You are on page 1of 30
La 1S ETANMS DO PENSIMENTO SOCIOLOGICy Robinet, Dr. Novice sur oeuvre et la vie dduguste Comte, 34 ed, Patis, Soci&té Pos tiviste, 1891 Seillie, E. Anguste Comte, Paris, Vrin, 1924 ORRAS EM PORTUGUES Catecismo poritivista; ow sumdria expozigdo da religite da humanidade, traducio ¢ notas de Miguel Lemos, 2" ed., Rio de Janeiro, Igreja Pozitivista da Brazil. 19 Cavecismo poztivisie: ou sumdria exposigio da religide «la tumasidede, wadusao ¢ notas de Miguel Lemos, Sio Paula, Abril Cultural, 1973 (Os Pensadates 331, Comte, Auguste. Catecisoa positiista ox exposiede sumiria da religiao universal. on 2e coliquios sistemiticos entre uma muller e um sacerdote da Hummanidade, tq Adugdo € notas de Fernando Melro, Lisboa, PublicagBes Europa-Améziea, Curso de flosofia postivista, tradugio de José Arthur Giamiotti, 86 Paulo, Abril Cul tural, (973 (Os Pensadores 33) Diseurso sobre o espirito positive, tradugde de IA. G., Sio Paulo, Abril Cultural, 1973 (Os Pensadares 33), Karl Marx O pais mais desenwolvido induswiobnente masta aos que a.sequem na exeala industrial «imagem do seu proprio fuuro... Mesmo quanto una Sociedade hegre a descobrir a pista ca lei natural gue preside a0 seu mo vimento.. ele nde pode ulirapassar de tm sito nem abotir por melo de decretos as fases do seu desenvolvimento natural; pode, canta, redesr ‘operioda de gestogdo e minarar as males da sua grave © capital Profile & 12 edigdo atemd Para analisar o pensamento de Max procurarei responder is mesmas ques= Ges formuladas a propdsito de Montesquieu e de Comte: que interpretaciio Marx ide seu tempo? Qual a sua teoria do conjunto social? Qual a sua visio da his- “aria? Que relacio estabele logia, filosofia da historia e politica? Numn certo sentido, esta exposigao s dificil do que as duas preceden= tes, Se nfo existissem milhdes de marxistas, ninguém teria dividas sobre quis teriam sido as idéias diretrizes de Marx ‘Marx niio &, como disse Axelos, 0 filésofo da tecnologia. Também nfo & camo peasam muitos, o filésofo da alienacZo!. Antes de ma Jogo ¢ 0 econoinista do regime capitalists. Marx tinha uma teoria sobre esse ree igime, sobre a influéncia que exerce sobre os homens e sobre o devenir pelo ual passaré, Socidtoge e economista do que chamava de capitalismo, nfo tinha tuna idéia precisa do que seria 0 regime socialista, e nfio se cansava de repetif que © homem nifo podia conhecer 0 futuro antecipadamente. Nao tem mii interesse, portanto, indagar se Marx foi stalinista, trotskist Khruchtchev ou de Mao. Kari Marx teve a sor ilo hd um século, Nao deu respostas as questées que formulamos hoje. Podge mos procurar respondé-las por ele, mas as respostas serio nossas, niio dele, Uf homem, sobretudo umm sociélogo marxista, porque, apesar ce tudo, Marx tin algumas relagdes com o marxismo, € inseparivel época, Perguntaro que ignifica querer saber o quie um outro Marx teria pensaddy do verdadeiro Karl Marx. A resposta, contudo, € possivel, mas ¢ ale Yoria € de poco interesse. Mesmo se nos fimitarmos a expor 0 que o Marx que viveu no século Xb Densava sabre sen tempo, ¢ sabre 0 futuro, e no o gue ele pencaria do nob tempo e de nosso futuro, essa anilise apresentaré dificuldades particulates pi ‘uitas razdes, algumas extrinsecas, Is ETAPAS DO PENSAMENTO SOCIOLOGY As iffculdades extrinsecastém a ver com o destino pstumo de Mars Hoje aquase am bilo de seres humax so instruides puma doutrina que, com gy sem razio, se denomina de marxismo. (ima determinadainterpretagio da don. trim de Marx se trmsformou a ideologia oficial do Estado russo, © em seyui da dos Estados da Europa oriental edo Estado chines 1 doutrina oficial pretend oferecer uma interpretacdo auténtica do pe samento de Mars. Basta portanto que o socidlogo apresente ura cert interp tagio desse pensamento para que, aos olhos dos que seguem a doutrina ofica parse a ser visto como ports-Vo7 da bu 1 servigo do capitals e do Fnperialismo. Em outras palavras, a boa-fé que, scm muita dificuldade, me & a de Montesquieu ou de Auguste Comte, alguns me hegam antecipadamente, quando se trata de Karl Marx Oita diffculdade extrinseca provém das reagées & douttina oficial dos Es tados soviéticos. Essa doutrina apresenta as caractersticas de simplificagio ¢ ero insepardveis das doutrinasoficiai, que sio ensinadas sob forma de ca- tecismo a espirtos de qualidade heterogénea Por outro lado, alguns filbsofos sutis que vivem ds margens do Sena, por exemplo, e que desejariam ser marxistas sem precisarretornar & infncia, ima ginaram uma série de interpretagdes do pensamenta iltimo e profundo de Mar, cada uma mais inteligente do que a outta? De minha parte, no buscarei uma inferpretagio supremamente intelige te de Marx. Nao que nio tenha win certo gosto por estas especulagdes sus creio, porém, que a6 iing centrais de Mars sto mais simples do que as que se podem encontrar na revista Arguments, por exemplo, ou nas obras dedicadas fos escritos de juventude de Marx, escritos de juvenrude a que Marx dava tanta Jmportincia que os abandonow i eritica dos ratos’ Por isso, frei referencia es fencialmente aps textos que Marx publicau, © que sempre considerou como a principal manifestacio do seu pensamento Contudo, mesmo se deixarmos de lado 0 marxismo ca Unio Soviétia e dos snarastas mais suis, encontraremos algumas dificuldades intrinsecas. Estas di Ficuldades se relacionam primeiramente com o fato de que Marx foi um autor fecundo, que escreveu muito, © que, como acontece ds vezes com os socislr gos, escreveu tanto artigos de jornal como obras de Fileyo. Tendo escrito muito hem sempre disse a mesma coisa sobre os mesmos temas. Com um poueo de tngenho ede erudicio é sempre possivel encontrar, sobre a maioria dos proble ns, formulas marsistas que no parecem coneilidveis ou que, pelo menos, prestam a diferentes interpretagies Aém disso, a.abra de sia econémica, de historia; e, “crits eientficos parece estar em contradigio com a teoria implicita dos seus plo: Marx esboca uma certa fearia das classes livros hist6ricos. Por e ‘ys FUNDADORES is Car ase de Eaado de us Napotets cua hia a Comin Se aE eae ce va ewan Seater Bae eer oie miele fg es? a ae eae esa Bape Gai ae oncio rale erigsaa aaa ie oa sid trots de juventude ntre esses eseritos, encontramos umn agmento de uma erties da filoso- fia do dreto de Hegel, um texto intitulado Manuserito econdmico-filoséfice, A jbologia ater ‘As obras mais importantes desse periodo, gue ja eram conhecidas desde huio tempo, ineluem A sagrada familia € urva polémica contra Proudhon inti lulada Miscria da flosoft, replica do ivea de Proudhon: Filosofia da miséria Esse perioda de juventude se encerra com Miséria da filasofiae, sobre do,com a pequena obra eldssica inttulada Manifesto comunista,abra-prima da figatura soctoldgiea de propaganda, na qual encontramos expostas pela pri huts ver, de mancira tio licida quanto brilhante, as déias dretrizes de Marx Contudo, st ideologta alemd, de 1845, marea também uma ruptura com a fase {A pattr de 1848, ¢ até o fim dos seus dias, Marx aparentemente deixou de ser fldsofo, tomnando-se um soctlogo e, sobretudo, um economist. A mai tia dos que se dizem hoje mais on menos marxistas tem a peculiaridade de i ‘orara economia politica do nosso Tempo. E win faqueza da qual Marx no com- puttlhava. Com efeito, possuia admirdvel formagio econdmica, conheciao pe tho sentido rigoraso e cientifico do termo. No segundo periado da sua vida, as dus obras mais importantes sfo um intitulade Cuntribuigde ¢ orivica da economia politica e, natural- nisate, sua obre-prima, o centro do seu pensamento, O caprral Insisto no fate de que Marx é, antes de mais nada, 0 autor de O capital, porque essa banalidude €, hoje, questionada por homens muitissima inte les... Nio hi sombra de diivida de que Mars, que tinha por objeto analisar o fimcionamento do capitalismo © prever a sua evolugao, era, a seus préprios olhos e acima de qualquer outra coisa, 0 autar de O capital |S ETIPAS DO PENSAMENTO SUCIOLOGICY Marx tem uma cera visio filossfiea do devenirhistérico. f possivel, eae mesmo provivel, que tena dado um sentido Filosdico as contradigdes do cai falisma, Contado, 0 essencial no esforgo cientfico de Marx foi demonsita ‘entficamente a evoluglo, a scus clhos inevitivel, do regime capitalist, (Qualquer inerpretagdo de Mars que nfo eneontre um lugar para O cap ful, on que sein capaz de resumir esta obra em algumas pginas, é abetrane om relay que © proprio Marx pensou e pretendeu ‘Naturaimente, pode-se sempre dizer que um arande pensador se equivocou a respeita de si mesmo, e que 08 textos esseneiais 880 justamemte oS que ele nie teve interes em pulicar, Mas preci estar muito seguro da propria getin Tidade para te certeza de comprecnder win grande autor de modo Go supeio to da proprio autor, Quando no se est a0 certo da propria genial, € me thor comegar compreendendo o auc do modo como ele proprio se compreen dev, ito & no caso de Marx, colocanda no centro do marxismo O capt, em Ipc da Mannscrto econdmicofessifo, rascuno informe, mediocre ogni de um jovem que expecula sobre Hegel e sobre o capitalism, numa Epoca em gus Sequramente confecia melhor Hegel do que o capitalism. Porat, evans em conta os dois moments da carreira centifia de Marc tomare! como ponto de partids o pensamento da maturidade que rei procura no Manifesto comunista, na Conibuigto & ertea da economia politica © em 0 capital, reservanco para etapa ulterior a procure do substrato filosfieo do pensamento histricoe socil6aico de Marx inalmente fora da ortodaxia sovietica chameda marxismo, hé muita in- torpretagdes filosiiease socolduicas de Marx, Hii mais de um século, escoes diferentes tm a caracterstica comum de afirmar sua fliagio a Marx e dar ver front vo eeu ponsarnenio Ni tenaret expor aq peamento ie tho csecret, de Marx porgue, confesso, no sei qual € Provarare! mostrar pot jue os temas do pensamenta de Marx sao simples efalsamenteelaros ese pres tam. asim, a viiasnterpretagdes, ete as quais&quase impossivel escoler com espe se apreseniar um Marx heyetiano,pode-s também apresentar um Marx kansiano, Pode-s afm, como Sehumpeter, que a interpretagdo ecanmica da histria nada tema ver com o materialism filosieo!. Pode-se demonstra ta imiterilista, Pode-se Considerar O capital, como o fez Schumpeter, como uiia Ghia tigorosomentecientifica, de orem econémica, sem neninurna referencia Filosofia, E podem também, como o padre Bigo e outros comentaristas, mos ttar que 0 capital elabora uma fiosofia exsteneial do homem no campo da economia ? Minna ambiga Ser mostrar por ue, intinsecarnente, 0 extos dle Marx so equivocos, 0 que significa que tem as qualidades nec comentades indefinidamente, e transfigurados em ortodoxia. t f as FUYRIB@RES 129 “Toca teoria que pretende tornar-se idcologia de movimento politico, ot dou rng oficial de um Estado, deve prestar-se & simplifieagdo para os simples ¢ A su jileza para os sulis. Nao hi davida de qué 0 pensamento de Marx apresenta, em a supreme, essas virtues. Cada um pode encontrar somente o que pretend ‘Marx era incontestavelmente um socidlogo, nas um sociélogo de tipo des terminado, socislogo-economista, convicta de que no pocdemos compreender 5 sociedide moderna sem uma releréncia a0 funeionamenta do sistema econd= mnigo, nent compreender a evolucio do sistema econimico se desprezamos a teo- ria do funcionamento. Enfim, como socidlogo, ele no distinguia sio do presente ca previsio do futuro e da determinagio de agir: Comparativae menle as sociologias ditas objetivas de hoje, era, portanto, um profeta e um hhoniem de ago, além ce um cientista. Talvez, apesar de tudo, haja o mérito da fianqueza em no negar os lagos