Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas – Departamento de História
Introdução à História da Cultura Profa. Adriana Romeiro
Uma história dos sentidos –
os odores na Época Moderna Claudinéia Pereira, Íviler Rocha, Izabela França O odor como mito em diferentes culturas - Hebreus “Haverá desse modo incenso diante do Senhor perpetuamente nas gerações futuras” Êxodo, 30:8 - Segundo a Bíblia, Deus queria que esse altar exalasse fragrâncias de acácia constantemente. Embora breve e simples, o trecho do capítulo 30 do livro do Êxodo é um dos primeiros relatos acerca da existência de perfumes na história humana e de sua ligação com os assuntos divinos. O odor como mito em diferentes culturas - Egito Os egípcios eram politeístas, ou seja, adoravam vários deuses, e os homenageavam em ricos rituais. Acreditavam que seus pedidos e orações chegariam mais rápido aos deuses se viajassem nas nuvens de fumaça aromática que subiam aos céus. Acreditavam na reencarnação, e reservavam as fragrâncias também aos mortos. Grande quantidade de aromas acompanhava a passagem desta para outra vida, ao encontro com os deuses, e o corpo do morto devia ser conservado tão inalterado – e perfumado – quanto possível. Mirra, musgo de carvalho, resina de pinho, entre outros ingredientes com propriedades anti-microbianas, eram utilizados no ritual de mumificação. Imagem: Abalastros, 3100 a 1785 a.C. Frascos usados para preparação de unguentos. O odor como mito em diferentes culturas - Grécia Por volta de 800 a.C., as cidades de Atenas e Corinto já exportavam óleos de flores e plantas maceradas: rosa, lírio, íris, sálvia, tomilho, manjerona, menta e anis. Os gregos apreciavam incensos e fórmulas aromáticas, e acreditavam atrair a atenção dos deuses ao usá-los. Eles usavam perfumes até mesmo na comida: pétalas de rosas moídas eram ingredientes de receitas sofisticadas e o vinho era aromatizado com mirra, essências de flores e mel perfumado. Uma lenda cita o buquê favorito de Dioniso, deus do vinho e do teatro: violetas, rosas e jacintos adicionados à bebida. O odor como mito em diferentes culturas - Babilônia Por volta de 650 a.C a cidade da Babilônia, na Mesopotâmia, tornou-se o centro comercial de especiarias e perfumes da época. Conquistado dois séculos mais tarde por Alexandre, o grande, rei dos persas, o império caldeu tornou-se parte da civilização helênica. A influência persa na vida grega incentivou a apreciação de plantas exóticas e o uso de perfumes e incensos. Alexandre entregou sementes e mudas de plantas da Pérsia ao seu professor em Atenas, Teofrasto, que criou um jardim botânico e foi autor do primeiro tratado sobre cheiros. O odor como mito em diferentes culturas – Império Romano No século III, Roma se tornou a capital mundial do banho, luxuoso ritual jamais visto em qualquer outra cultura. O banho incluía poções aromáticas variadas. Os cidadãos mais ricos tinham até as solas dos pés perfumadas por escravos. Na cidade podiam ser encontradas mais de 100 casas de banho públicas e privadas, freqüentadas por todas as classes sociais. A origem da palavra perfume é latina per (através) fumum (fumaça) e se relaciona a queima de ervas aromáticas utilizadas em rituais religiosos de diferentes culturas. O odor como mito em diferentes culturas - Árabes No século X, o filósofo e médico árabe Avicena, um dos nomes de maior importância para a medicina até os dias de hoje, descobriu o processo de destilar o óleo de flores (o attar, produzido na Síria) que, diluído em água torna-se o primeiro perfume moderno. Os Cruzados difundiram pelo ocidente as fragrâncias originárias do mundo árabe, resgatando sua influência nos hábitos da população. Eles voltavam das batalhas com preciosidades exóticas na bagagem: especiarias, ungüentos perfumados e essências variadas. O odor como mito em diferentes culturas – Idade Média A descoberta do álcool foi especialmente útil para fins terapêuticos e de higiene, pois muitos dos extratos alcoólicos vegetais eram usados na luta contra