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ITUMBIARA–GO
NOVEMBRO/2007
ii
ITUMBIARA – GO
NOVEMBRO/2007
iii
APROVADA POR:
_______________________________________________
Profa. Ms. Carlos Henrique Cássia Fontes
UEG – U nU It u mb iara – O rie nt ad o r
_________________________________________
Prof. Ms. Ínia Franco de Novaes
UEG – U nU It u mb iara – O rie nt ad o ra
________________________________________________
Prof. Ms.Marisa Silva Amaral
UEG – U nU It u mb iara – O rie nt ad o ra
Agradeço a Deus
À minha família
À amizade, companheirismo e bondades de Cássia Ferreira
Batista, Welton Silva e Wellington José sem os quais seria
impossível este trabalho.
O trabalho não é a fonte de toda a riqueza. A natureza é a fonte dos valores de uso (que são os
que verdadeiramente integram a riqueza material !), nem mais nem menos que o trabalho, que
não é mais que a manifestação de uma força natural, da força de trabalho do homem.
Karl Marx
Crítica ao Programa de Gotha
Humberto Maturana
vii
LISTA DE TABELAS
LISTA DE GRÁFICOS
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE SIGLAS
SUMÁRIO
RESUMO
INTRODUÇÃO
1
Segundo Capra (2006) a concepção de entropia foi introduzida no século XIX por Rudolf Clausius, um físico
e matemático alemão, para medir a dissipação de energia em calor e atrito. Clausius definiu a entropia gerada
num processo térmico como a energia dissipada dividida pela temperatura na qual o processo ocorre. De acordo
com a segunda lei, essa entropia se mantém aumentando à medida que o processo térmico continua; a energia
dissipada nunca pode ser recuperada.
2
Ou fonte de baixa entropia. De acordo com SHIKI (1997) trata-se de estoques de energia disponíveis,
acumulada na forma de minas de carvão, campos petrolíferos, campos de gás natural, jazidas de minérios.
3
De acordo com Pyndick & Rubinfeld (2004, p. 292) “Ação de um consumidor ou de um produtor que tem
influência sobre outros produtores ou consumidores, mas que não é levada em consideração na fixação do preço
de mercado.”
14
4
Conhecida também por caos estruturado e segundo Paiva (2001) trata-se da própria linguagem do Caos. Capra
(1996) a define como uma teoria que serve para observar sistemas abertos a fluxos de matéria e energia
apresentando um fenômeno espontâneo denominado emergence. Ou seja, serve para descrever um sistema que
utiliza fontes de sintropia positiva e elimina resíduos como meios de manter seu padrão de organização.
5
Doutor em Física (PhD), Teórico em sistemas. Um dos fundadores do Centro de Ecobetização em Berkeley.
Autor dos bestsellers internacionais, “O Tao da Física” e “O Ponto de Mutação”, integrante do corpo docente da
Universidade de Schummacher, Reino Unido.
6
Físico-Químico, ganhador do prêmio Nobel em 1977, criador da Teoria das Estruturas Dissipativas.
7
Doutor em Biologia (PhD) pela Universidade de Harvard. Professor titular da Universidade do Chile. Prêmio
Nacional de Ciências 1994.
8
Doutor em Biologia (PhD) pela Universidade de Harvard. Professor titular do CNRS, Paris.
15
9
Organização internacional e independente, que se utiliza de confrontos não-violentos para expor problemas
ambientais globais e alcançar soluções. Tem como missão proteger a biodiversidade em todas as suas formas,
evitar a poluição e o esgotamento do solo, oceanos, água e ar, acabar com as ameaças nucleares e promover a
paz. Caracteriza-se por não receber recursos de empresas, partidos políticos ou governos, e se mantêm apenas
com doações de pessoas físicas.
16
que o sistema capitalista é inerentemente entrópico, ou seja, que faz parte de sua própria
natureza, de sua história a intensificação dos impactos ecológicos. Sendo assim, as soluções
aqui apresentadas, longe de resolver o problema ou de esgotar o assunto possuem o objetivo
apresentar soluções capazes de amenizar os impactos da atividade de econômica. Dentre
outras conclusões, o problema ecológico trata-se de um problema econômico com soluções
políticas e econômicas.