que encontramos sempee ligando a interpreta gio daquilo que é e 0 julgamento do que deveri A anilise socioeconémica do capitalisme (© pensamento de Marx é uma andlise e uma compreensdo da sociedade capitalista no seu funeionamento atual, na sua estrutura presente e no seu deve- ni necessirio, Auguste Comle tinha desenvolvido uma teoria daguilo que ele chamava de sociedade industrial, isto ¢, das principais caracteristicas de todas associedades modernas. No pensamento de Comte havia uma oposigdo essen cial entre as sociedades do passado, feudais, militares e teolbgicas, eas socie= {ades modernas, industriais e cientificas. Ineontestavelmente Marx também considera que as sociedavles modernas sio industriais e cientificas, em oposi« «a0 As soviedacles mililgres e eolbgicas. Pozém, em vez de pér no centro da suit intepretagio a antinomia entre as sociedades do pussado e a sociedade presen te, Marx fosaliza a eontradigio que the parece inereno i sociedade moderna, Je chama eapitalismo, Enguaito no positivismo os conflites entre trabulhadores ¢_empresicios sio fendmenos marginais, imperféigoes da sociedade industrial cuja correct & aivamente fel, para Marx esses contlitos enire os operirios ¢ os empresa sos ou, para empregar'y Vocubutirio marks, entre 6 proletariado e 0s capitis: lists so e fato mais importante das sociedades modernas, o que revela anaes za essencial dessas socie dae, 40 Mesmo tempo que permite prever o desene volvimento histrice: phen © pensamento de Marx & uma interpretagio do cariter contraditério ou) antagSnieu da sociedad eapialisia, De um certo modo, toda a obra le Mary 6 Um esforgo destinado a demonstrar que esse carver contraditério 130 Ly ETAPAS DO PENSAMENTO SUCIOLOGICO da eatrutura fundamental do regime capitalista e €, também, 6 motor do mo mento histérico. Os trés textos célebres que me proponho a analisar, o Mavtifiste comunis. 6 preficio da Contribuiedo @ critica da economia politica € O capital, sig maneitus de explicar, de fundamentar ¢ precisar esse carter antagénico do regime capitalista Se compreendermos bem gule o centro do pensamento de Mats € a afirma- «io do eardter contraditério do regime capitalista, entenderemos irmediataryen- te por que € mpessivel separar 0 socibloga do homiem de ugio, 58 que demons apitalista leva irresistivelmente a anuncior 1 autadestruigdo do capitalisme e, ao mesmo tempo. a ineitar os homens a con. iribuir com alguma coisa para a realizagiio desse destino jé tragado ‘0 Manifesto conunista € um texto que, se quisermos, podemos qualificar ‘o-cientifico, Trata-se de uma brochura de propaganda, mas ncle Marx e jéias ciemificas, trar 6 cariter antagénico do regime de ni ngels apresentaram, de forma sucinta, algumas das suas i central do Manifesto comunista €-a-tutade classes. Homer live exstavo. pci yankcro, nama pala 0p ims se eneooirarans 5 famte poi uma Ia sem Sav, oc. diac, trmava seme po ma irnsfornagGo revolucioniia de od Ho pla ulna Ges diversas clases em la, (Manfeso comnts piel) n Oeres, Eis oi, portanto, a primeira idéia decisiva de Marx: a bistéria humana se caracteriza pela luta de grupos humanos que chamaremos classes sociais, euja dlefinigio, que por enquanto permanece equivoca, implica uma dupla caracte- ristica, por um lado, a de comportar o antagonismo das opressores ¢ dos opr Indo, de tender a uma polarizagio em dois blocos, © somen- midos e, por outo I teem dois. “Todas as speiedaides send divididas em classes inimigas. a sociedad atual capitalista, no & diferente das que a precederam, No entanto, ela apresenta cer tus caracteristicas novas. Para comecat, 1 burguesia, classe dominate, ¢ incapaz de manter seu re- nado sem revolueionar permanentemente os instrumentos da produgio. “A bur miesia ndo pode existir”,esereve Marx, “sem transformar constantemente os ins rumentos de produgio, portanta as relagdes de produgdo, portanto o conjunto las condigdes sociais. AO contrarto, a primeita eundigao da existéncia de tous ns classes industriais anteriores era a de conservar inalterada 0 antigo modo de produto... No curso do seu dominio de classe, que ainda no tem um séoulo,s ia ctiou forgas produtivas mais macigas e mais colossais do que a8 que is FUNDABORES 131 sovim sido chs por todas as peragdes do pass, em conjunto” Ubi, pp Hat 67,)' Por out lado, as frgas de prolucao que levarao ao regime socis- ea eetio em processo de amadurecimento dentro da sociedade anil. No Manifesto comunisia sio apresentadas duas formas da contradig snaeristca da sociedde eaptalista, que, ais, encontramos também nas obras “jenificas de Marx A primeira éa contradigo entre as forgas.e as relagSes de produgio. A but= ues era incessantemente meins de-producio mais poulerosos, Mas as rela STeprnduedo, ist € 40 que parece, ao mesmo tempo as relagdes de Pro- asad ea distbuigio das rendas, nfo se ransformam no mesmo ritmo, O rene eapitilista € capa de produzir cada vez mais. Ona, a despeita desse a= fdas riquezas,a misérin continua sendo a sorte da maiora, MAparece assiny uma segunda forma de contradiglo, a que existe entre o squinento das rquezas ea miséria crescente da maioria. Dessa contradigao said aajia ou oviro, uma crise revolucionitia, O proletariado, que constitu e cons- iiied cada vee mais a imensa maioria da populagao, se constiturd em classe, iive, numa unidade social que aspira& tomada do poder e & transformacio das relagdes sociais. Ora, a revolucao do proletariado seri diferente, por sua natu- ween de todas as revolugdes do passado. Todas as revolugdes do passado eramn fstas por minorias, em beneficio de minarias. A revolugao do proletariado seré fata pela imensa maioria, em beneficio de todos. A revolugao proletaria mat- {ord assim o Fim das classes e do carter antagénico da sociedade capitalist Essa revolugdo, que provocard a supressto sinmllnea do capitalismo ¢ das classe, sera obra dos propries vpitalistns. Os eapitatictas nfo poder deixar de transformar a organizagao soeial. Empenhados numa concorréncia inexpiavel, no podem deixar de aumentar os meios de produgao, de ampliar ao mesmo tem- po o nimero dos proletrios e sua misér ditirio do canitalismo. festa no fiato de que 0 eresci- rabalba duplo proces sagio e pauperizagio. Marx ndo nega a exisiéncia de muitos grupos intermediirios entre os eapi- talistas e os proletirias, como artestios, pequenos burgueses, comerciantes, cam poneses, proprietirios de terras. Mas faz duas afirmagées: que, 4 medida que evolu o regime capitalista, havera uma tendéncia para a cristalizacdo das rela~ tes socfais em dois — ¢ somente dois ~ grupos, 0s proletiios e os eapitalistas; ‘ve duas ~ ¢ somente duas ~ classes representam uma possibilidade de regime ses intermedidrias nfo tém inicia- politico, e uma idéia de regime social, As clas ‘iva nem dinamismo historico. Sé duas classes tém condigdes de imprimir sua rmarea na sociedade, Una é a classe capitalista e a outra a classe proletaria. No dlia do canflita decisivo, todos serio obrigados a se alinhar seja com os capita- listas seja com os proletirios. zeke se traduzir pela elevacio do nivel de vida , Is ETIRAS DO PEWSIMENTO SOCIOLBGIE) Quando a classe proletdria tiver tomado o poder, haver uma ruptura decisi- yacom o curso da hisidria precedente. Com efeito, o cariter contraditirio de to. ts as sociedades conhecidas, até o presente, tera desaparecido. Marx escreve, ‘Quando, no euiso do desenvolvimento, os antagonismos de clases tiverem de- suparecidlo toda a produgdo estiver concentrada nas maos dos individias asso. ‘ndos,o pader piblico pordera seu cariter polio, No sentido estite do temo, b poder politico € poder organizado de uma clase para 8 opressio dé uma our, Be pa Tota contra a burguesia, 0 proletariado é forgalo x se uner em wma classe; se, peavds de unes wevoluedo, ele se constitel em classe dominante ¢, como ta, abole pela violencia as antigas relagdes de produgdo ~ ent2o, a0 suprimir sistema d producio, cle elimina ao mesmo tempo as condicdes de existneis do wntagonisine ie laces, endo, 10 suprimir as elasses em ger, ele elimina pelo mesmo ato su prépria dominagzo enquanto classe. A antiga sociedade burguest, com sts cls tse seus confitos de classe, seré substituida por uma assoeiagio em que livre desenvolvimento de cada unt seré a condigSo do Tivre desenvolvimento Ge todos, (Manifesto conurista, Octrres, tA, pp. 182-183.) Esse texto € bem caracteristico de um dos temas essenciais da teoria de Marx. A tendéncia dos eseritores do comego do século XIX é considerar a poli- fica on 0 Estado como um fenémeno st jo em relagiio aos fendmenos ais, econémicos ou sociais. Marx participa desse movimento geral;tam- considera que a politica e o Estado silo fendmenos secuncirios, com relagao ao que acontece na sociedade, Por issa apresenta o poder politico como a expresséin dos contflitos sociais. 0 poder politico € 0 meio pelo qual a classe dominante, a classe exploradora, mantém seu dominio e sua exploragao, ‘Nesta linha de raciocinio, a supresstio das contradigaes de classe deve levar logicamente ao desaparecimento da politica e do Estado, pois politica e Estado fo, na aparéncia, o subproduto ou a expressiio dos contites sociais. Eases sio os temas da visio hist6rica e também da propaganda politica de Marx, Trata-se de uma expressio simplificada, masa ciéneia de Marx tem por fim demonstrat rigorosamente esas proposigdes: 0 cariter antagdnico da sociedade capitalista, a autodestruigho, inevitivel dessa sociedade contradit6ria, a explosto revolucioniria que poré fim ao cariter antagdnico da sociedad atual ortanto, 0 centro do pensamento de Marx é a interpretagio do regime ea pitalista enquanto contraditori, isto é, dominado pela luta de classes, Auguste Comte considerava que faltava consenso i sociedade do seu tempo por cause da justaposigdo de instituigdes que vinham das sociedades tcol6gioas e feudais CG instituigdes da sociedade indusuial. Obscrvando & cua volta exsa falta de con senso, procurava no passado os principios de consenso das sociedades histor Gas, Marx observa, ou pensa observar, a luta de classes na sociedade cupitalst ,s PUNDADOKES 133 «eencontra em diferentes sociedades histérieas equivalents & Inta de classes do presente SSenundo Marx, 0 Iula de classes tenderd a uma simplificagio. Os diferentes repos sociais se polarizario em tomno da hurguesia ¢ Go protetarindo, ¢ € 0 de srwalvimento das forcas produtivas que ser o motor do movimento historico, oando, pela proletarizagao e pela pauiperizacio, 4 explosio revoluciondria € a0 Sovaimento, pela primeira vez na histOria, de uma soviedade no-antagdnica. A partir desses temas gerais da interpretagao histériea de Marx, temos duas tnrefas » cumprt, dois fundamentos a buscar. Ein primeiro lugar, gual é, no pen~ ramento dé MurX, a teoria geral da sociedade que exp! onirad waodade atual e o cartler antagonico de todas as sociedades c ‘anda Tagar, qual a esirutura, qual o finicionamento, qual a evolugao da socieda- ‘Je capitalista que explica a luia de classes ¢ o final revolucionrio d contradigies da pitlista? re Fim outas palavras, partindo dos temas marxistas gue encontrams no Ma~ nifesto comunista, precisamos explicar: laLteoria geral da sociedade, isto é, aquilo a que se chama vulgarmente aterialismo histovico; as Kiélas econdmicas essenciais de Marx, que encontramos em O capita (proprio Marx, num texto que ¢ talvez 0 mais eélebre de todos os que es- creveu, resumit o conjunte da sua concepso sociolégica. No preficio da Con- inbuigdo a critica da economia politica publicada em Berlim, em 1859, ele assim se exprime Eis, em poucas palavras, 0 resultado geral a que cheguet € que, uma vez al cangado, servin-me como fio condutor para meus estudos. Na