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SebentaUA, apontamentos pessoais Disciplina /41050-Psicologia Social

41050
Psicologia Social

Autor: SebentaUA, apontamentos pessoais


E-mail: sebentaua@gmail.com
Data: 2006/07
Livro: Psicologia Social - Lombada 136, de Felix Neto
Caderno de Apoio:
Nota: Apontamentos efectuados para o exame da disciplina no ano lectivo 2006/2007

O autor não pode de forma alguma ser responsabilizado por eventuais erros ou lacunas existentes. Este documento não
pretende substituir o estudo dos manuais adoptados para a disciplina em questão.

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PSICOLOGIA SOCIAL
Psicologia social – estuda as pessoas enquanto animais sociais

O objectivo do questionamento científico é o escolher as vias alternativas para explicar o


comportamento.

1 – O que é a Psicologia Social?

• Dificuldades na definição:
- Diversidade do domínio
- Rápida taxa de mudança

Allport – “compreender e explicar como os pensamentos, sentimentos e comportamentos dos


indivíduos são influenciados pela presença actual, imaginada ou implicada de outros “

A Psicologia Social em termos de entradas (são as presenças actuais, imaginadas ou implicadas de


outras pessoas) e as saídas (são os pensamentos, sentimentos e comportamentos do individuo.

* Há cerca de cem anos os cientistas começaram a aplicar o método científico à compreensão do


comportamento social humano.
A abordagem cientifica procura descobrir relações causa-efeito, indeferindo-as da observação
objectiva e da experimentação.

1.1 - Tópicos da Psicologia Social


A Psicologia Social cobre um vasto domínio existindo muitos tópicos que são abarcados por ela.
Os psicólogos sociais abordam uma ampla gama de comportamentos humanos, mas os seus focos
de interesse na investigação limitam-se a pontos restritos, que são divididos em três grupos:
- Fisiológico
- Cognitivo-atitudinal
- Realização

Os psicólogos sociais têm-se ocupado tradicionalmente das atitudes das pessoas, das opiniões,
das crenças, dos valores, dos sentimentos, das representações sociais.

• Em suma, os psicólogos sociais investigam numerosos tópicos, certos tópicos de investigação


perduram, outros cessam.

1.2 – Relações com outros campos


A Psicologia Social mantém uma relação próxima com vários campos, em especial com a
Sociologia e a Psicologia.
Moscovici (1984) – diz que a Psicologia Social distingue-se da Sociologia e da Psicologia pela
mesma característica:

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- A Sociologia e a Psicologia põem em relação um sujeito (individual ou colectivo, segundo o caso)


e um objecto (meio, estimulo)
- Na Psicologia Social a relação dual (sujeito-objecto) é substituída por uma relação ternária:
* Sujeito individual (ego)
* Sujeito social (alter)
* Objectivo (físico, social, imaginário ou real)
É pois introduzida uma mediação constante entre o sujeito e o objecto que se traduz em modificações do
pensamento e do comportamento de cada um.
Em geral a ênfase no social distingue a psicologia Social da Psicologia e a ênfase no individual distingue-a
da Sociologia.

A Psicologia é o estudo científico do indivíduo e do comportamento individual, mas o comportamento


embora possa ser social, não o é necessariamente. Os psicólogos abordam o indivíduo fora do contexto
social ocupando-se de vários processos internos como seja percepção, aprendizagem, memória,
inteligência, motivação e emoção.

A Sociologia é o estudo científico da sociedade humana. Os sociólogos analisam o comportamento


humano num contexto mais amplo. Abordam tópicos tais como instituições sociais (família, religião,
politica), estratificação dentro da sociedade (classes sociais, raça, e etnicidade, papeis sexuais),
processos sociais básicos (socialização, desvio, controlo social) e a estrutura de unidades sociais (grupos,
redes, organizações formais, burocracias). Dão mais importância às normas que geriam o comportamento,
resultado de pressões externas.

A Psicologia Social estabelece a ponte entre a Psicologia e a Sociologia. Os psicólogos sociais para
explicar o comportamento recorrem a factores individuais e sociológicos. Para eles, se os processos
intrapsiquicos desempenham um papel determinante no comportamento de uma pessoa, o contexto social
desse comportamento fornece-lhes os estímulos sociais, motivos e objectivos. ´

1.3 - Níveis de analise


Podemos encontrar várias psicologias sociais diferentes e múltiplas explicações para as
experiências humanas e as acções. Encontram-se duas variantes principais em psicologia Social:
• Psicologia Social Sociológica (PSS)
• Psicologia Social Psicológica (PSP)
Ambas têm áreas comuns, mas diferem na focalização central e nos métodos de investigação:

P.S.S.: - a focalização central é no indivíduo


- os investigadores tentam compreender o comportamento social mediante a análise de estímulos
imediatos, estados psicológicos e traços de personalidade.
- o objectivo principal da investigação é a predição do comportamento
- a experimentação é o principal método de investigação

P.S.P.: - a focalização central é no grupo ou na sociedade


- Os investigadores tentam compreender o comportamento social mediante a análise de
variáveis societais, tais como estatuto social, papéis sociais e normas sociais
- O objectivo principal da investigação é a descrição do comportamento
- Inquéritos e observação participante são os principais métodos de investigação
Na PSP- Lewin, Festinger, Schachter, Asch, Campbell e Allport
Na PSS- Mead, Goffman, French, Homans e Bales

• Existem várias razões para se proceder ao estudo das 2 psicologias sociais:

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1ª – as duas psicologias complementam-se:


Visscher “ Tenha-se cuidado em que estas duas abordagens, a do psicólogo e a do sociólogo
desenvolvam investigações complementares num plano estritamente positivo”. Cada uma tem os
seus pontos fortes e fracos.
2ª – em ultima instancia, as duas abordagens convergem.
Todas as teorias da psicologia social tentam compreender os indivíduos no seu contexto social.
Todas reconhecem implícita ou explicitamente, a influência recíproca do indivíduo e da sociedade
na construção social da realidade.
Cada vez há uma maior interacção dos assuntos e dos métodos das duas psicologias sociais.
3ª – a atenção ao mundo subjectivo do individuo é a única contribuição da psicologia social que é
partilhada pela PSS e pela PSP (CartWight 1979)
Ambas as perspectivas acentuam o meio percepcionado pelo individuo e não tanto o meio actual.
Ambas as psicologias sociais se focalizam nas interpretações cognitivas da realidade e nos
comportamentos subsequentes com base nestas interpretações.

Sendo o comportamento variado e as suas causas diversas, não é de admirar que em psicologia social se
recorra a diferentes níveis de análises.

* Doise (1982) – sintetizou essas explicações distinguindo quatro níveis:


1ª – É abordado o estudo dos processos “psicológicos” ou intra-individuais”que deveriam dar conta
do modo como o individuo organiza a sua experiência do mundo social (ex. Um individuo ter uma
opinião global sobre alguém, a partir da integração de diferentes traços de personalidade que lhe
são apresentados)
2ª – Tem em conta a dinâmica de processos “inter-individuais” e “intra-individuais que ocorrem
entre indivíduos (ex: o estudo da atribuição de intenções a outrem).
3ª – Faz intervir diferenças de “posições” ou “de estatutos sociais” para dar conta de modulações
de
interacções situacionais (ex: quando uma argumentação convence mais facilmente um individuo
porque quem apresenta tem um estatuto social mais elevado).
4ª – Mostra como determinadas “crenças ideológicas universalistas” induzem representações e
condutas diferenciadoras, ou até mesmo discriminatórias.

* Lerner (1980) – os seus trabalhos permitem ilustrar o 4º nível, segundo ele as pessoas têm uma
profunda convicção de que o “mundo é justo” e o que acontece às pessoas que sofrem é merecido.

Se os níveis de análise podem ser diversos, os psicólogos sociais estão, no entanto, unidos na crença de
que os aspectos sociais do comportamento humano podem ser compreendidos através do estudo
sistemático. Este conhecimento pode permitir predizer o comportamento social e, talvez melhorá-lo,
contribuindo para uma qualidade de vida mais satisfatória dos seus semelhantes.

2 – Esboço histórico da Psicologia Social


Ebbinghaus (1908) – escreve que a “Psicologia tem um longo passado mas só tem uma breve história”.

• Atribui-se como data de nascimento da psicologia científica, em geral, o ano de 1879, ano em que o primeiro
laboratório de psicologia foi fundado em Leipzig, Alemanha, por Wilhelm Wundt.
• Platão aproximava o indivíduo e a sociedade, Rosseau analisou a influência das instituições sociais sobre a
psicologia dos indivíduos, não pode ainda dizer-se que estes autores sejam psicólogos sociais.

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2.1 – O longo passado do pensamento sócio-psicológico


A psicologia social começou a esboçar-se enquanto centro de interesse científico em finais do sec.XIX
e nos alvores do sec. XX.

Allport (1985) a história da filosofia não pode ser esquecida na medida em que há um século todos os
psicólogos sociais eram filósofos e muitos filósofos eram psicólogos sociais.

Os filósofos gregos foram provavelmente os primeiros teóricos em Psicologia Social (Platão e Aristóteles),
em particular, focalizaram a atenção do homem ocidental na sua natureza social.

Platão (427-347 a.c.) expõe na Republica que os Estados se formam porque o individuo não é auto-
suficiente e necessita da ajuda de muitos outros. Se os homens formam grupos sociais é porque precisam
deles.
O equilíbrio para uma sociedade depende do lugar que ela saiba dar a três actividades:
– Artesanal
– Guerreira
– Magistratura

Para além desta sua perspectiva sobre a sociedade, Platão considera que o espírito humano tem três
componentes:
– Comportamental
– Afectiva
– Cognitivo

Que se localizam:
– Abdómen
– Tórax
– Cabeça

Aristóteles (384-322 a.c.) na Politica, vê as pessoas como “animais políticos”, gregários por instinto. Ele
pensa que a interacção social é necessário para o desenvolvimento normal dos seres humanos.

• Quer Aristóteles quer Platão acreditam que os indivíduos diferem nas suas habilidades, uns têm
disposições inatas para a liderança e outros para serem seguidores.

Hobbes (1588-1679) – os homens não têm tendência a amar-se, mas o seu estado natural é a guerra contra
todos. A tão célebre frase “homo homini lupus” condensa bem esta premissa. Hobbes desenvolveu uma
análise dos processos interpsicológicos que levam o homem à socialização: paixão de ambição, paixão de
denominação, sentimento de insegurança. Este pensador coloca assim os alicerces da análise psico-social
na medida em que procura nas bases do comportamento, as bases da sociedade.

Rousseau (1712-1778) as condições sociais transformam verdadeiramente o homem. Stoetzel (1963) diz
que Rousseau procurou analisar a influência das instituições sobre psicologia dos indivíduos. No “discurso
sobre as ciências e as artes” (1750), defendia que as ciências e as artes corromperam o homem, como toda
a civilização.

Bentham (1748-1832) defendeu que todo o comportamento humano é motivado pela procura de prazer,
principio conhecido como hedonismo (prazer com bem supremo, evita o que é desagradável e procura
apenas o que é agradável).

Fourier (1792-1837) – socialista utópico, a sociedade ideal, o falantério assentava na “paixões humanas”.
Essa sociedade ideal constrói-se a partir de uma boa utilização das paixões humanas e não da sua
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correcção ou repressão. “ É necessário, pois, reestruturar a sociedade, a partir de m conhecimento que


chamaríamos hoje psico-social, e de que Fourier teve claramente a ideia, para trazer a harmonia
psicológica” (Stoetzel, 1963).

Karl Marx (1818-1883) – o comportamento social é determinado pelas condições económicas. Segundo
esta perspectiva, para mudar o modo das pessoas pensarem, sentirem e agirem é fundamental mudar
antes as instituições económicas.

Moritz Lazarus (1824-1903) e Heyman Steinthal (1823-1899) – fundadores em 1860 de uma Revista de
Psicologia dos Povos. Para eles, o “povo” era uma realidade espiritual, mas colectiva, cujo espírito não é um
mero produto, pensando descobrir os processos mentais dos chamados povos primitivos através do estudo
dos mitos, línguas, religião e artes.

2.2 – As origens da Psicologia Social


• É difícil situar o nascimento da Psicologia Social, pois esta disciplina vai aparecer como resultado de
uma evolução progressiva.
• O húmus propício à eclosão de uma abordagem específica da Psicologia Social, encontramo-lo na
confluência de duas correntes:
- Uma francesa
- Anglo-saxónica

Corrente francesa
Comte (1798-1857), que inventou o termo “sociologia” e fez muito para situar as ciências sociais na família
das ciências, foi o 1º autor a ter concebido a ideia de uma Psicologia Social. Duas das suas contribuições
são geralmente conhecidas:
1ª - “Lei dos três estádios”
• Estádio teológico – em que os acontecimentos são explicados e personificados pelos
Deuses.
• Estádio metafísico – em que os acontecimentos são explicados por poderes impessoais e
pelas leis da ciência.
• Estádio positivo – em que os acontecimentos são explicados pela sua invariabilidade e
constância.

2ª – É a classificação das ciências fundamentais abstractas.


Comte faz a distinção entre ciências abstractas que tratam de fenómenos irredutíveis, de acon-
tecimentos fundamentais e primários, e ciências concretas que tratam de fenómenos compósitos,
de “seres” concretos e das aplicações abstractas.
Comte inventou a “Moral Positiva”, pois necessitava de uma ciência que tratasse dos indivíduos e do modo
como os indivíduos combinam influências biológicas e societais. Esta “Moral Positiva” considera, por um
lado, os fundamentos biológicos do indivíduo segundo o enfoque da moderna psicofisiologia e, por outro
lado, aborda, o indivíduo num contexto cultural social, o que constitui a perspectiva da psicologia social
actual (Allport 1985).

Gabriel Tarde (1843-1904) e a Gustave de Bon (1841-1931) – deve-se um real desenvolvimento da


Psicologia Social

Émile Durkheim (1855-1917) – discípula de Comte, defende a posição deste último, segundo a qual o social
é rigorosamente irredutível ao individual. Esta posição entra em choque com a de Tarde que alicerça em
dois fenómenos psicológicos:
– Invenção – é fruto de individualidades poderosas que asseguram o progresso

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– Imitação – assegura a unidade e a estabilidade sociais.


Uma sociedade pode definir-se como “um grupo de homens que se imitam”
Para Tarde o papel dos meios de comunicação de massa na formação da opinião pública nos processos de
influência da comunicação.

LeBon - é autor de numerosas obras de psicologia e de filosofia sociais. A mais célebre é a Psicologia das
Multidões que LeBon deu a lume em 1895. Segundo LeBon, a multidão modifica o indivíduo, pois dota-o de
uma “alma colectiva”, em que o indivíduo reage de maneira diferente quando está numa situação de
multidão. Os indivíduos, em multidão, adoptam um raciocínio rudimentar qualitativamente inferior aos
indivíduos que a compõem. Estes comportamentos são explicados por LeBon por uma causa interna, o
contágio mental, e uma externa, a existência de líderes.
A obra de LeBon é julgada de um modo ambivalente: brilhante e superficial.

Rengelman- também levantou a seguinte questão:


“ Com é que a presença de outras pessoas influencia a realização de um individuo?”
Rengelman descobriu que, em comparação com o que as outras pessoas faziam por elas mesmas, a
realização individual diminuía quando trabalhavam conjuntamente em tarefas simples como o puxar uma
corda ou empurrar uma carroça. A investigação de Rengelman está na origem dos modernos estudos de
Psicologia Social sobre preguiça social.

Corrente anglo-saxónica
Embora hajam outras opiniões.

Triplett (1898) – publicou a experiência sobre os efeitos da competição sobre o desempenho humano. (ex:
observou que um ciclista pedala mais depressa quando em conjunto, do que sozinho)

Sociólogo Edward Ross (1866-1951) – publicou em 1901 uma obra sobre “controlo social” em que
considera a Psicologia Social como o estudo das inter relações psíquicas entre o homem e o meio que o
rodeia.

William McDougall (1908) em Inglaterra, publica uma obra “Introdução à Psicologia Social”. O autor delineia
uma introdução psicológica à sociologia e mostra como é que os factos sociais se alicerçam na Psicologia.
Baseou-se amplamente no ponto de vista que o comportamento social resulta de um pequeno número de
tendências inatas ou instintos.

Floyd Allport – faz um texto sobre Psicologia Social em que o comportamento social é influenciado por
muitos factores em que se incluem a presença dos outros e as suas acções. Este texto foi o 1º livro de base
em Psicologia social que permitiu a inclusão desta disciplina no programa de estudos dos departamentos de
Psicologia das universidades americanas.

2.3 - Evolução da Psicologia Social


Os anos que se seguiram à publicação do Texto de F. Allport foram um período de crescimento rápido para
a Psicologia Social. O ideal de transformar a Psicologia Social numa disciplina empírica (todo o
conhecimento humano deriva, directa ou indirectamente, da experiência) já tinha sido aceite em finais dos
anos 20, começo dos anos 30, desenvolveram-se técnicas de investigação e expande-se o trabalho
efectuado.

Nos anos 30 surge a publicação de trabalhos de três figuras de 1ª fila, na história da Psicologia social.
– Levy Moreno (1892-1974)
– Muzafer Sherif (1906-1990)

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– Kurt Lewin (1890-1947)

Moreno (1934) – desenvolveu o sistema sociométrico para analisar as interacções individuo-grupo.


Sherif – o 1º programa de investigação com cariz experimental (Sahakian 1982).
Lewin – formulou a “teoria do campo” - segundo a qual o comportamento humano deve ser considerado
como uma função das características do individuo em interacção com o seu meio.

• Na resposta à questão sobre o que é que determina o comportamento humano:


– Freud – acentuou os processos psicológicos internos ao indivíduo.
– Marx - sublinhou as forças externas.
– Lewin – optou por ambos os factores: internos e externos, que influenciam o comportamento
humano.
Esta abordagem combina a psicologia da personalidade com a psicologia social, que
tradicionalmente têm sublinhado respectivamente diferenças entre indivíduos e diferenças entre
situações.

Em cada década do sec. XX os interesses da investigação foram-se modificando e ampliando:


– Até aos anos 30 – o interesse dos investigadores está centrado, na medida das atitudes.
– 40 a 50 – presta-se atenção à influência dos grupos e da pertença aos grupos sobre o
comportamento individual e abordam-se as relações entre vários traços da personalidade e
comportamento social. As atitudes são também um domínio de estudo prioritário, a explicação
das mudanças de atitude.
– 60 – o campo da Psicologia Social expandiu-se de modo acentuado. Os psicólogos sociais
fizeram incidir a sua atenção em áreas de investigação. (ex: porque é que obedecemos à
autoridade, como nos atraímos e fazemos amigos....)
No Canadá – Wallace Lambert, Robert Gardner e outros – dedicaram-se ao estudo de aspectos
psico-sociais do bilinguismo (uso de duas línguas).
Nesta época também continuou a investigação em áreas de interesse social (ex: preconceitos e
mudanças de atitude).
Ainda nos anos 60 psicólogos sociais europeus – Moscovici em França e Tajfel na Grâ-Bretanha
– lançaram as bases de uma psicologia social diferente da dos EU.
A Psicologia Social europeia colocou uma maior ênfase que a norte-americana – no estudo das
relações interpessoais e na investigação de tópicos.
Nos anos 60 assiste-se a um crescimento notório no domínio, surge a crise de confiança levando
psicólogos sociais a enveredarem por debates de extrema vivacidade.
– 70 – foram postos em cena novos tópicos (ex: papeis sexuais e descriminação sexual, psicologia
ambiental)
– 70 e 80 – duas tendências:
* Influência crescente da perspectiva cognitiva.
* A ênfase na vertente aplicada.
– 90 – tem-se também verificado um crescente interesse pela investigação aplicada.
Para além da influência da perspectiva cognitiva e da vertente aplicada, que na nossa opinião também irão
obter ainda uma maior expressão no futuro, duas outras perspectivas vão ocupar mais os psicólogos sociais:
– O estudo do papel do afecto,
– E uma maior sensibilização à variação cultural.

3 – A Psicologia Social como ciência


Os psicólogos sociais querem compreender as pessoas e ajudá-las a remediar problemas humanos.

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Os psicólogos sociais diferenciam-se na medida em que enveredam por uma abordagem cientifica para os
seus assuntos.

Ciência – entende-se um corpo organizado de conhecimentos que advêm da observação objectiva e de


testagem sistemática. Refere-se a todas as áreas que podem ser estudadas (sistemática e objectivamente)
e não a m assunto particular.

Ciências naturais – biologia, botânica, física, química e a zoologia - tentam explicar observações acerca da
natureza e do mundo físico.

Ciências comportamentais – antropologia, etologia, psicologia e a sociologia – abordam observações acerca


de actividades, como sejam operações mentais e respostas motoras de animais e de seres humanos.

Ciências sociais (expressão) – refere-se às ciências comportamentais e disciplinas afins (economia, ciência
politica) que abordam actividades das pessoas inseridas em comunidades humanas.

A Psicologia Social investiga as acções de indivíduos e de indivíduos dentro de grupos, sendo assim uma
ciência comportamental e social.

“Teoria” - é uma descrição de relações entre símbolos que representam a realidade (Hall e Lindzey 1978).

Atitude - é um símbolo abstracto utilizado para representar a realidade de que indivíduos têm preferência
por certos objectos específicos:
– Não é real
– Apenas representa coisas reais.

Construto- quando um símbolo abstracto numa teoria é definido em termos de acontecimentos


observáveis.

3.1 – Investigação cientifica


A Psicologia Social utiliza o método científico para estudar o comportamento social.

Método científico – implica observação sistemática, desenvolvimento de teorias que explicam essas
observações, uso de teorias que engendram predições acerca de observações futuras e revisão de teorias
quando as predições não estão certas.

A ciência não se limita a ficar por observações precisas, exigindo explicações. São precisamente as teorias
que nos ajudam a explicar o que se observa. Uma teoria consiste na formação de regras gerais tendo por
alicerce observações específicas efectuadas.

Indução lógica – é a passagem de observações específicas a regras gerais ou teorias.