17
2 TEORIA KEYNESIANA
10
Introdução à Teoria Geral do emprego, do juro e da Moeda
18
De acordo com Keynes (1996) quando a renda agregada aumenta, aumenta também o
consumo, mas não tanto quanto a renda. Isto quer dizer que, os agentes, donos dos fatores de
11
DA = Demanda Agregada
OA = Oferta Agregada
N = Emprego
E = Ponto de equilíbrio
Y = Renda, Produto
19
produção (terra, trabalho e capital) resolvem poupar parte de seus rendimentos (aluguéis,
lucros e salários). Tal fenômeno ocorre devido em certos momentos as famílias, detentoras
dos fatores de produção, logo da renda, optarem por poupar parte de seus rendimentos.
Quando os agentes optam pela poupança, abstendo-se do consumo é gerado um
problema denominado insuficiência de demanda ou conhecido também pelo problema da
realização. Onde justamente, devido a aumentos na poupança, os empresários, por sua vez,
deixam de realizar parte das receitas esperadas e tem suas margens de lucros reduzidas. Sendo
assim, reagem reduzindo seus estoques, minorando a produção e efetuando demissões. A
curva de demanda agregada migra para a esquerda, representada pelo ponto E1 no gráfico 01 e
tem início a um período recessivo no ciclo econômico com um nível maior de desemprego.
Já Hunt (1987) descreve esta mesma dinâmica como um fluxo circular, de tal forma
que, num determinado período todo o valor gasto na produção é igual ao valor da renda, pois
os empresários ao produzirem, contratam os fatores de produção, pagando às famílias salários,
lucros, juros e aluguéis. Aos donos dos fatores de produção, os custos de produção são
denominados renda, com os quais adquirem bens e serviços. Conclui-se então, que o valor
agregado da renda é igual ao valor agregado do produto. Sendo assim, há um fluxo circular
que vai das famílias para as empresas na forma de pagamento por bens e serviços e das
empresas para as famílias na forma de rendimentos.
No entanto este processo, de acordo Hunt (1987), no momento em que o fluxo
monetário vai das famílias para as empresas pode ser interrompido, por meio de vazamentos,
a saber, pagamentos a produtos importados, pagamentos de tributos ou por meio de poupança
realizado pelas famílias. Estes vazamentos no fluxo de renda e gastos afetam as expectativas
dos empresários, reduzindo os níveis de investimento, de emprego e crescimento econômico,
migrando o equilíbrio entre as curvas de oferta e demanda agregada, ou seja, da economia
para um ponto abaixo do pleno emprego. Neste contexto de recessão e desemprego surge o
governo, onde por meio de políticas econômicas tais como incremento nos gastos do governo,
políticas de exportação e redução na taxa de juros visa reduzir estes vazamentos reduzindo as
taxas de juros, bem como a propensão a poupar,
Desta forma, a teoria keynesiana legitima a ação, a intervenção do Estado na economia
com o intuito de alterar as expectativas dos agentes (consumidores e empresários) de forma a
conduzi-la para próximo ou ao pleno emprego. O Estado se utiliza de duas ferramentas a)
política fiscal expansionista e b) política monetária expansionista. No primeiro caso, o Estado
se utilizando de uma política fiscal pode a) Elevar os gastos do governo b) os investimentos e
c) realizar política tributária.
20
Hunt (1987) afirma que, entre 1947 até meados dos anos 70 os gastos militares do
governo norte-americano situaram em torno de US$ 2 trilhões. Estimativas que levam em
consideração o efeito do multiplicador de gastos, e dentre estas as mais elevadas indicam que
em 1947 os gastos militares representaram 30,5% da demanda agregada e em 1971
responderam em 27,8%. No âmbito do endividamento, o desempenho da economia norte-
americana depois da guerra é devida a este, e representou em relação às famílias 65% em
1955 variando para 93% em 1974. Já em relação às empresas o endividamento variou de US$
400 bilhões em 1946 para US$ 2.500 bilhões em 1974.
Devido aos intensos estímulos à Demanda Agregada, logo à utilização de recursos
naturais, conclui que o sistema capitalista pode ser tratado como um sistema aberto, em que os
pressupostos da teoria keynesiana geram efeitos deletérios sobre o meio, devido a intensa
atividade industrial. Onde variações nos níveis de investimentos e consumo geram por seu
turno elevação na extração de recursos naturais, que decorrentes do processamento destes
recursos no interior do sistema capitalista geram externalidades negativas no meio-ambiente.
A caracterização do sistema capitalista como um sistema aberto ficará evidente no
próximo capitulo, aonde será apresentada a teoria das estruturas dissipativas enquanto própria
para descrever sistemas abertos e dinâmicos, comumente encontrados na natureza. Bem como
serão apresentadas características do sistema capitalista que o faz possível de ser tratado pela
referida teoria para explicar as interações entre sistema econômico e meio-ambiente.
