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Bibliografia
1. Introdução
1.2.1. Periodização
**Período Pré-Clássico
Período marcado pelo rigor e formalismo. O Direito era baseado nos costumes dos povos
originais. Pautado na religião e aplicado pelos pontífices. Era baseado em dois sistemas que
coexistiam: costumes (Iura) e leis escritas (Legis). É o momento do surgimento da legislação
mais importante e a primeira a ser sistematizada: Lei das 12 Tábuas (450 a.C.). Os pontífices
eram responsáveis pela divulgação dos dias "fastos" e os dias "nefastos". No final do período os
procedimentos jurídicos já são divulgados publicamente (Ius Flavianum).
**Período Clássico
**Período Pós-Clássico
Decadência e obscurantismo. Textos clássicos passam a ser usados como referência; surge um
caos na aplicação das normas jurídicas. No final desse período surgem as compilações e
codificações gerais.
O Imperador Justiniano irá recuperar o Direito Romano Clássico. Criou uma comissão
encarregada de compilar os textos do juristas clássicos. Foram criados os livros:
* Fontes de Cognição - informações por meio das quais pode-se conhecer as normas do Direito.
* Fontes de Produção - meios pelos quais se criam as normas jurídicas (formas de expressão do
Direito).
* Direito Arcaico
Leis ("Leges") - norma escrita e promulgada por um órgão competente. As leis eram
votadas em comícios populares, por patrícios e plebeus. As leis também poderiam ser
votada em comícios apenas por plebeus ("plebiscita"). As leis podiam ser "Lex Data"
(Outorgada) ou "Lex Rogata" (Promulgada). A Lei das 12 Tábuas era uma "Lex
Rogata".
* Direito Clássico
2. Parte Geral
* Sentido Objetivo
Sinônimo de Norma / Regra jurídica. Normas de conduta impostas pelos Estado a fim de
assegurar a convivência social. Além disso, também têm a disposição de estabelecer as
consequências para o caso de transgressão da norma, aplicando uma sanção
* Sentido Subjetivo
Faculdade de agir concedida pelo Direito. Faculdade concedida a alguém, pelo Direito Objetivo
( ), de exigir certa conduta alheia. O Direito Subjetivo pode ser classificado em:
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** obrigações
*** direitos reais - direitos que conferem um poder absoluto sobre as coisas do
mundo externo (Exemplo: o proprietário de um prédio pode exigir o respeito
por seu direito sobre ele a todos).
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a) "Ius Civile / Ius Honorarium"
* "Ius Civile" - provinham dos costumes, das leis, dos plebiscitos e, mais tarde, também dos
senatus consultos e constituições imperiais.
* "Ius Honorarium" - era o Direito elaborado e introduzido pelos pretores, que, com base
em seu "Imperium" introduzia novidades, criava novas regras e modificava as antigas regras
do "ius civile".
* Direito Público - normas que regulam as relações entre os Estados ou entre o Estado e os
indivíduos (particulares).
Nos casos de normas que afetem apenas indivíduos, mas onde exista interesse público (do
Estado), classifica-se como Direito Público.
* Direito Cogente - normas de Direito Público que não podem ser modificadas por acordos
entre particulares (Exemplo: o valor expresso de uma mercadoria em um contrato de
compra e venda).
* Direito Dispositivo - normas que podem ser alteradas por particulares (Exemplo: a
responsabilidade de uma mercadoria defeituosa em um contrato de compra e venda).
Nos casos de normas que afetem apenas indivíduos, mas onde exista interesse público (do
Estado), classifica-se como Direito Congenere.
d) "Comune / Singulare"
* Direito Comum - normas que estão em conformidade com os princípios gerais do Direito
e, portanto, aplicáveis a todos as pessoas, coisas e situações.
* Direito Singular - normas que se desviam dos princípios gerais do Direito, que vão contra
a lógica do Direito, e, portanto, aplicáveis penas para certas pessoas ou situações
(Exemplo: normas sobre o usucapião de coisa furtada).
Para aplicar uma norma é preciso conhece-la e conhecer o fato concerto. Antes da aplicação é
preciso uma crítica externa da norma. É preciso estabelecer o verdadeiro sentido, a
interpretação ("Interpretatio") da mesma. Interpretação sintática, lógica, histórica e sistemática
que reconstitua a real vontade do legislador. Da mesma forma é preciso o conhecimento dos fatos
em discussão no caso concreto; este conhecimento dá-se através das provas permitidas pelo
Direito (documentos, testemunho, perícias etc.).
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"Scire leges nom hoc est verba earum tenere, sed vim ac potestatem". (Saber a lei não é
apenas entender suas palavras, mas sim conhecer sua força)
Entretanto, as vezes, o Direito vale-se de outros dois instrumentos para a aplicação da norma
jurídica:
A norma jurídica entra em vigor, normalmente, com sua promulgação, ou quando a data de sua
entrada em vigor estiver explícita. Ela deixa de produzir seus efeitos sempre que termina sua
vigência, ou quando outra norma, que lhe seja contrária, entra em vigor.
A regra jurídica é aplicável a todos e a sua ignorância não isenta ninguém de suas sanções (no
caso do Direito Romano isso não era válido para as mulheres, os menores de 25 anos, aos
soldados em campanha e aos camponeses).
As Pessoas Jurídicas, também chamadas de Pessoas Morais, são entidades artificiais que também
possuem capacidade de ter direitos e obrigações. Sua característica fundamental é terem
personalidades distintas da de seus componentes. Podem ser de caráter privado ou público.
2 Pessoa era a entidade que possui Capacidade Jurídica (ou Capacidade de Direito).
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Capacidade Jurídica, no Direito moderno, é a aptidão para fazer parte de uma relação jurídica,
quer do lado ativo ou do lado passivo das obrigações. Modernamente, basta o nascimento, a
existência, para adquirir a Capacidade Jurídica de Gozo (no Código Civil, art. 4o Personalidade
Civil). Essa Capacidade difere da Capacidade de Fato, ou Capacidade de Agir, ou Capacidade
de Exercício de Direitos. Os requisitos para essa Capacidade são a idade e o pleno
desenvolvimento mental. No caso do Direto Brasileiro essa idade é de 21 anos. Capacidade de
Fato, no Direito moderno, é a aptidão para praticar atos jurídicos; celebrar atos (manifestações da
vontade que gerem fatos jurídicos)
Em Roma não bastava o simples nascimento com vida para adquirir a Capacidade Jurídica. Era
necessário cumprir certas condições.
c) ser "sui iuris", que fosse independente de pátrio poder; isto é, não ter nenhum ascendente
masculino vivo ( ) ("Status Familiae").
