You are on page 1of 10

See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.

net/publication/261525047

Áreas de endemismo, corredores de biodiversidade e a conservação da


Amazônia

Chapter · January 2013

CITATION READS

1 436

1 author:

José Maria Cardoso Da Silva


University of Miami
176 PUBLICATIONS   6,087 CITATIONS   

SEE PROFILE

Some of the authors of this publication are also working on these related projects:

Human disturbances and the future of the Caatinga dry forest View project

Conflicts in Protected Areas in the Brazilian Amazon View project

All content following this page was uploaded by José Maria Cardoso Da Silva on 11 April 2014.

The user has requested enhancement of the downloaded file.


Capítulo 22
Áreas de endemismo, corredores de biodiversidade
e a conservação da Amazônia
José Maria Cardoso da Silva. Conservação Internacional, Rua Antonio Barreto, 130, 4º andar, Sala 406. Ed. Village Office-
Umarizal, 66055-050, Belém, PA, Brasil. jsilva@conservation.org

Introdução
A Amazônia é uma das últimas grandes regiões naturais do planeta onde a extensão
dos ecossistemas naturais ainda é maior do que a dos ecossistemas criados ou transfor-
mados pelo homem. Com uma área total de 6.683.926 km2 distribuídos em oito países
da América do Sul, somente cerca de 20% da região foi desflorestado. A Amazônia
representa ainda 53% do que resta das florestas tropicais do planeta e abriga pelo
menos 10% das espécies do planeta (Mittermeier et al, 2002).
Apesar dos superlativos e da extensa literatura publicada recomendando que a diver-
sidade e a fragilidade dos ecossistemas amazônicos exigiam uma ocupação cuidadosa
e bem planejada (Ayres e Best, 1979), a colonização humana da Amazônia a partir do
final da década de 1960 foi marcada pelo processo violento de ocupação e degradação
ambiental característica das “economias de fronteira”, onde o progresso é entendido
simplesmente como crescimento econômico e prosperidade infinitos, baseados na
exploração de recursos naturais percebidos como igualmente infinitos (Becker, 2001).
Tal como aconteceu na Mata Atlântica, uma parte considerável da Amazônia foi
ocupada com base no ferro e no fogo, sem levar em consideração as peculiaridades
dos diversos espaços ecológicos amazônicos e os desejos e anseios das populações
indígenas e tradicionais da região. Um modelo exógeno de desenvolvimento baseado
na extração predatória dos recursos florestais, seguidos pela substituição da floresta
por extensas áreas de pastagem ou agricultura, foi implantado e mostrou-se, em longo
prazo, inapropriado para a região. A ocupação da região em surtos devassadores liga-
dos à valorização momentânea de produtos nos mercados nacional e internacional foi
seguida de longos períodos de estagnação, demonstrando a falta de sustentabilidade
do processo (Becker, 2004). Em geral, os custos ambientais deste modelo de desenvol-
vimento ultrapassam, de longe, os limitados benefícios sociais gerados pela atividade
econômica associada (Vieira et al., 2005).
Este capítulo argumenta que é necessário um novo e ambicioso plano de conservação
para a Amazônia. Partindo-se da premissa que a Amazônia é um conjunto de áreas de
endemismo separadas entre si pelos grandes rios, sugere-se que seja consolidado um

505
Carlos A. Peres; Jos Barlow; Toby A. Gardner e Ima Célia Guimarães Vieira (Orgs.)

corredor regional de biodiversidade para cada uma destas áreas. Então, a situação de
conservação de cada área de endemismo é analisada e estratégias gerais de conservação
são recomendadas. Por fim, sugere-se que os corredores regionais de biodiversidade
devem ser integrados em uma escala continental, formando o Mega-Corredor de Bio-
diversidade Pan-Amazônico (MCBPA).