22
dissipativas serve para sublinhar a íntima interação que existe entre a estrutura, de um lado, e
o fluxo e a mudança ou dissipação, de outro.
Porém Ilya Prigogine se interessou primeiramente pelos fenômenos biológicos. De
acordo com Prigogine ( apud Capra, 1996) “Eu estava muito interessado no problema da vida.
Sempre pensei que a existência da vida está nos dizendo alguma coisa muito importante a
respeito da natureza” E ainda segundo Prigogine (1977, p.226) “Pareceu-me, então, que
aquelas coisas vivas nos proporcionariam notáveis exemplos de sistemas, que eram altamente
organizados, em que fenômenos irreversíveis desempenhavam papel essencial.”
De acordo com Prigogine (p.226, 1977)
Nossa colaboração era dar à luz um critério de evolução geral que pudesse ser
utilizado longe de equilíbrio em ramificações não lineares, fora do domínio de
validade do teorema de produção de entropia mínima. Os critérios de estabilidade
daí resultantes conduziram à descoberta de estados críticos, de inesperados
desdobramentos e no possível aparecimento de novas estruturas. Essa manifestação
inesperada dos processos de desordem/ordem, longe do equilíbrio que valida a
segunda lei da termodinâmica, constituía a oportunidade de transformar
profundamente a interpretação tradicional. Além da estrutura de equilíbrio clássica,
para condições longe de equilíbrio suficientes, enfrentávamos agora estruturas
dissipativas coerentes.
Estruturas dissipativas são ilhas de ordem num mar de desordem, mantendo e até
mesmo aumentando sua ordem às expensas da desordem maior em seus ambientes.
Por exemplo, organismos vivos extraem estruturas ordenadas (alimentos) de seu
meio ambiente, usam-nas como recursos para o seu metabolismo, e dissipam
estruturas de ordem mais baixa (resíduos). Dessa maneira, a ordem "flutua na
desordem", (...) embora a entropia global continue aumentando (PRIGOGINE apud
CAPRA, 1996, p.151 )
24
Enfim, a teoria das estruturas dissipativas serve para descrever sistemas que: a) Estão
abertos a fluxos de matéria e energia, portanto utilizando-se de fontes de sintropias positivas e
por outro lado gerando elevada entropia. Em outros termos, captam recursos do ambiente e
eliminam externalidades, resíduos. b) Apresentam um padrão de organização emergente a
partir de um ponto crítico. Para Prigogine (1977) é também estável, a mesma estrutura global
se conserva, apesar do fluxo e da mudança constantes dos seus componentes. Uma estrutura
dissipativa é caracterizada por Paiva (2001, p.7) como “um processo de auto-organização que
se desenvolve no não-equilíbrio que freqüentemente resulta em uma estrutura que apresenta
uma forma muito mais complexa de comportamento. Sua característica distintiva é que ela
requer uma entrada contínua de energia para ser sustentada.” Este processo é demonstrado por
Capra (2002, p.88) através de um caso clássico de auto-organização, a instabilidade de
Bénard.
De acordo com Capra (1996) a análise dessas "células de Bénard" mostrou que, “à
medida que o sistema se afasta do equilíbrio (isto é, a partir de um estado com temperatura
uniforme ao longo de todo o líquido), ele atinge um ponto crítico de instabilidade, no qual
emerge o padrão hexagonal ordenado.”
De acordo com Capra (1996, p.89) “Prigogine e seus colaboradores descobriram que,
como no caso da convecção de Bénard, esse comportamento coerente emerge de maneira
espontânea em pontos críticos de instabilidade afastados do equilíbrio”.
Não apenas o caso da instabilidade de Bénard, mas de acordo com Paiva (2001, p.1), a
maioria dos fenômenos encontrados na natureza, e até mesmo no comportamento humano
podem ser descritos pela teoria das estruturas dissipativas, por apresentarem de um lado
ordem e estabilidade e de outro a desordem e a irregularidade. Exemplos de tais fenômenos
25
X t+1
Não apenas os organismos vivos, mas sistemas sociais e sub-sistemas sociais podem
ser descritos pela teoria das estruturas dissipativas. No caso, uma economia capitalista possui
características próprias a serem descritas pela referida teoria. Sendo a primeira o fato de estar
aberta a um contínuo fluxo de matéria e energia, oriundas de fontes de sintropia positiva como
meio de manter seu padrão de organização. Quer dizer, uma economia capitalista para manter
seus processos de produção, consumo e geração de lucros recorre ao meio ambiente de onde
são extraídos os recursos e energia para efetuá-los, significando que possui uma entrada e uma
saída.
