o acervo fotográfico da escola constitui o corpus documental do
presente trabalho. Os retratos da escola conferem sentido ao passado, tornando possível, a partir do
cruzamento com outras fontes, escrever a trajetória da instituição, a construção histórica das práticas
curriculares que dão base ao processo de escolarização. A incursão pelos registros imagéticos e
iconográficos, fotografias do acervo escolar, possibilita captar o universo de uma cultura própria, que
produz traços e documentos dessa cultura, como patrimônio educativo da instituição. Através da
fotografia, o olhar de quem fotografa, os sentidos que imprime na iminência de reeditar
comportamentos, valores, símbolos, estranhamentos, representações. A análise e compreensão das
práticas escolares e do processo de escolarização dos alunos captadas a partir dos retratos da escola
conferem a tais fontes documentais estatuto de reveladoras das culturas escolares contemplando assim,
uma escolarização fotografada.

392
REVISTA FROEBEL E A ESCOLA ELEMENTAR EM PORTUGAL E NO BRASIL: A CIRCULAÇÃO DE IDÉIAS E
MODELOS PEDAGÓGICOS NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX (1882-1885)

INÁRA DE ALMEIDA GARCIA PINTO.


UNIVERSIDADE SÃO PAULO, SÃO PAULO - SP - BRASIL.

Neste trabalho, articulado à tese de doutorado em desenvolvimento na Universidade de São Paulo


intitulada Um professor em dois mundos – A viagem de Luiz Augusto dos Reis à Europa (1891) com
estágio de pesquisa na Universidade do Porto examino a Revista Froebel editada em Portugal no
período de 1882-1885. Tenho como objetivo analisar o conjunto dos 33 fascículos no sentido de
conhecer aspectos de sua edição, dos colaboradores, dos temas e do discurso pedagógico produzido e
veiculado pelo periódico. A partir desse levantamento, busco apreender os mecanismos de circulação
de modelos educativos e objetos culturais entre Portugal e Brasil na última década do século XIX. Em
relação ao Brasil, pretendo considerar o debate pedagógico percebido nos relatórios de inspetores e
professores referentes às práticas educacionais estabelecidas nas escolas primárias da cidade do Rio de
Janeiro. Importa reconhecer o que circulava em Portugal e no Brasil e como se dava essa circulação nos
dois países, a fim de perceber as apropriações das práticas escolares na passagem de um lugar para o
outro. Nesse sentido, destaco como exemplo de programas pensados para as escolas elementares nos
dois mundos os Batalhões escolares e as Caixas Econômicas escolares, duas iniciativas educacionais
discutidas nas páginas da Revista Froebel no tempo em que esta esteve em circulação. No caso de

630
Portugal é possível pensar que tais questões, pelo modo como foram tratadas no periódico
representaram estratégias de controle para garantir o progresso da nação, intervindo na instrução
popular por meio da especialização das escolas primárias. Na análise da revista se percebe um ideal
republicano propondo mudanças nas práticas escolares, discutindo a legislação, acompanhando sua
tramitação pela Câmara dos vereadores, sugerindo idéias ao Governo e ao professorado português. No
Brasil esses dois modelos educativos provocaram um intenso debate no interior da Secretaria de
Instrução, acabando por dividir opiniões dos professores a respeito da validade da implantação de tais
medidas tidas, principalmente, como civilizatórias e disciplinares. Desta forma, considerar práticas
similares nas escolas primárias de Lisboa, Porto e Rio de Janeiro vai dar uma visão da circulação das
idéias pedagógicas no período em questão, além de destacar as apropriações e mediações de seus usos
traduzidas na instalação de uma cultura material escolar específica nas escolas das três cidades
consideradas.

631
632
ÍNDICE REMISSIVO

ADALSON DE OLIVEIRA NASCIMENTO 321, 627


ADÉLIA CAROLINA BASSI 175
ADEREMI MATHEUS JACOB FREITAS CAETANO 137
ADILOUR NERY SOUTO 238, 533
ADIR DA LUZ ALMEIDA 257
ADLENE SILVA ARANTES 21, 236
ADRIA SIMONE DUARTE DE SOUZA 501
ADRIANA APARECIDA ALVES DA SILVA 232
ADRIANA APARECIDA PINTO 461, 592
ADRIANA DUARTE LEON 407
ADRIANA MARCINEIRO VILAR 441
ADRIANA MARIA PAULO DA SILVA 388
ADRIANE PESOVENTO 135, 147
ADRIENE SUELLEN FERREIRA PIMENTA 267
AGNES IARA DOMINGOS MORAES 197
AIRES ANTUNES DINIZ 456
ALACIR ARAÚJO SILVA 262
ALBONI MARISA DUDEQUE PIANOVSKI VIEIRA 360, 601
ALDAIRES SOUTO FRANÇA 137, 522
ALESSANDRA ARCE HAI 199, 413
ALESSANDRA BARBOSA BISPO 184
ALESSANDRA CRISTINA FURTADO 374, 592
ALESSANDRA FERNANDES NÓBREGA 339, 480
ALESSANDRA FROTA MARTINEZ SCHUELER 108
ALESSANDRA MARIA DOS SANTOS 149
ALESSANDRA PIO 255
ALESSANDRO CARVALHO BICA 526
ALEXANDRE RIBEIRO NETO 41, 603
ALEXANDRE SOUZA DE OLIVEIRA 328, 334
ALEXSANDRO COELHO ALENCAR 309
ALICE CONCEIÇÃO CHRISTOFARO 194
ALICE RIGONI JACQUES 189
ALINE CHOUCAIR VAZ 264
ALINE DE MENEZES BREGONCI 559, 560
ALINE DE MORAIS LIMEIRA 542
ALINE GOMES DA COSTA 413
ALMICÉIA LARISSA DINIZ BORGES 425, 526
ALUÍSIO JOSÉ ALVES 16, 172
ALZILETE CAVALCANTE DA SILVA 278
AMÁLIA DIAS 477
AMANDA SOUSA GALVINCIO 491
AMANDA THAISE EMERENCIANO PINTO PESSOA 244
AMARILIO FERREIRA JR. 216
AMARÍLIO FERREIRA NETO 447, 589
AMURIELLE ANDRADE DE SOUSA 256, 390
ANA AMÉLIA BORGES LOPES 543
ANA APARECIDA ARGUELHO DE SOUZA 220
ANA CAROLINA GALVÃO MARSIGLIA 180, 187
ANA CAROLINA VIMIEIRO GOMES 356, 627
ANA CHRYSTINA VENANCIO MIGNOT 21
ANA CLARA BORTOLETO NERY. 30, 86
ANA CRISTINA PEREIRA LAGE 216

