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Bitcoin e a Evasão de Divisas: Como as Criptomoedas escancaram o atraso das Leis no Brasil
Bitcoin e a Evasão de Divisas: Como as Criptomoedas escancaram o atraso das Leis no Brasil
Bitcoin e a Evasão de Divisas: Como as Criptomoedas escancaram o atraso das Leis no Brasil
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Bitcoin e a Evasão de Divisas: Como as Criptomoedas escancaram o atraso das Leis no Brasil

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Com exemplos concretos, aplicações reais, linguagem autêntica e sem juridiquês, o autor procura sanar a grande dúvida tanto dos juristas quanto dos adeptos de criptomoedas:A prática de enviar Bitcoin ao exterior é Evasão de Divisas?Marco passou meses operando nas maiores corretoras internacionais e relatando o processo de compra, envio e negociação no exterior.Com intuito de apresentar as leis que regem as operações, realizou uma profunda pesquisa nas grandes fontes do Direito Financeiro e Penal para responder também outras questões:Há Lesão ao bem jurídico protegido pela norma?Bitcoin é Divisa?Não só isso: o autor teve acesso a um documento de uso exclusivo do Ministério Público e Polícia Federal chamado “Roteiro de Boas práticas de Investigações em Criptoativos”Em outras palavras: Tudo o que a polícia vai fazer caso haja um crime envolvendo criptomoedas.Além disso, ele ensina como guardar seus bitcoins da maneira mais segura e proteger suas criptomoedas de hackers e outros criminosos virtuais.
LanguagePortuguês
PublisherBibliomundi
Release dateDec 16, 2021
ISBN9781526022622
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    Bitcoin e a Evasão de Divisas - Marco Antonio Coelho

    1. INTRODUÇÃO

    A troca de dinheiro, bens e informações é essencial à vida moderna. A globalização permitiu que pessoas de qualquer lugar do mundo se comuniquem e compartilhem informações ignorando todas as fronteiras.

    Entretanto, até então era difícil o envio de dinheiro de uma maneira totalmente digital.

    Em 2008, um pseudônimo chamado Satoshi Nakamoto publicou em um grupo de internet um paper chamado Bitcoin: A Peer-to-peer Eletronic Cash System. Instigado não só pelos ideais libertários, ele queria criar um meio de pagamento independente do sistema financeiro poluído com as ações dos bancos centrais.

    Afinal, o Banco Central Americano salvou os bancos ao injetar liquidez (colocar mais dinheiro) em seus balanços, enquanto as pessoas perdiam suas casas, poupanças e aposentadorias. Era o estímulo perfeito para publicar o White papper do Bitcoin.

    Satoshi Nakamoto mal sabia que o que tinha em mente viria a ter um impacto colossal: Uma moeda, um sistema de pagamento global, sem fronteiras e que funciona totalmente em uma rede descentralizada. Além disso, é independente de governos ou bancos centrais¹. É a solução perfeita para o caos.

    No começo, o seu uso era restrito a nichos específicos, com destaque aos profissionais da computação e criptografia. Afinal, o Bitcoin era pouco conhecido e muito menos usado pelo público em geral.

    A primeira transação de que se tem conhecimento foi realizada em 22 de maio de 2010, por um programador Húngaro chamado Laslo Hanyecz, quando comprou duas pizzas por dez mil bitcoins. Sim, dez mil.

    Na cotação atual as pizzas valeriam mais ou menos R$ 400.000.000 (quatrocentos milhões de reais)². Se o dono da pizzaria não vendeu os bitcoins lá atrás, hoje ele tem dinheiro suficiente para comprar a Pizza Hut.

    Entretanto, por funcionar em uma rede independente em que as transações são dotadas de uma privacidade autêntica, a criptomoeda também foi utilizada por supostos criminosos.

    O site Silk-Road, gerenciado pelo pseudônimo Dread Pirate Roberts, comercializava qualquer coisa que as pessoas estivessem dispostas a negociar utilizando o Bitcoin como meio de pagamento. Qualquer coisa mesmo. Desde as mais simples até as mais bizarras. Free Market Society, my friend!³

    O que dá um tom internacional à criação de Satoshi Nakamoto é a rede Blockchain. Totalmente descentralizada, ela permite que os participantes (nodos) da rede estejam em qualquer lugar do mundo podendo minerar bitcoins e validar as transações. Dessa forma, por meio da internet, a criptomoeda atravessa países e ignora as fronteiras territoriais.