A segunda característica decorre do fato de estar aberta aos fluxos de matéria e
energia, significa que elimina resíduos destes recursos processados, elimina dejetos,
externalidades negativas em seu ambiente, concorrendo para elevar a entropia, a desordem,
enfim possui uma saída. Em seu interior, apresenta um padrão de organização, seja ele de
maximização de consumo, investimento ou de crescimento econômico, que é o próprio padrão
de organização das economias capitalistas, onde uma parte dos recursos captados é deixada
dentro do sistema.
Desta forma, as alterações no interior do sistema capitalista, mais precisamente
alterações em seus processos de consumo e produção geram consequentemente alterações na
estrutura do meio-ambiente, devido a existência de uma interdependência dinâmica entre
sistema e meio-ambiente. Essa interdependência pode ser claramente visualizada por meio do
conceito de derivação, ou acoplamento estrutural, onde
Dado o determinismo estrutural, uma vez que um sistema surge, seu acontecer
consiste necessariamente numa história de interações recorrentes com os elementos
de um meio que surgem com ele e o contém. Além disso, tal história de interações
recorrentes entre o sistema e o meio transcorre necessariamente como uma derivação
estrutural. Isto é, tanto a estrutura do sistema quanto à estrutura do meio mudam
necessariamente e de maneira espontânea de um modo congruente e complementar
enquanto o sistema conserva sua organização e coerência operacional com o meio
que lhe permite conservar sua organização. Isso acontece numa dinâmica de
complementariedade operacional na qual um observador vê o sistema deslocar-se no
meio seguindo o único curso que pode seguir na conservação de sua organização,
num processo no qual as estruturas do sistema e do meio mudam conjuntamente de
maneira congruente até que o sistema se desintegra. (MATURANA E GARCIA,
1997, p. 30)
De tal forma que, à medida que se intensifica o fluxo de matéria e energia no interior
do sistema, ocorre o surgimento de novos padrões de consumo. A ordem dentro do sistema, a
29
Para elevar o volume de investimentos por meio de uma política fiscal expansionista o
governo manipula variáveis econômicas tais como, redução na taxa de juros; aumento nos
gastos governamentais; redução tarifária; aumento da carga tributária, com intuito de financiar
os investimentos estatais; políticas de incentivos a exportação; concessão de créditos, dentre
outros. Desta forma ao exercer política fiscal expansionista o governo eleva ou cria condições
para os aumentos na produção e conseguinte, mantêm o padrão de organização do sistema
capitalista. E como este ocorre de forma interdependente, complementar e congruente ao
meio, eleva a extração de recursos naturais, senão de fontes de sintropia positiva e aumenta
em seu meio-ambiente a desordem, ou seja, o grau de entropia por meio de externalidades
negativas.
De outro modo gera impactos no meio-ambiente por meio de política monetária
expansionista ao manipular variáveis tais como, redução na taxa de juros, redução na taxa de
redesconto ou comprando títulos. Agindo assim, eleva a Eficiência Marginal do Capital
(EMK) frente à frente as taxas de juros no mercado, alterando as expectativas de retorno dos
agentes, dos empresários. Provocando maior inversão de investimentos, que por sua vez
tende a elevar a utilização recursos naturais e a emissão de externalidades.
Logo, ao aplicar uma política econômica de cunho keynesiana com o intuito de
conduzir a economia a nível de pleno emprego, há intensificações no fluxo de matéria e
energia circulando dentro do sistema econômico, maior utilização de fontes de sintropia
positiva e maior volume de emissões de poluentes.
De acordo com o conceito de derivação estrutural ou acoplamento estrutural12
levantado por Maturana e Garcia (1997), alterações no sistema capitalista geram alterações
estruturais no meio ambiente. Que por sua vez, decorrentes das alterações no meio-ambiente,
geram alterações no sistema econômico. Este fenômeno ocorre devido a relações recorrentes
entre sistema capitalista e meio, por aquele ser dependente deste para manter seu padrão de
organização. Alterações nos processos de consumo e produção geram alterações no meio-
ambiente devido a intensificação na utilização de recursos, gerando impactos ecológicos. Tais
impactos impactam sobre o sistema econômico na forma de uma economia com tendências
inflacionárias e com aumentos na demanda por bens públicos, geradas por redução na
qualidade de alimentos, endemias, etc.