A Amazônia como um mosaico de áreas de endemismo


Para efeitos de planejamento de conservação e desenvolvimento é geralmente recomen-
dado que se utilize unidades territoriais menores do que a região que se quer proteger
ou desenvolver. No caso da Amazônia, quais seriam as unidades territoriais naturais?
Não há uma resposta exata para este assunto bastante polêmico, pois, apesar de todos
saberem que a região não é uma só, não há ainda consenso de como ela deveria ser
subdividida. De modo geral, diferentes disciplinas sugerem diferentes formas de se
dividir a região, todas válidas e complementares entre si. Uma das várias opções é
ver a Amazônia como um grande arquipélago composto de enormes ilhas de floresta
(Ayres e Best, 1979) separadas entre si pela combinação das vegetações não florestais
do Brasil Central e Andes, das águas do Oceano Atlântico e, principalmente, pelos
largos cursos dos maiores rios da região (Figura 1).

Figura 1 - As oito grandes áreas de endemismo reconhecidas para vertebrados terrestres na


Amazônia (Silva et al., 2002)

Leandro Tocantins foi muito perspicaz ao notar, aos seus 21 anos, que na Amazônia o
rio comanda a vida (Tocantins, 1952). Ele referia-se ao fato de que milhares de pessoas
têm suas vidas diretamente ou indiretamente influenciadas pelos ciclos anuais dos

506
Conservação da Biodiversidade em paisagens antropizadas do Brasil

imensos rios que cortam a região. Esta verdade também é válida para uma grande parte
da biodiversidade regional, pois milhares de espécies de animais e plantas possuem
suas distribuições bloqueadas ou facilitadas pelos grandes rios (Ayres e Best, 1979;
Ayres e Clutton-Brock, 1992; Silva et al., 2002).
Wallace (1852), o coproponente da teoria da evolução por seleção natural, foi o primeiro
a descobrir que há dois padrões biogeográficos básicos que caracterizam a distribuição
da vida sobre a Amazônia. O primeiro padrão é que poucas espécies ocupam toda a
região e que a maioria das espécies possui distribuição restrita a determinados setores
da Amazônia, caracterizando o que se denomina atualmente de “áreas de endemismo”
(“distritos” na época de Wallace). Uma área de endemismo é um determinado espaço
geográfico definido pela coincidência quase total das distribuições geográficas de duas
ou mais espécies que não ocorrem em nenhuma outra parte do planeta. O segundo
padrão é que espécies endêmicas a uma área de endemismo são substituídas nas áreas
de endemismo adjacentes por espécies aparentadas.
Estudando as distribuições de primatas e interagindo com os moradores locais, Wallace
(1852) descobriu que os grandes rios amazônicos delimitavam as grandes áreas de
endemismo amazônicas. Ele expressou esta ideia da seguinte forma:

During my residence in the Amazon district I took every opportunity of determi-


ning the limits of species, and I soon found that the Amazon, the Rio Negro and
the Madeira formed the limits beyond which certain species never passed. The
native hunters are perfectly acquainted with this fact, and always cross over the
river when they want to procure particular animals, which are found even on
the river’s bank on one side, but never by any chance on the other.

A hipótese inicial de Wallace recebeu apoio de vários estudos posteriores (ver síntese
em Silva et al., 2005; Silva, 2005). Até o momento, oito grandes áreas de endemismo
foram reconhecidas para alguns grupos de vertebrados terrestres na Amazônia (Figura
1). As áreas de endemismo na Amazônia variam consideravelmente em extensão,
desde a pequena Belém (201.541 km2) até a enorme Guiana (1.700.532 km2). As
outras possuem os seguintes tamanhos: Imeri (679.867 km2), Napo (508.104 km2),
Inambari (1.326.684 km2), Rondônia (675.454 km2), Tapajós (648.862 km2) e Xingu
(392.468 km2).
Silva (2005) apontou que o número e os limites das áreas de endemismo reconhe-
cidas atualmente na Amazônia são hipóteses preliminares de trabalho, exigindo,
portanto, constante reavaliação quando novos dados taxonômicos e biogeográficos
de diferentes grupos de organismos tornarem-se formalmente disponíveis. Ele
também previu que algumas áreas de endemismo, como Guiana, Imeri e Inambari,
serão certamente subdivididas em uma ou mais áreas à medida que o conhecimento
sobre suas biotas aumentar.

507
Carlos A. Peres; Jos Barlow; Toby A. Gardner e Ima Célia Guimarães Vieira (Orgs.)

Qual o estado de conservação das áreas de endemismo amazônicas no Brasil?


