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David Cohen
Pior do que ter passado por isso: você já deve ter-se surpreendido falando
assim.
Não é a primeira vez que se investe contra essa nova forma de expressão.
Gramáticos, por exemplo, são puristas por excelência e detestam qualquer desvio
da norma culta da língua. Em geral, eles “vão estar detestando” a invasão dos
gerúndios.
De onde vêm esses malditos gerúndios? Uma das hipóteses mais fortes é
que eles são uma adaptação brasileira da forma ing, do inglês. Americanos são
craques em usar e abusar do ing. Se for isso, é uma adaptação equivocada,
porque a forma ing não é o equivalente do nosso gerúndio. Ela pode ser gerúndio,
mas também particípio e até infinitivo. (Por exemplo: a expressão “I’ll be sitting
there” não equivale a “Eu vou estar sentando ali”, e sim a “Eu vou estar sentado
ali”. Thanks for coming, não é “Obrigado por estar vindo”, mas “Obrigado por vir”)
É por ter estrutura gramatical diferente que o inglês recorre tanto ao ing.
Verbos denotam ações. Quanto mais perto do sujeito da frase está o verbo,
mais a mensagem denota uma ação desse sujeito. Pode reparar em situações que
requerem objetividade, não há lugar para o abuso de gerúndios. Você imagina
uma assistente dizendo ao cirurgião, na mesa de operação. “eu vou estar lhe
passando a tesoura”? O gerúndio, que normalmente se interpreta como uma ação
que continua, vem sendo usado para alongar a frase, separando o sujeito do
verbo principal.
No caso dos gerúndios, cuidado com eles: você vai estar passando a
impressão de enrolador.
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