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Universidade de Trás – Os – Montes e Alto Douro

Mestrado em Eng.ª do Ambiente


Energia e Ambiente

Energia Hidroeléctrica

Bela Irina Passos Natário de Castro – nº24625

Vila Real, 31 de Janeiro de 2009


Conteúdo
Enquadramento Histórico ........................................................................................................................ 3
Barragens................................................................................................................................................. 5
Barragens rígidas ................................................................................................................................. 6
Barragens de gravidade ................................................................................................................... 7
Barragem em arco ........................................................................................................................... 8
Barragens não rígidas .......................................................................................................................... 9
Barragens de terra............................................................................................................................ 9
Selecção do sítio da barragem ........................................................................................................... 16
Topografia e Geologia ................................................................................................................... 16
Climatologia, hidrologia e hidrometria ......................................................................................... 16
Curva Cota-Área-Volume de uma barragem ................................................................................. 17
Transporte de sedimentos .............................................................................................................. 18
Pontos de ligação à rede eléctrica nacional ................................................................................... 18
Energia hidroeléctrica............................................................................................................................ 19
Centrais hidroeléctricas ......................................................................................................................... 22
Tipos de centrais hidroeléctricas ....................................................................................................... 23
Central a fio de água.......................................................................................................................... 23
Central com acumulação ou armazenamento ................................................................................ 24
Central por armazenamento por bombagem.................................................................................. 24
Central com reversão ..................................................................................................................... 24
Componentes físicas de uma central ................................................................................................. 25
Potência de uma central..................................................................................................................... 29
Como potência é computado ......................................................................................................... 29
Transmissão de Energia..................................................................................................................... 30
Critérios da análise económica .......................................................................................................... 32
Impactos ................................................................................................................................................ 33
Minihídricas .......................................................................................................................................... 36
Glossário................................................................................................................................................ 37
Referências ............................................................................................................................................ 38
Enquadramento Histórico

Desde tempos remotos que houve necessidade de armazenar as águas das chuvas de
modo a poder utilizá-las durante a época seca. As barragens não fazem mais do que fazer uma
transferência de água no tempo em oposição às adutoras que fazem transferência de água no
espaço. A primeira barragem, de que há memória, foi construída na Caldeia, no rio Tigre
(Costa & Lança, 2001).
Apesar de na Península Ibérica os romanos terem deixado numerosas barragens, a sua
“adaptação” na produção de electricidade só teve início em Portugal nos finais do século XIX
(Costa & Lança, 2001; PNBEPH, 2007). Os primeiros aproveitamentos foram instalados perto
de rios mais ou menos permanentes, utilizando as quedas criadas pela construção de pequenos
açudes em alvenaria, sendo pouco mais que azenhas adaptadas com a instalação de dínamos
(PNBEPH, 2007).
Com o tempo, estas pequenas centrais isoladas começaram a alimentar a iluminação
pública das povoações (Vila Real – 1894) (Fernando Faria, 2004) onde se encontravam as
instalações industriais, bem como algumas habitações (PNBEPH, 2007).
Num curto espaço de tempo surgiram as primeiras empresas de produção e
distribuição de energia eléctrica (refiram-se as Companhias Reunidas Gás e Electricidade -
C.R.G.E. (1891), a Central da Boavista (1903), a Central do Ouro (Porto, 1908/9), e a Central
Tejo (Lisboa, 1908 e 1914) (Rollo)
No entanto a construção dos grandes aproveitamentos de albufeira, capazes de
assegurar uma regularidade de produção conveniente, implicava investimentos avultados que
só poderiam ser realizados com intervenção estatal. Mas a crise económica dos anos 30, com
o fim da Monarquia, a implementação da Republica e a II Guerra mundial dificultaram a
implementação inicial, tendo o primeiro grande aproveitamento (Santa Luzia, no rio Unhais)
com 24 MW de potência entrado em serviço em 1942 (PNBEPH, 2007).
Mas foi só em 1947 que o Governo divulgou a política definida em termos de grandes
aproveitamentos hidroeléctricos e logo a seguir foram constituídas as sociedades Hidro-
Eléctrica do Zêzere e do Cávado, sendo-lhes outorgadas as concessões dos aproveitamentos
do Zêzere e do Cávado – Rabagão (Rollo), que após a sua instalação apresentavam uma
potência total instalada de aproximadamente 1 000 MW (PNBEPH, 2007).
Este foi claramente o período de ouro da hidroelectricidade em Portugal, garantindo
com abundância e segurança a satisfação da procura ligada a uma rede crescente. Em 1960,

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80% da potência instalada e 95% da energia eléctrica consumida em Portugal tinha origem
hidroeléctrica (PNBEPH, 2007).
Nas décadas de 70 e 80, respondendo à rápida evolução dos consumos, são instalados
mais 1500 MW de capacidade hidroeléctrica, incluindo nomeadamente a totalidade da cascata
do Douro Nacional (800 MW), levando o total da potência hidroeléctrica Nacional a cerca de
3000 MW em 1990 (PNBEPH, 2007).
Ao longo dos anos 90 entraram em serviço mais cerca de 700 MW hídricos,
concentrados essencialmente no aproveitamento do Alto Lindoso, no rio Lima (630 MW) e
nalguns pequenos aproveitamentos minihídricos, sendo que até a data se encontra instalada
uma potência hidroeléctrica da ordem de 5.000 Mw, incluindo 4 580 MW de centrais do
regime ordinário e 365 MW em centrais do regime especial (minihídricas) (PNBEPH, 2007).
Actualmente, com a problemática das alterações climáticas Portugal viu-se obrigado a
criar a Estratégia Nacional para a Energia aprovada em Outubro de 2005, com os objectivos
principais de criar mais concorrência e promover a sustentabilidade ambiental (Resolução do
Concelho de Ministros nº50/2007) visando assim a redução da dependência externa através do
aumento da produção endógena (Direcção Geral de Geologia e Energia, 2006) e da promoção
da concorrência nos mercados energéticos (Resolução do Conselho de Ministros nº50/2007).
Tendo em conta estes objectivos, o governo reviu metas anteriormente estabelecidas,
passando assim a produção de electricidade com base em energias renováveis de 39% para
45% do consumo até 2010 (Ministro da Economia e Inovação, 2008). Portugal é um dos
países da União Europeia com maior potencial hídrico por explorar e maior dependência
energética do exterior, mas também dos que menos cresceu em capacidade hídrica nos
últimos 30 anos (Ministro da Economia e Inovação, 2008). Devido a este défice no
crescimento o Governo aposta, no PNBEPH pretendendo que até 2020 se supere os 7.000
MW de potência hídrica instalada, permitindo a Portugal utilizar 70% do seu potencial contra
os pouco mais de 40% actuais (Ministro da Economia e Inovação, 2008).