As maiores ameaças à biodiversidade amazônica são a perda de hábitat, a fragmenta-
ção e o aumento da intensidade de incêndios florestais causados pelo desmatamento
indiscriminado na região (Laurence et al., 2001; Nepstad et al., 2001). A Amazônia
Brasileira tem a maior taxa mundial absoluta de destruição de florestas, sendo esti-
mada atualmente em quase 17.670 km2 por ano. Até o momento, 12% das florestas
do bioma Amazônia no Brasil já foram totalmente destruídas e ocupadas de forma
definitiva pelo homem, apesar de que esse número pode ser bem maior, atingindo a
marca de 17% (Barreto et al., 2005).
De modo simplificado, há três grandes tipos de uso da terra na Amazônia: (a) áreas que
já foram desflorestadas e que se encontram hoje sob diferentes tipos de ocupação huma-
na (cerca de 12%); (b) áreas protegidas, que correspondem as unidades de conservação
e as terras indígenas (cerca de 49%); e (c) as áreas de florestas não protegidas (39%).
A distribuição destes tipos de uso da terra ao longo das áreas de endemismo na
Amazônia Brasileira permite agrupar as áreas em três padrões bastante distintos
(Figura 2). O primeiro grupo é composto pela área de endemismo Belém, que possui
alta porcentagem de área desflorestada (mais de 60%), pouca proteção (20%) e pou-
quíssima área florestal não protegida (menos de 14%). O segundo grupo é composto
pelas áreas de endemismo Xingu, Tapajós, Rondônia, Inambari e Napo, que possuem
desflorestamento variando entre 2 e 26%, proteção entre 27 e 45% e extensas áreas
de florestas não protegidas (entre 35 e 52%). O terceiro grupo é composto pelas áreas
de endemismo Guiana e Imeri, que possuem uma porcentagem muito baixa das suas
áreas desflorestadas (menos de 4%), um alto nível de proteção (acima de 60%) e áreas
não tão extensas de florestas não protegidas (entre 26 e 28%).

Figura 2 - Porcentagem das porções brasileiras das áreas de endemismo Amazônicas ocupadas
pelas três maiores categorias de tipos de uso da terra. Branco, áreas protegidas (incluindo uni-
dades de conservação e terras indígenas); Preto, áreas já desflorestadas; Cinza, áreas florestais
não protegidas.

508
Conservação da Biodiversidade em paisagens antropizadas do Brasil

Esta análise simples indica as três maiores estratégias que devem ser tomadas para
garantir a conservação da região: (a) garantir a integridade das áreas já protegidas,
(b) proteger as áreas ainda cobertas por florestas e (c) aumentar a produtividade das
terras já desflorestadas.
A integridade ambiental das áreas protegidas somente pode ser garantida por meio
do manejo efetivo. Os elementos básicos do manejo efetivo de uma área protegida são
os seguintes: (a) corpo técnico dedicado a gestão da área protegida e infraestrutura
de apoio apropriada, (b) sistema de governança colaborativo com o engajamento dos
atores sociais locais, (c) planos de manejo simples, modernos, ágeis e fundamentados
na melhor ciência disponível e, finalmente, (d) mecanismos financeiros de longo
prazo grandes o suficiente para garantir a sustentabilidade financeira desses enormes
espaços geográficos.
A proteção das áreas ainda cobertas por florestas pode ser alcançada pela definição
oficial do uso adequado para cada área. Isto é ainda possível de ser realizado em grande
parte da Amazônia, pois grande parte das áreas ainda cobertas por florestas pertence
aos governos. As áreas ainda cobertas por florestas podem ser transformadas em: (a)
unidades de conservação de proteção integral para proteger ecossistemas e espécies
frágeis ainda não protegidos; (b) terras indígenas para atender as demandas existentes
e a proteção de povos indígenas ainda não contatados; (c) unidades de conservação
de uso sustentável para permitir o uso ordenado dos recursos florestais por meio de
concessões florestais e garantir os direitos das populações tradicionais; e, por fim,
(d) programas piloto de concessão florestal ao setor privado fora do marco legal do
sistema nacional de áreas protegidas. Naturalmente, o melhor destino destas florestas
públicas vai depender do contexto socioeconômico nos quais elas estão inseridas.
O uso eficiente das áreas que já foram desflorestadas pode ser atingido por meio da
adoção de uma política agropecuária sustentável, o que certamente gerará um novo
ciclo de crescimento econômico na região. Esta política necessita basicamente de um
amplo programa de regularização fundiária; da adoção, por parte dos produtores, de
tecnologias modernas que garantam o aumento da produtividade; e, naturalmente,
de toda a infraestrutura necessária para escoar e beneficiar a produção agropecuária
local, agregando valor à produção e tornando-a competitiva nos mercados nacional
e internacional. A área já desflorestada do bioma Amazônia no Brasil compreende
cerca de 470.000 km2, uma área equivalente a soma das áreas totais dos estados do Rio
Grande do Sul e Paraná, dois dos maiores produtores agrícolas do Brasil. Estes números
por si só já demonstram que mais desmatamento na região não possui justificativa
tanto do ponto de vista econômico como do ponto de vista social (Vieira et al., 2005).

