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PÓS-MODERNISMO: TRANSIÇÃO OU ORIGINALIDADE?

TESE E DESENVOLVIMENTO TEÓRICO AO NÍVEL DA CARACTERIZAÇÃO


DO PÓS-MODERNISMO NA ARTE

LOURENÇO DE SALES PARENTE SILVA DE SOUSA 2004

1
I- INTRODUÇÃO

Poucos, ainda, são capazes de caracterizar o Pós-Modernismo, eventualmente


ninguém o terá conseguido com total objectividade. Caracterizá-lo com clareza
será feito com o passar dos tempos, já que é ainda muito recente.
Aqui tentarei contribuir para esse esforço no sentido de o entender melhor.
Para o fazer de forma mais correcta, ou seja, dentro de uma área a qual me é
mais confortável desenvolver, centrar-me-ei apenas na arte pós-moderna, mais
precisamente na pintura e arquitectura.
O que tentarei fazer é compreender qual o seu rumo e lugar na história, sua
especificidade na arte e sua caracterização estética.
Antes de mais nada há que distinguir dois conceitos distintos: Pós-
Modernidade e Pós-Modernismo.

fig.1-Immendorf, “Café Deutschland, Café Probe”

fig.2-Tomás Taveira, complexo de edifícios das Amoreiras

2
II- DISTINÇÃO: PÓS-MODERNIDADE/PÓS-MODERNISMO

Para começar Pós-Modernidade é um termo bastante mais abrangente que o


seguinte; quer isto dizer que o primeiro é um dos períodos da História; situa-se
logo após o Período Moderno (que começa no Renascimento no Século XV) e
é muitas vezes chamado de período contemporâneo.
Para Maria do Céu Roldão, “estamos a viver uma fase de transição da era
moderna para a era pós-moderna”1. Quer isto dizer que à partida ainda não
estamos em pleno no Período em questão.
Em minha opinião discordo de certa forma: no início do século XX, e mesmo
ainda no século XIX, as transformações na sociedade, e consequentemente na
Arte, foram de facto muito fortes; refiro-me à Revolução Industrial, às teorias
sociais de Karl Marx ou Lenine, a todo um conjunto de invenções tecnológicas
(como sendo o telefone, o automóvel, entre outras…) e também à revolução
artística levada a cabo pelos impressionistas culminando na totalmente
inovadora Pop Art. Tudo isto leva-me a concluir que já nos encontramos na era
Pós-Moderna.
Levando mais a fundo a caracterização da Pós-Modernidade e relacionando
com a Modernidade. Esta última teve origem no Renascimento, na crença
iluminista da razão e na capacidade da ciência, ao serviço do homem, de
responder a todas as questões relacionadas com a Natureza; aqui existiu um
grande optimismo e confiança na vida e no progresso.
Tudo isto acabou por, de certa forma, “falhar” já que existiram crises
sucessivas e grandes tensões sociais, aumentaram as desigualdades entre as
pessoas originando fenómenos de exclusão social, degradou-se a chamada
qualidade de vida e surgiram problemas ambientais, apareceu o fenómeno da
globalização e das novas tecnologias; originou-se então uma grande crise de
valores que nos serviam de referência desde a idade das Luzes provocando
inquietação e instabilidade originando então um novo paradigma
convencionado de Pós-Modernidade.
Na Pós-Modernidade nada é dado como certo, o pensado pode ser pensado
outra vez, a confiança é menor.
Citando Gilles Lipovetsky para compreender-se melhor a Pós-Modernidade: “os
grandes eixos modernos, a revolução, as disciplinas, o laicismo, a vanguarda,
foram desafectados à força de personalização hedonista; o optimismo
tecnológico e científico desmoronou-se, enquanto as inúmeras descobertas
eram acompanhadas pelo envelhecimento dos blocos, pela degradação do
meio ambiente, pelo apagamento progressivo dos indivíduos; já nenhuma
ideologia política é capaz de inflamar as multidões, a sociedade pós-moderna
já não tem ídolos nem tabus, já não possui qualquer imagem gloriosa de si
própria ou projecto histórico mobilizador; doravante é o vazio que nos governa,
um vazio sem trágico nem apocalipse.”…”o direito à liberdade, em teoria
ilimitado, mas antes circunscrito à economia, à política, ao saber, conquista
agora os costumes e o quotidiano. Viver livre e sem coacção, escolher sem
restrições o seu modo de existência: não há outro facto social e cultural mais
significativo quanto ao nosso tempo; não há aspiração nem desejo mais
legítimos aos olhos dos nossos contemporâneos.”2