Karl Popper- mostrou que uma teoria cientifica não pode logicamente ser provada como verdadeira, mas
pode ser refutada (contradizer com argumentos). Popper defende que para uma teoria ser científica deve,
em princípio, ser capaz de refutação empírica.

O valor de uma teoria depende de um certo número de qualidades:


1º - Deverá estar em concordância com dados conhecidos, incorporando o que se encontrou acerca
do

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comportamento humano.
2º – É compreensiva, tentando compreender e explicar um amplo leque de comportamentos.
3º – É parcimoniosa, não contendo mais que os elementos necessários para explicar o assunto em
questão.
4º – É de se testar, fornecendo meios mediante os quais hipóteses especificas e predições podem ser
suscitadas e subsequentemente testadas por investigação.
5º – É o seu valor heurístico (descobrir a verdade por si próprio) isto é, em que medida estimula o
pensamento e a investigação e desafia outras pessoas a desenvolverem e testarem teorias
opostas.
6º – A utilidade ou valor aplicado de uma teoria é um atributo importante.

As teorias podem também servir para sensibilizar, para identificar os factores susceptíveis de influenciar a
vida quotidiana e para prestar atenção às consequências das suas acções.

Os psicólogos sociais tentam elaborar teorias que aumentem na pessoa a tomada de consciência de
deficiências na vida quotidiana e permitam guiá-las para opções mais satisfatórias.

Teoria GENERATIVA (Gergen 1978) – dá à pessoa a possibilidade de se interrogarem sobre o que


acreditavam antes e permite optar por novas relações em vez de conservarem crenças dogmáticas (aceites
como incontestáveis).

3.2 – Objectivos científicos da Psicologia Social


Os objectivos centrais da investigação em Psicologia Social, são quatro:
– Descrição - emana naturalmente da colecção sistemática de factos e de observações acerca
de
qualquer fenómeno.
– Explicação – pressupõe a identificação das relações causais que produzem comportamentos
particulares.
– Predição
– Controlo – quando ou se ocorrem.

Em resumo, a investigação pode fornecer informação fidedigna sobre a sociedade, explicá-la, permitir
predições e controlar a ocorrência de fenómenos comportamentais.

3.3 – O processo de investigação em Psicologia Social


Os psicólogos sociais para estudarem de modo eficaz o comportamento social, devem planear
meticulosamente e executar os seus projectos de investigação.
Este processo cientifico pode sintetizar-se em sete etapas:
1º - Seleccionar um tópico de investigação – é necessário desenvolver uma ideia acerca do com-
portamento que valha a pena explorar.
2º - É a busca da documentação de investigação – que permite delimitar os estudos anteriores
efectuados sobre o tópico.
3º - Consiste na formulação de hipóteses – são expectativas específicas sobre a natureza das
coisas
decorrentes de uma teoria.
4º - Consiste na escolha de um método de investigação – que permitirá testar as hipóteses
(método
correlacional e o experimental).
5º - Recolha de dados – existem três técnicas básicas:

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• Auto-avaliações
• Observações directas
• Informação de arquivo.
6º - É efectuar análise de dados – as duas espécies básicas de estatísticas utilizadas pelos
psicólogos
sociais são as descritivas e inferenciais.
7º - Apresentar o relatório de resultados – efectua-se publicando artigos em revistas cientificas,
fazendo apresentações em congressos, ou informando pessoalmente outros investigadores na
disciplina.

3.4 – Meta-análise
Um dos problemas com que se defrontam muitas vezes os investigadores é que o processo de
investigação conduz frequentemente a resultados contraditórios de um estudo para o outro.

Meta-análise – é uma técnica estatística que permite aos investigadores combinar informação de
muitos estudos empíricos sobre um tópico e avaliar objectivamente a fidelidade e o tamanho global do
efeito (Rosenthal -1984).

4 – Teorias em Psicologia Social


Os psicólogos sociais desenvolveram muitas ideias diferentes sobre a vida social. Nenhuma teoria
permite explicar de modo adequado todos os fenómenos sociais.

Entre as principais posições teóricas amplas em Psicologia Social figuram as teorias:


• Aprendizagem
• Cognitivas
• Regras e papeis.

Teoria da Aprendizagem – têm as suas origens nos princípios básicos do behaviorismo que
salientou o condicionamento clássico e a aprendizagem através de reforço ou recompensa.

Teoria Cognitiva – têm as suas origens na psicologia de Gestalt. Focalizam-se nos processos
cognitivos que estão subjacentes às nossas percepções e julgamentos acerca de nós próprios e dos
outros em situações sociais.

Teoria Regras e Papeis – mais com pendor sociológico, põem em evidência a ideia de que os
pensamentos e os comportamentos dos indivíduos são o resultado de interacções que têm com outras
pessoas e do significado que elas dão às interacções e papéis.

No seio destas três orientações teóricas gerais é possível desenvolverem-se modelos mais limitados, por
vezes chamados mini-teorias, que tentam explicar um leque mais restrito do comportamento humano
(fenómenos precisos tais como o amor, solidão …).

4.1 – Teorias da Aprendizagem


Durante muitos anos, as teorias da aprendizagem foram a orientação dominante em Psicologia . o seu
núcleo é a ideia de que o comportamento de uma pessoa é determinado pela aprendizagem anterior.
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α) Mecanismos de aprendizagem social


Há três mecanismos gerais mediante ao quais as pessoas aprendem coisas novas:
• Associação ou condicionamento clássico
• Reforço
• Aprendizagem observacional ou imitação

β) Contribuições
As teorias da aprendizagem têm-se utilizado para explicar muitos fenómenos sócio-psicológicos, como a
atracção interpessoal, a agressão, o altruísmo, o preconceito, a formação de atitudes, a conformidade e a
obediência.

4.2 -Teorias Cognitivas


A teoria da aprendizagem é criticada por existir uma “caixa negra”, é salientando o que entra na caixa
(estimulo) e o que sai (resposta), mas presta pouca atenção ao que se passa dentro da caixa.

Os elementos do interior – emoções e cognições – são a principal preocupação das teorias cognitivas.

A ideia principal das teorias cognitivas para a Psicologia social é que o comportamento de uma pessoa
depende do modo como percepciona a situação social.

Kohler e Koffka – interessaram-se em saber como é que os processos interiores do indivíduo impõem uma
forma ao mundo exterior.

α) Princípios básicos
Uma ideia central para esta orientação é que as pessoas tendem espontaneamente a agrupar ou a
categorizar objectos.
Uma segunda ideia central é que percepcionamos imediatamente algumas coisas como sendo salientes
(figuras) e outras como estando atrás (fundo).

Estes princípios cognitivos (agrupamos e categorizamos) são importantes para o modo como
interpretamos o que as pessoas sentem, querem e que tipo de pessoas são.

Os princípios cognitivos estudam como é que as pessoas processam a informação.


No domínio da psicologia social a investigação sobre cognição social, aborda o modo como processamos
informação social acerca de pessoas, de situações sociais e de grupos. A investigação sobre a cognição
social tem sido efectuada em três áreas:
• Percepção social
• Memória social
• Julgamentos sociais.

A nível perceptivo os psicólogos sociais interessam-se em como certas estruturas cognitivas nos ajudam a
prestar atenção a vastas quantidades de informação acerca das outras pessoas e das situações sociais.

Esquemas – são representações que as pessoas têm nas suas cabeças acerca de pessoas e de
acontecimentos. Os esquemas representam o conhecimento integrado que temos a respeito do nosso
meio social.

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Uma outra direcção de investigação cognitiva em que a Psicologia Social tem sido fértil é o estudo de
atribuições causais, isto é, os modos como as pessoas usam a informação para determinar as causas do
comportamento social.

β) Contribuições
As teorias cognitivas permitem explicar situações que parecem numa primeira abordagem
incompreensíveis.

Os psicólogos sociais seguindo a tradição de Gestalt, examinaram como é que o nosso conhecimento dos
traços individuais é combinado para formar impressões globais das pessoas.
4.3 – Teoria dos Papeis
É possível delinear o seu começo nas concepções dos papéis teatrais há mais de dois milénios em
autores Gregos, foi George Herbert Mead (1913) que tomou o conceito de papel popular na sua análise do
self em relação com as pessoas que nos rodeiam.

a) Princípios básicos
Teoria do Papel:
• Trata-se de uma rede ligada a hipóteses e de um conjunto bastante amplo de construtos
(Shaw e Costanzo 1982),
• Presta pouca atenção aos determinantes individuais do comportamento
• O indivíduo é visto como um produto da sociedade em que vive e como um indivíduo que
contribui para essa sociedade

O termo “papel” – define-se como a posição ou função que uma pessoa ocupa no seio de um
determinado contexto social (Shaw e Costanzo 1982), uma pessoa desempenha simultaneamente muitos
papéis: de estudante universitário, de irmã, de namorada, de jogadora….

Os papéis muitas vezes entram em conflito uns com os outros.


Conflito de papeis:
• Conflito interpapel – quando uma pessoa ocupa diversas posições com exigências
incompatíveis,
• Conflito intrapapel – quando um só papel tem expectativas que são incompatíveis.

b) Contribuições
O conceito de papel tem sido amplamente utilizado em Psicologia social. Neste domínio frequentemente
se recorre a termos como modelo de papel, jogo de papel, tomada de papel. Este conceito dá conta da
possível mudança de comportamentos das pessoas quando a sua posição na sociedade muda.

O doente mental é o produto de uma personalidade perturbada que tem problemas profundos e duradoiros,
nada tendo a ver com a situação.
Segundo a teoria dos papéis, a doença mental é muitas vezes aprendida quase como alguém aprende um
papel numa peça de teatro.

Mais recentemente as ideias da teoria dos papeis têm contribuído para o incremento do estudo do auto-
conceito.

• Modelos de auto consciência – referem em que condições nos tornam mais conscientes de
nós próprios.

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• Conceito auto vigilância – dá conta da tendência de algumas pessoas observarem o modo


como são percepcionadas pelas outras.
• Área da gestão da impressão – aborda o modo como as pessoas tentam criar impressões
específicas e positivas acerca delas próprias (Schlenker, 1980).

4.4 – Uma comparação de teorias


As três teorias acabadas de apresentar diferem nas questões que tratam e nas questões que ignoram.

• Conceitos diferentes
Teoria da aprendizagem – o comportamento social observável é explicado pelas relações entre
estímulo e resposta e a aplicação do reforço.
Teoria cognitiva – acentuam a importância das cognições e, de uma maneira geral, da estrutura
cognitiva como determinante do comportamento.
Teoria do papel – enfatiza papéis e normas, definidos pelas expectativas dos membros do grupo em
relação à realização.

• Diferem de comportamentos explicados


Teoria da aprendizagem – focalizam-se na aquisição de novos padrões de resposta e no impacto das
recompensas e dos castigos na interacção social.
Teoria cognitiva – abordam os efeitos das cognições sobre a resposta da pessoa a estímulos sociais, e
tratam também das mudanças nas crenças e nas atitudes.
Teoria do papel – sublinha o papel do comportamento e a mudança de atitude que resulta dos papéis
que se tem.

• Diferem nas suposições acerca da natureza humana


Teoria da aprendizagem – vêem os actos das pessoas, o que aprendem e como o fazem, como
determinados fundamentalmente pelos padrões de reforço.
Teoria cognitiva – acentuam que as pessoas percepcionam, interpretam e tomam decisões acerca do
mundo.
Teoria do papel – supõem que as pessoas são enormemente conformistas. Vêem as pessoas como
agindo de acordo com as expectativas de papéis que têm os membros do grupo.

• Diferem nas concepções do que provoca a mudança no comportamento


Teoria da aprendizagem – defendem que a mudança no comportamento resulta de mudança no tipo,
quantidade e frequência de reforço recebido.
Teoria cognitiva – sustentam que a mudança no comportamento resulta de mudanças nas crenças e
atitudes, para além de postular que mudanças nas crenças e atitudes são muitas vezes o resultado de
esforços para resolver inconsistências entre cognições.
Teoria do papel – defende que para mudar o comportamento de alguém, é necessário mudar o papel
que a pessoa ocupa. Diferente comportamento resultará quando a pessoa muda de papéis, porque o novo
papel acarretará diferentes pedidos de expectativas.

5 – A Psicologia Social contemporânea

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6 – Perspectivas internacionais

Tajfel e seus colegas – o trabalho consiste na identidade social, categorização social e relações
intergrupais.
Moscovici e seus colegas – o trabalho consiste na polarização de grupos, influência minoritária e
representações sociais.
Muzafer Sherif e Carolyn Sherif – exploram a formação de grupos, o conflito intergrupal e técnicas para
reduzir o conflito.

Sumário na pag. 119.

Self
Fenómeno do sarau-cocktail – é a capacidade em aprender um estímulo relevante para si próprio num
meio complexo (Moray 1959). –ex: estar numa festa buliçosa e ouvir alguém do outro lado da sala referir o
seu nome.

Para os Psicólogos Cognitivistas o fenómeno denota que as pessoas são selectivas na sua
percepção dos estímulos, para os Psicólogos Sociais tal ilustra também que o self não é só mais um
estímulo social, pode tratar-se do mais importante objecto da nossa atenção.

Self
• Natureza – são as características que uma pessoa reclama como sendo suas e às quais dá um
valor afectivo – Markus e Kunda 1986 – o self tem diferentes rostos.
• É uma construção social que se forma mediante a interacção com outras pessoas. É a base das
interacções sociais, mas também afecta um amplo leque de comportamentos sociais. (ex:
julgamentos sobre outras pessoas, como comunicamos com elas…) – são comportamentos que
podem ser influenciados pelo modo como vemos a nós próprios.

Psicologia Social focaliza-se no indivíduo dentro do contexto social. Grupos e organizações podem
contribuir para a emergência da self social é o domínio natural do psicólogo social.

Três aspectos do self em Psicologia Social:


1º - Auto conceito cognitivo – é a questão de como as pessoas chegam à compreensão dos seus
próprios comportamentos.
2º - Auto estima – componente afectiva, e a questão do modo como as pessoas se avaliam a elas
próprias.
3º Auto apresentação – a manifestação comportamental do self, e a questão de como é que as
pessoas se apresentam às outras.

1- O self em Psicologia Social

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Platão – considerou o self equivalente à alma e sentiu que era o lugar da sabedoria.
Buda – acreditou que cada um de nós cria o seu próprio sentido de identidade pessoal, mas esta auto
compreensão é muitas vezes distorcida e incompleta.
Descartes – baseou o self na nossa capacidade em pensar.
Hume – considerou o self como equivalente com experiências de percepção.
Kant – notava que o self não é tanto a nossa perspectiva de quem acreditamos que somos como do que
somos realmente.

O self ajuda-nos a compreender o nosso comportamento. Ele pode efectivamente ajudar a percepcionar-
nos como uma pessoa com certas atitudes, valores ou comportamentos.

John Watson (1913) – defendia que o self não pode ser medido e que não deveria, por conseguinte, ser
objecto de estudo científico. (é impossível saber com precisão o que vai na cabeça de outra pessoa).

2- Definindo o self: auto conceito

Auto conceito – pode ser definido como o conjunto de pensamentos e sentimentos que se referem ao
self enquanto objecto (Rosenberg 1979).
É importante referir que o auto conceito não constitui necessariamente uma visão “objectiva” do que
somos, mas antes um reflexo de nós próprios tal qual nos percepcionamos.

2.1- Componentes do auto conceito


William James (1890) – dualidade do Self:
1º - O self é composto pelos nossos pensamentos e crenças acerca de nós próprios. (o “mim”).
O “mim” contém três componentes distintos:
- Self material – corpo, vestuário, a casa e outras possessões.
- Self espiritual – traços de personalidade, atitudes, valores e percepções sociais.
- Self social – amigos, pais, namorado… que conhecem de mim próprio.
2º - O self é também o processador activo de informação, o “conhecedor”, ou o “eu”.
É criado um sentido coerente da identidade.
O seu self é simultaneamente um livro, repleto de conteúdos fascinantes recolhidos ao longo do
tempo, e o leitor do livro que num dado momento pode ter acesso a um determinado capitulo ou
acrescentar um novo.

Auto conceito espontâneo – é quando a pessoa fornece uma descrição de si própria sem ser
orientada pelo experimentador sobre as dimensões que considera importantes.
A saliência de certas características no auto conceito espontâneo pode ser influenciado pelo meio. O auto
conceito reflectirá muitas vezes características da identidade que tornam as pessoas distintas das que as
rodeiam.
O auto conceito espontâneo pode também ser influenciado pelas circunstâncias imediatas.

2.2 – Auto-esquemas
As auto-representações não são só descrições de superfície que se utilizam quando alguém nos pergunta
quem somos. Para além disso, as crenças sobre o self podem afectar a maneira como vemos o mundo e

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como retemos informação acerca de experiências e acontecimentos. Avanço no estudo da cognição


humana fornecem uma perspectiva nova importante.

Esquemas – são colecções organizadas de informação acerca de algum objecto.


Auto-esquemas – é um tipo especial de esquema construído com tudo o que conhecemos, pensamos
e sentimos acerca de nós próprios.

Hazel Markus (1977) –auto-esquemas são:


“Generalizações cognitivas acerca do self, derivadas da experiência passada que organiza e guiam o
tratamento de informação que se refere a si próprio contida nas experiências sociais do individuo.”

Como qualquer outro esquema, um auto-esquema não só organiza, como também guia o processamento
de informação. Isto significa que os nossos auto-esquemas podem influenciar as nossas percepções,
memória e inferências (ilação, dedução) acerca de nós próprios. (Fiske e Taylor 1991)

Do mesmo modo que as pessoas podem ter diferentes auto conceitos, também podem ter diferentes auto-
esquemas.

Os auto-esquemas não se limitam só a material verbal. Parte do nosso auto conceito implica imagens
visuais. Por exemplo, as pessoas são mais susceptíveis de se lembrarem de fotografias delas próprias
mais intimamente parecidas com a sua auto-imagem física do que de fotografias que são discrepantes
com essa auto-imagem, mesmo se todas as fotografias foram feitas na mesma altura. (Yarmey e Jonhson
1982).
Há, pois, uma variedade de modos em como a maneira como nos vemos a nós próprios afecta a maneira
como vemos o mundo.

O auto-conceito na medida em que abarca muitos auto-esquemas é multifacetado (Sande et al.1988).

2.3 – Memória autobiográfica


Auto-esquemas afectam também o modo como relembramos o passado. Sem memória autobiográfica, isto
é, as nossas lembranças da sequência de acontecimentos que tocaram a nossa vida (Rubin 1986), não
teríamos auto-representações.

Ross (1989) – se as lembranças configuram as nossas auto-representações, veremos que as auto-


representações também configuram as nossas lembranças.
Greenwald (1980) – propôs que o self actua como um ego totalitário que processa a informação de modo
enviesado. Este autor identificou três viés principais:
• Egocentração – descreve a tendência para o julgamento e a memória se focalizarem no self.
Acontecimentos que afectam o self são lembrados melhor que informação que não é relevante
para o self.
Para além de tendências egocêntricas há a crença que as pessoas têm de controlar
acontecimentos que ocorrem meramente por acaso – ilusão de controlo.
A egocentração também se manifesta no viés do falso consenso, isto é a tendência geral para
as
pessoas acreditarem que a maior parte das outras pessoas se comporta e pensa como nós.
• Beneficiação – este processo opera quando tiramos conclusões acerca de nós próprios a
partir das nossas acções. Para mantermos um conceito positivo do self, chamamos a nós o

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sucesso e negamos a responsabilidade pelo fracasso. A “beneficiação” é um viés de


autocomplacência que preserva o nosso sentido de competência.

Arkin e Maruyama, 1979 – os estudantes quando tiram boas notas, dizem que os exames foram
elaborados de modo correcto, mas quando as notas são fracas não assumem a responsabilidade do seu
fracasso e consideram o exame incapaz de avaliar as suas capacidades.
• Conservadorismo cognitivo – o conservadorismo cognitivo significa que os nossos auto
conceitos tendem a resistir à mudança. A maior parte das vezes as pessoas colocam-se em
situações susceptíveis de reforçar as seus auto-esquemas existentes, procurando confirmar
informação e evitar situações que possam suscitar informação inconsistente.

Apesar da tendência a resistir à mudança, os nossos auto conceitos, atitudes e valores podem mudar com
o tempo.
Quando tal acontece, as pessoas mantém a sua imagem de consistência distorcendo a sua memória das
suas atitudes anteriores, lembrando-as como estando mais perto das atitudes actuais do que realmente
estavam (Bern e McCormel 1970). A memória aparece como sendo maleável e é reconstruída para
permitir que uma pessoa mantenha uma perspectiva consistente do seu self.

2.4– Origens do self


Factores que podem contribuir para o desenvolvimento do self:
a) Avaliação reflectida
O autoconceito inclui crenças acerca das nossas características e uma avaliação de cada
característica, quer se trate de aspectos positivos ou negativos.

O nosso julgamento sobre nós próprios reflecte de muitas maneiras a avaliação dos outros a nosso
respeito.

Cooley (1902) – afirma que aprendemos acerca de nós próprios através dos outros. Utilizou a analogia de
um espelho ou “olhar-se num espelho”. As pessoas que estão à nossa volta agem como um espelho
social, reflectindo e dizendo-nos quem somos.

b) – Comparação social
A comparação social pode permitir avaliar as nossas habilidades, pensamentos, sentimentos e traços
comparando-os com outros.

Festinger (1954) – um dos teóricos que mais influenciou a moderna psicologia social, desenvolveu a teoria
da comparação social para explicar este processo. A sua teoria afirma que na ausência de um padrão
físico ou objectivo de exactidão, procuramos as outras pessoas como meio para nos avaliarmos.

A investigação mostra que muitas vezes as pessoas escolhem comparar-se com outras pessoas
semelhan-
tes quando se avaliam.

c) – Comparação temporal
As pessoas podem também auto-avaliar-se efectuando comparações entre o seu self presente e o
seu self passado, isto é, efectuando comparações temporais – Albert 1977.

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As avaliações efectuadas com base nas tendências temporais, podem ser fonte de satisfação quando
a realização melhorou (Campbell, Fairey e Fehr 1986).
Para certas pessoas (idosas) as comparações temporais podem acentuar a deterioração nas suas
capacidades e na saúde – suscitando uma baixa da auto-estima.