    Os estados procuram criar leis com o objetivo de impedir a saída de bens e capital do seu território. Recentemente, após a eleição de Alberto Fernandéz, foi imposta à população a limitação de compras de 200 (duzentos) dólares americanos sem a autorização da Receita Federal Argentina. Uma memorável estupidez.

    O Brasil, por exemplo, prevê na Lei 7.492/86 o crime de Evasão de Divisas, ou seja, a saída de dinheiro ou divisas do país sem a autorização do Banco Central e da Receita Federal. Dessa forma, há um controle cambial e fiscal por parte do Estado.

    Ciente dessa situação, o livro procurou analisar: a relação do crime de Evasão de Divisas com o envio de criptomoedas ao exterior; o crime mais comum que envolve o Bitcoin; e o procedimento investigativo realizado pelas autoridades policiais.

    A pesquisa para o desenvolvimento dessa obra ocorre em diversos momentos. No primeiro, procura-se definir o que são as criptomoedas, além de seus atributos como a criptografia, a escassez e a oferta monetária.

    Por falar em escassez e oferta monetária, o Bitcoin é considerado moeda? Essa pergunta será respondida com ajuda das teorias privatista e publicista da origem do dinheiro.

    Também será verificado se a criação de Satoshi Nakamoto é um título de crédito, ativo financeiro ou bem, graças ao auxílio das ciências contábeis, jurídicas e econômicas.

    Quando se trata dinheiro, ativos financeiros ou qualquer outra coisa que possa gerar renda, o fisco vai querer a parte dele. Nesse ponto será abordado não só como a Receita vê o Bitcoin, mas como ela, infelizmente, rastreia a sua vida financeira, além do dilema moral da declaração das criptomoedas no Imposto de Renda⁴.

    Outro ponto importante é como as operações são feitas na criptoeconomia. Elas ocorrem tanto nas corretoras quanto fora delas, no mercado OTC.

    A fim de explicar o que acontece nesse novo mercado, serão detalhadas as seguintes transações: O depósito bancário na conta da corretora; A transferência instantânea pela rede Blockchain; as operações em corretora internacional; o armazenamento em paper wallet; e, a posterior venda.

    Percebe-se que para comprar ou vender bitcoins, envolve dinheiro em espécie. Entretanto, surge a dúvida de como as transações são classificadas. Afinal, quando eu compro Bitcoin eu realizo uma transação financeira ou não?

    As transações financeiras são regidas por uma inegável lei não ditada pelo Direito de cada país. Ela prevê que as pessoas vão usar a moeda ruim no dia a dia e vão poupar a moeda boa.

    Essa é a Lei de Gresham, que se aplica não só ao papel colorido emitido pelo estado, mas também ao Bitcoin. De que forma ela age sobre as negociações? Essa pergunta também será respondida.

    Em relação à Evasão de Divisas, o crime é previsto na Lei 7.492/86. Ela foi promulgada em uma época turbulenta em que os investidores, apavorados, tiravam daqui seus dólares de uma maneira desesperadora. Afinal, ninguém queria deixar seu dinheiro no Brasil com um preço cujo valor tabelado é inferior ao alto risco de investi-lo em terras tupiniquins.

    O crime será completamente detalhado, letra por letra e vírgula por vírgula. A realização dessa façanha será com auxílio da doutrina, da jurisprudência e do próprio texto da lei. Pode ficar tranquilo (a) porque o juridiquês foi todo traduzido para que a leitura fique simples e fácil.

    De acordo com o que é exigido pelos princípios penais, o crime deve lesionar algo protegido pela norma. Por exemplo, matar alguém lesa a vida, bem protegido pelo Direito.

    Mas o que o crime de Evasão de Divisas protege e qual o instrumento do crime? Aliás, o que é divisa? Essas perguntas serão respondidas no terceiro capítulo.

    A relação da prática de enviar bitcoins ao exterior com o delito de Evasão de Divisas será feita no quarto capítulo em três tópicos: O primeiro vai analisar se a prática de transferir criptomoedas ao exterior se enquadra no que é previsto pelo crime; A lesão ao bem protegido pela lei será analisada no segundo; e, se o Bitcoin é divisa ou não, vai ser abordado no terceiro tópico.

    Depois de verificado se enviar bitcons ao exterior é crime ou não, será analisado o delito mais comum envolvendo criptomoedas: as pirâmides financeiras.

    Os fundadores do esquema se baseiam em um método criado em 1920 que ainda ilude pessoas 100 anos depois. Além de explicar como funcionam as pirâmides, o livro também ensina o leitor a não cair na lábia desses faraós.