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Barragens

As Barragens servem para armazenar água para posterior liberação para tais fins como
irrigação, uso doméstico e industrial, e de energia eléctrica. O reservatório age muito como
uma bateria, armazenando a água ser liberada conforme o necessário para gerar energia (U.S.
Department of the Interior, 2005). Existem então vários motivos para a construção de
barragens (Costa & Lança, 2001):

a) - Controlo de cheias - devido à ocupação humana e à degradação da bacia às vezes há


necessidade de reter temporariamente grandes volumes de água de modo a evitarem-se
inundações, ou seja “achatar-se o hidrograma de cheias”
b) - Rejeitos ou minerações - Cada vez mais comuns em áreas maneiras estas barragens
destinam-se a conter as águas provenientes das minerações, a fim de evitar que as substâncias
químicas invadam os mananciais a jusante.
c) - Correcção torrencial - Embora de pequeno porte destinam-se a mudar o regime do rio,
diminuindo-lhe a velocidade causadora de erosões e sedimentações nocivas a jusante.
d) - Conservação da água - Destinam-se a armazenar as águas pluviais ficando-se com uma
reserva apta para qualquer período de carência de água.
1. Geração de energia hidroeléctrica;
2. Irrigação;
3. Abastecimento humano e animal;
4. Abastecimento industrial;
5. Piscicultura;
6. Recuperação de terras inundadas;
7. Turismo e lazer;
8. Navegação.

Tal como existem uma diversidade de arquitectura de barragens. Geralmente a


arquitectura da barragem está relacionada com o tipo de vale e de fundação e
consequentemente do material empregue na construção. Assim as barragens podem ser
rígidas (betão, alvenaria de pedra, madeira ou aço) ou não rígidas (terra, enrocamento,
gabião) (Costa & Lança, 2001).

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Barragens rígidas

São feitas de betão ou de alvenaria de pedra e podem ser de gravidade (peso), arco ou
abóbada, contrafortes ou gravidade aligeirada (Costa & Lança, 2001).

Figura 1a: Desenho esquemático de um perfil tipo de uma barragem de arco – gravidade.

Figura 1b: Desenho esquemático de um perfil tipo de uma barragem de contrafortes.

Figura 1c: Desenho esquemático de um perfil tipo de uma barragem de arco – abóboda.

Figura 1d: Desenho esquemático de um perfil tipo de uma barragem de aterro.

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Barragens de gravidade

Pode ser de alvenaria de pedra, betão convencional ou betão compactado a rolo. Para
qualquer dos materiais o processo de dimensionamento é o mesmo. O projecto de uma
barragem gravidade obedece aos seguintes requisitos (Costa & Lança, 2001):

a) A fundação e as ombreiras do sítio devem ser suficientemente compactas para suportar


o peso da barragem;
b) A fundação deve ser homogénea e uniformemente elástica em todas as direcções, de
modo que as suas propriedades possam ser interpretadas segundo a teoria da
elasticidade;
c) A base da barragem deve ser bem assente na fundação e nas ombreiras;
d) Devem ser tomados cuidados especiais a fim de que assegurada uma perfeita união
entre betão e rocha;
e) O betão deverá ser uniforme em todos os pontos da estrutura devendo as suas
propriedades ser acompanhadas através de controlos de qualidade;
f) Devem ser levados em conta os efeitos provocados por sismos, se tratar de uma região
sujeita a tremores de terra;
g) A análise da estabilidade deve provar possíveis assentamentos diferenciais.

Figura 2: Barragem do Alto Cávado, Vila Real - Barragem tipo Gravidade.

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Forças que actuam numa barragem gravidade

Uma pequena barragem por gravidade está sujeita aos seguintes esforços:

a) Pressão da água ou impulso I;


b) Pressão ascensional ou sub-pressão Pa;
c) Peso da barragem W.

Uma barragem resiste a todas as forças através do seu peso, daí o nome gravidade. Em
consequência a barragem deve se maciço com o material construtivo apresentado densidade
elevada. Em pequenas obras a análise estrutural é bidimensional fazendo-se as considerações
sobre uma largura unitária (Costa & Lança, 2001).

Barragem em arco

Podem ser curvas só em planta ou planta e perfil (duplo arco). São inseridas em vales
estreitos ou gargantas (canyons) e as fundações e ombreiras terão que ser de rocha sólida e
muito compacta. Parte do impulso é transmitido para as ombreiras devido à acção do arco da
secção.
O consumo de betão é muito menor do que nas do tipo gravidade de igual altura e
consequentemente o custo é menor. Contudo exige pessoal altamente especializado, em razão
de rigor no projecto e no controlo da obra, o que lhe reduz a vantagem adquirida no volume
de betão. Este tipo de barragens não utiliza a soleira normal para descarregador em razão da
sua pouca espessura. Em seu lugar é utilizado a túlipa, de construção cara, funcionamento
hidráulico deficiente e limitada para vazões pequenas. Também são utilizadas, como
descarregadores, orifícios, abertos na barragem, normalmente comandados por comportas.
As forças que actuam numa barragem em arco são (Costa & Lança, 2001):

a) Impulso Horizontal;
b) Altura das ondas;
c) Forças sísmicas;
d) Pressão ascensional.

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Figura 3: Barragem de Venda Nova, Montalegre – Barragem do tipo Arco-gravidade.

Barragens não rígidas

Incluem-se as barragens de terra e enrocamento.

Barragens de terra

As primeiras barragens da era moderna, destinadas essencialmente à geração de


energia, situaram-se em trechos montanhosos, onde os vales são encaixados e predominam os
afloramento rochosos. Foram escolhidos, como é óbvio, os locais mais apertados (gargantas)
e neles foram construídas barragens rígidas (gravidade, contrafortes ou arco). Mas os bons
locais foram-se esgotando e foram sendo, cada vez maiores, as necessidades de água, agora já
não só para geração de energia mas, especialmente, para abastecimento das grandes cidades
que foram surgindo, rapidamente, por todo o mundo. Começaram a construir-se, cada vez
mais, barragens não rígidas (Costa & Lança, 2001).
Uma barragem de terra não é exigente nem nas fundações nem nos materiais. Ela
molda-se a quase todas as fundações e, com modernas técnicas de mecânica dos solos e
terraplanagens, aceita uma enorme variedade de solos. Os sítios para barragens de terra
localizam-se, regra geral, em vales de transição entre a montanha e a planície, no terço médio

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dos rios. Os vales chegam a ser muito abertos, com ombreiras suaves. A grande vantagem das
barragens de terra, sobre as outras, é que pode ser construída sobre qualquer tipo de fundação.
As barragens de terra são relativamente baratas e não exigem pessoal muito
especializado. A construção costuma absorver a mão-de-obra local, sendo um dos recursos à
que os governos recorrem quando uma região é afectada por secas e há necessidade de ocupar
milhares de pessoas que normalmente trabalham na agricultura (Costa & Lança, 2001).