1
Notícias Magazine, suplemento do Diário de Notícias de 9 de Setembro de 2001
2
Gilles Lipovetsky caracterizou; com bastante detalhe e pragmatismo; a sociedade pós-moderna na sua
obra A era do vazio, (cit. p. 9-11)

3
Definida então a Pós-Modernidade, mesmo sendo de forma muito resumida,
torna-se necessário agora caracterizar o Pós-Modernismo.
Pós-Modernismo é claro um termo mais restrito, eventualmente apenas num
sentido temporal como se verá mais adiante. David Harvey situa o
aparecimento do pós-modernismo entre 1968 e 1972, como o próprio refere: “a
partir da crisálida do movimento anti-moderno dos anos 60”3
Ao que parece, resumindo o que foi referido anteriormente, a pós-modernidade
é um período de grandes alterações no mundo e antagónica à modernidade; já
o pós-modernismo é um modo de pensar do homem, é a maneira como hoje
em dia o ser humano olha para a vida. Aqui reside, em suma, a diferença entre
os dois termos em causa.
Mas isto é pouco. É ainda preciso levar mais a cabo a definição de pós-
modernismo para exaltar essa diferença.

Jean-François Lyotard4 estudou com grande elaboração e detalhe a questão da


definição de pós-modernismo.
Para ele as transformações actuais na sociedade e o aumento do
conhecimento (e o progressivo enfraquecimento dos hábitos e valores
tradicionais) estão intrinsecamente ligados ao desenvolvimento tecnológico.
Segundo Lyotard toda esta mudança, incluindo a artística, está a criar um
mundo no qual cada indivíduo deve traçar o seu próprio caminho sem
referências fixas e filosofias tradicionais.
É defendida por este pensador a liberdade total de reflectir sobre a vida e pôr
em causa o conhecimento passado, o mundo é dado como em constante
mutação e portanto nenhum significado pode ser dado como matematicamente
certo, ou seja, pode sempre ser posto em causa.
Lyotard associa ainda essa tal “condição pós-moderna” à sociedade pós-
industrial computorizada que é feita sem regras para então formarem-se novos
princípios.
Atenção que Lyotard não é a favor de um apagar do passado, defende até que
é possível ser-se moderno, desde que o sejamos de forma pós-moderna”, quer
isto dizer que podemos fazer uso da nossa liberdade (pós-moderna) de
fundamentação de conhecimentos e então afirmar o modernismo como certo,
neste caso, (mesmo que isso seja algo subjectivo já que na sociedade pós-
moderna tudo o que é dado como certo pode ser revisto e eventualmente
corrigido).
Lyotard afirma que na nossa sociedade pós-modernidade a afirmação das
nações já não é feita através do poderio territorial. Actualmente quem tem os
melhores meios de informação (seja de difusão e recepção) tem o poder. E
porquê isto? Este filósofo defende que “a sociedade só existe e progride
quando as mensagens que nela circulam são ricas em informações e fáceis de
descodificar”.
Portanto hoje a sociedade é comunicação e não vive sem ela. Existe
comunicação em tudo em nosso redor e não apenas na rádio, televisão e
outros media.

