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Diferenças fenomenológicas entre as filosofias de Husserl e de Kant

Introdução

O conceito de Fenomenologia é uma indicação para constituir uma ciência


filosófica. Etimologicamente, phainomenon (objeto fenomênico) deve ser
assunto de um saber do conhecimento em geral (wissenschaft). O termo
wissenschaft tem o sentido de uma ciência da razão e não se restringe à
pesquisa científico-natural meramente objetivista. Assim sendo, o conceito
de Fenomenologia implica em um estudo que não leva em conta apenas o
mundo objetivo, mas também como o sujeito representa o objeto de tal
modo que este não seja reduzido ao solipsismo subjetivista.

Discussão

Kant pode ser considerado como o pensador que fundou as bases para o
estudo de uma fenomenologia enquanto disciplina acadêmica, na medida
em que cunhou a expressão ‘fenômeno’ para designar os objetos que
podem ser conhecidos pela razão humana. O kantismo tornou-se referência
para análise dos aspectos relacionados à teoria do conhecimento. E a
característica específica da filosofia kantiana é ser uma filosofia
transcendental, ou seja, buscar a fundação do conhecimento a partir do que
pode ser representado fenomenicamente.

De acordo com Husserl, o método fenomenológico é o método filosófico


por excelência, contudo, ele considera que o projeto filosófico de Kant
encontra-se incapaz de cumprir o que promete em teoria. Husserl entende
que o conceito kantiano de fenômeno sustenta-se na ideia da condição de
possibilidade para uma experiência cognoscitiva. Isto significa que tal
conceito fundamenta-se em uma restrição de caráter empírico, não lógico.
Segundo Husserl, este é o problema kantiano na tarefa para constituir uma
fundação do conhecimento a partir do que deveria ser um projeto
fenomenológico. Husserl acusa Kant de ter fracassado no projeto de uma
Fenomenologia porque sua filosofia seria muito fisicalista, o que tornou
impossível abordar a ideia do fenômeno sem que esta não estivesse
reduzida aos aspectos sensíveis.

Vendo pelo pensamento de Husserl, a superação do psicologismo torna-se


necessária não somente em função do reconhecimento da esfera ideal da
objetividade na condição de independente da sensibilidade, mas
principalmente porque a fenomenologia pretende ser o método filosófico
que estabelece a fundação objetiva para o conhecimento em geral. O
psicologismo enquanto doutrina torna possível a redução da objetividade,
da relação de conhecimento, aos aspectos subjetivos, tanto no sentido
idealista quanto no empirista. 

Husserl considerava que a tese psicologista tem como pressuposto a


tradição metafísica, que ao apoiar-se na ideia da representação subjetiva do
objeto, permitiu a existência de disputas envolvendo o dualismo entre
sujeito e objeto, que teve como conseqüência, o aparecimento do ceticismo,
precisamente por conta da ausência de um rigoroso fundamento filosófico
para a questão. É a herança do kantismo, segundo Husserl.

Deste modo, Husserl entendeu que o problema era que a base de


argumentação cognitiva mantinha seu foco, até então, no objeto
transcendente, do mesmo modo, e analogamente, que a apreensão intuitiva
deste objeto só poderia ser efetuada pelo sujeito empírico.

Conclusões

Husserl não considera a filosofia kantiana como falsa, mas certamente


insuficiente para estabelecer os parâmetros do autêntico método filosófico.
Ao propor uma crítica da razão pura, Kant acertou ao perceber que o
embate entre idealistas e empiristas era infrutífero e estéril para a Filosofia.
Contudo, o fato é que este dualismo ainda se mantém no criticismo
kantiano, de tal modo que Kant não garantiu as bases para que a Filosofia
não pudesse ser superada pela Ciência. Muito pelo contrário, em sua
resposta Kant nega a possibilidade da Filosofia como ciência. Para Husserl,
a resposta de Kant e dos kantianos mostra falta de compreensão sobre o que
deve ser uma ciência filosófica

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