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(GRANDES NOMES DO PENSAMENTO. BRASILEIRO Sergio Buarque de Holanda Visio do Paraiso Os Motivos Edénicos no Descobrimento e Golonizagao do Brasil Sob licenga de iB Cory © 200 Pte Disko be bone a npr Fab Maoh S.A tors ene Ay pn ae cto Conn © Ane hag arta dling elas, "Sov ma eins bo, Pan ony 93 ane Ne ‘ado os dros esa, Neha pre desta ob peer ep argtath oo tate dence fr por ne mess perm ‘reat corset da Pub” i J Puta de Bes othe de Masha Seda Editor rains SA Ena ara fac pla Etor rns expiants pra coho ‘Gander Nemes do Penne maida Fla de Salo Coorenaso: Puta Projo gc e capt Etre Doin Guin de ftare: Aono Amol Prado radio otra Eators ana Vine Revso: Fabiana i Avr eee Nessnre d Sika Neto PonLFOLI cms: pfehsuol come ~ Internet: ww otha som be ‘a (11) 28-168 mat steel com be Apresentagao A Folha de 8.Paulo apresenta a seus leitores, com exclu- sividade, a colegio Grandes Nomes do Pensamento Brasileiro. [ela estdo reunidos alguns dos mals importantes autores e obras clissicas da histéria e da eoonomia, da sociologia e da Iteratura, ‘que permitem redescobriro pais e toda a riqueza e complexidade da cultura brasileira. As voltas com a comemoragio dos S00 anos ddo Descobrimento, 0 leitor vai entender como e por que o Brasil 6 tomnou o que & Os livros foram eseritos em diferentes épocas e tratam de Tongos periodos da histéria brasileira, desde antes do Descobri ‘mento até o séeulo 20, Bes analisam a formagio do pats e de sex ‘ovo, os confltos que atravessaram a histria e os que ainda atin- ‘gem a sociedade brasileira. Buscam entender as caracteristicas das relagGes socials e racials e as razGes do atraso econdmico & politico do pats. Cada volume da série conta com um guia de letura escrito especialmente para esta colegto, que inclul um resumo das idéias do autor, sua biografia e uma eronologia basics Grandes Nomes do Pensamento Brasileiro ¢ uma coleglo preciosa ¢ indispensdvel. E uma contribuigio a0 entendimento feral do Brasil através de trabalhos abrangentes ¢ vigorosos que no querem iudir o leitor a respeito do pafs que a todo momento ele esta ajudando a construir. Sumario Nota primeira edigto vill Preficio a segunda edigio 1x 1 Experiénelae fantasia 1 IL Terras inedgnitas vp IIT ~ Pegas e pedras 8 1V-0 “outro Peru" 83 V = Um mito luso-brastlett0 wns 133 VI- As atenuagdes plausiveis 161 ‘VU ~ Paraiso perdido... 183 VIll— Visio do paraiso 22 1X ~Voltando a Matusalém 301 X= O mundo sem mal as. I~ nom sbi aestus 9 ‘Il ~ América Portuguesa e Indias de Castela 383 Biblogratia 407 Indice remissivo 423 ‘Anexo. 439 Cia de letra a3 1m setembro de 1958 imprimira-se o presente estudo em ti rragem limiaa, fora de coméreio e com 0 cardter de tese ‘untwersitdria. Depois de nova distribuigdo da matéria em cxpt- tulos, de corregdes ¢ de ampliagées do texto, esta segunda im- press, destinadaa um piiblico menos exfguo, constitu, de fato, fa primeira edigto de Visto do Paraiso. ‘Nao posso deivar de exprimir cana minha dfeida de gra ida a José Olympioe a seus colaboraclores pelo interesse amigo ‘com que tomaram a seu cargo as duas impressBes sucessivas. Sto Paulo, julho de 1959, ranciarsaneestarUnas AON mt a oN Ride ao ‘MP Aid es ats ‘RES Ar Cord is de So at, ‘I-Dowuneetn tress pr trae Came de io Pl Uliana sora: TMCRS stra Colnago Forays do Bos GSP Regu Geld Car de oP TITS = Revs do ns tre Gegrioe Bs. ISP Reis drt trie v Gnas be Sh Pal Prefacio A segunda cdigao ‘etomando para nova edigao este livro, que sal agora bastante ‘aumentado, julguel que uma explieaglo preliminar ajudaria ‘a desfazer enganos de interpretagno surgidos desde que fol publicado pela primeira vez. A outra mancira de se evitar tals fenganos estaria em procurar redisteibuir a matéria segundo eritrio aparentemente mais racional, de sorte, por exemplo, que (0 7 capitulo eo §, que tratam sobretudo da formaglo dos mo- tivos edénicos, precedessem aqueles onde se consideram os seus, reflexos no deseobrimento, conquista e exploragio dos mundos (ra, além de importar em refazerse praticamente toda a obra, o que estaria hoje acima de minha eapacidade, se- ‘melhante solugio teria o inconveniente de deixar relegado a ‘um segundo plano aquilo que pretende ser o alvo dominante no presente estudo. Nao se quis, com efeito, mostrar 0 processo de elaboragao, a0 longo dos séculos, de um mito venerando, sentlo na medida em que, com o descobrimento da Amérie Pareceu ele ganhar mais Corpo até ir projetar-se no ritmo da Historia, Nem se teve em mira explorar todas as virtwalldades. dessa espécie de secularizagao de um tema sobrenatural, © que levaram certo autor a perguntar ultimamente se os motivos edénicos nfo poderiam dar margem a uma ampla teoria, onde toda a Histéria encontraria sua explicagio. A visio do Parafso,, esereve ainda o mesmo autor, foi principalmente responsdvel pela grande énfase atribufda na époea do Renascimento 2 ‘atureza como norma dos padrées est6ticos, dos padres éticos, € morais, do comportamento dos homens, de sua organizagao social ¢ politica’. ‘Sem querer pOr em tela de jufzo 0s argumentos em que se funda a hipétese, devo salientar que este livro tem ambigoes ‘menos especulativas e pretensbes mais comedidas. O que nele se tencioniou mostrar é até onde, em torno da imagem do Bden, tal como se achou difundida na era dos deseobrimentos ‘maritimos, se podem onganizar num esquema atamente fecundo muitos dos fatores que presidiram a ocupagio pelo europeu do Novo Mundo, mas em particular da América Hispfiniea,¢ ainda assim enquanto abrangessem e de certa forma explicassem © nosso passado brasileiro. Em tais condigdes bem poderia servit estudo semelhante como introdugio 2 abordagem de alguns fundamentos remotos da prépria Historia do Brasil, ¢ de outro — lem que ni se tocou nestas paginas ~, como contribuigio para a boa inteligencta de aspectos de nossa formagao nacional ainda atuantes nos dias de hoe. Sabe-se que para os tedlogos da Idade Média nao repre- sentaya o Paraiso Terreal apenas um mundo intangivel, incor: 1p6reo, perdido no comego dos tempos, nem simplesmente algu- ‘ma fantasia vagamente piedosa, ¢ sim uma realidade ainda presente em sitio recOndito, mas porventura acessivel. Debuxado por numerosos cartégrafos, alineadamente buscado pelos vigjantes e peregrinos, pareceu descortinar-se, enfim, 208 primeiros contatos dos brancos com o novo continente. Mesmo ‘quando no se mostrou ao aleance de olhos mortais, como parece mostrar-se a Crist6vio Colombo, o fato & que esteve continuamente na imaginagio de navegadores, exploradores e ppovoadores do hemisfério ooidental, Dennciam-no as primeiras narrativas de Viagem, os primeiros tratados desoritivos, onde a todo instante se reitera aquela mesma t6pica das visdes do Paraiso que, iaugurada desde o IV séeulo num poema latino atribuido, erradamente segundo muitos, a Lactdncio, e mais tarde desenvolvida por Santo Isidoro de Sevilha,aleangara, sem sofrer mudanga, notavel longevidade. ‘Nao admira se, em contraste com o antigo cendrio fami liar de paisagens decrépitas e homens afanosos, sempre a de- bater-se contra uma éspera pobreza, a primavera incessante das terras recém-descobertas devesse surgit a0s seus primeiros visitantes como uma e6pia do den. Enquanto no Velho Mundo anatureza avaramente regateava suas divas, repartindo-as por lestagbes e 56 beneficiando os previdentes, os diligentes, os pacientes, no parafso americano ela se entregava de imediato ‘em sua plenitude, sem a dura necessidade ~ sinal de imperfeigao eee de ter de apelar para o trabalho dos homens. Como nos pri- ‘meiros dias da Criaglo, twdo aqui era dom de Deus, nfo era ‘obra do arador, do ceifador ou do molto. ‘Desa espécie de iusto original, que pode canonizar a cobiga e banir o labor continuado ¢ monétono, haveriam de partilhar indiferentemente os povoadores de toda a nossa ‘América Hispinica, usitanos, no menos do que castelhanos, ‘embora a sedugio do maravilhoso parecesse atenuar-se entre faqueles por uma aceitagdo mais sossegada, quase fatalista, da realidade plaus(vel. Marcando tio vivamente os comegos da expansio das nagoes ibéricas no continente, era inevitével, nao bstante, que o mesmo tema paradisfaco chegasse a imprimir tragos comuns ¢ duradouros 2 colonizagio das varias regides ‘correspondentes & atual América Latina. E no val exagero no dlizerse que cla também se teré projetado a sua maneira sobre a historia daquelas partes do Novo Mundo povoadas inicialmente por anglo-saxdes: sugere-o qualquer retrospecto da literatura Teeente, mas Jf numerosa, dedicada ao assunto. ‘Nao eabe aqui, sendo sucintamente, um tal retrospecto, Para comegar lembrarel duas tentativas esbogadas com o fim dese investigarem alguns do mitos nacionais dos EUA, onde se podem discernir varlantes modernas do tema paradisiaco. Em ‘uma, a de Henry Nash Smith, professor em Berkeley, descreve- se entre as representagbes coletivas que mais claramente dominaram a Histérla norte-americana no século passado a {imagem popular de uma sociedade agearia a dilatar-se sobre as terras virgens do Oeste para as converter finalmente em um eendrio quase edénico. Nesse tema, 0 mito do “jardim do ‘mundo”, como 0 denomina Smith, efeixam-se virias metitoras ‘expressivas das nogdes de feoundidade, maturaglo, erescimento ‘edo ditoso mister rural, simbolizado numa figura de lavrador smunido de sua arma suprema, que 6 0 sacrossanto arado. ‘Na segunda tentativa, a de R.W.B, Lewis, de Princeton’, borda-se outro mito que, embora sem aleangar a popularidade do anterior, fol deiberadamente forjado, no periodo de 1820 a 1860 mais ou menos, entre alguns pensadores eeseritores, para definir a imagem ideal do homem americano, que é aqui apresentado como um individuo desatado da Histéria, despojado de ancestralidade, estreme das manchas nefastas que Ihe poderiam legar familia e raga, e onde uma geragio afeita A leitura da Biblia via facilmente a encarnagio do primeiro homem, de ‘Ado, antes do Pecado. Ou melhor, dado quea verdadeira historia {intelectual ha de ser de preferéneta dialogica ou dramética, isto 6, trataré menos das idéias dominantes do que dos confltos e ccontrastes de idéias que prevaleceram em certa época e certo ‘pas, recorre a um sistema bipartidario imaginado por Emerson ‘ aponta entio para o partido do futuro contra o partido do passado, ou ainda para o partido da esperanga contra o da me- ‘dria. Lewis distingue ainda um tereeiro partido, o da ironia, que se caracterizaria tanto pelo senso, negado aos “esperango- s0s”, das trgieas decepgbes a que se pode expor a inoetneta, quanto pela capacidade, inacesstvel esta aos “nostilgioos", de um agudo discernimento, que s6 0 malogro © a dor podem propiciar. ‘Assim como 0 tema do Jardim do Mundo, expressio do ruralismo pioneiro, teve seu grande campo de agao através dos Alleghanies e do vale do Mississippi, nos prados e serranias do este até as belradas do Pacifico, o motivo adamico ficou confinado & costa atlantica em geral, ¢ em particular a Nova Inglaterra. Tiveram vida breve ambos os mitos. Se o Jardim do Mundo se havia dissipado quando os apitos das primeiras Tocomotivas jé se ouviam em seus velhos dominios, 0 Adio americano tinha morrido quando comegavam a troar os canhées da guerra civil, de sorte que a gloria edéniea sucedia a luta fratricida, num duro apelo a realidade, ‘866 certo, porém, que o mundo de hoje se mostea menos. Ihospitaleiro do que o de hi cem anos e mais ao motivo adamico, tanto que, segundo o exegeta dessa mitologia, o que agora temos no lugar do Adao americano 6 0 Laocoonte americano, no falta ‘quem ainda se esforce por protongar-the a vida. Um bom exemplo dosso esforgo esta em um livro de Leslie A. Fiedler’, onde se procura associar, por exemplo, o momentineo bom sucesso do miacarthismo, com todo o seu séquito inquisitorial, que punha na linha de fogo as universidades © o pensamento livre e progressista, a um tardio reeonhecimento, exacerbado até os extremos da estupidez, dos perigos a que se pode expor a Ingenuidade da inocéncia adamica diante da malfcia comunista 0 remédio que propugna o autor, quando advoga, em vez do mito tradicional, 0 de outro Adto mals maduro, Adio de apés a ‘queda, parece tim eco daquele partido da ironia descoberto pelo professor Lewis ede seu mais veemente porta-voz, que fo Henry James Senior, quando registrou como o mais assinatado servigo {que prestou Eva ao nosso primeiro pal, o de o arrastar para fora do Bden, Spee EEE EEE ‘Bainda seria possivel nserever nesta resenha certa versio, sobretudo europtia, do motivo do Adio americano, versio no Taro negativa e que pode assumir, neste caso, © papel de ‘ontrapartida irdnica do mito. Onde mais nitidamente pode ela ‘exprimir-se fi no dito atribuido a Walter Rathenau' de que “a ‘América nao tem alma” ¢ nem a mereceu ter, por isto que no Cconsentira até enti, isto, até 1920, em “mergulhar nos abismos do sofrimento e do pecado”, ‘Mas esses modernos mitos, ou antes, essas variantes ‘modernas de um mito arcaieo, no podem interessar aqui sendo ‘de modo subsidiério. Em sua forma tradicional, que alimentou ‘a nogto do Paraiso entre os tedlogos da Idade Média © que na tra dos grandes descobrimentos maritimos pareceu materializar- fe muitas vezes neste ou naquele lugar do Novo Mundo, ela 0 tem ocupado menos a atengdo de varios estudiosos norte famericanos, sobretudo nos ultimos tempos. Resulta de seus trabalhos que aquela nogio esteve to presente na imaginagio ddos fundadores da América Inglesa como o estivera na de muitos, ‘conquistadores ibérioos neste continente. Havia contudo uma diferenga sensivel entre os dois casos, se so boas as razdes ofe- reoidas em obra altamente sugestiva e apoiada em notavel terudigio que devotou recentemente ao assunto 0 Doutor George H. Williams, professor de Historia Eclesiéstiea na Universidade de Harvard” Reportando-se expressamente ao presente livro que ‘presenta, a seu ver, a demanda do Paraiso entre descobridores, ‘ur conquistadores latinos, e acentuando o papel, nesse sentido, dos sacerdotes catélicos que acompanhavam aqueles homens, nota o autor como vinham eles animados pela crenga em um Ben que generosamente se oferecia, e estava “sé 2 espera de ser ganho” (merely eaiting co be gained), tanto que jf Colombo anuneiara 20 seu soberano que o tinha achado quase com certeza. Bm contraste com eles, os peresrinos puritanos, e depois 05 ploneiros do Oeste, vio busear nas novas terras um abrigo para a Igreja verdadeira e persegulda, e uma “selva e deserto”, nna acepgao dada a estas palavras pelas santas eserituras, que através de uma subjugagio espiritual e moral, mais ainda do ‘que pela conquista fsiea, se ha de converter no Eden ou Jardim do Senhor. Assim, diversamente do que acontecera com o papista Gristévao Colombo, o ealvinista Cotton Mather, de Boston, 1a nova plantagao de templos, que se vai fazendo na “selva e x deserto” (wilderness: a palavra tem em inglés esse duplo significado), o equivalente de um hortofechado (Canticos, 4,12), de “um Paraiso, como se fora o jardim do Eden’. Segundo 0 Professor Williams, o fato de os seerarios calvinistas, quando no primitivo deserto ou selva plantaram seu jardim, e odos eatslicos ‘espanhdise portugueses, quando se viram atraidos pelo Eldorado fem seu paraiso terreno, serem homens que deixaram o Velho Mundo movidos por sentimentos profindamente diversos, hhaveria de os levar&formulagao de padres de vida tio apartados uns dos outros que os efeitos destes marcam até hoje os ‘comportamentos contrastantes de seus netos neste continent Guida que, mesmo