3
David Harvey em Condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural
4
Jean-François Lyotard (1924-1998) foi um filósofo francês que conta com cerca de 30 livros publicados.
Entre estes encontram-se obras sobre o pós-modernismo como A CondiçãoPós-Moderna e O Pós-
modernismo Explicado às Crianças

4
A comunicação é um dado comum a todas os países, sociedades, culturas ou
civilizações. Não existe no ser humano a total ausência de comunicação, logo
esta é universal. Então daqui conclui-se que sendo a sociedade pós moderna a
da comunicação então também é inerente a esta a sua universalidade, até
porque a facilidade de hoje em comunicar torna o mundo muito mais unido e
próximo, portanto universal.
Ora a Arte não é comunicação (e logo universal)? Mais à frente será analisado
este aspecto.
Além disto este filósofo afirma que o modernismo e o pós-modernismo podem
relacionar-se, podem coabitar.5
Tudo isto refere esta nova maneira de pensar do homem, que evidentemente
teve influência na arte mais recente (a partir dos anos 70) e nos conceitos e
referências estéticas.

Existe ainda uma outra definição de pós-modernismo que é o mesmo como


sendo um movimento artístico iniciado nos anos 70 do século passado e
compreendendo áreas muito diversas que vão desde a arquitectura ao design
passando pela pintura. É um movimento ainda em vigor.6
Assim está justificada esta minha abordagem sobre o pós-modernismo dentro
das áreas da arte e da estética. Não esquecendo a importante definição de
pós-modernidade e pós-modernismo, tal como a distinção entre ambos.

5
Jean-François Lyotard; citações e referências deste autor retiradas das obras teóricas: A Condição Pós-
Moderna e Note on the Meaning of 'Post-Modernism
6
Referência: A arte fala12ºano de Maria Calado

5
III- O PÓS-MODERNISMO NA PINTURA:

Seu aparecimento, suas raízes, suas características e questão da sua


validade/especificidade.

Na pintura o pós-modernismo enquadra-se como sendo um movimento tal


como foram o Impressionismo ou o Dadaísmo.7
O movimento artístico pós-moderno na pintura faz parte de todo um conjunto
de evoluções, ou diria revoluções (?), iniciadas no século XIX pelos
impressionistas. Estes últimos iniciaram uma nova forma de ver a arte:
acreditavam serem capazes de captar uma particular e fugaz impressão de cor
e luz, inovaram também consequentemente na técnica de pincelada e num
novo olhar fotográfico da arte.
Tudo isto foi o ponto de partida para que a arte começasse a modificar-se e a
rever constantemente a definição daquilo que era arte e o lugar da arte na
sociedade.
Novas formas de pintar foram sendo progressivamente utilizadas tanto na
pincelada, como nos materiais utilizados ou como na representação.
A cor deixou de ser utilizada meramente como sendo fiel à realidade; esta
situação foi iniciada com especial relevância pelo movimento Fauvista (com
Matisse) em que alteravam-se radicalmente as cores face à realidade (os
artistas passaram a ver como válido, por exemplo, a água pintada com cores
vermelhas) e era a exaltação da cor que assumia a maior relevância. O
Fauvismo constitui a primeira verdadeira vanguarda.
Quanto à representação de figuras e objectos a evolução foi feita no início para
a simplificação de formas, volumes e planos (com especial interesse no
movimento cubista).
Mas mais tarde a evolução foi feita, a meu ver, segundo três rumos: um pela
simplificação até ao Minimalismo; outro em direcção à abstracção/desfiguração
até ao Abstraccionismo e Expressionismo Abstracto e ainda outro no retorno à
figuração até à PopArt e ao Hiper-Realismo (neste caso particular é de notar o
realismo perturbante das suas esculturas que representam os actos
consumistas da sociedade norte-americana dos anos 70 do século XX)8.
A forma de pintar (cor, formas, volumes,…) reflectiu desde sempre o ideal
daquilo que é a arte e o século XX (também o final do século XIX) foi frutífero
no surgir de novos conceitos de arte. Muitos movimentos surgiram
paralelamente originando oposições de conceitos de arte. Um outro facto que
está bem presente na evolução da arte é a cada vez mais rápida ascensão e
queda de cada movimento.
Estes fenómenos têm tudo a ver com a pós-modernidade, na liberdade e no
facto de nada ser dado como irreversivelmente certo, enfim associados à tal
nova forma de pensar pós-moderna do homem referida atrás.

