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ISSN 0103-5150

Fisioter. Mov., Curitiba, v. 24, n. 1, p. 133-140, jan./mar. 2011


Licenciado sob uma Licença Creative Commons

[T]

Eficácia de um protocolo de exercícios físicos em pacientes com


insuficiência renal crônica, durante o tratamento de hemodiálise,
avaliada pelo SF-36
[I]

Efficacy of a physical exercises protocol in patients with chronic


renal failure during treatment of hemodialysis, valued by SF-36

[A]

Karoline Teles de Araújo Soares[a], Marcel Vidal Viesser[b], Tânia Aparecida Barbosa Rzniski[c],
Edison Paula Brum[d]

[a]
Fisioterapeuta, Especialista em Dérmato Funcional pela Universidade Positivo (UP), Curitiba, PR - Brasil, e-mail:
karolsoares@hotmail.com
[b]
Fisioterapeuta pela Universidade Positivo (UP), Curitiba, PR - Brasil, e-mail: marcel.viesser@gmail.com
[c]
Fisioterapeuta, Mestra em Gestão Ambiental, professora adjunto do curso de Fisioterapia e orientadora do estudo da
Universidade Positivo (UP), Curitiba, PR - Brasil, e-mail: tb.rzniski@up.edu.br
[d]
Médico, Especialista em Nefrologia, professor adjunto do curso de Medicina da Universidade Positivo (UP), Curitiba, PR -
Brasil, e-mail: brum@up.edu.br

[R]

Resumo
Objetivo: Analisar os efeitos de um protocolo de exercícios fisioterapêuticos em pacientes renais crônicos,
durante a terapia hemodialítica, visando à melhora de sua qualidade de vida. Materiais e métodos: Foram
avaliados 27 pacientes, com idade média de 51 ± 10,5 anos, índice de massa corpórea média de 24,3 ± 3,8
e em tratamento hemodialítico há aproximadamente 50 ± 27,7 meses. Os pacientes assinaram o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido e, durante três meses, participaram de um programa de tratamento, du-
rante a hemodiálise, composto por alongamentos musculares de membros inferiores, de membro superior
(que não apresentasse a fístula arteriovenosa), lombar e cervical (caso o paciente não apresentasse o cateter
cervical de diálise); fortalecimentos musculares de membros inferiores e membro superior, sem o acesso
vascular; e relaxamento. Foi aplicado o questionário de qualidade de vida SF-36 antes e após o período
de tratamento. Resultados: Após o tratamento, o teste SF-36 mostrou melhora significativa das seguintes
variáveis: capacidade funcional, nível de dor, vitalidade e saúde mental. Também foi observado que, antes
do tratamento, dez pacientes relatavam cãibras musculares e, após a fisioterapia, somente quatro pacientes

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continuaram relatando essas contrações. Conclusão: Conclui-se que a atuação da fisioterapia durante a
hemodiálise contribuiu para a melhora da qualidade de vida de pacientes renais crônicos. [#]
[P]

Palavras-chave: Insuficiência renal crônica. Hemodiálise. Fisioterapia. [#]

[B]

Abstract
Objetctive: To analyze the effects of a physiotherapeutic exercises protocol in chronic renal patients during hemo-
dialysis therapy, aiming at improve their quality of life. Materials and methods: We evaluated 27 patients, mean
age 51 ± 10.5 years, mean body mass index of 24.3 ± 3.8 and submitted to hemodialysis treatment for approxi-
mately 50 ± 27.7 months. All patients signed a written informed consent form and, for three months, participated
in a program of physiotherapy treatment during hemodialysis, composed by muscle stretching of lower limbs, up-
per limb (opposite to the arteriovenous fistula), lumbar and cervical muscle stretching (if patient did not present
cervical catheter for dialysis); muscle strengthening of lower limbs and upper limb without vascular access, and
relaxation. Medical Outcomes Study 36 – Item Short Form Healthy Survey (SF-36) was applied before and after
treatment. Results: After treatment, SF-36 test showed significant improvement of the following variables: func-
tional capacity, level of pain, vitality and mental health. It was also observed that, before treatment, 10 patients
reported muscle cramps, and after therapy, only 4 patients remained with this symptom. Conclusion: The perfor-
mance of the physiotherapy during hemodialysis contributed to improve quality of life of chronic renal patients. [#]
[K]