De acordo com o gráfico 01 e 02 para cada nível de produto ou para cada ponto de
equilíbrio entre as curvas de demanda agregada e oferta agregada há um nível correspondente
12
Ver conceito de Derivação estrutural p. 20
32
de externalidades. De tal forma que, os níveis de externalidades são elevados toda vez em que
o crescimento econômico é expandido. Sendo assim, conclui que a busca pelo pleno emprego
dos fatores de produção intensifica ou eleva as externalidades negativas ou impactos
ecológicos.
13
Onde:
N = Corresponde a níveis de emprego
AO = Curva de Oferta Agregada
DA = Curva de Demanda Agregada
Y = Níveis de Renda ou Produto
E = Externalidades
Z = Ponto crítico, conhecido também por ponto de bifurcação, ponto da passagem do equilíbrio para o não
equilíbrio.
33
14
Segundo Capra (1996) matematicamente, um ponto crítico representa uma dramática mudança da trajetória
do sistema no espaço de fase. Um novo atrator pode aparecer subitamente, de modo que o comportamento do
sistema como um todo "se bifurca", ou se ramifica, numa nova direção. Ao tratar das mudanças climáticas para o
Greenpeace (2007) o ponto crítico se situaria a um aquecimento de 2º C aos níveis pré-industriais.
34
atividades ocorridas num período anterior (t-1), da história do sistema e das condições
iniciais.
Sendo assim, conclui-se que as ciências econômicas ao ter em suas bases modelos de
crescimento econômico, centrados na ênfase conferida a aumentos de investimentos e
consumo, haverá uma tendência de impactar de forma deletéria sobre os ecossistemas. Esta
mudança estrutural no meio ambiente, devido a alterações nos processos econômicos gera de
forma retroativa e reiterada, um feixe de impactos no sistema econômico, tais como aumento
na demanda por bens públicos, inflação de custos.
Os gráficos 03 e 04 evidenciam que uma política econômica expansionista, seja ela
fiscal ou monetária, quer dizer, uma política que ocorra mediante gastos do governo,
subsídios e redução das taxas de juros, gera impactos positivos sobre os volumes de
investimento, elevando assim o bem-estar. Pois havendo maior crescimento, logo maior
demanda, uma vez que, os empresários farão a revisão de suas expectativas e farão seus
investimentos em setores produtivos, elevando a contratação dos fatores de produção,
resultando num aumento dos volumes de investimento (formação bruta de capital fixo).
O gráfico 03 demonstra a evolução da Formação bruta de capital fixo no Brasil
durante o período de 1908 a 2007. De tal forma que até inicio da década de 1950 esta evolui
de forma estável. A partir de 1950, com a forte intervenção do Estado na economia por meio
de política industrial através de uma série de planos, a formação bruta de capital fixo eleva se
abruptamente, explodindo a partir de 1964 por meio dos planos Plano Nacional de
Desenvolvimento (PND I) Plano Nacional de Desenvolvimento (PND II) voltados para a
construção de infra-estrutura e indústria pesada.
35
1,2
0,8
0,6
0,4
0,2
0 1912
1908 1916192019241928193219361940194419481952195619601964 196819721976198019841988199219962000
2004
2500000
2000000
1500000
1000000
500000
0 195019531956195919621965196819711974197719801983198619891992199519982001
1947 2004
35000
30000
25000
20000
15000
10000
5000
Fonte: IPEADATA, (2007)
0
01
08
15
22
29
36
43
50
57
64
71
78
85
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
1600
1400
1000
Consumo aparente -
800 derivados de petróleo -
Barril (mil)
600
400
200
82
85
88
91
94
97
00
03
06
19
19
19
19
19
19
19
20
20
20
Fonte: IPEADATA, (2007)
1928-1950 1.714 20
1950-1970 11.465 16
1970-1990 55.147 10
1990-1998 36.882 9
15
Segundo Capra (1996) matematicamente, um ponto crítico representa uma dramática mudança da trajetória
do sistema no espaço de fase. Um novo atrator pode aparecer subitamente, de modo que o comportamento do
sistema como um todo "se bifurca", ou se ramifica, numa nova direção. Ao tratar das mudanças climáticas para o
Greenpeace (2007) o ponto crítico se situaria a um aquecimento de 2º C aos níveis pré-industriais.
40
agricultura geram gases de efeito estufa, que por sua vez, aquecerão o planeta e a estratosfera,
provocando oscilações na temperatura, nas chuvas, nas secas e degelos. Estes últimos
provocarão a elevação dos níveis dos oceanos, inundações, prejuízos e maior demanda por
bens públicos.