as epidemias, como a peste negra — que assolou a Europa durante séculos, a partir de 1347. O primeiro perfume com álcool, o Água da Hungria, surge em 1370 e deve seu nome à rainha da Hungria. Os extratos alcoólicos, contendo alecrim e resinas, eram administrados por via oral com fins medicinais. Pelas crenças da época, o banho devia ser evitado a qualquer custo, pois a água era considerada uma fonte de contaminação. O odor como mito em diferentes culturas - Renascença A Officina Profumo di Santa Maria Novella, fundada oficialmente em 1612 em Florença data de 1221, quando os frades dominicanos iniciaram as atividades da farmácia que produzia essências, pomadas, bálsamos e outras preparações medicinais. Muitas dessas fórmulas, produzidas até os dias de hoje, foram estudadas durante a corte de Catarina de Médici, nobre florentina que se mudou para a França em 1533, para se casar com o Rei Henrique II. Na caravana que acompanhou Catarina estava seu perfumista pessoal, Renato Bianco, conhecido como René Blanc, le florentin. O odor como mito em diferentes culturas - Grasse Os perfumes de Catarina de Médici eram feitos em Grasse, pequena cidade no sul da França, aos pés dos Alpes mediterrâneos. Grasse era então um centro da indústria de couro, e até aquele momento, não existia nenhum produto para limpar e perfumar o couro, especialmente o das delicadas luvas das senhoras. Desenvolveu-se então uma arte refinada, tarefa dos maîtres gantier parfumeurs (mestres perfumistas de luvas), que prosperaram em torno de Grasse. No reinado de Luís XV a realeza encorajou a prosperidade de Grasse, e a cidade passou então da fase artesanal para a de indústria da perfumaria. Com a descoberta de novas técnicas de extração de matérias primas perfumadas, muitas fábricas se desenvolveram nessa região Os odores e a questão da saúde Século XVIII – Crença de que o ar agia de múltiplas maneiras sobre o corpo.
O ar como regulador da expansão do fluidos e da tensão das fibras. Veicula uma
quantidade de partículas que lhe são estranhas e que variam segundo o lugar e o tempo.
“Se, porventura, miasmas pútridos, emanados dos corpos doentes ou em
estado de decomposição, forem inalados pelo organismo e vierem a corromper o equilíbrio das forças intestinais; se produzir uma interrupção da circulação do espírito balsâmico do sangue pela obstrução dos vasos, viscosidade dos humores ou ferimento, isto poderá significar o triunfo da gangrena, da varíola, do escorbuto, das febres pestilenciais ou pútridas.” (Corbin, p.27) A partir desta crença, há a promoção terapêutica dos aromas, fundada sobre sua volatilidade e seu poder de penetração, concorda com uma antiga tradição, aquela que levará Hipócrates a combater a peste através dos odores. Desta maneira, a gestão da saúde passa pelo repertório e combate dos odores nocivos. Os odores e o corpo Na metade do século XVIII, a profusão dos aromas contribui ainda para a intensidade olfativa do meio ambiente. A função terapêutica dos "odores“ reforça seu valor estético, ou ao menos hedonista. No século XIX, os odores resultantes das atividades internas do corpo, que em outros momentos foram relativamente tolerados, tornaram- se insuportáveis. Há uma completa domesticação dos odores decorrentes dos processos metabólicos. Maus hálitos, maus cheiros, suores fétidos, processos de excreção, entre outros, foram progressivamente submetidos a controles rígidos. Os odores e o corpo – o banho Com a ascensão do Cristianismo e, principalmente, da Igreja Católica, o ato de tomar banho, era visto como cheio de preguiça, luxúria e vaidade. Dizia-se que São Francisco de Assis considerava a sujeira do corpo uma insígnia divina, e que Santa Agnes nunca tomou banho em sua vida inteira. Na Idade Média, época dominada pelos pensamentos do catolicismo, as pessoas tomavam, no máximo, três banhos por ano – elas chegavam a acreditar que lavar-se fazia mal à saúde e que isso poderia deixar as mulheres inférteis. No século XVIII se promove uma higiene corporal