Um modelo integrado para a conservação da Amazônia


Para garantir a continuidade da biodiversidade existente nas áreas de endemismo
amazônicas é necessário um novo plano de conservação para a região. Este plano

509
Carlos A. Peres; Jos Barlow; Toby A. Gardner e Ima Célia Guimarães Vieira (Orgs.)

deve usar as áreas de endemismo como unidades geográficas para o planejamento


de conservação de acordo com as recomendações de Ayres e Best (1979) e Soulé e
Terborgh (1991). Desta forma, para cada área de endemismo, deve-se desenhar e im-
plementar um corredor regional de biodiversidade, que integrará todos os blocos de
áreas protegidas, suas zonas de amortecimento e seus corredores ecológicos dentro
de um modelo integrado de gestão do território. Uma definição para o corredor regio-
nal de biodiversidade pode ser a seguinte: “uma rede de áreas protegidas (unidades
de conservação, terras indígenas, reservas legais e áreas de proteção permanente) e
outras áreas de uso menos intensivo, gerenciada de maneira participativa e integrada,
visando garantir a manutenção das espécies e dos processos ecológico-evolutivos em
uma região e, ao mesmo tempo, o desenvolvimento de uma economia local diversifi-
cada e resiliente baseada em atividades econômicas compatíveis com a conservação
do capital natural”.
Com base nas análises existentes, há a necessidade de aumentar significativamente
o número e a extensão das unidades de conservação de proteção integral em todas as
áreas de endemismo, pois elas formam o núcleo dos sistemas de conservação na Ama-
zônia. Onde não há possibilidade para a criação de novas unidades de conservação de
proteção integral, este tipo de manejo deve ser incorporado no âmbito das unidades
de conservação de uso sustentável e das terras indígenas. Alianças bem estruturadas
para conservação e desenvolvimento com as comunidades indígenas são de grande
importância (Zimmerman et al., 2001), dado que quase um quinto da Amazônia Bra-
sileira está protegido como terras indígenas. Idealmente, unidades de conservação de
proteção integral deveriam ser circundadas por unidades de conservação de uso sus-
tentável e terras indígenas, criando extensas zonas de amortecimento para os espaços
geográficos mais frágeis da região. O tamanho mínimo de uma unidade de proteção
integral deve ser entre 500.000-1.000.000 ha, visando manter populações viáveis de
grandes predadores e de grandes frugívoros, além de manter a integridade ecológica
das paisagens e dos serviços ecossistêmicos relevantes para as populações locais. Áreas
de endemismo com um grande número de espécies endêmicas, tal como Inambari e
Rondônia, exigirão, em média, muito mais unidades de conservação para representar
todas as espécies e processos ecológicos adequadamente (Rodrigues e Gaston, 2001).
Há ainda certa confusão desnecessária no uso dos termos corredor de biodiversidade
e corredor ecológico. Pela legislação ambiental brasileira, um corredor ecológico é
definido como “porções de ecossistemas naturais ou seminaturais, ligando unidades
de conservação, que possibilitam entre elas o fluxo de genes e o movimento da biota,
facilitando a dispersão de espécies e a recolonização de áreas degradadas, bem como a
manutenção de populações que demandam para sua sobrevivência áreas com extensão
maior do que aquela das unidades individuais”. Desta forma, o uso do termo corredor
ecológico deve ficar restrito às conexões entre as áreas protegidas ou entre os blocos
de áreas protegidas dentro de um corredor regional de biodiversidade. Portanto, um
corredor regional de biodiversidade pode incluir um ou mais corredores ecológicos,

