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SENADO FEDERAL SF - 201

SECRETARIA-GERAL DA MESA
SECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 01/06/2011

O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (Bloco/PSDB – SP. Para


discutir..) – Sr. Presidente, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, volto à tribuna, depois
de encerrada a discussão dos pressupostos de admissibilidade, em que, aliás,
pudemos observar o silêncio ensurdecedor da maioria governista, para discutir o
mérito da Medida Provisória nº 517.
E pergunto, Sr. Presidente, discutir o quê? E discutir para quê?
Discutir o quê, se são tantos e tantos os temas misturados nessa barafunda
desconexa empacotada na medida provisória, que não sei qual deles selecionaria
como objeto da minha intervenção.
Claro, evidentemente saltam aos olhos aqueles mais gritantes, os
absurdos maiores. Aquele, por exemplo, que concede incentivos fiscais para as
indústrias que desenvolvem usinas nucleares. Já foi apontado, por vários oradores,
o anacronismo desse dispositivo no momento em que a Alemanha, de onde se
originou, aliás, a tecnologia da nossa primeira usina nuclear – a Alemanha é um
país que tem 30% da sua matriz energética baseada no nuclear –, resolve encerrar
suas atividades até o ano de 2022.
Mas não apenas isso. Os jornais de hoje trazem a notícia de que o
Governo, que mandou para cá esta medida provisória, decidiu adiar, sine die, as
quatro novas usinas que estavam programadas para serem construídas quando
ficar pronta a usina de Angra 3, em 2015. Esse mesmo Governo pede urgência
para aprovar esses incentivos para o desenvolvimento da indústria nuclear.
Outro absurdo gritante, evidentemente, que é objeto de um destaque
que apresentei à MP foi suficientemente debatido, embora tardiamente, aqui no
Senado, na Comissão de Infraestrutura, numa audiência pública promovida por
requerimento meu a respeito da Reserva Global de Reversão.
Estiveram presentes representantes do Governo, do Instituto Acende
Brasil e dos grandes consumidores. Eu diria que faltaram os representantes dos
pequenos consumidores, os consumidores familiares, as pessoas, as famílias que
pagam a conta de luz, que será mais salgada a partir da data de hoje, que já foi
encarecida há alguns dias, quando o Congresso Nacional, a mando da Presidente,

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deu um presente ao governo paraguaio, triplicando o preço da energia consumida


no centro-sul e importada do Paraguai. Esses são os absurdos mais gritantes.
Agora, o Congresso e o Senado, especificamente, ficam
impossibilitados de discuti-los. Vejo aqui itens que poderiam merecer uma visão,
digamos, positiva por parte da oposição, quando o Governo propõe incentivos nas
alíquotas de PIS/Pasep e Cofins para o modem para o Plano Nacional de Banda
Larga. Por que não examinar? Para que talvez, com isso, esse Plano Nacional de
Banda Larga saia do papel finalmente.
Mas há outros sobre os quais não tenho sequer condição de opinar.
Por exemplo, a desafetação parcial de uma reserva particular do patrimônio natural
no Estado do Amapá mereceria uma discussão aprofundada na Comissão de Meio
Ambiente; a extinção do Fundo Nacional de Desenvolvimento; a extensão de
benefícios fiscais para um sem número de atividades econômicas no apagar das
luzes do governo anterior, exatamente no momento em que o Brasil vive uma das
mais graves crises fiscais da sua história. Mas é impossível discutir uma a uma.
Estão todas empacotadas e amarradas umas às outras. E a maioria
governista é levada por essa corrente a votar “Sim”, mesmo contrariando os
interesses das regiões que representam e dos Estados que representam, como é o
caso de alguns dispositivos que afetam seriamente a economia da Zona Franca de
Manaus e que contrariam o ponto de vista dos representantes da Amazônia no
Senado da República. Mas a maioria governista se vê obrigada a votar.
E a oposição sequer se vê estimulada a discutir. Não há momento
mais bonito na vida parlamentar que o momento em que a discussão promove o
esclarecimento, em que há um livre entrechoque de opiniões que, muitas vezes,
altera posições cristalizadas baseadas em fronteiras partidárias ou no campo que
divide a situação da oposição. O Presidente desta Casa, o Senador José Sarney, já
deve ter vivido momentos como esse na sua longa e profícua vida parlamentar. Eu
também os vivi, mas aqui não há espaço para o convencimento; para troca de
opiniões; não há espaço para o diálogo; não há espaço para o contraditório; existe
apenas espaço para o rolo compressor.

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Eu não diria que esta medida provisória é um Frankenstein. O


Frankenstein é um personagem de ficção. Frankenstein, hoje, chega até a ser um
personagem inocente e divertido, pois as artes visuais foram capazes de criar
monstros muito mais assustadores. Ela é, na realidade, uma medida nefasta no seu
mérito e também na forma pela qual é submetida ao Congresso.
Agora, Sr. Presidente, no fundo, existe uma concepção da relação
entre o Legislativo e o Executivo que foi expressa recentemente pelo Secretário-
Geral da Presidência, o Ministro Carvalho, quando disse que o Governo pode viver
perfeitamente bem sem o Congresso. Eles precisam do Congresso apenas para
carimbar essa maçaroca de papéis que nos remetem sob a forma de medidas
provisórias. O Congresso serve, sim, para evitar a convocação de personagens do
Governo embaraçados na hora de explicar como ficaram milionários do dia para a
noite. Para isso, servem o Congresso e a maioria governista. No mais, não servem
para nada, aos olhos do Governo.
O desprezo é tão grande, que a Presidenta da República e o seu
Ministro Chefe da Casa Civil disseram ignorar a tramitação nesta Casa de uma
proposta de emenda constitucional que altera o regime e o rito de tramitação das
medidas provisórias, proposta de iniciativa de ninguém mais do que o Presidente
desta Casa, do Presidente do Congresso Nacional. A Presidente da República
alegou total ignorância, e o Chefe da Casa Civil, aquele que é encarregado de levar
ao conhecimento da Presidente, ao Chefe do Executivo, as questões que são
examinadas pelo Congresso, para que ela possa orientar a sua base parlamentar,
aprovando-as, rejeitando-as ou modificando-as; o Chefe da Casa Civil, preocupado
em explicar o seu enriquecimento súbito e vertiginoso, confessa que também não
tomou conhecimento da proposta de autoria do Senador José Sarney.
Assim, a vida vai levando-nos, como disse o nobre Senador Cristovam
Buarque; vai levando-nos para um abismo institucional do qual nós nos daremos
conta, quando já estivermos no fundo. Por isso, vamos votar “não”.

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