Tipos de barragens de terra

Há três tipos principais de barragens de terra de acordo com os solos utilizados de


construção (Costa & Lança, 2001). São constituídas por solos de jazidas ou obtidos das
escavações obrigatórias, as quais são compactadas por equipamentos mecânicos em camadas
de espessura determinada.

a) Barragem de aterro homogéneo;


b) Barragem zonada;
c) Barragem com núcleo.

Barragem de aterro homogéneo

É utilizado somente um único tipo de solo. As partes principais de uma barragem deste
tipo são (Costa & Lança, 2001):

a) Aterro propriamente dito, cujos taludes têm inclinações que constam dos quadros a
seguir, entendendo-se por esvaziamento brusco ou rápido o que apresenta velocidades
mínimas de descida de nível de 15cm por dia;
b) Filtro ou dreno vertical ou inclinado constituído por areia seleccionada de
granulometria adequada ao tipo de solo utilizado, ou por brita confinada em geotêxtil;
c) Filtro, dreno ou tapete horizontal constituído por areia seleccionada de
granulometria adequada ao tipo de fundação, ou por brita confinada em geotêxtil;
d) Cut-off - parte do aterro que se insere na fundação. Quando esta é de boa qualidade
não se utiliza cut-off embora a fundação seja preparada para receber o aterro;

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e) Protecção do talude de montante com enrocamento lançado (rip-rap) ou
arrumado, ou por lajes de betão ou ainda por tapete asfáltico. O enrocamento ou rip-
rap assenta sobre camadas de transição constituídas por brita e areia, ou sobre
geotêxtil;
f) Protecção do talude de jusante com vegetação adequada (relva ou capim), laje de
betão ou enrocamento arrumado (espessura mínima de 30cm);
g) Crista protegida com uma camada de brita (10cm) ou por asfalto se nela passar
uma estrada;
h) Descarga de fundo destinada a poder aproveitar a água armazenada. Normalmente
situa-se uns metros acima do talvegue a fim de se manter um certo volume morto (porão)
preservando-se os peixes no caso de esvaziamento total, quando se trata de uma pequena
barragem;
i) Tomada de água, situada a nível mais elevado, destinada ao abastecimento humano,
aproveitando-se a decantação natural da água;
j) Descarregador de cheias destinado a restituir ao rio as águas de grandes cheias e
após o NPA (Nível de Pleno Armazenamento) ter sido atingido;
k) Drenagem das águas de chuvas, que caem sobre o aterro, para evitar o alagamento
ou trasbordamento (over-topping). A barragem deve dispor de uma folga adequada,
cujos valores são dados pela tabela a seguir e de uma altura de laminação de cheia.

Figura 4: Esquema exemplificativo de uma barragem aterro homogéneo.

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Barragens zonadas

Quando não existem solos apropriados, em quantidade suficiente, o que sucede com
muita frequência, recorre-se ao tipo zonado que não é mais do que o aproveitamento dos solos
mais fracos para aterros estabilizadores e do melhor solo para o núcleo central (Costa &
Lança, 2001). São normalmente constituídas por um solo impermeável entre zonas de solo
permeável. Areia e pedregulhos são normalmente colocados na parte externa, não havendo
necessidade de revestimento dos taludes. As camadas funcionam como drenos e devido aos
seus ângulos de atrito internos serem maiores são mais estáveis.

Figura 5: Exemplo explicativo de uma barragem zonada

Figura 6: Barragem Zonada

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Barragem com núcleo ou mista

As primeiras barragens de terra, da era contemporânea, possuíam núcleo de betão ou


alvenaria que a experiência revelou não ser uma boa solução dada a incompatibilidade, por
envolver fenómenos de percolação, entre o betão e os solos, especialmente os da fundação.
Como o núcleo de betão constitui uma anisotropia perniciosa para o aterro de solos, o material
do núcleo passou, então a ser solo argiloso.
O conceito de núcleo feito de betão está praticamente posto de lado desde que apareceram as
barragens zonadas (Costa & Lança, 2001).

Figura 7: Esquema exemplificativo de uma barragem mista.

Barragens de enrocamento

Uma barragem de enrocamento é um maciço formado por fragmentos de rocha


compactados em camadas cujo peso e imbricação colocaram entre si a estabilidade do corpo
submetido ao impulso hidrostático. A impermeabilização é conseguida através de duas
maneiras (Costa & Lança, 2001):

a) Núcleo argiloso compactado que pode ser vertical ou inclinado;


b) Face impermeável (estanque) sobre o talude de montante. Esta face pode ser de betão,
asfalto, metal, plástico, etc.

No primeiro caso (núcleo argiloso) os materiais utilizados devem ter características de


baixa permeabilidade, a fim de garantir caudais mínimos de percolação, baixa erodibilidade
(pouco risco no carregamento de finos) e alta deformabilidade.

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A deformabilidade limita as fissurações que ocorrem durante a construção e após o
enchimento da albufeira. Em suma, o núcleo deve ser constituído por materiais que
apresentem alta resistência ao cisalhamento (Costa & Lança, 2001).
As barragens com face de betão, ou outro material, têm sido motivo de acesas
controvérsias devido a más experiências anteriores, onde ocorreram grandes infiltrações
provocadas por fissurações. Mas estas barragens têm vindo a ser aperfeiçoadas por
apresentarem vantagens como sejam (Costa & Lança, 2001):

a) Menor custo;
b) Maior rapidez na construção;
c) Não há possibilidade de ruptura por erosão interna como sucede no núcleo argiloso,
quando há grandes deformações do maciço.

A compactação do maciço, inicialmente muito deficiente, era conseguida com passagem


de tractores pesados, resultando um corpo compressível. Actualmente a compactação é feita
com rolos vibratórios metálicos lisos, com peso estático superior a 9 toneladas. Estes rolos são
muito eficientes na compactação de camadas de enrocamentos até 1m de espessura. O
problema dos assentamentos, que se verificarem na 1ª e 2ª geração destas barragens, foi
assim, praticamente eliminado (Costa & Lança, 2001).
A palavra enrocamento (rockfill) define um conjunto não coerente de fragmentos de rocha
cuja granulometria é constituída em 70% por partículas maiores que 1/2” (12,5mm) com uma
fracção no máximo 30% (o ideal será 10%) de partículas que passam no peneiro nº 4 (4,8mm). Um
enrocamento bem graduado (com alguns finos) tem resistência e compressibilidade maiores
do que um enrocamento mal graduado (uniforme). A máxima dimensão de blocos deverá ser
menos (80%) do que a espessura da camada compactada. Os blocos maiores devem ser
“empurrados” para s taludes externos. Nas barragens com face a montante costuma prolongar-
se a laje, na vertical e junto à crista, de modo a formar um muro “guarda-corpo” que corta as
ondas (Costa & Lança, 2001).