510
Conservação da Biodiversidade em paisagens antropizadas do Brasil

dependendo do número de conexões que são necessários para integrar as áreas pro-
tegidas ou blocos de áreas protegidas dentro de uma área de endemismo.
A conservação das áreas de endemismo por meio dos corredores regionais de bio-
diversidade não será suficiente para manter os processos hidrológicos e climáticos
que operam em escalas espaciais muito mais amplas, pois a Amazônia é uma região
crítica para garantir serviços ambientais que são indispensáveis para outras regiões
do continente ou mesmo para outros continentes. Estima-se que a quantidade de
carbono estocada nas florestas da região seja por volta de 90 a 140 bilhões de tonela-
das (Soares-Filho et al., 2006), o que torna o esforço para conter o desflorestamento
regional um desafio global (IPCC, 2007). O desflorestamento da região pode provocar
também mudanças climáticas e hidrológicas locais, regionais e globais (Avissar et al.,
2006). Na escala local e continental, o desflorestamento diminui o vapor de água da
evapotranspiração, reduzindo assim as chuvas tanto na Amazônia como em regiões
densamente povoadas do centro-sul brasileiro (Salati e Vose, 1984; Clement e Higuchi,
2006). Na escala global, simulações indicam que o desflorestamento na Amazônia
acima de certo patamar pode produzir teleconexões que reduzirão de 10 a 20% as
chuvas de primavera e verão na América do Norte (Avissar et al., 2006). Estima-se
que a manutenção do ciclo hidrológico da Amazônia requer que entre 70 e 80% da
região sejam mantidos como floresta (Clement e Higuchi, 2006).
A manutenção dos processos hidrológicos e climáticos amazônicos na escala regional
e continental requer a integração dos corredores regionais de biodiversidade em um
Mega-Corredor de Biodiversidade Pan-Amazônico (MCBPA) cujo objetivo de manejo
imediato mais importante seria integrar os planos nacionais de desenvolvimento em
uma estratégia Pan-Amazônica coerente que vise garantir o fim do desmatamento da
região e a criação de uma nova economia baseada na manutenção da floresta.
A integração dos esforços em diferentes escalas espaciais constitui-se em um dos
maiores desafios para a ciência amazônica. Isto requer descentralização e criação de
capacidade local, na escala dos municípios, para a gestão efetiva do capital natural
amazônico. Incentivos financeiros por meio de pagamento de serviços ambientais
ou por meio do aumento das transferências de recursos nacionais de outras regiões
brasileiras para a Amazônia poderiam acelerar a criação desta rede de instituições
críticas para estabelecer os sistemas de governança necessários para a implementação
dos corredores em diferentes escalas espaciais.
O MCBPA requer uma ação estruturada dos oito países que compõem a Amazônia para
conciliar e integrar as políticas nacionais de conservação e desenvolvimento em uma
política continental na qual os impactos negativos das obras de infraestrutura sejam
minimizados enquanto os seus benefícios sociais e ambientais sejam maximizados.
Os elementos desta proposta de ação não são novos e já foram sugeridos tanto duran-
te as discussões que nortearam a criação da Organização do Tratado de Cooperação
Amazônica (OTCA; <www.otca.org.br>) como da União das Nações Sul-Americanas
(UNASUR; <www.unarsur.org>).

511
Carlos A. Peres; Jos Barlow; Toby A. Gardner e Ima Célia Guimarães Vieira (Orgs.)

O modelo apresentado aqui, apesar de simples, pode ajudar a construir um sistema


de conservação grande e resiliente o bastante para inibir o desmatamento, prevenir
os efeitos de mudanças climáticas futuras, promover um aumento significativo da
qualidade de vida das populações rurais e prover às sociedades brasileira e global
com os serviços ecológicos que somente a maior região de floresta tropical do mundo
pode oferecer.