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Além das anteriores, em Roma, o indivíduo precisaria ter a forma humana ("contra forman
humanus genere" e não ser "monstrum vel prodigium") no momento no nascimento. Alguns
autores ainda relacionam uma quinta exigência: o recém-nascido precisaria ser viável, ter
"vitalidade". Caso não tivesse, por pressuposição, seria considerado natimorto.
a) "Status Libertatis"
* Escravidão
O escravo não tinha direitos em Roma; era considerado como uma coisa ("res"), um objeto ou um
animal. As causas da escravidão podem ser divididas em dois grupos: as causas do "ius gentium" e
as causas do "ius ciuile".
Eram duas formas de tornar-se escravo, a partir dessa modalidade do Direito romano: pela
captura e pelo nascimento. Se um cidadão romano fosse capturado imediatamente seus direitos
em Roma ficavam suspensos. Se ele conseguisse libertar-se e voltar ao território romano,
readquiria-os em decorrência do "postiliminium" ( ). Caso morresse em cativeiro, por problemas
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com herança, considerava-se a ficção que ele tivesse morrido durante a captura, isto é, como
cidadão livre.
3 A sociedade romana era baseada no "pater familia", cidadão masculino que possuía a Capacidade de Direito da família. A mulher que se
enquadrasse nos requisitos poderia possuir essa Capacidade, no entanto tinha restrições à sua Capacidade de Fato.
4 "Postiliminium" - ficção pela qual o escravo que conseguiu evadir-se do cativeiro era considerado como se nunca tivesse sido escravizado; portanto
era como se seus direitos nunca houvessem deixado de existir.
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alterado durante a evolução do Direito romano; caso a mãe em algum momento da gravidez
tivesse sido livre, consideraria o nascido como livre.
c) o desertor;
d) aquele que fosse entregue a nação estrangeira que ele tivesse ofendido;
f) o devedor insolvente, e
Um escravo poderia ser libertado por manumissão ("manumissio") ou por disposição de lei. A
manumissão é o ato de libertação do escrevo pelo seu senhor. As forma de manumissão variaram
durante a história de Roma; contudo, as mais importantes foram:
A manumissão pelas modalidades do "ius ciuile" fazia com que o escravo estrangeiro adquirisse a
cidadania romana. Por seu lado, a munumissão do "ius honorario" mantinha a condição do
escravo liberto como a de estrangeiro.
* Liberdade
No Direito Romano havia duas espécie de pessoas livres: o ingênuo e o liberto. Ingênuo era
aquele que nunca tinha sido escravo em sua vida, ou se fora havia adquirido sua liberdade
retroativamente, através da ficção do "postiliminium". O liberto, ou nascera escravo e obtivera
alforria, ou nascera livre, tornara-se escravo e reconquistara a liberdade. Normalmente o liberto
tinha algumas restrições, que reduziam sua capacidade jurídica frente a seu patrono (antigo
senhor).
b) "Status Civitatis"
** "alicuius civitatis" - regiam-se pelo "ius gentium", direitos comuns aos romanos e
aos estrangeiros, e por suas regras próprias. Habitantes de regiões dominadas que
mantinham suas cidades e suas regras jurídicas intactas.
c) "Status Familiae"
* "Sui Iuris" - (de Direito seu) "pater familias" e mulheres não vinculadas a um "pater
familias";
* "Alieni Iuris" - (de Direito dos outros) submetido ao patrio poder de um "pater
familias"; tinha limitação patrimonial. Não podia ter patrimônio próprio, nem fazer
testamento.
Além disso outras causas podiam restringir a Capacidade Jurídica de Gozo. As mulheres não
tinham capacidade para direitos públicos e sofriam restrições quanto ao direito privado. A mulher
não tinha direito ao pátrio poder, nem à tutela, e não podia participar de atos solenes na qualidade
de testemunha.
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2.4.2. Capacidade de Fato
Capacidade para agir em nome próprio em uma relação jurídica. Dependia da idade, do sexo, da
sanidade mental e da prodigalidade.
a) Idade
No século II a.C., a "Lex Laetoria" estabeleceu que os menores de 25 anos poderiam requerer a
nulidade de atos jurídicos que o tivessem lesado, caso não tivesses a assessoria de um
representante. No Direito pós-clássico havia a exigência que o menor de 25 anos tivesse sempre a
assistência do representante.
b) Sexo
As mulheres eram relativamente incapazes. Eram incapazes para atos que provocassem uma
redução de seu patrimônio. Seus atos necessitavam a representação de um tutor.
c) Sanidade Mental
d) Prodigalidade
Aquele que dilapidasse seu patrimônio, ou de sua família, era considerado parcialmente incapaz,
necessitando de um curador.
Objetos de Direito, coisas, são entidades com valor econômico que podem ser objeto de relações
jurídicas. Buscam satisfazer as necessidades humanas na órbita do Direito.
* "Res in commercio"
5 Esse representante poderia ser um tutor ou um curador. Tutor era o representante dos incapazes que tivessem uma incapacidade natural (idade ou
sexo). Curador era o representante dos incapazes, ou semi-incapazes, nos outros casos.
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São aquelas que podem ser adquiridas por particulares
Coisas que por sua natureza, ou destinação, não podem fazer parte do patrimônio de
particulares.
Coisas comuns a todos os homens; coisas que não podem ser apropriadas pelos
particulares em sua totalidade, em sua massa, por pertencerem à natureza: o ar,
o mar etc.
* Coisas corpóreas - aquelas que se apresentam como entidades concretas; isto é, coisas
que podem ser percebidas pelo sentidos: um livro, um animal etc.
* Coisas incorpóreas - aquelas que não podem ser trocadas e que só podem ser tocadas e
percebidas pelo intelecto (no Direito moderno: direitos autorais, direito sobre patentes etc.).