em suas versoes secularizadas, essas duas senhas, que sio, respectivamente,a do motivo edénico na explo- ragio da América do Sule a do “deserto e selva" na colontzagao dda América Inglesa pelos puritanos, sio singularmente aptas a abrir caminho para o entendimento de virios aspectos das ‘ivilizagbes latina eanglo-saxdnica no Novo Mundo. Tals aspectos, ficariam de todo vedados a nossa compreensio se nos valéssemos s6 dessas chaves mais toscas e desgastadas que poderia fornecer eventualmente a distingio entre catélicos e reformados, de um ‘modo geral "A decisiva importincia histGriea de que se reveste a imagem do Paraiso Terrestre para bem se eonhecer a cultura americana e, no eas0, especialmente a dos EUA, 6 assunto de ‘outra obra, a do Professor Charles L. Sanford, j citada nestas paginas, e que se imprimiu quase simultaneamente com a do Doutor Williams. Tamanho 6, no seu entender, 0 valor do mito ‘edénico, que chega a parecer Ihe “a mais poderosa e ampla forg ‘organizadora na cultura americana’, Fazendo um exame das diferentes modalidades asi ‘midas pelo tema desde Santo Agostinho e o pseudo-Lactancio, até o Renascimento ¢ a Reforma, sem esquecer, de passagem, as doutrinas milenaristas ou quilisticas, que deslocam o Paraiso para um futuzo mais ou menos distante, detém-se no papel que ele poderia exercer na ocupagaio da América do Norte pelos. anglo-saxdes. A lembranga do Paraiso perdido, do “ou na terra”, 6 constante entre os colonos puritanos, ¢ para alguns dos seus porta-vozes, como Roger Williams, a plantagio das novas colénias copia o ato da Criagao: aqueles homens, ao fabricarem ‘grejas e a0 algarem eruzes, langam com isso as sementes da posterioridade de um Adio novo no solo rico ¢ virgem do Eden recobrado.O quadro nao difere muito, aqui, doque encontramos _— en Wilderness and Paradise, embora se siba agora también mre ft nos primetros tempos a colonos que Inaginam ver © ved materiaimente presente no melo da selva selvagem, sem erarenaftura transforma: un hi quo, para excindalo Geenouivels de Plymouth, se presenta como despeo proprio {e*auno ¢ Bva antes do pecado. Bem mats parao sul da Nova Inglaterra, em lugares onde o clima e a devogio nfo tém os ineamon rigors, comega a ganhar transit fila ideia do orto Ae delclan que se oerece com tds as gas, em por malor Ssforgo da parte dos iis 1d a partir da Virginia, onde John Smith encontrou Eva na tibo de Powhatan, parecem sueeder Sin pauna as deslumbradoras palsagens: Nao nos devem Shgnnar’ é cart, muttas dessas dscrigbes inflamadas, que frie cosobrir ov apettes demecado proanos de algum expec IMdor de eras ou engajadordebragos.Aos ims pode apliar- for com multo mals propredade'e em sentido Mera, 0 que ‘Soreveu mei fguradamente Capistrano de Abreu sobre o nosso Gandavo, a saber que sous vrs slo uma propegands do tm rage” Contudo o smple favo de servir para enlear despreve- iden fcnto sugeve uma persistente vitalidade dos motivos tdenicos? 0 iden do Professor Sanford que quer ser antes de tudo tum mito inkimico, nose detém entretanto essas deserigbes tals ou menos devotas. Nessa concepelo, o tema do Parfso Terreal representou em diferentes épocas um modo de Inerpretarse-alistria um cfeeo da Wisin eu fator da Hlstra: Soo descobrimento do Novo Mundo foi o sucesso que tas claramente seria para despojio do conte puramente feligoso, a verdade € que, secularizando-se, contmuaria esse Initos marear com forgaa vida americana, Aregeneragio moral bassou a sera miss coetiva que se impos to pove dos BUA, fede quo eous antepasoados identiicaram a nova terra com & den restaurado, Embora otando conscientemente,naprtica, por uma pos de meloerao entre o primitvitio da “fon: {elm move” © os requintes da cvilizago europe ‘formar um concito de nacaeas predominantementeslvtico ¢ rural, nfo delzaram os nortvamerianos de assoclar 0 po- fresso material alevagio moral, Isohes permit fe som malores atts ou rtficios a toda a complexidade da ‘lvlzag industrial, Conclundo, obser o autor que ua ver realzadas, na aparencia, as impleagbes revoluciondrias do sono ‘énioo,almager do Farafso se tornou um simbolo narisista do retraimento conservador. Assediados por novas afligbes € an- sledades, passam os americanosa suspeitar que foram despojados do Para 'Nio entra no meu propésito discutir a validez das razbes, do Professor Sanford © nem de especulagdes tals como as de futeo autor’, que eneontra na América Anglo-saxOnica nto um, mais dois mitos edénicos, que se teriam sobreposto com freqdéneia a ponto de se fundirem e de se unificarem —o do um parafso perdido sem remissio e o de um paraiso recuperado -, de sorte que, se importa distinguir aquela dualidade ou am- bighidade, nao 6 menos necessirio reconhecer esta unidade. Tals, ‘estudos serve, em todo easo, para mostrar oerescente interesse {que 0 tena vem suseitando entre estudiosos norte-americanos. Esse interesse € atestado ainda pela publicagio hi pouco, em Inglés, de obras como a do historiador Henri Baudet, professor de Historia Social e Eeondmiea na Universidade de Groningen, que, traduzida do original holandes, primeiramente impresso em 1059, trata das reagies provocadas na mentalidade européia, a0 longo dos séeulos, pelos contacos com populagses das terras novamente achadas ou exploradas, e onde a imagem do Eden, ‘ocupa lugar eminence’. E também de livros como o do Professor ‘A. Bartlett Giamatti, de Princeton, sobre o Paraiso Terrestre na pica do Renascimento", 0 qual, embora estudando o mito num contexto diverso e estritamente relacionado com a histéria Iiterdria, nfo deixa de aludir, embora passagelramente, a enfase que o deseobrimento da América pode dar A procurs de uma condigio de perdida hem-aventuranga e inocéncia". Esse interesse pode ser referido em parte, no caso dos EUA, & nogio ‘de que os valores dominantes na civlizagio americana so como uuma dédioa da Historia, isto 6, de que os primeiros colonos, 0s founding fathers, equiparam 0 pais, desde o naseedouro, com ‘uma teoria politiea completa e adequada a todas as suas nnocessidades futuras” Embora sem se reportar expressamente a essa inter pretaglo, é de razdes & primeira vista semelhantes que um estudioso de historia das religies deduz a preocupagao recente entre amerieanos, e no s6 os do EUA, como os da América Latina, por aquele Paraiso Terreal que seus antepassados, atravessando 0 Oceano, vieram achar neste Novo Mundo”. Tal interesse andaria associado, para Mircea Eliade, ao desejo, entre Iinteleotuais deste hemisfério, de voltar atras, de encontrar a Ihist6ria primordial dos seus paises. Denotaria também uma _ vontade de comegar de novo, uma nostilgica ambigao de reviver {a beatitude e exaltagao criadora das origens, em suma como uma ‘saudade do Eden, Tudo isso trairia oempenho de recobrarem os, fundamentos religiosos dos paises situados nesta banda do ‘oveano, Mas o significado de tl fenémeno ainda Ihe parece mais, ‘complexo. Seria possivel igualmente discernir nele a aspiragio ‘de um renovamento de antigos valores eestruturas, a expectativa, de uma radical renovatio, assim como ¢ licito interpretar a maioria das experiénoias recentes no campo das artes distinguindo nelas nfo s6 0 intento de ver destrutdos todos os ‘meios de expresso gastos pelo tempo ea usura, mas. esperanga também de retornar ab initio a atividade artstica, ‘Seja qual for o real valor da explicagio aqui oferecida para o empenho moderno de autores amerieanos no sentido de ‘uma recuperagio da hist6rla primordial, 6 fora de divida que cela pode prestarse a equivocos quando acena vivamente para ‘aquela ambigio nostalgiea de viver de novo as pr6prias origens, Estou longe de erer que as tentativas de captar, instalando-a no ‘campo da histéria das mentalidades, comada a palavra no sentido ‘mais amplo (endo apenas no sentido de histéria das idéias cons- ‘lentemente adotadas), uma representagao ideal, “espontanca” ou refletida, que tio sedutora pareven 10s primeiros exploradores deste continente, devam equivaler a ambigio de recuperar um ppassado perdido. Nem acho que mostrar a forga de contagio que feve naqueles comegos 2 imagem edénica, ou até procurar ver ‘como tal imagem, embora fazendo-se mais rala ou tomsndo formas novas com 0 correr do tempo, signifique necessariamente ‘enunciar a uma hicida inteligéncia das coisas idas para sogobrar ‘no impreciso ou no irracional. Ou, ainda menos, para eeder & magia ancestral do mito e querer ressusciti-lo, como se dessa {forma nos fosse ainda possivel fazer milagre. Esta espécie de taumaturgia nto pertence, em verdade, 420 oficio do historiador, assim como nio Ihe pertence o querer cerigiraltares para o eulto do Passado, desse passado posto no singular, que € palavra santa, mas oea. Se houvesse necessidade de forgar algum simile, eu oporia aqui a figura do taumaturgo a do exoreista. Nao sem pedantismo, mas com um bom grdo de verdade, diriaefetivamente que uma das missbes do istoriador, desde que se interesse nas colsas do seu tempo - mas em caso ‘contririo ainda se pode chamar historiador? -, eonsiste em procurar afugentar do presente 2s deménios da Hist6ria, Quer {sto dizer, em outras palavras, que a hcida inteligéneia das coisas eee idas ensina que nto podemos voltar atras © nem ha como pretender ir busear no passado o bom remédio para as misérias, {do momento que corre. (0 resultado mais fecundo do exame que se tentou aqui de algumas pesquisas ultimamente realizadas acerca do quadro Ideal que do Novo Mundo forjaram os europeus ~ ou melhor, teastelhanos e portugueses de tim Indo, do outro anglo-saxdes, Shhaera dos grandes descobrimentos esta em que, obedecendo fferalmente a um paradigma comum fornecido pelos motivos tedénicos, esse quado admitia, no entanto, duas variantes con~ Sideraveis que, segundo todas as aparéneias, se projetariam no ulterior desenvolvimento dos povos deste hemisfério. Assim, Se 0s primeiros colonos da América Inglesa vinham movidos, pelo aft de construir, vencendo o rigor do deserto e selva, uma Comunidade abengoada, isenta das opressbes religiosas civis, por eles padecidas em sua terra de origem, ¢ onde enfim se realizaria o puro ideal evangélico, os da América Latina se deixavam atrair pela esperanga de achar em suas conquistas ‘um paraiso feito de riqueza mundanal e beatitude celeste, que ‘cles se ofereceria sem reclamar labor maior, mas sim como tum dom gratuito, Nao hd, neste wltimo caso, contradigio neses- séria entre o gosto da pectinia © a devogto crista. Um e outra, ‘em verdade, se irmanam frequentemente e se confundem: jt Cris- tévao Colombo exprimira isto a0 dizer que com 0 ouro tudo se pode fazer neste mundo, ¢ ainda se mandam almas ao Géu, ‘As duas variantes podiam admitir, por sua vez, gradagdes indo menos signifleativas de intensidade, pelas conseqiéncias ‘que delas resultassem, J4 se viu aqui como ao sul da Nova tn~ ‘loterra tendiam a esbater-se, mesmo na América Anglo-sax6r fs imagens que nesse particular pode sugerir o fervor ealvinista, ‘40s colomos da bata de Massachusetts. Outro tanto parece acorrer ino caso da eolonizagio ibériea, onde a mitologia da conquista, {que tio vivaz se manifestava nas Indias de Castel, passava a descolorirse e definhar, uma ver introduzida na Amériea Por- tuuguesa: o fendmeno que neste livro recabe onome de “atenuagio plausivel”. Dele se trata expressamente no capfeulo VI, embora, fs possiveis razdes histérioas das atenuagées também sejam, ddesenvolvidas om outras partes desta obra, Mostra-se nas suas paginas como os grandes mitos da conquista ibériea foram, com uma tinica excegio, de lavra ‘castelharia, ¢ como entre portugueses costumavam perder cles ‘0 vigo origindrio, despindo-se de muitas das suas frondosidades xv _ frreas ou inverossimelse fazendo-se relatvamente acessve tu plavsivels para imaginagdestimoratas. Compreende-se, clas ‘emus razOeo, como o nico mito que, por excegio, se sabe ter omepado aanharerédito entre portugueses, edestes se passou paras castethanos, ode Sum, o So Tome amerieano,notavel mento se enriqueteue ganhou novas cores ao entrar no Parag «depois no Per, conforme se procura mostrar no Capitulo. ‘Quando acima ve mencionaram razOeshistricas que ccasionariam a atenagdexplasives, no se qu sso0i4as flguma supostaelintvel Caracterfticn Gnion 2m Vago “espfrito nacional” dos portugueses, que os definisse, em particular, conta os castlhanos Entende'se,st0shm,qUe esas Extemuagdcs" ede modo mas ampo, toda a mitologia da con quista, se prendom sobretudo a contingencias histricas onde, Sm tltima andlise, vo doitar runes, © que cosas sontingoncas podem varia nfo 8 no tempo, mas também no espago.Mlesmo {sim, nto caberia neste caso dar desenvolvimento exaustivo ao tntudo de tas razOes,o que resularin em longar muito al do folerdvel as dimensoes da obra. "No protende esta ser uma historia “total: ainda que fazendo cairo acento sobre as idas ou mits, no fica excita, entretanto, uma consideragio, ao menios implicta, de seu ‘complemento ou suporte "materia", daguilo em stmt que, na linguagem marsista, se poderiachamar# infra-esttura, Mas até meso entre os tedricos marxistas vem sendo de hd tuto denuncado otratamento primarioe simplifieador das relagaes fentre base e superestrutira, qc consist em apresentlas sob ‘forma de uma infiuéneia lateral, climinadas, assim, qua quer possibilidades de agao reciprocs, Ao lao da interagao da base material eda estrturaweoliten, como decorréncia dla, nao falta quem aponte para a circunstancia de ue, sendo as {elas frato dos modos de proto corridos em daterminada Sociedade, bom podem deslocarse para outras reas onde mio Preexistam condigdes perfeltamente ilentieas,« entao thes Suvederd anteciparem nels, estimuarem, os processos mate- Fialsde mudanga social Ors, asim como ess dias se mover ro espago, hale acontecer que tambem viajem no tempo, Ponta ale docs apr, paando ater Sobre condigtes diferentes que venltam a encontrar 0 lon do caminho, :: e oe © toma dest lio 6 a bngralia de wma dessas imigratéras, tal como se desenvol dei partir das origens religio- sas ou miticas (Capitulos Vite Vil), atévirimplantar-sono expago Iatino-americano, mormente no Brasil. Para iso fot de grande serventiaotecurvo Topica, no sentido que adqurin esse con- eit, tomado a velharetGrea, desde as modemas e fecundas Pesquisas iloligeas de B:R. Gurus", onde, conservando-seeo- mo principio heurstico, phe transcend aos poucos o eunho sistemticoe poramente normative que outroraa dstngula, para fertizar, por sua ver, 08 estudos propriamente hist6ricos {Entre os copot insepardvers das descrgBes medievals do Eden, oriundos em geral da elaboragio que receberam de Lactincio ou de quem fosse 0 autor do poema latino Phoenix, redigido em fins do IIT ou comego do 1V século de nossa era, destaque-se, para citar um exemplo, o da perene primavera ¢ tnvarivel remperanga do ar, que prevaleceria naquele horto sagrado. Sob a forma que dizentos anos depois de Lactanelo the dara Santo Isidoro de Sevlha~ ado non ti figus non aestus aravessa a imagem toda a Tdade Média e chega a aleangar 0: {empos modernos.f de notat como, até mesmo a ordem em que na versio do autor das Btimologias sto dispostas as referéncias temperatura, ou seja,o non jrigus primeito, depois onon aes: tus, mantém-se durante todo esse tempo com potieas excesses, Entre os inumerives textos que me fol dado consular e wtilizar ‘esse proptisito, 6 encontrel a ordem contrria “calor” antes de “rio” ~ em uma das milipas verses das peregrinagdes de 8. Brando, contida num texto anglo-normando, no Dittamondo de Fazio degl Uber, nos Milagres de Berceo, numa