Referências
Avissar, R., R. R. Silva & D. Werth. 2006. Impacts of tropical deforestation on regional and
global hydroclimatology. p. 67-79, In: Laurence, W. F. & C. A. Peres (eds.) Emerging Threats
to Tropical Forests. Chicago, Chicago University Press.
Ayres, J. M. & R. Best. 1979. Estratégias para a conservação da fauna amazônica. Acta
Amazônica 9(4): 81-101.
Ayres, J. M. & T. H. Clutton-Brock. 1992. River boundaries and species range size in Ama-
zonian primates. American Naturalist 140: 531-537.
Barreto, P., C. Souza Jr., A. Anderson, R. Salomão & J. Wiles. 2005. Pressão Humana no
Bioma Amazônia. Estado da Amazônia 3: 1-6.
Becker, B. K. 2001. Revisão das políticas de ocupação da Amazônia: é possível identificar
modelos para projetar cenários? Parcerias Estratégicas 12: 135-159.
Becker, B. K. 2004. Amazônia. Geopolítica na virada do III milênio. Rio de Janeiro, Gara-
mond Universitária. 168 p.
Clement, C. R. & N. Higuchi. 2006. A floresta amazônica e o futuro do Brasil. Ciência e
Cultura 58: 44-49.
Intergovernmental Panel on Climate Change – IPCC. 2007. Climate change 2007: the phy-
sical science basis. Contribution of working group I to the fourth assessment report of the
IPCC. Cambridge, UK, Cambridge University Press.
Laurence, W. F., M. A. Cochrane, S. Bergen, P. M. Fearnside, P. Delamônica, C. Barber, S.
D’Angelo & T. Fernandes. 2001. The future of the Brazilian Amazon. Science 291: 438-439.
Mittermeier, R. A., C. G. Mittermeier, P. R. Gil, J. Pilgrim, G. A. B. Fonseca, T. Brooks & W.
R. Konstant. 2002. Wilderness: Earth’s Last Wild Places. Mexico City, CEMEX S. A.
Nepstad, D., G. Carvalho, A. C. Barros, A. Alencar, J. P. Capobianco, J. Bishop, P. Moutinho,
P. Lefebvre, U. L. S. Silva Jr. & E. Prins. 2001. Road paving, fire regime feedbacks, and the
future of Amazon forests. Forest Ecology and Management 154: 395-407.
Rodrigues, A. S. L. & K. J. Gastón. 2001. How large do reserve networks need to be? Ecology
Letters 4: 602-609.
Salati, E. & P. B. Vose. 1984. Amazon Basin: A system in equilibrium. Science 225: 129-138.
Silva, J. M. C. 2005. Áreas de endemismo da Amazônia. Ciência & Ambiente 31: 25-38.

512
Conservação da Biodiversidade em paisagens antropizadas do Brasil

Silva, J. M. C., F. C. Novaes & D. C. Oren. 2002. Differentiation of Xiphocolaptes (Dendrocolap-


tidae) across the river Xingu, Brazilian Amazonia: recognition of a new phylogenetic species
and biogeographic implications. Bulletin of the British Ornithologists’Club 122: 185-194.
Silva, J. M. C., A. B. Rylands & G. A. B. Fonseca. 2005. The fate of the Amazonian areas of
endemism. Conservation Biology 19(3): 689-694.
Soares-Filho, B. S., D. Nepstad, L. Curran, E. Voll, G. Cerqueira, R. A. Garcia, C. A. Ramos,
A. McDonald, P. Lefebvre & P. Schlesinger. 2006. Modelling conservation in the Amazon
basin. Nature 440: 520-523.
Soulé, M. E. & J. Terborgh. 1999. Continental Conservation: Scientific Foundations of Re-
gional Reserve networks. Washington D.C., Island Press.
Tocantins, L. 1952. O rio comanda a vida. Uma interpretação da Amazônia. Rio de Janeiro,
Editora A Noite.
Vieira, I. C. G., J. M. C. Silva & P. M. Toledo. 2005. Estratégias para evitar a perda de biodi-
versidade na Amazônia. Estudos Avançados 19(54): 153-164.
Wallace, A. R. 1852. On the monkeys of the Amazon. Proceedings of the Zoological Society
of London 20: 107-110.
Zimmermann, B., C. A. Peres, J. R. Malcolm & T. Turner. 2001. Conservation and develop-
ment alliances with the Kayapó of south-eastern Amazonia, a tropical indigenous people.
Environmental Conservation 28: 10-22.

513

View publication stats

You might also like