633
ANA EMÍLIA CORDEIRO SOUTO FERREIRA 506
ANA LOURDES LUCENA DE SOUSA 609
ANA LUCIA CALBAISER DA SILVA 395
ANA LUCIA TOMAZ CARDOSO 554
ANA LUIZA DE JESUS COSTA 419
ANA LÚZIA MAGALHÃES CARNEIRO 284
ANA MÁRCIA BARBOSA DOS SANTOS 325
ANA MARIA BANDEIRA DE MELLO MAGALD 57
ANA MARIA BEZERRA DO NASCIMENTO 437
ANA MARIA DE OLIVEIRA GALVÃO 428, 473
ANA MARIA FONTES DOS SANTOS 524
ANA MARIA GONÇALVES 157
ANA MARIA LOURENÇO POGGIANI. 624
ANA PAULA DA SILVA 499
ANA PAULA DA SILVA XAVIER 130
ANA PAULA DE SOUZA KINCHESCKI 626
ANA PAULA FERNANDES DA SILVA PIACENTINE 599
ANA PAULA GOMES MANCINI 241, 307
ANA PAULA PEDERSOLI PEREIRA 444
ANA PAULA PUPO CORREIA 22, 629
ANA PAULA RODRIGUES FIGUEIROA 17, 266
ANA PAULA SALVADOR WERRI 401
ANA PAULA SOARES LIMA 199, 294
ANA REGINA FERREIRA DE BARCELOS 344
ANA SUELI TEIXEIRA DE PINHO 246
ANA VALÉRIA DE FIGUEIREDO DA COSTA 370
ANA WALESKA POLLO CAMPOS MENDONÇA 55
ANALETE REGINA SCHELBAUER 192, 218
ANAMARIA GONÇALVES BUENO DE FREITAS 101, 613
ANDERSON CLAYTOM FERREIRA BRETTAS 237, 481
ANDERSON DE CARVALHO MORORO 282
ANDERSON DE FREITAS SILVA 397, 420
ANDRÉ DA SILVA MELLO 397
ÁNDRE GUSTAVO FERREIRA DA SILVA 149
ANDRÉ LUÍS PARREIRA 628
ANDRÉ LUIZ BIS PIROLA 445
ANDREA AGNES PINTO 482
ANDRÉA AZEVEDO DE OLIVEIRA 234, 628
ANDREA BRANDÃO LOCATELLI 358, 372
ANDRÉA CRISTINA OLIVEIRA DUARTE DE SOUZA SANTANA DA SILVA 355
ANDRÉA KARLA FERRIERA NUNES 614
ANDREA MORENO 305, 356
ANDRÉA REIS DE JESUS 201
ANDRÉA SILVA DE FRAGA 497
ANDREÍNA DE MELO LOUVEIRA 583, 589
ANDRESON CARLOS ELIAS BARBOSA 173
ANGELA GALIZZI VIEIRA GOMIDE 535
ANGELA MARIA GARCIA 137
ANGELA MARIA GARCIA 33, 137
ANGELA MARIA SOUZA MARTINS 63
ANGELA RABELLO MACIEL DE BARROS TAMBERLINI 551
ANGÉLICA BORGES 549
ANTONIA ALMEIDA SILVA 535
ANTONIA SIMONE GOMES 618
ANTONIETTE CAMARGO DE OLIVEIRA 611

634
ANTÔNIO CARLOS FERREIRA PINHEIRO 27, 274
ANTONIO DE PÁDUA CARVALHO LOPES 28, 230
ANTONIO GERMANO MAGALHÃES JUNIOR 481
ANTÓNIO GOMES FERREIRA 198, 615
ANTONIO HENRIQUE PINTO 205
ANTONIO JORGE GONÇALVES SOARES 163
ANTONIO JOSE OLIVEIRA 562
ANTONIO ROBERTO SEIXAS DA CRUZ 47
ANTONIO SERGIO FRANCISCO OLIVEIRA 420, 453
ANTONIO VALDIR MONTEIRO DUARTE 110
APARECIDA MARIA ALMEIDA BARROS 157, 295
APARECIDA RAMOS DA MOTA GONÇALVES 295
ARIADNE LOPES ECAR 300
ARIADNY BEZERRA 358
ARICLÊ VECHIA 198, 615
ARLETE M. PINHEIRO SCHUBERT 143
ARLETTE MEDEIROS GASPARELLO 66
ARNALDO PINTO JUNIOR 329
AUREA ESTEVES SERRA 31, 423
BÁRBARA CORTELLA PEREIRA 373
BEATRIZ RIETMANN DA COSTA E CUNHA 297
BEATRIZ T. DAUDT FISCHER 113, 429
BERENICE CORSETTI 489, 526
BERENICE GONÇALVES HACKMANN 71
BERNADETE STREISKY STRANG 222, 402
BERNADETTH MARIA PEREIRA 155
BERNARDO JEFERSON OLIVEIRA 419, 452
BETANIA OLIVEIRA LATERZA RIBEIRO 38, 269
BRUNA DOS SANTOS AZEVEDO 162
BRUNA LUIZA NUNES GARCIA 230
BRUNA LUÍZA NUNES GARCÍA 572
BRUNO ADRIANO RODRIGUES DA SILVA 547
BRUNO BONTEMPI JUNIOR 59, 104
BRUNO GERALDO ALVES 33, 34
CAMILA MENDES DE JESUS 626
CARLA REGINA HOFSTATTER 300
CARLA SIMONE CHAMON 96, 436
CARLA VILLAMAINA CENTENO 268
CARLOS ANGELO DE MENESES SOUSA 302
CARLOS AUGUSTO DE AMORIM CARDOSO 276
CARLOS EDUARDO MARTINS DA SILVA 139
CARLOS EDUARDO VIEIRA 60, 81
CARLOS HENRIQUE CARVALHO 288, 503
CARLOS MONARCHA 183, 285
CARLOS RENATO CAROLA 319
CARLOTA BOTO 61
CARMO THUM 143, 599
CAROLINA LIMA VILELA 311
CAROLINA MAFRA DE SÁ 473
CAROLINA MOSTARO NEVES DA SILVA 77, 483
CAROLINA TOSHIE KINOSHITA 596
CAROLINHE HARDIM SIMÕES 537
CÁSSIA APARECIDA SALES MAGALHÃES KIRCHNER 252, 391
CATARINA CAPELLA SILVA 452, 458
CÁTIA REGINA PAPADOPOULOS 423