produgao social dia sua existencia, os homens estabelecem relagOes determinadas, necessiias, inde pendentemente da sua vontide. Estas relagies de produgdo correspondem a um cer= fo grau de evolugdo das suas forgus proutivas materiais, O conjunto de tas rela es Forma a estrutura eeondmica da sociedade, 0 fundamento real sobre © qual $e Tevanta um edificio jurdio e politico, @ a0 qual respondem formas determinadas. da conscignecia social. O modo de produce da vida material domina em geral odes senvolvimento da vida social, politica e intelectual, Nao &a conseiéneia des homens ‘que determina sua existéncia, mas, an contro, & sua existéacia social. que dete Tiny a sua consciéncia, Num cerio grau de desenvolvimento, as forgas prodativas iMateriais da sociedade colidem com as relagbes de prochicio existentes, ou com as relagBes de propriedide dentro dis quais se vinham movimentando até aquele momento, ¢ que nfo passam da sia expressio juridica. Essas condigies que ainda fantem eam formas de desenvolvimento das Forgas produtivas se transformarn au0= ra em sésios obsticulos. Comega entao uma era de revelugdo social. A transforms Gio dos fandamentos econdmicos & acompanhada de mudanga mais ou menos: 4S EWS DO PENSIMENTO SOCIOLOGICO lorie eulficio. Ao considerarmos tais mudanens. € precisy pia em toda €58¢ ‘Tasinguir duns ordens ck Goist, HA a transformaczo material das condices de pro garde econémiea, que se deve eonstatar como espirito rigoroso das cléncis natu amber as fortnas juridicas, politcas, religiosas. atisticns, Flosofi- rae ina, as formas idcoldgicas com as quais 98 homens tomam consciéncia Geese config a levam até o fim, Nao se julga mina pessoa pela idéia que tem de Si propria. Nao se july ua época de revolugdo de avordo conta consciacia que sere desi mesma, Esta eonsciéncin pode ser mais bem explieada pelas contrac ‘Jades da ica material, pelo conflite que opie as forens produtivas socials © as fades de produgde. Niinea rma sociedade expira antes de que se desenvolvam fs que ela pode comportat: nunea se estabelecem relagies ras, Mas hi toulas as foreas produ {de produgae superires sem que as condigBes maternis du sua existencia tenham seetido no propria seio da untiga sociedade. A humanidade nonea se propbe tare. Jas que io poss realizar, Considerando mis afentamente as coisas, veremos sem vrefa surge la onde as condigBes materiais da sua realizagio j se forma vpn ou estao em vias de sc erar. Reduzidos a su grandes linha os modos de pro- Jucdo astico, antigo, Fevdal e burgués moserno aparecem como éPoeas Proges See a Tormagio econdmica da scciedade, As relagdes de producio burmuesss See stim forma antagénica do processo social da producdo, NBo se tata aqul Je um antagonism individual; n6s 0 entendemos antes como o produto das con- digdes socais da existéncie dos individuos: mas as forgas prodativas que se desen eavem ne seiw da sociedade burguesa eriam a0 mesmo tempo as condigdes mi Vis proprias para resolver esse antagonismo, Com esse sister social, encerri-se portago a pe histria da sociedad humana. {Contibulyde devia da economia patitioa, Introdugio, Oewres, tf pp. 272-275.) Encontramos nessa passagem todas as idéias essenciais da interpretacio econémica da hist6ria, com a tinica reserva de que nem a nogio de classes nem G conceito de Juta de classes aparecem ai explicitamente, No entanto é Facil reintroduzi-los nessa concepgio geral. 1) Primeira idéiae iia essencial: os homens entram em relagies deter: das, necessirias, que sio independentes da sua vontade, Em outras paliviss conv seguir o movimento da histéria analisando a estrutura das sociedades, ge forgas de produgao e as relagdes de produgiio, ¢ nao adotando como origem Ga inerpretagio o modo de pensar dos homens. Hé retagdes soeais que se impoem sos individuos, nio se levando em conta suas preferéncias. A compreensio do sso histrico esti condicionada & compreensio de tais relagies sociais s- proce pra-individuais >) Fm toda sociedad tura, e'a superestrutura. A pi pelas relacé pdugio; na supe politicas, bem como os modos de pen Jemos distinguir a base econdmica, ou inffa-estt icira & constituida essencialmemte: clas forqas# trutura figuram as instiuigSes juridicas ¢ 1, as ideologias, as filosofias ps FUNDADORES a 3) 0 motor do movimento histrico é a contradigdo, em cada momento da pisra, entre as foreas eas rolacdes de produsio, As foreas de produgao si, hye parece, esserciabmente a eapacidade de uma certa sociedad de produ 1p tapacidade que ¢ fungao dos conhecimentos cientificus, do aparethamento a soo. da propria organizacio do trabalho coletivo. As relacdes de producio, ‘Monae aparecem definidesprecisainente ness texto, arecem earacteizadas =~ aa almente pelas relagdes de propriedade, Existe, com efeito, a formula: “as “Sfpdes de produgdo existentes, ow aqulo que & apenas sua expresso juriica, rstagdes de propriedade dentro das quals elas atuaram até aquele momento”. se Mudo, a8 relagbes de producio no se confundem necessariamente com as fs de proptiedade, ou, quando menos, as telagbes de produgdo podem 1n- Vuie também a distribuigao da renda nacional, mais ou menos estreitamente de- scrminada pelas relagies de propriedade. [Em ouiras palavras, a dialética da historia € constituida pelo movimento das forgas produtivas, que entram em contradigao, em certas épocas revolucioné- sors com as relagdes de produgio, isto &, tanto as relagbes de propriedade como i dfetribuigao da renda entre os individuos ou grupos da coletividade. “4 Nessa contradigdo entre forgas e retagBes de produc, & facil introdu- ira uta de classes, embora o texto nfo faca alusio. Busta considerar que nos periods revolcionirios, isto é, nos periodos de contradiglo entre Forgas e rela USes de producto, una classe estd associnda is antigas relagDes de produto {ue constituem um obsticulo a0 desenvolvimento das forgas produtivas, enquan to outta classe & progressiva, representa novas relagdes de produgio que, em ea de serem aim obsticulo no eaminho do desenvolvimento de Forgas produti- vas: favorecerio ao miixiniy u desenvolvimento deceas Forgas Passemos dessas fSrmulas abstratas & interpreia¢ao do capitalismo. Na so- ciedade eapitalista, a burguesia esta associnda & propriedade privada dos meios de produgio e, por isso mesmo, a uma certa distribuigao da renda nacional. Em conttapartida, o proletariado, que consttui o outro pélo da sociedade, que repre- Senta uma outra organizagio da coletividade, se toma, num certo momento da bis- tiria, o representante de uma nova organizagao da sociedade, organizagio que serd mais progressiva do que a organizagao capitalista, Esta nova organizacao tmarcard uma fase ulterior do processo histérico, um desenvolvimento mais avan- ado das forgas produtivas. 53} Essa dialética das forgas e das relagdes da produgdo sugere uma teoria «tas revolugdes, Com efit, dentro dessa visio historica, as revolugSes no so ‘cidentais, mas sim a expresso de uma necessidade histérica, As revolugbes preenchem fangdes necess ge produzem quando ocortei determinadas condicbes, ‘As relagdes de produgao capitalistas se desenvolveram & principio no seiv dasociedade feudal. A Revolugo Francesa se realizou no momento em que as aoe Jy EUS DO PENSILIENTO SOCIOLOGICO owas relagies de prod’ wu de maturidade. elo menos nesse texto, Mi sagem do tapltutisme ao socialism. As Forgas de producto devern desenvolver-se 10 Scio Ge gaciediade capitalista; as relagGes de produglo socialistas devem amadurecer siedacke atual_ antes que se produza d revolugao que marcari o Finy da hhumanidade, Em fungiio dessa teoria da revolugdo, a II Interna- a para a atitude relativamente passiva, ns e das relagdes de produgio do jddade nunca colo. io capitalistas atingiram certo x prevé um processo andloge para a pa dentro da 5 pré-historia da clonal, a social-democracia, se inelinav Era preciso 0 amadurecimento natural futuro antes que ocorresse a revolugao. Marx diz que a humanidad 1 pole resolver: # socini-demoeracia tina medo de reali vais —€ por 1580, alids, que eli nunca a realizou, infra e a superesiry. cca problemas que zara revolucao cedo ck (6) Nesta interpretacio hist6rica, Marx nfio distingue $6 tura, mas também a realidade social ea consciéneia: ndo é a consciéncia dos homens {qe determina a realdade, mas, 0 contro, a realidade social que determina sua ‘cia, Dai a-concepcao de conjunto segundo # qual é preciso expliear a ma- fos homens pelas relagdes sociais is quais esto integrados. fe fumdamento para aquilo que hoje neira de pensar dl Proposigdes como essa podem secvir ds ‘chamamos de sociologia do conhecimento. "7) Finalmente, 0 Gitimo tema que esta incluido no texto: Marx esboga, em lungs tragos, as tapas da histéria humana. Assim como Auguste Comte dis- tinguia os momentos do processo do devenir humano segundo 0 modo de pen- sar, Marx distingue as etapas da histdria humana a partir dos regimes econGmi- tou, Determina quatro regimes ou, para empregar sua terminologia, quatro mo- _ddos de producto: 0 asidtica, 0 antigo,.o feudal ¢ 0 burgués = Fates quat7o fiodos de produgio podem ser divididos em dois grupos: ‘Os madios de preduedo antigo, feudal e burgués se sucederam na historia do Ocidente, Represeniam as tr8s etapas da histéria ocidental, caracterizadas por ddetermtinado tipo de relagdes entre os homens que trabalham. © modo de pro- ‘luca antigo é caracterizado pela escravidio: o modo de producto feudal peta Servidao; @ modo de produgdo burgués pelo trabalho assalariado. Eles co nem trés mados distntos de explorago do homem pelo homem,.O modo de pro- ducdo burgués constitui a tima Formaggo social antagbnica porque, ou na me- ddida em que, o modo de produgio socialista, isto é, a associagio dos produtores, ‘0 implica mais a exploraglo do homem pelo homem, a subordinacdo dos tra- bathaderes mantis a uma classe, detentora da propriedade dos meios de produ 40 e do poder politic. Por gutro lado, o mod de produgdo asiitico nfo parece constituir uma ela- pa da historia do Ocidente. Na verdade, os intérpretes de Marx tém discutide Jpeansavelmente a respeito da wnidade, ou falta de unidade, do processo hist ito, 4¢ 0 moda de producio asitico caracteriza uma eivilizagao dis- Tinhas de evolugio hist6riea sejam rico. Com at tinta da do Ocidente, é provavel que vari possiveis segundo os grupos humanos, 137 us FUNDADORES ‘Além disso, © modo de produgio asiftico nio parece definido pela subor- imgio de eseravos, de servos ou assalariados a uma classe proprietiria dos meios {fe produgio, mas pela subordinagio de todos os trabalhadores a0 Estado. Se interptetagaa do modo de produgao asiético é correta, sua estrutura social ao seria caracterizada pela Juta de classes, no sentido ocidental do termo, mas pela exploracio de toda a sociedade pelo Estado, ou pela classe burocritica. Percebe-se logo 0 uso que se pode dar & nogdo de modo de producao asid- tico, Pade-se conceber que, no caso da socializagio dos meios de produgio, 0 ¢a- pitlismo no conduza para o fim de toda a expleragio, mas paraa difusio do odo de produc&o asiitico, através de toda a humanidade. Os socidlogos que ‘su [avoraveis & sociedade sovisticn comentaram extensamente estas rrfe~ Jencias ripidas ao modo de produglo asiatico, Chegaram mesmo a encontrar, NOs eseritos de Lenin, certas passagens em que ele manifestava o temor de que uma revoluigio Socialista Tevasse nao ao fim da explorago do homem pelo homem, mas a instalago do modo de produgio asiatico, tirando dai conclusdes de or- dem politica facets de adivinhar’ Essas so, a meu ver, as idéias diretrizes de uma interpretago evondinica ddabistétia. Nao encontramos, até aqui, problemas filoséficos complicados. Cabe perguntar até que ponto essa interpretagiio & solidiria, ou no, com uma meta fisica materialista. Qual o sentido exato que se deve atribuir ao termo dialéti- ca?.No momento, é suficiente limitarmo-nos as idéias fundamentais, expostas por Marx, ¢ que contém umn certo equivoca, uma vez que a determinagao dos li- mites precisos da infra-estrutura e da superestrutura pode levar (e tem levado) a discussdes infindiveis. 