Keywords: Chronic renal insufficiency. Hemodialysis. Physiotherapy. [#]

Introdução
progressiva da função renal vai desencadear múlti-
A insuficiência renal crônica (IRC) é definida plos sinais e sintomas para o paciente (2), afetan-
como uma síndrome caracterizada pela perda lenta, do quase todos os seus sistemas orgânicos (11-13).
progressiva e irreversível da capacidade excretória Dentre esses sintomas, podemos citar: hiperpotas-
renal (1-4). A incidência da dessa síndrome tem au- semia, acidose metabólica, hipocalcemia, edema pe-
mentado progressivamente a cada ano em todo o riférico, insuficiência cardíaca congestiva, cãibras,
mundo, o que representa elevados custos para man- fraqueza muscular, etc (1-3, 11).
ter os pacientes em terapia renal substitutiva (TRS) Os tratamentos disponíveis para a IRC são a diá-
(5). O Censo da Sociedade Brasileira de Nefrologia lise peritoneal ambulatorial contínua (DPAC), a di-
de 2007 indicou que, em janeiro daquele ano, a pre- álise peritoneal automatizada (DPA), a diálise peri-
valência de pacientes em diálise por milhão da po- toneal intermitente (DPI), o transplante renal (TX)
pulação (pmp) era de 73.605 (391 pacientes pmp) e a hemodiálise (HD) (8). Deve-se frisar, porém, que
(6). Por isso, a IRC é caracterizada como um grave todos os tratamentos acima descritos não curam a
problema de saúde pública (1, 7-9). doença, apenas substituem parcialmente a função
A IRC é multicausal, apresentando diversos fato- renal (8).
res de risco. De acordo com inquéritos realizados pela Nos últimos anos, a hemodiálise tem sofrido im-
Sociedade Brasileira de Nefrologia, no período de portantes mudanças e inovações tecnológicas (10).
1996/1997, as principais doenças diagnosticadas Martins, Vieira e Bras (8, 14-16) relatam a melhora
como sendo potenciais causas de IRC são: a hiper- da sobrevida dos pacientes em hemodiálise, embora
tensão arterial sistêmica (24% dos casos), a glome- com prejuízo em sua qualidade de vida relacionada
rulonefrite (24%) e diabetes mellitus (17%) (3, 4). à saúde (QVRS). Lima e Santos (10, 17) afirmam o
Outras causas devem ser consideradas, como: pielo- oposto, ou seja, não houve incremento na sobrevida
nefrite, doença policística renal, doenças autoimunes, desses pacientes.
etc (2, 6, 10). A QVRS dos pacientes com IRC em tratamento
Nas fases iniciais da IRC, o paciente pode não hemodialítico está ligada a diversos fatores, sendo
apresentar manifestações clínicas, porém, a perda um deles a idade. Vários estudos (16-19) indicam o