635
CECILIA NEVES LIMA 547
CECÍLIA VIEIRA DO NASCIMENTO 361, 377
CÉLIA MARIA SIQUEIRA GOMES 248
CELIA REGINA OTRANTO 295
CELINA MIDORI MURASSE MIZUTA 78
CELSO JOÃO CARMINATI 82, 206
CELSO LUIZ JR 600
CESAR AUGUSTO CASTRO 195, 500
CESAR ROMERO AMARAL VIEIRA 220, 226
CHARLITON JOSÉ DOS S. MACHADO 620
CHARLITON JOSÉ DOS SANTOS MACHADO 380
CHARYA CHARLOTTE BEZERRA ADVÍNCULA 322
CHRISTIANNI CARDOSO MORAIS 188
CILENE DE MIRANDA PONTES 278
CÍNTIA BORGES DE ALMEIDA 293, 467
CINTIA TULER SILVA 134
CIRCE MARY SILVA DA SILVA 43
CLARA MARIA MIRANDA DE SOUSA 365
CLARICE NASCIMENTO MELO 110
CLARICE REGO MAGALHÃES 271
CLARISSA BETANHO INÁCIO 279
CLAUDEMIR DE QUADROS 569
CLAUDIA CRISTINA DA SILVA FONTINELES 486
CLÁUDIA ENGLER CURY 433
CLÁUDIA MARIA MENDES GONTIJO 499
CLAUDIA MARIA PETCHAK ZANLORENZI 173, 409
CLÁUDIA MARTINS RIBEIRO RENNÓ 209
CLAUDIA OLIVEIRA CURY VILELA 269
CLAUDIA PANIZZOLO 167, 395
CLAUDIA REJANE SCHAVARINSKI ALMEIDA SANTOS 288
CLÁUDIA ROBERTA BORSATO 469
CLAUDICEIA LINHARES DE ALMEIDA BEZERRA 477
CLAUDINÉIA VISCHI AVANZINI 266
CLÁUDIO DE SÁ CAPUANO 89
CLAUDIO SCHERER DA SILVA 163
CLEBER SANTOS VIEIRA 397
CLEILA DE FÁTIMA SIQUEIRA STANISLAVSKI 86
CLEONARA MARIA SCHWARTZ 186, 563
CLEUSA MARIA FUCKNER 250
CLOVIS NICANOR KASSICK 64
CONCEIÇÃO SOLANGE PERIN 484
CORA LINHARES SANTOS 199, 258
CRISLANE BARBOSA AZEVEDO 117, 275
CRISTIANE DOS SANTOS SOUZA 359
CRISTIANE OLIVEIRA DE SOUZA 502
CRISTIANE SILVA COSTA 259
CRISTIANE SILVA MELO 505, 543
CRISTIANE TAVARES FONSECA DE MORAES NUNES 89, 551
CRISTIANO FERRONATO 187
CRISTINA ALMEIDA BARROSO 453, 576
CRISTINA APARECIDA REIS FIGUEIRA 64
CUSTODIO JOVENCIO BARBOSA FILHO 286
CYNTHIA GREIVE VEIGA 98
CYNTIA GRIZZO MESSENBERG 479
DAIANE DE LIMA SOARES SILVEIRA 129, 136

636
DALVA REGINA ARAÚJO DA SILVA 467
DANIA MONTEIRO VIEIRA COSTA 396
DANIEL CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE LEMOS 348
DANIEL FERRAZ CHIOZZINI 191
DANIEL REVAH 85, 478
DANIELA CRISTINA ABREU 150
DANIELE VASCONCELOS RIBEIRO DA SILVA 219
DANIELLA BARBOSA SUASSUNA 380, 384
DANIELLE DE ALMEIDA GALANTE FERREIRA 205
DANIELLE GROSS DE FREITAS 159
DANIELLE MARAFON 594
DANIELLY SAMARA BESEN 381
DARCI TEREZINHA DE LUCA SCAVONE 491
DAYANE FEITOSA LIMA 278
DAYSE MARTINS HORA 39
DEANE MONTEIRO VIEIRA COSTA 396
DÉBORA ROBERTA BORGES 540
DÉBORA TEIXEIRA DE MELLO 534
DEBORAH COTTA OLIVEIRA 458
DÉCIO GATTI JR 103, 569
DEGELANE CÓRDOVA DUARTE 232
DENICE BARBARA CATANI 578
DENILSON SANTOS DE AZEVEDO 185, 233
DENISE ARAUJO MEIRA 352
DESIRE LUCIANE DOMINSCHEK 472
DIANA GONÇALVES VIDAL 27, 100
DIANA ROCHA DA SILVA 526, 533
DIANE VALDEZ 579
DILZA CÔCO 421
DIMAS SANTANA SOUZA NEVES 519, 556
DISLANE ZERBINATTI MORAES 148
DORIS BITTENCOURT ALMEIDA 298, 493
DULCE REGINA BAGGIO OSINSKI 465
DULCINEA BENEDICTO PEDRADA 141
DULCINÉA CAMPOS 499, 585
EDGLEIDE DE OLIVEIRA HERCULANO 272
EDILENE CUNHA MARTINEZ 19
EDILENE LIMA DA SILVA 380
EDIVÂNIA DE SOUZA 290
EDNA CASTRO DE OLIVEIRA 286, 560
EDNA GRAÇA SCOPEL 375, 560
EDNÉIA REGINA ROSSI 244
EDSON PANTALEÃO ALVES 545
EDUARDO ARRIADA 305, 435
EDUARDO VIANNA GAUDIO 263
ELAINE CÁTIA FALCADE MASCHIO 128, 141
ELAINE MARIA SANTOS 90, 369
ELAINE RODRIGUES 19, 365
ELENICE DE SOUZA LODRON ZUIN 335
ELENIR TEREZINHA PALUCH SOARES 312
ELIANA GASPARINI XERRI 208
ELIANA MARIA FERREIRA 239
ELIANA NUNES DA SILVA 207
ELIANA OLIVEIRA 382
ELIANE LOURDES CALSAVARA LIMA 473

637
ELIANE MIMESSE PRADO 141
ELIANE TERESINHA PERES 327
ELIANE VIANEY DE CARVALHO 557
ELIANNE BARRETO SABINO 109, 178
ELIS BEATRIZ LIMA FALCÃO 563, 585
ELISA MARCHESE 439
ELISANGELA SANTOS AMORIM 501
ELISEANNE LIMA DA SILVA 156
ELIZABETE CUSTÓDIO DA SILVA RIBEIRO 567
ELIZABETH FARIAS DA SILVA 36
ELIZABETH FIGUEIREDO DE SÁ 100, 392
ELIZEU CLEMENTINO DE SOUZA 246, 370
ELLEN DE SOUZA BONFIM 433
ELLEN LUCAS ROZANTE 48, 401
ELOISA MARIA FERRARI SANTOS 290
ELOMAR ANTONIO TAMBARA 236, 435
ELTON CASTRO RODRIGUES DOS SANTOS 174
EMANUEL MENIM 127
EMERSON CORREIA DA SILVA 32
EMERSON JOSÉ SOUZA 181
ENILDA FERNANDES 253
ÉRICA BOLZAN 591
ÉRIKA NOGUEIRA MARTINS 289
ERILANE DE SOUZA GUIMARÃES 181
ESTELA MARIS SARTORI MARTINI 115
ESTER FRAGA VILAS-BÔAS CARVALHO DO NASCIMENTO 282, 433
EUCLIDES TEIXEIRA NETO 280
EUGÊNIA ANDRADE SILVA 458
EURIZE CALDAS PESSANHA 52, 587
EVA CRISTINI ARRUDA CÂMARA BARROS 460
EVA MARIA SIQUEIRA ALVES 53, 310
EVELYN DE ALMEIDA ORLANDO 226, 460, 487
EVELYN GOYANNES DILL ORRICO 562
FABIA LILIÃ LUCIANO 47
FABIANA CRISTINA SILVA 149, 365
FABIANA GARCIA MUNHOZ 126
FABIANA SENA 425
FABIANA VILELA TANNÚS 399
FABIANY TAVARES SILVA 605
FÁBIO ALVES DOS SANTOS 384
FÁBIO ARAÚJO DE SOUZA 530
FÁBIO GARCEZ DE CARVALHO 575
FÁBIO INACIO PEREIRA 409
FABRÍCIO VALENTIM DA SILVA 133, 528
FARLEY RODRIGUES DOS SANTOS JUNIOR 572
FÁTIMA MARIA NEVES 567, 568
FELIPE FERREIRA BARROS CARNEIRO 397, 589
FELIPE FREITAS DE SOUZA 436, 581
FELIPE OSVALDO GUIMARÃES 518
FERNANDA BARROS 268
FERNANDA CONCEIÇÃO COSTA FRAZÃO 410
FERNANDA DE JESUS FERREIRA 148
FERNANDA MENDES RESENDE 129, 258
FERNANDA RAMOS OLIVEIRA PRATES 204
FERNANDA ZANETTI BECALLI 186, 293