trova inacabada de Dom Joio Manic neto deb-rei Dom Duarte de Portugal ¢ eamareiro-mor de Dom Manuel, 0 Venturoso, final- mente numa poesia de Ronsard, fem pleno séeulo XV1. Entre os textos de navegantes ou cronistas que registraram o mesmo esquema em terras americanas, @ mals antigo & a relagdo que deu Cristovio Colombo de sua primeira viagem, em que 0 des- alm do ferro fie Santo Amaro, Kem exploragio, «ode Biragoaba, que € Tefio mais larga ¢ abastadn,e também do muito agodio, da tnita madeira, de oteon muifos aches, cudo, enfin, into {preciso para nea fazerse "um grande reno a Sua Maestade” ‘A lado das, false também no grande meneloe sto com o Peru ona preseiga de “mais de 300 hontens portuguese, ora fous indioeexoravos, que stao mas de 1 500, gente usada 0 trabalho do serto, que com bom eaiho passa ao Pers por tera, etsto nto faba” Sabre a distinc ene otra attntieo eos Andes sto rultas veresmprocisas edncords as otoas da poet, ese Sibe como a ila de que ot famotostexouos peruance ram wulnerives do lado do Brasil, chegora'a preoeupar a propria or de Cnt ao das om gue tendo porte we foberanos préprios,maioressevam as cxosas de emlagto © dissdio entre os dls eins Mas tarde iro renovarse ns mess inguictagdes, mas dessa vor os aressores provivels passat a feos holandeses instolados em Pernambuco, Num dos" suena” de Quevedo, esrito por volta de 1636, aparecems aqucles “rebel ‘lesa Deus na feo 0 seu rela vasslagem senhores das partes do Brasil que formam como a garganta das duas {ndias, ja prestes ‘dovorarem a de Castel: Quanto efadassem de tanto nave. fn, quem dria que nfo dselasem paras Rio da rata Bue- tos Aires onde poderiam chefar passo a passoe sem molhar os és, apenas mordendo ae cosias como carangusjos? Bo 66 Durham em isco Buenos Alres, como i dav Lima es Potes, por asim alirmar a geogtafa fe a geograliqest lone de ser tao exp cular, ee hoje nos pode parcotr mals razdvelo que disse outro personagem do mermo eserito de Quevedo, isto, que "con Brailes se desangra Holanda que ersce”™, nose podem considerardescabids as revises do primeio, Foi, com feito, dos estabclecimentos holandeses do nordeste do Brasil que, emt 1642, 0 Conde odo Maurflo projetou a congusta de Hucnos ta neste part Aires, com o fito expresso de abrir eaminho, pelo Prata, as minas de Potosi. E se, tendo iniclado os preparativos nesse sentido, iio levou adiante 0 plano, deve-se isso a0 ter sido forgado a edigo, destinada as provin astelhanas do Pacifico, de modo que, por pouco, no firmar ne no sul do Chile {40 foi essa, aliés, a nica oeasito em que se cogitou de fazer do Brasil um ponto de partida para a eaptura dos estabele cimentos espanhis do Pacifico. Quando Filipe Il, eoroado ret de Portugal, pode assim reunir, sob o mesmo cetro, as Indias Ovidentals as Orientais, ransformando-se em um *perigo para todos os prineipes da Europa”, 0 engenhoso plano que 0 mais jovem dos dots Richard Hakluyts organizou, no intento de ver batido o "soberbo espanhol”, para a captura no s6 dos preciosos metais perwanos como do Estreito de Magalies, Chave do “mar del Sur” e das opalentas minas de Castela, era eondicionado ao estabelecimento na costa do Brasil de w base de operagies e abastecimento daquelas conquistas. Esse trampolim brasileiro no figarin em Recife, como 0 de Nass ficaria em Sao Vicente, ‘Acscella¢ ustiticada em documento hoje impresso entre os papéis do mesmo Hakliyt e de seu primo homOnimo, dois, frandes campedes quinhentistas da expansio colonial britaniea, pela failidade com que se poderia tomar e ocupar aitha indefes le Sio Vieente, pela abastanga em viveres de toda espécie quie ali se achavam ¢, finalmente, pela sta posiglo estratégica em ‘elagio is projetadas conquistas, Das vitualhas existentes na mes maha e adjacéneias chega a eserever que dariam para osustento de infindas multiddes: “infinite multcudes of people”. E reporta ‘se aqui ao testemunho de marinheiros ingleses que se tinham abastecido tidade de boi falinhas, eidras, limes, laranjas™. Tgnora-se qual fosse a reagio oficial da Coron inglesa aos panos e sugestdes de Richard Halsluyt, que algum tempo depois bhinda se propde entrar em eontato com o pretendente portugues Dom Antonio para tratar desse on de assunto correlate, B de ‘qualquer modo signifieativo, ¢ 0 fato nao deixa de ser apontado pelo onganizador da edigio de seus escritos, 0 interesse sibito Que Santos © Sto Vicente passam a despertar entao entre imereadores, navegantes e piratas ingleses, alguns deles pes soalmente relacionados com Hakluyt". Para este, porém, o plano de ocupagio de terras portuguesas e castelhanas na América do Sul ird perder rapidamente seus atrativos, E entre as causas dt ‘mudanga entra, segundo pareee, uma longa conversa que (eve tem 1582 com 0 entio embaixador de Portugal em Londres, ‘Antonio de Castilho. E esse diplomata, dotado do “singular eirounspecy? autoridade ¢ experiénela”, nas proprins palavras de Hakluyt, ‘quem trata de desviar sua atengio da ha de Sao Vicente para a costa ao norte da Florida, até entdo inexplicavelmente desocupa da, Entre outras coisas dissera-ho o “douto e excelente homem’ ‘que, se fosse mogo como ele (Hlakuyt ainda estava para completar ttinta anos de dade), nao hesicaria em vender os proprios bens, “era de grariles posses ~ para manudar equipar alguns navios © ir inieiar nto 86 a colonizagdo daquelas terras tio esquecidas, ‘eomo a conversa dos seus gentios®. Tio forte & a impressio prochizida por essa palestra que mais tarde, a0 defender seu novo plano de colonizagao da América do Norte, e mesmo noDiscourse of Western Planting, redigido em 1584 ' instdncias de Walter Ralleigh, o jovem Hakluyt ha de evoear algumas vezes © nome de Castiho e suas palavras estimulantes. {A propésito do plano que a principio defendera, eabe rnotar que a ha de Sto Vieente, com os seus eontornos, parecer: Figurar apenas como escala de abastecimento das frotas que se dirigissem ao estreito e a0 Pers. Entretanto, a idéia de que tam- ‘bem se poderia entear terra adentro por aquele porto até as eobi- ‘gadas eordilheiras eldentais nio seria de todo estranha 3 propos- {a de oeupagao de sitio tao estrategicamente colocado. Sabe-se, com efeito, que um dos informances de Hakluyt sobre as vantagens que podia oferecer a Ilha de Sao Vieente & 0 mesmo Thomas Grigss, que, tendo vigjado anteriormente no Minion, aludira, segundo aqui mesmo ja fol notado, & pouca distineia, "doze dias apenas”, por terra ou égua™ entre avila de Santos e certas partes do Peru. Que nto deveria parecer muito extraordindria essa idéia indicam-no of receios surgidos na ‘mesma época, Isto ¢, em 1582, no Rio de Janeiro, de que se desgarrassem ¢ fugissem para o Peru os oitenta soldados deixados fem Sto Vicente para defesa do porto pelo contador Andres de Equino, da armada de Diego Florez Valdez" ‘Mesmoa quem nao partithasse de ust semelhantes sobre pretensafaciliade de acesso a0 Peru entrando pelo caminho de ‘Sto Vicente, pareceria claro, ainda nos primeiros anos do século soguinte, © mais tarde, que, de todas as do Brasil, era aquela a ccapitania de melhor passagem para as miteas serras, de onde, segundo numerosos testemunhos, continuamente se despejavam rfabulosas no go que ia alimentar o Sto Francisco outros Flos: B seo man sucesso de tantas buseas sucessivas pareciasuagerit fque, a0 menos na Amérien Portuguesa, se nlo verificava a ancign rea de que os tesouros nat ‘wvolumam & medida ‘gue se vai de oeste para leste, impunha-se a suspeita de que essa mninas estariam, ao contrario, nas vizinhangas dos higares onde fora Targamente comprovada sua existéncla: em outras palavras, pa 1s bandas do poente junto is raias do Peru Tiéia ‘simplista, sem david; por Isso mais apta a logo fazer prosélitos. A prova de que nio se apartaria muito realidade esté em que, passado mais de um séeulo, se deseo! justamente naquele namo, as grandes aluvidesauriferas de Cuiabs fe Mato Grosso, das mais avultadas que registra a histéria das ‘minas do Brasil Contudo, ao tempo de Dom Francisco de Sousa, tamanho cerao prestigio de Potosi que em pouco a velha atragao do ouro parece suceder faciimente a da prata. Reino midgico, de todos os esplendores, erao Peru; verdadeiramente, aquela terre argentea, fque 0s primeiros mapas quinhentistas situavam mais para o sul, stendendo-o, por vezes, quase até olitoralatntico, Tao intenso feteimoso hide ser entre portugueses do Brasil e do Reino esse prestigio da prata, que ha de sobreviver longamente, com o das fesmeraldas, outro feitigo peruano, a0 proprio malogro e so fim melanedlico do Senhor de Beringel. A grande paixto de Dom Francisco serd, com efeito, nos deeénios seguintes, ade todos os Animos aventurosos entre nés,e est origem de pesqitisas que fe fario a partir dos mais variados lugares, de Sio Paulo como do Espirito Santo, ou ainda de Sergipe del-Ret e do Gi Sequer os resultados desalentadores que dario, de imediato, as texploragdes de Feenio Dias Pais com sua famosa entrada, t8m forga bastante para extingu-la B o certo 6 que, n40 $6 no Brasil ou entre portugueses, a constante imagem das Indias de Castela e de seus invejaveis tesouros subjugard as fantasias mais eobigosas. Até aa América Inglesa, onde a proximidade da Nova Espanha tende a suscitar amibigdes em tudo semelhantes, haverd pelas mesmas épocas ‘quem se deixe empolgar pelo fasoinio das grandes minas de prata fedas montanhas refulgentes. “Assim € que, em 1613, se chega a anunciar entre os povoadores da Virginia o descobrimento, no interior da coldni into s6 de uma rocha de cristal, que utilizavam os fndios para fazer pontas de lochas, mas também, aredada desta quasetrés dias de viagem, de uma verdadelra colina ow montanka de prata ddeboa mina, perfeitae muito rica. Endo fieavam nisso as rquezas ‘supostas ou genunas do lugar Quem se aundasse mals ste dias além da dita montanha achatia, a beira de uma lagon ox mar, de due falavam os indios, certs terrasvermelhas com uns lampejos, Sinal ‘mais do que provavel” de iquezas de toda sorte. posto ‘que as autoridades inglesas tivessem conhecimento delas, no thes parecera convenicnte e nem 20 menos possivel explori-las logo, devido a falta de pessoal e a necesidade de mantimentes, aque e outro modo iiam falar, jé que todos desdenhariam pela ‘das minas a sta lava ‘Da miontanha de pata, no entanto, que estava muito mais mio, tiraram-s amostrs, eno sem grande trabalho, visto como 28 du tinteas picaretas de fero de que dispunha a fente © que ‘guns ublizaram nao resstiram a dureza da ocha, € assim 10 pderam cavoucar tanto com o desejavam. De qualquer forma, 0 {ame eto na powea pra retiradapareceu compensa to grande esforgo com bons resultados e melhores esperangas para o& colonies, Tal como no Brasil, também na América do Norte ~e [Por quanto tempo? ~ as conclusbes dos ensaiadores no seriam menos oumistas do que a fiileredulidade dos descobridores. ‘Abusea da prat,suseitada pel feliz €xito dos castelha- nos, representos, pos, im fendmend continental, nfo tanto uma especialidade lnso-brasileira, Pode mesmo dizeese que, entre 16s, a miragem do Sabarabupu argentifer ea da Serea das Esme- ald, mitos mats ou menos sipagos, em que aos poucos se ‘inham tansfigurado, segundo o modelo provindo das cordthel- as do oeste, as antigas montanhas resplandecentes do gentio, sustentaramse e em alguns casos reerudesceram, mesmo apds 4s primeira egenerosascolheitas de ouro nas Gerais. Tio fundasraes tina dltado em todas as almas o habi- to de se estimarem os tesouros que a terra dé de st segundo a forma substaneiaassumidas por cles nas fndias de Castela que difeimente se veria nos do Brasil outra coisa mais do que im prolongamento e dependéncia desses, O que safam a buscar em hossos sertOes tanta expedigbes custosamente organizadas no fra tanto 0 ouro como a prata. Enem eran diamantes, sno ‘eames. Bm ontea palavras:o que no Braall se queria neon tear era 0 Peru, nao era 0 Bras ‘Avelhaterenga de que mats dadivosa se mostrara a provi dencia de Deus aos eastelhanos do que a0s usitanos, 0 estes =n egando o que aos outros, nas suas {ndias, proporeionara de Sobejo, multos, entre os portugueses, deviam admiti-la em segre ddo, mesmo que a nio proclamassem de bom grado. E como era, possivel negar intimantente o que entrava pelos ollios de todos? ‘Iiao primeiro contato das novas terras descobertas tiveram 08 inavegantes de Castela a clara revelagio de um mundo de millagres € portentos, em que no menos ‘uma desmesurada ccobiga do que tima piedade intransigente e zelosa. Mas 0 que rnaguiele primeiro momento podia parecer desvario on faba, 0 {empo, # sex modo, se ineumbira de transformar em realidade tangivel: magnsfica realidade, e quase sobrenatural, pois assim deveriam parecer aqueles in tavam tantos e tantos galedes € numnea se esgor segundo ji 0 protetizara Colombo, cconguistadores como a devogio dos prineipes, armando a estes ‘tims para alta contra o infil e o herete. ‘Ao lado daqueles reinos de magia, o Brasil portugues, tio parca, aparentemente, cm minas ¢ especiarins preciosas, oferece um contraste humilhante. O eseasso préstimo das suas terras, antes serio por Vespicio e quase pelo escrivio Cami ‘a, jd transparece, por exemplo, das inserigdes do mapa-mindi se diz da Nova Espana, que tem {de Ouro, que tirou seu nome do abundant ‘que rela se eria; da Pers, ainda antes da conquista, prata e ouro do Rio de Solis, que, segundo se ere, “ay oro y placa en la tierra adentro’ tanto, aquela erra dos bacalhaws", onde "hasta aora no se anallado cosa d provecho, mas de la pescaria de bacallaos q son de pocs estima’ ‘Ou ainda a “tierra de los patagones”, que estéril e de nenhum, proveito, traz em si, talvez, alguma promessa de milagre, na Aparéncia insélita dle seus moradores: homens de grandes compos, quase de gigantes. “legendla correspondente a “tierra de Gary” eonsta que “no se espera allar oro como en la nueva espatia por estar ya ‘muy desuiada del tropica”. Mas quanto “tiera del brasil de situiada no trépico, onde, por necessi fouro, segundo antigas nogds pperemptdria: “Aqui no se alla otra cosa de prouechio mas del brasil, que no les costa mas que haverlo cortar ¢ traerlo a la nnaos haze ls Indios por poca cosa”. A situagao permanecerii a ‘mesma durante parte do Seulo XVI e powteo mudard no seguinte. 14h quem se conforme com o irremediive, ¢ 6 0 caso do Go- vornador-Geral Dom Diogo de Meneses, Este, como se sabe, no duvidow em aceitar a bondade da terra, colorindo-a de brasil e lulcifieando-a do agiicar dos engenhios nortistas, como a querer afugentar com um tal engodo 0 sonho dos invisvels tesoutros. Nao sediri que &sem proveito esta América Lusitana, pois além do agicar, do ouro minguado dos eascalhos de Sio Paulo ou PParanagus. Atrativos que, unidos ao féeil acesso pelos seus portos, sieuados.belra do Atlantic, tgm mesmo por onde estimular, cada ‘vor mais, apetites de orasteros, No entanto, com todas essa fazen- dase como que pode render aos colonos e & Coroa, & a0 cabo uma palsagem rasteirs, sem generosas perspectivas e rutilincias, 0 que rela se oferece, ou porn ter mais para oferecer ou porsejuigarem, bem pagos, com esse pouco, os seus colonos, sempre adventicios ‘no pats, quase sempre aferradoss fraldas do mar, com um pé aqui «© outro no Reino, pois todos esperam de se ir algum dia e tudo 0 ‘que colhem é para Is ‘Assim slo esses portugueses em sua América, onde por ‘muito tempo ainda se limitarto a “arranharas costas como caray ucjos", sem se alargarem servo adentro mais de dez léguas, Seriam outros na india, tra dletae memorial de todas as mara vilhas? A resposta,e € negativa, fomece-a em 1585, de Cochim, ‘um agente comercial florentino, servindo-se de palavras que parecem uma antecipagio das que iri inspiraro Brasil, quarenta, ‘anos depois, ao nosso Fret Vicente do Salvador. Bem se apliea aos portugueses,escreve, com efeit, Filippo Sasseti,o que deles disse ‘um natural destas partes, aos quais, por nao cuidarem de entrar ‘um palmo pela terra, deu o nome de "bate praias™. ‘Ainda que fossem muitas vezes senstveis a atragio da {fantasia e do milagre, principalmente o imediato, o quotidi ‘que recebem todos 0s euidados e atengdes desses portugueses do Quinhentos. 