“Historiadores revisionistas “ – têm a capacidade de reescrever as suas histórias pessoais do modo


que lhes convém (Ross e McFarland, 1988).

d) – Autopercepção
Uma outra fonte de informação acerca do self baseia-se nas inferências e observações que as
pessoas fazem quando observam o seu próprio comportamento. A teoria da autopercepção propõe
que as pessoas conhecem as suas próprias atitudes, emoções e outros estados internos, parcialmente
inferindo-os de observações dos eu próprio comportamento e ou circunstâncias em que este
comportamento ocorre (Bern 1972).
Esta teoria tem implicações importantes para a motivação humana.

2.5– O self num contexto cultural


O nosso sentido do self combina aspectos privados ou internos de uma pessoa e aspectos mais
públicos ou sociais de alguém que se identifica com vários grupos, como sejam grupos culturais, raciais,
religiosos, políticos, sexuais etários e profissionais…. Os aspectos mais privados do self fornecem-nos
um sentido de identidade pessoal, ao passo que os aspectos mais públicos do self propiciam-nos um
sentido de identidade social (Tajfel e Turner, 1979).

• Self privado – típico das culturas ocidentais


• Self social – típico das culturas orientais.
Sampron, 1991 – self “propriedade da cultura “.

α) - A importância de um grupo para o sentido do self


Tajfel 1982; Tajfel e Turner 1979 – teoria da Identidade Social – esta teoria sublinha que a pertença
grupal é muito importante para o auto conceito de uma pessoa.

A identidade social é aquela parte do seu auto conceito que advém de ser membro de grupos sociais e
da identificação com eles. Distingue-se da identidade pessoal que engloba os aspectos únicos e
individuais do seu auto conceito.

Uma proposição fundamental da teoria da identidade social é a de que os indivíduos procuram manter
ou realizar uma identidade social positiva e distintiva.

Escala Colectiva de Auto-estima – Luthanen e Crocker, 1992 – o objectivo desta escala é medir
sentimentos a respeito de grupos sociais a que o individuo pertence. A escala avalia a auto-estima em
relação à pertença a grupos sociais.

β) – Self e cultura: Identidade social através das culturas

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Um dos aspectos mais importantes da identidade social de uma pessoa é a sua cultura que tem sido
definida como o sistema organizado de significações, percepções e crenças partilhadas por pessoas
que pertencem a um grupo particular (Neto 1997).
A compreensão partilhada de uma cultura passa de geração em geração e simultaneamente modela e
é modelada por cada geração sucessiva.

Triandis (1989) – refere as distinções entre:


- Self privado – a avaliação do self por si próprio.
- Self público – a avaliação do self por um outro generalizado
- Self colectivo – a avaliação do self por um grupo de referencia particular.
Ele defende que a probabilidade de que um individuo escolha cada um dos três aspectos do self varia
segundo as culturas:
- Nas culturas individualistas – o self privado tende a ser mais complexo e mais saliente
que o self colectivo, e por isso é mais susceptível de ser escolhido
- Nas culturas colectivistas – o self colectivo tende a ser mais complexo e mais saliente
que o self privado, e por isso é mais susceptível de ser escolhido.

Trafimow et al. (1991) – mostraram que as autocongições privadas e colectivas eram representadas
de modo independente na memória e que os sujeitos de culturas individualistas (EU) relembravam
mais cognições acerca do self privado e menos acerca do self colectivo do que os sujeitos de uma
cultura colectivista (China).

Markus e Kitayama (1991) – focalizaram-se só num aspecto, de como as pessoas se vêm a elas
próprias, em particular, no grau de separação vs ligação com os outros, fizeram a distinção entre dois
tipos de self:
- um self independente – self como uma identidade separada e autónoma.
- um self interdependente – self ligado aos outros e guiado, pelo menos em parte, pelas
percepções dos pensamentos, sentimentos e acções dos outros.
Para, eles, estas auto-representações divergentes têm consequências especificas para a cognição, a
motivação e o comportamento.

Cousins (1989) – estudo de “Quem sou eu?”


Gudykunst – focalizou no conceito de autovigilância.
Ele e tal (1992) elaboraram uma nova escala de autovigilância.

3 – Avaliando o self Auto-estima


Auto-estima: - componente mais afectiva do self.
- Conceito de auto-estima é um dos que ocorre com mais frequência na literatura sobre auto-
representações.

Auto-estima – refere-se à avaliação de si próprio, seja de modo positivo ou negativo, e contém


julgamentos sociais que as pessoas internalizaram.
Também abarca numerosos auto-esquemas; as pessoas avaliam-se a elas próprias de modo favorável
nalguns aspectos, mas não noutros (Tleming e Courtney, 1984)

• É obvio que autoconceito e auto-estima não são totalmente independentes, ambos estão ligados.

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3.1 – A avaliação de auto-estima


A nossa auto-estima global depende do modo como avaliamos as nossas identidades de papéis
específicos, isto é, conceitos do self em papéis específicos (e.g., estudante, amigo, filha) e as qualidades
pessoais. Avaliamos cada uma delas como sendo relativamente positivas ou negativas.

Rosenberg (1965) – elabora uma escala, os resultados desta escala permitem prever emoções e
comportamentos.

3.2 – Desenvolvimento da auto-estima


Gordon Allport (1961) – a auto-estima torna-se uma parte importante de auto-consciência entre os 2 e 3
anos. Por essa altura as crianças começam a exercer controlo sobre elas próprias e sobre os outros
objectos. Se fracassam constantemente ou são frustradas nas suas tentativas de autonomia, a sua auto-
estima ressente.

Erik Erikson (1963) – propôs um processo semelhante no segundo estádio de desenvolvimento de


“autonomia vs vergonha e dúvida”.

3.3 – Auto-estima e comportamento


A investigação indica que alta auto-estima está associada com implicação social activa e propiciadora de
conforto, ao passo que baixa auto-estima é um estado delibitante (Rosenberg 1979, Wylie 1979).

3.4 – Variações na auto-estima


a) – Adolescência
Os acontecimentos da adolescência podem abanar a auto-estima. Tanto a transição para o
terceiro
ciclo básico como o inicio da puberdade podem ser traumáticos.

b) – Experiências
Sem surpresa a investigação mostra que as boas avaliações dos professores, dos
experimentadores
ou dos namorados levantam a auto-estima, e as más avaliações baixam-na, pelo menos tempo-
rariamente (Metalsky et al. 1993).

c) – Identidade étnica de grupos minoritários.


Muitas vezes tentamos aumentar a nossa auto-estima à custa dos outros. Fazemos tal
sobreavalian-
do os grupos e os membros dos grupos com que nos associamos, isto é, que formam a nossa
identi-
dade social, e subavaliando outros grupos e os seus membros.

Penélope Oakes e John Turner (1980) – encontraram, por ex: que sujeitos experimentais que mostravam
favoritismo em relação ao seu próprio grupo também experienciavam uma maior auto-estima.

Por causa de preconceitos, os membros de grupos minoritários podem ter uma imagem negativa deles
próprios como reflexo das avaliações das outras pessoas.

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Jean Phinney (1989) – propôs um modelo de formação de identidade étnica em três estádios.
1º – Identidade étnica não examinada
2º – Busca da identidade étnica
3º – Identidade étnica realizada.

Em suma, a auto-estima é uma disposição relativamente estável correlacionada muitas vezes com outros
indicadores de adaptação psicológica.

3.5 – Autodiscrepâncias
Higgins (1989) – Há investigação que sugere que as consequências específicas dependem da autoguia
que fracassou em realizar-se.
1º Lugar – a possibilidade de discrepâncias entre o self actual e o self devido – sentir culpa, vergonha.
2º Lugar – a possibilidade de discrepâncias entre o self percepcionado e o self ideal – sentirá
desiludido, frustrado e não realizado.
As consequências (para ele) emocionais da autodiscrepâncias dependem de dois factores:
– Quantidade
– Acessibilidade.
Quanto maior seja a quantidade de discrepâncias, mais intenso será o desconforto emocional, e quanto
mais conscientes estejamos desta discrepância mais intenso será o desconforto.

Gordon Flett e seus colegas (1991) – estes investigadores mediram auto-estima e depressão junto de
sujeitos que apresentavam diferentes graus de perfeccionismo socialmente prescritos mostravam uma
tendência significativa para a depressão e baixos níveis de auto-estima.

3.6 – Autoconsciência
A auto-focalização, isto é, em que medida a atenção de uma pessoa está dirigida para dentro de si em
oposição para fora de si, para o meio (Fiske e Taylor 1991) – está ligada à memória e à cognição.

a) – Estados de autoconsciência
Será a autofocalização desagradável???

Robert Wicklund e seus associados pensam que a resposta é positiva. Segundo a sua teoria da
autoconsciência, geralmente não estamos autofocalizados; no entanto certas situações levam-nos de
modo previsível a voltarmo-nos para o interior e a tornarmo-nos objectos da nossa própria atenção.

Gibbons (1978) – demonstrou um efeito semelhante mediante a manipulação da autoconsciência com um


espelho.

Uma pessoa que está autoconsciente pode também tornar-se mais consciente dos padrões das outras
pessoas.
A autoconsciência, para além de poder ser induzida por agente situacionais, é objecto de diferenças de
certo modo estáveis entre os indivíduos.

b) – Diferentes tipos de autoconsciência


Para estudar a possibilidade da autoconsciência ser um traço de personalidade Alan Fenigstein, Michael
Scheier e Alan Buss (1975) construíram um questionário – chamado Escala de Autoconsciência, que
colocou em evidência três factores:
– Autoconsciência privada
– Autoconsciência pública

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– Ansiedade social.

Autoconsciência privada – diz respeito à capacidade de prestar atenção aos sentimentos e


pensamentos pessoais.
Autoconsciência pública – define-se como uma consciência geral do próprio enquanto objecto
social que tem um efeito sobre os outros.
Ansiedade social – define-se pelo mal-estar em presença dos outros.
A autoconsciência privada e pública referem-se a um processo de atenção centrada no próprio, enquanto
que a ansiedade social desponta como reacção a estes processos.

Fenigstein (1979) – examinou como é que as pessoas reagem quando são rejeitadas pelos outros.

Glen Hass (1984) – num estudo experimental com o intuito de se tentar validar a escala de
autoconsciência pública, pediu a pessoas para desenharem um E nas suas testas.

Turner (1978) e Franzoi (1983) – mostram que os sujeitos com resultados altos na autoconsciência privada
assinalavam mais adjectivos para os descreverem do que faziam os que tinham resultados baixos, tais
resultados sugerindo qoe os 1ºs dispõem de mais informação sobre si.

Scheier, Buss e Buss (1978) – em relação com a veracidade das auto-descrições, encontraram uma
correlação entre as auto-avaliações da agressividade e o comportamento agressivo maior nos sujeitos
com valores altos na autoconsciência privada, que naqueles com valores baixos.

c) – Autoconsciência e uso de alcóol


Hull – propõe que é porque o alcóol reduz a autoconsciência que as pessoas podem usá-lo para tratar
com a informação negativa acerca delas próprias. Ele propôs que as pessoas com elevada
autoconsciência privada, na medida em que estão de modo mais penetrantes conscientes como
encontram os padrões internos, podem ser especialmente vulneráveis ao uso de drogas e de alcóol.

Hull e Young (1983) – raciocinaram que as pessoas que tendem a ter elevada autoconsciência quererão
beber mais alcóol após fracasso, porque é doloroso focalizar-se em si mesmo após falhar.

As pessoas com baixa autoconsciência bebem quase a mesma quantidade de alcóol apesar do sucesso
ou fracasso prévio.

d) O que é que causa diferenças individuais na autoconsciência?


“Mas porque é que alguns de nós prestam atenção aos aspectos privados ou públicos do self, ao passo
que outros ignoram em principio estas duas facetas do self?”

• Não tem nada a ver com inteligência (Carver e Glass 1976)


• Experiências de vida significativas durante anos de formação foram avançadas como uma
explicação possível (Buss, 1980), mas ainda não há evidência para apoiar ou refutar esta hipótese.
• Em relação a efeitos culturais sobre o nível de autoconsciência privada que colectivista (Oyserman,
1993).

Estas diferenças são susceptíveis de estarem relacionadas com o facto de haver nas culturas
individualistas uma maior focalização no self como tendo necessidade e desejos pessoais distintos.

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3.7 – Protecção da auto-estima


As pessoas utilizam várias técnicas para menter a sua auto-estima (McCall e Simmons, 1978).
Examinaremos quatro:
• Manipulação de avaliação – Escolhemos associar-nos com pessoas que partilham a
nossa perspectiva do self e evitamos fazê-lo com pessoas que a não partilham.
Um outro modo de manter a auto-estima é interpretar as avaliações das outras pessoas como
sendo mais favoráveis ou desfavoráveis do que são.
• Processamento selectivo de informação – um outro modo de protegermos a nossa
auto-estima é prestar mais atenção às ocorrências que são consistentes com a nossa auto-
avaliação.
A memória também trabalha na protecção da auto-estima.
• Comparação social selectiva – quando não dispomos de padrões objectivos para nos
avaliarmos a nós próprios, recorremos à comparação social (Festinger, 1954).
Escolhendo com cuidado as pessoas com que nos comparamos, podemos adicionalmente
proteger a nossa auto-estima.
• Compromisso selectivo com identidades – ainda uma outra técnica implica
comprometermo-nos mais com autoconceito que fornecem retroacção consistente com a auto-
avaliação e afastarmo-nos dos que fornecem retroacção que a ameaça.

Hoelter (1983) – as pessoas tendem a enaltecer a auto-estima dando mais importância a identidades
(religiosas, raciais, profissionais, familiares...) que consideram particularmente admiráveis.

Tesser e Campbell (1983) – aumentam ou diminuem também a identificação com um grupo social quando
o grupo se orna uma fonte potencial de auto-estima maior ou menor.

4- Relacionando o Self: auto-apresentação


Os psicólogos sociais utilizam o termo auto-representação para referir os processos pelos quais as
pessoas tentam controlar as impressões que os outros formam.

4.1 – O self nas interacções sociais


Cooley (1902/22) e Mead (1934) – autores que se inscrevem na corrente do interaccionismo simbólico
sublinharam que os participantes nas interacções sociais tentam tornar o papel do outro e ver-se a si
próprios da maneira como os outros os vêem.
Este processo permite simultaneamente conhecer o modo como se aparece aos outros e guiar o
comportamento social para ter o efeito desejado.

Erving Goffman – delineou analogias com o mundo do teatro na formulação da sua teoria da apresentação
do self na vida quotidiana. Sugeriu que a vida social é como uma representação teatral em que a
representação de cada participante é delineada tanto pelo efeito no público como pela expressão aberta
do self.
A principal característica do papel é a aparência, o valor social positivo obtido da interacção. Manter a
aparência é uma condição para que a interacção social continue.

Alexander e Rudd (1981) – sugeriu também que a auto-apresentação é uma faceta fundamental da
interacção social. As identidades tendem a ser situadas, isto é, as identidades são muitas vezes
apropriadas com base para as interacções unicamente em certas situações.

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As três teorias da auto-apresentação que acabamos de evocar estão em consonância ao considerar que
as outras pessoas estão sempre a formar impressões a nosso respeito e utilizam estas impressões para
orientar as suas interacções connosco.

4.2 – Motivos da auto-apresentação


Na gestão da impressão foram identificados dois componentes:
– Impressão - motivação
– Impressão - construção. (Leary e Kowalski, 1990)

Impressão-motivação – refere-se até que ponto se está motivado para controlar o modo como os
outros nos vêem, para criar uma impressão particular nas mentes dos outros.
Impressão-construção – implica a escolha de ma imagem particular que se quer criar e alterar o
comportamento de outra pessoa para modos específicos em vista a realizar este objectivo.

Leary e Kowalski (1990) - propuseram que a impressão-motivação resulta de três motivos primários:
– O desejo de obter recompensas sociais e materiais
– Para manter ou para aumentar a auto-estima
– Para facilitar o desenvolvimento de uma identidade.

A auto-apresentação pode também ser o meio e criai ou de reforçar uma identidade.

4.3 – Auto-apresentação e embaraço


Uma auto-apresentação bem sucedida é uma condição sine qua non (indispensável) para toda a
interacção social.

O embaraço é uma emoção desagradável quando cremos que não podemos representar um papel de
modo coerente numa situação pública.

a) – Embaraço, uma forma de ansiedade social


O embaraço é geralmente visto como uma forma de ansiedade social intimamente relacionado com a
timidez, a ansiedade em público e a vergonha (Buss, 1980; Schlenker, e Leary 1982).

A ansiedade social tem sido definida de modo variado.


Schlenker e Leary – a ansiedade resulta da perspectiva ou presença de avaliação pessoal em situações
sociais reais ou imaginadas.

Buss (1980) – a timidez e a ansiedade em público são traços que parecem ser consistentes ao longo do
tempo e das situações.
Poder-se-ia assim dizer que a timidez e a ansiedade em público surgem respectivamente quando é
antecipada em encontros contingentes ou não contingentes uma discrepância entre o padrão de uma
pessoa para a sua auto-apresentação e a sua auto-apresentação actual.

A distinção entre vergonha e embaraço é mais confusa.


Asendorpf (1984) – Vergonha – refere-se a um sentimento de antocensura ou de auto-repugnância.
Embaraço – surge provavelmente quando é percepcionado uma discrepância entre a
auto-apresentação de uma pessoa e o seu padrão para a auto-
apresentação.
Badock e Salini (1990) – fizeram quatro estudos experimentais que sugerem que vergonha e embaraço
são emoções semelhantes, embora distintas:
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• Semelhantes – na medida em que reflectem uma preocupação com a identidade e estão mais
intimamente ligadas à violação de algum padrão que a julgamentos de intenção.
• Distinta – a vergonha reflecte um desvio de um ideal objectivo e universal do que é ser uma
pessoa de valor.
O embaraço reflecte um desvio da concepção do indivíduo do seu carácter ou pessoa.

b) – Modelo multifacetado do embaraço


Edelmann – o modelo proposto pressupõe uma complexa interacção de acontecimentos e de avaliações
destes acontecimentos e não tanto uma clara sequência de acontecimentos. Para esta perspectiva as
respostas emocionais podem ser inatas, mas os estímulos evocadores, as avaliações subsequentes e as
estratégias de conforto são aspectos aprendidos.

c) – Antecedentes, respostas e estratégias de confronto com o embaraço.


Geralmente os acontecimentos embaraçosos estão ligados a um passo em falso, uma inconveniência,
uma transgressão que suscita na imagem projectada do actor uma impressão que ele não deseja.

Existem várias situações que levem ao embaraço (pag. 202).


As reacções específicas ao embaraço caracterizam-se por corar, aumento da temperatura, aumento do
ritmo cardíaco, tensão muscular, rir, desvio do olhar e tocar a face.

As estratégias podem ser:


• Verbais – não são muitas vezes utilizadas e quando utilizadas não são recordadas.
• Não verbais – o sorriso é o mais utilizado.....

d) – Implicações sociais de embaraço


Goffman (1959) – Geralmente tentamos comportar-nos de modo socialmente apropriado para assegurar
que uma determinada imagem desejada de nós próprios seja apresentada aos outros.

Parece pois plausível que o medo do embaraço possa constranger o nosso comportamento, agindo como
um mecanismo de controlo social.
Levin e Arluke – examinaram a possibilidade das pessoas ajudarem mais alguém embaraçado que
procura ajuda. O resultado dos dois estudos experimentais sugeriram que o comportamento de ajuda
dependia das condições em que ocorre o embaraço.

O medo do embaraço pode, pois, desempenhar um papel importante na possibilidade de se dar ajuda ou
de se procurar ajuda.

4.4 – Tácticas de auto-apresentação


Jones e Pittman (1982) – identificaram cinco tácticas principais de auto-apresentação, que diferem no
atributo particular que a pessoa está a tentar ganhar:
• Insinuação – lisonjear e concordar – ser visto como simpático.
A insinuação é definida como “uma classe de comportamentos estratégicos ilicitamente
designados para influenciar uma pessoa particular sobre a atractividade das qualidades pessoais
de si próprio”- Jones e Wortman, 1973.
• Intimidação – ameaça – ser visto como perigoso.
O intimidador tenta projectar uma identidade como sendo uma pessoa forte e perigosa.
Jones e Pittman (1982) – através de olhares ameaçantes, de palavras zangadas de ameaças de
violência, os intimidadores tentam ganhar condescendência induzindo medo nos outros.

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• Autopromoção – jactar-se – ser viso como competente.


Esta táctica envolve tentativas da parte de um actor para realizar uma identidade como sendo uma
pessoa competente e inteligente.
Jones e Pittman (1982) – os insinuadores querem que os outros gostem deles, já os
autopromotores querem respeito para as suas capacidades.
• Exemplificação - “Blasonar” - ser visto como moralmente puro.
Jones e Pittman (1982) – consiste em acções que a pessoa utiliza para ganhar respeito e
admiração dos outros projectando uma imagem de moralidade, integridade e de dignidade.
O exemplificador tem como objectivo último modificar o comportamento do público alvo.
• Súplica – rogar – ser visto como fraco.
Uma última táctica é a súplica que faz com que uma pessoa pareça fraca e dependente.

As cinco tácticas de auto-apresentação podem ser utilizadas pela mesma pessoa em situação diferentes.
As tácticas referidas têm como objectivo influenciar o modo como os outros nos vêm, mas também podem
mudar o modo como nos vemos. Podem influenciar o nosso autoconceito. Rhodewalt e Agustsdottir (1986).

4.5 – Estilo de auto-apresentação: autovigilância


Mark Snyder (1974, 1987) – algumas pessoas são mais susceptíveis de enveredarem por auto-
representações. Estas diferenças estão relacionadas com um traço de personalidade denominado de
autovigilância (“self-monitorig”) que é a tendência para usar pistas de auto-apresentação das outras
pessoas para controlar as suas próprias auto-apresentações.

