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2008/2009
PARTE IV
O DIREITO CONSTITUCIONAL DO ORDENAMENTO JURÍDICO
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CAPÍTULO 3º
Individualização e análise de algumas categorias de actos legislativos
I – Leis da Assembleia da República
Sumário
na norma relativa aos “actos normativos”, isto é, o artigo 112.º, em especial o n.º 2
que faz expressa referência aos decretos-leis que “desenvolvem bases gerais dos
regimes jurídicos”. Como já se compreende, a lógica inerente a este tipo de leis – as
leis de bases – é da existência de vários níveis de competência legislativa da
Assembleia da República, sendo claro que se, por vezes, o parlamento reserva para si
a densificação total do um determinado regime jurídico, em outros casos, entendeu o
legislador constituinte que “basta” um nível de densificação intermédio ou mesmo um
nível “mínimo” de definição das “bases gerais” de um determinado regime. Com este
princípio de reserva legislativa de bases gerais desejou-se, então, assegurar uma
intervenção legislativa primária da Assembleia, mas, ao mesmo passo, e sem
necessidade de autorização legislativa, permitir a intervenção do Governo nessa
mesma matéria. Embora as leis e os decretos-leis via de regra tenham igual dignidade
hierárquica, este tipo de leis (as leis de bases) constitui uma das excepções à regra
geral, já que estas adquirem primariedade material e hierárquica, com a
correspondente subordinação dos decretos-leis de desenvolvimento (cfr., a este
propósito o artigo 112.º, n.º 2 e o artigo 198.º, n.º 1, alínea c) já referidos). Esta
subordinação do acto legislativo emanado pelo Governo ao acto legislativo da
Assembleia tem dado origem, nos últimos anos, a vários acórdãos do Tribunal
Constitucional, no sentido determinar a qualificação do vício da desconformidade do
decreto-lei em relação à lei de bases..
Um outro tipo de leis com valor reforçado são as chamadas leis de autorização ou
de delegação. Mediante este tipo de actos, a Assembleia da República habilita o
Governo a emanar actos legislativos em matéria da sua reserva relativa de
competência legislativa (cfr., CRP, artigo 165.º CRP). Assim, o objecto das leis de
autorização deve coincidir com a função legislativa do Parlamento (excluindo-se as
autorizações em funções de fiscalização ou políticas do parlamento, mesmo quando
estas últimas assumam a forma de lei) e o seu destinatário é o Governo ou (depois da
revisão de 1989) as assembleias legislativas regionais (cf. art. 227º/1c). Há, como já
se vê, pelo menos duas semelhanças entre as leis de autorização e as leis de bases,
1. Leis estatutárias
2. As leis reforçadas
controlável, não nos permite, no entanto, proceder a uma individualização deste tipo
de leis.
PALAVRAS-CHAVE
- conceito de lei constitucional
- lei estatutária
- lei orgânica
- lei de autorização
- lei de bases
- lei de enquadramento
- sentido e caracterização das leis com valor reforçado
SUGESTÕES DE ESTUDO
J. J. GOMES CANOTILHO, Direito Constitucional e Teoria da Constituição, Almedina, Coimbra, 7.ª ed.,
p. 747-787.
CARLOS BLANCO DE MORAIS, Curso de Direito Constitucional, Coimbra Editora, 2008.