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Figura 8: Exemplo exemplificativo de uma barragem de enrocamento

Figura 9: Barragem de Paradela, Vila Real do tipo enrocamento

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Selecção do sítio da barragem

A escolha do sítio da barragem obedece a vários factores que enumeramos a seguir.

Topografia e Geologia

A topografia, pode dizer-se, é a chave que abre o projecto. A capacidade de


acumulação é o factor mais importante. A barragem deverá ter o menor volume possível em
corpo e acumular o maior volume possível em água. É por isso que a escolha do local é muito
importante.
O sítio da barragem deverá ser onde o rio “estreita” após um vale bem aberto e onde o
talvegue apresenta fraca inclinação (inferior a 1%). Para se determinar o volume de
acumulação terá que se fazer um levantamento topográfico (Costa & Lança, 2001).
A recolha dos elementos topográficos disponíveis para cada local deve ser efectuada
com recurso as cartas militares, designadamente a uma escala 1:25000. Considera-se esta
escala como necessária e suficiente para o dimensionamento preliminar (PNBEPH, 2007).
Para pequenas barragens (áreas inundadas até 500ha) pode fazer-se um levantamento
topográfico clássico nas escalas 1:2000 a 1:10000 com curvas de nível de 1 em 1m ou de 5
em 5m. Para áreas inundadas maiores (acima de 500ha) deve recorrer-se à aerotopogrametria.
Na planta obtida por processos topográficos medem-se as áreas referentes a cada curva de
nível (Costa & Lança, 2001).
A caracterização geológica e geotécnica dos locais dos aproveitamentos é
normalmente baseada em informação existente, quer relativa a estudos anteriores
eventualmente disponíveis em cada um dos locais, quer em informação de ordem geral
disponível, designadamente na cartografia geológica de Portugal à escala 1:50000. Estes
dados são considerados suficientes para a definição da viabilidade de implantação das obras e
para a realização da estimativa do respectivo custo de execução (PNBEPH, 2007).

Climatologia, hidrologia e hidrometria

Devem ser recolhidos dados relativos a séries de escoamentos mensais, no período


mais longo disponível, para cada local com capacidade de armazenamento significativa. Para
os locais com exploração a fio-de-água a estimativa da produção de energia é realizada com
base em curvas de duração de caudais diários obtidas de dados disponíveis. Para além dos

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dados de escoamentos devem ser recolhidos dados relativos a evaporação ao nível de
albufeiras e caudais de cheia (PNBEPH, 2007).
Estes dados dão essenciais para determinar se a bacia hidrográfica tenha competência
para alimentar a bacia hidráulica. Caso contrário a barragem ficará super-dimensionada com
custos sem retorno, ou no caso inverso a barragem poderá ficar sub-dimensionada, i.e., a
barragem encher em uma fracção de ano hidrológico o que significa que a bacia não foi
suficientemente aproveitada. Neste caso haverá um funcionamento frequente do
descarregador de cheias com todos os inconvenientes de abrasão das estruturas (Costa &
Lança, 2001).

Curva Cota-Área-Volume de uma barragem

O levantamento do sítio da barragem (planta, perfil, longitudinal e perfil transversal do


eixo) é feito às escalas 1:500 e 1:1000. Especialmente quando se trata de barragens de terra,
pois esta abrange uma área relativamente grande. O perfil longitudinal do eixo deve ser
extenso e cuidadoso, uma vez que é sobre ele que vão ser marcadas as sondagens e por onde
não ser iniciadas as obras (Costa & Lança, 2001). A altura da barragem é calculada pela
seguinte fórmula:

Figura 10: Esquema exemplificativo dos parâmetros para calculo da altura de uma barragem

Onde:
CC = cota do coroamento
FC = cota da fundação (talweg)

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Figura 11: Esquema da área de influência de uma barragem dependente da sua cota de construção.

É importante determinar a altura máxima da barragem, pois diferentes cotas


apresentam diferentes áreas de submersão. O que pode reflectir uma maior ou menor perda de
diversidade biológica ou uma maior ou menor potencia instalada.

Transporte de sedimentos

Uma bacia hidrográfica, de material muito friável, sujeita a grandes erosões, carrega
grande quantidade de sedimentos que podem comprometer a vida útil da barragem.
Existem casos, raros, de barragens completamente assoreadas antes de 20anos de uso (Costa
& Lança, 2001).

Pontos de ligação à rede eléctrica nacional

Antes da construção de uma barragem é importante definir os pontos de ligação à rede


eléctrica nacional e tensões de transporte da energia a produzir nos novos aproveitamentos
(PNBEPH, 2007).

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Figura 12: Rede nacional de transportes de electricidade 2008.

Energia hidroeléctrica

Há vários processos de visualizar o ciclo hidrológico:

Representação qualitativa, feita por Horton, que usa sectores circulares.


Representação quantitativa., feita por Setton, que leva em conta o conceito de
unidades relativas.

Mas o mais simples é o apresentado por Colman.


O ciclo tem início com a evaporação da água dos oceanos. O vapor resultante é
transportado em massa de ar que, sob certas condições de pressão e temperatura, condensa
formando nuvens que dão origem às chuvas. A água das chuvas tem vários destinos (Costa &
Lança, 2001 (3)):

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a) Uma parte evapora-se antes de atingir o chão;
b) Uma parte infiltra-se dando origem aos lençóis freáticos;
c) Uma parte escoa dando origem aos rios e córregos;
d) Uma parte pode transformar-se em gelo que posteriormente irá derreter;
e) Uma parte fica retida em depressões e nas copas das árvores e nos troncos.

Entretanto quantidades grandes de água superficial retornam à atmosfera por evaporação,


também uma parte, retida pelas plantas, é novamente devolvida à atmosfera por
evapotranspiração.
Para uma dada região pode sintetizar-se o ciclo hidrológico total assim:

P - (R + G + E + T) ) = s

sendo:
P - precipitação que atinge o solo
R - escoamento superficial
G - escoamento subterrâneo
E - evaporação
T - transpiração das plantas
Ds - variação no armazenamento nas várias formas de retenção (Costa & Lança, 2001).