0 capital tem sido objeto de dois tipos de interpretagio. Segundo alguns, como Schumpeter, ¢essencialmente uma obra de economia eientifica, sem im- plicagdes filos6ficas. Segundo outros. como o padre Bigo, por exemple, uma espécie de anilise fenomenoligica ou existencial da economia, e algumas pas: saens que se prestam a uma interpretacao filos6fica, como o capitulo sabre o felichismo das mereadborias, forneceriam a chave do pensamento de Marx. Sem entrar nessa controvérsia, direi qual € minha interpretago pessoal Creio que Marx se considerava um economista cientifico, & maneira dos cconomistasingleses em gue se baseou. Com efeito, ele aereditava ser herdeiro erltico da economia politic inglesa. Estava convencido de ter captado 0 que havia de melhor maquela economia, corrigindo-Ihe os erros ¢ ultrapassando suns Tinilagdes, aribulves dt eispectiva capitaista ou burguesa. Ao analisar © valor, to¢a, a exploragio, x mais-valia, o cro, Marx se eatoca como ecoro- 138 IS ETUPLS DO PENSAMENTO SOCIOLOGICO sista puro. Nao lhe ogorserig justifiear uma proposiglo ciemifica inexata ou iseutivel invocando urna intengdo filosdfica. Marx levava a sério a ciéneta, Contudo, Mars nia ¢ uit eeonemista classic, por razbes muito precisas, uc ele proprio revela, e que nbs permnitem compreender onde se situa sua obra Marx critica os economishis clissicos por terem considerado que as leis sonoma capitalisia eam universalmente vilidas, Ora, para ele cada regi As leis econdmicns clissicas no pas- leita, de leis do regime capitalista sy passa sim dain de uma teora cconémica universalmentevSlida para Wldindo sire espect/icn das fis de ead. esi ros cura lao, um reaime evondmico nfo pode ser compreenide abstrnn tne pon ns leis econdmicas consitvem a expressto absrata de relagBes so- Taitene denem um determinado modo de produgto. No regime capitalist, por cree, éa estrtara social que explica.o fendmeno capitlista essencia! da ex- ploraedo, e que determina a autodestruigSo inevtivel do regime capitalista G resultado & que Marx assume come objetivo expliear 0 modo de funcio- samento do regime capitaista, com base na sua estrutra social eo desenvol- false: O capital &um empreendimento grandioso e~ digamos nr sentido rete an empreendimento genial, destinado a explicarsimultanentmente 0 trode de funcionamento, a estutura social e a histria do regime capitalist Mon ¢ um evonomista gue pretend ser também um socidlogo. A compreen= eho do funcionamentn do eapitalismo deve permitir compreetder por que os fromons sfo explorades no regime da propriedade privada e por que esse regi mie etd condenado, por sas préprias contradigdes, a evoluirno sentido de uma fevolusao que 0 dest A andise do desenvolvimento © da histria do eapitalismo propareiona também uma visSo da historia da humanidade através dos modos de produgio. G vapital um liveo de economia que é, ao mesmo tempo, uma sociolgia do ‘ds humanidade, embaragada nos Seus pro- da me econémico tem suas proprias Ie sam, nas cireunsténcias em que capitalismo e uma hist6ria filosofica prios conflitos até o fim da pré-historia Uma tal tentativa é evidentemente grandiosa, mas acreseento imed mente que no creio que fenha dado certo. Alis, até hoje, nenhuma tentativa dessa ordem deu certo, A ciéncia econdmica ou sociol6gica de hoje dispde de anilises parciais vilidas do modo de funcionamento do capitalismo, dispae de anilises sociolégicas vilidas da condigJo dos bomens ou das classes num regime capitalista, dispde de certas analises historicas que explicam a transfor: magio do regime capitalista, mas no existe una tcoria de conjunto que vines le, de modo necessirio, estrutura social, modo de funcionamento, destino dos homens no regime, evolugio do regime. E se nio existe uma teoria que eo0si- (05 FUNDADORES zi 3 seja porque esse conjunto nio exista e a historia falvez nao seja to racional e necesséria ‘De qualquer forma, compreender O capital € compreender como Marx quis ne e descrever a condigao dos ho- en abragar 0 conjunto talve: ‘ro funcionamento & 0 devenir do re analisal mens no interior do regime, ‘O capital compreende trés livros. $6 o primeiro foi publicado pelo proprio Marx. 08 livros IL e III sfo postumos. Foram extraidos por Engels dos volumo- wee manuscritos de Marx, ¢ nfo foram terminados. As interpretagdes que er mos nos livros Ti e Hl se prestam 4 contestaco, porque algumas passa- tens podem pareeer rantraditrias. Nao pretendo resumir aqui o conjunto de er tapital, mas nia me parece impossivel separar os temas essenciais que slo. ids, aqueles que Marx eonsiderava os mais importantes, € também os que tive fam maior influéncia na hist6ri contra 6 primero desss temas & que a esséncia do eaptalisma 6, antes de tudo, a bused do aero Na medida em que se basis oa propriedade privada dos in dared predugio,o copitalismo ests Fandamentado também na busee do__ [neta pelos empresérios ou produtores ‘Pan, m soa dima obra, Stalin excreveu que a ei fundamental do eapi- alee tan busca do ue réximo, enquanto a le fondamental do socials: dean etsfagao das necessidades © a elevagl0 do nivel cultural deas, ele mn er ontenente, @pensamento de Marx do nivel do ensino superice para ree eyo ensino primar, mas nao ha divida de que reiterou o tema inicial da oialae nvacista, que vamos encontrar nas primeiras payinas de O capital, em Ge Marx opoe dots tpos de wor reece tipo de toca que vai da mereadoria & mercadora, passando ou so pelo dinero, Possitimos um bem de que no fazemos uso, oeamo-10 por se Paw de ue lemon necessidade,entregando 0 bem que possuimos aquele que arrmaga. uendo Tso se opera de modo direto,tata-se de uma simples toca Meee (rocn pode ser fit de modo indircto, por intermédio do diheiro, que éo equivalente universal das mereadorias ‘A troca que vai da mereadoria A. mereadoria. pod tamene inteligivel, imedistamente humana, mas. € tambén idente, Enquanto pastamos .e dizer, roca imedia- que no pro- ia para 9 merca- porciona [cro ou sx doria mantemo-nos nya relagio de igualdade, ‘Connido, hi um sezunda tipo de troea, que vai do dinheiro ao dinkeio, pas sando pela mercadori, com a particularidade de que no fim do processo de tr ta possums uma quantia em dinheiro superior aquela da fase inital. Este tipo. de teen que vai do dinheiro ao dinheiro passando pela merc: caracteris-_ fico do capitalismo, No eaptalismo, 0 empresirio ou produtor nde passa demi @ intl para ele para outra que The € til, por intermédio do 140 AS ETAPIS DO PENSNIENTU SOCIOLOGICO cia da troca capitalista consiste.em passar do dinhsito a0 di para ter, no fim do process, mis dinheiro do que nheiro; a es ro passando pea ni nh ponto de parti Para Mirx, este € 0 tipo de troca capitalista por exceléncia, ¢ 0 mais mise terinso, Como & possivel adquiriy pela troca o que no se possi ou, quando menos, ter mais do que o «ue se tinha no ponto de partda’? O problema prin. pal do capitalismo, segundo Marx, poderia ser assim formulado: gual a origa {do luero? Como € possivel um 1 4 busca do hue e em que, em surna, produtores & comerc Marx esté convencido de que tern uma resposta plenamtente satisfatéria pas ra essa questo, Com ateoria da mais-valia ele demonstia que tudo ¢ rocaco pelo seu valor, e que, no entanto, existe uma fonte de lucr. 'As etapas da sua demonstragio sao: a teoria do valor do salirio e, por fim, nes podem luerat? a teoria da mais-vati, Primeira praposiedo: a valor de qualquer mere porcional a quautidade de trabalho social médio nela eontida. & o que chamamos de {eoria do valor-trabalho. er ‘Marx no pretende que alei do valor seja rigorosamente respeitada em to ie qualquer troca, O prego de uma mereadoria oscila abaixo e acima do seu Nalorem fungio do estado da oferta e da demanda. Marx nfo s6 eonhece essas ia. Por outro lado reconhece que variagdes como afirma claramente a sua existe mereadorias $6 t8m valor na me Em outros tecmos, se houvesse trabalho cristalizada numa mercadoria, mas ne nihum poder de compra fosse dirigido a ela, esta mereadoria nfo teria mais v Tor; ieto 8, a proporcionalidade entre 0 valor e a quantidade dle trabalho prnss pe, por assim dizer, uma demanda normal da mercadoria considerada. Isso equivale, em suma, a deixar de lado um das fatores das variagBes do prego da mercadoria. No entanto, se supomos uma demanda normal para a mereadoria considerada, existe, segnndo Marx, uma certa praporcinnalidade enire 0 valor dessa metcadoria — expresso no prego — ea quantidade de trabalho social médio cristalizado nessa mereadoria Por que é assim? O argument esse) quantidade de traballo €0 xinico elemento quantficavel gue se deseobriu na mer caoria, Se consideramos o valor de uso estamos diante de um elemento rigo- rosamente qualitative. Nio é possivel comparar 0 uso de uma eaneta com o de uma bicieleta, Trata-se de dois usos estritamente niio podem ser comparaveis um com 0 outro. Como procuramos saber em que consiste 0 valor de troca das mercadorias, precisamos encontrar um elemento que seja quantificavel, como o préprio valor de troea, B, diz Marx, o iinica valor Qquantificdvel éa quaantidade de trabalho que est inserido, integrado, cristaliza~ al que Marx apresenta & 0 de que a ubjetivos e, sob esse aspecto, do em cada uma delas. mre ern que o motor essencal da atividade & ia medida em que existe uma demanda por elas. 141 anuatmente existe edu inc, 2.2, oe eneetinen da totaihe soca) Occ ae davon oso 0 geet sneer de Coniconeae: Cre Sas de vielia. Mars ee fzir esses diferentes 1pos de tubal ue-& 1 médio. Jor do trabalho pode seesmedida. camo o valor de qualguer mercadori. © salirio pazo pelo eapialsta a tal assaarit- seep cantFapartida da forga de trabalho que este altima Hh Wenile, equiv te quamtidade de Wabalho social necessério para produaie met@ndorias indis~ ponsiveis i vide do trabalhador e de sva familia O trabalho humane € Pago pelo rt valor, de acordo com a tei geral do valor aplicavel a todas as merendorias. Marx apresenia 10 come evidente por si meg, Ora, no rpalmente, quando se toma umia afirmiago como evident isto Sgifiea que el ‘Segunda proposica se presta i discussio. PiMlarx afirma: como 0 operitio chega ao mercado de trabalia para vender forga de trabalho, & preciso que cla seja paga pelo seu valor Bf Marx acre tenia que 0 valor s6 pode ser, nesse easo, 0 que ele & em todos 08 808, isto €, f valor medido pela quantidace de trabalho. Porém, no se tra exatamente da Gquantidade de trabalho necessria para prodzir um trabalhado 0 que 10s Faria ir do campo das trocas sociais para ingressar no terreno das troeas bioldy cas. preciso admitir que € a quantidade de trabalho que vai medir o valor da sun forga de trabalho o das mereadorias de que o operivio necessity, para sob viver ele e familia 'A dificuldade dessa proposigio ests em que a teoria do yalor-trabalho se baseia no eariter quantifiedvel do trabalho enquanto principio do valor, € que, na segunda proposigio, quando se trata das mercadorias neeessirias para a sub- ‘isi2ncia do operirio e de sua familia, aparentemente deixaese 0 terreno do quan tificavel. Neste timo caso, trats-se com efeito do montante definio pelos cos- fumes e pela psicologia coletiva, conforme o proprio Marx teeonlhece. Por isto Schumpeter afirmou que a segunda proposigio da teoria da exploracio io. passa