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renal crônica, durante o tratamento de hemodiálise, avaliada pelo SF-36
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aumento da idade média dos pacientes que inicia- Os critérios de inclusão foram os seguintes:
ram a hemodiálise nos últimos anos, o que tem re-
lação direta com a perda de capacidade funcional, a − idade entre 40 e 60 anos;
vitalidade e os aspectos sociais do sujeito. − tempo de hemodiálise acima de 12 meses;
A QVRS desses indivíduos também está direta- − ausência de déficit cognitivo;
mente ligada às complicações que eles podem vir − aceitação para participar da pesquisa, median-
a apresentar. Muitos autores (9, 15, 16, 20-22) ha- te a assinatura do Termo de Consentimento
viam apontado para uma série de distúrbios osteo- Livre e Esclarecido.
mioarticulares crônicos, relacionados ao metabolis-
mo ósseo, que o paciente portador de IRC pode vir Já o critério de exclusão foi:
a apresentar, alguns de particular interesse para a
fisioterapia. − não entendimento do Medical Outcomes Study
Henn (23) afirmou que o paciente renal crônico 36 – Item Short Form Health Survey (SF-36).
apresenta excesso de líquidos corporais que deixam
os órgãos congestos, inclusive os pulmões. A tole- A amostra inicial era constituída por 46 pacien-
rância do portador de IRC ao exercício fica grave- tes, porém, cinco recusaram-se a participar da pes-
mente reduzida (14, 24). Em torno de 50% dos pa- quisa, dois mudaram de turno, dois desistiram da
cientes vão a óbito por complicações cardíacas (20). pesquisa, um saiu da instituição, um realizou trans-
Outros fatores que certamente levam à deterio- plante renal e oito não se enquadraram nos critérios
ração da QVRS dos portadores de IRC em programa de inclusão. Portanto, a amostra final foi composta
de hemodiálise são: o convívio com uma doença por 27 pacientes.
incurável, o esquema rigoroso da terapêutica (que Inicialmente, os pacientes foram instruídos quan-
provoca fortes modificações nos hábitos alimentares, to aos métodos empregados na pesquisa e, caso
nas atividades sociais e no trabalho), a utilização de aceitassem participar, assinavam o Termo de Con-
vários medicamentos e a dependência de uma má- sentimento Livre e Esclarecido. Em seguida, preen-
quina (17, 25). cheram o Medical Outcomes Study 36 – Item Short
A literatura pouco fala sobre a atuação da fisio- Form Health Survey (SF-36), sendo este um instru-
terapia em pacientes renais crônicos durante o regi- mento genérico, de fácil administração e compreen-
me de hemodiálise. Peres e Reboredo (25, 26) indi- são (26), que avalia, de forma quantitativa, o nível
cam que um programa de exercícios físicos durante de qualidade de vida dos pacientes, levando em con-
a diálise promove melhora da capacidade funcional, sideração as seguintes dimensões: capacidade fun-
da força e resistência muscular, da função cardíaca cional (desempenho nas AVDs – atividades de vida
e, consequentemente, da qualidade de vida. Soares diária); aspectos físicos (impacto da saúde física nas
et al. (27) afirmam que exercícios físicos durante a AVDs e nas atividades profissionais); dor (nível de
diálise são uma estratégia eficiente para dar moti- dor e impacto sobre as AVDs e as atividades profis-
vação aos pacientes em um ambiente estruturado e sionais); estado geral de saúde (percepção subjetiva
monótono. Por isso, o objetivo da seguinte pesquisa do estado geral de saúde); vitalidade (percepção
é analisar, por meio do SF-36, os efeitos que um pro- subjetiva do estado de saúde); aspectos sociais (in-
tocolo fisioterapêutico pode proporcionar aos pa- fluência da saúde física sobre as atividades sociais);
cientes renais crônicos durante a terapia hemodia- aspectos emocionais (influência da condição emo-
lítica, visando à melhora de sua qualidade de vida. cional sobre as AVDs e as atividades profissionais);
e saúde mental (escala de humor e bem-estar) (6, 8,
17, 18, 27, 28). A pontuação varia de 0 (pior resul-
Materiais e métodos tado) a 100 (melhor resultado) (6, 8, 17, 18, 27, 28).
A partir da semana seguinte, eles participaram de
Este estudo é do tipo experimental, longitudinal um programa de tratamento fisioterapêutico com-
e com abordagem quantitativa, sendo realizado no posto por: alongamentos musculares de membros
Instituto do Rim do Paraná, no período noturno, e inferiores, de membro superior (que não apresen-
tendo aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa do tasse a fístula arteriovenosa), lombar e cervical (caso
Centro Universitário Positivo (n. 94/2007). o paciente não apresentasse o cateter cervical de