Para os romanos todos os direitos, todas as situações jurídicas, estavam nessa categoria.
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* "Res mancipi" - coisas para cuja alienação ( ) era necessário um ato solene, formal, de
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* "Res nec mancipi" - Coisas que eram alienadas pelo simples ato da "traditio, da tradição
( ). Ocorria nas coisas de menor valor.
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* Coisas fungíveis - são aquelas substituíveis por outras do mesmo gênero, qualidade e
quantidade; são aquelas que a individualidade de cada unidade não tem relevância jurídica
(Exemplos: arroz, farinha, metal etc.).
* Coisas consumível - são aquelas que podem ser usadas apenas uma vez (Exemplos:
comida, bebida etc.).
* Coisa inconsumível - aquelas que permitem um uso repetido sem que sejam destruidas,
conservando sua utilidade econômica-social (Exemplo: um quadro, uma estátua, um vestido
etc.).
* Coisas divisível - são aquelas que podem ser divididas sem que cada uma das partes perca
seu valor proporcional ao todo (Exemplos: arroz, um terreno etc.).
* Coisa indivisível - aquelas que cada parte perde seu valor proporcional ao todo
(Exemplo: um quadro, um animal etc).
* Coisas simples - são aquelas que representam uma unidade orgânica, natural ou artificial
(Exemplos: um terreno).
* Coisa composta - aquelas que são formadas pela união artificial de várias partes
(Exemplo: um carro, um edifício etc).
6 Alienar - tornar algo alheio, de outrem. Poderia ser por venda, comodato etc..
7 Tradição era a transferência material, concreta, de um bem a outrem.
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* Coisa acessória - aquelas que estão ligadas a uma coisa principal; seguem sempre a sorte
da coisa principal (Exemplo: árvores de um terreno, construções, instrumentos de trabalho
agrícola etc).
h) Fruto
* Frutos são coisas novas produzidas natural e periodicamente por uma outra, que, por isso
mesmo, se chama de frugífera. As rendas obtidas com a locação e arrendamento de coisas
também são frutos enquanto fizer parte da coisa frugífera não têm individualidade própria,
seguindo assim a sorte da coisa principal.
i) Benfeitoria
* Benfeitorias são gastos com coisas acessórias ou pertenças à coisa principal, para
melhorar e aumentar a utilidade desta. Podem ser: necessárias (um telhado novo), úteis
(uma pintura nova) ou voluptuária (uma piscina).
* Aquisição de direitos,
* Extinção de direitos ou
* Modificação de direitos
Ato Jurídico - é o fato jurídico voluntário lícito ( ). É uma manifestação de vontade que gera
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consequências jurídicas.
O Ato Jurídico pode dividir-se em Ato Material e Negócio Jurídico. Nos Atos Materiais apesar
de ser um ato voluntário, ele é desprovido de uma declaração expressa de vontade (Exemplos:
construir uma casa em terreno alheio, ou descobrir um terreno em propriedade alheia). Já o
Negócio Jurídico existe uma expressa declaração de vontade, dirigida a um fim prático no mundo
do Direito (Exemplos: contratos, testamentos etc)
* bilateral - aquele para cuja formação são necessárias a expressão da vontade de duas ou
mais pessoas (Exemplo: qualquer contrato).
8 Para a doutrina brasileira, o ato jurídico ilícito não se classifica como ato jurídico. No entanto, alguns autores entendem o ato jurídico como fato
jurídico voluntário, lícito ou ilícito.
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b) quanto à forma
* informais ou não solenes - aqueles cuja manifestação de vontade não exige uma
solenidade jurídica (Exemplo: a compra de um bem de pequeno valor que se concretiza com
a simples tradição do bem.
c) quanto à causa
* abstratos - aqueles cuja causa não pode ser identificada (Exemplo: títulos ao portador,
que após sua circulação em várias mãos não se conhece mais a sua causa inicial).
* "inter vivos" - são os atos jurídicos cujos efeitos se produzem, ou cessam, entre os vivos
(Exemplo: qualquer contrato).
* "mortis causa" - são os atos jurídicos cujos efeitos só ocorrem após a morte daquele que
expressa a vontade (Exemplo: testamento).
* onerosos - atos onde para cada uma das partes implica em vantagens e desvantagens
(Exemplo: contratos de compra e venda, onde a vantagem é obter o dinheiro e a
desvantagem é ter que livrar-se do bem).
a) Elementos Essenciais
Eram aqueles sem os quais não existe o ato. Poderia dividir-se em:
* essenciais quanto à existência - para que um ato exista é preciso ter uma parte (ato
unilateral, ou partes (ato bilateral), manifestação de vontade e objeto.
* essenciais quanto à validade - para que o ato jurídico produza seus efeitos é necessário
que exista a capacidade de fato e a de direito e legitimidade da parte. ou das partes. É
necessário que a manifestação de vontade esteja isenta de vícios. O objeto precisa ser lícito,
possível, determinado ou determinável.
b) Elementos Naturais
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Aqueles que naturalmente fazem parte do negócio, mas as partes podem afastar de comum
acordo.
c) Elementos Acidentais
Elementos que podem ou não fazer parte do ato jurídico. Podem ser:
** acidentais de condição suspensiva - faz com que os efeitos fiquem suspensos até o
momento da verificação do evento.
Vício do ato jurídico existe quando há discrepância entre a vontade interna e a sua manifestação.
Com relação a isso, o ato jurídico pode ser nulo (sem efeito jurídico) ou anulável (pode ser
tornado sem efeito, mas persistem seus efeitos anteriores).O Direito Romano só conheceu o ato
nulo; o anulável só foi introduzido no Direito recente. Os vícios podem ser:
a) Simulação
Quando ambas as partes simulam uma manifestação de vontade que não existe. Torna o ato
anulável.
* absoluta - simulação de um ato que ambas as partes não desejam realmente praticar
b) Erro
Divergência entre a vontade interna e sua manifestação; pode ou não anular o ato jurídico. Os
erros que o anulam são: Era reconhecido expressamente pelo "Ius Civile".
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* erro de pessoa - divergência quanto à identidade de uma das partes essenciais ao ato
(Exemplo: comprar algo de quem não é realmente seu proprietário).