de um jogo de palaveas 12 proposigdo: o tempo de trabalho necessisie para o operirio pro: dduzit um valor igual a0 que recebe sob forma de silirie-é inferior & dura cfeiva do Retrfabalho. O operirio produz, por exemplo, ein eco horas wm va lor igual ao que esti contido no seu salrio, mas na verdade trabalha dez horas Portanto, rabalha metade do tempo para si mesmo ea outra metade para 0 do= bo da empresa, A mais-valia & a quantidade de valor produzido pelo trabalha- io, iat 6, Ho tempo de trabalho neces dor aléin Uo ‘enipo Ue trabalho neces ‘io para produzir um valor igual 0 que recebe sob a Forma de salitio. eat Is erinas no PENSAMENTO SOCIOLOGICO a produzir o valor erstalizas do no salario €0 lho, O valor Srodido durante c sabustrabalho << Ea taxa de explore are dia pela ey rea masvaia. eo capital varie. ne € ere corresponde no pagamento do salério aye adimitirmos as duits primeiras proposigdes, teremos de aceitar logica mente a tereeim, desde que 0 tempo de trabalho necessirio para produzic 0 4 duraglo total do trabalho. an diferonga entre a jor parte da 0 capi valor encarnado no salir seja inferior Mare afirma, pura esimplesmente, 1 eaistencia de nade ie tabatho.e o bubalko necessirio, Esti convencico de que a jomada de ‘bathe do seu tempo, que e7a de 10 Horas, ds vezes de 12 horas, era muito Eparior A dutaeio do trabalho necessiro, isto é do trabalho necessério pam rar o valor enearnado no priprio salar. ‘A parts deste ponto, Marx desenvolve uma casuistica de uta pela duragio mero de fendmenos do seu tempo, em par coe fate de que os empresirios pretendiam so ter Iucro com a iltima ow as San Shimes hovas de trabalho. Sabe-sc, als, que ha um século que os empre> Gries protestam cada vez que se reduz a jormada de trabalho. Em 1919, legs sam que vom uma jornada de 8 horas no conseguiriam equilibra-se, Os ar var ee jos empresirios ustravam a teoria de Marx, que implica que © Inero $6 seja obtido na parte final da jorada de trabalho os jatem dois procedimentos fundamentals para aumentar a mais: qustng doo aseatariudos, ito 6, para elevar a taxa de exploragdo. Um consiste so prolongne a duracio do caballo; 0 outro, em reduzit o mss possvel ot tulle necessirio. Ui dos meios de conseguir reduzir a daracio do trabalho € sanenlar a produtividade, isto & produzir o valor igual ao do salitio num ‘Rinne nai euto. sso explica 0 mecanismo da tendéneia pels qual a economia ‘Shratista procura aumentar constantemente 2 produtividads da tabalho. 0 aaeteto dessa produtividade do trabalho proporeiona automaticamente uma radugto do trabalho necessério e, em conseqincia, uma evolugao da taxa de for mantido o nivel dos salirios nominais. issim a origem do lucro e o modo como um sistema eco- atmico, emt que tudo se trac de acordo com 0 seu valor, pode, ao mesmo fempa, produzit mais-vafa, iso é luero para os drios, Ha-uma mercadoria que my eain particularidade de ser paga pelo seu valor, ¢ 20 mesmo tempo pine ‘Stinais ue seu valor, €0 trabalho Mimano. Tie ndlise desse ipo parecin a Marx puramente cientifiea, j& que expli cava.elucro por umm mecanismo inevitive, igido intrinsesamente so ergine Cppitlst, Contudo ese mesmo Mecanismo se prestava a dendneios ea inves apt uma vez que, se tudo se pasar conforme a Tet do copitalismo, o aperitio balhando uma parte do seu tempo para si ¢ outa o trabalho, Invoca um grande imais-valia, se ‘Compreendem-se empres star sendo explorado. tr et eia aie 1s HUNDADORES 143 ante do Seu tempo para 0 capitalista, Marx era um clentsta, mas era também fun proves ees afta, num lembrete ripido, os elementos essenciais da teoria da ex porto Teoria que tem, para Marx, uma duplnimportineia. Em primeira har, nprece resolver ina dificuldade intrinseca da exonomia capitalists, que po- oe P ormlada nos seguintesfermos: via ver que nas trocas ha ignaldade de se pyes cal a origem do [ucro? Em segundo lugar, ao resolver um enigma cien- viene alate tem a sensacio de dar um fundamento Figoroso ¢ acional ao pro~ viper gontra um detertninado tipo de organizagio esandmica. Finalmente, sua (e0- nis exploragio di uma base soeiologtea, para usar lingu vonomnicas do funcionamenta da economia eapitalista ‘Marx aeredita que as leis econdmieas s20 historicas, e que exada-regi «as proprias Tes. A teorin da exploragio € umn exennpro dessos leis hist6ricas, poise mecanisio da mais-valia eda exploracio pressupoe a dstingSo d= clas twa sociedad. Uma classe, a dos emprestiios ou proprietarios dos meios de Jroucio, adquie a frca de traballo dos operirios. relagdo econdmica entre ipitalistase proletérios € fome2o de uma relagao social de poder entre duns ca- regorias sociais. vA teoria 6a mais-valia tem uma dupla fined, cientifiea e moral. A.conjun- aa desses dois elementos deu 10 marxismo uma influéncia incomparsvel, Os es- pirtesracionais encontraram neta uma satisfaglo,¢ 08 espritosidealistas ou re- vaitados, também. Esses dois tipos de satisfagao se multiplicavam um pelo outro sun avodderna, 3 tem |Até aqui analige! apenae o primeien liven de O capital 0 nica publicado durante @ vida de Marx, Conforme notei, dos dois livros seguintes, ele deixou tx manuseritos que foram publicados por Engels. 1 livra Il extuda a cireulagao do capital. Deveria explicar o funcionamen- vo do sistema econémico capitalista considerado como um todo. Em termos mmodernos, paderfamos dizer que, a partir de uma anélise microeconémiea da tatrutura do eapitalismo e do seu funcionamento, comtida no livro I, Mars teria SIaborado, no trro I, uma teoria wmacroeconémiea comparivel 0 Table deo siomigue de Quesnay, e também uma teoria dis crises, cujos elementos encon- tramos dispersos em varios pontos. Na minha opiniao, no hi em Marx ama ccoriageral das crises, & yerdade que ele tentou elaborar essa teoria, mas no & completou,e& possivel, a partir das indicagies dispersas do livro I, recoastruit drs teonas e atribui-las 2 Marx. A dnica idéia que nio se presta a dividas & {de gue, segundo Marx, o carter concorrencial anarquico do mecanismo cupi- lalista-e 2 necessidade da circulagae do capital eriam uma possibilidade perma hente de hate entre a produ € a tepartigao do poder de wanna, O que eau wale dizer que € da natureza de uma economia andrquiea comportar crises Qual 60 esquema, ou o mecanisrno, que faz. com que essas crises ocorram? Elas res { ETARIS DO PENSAMENTO SOCTOLOGICO io regulares ov imegularey? Qual a conjuntura evonGmica da qual brota a crise? Sobre todos esses pontos encontramos em Marx indicagbes, mas nio wma teo- ria acabada” ‘0 livra Ill é o esbago de wna teoria do desenvolvimento historico do regi andlise da sua estrutura e do seu funcionimento, me capitalista baseada Wa ‘0 problema central de livro THI é 0 seguinte: se consider omnia mais Ravers mais-valia eS “rou num determinado setor da Triutse setor Ou enkdo, ute a porcentagem do pal toil € mais eleva, Para Marx, 0 capital canstante é a parte do capital das empresas que corres. onde seja is miquinas, sja as matérias pris investidas na producto, No es {eematismo do liso I, o capital constante se transfere para o valor dos produtos som eriar mais-valia, A mais-valia provem toda do capital variavel, corresponden te ao pagamento dos sarios. A composigfo organien do capital € a relagio entre + capital variével eo capital constante, A taxa de exploracio &a relugdo ene & rmais-valia e o capital varidvel, ‘Se considerarmos, pois, essa relagio abstrata, caracteristica da analise es- quemitiea do livro I de O capital, chegaremos necessariamente & eonclusio de ue numa empresa ou tum setor determinado da economia avers’ mais-valia valia diminuiri na medida em que @ proporcional ao capital varidvel; a mai Composig3o orginica do capital evolu para a redugao da relagao entre capital varlivel e capital constante. Em termos concretos, deveria haver uma quantida- de menor de mais-valia na medida em que houvesse uma maior mecanizagzo dda empresa ou do setor, ‘Ora, salta aos olhos que ndo & o que acontece, e Marx tem perfeita cons- cineia do fato de que as aparéneias da economia parecem contradizer as rela ses fundamentais que ele postula na sta anise esquematica. Enguanto 0 tivto Til de O capital nao havia sido publicado, of marxistas © seus criticas se pet- guntavam: se a teoria da exploricio é villida, por que raziio as empresas © 08 a ttores da economia qué aumentam o capital constante, em relagio a0 capital vatidvel, conseguem maiores lucros? Em outras palavras, o modo aparente do fucro parece contradizer 0 modo essencial da mais-valia ‘A resposia de Marx é a seguinte: a taxa de lucro & cale qf 20 capital variivel, como a taxa de exploragio, mas com relagdo 20 conjuta do capital, isto é, a soma do capital constante ¢ do variivel. Por que motivo a taxa de lucro é proporcional no a mui conjunto do capital constante ¢ variével? © capitalismo niio poderia functonas, evidememente, s¢ a tana de luero forse proparcinnal ao capital varidvel. Com jualdade extrema da taxa de lucro, ja que em die nica do capital, isto &, a relagio fa nio com rela feito, atingiriamos uma desi onomia a composigao or rentes setores da snig mais trabalho houver numa determinada emp: 145 os FUNDADORES catre capital varivele capital constane, € muito diferent. Portanio, a taxa de Fae erpretagh valida, cmboru grosseira, da sinless feta por Marx ¢ deixa em aberto a maioria das ques- ipels. Mas essa anafise das inuénck ere ais importantes e, emt particular, a qu ¢ Mat. A ajordificuldade estd ligada, em primeiro lugar ¢ antes de qua}aver sunvenisn, a0 fata de que a inerpretacao de Hegel é pelo menos, Wo ome” a tsa de Marx, De acoro com o sentido que se aibua ao penssmenic a ey a duns coutinas podem ser aproximadss ow aftskodady 8 vontade leet oe méiodo facil para mostrar um Marx fegeliano que eonsiste 6m ayessentar um Hegel marxists. Esse método é empregado com um talento que apa cam a genalidade, ov com a misificagdo, por A: Kl-ve ‘Na sua inter- cee ae eatdrgo eo todo da umnnidade. A filosofia completon sun tacts ee cerca em levae& conscitnca explicia as experiénias de bumanidede ae on ede consciéncia das experiéncias da humanidade esti formulada.n2 ae mmiaata do expirto e na Enciclopedia”. © Womem, pore. depois 3e Se saesn vosagio. nfo realizou essa vorasio A filosofia& total enquanta tomada de conseiéneia, mas o mundo real no se ajusta 29 sentido que « Rlosofia atrbui existéneia do homem. © problema filosbfico-histérico ov slap pensamento marvisia seri portanto. 0 de saber em que condicdes © 0° tn histria pode realizar a voeaeo do honyem tal como a concebeu 2 filosofia hegoliana, r imcontestivel heranca filosbfiea de Mlarx € a conviegia de que o deve rirhistorieo tem uma signifieagdo filosOfica, Um neve regime econdmico ¢ 5° tial ndo & apenas uma peripécia que sert oferecida posteriormente 8 ur josidade Te Ay ETAPAS 10 PENSAMENTO SOCIOLE Cy desprendida dos historiadores profissionais, mas uma etapa do devenit da hy, manidade, que 6 endo, ess ratureza humana, essa vocaedo do homer qve 8 his. téria deve realizar para que a prépria filosofin se realize? \Gncontaremos nas obras de juventuce de Marx véring Tespostas 2 sia Todas pirar em rorno de alguns conceitos, como a universalidadk, » eecilos pasitivos ~ OU, 20 comiratio, a alienaglo ~ um conceito au totalidade ~ negativo Hi viduo, tal como aparece na Fitosofia do dlreto de Hegel”, © mas sa ios ts cen iempo, tem, com efeto, uma situagto dupa €eortaditéria Dy sii cm dada, ind participa do Fata, we de sve eWay, tioempireo da democracia fonmal. cle sel uma vez a cada qua. ‘ro or cinco anos esgola sit cidadania ao-votar. Fort ini so al caliza sun unersalidadeo-ndnids peste. 