muitíssimo prudente mas limitada em sua extensão por múltiplos freios e precauções. “Platner, como Jacquin, recomenda que se lave freqüentemente o rosto, as mãos, os pés e até,‘de tempos em tempos’, o corpo todo.” (Corbin, p. 98) Acreditava- se que que a perda de vitalidade sublinhada por Bordeu não era o único perigo da água. O uso inconsiderado dos banhos relaxa as fibras, amolece o organismo, leva à indolência. Hallé sublinha o efeito séptico do sabão, notadamente em tempos de peste., mas os moralistas temem a complacência, os olhares sensuais e a tentação auto-erótica do banho. A nudez comporta um risco. De qualquer modo, tais práticas só podem ser limitadas a uma estreita elite. Outra crença curiosa do mesmo período diz respeito ao poder purificador da roupa: acreditava-se que o tecido "absorvia" a sujeira do corpo. Bastaria, portanto, trocar de camisa todos os dias para manter-se limpinho O banho, cujo costume se expande no final do século, e constitui antes de mais nada uma prática terapêutica. Moheau, observa que o banho só é útil ao homem braçal quando ele não está trabalhando o resto do tempo o movimento do suor basta para desobstruir os poros. A partir de meados do século XIX, intensificou- se a ritualização da toalete, com um conjunto de regras que passaram a reger o comportamento cotidiano, de modo a restaurar e a ressegurar, diariamente, a integridade do corpo. Os odores e o corpo – Higiene no Brasil Quando a esquadra de Pedro Álvares Cabral desembarcou na Bahia, no longínquo ano de 1500, o Brasil descobriu a sujeira - de um lado, portugueses barbudos, imundos, com doenças generalizadas; do outro, índios pelados, depilados, exibindo dentes alvos, cabelos bem lavados (...) O gritante contraste era justificável, pois, se os europeus costumavam lavar-se de corpo inteiro apenas duas vezes por ano, os nativos banhavam-se de 10 a 12 vezes por dia. Tigres - Em 1800, no Rio de Janeiro, as casas não possuíam banheiros, nem água corrente. As necessidades eram feitas em bacias e penicos, que eram recolhidos por escravos que levavam tudo para longe em tonéis equilibrados na cabeça. Com o movimento, as fezes escorriam pelos seus ombros, deixando-os com um aspecto "rajado" que lhes deu origem ao apelido. Em Salvador, os excrementos eram feitos em vasilhas e potes, e depois arremessados pela janela, o que, às vezes, causava incidentes muito desagradáveis. Já no século XIX, o rei português dom João VI – o fujão que estabeleceu sua corte no Rio de Janeiro – mostrava-se descrente até da troca de camisas, que ele literalmente deixava apodrecer no corpo. A porquice de dom João VI, extraordinária até para os baixos padrões sanitários de seu tempo. Não havia memória na casa real de Dom João VI ter tomado um único banho de corpo inteiro com água e sabão. O príncipe regente sofria de várias erupções e doenças de pele, e coçava-se constantemente - na frente de todos - com a mesma mão que depois dava a beijar, na cerimônia diária realizada na Quinta da Boa Vista. http://www.youtube.com/watch?v=SW0XnTFyHPQ #t=138 Casa de Banhos Pharoux - Com a falta de banheiros até nas residências de elite, surgiu no Rio de Janeiro, nos arredores da Rua do Ouvidor, a famosa Casa de Banhos Pheroux, que ostentava o anúncio "Venha tomar banho na Pheroux que é do que o senhor precisa". Museu da Limpeza Urbana, na antiga Casa de Banho D. João VI, localizada no bairro do Cajú no Rio de Janeiro. Higienismo no Brasil A cidade do Rio de Janeiro era uma das mais sujas do mundo, pois dos boletins sanitários da época se lê que a Saúde Pública em um mês vistoriou 14.772 prédios, extinguiu 2.328 focos de larvas, limpou 2.091 calhas e telhados, 17.744 ralos e 28.200 tinas. Lavou 11.550 caixas automáticas e registos, 3.370 caixas d´água, 173 sarjetas, retirando 6.559 baldes de lixo e dos quintais de casas e terrenos 36 carroças de lixo, gastando 1.901 litros de petróleo (são dados do livro indicado abaixo, de Sales Guerra). Houve um momento em que foi apontado como «inimigo do