Quando o erro recai sobre uma elemento não essencial do ato ele não era anulado.
c) Dolo
Quando uma das partes faz a outra incidir em um erro através de um comportamento maliciosos.
Contra essa parte cabia uma ação penal.
* "dolus bonus" - não anulava o ato; é a pequena dose de malícia que existe em qualquer
negócio.
* "dolus malus"- anulava o ato; é a ação maliciosamente grave para enganar a outra parte.
d) Coação
Quando uma das partes exerce algum tipo de pressão, física ou psíquica, ilegal sobre a outra
parte. Reconhecido apenas pelo "Ius Honorarium, pela atuação do pretor.
O ato jurídico também poderia ser nulo por outras causas, por exemplo, ir contra a moral e os
bons costumes.
* Mediata - o representante age em seu próprio nome, com a obrigação de prestar contar
ao representado (Exemplo: a atuação dos tutores e curadores).
3. Direitos Reais
3.1. Conceito
Direito Real é o Direito das coisas. Era aquele que se exercia diretamente sobre elas. Diferia dos
Direitos Pessoais, ou Direito das Obrigações, que eram exercidos sobre pessoas ( ). Os Direitos 9
9 Os Direitos Reais, diferentemente dos Direitos Obrigacionais, eram limitados pelo ordenamento, pois, uma vez que eram válidos "erga omnes",
todos precisam saber quais eram eles.
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Reais, que eram independentes da vontade ( ), eram exercidos impondo uma obrigação passiva
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c) eram protegidos por ações reais, "actiones in rem" contra quem quer que tivesse turbado do
Direito do titular, e
d) outorgavam ao titular o direito de seqüela, que era a capacidade de perseguir a coisa contra
quem quer que a tivesse tomado injustamente.
b) Direitos sobre coisas alheias - era quando os Direitos Reais eram passados do proprietário
para outra pessoa.
* de gozo - podiam ser: servidões, usufruto, uso (todas do Direito arcaico), enfiteuse,
superfície (Direito clássico).
3.2. Posse
Posse ("possessio") era o poder de fato sobre uma coisa. Diferia da propriedade que era um poder
de direito sobre uma coisa. A posse relacionava-se com a propriedade na medida em que a
primeira poderia fazer com que surjisse a segunda, como no caso do usucapião. Segundo análises
dos trabalhos dos juristas romanos, a posse era adquirida com "corpore et anima". Assim, a
posse dividia-se entre relações objetivas e subjetivas do indivíduo com a coisa.
No século XIX, Savigny deu uma definição moderna de posse: "corpore" não significava
necessariamente uma relação de proximidade com a coisa, mas sim ter disponibilidade sobre a
coisa, ter a possibilidade de usa-la. "Animus" seria o "animus domini", ter a intenção de ter a
coisa para si. Assim:
Posse seria a união da capacidade de usar a coisa com a intenção de tê-la para si
O "animus" era
o elemento subjetivo, avaliado objetivamente pela lei; isto é, a lei era quem determina que tinha e
quem não tinha "animus".
10 Diz-se que um Direito é independente da vontade quando ele não pode ser tipificado pelos indivíduos segundo suas vontades.
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* Posse - presença do "corpus" + "animus", gerando efeitos jurídicos e tendo proteção
jurídica.
* Detenção - apenas a presença do "corpus", não gerando efeitos jurídicos e sem proteção
(Exemplos: a locação, o comodato, o depósito).
A posse tinha dois efeitos práticos concretos: aquisição de propriedade por usucapião e a
requisição dos interditos possessórios de reintegração (contra o esbulho) e a de
manutenção (contra a turbação).
A posse, desde que justa, era protegida por intermédio dos interditos ("interdictum") frutos da
ação do pretor, do "ius honorarium". Os interditos referiam-se exclusivamente à posse, ao fato,
não tratando da questão da propriedade, do direito. Protegiam a posse do Esbulho, quando a
posse era tomada, e da Turbação, quando a posse não é tomada, mas seu exercício era
perturbado. Poderiam ser: Proibitórios, proibindo a ação de outrem sobre a relação de posse,
visando a manutenção da mesma, ou Restitutórios, caso a posse fosse perdida, o possuidor
retomava-a.
A posse viciosa é protegida pelos interditos contra todos, exceto contra o verdadeiro proprietário.
a) Interditos Proibitórios
* "uti possidetis" - tinha caráter dúplice, valendo tanto para a turbação como contra o
esbulho. Cabia para as coisas imóveis e tinha a validade de um ano.
* "utrubi" - válido para as coisas moveis. Valia por um ano e verificava, nesse intervalo,
quem ficou com mais tempo com a coisa.
b) Interditos Restitutórios
* "unde vi" - usado para obter a posse perdida por meios violentos; tinha a validade de um
ano.
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* "de precario"- usado para obter a posse perdida por meio da precariedade; também tinha a
validade de um ano.
3.3. Propriedade
3.3.1. Conceito
O Direito de propriedade era a capacidade dada a alguém de exercer um poder absoluto sobre
uma coisa. Era o Direito de usar, fruir e dispor ( ) sobre a coisa ("ius utendi, fruendi et abuteri
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rem suam"). Era um poder absoluto que impõe "erga omnes" seu respeito. Tinha como
característica a elasticidade da propriedade ( ). A propriedade também era um poder exclusivo,
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No Direito Romano antigo não havia o conceito de propriedade. Representava tudo aquilo que
estivesse sob "potestas" de um "pater familias". O Conceito autônomo de propriedade surgiu no
Direito clássico, apresentando várias significações:
a) propriedade quiritária
Aquela referente aos cidadãos romanos; a que era fruto de uma ação reivindicatória. Era ligada ao
princípios do "ius quritarium" na medida que sua aquisição se dava através do "mancipatio" ou do
usucapião, restritos aos cidadãos;
b) propriedade pretoriana
Quando o cidadão romano comprava uma coisa "res mancipi" sem a realização do "mancipatio".
O Direito do proprietário era garantido pelo pretor;
c) propriedade peregrina
Garantia aos estrangeiros a posse de coisas "res mancipi", apesar de não poderem realizar a
cerimônia formal de transição.
