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Introdução
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Programa de Pós-Graduação em Filosofia – PUCPR (especializando) / Irmandade
Santa Casa de Misericórdia de Curitiba (agente de pastoral e secretário do GTH).
instituições, tanto na esfera pública como também nos demais
campos de atuação social.
É importante frisar, todavia, que os GTHs, ao desenvolverem
suas atividades dentro de uma determinada realidade hospitalar-
institucional, não estão isentos de defrontar-se com problemas
referentes à macrovisão estrutural dos processos e dos objetivos a
serem atingidos, os quais muitas vezes estão em plena contradição
com aquele conceito de humanidade própria do senso comum e
orientado por uma visão padronizada, massificada e irrefletida sobre
o sentido de ser humano. Poderíamos nos perguntar, a partir de tal
afirmação: o que fundamenta esse “ideal de humanização”?
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“La medicina es una ciencia; la profesión médica es el ejercicio de un arte
embasado en ella. Todo arte tiene una finalidad, quiere llevar a cabo algo; la
ciencia quiere encontrar algo, muy en general la verdad sobre algo: éste es su
objetivo inmanente, en el que podría detenerse. El objetivo de una habilidad, en
cambio, de una téchne, está fuera de ella, en el mundo de los objetos a los que
modifica y aumenta con otros nuevos, precisamente artificiales.”
garantida a fim de se atingir todas as esferas da saúde pública, desde
o Ministério da Saúde até as unidades referenciais do Sistema Único
de Saúde, pressupondo um construir coletivo, que envolva
concretamente todos os personagens que atuam na saúde.
O primeiro aspecto a ser levado em consideração nessa análise
do MS é o de que a palavra humanização, conforme o mesmo o
concebe, está diretamente ligada às relações que se estabelecem
entre as pessoas que interagem na vida em sociedade; a Política
Nacional de Humanização vem, portanto, em primeiro lugar, propor
uma renovação das relações interpessoais. O segundo aspecto está
inserido na proposição mesma de uma gestão democrática, que deve
estender-se entre todos os sujeitos envolvidos no processo: a
instituição hospitalar, o seu público e a comunidade em geral, bem
como junto aos funcionários, entre os mesmos e com seus gestores.
Entretanto, aquilo que não foi considerado como problema
primeiro da questão da Humanização na saúde pública brasileira, e
que nenhum desses dois parâmetros responde essencial e
analiticamente, é o questionamento profundo do que pode vir a
significar, sem condições de normalização, as palavras Humano e
Humanização. Posto que, se há algo a humanizar, é devido à
desumanização prévia desse mesmo algo, que nos leva a várias
perguntas sobre tal: O que se deve humanizar? O homem, a
estrutura, a sociedade? E por que se encontra desumanizado? Ou
ainda: qual o referencial que pode garantir que algo está humanizado
ou não, ou que existe um humano arquetípico com a possibilidade de
orientar tal humanização? O grande obstáculo que tal política
enfrenta, na verdade, é filosófica (se não metafísica): aprender a
olhar o ser humano percebendo-o como primeiro referencial de sua
visão. Em última análise, a exigência própria de que o ser humano
alcance sua realização plena.
Nesse sentido, propõe-se olhá-lo como um valor em si mesmo,
deontologicamente, e não como mero produto de uma sociedade
produzida historicamente por meio do conflito de saberes e poderes
diversos. E dentro desse âmbito é que deve-se compreender a
novidade da proposta do Ministério da Saúde. Ao apresentar uma
política nacional, quer unir esforços para que a visão tecnicista não
prevaleça nos serviços prestados na saúde pública, mas que se
desenvolva um processo de valorização da pessoa humana em todas
as suas dimensões. O problema da Humanização na saúde pública
trata-se de um problema especificamente ético. De uma crise ética
que já vem de longa data atingindo as instituições de atendimento
hospitalar, quer pela especificidade de sua área de atuação (técnica e
marcadamente científica), quer pela complexidade de suas
estruturas. Mas antes de tudo, é problema metafísico, de uma
metafísica desgastada e impensada que precisa retornar ao palco das
discussões e dar ao ser humano novo sentido e vigor. É nesse
momento que se faz indispensável recuperar a dignidade humana,
vendo na ética a chave para que tal objetivo possa ser alcançado com
êxito.
3. A crise do humanus
Bibliografia