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diálise); fortalecimentos musculares de membros


inferiores e membro superior, sem o acesso vascular 100
(a carga e as repetições eram predeterminadas, po- 90
rém, adaptáveis à capacidade do paciente); e relaxa- 80

Capacidade funcional
mento, envolvendo a conscientização respiratória. 70
O protocolo fisioterapêutico foi individualizado 60
para cada paciente, respeitando seus limites e ten- 50 p < 0,05
71
do duração de, aproximadamente, 25 a 30 minutos. 40
Os exercícios terapêuticos sempre foram realizados 30 62

em torno de meia hora após o início da hemodiálise, 20


respeitando a condição clínica do paciente. A pres- 10
são arterial (PA) e a frequência cardíaca (FC) sem- 0
pre eram aferidas antes e após a terapia. O paciente antes depois
era dispensado da fisioterapia quando apresentava
quadro álgico muito importante, dispneia, tonturas, Figura 1 - Média e desvio-padrão da capacidade funcional
hipertensão ou hipotensão acentuadas. dos pacientes antes e depois do protocolo fisio-
Os pacientes foram atendidos duas vezes por se- terapêutico (n = 27; p < 0,05)
mana, no período de junho a setembro de 2007, to-
talizando 20 consultas fisioterapêuticas. Após esse
período, era aplicado um novo questionário SF-36
120
para, então, serem comparados aos resultados. Os
resultados foram comparados utilizando-se o teste
Limitação para aspectos físicos

100
não paramétrico Wilcoxon, com nível de significân-
cia de 0,05. 80

60 p > 0,05
Resultados
40
51 60
Do total da amostra, oito pacientes (30%) eram
20
do sexo feminino e 19 (70%) do sexo masculino.
A média de idade foi de 51 ± 10,5 anos. O tempo de 0
tratamento hemodialítico foi de 50 ± 27,7 meses. antes depois
O índice de massa corpórea médio desses pacientes
foi de 24,3 ± 3,8. Figura 2 - Média e desvio-padrão da limitação por aspectos
A principal patologia tratada, além da IRC, foi a físicos dos pacientes antes e depois do protocolo
hipertensão arterial sistêmica (HAS), presente em fisioterapêutico (n = 27; p > 0,05)
14 casos (52%), seguida da diabetes mellitus (26%),
das sequelas de nefrites (15%) e de doença policís-
tica renal (7%). Anteriormente ao tratamento, foi observado que
A capacidade funcional dos pacientes antes do dez pacientes relataram cãibras musculares, princi-
tratamento fisioterapêutico alcançou média de 62 ± palmente em membros inferiores. Após a interven-
25. Após a aplicação do protocolo, a média subiu ção, esse número diminuiu para apenas quatro.
para 71 ± 22, sendo essa diferença considerada es- O nível de dor dos pacientes antes do tratamento
tatisticamente significativa (p = 0,016) (Figura 1). fisioterapêutico teve média de 61 ± 26, elevando-se
A limitação por aspectos físicos apresentada pelos significativamente após a atuação fisioterapêutica
pacientes antes da atuação fisioterapêutica atingiu (75 ± 29) (p = 0,01) (Figura 3).
uma média de 51 ± 46, aumentando tal média para Inicialmente, o estado geral de saúde desses indi-
60 ± 43, porém, não sendo essa diferença considera- víduos teve média de 51 ± 26, não se alterando após
da significativa após o tratamento fisioterapêutico o período da aplicação do protocolo de fisioterapia
(p = 0,11) (Figura 2). (58 ± 24) (p = 0,12) (Figura 4).