As pessoas com elevada autovigilância – estão conscientes das impressões que suscitam nas
interacções sociais e são sensíveis às pistas sociais a propósitos de como se deveriam comportar em
diferentes situações. Percepcionam-se como flexivas e podem não agir em consonância com os seus
sentimentos interiores quando a situação lhe reclama.
As pessoas com baixa autovigilância – falta-lhes a habilidade e a motivação para regular as suas auto-
apresentações expressivas. Os seus comportamentos expressivos são o reflexo dos seus estados
interiores permanentes e momentâneos. Por consequência tendem a comportar-se mais de modo
consistente com a sua própria auto-imagem do que como pensam que a situação lhe reclama.

Snyder (1974): Snyder e Gangestad (1986) – com o intuito de se medir este construto foi elaborada uma
escala, que demonstrou que os actores profissionais tinham valores mais elevados em autovigilância que
estudantes universitários.

As pessoas com alta autovigilância estão mais atentas às acções e reacções dos outros, e as pessoas
baixas em autovigilância preocupam-se mais com elas próprias.

À primeira vista poderá parecer que a autovigilância é muito semelhante ao construto de autoconsciência
discutido previamente Carver e Scheier (1981) – indica que os dois construtos, embora estejam
relacionados, medem algo de diferente:
• A autovigilância focaliza-se mais nas habilidades de auto-apresentação,
• A autoconsciência focaliza-se mais na auto-atenção.

Objectivo do M/81 é estimular a consciência. È feita a jovens para avaliar quais as suas preferências
profissionais. È uma técnica diferente. (pag.216).

Sumário na pag. 218/19.

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III – Crenças de controlo e atribuições


1- A ilusão de controlo

Henslin (1967) – observou o comportamento dos jogadores de dados e ficou surpreendido pelo facto de
esses jogadores se comportarem como se controlassem o resultado do lance.

Langer (1975) – foi quem melhor ilustrou as manifestações desta ilusão de controlo. Definiu-a como sendo
a expectativa de uma possibilidade de sucesso muito superior à probabilidade objectiva.

A propensão em acreditar que os acontecimentos são controláveis é aparentemente tão forte que bastarão
alguns resultados positivos e rápidos para provocar a ilusão de controlo.
O sucesso numa tarefa pode pois criar a ilusão de controlo.

2- Locus de controlo

2.1 – Popularidade e definição


A grande atenção dos psicólogos (clínicos, educacionais e sociais) prestada a este construto deve-se
certamente, como reconhece o próprio Rotter (1975), à importância das expectativas, do valor do reforço e
da situação para a interpretação do comportamento humano. Efectivamente, o locus de controlo toca a
complexidade da pessoa e do seu comportamento, dada a importância das expectativas de controlo do
reforço e do valor do mesmo reforço para o comportamento, considerando sempre e contexto.

Rotter, considerado o pai deste construto (1966-monografia) inicialmente não usou na sua escala a
expressão locus controlo, mas sim, controlo interno-externo de reforço (considerava uma crença, uma
percepção), descreve logo no início da seguinte forma:
“Quando o reforço é percebido pelo sujeito como seguindo-se a alguma acção sua, mas não estando
completamente dependente ….pag.244”.

Designa-se um indivíduo:
• Como “interno” quando ele tem a percepção ou a crença de que controla a situação ou o reforço
e por isso tende a atribuir os resultados a si mesmo (o “lugar” de controlo está dentro dele),
• Como “externo” sente que não controla os acontecimentos ou que os resultados não são
dependentes do seu comportamento, e por isso tende a atribuí-los a causas alheias à sua própria
vontade, como aos outros poderosos, à sorte ou ao acaso (o “lugar” de controlo está fora dele).

Rotter (1966) – apresentou a sua escala I-E com 29 itens (23 são contáveis e 6 de despistamento),
continha duas respostas alternativas em que uma tinha uma afirmação “interna e a outra “externa”.

Palenzuela (1984-1986) citam outros construtos mais ou menos próximos do locus de controlo, procurando
distingui-los como:
• Percepção de controlo, controlo pessoal, controlo real, necessidade ou desejo de controlo,
percepção de competência, poder/impotência, auto-estima, crença num mundo mais justo,
motivação intrínseca….Alguns destes conceitos situam-se “para além do locus de controlo”.

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2.2 – Diferenças comportamentais


Inúmeras investigações propuseram-se estabelecer as diferenças de comportamento correspondendo a
diferenças de crenças no controlo dos reforços. Diferenças no locus de controlo estão relacionadas com o
comportamento em situações competitivas. Solicitações competitivas levam as pessoas com uma
orientação externa a desistir. Os internos excedem-se mais que os externos quando está envolvida a
competição, mas não diferem numa situação de cooperação – Nowicke 1982.

Dado que os internos se caracterizam por uma maior confiança neles próprios que os externos, seria de
esperar que fossem menos influenciados que os externos. Uma das provas em apoio desta hipótese
advém de se ter mostrado que os internos se conformam menos facilmente que os externos com a opinião
de um grupo.

Odell (1959) – examinou a relação entre locus de controlo e resistência à influência, os externos
mostraram maiores tendências a conformarem-se.

Spector (1982) – os resultados indicaram que os externos se diferenciavam dos internos relativamente à
conformidade normativa, relativamente à conformidade informativa os dois grupos não se diferenciavam.

Nas suas interacções sociais, os internos tomam medidas para controlar os resultados.
Os internos prestam mais ajuda às pessoas que delas precisam que os externos.

Midlarsky (1971)- estudo sobre cada sujeito trabalhava numa tarefa perante um “compadre”. Era-lhe
explicado que se alguém acabasse o seu trabalho antes, poderia ajudar o seu parceiro. Cada sucesso
tinha como sanção uma descarga eléctrica. Assim, o sujeito tinha conhecimento que se expunha a receber
descargas quando ia a ajudar o parceiro. Apesar disso, verificou-se que os internos ajudam mais
frequentemente o seu parceiro que os externos.

As investigações relativamente à relação entre internalidade e liderança apontam no sentido de os internos


se sentirem mais à vontade no papel de chefe que os externos.
Johnson e tal (1984) – analisaram os comportamentos dos chefes e as percepções dos subordinados. Os
resultados puseram em evidência que os chefes internos evocaram recorrer mais à persuasão que os
externos.
Earn (1982) - sugere que os internos interpretam as recompensas (salários) como denotando o seu grau
de competência. Ao invés, os externos vêem as recompensas como uma indicação de que a tarefa deve
ser desagradável.

Dailey (1978) – relaciona o locus de controlo com as características da tarefa e as atitudes no trabalho. Em
geral, os internos envolvem-se mais no trabalho e sentem-se mais satisfeitos e motivados.

O’Brien (1984) – analisa a relação entre locus de controlo, o trabalho e a reforma.

Cummins (1989) – analisa o papel do suporte social e do locus de controlo como determinantes da
satisfação ou insatisfação (stress) no trabalho.

Foi igualmente demonstrada a capacidade dos internos em prestarem atenção à informação do meio em
situações da vida real. Estes são muito mais levados a reagir à informação do índole médica para a
mudança dos seus hábitos de vida que os externos.

Escovar (1977) – caracteriza a psicologia comunitária como uma psicologia para o desenvolvimento que,
segundo esse autor, “é o processo pelo qual o homem adquire mais controlo sobre o ambiente”. Para ele,
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as transformações comunitárias devem começar pela transformação das pessoas, sentindo-se mais
responsáveis pelo seu destino e mais confiantes na mudança.
Escovar (1980) – avança um modelo psicossocial do desenvolvimento. Neste modelo é salientada a
necessidade de se romper o circulo vicioso em que as atitudes das populações carecidas conduzem a
atitudes e comportamentos que, por sua vez, retro-alimentam essas mesmas características. Os externos
encontram-se com frequência entre as comunidades mais desfavorecidas. Um dos factores que visa o
desenvolvimento da comunidade é o desenvolvimento da crença de que as pessoas podem interferir nos
seus destinos – pessoas internas.

Em suma, os resultados referidos são suficientes para ilustrar que os internos usufruem de uma melhor
representação que os externos. Quando se é interno é-se mais bem sucedido e adaptado social e
emocionalmente do que quando se é externo. O estudo da distribuição social de crenças de controlo
mostra que as explicações internas são mais expressivas nos grupos sociais favorecidos.

2.3 – Investigação intercultural


Agrupamos os estudos interculturais do locus de controlo em duas rubricas:
• Uma referente a estudos comparativos interculturais de grupos de nacionalidades diferentes,
• Outra referente a estudos de grupos étnicos minoritários no seio da mesma nação.

a) – Comparações nacionais
Há diferenças consistentes entre americanos e asiáticos, obtendo os japoneses, em particular, um
score alto de externalidade.

Uma ideia que também tem sido evidenciada é a de que as pessoas das nações industrializadas são
mais internas que as dos países em vias de desenvolvimento.

b) – Comparações com grupos étnicos e minoritários


A primeira investigação em que se comparam negros e brancos americanos é a de Beattle e Rotter
(1963) que confrontaram as respostas de crianças negras e brancas com 9 e 11 anos (controlando o
sexo e a classe social) em duas provas de locus de controlo.
A 1ª prova utilizada foi o questionário de Bialer (1961) e a 2ª uma prova projectiva.
Resultados dos dois instrumentos puseram em evidência uma interacção entre raça e classe social,
sendo as crianças negras da classe social mais baixa as mais externas.

Lefcourt e Ladwig (1966) efectuaram um estudo com prisioneiros adultos relativamente homogéneos
quanto à classe social; os negros eram mais externos que os brancos.

Os estudos referidos são suficientes para ilustrar que o locus de controlo é um construto interessante e
complexo em psicologia intercultural, dado que os resultados obtidos com escalas que o avaliam
dependem de condições do meio.

2.4 – Desejo de controlo


Jerry Burger e seus colegas (1992) distinguem entre:
• Locus de controlo – refere-se a quanto controlo pessoal as pessoas percepcionam ter,
• Desejo de controlo – reflecte quanto controlo pessoal as pessoas preferem ter.

As pessoas com alto desejo de controlo são mais susceptíveis de sobressaírem na realização de tarefas
(ex: obter melhores notas).
Burger (1992) sugere quatro razões:
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1ª – Tem objectivos mais elevados para elas próprias e ajustam os seus objectivos de modo
apropriado
após a comunicação do seu resultado.
2ª – Fazem um esforço extra em ocasiões apropriadas.
3ª – Persistem mais tempo em tarefas difíceis.
4ª – Dado que os sujeitos com alto desejo de controlo tendem a assumir os seus sucessos e a atribuir
os
seus fracassos à sorte, são mais susceptíveis de fazer mais esforço nas tarefas subsequentes.

Locus de controlo e desejo de controlo são diferenças individuais do modo como vemos as nossas
relações com as situações. Afectam o comportamento em contextos diferentes (Rodin e Salovery, 1989).

3 – Reacções à perda de controlo

3.1- Teoria da reactância


A teoria da reactância psicológica explica algumas das nossas reacções à perda de controlo ou liberdade
de escolha (Brehm).
A reactância psicológica é uma motivação para restaurar liberdades comportamentais ameaçadas.
Segundo esta teoria, a reactância é activada quando a liberdade de uma pessoa para se comprometer
com algum comportamento é ameaçada (ex: se um pai proíbe uma criança de brincar com um amigo, a
criança pode valorizar mais jogar com esse amigo do que antes da proibição).

3.2 – Desânimo aprendido.


Talvez o resultado mais negativo de experiências repetidas de falta de controlo seja o desânimo
aprendido.
Seligman (1975) – definiu como sendo uma crença que os resultados de uma pessoa são independentes
das suas acções (ex: experiência com animais, ministrando choques eléctricos).
Sugeriu três espécies de défices em resultado de experiências com resultados incontroláveis:
1ª – Há um défice motivacional, pelo qual o animal não tenta aprender novos comportamentos,
2ª – Há um défice cognitivo, pois a aprendizagem não se efectua,
3ª – Há um défice emocional, tornando-se o animal deprimido porque os resultados são
incontroláveis.
Para este autor, a depressão é uma forma de desânimo aprendido em virtude de se experienciar
resultados incontroláveis.

Foi desenvolvido o modelo reformulado do desânimo aprendido – Abramson, Seligman e Teasdale 1978;
Peterson e Seligman 1982 – o modelo postula que a percepção de falta de controlo numa situação não é
suficiente para produzir desânimo numa situação diferente.

O novo modelo está baseado em conceitos da teoria da atribuição, pois o que importa são as atribuições
da pessoa ao que causou a falta inicial de controlo.
Nos modelos contemporâneos da teoria da atribuição são postulados três dimensões ao longo das quais
são feitas atribuições:
1ª- Interna vs externa – refere-se a se as causas dos acontecimentos são atribuídas a aspectos da
pessoa
em oposição aos da situação.
2ª – Estável vs instável – refere-se a se se espera que as causas persistam ou flutuem no tempo.
3ª - Global vs especifica – refere-se a se a atribuição tem implicações difundidas ou circunstanciais.

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Segundo a formulação deste modelo, a gravidade dos défices de desânimo é maior quando falta de
controlo é atribuída a factores internos, estáveis, e globais (Abramson e tal 1978).

3.3 – Dependência auto-induzida


Um sentimento de perda de controlo pode ser suscitado por outros factores, para além de resultados
incontroláveis que inicialmente engendram o desânimo aprendido. Uma ilusão de incompetência pode ser
criada por um certo número de situações (Langerm 1978).

4 – Atribuições
O tema da atribuição é um dos domínios mais importantes da investigação na psicologia social nas duas
ultimas décadas.

Ostrom (1981) “ do mesmo modo que a dinâmica dos grupos foi a preocupação dominante da Psicologia
Social nos anos 50, as atitudes nos anos 60, a investigação sobre a teoria da atribuição foi a
preocupação empírica dominante nos anos 70).

Tal importância advém do facto de a atribuição nos ajudar a predizer e de certo modo a controlar a nossa
experiência social. Uma vez que acreditamos que compreendemos as causas do comportamento,
reagiremos com certos pensamentos, sentimentos e respostas. Enfim, as atribuições acerca de
acontecimentos passados influenciam as nossas expectativas de futuro.

A situação actual no domínio da atribuição é a diversidade e multiplicidade de teorias de curto alcance.


Apesar de tal dispersão, existem quatro princípios gerais que são habitualmente aceites (Harvey e Weary,
1984):
• A atribuição de causalidade é uma actividade com ampla difusão na vida quotidiana,
• As atribuições podem não ser exactas, mas sujeitas a erros,
• As pessoas comportam-se em função de como percepcionamos e interpretam os factos,
• A actividade atribucional desempenha uma função adaptativa.

4.1 – O que é uma atribuição?


a) – Definição
Uma atribuição é uma inferência que pretende explicar porque é que um determinado acontecimento
ocorreu ou que tenta determinar as disposições de uma pessoa (Harvey e Weary).
A questão do porquê que nos colocamos tanto pode ser sobre os nossos próprios comportamentos como
sobre os dos outros. A explicação que se avança torna-se então causa percepcionada de um
acontecimento ou de um comportamento correspondendo a uma atribuição. Convém realçar que uma
atribuição representa uma causa percepcionada que pode não estar certa.

b) – Tipos de atribuições
Podem-se reagrupar as atribuições emitidas em três tipos principais:
• As atribuições causais – são efectuadas a propósito de causas de um acontecimento,
• As atribuições disposicionais – procura-se determinar em que medida a acção que uma pessoa
acaba de se realizar permite inferir características sobre ela (comportamento/personalidade),
• As atribuições de responsabilidade – são mais difíceis de aprender pois podem ter pelo menos
três significações diferentes:
- Responsabilidade legal
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- Responsabilidade moral (auto-censura)


- Responsabilidade relativa a um efeito produzido.
c) – Avaliação das atribuições
Entre os processos mais frequentemente utilizados para avaliar as atribuições causais relativas a
acontecimentos específicos, contam-se os seguintes:
• Questionário de respostas abertas ou não estruturadas (referente o porquê do sucesso ou
insucesso),
• Medidas de percentagem das causas,
• Escalas Likert – os sujeitos indicam o grau de importância de cada uma delas.

Duas outras técnicas têm sido também utilizadas:


• Pede-se aos sujeitos que indiquem a principal causa responsável pelo resultado,
• Os sujeitos avaliam um determinado número de pares de causas, indicando em cada par, aquela
que mais terá contribuído para o resultado.

Hoje em dia os investigadores não medem directamente as atribuições, mas antes as dimensões causais
que descrevem a atribuição em questão.
Russel (1982) – desenvolveu a Escala de Dimensões Causais (CDS) – pag. 268.

As atribuições disposicionais e de responsabilidade são igualmente medidas por meio de questionário e


pela codificação dos conteúdos. Como já se disse, as atribuições disposicionais procuram determinar se
as características da pessoa correspondem à acção que acaba de se realizar. Finalmente, as questões
relativas às atribuições de responsabilidade são directas e implicam a noção de censura.

4.2 – Teorias
Uma teoria da atribuição analisa o modo como nos julgamos a nós mesmos e aos outros. Dada a
complexidade do processo de atribuição, não é de admirar que existam diversas teorias. Abordaremos as
primeiras reflexões de Heider sobre a atribuição t três modelos teóricos propostos a partir das ideias desse
autor:
• O modelo das “inferências correspondentes “ de Jones e Davis
• O da covariação de Kelly
• O da atribuição de sucesso e de fracasso de Weiner.

a) – Causalidade e psicologia ingénua


Heider – sentiu que a maior parte dos indivíduos são psicólogos “ingénuos” que tentam compreender os
outros de forma a tornarem o mundo mais previsível. Na sua famosa obra de 1958, Heider lança os
alicerces de uma prova problemática para a psicologia cognitiva, fazendo uma descrição do processo pelo
qual os indivíduos fazem atribuições ao seu meio, atribuições de causas, de disposições, de propriedade.

Para explicar um acontecimento, podem ser invocados dois conjuntos de condições:


• Causas internas
• Causas externas

Se Lewin procurava projectar luz sobre as causas do comportamento, Heider tenta explicar a percepção
das causas de uma acção.
É importante lembrar que a teoria da atribuição se refere não tanto às causas reais do comportamento de
uma pessoa como às inferências que o observador faz acerca das causas.

Segundo Heider, os atributos pessoais são mais evidentes quando o meio permite um leque de possíveis
comportamentos. Uma vez inferida uma característica acerca de um indivíduo, pode ser usada para

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predizer o comportamento. As ideias de Heider tiveram uma enorme influência nas investigações ulteriores
no domínio da atribuição.

b) – Inferências correspondentes
A teoria das inferências correspondentes (Jones e Davis, 1965) aborda como é que os indivíduos fazem
um certo número de inferências sobre as intenções de uma pessoa. O problema central é o de se saber
como é que um indivíduo atribui a outro disposições pessoais estáveis, a partir de acções que terá
observado.

O objectivo da teoria de inferência correspondente é de “construir uma teoria que explique de modo
sistemático as inferências de um observador sobre o que um actor tentava efectuar mediante uma acção
particular” (Jones e Davis, 1965).

A inferência correspondente refere-se ao julgamento do observador que o comportamento do actor é


causado por um traço particular ou corresponde a um tal traço.

Os dois critérios fundamentais para que um observador possa aceder às intenções subjacentes de um
actor são o conhecimento e a capacidade.

As inferências correspondentes são influenciadas por três factores:


1º – os comportamentos que resultam de livre escolha tendem produzir inferências correspondentes,
não sendo o caso de comportamentos que são resultado de escolha forçada.
2º – Prestamos atenção aos comportamentos que produzem efeitos não comuns, isto é, elementos
do padrão escolhido de acção que não são partilhados com padrões alternativos de acção.
3º – Jones e Davis sugerem que também prestamos mais atenção nas nossas tentativas para
compre-
endermos os outros, às acções que realizam revestidas de baixa desejabilidade social, que às acções
alta nesta dimensão.

Em suma, a teoria proposta por Jones e Davis sugere que concluímos mais provavelmente que o
comportamento dos outros reflecte os seus traços estáveis, isto é, obtemos inferências correspondentes
acerca deles, quando as suas acções:
1) – Ocorrem por escolha,
2) - Produzem efeitos não comuns,
3) - São baixas em desejabilidade social.

c) – Covariação e esquema causal


Kelley (1967) -propôs um modelo que assenta no princípio de analogia entre as diligências feitas pelas
pessoas na vida quotidiana e as efectuadas pelo cientista, e isto a partir de uma análise de covariância.
Segundo o princípio de covariância, “um efeito é atribuído a uma das possíveis causas com que, ao longo
do tempo, varia”.

O modelo de Covariância de Kelley afirma que a atribuição a um destes componentes (actor, entidade,
circunstância) depende de três aspectos comportamentais:
1º – Distintividade – um comportamento pode ser atribuído com exactidão a alguma causa se só
ocorre quando essa causa está presente, e não ocorre quando essa causa está ausente,
2º – Consistência – sempre que a causa esteja presente, o comportamento é o mesmo ou quase o
mesmo,
3º – Consenso – os outros comportam-se do mesmo modo em relação à mesma entidade.

Atribuímos o comportamento dos outros:

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• Causas internas – baixa distintividade, alta consistência e baixo consenso.


• Causas externas – alta distintividade, alta consistência e alto consenso.

Como julgamos o comportamento quando não se dispõe de informação acerca da distintividade, da


consistência e do consenso?
Para preencher esta lacuna, Kelley (1972) propôs um modelo de esquema causal que é “uma concepção
geral que a pessoa tem sobre o modo como certos tipos de causas interagem para produzir um tipo de
efeito particular”.

Kelley – menciona certos princípios, em função dos quais um indivíduo elaboraria uma opinião sobre a
causalidade:
• Princípio do desconto – diz respeito a situações em que um dado efeito tem múltiplas causas
possíveis,
• Princípio de aumento – postula que quando há esforço, sacrifício, embaraço, custos ou riscos
associados à realização de um acto, acção é mais atribuída ao actor do que o seria de outro modo.