638
FERNANDO CÉSAR FERREIRA GOUVÊA 222, 417
FERNANDO HENRIQUE TISQUE DOS SANTOS 390
FERNANDO RODRIGUES DE OLIVEIRA 432, 462
FLÁVIA GONTIJO DE SOUSA 516
FLÁVIA OBINO CORREA WERLE 29
FLÁVIO ANÍCIO ANDRADE 521, 532
FLÁVIO CÉSAR FREITAS VIEIRA 386
FLÁVIO JOSÉ DE OLIVEIRA SILVA 139
FRANCIELE BENTO 568
FRANCIELE FERREIRA FRANÇA 276
FRANCIELE RUIZ PASQUIM 470
FRANCIELLY GIACHINI BARBOSA 145
FRANCINAIDE DE LIMA SILVA 235, 368
FRANCISCA IZABEL PEREIRA MACIEL 76, 427
FRANCISCA LAUDECI MARTINS SOUZA 309, 555
FRANCISCO ARI ANDRADE 606
FRANCISCO DE OLIVEIRA FILHO 329
FRANCISCO XAVIER DOS SANTOS 321
FRANCYMARA ANTONINO N. DE ASSIS 620
FRANSELMA FERNANDES DE FIGUEIRÊDO 604
GABRIEL RODRIGUES DAUMAS MARQUES 287, 330
GABRIELA CAMARGO SCASSIOTTI 129
GECIANE SOARES NASCIMENTO 451
GEOVANNA DE LOURDES ALVES RAMOS 153
GERALDO BASSANI 372
GERALDO GONÇALVES DE LIMA 313, 573
GERALDO INACIO FILHO 103, 171, 448
GIANA LANGE DO AMARAL 115, 271
GIANE ARAÚJO PIMENTEL CARNEIRO 179
GIANI RABELO 617
GILBERTO LUIZ ALVES 272
GILCIANE OTTONI PINHEIRO 293
GILVAN VITOR DOS SANTOS 371, 620
GILVANICE BARBOSA DA SILVA MUSIAL 506
GIOVANA TEREZINHA SIMÃO 402
GIOVANNA ABRANTES CARVAS 233
GISELA EGGERT STEINDEL 613
GISELE DOS SANTOS OLIVEIRA 218
GISELI CRISTINA DO VALE GATTI 103, 448
GISELLE MACEDO BARBOZA 493, 544
GIZELMA GUIMARÃES PEREIRA SALES 392
GLADYS MARY GHIZONI TEIVE 29, 300
GLAUCIA MARIA COSTA TRINCHAO 333
GRASIELA MARTINS LOPES POLEZE 591
GRINAURA MEDEIROS MORAIS 315, 349
GUARACI FERNANDES MARQUES MELO 571
HAMILCAR SILVEIRA DANTAS JÚNIOR 245
HAROLDO RESENDE 176
HELENA DE ARAÚJO FRERES 549
HELENA DE ARAUJO NEVES 236, 435
HELOISA DE OLIVEIRA SANTOS VILLELA 65
HELOÍSA HELENA DALDIN PEREIRA 621
HELOISA HELENA MEIRELLES DOS SANTOS 203
HELOÍSA HELENA PIMENTA ROCHA 340
HELTON ANDRADE CANHAMAQUE 560

639
HENNY NAYANNE TAVARES DE ARAÚJO 274
HERCULES PIMENTA SANTOS 228, 627
HEULALIA CHARALO RAFANTE 18, 442
HUMBERTO PERINELLI NETO 37
IDELSUITE DE SOUSA LIMA 630
IEDA MARIA LEAL VILELA 474
ILKA MIGLIO MESQUITA 485
INÁRA DE ALMEIDA GARCIA PINTO 630
INÊS DE ALMEIDA ROCHA 326
INGRID KARLA CRUZ BISERRA 467
IONE RIBEIRO VALLE 381
IRAJANE CANTANHEDE NUNES 284
IRAN ABREU MENDES 45
IRIANA NUNES VEZZANI 404
IRLEN ANTÔNIO GONÇALVES 96, 406
IRMA RIZZINI 108
ISABEL CRISTINA ALVES DA SILVA FRADE 76, 444
ISAURA MELO FRANCO 145, 351
ISIS TAVARES DA SILVA 350
ISLEI GONÇALVES RABELO 572
ITAMAR FREITAS DE OLIVEIRA 324
IVANILDO GOMES DOS SANTOS 272
IVANIR RIBEIRO 618
IVONE APARECIDA DIAS 580
JAIME CAICEO ESCUDERO 443
JANAINA APARECIDA GUERRA 376
JANAINA CASSIANO SILVA 240, 313
JANAINA SPECHT DA SILVA MENEZES 108
JANE BEZERRA DE SOUSA 449
JANETE MAGALHÃES CARVALHO 314
JANIELLE DE OLIVEIRA MORAES 616
JAQUELINE COSTA CASTILHO MOREIRA 387, 628
JAQUELINE DA CONCEIÇÃO MARTINS 335
JEAN CARLO CARVALHO COSTA 398, 467, 491, 529
JEIZIBEL ALVES ALVARENGA 323
JENNIFER MARIA PEREIRA MATOS 145, 351
JENNIFER MARIA PEREIRA MATOS 351
JOÃO PAULO GAMA OLIVEIRA 238, 310
JOAQUIM TAVARES DA CONCEIÇÃO 33
JOCYLEIA SANTANA SANTOS 368, 445
JOEDSON WESLLY DE MEDEIROS BATISTA 460
JOHELDER XAVIER TAVARES 165, 427
JONIVALDO LOPES SANTOS 533
JORDANA STELLA BOTELHO DALLA VECCHIA 564
JORDANIA GUEDES 195
JORGE ANTONIO RANGEL 434, 625
JORGE CARVALHO DO NASCIMENTO 93
JOSÉ CARLOS DE ARAUJO SILVA 382
JOSÉ CARLOS PEIXOTO DE CAMPOS 538
JOSÉ CARLOS ROTHEN 395, 399
JOSÉ CARLOS SOUZA ARAUJO 94, 386
JOSÉ CLAUDIO SOOMA SILVA 59
JOSÉ DAMIRO MORAES 62
JOSÉ EDVAR COSTA DE ARAÚJO 337, 357
JOSÉ ESTEVES EVAGELIDIS 242