povo», nos jornais, nos discursos da Câmara e do Senado, nas caricaturas e nas modinhas de Carnaval. Oswaldo Cruz: Nesse cenário, Oswaldo Cruz foi nomeado diretor geral de Saúde Pública. Para debelar a doença, tomou providências polêmicas. Convicto da eficiência de suas ações (combate a ratos e mosquitos e vacinação obrigatória da população), talvez tenha lhe faltado um pouco de tato. A imunização obrigatória, juntamente à reforma urbana que derrubou cortiços e favelas gerou uma grande revolta na população. As manifestações contra a vacina evoluíram para uma rebelião - a Revolta da Vacina. Mesmo achando que poderia ser morto, Oswaldo não deixou de ir trabalhar. Oswaldo Cruz Exemplo de cortiço Os odores e o corpo – o uso do perfume A idade Moderna traz o uso de perucas e rostos com excesso de empoamento. Paris era o grande produtor de óleos, depilatórios e águas aromáticas. O avanço da indústria de produtos aromáticos devia- se aos péssimos hábitos de higiene da população. As cortes francesas mantinham praticamente um cerimonial coreografado para vestir- se e os aristocratas perfumavam- se para não sentir o odor um dos outros. Até o final do século XVIII, era bastante comum o uso de aromas fortes e de origem animal, tais como Almíscar, Âmbar e Zibeta, tanto para o uso terapêutico quanto estético. Já no século XIX, o uso de perfumes derivados de tais substância caem em desuso e passam a ser valorizados os odores de origem vegetal. “Havelock Ellis analisa com razão esse descrédito do almíscar como um fato maior da história sexológica. Até o fim do século XVIII, pensa ele, as mulheres utilizaram-se do perfume não para mascarar seus odores próprios, como então se diz, mas para ressaltá-los. A função do almíscar era idêntica à do corpete, que acentua as saliências do corpo. Segundo Hagen, o mestre da osfresiologia sexual, até então as mulheres buscaram para esse fim os odores mais fortes, mais animais. Nessa perspectiva, o declínio desses perfumes no final do século XVIII será mero registro do declínio do "valor primitivo“ dos odores sexuais.” (Corbain, p. 100) O proclamado declínio dos perfumes animais, vem acompanhado da imensa onda de "espíritos odorantes", de "óleos essenciais" e de "águas de cheiro" tiradas de flores primaveris. A novidade reside na multiplicidade. Na corte de Luís XV, a etiqueta prescreve o uso de um perfume diferente a cada dia. O odor forte, tornado arcaísmo, torna-se apanágio das velhas vaidosas ou das caipiras. O cheiro animal anuncia o povo. Os odores e o corpo – curiosidades sobre a história da higiene pessoal Papel higiênico Por séculos, a limpeza íntima foi feita com folhas, sabugos de milho – ou com a mão. A primeira fábrica de papel higiênico surgiu nos Estados Unidos, em 1857 – e o produto demorou a vencer a resistência do mercado. Banho Os romanos tinham casas de banho, que caíram em desuso na Europa medieval. A prática de lavar o corpo só seria efetivamente retomada a partir do século XIX. Em 1867, o francês Merry Delabost inventou o chuveiro. Privada A primeira privada, ainda muito rudimentar, foi inventada para o uso da rainha Elizabeth I, da Inglaterra, no século XVI. Mas foi em 1884 que o inglês George Jennings criou o modelo moderno, com descarga. Sabonete O sabão já era conhecido pelo menos desde o antigo Egito – embora os romanos não o utilizassem. Por muito tempo, porém, foi um artigo de luxo. Sua popularização plena só se deu no século passado, por obra da produção industrializada americana. Em 1806, William Colgate (1783-1957), filho de uma família de imigrantes ingleses, residentes no interior dos Estados Unidos, tinha 23 anos quando foi tentar a vida em Nova Iorque. Ganhou dinheiro e logo depois inaugurou a primeira fábrica de sabão do país. Em 1830 começou a comercialização do seu produto em todo o país. Era um sabão em barras de peso uniforme, diferente do usual na época, quando se cortava um pedaço de uma barra de quase meio metro de comprimento no balcão do estabelecimento e cobrado pelo peso.