Essas e outras formas faziam com que, na prática, o Direito de propriedade fosse realizado
efetivamente. Com o Direito Justinianeu essas diferentes concepções foram fundidas em uma só.
Desapareceramm as distinções entre os cidadãos e os estrangeiros, assim como todas as outras
causas de distinção.
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Limitações ao Direito de propriedade eram as restrições impostas por lei a um Direito que, em
tese, seria absoluto. No Direito Romano arcaico não havia limitações à propriedade. Já no
período clássico, o desenvolvimento social fez com que esse Direito fosse gradativamente
limitado, sempre que surgisse um interesse social maior. O princípio da função social da
propriedade surgiu nesse período. Eram limitações legais:
a) distância legal
Os proprietários rurais precisavam manter uma distância de no mínimo cinco pés ("limines") de
seu vizinho para garantir a circulação. Também havia a limitação de altura dos imóveis em 70 pés
(época de Augusto), ou o equivalente a cinco andares; isso garantia melhor iluminação, ventilação
e segurança nas grandes cidades.
b) luz e panorama
Referia-se à utilização das águas dos rio e manaciais. Os textos romanos determinavam que "as
águas deveriam correr naturalmente" ("naturaliter"). Os proprietários não podiam fazer obras que
aumentasse ou diminuíssem o volume de água para seus vizinhos. Os problemas advindos de
questões desse tipo geraram os "atos emulativos" ( ), que eram terminantemente proibidos.
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d) imissões (invasões)
Era o critério geral nas relações de vizinhança. O proprietário poderia servir-se da coisa como lhe
aprouvese, desde que não realizasse imissões em terrenos dos vizinhos; essas imissões poderiam
ser materiais ou imateriais (mau cheiro, ruído, fumaça, calor etc).
e) árvores limítrofes
O Direito Romano entendia que, por exigências agrícolas, o proprietário de um imóvel que em
seu vizinho tivesse uma árvore limítrofe teria que tolerar os ramos acima de 15 pés; da mesma
maneira, teria que aceitar que seu vizinho, proprietário da árvore, colhesse os frutos caídos, dia
sim, dia não.
f) passagem forçada
Os proprietários de terrenos encravados, sem acesso a uma via pública, podiam exigir dos
proprietários dos terrenos encravantes passagem forçada por seus imóveis.
g) mineração
Segundo uma texto legal dos século IV a.C., a descoberta de minérios permitia que um indivíduo
explorasse terreno alheio, desde que pagasse uma taxa.
h) terrenos ribeirinhos
Os terrenos sobre os quais passassem cursos de água navegáveis obrigavam que seus
proprietários tolerassem a navegação, a pesca e todos os trabalhos oriundos dessas atividades.
13 Atos emulativos - eram atos que podem ou não trazer benefícios para o proprietário, mas que prejudicavam os vizinhos.
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3.3.3. Aquisição da Propriedade
Eram os fatos jurídicos aos quais o ordenamento jurídico atribuiam o efeito de gerar a
transferência da propriedade. Essa aquisição poderia ser feita de vários modos, sendo
classificados como:
Eram aquele que tinham por base uma relação imediata do adquirente com a coisa, inexistindo
qualquer relação entre ele e o proprietário anterior, que pode nem existir.
a) Aquisição de Frutos
b) Especificação
Aquisição de propriedade de modo originário onde o indivíduo construía uma obra de arte, por
exemplo, com material do qual não fosse proprietário. Ela voltava ao proprietário caso a obra
especificada pudesse retornar à situação anterior (fusão de uma estátua de bronze); caso contrário
(uma estátua de um bloco de mármore), a obra especificada ficaria com o especificador, que
deveria indenizar o proprietário no valor da matéria-prima. Caso o especificador tivesse agido de
má fé, a obra especificada ficaria com o proprietário.
c) Invenção
Aquisição de propriedade de modo originário de algo que estava oculto a muito tempo, cujo o
dono não fosse conhecido. Para o Direito Romano, se o inventor não fosse o dono do local onde
a coisa foi descoberta ele deveria dividir com o proprietário o valor do bem encontrado. O
inventor perderia o direito ao bem caso tivesse trabalhado para o proprietário procurando esse
mesmo bem, ou tivesse agido contra a vontade do mesmo.
d) Ocupação
Aquisição de propriedade de modo originário, que não se aplicava a coisas imóveis, baseado na
posse das coisas sem dono ("res nullius") bastando apenas a posse da coisa (Exemplos: caça e
pesca, apropriação de bens do inimigo, apropriação de coisas abandonadas etc).
Aquisição de propriedade de modo originário pela união de coisa dita acessória à coisa principal,
de maneira que, caso separado o produto da união, cada uma das suas partes não poderia retornar
a seus estados anteriores. Coisa principal era aquela que tenha a mesma finalidade econômico-
social da coisa final resultante. (Exemplos: aluvião, avulsão, leito abandonado, ilha surgida ( ) ).
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3.3.3.2 Modos Derivados de Aquisição
Era, aquele que tinham por base uma relação jurídica entre o adquirente e o proprietário anterior,
o alienante. Chamava-se derivada porque o Direito do adquirente derivava do Direito do antigo
proprietário. Nos modos derivados aplicava-se o princípio: ninguém pode transferir a
outrem mais direitos do que tenha ("Nemo plus iuris ad alium transferre potest, quam ipsis
haberet").
a) "Macipatio"
Aquisição de propriedade de modo derivado usado para a aquisição de "res mancipi". Era um ato
jurídico abstrato e formal originado na fase arcaica do Direito Romano, perdendo posteriormente
o caráter exclusivo de compra e venda, passando a ser usada para todas as transações de bens de
grande importância economico-social.
Aquisição de propriedade de modo derivado que era usada quando alguém queria vender algo a
outrem e o adquirente simulava um ato reivindicatório sobre a coisa alienada. O pretor concedia o
direito de propriedade também simulando um ato jurídico, homologando as vontades das partes.
Era usada tanto para "res mancipi" quanto para "res nec mancipi", não importando para o ato os
motivos, as causas, da transação.
c) "Traditio"
Aquisição de propriedade de modo derivado que era a simples entrega do bem ao adquirente, sem
qualquer outra formalidade. Era usada tanto para "res mancipi" quanto para "res nec mancipi".