Quer o modelo de covariação quer a teoria das inferências correspondentes representam avanços de vulto
para melhor se compreender como é que as pessoas fazem inferências acerca das causas do
comportamento. Na sua forma original a teoria das inferências correspondentes tratava sobretudo de dar
sentido a instâncias singulares do comportamento, ao passo que o modelo de covariação foi avançado
para explicar de modo explicito como é que o sentido é dado a uma sequência de comportamento ao
longo do tempo. Ambas as teorias postulam que as pessoas são observadores racionais e lógicas,
actuando como cientistas ingénuos mediante o teste de hipóteses acerca do lugar de causalidade de
acontecimentos sociais.

d) – Atribuições de sucesso e de fracasso


Weiner – avançou um modelo de atribuição que se refere a uma área muito mais específica do
comportamento que os modelos de Jones e Davis e de Kelley.
O modelo de Weiner diz respeito às explicações para o sucesso e o fracasso de pessoas na realização de
uma tarefa.
Weiner – pressupõe que uma das dimensões dos nossos julgamentos é uma comparação entre causas de
disposição e de situação, que refere como sendo a dimensão interna /externa.
Além disso, Weiner acrescenta uma segunda dimensão intitulada de instável/estável.
Acrescentou uma terceira dimensão controlável/incontrolável.

Posteriormente, os teóricos do modelo reformulado do desânimo aprendido (Abramson, Seligman e


Teasdale, 1978), formularam uma outra dimensão já referida: globalidade vs especificidade.

Luginbuhl, Crowe e Kahan (1975) – efectuaram duas investigações sobre auto-percepção do fracasso ou
do sucesso, tendo em conta quatro factores causais definidos por Weiner. Os resultados da 1ª
investigação confirmaram que o sucess9o é percebido sobretudo como sendo determinado por causas
internas.

4.3 – Aplicações da teoria da atribuição


Kurt Lewin – um dos fundadores da moderna Psicologia Social, chamou a nossa atenção para o facto de
“nada ser tão prático como uma boa teoria”.

Ilustraremos seguidamente quatro áreas de aplicação da teoria da atribuição:


a) – Violação
Ryan (1971) - refere-se à tendência cultural em “censurar a vítima”.
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Janoff-Bulmam (1979) – recolheu informação de pessoas que trabalhavam em diversos centros de apoio a
pessoas violadas, que permitiu distinguir duas espécies de auto- censura:
• Comportamental – a vítima sabe que está fazendo algo de néscio (ignorante), tal como andar
sozinha de noite, deixar entrar uma pessoa estranha em casa, não fechar o carro.....
• Caracterológica – a falta encontra-se no próprio carácter da pessoa.
A auto-censura caracterológica, é mais difícil de modificar que a comportamental.

Howard (1984) – fez a análise dos modos como as pessoas atribuem responsabilidades a vitimas de
vários tipos de crimes, incluindo a violação.

Field (1978) – sobre atitudes acerca da violação por parte de violadores, conselheiros, polícias e
população em geral, mostra algumas semelhanças com os resultados referidos. (pag.282).
b) – Desemprego
Uma outra questão social importante que tem sido examinada por meio da teoria das atribuições é o modo
como as pessoas encaram o desemprego.

Feather e Davenport (1981) – referem que as pessoas que se sentiam mais deprimidas acerca das
circunstâncias, eram mais susceptíveis de censurar as condições económicas da sociedade do que a elas
próprias.

Num outro estudo, Feather (1985) – examinou as atribuições feitas para explicar o desemprego das outras
pessoas.

Em ambos os estudos reflecte-se uma semelhança entre o modo como as vitimas e os observadores do
desemprego julgam as suas causas. Ambos focalizaram-se mais em atribuições externas do que na
censura da vitima.

Schaufeli (1988) – efectuou um estudo longitudinal. Em 1º lugar recolheu as atribuições de um grupo de


sujeitos acerca do desemprego. Em seguida comparou essas atribuições com as que foram efectuadas
seis meses mais tarde por essas mesmas pessoas, estando algumas delas empregadas e outras
desempregadas.
Os resultados, para ambas, mostraram não haver praticamente mudanças na 1ª atribuição.
c) – Acidentes
Berger (1981) - refere uma fraca tendência para atribuir mais responsabilidade a uma vítima do acidente
quando a severidade do acidente aumenta.
d) – Relações interpessoais
Foi sugerido que as relações interpessoais se desenvolvam através de três fases:
• Formação
• Manutenção
• Dissolução (Harvey, 1987)

4.4 – Erros de atribuição


É importante compreender os viés atribucionais porque contribuem para o conflito entre pessoas.
Quatro erros de atribuição:
• Diferenças entre o actor e observador – os actores têm tendência a fazerem atribuições para o
seu próprio comportamento a causas externas ou situacionais, enquanto que os observadores são
mais susceptíveis de fazerem atribuições internas ao comportamento dos outros – dá-se o nome
de efeito actor-observador.
• Erro fundamental – de um modo geral, as pessoas subestimam a importância de factores
situacionais quando explicam o comportamento.

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Watson, 1982 – quer os actores quer os observadores dão maior importância a disposições que a
situação na explicação do comportamento.
Ross, 1977 – a este exagero na importância de factores pessoais tem-se chamado o erro
fundamental da atribuição.
As atribuições das pessoas estão erradas porque os determinantes situacionais são muitas vezes
ignorados; o erro é fundamental porque a divisão de causas do comportamento em
internas/externas é fundamental para a abordagem da situação.

Uma explicação que tem sido avançada para o erro fundamental da atribuição é que quando
observamos o comportamento de outra pessoa, temos tendência a focalizarmo-nos nas suas acções e
ignoramos o contexto social em que estas ocorrem. Uma segunda interpretação é que os indivíduos
efectivamente vêm os factores situacionais, mas não conseguem dar-lhes um peso suficiente.
• Complacência na atribuição da causalidade – o erro de complacência na atribuição da causalidade
refere-se à tendência da pessoa a percepcionar-se como sendo a causa dos seus sucessos, mas
a atribuir a causa dos seus fracassos a causas externas (Bradley, 1978).
Jonhson, Feigenbaum e Weiby (1964) – foram o suporte inicial para este erro da atribuição.
• Efeitos temporais da atribuição – nem sempre são apresentadas explicações no momento em que
um acontecimento ocorre. Por vezes fazemos um regresso a um acontecimento passado e
inferimos as suas causas. Outras vezes nesta viagem pelo tempo, podemos reinterpretar um
acontecimento com a perspectiva do presente.
Miller e Porter (1980) – procuraram saber se estas mudanças de perspectivas afectavam o padrão
das atribuições.

4.5 – Atribuições e relações intergrupais


A teoria da atribuição tem tentado compreender como é que uma pessoa atribui causas a outra pessoa ou
a ela própria.
É efectivamente pertinente colocar-se a questão de se saber se a pertença a determinados grupos ou
categorias sociais contribui para que as atribuições feitas ao seu endogrupo ou a exogrupo sejam
diferentes.

Uma experiência efectuada por Taylor e Jaggi (1974), no sul da Índia, ilustra o efeito das pertenças
categorias sobre a atribuição.

Hewstone e Ward (1985) – efectuaram um estudo com sujeitos malaios e chineses na Malásia e em
Singapura. Os sujeitos fizeram atribuições internas ou externas para comportamentos desejáveis ou
indesejáveis efectuadas por malaios ou por chineses.

Em suma, se as pessoas tendem geralmente a fazer atribuições que aumentam o valor do endogrupo, as
atribuições também podem depender das posições relativas que ocupam os grupos no relacionamento
intergrupal.

4.6 – Atribuições e diferenças de culturas


Diversos autores chamaram a nossa atenção para o facto de os mecanismos inferenciais estarem
intimamente ligados à cultura.
Gergen (1973) – refere que o chamado erro fundamental pode ser um fenómeno cultural.

Nisbett e Ross (1980) – mencionaram que a tendência dos indivíduos em explicar os comportamentos
mais em termos de disposições pessoais que em termos de factores situacionais pode ser característico
de se ter sido socializado na cultura americana.

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Lalljee (1981) – relembra que noções tão importantes no âmbito dos processos atribuicionais, como a
predição e controlo, podem ser função de orientações sócio-culturais.

5 – Normas de internalidade

5.1 – Definição de norma de internalidade


Jellison e Green (1981) – mostraram que as explicações internas no controlo dos reforços são objecto de
desejabilidade social. Foram esses os primeiros autores a considerar que a ligação entre internalidade e a
tendência a exprimir crenças socialmente desejáveis não é um artefacto, mas uma das componentes da
internalidade.
A originalidade do trabalho de Jellison e Green não assenta unicamente em provar que a internalidade é
valorizada de modo positivo pelos indivíduos. Ela advém igualmente da interpretação avançada para a
desejabilidade social da internalidade.
Os autores propuseram que a prevalência das explicações internas devia ser considerada como a
expressão de uma norma, a “norma de internalidade”. Por conseguinte, a norma de internalidade
consiste na valorização social da internalidade.

Beauvois (1984) – para este autor intervém um mesmo viés no erro fundamental descrito pelos teóricos da
atribuição e na predominância das explicações internas na representação da determinação dos reforços: a
sobreavaliação do peso do actor.
Beauvois (1993) – definiu a norma da internalidade:
“a realização de utilidades sociais pela valorização adquirida socialmente nas democracias liberais das
explicações dos comportamentos e dos reforços que acentuam o papel causal do actor que tem tal
comportamento ou ao qual acontece algo de positivo ou negativo.”

Os trabalhos suscitados pela norma da internalidade têm sido orientados em três direcções (Beauvois e
Dubois, 1988):
1º - Na linha da investigação tentou-se verificar que as explicações internas, quer em matéria de atri-
buição quer de locus de controlo, são socialmente desejáveis,
2º - Verificou-se que as explicações internas das condutas e dos reforços são mais escolhidas pelos
indivíduos que pertencem a grupos favorecidos do que pelos que pertencem a grupos sociais
desfavorecidos,
3º - Verificou-se que a norma de internalidade, quer na explicação das condutas quer dos reforços, é
objecto de uma aprendizagem social.

5.2 – A norma de internalidade na sociedade portuguesa.


Partiu-se das hipóteses de que o aumento da internalidade expressa estaria relacionado com o aumento
da aprovação social e da percepção do sucesso académico, Puderam ser confirmadas as hipóteses de
quanto maior é o nível de internalidade maior é a aprovação social e a percepção do sucesso académico.

6 – Níveis de análise distintos mas relacionados?


A questão que se pode levantar é a de que espécie de distinções se podem fazer no âmbito do controlo
percebido. Exploremos as três distinções avançadas por Ferguson, Dodds e Ng. Flannigan (1994):
1ª – Sugere que o controlo percebido se relaciona, de um modo ou de outro, com tantos construtos
que
pode ser considerado como um único construto genérico (ex: locus de controlo, atribuições de
controlo, manipulações experimentais do controlo…).
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2ª – Considera que o controlo percebido pode dividir-se em construtos que relacionam com crenças
do
controlo percebido e atribuições de controlo. É de notar, no entanto, que construtos relacionados
com atribuições e crenças acerca do controlo não são necessariamente independentes, podendo
interagir entre eles (Alloy e Tabachnick, 1984).
3ª – Que se questiona se o controlo percebido forma a base do construto, é um sub componente do
construto, ou é um correlato do construto. Assim o locus de controlo (Rotter, 1966) e a auto-
eficácia
(Bandura, 1977) são construtos que se alicerçam na noção de controlo percebido. O construto de
estilo atribucional (Abramson, Seligman e Teasdale,1978) que reflecte o modo preferencial das
pessoas efectuarem atribuições, é um construto que poderia ser considerado um sub componente.

Aplicações: Estilo atribucional, pag. 311.

IV – Atitudes
Thomas e Znaniecki (1918) – definiram o campo da psicologia social como sendo “o estudo de atitudes”.
Gordon Allport (1935) – referiu-se à atitude como sendo “a pedra angular no edifício” do domínio em
crescimento da psicologia social.

1- Sinopse histórica
Atitude – deriva da palavra latina “aptitudo” – significa que disposição natural para realizar determinadas
tarefas – postura corporal dos pintores.

Mais tarde, o termo entrou na linguagem corrente para se referir já não tanto a uma postura corporal como
a uma “postura da mente”. Hoje, em dia, quer o público em geral quer os psicólogos sociais, as atitudes
referem-se a estados mentais.

Darwin – este conceito implica respostas motoras estereotipadas associadas com a expressão de uma
emoção, geralmente no sentido de postura de todo o corpo. As atitudes neste sentido desenvolver-se-iam
para instaurar uma função de restabelecimento do equilíbrio.

Oswald Kulpe – psicologia experimental – as suas respostas eram melhores se elas diziam respeito ao
aspecto a que se tinha chamado atenção antes da experiência. A atitude permitiria, pois, explicar a relação
flutuante entre estímulo e resposta.

A introdução do conceito de atitude na literatura sociológica é geralmente atribuída a Thomas e Znaniecki


(1918) – que estudaram os problemas com que se confrontavam os emigrantes polacos nos Estados
Unidos. Estava dirigida para algum objecto, como dinheiro ou trabalho.

McGuire (1985) – assinala três períodos principais no estudo das atitudes:


1º - Corresponde aos anos 30 – focaliza-se sobretudo na medida das atitudes,
2º - Ocorrem nos anos 50 e 60 – desenvolveram a maior parte das teorias sobre a mudança de
atitudes,
3º - Está em curso – e focaliza-se preponderantemente nos sistemas atitudinais.

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As atitudes não podem ser directamente observadas. Por isso a atitude é um construto hipotético que os
investigadores tentam apreender por meio de definições conceptuais e de elaboradas técnicas de medida.

2- O que são as atitudes?


2.1 – Modelos e atitudes
Uma abordagem tradicional tem considerado as atitudes como sendo multidimensionais com uma
organização relativamente duradoira.
Modelo tripartido clássico, a atitude resulta de três componentes: (Rosenberg e Hovland, 1960)
• Afectivo – refere-se aos sentimentos subjectivos e às respostas fisiológicas que acompanham
uma atitude.
• Cognitivo – diz respeito a crenças e opiniões das quais a atitude é expressa, muito embora nem
sempre sejam conscientes.
• Comportamental – diz respeito ao processo mental e físico que prepara o indivíduo a agir de
determinada maneira.

Bagozzi (1978) – não é claro o modo como se interrelacionam cada um destes componentes. Em muitas
situações a presença de um componente implica a presença de outros. (ex: caça).

Breckler (1984) – efectuou um estudo para testar as contribuições independentes dos componentes
afectivo, cognitivo e comportamental em relação às cobras.

Outros consideram a atitude como sendo unidimensional, isto é, uma atitude representa a resposta
avaliativa (afecto), favorável ou desfavorável, em relação ao objecto de atitude. A atitude constitui, pois, a
respostas que situa o objecto numa posição do continuum de avaliação. Trata-se do modelo
unidimensional clássico.

Fishbein e Azjen (1975) – definem a atitude como sendo “uma predisposição aprendida para responder de
modo consistente favorável ou desfavorável em relação a dado objecto.”

Zanna e Rempel (1988) – delinearam o modelo tripartido revisto que integra todas estas concepções
(fig.4.1, pag. 338). Começam por definir a atitude como uma categorização de um objecto – estimulo ao
longo de uma dimensão avaliativa. Neste modelo a atitude é, por conseguinte, um julgamento (isto é, uma
opinião) que exprime um grau de aversão ou de atracção num eixo bipolar. Pressupõe que esta avaliação
pode basear-se em três espécies de informação:
• Informação cognitiva – julgamento a “frio” de que se gosta ou detesta,
• Informação afectiva – emoção sentida,
• Informação baseada no comportamento passado.

A definição de atitude como avaliação está-se a tornar cada vez mais usual em psicologia social, se bem
que ainda não seja universal. Está a substituir uma definição “tripartida” da atitude previamente muito
difundida: o chamado “modelo ABC” de atitude.

2.2 – Características
A atitude enquanto realidade psicológica possui determinadas características oriundas das realidades
físicas. Pode-se encarar como um continuum psíquico, ou seja, uma entidade que tem um começo e um
termo de modo que se possa passar de um ao outro por variações de grau, ressaltam quatro
características:
• Direcção da atitude – designa o nível positivo ou negativo do objecto da atitude.
• Intensidade da atitude – exprime-se pela força da atracção ou da repulsa em relação ao objecto.
A intensidade foi e continua a ser a propriedade que mais tem atraído a atenção dos

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investigadores. Foi objecto das teorias das escalas clássicas de medida e recorre-se a ela para
determinar o grau de mudança de atitude.
Uma subpropriedade associada à intensidade é a extremidade (ex: um sentimento positivo, pode
ser exprimido por meio de uma atitude positiva desde “ligeiramente” a “totalmente positiva”.)
• Dimensão da atitude – permite-nos aprender se se trata de um objecto complexo e que não está
bem definido. Pode ser unidimensional ou multidimensional.
• Acessibilidade da atitude – ou seja, a solidez da associação entre o objecto de atitude e a sua
avaliação afectiva.
Um continuum “não atitude-atitude” foi proposto por Fazio, Sanbonmatsu, Powell e Kardes (1986).
Num dos extremos do continuum encontra-se a “não-atitude”, isto é, não existe na memória
nenhuma avaliação à priori do objecto de atitude. Quanto mais a resposta é automática, mais se
pode concluir que a atitude está cristalizada e, por conseguinte, é mais provável a predição do
comportamento.

Para além das características referidas, as atitudes têm outras características básicas:
1º – As atitudes são inferidas do modo como os indivíduos se comportam,
2º – As atitudes são dirigidas em relação a um, objecto psicológico ou categoria,
3º – As atitudes são aprendidas, isto é, provêm da experiência. Dado que as atitudes são aprendidas,
po-
dem ser mudadas,
4º – As atitudes influenciam o comportamento.

2.3 – Funções Psicológicas das atitudes


Um outro modo de se obter uma compreensão mais aprofundada das atitudes é perguntar porque é que
as pessoas as têm?

Smith et al. (1956) – atribuem três funções às atitudes:


• Adaptação socializado
• Exteriorização
• Avaliação do objecto de atitude.

Katz (1960) – menciona quatro funções:


• Conhecimento - perspectiva cognitiva
• Instrumentalidade (meios atingir) – perspectiva behaviourista
• Defesa do eu (protecção da nossa auto-estima) - perspectiva psicanalítica
• Expressão de valores (permitindo às pessoas mostrar os valores com que se identificam e as
definem) – perspectiva humanística.

As atitudes podem ter três funções: (Schlenker, 1982; Pratkanis e Greenwald, 1989)
1º – Ajudam a definir grupos sociais,
2º – Ajudam a estabelecer as nossas identidades,
3º – Ajudam o nosso pensamento e comportamento.

As atitudes constituem também elementos importantes da vida cognitiva das pessoas. Guiam o modo
como se pensa, sente e age.

3- Atitude e noções conexas


3.1 – Crenças

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Para autores que se situam num modelo tripartido das atitudes, as crenças podem ser consideradas como
o componente cognitivo das atitudes (Krech, Cruchfield e Ballachey, 1962).
Para autores que consideram a atitude como sendo unitária (Fishbein e Ajzen, 1975) definem as crenças
como julgamentos que indicam a probabilidade subjectiva de ma pessoa ou um objecto tenha uma
característica particular. Nesta perspectiva, crenças e atitudes são claramente distintas:
• as crenças são cognitivas – pensamentos e ideias
• as atitudes são afectivas – sentimentos e emoções.

3.2 – Opiniões
Por vezes os termos opinião e atitude têm sido utilizados como sinónimos.

Mcguire (1962) – sugeriu tratar-se de “normas à procura de uma distinção e não tanto de uma distinção à
procura de uma terminologia.”

O termo opinião continua a ser amplamente utilizado, em particular no âmbito da investigação de inquérito
e de sondagens de opinião pública que se focalizam em atitudes partilhadas e crenças de vastos grupos
de pessoas.

Allport (1935) – situa os quatro conceitos – opinião, atitudes, interesse e valor – ao longo de m mesmo
continuum indo do mais específico ao mais geral.
Encontra-se uma concepção semelhante em (Hovland, Janis e Kelley, 1935).

Eysenck (1954) – distingue quatro níveis:


• Opinião acidental – não é característica do indivíduo
• Opinião habitual – é característica do indivíduo
• Atitude – conjunto de opiniões estáveis interligadas, corresponde a um componente importante da
personalidade
• Ideologia – traduz a interdependência das atitudes – atitude etnocêntrica, personalidade de tipo
conservador.

Oskamp (1991) – há quem defenda a perspectiva de que as opiniões são equivalentes a crenças e não
tanto a atitudes. As opiniões envolvem julgamentos de uma pessoa sobre a probabilidade de
acontecimentos ou elações, ao passo que as atitudes envolvem sentimentos ou emoções de uma pessoa
sobre objectos ou acontecimentos.

3-3 – Valores
Os valores constituem uma variável psicológica intimamente associada às atitudes. Muito embora as
atitudes se refiram a avaliações de objectos específicos, os valores são crenças duradoiras acerca de
objectos importantes da vida que transcendem situações específicas (Rokeach, 1973; Schwartz e Bilsky,
1987). “Paz”, “felicidade”, “igualdade” - são alguns exemplos de valores.
Os valores constituem um aspecto importante do autoconceito e servem de princípios directores para uma
pessoa (Rokeach, 1972).

Alguns psicólogos sociais tentaram catalogar um conjunto de valores básicos em que as pessoas diferem:
Allport e Vernon (1931): teórico, económico, social, estético, politico e religioso.
Morris (1956) – apresentou cinco dimensões gerias de valores:
• Constrangimento social e autocontrolo
• Prazer e progresso na acção
• Retraimento e autosuficiência
• Receptividade e simpatia
• Autocomplacência e prazer sensual.
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Rokeach (1973) – fez a distinção entre:


• Valores finais – que dizem respeito aos objectivos últimos da vida,
• Valores instrumentais – que dizem respeito a modo de conduta.
Elaborou uma escala para se avaliarem os valores, cada uma contendo 18 valores finais e 18 valores
instrumentais.
Figueiredo (1988) – utilizou de modo assaz original estas escalas para verificar se existia consenso entre
pais e jovens ao nível dos valores finais e instrumentais. O autor encontrou um marcado consenso entre
as duas gerações na importância da “dignidade” e “felicidade” como valores finais e “honesto”, “afectuoso”,
“responsável”, “capaz” como valores instrumentais.
Feather (1994) – os valores têm as seguintes propriedades:
• São crenças gerais acerca de objectivos e comportamentos desejáveis,
• Envolvem bondade e maldade e têm uma qualidade de “dever” acerca deles,
• Transcendem atitudes e influenciam a norma que as atitudes podem assumir,
• Fornecem padrões para avaliar acções, justificar opiniões e comportamentos, planificar
comportamentos, decidir entre diferentes alternativas e apresentar-se aos outros,
• Estão organizados em hierarquias para uma determinada pessoa e sua importância relativa pode
variar ao longo da vida,
• Os sistemas de valores variam segundo indivíduos, grupos e culturas.