20 co som a ernologin ds Hegel coma leet Gesell 8 segundo a ern a Gas aundadespotisslonais,Ora,enquano men ds aoe cele eat encerrado nas suas paticularidades eno se comnice Foci fo da comunidade, um (abalhador as ordens de tn empresii, a con empresario separado da organizacio eoletiva, A sociedad Ahiede os indviuos de realizar un voedeo de univers sr sa coneaipao soja superada,€ preciso que 0 ndvidios no su Arable sam pareipar da miversalidade da mesma manera como del pae feipam com sua atividade de cidados er ce mgnifcam esas formulas abstatas? A demmocraia Ora a = Gate ela erga dos representanicn do pown pelo sun universal «Peis define pets ptrtae do voto edo chat no toca as condigBes de rnbalt de Hoerndes ntoros da coletvidade. © trabathador, que vende sun forea Se vide dos Mera em woes de um salirio,nfo & como o cidndio que #eufa a bal eo anos, elege seus representantes e, deta ov indiretaments 6¥ By aa am qu se realzase a democrci real, seria necessirio qe 0 er deere jada a ordem politica nas sociedades atuaisfossem ransposia Pt secsmpo da existencia concreta, evonémica des homens a se vara que os individuos no trabalho pudessem paticinar da wie elidade eet edados com seu voro, para que se dese realizar) Sev saaro suprimir a propriedade privadn dos meios de prod ai poe sguneinivicususervkgo de oto. provocs © exporaeso cost os los empresétis e iterdiia aestesvtimas 0 smal dro Pam aarp jé que, no sistema capitalist, cls trabalhsm visando 20 Ce Tri ade Msn anise, que vamos encontrar no Cri de filsefe do reito de Hegel, gira em torno da opos Fo entre p paiculaneovnisecsals So rete de Hagel EGnndo, x eoravido do iraathadore 0 Hibedade Ceti | \ z 3 ny 8), 4 ese o significado do homem total & o bomen @. So ireito de votar aca i i s unpabores 153 aor do cidado®, Esse tent const 9 5367) de uma das oposigdes els jo pensamento marist emt democracia formal-e democraciaseal; mos Se Wer uma gern forma de apreximacto entre a Snspasao filosofica ea a ta srnica socio A oath fosofice se manifesta na rjefedo de uns niversalidade da “ana mind 8 orem polten ese tanspte fBesenene PHT silise ream lingungem comm 2 aes de Mars 6a Seg que sian oon einco anos para os individuos que sie abrnencia fo set ox sais que reeebem. dos pairs. <2 igsex que estes estabelecem?” -pundo ace somo do qual gira © pensamento de juventude de snes do oem total, provavelnents anda ssi eauivoee ‘do que 0 do ho- rain universalizado- “Shomer total é 0 que no € sruadores, 0 hom dus rreetizado. Adquiris uma frmagio especies, prs xe omer sts olay Permanece encerrado-a. malt parte de suid val deinando de vlizar nutes aides © Faculdade au visio do trabalho, Para Marx. do pela di 1 sociedade industrial moderna & com ria se. desenvol¥S at lina, © homem foal seria aquele que no fesse cespecializado. Al- us textos de Marx sugerem una Tor politéeniea, em que todos os indi sa en peparads para 0 maior numero possivel de otis Com tal uot esp eneriam condenados fazer a mesma cose, de anit nite” io amputado de algamas das an ates pele exigncis da diviio do trabalho, ta. nosso © Ss Ee suns apes Pe ges imps aos individvos pela sociednde industin) POTS or cep imligivel e spitico, Bfeivamente a dvisa du wake ne recy fazer com que orairia dos individuos no realizem mi aguilo to um tanto romAntico no me parece aU tie que sto capazes. Mus esse prote jade ao expirito de um socialismo cientifico,E diel cconceber (a no ser nu- sia cedage extraordinariamente rica, em que o problema He pobreza tivesse re aeSelvido definiivamente) como ima sociedade, capitalists 4 ndo-capita- Tint, poderia formar codos 0s seus membros em fodas 2s proms | dificil Ia ode funeionaria uma sociedade inustial em que os individuos io fos smespecializados no seu trabalho. Beene assim, em avira direqdo, um out tipo de interpreta MATE ambrten, hamem total no sein o fromern capaz de fazer tudo, T= aquele stividades que defi jue realiza autenticumente sua humanidade, que exeree nem © homem. Nesse caso, a nogdo de trabalho se torna es cessencialmente como um cencial, © homem é coneebido, aia em condighes destin se que iwabalhs. 154 IS ETIP4S DO PENSAMIENTO SOCIOLOGICY nas, & desumanizado, porgue deixa de cumprir a atividade que consttul sun hue vmnnidade, em condigdes adéguadas. Encontramos efetivamente mts obras de juventude de Mars, em particular no Mamuscrito econdmica-filosdfico, de 1844, ima critica das condighes eupitalistas do trabalho", ‘Voltamos a encontrar agi o conceito de alienagdo, que est hoje no centro dda maior parte das interpretagdies de Marx. No capitalismo, o homem € alienado, Para que 0 homem possa se realizar. € preciso q Marx nsa trés termos diferentes que so traduzidos muitas vezes pela mes- shorn as palavras alémfis no tenani exstamente 9 Ferdusserung ¢ Engiemdung. 0 termo Supere eset alienaga atienagio a palavra, ‘mesmo sentido, Si elas Entdiusserimy {que corresponde aproximadamente A palavra aljenagdo & 0 ition, que etimo- logicamente significa: lomar-se estranho a.si.mesmo. A idéia € que, em certs ., as condigdes impostas ao homem sio circunstincias, ou em certas sociedad tais que este se toma um estranho para si mesmo, isto é, no se reconhece mais nna sua atividude e nas suas obras. ‘© conceito de alienagio deriva, evidentemente, da filosofia hegeliana, em que tem wm papel primordial. Mas a alienagio hegeliana é concebida no plano filosé- fico ou melafisico. Na concepgao de Hegel, o espirito (der Geist se aliena nas suas bras: constrdi edificios intelectuais e sociais e se projeta fora de si mesmo. A his tGria do espirito, a historia da humanidade, é a hist6ria das alienagdes sucessivas, fa fim das quais 0 espitto voltara a ser possuidor do conjunto das suas obras ¢ do seu pasiado histérico, com a consciéncia de possuir esse conjunto. No mani mo, inclusive nas ohras marxistas de juventude, 0 processo de alienago, em vez de cr um provesco filos®fica ou metafisicamente inevitavel toma-se a expressi de tim prozesso sociolégico pelo qual os homens ou as sciedades edificam organi. bes coletivas, nas quais se perdem" Interpretada sociologicamente, a alienagio é ura critica ao mesmo tempo histérica, moral e socialigica da ordem social da época. No regime capitalista, os homens so alienados, eles mesmos se perderam na cofetividade, ¢ a raiz.de todas as alfenacdes & a alienaglo econémica, Ha duas modalidades de alienagao econdmica que cortespondem aprox, Giiicas de Winx a sislema cap talista, A primeira alienacio ‘madam & imputivel & propriedade privada dos meios de produedo: a Segtiida. @ ana aia do mercado. a alignagde Tmpativel & prope maaan fap de que tabalio, atvidade essencilmente harman, que de- Fran's humanidade do homem.perde suas caracteristicus humana. que puss Jade privada dos meios de a ser, para os assalariados, nada mais do que um meio de existeneia. Em vez nado em o trabalho set_a expresso do proprio homer instrumento, em meio de 0 trabalho se vé d 1 t Avonaanete fe Ve pn PUNDRDORES Me coo ter Tears neesdads net seni pels 05, se au reredo para eer iro empresii e forma eave de a ado TnpTENTaWel,sujelto aos wares dh concorrenia, Explor os as- i nam pot sso ele €huonzado no seu tba, ple cen a crush ainterpretagao ena que se da ess alienae Wet eg acetal bastante lara. ries da ead 0- ee aa no pensamento de Marke na sv origem, a xia ae coral, antes de se 1rmar Ua emi sve exporo pensamento de Marx como 0 d= um puro eco vom Slow porguc no fn da ss vide le uci serum cent scone i cre contuo, Marx chez a erica eeonimico-scialtomando i dena emus filosfros, Estes temas filasficas, a viveral- eee juin homer tal 2 slenao,aniam eonientam 2 andise 2a ss oan da matridade, Em que medidas nis socolépea seins oo anno pana do desenvolvimento das ntigbs losis sate a? Ou ent, em que medida ela, 0 ontario, a substiuico ea gteslsbficns? Coloca-e al um problema de interreagio wae ainda io fo! totalmente reolvido an ae jurante toda a sua vide, Marx conserve esses temas filosb- Fe aed plano, Pata ele a anise da economia capitalist eva a and a ae ondivdia e das coltividades, que pordiam n controle da a ae etenia num sistema sujlto leis autnomas, Actin dt eco- ar cio on amber a era filossfiea e mora a sitagio imposta “ea cpl, Sobre este pont, esto de acordo coms interpre- ido srrente a deapeivo da cin de Alvbsee. soar ade, partamente a anise do devenir do capitalism rs, para an cutive ds Jovenir do home ea nature humana aroves da sti. pa ta sociedad pos capitalist a realizacao da filosofa a a,c esse homer ft ve revolusdo pés-cpitalit evens tetn? Sobre iso: pode se disutit, porque no undo havia em Marx Saar ance enne dls tere, ae certo ponte conraitris, De acordo com aaa arias home realiza sbaumanidade no trabalho e é iberael0 fda soviedade, Mas em vis lgares "qual o homens verdagiramente omer sé ealiza sahara ‘undlise rigorosamente sociolégiea © trabalho que marcara a humanizag aparece uma outra concepgao segundo livee fina do trabaiho, Nesta segunda concep tidade naa medida em que reduz sufieientemente a duragdo da jornada de traba- além do wabalho” Tha, a Fim de que passa fazer outras coi 156 AS ETARIS DO PENSALIE IO SOCIOLOGICG Podem-se naturalmente combinar os dois temas, dizendo que a humanizagan completa da sociedade pressuporia, antes de mais nada, ante as condicies im. postu ao homem no Si trabalho fassem humanizadas, € qu. simultaneamey Te a duragio do trabalho diminuisse o bastante para que « lazer The permitise a leitura de Plato, por exemplo. Filosoficamente, resta contudo uma dificuldade: qual é a atividade essencia que define o priprio homem ¢ que deve se desenvolver para que a soviedade per. imita a realizagio da filosofia? Se nao se determina qual é « atividade essencia\. mente humana, corre-se 0 riseo de adotar a concepgdo do homem ‘otal na sun fcepeio mais vaga. E preciso que a sociedade permita a todos os homens realizar todas as suas aptidées. Fssa proposiciio representa uma boa definigio do idea da sociedade, mas ndo é fécil uduzi-la num programa conereto e preciso. Por outro indo, €difieil imputar exclusivamente & propriedade privada dos meios de produ. G0 0 fato de todos os homens niio realizarem todas as suas uptiddes. ‘Em outras palavras, parece haver uma desproporgaio extrema entre a alice ragio humana atribuivel & propriedade privada dos meios de produgio e a rea: Tizagfio do homem total que deve resultar da revolugiio. Como se pode coneitiar aeritica da sociedade atual com a esperanga de tealizagio do homem total pela simples substituicdo de um modo de propriedade por outro? "Agu apasecem a grandeza ¢.o equivoco da sociologia marxista, Pretenle ser uma filosofia. Bla é. essencialmente, uma sociologia, sas idéius, restaim ainda muitos pontos obscuros Mas, além ~ ov aquéim — de cou equivacos que explicam a variedade das InterpretagBes dacias wo pensamen- to de Marx. Um desses equivocos, de ordem filoséfica, esti relacionado com @ nature va da lei historica. A interpretagio histérica de Marx pressupoe um devenit ine teligivel de ordem supra-individual. Formas ¢ relagdes de producdo esti em relagio dialética. Por meio da luia de classes ¢ da contradicio entre formas ¢ re ages de produgio, 0 capitalismo destrdi a si mesmo. Ora, essa visio geral da historia pode ser interpretada de duas maneiras diferentes. De acordo com uma interpretagto que chamarei de objetivista, esta repre: sentagio das contradigGes historicas que levam 4 destruigio do capitalismo eae surgimenio de uma sociedade ndo-antagonista corresponderia ao que chama mos vulgarmente de grandes linhas da histéria. Da confuusio dos fatos histér cos Marx extrai os dados essenciais, © que & mais importante no proprio deve- nit hist6rico, sem que 0 detalhe dos acontecimentos seja incluido nessa visio, ‘Admitindo