640
JOSE FERNANDO MANZKE 501
JOSÉ GILVAN DA LUZ 306, 325
JOSÉ GONÇALVES GONDRA 59, 571
JOSE JASSUIPE DA SILVA MORAIS 219, 337
JOSÉ JOAQUIM PEREIRA MELO 409
JOSÉ LUIS SIMÕES 266, 350
JOSÉ NORMANDO GONÇALVES MEIRA 229
JOSÉ RICARDO FREITAS NUNES 291, 306, 325
JOSÉ ROBERTO GARCIA 232
JOSÉ ROBERTO GOMES RODRIGUES 525
JOSEANE DE FÁTIMA MACHADO DA SILVA 177
JOSECLEIDE SAMPAIO DA ROCHA 195
JOSEFA ELIANA SOUZA 294, 620
JOSEFA JACKLINE RABELO 541
JOSEILMA LIMA COELHO 501
JOSELITO BRITO DE ALMEIDA 370
JOSENI PEREIRA MEIRA REIS 428
JOSIANE ALVES DA SILVEIRA 170
JOSIANE SCHINAIDER 175
JOSIVAN COSTA COELHO 195
JOSY DE ALMEIDA SANTOS 196
JUAN JOSÉ MOURINO MOSQUERA 71
JUÇARA ELLER COELHO 539
JUÇARA LUZIA LEITE 318
JULIANA BORBA SANTOS DE SOUZA PINTO 321
JULIANA CESARIO HAMDAN 29, 72
JULIANA FERREIRA DE MELO 610
JULIANA GORETTI APARECIDA BRAGA VIEGA 508
JULIANA MIRANDA FILGUEIRAS 548
JULIANA TOPANOTTI DOS SANTOS DE MELLO 114
JULIANA VIEIRA TABORDA 557
JULIANA VITAL ABREU DAVID 226, 487
JULINETE VIEIRA CASTELO BRANCO 35
JULIO CESAR TORRES 546
JUSSARA MARIA VIANA SILVEIRA 278
JUSSARA NATÁLIA MOREIRA BÉLENS 296
KALYNE BARBOSA ARRUDA 256, 390
KAREN CALEGARI DOS SANTOS 593
KAREN FERNANDA DA SILVA BORTOLOTI 421
KARINA KLINKE 16
KARINE PRESOTTI 558
KARL MICHAEL LORENZ 192, 573
KAROLINE LOUISE SILVA DA COSTTA 254
KÁTIA CARMO 323
KATIA GARDENIA HENRIQUE CAMPELO DA ROCHA 76, 427
KATYA MITSUKO ZUQUIM BRAGHINI 50, 623
KEDNA KARLA FERREIRA DA SILVA 438
KELI FERNANDA RUCCO TURINA 212
KELLY LISLIE JULIO 260
KÊNIA HILDA MOREIRA 595
KIARA TATIANNY SANTOS DA COSTA 438
KILZA FERNANDA MOREIRA DE VIVEIROS 158
LAERTHE DE MORAES ABREU JUNIOR 194, 410
LARISSA WAYHS TREIN MONTIEL 515
LAURA ISABEL MARQUES VASCONCELOS DE ALMEIDA 317

641
LAURA MARIA SILVA ARAÚJO ALVES 178
LÉIA TEIXEIRA LACERDA 142
LEILA APARECIDA AZEVEDO SILVA 223, 279
LENI RODRIGUES COELHO 132, 133
LEONEIDE MARIA BRITO MARTINS 357
LEONETE LUZIA SCHMIDT 270
LEONICE DE LIMA MANÇUR LINS 302
LETICIA CARNEIRO AGUIAR 537
LETICIA CORTELLAZZI GARCIA 113
LETÍCIA NASSAR MATOS MESQUITA 421
LETICIA SOUTO PANTOJA 595
LEZIANY SILVEIRA DANIEL 81, 471
LIA CIOMAR MACEDO DE FARIA 107
LIA MACHADO FIUZA FIALHO 243
LIANA PEREIRA BORBA DOS SANTOS 483
LIANE MARIA BERTUCCI 270
LIBANIA NACIF XAVIER 56, 355
LIÉTE OLIVEIRA ACCACIO 40
LIGIA ARANTES SAD 44
LIGIA BAHIA DE MENDONÇA 476
LISIANE SIAS MANKE 466
LÍVIA CAROLINA VIEIRA 189, 590
LÍVIA DA CONCEIÇÃO REIS SANTOS 284
LOURDES MARIA BRAGAGNOLO FRISON 70
LUANA LÓOS DE FREITAS 447
LUANI DE LIZ SOUZA 539, 618
LUCIA MARA LIMA PADILHA 301
LÚCIA MARIA FRANCA ROCHA 93, 364
LUCIANA BEATRIZ DE OLIVEIRA BAR DE CARVALHO 522
LUCIANA CARDOSO 185
LUCIANA NATHALIA MORAIS FURTADO 425, 616
LUCIANA PRISCILA SANTOS CARNEIRO 315, 336
LUCIANE PARAISO ROCHA 424
LUCIANE SGARBI GRAZIOTTIN 298, 493
LUCIANO MENDES FARIA FILHO 27, 74
LUCILIA AUGUSTA LINO DE PAULA 31
LUCILIO LUIS SILVA 331
LUCIMAR BATISTA DE ANDRADE 147
LÚCIO KREUTZ 214, 224
LUISA MARIA DELGADO DE CARVALHO 303
LUIZ CARLOS BARREIRA 62
LUIZ CARLOS PAIS 45
LUIZ DE SOUZA ROMERO SANSON 215
LUIZ EDUARDO OLIVEIRA 91
LUIZ FERNANDO COSTA DE LOURDES 411
LUIZA ANGÉLICA PASCHOETO GUIMARÃES 403, 465
LUIZA PINHEIRO FERBER 626
MACIONIRO CELESTE FILHO 603
MAGDA CARMELITA OLIVEIRA 374
MAGDA CARVALHO FERNANDES 563
MAGDA SAYAO CAPUTE 228
MAÍRA LEWTCHUK ESPINDOLA 529
MAISA DOS REIS QUARESMA 597
MARA DENISE DIETRICH 327
MARCEL ALVES FRANCO 245