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120 90
80
100
70
80 60

Vitalidade
50
Dor

60 p < 0,05 p < 0,05


40 65

40 60 30
53
51 20
20
10
0 0
antes depois antes depois

Figura 3 - Média e desvio-padrão do nível de dor dos pacien- Figura 5 - Média e desvio-padrão da vitalidade dos pacientes
tes antes e depois do protocolo fisioterapêutico antes e depois do protocolo fisioterapêutico (n =
(n = 27; p < 0,05) 27; p < 0,05)

90 100

80 90
80
70
Estado geral de saúde

70
Aspectos sociais

60
60
50 50 p > 0,05
p > 0,05
40 40 70
30 63
30 58
20
20 51
10
10 0
0 antes depois
antes depois
Figura 6 - Média e desvio-padrão dos aspectos sociais dos
Figura 4 - Média e desvio-padrão do estado geral de saúde pacientes antes e depois do protocolo fisiotera-
dos pacientes antes e depois do protocolo fisio- pêutico (n = 27; p > 0,05)
terapêutico (n = 27; p > 0,05)

120
A vitalidade desses pacientes, antes da terapia,
Limitação para aspectos

100
foi de 53 ± 24, elevando-se significativamente para
65 ± 19 após a intervenção fisioterapêutica (p = 80
emocionais

0,02) (Figura 5). 60 p > 0,05


Quanto à limitação por aspectos sociais, antes
40
da terapia alcançou-se média de 63 ± 30 e, após,
passou-se para 70 ± 24, porém, tal diferença não 20 65
foi considerada estatisticamente significativa (p = 0
53

0,19) (Figura 6). antes depois


A limitação por aspectos emocionais teve mé-
dia de 53 ± 42. Tal média passou para 65 ± 41, não Figura 7 - Média e desvio-padrão da limitação por aspectos
sendo essa alteração considerada significativa (p = emocionais dos pacientes antes e depois do pro-
0,12) (Figura 7). tocolo fisioterapêutico (n = 27; p > 0,05)

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Por fim, o nível de saúde mental desses indivíduos tratamento hemodialítico, o que incluiu adaptação
elevou-se, após a intervenção, de uma média de 65 ± psicológica à doença e à rotina de tratamento. No
25 para 76 ± 21, sendo essa diferença considerada entanto, no atual trabalho, os resultados indicaram
significativa (p = 0,002) (Figura 8). o oposto, corroborando, portanto, com Martins (8)
e Castro (28). Deve-se ainda considerar que existem
outros fatores, observados nesta amostra, que podem
influenciar no componente emocional do paciente,
120
tais como: número de intercorrências, problemas
100
familiares ou no trabalho e presença de algum dis-
túrbio depressivo preexistente. A relação dessas va-
Saúde mental