0 trato das terras e coisas estranhas, se no luna natural aquieseénela e, por isso, uma quase indiferenga a0, que diserepa do usual, pati maginaglo, de sorte que para eles até 0 ineomum parece fazer se prontamente familiar, € 0s monstros ex6tieos logo entrar a rotina difria. Nao es@aria aqui o segredo da facilidade extrema com que se adaptam a clim s diferentes Compreende-se que até as Indias, depols da viagem de Vasco da Gama, deixem aos poucos de ser um pais de lenda. As, verdadeiras Indias, Indias do mister, da fabusla, dos intinitos tesouros, so, i agora, as oidentais, as de Castela, que orlando, cembora, a Amérle seu influxo. E © que dizem, entendidas literalmente, aquelas, palavras de wm dos fidalgos da Farsa dos Almocreves, que fizera Gil Vicente na era do Senhor de 1526, quando, entre nds, Aleixo Garcia acabava de ser sacrificado, de volea de sua jornada magnifica até os eontrafortes dos Andes: porque 0 mundo namorado he Id, senhor, outro mundo, ‘que estaa alem do Brasil Compreendese, assim, que, mesmo quando achou guarida, final em certas regides pertencentes, ou que iriam pertencer, 2 Coroa portuguesa, como acontece com a das amazonas ou a do Dourado, ¢ fora de suas lindes,“além do Brasil”, que nascem, sem, excegiio, ganham maior eréditae, por vezes, realidade, os grandes ‘mitos da conquista do Novo Mundo. & certo que muitos deles wuem ser aqui acolhidos, até entre doutos, com uma ‘oredilidade sempre disponive, que nto acha paralelo sequer entre alguns dos mais celebrados cronistas eastelhanos da époea: um (Oviedo, um Herrera, sim Gomara, prineipalmente um Acosta ‘Assim, o Padre Manuel da Nobrega,fiado, porventura, no que the dissera AntOnio Rodrigues, que aeabava de chegar do Paraguai castellano, nfo delxa de falar, numa das suas cartas, em, certa geragio de indios que estava “perto das Almazonas e tém fuerras com clas”, para logo explicar:"E slo estas Almazonas tio uerreiras, que vio a guerra contra eles, e 0s mais valentes que ppodem tomar, desses concebom. & se parem filho, dio-no a seu pal ou o matam, ese filha eriam-na e cortam-The o peito dieeto”™. (0 préprio Gabriel Soares, com todo o robusto realismo, ¢ aquele “esprit eienttion espantoso para a época” ,encontrados em seus eseritos por um moderno pesquisador”, nfo se deixou também, Fas de Sio Tomé. Do madeiro que foi dar em Chacabuco,¢ que se pretendeu origindrio do Brasil, diz mals Nicolau de Techo, {que o Padre Diogo de Torres mandou particulas, num relieério, de otto, a0 papa Clemente Ville a virios eardeais, que 0 rece beram em grande estima. ‘Ao constante socorro da Providencia Divina deveram- ‘outros imimeros sinais milagrosos que envolveram no Fert © apostolado de Sio Tomé, Entre os quals nfo seria de menor aadmiragio aquele que narrow ofrade agostiniano Alonso Ramos, fhindacdo em noticias de um fndio velho sobre certas aves Vistosas que ali acompanhavam Sao Tomé, ow o Pay Tumé, como era cchamado dos naturais, om todas as horas deaflieto. Corria que, tendo os gentios, certa ver, agoitedo e amatrado 0 santo, por Instigago do demdnio, no mesmo instante baixaram aquelas formosissimas ses © desataram. Livre assim da prisdo, esten- dou ele seu precioso manto sobre lagoa vinta, que tent oiten- ta leguas de eircuito, navegou por ela e, passando em sequida ‘um juncal, deixou no lugar uma senda que no mais desapa- rreceu, ¢ era tida em veneragio entre toda gente, Aqueles mes- ‘mos juneos ou espadanas por onde fora aberto o caminho passa ram a servir de mezinha aos enfermos, que, comendo de suas folhas, logo saravam, Podem reconhecer-se nessa histéria, onde volta a surgir ‘0 Sao Tomé engenheiro e curandeiro, uma transposieao, natural ‘mente muito mais rica, de certos aspectos que jd tinha assumido © mito brasileiro de Sumé. Na passagem pela lagoa e na senda ppor entre os juneais no haveria um desdobramento do easo de Mairapé, que o santo abriu mar adentro, para fugle, também aqui, a sanha dos gentios? A persistencia destes motivos ded se ainda das alusoes do proprio Nobrega as pisadas de Zomé {que ele fora ver na Bahia em 1549, “evi com os proprios olhos", diz, sinaladas junto de um rio. Ao que Ihe informaram, deixara ‘santo aquelas pisadas, em niimero de quatro, e bem nitidas, ‘com seus dedos, no momento em que ia fugindo dos indios, "e ‘chegando ali se The abrira 0 rio, e passara por meio dele, sem ‘se molhar, & outra parte. B dali fol para a India". Por outro Jado, no caso das vistosas e formosissimas aves que acompanha- vam o Pay Tumé no Peru caberia pensar naqueles paves que andam associados a0 mito no Oriente. Contudo,o informante {ndio de Frei Alonso precisara que, depois de sua conversio, se certificara de que eram anjos do céu. ‘Nilo duvidava Montoya que, sem embargo das persegu- ‘90es que the moveram os indi, tivesse dado algum fruto o seu postolado. A esse propdsito cta, como uum vago pressentimento da Santissima Trindade, lembranga porventura das prédicas de ‘Sto Tomé, o caso das trés estituas do Sol de Chuquilla, sign ccando, respectivamente, 0 pai e senhor Sol, ofilho Soleo irmio Sol, ott ainda 0 do adoratério de certo idolo peruano, que no dizer dos éndios, em um eram ts © em trés um, que outro cronista iustre, como ele soldado da Compania, atribui, no centanto, a alguma diabélica insidia, Porque o demdnio, esereve ‘com efeito José de Acosta, é capaz de tudo fazer para furtar quanto sirva as suas mentiras ¢ embustes, com aquela Ie porfiada soberba de quem sempre apetece ser igual 2 E adverte que, onde relere essas abusdes, mostrando © ‘exereicio em que o demnio oeupava seus devotes, 6 130-somente para que, a seu posar, se vejaa diferonga entre a luz © as trevas, eentreaverdade cristi ea mentiragentilica, por mals que tivesse procurado, com artificios, arremedar as coisas de Deus, 0 inimigo Ade Deus e dos homens” ‘Num ponto, entretanto, parece fora de discussao a missio- nirios que identificaram o Sum brasilico eo Pay Tumé peruano ao disefpulo de Jesus: na ajuda que teria ele prestado & obra da, ‘conversio do gentio.O proprio Nobrega it eserevera que, segundo tradigao dos indios, anunciars-Ihes Sa0 Tomé, ao partie para a iia, que “havia de tornara ve-los™”. Por sua vez, os mission: tos jesuftas do Paragual nao hesitaram em interpret promessa como antincio de seu proprio apostolado. Aos Mazeta ¢ Cataldino chegara mesmo certo eacique do Paranapa- rnema a dizer de Pay Zomé que falara aos seus ancepassados do dia em que toda aquela gentileza se haveria de estabelecer em. povoados, por abra de certos homens que levariam a cruz diante de so que afinal se realizou com as fundagdes de Santo Inicio Cassadino pudera averiguar Loreto. Ma tarde, mesmo pessoalmente, no Pirapd, como em {onservava bastante visa a recordag FE de supor gue essa feigdo pelo mito tvesse contibuido poderosamente pa dat impulso 8 obra mssiondia desenvolvida Delos padres dirante toda su assistnela nas terra do Paragual ©, em particular, do Guard castellano. sign propéslto otstemunho do jesuita Nicolau Durdn, em sua Ana {fe 1628, onde dt conta do estado das redugBes m nos em toda provincia Emiboraem dovumen se tivesserelerido a noticia eorrente naquas partes da vind do lorioso Sto Tome, admite que a principio Cito, e em particular # certa profecia que tera feito 0 apstolo sos iio, da aturapregagao dos padres da Companhia Con o tempo entetano, fang dso ake scabaria the todas as evkdas que ainda pudesse: ar sobre {Uo extraordinarios snoessos. De maneira alguma, diz, pode haver ‘quanto ao fato de ter sido feita aquela predigio nos i que as palavras destes sio perfeltamente em tudo, sem que se possa encontrar entre elas a menor diserepanel Referom esses indios, aerescenta, que 0 Santo Apéstolo isso aos seus antepassados, ¢ pela tradigio se comunicou o dito de paisa filhos, como em tempos vindouros deveriam chegar a suas teas uns padres, seus sucessores, a ensinatdhes a palavra, dde Deus, que j4 Aquela época Ihes era por ele anuneiada. Esses, ‘mesmos euidariam de juntar os fndios esparsos em povoagoes ‘grandes, onde viveriam em ordem e polieia erista, amando-se ‘uns aos outros ¢ tendo cada qual uma s6 mulher. Trariam eruzes ‘os novos pregadores e, por obra deles,tupis eguaranis se amariam sem diferengas de nagdes ou emulagdes, Afirmavam ainda que, ao entrar ele, Padre Duran, dols anos antes a convocé-lose redut- los, trazendo consigo uma eruz, ‘que em ver de biculo era o que ‘costumavam usar os padres naquelas terras”, logo se lembraram, ‘das mesmas profecias, dizendo entre si: "sem davida s40 os ‘padres que aos nossos avés tinha prometido 0 Santo Sume”’ Foi essa a causa principal de torem os gentios deixado ‘suas terras com to grande vontade para seguir Aqueles sacer- dotes, 0 que nao delxou de maravilhar o Padre Duran, por sor ‘muita a gente que entao levou A redugao de Sao Xavier, dividida, em tropas. E al se ficaram todos muito satiseitos, com o verem, ue se tinha cumprido o que thes afirmavam os antepassados, pois que ensinavam os missionélos, enisto concordava a sua ‘com liga do glrioso apdstolo, era que se amassem mas nagées| as outras, de sorte que iam “perdendo o bestial costume de ‘A explicagio de tio nitida lembranga, entre os fadios do Guaira, dos ensinamentos do Pay Zumé, que justificaria, por si 6, ‘prestigio do mito no Guaira e através de todo o Paragua, de onde se estenderia a0 Peru, bem pode prender-se meméria de fatos que, por sua vez, se teriam assoeiado, para reforgéla, a umaerenga, ancestral das tribos Cari. Em outras palavras, na tradigdo que ‘guardavam aqueles indios do sul de seu her6i elviizador, a lend {era ganho em consisténcia, robustez ¢ verossimilhanga, com 3 Intervengao de aeontecimentos histérloos mais ou menos recentes, que impressionaram vivamente as mesmas populagoes. Naatividade que, ja partir de 1538, ¢ até 1546, ano em que morreu, desenvolvera na ltha de Santa Catarina, no eonti- nente vizinho, no Guaird e até em Assungao, 0 Frade Bernardo, de Armenta, comissitio da Ordem de Si0 Francisco, estariam, ‘muito possivelmente, os aconteeimentos histérieos que pode ter sorvido para avivar a lenda. A alta reputagio ganha por ele entre os indigenas teria sido partilhada e talver herdada, até certo ponto, por outeo franciseano que o acompanhow ¢ The sobreviveu, Frei Alonso Lebron, o mesmo que Paseoal Fernandes Hise Iria aprisionar em 1548, levando para Sao Vicente”. A este podia corresponder, na hist6ria, o papel aribuido no mito indigena a0, “eompanheiro” de Suumé Sabe-se que Frei Bernardo percorreut, pelo menos uma ver, em toda a sta extensio, o camiinho chamado de Si0 Tomé quando acompanhou, a frente de uma centena de indios, 0 Governador Cabeza de Vacs ‘mento aqueles indios. Posto que o nfo estimasse o "adelantado" autor de sérias acusagées 20 seu comportamento, entre outras {de que, junto com Fret Alonso Lebron, guardaria encerradas em ‘casa mais de trintaindias dos doze aos vinte anos de idade”, 1 boa conta em que era geralmente havido entre eatectimenos ¢ {entios Carijé espelha-se no nome que todos Ihe atributam de Pay Zaamé, como a identificd-o com figura mitica Consta que, ao chogar a Santa Catarina, onde aceita a lo eitor real Pedro Dorantes, que se propée ir descobrir 0 10 “por donde garcia entré”, Cabeza de Vaca conseguiria realizar mais facilmente o intento de penetrar por terra até 0 Paraguai pelo fato de ojulgarem os indios filho do comissério d ‘Ordem de SA0 Francisco, ou seja, de Bernardo de Armenta, quien ellos dizen Paygumé y tienen en mucha veneracién’ ‘segundo se expressaria em carta 0 proprio Dorantes" ‘No que dirio mais tarde os uaiarenhos aos missionsrios {esuitas, no parece muito féeil separar o que pertenceria 20, franciseano, predecessor daqucles na obra de eatequese, dos atributos do personagem mitol6gico celebrado pelos seus avés \do de gerago em geragdo. Mesmo no nome ‘eentrais do continente, nao se prenderia, de algum lendaria tradigio a uma verdade histérica ott, mals precls mente, a0 fato de o ter tithado Frei Bernardo, que n (0 dos indios da terra deveria ser figura mais consideravel do ‘que o adelantadlo? ‘0 certo, por este ou outro motivo, é que © mitico Sumé assume entio no Paraguai, em particular no Guar, que se achava para todos os efeitos dentro do Paragual, proporgoes que desco: inhecera na América Lusitana, de precursor declarado e verdadet- ro profeta da catequese jesuttica. Que dizer entiio do Pay Tumé Peruano, em quem se aerisolam suas virtudes tanmatirgica dando ensei de toda uma brilhante hagiogeafia capa ‘de emparethar.se com a do apdstolo eri ‘gas através do extremo oriente? © primeiro passo para essa metamorfose do herd eivli- zador indigena fora dado, em verdade, no Brasil, devido a idemtiti- cago, sugerida pela similitude dos nomes, entre o Sumé dos nnaturais da terra e 0 Sio Tomé apéstolo dos gentios. Nao apenas ‘essa siilitude, ais, como o cantata maior do portugues do extre- mo oriente que, tanto quanto os éndios da América, cendiam freqientemente a assimilar certos petroglifos a pisadas de algum, antigo emisterioso personagem como o proprio Buda ou o disespulo {lo Cristo, deveriaa naturalmente incliné-lo a essa identifieago ontsdo, pode dizerse que se limitou quase a ela, entre ‘ngs, a colaboraglo do europeu com a tradigao indigena. Através dos depoimentos deixados pelos eronistas portugueses, nada mals, ‘se encontea no Sio Tomé amerieano que ja nio pudesse estar nas versbes correntes entre os primitivos moradores da terra Quando muito procuraria 0 adventicio utilizar 0 mito de for a atender a problemas da eatequese e Ais proprias exigénelas da 6 ou as palavras dos tedlogos mais reputados. ‘Com efeico, segundo uma opinido apoiada nas melhores sterpeetagdes dos texts sgrados, devia estar ora de divida _ ais ou menos remota, s jd nao dissera o salmista e nao o reiterara Sao Paulo aos omanos que por toda a terra correu o som da voz divina e que ras chegaram 20s confins do mundo: “et in fines orbis terrae verba eorum”? Era certo, porém, que os descobrimentos dem mundo novo e inceiramente ignorado dos antigos revelara stexisténcia de povos que se diriaestremes do influxo das verda- des do Cristianismo, ‘Que tas sucessos podiam embaragare, de ato, vinham cembaragando muitos dos que se atinham & opiniZo tradicional, ‘mostrami-no as conclusbes que do descobrimenco da América ‘chegara a tirar um historiador quinkentista, ppouco zeloso da ortodoxia. Ainda se podiam admitir, pois ja se fundavam agora na evidéneia incontrastivel, as eritieas de Guicciardint aqueles que imaginavam intransponivel a linha equi- nocial ou inabitavel a zona t6rrida, ow ainda que sob os pés dos, hhabitantes do mundo até entio conheoido exist!ssem na Terra, ‘outros habitantes a quechamavam antipodas. Menos certas, con- tudo, deveriam parecer algumas das suas ilagées indemons- trdveis,tiradas de simples e vas aparéneias. Pois nao ousara.oflorentino algar-s, argumentando com aquele descobrimento contra certezas mais veneravels ¢ abonadas pela unanimidade dos te6logos? Nao s6 a navegagio {de Colombo velo langar confusio sobre muitas coisas afirmadas pelos antigos quanto a matérias terrenas, assim ponderara ele, “mas produzit, a0 lado disso, alguma ansiedade nos intérpre- tesda Sagrada Eseritura habituados a entender que aquele versicu- To do salmo onde se diz que em toda a Terra saiu o som delas ¢ atéos confins do mundo chegaram suas palavras, signifieasse que ‘1 erist, pela booa dos aplstolos,tivesse penetrado o mundo Inteito:interpretagio alheia a verdade, pois que nio apareeendo noticia algumia dessas terras ¢ nao existindo ali sinal algum de hnossa fé, nem merece ser acreditado que a lei de Cristo tenha chegado ali antes destes tempos, nem que essa parte do mundo tivesse sido jamais deseoberta ou achada por homens de nosso hhemisfério", ‘Ora, enquanto a lireja se via impelida a uma ampla revisio de suas antigas posigdes, buseando renovar a propria estrutura ideolégien de aeordo com a imagem do mundo que se ccomegava, pela primeira vez, a descortinar, a simples tentativa de identificagio de um herdi mitico ancestral dos indios do Brasil, ‘com 0 apéstolo das Indias deveria simplificar as dividas, for- necendo uma solugio conereta e "histériea” para o problema, Solugio coineidente, alids, com as teses a que permancciam figis, ‘muitos dos mais ilustres te6logos da Contea-Reforma, com Belarmino, ainda aferrados a idéia da universal pregagdo dos péstolos, que terta chegado as remotissimasilhas do Mar Oceano ‘onde, perdida mais tarde a lembranga dels, ia sendo reavivada Agora pelos novos apéstolos* or outra lado, o proprio resgate e escravidao dos indios amerieanos, assim como dos negros afrieanos, que os portu= ucses, mesmo os jesuitas portugueses, foram naturalmente imienos solfeitos em combater com razbes teol6gieas do que ‘numerosos autores eastelhianos, a comegar por Vitdria ¢ Las ‘Casas, poderiam ser praticados, nessas condigdes, sem exces- sivo esenipulo, Pois uma ver admitida a pregagao universal do Evangelho, tenderiam por forga a alargar-se as possibilidades de guerra justa contra alguns povos primitivos, equiparados, ‘agora, nio a simples gentios, ignorantes da verdade revelada, ‘mas aos apostatas. TE sempre curioso notar como o Sto Tomé americano que, para os eolonos e missionsrios do Brasil, nfo passa, se tanto, de {um mito vagamente propedéuticn, se vai enriguecer e ganar ‘maior lustre A medida que a noticia de suas prédicas se expande para oeste, rumo as possessdes de Castela. Sendo, como é, de foto, 0 tinioo mito da conquista cuja procedéneta luso-brasitira parece hem assente, essa circunstancia éo bastante, sem divida, pata dar uma nogdo da mentalidade que dirigit cada um dos dois poves ibérieos em sua obra eolonizadora, Notas 1. Rohan HENNIG, Terra Incyte, pls. 47 ses, 204 e ses 286 ese 0 382, Sin Francie Javier, Cartas» aortas, ie. 102 exes 5 "Lier de Duarte nebo, Collin de Noiias para a Histria € Cenrap das NagbesUemarinas gue ccm nos Dominios Portugues ‘uhlcals pla Aendemia etl de Gineiae,> elg, page 384 enoge: Outre ‘era a morte do stl, pba poe Laces pectende que teria sio cle "raves com us aga a oesio om qa ssn ss precept deel or ron melor a explicaraofero de lange ques ensontou depts {ova Fale também na enon aly a en da mado de Sto Frnacied Xavier uma oat, jasto pera emt on sta, Ee 146, construire Hors Frnneace vies Carta etapa 197, "Clemente DRANDENDURGER,& Nowe Gascta da Tera do Bra, ns ‘Fae Abn de Sata Maia JABOATAO, Novo Orbe Serio Brien, Haig. 2. 7 Simfo de VASCONCELOS, Crnian da Companhia de Jen eo Estado do Bra, Ce ef CL tambien Pa Manuel da NODREGA, Carta do Brest pis. 5666 ‘Trancsco 8.0. SCUADEN, "0 Mito do fe 136, Feet Antonio de Santa Masia JADOATAO, Nooo Orbe Seren, I ie 29 {0 Sino de VASCONCELOS, Cronk da Companhia de enue do Beta sto Bran, 1 ps CXL Anthony KNIVET, “The admirable ndventres ad steange fortes of Mower" Purch Hin Plgames, XVI, p88 227 12 Rodalpo CHOLLER, "Nova Gaeta era do Dra, ABN, XN, rig 18, 7 13 unre Lette, “i Esplragt do Literal do Bel ma Cartogeapia da Pemea Deed do Seco 31" HCP, gs 429 043) Sam O02, ert, euro me sasnaloao Prof Burpee ds Pls, Ore Dery tai or "arguiplaa” «expresso “nape da ert de Gaver, admitindo ainda {ques plo earn li por um apo, ne ng despues". Cl. Orville Bethy, "Os mapas mais andor do Bras RSP. I 2 14 nomad GROSLIEN. Angkor tie Cambod au Stele pt. 135, 1 Sato, 8 Pao, VI, 18. Sino de VASCONCELOS, Cini da Campania Jed Bxtace do Bra pi Cll “or Sindo de VASCONCELOS, do Brasil pM, 17. Ania RUIZ, Conquista Bspsital ech por fox Retin de ka Compa de on, oe Prone dl Part, Parana ay, 9 Tape ‘seria pore Pasir p30. 1h Pre Peso LOZANO, Mitra deka Comin del Party Crimi da Compania de Jess do Bats 19.Dr Dom Fransineo JARQUE, Rue Monten tion i. 99a 20, Praneseo JARQUE, Rus de Monae em la Indi, 184. 163, 31 Pare Niall TECIO, Historia dea Pron del Para a Companhia de Jems I, pig 27 22" Pare Anta Rate, Conquista Expr, p 0 25, Antonio do Len PINELO, BI Prats en el Nevo Mundo, pts. 3176 soe 24, Pade Antono RUIZ, Conquista Bspiriua, pi 32 28. Padre Anton RUIZ, Conquista Expiriua, pe 31% 26, Padre Noe del TECHO, Histor de la Province dl Paraguay, ig 23 27 Pare Neola del THCHO, Miri del Provincia dl Paraguay ie 24 2S. Padre Antalo RULE, ConquitaBspriua, pi. 34 29: Neoas de TECH, Historia dea Provincia del Parnes p25 50. "Lives ue Date Barbosa”, Cole de Nowietet para Historia ¢ Cena das Nagics Uramarinas que visem nox Donon Portes, ‘ublcada pla Asami Rel da Sexi ll ve, iso, 1867 pa 48 oa 31. reso TAFUR, raves and Adoenture, ps. 4 ef [32 Arsim dao texto portage pres de Poin por Valentin Fe ‘mands, sem, pblicadn ett 1309, em segutmento a0 Livo do Maco Polo “Daly em dante we fy odo Neola aon eiade de yl vesinhos chad Maipria que fz om a costs Jo ee rund alm do Indo onde © ‘ocpo de mneto ‘Thome spotaiahowraismente fy eptado em ayes ‘gandoe muy feaena” Sarco Paula. O Lao de Marey Pon © Ler de Nicola cio, Cartade Jenin de Saat Eterm Ery" Live de Naas Vent! Mr 33. Gomes de SANTISTEDLAN, Libro del Infante Don Pedro de Portal Publicado segundo ss mals antiga edges por Panos Mt gers, pg 4. Vor ‘amb otesto ds eigse portuguesa de 12 "Livrdo Infante Dum Pedode Portugal O qual and as sete Parks do Mundo, Peyto por Gomer, Je Sato ste, um ds doze qu oan em sun compan” recentenente pablcnds ols Conant dor Dinmantes de Angle ‘S'Garea ds ORTA, Cotto ox Simple Drogas caf, pS, 35. Pare Manvel da NOMREGA, Cato do Brow pi. [So dad de ACOSTA Isetrta Neural y Moral de las nds, pg. 4306 ‘9. Padve Manel da NODREGA, Corns do Bras 6. "Caras do P Nols sri Duet. Cordova, 12 de wovumbeo «de 1608, Joma Banderante mo Cards pas 293. ets -158- 29. CE pit AS, er, 1. de Lafuente MACHAIN, Las Gonquistadonos de Rio dla Me, ie 67 '1.,Barique le QANDIA, Historia dele Conquista de Ri de ba Pla, sg 173 42: Frances GUICCIAKDIN, Storia dal, hpi, 132. NE solo ha ‘qsetanavcnsoneconino molto offerte agent dllecoe tre, I dito, qs anzit gl mere dla sentra cars, sot 4 Tierpretare che quel vericlo del sslmo, che conten ch ata a tere ol son leo w oa del manda le parle oro, igs she a eed isto fuse, per In hooen degl apostol, penetra per cut i mondo ‘nterrotsa nem dla, perahe nan appetite dh gate terre trons sno orl slewin dlls notes ed, inden esr ‘rao och a faded Grav sa sta ina guest emp 0 She oe ‘areata del mondo st mapa state seapertaoeoata da worn dal sta msteo "8G. Rotario ROMEO, Le Seoperte Americane nea Goes alan det Cnquecent, nis 46. VIL. As atenuagoes plaustveis © LADO DISSO, nao é menos certo que todo o mundo indério naseido nas conquistas eastelhanas e que suseita eldorados, amazonas, serras de prata, lagoas mégieas, fontes de juventa, conde antes a adelgagar-se, descolorir-se ou ofusear-se, desde que se penetra na América Lusitana. Mesmo os motives sobrenaturais de fundo piedoso,jé bem radicados na Peninsula, parecem amortecer-se no Brasil, de qualquer forma, desempe- ‘sham papel menos eonsiderivel na conquista do territério. A. frenga, aparentemente sugerida a alguns eronistas por certo trecho de Anchicta, onde se alegam 0s méritos do glorioso Sao Sebastido na tomada do Rio de Janeiro, de que o santo fora avis tado em pessoa a0 lado das tropas de Esticio de 84, lutando contra os gentios © os hereges calvinistas, representa uma das, ‘escassas reminiscncias que nos chegaram daqueles motivos Restaria saber se essa presenga milagrosa do padroeiro da cidade ‘chegara a aleangar, entre os expugnadores, aquele crédito que lhe dao erdnicas muito posteriores ao sucesso, Inspiradas, mals provavelmente, em modelos literirios bem sa tradigao viva ainda que se tratasse de tradigao viva e verdadeiramen- te popular, lo seria muito em eonfronto com as aparigoes se- melhantes ocorridas nas Indias de Castela, onde os santos, em 10 Tiago e a propria Virgem Maria, que ao menos em aparece cavalgando animoso coreel, se fazem a cada {que se dex o trabalho, consuleando velhos text rucioso cémputo, al de realizar nix ‘que forgosamente ineompleto, des rilagrosas aparigées assinaladas durante a fase da conquista, ‘dé a palma, em assiduldade, a Santiago, que teria participado rnada menos de onze vezes de batalhas contra indios. O segundo lugar cabe a Virgem Maria: seis vezes. Sio Pedro, Sao Francisco Sao Bras aparecem; cada qual, uma vez. Em eertos depoimen- tos, porém, reistea-se simplesmente a presenga de algum santo, sem indloagdo que permita individus-lo Seo fabuloso das narrativas devotas pode ter tamanho ‘ascendente sobre o anime dos soldados espanhois da conquista, sabe-se, sobretudo depois dos recentes estudos de Irwin A. Leonard, a que ponto também se mostraram sensiveis, estes, 20 da literatura profana, mormente dos livros da eavalaria, Essas historias, 20 populares entre conquistadores e povoadores do Novo Mundo, no respondem apenas ao gosto das faganhosas proezas, dos triunfos herdicos e gloriosos, ow ainda do senso agudo de honra, da dignidade, da cortesa varonil, como também ’atragio das paisagens de encantamento e mistério. O crédito que a muitos pareceram merecer as historias cavalhelrescas vi ‘nha dar mais autoridade a notioia das maravillhas irreais, que j ‘0s mals antigos descobridores puderam pressentir naquele mun- do ainda ignorado, De ifhas eneantadas, fontes magicas, terras de Iuzente metal, de homens e monstros diserepantes da ordem natural, de criagbes apraziveis ou temerosas com que os novelists inces santementedeleitavam um publico sequioso de gestos guerreiros e fantasticos sortilégios, rapidamente se foram povoando as ‘conquistas de Castela, Eno é menos flageante aqui o contraste {que se oferece entre elas e as regldes do mesmo continente destinadas 2 Coroa lusitana De fato, embora nao fossem menos afelgoadas a sedugao dessas narrativas ¢ fabulas ~ tanto que proprio Amadis de Gaaula, antes de existir sua primeira versio hoje eonhecida, a ccastelhana, se fizera famoso em Portugal, se € que nao teve ali sua origem, como seed o caso, futuramente, do Palmeirim de Inglaterra -, 6 sinificativa a minguada e quase nenhuma par- ticipagao da fantasia que os anima nos feitos que maream os estabclecimentos dos portugueses em terras do Brasil Nada h4, certamente, em nossa Histdria colonial, que possa medir forga com aqucles gigantes, aquclas amazonas, ‘aqueles pavorosos einocéfalos, ou que se equipare aos paises de sonho, presentes, todos, jé na histéria de Amadis e que, no en: tanto, se vio realizando perante os conquistadores castelhanos Ccontrapor a povoagio que Duarte Coelho fabr sa Nova Lusitania, se & exata a timid su ‘onde reeorda que Olinda é nome "de uma das belas damias do Amadis de Gaula, cuja leitura estava entio mul em yoga, nio faltando letores que lite davam tana fé como em nossos dias se a a historia” ‘Nao detxarla, ‘escola, entre as dams ¢ cavalheiros da novela, dle uma perso- hhagem onde prineipalmente se distinguem atributos de mode- ago ¢ eomedimento que nfo parecem dos mais aptos a animar A firia de rudes guerreiros, Ao lado de Briolanja, tantas vezes “formosa” ~ sem falar naturalmente em Oriana, a “sem par” ~ amiga de Ageajes, posto que muito bela ¢ loug’, € principal mente definida por apagadas e diserotas virudes. Olinda “a ‘Mesurada": tao qualifieativo que, ao longo da novela de Amadis ‘de Gaul, mais insistentemente se associa ao seu nome, Se alum vago pensamento de cavalatia andou relacio- nado ao sitio que povoou Duarte Coelho na costa de Pernambuco, seria mister Ir procuré-lo, de preferéncia em sua designagao anterior, onde geralmente se quer encontrar um topdnimo indigena. No tkimo caso, essa designagao, isto 6, Marim, que fem 1847, dez anos depois do estabelecimento ali da vila de ‘Olinda, ainda aparece na deserigio de Hans Staden', deveria corresponder a Mayr-r, equivalente, em portugues, a “igua ou ro dos franceses", segundo a etimologia lembrada por Varn- huagen’ ou, no entender de Teodoro Sampaio, « “cidade, ou po- voagio tal camo a construfam os europeus ‘Uma incerpretagio muito diversa, no entanto, pode re- sultar da leitura de varios documentos, como 6 0 easo do mapa de Jacques de Vauelaye, composto em 1578, em que o castelo ‘ou povoade local reeebe o nome de Chasteau Marim’, ou do ‘manuserito de André Thévet sobre as tas viagens ao que chama Indias austeais, que £61 da livraria do Duque de Coislin e hoje da Biblioteca Nacional de Paris, onde esta Chasteaw Marin © também Castel Marin’, e das Singularites do mesmo autor, emt aque hé noticia de um forte de Castelmarim levantado pelos portugueses perto do lugar de Pernambuco’, ou até de textos ‘muito posteriores, que assinalam a presenga ali de um antigo “eastelo do mar” emparelhado com oda terra, ou de Sto Jorge". 