642
MARCELA BRUSCHI 323
MARCELE TORRES 311
MARCELO DE SOUSA NETO 256
MARCELO GOMES DA SILVA 361
MARCELO LIMA 508
MÁRCIA CABRAL DA SILVA 68
MARCIA DA SILVA QUARESMA 601
MARCIA DE PAULA GREGORIO RAZZINI 75, 327
MÁRCIA DOS SANTOS FERREIRA 363, 540
MARCIA MARIA DE MEDEIROS 142
MARCIA SERRA FERREIRA 311
MARCIA TEREZINHA JERÔNIMO OLIVEIRA 471, 575
MARCILAINE SOARES INÁCIO 74, 437
MARCILIA ROSA PERIOTTO 79, 468
MARCIO ARAUJO MELO 16
MARCIO JORGE SOUZA MENDES 526
MARCIO MELO PESSOA 571
MARCLE VANESSA MENEZES SANTANA 550
MARCO AURÉLIO CORRÊA MARTINS 207
MARCOS ANDRÉ FERREIRA ESTÁCIO 408
MARCOS PAULO SOUSA 405
MARCUS ALDENISSON DE OLIVEIRA 430, 587
MARCUS AURELIO TABORDA DE OLIVEIRA 212
MARCUS FERNANDES MARCUSSO 161, 590
MARCUS LEVY BENCOSTTA 22, 615
MARCUS VINICIUS CORREA CARVALHO 73
MARCUS VINICIUS DA CUNHA 469
MARCUS VINÍCIUS FONSECA 138
MARGARETE MARIA DA SILVA 21
MARGARITA VICTORIA RODRÍGUEZ 537
MARIA ADAILZA MARTINS ALBUQUERQUE 339
MARIA ADELIA CLEMENTINO LEITE 276
MARIA ALAYDE ALCANTARA SALIM 251, 512
MARIA AMÉLIA DALVI 459
MARIA ANGELA BORGES SALVADORI 555
MARIA ANGÉLICA COUTINHO 172
MARIA ANGÉLICA MELO ROSA 262, 294
MARIA ANTONIA TEIXEIRA DA COSTA 332
MARIA APARECIDA ARRUDA 366
MARIA APARECIDA AUGUSTO SATTO VILELA 177
MARIA APARECIDA MAIA HILZENDEGER 479
MARIA APARECIDA SANTOS CORREA BARRETO 123
MARIA APPARECIDA FRANCO PEREIRA 105, 261
MARIA ARISNETE CÂMARA DE MORAIS 235, 368
MARIA AUGUSTA MARTIARENA DE OLIVEIRA 577
MARIA CELI CHAVES VASCONCELOS 106
MARÍA CLARA RUIZ 419
MARIA CLEIDE SOARES DE SOUSA 524
MARIA CRISTINA DOS SANTOS LOUZADA 374
MARIA CRISTINA FERREIRA DOS SANTOS 307
MARIA CRISTINA GOMES MACHADO 477, 505, 543
MARIA CRISTINA GOUVEA 591
MARIA CRISTINA MENEZES 119
MARIA DA GUIA DE SOUSA SILVA 265
MARIA DA PENHA DOS SANTOS DE ASSUNÇÃO 20, 153

643
MARIA DAS DORES CARDOSO FRAZÃO 157
MARIA DAS DORES DAROS 443, 454
MARIA DAS DORES MENDES SEGUNDO 541, 549
MARIA DAS GRAÇAS DE LOIOLA MADEIRA 272, 485
MARIA DE LOURDES DA SILVA 286
MARIA DE LOURDES P. RAMOS TRINDADE DOS ANJOS 288
MARIA DE LOURDES PINHEIRO 117
MARIA DO AMPARO BORGES FERRO 552
MARIA DO CARMO DE MATOS 543
MARIA DO CARMO XAVIER 74, 376
MARIA DO PERPÉTUO SOCORRO DE SOUSA AVELINO DE FRANÇA 160, 267
MARIA DO ROSÁRIO LONGO MORTATTI 462, 609
MARIA DO SOCORRO LIMA 400
MARIA DO SOCORRO NÓBREGA QUEIROGA 315, 336
MARIA EDINEY FERREIRA DA SILVA 333
MARIA EDUARDA FERRO 583, 589
MARIA ELISABETH BLANCK MIGUEL 98
MARIA GLORIA DA PAZ 135, 147
MARIA HELENA CAMARA BASTOS 247
MARIA HELENA CÂMARA LIRA 161
MARIA HELENA MENNA BARRETO ABRAHÃO 69
MARIA HELENA PUPO SILVEIRA 621
MARIA INES SUCUPIRA STAMATTO 451
MARIA ISABEL FILGUEIRAS LIMA CIASCA 413
MARIA ISABEL MOURA NASCIMENTO 301
MARIA JOSÉ DANTAS 496
MARIA JOSE RESENDE FERREIRA 375
MARIA JURACI MAIA CAVALCANTE 464
MARIA LEDA PINTO 142
MARIA LÚCIA DA SILVA NUNES 441, 513
MARIA LUCIA HILSDORF 59
MARIA LUIZA CARDOSO 217
MARIA LUIZA MACEDO ABBUD 252
MARIA NAILDE MARTINS RAMALHO NAILDE RAMALHO 572
MARIA PERPETUO SOCORRO CASTELO BRANCO SANTANA 309
MARIA RITA DE ALMEIDA TOLEDO 83, 478
MARIA SUSANA VASCONCELOS JIMENEZ 549
MARIA TERESA GARBIN MACHADO 273
MARIA TERESA SANTOS CUNHA 21, 416
MARIA TERESINHA FIN 392
MARIA VALDENICE RESENDE SOARES 513
MARIA VERONICA FONSECA 311
MARIA ZELIA MAIA SOUZA 97
MARIANA GALLUZZI DE SÁ 622
MARIANA TAVARES VIEIRA 74
MARIÂNGELA DIAS SANTOS 422, 520
MARICILDE OLIVEIRA COELHO 488
MARILÂNDES MÓL RIBEIRO DE MELO 431
MARILDA CABREIRA LEÃO LUIZ 169
MARILEIDE LOPES DOS SANTOS 475
MARILENE LEMOS MATTOS SALLES 421
MARILIA GABRIELA PETRY 624
MARILIZA SIMONETE PORTELA 311
MARINA GUEDES COSTA E SILVA 305
MARINA SANTOS COSTA 191

