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1 Aula 7 - Dualidade, Integrabilidade,

Preferência Revelada
1.1 Dualidade
• Todos os resultados da teoria do consumidor podem ser
derivados do problema de minimização de despesa. Matem-
aticamente, a maximização de utilidade e a minimização de
gastos são problemas duais.
• Nesta aula, vamos mostrar que a abordagem tradicional de
impor axiomas sobre preferências e derivar as funções de
demanda via maximização de utilidade direta é equivalente à
abordagem alternativa de impor axiomas sobre as escolhas do
consumidor e derivar as funções de demanda via minimização
de gastos.
• Seja uma função E (p, u) , não necessariamante uma função
gasto, que obedeça às sete propriedades da função gasto (ver
aula 3 ou JR, teorema 1.7). Vamos mostrar que E (p, u) é de
fato uma função gasto para alguma função utilidade.
¡ 0 0¢
• Escolha um ponto p , u ∈ <n++ × <+ e defina o conjunto
fechado
¡ 0 0¢ © n 0
¡ 0 0¢ª
A p , u ≡ x ∈ <+ | p · x ≥ E p , u (1)
(Ver figura 2.1, JR). Perceba que este é o conjunto de todos
os pontos em <n+ que estão acima ou sobre o hiperplano
0
¡ 0 0¢
p · x = E p ,u .
¡ ¢
• Defina a interseção de todos os conjuntos A p, u , onde u0 é
0

fixo e p varia, como


¡ 0¢ \ ¡ ¢
0
A u ≡ A p, u = (2)
pÀ0
© n
¡ 0
¢ ª
= x ∈ <+ | p · x ≥ E p, u ∀p À 0 (3)
(ver figura 2.1, JR)
• Teorema 1: Se a função E (p, u) : <n++ × <+ → <+
satisfaz às 7 propriedades das funções gasto, então a função
u : <n+ → <+ tal que
u (x) ≡ max {u ≥ 0 | x ∈ A (u)} (4)
é crescente, ilimitada superiormente e quase-côncava
• Demonstração: no livro
• Teorema 2: Seja uma função E (p, u) : <n++ × <+ → <+
que satisfaz às 7 propriedades das funções gasto e seja
u : <n+ → <+ tal que u (x) ≡ max {u ≥ 0 | x ∈ A (u)},
então
E (p, u) = min p · x sujeito à u (x) ≥ x (5)
x
i.e., E (p, u) é a função gasto gerada pela utilidade u (x)
• Demonstração: no livro
• Nós mostramos que supor a existência de uma função gasto que
obedece às 7 propriedades é equivalente a supor a existência
de uma função utilidade monotônica e quase-côncava. Se as
preferências não são monotônicas e convexas, a dualidade
entre utilidade e gasto é parcialmente quebrada.
• Formalmente, seja e (p, u) uma função gasto gerada por u (x) ,
que não é quase-côncava e nem crescente. Seja w (x) a função
utilidade gerada por e (p, u) , isto é,
w (x) ≡ max {w ≥ 0 | x ∈ A (w)} (6)
Perceba que w (x) será crescente e quase-côncava pelo teorema
1 acima, logo w (x) 6= u (x).
• Porém, w (x) contém todas as informações de u (x) que são
empiricamente relevantes. Intuitivamente, isso se deve ao fato
de que w (x) 6= u (x) apenas nas regiões não-convexas e/ou
não-monotônicas das curvas de indiferença, exatamente onde
o consumidor não estará consumindo.
• Para uma exposição gráfica, ver JR, figura 2.2
1.1.1 Da Utilidade Indireta para a Direta
• Suponha que u (x) gera a utilidade indireta v (p, y) . Por
definição, para todo x, temos que v (p, p · x) ≥ u (x) para
qualquer vetor de preços p. Logo, nós podemos recuperar a
utilidade direta a partir da indireta da seguinte forma:
u (x) = min v (p, p · x) (7)
pÀ0
• (Ver teorema 2.3, JR)
1.2 Integrabilidade
• Como passar das demandas para a utilidade?
• Estratégia: supor a existência de uma função de demanda que
respeite às propriedades usuais e tentar descobrir uma função
utilidade que gere essa demanda.
• Quais são as propriedades das demandas marshallianas?
Homogeneidade, equilíbrio orçamentário (adding-up), simetria
e negatividade semi-definida da matriz de Slutsky.
• Na verdade, homogeneidade é uma consequência do equilíbrio
orçamentário e da simetria (ver teorema 2.5, JR), logo só
existem 3 propriedades verdadeiramente independentes.
• Nós sabemos que essas 3 propriedades das demandas marshal-
lianas são necessárias. A pergunta é: elas são suficientes?
• O Teorema da Integrabilidade: se x (p, y) satisfaz ao equilíbrio
orçamentário, à simetria e à negativadade semi-definida, então
existe uma função utilidade u (x) cuja demanda marshalliana
é x (p, y) (ver teorema 2.6, JR)
1.3 Preferência Revelada
• A teoria da preferência revelada é uma abordagem axiomática
alternativa à teoria da ordenação de preferências. Introduzida
por Samuelson, tem a seguinte motivação: Por que impor
axiomas sobre preferências (que não são observáveis) ao invés
de impor axiomas sobre escolhas (que são observáveis)?
• Seja x0 a cesta escolhida quando os preços eram p0 e x1 a
cesta escolhida quando os preços eram p1. Defina a relação
binária “revelada preferível” R de forma que x0R x1 se e
somente se p0 · x0 ≥ p0 · x1.
• A1: O primeiro axioma imposto às escolhas do consumidor é
o “Axioma Fraco da Preferência Revelada”: se x0R x1, então
não é possível que x1R x0. Uma forma equivalente:
p0 · x0 ≥ p0 · x1 =⇒ p1 · x0 > p1 · x1 (8)
• Ver figura 2.3, JR
• Defina x (p, y) como sendo a função escolha.
• A2: O segundo axioma imposto é o equilíbrio orçamentário
(adding-up): p · x (p, y) = y
• Se impusermos equilíbrio orçamentário e AFrPR à função
escolha x (p, y) , quais outras propriedades nós podemos
derivar?
• A1+A2 implicam em homogeneidade da função escolha
x (p, y) .
¡ 0 0¢ ¡ 0 0¢
• Demonstração: sejam x = x p , y e x = x tp , ty ,
0 1