3.4 – Ideologia
A ideologia representa um sistema integrado de crenças, em geral, com uma referência social ou política.

Rouquete (1996) – a ideologia é o que torna um conjunto de crenças, atitudes e de representações


simultaneamente possíveis e compatíveis no seio de uma população.

Tetlock (1989) – propôs que os valores terminais, estão na base de toda a ideologia politica. As ideologias
podem variar segundo duas características:
1º – podem atribuir diferentes prioridades a valores particulares,
2º – há ideologias que são pluralistas e há outras que são monistas.

4- Formação das atitudes


As nossas atitudes resultam das diversas experiências vitais. Como tal são influênciadas pelas pessoas
significativas nas nossas vidas e pelos modos como processamos a informação acerca do mundo.

4.1 – Formação das atitudes


Jennings e Niemi (1968) – mostraram que crianças tendiam a ser simpatizantes dos mesmos candidatos
políticos, clubes...que os seus pais.

Epstein e Komorita (1966) – encontraram que crianças da escola primária tanto brancas quanto negras,
tinham as mesmas atitudes preconceituosas para com minorias ou grupos étnicos que os seus pais.

À medida que uma criança vai avançando na idade, o impacto das influências parentais pode começar a
diminuir.
Quando adolescentes e jovens adultos deixam o meio familiar, por exemplo, a entrada na universidade
que muitas das vezes acarreta a mudança de residência, as suas atitudes mudam muitas vezes de modo
profundo como resultado da pertença a novos grupos de companheiros e da pressão dos grupos de
referência.

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4.2 – Condicionamento clássico


O princípio básico do condicionamento clássico é que quando um estímulo neutro é emparelhado com um
estímulo que naturalmente provoca uma resposta particular (estímulo incondicional), o estímulo neutro
provocará uma resposta semelhante e então tornar-se-á um estímulo condicionado.

Staats – ilustra o uso dos princípios básicos do condicionamento desenvolvendo um modelo de formação
da atitude – define uma atitude como uma resposta – uma resposta avaliativa condicionada por algum
objecto do meio (ex: emparelhamento de palavras...).

O condicionamento clássico pode ser particularmente potente na formação de atitudes em relação a


coisas quando não se tem muito conhecimento prévio acerca delas.
È possível condicionar as atitudes.

4-3 – Condicionamento operante


Os princípios do condicionamento operante (ou aprendizagem instrumental) enfatizam o papel do reforço
na formação da atitude. Quando os indivíduos recebem aprovação social para as suas atitudes serão
reforçadas. Ao invés, se as atitudes são desaprovadas, não serão reforçadas.

È ilustrada a eficácia dos reforços verbais na formação das atitudes.


Insko (965) – demonstrou num estudo efectuado por telefone. Telefonou a estudantes da universidade de
Hawai, procurando saber as suas opiniões acerca da “semana Aloha”.

4.4 – Aprendizagem social


Bandura (1977) – mostrou que muitas vezes aprendemos novas respostas – e portanto novas atitudes –
observando e tentando imitar o comportamento de modelos. Através da modelagem, as crianças adquirem
várias atitudes dos seus pais.

Eiser, Morgan, Gammage e Gray (1989) – confirmaram que a probabilidade das crianças se tornarem
fumadoras é mais elevada nas famílias cujos pais fumam.

4.5 – Aprendizagem por experiência directa


A experiência directa com o objecto de atitude contribui para a aprendizagem de muitas das nossas
atitudes.

4.6 – Observação do próprio comportamento


Muito embora estejamos habituados a encarar as atitudes como causas do comportamento, também
acontece que os comportamentos podem levar a mudanças de atitudes. A teoria da autopercepção
propõe que as pessoas podem “vir a conhecer as suas próprias atitudes, emoções e outros estados
internos, parcialmente através de inferências de observações do seu próprio comportamento e/ou das
circunstâncias em que este comportamento ocorre” - Bem (1972).

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Em suma, as atitudes podem-se formar de diversos modos. Algumas atitudes podem desenvolver-se
através dos princípios básicos da aprendizagem e reforço. Outras podem-se formar quando uma pessoa
obtém informação sobre novos assuntos.
Refira-se que as atitudes também podem ser formadas para servir necessidades da nossa personalidade.

Tesser (1993) -defende que os psicólogos não podem ignorar a influência genética sobre as atitudes.

5- Medidas de atitudes
Os psicólogos sociais não procuram somente saber o que são as atitudes e como são formadas. Tentam
também medi-las, avaliar a sua direcção e intensidade, o que permite efectuar comparações entre os
indivíduos e os grupos. As atitudes podem ser medidas directa ou indirectamente.

5.1 – Análise de conteúdo das comunicações


Thomas e Znaniecki (1918) – fizeram uma das primeiras tentativas para avaliar as atitudes. O método que
utilizaram consistiu fundamentalmente em inferir as atitudes de diferentes tipos de documentos escritos.
Os autores esperavam a partir deste material identificar atitudes ou temas comuns que permitissem
compreender o comportamento dos imigrantes polacos.

Eiser (1983) – propôs que um exame cuidadoso das palavras revestidas de emoções que as pessoas
utilizam em entrevista pode fornecer uma indicação de valor sobre as atitudes subjacentes, mesmo que
não estejam a fazer afirmações atitudinais directas.

5.2 – Escala de avaliação com um item


Trata-se de um método económico de medir uma atitude em muitos estudos com carácter representativo,
exemplo, em sondagens de opinião (totalmente em desacordo (=1) a Totalmente em acordo (=7)). Este
método defronta-se com um problema – a potencial falta de fidelidade.

5.3 – Escala de distância social


Emory Bogardus (1925) – propôs esta escala com o objectivo de medir as atitudes étnicas. Esta técnica
mede o grau de distância que uma pessoa deseja manter nas relações com pessoas de outros grupos.
A escala apresenta-se sob a forma de um quadro de dupla entrada que tem como abcissa o nome de
diferentes grupos humanos... (pag.370).

5.4 – Escala de Thurstone


Thurstone (1928) – defendeu que há um continuum psicológico de afecto ao longo do qual se podem situar
os indivíduos.
Das diversas técnicas de escalas desenvolvidas por Thurstone a que foi mais amplamente utilizada foi a
escala de intervalos aparentemente iguais.
A elaboração desta escala pode ser sintetizada em oito passos. (pag. 372/373).

Este tipo de escala defronta-se com algumas dificuldades:


1º Lugar – a preparação da escala é complicada e morosa, tendo-se encontrado resultados muito se-
melhantes quando se utilizam técnicas menos complicadas que esta escala.
2º Lugar - pode haver um fosso relativamente grande entre o juri e a população a quem se administra
a escala.

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3º Lugar – Thurstone partiu da ideia de que os juízes ordenam as proposições independentemente


das
suas atitudes, mas o contrário pode ser provado.

5.5 – Escala de Likert


Rensis Likert (1932) – concebeu um dos métodos que mais influência tem tido na medida das atitudes.
Likert examinou cinco grandes áreas das atitudes:
• Relações internacionais
• Relações raciais
• Conflitos económicos
• Conflitos políticos
• Conflitos religião.
Pode-se sintetizar a construção das escalas de Likert em três etapas: (pag. 375).

5.6 – E escala de Guttman


A escala de Guttman baseia-se no pressuposto de que as opiniões podem ser ordenadas segundo a sua
“favoralidade” de modo que a concordância com uma dada afirmação implica concordância com todos os
itens que exprimem opiniões mais favoráveis – para ele é uma escala unidimensional.
A elaboração de uma escala deste tipo pode ser sintetizada em três etapas: (pag. 376/377).
A reprodutividade é a base da escala de Guttman e é geralmente aceite que um conjunto de itens deve ter
um coeficiente de reprodutividade de cerca de 90 (10% ou menos de erro).

5.7 – Diferenciador semântico


O problema com escalas como as do tipo Thurstone, Likert ou Guttman é de que para cada novo objecto
de atitude tem de se construir uma nova escala.
O diferenciador semântico propicia a possibilidade de se medirem diferentes atitudes com a mesma escala.

Osgood, Suci e Tannenbaum (1957) – desenvolveram o diferenciador semântico – é uma técnica de


medida da significação psicológica que têm os objectos ou os conceitos para o indivíduo. É a combinação
de um método de associações forçadas, mas controladas e de um procedimento de escalas permitindo
obter a direcção e a intensidade do significado do conceito.

Por meio do recurso à análise factorial, Osgood e seus colegas identificaram três dimensões básicas
mediante as quais os conceitos podem ser descritos. Estes factores foram interpretadas como sendo:
• A avaliação
• A potência
• A actividade.

O diferenciador semântico tem sido utilizado de diversos modos. Um dos seus usos é para estudar as
diferenças sócio-culturais nas atitudes. Um segundo uso é para estudar as diferenças sexuais. Um terceiro
uso é para avaliar o auto-conceito.
O diferenciador semântico tem a vantagem de ser fácil de construir.

5.8 – Medidas indirectas


Os questionários são de longe as técnicas de avaliação das atitudes mais amplamente utilizadas.
As medidas indirectas mais comuns, em que não de pergunta à pessoa a sua atitude directamente, são:
• Técnicas fisiológicas
• Técnicas comportamentais

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• Técnicas projectivas.

As técnicas fisiológicas de medir as atitudes, tais como a resposta galvânica da pele e a resposta pupilar,
assentam no pressuposto de que o comportamento afectivo das atitudes produz uma reacção fisiológica
que pode potencialmente ser medida.
Rankin e Campbell (1955) – verificaram uma galvância na pele quando sujeitos brancos, tinham um
experimentador negro.
Hess (1965) – a dilatação a pupila tem sido interpretada como indicativo de uma atitude positiva e a sua
contracção como indivíduos de uma atitude negativa.
Cacioppo e Petty (1986) – desenvolveram uma técnica de medida fisiológica que permite obter medidas da
intensidade e a direcção das atitudes. A sua técnica assenta na actividade eléctrica dos músculos –
quando as pessoas reagem de modo positivo a um objecto de atitude, a actividade nos músculos
zigomáticos aumenta, ao passo que respostas negativas acompanham-se de aumento de actividade dos
músculos co-rugadores – essa actividade muscular ocorre mesmo quando há mudanças não se podem
ver a olho nu. É aqui que a técnica EMG pode medir actividade muscular.
A utilização da EMG é obviamente impossível sem um equipamento conveniente, um meio
cuidadosamente, um experimentador perito e sujeitos que cooperem.

Refira-se ainda uma técnica de avaliação das atitudes que recorre a um falso indicador psicofisiológico
(bogus pipeline) – Jones e Sigall (1971) – esta técnica permite detectar atitudes que de outro modo não
seriam reveladas porque suscitam embaraço à pessoa.

As técnicas comportamentais – assentam na suposição que o comportamento é consistente com


atitudes.
Mehrabian (1967) – estudou o aspecto comportamental das atitudes utilizando algumas das ideias da
proxémica que se refere ao grau de intimidade da interacção não-verbal entre duas pessoas que
comunicam. Segundo ele podem-se medir as atitudes de um sujeito em relação a outro através da
medição da distância, do contacto ocular, da tensão corporal quando duas pessoas interagem.

Outros estudos têm avaliado atitudes em relação a várias pessoas e organizações mediante a medida
comportamental da “técnica da carta perdida”.
Mary Allen e Beth Rienzi (1992) – utilizaram esta técnica para medir atitudes em relação aos americanos
em oito países europeus.

As técnicas projectivas – em que se pede aos sujeitos para descreverem uma figura, contarem uma
história, completarem uma frase, ou indicarem como é que alguém reagiria a essa situação. Têm a
vantagem de que muitas vezes as pessoas projectam as suas próprias atitudes nos outros.

A utilização de técnicas indirectas para medir as atitudes reveste-se quer de vantagens, quer de
desvantagens:
• Vantagens – assinale-se que essas técnicas são menos susceptíveis de suscitarem respostas
socialmente aceites. A pessoa não conhece que atitude está a ser medida.
• Desvantagens – refira-se a dificuldades em medir a intensidade da atitude e sendo as atitudes
inferidas estas técnicas podem deixar a desejar quanto à fidelidade. Também podem suscitar
problemas éticos.

Apesar disso as medidas indirectas são a única avenida a seguir quando o investigador trabalha sobre
assuntos sociais muito sensíveis.

6 – Atitudes e comportamento

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Os psicólogos sociais também estavam interessados em mudar o comportamento através da influência


exercida sobre as atitudes das pessoas. Efectivamente, muitas das definições tradicionais da atitude
consideram-na como uma predisposição para agir de determinado modo.

6.1 – O dilema da consistência atitude-comportamento


LaPiere (1934) – efectuou um dos primeiros estudos que sugeriram que as atitudes e os comportamentos
poderiam não estar tão estreitamente ligados como os psicólogos sociais da época pareciam pensar. Fez
experiência de viajar com chineses.

Um estudo semelhante foi descrito por Kutner, Wilkins e Yarrow (1952) nos Estados Unidos quando ainda
existia a segregação em que se verificou que, muito embora as pessoas negras fossem servidas de modo
satisfatório m certo número de restaurantes, os mesmos restaurantes recusariam posteriormente efectuar
reservas para um acontecimento social que incluía pessoas negras.
Nestes estudos verifica-se uma discrepância entre atitude e comportamento.

Wicker (1969) – efectuou uma revisão de estudos empíricos sobre as relações entre atitude e
comportamentos realizados desde o estudo de LaPiere em 1934. Estes estudos raramente apresentam
uma correlação superior a .30 e muitas vezes a correlação está próxima de zero.

Michel (1968) - - coligiu também investigações sobre o valor do traço da personalidade enquanto factor
preditor do comportamento e concluíra pela famosa correlação .30, ou seja, a correlação média era
aproximadamente de .30 entre o traço e o comportamento.

6.2 – Condições metodológicas da predição atitude-comportamento


Uma primeira tentativa de revalidação da consistência da atitude e do comportamento debruçou-se sobre
os aspectos metodológicos das investigações. Referiremos, para além de possíveis problemas de medida:
• O princípio de correspondência
• O princípio de agregação dos comportamentos
• O princípio do comportamento prototípico

O princípio de correspondência (Azjen e Fishbein, 1977) – as componentes preditivas do comportamento


(atitude ou crença, ou intenção...) e o comportamento previsto deveriam medir-se a níveis
correspondentes de especificidade.
Para se aplicar este princípio é necessário precisar os níveis de correspondência atitude-comportamento
por meio de quatro marcadores:
• Uma acção – fumar
• Um alvo – fumar cigarros
• Uma situação – em locais públicos
• E o tempo – nos próximos três meses.

Em suma, quanto mais os quatro marcadores da medida de atitude são parecidos com os marcadores do
comportamento, tanto mais a relação atitude-comportamento será importante.

Uma outra questão a considerar na relação atitudes/comportamento é o princípio da agregação dos


comportamentos. O estudo de LaPiere testou um acto em relação com uma atitude. Para demonstrar que
a construção de um índice comportamental compósito pode aumentar a correlação atitude-comportamento,
Fishbein e Ajzen (1974) efectuaram um estudo relacionando atitudes religiosas com os comportamentos.

Uma das razões para a inclusão de um leque amplo de comportamentos é que o comportamento é
complexo e multideterminado. Os factores situacionais também podem influenciar o comportamento.
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Um outro princípio que ajudou a clarificar a relação atitude-comportamento foi o do comportamento


prototípico. Há objectos que desencadeiam mais facilmente uma reacção atitudinal que outros. Isso
observa-se particularmente quando se está perante objectos representativos de uma classe de objectos.

Lord, Lepper e Mackie (1984) – puseram em evidência que as atitudes de estudantes em relação a
pessoas descritas como sendo homossexuais só prediziam o seu comportamento em relação aos
homossexuais se eles se enquadravam no protótipo que o sujeito tinha do homossexual típico. Quando um
homossexual era diferente do protótipo, a relação atitude-comportamento já não era consistente.

Em suma, quando estamos perante a atitude a respeito de grupos pode revestir-se de interesse examinar-
se preliminarmente a representação que a amostra tem do alvo.

6.3 – Modelos teóricos de predicção do comportamento


Apesar de melhorias metodológicas é possível que haja factores que se possam opor ao comportamento
implicado por uma atitude (não dar dinheiro a uma instituição, pode ser pelas necessidades prioritárias não
permitirem e nada tem haver com a instituição).

a) – Abordagem das variáveis moderadoras


Uma variável moderadora representa uma variável que influência a direcção ou a intensidade da relação
entre uma variável preditora ou independente e uma variável critério ou dependente (Baron e Kenny, 1986).
Trata-se pois de uma técnica variável que age sobre a correlação simples entre outras duas variáveis.

Um factor que contribui para aumentar a consistência atitude-comportamento é a experiência directa da


pessoa com o objecto da atitude. Tem sido sugerido que a ligação entre comportamentos e atitudes
formada mediante experiência directa é mais forte porque tais atitudes são mantidas com mais clareza,
confiança e certeza (Fazio e Lanna, 1978).

Outro factor que afecta a consistência atitude-comportamento é a pertinência pessoal. Se uma pessoa
tem um direito adquirido numa questão aumenta a relação entre atitude-comportamento. Um direito
adquirido significa que os acontecimentos em questão terão um forte efeito na própria vida da pessoa.

A relação entre atitude e comportamento também depende do modo como se espera que nos
comportemos em determinadas situações. Por exemplo Kiesler (1971) assinala que se espera que uma
pessoa não expresse sentimentos negativos acerca das outras directamente, é difícil que os sujeitos
admitam que têm atitudes negativas em relação a outros sujeitos nas experiências.

Diferenças individuais também podem ser importantes. Algumas pessoas estão naturalmente mais
dispostas que outras a expressar consistência entre as suas atitudes e comportamentos.
Norman (1975) – verificou que os sujeitos com alta “consistência afectivo – “cognitiva”, isto é, o acordo
entre os seus sentimentos e as suas atitudes expressas, eram mais susceptíveis de agir de acordo com as
suas atitudes que os sujeitos cujos sentimentos e crenças estavam em conflito.

Uma variável que tem sido muito estudada em psicologia é o locus de controlo (Barros, Barros e Neto,
1993). No campo da relação atitude-comportamento, Saltzer 1981, mostrou claramente a importância
desta variável para obter boas predições.

Outro factor de personalidade que pode afectar a consistência atitude-comportamento é a auto vigilância
que consiste numa capacidade de auto-observação e de auto controlo dos comportamentos verbais e não
verbais em função de índices situacionais (Snyder, 1979). Dado que os sujeitos com auto vigilância
elevada são pragmáticos, indo de uma situação para outra como um camaleão, e que os sujeitos com auto
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vigilância baixa guiam o seu comportamento a partir dos seus valores, atitudes e convicções pessoais,
resulta que a consistência atitude-comportamento é maior nos sujeitos com auto vigilância baixa.

Relembre-se que a auto consciência é uma característica disposicional para prestar atenção a si próprio
em diversas situações (Buss 1980, Neto1989) donde a existência de variações crónicas das pessoas nos
seus estilos de atenção em relação a si próprias. Contribui para o processo de regulação do
comportamento na medida em que a pessoa centra a sua atenção em certos aspectos salientes de si
próprias. As dimensões privadas públicas do auto consciência permitem efectuar predições diferentes da
consistência entre as atitudes e o comportamento.
b) – Teoria da acção reflectida e do comportamento planificado.
Fishbein e Ajzen (1975) – desenvolveram uma teoria da acção reflectida que mais tarde foi denominada de
teoria do comportamento planificado por Ajzen (1985). A teoria da acção reflectida descreve as relações
entre crenças, atitudes e comportamento.
As crenças influenciam:
1- Atitudes em relação a um comportamento particular,
2- Normas subjectivas.
Estes componentes influenciam as intenções comportamentais que, por sua vez, influenciam o
comportamento.
A atitude de uma pessoa em relação a um comportamento é determinada pelas crenças de que realizando,
o comportamento, isso leva a resultados desejáveis ou indesejáveis.
As normas subjectivas envolvem:
1- Crenças acerca de comportamentos normativos (isto é, que são esperadas pelos outros),
2- Motivação de uma pessoa para condescender com expectativas normativas.

A atitude tem de se traduzir em intenção para exercer um comportamento.


De um modo geral, a intenção de efectuar um comportamento estará em relação directa com a soma dos
produtos das crenças, multiplicadas pela sua avaliação, bem como com a soma dos produtos das crenças
normativas, multiplicadas pela motivação em condescender.

Certas variáveis exteriores ao modelo podem também influenciar a intenção comportamental, mas de
modo indirecto, por meio de outras componentes do modelo. Esta aptidão dos factores preditores
endógenos do modelo em mediatizar os efeitos de variáveis externas constitui o postulado de suficiência.
Entre estas variáveis externas encontram-se traços de personalidade, dados sócio-demográfico….

Diversos estudos têm vindo em apoio da teoria da acção reflectida em que a intenção comportamental era
determinada só pela atitude e pela norma subjectiva.

Apesar de certas dificuldades deste modelo, tem havido um consenso quanto à robustez da teoria da
acção reflectida para predizer o comportamento voluntário.

Ajzen (1985) - propôs a teoria do comportamento planificado que acrescenta uma variável preditora ao
modelo da acção reflectida. Este factor denominado de controlo comportamental percepcionado é
determinado pelas experiências passadas de uma pessoa e pelas crenças sobre como é susceptível de
ser fácil ou difícil a realização do comportamento.
Ajzen (1991) – faz uma revisão de vários estudos em que mostra que a teoria da acção planificada prevê
intenções comportamentais melhor que a teoria da acção reflectida, isto é, o controlo comportamental
percepcionado acrescenta à predição das intenções comportamentais além dos efeitos de atitudes e das
normas subjectivas.