1700-1750 511.598.566 6
1800-1850 1.069.747.377 6
1850-1900 1.218.578.031 7
1900-1950 2.007.471.957 5
1950-1970 2.290.901.943 1
1970-1990 7.091.270 20
Fonte: MCT (2007)
A figura 01 apresenta uma descrição de como ocorre o efeito estufa e como este ao ser
intensificado pelas emissões de dióxido carbono afeta a temperatura do planeta.
41
O efeito estufa é o processo pelo qual a atmosfera retém parte da energia irradiada
pelo Sol e a transforma em calor, aquecendo a Terra e impedindo uma oscilação
muito grande das temperaturas. Um aumento dos “gases de efeito estufa”,
provocado pela atividade humana, está acentuando esse efeito artificialmente,
elevando a temperatura global e alterando o clima do planeta. Entre os gases de
efeito estufa estão o dióxido de carbono (CO2) - “produzido pela queima de
combustíveis fósseis e pelo desmatamento, o metano” - liberado por práticas
agrícolas, animais e aterros de lixo, e o óxido nítrico – “resultante da produção
agrícola e de uma série de substâncias químicas industriais”.
Segundo o Greenpeace (2007) não obstante tais mudanças climáticas virem a destruir
o modo de vida de muitas pessoas nos países em desenvolvimento e ainda provocar a perda de
espécies e ecossistemas. Outros efeitos, além dos impactos ecológicos tais como o
aquecimento global e as mudanças climáticas, podem ocorrer. Sejam eles, as lutas acirradas
com o objetivo de garantir o acesso aos combustíveis fósseis, que por sua vez levam a
instabilidade política e até guerras.
Segundo Greenpeace (2007) a temperatura do planeta pode elevar até 5.8°C nos
próximos cem anos, consistindo numa alteração climática mais brusca já vivida pela
humanidade. Mudanças climáticas afetam pessoas e ecossistemas. Dentre os impactos
gerados, cita-se o derretimento das geleiras polares, do permafrost16, destruição de recifes de
corais, o aumento do nível do mar. Os prováveis efeitos de um aquecimento leve a moderado
16
Camada de gelo que cobre o solo do continente antártico.
42
podem elevar o nível do mar devido a derretimento de geleiras e pela expansão térmica dos
oceanos; liberar maiores quantidades de gases efeito estufa com o derretimento do
permafrost; e aumentar os fenômenos climáticos extremos tais como, calor excessivo, secas e
inundações e perda da biodiversidade.
Os efeitos catastróficos de longo prazo podem gerar, de acordo com Greenpeace
(2007) o derretimento irreversível da manta de gelo da Groenlândia, e consequentemente a
elevação em mais de sete metros do nível do mar; grandes liberações de metano, devido ao
degelo do permafrost, aumento da concentração desse gás na atmosfera que oportunamente
pode provocar maior aquecimento.
Conclui que tais impactos tendem a repercutir sobre o sistema econômico na forma de
um aumento imprevisível nos prejuízos, dada a instabilidade e a imprevisibilidade dos
impactos. Gerando por sua vez, um aumento imprevisível na demanda por bens públicos e
ainda, economias com tendências inflacionárias, devido a crescente escassez de recursos
energéticos, fontes de combustíveis fósseis e perdas de produção.
Ademais, a partir de um ponto crítico o meio se caracteriza por ser hipersensível a
condições iniciais, onde num estágio altamente não-linear torna-se extremamente sensível a
história do sistema, enfim, uma mínima alteração na composição da demanda agregada haverá
de elevar as instabilidades, os impactos ecológicos. Torna se, então dependente dos níveis de
consumo, investimentos do governo, das empresas, dos setores mais desenvolvidos. Neste
estágio a teoria se apresenta totalmente imprevisível, não-determinística, carregada de
incerteza, e não se pode prever qual direção o sistema irá percorrer.
A irreversibilidade do sistema evidencia que mesmo estagnando a atividade
econômica, os impactos ainda perdurarão. Esta característica se deve ao fato de que distante
do equilíbrio os impactos ocorrem não apenas em função da atividade antrópica, mas em
função das próprias externalidades, diz-se que ele se comporta como um todo.
Auto-similaridade17 seria o fato de em qualquer instância, seja no âmbito da economia
mundial, de uma economia nacional, uma indústria, as interações entre o meio ocorrerem de
uma maneira muito similar, ou seja, captando recursos e eliminando externalidades como
forma de manter um padrão de acumulação, de organização ou de concorrência. Auto-
17
Paiva (2001) usa como metáfora os galhos de uma árvore que se bifurcam cada vez mais até chegar nas micro-
nervuras da folha, possuindo o mesmo padrão de bifurcação e conceitua auto-similaridade como a existência de
padrões dentro dos padrões que mesmo diferentes, são sempre similares.