7
Referência: A arte fala12ºano de Maria Calado
8
Afirmação com base em Rocha, Carlos Sousa; Teoria do Design 11º ano

6
A PopArt terá sido eventualmente a última corrente artística antes do pós-
modernismo, ou mesmo o último verdadeiro movimento, isto ao nível da
criação de uma nova técnica de pintura.
E porquê isto? A resposta é simples: o movimento pós-modernista, que
apareceu logo após a PopArt, na pintura recorreu a toda a evolução anterior,
ou seja, utilizou técnicas já utilizadas anteriormente (recorre mesmo à estética
do classicismo do Renascimento) mas mistura-as, criando assim uma nova
estética.
Mas este facto tirará a especificidade própria do pós-modernismo enquanto
movimento artístico? Poderá ser colocado como uma corrente tão válida com
foi o cubismo ou o surrealismo, já que se serve do passado, ou de algo que já
existia?
Há quem considere que a arte da pintura hoje em dia, e logo pós-moderna,
repensa o seu rumo ou que a arte busca uma nova originalidade9, chega-se
mesmo a pensar que a arte hoje é um constante “neo” do que se fez no
passado e é incapaz de criar algo novo. Eu não sou tão drástico assim…
Na minha opinião a qualidade de uma obra de arte está associada em grande
parte à originalidade (para além da técnica, etc.) e essa mesma originalidade
pode ser feita de diversas formas, uma delas é a mistura de estéticas de
movimentos que já existiram criando assim um sem fim de hipóteses de
representações artísticas na pintura.
Além disto o uso de cada vez mais variados (e novíssimos) materiais na pintura
reforça esta última ideia. Mas não é só isto.
Esta mistura permite exortar certos valores de forma nunca feita anteriormente,
como sendo a ironia, o lúdico ou mesmo o humor.
Repare-se na forma como Mark Tansey pintou a sua obra “Picasso and
Braque” recorrendo à mistura de estéticas diferentes (a realista e a cubista)
conseguindo um efeito irónico e até humorístico. (figura 3)

fig.3- Mark Tensey, “Picasso and Braque”

9
Referência: A arte fala12ºano de Maria Calado

7
Por tudo isto considero então o movimento pós-moderno tão válido e específico
como foi, a título exemplificativo, o futurismo.
Anteriormente referi que os movimentos foram sendo cada vez mais rápidos na
sua durabilidade, fruto também da constante mutação da sociedade e da
constante procura do homem de algo puramente novo. Não é que não o tenha
conseguido, por exemplo no construtivismo, mas na sociedade pós-moderna o
ser humano nada dá como sendo uma referência universal e inabalável...
Se formos a ver o pós-modernismo já dura há mais de trinta anos, imenso
comparando com as correntes anteriores ou tendo em conta a sociedade em
mudança contínua. Parece que temos aqui uma incoerência…
Considero que não. Senão vejamos: o factor que fez com que terminassem
certos movimentos de arte foi o esgotamento, ou seja, a incapacidade de
dentro de uma estética que caracteriza, por exemplo o expressionismo, de
inovar caindo-se então no repetitivo que o homem pós-moderno tanto
despreza…
A verdade é que isto não aconteceu (ainda) na pintura pós-moderna devido a
essa tal imensidão de hipóteses estéticas que dá a mistura de estilos.
Além disto o que acontece é que os pintores dentro do pós-modernismo vão
esgotando cada forma de misturar estéticas passando para a seguinte e assim
sucessivamente.
Por exemplo um artista pinta utilizando uma representação tipicamente
barroca, personagens fazendo actividades actuais (como sendo andar de
patins em linha ou dançar numa discoteca), mais tarde esse pintor esgota-a e
passa a misturar a abstracção com a maneira barroca e posteriormente muda
para outra e assim sucessivamente.
Veja-se o exemplo de Mark Tensey, comparando as suas obras da figura 1 e
figura 3.
Portanto não existe então um esgotar estético (para já), tal como aconteceu
com todos os movimentos de curta duração anteriores (levando ao seu fim), já
que a pintura pós-moderna abrange um muito maior conjunto de soluções que
asseguram a sua durabilidade.
Terminado o assunto da pintura pós-moderna passemos à arquitectura.