Era causal, não bastando simplesmente a transferência da coisa, era necessária também a causa da
transferência. Poderia ser: simbólica, quando algo era entregue no lugar da coisa; "longa
manu", quando o bem estava distante, sendo apenas indicado; "brevi manu", quando o bem já
estava sob a posse do adquirente, e "constitutum possessorium", quando o alienante continua a
usar a coisa, mesmo após a transferência do direito de propriedade.
3.3.4.3.1. Usucapião
O Usucapião ("Usus capere"- captar pelo uso) era uma forma especial de aquisição da
propriedade, onde a posse prolongada, sem oposição do proprietário, gerava a propriedade
quiritária; isto é, aquela restrita aos cidadãos romanos. No Direito Romano era a aquisição de
propriedade para o caso e um vício inerente ao ato jurídico, que "per si" justificaria a aquisição da
propriedade caso não existisse o vício.
a) "res in commercio" - coisa suscetível de aquisição quiritária, não cabendo essa classificação
para coisas obtidas de maneira ilícita;
b) posse prolongada;
c) prazo - dois anos para coisa imóvel e um ano para outros bens. No Direito Romano Clássico
esse prazo foi alterado para dez e três anos respectivamente, no caso das partes residirem na
mesma localidade; no caso de residirem em localidades diferentes, esse prazo subia para 20 anos
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para as coisas imóveis. Em Roma, quando a posse passava de uma pessoa para outra esta poderia
somar os dois tempos para fins de usucapião ("acessio temporis");
d) justo título - ato jurídico que era a base da pretensão, que seria válido caso não fosse o vício
no modo (Exemplo: compra e venda, doação etc), e
Meio processual de defesa contra a perda do direito em sua totalidade. Era uma ação requerida
pelo proprietário destituído da posse e a ele cabia o ônus da prova. Defesa contra a perda do
Direito de Propriedade em sua totalidade. Sua maior dificuldade era quanto à prova da
propriedade; não basta provar que era proprietário da coisa, mas também que os proprietários
anteriores tinham o Direito, uma vez que ninguém podia tranferir mais direitos que tivesse.
Quando a propriedade era restituída a seu proprietário, o possuidor, caso estivesse movido por
boa-fé, não estaria obrigado a restituir os frutos da coisa obtidos antes da notificação da ação. As
benfeitorias, feitas também em boa-fé, deveriam ser restituídas caso fossem necessárias e/ou úteis;
as voluptuárias não eram reembolsadas. Caso o possuidor de boa-fé não fosse reeembolsado pelas
benfeitorias úteis e necessárias ele teria o direito de reter o bem até que houvesse o pagamento.
b) "Actio Negatoria"
Meio processual de defesa do Direito de propriedade perdido em um se seus atributos (usar, fruir,
dispor).
A Co-Propriedade ("Communio") era uma espécie de comunhão jurídica que se apresenta quando
a mesma coisa fosse de propriedade de uma pluralidade de pessoas. A Co-Propriedade, quanto à
causa que a determina, poderia ser voluntária, quando desejada pelas partes, ou incidental,
quando surgia independentemente da vontade das partes . Quanto à estrutura pressupunha que
os co-proprietários, ou condôminos ("socii"), possuissem cada um uma cota ideal, ou quinhão
ideal, ou porção ideal ( ). Com relação à cota ideal, cada um dos condôminos poderia alienar,
15
hipotecar, dispor livremente de sua parte. Algo que afetasse a propriedade como um todo
pressupunha a unanimidade da vontade das partes.
Havendo a renúncia de um dos condôminos de sua parte, esta seria acrescida, proporcionalmente
às outras partes.
15 Parte abstrata que fundida às outras partes compunham a totalidade do Direito de Propriedade.
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b) "Ius Prohibendi" (Direito de Proibir)
Cada co-proprietário teria o Direito de proibir qualquer atividade material sobre a coisa por parte
de outro, pondo em exercício seu direito de veto ("prohibitio"). No caso de não houvesse acordo,
a solução seria extinguir a co-propriedade. Essa extinção poderia ser:
Era um direito que o proprietário de um imóvel (prédio) dominante tinha o direito sobre um
prédio serviente. Era quando um proprietário adquiria um direito sobre um imóvel adjacente. As
servidões prediais eram direito "erga omnes", que, uma vez estabelecidas assumiam o caráter de
um Direito Real perpétuo.
a) Voluntária
Originária de um acordo de vontade entre as partes, diferia do Direito de passagem, que era uma
limitação legal ao Direito de Propriedade, uma vez que era livremente decidida entre as partes.
b) Indivisível
c) "Vicinitas"
d) "Utilitas"
Para ser constituída a servidão precisaria representar uma vantagem concreta ao prédio dominante
sobre o prédio serviente.
e) "Perpétua Causa"
Era um direito permanente, não podendo ser estabelecida como algo temporário.
f) "Passiva"
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3.4.1.2. Espécies de Servidões Prediais
* de passagem ( ) 16
* de água
* de pasto
* "Stilicidium" - permissão para que as águas de chuva escoassem para o prédio vizinho.
d) "legatum per vendicationem" - quando alguém, por legado, deixa uma servidão para seu
vizinho;
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A extinção das servidões poderiam ser através de:
Era quando um prédio prestava uma utilidade a uma pessoa, permitindo um amplo direito de
gozo. Para compensar essa amplitude, as servidões pessoais eram limitadas no tempo.
a) Usufruto
Era um Direito Real inalienável, limitado no tempo, que atribuia a seu titular as faculdades de usar
uma coisa alheia inconsumível e de perceber-lhe os frutos, deixando inalterada a substância e a
destinação sócio-econômica da mesma; o usufrutário não poderia, nem mesmo, fazer benfeitorias
necessárias. Podia constitui-se tanto sobre coisas móveis quanto sobre coisas imóveis.
Uma vez constituído, o Direito de propriedade ficava desprovido das capacidades de usar e fruir,
restando ao proprietário apenas o direito de dispor ("nudus proprietas"). O essencial para o
conteúdo era a capacidade de fruir (que engloba a capacidade de usar), tanto os frutos naturais
(repostos pela natureza de tempos em tempos) ou dos frutos civis (juros, alugueis etc). Tudo que
não fosse juridicamente classificado como fruto, na constituição do usufruto, pertenceria ao
proprietário.