43
similaridade é conceituada como a presença de padrões muito similares, não iguais, mas
parecidos dentro de outros padrões.
Dada as características intensificadoras dos impactos ecológicos, as soluções possíveis
consistem em: a) minorar a captação de recursos; b) reduzir as emissões de externalidades
negativas; c) reduzir os processos no interior do sistema capitalista, ou seja, desestimulando a
demanda agregada; c) alteração da composição da demanda agregada, no sentido de dotá-la
com alternativas de investimento, gastos e consumo que minimize impactos sobre o meio,
bem como estabelecimento de política tributária (eco-impostos) e comercial com os mesmos
fins; d) redirecionamento da política econômica do governo de forma a existir integração
entre programas de preservação ambiental e programas de crescimento econômico, para que
as políticas ambientais não ocorram de forma contraditória; e) substituição da utilização de
combustíveis fósseis por fontes de energias renováveis.
No próximo capítulo serão apresentadas algumas alternativas no âmbito da teoria
keynesiana que se caracterizem por serem tecnicamente e economicamente viáveis e que
minimize os impactos decorrentes da atividade econômica.
44
Se por meio das políticas econômicas, fiscais e monetárias é definida uma infra-
estrutura deletéria. Uma das medidas para obter a sustentabilidade ocorre por meio dos
mesmos processos, ou seja, via política econômica. Buscando redefinir uma nova infra-
estrutura produtiva. Eliminando tecnologias sujas e substituindo por tecnologias limpas, com
o objetivo de minorar os impactos ecológicos. Sendo assim, o capítulo tem por objetivo
apresentar soluções consistentes com a teoria keynesiana, que se caracterizem por serem
economicamente e tecnicamente viáveis para tratarem dos fluxos de energia e resíduos. Tais
medidas estão relacionadas a substituição de combustíveis fósseis por energias de fontes
renováveis, entretanto não serão apresentadas aqui soluções relacionadas à agricultura e a
emissão de poluentes por veículos automotores.
A conclusão a que se chega é de que as soluções únicas capazes de amenizar tais
impactos haverão de ser soluções sustentáveis, entendida como a capacidade do sistema
capitalista manter seu padrão de organização, afetando de forma mínima o meio-ambiente.
Para que tais soluções sejam tidas como sustentáveis deve obedecer aos pressupostos de
manter: a) a estabilidade18 do meio; b) a auto-organização do meio; c) de elevar os níveis de
emprego, mantendo o padrão de organização do sistema capitalista e d) de fechar
organizacionalmente o sistema econômico aos fluxos de matéria e energia.
Para o greenpeace (2007) dentre os princípios fundamentais que devem ser seguidos,
cita-se a) implantação de sistemas de energia limpa, renováveis e descentralizadas; b) a
eliminação gradual de energias sujas e não sustentáveis. c) desvinculação do crescimento
econômico do uso de combustíveis fósseis.
18
De acordo com SHIKI (1997, p. 139) “É a propriedade da sustentabilidade na qual a produtividade do sistema
se mantém constante, frente a pequenas distorções causadas por variações ecológicas e sócio-econômicas.”
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Dentre as razões para incluir na matriz energética as energias renováveis cita-se o fato
de a) a demanda por energia apresentar tendência a elevar-se com o crescimento populacional
e crescimento econômico; b) devido a tendência dos custos de produção de energia fóssil
aumentarem c) a crescente escassez de recursos ou a dificuldade de extração geradas pela
redução na qualidade da matéria prima e d) devido ao custo de emissão de poluentes sempre
crescente.
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Há um premissa de que o uso de combustíveis fósseis ficará mais caro com o passar
do tempo à medida que as emissões de CO2 passam a ser valoradas. Os valores
estimados para as emissões de CO2 podem variar de R$ 41 a R$ 138 por tonelada de
carbono (US$ 15 a 50 por tonelada de carbono no período de 2010 a 2050).
Ao incluir no cálculo os valores para emissões de CO2, entre 2010 e 2040, observa-
se uma redução gradual por volta de 3,5% na diferença de custos entre os dois
cenários. (...) Neste período, os custos do Cenário da Revolução Energética passam
a ser de R$ 0,07 e R$ 0,11 por kWh maiores do que os custos do Cenário de
Referência. Já em 2050, o custo de eletricidade previsto no cenário da Revolução
Energética fica pouco abaixo do custo do Cenário de Referência. Esta redução na
diferença de custos deve-se à participação significativa de recursos fósseis na matriz
do Cenário de Referência.