Através deste capítulo ficou patenteado que a psicologia social contemporânea aborda o construto atitude
como um fenómeno individual. As atitudes têm sido sobretudo conceptualizadas como estados internos
cognitivos e afectivos, ou como intenções comportamentais e predisposições.
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As atitudes originam e emergem da vida social mediante as interacções quotidianas e as comunicações


com as outras pessoas. As atitudes são amplamente partilhadas fornecendo significação cultural para a
vida quotidiana.

** Aplicação: atitudes politicas e comportamento


Com muita frequência os nossos valores e atitudes são determinados pelos grupos a que procuramos
pertencer ou com que nos identificamos. Um grupo de referência é um grupo para onde as pessoas se
orientam, recorrendo aos seus padrões para efectuarem julgamentos sobre elas próprias e sobre o mundo.

Um dos primeiros e melhores estudos sobre a influência de grupos de referência foi a investigação
efectuada por Theodore Newcomb nos anos trinta que ilustra a mudança de atitudes políticas de
estudantes universitários de conservadorismo, aquando da entrada na faculdade, para o liberalismo
quando concluíram a licenciatura.

Sumário: pag. 407/408/409.


Tradicionalmente, as atitudes têm sido definidas como envolvendo crenças, sentimentos e disposições a
agir. Mais recentemente, os teóricos parecem estar a mover-se para uma concepção das atitudes como
avaliações, avaliações estas que se relacionam de modo complexo com crenças, sentimentos e acções.

As atitudes ajudam-nos a definir grupos sociais, a estabelecer as nossas identidades e a guiar o nosso
pensamento e comportamento.

As atitudes formam-se através da aprendizagem e são influenciadas pelas pessoas (ou grupos)
significativas da vida de uma pessoa.

Para dar conta das numerosas variáveis, para além da atitude, que podem influenciar, o comportamento
foram propostos modelos teóricos. O modelo mais influente da relação atitude-comportamento é o da
teoria da acção reflectida, posteriormente denominado de teoria do comportamento planificado.
Para o modelo da acção reflectida, o determinante mais imediato do comportamento é a intenção ou o
desejo de agir. Por seu lado, a intenção é determinada pela atitude e pelas normas subjectivas. Para o
modelo do comportamento planificado o factor de controlo comportamental percepcionado é acrescentado
a atitude e à norma subjectiva. Pressupõe-se que este modelo tem uma eficácia de predição superior em
situações em que o comportamento só esteja tenuemente sob controlo voluntário.

V- representações sociais
Tarde – já em finais do século passado, apreendeu a importância da comunicação para reproduzir e
transformar as sociedades humanas, tendo então proposto que a Psicologia Social se ocupasse antes de
mais do estudo comparativo das conversações.
O material base foi conversas gravadas.
Após esta proposta de Tarde, as sociedades humanas evoluíram uma das mudanças com maior impacto
na vida quotidiana foi o papel cada vez mais importante assumido pelos meios de comunicação de massa
na criação e difusão de informação e de modos de pensar, de sentir e de agir.

Serge Moscovici (1961-1976) – elabora com fundamento de outras teorias, uma teoria que teve profundas
repercussões na psicologia social europeia. É amplamente reconhecido que os trabalhos que se
inscrevem nesta teoria constituem um traço diferenciador na abordagem da psicologia social europeia,
constituindo uma das suas manifestações mais importantes.

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Moscovici (1961) – mostrou várias semelhanças entre as características do pensamento adulto e do


pensamento infantil.
Efectivamente, quer no pensamento infantil quer no pensamento adulto, há intervenção de dois sistemas
cognitivos que originam as suas características partilhadas:
“…vemos em acção dois sistemas cognitivos, um que procede por associações, inclusões, discriminações,
deduções, isto é, o sistema operatório, e o outro que controla, verifica, selecciona com ajuda de regras,
sejam ela lógicas ou não; trata-se de uma espécie de meta-sistema que trabalha de novo a matéria
produzida pelo primeiro “ – Moscovici (1976).

1- Origens
O conceito de representação social resulta do empréstimo pelo vocabulário filosófico do termo
representação.
Lalande – num comentário critico:”…pode-se supor que o sentido filosófico actual da palavra venha, por
um lado, do uso do verbo «representar-se», muito clássico em Francês como sinónimo de «imaginar», por
outro lado, o uso….”

O conceito de representação social inscreve-se numa tradição europeia e sociológica, ao invés da grande
maioria dos conceitos de psicologia social que são de origem anglo-saxónica e procedem da psicologia
geral.

Durkheim (1895) – falara de “representações colectivas” e, em 1898, de “representações sociais”,


esforçando-se por distingui-las das”representações individuais”:”…a sociedade tem por substrato o
conjunto dos indivíduos associados. O sistema que formam ao unir-se e que varia segundo a sua
disposição na superfície do território, a natureza e o número das vias de comunicação, constitui a base
sobre a qual se ergue a vida social…”
Este autor faz um paralelo entre psiquismo individual e psiquismo colectivo, para os melhor distinguir:”…a
vida colectiva, como a vida mental do indivíduo, é feita de representações, é, por conseguinte, presumível
que representações individuais e representações sociais sejam de certo modo, comparáveis…”

Davy (1920) - condensava bem a óptica durkheimiana quando escrevia:”…não nos podemos contentar de
postular…uma natureza humana formada de um certo número de sentimentos imutáveis e fundamentais, é
necessário explicá-la, ela própria, e explicá-la em função do meio social a que se adapta constituir, do
ponto de vista sociológico, uma psicologia dos sentimentos e uma psicologia do conhecimento…”

Moscovici (1961) – consagrou um estudo fecundíssimo às representações sociais da psicanálise, e aplicou


em cernar o conceito de representação social. Foi a partir desta investigação que se afirmou em França
uma corrente de estudo sobre as representações sociais.

Herzlich (1972) – “a psicologia, sabe-se, foi durante muito tempo dominada pela corrente behaviourista. Na
tradição watsoniana da ligação estimulo-resposta, só os comportamentos manifestos, directamente
observáveis, tais como as respostas motoras ou verbais, podiam ser objecto de estudo. As respostas
latentes ou implícitas, tais como as actividades cognitivas, eram negligenciadas. Em psicologia social, a
adjunção do termo social, quer à classe dos estímulos, quer à classe das respostas, pouco modificava a
problemática”.

O interaccionismo simbólico, tendo por origem os trabalhos de Mead – corrente teórica que se
desenvolveu em psicologia social em concorrência com a tradição behaviourista – poderia ter constituído
um terreno mais favorável aos estudos da representação social.

Não é inédito o facto de um conceito se estabelecer uma ciência e da teoria ser elaborada noutra ciência.
O conceito de representação social aparece em sociologia onde sofre um longo eclipse. Todavia, a sua
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teoria vai esboçar-se em psicologia social, tendo efectuado uma incursão pela psicologia da criança
(Piaget 1926) e na psicanálise.

2 - Noção
Se a realidade das representações sociais é fácil de aprender, não acontece o mesmo com o seu conceito.
Para além de razões históricas de tal dificuldade, as razões não-históricas reduzem-se a uma só: “a sua
posição mista na encruzilhada de uma série de conceitos sociológicos e de uma série de conceitos
psicológicos “ – Moscovici (1976).

Moscovici – qualifica de “sociedade pensante”, isto é, do trabalho de construção, mediante trocas e


interacções, de ponto de vista e de saberes, partilhados e distribuídos segundo as fronteiras incertas dos
grupos sociais.

Como fenómenos, as representações sociais apresentam-se em formas variadas, mais ou menos


complexas: imagens, sistemas de referência, categorias, teorias.
Jodelet (1989) – o conceito de representação social designa “uma forma de conhecimento socialmente
elaborado e partilhado, com uma orientação prática e concorrendo para a construção de uma realidade
comum a um conjunto social”.

Várias definições de representação social, por vários autores. Pag. 438/439.

Os principais aspectos a ter em conta na noção de representação social são os seguintes:


• Na conceptualização das representações sócias há sempre referência a um objecto. A
representação para ser social, é sempre uma representação de algo.
• As representações sociais mantêm uma relação de simbolização e de interpretação com os
objectos. Resultam, por conseguinte, de uma actividade construtora da realidade e de uma
actividade expressiva.
• As representações sociais adquirem a forma de modelos que se sobrepõem aos objectos,
tornando-os visíveis, e implicam elementos linguísticos, comportamentais ou materiais.
• As representações sociais são uma forma de conhecimento prático que nos levam a
interrogar-nos sobre os determinantes sociais da sua génese e da sua função social na
interacção social da vida quotidiana.

Trata-se do conhecimento do senso comum em oposição ao conhecimento científico.

Como forma de conhecimento, a representação social implica a actividade de reprodução das


características de um objecto. Esta representação não é, porém, o reflexo puro e fiel do objecto, mas uma
verdadeira construção mental.

Se bem as noções de opinião e atitude tenham elos com a representação, são contudo noções diferentes.
A opinião é uma resposta manifesta, sendo o único elemento observável do sistema.
A atitude, mais complexa pelo seu carácter latente, foi sobretudo abordada como resposta antecipada.
Tanto a opinião como a atitude foram encaradas enquanto resposta e “preparação para acção”,
respectivamente.
Pelo contrário, a representação social, na medida em que é um processo de construção do real, age
simultaneamente sobre o estímulo e a resposta.

O preconceito está intimamente ligado à atitude tendendo mesmo a confundir-se com ela.
As noções de estereótipos e de preconceito, na medida em que se aproximam das noções de opinião e de
atitude, respectivamente, são por conseguinte, também diferentes da representação social.

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Em suma, se todos estes “objectos parciais” estão integrados nas representações sociais, estas não são
consideradas “como opiniões sobre” ou “imagens de”, mas “teorias”, “ciências colectivas” sui generis,
destinadas à interpretação e à leitura do real (Moscovici 1976).

Contudo, para o psicólogo social, a representação actualiza-se “numa organização psicológica particular e
preenche uma função específica” (Herzlich, 1972).

A representação social desempenha um papel na formação das condutas sociais e das comunicações, na
medida, em que é através dela que o grupo apreende o seu meio.

3 – Representações e comunicação social.


A comunicação social desempenha um papel fundamental nas trocas e interacções quotidianas.
Moscovici examinou a incidência da comunicação a três níveis:
1º - ao nível das dimensões das representações que se referem à construção do comportamento:
opinião, atitude e estereótipos em que há intervenção dos sistemas de comunicação social.
Moscovici distingue três grandes sistemas de comunicação cuja importância relativa varia segundo o
momento histórico e os grupos sociais:
• Difusão – é o sistema de comunicação de massas mais espalhada na nossa sociedade, não
tem a finalidade deliberada reforçar ou convencer,
• Propagação – recorre a mensagens que visam um grupo particular, com objectos e valores
específicos, com uma visão do mundo bem organizada. A finalidade é a integração de uma
informação nova num sistema de raciocínio e de julgamento já existente.
• Propaganda – desenvolve-se num clima social conflituoso, podendo oscilar entre o simples
proselitismo e a conquista violenta. A propaganda contribui para a afirmação e reforço da
identidade do grupo. Tem uma função reguladora e organizadora. Incita igualmente os seus
receptores a um determinado comportamento.
Moscovici: “…é precisamente esta particularidade que nos autoriza a aproximar termo a termo a difusão, a
propagação e a propaganda da opinião, da atitude e do estereótipo…”.
A difusão produziria sobretudo opiniões sobre a psicanálise, a propagação trabalha ao nível das atitudes e
a propaganda ao nível dos estereótipos.
2º - ao nível da emergência das representações cujas condições afectam os aspectos cognitivos.
Há três condições que afectam a formação das representações sociais, as duas primeiras referindo-se à
acessibilidade do objecto:
• A primeira destas condições é a dispersão da informação sobre o objecto da representação. A
dificuldade de acesso à informação vai favorecer a transmissão indirecta dos saberes e por
conseguinte numerosas distorções.
• A segunda condição relaciona-se com a posição específica do grupo social em relação ao
objecto da representação. Esta posição vai determinar um interesse particular por certos
aspectos do objecto e um desinteresse relativo por outros aspectos. Este fenómeno de
focalização vai impedir que os indivíduos tenham uma visão global do objecto.
• A terceira condição refere-se à necessidade que sentem os indivíduos de desenvolver
comportamentos e discursos coerentes a propósito de um objecto que conhecem mal. É o
fenómeno da pressão à inferência que favorecia a adesão dos indivíduos às opiniões
dominantes do grupo.
Estas três condições seriam necessárias para a emergência de uma representação social. Trata-se de
elementos que vão diferenciar o pensamento natural nas operações, na lógica e no estilo.
Moliner (1993) – haverá elaboração representacional quando, por razões estruturais ou conjunturais, um
grupo de indivíduos se confronta com um objecto polimorfo cujo domínio interessa em termos de
identidade e de coesão social.

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3º - Ao nível dos processos de formação das representações, a objectivação e a ancoragem. Estes


processos dão conta da interdependência entre actividade cognitiva e condições sociais.

4- Análise psicossociológica da representação social


A investigação clássica sobre a cognição social focaliza as características gerais do processo de
percepção, memória do homem. Ao invés, a investigação conduzida no quadro das representações sociais
focaliza-se frequentemente em conteúdos específicos de sistemas de conhecimento, caracterizadores de
grupos e de sociedade.
As condições sociais em que nos locomovemos determinam não só o que pensamos, mas também, como
pensamos.

Jodelet (1983) – “processos e produtos são indissociáveis, só se pode descobrir a obra nos seus efeitos,
estudar os mecanismos na base da sua produção”.

4.1 – A representação-produto
Moscovici – considera cada universo de representações sobre três aspectos:
• Informação – diz respeito à soma e organização dos conhecimentos sobre o objecto de
representação. A sua apreciação supõe que se relacione o discurso do sujeito com os
caracteres objectivos do objecto,
• Atitude – exprime a orientação global, positiva ou negativa, em relação ao objecto da
representação. Na atitude a função reguladora é sem dúvida mais importante que a energética.
A atitude aparece como uma espécie de reacção secundária tendo por função orientar (por
antecipação ou comparação) o comportamento através das estimulações no meio físico e
social. A atitude, não só orienta o comportamento como regula as trocas com o meio. Pode-se
considerar o estímulo e a resposta de um sujeito como uma troca, sendo a atitude o sistema
que regula esta troca.
A função energética, imprime à orientação e à troca com o meio uma certa intensidade
emocional e afectiva. Este componente afectivo-emocional é constituído pela história
individual e social do sujeito.
Em suma, a atitude é reguladora e energética, supondo uma estruturação dos estímulos e das
respostas.
• Campo de representações – designa o “conteúdo concreto e limitado das proposições
sobre um aspecto preciso do objecto de representação” (Moscovici, 1976). Remete-nos para
os aspectos imagéticos da representação – isto é, para a construção significante que é feita
do objecto integrando e interpretando as informações de que o sujeito dispõe – com a ideia de
uma organização ou de uma hierarquia de elementos.

Gilly – relembra que é a propósito do campo de representação que operacionalmente se encontram


maiores dificuldades. Se é relativamente fácil apreciar a atitude e a informação “é, pelo contrário, sempre
difícil chegar a um bom conhecimento do campo. Este último só pode ser apreendido de modo parcial
através dos instrumentos propostos pelo psicólogo destinatário das respostas construídas”.

Estes três elementos constitutivos da representação social denotam a seu conteúdo e sentido. A sua
análise permite estabelecer o grau de organização da representação, delimitar a distinção entre os grupos
em função de um fenómeno estudado. Enfim, tornam possível um estudo comparativo dos grupos
segundo a homogeneidade ou heterogeneidade do conteúdo e da estruturação da representação.

4.2 – A representação-processo

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Moscovici – põe em evidência dois processos fundamentais que deixam transparecer o modo como o
social transforma um conhecimento em representação e como esta representação transforma o social, a
propósito do estudo de uma teoria científica, a Psicanálise. Estes dois processos, a objectivação e a
ancoragem, mostram a interdependência entre a actividade psicológica e as condições sociais.
• Objectivação – é o mecanismo que permite concretizar o abstracto.
Jodelet (1983) – na objectivação, o social reflecte-se na “disposição e na forma dos
conhecimentos relativos ao objecto de uma representação. Articula-se com uma característica do
pensamento social, a propriedade de tornar concreto o abstracto, de materializar a palavra. A
objectivação pode assim definir-se como uma operação imagética e estruturante.”

Este processo pode subdividir-se em três fases no caso de um objecto complexo como uma teoria:
- A selecção e descontextualização – dos elementos da teoria constitui a primeira fase que
vai da “teoria à sua imagem”. Procura-se dar um carácter concreto, imagético, mais facilmente
acessível, a noções mais abstractas. A selecção é necessária, pois para o produto da
representação se tornar funcional deve limitar-se a alguns elementos acessíveis.
O fenómeno de descontextualização aparece sobretudo na transformação das ideias científicas
em conhecimento quotidiano.
- Obtém-se assim um “esquema figurativo” – que é o núcleo organizador da representação.
O esquema figurativo forja uma imagem visual de uma organização abstracta, captando a
essência do conceito, da teoria, ou da ideia que se trata de objectivar.

- A naturalização – é a operação pela qual os conceitos se movem “em verdadeiras


categorias de linguagem e entendimento – categorias sociais certamente – próprias para ordenar
os acontecimentos concretos e serem abafados por eles” Moscovici (1961).

A tendência à objectivação posta em evidência a propósito de uma teoria científica, é


caracterizada pela selecção, esquematização e naturalização, e é susceptível de generalização a
toda a representação.

Foram recentemente avançadas três propostas mais precisas e menos descritivas para a análise
mais minuciosa do processo de objectivação:
1º - Sugere que o estudo das representações sociais se interesse pela análise dos discursos
em relação com atitudes socialmente partilhadas.
2º - Põe a ênfase na metaforização, dispositivo específico de objectivação de objectos
estranhos.
3º - Diz respeito à possível generalidade de um efeito específico de objectivação, a
personificação.

• A ancoragem – traduz a intervenção da representação no social. A ancoragem permite


transformar o que é estranho em algo familiar.
Todavia, se a objectivação reduz a incerteza perante objectos por meio do recurso a uma
transformação simbólica e imagética; a ancoragem incorpora o que é estranho mediante a
inserção numa rede de categorias e de redes pré-existentes. O processo de ancoragem não se
limita ao conteúdo, mas engloba as actividades cognitivas de reconstrução e de remodelação, em
três direcções:
- Utilidade
- Significação
- Integração cognitiva
A ancoragem equivale à atribuição de uma funcionalidade instrumental. Assim, a Psicanálise
atribuem-se domínios de intervenção, usos, uma eficácia. As categorias ou objectos naturalizados,

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coisificados, vão constituir-se em sistemas de interpretação e de classificação no conjunto da


realidade social.

Jodelet: “ a ancoragem aparece-nos como um prolongamento da objectivação: elaboração de um


quadro de instrumentos de conduta que prolonga a remodelagem cognitiva em curso na
objectivação.”

A ancoragem como instrumentalização permite pois compreender como os elementos da


representação não só exprimem relações sociais, como contribuem para as constituir.

Constitui-se assim uma “rede de significações” a partir dos valores salientes na sociedade e nos
seus diversos grupos.
Assim, a psicanálise não se limita a ser só um conteúdo, mas também uma totalidade à volta da
qual se ordenavam uma rede e uma hierarquia de significações.
A representação social pode tornar-se um sinal, um emblema de certos valores. A psicanálise
pode tornar-se sinal, representando a sexualidade ou a vida sexual liberada. Uma representação
chama outras, opõe-se a outras, exclui outras.

A ancoragem refere-se também à integração cognitivas do objecto representado no sistema de


pensamento pré-existente e às transformações que daí resultam. Se a objectivação traduz a
constituição formal de um conhecimento, a função cognitiva de integração denota a sua inserção
orgânica num pensamento constituído (Jodelet, 1983), já que a representação não se inscreve
numa tábua rasa.

Moscovici – emite a hipótese de que modalidades distintas de conhecimento coexistem num


mesmo indivíduo ou num mesmo grupo, correspondendo a relações definidas do homem ou do
grupo com o seu meio. Esta coexistência dinâmica determina um estado de “polifasia cognitiva”.
Este fenómeno relaciona-se com o contacto entre o carácter criador, autónomo da representação
social e os quadros de pensamentos antigos.

Resumindo, o processo de ancoragem articula as três funções base da representação:


- Função de orientação das condutas e das relações sociais
- Função de interpretação da realidade
- Função cognitiva de integração da novidade.
A ancoragem e a objectivação que são processos básicos no engendramento e funcionamento
das representações sociais têm uma relação “dialéctica” (Jodelet, 1983). Combinam-se para tornar
inteligível a realidade.

5 – Áreas de investigação
Quando o investigador se debruça sobre o conjunto dos trabalhos efectuados no campo da teoria das
representações sociais, verifica-se uma grande diversidade dos objectos estudados. Recorremos aqui à
sistematização efectuada por Jodelet, 1983. Assim, esta autora, distingue três áreas de investigação sobre
as representações sociais:
• Uma área que se relaciona especificamente com a difusão dos conhecimentos e com a
vulgarização cientifica no campo social, ou no campo educativo. Esta área tende para a
autonomia nos problemas e métodos.
• Uma área que integra a noção de representação social como variável intermediária ou
independente no tratamento, a maior parte das vezes experimental em laboratório, de
questões clássicas de psicologia social.

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• Uma área mais ampla, se bem que menos estruturada, em que as representações sociais são
apreendidas em contexto sociais reais ou grupos circunscritos na estrutura social, mediante
formação discursivas diversas.

Entre estas três áreas há pontos de convergência e de divergência:


Jodelet – convergência – menciona a pertinência, a estrutura, os processos de constituição e as funções.

6 – Variações sobre representações sociais


6.1 – Representações sociais e educação
Gilly (1989) – “…o campo educativo aparece como um campo privilegiado para ver como se constroem,
evoluem e se transformam representações sociais no seio dos grupos sociais e iluminar-nos sobre o papel
destas construções nas relações destes grupos com o objecto da sua representação”.