8
IV- PÓS MODERNISMO NA ARQUITECTURA:

Antes de mais nada importa referir que o desenvolvimento da arquitectura foi


distinto da pintura e adquiriu independência maior.
No passado existiu uma pintura e uma arquitectura do renascimento ou da arte
nova, mais recentemente não existiu uma pintura cubista coexistindo com uma
arquitectura cubista, por exemplo (se bem que teria sido bem interessante se
tal tivesse acontecido…).
Isto deve-se ao facto de os termos arquitectura e pintura terem ganho
dimensões diferentes, portanto a única forma de comparar a arquitectura
moderna com a pintura é associando todos os movimentos desde o Fauvismo
(considerado a primeira vanguarda) até à PopArt na chamada pintura
moderna10.

Antes de se prosseguir para o pós-modernismo é importante fazer uma sinopse


do desenvolvimento anterior da arquitectura.
Como é bem sabido no início do Período Moderno, no Renascimento do século
XV, coincidiu com o começo de uma longa fase de classicismo, não apenas até
ao século XVIII, no fim do neoclassicismo que deu lugar ao romantismo, mas já
para dentro do século XX com a arquitectura dos regimes totalitários de Hitler,
Mussolini ou mesmo Salazar (embora de forma dissimulada na arquitectura do
Estado Novo ou “português suave”) e passando antes pela arquitectura
revivalista/eclética.11
Em minha opinião é por causa deste longo período clássico que a arquitectura
teve que mudar radicalmente.
Primeiramente surgem reacções contra o classicismo materializadas nos neo-
medievalismos e nos orientalismos do romantismo. Mas a mudança tinha que
ser maior, é então que surge o movimento Arte Nova que era radicalmente
contra o classicismo. Este deu origem à Arte Déco, mas foi um rumo perdido…
Foi com base na Arte Nova e da oficina Arts and Crafts que surgiu a
arquitectura moderna, e não só, através também da Bauhaus. Era uma
arquitectura totalmente inovadora e original baseada nos conceitos de
racionalismo e funcionalismo.12
Mas com o aparecimento de governos totalitários, com o aumento da
instabilidade social, económica e política, culminado na 2ª Guerra Mundial,
voltou a falta de confiança e a exaltação dando origem a um novo rumo para a
arquitectura: o pós-modernismo.
Curiosamente há séculos atrás foi parecido: o Renascimento ligado à confiança
na vida, estabilidade geral e racionalismo foi abalado por instabilidades
políticas e económicas provocando o surgir da arte maneirista e barroca com
toda a exaltação de valores.
Foi precisamente o que aconteceu com a mudança do modernismo para o pós-
modernismo na arquitectura. A arte reflecte, e desde sempre o fez, estabilidade
ou sua ausência desta na vida do homem.

10
Conclusão pessoal sem recorrer a outro autor. Referência cronológica dos movimentos artísticos na
Enciclopédia Larrouse L`Art et le Homme e em Calado, Maria na sua obra A A rte Fala 12º
11
Referência cronológica em Cadernos de História de Arte 6,7,8,9 e 10
12
Com base em Rocha, Carlos Sousa; Teoria do Design 11º ano e A arte fala 12ºano de Maria Calado

9
Daqui pôde-se então tirar a primeira conclusão acerca do lugar do pós-
modernismo quanto ao seu lugar na história e sua relação com o passado.