644
MARINEIDE DE OLIVEIRA DA SILVA 167
MÁRIO LOURENÇO DE MEDEIROS 280, 460
MARISA BITTAR 216
MARISA SILVA CUNHA 405
MARLETE DOS ANJOS SCHAFFRATH 165
MARLI DE OLIVEIRA COSTA 617
MARLI DE SOUZA SARAIVA CIMINO 249
MARLOS BESSA MENDES DA ROCHA 514
MARLÚCIA MENEZES DE PAIVA 46, 158, 265
MARTA BANDUCCI RAHE 308
MARTA MARIA CHAGAS DE CARVALHO 84
MARTA MARIA DE ARAÚJO 94
MARTA REGINA GIMENEZ FAVARO 571
MARTHA SUZANA CABRAL NUNES 155
MARTHA WERNECK POUBEL 339
MAURICÉIA ANANIAS 322
MAURILANE DE SOUZA BICCAS 419
MAURO CASTILHO GONÇALVES 42, 414
MAURO PASSOS 349
MAYSA GOMES RODRIGUES 510
MEILY ASSBÚ LINHALES 356, 627
MELÂNIA MENDONÇA RODRIGUES 389
MERILIN BALDAN 240, 413
MICHELE CRISTINE DA CRUZ COSTA 531
MICHELE LONGATTI FERNANDES 248
MICHELLE REIS DE ALVARENGA 520
MIGUEL ANDRE BERGER 495, 614
MILENA APARECIDA ALMEIDA CANDIÁ 463
MILENA ARAGAO SOUZA 214
MILTON RAMON PIRES DE OLIVEIRA 33, 34
MIRELA MAGNANI PACHECO 91
MÔNICA REGINA FERREIRA LINS 274
MÔNICA YUMI JINZENJI 79
MOYSES GONÇALVES SIQUEIRA FILHO 462
MOYSÉS KUHLMANN JUNIOR 331, 491
MURILO MARIANO VILAÇA 293
MYRIAM PESTANA OLIVEIRA 224
NADIA GAIOFATTO GONÇALVES 51, 507
NAILDA MARINHO DA COSTA BONATO 67
NÁLISON MELO SILVA 258, 294
NARA VILMA LIMA PINHEIRO 292
NATÁLIA DE LACERDA GIL 536
NATHALIA HELENA ALEM 316, 607
NATHÁLIA WANDERLEY CHIANELLO 399
NATHLY CAVALCANTI DE ARAÚJO SILVA 274
NEIDE ALMEIDA FIORI 512
NELMA GOMES MONTEIRO 144
NEUSA BALBINA DE SOUZA 281
NEUZA BERTONI PINTO 317
NEVIO DE CAMPOS 80, 439
NEY FERREIRA FRANÇA 317
NICANOR PALHARES 135, 283
NICOLE BERTINATTI 282
NICULA MARIA GIANOGLOU COELHO 203
NIÉDJA FERREIRA DOS SANTOS 513

645
NILCE APARECIDA DA SILVA FREITAS FEDATTO 504, 515
NILEIDE SOUZA DOURADO 283
NIVALDO CORRÊA TENORIO 320
NORBERTO DALLABRIDA 104, 114
NUBEA RODRIGUES XAVIER 319
OLIVIA MORAIS MEDEIROS NETA 561, 605
OMAR SCHNEIDER 323, 447
ONILDA SANCHES NINCAO 142
PALOMA LOPES BARBOZA 417
PATRÍCIA ALLIEN SANTO 291, 541
PATRÍCIA APARECIDA BIOTO-CAVALCANTI 343
PATRÍCIA APARECIDA DO AMPARO 390
PATRICIA CARVALHO ARRUDA 258
PATRICIA COELHO COSTA 583
PATRÍCIA FRANCISCA DE MATOS SANTOS 250, 294
PATRICIA WEIDUSCHADT 125, 599
PAULA DAVID GUIMARÃES 210
PAULA MARIA ASSIS 49, 264
PAULA SIMONE BUSKO 124
PAULO FERNANDES OLIVEIRA 19, 154
PAULO GOULART JUNIOR 142
PAULO HENRIQUE GUILHERMINO BARRETO 163
PAULO ROGÉRIO MARQUES SILY 196
PAULO SERGIO CARDOSO 331
PEDRO ERNESTO FAGUNDES 299
PEDRO GERALDO DE PÁDUA 406
PERI MESQUIDA 220, 226
POLYANDRA ZAMPIERE PESSOA DA SILVA 219
PRISCILA ALVES FERREIRA 211
PRISCILA GONÇALVES SOARES 282
PRISCILA KAUFMANN CORRÊA 52
PRISCILA LICIA CERQUEIRA 353
PRISCILA SILVA MAZÊO 430, 587
PRISCILLA NOGUEIRA BAHIENSE 221
RACHEL DUARTE ABDALA 588
RAFAEL DA SILVA E SILVA 211
RAFAELA ROCHA DO NASCIMENTO 335
RAMOFLY BICALHO SANTOS 15, 133
RAMON OLIVEIRA 517
RAMONA HALLEY ROSÁRIO DE SOUZA 553
RAPHAEL RIBEIRO MACHADO 528
RAQUEL DE ABREU 454, 487
RAQUEL DISCINI CAMPOS 440
RAQUEL MENEZES PACHECO 361, 439
RAQUEL QUIRINO PIÑAS 623
RAQUEL SOUZA DE BARROS 231
RAYLANE ANDREZA DIAS NAVARRO BARRETO 441
REGINA CELI FRECHIANI BITTE 619
REGINA FATIMA JESUS 146
REGINA GODINHO 421, 459
REGINA HELENA SILVA SIMOES 358, 379
REGINA MÁRCIA GOMES CRESPO 277
REGINA TEREZA CESTARI DE OLIVEIRA 190
REGINALDO CELIO SOBRINHO 545
REINALDO DOS SANTOS 169

646
RENATA DUARTE SIMÕES 123
RICARDO TOMASIELLO PEDRO 623
RITA CÁSSIA ROCHA 118
RITA DE CÁSSIA DE SOUZA 201
RITA DE CÁSSIA GRECCO DOS SANTOS 495
RITA DE CÁSSIA OLIVEIRA FERREIRA 41
RITA DE CÁSSIA PIZOLI 412
RITTA MINOZZI FRATTINI 411
ROBERLAYNE DE OLIVEIRA BORGES ROBALLO 60, 570
ROBERTA DE BARROS DO REGO MACEDO 164, 222
ROBERTA GUIMARÃES TEIXEIRA 378, 475
ROBERTO FARIA 106
ROGERIA MOREIRA RESENDE ISOBE 83
ROLDÃO RIBEIRO BARBOSA 193
ROMILDO CASTRO ARAÚJO 385
RONALDO AURÉLIO GIMENES GARCIA 415, 492
ROSA FATIMA DE SOUZA 28, 102
ROSA LYDIA TEIXEIRA CORREA 131
ROSANA AREAL CARVALHO 528
ROSANA SANTANA DE MORAIS 579
ROSANE SANTOS TORRES 446
ROSÂNGELA CHRYSTINA FONTES DE LIMA 234
ROSANGELA FERREIRA SOUZA 151
ROSÂNGELA MARIA CASTRO GUIMARÃES 367
ROSÂNGELA SILVEIRA RODRIGUES 383, 572
ROSÂNGELA VEIGA JULIO FERREIRA 415, 586
ROSE MARY ARAUJO 364
ROSELI ESQUERDO LOPES 18, 442
ROSELUSIA TERESA PEREIRA DE MORAIS 598
ROSIANNY CAMPOS BERTO 379
ROSILEY APARECIDA TEIXEIRA 553
ROSSANO SILVA 418
RUBIA-MAR NUNES PINTO 94, 242
SALÂNIA MARIA BARBOSA MELO 168
SAMARA AVELINO DE SOUZA FRANÇA 160
SAMARA MARIA VIANA DA SILVA 552
SAMARA MENDES ARAÚJO SILVA 209, 609
SAMARA SANTOS BASTOS 286
SAMIRA SAAD PULCHÉRIO LANCILLOTTI 254, 354
SAMIRES AVELINO DE SOUZA FRANÇA 527
SAMUEL BARROS DE MEDEIROS ALBUQUERQUE 431
SAMUEL LUIS VELÁZQUEZ CASTELLANOS 284, 581
SANDRA CRISTINA DA SILVA 17, 451
SANDRA CRISTINA FAGUNDES DE LIMA 171
SANDRA ELAINE AIRES DE ABREU 338
SANDRA ESCOVEDO SELLES 307
SANDRA HERSZKOWICZ FRANKFURT 347
SANDRO NANDOLPHO DE OLIVEIRA 165, 427
SARA MARTHA DICK 364
SARA ROGÉRIA SANTOS BARBOSA 92, 369
SARAH BEZERRA LUNA VARELA 481
SARAH JANE ALVES DURÃES 376, 450
SARAH LIMA MENDES 240
SARASVATI YAKCHINI ZRIDEVI CONCEIÇÃO 183, 213
SAULOÉBER TARSIO DE SOUZA 36, 137