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Figura 12: Ciclo da água

Em suma, a energia solar evapora a água dos oceanos e dos grandes lagos. Este vapor
de água condensa e é transformado em chuva ou neve, alimentando os rios que correm
devolvendo a água à sua proveniência (Viana et al., 2004). O movimento contínuo da linha de
água ao longo de um troço está dotado de energia cinética e potencial gravítica, proveniente
de desníveis naturais ou artificiais (Alentejo Litoral, 2008), i.e., para gerar electricidade, a
água tem de estar em movimento (U.S. Department of the Interior, 2005).
Como na natureza a energia não pode ser criada ou destruída, está energia tem de ser
convertida em electricidade em centrais (por exemplo central Venda Nova II) que são
construídas para aproveitar aqueles dois tipos possíveis de energia da água (Viana et al.,
2004).

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Centrais hidroeléctricas

Figura 13: Componentes de uma hidroeléctrica

Uma central hidroeléctrica é um local onde se realiza a transformação em potência


eléctrica com um rendimento global em muitos casos superior a 90% da potência hidráulica
contida no produto do caudal turbinado (m/s) pela altura útil de queda (m), constituindo a
roda de uma turbina associada a um alternador, o elemento primário desta transformação
(Viana et al., 2004).
O aproveitamento da energia hidráulica para a geração de energia eléctrica é feito
através de uma turbina hidráulica que é accionada, através da água da bacia hidrográfica, para
efectuar a transformação da energia hidráulica em energia mecânica. Assim, um acoplamento
mecânico acciona o rotor do gerador eléctrico que transforma a energia mecânica em energia
eléctrica, através da ocorrência de interacções electromagnéticas. Além disso, para controlar a
potência eléctrica do conjunto são utilizados reguladores de tensão e de velocidade.
Este conceito foi descoberto por Michael Faraday, em 1831, quando ele descobriu que
electricidade poderia ser gerada pela rotação ímãs dentro de bobinas de cobre (U.S.
Department of the Interior, 2005).
A altura da queda de água é um dos factores essenciais para a determinação da
potência do local para a geração de energia eléctrica. Isso explica a utilização de barragens e
reservatórios na maioria dos empreendimentos, que permitem o acúmulo e armazenamento

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das águas para utilização conforme as variações de demanda e controle da intensidade das
vazões ideais para cada nível de produção.
É importante referir que à queda útil não corresponde a queda bruta ou total, pois
existem perdas no circuito hidráulico. O aumento das potências dos grupos das centrais
hidroeléctricas conduz a uma redução do custo específico de fabrico e melhoria do
rendimento (95 a 96% em certos casos). Nas instalações com circuitos hidráulicos muito
extensos, quer a montante em conduta forçada, quer a jusante em canal, adoptam-se
dispositivos especiais (chaminés de equilíbrio, válvulas de descarga, deflectores) com o fim
de melhorar as condições de estabilidade dos grupos e de reduzir as sub-pressões e as
depressões provenientes de fechos bruscos das turbinas. O uso de centrais de bombagem
torna-se bastante vantajoso nos períodos em que há falta de consumo (horas de vazio)
existindo por isso energia em excesso que pode ser usada na bombagem de água já turbinada
de volta para a albufeira. Para esta manobra ser efectuada a água turbinada é retida numa
bacia enquanto o grupo funciona como gerador (o grupo é constituído por uma turbina, um
alternador e uma bomba), estando a bomba fora de serviço. Nas horas de vazio do diagrama
de cargas das redes o grupo inverte o seu funcionamento e o alternador passa a funcionar
como motor síncrono entrando a bomba em serviço, accionada pelo motor (Viana et al.,
2004).

Tipos de centrais hidroeléctricas

Os aproveitamentos hidroeléctricos podem ser (Costa & Lança, 2001):

a) A fio de água;
b) Acumulação ou armazenamento;
c) Armazenamento por bombagem;
d) Com reversão.

Central a fio de água

Uma central a fio de água localiza-se num rio perene (com caudal constante durante o
ano). Localizam-se onde existem quedas, cascatas ou cachoeiras. É o tipo de aproveitamento
eléctrico mais barato, mas, actualmente, só é viável em algumas regiões de África, Ásia,
América do Sul e Canadá. Algumas centrais a fio de água dispõem de algum armazenamento

23
destinado a compensar eventuais falhas no caudal. Quando existem grandes barragens a
montante, que garantem um caudal perene, é possível a construção das centrais por
acumulação, combinada com fio de água (Costa & Lança, 2001).

Central com acumulação ou armazenamento

Uma central por acumulação consiste na construção de uma barragem de modo a


armazenar um grande volume de água que será depois utilizado ao longo do tempo. As
turbinas trabalham dentro de uma certa faixa de utilização da água, isto é, tem que se manter
uma determinada queda (Costa & Lança, 2001).

Central por armazenamento por bombagem

Uma central com armazenamento por bombagem gera energia para atender à carga
máxima mas durante as horas em que a demanda é reduzida, a água turbinada é bombada para
um reservatório a montante (geralmente a uma cota mais alta do que o primeiro reservatório.
Esta água bombada será posteriormente turbinada nas horas de ponta (Costa & Lança, 2001).

Central com reversão

Numa central com reversão, durante as horas mortas, a água é bombada para o
reservatório através de um grupo de turbinas que se transformam em bombas (Costa & Lança,
2001).

24
Componentes físicas de uma central

Figura14: Esquema exemplificativo das componentes físicas de uma hidroeléctrica .

Inicialmente dá-se a entrada da água para o sistema. As válvulas de admissão e o


portão de controlo, controlam a quantidade de água que entra no sistema (Castaldi et al.,
2003). A captação de água é normalmente realizada por gravidade, mas à medida que se vão
esgotando os locais topograficamente propícios, mais vai sendo necessário aplicarem-se
métodos mecânicos para a elevação da água. A grande oscilação que se verifica nas albufeiras
obriga à instalação de equipamento apropriado para trabalhar a vários níveis. As bombas são
instaladas em torres de tomada construídas nas margens dos lagos (Costa et al., 2001 (2)).
De seguida a água percorre as tubagens (denominadas condutas forçadas) que
alimentam as turbinas e fazem transmissão de energia. Pode-se dizer que estas tubagens
partem de um reservatório (albufeira) e terminam num local (turbinas) ou numa entrada
adequada às turbinas de acção (Costa & Lança, 2001).
Há uma série de factores a considerar quanto a decisão do material adequado a utilizar na
construção da tubagem (Castaldi et al., 2003). Eles são:

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a) Rugosidade superficial;
b) Pressão exercida;
c) Método de união;
d) Peso e facilidade de instalação;
e) Acessibilidade ao sítio;
f) Tipo de terreno;
g) Tipo de solo;
h) Tempo de vida;
i) Condições climáticas do local;
j) Custo relativo
k) Risco de danos estruturais.