De acordo com o gráfico 09 o mesmo fenômeno ocorre com a trajetória dos custos de
investimentos em energias renováveis. De forma que, estes tendem a reduzir com o tempo,
principalmente a partir de 2010, isto se deve aos ganhos de escala, a curva de aprendizagem e
a diluição de custos fixos inerentes a energias renováveis.
Utilizando o final da década de 2000 como ponto de referência, observa-se que todas
as alternativas energéticas renováveis apresentam, de acordo com projeções, queda nos custos
de investimentos, principalmente até 2020. À partir de então os custos de investimentos
continuam a cair, porém de forma mais rígida, ou estável. Dentre as alternativas, aquelas que
mantêm os custos mais elevados estão a biomassa (usinas elétricas) com projeção de redução
de custos em 20% até 2060; a eólica com redução de custos em acima de 50% até 2060; e a
biomassa (aplicações CHP) com projeção de redução de custos em 65% até 2060.
Entretanto, dentre as alternativas que apresentam maiores reduções de custos estão a
solar (PV) e a oceânica com projeção de redução de 80% nos custos até 2060, e a solar
térmica (sem estocagem) com redução nos custos de investimentos projetada em 70% até
2060.
instabilidades geopolítica, ineficaz para solucionar problemas ecológicos e ademais por não
gerar empregos.
Segundo Greenpeace (2007) os recursos destinados a energia nuclear possuem a
capacidade de gerar em menor tempo o dobro da quantidade de energia se fossem destinados
a energia eólica e quatro vezes mais se investidos em eficiência energética. Sendo assim, a
construção de usinas nucleares concorre para produção de maior quantidade lixo radioativo,
que por sua vez exigem cuidados especiais por milhares de anos para que não contaminem o
ambiente e causem danos à saúde humana, significando um custo de vigilância muito elevado
para as gerações futuras.
Outras soluções apontadas por Capra (2002) consistem em adotar uma economia de
serviços e fluxos, redução dos incrementos estatais da produção e consumo no setor privado a
favor de investimentos em setores de serviços público tais como transporte, educação e assis-
tência à saúde. No longo prazo as políticas devem orientar-se no sentido de distribuir a renda
com o intuito de controlar a natalidade e reduzir desta forma o crescimento populacional.
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6 CONCLUSÕES
medida geraria em economias e populações mais pobres, bem como questões relativas a
equidade.
No longo prazo as medidas devem ocorrer no sentido de redistribuir a renda das
economias desenvolvidas a favor das subdesenvolvidas e das elites das economias
subdesenvolvidas a favor das camadas mais pobres, e paulatinamente oferecendo alternativas
de consumo, de investimento e tecnologias que minimizem tais impactos. Conclui que o
estado tende a uma incapacidade crescente de financiar os prejuízos advindos de tais
impactos, bem como a ser gerada economias com tendências inflacionárias por motivos tais
como, crescente escassez de recursos naturais e energéticos e pela perda de produtos
alimentícios.
Depois de demonstrado como ocorrem as interações entre sistema capitalista e meio,
conclui que o sistema capitalista é inerentemente entrópico, ou seja, faz parte da própria
história, senão da natureza do sistema a intensificação dos impactos ecológicos. Desta forma,
as soluções apresentadas, longe de resolver o problema ou de esgotar o assunto possuem o
objetivo de amenizar os impactos da atividade de econômica. Apontam ainda a necessidade
de se verificar de uma forma mais completa quais economias possuem maior peso nas
emissões e na intensificação dos impactos ecológicos. Esta analise, no entanto requer a
explicação de como se deu a expansão da forma capitalista de produção a partir da revolução
industrial. Sendo assim, há a necessidade de ser referenciada pela teoria dependência
econômica e verificar as possíveis explicações. Vistos sob este aspecto, a principal conclusão
a que se chega é que o problema ecológico e sua minoração tratam-se de um problema
econômico com soluções político-econômicas.
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7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CAPRA, Fritjof. A Teia da Vida: Uma Nova Compreensão Científica dos Sistemas Vivos.
São Paulo: Cultrix, 1996, 294 p
_____________. As Conexões Ocultas: Ciência para uma vida sustentável. São Paulo:
Cultrix. 2002, 296p.
ECO, Umberto. Como se faz uma tese. São Paulo: Perspectiva, 1977. 170 p.