Em 1872 lançou o sabonete perfumado
para banho. A Colgate foi a origem de uma das maiores empresas dos Estados Unidos que diversificou as suas atividades passando a produzir também creme dental e produtos congêneres. Cuidados dentários As primeiras escovas de dentes datam do século XV, provavelmente inventadas na China. Mas pastas variadas, feitas de vegetais, já eram usadas na limpeza bucal dos antigos egípcios e indianos. As pastas modernas, alcalinas, surgiram nos Estados Unidos, no início do século XX. Mulher escovando os dentes em foto no fim do século XIX. Autor desconhecido A penteadeira/toucador (dressing table) era um espaço dedicado à vaidade feminina. Os odores e os lugares Parte dos cuidados descritos com o corpo no século XVIII, precederam os adotados com as moradias e o espaço urbano. As mudanças neste cenário apenas tiveram início com a doutrina higienista do século XIX. A remoção sistemática do lixo para as áreas periféricas foi, por exemplo, uma das medidas mais tardias. A sociedade que procurava promover seu asseio corporal, era a mesma que vivia em casas recendendo a urina e excrementos, que preparava seus alimentos em cozinhas imundas, que despejava todo o lixo que produzia na soleira da própria porta. O rei Luís XIV vivia no imundo palácio de Versalhes, onde as fezes eram recolhidas dos corredores só uma vez por semana. Bem vestida e perfumada, passeava por ruas e praças em meio a toda sorte de imundícies. Os odores e os lugares – Campo X cidade “Experimentar os verdadeiros prazeres do olfato supõe uma fuga prévia para longe das lamas e dos estercos, longe da putrefação dos corpos vivos, longe dos locais confinados da cidade, assim como dos terrenos apertados dos vales. O campo, por si mesmo, impõe a fuga; o vilarejo tornou-se cloaca.” (Corbin, p. 105) "Vislumbro cem casebres amontoados - deplora Oberman -, monte odioso cujas ruas, estábulos e hortas, paredes, assoalhos e te tos úmidos, até mesmo os animais atrelados, os móveis, parecem todos um único lodaçal, onde todas as mulheres gritam, todas as crianças choram, todos os homens suam.“ A partir destas idéias, define a socialidade popular da planície ou a do vale; a elite deve poder escapar a ela tomando maior altitude. Fuga vertical que permite deixar para o povo confinado os fedores do amontoamento. Surge entre a elite a “moda da montanha”. Os odores e os lugares – o espaço privado “A atmosfera do espaço privado matiza-se com odores delicados: caixas perfumadas, ramalhetes de cheiro e sobretudo sábios conjuntos, alguns dos quais guardam seu poder odorante durante dez ou doze anos, exalam nos ricos apartamentos. Sua confecção, como a das pomadas, pós ou águas de cheiro, preenche uma verdadeira culinária, ou melhor, uma arte doméstica de conserva de cheiros que faz concorrência ao comércio dos mestres- perfumistas.” (Corbain, p. 104) Produtos Cosméticos A definição harmônica de cosmético foi adotada pelo MERCOSUL através da Resolução nº221, de 2005. São definidos os produtos para higiene pessoal, cosméticos, perfumes e as substâncias ou preparados formados por substâncias naturais e sintéticas, e suas misturas, para uso externo em diversas partes exteriores do corpo humano, pele, sistema capilar, unhas, lábios e órgãos genitais externos, dentes e as membranas mucosas da cavidade bucal, com o exclusivo ou principal objetivo de limpar, perfumar, alterar a aparência e/ou corrigir odores corporais e/ou protegê-los e mantê-los em boas condições São divididos em dois grupos de risco: Risco nível 1 e nível 2; e em quatro categorias: produtos para higiene,cosméticos, perfumes, e produtos para bebês. Risco Nível 1 – produtos com risco mínimo, tais como: sabões, xampus, cremes de barbear, loções após-barba, escovas dentais, fios dentais, pós, cremes de beleza, loções de beleza, óleos, make-up, baton, lápis para os área dos olhos, filtros UV, loções bronzeadoras, tinturas para cabelos, descolorantes, clareadores, produtos para ondulação permanente, lábios e delineadores, produtos para os olhos e perfumes. Risco Nível 2 – produtos que apresentam risco potencial, tais como: xampus anti-caspa, cremes dentais anti-cárie e anti-placa, desodorantes íntimos femininos, desodorantes de axilas, esfoliantes químicos para a pele, protetores para os lábios com proteção solar, certos produtos