16 Esse nome de Castelo do Mar pode proceder de uma confusio, ‘cll entre a designagao origindria do lugar, Marim, ea palavra francesa marin", confusdo ess, alids, que se tinha insinuado no préprio texto de Thévet. Ora, aeontece que Chasteau Marim traduz exatamente o topdnimo Casteo Marim, e assim se chama ‘avila e fortaleza do Algarve que fol cabega dos ireires de Cristo antes de mudar-se para Tomar, o que ocorreu no ano de 1356, senulo Mestre Dom Nuno Rodrigues, e como tal ji vem nomeads fem 1319 na bula de funda cconvertido, a instancias de el-rei Dom Dinis, os antigos Templi- ros do Reino. ‘Varnhagen faz alusio, por outro lado, a um eastelo ‘quadrado existente no lugar de Olinda ~e de que pode dar alguma Idéia toseo desenko que iustra livro de Hans Staden ~ com: parando-o as torres de menagem medicvais, ¢ era justamente 0 ceaso da torre de Castro Marim européia’. A escolha da fortaleza algarvia para eabega da Ordem explicara-se pelo fato dese achar za frontetea dos mouros, formando um muro contra as insolen- clas e os rebates dos infigis, como esta dito na propria bula de fundagao: “Castello muy forte, a que a desposigao do lugar faz muy defensavel que hera na frontaria dos dtos inlmigos & parte com elles", E essas mesmas razdes no se aplicariam a fut sede da Nova Lusitania, erigida numa eminéncia que ajudava defendé-Ia da fereza dos Indios pagiios? Por outro lado, custa pensar que uma evocagao da velha cabega da Ordem de Cristo, velha de dois séeulos, se pudesse prender no Brasil quinhentista ‘a0 papel garantido aquele instituto nas eonuistastransocednicas de Portugal Bem mais simples ser supor que a reminiseéneia algar- via, neste caso, proviesse de tum dos tantos acidentes fortuitos fue fardo reproduzir-se mais tarde, no aquém-mar, outros to- ponimos originalmente reindis. Nem 6 imposstvel que o Marim brasileiro fosse lembranga de algum povoador ou eapitio que, antes mesmo da chegada de Duarte Coelho, tivesse procurado prestar homenagem ao seu lugar de origem. Ss plo, do préprio Cristovao Jaques, fundador da primeira feloria Iusitana de Pernambuco, que vinha de uma famttia fixada no Algarve através de bens de ralz e morgadios. ‘Mas a propria hipétese, se fandada em melhores raz0es, dde uma inspiragdo da Ordem de Cristo, quando esta se achava i empolgada pela Coroa, nio pode simbolizar sento o poder de ‘uma realeza absorventee diseipinadora das vontades individuals ‘© quie, por iso, deixa pouco lugar fantasia turbulenta dos her6is, dacavalaria, No que respeita a essa afirmagio decisiva do poder ‘mondrquico nto hé divida que Portugal amadureceu cedo: mals. teed do que resto da pentnsula hispaniea e, quase se pode d- er, do que o testo da Buropa. ‘Todavia, se a unifieagao logo obtida ¢ a sublevagio popular e “burguesa”, que dera o poder supremo a Casa de AVIS, ‘judaram largamente a mudar-Ihe a fisionomia, reorganizando fem sentido modemo, isto é, no sentido de absolutismo, suas instituigbes polticas © juridieas, além de abrir caminho a ex- pansio no ultramar, no é menos certo que o deixaram ainda, or multos aspectos, preso ao passado medieval. E-a propria rapide © prematuridade da mudanga fora, de algum modo, res- pponsavel por esses resultados. ‘Avverdade € que tinham ascendido novos homens, mas nto ascenderam, com eles, suas virtudes ancestrais. Uma bur- fuesia envergonhada de s, de sew antigo abatimento soota, subs- ‘ituira-se 8 velha nobreza, contestando-se com o acomodar-se, tanto quanto possvel, aos padres desta. B como sucede constan: temente em eas0s tai, aferta-se tanto mais as aparéneias quanto ‘mais The faltava em substancia (0 resultado fot esse estranho conluio de el tradicionais e expressbes novas, que ainda id distinguir tem pleno Renaseimento, posto a servigo da pujanga da ‘guia, Melhor se diria, forgando a comparagio, que as formas ‘modernas respeitaram all, em grande parte, ¢ resguardaram, um fundo eminentemente areaico e conservador. Moderna é, sem vida, aquela avassaladora preponderisncia da Coroa, num term po em que 0 poder real ainda luta, em outras terras, com maior ‘menor éxito, por sobrepujar as vontades particularistas. Agu ‘ho contrério, como encontrasse poucas resistineias desse Indo, lograra mobilizar em torno de si energias ativas da populagio, “Tratava-se, nfo obstante, de uma simples fachada que rear os tragos antiquados, sobretudo a forma ment ‘40 pasado © avessa, por 1880, A especulagio © ddesinteretsadas do humanismo renaseentista. No timo sempre Se Mostrar oS portugueses pouco aeitos a8 ‘ransformagdes espirituais que, em muitos outros parses, se foperam simultaneamente com a grande obra dos navegadores w conservantismo, nesse ponto, seria semethante ilogos de Frei Heitor Pinto, nentos ‘quem a verdadeirafilosofia no consiste tanto no saber quanto fo fazer © no amar" quando, para os ins do séeulo XVI, mesmo esse antigo ccerne se deixa corraer por todas as partes, nada de auténtico 0 substituird, desfalecidas que se acham, e como “burocratizadas”, as energias verdadeiramente criadoras do povo. Alarmam-se, nto, inutlmente, os moralistas, ante ogosto de novas invengoes, das burlas, dos furnos da fantasia, 0 dar ao querer mais vela do {que lastro’ Em suma, ante o rapido deseaimento, no Reino, de tude quanto parccera ter produzido sua passada grandeza. AS ‘vésperas mesmo da catéstrofe nacional quese hi de seguir morte {el-ret Dom Sebastido,tentara ainda Diogo do Gouto apontar para ‘exemplo oferecido pelas nagoes pouco dadas a mudangas, como (os chinteses ¢ os venézianos!, Nao estaria nesse conservantismo ‘2 causa principal das qualidades que os distinguiam, da grandeza ‘de uns eda fama de outros? 'No Brasil, de qualquer forma, s6 aos poucos parece ir perdendo terreno, em favor das novas fumacas, aquele realismo repousado, quase ascético on inelogiente, que vemos refletido, por exempio, nos eseritos dos primeiros eronistas. Abrem exce fo, mesmo antes de Simao de Vasconcelos, algumas biogralias “quase hagiografias ~ de um Padre Anchieta, mas as concessoes ‘ao milagroso nao so novidade nem eseandalo, num genero que, por definigao, deve abrie crédito ao sobrenatural leita pensar ainda que certas idéias bem precisas ou até pragméticas servissem de reforgo A simples devogio vi- sionéria sempre aberta possibilidade de raros portentos, eitos maravilhosos, profecias, intuigbes divinatrias, transes, apa- rigbes, evitagdes, ubiqaidades, como os que se multiplicam nas pginas desses livros, pols o que inspira muitos de seus autores, figis neste ponto a0 espirito da era do bartoco, é sobretudo o aft de despertar os Animos, ocupando os olhos. porventara algama fambigao ainda mais definida, como seja a de ver eternamente lorificada a obra missiondria dos inacianos nesta parte do Novo Mundo, através da canonizagto de um de seus maiores apéstolos, de sorte que o Brasil nada fieasse a dever as fndias. Anchieta ceanarino de ascendéncia basea seria como a réplica americana de Sao Franciseo Xavier, outro basco. ‘Héem Vasconcelos, porém, essa imaginaeio piedosa itd ‘complioar-se através da faseinagio mirffiea dos segredos © “curiosidades” da terra, B a tanto vai a faseinagio que nao se contenta ele apenas com o invocar testemunhos alheios, mas 160 antes visbes. Ass pessoal os mais extravagantes fendmenos, como 0 é a meta- ‘morfose de uns bichinhos brancos, naseidos &tona da dua, que Julga ver. com seus olhos, fazerem-se mosquitos, estes muda se em lagartixas, estas tornarem-se borboletas¢ finalmente as Dorboletas transformarem-se em colibris™ ‘Ainda agui é preciso dizer que os olhos do cronista se deixaram simplesmente iludir pelo prestigio de uma opiniao Corrente e j tradicional entre 0s Indios da costa, que eostuma- vam dar os colibris por mensageiros de outra vida. Apesar de ‘oposta ile da natureza e ainda 8 velha doutrina de que nenhum vivente se pode converter em outro sem corrupgio, a mesma forenga, j4 registrada, ainda que mals discretamente, por “Anchieta!” e Cardim’, teria em seu favor manifestas aparcneias Sabe-se, com efcito, de certas borboletas do Brasil, que sho mu tas vezes vistas a esvoagar junto nos beijalores emt bnsea do ‘mesmo pasto, ¢ Wappaeus, qe relembra essa circunstancia, tam: bém alude ao easo do observador que, om sua caga,atirava nelas ceuidando ter apontado para estes pissaros” Bem earaoteristico da estreita dependéncia em que se aachao maravilhoso, nas suas noticias cerdnieas, de depoimentos allcios, 60 que nelas se pode ler averea de indigenas monstruo- 805 localizados em certos lugares do sertto brasileiro, sobretudo ra Amazonia, Neste como em outros easos, limita-re 0 fesuita portugués a redizer, 8s vezes com palavras idénticas, 0 que antes dele tinham afiemado eronistas ilustres, em particular 0 Padre Cristobal de Acufia, segundo 6 demonstram os exemplos seguintes: Acuia) (Vasconcelos) ion dawn del Buren Terai. tas, orn slg motes tne oie, came ora, dw nactones, —adeanin, dees pee Supers, tare dena gente que de gee, ue hace com pte ‘oreo tien or poe owes demeaning qu hone rucrc que quien na concn tn sours cami, bad a ‘wsksurauchvelysennorie evo onstrate. Sempre of cuntrarts que flow Lite shane exter sees tmanse Mutstin titer fi Tainan |} pr fin» remate de dos sean i Carus as Snformactones df qe fo an Ca gnescofesinalcimes dnt tier, non Otgantex de die sce aloe ature mya cana Tec mon race aes di ‘lac ony nace parle “Stspucbon on mexanriscotnee ‘ontinvoe de cami dele ba del Gicewee Som mujeres de ran elory qe sempre sc han eomeersada tn nt tanto comercio le sarones, un ‘tual exe por concerts i cm ‘Mos eenen,cfnen cada a se terra on re eon Ta armas tarmano, que aon are yeh, ae Jaca por ean expecta de em, trata que sate te que enon ‘dp In onoeidn, ydesana e ‘armas acon tnd as canes, mboreactonce de fos avespedes ‘atone cada wna Ta amace que atte més a manos, sue a kn trimacn ques deren eae, yeolaamdole on parte tlond cl da laconocn, erection Dor tudaped auelioepocor dia, despues denequelesetoc sect ‘Gone terran continua as fe lao ent ae ore mis comp Las jen hembras que deste ceyuntanient ts nace, some sreram entre crn gue wn a ttuchansde ewer date ln 3 onenre le me mae, pero foe Io warns wom soca de dnque com cll aco, outra nag ode ies de dene pln deat valet, ‘load dy pags de our por Fos emote es oe tuts erage por nme urngesos” Finalmente que fe outs nage de muha abe ns Bo ‘ral deviver oso qouoje ham fos lmao, semetbantes Se ds ‘Aiud ede que tomo 0 nome o fio) rong so mules prt, ‘Whsomen hai grande poate {chs Prot te, edo fe terran suentandorte de ae Pritt: Ue nt ran ronan: do malbere de aor 0 tosloqucyere sc i comereado em consorcio Je arbor, « anda terra, no rocebiden el com 6 srs. queso.ne fre me que covtihcndes vieem de par ‘hss pimeiea ama, ams Slogans etme ca ‘rae na cima do que the parece ‘eth Teva amon cam em ella ‘el hosed age ove dts, fv hs de ssi dap dn ee Infatveliente se torn, at outro tempo semeliate do sto mane, SS sc femene ate sntamento, ee Thar mento cao categ olen oi que oem Embora descendessem esses prodifios diretamente, © em. todas as suas desvairadas peculiaridades, dos monstros ¢ por- tentos da Antiguidade elissica, que os eseritores da Idade Média, inclusive gedgrafos, cartografos eviajantes, costumam localiza, a nas regides inedgnitas da India a India Maior, como entio. dizia, ora na Libia ou na misteriosa Bri6pia, pretende Acufa ter sabido seguramente de sua existéncia all na AmazOnia ow a alguma distincia dela. E seus informantes seriam os Tupinambs, provenientes da costa do Brasil, indios conversiveis e de muito, boa razdo, cujas noticias, observa “como de gente que tiene cor- ‘ido y sugeto todo lo clreuntiezino a su jurisdicién, se pueden tener por ciertas” ‘Quanto # Vasconcelos, que parece confiar religio- samente no poder da palavra escrita, onde se baseia, quase sempre de modo expresso, € no que diziam seus “Exploradores Cosmografos”. Hortélio, o Padre Afonso Ovalle e, 44 se sabe, ‘em Cristobal de Acuita, estes dois sltimos, como ele, da Com: panbia de Jesus. Apenas admite que as grandozas do Rio do Grio-Pard, posto que lembrassem coisa sonhada quando pela primeira vez se publicaram, viriam a parecer, com o tempo, ‘nao $6 verdadeiras, mas mulco acrescentadas"™. Bs6 para esse acrescentamento alude a varias relagbes didrias, que tivera, de “exoursbes que por este rio fisero os moradores da Capitania, de 8, Paulo; e todos concordao, e dizem cousas maravilhosas LP. Embora bastante laconica, esta ultima observagio 6 Importante depoimento,seja dito de passagem acerea da grande extensio de territério trilhada pelos paulistas, talver ja na primeira metade do séoulo XVII. Aliés, os moradores do a0 Paulo, a que se refere, bem poderiam ser alguns componentes, da bandeira de Raposo Tavares, que chegow ao Gurupé em 1651, quando Vasconcelos estaria quase de malas prontas para re” fressar a Lisboa, depois de vinte anos de assisténeia no Brasil Os eseritos que Ihe serviram de base para suas “noticias ccuriosas” apoiavam-se, de qualquer modo, em testemunhos in- finitos, assim como os que o tinham certificado em sua erenga, nna vinda de Sto Tomé ao Brasil ¢ isso era o bastante para que thes desse boa-fé. Porque, tudo suposto, observa, “quem haverd ‘que negue ainda hoje haverse de ter por certa tradigio tao ‘constante, por tantas vias, por tantos Reinos, por antas nagies, ‘casos to extraordinarios? D'outra maneira negar-se-ha a f6 ‘commum da tradigao humana, e o intento da Sagrada Escritura, ‘que diz, Exod. 32, “Interroga pattem tuum, et annuntiabie tibt -109- miaiores tos, et dicent ti,’ Se nto pergunco ut ‘ssh como no papel as letras, porque no se imprimirao também nas memérias, oles das cousas memtoriveis? Neguemos logo ns faganhas ares, dos Pompeus dos nossos Viriatos, Sertorios, ec outras hist6rias semelhances™ Nao Ihe custaria mesmo acreditar, em face das muitas -maravithas que se esereveram sobre o G naquela “te comum da tradigao humana”, na po ter sido ali plantado por Deus 0 proprio Paraiso mesmo hi de dizé-lo em alguns parigrafos de suas Notécias, Curiosas, onde formulae responde a pergunta sobre se o mesmo iafso no seria na América, Constltados alguns mestres de Lisboa ¢ outros das Universidades de Evora e Coimbra, todos foram acordes em que nto havia nada de definido em materia, de f6 sobre 0 sitio do Eden, ¢ que o autor nio afirmava, tio- Somentelembrava, a probabilidade de achar-se na Ameriet sto 6, no Brasil, delxando essa probabilidade ao eritério de quem o lesse. Nao obstante os pareceres undnimes dos doutores, veio ‘ordem Cerminante no sentido de se risearem os tais pardgrafos ¢ de se recolherem os dez exemplares ji impressos e distribuidos ‘a amigos de Vascongelos, Continuow depots a impressio, mas ‘suprimidas ou antes resumidas nela as paginas que se impug- nnaram.Entretanto, no resumo afinal publisad, se nfo oafirma eremptoriameente, ao menos acha, ¢ 0 diz, que no cometeria, pecado algum quem assim pensasse, jd que tamanhos prodigios se tinham assinalados nesta parte do mundo. Nao falta, alts, antes ou depois do jesutalusitano, quem brace doutrina semelhante. F ninguém o far com mais denodo ddo que sim seu contemporineo, 0 Doutor Antonio de Led Pinelo, cconselheio real de Castela, eranista-mor e recopilador das leis, de Indias, historiador, gedgrafo, jurista, mumismata, contu- _macfssimo e eruditissimo biblisilo, colecionador de aniguidades, cristao sem mancha vistvel de heresia ou judafsmo, ainda que se saiba que dois avés seus conheceram em Portugal 0 cdreere ea foguecira do Santo Oficio. Pobre figura haveriam de fazer, em rea dade, aqueles sete pardgrafos de Simio de Vasconcelos ‘compatados aos cineo livros, de 88 enpitulos ao todo, que devotoxt Pinelo a igual tema, os quais chegam a abranger 838 fothas de 307 x 202 mm na edpia manuserita que se guarda na Biblioteca Real de Madi, e dois enormes cartapaeios, num total de 930, paginas do texto impresso em 1943. ‘Tendo impugnado as opinies mais correntes sobre o sitio, “17 Sreereeeeeeeeee do Paraiso Terreal em alguma parte do Velho Mundo, passa logo ‘aidentificar os ros manantes da fonte que o rega. Assim, OFIson, ‘que antigamente se confundia com o Ganges, © que o elérigo, Fernando Montesinos insinuow ser 0 Madalena, na atual Coldmbia, era simplesmente o Prata. Quanto ao Madalena, era sem divida um rio paradisfaco, mas devia ser identificado com © Heldequel, ou Tigre, Da mesma forma o Gion das Eserituras ‘fo seria o Nilo, mas © Amazonas, ao passo que o Kufrates correspondia ao Orenoco, Nao se limita Pinelo a deserever em mintcias esses ris, ‘com as riquezas, as maravil imenidades que os distinguem, fazendo-os dignos do verdadeiro Fen, ao menos onde tém as, suas nascentes, mas ajunta pormenores que servem para, naturalizé-lo neste Novo Mundo. A drvore da eiéncia do bem ‘do mal, por exemplo, no daria a magi, nem o figo e nem, como fo quiseram alguns modernos, a banana, esimo maracu, a "eae rnadill” dos castelhanos. © qual, na aparéneia, na cor, no sabor ‘em outras qualidades, é muito conforme ao que dizem os expo- sitores do pomo que fol instrumento de nossa perdigl0 efeitigo, dos olhos de Bs ‘O homem, em sua opinido, nasceu na América do Sul ~ filo € por acaso que ela tem a forma de um coragdo ~ € aqui Ihabitou até o tempo do Dikivio Universal, Noé fez stia arca na vertente ocidental da cordilheira dos Andes com cedros e madeiras fortes. Tinha, segundo Genesis, cbvados de comprido, 50 de largo e 30 de alto, e que corresponde, reduzida forma