80

60 p < 0,05 riáveis sobre o componente emocional ainda não foi


76 mencionada em qualquer outro artigo da literatura.
40
65 Após o tratamento fisioterapêutico, constatou-se
20 melhora significativa da capacidade funcional e do
0 nível de dor nos participantes da pesquisa, o que já
antes depois foi indicado pela literatura (13). Os pacientes com
IRC queixam-se frequentemente de desconforto e/
Figura 8 - Média e desvio-padrão da saúde mental dos pa- ou dor, principalmente nas regiões lombar e cervi-
cientes antes e depois do protocolo fisioterapêu- cal. Esse fato pode ser explicado por vários motivos,
tico (n = 27; p < 0,05) como: presença de distúrbios musculoesqueléticos
(9, 15, 16, 21), permanência na posição “sentado” e
“estático”, má postura do paciente ao sentar e cadei-
Discussão ras padronizadas que, muitas vezes, não respeitam as
individualidades ergonômicas de cada paciente (2).
Tem crescido o interesse dos profissionais da saú- Houve boa aderência dos pacientes ao tratamen-
de em mensurar a qualidade de vida dos portadores to proposto. Soares et al. (27) relatam que a taxa de
de IRC (25, 29, 30), pois existe uma correlação dire- aderência dos pacientes ao programa de reabilita-
ta entre o nível de qualidade de vida e a sobrevida ção, durante a hemodiálise, é muito maior quando
(17, 18, 25). comparada a do programa ambulatorial, provavel-
Na avaliação inicial, constatou-se comprometi- mente porque, quando realizado durante a diálise, o
mento de todas as dimensões analisadas e os me- exercício não tome tanto tempo como um programa
nores valores foram em limitação por aspectos fí- formal realizado em outro turno.
sicos, estado geral de saúde, vitalidade e limitação Magalhães (2) citou que os exercícios de alonga-
por aspectos emocionais, o que já foi indicado pela mento muscular são benéficos, pois devolvem aos
literatura (8, 28). músculos seu comprimento e elasticidade normais,
Vários estudos (17-19) haviam apontado correla- o que pode ser muito útil na redução da incidência
ção negativa entre a idade dos pacientes e os seguin- de cãibras. Com base nisso, nesta pesquisa foi ob-
tes domínios: capacidade funcional, limitação por servada a diminuição do número de pacientes com
aspectos físicos, dor, estado geral de saúde, vitalida- cãibras após a intervenção fisioterapêutica.
de e aspectos sociais. No presente estudo foi possível A cãibra é uma contração muscular forte e invo-
constatar tal realidade, porém, não houve qualquer luntária que causa dores nas regiões do corpo em
correlação entre idade e aspectos sociais. Não houve, que ocorre (2). Sua patogênese não está totalmente
também, diferença significativa de acordo com o sexo, elucidada, mas está provavelmente relacionada à
o que já foi relatado por Martins e Santos (8, 16). ultrafiltração rápida, à hiponatremia e à hipotensão
Com relação ao tempo de tratamento hemodialí- (15). Magalhães (2), ao pesquisar a atuação da fisio-
tico, foram encontradas algumas divergências. Santos terapia em 13 pacientes renais crônicos, comprovou
(6), que avaliou o nível de qualidade de vida de 93 que houve melhora significativa na incidência de
portadores de IRC em um período de 12 meses de cãibras, corroborando com os dados desta pesquisa.
hemodiálise, constatou correlação positiva entre as- Os exercícios de fortalecimento muscular auxiliam
pectos emocionais desses indivíduos e o tempo de na manutenção da tensão normal do músculo e no