647
SEBASTIAO PIMENTEL FRANCO 509
SELMA MARTINES PERES 157
SERGIO RICARDO PEREIRA CARDOSO 343, 378
SHIRLEI TEREZINHA ROMAN GUEDES 359
SILMARA DE FATIMA CARDOSO 148
SILVANA C.H. PRESTES DA SILVA 270
SILVANA FERNANDES LOPES 38
SILVANA MAURA BATISTA DE CARVALHO 347, 455
SILVANA RODRIGUES DE SOUZA SATO 381
SILVANA VENTORIM 591
SILVÂNIA SANTANA COSTA 429
SILVÉRIO AUGUSTO MOURA SOARES DE SOUZA 607
SILVETE APARECIDA CRIPPA DE ARAUJO 372
SILVIA ALICIA MARTINEZ 345
SILVIA DE ROSS 494
SILVIA HELENA ANDRADE BRITO 179
SILVIA MARIA LEITE DE ALMEIDA 516
SILVIO CESAR NUNES MILITÃO 545
SILVIO SANTIAGO PASQUARELLI 426
SIMONE CARLOS 447
SIMONE CRISTINA SPIANDORELLO 584
SIMONE SILVEIRA AMORIM 345, 353
SIMONE TOLONI OLIVEIRA 131
SIMONE VIEIRA BATISTA 398
SIRLENE CRISTINA SOUZA 238, 533
SOLANGE APARECIDA DE OLIVEIRA HOELLER 443, 523
SOLANGE APARECIDA ZOTTI 503
SOLANGE MARIA DA SILVA 214
SOLYANE SILVEIRA LIMA 95
SONIA DE CASTRO LOPES 345
SÔNIA MARIA ARAÚJO 109, 131
SÔNIA MARIA FONSECA 166
SÔNIA OLIVEIRA CAMARA RANGEL 67, 99
STELLA SANCHES DE OLIVEIRA 582, 587
SUELEM CORRÊA SILVA 200
SUELI IWASAWA 197
SUELI SOARES DOS SANTOS BATISTA 227
SUELY CRISTINA SILVA SOUZA 182
SURYA AARONOVICH POMBO DE BARROS 140
SUZANA KARYME GONÇALVES DA CUNHA 159
SUZANY GOULART LOURENÇO 314
SYLVIA TAVARES BARUM 327
TAINARA LEMOS DAS NEVES 626
TALITHA DOS PRAZERES BERNER 497
TALITHA ESTEVAM MOREIRA CABRAL 185
TALÍTHA MARIA BRANDÃO GORGULHO 298
TÂMARA REGINA REIS SALES 433
TANIA CORDOVA 202
TÂNIA CRISTINA MEIRA GARCIA 388
TARCÍSIO MAURO VAGO 356
TATIANA BOREL 379
TATIANA DE MEDEIROS SANTOS 620
TATIANE DE FREITAS ERMEL 247
TATIANE MENEZES SANTANA 324
TATIANE MODESTI 518

648
TATIANE PATRICIA DA S. SANTOS 135
TATIANE SILVA 469
TATYANA MURER CAVALCANTE 602
TELMA FALTZ VALÉRIO 407
TERCIANE ÂNGELA LUCHESE 127, 224
TERESA CRISTINA BRUNO ANDRADE 219
TEREZA FACHADA LEVY CARDOSO 55
TEREZA MARIA TRINDADE DA SILVA 511
TEREZINHA OLIVEIRA 602, 608
THABATHA ALINE TREVISAN 373
THAIS BENTO FARIA 218
THAIS NIVIA DE LIMA E FONSECA 298
THAIS PARREIRA DE FREITAS OLIVEIRA 234, 628
TONY HONORATO 362
VALDENIZA MARIA LOPES DA BARRA MARIA BARRA 593
VALDETE CÔCO 290, 346
VALERIA APARECIDA DE LIMA 223, 279
VALÉRIA MACEDO GONÇALVES 135
VALERIA MARIA NETO CRESPO DE OLIVEIRA LIMA 277
VALÉRIA MENASSA ZUCOLOTTO 290
VALESCA BRASIL COSTA 597
VALQUIRIA ELITA RENK 449, 559
VANESSA BARBOSA DO NASCIMENTO 510
VÂNIA CLAUDIA FERNANDES 169
VANIA GRIM THIES 585, 599
VANIA REGINA BOSCHETTI 209
VERA LUCIA ALVES BREGLIA 489
VERA LUCIA GASPAR DA SILVA 27, 626
VERA LÚCIA GOMES JARDIM 49, 456
VERA LÚCIA NOGUEIRA 520
VERA LUIZA MORO 246
VERA MARIA DOS SANTOS 225, 353
VERA TERESA VALDEMARIN 29
VERÔNICA BARBOSA FURMANOWICZ 173
VERÔNICA DE SOUZA FRAGOSO 457, 490
VERÔNICA DOS REIS MARIANO SOUZA 260
VIRGÍNIA PEREIRA DA SILVA DE ÁVILA 561, 577
VIVIA DE MELO SILVA 389
VÍVIAN GRASIELLE PEREIRA DE FREITAS 351, 376
VIVIANA SOARES DA SILVA 441
VIVIANE RIBEIRO 200, 259
WAGNER JACINTO DE OLIVEIRA 481
WAGNER RODRIGUES VALENTE 43
WALLACE ROCHA ASSUNÇÃO 397, 420
WANDERLICE DA SILVA ASSIS 587
WANESSA STORTI 125
WANIA MANSO ALMEIDA 514
WELSON BATISTA OLIVEIRA 286
WENCESLAU GONÇALVES NETO 530, 611
WILSON SANDANO 232
WOJCIECH ANDRZEJ KULESZA 102, 403
WOLNEY HONÓRIO FILHO 69
ZULEIDE FERNANDES DE QUEIROZ 539

649
650
ISSN: 2236- 3114

You might also like