de nave ou falera, e medida segundo a mandou fabricar o Espirito Santo, 28.125 toneladas. Depois de estabelever uma equivaléncia, entre os anos hebreus e9 calendario jullano, conclu que o Diivio comegou exatamente no dia 28 de novembro do ano de 1656 da, Griagio do Mundo e que No¢ desembarcou, finalmente, a 27 de ‘novembro de 1657. Tendo a arca safdo dos Andes peruanos nove dias depois de comogadas as suas, rumou diretamente para a Asia, guiada pela mio de Deus, e depois de propagar-se all a nova espéeie humana, voltow ao Novo Mundo™, ceoria de que ficava na América 0 sitio, a mesma “fé comum” que a Simao de ‘Vasconcelos parece coisa eficaz e infalivel. De m Tupinambs que Acuna encontrou ref Madeira, depois das tiranias e perseguigdes a que os sujeitaram ‘8 portugueses do Brasil, e que tinham sido os informantes dele ‘cerca das nagdes monstruosas da AmazOnia, sabe-se que no serlam avessos a erenga no Eden tropical. A propésito de uma, das suas migragoes, que se fez da costa de Pernambuco para 0 Maranhao por volta de 1609, péde apurar Alfred Métraux, fandado sobretud em fontes francesas, que sua causa determinante fora, hem mais nem menos, o desejo que tinham esses indios de aleangaro Paraiso Terrestre”. Nesse sentido reporta-se o mesmo ‘etndlogo ao encontro pelo Senhor de la Ravardiére de grupos Potiguara de Pernambuco na dha de $*Ana, que teriam saido de Sas terras na demanda do Paraiso. Dirigia‘os certo magico que se apresentara como um dos seus antepassados ressuscitado. Esse caso dos Potiguara vem em apoio do que sugeriu ‘Nimuendaj sobre o ¢xodo dos Guarani-Apapocuva, isto é, que ‘oestabelecimento dos Tupi c parentes deles, originarios do sul, ‘20 longo da costa atlintica restltara de grandes movimentos religiosos, e estes continuariam a processar-se até os dias atuals, entre as mesmas tribos. Os Apapocuva representavam seu Paraiso Terreal como um sitio onde ninguém morre e onde todos cencontram de sobra os mais deliciosos manjares. O nome que fem sta lingua dao a esse lugar 6 “yey mard ey”, ¢ Isso significa literalmente “terra sem mal”. Nele se encontraria a easa de Nan ‘devurusut,o eriador do mundo. Nao havia contudo acordo perfelto sobre o sitio exato desse eldorado ou sobre os melos de chegar- se a ele, Imaginavam-no alguns no e6u, pretendendo que, para aleangélo, deveriam os fndios tornar tHo leve 0 proprio corpo ‘comio se puidessem voar: com esse fito reeomendavam-se deter ‘minadas dangas,além de rigoroso jejum. Outros cuidavam que ‘casa de Nandevurusu fleava, ao contririo, no meio da Terra al se viam, entre outras coisas prodigiosas, aqucles pés de milhio ‘que crescem ¢ granam em broves instantes, sem necessidade de intervengao do trabalho dos homens. A maior parte acreditava, porém, que se deveria buscar o Paraiso de preferénoia nas bandas do Oriente, para li do mar grande”. {AS cusas que moveram os Apapocuva a mudar de terra serviriam igualmente para expliear 6 fito que eostumava atrair ‘os antigos Tupi da costa em suas frequentes migeagdes, que, aliés, ‘também se laziam rumo ao poente. Eo easo, entre outros, daquel jomnada de trezentos indios do Brasil que, em 1549, levando ‘consigo dois portugueses, penetraram terras do Peru pelo ea ‘minho de Chachapoias, mesmo caminho que, segundo a versio, ddo Padre AntOnio Ruiz, teria tomado 0 Sto Tomé lendario, Sabe- se do grande alvorogo que as noticias levadas por essa gente ‘acabaram por despertar entre eastelhanos ¢ da influénela que 1m sobre consceutivas expedigdes que onganizaram ramo ‘amaz0nica, em particular a de Pedro de Orsia, em 1560, Poro de Magalhdes Gandavo, que registra aquela grande migragio tpl, dssera das constantes andangas dos indios que, falecendo-Ihes as fazendas capazes de deté-los em suas patria, ‘do tinham sen o intento de “buscar sempre terras novas, afm de Ihes parecer que achardo nellas imortalidade e descans0 perpetuo”” ‘Aimortalidade, a auséncia de dorefadiga, o eterno dcio, pois que ali as onxadas saem a cavar sozinhias © os panicuns vio {roca buscar mantimento, segundo presungdo jt recolhida por Manuel da Nébrega e Ferndo Cardim, a abastanga extraordindria, de bens terrenos, principalmente de opiparos e deliciosos ‘manjares, tals sd0 os earacteristicos mais constantes da terra, "sem mal”, ou seja, do Paraiso indigena. Impunha-se naturalmen- @ 0 conforto com o Biden das Eserituras onde, num horto de deliciascheto de drvores apraziveise boas para comida, ohomem, se acharia nio s6 isento da dor e da morte, mas desobrigado ainda de qualquer esforgofisico para ganar 0 plo, Essas coineidéncias, depois de terem sido, provavelmente, cestimulo bastante para que dois portugueses acompanhassem os ‘rezentos indios em sua peregrinagao da costa do Brasil a0 Pent, mais tarde, cortamente, causa da expedigio de Pedro de Orsia, {que alongara 0 Paraiso do gentio no Dourado amaz6nico, ainda trariam inquietos, por muito tempo, os que no tivessem perdido esperanga de recobrar 0 Eden em alguma parte deste planeta, @ comum dos indios Tupi poderia oeronista da Compa- shia juntar a de muitos descobridores e conquistadores brancos, do Novo Mundo. O proprio Colombo nao comegara por ver no ria, precisamente ao norte da AniazOnia, en) lugar que Sehoner, no seu Globo de 1515, eega a identficar com o Brasil ~ Paria sive Brasilia ~a verdadeira porta do Eden? E nao le parece tao bom como do Fison ouro que na mesma terra se eriava? Mais tarde, soba forma de Eldorado, se deslocaria esse paraiso colom- Dino para a Gulana e para o rio de Orellana. Nem faltarigm argumentos ainda mais respeitaveis, apoiados estes em éscritos de te6logos antigos e modernos, a favor da erenga dos que situassem o sagrado horto no cora do Brasil, e de proferéncia na Amazdnia. Observa Vasconcelos ‘que muitos daqueles tedlogos, entre eles 0 proprio Sto Tomas de ‘Aquino, teriam colocado o Paraiso debaixo da linha equinocial, cuidando que era a parte do mundo miais temperada, mais de- 1 leitavel © mais amena para a perfeita habitagdo dos homens. ‘Sucede ainda que entre as regides equatoriis, nenhuma, segundo ‘cronista da Companhia, tinha em si as bondades que mostra 0 Brasil, Beomo Ihe parecesseindiseutivel, de acordo com a melhor filosofia, que da exceléncia das propriedades se colhe a do ser, passa a sumariar longamente as que fazem a suma perfeigio da ‘América Lusitans, Para isso, poe em relevo quatro propriedades que ‘neoessariamente Ihe parceem dar bom ser a wma terra. A primeira ‘est nist, que se ha de vestir de verde, com erva, pasto earvoredo ide varios géneros. A segunda, que gozara de bom elima, boas influéncias do e6u, do sol, da lua, das estrelas. Que sejam abun- dantes as suas diguas em peixes, e seus ares em aves, e esta a terceira propriedade, e a quarta, que produza todos o8 géneros, de animais ¢ bestas da terra. Tudo consta, a seu ver, do divino texto na criagio do mundo, e por essas quatro propriedades a ‘dew por boa 9 seu Divino Aucor”. ‘Ora, de todas elas acreditava o jesuita portugues achar se 0 Brasil dotado em grau eminente. De onde o concluir que hhaveria de estar nestas partes 0 mesmo deleitoso jardim em que pusera Deus 0s nossos primeiros pais, se iio um simile ou e6pia, dele, jé que faziam vantagem aos fabulosos Campos Elisios, ou fos jardins suspensos, ou ainda a Atlintida e, sem diivida, 2 ‘Taprobana, de ares tio infensos & saide dos homens, conforme {40 tinham podido experimentar os proprios portugueses, ainda, ‘que houvesse quem, impensadamente, visse ali a patria ver dadeira de Adao™. ‘Assim como nas notiolas dos monstros amazdnicos seguira ele 0 que dissera o Padre Acufa, aqui suas palavras re pproduzem até certo ponto os louvores que dedicara Acosta as Indias Ocidentais. Porque, observara est, "To que los otros potas ceantan de los Campos Eliseos y de la famosa Tempe, y lo que Platon euenta ofinge da aquella su isla Atlantida, eierto lo halla rian los hombres en tales tierras, sf con generoso corazén quisic- sen antes ser seRores que non esclavos de su dinero y eodicia"™ Mais s6brio do que Acua, menos erédulo do que 0 cronista da Companhia de Jesus no Brasil, hesitara 0 mesmo ‘Acosta em aflangar que estivesse o Paraiso Terrestre debaixo da ‘equinocial, pola iniea razio de que seria temeridade querer dar {sso por coisa cera, ainda que todas as aparenolas o ccruficassem. De qualquer modo, essas simples palavras j4 oferecem uma sugestao fértil. Antes de Vasconcelos ¢ muito antes de Rocha Pita, que também s ‘os esplendores de Visivelmente nefe quando decanta, ia, jas uilizara, por exemplo, Symio Bstacio da Sylveira, em sua itelago Swnaria, de 1624, como pretexto para o engrandecimento das bondades da terra do Maranhiio, que ajudaré a povoar de eolonos ilhéus. ‘Além de “gofeira e muito eriangola, coda cheya de gran dissimos arvoredos que tesificio sua fecudia”,conforme declarou ‘om seu curioso estilo, aquela terra se mostra “cli, poueo montuo ‘sae tio branda, que por vigo se pode andar descalgo”. B acres- ‘centa: "Deste lima e deste terreno debayxo da Zona torrida (de ‘que os antigos nio tiverio notiela, e foro de parecer que seria Inhabieavel), depots que a experiéncia mostrou o desengano, hou ve authores que imaginardo, que aqui devia ser o Paraizo de de- Teites, onde nossos primeiros Paes forao gerados™. ‘Aeexaltada reabilitaglo das reg6es tropicals populariza se desde cedo, als, entre portugueses, como conseqiiencia de suas exploragoes da eosta ocidental do continente afrieano. Depois que o saber de experiéncias feito, as experiéneias de seus marinheiros, derrogara 0 saber especulativo e aéreo de tantos doutores antigos e modernos, os mimos das novas terras desco bertas passavam a ceoor naturalmente ima grinalda para a vai- dade nacional. O ostenté-los tinha quase o valor simbolieo de tuma chancela que servisse para acreditar a gliria dos grandes deseobrimentos: da mesma forma a simples pastura triunfal, parece ainda hoje dar seguranga e ealidade a vit6ria, ‘Ao lado disso, compreende-se como, por uma tendéncia ‘compensatdria para aquele exeessivo orédito que, durante longo tempo, obtiveraa doutrina de que os lugares cortados pela equi- rngcial ito de repelir os viventes de boa completgio ot, quando ‘menos, os seres humanos, sueedesse 0 pendor invencivel © nao ‘menos exagerado, para s6 distinguir em tais lugares 0 que eles padessem oferecer de salitar ¢ aprazivel Nada impede, porém, que a generalidade dos eronistas «¢, provavelmente, os marinheiros ¢ colonos portugueses, em {erras distantes, se mostre mais ou menos alleia a essa inflago do mistério e do milagre que sugeriu continuamente, em todos, (08 tempos, 0 primeiro contato dos mundos desconhecidos. Ou, 8e 0 estimulo visionsrio e magico chegow a ter para eles algum ppoder efieaz, no fol tanto porque se sentissem animados a fabri ‘car espectros ¢ visbes, mas porque um consenso universal & “que dava a esses fantasmias a Forga das evidénetas,f ‘contar com eles. Ainda assim, a prodigalidade, por exemplo, com 0s prin- cipes portugueses, comegar, segundo consta, em 1457, pelo Infante Dom Fernando, iemo de el-ret Dom Afonso V, entraram, derepente a distribuir entre aqueles que novamente descobrissem, pporst ou pessoa interposta,asihas perdidas de que falavam tantos € to obstinados rumores, nao parece resultar de quiméricos sonhos ou de fantasiasinconseqientes. Mesmo onde se recobrem, de vestes irreais ow onde reoebem nomes de lenda, a atragio cons- tante dos paises imagindrios da espécie daquelas “thas e terra fyrme” das Sete Cidades, que ao Principe Perfeito aprouve doar Fern Dulmo, eavaleiro de sua casa ¢ capitio da Terceira, se chegasse a encontr-las,traduz, talvez, a noglo ainda confusa, € mals tarde concretizada, de que a imensidio do Mar Ooeano era, ‘uma intereadéncia, no era o remate dos mundos habitaveis. Por outro lado, traduz ainda a esperanca de que ela vies se a agir nos dnimos aventureiros, menos sob a aparéncia de barreira do que de aguilhao, apontando para um plus ultra, € cconstitufram-se certamente essas muitas promessas e ofertas, ‘entre os mais poderosos instrumentos que soube forjara Coroa para dar alento as desabusadas navegagoes dos descobridores. ‘Contudo, poderia ser lembrado que aos portugueses,j6 no séoulo XV, eoubera parte nada irrelevante na demanda do fabuloso pats do Preste Joao. Nem aqui, porém, se pode segura- ‘mente afirmar que se deixaram eles mover por algum fugaz sorti- gio. Durante trés séeulos e mais, as noticias sobre a existencia ‘nas partes do Oriente de um grande c onfulhoso potentado,senhor de reinos dilatados que impusera a verdadeira fé, notfcias nascidas de uma simples impostura ¢ que, no entanto, puderam, deslumbrar a Europa inteira desde os proprios papas ¢ impe- adores, tinham tido tempo de produzir sua opulenta messe de ‘maravilhas. Maravilhas a que o testemunho dos viantes nao dei- xara de assegurar 0 melhor erédito. (© que a rigor fizeram esses portugueses, quando trocaram lendario império por certo pais africano, mais afamado do que verdadeiramente conhecido e que tinha de comum com o outro apenas o serem regidos ambos por soberanos cristios, fol ‘contribuir para que se simplifiasse e desbotasse a lenda, fazendo ‘emergr, em seu lugar, uma realidade bem precisa e, naturalmente, ‘A cles nem sequer ¢ possivel atribuir algama responsa- bilidade nessa identifieagZo, que era afinal um modo de enfeitar ‘ow esfumar o real, dando-Ihe a substineia dos sonhos. F, em a6 sama auf Grist6vo Colombo, quando cia resonese fro He Satamao ow Cpang de Mar Polo nas has ae Sucesivamont val descortnano em sua nga, O or & {com 1467, quando Pedro da Cove aiono de Pav sam Se org evan tstragas de Dom Joo I pra econ err. do Prt, ee veh om ogo Ooient, 4 {anna pars stints ao rex sthppae como So dept Cspot omenos, aqulantscosmperador rel ela Se pts de com anu craton oof se pretend, ie coor porta de 1380 du pais do cota novela deans deur tnumo cpmnhol Moers ecstasy itor deed traps bara que soainen os canes peomenes EMS sd amoen core catal) ¢insrover sobre @ aap cd Aba ogre a get: Raga Pres Bote dete Sugino com revo steno hrzonte das nave lta somo ego de ncuron rus cy Bet ot tl tna scout detntas tos expodies eotbridray Peet pe eeepc ee enaremnerntiti ticle, And quando nd for ior onde somos fovendores bio Ge habuarse le wma narens CM ¢ ee ee thatago dest coun drm dare, Porto ees, nazi ogo Bata segundo o cent dij tn pcr ps pta bata doar toda tr, Sto desi pertinent er preva sper ‘spray plantas Co bichos reece, mules vee, somes inadeqrador mgs alae peel eieeeer reer ere romgiene smdore pia anes Copia en tudo felting un "novo Port qu quar: or mo monde veo sag npr goed clon sg dass pts ee Fem Can, surormalstentsenborsdoquernnon outros Acts mon woreda torr qu seus on congue: tMdores ns Inne oC a miragem rm io, por exemplo, ou a de Simao de cer considerar, no entanto, que tals homens centos, uni era, por eonseguinte, em que agen do real 86 se fa visivel e, por isso, convincente uando se mova segundo us eaprichos de uma fantasia depois, a evoeagio do Pneniso Terrestreadquire, nesses ceasos, um valor aparentemente menos literal do que lterdri. Vasconcelos, ¢ ainda melhor Rocha Pita, que air retomar no século seguinte, nio deixario de servirse do simile, de acordo ‘com a formula do Taceat ox do Cedat épicos: cale-se, enfim, ceesse, a meméria do Temipe, dos jardins suspensos, do horto das, Teespérides, que aqui, eno em outro hgar eelebrado dos antigos, cencontrarcis a verdadeira visio do Paraiso Terreal! ‘Seria andar muito depressa, porém, querer deduzir de tudo isso que os portugueses do Brasil, ainda os mais