t > 0. Por A2, tp0 · x1 = ty 0 =⇒ p0 · x1 = y 0, ou seja,


x1 era factível quando x0 foi escolhido =⇒ x0R x1. Mas,
também por A2, p0 · x0 = y 0 =⇒ tp0 · x0 = ty 0, ou seja,
x0 era factível quando x1 foi escolhido =⇒ x1R x0. Mas isso
contradiz o AFrPR (A2), logo x1 = x0 (cqd)
• É também possível mostrar que A1+A2 implicam que a
matriz de Slutsky para a função de escolha x (p, y) é negativa
semi-definida. (Ver demonstração no livro)
• A1+A2 implicam simetria? Apenas para o caso de 2 bens. No
caso de mais de dois bens, o AFrPR não implica transitividade,
que é o axioma da teoria baseada em preferências que leva à
simetria da matriz de Slutsky. Portanto, a função de escolha
x (p, y) que obedece A1+A2 não é uma função de demanda
marshalliana.
• A função de demanda marshalliana xM (p, y) (colocamos o
superscrito para diferenciá-la da função de escolha x (p, y)) é
uma função de escolha x (p, y)? (i.e., obedece aos axiomas
A1 e A2?). Já sabemos xM (p, y) satisfaz A2.
• Teorema: xM (p, y) satisfaz ao AFrPR. Demonstração:
(suponha preferências estritamente monotônicas e estritamente
convexas, de forma
¡ que xM
¢(p, y) é única ¡e A2 se verifica).
¢
Seja x = x p , p · x e x = x p , p · x e
0 M 0 0 0 1 M 1 1 1

suponha que p0 · x0 ≥ p0 · x1. Como x1¡ era¢ factível ¡ aos


¢
preços p mas não foi escolhido, então u x > u x (a
0 0 1

desigualdade estrita vem da unicidade da solução). Logo, aos


preços p1, x0 não pode ser factível =⇒ p1 · x0 > p1 · x1, ou
seja , p0 · x0 ≥ p0 · x1 implica p1 · x0 > p1 · x1 =⇒AFrPR
(cqd)
• A1’: O Axioma Forte da Preferência Revelada (AFoPR).
Para qualquer sequência de de cestas x0, x1, ..., xk , tal que
x0Rx1, x1Rx2, ..., xk−1Rxk , não é possível que xk Rx0.
• Perceba que o AFoPR é simplesmente uma forma de impor
transitividade na relação de preferência revelada.
• Teorema: A1’+A2 implica em x (p, y) = xM (p, y)
• Portanto, a abordagem baseada na escolha (utilizando o
AFoPR) é exatamente equivalente à abordagem baseada nas
preferências (maximização de utilidade).

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