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retorno venoso, atenuando a rápida perda de líqui- os pacientes e funcionários do Instituto do Rim do
dos que a hemodiálise promove (2). Paraná, que muito contribuíram na construção des-
A fraqueza muscular é uma complicação frequente te trabalho.
da IRC (12, 14, 15). Sua etiologia não está totalmente
esclarecida, porém, alguns fatores de risco podem ser
citados, como: deficiência de carnitina, desnutrição, Referências
miopatias, atrofias musculares, excesso e toxicidade
do paratormônio (PTH), toxinas urêmicas e deficiên- 1. Bastos MG, Carmo WB, Abrita RR, Almeida EC, Mafra D,
cia de vitamina D (11, 15). Ocorre, também, atrofia Costa DMN, et al. Doença renal crônica: problemas e
de ambas as fibras, principalmente as do tipo II (11). soluções. J Bras Nefrol. 2004;26(4):202-15.
Logo, pode-se afirmar a importância dos exercí-
2. Ajzen H, Schon N. Nefrologia. São Paulo: Manole; 2002.
cios de fortalecimento para minimizar essa perda
de massa muscular, além de promover a força ne- 3. Barros E, Manfro RC, Thomé FS, Gonçalves LFS. Ne-
cessária para que o indivíduo exerça suas AVDs com frologia: rotinas, diagnóstico e tratamento. 3a ed.
menor esforço (2). Porto Alegre: Artmed; 2006.
Observou-se, também, melhora da vitalidade e
4. Costanzo LS. Fisiologia renal. In: Costanzo LS. Fisio-
da saúde mental desses indivíduos. Provavelmente,
logia. 2a ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2004. p. 223-309.
quando o indivíduo consegue realizar suas AVDs
com menor esforço e/ou dor, sente-se menos can- 5. Santos PR, Pontes LRSK. Mudança do nível de qua-
sado e mais motivado. Esse fato repercute sobre o lidade de vida em portadores de insuficiência renal
estado emocional. crônica terminal durante seguimento de doze meses.
É importante observar que os pacientes com me- Rev Assoc Med Bras. 2007;53(4):329-34.
nor tempo em terapia hemodialítica apresentaram
6. Sociedade Brasileira de Nefrologia. Censo da SBN, 2007.
melhores resultados. Logo, se faz necessária uma
[acesso em 21 jul. 2009]. Disponível em: www.sbn.org.br
pesquisa com populações mais homogêneas.
Coelho (11) e Peres (24) afirmaram que exercícios 7. Magalhães HG, Pinto TA, Reboredo MM, Fonseca FD,
físicos proporcionam redução da pressão arterial Almeida PC. Análise da eficácia do atendimento fisio-
sistólica (PAS) e melhora da função cardiovascular. terapêutico em pacientes com doença renal crônica
Contudo, neste estudo não foi constatada a melhora em hemodiálise. 2º Congresso Brasileiro de Extensão
da PA nos pacientes, uma vez que não houve nenhu- Universitária; 12-15 set. 2004. Belo Horizonte, MG:
ma estimulação física aeróbica, proporcionando uma UFMG; 2004.
melhor hemodinâmica, conforme demonstrado por
8. Martins MRI, Cesarino CB. Qualidade de vida de pes-
Magalhães, Coelho e Peres (2, 11, 24).
soas com doença renal crônica em tratamento hemo-
dialítico. Rev Latino-Am Enferm. 2005;13(5):670-6.

Conclusão 9. Lima JJG, Fonseca JA, Godoy AD. Dialysis, time and
death: comparisons of two consecutive decades among
De acordo com os resultados obtidos, os progra- patients treated at the same Brasilian dialysis center.
mas de reabilitação física são benéficos para a me- Braz J Med Biol Res. 1999; 32 (3):289-95.
lhora do estado geral e da qualidade de vida dos pa-
10. Coelho DM, Castro AM, Tavares HA, Abreu PCB,
cientes renais crônicos. Sugere-se, portanto, abrir
Glória RR, Duarte MH, et al. Efeitos de um programa
novas perspectivas e estimular a realização de no-
de exercícios físicos no condicionamento de pacien-
vos estudos nessa área, com um número maior de
tes em hemodiálise. J Bras Nefrol. 2006;28(3):121-7.
pacientes para confirmação desses achados.
11. Cury JL, Togoe EB, Rossoni LA. Alterações da força mus-
cular respiratória em indivíduos com insuficiência re-
Agradecimentos nal crônica. 13º Simpósio Internacional de Fisioterapia
Respiratória e Fisioterapia em Terapia Intensiva; set.
Gostaríamos de agradecer aos nossos orienta- 6-9, 2006; Curitiba, PR. Associação Brasileira de Pes-
dores, Tânia e Edison, à profa. Ana Tereza e a todos quisa e Pós-Graduação em Fisioterapia; 2006.

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12. Kovelis D, Pitta F, Probst VS, Peres CPA, Delfino VDA, 23. Barberato SH, Pecoits Filho R. Valor prognóstico do
Mocelin AJ, et al. Função pulmonar e força muscular índice do volume do átrio esquerdo em pacientes em
respiratória em pacientes com doença renal crôni- hemodiálise. Arq Bras Cardiol. 2007; 88(6):643-50.
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24. Higa K, Kost MT, Soares DM, Morais MC, Polins BRG.
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13. Gomes CP, Silva MIB, Duarte MEL, Dorigo D, Lemos ciência renal crônica em tratamento de hemodiálise.
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Recebido: 09/07/2010
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Received: 07/09/2010
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