para a produtos para crescimento de cabelos, depiladores, removedores de cutícula, removedores químicos de manchas de nicotina, endurecedores de unhas e repelentes de insetos. Todos os produtos para bebês são do Nível 2. Os produtos cosméticos do Nível 2 estão sujeitos a exigências mais severas.Devido ao seu grau de complexidade. Fragrâncias são substâncias produtos de higiene pessoal cosméticos e perfumes cuja composições se caracterizam por possuírem propriedades básicas ou elementares, cuja comprovação não seja inicialmente necessária e não requeiram informações detalhadas quanto ao seu modo de usar e suas restrições de uso, devido às características intrínsecas do produto. Métodos de extração de fragrâncias Destilação a vapor Quando o óleo essencial é volátil. Exemplos: Flor de laranjeira e Lavanda.Patchouly ,Sândalo e Cedro,Celery e Canela. Prensagem Quando o oléo essencial é volátil, porém, altera-se com o calor. Por meio de compressão obtém-se, por exemplo, os óleos da casca de frutas cítricas como: limão, laranja,bergamota entre outros. Extração Neste processo, substância aromáticas são separadas do material de origem por meio de solventes orgânicos. Pode ser utilizado para óleos essenciais de alto ponto de ebulição e para produtos secretados de plantas (resinas). Enfleurage “Para criar a sua primeira eau de parfum (produto mais diluído do que o perfume) a paranaense O Boticário ressuscitou uma técnica medieval de extração de essências, a enfleurage. Aprimorada na cidade francesa de Grasse, grande centro produtor de perfumes da Idade Média, a técnica consiste em acondicionar flores em um recipiente fechado de modo que elas fiquem em contato com um meio gorduroso. Dessa gordura se obtém os óleos essenciais para a fabricação do perfume. A enfleurage desenvolvida sob encomenda para o Boticário dispensa a gordura animal original, substituída por uma vegetal equivalente.” Fonte: ComCiência – Revista Eletrônica de Jornalismo Cientifico, reportagem de Fábio Reynol em 10/09/2007 O odor na atualidade Fragrâncias na perfumaria Cítricas: Provenientes de frutas cítricas, utilizadas para dar nota de cabeça, sua característica é refrescância e difícil fixação. Lavandas, pinho, eucalipto: De origens diversas, mas também utilizadas para dar refrescância às notas de cabeça. Verdes: tem conotação de folhas molhadas, cortadas ou terra molhada. Fazem parte da nota de cabeça e às vezes do corpo. Florais: proveniente de flores naturais. Utilizado como agentes de interação cabeça-corpo, corpo-coração. Frutais: Possuem fragrâncias sintéticas com conotação Frutal. Exemplos:Verdural Extra, com conotação de pêra; Antranilato de Metila, conotação de uva. Amadeiradas: extremamente secas, com características dominantes. Extraídos do tabaco. Especiarias: Notas picantes, principal uso de cravo e canela. Utilizado desde colônias a sabonetes. Aromáticas: notas provenientes de elementos utilizados na culinária. Polvorosas, balsâmicas e doces: nota em comum doce-balsâmica. Couro: notas de origem sintética que reproduzem o odor do couro. Animal: materiais de origem animal, dão caráter sensual a fragrância. Hoje o odor é um dos principais atributos dos produtos de cuidado pessoal, as fragrâncias são utilizadas tanto para perfumar um produto ou simplesmente para mascarar odores desagradáveis. Por isso o estudo do mecanismo da olfação tem se tornado um campo no qual os cientistas dedicam cada vez mais de suas pesquisas. Referências bibliográficas ASCAR, Renata. A história do perfume da antiguidade até 1900. Com Ciência – Revista Eletrônica de Jornalismo Cientícfico. 2007. Disponível em: http://comciencia.br/comciencia/?section=8&edicao=28&id=318 CORBIN, Alain. Tradução: Ligia Watanabe. Saberes e Odores: o olfato e o imaginário social nos séculos XVIII e XIX. São Paulo: Companhia das Letras, 1987. Filme O Perfume – história de um assassino. 2006. França, Alemanha, Espanha. LIMA, Tania Andrade. Humores e odores: ordem corporal e ordem social no Rio de Janeiro, século XIX. Hist. cienc. Saude-Manguinhos [online]. 1996, vol.2, n.3. SANTOS, Bruna Fernandes Castro dos. A Perfumaria e a Saúde Humana. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2008. TEIXEIRA, Jerônimo. Séculos de imundície. Revista Veja. São Paulo. Disponível em: http://veja.abril.com.br/1212207/p_192.shtml