aferrados ‘ao conereto e ao quotidiano, pratioassem, em geral, uma perfeita ascese da imaginaglo, & indubitvel que naqueles tempos as {Grmulas iterdeias queriam ter, no raro valor literal, mais iteral ‘com certeza do que o eriam se empregadas hoje: as pr6prias, metéloras nem sempre eram apenas metafdrieas”. E parecerd dificil compreenderen-se certos aspectos distintives da menta- lidade dominante nas épocas que antecederam a revolugao, cientifiea, quando nao se parta dessa circunstincia ‘Antonio Vieira, com sua lucidez e dialét as veres, mesmo part os nossos dias, nao entendia, como os fntigos entendiam os ordeulos, aquela algaravia das trovas do Bandarra? E assim como aereditava firmemente, lendo-as a seu gosto, que as imas do poeta sapatoito profetizavam a ressurrel- {Gio de eb-rei Dom Joao IV e o Quinto Impeério, em vez da volta de Dom Scbastiao esperada pelos menos esclarecides, também, nido duvidava que este ou aquele passo das Sagradas Escrituras ‘queria referir-se diretamente a stcessos de seu tempo, de sua Babia de Todos os Santos ou do Pernambuco apossado pelos hholandeses. ‘Se o prodigio pode, assim, implantar-se no proprio espe- ‘uieulo quotidiano, se at6 os ates efatos mais comezinhos chegar fa converter-se em signos ou pardbolas, impregnando-se de significagdes sobrenaturais, que dizer das coisas ocultas ou invi- siveis, que apenas se deixam anunelar por misteriosos indivios? Nao é uma verdadeira proclssAo de maravilias —lagons douradas,, reluzentes serra, seres nionstruosos ¢ inumanos —o que costuma, {erar o pensamento dos tesouros eneobertos ou eneantados do sertio? Nao cabe indagar, «tal propésito, se aquele mundo mitico ‘chegou a brotar espontaneamente entre os nossos povoadores, ‘ot seo suseitaram, ao conteiri, influxos externos, Estes seriam, naturalmente inevitivels, desde o instante em que os mesmos ‘povoadores ¢ colonos, que a principio esperaram ver convertido 6 Brasil num outro Portugal, passaram, por vezes, a dese) tum outro Peru. O importante é que nao pareceram ausentes, mas foram, ao lnvés disso, fatores ativos da expansio colon zadora, as mesmas manifestagbes sobrenaturais que em toda parte € em quase todos os tempos formaram como o cortejo, :mgico ¢ o resplendor das minas preciosas. Seria, em verdade, um retrato bem pouco fiel © até um retrato s avessas 0 que procurasse apresentar esses portugueses, Como insensiveis ao apelo do mistério. Ou que pretendesse ‘iscernir na relativa sobriedade com que se comportam, a0 Imenos seus viajantes e narradores quinhentistas, ante o espe- ‘ule natural da terra, no seu contentarse freqientemente com, ‘oevidente, o imediato ou 0 utiizavel, alguma congénita apatia, Nao 6, a0 eontririo, dos seus tragos mais constantes, justamente tum fundo emotive extremamente rico e que, por is80, mal atinge aaquele minimo de isengao necessirio para poder objetivarse ‘nas representagbes fantsticas ou nas eriagbes miriicas, que vem, por assim dizer, de um deslumbramento apaziguado? © abandono a simples emogio, sem derivative para as cespecuilagdes ou os desvarios, transparcce insistentemente, ¢ jd {de inicio, dos eseritos de todos os eronistasIusitanos, O proprio Pero Lopes de Souza, esorevendo embora ns linguagem desco- lorida que compere a tim jornal de bord, renuncia por momentos sou laconismo habitus anghar-se emt agentos mais, cilidos. Eo que sueede em particular quando chega a vista do pais dos Carandi, fora dos atuais limites brasleiros.B,exclama, [ou] he a mais fermosa terra e mais aprazivel que pode ser. Et trazia comigo alemides eitalianos e homens que foram & fadia e franceses - todos eram espantados da formosura da torra; € andivamos todos pasmados que nos nao lembrava tornar™* B parece raro que os foci amoent literirios, derivados commente de velhos motivos edénicos, venham a sobrepuiar, xno deslumbramento desses navegantes, a expresso de uma sensibilidade mais direta ao espeticulo real Notas 1, Georg FRIEDERIG, Der Charakter der Enedeckuns und Broberuna Amerihas durch die Burst pt. 418 1 GAYARNIINGEN, Hira Gra do Bran, pag 208 spe Lille LVIt @0 tie 1, cps CXXV ou. Hans STADEN, Varig Historie und beschrsbung ner Landschat der een mock rime MenshfevscrLehe dr Sewer ‘erica feegen "Da slst ten de Poewseser een Pecken “trict Marin onannts Nagi represents o mest pvonlo Mmnsea com one dare. "SUARGMIAGEN, iris Geol do Bros pi. 203, STADE nr 2 nt ln of nat eo rugueses ra ede Ob go onto comoyos sham mat LT ‘er emare pes par ks Bnet rd scorer de la tes lngnguan ede queso davamn laa elas de Via fantes? As dpids, por exempl, que trazenn um precios ca frineulo engastado a fronte saber defendeto ate contra © encanto das tia. Ou ere Psi, deahos matadores Ow ala aos pavorosoe Gages, mais o¢pulentos Aoque clefantese capes, no entanto, declevar sea desacdds slurs to vertiginonamente que dean tre dei un luminoso resto, como de cima ardent Talos ests rods, se lgum da exsiam maura, segundo parecamstesttos vl hiriag 50 se reser na fadia, partculatmente ena pla, ue comtnuaram a set (8 dois vveios de toda a mara, sobretudo enguanto no te descobriuoNovo Continents, Admits, Cet, set apare “7 ‘mento ocasional em terras mals prosaicas; para isso era necessi- Fa entretanto, uma conjungio de fatores to raros que resuh tavam quase numa impossibilidade. ‘O caso do baslisco € a esse respelto bastante caacteristie. ‘Segundo opinide vulgar nascia 0 monstro de um ovo, mas ovo de flo, ¢ galo bem velho, F natural que, jt em meados do séeulo XVI, repugnasse a tim espfrito como Petjod, que se educara no assiduo contato dos empiristas e racionalistas, uma dia to ex- travagante, embora a visse autorizada por eseritores de bom eré- dito, "Se a velhice do galo", di, “nos fizesse obra tio ruim © 0 Dasliiseo fosse to maligno como o pintam, entio j# 0 mundo andaria povoado de basilisoos ¢ ermo de homens". Admite, € ‘certo, que em sia extrema velhice 0 gal se tomnasse verdad fmente oviparo, sendo notério, em seu entender, que costumava por um ovo e to-somente um. No que nio podi aereditar € que Be tal ovo saisse coisa tio nefasta, porque seria equiparé-lo aquele igue, segundo a fabula, botow Leda, mulher de Tindaro, de onde haseera Helena, basilisco das remotas eras. 'AvitGria sobre opinides tao bem assentes no se aleanga contudo, sem grandes dificuldades. O mesmo Feijod, inimigo de~ Clarado do que chamava erros do vulgo nif era to inerédulo que fachasse motivos poderosos para duvidar da existéncia dos galos ‘viparos ou ainda de algama sevandija com o nome de bastliseo. Contentava-se apenas com estabelecer certas limitagBes & malig- nnidade que se atribuia este animal Mas nfo tantas que o impe- dissem de admitir que tivesse uma pegonha aivissima, cujas exa~ fagaes, de fato, bem poderiam inieccionar o ar até a alguma distincia, talar eampos, murchar ervas, romper mesmo os duros pedernais, expulsar ou matar todas as alimarias, exceed feita de {ims poueas, que teriam o dom de resistiasua ruindade. Também ‘nto se opunha a que, segundo diziam todos, tivesse a eabegs ‘adornada de wma coroa:indicio de sua superioridade sobre outros Viventes perniciosos, O que nio tolerava em absoluto era a ‘pretensfo, contrdria a melhor filosofiae 20 mais ponderado saber, fe que semelhante monstro matasse com o s6 oar e ainda com silvo, Pols conven saber, advertia, que a vista nfo ¢ativa sendo entra do préprio érgio: o objeto pode enviarthe especies, mas, ‘ela nada manda ao objeto, Quanto a0 silvo, também nao se pode fizer que seja capaz de imprimir alguma a0 ambiente ov a outro ‘corpo O que acontece & que move 0 ar com determinadas ondu- Tagdes,e que estas, propagando-se, chegam a produzir um movi miento semelhante no timpano do ouvido* FF seviamente a exténcia dessa mons tose, quando tem chr recontes daca aeons pareclam lis penaronevricadn? Bass questo sean Estctos com als noniates ease tamente venereal © 60 que cele atin ea om ports FedroNorontode hour eats ooo Cmarm de sa Majetade na Mes to Dotenbange Sees gual, ombors se prtendeseesquvo a ober tosaree fdeae gor ede evalua de Po se Tetorer aos goat, confesvaseimpotente pretence avert ire ho rl emo oo Ova mals cant ss opimibes dows ar id stesso: A agpo eoutosesntores aj vide e aldara mercacnon contlaro repel gra ano os erttionratonalist,partiltioe de lel abst Itasca Inconcludentes, pos “80a expentnoias Jo Mocs nism he gus noe dovem convencer’ tach palasae eat profigar coma veemencia deel os que negnh core ead senor eldando desta Spot com mentor 6 auc com om ols o vee querento dar precede Teh oe Soci gue pedo jn conse iis estlo da rasdo mana, que falar fe ao pono dc ee foeseameatenleaceben aaa eh aur ene aus on llton veto desconecios da pone ncigee soos virmos verificados na demonstragio?"” : "En fvor da exitncla ds balsos,snvocae, basso nee eo” inp, oe snes oo je mora bnsul de Fras, Monsieur de Montagna, ond do ovo de um galo muito veh, nascera um pitt mostrande dlsiamente fer eauda de lagatn, Io cota odie ea 4 ne pssons qe se cham meta, © mostrar eno abo oro como mara pnts Bao rope wane scorers contra cpt en ue Od catzo ovo com earastrstotsemelhante dos que Eecam ‘mesmos prodigios. ae ‘Ar cxpertnois em que petendia arrinars Cavalel de Arcourt niio iam, é cert Ponto de ‘ parecla 8 cert, an pont de nepar © que pare evident, saber qua besscocouten menos sepenees Sram do rardade ta extrema que quse confine tom a Impossibuidade. Otto ¢ qu, onde no pels par testomunho de ators sion, tase pretender age podet dere 200 ue fala nele mais alo 0 cego racioeinio ua eredulidade do que {sora experitneta, que to indica a possiblidade defendmenos emelhantes. Ora, se de im ovo, prestmivelmente de galo velho, Pode sar pinto com rabo de lagartxa, logo 6 vsivelepalpavel que vos achamos ante um baslseo em proto. Sua raridade devia-se $6 a0 fato de ser provavelmente diietimo reunirem-se ao mesmo tempo as eirounstaneias,j6 por si s6s multissimo infrequentes, que esses fendmenos re- {querem para seatualzar E preciso dizer que o ovo apropriado & produgao de um basilisco nao ha de ser apenas ovo de gal, € falo velho, Importa além disso que sala sem gem, 0 que no scontece provavelmente com todos. A essas exigencas arescen- tamse sem duvida muitas outras que, pela propria dificuldade tom que as costumasatisfazer a natareza,impedem observagao meticulosa, Quer dizer que a rardade desse bicho toca as fron- teiras do impossivel Mas essa raridade tudo fasia pensar que nio se verifies «em todas as épocase,sobretudo, que nao passava de fendmeno {europeu, pols da ireqincia de monstrossemelhantes em outros Tires poucos duvidavam: entdo como nao dae orédito aos Gquealegassem a senectade da Terra éineapaz de os produzir,e prineipalmente 2 idéia de que ela vinha decaindo por partes, 2 Comegar, naturalmente, pela Europa? O proprio Feijoo, onde ‘Combate 4 teoria dessa senetude, serve-se invariavelmente, Gquando se trata de relutar os que argumentam com alusbes 2 pouia vrtude da natereza para prodiale as eiatura asombrosas Teantigamente, de testemuntos sobre existéncia delas emt ou teas partes!” Nio um modo de dar aza0 aos adversiros, quando menos no que toca as partes da Europa? Fosse qual osse, no caso, sua maneira de geragao,tinham muitos por cosa certa ue 0 proprioshasiliscos abundavam em Tugares diferentes, na. Afrlea, por exemplo, Pos dizia-se que alguns ‘ajantes tinham allo costume de leva consigo wm glo, ulgando ue, inofensiva,emlbora, para o homiem, essa ave era mortal para fiquclas serpentes. Narrado por Elian, 0 eas0€repetido em 1690 ‘num livo de emblems e empresas composto pele benedtino Frei Jodo dos Prazeres". A razao de sro glo um dos meios de defesa “ontea semelhante perigo ~outea dfesa seria 0 espelio, que, re- ‘etberando os eftvios de seus oos, Ine devolve propria e mortal iidade ~vinha de no poder suportar o canto desta ave, E ‘no 86 0 canto, ais, mas a simples sparéncla dela, tha por Clto morte certs, porque a ostenta A cabega uma Coron mals -250- nobre,vistosa¢dilatada do que a sua, De sorte que, sendo esse animal tio pegonhnento que mata com os6athar,*nem tem oles, diz Fro Joo, "nem veneno para olender 9 310" Fosse qual fosse asa trocidade,¢ conta ela, como se ‘¢, sempre exstiiam recursos, presenga do basilica ede otras Teras ighalmente maléfcas erecta indiear estuante de vida, de forgadivinaejuvenl,Desaparecendo esses monsros, a Tera, obra ncompardvel de Deus, empabrecin-se, por outro lado, da tnfinia vartedade de formas que eran um {nstrumento de sua forge sabedoria Anda que conlusamente, ia nostalgia desse mundo desaparevido parece ter acompantato os navezatores con. ‘quistadores de terras inedgntas durante a ea das grandes ds obrimentos marftimos, quando esperanga de magnficos tao ros seacressontava, quase invariavelmente,a de aparigoes hosts ‘1 fabulosas, Desde remota Antiguidade,& imagem de imensas iquezas se tnham undo, alls, as de monstruosidade e maravi, thas sem conta, para compor 3 idela que mais geralmente se fazia acerea da India © também da Exopia, essa India Menor, como fora chamada. O mesmo e, sem divi, em mats large ala, por se tratar de hares desconhecidos dos antigos, deve ddars agora com estas outras Indias que eram as do Oeidente. Desdeo primeiro momento pateset'a muitos que, nes partes, a regra era a excepto eo extraordinisio, a norma. Colom: bo avista tres sereias ao detxar a costa do iat, Jt prestes regresar Espana, eo reistrolacdnieo do acontecimento mos tua que naqucle estado de vertigem em que todos deviam anda? Jano havia margem para surpresa, Ota surpresa se apasiguara 20 pensamento de que os poets teriam simplesmente exagerndo © engrandecido, segundo seu costume, 0 encanto daquelas ériatarassobrenaturas “cl Almirante |] vido tres serenas que salieron bien ato dela mar" le-se no dri, “pero no eran tan hhermosas como ns pintan, que en alguma mawtera ten detombreen luca? Note-se ee, passadas cen anos © mais, um cronlsta anonimo da terccia grande viagem de Jamies Lartaster (1601: 1603) ainda pode rferetrangailamente a aparigao em alto-mas, entre o Cabo da Boa Bsperanga ea Tha de Santa Helena, de duas des crits, reumisimente coe” Faa snare es, sua presenga era seguro indfcio de mau tempo e 0 fo fot que vio loge wa tormenta fore, com ventos contro, que dluraram quatro das seguidos -2s- A propésito das sects do Colombo sugerin Navarrete tem ou mal, que no sera tales outa ool send es vaens marinas que tata Oviedo. ba mesa forma pode pense que Osrandesintos de que Th flan oss steam sa ako Stow homens eaatos ou 0s cinecfalos, que correboravam nue Os longo abel de uns lars tenant. pono dk partida para a nota des miagonas de saunino Mar nao em evel por delirante que Toke nos pare, a imaginagio do eenoves. Seu coragio, sensve ts armonias Ja tecouros das Indias imped que se converses em pesadelo 0 {jue nleforaum sonho denisterio e grandeza. "En estas isk ‘Revevea Lats de Samtangel, fasta agi no he halldo hombres mealonte [ok Ee depots de msitr oom parecer da tio era peta com a de Casing e nem tna eabelos eos aribut ete itm fata diferenea dos lias aos Irae deincerno dasha, cao cleo mid, spelocostomeepelavaredad Gentura ds an sen a dco we prasoalmente: “Ans que monstras to he Hallado, a ntl neque nao fataseagniasombra ao quadro, esa so de cera ih, povond, 0 que todos slam, de gente mis sores do que los ots; salvo tra Ton ens Lagos [TP arta ardines do simples vind 80 astra vest ques lgares de galas ral, que vn. Comp tamed dori Jadese terrors do ie imaging cosuma powoar tras incdgnies Nao enn 2 pen Ghamorada de quem evita verdad a, mas

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