Procuraremos ilustrar dois tipos de trabalhos sobre representações sociais e educação:


• Estudos focalizados em instituições, na escola, nos seus agentes,
• Estudos que abordam representações recíprocas professor-aluno.

Em suma, o contexto teórico da representação social aplicado à escola não pode ser evocado de modo
independente de outras constelações de representações sociais, muito em particular as relativas ao
mundo do trabalho. Todavia, as representações sociais podem contribuir para a compreensão dos
fenómenos estudados num horizonte mais vasto de significações sociais com que estão em
interdependência.

6.2 – Estudo experimental das representações sociais: a teoria do núcleo central


O recurso à noção de representação social em Psicologia Social suscita um novo olhar sobre a
metodologia experimental na medida em que há uma centração em factores cognitivos e simbólicos.
Esses estudos têm subjacentes a hipótese geral de que os comportamentos dos sujeitos ou dos grupos
não são determinados pelas características objectivas da situação, mas pela representação desta situação.

Teoria do núcleo central (Abric, 1987) – esta teoria articula-se à volta da hipótese geral de que toda a
representação está organizada à volta de um núcleo central. Este núcleo é o elemento que determina a
significação e a organização da representação.
O núcleo central de uma organização tem duas funções principais:
• Função geradora – que cria ou transforma a significação dos outros elementos da
representação,
• Função organizadora – na medida em que depende deste núcleo a natureza dos laços que
unem os elementos da representação.
O núcleo central mais estável da representação, é o que resiste mais à mudança. Uma representação
transforma-se de modo radical quando o núcleo central é posto em causa e de modo superficial quando há
uma mudança do sentido ou da natureza dos elementos periféricos.

O núcleo central de uma representação social é constituído por dois tipos de elementos, normativos e
funcionais, e que os elementos do núcleo central estão hierarquizados.

6.3 – Representações sociais da emigração


A realidade do fenómeno migratório assume por essência contornos muito movediços. Uma análise deste
real efectuado hoje pode já não ser verdadeira no dia seguinte.

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Qualquer que seja o elemento constitutivo da representação da emigração que se considere, encontramos
no seu seio dimensões em que se encontra uma certa estabilidade temporal e outras que mudaram,
embora em graus diversos.

A componente atitude é a mais importante preditora da intenção de emigrar, seguida pelas componentes
de desvinculação e adaptação.

Sumário: pag. 486.

VI – Preconceitos e discriminação
As atitudes indicam-nos o modo como pensamos e sentimos em relação a pessoas, objectos e questões
do meio circundante. Para além disso, podem permitir prever como agiremos em contacto com os alvos
das nossas crenças. A um nível mais geral, o conceito de atitude está relacionada com graves questões
sociais como são os problemas de preconceito e de discriminação.

1- Definições: preconceito, discriminação e grupos minoritários.


Preconceito – pode ser definido como uma atitude favorável ou desfavorável em relação a membros de
algum grupo baseada sobretudo no facto da pertença a esse grupo e não necessariamente em
características particulares de membros individuais.

Os termos endogrupo e exogrupo são úteis para se tratar do preconceito.


• Endogrupo – é composto pelos sujeitos que uma pessoa categorizou como membros do seu
próprio grupo de pertença e com quem tem tendência a identificar-se.
• Exogrupo – pode definir-se como sendo composto por todos os sujeitos que uma pessoa
categorizou como membros de um grupo de pertença diferente do seu e com quem tem
tendência a identificar-se.
Estes grupos psicológicos definidos em função dos termos “nós” e “eles” são o produto de um dos
processos mais fundamentais do ser humano, a categorização (Fiske e Neuberg, 1990). Este utensílio
cognitivo permite-nos classificar e ordenar o nosso meio físico e social.
O preconceito origina comportamentos e acções que podem ter sérias implicações não só na vida
quotidiana como no bem-estar da sociedade.

O facto de se definir preconceito como um tipo especial de atitude tem pelo menos duas implicações:
1ª – Pode ser negativo ou positivo,
2ª – Podemos vê-lo como tendo três componentes principais:
• Afectivo – sentimentos preconceituados experienciadas,
• Cognitivo – crenças e expectativas acerca dos membros desses grupos,
• Comportamental – tendência a agir em relação a esses grupos.

Caso essas intenções se concretizem em acções, estamos então perante a discriminação.

Discriminação – é, por consequência, a manifestação comportamental do preconceito.


Tem a sua importância distinguir entre preconceito e discriminação, porque muito embora as atitudes
preconceituosas estejam muitas vexes associadas a comportamentos discriminatórios, nem sempre é o
caso.
Se o preconceito nem sempre leva à discriminação, a discriminação nem sempre leva ao preconceito.

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O comportamento discriminatório pode assumir diferentes formas:


• Nível moderado – pode implicar evitamento,
• Nível acentuado – pode levar a excluir de empregos, de escolas, de alojamentos.
• Nível extremo – revestir-se de agressão contra os alvos do preconceito.

Allport (1954) – apresentou um modelo das expressões da passagem ao acto do preconceito com cinco
fases:
1ª – Anti locução – conversa hostil e difamação verbal, propaganda racista,
2ª – Evitamento – manter o grupo étnico separado do grupo dominante na sociedade,
3ª – Discriminação – excluído de direitos civis,
4ª – Ataque físico – violência contra pessoas e propriedades,
5ª – Extermínio – violência indiscriminada contra todo um grupo de pessoas (nazis).

Grupo minoritário – a pertença a um grupo minoritário envolve mais um estado de espírito do que
características numéricas.
O que distinguem um grupo minoritário de um maioritário é precisamente o poder relativo exercido pelos
dois grupos.

Wagley e Harris (1958) – para eles as minorias:


• São sectores subordinados de uma sociedade,
• Possuem traços físicos e culturais que são pouco apreciados pelos grupos dominantes,
• Estão conscientes do seu estatuto minoritário,
• Tendem a transmitir normas que encorajam a afiliação,
• E o casamento com membros do mesmo grupo.

2 – Algumas categorias de preconceitos e de discriminação


Focalizaremos agora a nossa atenção em quatro formas de intolerância:
• Racismo – é a intolerância com base na cor da pele ou na herança étnica,
• Sexismo – a intolerância com base no sexo,
• Heterossexismo – é a intolerância com base na orientação sexual,
• Idadismo – a intolerância com base na idade.

2.1 – Racismo
O racismo é “qualquer atitude, acção ou estrutura institucional que subordina uma pessoa por causa da
sua cor “.

O racismo é a forma de preconceito mais estudada. É de observar que a noção de raça tem a sua origem
na biologia e designa uma espécie geneticamente distinta de outras (Osborne, 1971).

A discriminação com base na cor da pele torna-se pois uma distinção arbitária e confusa.
Acontece que muitas vezes estas distinções têm mais a ver com distinções étnicas que sociais.
Grupo étnico – é um conjunto de pessoas que têm antepassados comuns pertencentes a uma mesma
cultura e sentimentos comuns de identificação a um grupo distinto.

À semelhança das diferenças raciais, as diferenças étnicas também estão na base de muitos preconceitos.
O preconceito com base em distinções étnicas denomina-se etnocentrismo.
Quando as pessoas acreditam que o seu grupo étnico é superior aos outros grupos estão imbuídas de
etnocentrismo.

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2.2 – Sexismo
A investigação sobre sexismo é importante pelo menos por dois motivos:
1º - Ensina-nos algo sobre os mecanismos psicossociais associados ao preconceito geral
2º - Trata-se de uma forma de preconceito que pode afectar um em cada dois seres humanos.

Sexismo – como preconceito e discriminação com base no género.


Face-ismo – é a diferença da ênfase que a nossa cultura coloca na vida mental para os homens e na
aparência física para as mulheres. (Archer e outros (1983).

2.3 – Heterossexismo
Heterossexismo – é um sistema de crenças culturais, de valores e de hábitos que exalta a
heterossexualidade e critica e estigmatiza qualquer forma tão heterossexual de comportamento ou
identidade (Bem 1993; Herek 1991).

2.4 – Idadismo
Uma maior proporção de pessoas numa sociedade pode suscitar vários problemas relacionados com o
apoio económico, com a saúde, bem como com os papéis na família e na sociedade. Poderá acontecer
que as pessoas idosas constituam um peso desproporcionado em relação à força de trabalho dos mais
jovens o que poderá ter como consequência uma competição pelos recursos entre as necessidades dos
idosos e dos jovens.

3 – A face mutante do preconceito


O racismo aberto parece estar em declínio, de modo que actos abertamente racistas são relativamente
raros. Todavia novas formas subtis de racismo, sexismo, heterossexismo e idadismo continuam a surgir e,
porventura, a aumentar.

4 – Génese do preconceito e da discriminação


A compreensão da génese do preconceito e da discriminação é necessária para se poderem utilizar
técnicas que permitam erradicá-los.
4.1 – Abordagens históricas
• Analisar o contexto histórico
• Factores económicos.
4.2 – Abordagens sócio-culturais
Entre esses factores a abordagem sócio-cultural tem examinado, por exemplo, o aumento de urbanização,
o aumento da densidade populacional, a mobilidade de certos grupos, a competição para empregos entre
membros de diversos grupos, mudanças no papel e função da família.

4.3 – Abordagens situacionais


As abordagens da situação examinam os factores do meio imediato da pessoa que causam o preconceito.

4.4 – Abordagens psicodinâmicas


Contrariamente às abordagens situacionais, as abordagens psicodinâmicas acentuam que o preconceito
resulta dos próprios conflitos e desadaptações da pessoa. Trata-se de teoria fundamentalmente
psicológicas.

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Segundo estas teorias, para se modificar o preconceito e a discriminação devemos focalizar-nos na


pessoa com preconceito.
Existem dois tipos de explicação:
• O preconceito é visto como enraizado na condição humana,
• Resulta de um tipo de personalidade.
Ambas as explicações partilham todavia uma característica comum: são exemplos do que Pettigrew (1959)
chama de externalização – um indivíduo trta com os seus problemas e conflitos pela descarga ou
projecção noutros indivíduos ou grupos de pessoas.

a) – Frustração e agressão
John Dollard, Leonard Dood e seus colaboradores na Universidade de Yale no estudo “Frustração e
agressão” (1939) – sustentaram que o preconceito é uma forma de agressão, e que resulta da frustração.

Esta interpretação é conhecida como a hipótese do bode expiatório do preconceito em que membros de
grupos minoritários são vítimas inocentes de agressão deslocada de grupos maioritários.

Ao avaliarem as teorias de frustração, Feshbach e Singer (1957) distinguem:


• Ameaças partilhadas – como a possibilidade de haver um ciclone tem como efeito juntar as
pessoas,
• Ameaças pessoais – como a perca de um emprego, tem um efeito de escalada no preconceito,
tal como a teoria da frustração prediria.

b) – Diferenças de personalidade
Adorno e seus colaboradores: a Escala Anti-semitismo – medir as atitudes em relação aos judeus.
O anti-semitismo não é então mais do que uma manifestação de etnocentrismo.
Criou também a Escala F (“F” como facista) para medir as tendências anti-democráticas dos sujeitos
(autoritarismo).

A Escala F comporta nove componentes:


• Convencionalismo,
• Submissão autoritária,
• Agressão autoritária,
• Anti-intracepção,
• Superstição e estereotipia,
• Poder e dureza,
• Destrutividade e cinismo,
• Projecção,
• Atitudes sexuais puritanas.

Em função dos dados recolhidos, os sujeitos foram repartidos em duas categorias correspondentes a dois
tipos de personalidade:
• A autoridade autoritária,
• A anti-autoritária.
O autoritário é um indivíduo que recalcou as suas tendências individuais, tende a projectar sobre os outros
as tendências que não aceita para ele; está muito preocupado pela pureza da sua consciência, mostra
uma intolerância rígida em relação aos outros, admira o poder e faz prova de uma dominação excessiva
sobre os fracos e de uma submissão exagerada aos fortes.

Rokeach (1960) – chamou a atenção para a sub estimação do autoritarismo. Defendeu que o autoritarismo
pode estar associado não só à extrema direita como à extrema esquerda. São pessoas com “mentes
fechadas”.
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Elaborou uma escala de dogmatismo – medir o autoritarismo em si.

Hyman e Sheatsley (1954) – segundo eles não é necessário recorrer a um tipo de personalidade para
explicar o etnocentrismo a partir do momento em que o nível de instrução e estatuto sócio-económico
oferecem uma explicação mais plausível.

4.5 – Abordagens cognitivas


Segundo estas abordagens, aspectos de como processamos informação podem estar na origem de
preconceitos. Quatro espécies de informação podem ser utilizadas para desenvolver o preconceito:
a) – Categorização social
Os indivíduos dividem o mundo em duas categorias: “nós” e “eles”.
A categorização social, para além de produzir o favoritismo do endogrupo, afecta as nossas percepções e
memória.
Park e Tothbart (1982) – encontraram que os membros do endogrupo tendiam a ver os membros do
exogrupo como sendo mais homogéneos e menos diferenciados que os membros do seu próprio grupo.

A categorização social acentua diferenças entre grupos e semelhanças dentro de grupos.


Para certos autores, o viés do endogrupo estão ao serviço de uma função hedónica, isto é, apoiam
indirectamente a auto-estima do indivíduo criando uma identidade social positiva.

Em suma, o paradigma do “grupo mínimo” mostra que a categorização social é só por si suficiente para
suscitar discriminação social.

b) – O poder dos estereótipos


Estereótipo – são “imagens na cabeça” que temos acerca de membros de um grupo.
Um dos objectivos fundamentais da Psicologia Social é a descoberta do modo como as pessoas
compreendem e reagem às outras no seu meio. Assim os estereótipos acerca de grupos sociais
constituem um conjunto importante e usual de expectativas acerca de outros.

Os estereótipos estão armazenados na memória a longo termo. (Stangor e Lange 1994)

Os estereótipos são um conjunto de crenças que se associam a grupos sociais.


Entre as explicações avançadas para o desenvolvimento dos estereótipos refira-se a homogeneidade do
exogrupo, isto é, a tendência para assumir que há maior semelhança entre membros dentro de Exogrupo
que dentro do endogrupo.

Tem sido sugerido que muitos casos os estereótipos surgem e mantêm-se mediante a operação de
correlação ilusória que consiste em percepcionar uma relação que não existe realmente entre pertença a
um grupo e o facto de possuir certos traços inusitados.

Os estereótipos são fundamentalmente esquemas e interpretamos e relembramos a informação que


confirma os nossos esquemas (Hamilton e Trolier, 1986).
Outro fenómeno que favorece a estabilidade cognitiva dos estereótipos consiste na profecia de auto-
realização.

Em suma, segundo esta abordagem cognitiva, uma vez que um estereotipo se estabelece, muitas vezes
com base na avaliação errada da covariação de características, permanecerá, devido ao processamento
enviesado da informação subsequente. Crer é ver.

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c) - Atribuição
Atribuição é o processo de explicar o comportamento.
Tentativas de explicação de acontecimentos surpreendentes ou negativos podem ser distorcidos pelo
pensamento estereotipado. Duas consequências importantes são:
• Rotulagem enviesada – rótulo enviesado descreve o mesmo comportamento de modo
favorável para o endogrupo, e desfavorável para o exogrupo.
• Erro irrevogável da atribuição - as pessoas com preconceitos têm tendência a
manifestarem o erro irrevogável da atribuição (Pettigrew, 1979) que é uma extensão do erro
fundamental da atribuição. Quando as pessoas com preconceito vêem o alvo do preconceito a
executar uma acção negativa, tendem a atribui-la a traços estáveis dos membros dos grupos
minoritários:”lá nasceram assim”. Todavia quando vêem a executar uma acção positiva, ela
não é atribuída a disposições internas.

d) – Crenças sociais
As crenças são uma fonte importante de atitudes preconceituosas. Alguns preconceitos estão baseados
em ideologias religiosas ou politicas. O preconceito pode também apoiar-se em crenças de que o mundo é
um lugar justo.

Acredita que as pessoas obtêm na vida o que merecem e merecem o que obtêm?
Lerner (1980) – notou que muitas pessoas acreditam nesse mundo justo e denominou este fenómeno de
crença num mundo justo.

4.6 – Alvo de preconceito


Preconceito e hostilidades intergrupais podem por vezes basear-se em características reais de grupo; esta
ideia tem por vezes sido denominada de reputação ganha.

4.7 – Quadro integrador de teorias


Duckitt (1992) - quatro causas de preconceito:
• Em primeiro – são referidos processos psicológicos universais assentes na propensão
inerentemente humana para o preconceito.
• Em segundo – dinâmicas sociais e intergrupais descrevem as condições de contacto
intergrupal que elaboram esta propensão para padrões normativos de preconceito.
• Em terceiro – os mecanismos de transmissão explicam como estas dinâmicas intergrupais e
padrões partilhados de preconceito são transmitidos socialmente a membros individuais
destes grupos.
• Em quarto – dimensões de diferenças individuais determinam susceptibilidade dos indivíduos
ao preconceito e por isso modulam o impacto dos mecanismos de transmissão social sobre os
indivíduos.

5 – Consequências do preconceito e da discriminação

5.1 – Reacções das vítimas


Allport sugeriu que as reacções podem ser circunscritas a duas categorias:
• Defesas intra punitivas – são as que implicam auto-culpabilidade
• Defesas extra punitivas – colocam a culpa nos outros.

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Tajfel e Turner (1979) – ampliando a abordagem de Allport, avançam três tipos de respostas:
• As pessoas podem aceitar com passividade e resignação, muito embora com ressentimento.
• Podem tentar libertar-se e fazê-lo em sociedade.
• Ou podem tentar acção colectiva e melhorar o estatuto do próprio grupo.

Auto complacência – os indivíduos atribuem o seu sucesso a eles próprios e os seus fracassos a
factores externos.

Ao invés do que se esperava, a experiência de preconceito teve como resultado um aumento de auto-
estima para os membros dos grupos.
A discriminação é pois percepcionada como ameaçadora e em certas circunstâncias as pessoas
discriminadas podem agir contra o grupo dominante.

5.2 – Consequências de racismo sobre racista


As consequências do racismo não têm unicamente efeitos traumáticos sobre as vítimas do preconceito e
do comportamento racista. O racismo tem efeitos sobre todas as pessoas, sejam elas as vítimas, as
perpetradoras ou muito simplesmente os seus observadores.

Dennis (1981) – demonstra que a imersão de pessoas numa rede social racista torna difícil para qualquer
pessoa branca evitar a sua influência.

Terry (1981) – defende que o racismo mina e distorce a autenticidade das pessoas brancas.

Karp (1981) – apoia-se numa perspectiva psicodinâmica, vendo o racismo como um mecanismo de defesa
para lidar com feridas do passado.
As consequências emocionais do racismo são pesadas: culpa, vergonha, bem como sentir-se mal em ser
branco.

6 – Redução do preconceito e da discriminação


6.1 – Tomada de consciência
a) – Tomada de consciência da pertença a um grupo minoritário
Técnicas de tomadas de consciência são cada vez mais utilizadas por esses grupos. Pretende-se
mediante este processo0 tornar os membros desses grupos sensíveis às influências opressivas que
pesam sobre a sua vida, assegurando-lhes um meio de defesa colectiva.

Mednick (1975) – começou por descrever o processo de tomada de consciência pela insatisfação que os
indivíduos sentem da sua condição.

O agente de tomada de consciência tenta propor uma ideologia que permite congregar as mulheres.
Mostra-se que o sistema social controla o indivíduo sendo responsável pela sua situação insatisfatória. A
mulher apercebe-se que pode exercer mais controlo como membro de um grupo e este pode então dirigir
uma acção contra o sistema.
Há investigação que tem mostrado que os participantes valorizam o seu auto conceito, adquirem um
sentimento de competência e de igualdade (Eastman, 1973).

b) – Tomada de consciência de distinções


Langer, Bashner e Chanowitz (1985) – efectuaram uma experiência que mostra a possibilidade de
contrariar essa tendência através da indução nas pessoas para estarem mais atentas aos outros. Pôs-se a
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SebentaUA, apontamentos pessoais Disciplina /41050-Psicologia Social

hipóteses de que as pessoas que fossem treinadas a adoptar um estado atento demonstrariam menor
preconceito em relação aos deficientes.

c) – O assimilador cultural
O assimilador cultural é uma técnica de sensibilização aos julgamentos correctos a respeito das
expectativas de um grupo ou cultura. Permite considerar o mundo social em consonância com o ponto de
vista de uma outra pessoa. Mais especificamente são ensinadas as normas e os modos de vida de outro
grupo com o intuito de permitir efectuar atribuições certas a propósito do comportamento dos membros do
outro grupo.

6.2 – Hipótese de contacto


Há razões para se pensar que o tipo de contacto intergrupal desempenha um papel importante para que
se efectue com sucesso. Vários factores devem ser tomados em consideração:
• Igualdade de estatuto social
• Contacto intimo
• Cooperação intergrupal
• Normas sociais que favoreçam a igualdade

6.3 – Para além da hipótese de contacto


Uma das críticas da hipótese do contacto é o ênfase colocado na mudança de atitudes preconceituosas do
grupo dominante, e a ignorância das atitudes dos membros de grupos minoritários (Devine, Evett e
Vasques-Suson 1995).

6.4 – Contacto vicariante através dos meios de comunicação social


Os meios de comunicação de massa têm, por um lado, intencionalmente, outras vezes de modo
inadvertido, mantido estereótipos e preconceitos.

Como é que se podem mudar atitudes negativas em relação a minorias que são alvo de estereótipos?
Gordon Allport (1954) – respondeu: “preconceito pode ser reduzido pelo contacto com estatuto igual entre
grupos da maioria e da minoria na prossecução de objectivos comuns”.

Aronson e a sua equipa desenvolveram uma técnica de aprendizagem que foi denominada de “técnica do
quebra-cabeças”.
A técnica foi assim chamada porque os estudantes tinham de cooperar par “juntar” as suas lições diárias.

DesForges e a sua equipa sugerem que fornecer uma estrutura na situação de contacto ajuda a reduzir o
efeito de expectativas cognitivas e de esquemas cognitivos preexistentes.

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