Figura 15: Esquema exemplificativo do processo que origina as perdas de carga.

É também essencial o cálculo das perdas de carga ao longo da tubagem, visto as


perdas de carga diminuem quando se aumenta o diâmetro e pela equação em baixo vê-se que
aumenta também o rendimento (r). No entanto o aumento do diâmetro apresenta um custo,
geralmente elevado, o que o limita.

As perdas de carga são calculadas pela fórmula de Darcy-Weisbach com determinação


rigorosa do factor de resistência f (Costa & Lança, 2001 (2)).
Depois de percorrer a tubagem, a água chega as turbinas. Embora existam apenas dois
tipos básicos de turbinas (impulso e reacção), existem muitas variações.
Uma turbina compõe-se dos seguintes elementos (Costa et al., 2001):

26
a) Rotor - roda móvel, elemento principal, consiste numa série de pás ou conchas unidas
a um eixo.
b) Distribuidor - parte fixa que serve de união entre o rotor e a tubagem forçada.
c) Tubagem forçada - conduz a água, sob pressão, até ao distribuidor.
d) Tubo de aspiração - Serve de união entre a turbina e a restituição para o rio.

Inicialmente a sua função principal era aproveitar o desnível existente entre o rotor e a
saída, em virtude de se produzir sob o rotor uma depressão equivalente à altura da coluna de
água da tubagem. Modernamente o tubo de aspiração tem a forma duma buzina
transformando a energia cinética da água à saída do rotor, em energia de pressões que se
recupera (Costa et al., 2001).
O tipo de turbina a ser utilizado, não é seleccionada até que todos os estudos e estimativas
de custo operacional estejam completos, visto a turbina depender em grande medida das
condições do local (U.S. Department of the Interior, 2005).
Uma turbina de reacção é uma turbina horizontal ou vertical que opera completamente
submersa, uma característica que reduz a turbulência (U.S. Department of the Interior, 2005).
A água circula entre as pás, variando a velocidade e a pressão. Esta, por não ser constante
obriga à variação da secção transversal aproveitando-se, assim, a energia da água, uma parte
na forma de energia cinética e o resto na forma de energia de pressão (Costa et al., 2001). As
turbinas de reacção são: FRANCIS, hélice e KAPLAN (Castaldi et al., 2003). As turbinas
FRANCIS são utilizadas em aproveitamentos com quedas acima de 10m, podendo dizer-se
que é, de todas as turbinas, a mais utilizada. A turbina HÉLICE é considerada uma turbina de
reacção sendo utilizada com maior frequência em aproveitamentos com quedas abaixo de 12
metros. Modernamente apareceram as turbinas BOLBO que são turbina KAPLAN instaladas
em invólucros fechadas e submersos, próprios para gerar energia utilizando pequenas quedas
em rios muito caudalosos (Costa et al., 2001).

27
Figura 16: Turbina FRANCIS

As turbinas de impulso são também horizontais ou verticais que aproveitam toda a


energia cinética da água (U.S. Department of the Interior, 2005). A água flui, com velocidade
sensivelmente constante, apoiando-se sobre as paredes das conchas e está submetida à pressão
atmosférica (Costa et al., 2001). As turbinas de impulso são: PELTAN, TURGO, fluxo
cruzado e multi PELTAN (Castaldi et al., 2003). A Turbina PELTON que é constituída
basicamente por um rotor, em torno do qual estão fixadas as conchas, por uma tubagem
forçada de adução contendo um, dois ou mais injectores e por blindagem metálicas. O jacto é
tangencial, motivo porque estas turbinas são tangenciais. A turbina PELTON aplica-se em
quedas de grande altura com pequenos caudais (Costa et al., 2001).

Figura 17: Turbina Pelton

28
A água flui pela turbina, girando-a, originado energia mecânica que é transformada em
energia eléctrica pelos geradores e pelos transformadores (Castaldi et al., 2003). Um gerador
hidroeléctrico permite converter a energia cinética do fluxo líquido em energia eléctrica. A
água ao circular numa turbina provoca, como já vimos, um movimento rotativo do eixo ao
qual estão ligadas. Este movimento provoca uma rotação dos ímanes colocados no extremo
oposto do veio, dentro de uma bobina, este movimento gera, por indução, uma corrente
eléctrica (energia hidroeléctrica).

Potência de uma central

Como potência é computado

Antes de uma central hidroeléctrica ser implementada, calcula-se quanta energia pode
ser produzida quando a instalação estiver concluída. A própria produção de energia numa
barragem é determinada pelo volume de água liberada (descarga) e da distância vertical da
água quedas (cabeceira). Assim, uma determinada quantidade de água caindo uma
determinada distância vai produzir uma certa quantidade de energia.
A cabeceira irá produzir uma pressão (pressão de água), e quanto maior esta, maior
será a pressão para impulsionar as turbinas. Logo, maior cabeceira ou um escoamento mais
rápido da água reflecte uma maior potência (U.S. Department of the Interior, 2005). A
Potência instalada de uma central é a potência máxima que pode ser produzida pelos
geradores com carga normal e caudal máximo. A unidade de potência em energia eléctrica é o
quilowatt que equivale a 1.34HP.
A unidade de energia eléctrica é o quilowatt-hora definido com 1 kW de potência
fornecido durante uma hora. Também se usa expressar a energia eléctrica em kW-dia ou kW-
ano.
Potência firme é a potência que uma central tem probabilidade de fornecer durante
100% do tempo. Para uma central hídrica corresponde à potência produzida quando a
disponibilidade de água, incluindo acumulação, é mínima. Potência extra ou secundária é toda
a potência disponível além da firme. Costuma ser vendida a taxas mais baixas (Costa et al.,
2001).
A potência útil aumenta com o caudal mas aumentam também as perdas de carga
(Costa & Lança, 2001 (2)).

29
Transmissão de Energia

Como a energia eléctrica não se pode armazenar (REN), uma vez produzida, a
electricidade tem de ser distribuída para onde é consumida. Como normalmente as barragens
estão localizadas em locais remotos, uma vasta rede de linhas de transmissão e instalações são
utilizadas para trazer a electricidade até nós. Toda a electricidade gerada por um motor passa
em primeiro lugar através de transformadores que aumentam a tensão de modo a que esta
possa viajar para longas distâncias através da rede eléctrica nacional (Tensão é a pressão que
força uma corrente eléctrica através de um fio).

Figura 18: Ciclo da energia eléctrica.