Mas que diferenças teve o pós-modernismo face ao modernismo na


arquitectura?
Primeiramente o espírito e a atitude: no mais antigo o único e exclusivo
objectivo era servir o homem e mais nada, no actual isso não é posto de parte
mas tem menor relevância, existe é de facto um recorrer a valores puramente
emocionais como a ironia, os jogos visuais, o Kitsh, o humor.
A arquitectura reflecte de facto os ideais pós-modernos de Lyotard na sua
grande liberdade, bem patente num grande ecletismo de propostas, e
sobretudo na sua comunicabilidade e universalidade.
O artista é livre de criar o que quiser e sem limitações, recorrendo à ajuda das
novas tecnologias, criando a chamada linguagem “high tech”, como bem
demonstra a obra de Sir. Norman Foster onde surgem até referências
cinematográficas (mais precisamente do filme “Star Wars”!). Aqui também
existe sintonia com Lyotard, tendo em conta que este defende o
desenvolvimento intrinsecamente ligado à tecnologia.
Mas a arquitectura é sobretudo mais comunicativa, em relação ao ocupante,
face à sua antecessora moderna. É aqui que de facto entra a influência que
Lyotard teve na arte, neste caso a arquitectura.
Hundertwasser, arquitecto austríaco pós-modernista, afirma que a arquitectura
modernista, com as suas constantes linhas rectas (que são para ele “produto
do medo e do conservadorismo”), não transmite qualquer emoção ao seu
utilizador, é passiva, discreta demais, não comunica nada.
Já a pós-moderna situa-se num plano oposto. Com todas as suas evocações
emocionais referidas e recorrendo à sua monumentalidade e exuberância na
escolha de materiais exóticos e caros (que tornam a arquitectura impossível de
passar despercebida ou indiferente) é de facto comunicativa. Mesmo que seja
gerando desprezo e polémica a muitas pessoas, é incontornável que está a
comunicar.13
A sua universalidade não está apenas reflectida na sua “arte” de comunicar.
Outras formas são utilizadas para exortar este aspecto. Por exemplo: o
HongKong Shangai Bank, também de Sir. Norman Foster, foi construído em
várias partes que vieram de países como a Grã-Bretanha, Japão, Áustria, Itália
e EUA. Atinge-se uma nova escala, um edifício verdadeiramente mundial…
universal.14
É bem verdade que esta arquitectura está muito ligada ao presente e ao futuro,
mas também o está em relação ao passado.
Essa referência está bem evidenciada nos elementos formais de cada edifício
pós-modernista.
Repare-se no parque projectado por Bernard Tschumi (figura 4), são evidentes
as referências do passado, nomeadamente no Classicismo, com a presença do
frontão15.

13
Afirmações de Hundertwasser em Manifesto do Bolor Contra o Racionalismo em Arquitectura, de 1958
e retirado do livro Teoria do Design 11º ano de Rocha, Carlos Sousa
14
Dados com base em Jencks, Charles no seu livro What is post-modernism
15
Informações retirada de Jencks, Charles em What is post-modernism

10
fig.4- Bernard Tschumi, Parc de la Villette

Até mesmo em Portugal com o exemplo dos edifícios dos Amoreiras de Tomás
Taveira em que surgem-nos frontões clássicos e colunas como referências do
passado.(figura 5)
Mas não existe uma simples cópia, o que acontecesse é uma reinterpretação
desse passado, formalmente reflectida na estilização desses elementos.
O que acontece é uma “pós-modernização” desses elementos, agora mais
comunicativos e formalmente adequados com o nosso tempo.
Mas esta não é a única forma de o pós-modernismo na arquitectura se associar
ao passado, os arquitectos recorrem também ao uso de materiais tradicionais,
como cerâmica ou tijolo a cobrir fachadas.

fig.5- Tomás Taveira, Torre das Amoreiras

Mas isto não fará com que se perca a originalidade, já que não cria algo de
totalmente novo baseando-se no passado? O uso de materiais tradicionais não
será incoerente com o seu tempo? Não são materiais caracterizadores do
nosso tempo e além disto existem materiais melhores actualmente.
Tudo isto também parece já ter acontecido no passado, embora de forma um
pouco diferente. Refiro-me à arquitectura revivalista/eclética do século XIX.
Esta arte não esteve em sintonia com o seu tempo, a arquitectura ansiava uma
revolução e voltou para trás…para a Idade Média.