Era constituído por: "in iure cessio"; legado de herança; "deductio" no "mancipatio" (ressalva
para si o direito de usufruto), e por "pactio et stipulatio". A defesa do instituto era o mesmo da
propriedade: "rei vindicatio usufructus". A extinção do usufruto dava-se: pela morte; por "capitis
diminutio maximo"; pela confusão ("consolidatio") dos dois papeis jurídicos na mesma pessoa;
pela destruição da propriedade, e pelo "non usus".
Quanto aos escravos, seus filhos eram uma exceção no instituto. Os "partus ancilae" não eram
considerados frutos, pertencendo ao "nudus proprietas".
O usufruto diferia da locação por ser um direito real, enquanto a locação é um direito
obrigacional.
3.5.1. Enfiteuse
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Quando uma das partes, o enfiteuta, tinha o direito de usar e fruir de um prédio alheio, por tempo
indeterminado, deixando a seus herdeiros, podendo tranformá-lo e aliená-lo. O proprietário tinha
o direito de receber um valor simbólico, o "canon". Além disso tinha o direito de receber o
"laudemium", uma taxa de dois por cento do valor da alienação do prédio. Originalmente, a
enfiteuse foi criada para a ocupação de terras públicas em regiões conquistadas. Apesar de não ter
o "animus domini", o enfiteuta era considerado possuidor do prédio.
3.5.2. Superfície
Eram parcelas dos Direito de propriedade que um devedor transferia a um credor como garantia
do pagamento de uma dívida. Eram figuras acessórias a uma obrigação principal.
3.6.1. Fidúcia
Consistia na transferência de uma coisa do devedor ao credor com a inserção de uma cláusula no
ato da transferência da propriedade ("mancipatio" ou "in iure cessio"), por meio da qual o
adquirente/ credor/ fiduciário obrigava-se a retransferir a propriedade da coisa ao alienante/
devedor/ fiduciante quando houvesse o pagamento da dívida; isto é, quando houvesse o
cumprimento da obrigação principal.
3.6.2. Penhor
O penhor ("pignus") era um tipo de direito real que consistia na transferência atual da posse de
uma coisa do devedor ao credor, com o intuito de garantia. Transferência esta decorrente de um
contrato real de penhor. Sobre a coisa cedida em penhor dizia-se coisa empenhada.
As partes eram, de um lado, o devedor, e de outro, o "credor pignoraticio". Esse credor tinha a
posse mas o devedor continuava proprietário. O "credor pignoraticio" tinha o direito de possuir
("ius possidente") sem o direito ao uso da coisa. Segundo um acerto entre as parte, o credor
poderia colher os frutos da coisa, como forma de abatimento da dívida ("anticrese"). Pela "Lex
Comissoria", um cláusula adendada ao contrato, o não pagamento da dívida transferia para o
credor a propriedade da coisa, mas essa "Lex" passou a ser proibida na Época Clássica.
O "credor pignoraticio" tinha o "ius distrahendi", que era o direito de vender a coisa em nome
do proprietário, caso a dívida não fosse paga.
3.6.3. Hipoteca
Seguia, em linha gerais, os princípios do penhor. No entanto, transferia ao credor o direito real
em potência , no caso de não ser paga a dívida, de tomar a posse da coisa e vendê-la em nome
do proprietário/devedor.
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Direito Romano - Casos Práticos
01. Caio, recém-casado, parte para a guerra na Gália, junto com os exércitos de Júlio César. Um
ano mais tarde chega a notícia de que fora capturado pelos gauleses e, segundo os boatos, estaria
morto há muito tempo, em razão dos maus tratos do cativeiro. Cláudia, sua esposa, apresenta
então uma criança de dois meses como única herdeira de seu marido. Os parentes de Caio,
entretanto, acusam-na de adultério e suspeitam que o pai da criança seja Tício. O caso é levado ao
pretor.
02. Durante a guerra, uma mulher estrangeira é capturada e vendida em Roma como escreva.
Cinco meses mais tarde, essa escreva dá a luz a uma criança, que nasce defeituosa, sem um dos
braços. Logo depois morre o proprietário da escrava, e em seu testamento verifica-se que ele
concedia liberdade à mulher, sem, no entanto, fazer referência ao recém-nascido. A mulher
procura então um jurista e lhe pede que lhe explique a situação jurídica dela e da criança.
Com relação à criança: São possíveis duas respostas com relação à criança dependendo do período histórico a que se
esteja referindo. No Direito Clássico: por ter nascido de uma mulher que era escrava no momento de seu nascimento, a
criança, segundo as causas do "ius gentium" a criança seria considerada escrava. Dessa forma, ela comporia a herança
deixada pelo proprietário a seus herdeiros. No Direito Justinianeu: no Direito pós-clássico, mudou-se a orientação com
base na ficção de que o nascituro se por nascido quando se tratar de seu interesse. Assim, como a mulher teve parte de
sua gestação na condição de livre, a criança seria considerada livre. Isso explicaria o fato de nem ao menos ter sido
citada no testamento do proprietário de sua mãe.
Observação: Pelo Direito Romano Arcaico (Lei das 12 Tábuas - Tábua IV, De Jure Patrio, item I, inciso I).o recém-
nascido que tenha qualquer deformidade física (monstruoso) deve ser morto imediatamente. Portando, a criança nem ao
menos tem o direito de estar viva. Sua existência violava uma das leis de Roma, uma sociedade que valorizava a
eugenia e a perfeição física. No entanto há precedentes, o próprio Imperador Claudius (41 d.C a 54 d.C) era manco, o
que lhe obrigava a andar de maneira claudicante.
03. Caio é usufrutuário de uma fazenda pertencente a Tício. Findo o prazo do usufruto, caio
devolve a Tício o imóvel em perfeito estado. Tício descobre, porém, que durante este tempo Caio
havia retirado verduras da horta de seu imóvel, peixes do rio que por ali passava e ouro de uma
mina nela existente, e havia ainda tomado para si todos os bezerros e escravos nascidos na
fazenda durante o tempo do usufruto. Sentindo-se lesado, Tício exige a devolução de todas essas
coisas.