No local das subestações, transformadores reduzem a tensão da electricidade dividem-


na e direccionam á para uma área. Os postes transformadores, reduzem ainda mais a tensão à
voltagem ideal para ser aplicada nas nossas casas. Quando a energia chega a nossa casa nós
compramo-la pelo kW-hora, por isso necessitamos do contar para medir o nosso consumo. No
entanto é necessário ter em atenção que a energia, que nos chega não provém exclusivamente
das centrais hidroeléctricas. Ela é na realidade proveniente tanto de energia hídrica, como
eólica, geotérmica, solar, gás, carvão, nuclear (U.S. Department of the Interior, 2005). A ideia
de estarmos a consumir energia nuclear, num país onde ela não é produzida, não é totalmente
absurda. A verdade é que Portugal é um país deficitário na produção de energia eléctrica,
recorrendo anualmente a uma importação líquida de electricidade (5,6% em 2003).

30
Figura 19: Rede de transporte de energia eléctrica.

A Rede Eléctrica Nacional (REN) é então responsável pela manutenção em cada


instante do equilíbrio entre a produção e o consumo, através da observação e ajuste do fluxo
de energia entre a rede portuguesa e a rede espanhola a que nos encontramos interligados.
Esta função é permanentemente assegurada pela sala de controlo do sistema eléctrico nacional
situada na região de Lisboa. A monitorização do estado de funcionamento do sistema de
transporte de energia (linhas, subestações e postos de corte) e a sua operação remota é
assegurada pelo centro de operação da rede situado na região do Porto. A estas duas salas
chegam em contínuo, através duma rede de telecomunicações extremamente fiável,
informações provenientes dos centros produtores, do sistema eléctrico espanhol e de todos os
nós da rede de transporte portuguesa. Em situações de emergência ou de catástrofe qualquer
uma das salas está preparada para assegurar o conjunto das funções (REN).

31
Figura 20: Rede ibérica de transporte de energia.

Critérios da análise económica

Para a avaliação do interesse económico da realização de um aproveitamento deve


considerar-se o fluxo de custos e de receitas associadas à sua execução e exploração, ao longo
do período de vida útil de 40 anos.
Assim, deve-se determinar os valores dos seguintes indicadores económicos do
aproveitamento hidroeléctrico:

a) Valor Actualizado Líquido (VAL);


b) Índice Benefícios-custos (B/C);
c) Taxa Interna de Rentabilidade (TIR);
d) Tempo de amortização do investimento (Ta).

Deve ainda admitir-se os seguintes critérios de análise económica, para o aproveitamento:

a) Período de construção de 4 anos, com uma repartição do investimento total de 20% no


primeiro ano, 30% nos segundo e terceiro ano e 20% no quarto ano;

32
b) Início da exploração no ano 4 após início da construção, considerando que nesse ano a
produção de energia será de metade do valor médio anual estimado, assim como os
custos de exploração;
c) Produção de energia e receitas constantes entre o ano 5 e o ano 43, assim como os
custos de exploração;
d) Necessidade de realização de uma grande intervenção de beneficiação de
equipamentos, a meio do período, ou seja no ano 23;
e) Valor residual de 50% do investimento inicial em obras de construção civil.

Os indicadores económicos devem ser calculados para as alternativas com centrais


reversíveis ou não reversíveis, quando aplicável. Para cada aproveitamento deve-se ainda
calcular o custo unitário actualizado da energia produzida (€/kWh) e o custo unitário da
potência instalada (€/kW) (PNBEPH, 2007).

Impactos

Apesar de ser uma energia limpa, a energia hidroeléctrica não está isentam de
provocar efeitos adversos no ambiente. Nos últimos anos tem sido feitos consideráveis
esforços para reduzir os problemas ambientais e garantir a segurança das barragens (U.S.
Department of the Interior, 2005). No entanto a viabilidade económica das centrais, face ao
aumento das acções de conservação dos recursos e ecossistemas gera, frequentemente,
polémica.
Logo na primeira fase, a construção de uma barragem provoca um grande impacte
sobre a vida das populações e do meio ambiente da região, pois implica; a abertura de novos
acessos que originam desflorestação e erosão; a poluição dos rios, que pode ocorrer através de
vazamentos de óleos, aquecimento das águas, detritos de variada ordem, etc.; aumento do
risco de fogos; barulhos excessivos; fumos, poeiras e pós etc. (Costa & Lança, 2001).
A formação de uma albufeira, num vale muito povoado, obriga ao deslocamento de
populações inteiras, sendo que a mudança das populações apresenta um custo muito superior
ao da própria construção (Costa & Lança, 2001).
Assim que a barragem está construída, o livre fluxo de água pára e começa-se a
acumular-se água no novo reservatório. A velocidade a que o reservatório enche está
associada a um dos principais problemas das barragens, a sedimentação (Castaldi et al.,

33
2003). A barreira física criada pela barragem impede o contínuo fluxo de sedimentos
existentes na água, sendo que estes terminam por se depositar no fundo do reservatório. Com
a acumulação de sedimentos no fundo, diminui a capacidade de armazenamento da água i.e.,
menor energia é gerada pois a capacidade do reservatório diminui (Castaldi et al., 2003). Por
outro lado a sedimentação nas barragens cria erosão na foz do rio, visto todos os sedimentos
estarem agora presos no reservatório.
Um impacto normalmente ignorado pelo homem é o seu efeito ao nível do microclima.
O microclima tende a ser muito mais moderado dependendo do tamanho da barragem
implementada, visto a água arrefecer e aquecer muito mais lentamente. Investigadores
determinaram que a temperatura da água no reservatório Danjiankau na China aumentava um
grau Celsius no Inverno e diminuía um grau Celsius no Verão (Biswat, 1981 cit in Castaldi et
al., 2003)
Um outro impacto atribuído à criação de barragens é a possibilidade de produzirem
pequenos sismos, a muitos quilómetros de distância e em regiões completamente estranhas à
bacia hidrográfica do rio onde se situa a barragem (Costa & Lança, 2001)
Embora estes impactos serem bastante graves muitas vezes não lhes é dada a devida atenção
visto as pessoas tenderem a associar mais os impactes de uma barragem com peixes e flora.
A vida animal e vegetal é a que mais impactes negativos sofrem com a construção de
uma barragem. A inundação destrói uma grande área do habitat das espécies presentes tal
como destrói inúmeras espécies vegetais. Quando um rio é barrado e a sua e sua água
desviada para irrigação, há trechos do rio que ficam praticamente secos causando problemas
sérios. Actualmente a construção de uma barragem obriga à manutenção constante de “caudal
ecológico” que varia consoante a importância do rio e suas condições anteriores de fluxo
(Costa & Lança, 2001). O caudal ecológico pode ser definido como o caudal mínimo
necessário a manter no curso de água a jusante de um aproveitamento hidráulico que permita
assegurar a conservação e protecção dos ecossistemas dulçiaquícolas (Alves & Henriques,
1994).
Apesar de a construção de uma barragem originar um novo habitat para algumas
espécies de peixes, outros vêem o seu ciclo reprodutivo interrompido por uma barreira física.
Peixes como o salmão reproduzem-se a montante em ambientes de águas doces, mas passam
a maioria da vida no mar. Por outro lado a enguia, reproduz-se no mar mas vive em águas
doces. Para reduzir o impacte nestas espécies são criadas estruturas como escadas de peixes e
elevadores que permitem as espécies completarem o seu ciclo de vida. No entanto estás
estruturas por vezes não se encontram adequadamente construídas podendo levar ao