    Para capturar esses criminosos, as forças policiais tiveram que aprender a lidar com as criptomoedas. Era inevitável. Em 2017, o preço do bitcoin disparou. A quantidade de pirâmides financeiras também.

    Os membros das forças policiais, do Ministério Público e do Poder Judiciário não sabiam como as criptomoedas funcionavam. Vários mandados de busca e apreensão foram cumpridos sem sucesso pelo fato de não haver o conhecimento sobre a tecnologia por parte das autoridades.

    E, para dificultar ainda mais, não existe um órgão central na rede Blockchain para cumprir a ordem. Para quem está acostumado com bloqueios patrimoniais feitos com auxílio do BacenJud (contas bancárias e investimentos) e Renajud (veículos), mandar congelar criptomoedas era algo extremamente novo e chocante.

    Era chocante porque as autoridades não sabiam como a tecnologia funcionava. As decisões são tomadas com base no consenso de quem participa da rede. Nela não existe poder central e nenhum membro da rede obedece ao estado.

    Para entender como funciona e poder investigar os crimes que envolvem criptomoedas, foi elaborado em 2019 o Roteiro de Boas Práticas de Investigações em Criptoativos.

    Essas práticas vão nortear a fase investigativa e processual. Afinal, o objetivo é tornar qualquer indício em prova para que o suspeito seja transformado em réu e posteriormente condenado.

    O procedimento investigativo vai levar em consideração certas informações e aplicativos específicos relacionados às criptomoedas. Por exemplo, se o indivíduo possuir em seus dispositivos eletrônicos o navegador TOR ou qualquer software de VPN, há indícios de que ele realiza operações na criptoeconmia.

    Para cada tipo de suspeito, uma ação específica. Se ele for uma pessoa jurídica, as autoridades vão requisitar informações ao Banco Central e à CVM sobre a existência de registro e autorização para operar dentro do país. Além disso, haverá pesquisa na internet e nas redes sociais para identificar o responsável pela empresa.

    Se o suspeito for pessoa física, serão solicitadas ao juiz autorizações para acessar o dispositivo eletrônico no próprio local e transferir as criptomoedas para uma wallet controlada pelo estado, por exemplo.

    Caso o suspeito tenha cadastro em corretoras, vários outros dados serão solicitados para que haja o cruzamento de informações a fim de tornar o inquérito um relatório mais robusto.

    Além disso, o interrogatório será diferenciado. Para cada alegação do suspeito, será feita uma série de perguntas. Além de tornar a investigação mais inteligente, especialistas vão procurar fazer o mais difícil: vincular a wallet com seu proprietário.

    Para realizar esse vínculo, há empresas e softwares que realizam esse trabalho. Empresas como a Chainalysis prestam estes serviços especializados para que as autoridades descubram, por exemplo, se a carteira é de fato do suspeito ou se dela foram transferidos bitcoins para outra na deepweb.

    É com base na apresentação dessas ideias que o autor procura fazer valer o subtítulo do livro: Como as criptomoedas escancaram o atraso das leis no Brasil.

    É visível que as forças policiais hoje têm um conhecimento inegável para tentar rastrear os usuários de criptomoedas. Mas, infelizmente, a polícia usa essas informações para combater crimes previstos em leis antigas, elaboradas para atingir objetivos que em 2020 são motivos de piada.

    Dessa forma, o livro pretende trazer um vasto e inesquecível conhecimento ao leitor. Com base nas ciências econômicas, contábeis, jurídicas e da computação, procura-se explicar detalhadamente ao leitor o que são as criptomoedas e como elas têm impacto na vida de quem as possui.

    Uma parte dessas informações está disponível e a outra está em segredo, restrita a somente algumas autoridades.

    Mas, graças a esta obra, você terá acesso de maneira organizada a este conhecimento e estará apto a negociar, guardar suas criptomoedas de maneira segura, além de protegê-las tanto dos criminosos quanto dos diversos autoritários que existem no mundo.

    2. O BITCOIN E AS OUTRAS CRIPTOMOEDAS

    Este capítulo será sobre a definição das criptomoedas. Os atributos técnicos serão elencados com base nos livros nacionais e internacionais sobre o tema. Com auxílio do Direito e da Economia, será discutido se elas são de fato moedas, títulos de crédito, ativos ou bens.

    Já no que diz respeito à cobrança de impostos⁵, será explicado não só como a Receita Federal vê as criptomoedas, mas também os meios usados pelo fisco para rastrear vida do contribuinte⁶.

    Posteriormente, serão detalhadas as operações com bitcoins baseadas naquelas realizadas pelo autor, além de como guardá-los com segurança.