11
Além disso era uma arquitectura de fachada e usava uma estética antiga
usando novos materiais (ferro, vidro ou aço) e métodos de produção
industriais16. A meu ver era uma arquitectura em que não existia coerência
entre tecnologia e estética.
Então e posto isto o pós-modernismo arquitectónico não estará a seguir o
mesmo caminho? Como se sabe o ecletismo foi uma fase de transição para o
modernismo, um período praticamente nulo em inovação estética, pelo menos;
esse facto tornará o movimento em questão com esse mesmo carácter de
quase nulo?
Penso que não, o pós-modernismo não faz uma cópia simplista e revivalista do
passado, como fez a arquitectura do século XIX, e é inovador no facto de ter
sido, a meu ver, o único movimento a conciliar passado, presente e futuro.
Se no passado se fez arte com qualidade, porque é que não haveremos de
seguir essas referências, já que, como referi, são muito positivas e contribuem
para o presente?
Mais até, Hundertwasser condena o pós-modernismo mas a verdade é que o
pós-modernismo não vive sem o modernismo.
Portanto, tal como o gótico na Idade Média baseou-se no seu antecessor
Românico, o pós-modernismo tem as suas bases no modernismo, completando
este último, acrescentando-lhe novos valores.
O ser humano é um ser em constante evolução, incapaz de estagnar e é de
uma ambição intrínseca; irá sempre buscar coisas novas, inovar e a estética
não é excepção. O pós-modernismo arquitectónico é o resultado de um não
contentamento com o que o modernismo lhe oferecia, mas não total. O homem
não despreza este último, quis foi mais além deste último e assim nasceu o
pós-modernismo.
Tem lógica que assim aconteça.
Importante de se referir é a sua universalidade

V- CONCLUSÃO
16
Informação importada de Calado, Maria em A A rte Fala 12º

12
Posto tudo isto respondo à questão: “pós-modernismo: transição ou
originalidade?”
Sem dúvida alguma…originalidade!
É um movimento coerente, com fundamentos teóricos e em sintonia com a
sociedade actual: a sociedade da comunicação e da universalidade e
aproximação entre culturas (o modernismo não o foi e a estética pós-moderna
é a primeira a um nível verdadeiramente mundial).
É inovador, prova disso é o facto de nunca se ter feito algo igual e com estas
características na História e, porque não (?), a alguma polémica que causa em
torno de mentes mais “antiquadas”.
Em minha opinião o nome não é o mais adequado (tendo em conta toda a sua
especificidade muito própria e originalidade), “pós-modernismo” torna-o
demasiado ligado com o movimento anterior, e fica a sensação de ser um
período final do anterior.
Arte “moderníssima”? Arte “comunicativista”? Não me cabe a mim determinar
um nome para o pós-modernismo e provavelmente nunca irá mudar. Que fique
“pós-moderna”, o que interessa é que continue uma arte com todas estas
características e que o seu constante desenvolvimento seja frutífero no
preparar da próxima geração, ou movimento, artístico; que certamente
acontecerá!...

VI- BIBLIOGRAFIA:

13
-Notícias Magazine, suplemento do Diário de Notícias de 9 de Setembro
de 2001

-Lyotard, Jean-Francois. Note on the Meaning of 'Post-Modernism. 1985.


Docherty, Thomas, ed.

-HARVEY, David. Condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as


origens da mudança cultural. 3ª ed. São Paulo: Loyola, 1993.

-Gilles Lipovetsky, A era do vazio, pp. 9-11

-Lyotard, Jean-Francois. A condição pós-moderna. Gradiva editores.


Lisboa 1989

-Calado, Maria. A arte fala12ºano. Areal Editores. Porto 1998

-Pinto, Ana Lídia; Meireles, Fernanda; Cambotas, Manuela Cernadas.


Cadernos de História de Arte 4,5,6,7,8,9 e 10. Plátano Editora. Lisboa
1998

-Jencks, Charles. What is post-modernism? 3rd rev. enlarged ed. London


1989

-Rocha, Carlos Sousa. Teoria do Design 11º. Plátano Editora. Lisboa


1998

14

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