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A orientação que poderia ser dada a Caio por seu advogado seria: o princípio do usufruto seria o direito de usar e
desfrutar a coisa alheia sem alterar a sua substância ("ius alienis rebus utendi fruendi alua rerum substantia"). Seu
objeto seria constituído apenas pelas coisas inconsumíveis, sejam imóveis, animadas ou inanimadas. No entanto, em
virtude de um "senatus consulto", do início do principado, passou-se a admitir que fossem objeto de usufruto as coisas
consumíveis, o que obrigava ao usufrutuário a restituir o equivalente à coisas consumível quando da extinção do
usufruto. Dessa forma, o melhor procedimento para Caio seria o pagamento do valor correspondente às verduras da
horta, aos peixes do rio e do ouro retirado da mina. Quanto aos animais, Caio precisaria devolver a propriedade com o
número exato de animais que lá existiam no instante de suas posse. No entanto, quanto aos escravos e nascidos na
fazenda durante o tempo do usufruto, ele deveria devolvê-los ao "dominus proprietatis", uma vez que os filhos das
escravas não são considerados frutos.
04. O órfão Públio, de dez anos de idade, convence por meio de gestos o surdo-mudo Mévio a
comprar seu cavalo por um preço substancialmente acima do mercado. Ao saber do ocorrido, o
"pater familias" de Mévio vai se queixar ao Tutor de Públio, o qual no entanto não aceita a
reclamação e se opõe à anulação da compra e venda. Diante da recusa, o indignado pai procura
um jurista, pedindo orientação quanto à possibilidade de anular o negócio.
a) Pelo ponto de vista do objeto. Um cavalo e um bem "mancipi", isto é sua comercialização exige o "mancipatio", ou o
ato solene e formal antes de sua tradição, que pressupõe a declaração de fórmulas rituais. Mévio, por ser surdo-mudo,
não tem condições físicas de pronuncias essas palavras, necessitando dessa forma um representante que as pronuncia.
Como não houve esse representante, o ato não seria válido.
b) Pelo ponto de vista dos sujeitos. Públio é um indivíduo impúbere. Como tal necessita o auxílio de um representante
para a realização de todos os atos jurídicos que onerem seu patrimônio. Todo ato de compra e venda é um ato oneroso
uma vez que quem vende abre mão de seu direito sobre o objeto. Dessa forma, Públio não poderia vender seu cavalo,
ou qualquer outro bem seu, sem a presença desse representante.
05. A camponesa Semprônia vendeu a Caio duas vacas prenhes. Dias depois, uma das vacas pariu;
um exame veterinário revelou, no entanto, que a prenhez da segunda vaca era apenas aparente.
Semprônia procurou Caio, acreditando ter direito ao Bezerro que nascera, já que ele fora
concebido enquanto a vaca lhe pertencia. Para sua surpresa no entanto, fica sabendo que, pelo
Direito Romano, a cria pertence ao comprador da vaca (os frutos pertencem ao proprietário da
coisa frugífera), fato que ela desconhecia quando fixou o preço da venda, Para piorar, Caio se
sentiu lesado pelo fato de a segunda vaca não estar prenhe, como imaginara, exigindo a anulação
da venda dessa vaca. Sem saber o que fazer, ela decide consultar um jurisconsulto.
Por ser camponesa e mulher, Semprônia não tinha capacidade de fato, portanto, não poderia realizar atos jurídicos "per
si". Para que o ato jurídico tivesse validade, ela precisaria da assitência de um curador, o que não ocorreu. Dessa
forma, a venda das duas vacas era nula.
Supondo que tivesse sido assistida, e que a transmissão da propriedade tivesse sido realizada através do "mancipatio",
uma vez que os animais são "res mancipi", o ato seria válido não podendo ser anulado por nenhuma das duas partes.
06. Com a morte do famoso professor Karl Zimmerman, a viúva-meeira e única herdeira, Bertha
Zimmerman, vende a biblioteca de dez mil precisos volumes de seu finado marido ao alfarrabista
Anselm A. Tempos depois, visitando o alfarrábio deste último Christian C. Adquire uma obra do
século XIX, que fizera parte da biblioteca de Zimmerman. Passado algum tempo, Christian
contrata os serviços de Dorothéa D., profissional especializada em limpeza e desinfecção de
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bibliotecas. Esta, ao manusear aquela obra, encontra entre as páginas do livro uma raríssima
cédula de dinheiro do século XVIII, avaliada em 75 mil marcos alemães, ou seja US$ 50 mil.
Caso a viúva reivindique a propriedade da nota ela deve provar que a tinha antes da venda a Anselm A; caso consiga, a
propriedade volta para ela, pois não vendera a nota, apenas os livros.
Outra solução diz respeito ao modo originário de aquisição de propriedade por invenção. A nota, cujo proprietário é
desconhecido, foi encontrada na propriedade de Christian C., portanto lhe pertence. Como Dorothéa D. foi contratada
especificamente para a limpeza do livro, e tendo ela encontrado a nota, ela tem direito à metade do valor da mesma.
07. Enquanto passeava com seu cavalo recém adquirido, Caio detém-se por algum tempo em uma
taberna para descansar e beber um vinho. Deixou o cavalo amarrado diante do estabelecimento,
mas dera um nó frouxo e o animal escapou. Perto dali, Tício encontrou o cavalo e, julgado-o
abandonado, toma-o para si. Semanas depois, Tício empresta seu cavalo a seu amigo Mévio, que
sai pelas ruas de Roma. Caio o avista e reconhecendo o animal, obriga Mévio a desmontar à força
e se apodera violentamente do animal que lhe pertencia. Mévio relata o ocorrido ao pretor,
pretendendo utilizar-se dos meios judiciais cabíveis contra o que considerara um injusto esbulho
da posse.
08. Caio aluga a Tício uma carroça pelo prazo de um ano. Passado esse tempo, porém, não se
preocupa em pedi-la de volta, e Tício também se esquece de devolvê-la. Um ano mais tarde
aparece Mévio, alegando e provando que a carroça, na verdade, sempre pertencera a ele, e não a
Caio. Tício pergunta a seu advogado se está obrigado a entrega-la a Mévio.
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Sumário
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