    E no fim do capítulo, as leis econômicas serão aplicadas para classificar as transações e explicar o porquê de as pessoas preferirem manter seu patrimônio em bitcoins a trocá-lo pelas moedas fiduciárias.

    2.1. O QUE É BITCOIN?

    Em 2008 o mundo foi assolado pela gigantesca crise do subprime, decorrente de irresponsabilidades de crédito por parte dos bancos americanos. Estes atos imprudentes levaram milhares de pessoas (pobres em sua maioria) a perderem seus imóveis, poupanças e aposentadorias. O apocalipse financeiro havia chegado.

    As instituições financeiras quebraram. Lehman Brothers, o banco grande demais para quebrar, foi à falência junto com outros menores. Após essa catástrofe e muito diferente dos cidadãos, eles foram salvos pelo Banco Central Americano, o FED, quando o governo decidiu injetar liquidez no mercado. Em outras palavras: imprimir mais dinheiro.

    Após essa atitude inesperada do Banco Central Americano, a desconfiança tomou conta das pessoas e da mídia. Alguns meses depois, um pseudônimo da internet chamado Satoshi Nakamoto escreveu um curioso white paper e publicou na internet.

    O documento, com o nome Bitcoin: a Peer-to-Peer Eletronic Cash System, criava um meio de pagamento totalmente online, sem a necessidade dos bancos, e completamente fora do sistema financeiro tradicional.

    Fernando Ulrich, o especialista no Brasil sobre o assunto, define o Bitcoin como uma forma de dinheiro totalmente digital cujo valor é determinado pelas pessoas. Além disso, ele afirma que o Bitcoin fará com o dinheiro o que o e-mail fez com as cartas:

    Em poucas palavras, o Bitcoin é uma forma de dinheiro, assim como o real, o dólar ou o euro, com a diferença de ser puramente digital e não ser emitido por nenhum governo. O seu valor é determinado livremente pelos indivíduos no mercado. Para transações online, é a forma ideal de pagamento, pois é rápido, barato e seguro. Você lembra como a internet e o e-mail revolucionaram a comunicação? Antes, para enviar uma mensagem a uma pessoa do outro lado da Terra, era necessário fazer isso pelos correios. Nada mais antiquado. Você dependia de um intermediário para, fisicamente, entregar uma mensagem. Pois é, retornar a essa realidade é inimaginável. O que o e-mail fez com a informação, o Bitcoin fará com o dinheiro. Com o Bitcoin você pode transferir fundos de A para B em qualquer parte do mundo sem jamais precisar confiar em um terceiro para essa simples tarefa. É uma tecnologia realmente inovadora. […] Em definitivo, o Bitcoin é a maior inovação tecnológica desde a internet, é revolucionário, sem precedentes e tem o potencial de mudar o mundo de uma forma jamais vista. À moeda, ele é o futuro. Ao avanço da liberdade individual, é uma esperança e uma grata novidade. (ULRICH, 2014,)

    Aqui se percebe uma previsão esperançosa e surpreendente comparando o que a criptomoeda fará com o sistema financeiro ao que o e-mail fez com a comunicação.

    Vemos que hoje um dos meios de pagamento mais usados no mundo, que facilita a transação de bens e informações, é o cartão de crédito. Qualquer pessoa usa, por mais simples que seja.

    Porém, infelizmente, há a necessidade de um terceiro intermediário, a empresa que fornece o serviço. Por meio do modelo Peer-to-Peer (ponto a ponto) da tecnologia do Bitcoin, a presença de terceiros é eliminada, sendo substituída pela prova criptográfica.

    Satoshi Nakamoto afirma no white paper que o necessário é um sistema de pagamento eletrônico à prova de falhas. A tecnologia seria baseada em prova criptográfica, permitindo que duas partes possam transacionar diretamente entre si sem a necessidade de um terceiro confiável.

    As transações, que são computacionalmente impraticáveis de reverter, além de tornar a negociação segura, protegem de fraude tanto os vendedores quanto os compradores. Assim, também é apresentada uma solução para o problema do gasto duplo.

    O gasto duplo é o envio do mesmo item para destinatários diferentes. Sabe quando você manda o mesmo documento para várias pessoas? Isso é o gasto duplo. Imagine a tragédia que seria se isso fosse aplicado às criptomoedas. O sistema perderia a credibilidade e entraria em colapso.

    Assim, de modo brilhante, Satoshi Nakamoto pensou em uma forma para que esse problema não acontecesse. No white paper foi previsto "um servidor de horas distribuído peer-to-peer para gerar prova computacional da ordem cronológica

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