essa interpretagio, w desiauigde do capitalismo eo advento de ‘uma sociedade niio-antagénica seriam fatos certos ¢ conhecidos previamente mas indeterminados quanto sua data e a modalidade. : ynabORES 157 as provisdes do tipo: “o cupitalisme sex destruido pelas suas contradi- abe quando ou como” nao siio satisfatorias. A previsio de um crimento seit) data ¢ nio-especificado ao significa grande coisa; pelo veo ree ia lei bistoriga dessa ordem nao se parece absolutamente com as leis er incins nati sem da inerpretagdes possiveis do pensamento de Marx, e & a in- so haje adiitida como ostodoxa no mundo soviético. Afirma-se a des- dda capitalismo, e sua substituicdo por uma sociedade mais ° tiv, isto & peli soeiedacle soviética, reconhecendo-se, simultaneamen- rea da dese aeontecimento inevitivel ainda nfo é conbecida, © que a ~ aus eatinttofe previsivel &indeterminada, Indeterminagao que, no plane vmrecimentos pofitid, representa uma grande vantagem, jd. que permite sama, com tod seHUaNgh que 1 eoexisténcia & possvel. Para o regime veo no € necesaitio desir 0 reyime eapitaista, uma vez que ele proprio, jyuatquer modo, se destruct i outta inierpretagho que chamarenios de dialética, nao no sentido vulgar jotermo, mas num sentido sutil. Nesse caso, a visio marxista da historia nas via de uma forma de reeiproeidade de agio entre, por umn lado, o mundo hse tirce e a consciéncia que pensa esse mundo e, por outro, entre os diferentes wvlores da realidad hist6rica. Essa dupla reciprocidade de ago permitiia evi- fire que hi de pouco satisfat6rio na representao das grandes Hinhas da hist6 ve De fato, se tornarmos dialética a interpretagao co movimento historico, eaemos inais abrigados a abandonar os detalhes dos acontecimentes, ¢ pode vGnios eompreender os acontecimentos tais como se realizaram, em seu carter “Assi, Jean-Paul Sartre ou Maurice Merleau-Ponly conservam certasidéias cessenciais do pensamento marxista: 1 alienago do homem na e pela economia privada, a ago predominante das forgas ¢ das relagies de produgzo. Contudo, fara ambos, esses conceitos niio visim a identificagao das leis historicas, na ieeppto cientifiea do fermo. ou das grandes linhas do devenir. Sto instrumen- tos necessirios para tornar inteligivel a situagao do homem no regime capita ‘ontecimentos com x situagio do homem no seio do spretagao hove sio necessirin lista ou para relacionar os capitalismo, sem que se possa falar propriamente de determinismo. Lima visio dialética desse tino, de que ha diversas versOes entre os existen- cislistas franceses ¢ em toda a escola marxisia ligada a Lukics, é filosof mente mais satisfatoria, embora comporte também algumas dificuldades” A dificuldade essencial consiste em localizar as dias idéias fundamentals, do marxismo simples, a saber, alienayio do homem no capitalismo e 0 adven- to de uma sociedade io-antaginica depois da autodestruigéo do capitalismo, Uma interpretagio dialética, postulando a agai reeiproca entre sujeito ¢ vbjetv, centre varios setores da realidade, no leva necessariamente a essas duas propo- I BTARAS PU PEENSIMMENTO SOCIOL Oc juestae sobre como determin. sigdes essencinis. Deisa Sem resast Aine pbal, total e verdadeira, Se tndo sujeito-histérico pensa a histaris em ia situagdo, por qule a interpretagdo dos marxistas ou do proletarg. protagao wl Func da st do é verdadeira? Por que é total? A visao objetivista que invoca as leis da histéria comporta a diffculdade cessencia} de declarar inevitavel un acontecimento niio-dataclo © nio-precisado, 4 interpretagio dialética no explica a necessidude da revolucao, nem 0 eariter hio-antagénico da sociedade pos-capitalista, nem o eariter total da interpreta. 0 historiea Um segundo equi nar de imperativa revolucionério, © pensamento de Marx pretende ser cient. Fico. Contudo, parece implicar imperativos, ja que ordena a ago revolucion’ ria como a dinica conseqiiéncia legitima da andlise histérica, Camo no easo anterior, ha duas interpretagfies passiveis que podemos resumir com a fon Ta: Kant ou Hegel” © pensamento marxista deve ser interpretado no quiadro d ddualisino kantiano, do fato e do valor, da Jet cientifien ¢ do imperative moral, ou no quadro da tradiglo hegeliana? Na histéria péstuma do marxismo encontramos aliés duas escolas, uma antiana, 2 outra hegeliana; esta tiltima mais numerosa do que a primeira. A es cola kontiana do marxismo & representaca pelo social-demoerata alemo Mehrin «pelo austro-marxista Max Adler, mais kantiano do que hegeliano, porém, kan- tiano de estilo muito particular, Os kantianos dizem: nao se passa do fato para 18 valor, do jul para o imperative moral; portanto, no se pode justificar 0 socialismo pela interpretagio da historia tal como ela se de- fenrela, Marx unalisou 0 capitalismo tal como cle é& desejar 0 socialismo diz respeito a uma decisio de ordem espiritual. Contuco, a maioria dos intérpretes de Marx preferiu permanecet na tradi¢ da monismo, © sujeito que com- ajado na propria histéria, O socialismo, on a socie cdo que poderiamos el \menta sobre 0 re preende a historia esté dade nfo-antagdniea deve surgir necessariamente da sociedade ant porque o intérprete da historia € levudo, pos uma dialética necessiria da cons- tatagio daquilo que é,a querer uma sociedade de outro tipo. ‘Centos intérpretes, como L, Goldman, vio mais longe e afiemam que ne historia nfo ha observaeao desinteressada. A visio du histéria global traz con sige um engnjamento. E em vistude de querer 0 socialismo que se percebe © oriter contraditario do capitalismo, & impossivel dissociar tomada de posigio tm relacio & realidade e obser vag da realidace, Nao que essa tomadn de pos G10 reja arbitraria ¢ resulte de uma deeisdo ndo-justifieada, mas segundo a die- Tética do objeto e do sujeito & da realidade historica que cada urn de nés ti 08 quadros do nosso pensamento, os conceitos com que a interpretamas. & int pretacio nasce do cantato do objeto, um objeto que no é recontiecido passive xh ek oa { 4 | fUNDADORES 159 10 do objeto & sponte, mas 6, ao mesma Kempo, Feconhecido e negudo; Ney srapressdo lo querer ui regime diferente” islem portanto duas rendéncias: uma, que tende e dissoviar a interpreta- joda hstria,ciemificamente valida, da deeisio pela qual se wdere ao socialis- outa que. pelo contriio, une a imerpretagdo da histris A vontade politic. Fas, qual era 0 pensamento de Marx sobre este ponte? Enquanto homem, Afar era 40 mesino tempo cientista profeta, sociGloro e revolucionsti, Se alk wine tvesse perpuntado se € possivel separar essas dias coisas, ereio que fem abstrato, elas eram, de fato, separaveis. De fato, seu tena respondido qu wrapdsio cientfico er forte demais para que admitisse que sus interpreta Pe italism fosse solidria com uma deciso moral. Nio obstante, estava a €, os assalrindos,0s.capitalisas eos praprititiosfunditios, cons. ii és grandes classes-da-sociedade moderna, baseada wade produgio capitalsta™ A.distingdo entre as classes se baseia, aqui. na distingo, rae ads € clisica, da origem econdmicn das rendas: capital hier terra-rends fundidria; tabalhio-satéri, isto é. no que se convencionou chanvar de “fSrmu- Iu trinitia que engloba todos 0s mistéios do processo social de produgio”. (Le copii, hi Heap. 48. p. 193.) (0 lucro é a forma aparente da realidade essencial que & a mais-valia; a senda fundiéria, que Marx analisou longamente no mesmo livro IIT de O ea pital, é uma parte da mais-valia, valor no distribuido ao trabalhadores, sea interpretagio das classes em fungao da estrutura economics &a que melhor responde tintengao cientifiea de Marx. Permite identifienralgumas da proposicdes essenciais da teoria marxista das classes Primeiramente, pode-se dizer que uma classe social um grupo que ocupa cum lugar deteeminado no processo de produglo, Ficando entendido que esse jugar tem um duplo significado: € um lugar no processo tecnolégico cle produ- Go € um lugar no processo juridico, imposto ao processo téenico 1 capitalista¢, simultsneamente, senhor da organizagao do tabalho, por tanto senor no processo técnico, e também, juridieamente, gragas & sua sia 20 de proprietirio dos meios de producao, que tia, dos produtores associos, prietarios da si a le Terra, at ansisevali Pode-se concluir, por outro lado, queas rela plificar A medida que o eapitalismo se desenvolve. Se s6 existem duns fontes dle renda —deixando de lado a renda fundisria, cuja importdncta diminui com a industrializagio -, existem apenas duas grandes classes: 0 proletariado, const {uide por aqueles que sb possuem sua forga.de-tiabalho. ca hurguesia eapita- “lista isto & lodos aqucles.que se apropriam-de.na-parte-da mais ‘Um segundo tipo de textos de Marx relacionados com as classes sociais retine os estudos histricos tais como As futas de classes na Frans (1848-1850) ou 0 18 brumério de Luis Bonaparte. Marx emprega, nesses textos, a nogio de A-emumeragio das classes & ss de elasse tendem ase sim- classe, mas sem fazer uma tearia sistemitica ia do que na apresentagdo da distinglo estrutural das classes que acabamos de analisar® ‘Assim, em 4s lutas de classes na Fianga Marx distingue us seguintes classes burguesia financeira, burguesia industrial, burguesia comercial, pequena burgue- sia, classe camponesa, classe proletiria e, por fim, 0 que chama de Lumpe? proletariat, que corresponde mais ou menos a0 que chamamos de subproleta- rindo. | 15 FUNDADORES 167 Basa enumeragio nflo contradiz a teoria das classes, esbogada no iiltimo capitulo de O capliel. O problema colocado por Mars nesses dots tipos de tex- fio é o mesmo. Num caso, ele procura determinar quais sfio os grandes sorupamentos caractersticos de uma economia capitalists, em outos, 08 grt prs socais que exerceram infuéncia sobre os acontecimentos politicos, em ci nstancias histéricas particulates. E verdade, porém, que € dificil passar da teoria estrutural das classes, ba- aula na distingdo das Fontes de renda, & observagdo historica dos grupos s0- ‘Com efeito, uma classe nio constitui uma unidade, pelo simples fato de ista da anilise econdmica, as rendas tm uma $0 e mesma identemente, uerescentar também uma certa hamogencida- uma certa consciéneia de unidade ow até mes- (que, do ponto de vi Fonte; € preciso, evi de psicalogica e, possivelment mo uma vontade de ago comum. sta observacdo nos leva a terceira categoria de textos. Em O 18 brumério ide Luis Bonaparte, Marx explica por que um grande nimero de pessoas nio ‘representa necessariamente una elasse social, mesmo que essas pessons tenkam aiividade econdmica € 0 mesmo género de vida’ mesma ‘Os camponeses, pequenes proprietirios, constituem uma enorme massa, cujos membros vivem todos na mesma situagio, mas sem que estejam Iigados uns aos puttos por Felagdes variadas. Seu modo de produsao 0s isola, em vez de levi-los tum relacionamento reciproco, Esse isolamento é agravado pela deficiéncia dos tneios de comunicagdo na Franga, e pela pobreza des camponeses. A exploracio fdas suas pequenas propriedades pao permite nenbuma divisdo do trabalho, nenh- na utlizegdo de metodes cientifices « conseqientemente nenhuma diversidade Gedesenvolvimento, neahunta variedade de talentos, nenluana tiqueza de relagoes Socisis, Cada familia camponesa se basta a si mesma quase completamente, pro ha diretamente a maior parte do que eonsome ¢ obiém assim os mis de subsis- téneia mais por uma troca com a natureza do que por uma troca com a sociedade. Uma pequena propriedade, um camponés e sua familia; a0 lado, outra pequena ia Um certo niimero dessa Familias for~ a grande mns- propriedad, outro camponés ¢ outra fam ‘ram uma aldeia, eum certo nimero de aldeias um municipio, Assim, ‘sda nagao francesa esti constiuida