34
desaparecimento da espécie. Outra causa de mortalidade dos peixes é as turbinas. Cientistas e
Engenheiros trabalham juntos para alterar a estrutura das turbinas de moda a garantir a
passagem em segurança dos peixes (Castaldi et al., 2003). No que diz respeito aos mamíferos,
repteis e aves presentes na área o enchimento do vale causa stresses podendo levar os animais
a dispersar para zona muito afastadas da albufeira.

Figura 21: Elevador de peixes (Pompeu & Martinez, 2000)

Outro impacto negativo biológico das barragens é o crescimento de plantas aquáticas.


Quando um sistema lôtico é alterado num sistema semi-lêntico altera-se a qualidade da água
no que diz respeito aos valores da turbidez, cor, CBO e diluição de poluentes orgânicos e
inorgânicos. O enriquecimento das águas ao nível dos nutrientes resulta num excessivo
crescimento de algas. A eutrofização pode provocar um aumento desmesurado de flora
aquática comprometendo a vida útil do lago. Algumas doenças como a malária e o paludismo
tendem a aumentar à medida que se proporciona um habitat muito favorável para agentes
transmissores de doenças (Castaldi et al., 2003). Nos trópicos as doenças veiculadas pela água
constituem séries ameaças para a saúde das populações (Costa & Lança, 2001).

35
Em termos arqueológicos e antropológicos a criação de uma barragem pode levar a
inundação de obras antigas de valor incalculáveis, tal como antigos povoados e cemitérios de
indiscutível valor histórico (Costa & Lança, 2001).

Minihídricas

Uma minihídrica é um aproveitamento hidroeléctrico de altura de queda inferior a 65


metros e uma capacidade inferior de produção de energia comparativamente com as grandes
instalações.
As grandes instalações apesar de produzirem mais energia a um custo mais baixo
apresentam muitas vezes limitadas pela falta de locais adequados a sua implementação por
motivos ambientais ou económicos. Nestes casos as minihídrica apresentam-se uma boa
solução pois é capaz de gerar energia perto dos locais onde ela é necessária. A associação de
minihídrica às grandes hidroeléctricas é constantemente realizada pois estas contribuem para
o aumento total da produção, reduzindo a potência perdida durante a transmissão (U.S.
Department of the Interior, 2005).
Nas Minihídricas a turbina mais utilizada é uma turbina Banki, considerada de acção
que trabalha com quedas de 200m e caudais reduzidos (20 l/s), aplicando-se está em
minihídrica de potência até 2000 kW (Costa et al., 2001)
Em Portugal as minihídrica representam 16% da energia eléctrica produzida (Carla Viveiros,
2004)

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Glossário

Alvenaria - s. f., arte de alvener ou pedreiro; obra feita de pedras, tijolos e outros materiais de
construção ligados com argamassa, cimento.

Zonada - s. f., espécie de forragem.

Granulometria ou Análise Granulométrica dos solos é o processo que visa definir, para
determinadas faixas pré-estabelecidas de tamanho de grãos, a percentagem em peso que cada
fracção possui em relação à massa total da amostra em análise.

Brita - s. f., cascalho; pedra britada para ser aplicada nas estradas.

Zonado - adj., marcado, assinalado com zonas, com listras ou vergões coloridos e
concêntricos

Anisotropia - s. f., qualidade de anisótropo. (adj., diz-se de um corpo fisicamente


homogéneo, mas cujos valores de certas propriedades físicas e químicas variam com a
direcção)

Perniciosa – s.f., de pernicioso adj., nocivo; prejudicial; perigoso; ruinoso.

Enrocamento - s. m., acto ou efeito de enrocar; conjunto de grandes pedras toscas que
servem de alicerces nas obras hidráulicas.

37
Referências

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http://www.alentejolitoral.pt/PortalIndustria/Energia/Energiasrenovaveis/Hidroelectrica/Pagin
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Alves, M. H. & A. G. Henriques (1994). O caudal ecológico como medida de minimização


dos impactes nos ecossistemas lóticos. Métodos para a sua determinação e aplicações. Actas
do 6º SILUSB/1º SILUSBA, Simpósiode Hidráulica e Recursos Hídricos dos Países de Língua
Oficial Portuguesa. Lisboa, 11 a 14 de Abril de 1994. APRH/ABRH, pp. 177-190.

Carla Viveiros (2004). Automação e Supervisão de uma Central Mini-Hídrica. IST/MEEC

Castaldi, D., Chastain, E., Windram, M., Ziatyk, L. (2003). A Study of Hydroelectric Power:
From a Global Perspective to a Local Application. Center for Advanced Undergraduate
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Costa, T., Santos, D., Lança, R. (2001). Capitulo V: Turbo Máquinas (Bombas).
Universidade do Algarve. Escola superior de Tecnologia, Núcleo de Hidráulica e Ambiente.
Algarve

*2 - Costa, T., Santos, D., Lança, R. (2001). Capitulo VI: Turbo Máquinas (Turbinas).
Universidade do Algarve. Escola superior de Tecnologia, Núcleo de Hidráulica e Ambiente.
Algarve

Costa, T., Lança, R. (2001). Capitulo VIII: Barragens. Universidade do Algarve. Escola
superior de Tecnologia, Núcleo de Hidráulica e Ambiente. Algarve

*2 - Costa, T., Lança, R. (2001). Capitulo IX: Condutos Livres. Universidade do Algarve.
Escola superior de Tecnologia, Núcleo de Hidráulica e Ambiente. Algarve

*3 - Costa, T., Lança, R. (2001). Capitulo I: Hidrologia de Superfície. Universidade do


Algarve. Escola superior de Tecnologia, Núcleo de Hidráulica e Ambiente. Algarve

Fernando Faria, “A hidroelectricidade em Portugal I”, Fevereiro 2004; URL :


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