pela simples soma de unidades iguais, como tum saco cheio de batatas forma um Saco de batatas, Na medida em que milhSes dde familias camponesas vivem ern condigGes econOmicas que as separam mas das outras © opem seus interesses, tipo de vida e sua cultura aos de outras clas- ses da sociedade, essas familias constituem uma elasse. Mas. na medida em que das seus inte- sb existe entre esses eamponeses um vinculo local, es semelhang: resses nlo cria entre eles nenhuma comunidade, nenhuma figagdo nacional ov ne rhuma organizacao politica, eles no constituem uma classe. (Le 18 branmaire de Louis Bonaparte, yp. 97-08, Bd. Sociales ) Em outras palavras, a comunidade de atividade, de maneira de pensar ¢ de lade de uma classe social, mas modo de vida € a condigao necessdiria da real ie 18 ETIRAS DO PENSAMENTO SOCIOLBGICo nao a condigiio suficiente, Para que uma classe exista, € preciso que hgja toma. dda de consciéneia da unidade e sentimento de separacio das outras classes so. ciais, quem sabe 2té mesmo sentimento de hostilidade em relacdo as outras losses sociais. No caso-limite, os individuos separados s6 formam uma classe na medida em que precisam desenvolyer uma luta comum contra outra classe Levando em conta o conjunta desses textos, parece-me que se chega nog uma teoria completa e professoral das classes, mas a uma teoria politico-sacio. lgica, que alis é bastante clara Marx parte da nog&o de uma contradicao fundamental de interesses entre 65 assalariados e o2 eapitalistas. Ee sigdo dominava 0 conjunto da sociedad capitalista e que, com a evolucao his térica, iria assumindo uma forma cada vez mais simples. Por outro lado, contudo, como observador da realidade histérice, Marx constataya como qualquer outro, ¢ ele era um excelente observador, a plurali- dade dos grupos sociais. No sentido e rnhum grupo social. Implica, além da comunidade de existéncia, a conseiéncia dessa comumidade no plano nacional ea vontade de uma ado comum, com vis- tas a uma certa organizago coletiva Nese nivel, compreende-se que aos olhos de Marx s6 existam, na verda- de, duas grandes classes, j6 que s6 existem dois grandes grupos, na sociedade capitalista, que 1m verdadeiramente representagdes contraditorias do que deva sea sociedade e que fém realmente um propésito politico e histdrico definido, ‘No caso dos operirios, como no das proprietarios dos meios de producao, confundem-se os diferentes critérios que se podem imaginar ou observar. Os ope rarios da indistria tém um moclo de vida determinado, que depend da sua fun- io na sociedade capitalista, cia da sua solidariedade, e tomam conseigneia do antagonismo com relagiio a outros grupos sociais. Sao portanto, no sentido pleno da expressdo, uma classe social que se define politica ¢ histo- ricamente por uma vontade propria, que os coloca em oposigao essencial aos ccapitalistas. Isso ndo exclu a existéncia de suberupos, dentro de cada classe, ‘ow a presenga de grupos ainda no absorvidos pelos dois grandes atores co Grama histérico. Mas, no cursa da evolugao hist6rica. esses grupos exteriores ymercinntes, os pequenos burgueses, os sobreviventes iedade, serio obrigados a se unir aos proletirios ou ava convencido, além disso, de que tal opo- ito, a classe nfio se confunde com ne- dda antiga estrutura da soc Nessa teoria ha dois pontos equivovos e discutiveis. No ponto de partida da sua aniilise, Marx assemelha a expansio da burgue- sia & expansdo do protetariado. Desde seus primeisos escritos descreve 0 surgi- rnwealy de um quarto estado como andloge & aseensdo do tereciro. A burguss! desenvolveu as forgas de produgio no seio da sociedade feudal. Da mesma ma neita, o proletariado estd em vias de desenvolver as forgas de produgdo da so- panes 169 ps FUNDADORE f preciso ter, jo radi: pitalista. Ora, esta aproximagio, a meu ver ciedade et io, « pain politica, para perceber que os dois casos alem do gt mente diferentes ‘Guano 4 bunguesia, comercial ou industrial eriava forges de producto n0 salmente uma classe social nova, formada dentro ociedade feudal, eva re: ba: 1 sociedade. Mas a burguesia, seja comerciante, seja industrial Pes ox governanes, come 0 poder €exereido, ob qual a relagio de consen- covet ou de revolla ene governantes e governados. A ordem politica € tio ‘ime fe autdnoma quanto a ordem econéimica. As duas ordens esto em rela- {es reeiprocas cao como slo organizadas a produc € a disribuigdo dos recursos eo- setives infiveneta a maneira como se resolve o problema de autoridade; inver- cerns ant maneita como este problema éresolvido influi no modo como se 1e~ sate problema da produgao. da distibuigao dos recursos. Efalso pensar que viie reteeminada onzanizagio da producio ¢ da reparticHo dos recursos resol ee slomaticamente o problema de comando, suprinsindo-0. O mito do exfse ‘Recrento do Estado ¢0 mito de que 0 Estado 86 existe para produzi eds. pair oe recursos e que, resolvido o problema da produgBo € da distibuigio dos recursos, nao seri mais necessério® “Tratacse de mito duplamente engasaclor nifieada da economia acarreta um reforgo do Estado. E mesmo que msi continuaria a haver sempre, numa sociedade moderna, o problema do comando, isto €, da forma do exercicio da autoridade Tin outras palavtas, no € possivel definir um regime politico simplesmen- te pela Classe que se presume estar exercendo 0 poder. Nao se pode portanto tefinir o regime politico do capitalismo pelo poder dos monopolistas, como no se pode definiro regime politico de uma soviedade sovilista pelo poder do proletariado, No regime capitalista, nfo s4o os monpolisias que, pessoalmen- teexercem 9 pader: no regime socialist, nfo éo proletariado, como um grupo. ae exeree o poder, Nos duis casos tata be de determinar qunis So as pessoas due vio exercer as fungDes politcas, como recruti-las, de que formn devem txeroer 9 autoridade, qual é relagdo entre os governantes € 0s governados primeiro lugar, a gestio pla- 10 fosse 176 {8 ETAMS DO PENSANENTO SOCIOLOGICO ‘A sociologia dos regimes politicos nfo pode ser reduzida a um simples apéndice da sociologia da economia ou das classes sociais. Marx se referia com freqiéncia as ideotogias, ¢ procurou explicn heiras de pensar ou os sistemas intelectuais pelo cantexto social "A interpreiagao das idéias pela realidade social comporta diversos méto- dios E possivel explicar as maneiras de pensar pelo modo de prediao ou pelo estilo teenoldgico da sociednde. Contuclo, a explicagao que até hoje teve maior Exito 6a que atibui determinadas idéias a uma certa classe social ma. “De mode geval, Marx entende por ideologia a falsa conseiéncia, ou fs ‘epreseniag, que ma classe sociaLiem-a respelto da sua propia sinuaeao.< to, Em larga media considera as teorias dos economis- {as Duzguese® como uma idealogin de classe, Nao que atribua a0s economists tborgueses a intengao de enganar seus leitores, ou de se iludirem com wma inter pretagio mentirosa da realidade. Tende a acreditar, porém, que uma classe sé nde vero mundo-em Sungdo da sua prépeia sinuagda, Como ditia Sarte, 0 Dir Htués vé 9 mundo definido pelos direitos que possui. A imagem juridica de um es & a representacao social em que 0 burzues ma- mundo de direitos e obrig nifesta ao mesmo tempo sua maneira de ser e sua situ Essa teoria da falsa consciéneia, associada consciéneia de classe, pode ido se trata de doutri- a 6 uma fal- sa concep ser aplicada a muitas idéias ou sistemas intelectuais. Q nas econdmicas e sociais, pode-se a rigor considerar que a ideolo sa consciéncia, e o sujeito desta falsa consciéneia & a classe. Mas Go da idcologia traz duas dificuldade: ‘Se uma clasee tem, devitlo a sia sit por exemplo, a classe burguesa nao compreende o mecanismo da mais-valia, ou permanece prisioneira da ilusdo das mercadorias-fetiches, por que um indivi ‘duo consegue se livrar dessas ilusdes, e dessa falsa consciéneis”? Por outro lado, se todas as classes tém uma maneira de pensar pareial. onde esl a verdade? Como pode uma ideologia ser melhor do que outra, se toda ideologia é inseparivel da classe que a adota? © pensamento marxista se sente agui tentado a responder que, entre as ideologias, hd uma que é melhor do que porque hi uma classe que pode pensar o mundo em sua verdade, aver 1, uma falsa idéia do mundo, se. as outa ‘No mundo capitalista, éo proletariaclo, e sé o proletariado, que pen dade do mundo, porque 36 ele pode pensar o fururo além da revolugio. Lukics, um dos titimos grandes filésofos marxistas, se esforgou por de- monstrer, em Geschichte nd Klassenbewusstsein, que as ideologias de classe rio se equivalem, ¢ que a ideologia cla classe proletéria é verdadeira, porque © proletariado, na situago que Ihe & imposta pelo capitalismo, é capaz, ¢ 0 tinico capaz, de pensar a sociedade em seu desenvolvimento, em sua evolucao para a revolugio, e, portanto. na sua verdade”. ps FUNDADORES a ‘A primeira teoria da ideologia procura portanto evitar 0 desvio para o rela- tivismo integral, mantendo ao mesmo tempo o vinculo das ideologias com 2s sees ea verdinle de una das ideologias “A dificuldade dessa formula consiste em que é facil questionar a veracida- de de uma ideologia de classe, ficil aos defensores das outras ideologias e faci i classes char que todas esto no mesmo plano. Admitindo que minha ‘a do capitalismo seja orientada pelos meus interesses burgueses, a visio proletiria é comandada pelos interesses proletéios. Por que os interesses dos ‘estio ou (como se ditia em inglés) seriam mais importantes da que os inte- dos in? Por que os interesses daqueles que estao do lado mau da barrice- tis valeriam como tal, mais do que os dos que estio do lado bom? Tanto mais que Ssituagio pode se inverter c,d Tato, de tempos em tempos ela se inverts Trase modo de argumentagio sé pode levar a um ceticismo integral, para 0 qual todas as isdeologias s20 cquivalentes, igualmente parciais e facciosas,inte- rwssadas ¢, em decorréneia, mentirosas, Por isso procurou-se em outra dirego, que me parece preferivel, a mesma ‘x que se empenhow @ sociologia do conhecimento, que estabelece distingdes centre tipos diferentes de edificios intelectuais. Todo pensamento esta associa- tio, de certo modo, no meio Social, mas o vinculo da pintura, da fisica, da mate- initia, da economia politica e das doutrinas politicas com a realidade social no & 0 mesmo. Convém distinguir 2s manciras de pensar ou as teorias cientifieas, que estio Jigndas 4 realidade social mas que nao dependem dela, das ideotogias ou falsas conscineias, que resultam, na consciéncia dos homens, de situagdes de classe que 08 impede de ver a verdade Esta tarefa ¢ a mesma que os diferentes sociélogos do conhecimento, mar- sistas ou nao, procuram executar, buscando identifiear a verdade universal de algunas ciéncias e 0 valor universal das obras de arte : smarxista,€ importante nto reduzir a a0 de tuma obra cientifica ou estética a seu conterido de classe. Marx, 0 08 s0cidlo- ct signifi que era um grande admirador da arte grega, sabia to berg gos do conhecimento que o significado das eriagdes humanas nao se esgota no seu contetide de classe, As obras de arte valem e tém sentido mesmo pura ou tr classes, e part outras épocas. Sem near, em absoluto, que o pensumento esteja ligado & realidade social, ¢ que certas formas de ponsamento estejam vincaladas a classe, € necessério restabelecer a discriminagio das espécies e sustentar duas proposigdes que me parecem indispensdveis para evitar niilisino: Existem dominios em que o pensador pode atingir uma verdade valida para todos, e no sé uma verdade de classe Existem dorwinios em que as criacdes das sociedades tém valor esignifieado para os homens de outras sociedades

You might also like